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Sérgio Coutinho dos Santos

Atualizado de Acordo com a


ABNT NBR 6023, normas
de novembro de 2018
Sérgio Coutinho dos Santos

© Sérgio Coutinho dos Santos, 2019


Atualizado de acordo com a
ABNT NBR 6023, normas
Reitor de novembro de 2018
Dr. João Rodrigues Sampaio Filho

Vice-reitor
Prof. Dr. Douglas Apratto Tenório

Presidência: Prof. Dr. Douglas Apratto Tenório

Conselho Editorial
Profa. Dra. Claudia Cristina Silva Medeiros
Prof. Dr. Fernando Sérgio Tenório de Amorim
Prof. Maceió,
Dr. FernandoAL, Wagner da Silva Ramos
2020
Prof. Dr. Giulliano Aires Anderlini
Prof. Dr. Jorge Luiz Gonzaga Vieira
Prof. Dr. José Rodrigo de Araújo Guimarães
Prof. Me. Sérgio Venancio da Silva
Profa. Dra. Sandra Adriana Zimpel

Coordenação Editorial: Sandra Adriana Zimpel


Assessor Editorial: Sebastião Medeiros
Assistente Editorial: Cibelle Araújo
© Sérgio Coutinho dos Santos, 2020

Revisão
Revisão Gramatical:
Gramatical: Maria
Maria Luiza
Luiza Fernandes
Fernandes

REDE DE BIBLIOTECAS CESMAC


SETOR DE TRATAMENTO TÉCNICO

REDE DE BIBLIOTECAS CESMAC


S237m Santos, Sérgio Coutinho dos
SETOR DE TRATAMENTO TÉCNICO
Metodologia para pesquisas jurídicas & sociais / Sérgio Coutinho dos Santos
.– Maceió: Editora CESMAC,2020.
220 p.: il.
S237m Santos, Sérgio Coutinho dos
Metodologia para pesquisas jurídicas & sociais / Sérgio Coutinho dos Santos
.– Maceió: Editora CESMAC,2020.
220bibliografia
Inclui p.: il.
ISBN: 978-65-86590-05-0 (livro digital)

Inclui
1. bibliografia
Métodos de pesquisas. 2. Pesquisas jurídicas e sociais. 3. Direito.
ISBN: 978-65-86590-05-0 (livro digital)
I. Santos, Sérgio Coutinho dos. II. Título.

1. Métodos de pesquisas. 2. Pesquisas jurídicas e sociais. 3. Direito.

I. Santos, Sérgio Coutinho dos. II. Título.

CDU: 34:001.8

Bibliotecário: Evandro Santos Cavalcante CRB-4 1700


CDU: 34:001.8

Bibliotecário: Evandro Santos Cavalcante CRB-4 1700


Sobre o autor

S
érgio Coutinho dos Santos é Doutorando em Socie-
dade, Tecnologia e Políticas Públicas pelo Centro
Universitário Tiradentes, Mestre em Sociologia pela
UFAL, Especialista em Direito do Trabalho pela UNICE,
Bacharel em Direito, licenciado em Ciências Sociais pela
UFAL. Advogado, foi Presidente da Comissão de Ensino Ju-
rídico da OAB-AL na gestão 2003-2005. Ensina Metodologia
da Pesquisa em cursos de graduação e pós-graduação. Foi
orientador no Programa Agentes Locais de Inovação do SE-
BRAE. É vice-coordenador do Comitê de Ética em Pesquisa
do Centro Universitário de Maceió – CESMAC. Integrante
do Núcleo de Inovação Tecnológica do Centro Universitário
CESMAC. Professor do programa NETALUNO de estudos a
distância (http://netaluno.com). Premiado pelos concursos
literários “Histórias de Trabalho” (Secretaria de Cultura de
Porto Alegre, 2004), como melhor ensaio acadêmico e “Prê-
mios Literários Cidade de Manaus”, como melhor ensaio so-
cioeconômico (Secretaria de Cultura de Manaus, 2006). Au-
tor de O Movimento dos Movimentos: possibilidades e limites
do Fórum Social Mundial (Secretaria de Cultura de Manaus
– AM, em 2007). Coorganizador de Temas de Direito do
Trabalho Contemporâneo (Curitiba: Juruá, 2012), Desafíos
y Perspectivas del Derecho Contemporáneo (Buenos Aires:
Dunken, 2013), Direito, sociedade e violência (Edufal, 2015),
Pobreza, educação e criminalidade (Agência Fonte de Notí-
cias, 2016), A rua e a democracia (Agência Fonte de Notícias,
2016), entre outras obras. Responsável pelo blog Mundo em
Movimentos (http://mundoemmovimentos.com).

Contatos com o autor:


coutinhosergio@live.com
Instagram: @prof.sergiocoutinho
Twitter: @sergiocoutinho
http://facebook.com/pesquisasjuridicasesociais
Para Sérgio, Severina e Dunga
Pai, Avó e Sobrinho
In memoriam
Agradecimentos

A
Sheila Maluf que, por anos, acreditou neste livro por
meio da Editora Viva.
Ao prof. Dr. Douglas Apratto Tenório, Sebastião Me-
deiros e a todos que fazem a editora do Centro Universitário
CESMAC.
Aos caros Kleiton e Fabiano, grandes parceiros na atual
editora.
A todos que compõem o Comitê de Ética em Ensino e Pes-
quisa no CESMAC, na pessoa da amiga e coordenadora Miciele;
À minha mãe, por primeiro ter me ensinado a impor-
tância da disciplina na Educação, quando eu a acompanhava
em seus estudos na Faculdade de Ciências Humanas de Olinda
(FACHO), durante a minha infância;
Aos queridos amigos da Confraria da Patagônia, pelo es-
tímulo que supera distâncias e o tempo, torcendo por esta obra
desde antes da sua 1ª edição;
A Clarissa Barbosa, Weverton Rezende e ao meu queri-
do amigo e coordenador em pós-graduação Gilbert Sena, pelas
sugestões à edição anterior;
Às minhas revisoras Sarah, Luysa e Amanda, que tanto
me ensinam e inspiram com sua atenção a esta obra;
A Marly Sukar, que tão generosamente tirou a foto da
orelha do livro (qualquer susto é de responsabilidade do au-
tor, não da fotógrafa);
Aos amigos José Marques de Vasconcelos Filho e Gislai-
ne Rosália Migliati, por terem, com tanta boa vontade escrito o
prefácio da presente edição;
A você que, usando em seus estudos esta obra, é o maior
estímulo para que eu continue lecionando e atualizando cada
edição do livro.
Sou feliz por saber que não deixei de ser ingrato, que
muitos deixaram de estar presentes apesar de terem feito parte,
em grandes ou pequenos gestos, dos meus estudos que torna-
ram possível este livro, bem como no empenho gratuito e fra-
terno pela sua divulgação.
Porém a ingratidão é uma certeza, quando alguém afir-
ma que escrever, pesquisar, estudar são atos solitários.
“Não teria nas órbitas, em vez de olhos,
dois livros... mil livros?”
(Érico Veríssimo, Olhai os Lírios do Campo)
Sumário

Prefácio .........................................................................................17
Introdução.....................................................................................19

CAPÍTULO I – Ler e Pesquisar................................................ 29

CAPÍTULO II – Formas de Conhecimento......................... 33


2.1. Conhecimento popular (ou senso comum ou coloquial
ou vulgar)..............................................................................33
2.2. Conhecimento religioso (ou mítico ou transcendente
ou sobrenatural)....................................................................36
2.3. Conhecimento filosófico (ou metafísico)...........................40
2.4. Conhecimento técnico.........................................................45
2.5. Conhecimento científico......................................................46
2.6. Conhecimento jurídico........................................................50

CAPÍTULO III – Projeto de Pesquisa.................................... 53


3.1 Tema e delimitação................................................................53
3.2 Problematização.....................................................................55
3.3 Justificativa..............................................................................57
3.4 Revisão teórica........................................................................58
3.5 Objetivos.................................................................................59
3.6 Metodologia............................................................................60
3.7 Cronograma............................................................................62
3.8 Referências..............................................................................63
CAPÍTULO IV – Ética em Pesquisa........................................65
4.1 Os Comitês de Ética em Pesquisa........................................65
4.2 Cuidados para evitar plágio..................................................77

CAPÍTULO V – A escolha do(a) Orientador(a) e como


ser orientado(a)............................................ 79

CAPÍTULO VI – Como usar fontes não-bibliográficas 85


6.1 Observação..............................................................................85
6.2 Entrevistas...............................................................................87
6.3 Questionários..........................................................................88
6.4 Estatísticas...............................................................................89
6.5 Documentos, Legislação e Jurisprudência..........................94
6.6 O Diário de Campo................................................................91
6.7 Pesquisa-Ação.......................................................................100
6.8 Estudos de caso e pesquisas etnográficas..........................103
6.9 A importância dos fichamentos e dos mapas conceituais
conectando fontes de pesquisa............................................... 105

CAPÍTULO VII – Pesquisas Eletrônicas............................... 111


7.1 Procurando livros.................................................................111
7.2 Procurando documentos.....................................................114
7.3 Usando redes sociais............................................................115
7.4 Acostumando-se com blogs............................................... 116
7.5. Para se manter atualizado em poucos minutos.............. 117
7.6 Consultando bibliotecas físicas......................................... 118
7.7 Off-line: usando melhor pendrives................................... 119
CAPÍTULO VIII – Como escrever o seu Trabalho Cien-
tífico.................................................................121
8.1 Como fazer um artigo..........................................................121
8.2 Elementos do trabalho científico.......................................124
8.3 Precauções mais comuns.....................................................125

CAPÍTULO IX – Citações..........................................................129
9.1 Considerações gerais...........................................................129
9.2 Notas de rodapé....................................................................132
9.3 Sempre leia os clássicos.......................................................133

CAPÍTULO X – Referências.....................................................139

CAPÍTULO XI – Teorias do Conhecimento que pre-


cisa conhecer.............................................. 149
11.1 Positivismo..........................................................................150
11.2 Pragmatismo (ou Realismo) Jurídico..............................153
11.3 Pós-Modernidade...............................................................157
11.4 Análise de discurso............................................................161
11.5 Materialismo Histórico.....................................................163
11.6 Neoconstitucionalismo e Pós-Positivismo......................165
11.7 Pluralismo Jurídico............................................................167

CAPÍTULO XII – Sobre Bancas..............................................169

CAPÍTULO XIII – O que fazer após a aprovação da


sua pesquisa............................................. 173
Conclusão................................................................................... 179
Leituras Recomendadas............................................................ 181
Referências................................................................................. 184

ANEXO I: Redação dos elementos pré-textuais e


pós-textuais..........................................................195
ANEXO II: Modelo de Capa.................................................198
ANEXO III: Modelo de Folha de Rosto............................199
ANEXO IV: Modelo de Sumário........................................ 200
ANEXO V: Modelo de Cronograma.................................201
ANEXO VI: Referências Eletrônicas Recomendadas
...................................................................................202
ANEXO VII: Normas sobre Termos de Consentimento
para Comitês de Ética....................................204
ANEXO VIII: Normas sobre Protocolos de Pesquisa
para Comitês de Ética...................................209
ANEXO IX: Modelo de Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido (T.C.L.E.)....................... 213
Prefácio
José Marques de Vasconcelos Filho e
Gislaine Rosália Migliati

R
ecebemos com surpresa e muita satisfação a responsa-
bilidade de prefaciar a 3° edição da obra do competen-
te e dedicado Professor Sérgio Coutinho que vem se
dedicando à metodologia há tempos em suas aulas, na confec-
ção de seus artigos científicos, orientações de alunos em suas
monografias, assessorando outros professores e profissionais
no momento tão relevante que é a aplicação e conhecimento
das regras técnicas metodológicas.
Inicialmente, a obra apresenta formas de conhecimento,
suas diferentes linguagens e formas de expressão e compreen-
são, deixando dicas pontuais sobre suas características e de-
vidas utilizações, fornecendo informações para várias áreas e
profissionais. Além de ter trazido Teorias do Conhecimento
e suas correntes teóricas, colaborando na identificação das li-
nhas que se pretende seguir, suas peculiaridades, contradições
e respectivos autores.
Posteriormente, apresenta os elementos intrínsecos de
um projeto de pesquisa apresentando uma compreensão de
suas finalidades, facilitando a identificação de cada um deles
para que, o leitor e/ou interessado em apresentar um projeto,
confeccione e exponha suas ideias e já consiga visualizar o ob-

19
Sérgio Coutinho dos Santos

jeto de sua pesquisa e como será seu desenvolvimento. Expõe,


ainda, informações sobre fase relevante, caso haja necessidade,
que é a submissão do projeto ao Comitê de Ética para validação
da pesquisa.
A obra é um incentivo à pesquisa. É leve e objetivo, ofe-
recendo o passo a passo, sem perder a originalidade, a iden-
tidade do próprio autor e expõe o que realmente é relevante,
desde o início ao final da pesquisa, sem ser enfadonho.
Tanto iniciantes como aqueles que já são maduros em
pesquisar, encontrarão dicas esclarecedoras e que podem ino-
var o desenvolvimento das próximas pesquisas pois, também,
apresenta ferramentas tecnológicas das quais não temos mais
como refutá-las.
O livro é um mapa que aponta novos e muitos caminhos
para as pesquisas jurídicas e sociais, não se limitando a unica-
mente abordar as regras da ABNT, mas indo além e convidando
o leitor a uma viagem sem volta ao universo do conhecimento.

Gislaine R. Migliati
Mestranda em Direito pela Universidade do Minho – Portugal
Advogada e Professora de Processo Civil

José Marques de Vasconcelos Filho


Advogado e Especialista em Direito Constitucional
Presidente da Comissão de Estudos Constitucionais da OAB/AL

20
Introdução

E
ste livro foi baseado em minha publicação de 2011 Ma-
nual de Metodologia para a Pesquisa Jurídica. Aprendi
muito entre um livro e outro e, com novas experiên-
cias e os diálogos com leitores, as anotações para uma segunda
edição se agigantaram até ser melhor construir um novo livro,
herdeiro do anterior. Em diversos capítulos, há identidade en-
tre as obras, porém a revisão e ampliação tornaram necessário
vê-lo como algo novo.
Eu o escrevi a partir das dúvidas que têm surgido en-
tre estudantes da graduação e de pós graduação lato sensu
em Direito nas instituições onde ensino e onde já ensinei,
principalmente entre orientandos de trabalhos de conclusão
de curso e pesquisas de iniciação científica.
Nos últimos dez anos, o número de faculdades de Direito
tem, no mínimo, quintuplicado em qualquer estado da federa-
ção. Ainda há outros projetos para novos cursos no Ministério
da Educação. Em todos, exigem-se trabalhos de conclusão de
curso; em muitos, são disponibilizadas vagas para bolsas de
iniciação científica, há oportunidades para grupos de estudos.
O objetivo do presente livro é falar com quem estuda ou
estudou em algum desses cursos. Se for você, muito bom. Se
não for, pode emprestá-lo, depois, para quem se adéque ao per-
fil ou comprar de presente para um amigo ou um orientando,
caso você seja professor. Para agilizar a comunicação, a meta-

21
Sérgio Coutinho dos Santos

linguagem será um recurso frequente. Falo diretamente com


meu leitor, para tornar o livro mais que um manual: um guia,
uma ferramenta que possa acompanhar o estudante durante
cada etapa de suas pesquisas.
Este livro não é preparatório para concursos públicos. É
preciso avisar, pois cada vez mais apenas escrevendo nas capas
“para concursos” os autores jurídicos (outrora doutrinadores)
conseguem ser lidos. A sede por um bom emprego com um
bom salário e imunidade ao desemprego por meio da estabi-
lidade do serviço público motiva milhares de bacharéis em
Direito. Contudo, para ser bacharel, bem como para concluir
os cursos de pós-graduação que nos orientam no mercado de
trabalho e nos permitem aprofundar nossos conhecimentos, é
preciso fazer um trabalho acadêmico.
Para fazê-lo, é preciso seguir regras claras, por vezes ar-
bitrárias realmente, mas que contribuem para a unidade dos
nossos textos. Este é, por isso, um livro de autoajuda em Me-
todologia. Tem por objetivo mostrar que todos podem fazer
um bom trabalho acadêmico seguindo regras pré-definidas há
décadas (muitas delas há séculos).
No primeiro capítulo, serão apresentadas dicas gerais
para disciplinar sua leitura e seus estudos. Exatamente, será
mostrado que ler e estudar são ações distintas e como organi-
zar seus estudos para que sejam produtivos.
No segundo capítulo, veremos o que caracteriza o co-
nhecimento científico bem como sua distinção em relação às
outras áreas do conhecimento. Isso será fundamental para es-
colhermos a linguagem adequada em nossos trabalhos e para

22
Metodologia para Pesquisas Jurídicas & Sociais

termos segurança em nossos estudos em busca de evidências


para o que queremos saber.
No terceiro capítulo, examinaremos o que o pesqui-
sador, ou seja, você, precisa saber para fazer um projeto de
pesquisa, seja na graduação ou na pós-graduação. Será exa-
minado como construir um objeto de estudo, o que é a pro-
blematização, como definir hipóteses e procurar resultados.
Em síntese, como elaborar um projeto de pesquisa. A ideia é
orientar aqueles que estão sem orientador para pesquisas, em
monografias ou em papers para conclusão de cada disciplina
acadêmica.
No quarto capítulo, será a ocasião de explicar dois aspec-
tos da ética em pesquisas acadêmicas: a atuação dos Comitês
de Ética e a proibição do plágio em trabalhos acadêmicos.
No quinto capítulo, você verá como escolher o seu orien-
tador e como se relacionar com ele durante a realização da pes-
quisa. Verá as principais regras de comportamento para que
ninguém seja lesado durante os estudos.
No sexto capítulo, a prioridade será a busca pelas fontes
de pesquisa não-bibliográficas. Uma por uma, examinaremos
as fontes mais comuns em pesquisas jurídicas. Haverá, pois,
orientações para pesquisas de campo bem como para pesqui-
sas documentais, exceto para pesquisas on-line, que terão um
capítulo à parte.
Será necessário abordar a importância dos comitês de
ética em pesquisa, assim como os cuidados mais comuns
nas investigações com seres humanos. Também como pro-
cedimento ético, será analisado como evitar plágio nos

23
Sérgio Coutinho dos Santos

trabalhos e o porquê de ser tão importante sempre prestar


atenção a isso.
Devido ao espaço que a internet ocupa em nossas vidas,
torna-se necessário um capítulo próprio para pesquisas em
meio eletrônico. Este será o sexto capítulo, integrado ao ante-
rior em muitos aspectos, pois muitas etapas das pesquisas são
realizadas on-line1. Assim, o papel das redes sociais e de ficha-
mentos feitos em nuvem estarão presentes.
No nono capítulo, seguirão algumas orientações sobre
como escrever trabalhos científicos, artigos, monografias e
quaisquer outras modalidades, assim como as precauções mais
comuns que devem ser tomadas na redação científica.
No décimo capítulo, verá como fazer citações. Assim,
poderá aproveitar as fontes pesquisadas sabendo como usá-las
para fundamentar as conclusões que alcançar. É um capítulo
mais formal, tanto para citar no corpo da pesquisa quanto no
capítulo seguinte sobre as referências ao fim do seu trabalho de
investigação. Porém são regras que sempre se exige para que
o leitor do que você escreveu veja você como um (a) cientista.
Em seguida, teremos um capítulo para a escolha de teo-
rias do conhecimento empregadas na sua investigação. Não
estarão nele todas as teorias, mas àquelas que vejo aparecendo
com maior frequência em debates sobre métodos de pesqui-
sa nas Ciências Humanas e no Direito, mas que gerem algum
mal-entendido por serem lidas sem o devido cuidado, muitas
vezes. Procuro neste capítulo esclarecer dúvidas sobre como
Os termos técnicos da internet apresentados não virão com conceitos explicativos por se-
1

rem de uso comum. Todos os websites sugeridos constam de um anexo no fim do livro e são
serviços gratuitos.

