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Mário Cesariny
ISBN 978-972-37-1992-5
ENTRE NÓS E AS PALAVRAS, MÁRIO
(apresentação cordial)
O navio de espelhos
não navega, cavalga
[ ]
Do princípio do mundo
até ao fim do mundo.
***
Tenho dito.
Perfecto E. Cuadrado
ESTA EDIÇÃO
(ou seja, mais um aviso a tempo por causa do tempo)
Corpo Visível, poema. Ed. do autor, 1950. Nova ed.: Corpo Visível. 15 ilustrações, capa e retrato do
autor por Pedro Oom. Lisboa: Edições Prates, 1996. Ed. fac-similada, com um hors-texte que
reproduz a intervenção de Cruzeiro Seixas no seu exemplar dedicado da 1.ª ed. do livro. Vila
Nova de Famalicão/Lisboa: Fundação Cupertino de Miranda/Assírio & Alvim, 2010.
Discurso sobre a Reabilitação do Real Quotidiano, poemas. Lisboa: Contraponto, s.d. [1952].
Louvor e Simplificação de Álvaro de Campos. 1.ª ed., 1953; 2.ª ed., s.d. [1953]. Ed. fac-similada
incluindo as duas edições: Vila Nova de Famalicão/Lisboa: Fundação Cupertino de
Miranda/Assírio & Alvim, 2008.
Manual de Prestidigitação. Lisboa: Contraponto, 1956. Nova ed.: Lisboa: Assírio & Alvim, 1981. 2.ª
ed. revista: Lisboa: Assírio & Alvim, 2005. Reed.: Lisboa: Assírio & Alvim [col. Biblioteca
Editores Independentes], 2008. Reed.: Lisboa: Assírio & Alvim, 2017.
Pena Capital. Lisboa: Contraponto, s.d. [1957]. Nova ed.: Lisboa: Assírio & Alvim, 1982. Reeds.:
2.ª ed., Lisboa: Assírio & Alvim, 1999. 3.ª ed. Lisboa: Assírio & Alvim, 2004.
Alguns Mitos Maiores Alguns Mitos Menores Propostos à Circulação pelo Autor, poemas. ed. do
autor, 1958. Nova ed., com frontispício de Cruzeiro Seixas. Lisboa: A Antologia em 1958, s.d.
Nobilíssima Visão, poemas. Lisboa: Guimarães Editores, 1959. 2.ª ed.: Lisboa: Guimarães Editores,
1976. Nova ed.: Nobilíssima Visão (1945-1946). Lisboa: Assírio & Alvim, 1991.
Planisfério e Outros Poemas. Lisboa: Guimarães Editores, 1961.
Poesia 1944-1955. Lisboa: Delfos, 1961. Com um desenho à pena de João Rodrigues. Inclui: A
Poesia Civil. Discurso sobre a Reabilitação do Real Quotidiano. Pena Capital. Manual de
Prestidigitação. Estado Segundo. Alguns Mitos Maiores Alguns Mitos Menores Propostos à
Circulação pelo Autor.
Burlescas, Teóricas e Sentimentais (antologia de poemas). Lisboa, Editorial Presença, 1972.
19 Projectos de Prémio Aldonso Ortigão seguidos de Poemas de Londres. Lisboa, Livraria
Quadrante, s.d. (1972).
Primavera Autónoma das Estradas. Lisboa, Assírio & Alvim, 1980. Reed.: Lisboa: Assírio & Alvim,
2017.
Sombra de Almagre. [Lisboa: Edição de Isaac Holly], 1983 [Com serigrafia assinada e numerada
pelo Autor].
A Cidade Queimada, poema. Com ilustrações de Cruzeiro Seixas. Lisboa: Ed. Ulisseia, 1966. Nova
ed.: Titânia e a Cidade Queimada. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1977. Nova ed.: A Cidade
Queimada, Lisboa: Assírio & Alvim, 1988. Reed.: Lisboa: Assírio & Alvim, 2000.
O Virgem Negra. Fernando Pessoa explicado às criancinhas naturais & estrangeiras por M.C.V.
Who Knows Enough About It seguido de Louvor e Desratização de Álvaro de Campos pelo
mesmo no mesmo lugar. Com 2 Cartas de Raul Leal (Henoch) ao Heterónimo; e a Gravura da
Universidade. Escrito & Compilado de Jun. 1987 a Set. 1988. Lisboa: Assírio & Alvim, 1989.
Reed.: Lisboa: Assírio & Alvim, 2015.
Uma Grande Razão. Os Poemas Maiores. Lisboa: Assírio & Alvim, 2007 [antologia].
a) O metro
b) O mesmo
avé mari’
um dois dois três
cheia de grá’
um dois três quá
o senhor é convosc
dominus vobisc
bendita sois vós
espírito tu
entre as mulheres
nove dez on’
bendito é o fruto
zasseis zassete
do vosso ventre jesus
um dois três um dois três um quatro quá’
c) A rima
mar
ar
(engordar)
ver
chamar
(emagrecer)
cio
clio
macio mio
o
tutu
nu
JORNAL
na mudez do pinhal
a fonte
sempre tem
um murmúrio casual
de vigiar quem passa
que vem
de ver o mar, tão servo
do sol, ave de fogo no horizonte
NO CAIS
no cais
vaga uma luz
sombria
desde que o dia
se perdeu
uns dizem que é a noite
a noite e nada
outros não sabem que dizer
e dormem e sonham e desmentem
o sonho que dormiram
a minha alma, calada,
também não diz quem é
a alma dessa sombra
que talvez seja só
luz do anoitecer
e deixa-se prender
em movimento de água
fluir e refluir
que a maré tem
com velha indiferença
e no entanto
ela é como que a mãe
de coisas e seres
porque a todos molha
e vem
indistinta corrente
a quem
pouco importa ter alma ou ser gente
a luz do dia
não sai já, também,
emersa na água escura
múrmura, oleosa, ela
que o céu tem?
não é já sem vida
toda a abstracção
ou pensamento
que a quisesse guardar?
só o fluxo contínuo
do rio que sustém
as inflexões do vento
busca o mar
e encontra-o
num mudo entendimento
alheio
à graça desavinda de falar
não seja embora
essa casta harmonia
uma harmonia humana
nem o resto de água
saiba
que a morta luz do cais
é indicação vaga
de outra luz que raiou
e de outra hora.
ALCATRÃO
um riso, um pormenor
que no momento se pousasse
e o tornasse melhor
eu
vou pensando em coisas velhas
sem sombra de desdém!
na vida
naquele lampejo fugace
que o teu sorriso já não tem
e que é do passado
porque a nossa grande sabedoria
não soube tratar ente tão delicado
e declina, o dia
ao cinema da terra
vai jean-claude e eu
a ver:
rotos de tule
as senhoritas guerra
o anjo azul
e
foi uma mulher que o perdeu
O JOGO
Voz — Envio
Voz Àquela
que em vida
foi desapossada
foi morta
descida
crucificada
e ao terceiro dia
não foi nada
Piano Duplo acorde de dó maior com as mãos em grave e agudo, forte,
seco, sem pedal.
Voz — Composição
a terra era
pensava eu
sala de espera
carinho meu
nossa senhora
do mau ladrão
chegada a hora
da coroação
agrilhoado
antes, depois
chorei dobrado
por nós os dois
Piano Três oitavas sucessivas de dó maior nos agudos com oitavas
simultâneas de dó sustenido nos graves. Forte, seco, sem pedal.
Voz — Apresentação
Voz — Reflexão
nunca saíra
de Nazaré
fiava lã
tinha José
entrou o anjo
pela janela
que modo estranjo
de falar dela
«Maria tu
vais conceber
o senhor nu
que vem morrer
de entre as mulheres
foste escolhida
tu és a serva
tu és a vida
de Gabriel
aceita, crê
vai para Belém
conta a José»
Maria Klophas
não percebeu
mas perguntar
não se atreveu
Voz — Visão
e na geométrica pureza
que emergindo vinha da treva
era uma rósea luz acesa
o corpo de nossa mãe Eva
Voz — Continuação
menino perfeito
com fomes e prantos com raivas e peito
Voz — Comunicação
céu da Galileia
que a viste furtar
vento que ao passar
na túnica feia
não tiveste enleio
nem religião
que a coroação
depois é que veio
foi nossa senhora
que está no altar
sem poder andar
livre como outrora
quem ali sagrou
para os filhos teus
os pecados nossos
a terra e os ossos
do corpo de Deus
Fim do Prelúdio.
Piano Os antebraços do ou da pianista no teclado do piano. Forte, seco,
sem pedal.
Voz — Consumação
cânticos de guerreiros
pedro paulo simão
Fim da «Gimnopédia».
Desde o sol-posto
que num torpor
maria klophas
morre de dor
desde o sol-posto
tempo foi tanto
oculto o rosto
rasgado o manto
a job igual
por gabriel
de deus hiemal
e hiemal dele
desde o sol-posto
que à beira-rio
maria klophas
morre de frio
Brusca variação da intensidade sonora do canto. Logo volta à surdina. Logo
se interrompe.
Voz — Canção
Apito de comboio ainda longe e que a seguir passa com o devido estrondo.
Breve música de flauta pastoril. Canta o galo, duas vezes, uma perto, outra
longe. Voz afastada que profere alguns monossílabos indistintos e a seguir
trauteia a jota de El Sombrero de Três Bicos, de M. de Falla. Este trautear,
por vezes mais claro, por vezes atabalhoado, sempre ténue, serve de fundo.
Voz — Conclusão
Orquestra ou Órgão «Marcha Nupcial», de Mendelssohn. Voz ao
esgotar-se a primeira frase melódica do trecho. A segunda frase em maior
surdina.
(*) Ou disco.
CANTIGA DE S. JOÃO
Esta cantiga é de retorno perpétuo e noite inteira para solista e coro num
mínimo inicial de vinte e uma vozes. Marcação, caracterização e variação
do solista e dos coros a cargo de quem o fizer, cabendo aos possíveis
realizadores, por progressivo recurso a novos recursos incidindo em
diferentes dicções e distribuições delas, mímicas, representações estudadas
ou espontâneas, danças isoladas ou de colaboração com o público,
introdução atroadora de elementos de música e percussão, aparecimento de
elefantes na sala, etc., e a renovação da repetição.
A partir da possível quarta repetição o estado de histeria colectiva para que
o texto apela desde o primeiro verso não pode nem deve deixar de
manifestar-se, e se o público que agradece continua a não querer abandonar,
deve descer um cartaz com, bem visíveis, os seguintes dizeres: ATENÇÃO!
PERIGO DE VIDA. É MELHOR RETIRAR.
É noite de S. João
repete três vezes quero
os dedos da tua mão
Já certamente passaram
por aqui a procurar-nos
passaram e não nos viram
onde estão que se enganaram
nos caminhos que seguiram?
ela
que pelo azul
que corta
considera e chama
outras velas irmãs para o claro rio
e enquanto
o cais
é um enorme navio
que se nega
e no entanto cumpre
a mais estranha viagem
ela
que parte
vira
para o que abandona
um olhar de brancura
que é toda a matemática
singela
da manhã que a inspira
cores ramos árvores sobre a água fazem
um desenho primaveril
o sol as nuvens meigamente trazem
secreto e juvenil
e ela
a água que tem
o seu correr
abre-lhe o seio suave
de mãe fria, de mãe
que o não pode saber
O adolescente morto
que está nos meus braços
de que velho horto
tem os membros lassos?
Campeava amor
quem o ama agora?
E este meu estupor
que nem sequer chora?
Decerto o vencido
foi, de uma batalha,
teve uns sustos de ferido
ou coisa que o valha
Como se mimasse
adagas aos molhos
sobre a própria face
sobre os próprios olhos
E falava de querer
se ele agora soubesse
eu senti-o morrer
como quem se esvanece
geometria
rumo incerto
alegre e triste alegria
sempre mais perto
força fria
mãe do dia
regaço puro e coberto
dom breve
silhueta esguia
catapulta no deserto
ANTILÍRICA
igual a noite é
como o jardim deserto
um espelho no café
que permanece aberto
e à rua percebida
passam ciganos com as suas mães
em portalegre o cemitério
deita por cima dos ciprestes
no leve solto azul funéreo
o exterior véu de mistério
que tem qualquer cemitério
MOVIMENTO
movimento de alma
silêncio, emoção
de doçura meia,
essa tua palma
sobre a minha mão
o que tem que eu leia?
para lá da floresta
onde as coisas são
sem minha licença,
mais linear que esta
confusa razão
da tua presença
coitado do hamlet
assassinado
empurrado
para o sepulcro que é
coitado do hamlet
TOCATA
por mim
sinto um duende benigno que sorri
não bem de ti!
nada de Debussy!
mas do igual da hora
de sempre chover
de estar sempre frio lá fora
quando tu tocas Debussy
TOCATA II
esse girassol
amarelo e só
tem do que é o sol
a luz que o rodou
ou chamamos o fantasma
da queda livre no espaço,
verga do pássaro de aço
onde a poesia se espasma?
A UM SOLDADO QUE CHORAVA DE TANTA COISA
TINHA PARA LEVAR AOS OMBROS E ARRASTAR
COM AS MÃOS
anda soldado
não te demores
vais atrasado
anda não chores
anda soldado
afia os gumes
vais atrasado
anda não fumes
anda soldado
acenam chamam
ainda te esperam
ainda te amam
MANHÃ FRESCA
E na folhagem também
certo desencontro corre:
a primavera que vem
na trovoada que morre
EM FORMA DE POEMA
vê tu se nesta alegoria
descobres porque estou inteiro
e nunca terei agonia
sem fartar meus sonhos primeiro
DISCURSO SOBRE
A REABILITAÇÃO
DO REAL QUOTIDIANO
I
inteligentemente estúpido
estúpido nunca grosseiro
um pateta que tivesse lido Joyce
lanceiros 2
o protótipo de metralhadora
vai cheio de cinema até aos olhos
tapa
IV
isso eu o espero
e o faço
junto à imagem da
criança morta
depois que Pablo Picasso devorou o seu figo
sobre o cadáver dela
e longas filas de bandeiras esperam
devorar Picasso
que é perto da criança, ao lado da boca minha
XI
A mosca
passa
ou não passa
é um pouco como todas as coisas
estão mas não aparecem
e podem levar anos nisso
Ao fundo
o galo enerva-se e quebra a mobília
numa grande convivência francesa
co’a mosca que foge espavorida no vento
Agora à luz das baratas e dos apetrechos para campo
duas aranhas esperam a aranha
e esta é que não escapa
às honras amarelas
esta, que não é brilhante, é que ninguém esperava ver num livro de versos.
Pois é verdade. Denota a minha essencial falta de higiene (não de tabaco) e
uma ausência de escrúpulo (não de dinheiro) notável
que contou de repente que com ela era assim: uma escada para o alto, que
nunca mais acabava.
Também havia quem viajasse muito
todas as noites e no mesmo sentido
e em toda a parte
o sexo feminino estadista e general
extra-strong e super-cream
procura uma saída em caso de acidente
mortal em toda a parte
duplicações de indivíduos estranhos
esperam indicações úteis com o auscultador no ouvido
enquanto cinquenta anos de vida missionária
fazem descer o preço do café que tomamos
com o vestuário em chamas em toda a parte
aparece a palavra Napoleão
no cotovelo de indivíduos portadores
das mais recentes leis da maternidade
tanto para senhoras como para rapazes em toda a parte
um mendigo dactilógrafo corta fiambre
para a edificação da grande árvore
enquanto o marinheiro limpa a sua unha
em toda a parte
e um crocodilo que nasceu de costas
aguarda assim a decisão injusta dos tribunais competentes de toda a parte
POEMA PODENDO SERVIR DE POSFÁCIO
dois netos para essa velha aí no fim da fila não temos mais
saquear o museu dar um diadema ao mundo e depois obrigar a repor no
mesmo sítio
e para ti e para mim, assentes num espaço útil,
veneno para entornar nos olhos do gigante
e em todo o caso
Morfologia psicológica:
a coroa o sexo
o ceptro a vírgula
as asas as garras
as pernas o fogo
a cabeça o túnel
a mão esquerda a gruta
a pata direita a lua
os pés o desejo
as membranas o olhar
Lit.ª
«Entre a noitenenterraço
e a mortenentelescópio
o Sol Dado assoma ao ralo
e faz o sinal anti-grito»
Lit. «não havia braço são que pudesse romper o tesão da água.»,
Dic. de Marinha, 505. «Correm as águas como sangue», id.
A CABEÇA DE ARCAIFAZ
(SISMO)
Localização fonética:
a) A cabeça: onde cabe a eça. Pop.º: cabe a eça agora!
b) de Arcaifaz (sismo): o ar (que) cai, faz (produz) sismo. Faz sismo:
o ar cai. Caído o ar, fica o caifascismo, o que dá cai, dá sismo, e
retira o ar que caiu. Por isso se diz que não há ar onde há alguém que
faz sismo, podendo no entanto sufixismar-se o prefixo, o que dará a
CAIFAZCISMAÇÃO, sublimação da cisma que Caifaz.
A NOIVADIAGEM SERPENTE
A
ALMA
SEXO
DO
HOMEM
O ESTUPROPULSOR DIATÉRMICO DA HONRA
Voltar ao fim.
Pintar três vezes o sete:
ficar doido.
O ASSASSINOS
Pai ai
Mãi em
Um ai.
Em.
Homem.
Ó Mãi.
M HOMEM
EI OMÃI
MÃI MÃI
OMÃ I I E
HOMEM
MANUAL DE PRESTIDIGITAÇÃO
ARTE DE INVENTAR OS PERSONAGENS
Em luzes e achados
chãos e valados
barcos chegados
comboios idos
Procuro os meus antepassados
altos hirsutos penteados
mudos miúdos desprevenidos
Devo ter corredores por onde ninguém passe devo ter um mar próprio e
olhos cintilantes
devo saber de cor o ceptro e a espada
devo estar sempre pronto para ser rei e lutar
devo ter descobertas privativas implicando viagens ao grande imprevisto
de um pássaro as ossadas de uma ilha a floresta do teu peito o animal que
inanimado canta
devo ser Júlio César e Cleópatra a força do Dniepper e o carmim dos olhos
de El-Rei D. Dinis
devo separar bem a alegria das lágrimas
fazer desaparecer e fazer que apareça
dia sim dia não
dia sim dia não
devo ter no meu quarto espelhos mais perfeitos técnicas mais sérias
prestígios maiores
devo saber que és forte amplo transparente e colher-te murmúrio flébil
aureolado
que eu arranco da luz que encharca o mundo
dia sim dia não dia sim dia não
devo portar-me bem à saída do teatro
devo dar e tirar as chaves do universo
num passo ágil belo natural
e indiferente ao triunfo aos castigos aos medos
fitar unicamente, sob as luzes da cúpula, o voo tutelar da invisível armada
MÁGICA
Era uma vez uma grande boa vontade que se pôs a correr mundo e que
no gastar dos sapatos daqueles dias se fez tão pequenina que cabia em
qualquer bolso. O crescimento definitivo foi numa quarta-feira de
Primavera, dia em que a meteram na parte de dentro de umas calças e a
embarcaram para o México. No México só há polícias sinaleiros baixinhos
e adolescentes de olhos encarnados, sempre a bocejar, e a dizer de hora a
hora a palavra: cabana, de forma que a boa vontade não sabia o que havia
de fazer.
Para ir ganhando tempo, resolveu montar uma indústria chapeleira, com
a qual inundou o mercado. Como é natural, as cabeças andavam todas
contentes, de trás para diante e de diante para trás, o que as fazia produzir
um som comprido, em forma de enseada, que os músicos iam recolhendo
para as suas óperas. Dado o bom êxito inicial, a boa vontade não só se
deixou cumprimentar, num estrado vindo da América, como estabeleceu
ligações com Pápárikáss, homem muito odiado e sempre pelos casinos :
aderiu à guerra que estalou naquele tempo, lançando de repente os célebres
chapéus marca PERA, para abrigar generais. Estes, porém, dissolveram a
empresa, sob a alegação seguinte: não está a acompanhar.
Solteiros de profissão e naturais de Sevilha, os criados revoltaram-se,
mexendo muito uns nos outros e recusando-se a andar. O distúrbio custou
duzentas mortes, um casino, a esposa de Pápárikáss (pendurada de uma
janela a arder), onze bois do abastecimento, e a Sagrada Relíquia, que o
inimigo apanhou comendo-a logo ali com um apetite enorme.
Então, como hoje, as ruas estavam cheias de desonestos, e uma canção
acanalhada, francesa, La Petite Enorme, correu todos os bares, pondo em
perigo fastios e governação. O sinal de acabar aqueles insucessos foi um
ovo estrelado milagreiro, que não só deitava petróleo e carvão, quando
ofendido, como sabia processos divinatórios de encontrar os ladrões
naqueles sítios certos em que eles é raro estarem. Isso acabou de vez com a
ameaça de distúrbio civil, coisa sempre de temer quando as guerras grandes
acabam e os generais voltam para casa.
Comemorando a vitória, mandou o governo um grande Parque onde as
crianças se arejavam imenso e cuspiam à vontade à vista de todos os peixes.
Ao sábado, tocava a música, e apareciam mãos por todos os lados, o que
originou um desporto bastante original: o sape-gato-codorniz-galinha. Era
assim: uma enorme correnteza de mãos, formando meta. Com o sinal da
partida iam todas por ali fora às trabuzanadas umas nas outras e a que
chegava primeiro era separada do respectivo pulso, e enviada para França.
