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SENHORES

DO CRIME “DRAGOROV’S BRATVA”:


LIVRO 1 – MIKHAIL por Carollynn Belloto















SINOPSE
Emma, não esperava que ao salvar a vida de um estranho, e de uma forma
totalmente não convencional, sua vida já não seria a mesma, entrar no mundo
dela era uma experiencia totalmente diferente de tudo o que ela já havia
vivido.
Mikhail não era um homem convencional, não levava uma vida convencional,
ele não esperava cair por alguém de forma tão imediata assim, mas aconteceu,
e ele não tinha planos de deixa-la ir embora.
Talvez fosse destino, talvez sorte, talvez azar, mas eles se encontraram, e se
conectaram um ao outro de uma forma inexplicável. Só que a gente sabe,
amor nem sempre é o suficiente…












AVISO

Esse livro e seus personagens são fictícios, e não tem


nenhuma relação com pessoas ou acontecimentos reais.
Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida,
digitalizada ou distribuída de qualquer forma, seja
impressa ou eletrônica, sem permissão.
Este livro é uma obra de ficção. Nomes, personagens,
lugares e acontecimentos descritos são produtos da
imaginação da autora. Qualquer semelhança com
nomes, datas e acontecimentos reais é mera
coincidência. Os personagens e enredos são criados a
partir da imaginação da autora ou são usados
ficticiamente. O assunto não é apropriado para menores
de idade. Por favor, note que este romance contém
palavrões, situações sexuais explícitas e consumo de
álcool.











NOTA DA AUTORA

Agradeço profundamente a cada um de vocês pelo


feedback recebido! Escrever para mim é uma paixão,
mas não é uma profissão, o lançamento ocorreu em
uma epifania, algo que eu senti que devia fazer naquele
momento, e como de certa forma era um projeto muito
particular meu, não contei a ninguém, e
consequentemente não pedi ajuda a ninguém, e por um
lado lamento profundamente por isso, já que o arquivo
continha erros que passaram pela minha revisão, e por
isso peço as minhas mais sinceras desculpas! No mais,
deixo aqui um pedido: É muito importante para nós
autores o feedback sobre o livro, tanto pelo elogio,
tanto pelas críticas, é o que costuma nortear e também
incentivar que novos livros sejam escritos, então
encarecidamente peço que após leram o livro, quem
puder faça a avaliação, e quem leu pelo Kindle
Unlimited, e quiser prestigiar comprando, para nós é
excelente também! E respondendo a algumas perguntas
que recebi, vai ter continuidade sim gente! Tenho
muitas histórias para contar sobre essa família, pela
qual eu me apaixonei, e espero que vocês igualmente se
apaixonem também!
Muito obrigado a todos pelo carinho!
C. Belloto


SUMÁRIO



Chapter 1 – Sequestrada
Chapter 2 – Vida ou Morte
Chapter 3 – Voto de Confiança
Chapter 4 – Amizade
Chapter 5 – Distância
Chapter 6 – Tiros
Chapter 7 – Teimosia
Chapter 8 – Incidente
Chapter 9 – Aceitação
Chapter 10 – Proteção
Chapter 11 – Dunluth
Chapter 12 – Desaparecimento
Chapter 13 – Conflito
Chapter 14 – Despedida de Solteira
Chapter 15 – Votos
Chapter 16 – Epilogo







Chapter 1 - Sequestrada

Emma
Tudo o que me mantém de pé no momento é puramente a gravidade. Stacy a
enfermeira do turno noturno, me olha com simpatia quando passo pelo posto
de enfermagem para checar alguns prontuários, ainda tenho que checar alguns
pacientes na recuperação - é difícil para quem está de fora perceber, mas nós
médicos mal paramos para respirar durante os plantões, e médicos no início
de carreira com uma dívida enorme em créditos estudantis, temos que
basicamente nos esforçar em dobro, sendo assim atualmente me encontro em
um estado que poderia fazer figuração em The Walking Dead dispensando a
maquiagem.
Gwen, minha melhor amiga, rouba os prontuários das minhas mãos franzindo
o cenho para mim.
– Dê o fora daqui, no mínimo você está aqui a quarenta horas – diz ela
tentando parecer brava.
– Quarenta e oito – eu respondo, mas quem está contando? - O irônico é que
Gwen é tão obcecada como eu, a diferença é que o fato de ela ter uma filha,
só faz essa rotina duplamente mais difícil para ela, apesar de Lila ser a criança
mais linda que eu já vi, e valer plenamente o sacrifício com a mais absoluta
certeza, ser mãe solteira e residente de um programa de cirurgia é desafiar
qualquer lógica, e por mais que eu a ajude, a responsabilidade ainda caí mais
pesadamente nos ombros dela.
– Ok, a Sra. Goshen vai levar Lila em casa?
– Não, hoje é o seu dia de folga, você deveria ter saído as 15:00 e já são 23:40
Emm! Certamente você vai para casa e desmaiar na cama, e Lila vai dormir
na Sra. Goshen hoje.
Gwen e eu dividíamos um apartamento em Midtown, perto o suficiente do
hospital de carro, mas longe o suficiente para conseguirmos pagar, Manhattan
não é uma cidade barata de se viver, e muito menos quando se está criando
uma criança pequena.
Então ela repete.
– Dê o foraaa Emm, agoraa!
Ela estica os braços apontando a direção do vestiário, e quando me vê dando
olhadas cumpridas para a sala de recuperação estreita os olhos e continua
apontando o vestiário, e sendo assim fico sem opção, queria conferir alguns
pacientes, mas Gwen tem a determinação de cão de caça, meu turno
oficialmente acabou por aqui.
Depois de 48 horas de plantão e eu estou aqui me perguntando porque diabos
escolhi a residência cirúrgica como uma opção, ok, talvez eu esteja
exagerando, como dizem por aí “trabalhe com o que você gosta e você não
terá que trabalhar um só dia”, mas a essa altura e no esgotamento em que
estou isso parece como papo furado. Troco de roupa rapidamente, pego as
minhas coisas e me movo em direção a saída, aceno para as pessoas que
encontro pelo caminho, mas parece que só uma parte do meu cérebro está na
tarefa, a outra já está dormindo. Está garoando fininho então, puxo o capuz do
casaco para me proteger, e começo e me mover para fora, pensando que
dormir um dia inteiro a partir de agora já não parece exagero e sim
necessidade, continuo andando em direção ao meu Honda, no extremo do
estacionamento, que agora está vazio e com poucos carros, mas quando
estacionei, não havia nenhuma vaga estava disponível nas proximidades, esse
foi o grande motivo de eu ter que estacionar a essa distância da entrada.
Meu carro um modelo ultrapassado e desgastado, e atualmente a única coisa
que o meu dinheiro pode pagar, me espera solitário no estacionamento
deserto.
Entro e jogo minha mochila no banco do carona, e coloco a chave no contato,
e então quase tenho um infarto ao olhar no espelho retrovisor, ao perceber que
não estou sozinha.
– Mantenha as mãos no volante, e não reaja – disse o cara com uma arma nas
mãos apontando para a minha cabeça.
O estranho é que após o susto inicial, eu me mantenho calma de uma forma
geral para uma vítima de sabe se lá o que está acontecendo, o rosto descoberto
do meu assaltante, deveria me fazer me cagar de medo, já que os caras maus
não querem ser reconhecidos e se são, não há muitas vítimas que ficam vivas
para contar a história, mas o raciocínio lógico abandona o seu corpo na hora
que você precisa e o que entra em cena é basicamente o instinto e o meu ou
estava com defeito, ou então sabia que correr, gritar ou qualquer coisa do tipo
não adiantaria muita coisa, apesar disso tentei…
– Ok! – eu respondi – Eu não tenho dinheiro, comigo, e para falar a verdade
nem no banco, sou uma residente, ganho mal trabalho muito, você sabe como
é, você pode levar o carro e a minha bolsa, porém receio que não tenha mais
que 100 dólares e isso é uma perspectiva otimista! – Já contei da minha
tendência a tagarelar quando nervosa?
– Fique tranquila Doc., o que nós precisamos de você nesse momento é a sua
perícia médica, e depois eu garanto, você está livre para ir – palavra de
escoteiro – disse ele levantando os dois dedos da mão com em um juramento.
– E você alguma vez já foi escoteiro? – Perguntei e no mesmo momento
desejei ter ficado calada.
– Dirija, eu vou te mostrando o caminho, sem gracinhas, e ninguém se
machuca – disse ele com a expressão fechada e cortando qualquer conversa.
E então aqui estamos nós, continuamos rodando por Manhattan e as
instruções do meu captor, parece estar nos levando ao norte, uma grata
surpresa porque eu certamente apostaria em Hell´s Kitchen, o que me mostra
que talvez eu deva parar um pouco de assistir Netflix. Depois de muitos “vire
à direita”, “vire à esquerda” e “continue seguindo reto”, estamos entrando no
East Harlem, mas algumas ruas adiante, ele me mandar parar.
– Desça, devagar Emma, sem gracinhas – diz ele
Eu aceno com a cabeça em concordância.
– Você disse serviços médicos, eu não tenha nada comigo, nem mesmo o
material básico – digo a ele
– Essa parte já foi cuidada ele me responde – e se aproxima de mim,
casualmente com seu casaco grosso, ninguém diria que ele está carregando
uma arma e apontando para mim, enquanto andamos em direção a uma das
Brown Stones da vizinhança.
Sabe eu cresci em um bairro, em que as pessoas tomam conta da vida dos
outros a todo momento, senhoras ficam na janela vigiando o movimento, e
todo mundo sabe da vida de todo mundo, mesmo quando você não quer
realmente saber, minha esperança era conseguir de comunicar com alguém e
que a pessoa chamasse a polícia ou algo assim, porém aqui, nem uma viva
alma estava circulando na rua, e nenhuma cortina das janelas da vizinhança se
movimentou enquanto subíamos a escada em direção a casa.
Meu captor, deu três batidas na porta, e então girou a maçaneta e a abriu, me
mandando entrar com um aceno de cabeça.
E bom o que eu posso dizer com certeza é que tanto o exterior quando o
interior da casa não era nada do que eu estava esperando, a elegância do
mobiliário, desmistificava a imagem padrão dos cativeiros de Hollywood, o
estranho é que eu não sabia se sentia alivio ou ficava assustada.
Fomos adentrando a casa, havia um ruído de rádio, que parecia emitir a
frequência da polícia, seguimos em direção ao som até chegar a cozinha,
havia um homem mais velho sentado lá, com um jornal, eu não pude deixar
de reparar o coldre da arma, que estava visível pela falta do paletó. Ele olhou
para o meu captor rapidamente e seus olhos voltaram ao jornal.
– Eles estão lá embaixo – ele disse e então ele nos dispensou sem um segundo
olhar.
Havia uma porta na extremidade, fomos em direção a ela e descemos a escada
que levava ao porão, estava pouco iluminado e sendo assim, cada passo que
eu dei, agora me encheu de medo, porões definitivamente se encaixavam na
minha ideia de cativeiro. Quando chegamos ao final a pouca luminosidade foi
explicada, todo o cômodo estava envolvido com plástico, havia uma pia em
um canto, mas o plástico tapava todo o resto.
–Você pode se limpar ali Doc. – ele disse para mim.
– Ok, eu disse complacente – tão complacente o possível, já que a arma
continuava apontando para mim.
E então comecei o processo de lavagem cirúrgica, eles estavam bem
equipados, o equipamento não era amador nem improvisado, as torneiras o
sabão a pia, o que meu deu a ideia que tanto quando possível nas
circunstâncias, eles criaram uma sala cirúrgica aqui embaixo, e pelo que eu
sei alguém que assumisse essas despesas, que não eram baratas, era porque
não estava apto a ir a um hospital convencional.
Na lateral pendurado em um gancho havia uniformes cirúrgicos, o jogo
completo, olhei ao meu captor em interrogação. Ele apontou uma porta a
minha esquerda.
– Há um banheiro aí Doc., mas se você quiser pode se trocar aí, eu juro que
não vou olhar – sorriu ele com ironia
– Se você não se importa eu fico com o banheiro – eu disse sem compartilhar
o mesmo humor.
Entrei no banheiro e me troquei rapidamente, eu não queria como dizem por
aí ser pega com a “calças curtas”, então sabendo que não adiantava adiar o
inevitável saí do banheiro.
– Estou pronta – eu disse então.
Meu sequestrador afastou o plástico e com um sinal de cabeça me mandou
entrar.
Como eu imaginava, quem quer que seja o dono disso aqui, gastou um bom
dinheiro equipando esse lugar, a maca cirúrgica e todos os equipamentos
necessários estavam aqui. Deitado na maca havia um corpo, e duas pessoas
trabalhavam no paciente, um deles mais velho por volta dos 50 anos, e o outro
mais jovem por volta de 30.
– Griegori a médica está aqui – o meu sequestrador avisou.
O mais velho se virou e então se aproximou, me deu um aceno com a cabeça,
e começou a falar.
– Ele está estável no momento, fiz o que pude, mas de certa forma o eu pude
fazer é colocar “gazes e esparadrapos” para retirar as balas precisaríamos de
alguém especializado, Mikhail é forte e vai conseguir. As radiografias estão
aí, e vamos dar assistência no que for necessário. Os exames estão aqui, por
favor verifique, eu já vou estar de volta – se os nomes não me dessem
informação suficiente, o sotaque carregado definitivamente entregaria, russos,
provavelmente máfia russa, não tinha como eu ter me fodido mais!
O homem mais jovem continuava monitorando os sinais vitais quando me
aproximei da mesa de apoio para verificar os exames, duas balas na região
torácica e nenhuma atingindo um órgão vital, o perigo maior era a
hemorragia, mas de existisse um Deus, definitivamente ele havia olhado pelo
tal Mikhail essa noite, ironia das ironias.
Quando estava deixando os exames de lado para voltar à mesa de cirurgia, o
homem mais jovem se aproximou de mim.
– Você também está obrigada a estar aqui? – perguntou ele sussurrando
– Não posso dizer que foi voluntário – eu sussurrei de volta
– De qual Hospital você é? Eu sou enfermeiro no Metropolitan, aqui mesmo
nesse bairro – ele diz.
– Eu sou residente no Goldwater – eu disse
Vendo ele de perto a surpresa, ele era bonito, realmente bonito, uma beleza
quase angelical, os cabelos loiros e olhos claros contribuíam para essa, mas
com um toque de masculinidade inigualável.
– Você sabe quem eles são? Bandidos com absoluta certeza, malditos russos e
a coisa mais sábia que podemos fazer é deixar a escória morrer, é um favor
que fazemos a sociedade – ele disse.
Veja bem, eu não discordo dele em um ponto, sim eles são bandidos, mas a
mim não cabe julgar o que alguém merece ou não morrer ou viver, sendo
assim eu faço o meu trabalho e definitivamente eu não posso deixar esse cara
voltar para perto do paciente, e também não posso dizer a verdade aos caras
que me trouxeram aqui, já que isso seria a morte certa do enfermeiro, e eu não
posso ser responsável por isso.
Então quando o cara russo volta eu simplesmente digo a ele.
– Eu não vou operar com ele – digo apontando por enfermeiro – Ele não tem
experiência suficiente e eu quero ele fora da mesa de cirurgia.
Griegori me olha provavelmente achando que eu sou louca. O enfermeiro
começa a sorrir e então diz a ele.
– Eu disse a ela que deveríamos matar o Mikhail – diz ele e continua sorrindo
– Estou supondo que me tirar da mesa de cirurgia é o seu modo de dizer que
discorda, certo doutora? – ele diz.
Olho para ele completamente chocada. E definitivamente eu o classifico como
insano. Se todas as séries e filmes que eu já assisti me ensinaram alguma
coisa à principal delas é não se fode com a máfia, ou você acaba comendo
capim pela raiz.
O enfermeiro insano dá uma gargalhada, e então me diz:
– Acho que isso a fez passar no teste doutora – meu nome é Alex, a propósito
– E eu não sou um enfermeiro, acho que podemos dizer assim que eu faço
parte da “escória” – ele diz comum sorriso nos lábios de quem com certeza
ainda está se divertindo.
Tenho uma insana vontade de chutá-lo, ele me fez pensar que ia morrer bem
aqui na minha frente pelo que havia dito e no final tudo não passava de um
teste estúpido. A prudência, porém, se sobrepõe a raiva e resolvo encerrar a
questão.
– Agora que resolvemos isso, suponho que podemos prosseguir então – eu
digo e me encaminho para a mesa.
Checo os instrumentos, suponho que já que Alex, não é um enfermeiro, meu
único auxilio vai vir de Griegori.
Então olho para o paciente pela primeira vez, e é como levar um soco,
daqueles que tiram todo o ar dos pulmões, se Alex era um anjo com um toque
de masculinidade, Mikhail era a masculinidade em seu estado mais puro, sem
parâmetro de comparação, um deus grego seria a forma mais próxima de
tentar descrever a beleza dele, pode parecer meio fútil até, mas ao olhar para
ele, naquele momento decidi, Mikhail não poderia morrer.













Chapter 2 – Vida ou Morte



Emma
Foram horas tensas, mesmo não tendo atingindo nenhum órgão vital, ele tinha
perdido muito sangue, o meu maior medo era uma parada cardíaca, o corpo
havia sofrido muito estresse com a perda de sangue, mas ao que tudo indica
Griegori tinha razão Mikhail é forte, então ele ia conseguir, depois de duas
horas e meia a última bala foi retirada, e então comecei a fechar, até então ele
aguentou bem, acho que a minha tensão era maior, a cada bipe do monitor,
meu coração disparava, eu não sei quando ou porquê, mas essa cirurgia havia
se tornado pessoal para mim, Mikhail havia se tornado pessoal sem nem abrir
os olhos, eu não poderia deixa-lo morrer e isso não tinha nada a ver com os
caras com as armas apontadas para mim, e isso me assustava mais que tudo.
Quando dei o último ponto, Griegori começou a colocar as bandagens,
teríamos que esperar os efeitos da anestesia passar e isso eram pelo menos
umas duas horas de espera. Tirei a máscara e a luva e me sentei um uma
cadeira na extremidade da sala. O cansaço de um turno acumulado e uma
cirurgia surpresa chutou a minha bunda, eu lutava para manter os olhos
abertos. Griegori vendo meu estado apontou a cortina na lateral.
– Há uma cama ali – disse ele – Não é o Plaza, mas acho que vai servir – ele
disse sorrindo.
Agradeci com a cabeça e me movi para lá, era uma cama auxiliar, com um
colchão mediano, mas no meu nível de cansaço equivalia a uma King Size no
Plaza, literalmente foi só me deitar e eu apaguei, o cansaço levou a melhor.
Acordei desorientada, até as lembranças me baterem, me levantei e voltei
Mikhail continuava com os olhos fechados, mas minha percepção de tempo
estava bagunçada, Griegori, Alex e o meu captor não estavam a vista ao me
aproximar da escada ouvi vozes lá em cima, ao que parece todos fizeram uma
pausa para o café.
Voltei para perto de Mikhail e conferi os sinais vitais no monitor, quando fui
conferir os curativos para ver se havia algum sangramento, uma mão me
agarrou e então de peguei olhando para os olhos mais azuis que já tinha visto
na vida, e eles não pareciam muito receptivos.

Mikhail
Quando se leva a vida que eu levo, algumas coisas se aprendem rápido, não
subestimar o seu inimigo é uma delas, estar sempre alerta é outra, e
principalmente escolher quem está cobrindo as suas costas é fundamental, e
essa noite eu cometi o erro básico de ignorar essas regras.
Você pode se defender quando está esperando que dê alguma merda, mas
hoje? Hoje era supostamente um dia normal, um clube, uma bebida, talvez
uma mulher se eu estivesse interessado o suficiente, o que eu não esperava era
que a merda batesse no ventilador de repente e eu fosse o alvo principal, a
merda é que eu realmente não estava esperando por isso, pode parecer
confiança demais mais existem poucas pessoas que ousariam atacar a mim ou
a minha família, sabendo que esse ataque não ficaria sem resposta. Foi tudo
muito rápido, estava saindo do clube quando os tiros começaram, me movi
rápido o suficiente para me proteger, mas isso não me impediu de ser
atingido, a equipe de segurança reduzida a meu pedido não era páreo para o
ataque surpresa, dois deles caíram antes mesmo de reagir, Igor revidou alguns
tiros e Serguei deu cobertura para que conseguíssemos chegar ao carro, até
sentar no banco e o carro arrancar a toda velocidade não havia percebido
ainda que estava ferido, a adrenalina mascarou qualquer dor, mas com a baixa
definitivamente a dor veio, e então o sangue, sabia que não tinha muito tempo
antes de perder a consciência, então fiz a única coisa que podia.
– Chamem Alex, não vamos voltar ao apartamento, uma das casas seguras,
avisem ao Nikholai, e mande dobrar a segurança da Katherina, isso foi uma
declaração de guerra – eu disse, e essas foram as minhas últimas palavras
antes de perder a consciência.
Acordei com o barulho do monitor, minha cabeça estava pesada, imagino
devido as drogas da cirurgia, porém nenhuma dor, o que queria dizer que o
efeito dos medicamentos ainda não havia passado, reconheci o local uma das
salas médicas clandestinas que possuímos, mas não havia ninguém nas
proximidades. Ouvi um ruído a esquerda que prendeu minha atenção, alguém
estava aqui, fechei os olhos e normalizei a respiração, ainda não sabia com o
que estava lidando ou em quem poderia confiar, então tinha que descobrir o
que estava acontecendo, pois naquele momento, eu estava vulnerável.
Passos hesitantes passaram por mim, abrir os olhos em uma fresta, uma
mulher, com roupas hospitalares passou pela sala e então afastou o plástico, e
então só a sua sombra ficou visível, então pude abrir os olhos ela permaneceu
parada durante um instante e então voltou a sala, fechei os olhos novamente,
ela se aproximou de mim e ficou parada não poderia arriscar a abrir os olhos e
entregar que estava consciente, mas quando sentir sua mão em meu peito foi
inevitável, o instinto falou mais alto, segurei as sua mão e então abri os olhos.
Visto de perto, ela quem quer que seja não era impressionante, eu diria
mediana, cabelos e olhos castanhos, nenhuma beldade, bonita sim, mas
comum, ninguém que você se viraria para olhar na rua, mas nessa
proximidade, vendo o quando os seus olhos eram expressivos, e no momentos
eles mostravam medo, ela tinha alguma coisa, alguma coisa que eu não sei
explicar, mas que me impedia de solta-la e deixá-la se afastar. Como não
havia lógica nesse um comportamento não me importei em justificar somente
perguntei:
– Quem é você?
– Emma, cirurgiã, a sua cirurgiã na verdade, Emma Harris – ela disse um
pouco tremula – Você poderia soltar a minha mão? Ela completou
– Não Emma Harris, acho que no momento isso não seria possível – eu disse
a ela
O que quer que ela fosse retrucar ficou contido, porque Alex havia entrado na
sala sem que eu percebesse, e disse:
– Mikhail, será que você poderia soltar a Doc., ela está com aquela expressão
de quem vai sair correndo de medo – o bastardo disso sorrindo.
Contra a minha vontade a soltei.
Ela completamente desconcertada com os acontecimentos, ficou esticando
uma prega inexiste da roupa, e seus olhos não voltaram aos meus. Alex que
não sabe quando está empatando, ou se sabe absolutamente se importa,
continuou a falar.
– Agora que está tudo esclarecido e somos todos amigos de novo, e você está
acordado, o que é um milagre considerando o seu estado meu caro, acho que
podemos te mover para o apartamento. – Ele disse
Emma que estava calada até agora reagiu imediatamente.
– Você está completamente louco? Ele acaba de passar por uma cirurgia, não
pode ir a lugar nenhum – ela disse completamente exaltada.
– Calma Doc., eu não sou um completo idiota você sabe, está tudo preparado,
e por questões de segurança, essa é a melhor opção, não creio que esse
bastardo – disse apontando para mim – tenha tanta sorte se houver uma nova
rodada de tiros, e por mais seguros eu estejamos no momento, não podemos
garantir a segurança por muito mais tempo nesse lugar – disse Alex sorrindo -
Griegori e Igor estão descendo para ajudar a preparar você para o transporte, a
ambulância deve chegar a qualquer minuto – completou Alex.
Eu acenei com a cabeça concordando, sabia que a estada nessa casa, era uma
necessidade pela emergência, permanecer aqui era um risco muito grande.
– Você roubou uma ambulância?! Exclamou Emma completamente chocada.
Alex pôs a mão no peito em uma imitação patética de alguém ofendido e
disse.
– Obvio que não Doc., eu somente fiz um empréstimo, e pretendo devolve-la
assim que for possível, palavra de escoteiro – disse ele com os dois dedos
levantados em juramento e sorrindo achando graça da perplexidade da
medica.
Alex se virou e subiu as escadas, e então o silencio desconfortável se instalou,
a anestesia já havia passado a algum tempo, e ao que tudo indica os remédios
para a dor também, a dor começava a incomodar. Emma se aproximou e
disse.
– Você está sentindo dor. – Era uma afirmação não uma pergunta
– Eu aguento doutora, sou um menino grande – eu respondi.
Ela abriu uma gaveta, e tirou um vidrinho, e então uma seringa e agulha
descartáveis e disse:
– Eu não me importo, com o quão grande você seja – e então corou ao
perceber o duplo sentido da frase – mas a dor pode estressar o seu coração, e
eu não sou uma cirurgiã tão boa assim a ponto de fazer milagres, e sendo
assim se você não se importa – disse ela enquanto aplicava o medicamento no
soro.
E então a sonolência bateu forte, eu não pude evitar a última coisa que eu
ouvi foi Emma dizer
– Você vai ficar bem, eu juro – em um sussurro.
Mas não sei dizer se era realidade ou se foi um sonho.

Emma
Griegori e o meu captor, que eu descobri que se chamava Igor, desceram e
então preparamos Mikhail para ser transportado, havia uma maca especial de
transporte que Griegori trouxe de um outro compartimento, então movemos
Mikhail da mesa para a maca e afivelamos os cintos, até que me dei conta de
um problema.
– Como vamos subir a escada? Movimento bruscos podem ser prejudiciais –
eu disse.
Griegori, abriu os plásticos no fundo da sala, e então apareceu uma porta que
se assemelhava muito a de um elevador hospitalar, ao ver minha expressão
chocada ele sorriu.
– Bom, não podemos dizer que houve economia nos custos para adaptar esse
lugar – eu disse então.
Entramos no elevador e subimos, o elevador dava acesso a uma sala ampla,
que levava a sala que vi quando entrei, o cara que lia jornal quando eu
cheguei, se levantou, seguimos então em direção a entrada, havia uma
escadaria na porta, mas era relativamente fácil de vencer ainda mais que nós
erguemos a maca, e então não houve problemas na descida. A ambulância se
encontrava na porta e Alex estava ao volante, havia mais dois carros parados,
com homens armados espalhados ao redor fornecendo cobertura. Subimos a
maca para a ambulância.
Igor e eu subimos na traseira, e então estávamos prontos para ir. Mikhail
estava sonolento, mas não inconsciente, de vez em quando abria os olhos, mas
a sonolência sempre o vencia e ele voltava a cochilar.
Nos movíamos rápido, e éramos escoltados por homens fortemente armados,
um carro seguia na dianteira e o outro fechava a retaguarda, já não havia
espaço para piadas, todos de comportavam como se um ataque fosse
eminente.
No interior da ambulância eu não conseguia acompanhar os arredores, e para
falar a verdade estava focada nos monitores, apesar da morfina ainda agir por
mais um tempo, tinha certeza que Mikhail não iria dizer se estivesse com dor.
Então quando a ambulância diminuiu a velocidade e então começar a descer
uma rampa, percebi que tínhamos chegado. As portas da frente se abriram e
foram fechadas com um baque seco, logo em seguida as portas traseiras se
abriram e Alex apareceu como sempre sorrindo.
– Entre mortos e feridos salvaram-se todos hein Doc. – ele disse piscando um
olho com um sorriso.
Queria achar a mesma graça, pensando no risco que corremos ao atravessar a
cidade, já que tivemos que usar escoltas com homens armados parecidos
saídos de um filme de ação.
Alex estendeu a mão para mim e me ajudou a descer, acenei e agradeci, então
ele subiu na ambulância e foi ajudar Griegori com Mikhail.
A garagem não era nada que eu estava esperando, de um covil de mafiosos, eu
não era uma especialista em carros, mas todos os modelos que estavam ali, só
gritavam uma coisa “caro”, carros do tipo nem que você trabalhe uma vida
inteira o seu dinheiro daria para comprar, o que só me deu a mais absoluta
certeza que eu estava completamente fora do meu elemento ali.
Um dos caras armados estava segurando o elevador, os outros formaram uma
barreira de proteção ao redor.
Entramos no elevador, mesmo sendo maior que o convencional, não caberia
todos com a maca, então Alex e dois dos caras armados entraram junto
conosco Mikhail continuava apagado, Alex inseriu uma chave no painel, e
então estávamos nos movendo.
As portas se abriram, e claro os super-ricos não tem hall de entrada, só
elevadores com chaves que vão dar no meio da sua sala gigantesca, em uma
primeira analise eu diria que a sala é do tamanho de meu andar, em uma
segunda acho que meu quarteirão inteiro cabe na sala, e creio que é a que está
mais correta. Agora eu pelo menos sabia onde estava, a vista do Central Park,
através das janelas que iam até o teto.
Fomos em direção ao quarto, empurrando a maca pelo corredor, uma das
minhas preocupações, antes de ver o apartamento era o espaço para manobrar,
mas honestamente, o corredor poderia sediar uma maratona com seus
competidores enfileirados. Na última porta Alex, parou e a abriu, os
seguranças que nos acompanhavam manobraram a maca e a empurraram para
o quarto, entrei logo atrás, e então puta merda, a vista da cidade e todas as
suas luzes era fantástica, e o quarto? Bom pela primeira vez a expressão suíte
real foi expressa na minha mente, o quarto era digno da realeza sem sombra
de dúvida, moderno, mas não frio, e claramente masculino, seja lá quem
projetou capturou a essência de Mikhail, masculino, elegante, poderoso. E
para eu estar divagando dessa forma, minha privação de sono deve estar
realmente chutando a minha bunda.
Ajudamos Mikhail a se acomodar na cama, a sua enorme cama a propósito,
enorme literalmente, uma família inteira dormiria nela confortavelmente.
Alex acenou com a cabeça e como um passe de mágica os seguranças se
foram. E então ele se virou para mim.
–Temo que vamos ter que mantê-la por mais um tempo Doc., Griegori tem
problemas a resolver, e não encontramos ninguém de confiança para ficar
aqui e monitorar Mikhail, só por segurança é claro – disse ele dando o seu
sorriso mais charmoso.
– Eu não trabalhei por tanto tempo à toa, vou ficar e monitorá-lo essa noite,
mas amanhã tenho que estar as 09:00 no hospital – eu disse –
impreterivelmente – completei.
– Vamos ver – disse ele que ao ver minha expressão mudou o discurso – Ok
Doc. você venceu, de qualquer forma Zhenya vai estar aqui amanhã, e o resto
da equipe também. Então você estará livre para ir.
Acenei com a cabeça em concordância.
– Tenho que resolver algumas coisas, por favor, sinta-se em casa - Alex disse,
e então saiu.
Fiquei alguns momentos sem me mexer, o ridículo da situação me acertando,
estava de boa vontade no apartamento de alguém certamente ligado ao crime
organizado, e em nenhum momento protestei pedindo para ir embora, a
síndrome de Estocolmo se manifesta em quanto tempo mesmo hein?
Saindo de meu estado de torpor, me aproximei da cama para checar meu
paciente, a pressão estava normal, e a respiração regular o que era bom para a
situação, o curativo estava ok, sem nenhum sangramento, e então ao erguer a
cabeça me deparei com os olhos mais azuis que já tinha visto pela segunda
vez na noite.
– Você tem um timing impressionante para acordar – me escapou.
E se acreditasse na minha percepção, diria que as pálpebras haviam se
enrugado com diversão.
– Um dos meus muitos talentos – respondeu ele
– Tenho certeza que sim, está sentindo dor? Apontei a lanterna para os seus
olhos?
– Isso é necessário? – perguntou ele
– Monitoramento, estou vendo a sua reação de pupila –disse eu – Tudo parece
ok! – confirmei
E então, me movi para a poltrona que se encontrava na lateral do quarto,
parece que o cansaço finalmente iria chutar a minha bunda.
– Você parece esgotada.
– Você não faz ideia, respondi, foi um dia longo.
– E vai estar no hospital amanhã? Cedo?
– É isso aí, tenho rondas a fazer.
– Então você precisa dormir, mas acho que primeiro deve tomar um banho.
– Eu agradeço o conselho, mas já que você não pode ficar sozinho, eu estou
considerando que, não eu não vou poder ir até em casa tomar banho e dormir
– eu disse ligeiramente ofendida pelo comentário, será que já dava para
perceber a minha falta de banho?
– Entendo Doutora, mas sabe é um apartamento grande com muitos
banheiros, e acredito que você poderia usar qualquer um deles, conheço o
dono, tenho certeza que ele não iria se importar – disse ele enfatizando os
“muitos” e “banheiros” com ironia – E já que eu não posso ficar sozinho,
naquela porta a esquerda está um deles, próximo o suficiente para você ouvir
os meus gritos de socorro – sorriu ele com deboche.
E complementou:
– Porém eu sugiro, que não use a banheira, se você dormir, como seus olhos
sugerem que está louca para fazer, receio que não vou conseguir te salvar. –
Encerrou ele.
Por um momento eu inflei o meu peito de ar para dar vazão a toda a minha
indignação, mas então pensei bem, eu precisava urgentemente de um banho, e
não iria recusar um que me era oferecido, nem mesmo nessas circunstâncias.
Então me levantei e disse a ele.
– Sua oferta foi prontamente aceita, eu não vou demorar então por favor
resista a tentação de ter um ataque nos próximos 5 minutos – sorri e me movi
em direção a porta.
Ao abri-la achei talvez o primeiro cômodo que lembrasse meu apartamento, a
única semelhança estava nas dimensões claro, já que o banheiro e o meu
apartamento tinham aproximadamente o mesmo tamanho, havia nichos de
madeira com toalhas e roupões dobrados, o que foi um alivio, por que me
enxugar com as roupas que eu estava vestindo e então voltar a vesti-las me
pareceu terrível, a banheiro, que eu não deveria usar, mais parecia uma
piscina, nada parecida com a minha cômoda banheira que cabia meia pessoa
se ela se apertasse, mas ignorei, mesmo sendo idiota Mikhail tinha razão, eu
estaria dormindo no instante em que relaxasse na água, então prioridades,
precisava me sentir limpa o que a ducha resolveria, e claro a ducha de sua
majestade era dupla, levando a minha imaginação a lugares que eu não
deveria ir, tirei rapidamente os minhas roupas prendi o cabelo em um coque
baixo, e entrei no Box, liguei a água, regulei a temperatura e então entrei
debaixo do jato de água escaldante, daquele que você não quer sair, sabendo
da minha sonolência eminente e do meu paciente deixado sozinho me
ensaboei rapidamente, e me enxaguei, era um banho rápido, com o único
intuito de me fazer sentir humana novamente. Terminei o banho e fui me
secar, ao olhar paras as minhas roupas sujas um desanimo total me abateu,
não queria voltar a vesti-las, porém não tinha muitas opções, ao não ser que
ficasse de roupão, a tentação era mais forte que a lógica, então racionalmente
cheguei à conclusão, iria ficar de roupão, e então procurar a lavanderia e
colocar as minhas roupas para lavar, com sorte seria rápido e então poderia
vesti-las novamente. Afirmando minha decisão, vesti o roupão atei o cinto
apertado, recolhi as minhas roupas e fui em direção a porta.

Mikhail
Um cervo piscando com os faróis, era a exata expressão que a Doutora tinha
ao sair do banheiro, acho que ela esperava que eu estivesse dormindo ou
qualquer coisa do tipo. O cheiro me atingiu, pele fresca, sabonete e só, e não
sei porque essa combinação parecia tão boa nela, minhas mulheres sempre
estavam dispostas, bem vestidas e cheirando a fragrâncias que custavam
fortunas, mas aqui estava eu impressionado com uma mulher descalça vestida
com um roupão e cheirando a sabonete. Ela estava alternando o peso em seus
pés um sinal claro de nervosismo. Por fim pareceu se decidir.
– Você poderia me indicar o caminho da lavanderia? Eu preciso – levantou as
roupas em suas mãos e completou – lavar, lavar as minhas roupas, se você
não se importar claro, eu poderia tentar achar o caminho, mas não quero ficar
bisbilhotando, então se você puder me indicar – e então se calou
– Não está nesse andar, você vai ter que deixar perto da entrada do elevador, e
então eu vou fazer uma ligação para alguém vir pegar – eu disse.
– Oh não, eu não quero dar trabalho, pensei que teria uma máquina de lavar e
secadora, assim eu mesmo poderia lavar, não incomode ninguém, eu dou um
jeito – ela disse parecendo bastante embaraçada.
– Emma eu disse para colocar perto da porta porque presumi que você não
iria querer encontrar nenhum estranho de roupão.
Ela pareceu considerar as minhas palavras e então se moveu em direção a
porta, com a mão na maçaneta se virou e disse.
– Você está certo, mas veja, você é um estranho e está me vendo de roupão –
disse ela.
– Assim você me ofende, você Doutora, possui um profundo conhecimento
das minhas entranhas, então podemos dizer que somos quase amigos agora –
eu disse com falsa afetação.
Ela balançou a cabeça, como se estivesse tentando organizar os pensamentos
e então saiu do quarto.
Me deixando com uma absoluta certeza, eu estava fodido.

Emma
Andar por um lugar desconhecido já é naturalmente assustador, andar de
roupão, descalça, por um covil da máfia (ainda que seja uma cobertura no
Upper East Side) é assustador para caralho, mas como quem está no fogo é
para se queimar, resolvi dar uma olhada ao redor, a esquerda da sala
gigantesca da entrada, havia uma outra sala gigantesca com um mesa enorme,
e no fundo uma cozinha, minhas esperanças reacenderam, Mikhail não se
parecia com o tipo que tivesse entrado em uma cozinha a vida inteira, então
alberguei a esperança que ele desconhecia o lugar, e que só acreditava que
deveria deixar as roupas jogadas em um canto, e que magicamente elas
apareceriam lavadas, e fui investigar, para o meu azar, era mais uma cozinha
de apoio do que outra coisa, havia um monta-carga no canto, que eu
suspeitava que levava até o andar de baixo, onde os serviço se concentrava e
nenhuma lavanderia nas proximidades, desapontada voltei para a sala de estar,
e deixei minhas roupas dobradas em frente ao elevador, e então voltei ao
quarto.
Mikhail estava deitado olhando para o teto, quando entrei seus olhos
cravaram em mim.
– Doutora – disse ele em reconhecimento
– Mikhail – lhe respondi – Deixei minhas roupas na porta do elevador
Ele começou a se mover em direção a cabeceira, mas meu grito o parou.
– Você está louco? Você entende o conceito de repouso absoluto? Se estender
e dobrar o corpo recém-saído de uma cirurgia certamente não é o correto a
fazer.
Me aproximei e peguei o telefone.
– Ramal #8 Doutora
Disquei o número e aguardei, depois do terceiro toque a ligação foi atendida.
– Lavanderia, em que posso servi-lo – disse a voz
– Boa noite, eu sou a médica em serviço, e preciso que minhas roupas sejam
levadas, foi me dito que as deixasse próximo ao elevador.
– Imediatamente Senhora!
– Obrigada – eu disse encerrando a ligação.
Mikhail me olhava divertido
– O quê? – eu questionei.
– Pensei que mais um pouco você contaria a história de como as roupas foram
compradas, e como você veio parar aqui – ele disse rindo de mim –
Usualmente dizer que as roupas estão na porta, e pedir que alguém venha
buscar é suficiente.
– Usualmente, eu lavo as minhas roupas na lavanderia da esquina, e não tenho
uma equipe mágica que trabalha de madrugada, e é acessada com uma
ligação, então não tem nada de “usualmente” nessa situação! – enfatizei
movendo os meus dedos formando aspas enquanto falava.
– Bom ponto, Doutora – ele me respondeu
– Água? Agora você já pode tomar líquidos.
– Sim, com certeza, tem um frigobar naquele móvel.
Me movi na direção apontada, e encontrei um bar completo, tirei um copo, e a
jarra e servi. Voltei para próximo dele.
– Você não teria canudos, teria?
– Não, são coisas de crianças – disse ele quase parecendo ofendido.
– Ok, não estou questionando a sua maturidade, só seria mais fácil de beber
nessas condições.
Me aproximei da lateral da cama e disse:
– Vou segurar o copo, e te ajudar a se apoiar, não levante muito, só a cabeça
para ajudar a beber.
Ele levantou um pouco o corpo e sua mão cobriu a minha segurando o copo, e
então ele bebeu sofregamente.
– Obrigada – ele disse – Mais?
– Lamento, não, era um copo bem grande para você se hidratar, se tomar mais
teremos outro problema e você não está usando cateter.
– Você é má Doutora, negar água a um sedento.
– Na verdade neguei mais água, e não água de um modo geral, então a minha
consciência está tranquila.
Me sentei na poltrona, e então tentei achar uma posição que fosse confortável
para cochilar.
– O que Diabos você está fazendo? – veio a voz irritada
– Achando uma posição confortável – eu respondi também irritada.
– Existem dez quartos nesse andar, e você está se ajeitando para dormir em
um poltrona?
– Eu não posso te deixar sem supervisão, então não, não é uma opção.
– Então tem essa cama, bem graande aqui, não está vendo – disse ele com
ironia – Você pode até fazer uma muralha de Adriano com os travesseiros
para se sentir melhor.
– Não seria apropriado de forma alguma dividir a cama com um paciente.
– Doutora, esse paciente está sem condições algumas de tirar vantagem, de
uma pobre e indefesa mulher, que por acaso precisa mesmo dormir, e o meu
cavalheirismo me obriga a levantar e ceder o meu lugar caso você não aceite
essa opção.
– Você não pode se levantar – exclamei perplexa.
– Exatamente – ele confirmou.
Era claramente uma encruzilhada, pelo pouco que eu o conheço, se eu
recusasse ele tentaria levantar, por outro lado, dormir em uma cama, ênfase
no dormir, com um paciente não me parecia ético. Fiquei em pé, claramente
indecisa pesando as minhas opções quando fui interrompida.
– No closet a esquerda do banheiro, você pode pegar uma camisa, que
imagino vai ser uma solução por enquanto – ele me disse sério.
A recusa estava na ponta da minha língua, mas por um lado, pensando melhor,
eu fui sequestrada, não descansei o suficiente até então, e amanhã teria que
voltar ao trabalho, então a lógica se sobrepujou a ética.
Me movi em direção ao closet, a organização me envergonhou, pilhas
perfeitas de roupas, separadas por cores, o tipo de coisa que você olha e diz,
“vou ser assim quando crescer” exceto que já cresci, e minha organização não
passa nem perto, mas sendo lógica também, não tenho um exército de
empregados ao meu dispor, e sendo assim minha bagunça pode ser
desculpada.
Uma fileira inteira de camisas brancas, que ao olhar, eu imaginei que ele
usava como uniforme diário. Peguei uma das camisa e me troquei ali mesmo,
peguei o roupão e então saí do closet, Mikhail me seguia com os olhos, o
roupão estava úmido em minhas mãos, para evitar mais uma visita ao
elevador, entrei no banheiro e o estendi no suporte de toalhas.
Não tinha mais como adiar o inevitável, voltei para o quarto, e então me
paralisei, resoluções parecem sempre mais firmes, quando elas foram tomadas
e estão no plano mental, a pratica é que é a parte complicada, como eu iria
dividir a cama (ainda que para dormir) com um paciente?

Mikhail
Um cervo nos faróis novamente Emma, estava completamente paralisada,
parada olhando em minha direção, devo dizer que eu estava apreciando a vista
já que a luz incidente do banheiro deixava a camisa transparente, e essa não é
uma informação que eu iria compartilhar com ela agora, primeiro que
provavelmente seria o motivo dela sair fugindo gritando, segundo que
enfatizei, eu estava aproveitando a vista. Não resisti a provocá-la:
– É só uma cama, Doutora, com um paciente incapacitado, que irá se
comportar.
Ela pareceu se dar conta de sua imobilidade, e disse:
– Você está bem? Alguma dor?
– Não doutora, nada por enquanto.
– Ótimo, os remédios devem segurar até amanhã de manhã, pelo menos, aí
vão ser necessárias novas doses.
Ela então contornou a cama, puxou as cobertas e se deitou, se cobrindo até o
pescoço novamente e fechou os olhos.
Emma me intrigava de uma forma que eu não sabia explicar, desde o primeiro
momento, a timidez, a boca inteligente, eram quadros complexos demais em
uma pessoa só.
– Bons sonhos doutora – eu disse para o vazio.
Depois de uma noite de merda, em que tudo deu errado, vendo Emma dormir,
provavelmente de exaustão, de uma forma estranha, senti que eu podia dormir
também, de alguma forma a sua presença era a paz que eu precisava para
dormir.

Emma
Tenho uma relação de simbiose com camas, talvez seja resquícios do meu
tempo de faculdade e da afinidade natural dos primeiros anos de residência,
todos nós os escravos modernos chamados estagiários, pegamos todo o sono
que podíamos ter, quando podíamos ter, macas, colchonetes, corredores,
qualquer lugar eram bom o suficiente quando se estava cansado o bastante, e
infelizmente, ou felizmente levamos isso para vida, encostar a cabeça no
travesseiro e dormir, dormir nunca foi problema, acordar que era, eu podia
contar nos dedos as vezes que acordei espontaneamente sem ter que por pelo
menos três alarmes por segurança no celular, e hoje misteriosamente acordei
assim, do nada sem auxilio nenhum.
Levei algum tempo desorientada tentando entender onde estava, a minha
cama não tinha um colchão tão bom, e muito menos lençóis que pareciam
seda tocando a minha pele, e então a realidade caiu como um balde em minha
cabeça, lembrei onde eu estava e porquê eu estava ali, arrisquei um olhar
para o lado e Mikhail continuava dormindo, podia ouvir um suave ressonar e
a subida rítmica do seu peito ao respirar, fiquei em dúvida sobre me mexer ou
continuar dormindo, o meu relógio marcava 7:03 e sabia que teria que estar
no hospital as 9:00, seria bom levantar, descobrir o que aconteceu com a
minha roupa e tentar recuperar o meu carro, mas para ser honesta, sempre fui
adepta dos cinco minutinhos a mais de sono, então prometi para mim mesmo
que ficaria só cinco minutinhos a mais ali e então eu iria levantar.
Uma comoção do lado de fora, desviou a minha atenção, vozes abafadas
pareciam estar discutindo, uma voz masculina Alex, e uma voz feminina um
tanto estridente, rompiam o silencia da manhã.
Olhei para Mikhail, e seus olhos estavam abertos e atentos. A discussão
parecia estar cada vez mais próxima da porta.
– Eu preciso que você suba em cima de mim – Mikhail disse
– O quê?
– Agora Emma, ela não pode descobrir o que ocorreu ninguém pode! E ela
vai entrar aqui a qualquer momento.
Não sei se foi o susto, ou o meu raciocínio lento pela manhã, mas uma parte
de mim obedeceu, e tenho convicção que não era o meu cérebro envolvido,
empurrei os cobertores e então coloquei uma perna na lateral do corpo dele, e
então impulsionei o meu corpo, e lá estava eu sentada literalmente no colo de
Mikhail, apoiei minhas mãos na lateral, não poderia pôr o meu peso sobre ele,
e tanto quando achava a ideia completamente descabida, só piorou quando eu
percebi um detalhe muito importante. A voz dele me interrompeu:
– Você não está usando calcinha – ele disse sussurrando perplexo.
– Está lavando, junto com as outras roupas, não era um problema até então –
eu sussurrei completamente mortificada – Você não está usando uma cueca?
Você estava, então onde ela foi parar?
– Não consigo dormir vestido – ele sussurrou de volta – Não se mexa Emma.
– Eu não estou me mexendo – eu sussurrei de volta, e ainda assim podia sentir
o seu comprimento por inteiro roçando em mim.
As vozes estavam mais próximas ainda, e o que eram vozes abafadas pareceu
se transformar em uma discussão, Mikhail, levou as mãos ao meu rosto, então
disse:
– Me desculpe por isso Doutora.
E então ele me beijou, aliás não sei se isso pode ser chamado de beijo, ele
assaltou a minha boca completamente, e para minha mortificação total eu o
beijei de volta, e inevitavelmente me esfreguei contra ele completamente
alheia ao meu redor e se não fosse o grito estridente, nem sei o que teria
acontecido.
– Seu porco desgraçaaadoo traaidor! – a mulher desconhecida gritou – Quem
é essa vagabunda?
Descolei a minha boca de Mikhail completamente atordoada.
Alex havia se postado na frente da mulher, a impedindo de avançar mais.
Comecei a me mover para sair de cima de Mikhail, mas suas mãos foram para
os meus quadris e me mantiveram no lugar.
– Tifanny, pensei ter dito que eu te ligaria quando quisesse te ver – Mikhail
disse, fingindo uma surpresa que estava longe de sentir – E como se não
bastasse você estar invadindo a minha casa, está sendo completamente rude
com a minha convidada.
Eu mal pude acreditar na desfaçatez dele, já que quem quer que a Tifanny
fosse, eles pareciam ter um relacionamento, já que ela se sentiu à vontade o
suficiente para invadir a casa dele. E claro encontrar uma mulher sentada no
colo de seu namorado, não é agradável, a histeria dela era totalmente
justificada.
Porém para minha surpresa Tifanny, virou de costas e saiu batendo os seus
saltos como se quisesse esmigalhar o chão. O barulho dos saltos quicando no
chão, foram ficando mais fracos até que desapareceram, Alex, deu um último
olhar divertido e então saiu do quarto. Finalmente eu me libertei do torpor, e
me dei conta de onde estava, e então saí de cima dele como se tivesse sendo
perseguida por enxame de abelhas.
E me tranquei no banheiro, simplesmente não tinha condições de enfrentar ele
agora, o que eu poderia dizer “Bom foi um favor claro, de nada, esqueça por
favor, que eu estava molhada, me esfregando em você, e que por muito pouco
nós não transamos, na frente da sua namorada, e que nas condições em que eu
estava, eu provavelmente não teria me importado.”
Talvez eu pudesse só pular pela janela, isso definitivamente acabaria com o
meu sofrimento, eu pensei em ficar ali o dia inteiro, mas a lógica acabou se
sobrepondo ao pânico, Mikhail não ia a lugar nenhum, estava de repouso, a
minha única saída era a porta e adiar isso não tornaria mais fácil. Peguei o
roupão que havia pendurado na noite passada, e vesti por cima da camisa.
Então mesmo em pânico total saí do quarto, seus olhos claros estavam
cravados em mim, como adagas.
– Nós precisamos conversar – ele disse antes de eu interromper.
– Não! Não precisamos, podemos fingir que nunca aconteceu, e se você me
der licença, vou achar as minhas roupas e pedir que alguém traga o seu café
da manhã.
Não esperei pela sua réplica e saí do quarto, fui em direção a cozinha na
esperança de usar o telefone de lá e ligar para os empregados mágicos, e
conseguir minhas roupas de volta. Minha surpresa é que havia uma mulher de
meia idade, loira trabalhando lá. Quando entrei ela ergueu os olhos para mim,
com uma expressão que só poderia ser tomada como desprezo e disse:
– Suponho que você seja a nova namoradinha.
– Não, eu sou a médica.
Seus olhos me mediram de cima a baixo, me fazendo corar.
– Você saberia onde estão as minhas roupas? – eu disse tentando me recuperar
– Você não sabe onde estão as suas roupas? – disse ela com uma expressão
chocada e falsamente cômica.
E foi aí que eu me lembrei de Alex dizendo que a Zhenya estaria aqui de
manhã, Zhenya que parecia um nome russo para mim, e que com quase cem
por cento de certeza estava a minha frente me pregando uma peça
– Zhenya eu suponho, e suponho também que você sabia quem eu era, e está
se divertindo as minhas custas.
Ela continuava com seu olhar sardônico em frente a mim, mas se manteve em
silêncio.
– Bom, conversa estimulante, – eu disse a ela, e então sem perder mais tempo,
a instruí – Mikhail tem a garganta ressecada pela intubação, mas ele tem que
comer e beber, já se passaram oito horas, de preferência algo leve, e fácil de
mastigar e engolir, papaia, ovos, qualquer coisa do tipo, para o almoço um
caldo de legumes é o ideal, inclua alguma proteína. Ele está sobre o efeito de
analgésicos e vou deixar uma prescrição, alguém deve ajudá-lo a tomar
banho, e fazer as suas necessidades, e então ele deve voltar para cama e
continuar em repouso, não houve danos extensos, mas a perda de sangue foi
significativa, então pelos menos pelos próximos três dias repouso, vou passar
aqui a noite e fazer outra avaliação. – E vendo que pareciam coisas demais
para lembrar, complementei - E eu vou deixar tudo isso anotado.
Zhenya acenou com a cabeça em concordância.
– E sobre as minhas roupas?
Ela se virou e então trouxe um pacote embalado, que parecia ter saído de uma
lavanderia comercial.
– Aqui, estão – disse ela sorrindo com diversão e completou – E você vai me
contar a história dessas roupas, ou da falta delas? Disse ela fingindo
seriedade, mas sendo traída pelo olhar.
– Ahh você sabe como é, não precisei delas para as horas de sexo quente e
sujo que estava fazendo, mas preciso para poder ir embora, nem todos podem
apreciar a minha nudez como Mikhail apreciou, a noite inteira – completei
E me movi para sair, mesmo quando estava no corredor, ainda podia ouvir a
risada de Zhenya ecoando pelas paredes
No corredor testei a primeira porta, abri uma fresta e espiei, um quarto vazio,
fantástico, entrei e me troquei rapidamente, era muito bom ter a minha
calcinha de volta, nessas circunstâncias. Peguei a camisa e o roupão e voltei a
cozinha, para o meu azar Alex estava sentando no balcão (sim, eu sou sortuda
assim) E me olhou com diversão assim que eu cheguei.
Me preparei mentalmente para a humilhação, mas tudo o que recebi foi um
cumprimento convencional, ainda que o sorriso irônico continuava lá.
– Bom Dia Doutora! O infeliz disse sorrindo.
– Bom dia Alex! – eu respondi como se fosse a primeira vez que eu estivesse
vendo ele hoje.
– Zhenya, você poderia me arrumar papel e caneta? Escrevi rapidamente as
instruções que eu já dito falado a ela mais cedo.
Entreguei o papel à Alex, e disse:
– Faça ele seguir o máximo possível de preferência.
Me movi então para dentro da cozinha e me aproximei de Zhenya que estava
ocupada cozinhando.
– Zhenya, aqui estão as coisas que eu sujei ontem – disse acenando para o
roupão e camisa nas minhas mãos, ontem eu deixei as minhas roupas,
próximo ao elevador e alguém veio buscar, mas imagino que não seja o
arranjo de hoje, então eu posso deixar aqui?
Ela apontou uma bancada seca longe dos seus utensílios e disse:
– Deixe ali, depois incluo junto as outras – e voltou aos seus afazeres
Voltei para o balcão
– Alex, você poderia me conseguir um táxi?
– Minha alma generosa vai fazer muito melhor, Igor vai te levar em casa! –
ele disse
Baixei a minha voz, já que não sabia o quão sincera poderia ser na frente de
Zhenya.
– Igor, o cara que me sequestrou vai me levar em casa? - Sussurrei incrédula –
E já passou pela sua cabeça, que eu não quero que as pessoas que me
sequestraram saibam o meu endereço?
Ele sorriu divertido e me respondeu baixinho:
– Gramercy Street, nº77, apartamento 503, Midtown – e me olhou divertido –
Você parece surpresa Doutora? E deu uma gargalhada.
Bem, ótimo, a máfia sabia o meu endereço, de casa, do trabalho, perfeito,
ótimo dia!
– Você pode avisar que eu estou descendo? E a propósito o que aconteceu
com o meu carro?
– Está estacionado na sua vaga, no seu prédio.
O meu choque transpareceu claramente no meu rosto
– Tem segurança! Como vocês, como, como?
– De nada Doutora! – ele disse encerrando a conversa
Ainda incrédula, me movi de volta a sala, tinha um cara com uma arma
esperando, imaginei que ele seria a minha escolta para fora.
Entramos no elevador, o segurança apertou um botão, e começamos a descer,
respirei com alivio, pelo menos momentaneamente não teria que encontrar
Mikhail, o estranho era essa ser a única razão do meu alivio, já que
efetivamente eu estava saindo do meu cativeiro. Não pude controlar minha
risada afogada pelo ridículo da minha situação, pelo reflexo vi o segurança
me lançar olhares estranhos, ótimo, agora ele considera que eu sou
definitivamente insana. As portas se abriram, e me vi na mesma garagem de
ontem, Igor estava ao volante de um SUV, e havia um segurança sentado ao
lado, o que me acompanhou abriu a porta traseira e eu entrei. Igor manobrou
o carro e saiu da garagem, fui acometida por um sentimento que não estava
acostumada, era como ter deixado uma parte de mim para trás, não sabia o
que era, mas uma certeza permaneceu, eu iria voltar, o que me deu a completa
certeza, eu havia definitivamente me tornado insana.















Chapter 3 – Voto de Confiança

Mikhail
Tinham se passado vinte minutos que Emma tinha saído do quarto, tanto
quanto eu estava tentando ser paciente, eu também não conseguia me levantar
por conta própria para ir atrás dela, nas duas vezes que tentei, era como se
lanças em brasas estivessem sendo colocadas nos ferimentos, eu resolvi
esperar ela voltar.
A porta se abriu, mas quem entrou foi Alex – e o filho da mãe como sempre
parecia divertido.
– Olá novamente, da primeira vez, não tive sequer tempo de dar bom dia
efetivamente, já que você parecia ocupado demais, e eu tinha que ir em
perseguição a sua ex-psicopata – disse ele com o sorriso irônico que era sua
marca registrada – Mas devo admitir a minha surpresa, você trabalha rápido
para uma pessoa nas suas condições.
– Corta essa merda Alexei, onde ela está?
– Em casa espero, foram três seguranças para conseguir tirar ela daqui, e de
particularmente quer a minha opinião Mikhail, termine com as suas
namoradas antes de trocá-las por outra, traz muito menos dor de cabeça,
principalmente para mim, que tenho que lidar com essas merdas – disse ele
balançando a cabeça fingindo consternação.
– Alex, eu estou pouco me lixando para onde a Tiffany, está, onde porra a
Emma está? – disse eu perdendo a pouca paciência que me restava.
– Ahh estamos falando da doutora então – disse o filho da puta voltando ao
sorrisinho irônico – Bom ela, foi para a casa, Igor a levou – complementou
ele.
– Você a deixou ir embora – minha voz saiu por entre os dentes que eu
mantinha apertados tentando controlar a raiva.
– Sim, o que foi combinado ontem, você precisava de atendimento médico
por segurança, e o único medico que era confiável o bastante, estava em
Nevada, ele foi chamado, está de volta, Zhenya também está aqui, então o
acordo era liberar a Doutora – ele disse pausadamente como se estivesse
tentando raciocinar com um lunático.
Resolvi relevar, depois resolvia o meu assunto com Emma, tinha coisas mais
urgentes a serem resolvidas agora.
– Alguma novidade – questionei
– Nossos homens estão na rua, procurando informações, até agora não
sabemos de onde essa merda surgiu, e para falar a verdade não sabemos onde
procurar – ele disse seriamente – Parece um serviço muito mal feito, de
última hora, se quer a minha opinião pessoal, e isso de certa forma complica
tudo.
– Como assim? – eu perguntei
– Havia mais de um atirador, atiramos de volta, talvez tenhamos ferido, mas
apesar de você ser o alvo principal, os tiros se espalharam, dois dos nossos
foram feridos de raspão, efetivamente você ficou com o pior.
– E?
– E nenhum dos seus ferimentos foram mortais, sequer atingiram os seus
órgãos vitais, um profissional atiraria para matar, isso supondo que houvesse
algum planejamento sobre isso.
Raciocinei sobre isso, pensando friamente, Alex tinha, razão, foi descuidado,
o que era estranho, não era uma chance em milhão, eventualmente eu estaria
aqui, a segurança ao meu redor era eficiente, mas não imbatível, então porque
arriscar? Até que a resposta veio como um clarão.
– Nikholai! – eu disse seriamente.
– O que tem? – perguntou Alex, tentando compreender.
– Eles não teriam razões para montar uma armadilha às pressas contra mim,
eu moro nessa cidade, eventualmente e com mais preparação, seria mais fácil
do que rápido e descuidado, além do que essa tentativa ia nos levar a
aumentar a segurança o que não faz sentido, não faz sentido se for para mim,
mas faz sentido se for para ele. – A estrutura de Vladmir, protege Nikholai na
Rússia, aqui sua segurança tende a relaxar, mas ainda assim é significativa,
pois ele sempre está acompanhado de seus próprios homens. Porém sua
chegada a cidade nunca é esperada é sempre uma surpresa, então se alguém
nos confundiu, e concluiu que era Nikholai no clube, valia a tentativa, ainda
que descuidada e precipitada de tentar, já que não teriam uma chance parecida
no futuro. – Expliquei meu raciocínio a Alex.
– Então quem te atingiu, esperava que você fosse o Nikholai? Bom isso
explica o descuido é evidente, mas também complica a situação, Nikholai
sendo o substituto de Vladmir, herdou os seus inimigos, e além disso fez os
seus próprios ao longo dos anos – Alex, raciocinou – A infinidade de pessoas
que podem ter alguma coisa a ver com isso é enorme.
– Você os deixou em alerta ontem? Perguntei.
– Sim, e se antes devido a uma solidariedade fraterna, ele já estava a caminho,
agora com certeza ele está vindo para cá! – Respondeu ele.
– Red está segura? – perguntei.
– Definitivamente, a segurança foi dobrada, e ela está sem poder sair do
apartamento, não está feliz obviamente, ainda mais que não contei toda a
verdade, mas se a sua teoria se confirmar, ela não vai ficar feliz por um longo
tempo. Não vejo Nikholai deixando o seu único ponto fraco desprotegido, e a
noção que ele tem de proteção é bem mais restrita que a nossa.
– Ela não pode sair, mais ou menos pode vir até aqui, imagino que dois lances
de elevadores, são seguros os suficientes.
– E vai se arriscar a ser alvo da ira do seu irmão? Alex perguntou.
– Ele é seu irmão também, devo te lembrar. A ira de Nikholai é intensa e se
vai rapidamente, a de Red queima brandamente e é demorada, deixa-la no
escuro só faz isso ser pior, então nesse caso, prefiro enfrentar Nikholai. –
Respondi
– É o seu pescoço meu caro, vou avisar a Iury, imagino que queira tomar o
café da manhã primeiro? – Alex perguntou.
– Sim, porém antes preciso ir ao banheiro, e preciso de ajuda para me levantar
– eu disse.
– Não importa o quanto você me pague, não me paga o suficiente para segurar
as joias da família Mikhail – disse o bastardo sorrindo.
– As minhas “joias” eu mesmo seguro, bastardo, preciso de ajuda para chegar
até lá.
A risada de Alex, ainda ecoava em meus ouvidos depois que ele me ajudou a
chegar até o banheiro. Precisava me recompor, e me preparar, se Nikholai
estava vindo, viria para resolver essa bagunça, e o conhecendo, não iria
descansar enquanto não achasse o culpado, muito merda estava para acontecer
no processo.

Emma
Igor dirigia como se estivesse em uma corrida na NASCAR, ultrapassava,
desviava de carros, costurava o transito como se estivesse sendo seguido, o
que percebi tardiamente, era uma possibilidade real, se o meu maior desejo
antes, era chegar em casa, o maior desejo atual, era chegar viva em casa.
Depois de vários atalhos, que aumentaram o tempo do percurso, eu pude ver o
parque Union Square e então sabia que estávamos chegando. Igor virou à
esquerda e contornou o quarteirão, eu morava em uma rua adjacente a Park
Avenue, em um simpático prédio de tijolinhos vermelhos, de frente para o
Gramercy Park, mas Igor não parou em frente ao prédio, virou à esquerda na
rua lateral que sempre está lotada de caminhões de entrega e dessa vez não foi
diferente.
Igor estacionou um pouco à frente de um dos caminhões e o segurança que
estava no banco da frente desceu e abriu a minha porta, desci um tanto incerta
do que fazer, como nos despedimos de nossos sequestradores? Não existe um
código de etiqueta que te ensine isso. Acenei com a cabeça em direção a Igor
e recebi um aceno de volta. O outro segurança que parecia uma pessoa bem
respeitável (se você não tivesse o conhecimento que sobre o casaco pesado
ele carregava uma arma), me acompanhou até a entrada do prédio, ele olhava
para os lados como se a qualquer momento alguém fosse pular em cima de
nós, o que foi me deixando cada vez mais nervosa à medida que os nossos
passos avançavam, era um trajeto relativamente curto e nesse horário, fora os
entregadores na outra rua quase não havia pedestres passando. Chegamos na
entrada do prédio, eu usei o meu aceno padrão como despedida e subi as
escadas tão rapidamente quanto as minhas pernas permitiam, no patamar
peguei a bolsa e então abri o compartimento interno rezando para que as
minhas chaves estivessem lá, e estavam, por um milagre acertei a chave de
primeiro, o que não ocorre com frequência, e então estava dentro do Hall, me
encostei aliviada a porta como se tivesse corrido uma maratona inteira, e
espiei pela vidro lateral, e pude a ver o segurança já quase na esquina.
Quanto me verei, a Senhora Dawson que morava no térreo, estava parada com
a coleira na mão, como se estivesse pronta para sair e tivesse se distraído com
a sua vizinha meio louca, se comportando irracionalmente, ela me olhava com
curiosidade, e tenho que admitir que pela minha aparência e comportamento
eu realmente parecia estranha aquelas horas. Mas depois de tudo, não queria
dar explicações a ninguém. Então murmurei um bom dia e passei por ela
rapidamente em direção as escadas.
Entrei no apartamento, Lila estava na sala assistindo desenho, e a Sra. Goshen
na cozinha, dei um abraço rápido em Lila, que me devolveu o abraço, e
definitivamente eu perderia se fosse disputar a sua atenção e perguntar sobre a
seu dia para a Peppa Pig, então me poupei do trabalho. Mas não poderia me
desviar da Sra. Goshen com a mesma habilidade que me desviei da Sra.
Dawson, ela tem o instinto de um cão de caça, e um cumprimento não iria
pará-la, mesmo sabendo disso eu tentei.
Aproveitando que ela estava preparando o café-da-manhã de Lila, e estava
distraída, dei um sorriso a cumprimentei e continuei andando em direção ao
meu quarto. Tirei rapidamente as roupas que estava usando peguei uma toalha
e entrei para o banheiro, estava com tempo, mas o trânsito pela manhã é
horrível, já que todos estão indo para o trabalho, e não queria me atrasar.
Tomei um banho rápido, no chuveiro mesmo, mas quente o suficiente para
escaldar a minha pele, é uma das únicas coisas que me relaxa, e depois da
noite de ontem e da manhã de hoje eu precisava muito relaxar, e queria ficar
ali embaixo por muito tempo, mas sabia que não podia ceder à tentação.
Contra a minha total vontade, saí do meu paraíso fumegante, e me enrolei na
toalha, ao sair do banheiro levei um susto, a Sra. Goshen me esperava sentada
na cama, e sua expressão era de jubilo.
– Oh minha querida! – ela disse – Fico tão feliz por você! Já havia perdido as
esperanças é claro, sua vida social era inexistente, mas saber que você
encontrou alguém, e é sério o suficiente para passar a noite fora de casa me
deixa tão feliz! É claro que quando você se casar, vamos sentir a sua falta
aqui, mas você merece a felicidade, e no que depender de mim Gwenevere
não vai demorar muito para encontrar a dela, se é que você me entende –
disse ela piscando para mim com cumplicidade.
E aí está, estava pronta para desiludi-la sobre a minha efervescente vida
social, e o meu “encontro” da outra noite, e o meu casamento eminente
quando ouvi a última frase. Não me entenda mal, a Sra. Goshen, nos ajudou
mais do nós poderíamos agradece-la por toda uma vida, se Gwen e eu
conseguimos nos formar, boa parte dos créditos são devidos a Elizabeth
Goshen, uma senhora aposentada que morava no apartamento ao lado, quando
nos mudamos para cá, mesmo trabalhando o máximo de horas possíveis,
tínhamos que escolher na maioria das vezes entre o almoço e o jantar, então
misteriosamente alimentos apareciam no armário, sempre com a desculpa, de
que “Philip, não tem a mínima noção de quantidade, sempre compra a mais
quando vai ao mercado..” referindo-se ao Sr.Goshen, que eu imagino em toda
a sua vida nunca entrou efetivamente além do estacionamento em mercados,
mas com um bebê em casa e sem dinheiro suficiente para comer, orgulho era
um luxo que não nos permitíamos, além do que alguém confiável para cuidar
de Lila, enquanto estudávamos para as provas finais, era um alento que não
tinha preço, e que se tivesse, nós certamente não poderíamos pagar. Gwen não
tinha ninguém, vinha do sistema de adoção, e qualquer informação sobre a
sua família biológica, havia se perdido há muito tempo, eu era a irmã do meio
de um total de cinco irmãs, e meus pais absolutamente não tinham meios de
me ajudar o suficiente para permitir uma vida confortável, e o pai de Lila,
nunca deu notícias, nem mesmo durante a gravidez, e Gwen evitava falar
sobre o assunto.
Vivíamos no limite, entre a pobreza e a mendicância, mas passamos por isso,
depois da formatura, entramos na residência e o salário melhorou,
equilibrando as nossas contas pudemos pagar a Sra. Goshen, que a muito
contragosto aceitou, e isso porque sabíamos que não podíamos continuar
abusando de sua boa vontade, e consideramos colocar Lila em uma pré-
escola, e sendo assim, ela aceitou receber pagamento. Não estávamos com o
orçamentou folgado, ainda mais que ainda tínhamos empréstimos estudantis a
pagar, e isso somado a todas as outras contas, nos mantinha em um orçamento
restrito, mas nada me faria voltar atrás, Lila era minha afilhada, e eu a amava
tanto quanto se ela fosse minha, e Gwen era minha irmã de alma, mais
parecida comigo que todas as minhas irmãs, nos apoiávamos sempre, e
mesmo com todo o sacrifício valeu a pena cada minuto.
E então voltando a Sra. Goshen, ela era basicamente a mãe que nos adotou
aqui, e como “mãe” acreditava saber o que era melhor para nós, e nossa vida
workaholic era demais para ela, ela acreditava que o amor iria resolver tudo e
de uns tempos para cá tomou como a sua missão pessoal, arrumar um marido
para Gwen e um para mim. Devo confessor vergonhosamente, que eu e Gwen
usamos a nossa profissão como escudo muitas vezes para desmarcar esses
encontros no escuro, mas tanto quanto, não queríamos magoar a Sra Goshen,
fomos a alguns, experiências eu garanto que não pretendo repetir.
Sendo assim, a sua última frase, me tirando do grupo casamenteiro dela, me
deu esperanças, e um ataque de consciência que eu rapidamente silenciei com
lógica, eu não precisava mentir descaradamente, mas também, não precisava
contar a verdade, sendo assim um meio termo, parecia o ideal.
– Oh Sra. Goshen, eu não sei o que dizer… – eu disse um tanto encabulada,
incapaz de desmentir o meu relacionamento de mentirinha.
– Ohh Emma, me chame de Elizabeth, por favor, Beth se preferir. E então –
ela disse animada – Quando vamos conhece-lo?
O que eu não havia previsto obviamente e sendo assim resolvi sair pela
tangente.
– Ahh você, sabe, é ainda muito recente, então ainda vou ver como vai ser….
– Mas você têm que apresenta-lo a sua família, temos que conhece-lo e ver se
ele a trata bem, ele tem que saber que você tem uma família que se preocupa
com você – ela disse me olhando nos olhos com carinho, o que só aumentou a
minha culpa.
– É claro, Elizabeth, e eu agradeço a consideração, mas Lila, está em uma
idade complicada, e não quero introduzir novas pessoas em sua vida, ao não
ser que eu tenha a absoluta certeza que são permanentes, e sendo assim
apresentar um namorado agora, quando tudo ainda é tão recente, não me
parece uma boa ideia.
– Ohh meu Deus, é claro, você tem toda a razão… – ela disse segurando, as
minhas mãos – Mas minha querida, eu quero que saiba, estou tão feliz por
você! – ela disse com os olhos brilhando.
–Obrigada Elizabeth, eu adoraria ficar e conversar mais – menti
descaradamente – Mas estou atrasada e o trânsito pela manhã é terrível –
enfatizei, com uma meia verdade.
Me troquei rapidamente, e menos de cinco minutos depois estava pronta para
sair, passo pela Sra. Goshen, na sala e dou um aceno de despedida.
Lila continuava assistindo desenho, me abaixo pra dar um beijo rápido e dizer
tchau e quando ela me vê sorri.
–Tia Emm! Hoje é quinta-feira. – ela diz parecendo infeliz
– Eu sei princesa! E qual o problema? Respondo calmamente.
– É nossa noite de filme! E o sorvete de chocolate com castanhas acabou – diz
ela parecendo miserável, e ao mesmo tempo com olhinhos esperançosos que
eu tenho certeza que ela aprendeu com o gato de botas.
– Bom, eu acho que posso passar na loja e comprar mais, docinho – eu digo,
sabendo que fui amavelmente manipulada por um mestre de quatro anos
Ela sorri certa de sua vitória, envolve as suas mãos no meu pescoço e me dá
um beijo de despedida. E então volta as aventuras da fenda do biquíni como
se nada tivesse ocorrido.
Saio em direção a porta, colocando um lembrete no meu celular, para lembrar
de passar e comprar o sorvete de chocolate com castanhas. E então desço as
escadas.
O estacionamento do prédio tem saída para a rua lateral, é um espaço no
térreo, cercado pelas construções ao redor, e coberto, existe uma guarita de
segurança que controla o acesso, já que as vagas são alugadas durante o dia, e
são poucos moradores que utilizam, em sua maioria as pessoas que moram
aqui são aposentados e pela proximidade com o centro comercial, gostam de
fazer tudo a pé, das cinquenta vagas existentes, os moradores não ocupam
sequer vinte, e as outras são alugadas para pessoas que trabalham nas
proximidades.
Me aproximo da minha vaga um pouco incrédula sobre o meu carro estar
realmente lá, Clyde o porteiro noturno, não é o que podemos chamar de um
porteiro eficiente, mas também não é cego, e ainda que reconhecesse meu
carro, não reconheceria o motorista, o que seria um excelente motivo para
questionar quem quer que seja que foi o responsável por trazer o carro ontem
à noite, e então me preparo para a possibilidade de ter que gastar uma boa
parte do meu orçamento do mês em um táxi.
Mas para minha surpresa, na minha vaga, onde Alex disse que estaria, está o
meu carro. O alivio desse por mim, não teria que gastar o dinheiro que eu não
tinha em um táxi até o hospital.
Entro no carro, jogo minha bolsa no banco do carona, e dou a partida, paro na
guarita, para que Clyde libere a cancela, ele me reconhece, e chega a sua cara
redonda e sorridente na janela.
– Bom dia Srta. Emma! – ele diz com simpatia – Eu não sabia que você tinha
parentes na cidade, seu primo Franklin passou para deixar o seu carro ontem à
noite. – ele complementa, finalmente me dando a informação de como
conseguiram colocar o meu carro aqui.
Não sei se Clyde presta atenção o suficiente para que sua conversa seja uma
tentativa de pescar informação, por isso mantenho a neutralidade.
– Bom dia Clyde – eu respondo –Sim Frank foi um amor de pessoa ao me
fazer esse favor.
– Realmente, Senhorita Emma, dirigir embriagada não era uma boa opção,
são poucos os jovens com essa responsabilidade hoje em dia. Mas sabe, nunca
é bom exagerar, o alcoolismo é uma doença fácil de se entrar, mais difícil de
sair – diz ele parecendo preocupado.
Sorrio de nervoso, então a história oficial era que eu estava bêbada demais
para dirigir. E o meu porteiro, acredita que eu esteja há um passo do
alcoolismo. Penso se vale a pena dizer que exceto para eventuais taças de
vinho de jantares, basicamente não bebo álcool, e que a minha única droga
diária é café, mas aí teria que reformular toda a história do “meu primo”
Frank e decido que não vale o esforço.
– Até mais Clyde, estou atrasada! – minto descaradamente e aceno
distraidamente na pressa de ir embora.
– Até mais Senhorita Emma – ele me acena de volta, e então estou pegando o
trânsito matutino da Big Apple e começando o meu dia que parece que vai ser
longo.