24
Metodologia para Pesquisas Jurídicas & Sociais

estudar essas correntes, não esgotar os paradigmas de cada


uma, para que possam nortear seus estudos com segurança.
Perto do fim, há um capítulo sobre como se apresentar
perante uma banca examinadora. Tirando todo o encanto de
mistério que muitas vezes a tensão a envolve, mostro que são
apenas pesquisadores mais experientes (mas não mais expe-
rientes sobre sua pesquisa, na qual você é o real veterano) ava-
liando se você alcançou seus objetivos com coerência.
Para que sua pesquisa não se encerre com a aprovação
da monografia/dissertação/tese, apresento um capítulo sobre
a continuação da vida acadêmica. Mostro como divulgar os
resultados da sua pesquisa na comunidade acadêmica, para
que de fato seus estudos sejam atestados como conhecimento
científico válido. Após essas sugestões, apresento a sequência
de títulos de pós-graduação, bem como possíveis estudos com-
plementares, que você pode realizar após cada etapa vencida
na condição de cientista.
Teremos, assim, conversado sobre como fazer artigos e
relatórios acadêmicos. Diversas faculdades têm preferido essas
medidas às monografias, para agilizar a publicação por parte
dos alunos.
As minhas referências aparecem em dois tópicos. Há um
menor, no qual aparecem sugestões de leitura sobre Metodo-
logia. Em seguida, as obras que usei para escrever este livro. A
divisão serve para que um seja com as minhas fontes e outro
com aquelas que eu considero úteis para sua atividade científi-
ca. Assim, poderá se aprofundar sobre temas abordados neste
livro que tenham despertado sua curiosidade.

25
Sérgio Coutinho dos Santos

O livro tem, também, alguns anexos. Os anexos divi-


dem-se em três partes: organização formal dos elementos pré-
-textuais de um trabalho acadêmico, endereços eletrônicos
para pesquisas na internet e orientações sobre os documentos
que devem ser apresentados aos comitês de ética. Na primeira
parte, está a sequência de elementos pré-textuais explicados e
apresento modelos de capa e folha de rosto. Na segunda parte,
estão diversos endereços eletrônicos úteis para pesquisas cien-
tíficas e breves dicas para usar melhor suas redes sociais. Na
terceira parte, encontrará as normas da Resolução n. 466 do
Conselho Nacional de Saúde para termos de consentimento e
protocolos em pesquisas com seres humanos.
Entre o lançamento do Manual de Metodologia para a
Pesquisa Jurídica em 2011 e deste livro em 2013, muitas pes-
soas investiram seu tempo em apoiar a evolução da obra. Nesta
transição, preciso agradecer a muitos, com todo risco de ser
ingrato ao não mencionar cada um que, em pequenos gestos,
contribuíram para a existência de ambos os livros: ao amigo
Tácito Yuri de Mello Barros, por acompanhar minha trajetória
acadêmica com paciência há tantos anos e ter honrado o Ma-
nual de Metodologia para a Pesquisa Jurídica (base para o pre-
sente livro), com o prefácio; aos amigos Gilbert Sena (embai-
xador da minha obra emArapiraca), Fábio Lins e Ivania Luiz,
que primeiro abriram portas de salas de aula para apresentar
meu livro aos seus alunos); Fernando Amorim e Sônia (que
permitiram grande espaço para divulgação do livro por meio
de eventos diversos no CESMAC); a Pedro Henrique e Anne
Francially (que permitiram que fizesse parte do primeiro se-

26
Metodologia para Pesquisas Jurídicas & Sociais

minário de iniciação científica da SEUNE); a Sávio de Almeida


(que permitiu expor minha perspectiva sobre métodos e pes-
quisa ao Núcleo Direito Sociedade e Violência, no CESMAC);
a Paschoal Savastano e Wanessa Oliveira, que escreveram re-
senhas ao livro, surpreendendo-me com tamanha atenção; a
todos os orientandos e orientandas que apresentaram suas dú-
vidas nos últimos anos, inspirando muitas sugestões presentes
no livro, em especial Rogério, Polianny, Weverton, Viviane e
Fernanda; não teria sido possível concluir as atualizações sem
tamanho incentivo.
Com essas considerações, voltamos a observações ge-
rais sobre o livro que você tem nas suas mãos. Peço licença
para algumas liberdades que facilitarão nosso diálogo. Nas
citações que faço, às vezes, menciono os títulos dos livros.
Como verão no capítulo correspondente às citações, isso não
é recomendado, mas apenas indicar “autor, ano, páginas” entre
parênteses. Cometo essa ousadia contra as próprias regras que
apresento com uma razão. Cada obra mencionada é, ao mesmo
tempo, uma recomendação de leitura.
Do mesmo modo, adotei uma segunda ousadia metodo-
lógica que faz sentido, creio, no contexto dos objetivos deste
livro. Você verá que não indico a referência quando me refiro
a obras da Literatura, sejam poemas ou romances. Por serem
lembranças afetivas, como quando falo de experiências pessoais
em alguns capítulos, leia como se eu me referisse a amigos, não
a livros, pois são relevantes para pontuar ideias que para mim
não seriam tão claras sem suporte literário da ficção. Garanto
que são obras clássicas e fáceis de encontrar pelos títulos em

27
Sérgio Coutinho dos Santos

boas livrarias eletrônicas ou mesmo em edições que já caíram


em domínio público e estarão disponíveis para download em
endereços eletrônicos sugeridos nos anexos deste livro.
Traduzi citações de obras estrangeiras sem mostrar o ori-
ginal. Assim não ficam informações demais na mesma página
que não contribuiriam para os meus objetivos. Quando escre-
ver a sua pesquisa, traduza também, mas inclua o original em
notas de rodapé para que o orientador e a banca possam con-
ferir a qualidade da sua tradução ou se mudou o sentido das
palavras do original.
Outra observação precisa ser feita. Recomendo que,
quando existirem notas de rodapé, que elas não sejam descon-
sideradas. Deixo entre elas anotações complementares. Preten-
do que se acostume com essa finalidade para as notas, para que
possa usá-las não apenas para referências.
Procurei escrever aquilo que sentia falta em manuais que
meus alunos e orientandos liam, principalmente algo que mos-
trasse ser um livro escrito no século XXI. As correntes teóricas
contemporâneas que têm influenciado com maior frequência
as pesquisas acadêmicas serão, por isto, apresentadas. Have-
rá constantes sugestões de endereços eletrônicos, havendo ao
final do livro, três anexos correspondentes à internet. Não se
pode ignorar o fato de que seja tão comum hoje ler qualquer
livro com um olho alternando entre as páginas impressas e as
páginas do navegador do computador, tablet ou do celular.
Como se fosse um exercício, você está prestes a con-
cluir a leitura da Introdução ao livro. Faça sempre isso, mes-
mo quando o sumário fizer crer que apenas um capítulo ou

28
Metodologia para Pesquisas Jurídicas & Sociais

outro de determinado livro seja útil para você. Sempre confira


a introdução, não apenas o sumário, para conhecer a proposta
do autor, e o prefácio, para ver um comentário sobre a impor-
tância do livro ou explicações gerais que facilitarão sua leitura.
Por vezes, o sumário pode não ser tão claro. No caso do pre-
sente livro, tentei dividir o máximo possível em tópicos para
agilizar suas consultas, mas recomendo que, pelo menos uma
vez, leia o livro inteiro. Não por vaidade do autor, de modo
algum, mas para que perceba as referências entre capítulos, os
momentos em que ideias desenvolvidas em certo tópico já se
faziam presentes embrionariamente em outro anterior ou têm
continuidade em itens posteriores.
Este é um guia voltado para que não se perca durante a
redação dos seus trabalhos acadêmicos. Que este livro possa
lhe acompanhar desde a decisão sobre seu tema até a impressão
e encadernação da versão final da sua pesquisa e além.

29
CAPÍTULO I

Ler e Pesquisar

É
muito comum estudantes se sentirem frustrados dian-
te de uma prova pensando “como me saí tão mal, se li
tudo que o professor exigiu?”. A resposta é simples. Ler
é um ato suficiente quando se trata de um romance, de contos,
de uma revista, de um jornal. Contudo o consumo de livros está
em queda livre e se procuram cada vez mais fontes rápidas de
informações.
Estudar envolve tempo, dedicação, suor, às vezes
lágrimas. É preciso ter disciplina sobre os horários, os lugares
mais adequados, a postura corporal, a iluminação. É preciso
anotar informações relevantes em fichamentos (como será
mostrado em outro capítulo), consultar obras de referência
para tirar dúvidas (dicionários, enciclopédias) ou motores de
busca como o Google2, por exemplo.
De modo contínuo, é um exercício para ordenar ideias,
por meio de anotações pelas quais não deixará esquecer nada
de importante que tenha encontrado.
Ler durante uma pesquisa como se lê um romance é fa-
zer um estudo desorganizado. Você perderá muito tempo len-
do o que não tem relevância. Para os objetivos pretendidos.

http://www.google.com.br. Todos os websites recomendados serão apresentados em notas de


2

rodapé, mas, para unificar as recomendações, também constarão de uma lista ao final do livro.

31
Sérgio Coutinho dos Santos

Provavelmente, ao final de cada capítulo, terá esquecido gran-


de parte do que foi lido e ficará com a impressão de que é um
esforço inútil.
Por isso, é necessário conferir nos livros se o(a) autor(a)
lembrou de mencionar, no prefácio, que os capítulos são inde-
pendentes entre si, que relação existe entre eles, qual é a impor-
tância de cada um, de modo a delimitar as páginas que você pre-
cisará ler. Contemos com um exemplo. Quem já tiver alguma
vivência em Ciências Sociais, poupará cerca de 80 páginas na
leitura de La condición social, de Enrique M. Del Percio, se ler
com atenção a introdução ao livro. O autor adverte:

Com o objetivo de facilitar chegar até o


final, permito-me sugerir ao leitor espe-
cialista em Ciências Sociais que passe sem
escalas ao terceiro capítulo, pois em razão
do caráter introdutório dos próximos, refe-
rentes à sociedade, à socialização e aos gru-
pos sociais – não encontrará mais do que
algumas breves distinções em relação à li-
teratura sociológica contemporânea (DEL
PERCIO, 2010, p. 31).

Se o livro for bem escrito, terá uma introdução prática,


em que o autor mostra por que escreveu seu livro e como ele
deve ser lido. Ajudará, portanto, procurar sempre chaves de
leitura, ou seja, os caminhos que tornam mais prático aos seus
olhos chegar aos objetivos do autor.

32
Metodologia para Pesquisas Jurídicas & Sociais

Defina o seu ritmo de leitura, pois facilitará os estudos.


Basta contar quantas páginas de um romance agradável lê em
uma hora. Em um mês, que mudança esse ritmo teve. Compa-
re com a velocidade estudando para uma prova no primeiro,
no segundo, no terceiro dia. Quando precisar visitar uma bi-
blioteca e estudar um livro sem retirá-lo de lá, saberá se poderá
fazer isso na tarde que tem disponível ou se precisará agendar
outros dias para voltar lá (afinal, espera-se que um pesquisador
tenha, pelo menos, uma agenda de compromissos3).
Será triste afirmar que chegou ao final do seu curso sem
algo que tenha despertado sua curiosidade o suficiente para ser es-
tudado durante meses de dedicação. Com certeza existe algo, mas
você pode ainda não ter percebido. Estudar o que não interessa
pode ser a razão para a pesquisa atrasar, não se dedicar aos livros,
o que pode acontecer diversas vezes nos currículos obrigatórios
dos cursos superiores. Veja a pesquisa científica como a oportu-
nidade para você se expressar com máxima autonomia possível.
Você pode ainda não ter um estilo literário destacado, mas
lembre-se de que ninguém cobrará isso. Afinal, o que mais impor-
tará será o conteúdo da sua apresentação. As normas sobre a for-
matação dos trabalhos padronizam para que ninguém tenha evi-
dência pela forma, pois todos partilharão uma mesma linguagem
no conhecimento científico. Esta linguagem deve ser clara, a mais
objetiva possível, mas isso não impede que mostre o que pensa.
Se ainda assim tiver dúvidas para começar a escrever,
o fundamento das orações em língua portuguesa não guarda

Consulte os capítulos em que me refiro a pesquisas eletrônicas, para dicas de agendas na internet,
3

por meio do Google Agenda e do Evernote.

33
Sérgio Coutinho dos Santos

grandes mistérios. Siga a simples sequência “sujeito + verbo +


predicado + ponto”. Ficou à vontade? Pode começar a fazer uma
ou duas relações de subordinação. Passe para novo parágrafo
quando começar uma nova ideia e seu texto começará a fluir4.
Francine Prose é clara neste sentido. Ela mostra em seu
livro “Para ler como um escritor” de modo criativo como a gra-
mática colabora para dar ritmo à nossa escrita. Se, cuidadosa-
mente, monto as frases pensando no sentido da sua pontuação,
mantenho a clareza em tudo o que escrevo. Mais do que frases
bonitas, diz a autora, é importante ter sentenças que o leitor
possa entender à primeira leitura (PROSE, 2008).
Portanto, quem lê precisa ser conduzido por você aos re-
sultados da sua pesquisa. Se esquecer das vírgulas ou dos pon-
tos, cansará a leitura e seu leitor desistirá no caminho. Como
os primeiros leitores costumam ser, na pesquisa, aqueles que
lhe avaliam, é estritamente recomendável se socorrer de uma
gramática e respeitar suas regras.
Enquanto se dedicar aos estudos, você perceberá que os
argumentos, as ideias apresentadas. Por quem você lê, serão
fundamentais para construir a sua compreensão.Tanto lendo
quanto escrevendo, é preciso se policiar para não reduzir cada fonte
à própria ideologia, como se fosse preso por seus próprios rótulos.
Agora que ficaram mais claros aspectos sobre como es-
crever, vamos conversar sobre as espécies de trabalhos científi-
cos que poderá preparar.

Se, mais tarde, quiser se aperfeiçoar para tornar seus trabalhos acadêmicos em livros, cf.
4

PROSE (2008).

34
CAPÍTULO II

Formas de Conhecimento

E
ste livro é voltado para sua prática de pesquisa, mas
precisamos situar o campo que estamos estudando. Se
você estiver se preparando para a redação de trabalhos
acadêmicos, então é preciso não confundir a linguagem usada
neles com aquela empregada em outros campos do conheci-
mento. Um primeiro passo necessário é que tenhamos uma
ideia clara do que caracteriza as formas de conhecimento. Para
isso, serão explicados os conhecimentos popular, mítico, filo-
sófico, técnico, científico e jurídico.