Nunca mais se sabia dela e os prémios eram distribuídos por todos os
assistentes que, em sinal de regozijo, comiam bacalhaus e prometiam novos
formatos de mãos, para as competições seguintes.
Assim começa a história da boa vontade que embarcou para os brasis e
lá montou indústria.
COLAPSO
Tudo está
eternamente
escrito
(Spinoza)
Tudo está
eternamente
em Quito
(Uma Rosa)
A IMACULADA CONCEPÇÃO
Um pássaro
a pino sobre as rochas
um pássaro jamais visto
um pássaro só pássaro
um pequeno pássaro enorme
fascinante
gelado
Despe-te de verdades
das grandes primeiro que das pequenas
das tuas antes que de quaisquer outras
abre uma cova e enterra-as
a teu lado
primeiro as que te impuseram eras ainda imbele
e não possuías mácula senão a de um nome estranho
depois as que crescendo penosamente vestiste
a verdade do pão a verdade das lágrimas
pois não és flor nem luto nem acalanto nem estrela
depois as que ganhaste com o teu sémen
onde a manhã ergue um espelho vazio
e uma criança chora entre nuvens e abismos
depois as que hão-de pôr em cima do teu retrato
quando lhes forneceres a grande recordação
que todos esperam tanto porque a esperam de ti
Nada depois, só tu e o teu silêncio
e veias de coral rasgando-nos os pulsos
Então, meu senhor, poderemos passar
pela planície nua
o teu corpo com nuvens pelos ombros
as minhas mãos cheias de barbas brancas
Aí não haverá demora nem abrigo nem chegada
mas um quadrado de fogo sobre as nossas cabeças
e uma estrada de pedra até ao fim das luzes
e um silêncio de morte à nossa passagem
MANUAL
Ai
Manuel de trabalho manual
Ai manual de prestidigitação
CORO DOS MAUS OFICIAIS DE SERVIÇO
NA CORTE DE EPAMINONDAS, IMPERADOR
Vá
uma morte loura
simpática
acolhedora
que não dê muito que falar
mas que também não gere
um silêncio excessivo
vá
uma morte boa
a uma boa hora
uma morte ginasta tradutora
relativamente compensadora
uma morte pedal espinha de bicicleta quase carapau
com quatro a cinco soltas a dizer
que se ele não tivesse ido embora
tão jovem tão salino
boas probabilidades haveria de ter
de vir a ser
dos melhores poetas pós-fernandino
vá lá vá lá Mário
uma morte
naniôra
que não deixe o esqueleto de fora como nos casos do mau
gosto
os esqueletos têm sempre um quê de arrependidos
se bem que por aí já convinha lá isso já também era verdade
vá
o demais demora
e
francamente
nunca será teu
vá vá vamos embora
Sim realmente
onde está a camisola? Ola
palavra espanhola que quer dizer-nos: Onda
coitadas das palavras sempre a atravessar fronteiras há tantos anos
não há aí quem possa dar descanso a estas senhoras?
(O mundo é redondo
talvez a reencontremos
Em cima do barco
que esperta a corrente
é hoje que parto
para sempre
Enfuna-te, escuna
Aproa ao vulcão
ENQUANTO
ORADOUR-SUR-GLANE
construção % construção
progresso no transporte
ORADOUR-SUR-GLANE
Souviens-toi
REMEMBER
HOMENAGEM A CESÁRIO VERDE
Eu estou presente
todo eu sou sim
e é de repente
não dou por mim!
Um bom vazio
me vem encher
(nem sinto o frio
de me não ver)
Heróis antigos
olhos cientes
passam amigos
dizem parentes
Passam os manes
do eternal
e os ademanes
do amoral
Passam aqueles
com os aquelas
tanto sou deles
quanto sou delas
Sou de ninguém
estou em olvido
e mais despido
que Pedro Sem
Colorações
Trigos e joios
Caem aviões?
Chegam comboios.
Os tristes olham
o escasso cais
que as ondas molham
(Água demais )
Os ébrios, esses
passam de largo
Ai Sá-Carneiro
Carneiro amargo
Praças pequenas
como alçapões
São os cinemas?
Serão ladrões?
Esfriei a rua
das Grandes Dores
fritei-lhe a lua
raspei-lhe as flores
Fui-me à de lata
sangrenta escura
patrícia pata
da dita dura
Esfriei-lhe o jeito
de assassinar
comi-lhe o peito
mais pulmonar
Esfriei as frentes
esfriei as trazes
fiquei sem dentes
merda, rapazes!
Ó burguesinhos
que quereis fazer
que heis-de fazer
queridos vizinhos?
Sabeis lutar?
Sabeis perder?
Viver? Morrer?
Que heis-de fazer?
E à multidão
contente e só
eles que são
e eu que estou
Apenas vejo
como se ouvisse
um negro harpejo
que nem florisse
Pois no que vi
não ver é que há
e eu estou ali
não estando lá.
PARADA
Ontem
às onze
fumaste
um cigarro
encontrei-te
sentado
ficámos para perder
todos os teus eléctricos
os meus
estavam perdidos
por natureza própria
Andámos
dez quilómetros
a pé
ninguém nos viu passar
excepto
claro
os porteiros
é da natureza das coisas
ser-se visto
pelos porteiros
Olha
como só tu sabes olhar
a rua os costumes
O público
o vinco das tuas calças
está cheio de frio
e há quatro mil pessoas interessadas
nisso
Sem abuso
que final há-de dar-se a este poema?
Romântico? Clássico? Regionalista?
Soma:
uma paisagem extremamente à procura
o problema da luz (adrede ligado ao problema da vergonha)
e o problema do quarto-atelier-avião
Entretanto
e justamente quando
já não eram precisos
apareceram os poetas à procura
e a querer multiplicar tudo por dez
má raça que eles têm
ou muito inteligentes ou muito estúpidos
pois uma e outra coisa eles são
Jesus Aristóteles Platão
abrem o mapa:
dói aqui
dói acolá
Sou um homem
um poeta
uma máquina de passar vidro colorido
um copo uma pedra
uma pedra configurada
um avião que sobe levando-te nos seus braços
que atravessam agora o último glaciar da terra
O meu nome está farto de ser escrito na lista dos tiranos: condenado à
morte!
os dias e as noites deste século têm gritado tanto no meu peito que existe
nele uma árvore miraculada
tenho um pé que já deu a volta ao mundo
e a família na rua
um é loiro
outro moreno
e nunca se encontrarão
conheço a tua voz como os meus dedos
(antes de conhecer-te já eu te ia beijar a tua casa)
tenho um sol sobre a pleura
e toda a água do mar à minha espera
quando amo imito o movimento das marés
e os assassínios mais vulgares do ano
sou, por fora de mim, a minha gabardina
e eu o pico do Everest
posso ser visto à noite na companhia de gente altamente suspeita
e nunca de dia a teus pés florindo a tua boca
porque tu és o dia porque tu és
a terra onde eu há milhares de anos vivo a parábola
do rei morto, do vento e da primavera
Quanto ao de toda a gente tenho visto qualquer coisa
Viagens a Paris já se arranjaram algumas.
Enlaces e divórcios de ocasião não foram poucos.
Conversas com meteoros internacionais também já por cá passaram.
Eu sou, no sentido mais enérgico da palavra
uma carruagem de propulsão por hálito
os amigos que tive as mulheres que assombrei as ruas por onde passei uma
só vez
tudo isso vive em mim para uma história
de sentido ainda oculto
magnífica irreal
como uma povoação abandonada aos lobos
lapidar e seca
como uma linha férrea ultrajada pelo tempo
é por isso que eu trago um certo peso extinto
nas costas
a servir de combustível
e é por isso que eu acho que as paisagens ainda hão-de vir a ser es
crupulosamente electrocutadas vivas
para não termos de atirá-las semi-mortas à linha
E para dizer-te tudo
dir-te-ei que aos meus vinte e cinco anos de existência solar estou em franca
ascensão para ti O Magnífico
na cama no espaço duma pedra em Lisboa-Os-Sustos
e que o homem-expedição de que não há notícias nos jornais nem lágrimas
à porta das famílias
sou eu meu bem sou eu partido de manhã encontrado perdido entre lagos de
incêndio e o teu retrato grande!
AUTOGRAFIA II
A aurora
está fatigada
a aurora
como um rio nosso
em torno dos elevadores
Tinha eu a idade
de um marselhês
silencioso
e tímido
Tu davas-me a lousa dos magos
o teu riso as letras
mais obscuras do alfabeto
Belo tu és belo
como um grande espaço cirúrgico
A minha boca
sabe à tua boca
A minha boca
perdeu a memória
não pode falar as palavras
entram no seu túnel
e não é preciso segui-las
LIGEIA
«acima ou fora da matéria só comparável à estrela de sexta grandeza,
dupla e variável, que se encontra próximo da estrela grande da Lira»
MORELLA
de mãos frias e agudas, falando, falando sempre, «porque as horas de
felicidade passam e a alegria não se colhe duas vezes na vida, como as
rosas de Paestum duas vezes no ano»
RODERICO
os cabelos sedosos em torno da face, os olhos grandes, húmidos,
luminosos, os lábios numa curva extremamente bela
Como assim Mário como assim Cesariny como assim ó meu deus de
Vasconcelos?
Porque é que querem fazer passar para o meu corpo
uma caricatura a todos os títulos porca?
Que andavam a fazer com a minha altura os pais pelos baptistérios
para que eu recebesse em plena cara semelhante feixe de estruturas
tão inqualificáveis quanto inadequadas
ao acto em mim sozinho como a vida puro
eu não sei de vocês eu não tenho nas mãos eu vomito eu
não quero
eu nunca aderi às comunidades práticas de pregar com pregos
as partes mais vulneráveis da matéria
Haverá
um acordar
DO CAPÍTULO DA DEVOLUÇÃO
Hoje venho dizer-te que morreste e que velo o teu corpo no meu leito, um
corpo estranho e surdo um corpo incompreensível
aquele desespero que deixou de ter forças para erguer os portais do outro
reino tristeza de menino a quem tiraram tudo, até a tinta e as flores
e o prazer de gritar
esse (foi visto) deve subsistir porque é a tua maneira de tomar banho no
cosmos, olhar o cosmos como os que ainda podem interrogar as ondas e
morrer
mas tu ainda não sabes a que ponto morreste; vais até à janela, aspiras com
cuidado o oxigénio que o espaço te oferece, apontas rindo a meiga
criatura que pela rua arrasta a sua condição de animal fulminado
depois olhas para mim, olhas as tuas mãos, e elas ambas, tão claras, tão
seguras, são as mãos de um soldado a arder em febre, aves a percorrer o
seu novo deserto
noutro leito nas nuvens deito os teus cabelos, o teu cansaço e a minha
miséria, os teus braços e os meus, altos como cidades, altos como flores
Meu maresperantotòtémico
minha màlanimatógrafurriel
minha noivadiagem serpente
meu èliòtrópolipo polar
nos dois tentáculos de árvore que apesar de tudo jorram da minha vida às
dez e trinta da noite esperança macho
nos dias em que marcho sem esperança até que um grão de areia fura toda a
barragem subindo rapidamente ao coração
Lembra-te
que todos os momentos
que nos coroaram
todas as estradas
radiosas que abrimos
irão achando sem fim
seu ansioso lugar
seu botão de florir
o horizonte
e que dessa procura
extenuante e precisa
não teremos sinal
senão o de saber
que irá por onde fomos
um para o outro
vividos
INTENSAMENTE LIVRE
Intensamente livre o homem dirige-se para a praia mais pequena que ele
leva na mão um mapa-múndi azul é a custo que desce as dunas mais
pequenas que ele
e sem ninguém que ateste a visibilidade radiogoniométrica destes seres
o homem perfura o poço mais pequeno que ele
abrindo o leão de costas que há no fundo do poço
o doce leão alado muito limpo que há no fundo do poço
A esta hora entre os blocos de prédios enevoados a bela mancha diurna dos
calceteiros na praça
e os dois amantes que hoje não dormiram vão partir nos braços da sua
estrela
à beira do caminho ladeado de sebes de espinheiro
uma carta
uma letra muito fina extremamente caligráfica
onde a aventura do homem que devolve as palavras que lhe são remetidas
deixou a sua marca
e o duque da terceira levanta o braço
comentado seguido pelas aves que acordam a duzentos e mais metros de
altura
o que não é ainda a grande altura
sim sim
não são
quem sabe
Livres
digo Livres
e isso é não só a grande rua sem fim por onde vamos
viemos
ao encontro um do outro
a esta casa dorso de todas as casas e no entanto a única perfeita silenciosa
fresca
mas e também as chamas que acendemos na terra
da floresta humana
não só ao longo dos álamos gigantes e das clareiras mais espectaculares
aí a memória é fácil
mas na erosão física de cada folha no vento
tudo o que teve terá a sua vez connosco
a haver de nós a mesma dádiva recíproca
porque tu vês
de costas para a janela tu que disseste:
«vai haver uma grande guerra»
«nenhum de nós eu sei escapará vivo»
vês tão bem como eu o pouco que isso vale, na muralha da china onde ainda
estamos
nada é de molde a tapar por completo a figura de bronze enterrada na areia
o écran que floresce
como tu como eu nos tubos que dissemos
fizemos
faremos acordar
até quando?
Amor
amor humano
amor que nos devolve tudo o que perdêssemos
amor da grande solidão povoada de pequenas figuras cintilantes
digo: a constelação de peixes rápidos
do teu corpo em sossego
seja ela a aurora halo multicor
seja o perpétuo real ceptro branco da noite
seja até porque não a luz crepuscular com o seu chapéu preto as suas hastes
mudas
ah um automóvel!
Apetece contar uma história tão estranha, que as pessoas saiam aos tro
peções de casa
apetece anunciar com voz fanhosa
cronologicamente cruelmente
todas as horas do pasmo
todos os dias do calendário do medo
todas as terças-feiras da angústia de haver rosas
todo o fumo e toda a raiva de um relógio de sol
Tomaram-nos o pulso e ficámos febris
com o amor que não há a inundar-nos a cara
este amor não esquece este amor
não se esquece há um rato
na tua camisa o céu brilha o céu está
os amantes retomam os seus quartos
num plácido e extenuante recolhimento gráfico
mas não basta encostarmo-nos à parede
para que tudo ressurja e vestir de novo as fardas
a imaginação ainda não é
para servir de pedreiro A Imaginação
as radiosas salas superiores
através da cidade nos jardins nas gárgulas
abre-se o leque das mil cenas celestes
com o homem na ponte cor-de-rosa velho
as mãos na água a cabeça no mar
Dir-te-ei que os meus dias foram os teus dias o teu leito o meu leito o teu
corpo este mar
dir-te-ei que há uma rosa oculta num jardim e que ela é uma e outra como
nós fomos
estas pétalas são os teus olhos fechados
são as ondas por onde sopra o vento e nasce a cor da aurora e o grito
gelado das coisas
Na sombra repousante
os teus olhos os teus
vãos pensamentos
como um leito avançando sem suporte
ou um navio perdido do dono
O Azul:
Teus olhos lugar geométrico teus olhos estrada marinha
teus olhos vivos por dentro teus olhos treva exemplar
António:
Fora! Fora!
O Poeta:
Então que é isso rapazes estamos atrasados
toca a andar para o comboio meu amigo
e tu António cautela
já estás mais que parecido vai ser mau continuar
O Poeta:
Oh!
O Mar:
Eu, só, criei a terra por retirada minha
O Azul:
Oh!
O Mar:
Eu dei o nome às pessoas
O Azul e o Poeta:
Oh!
Flor:
Bom dia, boa noite.
O Poeta:
Pão a cozer
António:
Menino a ler.
O Poeta:
Fogo na palha
António:
Canta o canalha.
O Poeta:
Pouca atenção
António:
Cornos no chão.
O Poeta:
Enterocolites
António:
Frederico Nites.
O Poeta:
Delirium trémos
António:
… Dá cá os remos.
O Poeta:
Esterno-cleido-mastoideu
António:
Foi uma mulher que o perdeu.
António:
Não me lembro
O Poeta:
A noite
António:
É o corvo em liberdade
O Poeta:
A Águia
António:
É o amor na cama
O Poeta:
Os Poetas
António:
São os mais fortes condutores-isoladores da corrente poética
O Azul:
Novalis.
António:
Salvemos Ofélia!
Salvemos a pureza que vai pela mão
Salvemos o doce cabelo
Salvemos, pelo menos, o braço.
Corre atrás do Frade que puxa dum pau e dá para baixo bem em
cima da cabeça de António que se agarra ao Frade e luta com ele,
esquecendo-se ambos de Ofélia, que se atira ao mar.
António, chorando:
Poeta!
O Poeta:
Não.
António, chorando:
Poeta!
O Poeta:
Não.
António:
Olha olha os países.
O Poeta:
Não são mais do que três.
O Azul:
Eu vou acelerar vertiginosamente.
O Poeta:
Dança! Dança! Dança!
O Azul:
Marialfabeta
Iowanalfabeta
Ariana alfa beta
Os Astros:
Um, três, cinco, sete, dez!
Dois, quatro, cinco, oito, um!
António:
Eu amava, tu amavas, ele amava
Caderno de Ares:
Tudo o que usa chapéu lhes diz respeito
Tudo o que à noite brilha conta com eles
Todo o anjo vestido de diamante
Toda a hora de luto e crueldade
Caderno de Zeus, em caracteres estenográficos:
São mágicos cartógrafos amando
pelos bolsos das calças A Montanha
António:
Olha olha uma rosa.
O Azul:
Ó rosas catedráticas! Esplendorosíssimas rosas!
António:
Morte, morte, morte.
António:
Ofélia
O Poeta:
Muito parecida, António, muito parecida.
Não passa Deus, seguido dos seus Anjos e dos seus Animais. O
Poeta regressa ao seu atelier nos astros, que a sua governanta
encheu de flores. Faz café, que ingere em goladas pequenas, sentado
abstracto em cima do telhado. Chora um pouco e murmura, olhando
o céu escuro:
A cena representa
um rio à beira do rio
do festim que houve restam muitos sinais
no tronco de carvalho que vai à deriva
os lagartos pintados filhos da aranha de gala
tiram as sobrancelhas uns aos outros
ainda não é noite mas também
logo se vê que ainda não é dia
o mágico conduz o músico ao bufete
no sítio da cascata de obrigação estás tu a cena representa
os portadores de imagens
o primeiro edifício é um cinema pobre
que dá para a grande praça do obelisco
aqui é tudo mistério
contam a tropa do califa hassein
à ordem de rodolfo valentino
os fumadores estrangulam docemente a rainha
em costume escarlate cigarros sobre cigarros
no sítio da cisterna de obrigação estás tu a cena representa
a viagem por mar
tu levantas o vento dos corredores e fechas-te no quarto toda a manhã con‐
tigo
tu procuras a língua original e tombas num abismo de translação de corpos
chegou ao fundo a falua dos beijos
quem sair dela será rei do mar a cena representa
o desastre no moinho
minúsculas entidades postas de perfil para resistir mais tempo ao vento da
eternidade
escalam os tempos de vida do poeta
lá em baixo parece que passa a tropa
trata-se na verdade de assassinato
saem a passo filósofos ratazanas terrinas de acesso duplo viagens ao
conhecido
e extraordinariamente nos grandes dias felizes
sai a intentona subliminal da arte
na cela do vadio
implorando o milagre da ascensão do sol
doutor entregue às penas para sempre livre estás tu a cena representa
a oração da noite
que todos os dias começa no lado setentrional do quadrado da praça dita
D. Pedro IV
e todos os dias acaba no lado norte do Jardim de Santos
à tua sombra avançam todos os meus gritos
de único muezin mil léguas em derredor
e ao pé de ti não há memória válida
ao pé de ti é a hora de partir sempre
não sem motivo choram na cadeia os velhos cristos de olhos purulentos
e a palavra de eterno deita sangue pela boca
e a noite faz à lua uma estrada limpa
és o tronco lançado pelos da mala-posta às rodas da carruagem
ergues-te e andas sobre toda a cidade
e a operação do fumo
o não-mais-drama o corpo
que se espacializa
esta aurora total a que chamam lepra
mil vezes a despimos e vestimos de novo
nós a fazer e a desfazer o leito
onde abraçados emergimos dos mortos
em direcção ao dos pés para a cabeça
norte sul orion a ursa Revolução a cena representa
(a cena final representa)
o cão em cima da árvore
Bravo
sobem enfim o pano do 4.º acto
não foi de todo inútil a objurgatória anterior
começa a fuzilaria
tá-tá-tá
buum
trá-trá
BUUM
What a proud dreamhorse pulling(smoothloomingly)through
(stepp)this(ing)crazily seething of this
raving city screamingly street wonderful
flowers 1
1 E.E. Cummings
ESTADO SEGUNDO
I
Matilha promessa
Nossos Filhos
A Carpa
Ele
em verdade
está só
e nunca
foi ouvido
III
Katyn?
Grande Descoberta!