Mikhail
Alex, o bastardo, me ajudou a ir até o banheiro, fiz minhas necessidades e
definitivamente precisava de um banho, ele me trouxe um filme plástico para
proteger os curativos, e então me ajudou a sentar na bancada no chuveiro, eu
me senti particularmente grato a quem quer que tenha projetado esse lugar por
colocar um chuveiro que parecia ter saído de uma ficção cientifica, e
disparava jatos por todos os lugares, porque eu me sentia completamente
incapaz de me manter sobre as minhas pernas, e preferia ficar uma semana
sem tomar banho a permitir que Alex entrasse aqui e ficasse me segurando
como se eu fosse incapaz, e como um banho de imersão estava fora de
cogitação, agradeci mentalmente de novo a pessoa que projetou o
apartamento, pelo meu apreço pela maldita bancada em que eu estava sentado
agora, tomando banho.
Após terminar, precisei da ajuda de Alex, para voltar para o quarto, ele era
basicamente um apoio para o caso de eu cair, mas insisti em me mover com as
minhas próprias pernas, apesar que eu as sentia como se fosse gelatina. O
filho da mãe jogou uma toalha para mim segurando uma outra, disse com voz
debochada:
– Quer ajuda para secar as suas tranças Rapunzel?
Somente o olhei e me recusei a responder, eu sabia e Nikholai também que a
personalidade extrovertida de Alex, era mais um disfarce do que qualquer
outra coisa, mas às vezes ele enchia a porra do meu saco com essa merda!
Sorte dele, ou azar o meu, tínhamos o mesmo sangue, e não importa o quanto
ele fosse um cuzão do caralho, isso ainda prevalecia.
Ouvimos uma batida na porta.
– Estão todos decentes? Estou entrando – disse a voz melodiosa
E ainda que eu não reconhecesse a voz, só havia uma pessoa com educação
suficiente para bater na porta e perguntar se estávamos “decentes” antes de
entrar, se fosse Zhenya, ela teria entrada sem bater, e quando eu reclamasse
que estava nu, ela diria que não seria nada que ela não houvesse visto antes,
Zhenya, era minha governanta e o mais próximo de uma mãe nós tivemos, já
que para todos os efeitos, erámos órfãos de pai e mãe, ainda que pelo menos
o pai estivesse vivo.
Red entrou carregando uma bandeja com o que eu imaginava ser o meu café
da manhã, e então a colocou do lado do meu corpo
– Você não tem uma roupa? – perguntou ela sorrindo
– Estou coberto pelo lençol, e acabei se sair do banho, quando você invadiu,
então não força Red – eu disse um tanto mal-humorado.
– Você está bem? – ela perguntou preocupada.
– Sabe o que Zhenya sempre diz, vaso ruim não quebra, estou bem e pronto
para a outra – eu disse aliviando o meu mau humor.
Ela colocou ambas as mãos na cintura e então disse tentando parecer brava.
– Porque eu só ouvi sobre isso hoje de manhã, Mikhail?
Se tem uma coisa que eu aprendi ao longo dos anos é que não se pode ganhar
uma discussão conta Red de forma limpa, sendo assim.
– Eu estava desacordado, pergunte a ele – disse apontando para Alex
Ele me olhou estreitando os olhos prometendo retaliação, mas então
Katherina já tinha se virada para ele.
– Alex? – ela disse com interrogação.
– Foi uma bagunça fod…complicada Red, não sabíamos de onde veio o
ataque e a prioridade era, manter Mikhail vivo, e todos seguros, por isso a
ordem de proteção e o motivo de haver tantos seguranças ontem. Além do
quê, só viemos para cá no meio da madrugada, não fazia sentido te acordar, só
para dizer que Mikhail estava dormindo quentinho em sua própria cama –
complementou ele com um toque de ironia.
Red pareceu pensar por um momento, mas Alex era bom com as palavras, no
primeiro argumento, ele sabia que já tinha vencido.
Katherina inclinou a cabeça pensativamente.
– Suponho que isso seja o máximo que vocês vão me dizer de qualquer forma
não é? – disse ela mais como afirmação do que propriamente como uma
pergunta.
Alex somente sorriu e disse a ela:
– Os detalhes sórdidos não valem a pena meu bem.
Ela balançou a cabeça em aceitação, e então perguntou a Alex
– Estão todos bem? – o seu tom, era claro como cristal, e ela estava
especificamente perguntando se Nikholai estava bem.
– Sim Red, todos estão bem, eu levei a pior, e estou bem. – Eu disse para
tranquiliza-la.
O filho da puta do Nikholai não podia pegar a porra de um telefone e dizer
para a sua mulher que estava bem? Eu não sabia o que tinha acontecido entre
eles, mas diante disso e sabendo que ela ia se preocupar, que merda ele estava
pensando?
Mas esses pensamentos eu guardei para mim. Eu não precisava esfregar isso
na cara dela, e pelo seu olhar, ela já se sentia ferida o suficiente pelo silêncio
de Nikholai.

– Onde está Zhenya? –perguntei.
Estava estranhando que até agora ela não apareceu por aqui.
– Ela estava trazendo a sua bandeja quando o telefone tocou, e ela parou para
atender – Katherina disse parecendo um pouco sem graça.
Estranhei a informação Zhenya, só fala o trivial pelo telefone, mesmo com
Nikholai, só tinha uma pessoa com quem ela gastava tempo e.… porra! Claro
Vladmir tinha ligado. Se Nikholai estava preparando uma guerra, com certeza
Vladmir seria informado, e como não aceita bem informações de terceiros,
veio direto a fonte, e ligou para a única pessoa, que não iria se ressentir de
falar com ele.
– Vladmir, eu suponho – eu disse fechando a minha expressão
Red corou, o que só confirmou as minhas suspeitas, o rosto de Alex, também
se fechou como uma tempestade, mas sua expressão relaxada logo estava se
volta, eu não me enganava absolutamente que isso era em meu benefício, mas
a presença de Red, certamente o impediu de dizer o que pensava.
O silêncio embaraçoso permaneceu, nenhum de nós sabia o que dizer Vladmir
era de certa forma uma persona non grata para todos nós, e só a menção do
seu nome era capaz de gerar muita tensão.
Alex, percebendo o desconforto de Red quebrou o silencio
– Mas voltando, ao início, quer dizer que o grande bebê está se sentindo
abandonando porque a mamãe ainda não veio ver como você estava? – O
idiota disse se referindo a Zhenya. – Pode ficar tranquilo, Mikhail, mamãe
pata esteve aqui quando chegou, entrou no quarto e saiu muito rapidamente,
se quer a minha opinião, e depois claro eu soube o porquê – complementou
ele com diversão.
Red, levantou as sobrancelhas em curiosidade e não pode se segurar
– Porque Alex? – Ela perguntou sem disfarçar a curiosidade.
O bastardo riu com gosto e apontando para mim disse.
– Romeu, havia feito uma nova conquista, não estava sozinho na cama.
Imagino que isso tenha desencorajado Zhenya, e feito ela sair rapidamente do
quarto.
Red, me olhou divertida.
– Sério Mikhail? Nessas condições? – questionou ela sorrindo.
A minha vontade de socar o Alex, só aumentou, tudo que eu não precisava
agora, era todo mundo sabendo de Emma, o filho da puta tinha acabado de
garantir isso. Mas por enquanto não poderia expressar o meu
descontentamento socando ele, então guardei para depois, e quando ia
responder fui interrompido pela chegada de Zhenya.
Ela se aproximou da cama e tocou o meu rosto.
– Bom ver que você está bem moy syn – ela disse com carinho – Porque não
está comendo? A medica disse que tem que comer! E a julgar pelo que vi pela
manhã, acredito que vocês estão próximos o suficiente para ela querer o seu
bem nyet? – disse ela, voltando ao seu tom de comando normal.
– Da, Zhenya, estou comendo – eu disse.
Zhenya então olhou ao redor.
– Alex, sei que você tem como hobbie, atormentar, Mikhail, mas Igor está te
esperando para fazer sabe se lá o quê – ela disse, dando a Alex um olhar que
ele não ousasse contestar e completou - Mas tome o seu café da manhã, até
agora tudo o que vi você ingerir foi café, e não ouse me enganar Alex, coma,
senão eu saberei. – ela disse com fingida severidade.
E então virou suas armas para Red.
– Katherina, você não tem malas a fazer?
Red pareceu surpresa.
– Não que eu saiba, eu tenho? – respondeu ela um tanto surpresa, um tanto
divertida.
– Da, você tem – Zhenya confirmou – Estamos indo para os Hamptons hoje à
noite, e como não existe uma previsão de volta, imagino que você queria
preparar a sua bagagem com cuidado – ela disse acenando com as mãos em
dispensa.
Red, era a única mulher a quem Zhenya, dedicava um carinho real, a pose
dela de governanta sisuda, caiu por terra a muito tempo depois de tudo que
Katherina passou, se Zhenya nos via como filhos, ela certamente tinha em
Katherina uma filha.
Katherina por sua vez, sabia quando estava sendo dispensada, e então não se
demorou. Se abaixou próxima a mim e disse:
– Nunca me assuste assim novamente Mikhail, perdi uns bons dez anos de
juventude com o susto – ela disse e me deu um beijo no rosto em despedida,
então se moveu para Zhenya, e também a beijou no rosto e disse – Vou para a
casa começar a fazer as malas, estou convidada para o almoço?
– Da, é claro, sempre Katherina – disse Zhenya com afeto genuíno.
Red sorriu, e então com o último adeus, se retirou do quarto.
E então Zhenya estava sozinha no quarto e pronta a me interrogar.
– E então?
– Então o quê? Me fingi de desentendido
– O que você tem com a médica?
– Não tenho nada com a médica, Zhenya, se Alex disse alguma coisa, ele
estava exagerando, foi uma encenação para me livrar de Tifanny, já que como
você sabe, não é seguro que ninguém fora do círculo de confiança, saiba que
eu fui ferido.
Ela ficou parada me analisando por alguns instantes.
– Alex, não me disse nada, ele tinha algo a dizer? Ela disse desconfiada –
Estou dizendo porque quando vim aqui mais cedo, vocês pareciam mariscos
em uma concha, e isso ninguém me contou, eu vi, e devo dizer estou
surpresa…
– Não interprete dessa maneira Zhenya, ela precisava descansar e eu não
podia ficar só, então foi uma praticidade que ela dormisse em minha cama,
não tente ver significados onde não existem – e para aliviar o tom, eu disse
brincando – Além do que deve ser compreensível, sou um partido bom
demais, o que posso fazer se as mulheres não conseguem manter os mãos
longe de mim.
Zhenya me olhou pensativa, considerando as minhas palavras.
– Pelo seu histórico, sei que não está de gabando em vão Mikhail, e todos
vocês não tem a modéstia como qualidade, porém o que me surpreendeu não
fosse que havia uma mulher agarrada a você como um marisco, como você
mesmo disse, elas não conseguem manter as mãos longe, o que me
surpreendeu é que você a estava abraçando de volta, em total proteção, e isso
para mim é novidade, porque em todos esses anos em que milhares delas
desfilavam por aí, foi uma coisa que você nunca fez, e então eu me pergunto o
que há de diferente nessa? – ela perguntou de forma retorica, e então se
moveu para a porta.
–Tenho alguns preparativos a fazer para a viagem, Nikholai deve ligar a
qualquer momento, para falar com você. – Ela então parou a porta e disse.
–Tente descansar moy mal’chik*, eu volto na hora do almoço, e termine o seu
café da manhã – ela complementou estreitando os olhos.
Após a saída eu ainda pensava em suas palavras “O que tem de diferente
nessa?” Eu também gostaria de ter essa resposta.
*meu menino












Chapter 4 – Amizade

Emma
Cheguei no hospital, com tempo de folga ainda, minha cirurgia estava
prevista para as dez, e ainda não eram nem oito e meia e as rondas não
levariam mais que meia hora, mas como previsibilidade não existe no centro
cirúrgico fui me trocar, e adiantar o que era possível antes da cirurgia.
Gwen surgiu como um fantasma enquanto eu me trocava e me assustou, pois
não percebi os seus passos silenciosos, até que sua voz a denunciou.
– Emma Harris, você realmente achou que eu não iria descobrir – ela disse
estreitando os olhos, e me fazendo pular de susto.
Mentalmente preparei uma defesa muita lógica dos acontecimentos da noite
anterior e argumentos sólidos para explicar, o porquê em nenhuma hipótese
poderíamos chamar a polícia, ou contar para mais alguém.
Mas um fato sobre Gwen, é que ela é adepta aos monólogos, tanto quanto isso
é uma característica irritante, tem suas vantagens também como eu pude
perceber agora.
– Eu sou a sua melhor amiga, não se esconde uma namoro de uma melhor
amiga, aliás por tudo que passamos juntas, sou sua irmã, o que me auto
intitula sua melhor-amiga-irmã, você não pode esconder coisas assim de mim,
tenho que saber quem ele, é, eu e Lila temos que avalia-lo, ver se ele serve,
você não pode se comprometer a sério com um cara que a gente não conhece?
E se ele não for bom o suficiente para você? Quem vai te dizer isso além de
mim?
–Gwen, respira – eu interrompi – E a proposito quem te contou? – era uma
pergunta retorica obviamente só poderia ser a Sra. Goshen – A Sra. Goshen é
rápida devo admitir.
E então pensei por um instante, Gwen era minha irmã, mas honestamente?
Ela iria enlouquecer completamente se soubesse a verdade, e uma mentira
completa seria complicada também, porque então eu teria que conjurar um
namorado sério inexistente do nada, e pesando as minhas opções rapidamente,
cheguei a uma definição, uma meia verdade convincente. Puxei Gwen para
um canto e então comecei.
– Foi uma noite, o que eu não posso chamar de relacionamento sério, eu o
conheci ontem, então dormi com ele, o que posso dizer? Não poderia chegar
em casa e dizer para a mulher que eu considero uma segunda mãe, que havia
dormido com um cara logo depois de conhece-lo, então deixei que ela tirasse
as suas próprias conclusões.
–Você não é assim – Gwen disse – Você não dorme com qualquer um, nunca
teve relacionamentos de uma noite só – ela completou chocada
– Não, nunca tinha tido, mas esse cara, ele simplesmente não é cara que você
para pra pensar, e então diz, bom eu não vou dormir com ele no primeiro
encontro, é o tipo de cara que faz você esquecer o seu nome, no primeiro
beijo, então vamos dizer assim que eu não estava sendo muito lógica, então
podemos dizer assim, que eu me deixei levar pelos acontecimentos.
Gwen pareceu divertida e um tanto preocupada.
– Você usou proteção né? Porque merdas acontecem, e eu melhor que
ninguém sei disso.
– Gwen – eu disse exasperada, eu tomo anticoncepcional lembra? E além
disso sou uma médica, não sou descuidada assim, eu sempre uso proteção. E
não pretendo fazer disso um hábito.
– Bom – ela disse – Homens de um modo geral, não são confiáveis, tem as
palavras doces como mel, mas isso na maioria das vezes é um disfarce – ela
disse, e seus olhos adquiriram um tom saudoso, e tive a impressão que ela
estava pensando no pai de Lila. – Enfim – ela disse mudando a expressão para
um sorriso – se “isso” continuar, ou não, quero que saiba que estou muito
orgulhosa Emm, você transou com alguém, uma transa de uma noite, sem
grandes avaliações ou preparações, isso é um passo importante na vida adulta,
e tanto quanto isso iria chocar todos os nossos amigos e conhecidos
conservadores eu estou realmente orgulhosa, estava realmente preocupada
que teias de aranha fossem se formar e…
– Vai se foder Gwen – eu disse com uma raiva fingida – E eu não sei do que
você está de gabando, já que a sua vida amorosa é tão inexistente quanto a
minha.
– Ahh sim, mais o meu coração foi quebrado, e eu levo um tempo para me
recuperar – ela disse meio divertida, meio consternada.
Eu sabia que o pai de Lila, tinha magoado Gwen, da parte dela era amor, sem
dúvida, da parte dele eu não saberia dizer, e entre criar Lila, e se formar,
ficamos ocupadas o suficiente para ignorar aspectos sociais de nossas vidas.
– Bom, você que se prepare então, tive a leve impressão hoje de manhã, que
já que estou com a minha vida amorosa encaminhada, a Sra. Goshen, vai
pegar sua inexistente vida amorosa como missão, então prepare-se para o que
há por vir.
Gwen pareceu completamente horrorizada.
– Isso é ridículo, você teve um relacionamento de uma noite, isso não conta
como vida amorosa! – ela disse horrorizada.
– Eu sei disso, você sabe disso, ela não sabe disso e nem vai ficar sabendo,
entendeu Gwenevere Hill? Eu salvei a sua pele muitas vezes dos encontros às
escuras promovidos pela Sra. Goshen, agora é o seu turno. – Eu disse com
fingida severidade.
Gwen riu ainda horrorizada.
– Ok, é justo. – Gwen assentiu – De certa forma, vamos negociar esses
termos, afinal se isso não for para a frente, você não vai conseguir fingir ter
um relacionamento por muito tempo – e então ela sorriu – Podemos revezar.
Gwen era impossível, olhei para o relógio, queria ver os meus pacientes, e
tentar adiantar o máximo possível o meu dia, já que teria que passar pra ver
Mikhail ainda hoje.
Então me despedi de Gwen, e quando já estava chegando a porta Gwen
gritou:
–Mas Harris, não vá achando que se livrou de mim, eu quero detalhes dessa
noite com esse deus grego capaz de levar uma santa a pecar, e muitos, muitos
detalhes – ela disse piscando sugestivamente e em seguida dando uma
gargalhada, enquanto se voltava para o seu armário para pegar as suas coisas
Resolvi não estender a polemica, cedo ou tarde teríamos que conversar, e com
a ajuda dos turnos desencontrados eu esperava que fosse tarde…
– Tchau Gwen! – acenei em despedida sem render assunto.
E me movi em direção ao balcão, tinha as rondas a fazer, duas cirurgias
agendadas, e outras que poderiam surgir em emergência, o meu dia estava
mais que cheio o que impedia que eu fosse racionalizar tudo o que tinha
acontecido.

Mikhail
Conversar com o meu irmão gêmeo era sempre o mesmo, Nikholai desde
sempre nunca usou muitas palavras, o seu jeito taciturno e sua aura perigosa o
acompanham desde sempre. Quem não o conhece, pensa que que esses
adjetivos podem se aplicar a mim, mas quando os gêmeos Dragorov são
postos lado a lado, essa diferença é bem explicita. Nikholai não fala, ele
comanda, e usualmente escuta só o necessário, e os “comandos” que ele
rosna, também vem com o estritamente necessário, alguns o chamam de frio,
já disseram até que Nikholai tem mais gelo nas veias que a Sibéria, essas
pessoas claro não o conhecem bem, quando está com raiva, puto o suficiente,
Nikholai é fogo e não gelo, e devo admitir, ele tem um rosto bastante
expressivo quando nesse estado, não que as pessoas que tenham visto essa
expressão em seu rosto continuem por aí, para contar a história.
E ao telefone, com ele agora pouco, pude perceber o fogo queimando na
superfície, Nikholai estava puto, e certamente alguém ia pagar por isso. É
claro que apesar de todo o nosso companheirismo fraterno, isso não era só
sobre mim, e bem a verdade não era sobre ele, os dedos das mãos e pés
somados, não eram suficiente para contar os inimigos de nossa família, e
principalmente os inimigos de Nikholai, já que aparentemente, ele era o
herdeiro presumível de Vladmir, a raiva de Nikholai era sobre Katherina, ele a
manteve bem protegida nesse país, justamente para evitar expô-la ao perigo
imediato que ele vivia na Rússia, se tentaram mata-lo aqui, (ainda que tenham
atingido a mim sem saber) onde ele considerava que ela estava protegida,
então ele sabia que podiam tentar atingi-la também, Katherina era o calcanhar
de Aquiles dele, e aparentemente era a única a desconhecer esse fato. Nós não
sabíamos o que tinha ocorrido entre os dois a cinco anos atrás, e meu querido
irmão não era exatamente alguém a quem você faz perguntas ou troca
confidências, o fato é que Nikholai me pediu que protegesse Katherina, e eu
tenho feito isso por anos, vejo ela sofrer, vejo ele sofrer, e nenhum dos dois
fez nenhum movimento para uma separação definitiva, mas estão separados a
cinco anos, e tanto quanto quero saber que porra aconteceu, também não
posso perguntar a Red, ela definitivamente, não é irascível como Nikholai,
mas geralmente quando o nome dele é citado, seu corpo congela, e se fosse
medo, eu entenderia, mas a expressão que toma conta do seu rosto, é um
misto de amor, dor e uma profunda saudade, que nos faz desviar os olhos,
como se estivéssemos vendo algo muito intimo que não deveríamos ver. E o
pior é que Nikholai tem o mesmo olhar, nas raras vezes que deixa a expressão
de fachada cair. Então nós, ficamos presos entre os dois, basicamente sem
saber o que fazer, Alex e eu somos completamente incapazes e falar qualquer
coisa que pudesse magoar Red, e Nikholai se nega a discutir o assunto,
Zhenya que costuma ter alguma influência sobre todos nós, nos disse que
deixássemos para lá, e que eles teriam que se resolver sozinhos.
Então todos nós fingimos, que nada está acontecendo desde então, e tanto
quanto é possível essa dinâmica tem funcionando bem, ao longo dos anos.
E então voltando a nossa conversa de agora pouco, Nikholai iria começar uma
guerra. E certamente a única pessoa que ele não queria no meio disso e
correndo riscos era Katherina, assim uma verdadeira operação foi montada,
Zhenya e Katherina seriam transferidas para a casa dos Hamptons, que
embora nenhuma delas tivessem ciência do fato, era uma verdadeira fortaleza,
e os melhores homens que tínhamos, iriam fazer a segurança. E então Red
estaria protegida e em total ignorância sobre o que ocorreria, não tinha a
mesma ilusão sobre Zhenya, já que mais cedo ela havia falado com Vladmir
(e particularmente Vladmir não é um assunto que eu queira discutir agora.)
Além disso, eu tinha que considerar a segurança de Emma, ela foi obrigada a
entrar no meu mundo, e pelo andar da carruagem, eu não ia permitir que ela
saísse, e isso era basicamente o equivalente a pintar um alvo em suas costas.
Havia uma equipe nos arredores do hospital, e particularmente no hospital em
que ela trabalhava, havia dois funcionários que também estavam na minha
lista de pagamento, eles eram úteis em caso de necessidade, mas agora
também eram basicamente os meus olhos lá dentro, se houvesse qualquer
indicio de perigo, eles avisariam, e a equipe que mandei, estava próxima o
suficiente para chegar a ela e mantê-la a salvo, e isso claro foi feito a sua
revelia, pelo pouco que a conhecia, dizer a ela que eu a estava vigiando
(mesmo que fosse para mantê-la segura) não iria funcionar. Como dizem por
aí, a ignorância era uma benção.

Emma
Ao final da tarde eu esperei pela exaustão comum, nos finais de turno, mas
misteriosamente, hoje foi um dia tranquilo, as cirurgias programadas correram
bem, e sem nenhum imprevisto que fizesse que eu ficasse presa por mais
tempo em cirurgia. Além disso, nenhum caso de emergência havia chegado
até o momento, o que por si só já era um milagre, já que o nosso hospital é
quem costuma receber os casos de trauma nas proximidades, ainda enrolei um
pouco finalizando os prontuários, para ver se alguma coisa ocorreria e me
deixaria presa aqui, em uma emergência, mas aparentemente todos os
cidadãos nova-iorquinos decidiram ficar em segurança hoje, e nenhum trauma
deu entrada.
Eu não podia mais evitar o inevitável, tinha que ir ver como Mikhail estava, e
não podia esperar um milagre acontecer e me impedir de ir até lá, mas isso era
uma pequena parte indecisa em mim, aquela parte que diz para você não pular
a beira de um precipício, uma pena saber, que se você já se colocou à beira do
precipício, pular é a próxima etapa, e geralmente inevitável, bom eu sei que é
uma analogia ruim, mas acho que é válida, e posso tranquilamente comparar,
suicídio, com envolvimento com a máfia, já que usualmente o resultado é o
mesmo.
Então me dei conta de um problema básico, eu não fazia ideia de como chegar
lá, quer dizer eu reconhecia o Central Park, e sabia que era um prédio muito,
muito caro, mas naquela região existiam muitos prédios que se encaixavam
nessa descrição, entrei no carro e comecei a pesar as minhas opções, a
primeira, eu iria para a casa esquecer que tudo isso aconteceu, peguei o meu
celular, pensei em ligar para o auxílio a lista, e perguntar pelo nome, será que
a atendente aceitaria como endereço “algum lugar entre o Upper East Side e
o Upper West Side”? Não, acho que simplesmente ela cortaria a ligação,
pensando que eu era insana. Tamborilei os dedos no volante tentando pensar,
talvez se eu dirigisse por algumas ruas eu conseguiria reconhecer o edifício?
Não provavelmente isso não daria certo também! Droga estava ficando sem
opções, com o celular em mãos e como uma mania irritante e automática,
deslizei pelos meus contatos era totalmente perda de tempo, procurei por
Alex, e fora Alexandra Thorne, uma colega de trabalho, não havia nenhum
outro Alex, na lista, o que me desapontou de certa forma, automaticamente
continuei rolando a barra, e aí tive uma surpresa “Amazing Alex” não era um
contato que eu reconhecia, eu sequer pensei, e disquei o número, chamou até
cair…Normalmente isso me desanimaria, não sou dessas que ligam
incessantemente, ao não ser em emergências, e no caso, a minha necessidade
de rever Mikhail e saber se ele estava bem, não configurava exatamente uma
emergência. Porém antes que eu pressionasse a tela para rediscar, o meu
celular começou a tocar, “Amazing Alex” piscava na tela, pressionei a tela tão
rápido e com tanta força que por um segundo pensei que teria rachado, mas
nem parei para conferir, levei o telefone ao ouvido e disse com tanta pressa
que a minha voz saiu esganiçada
– Alex? É você?
– Doutora Harris, quem fala é Griegor, o Sr. Dragorov pediu que eu a avisasse
que a rota para o apartamento se encontra salva no seu GPS. A Senhorita
necessita de algo mais? – disse ele com voz metódica e mecanicamente.
– Não – eu disse em um guincho chocado – Obrigada Griegor – tentei
completar com um tom de voz mais normal.
E então a linha ficou muda.
Queria dizer que controladamente, eu liguei o GPS, e procurei com calma a
rota programada, mas isso seria uma mentira total, voei para o GPS, e
desesperadamente apertei os botões e lá estava, como Griegor disse, a rota
para o apartamento, não pude evitar que um sorriso do gato de Chesire,
invadisse o meu rosto! E quando me dei conta disso percebi que eu realmente
estava com problemas.
Saí antes da hora do rush, então o transito estava tranquilo, tão tranquilo
quando possível considerado que ainda é Nova Iorque, enquanto me dirigia
para o apartamento de Mikhail, minha cabeça dava voltas, ao mesmo tempo
que uma parte de mim, queria encerrar essa relação, e eu ficava dizendo a
mim mesma, que já havia feito o que tinha que fazer, uma outra parte de mim
não poderia evitar, eu tinha que vê-lo, tinha que saber que ele estava bem, eu
o conhecia a menos de vinte quatro horas, mas essa necessidade, era muito
real, o que me assustava, eu não era o tipo de pessoa que acredita em amor à
primeira vista, mas a convivência com Gwen e todo o seu misticismo
agregado me afetou, horóscopos, signos, destino, ela basicamente me fez
acreditar em tudo isso, e tanto quanto eu tinha um pé firme na ciência, abri a
minha mente para o inexplicável, e Mikhail, Mikhail era inexplicável, uma
brincadeira do destino, ou o próprio destino quem sabe. Em algum ponto de
consciência eu sabia que desde a primeira vez que eu o vi, eu estava perdida,
mas o meu ceticismo trava uma dura batalha com o meu misticismo sempre,
então eu realmente acreditei, que se eu saísse (viva) dessa experiência, eu
nunca estaria voltando (voluntariamente, inclusive) para a toca do leão, e
voilá, aqui estava eu, dirigindo mansamente, como um cordeiro em sacrifício,
direto para a toca do leão.
Quando entrei na Central Park West, o meu celular começou a tocar, tanto
quanto eu acho uma completa irresponsabilidade, dirigir e falar ao celular,
geralmente ignoro, mas no meu ramo de trabalho, e com o dia anormalmente
tranquilo hoje, achei que o universo estava tentando compensar mandando um
desastre qualquer, que me mandaria de volta ao hospital, considerando então
como uma emergência, atendi.
– Senhorita Harris – diz a voz com um sotaque evidente, que agora eu sabia
ser russo.
– Sim, sou eu – respondi calmamente.
– Peço, que por gentileza, a Senhorita, vire à direita da entrada principal, e
entre pela garagem, a vaga de número três, ao lado do elevador, está
disponível para você.
– Ok – eu disse complemente desconcertada.
– Obrigada, e até logo, Senhorita Harris – disse a voz encerrando a
comunicação
É evidente que estacionar aqui fora seria quase impossível, simplesmente não
existem vagas, e as poucas que existem são disputadas aos tapas pelos
prestadores de serviço da região, então uma vaga de estacionamento, me faria
economizar um bom tempo, rodando o quarteirão na esperança de obter uma
vaga, mas devo admitir que é meio assustador, eu receber essa ligação justo
ao entrar na rua do edifício, é uma sensação meio estranha como se tivesse
sendo observada todo o tempo, e percebo que é uma sensação real, do
contrário, como saberiam que eu estava chegando. Minha mente então me
lembra, que para as pessoas com quem eu estou me envolvendo, vigilância
constante é a única forma de sobreviver, e considerando que Mikhail foi
atacado, isso só deve ter aumentando, o que diminui a minha paranoia por uns
instantes.
Paro em frente ao portão, e como se eu tivesse a varinha do Harry Potter o
portão se abre magicamente a minha chegada. Mas sendo lógica, quem mais
teria um carro com pelo menos dez bons anos de uso, e estaria entrando nesse
prédio, acho que poderíamos dizer com certeza que o meu carro, era o veículo
mais velho(excluindo algum carro clássico reformado que vale milhões), a
entrar nessa garagem, e enquanto me movo para a vaga próximo ao elevador,
essa certeza só se confirma, quando estaciono e saio do carro olhando ao
redor, meu carro comparado aos outros parece um carvoeiro recém saído do
trabalho que foi a um baile no Plaza sem se trocar, quando você o compara
com as pessoas ao redor, ele claramente parece não pertencer aquele lugar,
percebo que isso se reflete em mim também, eu pareço claramente não
pertencer a esse lugar. Minha mente volta ao foco depois de divagar, e me
concentro no que vim fazer aqui, sou uma médica, que vim ver um paciente, e
só, não preciso pertencer a lugar nenhum, e com essa firme nova resolução,
entrei no elevador.

Mikhail
Red havia voltado para o almoço, e permaneceu o resto da tarde, tanto quanto
ela sabia algo estava acontecendo, e estávamos isolados no prédio por
segurança, e já que não podia sair, ela juntou-se a mim, o que basicamente
significava que ela iria fazer uma seleção de filmes de sua
preferência(claramente não a minha) e me obrigar a assistir junto,
normalmente não sou o tipo de pessoa que é “obrigada” a nada, mas Red, é
talvez a única que tenha esse poder, eu a considero minha irmã, o que ela é
por afinidade, mas é mais que isso, Katherina entrou no seleto hall de pessoas
por quem eu levaria um tiro, e depois da noite passada, quando eu realmente
vivenciei a dor de levar um tiro, isso quer dizer muita coisa.
Alex havia voltado, e se juntou a nós, passamos a tarde inteira assistindo
filmes açucarados que eram basicamente os preferidos de Red, como ela
manteve toda a doçura e inocência que ainda fazia os seus olhos se encherem
de lágrimas no desenrolar do drama, eu não sabia, mas ela fez, apesar de sua
história com Nikholai, definitivamente ela ainda acreditava no amor, como?
Eu desconhecia. Nasci, e cresci uma criança um tanto pragmática a respeito
do amor, a minha maturidade não tinha mudado a minha opinião, mas estava
lá, estampado no rosto dela todo o tempo, penso que ela não poderia evitar,
seu rosto era muito transparente e Red nunca havia aprendido esconder as
suas emoções, e eu? Eu era basicamente a lembrança vivida e real do homem
que ela amava, então nesses momentos que ela estava além do controle de
suas emoções, isso transparecia no seu rosto, ela olhava para mim, mas via
Nikholai. Eu lamentava por ela, ter a lembrança de um amor mal resolvido,
deve machucar, ter que conviver com imagem e semelhança do que você
precisa esquecer, deve machucar para caralho. Mas novamente, isso só
poderia ser resolvido pelos dois, tanto quando eu lamentava por ela, também
lamentava pelo meu irmão, ainda que ele não mostrasse isso ao mundo, eu
sabia, que ele estava sofrendo tanto quanto ela.
Alex me vigiava com o canto dos olhos, suas piadas haviam ficado restritas a
parte da manhã, Red brincou sobre isso, e ele justificou dizendo ser cansaço,
era uma justificativa bastante plausível considerando os últimos
acontecimentos, mas eu sabia que era mais que isso, Nikholai estava vindo, e
o estado de espirito taciturno tomou conta de todos nós, muito sangue seria
derramado nos próximos dias, e não importa quanto planejamento exista,
merdas acontecem, e então sempre na proximidades de eventos assim, toda a
equipe alinhava as suas emoções, era sobre viver ou morrer, sobre perder
pessoas, perder amigos em uma guerra que não queríamos lutar. Essa opção
nos foi tirada a muito tempo, éramos que éramos, o sangue que corria em
nossas veias não possibilitava uma saída desse mundo, brincávamos as
margens, sem um envolvimento direto, exceto por Nikholai, que se tornou,
não necessariamente por livre escolha, o herdeiro de Vladmir. Ao termino do
terceiro filme, Red se levantou, Alex se aproximou, mesmo com seu jeito
debochado sabia que sua preocupação era real, eu cheguei muito perto da
morte ontem, e ambos sabíamos disso.
– Como você está – ele perguntou?
– Bem – respondi laconicamente.
– Nunca pensei que fosse eu a dizer isso Mikhail, mas tudo bem se você
precisar de ajuda, e pedir ajuda – acrescentou deixando sair ironia latente –
Ele então levantou os dedos em juramento.
– E juro solenemente que sua masculinidade permanecerá intacta se você se
queixar de dor, ainda mais que levou uma saraivada de tiros e que por algum
milagre fodida só três te acertaram – ele desabafou.
– Alex – eu disse com parcimônia.
E então levantei meus dedos em juramento.
– Sua masculinidade não será afetada, se você disser que está preocupado
com o seu irmão, que aparentemente levou os tiros que eram destinados ao
seu outro irmão, e que basicamente que eu tenho um azar da porra, de ser o
gêmeo do cara que todos querem matar.
– Foda-se – respondeu ele.
Mas seu estado de espirito tinha mudado, a preocupação tinha deixado os seus
olhos, aparentemente se eu podia fazer piada, eu estava bem o suficiente e já
tinha saído do meu leito de morte.
Um bipe soou, Alex levou a mão ao bolso e pegou o celular. Um sorriso se
desenhou no seu rosto, e eu sabia que coisa boa não vinha por aí.
O filho da puta me olhou com os olhos sorrindo de diversão e disse:
– Parece que a Doutora não se assusta facilmente, adivinha quem está de
volta? – e vendo os meus olhos se estreitarem, ele complementou – Sabe
como é, quem costuma sair com as próprias pernas, não costuma voltar por
vontade própria, talvez ela tenha justamente o que precisa para estar nesse
mundo.
– Foda-se Alex! – eu devolvi
– Bom, bom, os ânimos estão alterados por aqui não? – E então dando um
sorriso malicioso, e esfregando as mãos com fingida expectativa ele
completou – Enfim, vou ir receber a nossa hospede, se me dá licença – disse
ele e saiu rapidamente antes que eu pudesse dizer qualquer coisa.
Alex não precisou, desenhar uma explicação a respeito do seu comentário, ele
e Zhenya pareciam ter fundado um clube, que tomava conta da minha vida
amorosa, era como ter voltado a merda do ensino fundamental, risos e
cochichos, dos dois, e além do que envolveram Katherina no meio, o almoço
foi por assim dizer um suplício total, Red foi a única a não pegar no meu pé,
mas o alivio que isso deu, não foi sentido, já que Alex parecia ter dobrado os
esforços para compensar. E agora isso, ele iria recebe-la, e com certeza
continuar com as suas gracinhas. Só esperava que ele não fosse afoito demais
e a assustasse, tudo que eu não precisava é que Emma fugisse de mim. E
quando esse pensamento me bateu não pude evitar a surpresa. Eu queria
Emma por perto!

Emma
Garota de Ipanema, tocava no elevador, enquanto eu tamborilava os dedos na
barra de apoio, era estranho subir no elevador sem a companhia de homens
armados até o dente avaliando o redor como se a qualquer momento fosse
estourar um tiroteio, ao pensar nisso concluo que nesse mundo, é bem
provável que isso aconteça, e eu estar me acostumando a isso é estranho para
caralho! Talvez eu esteja desenvolvendo síndrome de Estocolmo ou algo do
tipo, penso em procurar os sintomas no Google, mas a médica que existe em
mim se recusa! Mas a outra opção também não era viável, ir ao psiquiatra do
hospital e então contar toda a verdade e depois dizer que isso aconteceu a uma
amiga/conhecida, e então ser colocada em uma camisa de força ou algo do
tipo…É vendo por esse lado não ia rolar, e uma parte de mim estava satisfeita,
eu estava muito confortável ao redor de todos eles, e Mikhail, bom é
certamente um pensamento perturbador, mas acho que ele era a principal
razão pela qual eu não estava correndo desesperada ou então fazendo as malas
e voltando correndo para Minesota.
O elevador soou um bipe, que parecia um encerramento de uma sinfonia, e
não o barulho normal dos elevadores de pessoas normais, pessoas ricas eram
realmente estranhas.
Mas nada me preparou para Alex, parecendo muito divertido me esperando na
porta. Engoli a surpresa, e esperei um sentimento de receio talvez vir, mas
simplesmente nada, Alex era como o irmão muito, muito sexy de uma amiga,
daqueles que você lambe com os testa, mas não vai fazer nada a respeito
porque tem uma amizade a manter, e então aproveita o fato dele ser
engraçado, e cria um companheirismo divertido, que acaba virando amizade,
e poderia ser exatamente assim, exceto porque Alex, é o irmão de Mikhail,
exceto porque ele anda armado, exceto porque ele pertence (muito
provavelmente, apesar de ainda tecnicamente ser uma teoria) à máfia russa,
exceto que olhando para Alex sorrir divertido eu esqueço todos os poréns…
– Doutora – diz ele não disfarçando a diversão – Jurava que você não voltaria,
ou então voltaria acompanhada dos federais, e apontaria de um carro preto
qual apartamento, e então a SWAT e toda a cavalaria entraria aqui. –
Completou ele com falsa seriedade.
– O que eu posso dizer Alex, tenho um péssimo senso de direção, ainda uso
GPS, para ir ao trabalho, e já estou lá a seis meses, então isso deve dizer
alguma coisa, não creio que poderia trazer os policiais aqui sem me perder, ao
não ser pela rota que alguém programou no meu carro, e que eu só descobrir à
vinte minutos atrás, e como eu nunca liguei para o FBI, acho que fiquei em
dúvida de como fazer, isso, ou eu estou mentindo para você e nesse momento
estou usando escutas para provar um ponto, e aqueles carros pretos com
aparência sinistra lá embaixo são a cavalaria, a Swat claro já se posicionou no
telhado do prédio ao lado – eu disse fingindo seriedade.
Alex claramente se controlava para não se dobrar e gargalhar, com muito
custo de conteve o suficiente para perguntar.
– É claro, uma equipe fantasticamente eficiente para se organizar em tão
pouco tempo, devo dizer – ele disse balançando a cabeça com fingida
aprovação e deboche – Mas assim sendo, porque você contaria, isso não
estragaria totalmente os planos?
– É estratégico evidente, psicologia reversa, quem seria louco o suficiente
para admitir uma escuta? Você levaria na brincadeira e então contaria todos os
seus planos, tudo parte do plano meu amigo – eu disse piscando com
diversão.
E então comecei a andar em direção ao corredor dos quartos, Alex depois de
minha última resposta estava se dobrando de rir, e então quando estava quase
chegando ao corredor ele me chamou.
– Doutora?
– Sim – eu disse.
Me virei, e vi que ele tinha se recuperado parcialmente do ataque de riso, mas
ainda mantinha as mãos segurando o abdômen. Ele me olhou divertido e
disse:
– Temo que os carros com aparência sinistra sejam nossos, eles contêm a
“cavalaria”, mas novamente, são a nossa cavalaria – completou com os olhos
dançando de malicia.
– Droga! – eu exclamei com raiva fingida – Um detalhe bobo desses, e meu
blefe se foi – Dei de ombros e completei – Mas a SWAT ainda pode estar nos
prédios – e então enquanto Alex, se dobrava em mais um ataque de riso sorri
e fui em direção ao quarto de Mikhail.
Não havia ninguém armado até os dentes no caminho, isso ainda me
impressionava, a cobertura era um o oásis particular, ao que tudo indicava o
que quer que fosse a “atividade” a que eles se dedicavam, ela não chegava a
cobertura.
Abri a porta com cuidado, não queria incomodar um paciente que estava em
recuperação, e foquei na palavra “paciente”, já que havia decidido com
firmeza, que há partir de então Mikhail seria um paciente, como qualquer
outro, e minha preocupação seria estritamente profissional. Não estava
preparada para encontrar os seus olhos fixos em mim assim que abri a porta.
Me paralisei, na falta de outra palavra que explique a razão pelo qual fiquei
parada com a mão ainda segurando a maçaneta e os olhos capturados pelo
olhar dele, paralisia completa era uma boa definição, é como se meu cérebro
tivesse sido apagado, por alguns segundos esqueci totalmente a razão pela
qual estava ali.
Eu queria dizer que rapidamente recuperei o bom senso e reagi, mas isso não
é bem verdade, ficamos instantes ali, instantes que pareceram infinitos, sem
palavras, mas em uma comunicação silenciosa.
Até que cirurgiã em mim se sobressaiu a mulher, e viu que o paciente que
estava em repouso, estava sentado em posição vertical, contrariando minhas
recomendações, e isso foi o que finalmente me tirou do estado de paralisia.
– O que diabos, você está fazendo sentado? – exclamei com perplexidade
– Estava cansado de ficar deitado, doutora, além disso não estou com dor –
disse ele dando de ombros com tranquilidade.
Entrei no quarto com decisão, deixei minha bolsa no móvel aos pés da cama e
me movi para a lateral da cama, e comecei a remover a montanha de
travesseiros que formavam o apoio que o mantinham sentado.
– É evidente que você não está sentindo dor, com a quantidade de analgésicos
que você está tomando, estou surpresa que você esteja sentindo alguma coisa
inclusive – dei uma pausa enquanto seus olhos prendiam os meus novamente
– Mas o repouso não é uma recomendação para te chatear ou te irritar, é o
tempo que o seu corpo precisa para se recuperar – olhei incisivamente – Se
lembra? tiros, cirurgia?
– Vagamente - disse ele com expressão séria, mas os seus olhos estavam
sorrindo.
E então toda o meu distanciamento se foi, os nossos olhares se encontrando, e
tudo aquilo que eu queria esconder transparecia no meu rosto.
– Você passou perto sabia? Um milagre te protegeu do pior, mas ainda assim,
a perda de sangue – e por alguns instantes a minha voz se perdeu - Em vários
momentos eu achei que você não fosse conseguir. – completei a sentença.
Sem que eu me desse conta, nossas mãos estavam unidas, e estávamos
novamente lá, nos comunicando sem palavras, minha garganta estava
apertada, era como se eu me desse conta somente agora do risco que ele
correu, e do que significaria para mim se ele não tivesse conseguido.
Sua voz me interrompeu.
– Eu estou bem Emma, já estou melhor, não sou muito fácil de matar, ao que
parece – disse enquanto apertava a minha mão na sua.
– Bom – eu disse tentando obter algum autocontrole – Eu espero que você
não ponha essa teoria a prova de novo.
O que quer que Mikhail ia dizer se perdeu com a entrada intempestiva de
Alex, eu soltei a sua mão com tal rapidez que não foi possível disfarçar o
movimento, a minha cara de culpada como se estivesse fazendo algo errado e
foi pega no flagra também não ajudou muito. E mesmo que a lógica dissesse
que nesse mesmo dia pela manhã, tínhamos sido pegos em uma situação
(ainda que armada) muito pior, aparentemente segundo os meus preceitos,
estar com o corpo exposta era menos pior que estar com a alma exposta, e
agora pouco, meu coração estava em uma bandeja, e se isso era óbvio para
mim, certamente era óbvio para o Mikhail, e não sei se tão óbvio para o Alex,
que parecia sempre fazer piada de tudo, e agora não foi diferente.
– Meu Deus, vocês não podem ficar cinco minutos sozinhos e se
comportarem.
Os olhos de Mikhail faiscaram, e prometerem retribuição, eu por outro lado
senti as minhas bochechas se aquecerem de vergonha.
Mesmo brincando Alex, passou muito perto da verdade, não, não poderíamos
ficar sozinhos, por motivos óbvios. Mas sem saber o que dizer, fiquei calada,
fui salva por Mikhail, que teve mais presença de espirito que eu para retrucar.
– Você tem um bom motivo para estar aqui, agora Alex – questionou ele com
seriedade e um pouco de impaciência.
– Não mate o mensageiro meu irmão – Alex respondeu – Zhenya me mandou
aqui, ela lamenta não poder oferecer um jantar a você Emma, já que está de
saída, mas quer saber o que você quer como lanche, o que ela faz questão –
enfatizou ele.
– Oh – eu disse desconcertada com o convite, e então recuperando a
capacidade de formar frases completas, me expliquei – Vou ter que desculpar,
mas realmente não posso ficar, tenho um encontro marcado, e não posso me
atrasar, vim só para um visita rápida para checar o estado do Mikhail, e
aparentemente fora estar sentado, quando deveria estar deitado, as
recomendações estão sendo seguidas. Então por favor transmita as minhas
desculpas, mas eu realmente tenho que ir.
Os olhos de Alex, faiscaram de curiosidade e definitivamente com diversão.
– Ah minha querida, que homem cruel nos privaria de tão adorável
companhia, seu compromisso não pode ser desmarcado?
– Infelizmente, a minha companhia cruel tem quatro anos de idade, e
definitivamente ela aprendeu a fazer os olhinhos carentes do gato de botas, e
eu claramente percebo que a minha referência não faz sentido para você, mas
basicamente quer dizer que eu não posso deixa-la na mão, e não me martirizar
com uma culpa terrível depois, e acredite Lila joga duro! – disse e afeto
genuíno que eu nutria por aquela monstrinha transparecia na minha voz.
– Lila é? Interessante – disse ele, e o seu sorriso definitivamente soava como
o gato de Cheshire.
Voltei a minha atenção novamente para Mikhail.
– Amanhã, eu tenho um turno duplo, então vou ligar para checar o seu estado,
no caso de você sentir qualquer sintoma que eu listei, você me avisa
imediatamente, se forem sintomas fortes, direto pro Hospital, devo passar
aqui depois de amanhã na saída do meu turno, e por favor você poderia
manter o repouso e dar tempo ao seu corpo de se recuperar? – implorei
– Dentro da medida do aceitável, vou seguir as recomendações – ele disse, e
então estava segurando as minhas mãos de novo – Até depois de amanhã
Emma.
– Ate lá, Mikhail – consegui me obrigar a responder.
E então a tossida nada discreta de Alex, novamente nos trouxe a realidade,
para evitar fazer um papel ainda mais ridículo e disse:
– Eu tenho mesmo que ir, se cuida Mikhail, e permita que cuidem de você
principalmente – disse soltando a minha mão e indo em direção a porta.
Acenei com a cabeça, e recebi em aceno de volta.
Alex me acompanhava pelo corredor, e suas brincadeiras eram infinitas,
quando chegamos a sala havia uma ruiva parada próxima ao elevador.
Alex se adiantou:
– Red? Sério? Eu dei a minha palavra, isso magoa sabe?! – ele disse, mas seu
tom soava muito afetado para que ele estivesse falando sério.
A ruiva sorriu como se estivesse se desculpando, ela não era uma das Tiffany
´s da vida, era alguém por quem Alex nutria um carinho verdadeiro, e a sua
liberdade ao se locomover me fazia ter certeza que ela era alguém importante
para eles. E bom eu literalmente caí da nuvem, ela parecia uma modelo
internacional, a capa da GQ, Cosmopolitan ou alguma revista do tipo, uma
inspiração para as blogueiras de moda, e apesar de estar vestida casualmente,
era o tipo casual que fazia com que ela parecesse valer um milhão de dólares,
perto dela eu me sentia a cinderela que foi ao baile sem a ajuda da fada
madrinha, ou seja basicamente a gata borralheira, senti as minhas esperanças
do que quer que eu achava que tinha com Mikhail irem para o ralo, não havia
a possibilidade de competição, era mais tipo massacre mesmo! Eu não teria a
mínima chance de competir com ela em questão de aparência.
– Alex, por favor, vou ser rápida, e já estabelecemos que isso não é por vocês,
é por mim, agora xô – disse ela o enxotado com os braços
A minha surpresa foi que Alex a obedeceu, e então saiu em direção a cozinha.
E então a ruiva se virou para mim, estendendo a mão em cumprimento ela
disse:
– Olá, eu sou Katherina, apesar de Alex, e Mikhail me chamarem de Red,
basicamente são os únicos que o fazem.
Seu sorriso era tão aberto que eu simplesmente não podia nem me forçar a
agir com despeito.
– Olá Katherina, eu sou Emma – respondi o cumprimento, e como achei
necessário o complementei – Sou a médica de Mikhail.
Ela balançou a cabeça afirmativamente.
– Sim, foi o que me disseram – e então pareceu hesitar – Sei que parece um
pouco estranho, mas eu preciso saber, você está aqui por livre e espontânea
vontade, porque se não estiver por favor me deixe saber…
Minha cabeça deu um nó, não sabia como responder, e Alex não deu
nenhuma indicação, percebendo a minha hesitação, ela disse:
– Emma, eu os amo, e sei que existe uma parte disso que eles escondem
completamente de mim, mas não sou uma completa ignorante. Então a
pergunta é, você está bem? Você precisa de ajuda.
Então me tranquilizei, Katherina, apesar de não envolvida diretamente, sabia
o que eles faziam, ainda assim minhas palavras foram cuidadosas.
– Bom, Katherina, podemos dizer assim, que a minha participação inicial, não
foi exatamente voluntária, mas hoje, e agora eu vi andando com as minhas
próprias pernas, e vou sair exatamente do mesmo modo. Mas agradeço a
preocupação, de verdade.
Ela pareceu se aliviar bastante com a minha resposta, e então novamente
segurou as minhas mãos.
– Eu te agradeço imensamente pelo que você fez, ainda que
involuntariamente a princípio, Mikhail significa muito para mim.
– Eu tenho certeza que sim – e não sei se consegui disfarçar a dor em minha
voz, e já não podendo lidar com isso me despedi. – Lamento, mas realmente
tenho que ir, já estou atrasada.
E me movi, em direção ao elevador que esperava no andar, estava vazio, e eu
não sabia se tinha ou não que esperar alguém, mas honestamente não estava
disposta, acenei em despedida para Katherina, e por dentro repeti para mim
mesmo que não estava perdendo nada, porque basicamente não me encaixava
naquele lugar.
Ela pareceu ficar confusa com o meu comportamento, até que seus olhos se
iluminaram e ela disse:
– Emma, mais uma vez obrigada por salvar a vida do meu cunhado. Não creio
que possamos um dia pagar o que você fez.
E então enquanto a minha boca de abria em incredulidade total, Katherina
acenava em despedida sorrindo, a porta do elevador se fechou.
Mantive um autocontrole rígido em não iniciar uma dancinha da vitória,
Mikhail era o cunhado de Katherina, ela não era o amor da vida dele, sua
noiva a espera ou algo do tipo, ela era a cunhada, casada com o irmão. Era
inacreditável, tudo que eu achava estar perdido, não estava, encostei minha
cabeça no elevador enquanto minha mente girava em um turbilhão, eu já não
sabia o que pensar, e então por hora resolvi que não iria pensar, iria descer até
o meu carro, dirigir até a mercado comprar o sorvete para Lila, e
definitivamente muito chocolate para mim, porque no momento eu não queria
pensar ou racionalizar nada disso. Essa resolução se tornou libertadora, o que
quer que nós tínhamos eu iria ver aonde vai dar, me desprendi das amarras
que eu mesmo havia colocado, para me manter em uma relação médico-
paciente, não podia mais mentir para mim mesmo, Mikhail, era muito mais
que isso desde o primeiro momento que eu o vi. E eu estava agora disposta a
descobrir aonde isso nos levaria. Foi realmente uma decisão libertadora.

Mikhail
Emma havia saído, e Alex a havia acompanhado, o que basicamente não
durou muito tempo, já que ele voltou muito rápido para o meu gosto,
Katherina estava com ele o que meu deu remotas esperanças que o filho da
puta ia ficar calado, esperanças que acabaram no momento em que ele abriu a
boca.
– Sorte que o homem do encontro de hoje era inexistente não acha? – ele
fingiu pensar por uns instantes e completou – Porque penso que iria sobrar
para mim fazer com que ele sofresse algum incidente no caminho ou algo do
tipo – e então com um sorrisinho malicioso complementou – Mas creio que já
que o encontro é com a criança está tudo ok não é?
Katherina olhava divertida, e eu me recusava a entrar no jogo de Alex, se
percebesse a minha real contrariedade ele não pararia, já que desde sempre,
Alex ignora o que as pessoas normais chamam de “limites”.
Katherina se aproximou de mim, e me deu um beijo no rosto e disse com um
sorriso.
– Até mais estranho! Me disseram que tenho que estar pronta para ir em
quinze minutos, e ainda tenho que voltar ao meu apartamento e pegar a minha
bolsa. Então se virou para Alex, e igualmente com um beijo no rosto se
despediu.
– Até a volta, querido, não o atormente muito, ele ainda não tem como
descontar.
Então já na porta se virou para mim e disse:
– E Mikhail, sei que absolutamente isso não é da minha conta, mas gostei
muito de Emma, e se a minha opinião conta para alguma coisa, acho que
vocês formam um belo par – Red inclinou a cabeça com um sorriso
misterioso – E suponho que as habilidades dela são muito bem-vindas no
ramo de trabalho da família, aquele que eu finjo ignorar, e vocês fingem que
eu ignoro.
E com uma piscadela e um sorriso final, ela tinha ido.
Alex, mantinha o sorriso no rosto, mas suas piadinhas foram evitadas no
momento porque Zhenya logo em seguida da saída de Katherina, entrou com
uma bandeja, que pareceria o suficiente para alimentar, um exército, mas para
ser bem sincero, não era exagero dela, no geral todos nós, erámos muito
ativos, no nosso ramo de trabalho estar pronto era essencial, e muito
atividade, gasta muitas calorias, então todos nós éramos o que chamam por aí
de “bons de garfo”.
O meu desapontamento consistiu que a bandeja basicamente ela para Alex, e
havia um prato de canja, no meio de tudo aquilo que era para mim, não pude
evitar a minha expressão emburrada, que eu tive muito tempo para
aperfeiçoar durantes todos esses anos.
Zhenya, me olhou com condescendência, e então seu olhar se suavizou um
pouco.
– Trinta anos, e quando você está emburrado, usa a mesma expressão de uma
criança de cinco moy syn!
Ela então pegou a bandeja e armou no meu colo, enquanto colocava a canja, e
os utensílios para que eu pudesse comer.
E se sentou do meu lado e disse:
– Já que está inspirado e voltando a sua infância, quer que eu faço um
aviãozinho? – Disse ela em tom de troça.
Alex se dobrou na cadeira com riso, o que fez com que ele engasgasse, já que
devorava os sanduiches como um homem das cavernas, e tinha a boca cheia
no momento do ataque de riso.
–Eu agradeço a oferta, mas vou declinar – eu disse com condescendência
forçada.
Passado a brincadeira, Zhenya voltou à carga.
– Nikholai, chega hoje à noite, e deve dormir aqui.
– Porquê? – eu questionei, entre uma garfada e outra – O apartamento dele
estará vazio.
– E o que eu sei? – respondeu Zhenya – Creio que ele tenha a impressão que
em doze horas a presença de Katherina vai se esvair, então ele poderá conter
as lembranças, ele é um tolo obviamente, sua lembrança está sempre com ele
não importa o quanto ele tente lutar com isso – disse ela com mal disfarçada
ironia.
Tanto quanto Zhenya, nos amava, ela amava Katherina na mesma proporção,
e não entendia a decisão de Nikholai de se afastar, para falar a verdade
nenhum de nós entendia muito bem!
– Vocês dois – disse revezando o olhar entre mim e Alex – Estou velha
demais para grandes emoções, então não importar o que acontecer, estejam
bem quando eu voltar, senão irão se ver comigo!
Alex riu com carinho e disse:
– Compreendido Zhenya, se nós morremos, você nos mata.
Zhenya estreitou os olhos em sua direção! E então confirmou com em aceno
de cabeça.
– Algo do tipo, moy syn, não corram riscos desnecessários, mantenham-se
vigilantes, e tomem cuidado!
O celular de Alex apitou.
– Zhenya – ele disse, –Igor diz que estão prontos para sair
Zhenya me abraçou e sussurrou no meu ouvido
– Cuide-se moy zulot, eu amo você, e não suportaria se algo acontecesse a
você.
Então se levantou e fez a mesma coisa com Alex.
E então ela nos deu um aceno e estava caminhando para a porta.
E isso me aliviou, colocar Zhenya, e Red, em segurança, era a nossa
prioridade máxima. Iriamos entrar em guerra, e a diferença entre perder e
ganhar, estava nos detalhes, em teoria, estariam igualmente seguras aqui, mas
Nikholai não queria Red no meio disso, como ela mesmo disse, ela fingia
ignorância, e nós fingíamos que ela ignorava as nossas atividades, mas deixa-
la aqui no meio disso tudo, era uma proximidade muito grande com a divisão
dos nossos mundos, aqueles que vivíamos, e aqueles que fingíamos viver. E
isso não era possível. “A “ignorância é uma benção…” alguém disse uma vez,
e isso se aplicava para Red.

Emma
Estava andando nas nuvens ao sair do prédio de Mikhail, a resolução de dar
uma chance ao que estava acontecendo entre nós, tirou uma tonelada dos
meus ombros, estava feliz, estava leve por dentro, nem me lembro a última
vez que me senti assim, pura e simplesmente tomada de felicidade genuína,
sem sombras no horizonte.
Passei em um mercado a caminho de casa, e consegui o sorvete de Lila, havia
poucas coisas que eu não faria por ela, e isso não era só sobre a sua
capacidade de imitar a carinha suplicante do gato de botas, Lila era minha
afilhada, e minha família , e esse vínculo não precisava ser de sangue para ter
a força que tem, aliás eu poderia afirmar com certeza, que Gwen era mais a
minha irmã, que as minhas próprias irmãs de sangue, não me entendam mal,
amo minha família, só nunca tivemos a proximidade que eu e Gwen
adquirimos com o tempo, as dificuldades que passamos nos tornaram irmãs,
mais que o sangue que eu compartilhava com a minha família.
Fui direto para casa, esperava conseguir pegar Gwen na saída para o plantão
ainda, e consegui, literalmente na porta, sabia que tínhamos que conversar,
tanto porque contávamos tudo para a outra, tanto porque Gwen era quase o
meu grilo falante, e para falar bem a verdade, eu precisava ser avaliada por
uma fonte neutra quais os sintomas da síndrome de Estocolmo, mas
considerando que demorei a chegar e Gwen estava atrasada (como sempre),
essa conversa seria adiada indefinidamente. Então além dos cumprimentos e
recomendações habituais, não havia muito o que poderíamos falar.
Subi as escadas, sabia que a Sra. Goshen estava lá, e tanto quanto queria
evitar um questionário sobre o meu “novo namorado”, sabia que não poderia
adiar a minha entrada, a Sra. Goshen era da família também, e mesmo quando
eu prefiro evitar a minha família por força maiores, evita-los do outro lado do
país é mais fácil que evitá-los do outro lado do corredor, com isso em mente
entro e vou enfrentar a “fera”.
Entro, e como não há ninguém a vista, resolvo anunciar a minha chegada:
– Olaaá! Alguém em casa?
Duas cabeças surgem simultaneamente, Lila estava no sofá, apesar da
televisão estar desligada por algum milagre, dou a volta e vejo que a milagre
se resume a livros de colorir, e sorrio, a Sra. Goshen esticou a cabeça da
cozinha.
– Olá querida, só estou arrumando algumas coisinhas aqui, e sua cabeça
voltou a sumir.
Eu e Gwen dividimos as tarefas, o que basicamente queria dizer que eram
provavelmente as minhas tarefas que a Sra. Goshen estava fazendo, mas tanto
quanto em várias ocasiões, dissemos a ela que não precisava, e que depois
limparíamos, nunca funcionou, geralmente a casa sempre estava arrumada, e
era sempre a mesma desculpa, ela precisava se manter ocupada, e Lila era
uma criança que não dava trabalho algum. E como não havia realmente nada
que poderíamos fazer em relação a isso deixamos assim, mas tentamos
arrumar a cada inteira pelo menos duas vezes na semana, para não deixar que
a Sra. Goshen se esforce tanto (isso, claro, sem o conhecimento dela).
Lila me olhou, com olhinhos pedintes e disse:
– Você trouxe o meu sorvete?
– Sim, eu trouxe, mas você conhece as regras – eu disse imprimindo uma
seriedade ao meu tom.
– Mas só um pouquinho – ela disse com um ar adorável e totalmente
manipulador.
– Nananinanão Lila! Só após o jantar – eu disse e então me movi para a
cozinha para guardar o que tinha comprado.

Sra. Goshen estava terminando a arrumação, quando entrei.
– E o que você quer para jantar querida? – ela perguntou.
– Hoje vamos sair um pouco do normal Sra. Goshen, em homenagem a nossa
sessão de cinema, creio que podemos, só por hoje, substituir o saudável e
balanceado jantar, por pizza! – eu disse esperando que ela concordasse, tanto
quanto por realmente queria comer pizza, tanto quanto porque era simples,
rápido e fácil de limpar.
A Sra. Goshen sorriu divertida e disse:
– No meu tempo sessões de cinema eram acompanhadas por pipoca!
– Ahh, mas não pense que eu esqueci desse detalhe – eu disse retirando os
itens que havia comprado no mercado da bolsa e complementei – Temos
pipoca, chocolates, balas, chicletes, e por últimos e não menos importante,
sorvete de chocolate com castanhas! – eu disse balançando o pote nas mãos.
– Minha querida, às vezes acho que a expressão “Você é magra de ruim”, foi
cunhada especialmente para vocês – ela disse se referindo a mim, Gwen e
Lila.
Foi impossível segurar a gargalhada, não era a primeira vez que ouvíamos
isso.
– Creio Sra. Goshen que você tenha razão.
E após guardar os itens, peguei o telefone e liguei para pizzaria.
A pizza não demorou a chegar, tanto quanto éramos conhecidas por comer
demais, éramos também conhecidas pelo mau humor associado a fome, tinha
a desconfiança que todos os deliverys que usávamos, nos davam preferência
na fila, tanto quanto por nossa boa gorjeta, tanto quanto porque se demorasse
um pouco mais, ligávamos desesperadamente.
Após o efetivo jantar (pizza), poderíamos passar para as besteiras, e nossa
seleção de filmes para a noite de hoje, devo dizer graças ao meu gosto
apurado estava excelente começaríamos 1º Gremlins, em 2º Os Goonies e em
3º A Fantástica Fábrica de Chocolate.
Tinha sinceras esperanças, que o cansaço após a maratona iria fazer Lila,
dormir à noite inteira, assim poderia chamar a escolha de filmes de
estratégica.
E dito e feito, Lila estava caindo de sono ao final, a peguei no colo e ela
apoiou a sua cabeça nos meus ombros, e a levei para cama.
Sra. Goshen, havia ido para casa na metade do segundo filme, e então
estávamos sós.
Lila, usa seu pijama como uniforme principalmente à noite, então não havia
necessidade de trocá-la, o que foi um alivio, só quem já tentou trocar uma
criança adormecida, e particularmente mal humorada quando acordada sabe
do que estou falando, normalmente Lila sempre pede uma história, mas o
cansaço hoje a fez apagar, puxei os cobertores e a deixei coberta, o que
duraria por alguns minutos antes dela começar a chutar os cobertores, mas era
uma mania que acho que é natural, arrumar os cobertores ao colocar a criança
para dormir. A expressão dela ao dormir era angelical, nem parecia o furacão
infantil quando estava disposta e quando não estava vendo seus desenhos
favoritos, já que aí a sua concentração era total. Dei um beijo de boa noite e
deixei as luzes da cabeceira acesa, elas eram suaves, e permitiriam que Lila
não ficasse assustada no meio da noite, caso ela acordasse, e na opinião da
Sra. Goshen os Gremlins definitivamente iriam causar pesadelos em Lila.
Fui em direção ao meu quarto, a noite mal dormida de ontem, mais o dia
inteiro de trabalho, havia chutado a minha bunda, não era só Lila que estava
desmaiando de sono, mas esse é o problema de se tornar adulto, você não
dorme no sofá e amanhece magicamente na sua cama no outro dia mais, e
depois de uma certa idade, dormir no sofá, é um suicídio para a coluna, e
considerando que amanhã eu teria um plantão duplo, sabia que tinha que
chegar a minha cama. Levei a babá eletrônica para o quarto, Lila já estava
com quatro anos, mas era ainda um excelente recurso, se ela acordasse ou
tivesse um pesadelo, eu a ouviria. E então, sem um pingo de dor na
consciência, desmaiei na minha cama, sem nem mesmo tomar banho ou trocar
de roupa.

Mikhail
Nikholai, surgiu como se tivesse sido conjurado, logo depois que o
helicóptero decolou levando Red e Zhenya para os Hamptons.
Poderia dizer que ainda me surpreendia com a atitude dele, mas isso seria
uma mentira, Nikholai não é alguém a quem você pede explicações por seus
atos, logo não sabíamos o que havia por traz dessa decisão, fato é que mesmo
após cinco anos separados, Nikholai não havia pedido o divórcio, então o
problema entre eles eram muito mais profundo, e tanto quanto eu, Alex, e
Zhenya, queríamos interferir toda vez que tocávamos no assunto, Nikholai se
fechava completamente, e Red simplesmente ficava arrasada, logo
aprendemos a manter o silêncio, no que se referia a ambos.
Ele estava acompanhado de dois de seus homens de maior confiança Kriger e
Serguei, que eram a sombra de Nikholai, desde que Vladmir o nomeou com o
príncipe herdeiro de seu império.
Os passos de Nikholai pareciam triturar o chão que ele pisava, claramente ele
estava puto, e não sem razão, se estávamos certos, a atentado contra mim,
visava ele, eu só era o cara errado com o rosto certo, no lugar errado.
Nikholai nunca foi de usar palavras além do necessário, então ao se sentar,
virou os seus olhos na direção de Alex e perguntou:
– Katherina? – Tanto quanto sabíamos que ele não iria elaborar a pergunta, e
que dentre os seguranças de Red, havia aqueles que lhe informavam sobre ela
todo o tempo, ignoramos esse fato, e Alex respondeu:
– Segura! Zhenya, e ela foram levadas para os Hamptons agora pouco, o
perímetro ao redor da casa já foi estabelecido, e nesse momento é o lugar
mais seguro que elas poderiam estar.
Nikholai assentiu com a cabeça em um movimento brusco, não era nenhuma
novidade para ele de certa forma, já que as ordens para que ela fosse colocada
em segurança, haviam partido dele, mas tanto quanto Nikholai confiava em
seus homens com a sua vida, ele não confiava a vida dela a ninguém.
Sem mais delongas, Alex, espalhou os arquivos que eram resultados de nossa
investigação e Kriger fez o mesmo, com os arquivos que eles trouxeram da
Rússia.
Precisávamos analisar as informações com cuidado, tanto quanto porque os
suspeitos eram muitos, tanto quanto falávamos aqui de matar ou morrer, e
sendo assim não poderia haver erros! Seria sem sombra de dúvida uma noite
muita longa.
Serguei, tirou as garrafas de vodca de uma das malas que trouxeram, bom,
olhando por outro lado, pelo menos não faríamos isso sem um incentivo.


Emma
Lila, dormiu a noite toda como um anjo, aparentemente, ela era realmente
uma de nós em miniatura, e não seria uns poucos gremlins que iriam a
assustar e fazê-la ter pesadelos, quando passei pelo seu quarto, além dos
cobertores chutados (o que já era completamente normal), ela estava
dormindo muito tranquila, a cobri, e dei um beijo de despedida, porque estava
em cima da hora, e sendo bem honesta nunca fui uma pessoa matinal, meu
alarme do celular tinha pelo menos três horários ativados sempre, pela mania
irritante que eu tinha de sempre apertar o soneca, o que quer dizer que eu
colocava geralmente um horário bem mais cedo, um intermediário, e um no
horário que eu deveria acordar, e ainda assim conseguia a proeza de me
atrasar constantemente.
Voltei ao meu quarto, tomei um banho rápido, e troquei de roupa ainda mais
rápido, peguei minha bolsa e me movi para fora.
O cheiro de café me acertou em cheio, sabe aquelas cenas de desenho
animado em que o cheiro conduz a pessoa? Bem próximo disso para mim! Fui
como um torpedo teleguiado atrás do café! A Sra. Goshen estava na cozinha
fazendo massas de cookies (O que me diz que Lila é uma criança de muita
sorte), e pelo cheiro no ar também havia um bolo no forno, e tanto quanto o
cheiro estava divino, eu não era uma pessoa de comer pela manhã, mas eu
definitivamente era uma pessoa que bebia café pela manhã, litros e litros,
acho que era a única coisa que me mantinha de pé e raciocinando durante um
dia.
– Bom dia Sra. Goshen! – eu disse já abrindo o armário e tirando meu copo
térmico.
– Emma! – ela disse com certa desaprovação – Eu não acredito que você vai
sair sem o tomar café da manhã!
Sorri com uma certa culpa.
– Dormi, demais, e estou atrasada! Vai ficar para outro dia Sra. Goshen! –
disse me desculpado enquanto enchia copo com café! – Mas estou levando
café! – eu disse levantando o copo em aceno.
– Você deve saber que a quantidade de café que você consome diariamente
não pode ser normal Emma!
Sorri com uma vergonha agora, tendo estudado medicina, eu sabia que a
minha dieta era péssima, mas não conseguia evitar, então nesse sentido não
havia muito que eu pudesse fazer.
Sabendo que eu estava mais que atrasada e já tendo o meu copo de café, saí
pela tangente.
– Sei que a sua preocupação é sincera, e agradeço muito por você cuidar da
gente assim! Assim que meus horários se tornarem menos loucos, prometo
que vou me esforçar mais em regularizar minha dieta.
– Ohh Emma, você sabe que vocês são a minha família!
Dei um abraço nela, o que serviu também para esconder os meus olhos
marejados.
Por tudo que passamos encontrar a Sra. Goshen, foi praticamente o mesmo
que ganhar na loteria, ela era literalmente uma mãe para todas nós!
Sem mais delongas e antes que eu realmente começasse a chorar, me despedi,
e fui em direção a saída, seria um plantão de quarenta e oito horas, e eu sabia
que não seria fácil.