2.1. Conhecimento popular (ou senso comum ou


coloquial ou vulgar)

Esta forma de conhecimento tem como fonte de dados a


subjetividade partilhada, um imaginário coletivo. Informações
são encaminhadas e o sujeito que as transmite primeiro tem
autoridade moral suficiente para impor sua vontade, por mais
absurda que a informação pareça.
O conhecimento transmitido é qualitativo ou adjetivo.
Isso se dá porque todas as informações transmitidas, em vez
de serem descritivas de algo, visam defender um resultado.
Sempre resulta em algo que “faz mal” ou que “faz bem” à

35
Sérgio Coutinho dos Santos

saúde, à imagem, ao desempenho sexual, seja lá qual for a


situação.
Quando há supostas relações de causa e efeito, elas não se
amparam na evidência, na observação, mas na autoridade mo-
ral de quem fala (“manga com leite faz mal, minha avó já dizia”
é um exemplo disso). As relações não se completam racional-
mente, pois não há causa eficiente para o efeito, pelo menos
não causa evidente. A causa é sempre suposta.
Não há produção nem reprodução sistemática do conhe-
cimento. É mera tradição oral direta, as vivências subjetivas
são encaminhadas dos mais idosos ou experientes do grupo
social para os iniciantes em certas práticas.
Como diria Durkheim, é produto da solidariedade me-
cânica em certos grupos sociais. Trata-se de relações humanas
em que a possibilidade de mudança é restrita, uma vez que
os vínculos entre os papéis sociais das pessoas são continua-
mente feitos do mesmo modo ou sob ampla similitude (1999,
prefácio). Não precisamos pensar no Neolítico ou em tribos
isoladas, nem mesmo em povoados sertanejos distantes. Bas-
ta lembrar do peso que preceitos morais familiares possam ter
definindo toda nossa visão de mundo.
Definir, por si, significa dar fim a algo. O conhecimen-
to dogmático, tanto religioso quanto popular, traz orientações
finais sobre como os fiéis membros de certo grupo social de-
vem se comportar. Contudo, diferente do que ocorre com o
conhecimento religioso, neste caso, não há um caráter sistemá-
tico. As diretrizes são aleatórias, de acordo com problemas que
vão surgindo no cotidiano. É difícil sob baixa escolaridade não

36
Metodologia para Pesquisas Jurídicas & Sociais

seguir esta forma de conhecimento, dada sua infalibilidade. É


sempre “tiro e queda”, algo que “sempre foi assim”, “ai de quem
não fizer assim”.
Conversa de boteco é ótima em boteco, mas não ha-
verá uma cervejinha durante seus estudos (se tiver, existe
algo errado: lembre-se de que é trabalho, não diversão, por
mais que seja prazeroso o que estuda). Portanto, a lingua-
gem precisa ser protegida por critérios de exatidão que a
informalidade do cotidiano não exige. Do mesmo modo,
sendo conhecimento de tradição oral e aleatória, é oposto à
regularidade da produção da prova científica, que deve ser
realizada de tal modo que se possa contestar e que qualquer
um possa reproduzi-la.
A prática forense pode se confundir com essa área do
conhecimento. Hábitos nas carreiras jurídicas podem se basear
não no que a legislação prevê ou a jurisprudência recomen-
da, mas no que simplifica os atos processuais (como escolher
quem senta à esquerda ou à direita nas salas de audiência). Do
mesmo modo, boatos e palpites se alastram nos foros sem que
o estudante de Direito possa checar a veracidade de cada infor-
mação. O melhor caminho é fingir interesse por educação, mas
ignorá-los no instante seguinte.
Ao mesmo tempo que tantos cuidados são necessários,
o senso comum pode ser indispensável. Quando lidamos com
trabalhos de campo, é preciso conhecer a linguagem e o modo
de pensar, ou seja, as representações sociais próprias do grupo
estudado. Assim, a linguagem coloquial expressa ideias que,
apenas por meio dela, poderão ser entendidas. Há uma simbo-

37
Sérgio Coutinho dos Santos

logia em qualquer linguagem adotada, há uma carga histórica


e cultural em todo grupo da sociedade.
O conhecimento científico examinará, analisará e
permitirá conclusões, mas a matéria prima serão as entre-
vistas e os questionários em linguagem, por muitas vezes,
nada acadêmica. Isso tanto pode ocorrer com trabalhado-
res agrícolas entrevistados quanto quando lidamos com a
linguagem técnica.
Portanto, se você for estudante de graduação ansioso por
vestir um terno para se sentir fardado para a carreira escolhi-
da, lembre-se sempre de que primeiro é preciso saber o que
fazer com ele. Além de vestir, traz consigo uma carga simbólica
grande mas também uma pressuposição de que seja conhece-
dor da área de estudo a que se dedica.

2.2. Conhecimento religioso (ou mítico ou


transcendente ou sobrenatural)

O conhecimento mítico não se confunde com o conhe-


cimento popular, apesar das semelhanças entre eles, como já
fora mencionado. Ele costuma ter como fonte de dados obras
sagradas, portanto incontestáveis e com força de autoridade,
para um certo grupo de pessoas e a tradição oral de sacerdotes
treinados para transmitir as informações centrais para a repro-
dução autorizada do conhecimento.
Já se percebe que há um sistema envolvido. Os rituais,
bem como os estudos especializados, traduzem métodos para
autorizar alguém a passar o conhecimento produzido adiante.

38
Metodologia para Pesquisas Jurídicas & Sociais

A produção é histórica por pertencer a certo contexto


dos fatos, mas não para aqueles que a produzem, por ser atri-
buída a divindades. Mesmo que seja suposta a “inspiração di-
vina” sobre alguém para que tenha escrito o livro sagrado, as
ideias seriam preexistentes entre as divindades.
As causas são consideradas transcendentais. Toda a sis-
tematização consiste em rituais para se ter acesso ao conheci-
mento a respeito do sobrenatural. O ritual pode consistir em
danças, livros, tradição oral, mas sempre haverá um sistema de
como devem ocorrer para que a benção divina possa ser reco-
nhecida pelos seus participantes.
Em função do poder que a crença em um meio sobre-
natural exerce sobre os mortais que nele acreditam, não há
como se contrapor àquele conhecimento. Assim como com
o poder dos mais idosos ou experientes no senso comum,
também nesse caso, o conhecimento é dogmático, incontes-
tável e será presumida sua verdade independente de veros-
similhança.
Como afirma Auguste Comte em sua lei dos três está-
gios do conhecimento, a humanidade mudou periodicamente
o modo como lida com essa forma de conhecimento. Do fe-
tichismo primitivo ao conhecimento científico, o que ditou a
mudança histórica da organização coletiva de ideias sobre o
mundo foi a busca pela menor subordinação do ser humano
à natureza. Quanto mais obedecemos a ordens sobre as quais
não temos sequer o poder de refletir sobre elas poderem ser di-
ferentes, mais submissos estaremos ao conhecimento de forças
míticas sobre nós. Segundo Comte:

39
Sérgio Coutinho dos Santos

No estado teológico, o espírito humano, di-


rigindo essencialmente suas investigações
para a natureza íntima dos seres, as causas
primeiras e finais de todos os efeitos que
o tocam, numa palavra, para os conheci-
mentos absolutos, apresenta os fenômenos
como produzidos pela ação direta e contí-
nua de agentes sobrenaturais mais ou me-
nos numerosos, cuja intervenção arbitrária
explica todas as anomalias aparentes do
universo (COMTE, 1998, p. 22).

O mito, como forma de definir esse conhecimento, não


surge nem se reproduz aleatoriamente. Toda a construção do
pensamento é iconográfica, ou seja, é baseada em símbolos que
representam divindades. Inicialmente, como lembra Comte,
foi a própria natureza, no momento fetichista em que, assim
como crianças temem a escuridão até hoje, adultos temiam em
outras épocas a própria chegada da noite ou adoravam o Sol e
a Lua.
Pode haver identidade com o poder que atribuímos,
ainda de modo fetichista, às contas do mês, a um chefe como
alguém que nos vigiaria 24 horas ou mesmo ao parceiro ou à
parceira em um relacionamento como mais do que uma pes-
soa, alguém que nos governa. À medida que o mundo passava
a ser explicado, tanto na história da humanidade quanto na
história de vida de cada um de nós, por nossas próprias ideias
e, mais tarde, por critérios objetivos de comprovar a veraci-

40
Metodologia para Pesquisas Jurídicas & Sociais

dade de algo regularmente, livramo-nos do controle de forças


sobrenaturais para explicar o mundo em nossos próprios ter-
mos e segundo nossas próprias vontades, o que na Filosofia
da Ciência se denomina Antropocentrismo. Ainda segundo
Comte, ao explicar o modo como agimos, por diversas ve-
zes, segundo um estado metafísico na nossa compreensão do
mundo:

(…) os agentes sobrenaturais são substituí-


dos por forças abstratas, verdadeiras enti-
dades (abstrações personificadas) inerentes
aos diversos seres do mundo, e concebidas
como capazes de engendrar por elas pró-
prias todos os fenômenos observados, cuja
explicação consiste, então em determinar
para cada um uma entidade corresponden-
te (Idem, Ibidem).

Pode parecer deslocado dos objetivos do livro falar em


conhecimento religioso. Contudo, se você mantém pressupos-
tos na sua pesquisa sem refletir sobre eles, se apenas lê o que
concorda com suas ideias iniciais, então sua perspectiva é tão
dogmática quanto os estudos teológicos costumam ser.
Usam-se, no Direito, muitas expressões que são tipica-
mente religiosas, em busca do argumento de autoridade dos
supostos sábios, como “a melhor doutrina”, “a doutrina pre-
dominante”. Normalmente, nada mais são do que simplórios
recursos de retórica para convencimento coletivo. Não têm,

41
Sérgio Coutinho dos Santos

como logo veremos, ligação com a produção do conhecimento


científico.
Um aspecto em que se torna evidente o quanto ainda so-
mos vinculados a essa forma de conhecimento, além da vivência
religiosa na intimidade que cada um tenha, é a submissão das
próprias ideias a argumentos de autoridade. Por vezes, mencio-
nar que juízes, desembargadores, ministros de tribunais supe-
riores disseram algo pode parecer bastar para expressar uma
verdade absoluta. É comum pressupor como a verdade aquilo
que o Supremo Tribunal Federal disser que seja verdade. Con-
siderando que todos são humanos, estudiosos, porém falíveis,
com cargos que se traduzem em poder político e jurídico, mas
que, ainda assim, podem trazer argumentos inverossímeis, então
é preciso presumir a contestabilidade de qualquer argumento.
Isso distinguirá sua pesquisa do conhecimento religioso.

2.3. Conhecimento filosófico (ou metafísico)

O conhecimento filosófico se caracteriza pela sistemati-


zação da razão. As causas serão lógicas, sem necessária contra-
partida na realidade. A tradição será acadêmica.
Apesar de não ser experimental, é conhecimento falível.
Por se pressupor a falibilidade, é contestável e refutável. Devido
à racionalidade, por vezes, pode ser confundido com o conhe-
cimento científico. Essa confusão é previsível. Afinal, a Filoso-
fia provê a Ciência com os seus fundamentos. Os pressupostos
científicos são derivados de reflexões filosóficas. Não é à toa
que ambos os campos fazem parte de trabalhos acadêmicos.

42
Metodologia para Pesquisas Jurídicas & Sociais

É preciso lembrar que os principais métodos de organi-


zação das ideias são derivados da Filosofia, por meio de áreas
específicas como a Epistemologia ou Filosofia da Ciência. O
pensamento epistemológico tem algumas diretrizes relevantes
para qualquer forma como o conhecimento científico se faça
presente no nosso cotidiano acadêmico. Lidaremos com al-
guns entre eles, quais sejam o método dialético e o respeito a
paradigmas.
O pensamento dialético move-se desde Parmênides até
os nossos dias. Se era dito entre pré-socráticos que ninguém
mergulhava duas vezes no mesmo rio, dizia-se com isso que a
ideia sobre o rio e sobre si mesmo estão em contínua transfor-
mação. Em termos hegelianos, lidamos assim com uma contí-
nua negação da ideia anterior de si. A perspectiva fenomenoló-
gica faz ver o mundo a partir de seus epifenômenos, em outros
termos, das percepções imediatas bem como captando-as em
processo. O processo das transformações será continuamente
revisado por novas perspectivas.
A dialética é, pois, uma forma de pensar fundamental
para que o conhecimento não se torne de modo algum dogmá-
tico. É necessária a contínua negação do pensamento previa-
mente tido como estável. Como bem define Marilena Chauí:

Como método da definição verdadeira, a


dialética é o caminho para descobrir quais
ideias participam de outras e quais não po-
dem participar de outras. Participação (…)
significa: encontrar ideias que constituem

43
Sérgio Coutinho dos Santos

necessariamente uma essência, sem que


tais ideias constituintes percam sua própria
identidade ou individualidade (CHAUÍ,
2004, p. 278).

O método dialético permite, pois, que o conhecimento


filosófico não se assemelhe ao conhecimento mítico. As gran-
dezas abstratas, as ideias analisadas, não nos dominam, mas
são refletidas por nós para nossas visões de mundo se torna-
rem verossímeis, enquanto pensamos a sociedade.
Um aspecto fundamental da contribuição epistemológi-
ca a qualquer pesquisa científica é sistematizado por Thomas
Kuhn na ideia de paradigmas. Os paradigmas são orientações
fundantes para o conhecimento. Um paradigma delimita o
pensamento, em todas as linhas de raciocínio corresponden-
tes. Como explica Isaac Epstein, a prática contínua da expe-
riência cientifica leva a contestar as ideias precedentes, o que
Kuhn chama de “ciência normal”, encontrando as “anomalias”
que denotam a necessidade de alteração dos paradigmas para
novos rumos à ciência (EPSTEIN, 1990). Assim explica o pró-
prio Kuhn:

(…) a ciência normal frequentemente su-


prime novidades fundamentais, porque
estas subvertem necessariamente seus
compromissos básicos. Não obstante, na
medida em que esses compromissos retêm
um elemento de arbitrariedade, a própria

44
Metodologia para Pesquisas Jurídicas & Sociais

natureza da pesquisa normal assegura que


a novidade não será suprimida por muito
tempo (…) quando os membros da profis-
são não podem mais esquivar-se das ano-
malias que subvertem a tradição existente
da prática científica (…) então começam
as investigações extraordinárias que final-
mente conduzem a profissão a um novo
conjunto de compromissos, a uma nova
base para a prática da ciência (KUHN,
2003, p. 24).

Quando, por exemplo, tivemos como referência a dispu-


ta da Guerra Fria entre países capitalistas e socialistas, esse era
um paradigma para a reflexão política sobre o mundo. Quando
este modelo ruiu, com a queda do muro de Berlim e o fim da
União Soviética, não mais se poderia falar nos mesmos termos
sobre socialismo. Era necessário, portanto, revisar os paradig-
mas que antes eram adotados.
O conhecimento filosófico é, assim, fundamental para a
compreensão do conhecimento científico. Não há ciência sem
pensar o porquê de fazê-la, sem interrogarmo-nos sobre o que
nos move para pensar em certas ideias e não nos preocuparmos
com outras. A epistemologia5, como ramo do conhecimento fi-
losófico, é, assim, uma metaciência, como a metalinguagem que

Não é possível esquecer, para a História da Ciência, seus pressupostos em Galileu, Bacon e Des-
5

cartes. Deles decorrem o caráter experimental e o racionalismo necessários à particularidade do


conhecimento científico.

45
Sérgio Coutinho dos Santos

explica uma narrativa que lemos, ela explica a ciência enquanto


ela é feita, como se partisse de fora examinando os pressupostos
do que possa ser chamado de conhecimento científico. É, pois,
pressuposto para compreender o mundo em que vivemos, esco-
lhendo com prudência entre as ideias prováveis sobre este mun-
do, mas com critérios contínuos de exame do que seja válido
entre categorias e métodos aplicáveis à observação da realidade.
Um outro aspecto fundamental para o conhecimento fi-
losófico auxiliar ao conhecimento científico e ao conhecimento
jurídico, como consequência, é a contribuição da Lógica. O ra-
ciocínio será considerado lógico se atender, pelo menos, a três
princípios: identidade, terceiro excluído e não contradição6.
O primeiro deles não é o mesmo que a semelhança en-
tre termos. A vida que eu tenho e a vida que você tem são se-
melhantes, uma vez que decorram dos mesmos critérios para
que permaneçamos vivendo, mas não têm entre si identidade.
Vivemos de modos distintos, temos experiências, memórias
e interpretações dessas memórias distintas, sem contar tantas
outras pequenas distinções a cada instante do cotidiano. A
identidade, o que é assim se identifica com o que também
é, nos permite agrupar ideias pelas mesmas categorias, gerar
classificações, porque se resumem a algo em comum que te-
nham entre si para certa explicação do mundo.
Os outros dois princípios decorrem do primeiro. Se algo
está identificado como sendo algo, não pode ao mesmo tempo
não ser, portanto se é, vem o terceiro excluído pelo qual ou a

Para mais informações sobre Lógica e Direito, cf.: COELHO, 2008; CAVALCANTI, 2003; CAR-
6

NEIRO, 2008.

46
Metodologia para Pesquisas Jurídicas & Sociais

ideia será verdadeira ou será falsa, ou será válida ou será inválida.


Assim, a Filosofia contribui com critérios 6 Para mais informações
sobre Lógica e Direito, cf.: COELHO, 2008; CAVALCANTI, 2003;
CARNEIRO, 2008. de validade na construção da argumentação,
tão valiosa para o conhecimento jurídico ser produzido.
Quando nos comunicamos, usamos argumentos. Os ar-
gumentos são ideias em ordem, encadeadas por meio de pro-
posições ou enunciados. Costumam se apresentar na lingua-
gem por meio de frases. Podemos ter diversas frases trazendo
a mesma ideia. Para que as ideias se liguem, haverá inferências,
linhas narrativas que integram as proposições que representam
aspectos da ideia.
Todas essas considerações permitem que você mesmo
revise a validade do seu texto. A revisão inicial, feita pelo pró-
prio autor, não se resume a uma análise gramatical. Para isso,
considerando quantas regras há em nossa língua portuguesa, é
preciso mesmo contar com algum profissional contratado para
fazê-la. A primeira revisão é a validade das ideias apresentadas,
o que nos faz precisar, especialmente nas Ciências Humanas,
por serem essencialmente argumentativas, de pressupostos ló-
gicos para atestar a coerência dos argumentos.

2.4. Conhecimento técnico

A sistematização do conhecimento técnico é mediana.