O homem encontra
com tão pouco esforço
o pus o sangue
a peste a guerra
VI
Na idade em que a maioria dos homens vai para cima das árvores
levando somente a carga instantânea
há aqui palavras que se engolem como espadas
motores planejados para sofrer os maiores abusos sem queixas
Uma fonte
Alta, esbelta, resistente
arte de ser natural
Para os lábios
que o homem faz
que atraem beijos
ao redor do mundo
ficou na nossa memória
em qualquer parte a qualquer hora
um pedaço
de pão
Promessa
que se cumpre
que alimenta
o mundo
Olhos
a exigir
uma floresta
XII
Cego
para que os cegos vejam
quatro toneladas
A CIDADE DA VENTANIA
Erosão da alma
debaixo da roupa
XIII
As Luzes
Voltam A Acender-se
Dulcineia
e o cisne
são a sua voltagem verdadeira
Nenhuma enfermidade
nenhum corpo
nenhum que tenha de viajar
enquanto cresce
A vida
às portas da vida
Amor Ardente
de forma distinta
XVII
Na ponte
uma fogueira
calma
(O final
entre sombras)
XIX
Não houve
nunca
acima do mundo
a alegre aventura
de um sol militar
XXI
a esses e ainda
aos realmente explorados
aos realmente montes de trabalho
ou nem isso só rios
só folhas na árvore cheia do método árvore
PRANTO SOBRE DOIS TEMAS
GRATOS AOS PORTUGUESES
A António Quintela
À casa do coração
aos seus quartinhos de altar
Tenho um amor tão bonito
não me deixam namorar
Eu vestido de almirante
sobre esta roupa que tenho
tão farta do meu tamanho
de escuna sem mar diante
III
Depois de ver com os seus próprios olhos como é que o ratazana toma o seu
chazinho
Émile Henry
escritor da literatura da dinamite
lança a segunda bomba à porta do Café Terminus
dado que: da má distribuição da riqueza e das coisas boas da Terra
TODOS SEM EXCEPÇÃO TÊM A MÁXIMA CULPA
PASSAGEM DOS AMANTES JUSTIÇADOS
O navio morto
que sobe a corrente
de que velho porto
era o adolescente?
Cingiam-lhe a boca
água e nevoeiro?
Tinha muita, pouca
falta de dinheiro?
E puxado a cabos
este rei de oceanos!
por ginasticados
loiros namorados
a diesel e canos
Um marujo rebelde
em busca de
pólen
uma camisola
A CIDADE
Ea
como
quem
se
abandona
o homem
descobre
o metal do futuro
uma
nova cintura
verdadeiro
amor
fenómeno
micro eléctrico
raramente visto
o barco salva-vidas
isolado
perfeito
VOZ NUMA PEDRA
Quando assentaram em que era urgente o poeta apesar dos olhares que ele
lançava a tudo e daqueles casacos de trazer pelos mapas
todos se viram a braços com mil dificuldades
em primeiro lugar a da morada
Um prédio da cor dos pássaros disse o ao fundo da sala
fora deixa lá ver dois anos antes
ou já tivera aquilo e era depois? não interessa
de qualquer forma jardim do tabaco
carnide portas de loures
alto magro peludo pouco de aconselhar
escrevia não escrevia
cumprimentava não cumprimentava
ia não ia demais
provavelmente até onde os outros estavam quietos
era ele!
Bem
havia outros poetas mas esses já estavam de acordo
até pela apresentação a tempo e horas
de valorosos trabalhos eleitorais
simples fortes de resultado à vista nada de metafísicas
como se tinha visto nas também grandiosas
eleições anteriores
esses porém estavam certos mais que certos
o que convinha agora era que o outro aparecesse
não fossem lá os bandalhos julgar
que o poeta estava co’s outros ou que se calava
num grande insulto a todos
(é dizer: de propósito)
Entretanto
algures
rua amália kandinsky
o poeta premia os intestinos
tinha acabado de traduzir Rimbaud
e preparava atmosfera para mais
alguns trabalhos decentes em prosa rítmica
a literatura propriamente saía-lhe
a barriga é que estava cada vez pior
a um febrão sucedia-se outro
com mais sal e pimenta à volta do prato limpo
os graves problemas da pátria enferma
como que coincidiam (na região do corpo)
co’ aquela aguda sensação de desgraça
que ia do esterno ao sexo e à região das mãos
de modo que pela pátria ele ia com certeza
assim lhe dissessem onde
nunca tal lhe seria mais difícil
do que evacuar depois de dez dias de molho
ou saber vomitar apenas as coisas más
Diga-se agora em abono da verdade
que um poeta nem sempre é tal qual uma pátria
não tem hotéis nem caminhos-de-ferro
nem imprensa por ele nem ordenado
onde se engana vão vê quem o corrija
até ficam contentes
e qualquer juiz do supremo é mais a sério que ele
(também que por isso mesmo se tem visto
muitíssimo bom poeta na enxovia)
Quanto ao da liberdade
o poeta atingira os tamanhos adultos
num grande cemitério sempre cheio à força
de jazigos que não assentavam na terra
nem ficavam no ar eram como flores brancas
onde as pessoas se deitavam a respirar
pequenos dísticos saíam da terra húmida
o mais impressivo de todos rezava assim
o homem que queria fazer uma revolução veio para aqui pensar nisso
não maces a sua forma de revolução
Apesar disso
ou já com isso às costas
o poeta forjara realmente um plano:
louvar o ser amado
ter amigos leais
escrever todos os dias ou dia sim dia não
publicar (o possível)
e protestar com lhanesa com simplicidade quer pessoalmente quer por
telegramas contra toda e qualquer prepotência mandona
Este plano tão simples tão nacional
é que ficara longe da realização
para amar com decência eram precisas muitas muitas coisas
principalmente gente menos zangada
para ter amigos leais que seria preciso?
e protestar com lhaneza com simplicidade quem pode ter lhaneza e
simplicidade quando lhe dão para baixo em cima do cabelo com um
pau?
ORTOFRENIA
Aclamações
dentro do edifício inexpugnável
aclamações
por já termos chapéu para a solidão
aclamações
por sabermos estar vivos na geleira
aclamações
por ardermos mansinho junto ao mar
aclamações
porque cessou enfim o ruído da noite a secreta alegria por escadas de
caracol
aclamações
porque uma coisa é certa: ninguém nos ouve
aclamações
porque outra é indubitável: não se ouve ninguém
ALEGORIA DO MUNDO NA PASSAGEM DE
ARNALDO DE VILLANOVA
em baixo
grandes extensões desérticas de pernas
ressoam como forças paralelas
nos tubos do grande órgão
o homem
é o mar
e o mar «é em cima, como nas gravuras»
no dilúvio da luz
um braço pica-se numa seringa
que hoje faz vinte anos de amor bárbaro
todos os lábios falam português por baixo das palavras selvagens que dizem
e mesmo os pensamentos de olhos muito azuis
ideando quem sou no subterrâneo alado
este onde o homem redescobriu o sol e o cobre de cabelos de liberdade
e o submerge no ouro das palavras
e o devasta de corpos e de auroras
Piccadilly Circus
lugar geométrico da terra
disco rodando o espantosíssimo número
do casamento
do metal
com a carne
Por isso a tua Cidade Suspensa é toda a nossa história por contar
o nó que nos cerca a garganta sabiamente o abriste sobre a tela
a negro e a vermelho a cinza e a branco silvestre
para sempre livres do dédalo nosso
mas como ele mudo silêncio do nosso silêncio
E todas as bibliotecas inundadas perdidas incendiadas
todas as quimeras onde houve gente e de que não resta pedra sobre pedra
rosto ao lado de um rosto num portal antigo
por isso a tua Gare Ilimitada a que arrancaste portas e telhado para homens
e mulheres poderem sempre partir
e os infindáveis baralhos de cartas onde a cada momento interrogaste o
destino
ó vieira das silvas dos teus cabelos
presos à dança da pedra e do ar
«A este propósito, lembraremos o mito de uma idade paradisíaca
onde os seres humanos podiam facilmente subir ao céu e estabelecer
relações familiares com os deuses. O simbolismo cosmológico da
casa e a experiência xamânica da ascensão confirmam, sob outro
aspecto, este mito arcaico. Eis como: depois da interrupção das
comunicações fáceis que, no início dos tempos, havia entre o céu e a
terra, certos seres privilegiados (e em primeiro lugar Vieira da Silva)
continuam a poder efectuar a ligação dos planos superior e inferior.
Da mesma maneira, os xamãs têm o poder de voar e de aceder ao
céu através da ‘‘abertura central’’, enquanto para os outros mortais
essa abertura serve unicamente para a transmissão de
oferendas.» Mircea Eliade / Mário Cesariny
Por isso a tua Cidade para Gatos onde Rimbaud terá sempre o seu quarto
e onde Cecília a Doce vai começar a abrir
os seus braços de vento misturado ao vento
por isso as tuas mãos traçando linhas à passagem contínua do navio
que fantasticamente flutua a teu lado
e o vale o vale imenso aberto a branco
onde para sempre a tua mãe repousa
e onde um dia quem sabe tu também
minha rainha negra para um cavaleiro húngaro
minha «águia imperial rindo às dentadas»
para o mais obscuro coração da matéria
minha nossa senhora da vitória
que corre o espaço sem morada certa
Ofélia roubada a Hamlet Inês de Castro Szenes
pelo poder da sucessão infinita
e pela força do sacrifício total
quando se abre uma porta como o inferno
e o invisível te procura na sala
para que ilumines todos os seus portos
e todo o seu afã de eternidade
Os pássaros de Londres
cantam todo o inverno
como se o frio fosse
o maior aconchego
nos parques arrancados
ao trânsito automóvel
nas ruas da neve negra
sob um céu sempre duro
os pássaros de Londres
falam do esplendor
com que se ergue o estio
e a lua se derrama
por praças tão sem cor
que parecem de pano
em jardins germinando
sob mantos de gelo
como se gelo fora
o linho mais bordado
ou em casas como aquela
onde Rimbaud comeu
e dormiu e estendeu
a vida desesperada
estreita faixa amarela
espécie de paralela
entre o tudo e o nada
os pássaros de Londres
quando termina o dia
e o sol consegue um pouco
abraçar a cidade
à luz rasante e forte
que dura dois minutos
nas árvores que surgem
subitamente imensas
no ouro verde e negro
que é sua densidade
ou nos muros sem fim
dos bairros deserdados
onde não sabes não
se vida rogo amor
algum dia erguerão
do pavimento cínzeo
algum claro limite
os pássaros de Londres
cumprem o seu dever
de cidadãos britânicos
que nunca nunca viram
os céus mediterrânicos
O INQUÉRITO
1.ª Voz
Armazenadas todas as essências
2.ª Voz
Dividido o calor
3.ª Voz
Dispostas as correias de transmissão dos cabelos
1.ª Voz
E a mão a alada mão que resume a experiência
2.ª Voz
Despidos mas não mais que as petrificadas roupas
3.ª Voz
A pouco e pouco passamos
1.ª Voz
A mosca do infinito serve à mesa
2.ª Voz
Faz a barba aos homens
3.ª Voz
Dá bilhetes para
1.ª Voz
É como se vestisse fato novo
quem nem sapatos tem para ir à polícia
2.ª Voz
Quem será o juiz desta manhã sem cadáveres
docemente despida para fora do movimento
3.ª Voz
De um lado escadas do outro lado escadas
1.ª Voz
Dir-se-ia que vai haver parada
2.ª Voz
Se houvesse uma chave para abrir esta história
de espelhos deitados ao longo da praia
3.ª Voz
Porque é que não se largavam? Porque é que não tinham casa?
Porque é que a cara deles estava sempre maior?
Mais imóvel? Mais lenta? Mais cega de claridade?
1.ª Voz
Este tempo está feito um domingo monstruoso
2.ª Voz
É dos que lavaram do cavalo as mãos
3.ª Voz
Levaram os sonhos para casa
1.ª Voz
Fazem de mortos para escapar aos vivos
2.ª Voz
Fazem de vivos e fazem mal
3.ª Voz
Entretanto no fundo de olhos inteligentes
agitam-se oceanos de saliva
1.ª Voz
Um pequeno espaço no tempo
de que os pilotos gostam
2.ª Voz
O interior do meu navio a branco
3.ª Voz
O interior
1.ª Voz
O interior do meu navio a branco
são estas avenidas sem retrocesso
onde o sangue pagou o seu tributo ao esqualo
e onde tu não estás meu triunfo e meu espasmo
de corpo livre a ver o vento aterrar
2.ª Voz
Agora já passou agora basta
3.ª Voz
Agora regressar ao interior do navio
1.ª Voz
Agora vêm aí pedir-nos a verdade
como quem pede o troco do planeta para as dez
dez e meia onze horas da manhã
2.ª Voz
A verdade eu explico
3.ª Voz
Arcturus e Astralis egípcios-alemães
passam neste momento na direcção norte-norte
a terra vai tremer e precipitar-se
1.ª Voz
No donde nunca saiu embora se mova
2.ª Voz
E com ela a verdade
3.ª Voz
Verdade azul verdade branca dos rios
1.ª Voz
Verdade em linha recta dos olhos dos namorados
2.ª Voz
Verdade cor de muro
3.ª Voz
Cor de cinema pobre
1.ª Voz
E depois cor de fogo verdade escura cor de homem
2.ª Voz
E sabem para que são estas verdades todas
e todos estes livros de moradas?
3.ª Voz
São para glorificar o corpo a corpo
o boca a boca o calça a calça e as mãos nas mãos perceberam?
1.ª Voz
Não não perceberam
2.ª Voz
São milhares de cabeças separadas do tronco
mantidas por filamento fixo à nuca
(breve pausa)
3.ª Voz
Até aqui nada de extraordinário
1.ª Voz
Nada a ver com o grito do sol no horizonte quando uma ave subitamente
sangra
e os sonhos voltam à sua casa no espaço
2.ª Voz
De um colchão carbonizado pouco fica
3.ª Voz
Erguia-se limpava o braço azul deixava ficar tudo como estava
1.ª Voz
Mas dele até ao pó e às sombras dos sapatos
quantas revoluções perpetuadas
2.ª Voz
Ali onde a parede não faz chão
3.ª Voz
E diz então que a catedral era em baixo
1.ª Voz
Não adivinho como nos encontrámos
2.ª Voz
Perguntava isto e aquilo respondia rindo
1.ª Voz
Ou era eu que ria não sei bem
2.ª Voz
Entrámos numa escada
3.ª Voz
Mas a alvura dos muros era contra vós
1.ª Voz
Com as costas da mão toquei-lhe no sexo fortemente arqueado dentro da
roupa
2.ª Voz
Comecei a tremer como uma vara verde
3.ª Voz
Puxou-me o outro braço e apoiou-se pesou sobre mim como se eu fosse a
base do universo
1.ª Voz
Ouvi o trabalhar de um relógio de pulso na minha nuca
2.ª Voz
Que som para a eternidade
3.ª Voz
Quase fazíamos a mesma altura a mesma sombra sobre o chão de pedra
2.ª Voz
Mas a farda marcava-lhe a figura enquanto o teu casaco adejava no ar
3.ª Voz
Falei-lhes nisso e ele riu divertido
1.ª Voz
«Então tu gostas mesmo»
2.ª Voz
«Gosto de quê»
1.ª Voz
«De um homem»
2.ª Voz
Não lhe deste resposta
2.ª Voz
Que resposta haveria para dar
1.ª Voz
Era um jogo de aves do paraíso num céu iluminado a caixas de fósforos
2.ª Voz
E o halo dos seus braços contra a porta chapeada
1.ª Voz
E o rosto soerguido num mimo trágico
2.ª Voz
Como de rei ou mago santo ou santa
3.ª Voz
Como acha então o mundo?
1.ª Voz
Algumas vezes foi preciso matar
(breve pausa)
1.ª Voz
Impossível saber para onde foi a nuvem
nem porque faleceram os principais
2.ª Voz
A cadeira a vapor da cerimónia
1.ª Voz
A augusta farrapa reluzente
2.ª Voz
Enquanto a bicicleta duma alegria enorme entra pelo mar dentro tenazmente
saudada pela solidão das barragens submersas que expelem barbas
verdes para fazer a noite
2.ª Voz
Muito alta muito branca muito educada
a estátua tóxica avança
3.ª Voz
Todos atravessaram para ir ver o desastre e não houve desastre
houve um garoto com uma gaiola e uma rapariga que vendia laranjas há
muitos anos
1.ª Voz
Quatro pequenos ratos formam hemiciclo
2.ª Voz
Mas nunca a rua pareceu tão deserta
3.ª Voz
Às quartas-feiras o amor é um plágio
1.ª Voz
Um vento de cadáver refrescado
produzido em quantidades industriais
2.ª Voz
Grandes barcos sem hélices são levados a correr para a cama e aí expostos
ao sol dias inteiros
3.ª Voz
Verdade e água para todos diz o vento
1.ª Voz
E conquanto eu não creia muito em mim
2.ª Voz
Nem seja dos que andam à procura para a construção da personalidade
(risos)
3.ª Voz
Aqui está uma montra para ajeitar a gravata
1.ª Voz
E aqui está uma esquina para tratar do assunto
2.ª Voz
Dedo mindinho pressão na barriga maquinismo de levitação para a letra A
Dedo médio arco-íris o maquinismo liga à tinta verde transe para a emersão
da letra M
1.ª Voz
É a letra do meu nome
2.ª Voz
Dedo anelar rosácea e estrela cadente letras U letras R e conjuntivas
parágrafas
que me abstenho bem de nomear
3.ª Voz
Para a letra K é preciso que corra sangue
1.ª Voz
Empregar só nas grandes ocasiões
(breve pausa)
3.ª Voz
Até aqui nada de extraordinário
1.ª Voz
Já não custa nada o amor
2.ª Voz
Já não custa nada a experiência
3.ª Voz
Nada o beijo na boca
2.ª Voz
A cintilante piscina dos braços
1.ª Voz
Já ninguém tem a mais pequena imagem do leão que rasteja entre as arcadas
2.ª Voz
O caso é todo o da ampola marinha que emergiu com o seu espelho à hora
do começo do movimento parado
1.ª Voz
Na coluna marítima espelhada
a fria a lacónica data inexpressiva
2.ª Voz
Gatilho de todas as horas esperança tu sufocas
3.ª Voz
Ainda podes subir à altura dos telhados
e ver como rebentam as ondas na praia
2.ª Voz
É muito
é já demais
um dia e uma noite ao largo dos oceanos
3.ª Voz
Momento de beleza!
3.ª Voz
E pelos mortos nos mastros
(breve pausa)
1.ª Voz
Acenderam-se fogos sobre o rio
3.ª Voz
São vivas setas multicores
que o mais pequeno nada intersecciona
num movimento de pequenas ondas
2.ª Voz
Como se a noite negra
manasse
e das ondas em roda
o manto de Oberon cobrisse a água toda
(breve pausa)
1.ª Voz
Limpem bem os fatos
2.ª Voz
Lavem muito os dentes
1.ª Voz
Batam na engomadeira
2.ª Voz
Façam filhos
1.ª Voz
Sejam sensuais
2.ª Voz
Senso ais
1.ª Voz
Sexo ais
2.ª Voz
Procurem o buraco próprio
1.ª Voz
Da vossa saliência
2.ª Voz
E a saliência
1.ª Voz
Da vossa reentrância
2.ª Voz
Não tenham medo
1.ª Voz
Comam
3.ª Voz
O leque é extraordinário
1.ª Voz
Galinha
2.ª Voz
Pato
1.ª Voz
Tudo
3.ª Voz
Sejam alegres
1.ª Voz
Necessários
2.ª Voz
Sadios
3.ª Voz
O cofre dos países
2.ª Voz
Zanoni
1.ª Voz
Sutmil
3.ª Voz
Catorze
(breve pausa)
(breve pausa)
(breve pausa)
2.ª Voz
Os barcos russos chegaram a Havana
1.ª Voz
Vou comprar uma camisola
3.ª Voz
Os barcos russos não chegaram a Havana
1.ª Voz
Vou comprar uma camisola
2.ª Voz
O pássaro cujas asas são dois olhos escuros vivos como chamas
3.ª Voz
Foi comido pela máquina fotográfica
(breve pausa)
1.ª Voz
Dois de sete pediu o meu amor
2.ª Voz
Mas caiu-lhe o boné
1.ª Voz
Tudo quanto ali estava foi ajudar a achar a trazer a limpar
3.ª Voz
Viste-o assim pela última vez
2.ª Voz
No meio de uma roda de transeuntes baixando-se a aceitar o boné que
dançava
1.ª Voz
Erguendo-se e fitando-me nos olhos, fixo.
ATELIER
Sagani bô
tangara pura
kormos ama orgiski oibonkungata
amagat
pûra toli
nigarasun kulin panaptu pana
karain bô
oigos timir vershok toli
amagat pûra tabitala ak kam
aiami kara kam oigos timir
NOMENCLATURA PARA DEPOIS
DO ÚLTIMO KATUN
A Julio-Saúl Dias
E se lá secam as delgadas
e as aljavas deslustradas
que gostosa eu lavava aqui,
não mais serei destas estradas
e destas terras desterradas
irei pôr o Dolviran i.
ALGUNS VOCÁBULOS PARA A COMPREENSÃO
* O compilador não dá o nome natural do índio navajo autor do poema; é sabido que as crianças das
reservas ao entrarem para a escola da administração norte-americana sofrem um segundo nome. No
livro Sun Chief, Don C. Talayesva relata: « Quando a minha irmã foi pela primeira vez à escola, a
professora cortou-lhe os cabelos, queimou toda a roupa que levava vestida, deu-lhe roupa nova e um
novo nome, Nellie.// A minha irmã não gostou da escola e ao fim de alguns dias deixou de lá ir.
