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1. OBRAS:
SANTOS, Boaventura de Souza. Para além do pensamento abissal: das linas globais a uma
ecologia dos saberes, In: SANTOS, Boaventura & Meneses, Maria Paula (Orgs.). Epistemologias
do Sul, São Paulo: Cortez, 2013
2. RESUMO:
A citação de Boaventura Santos, nos permite identificar o que de comum há nos três textos
indicados. Em todos, expõe-se a ideia de que a construção do saber (epistemologia) é sempre
contextual, ou seja, acontece no meio das relações sociais. Nesse sentido, os textos evidenciam
que a epistemologia acaba por criar um abismo social (SANTOS, 2009b), especialmente através
de um pensamento não crítico no que tange a relação norte do globo (europeu) e sul do globo (no
nosso caso, brasileiro) (MALDONADO, 2009), reforçando um posicionamento inferiorizado e
subalterno de várias minorias, inclusive do negro enquanto ator social da construção do saber
(GOMES, 2009).
Boaventura Santos começa seu texto explicando que a criação de abismos epistemológicos
e sociais reproduz uma perspectiva em que o outro (outro lado da linha) pode ser excluído sem que
se quebre a lógica do “aplicável a todos”. Assim, “os outros” podem ser igualados à sub-humanos
desalmados; seu conhecimento passa à condição de magia e idolatria; sua existência passa a
permitir a correção por meio da apropriação e da violência. Lida-se com “os outros” ora
instrumentalizando seu conhecimento para a dominação, ora destruindo-o. Transforma-se “o
outro” em coisa. “Assim, a exclusão torna-se simultaneamente radical e excludente, uma vez que
seres sub-humanos não são considerados sequer candidatos à inclusão social” (SANTOS, 2009b,
p.30).
Inicialmente, este processo ocorria em uma relação colonial, hoje, porém, se revela nas
relações sociais do terrorista, do imigrante indocumentado e do refugiado. Excluídos e
juridicamente “inexistentes”, essas realidades são legisladas pela lógica apropriação/violência.
Enfrentam – assim como outras realidades sociais não expostas por Boaventura, mas igualmente
marginalizadas como os favelados e pobres brasileiros – uma nova fronteira que separa “o outro”
através da complexidade controversa de seus próprios argumentos. Os direitos humanos, a
democracia e a vida tornam-se mitigáveis para a sua “própria autoproteção”. Nasce o que
Boaventura (2009, p.37) chama de fascismo social: “um regime social de relações de poder
extremamente desiguais que concedem à parte mais forte o poder de veto sobre a vida e o modo
de vida da parte mais fraca”.
Para combater essa epistemologia, o autor propõe um pensamento pós-abissal, com
características decoloniais, que se fundamente na ecologia dos saberes, ou seja, na perspectiva de
que as formas de conhecimento são plurais e heterogêneas. Assim, é necessário assimilar a
possibilidade de co-presença desses pensamentos heterogêneos.
Maldonado (2009), nesse sentido, nos alerta para a importância do espaço enquanto tema
filosófico, fato que nos levaria à um questionamento da Europa enquanto local epistêmico
privilegiado. Demonstra que vários filósofos importantes não conseguiram deixar de reforçar a
relação de poder entre norte e sul e alimenta a necessidade de rever tais posicionamentos,
escancarando a centralidade europeia em seus pensamentos, tal como o fez Frantz Fanon.
Ao mesmo passo, Gomes (2009) tenta recuperar a epistemologia de pensadores negros
brasileiros, na tentativa de compreender suas produções, histórias, tensões e desafios e a resposta
que seus estudos sugerem para tais contextos em que se encontram. Em uma análise rica, a autora
mapeia o movimento acadêmico negro enquanto movimento de pesquisa militante; movimento
situado e localizado que questiona a posição secundária do negro na academia.
3. CRÍTICAS