Não é completa porque é conhecimento limitado, que visa
atingir certo resultado com as habilidades propostas na tradi-
ção. O conhecimento técnico se refere à capacitação para algo,

47
Sérgio Coutinho dos Santos

podendo ser profissional, para habilidades da vida pessoal ou


quaisquer outras questões extremamente específicas.
Quando nos comunicamos, usamos argumentos que
são ideias em ordem, encadeadas por meio de proposições ou
enunciados. Costumam se apresentar na linguagem por frases
que complementarão a mesma ideia, conectando-as a outras,
gerando inferências, linhas narrativas que se integram gerando
novas conexões.
Os livros e os cursos preparatórios para concursos públi-
cos, os manuais diversos são exemplos corriqueiros da repro-
dução do conhecimento técnico. São obras imunes à reflexão
mais profunda e sistemática, mas que conduzem a resultados
imediatos específicos.
Do mesmo modo, podemos perceber a prática jurídica.
Para fazer uma petição, não será preciso recordar todas as dis-
cussões teóricas sobre determinada questão, mas tão somente
conduzir os argumentos ao objetivo pretendido pelo autor. Di-
zem mesmo que se a petição for mais longa ou complexa have-
rá juízes que se cansarão e não terminarão a leitura...
Estamos conduzindo conhecimento científico quando te-
mos ampla oportunidade para conduzir nossa reflexão segundo
nossas curiosidades. Não temos por limite uma procuração ou o
que tribunais já tornaram rígido por meio de súmulas.

2.5. Conhecimento científico

O conhecimento científico tende à homogeneização. A


sua sistematização é ritualizada pelo meio acadêmico, com di-

48
Metodologia para Pesquisas Jurídicas & Sociais

versos procedimentos para testar a legitimidade da informação


e a busca por padrões de conhecimento. Para isso existem os
congressos acadêmicos, as bancas examinadoras, que são pro-
cedimentos voltados para comparar o que é transmitido pelo
pesquisador com o que já fora produzido e examinar resulta-
dos possíveis.
Uma outra característica relevante é que se trata de co-
nhecimento objetivo. Difere-se da subjetividade dos dois pri-
meiros tipos (senso comum e mítico) porque pouco importa
quem transmite, o que mais importará será o objeto examina-
do. Pode ser um estudo que terá sua continuidade com outros
pesquisadores, não faz diferença quem fala.
Não será necessário cercar, proteger quem transmite a
informação nem a própria informação antes considerada legí-
tima. Será, pois, plenamente falível e refutável, de acordo com
a evidência.
Devido à evidência, há o predomínio da causalidade. Em
todos os fenômenos estudados, será examinado o que lhes der
causa, os fatos que fazem o fenômeno funcionar como seus
pressupostos. Tudo será verificável. A validade será contingen-
cial, podendo ser reconhecida sob a condição de admitir que
novos estudos podem conduzir à revisão de todas as informa-
ções transmitidas7.
Não há espaço para resultados que possam ser vistos
como dogmas. Não se confundem leis científicas com dog-
mas. Leis, como a da gravidade, são assim chamadas porque já

Para se aprofundar sobre os pressupostos da cientificidade, cf. POPPER, 1972; PARSONS, s/d;
7

HAMLIN, 2006.

49
Sérgio Coutinho dos Santos

foram testadas tantas vezes, têm sua causalidade tantas vezes


examinada, que já não há mais por que tentar refutar. Kuhn
é claro quanto a esse constante cuidado contra a rigidez das
ideias na ciência, quando explica a necessidade de contínua re-
volução do pensamento científico. Apesar da citação ser longa,
é muito esclarecedora:

No desenvolvimento de qualquer ciência,


admite-se habitualmente que o primeiro
paradigma explica com bastante sucesso a
maior parte das observações e experiências
facilmente acessíveis aos praticantes daque-
la ciência. Em consequência, um desen-
volvimento posterior comumente requer a
construção de um equipamento elaborado,
o desenvolvimento de um vocabulário e
técnicas esotéricas, além de um refinamen-
to de conceitos que se assemelham cada vez
menos com os protótipos habituais do senso
comum. Por um lado, essa profissionaliza-
ção leva a uma imensa restrição da visão do
cientista e a uma resistência considerável à
mudança de paradigma. A ciência torna-se
sempre mais rígida. Por outro lado, dentro
das áreas para as quais o paradigma chama a
atenção do grupo, a ciência normal conduz a
uma informação detalhada e a uma precisão
da integração entre a observação e a teoria

50
Metodologia para Pesquisas Jurídicas & Sociais

que não poderia ser atingida de outra ma-


neira (KUHN, 1998, p. 91).

Por isso é imprescindível a contínua revolução do conhe-


cimento científico, uma vez que as referências para a curiosi-
dade científica mudam com o passar do tempo. Mesmo assim,
será sempre necessário tomar cautela para que se mantenha o
que seja entendido como ciência. Novas ideias surgem conti-
nuamente entre as áreas do conhecimento e, mais importante
do que sustentar a divisão epistemológica de modo hierárqui-
co, é definir limites do que possa ser provado e do que seja, por
convenção, conhecimento válido sobre a realidade. Em outros
termos, do que mereça ser chamado de ciência.
A importância de termos contínua atenção para os para-
digmas da cientificidade pode ser atestada nos exemplos trazi-
dos por Carl Sagan. Ele analisa, em O mundo assombrado pelos
demônios, as supostas ciências, o conhecimento que é pseudo-
científico por ter aparente experiência probatória, mas não se
submeter à ciência: um exemplo comum é pensarmos na Astro-
logia ou na Ufologia; têm cuidado experimental mas não con-
seguem provar as suas hipóteses. Têm hipóteses sistematizadas
sem evidências contínuas de que as coisas que dizem funcionar
de certo modo, de fato teriam aquele mecanismo na realidade.
As hipóteses, conforme veremos quando eu me referir aos
projetos de pesquisa, são ainda alternativas diante de nossas dú-
vidas, possíveis respostas, mas ainda não comprovadas. Se nós
nos apegarmos a elas como substitutas da experimentação, da
prova, então não haverá ciência mas pseudociência, algo que por

51
Sérgio Coutinho dos Santos

ser sistemático pode se confundir com o conhecimento científi-


co à primeira vista, mas que dele se distingue com clareza.

2.6. Conhecimento jurídico

Há enormes divergências para qualificar o conhecimen-


to jurídico entre as áreas do conhecimento. Não é simples de-
fini-lo como ciência8: não é conhecimento evidente, mas que
estuda fenômenos que ficam entre o lógico e o retórico. Afinal,
ou são comandos normativos abstratos examinados sistemati-
camente ou de acordo com a capacidade de convencimento de
quem o transmite.
Há tentativas de enquadrá-lo como ciência, uma “ciência
zetética”, distinta de todas as outras. Há teses também como
teoria-síntese, envolvendo diversas áreas em algo novo no
campo do conhecimento, por meio de “ciências auxiliares” que
constituiriam o conhecimento jurídico.
Contudo, essas tentativas de enquadrá-lo a todo custo
como ciência podem trazer, como outras discussões tentam
dar conta, um fator ideológico. Afinal, devido ao respeito que o
caráter científico atribui a informações, caracterizar seus pres-
supostos como ciência conduziria à possibilidade de domina-
ção política, legitimaria a ritualização do acesso ao conheci-
mento. Não seria científico por ser refutável, mas por ser para
poucos. Portanto, haveria a ideologização da ciência jurídica.
Seria possível ainda considerá-lo como conhecimento téc-
nico. É assim examinado em apostilas preparatórias para con-
Para refletir sobre esse inconcluso debate: MARQUES NETO, 2001.
8

52
Metodologia para Pesquisas Jurídicas & Sociais

cursos públicos, manuais de peças processuais, nos cursos de


prática forense nas faculdades. Dado que certo procedimento
atinge certo efeito esperado, bastaria praticá-lo sem contestação.
Entre conhecimento científico, ideológico, técnico, a au-
tonomia epistemológica do conhecimento jurídico não tem
quaisquer certezas, cabendo a cada intérprete se situar nesse
debate ou dispensá-lo, dependendo do que estudar.
Hans Kelsen, ao sistematizar sua Teoria Pura do Direi-
to, traz contribuições para a compreensão científica do Direito
que têm sua vigência epistemológica até nossos dias. Kelsen
afirma que o Direito como ciência distinta de uma Sociologia
ou de uma Filosofia do Direito (por isto denomina “Teoria
Pura”, pela autonomia científica), parte de uma “técnica especí-
fica de organização social” (KELSEN, 2000, p. 8).
O caráter coercitivo dessa ordem específica faz com que
o Direito decorra de uma sistematização de deveres. Será, por-
tanto, distinto dos paradigmas das ciências naturais bem como
das demais ciências humanas pelo “dever ser” inerente. Apenas
as autoridades legítimas para ordenar as normas de organização
social poderão atribuir direitos bem como obrigações às pessoas
nas suas relações sociais de modo impositivo (Idem, p. 560-562).
Em todas essas perspectivas sobre o Direito como ciên-
cia, bem como em qualquer outra que você adotar em sua in-
vestigação, será fundamental argumentar. Caso seja relevante
para sua pesquisa usar essa categoria, Direito como ciência,
precisará conhecer os debates em curso e se posicionar. Não há
pesquisa acadêmica sem que o pesquisador se posicione.

53
CAPÍTULO III

Projeto de Pesquisa

H
á muitos manuais voltados ao formato de um projeto.
A maioria das faculdades possui formulários com as
partes que recomendam para sua elaboração. Contu-
do, começar a redigir o primeiro projeto costuma ser difícil,
não por não encontrar o formulário, mas pela dificuldade para
organizar o conteúdo adequado. Por isso, as recomendações
aqui não serão voltadas para a formatação, mas para a organi-
zação das ideias em projetos de pesquisa.

3.1 Tema e delimitação

Vamos partir de um exemplo. Para fazer uma pes-


quisa sobre o Tribunal do Júri, você precisaria considerar
todos os tipos de júris em todos os países e em todas as
épocas. Provavelmente, tem algo mais específico em sua
mente do que esta possibilidade. Então, o que atinge sua
curiosidade será mais importante do que pensar em algo
tão abrangente.
Não comece por pensar em um tema, mesmo que seja
algo sobre o que possua farta bibliografia. Comece por você,
pensando no que quer conhecer durante um longo período,
o que interessaria ler durante meses sem desistir de um mes-

55
Sérgio Coutinho dos Santos

mo assunto. Apenas em seguida poderá pensar em um tema.


Como diria o Padre Antônio Vieira:

Será pela matéria ou matérias que tomam


os pregadores? Usa-se hoje o modo que
chamam de apostilar o Evangelho, em que
tomam muitas matérias, levantam muitos
assuntos e quem levanta muita caça e não
segue nenhuma não é muito que se recolha
com as mãos vazias. Boa razão é também
está. O sermão há-de ter um só assunto e
uma só matéria9.

Seja leal, portanto, aos objetivos da sua curiosidade e


àquilo que tenha pertinência com o que pretende descobrir so-
bre seu assunto. Assim, construirá um tema. Você não quer es-
tudar o júri, mas algo relacionado a quando nasceu sua curio-
sidade, talvez, como exemplo, um determinado caso de grande
repercussão. Nele, pode ter se incomodado com a influência
dos meios de comunicação na tomada de decisão dos jurados,
com a comparação com decisões recentes de tribunais, entre
outras possibilidades.
Agora, perceba que passou a ter um tema. Ainda não pen-
se em converter em título, mas apenas em saber o que desperta a
sua atenção de modo tão contínuo que mereça que leia durante
meses sobre um mesmo assunto. Não será ainda hora de pen-

Leitura recomendada para todos os pesquisadores nas Ciências Humanas. Disponível em http://
9

www.cce.ufsc.br/~nupill/ literatura/sexagesi.html. Acesso em 04 de setembro de 2010.

56
Metodologia para Pesquisas Jurídicas & Sociais

sar no tempo que passará escrevendo, que dependerá das anota-


ções que fará durante a pesquisa. Por enquanto, saber o que lhe
interessa permitirá redigir a problematização do seu projeto.

3.2 Problematização

O primeiro passo de um projeto de pesquisa não é de-


finir um título, ao contrário do que colegas de turma costu-
mam perguntar para pesquisadores iniciantes. Nem mesmo
definir um tema. Tudo isso é consequência de uma boa pro-
blematização.
Problematizar, em uma pesquisa acadêmica, é organi-
zar as próprias dúvidas. Se eu sei o que quero descobrir, se
consigo definir os limites da minha curiosidade, sou capaz de
ordenar minha pesquisa inteira. Tudo que parecer interessan-
te, mas que não satisfizer àquela curiosidade, não interessará
aos meus estudos.
É comum encontrarmos, em manuais e cursos de meto-
dologia, a afirmação de que a problematização seria conver-
ter o que se quer saber em uma pergunta. É simples, mas não
precisamos exagerar. A referida pergunta deve ser a mais exata
possível. Se quero saber algo sobre um certo tema, não pergun-
tarei apenas “quem é fulano?” ou a resposta jamais se encerra-
rá, com divagações que passarão por diversas interpretações
sobre sua infância, adolescência, paixões e mágoas, o que tem
feito, entre outros fatores que, no contexto em que perguntei
seriam dispensáveis. Se torno-a mais específica, perguntando
“qual é seu nome completo?”, “para que time de futebol torce?”,

57
Sérgio Coutinho dos Santos

“qual é seu signo?” eu terei informações específicas que pode-


rão satisfazer curiosidades.
Desse modo se constitui a problematização de uma pes-
quisa. Define-se um problema ao especificar o que se quer sa-
ber com a máxima precisão.
Contudo, se a problematização envolve o questionamen-
to de um objeto de estudo, há, para qualquer questão, alterna-
tivas possíveis no ato de responder. Essas alternativas serão as
hipóteses de pesquisa. Se eu tiver uma hipótese que dependa
de uma escolha entre outras, eu terei hipóteses primárias e se-
cundárias.
Uma situação possível: se problematizar o que leva es-
tudantes do ensino médio de classe média alta ao consumo de
entorpecentes, eu posso ter como hipóteses a insatisfação fa-
miliar, a influência de amigos, filmes mostrando pessoas con-
sumindo as substâncias. Contudo, nenhuma das respostas será
ainda verdadeira. Apontarão, sim, para o leque de informações
que ainda não tenho sobre o assunto. Afinal, dependendo do
que já soubesse por leituras, experiências, pesquisas prelimina-
res, poderia ter dispensado algumas hipóteses.
Por isso, problematizar e formular hipóteses define os
limites do que se quer saber e do que já se pensa saber sobre
determinado assunto. Uma vez ultrapassado esse momento da
organização da futura pesquisa, torna-se possível partir para
outro momento do projeto.
Você leu até agora, mas ainda tem dúvidas sobre o que
problematizar? Se trabalhou durante o seu curso, se fez algum
estágio, pense no que já se mostra para você como algo rele-

58
Metodologia para Pesquisas Jurídicas & Sociais

vante para a prática profissional após se formar. Se esteve em


algum congresso, fez minicursos, lembre-se do que despertou
sua curiosidade para saber mais. Se apresentou algum seminá-
rio em sala de aula ou escreveu algum trabalho para alguma
disciplina, pense quantas vezes se sentiu frustrado por não po-
der estudar por mais tempo sobre aquele assunto. Talvez esteja
entre essas pistas o seu problema de pesquisa, dependerá ape-
nas das suas dúvidas. Se ainda assim estiver difícil construir
seu problema de pesquisa, sempre haverá um último recurso
que facilita em qualquer situação. Verifique decisões recentes
de tribunais superiores. Partir da jurisprudência nacional mais
recente é sempre uma boa ideia, pois garante originalidade aos
seus estudos e poderá utilizar a pesquisa na carreira escolhida
depois da conclusão do curso.

3.3 Justificativa

A justificativa de um projeto, mais tarde, poderá contri-


buir para a introdução ao trabalho acadêmico. Será o cartão de
visita, a vitrine, mostrando por que aquele estudo é relevante.
É preciso investir, então, na relevância tanto do objeto quanto
de você ser a pessoa certa para desenvolvê-lo.
Este é o momento do projeto em que deve constar o con-
texto do objeto. No tempo e no espaço, quando e onde aquilo
ocorre ou ocorreu e por que é algo importante para ser estudado.
É, também, a ocasião para relatar o que fez com que você
se interessasse pelo assunto, que cursos, palestras despertaram
a curiosidade para aquele objeto. Se depender de estudos in-

59
Sérgio Coutinho dos Santos

terdisciplinares, você deve mostrar que estudos prévios reali-


zou em áreas relacionadas ao assunto. Assim, você mostrará a
qualquer examinador que tem segurança no que se propõe a
estudar. Outro ponto importante é que o orientador, provavel-
mente, lerá essas informações para definir se, realmente, valerá
a pena orientá-lo.

3.4 Revisão teórica

Não é preciso já ter estudado profundamente cada marco


teórico para preparar a revisão bibliográfica (ou revisão teóri-
ca) do seu projeto. Lembre-se sempre: projetos são feitos para
atividades futuras serem racionalmente ordenadas.
Portanto, basta mostrar em linhas gerais em que cada
leitura ajudará para alcançar seus objetivos. Este é o momento
privilegiado para especificar os conceitos principais que serão
abordados, as teorias que você optou por adotar, segundo quais
correntes teóricas.
Despreze manuais, tanto na revisão bibliográfica quanto
nas referências. Manuais são úteis para aulas, para servir de
guia inicial. O que deve trazer como possíveis leituras são estu-
dos especializados, análises consistentes, não visões panorâmi-
cas. Manuais não trazem reflexões, debates, mas apenas ideias
genéricas para que você possa ter uma noção sobre o que está
sendo tratado em sala de aula.
Do mesmo modo, desconsidere enciclopédias e dicio-
nários. São obras para consulta rápida, não precisam constar
das referências de estudo. Contudo, é preciso deixar a exceção

60
Metodologia para Pesquisas Jurídicas & Sociais

para o caso de enciclopédias e dicionários técnicos, voltados


para certa área do conhecimento, bem como as pesquisas que
envolvem discussões conceituais como algo fundamental para
o desenvolvimento da problematização. Nesse caso, não serão
guias para orientações rápidas.
Os clássicos devem ser lidos. São clássicos exatamente
porque se tornam atemporais, podendo ser consultados em
qualquer época e lugar. Além disso, se influenciaram tantos
pesquisadores, melhor do que consultar uma fonte secundária
é partir das fontes primárias.
Se for uma área técnica, na qual aparentemente não há
clássicos, lembre-se dos autores que guiam os debates, que são
lidos por quem escreveu os principais livros que você consul-
tou.