Escondia-se dos brancos que podiam forçá-la a lá voltar. Aproximadamente um ano depois, a minha
irmã foi buscar água à nascente de Oirabi-o--Novo, com uma calabaça do ritual Ooquol, e aí foi
capturada pelo director da escola, que a deixou entregar a água na aldeia mas exigiu que se
apresentasse na escola depois da cerimónia. Então, os professores, tendo esquecido o nome que
primeiro lhe haviam dado, passaram a chamar-lhe Gladys.»
«Sou o filho da Mulher-Concha-Branca». A versão anglo-americana diz «I am the child», o que
poderia dar «criança» (ou «cria», num mais nativo que não vem no texto).
Refere-se não apenas à própria mãe mas à-mãe-e-ao-clã a que a mãe pertence, o clã Concha-Branca.
Citando ainda Don C. Talayesva: «Havia (na cerimónia do meu “baptismo”) muitas irmãs de minha
mãe e todas eram minha mãe, enquanto as irmãs e irmãs do clã de meu pai todas eram minha tia. Os
homens do clã do Sol que vieram para o repasto, todos eram meu tio, enquanto os irmãos do meu pai
e os seus irmãos de clã eram todos meu pai.»
A primeira estrofe refere três estirpes distintas: a de Concha-Branca, a linhagem materna; a do Sol,
certamente a paterna; a de Turquesa, designação que, longe de ser um adjectivo substantivado, deve
referir um grupo importante e activo na comunidade.
Falta um verso, a que não consegui dar forma.
O poema é traduzido da versão de D.P. McAllester incluída no livro de Jerome Rothenberg,
Technicians of the Sacred, Anchor Books Edition, New York, 1969.
O REGRESSO DE ULISSES
O HOMEM É UMA MULHER QUE EM VEZ DE TER UMA CONA TEM UMA PIÇA, O
QUE EM NADA PREJUDICA O NORMAL ANDAMENTO DAS COISAS E ACRESCENTA UM
TIQUE DELICIOSO À DIVERSIDADE DA ESPÉCIE. MAS O HOMEM É UMA MULHER QUE
NUNCA SE COMPORTOU COMO MULHER, E QUIS DIFERENCIAR-SE, FAZER CHIC, NÃO
CONSEGUINDO COM ISSO SENÃO PRODUZIR MONSTRUOSIDADES COMO ESTA
FAMOSA «CIVILIZAÇÃO OCIDENTAL» SOB A QUAL SUFOCAMOS MAS QUE,
FELIZMENTE, VAI DESAPARECER EM BREVE.
PELO CONTRÁRIO, A MULHER, QUE É UM HOMEM, SOUBE SEMPRE GUARDAR AS
DISTÂNCIAS E NUNCA PRETENDEU SUBSTITUIR-SE À VIDA SISTEMATIZANDO
PUERILIDADES, COMO FILOSOFIA, AVIAÇÃO, CIÊNCIA, MÚSICA (SINFÓNICA),
GUERRAS, ETC ALGUNS PEDANTES QUE SE TOMAM POR LIBERTADORES DIZEM-NA
«ESCRAVA DO HOMEM» E ELA RI ÀS ESCÂNCARAS, COM A SUA CONA, QUE É UM
HOMEM.
a phormiga
dadivosa negro-rosa
almirantenientemerosa
y almirambolante pira
fulgurante
de los niños
a mirar
Miró a mirar
LOS SIETE NIÑOS DE ÉCIJA
En 1964 en París compré dos libros tuyos en una librería del Boulevard de
Saint-Germain
fue acaso, sortilegio, ¿o es que «los encuentros son proporcionales a los
destinos»?
me lo pergunto porque en aquel entonces nadie me hablaba de ti ni de tu
obra
el Portugal de ese tiempo era una tumba cerrada por tierra mar y aire
por la ipsísima dictatura del Dr. Salazar
pero tambiém por la pro-pre-pri dictadura de los que a Salazar se oponían
en nombre de otro señor que, quitado el bigote al gato
no pasaba del mismo (señor) acelerado a millones de voltios igualmente
asesinos
Stalin Gulag y Realismo Socialista
Pués en París yo y la Tour Saint-Jacques inclinada hacia mí todo un verano
y tus dos libros eran:
Libertad bajo palabra
figura hermosísima del dios en el hombre
y El arco y la lira saeta en el momento del disparo
como aún hoy te veo: aún en el aire
Octavio:
una y otra vez me incitaron a que escribiera «algo» sobre tu obra
la primera (creo que) para los cuadernos de L’Herne
a las otras no alcanzo a distinguir el intríngulis
Siempre-siempre con largo entusiasmo acepté el honor que me hacían,
y siempre mi mano se negó al bote.
¿El porqué? Zona negra, soplo del daimon que antes de llamarse demonio
(forma actual de )
llamaban ¿ángel, potestad, espíritu en el espíritu?
«Si no perguntas, lo sé, si perguntas, no sé» dice el santo-santo
pero lo más llano más verdadero será
que a la mano ésta le dio muchísimo miedo rayar tu verbo azul cianino puro
con unas guarras líneas de hierro cantil rocoso (éstas)
o con la hoguera del prof a mediodía
así fue y así está la mano mía
la mía, no la tuya, donde todo es poema
desde el primer compás de águila y de sol, flauta de Pan
hasta la ya sinfónica wagneriana poswagneriana antiwagneriana
Sor Juana Inés de la Cruz
tu Décima Sincronía
y no te digo taaanto de tu Duchamp
porque Duchamp me estira verde frío toda aquella álgebra donde ya no es
posible encontrar el 2 en el armario
Y ahora me da gracia que en castellano
el nombre del viejo dios que Swinburne exaltó «sembrado de oro en su
Palacio más majestuoso
que los Templos edificados por el hombre»
se pronuncie igual que el pan de comer.
El pez ilustrado
el pez enrique(cido) por ele pe(s)cado
asediado por el principado
el pez vitral de la catedral
de la sal
el pez del con
del leon
el pez que aún huele a frontera portuguesa y galesa
y danesa
el pez de Heloisa y de la Religiosa esa
pero sin Abelardo ni Chamilly
dos maeses de mierda en la mili y en el púlpito
el pez que dice:
a mi señor, es decir, a mi padre
a mi esposo, es decir, a mi hermano
su sierva, es decir, su hija,
su esposa, es decir, su hermana
el pez que sube de la profundeza y te ata la cabeza como un rodo
el pez que es todo y de todo y desde luego inimigo del fuego
que será todo lo que usted quisiere pero que sea un elemento
natural va contarselo al gato
el pez fatal el pez (quitado) del natural el pez (nacido) sin pecado original el
pez desaire
para la gloria eterna (y moderna) del aire.
MÁRIO SÉRIO
Los reyes
vienen a verte
LOS REYES
Tu
estás enfermo
de horas
de siglos,
de memorias
LOS REYES
LOS REYES
Dicen que volverán que te dejarán
nunca
ya corren cuesta abajo por la escalinata
espectros meridionales, cálidos y fríos
hijos santísimos del crimen amoris
del muy gracioso y noble cuerpo de Portugal.
SOMBRA DE ALMAGRE
Buraco-negro-com-barba-postiça-de-Newton
ou pirâmide de De?
A pirâmide de De
com saltos altos e rara elegância de meios
caminha um mililímetro por segundo
em direcção a Maar
Não haverá
qualquer porção
de almagre
O espaço come porém não altera
que os poços escaleres
possam nunca afastar-se
(ou precipitar-se)
de De
ou de Maar
EXQUISITE POEM
I am eu sou the first a primeira and the last conception e a última con
cepção.
The Lady of Lourdes. A Senhora de Lourdes.
O poeta chorava
o poeta buscava-se todo
o poeta andava de pensão em pensão
comia mal tinha diarreias extenuantes
mas buscava uma estrela (talvez a salvação?)
O poeta era sinceríssimo honesto total
raras vezes tomava o eléctrico
em podendo
voltava
não podendo
ver-se-ia
tudo mais ou menos
a cair de vergonha
mais ou menos
como os ladrões
Afinal o que importa é não ter medo: fechar os olhos frente ao precipício
e cair verticalmente no vício
As linhas os carros
aerodinâmicos
a nuvem cinzenta
por cima de mim
a sapateirinha
noiva de três
o jovem operário
presa de mil
o salto que dei
galgando o passeio
o lápis miúdo
no bolso de trás
os versos que faço
sem grande alegria
a voz dos amigos
amigos amigos
negócios à parte
sempre (qualquer dia)
me darão alento
Amigos, dizei
deu-vos resultado?
Resultado o quê?
Abrir a barragem
vazar a dispensa
brincar ao herói
ou ser herói mesmo
Ó enforcados
o tempo passa
o tempo passa
que desgraça!
Passa nada, amigos!
A única coisa que passa
é o publicista Azeredo
que é chauffeur de praça
Paragem. Apêrto.
Apêrto. Partida.
Fico no meu sítio.
Lá vem o eléctrico
amarelíssimo.
As ruas as casas
de zincogravura
os barcos que saem
a barra que eu vejo
o freio nos dentes
do burro inocente
o forte em Monsanto
o santo em Monforte
o homem que é fraco
o homem que é forte
sempre (qualquer dia)
me darão alento
O HOMEM EM ECLIPSE
Santos
Mártires
e Heróis
Araruta Província
EM TORNO DA POESIA DE CANSADO
NÓTULA CRÍTICA DE MARÍLIA PALHINHA
1 «Fantasia Gramática e Fuga, Com Eco». Nota do Dr. Araruta Província: O poema deste título foi
perdido pela própria Marília Palhinha durante a última das manifestações de rua que entre nós
assinalaram o fim da segunda guerra mundial. Tendo sido, como se sabe, particularmente dura essa
manifestação, quase se aceita tão infeliz descuido levar um poema daqueles para o meio da rua!
NOTA À SEGUNDA EDIÇÃO
(Jan. 1976)
«RAIO DE LUZ»
Palhinha, 1970
ADENDA CORRIGENDA
Araruta Província
OS POEMAS
MIGRAÇÃO
Ah
não me venham dizer
oh
não quero saber
ah
quem me dera esquecer
1 «Chimpòzé» não existe em língua oficial portuguesa, sequer nos pàlóps. Parece ser corruptela de
«chimpanzé». «Garoto» é o nome dado na capital do Império (Lisboa) ao café com leite servido em
chávena.
HERÓI
Dizei: é o Herói.
O herói, simplesmente.
BRASILEIRA
Já está.
RURAL
Ausente.
POEMA BÃO
Iáú!
Ilha de Nome Santo!
Poema bão!
FANTASIA GRAMÁTICA E FUGA
(COM ECO)
Visto de cetim
Vou depressa e bem
Eu sei que serei
Do mundo que vem
Bate coração
Palhaço em Palheiro
Meu golpe de vista
Tapa a boca Oh
Tapa a boca Oh
tApa a bOca Oh
taPa A boCa Oh
tapa a boca sim
Fim
RAIO DE LUZ
Matá-lo
Devagarinho.
Lá vai ele a reboque.
Só as pessoas que não viajam ganham ódio às classes que o comboio tem.
Quem alcança viajar, mesmo só em terceira, vai sempre radiante. Não anda
lá a prender-se com essas coisas.
As pessoas que não viajam também têm as suas qualidades, são como os
chefes de estação: bondosos, diligentes, aplicados. Mas não viajam,
pronto. Para que nos querem convencer que viajam?
Recomecemos: Um:
Estes versos não querem de modo algum ser versos
porque quem hoje em Portugal quer de algum modo fazer versos versos
está em muito maus lençóis
(este o primeiro artigo da minha constituição)
Segundo:
Apesar de tudo, saí para a rua com bastante naturalidade
e que vi eu? Que é isto? (e que esperava eu ver?)
Terceiro:
(e aqui começa, talvez, o desembróglio)
vi também um vapor que ia para o Barreiro
e tive pena de não ir com ele
mas não sou um proletário (não, ainda não)
e atravessar a nado quem é que disse que pode?
Tantos escritores
Ao crepúsculo espelha
sol e lua nos flancos
(Vista do movimento
dir-se-ia que pára)
E no mastro espelhado
uma espécie de porta
Quando um se revolta
há dez mil insurrectos
Do princípio do mundo
até ao fim do mundo
DIÁRIO DA COMPOSIÇÃO
PARIS, 1964
Maio, 27
Maio, 31
No dia 28, voltei à esplanada mas tinha gente a mais. Procuro outro
café, outra esplanada próxima: não consigo escrever. No interior do jardim,
dou uma lenta meia-volta à Torre. Nem meia-volta é porque a grade que
delimita o parque passa rente a uma das faces da construção exactamente
aquela desde a qual poderia ver, de frente, o homem de bronze no seu
pedestal. Até onde a descubro, a Torre está vedada, interdita, não é possível
entrar.
No dia 31, esplanada sem ninguém. Escrevo a 2.ª e a 3.ª estrofes do
poema do «lado de lá do espelho», desta vez em plena comunicação. O
livro de Borges continua por ler, à minha frente.
Junho, 1
Junho, 15
Julho, 11
Ainda neste poema, dois versos cortados, por, entre outras coisas,
fazerem supor uma crítica, que não são, ou uma identificação, que não têm,
com a filosofia de Platão:
Ora: é por holocausto à sua estrela, filha dos mistérios de Ísis e Elêusis,
que Nerval se enforca na R. da Velha Lanterna, em 25 de Janeiro de 1855.
«Bastava-lhe estender os pés para tocar no solo».
1 A tradução de Torres Amat, também referida por Borges, intercala a palavra Deus para dar o
seguinte: «Presentemente apenas vemos Deus como num espelho e em obscuros reflexos; mas então
vê-lo-emos face a face.»
2 Ler no Phedro de Platão.
3 Intérpretes orais da Tradição.
PARIS, 14-2-1970
comment
devenir
cor(p)beau?
À JOÃO MONIZ PEREIRA
tu sais?
à Paris
tu ne dirais tu ne dirais pas ça
A Paris
il y a
la grandeur
et puis
le métro
et puis
c’est pas mal d’être mort à Paris
À ANTÓNIO PEDRO
thèse
hypothèse
thérèse
je suis prêt tu peuves sortir
À ANTÓNIO DOMINGUES
Eu tlim ciências
tu tlim matemáticas
ele tlim trabalhos manuais
nós tlim recreio
vós tlim senhora
eles tlim castigo
À ALFRED JARRY
à l’Ozenfant de la Poupiii-e
le jus de gloire est tari V.
montre-nous de la Tyranie
l’étang d’art sans glande élevé!
ADOZITES
REBELIÃO
bem dizes ai
com pulmõezites
ó chirivai
tocando apites
de mim para ti
de ti para mim
ófeguiderzin
OS ANOS FELIZES
eu tlim ciências
tu tlim matemáticas
ele tlim trabalhos manuais
nós tlim recreio
vós tlim senhora
eles tlim castigo
ESPELHOS
o que é o crocodilo?
o grande responsável
o que é o elefante?
o grande irresponsável
que pode nascer deles dois?
a flor
e diversos de: primas lagarto lao-tsé goethe hedy lamarr nicolau II etc etc
etc
CONTO DE UM SÁBADO DE ALELUIA
Uma sala onde funciona uma sessão de espiritismo em que tomam parte
cinco personagens. Há muito que se descobrira, ao fundo da porta, ajudada
por dois cães ovais de grandes proporções, a tarefa extraordinária de uma
multiplicação sem fim através dos quartos da casa, de resto iluminadíssima.
Ao fundo, uma cortina de pássaros azuis no sentido vertical reverberava
luzes mecânicas, entre o rolar de dois seixos enormes. E, efectivamente,
quando a porta se abriu, apareceu uma ravina profundíssima.
As encostas do abismo estavam cobertas de plantas gordas que deitavam
uma aguadilha pegajosa onde se iam prender as moscas que saíam daquela
casa. As flores de cada um tombaram no silêncio da noite catastrófica,
esquecida para lá da cortina. Nada parecia extravasar daquela ausência de
burburinho e os pingos de água, soltos como rimas do poema premeditado e
sem origem, retiniam na planície, em baixo, vazia de outras imagens.
O primeiro espírita era um grande coxo de olhos fitos e sem pálpebras
comendo permanentemente azeitonas e cuspindo os caroços para distâncias
incalculáveis. Era de resto sujeito a vertigens e costumava aconchegar-se
cuidadosamente para o seu acto habitual. O segundo era uma pulga-do-mar
omnipotente e carnívora, que apreciava esconder-se numa nesga do retrato
do dono da casa. Este, o mais velho, tinha cosido o braço direito na
balbúrdia das dobras da túnica verde que usava para simplificar uma nudez
exaustiva e porca. Havia também uma rapariga e um homem magro vestido
de preto que passava as mãos sobre um osso muito branco e limpo colocado
num estojo de veludo à sua frente.
As cinco personagens não estiveram muito tempo naquela conjuntura sem
que cada uma por si se recordasse da infância. A rapariga encaminhou-se
para a porta, afastando os pássaros azuis da cortina com um passo
cadenciado e sonolento. Na ravina, em baixo, dormiam duas mulheres
atravessadas uma por cima da outra. Ao vê-las, escorregou nos caroços do
coxo e foi estatelar os olhos no osso do coleccionador. Longa, laboriosa e
secreta conversação se entabulou entre os dois.
Não era a primeira vez que, depois de inúmeros e esfalfantes apelos, os
espíritos se recusavam a converter-se em imagem, seguindo-se então
colóquios intermináveis, frases minúsculas e breves, entre os assistentes.
Por exemplo, a pulga-do-mar omnipotente e carnívora já se havia instalado
no capilo-mensor do dono da casa, esperando prudentemente que o fumo
saísse do estranho maquinismo. Quem te avisa meu amigo é. O dono da
casa, realmente, não podia permitir, por causa da moralidade, aquela visão
cuidadosa. Assim, o primeiro personagem, ante a possibilidade de avaliar a
sangue-frio a trajectória do primeiro caroço, expelido pela manhã, volteou
sobre si mesmo duas vezes e especou-se de olhos fechados.
Uma nuvem escarlate sai da tua boca em direcção ao rio. Talvez te hajas
devorado a ti mesmo, primeiro só um braço, depois só o outro. Talvez a
imagem de uma cidade em chamas onde o excesso de circulação de
revoltos, na zona dos quartéis, atira para o céu todos os pesos médios.
Colo louco.
Apesar do outro que diz, duvida que o anão aos ombros do gigante veja
mais que o gigante. Na verdade não vê: não é da sua contextura. A visão do
gigante é peculiar, formam-na os seus tamanhos, o seu passo, o seu
conhecimento da floresta. Aos ombros do gigante, se chegou aí, o anão vê
anão o seu universo anão.
O Teatro da Crueldade
não é o símbolo de uma vida ausente,
de uma espantosa capacidade de realizar a sua vida de homem
É a afirmação
duma terrível
e de resto inelutável necessidade.
(a Antonin Artaud)
«Noite suja, noite de flores, noite de estertores, noite capitosa, noite surda
cuja mão é um papagaio de papel abjecto por todos os lados retido, preso a
fios negros, fios vergonhosos! Planície de ossos brancos e vermelhos, que
fizeste da tua fidelidade que era uma bolsa de pérolas unidas com flores,
inscrições disto e daquilo, significados para tudo? E tu meu bandido,
bandido, liquidas-me, bandido da água que desfolhas punhais nos meus
olhos, de nada te amerceias, água cintilante, querida água lustral! As
minhas imprecações hão-de seguir-vos durante muito tempo, como uma
criança assustadoramente bela agitando na vossa direcção a sua vassoura de
giestas. Em cada haste uma estrela e não é muito, não, chicória da Virgem!
Já não quero ver-vos, quero crivar de chumbos as vossas aves que já nem
folhas são, correr-vos da minha porta, corações de pepino, cerebelo de
amores. Basta de crocodilos no telhado, basta de dentes de crocodilo em
couraças de samurais, basta de jactos de tinta e renegados por todos os
lados, colarinho vermelho, olho de groselha, pêlo de galinha! Acabou-se,
não mais esconderei a minha vergonha, ninguém mais me acalmará, por
nada, por menos do que nada. Se as máquinas voantes estão grandes como
casas, como havemos de festejar-nos, alimentar o que nos vai roendo,
erguer as mãos sobre os lábios das cascas que falam sem fim (estas cascas,
quem as calará de vez?) Basta de segredos, basta de sangue, basta de alma
mãos para amassar o ar, doirar uma só vez o pão do ar, fazer estalar a
goma das bandeiras que dormem, mãos solares enfim, mãos geladas!»
A IMACULADA CONCEIÇÃO
as aias agem por elogio sob a viuvez do talco, centro de uma vela branca
como um dorso, larga como um farol de vastos estremecimentos. Acusados
de aspirar o ar puro dos montes, expiram os maquinistas. Há-os a pé e a
cavalo, há-os com passo de subúrbio, há-os já sem vida, sobre as fogueiras.
Um homem ergue lentamente um braço, deixa-o cair em cima da cabeça. O
cataclismo sai-lhe pelas esporas.
Embrulhadas demais, duas palavras irreversíveis quebram-me o aparo,
pouco habituado a estes seres. O ar gira uma chave ao desdobrar a mão que
lhe aponta o país que aparta os movimentos.
«Ungarito, digo eu, vê com que arte o amor retoma o brilho das cidades
cantábricas!»
Instalado à lareira do refeitório um pichel de ale quente sorvia lentamente
um homem. As razões porque o chamavam ignoradas eram absolutamente
capitão. Por fim juntou-se roseamente ao poste e soluçou a pensar na mãe.
