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FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA (sobre os autores)

Mullet (1985) se propõem a analisar a ascensão do movimento de


Contra-Reforma de uma forma um pouco diferente da tradicional, mencionando um
período mais antigo (ainda na idade média) de formação, um período mais longo e
de influências ainda maiores para a era chamada moderna. Neste ínterim, ele
menciona elementos fundamentais para entender o contexto pertencente a noite
sangrenta de São Bartolomeu.
Seffner (1993) analisa o processo de transição do que chamamos de Idade
Média para Idade Moderna. Inicia brevemente descrevendo fatores essenciais da
estrutura social, política da Idade Média e menciona causas históricas para um
clímax de mudanças, como a Reforma protestante (portanto transição do sistema
feudal europeu para o início do capitalismo, no início chamado de mercantilismo), a
Contra-Reforma pela Igreja Católica, e as consequências em todos os aspectos
daquela sociedade.
Bordonove (2004) escreve um artigo muito mais específico, intitulado “Um
Massacre em Nome de Deus” para a revista História Viva e analisa aspectos mais
detalhados, contendo mais nomes dos principais personagens que estiveram em
atividade neste fato histórico tão marcante.
O PROTESTANTISMO NA FRANÇA (OS HUGUENOTES)

A França portanto, devido a sua singularidade geográfica e política estava


emergida neste contexto de conflitos devido a ascensão protestante. É importante
lembrar os vários fatores que contribuíram para a atual situação, como: as rebeliões
camponesas, a Peste Negra (doenças em geral), a expansão do comércio e das
navegações, a ascensão da burguesia, a formação dos Estados Nacionais e o
renascimento. Todo esse contexto formava a atmosfera na França neste período. A
peste como destaque, modificou muito a forma de pensar religiosa entre indivíduos
e igreja (SEFFNER, 1993).
Além da França, Bélgica, Áustria, Bavária, Boémia e Polônia, estavam entre
os principais países que oscilavam entre catolicismo e protestantismo. Contudo, os
protestantes franceses tinham formado uma espécie de Estado dentro do Estado
com a liderança de Henrique de Navarra. Navarra era a cidade sede deste
“governo” protestante. As disputas intensificaram com o avanço do poderio da
contra-reforma com sua ênfase na ética cristã, mas também pelo senso de unidade
nacionalista que insurgiu neste período (MULLETT, 1985).
O rei francês neste período era Carlos IX, que dirigia a nação junto a sua
mãe Catarina de Médici. Na realidade, o poder de influência católico se encontrava
na figura de Catarina, muito porque, por certo tempo um dos conselheiros e amigos
de Carlos era Coligny, fiel calvinista que tinha o objetivo de “huguenotizar” a França
através de sua influência ao rei. Esse termo “huguenote” era um termo formulado
para intitular de forma nitidamente preconceituosa os protestante de Navarra, e
muito se a atribui à rainha mãe e seu grupo o sustentar esse termo pejorativo.
Coligny queria que Carlos IX entrasse em guerra com Felipe II, rei da Espanha,
contudo, Catarina convenceu seu filho de uma suposta conspiração de seu
conselheiro através deste desejo. Bordonove (2004, p.67) sintetiza o acontecimento:

Ao descobrir uma conspiração planejada por seu homem de


confiança, o rei francês Carlos IX se vê pressionado a mandar
matá-lo. O episódio resulta na carnificina que praticamente
dizima os huguenotes”.
Encontra-se nestes termos o núcleo da causa por detrás do inesquecível massacre
em 1572.
Outro aspecto importante de ser ressaltado é a ocorrência, próxima a esse
período, do concílio de Trento (1545 a 1563), que teve certa influência em todos
esses acontecimentos, pois é claro que toda imposição política era revestida neste
período de alguma religiosidade. O concílio teve decisões que impulsionaram o
poder de contra-reforma católica que é conhecido como um período de maior
massificação da doutrinação católica em muitos anos. Destaca-se uma série de
papas reformadores, o início dos jesuítas, a inquisição e o Index dos livros
proibidos. Isso por razão da criação da imprensa por Gutenberg em 1453 ter sido
uma das principais forças de disseminação protestante (MULLETT, 1985).
Além disso, os protestantes também causavam aversão católica por sua
perspectiva econômica, que tinham pretensões supostamente “superiores” ao
pensamento católico:

Um aspecto importante do calvinismo é a valorização moral do


trabalho e da poupança, que resulta numa situação de
bem-estar social e econômico, o que poderia ser interpretado
como sinal favorável de Deus à salvação do indivíduo
(SEFFNER, 1993, p.58).

Portanto, as novas igrejas também tinham um perfil hostil, se demonstrando


severamente intolerantes ao catolicismo, e essa rivalidade resulta no dia 23 e 24 de
Agosto de 1572, em Paris, no dia do santo católico chamado Bartolomeu, onde mais
de 20 mil huguenotes são mortos com o discurso por parte do governo católico de
repreensão a uma traição, dirigida por Catarina, contudo, consentida por Carlos IX.
Após o ocorrido, iniciou discussões em volta de princípios de liberdade religiosa que
constatou o Edito de Nantes, que aparentemente, deu certa estabilidade aos
huguenotes na França. Entretanto, com o Edito e o avanço na supremacia
educacional por parte dos jesuítas, muitos líderes protestantes se converteram ao
catolicismo novamente, decretando o declínio gigantesco da força protestante na
França. Entre os conversos estava o próprio Henrique de Navarra, que
posteriormente se tornou rei francês, com o nome de Henrique IV (MULLETT, 1985).
BORDONOVE, Georges. São Bartolomeu um massacre em nome de Deus.
História viva, São Paulo, SP, v. 1, n. 6, p. 66., Abril. 2004.

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