3.5 Objetivos

É, normalmente, exigido que se descrevam um objetivo


geral e diversos específicos. Diga no objetivo geral o que é ne-
cessário estar presente em todo o trabalho acadêmico final e,
nos objetivos específicos, o que for de grande importância, mas
couber em apenas um capítulo.
Por uma convenção da redação de projetos, ficou defi-
nido que objetivos começam por um verbo no infinitivo e que
seja um verbo que indique uma ação ligada ao estudo (pesqui-
sar, verificar, conferir, examinar...).
Os objetivos, como tudo que constitui um projeto de
pesquisa, não são descartáveis. Devem ser úteis para que você

61
Sérgio Coutinho dos Santos

saiba por onde pretende que sua pesquisa vá. Se precisar mu-
dar os rumos no meio dos estudos, terá racionalmente como
justificar a alteração, desde que os objetivos iniciais tenham
sido bem definidos.
Pense, pois, no foco que precisará manter por toda a pes-
quisa, nos aspectos que serão indispensáveis para que sua in-
vestigação possa ser concluída. Se não conseguir definir isso
pensando assim, repense toda sua investigação, pois ela ainda
não terá um rumo claro.

3.6 Metodologia

A divisão básica para organizar a Metodologia de um


projeto é pensar nas suas pesquisas serem dedutivas ou in-
dutivas e dedutivas; assim como se serão qualitativas ou
qualitativas e quantitativas. O caráter dedutivo dependerá
de ter contato com fontes que já trazem reflexões, ideias,
como documentos e livros. Quando houver uma etapa in-
dutiva, haverá o contato direto com quem fala para que pro-
duza a reflexão segundo suas necessidades, como ocorre em
entrevistas ou na aplicação de questionários. Não há, nas
Ciências Humanas, pesquisa integralmente indutiva (por
ser preciso em ciências interpretativas da realidade ter um
momento de reflexão teórica sobre o que pesquisas de cam-
po forneceram), mas pode ser dedutiva por completo. Do
mesmo modo, toda busca por dados trará pesquisas quali-
tativas, mas nem todas precisarão reduzir os dados a núme-
ros para ser quantitativa (lembrando que, se você trabalhou

62
Metodologia para Pesquisas Jurídicas & Sociais

com dados de terceiros, como o censo do IBGE, não fez uma


pesquisa quantitativa, mas qualitativa, usou uma fonte do-
cumental).
A adequação metodológica envolve esse passo de apu-
ração, já não mais das informações de cada fonte. Projetos de
pesquisa são voltados para o futuro, não se reduzem àquilo que
já sei, mas consistem, sobretudo, na descrição das linhas mes-
tras do que ainda posso descobrir.
É preciso, por isso, definir para cada passo do processo
de descobertas como obterei os dados, como irei atrás das fon-
tes e em que limites usarei cada uma. Assim, não basta dizer
que fará entrevistas, mas expor suposições sobre que grupo so-
cial entrevistará, indicar faixa etária, renda média, elementos
que possam distinguir com máxima precisão os membros da
amostra da entrevista.
Acima de tudo, a metodologia do projeto deve ser exe-
quível. Tenho um exemplo interessante. Welber Barral (2003,
p. 53) recomenda a observação da condição particular do pes-
quisador. Usa como parâmetro que haveria muita dificuldade
para um estudante universitário estudar “O Direito de Família
entre os ianomânis (sic)”, pela escassez de literatura disponível
e pela necessidade de trabalho de campo. “Terá, nosso gabo-
la pesquisador, disponibilidade para permanecer seis meses
numa reserva indígena?” (Idem, Ibidem).
O “gabola pesquisador” pode afirmar em seu projeto
que, em vez de um curso rápido da língua indígena ou de prá-
ticas antropológicas, irá ao Museu Nacional, no Rio de Janeiro,
onde está o maior acervo documental sobre a referida nação

63
Sérgio Coutinho dos Santos

indígena. Usará documentários, filmes etnográficos, acompa-


nhará congressos indigenistas e de antropólogos. De fato, se-
rão fontes secundárias, mas que, dependendo dos objetivos do
pesquisador, não inviabilizarão seus trabalhos.
Enquanto estiver formulando o item “Metodologia” do
seu projeto, deve pensar, portanto, na relação entre possibi-
lidade e probabilidade. O campo do possível é muito amplo,
mas nem tudo que pode ser que um dia aconteça, poderei
dizer que seja provável que ocorra. Veja bem, aviões caem
de tempos em tempos mas, se não estou em uma rota aérea
e conheço as estatísticas de desastres na aviação, então posso
dizer que seja improvável, mesmo que ainda reste uma som-
bra possível. Para sua pesquisa, importa pensar em termos
prováveis, não apenas possíveis.

3.7 Cronograma

Seja realista quando preparar um cronograma. Inclua


todo o período desde a aprovação do projeto até a previsão de
apresentação pública do texto. Se não houver defesa, até a data
do depósito do trabalho.
Formalmente, é comum que os cronogramas em projetos
apareçam sob o formato de tabelas, em que a primeira coluna à
esquerda traz as atividades e as colunas seguintes, cada fração do
tempo de pesquisa (confira o anexo V).
Não indique atividades genéricas (como “análise das
leituras”, “levantamento de dados”) ou será desperdício do
cronograma. Ele é um plano de ações. Deve incluir cada eta-

64
Metodologia para Pesquisas Jurídicas & Sociais

pa das suas atividades de pesquisa. Descreva, por isso, suas


práticas. Fará entrevistas? Quem entrevistará? Aonde irá?
Usará jurisprudência? De quais tribunais? Tudo o que você
mostrou no item “Metodologia” de modo detalhado deve ter
os detalhes antes apresentados, elencados como etapas do
cronograma. Veja seu cronograma como a agenda da sua
pesquisa. As atividades podem depois ser alteradas bem
como a duração de cada uma, mas sem uma previsão inicial
nada funcionará.
Uma alternativa para pesquisas teóricas é usar o sumário
preliminar como cronograma. Facilita ordenar as tarefas de
um modo prático. Porém, tanto o sumário preliminar quanto
o cronograma, bem como todo o projeto de pesquisa não são
um contrato. Cada etapa da pesquisa pode ser alterada durante
a execução, desde que as mudanças tenham razão de ser.

3.8 Referências

É necessário repetir: projetos se referem ao futuro. Por


isso, não devem constar das referências apenas as leituras
já feitas. É preciso incluir tudo que você pretende ler e que
deverá ler.
Para escolher o que deve constar das referências do pro-
jeto, releia o cronograma e a metodologia. Veja, para cada etapa
da pesquisa, o que será necessário consultar. Confira páginas
na internet de editoras especializadas e de livrarias. Os siste-
mas de busca ajudarão a encontrar possíveis leituras futuras
(confira o anexo VI do livro).

65
Sérgio Coutinho dos Santos

Dê especial atenção aos livros que são constantemente


citados entre aqueles autores que você já consultou sobre o
tema. Se exercem tamanha influência sobre suas fontes, devem
ser estudados.
Para desenvolver seu estilo, tanto na redação do proje-
to de pesquisa quanto em qualquer outro trabalho acadêmico,
varie suas fontes. Não me refiro apenas a oscilar entre bases de
dados, mas a buscar inspiração para seus argumentos, encon-
trar novas analogias, abrir horizontes para entender o mundo.
A Literatura nos permite tudo isso.
Se estuda, por exemplo, Direito Penal, leia Crime e Cas-
tigo, se escreve sobre a liberdade de expressão, leia Recordações
do Escrivão Isaías Caminha, se escreve sobre Direito de Famí-
lia, terá inspiração com Flaubert, Balzac, Machado de Assis. Ao
se revezar entre o tempo de trabalho voltado a leituras técnicas
e tempo de descanso com poesia e ficção que se relacionem ao
mesmo objeto de estudos, a sua observação sobre o assunto de
interesse será muito mais ampla.
Não deixe de incluir entre as suas referências do projeto
as fontes primárias. Por isso, os clássicos serão imprescindíveis.
É preciso ter sempre em mente que as ideias aparentemente
tão brilhantes de autores de hoje podem já ter séculos. Você
necessitará saber de onde elas vieram, o que não será difícil se
tiver à mão fontes secundárias honestas. Por esta razão, como
exemplos, se examinar o princípio jurídico da afetividade pre-
cisará ler Maria Berenice Dias, enquanto ao estudar o garantis-
mo penal precisará conhecer Luigi Ferrajoli.

66
CAPÍTULO IV

Ética em Pesquisa

E
m muitas faculdades, será preciso submeter projetos
de pesquisa que envolvam pesquisas com pessoas ou
informações pessoais a comitês de ética. Se você estu-
dar em uma faculdade que tenha um CEP (Comitê de Ética
em Pesquisa) instalado, então será importante que você leia
este capítulo. Se não existir ou os seus estudos não forem vin-
culados a uma instituição, então pode pular o capítulo sem
problemas.

4.1 Os Comitês de Ética em Pesquisa

Se a sua pesquisa envolver o contato direto com seres


humanos, seja aplicando questionários, seja os fotografan-
do seja usando bancos de dados de onde saiam informações
pessoais, você pode precisar submetê-la a um Comitê de
Ética em Pesquisa (CEP).
A regulação dos CEPs está prevista em duas resoluções
do Conselho Nacional de Saúde: a 466 e a 510. Aquela mais
importante para nós, das Ciências Humanas, é a segunda,
de 2016. Como não costumam ser ensinadas nos cursos de
graduação das Ciências Humanas, teremos a seguir citações
diretas a fragmentos mais importantes e uma explicação,

67
Sérgio Coutinho dos Santos

passo a passo, sobre como devem submeter a um CEP suas


pesquisas envolvendo seres humanos
Nos termos do art. 2º, XVI, da Resolução n. 510, são
pesquisas em ciências humanas e sociais aquelas que estu-
dam “condições, existência, vivência e saberes das pessoas e
dos grupos, em suas relações sociais, institucionais, seus va-
lores culturais, suas ordenações históricas e políticas e suas
formas de subjetividade e comunicação” com ou sem inter-
venção. Por isso, mesmo em projetos de extensão universi-
tária e outras atividades você precisará submeter ao Comitê
de Ética em Pesquisa.
Para começar a pensar no assunto, é necessário que
pense sobre seus participantes da pesquisa, se, além dos ris-
cos normais por lidar com pessoas, ainda seria uma popu-
lação vulnerável: “situação na qual pessoa ou grupo de pes-
soas tenha reduzida a capacidade de tomar decisões e opor
resistência na situação da pesquisa, em decorrência de fato-
res individuais, psicológicos, econômicos, culturais, sociais
ou políticos”. Albergados, presos, internados em hospitais,
indígenas podem corresponder a essa condição.
As condições em que não precisará submeter ao CEP
serão, segundo o parágrafo único do art. 1º da Resolução n.
510:
I – pesquisa de opinião pública com parti-
cipantes não identificados;
II – pesquisa que utilize informações
de acesso público, nos termos da Lei no
12.527, de 18 de novembro de 2011;

68
Metodologia para Pesquisas Jurídicas & Sociais

III – pesquisa que utilize informações de


domínio público;
IV - pesquisa censitária;
V - pesquisa com bancos de dados, cujas
informações são agregadas, sem possibili-
dade de identificação individual; e
VI - pesquisa realizada exclusivamente
com textos científicos para revisão da lite-
ratura científica;
VII - pesquisa que objetiva o aprofunda-
mento teórico de situações que emergem
espontânea e contingencialmente na práti-
ca profissional, desde que não revelem da-
dos que possam identificar o sujeito; e
VIII – atividade realizada com o intuito
exclusivamente de educação, ensino ou
treinamento sem finalidade de pesqui-
sa científica, de alunos de graduação, de
curso técnico, ou de profissionais em es-
pecialização.

Quando você obteve as informações consultando o site


público de um tribunal ou com documentos que qualquer
pessoa tem direito pela Lei de Transparência, dependendo
do CEP pode excluir da apreciação ou pode, apenas, querer
saber se excluirá da sua coleta de dados informações como
nomes, endereços, que posam identificar alguém gerando
algum tipo de constrangimento.

69
Sérgio Coutinho dos Santos

Ao submeter seu projeto de pesquisa para um Comitê


de Ética, você usará a Plataforma Brasil. Todo o procedi-
mento será pela internet. Há documentos obrigatórios que
precisa anexar ao projeto. Consulte o CEP local para saber
se tem um checklist para facilitar caso seja a primeira vez
que submete seu projeto e veja se ele tem, no portal da ins-
tituição de ensino superior, um site com modelos de docu-
mentos10. Facilitará muito seu trabalho.
Será preciso ter seu projeto completo. Além disso, a
plataforma gera uma versão reduzida e voltada para ética
em pesquisas com pessoas do seu projeto a ser preenchido
em um formulário on-line próprio.
É preciso ter uma declaração de infraestrutura com
local e equipamentos para realização da pesquisa, assinada
e carimbada (quando conveniente) por alguém responsável
pela instituição. Além disso, precisará anexar o instrumen-
to de coleta de dados (ex.: roteiro de entrevista, questioná-
rio, formulário, planilha para dados documentais), pois é
importante que o CEP possa conferir se perguntas geram
constrangimento, se pede dados pessoais desnecessários à
pesquisa entre outros problemas.
Outros documentos são o Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido (TCLE) ou Termo de Assentimento Li-
vre e Esclarecido (TALE). O primeiro deles visa confirmar
que os participantes da pesquisa estão conscientes dos obje-
tivos, de como será sua participação, dos riscos e benefícios

Exemplos que você pode usar, produzidos pelo Comitê de Ética em Pesquisa de que faço parte,
10

estão em: https://cesmac.edu.br/cesmac/comite-de-etica-em-pesquisa.

70
Metodologia para Pesquisas Jurídicas & Sociais

com estratégias para reduzir os primeiros e alcançar os úl-


timos. Enquanto o TCLE será assinado por adultos, o TALE
será concedido por crianças acima dos 6 anos de idade e
adolescentes, mas constando TCLE dos representantes le-
gais. A linguagem no TALE precisará ser ajustada para a fai-
xa etária, podendo ser usados desenhos, dinâmicas, vídeos,
animações ou outro recurso lúdico. No TCLE, a linguagem
deve ser ajustada para que leigos naquela área de pesquisa
entendam com clareza. Sobre o consentimento:

Art. 5º O processo de comunicação do con-


sentimento e do assentimento livre e escla-
recido pode ser realizado por meio de sua
expressão oral, escrita, língua de sinais ou
de outras formas que se mostrem adequa-
das, devendo ser consideradas as carac-
terísticas individuais, sociais, econômicas
e culturais da pessoa ou grupo de pessoas
participante da pesquisa e as abordagens
metodológicas aplicadas.

§ 1 O processo de comunicação do consen-


timento e do assentimento livre e esclare-
cido deve ocorrer de maneira espontânea,
clara e objetiva, e evitar modalidades ex-
cessivamente formais, num clima de mútua
confiança, assegurando uma comunicação
plena e interativa.

71
Sérgio Coutinho dos Santos

Ainda sobre o consentimento, muitas vezes não é pos-


sível a assinatura. Pode criar constrangimento ou quebrar a
confiança exigir algo assim. Nesses casos, a res. 510 permite
a dispensa do registro, bastando no projeto explicar como
será obtido o consentimento (áudio de whatsapp, explica-
ções pessoais com concordância oral, clicar em determina-
do site concordando, são inúmeras as possibilidades menos
formais do que o Termo). Na resolução:
Você pode ficar em dúvida porque, nas ciências hu-
manas e sociais, por vezes, não há um local específico para
a pesquisa para ter a declaração de infraestrutura e o local
de autorização. Porém, mesmo nesses casos, existe uma li-
derança comunitária, um síndico, presidente da associação
onde ocorrer a pesquisa, enfim, alguém que toma decisões
seguido pela coletividade e pode assinar as declarações
comprometendo-se a aceitar receber a equipe de pesquisa:

Art. 13. Em comunidades cuja cultura reco-


nheça a autoridade do líder ou do coletivo
sobre o indivíduo, como é o caso de algumas
comunidades tradicionais, indígenas ou reli-
giosas, por exemplo, a obtenção da autoriza-
ção para a pesquisa deve respeitar tal parti-
cularidade, sem prejuízo do consentimento
individual, quando possível e desejável.

Esclarecidas essas condições gerais, para os casos es-


pecíficos em que possam surgir dúvidas, devem verificar

72
Metodologia para Pesquisas Jurídicas & Sociais

como o CEP do seu projeto interpreta as questões particula-


res e, principalmente, prestar atenção aos princípios éticos
da área:

Art. 3o São princípios éticos das pesquisas


em Ciências Humanas e Sociais:
I - reconhecimento da liberdade e autono-
mia de todos os envolvidos no processo de
pesquisa, inclusive da liberdade científica
e acadêmica;
II - defesa dos direitos humanos e recusa
do arbítrio e do autoritarismo nas relações
que envolvem os processos de pesquisa;
III - respeito aos valores culturais, so-
ciais, morais e religiosos, bem como aos
hábitos e costumes, dos participantes das
pesquisas;
IV - empenho na ampliação e consolida-
ção da democracia por meio da socializa-
ção da produção de conhecimento resul-
tante da pesquisa, inclusive em formato
acessível ao grupo ou população que foi
pesquisada;
V – recusa de todas as formas de precon-
ceito, incentivando o respeito à diversida-
de, à participação de indivíduos e grupos
vulneráveis e discriminados e às diferen-
ças dos processos de pesquisa;

73
Sérgio Coutinho dos Santos

VI - garantia de assentimento ou consenti-


mento dos participantes das pesquisas, es-
clarecidos sobre seu sentido e implicações;
VII - garantia da confidencialidade das in-
formações, da privacidade dos participan-
tes e da proteção de sua identidade, inclu-
sive do uso de sua imagem e voz;
VIII - garantia da não utilização, por parte
do pesquisador, das informações obtidas em
pesquisa em prejuízo dos seus participantes;
IX - compromisso de todos os envolvidos na
pesquisa de não criar, manter ou ampliar as
situações de risco ou vulnerabilidade para
indivíduos e coletividades, nem acentuar o
estigma, o preconceito ou a discriminação; e
X - compromisso de propiciar assistência a
eventuais danos materiais e imateriais, de-
correntes da participação na pesquisa, con-
forme o caso sempre e enquanto necessário.