Mikhail
Passamos a noite inteira analisando as informações, Nikholai tinha um
número tão considerável de inimigos só por ser quem era, que fazia a
quantidade de informações serem insanas. Mas havia um ponto importante,
quem que quer que tenha tentando, esperava ganhar alguma coisa, mesmo que
seja vingança, e isso de certa forma reduziu as opções, e havia também outro
ponto importante quem quer que tenha feito isso, tinha algum poder na
cidade, seja por conseguir a informação, seja por se arriscar a atacar a família
que comandava a operação russa nesse continente.
Chegamos a três nomes, o foco no momento ainda era investigar,
concentraríamos todos os nossos recursos, nos três nomes da lista, tanto
quando todos queríamos acabar com essa merda rápido, sabíamos que não era
assim que funcionava o jogo. A nossa família estava no topo do comando da
máfia, fora da Rússia, e tanto quanto éramos poderosos, essa hegemonia era
mantida, porquê, os “generais” juraram fidelidade a família, e tanto quanto
queríamos resolver isso, atacar um aliado, era atacar a própria carne, e sem a
certeza de quem havia nos traído, não era uma opção jogar com a sorte.
Kriger e Serguei se retiraram, para repassar as novas ordens. E então o humor
de Alex resolveu dar o ar da graça novamente, e como Nikholai não era muito
o tipo que aceitava brincadeiras, Alex voltou a sua carga para mim.
– Então gêmeo do mal… – disse ele com deboche indiferente ao olhar
assassino que Nikholai lançou a ele –Imagino que com os problemas caindo
em cima de você, ninguém teve tempo de te contar da paixonite do gêmeo do
bem… – continuou ele, ignorando agora que eu era quem lançava adagas com
o olhar em sua direção.
Nikholai me olhou um tanto curioso, um tanto divertido, não tínhamos a
mesma ligação de antigamente, e nos afastamos durante os últimos anos, mas
como dizem, sangue é mais espesso que água.
– Paixonite? – ele indagou curiosidade.
– Foda-se Alex! – foi a minha única resposta.
E tanto quanto pessoas normais tem a tendência a se calar nesses momentos,
Alex definitivamente não pegava a indireta.
– Bom, poderíamos dizer, que é um daqueles casos sérios, em que se deve a
vida a pessoa, literalmente no caso.
A expressão de Nikholai se aprofundou em curiosidade. Permaneci quieto,
primeiro porque não queria dar nenhuma satisfação, segundo porque para ser
sincero, não sabia se conseguiria explicar, o que eu estava sentindo, me
confundia completamente.
– Você vai elaborar melhor Alex? Já ao que parece Mikhail perdeu a língua –
Nikholai disse tentando passar seriedade, mas claramente se divertindo.
– Bom, penso que posso fazer um resumo dos fatos, havia uma médica, havia
um cara baleado – disse ele apontando para mim – E então, ela salvou a vida
dele, não que ela tivesse uma escolha realmente pensando bem – ele divagou
– Mas enfim, o que aconteceu nos dias seguintes é o que foi interessante, bom
uma mulher cair de amores, principalmente olhando ao redor – ele disse
agitando os braços em referência a opulência do lugar , não é uma surpresa
em absoluto. Mas o que realmente surpreendeu foi a reação dele a ela.
Nikholai, agora não escondia sua diversão!
– Cala a porra da boca, Alex! – eu disse, mas fui claramente ignorado
novamente.
– Ahh por favor não me entenda mal, Emma é bonita, realmente bonita,
inteligente, bem-humorada, não é difícil entender o interesse de qualquer
pessoa normal, mas Mikhail, é bem, Mikhail, ele troca de mulher como troca
de roupa, e sinceramente o olhar que eu vi no rosto dele, eu nunca tinha visto,
então quando eu digo paixonite, estou aliviando, porque eu realmente acho
que é bem pior!
E o fato que a queimação seguida de ressentimento que eu senti quando ele
elogiava a minha mulher, e que eu me recusava a nomear! Minha mulher?
Porra! Eu realmente estava ferrado. Escondi minha confusão com ironia, e
ressentimento.
– E claro, você, que até onde sei tem um histórico pior que o meu,
reconheceria o “amor “– enfatizei as aspas com as mãos – Ao vê-lo por
alguns minutos! – disse minha voz pingando sarcasmo.
E então vi a expressão de Alex, escorregar, a máscara diária que ele usava, e
dificilmente se livrava escorregou por uns instantes e o que eu vi na sua
expressão me chocou, dor, pura dor que tomou conta dos seus olhos, foi um
instante, mas estava lá, as palavras a seguir me disseram que eu não estava
vendo coisas.
– Creio irmão, que esse seja um mal de família, compartilhamos para além do
sangue, o fato também, de quando nos apaixonamos por alguém, a pessoa se
torna única, talvez seja uma maldição familiar especifica – divagou ele – E
com certeza de alguma forma merecida.
Alex, nunca falou abertamente sobre o passado, isso foi a confirmação mais
próxima que o que quer que tinha acontecido envolvia uma mulher.
Nikholai permaneceu em silencio, tanto quanto porque não era muito falante,
tanto quanto porque a indireta certamente acertou o alvo.
E então Alex, arrematou.
– Porém você está em uma posição mais vantajosa, vendo os erros que foram
cometidos, tem a chance de não repeti-los, talvez o único de nós irmão! – e
então bebeu o resto de sua vodca em um gole só.
O silencio recebeu sua declaração, era próximo da verdade demais para que
houvesse qualquer contestação, erámos todos conscientes de nossas ações, e
as palavras de Alex, ainda pesavam sobre as nossas cabeças.
Já estava amanhecendo e, sendo assim precisaríamos todos de pelo menos
algumas horas do sono, já que os próximos dias seriam decisivos. Com um
aceno de cabeça nos despedimos, e cada um foi para o seu quarto,
precisávamos recarregar, mas tanto quanto o sono estava presente, a cabeça
do todos fervilhava de pensamentos.

Emma
Plantões dobrados são por si só terríveis, quando se fala em residência
cirúrgica essa estatística piora consideravelmente. Usualmente principalmente
atendendo na emergência, noventa por cento dos casos são graves, alguns
pacientes chegam com chances mínimas ao P.S, e tudo que fazemos não
adianta, multiplique isso por várias horas dos mais variados casos, e
gravidades, é desgastante, te esgota, e principalmente te derruba, a parte que
mais me afeta? Falar com as famílias, olhar no olho de alguém e dizer que foi
feito todo o possível, mas a pessoa não sobreviveu, e ver a pessoa desmoronar
na sua frente, é terrível, fazer isso quatro vezes seguidas em um espaço de
quarenta e oito horas, supera o terrível.
Era quase oito da noite quando saí do hospital me arrastando, meu apetite já
tinha ido embora a muito tempo, e mesmo o cansaço que costumava me
abater após plantões assim, não estava chegando, eu estava apática.
Considerei, ir direto para casa, tomar um longo, longo banho, me enrolar no
edredom e dormir até amanhã, mas sabia que tinha que ir ver como Mikhail
estava, e juro solenemente que dessa vez não tinha nada a ver com a minha
estranha vontade de ver ele o tempo todo e de forma nada profissional. Pelo
pouco tempo que passamos juntos percebi que Mikhail poderia ser teimoso o
suficiente para ignorar as recomendações médicas e ficar em repouso, o que o
colocava em um risco maior de infecções e outros problemas, logo ir vê-lo era
uma emergência médica, e essa era provavelmente a única vez que eu diria
isso, e seria verdade. Hoje não era sobre a minha necessidade de mulher, era
sobre o meu dever como médica.
Dirigi para a cobertura no piloto automático, tinha um plano em mente, entrar,
verificar as condições físicas de Mikhail, reforçar as recomendações e sair…
Sem conversar engraçadas com Alex, sem cair sobre o charme de Mikhail,
simplesmente entrar e sair, rapidamente, sem amarras. Hoje eu não era boa
companhia para ninguém, e considerando a minha personalidade sempre fui
daquelas que “lambi as minhas feridas” de forma privada. Sendo assim queria
ficar sozinha, e me recuperar, me dar um tempo de processar tudo o que
aconteceu nessas quarenta e oito horas.
Quando dobrei na esquina e entrei na avenida, liguei para o número que Alex
havia programado no meu celular.
O telefone chamou por duas vezes antes de uma voz responder:
– Portão lateral, mesma vaga de antes – e a comunicação foi encerrada
E basicamente isso, não um oi, como vai, ou nada, instruções claras e
precisas, e então desligaram na minha cara, de novo.
No meu estado emocional conturbado não me atentei que as instruções vieram
antes mesmo de eu falar qualquer coisa, mas no momento? Não racionalizei a
questão, até porque estávamos falando da máfia, e se tinha um grupo que
mantinha as suas costas protegidas, eram eles.
A vaga que usei da outra vez, permanecia vazia, e meu carro continuava
parecendo um penetra em uma festa que não foi convidado. Mas de novo, isso
foi um detalhe com o qual não me importei muito dessa vez.
O elevador estava descendo, então não me dei ao trabalho de pressionar o
botão, se eles sabiam que eu estava aqui, certamente mandariam alguém me
escoltar. E não foi diferente, havia um dos “seguranças” no elevador, o seu
único sinal de reconhecimento foi um leve aceno de cabeça, quando me juntei
a ele no elevador, e então mais nada, a música do elevador elevava a minha
melancolia, particularmente sempre achei músicas de elevador um tanto
melancólicas demais, e isso em conjunto ao meu estado de espirito parecia um
funeral, o que reforçou minha intenção, eu não estava fugindo do que quer
que nós tínhamos, mas essa seria uma visita rápida.
O elevador apitou me tirando dos meus devaneios, o segurança permaneceu
parado, e essa foi a minha deixa para sair.
Parei em seco quando saí do elevador, havia dois seguranças no hall de
entrada, eles tinham uma postura relaxada sentados sobre um móvel que
tenho convicção foi colocado muito mais como decoração do que que
propriamente utilidade, dois pares de olhos escuros me analisaram
rapidamente quando surgi, mas não de deram um segundo olhar,
aparentemente, eu não considerada uma ameaça. Continuei meu caminho,
imagino que os dois sejam um reforço na segurança depois de tudo que
aconteceu.
E quando já ia tomar a direção do quarto, o que vi na sala me chocou.
– Você tem que fodidamente estar brincando comigo?! – Explodi em
indignação.
O par de olhos mais azuis que eu já tinha visto se voltou para mim.
– Sério Mikhail? Fora da cama e bebendo? Em uma recuperação pós-
cirúrgica? Eu sabia que você era teimoso, mas a estupidez é uma novidade! –
Continuei
Bom, eu claramente não tinha nenhum amor à vida, se estava falando assim
com um membro da máfia russa, e se as minhas desconfianças iam por um
caminho certo, ele era muito mais que um membro qualquer, mas a
indignação era bem maior que a prudência nesse caso.
Mikhail ficou lá me olhando divertido, não culpado, não envergonhado, mas
divertido.
Os dois brutamente que estavam no átrio vieram atraídos pelos meus gritos, o
que eu só percebi quando Mikhail, fez em gesto os dispensando com as mãos.
– Você ao menos tem tomados os remédios? – insisti, ainda tentando controlar
o meu temperamento – Porque, não que eu não tenho amor aos desafios, mas
no departamento de fazer milagres ou ressuscitar alguém não é muito a minha
praia.
Mikhail gargalhou.
Que ótimo, ele estava se divertindo com a minha indignação, queria me virar
ir embora, deitar na minha cama e chorar, definitivamente hoje, foi um dia de
merda em tudo.
E então a voz de “Mikhail” me paralisou
– Presumo que você seja a médica – a voz disse com um sotaque russo bem
destacado, que eu tinha certeza que não estava lá antes.
Fechei os olhos em consternação, que ótimo, fiquei aqui um tempão dando
bronca na pessoa errada, já que certamente aquele não era Mikhail, irmão
com certeza, gêmeo idêntico com certeza, ou talvez um clone, mas não, ele
não era quem eu estava pensando.
Revi a minha possibilidade de pegar a minha humilhação, virar as costas e
voltar para o elevador, mas realmente estava preocupada com o estado de
saúde de Mikhail e precisava checa-lo antes de ir, mas primeiro, sabia que
tinha que me desculpar.
– Presumo que você não seja quem eu estou pensando – eu disse, a
consternação e vergonha claras na minha voz – Peço desculpas, pela
explosão.
Os olhos continuavam olhando divertidos.
– Ah por favor, não se sinta mal, não por mim, além do que a bronca, não era
para mim, então me senti ofendido de tudo. – Ele disse piscando os olhos
muito azuis e muito iguais ao de seus irmãos.
– Bom, é o que chamam de uma situação estranha, que vem seguida de um
silencio desconfortável, se você não se importa, vou ver como ele está, e
então vou pegar a minha vergonha e ir para casa – eu disse esperando me
livrar daquela situação o mais rápido possível.
Comecei a me mover em direção ao quarto, quando a voz me parou.
– Nikholai, meu nome é Nikholai, e acho que você não deve esfriar o seu
temperamento ainda Doutora, da última vez que verifiquei, Mikhail estava
indo tomar banho, e sem pedir a ajuda de ninguém, acho que você deve
repetir as palavras que me disse, pediria até para você filmar, mas acredite,
esse momento está claro na minha mente – ele disse com os olhos sorrindo, e
então levantou o copo em um brinde – A sua coragem! – e riu antes de tomar
um gole.
Tanto quanto eu queria responder ao Nikholai, agora que sabia o nome do
irmão gêmeo, o que ele falou foi o que mais me preocupou, o tolo, iria tomar
banho sozinho, depois de todo o sangue que perdeu, e ainda estava em dieta
liquida, poderia desmaiar, cair, bater a cabeça, mil possibilidades passaram
pela minha cabeça enquanto me apressei em direção ao quarto.
O quarto estava vazio, mas a porta do banheiro estava aberta, deixei minha
bolsa no móvel, e fui em direção ao banheiro.
Mikhail se escorava na parede, não como um apoio superficial, mas como se
estivesse se esforçando para não cair “Tolo”, eu pensei, antes de escorregar
para fora dos meus sapatos e abrir o box e entrar de roupa, e apoia-lo.
Ele se virou para mim, os seus olhos tão profundamente azuis prendendo os
meus, e então entendi que só o meu cansaço absoluto me faria confundir ele e
o irmão, não era o olho, até porque os olhos de um azul hipnotizante parecia
comum a ambos, era o olhar, o olhar de Mikhail parecia me perfurar, a
profundidade do olhar dele, tirava meu folego, e qualquer pensamento
racional que eu pudesse ter no momento, estando ali, com os braços em volta
da sua cintura e seus olhos tão presos aos meus, me veio uma certeza tão
grande que eu estava exatamente onde deveria estar.
Eu queria dar uma bronca nele, pelo risco que ele havia corrido, pelo fato de
eu estar completamente encharcada da cabeça aos pés, na tentativa de evitar
que ele caísse, queria seguir o conselho de Nikholai e conjurar minha raiva
novamente para fazer ele perceber o risco que ele correu, e de como isso me
afetou.
Mas então a sua boca desceu sobre a minha, e qualquer pensamento coerente
que eu tinha se esvaiu como se nunca tivesse estado lá.
A urgência do beijo, suas mãos por todo o meu corpo, eu não sabia se era eu
que estavam apoiando o peso dele, ou ele que estava apoiando o meu.
Senti as mãos dele desabotoando as minha camisa, suas mãos desceram e
foram para minha calça, ele já havia desabotoado, e eu desci o feixe e
terminei de tirar, elas estavam molhados e agarraram pra sair, terminei de tirar
e as chutei para o canto, a blusa que estava desabotoada seguiu o mesmo
caminho, então lá estava eu de pé, com uma lingerie que não fazia um bom
trabalho para cobrir alguma coisa, e logo senti as mãos dele desabotoando o
soutien também, e logo suas mãos estavam na barra da minha calcinha, ele
parou por um momento de devorar a minha boca, e seus olhos me pediram
permissão, por um momento não segurei um gargalhada meio engasgada, ao
perceber que estava praticamente nua, e não tinha a mínima intenção de parar
o que começamos, voltei a me perder na sua boca, e ele entendeu como uma
permissão, logo a minha calcinha de juntou ao resto da minha roupa no chão.
Por um minuto a lógica se sobrepujou ao desejo, não poderíamos continuar
aqui, Mikhail certamente não estava em condições de permanecer em pé por
muito tempo, e certamente não poderíamos fazer o que ambos tínhamos em
mente aqui.
Me forcei a desgrudar os meus lábios de dele, o que eu não sei se foi muito
inteligente porque logo em seguida seus lábios desciam pelo meu pescoço, e
suas mãos continuavam a explorar meu corpo, senti seus dedos explorando a
minha boceta e brincando com o meu clitóris, e então de novo estava perdida
em uma onda de desejo tão forte, que não achava que as minhas pernas
fossem me sustentar, ele mal havia me tocado e eu me sentia flutuar, e isso
foi, por incrível que pareça, que clareou a minha mente, precisávamos de uma
cama, onde o risco de uma queda acidental por “fraqueza nas pernas devido a
um tesão absurdo, não nos colocaria em risco”
Não estava me sentindo muito prolixa no momento, então basicamente
murmurei, em um momento que a sua boca deu uma folga ao meu pescoço, e
meus neurônios voltaram a funcionar parcialmente.
– Cama – murmurei em total estado de languidez
Seus olhos escureceram claramente, e sua voz rouca de tesão confirmou
– Cama!
E então nos movemos em direção ao quarto, sem conseguir tirar as mãos um
do outro.
Paramos na lateral da cama, tanto quanto estava inebriada em total prazer,
meu lado racional apitou, Mikhail estava se recuperando de uma cirurgia
grave. Tanto quanto ele fingia estar bem, e estava de pé (totalmente contra
minhas recomendações). A cirurgia era muito recente.
Mas o momento não podia ser interrompido, estávamos além da fase racional
do “não podemos fazer isso nesse estado”, ainda que o meu lado racional me
mandasse parar.
– Deite-se – sussurrei interrompendo os nossos beijos.
Mikhail me olhou seus olhos enevoados em confusão.
– Eu vou estar por cima – senti a necessidade de me explicar.
Vi os seus olhos se transformarem, a expressão sonolenta e enevoada de
desejo deu lugar a um olhar aquecido e definitivamente interessado.
Mikhail não emitiu nenhum protesto, com os olhos grudados aos meus, deitou
de costas e se acomodou.
E se eu já não estivesse molhada o suficiente, ver o seu olhar desejo enquanto
levava a sua mão ao pau, e o acariciava de cima para baixo, mantendo o seu
olhar grudado ao meu, eu definitivamente teria ficado agora.
Me senti como uma criança no natal, sem saber qual presente desembrulhar
primeiro, Mikhail continuava a se acariciar e era uma cena hipnotizante, não
conseguia tirar os meus olhos dele, e quando desci os olhos para o seu pau e
vi surgir uma gota de pré-semen na cabeça, foi uma reação instintiva,
precisava prova-lo. Me inclinei em direção ao seu colo, e lambi a cabecinha
do seu pau, sorvendo o liquido salgado que saia do orifício na ponta. E agora
tenho que confessar uma coisa, chupar sempre me excitou, era algo sobre dar
prazer a alguém, de estar no controle do prazer dessa pessoa, chupar Mikhail,
potencializa cem vezes essa sensação então ainda que eu não me tocasse
sentia a lubrificação molhando minhas pernas, e me preparando pro que viria
a seguir. Fechei os meus olhos e estiquei os meus lábios e tomei o seu pau na
minha boca, era de fato mais sobre o meu prazer de estar chupando, do que da
necessidade de preliminares, sentia ele tão duro na minha boca como se a
qualquer momento fosse explodir. Continuei explorando o seu pau com os
lábios, ele era grande e seria impossível para mim sem muito esforço toma-lo
inteiro na boca, então me limitei a deslizar minha língua ao longo do seu eixo,
alternando com chupadas profundas em que eu engolia até engasgar. Não
tinha a intenção de fazê-lo gozar na minha boca, pelo menos não ainda, era
egoísta o suficiente para admitir que queria senti-lo dentro de mim, me
desculpava mentalmente dizendo que ia ser cuidadosa. E tanto quanto eu
queria montá-lo e senti-lo totalmente dentro de mim, estava tão gostoso senti-
lo assim na minha boca, suas mãos foram para o meu cabelo e o seguraram
com força atraindo a minha atenção, quando abri meus olhos e olhei em sua
direção seus olhos lançavam faíscas na minha direção, entendi que ele estava
no limite, e então sussurrei:
– Camisinhas?
Ele esticou a mão até a gaveta ao lado da cama e pegou um pacote que jogou
ao meu lado. Havia um número considerável, e divertida eu disse.
– Bom, não creio que vamos usar todas.
Ele continuava me olhando profundamente como se conseguisse ver a minha
alma, e disse:
– Ahh Doutora, eu tenha a impressão que serão poucas.
Sua voz rouca, denunciava o tesão, e suas palavras enviaram uma pontada
diretamente na minha virilha que eu já não podia ignorar. Peguei uma
embalagem e rasguei o preservativo, me apoiei de joelhos na cama, e deslizei
a camisinha no seu pau, que estava duro, apontando para cima, inflamando
totalmente o meu desejo. Minha voz saiu rouca de tesão quando eu disse:
– Vamos ter que ir bem devagar devido ao seu estado, mas eu prometo que vai
ser gostoso mesmo assim.
Passei a minha perna por cima do seu corpo, e então o meu corpo estava por
cima dele, apoiei o meu peso sobre os meus joelhos, não querendo
sobrecarregar Mikhail, com o peso do meu corpo em seu estado, seu pau
estava a centímetros da minha vagina, sentia a minha umidade descer pelas
minhas coxas, e então não esperei mais, encaixei a ponta de seu pau na
entrada da minha vagina e desci lentamente, ele era grande e mesmo
lubrificada como eu estava, entrou dolorido, mas era uma dor agridoce,
continuei descendo, e por fim havia encostado no seu colo, seu pau tão dentro
de mim, que me fazia sentir cada centímetro, me esticando de uma forma
deliciosa que eu nem sei explicar.
Comecei a rebolar de leve, com movimentos suaves, senti-lo assim dentro de
mim era tão bom, que eu não conseguia definir o que estava sentindo. Mesmo
com todo cuidado possível, não querendo que ele se machucasse, acelerei os
meus movimentos, contraindo minha vagina ao redor do seu pau, suas mãos
cravaram na minha bunda, seu olhar prendendo o meu, em palavras não ditas,
uma das suas mãos se moveu para o meu clitóris, e então ele começou a
fricciona-lo com movimentos rápidos e precisos, como alguém que
certamente sabia o que estava fazendo, eu não durei muito após isso, a
fricção, e o seu pau tão fundo dentro de mim, me levaram ao limite, eu senti o
orgasmo se formando dentro de mim, num processo quase doloroso, uma
necessidade absurda, e então eu gozei, e a única coisa que me fez perceber
que ele também tinha gozado foi o seu rosnado grutural, que eu confesso
achei sexy demais! E faria algo sobre isso, se não estivesse completamente
esgotada, da melhor forma possível, é claro.
Me apoiei em seu peito incapaz de me mover, e em total estado de languidez e
satisfação, percebendo o meu estado de sonolência eminente, me arrastei até a
lateral, pouco antes de pegar no sono, senti os seus braços me envolverem, e
tive a certeza que não havia outro lugar em que eu queria estar.

Mikhail
Desde que Emma entrou na minha vida, fui tomado por novas perspectivas a
respeito de praticamente tudo. Nunca fui muito paciente em relação a nada,
mas sei que poderia ouvir ela falar sobre qualquer coisa por horas, o riso, e até
mesmo o modo como os seus olhos enrugam nos cantos com a diversão que
ela tenta esconder, detalhes que eu nunca havia prestado atenção antes, me
prendem de uma forma que eu não sei explicar. Fisicamente, ela me atraiu
desde o primeiro instante em que a vi, ouvir a sua voz, me deixava mais duro
que qualquer outra mulher que tive, nua do meu lado, e então ter transado
com ela? A simples lembrança do que acabamos de fazer, já me deixa duro
novamente, nunca havia entendido a noção de sexo espetacular até hoje, até
então era agradável, satisfazia as minhas necessidades, e pronto, mas Emma
as despertava, simplesmente não havia como resistir ao seu apelo, qualquer
controle ou racionalidade desaparecia, quando eu estava ao redor dela, e para
ser sincero, isso me assustava para caralho, não era algo, que eu sabia como,
ou estava disposto a lidar, com a merda prestes a bater no ventilador, como
agora. Nunca fui de me aconchegar a mulher nenhuma, sempre estabeleci
limites em meus relacionamentos, nunca na minha cama, e nunca me
aconchegava no pós-sexo, mas aqui estou eu, velando o sono dela, me
tranquilizando com o fato de que a minha mulher está segura, na minha cama,
nos meus braços, e quando o pensamento me atinge, vem a convicção “minha
mulher”, Emma poderia não estar ciente ainda desses status, mas para todos
os efeitos, e de forma inevitável, ela tinha se tornado a minha mulher.
Adormeci com ela nos meus braços e com esse pensamento enraizado em
minha mente.

Emma
Acordei com uma sensação de satisfação que não sabia explicar, o peso de um
braço me rodeando, avivou na minha memória tudo que havia acontecido, o
edredom jogado sobre nossos corpos, e o corpo dele colado ao meu, me
aquecia na noite fria, e a sensação de languidez do meu corpo satisfeito. Senti
o corpo dele se enrijecer por um momento, e então relaxar por completo e me
estreitar em seus braços, a posição em que estávamos deitados, permitiu que
eu sentisse a sua excitação, sua mão foi para o meio das minhas pernas, e sua
boca roçou meu ouvido, sua barba por fazer, arranhava a minha pele, e sua
mão brincando com o meu clitóris, estava me deixando muito perto de gozar.
Não pude evitar esfregar meus quadris contra a sua ereção em um pedido
mudo.
– O que você quer baby? – Ele me perguntou.
– Mais! – eu disse com a voz rouca traindo o meu desejo.
– A minha menina gananciosa quer o meu pau?
– Sim, por favor! – eu disse quase implorando.
– Peça, peça Emma! – disse com a voz áspera, o que só elevou o meu tesão.
– Por favor, Mikhail?! Me fode…
E eu sequer tive tempo de completar a frase, minhas palavras pareceram o
fogo que se uniu a gasolina, senti sua mão erguer a minha coxa, e então o seu
pau deslizou apertado na minha vagina, quase gozei nesse momento ao sentir
como me esticava e me abria até o limite, se enterrando profundamente dentro
de mim. Ele estocava com força, e sua mão voltou a brincar com o meu
clitóris me deixando muito perto do limite.
Eu não era o tipo que conseguia gozar apenas com penetração, e ao mesmo
tempo, em muitos aspectos era tímida demais para pedir que se
concentrassem no meu clitóris, então não precisar pedir isso, e ainda receber
era o paraíso! Para além disso meu corpo respondia a ele de uma forma que
eu não sabia explicar, tínhamos claramente uma compatibilidade física, mas
era mais que isso, era sobre corpo e alma, e se por um lado isso me assustava
por nunca ter sentido assim antes, por outro me dava uma satisfação enorme
de descobrir que era possível ter esse nível de conexão com alguém de corpo
e alma, só tornava tudo perfeito.
Mikhail
Eu sabia que já estávamos no quarto há muito tempo, e tanto quanto eu queria
estar ali para sempre se ela estivesse comigo, eu sabia que Emma havia
acabado de sair do plantão e precisava jantar. Sua figura adormecida em meus
braços simplesmente minava minhas forças para sair do lugar, eu sentia que
não havia outro lugar em que eu preferia estar. Contemplei a possibilidade de
só pedir que trouxessem alguma refeição ao quarto, mas sabia que teria que
ser mais especifico que isso já que Nikholai estava aqui, e Alex não
demoraria a chegar, e se Nikholai iria respeitar a minha privacidade, Alex não
teria a mesma consideração, então precisava ser bem especifico com eles
sobre o meu quarto ser zona proibida, o que limitava as minhas opções, não
queria ter essa conversa aqui, pelo ramal, correndo o risco de acordar Emma,
então me desvencilhei dos seus braços delicadamente, queria que ela pudesse
descansar, já que tinha planos para o resto na noite.
Vesti uma calça, e saí do quarto, encontrei Mikhail e Alex na sala, e ambos
pareciam divertidos para caralho, e claramente eu era o alvo preferencial dos
dois!
– Vocês não têm o que fazer? Supervisar as buscas? Pegar alguns
conspiradores? Dar fim a essa merda? – eu disse mal-humorado tentando
evitar a enxurrada de piadinhas que estava por vir.
– Na verdade eu até tenho, mas depois que o gêmeo do mal contou que a
doutora estava aí, trancada com você a horas, minha curiosidade foi maior –
Alex respondeu com o sarcasmo que já era característico.
Nikholai, acompanhava tudo com diversão, mas não sentiu a necessidade de
verbalizar isso, então ele permaneceu em silêncio.
Alex como era de se esperar, voltou à carga.
– Posso presumir que era um envolvimento puramente profissional…
evidentemente? – ele disse com deboche.
– Vai se foder Alexei! – eu exclamei com irritação – E nem uma só palavra
sobre isso a ela, e eu estou falando sério!
Minha expressão certamente acompanhou a seriedade das minhas palavras,
pois a jocosidade deixou seu olhar por alguns momentos.
– Jesus fodido! Você realmente pareceu com o gêmeo do mal agora pouco!
Impressionante devo admitir! – ele disse ainda impressionado – Mas não se
preocupe apesar de vocês serem meus alvos preferenciais, eu não levo isso
nem a Red, nem a doutora – ele disse em uma tentativa de tranquilizar.
O olhar que Nikholai dirigiu a ele, em reação a menção de Red poderia
congelar uma montanha.
– Eu retiro o que disse, o gêmeo mal tem muito mais prática, e por isso é
muito mais assustador! E dito isso, vou me retirar, tenho mais três clubes para
visitar hoje, e a ligeira impressão que a merda via explodir a qualquer
momento!
–Tome cuidado Alex, um de nós ferido já basta.
E Nikholai, complementou:
– Leve Yegorchev e Kazarov com você – E quando Alexei, ia negar, ele
complementou – Considere uma ordem se te faz sentir melhor Alexei.
Alex, podia ser um completo palhaço na maior parte do tempo, mas ele sabia
quando o momento pedia que ele levasse a sério, então assentiu em
concordância e se virou em direção a saída.
– Pensei que você já tivesse indo para o seu apartamento?
– Eu vou, mas precisava falar com você antes – Preciso que você revise os
protocolos de segurança, quero uma investigação profunda em cada um dos
homens que nos servem na Costa Leste, se algo não bater, ou parecer
suspeito, resolva!
– Boris já está nisso, e Igor, está atualizando a proteção da Red, nos
Hamptons
– Katherina – ele diz com a voz engrossando em insatisfação. – O nome dela
é Katherina, não Red, Mikhail.
– É um apelido Nikholai, relaxa, convivemos o suficiente, Alex a chama
assim, e acabamos todos por pegar a mania.
– Todos quem? – ele interrogou ainda meia puto.
– Jesus! Eu Alex, e Zhenya! Porra Nikholai, relaxa, você sabe que não
permitiríamos nenhum desrespeito com Red!
– Você gosta da médica? – ele me questionou tirando o foco.
– É complicado! – eu respondi tentando não me comprometer.
–Você faz, se não fizesse ela não estaria aqui, e certamente você não estaria
dando um aviso a ninguém sobre não magoar os sentimentos dela – Ele disse
zombando da minha resposta.
– Foi o que você sentiu quando encontrou Red? – eu questionei, empurrando
seus limites em retaliação.
– Sim. – Ele disse em uma silaba, mas carregado de sentimentos.
Sua confirmação me surpreendeu, e meu silêncio foi a única resposta, então
ele continuou.
– O amor, assume várias formas, não é constante, nem chega sempre ao
felizes para sempre dos contos de fada. A realidade sempre nos bate onde dói,
e nem sempre podemos ter aquilo que queremos, às vezes manter a distância é
a único jeito que pode ser, mesmo que machuque, mesmo que torne a sua vida
uma merda!
Eu pressenti que havia um aviso na sua voz.
– Eu sou quem eu sou, não é algo que posso evitar, não posso mudar o meu
passado e nem o meu presente, e bastou uma única vez para eu me dar conta
de como isso iria afetar ela, eu sei que eu a machuco mantendo distância, me
machuca também, para porra! Se você quer saber, mas ela está viva, está
respirando, e está mais segura aqui, do que eu jamais poderia mantê-la do
meu lado, enquanto eles acreditarem nisso ela ficará bem. E eu posso aceita
isso, posso aceitar que eu não a tenho, mas ela estará respirando aqui,
razoavelmente feliz, a outra opção, eu não posso nem considerar…

– Você está uma posição melhor que a minha, mas ainda assim Mikhail, como
pudemos comprovar com o seu atentando, nada é garantido, então proteja a
sua mulher, porque no nosso mundo é matar ou morrer, e você perder a
mulher que você ama, não é uma coisa da qual você se recupera.
– Eu não sei dizer se é amor, nem sei dizer se um dia eu amei alguém.
– Vladmir crê que existe uma maldição especifica, nessa família, uma mulher,
uma única mulher para toda a vida, a única que vai realmente penetrar nas
defesas.
– Ele claramente não cumpriu a profecia – eu disse enfatizando com dedos em
aspas – Quatro filhos com três mães diferentes e isso pelo que sabemos até
agora.
– Sexo e Amor, são duas coisas diferentes Mikhail, eu não esperava ter que te
ensinar isso a essa altura da sua vida.
– Foda-se Nikholai.
– Ocidentais banalizaram a palavra, “Eu te amo” virou um cumprimento, uma
despedida, é bem mais complexo quando é de verdade, porque não se trata de
palavras e sim de ações.
– Eu não sou dado a atos românticos.
– Nem eu, mas não é disso que eu estou falando e você sabe disso! Você vai
saber distinguir o que está sentindo cedo ou tarde, porque o sentimento irá te
tirar da sua zona de conforto – então ele me observou durante uns instantes –
se é que já não te tirou…
Mesmo que eu não tenha reagido ao que ele disse, eu sabia que ele estava
certo, claro que era mais, claro que tinha me tirado da minha zona de
conforto! Conhecendo o meu mundo e suas implicações minha vontade
primordial era trancar Emma aqui e mantê-la segura, porque o simples
pensamento de alguma coisa ocorrer a ela…Eu sequer conseguia imaginar! E
esse conhecimento me deu a certeza, era algo mais, se era amor? O que
diabos eu sabia sobre amar alguém? Mas considerando a definição melosa e
açucarado do senso comum, eu estava perto para caramba, sem dúvida! Porra!
Eu realmente estava fodido!
Me despedi de Nikholai, e ordenei que o jantar fosse servido em uma hora, e
então voltei ao meu quarto, Emma continuava dormindo sua expressão
despreocupada durante o sono, me dizia que ela estava confortável em estar
aqui, e seja lá qual fosse a razão, isso aquecia algo em mim, que eu nem sabia
existir! Eu não iria categorizar o que eu estava sentindo, mas eu sabia que
Mikhail estava certo em dizer, o que quer que isso fosse, estava enraizado,
Emma pertencia a esse lugar, pertencia a mim… e ao me deitar do lado dela e
envolve-la em meus braços, essa certeza só se tornou mais definitiva.

Emma
Eu abri meus olhos, e dessa vez a sensação de desorientação não me bateu
como da primeira vez, eu sabia bem onde estava, sabia a quem pertencia o,
corpo quente que me envolvia, e eu estava muito, muito confortável aqui,
enlaçada pelos seus braços.
Seu nariz roçou a lateral do meu pescoço, e ele plantou um beijo atrás da
minha orelha o que fez meu corpo arrepiar por inteiro, e obviamente fez eu
perceber que eu não era a única acordada
– Olá – ele me disse com a voz rouca de travesseiro.
– Olá – eu respondi, e então completei – Que horas são?
– Perto das 20:00 – ele me disse – O jantar vai estar aqui a qualquer
momento.
– Tenho que me vestir.
– Eu aprecio a sua nudez – ele disse com a voz divertida.
– Bom eu devolvo o elogio, mas não me imagino, jantando nua.
Me levantei da cama, e fui até o banheiro e minhas roupas eram um
emaranhado molhado e estavam no mesmo lugar que eu as havia jogado.
Havia um roupão, aliás roupões embalados, como se fossem cortesia de um
hotel, (e eu nunca ia me acostumar com isso), então diante da minha falta de
possibilidade eu peguei um.
Quando voltei ao quarto, Mikhail me deu um olhar apreciativo! Que me fez
corar!
– É só um roupão, e muito bem-comportado – eu disse em resposta ao seu
olhar.
– A minha imaginação é vivida, e minha memória fotográfica, além disso eu
gosto do acesso que a sua escolha fornece…
– Não foi realmente uma escolha, minha roupa está emaranhada, toda
molhada, no chão do banheiro!
–Você vai ter que me emprestar um moletom ou algo do tipo, para eu poder ir
para casa.
Seu olhar mostrou contrariedade por alguns segundos, que refletiu na sua voz.
– Você não está indo para casa – e então parecendo perceber a demanda da
sua voz ele suavizou – Eu tenho planos para a noite!
E isso enviou uma mensagem direta para as minhas partes baixas, e eu tive
que manter minhas pernas coladas com a sensação que suas palavras tiveram
sobre o meu corpo! Jesus! Se só ao ouvi-lo dizer que tinhas planos me fazia
molhada dessa forma, eu não tinha muitas esperanças em relação ao resto.
Pensei em dizer a ele que podíamos pular o jantar, mas meu estomago
protestou ao simples pensamento, tanto quanto o meu corpo apreciou tudo o
que tinha acontecido durante toda a tarde, ele estava necessitado de comida,
além do que, se eu tinha entendido bem, nós tínhamos toda a noite pela frente.
– Ok – eu disse concordando com a sua demanda.
–Ok? – ele disse testando as águas.
–Você vai descobrir Mikhail que eu posso ser muito razoável, quando me é
conveniente.
– Eu espero descobrir, muito mais Emma.
E então estava lá, a menção de um futuro em comum, que me fazia sentir uma
adolescente encontrando o primeiro amor, por mais que eu tentasse dizer a
mim mesma, que se tratava se sexo, um relacionamento casual que iria acabar
a qualquer momento, esses momentos me davam uma esperança tola, de que
era real, de que não era só eu que estava me sentindo assim! E tanto quanto
isso me enchia de uma esperança que eu não sabia definir, também me
assustava para caralho!
Mas quaisquer pensamentos que eu pudesse ter foram jogados para escanteio
com a batida na porta.
Mikhail, que estava vestido com uma calça de moletom, que deixava toda a
parte de cima do seu corpo em exibição de moveu para a porta.
Uma empregada de meia idade entrou, empurrando um carrinho de serviço.
Ela se moveu ao longo do quarto, e abriu as cortinas que escondiam uma
porta deslizante, e então empurrou o carrinho para lá.
Mikhail me guiou até a varanda e na falta de outras palavras.
Uau!
A varanda tinha uma vista privilegiada do Central Park e do skyline da
cidade, as luzes, os prédios todos acesos formavam uma vista única, do tipo
que você não se dá conta no dia-a-dia, a beleza da composição era
impressionante, do tipo que você aprecia com calma, e não se cansa de
apreciar.
Perdida em pensamentos ao olhar para a vista da cidade, nem percebi que a
senhora havia terminado de pôr a mesa e se retirava.
Mikhail, a agradeceu com um aceno de cabeça, e ela se foi.
Ele afastou uma cadeira para mim.
E mesmo que eu de roupão e descalça, e totalmente destoando do ambiente ao
redor, e da mesa montada com fina elegância, achei o gesto gentil e
cavalheiresco, e isso quando eu achava que ele não podia me impressionar
mais.
A mesa estava posta, de maneira tão elegante, que eu achava impossível que
tivesse sido arrumada em tão pouco tempo, o cheiro estava divino, e mesmo
que eu fosse suspeita para falar, já que estava faminta, definitivamente era
uma refeição digna de um restaurante estrelado.
Eu nos servi a comida, e Mikhail cuidou da bebida.
E ali estávamos nós, com uma das cidades mais incríveis do mundo aos
nossos pés, comendo uma comida maravilhosa, conversando sobre tudo e
nada ao mesmo tempo, e só parecia certo, parecíamos pertencer a isso,
estarmos juntos, ali nesse momento parecia tão certo.
Depois de jantar nos sentamos nos sofás que compunham a varanda, estava
uma noite cálida o suficiente, para ser confortável permanecer ali fora, e se
fosse o caso havia uma lareira a gás, como eu disse, era perfeito!
Prosseguimos a conversa que tivemos no jantar, nos conhecemos melhor, para
além das informações básicas que tínhamos um do outro, quer dizer, pelo
menos eu tinha informações básicas, e um monte de conjecturas. Então como
um estalo a pergunta surgiu na minha mente.

– Sei que parece uma pergunta estranha, e tudo bem se você não quiser
responder… – comecei dizendo meio insegura.
– Você pode me perguntar o que quiser Emma, apesar de eu nem sempre
poder responder… – ele disse então.
O que a minha mente entendeu como obvio, evidentemente, considerando o
ramo de trabalho da família, havia um lote de coisas que eu não deveria, e
nem poderia saber, mas no caso especifico, a minha curiosidade era mais
pessoal.
– Oh não, não… – eu me atrapalhei – É uma curiosidade pessoal e não
profissional – eu tentei justificar e corei quando percebi os sentidos das
palavras.
Mikhail me olhou divertido, o que me aliviou, divertido era com certeza
melhor que incomodado, ou ofendido.
– Como eu disse Emma, pergunte o que quiser.
E eu me perdi no seu olhar, a intensidade dele, ou não poderia nem definir.
– Emma? – ele chamou a minha atenção já que eu estava divagando.
Eu me forcei a prestar a atenção.
– O sotaque…
Ele me olhou com uma expressão confusa.
– Eu encontrei o seu irmão, no caminho para cá, e devo dizer que foi uma
surpresa em vários sentidos – eu disse enfatizando – Eu pensei que ele fosse
você, e podemos dizer assim que não fiquei muito feliz em vê-lo fora de
repouso, e bebendo, então eu disse isso a ele, ou a você, já que eu pensava
que se tratava de você.
A diversão tomou conta de todo o semblante dele, e ele definitivamente
achava divertido, o que eu considerava um mico.
– Eu queria realmente ter visto isso – ele me disse a diversão clara em sua
voz, já que ele nem fazia questão de disfarçar.
– Estranha escolha de palavras, já que ele disse o mesmo, quando me
informou que você estava tomando banho sem ajuda…
Seus olhos mostravam toda a sua diversão, e me distraíram de forma tão
eficaz, que por alguns momentos eu esqueci completamente o tema da
conversa, era uma sensação visceral, algo que eu nunca tinha sentido antes,
mas somente estar ali, olhando para ele, atingia algo em mim, e eu sentia isso
no meu âmago, talvez fosse verdade o que eles diziam sobre borboletas no
estomago.
Sua voz me trouxe de volta das minhas divagações.
– E a pergunta, era sobre…?
– O sotaque, seu irmão claramente tem um sotaque característico do leste
europeu, e o seu claramente, é puramente americano…
Ele assentiu em concordância.
– Nikholai e eu nascemos na Rússia, mas enquanto ele foi criado lá, eu fui
criado aqui…
Ele disse sucintamente, o que fez a minha mente imediatamente elaborar
cerca de mil perguntas adicionais, mas eu as segurei, se antes a expressão dele
era claramente divertida pelo fato de eu ter confundido os dois, agora a sua
expressão era mais escura, e seja lá qual foi a razão para que eles tenham
crescidos separados, claramente, não era um assunto que gostasse de falar. E
então eu resolvi não insistir.
Voltei para o aconchego dos braços dele, e fiquei em silêncio, permitindo que
ele resguardasse quaisquer pensamentos que ele tivesse, eu sabia que quando
ele se sentisse confortável, ele me diria, eu não tinha pressa, estava justamente
onde eu queria estar, com quem eu queria estar, logo iria simplesmente
aproveitar o momento.

Mikhail
Ficamos um bom tempo na varanda conversando, assuntos triviais, nos
conhecendo melhor, Emma basicamente confirmando as informações do
relatório que eu havia recebido, e eu obviamente fazendo parecer uma
novidade, se eu dissesse que havia uma investigação sobre ela, iria certamente
parecer um psicopata perseguidor, mesmo que o meu “ramo” de trabalho
justificasse o cuidado.
Tanto quanto poderíamos ficar ali indefinidamente, eu sabia que Emma
precisava descansar, e como eu havia dito a ela, eu tinha planos para a noite.
Depois de todo o sexo suado, precisávamos de um banho, e eu tinha planos
para o banho.
– Precisamos tomar banho – eu disse a ela com um sussurro no seu ouvido.
– Definitivamente um banho seria muito bom – ela me respondeu, e então
complementou – E a minha presença certamente vai garantir que você não
extrapole.
– Se a minha memória não falha, eu “extrapolei” essa tarde, e você estava
presente.
Ela corou de um modo delicioso, à minha menção do que ocorreu no banheiro
hoje pela tarde.
A levei pela mão em direção ao banheiro, havia uma parte que ela ainda
desconhecia, a sala de banho.
Seu suspiro surpreso, me disse que ela havia apreciado.
A banheira era enorme e era voltada para uma parede envidraçada que
permitia uma vista da cidade.
– Mikhail é perfeito!
– Os vidros têm uma película que fornece privacidade total – eu sussurrei no
seu ouvido.
– Sim, o que torna duplamente perfeito. Mas…
– Emma – eu protestei.
– Você está se recuperando lembra? Tem pontos que estão em processo de
cura, eu não recomendaria um banho de imersão.
– Sorte a minha que tenho uma médica comigo – eu retruquei de forma
irônica
Ela me olhou tentando esconder a diversão.
– Você é impossível! – ela disse então.
Eu calei qualquer protesto adicional com um beijo, e então ela se derreteu, e
qualquer recomendação médica se perdeu no meio do frenesi.
Me desvencilhei dos seus braços por um minuto, para ligar a água, e então
voltei a saquear a sua boca.
Como eu disse o roupão tinha uma praticidade inata, e ao puxar o cordão, e o
afastar dos ombros dela, ele caiu no chão.
Minha calça rapidamente seguiu o mesmo caminho, então estávamos
completamente nus devorando um ao outro.
Era tão cru, e ao mesmo tempo poderoso que não havia um script a ser
seguido, era simplesmente deixar o desejo tomar o comando, e assim fizemos.
Eventualmente estávamos na banheira, Emma por cima de mim, tomando o
meu pau profundamente, nossas bocas se devorando, minhas mãos passeando
pelo seu corpo perfeito, tomando tudo o que ela quisesse me dar! Seus seios
na altura da minha boca eram uma tentação muito grande para se ignorar! Os
tomei na minha boca, mamando com força, no limite entre a dor e o prazer,
sua bocetinha apertada afundando no meu pau. Porra! Perfeito!
Eu sentia que absolutamente não iria durar muito tempo, Emma parecia seguir
pelo mesmo caminho, seus movimentos já não eram cadenciados, eles eram
quase desesperados, ela queria gozar, e seus instintos mais básicos assumiram
o controle.
Levei minha mão ao seu clitóris, e usei os meus dedos para estimula-la, sua
cavalgada se tornou mais intensa, me dizendo que ela iria gozar a qualquer
momento continuar.
Depois do banho de banheira, que Emma claramente desaconselhava, sendo
bem incisiva quanto a isso, voltamos para a cama, a medicação, somada ao
cansaço dos dias anteriores estava batendo na minha bunda, eu sabia que
estava atingindo ela também, seu trabalho era particularmente cansativo, e se
eu a conhecia bem, pelos últimos dias que passamos juntos, ela ia além do
trivial e exigido, o que basicamente queria dizer que ela com certeza
trabalhava mais que deveria. Não vou dizer que esse sentimento não me
assustava porque eu estaria mentindo, o sentimento de proteção, cuidado,
apego, não era comum para mim, e a intensidade com que esses sentimentos
me atingiam era ainda menos comum. A possessividade era um traço comum
na minha personalidade, mas nunca antes tinha sido dirigida à nenhuma das
mulheres com quem eu me relacionei, eu as mantinha com consideração, fui
criado ainda que de forma tardia, para respeitar as mulheres, e eu as
respeitava, mas meus relacionamentos baseavam-se em uma troca mutua de
interesses, sentimentos, ainda mais nesse nível de intensidade nunca entraram
no quadro. Então estar aqui, olhar para Emma adormecer em meus braços,
aquecia meu peito de uma forma que eu nunca tinha experimentado, ela era
minha, minha para cuidar, minha para amar, minha para proteger. Emma
poderia não estar ciente disso ainda, mas no momento que ela entrou na
minha vida, tudo mudou. E eu tinha uma absoluta certeza, eu estava fodido!



Emma
Eu acordei suavemente na manhã seguinte, do nada, sem o auxílio do
despertador, sem a vontade inata de apertar o “soneca” por pelo menos duas
vezes seguida, chamamos isso popularmente de “acordar por parto natural”, e
eu acredito ser uma das melhores formas de acordar, pelo menos para mim,
que tenho uma séria dificuldade em sair da cama. E devo admitir que sair
dessa cama especifica estava se tornando um pouco mais difícil, eu queria
mais cinco minutinhos, mas por motivos totalmente diferentes, seus braços
estavam ao meu redor, e uma das suas pernas enlaçava o meu corpo, como se
ele não quisesse me deixar ir a lugar algum.
Eu tinha conseguindo evitar qualquer pensamento coerente ontem, estar nos
braços dele, parecia fritar meus neurônios completamente, mas a luz da
manhã, não era possível evitar uma enxurrada de pensamentos, e com eles a
autocomiseração. O que diabos eu tinha feito? Dormir com um paciente era
antiético e sem precedente da minha parte, ter feito isso seguidamente, por
uma tarde inteira só piorava a minha situação. Ainda estar aqui pela manhã,
era certamente persistir no erro.
Me desvencilhei com cuidado dos seus braços, para não acorda-lo e fui em
direção ao banheiro, precisava tomar um banho, e arrumar alguma roupa, e
dar o fora daqui o mais rápido possível.
Entrei no box, e tomei uma chuveirada rápida, queria lavar ele da minha pele,
como se isso fosse possível, como se fosse diminuir um pouco a minha culpa,
por ter quebrado as barreiras da dignidade. Queria que a água tivesse o poder
de lavar um pouco a minha alma, que eu sentia estar negra e manchada pelo
curso das minhas ações. A água escaldante caiu sobre a minha pele, mas eu
não me permitir demorar, ele poderia acordar a qualquer momento, e eu
queria levar a minha vergonha o mais longe possível, antes que isso
acontecesse.
Reparei ao sair do box, que as minhas roupas já não estavam emaranhadas no
piso do banheiro, será ele tinha elfos domésticos ou algo do tipo trabalhando
aqui? Eu me permiti divagar.
Enfim, não teria tempo suficiente de qualquer forma para ir até lá, e pedir que
alguém encontrasse minhas roupas, então considerei que poderia pegar uma
camisa e um moletom emprestados, e dirigir até minha casa para me trocar.
Pronto, era exatamente o que eu iria fazer, sem ter que incomodar ninguém no
processo!
Me enrolei em uma toalha, e me movi em direção ao closet, esperando pegar
emprestado um par de roupa, e sair dali o mais rápido possível.
Quase tive um ataque cardíaco ao dar de cara com Mikhail, escorado
despretensiosamente sob o marco que divide o closet e o quarto, complemente
nu, em toda a sua glória, e com uma expressão sonolenta, que devo admitir só
tornou o conjunto ainda mais charmoso.
Não pude evitar corar a visão dele, mesmo com a culpa espezinhando a minha
mente, eu não era cega caramba.
– Oi – eu disse tentando conter o meu rubor.
– O que você está fazendo fora da cama? – ele disse sem gastar tempo com
cumprimento algum, e parecendo chateado.
– Eu tenho que me trocar, e ir para casa, meu turno começa as oito – eu disse
em resposta, mas sem encara-lo.
– Emma!
– Humm – eu disse monossilábica olhando para os meus pés
– Olhe para mim.
Eu não queria, honestamente enfrentar seus olhos parecia demais para mim,
naquele momento, mas sabia também não ter opção, então me vi encarando
duas piscinas tormentosas de um profundo azul.
– Você quer me dizer o que porra aconteceu, para que você esteja se
esgueirando, e sequer consiga me olhar nos olhos?
– Eu não estou me esgueirando – menti na cara dura – Só preciso ir, porque
tenho um turno e…
– Emma – ele disse em tom de aviso, claramente percebendo a minha mentira.
Olhei em seus olhos, e não pude evitar que os meus se enchessem de
lágrimas.
– Eu nunca fiz isso ok? Não existe um manual para o dia seguinte, então sim,
eu estou um pouco perdida, e sim eu estava me esgueirando. – Eu desabafei
sem conseguir me conter.
– Nunca fez isso o quê? – ele me perguntou confuso – Sexo?
– Bom acho que está um pouco obvio que sexo, é uma coisa que eu já fiz,
inclusive repetidamente ontem quase por todo o dia – eu desabafei, e corei
com o conteúdo das minhas palavras. Ele ainda olhava confuso, como se o
que eu tinha dito não fizesse sentindo algum.
– Eu nunca dormi com um paciente Mikhail. – Eu expliquei então – Isso está
tão fora da linha quanto possível, não foi ético da minha parte, e agora a luz
da manhã, eu posso perceber isso com claridade. – Eu disse transparecendo
toda a vergonha que estava sentindo – Coisa que certamente eu não fiz na
noite passada! – complementei sem poder esconder o rubor que invadiu o
meu rosto face as memórias do que havia acontecido.
Quando o silêncio de prolongou demais, finalmente tomei coragem o
suficiente para erguer o meu rosto, Mikhail continuava escorado na parede,
seu rosto estava virado, escondido em seu braço, o que não me permitia ver a
sua expressão, seus ombros sacudiam, e ele emitia um ruído abafado que eu
não conseguia identificar.
– Mikhail – eu tentei chamar a sua atenção preocupada.
Ele então se virou, e me deu uma visão total do seu rosto, seus olhos tinham
lágrimas, lágrimas de riso!
Ele estava rindo de mim! Eu não poderia pôr a minha indignação em
palavras! Então esperei que meu olhar cortante fizesse isso por mim! E foda-
se ele, eu iria de toalha para a casa, mas me negava a permanecer mais um
minuto sequer ali.
Quando estava passando por ele na porta, pisando duro, e deixando a minha
raiva escoar pelos poros, seu braço me parou em um aperto de aço, que
absolutamente não me machucou, mas que me impediu de prosseguir! Estava
brava o suficiente para tentar me soltar fazendo um escândalo, mas anos em
treinamento em lidar com pessoas, segurou o meu temperamento, eu
simplesmente “congelei”, deu o meu olhar mais frio que o ártico, e me
preparei para dizer as palavras com coerência e clareza o suficiente, deixando
a minha raiva no controle, e evitando que eu explodisse em lágrimas, como
era padrão em todas as minhas discussões.
E fui completamente frustrada, pois ele me girou de volta ao quarto, e se
sento na beirada da cama, e me sentou em seu colo.
– Você não coloca uma pessoa no colo no meio de uma discussão Mikhail!
Pelo amor de Deus! – eu explodi então mostrando toda a minha irritação.
– Nós não estávamos discutindo! – ele disse, a diversão ainda clara em seus
olhos.
– O diabo que não estávamos! Você estava rindo de mim!
–Emma – ele contemporizou – Eu não estava rindo de você, eu estava rindo
do que você disse!
– E qual a maldita diferença?
– Toda a diferença! Você tem que admitir que é hilário, no mínimo
Ao som das suas palavras me contorci em seu colo, tentando escapar do seu
aperto de aço! E fui novamente frustrada.
– Hilário? A minha culpa, pela minha falta de ética é hilária? Muito bom
saber que você considera hilário Sr. Dragorov
E tentei me libertar mais uma vez.
– Sr. Dragorov?! Jesus Emma, e as pessoas dizem que são as ruivas que tem
temperamento! – Ok, isso pode acontecer de duas formas, você pode escutar o
que tenho a dizer, e então fazer o seu próprio julgamento, ou então continuar
se contorcendo no meu colo, e então vamos ter um tipo de conversa
completamente diferente.
Eu congelei quando o significado das suas palavras me atingiu, minha raiva
aparentemente teve um efeito sobre a minha percepção, que me fez ignorar
completamente que eu estava recém-saída de um banho, enrolada em uma
toalha, (com um nó precário) e Mikhail estava completamente nu, não
precisava ter a inteligência de um cientista espacial, para entender o que ele
queria dizer.
Então, dado a sabedoria do seu aviso, e também do fato que eu não queria
repetir os erros da noite anterior, me permiti ficar em silencio, e ouvir o que
ele tinha a dizer, para poder dar o fora dali o mais rápido possível.
Percebendo que tinha a minha atenção, então ele começou:
– Eu te desejei quando eu abri os meus olhos naquela noite, mesmo com o
efeito da anestesia, mesmo com toda a situação, o meu primeiro pensamento
coerente, foi desejar você – ele me olhou nos olhos, e então continuou –
Honestamente? Eu não o tipo de cara que tem relacionamentos, por quem eu
sou, pelo que eu faço, não é o tipo de coisa que se encaixa, mas com você, eu
queria mais, mesmo que uma parte de mim, me dissesse que você merecia
mais, merecia alguém melhor, eu queria você para mim, desde a porra do
primeiro minuto que eu estive consciente da sua presença.
Ele me observou, tentando antever se as suas palavras tinham me atingido.
– Mikhail – eu comecei a interromper
– Calada Emma! Agora você escuta!
Eu assenti em concordância, então ele continuou.
– Talvez a sua memória esteja fraca, ou você só insiste em carregar a culpa do
mundo nas costas, mas deixe eu te lembrar de alguns fatos! O primeiro: Você
não veio voluntariamente para estar situação Emma, ao menos não da
primeira vez! Segundo: Você sentiu a faísca, desde o primeiro momento, eu
sei que você sentiu, e faísca quer dizer atração mutua Emma, simples assim!
E por último o terceiro: Eu entendo as regras que regem o seu trabalho, mas
nada disso se aplica aqui, nada disso se aplica a nós! Então ok, eu entendo as
suas razões, mas não tem nada no seu comportamento que deveria fazer você
se envergonhar Emma, e sendo quem eu sou, e fazendo o que eu faço, eu sei
disso melhor que ninguém!
– Se existe um conflito ético, aqui ele é meu não seu, eu não queria te trazer
para o meu mundo, não queria que nada disso tocasse em você! Mas de
maneira nenhuma eu estou deixando você ir, então vou lidar com isso? Você
entende o que eu estou dizendo Emma?
Eu entendia, ou pelo menos achava que compreendia, e o que eu entendi, me
fez ter “borboletas no estomago” como dizem por aí.
Seus braços mão me prendiam em um aperto de ferro mais, foi gradual
enquanto ele falava, mas o meu corpo foi relaxando completamente, meu
braço estava em volta do seu pescoço e os seus envolviam minha cintura, e
tanto quanto eu tinha tanto o que dizer, era mais forte que eu que o meu corpo
falasse por mim.
A boca dele saqueou a minha, suas mãos foram para o meu cabelo e
mantiveram um aperto firme, sua ereção pressionando a minha bunda, fez
com que meu corpo naturalmente se ajustasse a posição, e eu não pude evitar
me esfregar contra ele.
Sequer percebi que nos movíamos em direção ao banheiro, e quanto
chegamos lá, o meu olhar confuso pedia uma explicação.
– Vamos tomar um banho.
– Mikhail, eu acabei de tomar um banho, e vou me atrasar se…
E então lá estava a sua boca novamente, saqueando a minha, e impedindo que
qualquer pensamento coerente pudesse ser gerado.
– O que você deve saber sobre mim Emma, é que eu sempre, penso em tudo!
E o que quer que ele quis dizer se perdeu no momento, por sua boca desceu
sobre a minha novamente, e qualquer pergunta que eu tivesse sobre o
significado das suas palavras foi esquecida.
Eu devo admitir, existe algo sobre tomar banho junto a alguém que forja uma
intimidade única, quando o banho acaba se estendendo para outras atividades,
melhor ainda, e eu tinha que admitir, Mikhail era muito bom no que fazia, eu
nunca fingi orgasmos, mas devo admitir que na maioria das vezes não era tão
simples chegar lá! Mas ele parecia conhecer o meu corpo melhor que eu, e eu
não podia evitar a reação do meu corpo a ele, claro em um sentindo biológico,
sexo, é sexo, mas eu não sei explicar, ele, o cheiro, o gosto, a explosão de
sentidos, eu nunca havia sentindo isso antes! Era único, e era incrível,
havíamos transado no chuveiro, e agora me olhando no espelho, enquanto eu
secava o cabelo, e Mikhail estava se trocando ao lado, eu não podia tirar a
expressão de satisfação do meu rosto, minha pele ainda formigava do seu
toque, eu podia sentir a minha vagina latejando, com a sensação que ele
esteve dentro de mim! E por Deus eu queria mais, eu queria muito mais!

Sem mais delongas, deixei os meus devaneios de lado, iria me atrasar com
certeza, já que teria que passar e casa e me trocar, mas então entrei no closet,
e Mikhail estava se vestindo, tomei uns segundos admirando o seu corpo, ele
já tinha vestido a calça, e sua camisa estava meio vestida. Meu Deus, eu não
me cansava de olhar para ele, quando finalmente me obriguei a desviar o
olhar.
Ele tinha ataduras cobrindo os ferimentos, que mesmo estando suturados
necessitavam de um curativo, deu vontade de bater na testa e dizer
“Estupida”, é claro que ele precisava das ataduras, e eu em face do que
aconteceu a noite passada, nem sequer me lembrei disso! O que não falava
bem sobre mim como profissional. Vendo o meu olhar sob os curativos, e a
pergunta não verbal na minha expressão, ele sentiu a necessidade de se
explicar:
– O médico esteve aqui – ele disse, e antes que eu caísse na minha rotinha de
autocomiseração, rapidamente ele mudou de assunto – São para você – ele
me disse inclinando a cabeça as suas costas.
Olhando com atenção, vi algumas sacolas sobre o estofado que ficava no
meio do cômodo, e logo reconheci o logo de uma loja famosa.
– Para mim? – eu estranhei.
– Se você for em casa, vai se atrasar! E mesmo que eu tenha uma predileção
especial, quando você usa as minhas camisas, principalmente contra a luz,
achei que você iria achar mais confortável se vestir adequadamente.
– Mikhail você me comprou roupas?
Agora, pelo menos por uma vez, então foi a vez dele ficar sem palavras,
diante da minha pergunta, era quase como se ele estivesse inseguro.
– Não, mas eu mandei que comprassem! Como eu disse antes, Emma, eu
sempre penso em tudo! E a sua presença aqui, era algo que eu queria manter,
logo a consequência, seria o atraso, a solução as roupas.
Eu bem que queria ficar ali, discutindo sobre isso, mas eu sabia que ele
realmente havia me feito um favor! Logo nesse momento ia deixar passar, e
aceitar a gentileza, como o que ela era, uma forma de facilitar o meu dia!
O telefone tocou no quarto e ele saiu para atender, eu aproveitei para ver o
que ele tinha comprado.
As sacolas de cor off White trazia um logo de uma famosa loja de
departamentos, que eu não costumava a frequentar, já que meu orçamento não
me permitia considerando todas as minhas contas, lembro de uma única vez,
na minha formatura, em que fui até lá comprar um vestido! A qualidade das
peças era incomparável, os preços razoáveis até, mas com meu empréstimo
estudantil e as despesas com aluguel, luz, e etc., era impossível para mim ser
frequentadora da loja.
A blusa era de cashmere, o tecido de uma suavidade única, em contato com a
pele, me fez esquecer um pouco a minha irritação por Mikhail comprar roupas
para mim! A calça jeans, era um modelo simples, mas algo me dizia, que a
simplicidade era aparente, no corpo, a forma como ela se modelou ao meu
corpo, trouxe conforto, e elegância, o conforto era normal, mas eu não
associaria propriamente elegância a uma calça jeans, mas sim, me olhando no
espelho, eu parecia elegante, elegante e definitivamente satisfeita, embora eu
soubesse que a satisfação não tinha relação com as roupas…
Ao pensamento disso eu corei…
Meu Deus, se a simples lembrança dos nossos momentos poderia me fazer
corar! Eu certamente tinha mais que “uma queda” por ele! Eu não sabia dizer
se isso era bom ou ruim no momento, todos os meus sentidos pareciam estar
sintonizados nele, eu provavelmente não estava em condições de considerar
nada ou de decidir nada! E como sabiamente dizia a minha Vó, o que não tem
remédio, remediado estava!

Mikhail
Meu telefone tocou, aparentemente nossas investigações tinham dado algum
resultado, havia uma via não oficial de informações no submundo do crime, e
nós a controlávamos, eu sabia que era questão de tempo, estávamos
literalmente caçando quem havia sido responsável pelo ataque, e não
descansaríamos enquanto não encontrássemos.
Um dos nossos, achou uma conexão que poderia levar ao atirador, que por sua
vez levaria ao mandante, e tanto quanto Alex, e Nikholai queriam que eu
ficasse “fora disso”, já que ainda estava me recuperando, isso não era uma
possibilidade para mim, ainda que eu provavelmente não tenha sido o alvo
que eles queria atingir, era eu que tinha levado os tiros, e era a minha família
que eles atacaram! Eu não ficaria sentado na porra do quarto esperando por
notícias! Eu estava indo com eles, sem discussão!
Quando encerrei a ligação, vi Emma parada na porta do closet, ela estava
movendo o seu peso de um pé para o outro, como se estivesse indecisa sobre
o que fazer. Quando percebeu que eu a estava olhando, ela então me disse:
– Eu não queria interromper a sua ligação.
Seu embaraço era evidente, e totalmente desnecessário, e eu poderia ficar
horas ali, só olhando para ela, o sentimento que vinha à tona, era puramente
admiração, e definitivamente não irritação por ter sido interrompido, como
seria o normal no meu modo de reagir, Emma realmente havia mudado algo
fundamental dentro de mim, e diante disso, respondi com a verdade.
– Você nunca atrapalha Emma, nunca!
Ela corou diante da minha resposta, Emma era o que muitos diziam ser “um
livro aberto”, suas emoções eram tão claras no seu rosto que era impossível
olhar para ela e não compreender os seus sentimentos.
As emoções eram tão claras na sua expressão que era impossível de
confundir, como há alguns minutos atrás, quando ela pareceu mortificada por
eu ter comprado roupas para ela, nem queria imaginar o que aconteceria se ela
visse o quarto ao lado, onde o resto das roupas havia sido colocadas, o que
basicamente totalizavam um guarda roupa completo, se ela havia reagido
assim a um par de roupas, não imagino o que ela diria se visse tudo o que eu
mandei comprar. Por hora, por uma questão prática, iria deixar ela na
ignorância sobre o que eu tinha feito, até porquê a minha justificativa se
baseava em que ela pudesse ter tudo necessário para ficar aqui, comigo,
permanentemente, e então eu percebi como isso soava na minha mente, e
como poderia soar assustador para ela, descobrir o quão possessivo eu já me
sentia sobre ela, a ponto de querer que ela se mudasse para cá! Porra eu
realmente estava ferrado! Ou apaixonado, o que em determinado sentido,
poderiam soar como sinônimos um do outro.
Queria ficar aqui e manter Emma comigo, longe de tudo o que acontecia lá
fora, a salvo de qualquer perigo, mas eu sabia que não era uma opção! E sabia
que se eu quisesse estar lá quando eles encontrassem o atirador, eu tinha que
me mover, então sem mais delongas peguei o meu blazer, e estendi a mão
para Emma, e saímos em direção a cozinha. Tomamos um desjejum rápido, e
pelo modo como Emma se comportou com naturalidade, me mostrou que
comer apressadamente antes de sair era o seu modus operante diário! Isso iria
mudar, Zhenya sempre nos atormentou sobre o café da manhã ser uma das
refeições mais importantes do dia, logo não poderia ser saudável para Emma
estar sempre correndo, sem o tempo hábil de se alimentar direito! Eu não iria
permitir que a minha mulher colocasse a sua saúde em risco por conta de algo
tão trivial, o que só aumentava a minha intenção de mantê-la aqui comigo, e a
esse pensamento eu sorri mentalmente! Eu era um planejador nato, e mesmo
que não fosse imediato como era o meu desejo, eu teria Emma comigo, sob a
minha proteção, nos meus braços! Ela era minha porra!
Estávamos no limite do horário para sair, e quanto mais atrasássemos, pior o
trânsito ficaria, então nos movemos em direção ao elevador.
– Eu não estou de plantão hoje, então devo sair as 18:00, se você quiser fazer
algo me liga…
Polida, eu devo admitir, parecia o tipo de conversa normal em um
relacionamento casual cheio de incertezas, mas eu já tinha ultrapassado essa
fase, eu não iria deixar que Emma se afastasse, eu a queria, de preferência
sempre há um cumprimento de um braço, considerando que ela tinha uma
carreira e isso não seria possível, eu seguraria a minha personalidade
possessiva e dominadora, e daria algum espaço a ela, mas de nenhuma
maneira fodida eu estaria permitindo que ela se afastasse de mim.
Eu uni as nossas mãos, mantendo o aperto, então a olhei nos olhos.
– Eu vou te dar uma carona até o hospital.
Ela me olhou desconcertada.
– Mas o meu carro está aqui… – Ela protestou inutilmente – E precisarei dele
para voltar para casa.
Mantive a sua mão na minha, esfregando o dorso com o polegar.
– Eu farei os arranjos para te buscarem na saída do seu plantão – E então
complementei – Se você preferir ir para o apartamento de vocês, eu vou
entender, mas tenho esperança que você, volte para cá!
As palavras que eu queria dizer na verdade, eram o seu “antigo apartamento”,
e dizer que ela viesse para “casa”, mas a minha mente me alertou “cedo
demais” …Então generalizei para não soar como um filho da puta possessivo,
o que eu realmente era, e assustá-la com toda essa merda.
Considerando que estávamos em alerta máximo, além do carro principal,
tínhamos mais dois carros com segurança nos acompanhando, um na
dianteira, e um fechando a retaguarda, mesmo que o carro que estávamos,
oferecesse o que a mais moderno em segurança veicular, os batedores eram a
nossa primeira linha de defesa, e serviam para supostamente nunca ter que
testar a eficiência dos elementos de segurança que o carro oferecia.
Emma apoiou a sua cabeça no meu ombro, e se aconchegou em mim, ela
definitivamente não era uma pessoa “da manhã”, seus olhos fechados, e a
postura de total relaxamento, me diziam que mais um pouco e ela cairia no
sono, em defesa dela, eu poderia dizer que nenhum de nós dormimos muito na
noite passada, e sendo assim seu cansaço era totalmente justificado, mas eu
devia admitir que sentir o corpo dela aconchegado ao meu era uma sensação
boa demais, que eu não conseguiria descrever.
Cheirei os seus cabelos, mesmo não sendo um odor estranho para mim, já que
se tratava de um dos produtos do meu banheiro, era como se a essência dela
se misturasse, e ela cheirasse a Emma, um cheiro único distinguível, viciante
para caralho! Eu poderia ficar ali para sempre, mas sabia que estávamos nos
aproximando do hospital, então a acordei com cuidado, seus olhos
desfocados, demoraram um tempo para se situarem, e quando ela o fez, meus
lábios desceram sobre os delas, tanto quanto porque era o que queria fazer,
tanto quando porque também era uma forma de me despedir, já que
estávamos na avenida que levava, ao hospital, a forma como ela se entregou
ao beijo, levou meu controle ao limite, de forma que eu queria mandar tudo a
merda, e levar ela de volta ao apartamento e para a minha cama, e então não
deixar ela sair de lá tão cedo assim. Mas então eu refreei os meus impulsos,
Emma, era minha, ela consciente disso ou não, ou levaria as coisas devagar, e
não a assustaria assim! E cedo ou tarde a consciência sobre ela me pertencer,
e eu pertencer a ela, iria chegar, eu não precisava me tornar irracional sobre
essa merda, ela não iria a lugar nenhum, porque se no mínimo ela se sentisse
mesmo que uma fração do que eu estava sentindo por ela, eu tinha certeza que
entre nós dois era a coisa real, e eu faria de tudo que estivesse ao meu alcance
para que permanecesse assim.



Emma
“You got me running on sunshine /Você me faz correr na luz do sol
Ain’t no clouds getting in my way /Não tem nuvens no meu caminho
I must be running on Sunshine /Eu devo estar correndo na luz do sol
Ain’t no rain getting in my way /Não tem nuvens no meu caminho…”
Essa música tocava sem parar na minha cabeça desde que ele tinha me
deixado no trabalho, eu me sentia um pouco estupida como uma adolescente
apaixonada, mas simplesmente não podia evitar me sentir assim! Solar, acho
que essa era a palavra, era como se tudo estivesse perfeito no lugar que
deveria estar, como se toda a minha vida eu tivesse esperado por isso, e agora
que tinha chegado lá, a felicidade borbulhava dentro de mim!
E nas semanas que seguiram, o meu comportamento usual, foi sair do
trabalho e ir direto para o apartamento dele, eu já tinha começado a me sentir
muito confortável lá, o que de certa forma me aterrorizava, decepções
passadas me ensinaram a ser mais cautelosa, ir um passo de cada vez, não
atropelar as coisas, viver o momento e coisa e tal, e eu tentava sempre
cumprir essa determinação, não entregar o meu coração em uma bandeja ao
primeiro cara super quente que eu esbarrasse por aí! Mas eu simplesmente
não podia evitar, quando eu estava com ele, qualquer pensamento coerente, ou
reserva em me envolver, sumia como se nunca tivesse estado lá! Nós dois
juntos, parecia tão certo, tão perfeito! Eu não era uma idiota completa, eu
sabia quem ele era, sabia o que ele fazia, mas a imagem que eu tinha de um
mafioso, e o homem que eu conhecia simplesmente não casavam! Pelo tempo
que estávamos juntos, em nenhum momento, ele demonstrou nenhum traço de
agressividade, nenhum resquício sequer de crueldade ou nada parecido!
Percebi o que Katherina quis dizer com a frase “Eles me mantem totalmente
fora disso”, era o que basicamente faziam comigo também, seja lá qual fosse
a área de negócios que eles executavam para a máfia, eles faziam isso de
forma que nem eu, nem Katherina fossemos envolvidas em nada! Por um
lado, isso causava um certo alivio, eu nasci e fui criada em uma pequena
cidade no norte de Minesota, e definitivamente meu único contato com o
mundo do crime era através da televisão, em uma cidade tão pequena quanto
a minha cidade natal, você simplesmente não faria algo errado e conseguiria
manter encoberto, fora que o xerife era meu tio, e pelo menos dois dos
patrulheiros também tinham parentesco com a minha família, o que
basicamente queria dizer que o que a força da lei não soubesse sobre o nosso
comportamento, receberia alguma ajuda de alguém na cidade, e
provavelmente no caso da minha família, explodiria bem no almoço de
domingo, que era uma ocasião sagrada que ninguém poderia faltar( eu juro!
Tentei, incontáveis vezes me livrar).
Pode-se dizer assim que não foi uma coincidência que todas as minhas
aplicações para faculdade foram para outros estados! Eu amava a minha
família, mas preferia dar e receber esse amor em suaves doses homeopáticas
nas férias, até porque se existisse uma ovelha negra na família, essa seria eu!
Minhas irmãs ( e eu tinha quatro) estavam quase todas casadas com exceção
da caçula, que parecia se encaminhar para isso também, eu tinha dois
sobrinhos, e mais um a caminho, eu não as julgo pelas suas escolhas, ir para a
faculdade local, se casar com o namorado do ensino médio, ter um emprego
mediano, uma vida mediana (ok, talvez eu esteja julgando um pouco), mas a
reciproca não é verdadeira, acho que a minha família, principalmente a minha
mãe, não tinha ideia do que fazer comigo, a rainha do baile, basicamente
criou rainhas do baile, eu era a única exceção na minha casa, lembro estava
sempre com o nariz metido nos livros desde que eu tinha idade para guardar
qualquer lembrança, compras, maquiagem e etc., nunca foram muita a minha
coisa, e eu sabia que a minha mãe tinha uma certa dificuldade com isso, sendo
um pouco má, eu tinha absoluta convicção que ela tenha voltado ao hospital
para conferir se não havia acontecido nenhum erro, como uma troca de bebês,
e a sua verdadeira filha, “a barbie princesa” estaria em algum local, com pais
nerds cientistas sofrendo com a incompreensão deles, enfim, como não houve
nenhuma troca, supôs então, que havia sido só uma piada da natureza, e
imagino que a mamãe tenha ficado um pouco desapontada sobre isso!
Minhas divagações foram interrompidas por uma porta batendo, e um
pequeno furacão que entrou correndo na casa, e foi em direção aos quartos
Lila estava em casa, e Deus ela sabia como anunciar a sua presença.
– Tia Emmmm!!! – o grito estridente veio complementando o bater da porta.
– Aqui boneca! – eu respondi claramente consciente que a falta de resposta,
levaria ela a continuar com os gritos.
O tropel de passos correndo em direção a cozinha, e então como uma bala ela
se jogou em mim, em um abraço esmagador.
– Eu senti saudade.
A culpa espezinhou a minha consciência, eu sabia que nas semanas que
passaram, eu tinha gastado o meu tempo com Mikhail, e considerando que
grande parte do meu tempo era gasto no hospital, o que me restava era
basicamente muito pouco, e a minha bonequinha tinha uma rotina regrada,
sendo assim, nas poucas vezes que eu tinha encontrada com ela, eu estava
com pressa, ou ela estava indo dormir.
– Eu senti saudades também boneca! Você tem sido boazinha com a Sra.
Goshen?