Surgido do ar, leve como um a-fresco, um leão boiava na porta
Pendurada de uma janela de feltro com um ponto moral de quatro vóltios, a
garganta-milhafre presa pela espinha invoca o vidro ardente das
cremalheiras. À cega imunda consegui gritar que me transfusionassem um
pouco o osso do meu pé caído na luta. Do chão brotou, a arrastar-se, a
minha roupa primeira meu amor, que no nome te pareces comigo Do
eu me ver que se tratava do cesto e, puxando uma rima, caí em estado de
coma. Mas a ave que debica o vento, primo dos mensageiros do céu, veio
dar-me a sumptuosidade volumétrica de um olhar que certa fístula, traída
pelo ultimato autómato das madres ungarettianas, intercessiona ao largo das
ilhas sandwich na tentativa de murar gazuas e titilações aos olhos das
torneiras tradicionais que levitam o barrete frígio na mão.
ESTADOS
o automóvel verde
vestido de lilás
olhar é desaparecer
le vieux couple.
cadame.
le soleil.
O LORINHÃO ESCORREITO
SONETO
Falam de revolução
Com o novel editor.
Mexem muito a mão
No horror.
E tanta cortiça
Para se aparar.
Toma esta nabiça.
Vai buscar.
A guarda republicana
Passa ao longe a cavalgar.
O sacana.
Estar.
Vai devagarinho
Vai e não vai só
Leva a borracha do vinho.
Oh.
No meio do olival
Já perto da oliveira
Não parece mal.
Estrangeira.
O que é o suicídio?
É descer lentamente com o vagar de quem sobe.
O que é o amor?
É uma rua muito sossegada onde só se passou uma vez.
O que é a nobreza?
É o vento vindo dos bosques.
O que é o sonho?
É o simulacro da melancolia.
O que é a coragem?
É uma igreja dentro duma noz.
O que é um Galo?
É uma dilatação na parte posterior da cabeça.
O que é a razão?
É uma carta vinda de longe.
O que é a noite?
É um texto muito antigo entoado por uma multidão de sapos.
O que é o destino?
É o amor a todo o comprimento.
O que é a infância?
É uma ilha que emerge rapidamente.
O que é a Pintura?
É um banho turco prolongado.
O que é a monarquia?
É um saco cheio de pedras a pedir que o carreguem.
Que esperamos?
A tua esperança.
Que fazemos?
O dia.
O que é o nervoso?
É a lamparina de aço.
O que é a paciência?
É um alicate em dia de trovoada.
Que és tu?
Um fio que ato à volta da cabeça.
Não creio que haja muitos espectáculos, todas as manhãs, diz a história dos
zepelins.
Que se passa?
Fazemos amanhã
o que podemos fazer hoje
O pecado de Onan
cor de burro quando foge
Engole Angola
até ao osso
Mede a bitola
no fundo do poço
Dá-me energia
Deus dos Otários
e a maresia
dos òrinários
Sr. doutor
eu não estou boa
Este bolor
Que me atordoa!
Esta cidade
Não tem capacho
Ai que saudade
Do Cartaxo!
Aqui metido
Não sei que faça
estou invertido
No meio da praça
Um afrodisíaco
partiu o artelho
e o osso ilíaco
e o aparelho
os brancos Carrondos
os negros Mesquitas
os verdes redondos
Hititas
E os Pratas da Cunha
vendiam cartões
na ponta da unha
das monstruações
O meu monstruário
vem dos Orientes
em papéis de cenário
bem quentes
Ao fundo da rua
do Corregedor
a fase da lua
fazia horror
O homem é livre
Estamos tramados
le bateau ivre
forrados!
Da janela à rua
ingeriu por engano
uma velha nua
a tocar piano
A PRINCESA Evaporo-me.
O BOUDOIR AMBULANTE Logo que saia o Físico levam o saco para baixo.
champs et merveilles
démons et marées
au loin l’auteur s’est déjà retiré
(fim do canto). É muito bom ser-se apanhado por uma força que vem
igualmente de cima, de baixo, e dos lados. Fica-se quadro para sempre,
nesse lugar.
A RUA COM ROSTO NO HORIZONTE Se o lugar tem cara não pesa mais por
isso. Pesa tanto como um balão.
TODOS Fujamos!
a Anne Ethuin
e ao poeta
Stéphane Mallarmé
A PINTURA DESVIADA
Coleccionadores, Museus:
Sejam modernos!
Se têm pinturas antigas,
não desesperem.
Conservem essas recordações
mas desviem-nas
para que elas possam corresponder
à vossa época.
Para quê rejeitar o antigo
se podemos modernizá-lo
com algumas pinceladas?
Lancem à actualidade
a nossa velha cultura.
Ponham-se em dia e
ao mesmo tempo
em rara distinção.
A pintura
acabou-se.
Melhor é dar-lhe o golpe de misericórdia.
Desviem.
Viva a pintura.
O NORTE DA EUROPA
II
Estava tudo tão tremido ao longo do mar e a gente sentia que o sol nos
tocava com força. Levei nos braços alguma terra verde. Lá havia muito sal.
No seio daquela estátua mutilada no ventre pela cruz vermelha do asco mais
inocente.
Teve de vestir a bata branca, mesmo sabendo que o anestésico não chegava
para o bolo que te pediram e que eu comi durante três dias a mergulhar num
monte de areia triste, lá onde a vaga me comia. «Não implores», disse, e
curvei a cabeça até lhe beijar os pés que outros haviam já beijado outrora, à
saída dos teatros que dão para a Grande Perspectiva Nevsky. Distribuídos
os gorros aos transeuntes, regressavam a casa, quando não voavam atrás da
troika da Condessa Nemus, num grande ladrar de cães com manguitos atrás
das orelhas e muitas bocas abertas a ver. Mas que grande porra, disse o
velho, e ele sabia que era isso assim tal e qual e que não havia mais nada
para dizer nunca mais. E porque tudo me era indiferente desatei os sapatos e
corri de pés nus pela areia dentro a bater palmas e a uivar como um lobo.
III
Era principalmente música o que nos chamava pois ninguém tinha posto de
radiofonia naquela zona que era a mesma mas repetida de tal forma que a
noite nos surpreendeu com uma cor ligeiramente azulada nos tornozelos.
Chamado o médico e retiradas as grades começámos a subir. A primeira
nuvem, ligeiramente descaída na ponta, não nos deu o necessário informe,
mas já a segunda, muito bem pintada, indicava o norte, o sul, o número do
telefone, a certidão de idade e o Grande Beijo, praticado de pernas para o ar
e em estado de nobreza absoluta.
Um círculo vicioso. Estavam lá as cores todas. E gritámos. E ainda corria
alguém vago à frente dos nossos gritos-gemidos. Rosa eu sei que
havia uma cor-de-rosa. Como no tecto da casa passavam aves e arneses, no
fim do verão, quando as chuvas começam. O mesmo fenómeno, afinal.
CARTA DA GUERRA DE ÁFRICA
À chegada, foi preciso tirar o alfinete, que rolou pela encosta com um ruído
medonho. Estávamos exaustos, sem papilas, e à contagem faltaram três: o
Mudo, o Quasetudo e o Avilez.
Escrevemos às famílias, a comunicar.
O que casou em Anha e veio logo para baixo, sem sequer se despedir dos
cães, está a ficar anarca da cabeça. Já depois do pedido de dois dias para ir
a Norfolk, disse ao Tudo, ao Quasemudo e ao Chimpòzé que é um arrablo e
ninguém lhe faz o ninho. Os outros bem.
Breyten Breytenbach
meu doce e generoso poeta posto a ferros
neste momento em que por toda Angola apeiam das suas bases de
obscurantismo e de intolerância pretensiosa
estátuas talhadas como a mais espúria «arte artística»
a começar pela estátua do Cão
«que foi o primeiro a chegar ao rio Zaire»
como se o rio Zaire não estivesse ali há montes de anos para o ver chegar a
ele
e à sua estatura de português funesto
(audaz pois com certeza!
valoroso oh quanto!)
com nas pernas de herói navegador a tenaz indecente que havia de apertar
todo o povo negro
Breyten Breytenbach
não sei se na enxovia podes falar com alguém
se no teu cárcere há uma janela
de onde ao menos se veja o azul do céu ou um ramo de árvore alta
as notícias que temos contradizem tal hipótese
deves ter sido lançado no escuro irrespirável que é o que mais vai às
cabeças dos teus juízes
mas pela fresta donde sopra o vento
nos olhos do insecto vindo da imensidão livre até às mãos do recluso
tenho um recado para ti
uma história para rires e depois cuspires de nojo
no primeiro que te aparecer a falar de justiça
LUIS DE GÓNGORA
The breathing geese of the eyes
MÁRIO CESARINY
Cise z blednouciho ráje
ARNO T BUDIK
The whore of gizeh
JOHN LYLE
Scherpe verblindende stralen
LAURENS VANCREVEL
Góngora re-traducido 6 veces
JOSÉ-FRANCISCO ARANDA
Dos à l’est, la boule…
JEAN-CLARENCE LAMBERT
Braises de Jésus
(traduction tout à fait paranoiaque et vaguement rousselienne
du sonnet de góngora, via cesariny
de vasconcelos, dans le style ancien)
PIERRE DHAINAUT
Saddling the dragon
And if the tail wags the dog, it’s the same thing.
Hardluck Street is no place to come to —
the door’s open, you go in, you’re expected.
KEN SMITH
A IRMÃZINHA DO PAPA
O vento varre o tédio através das árvores do ódio, deixa para trás todos os
pássaros. O hálito morno dos lobos lambe a entrada do barco do sol e além
disso que posso transportar na serrilha dourada duma esponja, buraco
espremido de crostas de luz roubada a espelhos possessos de luz ardente? O
rumor da lua, ouvem-no os cavalos-marinhos que serão lançados em tendas
polares à luz de rubis de ovas de peixe fundidas uma a uma enquanto o
turbilhão da mala-posta passa como fósforo aceso ante os olhos de um cego,
como onda que se abre para libertar a libélula tirânica crepitante no vácuo
causado pela rapidez de uma seta lançada através de uma selva de ideias
eventualmente surpreendendo o olhar da justiça.
ANTÓNIO AREAL
da inteira rotação
tal sei o que não tive
sei o que te faltou
quando o pólo mudou
agulha e turbilhão
ascensão e declive
e tu vara da mão
da manhã que colhemos!
ia e voltou
à boca do ar
com a boca a brilhar
de alegria
Bom.
O que eu queria era ser um benito
Desses entregues ao fogo
Atados até à nuca
Para nas chamas torrado
Gozar como uma maluca.
On ai me on por delante
On ai me on por detrás.
La noche se puzo fria
On ai me on. Que será?
Ni tu ni yo. Solo aquel
De la Bestia Ladradora
Tirado como hidromiel
En la Tumba de Eleonora
«Vicente! Vicente!»
É o mais que diz o corvo lusitano
Quando o provoca gente que passa,
Passa, não maça
Nem pretende ir morrer a Baltimore
Cum «um grave e nobre corvo dos bons tempos ancestrais»
(Dos bons tempos ancestrais!)
«Num alvo busto de Atena que há por sobre os meus umbrais»
E a borracha do álcool e dos sais
«No veludo onde a luz tem vagas sombras desiguais»
Já sem pinga de soro para o jorro sonoro
Do «amanhã também te vais»,
Quando verdade é que em esse bar sujo daquele bairro sabujo mais próprio
de marujo que de escritor
Salvo o patrão que mancava e ao balcão se agarrava, dali lançando,
sempre manquejando, o apelo famoso, de macho defeituoso
Que urdia pastoso quando o relógio adrede, um pêndulo de parede que mais
parecia ferro de mafamede,
Batia com afoite as 11 da noite:
«On time! That’s enough my lords, score no more! I’m
Accursed enough and from afar with such a crew into my only mine
Eleonora’s Bar em Baltimore!
E vou lançar o cão sem o açaime
If you don’t take your mate and go ashore
And ashes and coffins no more!»
Difícil era ver qual o mais bêbedo
E com mais medo de cair ao chão
Ainda que natural que fosse o, de falsete, corvo, velho grumete,
Dada a posição que ocupava
E não ser a primeira vez que rasgava
O «ar denso como cheio de incenso» até ao tapete
Sem que ninguém ajudasse, sequer por topete,
Ao repor na cantilena
Do peta do ave preta sobre a cabeça da Atena
Também ela mais bêbeda, muito mais, do que já estava
Antes de ir para os Estados Unidos,
Nação cuja fundação ergue a Memória
Da maior bebedeira da História.
De Lógicos e Sofistas
Fiquei todo a abanar
As vezes falta-me o ar.
E sinto coisas sinistras.
Eu anónimo e avulso
Aldeão do mundo a haver
Eu o mim de mim expulso
O mim que se vá lamber.
E do anel cabalista
E outras dobras de medo
Que a marujada ensaísta
Me anda a tirar do dedo,
E no Epithalamium fiz
Que pudessem saber
Que feliz ou infeliz
O sou como mulher
Na literatura, ou isso,
Que tudo o mais é conforme
O lado para que dorme
O rapaz de serviço.
E para homossexual
Não sou o António Botto
Nem o Raul Leal.
O Botto para mim é pouco
E o Raul é de mais.
A-ã-ã-ã
O vento, lá fora
Ou então:
Sedia-m’eu n’Ermida de S. Semeão,
Veio o velido ao meu balcão.
Veio, velido, ao meu sentido.
Mãe! Dou-lho ou não?
Menina e moça me levaram de casa de meus pais para longes terras… Que
causa fosse então daquela minha levada, era ainda pequena, não a soube.
Esqueceu a de Braga.
Mas em Dakar não haverá muita abra
Nem bastante oração
Para tanto pormenor e tanto cabrão.
U seria D. Fernando
Saxe Coburgo Caraças
De La Serna y Punta y Bando
De Ratones De Las Casas
Ou seria o anti-génio
Rebuçado de anti-cristo,
Proémio doutro proémio
Que tem nada a ver com isto
Caiu-lhe da algibeira
A lapiseira breve.
Dera-lhe o pai. Está inteira
E boa a lapiseira,
Ele é que já não escreve.
De outra algibeira, alada
Espuma de porto covo,
A brancura manchada
De um lenço Foi a criada
Quando ele era mais novo.
A brisa é o lago a ir
A uma ideia de mar.
Não sei se me ate a rir
Ou desate a chorar.
É ouvi-lo melhor
Do que o dirias.
O que és não vem à flor
Das caras e dos dias.
A Nini Bebezinho
Do Ibi
Dá Ofeli
Bjinho?
Querida Bebezinho:
Ainda fazes muita troça do Nininho? (A. de C.)
Dêem-me, onde aqui jazo, só uma brisa que passe,
Não quero nada do acaso senão a brisa na face
Dêem-me um vago amor de quanto nunca terei
Não quero gozo nem dor, não quero vida nem lei.
Ex.a Snr.ª ( )
Um abjecto e miserável indivíduo chamado Fernando Pessoa
Meu particular amigo, encarrega-me de lhe comunicar que
Está V. Ex.a proibida de:
Cumprimenta V. Ex.a
Álvaro de Campos
eng. naval
O Campos
Em podendo fazia-o mais de uma vez por dia.
Ficavam-lhe os olhos brancos
E não falava, mordia. O Alberto
É mais por causa da fotografia
Das árvores altas nos montes perto
Quando passam rapazes
O que nem sempre sucedia.
Apanhado o sapo, logo o guardareis numa arca ou numa caixa; como está
escrito: «Não tereis em horror a matriz da Virgem». E logo o sapo começará
aos saltos no interior da caixa, e isso é excelente presságio. Vinda a manhã,
levar-lhe-eis uma oferenda de ouro e, se possível, de incenso macho e de
mirra. Soltai então o sapo com muitas mostras de respeito e homenagem,
deixando-o em liberdade aparente. Pode, por exemplo, ser colocado sobre
um edredon, ou numa colcha de muitas cores, guardado por uma rede.
(Pausa)
Hacen?
Fatal.
No hacen?
Igual.
Para que
’Sforzar?
Todo es
Hurgar.
Vem, Vulva antiquíssima e idêntica
Vulva Rainha nascida destronada morta
Vulva igual por dentro ao silêncio, Vulva
Com teus pentelhos lantejoulas rápidas
No teu Olho franjado de infinito.
Vem mortamente
Vem pesadamente
Vem sozinha, solene, com as mãos caídas,
Ao teu lado, vem
E traz as camas longínquas para o pé das ureteras próximas
Faz da montanha um bloco só do teu corpo
Funde na regra tua todas as águas que vejo
Todos os nervos com que és escura por dentro
Todas as luzes brancas como noivo e noiva
E deixa só um mu, e outro mu, e outro
Na distância imprecisa e subitamente perturbadora
Na distância subitamente impossível de percorrer.
Nossa Senhora
Das coisas impossíveis que procuramos em vão
E que doem por sabermos que só assim as teremos,
No espelho baço do aposento não nosso,
Madre do Deus das terras infelizes
Mater Dolorosa das angústias dos tímidos
Sancta Virgo Virginum das pernas dos prisioneiros
Turris Eburnea dos olhos dos paneleiros
Sancta Dei Generectrix dos filhos das meretrizes
Vem e arranca-me
Raul Leal
1 Palavra ilegível.
Dezembro de 1916
Depois, por muito grandes que tenham sido os meus sofrimentos ainda
não correspondem à grandeza Lúgubre de Toledo. É uma Tragédia
Formidável que eu tenho de viver ainda. Isto é lógico, é terrivelmente
lógico! Para este inverno pressinto coisas espantosas. Será a Sífilis que
acabará de vez com a Carne? Tenho sentido já sintomas sombriamente
estonteantes de Loucura que o Poder do meu Espírito tem conseguido
dominar; em Loucura agonizarei? Ou perdido no Gelo e na Fome,
suportarei um delírio cem vezes mais horrível? Seja como for só vejo
Trevas e Trevas de Vácuo
Promete-me o Fernando Pessoa um Triunfo Glorioso para daqui a nove
anos. Sim, mas isso é se eu viver. O meu horóscopo não indicará agora uma
época possível de crise que poderá ser mortal? Podem-se reunir agora os
mais pavorosos aspectos astrológicos que só no caso de não indicarem
morte, o que talvez não seja fácil de averiguar, possam então ser seguidos
de outros que pressagiem Luz, que pressagiem Glória! E que estou
atravessando um grande perigo há dois factos que o provam bem. O
Fernando Pessoa só quis falar-me de Julho e foi realmente a partir de
Agosto que a minha vida se afundou muitíssimo. Além disso,
aconselhando-me com toda a alma a não partir para a guerra você disse-me
que eu não devia de modo algum «tentar o Destino». Ora se o meu
horóscopo não marcasse um aspecto Terrível havia necessidade de você
falar-me assim, procurando ansiosamente evitar-me um perigo excessiva
mente iminente? Seja como for, por tudo lhe peço, meu querido Fernando
Pessoa, que me tire dessa incerteza. Quer me diga coisas horríveis quer
acalme os meus Tenebrosos pressentimentos, diga-me com toda a
sinceridade, sem evasivas algumas, o que posso esperar, essa incerteza em
que estou é que é para mim apavorante. E olhe que espero tudo cheio de
audácia, quase com volúpia. Não quero despedaçar-me em Vácuo, quero
tornar-me o Vácuo, mas como pressinto que à Prova Máxima só agora o
meu Espírito se irá submeter e como apesar de tudo confio ainda na Vitória
é com volúpia que quase a desejo para que a Minha Grandeza se imponha
em Infinito! Muitas vezes senti, em tempos, terrores convulsionantes de
Astral, tudo era espectros em volta para me oprimirem mas tanto tanto me
tocavam a Alma que enfim era Ela que os absorvia num gesto violento de
Morte! A atracção hipnótica crescia tanto, tanto que o Vácuo-Fantasma e eu
tornávamo-nos um só Eu! E então não era mais despedaçado pelas trevas
porque tornava-me as próprias Trevas. Elas tanto me queriam esmagar que,
entranhando-se em mim, me transmitiam todo o seu Génio divino, todo o
seu Poder Incomensurável em que todo Me Transfigurava. Trocavam-me
tão de perto para me despedaçarem que se tornavam Eu. E assim, por
momentos, de vítima de Deus eu tornava-me Deus! Era a sua acção
excessiva que ele Divinizava. Não será esse o Presságio Glorioso do que
hoje se passará? De vítima sangrenta da Morte não me tornarei a própria
Morte dominando a Vida? Sim, o embruxado se tornará Mago! Nisso
confio e portanto não temo a Prova Máxima que mais Engrandecerá o Meu
Espírito, Infinitizando-o
Adeus, meu querido Fernando Pessoa, abraça-o
seu muito amigo e constante admirador
Raul Leal
2. Plaza de S. Gines
Toledo
Meu Querido João Gaspar Simões
Seu, muito
Fernando Pessoa
1 «Uma Infância no Inferno» é o prefácio autobiográfico que Crowley escreve para o seu livro A
Tragédia do Mundo publicado em Paris em 1910, com proibição de envio de exemplares para
Inglaterra e para os Estados Unidos. Tem, então, 25 anos de idade.
Snr. dr. João Gaspar Simões
Trully yours
Álvaro de Campos
Quanta tristeza
Sem o perdão
De chorar, pesa
No teu coração.
E ó vento vago
Das solidões
Traz um afago
Aos corações.