Enquanto você providencia os documentos menciona-


dos até agora, será preciso definir seu participante da pesqui-
sa e o procedimento adotado. Assim, você define critérios de:
a) inclusão, b) exclusão, c) recrutamento e d) interrupção da
pesquisa. Para que eles fiquem claros, pense: a) qual a popula-
ção envolvida; b) daquela população, que características, ações,
podem fazer alguém não interessar à pesquisa (ex.: se lida com
estudantes universitários de determinado período de um curso,

74
Metodologia para Pesquisas Jurídicas & Sociais

podem ser critérios de exclusão aqueles que trancaram o curso,


que faltarem no dia de aplicar o questionário, que não paguem
determinada disciplina); c) como, quando, onde será o contato
para informar o que é a pesquisa e obter o consentimento dos
participantes (lembre que não pode ser de um modo que gere
constrangimento nem interrompa atividades normais) e d) o que
pode fazer com que a pesquisa precise ser suspensa, alterando o
cronograma (greve de servidores públicos, desastres naturais se
compromete o acesso aos participantes, destruição de banco de
dados, redução dos participantes, morte da equipe...)
Como foi mencionado como exemplo nos instrumen-
tos de coleta de dados, em todas as etapas da pesquisa com
pessoas é preciso tomar cuidado com os riscos. Toda pesqui-
sa com gente tem riscos, no mínimo gerar constrangimento
na abordagem e violar o sigilo de dados pessoas ou a confi-
dencialidade de informações fornecidas durante a pesquisa.

Art. 19. O pesquisador deve estar sempre


atento aos riscos que a pesquisa possa acar-
retar aos participantes em decorrência dos
seus procedimentos, devendo para tanto
serem adotadas medidas de precaução e
proteção, a fim de evitar dano ou atenuar
seus efeitos.

Assim como quanto aos riscos, é preciso cuidar dos


benefícios da pesquisa, diretos (voltados ao participante
da pesquisa) e indiretos (dirigidos à instituição). A orien-

75
Sérgio Coutinho dos Santos

tação após a participação, uma palestra ao grupo, a en-


trega de um folheto com orientações sobre aquele tema,
são diversas as formas como a equipe de pesquisa pode se
responsabilizar pelo bem-estar de quem forneceu informa-
ções para seus estudos.
No TCLE, é preciso informar aos participantes da pes-
quisa que terão quaisquer despesas ressarcidas e que serão
indenizados quaisquer danos que sofrerem, tendo assistên-
cia caso sofram alguma sequela da pesquisa. Porém, lembre
que, ao falar da assistência, precisará ter autorização do lo-
cal e termo de assentimento daqueles que prestarão aten-
dimento específico. Não podem apenas se comprometer a
direcionar aleatoriamente pessoas a quem geraram danos.

Art. 19. § 2o O participante da pesquisa


que vier a sofrer qualquer tipo de dano re-
sultante de sua participação na pesquisa,
previsto ou não no Registro de Consen-
timento Livre e Esclarecido, tem direito a
assistência e a buscar indenização.
Art. 20. O pesquisador deverá adotar to-
das as medidas cabíveis para proteger o
participante quando criança, adolescente,
ou qualquer pessoa cuja autonomia esteja
reduzida ou que esteja sujeita a relação de
autoridade ou dependência que caracteri-
ze situação de limitação da autonomia, re-
conhecendo sua situação peculiar de vul-

76
Metodologia para Pesquisas Jurídicas & Sociais

nerabilidade, independentemente do nível


de risco da pesquisa.

O CEP não confere metodologia da pesquisa, a não ser


dentro dos limites da intervenção sobre pessoas. Por isso,
não são contestados critérios estatísticos, mas examinada a
representatividade e necessidade, bem como se foi descrita
a amostragem. Afinal, se não for algo relevante ao pesquisa-
dor, se for apenas de modo ilustrativo que queira usar certo
procedimento, não deve sequer ser realizado, substituído
por procedimentos menos invasivos. Se, em todo caso, você
lidar com dados quantitativos obtidos de modo censitário
(consultará todos sem escolher amostra) ou por pesquisa
qualitativa (que dispensa definir amostra), é preciso ser di-
reto ao mencionar isso. Assim:

Art. 20. §1o . A avaliação científica dos aspec-


tos teóricos dos projetos submetidos a essa
Resolução compete às instâncias acadêmicas
específicas, tais como comissões acadêmicas
de pesquisa, bancas de pós-graduação, insti-
tuições de fomento à pesquisa, dentre outros.
Não cabe ao Sistema CEP/CONEP a análise
do desenho metodológico em si.
§ 2o . A avaliação a ser realizada pelo Sis-
tema CEP/CONEP incidirá somente sobre
os procedimentos metodológicos que im-
pliquem em riscos aos participantes.

77
Sérgio Coutinho dos Santos

Após o envio do projeto com os documentos, em um


prazo que depende de CEP para CEP, mas que fica em no
máximo 30 dias, terá um parecer do Comitê com as alte-
rações que precisam ser feitas ou pedindo esclarecimentos.
Caberá ao pesquisador principal anexar uma Carta
Resposta respondendo a cada item e anexando os documen-
tos necessários.
Antes de resmungar que talvez constem documentos
demais neste capítulo, lembre que, acima da curiosidade
científica que você tiver, estarão os direitos de pessoas que
devem colaborar com plena consciência e respeito à digni-
dade, fornecendo informações que têm, sem coisificar os
participantes da pesquisa. Se, ainda assim, reclamar, pense
que depois de usar pela primeira vez a Plataforma Brasil e
ter retorno de um CEP com informações sobre como me-
lhorar, você contará com modelos e um novo aprendizado
para ficar tudo muito mais simples nos projetos seguintes,
em pesquisas de iniciação científica, trabalhos de conclusão
de curso e atividades de extensão universitária.
Quando o Comitê exige tantas medidas de prevenção,
evita problemas futuros para a equipe de pesquisa, caso al-
guém se considerasse prejudicado. Assim, o CEP protege
tanto os participantes quanto os pesquisadores. Há revistas
e conselhos de congressos que exigem essa banca preliminar
e, na condição de banca, pense quantos problemas que quem
avalia seu trabalho veria e que o CEP, como regra sem lhe
reprovar, poderá auxiliar para fazer uma pesquisa melhor.

78
Metodologia para Pesquisas Jurídicas & Sociais

4.2 Cuidados para evitar plágio

O plágio é a utilização de ideias de alguém como se fos-


sem suas. Pode ser literal ou textual, quando usa as palavras
alheias, ou pode ainda ser de ideias, quando é possível identifi-
car quem pensou aquilo primeiro.
Ele é regulado pela Lei de Direito Autoral11 e pelo Códi-
go Penal12 no Brasil, motivo pelo qual as instituições de ensino
devem punir com rigor quem pratica esses atos. Infelizmente,
a denúncia criminal não tem sido rotineira, mas práticas como

11
Lei n. 9.601/8: “Art. 108. Quem, na utilização, por qualquer modalidade, de obra intelectual,
deixar de indicar ou de anunciar, como tal, o nome, pseudônimo ou sinal convencional do au-
tor e do intérprete, além de responder por danos morais, está obrigado a divulgar-lhes a identi-
dade da seguinte forma: I - tratando-se de empresa de radiodifusão, no mesmo horário em que
tiver ocorrido a infração, por três dias consecutivos; II - tratando-se de publicação gráfica ou
fonográfica, mediante inclusão de errata nos exemplares ainda não distribuídos, sem prejuízo
de comunicação, com destaque, por três vezes consecutivas em jornal de grande circulação,
dos domicílios do autor, do intérprete e do editor ou produtor; III - tratando-se de outra forma
de utilização, por intermédio da imprensa, na forma a que se refere o inciso anterior”.
12
Código Penal: “Art. 184. Violar direitos de autor e os que lhe são conexos: Pena - detenção,
de 3 (três) meses a 1 (um) ano, ou multa. § 1º Se a violação consistir em reprodução total
ou parcial, com intuito de lucro direto ou indireto, por qualquer meio ou processo, de obra
intelectual, interpretação, execução ou fonograma, sem autorização expressa do autor, do
artista intérprete ou executante, do produtor, conforme o caso, ou de quem os represente:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. § 2º Na mesma pena do § 1º incorre
quem, com o intuito de lucro direto ou indireto, distribui, vende, expõe à venda, aluga,
introduz no País, adquire, oculta, tem em depósito, original ou cópia de obra intelectual ou
fonograma reproduzido com violação do direito de autor, do direito de artista intérprete ou
executante ou do direito do produtor de fonograma, ou, ainda, aluga original ou cópia de
obra intelectual ou fonograma, sem a expressa autorização dos titulares dos direitos ou de
quem os represente. § 3º Se a violação consistir no oferecimento ao público, mediante cabo,
fibra ótica, satélite, ondas ou qualquer outro sistema que permita ao usuário realizar a sele-
ção da obra ou produção para recebê-la em um tempo e lugar previamente determinados
por quem formula a demanda, com intuito de lucro, direto ou indireto, sem autorização
expressa, conforme o caso, do autor, do artista intérprete ou executante, do produtor de
fonograma, ou de quem os represente: (Redação dada pela Lei nº 10.695, de 1º.7.2003).
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa”.
Para os trabalhos que forem em grupo, lembrem que o crime de formação de quadrilha ou
bando está assim definido pelo Código Penal: “Art. 288 - Associarem-se mais de três pessoas,
em quadrilha ou bando, para o fim de cometer crimes: Pena - reclusão, de um a três anos”.

79
Sérgio Coutinho dos Santos

suspensão e expulsão, pelo menos, são comuns quando se trata


de trabalhos de conclusão de curso em algumas instituições.
Fica garantido que quem tiver praticado isso será reprovado,
sobre isso não há qualquer dúvida. Existe ainda outra conse-
quência, que não é jurídica nem será confirmada verbalmente:
plagiadores serão rotulados como tais e desconsiderados como
capazes de fazer algo próprio; a desconfiança sobre o que já te-
nham feito será constante. Quando alguém (você não, é claro,
que se fizesse isso, não estaria lendo sobre Metodologia para fa-
zer trabalhos cada vez melhores, estaria procurando nota sem
esforço) compra trabalhos acadêmicos, não lembra que, se o
malandro que vende copiar textos da internet, não será possível
ir ao PROCON para reclamar da nota baixa. Por diversas ve-
zes, já vi alunos reclamando de falta de prática em várias áreas,
mas eu já sabia, na maioria daqueles casos, que os professores
passavam atividades para fazer em casa e que muitos dos su-
postamente espertos não faziam nada, então nada aprendiam
por não se exercitar com o que era passado. A legislação de
direito autoral não pune quem vende trabalhos científicos, mas
apenas quem compra. Será acusado (a) de estelionato, por usar
de artifício para tirar vantagem sobre alguém; se for trabalho
em grupo, ainda pode ser relacionado (a) à associação crimi-
nosa. Em todo caso, será crime.

80
CAPÍTULO V

A escolha do(a)
Orientador(a) e como
ser orientado(a)

É
comum que o orientador seja professor da instituição
de ensino. Se quiser ter a orientação de alguém externo,
justifique por que considera que não há ali quem possa
orientar sobre aquele tema.
É uma decisão profissional. Escolher amigos é ótimo
para tomar uma cerveja, mas, na hora de fazer uma pesquisa
acadêmica, perceba se há prática de pesquisa por parte do can-
didato a orientador. Leia seu currículo Lattes13 (se ele não tiver
um, esqueça o candidato). Confira quais as atividades profis-
sionais que ele tem realizado, para saber se terá tempo para ler
as diversas versões dos seus capítulos fazendo observações.
Após selecionar o orientador, procure-o já com um pro-
jeto pronto. Se não for possível apresentar todo o projeto, pode
ser uma versão ainda embrionária, que mal sabe se vai nascer.
De todo modo, mostrará empenho em relação à pesquisa e se-
gurança nos objetivos se apresentar logo um projeto.
Defina reuniões periódicas, semanais ou quinzenais,
com data e hora fixadas. É, repito, um compromisso profis-
sional. Se parecer muito com um bate-papo vai se tornar tão
http://lattes.cnpq.br.
13

81
Sérgio Coutinho dos Santos

sério quanto um bate-papo costuma ser. Essas reuniões de-


vem ter pautas definidas na reunião anterior, com pendências
sendo cobradas.
Cumpra seus prazos. Sempre. Sem pedir prorrogação.
Sem justificar omissões. Lembre do exemplo de Robinson
Crusoé. Se preferir lembrar de notícias, pode pensar nas de-
zenas de mineiros chilenos soterrados. Caso prefira um bom
filme, pode pensar em Tom Hanks no filme O Náufrago ou,
para lidar com filmes mais recentes com As Aventuras de Pi.
Em todos esses casos, para não perder objetivos de vista era
preciso dividir com clareza as atividades durante todos os dias
de confinamento. O foco que uma pesquisa científica exige é
equivalente. A disciplina decorre de cumprir os compromissos
autoimpostos durante um longo período de isolamento. Pode-
rá interrompê-lo para outras tarefas do cotidiano, no que esta-
rá em vantagem quando comparado aos exemplos acima, mas
não poderá ter distrações durante longos períodos, como um
confinamento isolado.
Escreva sobre tudo que fizer na pesquisa. Deixe a ta-
refa de fazer cortes para seu orientador. Contudo, sempre
que ele exigir que escreva sobre algo, faça anotações fora do
texto sobre suas dúvidas durante as leituras realizadas. Leve
essas anotações além do seu texto e apresente ao orienta-
dor, questionando se deve ler mais sobre certo assunto ou
mais obras de um certo autor, como entender melhor o que
parece confuso, pois o orientador não responderá às suas
dúvidas, mas mostrará caminhos para que você encontre
suas respostas.

82
Metodologia para Pesquisas Jurídicas & Sociais

Se ele tiver muitas respostas, provavelmente, como di-


ria Max Weber14, ele estará exercendo o papel de sacerdote que
leva a verdade a um fiel, não de orientador. Não é à toa que não
faz diferença se você concorda com o orientador, mas se ele co-
nhece os métodos e a revisão teórica necessários, para que você
desenvolva sua pesquisa. Em caso de uma tese de doutorado,
em que a autonomia é maior para o pesquisador, nem mesmo
será esperado que o orientador conheça a revisão bibliográfi-
ca, mas apenas que, como em todos os casos, seja alguém com
mais experiência em pesquisas e um leitor privilegiado.
Antes de uma avaliação coletiva de uma banca, caberá ao
orientador ser hábil para prevenir problemas de sua investiga-
ção. Podem faltar leituras importantes. Se forem apenas julgadas
importantes por ele, mas você discordar, fundamente seus prin-
cípios. Não faz sentido apenas obedecer à divergência do orien-
tador, pois diante de uma banca de professores será você quem
defenderá as ideias presentes no texto da pesquisa, não ele.
Lembre-se sempre e lembre seu orientador se ele esque-
cer: a pesquisa é sua, logo você investiga segundo suas curiosi-
dades para satisfazer seus objetivos, não os do orientador.
Não confunda o respeito e a admiração intelectual que
possa ter por seu orientador com a submissão acadêmica. Você
não lhe deve obediência no campo das ideias, mas das rotinas
da sua pesquisa, principalmente na graduação e na pós-gra-
duação lato sensu, onde se presume menor experiência como
“Na atualidade, a ciência é uma ‘vocação’ alicerçada na especialização e posta a serviço de
14

uma tomada de consciência de nós mesmos e do conhecimento das relações objetivas. A


ciência não é produto de revelações, tampouco é a graça que um profeta ou um visionário
houvesse recebido para assegurar a salvação das almas” (WEBER, 2002, p. 54).

83
Sérgio Coutinho dos Santos

pesquisador. Ele deve explicar o papel dos clássicos sobre sua


pesquisa e quem sejam os clássicos, bem como quem guia en-
tre autores contemporâneos os principais debates e exigir que
você os leia. Não deverá, todavia, decidir sobre suas conclusões
após as suas leituras.
Se o que acabo de dizer não for lembrado, você terá con-
fundido o conhecimento científico e o religioso. Neste há a
obediência cega a alguém, mas não possui os mesmos pressu-
postos que a ciência exige (se começou a ler o livro por este ca-
pítulo, sugiro que volte ao capítulo sobre “Formas de Conheci-
mento”, para mais detalhes). Portanto, sejam quais forem suas
crenças, não seja devoto do orientador.
Se tiver limites para a realização da sua obra, como o
desconhecimento de um idioma ou a impossibilidade de con-
cluir o fichamento de certa obra em certo tempo, o orienta-
dor será a pessoa para quem você informará o problema em
primeiro lugar. Será um dos seus deveres informá-lo como
superar esses limites.
Em países sul-americanos, há uma categoria paralela à
do orientador (chamado de director de thesis), que é o Conseje-
ro. Distinto daquele, este deverá informar ao orientando sobre
composição de banca, documentação pendente, critérios de
avaliação, ou seja, o conjunto da burocracia correspondente à
condição de pesquisador em certa instituição de ensino. Nosso
orientador brasileiro absorve as duas tarefas.
Pode acontecer, principalmente, nas universidades
onde houver grupos de pesquisa cujas investigações durem
muitos anos, que um professor tenha orientandos como seus

84
Metodologia para Pesquisas Jurídicas & Sociais

assistentes. Realizarão pesquisas cujos resultados não alcan-


çarão mais como titulares da pesquisa, mas apenas de modo
parcial durante a sua permanência no programa de estudos.
Como bem adverte Umberto Eco, e como é comum em uni-
versidades tanto brasileiras quanto de diversos outros países,
não é sinônimo de desonestidade do orientador (Eco , 1999,
p. 33-34). Resta observar se ele incluirá seu nome quanto
aos resultados de experimentos, entrevistas, fotografias que
apenas poderiam ser obtidos por você. Caso inclua em seu
relatório algo escrito por você, será sempre preciso que lhe
dê crédito. Não se abre mão do direito autoral moral sobre a
obra em caso de pesquisas científicas.
Por fim, mais do que um conhecedor profundo do seu
tema, o orientador é alguém em quem você confia para ler em
primeira mão o que você escreve. Portanto, a relação deve ser
vista como uma contínua troca de lealdade, uma partilha de
confiança. Se um dos lados omitir, mentir sobre algo relevante,
nada nem programa algum de pesquisa impede que um dos
lados substitua o outro a qualquer tempo.