Ela assentiu, com a cabeça de forma que as suas tranças balançaram
comicamente para frente e para trás.
E então encostou a sua cabecinha no meu peito, e se manteve agarrada a mim!
Se eu bem conhecia, essa carência ia durar um tempinho, então resolvi
terminar o que eu tinha começado antes de me perder completamente em
pensamentos, eu estava fazendo a lista do supermercado, nós nos apoiávamos
em fast food, e considerando a correria do dia-a-dia, era complicado ter tempo
de fazer tudo, Gwen havia me mandado um sms, pedindo que eu
reabastecesse a geladeira, principalmente por causa de Lila, já que sendo bem
sincera, a nossa alimentação não era lá muito saudável, mas fazíamos um
esforço pela bonequinha.
– O que você tá fazendo Tia Emm? –a vozinha ressoou contra o meu peito.
– Uma lista de compras boneca!
Tenho que abastecer a geladeira, porque não quero a sua barriguinha
roncando de fome – eu disse a ela enquanto fazia cosquinhas na sua barriga.
Ela então começou a prestar atenção no que eu estava fazendo, ela ainda não
estava na idade de alfabetização, mas tinha muita curiosidade em aprender.
– Sorvete de Chocolate – Lila disse de forma muita enfática para uma criança
da sua idade enquanto eu continuava a listar os itens.
– Querida, estou listando só as coisas mais básicas e importante.
– Sorvete de Chocolate – ela repetiu acenando em confirmação.
Eu cedi, sorvete de chocolate era realmente importante, e podia segundo a
teoria das residentes desta casa (no caso nós), ser considerado item de
importância fundamental para a nossa sobrevivência.
Não dava para adiar teria que ir hoje mesmo, alguns itens de necessidade
básica, como café, estavam acabando, e ficar sem café era impossível, fora
que mesmo que eu e Gwen, pulássemos refeições, ou na maioria das vezes
comíamos no hospital, Lila precisava se alimentar de forma saudável.
O tempo esteve chuvoso o dia inteiro, o que dobrava a minha preguiça de sair
de casa, mas pela atual situação da despensa, a saída não era opcional, a Sra.
Goshen, tinha ido visitar uma amiga, o que significava que Lila, estava indo
também, e com o tempo chuvoso tinha que me prevenir, a vesti com uma
roupa mais quente, já que a chuva ajudou a esfriar o tempo, e complementei
com galochas e uma capa de chuva, ela parecia um personagem do episódio
das Cataratas do Niágara, do Pica-Pau, mas definitivamente estava protegida.
Calcei as minhas galochas também, e coloquei um sobretudo impermeável, a
chuva tinha dado uma trégua a notinha e eu esperava ser suficiente, já que não
pretendia demorar muito a voltar.
Os dois quarteirões que separavam meu apartamento do mercado mais
próximo, eu passei segurando firmemente a mão de Lila, tanto quanto eu
permitiria que ela saísse saltitando pelas poças, isso seria na volta, já que não
queria que ela molhasse todo o piso do mercado.
Então ao chegar cumprimentei o Sr.Elliot com um aceno de cabeça, por ser o
mercado mais próximo, era também o nosso mercado preferencial,
principalmente por funcionar por 24 horas, e os nossos horários sempre serem
meio malucos, então erámos quase clientes preferenciais ali, Lila se moveu
em direção ao freezer, prioridades claro, sorvete de chocolate era
fundamental, e eu peguei uma cesta, e então a lista e me movi para as
prateleiras, tentando ser rápida, e mantendo o olhar em Lila que continuava
olhando o freezer, e me dava a leve impressão que não levaríamos só o
sorvete de chocolate.
Estava distraída procurando o chocolate em pó preferido da Gwen, e falando
em voz alta comigo mesmo enquanto procurava o produto, que ela devo dizer,
enfatizou que tinha que ser especificamente aquele, então lá estava eu
– Hershey, Hershey, onde está? – eu dizia em voz alta divagando como uma
demente.
Quando uma mão me estendeu o pote de cor marrom.
Levantei os meus olhos para agradecer ao Sr. Elliot, e dei de cara com
Mikhail.
Definitivamente deixei o choque transparecer no meu rosto, e me senti
incapaz de dizer qualquer coisa.
Ele quebrou o gelo dizendo:
– Você vem sempre aqui?!
Não pude evitar o riso que borbulhou na minha boca. E tentando controla-lo
dei uma resposta.
– Na verdade eu venho, mas a pergunta é, o que você está fazendo por aqui?
– Ah, você sabe passeando pela vizinhança.
– Passeando pela vizinhança? Um pouco longe de casa não? – eu disse, meus
olhos traindo a minha diversão.
– É um lugar interessante, com pessoas interessantes – ele disse tentando
aparentar seriedade, mas com os olhos dançando em diversão.
Quando eu ia retrucar sobre quem seria a pessoa interessante, uma grande
parte de mim rezando para que fosse eu, fomos interrompidos por um
pequeno furacão, que se colocou no meio de nós, e nos braços carregava três
potes de sorvete….
– Lila – comecei em tom de aviso.
– São todos gostosos, tia Emm!
– Sim, e se depender de você, era só o que você comeria!
– Sim, ela concordou, então posso levar os três – ela pediu então com a
carinha mais pidona do mundo.
– Nem pensar - eu disse, exalando tranquilidade - escolha um, e somente um!
Olhei divertida para Mikhail!
E Lila então pareceu perceber, que havia um desconhecido ali, como ela não
tinha absolutamente nenhum osso tímido em todo o seu corpo.
Ela deu a ele o seu melhor sorriso desdentado e disse:
– Oi!
– Oi! – ele respondeu, tentando assimilar o jeito despachado que ela tinha
– Você gosta de sorvete? – ela perguntou ainda usando o seu melhor sorriso
desdentado.
Ele me olhou pedindo socorro, balancei minha cabeça em negativa, Lila era
boa, mas no momento eu estava no papel de tia responsável, então tinha que
manter firme.
– Sim, de vez em quando – a minha sobrancelha levantando, foi o que lhe deu
o sinal, então ele completou – Mas muito de vez em quando.
Ela então voltou a sua carga para mim.
–Tia Emm, contando eu, você a mamãe, precisamos de mais sorvete!
– Vamos fazer o seguinte – tentei contemporizar – Vamos levar um, se acabar,
compramos mais depois, ok?!
Lila sabia quando estava perdendo também, então resolveu não insistir.
Deu um sorriso, para mim, se virou e sorriu para Mikhail também, e então se
virou e voltou correndo de volta aos freezers.

Ele sorriu vendo ela correr em direção aos freezers, Lila, nos tinha na mão
com um sorriso, era tipo um superpoder, sem contar a habilidade de fazer
beicinho para conseguir o que quer, eu só conseguia ser firme, com um
grande esforço.
– É difícil negar alguma coisa a ela, não é? Ele disse pensando em voz alta.
– Sem dúvida, e olha que ela nem fez beicinho hoje, eu diria que ela sabe
quais batalhas lutar! – eu disse entre risos – Janta com a gente? Devo te
tranquilizar dizendo a você que não foi eu que cozinhei… ele me interrompeu
com um beijo, não um beijo faminto que parecia me devorar, mas cálido,
tocando meus lábios com delicadeza, me deixou sem palavras.
Ele prendeu meu olhar de forma que mesmo sem palavras, nos
comunicávamos, a conexão que nós tínhamos era tão visível que dispensava
palavras, eu nunca tinha sentido isso por ninguém, e sinceramente me
assustava para caramba!
Qualquer coisa que íamos dizer um ao outro se perdeu porque Lila se juntou a
nós e abraçava o seu pote de sorvete como se ele fosse um salva-vidas.
Como eu já tinha completado a minha lista, fomos em direção ao caixa, onde
Mikhail e eu tivemos um pequeno embate sobre quem ia pagar, e mesmo com
os meus argumentos muito sensatos (e inteligentes), ele ganhou e pagou a
conta.
O carro dele, acompanhado de outros, provavelmente recheado de caras
enormes com armas estava estacionado a frente, mas nem valia a pena, já que
a distância era muito pequena.
– Podemos ir caminhando? – eu perguntei a ele.
Ele me respondeu com um aceno, e com um olhar enviou um comando aos
seus homens (o que eu realmente achei impressionante.)
Ele levou a pacote de compras, o que na minha opinião era a primeira vez que
ele fazia isso na vida, sua mão livre se entrelaçou com a minha segurando
com firmeza. Para quem olhasse de fora, parecíamos um casal, com uma filha
um pouco louca que começou a pular em poças pelo caminho.

Mikhail voltou o seu olhar para mim, e perguntou?
– Vamos impedi-la?
– Dificilmente – eu respondi – Além do quê, o problema era ela pular na
primeira, o que ela já fez, as próximas só vão complementar o trabalho.
– Então vamos permitir que ela pule em cada poça do caminho até em casa? –
ele disse a incredulidade total escorrendo da sua voz.
Então eu respondi:
– Bom, é como dizem, “Você prefere ser feliz ou ter razão” A expressão de
Mikhail, era absolutamente incrédula o que se refletiu na sua pergunta
seguinte
– E o que isso quer dizer? – Ele perguntou meio curioso, meio divertido.
– Lila, tem alguma coisa com splash’s.
– Splash’s?
– Splash’s molhados, e isso desde que ela era um bebê, sério, podíamos dar
banho e tomar banho ao mesmo tempo, ela adora água, e principalmente
adora splash’s!
Sua expressão ainda era absolutamente incrédula.
– Ok, eu poderia dizer a ela para não pular em cada poça do caminho, ela
faria beicinho como se eu tivesse acabado com toda a alegria do mundo, e
então iria aproveitar a minha distração momentânea e pular em uma poça
qualquer…
– É uma possibilidade – Mikhail concordou.
– Então, sabendo disso, eu não me dou ao trabalho, roupas podem ser lavadas,
ela pode tomar um banho, mas realmente não é uma batalha que pode ser
ganha, de uma forma ou de outra – eu complementei – Sou uma tia dedicada,
se ela faz algo realmente errada a bronca e o castigo vem, mas sério fazer
confusão por algo que saí com agua e sabão não faz muito o meu estilo.
– E eu presumo que o olhar do gato de botas ajude?
– Definitivamente, eu concordei! É quase um superpoder que ela tem.
Seguimos o caminho, falando de tudo e de nada ao mesmo tempo, era tão
doméstico, mas ao mesmo tempo parecia tão certo, se encaixa tão bem no que
éramos!
Próximo ao apartamento, senti o corpo de Mikhail se retesar completamente,
seu olhar se transformou em duas lascas de gelo.
Um dos seguranças que acompanhava o nosso percurso se aproximou.
– Mikhail? – eu perguntei assustada
Seu olhar se virou para mim.
– Algo surgiu, Emma, infelizmente eu não vou poder ficar – ele disse com um
sorriso que tentava me tranquilizar, mas que não chegava aos seus olhos.
– Está tudo bem?
– Claro – ele afirmou novamente, com uma expressão que aparentava ser
tranquila, mas os olhos permaneciam frios – Entre – ele disse passando as
compras para mim, quando chegamos a entrada do meu prédio. Lila
aparentemente tinha cansado de pular na água e veio para mim, colocando a
sua mão na minha, e efetivamente me impedindo de pressionar Mikhail a falar
sobre o que estava acontecendo.
Seus lábios vieram para os meus, em um beijo delicado de despedida, e então
se moveram para a minha testa. Não sei porque, mas ali naquele momento vi
o gesto como um adeus, não como um até logo.
Mas ele permaneceu parado, esperando que entrássemos, e quando me virei,
ele ainda estava lá, estoico, mas sua expressão era diferente, não sei explicar,
parecia quase dolorida. Não tive tempo de analisar por um segundo a
expressão estava em seu rosto, e então ele se virou e entrou no grande carro
preto que aguardava, e havia nos seguido desde o mercado.
Senti um vazio enorme com a saída repentina dele, como se algo estivesse
errado, como se as coisas não fossem ser as mesmas nunca mais! Mal eu sabia
o quão certa eu estava sobre isso!

Mikhail
Havia uma vantagem implícita em ter a segurança reforçada pós o atentado
que eu havia sofrido, no momento que eu me dei conta que Vadim
Kozhevnikov estava nos arredores, não fui o único a notar, um plano de ação
foi traçado rapidamente no momento que eu entrei no carro, metade dos meus
homens ficaram para proteger Emma, caso a nossa empreitada não fosse bem
sucedida, e a outra metade foi a caça! Eu sequer considerava a possibilidade
de que ele poderia escapar, então me envolvi pessoalmente na caçada, mesmo
contra o conselho dos meus homens de confiança! E isso sequer era sobre
mim! Era sobre ela, saber que Emma corria o perigo de ser pega por Vadim,
fez meu sangue ferver, e então congelar, em mais de uma ocasião, eu fui
chamado de “um filho da puta frio”, e quando necessário, eu fazia jus a essa
fama! Vadim Kozhevnikov era um homem morto! Ele havia decretado a
própria pena ao vir atrás da minha mulher.
Minhas mãos estavam lavadas em sangue, a junta dos meus dedos estava
esfolada, e meus ferimentos doíam como merda pelo esforço que fiz em
arrancar informações de Kozhevnikov, tínhamos nosso próprio executar para
lidar com isso, então eu não precisaria lidar com isso pessoalmente, mas
porra! Isso era pessoal, era pessoal para caralho que ele estivesse se
esgueirando sobre a minha mulher, que ela poderia estar em perigo por uma
simples associação comigo Vadim Kozhevnikov era um filho da puta cruel,
ele desfrutava do que fazia, desfrutava de torturar quem quer que fosse, atrás
das informações que o seu chefe precisava. E ver ele perto o suficiente de
Emma, o que ele faria a ela com o intuito de me atingir! Eu sequer conseguia
pensar nisso! Por isso eu, por assim dizer, peguei a tarefa nas minhas próprias
mãos, não era habitual para mim, me encarregar pessoalmente de arrancar
informações, mas foda-se se eu iria permitir que qualquer outra pessoa fizesse
o trabalho, eu tinha que ter certeza, e a única forma de ter certeza era tomando
conta disso pessoalmente!
Tinha levado horas! Ele era um filho da puta duro, mas sua especialidade
estava em estar do outro lado, provocando dor, não a recebendo, ele quebrou,
e então disse o que eu precisava saber, ele tinha ficado reduzido a uma polpa
sanguinolenta, ele sabia desde o começo que não havia possibilidade de sair
vivo disso, o que tinha em cima da mesa, era o quão rápido e o quanto indolor
a morte seria! Ele resistiu, claro que resistiu, vivíamos por um código, a
traição não era aceitável nesse meio, a honra era importante, era
possivelmente a única coisa que de certa forma permanecia intacta no meio
em que vivíamos.
Lavei as mãos e os braços e me olhei no espelho, meus olhos permaneciam
atormentados, eu não era um idiota para saber o risco que eu corri essa noite,
o risco que eu fiz ela correr.
Havia uma ducha na instalação, e eu precisava me limpar, tanto quanto eu não
queria estar coberto de sangue, se tratavam de evidências forenses, e tinham
que ser cuidadas!
Ele estava me seguindo, Emma não havia entrado na equação, eles não
sabiam sobre ela! Me forcei a respirar fundo, ela estava segura! Ela ia ficar
segura, peguei meu celular e chamei Alex.

– Kozhevnikov estava seguindo Emma!
– O executor da família de Vasili? Eu estou a caminho! Isso não faz a porra
do menor sentido.
– Já foi cuidado! E talvez faça todo sentido – Eu disse sombriamente –
Kozhevnikov é um psicopata fodido, mas a sua coleira é apertada, você
imagina ele fazendo algo assim por conta própria?
– Foda-se! Demirodov está por trás de tudo! – Alex então chegou a mesma
conclusão que eu.
– Vasili Demirodov é um homem morto, ele só não sabe disso ainda – Então
eu encerrei a chamada com Alex, eu precisava colocar Nikholai a par de tudo.
Não havia demorado tanto, Vasili, era sobre tudo, arrogante para caralho,
sendo assim, o sumiço de Kozhevnikov que já durava horas, não foi um alerta
para ele, logo tudo que Nikholai precisou fazer foi uma ligação e agendar um
encontro.
Vasili Demirodov com absoluta certeza, não tinha consciência que estava
caminhando direto para a sua morte, se ele soubesse, teria corrido, sua
arrogância o fazia estupido, mas certamente o seu temor a morte era maior
que a sua estupidez, mas essa é coisa com os ratos que atacam por trás, eles
acreditam que sua identidade está protegida por sua covardia em lançar um
desafio direto, ele não considerou que existia um bom motivo para a minha
família reter o poder por tanto tempo em uma organização tão brutal. Nós
fazíamos o que tínhamos que fazer, simples assim, em uma guerra não havia
espaço para civilidade. E ele aprenderia isso do jeito mais difícil.
Ele não demorou muito a quebrar, Vasili tinha se acomodado, herdou o
império do pai, e desde então considerou que seu trabalho estava feito, ele não
recebeu ordens de ninguém, mas todos nós concordamos que considerando a
sua falta de inteligência contumaz, ele não teria a ideia de vir atrás de nós por
conta própria, isso certamente foi soprado em seu ouvido por alguém
suficientemente inteligente para não fazer isso diretamente. Quem quer que
tenha feito isso, se protegeu com a estupidez de Vasili, que era sugestionável
o bastante para sequer perceber o que estava acontecendo. Nikholai tinha um
palpite sobre a identidade da pessoa por trás de tudo, mas sem a confirmação
de Vasili, tudo não passava de um palpite, e nesse mundo não se iniciava uma
guerra por um palpite. Mas tanto quanto sabíamos Andrev Krasnov estava por
trás disso, e mesmo que não tomássemos uma atitude sobre isso, estaríamos
de olhos bem abertos, porque ele certamente não iria parar por aí, ainda que
ele não demonstrasse abertamente o desafio, Nikholai havia matado o seu
primogênito, e mesmo que ele fosse um saco de merda, não era algo que
Krasnov iria esquecer ou perdoar, ele não retaliou na época, porque sabia que
tinha muito a perder, engoliu as desculpas como um remédio amargo, mas
todos sabíamos que isso não era algo que fosse perdoável, desde então
estamos esperando que ele faça um movimento, mas ele tem se mantido à
espreita, como uma cobra peçonhenta, esperando a melhor oportunidade de
dar o bote. Falar com Vladmir a essa altura não iria adiantar, ele poderia até
concordar que Krasnov estava por trás disso, mas sem uma prova concreta ele
não faria nada sobre isso. Matar um membro proeminente do círculo, tinha
consequências, a divisão do seu território, acertar os negócios pendentes, e
principalmente, os outros membros do círculo se sentiria ameaçados,
fazíamos isso a muito tempo para saber que vivíamos constantemente em uma
balança, e a chave consistia em manter o equilíbrio, e não deixar que as coisas
pendessem para um lado ou para o outro, fodido como parecia ser nós éramos,
o júri e o juiz, e não podíamos permitir que sentimentos interferissem no
julgamento, Krasnov iria ficar bem por enquanto, mas esperávamos que isso
não fosse demorar muito a se resolver, até porque Nikholai não era alguém
que ficasse satisfeito em estar com a corda no pescoço. Ele resolveria isso, de
uma forma ou de outra.
Quanto a mim? Eu tinha uma merda das grandes para resolver, Vasili era
jovem e estupido, achava que era imortal ou algo assim, porque nunca
assegurou um substituto na família, até porque considerando a estirpe
familiar, eles seriam os primeiros a tentar cortar a sua garganta durante o
sono. O porquê eu estava irritado com isso? Eu comandava a Costa Leste, o
que basicamente significava que era a minha fodida responsabilidade resolver
os negócios que ele deixou, e tanto quanto a minha família sempre tinha
mantido a sua atuação no limiar entre o legal e o ilegal, Demirodov nunca
tinha tido o mesmo cuidado, o que basicamente significava que cada um dos
seus negócios era ilegal, e essa merda seria minha para resolver. Nikholai iria
embora essa noite, o jato já estava preparado, e para mim, sobrariam dias de
trabalho para desembaraçar toda essa merda, a única coisa boa disso tudo, era
que estando com a mente absolvida por todos os problemas que o fodido me
deixou, eu não teria tempo de pensar nela. Suas mensagens piscavam na tela
como se desafiassem a minha resolução, mas eu me mantive firme, o único
jeito de manter Emma segura, consistia em afasta-la do meu mundo, e
consequentemente de mim, ela sofreria, eu sofreria, mas seria melhor assim,
pelo menos era o que eu iria repetir até acreditar.

Emma
O silencio dele estava me deixando eu pânico, a mensagem que eu tinha
mandando, não foi respondida, eu não era inocente a ponto de não perceber o
perigo que envolvia o mundo em que ele vivia, então estar sem notícias me
deixava muito preocupada sobre o que estava acontecendo, depois de hesitar
muito, resolvi que não iria esperar que ele entrasse em contato, essa história
do “não eu já tenho”, costuma ferrar com as nossas vidas, e nesse caso não foi
muito diferente.
E então eu liguei, a cada toque de chamada, eu sentia o meu coração disparar,
e quando eu achava que a chamada iria cair para a caixa postal, ele finalmente
atendeu.
– Alô – disse sucintamente, com uma frieza incomum.
– Mikhail? Está tudo bem? Você desapareceu.
– Um pouco ocupado, aqui!
– Ocupado o bastante para não me mandar um simples texto e me deixar
ciente disso?
Ele permaneceu em silencio por alguns segundos, em uma pausa que parecer
durar infinitamente na minha cabeça, enquanto meu coração martelava no
meu peito.
– Eu sinto muito Emma, é só que acho melhor assim.
– Melhor assim?! – eu disse soando tão incrédula como eu parecia.
– Eu espero não ter te magoado, não era a minha intenção, é só que não é algo
que eu poderia evitar.
Eu congelei, eu esperava muitas coisas nessa ligação, mas a frieza com que
ele me respondeu, e o fato de que basicamente estava me dando um fora
colossal, sem eu absolutamente entender a razão me desconcertou totalmente.
Eu simplesmente não sabia o que fazer.
– Entendo – eu menti – Vou deixar você voltar as suas coisas então! Adeus –
eu disse a ela e então desliguei o telefone, incapaz de manter o tom de choro
longe da minha voz por mais tempo.



















Chapter 5 – Distância
Emma
A última mensagem que enviei piscava na tela, meio que zombando de mim,
existem pessoas que insistem, insistem em saber o porquê o que aconteceu,
sempre fui mais pratica, sempre li os sinais e sempre fui capaz de juntar o
quadro completo, a saída repentina, a secura ao telefone, e agora a falta de
resposta, eram sinais claros para mim. A novidade passou, foi divertido
enquanto durou e adeus! Eu quase podia sentir as palavras saindo da boca
dele! E tanto quanto eu absolutamente não me importei quando outros
relacionamentos foram por esse caminho, dessa vez me derrubou. É como
dizem por aí quando mais alto o patamar alcançado, mais alta é a queda, e era
assim que eu me sentia, toda a felicidade que eu não conseguia conter nos
últimos dias parecia ter se evaporado, uma nuvem negra se projetou sobre a
minha cabeça. Ele foi embora, simples assim, a aventura, affair ou qualquer
coisa do tipo que tínhamos tido, tinha se acabado, e sim estou me sentindo
uma idiota completa por achar que era algo mais, que era de verdade, burra!
Repito a mim mesma mentalmente, já não tenho mais idade para confundir
sexo com amor, e aqui estou eu sofrendo por alguém que provavelmente me
listou como uma Tiffany da vida, uma novidade que perdeu a graça muito
rapidamente. E mesmo sendo quem eu sou, segura de quem eu sou, estou me
sentindo um trapo, Gwen tem me lançado olhares estranhos, mas minha
expressão não é convidativa a perguntas, na verdade estou me sentindo uma
bomba preste a explodir, como se a simples menção dele, me fizesse explodir,
antes em gritos, mas creio que provavelmente seria em lágrimas.
Eu queria me deitar e chorar uma semana até a dor passar, era uma dor física
sabe? Que eu, como uma médica não saberia explicar, meu coração estava
partido, e pela dor no meu peito, parecia ser literalmente. Sabia que não podia
me entregar, sabia que não podia me afundar em autocomiseração e esquecer
as minhas responsabilidades (mesmo que no momento fosse a única coisa que
eu queria). Tomei um banho, existe algo reconfortante de chorar no chuveiro,
é como se as lágrimas fossem lavadas do seu rosto, e ao escorrerem para o
ralo, levassem junto um pouco da dor a elas associadas, poético não? Eu fazia
isso desde que era uma criança, tornando obvio assim que eu era uma criança
estranha, que me tornei uma adulta igualmente estranha. Queria ficar ali
embaixo do chuveiro por horas, a água quente oferecendo o consolo que eu
necessitava, mas sabia que isso não era possível, corações machucados ao não
ser de forma literal, não são uma razão válida para cancelar as três cirurgias
que eu tinha agendadas para hoje. Meus pacientes não tinham nada a ver com
o meu azar patológico no amor. Logo me recompus e saí do chuveiro e
terminei de me arrumar.
Quando saí do quarto Gwen e Lila estavam na sala, debruçadas sobre a mesa
desenhando, eu até queria conversar como uma pessoa normal em um dia
normal, mas sabia que tanto quanto poderia esconder a minha tristeza de
qualquer um, não conseguiria esconder de Gwen, então deixei para sair no
último minuto do quarto, e passei rapidamente pela sala dizendo:
– Amores, estou super-atrasada – e mandei beijos pelo ar enquanto fazia as
minhas pernas andarem o mais rápido possível sem estar correndo.
Gwen me parou.
– Emma! Você está bem? – seus olhos consternados evidenciando a sua
preocupação
E sabe? Esse é o pior tipo de pergunta de todas, você está destrocada por
dentro, querendo morrer, mas quando te perguntam se você está bem? Bem,
qual a sua opção? Ou você diz que sim, ou então derrama as suas entranhas
para pessoa, e acredite, na maioria das vezes que essa pergunta é lançada 1- A
pessoa só quer receber uma resposta positiva e seguir em frente. 2- É uma
reação tão automática simplesmente dizer que sim. E por último e mais
importante 3- Existe aquela sensação que se você começar a desabafar não vai
parar nunca mais. Então a resposta mais comum sensata é dizer.
–Sim, claro! – eu disse forçando um sorriso que não chegava aos meus olhos
inchados – Te vejo mais tarde – eu continuei enquanto completava a minha
fuga.
Esperava um dia cheio, tinha duas cardiotorácicas hoje, e uma geral, cirurgias
complicadas que demandavam minha atenção total, esperava que a minha
equipe entendesse o meu silencio taciturno como concentração para a
cirurgia, e uma vez dentro da sala cirúrgica, estaria no meu ambiente, todos os
problemas desapareceriam, e o meu foco na vida que estaria em minhas mãos
não me deixaria pensar mais em nada.

Mikhail
Eu sabia ter feito o que era preciso, eu sabia que não tinha opção, manter
Emma do meu lado nessas condições era pintar um alvo em sua testa, a
alternativa era prende-la na cobertura, e nunca a deixar sair, era a única forma
que eu sentiria que ela estaria segura. Brinquei com a possibilidade na minha
mente, e antes mesmo de analisar todos os cenários, eu sabia que era
impossível, ela tinha o trabalho, as amizades, a família, eu não podia
simplesmente rouba-la do mundo a manter em uma gaiola dourada, a salvo de
tudo que poderia atingi-la visando me atingir. Terminar com ela, mesmo que
isso estivesse me rasgando por dentro era a única coisa certa a fazer.
Aumentei o número de seguranças ao seu redor, fora que o carro o celular
tinham um GPS ativo, sei que olhando assim, eu parecia um psicopata
perseguidor, mas isso era a respeito da sua segurança, se aquela noite eu não
tivesse visto o executor da família Demirodov, ela estaria muito
provavelmente morta agora, eu era conhecido oficialmente como um
mulherengo contumaz, obvio que uma mudança de comportamento repentina
como essa acenderia um farol, e acendeu, eu a coloquei na mira de todos os
inimigos da família só por ter a importância que tinha para mim. Eu sabia que
minha atitude estava magoando ela, queria ter tempo ou opções de resolver de
uma maneira diferente, mas eu precisava que fosse assim, precisava que eles a
vissem como mais uma de uma lista interminável, e não como a única que
realmente importava, que era o que ela realmente era.
Havia me mantido ocupado, ou pelo menos tentado me manter ocupada, os
negócios de Vasili eram uma bagunça total, e Nikholai tinha peixes maiores
para fritar na Rússia, Alex era meu irmão, e a pessoa que eu mais confiava,
mas também em muitos aspectos ele era um “executor”, burocracia não era o
seu negócio, eu estava a vias de fato de mandar tudo a merda, Vasili não era
só uma pessoa de merda, ele tinha as suas mãos nos negócios mais hediondos
possíveis, coisas que não compactuávamos mesmo que fizéssemos parte da
organização, não tinha outra opção ao não ser fechar esses negócios, e
encerrar suas “rotas”, os carteis estavam expandindo o seu território, e não
encerrar definitivamente os negócios de Vasili, era permitir uma brecha que
eles poderiam assumir, e eu já tinha dores de cabeça demais para lidar com
problemas de carteis tão ao sul da fronteira, e honestamente não era algo com
o qual eu iria querer lidar. Eu sentia falta dela cada segundo do meu dia, e me
vi pegando o telefone inúmeras vezes para dizer a ela o que estava
acontecendo, mas aí eu caia na real, não era um problema que iria ir embora
eventualmente, eu estaria nessa vida para sempre, gostando ou não, era um
legado familiar, sempre haveria inimigos à espreita, sempre haveria perigo
rondando, as coisas eram oito ou oitenta, ou era trazer ela pra debaixo do
cobertor familiar de proteção, e tirar dela tudo aquilo que lhe era comum, ou
deixa-la seguir a sua vida, longe do meu mundo e longe de mim! Mas porra se
essa decisão não estava rasgando o meu peito!
Alex passou pela porta, me distraindo dos meus pensamentos.
– Se aquele fodido estivesse vivo, eu com prazer o mataria de novo, mas
dessa vez levando tempo para apreciar!
– Tão ruim assim?
– Tráfico de mulheres, tinha adolescentes na casa porra! – ele explodiu
Eu trinquei os meus dentes e segurei a minha respiração, me forcei a me
acalmar mesmo que parecia impossível. Vladmir tanto quanto fodido ele era,
nunca atingiu tais extremos, sempre havia estabelecido uma linha que ele
jamais ultrapassava! Tanto que nos últimos anos apesar de ter levado o
negócio lavado em sangue, a direção que foi tomada foi legalizar tudo o que
fosse possível, e aumentar o patrimônio exponencialmente dessa forma!
Acima de tudo ele era esperto o bastante para sentir os ventos soprarem e
mudarem de direção, e ele sabia também que se não tivesse tomada essa
decisão, corria o risco de ver tudo ruir, bastava um tropeço, um azar, e tudo
iria cair. Nós não éramos homens bons, drogas, armas, proteção, sabíamos o
preço que isso cobrava.
– Alex! – eu chamei a sua atenção
– Chame todos! Quero a cabeça todos os envolvidos nessa porra mortos! Sem
exceção Alex!
– Ótimo porra! – Foi a sua única resposta, antes de se virar e ir cumprir as
ordens!
Tanto quanto eu queria tomar parte disso, eu sabia que Alex, daria conta, e
que antes do dia terminar, teríamos um banho de sangue, e que nada disso iria
parar nas manchetes, Alex era muito bom no que fazia. E eu tinha merda para
fazer, a parte política da coisa era a minha responsabilidade, e tanto quanto eu
odiava essa merda eu sabia que era bom nisso! Seria um bater de cabeças
entre as família da Bratva brigando pelo território de Vasili, mas eu iria
resolver, precisamos nos manter fortes, sem abrir brechas, e considerando a
posição da minha família, essa era a minha responsabilidade, eu governava a
Costa Leste, e lidar com essa merda cabia a mim, a única coisa positiva que
eu via nisso é que com tanta merda para lidar, isso desviaria ao menos um
pouco os meus pensamentos dela.

Emma
Eu estava esgotada, literalmente cada cirurgia que eu pude entrar hoje eu
peguei, e na falta delas atendi no P.S, minha dedicação de hoje garantiria sem
dúvida o título de funcionário do mês, quem sabe até do ano, a qualquer um
que estranhasse a minha súbita vontade de trabalhar sem parar nem um
momento, eu sorria e dizia “créditos”, não importa que minha residência já
estava no fim, e meus créditos já estivessem fechados há pelo menos um ano,
era a desculpa que eu dava, e parecia funcionar, já que me deixavam em paz.
Mas eu sabia, sabia que poderia escapar dos meus colegas de trabalho, mas
não conseguiria escapar de Gwen. Ainda assim, uma parte de mim tentou.
Lila “acorda com as galinhas”, logo também vai dormir cedo, minha
esperança residia no fato de que se Gwen, ficou com ela o dia inteiro poderia
estar cansada o suficiente para ter dormido também, já que já se passava das
onze. Entrei muito cuidadosamente em casa, e parece que quando mais
cuidadosa você está tentando ser, mais barulho você faz, o rangido da porta ao
abrir me fez congelar no lugar, esperando que a qualquer momento a porta do
quarto dela se abrisse e ela saísse de lá, quando nenhum barulho soou, soltei a
respiração que eu havia prendido, aparentemente, eu poderia ir chorar minhas
magoas com privacidade. A luz que se se acendeu ao lado do sofá, acabou
com as minhas esperanças, Gwen estava sentada, coberta por uma manta, e
com absoluta certeza de “tocaia” esperando eu voltar. Meus ombros caíram
em derrota, eu amava Gwen de todo coração, ela era mais minha irmã que as
minhas próprias irmãs de sangue, mas honestamente, estava doendo, como
um cirurgião sabe, que limpar uma ferida é um processo, você tem que
machucar a carne para tirar o que está infeccionando, e depois dar tempo para
curar, mas sinceramente? Aplicar esse conceito a vida real é um saco! Você
não quer cutucar a ferida, quer que ela sare sozinha, de forma indolor e
rápida, é claro que isso, principalmente a parte indolor e rápida nunca
acontece, e definitivamente a parte de sarar sozinha não ia rolar também no
que dependesse da determinação de Gwenevere Anderson.
– Precisamos conversar – ela disse com firmeza ostentando o sorriso do gato
de Chesire, que me dizia que sabia exatamente o motivo pelo qual eu estava
entrando tão cuidadosamente em casa!
– Gwen, eu estou exausta, podemos adiar para um outro dia – eu disse
tentando me livrar de uma conversa que eu não queria ter.
– Puxar o band-aid Emma, não é menos doloroso, mas é mais rápido, mais
rápido pra esquecer, mais rápido pra se curar!
Em completa e assumida derrota, fui em direção ao meu quarto onde sabia é
claro que Gwen iria me seguir como uma sombra, meu plano basicamente
consistia em tomar um banho bem demorado, e esperar que ela dormisse
durante o processo de espera, claro que eram esperanças quase vãs, se havia
uma característica que se sobressaia em Gwen era a sua tenacidade.
– Eu vou tomar um banho, e já estou de volta – disse me esquivando do início
do seu questionário.
– Nós vamos! – ela disse parecendo muita animada!
– Bem, se isso não é afirmação estranha – eu disse.
– Lágrimas quentes! – ela disse em resposta.
– Gwen! – eu disse parecendo tão derrotada quanto eu me sentia – Eu inventei
isso, porque no momento parecia uma boa ideia…
– Exatamente, e ajudou muito na época, como você mesma disse a chuva é
ideal, mas como estamos no outono, a está frio, a troca pelo chuveiro
novamente parecia apropriada…
– Eu não quero molhar minhas roupas – eu disse fazendo birra
– Bem, você vai, porque de outra forma pareceria uma outra coisa! – ela disse
visivelmente se divertindo.
E então ela começou a me empurrar em direção ao banheiro. E então lá fomos
nós, tirei meus sapatos e meias, e deixei meu relógio em cima da pia, e me
sentei na banheira.
Gwen se sentou do outro lado de modo, que ambas estavam acomodadas de
frente uma a outra segurando os joelhos dobrados com as mãos.
– Podemos considerar uma evolução, essa banheira é mais espaçosa, e nossos
joelhos não tocam um ao outro, é pelo menos mais confortável.
– O que também quer dizer que você pode abrir seu coração com
tranquilidade de forma que a posição incomoda vá fazer com que isso acabe
rápido.
– Gwen, isso é loucura, foi um término de algo que nem começou, não se
compara a estar gravida, e sozinha, no começo de uma residência cirúrgica,
logo isso não faz nenhum sentido, eu estou bem…
– Eu me lembro, de momentos em que eu estava no limite, Emma, e você viu
isso! Você sabe porque você viu? Porque você se importa, realmente se
importa, é uma via de duas mãos, eu sei que você está no limite, e eu vejo
isso, eu não posso e não vou ficar sem fazer nada, então, o que temos agora
lágrimas quentes, ligue a merda água…
Com tamanho carinho e compreensão, eu liguei a merda da água
– Você se lembra o objetivo original né, paciência e compreensão, enquanto a
amiga no caso agora eu, jorro as minhas lágrimas que serão lavadas e levadas
embora pela água?! Meio poético até eu diria… – continuei divagando.
– Emma, desembucha! – Gwen pressionou.
–Tem esse cara, começamos alguma coisa, não deu certo! Ponto! Vida que
segue.
– Você é cheia de merda! Sou eu, lembra? Você não pode mentir para mim, e
achar que eu vou deixar passar!
– Eu não menti – eu me defendi – Eu fiz um resumo muito prático dos
acontecimentos em geral – continuei…
– Emma! – Gwen pressionou mais uma vez.
– Ok, ok, eu não sei o porquê? Eu não sei o porquê eu estou assim, foram
duas semanas ok, eu conheci alguém, e quer saber eu não acredito nessa
merda de amor à primeira vista, alma gêmea, príncipe encantado e conto de
fadas ou nada do tipo, mas então eu vi ele, e tudo aqui dentro de bagunçou de
uma forma que não explicar, eu me senti uma nerd adolescente idiota
apaixonada pelo capitão do time de futebol, exceto que o capitão do time de
futebol, aparentemente retribuiu o que eu estava sentindo. E então existe
aquela sensação, aquela sensação que aquece o seu peito e diz que você
encontrou, você encontrou a pessoa, a pessoa que você parece ter esperado
por toda a sua vida, o sexo? O sexo é fantástico, mas é mais que isso, é
inexplicável, não só pelo prazer que proporciona, mas por quem está
proporcionando, é como ter ido para uma longa viagem cheias de hotéis
baratos e comida ruim, e de repente se encontrar em casa, com a comida
caseira mais deliciosa do mundo, é confortável, é aconchegante, é especial, é
como encontrar o seu lugar no mundo, e olhar para o lado e se perguntar se
isso é mesmo real, se está mesmo acontecendo, era uma sensação de
felicidade que eu não sabia nem que merecia, mas agradecia a todas as
divindades possíveis por ter sido eu a escolhida pra receber algo assim.
O nó na minha garganta tornava difícil falar, e as lágrimas escorriam do meu
rosto junto com a água que caia do chuveiro, e então eu continuei.
– E então acabou, ele foi embora, sem maiores explicações, sem drama, e eu
fiquei, em um primeiro momento eu me questionei o que eu tinha feito de
errado, e então tenho certeza que o meu feminismo queria me dar um soco na
cara, então eu disse a mim mesmo que não era nada que eu tinha feito, era só
que eu não pertencia ao mundo dele, eu não estava a altura, o que tivemos foi
gratidão, curiosidade ou qualquer coisa do tipo, e acabou pra ele bem mais
rápido do que acabou para mim, e eu fico repetindo para mim mesma todo o
tempo, levanta, e siga em frente, não era para ser, não estava destinado, mas a
dor? A dor está aqui, é física Gwen, e sem nenhuma explicação, até ele eu
nunca achei que um coração partido poderia realmente provocar dores físicas,
mas eis me aqui, posso dizer dói, dói demais, eu durmo mal, eu choro nas
horas mais inapropriadas, e não, eu não estou ok, eu preciso de tempo, mas
para ser honesta? Eu não sei, se o tempo vai curar isso, e isso me assusta pra
caralho!
– Oh querida – disse Gwen enquanto segurava minha mão.
– Eu vou ficar bem, com o tempo, eu sei que eu vou, vou enfiar a cara no
trabalho, vou ocupar a minha mente de tal forma que não vou deixar espaço
para ele.
– E você acha que vai funcionar? – ela me perguntou deixando o seu pesar
transparecer na sua voz.
– Funcionou para você? – eu devolvi a pergunta.
– Não completamente! Eu sei? Idiota né? Eu fui abandonada, ele quebrou
meu coração e me deixou sozinha para reunir os cacos, e eu deveria odiar ele
completamente! Mas as coisas não são tão simples assim…
– Droga Gwen! Eu não tinha percebido!
– Ok! Pode parar, isso é sobre você não sobre mim! E se por um lado não vai
embora completamente, fica mais fácil Emma! Eu juro que fica! Agora eu sei
que você não consegue visualizar isso! Que parece que você está se afogando
nas suas próprias lagrimas, mas eventualmente melhora! Eu juro que melhora!
– Eu espero Gwen, eu espero que você esteja certa! Por nós duas!
– Bom, agora que você me contou o que te machucava, pode ir tratando de me
contar todo o resto que você está guardando.
– Gwen…
–Emma, eu sou a sua pessoa! E você é a minha, se você matar alguém, eu sou
a pessoa que você vai chamar para arrastar o corpo! Nós não temos segredos
lembra?
– Eu poderia mentir, enrolar, mas era Gwen, e ela simplesmente não desistia,
fora que no atual estado em que eu me encontrava, eu não estava exatamente
em condições de resistir a sua insistência, e pensando logicamente, para quem
mais eu poderia contar? E então bom, basicamente eu contei tudo, bom, quase
tudo…

Emma
Gwen me ligou, quando eu estava saindo do plantão, e me perguntou se eu já
estava chegando em casa.
O tom dela, estava estranho, mas ela preferiu não me adiantar o assunto por
telefone! Eu concluí então que não era nada tão grave assim, porque Gwen
tinha uma certa tendência ao desespero, e então se ela não parecia
desesperada ao telefone, deveria ser outra coisa, possivelmente a Sra. Goshen
havia encontrado um novo pretendente, e sendo assim precisávamos formar
um plano.
Quando cheguei em casa, Gwen estava sentada a mesa da cozinha, cercada de
papeis, e com o telefone na orelha, ao me avistar, ela se despediu da pessoa
com quem estava falando e encerrou a ligação.
– Ok, agora você está realmente meio que me assustando! – Eu disse a ela
enquanto largava as minhas chaves e deixava a minha bolsa no sofá – O que
aconteceu Gwen?
– É uma coisa boa na verdade, estranha, mas ainda assim boa, então você
pode ir tirando essa expressão de pânico da cara!
– Droga Gwen! Você realmente me assustou! O que aconteceu?
– Vou tentar resumir, bom, eu estava pagando umas contas, quando percebi
que a parcela do meu empréstimo estudantil, não havia sido descontada,
estranho não é? – aparentemente era uma pergunta retorica, já que ela
prosseguiu – Bancos não esquecem dividas, eles esquecem pagamentos, eles
totalmente esqueceriam pagamentos, mas dividas, não, nem pensar! Então eu
passei a última hora no telefone tentando descobrir o que havia acontecido, e
bom, basicamente não existe mais dívida!
– Gwen isso é impossível, como não poderia existir uma divi… – e então a
realização bateu sobre mim.
– Pois é – Gwen compreendeu a minha pausa como o conhecimento – E
tecnicamente ao não ser que seus pais tenham ganhado na loteria, nós só
conhecemos uma pessoa com dinheiro suficiente para ter quitado os
empréstimos.
– Se minha mãe tivesse ganhado na loteria, acredite em mim, nós saberíamos,
e provavelmente todo o estado de Minesota estaria ciente também…
– Então só resta uma opção – Gwen me disse então.
– Talvez seja um erro do banco, eu vou checar a minha conta…
– Eu já chequei! – Gwen me disse então – Seu empréstimo foi quitado
também!
– Ele pagou não foi?
– Ao não ser que você tenha um Tio excêntrico rico, eu acho que sim…
Eu não sabia o que dizer, existia em mim, uma pontinha de orgulho, que
queria ir até a casa dele e dizer, onde ele podia enfiar o dinheiro! Mas existia
também a meu lado prático que sabia, que a quitação desses empréstimos,
faria uma grande diferença para o meu orçamento e para o de Gwen!
E então me dei conta, nos romances açucarados que eu costumava ler na
adolescência, os mocinhos ricos dispensavam suas amantes com joias,
aparentemente, pagar os meus empréstimos estudantis, e os da minha melhor
amiga era a versão que Mikhail havia encontrado de se “despedir”
– Tem mais – A voz de Gwen interrompeu os meus pensamentos.
– O que mais?
– Uma concessionaria ligou, para marcar a entrega dos carros que pedimos…
–Não pedimos carros!
– Exato! Logo, isso também deve vir dele…
– Ele está pagando Gwen! Para se ver livre de mim! Como um milionário que
quer se livrar da amante desprezada, e está pagando por sua paz de espirito.
– Oh querida! – Ela me disse quase com dor em sua voz, e eu não pude evitar
que as lágrimas enchessem os meus olhos.
– Eu não conseguiria, ir lá e enfrenta-lo, para devolver tudo isso! Não sem
desabar como uma mulher patética desprezada.
– Eu vou! – Gwen me disse então – Eu digo a ele que não aceitaremos nada!
E então a realidade me bateu! Todos os meses lutávamos muito para manter
nossas cabeças na superfície, qualquer despesa extra, era uma complicação
com a qual não podíamos lidar geralmente, e tínhamos que pensar em Lila, a
pobreza deixava pouco espaço para o orgulho
– Na verdade aceitaremos! Ele pagou os empréstimos! Vamos aceitar! Foi a
cirurgia mais cara da minha vida, mas se ele escolheu pagar o preço, então é
com ele – eu disse a ela então, tentando conter o choro que estava entalado na
minha garganta.
– Você tem certeza? – Gwen me perguntou então
– Sim, eu tenho! Mas não o carro, nem mais nada que ele possa ter nos
presenteado e nós ainda não descobrimos sobre isso!
– Você não quer ir? Talvez você se acertem Emma?
– Ele foi embora, sem sequer dizer adeus Gwen! Isso é uma mensagem mais
que clara para mim! O que eu preciso fazer agora é me acostumar que está
tudo acabado! E eu vou, eu sei que eu vou! Eu só não posso lidar com isso
agora!

Mikhail
Uma parte de mim, uma grande parte na verdade, nutria a esperança secreta
que quando Emma descobrisse que eu paguei os empréstimos estudantis, ela
iria me procurar, e então eu não resistiria a ela, toda a minha boa intenção iria
por agua abaixo, e tudo que eu estava segurando iria embora, eu não resistiria
a ela se eu a visse pessoalmente, mais que um pagamento mais que justo pelo
que ela havia feito por mim naquela noite, e por tudo que ela representava na
minha vida, eu ter pagado as dívidas, e comprado um carro, um carro seguro o
bastante para a minha paz de espirito, isso era sobre traze-la até mim, mesmo
que em princípio, isso tenha sido inconsciente.
O que eu certamente não esperava era Gwen, que nesse momento estava na
porta da sede da empresa, esperando autorização para subir e me ver.
Autorização é claro que nem passava por minha cabeça negar. Assim que
autorizei a subida dela, Alex entrou pavoneando na minha sala.
– Você não bate mais ao entrar?
– Usualmente sim, mas o momento pedia rapidez, Gwenevere Smith vai
acabar com você.
– Você poderia me explicar como alguém com metade do meu peso vai acabar
comigo?
– Eu diria que suas habilidades médicas lhe dariam alguma vantagem sobre os
pontos fracos, mas essencialmente eu me refiro a uma batalha verbal! Eu
colocaria todo o meu dinheiro na Dra. Smith.
– E então você veio aqui para garantir a minha segurança, e evitar que isso
aconteça? – Eu debochei.
– Obvio que não! – Ele me disse então – Vim assistir de camarote!
Então ele, se aproximou de um dos sofás no canto da sala, e se apoiou no
encosto, sacando o celular do bolso, e o posicionando em minha direção.
– Que porra Alex! Você não está indo filmar o que acontecer aqui!
– Mas de que outra maneira eu vou manter isso na memória? Tenho certeza
que vai ser épico!
– Alexei! – Eu o repreendi então, com ênfase o suficiente na voz!
– Você não tem graça… – ele me disse então guardando o celular no bolso.
Seu ato foi seguido por uma batida na porta, Jeane, minha assistente
executiva, entrou então, e anunciou a Srta. Gwenevere Smith.
Gwen entrou então, parecendo tão determinada como eu sabia que ela era, ela
ainda vestia o uniforme do hospital, e calçava tênis esportivos, o que
basicamente em nada abalava a sua confiança, mesmo dentro do ostentoso
prédio que abrigava a administração das empresas.
– Gwenevere! – Eu a cumprimentei assumindo o controle da situação.
– Mikhail! – Ela me devolveu com o olhar afiado, aparentemente pelo menos
na presença de Jeane, manteríamos a cordialidade.
Dispensei Jeane, que então se retirou da sala, fechando a porta atrás de si.
Gwen fixou os seus olhos em Alexei, que parecia estar extremamente
satisfeito onde estava, para completar o quadro só faltou ele estar comendo
pipoca, e aguardando os acontecimentos.
– Alexei aparentemente não vai a lugar nenhum, mesmo que isso seja contra a
minha vontade, então eu sugiro que você diga o que veio fazer aqui
Gwenevere.
– Eu ouvi sobre Alexei! Ouvi muitas coisas sobre você também, o que me diz
que você não é absolutamente ignorante da razão de eu estar aqui, então creio
que você pode pular o papo furado e a conversa mole.
Eu sei que era provavelmente a coisa errada a se sentir no momento, mas eu
não podia evitar me sentir divertido! Sempre preferi a honestidade brutal, do
que as mentiras fáceis, e definitivamente Gwenevere era partidária da
honestidade brutal.
– Eu presumo que vocês tenham recebido os meus presentes, então… – eu
disse tentando não me comprometer.
– Na verdade não! – ele me disse então – E esse é justamente o motivo da
minha visita.
– Gwen, o que eu dei a Emma, e a você, não é nada menos que vocês
merecem…
– Eu sei, mas somos mulheres, e tal como é inerente ao nosso sexo, tendemos
a analisar cuidadosamente tudo o que acontece, então Mikhail o que você
achou que Emma ia pensar, quando você logo após cortá-la da sua vida a
encheu de “recompensas – ela continuou o seu monologo, sem me dar espaço
para resposta– Bom, eu te digo então, ela se considerou descartável, como um
bibelô dispensando por um bilionário que se cansou de brincar.
– Porra!
– Humm interessante! – ela disse então, enquanto parecia ver a minha alma.
– Emma está bem Gwenevere?
– Bem? Ela foi deixada por alguém que ela julga estar apaixonada, em
seguida você manda presentes, o que ela considera uma confirmação de que
não passou de uma aventura para você! É obvio que ela não está bem!
Eu me recostei contra a mina mesa, não escondendo a minha desolação! Eu
sabia ter machucado Emma ao desaparecer, mas justifiquei a mim mesmo que
era a melhor coisa a fazer, ter pago os empréstimos, dela e de Gwenevere, era
a minha forma, não só de agradecer, mas também de ajuda-la, pois eu sabia o
quanto ambos estavam lutando para se manter! Nem no pior cenário, eu
imaginaria que essa minha atitude, pioraria as coisas…
– Eu sinto tanto, que sequer consigo colocar em palavras. – Eu disse a ela
transparecendo estar tão desolado, quanto eu me sentia.

Gwenevere me observou por alguns segundos inteiros e então disse:
– Eu acredito em você! É estranho porque a minha intenção ao vir aqui, era
simplesmente te dizer o quão babaca você é por ter quebrado o coração da
minha amiga! Mas tem mais, não é? Ninguém sente esse tipo de tristeza ao
saber que magoou uma ex-amante indesejada. Então tem mais, tem muito
mais sobre isso, não é?
Eu permaneci em silencio! Apesar de uma grande parte de mim, querer gritar
que sim, e despejar toda a verdade! Mas eu sabia melhor, essa não era uma
opção! Não se eu quisesse que Emma continuasse a salvo, protegida do meu
mundo.
Gwen continuou o seu monologo.
– Emma a muito custo, desabafou comigo, mas creio que ela deixou partes
muito importantes de fora, e eu não posso sequer pressiona-la no momento, já
que honestamente tenho medo que ela não aguente a pressão, tanto que ela
não quis vir pessoalmente hoje, por julgar que não iria suportar, e acredite
quando eu digo, Emma Jane Harris é provavelmente a pessoa mais forte que
eu conheço, e também a mais teimosa! E sim, ela está sofrendo,
eventualmente irá ficar bem!
– Eu não posso entrar em detalhes, mas o que eu fiz, foi com o intuito de
deixa-la segura! E só! Nunca foi a minha intenção que Emma sofresse de
qualquer forma! Nunca mesmo!
– Eu acredito em você! Eu sei estranho né? Eu ainda quero chutar a sua bunda
pelo que você fez, mas estando aqui e olhando nos seus olhos eu acredito que
você acha que o que fez foi o melhor para ela. Só que esse é o ponto sobre
uma relação. Você não pode tomar uma decisão que afeta o outro de uma
forma tão forte, sem nem ao menos deixar que ele esteja ciente das opções, ou
do que está acontecendo, e isso foi o que você fez…
– Era um caso de vida ou morte, eu não tive opção! – eu disse a ela então,
revelando muito mais do que queria.
Ela inclinou a cabeça como se estivesse pesando as opções e então disse:
– Não mesmo? Nenhuma outra solução? Nenhuma outra possibilidade?
Enfim, eu acho que não importa, e eu acabei por desviar dos meus objetivos
ao vir aqui: O primeiro deles, você deve ligar para a concessionaria e cancelar
o pedido, eu e Emma concordamos que é extremamente generoso da sua parte
substituir os nossos carros, mas não é necessário, além disso seria doloroso
para ela, dirigir em uma base diária algo que seria um lembrete constante seu,
justamente quando ela precisa entrar em um acordo com si mesmo, para te
esquecer…
Eu não sabia o que dizer, então só acenei em concordância.
– Quanto aos empréstimos estudantis, vamos aceitar o pagamento, tanto
quanto porque eu sequer sei se é possível desfazer algo assim, tanto quanto
somos orgulhosas, somos igualmente pobres e cientes disso, e a quitação
dessa dívida para nós, é um alivio considerável no orçamento, o que nos
permitiria viver muito mais tranquilas em relação ao nosso orçamento mensal.
E dito isso, você não me devia nada Mikhail, absolutamente nada, então estou
mais que grata por ter sido incluída no seu pacote de gratidão, seja lá por
quais forem os seus motivos! Uma mãe solteira não pode ser orgulhosa, esse
tem sido o meu lema nos últimos anos! Então obrigada, obrigada de verdade!
– Eu nunca quis que ela entendesse os presentes como um “pagamento”, eu
nunca pensei que pudesse magoa-la dessa forma, minha intenção era só
ajudar, e no meu mundo isso geralmente envolve dinheiro.
– Sendo pragmática, no meu mundo dinheiro ajuda bastante, mas de novo, eu
sou uma mãe solteira, Emma é mais sensível, mesmo que a maioria dos seus
sentimentos sejam internalizados, porque basicamente essa é quem ela é, o
que ela provavelmente queria de você, não tinha nenhuma relação em como
você poderia usar o seu dinheiro para facilitar a vida dela. Quando ela se doa,
ela se doa por inteiro, e acho que o que basicamente ela, e na verdade quase
todas as mulheres em geral esperar, é reciprocidade. E eu vou parar por aqui,
eu já te dei mais informações que eu deveria, quebrando assim o código
feminino, e o código da irmandade!
Eu acenei novamente em concordância, havia um nó na minha garganta que
não era familiar para mim, as palavras de Gwenevere me rasgaram, e naquele
momento eu imaginava mil maneiras diferentes para ter lidado com tudo o
que aconteceu, mil maneiras que mantinham Emma comigo, mil maneira nas
quais eu não ferrava tudo.
Eu sequer estava prestando atenção quando Alex, disse que acompanharia
Gwenevere até a porta, ou então talvez eu só não me importasse, diante da luz
dos acontecimentos eu tinha percebido o que havia perdido, e era algo
importante demais, algo que havia colorido o meu mundo por algum tempo, e
que em sua ausência fez o meu mundo sombrio e cinzento se aprofundar. Era
como um pensamento “Você só reconhece as trevas, quando vê a luz”, eu
havia encontrado essa luz, eu a havia deixado ir, e tudo o que restava agora
eram as sombras com o qual eu já havia me acostumado, mas que pareciam
pior desde que ela se foi…

Emma
Gwen havia me mandando uma mensagem que ela passaria hoje na sede das
empresas para falar com Mikhail, não sei qual informação me surpreendeu
mais! Que ela iria falar com ele hoje, ou que suas empresas tinham uma sede.
Minha mente sempre imaginou, um galpão suspeito nos subúrbios, ou um
restaurante que serviria como fachada, mas novamente, eu acho que estava
assistindo muita televisão ultimamente, ou então os clássicos, como “O
Poderoso Chefão” e os “Bons Companheiros” estavam me afetando mais do
que eu pensava!
A coisa toda é, quando você não quer pensar em determinado assunto, é como
se o “assunto” criasse tentáculos e se agarrassem ao nosso cérebro, se
recusando a ir embora, e nesse momento eu tentava lutar contra isso, eu já
havia arrumado a casa toda por duas vezes, perseguido cada milímetro de pó
que havia, e mesmo me mantendo em movimento, a minha mente não estava
no trabalho, eu estava super ansiosa, ansiosa por notícias, mesmo que eu
prometesse a mim mesma que não ficaria ligando ou mandando mensagens
para Gwen para uma atualização, o que faria me parecer uma psicopata. Então
eu havia ido lavar roupa, inclusive a roupa de inverno que mantemos
guardada, convenci a mim mesma que aquilo era super necessário naquele
exato momento, era isso eu ligar para Gwen, e eu realmente precisava de uma
distração. E é claro que não funcionou, depois de ligar a máquina, decidi que
persegui-lo online seria menos prejudicial na conjetura total do que ligar para
Gwen e ela ainda estar lá, não era algo que eu estava preparada para enfrentar
sendo bem honesta. Mas uma boa e velha perseguição online, poderia
funcionar para mim.
Ele não tinha nenhuma rede social, tipo nenhuma mesmo, o que não me
surpreendeu totalmente, ele não parecia o tipo, mas Alexei não ter nenhuma
conta seja Facebook, Instagram foi o que realmente me surpreendeu, ele
realmente parecia o tipo que seria aberto a esse tipo de coisa. Mas pensando
bem, havia uma certa lógica no fato de eles se recusarem a manterem
informações desse tipo públicas.
Havia um site oficial do Grupo Dragorov, mas sem informações precisas, o
nome de Mikhail constava como CEO, e havia mais uma lista de nomes que
eu não reconhecia, e para além de um endereço comercial no centro da
cidade, e informações de contato, o website pouco tinha a dizer. E isso era
frustrante para caralho!
Então quando Gwen chegou, eu estava praticamente subindo pelas paredes de
curiosidade. Mas o que ela disse não acrescentava muita coisa, ela me disse
que ele se desculpou pela impressão que causou ao nos presentear, e que disse
que não era sua intenção causar nenhuma mágoa. Eu queria bombardeá-la de
perguntas, queria saber se ele estava acompanhado, se por acaso ela encontrou
alguém chamada Tiffany, se ela parecia feliz, ou se estava sentindo os efeitos
da nossa separação como eu estava, mas não tive coragem! Eu parecer uma
perseguidora na minha cabeça era uma coisa, compartilhar essa realidade com
o mundo, mesmo que o mundo se resumisse a minha melhor amiga, me
parecia um tanto excessivo! Então eu deixei para lá! Talvez fosse isso, nossos
caminhos não se encontravam, foi bom enquanto durou, ou qualquer clichê
parecido com isso! Eu tinha que esquecer ele, pelo bem da minha sanidade
mental!






Chapter 6 – Tiros
Emma
Um dia de cada vez, era o que eu tinha prometido a mim mesma, desde que
ele me deixou! Três meses haviam passado, e eu ainda me arrastava, era como
se eu tivesse que me forçar a fazer as coisas mais básicas, e ainda sim, dia
após dia, esse sentimento não passava! Era como se tudo tivesse ficado cinza,
em um mundo colorido, mas eu mantinha um sorriso colado no rosto, mesmo
que ele não atingisse os meus olhos! Eu enganava as pessoas de um modo
geral, mas claro Gwen não caia na minha atuação! Mas após a nossa conversa
ela não havia pressionado mais, ela sabia que eu tinha o meu tempo, e que não
adiantava apressar, mas eu sentia os seus olhos vigilantes o tempo todo. No
geral, nossa rotina seguia normal. Eu e Gwen tentávamos alternar os nossos
turnos, para não sobrecarregar o Sra. Goshen, e também para Lila não se
sentir abandonada, geralmente eu pegava os plantões diurnos, e Gwen os
noturnos, sendo assim, ela poderia ficar com a Lila, até ela ir para creche, só
que esse arranjo nem sempre era possível, já que o banco de horas variava
muito, e também porque trabalhar na emergência, era diariamente uma
surpresa, nós não sabíamos se seria um plantão tranquilo, seguindo a
programação do dia, ou se algum evento externo alteraria tudo. Acidentes
automobilísticos eram o padrão, mas eventualmente outros eventos
bagunçavam a nossa agenda.
O pager apitou com código azul, o que me dizia que hoje não seria um dia
normal, as informações preliminares falavam de um tiroteio em Little Itália, e
se falava em cerca de quinze feridos quatro deles em estado grave.

Como éramos o centro de trauma, mais próximos receberíamos os feridos, os
mais graves já estavam a caminho e então iniciamos a preparação.
No caminho para receber a ambulância encontrei Gwen
– E eu que pensava que hoje era um dia tranquilo – ela disse se apressando
em colocar o avental cirúrgico.
– Nem me fale, tinha duas histerectomias agendadas, que foram remarcadas –
Eu respondi enquanto a ajudava a amarrar o avental.
– Tiroteio em Little Itália, o que você acha? Máfia? – ela perguntou usando
uma expressão que tentava parecer assustada, mas estava mais pra cômica que
qualquer coisa.
– Eu acho que devemos nos concentrar em suturar e só! E deixar quaisquer
conjecturas para a polícia.
– Você não é divertida! – ela disse fazendo careta.
Ignorei, não tínhamos tempo e na verdade eu nem tinha ânimo para continuar
a brincadeira, em um caso minha mente focava completamente. Nos
movemos junto aos outros residentes para a entrada de ambulâncias.
A primeira vítima chegou, a equipe de Todd, que havia se preparado primeiro,
pegou o caso, pegaríamos a segunda ambulância, ou nos dividiríamos e uma
de nós pegaria a próxima ambulância, o que acabou por se mostrar
desnecessário, já que outras equipes tinham se posicionado ao nosso lado.
Isso é uma coisa clássica entre cirurgiões, a disputa era acirradíssima por cada
cirurgia, não é só sobre completar as horas de experiência, nem só sobre o
aprendizado que vinha dessas horas de prática, honestamente era prazeroso,
desafiador, quase como um vício, você queria sempre mais! Então quase que
literalmente cada cirurgia era disputada a tapa.
O barulho da ambulância me tirou dos meus devaneios.
Nos movemos em antecipação nos preparando para receber a vítima, quando
as portas se abriram e o paramédico desceu e com o auxílio do segundo
paramédico começou a puxar a maca, qualquer pensamento coerente deixou a
minha cabeça, eu sequer escutei a atualização sobre o estado do paciente,
estava em choque porque eu conhecia o paciente.
Começamos a mover a maca para dentro, antes de entrar em cirurgia o
paciente deveria passar por uma tomografia, precisávamos visualizar com
certeza quais órgãos atingidos para antever qual a gravidade do caso,
usualmente quando a paciente estava instável pulávamos essa etapa pois não
havia tempo, como estávamos nos movendo para a tomografia supôs que esse
não era o caso e que ele estava estável, já que o choque de o ter reconhecido
anulou completamente a minha capacidade mental.
Os internos assumiram a tomografia e então Gwen se voltou para mim:
– Emma?
– Eu não posso…- sussurrei ainda em estado de choque.
–Eu sei… – ela disse então com pesar.
–Ele é o irmão dele, o nome dele é Alexei. – eu disse ainda em choque.
Qualquer coisa que Gwen fosse dizer, foi interrompido com a chegada do
médico atendente.
Ele revisou os protocolos, e indagou quem iria entrar na cirurgia, vendo a
minha expressão que não poderia ser descrita como outra coisa senão pânico
Gwen se adiantou.
– Se fosse possível, eu queria ir Johnson – ela disse assumindo o controle –
Estou com um déficit de horas, e Emma já fechou as obrigatórias dela em
cirurgia geral.
Johnson se virou para mim e eu acenei em confirmação! Tanto porque era
verdade, tanto porque operar Alexei, seria pessoal demais.
– Harris! – Johnson me chamou – Estão faltando residentes e ainda falta uma
ambulância, já que Smith, dá conta desse sozinha, você está no caso, Elijah
vai ser o atendente, faça a avaliação do paciente e mande biparem ele, para
ele ir te encontrar na sala cirúrgica.
Ele então se voltou para Gwen:
– Smith, fui listado como atendente para a cirurgia de Todd, Taylor será o seu
atendente, bipe quando subirem para o bloco cirúrgico. Então ele se virou e
saiu, já que Todd já havia subido e a cirurgia deveria estar a ponto de
começar.
Gwen me deu um olhar que dizia claramente que o assunto não havia
acabado, mas ambas sabíamos que não era o momento. Dei um aceno de
cabeça e me movi de volta a entrada para esperar meu paciente chegar.

Fora quatro horas de cirurgia, basicamente eu diria que ainda foi pouco pela
extensão do dano, o paciente estava estável no momento, e então partiria para
uma longa recuperação, informações davam conta que havia mortos, então
podemos dizer que ele havia sido sortudo dentro de uma certa lógica, meu
paciente foi movido para a recuperação cirúrgica e ao passar por lá, eu movi
meus olhos ao redor para tentar obter qualquer informação sobre Alex, o que
foi infrutífero.
Minha expressão de frustação deve ter ficado clara no meu rosto, porque
Gwen se aproximou e disse:
– Ele não está aqui.
– Quem? – Eu perguntei me fazendo de desentendida.
–Alexei, não se faça de boba!
– Eu estava checando o meu paciente Gwen, mas já que você tocou no
assunto, como ele está?
– Os projeteis não atingiram nenhum órgão vital, um transpassou, e o outro
causou uma pequena hemorragia no tórax, mas foi tranquilo de corrigir…
– Eu suponho que sorte seja de família então – eu murmurei inaudívelmente.
– E como aparentemente “dinheiro fala” ele subiu para um quarto privado, e
há um especialista externo avaliando, você acredita nisso? Trouxeram um
médico de fora. – Gwen desabafou, ignorando o meu devaneio…
– O que teoricamente diminui o seu trabalho, então porque você está tão
brava com isso? – Contestei em tom de brincadeira.
– Sei lá, não gosto de ter meu trabalho questionado, eu acho! – ela respondeu
dando de ombros.
Eu queria perguntar mais, queria saber se a família estava aqui, se ele estava
aqui! Mas como isso me renderia um sermão colei minha língua ao céu da
boca, e ignorei a minha vontade…
Me dirigi para o posto de enfermagem, precisava finalizar os prontuários do
dia e então estaria fora dali. Fora da possibilidade de encontrar ele, fora da
possibilidade de ter meu coração esmagado pela simples presença.
Gwen me acompanhou, tanto quanto porque também tinha que terminar os
prontuários dela, tanto quanto por quê queria ficar de olho na minha reação.
Não havia nada que eu pudesse fazer quanto a isso, Gwen era minha irmã de
coração, poderíamos não ter laços sanguíneos, mas isso não nos fazia menos
irmãs que as minha irmãs de sangue, e é claro que ela ia ficar preocupada com
a volta do cara que quebrou meu coração meses atrás, sendo bem honesta eu
estava preocupada também, não sabia como iria reagir ao vê-lo depois de todo
esse tempo, então ignorei esse sentimento, e fui me concentrar nos
prontuários.
Todd apareceu por lá, ele havia encerrado seus prontuários, e estava passando
algumas visitas antes de ir embora no momento que ele virou a esquina e
começou a vir em nossa direção Gwen me deu um olhar eloquente, que eu
resolvi ignorar.
Ele jogou conversa fora tentando achar uma brecha que eu não estava dando
para me chamar para sair, não que ele estivesse puramente encantando pela
minha beleza, eu me achava ordinariamente comum, mas acho que as
sucessivas negativas fizeram parecer um desafio para ele, então a cada
oportunidade que tinha, ele despejava o seu charme em cima de mim. Charme
até então que eu tinha ignorado com sucesso, não que Todd não fosse
interessante dentro de uma padrão considerado convencional, ele era, mas
além do físico, não tínhamos absolutamente nada em comum além da
profissão, e mesmo eu adorando o que eu fazia, eu tinha um limite sobre falar
sobre cirurgias todo o tempo, e eu e ele não tínhamos absolutamente mais
nada em comum, a conversa simplesmente não rendia, não era algo que eu
pudesse explicar, ás vezes eu me perguntava se não estava me auto sabotando,
e comparando Todd e Mikhail, em cenários que exceto por ser o cara que
quebrou o meu coração e foi embora sem uma explicação, Mikhail ganhava
em todos os aspectos, o que era claro, injusto com Todd, mas não era algo que
eu conseguia.


Mikhail
Eu não sabia se era um excesso de azar, ou um excesso de sorte que na nossa
família, dois membros tenham sido atingidos em um tiroteio no espaço de
quatro meses, e em ambos os casos, o caso havia sido grave, mas sem o risco
de morte para os envolvidos.
Alexei continuava a dormir depois da cirurgia, Solokovitch, o nosso médico
em exercício havia vindo examina-lo, e garantir que o atendimento havia sido
satisfatório, e o fez, claramente contra a vontade de cirurgiã que por ironia do
destino, era Gwen, a amiga de Emma, seu olhos lançando faíscas de gelo em
minha direção me disseram que ela não estava feliz com alguém fiscalizando
seu trabalho. Não era uma situação confortável, que eu escolheria por livre e
espontânea vontade, mas Alex quando atingido, não estava na nossa área e
nem acompanhado dos seus homens, em vez de ser levado as nossas
instalações, ele foi trazido para cá! Ironias, das ironias, o hospital em que
Emma trabalhava!
Eu sabia ter tomado a melhor decisão, sabia que ela protegida e longe de meu
mundo era o melhor a fazer, dizia para mim mesmo, que a vigilância sobre ela
era uma mera formalidade, sobre alguém que tinha se aproximado muito da
família, e nem mentindo para mim mesmo conseguia me enganar! Saber que
ela estava aqui, ao meu alcance, era diferente de receber relatórios diários
sobre o que ela fez, com quem ela fez e aonde ela estava, era mais real, era
tangível, o que configurava uma tortura, ter alguém que você quer tanto ao
seu alcance e não poder fazer merda nenhuma sobre isso. Uma das
enfermeiras que estava na minha folha de pagamentos, e era uma das
responsáveis por passar informações sobre Emma me informou que ela estava
em cirurgia quando eu questionei sobre o seu paradeiro! Me perguntei se seria
melhor assim, planejar o desencontro, e não me permitir fraquejar ao vê-la,
uma parte de mim considerava a ideia, a outra queria vê-la, ainda que um
instante, um momento em que eu veria com meus próprios olhos como ela
está, em vez de me basear em relatórios.
Fui distraído por Máximo Giantelli, o capo da Cosa Nostra na Costa Leste,
que veio pessoalmente ao hospital já que o ataque havia sido dirigido as sua
organização, Alex foi pego no meio de tudo por uma infeliz coincidência, mas
nesse mundo coincidências são usualmente ignoradas, e se Giantelli estava
enfrentando um guerra por território, ele não poderia se dar ao luxo de irritar a
família que comandava o Bratva no Ocidente, considerando então que um dos
filhos do principal líder da Bratva na Rússia havia sido ferido no meio de sua
guerra particular, Giantelli estava se desculpando até pelo que não tinha feito,
como era o caso.
Giantelli, não permaneceu muito tempo, afinal, ao notar a minha aparente
frieza e não uma raiva incandescente, e também ao concluir que o ataque foi
direcionado a organização dele, e não ao contrário, considerei que as coisas
estavam resolvidas por si só!
Alex continuava dormindo, segundo Solokovitch, ele continuaria sonolento
das próximas horas. Então por hora deixei o quarto.
Disse a mim mesmo que tudo que queria era pegar um café, que
provavelmente era intragável, na cantina do hospital, não era sobre vê-la, e
ainda assim circulei por corredores intermináveis, mesmo sabendo que
bastava uma descida até o térreo para chegar a cantina.
Não achei nenhum daqueles que estavam na minha folha de pagamento, e que
poderiam me dar a informação que eu queria, e quando já estava de saco cheia
de andar por todo o lugar e não acha-la, parei um dos médicos que mais
parecia ter acabado de sair do ensino médio do que de uma faculdade de
perguntei sobre o seu paradeiro. A juventude aliada a estupidez, fizeram com
que ele me desse a informação sem ao menos questionar o motivo de eu
querer saber, ou pelo qual eu um desconhecido estava andando livremente por
corredores restritos.
Devo admitir que a expressão em meu rosto afugentava os transeuntes, e não
era convidativa a ninguém, e provavelmente isso os inibia de me questionar,
mas se essa displicência com a segurança era normal por aqui, eu teria que
tomar sérias medidas para assegurar que ela não estivesse em perigo.
Virando o corredor que levava ao tal posto de enfermagem, finalmente a
avistei.
E foi como tomar um soco, rever alguém que fazia tão parte de mim, e de
quem tive que me afastar pelas circunstâncias, era aterrador, não conseguia
nem mesmo expressar, e a vontade, que nublava qualquer outro pensamento
de mandar tudo a merda e trazê-la de volta para a minha vida era enorme.
Ela estava sentada preenchendo papelada, o sorriso contido, tão natural a ela,
enquanto ouvia a melhor amiga, tagarelar ao lado, minha atenção estava tão
focada em Emma, que em um primeiro momento não percebi o médico em
pé, em frente a ela, no que parecia ser uma conversa amigável, o sorriso
idiota, os toques no braço, e Emma que sorria com um certo desconforto, que
só quem a conhecia realmente iria perceber, o filho da puta estava cantando a
minha mulher porra!
Dei dois passos em direção a eles, e disposto a tirar o sorriso idiota da cara do
médico mauricinho a socos se fosse preciso, e então ao me dar conta do que
estava fazendo fiquei imóvel. Ela não era minha. Eu tinha decidido assim, e
tanto quanto eu queria ir lá e partir o doutorzinho ao meio, eu não podia fazer
isso, Emma não era minha mulher, eu havia decidido assim. Porra! Dei meia
volta, e voltei por onde eu tinha vindo.

