Você está na página 1de 7

ONDE ESTÁ O SEU IRMÃO?

Então o Senhor perguntou a Caim: "Onde está seu irmão Abel? " Respondeu ele:
"Não sei; sou eu o responsável por meu irmão? "Gênesis 4:9

Sábado, 8 de fevereiro de 2022. Os irmãos Michael e Matt Walsh praticavam


snowboard em uma encosta chamada Polecat Banch, em Maryland, EUA quando o
pesadelo começou. Em um desabamento inesperado, Matt, de 17 anos, deslizou
centenas de metros montanha abaixo e foi soterrado vivo por uma camada de neve
de cerca de um metro de profundidade. Seu irmão, Michael, de 19 anos, assistiu
desesperado, àquelas gigantescas ondas assassinas engolirem Matt. Parecia ser o fim,
mas não era.

Michael não tinha como saber onde o seu irmão estava e o tempo era escasso. As
vítimas de enterradas em uma avalanche desta natureza geralmente não têm mais de
15 minutos de vida. O ar preso com eles é usado e logo eles morrem. No ápice de sua
angústia, enquanto corria sem destino por aquela densa camada de neve, Michael
olhou para o céu e clamou: “Deus o que eu faço agora”? Milagrosamente no mesmo
instante, Michael relata que ouviu audivelmente a voz de Deus a lhe dizer: “Vá
encontrar seu irmão”.

Enquanto isso, embaixo da neve, Matt não conseguia mover-se, embora ainda
estivesse consciente. "Não tinha como mover meu corpo, eu tinha certeza de que ia
morrer. Nesse ponto eu tinha desistido de tentar sair. Eu sabia que ia morrer”, contou
o jovem. Matt começou a orar por ajuda e sentiu a presença de Deus com ele. “A paz
que senti naquele momento foi incrível. Era Deus comigo no momento. Então eu
estava pronto, eu sabia para onde estava indo. Não estava com medo”, relatou ele.
Matt sabia que estava nas mãos de Deus. Com muito esforço, ele conseguiu mover um
dos braços e começou a retirar minimamente a camada de neve sobre ele, cavando na
direção da superfície, na esperança de ser resgatado.

Acima dele, Michael, o irmão mais velho, corria enquanto pedaços de neve do
tamanho de uma caminhonete ainda deslizavam ao seu redor. Não havia sinais de seu
irmão mais novo e ele não tinha ideia de onde ele estava. Michael gritava por Matt,
mas tudo o que conseguia ouvir era o som dos deslizamentos e da sua própria voz,
mas não desistia. Ele sabia que Deus o guiaria até o seu irmão. E Deus o guiou.

Miraculosamente, em uma área de cerca de 100 por 200 metros, Michael pisou no
local exato em que Matt estava soterrado. Sua bota afundou em um pequeno buraco
do tamanho de uma bola de beisebol. E foi aí que os irmãos viveram o seu milagre.

O calcanhar da bota de Michael afundou exatamente na pequena depressão na


neve onde Matt estava cavando e ele pôde ver a bota dele. “Michael, estou bem, irmão,
estou bem”, gritou o irmão mais novo. Aquilo era incrível. Numa área de deslizamento
de dezenas de milhares de metros quadrados, Michael afundou exatamente naquele
pequeno espaço de apenas quatro polegadas onde Matt estava cavando sob a neve.

"Eu parei de gritar por um segundo e ouvi Matt", lembra Michael. “Eu olhei para
baixo e havia um pequeno buraco do tamanho de uma bola de beisebol na neve.
Comecei a cavar freneticamente.”

Michael levou meia hora para remover o suficiente da neve endurecida até
libertar seu irmão, ao mesmo tempo que seções da montanha continuaram a entrar
em colapso e desabavam. A fé de Michael o conduziu e ele obedeceu à ordem de Deus:
“Vá encontrar seu irmão”.

Eu sou responsável pelo meu irmão?

O pecado evoluiu muito rápido. Em apenas uma geração, o que começou com
o ato de comer um fruto, transformou-se em um assassinato hediondo. Caim, o filho
mais velho de Adão e Eva, tinha sede de reconhecimento. Seu desejo por atenção o
tornou obcecado por aprovação. Ele não suportou viver sem ser o centro das atenções,
revoltou-se contra Deus e tirou violentamente a vida do seu irmão.