85
CAPÍTULO VI

Como usar fontes


não-bibliográficas

A
pesar dos evidentes avanços das pesquisas de cam-
po no Direito, ainda há grandes dificuldades para a
maioria dos pesquisadores manter, dos seus projetos
iniciais, propostas que impliquem entrevistas, questionários,
observação. O problema ainda costuma envolver a dificuldade
de se ter um bom número de profissionais para ensinar a usar
esses procedimentos e orientar na aplicação15.
Aqui constarão indicações gerais que podem ser úteis
tanto aos pesquisadores quanto aos seus orientadores.

6.1 Observação

A observação direta é o procedimento mais elementar do tra-


balho de campo. Consiste no contato direto com o objeto de estudo,
registrando as impressões obtidas. Por isso, pode ser complementa-
da pelo registro em vídeo ou fotografias do que for constatado.
Em todo caso, será preciso catalogar as informações, in-
dicando datas, horários, lugares, para não perder dados rele-
vantes posteriormente.

Optei por alguns procedimentos de pesquisa mais comuns. Para se aprofundar quanto a
15

essas e outras modalidades, cf. HAGUETTE, 2003.

87
Sérgio Coutinho dos Santos

Preste atenção, por exemplo, às instalações do Poder


Judiciário visitadas, ao tratamento que foi dispensado pelo
entrevistado a você, onde o ouviu, se possível perceba a pos-
tura corporal dele, variações da entonação, além daquilo que
verbalmente seja dito. Há informações transmitidas no modo
como nos vestimos, como somos tratados, na distribuição da
decoração, dos móveis, dos ambientes.
A observação participante, por outro lado, significa que
o investigador interage com o cotidiano do objeto de pesquisa
durante o trabalho de campo. Não tem uma distinção com-
pleta, que seria nítida no caso de um entrevistador que ape-
nas mantém interação durante a realização das perguntas. Não
pode ser tão esporádica quanto a observação direta e pressu-
põe um maior cuidado no diário de campo com o que faz parte
da pesquisa e o que é o próprio cotidiano do pesquisador.
Nos dois casos, prevalecem aspectos etnográficos. É pre-
ciso descrever o que seja próprio àquele espaço, o que o distin-
gue como um grupo cultural, profissional, familiar, religioso,
ou seja, o que o define assim como aqueles que a ele pertençam.
Na observação, nosso foco fica sempre restrito. Nem
tudo será perceptível, por maior que seja seu esforço. Gil adota
uma interessante classificação para a amostragem na observa-
ção. A amostragem focal concentra-se em uma pessoa ou um
grupo restrito em certo local e tempo; será instável de acor-
do com a movimentação de pessoas no espaço escolhido. A
amostragem por varredura baseia-se em categorias escolhidas
a partir do comportamento do grupo escolhido em intervalos
regulares; não tem a restrição tão grande da abordagem focal.

88
Metodologia para Pesquisas Jurídicas & Sociais

A amostragem de comportamentos tenta mapear todo o con-


texto daqueles que serão estudados, podendo subdividir-se em
por registro contínuo ou por amostragem temporal; respec-
tivamente, se forem catalogados todos os tempos em que cer-
tas condutas esperadas ocorrem ou aleatoriamente, sem que se
tenha uma regularidade (GIL, 2010).

6.2 Entrevistas

Diante do que precisar obter como respostas à sua


problematização, divida as perguntas o máximo possível. Ob-
tenha gradualmente a resposta. Em vez de perguntar apenas se
alguém é casado, pode perguntar também o que entende como
casamento, se moram juntos, por quanto tempo noivaram, para
ter uma ideia clara se era de casamento que realmente falavam.
Mantendo o exemplo, muitas uniões informais são chamadas
pelo casal de casamento sem que tenham assim formalizado.
É relevante na entrevista compreender o modo como aqueles
que entrevista dão sentido ao que fazem, como interpretam o
próprio mundo, a linguagem que têm.
Em entrevistas de televisão, costuma existir uma pré-en-
trevista, em que se sabe o que o entrevistado quer responder.
Nas pesquisas científicas, aqueles bate-papos supostamente in-
formais não são suficientes para ter dados reais. Para conquis-
tar a confiança dos entrevistados, evite que respondam já se
defendendo de pré-noções que tenham estabelecido.
Por isso, é preciso, em entrevistas preliminares, com ape-
nas um ou dois sujeitos da amostra, definir a linguagem que

89
Sérgio Coutinho dos Santos

será usada para haver a mais exata compreensão por parte dos
entrevistados.
É fundamental, também, contar com um bom roteiro de
perguntas. Esse roteiro, em entrevistas estruturadas (relevantes,
especialmente, com diversos pesquisadores, pelo caráter rígido do
roteiro a ser seguido), semiestruturadas (mais comuns quando se
tem apenas um investigador ou um grupo pequeno) ou não-es-
truturadas (comuns no caso de pesquisa-ação ou onde houver ob-
servação como procedimento necessário), será preliminar, aberto
a acréscimos durante a sua aplicação. Contudo, se for ampliado, é
recomendável voltar aos primeiros entrevistados e complementar
as indagações. Assim, saberá se a amostra se comporta sob certos
padrões, poderá agrupar estatisticamente resultados.
As entrevistas não-estruturadas costumam vir acompa-
nhadas por observação, seja ela participante ou não participan-
te. As perguntas serão construídas de acordo com a convivên-
cia com os sujeitos de pesquisa.

6.3 Questionários

Ao aplicar questionários, pense no uso que fará deles.


Se precisa de estatísticas, se analisará o significado das mani-
festações de quem respondeu, se precisará elencar em escalas,
do maior para o menor, algum dado (renda, escolaridade).
Diante disso, escolha entre perguntas abertas, fechadas ou de
múltipla escolha.
Elaborado o questionário, precisará adotar critérios que
lhe permitam definir um grupo representativo das diversas va-

90
Metodologia para Pesquisas Jurídicas & Sociais

riáveis necessárias, para poder aplicá-lo do modo mais objetivo


possível. Será, portanto, sempre recomendável que seu objeto de
estudo já tenha sido muito bem delimitado. Será mais fácil em
pesquisas sobre grupos de consumidores bem determinados, ou
sobre categorias profissionais, do que sobre moradores de um
bairro (neste caso, a quantidade de variáveis subiria muito).
Diferente da entrevista, aqui não se tem um diálogo entre
pesquisador e sujeitos de pesquisa. Então, a clareza das questões
é fundamental, assim como que elas contribuam trazendo variá-
veis para a investigação.
Se lidar com questões abertas, ou dissertativas, é impor-
tante que possa agrupar os resultados segundo padrões, o que
se repita entre as respostas. Não necessariamente para organizar
em termos estatísticos (o que muitas vezes seria possível, mas
nem sempre seria representativo), mas para poder pesquisar na
bibliografia e pela comparação com outras respostas o porquê
daqueles padrões.

6.4 Estatísticas

Infelizmente, é comum que o tempo destinado em traba-


lhos de conclusão de curso não permita trabalhar com levanta-
mentos estatísticos, utilizando diversas variáveis e amostras16.
Além disso, são presumidos conhecimentos matemáticos que
normalmente não se ensinam na maioria dos cursos nas Ciên-

Para preparar seus próprios levantamentos estatísticos, Sérgio Francisco Costa elaborou um in-
16

teressantíssimo manual para iniciantes lidarem com estudos quantitativos (COSTA, 2005). Jack
Levin é a principal referência sobre o que se aplica às Ciências humanas (LEVIN, 1987). Sobre os
fundamentos da pesquisa quantitativa, é sempre necessário partir de Lazarsfeld (1993).

91
Sérgio Coutinho dos Santos

cias Humanas. Se a sua curiosidade para a pesquisa exige que


calcule percentuais de hábitos, características, preferências em
grupos da sociedade, então não desista por estes obstáculos.
É possível pensar logo sobre como pode interpretar le-
vantamentos estatísticos preexistentes. Vamos nos dedicar a
esse aspecto das pesquisas quantitativas, o que converte o estu-
do que você fizer em qualitativo. A distinção é evidente: você
não enumerou, não levantou dados diretamente e tabulou, mas
terá interpretado documentos que trazem dados de natureza
quantitativa.
Um primeiro passo é examinar se quem relata números
estatísticos os apurou ou já recolheu de outras fontes. É preciso
ter acesso às fontes primárias. Se pretendo citar o IBGE, não
usarei uma reportagem que mencionou o IBGE, mas o pró-
prio relatório do IBGE, por exemplo. Em seguida, com a fonte
primária em mãos, examinarei a metodologia adequada. Um
levantamento estatístico possui amostras (grupos de pessoas
que responderam a perguntas) e variáveis (dados, informações
apresentadas como respostas). É preciso conferir se, naquele
levantamento, constam as variáveis de que você precisa. Do
mesmo modo, será preciso conferir se as amostras são repre-
sentativas para o que você quer estudar. Se quiser analisar o
aumento do desemprego em Alagoas, não usará apenas dados
nacionais nem de São Paulo. Será preciso conferir, comparan-
do ou não com as outras fontes, dados locais.
Depois disso, você poderá relacionar variáveis (há rela-
ção segundo este levantamento entre aumento da escolaridade
e redução da criminalidade?), comparar amostras (resultados

92
Metodologia para Pesquisas Jurídicas & Sociais

de entrevistas em certo bairro são muito distintos de outro),


comparar com levantamentos de outras fontes (DIEESE, Data-
folha, CNJ, órgãos públicos diversos).
Deste modo, poderá usar pesquisas estatísticas de tercei-
ros nos seus estudos. Contudo, lembre-se sempre de que não
poderá dizer no seu trabalho acadêmico que você fez pesquisa
estatística. Se você usou relatórios estatísticos de institutos de
pesquisa, então fez pesquisa documental, obteve um registro
da realidade apurado previamente. Se não aplicou por sua con-
ta os questionários nem tabulou (organizou em números por
tabelas e gráficos), então não fez estatística, mas interpretação
de levantamentos estatísticos.
Sobre o Poder Judiciário, todos os anos a Ordem dos Ad-
vogados do Brasil e o Conselho Nacional de Justiça divulgam
dados sobre as carreiras jurídicas e a dinâmica de funciona-
mento dos tribunais. Muitos tribunais oferecem pela internet
seus próprios dados também.
Como bem lembra Eliseu Diógenes, a maior parte das
pesquisas estatísticas hoje em dia são feitas usando softwares
específicos, de baixo custo e pequenos, fáceis de instalar, como
SPSS (Statistical Package for the Social Sciences) e Sphinx, que se
destacam entre as opções disponíveis no mercado (DIÓGENES,
2009). Permitem tornar preciso o tamanho das amostras sem
precisar ter conhecimentos profundos em Estatística.
Nada disso nos impede de conferir algumas informações
gerais, suficientes para pensarmos na construção de nossos
próprios levantamentos. Para isto, alguns termos serão funda-
mentais. Vejamos, a princípio, o papel das variáveis. Quando

93
Sérgio Coutinho dos Santos

você decide estudar um grupo qualquer, você define o que nas


pesquisas estatísticas será o universo ou a população17 para sua
pesquisa. Quando, dentro do grupo escolhido, você escolhe
características (sexo, estatura, renda, escolaridade), as opções
possíveis para cada característica serão todas elas variáveis. Até
este ponto, você distribui sua população por medidas qualitati-
vas para alcançar dados quantitativos.
Desse modo, você pode ter, ao distribuir bem a popula-
ção, tantas variáveis que não precisará saber quem são as pes-
soas. Você pode ter-se indagado como há tantos levantamen-
tos estatísticos por aí, que nenhum deles seria sério, pois lidam
com sua cidade, mas você não foi ouvido(a). Acontece que suas
características estão lá representadas, tornando desnecessário
(sem querer ofender nem ignorar você) ouvir o que você tem a
dizer. Quando a população for muito grande, a análise de todas
as suas variáveis pode se tornar muito difícil. É o desafio dos
censos nacionais do IBGE, tendo que recolher informações de
todos os brasileiros. Estudos censitários procuram dar conta
de todo o universo, sem recortes. Quando você percebe que
lida com uma população muito ampla, que as chances de falhas
estão aumentando, então torna-se relevante contar com uma
amostra. As amostras são reflexos das populações, mantém
suas características reduzindo, proporcionalmente, o número
de sujeitos de pesquisa.
As amostras precisam seguir duas regras básicas: repre-
sentatividade e imparcialidade. Respectivamente, será preciso
“População é qualquer conjunto de informações que tenham, entre si, uma característica
17

comum. (…) O conjunto de todos os pesos constitui uma população de pesos; o conjunto de
todas as cores de olhos constitui uma população de cores de olhos” (COSTA, 2005, p. 25).

94
Metodologia para Pesquisas Jurídicas & Sociais

verificar se correspondem às características do grupo maior


sem que alguma tenha sido negligenciada e o caráter alea-
tório dos números (você atribuirá números às variáveis, aos
sujeitos, a cada elemento da pesquisa; já consegue perceber
como a amostra quanto menor, mantendo-se representativa,
melhor, para estudos de curto tempo e poucos pesquisadores
envolvidos)18.
Na construção das amostras, podemos dividi-las entre
causais e não-causais. No parágrafo anterior, você viu uma des-
crição de amostras causais. Vejamos, agora, as não-causais. Na
amostragem acidental, o pesquisador escolhe arbitrariamente
compor uma amostra com base em um grupo bem específico;
como quando alguém define fazer uma pesquisa sobre ensino
superior aplicando questionários entre turmas de alunos ou
entre os professores de determinada instituição de ensino.
Ainda entre as não-causais, temos as por cotas (ou
quotas, fique à vontade para escolher como chamar). Pes-
soalmente, considero que facilitariam bastante para que você
possa contar com bons critérios de proporcionalidade. Você
tomará sua amostra na mesma proporção que aquela variá-
vel aparece na população. Você partirá da variável mais geral
(pode ser entre homens e mulheres, ou entre brasileiros na-
tos e naturalizados, algo que se subdivida em bom número
de outras variáveis, ou subvariáveis) para as mais específicas
e voltadas ao objeto da pesquisa. Assim, se sua cidade tiver
40% de homens e você quiser fazer uma pesquisa proporcio-
A principal referência sobre tabelas de números aleatórios costuma ser Levin (1987), mas é
18

interessante tomá-lo a partir da explicação de Sérgio Francisco Costa (2005), que além de
autor de uma importante obra para introdução a Estatística é o tradutor de Levin no Brasil.

95
Sérgio Coutinho dos Santos

nal, sua amostra terá 40% de homens. As pesquisas eleitorais


de intenção de votos costumam apresentar para nós outra
categoria comum às estatísticas, o erro de amostragem. Ele
ocorre quando aplicamos, por meio de variáveis escolhidas
por curiosidade pessoal, certas hipóteses para serem testadas
na população. Quanto maior a população, maior a chance
deles ocorrerem. Outra categoria das pesquisas estatísticas
com que você precisa estar acostumado são as taxas, como
taxa de mortalidade, de incidência de certos crimes, de de-
semprego. Ocorrem quando “indicam comparações entre o
número efetivo de sujeitos e o número potencial” (LEVIN,
1987, p. 20). Compara-se assim, por exemplo, o número de
pessoas demitidas com o número de pessoas da população
economicamente ativa, o número de divórcios com o núme-
ro de casamentos, entre tantas outras possibilidades em que
teremos a divisão entre uma parte de uma população e todo
seu conjunto.

6.5 Documentos, Legislação e Jurisprudência

O Direito é pródigo em pesquisas documentais. Basta


lembrar que todo estudo baseado em jurisprudência será uma
pesquisa documental, pois os acórdãos dos tribunais e as sen-
tenças das varas e dos juizados são documentos emitidos por
órgãos públicos do Poder Judiciário.
Se houver um registro prévio dos fatos, ou de determina-
da impressão sobre os fatos, a fonte será documental. Podem
ser palestras, memorandos, processos judiciais, são registros

96
Metodologia para Pesquisas Jurídicas & Sociais

realizados antes da pesquisa, não realizados pelo próprio pes-


quisador. Por isso, serão fontes documentais.
Se usar registros audiovisuais19 de rádio, televisão, we-
bsites como o Youtube20, será preciso atestar se houve edição,
se a informação está completa ou se é montagem. Também
será preciso conferir se é adaptação de alguma outra fonte, se
foi registrado ao vivo. Na utilização de jurisprudência, é pre-
ciso deixar claro, no trabalho acadêmico, se você está usando
repositórios oficiais, se usou apenas a ementa ou o acórdão
completo. Além disso, em nenhuma hipótese uma decisão
isolada de um juiz ou um voto em um acórdão se confun-
de com jurisprudência. A jurisprudência é o entendimento do
tribunal, é constante, reiterada. Porém, deve ser contextuali-
zada. Desembargadores e ministros de tribunais se sucedem
e, sem a indicação da época, você pode estar trabalhando com
jurisprudência já superada.
Comparar tribunais, nesses casos, pode colaborar. Con-
tudo, será preciso identificar quais orientações teóricas predo-
minam entre desembargadores e ministros de cada tribunal. Se
abordar tribunais de outros países, deve atentar para as diferen-
ças entre as leis, os princípios gerais e a doutrina de cada um.
Desse modo, é possível resumir a pesquisa jurispruden-
cial pelos seguintes passos: parta de súmulas e enunciados dos
tribunais superiores; confira acórdãos de decisões desses tribu-
nais; examine se o tribunal regional ou estadual segue o mes-
19
Existem técnicas e reflexões já bem sistematizadas sobre como usar som e imagem tanto
em pesquisas documentais quanto em trabalhos de campo. Neste sentido, cf. BAUER e
GASKELL, 2002.
20
http://www.youtube.com.br.