Emma
Depois de um plantão exaustivo, não só pelo trabalho exaustivo, quando por
ter ficado me esgueirando e olhando por cima do ombro todo o tempo, eu
tinha conseguido arduamente evitar qualquer membro da família, Dragorov.
Considerando o meu azar crônico, eu não esperava realmente que a minha
sorte durasse por muito mais tempo, principalmente porque eu era a
responsável, por passar as visitas de pós cirurgia hoje, então isso basicamente
queria dizer que e ao não ser que acontecesse um milagre, hoje não seria
possível, evitar o encontro.
Enquanto me dirigia ao posto de enfermagem, considerei inúmeros desculpas,
e possibilidades para passar a responsabilidade a outra pessoa, e então me
censurei mentalmente por estar sendo ridícula, aquele era o meu hospital, ele
era o intruso, eu não deveria me sentir mal por encontra-lo, e eu não iria
(repeti para mim mesma mentalmente), eu seria friamente cortes, e totalmente
profissional, e os trataria como qualquer outro paciente (continuei repetindo
para mim mesma até acreditar.)
Mesmo repetindo como um mantra que tudo daria certo, sempre fui o tipo de
pessoa que adiava o máximo possível, o que fosse possível de adiar, sendo
assim, coloquei o quarto de Alexei por último na minha lista, os internos que
me acompanhavam, basicamente eram os responsáveis pelo exame clinico, a
minha tarefa consistia em avaliar os procedimentos, e confirmar o
diagnóstico!
Então não podendo mais adiar, nos movemos em direção ao quarto de
Alexei, e enquanto os internos realizavam os exames clínicos, eu respirava
aliviada, Mikhail, não estava lá, os olhos de Alexei estavam sobre mim, me
olhavam com diversão que ele não conseguia disfarçar, mas pelo menos, ele
não havia expressado verbalmente qualquer coisa, e isso me fez suspirar em
alivio absoluto. Os internos foram rápidos em concluir a avaliação, Alexei
continuava com o olhar absolutamente divertido, enquanto eu checava o
prontuário, e atualizada as informações necessárias, dispensei os internos, já
que a tarefa tinha terminado, e tanto quanto eu achava que minha relação com
a família Dragarov tinha terminado (não exatamente por minha escolha), eu
não podia simplesmente fingir que não conhecia o Alexei.
Quando o último interno deixou o quarto, não tive nem a oportunidade de
realizar a minha tentativa de um cumprimento formal e totalmente
profissional, desejando a recuperação antes de Alex interromper:
– Ele não está aqui, não ainda pelo menos, então pode relaxar doutora – ele
disse com o tom jocoso, claramente se divertindo.
– Alexei, bom saber que a sua experiencia de quase morte manteve seu humor
intacto – eu disse rebatendo a altura.
– Ahh doutora! Esse arranhão – disse ele com deboche minimizando o
acontecimento.
– Você quase morreu Alexei, o que sinceramente me deixa em dúvida se
existe um traço família, que demanda muito azar, ou então muita sorte. E que
diabos você estava fazendo em Little Itália?
Ele deu um sorriso que pareceu um pouco triste e então disse:
– Acreditaria se eu dissesse que a minha presença no lugar era uma infeliz
coincidência, e que eu não tive nada a ver com a disputa entre a Cosa Nostra e
a Camorra? – ele me perguntou.
Olhei em direção a porta, o pânico subindo em ondas pelo meu corpo.
– Alexei, porque diabos você me falaria algo assim? Podemos voltar ao ponto
que isso foi um tiroteio convencional, e eu não sei nada sobre isso? – E então
abaixando o meu tom de voz para um sussurro basicamente disse a ele – A
primeira regra sobre a máfia, não é que não se fala sobre isso?
– Na verdade essa é a regra sobre o “clube da luta”, mas próximo o suficiente
Doutora – ele disse ainda sorrindo.
– Enfim, fico feliz que você esteja melhor Alex, sentiria uma imensa falta dos
nossos duelos verbais! – eu disse verdadeiramente, e então complementei –
Eu tenho que ir agora, todas as cirurgias canceladas ontem por conta do
tiroteio foram realocadas para hoje!
E então segurei sua mão na minha e disse a ele:
– Melhoras Alex, e se você sair antes que eu te veja de novo, siga as
recomendações, ou pelo menos parte delas, as partes importantes! – E com
um sorriso conhecedor da inerente teimosia família, me despedi dele, pois
realmente hoje era um dia cheio!

Distraída com as anotações dos prontuários, não percebi uma pessoa vindo na
minha direção, e sendo assim não consegui evitar o choque, o pedido de
desculpas ficou preso a minha boca quando eu vi de quem se tratava.
– Emma – a voz com o timbre um tanto rouco, e o sotaque inconfundível que
atormentava os meus sonhos.
Eu fiquei paralisada, completamente imóvel, é claro que na minha cabeça essa
cena já tinha se passado inúmeras vezes, nos encontrávamos casualmente em
algum lugar, e eu o cumprimentava sem ressentimentos, com uma cortesia
fria e impessoal! Na minha cabeça… Porque quando se torna real, os
sentimentos são muito mais complicados, você não pode evitar que seu
coração bata tão forte que seus batimentos ecoam na sua cabeça, não
consegue evitar que o peito doa, literalmente de saudade, e não pode evitar
que tudo isso aconteça ao mesmo tempo te deixe paralisada, plantada no meio
de um corredor, com os olhos bebendo da figura a sua frente, em uma saudade
extrema.
Me forcei a sair do meu estado, tanto quando porque eu parecia uma idiota
completa, tanta quando porque não queria dar a ele esse gostinho de me ver
nesse estado.
– Olá Mikhail – Me forcei a dizer.
Meus olhos provavelmente refletiam toda a minha confusão interior, e o
estranho era que os dele pareciam sofrer do mesmo mal, disse a mim mesma
que isso era ridículo, ele tinha me deixado, tinha por decisão própria ido
embora, não faria sentido que ele estivesse sofrendo enquanto o coração
quebrado era o meu.
Mas ali estávamos, ambos em silencio, como se ainda que silenciosamente
nos comunicássemos, disse a mim mesmo que isso era ridículo, que eu era
uma sonhadora inveterada que ainda acreditava em finais felizes e príncipes
encantados, mas que deveria a essa altura já saber melhor, e parar de me
iludir. Sendo assim quebrei o silencio:
– Passei pelo quarto de Alex agora a pouco, ele parece estar se recuperando
bem! – eu disse tentando manter as coisas profissionais.
– Existe um ditado que diz que “vaso ruim não quebra”, acho que acaba se
aplicando. Ou simplesmente é uma questão de sorte! – ele disse dando de
ombros.
– O que não é motivo para testar a sorte – eu disse com a preocupação saindo
em ondas da minha voz.
O que eu senti vendo Mikhail em uma maca, eu não podia descrever, mesmo
que ele tenha me dispensado sem qualquer dor na consciência, o que eu sentia
por ele não havia evaporado no ar, e eu sabia qual era o seu ramo de trabalho,
o que já era mais suficiente para causar preocupação, com Alex se ferindo
gravemente, e em circunstâncias muito semelhantes, a preocupação virava
pânico.
Qualquer coisa que eu fosse dizer foi perdida pela sequência de bipes que
saíram do meu pager, com o código que pedia que eu me apresentasse na sala
cirúrgica salva pelo gongo, eu diria, já que estava prestes a derramar o meu
coração ali, e com certeza quando ele me rejeitasse não iria conseguir suportar
a vergonha, sem me alongar mais me despedi:
– Estou sendo esperada – eu disse balançando o pager na mão, para enfatizar
o ponto – Foi bom te ver! – eu complementei, com uma meia verdade meia
mentira.
E então sem esperar uma resposta e com um aceno final de cabeça me movi
em direção ao bloco cirúrgico, quando sua voz me fez parar.
– Você está bem Emma?
Devo dizer que do meu ponto de vista, “você está bem”, é para mim, a pior
pergunta do mundo, usualmente a resposta padrão a essa pergunta é sempre
“estou claro, e você?” que é igualmente respondida com “estou ótimo”,
respostas que quase sempre não condizem com a realidade, mesmo que seu
coração esteja partido, mesmo que nos últimos meses você tenha lutado tanto
para manter a cabeça na superfície, você nunca derrama seu coração por essa
pergunta…
Então eu menti!
– Estou bem Mikhail – eu disse me forçando a dar um sorriso meio amarelo –
Espero que você esteja bem também – eu disse para encerrar a conversa.
E então, para impedir a mim mesma de desmoronar na frente dele, e fazer um
papel ridículo, perguntando o porquê ele me deixou, ou pior, implorando que
ele voltasse para mim! Acenei com a cabeça em despedida, me virei e fui em
direção ao bloco cirúrgico, sem dar a chance de ele dizer qualquer coisa.




Chapter 7 – Teimosia
Emma
– Já fazem três meses – a voz de Gwen interrompeu meus pensamentos.
Em um primeiro momento ia perguntar do que diabos ela estava falando, mas
então ela continuou.
– Três meses inteirinhos que o idiota te deu as costas, então eu não vejo qual
o problema de você aceitar o convite do Todd.
E aí estava, viu? Se tinham alguma coisa em que Gwen era especialista, era
em ir direto ao ponto, e claro a tendência aos monólogos.
– Porque seriamente, você não pode ter caído novamente por ele, foi uma
fatalidade do destino ter encontrado ele de novo! E só, não vamos tirar disso
um grande significado. Além do mais você não pode ter esquecido tudo o que
passou por causa dele. E…
– Gwen – interrompi! Eu sei, eu sei que foi um acaso, eu sei que nada mudou!
Eu não vou mentir para você e dizer que eu não senti nada ao ver ele, mas eu
definitivamente não senti vontade de me encolher em posição fetal e chorar,
como seria há três meses, então relaxa, ok?
– Mesmo? você está ok em ter visto ele?
– Mesmo! Eu estou ok, em ter visto ele, e estou ok que o único motivo pelo
qual eu o vi, era porque ele estava lá pelo irmão! E quanto ao Todd, existe
uma regra lembra? “Onde se ganha o pão, não se come a carne! “Evita muitos
problemas inclusive!
E lá estava o sorriso de gato de Chesire no rosto dela!
– O quê? – eu questionei, já que não me parecia um bom presságio.
– Ele está indo pra LA, a pesquisa dele foi aceita, ele começa em dois meses –
ela disse sem conter a alegria.
– Então qual o ponto? Eu rebati – Você quer que eu me apaixone por um cara
que em dois meses está saindo da cidade?
– Argh – Gwen reagiu expressando seu nojo de um modo físico – Eu não
quero que você se apaixone por ele, Todd é maçante, vocês não durariam
muito tempo! Estou falando de sexo, sexo sem complicações, sexo que relaxa,
sexo que faz esquecer os ex extraordinariamente bonitos que não valem nada!
– ela disse em clara referência ao Mikhail.
– Estou orgulhosa Gwen, grande exemplo para Lila futuramente eu devo
dizer!
– Lila, não vai se interessar por meninos até os trinta pelo menos! – ela
rebateu rindo.
Dei meu melhor olhar que dizia por si só…
– Você não pode me chamar de hipócrita! – Ela disse então.
– Eu não estou chamando você de nada, só estou dando um olhar eloquente, a
interpretação é sua! – eu repliquei rindo.
– Ok, chega! Lila vai namorar depois da faculdade, e graças as maravilhosas
dicas de sua mãe – ela disse apontando pra si mesmo, e de sua madrinha –
disse apontando para mim – Ela vai evitar erros cruciais no que se refere a
relacionamentos em geral. E agora, voltando ao assunto Todd, um jantar, uma
noite agradável, que mal pode fazer?
– Você disse que ele era maçante! – eu a lembrei.
– Para um relacionamento, para uma vida! – ela enfatizou com gestos
dramáticos – Uma noite, deve ser suportável – ela rebateu
– Ok!
– Ok?
– Sim, um jantar, uma noite, e vamos ver como fica!
– E isso não tem nada a ver com dar o troco no idiota?!
– Bom, é evidente que tem, é uma questão de valorização sabe? Se você não
quer, tem quem queira ou alguma coisa do tipo!
– Graças a Deus! – ela exclamou aliviada.
– Sério Gwen?! Graças a Deus? Graças a Deus que eu queira dar o troco?
– Sim Graças a Deus, se você tivesse dito que esqueceu completamente,
depois de tudo o que aconteceu não seria você, “dar o troco” é muito mais
honesto, e o caminho da verdade para esquecer o idiota!
Não pude evitar cair na gargalhada e depois complementei.
– Se for um encontro de merda, eu vou querer muito chocolate, tipo litros de
chocolate, em texturas e sabores, e vou querer o direito sagrado de dizer que é
tudo culpa sua!
– Fechado! Ela concordou muito rapidamente.
E aí estava, aparentemente eu e Todd Eliott tínhamos um encontro, agora eu
tinha que informa-lo disso!

Mikhail
– Ela está em casa? Sozinha? – continuei o interrogatório.
– Você ainda está perseguindo a doutora? veio a voz de Alex, interrompendo
a minha conversa enquanto voltava do banheiro, empurrando a coluna de
soro, o que se não me engano, ele estava proibido de fazer.
– Eu ligo depois Igor – eu disse encerrando a ligação.
– Você não deveria estar de repouso ou algo assim?
– Nessa família não somos partidários a obedecer a ordens médicas, mesmo
quando gostamos da médica em questão! Você não se lembra, ou prefere não
lembrar disso? – o filho da puta disse.
– Vejo que você já recuperou o que você chama de senso de humor Alex, vou
considerar isso um bom sinal.
– O que você vai fazer sobre a Doutora?
– Do que você está falando? Eu respondi fingindo não saber do que se tratava.
– Os culpados pelo seu atentado foram descobertos e punidos O perigo
imediato passou e…
– O perigo nunca passa! – Eu o interrompi
– Você entendeu! – Ele me rebateu – Emma não é igual a Red, Mikhail, ela
não vai se sentar e esperar um milagre, ela vai seguir em frente, o médico é…
– Eles não têm nada! Eu interrompi novamente.
– Ainda! Alex rebateu – Você vai se sentar e esperar isso acontecer? E então
dar um jeito de se livrar de cada um deles? – ele disse adivinhando minhas
intenções – Por quanto tempo Mikhail? Até ser irremediável, até ela conhecer
alguém de quem ela realmente goste e não importa o que você fizer, não
conseguir mudar isso?
– Não é tão simples assim Alex, e você sabe! – Eu me defendi
– Eu sei, mais que você pensa, e é por isso estou te dizendo, você pode fazer
alguma coisa sobre isso agora.
– Você conhece a vida que levamos Alexei, sabe que não é tão simples, não se
trata de ter o que eu quero, se trata de arrasta-la para esse mundo, sem
garantia alguma de poder protege-la caralho! – reagi indignado – Você acha
que se dependesse somente da minha vontade, eu teria deixado ela ir?
– Não, eu não acho! Acho que o que aconteceu com a descoberta
Kozhevnikov, não te permitiu raciocinar naquele momento. Eu conheço a
vida que levamos, mas você tem uma escolha agora, e é justamente por
conhecer o mundo em que vivemos, você pode mantê-la segura, ser quem
você é, pertencer a família que você pertence, te permite isso!
– A família que pertencemos Alexei! – Eu o corrigi então – Mas não é tão
simples assim, nada é tão preto no branco, eu nunca me perdoaria se algo
acontecesse a Emma pelo simples fato dela estar associada a mim, eu prefiro
viver com a falta dela aqui, desde que ela esteja feliz.
– Palavras bonitas para quem agora a pouco estava empatando a vida
sentimental dela Mikhail…
– Ele é um idiota e não a merece, e eles não tem uma vida sentimental… – Eu
mordi a isca.
Alexei somente voltou para a cama, me dando um olhar eloquente que
dispensava palavras adicionais! Eu estava sendo hipócrita, hipócrita para
caralho por acreditar que eu a deixaria em paz, que deixaria ela conhecer
alguém! E tanto quanto eu não queria admitir, Alex estava certo, eu tinha que
arrumar uma maneira, eu iria resolver isso! Tinha de haver um jeito!















Chapter 8 – Incidente
Emma
Os residentes de cirurgia do nosso hospital, faziam um revezamento, entre
especialidade, e uma delas era o pronto socorro, que era basicamente a porta
de entrada de todos os casos cirúrgicos, ali, fazíamos a triagem e em casos
mais graves mandávamos subir para o bloco cirúrgico. Estávamos sem um
dos residentes, Todd, havia ganhado uma bolsa, cujo pré-requisito era
apresentação imediata, ele estava nas nuvens, e eu de certa forma também, eu
não conseguia encarar sexo de uma forma casual o suficiente para ir para a
cama com ele pelo simples motivo de quebrar minha atual abstinência, fiquei
feliz por ele, era um passo importante em relação a carreira, e Todd era
esforçado e merecia a recompensa, a outra parte estava feliz por mim, que
tinha me livrado de um encontro que possivelmente seria constrangedor.
Como Todd se desligou de forma repentina, a ordem era basicamente todas
aos mãos no deck, eu não costumava atender no Pronto Socorro, já que eu
estava próxima de concluir minha residência, e geralmente eram residentes
dos primeiros anos que atendiam, mas uma epidemia de gripe, havia
diminuído os nossos números drasticamente, e mesmo quem estava de folga
estavam sendo chamados, não era um problema realmente, já que em dias
comuns, era raro aparecer casos que demandassem cirurgia imediata, o que
por vezes surgiam era casos de cortes ais graves que exigiam suturas mais
elaboradas, e então era sorte do paciente do ter um cirurgião à disposição, já
que os pontos ficariam perfeitos. Ao trabalhar no pronto socorro nos
deparávamos com vários casos em que era necessário chamar o serviço social,
abuso, negligência, os sinais não eram difíceis de ler, principalmente para um
profissional. E hoje era um desses dias, a mulher que eu estava atendendo,
constava na ficha como tendo vinte e oito anos de idade, mas sua aparência
era envelhecida, desgastada mesmo, como se a vida tivesse levado dela mais
do que ela podia dar, ela tinha uma fratura no antebraço, cuja correção era
cirúrgica, e quando chegou disse ter escorregado e caído, claro dentro de uma
certa lógica isso era possível, mas como eu disse, nós liamos todos os sinais,
dispensei o interno com a desculpa de fazê-lo ir reservar a sala de tomografia,
quando na verdade, ele iria chamar o serviço social, e deixar os seguranças de
pronto aviso, até a polícia chegar.
O marido a acompanhava, e pela expressão dele, e o fato de que ele interferia
em toda e qualquer resposta que ela dava, enquanto eu estava preenchendo o
prontuário, não seria um dos casos fáceis de lidar.
A violência doméstica, era ainda para muitas pessoas um tabu, eles não
entendiam como a pessoa se submetia a tal violência sem fazer nada, nós que
trabalhávamos na área da saúde e infelizmente lidávamos com isso em uma
base cotidiana sabíamos que era muito mais complexo do que parecia a
princípio, primeiro havia o fator psicológico, a violência física normalmente
não era o primeiro estágio, eram anos de abusos psicológicos e a destruição
sistemática da confiança própria, somado a isso, geralmente a vítima possuía
filhos e se sentia a culpada em denunciar o pai das crianças e deixa-la
desamparadas, outro problema era financeiro, os agressores em geral
deixavam suas vítimas dependentes não só psicologicamente mas também
financeiramente, e isso sem contar a falta de apoio familiar, que infelizmente
era comum também. Sendo assim para elas atingir o ponto de ruptura, a ponto
de tomar uma atitude era um caminho considerável para as vítimas de
violência doméstica, que não deveriam ser julgadas e deveriam sim ter o
suporte necessário na reconstrução de sua vida.
Para ganhar tempo, comecei a explicar, que a fratura era caso cirúrgico, e que
o cirurgião ortopédico estava descendo para poder assumir o caso.
Foi o começo da tempestade, o marido insistiu que queria que fosse colocado
gesso, e que era um “ferimento sem importância”.
Eu insisti, que não poderia simplesmente colocar o gesso sem que o osso
tivesse sido alinhado corretamente, pois seria mais prejudicial ainda.
A voz da paciente, pedindo baixinho que o gesso fosse colocado, e que não
estava doendo tanto, foi o que quase me quebrou.
O medo dela era visível em cada poro do corpo, a voz baixa, e a postura de
proteção, era tão natural que ela nem sequer percebia.
Respirei fundo e tratei de recuperar o controle, enquanto a polícia não
chegasse, qualquer atitude impensada minha poderia mais prejudicar a
paciente do que ajuda-la, então voltei a calmamente (tão calmamente quando
possível) argumentar com o marido.
O interno voltou, o seu aceno de cabeça para mim, confirmou que ele já tinha
chamado as autoridades competentes. O que me aliviou profundamente, já
que a postura do marido se tornava mais agressiva a cada minuto que passava.
E então de repente as coisas explodiram.
O marido da paciente que se tornava mais agressivo a cada minuto, percebeu
a postura dos seguranças do hospital, que tinham se colocado à postos
antevendo o problema.
Percebendo a situação em que se encontrava, ele se moveu para cima da sua
mulher com o intuito de leva-la embora.
Sabendo do seu estado, e sabendo que não podia permitir que isso
acontecesse, eu me posicionei na frente dela, impedindo que ele a alcançasse.
O que devo dizer, apesar de corajoso foi muito pouco inteligente da minha
parte.
Vi sua mão subir em direção ao meu rosto, senti a pancada forte na lateral da
cabeça, forte o suficiente para me desequilibrar, caí em direção a mesa de
instrumentos, e bom, aí tudo ficou escuro.


Mikhail
Enquanto eu pegava um café na máquina, que era somente tolerável na
melhor das hipóteses, e eu me ressentia de ter que toma-lo, afinal o cansaço
dos últimos dias estavam me batendo forte, eu sabia que para conseguir
chegar ao fim do dia eu precisava de cafeína, um grupo misto de funcionários
passou correndo pelo mim, tanto quanto eu era normalmente atento a
qualquer incidência anormal, aquilo era um hospital, e equipes correndo para
salvar vidas era o que era considerado normal ali.
Voltei ao quarto, Zhenya, estava mimando Alex, tanto quanto possível já que
ele estava em uma dieta restrita e impossibilitado de fazer várias coisas,
carma era realmente uma vadia.
– Você ao menos vai me deixar ter um gole? – Alex disse meio puto, a falta
de cafeína estava chutando a bunda dele.
– Você está proibido, ordens médicas – Eu disse enquanto soprava meu copo
com um sorriso um tanto irônico.
– Não me lembro de ver você obedecendo ordem médicas – Alex resmungou
contrariado.
A essa informação, Zhenya estreitou os olhos na minha direção, e eu resolvi
sair pela tangente.
– Verdade, mas Zhenya agora está aqui, e vai cuidar que você obedeça – eu
disse, não escondendo a minha diversão.
O meu telefone tocou, interrompendo a minha implicância com ele, era Igor
ligando e ele não tinha por costume ligar ao não ser que fosse importante.
Atendi sem demora, e o que eu ouvi, paralisou cada musculo do meu corpo
por alguns segundos.

E então sem nem conseguir dar uma explicação razoável a Zhenya ou Alex
que me olhavam assustados saí do quarto e fui em direção a emergência que
era onde ele disse que ela estava.
O local estava uma bagunça completa, policiais por todos os lados,
seguranças passavam correndo falando em seus walk talks, mas tudo isso não
me fez sequer piscar, precisava vê-la, precisa ter certeza que ela estava bem.
Uma junta médica a cercava, a sala de atendimento estava fechada, e só foi
possível ver flash quando alguém entrava ou saia da sala, meu contato, me
informou que ela estava desacordada, e sendo imobilizada e levada para uma
tomografia, minha vontade era entrar lá, e descobrir qual o seu real estado,
ficar ali parado com migalhas de informação estava me deixando louco.
Senti o celular vibrar, mas ignorei, naquele momento nada mais importava
realmente.
Gwen, a melhor amiga de Emma saiu da sala, sua postura era derrotada e isso
gelou o meu corpo por inteiro.
Ele sequer reparou em mim parado ali, só ficou em pé apática, e como eu
vigiando a sala.
Minha preocupação com Emma, era maior que o receio de Gwen me mandar
a merda ali mesmo!
Então a abordei, para ter notícias concretas.
– Gwen, como Emma está?
Ela se virou para mim, seu olhar parecendo me atravessar, e não havia nada lá
nem mesmo raiva, o que definitivamente me preocupou e muito.
– Gwen, como Emma está? – eu me senti obrigado a reforçar a pergunta
Isso pareceu tirar ela do estado de choque por um momento e então ela
respondeu.
– Ela está inconsciente, vão levar para a TC, porque quando ela caiu bateu a
cabeça, não sabemos ainda o quão grave é, mas é grave…
Ela então interrompeu o que estava dizendo como se não pudesse aceitar a
possibilidade do que viria a seguir, que Emma estava em risco, um risco
real…
A porta se abriu, e os médicos passaram, empurrando a maca, Emma
continuava desacordada, havia uma máscara de oxigênio cobrindo o rosto
dela, e a expressão taciturna dos médicos e a rapidez com que eles passaram
no corredor, me revelou a gravidade, Emma corria risco de vida porra!
Nos sentamos juntos na sala de espera, Gwen, havia encerrado o seu turno,
mas com certeza não iria a lugar algum, e eu, eu definitivamente não iria sair
de lá enquanto não houvesse a confirmação que ela estava bem! Que toda essa
merda só passou de um fodido pesadelo!
E tanto quanto eu estava preocupado para caralho com Emma, que estava na
tomografia segundo as ultimas noticias, a minha raiva queimava lentamente.
Ele estava morto, simples assim.
Sem segundas chances, ele era uma escória, tanto quanto eu estava do lado
contrário da ordem pública, e nossos negócios envolviam diversas vertentes,
muitas delas ilegais, havia uma linha que não cruzávamos, mulheres e
crianças inocentes não eram machucadas! Não éramos os mocinhos, é claro
que sabíamos que não eram todos dentro dessa organização que respeitavam
esse parâmetro, mas para nós era sagrado! Não machucávamos inocentes, não
explorávamos a fraqueza deles, existia uma linha moral que não
ultrapassávamos e era essa! Pessoas inocentes não eram machucadas por
nenhuma atividade da nossa organização, pelo menos não diretamente! E caso
acontecesse lidaríamos com isso.
Mas Emma, Emma era pessoal para mim, pessoal pra caralho, e o filho da
puta não ia permanecer muito tempo nesse mundo, no que dependesse de
mim! E com os meus homens o caçando pela cidade, isso aconteceria mais
cedo ou mais tarde.
E no momento, mesmo que a raiva queimasse em meu sangue, a minha
prioridade era Emma.
Peguei o meu celular, o dinheiro tinha o poder de fazer com que as coisas
acontecessem, e com Emma em perigo, ela teria o melhor, a porra do melhor
cirurgião que o dinheiro podia comprar!
Quando, o neurocirurgião de Mayo, Dr.Colbert chegou logo em seguida, e
assumiu o caso, Gwen me deu um olhar estranho, que parecia quase como
gratidão, mas tanto quanto eu tinha sido responsável por eles estar ali,
acredite em mim, era em benefício próprio, eu não iria perder Emma, eu
sequer cogitava essa possibilidade!
Fora horas ali esperando por notícias!
Eventualmente, uma enfermeira nos atualizava sobre a cirurgia.
Quando, Dr. Colbert, saiu, nada em sua expressão nos dava uma pista, mas eu
simplesmente me recusava a aceitar qualquer resultado que não fosse
positivo.
– Vocês são a família de Emma Harris?
– Ela é a irmã, e eu sou o noivo – Eu me adiantei a qualquer coisa que Gwen
fosse dizer, o que definitivamente me rendeu um olhar atravessado vindo
dela.
– Ela tinha um hematoma epidural, o coagulo foi removido com sucesso, pela
localização do coagulo, foi possível uma abordagem conservadora, a paciente
está na recuperação cirúrgica agora, e assim que possível será levada ao
quarto.
Gwen questionou alguns detalhes médicos que para mim não eram
compreensíveis e nem relevantes, a sensação esmagadora de completo alivio
quando ele disse que foi um sucesso, ofuscou todo o resto. Emma estava bem!
Ela iria se recuperar, e isso me deixada aliviado para caramba porra!

Emma
Eu ouvi os sons ao meu redor antes de acordar, conversas em um tom mais
baixo, e chamados insistentes pelas enfermeiras. Bem no fundo do meu
cérebro eu sabia onde estava, mas era como se a comunicação das ideias
estivesse letárgica demais para formar a conexão.
Abri meus olhos por um momento, a luz não era ofuscante, mas ainda assim
incomodou, o que me forçou a fechar os olhos novamente.
Meu mau humor inerente, me deu a certeza que eu havia passado por
anestesia, e a visão da recuperação cirúrgica quando abri os olhos me deu a
certeza. Eu esforcei minha mente para tentar lembrar os últimos
acontecimentos, mas era uma página em branco.
O efeito dos anestésicos me bateu, e sono me venceu novamente, e então eu
voltei a dormir, quaisquer pensamentos esquecidos.

Mikhail
Eu era naturalmente um planejador, era uma característica vital para conduzir
os nossos negócios no ocidente, e eu era bom no que fazia, e é claro, que essa
característica fluía por outras áreas da minha vida, e no caso viria bem a
calhar, o que os meus homens descobriram até então, era que o nome do filho
da puta era Fedir Wasylyk, e que ele era um soldado da máfia ucraniana, nada
que um telefonema a Kostyantyn, não resolveria, porque eu o queria morto,
era inconcebível para mim qualquer outro resultado. Ele estava sendo caçado
por toda a cidade, e com a anuência de Kostyantyn ao meu pedido, ele não
teria a proteção da máfia ucraniana, e sendo assim era questão de tempo até
ele ser pego.
Mas como eu disse, eu era um planejador, e eu sabia que Fedir, era uma das
muitas ameaças que poderiam ferir Emma, a morte dele era muita mais uma
retaliação, do que propriamente a proteção a Emma, já que com absoluto
certeza, ela nunca mais estaria desprotegida dessa forma. E então eu tracei um
plano, agora bastava executá-lo.
Gwen, ainda estava no hospital, ela não deixaria Emma, e eu compreendia o
sentimento, então aproveitei a sua presença para pôr as coisas em andamento.
– Eu preciso que você faça as malas – eu disse a ela me sentando ao seu lado
na sala de espera.
– E porquê? – ela me respondeu que o olhar inquisitivo, e com um toque de
raiva no olhar.
– Ele não foi pego ainda, vocês não estão seguras naquele prédio, mas estarão
seguras no meu edifício – eu disse já esperando a negativa dela.
Ela me estudou atentamente durante um tempo, até que se tornou
praticamente desconfortável.
– Gwen? – eu chamei sua atenção.
– Eu estou tentando compreender – ela disse me olhando profundamente – É
que a imagem não se encaixa sabe? Quer dizer, você é o babaca que quebrou
o coração da minha melhor amiga, a quem eu considero uma irmã…
– Não foi bem assim – eu tentei me defender.
Ela balançou a cabeça, me ignorando e continuou a falar.
– Mas você sempre está por perto, quando eu vi os carros parados na rua, em
uma sucessão interminável, eu fiquei curiosa claro, Emma não se deu conta,
afinal, na cabeça dela você a teria descartado, logo porque você estaria
protegendo ela?! Não faz sentido né?!
Eu resolvi permanecer em silêncio, já que negar seria perda de tempo.
– E então, hoje, você traz um neurocirurgião de Mayo, em tempo recorde, o
que envolve muito dinheiro, e provavelmente uma alta dose de
convencimento, e então você fica aqui, e nos raros momentos que eu pude
prestar atenção porquê estava preocupada, estava lá, em todo o seu rosto, você
estava tão ou mais preocupado que eu! E isso definitivamente não parece ser
alguém que não se importa, não é?
Acenei com a cabeça em concordância, tanto quanto, porque já não
importava, tanto quanto porque tudo o que ela tinha falado até então, era a
mais absoluta verdade…
– Então eu só posso presumir, que existe muita mais coisa, que você não está
dizendo, e que provavelmente não disse a ela também…
– Eu queria que ela estivesse a salvo – eu disse as palavras como se elas
estivessem sendo arrancadas de mim – Hoje eu percebi que efetivamente não
funcionou da maneira que eu pensava, então estou mudando os planos.
Ela assentiu como se absorvesse as minhas palavras.
– Você quebrou o coração dela…
Gwen me disse com uma nota de tristeza na voz, e antes que eu abrisse a boca
para me defender, ela complementou.
– Eu não estou te acusando, não dessa vez pelo menos, apesar de ter te rogado
bastante pragas nos três últimos meses, agora é só uma constatação – ela disse
tentando se explicar –Sei que já te disse isso, mas Emma, quem ela é – então
ela deu uma pausa, como se procurasse as palavras certas – Ela achava que
não merecia você, não que você fosse digno de lamber o chão que ela pisava,
e eu sei disso e você também, mas ela não via assim, então quando você foi
embora, quebrou uma coisa fundamental, a confiança dela, e acredite quando
eu digo que você vai ter que ser nada menos que o príncipe encantando para
mudar isso.
– Eu cometi muitos erros, Gwen, e vou corrigi-los.

Ela me olhou atentamente por alguns segundos, como se avaliasse a


veracidade das minhas intenções.
– Ok – ela disse então.
– Ok? Isso quer dizer que você acredita em mim?
– Bom na verdade era Ok, eu aceito me mudar provisoriamente, enquanto
esse assunto se resolve.
Eu não consegui esconder a expressão de espanto no meu rosto, Gwen, era
bem, Gwen, e em todas as poucas vezes que nos encontramos, ela se mostrou
claramente protetora e leal a Emma, e em suas próprias palavras eu era o
“babaca que quebrou o coração da sua melhor amiga”, então a sua
concordância, tão rápida com o meu plano, honestamente me espantou.
Mas tanto quanto eu era metódico, eu era também prático, e no momento não
iria me preocupar com os motivos por traz da decisão, iria focar no fato, de
que até o momento, meu plano estava se encaminhando bem. Faltava Emma
concordar, e tive a impressão que dessa vez não seria tão fácil, quanto foi a
aquiescência de Gwen.

Após a nossa trégua declarada, voltamos a ter um pequena discussão sobre
quem ia passar a noite, eu não iria a lugar algum, e Gwen, deve ter visto isso
claro na minha expressão porque após alguns argumentos iniciais, ela
desistiu, para além disso eu argumentei que ela deveria ir ver Lila, e preparar
as malas, eu não queria esperar nem um só minuto, e Emma estaria saindo do
hospital direto para o meu apartamento, e eu já havia compreendido a essa
altura, que elas eram família, e por assim dizer formavam um pacote.
Emma estava sendo movida para o quarto, enquanto eu esperava o
procedimento ser completado, resolvi algumas coisas por telefone, Alex já
havia recebido alta, e estava em casa, Zhenya estava com ele e iria garantir
que ele não cometesse nenhum excesso. Fedir havia sido encontrado em Nova
Jersey, mesmo sendo só um soldado na hierarquia da máfia ucraniana, ele não
levou muito tempo para perceber que estava sendo caçado, e principalmente
quem o estava caçando, ele estava nas docas, se escondendo como o rato que
era, na esperança de deixar os Estados Unidos, e fugir da minha ira, o que ele
não contava, é que minha raiva queima de forma fria, e eu jamais perco a
objetividade quando é do meu interesse, eu queria Fedir morto, então assim
seria. Não sentir a necessidade de estar presente, ou assumir a tarefa
pessoalmente, Fedir era um peixe pequeno, que morreria para mandar um
recado, ninguém encosta na minha família sem pagar por isso, simples assim.
Eu estaria aqui, ao lado de Emma, qualquer outro cenário era inconcebível
para mim!

Emma
Eu acordei sem saber onde estava, a minha noção de realidade completamente
bagunçada, parecia que eu havia dormido um longo tempo, mas eu não sabia
precisar quanto, a minha memória se acendeu, com a lembrança de ter estado
na sala de recuperação cirúrgica, e agora olhando ao redor reconheci o local
como um dos quartos privados do hospital, um peso morno encostado a minha
cintura chamou a minha atenção, e um primeiro momento pensei que seria
Gwen, exausta da dupla jornada, e tendo que me fazer companhia, mas os
cabelos pretos e fartos me disseram que obviamente não poderia ser, e mesmo
o rosto estando escondido na curva do braço, eu sabia que era Mikhail, meu
coração doeu um pouco quando as lembranças me bateram, eu só não sabia o
que ele estava fazendo ali, velando o meu leito. E quando essa sensação de
carinho começou a envolver o meu coração como um manto quente
reacendendo uma esperança que ainda estava guardada bem lá no fundo, me
forcei a parar, deveria haver um bom motivo pela presença dele ali, pena
talvez, eu deveria segurar os meus tolos sonhos românticos, antes de quebrar
a cara novamente, e dessa vez não sabia se poderia me recuperar, então me
foquei nos fatos, ele estava aqui, por alguma razão que eu ainda desconhecia,
mas não iria fazer um grande drama sobre isso.
Minhas conjecturas foram interrompidas quando, Megan, a enfermeira do
andar entrou, seu olhar recheado de severidade foi direto para a forma
adormecida de Mikhail, eu balancei a minha cabeça em negação.
Quando ela se aproximou da cama, para trocar o soro sussurrou para mim.
– Ele não deveria estar apoiado na cama.
– Eu sei – eu disse também sussurrando tentando contemporizar – Mas para
estar aqui desse jeito, tenho certeza que ele está exausto.
Ela me olhou com severidade, que eu sabia ser mais fingida que verdadeira, e
então me disse.
– Bom ver que você passou a noite bem, seu café está vindo, e imagino que o
dele também – ela olhou para ele por alguns segundos – Pode até ser contra o
protocolo, mas é bonito ver a dedicação do seu noivo com você!
Antes que eu me recuperasse do impacto das suas palavras, ela pegou o
prontuário e saiu, eu sabia que ela tinha mais pacientes para ver, e no
momento estava chocada demais, até para questiona-la sobre o significado das
suas palavras. Meu noivo? Porque achavam que Mikhail era o meu noivo?
Antes que eu me debruçasse filosoficamente sobre a questão, uma das
assistentes do andar entrou empurrando o carrinho, e tanto quando Meg, havia
entrando calmamente com seus sapatos emborrachados, a assistente que
servia as refeições não teve o mesmo cuidado.
Mikhail acordou, seu rosto denotava a expressão sonolenta, e ele piscou meio
confuso tentando se orientar, e quando olhou para mim, seus olhos de
aqueceram, eu disse a mim mesma que era efeito da luz, e que eu deveria
deixar de ser boba e fantasiar sobre coisas que não iam acontecer, mas ainda
assim, com um simples olhar, meu coração de aqueceu.
– Oi – ele me disse com sua voz rouca de sono interrompido.
– Oi – eu respondi corando como uma colegial.
– Bom ver você acordada – ele disse, com um sorriso de canto de boca.
– Bom estar acordada – eu respondi, sentido minhas bochechas esquentando.
Fomos interrompidos pela assistente, que estava posicionando a mesa de
apoio para que eu pudesse comer.
Ele se inclinou na lateral da cama, para ajeitar o posição no controle, a
inclinação da cabeceira, enquanto era erguida, acabou deixando nossos rostos
próximos, e eu tive que fazer um grande esforço para não levar a minha mão
ao seu rosto e tirar o cabelo que estava caindo na sua fronte, tive que repetir a
mim mesma, que seria um gesto bem estranho para semi-desconhecidos, o
que efetivamente nós éramos no momento, mas devo admitir que por um
momento, o gesto em si pareceu tão natural que me assustou.
Ele agradeceu a assistente, e serviu ele mesmo a bandeja, para ele mesmo, só
um café.
Devo admitir que o cheiro me fez dar um suspiro audível.
Ele não conseguiu esconder o sorriso.
– Ora, ora, o que não é um dia após o outro – ele disse com um certo deboche
na voz.
– Eu não posso evitar sentir vontade, o que não quer dizer que vou
desobedecer às recomendações médicas – eu disse a ele brincando com a
colher, no meu iogurte com gosto de nada.
– Eu sou uma pessoa gentil Emma, não iria absolutamente te torturar, se você
quiser é só pedir – ele disse sorrindo como o gato de Cheshire.
Minha mente evocou uma série de torturas que eu particularmente queria
muito pedir e que não tinha nada a ver com o café que ele bebia, e eu me
obriguei a respirar fundo, e tomar uma grande colherada do meu iogurte com
gosto de nada.
– Não obrigada, tem coisas que deve se evitar comer nesses casos – e então
corei novamente pelo significado dúbio das minhas palavras.
O sorriso de canto de lábios que ele deu, me deu a certeza que ele
compreendeu também.
Comemos praticamente em silêncio, minha inveja profunda do café que ele
estava bebendo, ocupou o espaço na minha mente, de tal forma, que eu
esqueci, de questionar qualquer coisa.
Era confortável, estar ali, com ele, era como se encaixasse, parecia certo, o
sentimento de estranheza e falta de afinidade não existia, e claro isso me
deixava ainda mais confusa! Como poderia ser conhecer uma pessoa de forma
tão profunda, como você nunca conheceu ninguém antes, e acabar da forma
que acabou? E fora que, se eu fosse parar para racionalizar as coisas, logo me
perguntaria porque o meu ex, que me deu um pé na bunda colossal, estava
fazendo ali, e porque eu em vez de questionar sua presença, estava ali,
quietinha comendo meu iogurte com gosto de nada, e mantendo o clima
harmonioso? Me chutei mentalmente mais uma vez, para não procurar
significados onde não havia nenhum! Talvez solidariedade explicasse a
presença dele ali, ou talvez um favor forçado pela ação do destino, não
importava, não iria queimar fosfato imaginando as razões pelas quais, Mikhail
era quem permaneceu comigo a noite, e porque a equipe achava que ele era
meu noivo!

Mikhail
Senti o meu celular tocar em meu bolso, o toque, programado especificamente
para ser de algum dos meus homens.
Atendi no terceiro toque.
– Está feito – a voz do outro lado que eu sabia pertencer o Igor disse de forma
concisa.
– Bom – eu respondi da mesma forma, e então encerrei a chamada.
Emma estava concentrada em um pãozinho sem graça de forma tão atenta,
que sabia que ela estava tentando me fornecer alguma privacidade.
Eu estava exausto, não só pelo dia inteiro que eu passei em estado de total
tensão, esperando que nada grave tivesse acontecido a ela, mas pelos dias
anteriores, havia dormido apoiado na cama dela, e a única explicação
plausível era exaustão, meu celular apitou novamente, um sms, que me
informava que Gwen estava a caminho. Era uma janela de tempo que surgia,
eu poderia ir em casa tomar um banho e me trocar, e eu só estava disposto a
sair dali por duas razões principais, a primeira é que eu realmente estava
precisando de um banho, e a segunda é que no momento que Gwen chegasse,
elas iriam querer conversar, e isso provavelmente não envolvia a minha
presença.

– Emma – eu chamei sua atenção sobre a televisão, que parecia passar um
desenho sobre uma esponja amarela – Eu tenho que ir, Gwen está chegando
para te fazer companhia.
E antes que eu completasse a sentença dizendo que voltaria logo, ela me
interrompeu.
– Claro, você tem mais o que fazer – ela disse sorrindo de forma brilhante e
totalmente forçada, e sem conseguir evitar que seus olhos refletissem um
pouco de tristeza.
E tanto quanto eu estava puto por ela achar que tinha sido um incomodo ficar
ali, sem saber que eu provavelmente teria duelado com Gwen pelo privilégio,
se não a tivesse convencido com bons argumentos sólidos, eu segurei meu
temperamento, porque a tristeza que ela não conseguiu esconder, me deu uma
esperança absurda, de que tudo ficaria bem, eu iria garantir isso.
Uma enfermeira voltou a entrar no quarto, carregando uma bolsa de soro na
mão, e então começou a realizar os seus procedimentos. Foi a minha deixa
para sair, peguei as mãos de Emma entre as minhas e disse a ela:
– Eu vou voltar assim que possível.
– Claro – ela respondeu com um sorriso diplomático, de quem absolutamente
acreditava que eu nunca voltaria.
Eu exercitei a paciência, Emma perceberia cedo ou tarde que eu não estava
indo a lugar algum, pelo menos não sem levar ela comigo. Mas isso eu
resolveria depois, não queria assusta-la com um comportamento possessivo,
antes que ela estivesse pronta para isso!
– Até logo, Emma – acenei com a cabeça em direção a enfermeira, e então fui
em direção ao corredor.
Ainda tinha que interceptar Gwen, e garantir, que apesar de sua concordância
inicial, ela não tinha mudado de ideia desde então, eu precisava de toda a
ajuda que pudesse conseguir.


Emma
Poucos minutos depois de Mikhail ir embora, Gwen entrou pela porta
saracoteando, e parecendo muito feliz consigo mesma, seja por sei lá qual
razão.
– Olá estranha – ela disse se sentando na beirada da minha cama – Bom ver
que vaso ruim não quebra… – ela completou, engasgando com as últimas
palavras, e seus olhos enchendo de água.
– Eu estou bem Gwen, como você mesmo disse, vaso ruim não quebra com
facilidade – minhas palavras falhando, e meus olhos também enchendo de
água.
Ficamos assim por alguns instantes, não éramos leigas para não saber que eu
corri um sério risco de morte, e estar bem era um milagre ou algo bem
próximo disso.
– Acho que vou ter que subir uma escadaria de igreja de joelhos, ou fazer uma
romaria ou algo do tipo para agradecer, pelo que interroguei a Meg, foi
mesmo um milagre – eu disse a ela, esperando que ela fosse concordar.
– Bom podemos ver se existe algum São Mikhail, não sou religiosa, mas nada
que o Google não resolva – ela disse com um sorriso contido.
– Mikhail? Gwen o que Mikhail tem a ver com isso? Ele estava aqui, mas
pensei que fosse um favor aleatório porque Alex também está no hospital… –
eu disse completamente confusa.
– Bom, ele foi o efetivo responsável por basicamente, salvar a sua vida – ela
disse e então deu uma pausa dramática para que pudesse absorver a notícia.
– Gwen, não me deixe morrer de curiosidade! Me conta tudo! – eu implorei,
a confusão na minha cabeça aumentando.
– Ele trouxe o Colbert de Mayo, como ele fez isso? Eu ignoro, talvez
dinheiro, ou persuasão, talvez dinheiro ou persuasão, talvez só persuasão,
mas fato é que logo em seguida após você ser levada para os exames, Colbert
entrou pela porta e assumiu o caso! Simples assim – Ela disse parecendo tão
chocada quanto eu estava.
Milles Colbert, era um Deus, pelo menos era assim que ele era conhecido no
meio cirúrgico, se você precisasse de uma neurocirurgia, ele era o cara que
você iria querer com o bisturi nas mãos, mas era fato que, Colbert era o
cirurgião mais requisitado da Costa Leste, talvez do país, logo ele assumir um
caso relativamente insignificante como o meu? Bom talvez Gwen tivesse
razão, altas doses de dinheiro, ou altas doses de persuasão, ou ambas, e
considerando o ramo de trabalho de Mikhail, eu apostaria em persuasão.
– Bom, talvez ele tenha se sentido generoso, em ajudar, como ele faria por
qualquer um – eu disse tentando encontrar um motivo lógico.
– Quão forte você bateu a cabeça? – Gwen me perguntou com ar de quem
estava realmente falando sério.
– Gwen, eu devo te lembrar, que ele foi o cara que foi embora e partiu o meu
coração! Você lembra dessa parte? Logo ele dispensou um dinheiro que podia
para ajudar alguém que precisava, uma coincidência, estar no lugar certo e na
hora certa, não vou tirar um grande significado disso – eu disse mantendo a
minha posição.
– Ok – ela contemporizou – Não vou julgar sua conclusão, de certa forma foi
o que eu conclui inicialmente também, mas eu estava lá Emm, na sala de
espera, junto com ele, sem saber notícias, e acredite em mim, ele se
importava, no início pensei que fosse culpa ou algo do tipo, mas depois, era
mais que isso, eu não sei o que fez ele ser um babaca completo antes, mas
sério alguma coisa aconteceu, tenho certeza.
Permaneci em silêncio por alguns segundos, a pontinha de esperança de
acendendo no meu peito mesmo que eu lutasse contra isso, a esperança de
pensar que eu não estava louca, que o que eu senti, e ainda sentia, não podia
ser completamente unilateral, que a conexão de alguma forma era real.
– Ainda pode ter sido generosidade sabe? Não vamos procurar significados
profundos sobre isso – eu disse tentando encerrar o assunto, e fechar o meu
coração.
– Eu o vi Emm, naquela sala de espera, e sinceramente sorte do Dr. Colbert
que tudo deu certo, não sei se ele aceitaria outro resultado, e além disso, eu
pretendia passar a noite aqui com você, e acredite ele me desiludiu com o
olhar, sinceramente, por um momento achei que ele fosse me sequestrar pra
garantir que seria ele a ficar com você durante a noite.
As palavras de Gwen me deixaram em silencio, tanto quanto porque não sabia
o que dizer, tanto quanto eu não poderia mais sufocar a esperança que crescia
no meu peito, mas isso eu não resolveria agora, era uma conversa que eu teria
que ter com Mikhail, sendo assim, o que não tinha remédio, remediado
estava, então me lembrei de um assunto importante.
– Como ela está, Gwen?
– Quem? – ela me respondeu parecendo muito confusa.
– A Sra. Wasylyk, a última coisa que eu me lembro é do marido tentando
agredi-la.
– E você se colocou no meio, muito pouco inteligente da sua parte se você
quer saber a minha opinião Emm. – Gwen disse, e claramente pela sua
expressão, ela quis dizer cada palavra.
– Ela era minha paciente, e uma vítima de abuso Gwen, o que suposto eu
deveria fazer? – eu disse defendendo minha posição, mesmo que no fundo eu
concordasse um pouco com ela.
– Chamasse a segurança por exemplo? – ela disse pingando ironia.
– Foi o que eu fiz, mas não foi suficiente, não é? – eu disse retribuindo.
– Sim e não na verdade, não te impediu de ser machucada, mas impediu que
ele a levasse – ela disse contemporizando.
Eu mentalmente, fiz uma prece de agradecimento, pela vida de uma mulher
abusada, e por mim, que tinha tido muita sorte de não ter me ferido
gravemente.
– Ela está bem? – eu voltei a perguntar
– Na medida do possível, você sabe como é! O serviço social veio, ela foi
operada pelo ortopedista ontem, e está se recuperando bem fisicamente,
psicologicamente é que vai ser mais complicado, vai ser um longo caminho
para ela, para se convencer que não tinha culpa, e se recuperar de anos de
abuso, isso vai levar um tempo, mas agora ela tem ajuda, e isso é o que
importa.
Assenti em concordância, seria um longo caminho para ela, feridas físicas se
curam e cicatrizam eventualmente, as emocionais eram muito mais
complicadas, não era simples para uma vítima sair de uma situação assim, e
quando eventualmente elas se libertavam, ou eram libertadas, tinha que lidar
com os traumas emocionais decorrentes do abuso, fiquei feliz por ela estar
finalmente recebendo ajuda especializada, levaria um tempo, mas ela ficaria
bem, eu tinha certeza disso, o que quer que o monstro tinha feito a ela todos
esses anos, não tinha quebrado seu espirito, havia nela uma centelha, e era
isso que levaria ela um dia a se libertar do passado, e eu tinha certeza que ela
conseguiria.
Conversamos por mais algum tempo, Gwen estava de folga hoje, e me fez
companhia, mas em pouco tempo, começou um desfile de funcionários do
hospital, afinal eu tinha passado os últimos anos praticamente morando dentro
do hospital, e nós todos formávamos de certa forma, uma”familia” meio torta.
O carinho deles me emocionou, eram pessoas com quem eu convivia
diariamente, e apesar de nossas relações geralmente serem restritas ao
trabalho, até porque minha vida social era inexistente, a preocupação deles e
o carinho que me dispensaram, fez meus olhos encherem d’agua, Gwen me
olhou divertida, ela sempre dizia que eu era uma manteiga derretida, e ali,
com os olhos rasos d’agua, eu não podia evitar concordar com ela.














Chapter 9 – Aceitação
Mikhail
Fedir Wasylyk era nesse momento história, ou melhor, ele havia
definitivamente sido apagado da história, se me permitem o trocadilho, não
acompanhei pessoalmente sua execução, por estar no hospital com Emma e
nem precisei acompanhar, sabia que Igor havia cuidado de tudo, e não havia
nada que pudesse ser “encontrado” mais. Emma estava segura, segundos os
últimos boletins médicos ela poderia receber alta pela manhã, mais era mais
uma precaução do que realmente necessidade. O apartamento abaixo do meu
estava sendo preparado para Gwen e Lila, mas não para Emma, ela ficaria
aqui, comigo, onde eu deveria ter a mantido desde sempre, mas se tinha
alguma coisa em que eu era realmente bom era aprender com os meus erros, e
acredite ver Emma ferida sem ter a certeza de que ela ficaria bem havia me
ensinado uma lição, e eu estava indo corrigir as coisas! A mudança seria
trazida hoje à noite, e uma equipe estava a postos para ajudar na organização,
o apartamento estava mobiliado e funcional, sendo assim não seria um
problema para ela se mudar tão em cima da hora, eu iria para o hospital ver
Emma, mas Gwen iria passar a noite com ela, Lila iria ficar com a vizinha
essa noite já que mesmo que o apartamento estivesse em condições de uso, a
bagunça da movimentação impediria que elas tivessem uma noite tranquila,
logo, e quanto a mim, mesmo que eu quisesse passar a noite com Emma, por
hora iria ceder, desistir de uma batalha, mas ganhar a guerra, parecia uma boa
troca a eu ver.
Enquanto estava em casa, aproveitei para resolver algumas pendencias, liguei
para Kostyantyn, para agradecer a sua colaboração, ainda existia cortesia
básica nesse mundo, se é que era possível acreditar, e laços com a máfia
ucraniana eram fundamentais para manter a paz, já tínhamos problemas com
os carteis, e os malditos italianos, certamente não precisávamos de mais
inimigos.
Era uma sensação estranha, como se uma paz se abatesse sobre mim após
meses de absoluta miséria, disse a mim mesmo, que ela não estaria mais
protegida longe de mim, e que o episódio do dia anterior havia provado isso,
eu não era ignorante do perigo que me rodeava, e que seria transferido para
aula por associação, ela seria considerada o meu ponto fraco, o meu
“calcanhar de Aquiles”, e tentariam atingi-la para chegar a mim, logo eu
havia me preparado para isso, a segurança havia sido reforçada, a equipe que
eu mantinha no hospital, praticamente iria dobrar, eu sabia que convencer
Emma a abandonar sua vida, e suas atividades estava fora de cogitação, e
tanto quanto eu valorizo a segurança dela em primeiro lugar, sei o quanto ela
se dedicou para chegar onde chegou, e não posso, e nem vou tirar isso dela. E
também não vou permitir que o que ocorreu, ocorra novamente, Emma jamais
estaria em perigo novamente, não daquela forma, não por um descuido, ela
estaria segura, tão segura quanto eu poderia mantê-la dentro das
possibilidades.

Emma
Era estranho estar do outro lado da equação, fui uma médica pelos últimos
quatro anos de residência cirúrgica, mas não fui uma paciente, desde a
adolescência quando precisei retirar a amigdalas, e cujas lembranças eram
enevoadas, somado a essa sensação tinha o fato que eu estava no meu local de
trabalho, no qual havia sofrido um incidente no dia anterior, e basicamente
todos ali se sentia solidários comigo, o que não era uma coisa ruim, mas estar
no foco das atenções nunca foi muito a minha coisa, e por causa do que
aconteceu eu estava no olho do furacão, mesmo as pessoas com quem eu
nunca tive absoluto nenhum contanto, passavam para me ver e me
parabenizar pela atitude, como se eu tivesse feito algo realmente importante,
mas aprendi que suscitar essa informação as visitas, soava como falsa
modéstia, quando absolutamente não era a minha intenção, realmente não
considerava ter feito nada demais ao me colocar em frente a paciente que
estava ferida, e prestes a ser agredida novamente, para o meu azar em vez de
impedir a agressão, eu só a tomei no lugar dela, mas pensando sobre o
acontecido de maneira positiva, eu estava bem, minha paciente estava
recebendo tratamento, e o agressor estava sendo procurado pela polícia!
Gwen passaria a noite comigo, eu insisti que não era necessário, mas ela calou
minhas negativas com logica.
Minha cabeça estava pesada, mas tinha certeza que tinha mais a ver com a
medicação do que qualquer outra coisa, a cirurgia havia sido um sucesso, e a
abordagem conservadora permitiu que o coagulo fosse drenado através de um
pequeno furo, e exceto por uma pequena área na parte interna dos cabelos que
havia sido raspada, meus cabelos estavam intactos, parecia uma coisa meio
idiota para me preocupar em face do perigo pela qual eu passei, mas vamos
lá, eu tinha um resquício de vaidade em mim, então sim, uma parte de mim
estava aliviada que eles não precisaram raspar meu cabelo.
Gwen terminou o plantão, e veio para o quarto, eu sabia que a médica dentro
dela ia passar a noite me monitorando, em vez de ter uma boa noite no sono
na cama auxiliar, ela se sentaria na cadeira, e teria cochilos leves, e estaria
acordando de hora em hora para verificar os monitores, uma parte de mim
queria discutir e convence-la a ir para casa e ter uma boa noite de sono, mas
eu sabia que se a situação fosse inversa eu também estaria aqui, fazendo a
mesma coisa. Então basicamente, ficaríamos maratonando Gilmore Girls, até
o sono chegar, e foi justamente o que fizemos, as aventuras e desventuras de
Lorelai e Rory, foram uma eficiente forma de distração como sempre.






Chapter 10 – Proteção
Mikhail
Eu tinha perdido a discussão com Gwenevere sobre quem passaria a noite no
hospital com Emma, mas de jeito nenhum haveria algum argumento sobre
quem estaria indo busca-la e traze-la para casa. Até porque eu sabia que
apesar de Gwen estar afastada por motivo de saúde, Gwen, tinha horário a
cumprir. E eu precisava conversar com Emma sozinho, eu sabia que Gwen
estava me oferecendo algum apoio, mas ela já havia deixado mais que claro,
que Emma era a sua família, logo pude concluir que ela definitivamente não
havia esquecido o que eu tinha feito, e definitivamente ao mínimo sinal, ela
estaria contra mim! De um jeito estranho e louco eu admirava isso nela, eu
sabia que a prioridade dela estava em proteger a Emma, e tínhamos esse
objetivo em comum, eu só definitivamente não iria protege-la a distância, não
mais, isso não funcionou bem para nenhum de nós.
Quando Emma sofreu o ataque, ao saber do ocorrido, me identifiquei como
seu noivo, mesmo com o raciocínio embotado pelo pânico, eu não aceitava
qualquer outro resultado que não fosse ela ficar bem, logo a minha mente
associou que se eu quisesse acesso, e principalmente o poder de decidir
alguma coisa, eu necessitava ser alguém do círculo íntimo familiar, um
namorado não tinha o mesmo peso de um noivo, e um marido iria requerer
provas, logo havia decidido por me apresentar como o noivo dela,
misteriosamente mesmo Gwen, me pegando em flagrante mentira, ela
manteve o silêncio e compactuou com a minha mentira. Eu esperava que não
fosse uma mentira por muito mais tempo, eu iria recuperar Emma, e tão
rápido quanto possível, a mentira se tornaria realidade.
Enquanto eu andava pelo corredor do hospital, eu me sentia observado, tinha
certeza que a notícia que Emma era minha noiva, já havia se espalhado, e até
onde eu sabia, a única que ignorava isso, era ela. Antes de chegar mandei uma
mensagem para Gwen, eu precisava saber o que ela havia dito a Emma, e
como remediar o dano que essa “conversa” poderia ter causado.
Esperei no corredor de trauma, que era onde ela estaria dando plantão de
acordo com as minhas informações.
– Mikhail
Quando me virei Gwen, me olhava placidamente, placidamente demais para o
estilo dela se você me perguntasse, seu rosto era uma folha em branco, e não
expressava nenhuma emoção que fosse identificável, o que me deixava na
merda, falar com Gwen no que se referia a Emma, era jogar xadrez com
alguém talentoso, a expressão nunca traia os seus próximos movimentos, e
tanto quanto ler as emoções das pessoas era um dos meus talentos, ela não me
dava nada, ao olhar completamente inexpressiva e exteriormente muito calma.
– Gwenevere! – Eu respondi ao seu cumprimento.
– Emma já teve alta?
– Eu ainda não fui até o quarto – e então dei uma pausa, esperando alguma
reação da parte dela, e nada, a expressão permanecia estoica – Queria
conversar com você primeiro.
Então obtive alguma reação, o olhar de suspeita cresceu.
– Eu estou ouvindo – ela disse simplesmente.
Resolvi dar voltas no assunto, sabia que uma abordagem direta não iria
funcionar com Gwen.
– Como ela passou a noite?
– Bem, Miles Colbert realmente merece o quanto ele cobra, ou o quanto você
pagou! A cirurgia foi um sucesso, ela ainda está se recuperando, mas
essencialmente é o efeito da anestesia.
– Vocês conversaram?
E lá estava o sorriso do gato de Chesire, dar voltas no assunto aparentemente
não funcionava com Gwen.
– Sim conversamos, sobre várias coisas inclusive – então o seu sorriso se
alargou – Mas se você está sonhando que eu disse a ela que nós nos
mudamos, pode parar! Estou te dando o benefício da dúvida, mas certamente
não vou fazer o trabalho duro por você!
– Eu não quero que você faça o trabalho duro por mim! – Eu respondi a ela –
Mas eu considerei que a notícia poderia parecer menos chocante de viesse de
você.
– Provavelmente você tem alguma razão! Mas honestamente, eu quero você
ver você se arrastar, porque você certamente merece ter que se arrastar!
– E o que aconteceu com a trégua que nos firmamos?
– Essa é minha versão de uma trégua Mikhail, nem queira descobrir a minha
versão de guerra.
Qualquer coisa que eu fosse dizer foi interrompida por um bipe.
– Merda! – Ela disse olhando o pager. – Olha eu adoraria, ficar aqui
brincando de gato e rato, mas o dever chama! – Então ela olhou nos meus
olhos com atenção, e toda o divertimento anterior tinha ido embora – Ela está
magoada, mas em vez de chutar as suas bolas como eu faria, ela vai ser cortês
e educada, mas o sorriso não vai chegar até os olhos, essa sua versão de bom
samaritano confunde a cabeça dela, então seja lá o que você for dizer a ela,
diga com calma, dê a ela algum espaço, para poder voltar a confiar em você!
Recolhe esse olhar de “Você Jane, Eu Tarzan” que você tem no rosto ao olhar
para ela, pelo menos por enquanto. – Ela com certeza poderia continuar
indefinidamente pelo que eu a conhecia, mas então, o sistema de áudio de
hospital “Doutora Smith, por favor reporte-se a emergência código azul”.
– Devagar e com calma Mikhail, eu estou falando sério – Ela disse, enquanto
se virava e corria, sem ao menos me dar a chance de responder.
Devagar e com calma, uma ova! Eu disse a mim mesmo, não existia a
possibilidade que eu deixaria Emma se afastar de mim.
Eu sabia que o quê, Gwen tinha me dito, tinha sentido, eu mesmo tinha visto a
versão polida e educada da Emma quando nos encontramos no corredor, eu
sabia que não seriam simples palavras que iriam consertar o que eu havia
quebrado, mas eu tinha um objetivo em mente, e levar as coisas devagar
nunca foram o meu estilo. Meu temperamento se arrefeceu quando eu tinha
chegado ao quarto em que ela estava, e aparentemente, muitas pessoas
tiveram a ideia ao mesmo tempo, já que o lugar estava lotado.
No canto do quarto, em cima de uma bancada havia uma pilha de presentes, e
vários arranjos de flores espalhados por todo o quarto, considerei uma boa
coisa que a equipe de segurança estava em peso aqui, já que aparentemente a
bagagem que iriamos levar, considerando a quantidade de presentes seriam
extensas.
Quando a minha presença foi notada, foi interessante e engraçado ver o
silencio que tomou conta do ambiente, uma a uma, as pessoas foram
cutucando umas às outras para anunciar a minha presença, e então em vez das
conversas e do barulho que estavam presentes na minha chegada, o silencio
total agora dominava o ambiente. Não era necessariamente desconfortável,
apesar que ao me sentir analisado por cerca de dez pares de olhos, era um
tanto estranho, mas o único olhar que me importava era o dela.
Uma mulher afro americana de meia idade, percebendo que a curiosidade de
todos já beirava a má educação dispersou o grupo.
– Vamos lá! Já visitamos Emma, e demonstramos a nossa alegria por vê-la
recuperada! Vamos dar privacidade a ela e ao noivo! Além do quê, temos
trabalho a fazer! Todos para fora, vamos!
A sua voz continha autoridade, apesar de não ter elevado o tom, foi
prontamente obedecida por todos. O que eu não pude evitar perceber é que a
menção do nosso “noivado”, Emma não pareceu irritada, ou confusa, e sim
envergonhada.
Quando todos já haviam deixado o quarto eu me aproximei da cama, seu rosto
continuava corado, e então ela disse:
– Eu não sei de ondes eles tiraram a informação que somos noivos, mas
aparentemente todos pensam isso, me desculpe se isso te embaraçou…
E diante do que seriam um rosário de desculpas desnecessárias eu a
interrompi.
– Eu disse a eles que éramos noivos.
– Porquê? – ela me perguntou agora completamente chocada.
– Porque a política do hospital tende a proteger as informações médicas dos
pacientes, ao não ser que exista uma relação…
Então ela foi na vez dela me interromper.
– Claro, eu ainda não tive a oportunidade de te agradecer, Gwen me disse que
você foi o responsável por trazer Colbert, e eu estou realmente grata por isso,
de verdade.
– Emma, dizer que éramos noivos foi conveniente no momento, mas eu não o
fiz exclusivamente por conveniência.
– Não? – Ela perguntou parecendo ainda mais confusa que antes.
– Definitivamente não! É quase como um prólogo futuro ou algo assim, é o
que eu espero que aconteça muito em breve para falar a verdade… – eu disse
a ela deixando claro as minhas atenções. Seu rosto dançou com inúmeras
expressões em alguns segundos, choque, incredulidade, desconfiança,
esperança? Sabia que ela teria um monte de perguntas, mas quaisquer duvidas
que ela tivesse, teriam que esperar, um médico entrou acompanhado de uma
equipe. Emma teria alta.
Eu queria ajudá-la a se trocar, mas a enfermeira se adiantou, e eu não iria
discutir por uma bobagem.
Após a avaliação clínica, ela foi liberada, não havia nenhum sinal de sequela,
ou complicações, ela teria que continuar tomando alguns medicamentos, mas
considerado a gravidade do caso, sua recuperação tinha sido praticamente eu
milagre, eu não era o tipo de cara que recebia milagres divinos, mas ainda
assim fiz uma prece em agradecimento, porque se milagres existissem, esse
certamente teria sido um, e apesar de eu não ser merecedor, ela com certeza
era.
Finalmente ela estava pronta, pensei se esse seria o momento de dizer a ela
que eu basicamente tinha modificado toda a dinâmica da vida dela sem
autorização, mas algo me parou, público talvez, se ela fosse ter o ataque que
eu estava prevendo, eu preferia que essa discussão fosse privada, e não que
tivesse basicamente todo o hospital como testemunha.
Seu olhar me dizia, que as dúvidas só haviam crescido no meio tempo, mas
privacidade não era algo que tínhamos acesso no momento, então a conversa
teria que esperar.
A regra do hospital dizia que ela deveria ser levada em uma cadeira de rodas
até a entrada do hospital, então perdi a minha oportunidade de apoia-la por
todo o caminho. Peguei a mala, que continha algumas peças de roupas, e
cosméticos, cortesia de Gwen, e fomos em direção aos elevadores. Meus
homens seriam responsáveis por recolher os arranjos de flores e os presentes
que ficaram para trás. Até porque eu iria querer ver com muita calma, cada
um dos cartões que ela tinha recebido, e se o idiota engomadinho que eu tinha
visto no outro dia tivesse mandado algo, provavelmente se “perderia” na
mudança.
Bóris estava esperando na entrada, e abriu a porta traseira assim que nós
passamos pela porta, o grupo de seguranças avançou em nossa direção e eu
passei a mala a um deles, e então estendi a mão para ajudar Emma a se
levantar da cadeira de rodas e entrar no carro, depois de acomoda-la, dei a
volta e sentei ao seu lado, estávamos prontos para ir.
Emma estava sonolenta, a medicação, associada a rotina do hospital devia
estar chutando a sua bunda.
– Se apoie em mim
Ela focou a visão em mim, os olhos enevoados.
– Eu estou bem.
– Emma… – Eu insisti.
E então ela encostou a sua cabeça no meu ombro, e eu passei os meus braços
ao redor dela!
Senti seu corpo relaxar junto ao meu, e em questão de minutos ela estava
ressonando. Seus cabelos ao alcance do meu nariz, Deus! O cheiro dela,
estava presente, e eu me dei conta o quanto eu senti falta dela perto de mim,
dessa forma nos últimos meses. Senti-la nos meus braços, ao meu alcance era
perfeição! Simples assim, renovava completamente as minhas forças, porque
eu sabia que o que viria pela frente não seria nada simples em tudo.

Emma
Eu acordei quando o carro começou a descer a rampa da garagem, a diferença
significativa na direção e velocidade me despertaram, e claro eu estava
agarrada a ele como um molusco em uma concha.
Eu havia dormido aconchegada a ele com a minha cabeça em seu ombro!
Sério! Dormido! Não tirado um cochilo rápido ou algo assim, eu realmente
havia dormido abraçada a ele, como se os últimos meses não tivessem
acontecido, como se tudo estivesse normal! Eu realmente era estupida ou algo
assim!
O que aconteceu com o meu plano perfeito de ser cortês, e friamente
impessoal? Aparentemente eu tinha uma séria dificuldade de racionalizar o
meu comportamento perto dele, e minha estupidez consistia em continuar a
me sentir assim por um cara que não estava nem aí para mim.
Minha confusão inicial causada em parte pela sonolência, e em parte por eu
estar surtando um pouco, se dissipou quando eu me dei conta de onde
estávamos, e definitivamente estar de volta ao apartamento de Mikhail era o
último lugar do mundo para onde eu imaginei voltar.
O carro parou, na vaga ao lado do elevador, eu parecia estar em um déjà vu,
com a diferença que eu era a paciente dessa vez.
– Mikhail, o que estamos fazendo aqui?
– Conversamos lá em cima Emma.
– Mas não faz… – E ele novamente me interrompeu.
– Lá em cima Emma!
Sua expressão não era de alguém que estava com raiva, ou algo assim, ele
desceu do carro, então deu a volta para me ajudar a descer do carro, e andar
até o elevador, nem que eu quisesse eu poderia ter recusado a ajuda, minhas
pernas pareciam gelatina, e eu não tinha certeza se era efeito do medicamento
ou efeito da simples presença dele, já que ambos tinham o mesmo efeito sobre
mim.
Ele manteve os braços ao meu redor no elevador, eu queria dizer que era
estranho e desconfortável ter o meu ex, me abraçando, mas por favor, vamos
ser honestas, eu estava no Paraiso! Sim eu sei, estupidez para caralho! Mas
tem horas que a gente não consegue evitar deixar que os sentidos não se
sobreponham ao bom senso. E como eu sabia que isso tinha um prazo de
validade, eu iria aproveitar o momento, aproveitar os braços dele ao meu
redor, sua pele me aquecendo, o seu cheiro me consumindo, eu poderia fingir,
fingir por alguns minutos que era real.
Quando chegamos ao apartamento, Alex estava na sala, deitado no sofá, sua
barba por fazer e sua expressão mal-humorada.
– Alex! – Eu o cumprimentei
O sorriso que tomou conta dos seus lábios era sincero
– Doutora! Bom saber que a nossa “sorte” passou para você por osmose ou
algo do tipo.
– Pensei que tínhamos estabelecido que também poderia ser azar!
– Algo do tipo – Ele acenou em concordância.
Zhenya veio da cozinha trazendo uma bandeja com um copo enorme, com
alguma substancia verde desconhecida.
Ela acenou em reconhecimento a nossa presença ali, e se dirigiu diretamente a
Alex.
– Beba – Ela disse em ordem de comando.
E então a expressão mal-humorada estava de volta ao rosto de Alex, e eu
compreendi totalmente. Ele resmungou baixinho algo ininteligível, mas a
obedeceu.
Satisfeita com isso, ela virou a sua carga para mim
– Emma, eu não sabia que você estaria aqui, se não também teria trazido para
você! Suco verde tem excelentes propriedades medicinais, fará muito bem a
vocês, mas agora que eu sei vou buscar.
Tentei pensar rapidamente em uma boa desculpa, já que a simples visão do
suco, me deu uma certa ânsia, eu não era exatamente uma pessoa adepta a
vida saudável.
Mikhail que havia permanecido calado enquanto interagíamos, por fim
resolveu interromper.
– Vai ter que ficar para mais tarde Zhenya, eu e Emma temos que conversar, e
não pode ser adiado.
Alex então se adiantou
– E comigo você não tem nada a conversar comigo? Tipo agora, nesse exato
momento.
– Não Alex, não no momento, mais tarde talvez.
Alex estreitou os olhos, mas não disse nada, Zhenya estava presente, e tanto
quanto eu sabia, eles a consideravam praticamente uma mãe, e ele não a
ofenderia a deixando perceber que estava tentando escapar dos seus cuidados.
Mikhail então nos levou até o quarto, no caminho para lá ouvi Alex dizer
baixinho:
– Ele tem um escritório, uma biblioteca, e uma sala de reunião nesse piso,
mas a conversa deles tem que ser no quarto?
Mikhail, apesar de também ter ouvido, ignorou, e por enquanto eu iria ignorar
também.
Uma parte de mim, concordava com a colocação dele, e não entendia o
porquê tínhamos que conversar no quarto, um local tão íntimo que guardava
tantas lembranças.
Quando chegamos até o quarto e Mikhail fechou a porta atrás de nós, conclui
que já estávamos “lá em cima”.
– O que está acontecendo Mikhail, porque estamos aqui?
Ele ficou calado em um primeiro momento, como se pesasse as opções, então
finalmente começou a falar.
– Eu não quero mentir para você.
– Então não minta. – Eu disse a ele
Ele respirou fundo, como se tivesse tomado uma decisão.
– O filho da puta que te atacou, pertencia a máfia ucraniana.
Ele disse então como se cada palavra tivesse sido arrancada dele.
– Meus Deus! – Eu disse completamente chocada, e então comecei a me
levantar e ir em direção a porta. – Eu preciso ir para casa, Gwen, Lila, a Sra.
Goshen, eu preciso tira-las de lá.
Mikhail colocou os seus braços em meus ombros me impedindo de sair.
E então ele suspirou fundo novamente.
– Fedir Wasylyk, o nome do filho da puta era Fedir Wasylyk, e ele é estória
Emma, não vai voltar a incomodar ninguém, nunca mais…
Eu não pude evitar suspirar de alivio, talvez isso me fizesse uma pessoa
terrível, mas se eu tinha compreendido bem, ele estava morto. E a esposa
poderia se recuperar tranquila, seria um longo caminho, mas ela estava livre
dele. O mundo parecia um lugar melhor.
– Sei que parece horrível, mas eu me sinto aliviada – eu disse a ele – Mas se
ele não é problema, porque você me trouxe aqui?
– Quando você foi ferida eu ordenei uma caçada a Fedir Wasylyk,
provavelmente você desconhece como as coisas acontecem nesse mundo, mas
isso foi uma declaração!
– Uma declaração?
– Uma declaração de posse Emma! Quando retaliei de forma rápida e efetiva
foi a mesma coisa que declarar que você era minha!
– Mas, isso…. Mas isso não é verdade, nós não estamos juntos, você foi
embora! – Eu estourei ciente que parecia confusa e desesperada, mas não
poderia evitar.
– Para mim é – ele respondeu simplesmente
– Você me deixou! – eu acusei os meus olhos se enchendo de água – Sem
sequer um adeus, sem se importar! Você não pode me dizer isso, e supor que
eu vou acreditar – eu dei um passo para trás, meus braços entrelaçados na
minha cintura, como se eu estivesse me abraçando em uma tentativa de
consolo.
– Emma…
– Não, não aja como se eu estivesse agindo irracionalmente! VOCÊ ME
DEIXOU!
Eu finalmente me descontrolei e gritei para ele, a outra opção seria explodir
em um choro sofrido que eu não conseguiria parar. Ele parecia derrotado
diante da minha reação, ele se sentou ao pé da cama, já que toda vez que ele
se aproximava eu dava um passo atrás, eu estava no limite, e ele sabia disso.
– Eu fiz, eu te deixei – ele disse me olhando nos olhos – Eu pensei na época
ser a melhor solução, pensei que você estaria mais segura longe de mim,
longe das merdas que fazem parte da minha vida!
Ele disse soando desesperado.
Eu fiquei em silêncio, eu não sabia o que dizer.
– Quando estávamos indo para o seu apartamento aquele dia que eu te
encontrei no supermercado, fomos seguidos! Minha culpa, meu descuido, e
poderia ter acabado mal Emma, você sequer pode imaginar o quão mal
poderia ter acabado se ele tivesse chegado até você!
Minhas defesas foram caindo, mas uma parte de mim ainda estava bastante
ferida.
– Você poderia ter me contando! – eu disse a ele – Mas você não fez, você me
deixou sem uma palavra de despedida, e isso me fez sentir, descartável, acho
que essa é a palavra, sem importância…
– Eu não podia, minhas opções eram limitadas, ou eu te tirava da minha vida
para que você estivesse a salvo, eu te trancava em uma jaula dourada, e isso
iria te matar, ter que desistir de tudo o que você conquistou de tudo o que
você era.
– Você nem ao menos me perguntou o que eu queria!
– Eu sei, foi egoísmo da minha parte e autopreservação também! A única
coisa que manteve firme na minha decisão era saber que sem mim, você
estaria segura, eu certamente percebi que estava errado, já que os problemas
parecem te encontrar de qualquer forma. Se eu tivesse contado a você, e se
você não tivesse fugido correndo para longe de mim, eu não sabia se um dia
eu poderia deixar você ir! E fazer você viver sobre a cobertura sólida da
minha proteção, significava limitar a sua vida em vários aspectos, e eu não
acreditava que você estava pronta para isso!
– E eu estou pronta agora? – questionei
– Eu não sei. – Ele respondeu simplesmente
Ele então ficou em silencio, mas sua expressão era ansiosa.
– Tem mais, não é? – eu disse soando quase resignada
– Gwen e Lila se mudaram para cá!
– Para o seu apartamento?
– Não, para um apartamento três andares abaixo, que estava vago.
– Gwen e Lila, se mudaram, e eu?
– Eu fodi tudo Emma, ficar longe, não é uma possibilidade para mim, você foi
ferida quando eu estava longe, minha ausência não te protegeu do meu
mundo! Mas talvez a minha presença possa fazer isso! O perigo que
estávamos enfrentando naquela época passou! Mas sendo quem somos, e
fazendo o fazemos, o risco é constante. E eu não vou lutar mais contra isso!
– Não vai?
– Eu sei que não posso exigir nada de você, nem mesmo que você me perdoe
e esqueça os meses que passaram, mas a questão é, eu não estou lutando
contra isso. E desde que a declaração está feita, e cada filho da puta lá fora
está ciente da minha declaração, você fica aqui.
– Mikhail, eu não sei se essa é a melhor opção!
– Emma, você fica aqui! Por razões de segurança! Gwen e Lila, estão
protegidas, mas você fica aqui! Você é o alvo principal.