P.S. 2 Dá-me um grande intervalo sempre que penso que o dr. Casais
também censurou ao «Prezado Camarada» a publicação da Mensagem. E
que publicou com pompa e circunstância uma «Tábua Bibliográfica» do
punho do meu irmão, escrita na intenção de limpar com ela o rabo mal fosse
à casa de banho. Em vez disso, deu-a às casas de banho da revista
«Presença», onde o Casais a apanhou já usada, reimprimindo dela a parte
mais etc., se não francamente de colapso mental parietal matinal.
Seu, sempre,
A. de Campos
O copo nupcial.
O carro.
A casa.
10 + 3, 10 + 7. Lua em alemão.
O BERLINDE BERG
Resolução da antinomia:
O BERLINDBERG
LEVE
Leve
o roupão que foste
e o horror de sê-lo
Leve
o traço vermelho
no cabelo
Leve
o em forma de velho
rosto aflito
Leve
o jasmim e a neve
sobre o rito
Arrumaram-se à luz de um candeeiro
a recolher esmolas.
Mas quem passa, passa. Nem sempre há dinheiro.
É assim mesmo! Bolas!
A marcha
a fome
as mãos vagas
não resistiram
e já a Ásia (margem direita)
procede a golpes
de inverno ciclone
E
eis
o Gás
UR
o homem
ao vosso gosto
Campos
olhos
vendas
cortejo
querem dançar
o Circo Casamento
É PRECISO
QUEBRAR
O ARSÉNICO
PASSAGEM DE CRUZEIRO SEIXAS EM ÁFRICA
Este é o segredo
para todos os usos
Eu mastrucharco
tu mastrucharcas
ele mastrucharca
nós mastrurcharcamos
vós mastrucharcais
eles mastrucharcam
Eu charcomastrava
tu charcomastravas
ele charcomastrava
nós charcomastrávamos
vós charcomastráveis
eles charcomastravam
Eu mastrucharquei-te
tu mastrucharcaste-me
ele mastrucharcou-se
nós mastrucharcámos
vós mastrucharcastes
eles mastrucharcaram-se
Eu charcomastrarei
tu charcomastrarás
ele charcomastrará
nós charcomastraremos
vós charcomastrareis
eles charcomastrarão
Eu mastrucharcaria
tu mastrucharcarias
ele mastrucharcaria
nós mastrucharcar-nos-emos
vós mastrucharcar-vos-eis
eles mastrucharcar-nos-ão
Se eu te mastrucharcasse
se tu me charcomastrasses
se ele se mastrucharcasse
se nós nos charcomastrássemos
se vós vos mastrucharcásseis
se eles se charcomastrassem
Eu desço
tu sobes
ele sua
nós sabemos
vós colheis
eles salgam
Eu vi
tu viste
ele Victor
nós vimos
vós vistes
ele Victor
Eu vendi
tu vendeste
ele vendeu
nós vendámos
vós vendestes
ele Victor
Eu ventretenho
tu ventretens
ele ventretem
nós ventretemos
vós ventretendes
eles ventretêm
Eu ventretinha
tu ventretinhas
ele ventretinha
nós ventretínhamos
vós ventretínheis
eles ventretinham
Eu ventretive-te
tu ventretiveste-te
ele ventreteve-se
nós ventretivemos-te
vós ventretiveste-vos
eles ventretiveram-te
Eu ventreter-te-ei
tu ventreter-me-ás
ele ventreter-se-á
nós ventre-ternos-emos
vós ventre-ternos-eis
eles ventreter-se-ão
Se eu ventretivesse
LITERATURA FRANCESA
sala 1
o roman o
o roman á
o roman aus
o roman cebo
o roman ce
o roman tismo
o roman rolland
o roman cefálico
o roman do antigo
o roman iconográfico
o roman off side
o roman of course
o roman da-mo
o roman comunado
o roman to de luces
o roman zatzigana
o pobre romanco
o feliz romano a mano
o roman chado de espuma
o roman ray
o roman uel
sala 2
Entro numa casa onde parece que vivo. Falo com o meu companheiro de
quarto. A vida é um longo hábito de ruas em liberdade.
Surge um guarda sobriamente vestido, sem sinais que o aparentem às
polícias que há, apenas, no boné, umas letras a branco, indecifráveis.
Deixou na rua uma motocicleta enorme, e convida-nos a acompanhá-lo.
Subo para a moto tomando o guiador. O meu companheiro instala-se atrás
de mim, e, atrás dele, o guarda. Há confusão por causa da colocação dos
pés. Entramos numa capelista onde, além de outras velhas bisonhas, está
uma mulher de aspecto simples, vestida de preto, atrás do balcão. O guarda
avança, finca o cotovelo no balcão e a mão na cara, e diz: a senhora é
amante de Isidore Ducasse? A velhota reflecte um ar confuso, mas
divertido, agradado. Se não a amante, continua o guarda, uma das suas
amantes? A velha desapareceu. Todo o décor toma um ar de ameaça, de
local implicando perigo de vida e desencadeia-se grande perseguição. Nem
eu nem o meu companheiro sabemos quem são os que nos perseguem, nem
porque o fazem, mas vemos que estão armados e implacavelmente
decididos a abater-nos. Subimos e tomamos pelo interior de um túnel que
atravessa uma fábrica de panificação. Lá dentro, corremos. À nossa
passagem, tudo adquire um tom de extrema violência. Chegados ao telhado
mais alto da fábrica, estamos numa pequena povoação marítima. Ar
despaísado, de pequena praia no inverno. Há um hotel e carros eléctricos
passando junto ao mar, vindos do alto de uma rampa muito íngreme, pela
qual descemos a pé. À nossa direita arde em chamas miúdas um edifício
que parece «descender» da fábrica cujos telhados atravessámos.
Eles deitaram fogo ao hotel, oiço dizer, ou dizerem-nos. Ganhamos a
grandes passadas o fim da rampa. No cimo desta, surge a grande velocidade
um carro eléctrico e desencadeia-se um tiroteio cerrado entre atiradores
escondidos. É como num acaso que estamos envolvidos naquela refrega,
talvez ela não seja contra nós mas sucedida assim ao nosso lado. Estendo-
me no chão da calçada junto de outros corpos que já ali encontramos,
mortos. Defendo-me das balas puxando contra mim um desses corpos.
Ligeira sensação de que esse corpo vive e de que estou assassinando
alguém. Findo o tiroteio, levanto-me e começo a subir a ladeira sozinho. No
alto da rampa surge velozmente o cartro eléctrico não outro, o mesmo, o
de há bocado, como num filme projectado segunda vez e que repetirá no
todo e no pormenor a cena há momentos vivida. Agora, porém, estou só.
Corto por uma rua à minha esquerda e vou dar a um jardim de areia lisa e
longos canteiros verdes. Em baixo, o mar como que decifra remotamente a
posição das casas que orlam o jardim e a sua arquitectura de deserto.
Num paredão que avança pelo mar, um pequeno pavilhão hexagonal. «O
casino de inverno», penso eu. Entro. É um aposento único, circular, paredes
de tijolo e escassos metros de raio. Percorro até ao seu centro o chão
descarnado. Numa das mesas encostadas à parede, um criado sonolento.
Mas lá fora, em terraço sobranceiro ao mar, há outras mesas, murmúrio de
vozes, certa agitação. Um grupo de pessoas aponta para o mar em baixo. No
fundo da água, um afogado de olhos escuros e abertos, a face pálida, o
corpo dobrado em dois. A seu lado, com a lentidão dos corpos submersos e
agindo convencionalmente, um médico procura reanimá-lo, põe-lhe tubos
de borracha sob a camisa aberta. Os olhos do afogado fitos em mim são o
final deste sonho.
Tive sonhos de voo durante muitos anos, todas as noites, desde rapaz.
Narrá-los a todos ou em quantidade resultaria inútil porque não transmite e
porque a única coisa maravilhosa, fantasticamente acontecida, era o próprio
voo. Uma vez, sonhei que acordava no alto da escadaria que dá acesso ao
Ateneu Comercial de Lisboa (frequentei em menino o ginásio do Ateneu).
«Acordado», precipitei-me de novo no espaço. Não era suicídio, era desafio
certo de ganhar: em vez de estatelar-me no solo, que eu julgava ser já o do
chão real, segui rumo ao espaço exterior.
Em criança, sonhava com um recanto escuro da oficina do meu pai onde
havia um fole accionado a pedal, e, numa velha armação de madeira, um
grande pote de barro para onde escorriam as decantações ácidas da prata e
do ouro fundidos, o total ladeando uma chaminé que dificilmente expelia o
cheiro dos resíduos um ano conservados em água suja. Nessa chaminé, o
meu pesadelo criava uma aranha, ou algo que a escuridão revelava assim,
poderia ser também uma presença humana, para a qual eu era
irresistivelmente atraído. Mas o horror, aqui, era o preço da curiosidade,
desfeita, sempre, pelo meu acordar antes de atingida a zona maléfica. Outro
é o pesadelo que pode matar, como tive pouco depois da morte de António
Maria Lisboa:
uma escada subterrânea, branca, entre paredes de azulejo branco. Um
cheio a desinfectante, como num urinol, ou de hospital votado às mais
cruéis doenças. No fim da escada, um aposento em forma de rectângulo,
fechado, não muito espaçoso, de azulejo branco também as paredes, talvez
o tecto. Utensílios grosseiros, como um bacio colocado no fim da escada,
aumentam a brancura de casa mortuária ou de enfermaria sem esperança.
Naquele ambiente cruelmente esquematizado pelos humores do meu
cérebro, pairava, digo bem pairava porque podia deslocar-se no espaço, sem
peso, como um ( impossível escrever a palavra adequada!) olhava-me
medonhamente decomposto, descarnado, podre, erguendo os braços na
minha direcção, esperando que eu descesse, fosse ter com ele, atravessasse
o último degrau, o «cadáver» vermelho negro e branco do António Maria
Lisboa. Ao acordar, o coração batia-me tão forte, o descontrole era tal, que
percebi com o próprio corpo que se tivesse descido o último degrau, aceite
em mim a visão pavorosa, decerto não teria regressado.
Filho de boa família: desta vez era um marinheiro que estava sempre
com tanto sono que nunca fazia a continência.
mandaram-no então para santa clara a ver se teria remédio.
o remédio foi que assim que lá chegou pegou em todas as camas da
camarata, pôs umas por cima das outras em forma de couraçado, meteu-se
dentro e desatou a dormir. Ainda por cima, colocou nas portas daquela
enfermaria uma invenção campainha-maquinismo-vassoura que batia nas
pessoas que tentavam entrar. Os enfermeiros porém entraram pelas janelas e
foram lá saber o que era aquilo.
não mo pergunteis, disse o marujo. E virou-se para o outro lado.
muito excitados, os enfermeiros foram comunicar aos superiores, que
foram contar aos amigos, que foram dizer às irmãs. Estas resolveram
aparecer de repente.
quando o carro eléctrico foi embora formavam uma grande bicha à porta
do hospital. Entradas na enfermaria o maquinismo não batia em irmãs
deram duas voltas à praça, a ver como era dentro. Era exactamente como se
supunha que fosse, visto de fora. Para tentar outra coisa resolveram saltar à
corda, ao avião, à estrela e acamaradar. Fizeram de índios, de polícias, de
cantoras, de tudo enfim que lhes veio à cabeça. O entremês findou com a
execução a várias vozes terríveis, do improviso seguinte:
marinheiro marinheiro
diga-nos lá o que tem
as barbas do enfermeiro
por aquela porta vem
As aias agem por elogio sob a viuvez do talco, centro de uma vela
branca como um dorso, larga como um farol de vastos estremecimentos.
Acusados de aspirar o ar puro dos montes, expiram os maquinistas. Há-os a
pé e a cavalo, há-os com passo de subúrbio, há-os já sem vida, sobre as
fogueiras. Um homem ergue lentamente o braço, deixa-o cair em cima da
cabeça. Está nisso desde a infância, uma organização comercial leva-o às
feiras de Maio, semi-nu. O cataclismo sai-lhe pelas esporas.
À claridade sóbria
insistente e velada
o cargueiro desliza.
E o nada
do pequenino ponto
que vai ser
pontilha a face lisa
da enseada
E ela
a água que tem
o seu correr
abre-lhe o seio suave
de mãe fria, de mãe
que o não pode saber
Segue o veleiro rumos bem seguros.
A vela é branca e alta de comando.
Do outro lado do mar há um prolongamento
Que guarda qualquer coisa da brancura
E da serenidade clara e firme.
Há mesmo olhos cerrados que aguardam
E uma réstia de cais que está vazia.
Salas de Permanência
Nenhum mistério
a mão trabalha
e também a doutrina
Na Cidade
estrépito contra estrépito
Raimundo observará
O cavalo
Halifaz
Os pés na terra
o menos possível
Oferecei-vos
o
in-com-pa-rá-vel
Uma árvore
de tal modo
o mar
Do Amor
Cor
de Muralha
Todo o homem
é capaz
II
Do que eu primeiro gostei no seu poema, Nemésio, foi poder lê-lo sem
gralhas.
Ao invés do meu texto, saído a 3 de Janeiro também com Natália,
o poema Nemésio vai como gato aos olhos do leitor
(sem penas de gralhas nas unhas)
enquanto para mim é gralha de meia-noite e sol e sombra.
ALLEGRO BARBARO:
Não sei como está o punho da Natália
(não tenho olhado ultimamente)
os meus não são PS
são só meus (e imagine com que tristeza o digo
pois PPDPCPCDSMRPPBR e outrens também não são)
são uns punhos que andam para aqui sem botões
e tanto sofrem a abrir como a fechar
Dó ré mi fá
mi ré dó
MODERATO
(que é o tempo
com que Fernando musicou versos meus no tempo da ilusão menina e moça
1946):
o meu ex-mestre Graça escreveu mesmo:
uma carta!
chegada ontem pelo correio à noitinha
Pois muito bem (VELOCE FURIOSO)
eu, essa carta, não a abri, nem abro.
Eu, dominei a custo uma grande gana
de pôr noutro envelope e devolver intacto ao remetente.
Eu penso sinto e creio
que já não é o tempo
da carta particular ao particular
eu apenas disse o que penso dos mutis
não mandei carta alguma ao meu ex-mestre Graça
produzi um texto público que ou tem resposta pública
ou então deixem estar não se incomodem
POCO ANIMATO:
Fusa e semifusa
(Vale de Zebro);
transformada em almôndega a criança recebe o prémio slot-machines
criança trabalhadora contra criança facho.
ALLEGRO JUSTO:
O Reino do Pai
O Reino do Filho
O Reino do Espírito Santo
Tudo
Só
Homens.
Já cansa a cona, caramba.
Out. 89
NOTAS
BIOGRAFIA
NOTAS
MANUAL DE PRESTIDIGITAÇÃO
PENA CAPITAL
PENA CAPITAL
A 1.ª ed. de Pena Capital tinha a seguinte dedicatória: [N. do E.]
A MINHA MÃE
MERCEDES CESARINY ROSSI
ESCALONA DE VASCONCELOS
MÃE DE POESIA
Afinal, entre a dúvida razoável e a brincadeira não menos razoável, Mário umas vezes recitava
e assim foi reproduzido o poema com o «querer» e outras com o «dever». Aqui decidi escolher
a segunda, que foi a primeira e por muito tempo a única. [N. do E.]
Autoractor
Não aparece na 1.ª ed. [N. do E.]
ESTADO SEGUNDO
A primeira versão deste conjunto é publicada na 1.ª ed. de Pena Capital, com o título «Pequeno
Diário de Um Piloto de Guerra» dedicado «a Antoine de Saint-Exupéry». [N. do E.]
PLANISFÉRIO
Dedicado na 1.ª edição «À Maria Helena e ao Arpad» [N. do E.]
POEMAS DE LONDRES
Visto a esta luz (Walton st.); Outra Coisa (Walton st.); Olho o Côncavo Azul (Walton st.);
Piccadilly Circus (Walton st.); Being Beauteous (Walton st.); Shaftesbury Avenue (Walton st.);
Ode a Outros e a Maria Helena Vieira da Silva (Walton st.); Poema (Fullan Road); O Inquérito
(Edith Grove); Atelier (Sidney st.). [N. do E.]
Being Beauteous
Dedicado na 1.ª edição ao «Luiz Pacheco, poeta da cama». Lembre-se aqui a dedicatória de Luiz
Pacheco na 1.ª edição de Comunidade na Contraponto: «Ao Mário Cesariny de Vasconcelos.
Poeta do corpo». [N. do E.]
Nomenclatura para depois do Último Katun
O poema está dedicado a Emilio Adolfo Westphalen, poeta surrealista que, com o seu amigo
César Moro, organizou em 1935 a primeira exposição surrealista em Lima, e que foi adido
cultural em Lisboa de 1980 a 1981. [N. do E.]
NOBILÍSSIMA VISÃO
NOBILÍSSIMA VISÃO
A 1.ª edição está dedicada «A FERNANDO LOPES GRAÇA / meu primeiro mestre», e leva
anteposta aos poemas a seguinte citação de Georg-Christoph Lichtenberg: «Na mesa de jogo
encontrava-se uma mulher muito alta e magra, que fazia tricot. Perguntei-lhe o que se podia
ganhar. Ela disse: nada! E quando lhe perguntei se se podia perder alguma coisa, ela disse: não!
Este jogo pareceu-me muito importante». [N. do E.]
A CIDADE QUEIMADA
A CIDADE QUEIMADA
Consultando as edições da poesia de Mário Cesariny, encontramos várias versões de A Cidade
Queimada. Algumas com os poemas-colagem (todos com os textos em francês), e outras com a
forma do poema tradicional e em português (como a reproduzida no capítulo final «Outros
Poemas» desta edição). Mas no espólio da Fundação Cupertino de Miranda de Vila Nova de
Famalicão encontra-se uma versão de um livro da Assírio & Alvim em primeiras provas que tem
na primeira folha, com corpo de letra de título geral do livro, A CIDADE QUEIMADA, e, na
página seguinte, com o mesmo corpo e também a representar um título geral, O NAVIO DE
ESPELHOS. Depois, o livro divide-se em duas partes: O NAVIO DE ESPELHOS (que inclui o
poema do mesmo título) e A CIDADE QUEIMADA. O livro, assim estruturado, nunca se
publicou. [N. do E.]
[sur la mort ]
Paris, 1947. Publicado na monografia Mário Cesariny editada pela Secretaria de Estado da
Cultura, Lisboa, 1977.
[le vide ]
Paris, 1947.
[grâce à de hautes complicités ]
Paris, 1947. Publicada a tradução portuguesa no livro Planisfério e Outros Poemas, Lisboa:
Guimarães Editores, 1961.
À Alfred Jarry
Paris, 1947. Publicado na revista surrealista inglesa dirigida por John Lyle,
TRANSFORMACTION, 1973.
Rebelião
1947. Publicado em 19 Projectos de Prémio Aldonso Ortigão seguidos de Poemas de Londres,
Lisboa: Quadrante, 1971.
Publicado inicialmente no n.º 4 da revista Cronos com algumas variantes, entre elas o título,
«Projecto de Rebelião». [N. do E.]
A Antinomia Em 1947
Com Alexandre O’Neill. Idem.
Adozites
Com António Domingues, Alexandre O’Neill e Fernando de Azevedo, 1947. Parcialmente
publicado na Antologia Surrealista do Cadáver Esquisito, Lisboa: Guimarães Editores, 1961.
Os Anos Felizes
Com António Domingues, 1947. Publicado em 19 Projectos de Prémio Aldonso Ortigão seguidos
de Poemas de Londres, Lisboa: Quadrante, 1971.
Espelhos
Com Alexandre O’Neill, 1947. Publicado na Antologia Surrealista do Cadáver Esquisito, Lisboa:
Quadrante, 1971.
Que Concluir?
Com Alexandre O’Neill, 1948. Idem.
André Breton
1949. Traduzido de Antonin Artaud, Victor Brauner e André Breton. Lido na Noite dos Poetas
efectuada com António Maria Lisboa nas salas da I Exposição dos Surrealistas, Lisboa, Julho,
1949. Publicado em A Intervenção Surrealista, Lisboa: Editora Ulisseia, 1966.
A Imaculada Conceição
1948. Escrito na intenção de continuar a experiência tentada por Breton e Éluard em L’Immaculée
Conception, de 1930: mania aguda, paralisia geral, demência precoce, etc. Lido pelo autor na
sessão que intitulámos de O Surrealismo e o Seu Público em 1949, Casa do Alentejo, Lisboa, 6-5-
49. Publicado em A Intervenção Surrealista, Lisboa: Editora Ulisseia, 1966.
Estados
Cerca de 1950. Texto por colagens. Idem.
O Automóvel Verde
Com Alexandre O’Neill, António Maria Lisboa, Pedro Oom e Mário de Sá-Carneiro invocado.
Mesa pé-de-galo, 1950. Publicado na Antologia Surrealista do Cadáver Esquisito.
Cadame
Com António Maria Lisboa. Hospital de S. Luís, Lisboa, 1953. Publicado em Poesia de António
Maria Lisboa, Lisboa: Assírio & Alvim, 1977.
Soneto
Com João Rodrigues, 1958. Publicado em 19 Projectos de Prémio Aldonso Ortigão seguidos de
Poemas de Londres, Lisboa: Quadrante, 1971.
Soneto 2
Com João Rodrigues, 1958.
Redondel do Alentejo
Com João Rodrigues, 1958. Publicado em 19 Projectos de Prémio Aldonso Ortigão seguidos de
Poemas de Londres, Lisboa: Quadrante, 1971.
O Lorinhão Escorreito
Com João Rodrigues, 1958-1959. Publicado em 19 Projectos de Prémio Aldonso Ortigão
seguidos de Poemas de Londres, Lisboa: Quadrante, 1971.