Você percebe a grande diferença entre Caim e Michael Walsh? Enquanto Caim
assassina ao seu irmão, Michael arrisca-se para poder salvar o dele. Caim declara em
sua arrogância não ser responsável por seu irmão; Michael, por outro lado, questiona
o que pode fazer pelo irmão mais novo. Não há dúvidas que eles estão em polos
opostos na jornada em direção à vontade de Deus.
Ao ser confrontado por Deus, no auge de seu cinismo, Caim pergunta para o
Senhor: “sou eu o responsável por meu irmão?” Em suas palavras, conseguimos
detectar a raiz de suas atitudes. Sua vontade de ser apreciado, o havia conduzido a um
estado brutal de egoísmo. E o egoísmo evoluiu até se tornar indiferença. “Eu não tenho
nada a ver com o que o meu irmão passa. Não tenho nada a ver com sua vida. Não
tenho a ver com as decisões que tomou. Ele é responsável por si e eu por mim. Ele
escolhe o seu destino e eu o meu”. E é assim que a violência é gerada no ventre da
indiferença.

A indiferença é uma das manifestações mais violentas contra o princípio base da


fé cristã: o amor. O amor age; a indiferença e omite. O amor se move; a indiferença é
inerte. O amor se traduz na empatia; a indiferença se revela na apatia. O amor lava os
pés do outro; a indiferença lava as próprias mãos.

É provável que você esteja pensando neste momento: “Pera aí! Eu não sou como
Caim. Jamais faria mal a alguém, nem muito menos mataria meu irmão!”. Talvez você
não seja igual a Caim na violência, mas pode ser que seja igual a ele na indiferença.
Indiferença em relação a cada uma das pessoas que um dia estiveram nesta igreja e se
afastaram. Indiferença para com todos aqueles que um dia você os chamou de irmãos,
e, assim que deixaram de frequentar a casa do Pai, você lhes negou atenção, cuidado
e carinho. No fundo, no fundo, esse é o mesmo sentimento que pautava o estilo de
vida de Caim.

Você pode até dizer: “Mas eu não fui o culpado pela saída dos meus irmãos da
igreja! Por que eu devo me preocupar com isso”? Podemos não ser culpados pelo
afastamento de nossos irmãos da igreja e da fé, mas somos responsáveis em trazê-los
de volta. Não se trata sobre de quem é a culpa por eles terem saído, mas sobre de
quem é a responsabilidade de ir em busca deles.

Jesus nos ensinou isso em Mateus 18:15, ao dizer:

"Se o seu irmão pecar contra você, vá e, a sós com ele, mostre-lhe o erro. Se ele o
ouvir, você ganhou seu irmão”.

Se em casos de pecados cometidos diretamente contra a sua pessoa, você ainda


assim deve tomar a atitude radical de ir até o culpado, imagine quando os pecados são
cometidos contra Deus. Esses são ainda mais brutais. Por acaso não deveríamos ter
essa mesma postura e, assim como Michael Walsh ir em busca deles para salvá-los?”

Não existe ex-irmão

Não existe ex-irmão. Essa é uma realidade que não pode ser ignorada. Neste exato
momento enquanto eu digito o termo “ex-irmão” em meu computador, a expressão é
automaticamente sublinhada de vermelho como sinal de que o termo não é
reconhecido em nosso idioma. Você pode até não gostar de seu irmão, mas ele ainda
vai continuar ocupando esse posto enquanto vocês estiverem vivos. E, da mesma
forma que é um choque para a sociedade um irmão abandonar outro mais vulnerável,
ignorando-o em um momento de angústia ou necessidade, também deveria ser assim
na igreja.

Você se lembra do irmão mais velho do filho pródigo? Ele o assistiu ir embora sem
dizer-lhe uma palavra. Nenhuma tentativa de impedi-lo. Nenhuma ação de resgate.
Em seu coração, estava tatuado o mesmo sentimento do primeiro homicida:
indiferença. E a pergunta que sua consciência deveria lhe fazer é: você já fez tudo
quanto podia para trazer seu irmão de volta para a casa do Pai? Faz parte da nossa
missão lembrar aos nossos irmãos que se afastaram que eles podem até ter saído da
igreja, mas jamais sairão do coração de Deus. Como disse Ellen White:

Não valerá a pena trabalhar inteligentemente pela salvação de almas? Por elas,
pagou Cristo o preço da própria vida, e hão de Seus seguidores perguntar: "sou eu
guardador de meu irmão?" Gên. 4:9. Não trabalharemos em concerto com o Mestre?
Não apreciaremos o valor de almas por quem nosso Salvador morreu? TS1 - Pag. 456
e 457

A palavra de Deus está aqui para nos lembrar que nós não podemos nos esquivar
desta responsabilidade. A pergunta que Deus faz a Caim (onde está teu irmão?) ecoa
por toda Escritura. É A partir dela que nasce o cuidado com o outro. Somos filhos de
um Deus que não demanda que prestemos conta apenas de nossas próprias vidas,
mas de toda a comunidade onde estamos inseridos. Esse é o grande diferencial da
religião bíblica.
A insolente pergunta de Caim em Gênesis 4:9, “sou responsável pelo meu irmão”
é respondida no restante da Escritura Sagrada com um sonoro “SIM!”. Abraão é
responsável por todas as famílias da terra (Gn 12:3); José é responsável por abençoar
seus irmãos que o traíram (Gn 45:5-7); Ester é responsável por arriscar a vida para
proteger seus irmãos judeus (Et 4:14); Jesus assume a responsabilidade, como
primogênito de muitos irmãos (Rm 8:29), e dá a sua vida para que estes sejam salvos.
Página após página, a Bíblia denuncia a indiferença de Caim.

O mesmo Deus que pergunta a Caim “onde está seu irmão” é o que disse ao
jovem Michael Walsh “Vá encontrar seu irmão”. Você não precisa ser um gênio para
entender que tipo de atitude este Deus espera dos seus filhos.

O que eu devo fazer?

Sair da indiferença não é fácil. O medo da rejeição e da própria possibilidade de


ouvir relatos de condutas indiferentes da igreja podem paralisar você nesse momento
e fazer você desistir de ir em busca do irmão perdido. Só que você deve se lembrar que
não deve ter medo de fazer diferente, mas deve, sim, ter medo de ser indiferente.

Se você não sabe por onde começar, seguem algumas dicas do que fazer:

• Peça orientação a Deus selecione 5 nomes e comece uma jornada de oração


por eles. Não tente abraçar o mundo com suas próprias mãos, comece com poucos
nomes, mas comece. À medida que o processo for se desenrolando você será
direcionado por Deus a ir em busca de outros. Começar com a oração é imprescindível,
uma vez que, como disse J. Sidlow Baxter, “Os homens podem desdenhar nossos
apelos, rejeitar nossa mensagem, opor-se a nossos argumentos, desprezar-nos, mas
nada podem fazer contra nossas orações”.

• Entre em contato com estas pessoas. Você deve deixar claro que se interessa
pela vida destes irmãos que se afastaram. Envie para eles uma mensagem, faça uma
chamada de vídeo, visite estas pessoas levando algo que eles gostem (uma boa
comida ou um presente, nunca são de mal gosto). Diga que tem orado pela vida deles
e pergunte se eles têm algum pedido de oração que desejem expressar. Ao perceber
o interesse da igreja, estas pessoas podem compreender que Deus se importa com
elas.
• Convide-os para o próximo encontro do seu PG e também para os cultos
evangelísiticos de sua igreja. Isso fará com que, aos poucos, o irmão afastado
reintegre-se à comunidade e seja recuperado em um ambiente saudável de
acolhimento. A vida em comunhão com os irmãos despertará nele o desejo pela
comunhão com o Pai.

apelo

A sociedade ocidental valoriza a singularidade, a individualidade e isso é bom.


Contudo, não podemos deixar que nosso senso de individualidade adoeça e se
converta em individualismo. Individualidade é pensar por si mesmo. Individualismo é
só pensar em si mesmo. Todos fazemos parte de uma mesma comunidade, e temos a
missão de cuidar uns dos outros, sobretudo daqueles que são a parte mais frágil de
nossa sociedade.

Vire as costas para o estilo de vida indiferente de Caim e, como o próprio Jesus,
assuma a responsabilidade de ir em busca dos seus irmãos afastados que estão
soterrados debaixo das camadas geladas do poder do pecado. Hoje, Deus te diz
exatamente o que disse a Michal Walsh: “Vá encontrar seu irmão”. O que você irá fazer?

Pr. Diego Rafael Barros


Líder de Jovens da União Nordeste Brasileira

Você também pode gostar