Eu vi sentido no que ele falava, se alguém resolvesse vingar a morte de Fedir
Wasylyck, eles viriam atrás de mim, apesar de Mikhail, não ter dito as
palavras, se eu voltasse a minha vida “normal” eu poderia colocar Gwen e
Lila em perigo por tabela. Por um lado eu sabia que não tinha uma escolha
realmente, e era grata a Mikhail por tudo o que ele tinha feito por mim, por
outro, eu sabia que muito provavelmente eu iria quebrar o meu coração, e
mesmo que eu dissesse a mim mesma, que permaneceria ali, exclusivamente
por questões de segurança, eu sabia que não era tão simples assim, eu já
estava me chutando mentalmente, por estar me sentindo em casa, e ignorando
tudo que havia ocorrido nos últimos meses!

Emma
Minha cabeça ainda estava rodando depois da conversa que tivemos, era um
misto agridoce de esperança e medo. Quando você é queimado da forma que
eu fui, mesmo que exista uma explicação completamente plausível e razoável,
que era compreensível para o cérebro, tão clichê quanto isso poderia ser, não
era compreensível para o coração.
E com o passar dos dias essa sensação não passou, ela pareceu só se
aprimorar. E como eu tinha ordens expressas para manter o repouso, eu tinha
poucas opções para me distrair dos pensamentos que teimavam em rondar a
minha cabeça, Gwen vinha me visitar todos os dias, e Lila também,
principalmente Lila para falar a verdade, já que Gwen continuava ocupada
com os plantões, e em uma dessas visitas, aproveitando que estávamos
sozinhas, esclarecemos pontos importantes.
– Você sabia?
– Eu meio que sabia…
– Como alguém meio que sabe alguma coisa Gwenevere? – eu perguntei
chateada.
– Quando alguém desconfia de carros pretos estranhos e homens mal-
encarados carregando armas, mas parecendo suficiente bem vestidos para não
parecer criminosos em potencial.
– Criminosos por acaso tem uma aparência definida? – Eu ironizei.
– Segundo os filmes de Hollywood sim, mas como você me obrigou a
maratonar Criminal Minds, eu sou mais esperta que isso!
Eu não conseguir segurar o sorriso, eu estava brava com Gwen por omitir isso
de mim, mas a raiva já tinha passado.
– Você não existe Gwen.
– Olha, voltei a ser Gwen, então fui perdoada – Dei a língua para ela que
ignorou completamente a minha infantilidade e disse então –Você parece estar
feliz.
– Eu estou, ao mesmo tempo confusa.
– Eu quero detalhes, detalhes picantes, eu preciso compensar a falta de ação
na minha vida.
– Eu não estou tão “feliz” assim.
– Como assim? Vocês não estão dormindo juntos?
– Sim estamos, ênfase no “dormindo” juntos.
– Você está brincando? Nada, nadinha? – ela me perguntou aparentemente
chocada.
– Nada, nadinha – Eu confirmei.
– Que bosta! Ela disse para mim então, me fazendo gargalhar.
– Nem me fale.
Então foi inevitável, estávamos nos dobrando de rir como duas dementes!
Lágrimas de riso chegaram aos meus olhos, e eu não conseguia parar, era uma
situação crítica do meu ponto de vista, toda a noite era um sofrimento, estar
tão perto e tão longe ao mesmo tempo, estar a distância de um toque, e querer
desesperadamente tomar uma altitude, mas faltar coragem, e então ficar
frustrada, tão frustrada ao ponto de doer, e isso se repetir a cada noite! Sim,
situação crítica era uma boa palavra para definir, e as risadas? Gwen e eu
tínhamos um lema considerando tudo o que vivemos, rir da desgraça era
sempre o melhor remédio, e rir depois que tudo passava era inevitável, e era
justo o que fazíamos agora, mas uma parte de mim sabia que no que
dependesse de mim, e da minha maldita timidez e insegurança, isso não
mudaria em um futuro próximo!
Depois de algum tempo, conseguimos nos controlar.
– Então, como está tudo no hospital?
– Você sabe o usual, sangue, tripas. – ela me respondeu generalizando
Eu estreitei os meus olhos.
– Você não precisa suavizar Gwen, eu te dou o direito de jogar na minha cara,
alguma cirurgia dos sonhos que você pegou, está no seu direito de se
vangloriar.
Ela sorriu para mim.
– A queridinha, que por acaso é você! – Ela fez um gesto apontando para
mim. – Está de licença, o que quer dizer que o segundo queridinho, que no
caso é o Adams, é quem tem pegado todas as boas cirurgias, então querida,
não se sinta invejosa, nada mudou.
Eu fiz careta para ela novamente.
– Eu estou entediada, entediada e sexualmente frustrada! – Eu desabafei.
– Você não pode voltar ao trabalho até o vencimento da sua licença, mas o
outro problema é de fácil solução!
– Não é mesmo! – eu discordei veementemente – Não tem nada de fácil nisso
Gwen, você me conhece, eu não saberia lidar com uma rejeição, eu sou
absurdamente insegura, e depois de tudo! – Eu engasguei – Eu o amo, você
sabe, eu queria que ele se sentisse da mesma forma…
– Querida, você sabe o quanto eu te amo, mas o homem salvou a sua vida, te
trouxe para a casa dele, trouxe sua melhor amiga quase irmã para o mesmo
prédio por você! E basicamente adora o chão que você pisa! Então o que você
considera amor?
– Talvez, talvez ele sinta por mim o mesmo que eu sinto por ele, mas eu não
consigo mudar quem eu sou Gwen, eu preciso de um letreiro em Néon
piscando as palavras! Eu preciso de uma declaração concreta, e enquanto eu
não tiver isso, a minha cabeça vai continuar criando mil teorias loucas, porque
essa sou eu!
– E eu que achava que você era inteligente! – Ela me disse balançando a
cabeça.
O que rendeu a ela mais uma careta da minha parte, foi infantil eu sabia, mas
passava o recado.
– Eu sou inteligente! – Eu exclamei então – Inteligentemente insegura, gato
escaldado tem medo de água fria! Eu não quero reunir esperanças e quebrar a
cara de novo! Eu não sei se eu iria suportar.
A expressão de Gwen se tornou séria então, ela mais do que eu entendia a dor
de ter o coração esmagado.
– Eu entendo, eu realmente entendo Emma – Ela me disse então – Mas se
você se fechar completamente, você nunca vai ter certeza, e querida, se
arrepender pelas coisas que se faz, é bem melhor que se arrepender pelo que
não se fez…
Eu sabia que ela tinha razão, é claro que eu sabia, mas daí a fazer alguma
coisa sobre isso, eram outros quinhentos, eu não suportaria uma rejeição, sim,
eu sei, estupido né? Mas as pessoas que sempre dizem se jogue, se arrisque
sem medir as consequências, no mínimo, nunca devem ter se queimado
verdadeiramente, ou então tem uma receita estupenda para curar um coração
partido, que não compartilharam com o resto da população! Eu estou em um
limbo, e tão covarde quanto isso possa parecer, eu fico bem em limbos,
mesmo que seja frustrante, meu coração permanece inteiro, tanto quanto
possível ao menos…
Gwen não deixou eu me perder em pensamentos miseráveis, então
rapidamente ela mudou de assunto, me atualizando sobre as fofocas no
hospital, e demos boas risadas, logo em seguida Lila chegou de sua nova
escola, com o seu segurança-babá, que também já parecia comer na palma de
sua pequena mãozinha! E então nós tivemos uma seção de cinema regada a
muita pipoca, foi uma tarde gostosa, um momento em que eu pude deixar
todos os meus pensamentos de lado por um segundo, e fui o que eu fiz, pelo
menos por essa tarde, só por essa tarde.


Emma
Eu estava entediada, a minha gaiola dourada como Mikhail havia chamado,
oferecia variedades infinitas de entretenimentos, mas a verdade é que eu era
uma pessoa apegada a rotina, e como residente de cirurgia, o meu dia-a-dia
costumava ser super-atarefado e ocupado, relaxar na piscina, sob o sol, tinha
verdadeiramente o seu atrativo, mas deixavam de ser novidade após algum
tempo. Eu tinha obtido alta médica, na semana anterior, mas ainda não tinha
voltado ao trabalho, sabia que tinha o dedo de Mikhail nisso, afinal como ele
basicamente tinha comprado o hospital isso não seria muito difícil, eles
tinham me fornecido uma licença de trinta dias.
– Você está inquieta – a voz de Zhenya, interrompeu os círculos sem fim que
eu fazia ao redor da sala.
– Eu estou entediada – Admiti.
Ela acenou em concordância.
– A piscina não exerce o mesmo efeito?
– Acredito que eu atingi um limite.
– Você sabe que não é uma prisioneira, pode sair.
– Sim, eu sei, mas sei também que não a menor possibilidade de eu
simplesmente sair e dar uma volta, sem que seja montada uma operação
completa, e eu esteja cercada de seguranças. E isso seria muito trabalho só
para espantar o tédio. – Eu disse a ela então.
– Eu sei que é complicado se acostumar Emma, mas esse é o modo de vida
dele, quando a segurança é negligenciada você viu em primeira mão o que
acontece.
– Eu não estou me queixando – ao seu olhar irônico, eu corrigi – Ok, talvez
eu esteja, mas não é a segurança em si, eu estou me sentindo inútil, acho que
essa é a palavra, me sinto uma esposa troféu.
Ela então sorriu, e toda a expressão sisuda de foi.
– Você não seria uma esposa troféu nem que se esforçasse muito Emma,
simplesmente não é a sua coisa.
Eu sorri de volta para ela, não definitivamente eu não seria uma esposa troféu.
– Há uma academia, no primeiro piso.
– Uma academia, aqui? Uma academia completa? Pergunta idiota, claro que é
uma academia completa, ele não faz nada pela metade.
– Eu presumo que você ainda não tenha visto tudo – Zhenya disse
simplesmente.
– Não, esse lugar é enorme, mesmo que eu tivesse tido tempo hábil para
explorar, provavelmente teria ficado perdida.
– Provavelmente teria mesmo – ela concordou simplesmente.
– Você acha que eu poderia usar a academia agora?
– Claro, usualmente são os meninos que usam, Katherina não é adepta. E
como Nikholai não está aqui, e Alex ainda está se recuperando…
– Não tenho roupas de ginastica, usualmente só faço caminhadas, bom eu
presumo que posso usar um moletom. – Seu olhar foi eloquente – Ele me
comprou roupas de ginastica também, não é?
– Parafraseando você, “Ele não faz nada pela metade” – Ela riu da minha
expressão – Suas palavras não minhas, ela levantou as mãos como se eximisse
da culpa.
Eu poderia render assunto, e discutir sobre o guarda-roupa que Mikhail fez
questão de me dar. E Jesus! eu pensei que esse tipo de coisa só acontecesse
nos livros de romance. Vida real? Definitivamente não, mas o que eu sabia
sobre como os homens ricos gastavam seu dinheiro? Mikhail, era
efetivamente o único realmente rico que eu conhecia. Eu me sentia Alice,
depois de cair no buraco do coelho. E discutir sobre isso? Simplesmente não
adiantava, eu havia percebido que argumentar com ele sobre a quantidade
absurda gasta em roupa, e que não era absolutamente necessário, mas Mikhail
tinha uma técnica infalível para lidar comigo, ele escutava tudo o que eu
dizia, mas não fazia absolutamente nada para mudar. O que basicamente
queria dizer que roupas continuaram chegando, já que aparentemente toda
boutique em Manhattan, tinha ordens para mandar exemplares das coleções
para cá, semanalmente, sério! Semanalmente! E as camareiras, sério!
Camareiras, todas tinham ordens para retirar as etiquetas e pendurar as roupas
no closet, impedindo assim, que elas pudessem ser devolvidas. Ele pensava
em tudo! Então em vez de iniciar uma discussão infrutífera com Zhenya,
resolvi simplesmente seguir seu conselho, eu não era uma pessoa muito ativa,
que adorava exercícios, mas o tédio fazia milagres, e no momento, uma
academia parecia ser justamente o que eu precisava.
– Não vou discutir Zhenya, não dessa vez… – Seu rosto exibia um sorriso –
Vou me trocar, e ir conhecer essa tão famosa academia então! – Seu sorriso de
alargou, como o gato de Chesire, como se ela estivesse muita satisfeita que eu
estivesse indo para a academia, o que eu estranhei obviamente, mas sem
nenhuma pista, deixe passar.
Fui até o nosso quarto, e me troquei rapidamente, e por um lado agradeci
mentalmente pelas etiquetas estarem fora das roupas, a qualidade do tecido, e
o modo como elas vestiam bem, me diziam que não eram baratas, mas a
inexatidão do valor deixava a minha consciência mais tranquila. Como a
academia estaria vazia, vesti um top que valorizava os meus seios, o objetivo
era dar sustentação basicamente, já que apesar de ser mediana, eu tinha algum
material aqui, mas o top deixou os meus seios realmente bonitos e
convidativos, até demais para o meu gosto habitual, na parte de baixo escolhi
uma saia/short, já que eram as minhas preferidas para fazer esteira. E era o
que eu pretendia fazer, eu me olhei no espelho, vendo o conjunto da obra, e
era quase uma pena que não teria ninguém para admirar, na verdade eu estava
pensando em alguém especifico, e existia uma parte de mim, que queria que
ele me visse assim, estava frustrada, sexualmente frustrada, mas sem saber
como resolver.
Talvez exercícios físicos me deixassem exausta o suficiente e isso substituiria
a frustração sexual, pelo menos era o que esperava. Nós estávamos dormindo
juntos há duas semanas, dormindo, literalmente, e sim eu estava frustrada, era
como ter uma intimidade enorme, e ao mesmo tempo não ter intimidade
nenhuma, e isso estava me enlouquecendo. Eu não tinha confiança o
suficiente para fazer alguma coisa sobre isso!
Desci pelo elevador sozinha, a segurança era apertada ao redor, mas não
parecia nada como foi na semana em que Mikhail estava ferido, era como se
algo tivesse ocorrido que aliviasse o temor que dominava aquela semana, o
que convenhamos, era bem provável, os homens guardando o elevador
sumiram, eles não circulavam em rondas internas como era o padrão naquela
época, o esquema de segurança continuava forte, principalmente quando
saiamos de casa, mas aqui dentro parecia um oásis de tranquilidade.
A academia ficava no primeiro pavimento, do apartamento que eu descobri
então ser um tríplex, quando desembarquei do elevador, não esperava
encontrar ninguém, e assim foi até eu entrar na academia.
Os sons de socos batendo em uma superfície foi o meu primeiro sinal que eu
não estava sozinha.
A academia não se parecia em nada com qualquer coisa que eu tinha
imaginado, havia uma divisória de vidro que separava os aparelhos do tatame,
aparentemente eles treinavam bastante ali, já que a academia não deixava
nada a dever a academias profissionais, inclusive superava a maioria que eu
conhecia. Mas o que prendeu a minha atenção foi o homem meio nu, suado, e
totalmente gostoso que socava o saco. Eu devo admitir eu encarei, corri os
meus olhos por cada detalhe do seu corpo bem construído, bebi da sua
imagem como se estivéssemos no deserto, e ele fosse a única água disponível.
Só a visão dele, me excitou a tal ponto que eu não conseguia disfarçar a
minha expressão eu realmente tinha um problema. Eu queria dar e volta e sair
de fininho, mas então ele me olhou, seus olhos desceram sobre mim, e se a
expressão comer com os olhos era válida, era isso o que tinha ocorrido.
Poderia ser estupidez da minha parte mas eu não corri, nem tampouco fui em
direção a ele e aceitei o convite que ele me fez com o olhar, eu tinha vindo ali
para malhar e era justamente o que eu iria fazer, me movi em direção a
esteira, os olhos dele acompanharem cada movimento que eu fiz, mas eu
ignorei, a minha nova resolução consistia em resistir a ele, e não fazer contato
visual fazia parte desse processo, até porque se a simples visão do corpo dele
me fazia ficar molhada, eu realmente deveria evitar olhar para não cair em
tentação.

Mikhail
Meu primeiro pensamento quando eu a vi entrar pela porta vestindo umas
tiras de pano que faziam muito pouco para cobrir só o essencial, é que eu iria
matar quem escolheu suas roupas, o segundo é que eu iria lhe dar aumento!
Porra! Eu poderia dizer que senti o meu pau endurecer a simples visão dela,
mas seria mentira, eu estava duro todo o tempo a semanas, o seu cheiro, a sua
voz, a simples visão dela me deixava em constante estado de excitação, e eu
não podia evitar, deveria ser um dos mais graves casos de bolas azuis já
registrado, mas eu tinha prometido a mim mesmo levar isso com calma,
deixa-la ter algum espaço, e se acostumar com tudo, sem envolver o sexo em
uma mistura que já era complicada demais! Mas porra! Tê-la tão perto, e não
poder tocá-la da maneira que eu queria, era tortura. Eu tinha resistido, por
dias, e isso demandou um esforço enorme da minha parte, porque estar no
mesmo ambiente que ela, me deitar todas as noites ao lado dela sem poder
toca-la, sem poder toma-la em meus braços, e fazê-la minha, era como andar
por um dos círculos do inferno.
Eu ajustei a minha posição de forma a manter os olhos nela, não foi sequer
um movimento calculado, eu simplesmente gravitava ao redor dela.

Emma
Nossos olhares estavam presos um no outro, nem sequer disfarçávamos mais,
nenhum dos dois desviou o olhar um do outro, já tínhamos passado desse
ponto. O olhar mutuo era visceral, evidenciava toda a fome que ambos
sentíamos.
Não estranhei quando ele parou de socar o saco de areia, e começou a tirar as
luvas, enquanto andava em minha direção. Eu o queria, meu Deus, como eu o
queria, e no momento não estaria disfarçando o sentimento.
Ele foi se aproximando devagar, seus movimentos não eram deliberadamente
calculados, mas o seu modo de andar, e o seu olhar predador parecia uma
pantera cercando a sua presa. E a presa era eu! Eu esperei apreensão ou
qualquer sentimento do tipo, mas a única coisa que eu sentia era um tesão
absurdo varrer todo o meu corpo, eu me sentia em chamas, senti a umidade no
meio das minhas pernas aumentar, e uma pontada que subia por todo o meu
corpo, não pude segurar o gemido que surgiu na minha boca.
Eu já tinha parado de fingir que estava caminhando na esteira, desci e me
movi em sua direção, ele parou a minha frente, tão próximo que se eu
estendesse a mão era possível tocá-lo.
Então eu toquei, a ponta dos meus dedos em uma curva ascendente pelo seu
peito, tracei a pequena cicatriz, que se eu não soubesse, não diria se tratar de
um caso grave como ocorreu, desci ao longo da sua costela, sentindo os
músculos do abdômen dele se contraírem em expectativa, a racionalidade já
tinha ido embora há muito tempo, tudo o que restava era um desejo visceral e
profundo que parecia controlar todo o meu corpo. Eu nem fui consciente de
me ajoelhar aos pés dele, mas me vi nessa posição, nossos olhares colados um
no outro, o olhar dele faiscava com algo que eu identifiquei como um desejo
tão profundo que lançava chamas no olhar, e eu sabia que o meu olhar refletia
a mesma coisa, considerando o estado em que eu me encontrava.
Subi a minha mão pelas suas coxas, e percebi que ele cerrou os punhos ao
lado do corpo, eu me senti poderosa ao incitar essa resposta, ao sentir que o
controle dele estava escorregando, se eu fosse sincera, eu não queria que ele
mantivesse controle nenhum. Minhas mãos foram para o cós do short de
boxeador que ele usava, e que absolutamente não fazia um bom trabalho para
esconder a sua ereção, e o baixei até os seus pés, seu pau saltou a minha
frente, tão delicioso quanto eu me lembrava , e então eu o tomei na minha
boca, eu costumava ser tímida sobre fazer sexo oral, mas esse não parecia ser
o caso, não com ele, não ali, é como se todas as minhas inibições fossem
desconsideradas quando estávamos fazendo sexo, o acumulo do tesão por
semanas, me fez o colocar todo na boca, e então chupa-lo gulosamente, sua
mão veio para o meu rabo de cavalo, e ele enrolou o meu cabelo ao redor do
seu punho, eu me esforçava para fazê-lo perder o controle, já que não imagina
uma chance melhor que aquela, eu precisava dele, precisava dele dentro do
mim, o suguei com força, e senti o seu punho se apertar no meu cabelo,
finalmente o controle que ele parecia estar segurando se quebrou, ele fodeu a
minha boca, tirando e colocando o seu pau na minha boca, enquanto mantinha
o controle segurando o meu cabelo e eu adorei, eu havia descoberto com ele,
que tinha um lado submisso que gostava de explorar, não se tratava
necessariamente da cena ou de toda a coisa do BDSM, mas eu gostava dele
dominante na cama, me excitava, ele não desviava o olhar do meu, e então ele
interrompeu e se retirou da minha boca. Eu protestei.
–Estou quase gozando – ele disse em explicação.
–Então continua, goza na minha boca – eu disse soando tão impaciente
quando eu parecia.
Ele deu um sorriso safado, que eu me recordei ser bem característico dele.
– Talvez depois, agora eu quero te fazer gozar – ele me respondeu.
E então ele me ajudou a me levantar, e imediatamente me virou de costas e
colou o seu corpo ao meu. Sua boca saqueou a minha, e então nos movemos
em direção a parede.
Ele colocou as minhas mãos apoiadas na parede e então sussurrou em meu
ouvido.
– Mantenha-as assim.
E então a boca dele desceu, espalhando beijos e mordidas ao longo do meu
pescoço, suas mãos vagavam pelo meu corpo, me deixando ainda mais
excitada.
Eu senti os seus dedos sondarem a minha vagina, e então ele os colocou
dentro de mim, e começou um movimento lento de tirar e colocar de volta,
que estava me deixando louca! Ao sentir a contração da minha vagina, e ver o
quanto molhada, eu estava, ele exclamou:
– Tão fodidamente pronta!
– Mikhail por favor – eu cheguei a implorar.
E então ele me atendeu, senti o seu pau encostar na entrada e então
lentamente empurrar todo o seu cumprimento em mim, não pude evitar gemer
a sua invasão, a minha abstinência nos últimos meses havia me deixado
desacostumada a invasão, então houve um incomodo, mas a realização era
maior do que qualquer coisa, ele pareceu notar o meu pequeno desconforto,
então começou a se mover em movimentos lentos, me dando tempo para me
acostumar ao seu tamanho…
Quando ele percebeu que já não havia incomodo e eu jogava o meu corpo em
encontro as suas investidas, ele começou a acelerar as estocadas.
Uma de suas mãos foi para o meu rabo de cavalo, ele manteve um aperto
firme enquanto saqueava a minha boca.
A outra estava no meio das minhas pernas, esfregando o meu clitóris. Era uma
sensação que eu sequer tinha palavras para descrever, era sujo, era suado, era
perigoso, e era absolutamente delicioso!
Eu senti o meu orgasmo se construindo, e quaisquer pensamentos racionais
que eu tivera até ali se foram, era um estado mais primal, cuja a única coisa
que eu queria era chegar ao ápice do prazer.
– Com força! Fode com força! – eu pedi com o que me restava de lucidez
E então ele fez! Do jeito que eu pedi, com força, me enlouquecendo
Não demorou muito e eu senti o meu orgasmo vir, e então logo em seguida,
senti ele gozar também, dentro de mim, e então as minhas pernas não deram
conta de se manterem por si só, e eu só não caí por ele segurou o meu corpo
contra o dele suportando o meu peso, e amparando a minha queda. Eu me
sentia completamente languida, e muito, muito satisfeita.

Emma
Nós vestimos em silencio, as roupas, meio torcidas, era a prova do que
havíamos feito ali. Não eram um silêncio desconfortável que precisasse ser
preenchido, havíamos atingido um novo patamar, seja qual ele for! Pensei na
loucura que havíamos acabado de fazer, e senti as minhas bochechas se
aquecerem com o pensamento que em qualquer momento alguém poderia ter
entrado e nos flagrado ali, não era exatamente o medo de nos pegarem em
flagrante, e sim a sensação que isso não teria absolutamente nos impedido de
continuar o que estávamos fazendo. Ainda agora, eu sentia uma dor deliciosa
entre as minhas pernas, e a única coisa que eu conseguia pensar era que, eu
queria mais, mais dele, mais da gente, eu me chutava mentalmente por ter
demorado tanto a reconhecer que o que tínhamos era real, mas isso estava
claro para mim agora.
Mikhail me envolveu em um abraço, acho que ele pressentiu que eu ainda
estava em completo estado de languidez, e que provavelmente nesse momento
não era capaz de andar em linha reta, ou evocar um pensamento coerente, a
expressão “fodeu os meus miolos” tinha um significado muito mais claro para
mim nesse momento, era de certa forma o que eu estava sentindo!
Completamente desconcertada, ele era o único que tinha esse poder sobre
mim, bagunçar meu corpo e minha mente de uma vez só. Eu já havia obtido
todo o “exercício” possível aqui, então continuar a minha rotina de malhação
estava descartado, além do quê tanto quanto eu estava deliciosamente
satisfeita, eu era honesta o suficiente para dizer que eu queria mais, se eu
pudesse fazer uma comparação, ele é um vício, um mau habito, mas algo que
você sempre quer mais, como se a partir do momento que você teve um gosto,
ele estragasse todos os outros, pois não havia nada que se equiparasse, e esse
pensamento disparava um lampejo de pânico na minha mente.
Quaisquer pensamentos que começavam a surgir que evocavam a minha
insegurança, sumiram da minha mente, quando o elevador se abriu no piso do
apartamento, Zhenya ainda se encontrava lá, e o seu olhar conhecedor fez
minhas bochechas se aquecerem de vergonha, será que era tão obvio que
estamos fazendo? Porem considerando tudo, mesmo que as minhas roupas
estivessem alinhadas, e meus cabelo não estivesse a bagunça que eu sabia que
estava, a minha reação provavelmente a denunciou, nós a cumprimentamos
quando passamos por ela em direção ao quarto, mas não entabulamos uma
conversa, a julgar pelo fato que Zhenya parecia muito satisfeita em nos ver
juntos, e que ao ver isso, me lembrei que foi ela em primeiro lugar me
mandou a academia, e logo era diretamente responsável pelo nosso encontro,
tudo fazia sentido.
Quando entramos no quarto, seguimos direto para o banheiro, Mikhail,
começou a preparar um banho, e todos os meus músculos aplaudiram a
iniciativa, uma hidromassagem agora seria um refresco para o meu corpo.
Enquanto nos livramos das roupas, eu bebi da imagem, dele, e do seu corpo
bem construído, e então deixei a minha mente vagar nesse sentido, nos
últimos meses, estive um tanto obcecada com ele, e com o “mundo” em que
ele vivia, eu segurava a respiração ao assistir os noticiários, quando falavam
sobre uma guerra de território ou algo do tipo, era uma sensação estranha ,
mas eu simplesmente não conseguia me desprender do habito de stalkear ele
online, quando a minha busca nesse sentido se mostrou infrutífera, a sua
família, era totalmente low profile no que se referia, as colunas sociais, eu
havia pesquisado sobre os ramos de atuação da máfia russa, e mesmo o
assunto não sendo fonte de vasto material, o que havia ali me assustou, e a
parte que talvez mais tenha me assustado é que mesmo depois de ter lido tudo
o que eu havia lido, meus sentimentos não haviam se alterado, saber que
ainda que, eles não fossem os mocinhos, eles também não eram os vilões, me
aliviava de tal forma que eu não sabia explicar, mas o que me causava uma
certa estranheza e até apreensão, é não saber se eu teria forças para me afastar
se fosse diferente!

Mikhail
Eu a esgotei, vi na sua expressão, a saciedade misturada a sonolência, estava
esgotado também, de um jeito bom, de um jeito que eu pensei que fosse
demorar para estar novamente. Mas aqui estávamos, preparei a banheira, eu a
queria de novo, tão ruim, que cerrei os meus punhos para evitar fazer
qualquer coisa sobre isso, iria cuidar da minha menina, deixa-la descansar e ir
com calma, sem agir como um homem das cavernas fodido.
A ajudei a se livrar das roupas, e em seguida me livrei das minhas, sem
chance nenhuma que eu deixaria tomar banho sozinha, minha mente ofereceu
a desculpa dizendo que era necessário, ela estava sonolenta e seria perigoso
deixa sozinha, mas eu sabia melhor, era a minha mulher nua e molhada, não
havia a mínima possibilidade que eu não estaria aqui.
Seu olhar estava fixo em meu peito.
– Emma?
A minha chamada ela corou, deliciosamente tímida por algum motivo.
Eu mantive a expressão de interrogação no meu rosto. Então após algum
tempo ela falou.
– Você não tem tatuagens – ela soltou simplesmente.
Eu devo ter parecido realmente confuso, porque ela se obrigou a elaborar.
– As tatuagens são importantes na máfia russa, os significados.
Compreensão desceu sobre mim.
– É complicado, remonta a história familiar passada, mas não eu não tenho
tatuagens.
–Tudo bem se você não quiser falar sobre isso. – Ela disse corando mais uma
vez e desviando o seu olhar do meu.
Eu entendi o que ela estava fazendo, Emma ainda estava sensível ao meu
abandono, deixa-la de fora de certos detalhes para mim era proteção, mas para
ela era algo diferente, era como se eu não me importasse o suficiente com ela
para contar, o que era a fodidamente errado! Ela era a única, a pessoa com
quem eu mais me importava na porra do mundo.
– Eu imagino que você tenha pesquisado o assunto?
– Um pouco, não existe tanta informação assim. – Ela disse dando de ombros,
o que fez com que os seus seios saltassem.
Jesus! Foco, eu disse a mim mesmo.
– Meu avô começou a tradição familiar, ele foi preso em uma Gulag no
regime de Stálin, considerando tudo ele teve sorte, foi libertado algum tempo
depois, a família tinha alguma influência, e algum dinheiro, mas o tempo que
ele passou lá mudou quem ele era, e o que queria, o sentimento de irmandade
para sobreviver ao inferno se tornou muito forte para ele, e quando ele saiu de
lá, isso não mudou.
Os olhos dela estavam fixos em mim, com interesse.
– Ele sabia que a única forma de manter a cabeça acima da superfície era ter
poder, e então trabalhou por isso, muitos outros em condições semelhantes
fizeram o mesmo e formaram grupos variados, com o mesmo objetivo, porém
diferentes métodos e regras. Ele era um homem inteligente o bastante para
saber que impérios cairiam, e que eventualmente considerando o histórico dos
grupos criminosos, eventualmente seriam visados pela força da lei, então ele
se preparou, diversificou as áreas e negócios, e fez muito dinheiro, e
consequentemente isso significava poder naquela época, ele se mantinha no
limiar da lei, pelo menos aparentemente, e com o passar dos anos foi
aumentando a “legitimidade” dos negócios. Então, basicamente nós somos
um grupo, mas não nos identificamos como um, principalmente porque se
hoje o significado das tatuagens está disponível online para qualquer um
acessar, é um risco maior, e um motivo para levar tudo o que foi construído
para baixo.
– Negócios legítimos? Sério?
Eu ri, não consegui evitar, sua expressão parecia tão chocada!
– Essencialmente eu confirmei, com o fim da URSS, meu avô adquiriu
diversas empresas, e minas, industrias ele seria o que chamam hoje de um
magnata. Mas ele não se deixou engessar, com o dinheiro que veio desses
negócios, ele diversificou ainda mais. Hotelaria, Cassinos.
– Cassinos? Tipo Vegas? Tipo Jogos?
–Vegas, Monte Carlo, Itália, há uma variedade sem fim, acredite.
– Uau! – Ela disse parecendo chocada, e então complementou – Bem o que eu
posso dizer? eu estou realmente surpresa para falar a verdade. Minha
imaginação traçou os piores cenários possíveis.
– Não se engane Emma, não somos os mocinhos, apesar da aparência de
legitimidade dos negócios, somos quem somos, e manter a família no poder
tem um preço, um preço geralmente pago em sangue.
– Sei que isso soa horrível, mas não posso evitar ficar aliviada que não seja o
seu sangue.
– Não usualmente – eu concordei.
Os negócios da família estavam esclarecidos, bem pelo menos de certa forma,
tanto quanto o possível eu penso, já que não era um assunto que se podia
discutir livremente.
– Você tem mais alguma pergunta? – eu disse a ela, me forçando a
permanecer acessível, quando não era nem de longe a minha coisa.
– Milhões! – ela disse com um balançar de cabeça exagerado e então ela
sorriu – Mas nenhuma que eu queria fazer nesse exato momento… – ela
completou com a voz sussurrante que era sexy para caralho.
– E o que você quer fazer? – eu perguntei, ao mesmo tempo que sentia meu
pai responder a sua sedução.
– Ahh, eu tenho planos para esse colinho gostoso que você tem! – ela disse ao
mesmo tempo, em que se aproximava de mim, e passava uma perna ao meu
redor, se escarranchando no meu colo.
– Jesus Emma! – foi a única coisa que eu consegui dizer, todo o sangue havia
descido do meu cérebro para o meu pau.
– Eu gosto muito desse seu colinho – ela me disse então.
Havia um limite de quanto provocação eu poderia levar! E Emma era a maior
provocadora de pau que eu conhecia. Tudo nela me seduzia, era como se ela
tivesse sido feita especialmente para mim, seu corpo, a sua voz, seu cheiro, a
porra do conjunto completo! Eu me afundei nela, sem preliminares, sem
cuidado, guiado pelo tesão! Ela estava molhada, eu dei graças a Deus por
isso, pois isso significava que eu não precisava levar isso com calma, movi
minhas mãos para a sua bunda, e impulsionei em um movimento continua de
vai e vem! Ela apoiou as mãos na borda da banheira, nas minhas costas, e
então começou a rebolar no meu colo me levando a loucura! Movi minhas
mãos, para o seu corpo, seus seios, belisquei seus mamilos, e isso rendeu um
gemido que eu senti no meu núcleo, estava muito próximo de gozar, movi
uma das mãos para o seu clitóris, e então o esfreguei em movimentos
contínuos, Emma apertou as pernas ao meu redor, eu continuei o que estava
fazendo implacavelmente, enquanto devorava sua boca, seu pescoço, seus
seios.
– Por favor, eu não, eu n….– ela implorou.
Eu não tinha certeza se ela estava implorando para eu parar, ou para eu
terminar, não estávamos completamente racionais, nenhum dos dois…
Emma cravou as unhas nas minhas costas, e então eu senti a sua buceta se
contrair ao meu redor, enquanto ela gozava no meu pau. Eu a segui, quase que
imediatamente…
Porra se não era a melhor sensação de todas!
Emma amoleceu em meus braços, o que eu estava concluindo que era natural
para ela, ela sempre ficava sonolenta após o sexo.
Eu a mantive em meus braços, a temperatura da água estava boa, e ela parecia
confortável no meu colo, inclusive por a sentir ressonar contra o meu peito! O
que me rendeu uma risada afogada! Eu tinha tudo o que queria literalmente
em minhas mãos, em comparação aos meses de merda que eu passei sem ela,
era a porra do paraíso! E eu não tinha do que reclamar, a vida era boa!


Mikhail
Eu amava Red de todo o coração, ela havia se tornado família ao longo dos
anos, e não só pelo fato de ela ser casada com Nikholai, eu a considerava
realmente uma irmã! Mas desde que ela de juntou com Gwen, ela estava se
tornando um pé no meu saco, o que eu considerava uma influência direta de
Gwenevere Smith.
– Até os prisioneiros possuem direito de visitação Mikhail.
– Ela não é uma prisioneira – Eu disse trincando os dentes.
– Exatamente!
Ela enfatizou como se tivesse feito um ponto.
– Emma está se recuperando de uma cirurgia…e.
– Já faz uma semana Mikhail, o cirurgião a liberou, além disso Gwen está
aqui, então o socorro médico está presente.
Além de usar toda a lógica possível, e que eu sabia ser verdade, Red deveria
estar passando muito tempo ao redor de Lila, porque ela definitivamente
estava usando os olhos suplicantes, que eram uma marca característica da
diabinha, Emma chamava esse movimento, de “olhos do gato de botas”, e
tanto quando a uma semana atrás eu absolutamente não entendia a referência,
algumas maratonas de filmes depois, eu passei a entender, e devia admitir a
técnica era efetiva, em ambos os casos.
– Ela não vai beber, se ela der um mínimo sinal de cansaço, vocês estão fora!
Gwen revirou os olhos para mim, mas Red sorria, ela sabia que tinha obtido
uma vitória.
– Você sabe que ela é uma médica, não é? Que está ciente dos riscos? – Gwen
me perguntou com sarcasmo.
– Sim, eu sei, e sei também que os médicos são os piores pacientes, e se não
me engano, foi você mesmo quem me disse isso!
– Vocês sabem que eu estou parada bem aqui, não é? Vocês poderiam me dar
a cortesia de não discutir sobre a minha vida como se eu não estivesse
presente? – Emma finalmente resolveu interromper.
E então ela se aproximou de mim.
– Eu vou ficar bem. – Ela me disse com voz suave, suas mãos em meu peito,
como se confirmasse a informação, ou tentasse me acalmar para não
prolongar a discussão, funcionou claro, como sempre funcionava. E vendo o
meu corpo relaxar ao seu toque, ela então complementou:
– E você, quais os seus planos para a noite.
– Temo que já que fui expulso em função da “festa” – enfatizei as aspas com
os dedos – temo que tenho um compromisso em boa companhia
O brilho se apagou dos olhos dela, Merda! Tato, era algo que eu ainda tinha
que trabalhar, minha mente gritou em aviso “Cedo demais, idiota!”, a
confiança que Emma estava construindo ainda era recente demais e frágil
demais, para que meus comentários mesmo que de brincadeira não a
afetassem, eu sabia que isso era culpa minha e sabia que estava indo
consertar, mas Emma, não sabia disso, ela estava esperando que eu fosse
embora outra vez, ela não tinha ciência que eu não estava indo a lugar algum,
nunca porra! Nem deixando ela ir, mas isso eu sabia eu tinha que trabalhar
com ela com calma, levaria um tempo até a autoconfiança dela se tornar forte
o suficiente, e tinha essa consciência.
Sua mão caiu do meu peito, e ela se retesou, dando um passo pra trás se
afastando de mim fisicamente! Porra! Nem a pau permitiria algo assim
Enlacei a sua cintura com os braços, e a trouxe perto de mim, tão perto
quando o possível, sem dar um espetáculo, já que tínhamos companhia
– Lila, Emma! Lila é o meu compromisso! Aparentemente a babá que
contratamos não assiste os filmes com a empolgação que ela espera, e nem
conversa com ela durante as cenas, ou canta as músicas! E na falta da
“Mamãe”, ou da “Tia Emm”, eu fui o sorteado, acredito que se ela tivesse
encontrado Alex, ele teria sido escalado também, mas como ela não o
encontrou, então somos só nós.
O sorriso dela de canto de boca como se tentasse esconder a diversão, me
permitiu respirar novamente.
– Ela vai dominar todos vocês, duas semanas e ela já tem vocês enrolados no
mindinho – ela me disse então divertida.
Eu poderia negar, mas para quê? Era a mais pura verdade, eu nunca tinha
prestado atenção o suficiente em uma criança para me importar, mas Lila não
era alguém que você mantinha de fora! Ela era uma criança fantástica, e sim,
ela nos tinha enrolado em seu mindinho! Porra! Eu ri com diversão! Uma
criança de três anos de idade, tinha alguns dos membros mais perigosos da
máfia russa enrolados em seu mindinho, se isso não era divertido eu não sabia
mais o que poderia ser!
Gwen e Red que definitivamente não sabiam fingir que não estavam ouvindo,
ou simplesmente não queriam fazer isso se intrometeram.
– Quando vocês tiverem filhos, se prepare Emma, vai ser a criança mais
mimada da história mundial – Gwen fez piada, claramente em alusão ao
comentário de Emma.
Eu esperei a pânico bater. Quem eu era, de onde eu vinha, o que eu fazia, a
ideia de trazer uma criança ao mundo era aterradora, há muitos anos, eu
desconsiderava o simples pensamento de isso se tornar realidade,
considerando a minha infância, a simples ideia de ter uma mulher permanente
na minha vida era algo que eu descartava, ter um mulher, e trazer uma criança
ao mundo, era coisas que eu sequer considerava serem para mim, tinha me
acostumado a ideia que simplesmente não iria acontecer, mas parado ali, em
pé, com Emma enlaçada em meus braços, porra só parecia certo! Parecia
certo para caralho que eventualmente iriamos dar esse passo algum dia, e não
houve pânico nenhum a esse pensamento.
Red claramente divertida com o que Gwen disse, completou:
– Eu penso que se o filho de vocês pedir um brinquedo, ele vai comprar a
Disney.
Emma pressionou a boca contra o meu peito, eu sentia o corpo dela tremer, e
eu sabia o que era, ela estava afogando suas risadas, não creio que ela estava
rindo porque a piada era hilária, mas porque ela continha uma verdade
incontestável, e eu sequer podia negar. Então saí pela tangente.
– Eu teria que verificar, mas creio já ser um acionista, o que já me faz
tecnicamente “dono”.
Emma explodiu em risadas contra o meu peito novamente, e porra, eu só
queria mantê-la ali para sempre, mas Gwen acenava com as mãos me
enxotando da minha própria sala, nada menos que isso, e eu sabia que Lila
estava esperando, e que ela não era lá muito paciente, então por hora, elas
ganharam. Me despedi de Emma com um beijo na testa, e então um beijo
suave nos lábios, eu queria mais muito mais, mas não tinha certeza de
conseguir parar quando começasse então, joguei pelo seguro.
E então me dirigi ao cinema na parte superior da casa, a vida era boa, e esse
sentimento preencheu o meu peito.

Emma
A minha versão conhecida de uma noite de garotas nos últimos tempos,
envolviam pipoca, sorvete e filmes, tequila, vodka, e uma vasta seleção de
bebidas com um barman incluso, até então era novidade, e como toda
novidade deveria ser aproveitada, e nós aproveitamos, intensamente! O fato
que estávamos na segurança de casa, e que qualquer vergonha que iriamos
passar não seria pública, nos incentivou, a palavra limite, saiu do nosso
dicionário a partir do primeiro shot de tequila, e quando as músicas
começarem, estávamos soltas o suficiente para dançar (ainda que sem
coordenação, com muito entusiasmo), e continuávamos a encher os nossos
copos, eu já tinha parado com os remédios, e além disso tínhamos duas
medicas presentes, o que pensando bem não adiantaria muita coisa pelo nível
alcoólico de ambas! Mas essa noite era sobre diversão, e estávamos nos
divertindo muito!
– Bom eu devo confessar, e isso pode ser o álcool falando, que as vezes
quando eu olho para Mikhail, vejo Nikholai, ele seria uma versão mais
amena, mas ainda assim…
– Nem me fale – eu respondi a ela – Eles são tão parecidos, eu os confundi
quando vi Nikholai, o sotaque foi a única coisa que o entregou.
Red engasgou com a bebida que estava tomando, e não pode evitar cuspir o
liquido da sua boca.
– Você o viu? Quando? – ela perguntou parecendo realmente chocada.
– Quando Mikhail havia sido ferido, no dia seguinte…
Red com seus cabelos ruivo morango, tinha a pele clara como um creme, mas
a palidez que surgiu no seu rosto nesse momento me assustou, foi como se
todo o sangue tivesse sido drenado do seu corpo, eu honestamente achei que
ela fosse desmaiar, e sua expressão era além de chocada, era ferida!
Antes que eu tivesse tempo de dizer qualquer coisa, ela se levantou.
– Eu lamento interromper – ela disse parecendo tão sóbria quanto possível –
mas acho melhor eu ir agora.
E sem me dar tempo de retrucar, ela se virou em direção a saída, eu não pude
evitar ver que seus olhos estavam cheios de lágrimas que ela lutava para não
derramar!
Eu sabia que eu tinha dito algo indevido, eu só não tinha certeza do quê, além
disso o nível alcoólico em que eu me encontrava me impedia de raciocinar
com clareza, de qualquer após a saída intempestiva de Red, a noite tinha
perdido um pouco da graça, além do quê Gwen tinha plantão noturno no dia
seguinte, e se ela queria estar em condições, deveríamos aproveitar a deixa e
parar de beber, a babá já tinha vindo buscar Lila, a algum tempo, e Mikhail
tinha seguido para o quarto para nos fornecer privacidade em nossa “Noite de
Meninas”, após a saída de Red, Gwen não demorou muito em se desculpar e
seguir o mesmo caminho, e eu me escorando pelo corredor com o meu senso
de equilíbrio mais prejudicado que o normal, segui em direção ao quarto.
Mikhail estava deitado, e aparentemente dormindo.
Então passei reto em direção ao banheiro, porque eu sentia o álcool evaporar
na minha pele, e não queria me deitar ao lado dele cheirando como uma
destilaria, e também porque tinha alguma esperança que o água quente me
devolvesse um pouco de sobriedade.

O que constatei depois que não funcionou, eu continuava levemente segundo
os meus padrões, no mínimo, ébria, vestir o pijama nessas condições de
mostrou um desafio, mas eu consegui.
Voltei para o quarto e deitei na cama me aconchegando a ele, senti sua
respiração mudar e seus braços me enlaçarem.
– Você está acordado?
– Agora estou – ele respondeu com um sorriso na voz.
– Eu acho que eu fiz uma merda muito grande… – eu disse a ele então
– Que merda? – ele disse alcançado o celular na cabeceira agora totalmente
acordado.
– Não esse tipo de merda – eu disse a ele então.
– Emma – ele disse com impaciência.
– Eu não entendo bem o que eu disse a Katherina, mas acho que ela ficou
magoada.
Ele continuou em silêncio, então eu continuei:
– Falávamos sobre o quanto você e Nikholai são parecidos, e eu disse a ela
que confundi vocês em uma ocasião, e então ela ficou mais pálida que uma
folha de papel, e simplesmente foi embora, e Mikhail, ainda que ela tenha se
esforçado para esconder, ela tinha lágrimas nos olhos.
– Katherina e Nikholai tem uma história mal resolvida, nós não sabemos
muito, e perguntar não funciona bem com nenhum dos dois Emma, então o
que quer que você tenha dito não foi culpa sua! E infelizmente não há muito o
que se pode fazer sobre isso! É uma coisa que ambos têm que resolver e que
cedo ou tarde eles irão!
– Entendo, mas acho uma pena, realmente, a dor que eu vi nos olhos dela era
muito real para ignorar…
Ele me abraçou mais apertado, e eu deitei a minha cabeça no seu peito.
– Há decisões que não pertencem a nós! Estaremos sempre aqui por ela, mas
além disso, a extensão do que podemos fazer é nula! Eles terão que resolver
isso sozinhos! Mas nada disso é culpa sua Emma!
Suas palavras me ofereceram algum consolo, mas no fundo ainda lamentei
minhas palavras, eu entendia a dor nos olhos de Katherina, porque meses
atrás a mesma dor estava nos meus olhos, mas eu sabia que ele tinha razão,
que não havia nada que nós pudéssemos fazer para melhorar isso, era um
problema entre eles, e eles teriam que resolver por conta própria, mas eu não
conseguia evitar me sentir solidária a ela, e esperava que isso se resolvesse o
mais rápido possível, eu já tinha começado a pensar em Katherina como
família, como uma irmã, que de certa forma diferentes das minhas, eu gostava
de conviver em uma base diária, e estar de mãos atadas em relação ao seu
sofrimento me angustiava.
Puxei os cobertores, e me mantive abraçada a Mikhail, e o sono veio tão
rapidamente o quanto possível com a minha cabeça fervilhando de
pensamentos, e então nos braços do homem que virava o meu mundo, eu
dormi como se não houvesse amanhã.

Mikhail
Eu olhava para o anel nas minhas mãos, esperando uma iluminação!
Morávamos juntos, eu já a considerava a minha mulher, mas tanto quanto eu
tinha sido um completo babaca em relação as mulheres na minha vida desde
sempre, eu não era desprovido de inteligência, para não entender a
importância simbólica de um compromisso público. Eu sabia que palavras por
si só não diziam nada, se considerássemos toda a hipocrisia que reinava em
muitos casamentos por aí, em que a imagem pública de felicidade escondia o
que acontecia nos bastidores, e não era uma aliança ou um papel que fariam
ser real. Mas eu sabia ser importante para ela, Emma era uma pessoa pratica
em muitos sentidos, mas como toda mulher ela tinha um lado romântico
incurável, e eu sabia que em muitos sentido eu tinha sido falho com ela nesse
aspecto. Minha prioridade era mantê-la segura, e as decisões que eu tomei
buscando que isso se tornasse possível, nem sempre levaram em contas os
desejos dela, e as suas necessidades.
Há exatos dois meses no caminho de casa eu havia passado em frente a uma
joalheria, foi um flash, os carros por questão de segurança de movimentavam
rápido, mas foi significativo demais pela conexão da referida joalheria com a
Rússia, então eu voltei, sem razão nem porquê, naquele momento, minhas
esperanças que um dia eu a teria na minha vida eram praticamente nulas, mas
lá estava eu, e uma parte de mim sabia muito bem o que eu tinha ido fazer ali,
olhando o mostruário eu não encontrei em um primeiro momento o que eu
queria, apesar que de um do modo geral as peças apresentadas eram de uma
qualidade excepcional. O joalheiro parecia ter um faro aguçado, e claro a
minha aparência de um modo geral, gritava dinheiro, o que abria muitas
portas, e certamente, essa não era uma venda que ele iria querer perder, logo
percebendo que eu não havia encontrado o que estava procurando, ele se
apressou em me informar que seria possível produzir uma joia
especificamente em um modelo que eu desejasse, eu não tinha certeza
exatamente do que eu queria, mas descrevi de forma geral para o joalheiro, as
características que eu buscava, e ele mostrou algumas referências de forma
que foi possível que eles fizessem alguns esboços, levaram mais três
encontros para que eu encontrasse o que estava procurando, o terceiro esboço
apresentado, realmente me agradou, o homem das cavernas dentro de mim,
queria uma pedra do tamanho da sua cabeça que gritasse a qualquer um a
quem ela pertencia, o bom senso no entanto, prevaleceu, eu sabia que um anel
enorme e chamativo não combinaria com Emma, seria mais um “troféu” do
que um símbolo, e isso definitivamente a incomodaria muito mais do que a
agradaria, e naquele momento mesmo que a realidade não apresentasse
nenhuma perspectiva favorável nesse sentido, em mim, existia um fio de
esperança do qual eu me agarrava. O desenho do anel de noivado foi feito de
fora que ele se entrelaçasse com a aliança, formando um conjunto, eu não iria
longe dizendo que era simples, mas definitivamente não era exagerado e de
mau gosto, ele era sim de certa forma chamativo, de ouro branco e diamantes
com o formato quadrado que eu descobri mais tarde ser chamado de corte
“princesa”, o aro era simples, e reproduzia o desenho de ramos entrelaçados,
era um trabalho tão intrincando e perfeito, que me fez orgulhoso de saber que
aquele seria o anel perfeito para ela, e que era justamente o que eu tinha em
mente quando pisei naquela loja.
Mas o meu dilema se referia à qual seria o momento ideal de fazer o pedido,
mil ideias já rondaram a minha cabeça, e eu descartei todas elas. Eu queria
que fosse um momento único, e recursos não faltavam, mas mais importante
que isso eu queria que fosse realmente significativo, para além de qualquer
clichê. O que basicamente queria dizer que eu mantinha o anel em meu
paletó, desde que ele tinha sido entregue a uma semana atrás, eu não sabia
exatamente o que eu estava procurando para considerar o momento propicio,
mas sabia que quando eu encontrasse, eu estaria pronto! Eu só esperava que
ela estive pronta também!




Chapter 11 – Dunluth
Emma
Eu havia sido liberada para voltar ao trabalho a uma semana atrás, Mikhail
não havia gostado muito, mas havia muito pouco que ele pudesse fazer sobre
isso, eu havia dado a braço a torcer em muitos aspectos, mas o meu trabalho
era um limite rígido para mim! Mas devo admitir que os primeiros dias, até eu
estabelecer o ritmo novamente foram exaustivos, é como se o meu corpo
tivesse sido mal-acostumado pelas semanas de férias ainda que forçadas! Mas
após os primeiros dias eu tinha entrado no ritmo, ser uma cirurgiã, era o que
eu sempre quis da minha vida, eu tinha trabalhado duro para chegar onde eu
estava, e não era algo que eu iria aceitar abrir mão, em nenhuma hipótese!
Havia quinze chamadas não atendidas da minha mãe no meu celular quando
eu fiz um intervalo, para qualquer pessoa normal, isso seria um alerta de que
uma tragédia havia acontecido, mas eu conhecia bem a mãe que tinha, e sabia
que não tinha relação com isso! Mas como estava com tempo, resolvi retornar
a chamada. O toque bateu por duas vezes antes dela atender.
– Emma, eu te liguei dezenas de vezes, e só agora você me retornou? Poderia
ter acontecido algo grave? Você não tem consideração?
Ela disparou antes mesmo que eu tivesse tempo de tomar um folego, e eu não
pude evitar revirar os olhos diante do seu drama.
– Eu estava em cirurgia mãe! Só agora estou em um intervalo! Está tudo bem?
– Emma honestamente, sou sua mãe! Existem prioridades! E além disso
custava ter liga…!
Eu resolvi interromper, se não as recriminações iriam se arrastar pela
eternidade.
– Mãe, eu tenho somente mais dez minutos de intervalo! Se você não tiver
nada importante para falar, eu te ligo depois.
– Meu Deus Emma! É claro que o que eu tenho para falar é importante, vital
eu diria! É sobre o casamento de Emily!
– O que têm? Eu recebi o convite, por sinal em cima da hora!
– Não seja rude Emma! Não foi em cima da hora, eles decidiram apressar!
Inclusive paguei uma taxa extra para o convite chegar a você mais rápido!
Mas não é sobre isso que eu quero falar, você tem que vir provar a sua roupa!
– Que roupa mãe?
– De madrinha obviamente!
Contei até dez mentalmente.
– Eu não sou uma das madrinhas, mãe – eu disse com toda paciência possível
– É evidente que você é, você é a irmã da noiva!
– Sim, mãe eu sou a irmã da noiva, mas isso não me converte
automaticamente em uma das madrinhas da Emily!
– Não seja absurda Emma!
– Não estou sendo absurda mãe! Estou a mais de dois mil quilômetros de
distância, Emily merece que suas madrinhas estejam aí a apoiando na
organização do casamento, o que definitivamente não é algo que eu posso me
dar ao luxo no momento!
– Você certamente poderia pedir um recesso ou algo assim…
– Não, mãe, eu não poderia, sou uma residente, preciso de todas as horas
cirúrgicas que eu conseguir obter! É vital para mim! E além disso tenho
certeza que Emily tem Elizabeth e Ethel para oferecerem toda a ajuda
necessária!
– Emma honestamente você é de um egoísmo que eu não consigo explicar!
Antes mesmo que eu pudesse respirar fundo para evitar responder a minha
mãe, o pager soou!
– Mãe, eu adoraria continuar essa conversa, mas o dever me chama! E eu
tenho que ir! Mande um beijo para o papai, e um abraço para todos aí!
– Emma, não ouse desligar, Emma!
E então eu desliguei. Com a minha mãe não havia meio termo, ou uma forma
suave de me despedir, além do que eu não havia mentido, havia um trauma
chegando e eu tinha que me preparar!
Encontrei Gwen na entrada da emergência, ela estava preenchendo uma
papelada no posto de enfermagem.
– Que cara é essa? – Foi a primeira coisa que ela me perguntou assim que me
viu!
– Minha mãe, telefone – Eu resumi.
E ela fez uma careta em resposta.
– Quer desabafar?
– Nem que eu quisesse eu teria tempo no momento, tem um caso chegando na
emergência! E Gwen a propósito, você vai comigo para o casamento da
Emily né?
– Humm, infelizmente não vai dar! Vou ter um compromisso – ela disse
tentando parecer sentida com isso e falhando miseravelmente.
– Eu não te disse a data – digo a ela estreitando os olhos.
– Vou estar ocupada em qualquer uma delas querida! – ela me disse então,
não disfarçando a sua diversão.
– Obriga Gwen, realmente, belo exemplo de amizade, estou encantada!
Realmente encantada! – Eu ironizei.
– Querida, existe limites para amizade que são instransponíveis, esse é um
deles! E além disso você tem Mikhail!
– Eu não submeteria Mikhail a minha família! – Eu disse ela.
– Mas me submeteria? Que belo exemplo de amizade! – Ela disse
debochando.
– Você venceria a provação por experiencia! Ele não tem essa vantagem! – eu
defendi a minha causa!
– Minha querida, vocês estão morando juntos! Você não vai conseguir adiar
isso por muito tempo!
– Talvez, mas vou adiar pelo máximo de tempo possível!
E então ouvi as sirenes, e encerramos o assunto, eu esperava realmente estar
certa sobre ser possível adiar esse encontro pelo máximo de tempo possível!
Foi um dia exaustivo de um modo geral, mas nada parecido a primeira
semana da minha volta, o cansaço que eu sentia agora, não era muito diferente
do que seria comum aos meu turnos, existia também uma leve dor de cabeça,
mas isso eu atribuía a minha mãe, eu sabia que ela não tinha terminado, e
mesmo que eu convenientemente ignorasse as suas ligações, invariavelmente
ela teria a oportunidade de me dizer tudo pessoalmente, no casamento! Não
era algo do qual eu pudesse fugir!
Emily era a minha irmã caçula, não podia dizer que a minha mãe foi muito
criativa nas escolhas dos nossos nomes, ela basicamente escolheu uma letra e
então seguiu o rumo, Elizabeth, Ethel, Emma e Emily, se fosse o caso
poderíamos formar um quarteto sertanejo ou algo do tipo, “The E´s” ou algo
assim, Elizabeth e Ethel, como boas moças do interior já haviam cumprido a
sua missão segundo os preceitos da minha mãe, estavam casadas e com filhos,
e Emily agora estava indo pelo mesmo caminho, ela havia ficado noiva no
fim do ano passado, e eu marquei presença evidentemente, eu ter feito a
minha agenda coincidir de modo que, eu voei no dia anterior, o que fez a
minha estada lá não durar mais que um dia e meio, era pura coincidência(só
que não)! Eu não podia me ausentar do trabalho por mais tempo que isso (o
que era uma meia verdade), e então eles tinham definido a data para daqui a
duas semanas, o que seriamente me fez desconfiar da pressa ao marcar a data,
já que eles estavam noivos a praticamente há quase um ano, e não tinham
dado nenhum sinal nesse meio tempo, sobre uma definição. Considerei que a
pressa tinha algum bom motivo, mas segundo o livro da minha mãe, garotas
católicas não engravidavam antes do casamento, o máximo que aconteceria,
era o bebê nascer “prematuro”, e se eu tivesse que apostar algum dinheiro era
justamente o que iria acontecer. Eu provavelmente poderia tentar me livrar da
responsabilidade de estar lá, afinal havia sido um aviso em cima da hora, e o
meu trabalho não permitia exatamente uma liberdade muito grande na hora de
tirar folga, mas isso seria desatar o inferno, e minha mãe jamais me deixaria
esquecer que eu faltei ao casamento de Emily, tipo jamais mesmo! Então dos
males o menor, eu poderia voar para lá em cima da hora, e então permanecer
tempo o suficiente para marcar presença, e voar de volta para cá o mais rápido
possível, alegando claro, que era por causa do trabalho, era uma meia
verdade, obviamente, mas iria funcionar, como todas as outras vezes que
utilizei a mesma desculpa.
Mikhail tinha ficado estranhamente calado, durante o café da manhã, mas eu
como sempre estava em cima da hora e não tivemos tempo de conversar,
minha vida tinha dado um giro completo, meu carro desapareceu, e eu tinha
certeza que eu nunca mais iria vê-lo, ainda mais quando vi Mikhail se referir a
ele como “aquele pedaço de lata velha que é um perigo ambulante”, e além
disso, apesar de ele ser totalmente confortável para mim, eu não imaginava os
meus seguranças, sim agora eu tinha seguranças, se espremendo no espaço
limitado do meu antigo carro, então em resumo, agora eu tinha um motorista,
que me levava a qualquer lugar, e era acompanhado por dois outros carros,
que faziam um perímetro de segurança, sim, eu tinha me tornado esse tipo de
pessoa, eu tentei argumentar, que era demais, excessivo e que eu poderia
perfeitamente ir dirigindo sozinha para o trabalho, seu olhar foi tão intenso no
meu que dispensou palavras, e eu sabia que nem fodendo eu estaria
desprotegida daqui para frente, e a minha rebeldia natural sequer se
manifestou, eu sabia a vida que tinha escolhido, e eu estava ok com isso, eu
estava com ele, e eu sabia que entrar no seu mundo teria consequências, e
então eu as aceitei de bom grado.
Meu turno se encerrou, e eu enviei uma mensagem para o Ygorov, meu
segurança principal para avisar que eu estava indo para a entrada, eu tinha mil
protocolos de segurança no momento, e considerando que a não muito tempo
atrás eu havia sido sequestrada no estacionamento desse mesmo hospital,
seguir as regras fazia sentido!
O caminho até casa, foi feito sem incidentes, para além da velocidade obscena
que o motorista usava, o comboio seguia como se estivéssemos sendo
perseguidos, e percebi depois de um tempo que esse era o modus operante
normal, era mais uma das inúmeros medidas de segurança.
Desci na garagem, praticamente em frente o elevador Ygorov, continuava me
acompanhando, os demais seguiram no outro elevador.
Eu estava cansada, não era necessariamente um cansaço físico, mas mental, o
que acabava por refletir fisicamente também. Ygorov me acompanhou até a
porta do apartamento e então ele voltou para elevador, eu tinha descoberto
que um dos apartamentos abaixo concentrava toda a equipe que trabalhava
para ele, era uma boa descoberta já que até então eu pensava que haviam elfos
domésticos aqui.
Não encontrei ninguém no meu caminho para o quarto, Zhenya
provavelmente já havia se recolhido, e Alex estava com um humor de um
urso em cativeiro, e basicamente estava descontando a sua frustração no
videogame.
Mikhail estava sentado na cama, concentrado no tablet em suas mãos.
Eu me aproximei, e dei um beijo de leve, ele me beijou de volta por um
momento, e então voltou a sua atenção para o tablet novamente. Eu estranhei
a sua reação, ele parecia um pouco frio comigo, e juntando isso, ao silêncio
pela manhã, realmente criava um quadro meio estranho.
– Eu vou tomar banho, já volto – Eu disse a ele enquanto me dirigia ao
banheiro.
Ele acenou com a cabeça em reconhecimento, e só.
As paranoias que era parte inerente da minha personalidade se afloraram com
o modo como ele estava agindo, eu sabia que não estava imaginando o seu
comportamento, mas não fazia a menor ideia do que eu tinha feito para fazer
com que ele agisse assim, revisei mentalmente meu comportamento durante
os últimos dias buscando qualquer indicio que explicasse, mas eu não
conseguia achar nada que explicasse.
Tirei minhas roupas, e entrei debaixo do jato de água, a água quente relaxou
cada um dos meus músculos, mas minha mente estava a mil, trazendo todas as
minhas inseguranças de volta. Fiquei ali embaixo por algum tempo, eu tinha
uma coisa com banhos quentes, era quase uma terapia e sempre me fazia me
sentir melhor, quando o vapor pareceu encher o banheiro, e meus dedos
enrugaram nas pontas, considerei que já era o suficiente e desliguei o
chuveiro. Enquanto me enxugava eu postergava o máximo possível o
momento de voltar ao quarto, porque eu me conhecia o suficiente para saber
que não iria simplesmente ignorar o que estava acontecendo, escovei os
dentes, penteei os cabelos, usei o secador para secá-los, e quanto finalmente
terminei, percebi que não havia mais o que fazer para enrolar, e então me
movi em direção ao quarto. Ele continuava na mesma posição de antes, os
olhos colados ao tablet, encostado na cabeceira, o torso nu, e coberto
parcialmente pelo cobertor.
Eu me aconcheguei no roupão, buscando alguma coragem para iniciar a
conversa.
– Mikhail – eu o chamei baixinho
Ele reagiu a minha voz, endurecendo o seu corpo, mas seus olhos
continuaram no tablet. Tanto quanto eu era insegura em muitos termos, o meu
sangue fervia rapidamente em determinadas situações.
– Ok, eu estou tentando entender, mas certamente não estou fazendo um bom
trabalho, você poderia me dizer que porra eu fiz para você estar agindo
assim? –Eu explodi, de forma totalmente justificada.
E isso certamente fez com que ele reagisse.
– Você não faz ideia? – ele disse com um toque de ironia.
– Não, eu não faço, e na falta de uma bola de cristal, realmente apreciaria que
você me dissesse. – Eu devolvi no mesmo tom.
Ele se inclinou na cama, para alcançar a gaveta do meu criado mudo, e retirou
algo, que ele jogou na cama, entre nós.
Me inclinei para pegar, e era o convite de casamento da minha irmã a minha
expressão confusa deve ter ficado clara no meu rosto, porque em seguida ele
disse:
– Você iria me contar?
– Te contar? – Eu repeti a pergunta ainda confusa
– O Casamento Emma.
– Te contar sobre o casamento?
– Me convidar para o casamento!
E então a compreensão desceu sobre mim! Ele estava chateado, com razão,
porque considerou que eu não me importava o suficiente para convida-lo para
um evento familiar, ao pensamento disso, eu ri, não um sorriso discreto, eu ri
as gargalhadas sem conseguir me controlar.
Percebi o seu cenho se fechar totalmente, mas não conseguia evitar as
gargalhadas, e as lágrimas que elas traziam aos meus olhos e eu já não era
mais capaz de controlar.
– Sério mesmo Emma? – Ele disse então parecendo bem puto.
– Ok, ok – eu disse respirando fundo e tentando me controlar.
Ele me olhou os braços cruzados em uma posição defensiva, com o olhar
lançando chamas.
– Mikhail, eu simplesmente nem considerei te contar, porque basicamente
visitar minha família, e visitar um hospício, são sinônimos! A maior prova de
amor que eu poderia te dar, é te deixar fora disso! Acredite em mim! Eu os
amo de todo o meu coração, mas eles são a minha sangue e carne, eu não
escondi isso deliberadamente de você, eu só te protegi, e acredite se eu tivesse
alguma escolha sobre isso, eu também preferia não tomar conhecimento, mas
para mim, não é uma opção…
– Eu pensei… – Ele começou a dizer
– Eu sei, sei o que você pensou! Acho que a convivência com as minhas
paranoias está te afetando – eu disse sorrindo.
– Essa coisa de me relacionar com alguém, e me importar realmente é novo
para mim – ele me disse
Ele estendeu o braço, e eu me juntei a ele na cama, encostando a minha
cabeça em seu peito, seus braços se fecharam a minha volta.
– Isso significa que eu vou conhecer o “hospício”?
Eu ri contra o seu peito sem conseguir evitar.
– Lembre-se sempre que eu tentei de salvar, e isso foi uma escolha sua, e
totalmente sua! – eu disse fingindo seriedade.
– Vou manter isso em mente… – ele me respondeu.
– É bom mesmo. Uma vez no hospício a fuga não é tão fácil quanto você
pensa!
– Bom, na pior das hipóteses eu tenho uma arma – Ele me disse
– O que pode ser muito útil nesse caso – eu disse a ele tentando parecer séria,
e quando ele me olhou assustado, eu não pude controlar minha reação, e
voltei a gargalhar contra o seu peito.
Ele me abraçou forte! E tudo pareceu simples! Todas as paranoias esquecidas
nesse abraço, ele achava que eu estava exagerando ao falar sobre a minha
família, mas eu não estava, não foi à toa que eu escolhi fazer faculdade e
construir a minha vida à mais de 2000km de casa.