Vida de Kandinsky
Com Gonçalo Duarte e Ernesto Sampaio, 1960. Publicado na Antologia Surrealista do Cadáver
Esquisito, Lisboa: Guimarães Editores, 1961.
Canção
(Paris, 1964, Publicado na Antologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica, Natália Correia,
edição Fernando Ribeiro de Mello, Lisboa, Dez. 1966. Apreendida, e julgada em Tribunal
Plenário como «ofensiva do pudor geral, da decência e da moralidade pública e dos bons
costumes» 4 anos depois. Embora «reconhecendo o mérito literário da obra» (com excepção para
os textos de Mário Cesariny, cujo mérito literário foi considerado nulo), os julgadores ordenaram
a destruição dos exemplares mandados roubar das livrarias, e condenaram:
Natália Correia e Fernando Ribeiro de Mello em 90 dias de prisão correccional, cada um,
substituíveis por igual tempo de multa a 50 escudos por dia e mais 15 dias de multa à mesma
taxa; Mário Cesariny, em 45 dias de prisão correccional, substituíveis por igual tempo de multa a
30 escudos por dia e mais 7 dias de multa à mesma taxa; José Carlos Ary dos Santos, idem a 40
escudos diários; E. de Mello e Castro, idem, a 50 escudos diários; Campista Escritor, idem a 25
escudos diários. Exceptuando Campista Escritor e Fernando Ribeiro de Mello, todos os mais
tiveram penas suspensas por três anos.
O imposto de justiça e o de procuradoria foram arrecadados como segue: Natália Correia, Mello e
Castro e Fernando Ribeiro de Mello, 2000 escudos cada; Mário Cesariny e José Carlos Ary dos
Santos, 1500 escudos idem; Campista Escritor, 880 escudos.
Dos jornais Diário de Notícias e Primeiro de Janeiro, de 22-3-1970)
Praeludium
Paris, 1964. Antologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica, 1966.
Praeludium Penado
1979. Sobre fotocópia do original.
Papásca
1979. Versão definitiva, sobre fotocópia do original na Antologia de Poesia Portuguesa Erótica e
Satírica.
Erik Satie
Londres, 1968.
Raúl Perez
Catálogo da exposição Dezasseis Imagens do Meu Diário Onírico, de Raúl Perez, Galeria S.
Mamede, Lisboa, Out. 1972. «A Princesa», «O Filósofo», «A Fortaleza Com Polvo A Jogar Ao
Bilhar», etc., são títulos do pintor para os quadros expostos.
Asger Jorn
Tradução. Catálogo da mesma Exposição.
O Norte da Europa
I. Com António Dacosta, 1975. Publicado em versão inglesa de Miriam Rewald no catálogo da
Exposição Surrealista Mundial de Chicago, U.S.A., Maio de 1976.
II. Com António Dacosta e Graça Lobo, 1975.
III. Idem, ibidem.
Breyten Breytenbach
Jornal A Luta, 17-11-1975.
A Irmãzinha do Papa
Com Franklin Rosemont, Nancy Joyce Peters, Amparo Granell, Penélope Rosemont, Paul Garon,
Roman Rao, Lawrence Weisberg, Philip Lamantia, E.F. Granell, Graça Lobo. Chicago, Maio,
1976, inédito. Tradução de Mário Cesariny.
Sábado Meia-Lua
Tradução. Original inédito de Paul Garon, Jean-Jacques, Jack Dauben, Franklin Rosemont,
Penélope Rosemont, Jocelyn Koslofsky, Janine Rothwell, Brooke Rothwell, Ronald L. Papp.
Chicago, 1975.
António Areal
Uma primeira versão publicada no Jornal Novo, 28-8-1978. Afixado ilustrado na Exposição de
Mário Cesariny na Galeria Tempo, Fev. 1979.
Segismundo
Catálogo da Exposição de Francisco Relógio na Galeria Tempo, Fev. 1979.
Antero
1979.
Natália Correia
1979.
Dádivas para…
Publicado em versão inglesa de M.S. Lourenço, em «Surrealism & Its Popular Accomplices»,
textos reunidos por Franklin Rosemont na revista Cultural Correspondence, Providence, Rhode
Island, U.S.A., 1979
O VIRGEM NEGRA
Alheio…
2 Alude a Seth e a Hórus, filhos de Ísis e Osíris.
20 Referência directa, parece, à «cantiga de maldizer» atribuída a Afonso Eanes de Coton,
recolhida por Rodrigues Lapa e actualizada por Natália Correia in «Antologia de Poesia Portu
guesa Erótica e Satírica»: Marinha, o teu folgar / tenho eu por desacertado / e ando maravilhado
/ de te não ver rebentar; / pois tapo com esta minha / boca, a tua boca, Marinha; / e com este
nariz meu / tapo eu, Marinha, o teu; / com as mãos te tapo as orelhas, / os olhos e as
sobrancelhas, / tapo-te ao primeiro sono / com a minha piça o teu cono, / e como o não faz
nenhum / com os colhões te tapo o cu. / E não rebentas, Marinha?
40 António Botto e Raul Leal.
O Mário Sacramento…
21 Segue, algo paradoxal, a nota titulada «Nota Supérflua»:
«Aos a quem sempre cansa a rima dobrada devemos consentir que tenham razão. Todavia, a
aliteração reiterada num só verso é usada na Europa nor-ocidental desde o século VIII pelos que
desconheciam a rima mas usavam a quantidade, digo qualidade de percussão do tambor, a
cadência deste, acentuando por ecolalia forte os prefixos étimos de três vocábulos constitutivos
do mesmo verso.
«Se o poema aqui, como tantos outros na modernidade, pode ao ouvido ter e ao sentido cobrar o
menos de uma arte do verso, é também ou é mais porque se transferiu para sufixo cantabile a
impulsão ctónica inicial.
«No (meu) poema, que começa: “Na sombra do Monte Abiegno ” deixo ouvir a cadência desse
tambor.»
Introdução ao Volume
40 Para Thomas de Quincey, civilação é a pronúncia adequada ao vocábulo civilização depois de
um bom jantar.
84 Arcaísmo.
Ela Canta…
1 O nome ceifeira traz no seu interior a imagem simbólica da morte. Sem razões para o suicídio,
o poeta prefere o assassinato.
Não serve não deve servir a interpretação das propensões sexuais, ou meramente eróticas,
do poeta, o que seria irrelevante no todo e no pormenor. Servirá antes para desvelar essa outra
máscara a mais incipiente e levar ao seu sítio verdadeiro: as antimonias-pseudo de que
demasiadas vezes dá exemplo o discurso fernandino («Poder ser tu sendo eu»), («Penso, logo não
sinto») (Etc.). Já Oliveira Martins, no prefácio aos Sonetos de Antero, dá cabo desse jogo, hoje de
uma piresa (filosofância) devastadora, num poeta de tão alta estirpe.
[Dícen]
12 Esta incursão na língua de Cervantes em poema datado 8-11-1935 antecedendo, pois, de
apenas duas semanas a entrada no Hospital de S. Luiz pode indiciar um intento de fuga aos
modos e aos mulas da Era Vitoriana que de Durban aos Prazeres pesaram sobre o poeta como laje
de túmulo. O «’Sforzar», com ser elisão habitual em Pessoa, gerida de esforçar, será passagem
irónica pelo nome da família Sforza, do medievo italiano.
[Vem, vulva ]
50 Divindade sintoísta.
51 O mesmo, sob outro nome e noutra conjugação.
OUTROS POEMAS
A Estrela
Publicado em Alguns Mitos Maiores Alguns Mitos Menores Propostos à Circulação pelo Autor,
Lisboa, colecção A Antologia em 1958. [N. do E.]
O Berlinde Berg
Publicado em Alguns Mitos Maiores Alguns Mitos Menores Propostos à Circulação pelo Autor,
Lisboa, colecção A Antologia em 1958. [N. do E.]
Leve
Publicado em «Nicolau Cansado Escritor», «Os Poemas», Poesia (1944-1955), Lisboa, Delfos,
1961. [N. do E.]
Poema-Semáforo
Publicado em Planisfério e Outros Poemas, Lisboa: Guimarães Editores, 1961. [N. do E.]
Investigação Semântica
Publicado em 19 Projectos de Prémio Aldonso Ortigão seguidos de Poemas de Londres, Lisboa:
Quadrante, 1971. [N. do E.]
Literatura Francesa
Publicado em 19 Projectos de Prémio Aldonso Ortigão seguidos de Poemas de Londres, Lisboa:
Quadrante, 1971. [N. do E.]
Exposição
Sala 1 / Sala 2. 1967. O primeiro foi publicado no catálogo da exposição Mário Cesariny na
Galeria Buchholz, Lisboa 1967, e ambos em 19 Projectos de Prémio Aldonso Ortigão seguidos
de Poemas de Londres, Lisboa: Quadrante, 1971. [N. do E.]
Romance
Publicado em 19 Projectos de Prémio Aldonso Ortigão seguidos de Poemas de Londres, Lisboa:
Quadrante, 1971.
O texto corresponde ao de «Estados», Primavera Autónoma das Estradas, p. 514. [N. do E.]
Conto
Publicado em 19 Projectos de Prémio Aldonso Ortigão seguidos de Poemas de Londres, Lisboa:
Quadrante, 1971.
Faz parte de Titânia. [N. do E.]
Novela
Publicado em 19 Projectos de Prémio Aldonso Ortigão seguidos de Poemas de Londres, Lisboa:
Quadrante, 1971.
O texto corresponde ao de «A Paisagem do Relógio Branco», Primavera Autónoma das Estradas,
p. 512. [N. do E.]
Cabala Fonética
Publicado em 19 Projectos de Prémio Aldonso Ortigão seguidos de Poemas de Londres, Lisboa:
Quadrante, 1971.
O texto corresponde ao de «Paranóia Fonética do Texto Anterior» em Primavera Autónoma das
Estradas, p. 513. [N. do E.]
Informática
Publicado em 19 Projectos de Prémio Aldonso Ortigão seguidos de Poemas de Londres, Lisboa:
Quadrante, 1971. [N. do E.]
[O Homem]
Publicado em Titânia e a Cidade Queimada, Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1977. [N. do E.]
[Oferecei-vos]
Publicado em Titânia e a Cidade Queimada, Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1977. [N. do E.]
[Do Amor]
Publicado em Titânia e a Cidade Queimada, Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1977. [N. do E.]
Poema
Publicado em As Escadas não Têm Degraus, 3, Lisboa: Livros Cotovia, 1990. [N. do E.]
BIOGRAFIA
António Soares
1923
Nasce em Lisboa a 9 de Agosto.
1934-1944
Frequenta o Liceu Gil Vicente e a Escola António Arroio.
Estuda música com o compositor e musicólogo Fernando Lopes Graça.
A partir de 1942 produz as primeiras pinturas, desenhos e poemas.
Escreve A Poesia Civil e Burlescas, Teóricas e Sentimentais.
Mário Cesariny, António Domingues, Cruzeiro Seixas, Fernando de Azevedo, Fernando José
Francisco, José Leonel Martins, Júlio Pomar, Pedro Oom, Marcelino Vespeira, alunos da Escola
António Arroio e alguns dos jovens artistas que desencadeariam o movimento surrealista,
reúnem-se em tertúlia de características dadá no Café Herminius, em Lisboa.
1945
Desde o final da Segunda Guerra Mundial, e até 1946, adere ao neo-realismo e à actividade
política correspondente. Apresenta a conferência «A Arte em Crise» para os operários da
Companhia União Fabril, no Barreiro. Publica artigos no jornal A Tarde e nas revistas literárias
Seara Nova e Aqui e Além.
Escreve os poemas do livro Nobilíssima Visão.
1946
Escreve o poema Louvor e Simplificação de Álvaro de Campos, despedida da teorética neo-
realista.
Produz a primeira colagem surrealista, com fotografia do general De Gaulle.
1947
Viagem a Paris onde encontra os membros do grupo surrealista francês, André Breton, Victor
Brauner e Henri Pastoureau.
Pinta O Operário e Homenagem a Victor Brauner e uma série de Figuras de Sopro e de
Sismofiguras onde introduz técnicas que lhe permitem explorar processos abstractos de carácter
automático, como a escorrência e a dispersão de tintas.
Participa na fundação do Grupo Surrealista de Lisboa do qual fazem parte Alexandre O’Neill,
António Domingues, António Pedro, Fernando de Azevedo, João Moniz Pereira, José-Augusto
França e Marcelino Vespeira.
1948
Escreve poemas do Discurso Sobre a Reabilitação do Real Quotidiano e de Alguns Mitos
Maiores Alguns Mitos Menores Propostos à Circulação pelo Autor.
Abandona o Grupo Surrealista de Lisboa. É formado o grupo Os Surrealistas composto por Mário
Cesariny, António Maria Lisboa, Carlos Eurico da Costa, Cruzeiro Seixas, Fernando Alves dos
Santos, Fernando José Francisco, Henrique Risques Pereira, Pedro Oom.
1949
Texto cadáver-esquisito do manifesto colectivo A Afixação Proibida com António Maria Lisboa,
Henrique Risques Pereira e Pedro Oom.
Primeira sessão de «O Surrealismo e o seu público em 1949» no Jardim Universitário de Belas-
Artes (Casa do Alentejo), em Lisboa.
Primeira Exposição dos Surrealistas, em Lisboa, na Sala de Projecções da Pathé-Baby (18 de
Junho a 2 de Julho).
1950
Publica o poema Corpo Visível (edição de autor).
II Exposição dos Surrealistas. Lisboa, Galeria de «A Bibliófila», 1 a 10 de Junho.
1951
Primeira exposição individual em casa de Herberto de Aguiar, no Porto.
Edita os panfletos Para Bem Esclarecer As Gentes Que Ainda Estão À Espera, Os Signatários
Vêm Informar Que: com Mário-Henrique Leiria e Do Capítulo da Probidade com António Maria
Lisboa, Carlos Eurico da Costa, Cruzeiro Seixas, Fernando Alves dos Santos, Henrique Risques
Pereira e Mário-Henrique Leiria.
Visita o poeta Teixeira de Pascoaes que se tornará referência na sua obra, em S. João de Gatão.
1952
Publica Discurso Sobre a Reabilitação do Real Quotidiano (Ed. Contraponto) e escreve A Bruxa,
o Papagaio e a Solteira.
Conhece José-Francisco Aranda e o casal de pintores Maria Helena Vieira da Silva e Arpad
Szenes.
1953
Publica Louvor e Simplificação de Álvaro de Campos (Ed. Contaponto).
Edição do manifesto A Afixação Proibida (Ed. Contraponto).
Escreve Titânia, História Hermética em Três Religiões e Um Só Deus Verdadeiro, com Vistas a
Mais Luz Como Goethe Queria.
1956
Publica Manual de Prestidigitação (Ed. Contraponto).
Exposição de Capas-Poemas-Objectos para o livro A Verticalidade e a Chave de António Maria
Lisboa. Lisboa, Livraria António Maria Pereira, 3 a 15 de Dezembro.
1957
Publica Pena Capital (Ed. Contraponto).
1958
Iniciam-se as reuniões no Café Gelo, que prosseguirão até 1963, no âmbito das quais é publicada
a colecção A Antologia em 1958 e que inclui Alguns Mitos Maiores Alguns Mitos Menores de
Mário Cesariny.
Manifesto Autoridade e Liberdade São Uma e a Mesma Coisa (folheto editado pelo autor).
Pintura de Mário Cesariny Vasconcelos. Lisboa, Galeria Diário de Notícias, 11 a 17 de Abril.
1959
Publica Nobilíssima Visão (Guimarães Editores).
Pintura e Poesia. Porto, Galeria Divulgação, 2 a 10 de Maio.
1960
Traduz e prefacia Une Saison en Enfer de Jean-Arthur Rimbaud (Portugália Editora).
1961
Publica Poesia 1944-1955 (Editora Delfos), Planisfério e Outros Poemas (Guimarães Editores) e
Antologia Surrealista do Cadáver-Esquisito (Guimarães Editores).
Organiza os livros Poesia e Erro Próprio de António Maria Lisboa (Guimarães Editores).
1963
Organiza e publica a antologia SURREAL-ABJECCION(ismo) (Editorial Minotauro).
Mário Cesariny — Tábuas, Pinturas e Objectos. Lisboa, Galeria Carlos Bataglia, 10 a 24 de
Dezembro.
1964-1965
Publica Um Auto para Jerusalém (Editorial Minotauro).
Estada em Paris, Lausana e em Londres como bolseiro da Fundação Gulbenkian.
1966
Publica o poema A Cidade Queimada com ilustrações de Cruzeiro Seixas (Editorial Ulisseia).
Publica A Intervenção Surrealista (Editorial Ulisseia).
1967
Na comemoração do 20.º aniversário do surrealismo em português, expõe na Galeria Buchholz,
em Lisboa, onde lê versões suas de textos e poemas de Luis Cernuda, Luis Buñuel, Octavio Paz,
Francis Picabia, Arrabal, Henri Michaux, Hans Arp, Kurt Schwitters, Raul Hausmann, Marcel
Duchamp, André Breton, Benjamin Péret, John Cage.
Publica Do Surrealismo e da Pintura em 1967: Cruzeiro Seixas (Ed. Lux).
Pintura Surrealista, Mário Cesariny e Cruzeiro Seixas. Porto, Galeria Divulgação, 12 a 21 de
Junho.
XIII Exposição Internacional do Surrealismo. S. Paulo, Maio.
Salão de Verão. Lisboa, SNBA.
1969
Exposição Internacional Surrealista. Haia.
Cesariny. Lisboa, Galeria S. Mamede, Maio.
1970
Edita o panfleto Para Bem Esclarecer As Gentes Que Continuaram À Espera, Os Signatários
Vêm Informar Que: com Cruzeiro Seixas e Mário-Henrique Leiria. Organiza o catálogo da
exposição de Vieira da Silva na Galeria S. Mamede.
Conhece Édouard Roditti.
Exposição Novos Sintomas na Pintura Portuguesa. Lisboa, Galeria Judite Dacruz, Junho.
1971
Organiza e edita, com Cruzeiro Seixas, o volume Reimpressos Cinco Textos de Surrealistas em
Português e publica 19 Projectos de Prémio Aldonso Ortigão seguidos de Poemas de Londres
(Ed. Livraria Quadrante).
30 Pinturas de Mário Cesariny. Lisboa, Galeria de S. Mamede, Janeiro.
Algumas Obras de Pintura Contemporânea das Colecções da Secretaria de Estado da
Informação e Turismo e da Fundação Calouste Gulbenkian. Lisboa, Galeria de Exposições
Temporárias da FCG, Julho/Agosto.
1972
Publica a recolha antológica Burlescas Teóricas e Sentimentais (Editorial Presença), As Mãos na
Água a Cabeça no Mar (ed. de autor) e a tradução portuguesa de Iluminações e de Uma Cerveja
no Inferno de Jean-Arthur Rimbaud (Ed. Estúdios Cor).
Organiza e edita, com Cruzeiro Seixas, o caderno Aforismos de Teixeira de Pascoaes.
Organiza o volume antológico Poesia de Teixeira de Pascoaes (Ed. Estúdios Cor).
Os Lusíadas que fomos, Os Lusíadas que somos. Lisboa, Galeria Diário de Notícias.
Mário Cesariny. Porto, Galeria Alvarez, Março.
10 Artistas da Galeria S. Mamede. Lisboa, Galeria S. Mamede, Maio.
1973
11 Crucificações em Detalhe / 3 Afeições de Zaratustra/ Retrato de Jean Genet. Lisboa, Galeria
S. Mamede, 15 de Fevereiro a 10 de Março.
Pintura Portuguesa de Hoje — Abstractos e Neofigurativos. Barcelona, Palácio de la Virreina,
Abril/Maio. Salamanca, Universidade de Salamanca, Maio/Junho. Lisboa, SNBA, Julho.
Phases — Homenaje a César Moro. Lima, Casa Taller Delfin, Outubro/Novembro.
Phases. Lyon, Galerie Le Passe-Muraille, Novembro.
1974
Organiza e com Cruzeiro Seixas edita o caderno Contribuição ao Registo de Nascimento
Existência e Extinção do Grupo Surrealista de Lisboa no 50.º aniversário do Primeiro Manifesto
do Surrealismo em França.
Publica Jornal do Gato (Ed. de Raúl Vitorino Rodrigues).
Traduz e prefacia Os Poemas de Luís Buñuel de José-Francisco Aranda (Ed. Arcádia). Prefacia
Imagem Devolvida de Mário-Henrique Leiria (Plátano Editora).
Organiza e integra a Exposição Maias Para o 25 de Abril. Lisboa, Galeria S. Mamede, Junho.
Expo AICA. Lisboa, SNBA.
Diálogo 74. Lisboa, Galeria S. Francisco, Junho.
Exposição do Movimento Phases. Bruxelas, Museu D’Ixelles, 9 de Outubro a 17 de Novembro.
1975
Inicia a publicação das folhas volantes Bureau Surrealista (1975-1988)
Figuração-Hoje?. Lisboa, SNBA, Janeiro.
O Cadáver Esquisito Sua Exaltação Seguida de Pinturas Colectivas. Lisboa, Galeria Ottolini,
Fevereiro.
1976
Inicia a série de pinturas As Linhas de Água.
Segunda edição de Nobilíssima Visão (Guimarães Editores).
Visita Octavio Paz, no México, e Eugénio Granell, em Nova Iorque.