Mikhail
Durante o café da manhã, que virou uma tradição entre nós, já que
basicamente na maioria dos dias era a única refeição que conseguíamos fazer
juntos, Emma me perguntou se deveria reservar as nossas passagens, se
fossemos pessoas normais, vivendo vidas normais, seria o normal reservar a
passagem em um voo comercial, mas não éramos, o cobertor de segurança
que nos envolvia, nos impedia totalmente de viajar dessa forma, sem uma
equipe fazendo a segurança, sem um esquema especifico todo montado no
caso de algo dar errado, mas obviamente eu não disse a ela, primeiro, porque
tanto quanto possível, eu a protegeria da realidade do meu mundo, segundo
que eu sabia que Emma era insegura sobre muitas coisas na nossa relação, e
eu não estaria indo piorar essa sensação, e em terceiro, porque provavelmente
ciente dessa questão, ela insistiria em ir sozinha, o que eu não iria permitir
nem fodendo!
Os planos incluíam segurança vinte quatro horas por dia, veículos blindados
no local, acomodação segura, transporte de emergência, equipe médica
disponível, entre outros tantos pormenores, que para mim se tratava de algo
corriqueiro, para onde quer que eu viajasse o esquema era o mesmo, mas eu
sabia que isso iria choca-la, então simplesmente disse a ela que eu cuidaria de
tudo, e que estaríamos lá com antecedência o bastante para participar do
jantar de pré-casamento como a mãe dela tinha insistido com ela ao telefone,
deixando claro que a presença dela era fundamental, e também tinha
organizado tudo para voltarmos na noite seguinte, já que o casamento estava
marcado pela manhã, e teríamos tempo hábil de socializar, e claro, o fato de
Emma, considerar que deveria em nome da sua saúde mental e da minha
(segundo, ela) passar o menor tempo possível ao redor da sua família.
Viajaríamos a noite, Emma sairia direto do hospital e nos encontraríamos no
aeroporto, Emma ia fazer as malas antes de sair, mas Zhenya a tranquilizou
dizendo que iria cuidar de tudo! Quer dizer “tranquilizou” entre aspas, porque
Emma estreitou os olhos, ela sabia que a definição da mala que ela tinha, e
que a Zhenya tinha, eram muito diferentes! Mas a falta de tempo
impossibilitaria que ela fizesse qualquer coisa sobre isso!
Sairíamos no início da madrugada, pois Emma saia do plantão somente as
vinte e três e iriamos até Minneapolis, e depois seriam mais duas horas de
carro até Dunluth, a sua cidade Natal, ficaríamos em um hotel nos arredores
da cidade, que tinha uma vista para o lago, Emma geralmente se acomodava
na casa dos pais quando visitava, mas com os preparativos do casamento, e
todo o staff que nos acompanhava, esse arranjo seria impossível, o que nós
não lamentávamos totalmente, apesar de brincar com ela sobre a sua
preocupação em me apresentar a família, eu sabia que havia verdade nas suas
palavras. O hotel escolhido era simples para o padrão que eu estava
acostumado, mas oferecia uma das melhores vistas entre as opções existentes,
além disso esse padrão mais “simples” era comum nessa região, sua
configuração incluía suítes e apartamentos, e era claramente configurado para
receber famílias, apesar de estarmos no verão, este fim de semana em
particular, não estava lotado de turistas, o que foi um alivio para a equipe de
segurança, consideramos fechar o hotel para uso próprio, mas o staff estava
reduzido, e depois de analisar cuidadosamente o plano de contingência, meu
chefe de segurança descartou a necessidade, mantínhamos os recursos de
emergência em stand by caso necessário, e fechamos dois andares do hotel
com a minha equipe, e foi o suficiente, tanto quando possível, na superfície
esse fim de semana deveria parecer o mais normal possível, não queria
sobrecarregar Emma, e nem conhecer sua família nessas circunstâncias, toda
e qualquer estrutura de suporte, estaria praticamente invisível, seriamos um
casal normal, indo a um casamento da família em um fim de semana.
A equipe de segurança que foi designada para proteger Emma vinte quatro
horas por dia, seria responsável por traze-la diretamente até o JFK, onde o
jato nos aguardaria, isso, deu alguma vantagem a Zhenya, já que em vez de
uma mala pequena como era o desejo de Emma, com o básico e o necessário,
Zhenya havia enchido duas malas, eu sequer tentei argumentar contra a sua
decisão, até porque Zhenya tinha a mania de sempre ganhar nos argumentos,
e Emma só ficaria ciente do seu “excesso de bagagem” quando chegássemos
ao nosso destino.
Quando Emma chegou a sala de embarque, ela parecia exausta, normalmente
ela sempre parecia estar cansada depois do seu turno, mas dessa vez parecia
relativamente pior, pelas coisas que ela já havia dito, eu sabia que a relação
dela com a família, era um tanto tensa, e eu acreditava que esse era o motivo
da exaustão, sofrer por antecedência, e Emma definitivamente era o tipo de
pessoa que sofria por antecedência.
Me aproximei dela e a envolvi em meus braços.
– Eu estou levando a minha arma, você pode ficar tranquila.
A sua risada ressoando contra o meu peito me deu a certeza que ela sabia do
que eu estava falando.
– Inteligente da sua parte, eu te disse que você poderia precisar!
A atendente da área destinada aos jatos executivos veio avisar que o piloto
havia terminado as checagens de segurança e estávamos prontos para voar!
Emma segurou minhas mãos.
– O quê?
– Você tem certeza? Eu posso pegar um voo comercial, e você não precisaria
passar por isso!
Eu revirei os olhos para ela enfatizando que ela estava exagerando, e então
disse:
– Emma, me dê um pouco de credito sim? Está tudo sob controle
Eu sabia que de certas formas minha palavras soavam vazias para ela, era
algo que eu teria que provar, eu sabia exatamente onde estava pisando,
ninguém entrava na minha vida sem uma investigação completa, essa parte eu
não estaria dizendo a ela de qualquer forma, mas eu sabia detalhes sobre a sua
família, e também sabia que ela não estava sendo exagerada nas suas
impressões, mas esse conhecimento prévio de causa, me permitiu estar
preparado para o que estava por vir, porém eu tinha consciência que Emma só
se tranquilizaria depois que isso passasse, não importa o que eu dissesse a ela,
no momento não iria fazer o que ela estava sentindo ir embora, então optei
por distraí-la com assuntos banais.
A bagagem já havia sido embarcada previamente, o que adiou no momento a
nossa discussão sobre a quantidade de malas. Então quando embarcamos, não
houve problemas em relação a isso, o resto da equipe tinha partido no dia
anterior, para fazer os preparativos necessários
E consegui que ela relaxasse, ao menos pelo tempo da viagem, o jato, modelo
top de linha em sua área, continha uma suíte na parte traseira, e assim que
decolamos nos dirigimos para lá, Emma parecia exausta, e somada a tensão
em relação ao encontro familiar, ela dormiu com surpreendente rapidez, eu
me aconcheguei a ela na cama, e também adormeci, eu sabia que amanhã
seria um longo dia.
****
Eu acordei com uma sensação de calor, e corpo dela pressionado ao meu, meu
corpo no sono, havia reagido a sua proximidade, e eu me encontrava nesse
momento mais duro que uma rocha, mas não queria interromper o seu
descanso, estávamos deitados de lado, Emma estava a minha frente, e ao se
mover durante o sono, seu corpo se colou ao meu de tal forma que meu
controle e boa vontade foram para o espaço, minhas mãos foram para o seu
corpo, enquanto o meu pau cavava em sua bunda, um suspiro longo, entregou
que ela havia acordado, meus lábios traçaram a linha do seu pescoço e ela se
arqueou contra mim, ambos estávamos nus, Emma estava começando ase
acostumar, e também aderir a minha mania de dormir completamente nu,
então ambos estavam completamente nus na suíte traseira do avião, eu a
penetrei devagar, até estar todo dentro dela, seu gemido no meu ouvido estava
me deixando louco, e então Emma levou isso a outro nível quando no
intervalo entre nossos beijos, ela começou a morder meu lábio inferior, me
deixando louco! Eu acelerei as estocadas, enquanto minhas mãos vagavam
pelo seu corpo, a minha menina era gananciosa, e então começou a esfregar o
seu clitóris por conta própria, enquanto eu brincava com os seus seios! E
alternava o ritmo.
– Mais forte – ela pediu então.
– Quer ser fodida com força é?
– Com força! Por favor – ela disse com os lábios entreabertos, enquanto eu a
atendia e aumentava o ritmo das minhas estocadas.
– Você me provoca para caralho!
– Você gosta! – ela rebateu.
– Eu adoro – eu admiti.
Senti, sua buceta de contrair, e então ela gozar, esmagando meu pau, e
gemendo sem controle. Eu sabia que Emma se sentiria tímida, perante a
tripulação, então engoli o seu gemido com um beijo. E então acelerei o ritmo
batendo forte, sem controle, substituindo a mão dela pela minha e esfregando
o seu clitóris, enquanto continuava fodendo com força.
Eu senti o corpo dela se esticar, e então não segurei mais! Gozei, e enquanto
eu gozava, senti ela se contrair inteira novamente, gozamos juntos! E foi
perfeito para caralho! E então, sonolentos após o orgasmo, cochilamos
abraçados, meu pau, ainda em seu interior, o que também era um hábito que
estávamos adquirindo ultimamente.
A comissária bateu na porta para avisar que faltava trinta minutos para o
pouso, nos vestimos, na cabine havia uma mala de mão, para que Emma
pudesse se trocar, e ela assim o fez, depois de tomar um banho rápido na
ducha da suíte, tanto quanto Zhenya tinha uma tendência a exagerar, era
também tinha uma praticidade intrínseca, e na mala de mão colocou um
conjunto composto por calça e blusa, pareciam casuais o bastante para
agradar a Emma, e um conjunto semelhante para mim eu fui em seguida
tomar uma ducha rápida, e me vesti rapidamente para que pudéssemos ir em
direção aos assentos e afivelar o cinto, já que o momento da aterrissagem
estava próximo.
Aterrissamos com tranquilidade em Minneapolis, o aeroporto no meio da
madrugada estava praticamente vazio, os carros estavam esperando na pista.
E o desembarque foi rápido, aguardamos um momento, para que a bagagem
fosse transferida para o carro, o que levou Emma a estreitar os olhos em
minha direção, já que claramente o volume de bagagens era bem mais extenso
do que ela imaginava, eu dei de ombros, e me mantive calado, a tensão de
Emma aumentava a cada minuto na perspectiva de encontrar a sua família, e
discutir por bobagem não era o ideal no momento.
Peguei a suas mãos entre as minhas.
– Vai ficar tudo bem Emma.
– Eu espero que sim!
Ela me respondeu com um sorriso que não chegou aos olhos, e então manteve
os seus olhos na janela. E eu fiz o mesmo, iriamos passar por isso, e daria
tudo certo, mas uma parte de mim queria evitar que ela se estressasse à toa,
mesmo sabendo que isso era altamente improvável.
Chegamos no hotel por volta das quatro da manhã. Iriamos descansar, porque
a família dela havia marcado um brunch pela manhã, e além disso havia o
jantar de pré-casamento hoje. O casamento em si, aconteceria amanhã no
período da manhã.
Quando chegamos ao hotel simplesmente apagamos, o cansaço do dia interior
somado as preparações para a viagem, chutaram a minha bunda, Emma
também estava exausta, havia dado plantão no dia anterior, e no avião eu não
deixei que ela descansasse.

Emma
Eu despertei com o barulho estridente do despertador do meu celular, tanto
quanto eu queria apertar a função soneca indefinidamente, eu sabia que isso
não era uma opção, perder o brunch que minha mãe planejou tão
cuidadosamente não era uma opção, se eu não fosse até lá, ela viria até mim,
com toda a certeza!
Eu não havia dito a ela que ia trazer Mikhail, eu sequer havia dito a ela que
estava namorando, e muito menos que estávamos morando juntos, em nome
da minha pura sanidade mental, havia dito de forma vaga que talvez Gwen
viria comigo, logo ela teria se preparado para que eu estivesse levado um
acompanhante, então um membro a mais no seu tão falado brunch de
casamento para a família, não iria acabar com sua programação, mas acredite,
eu a conhecia bem o suficiente para saber que ela iria reclamar ainda assim da
minha omissão.
Ficamos em um hotel a cerca de oito quilômetros da casa dos meus pais,
então eu tinha algum tempo para me arrumar, fui tomar um banho, e deixei
Mikhail dormindo, se eu o acordasse agora, iriamos provavelmente tomar
banho juntos, e uma coisa levaria a outra e estaríamos definitivamente
atrasados, e eu realmente não estaria dando nenhum motivo para minha mãe
reclamar, além do necessário. Sendo assim me movi na ponta dos pés em
direção ao banheiro, e checando se havia toalhas lá, fechei a porta
cuidadosamente e tomei um banho, a água quente batendo no meu corpo,
fazia um bom trabalho para aliviar um pouco da tensão, tensão que eu sabia
que iria voltar no momento que eu me pusesse a caminho, mas no momento,
eu só iria aproveitar a sensação. Após as pontas dos meus dedos começar a
enrugar, considerei que não podia mais permanecer no banho, me enrolei na
toalha, e saí do banheiro em busca das minhas roupas.
O quarto era um suíte, e possuía uma sala, e um closet separado do quarto, eu
achei um exagero quando chegamos, mas estava com tanto sono que sequer
tinha me trocado, só tirei a roupa da viagem e dormi de lingerie, então hoje
quando abri a porta de correr do armário do closet em busca da mala, fiquei
em choque, havia fileiras, sim fileiras de roupas penduradas lá! Voltei
imediatamente ao quarto, Mikhail havia acordado com a minha
movimentação, mas continuou deitado, com expressão de sono.
– Mikhail, é a nossa bagagem pendurada no armário, ou por algum milagre,
eu espero, o hospede anterior esqueceu as suas coisas aqui?
Ele pareceu bem mais atento, diante da minha pergunta, como se o sono
tivesse sido dissolvido da sua expressão.
– Emma, se você deixa a Zhenya fazer a bagagem, você deve esperar coisas
assim! Ela não entende o conceito de bagagem mínima, ou uma mochila
simples…
– Meu Deus Mikhail, ela mandou um guarda-roupa completo!
Ele só ficou em silêncio, deixando que eu absolvesse o meu choque.
Então se levantou, e veio em minha direção, o seu corpo exposto, com
exceção da cueca branca, que não fazia um bom trabalho para esconder a sua
masculinidade, me distraiu totalmente do surto atual. O fato que ele fez um
caminho ascendente do meu pescoço, a minha boca, e então me deu um beijo
muito doce, que foi se aprofundando e se tornando muito quente,
contribuíram para isso também é claro.
– Não podemos! – eu disse a ele com uma voz tão fraca que sequer sabia se
tinha sido ouvida.
Ele me olhou com uma expressão de interrogação no rosto.
– O conceito de rapidinha, não está no nosso dicionário! E não podemos nos
atrasar, e não pense que eu não percebi a sua tentativa de me distrair!
Ele me deu um outro beijo mais quente que o anterior, o que basicamente me
fez querer mandar tudo as favas, e ignorar o brunch da minha mãe, mas então
quando esses pensamentos me atingiram, ele me soltou e foi em direção ao
banheiro! Ótimo, um de nós deveria manter a sanidade intacta, e claramente
não seria eu!
Voltei em direção ao closet, e resolvi abraçar a loucura, não adiantaria
reclamar sobre o leite derramado, e as roupas já estavam ali de qualquer
forma, do lado direito estavam as roupas de Mikhail, as minhas estavam no
lado esquerdo, todas embaladas por sacos protetores, quando puxei uma,
reparei que elas foram organizadas em ordem para ocasião, e Zhenya tinha
colocado cinco! CINCO, opções para cada evento que iriamos participar, os
sacos protetores continham bolsos com feixes onde foram organizados os
acessórios, e os sapatos estavam na parte de baixo, etiquetados para que eu
não fizesse confusão entre os looks! Zhenya era definitivamente maluca, mas
eu não seria hipócrita em dizer que a sua ajuda não era bem-vinda. Escolhi
um vestido com fundo branco e uma estampa de limões amarelos, os
acessórios que acompanhavam eram simples, e a sandália que Zhenya
escolheu também, eles faziam uma boa composição com o vestido sem
“brigar” já que o vestido por si só já tinha muitos detalhes, agradeci
mentalmente a Zhenya pela ajuda, mesmo que ainda achasse exagero, eu
sabia que não tinha esse talento de combinar as peças como ela!
Terminando de me vestir, me sentei na bancada para poder me maquiar,
minha nécessaire havia sido deixada ali, Mikhail havia saído do banho, e eu o
observei se trocar através do espelho, repetindo mentalmente que não
tínhamos tempo agora, e que eu não deveria algo que não poderíamos
terminar!
A maquiagem foi rápida, no estilo “acordei assim”, até porque era um evento
diurno e eu não tinha porquê pesar a mão. E Mikhail, Mikhail era um
daqueles acidentes da natureza que era bonito e apresentável de qualquer
forma, a consciência de poder dizer que esse homem era meu, trazia um
sensação muito boa, e ia além da futilidade estética, Mikhail era uma das
pessoas mais especiais que eu já havia conhecido, e se houvesse destino, alma
gêmeas ou algo do tipo, eu sabia ter encontrado a minha.
Estávamos prontos e não havia mais como adiar o inevitável, Mikhail levou o
celular a orelha, e se comunicou com a segurança, no corredor, Igor e
Yegorov de juntaram a nós, eu pude reparar que havia muitos outros membros
da segurança no andar.
– Você fechou o andar? – eu não consegui me segurar.
– Emma…
Diante do seu olhar eloquente, suas meias palavras bastaram para eu
compreender.
– Esqueça, eu não quero saber, não realmente – eu disse simplesmente.
Eu sabia o que tinha aceitado ao estar no mundo de Mikhail, coisas normais
como uma mochila para viagem inexistiam nesse universo.
Nos movemos para o elevador, e em seguida estávamos andando até o carro,
que estava parado na porta de recepção, havia dois carros batedores, mas
discretos, nada como o comboio normal de Nova York, o que me surpreendeu
era que Mikhail iria dirigir.
– Surpresa?
– Na verdade sim, acho que nunca vi você dirigir.
– É um protocolo de segurança, aqui de certa forma estamos mais relaxados, e
a “paisana”.
– Mais relaxados? Metade da sua equipe está aqui! Por um fim de semana
Mikhail.
– Acredite, metade da equipe é tão próximo de mais relaxado que vamos
chegar. Você está brava? Pela equipe estar aqui?
– Acho que a essa altura já compreendi que tudo isso é um pacote Mikhail,
não vou negar que me surpreenda e que ainda me choque as vezes, mas sei
que faz parte da sua vida, e então eu aceito isso como parte de você.
Suas mãos enlaçaram as minhas.
– Você está mordendo os lábios – ele me disse então
E eu estava, não tinha percebido até então, mas com todos os pensamentos
zunindo na minha cabeça, e o nervosismo aumentando a cada quilometro não
era algo que eu conseguiria evitar.
– Estou pensando se tem algo do qual eu deveria te prevenir, mas a lista só vai
crescendo e não teríamos tempo hábil para isso.
– Eu acho que eu já cobri as partes mais importantes – ele me disse sorrindo.
– Você trouxe a arma? – eu debochei.
Ele me olhou sério.
– Não, não seria algo fácil de esconder, mas eu trouxe uma equipe de oito
seguranças armados que ficaram a parte, mas perto o bastante caso
necessário! Mas creio que atirar em uma dona de casa de Minesota não vai ser
necessário.
– Você ainda não a conhece, não quer guardar o julgamento?
Ele riu, uma risada gostosa que fez os meus nervos relaxarem.
– Ok, eu vou guardar o julgamento até conhecer.
E então uma luz se acendeu na minha cabeça.
– Tem algo que será muito útil para você saber…

Mikhail
– Um casal? Ela acha que você e Gwen eram um casal? Sério – eu disse rindo
sem poder evitar, acho que posso ter derramado até algumas lagrimas em um
ataque de riso.
– Bom, ela nunca perguntou literalmente, mas você deve entender que minha
mãe é muito rápida em tirar conclusões.
– E você nunca se preocupou em esclarecer?
– Mikhail, minha mãe de certa forma tem um quê da Sra. Bennet de Orgulho
e Preconceito, então sim, eu deixei que ela presumisse que Emma e eu éramos
um casal, sem negar ou confirmar, por defesa, porque no momento que eu
fizesse isso, ela iria aproveitar cada visita para me apresentar qualquer
homem minimamente elegível no raio de quilômetros.
Eu não conseguia evitar o riso na minha garganta! E então disse a ela sem
nem tentar esconder a minha diversão.
– Sua mãe não te conhece absolutamente se ela cogitou isso!
– Bem-vindo ao mundo delusional da família Harris
A conversa havia nos distraído, mas o GPS, indicava que estávamos
chegando, os carros que nos acompanhavam ficariam nas ruas adjacentes,
fornecendo cobertura caso necessário, mas discretamente, tanto quanto os
meus homens eram treinados para parecerem invisíveis, isso funcionava bem
em uma cidade grande como Nova York, ter o mesmo efeito em uma cidade
pequena em Minesota, seria altamente improvável, logo descrição era
fundamental, o comboio se desfez então, e continuamos sozinhos em direção
à rua em que seus pais moravam.
Era possível ver o lago entre as arvores, quando passávamos pela rua, as casas
seguiam um padrão similar, tipicamente o modelo de casas americanas
padrão, com seus quintais e jardins gramados. Um típico subúrbio americano,
e se o relatório que recebi estava correto, sua família era justamente o
estereotipo de uma família americana convencional.
Emma que esteve falante e sorridente até agora pouco, agora definitivamente
parecia tensa, frente a enfrentar toda a sua família ao mesmo tempo.
Descemos do carro e eu entrelacei suas mãos nas minhas esperando que o
meu gesto passasse algum conforto e segurança.
Emma a cada passo que dava em direção a casa parecia ficar mais nervosa. E
não poder protege-la dessa sensação, me deixava com a sensação de
incapacidade.
– Última chance de fugir – Ela disse para mim, quando chegamos a entrada.
– Eu não estou indo a lugar nenhum! – Eu disse a ela – E não se preocupe, eu
trouxe a minha arma!
Isso rendeu a ela um riso afogado que ela tentou esconder.
Ela tocou a campainha.
E então esperamos.
A porta foi atendida tão rapidamente, como se a pessoa estivesse vigiando a
entrada o tempo todo (o que eu considerei altamente provável).
Deborah Harris apareceu a porta, seu sorriso congelado em seu rosto, e sem
disfarçar a expressão de surpresa ao me ver. Ela ficou parada durante alguns
segundos.
– Mãe? – Emma chamou a sua atenção.
– Emma querida – ela respondeu então aparentemente se recuperando da
surpresa.
– Mãe? Podemos entrar.
– Mas é claro – ela disse então, piscando de surpresa, como se tivesse se dado
conta só então, que estava bloqueando a porta, então deu um passo para o
lado, e permitiu a nossa entrada, eu mantive o aperto na mão de Emma.
– Mikhail, esse é a minha mãe, Deborah Harris – ela se virou para mim
fazendo as apresentações, e então complementou – Mãe, esse é Mikhail, meu
namorado.
Toda e qualquer neutralidade que a mãe dela tentou aparentar nesse momento
escorreu pelo seu rosto, quando ela se mostrou boquiaberta diante da
informação que Emma soltou durante a apresentação.
– Senhora – eu me inclinei e tomei a sua mão em meus lábios, em
cumprimento, o que de certa forma pode ter contribuído para aumentar o seu
choque.
– Namorado? – ela perguntou em um fio de voz.
Eu só sorri diante da sua pergunta.
Emma havia franzindo as sobrancelhas em descredito, já que claramente não
estava entendendo completamente o silencio chocado da sua mãe, já que pelo
que ela falava, aquele não era o comportamento usual.
– Namorado! – eu confirmei então.
– Céus, se a minha Emma não é cheia de surpresas! – ela disse então
parecendo realmente feliz, e um tanto aliviada?
– Onde estão todos? – Emma perguntou então.
– As mulheres estão na cozinha, e os homens na área externa – Deborah então
começou a se mover para os fundos da casa, o que foi a nossa deixa para
segui-la.
Emma cochichou no meu ouvido.
– Nenhuma crítica, você realmente fez um ótimo trabalho senhor Dragarov,
acredito que a arma não será necessária no momento.
Eu levei a sua mão aos meus lábios.
– Meu trabalho principal consiste em te proteger, de tudo e de todos, sempre!
Ela corou diante da intensidade do meu olhar.
– Prepare-se, uma batalha já foi, mas muitas outras ainda virão – ele me disse
então, e então seguimos a sua mãe.
O corredor levava a uma copa, que era interligada a uma cozinha por um
balcão, uma cozinha típica americana, que nesse momento estava lotada com
mulheres que variavam entre os vinte e poucos anos e os oitenta, quando
entramos, e quando me viram, um silêncio sepulcral caiu sobre o ambiente
que antes parecia uma feira de rua com conversar, eu deveria dizer que já
tinha me acostumado com isso, mas isso não era inteiramente verdade.
A mãe de Emma quebrou o silêncio anunciando a todas.
– Esse é Mikhail, o namorado de Emma – a sua felicidade transparecia ao
anunciar essa notícia, e eu tive que controlar a minha expressão ao me
lembrar a minha conversa com Emma no carro.
E então como um exército de formigas bem treinadas, todas elas nos cercaram
e se apresentaram, parecendo tão contentes quando Deborah em me conhecer,
foi uma sucessão de nomes, irmãs, tias primas, avós, e uma tia avó, era uma
boa coisa, que eu possuía um memoria excelente para rostos e nomes, e que
eu tinha tido acesso prévio um relatório completo sobre a sua família, já que
era um número considerável de pessoas presentes ali, e aquela era só a família
Harris, no jantar e hoje à noite e no casamento isso seria acrescido da família
do noivo.
Fomos manobrados então, para a área externa, havia uma mesa enorme no
quintal, com arranjos de flores do campo, que davam um ar caseiro a cena,
havia um grupo de homens que como o outro grupo era composto por uma
heterogeneidade em relação as idades.
A mãe de Emma ia em nossa dianteira.
– Daniel querido – ela chamou a atenção de um dos homens mais velhos do
grupo.
– Emma! – ele interrompeu a esposa, e veio em nossa direção tomando Emma
em um abraço de urso!
– Daniel querido, não seja rude – Deborah o interrompeu então.
E antes que Deborah tivesse tempo de fazer outro anuncio, Emma disse então
– Papai, esse é Mikhail, meu namorado.
Os olhos dele se estreitaram imediatamente em minha direção.
– Namorado? E porque eu só estou sabendo disso agora.
– Porque eu sou uma adulta, com vida própria, e moro muito longe! – Emma
respondeu então, mas não parecia defensiva, só levemente divertida.
Ele então estendeu a mão, com uma certa relutância devo admitir, em minha
direção.
– Senhor! – Eu o cumprimentei de volta, e o seu aperto com mais força que o
necessário e o seu estreitar de olhos continha um aviso implícito, que
basicamente dizia “Não magoe a minha garotinha”.
Eu não imaginava Emma, como a garotinha do papai, mas considerando que a
sua relação era no mínimo tensa com a sua mãe, sua relação com o pai era
claramente mais afetiva.
Quaisquer pensamentos foram interrompidos por Deborah que anunciou ao
resto do grupo a minha identidade, e assim, se iniciou uma outra rodada de
apresentações.
Deborah aproveitou a deixa, e levou Emma de volta a cozinha onde as
mulheres estavam se reunindo, me deixando na roda de conversa com os
homens que variava entre construção, pescaria e política. Ainda que trabalho
braçal não fosse a minha coisa, eu sabia o suficiente para manter uma
conversação sem fazer feio, percebi que Daniel, aproveitava as perguntas
“gerais” para me testar em muitos aspectos, uma parte de mim se irritava com
o questionário, mas a outra parte entendia o sentimento de um pai protegendo
a sua filha, eu sequer conseguia me colocar no lugar dele, e isso queria dizer
muito sobre o que me aguardava no futuro quando eu tivesse uma filha! Jesus,
eu já consegui pensar “quando” e não “se”, o que só me dizia que eu
realmente estava ferrado, mas ferrado da melhor maneira, se é que isso era
possível.
Quando a mãe dela, entrelaçou os braços no dela, para leva-la em direção a
cozinha, Emma me deu um olhar que era quase um pedido de socorro, mas
tanto quanto eu queria suavizar a experiencia, não seria capaz de salva-la
dessa vez, e certamente eu não seria bem visto se as acompanhasse para o
cozinha que tinha sido marcada como território feminino, eu sabia disso e
Emma também, mas deixa-la “desprotegida” ia contra tudo que eu acreditava,
e eu tive que esconder o meu desconforto com doses cavalares de paciência,
enquanto era arrastado para a conversa do grupo masculino, disse a mim
mesmo, que seria uma experiencia rápida, e que ela estaria bem, e que na pior
das hipóteses eu inventaria um problema de negócios caso fosse necessário.


Emma
Eu sentia a minha mãe vibrar de alegria enquanto ela me arrastava de volta a
cozinha, no sentido mais literal possível, eu podia sentir o seu tremor de
excitação enquanto ela nos dirigia para lá! E isso tudo pela descoberta recente
que eu não lésbica? Provavelmente! Sim, sei como isso soa em pleno século
XXI, mas minha mãe, uma católica descendente de Irlandeses, tinha uma
mentalidade muito arcaica no que dizia respeito a isso, e eu dentro dos limites
da minha própria tolerância, tentava compreender a sua criação, e as raízes
dos seus preconceitos, nem sempre eu conseguia, o que basicamente era a
fonte de inúmeros conflitos entre nós, porém nesse momento ela sequer
considerou qualquer comentário nesse sentido, seu jubilo era tão grande por
eu ter trazido alguém para casa que o seu estado de êxtase sequer permitia que
ela pensasse em outra coisa, e sinceramente? Minha mãe era justamente o tipo
de pessoa que negaria veementemente ter qualquer tipo de preconceito,
usando jargões batidos tipo “Somos todos filhos de Deus” ou algo do tipo, e
eu no momento não queria criar qualquer tipo de confusão, então
simplesmente resolvi seguir o fluxo.
Eu sabia claro, assim que minha mãe entrelaçou o seu braço com o meu que
estava sendo levada para um interrogatório coletivo, e sabia também que isso
seria inevitável, o meu olhar de puro pânico em direção a Mikhail foi um
reflexo automático, mas eu sabia que não havia nada que ele poderia fazer por
mim nesse sentido, parafraseando a minha mãe “essa a era minha cruz para
carregar”.
Mas eu não imaginava que até a minha Vó se juntaria ao grupo, e também me
encheria de perguntas, todas completamente eufóricas, tal qual a minha mãe.
Eu sabia que evitar qualquer pergunta, só aguçaria a curiosidade de todos,
então eu respondi com calma, contornando a verdade e ao mesmo tempo não
contanto nenhuma mentira, e percebi rapidamente que qualquer elogio que eu
fizesse a ele funcionava como uma boa distração, então foi um recurso que eu
usei bastante a meu favor. Mas eu comecei a realmente me preocupar, já que o
interrogatório parecia não ter fim. Quando Emily, e Josh chegaram, eu quase
dei graças a Deus em voz alta, pela interrupção.
Emily parecia mal, para quem estava tão próxima do dia mais feliz da sua
vida, ela parecia doente, como uma doença matinal, se é que vocês me
entendem! Com a chegada de Emily, todas as mulheres começaram a se
movimentar para preparar a mesa.
Josh foi para o lado externo se juntar ao grupo masculino.
Fui até a chávena de chá que minha mãe sempre deixava pronta e servi uma
xicara, peguei algumas torradas pus em um prato, e coloquei em frente a
Emily
– Coma! – eu disse simplesmente.
– Eu não estou me sentindo bem para comer ou beber nada – ela me disse
então.
– Emily, eu sou uma médica, e estou te dizendo para comer as torradas e
beber o chá! Vai ajudar, com digamos assim “o seu estomago delicado” – eu
enfatizei com o movimento de aspas nas mãos.
Ela então se sentou à mesa e começou a comer.
– Mamãe disse que você não quis ser minha madrinha – ela disse então.
Eu respirei fundo evitando a vontade de ir até a minha mãe, e a estrangular.
– Emily, eu moro muito longe, eu não conseguiria estar aqui por você, durante
o planejamento, e você merece que as suas madrinhas estivessem aqui por
você, e não simplesmente vestissem um vestido, e pousassem para fotos no
dia do seu casamento! Se não fosse a distância, seria uma honra ser uma das
suas madrinhas!
Ela acenou em concordância, Emily era a caçula de quatro irmãs, o que
basicamente queria dizer, que seu nível de carência era estratosférico, o que
aparentemente minha mãe não percebia, mesmo após tantos anos.
Comentários como esse, de eu não querer ser a sua madrinha, a magoavam,
sem nenhuma razão, em um dia que deveria ser lindo e perfeito para ela.
– Eu queria que você estivesse lá por mim.
– Eu vou estar, sempre! Só não vou estar vestindo um vestido padrão, e
segurando um buquê! Mas sempre Emily, sempre que você precisar, você
pode contar comigo!
– Obrigada eu acho – ela me respondeu então.
– Bom, agora que o seu rosto adquiriu alguma cor, acho que podemos nos
juntar a todos, e lembre-se alimentos secos e chá pela manhã ajuda.
– Obrigada Emma!
– Como eu disse, sempre que precisar Emily.
– Eu entendo, o fato de você não ter querido ser uma madrinha, sei que você
tem razão sobre isso, mas não pude deixar de ficar chateada antes.
O fato sobre Emily, é que apesar de ela ser propensa a birras, como era natural
na sua condição de irmã caçula, sua mágoa não durava muito tempo, ela tinha
um coração doce, por debaixo de todo o mimo.
– Emily, você está feliz com esse casamento? Você quer mesmo se casar?
– Que pergunta Emma! É claro que sim!
– Você não está parecendo muito animada para o seu grande dia, que por
acaso é amanhã! Emily, se a mamãe estiver pressionando, nós podemos…
– Emma! – Ela me interrompeu – É claro que mamãe está pressionando, esse
é o seu modo padrão de agir, o estranho seria se ela não tivesse pressionando!
– Ela desabafou então – Eu quero me casar com Joshua amanhã, o meu
desanimo não tem nada a ver com isso! Só que as últimas semanas tem sido
difíceis, a organização, a mamãe, foi tudo ao mesmo tempo, e só!
– Entendo! Mas eu queria que você soubesse, estou aqui para te apoiar, seja lá
o que você decidir fazer.
– Emma – ela me parou então – Obrigada, pelo chá e torradas, e pela
conversa! – ela complementou então.
– Eu quis dizer isso Emily, sempre que você precisar, meu trabalho não me
permite estar disponível sempre, mas eu sempre retorno quando posso! Se
você precisar conversar, me procure!
E após essa conversa, nos movemos para a porta, e então Emily pareceu ter
reparado em mim, verdadeiramente, pela primeira vez desde que havia
entrado pela porta.
– Você está vestindo um Dolce Gabanna?
Meu conhecimento sobre moda poderia preencher a cabeça de alfinete, já para
Emily era uma paixão.
– Foi um presente, você sabe que meu nível de conhecimento sobre grifes de
qualquer tipo é inexistente.
– Presente? Quem você conhece que presenteia com um Dolce e Gabanna?
– Minha sogra – eu novamente estiquei a “verdade” ao limite.
– Ah sim, mamãe mandou um SMS sobre o seu namorado! É sério?
– Eu o até trouxe aqui, para conhecer a família, o que você acha?
– Definitivamente sério então? – ela sondou.
– Definitivamente sério! – eu confirmei.
Quaisquer outras coisas que pudéssemos dizer uma a outra se perdeu junto ao
aglomerado familiar, acredite, era completamente impossível ter uma
conversa bilateral junto a minha família, todos falavam juntos e sem pausa,
pedidos de silencio, e que cada um falasse por vez, era sumariamente
ignorado por todos, mas basicamente? Basicamente funcionava! E de
qualquer forma não se mudava um comportamento padrão.
Era um evento planejado informalmente, o que quer dizer que não tínhamos
lugares marcados, me aproximei de Mikhail, e o guiei pelas mãos, para longe
de todas as “armadilhas” familiares. Meus pais se sentariam a cabeceira, e
Emily e Josh se sentaram no centro, e os demais se distribuíram
aleatoriamente, eu e Mikhail nos sentamos entre a minha tia-avó Bernice, e
meu vó Greg, que eram diante das minhas opções, os menos intrusivos, e os
únicos que permitiriam que tivéssemos o mínimo de paz durante a refeição.
E funcionou, o foco estava nos noivos, como deveria ser, e para os padrões da
minha família houveram somente conversas leves e agradáveis.
A felicidade da minha mãe era palpável, e isso influenciava o ambiente como
um todo!
Até as crianças sentiam isso no ar, e estavam mais tranquilas que o usual, elas
continuavam a correr por toda a casa, mas os humores estavam contidos, e o
modo destruição total que era costume, estava desativado.
Caleb, o bebê de Ethel, estava confortável no meu colo, seu cheirinho de bebê
era viciante, e a partir do momento que ele veio para o meu colo não pareceu
querer sair, e eu também não tinha a intenção de devolve-lo tão cedo, Ethel
parecia agradecida de ter um tempo de folga, então isso não seria problema.
Eu ainda não havia sentido os efeitos do relógio biológico, como algumas
amigas minhas tinham, mas tendo Caleb ali nos meus braços, eu entendi, não
era só o bebê e toda a sua fofura em si que me faziam ansiar por uma família,
era a sensação de ter encontrado a pessoa com quem eu queria dividir a minha
vida, que em muitos sentidos não era o “príncipe encantado”, mas que ainda
sim, era quem eu tive esperando por todo esse tempo, era um sonho realizado,
e uma parte de mim as vezes achava bom demais para ser verdade, eu estava
esperando um tombo, algo dar errado, ele me cortar da sua vida novamente,
algumas cicatrizes demoravam a curar, ás vezes eu tinha consciência de estar
sendo boba, mas as vezes o medo era muito real para se ignorar, Mikhail
nunca discutia ou pedia que eu confiasse nele, ele era mais o tipo que “fazia
em vez de falar”, e a cada dia que passa ele tem me mostrado
comprometimento, fidelidade, amor.
Nossos olhares se cruzaram enquanto eu embalava Caleb, o olhar dele tinha
uma intensidade que eu sequer conseguia definir, e também uma suavidade
que aquecia o meu coração. Eu não podia ler os seus pensamentos, mas a sua
expressão transmitia o seu sentimento, e se eu tinha dúvidas sobre várias
coisas, sobre o sentimento dele por mim, eu não tinha, eu não tinha a
inocência infantil de não saber que o amor nem sempre era suficiente, mas
eu esperava que fosse suficiente o bastante para nós! Eu queria isso, filhos,
uma família, com ele, eu queria um “para sempre”, e acredito que isso estava
escrito por toda a minha face também, Caleb fez sons borbulhantes, e desviou
a minha atenção de Mikhail, e então ele caiu na risada me arrancando um riso
bobo também! Ele era de uma fofura sem limites, e se tinha uma coisa que eu
sentia falta era poder acompanhar o crescimento dos meus sobrinhos.

Mikhail
Ver Emma sorrindo, compensava qualquer coisa, a tensão dos últimos dias
completamente esquecida, o clima leve que pairava no ambiente, sem as
temidas discussões. Emma tinha o sobrinho nos braços, tanto quanto isso
assustaria a merda fora de mim antigamente, ver essa cena agora, acendia um
desejo que eu nem sabia que estava lá, e todo o pânico que eu esperava sentir
diante dessa constatação também não!
Sua sobrinha Jane, filha da sua irmã mais velha, tinha me eleito seu tio
favorito, e basicamente fazia questão de me mostrar cada brinquedo,
disponível, e me apresentar como “tio Mike” a cada criança presente na casa.
E eu devo admitir isso estava me divertindo, eu sabia que o caminho que
estávamos trilhando necessitava de tempo, tempo para que Emma superasse
as inseguranças que eu havia causado. Mas aquele tempo ali com a família
dela apesar dos porém’s, foi um passo além nesse sentido, sentia nosso
relacionamento mais forte, e isso aliviava um peso no meu peito.
Iriamos voltar para o hotel a qualquer momento, basicamente ambos,
havíamos dormido muito pouco, e havia o jantar de pré-casamento hoje à
noite, sendo assim era primordial que pudéssemos descansar antes disso, além
do quê, Emma havia me dito que só recomendava a sua família em doses
homeopáticas, e eu definitivamente acreditava nela.
Emma havia devolvido o bebê, para os braços de sua irmã, e vinha em minha
direção. Eu abri os meus braços e a encaixei em meu peito, enquanto ela
entrelaçou os braços ao meu redor.
– Aparentemente sobrevivemos a batalha – eu disse baixinho em seu ouvido.
– Não comemore tão cedo soldado, ainda existem muitas batalhas no
caminho!
Eu ri da falsa seriedade em sua voz, eu sabia que na percepção dela era uma
verdade, mas na minha era irrelevante.
– Tudo vai ficar bem Emma! Eu pedi que você confiasse em mim não foi? –
eu sussurrei contra os seus cabelos.
– Sim, e eu confio, eu não confio neles – ela sussurrou de volta.
Eu abafei um riso contra os seus cabelos, então a questionei.
– Podemos nos despedir? Não dormimos nada essa noite, precisamos
descansar para o evento da noite!
– Não poderíamos sair de fininho? Á francesa?
– Sua mãe está nos vigiando como um falcão nesse exato momento! Você
acha que seria possível sairmos sem ser notados?
Ela se virou na direção que eu apontei com a cabeça, aonde Deborah fingia
organizar alguma coisa qualquer, mas mantinha a sua atenção cravada em nós.
– Não, mas era uma ilusão boa de se ter!
O grupo era grande o suficiente para não ser possível nos despedirmos de
cada um individualmente. Aproveitamos que não éramos os únicos que
estávamos de saída, e seguimos o fluxo, com despedidas gerais. E obviamente
não conseguiríamos nos livrar tão fácil assim.
– Vocês já estão indo?
– Com os preparativos da viagem, e o fato de termos saído direto do trabalho
para o aeroporto, mal tivemos tempo de descansar, mãe! – Emma tentou
contemporizar
– Ah, mas isso não é um problema, os quartos que pertenciam a você, e a
Elizabeth estão vazios Emma! Vocês podem se hospedar aqui! Eu não
acredito que você não considerou essa possibilidade Emma – Ela
complementou então.
Senti os dedos de Emma cavarem na minha cintura.
– Deborah, seria um enorme prazer para nós, desfrutarmos da sua
hospitalidade, Emma até havia sugerido que fizéssemos isso, mas eu declinei,
meu trabalho faz com que eu tenha que fazer constantes ligações para o
exterior, e além disso preciso de linhas adicionais, no hotel isso foi possível,
já que eu não queria incomodar.
A expressão dela era de total compreensão, Emma por outro lado me olhava
meio chocada.
– Então sendo assim é compreensível, é realmente uma pena embora! – ela
suavizou então.
– Vamos nos ver hoje no jantar, e amanhã no casamento, e eu tenho certeza
que vamos ter tempo de conversar bastante – eu disse a ela dando o meu
melhor sorriso.
Deborah corou como uma colegial, e quaisquer outros argumentos que ela
tivesse se perderam nesse momento.
Emma abraçou o pai, e eu me despedi dele com um aperto de mão, dessa vez,
apesar da firmeza, ele não tentou deliberadamente esmagar a minha mão, o
que eu considerei uma evolução, aparentemente depois do interrogatório eu
havia passado no teste para o Sr. Harris.
E então estávamos fora, nos dirigindo para o carro.
– Impressionante, eu diria – Emma disse em voz alta.
– O que é impressionante?
– A sua habilidade inata de enrolar a minha mãe em volta do seu mindinho,
você é a 8º maravilha do mundo no que concerne a ela agora!
– Um dos meus muitos talentos, como você sabe – eu debochei
– Sem dúvida, mas Mikhail, você não pode desviar a minha mãe para sempre,
eventualmente a personalidade dela vai se sobressair.
– Eu fiz uma promessa Emma, te proteger, eu sempre cumpro as minhas
promessas!
– Eu te beijaria agora, se a minha mãe não estivesse espiando da janela – ela
me disse então.
Eu não precisei olhar e conferir, eu sabia que provavelmente Emma estava
certa.
Não era um problema, eu poderia esperar, tínhamos todo o tempo do mundo,
eu não estaria indo a lugar nenhum, e ela também não!
Ao virar a esquina e seguir a avenida principal que levava de volta ao centro
da cidade, o carro dos seguranças se juntaram a nós e dirigiram como se
tivessem um ímã colado ao meu para-choque! Eu sabia que os homens que
fazia parte da minha segurança não estavam felizes com esse “arranjo” de
segurança, o treinamento deles, era sobre nunca relaxar em nenhuma
circunstância, e permitir uma mudança desse nível, era duro para eles, mesmo
que em todas as análises fosse reportado que a cidade não apresentasse
nenhum risco, homens como nós, sempre esperávamos que a merda batesse
no ventilador, e essa sensação fazia o tensão se elevar em níveis altíssimos, e
quando os protocolos usuais estavam sendo ignorados, isso tendia a piorar!
Eu sabia que cada um deles estavam contando os segundos para que essa
viagem acabasse!
Voltamos ao hotel, e basicamente fomos dormir porque o que eu disse a
Deborah era a mais pura verdade, os preparativos para a viagem, e o fato que
não dormimos absolutamente nada na viagem, estava cobrando o seu preço, e
tínhamos um compromisso a noite!



Emma
Dormimos pela tarde inteira! E acordamos justo a tempo de nos preparar para
o jantar.
Eu havia ido para o chuveiro primeiro, já que a tendência era que eu
demorasse mais a me arrumar, e estávamos com o tempo apertado. Então
quando Mikhail se juntou a mim no Box, eu tive a impressão que nós
realmente iriamos nos atrasar
– Coloque as suas mãos contra a parede – ele sussurrou contra o meu ouvido
quando se juntou a mim no chuveiro e eu fiquei molhada só ao ouvir a sua
voz.
– Uma rapidinha – eu provoquei enquanto obedecia e colocava as minhas
mãos contra a parede, pois eu sabia que iria precisar, Mikhail agarrou os meus
quadris, e eu me movi na ponta dos pés empinando o bumbum contra a sua
ereção, ele enterrou o seu rosto contra o meu pescoço enquanto entrava dentro
de mim, era sempre assim, ele me penetrava com cuidado me fazendo gemer
em voz alta de vontade, e então acelerava o ritmo.
– Dessa vez – ele me disse então – Mas só por pura necessidade! Além do
quê, temos a noite toda!
Meu corpo estava relaxado, mole mesmo, quase fraco, Mikhail tinha esse
efeito sobre mim! Era inevitável, uma parte de mim queria deixar o jantar
para lá, e me perder nele novamente! Mas eu sabia melhor, minha mãe era
capaz de vir até aqui para saber o que aconteceu! E tínhamos vindo a Dunluth,
exclusivamente para prestigiar o casamento de Emily, participar de todos os
eventos era desgastante, mas necessário!
Porém a única maneira em que eu conseguiria me arrumar a tempo, era
banindo Mikhail do quarto, já que a sua simples presença já era uma tentação,
que ele piorasse isso, me dando beijos em que parecia devorar a minha boca,
e distribuindo beijos aleatórios pelo meu corpo enquanto eu me movia
distraído pela quarto, só piorava a minha situação! Me arrumei em tempo
recorde, tentando compensar o tempo que havíamos perdido no banheiro, eu
deveria me lembrar de agradecer a Zhenya pela eficiência na organização,
tenho certeza que se dependesse de mim, seria ao menos umas três trocas de
roupa para me sentir finalmente satisfeita, já ao vestir o que ela havia
escolhido para mim, era acertar de primeira. Quando saí do quarto Mikhail
estava sentado na saleta mexendo no celular, quando seus olhos de mudaram
para mim e me mediram dos pés à cabeça.
– Não me olhe assim! – eu disse a ele em tom de aviso.
– Assim como?
– Como seu eu fosse algo que você quer devorar!
Ele deu um sorriso safado que era característico dele e então disse:
– Não posso evitar!
– Estamos atrasados, e definitivamente você é má influência! – eu disse a ele,
enquanto mantinha uma distância segura e me movia para a porta.
Ele se aproximou de mim, com a elegância de uma pantera em plena caça.
– Não se preocupe, não precisa fugir de mim, Emma, eu vou me comportar –
E então com um sorriso complementou – Por hora…
– Eu não estou fugindo de você! Eu sei que você vai se comportar, o meu
medo é que eu não me comporte!
E qualquer coisa que ele fosse dizer, se perdeu, pois, os seguranças haviam se
juntando a nós.
A descida no elevador foi tensa, meu vestido possuía um decote traseiro, aliás
isso parecia ser característico em quase todo o meu guarda-roupa, e Mikhail
colocou sua mão, apoiando as minhas costas, quando o elevador começou a se
mover ele começou a fazer carinho em formas circulares e tanto quanto
poderia ser um movimento considerado “tranquilizador”, não surtia esse
efeito sobre mim, tudo o que eu queria no momento, e que todos os outros
desaparecessem para que ficássemos sozinhos ali, aliás esse era um desejo
que eu tinha muito constantemente, me forcei a me concentrar nos números
mostrando a descida, e na importância de chegar até a restaurante, mas eu
admitia até para mim mesma, que tudo o que eu queria no momento, era estar
sozinha com ele, seja em um elevador, seja um quarto, eu sequer tinha uma
preferência. Que Deus me desse forças para passar a noite toda resistindo a
tentação.
***************
O jantar de casamento seria em um restaurante tradicional da cidade, que
pertencia a um familiar de Josh, aliás a bendita cidade inteira parecia
pertencer a família Montgomery, e claro, minha mãe estava orgulhosa o
bastante do bom casamento que a caçula estava fazendo.
Zhenya havia escolhido um vestido na cor “Burgundy” para mim, e não até
então eu não sabia exatamente o que era a cor Burgundy, mas ela havia
etiquetado cada um dos sacos, definindo as ocasiões, e basicamente uma ficha
completa sobre como vestir, incluindo a lingerie! Eu teria que dar o braço a
torcer, e agradece-la profusamente, porque sinceramente não daria conta
sozinha. Moda nunca foi muito a minha coisa! Eu era a típica garota que
enfiava a cara nos livros, mas não tive a típica experiência nerd adolescente e
nem fui taxada como uma, afinal eu era irmã da garota mais popular na
escola, e isso de certa forma comprova um certo “respeito”, então posso dizer
que meu ensino médio foi tranquilo, mesmo sendo a garota que vivia com a
cara enfiada nos livros.
Mikhail parecia muito elegante em um blazer de verão, que eu imaginava ser
escolha de Zhenya também, já que eu nunca havia visto ele vestir um terno de
cores claras.
Não nos demoramos muito mais, já que um atraso provavelmente faria minha
mãe ter uma sincope, e além disso eu não queria ser uma das últimas a chegar
e ter que desfilar pelo restaurante inteiro sendo alvo dos comentários de todos,
não que eu conseguisse evitar isso de qualquer forma, já que Mikhail se
parecia muito com um protagonista de Hollywood, ou um supermodelo
masculino, mas valia a tentativa.
Nosso cortejo estava a esperava quando descemos, e novamente Mikhail iria
dirigir, mantendo as aparências sobre um pretensa normalidade que não
existia na nossa vida, mas no que concernia a minha família, todo o esquema
de segurança que tínhamos era desconhecido, e tencionávamos que
continuasse assim, já que tentar fornecer quaisquer explicações seria um
trabalho inimaginável.
No caminho, Mikhail tirou uma das mãos do volante e segurou as minhas,
como se estivessem me consolando, ou me transmitindo forças.
– Vai dar tudo certo! – ele me disse, realmente acreditando nisso.
– Bom, eu posso dizer que depois de ver você lidar com a minha mãe hoje,
estou confiante nisso também! – eu respondi
– Então qual o problema?
– É só experiencias anteriores com a minha família, criei a habilidade de
sempre me preparar para o pior! – Então envolvi a sua mão nas minhas – Mas
vejamos pelo lado bom, você ainda tem a sua arma.
Ele tentou esconder um sorriso de canto de boca, sem muito sucesso.
O restaurante estava no centro da cidade, e a uma curta distância do hotel em
que estávamos hospedados, logo quaisquer outras conversar profundas que
poderíamos ter naquele momento, se perderem porque havíamos chegado, o
lugar possuía um estacionamento, e Mikhail no que eu imaginei ser um
procedimento de segurança estacionou a mais perto possível da saída, em um
local que o carro não ficaria preso caso alguém estacionasse de forma
irregular, e mais uma vez tive a confirmação que o que era considerado
“normal” na minha vida, tinha acabado a muito tempo.


Mikhail
Deborah e Daniel, estavam na porta recebendo os convidados, aparentemente,
aqui nessa parte do país, era comum que os pais da noiva arcassem com os
custos do casamento, no que parecia ser tradição, o que me disse que eu teria
que ser bastante criativo quando me casasse com Emma, já que eu jamais
permitiria que os pais dela se sacrificassem para arcar com os custos que para
mim, não seriam motivo de esforço, e eu tinha esperanças que Emma aceitaria
se casar comigo em um futuro não muito distante, eu só estava esperando uma
oportunidade para fazer o pedido, mas até então, a sequência de
acontecimentos tinha me impedido.
Deborah parecia radiante, mas isso parecia ser parte de sua personalidade
sempre esfuziante, Daniel parecia ser justamente o oposto com a sua
personalidade mais contida, de certa forma eles completavam um ao outro,
mesmo que eu nunca tenha acreditado muito nesse coisa de opostos, tal como
o meu relacionamento com Emma sempre acreditei que as coisas em comum
era o que formavam uma boa relação acima de tudo e a minha ideia não havia
mudado, mas entre eles esse arranjo parecia funcionar, tanto quanto Deborah
queria claramente interrogar Emma e nos manter por mais tempo por ali, ela
estava cumprindo a sua função como anfitriã e então não nos demoramos
muito nos cumprimentos, e seguimos em direção a mesa.
O que havíamos salvado em tempo útil em relação a Deborah foi gasto no
caminho até os nossos lugares, já que aparentemente Emma realmente
demorava mesmo a visitar a sua família, e todos sentiam sua falta, ou pelo
menos eram o que diziam.
– Há quanto tempo você não visita a sua família? – eu sussurrei para ela.
– Bom estive aqui para a Ação de Graças no ano passado.
– Todos parecem sentir a sua falta.
– Mikhail, você é realmente um menino da cidade, “Há quanto tempo”
“Saudades de você” “Como você está diferente” “Faz tempo que eu não te
vejo” são variantes de cumprimentos interioranos que basicamente querem
dizer a mesma coisa “Olá”.
– Eu realmente tenho coisas a aprender aqui – eu murmurei então.
– Você está fazendo um intensivo – ela sorriu e piscou para mim, e então
entrelaçou seus dedos nos meus e disse baixinho – Sorria e acene! É o único
jeito de chegar até lá ainda nesse século.
Ela tinha acabado de citar os “Pinguins de Madagascar” para mim, e eu tinha
essa certeza porque esse era um dos desenhos preferidos de Lila, e
aparentemente eu também estava fazendo um curso intensivo disso…
Conseguimos com algum custo chegar aos nossos assentos na mesa principal,
Emma com uma velocidade espantosa, trocou as placas que marcavam os
lugares, em uma mudança que eu com certeza imaginei ser necessária, e então
no que pareceu apenas alguns minutos depois que havíamos sentado, o celular
de Emma emitiu um bip, então ela se concentrou por alguns instantes no que
pareceu uma conversa, e em seguida ela me disse:
– Emily está precisando de ajuda, eu volto já… – E então me deu um beijo
leve, e seguiu em direção ao que parecia a administração do restaurante.
Após ela se levantar, quase que imediatamente uma senhora, com as
bochechas acaloradas, tomou o seu lugar.
– Você deve ser o namorado da pequena Emma – Ela me disse em tom meio
conspiratório como se soubesse de alguma coisa, e estivesse louca para
compartilhar.
Eu não era partidário a conhecer as famílias das minhas ex, então de certa
forma tudo era um terreno inexplorado para mim até então, mas eu era muito
bom em ler as pessoas, e a expressão dessa senhora não precedia nada de
bom. Bom, pelos menos nada de bom para os padrões de Dunluth, eu não
acreditava que ela era um perigo em qualquer outro sentido que não fosse a
sua língua ferina.
Ela continuou me interrogando com o faro de um cão de caça, não me
preocupou absolutamente já havia sido interrogado por pessoas mais
talentosas, com métodos, digamos mais “eficientes”, e não seria uma
senhorinha idosa e intrometida que me faria suar, além disso, tínhamos criado
uma história solida o suficiente para passar pelo crivo familiar, margeando a
verdade, sem acrescentar nada fantasioso demais, e mantendo tão perto da
realidade quanto possível.
Tia Elionor Brice, ou Senhorita Brice, como ela prefere ser chamada, ela
deixou em aberto as duas opções, parecia cuidar de vida de todas as pessoas
presentes no lugar, e de algumas não presentes também, desde que a fofoca
possibilitasse alguma conexão. Ou seja, ela basicamente estava destilando
veneno para todos os lados, o que sinceramente não me incomodava, já que
exceto pela família nuclear de Emma, eu não conhecia mais ninguém. Era um
pouco engraçado eu diria! Até porque, como ela não tinha ainda, pego um
alvo conhecido, eu poderia me sentar ali, e educadamente escuta-la sem
maiores problemas.
No que pareceu uma eternidade sem fim, mas de acordo com o meu relógio
tinha sido aproximadamente uns quinze minutos, Emma estava de volta ao
salão, ela estava circulando entre as mesas, em direção a nossa que ocupava o
ponto central do lugar, e cumprimentando seus amigos e familiares no
caminho, até que um cara se levantou e a envolveu em um abraço de urso, eu
tive que controlar cada musculo do meu corpo para não ir lá, e tira-la dos
braços dele, e depois soca-lo até a inconsciência, disse a mim mesmo que era
um comportamento completamente irracional que não fazia sentido algum,
mas aparentemente alguma herança ancestral que basicamente era sobre os
instintos animais não se importava absolutamente. Depois de solta-la do
abraço, ele manteve as mãos ao redor dela, mãos que eu tinha a imensa
vontade de arrancar fora por ele ousar coloca-las ao redor da minha mulher!
Porra! Eu disse a mim mesmo para me controlar.
– Asher Michaels – a voz de Tia Elionor sussurrou em meu ouvido – Eu
sempre achei que ele e Emma iriam ficar juntos, eles eram tão apaixonados no
colegial – ela soltou a bomba.
A única coisa que me impediu no momento de me levantar e matar Asher
Michaels, era que Emma havia se livrado do seu aperto, e estava vindo em
direção à mesa.
Tia Elionor, tendo jogado o veneno com sucesso, e vendo a aproximação de
Emma, se retirou de volta ao seu lugar.

Emma
Enquanto caminhava de volta a mesa depois de ter ajudado Emily, com o seu
mal-estar, me vi parada constantemente por familiares e amigos, essa era a
coisa sobre morar longe, sempre quando estava na minha cidade natal, as
pessoas agiam como se não me vissem desde a infância, e não somente desde
o ano anterior, como era mais provável.
Mas encontrar Asher, ali havia sido uma surpresa, nós havíamos namorado no
ensino médio por cerca de seis meses, diferente das meninas da minha época
eu não me apaixonei mortalmente durante a adolescência, eu sempre fui uma
garota um tanto estranha nesse aspecto, minhas irmãs era populares, e isso de
certa forma virou uma herança por consanguinidade, e então eu estava inclusa
no grupo “popular”, só que diferente das minhas irmãs, nunca foi a minha,
nossos interesses eram distintos demais, e em um ponto essa realização caiu
sobre mim, eu sabia que o meu futuro não estava ali em Dunluth, mas tinha
medo de me acostumar com a vida que estava levando, e me acomodar
naquela realidade, e então eu terminei o namoro, e me concentrei nos estudos
de uma forma quase obsessiva, e então eu consegui o que queria, a vida que
eu queria fora de Dunluth.
Quando me sentei, Mikhail parecia calado e taciturno, como se uma nuvem
negra pairasse acima de sua cabeça! Definitivamente ele não estava no
mesmo humor em que eu o havia deixado.
Considerando o ramo de trabalho, imaginei que poderia ser algo em Nova
Iorque que o estava perturbando, então achei melhor não fazer nenhuma
pergunta, em um lugar tão público, com tantos ouvidos presentes, se havia
algo que eu estava aprendendo nos últimos meses, era descrição.
O som alto do ambiente, somado as conversas, e o fato que a todo momento,
parentes, amigos e conhecidos, passavam por nós, impossibilitava que
conseguíssemos ter uma conversa. E considerando que amanhã mesmo
voaríamos de volta a Nova Iorque, me concentrei em dar atenção a todos, já
que não haveria tempo para isso no dia seguinte. Quando a sobremesa foi
servida, Mikhail ainda continuava em humor estranho, e eu estava dando
graças a Deus, que poderíamos então sair dali em pouco tempo para que eu
descobrisse o que estava acontecendo.


Mikhail
“Sair a francesa”, se havia algo que eu aprendi com a minha experiencia com
a família Harris, é que era praticamente impossível sair de um local sem
cumprimentar a todos, ao não ser que fosse escondido.
Deborah e Daniel estavam ocupados em suas tarefas de anfitriões, então
Emma preferiu sair se se despedir diretamente de ninguém.
Enquanto andávamos até o carro, Emma resolver romper o silencio.
– Mikhail que bicho te mordeu para você agir assim?
– Você não sabe?
– Não, eu não sei, por isso estou perguntando.
Entramos no veículo, e então eu manobrei para sair da vaga de garagem, e
peguei a estrada.
– Michaels! – eu cuspi então – Asher Michaels!
– O que tem o Asher? O que ele te fez? – ela perguntou parecendo bastante
confusa.
–Você não pode estar falando sério? – eu disse a ela. – Asher Michaels, pôs as
mãos sobre você!
– Para me cumprimentar! Mikhail por favor você está sendo completamente
irracional!
– Ele era o seu namorado na escola?
– Como? Como você sabe – E então ela pareceu raciocinar por alguns
segundos –Tia Elinor, eu suponho – ela concluiu por conta própria
– E é só isso que você tem a dizer? – eu disse a ela em tom debochado, a
minha raiva levando o melhor sobre mim.
– Ahh, não se preocupe, eu tenho muitas coisas a dizer! – ela bufou – Mas
nada que eu queira te dizer agora.
Havíamos chegado ao hotel, e eu sequer tinha percebido o tempo passar.
Emma não esperou por mim, e entrou sozinha, aparentemente agora, ambos
estávamos com raiva.
Eu entreguei as chaves para o manobrista e a segui. Consegui entrar no
elevador no último minuto.
Eu queria dizer muitas coisas, mas uma parte de mim, bem lá no fundo sabia
que eu estava sendo irracional, era um sentimento novo para mim! E nesse
momento, eu estava zero afim de discutir isso!
Ela estava emburrada! Como uma criança pequena contrariada, porque não
teve o que queria, mesmo no ápice do meu ciúme eu podia entender os
motivos dela, eu sabia que estava sendo um completo babaca!
Então eu tentei dizer isso com o meu corpo!
Eu a beijei, duro, com raiva! Como se assim, descontando o ciúme no tesão,
isso amenizasse a raiva!
Ela não lutou contra mim! Ela correspondeu! Devoramos em ao outro sem
nos importarmos com onde estávamos!
Para ser sincero, o caminho do elevador até o quarto foi um borrão completo
na minha cabeça! Enquanto nos agarrávamos todo o caminho pelo corredor
tudo deixou de ser importante!
Nos fodemos como animais! Escorados contra a porta porque não quisemos
sequer esperar até estarmos no quarto! Foi febril, foi selvagem! Foi algo tão
intenso, que eu não conseguiria por em palavras! E quando acabou, eu senti as
minhas pernas amolecerem! Então eu deixei que minhas pernas cedessem, e
nós ficamos caídos ao lado da porta do quarto, quando finalmente recuperei a
minha respiração eu disse a ela:
– Emma eu sinto muito…
Ela também estava sem folego ao meu lado.
– Sente muito pelo quê? Por ter sido um babaca sem motivo algum? Ou por
ter me fodido dessa maneira!
– Por ambos – eu disse tão consternado quando minha voz transparecia.
– Bom, de minha parte eu gostei da parte do sexo! Por essa parte você não
precisa se desculpar! Mas Mikhail! Francamente! Eu não sou uma adivinha!
Se você estiver incomodado com alguma coisa, você tem que me dizer! Um
silencio taciturno não é uma fonte de informação!
Ela então se aproximou e deitou a cabeça em meu colo.
– É novo para mim lidar com isso!
– Um relacionamento?
– Ciúmes!
– Sério? Nunca?
– Acho que nunca me importei o suficiente em nenhum dos meus
relacionamentos anteriores! Mas porra se eu não queria matar aquele bostinha
por ter te abraçado!
Emma ergueu a cabeça do meu colo e então disse:
– Mikhail, você não pode matar Asher! Estou falando sério – ela enfatizou
com o dedo em tom professoral
– Eu não pretendia mata-lo
– Não pode bater nele também – ela de novo limitou as possibilidades
– Emma, eu…
– Ele foi um namoradinho de escola, daqueles que eu me lembro com carinho,
sequer uma paixão! Nem mesmo uma paixonite, era confortável, eu era uma
das irmãs Harris então surfava nessa popularidade.
– Nós estamos mesmo discutindo os nossos Ex´s? Porque sabe pela minha
memória eu me lembro da Tiffany…
– Porra!
– Direitos iguais cherie, sou uma ferrenha defensora da igualdade
– Sem mais ex´s! Eles não importam!
– Bom nisso, eu tenho que concordar! E Mikhail, eu adoro o sexo febril e
suado, mas eu prefiro quando ele não envolve ciúmes!
– Não posso evitar! Não totalmente! Mas prometo tentar!
– Bom, eu posso viver com isso!



Emma
O Casamento seria em um edifício histórico da cidade, uma parte de mim,
sonhava me casar ali, quando Dunluth ainda era tudo o que eu conhecia e
resumia o meu mundo, esse sentimento tinha passado, sua arquitetura sempre
me encantou, e dessa vez não era diferente, eu não era próxima as minhas
irmãs por uma questão puramente de afinidade, mas eu as amava de todo o
meu coração, e estava realmente feliz que Emily tinha encontrado o seu
“felizes para sempre”
Zhenya havia separado opções para o casamento pela manhã, optei por um
longo crochê na cor bege com mangas, ele me vestia com elegância, mas sem
exagero para um casamento diurno, a cor ficava por conta da sandália de tiras
com um laço no tornozelo que era cor marsala, Mikhail havia optado por um
terno de cor azul clara, e transmitia pura elegância, mas Mikhail tinha aquele
tipo de presença que ele poderia estar vestir bermuda e chinelo que a sua aura
de poder e elegância se manteria intacta, eu o invejava por isso.
A cerimônia foi linda! Emily parecia realmente feliz pela primeira vez desde
que eu a vi no começo das festividades! Eu era chorona! Do tipo que chorava
em filmes, discursos e definitivamente casamentos!
Eu simplesmente não conseguia evitar! Mesmo que eu não fosse próxima
minha família, eu os amava de todo o coração! Ver Emily e o papai dançando
foi lindo! E foi ali, naquele momento que eu percebi que queria isso para mim
um dia! Queria ser levada até o altar pelo meu pai, para os braços do homem
que eu amava, queria dançar com meu pai, e queria que então ele me
entregasse nos braços do homem que eu amava para que eu pudesse dançar
com ele, como meu pai estava fazendo com Emily nesse exato momento!
E então nos juntamos a eles, era o meu dever de irmã, segunda as palavras da
minha mãe! E então nós dançamos, Can’t Help Falling In Love, de Elvis, era
a música que era cantada em forma acústica! E não havia nenhuma outra
música que pudesse descrever melhor a miríade de sentimento que eu sentia
naquele momento. Eu deitei a minha cabeça contra o ombro de Mikhail
enquanto nos movíamos suavemente pela pista de dança!
Meus olhos vagaram ao redor do salão e tudo que eu via reafirmava esse
sentimento! Meus pais solidamente casados há trinta e quatro anos, e ainda
felizes! Eu queria isso para mim! Claro eu esperava que eu não tivesse
herdado a neurose da minha mãe, e que com o passar dos tempos fosse
ficando mais parecida com o jeito dela, mas a relação deles era bonita, eram
opostos em muitos aspectos e se completavam! Mesmo vendo a minha mãe
rindo, e corando como uma adolescente em seu primeiro baile, eu não tinha a
ilusão que o casamento deles era fácil todo o tempo todo, sabia em primeira
mão que às vezes o Senhor e a Senhora Harris se desentendiam feio! Mas eles
superavam isso! Sempre! E era isso que eu achava bonito em uma relação! A
capacidade de se perdoar, de não desistir no primeiro obstáculo! De fazer com
que o amor fosse mais sobre ações do que palavras! Eu esperava ter
encontrado isso, eu tinha quase certeza que sim! Pelo menos da minha parte!
A minha autoestima ainda estava trabalhando sobre confiança! Mas até então,
tudo o que ele havia me mostrado, era amor, em suas atitudes em suas
palavras, e eu realmente esperava que fosse real! Que nós fossemos reais!
Dancei com o meu avô, e com uma legião infinita de tios e primos! Mikhail
estava sendo monopolizado por Jane, e meu coração se derreteu totalmente ao
vê-los dançando, ela apoiava o pé nos sapatos dele, e ele a girava pelo salão!
Era a coisa mais fofa! Bom, e claro, enquanto ele estava dançando com Jane,
ele não estaria dançando com mais ninguém! Eu descobri também que o
ciúme, era uma via de mão dupla no nosso relacionamento.

Emma
Nossa saída estava marcada para as quatro da tarde, o que quer dizer que
ainda tínhamos duas horas para matar o tempo, a bagagem seria organizada
pela equipe, o que me fez seriamente repensar a minha aversão, a ter as
pessoas fazendo coisas por mim, eu odiava arrumar as malas, e minhas
tentativas geralmente acabavam em amontoar tudo e rezar para que fosse
possível fecha-las! Estávamos em frente ao lago e fazia um dia bonito com
sol, apesar do frio se mostrar presente, havia trocado de roupa quando
chegamos, e vestia um moletom confortável, Mikhail, havia tirado o blazer, e
arregaçado as mangas.
Ele estava na saleta que separava a suíte do quarto, o telefone em suas mãos, e
a expressão no rosto de quem estava muito compenetrado e resolvendo coisas
importantes, quase me senti mal ao interromper, mas sabendo que seriam
nossas últimas horas aqui, senti que era um mal necessário.
– Quero dar um passeio pelos arredores, você me acompanha?
Ele parou e olhou para mim durantes muitos segundos, o que me fez me sentir
um pouco estranha até, era como se ele estivesse analisando uma coisa muito
importante que ia além de uma caminhada ao redor do lago.
E então depois de um silêncio profundo, ele simplesmente respondeu:
– Sim, vou me trocar, não demoro muito!
Eu me sentei na saleta, e peguei o meu próprio celular para me distrair,
diferente dele, as minhas mensagens eram basicamente de Gwen, me
atualizando sobre NY, e da minha família, principalmente da minha mãe,
tecendo vários elogios ao Mikhail.
Por hora eu ignorei, sabia que ela não ia me deixar em paz sobre isso, mas
não era algo com o que eu queria me preocupar nesse exato momento.
Mikhail apareceu alguns minutos depois vestindo um agasalho, e meu Deus!
Ele estava gostoso, era uma injustiça divina ou algo assim! Ele poderia vestir
um saco, e ainda assim pareceria quente! Eu sabia que não tinha nada a ver
com a roupa, era ele, o conjunto completo. Isso tanto me encantava
completamente quanto alimentava o meu monstro particular da insegurança,
eu era comum, pelo menos era assim como eu me via!
O hotel ficava na orla da baia de Saint Louis, e próximo de uma trilha,
estávamos andando de mãos dadas, sem pressa, apreciando a beleza e a
pacificidade de local, não havíamos encontrado ninguém até agora, e
basicamente éramos só nós, bom nós, e todos os seguranças que nos
protegiam discretamente a uma distância segura.
Depois de quinze minutos andando, chegamos a um dos píers do local, era
uma tradição para mim, visitar aquele lugar, de certo forma na minha
adolescência aquele era o “meu lugar”, estava um pouco diferente das minhas
memorias, o que era natural, já que a natureza seguia o seu próprio curso, mas
na essência a mudança não era significativa o bastante, ainda era o meu lugar.
– Vem – eu puxei Mikhail em direção ao final do píer.
Ele me seguiu, um pouco assombrado pela minha súbita euforia.
– Temos que tirar os tênis.
– E porque faríamos isso?
– Porque é uma tradição – eu disse a ele então.
– Uma tradição estranha – ele resmungou.
Mas se abaixou e se livrou dos tênis junto comigo. Então nos sentamos na
borda do píer, com os pés na água.
– Sabe, as vezes eu sinto falta de toda essa pacificidade – eu disse a ele
desabafando – Dura muito pouco tempo! Eu sei que eu enlouqueceria aqui
depois de viver em Nova York durante tanto tempo, mas uma parte de mim,
sente falta disso aqui!
Mikhail permaneceu em silencio por alguns momentos e então disse:
– Eu acho que nunca senti isso por Nova York, nunca foi a “minha casa” em
um sentido mais amplo, era o lugar que eu vivia, e só, esse laço sentimental
nunca foi algo que eu criei com lugar nenhum, por isso eu te invejo nesse
sentido.
– Você é um cidadão do mundo? – eu perguntei brincando com ele enquanto o
cutucava com o ombro.
– Acho que pode ser considerado assim – ele disse com um sorriso.
– Bom, eu não posso dizer exatamente o mesmo, sou meio acostumada a
rotina e os lugares, Dunluth foi a cidade que eu nasci e cresci, a minha família
fez com que tudo que eu mais quisesse desde sempre era ir para o lugar mais
longe possível, tanto que todas as minhas aplicações para universidades, eram
distantes, eu estava meio que desesperada, sobre ficar presa aqui, e me tornar
a minha mãe – eu desabafei – E então Nova York, com todo o seu colorido e
diversidade, se tornou a minha casa, eu não consigo me imaginar em outro
lugar, não que seja uma opção fechada, mas creio que se um dia tivesse que
deixar Nova York, seria um tanto sofrido para mim, meus laços sentimentais
são extensos nesse sentido.
– Eu nasci em Novosibirsk, não que eu tenha alguma memoria disso, é o que
consta na minha certidão, a minha… mãe! – eu percebi o desconforto dele ao
mencionar a palavra – era uma das muitas amantes de Vladmir que havia
engravidado, só que ela resolveu capitalizar isso, ela teve gêmeos, e entregou
Mikhail a Vladmir em troca de uma alta soma de dinheiro, ela me manteve
como um deposito de segurança quando o dinheiro acabasse e ela precisasse
de mais, ela e o amante mais recente vieram para a América, para sair da zona
de influência de Vladmir, ela me abandonou quando chegou aqui, talvez tenha
se dado conta que se Vladmir descobrisse o seu estratagema, ela estaria
morta, ironia do destino ou não, ela sequer teve tempo de aproveitar o
dinheiro, ela morreu pouco tempo depois.
Minhas mãos apertaram a dele, eu não podia evitar as lágrimas acumuladas
nos meus olhos.
– Mikhail – eu chamei seu nome em um sussurro.
– Não sinta pena de mim – ele me disse então a voz rascante.
– Eu não sinto pena de você, sinto pena do menino que você foi, das lutas que
teve que lutar por conta própria, eu só sinto orgulho do homem que você se
tornou!
– Eu não sou um homem bom Emma! As coisas que eu fiz…
– Mikhail, eu não sou cega as atividades da família, eu não estou dizendo que
você não tenha feito coisas ruins! Eu estou dizendo que você é um homem
bom, porque você é! Eu não acredito nem por um momento que você
machucaria um inocente!
– Acho que você vê o mundo através de um óculos cor de rosa.
– Provavelmente você tenha razão, eu tenho uma certa tendência ao
otimismo!
Ele me estreitou em um abraço.
– Certa tendência? – ele disse debochando.
O que rendeu um soco no braço da minha parte, o que só fez que ele me
estreitasse mais em seus braços, minha cabeça repousando em seu peito.
– Obrigada por dividir comigo a sua história! – eu disse a ele então – Sei que
não foi fácil para você, e sei que você não me contou tudo, mas eu sempre
vou estar aqui para você.
– Obrigada por ouvir!
– Sempre!
Sabíamos que não poderíamos ficar ali por muito mais tempo, mas estar ali,
estar com ele parecia tão certo que era algo que eu não queria que acabasse,
mas tínhamos um horário a cumprir. Mikhail pareceu se dar conta disso, e
então ele se levantou, e estendeu a sua mão para me ajudar a levantar
também.
Nossos pés ainda úmidos, e sem nenhuma toalha ao alcance.
– Bom, aparentemente a minha técnica da adolescência vai ter que funcionar,
nos pisaremos na madeira do píer, que vai absorver o acesso de água, e depois
calçamos o tênis…
E então reparei que Mikhail, apesar de estar olhando em minha direção, não
parecia estar ouvindo uma só palavra do que eu estava dizendo!
E então ele estava de joelhos, tirando algo do bolso.
– Oh meu Deus! – foi a única coisa que eu consegui dizer.
Ele sorriu, o tipo de sorriso de canto de lábio que tentava esconder a diversão,
sem conseguir.
– Eu tenho rodado em torno de mim mesmo sobre quando fazer isso, e eu
simplesmente acabo de perceber que esse é o momento perfeito! Você é a
minha casa! Onde você estiver, eu vou estar, porque todas essas coisas que as
pessoas sentem em relação ao lugar que vivem, eu associo a você, todos esses
laços invisíveis me atam a você, seja em Nova York, Dunluth, ou em qualquer
outro lugar. Desde o primeiro momento que eu te conheci, eu sempre pensei
em você como “minha”, mas de uma certa forma isso não pareceu o
suficiente. Emma Jane Clarke Harris você me daria a honra de ser a minha
esposa?
Ele era um borrão na minha visão, meus olhos cheios de lágrimas me
impediam de enxergar ele nitidamente, mas a respostar era tão óbvia que isso
sequer era necessário.
– Sim – eu disse em um engasgo – Sim, eu adoraria – eu disse em meio a
lágrimas.
Ele se levantou então e colocou o anel no meu dedo, e mesmo entre lágrimas,
eu não pude deixar de admirar a beleza do anel, ele definitivamente parecia
caro, mas não foi isso o que me encantou, o seu desenho era detalhado
demais, e a forma como pequenos diamantes rodeavam o diamante principal
conseguiam um efeito único, parecia elegante e não simplesmente uma peça
de alto valor e gosto duvidoso, era simplesmente o mais perfeito anel que eu
já havia visto, mas eu sabia que poderia estar sendo parcial em relação a isso.
Depois disso, tudo passou como um borrão, o desgaste dos dias anteriores,
somado a um evento tão emocional chutou a minha bunda, eu basicamente
estava no piloto automático, e quando voltamos para o hotel, basicamente só
tivemos tempo de trocar de roupa, e então estávamos no carro a caminho de
Minneapolis, eu dormi no carro aconchegada aos braços de Mikhail, e a
viagem de três horas passou em um piscar de olhos, Mikhail me acordou,
quando chegamos ao aeroporto, e basicamente me carregou até o avião, já que
eu ainda estava meio que dormindo em pé!
Após a decolagem, ele me levou até a suíte na traseiro do jato, e me colocou
na cama, ele ia sair do suíte, mas eu o impedi e pedi que ele ficasse comigo,
ele se acomodou ao meu lado e me puxou para os seus braços, eu
simplesmente apaguei, e só acordei quando umas das comissárias bateu na
porta para avisar que faltava quinze minutos para pousarmos, voltamos para a
cabine e afivelamos os cintos, tudo ainda parecia irreal para mim, eu olhei
para a minha mão e observei o anel, e ainda assim quase me belisquei para
poder ver se isso era realmente real, porque uma parte de mim ainda
duvidava.