Organiza a representação portuguesa na Exposição World Surrealist Exhibition. Chicago, Galeria
Black Swan.
1977
Pinta uma série de Cinco Memorizações do México e alguns trabalhos (pintura e elementos
gráficos) sobre a geração do Orpheu, à qual pertenceram Fernando Pessoa, Mário de Sá-Carneiro
e Almada Negreiros.
Publicação de Titânia e A Cidade Queimada (Publicações Dom Quixote) e de Textos de
Afirmação e de Combate do Movimento Surrealista Mundial (1924-1976) (Ed. Perspectivas &
Realidades). Segunda edição da tradução de Os Poemas de Luís Buñuel de J.F. Aranda (Ed.
Arcádia).
Organiza e prefacia o volume Poesia de António Maria Lisboa (Ed. Assírio & Alvim).
A Fotografia na Arte Moderna Portuguesa. Centro de Arte Contemporânea, Março/Abril.
1.ª Exposição «Phases» em Portugal. Estoril, Galeria da Junta de Turismo da Costa do Sol,
Novembro.
Mário Cesariny, Exposição de Obras Inéditas (1947 a 1977). Lisboa, Galeria Tempo, Dezembro.
1978
Surrealism Unlimited 1968-1978. Londres, Camden Arts Centre, 17 de Janeiro a 5 de Março.
Surrealism in 1978 — 100th Anniversary of Hysteria. Cedarburg, Ouzaukee Art Center, 5 de
Março a 9 de Abril.
A António Maria Lisboa 1928-1953. Estoril, Junta de Turismo da Costa do Sol, Maio.
Claridade Dada pelo Tempo — Homenagem a Mário-Henrique Leiria. Estoril, Junta de Turismo
da Costa do Sol, Agosto.
1979
Prefacia e traduz Enquanto Houver Água na Água e Outros Poemas, de Breyten Breytenbach
(Publicações Dom Quixote).
Cesariny. Lisboa, Galeria Tempo, Fevereiro de 1979, Porto, Galeria Alvarez-Dois, Março de
1979.
Presencia Viva de Wolfgang Paalen. Cidade do México, Instituto Nacional de Belas Artes, Julho.
Arte Moderna Portuguesa. Lisboa, SNBA, Setembro.
1980
Publica Primavera Autónoma das Estradas (Ed. Assírio & Alvim).
Fondo de Arte. Santa Cruz de Tenerife, Sala de Arte e Cultura La Laguna, 24 de Novembro a 10
de Dezembro, Sala de Arte e Cultura Puerto de La Cruz, 12 de Dezembro a 24 de Dezembro.
1981
Publicação de Manual de Prestidigitação (Ed. Assírio & Alvim).
Organiza o catálogo e a exposição Três Poetas do Surrealismo — António Maria Lisboa, Pedro
Oom e Mário-Henrique Leiria, na Biblioteca Nacional.
Organiza um número da revista Mele — Carta Internacional de Poesia dedicado aos poetas
surrealistas portugueses.
Papeles Invertidos. Santa Cruz de Tenerife, Aula Cultural Caja Insular de Ahorros, 3 a 13 de
Fevereiro.
Mário Cesariny. Lisboa, Galeria S. Mamede, Março.
Permanence du Regard Surréaliste. Lyon, Espace Lyonnais d’Art Contemporain, 30 de Junho a
22 de Setembro.
Antevisão do Centro de Arte Moderna. Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, Julho/Setembro.
Mário Cesariny. Viseu, Galeria 22, Dezembro.
1982
Tradução de Heliogabalo ou o Anarquista Coroado de Antonin Artaud (Ed. Assírio & Alvim).
Publicação de Pena Capital (Ed. Assírio & Alvim).
Mário Cesariny. Amarante, Museu Municipal, Janeiro.
Os Anos 40 na Arte Portuguesa. Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 30 de Março a 17 de
Maio.
1983
Publica a antologia Horta de Literatura de Cordel (Ed. Assírio & Alvim) e o poema Sombra de
Almagre, com serigrafia do autor (Ed. de Isaac Holly).
Le Surréalisme Portugais. Montreal, Galerie UQAM, 16 de Setembro a 9 de Outubro.
Harvest of Evil — Group Surrealist Exhibition. Columbus, Ti Rojo Studio, 29 de Outubro a 12 de
Novembro.
1984
Publica Vieira da Silva, Arpad Szenes ou o Castelo Surrealista (Ed. Assírio & Alvim).
Os Novos Primitivos: os grandes plásticos. Porto, Cooperativa Árvore, Janeiro.
Exposição Internacional: Surrealismo e Pintura Fantástica. Lisboa, Teatro Ibérico, Dezembro.
SNBA, Janeiro de 1985.
1985
Reedição (aumentada) de As Mãos na Água a Cabeça no Mar (Ed. Assírio & Alvim).
Um Rosto para Fernando Pessoa. Lisboa, FCG/CAM, Julho.
Pintura Portuguesa: obras destinadas ao Museu de Arte Moderna do Porto. Lisboa, Galeria
Almada Negreiros, 17 de Setembro a 3 de Outubro.
1986
Traduz uma selecção de Fragmentos, de Novalis (Ed. Assírio & Alvim).
Colectiva de Pintura. Lisboa, Galeria Isaac Holly.
O Fantástico na Arte Contemporânea. Lisboa, FCG/CAM, Fevereiro/Março.
56 Artistas da António Arroio. Lisboa, SNBA, de 20 de Maio a 8 de Junho.
Mário Cesariny: 11 acrílicos comemorativos do nascimento da primeira linha de água. Lisboa,
Livraria Assírio & Alvim, Dezembro.
1987
III Bienal Nacional de Desenho. Porto, Cooperativa Árvore Mercado Ferreira Borges, 4 a 27
de Julho.
Anos 40 a 60. Macau, Galeria do Leal Senado, 22 de Fevereiro a 4 de Março.
VIII Salão de Outono. Estoril, Galeria de Arte do Casino do Estoril, 13 de Novembro a 1 de
Dezembro.
Pintura. Torres Novas, Galeria Neupergama, 21 de Novembro a 20 de Dezembro.
III Exposição: Pintura, Desenho, Cerâmica. Constância, Galeria de Constância, 28 de Novembro
a 19 de Dezembro.
1988
Reedição de A Cidade Queimada (Ed. Assírio & Alvim).
Exposição Internacional L’Experience Continue Phases 1952-1988. Le Havre, Museu de Belas
Artes André Malraux.
A Galeria D’Arte de Vilamoura e a Colecção de Cruzeiro Seixas. Vilamoura, Galeria D’Arte de
Vilamoura.
Pintura. Torres Novas, Galeria Neupergama, Fevereiro.
O Mar-i-o Cesariny: o navio de espelhos. Lisboa, Galeria EMI-Valentim de Carvalho, Maio.
Exposição Phases 1952-1988. Le Havre, Museu de Belas Artes André Malraux, Maio.
Oitenta Anos de Arte Portuguesa. Lisboa, Galeria de São Bento, Maio/Junho.
14 + 1 Pintores Contemporâneos, Torres Novas, Galeria Neupergama, Junho.
IX Salão de Outono. Estoril, Galeria de Arte do Casino Estoril, 1988.
9 + 3 Pintores Contemporâneos. Torres Novas, Galeria Neupergama, Novembro/Dezembro.
Exposição Outono/88 — Inverno/89. Constância, Galeria de Constância, 8 de Dezembro a 15 de
Janeiro de 1989.
1989
Publica O Virgem Negra (Ed. Assírio & Alvim).
Reedição da Antologia do Cadáver Esquisito (Ed. Assírio & Alvim).
15 + 3 Pintores Contemporâneos. Torres Novas, Galeria Neupergama.
Exposição Colectiva. Lisboa, Galeria Holly, 4 de Maio a 4 de Junho.
13 Pintores Portugueses. Torres Novas, Galeria Neupergama, Maio/Junho.
2.º Fórum de Arte Comtemporânea. Lisboa, Fórum Picoas, Junho.
Exposição de Pintura e Escultura do Património da Caixa Geral de Depósitos. Porto, Casa de
Serralves, Julho/Agosto.
12 + 2 Pintores Portugueses. Torres Novas, Galeria Neupergama, 5 de Outubro a 7 de
Novembro.
X Salão de Outono, Descobrimentos Portugueses. Estoril, Galeria de Arte do Casino Estoril, 18
de Novembro a 10 de Dezembro.
1990
Colectiva de Pintura. Lisboa, Galeria Nartis, Maio.
Surrealismo E-Não-Só. Torres Novas, Galeria Neupergama, Outubro/Novembro.
20 Pintores no Décimo Aniversário da Galeria. Torres Novas, Galeria Neupergama, 24 de
Novembro a 15 de Janeiro de 1991.
1991
Reedição de Nobilíssima Visão (1945-1946) (Ed. Assírio & Alvim).
Cesariny: A Ilha Misteriosa. Costa da Caparica, Galeria Almadarte, de 22 de Junho a 28 de Julho.
Jardim do Tabaco: exposição de pintura e escultura. Lisboa, Pavilhão AB do Jardim do Tabaco.
3.ª Bienal de Arte dos Açores e Atlântico. Horta, Outubro/Novembro.
17 + 2 Pintores no Décimo Primeiro Aniversário da Galeria. Torres Novas, Galeria Neupergama,
14 de Dezembro a 20 de Janeiro de 1992.
1992
17 Pintores no Décimo Segundo Aniversário da Galeria. Torres Novas, Galeria Neupergama.
Automatismos. Las Palmas de Gran Canaria, Centro Atlántico de Arte Moderna, 11 de Fevereiro a
29 de Março.
Homenagem a D’Assumpção. Portalegre, Galeria Municipal de Portalegre, 7 a 17 de Outubro.
Exposicion Surrealista. Madrid, Estudio Ancora, 13 de Novembro a 11 de Dezembro.
Arte Portuguesa nos Anos 50. Beja, Biblioteca Municipal, Outubro/Novembro. Lisboa, SNBA,
Janeiro/Fevereiro 1993.
1993
Verão 93 – 14 Pintores Portugueses. Torres Novas, Galeria Neupergama.
Mário Cesariny, 47 Anos de Pintura. Torres Novas, Galeria Neupergama, 23 de Outubro a 5 de
Dezembro.
18 Pintores Contemporâneos no 13. º Aniversário da Galeria. Torres Novas, Galeria
Neupergama, Dezembro a Janeiro de 1994.
1994
Reedição de Titânia História Hermética em Três Religiões e um Só Deus Verdadeiro com Vistas a
Mais Luz como Goethe Queria (Ed. Assírio & Alvim).
Phases — 87 images, 71 artistes, 23 pays de la planisphére. Galerias de Arte de Plemet Ploeuc /
Lié et Quintin, 26 de Maio a 28 de Junho.
Primeira Exposição do Surrealismo ou Não. Lisboa, Galeria S. Mamede, Julho a Outubro.
Surrealismo (e não) — Obras da Colecção Doada pelo Eng. João Meireles. Vila Nova de
Famalicão, Novembro.
Colecção Manuel de Brito: Imagens da Arte Portuguesa do Século XX. Lisboa, Museu do
Chiado, 16 de Novembro a 31 de Dezembro.
Vinte Pintores no Décimo Quarto Aniversário da Galeria. Torres Novas, Galeria Neupergama, 10
de Dezembro a 22 de Janeiro de 1995.
1995
Publica Uma Combinação Perfeita (Edições Prates).
Mário Cesariny e Álvaro Lapa. Torres Novas, Galeria Neupergama, 18 de Fevereiro a 2 de Abril.
Plural. Torres Novas, Galeria Neupergama, 17 de Junho a 6 de Agosto.
Imargem 95. Almada, Câmara Municipal de Almada, Dezembro.
Vinte e Dois Artistas no Décimo Quinto Aniversário da Galeria. Torres Novas, Galeria
Neupergama, 16 de Dezembro a 28 de Janeiro de 1996.
1996
Reedição de Corpo Visível com 15 ilustrações, capa e retrato do autor por Pedro Oom (Edições
Prates) e publicação de António António (Ed. da Secretaria Regional da Educação e Cultura,
Região Autónoma dos Açores). Segunda edição (revista e aumentada) de O Virgem Negra (Ed.
Assírio & Alvim). Reedição da tradução de Os Poemas de Luís Buñuel de J.F. Aranda.
Colecção Mário Soares. Lisboa, Museu do Chiado, 22 de Fevereiro a 21 de Abril.
António Areal, Mário Cesariny, Álvaro Lapa. Torres Novas, Galeria Neupergama, 30 de Março a
12 de Maio.
El Juego de los Espejos — Colección Fundación Eugenio Granell. Instituto Leonés de Cultura,
Sala Província, 3 de Maio a 22 de Junho.
Associação Académica de S. Mamede — 50 Anos / 50 Artistas. S. Mamede de Infesta, Galeria
Municipal Arménio Losa, 24 de Maio a 30 de Junho.
Pluralidades. Torres Novas, Galeria Neupergama, 1 de Junho a 28 de Julho.
Mário Cesariny: Regresso a 1947. Torres Novas, Galeria Neupergama, 5 de Outubro a 30 de
Novembro.
Feira de Arte Contemporânea — FAC 96 / Fórum Atlântico de Arte Contemporânea — Fórum
96. Matosinhos, Exponor, de 5 a 10 de Dezembro.
Vinte Artistas no Décimo Sexto Aniversário da Galeria. Torres Novas, Galeria Neupergama, 7 de
Dezembro a 25 de Janeiro de 1997.
1997
Reedição de A Intervenção Surrealista (Ed. Assírio & Alvim).
4 Pintores Portugueses — Cesariny, Charrua, Álvaro Lapa, Julião Sarmento. Torres Novas,
Galeria Neupergama, 15 de Março a 27 de Abril.
Colecção José-Augusto França. Lisboa, Museu do Chiado, 20 de Março a 29 de Junho.
Gravura Moderna — Exposição Comemorativa do X Aniversário, Costa de Caparica, Almadarte
Galeria, 10 de Maio a 17 de Agosto.
A Arte, o Artista e o Outro. Vila Nova de Famalicão, Fundação Cupertino de Miranda.
Vinte e Dois Artistas no Décimo Sétimo Aniversário da Galeria. Torres Novas, Galeria
Neupergama, 29 de Novembro a 18 de Janeiro de 1998.
1998
23 Artistas Contemporâneos. Torres Novas, Galeria Neupergama, 10 de Junho a 19 de Julho.
O que há de Português na Arte Moderna Portuguesa. Lisboa, Palácio Foz, Junho/Setembro.
Mário Cesariny, Pintura Surrealista Monocromática e Outra. Torres Novas, Galeria
Neupergama, 10 de Outubro a 6 de Dezembro.
Dez Artistas no Décimo Oitavo Aniversário da Galeria. Torres Novas, Galeria Neupergama, 12
de Dezembro a 7 de Fevereiro de 1999.
1999
Segunda edição de Pena Capital (Ed. Assírio & Alvim).
Desenhos dos Surrealistas em Portugal 1940-1966. Porto, Museu Nacional de Soares dos Reis.
Natália: Arte e Poesia. Lisboa, Palácio Galveias. Porto, Fundação Eng. António de Almeida.
Linhas de Sombra. Lisboa, FCG/CAM, de 29 de Janeiro a 18 de Abril.
Surrealismo. Torres Novas, Galeria Neupergama, 27 de Março a 16 de Maio.
Doações Recentes. Lisboa, Museu do Chiado, 28 de Outubro a 15 de Novembro.
Agriculturas. Lisboa, Edifício Sede da Caixa Geral de Depósitos, 29 de Novembro a 7 de
Dezembro.
Doze Artistas no Décimo Nono Aniversário da Galeria. Torres Novas, Galeria Neupergama, 4 de
Dezembro a 30 de Janeiro de 2000.
2000
Publica Tem Dor e Tem Puta (Ed. de Ernesto Martins) e traduz Hamlet, tragédia cómica por Luís
Buñuel (Ed. Assírio & Alvim).
Nova edição de A Cidade Queimada (Ed. Assírio & Alvim).
Caminha nos Caminhos do Surrealismo — Mário Cesariny: Uma Antologia. Caminha, Câmara
Municipal de Caminha, 12 de Maio a 12 de Junho.
Feira de Arte Contemporânea — FAC 2000. Lisboa, FIL Parque das Nações, 23 a 28 de
Novembro.
Dezasseis Artistas no Vigésimo Aniversário da Galeria. Torres Novas, Galeria Neupergama, 2 de
Dezembro a 21 de Janeiro de 2001.
2001
Mário Cesariny, Enrique Carlón, J.F. Aranda. Torres Novas, Galeria Neupergama, 24 de
Fevereiro a 22 de Abril.
Surrealismo em Portugal 1934-1952. Badajoz, Museo Extremeño e Iberoamericano de Arte
Contemporáneo, 16 de Março a 13 de Maio. Lisboa, Museu do Chiado, 24 de Maio a 23 de
Setembro. Vila Nova de Famalicão, Fundação Cupertino de Miranda, 27 de Outubro a 31 de
Dezembro.
Catorze Artistas no Vigésimo Primeiro Aniversário da Galeria. Torres Novas, Galeria
Neupergama, 8 de Dezembro a 31 de Janeiro de 2002.
2002
Recebe o «Grande Prémio EDP» de artes plásticas.
Versão portuguesa de História do Soldado em duas partes de C.F. Ramuz (Ed. Assírio & Alvim).
Surrealismo em Portugal 1934-1952. Círculo de Belas Artes, Madrid.
1940/1960 — Figuração e Abstracção nas Colecções do Museu do Chiado. Castelo Branco,
Museu de Francisco Tavares Proença Júnior.
Mário Cesariny — Pintura. Torres Novas, Galeria Neupergama, 9 de Março a 5 de Maio.
Territórios Singulares na Colecção Berardo. Sintra, Museu de Arte Moderna, 26 de Outubro a 28
de Fevereiro de 2003.
Quinze Artistas no Vigésimo Segundo Aniversário da Galeria. Torres Novas, Galeria
Neupergama, 5 de Dezembro a 20 de Fevereiro de 2003.
2003
Acervo 03. Lisboa, Perve Galeria, Junho.
O Surrealismo na Colecção Berardo. Tavira, Palácio da Galeria, 12 de Julho a 14 de Setembro.
Vigésimo Terceiro Aniversário — Quinze Artistas. Torres Novas, Galeria Neupergama, 6 de
Dezembro a 31 de Janeiro de 2004.
Uma Colecção. Montijo, Galeria Municipal do Montijo, 6 de Dezembro a 7 de Fevereiro de 2004.
2004
Reedição de Jornal do Gato e de Horta de Literatura de Cordel (Ed. Assírio & Alvim). Terceira
edição (aumentada) de Pena Capital (Ed. Assírio & Alvim).
Da Convergência dos Rios / Exposição de Arte Contemporânea de Moçambique e Portugal.
Lisboa, Perve Galeria, 21 de Março a 24 de Abril.
O Surrealismo Abrangente — Colecção Particular de Cruzeiro Seixas. Vila Nova de Famalicão,
Fundação Cupertino de Miranda, 24 de Abril a 30 de Maio.
Revisitar Obras do Anos 60-70-80-90. Torres Novas, Galeria Neupergama, 15 de Maio a 12 de
Junho.
Acervo 03 / Razões de Existir. Lisboa, Perve Galeria, 7 de Novembro a 18 de Dezembro.
Mário Cesariny — Exposição Grande Prémio EDP 2002. Lisboa, Museu da Cidade, 2 de
Dezembro a 13 de Fevereiro de 2005, Vila Nova de Famalicão, Fundação Cupertino de Miranda,
5 de Março de 2005 a 30 de Abril de 2005.
2005
Recebe a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade e o Prémio «Vida Literária» da Associação
Portuguesa de Escritores.
Segunda edição (revista) de Manual de Prestidigitação (Ed. Assírio & Alvim).
O Surrealismo Abrangente — Colecção Particular de Cruzeiro Seixas. Lisboa, 11 de Janeiro a 12
de Fevereiro, Lagoa, Convento de S. José, 1 de Julho a 8 de Setembro.
Iluminações. Torres Novas, Galeria Neupergama, Março/Abril.
Arte Lisboa 2005 — Feira de Arte Contemporânea. Lisboa, Feira Internacional de Lisboa, 24 a
28 de Novembro.
O Contrato Social. Lisboa, Museu Bordalo Pinheiro, 4 de Outubro a 8 de Janeiro de 2006.
Fernando Lemos e o Surrealismo. Sintra, Museu de Arte Moderna, 26 de Novembro a 30 de Abril
de 2006.
5.º Aniversário da Perve Galeria. Lisboa, Convento do Beato, 8 de Dezembro a 14 de Janeiro de
2006.
2006
Morre em Lisboa a 26 de Novembro.
25 Anos da Galeria Neupergama. Torres Novas, Galeria Neupergama, Janeiro/Fevereiro.
II Exposição de Artes Plásticas — Arte na Planície. Montemor-o-Novo, 8 de Abril a 30 de Maio.
Feira de Arte do Estoril. Estoril, Centro de Congressos do Estoril, 14 a 18 de Abril.
20 Anos 20 Nomes Portugueses. Porto, Galeria Nasoni, Abril/Maio.
Artistas na Galeria. Torres Novas, Galeria Neupergama, Maio/Junho.
Mário Cesariny: Navío de Espejos. Madrid, Círculo de Belas Artes, de 20 de Setembro a 19 de
Novembro.