Chapter 12 – Desaparecimento

Emma
A casa parecia silenciosa, quando entramos, podia ser só o meu sono falando
obviamente, mas fora os seguranças que nos escoltarem desde o aeroporto, e
os que permaneciam por aqui, parecia não haver ninguém em casa, eu tinha
dormido praticamente por toda a viagem, mas eu ainda estava sonolenta,
sequer tive animo para jantar, e de certa forma a refeição do casamento me
satisfez de forma que eu achava ser capaz de comer alguma coisa agora,
Mikhail, havia cochilado junto comigo no avião, mas eu sabia que ele não
tinha descansado o suficiente e tudo o que mais queríamos no momento, era
cair na cama, e dormir, e foi o que fizemos.
Durante a madrugada lembro de acordar, com o calor do seu corpo junto ao
meu, nós havíamos nos livrado das roupas da viagem, e eu fiquei só de
lingerie, Mikhail como de costume dormia nu, e a frágil barreira que
representava a minha calcinha, não durou muito tempo.
Foi lento dessa vez, não no ritmo febril que estávamos acostumados,
devorando um ao outro sem trégua, era como se estivéssemos conversando
com nossos corpos, e compartilhando algo que não tinha preço, que era nosso,
acho que é o que as pessoas geralmente chamam de fazer amor, não que no
sexo bruto, e suado que normalmente fazíamos, carecia de sentimentos, mas
quando éramos febris, era algo mais visceral, sobre uma necessidade, o
carinho que compartilhávamos agora, era algo distinto, mas muito especial.
Após a sessão de sexo noturno, ambos apagamos, e só acordamos no dia
seguinte, com a barulho estridente do telefone tocando.
Mikhail que era muito mais apto a acordar focado do que eu, atendeu o
telefone, eu percebi que essa facilidade ao acordar pronto para qualquer coisa,
era uma habilidade adquirida.
– Alô – ele disse ao responder o toque do telefone, e a sua expressão foi
ficando cada vez mais escura, ao escutar o que o interlocutor dizia.
Eles começaram o que me pareceu ser uma acalorada discussão em russo.
E então em um pulo Mikhail estava fora da cama, indo em direção ao closet,
se movendo mais rápido do que eu já tinha visto ele fazer em qualquer
momento anterior.
Eu me enrolei em um lençol e o segui, consciente de que algo muito grave
tinha acontecido para que ele se comportasse assim.
Ele estava com o celular na mão, e vociferava em russo a quem quer que
estivesse do outro lado.
Ele então desligou e terminou de se vestir, me vendo ali parada, e parecendo
completamente confusa, que basicamente era como eu me sentia, ele então me
disse.
– Katherina desapareceu – ele deu uma pausa, sabendo que a notícia iria me
chocar – Sei que a sua folga se estende pelo dia do hoje, mas estamos
bloqueando tudo, Gwen e Lila estão no prédio, e vão ser trazidas para cá!
– Mikhail – eu disse confusa sem saber o que estava acontecendo
Ele se aproximou de mim, envolveu seus braços ao meu redor, e beijou a
minha cabeça.
– Tudo vai ficar bem!
– Ok! – eu disse não conseguindo disfarçar a minha preocupação – Mikhail?
Katherina está bem?
Sua expressão se tornou um pouco mais sombria então.
– Esperamos que sim, Emma eu não posso fazer as duas coisas ao mesmo
tempo, eu não posso estar buscando Katherina, e me preocupando se você
está segura! Por favor, não saia desse apartamento! Fique segura! Eu não sei o
que diabos aconteceu, mas eu estou indo descobrir!
– Sei que você vai estar ocupado, mas por favor, promete que vai me manter
informada? Vou enlouquecer aqui sem notícias!
– Eu prometo lyubímaya
E então ele se foi, e me deixou aqui, incerta sobre o que fazer, e realmente
preocupada com Katherina, eu tinha conhecido Mikhail em circunstâncias que
me fizeram ver em primeira mão, as consequências do “seu mundo”, então eu
sabia que a preocupação que ele sentia pelo desaparecimento dela, não era
injustificada, algo podia ter dado muito errado. Eu esperava do todo o coração
estar errada, fiz uma prece silenciosa por Katherina, e então qualquer
pensamento foi interrompido com a chegada de Gwen e Lila. Gwen parecia
bastante assustada, e como era tal de sua personalidade não poupava palavras.
A babá as acompanhava, e tratou de distrair Lila, com giz de cera e desenhos,
ela teria que ser especialmente criativa hoje, já que passeios externos estavam
vetados.
– O que diabos está acontecendo? – ela sussurrou para mim, em deferência a
presença de Lila, porque definitivamente, ela parecia querer gritar – Eles só
aparecem a minha porta e disseram para eu pegar as coisas essenciais para o
dia, e então me arrastaram para cá! – ela disse soando tão indignada quanto
parecia.
– Katherina está desaparecida, eles estão bloqueando tudo! Por isso vocês
foram trazidas para cá! Simplifica se estivermos todas juntas!
– Merda – ela disse ainda sussurrando, e toda a sua altitude se foi
E então ela viu a minha mão!
– Bom e existe uma novidade. – Eu disse a ela quando percebi o seu olhar…
– Sim, eu posso ver, e aliás está me cegando um pouco! – ela debochou
– Eu esperava ser uma boa notícia para todos, mas com o que aconteceu, não
tem clima – eu disse a ela então.
– Você está feliz?
– Imensamente feliz! – eu respondi com um sorriso bobo – Eu ainda não
acredito que é real, e até pediria para você me beliscar, mas te conhecendo
como eu conheço, você realmente beliscaria.
Ela então fez uma reverencia e disse:
– Ao seu dispor Madame – disse ela então ironizando – Mas Emm, sério,
você merece muito ser feliz, e acredite, se depois de conhecer a sua família
ele te pediu em casamento logo em seguida, só pode ser amor! Não há outra
explicação!
Eu não pude evitar me engasgar com um riso mesmo na atual situação, a frase
em si era tão inapropriada e tão verdadeira ao mesmo tempo que eu não pude
evitar!
– Você não existe Gwen!
– Ok, agora, mesmo em face do que está acontecendo, ou por causa do que
está acontecendo, quero detalhes, muitos detalhes, distraia-me Harris! Além
do que como sua melhor amiga eu mereço saber!
E então eu contei, em detalhes…

Mikhail
Estávamos a horas correndo atrás do próprio rabo! Em um esforço que só se
provou inútil até o momento!
Nikholai havia decidido que nenhum dos nossos associados seriam
informados do desaparecimento de Katherina.
Mesmo depois de tantas horas esperávamos que fosse um mal-entendido, um
surto ou qualquer coisa parecida, porque se fosse um sequestro, as coisas se
tornariam infinitamente mais complicadas.
Não houve nenhuma retirada de dinheiro da conta, ou alguma compra, o
cartão estava limpo e não havia registrado a compra de passagens aéreas ou
algo do tipo, isso fornecia ao mesmo tempo um alivio de imaginar que ela
permanecia na cidade, e ao mesmo tempo dobrava os nossos temores que algo
ruim tivesse acontecido.
Tínhamos homens percorrendo hospitais delegacias e necrotérios, a procura
de notícias, e também procurando qualquer rastro financeiro que poderia ser
uma pista. As câmeras do circuito interno não ajudaram em muita coisa,
mostraram ela no elevador na noite de ontem, a equipe de segurança havia
sido dispensada, pela filmagem, ela saiu por vontade própria e aparentemente
sem nenhuma coerção. Seus pertences continuavam no apartamento, seu carro
na garagem, o porteiro confirmou que ela pegou um táxi quando saiu,
tínhamos homens verificando isso também, mas mesmo com todo o suborno
disponível, homens estranhos perguntando sobre o destino de uma mulher
sozinha, parecia bem ruim, e fazia os motoristas de fecharem! O que
basicamente queria dizer que não estávamos indo a lugar nenhum com isso.
Parecia que nós tínhamos andado, andado e não chegamos a lugar nenhum, e
a essa altura eu nem saberia dizer se o fato dela ter saído por conta própria era
uma boa notícia! Tínhamos organizado isso por toda a manhã, e já
passávamos do fim da tarde, e ainda não havia notícias concretas!
Nikholai havia sido avisado um pouco antes de mim, e foi ele próprio quem
me avisou, dizer que ele estava puto era puro eufemismo, ele havia se posto a
caminho imediatamente, o voo estava previsto para chegar no do fim da noite.
O que quer dizer que tínhamos mais ou menos umas quatro horas para
encontrar uma pista antes dele estar aqui! Sei que havia sido uma decisão
dele, manter o desaparecimento de Red entre nós, mas quando ele chegasse,
eu provavelmente tentaria argumentar com ele, dizer aos nossos associados
ampliaria a busca, e cada hora que passava, se ela estivesse em perigo era
uma hora a menos que tínhamos para encontrá-la, eu compreendia as razões
pelas quais Nikholai havia decidido manter isso em segredo, mas considerado
o passar das horas sem nenhum avanço, o segredo a essa altura poderia ser
mais prejudicial que benéfico.
Eu mandava mensagens de texto para Emma de tempos em tempos, mas até
agora nenhuma notícia havia sido animadora o suficiente!
Então quando Nikholai já havia pousado, e estava a caminho do escritório,
um dos nossos caras, que oficialmente era quem cuidava da segurança
eletrônica dos negócios da família, e extraoficialmente era quem hackeava o
que era preciso, quando era necessário informações internas e inacessíveis ,
havia achado uma transação financeira envolvendo Red. Ela havia recebido
pagamentos de uma editora de livros infantis, pagamentos altos, pelo que
pareciam serviços prestados, e certamente depois teríamos que nos aprofundar
nisso, mas o ponto que chamou a atenção é que havia uma transação
imobiliária na conta, um financiamento a longo prazo de uma propriedade em
Hudson Heights, a renda da conta era compatível com o financiamento da
casa, e fazia parecer que Red, tinha desparecido por conta própria. Ainda
assim, quando Nikholai chegou traçamos um plano de ataque, não
poderíamos arriscar não estar preparados se estivéssemos errados sobre isso!
Havíamos chegado lá em seis carros diferentes! Estacionamos na avenida
principal a três quarteirões de distância, e fizemos o resto do trajeto a pé! A
casa se localizada em uma rua tranquila com vista para o Hudson, o bairro
abrigava basicamente famílias, e jovens artistas, e estava recuperando o
prestigio do passado!
A essa altura, imaginávamos e esperávamos que Red tivesse ido por vontade
própria, ainda assim havia um protocolo que deveria ser seguido, protocolo
que nesse exato momento Nikholai estava ignorando completamente! Eu
entendia o sentimento, se a situação fosse inversa, e Emma quem estivesse
desaparecida, eu sei que estaria agindo da mesma maneira, mas o fato de que
ele parecia não estar raciocinando normalmente, não queria dizer que eu não
estava também, me movi para a frente e toquei o seu braço.
– Nikholai, se acalme! Você sabe que pode ser uma armadilha.
– Eu estou bem – ele sibilou de volta – E vou tomar cuidado!
Serguei estava dividido em sua missão de protege-lo, e a obediência as suas
ordens, mas todo o seu corpo estava contraído com o fato de Nikholai estar
liderando a entrada e se colocando em perigo.
Mas a obediência levou a melhor, mesmo que ele estivesse basicamente
pisando em seus calcanhares.
Quando, os nossos homens conseguiram as chaves com o construtor, eles
também tiveram acesso as plantas, o primeiro pavimento contava com uma
cozinha, e uma sala de jantar, o segundo com uma segunda cozinha e com
uma sala de estar e escritório, e no terceiro se localizavam os quartos.
Nikholai estava em uma missão! Era início da madrugada e não havia
movimento nenhum na casa, sua conclusão logica é que se Red estivesse ali,
ela estaria dormindo, então ele ignorou qualquer protocolo e passou batido
pelos cômodos, a equipe que vinha logo atrás se dividiu para vasculhar os
andares inferiores, Serguei, eu e Alex seguimos Nikholai.
O primeiro quarto estava vazio, sua porta aberta permitia visualizar as caixas
empilhadas lá, havia mais três portas, pela planta sabíamos que a direita
ficava um banheiro, e a esquerda outro quarto, e a porta que desembocava no
final do corredor era a suíte, Nikholai ignorou os cômodos anteriores e se
moveu direto para a suíte, em oposição a toda a energia nervosa que ele vinha
demonstrando até aqui, ele abriu a porta com muito cuidado, e fez um sinal
para que esperássemos ali. Serguei obedeceu muito contrariado, eu e Alex
havíamos concordado que Red havia sumido por conta própria então nesse
sentido estávamos mais tranquilos, mas entendíamos o comportamento de
Serguei, Nikholai era um alvo, principalmente na Rússia, Serguei como o seu
chefe de segurança estava sempre atento a qualquer falha, e considerando
tudo, deixar Nikholai entrar desprotegido no que podia ser uma armadilha o
deixava visivelmente frustrado. Enquanto esperávamos, abrimos a porta do
quarto a esquerda que estava completamente vazio, o banheiro a direita
também.
Poucos segundos depois Nikholai estava de volta.
– Ela está aqui – ele disse de forma sucinta e sussurrada – Forme um
perímetro, vamos passar a noite – ele disse diretamente a Serguei, e então se
virou e voltou para o quarto.
Serguei se virou imediatamente e desceu as escadas para cumprir as ordens de
Nikholai, sem muitas opções eu e Alex os seguimos.
– Tenho a sensação que a conversa vai ser tensa – Alex disse.
– Pelo menos haverá uma conversa, o que no caso deles já pode ser
considerado um avanço considerável – eu respondi.
Descemos as escadas e Alex se acomodou no sofá.
– Você vai ficar? – ele me perguntou.
– Tenho que ir ver Emma, mas volto
para cá em seguida.
– Não, não é necessário, vá ficar com a sua garota, eu passarei a noite aqui! –
ele me disse.
– Tem certeza?
– Sim, tranquilo, vou ficar por Red porque ela precisa ver pelo menos um
rosto amigo amanhã, se for necessário eu te ligo, mas vai ficar tudo bem!
– Se você tem certeza, eu vou, mas vou manter o celular comigo, qualquer
coisa você me avisa.
Alex então me acenou com a cabeça em concordância, e procurou uma
posição mais cômoda no sofá.

Chapter 13 – Conflito


Emma
Era uma noite tranquila, eu havia dormido praticamente a tarde inteira, já que
apesar do meu plantão ter se encerrado oficialmente pela manhã, eu havia
saído do hospital só depois do almoço, eram “ossos do oficio” por assim
dizer, havíamos jantado mais cedo, e no momento tomávamos vinho na sala,
simplesmente apreciando a companhia um do outro, Mikhail estava
resolvendo alguns negócios pelo celular, e eu estava no Pinterest pegando
referencias para o nosso casamento. Eu devia admitir que tinha me
empolgado um pouco, e no momento já tinha criado oito pastas diferentes, e
estava apaixonada por cada referência que eu via, mesmo que na maioria das
vezes elas fossem completamente opostas umas às outras, Mikhail não era de
grande ajuda nesse sentido, já que quando eu perguntava a opinião dele, ele
sempre dizia que eu tinha carta branca, e não deveria me preocupar com
limites de orçamento, e sério, isso não se diz a uma mulher que está
planejando um casamento, eu sempre tinha imaginado uma cerimônia
simples, mas significativa, o Pinterest estava me fazendo seriamente
considerar um castelo na Europa, e então, eu refreei mentalmente esses
impulsos, havia uma boa razão pela qual durante toda a minha vida, o meu
sonho sempre foi um cerimônia simples na presença da minha família e
amigos mais próximos, se tratava de celebrar o amor, eu não queria uma festa
elegante recheada de pessoas que eram mais ou menos conhecidas para que
eu pudesse esfregar minha felicidade na cara delas, então mesmo o site me
dando opções que faziam meus pensamentos voar em outras direções, eu
voltei a focar em referencias que condiziam com o que eu queria a princípio,
eu sabia que iria fazer algumas concessões nesse sentido, até por motivos de
segurança, já que considerando quem era o noivo, e seus associados e que
também eu por associação, agora fazia parte da família, nós não poderíamos
simplesmente escolher qualquer lugar, e considerando o histórico de tudo o
que já havia acontecido.
Mikhail havia se levantado para ir buscar outra garrafa de vinho, e eu estava
distraída com o celular, mas quando o estrondo estourou, não havia distração
que pudesse me fazer perder o barulho de algo de espatifando, que parecia
que uma bomba havia estourado no cômodo ao lado. Eu me levantei em um
pulo, tanto pelo susto, tanto pelo fato da minha imaginação sempre trabalhar
para o pior, mas nem sequer a minha imaginação comportaria a cena que vi,
quando corri até o hall de entrada do apartamento. Mikhail e Nikholai se
engalfinhavam no chão, trocando socos como se quisessem matar um ao
outro, o aparador de vidro que ficava na entrada se encontrava em pedaços,
junto a garrafa de vinho, eles socavam um a outro com tal força, que isso me
paralisou durante alguns segundos, eu nunca tinha presenciado algo assim,
uma explosão violenta de tamanha intensidade, eu estava apavorada. Nikholai
parecia estar em uma espiral de fúria, e embora os dois se equiparassem em
peso e altura, a raiva que emanava dele era combustível, Mikhail estava
basicamente se defendendo mais do que qualquer coisa!
Me aproximei para tentar separar a briga.
E Mikhail gritou para que eu me afastasse.
Eu sabia que eu estava gritando para que eles parassem, mas nem meus gritos
nem as minhas súplicas surtiram efeito aparente.
Então Katherina estava lá, e ela gritou:
– Nikholai!!!
Nikholai se imobilizou completamente.
Era como se ao som da voz dela, toda a sua raiva se arrefecesse no mesmo
instante.
Ele se levantou, e sem dizer nenhuma palavra foi em direção ao elevador.
Eu me aproximei de Mikhail, tanto quanto porque eu necessitava saber se ele
estava bem, como porquê a medica em mim, precisava saber se era preciso
chamar uma ambulância.
Katherina se aproximou de nós
– Ele está bem? – ela perguntou se dirigindo a mim.
– Eu estou fodido, mas não ao ponto de ser incapaz de responder uma
pergunta Red! – ele então respondeu a ela parecendo uma criança emburrada.
– Ele está bem, vai doer bastante quando o corpo esfriar, e ele provavelmente
vai ganhar um olho roxo, mas fora o corte no supercilio, os outros são
ferimentos superficiais! – Eu respondi bem profissional o que foi um milagre
porque as minhas mãos tremulas eram um conjunto com todo o meu corpo,
que ainda tremia inteiro pela experiencia!
– Red, você saberia dizer, o que diabos foi isso?
– Eu contei a ele sobre o bebê, eu acho que ele ficou bravo porque você não
disse a ele na época do aborto… – ela então respirou fundo e disse – e parece
que a forma de comunicação que ele escolheu foi usar os punhos para mostrar
seu descontentamento!
– Porra! – Mikhail disse simplesmente!
– Eu tenho que ir ver como ele está! Eu lamento Mikhail, lamento
profundamente…
– Nada disso é culpa sua Red! – ele assegurou a ela
Ela não pareceu exatamente convencida com as palavras dele, mas não era
algo que valia a pena discutir, então com um aceno para mim, ela se virou e
foi embora!
– Você pode se mover? – perguntei a ele então
– Você também? – ele perguntou mal-humorado – Não sou feito de cristal
Emma! Estou bem – ele disse.
Ok – eu disse levantando minhas mãos em rendição – Se sente na ilha da
cozinha, eu vou buscar a minha maleta.
Fui até o quarto o mais rápido possível, e peguei a minha maleta. E então
voltei correndo para ele.
Ele estava sentando no banco ainda parecendo muito mal-humorado, mas bem
de um modo geral.
– O cílio vai precisar de pontos, não é um corte grande, mas ficando exposto,
tem um risco mais de infecção, um cirurgião plástico possivelmente
conseguiria fazer um trabalho melhor que eu – eu disse a ele então.
Ele me respondeu revirando os olhos, mesmo que o seu rosto parecesse ter
saído de uma obra de Botticelli, sua vaidade era inexistente.
Eu havia preparado os instrumentos na bancada.
– Vai ser uma picadinha, mas é impossível fazer isso sem anestesia local – eu
disse a ele enquanto aplicava a anestesia.
Comecei a trabalhar nos pontos no seu supercilio, o corte era pequeno, e seria
tranquilo, e mesmo se ficasse cicatriz, seria praticamente invisível.
No geral eu trabalhava em silêncio, me concentrando na tarefa a minha frente,
dessa vez, tanto pela simplicidade do procedimento, quanto pela curiosidade
que eu estava sentindo.
– Você quer falar sobre o que aconteceu?
– Ele me atacou como um demente, o que há para dizer?
– Red falou sobre um bebê?
Ele balançou a cabeça em descrença
– Foi a seis anos atrás, quando ele mandou Red para cá! Dois meses depois
Zhenya a encontrou desmaiada e sangrando, ela teve uma gravidez ectópica,
foi um dia de merda, achamos que ela sequer ia sobreviver, Nikholai não
havia entrado em contato com ela nenhuma vez nesses dois meses. Então eu
não o avisei, quando ela acordou, e eu disse que iria ligar para ele, ela
recusou, disse que provavelmente era melhor assim. Então eu deixei para lá…
– Eles têm um passado complicado, mas acredito que ele teria querido saber
de algo assim, e quando descobriu que isso foi escondido dele, ele descontou
na pessoa que ele acreditava que seria a primeira a dizer a ele.
– Eu?!
– Você…
– Mas ainda assim! Caralho! Porque ele não pode ter pegado a merda do
telefone e descoberto isso por conta própria? Pensei que o melhor a fazer era
não o envolver nisso, eu não sabia como a relação deles havia terminado, não
sabia se a presença dele seria benéfica para Red!
– Eu sei, e compreendo o seu ponto de vista, mas colocando isso em
perspectiva, consegue imaginar a situação se fosse ao contrário? Se eu tivesse
ido para Rússia sobre a responsabilidade de Nikholai e algo assim acontecesse
comigo, e ele não contasse a você?
Os olhos dele se acenderam em alarme diante da hipótese que eu havia
sugerido, ele havia compreendido como o irmão havia se sentido quando
descobriu tudo.
– Merda!
– Pois é!
– Acho que ele me bateu pouco…
– Mikhail…Não se martirize, você fez o que achou que tinha que fazer na
época. É fácil olhar para trás e ver os erros que cometemos, mas no calor do
momento, isso é bem mais complicado. E pronto! Terminei, só vou limpar os
ferimentos com antisséptico agora…
– Tenho que falar com ele e me desculpar… – ele disse tentando se levantar.
Eu o pressionei de volta a banqueta.
– Sim, você tem, mas definitivamente esse não é o momento! Ele ainda está
sob o efeito da descoberta e vocês não vão conseguir ter uma conversa
normal, vão acabar resolvendo tudo nos punhos de novo, e isso não vai ajudar
em nada.
– Você tem razão, eu sei que você tem razão, mas ainda assim a minha
vontade é falar com ele! Colocando as coisas em perspectiva, tenho
consciência da merda que eu fiz!
– Eu sei, mas ainda que pareça clichê, às vezes é necessário dar tempo ao
tempo, e deixar as coisas esfriarem! Vai ficar roxo aqui – Eu disse acariciando
a pálpebra inferior.
– Eu até faria uma piada sobre, não julgue antes de ver o outro cara, mas você
foi testemunha que ele chutou a minha bunda.
– Acredite em mim, sua masculinidade vai ficar intacta, eu diria até que vai te
dar um charme a mais, mas poderíamos ter que adiar o casamento.
– Nem fodendo – ele me respondeu prontamente.
– Mikhail, o olho roxo pode atrapalhar as fotos, sabe aquelas para a
posteridade, do meu primeiro e único casamento.
– Não vamos adiar, isso vai curar – ele disse apontando para o próprio rosto –
Mas eu meio que gostei dessa coisa de seu primeiro e único casamento.








Chapter 14 – Despedida de Solteira


Emma
– Você sabe que temos espaço aqui, não é?
– Mikhail, eu te amo, você sabe que eu te amo, mas isso não está em
consideração! Eles vão ficar em um hotel! E acredite em mim, vão amar a
experiência! Mas em nome da minha sanidade mental, minha família deve
continuar desconhecendo o nosso endereço real!
– Você não acha isso um pouco de exagero?
– Não?! – eu disse a ele então, meio afirmando, meio perguntando.
– Um endereço fictício?
– Acredite meu bem! Isso se chama planejamento! Eles vão adorar a estadia
no hotel, vão estar perto o suficiente do melhor entretenimento que a cidade
pode oferecer! E vão visitar o “nosso apartamento”, cientes que não
poderíamos recebe-los por morarmos em um estúdio de um quarto!
– Eu entendo o seu ponto de vista, mas só estou dizendo que não me
importaria!
– Eu te amo ainda mais por ser tão doce, mas acredite você passou um dia e
meio em torno da minha família, você conseguiu obter um gosto, mas não o
panorama completo, eles são conhecidos por “quererem o braço quando se
estende a mão”, acredite, isso é em nome da nossa paz futura!
– Então nada me resta ao não ser concordar com você!
– E eu diria que esse é uma excelente opção já que vamos casar em dois dias!
– Nós moramos juntos! Você já é minha mulher!
– Eu também já considero assim! Mas há alguma coisa sobre cerimonias
oficiais e as pessoas que a gente ama ao nosso redor que torna isso oficial, e
parece ter o poder de reforçar essa sensação!
– Não vou discordar da sua lógica! – ele me disse então.
Então me lembrei que estava indo para o hotel hoje, já que Gwen estava
planejando tudo com uma precisão militar.
– Eu vou para o hotel hoje ainda! Gwen marcou todos os tratamentos estéticos
possíveis! – eu disse a ele.
– Serão dois dias de merda sem você aqui!
– Bom tecnicamente, com o jantar de amanhã, sequer vamos ficar um dia
inteiro separados, mas eu entendo o que você está dizendo, em quatro meses,
essa é a primeira vez que vamos ter que dormir longe um do outro!
– E temos?
– Você quer enfrentar Gwen? Ou pior a minha família?
– Podemos pegar o jato, e ir para Vegas, e então estaremos casados!
– Poderíamos, uma grande parte de mim quer escolher essa opção e jogar
tudo para o alto!
– Mas…?
– Tanto quanto ser sua esposa me fará extremamente feliz, ter nossas famílias
e amigos ao nosso lado é uma parte importante disso também!
Iriamos no casar no Gramercy Terrace no Hotel Gramercy, devo dizer que o
fato de eu ter morado nas proximidades pelos últimos anos pesou na minha
decisão, a relação afetiva com o lugar já era existe, era de certa forma como
casar no quintal de casa e eu estava imensamente feliz por isso! Teríamos
cinquenta convidados ao todo, e isso foi o menor número ao que conseguimos
chegar, e acredite, eu me esforcei! Para impedir a minha mãe de alterar os
meus planos foi preciso todo um planejamento muito especifico, o espaço
comportar cinquenta pessoas sentadas, não era uma coincidência! Fazia parte
do plano! Eu, Gwen, Lila, e Katherina e toda a nossa equipe de seguranças
iriamos nos hospedar no Gramercy Hotel, eu queria passar a noite com
Mikhail, mas Gwen levava muito a sério o seu papel como minha madrinha,
ela havia convidado a Sra. Goshen para se juntar a nós, mas ela havia
declinado, Zhenya também não havia aceitado o convite, tanto quanto ela nos
amava como família, um dia inteiro de “frescuras” como ela havia chamado,
era algo que ela não iria se submeter. Teríamos os nossos momentos de
“meninas”, e o pacote completo que o Spa poderia fornecer, mas eu sabia
melhor, Gwen queria encurralar Katherina em busca de respostas sobre o que
estava acontecendo na pátria mãe Russa, e sobre o andamento do seu
casamento! Tínhamos nos declarado amigas quase irmãs desde a nossa noite
de bebedeira, e eu sabia que esse era um compromisso que Gwen levava
muito a sério! E se Katherina estivesse infeliz, ela seria aquela que botaria
fogo no hotel, para ajudá-la a escapar. Mas bastou um olhar para eles quando
chegaram que eu sabia que esse não era o caso, Katherina parecia
resplandecer, e Nikholai mesmo com todo o seu ar taciturno parecia gravitar
em torno dela, e ambos se moviam como uma unidade, eu nunca teria
prestado atenção a esse detalhe se Gwen não tivesse dito o mesmo sobre mim
e Mikhail, segunda ela, nós também nos movíamos como uma unidade,
gravitávamos um ao redor do outro, então se Nikholai e Katherina faziam o
mesmo, eu considerava um ótimo sinal de que as coisas tinham dado certo.

Emma
Depois de passar um dia inteiro fazendo procedimentos estéticos regados a
margaritas, a noite fomos para a minha despedida de solteira, havia muitas
restrições, o clube que nós visitamos ficava em Chelsea, e como foi a único
lugar a ser “autorizado”, eu imaginei que era um dos negócios da família, o
lugar não estava cheio, mas nós ficamos em um camarote privado, somando
os meus seguranças e os de Katherina, estávamos mais que protegidas, o que
me fez relaxar, minhas irmãs vieram, e apesar de ter sido convidada minha
mãe declinou, a agitação não era muito a coisa dela, além disso o jantar de
casamento estava marcado para o dia seguinte, o que quer dizer que ela
certamente não iria querer estar nada menos que impecável, e segundo ela,
bebedeiras demoravam mais a serem curadas com o passar dos anos, eu
certamente já estava alta, por ter bebido durante a tarde, e então continuamos
bebendo no clube, e mesmo sabendo que não era exatamente uma boa ideia,
festas de despedidas de solteira, não eram conhecidas por serem um celeiro de
boas ideias, logo, nos dançamos, nos divertimos e bebemos, pelo menos eu e
Gwen estávamos bebendo, Katherina visivelmente grávida, estava tomando
drinks sem álcool. Gwen tinha planejado algo um pouco diferente, que
envolvia um clube de strip, eu vetei, Mikhail não iria gostar da ideia em
absoluto, porém o que me fez negar a ideia de imediato era o princípio da
reciprocidade, eu não gostaria que ele passasse a sua despedida em torno de
mulheres nuas, logo eu também não iria fazer isso.
Os planos de Gwen incluíam virar a noite no clube, mas honestamente?
Depois de todas as margheritas no spa, mais os incontáveis drinks coloridos
com sabor de fruta, eu estava feita! Estava mais bêbada que já estive um dia,
inclusive festas do colegial, mas apesar de estar vendo tudo se movimentar
quando deveria estar parado, não tinha chegado no pior estágio que envolvia
vômitos ou desmaios, então a máxima que dizia que era melhor parar
enquanto se estava ganhando prevaleceu!
Resolvemos dar à noite por encerrada, minhas irmãs seriam acompanhadas
até o hotel do outro lado da cidade, Gwen, eu e Red, iriamos para o
InterContinental. Eu tinha uma segurança feminina agora, na percepção de
Mikhail não era suficiente uma equipe enorme de seguranças me seguindo por
todos os lugares, ele absolutamente não tolerava nenhuma brecha, logo
Tatyana havia sido incorporada a equipe de seguranças. Eu tinha absoluta
certeza que ela era tão mortal quando qualquer um dos seguranças
masculinos, e que ser a minha babá devia ser mortalmente entediante para ela,
quando disse isso a Mikhail, ele retrucou dizendo que era exatamente como
devia ser, já que nesse mundo “emoção” quando se tratava de segurança não
era um sentimento bom!
Era Tatyana quem me acompanhava de volta ao quarto, eu estava hospedada
na suíte presidencial, e apesar de eu ter protestado quando soube, dizendo que
era um completo exagero uma suíte daquele tamanho só para mim, Mikhail
tinha argumentado que no dia do casamento, considerando a equipe que viria
me produzir, e as minhas madrinhas que também estariam se arrumando, seria
o ideal, e ele ganhou, aliás ele ganhou tão facilmente que nem me reconheci,
era como se uma parte de mim estivesse se acostumando muito rápido com
essa vida, e tanto quanto eu já havia aceitado que ao amar o homem, o seu
mundo vinha junto, a questão financeira era um tanto complicada, eu nunca
quis ser uma esposa troféu, simplesmente não era a minha coisa, apesar de eu
não julgar quem optasse por esse caminho, mas eu percebi também que não
valia a pena comprar brigas por coisas assim, eu entendia que ele tinha
dinheiro, e a vida que ele vivia, e que eu por tabela estava vivendo também.
Eu me mantinha em pé sobre os saltos altíssimos por pura força de vontade,
tanto quanto porque o meu pé estava me matando, tanto quando porque o meu
mundo estava girando, mas na superfície, eu parecia bem calma e composta,
acredito que é algo que eu tenha aprendido na minha profissão, e isso durou
até o momento em que ela me acompanhou até a porta, e então me deixou
entrar sozinha, já que considerando as rondas e o fato de andar ter sido
fechado exclusivamente para nós, seria impossível qualquer ameaça chegar a
mim, eu teria alguma privacidade, junto com a barulho da porta de fechando,
eu deixei a minha dignidade ir embora, e resolvi, que se eu engatinhasse até a
cama seria algo completamente normal, e muito necessário, já que o mundo
girava um pouco menos.

Mikhail
Poderia parecer grude, ou até perseguição de certa forma, mas eu
simplesmente não conseguiria dormir sem Emma ao meu lado, contando que
Gwen estaria distraída ou bêbada o suficiente, e que o quarto destinado as
madrinhas ficava em outro andar, quando saí do casino, fui direto para a suíte,
e basicamente passei o resto da noite perseguindo cada movimento de Emma
a distância, controlador eu sei, mas não era algo que eu poderia evitar. A
última mensagem informava que Emma havia entrado no elevador
acompanhada da segurança.
Esperava que ela tivesse bêbada, havia um bom motivo pela qual Gwenevere
resolveu fazer a festa quarenta e oito horas antes do casamento, ela o chamou
de “tempo necessário para curar a ressaca”, e se tinha uma coisa que eu tinha
eventualmente aprendido sobre Gwenevere é que ela não usava as palavras
em vão, o que basicamente quer dizer que ao dizer essas palavras ela
declarava a intenção de basicamente beber até cair, e apesar de eu ter
ordenado que o álcool fosse gradativamente diminuído nas bebidas delas, isso
não pareceu funcionar muito bem, ainda que as palavras usadas tenham sido
“alegres” “se divertindo”, eu sabia ler nas entrelinhas. Mas devo admitir que
realmente fiquei surpreso ao me mover para a antessala e ver Emma
engatinhando pelo chão a caminho do quarto, foi um pouco chocante, já que
nada nos relatos dizia que ela estava tão mal a ponto de não andar nas
próprias pernas.
Ela engatinhava lentamente, e de cabeça abaixada, então a primeira coisa que
entrou no seu raio de visão foram os meus pés, ela levantou a cabeça
comicamente.
– Oi – ela disse parecendo muito satisfeita consigo mesmo.
– Oi – eu respondi simplesmente e então complementei – Existe um motivo
pelo qual você está engatinhando no chão em vez de andar.
– Estou procurando a minha dignidade – ela disse e então explodiu em risadas
– Devo a ter perdido em algum ponto entre a porta e aqui.
Eu a apoiei e a ajudei a se levantar, e então a peguei no colo.
– Noite divertida hein?
– Sim, obrigada, e devo te agradecer os strippers no final foram incríveis!
Eu senti o meu corpo todo congelar no lugar.
– O quê? – eu perguntei a ela muito calmamente, não refletindo
absolutamente o que eu sentia por dentro.
– Ah você sabe igualdade de direitos, se você teve garotas peladas, por uma
questão de justiça eu também tive garotos pelados.
– Eu estava em um casino em Yorkville – eu disse entredentes me preparando
para demitir todos e qualquer um da equipe de segurança que permitiu que
isso acontecesse – Não havia nenhuma mulher, e muito menos pelada!
– Não existem casinos em Yorkville! – ela disse parecendo duvidar.
– Não existem casinos legalizados em Yorkville, clandestinos por outro lado
existem aos montes – eu sublinhei para ela.
Ela então sorriu, um sorriso de Chesire que eu só tinha visto antes em
Gwenevere.
– Mikhail – ela chamou a minha atenção – Não haviam strippers! Foi só o
meu lado infantil querendo descontar o ciúme por algo que eu pensei que
aconteceu.
Eu a coloquei sentada na cama.
E me ajoelhei para tirar os sapatos ridiculamente altos, que deixavam as suas
pernas absolutamente sensacionais, que eu absolutamente odiei, e por outro
lado também, decidi que elas estaria recebendo mais desses em diferentes
modelos, ela estava usando uma saia de couro que parecia ter sido costurada
no seu corpo, uma parte de mim queria matar Gwen, e a outra queria
parabeniza-la. Eu sabia que a escolha de roupa e dos sapatos tinha sido dela.
Tomei Emma em meus braços novamente e a carreguei até o banheiro, despi
as suas roupas, e porra a lingerie era ainda melhor que todo o resto,
definitivamente ela estaria obtendo mais peças assim! Desabotoei o soutien,
me abaixei para retirar a aquela coisa minúscula que ela chamava de calcinha,
suas mãos de apoiaram nos meu ombros para manter o equilíbrio, e então lá
se foi a calcinha, e Emma estava nua, excitada, e bêbada, o que atava as
minhas mãos em fazer qualquer coisa sobre isso.
Mantive as minhas roupas vestidas, mesmo que eu fosse me molhar
completamente ao segura-la embaixo do chuveiro, a perspectiva de estar nu
junto a ela, não era uma boa ideia, eu estava tentando ser um cavalheiro.

Ela se inclinou para beijar o meu pescoço.
– Emma! – eu disse em tom de aviso.
E senti ela rir contra o meu pescoço.
– Eu vou ser boazinha – ela disse cruzando os dedos sobre os lábios em sinal
promessa, e então em seguida gargalhou anulando completamente o efeito.
– Você não está sendo nada boazinha – eu ironizei enquanto a ensaboava e
tentava ignorar uma ereção furiosa pressionando o tecido da minha calça.
Meu pau provavelmente iria ter uma lesão por estar dobrado nessa posição, já
que eu sentia que todo e qualquer sangue que eu tinha no cérebro havia se
concentrado lá, eu estava por um fio de perder o controle, mas mesmo que
Emma estivesse consciente o suficiente para se tornar uma provocadora de
pau do caralho, ela tinha bebido além da conta, e o que restava do meu
cavalheirismo queria respeitar isso.
E eu respeitei, a ajudei a se secar, já que o nível alcoólico em seu sangue, a
mantinha incapaz de fazer isso por si só com eficiência, e então a ajudei a
vestir uma das minhas camisas, que me trazia lembranças o suficiente e não
ajudavam muito em aplacar a minha ereção furiosa, mas que eram melhor que
dormir ao lado dela complemente nua, eu era ciente que meu autocontrole
possui limites, e Emma testando o meu autocontrole a todo momento não
ajudava muito nisso, todo o tempo em que eu a ajudava a se vestir, em
nenhum momento ela parou de me seduzir. Absolutamente fazendo disso uma
provação sem fim!
Mas seu delicioso estupor bêbado, cobrava um preço, ela estava sonolenta,
graças a mistura de um dia ocupados, e muitos drinks, assim que puxei o
edredom sobre ela, os olhos dela de fecharam, eu aproveitei o momento, e fui
me livrar das minhas roupas molhadas, usualmente costumo dormir sem nada,
mas essas era uma das noites que seria impossível fazer isso, e então vesti um
par de jeans, e voltei para cama, puxei Emma para os meus braços, seria em
muitos aspectos uma noite desconfortável, mas só tê-la em meus braços faria
tudo isso valer a pena.













Chapter 15 – Votos

Emma
Eu estava lá parada em meu vestido de noiva, o espelho vintage com três
peças permitia a vista do corpo inteiro, eu nunca me considerei linda, com
meus cabelos loiros acinzentados, meus olhos de um verde musgo e minha
altura mediana, não, não era falsa modéstia, eu tinha um corpo bem
proporcionado, mas basicamente era uma mulher comum, entre tantas outras
comuns, bonita, mas não me destacava especialmente na multidão, pelo
menos não até ele, me enxergar, Mikhail me elogiava constantemente, mas
para uma criança que cresceu ouvindo tantas críticas, a mulher que eu era
hoje ainda tinha dificuldades com elogios de um modo geral, mas hoje, me
olhando no espelho vestida de noiva, eu me sentia realmente bonita, não era
sobre só aparência apesar de o vestido, a maquiagem, o cabelo, enfim o
conjunto contribuírem para isso, eu achava que era felicidade, eu via o brilho
do meu olhar, e é como se essa felicidade energizasse todo o meu corpo com
felicidade liquida. Eu iria me casar com o homem que tinha escolhido amar, e
ele me amava de volta. Estaríamos hoje cercados pelas nossas famílias e entes
queridos, e tornaríamos isso oficial! Então sim, eu tinha excelente razões para
estar me sentindo incrivelmente bonita e ridiculamente feliz.
Minhas irmãs, minha mãe e Gwen tinham lágrimas nos olhos, acredito eu por
vários motivos diferentes, mas o fato é que todas estavam emocionadas, e eu
igualmente, graças a Deus pela invenção da maquiagem a prova d´água, eu
não sabia se iria conseguir parar de chorar, e certamente não iria querer
parecer um panda no dia mais feliz da minha vida.
Depois de me dar um abraço, minha mãe seguiu em direção ao terraço já que
ela iria entrar primeiro, minhas irmãs, Gwen, e Katherina também foram em
frente, já que iriam entrar junto a seus respectivos pares, meus sobrinhos, e
sobrinhas se enfileiraram já que iriam pajear a minha entrada, Jane estava a
coisa mais fofa como daminha de honra, e sua expressão compenetrada me
dizia que ela estava levando a sua função muito a sério, meu pai me esperava
no lobby, e ao me ver seus olhos se encheram de lágrimas e um sorriso que
tomou conta de todo o seu rosto, o que automaticamente fez novas lágrimas
encherem os meus olhos.
Meu pai tomou as minhas mãos nas suas.
– Minha querida! Você está absolutamente deslumbrante!
– Obrigada papai – eu respondi em meio a um soluço tentando me controlar.
Tanto quanto eu sabia que a minha vida não estava em Dunluth, muitas das
minhas raízes de mantinham intactas, apesar de nunca ter sido um sonho mais
importante da minha vida como era para as minhas irmãs, ser levada ao altar
pelo meu pai e ser entregue ao homem que eu amava de todo o coração, era
algo que eu sempre idealizei. E isso estar acontecendo hoje fazia a menina do
interior que habitava em mim, completamente realizada, ainda que pareça um
pouco antiquado.
As crianças subiram primeiro com uma das assistentes da organizadora, nós
subimos em seguida, no átrio uma equipe completa esperava para dar os
últimos retoques, eu havia escolhido um vestido clássico, queria me ver daqui
a 20, 30 anos e que o modelo ainda continuasse atual, e que também pudesse
quem sabe, se tornar uma tradição familiar passando de mãe para a filha, o
que não era possível com o vestido de mangas bufantes da minha mãe, um
modelo famoso na década de 80, o véu foi preso no pente que prendia o meu
cabelo, o pente foi um presente de Vladmir, e aparentemente tinha pertencido
a realeza russa, era uma das coisas mais bonitas que eu já tinha visto na vida,
esse era o meu algo velho, o azul ficava por conta do brinco que eu estava
usando, um pequeno brinco com um pingente quadrado de safiras e
diamantes, o véu era o meu algo emprestado, pertenceu a minha bisavó por
parte de pai e era uma relíquia de família, e a delicadeza do bordado feito a
mão a tanto tempo atrás era simplesmente linda, e por fim, o meu algo novo
ficava por conta da lingerie que eu estava usando, e que eu esperava ser uma
boa, aliás uma boa não! Uma ótima surpresa para o meu então marido…
A coordenadora levou a mão a orelha, e então nos disse:
– Vocês são os próximos! Se posicionem.
O frio na barriga aumentou a níveis estratosféricos, e para falar a verdade eu
me lembro de pouco coisa do caminho que percorri ao altar, quando a porta se
abriu e eu comecei e andar na direção dele, os olhos dele como safiras
brilhantes me prenderam de tal forma que eu sequer reconheci a presença das
pessoas ao meu redor, seu olhar foi como um farol, e tudo que eu queria era
alcança-lo, lágrimas não derramadas nadavam nos meus olhos, com a
consciência de saber que eu estava me movendo em direção ao homem que eu
amava e com quem eu queria passar o resto da minha vida, e sendo assim
todo o resto se tornou desimportante.


Mikhail
Eu era conhecido em nossos círculos pela racionalidade, por manter a calma e
reagir friamente por pior que fosse a situação, eu sempre mantinha o controle
rígido das minhas emoções, até porque nesse mundo qualquer fraqueza era
imediatamente explorada. Mas nesse momento eu não me sentia dessa
maneira, eu estava inquieto, nervoso, ansioso na expectativa de que Emma se
tornasse minha mulher, e que isso ocorresse sem qualquer contratempo, meu
nervosismo também derivava do fato de que apesar de ela no fundo ainda
acreditar que eu a deixaria, o meu medo de que ela me deixasse era bem
maior que o dela de que eu fizesse isso, quando fui embora e a deixei, minha
única preocupação era a segurança dela, isso claramente não funcionou
considerando tudo, e então coloca-la sobre o manto de proteção da minha
família era o único modo que eu tinha de protege-la, e era isso que me
preocupava, mesmo me esforçando para suavizar as arestas a vida que ela
tinha hoje, de certa forma, era uma gaiola dourada, e o meu medo ela que ela
se cansasse dessa merda, e resolvesse ir embora. Eu considerava um milagre
fodido que ela não tenha corrido quando nos conhecemos e ela descobriu
sobre os negócios da família. Mas se havia algo que eu sabia como manter era
a vantagem, e eu tinha consciência que Emma era a melhor coisa que tinha
me acontecido. E sobre isso eu não tinha dúvida alguma. Emma convidou até
mesmo Vladmir para o casamento, e tanto quanto eu não tenho apreciado a
sua presença, já que certos laços são complicados demais para serem
restaurados, eu tenho o evitado por todos os compromissos que tivemos essa
semana, mas eu sabia que não conseguiria ignorar a sua presença para
sempre! Mas nesse momento, bom nesse momento minha única prioridade era
Emma!
O cortejo, sim “cortejo”, eu era completamente ignorante sobre merdas como
essas significavam até duas semanas atrás, foi simplificado, porque havíamos
escolhido ser tão informais quanto possível, Zhenya havia me acompanhado
ao altar, ela foi mais mãe para mim todos esses anos que a pessoa que meu
deu a luz, logo era a escolha lógica, Vladmir acompanhou a mãe de Emma, e
a julgar pelo sorrisos e pelo rosto corado dela, ele já havia envolvido com o
seu charme, o que eu considerei que seria algo que eu teria que agradecer a
ele, mesmo contra a minha vontade.

Emma
Havíamos dançando por toda a noite.
Era o dia mais feliz da minha vida, e eu queria aproveitar cada minuto ao lado
daquele que escolhi para ser o homem da minha vida, e dos nossos familiares
e amigos, eu estava ridiculamente feliz, e aproveitamos cada minuto da festa!
Quando eu senti que meus pés já não estavam suportando, e que nós tínhamos
curtido o que Mikhail classificou como o primeiro e o último casamento de
ambos, nós retiramos, a francesa como dizem por aí! Com tanta discrição
quanto possível, já que a esquema de segurança, apesar de imperceptível para
a maioria das pessoas presentes no casamento estava apertado. Afinal, além
de Mikhail, Nikholai estava presente, e sem dúvidas a presença de Vladmir
era o determinante para o esquema de segurança intrinsicamente elaborado
que eles estavam executando, por um momento me dei conta que o braço da
máfia mais poderosa não só na costa leste, mas na américa do norte, estavam
presentes ali, eles eram alvos em todos os momentos, e de certa forma eu já
estava me acostumando com isso, eu honestamente não sabia se isso era um
fator tranquilizador, ou alarmante, ainda iria decidir.
Sentada ao lado de Mikhail, ainda em meus vestido de noiva eu dobrei os
meus pés, já que a falta de sensibilidade estava se tornando um pouco
preocupantes, Mikhail os puxou para o colo, e então desabotoou a minha
sandália, eu não pude segurar o gemido de puro prazer, que brotou do meu
peito, seu olhar escureceu, cheio de promessas para mais tarde, e então ele
começou a massagear o meu pé direito, em circunstancias normais, eu
confesso que eu o provocaria no carro, o diabinho no meu ombro inclusive
incentivou o comportamento, mas primeiro que existia uma problema prático
que se referia ao meu vestido de noiva, eu havia mantido porque eu gostava
da parte da tradição que dizia que o meu marido o tiraria de mim, e tanto
quanto eu não era adepta as tradições normalmente, essa especificamente eu
gostava, além disso estávamos indo direto para o aeroporto e se tratava de
uma viagem rápida, ainda assim, o diabinho no meu ombro era mais forte que
o meu bom senso, aproveitando que os meus pés estavam apoiados no seu
colo, ele havia mudado o seu foco para o meu pé esquerdo. Eu o acariciei com
o calcanhar, suas mãos paralisaram, com um aperto forte, e seus olhos
queimaram os meus, ciente do que eu estava fazendo, não pude evitar o
sorriso no meu rosto.
– Emma! – Ele então me disse em tom de aviso.
Eu compus a expressão mais inocente e respondi.
– O quê? – respondi me fazendo de desentendida.
– Se comporte – ele disse acenando em direção ao motorista e ao segurança
que se encontravam no banco da frente – ao menos por enquanto – ele
complementou.
– Essa é a minha versão comportada, acredite em mim!
Ele não pode evitar o sorriso, mesmo que seu aperto continuasse no meu pé,
como se ele estivesse se segurando para não fazer algo, e eu sabia que ele
estava, e uma pequena parte consciente de mim, sabia que era bom que pelo
menos um de nós mantivesse o juízo.
O carro diminuiu a velocidade, acompanhando os batedores a frente.
E aparentemente não íamos passar pelo saguão dos voos particulares, como
tínhamos feitos da outra vez, e se eu já considerava voos particulares algo
muito distante da minha realidade, ser deixada basicamente a porta do avião,
era algo muito fora da casinha para mim.
Mas foi isso o que ocorreu.
Movi os meus pés para baixo, e estiquei minhas mãos até as sandálias, mas
fui interrompida pela voz de Mikhail
– Você não vai precisar calçar as sandálias.
Antes que eu pudesse entender a declaração, um dos seguranças abriu a porta
e então Mikhail saiu do carro, quando me movi para porta, ele estendeu o seu
corpo em direção ao carro, e me pegou no colo, a forma como ele administrou
o vestido, e o pequeno espaço foi de fato impressionante.
Eu definitivamente não era uma conosseur, mas o avião que iriamos usar, era
maior do que o que usamos para ir para Minesota, e considerando a equipe
que iria nos acompanhar, era totalmente necessário.
Mikhail me levou nos braços.
– A lenda não diz que você deve passar com a sua noiva pela porta?
– É uma porta, ainda que de um avião – ele me respondeu com um sorriso
meio de canto de boca que ele tentava segurar.
Nós passamos pela equipe que se encontrava alinhada próxima a entrada, e
que quase fizeram uma reverencia quando passamos, o que para mim, era
algo totalmente fora da minha realidade, Mikhail então subiu as escadas, me
mantendo em seus braços, mostrando que o seu corpo bem construído não era
só fachada, e que ele realmente usava a academia para malhar, ao menos
quando eu não estava lá, porque aí tínhamos outros planos.

Mikhail
Eu ultrapassei o umbral da porta, com Emma em meus braços, eu não ligava a
mínima para tradições de um modo geral, mas Emma se importava, e eu
certamente não mediria esforços para dar a ela o que quisesse, e manter as
tradições em um momento que era tão significativo era o mínimo que eu
poderia fazer.
Quando estávamos dentro do avião, a desci do meu colo, primeiro porque
mesmo em se tratando de tradição, ainda que com uma pequena modificação,
Emma corou ao passar pela tripulação alinhada em frente ao avião, mas o
verdadeiro motivo de eu ter a descido era porque o espaço não comportava
que eu a levasse em meus braços de forma confortável, tendo que desviar das
poltronas, segundo porque, eu estava praticamente dando um espetáculo, já
que meu pai se encontra dolorido preso em minha calça, pela provocação dela
agora a pouco no carro, o que eu pretendia descontar, evidentemente, mas eu
estava trabalhando o meu processo de paciência, e a máxima de coisas
importantes primeiro prevalecia, a guiei com a mão em suas costas,
explorando em movimentos circulares a sua pele, exposta pelo decote traseiro
do vestido, e então a guiei para uma das poltronas, quase no fim do corredor,
e pessoalmente atei o seu cinto, e então o meu.
A comissaria veio verificar se precisávamos de algo e eu a dispensei com o
olhar.
A equipe de segurança embarcou, e se distribuíram pelos assentos restantes a
nossa frente, a tripulação assumiu suas tarefas, e então estávamos prontos
para a decolagem.
Assim que o aviso de afivelar os cintos se apagou, tão rápido quanto possível,
eu desafivelei os nossos cintos, e a puxei em direção a suíte traseira do jato.
Quanto entramos na suíte, ela se manteve de costas para mim, para que eu
ajudasse a desabotoar o vestido! Pacientemente, eu desabotoei um a um, dos
minúsculos botões que se estendiam pelas costas dela, a minha vontade era
como um homem das cavernas rasgar esse vestido dela, e toma-la ali mesmo
como um selvagem! Mas tradições existiam por um bom motivo! E a
paciência fazia parte do pacote, eu estava desembrulhando um presente! O
melhor presente da porra da minha vida!
Após terminar de desabotoar o vestido, eu a ajudei a sair dele! E porra!
Definitivamente eu devia uma a Gwen! Emma vestia a lingerie mais sexy que
eu já tinha visto! Eu não sabia explicar, mas é como se ela escondesse as
partes vitais, mas a transparência ainda permitisse um gostinho, o que só
aumentava a vontade de descobrir o que havia por baixo!
Nos movemos para a cama, o espaço na suíte era suficiente para ficarmos em
pé, mas era limitado para nos movimentarmos. Eu a beijei em cada parte do
seu corpo, levei um tempo, não me preocupando com nada, tínhamos todo o
tempo do mundo, mas Emma começou a se mostrar impaciente! Eu sabia o
que ela queria e estava indo dar a ela, mas eu achava justo descontar um
pouco da frustração dos últimos dias!
Eu fui descendo, espalhando beijos e mordidas ao longo do seu torso, até
chegar a sua pélvis, em movi as suas pernas para os meus ombros, deixando a
exposta para mim, eu aproximei o meu nariz de sua vulva, para sentir o seu
odor! E porra Emma cheirava bem para caralho! Comecei a lamber
lentamente o seu clitóris! Suas mãos vieram para o meu cabelo e o agarraram,
o que me fez chupar duramente, a devorei sem pausa, seus gemidos soando
cada vez mais altos, seu quadril fazia movimentos ondulantes como se ela não
pudesse se contar, e precisasse desse contato.
– Por favor – ela implorou com a voz denotando a sua falta de controle
Ela queria gozar, e eu daria isso a ela, a penetrei com dois dedos enquanto
continuava chupando seu clitóris, eu sabia que ela não duraria muito, eu senti
as suas pernas se apertarem ao redor da minha cabeça, e então Emma gemer
alto, e sem controle, enquanto ela gozava. Como costume, ela era uma massa
tremula embaixo de mim, depois de gozar, eu voltei a saquear a sua boca, e
mesmo em estado de total languidez ela me correspondeu! Então, eu coloquei
uma de suas pernas, e a penetrei! Suavemente no início, até que senti ela ir de
encontro a mim, levantando o quadril, rebolando no meu pau, me
incentivando a ir mais fundo, com mais força! E então eu dei a ela o que ela
queria. Soquei forte, enquanto continuava devorando a boca dela, senti suas
unhas cravarem nas minhas costas, o que me mostrou que ela estava perto de
gozar, o que eu achei excelente! Já que estava por um fio também! Quando
senti ela se apertando ao meu redor, gozando novamente, me enterrei até o
cabo na sua bocetinha gostosa e gozei jorrando litros. Porra! Se essa não era a
melhor sensação da vida! Eu tive que tirar o meu pau de dentro dela, o que eu
fiz contrariado, então a puxei contra mim, ao me deitar ao lado dela, Emma
estava quase adormecendo, e a sonolência estava chutando a minha bunda
também, abracei contra o meu corpo e então apaguei, meu último pensamento
coerente, é que tê-la assim em meu braços parecia certo para caralho, certo o
suficiente para durar toda uma vida!

Emma
Sabe aqueles cartões postais, em que a gente jura que a cor da água não pode
ser real? Bom aqui, elas eram absolutamente reais! Tínhamos desembarcado
no Aeroporto de Malé, que era algo que eu nunca tinha visto remotamente
parecido, uma ilha cercada por uma mar cristalino, quando pousamos foi que
eu finalmente descobri aonde estávamos, já que Mikhail queria me fazer uma
surpresa, e mesmo com tentativas de suborno ele se recusou a me dizer até
então, passamos rapidamente pela imigração, e logo em seguida pegamos um
barco para o Hotel! Que lugar maravilhoso! Eu tentava absorver o máximo
possível de informações enquanto nós estávamos a caminho do Hotel. E
confesso que parecia uma criança na loja de doces preferidas. Era tudo muito
lindo!
***********
Eu simplesmente não me cansava da vista! Esse lugar era a definição mais
próxima de paraíso na minha cabeça, estávamos em dos bangalôs que que se
estendiam sobre o mar sobre palafitas, e eu nunca na vida tinha
experimentando essa sensação, acordar com o mar no meu “quintal”, eu não
tinha nenhuma medida de comparação, mas era a lua de mel perfeita, nós
estávamos nos divertindo, aproveitando tudo o que o lugar tinha a oferecer, e
mesmo com o esquema de segurança presente, a equipe era discreta, e
praticamente passava despercebida, ali, nós pudemos ter a liberdade, quase de
ser pessoas comuns, isso é se pessoas “comuns” se hospedassem em hotéis
cinco estrelas cujo os custos superaram em uma diária o orçamento mensal de
uma família, mas comuns os suficientes para nos misturar com os turistas, e
nos divertir livremente, sem o peso que NY colocava sobre os nossos ombros,
ali poderíamos ser só um casal de americanos aproveitando a sua lua de mel,
sem se preocupar se no caminho do quarto sofreríamos um atentando. Eu
tinha me acostumado com essa parte da minha vida, os esquemas elaborados
de segurança, as limitações de nossa vida diária!
Biquínis, maios e shorts, tinham se tornado o meu uniforme diário! Inclusive
cheguei à conclusão que a bagagem que trouxemos seria quase totalmente
inútil, e eu adorava essa sensação! Mikhail também elegeu shorts de banho,
como um “uniforme” diário, e meu Deus, como eu aprovava essa escolha,
principalmente ali, um paraíso para casais em lua de mel, onde não teria
nenhuma mulher solteira nas proximidades para cobiçar o que era meu! Sim,
eu sei como isso soa, mas o que eu posso fazer? Talvez o ciúme passe por
osmose com a convivência diária.
Eu sabia que o nosso tempo ali estava quase no fim, e era uma pena, existia
aquela pequena parte de mim que queria ficar ali para sempre! E vender a
minha arte da praia se preciso fosse! A outra, mais conectada com a realidade,
sabia que tínhamos que voltar para casa! E que as Maldivas ficariam como
uma doce lembrança de momentos incríveis, e também como um convite para
poder retornar, o que sem dúvida nós faríamos!
Colecionei memorias sem fim desse lugar, foi a melhor lua de mel de todas,
mesmo que a minha limitada experiencia de somente uma lua de mel não me
fornecesse parâmetros de comparação! Nos aproximamos mais, conversamos
sobre tudo, fizemos amor, foi simplesmente perfeito, e não havia nada que eu
mudaria se tivesse a oportunidade.
Agora voltaríamos para casa, e para a nossa rotina, e mesmo completamente
apaixonada por esse lugar, eu não sentia um pingo de apreensão! Nós
estaríamos juntos, e onde quer que estivéssemos faríamos funcionar! Isso eu
tinha certeza! Nunca me senti tão feliz, tão amada, tão cuidada por alguém!
Eu sabia que teríamos um período de adaptação, existia um peso em carregar
o nome dessa família oficialmente e eu estava ciente disso! Mas estava ciente
também seja lá qual força do universo tenho nos juntado, ela fez bem! E
enquanto estivéssemos juntos, eu sentia que poderia enfrentar qualquer coisa!


Chapter 15 – Epilogo

Emma
Eu tinha ignorado os sinais por muito tempo, eu atribuí ao cansaço, a rotina
estressante, há um vírus qualquer, quaisquer desculpas que a minha mente
pode encontrar para ignorar a verdade, mas em face do teste na minha mão,
que possuía duas barras eu já não podia ignorar a verdade, eu estava grávida!
E isso me aterrorizou por alguns minutos inteiros. Nós sempre ouvimos falar
do jubilo e da alegria da maternidade, mas honestamente? É aterrorizante! O
desgaste da minha profissão, a minha total inexperiência no papel de mãe, eu
tinha ajudado a criar Lila, mas tinha plena consciência que eu fiquei com a
parte fácil, ter um ser totalmente dependente de mim, era algo que eu nunca
tinha experimentado, então sim, era um noticia aterrorizante que me deixou
petrificada por minutos inteiros enquanto eu ainda permanecia com o exame
em mãos, e então a notícia me bateu e a alegria borbulhou dentro de mim, eu
teria um filho, um filho do homem que eu amo. Ele seria um fruto de uma
relação amorosa, que apesar de eventualmente conter uma rusga ou outra por
ciúme ou por questões relativas à segurança, não era feito de altos e baixos,
tínhamos uma relação solida, que se fortificava cada vez mais com o passar
dos anos. Mesmo o amando com loucura quando aceitei me casar com ele, eu
tinha um certo receio da relação cair na mesmice da rotina eventualmente, e
todo esse sentimento se acabar, é claro que eu sabia que relacionamentos são
baseados em esforços de ambos os lados, e provavelmente esse era o meu
medo maior, eu sabia a intensidade do que eu sentia, os sentimentos dele,
mesmo demonstrados, e mesmo colocado em palavras, na minha cabeça,
devido à anos de baixa autoestima, eram algo que podiam mudar a qualquer
momento! Eu felizmente estava errada, e eu sabia que ele levou um bom
tempo tentando me convencer disso! E eu tinha chegado lá, eventualmente eu
tinha alguma pequena crise de autoestima, mas nada que se comparava a
antes, eu estava feliz, não como uma feliz para sempre em um conto de fadas,
mas um feliz baseado na vida real, na nossa convivência diária, a nossa rotina,
nunca acreditei nessa coisa de felicidade eterna, sempre acreditei em
momento felizes, e sempre estimei os pequenos gestos, que considerava mais
importante que tudo! E tínhamos isso! Companheirismo, amor, tesão! Era
uma relação completa em vários aspectos, e pensando sobre isso, uma
tranquilidade desceu sobre mim, nós teríamos um filho, ou uma filha quem
sabe?! Eu sabia que ele seria um pai excelente, ver ele com os sobrinhos ao
longo dos anos, me mostrou isso! Eu sabia que não era a mesma coisa, eu
amava de todo o coração todos os meus sobrinhos, mas sabia que a
maternidade era algo mais forte! Eu sabia porque mesmo tendo descoberta a
pouco que iria ser mãe, um instinto natural de proteção já havia descido sobre
mim.
Eu estava quebrando a cabeça sobre como eu iria contar para o Mikhail sobre
a gravidez, era a nosso primeiro filho e eu queria fazer algo especial, para
além de simplesmente dizer que eu estava grávida. E claro, fui para a internet,
e as opções eram incontáveis, e depois de muito pesquisar, e me emocionar
com vários desses anúncios eu tinha tomado uma decisão.

Emma
Estávamos todos reunidos na casa dos Hamptons para as festas de fim de ano,
aliás chamar a construção de casa era suavizar a realidade, nem sei se
poderíamos chamar de mansão, a casa se espalhava por quatro acres de
terreno, e contava com inúmeras opções de lazer, para além disso, apesar de
eu ter certeza que a segurança não era nada menos que tão eficiente quanto na
cidade, existia a sensação de liberdade ali, era uma folga na rotina para todos
nós, a tensão, tão característica a qualquer movimentação que fizéssemos na
cidade, ali era completamente inexistente, o bosque ao redor da propriedade
garantia nossa privacidade, era um refúgio, um refúgio familiar, em que pelo
menos uma vez por ano no Natal, costumávamos todos nos reunir ali. Não
vou dizer que para mim foi fácil me acostumar, todo aquele luxo, não era algo
a que eu estava acostumada, e devo admitir que eu demorei a me situar na
opulência, não só dessa propriedade mas de todas as outras, mas como dizem
por aí o tempo é senhor de tudo, então eventualmente, eu deixei de ser a
estranha no ninho, tive companhia é claro, não passei por esse processo
sozinha, e ter apoio das minhas cunhadas foi fundamental
Tantas coisas aconteceram nesse meio tempo, coisas boas, coisas tristes,
coisas mágicas! Nossa família cresceu, e o amor pôde finalmente reinar em
paz. Vou parar por aqui, essas não são as minhas estórias para contar.

Mikhail

Emma estava tendo um comportamento estranho desde a última semana, ela
que geralmente sempre se mostrava alegre e expansiva com todos que
conhecia, na última semana tinha permanecido calada, como se estivesse
perdida em pensamentos, mesmo quando eu perguntei a ela se estava tudo
bem, ela simplesmente disse que sim com um sorriso que me pareceu um
tanto forçado, mas tanto quanto eu queria questiona-la e descobrir o que
estava acontecendo, uma parte de mim tinha medo de fazer isso e empurra-la
além do limite, eu tinha consciência que mesmo estendendo os limites, de
certa forma, estar casada comigo, ainda era uma gaiola dourada, o meu medo
era que ela decidisse que era demais para lidar, e resolvesse ir embora, era
basicamente um medo recorrente que eu sempre tive, e que com o passar dos
anos havia diminuído, mas com o jeito esquivo que Emma estava se
comportando nos últimos dias, havia voltado com força total.
Estávamos todos reunidos, mas ao mesmo tempo, de certa forma espalhados,
as crianças aproveitavam a piscina, e os pais as acompanhavam, até mesmo os
bebês de Nikholai, já se mostravam nadadores talentosos, ainda mais
considerando que eles ainda eram só bebês, era perceptível a orgulho em sua
expressão quando olhava para os filhos e para Red, era uma expressão que eu
nunca tinha visto no rosto dele anteriormente, é o que dizem, experiencias de
quase morte, fazem profundas transformações nas pessoas.
Eu estava resolvendo alguns detalhes em relação aos cassinos, tanto quanto eu
queria me desligar completamente os negócios quando estava de férias com a
minha família, sabia que ao me responsabilizar pelos negócios da família
aqui, eu tinha responsabilidades que não poderia ignorar.
Emma ainda não havia se juntando ao grupo na piscina, então quando ela se
aproximou do escritório, minha atenção se voltou imediatamente para ela.
– Hey! – ela disse em um cumprimento.
– Vem cá! – eu disse a ela.
– Podemos conversar? – ela me respondeu então.
– Claro, entre.
– Não aqui, onde podemos ser interrompidos, podemos conversar lá em cima?
Senti o meu corpo inteiro gelar em antecipação, a minha mente
imediatamente concluiu que ela estava me deixando, e como era comum na
minha cabeça, eu imediatamente comecei a traçar formas de remediar isso,
uma forma de faze-la mudar de ideia. Nesse processo eu sequer consegui dar
uma resposta verbal a ela, só assenti com a cabeça, e então a segui em direção
ao quarto.
Subimos em silêncio, Emma parecia nervosa, o que me levou a concluir que
eu realmente estava certo em minhas suposições, ela estava me deixando!
Porra! Mesmo revendo a situação na minha cabeça inúmeras vezes, eu não via
uma saída, além de implorar, e mesmo assim não havia nenhuma garantia que
isso fosse dar certo, Emma me deixaria, e não havia nada que eu pudesse
fazer sobre isso!
Eu a segui para o nosso quarto, com um sentimento quase que fatalista, Emma
esperou que eu entrasse e então encostou a porta.
Eu esperei ela se virar e sondei os seus olhos, minha mente ainda trabalhando
de forma incansável para achar uma forma de reverter isso.
– Bom, você tem que abrir.
– O quê?! – eu disse estando tão confuso quanto eu demonstrei.
– O presente Mikhail.
Então pela primeira vez eu deixei os meus olhos vagarem ao redor do quarto,
e deixei também acender a esperança de que estava errado sobre os motivos
da conversa.
– Um presente?
– Eu imaginei mil maneiras, mas sim, acho que essa é a melhor – ela soava
insegura, o que me tornava confuso.
– O quê poderia…?!
Emma então no que parecia ser o fim da sua paciência me interrompeu.
– Abra o presente Mikhail! – ela praticamente ordenou.
Um tanto, aliviado, mas ainda obviamente confuso, eu me movi até a cama,
onde um embrulho retangular descansava, e o peguei, Emma me observava
com expectativa, e eu continuava absolutamente confuso, e então eu desfiz o
laço da embalagem e abri o presente, em um primeiro momento eu fiquei
realmente confuso, parecia ser a menor peça de roupa que eu já tinha visto na
vida, e então me dei conta de que era um roupa de bebê.
– Acho que você pegou o presente errado, esse parece ser dos gêmeos, em um
tamanho errado eu diria – Emma me olhou parecendo frustrada, como se eu
estivesse ignorando algo muito obvio.
E então eu me dei conta do que ela estava tentando me dizer!
Porra! Eu iria ser pai!

Emma
– E me diga de novo, porque vamos manter em segredo?
– Eu sou uma médica, tenho preocupações naturais que talvez outras pessoas
não tenham, estou entrando na quinta semana, e geralmente a gravidez é
considerada segura após o terceiro trimestre.
– Você acha que algo pode dar errado?
– Eu espero que não, mas fazendo o que eu faço, estou acostumada a
considerar todas as possibilidades, e tecnicamente esse seria um cenário, o
pior cenário possível, mas ainda assim um cenário.
– Você está feliz? Está feliz em ter o nosso bebê?
– Bom para ser honesta no começo eu fiquei em pânico – eu disse a ele e
então eu percebi a expressão dele se fechar – O meu problema não era o
“nosso” bebê Mikhail, era “um” bebê e o fato de quem em cerca de sete
meses ele estará aqui, e eu não sei absolutamente nada sobre ser mãe…Mas
respondendo a sua pergunta, eu estou feliz com o bebê e ainda mais feliz por
ele ser o nosso bebê.
– Mesmo?
– Mesmo! E você?
– O quão louco você vai achar que eu sou, se eu dizer, que ter um filho com
você talvez seja o que eu mais quisesse em muito tempo?
– Você nunca disse nada! – eu exclamei um tanto chocada.
– Você se dedicou muito para se tornar uma cirurgiã, sua profissão é
importante para você, e você é incrível no que faz, e eu posso dizer isso por
experiência própria, eu queria que você pudesse desfrutar da sua carreira sem
nenhuma pressão, e eu imaginava que quando fosse a hora, você falaria sobre
isso! – ele me explicou pacientemente…
– Para ser honesta eu nunca pensei muito sobre isso, eu imaginei que iria
acontecer algum dia, e uma parte de mim, depois do baby boom na família,
desejou isso com mais força, mas não era algo programado na minha cabeça,
mas parece que o destino tem uma própria agenda, e aqui estamos nós! – eu
disse a ele então.
– O destino tem maneiras engraçadas de fazer as coisas acontecerem! – ele
filosofou.
– Bom, eu que o diga! – eu disse a ele –Mas se todos os caminhos nos trouxe
até aqui, valeu a pena!
– Valeu muita a pena.
Fomos interrompidos então por uma batida na porta.
– Tia Emm! Você está aí?! – E então os pequenos passinhos se afastaram,
enquanto eu ainda ouvida a voz dela chamando por mim nos outros cômodos.
– É Rose! – eu disse reconhecendo.
Rose era a filha de Alex e estava um grudinho comigo, tínhamos concluído
que era a aproximação da perda de seu status como a caçula, ela estava se
sentindo carente! Alex e Anastácia, estavam se esforçando muito para que ela
não se sentisse assim, mas pelo que eu me lembrava era um sentimento
comum a todas as crianças, e passaria com o tempo.
– Podemos fazer um acordo, ficamos aqui, e ignoramos todos lá fora, pelo
resto do feriado.
Eu fiz uma expressão comicamente exagerada.
– Nem pensar, é o primeiro Natal do bebê, e ainda que ele não esteja
efetivamente participando, estará presente. – Eu disse com um tapinha na
minha barriga
Mikhail estreitou os olhos e então disse:
– O mesmo bebê que vamos esconder?
– Esconder por agora, mas a atmosfera familiar propiciada pela reunião de
todos nas festas de fim de ano, é uma sensação acolhedora, e estudos
comprovam que bebês estão conectados com o que acontece ao redor.
Então eu uni as nossas mãos.
– Além de quê, Rose faz parte do meu treinamento, eu tenho que saber o que
fazer quando nós formos ter mais filhos, e o ciúmes estiverem pauta.
– Jesus Emma!
– O quê? Te assusta a ideia de copiar Alex, e ter quase um time de futebol
misto?
– Não, me assusta, que a ideia em vez de me assustar, me atraia para caralho!
A ideia de você gravida e descalça na cozinha é como a porra de um sonho!
Os sons de passinhos voltando pelo corredor chamou a minha atenção! Me
distraindo de evocar o meu feminismo, e explicar detalhadamente a Mikhail,
que ele poderia tirar essa ideia da mente, por outro lado, eu deveria confessar
que a ideia me atraia em partes, a parte gravida, a descalça na cozinha eu
dispensava.
Nos movemos em direção a porta. Quando eu ia me abaixar para pegar Rose
no colo, Mikhail balançou a cabeça em negativa. Me dei conta ali, que eu iria
ser paparicada durante toda a gravidez.
Mikhail pegou Rose no colo, e enquanto descíamos a escada para nos
juntarmos aos outros, meu coração ficou quentinho, vendo eles interagirem, é
claro que na minha cabeça eu já o imaginava com o nosso filho!
E então uma onda da mais pura felicidade desceu sobre mim! Era como se o
bebê fosse a peça que faltasse e que eu ainda não havia me dado conta. Uma
parte de mim ainda estava em pânico, mas ele diminuía a cada minuto, eu
sabia que eu teria o suporte de toda a minha família, eu sabia que essa criança
seria loucamente amada, por nós, e por toda a nossa família. Eu estava
inegavelmente e ridiculamente feliz. A vida era boa!


FIM (Ou seria um até logo?)

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