97
Sérgio Coutinho dos Santos

mo entendimento. O cuidado fundamental é não confundir o


entendimento de uma câmara recursal ou do voto de um de-
sembargador ou ministro com a posição do tribunal. Esta, sim,
é a jurisprudência.
Podem existir casos aparentemente isolados que sejam
leading cases21, ou seja, casos que servem como paradigmas, re-
ferências para todos os julgados daquele tribunal. Do mesmo
modo, fazem jurisprudência súmulas vinculantes e julgados
por repercussão geral. Preste atenção a esses critérios na hora
de consultar jurisprudência.
Apesar das leis corresponderem a fontes documentais, no
Direito o seu caráter hierárquico, as condições hermenêuticas
empregadas, fazem com que mereçam ser vistas à parte. Então,
resguarde observações sobre de que modo serão relevantes para
seu estudo. Lembre, caso existam, de refletir sobre projetos de lei
que estejam em tramitação no Congresso Nacional bem como
considere que as leis e as normas jurídicas não se confundem.
Quando se fala sobre normas jurídicas, estamos tratando
de algo mais amplo. Veja uma só norma jurídica, a dignidade
da pessoa humana presente na Constituição Federal brasileira.
Ela será analisada sob diferentes perspectivas, de acordo com
sua pesquisa ser no âmbito do Direito Tributário, de Família,
Trabalhista ou outro subsistema jurídico nacional. Portanto,
será possível encontrar várias normas jurídicas em apenas um
inciso de um artigo da Constituição.
Um caso que, sozinho, serve como referência jurisprudencial é, por exemplo, o julgamento
21

da demarcação da reserva Raposa Serra do Sol. O próprio Supremo Tribunal Federal infor-
ma no acórdão que aquele julgado será referência para os julgamentos do Tribunal sobre o
mesmo tema.

98
Metodologia para Pesquisas Jurídicas & Sociais

O mesmo ocorre quando examinamos fragmentos de


leis que possuem diversos comandos normativos em poucas
palavras. Um bom exemplo, mais uma vez constitucional, é a
referência ao direito de resposta, proporcional ao agravo, bem
como à indenização por dano material, moral ou à imagem.
Perceba que pode examinar o inciso do art. 5o. recortando-o
em trechos menores sem que percam o sentido: É um direito
do cidadão o direito de resposta. Todo direito de se defender
de uma violência deve ser proporcional. Cabe, contra ofensas
sofridas, indenização por dano material. Cabe, contra ofensas
sofridas, indenização por dano moral. Cabe, contra ofensas so-
fridas, indenização por dano à imagem. A existência da con-
junção “ou” mostra que é possível alternar indenizações mas
não rejeita, por interpretações normativas consolidadas, que
sejam cumuladas indenizações.
Do mesmo modo, é preciso sempre prestar atenção à
hierarquia das normas. Observe as relações entre leis federais,
estaduais e municipais. Tome cuidado com critérios de com-
petência entre órgãos legislativos para editar normas nas três
esferas bem como à padronização da interpretação que possa
já ter resultado da jurisprudência.
Há, por fim, o cuidado necessário com as diferenças entre
as fontes aceitas para cada subsistema jurídico. A Consolidação
das Leis Trabalhistas tem inscritas as suas fontes em seu art. 8º:

Art. 8º - As autoridades administrativas e a


Justiça do Trabalho, na falta de disposições
legais ou contratuais, decidirão, conforme

99
Sérgio Coutinho dos Santos

o caso, pela jurisprudência, por analogia,


por equidade e outros princípios e normas
gerais de direito, principalmente do direi-
to do trabalho, e, ainda, de acordo com os
usos e costumes, o direito comparado, mas
sempre de maneira que nenhum interesse
de classe ou particular prevaleça sobre o in-
teresse público.

Perceba que para pesquisas nessa área do Direito não


contará com o princípio da legalidade de modo tão rigoroso
quanto no Direito Penal, cujo Código Penal já se inicia dizendo
que: “Art. 1º - Não há crime sem lei anterior que o defina. Não
há pena sem prévia cominação legal”.
Do mesmo modo, não terá o princípio in dubio pro reu
como algo da mesma relevância no in dubio pro proletario. Pre-
valece de um lado a liberdade para quem não posso afirmar
que tenha cometido um delito com provas suficientes, mas do
outro lado, como no artigo acima, ressaltemos o interesse pú-
blico, não o interesse de uma classe específica.
O que você pôde ver foi apenas um exemplo, correlacio-
nando duas áreas do Direito quanto às suas fontes. O mesmo
cuidado precisa ser adotado com qualquer outro subsistema.
Afinal, você não deve usar fontes e critérios de interpretação de
modo aleatório nem adotar analogia entre áreas de estudo sem
respeitar suas distinções fundamentais. É preciso, sempre, ao
examinar leis, partir dos princípios, das fontes e dos critérios
de interpretação correspondentes a cada área examinada.

100
Metodologia para Pesquisas Jurídicas & Sociais

Além disso, tenha sempre em mente, no caso do sistema


jurídico brasileiro, as condições gerais de interpretação previs-
tas na Constituição Federal e da Lei de Introdução às Normas
do Direito Brasileiro, com a jurisprudência dos tribunais supe-
riores como referência de padronização hermenêutica para a
efetivação das normas.

6.6 O Diário de Campo

Na obtenção de dados, seja por entrevistas, pela obser-


vação ou por qualquer outra base, é preciso ter um diário de
campo. Pode consistir em um caderno, uma agenda, um blo-
co de anotações, um gravador de áudio, aplicativo do smar-
tphone, não importa. O que importa é que você tenha um
registro contínuo de cada ideia que surgir no momento em
que ela surgir. Confiar na própria memória é esperança ex-
cessiva diante da overdose contínua de informações obtidas
em qualquer pesquisa.
Catalogue as entrevistas e os vídeos, mas mantenha as
anotações sobre o prédio visitado: se era quente demais, se pre-
cisou ir quatro vezes ao tribunal para poder aplicar um ques-
tionário com um determinado juiz, pois essas impressões po-
dem ser úteis na reflexão que você fará sobre os dados obtidos.
Por isso, o diário de campo precisa ser prático para carre-
gar. Nada impede que seja em áudio, não precisa ser dogmático
consigo mesmo. Pode ser com impressões deixadas no grava-
dor, basta que possa distinguir bem suas observações da en-
trevista realizada. Se for por escrito, que todas suas anotações

101
Sérgio Coutinho dos Santos

estejam no mesmo local e que a ferramente esteja marcada por


você como diário de campo. Não se pode confundir com seus
fichamentos sobre leituras realizadas.

6.7 Pesquisa-Ação

A pesquisa-ação concilia diversas técnicas que já vimos


nos tópicos anteriores. Também não há tanto rigor necessário
quanto a seguir uma ou outra corrente teórica específica. São os
objetivos da pesquisa o que mais a distingue de outros caminhos.
Ela se diferencia pela busca dos pesquisadores por in-
tervir sobre o objeto de estudo durante a pesquisa, mesmo
que em alguma das suas fases específicas ou após alcançar
seus resultados.
Um exemplo tornará mais clara. Tive um orientando
muito competente que foi a uma favela de Maceió fazer tra-
balho de campo para uma pesquisa de iniciação científica.
Quando lá esteve e começou as entrevistas, um dos moradores
perguntou: “O senhor (ele devia ter 19 anos, mas a classe social
aparente fazia dele “senhor”) vai fazer essas perguntas e olhar
pra gente durante o dia como se a gente fosse animal de zooló-
gico sendo examinado (o que é o imaginário coletivo... não há
zoológicos na cidade) e depois vai abandonar a gente?”. Sentin-
do-se incomodado com o que ouviu, o estudante converteu sua
investigação em pesquisa-ação. Veremos como.
É, normalmente, recomendável que o pesquisador não
tenha qualquer envolvimento com o objeto de pesquisa. Man-
ter distância emocional, não decidir pelos entrevistados, evita

102
Metodologia para Pesquisas Jurídicas & Sociais

que comprometa a investigação. Contudo, pode estar entre os


objetivos da pesquisa que as informações que sejam obtidas em
trabalhos de campo sejam empregadas para retribuir àqueles
que foram entrevistados. É preciso, pois, que seja algo cons-
ciente, planejado e vinculado à pesquisa. Não poderá ser por
vínculos afetivos a qualquer momento.
O estudante mencionado usou sua pesquisa sobre direi-
to à alimentação dos moradores para ajudá-los a se organizar
como associação, fez contato durante entrevistas com nutricio-
nistas, para que orientassem os moradores que trabalhavam
com coleta de sururu, à margem de uma lagoa próxima à fa-
vela, sobre condições de higiene e conservação de alimentos,
entre outras providências, mas sempre de acordo com os ob-
jetivos da pesquisa. Quando me questionou sobre ajudá-los na
eleição de presidente da associação, informei que não era algo
com ligação com sua pesquisa, que se quisesse fazer deveria
deixar para outra ocasião. É preciso sempre ter em mente esse
limite. Não passará a ser membro do grupo, por maior que seja
a militância, porque o contato não tem o mesmo objetivo dos
moradores, mas apresentar um relatório de pesquisa perante
uma banca de examinadores.
É possível encontrar em faculdades de Direito muitas
iniciativas que adotam a Pesquisa-Ação de modo sistemático.
Pesquisas na UnB sobre direito e linguagem resultaram na in-
tegração de um grupo de pesquisa com um programa de ex-
tensão universitária que mantém uma página em um jornal
da cidade, voltada a tirar dúvidas da população sobre direitos
individuais. Uma vez que lidam com o senso comum, a lin-

103
Sérgio Coutinho dos Santos

guagem jornalística e tiram dúvidas, conciliaram estudos sobre


diversos jogos linguísticos com a pesquisa-ação.
Em universidades do Rio Grande do Sul, já existem,
há muitos anos, iniciativas que conciliam estudos em Direito
Agrário com consultoria dos estudantes a movimentos de tra-
balhadores rurais sem-terra. Os campos de aplicação da Pes-
quisa-Ação são tão vastos quanto os problemas que o senso
comum apresente aos pesquisadores.
Como afirma Michel Thiollent, seu principal teórico, os
compromissos ideológicos envolvidos são de diversas ordens.
Podem ser resultado de propostas de ação emancipatória de
grupos sociais dos quais façam parte os pesquisadores, o que
é mais comum na América Latina, mas a atuação “técnico-or-
ganizativa”, voltada à reforma de políticas públicas sem um
viés ideológico tão claro são mais comuns no Norte da Europa
(THIOLLENT, 1985).
As variáveis não serão isoláveis e os agentes que forne-
cem informações por entrevistas, surveys ou outros procedi-
mentos serão agentes ativos. Eles mudam o rumo da pesquisa
bem como da intervenção do pesquisador no seu cotidiano à
medida que decidem aplicar novas ações. Por isso, é possível
afirmar que a ruptura com a objetividade é apenas relativa.
Afinal, será bem direcionada a pesquisa, se o investigador não
tomar decisões pelo objeto de pesquisa, mas apenas ajudar o
grupo social a decidir ou a alcançar os próprios objetivos.
Dentro das Ciências Humanas, tornou-se possível, como
o faz Barbier (1985), falar em Sociologia Clínica. O cientista
social passa a agir como consultor fazendo pareceres sobre o

104
Metodologia para Pesquisas Jurídicas & Sociais

que precisaria ser mudado em certos grupos sociais para alcan-


çar melhor os objetivos dos seus agentes. Nada tão distinto do
que tem sido comum em setores da Ciência da Administração.
Não é à toa que metodologicamente as duas áreas se asseme-
lham tanto quando empregam a pesquisa-ação.

6.8 Estudos de caso e pesquisas etnográficas

Estudos de casos são relevantes para pesquisas sobre si-


tuações práticas específicas. Permitem analisar a construção
dos fenômenos estudados, os procedimentos que os consti-
tuem e o próprio cotidiano. Eles têm um caráter continuamen-
te descritivo22, o que os torna indutivos tanto na coleta quanto
na análise de dados. A bibliografia consultada deve, a todo ins-
tante, manter diálogo com os fatos constatados. Por essa razão,
estudos etnográficos, em que grupos sociais têm seus hábitos
culturalmente dissecados, são normalmente baseados em estu-
dos de casos.
Nas pesquisas sociojurídicas, os estudos de casos são mais
empregados, quando temos toda a construção de um processo,
desde o contexto socioeconômico, os fatos da vida que o motiva-
ram, passando pelas escolhas feitas pelos advogados, defensores,
promotores, quando deram início à lide processual assim como
as opções diante do magistrado na sentença e dos desembarga-
dores, em cada voto, durante as revisões perante os tribunais.
Como lembra Arilda Schmidt Godoy: “O estudo de caso é caracterizado como descritivo
22

quando apresenta um relato detalhado de um fenômeno social que envolva, por exemplo,
sua configuração, estrutura, atividades, mudanças no tempo e relacionamento com outros
fenômenos” (GODOY, 2006, p. 124).

105
Sérgio Coutinho dos Santos

Com o caminho descrito acima, não é difícil perceber


que o estudo de caso combina-se facilmente com a análise de
discurso. Tende, assim, a identificar ideologias, tendências, in-
fluências que tornam aquele processo judicial uma representa-
ção de práticas forenses consolidadas ou em consolidação. Por
esse caminho, o caráter indutivo estará presente e o sentido et-
nográfico não necessariamente se perde. A análise do que seja
próprio de certa cultura jurídica, de certas rotinas entre profis-
sionais do Direito permitirá mapear o que exista em comum
entre os membros de um mesmo grupo.
Muitas faculdades têm pedido em atividades de prática
jurídica que sejam feitos relatórios sobre processos. Há mes-
mo aquelas que já tornaram esta forma de avaliação como uma
alternativa à monografia e ao artigo de conclusão de curso. O
que se deve fazer nessas situações é um estudo de caso, de fato.
Pois o que se faz é, a princípio, descrever passo a passo, o que
ocorreu no caso em tela para, depois, recontituí-lo jurispru-
dencialmente e teoricamente. Aproveite algum processo que
tenha acompanhado durante as atividades de prática jurídica
na faculdade. Se não teve nada relevante para usar, sugira à fa-
culdade usar casos marcantes da história jurisprudencial bra-
sileira.
Os estudos de casos podem ser feitos de modo semelhan-
te para analisar organizações, sejam empresas ou órgãos pú-
blicos. Nesses casos, descreva (sempre comece por descrições)
as rotinas empresariais e a estrutura interna, como se dividem
os departamentos. Em seguida, objetivos, missão da empresa
para, depois disso, examinar o que pode ser modificado. Se

106
Metodologia para Pesquisas Jurídicas & Sociais

surgirem dificuldades para isso, pode investigar a capacidade


de inovação da empresa, as possibilidades de ampliação do
consumo e critérios de acessibilidade (uma vez que a acessili-
dade costuma ter problemas na maioria delas).

6.9 A importância dos fichamentos e dos mapas


conceituais conectando fontes de pesquisa

O assunto de fichamentos exige mais algumas palavras


além do que foi dito até agora. Consideremos em duas etapas:
você separa o que leu de cada obra e, depois, conecta as leituras
feitas. Para isso, respectivamente, ficha o que estudou e faz ma-
pas conceituais de acordo com os temas.
Não se incomode, mas não farei modelos nem aqui nem
nos anexos. São etapas da organização das fontes de pesquisa
dependentes de como você estuda. Professores podem cobrar
como parte de avaliações ou como etapa de orientação segun-
do como preferem, mas, quando se trata da sua organização li-
vre das anotações, formas preestabelecidas em modelos apenas
atrapalhariam. Quando fizer, vai concordar comigo.
Para seus fichamentos, lembre que, como eu disse antes,
não faz uma leitura romance (página após página do modo
que puder acompanhar a história, por prazer), mas um estu-
do dirigido segundo temas e objetivos definidos. Assim, não é
surpreendente que tenha múltiplos arquivos no seu Evernote
ou aplicativo equivalente voltados ao mesmo livro ou artigo
científico. Foram diferentes estudos da mesma obra.
Por isso, cada fichamento deve começar por:

107
Sérgio Coutinho dos Santos

1. referência completa da obra. Em seguida,


2. por onde você a encontrou, para que jamais esqueça,
caso precise retomar a leitura. Acompanhará, uma li-
nha ou duas depois, qual a ideia central da obra.
3. Depois, terá os objetivos da leitura, o que procurou
ali. Veja a diferença entre essas duas etapas, você pode
ter encontrado algo perdido entre páginas, que não
era central, logo não trataria futuramente aquela obra
como fonte primária sobre o tema.
4. Em seguida, alterne citações diretas com a página e
seus comentários sobre o que leu.
5. Em seus comentários, inclua conexões com outras lei-
turas e como pode aproveitar aquela citação, que uti-
lidades em outros estudos poderia ter, bem como suas
primeiras impressões após ter lido.

Contudo, temos um problema: você reunirá vários ficha-


mentos e precisará saber como conectá-los. Suas leituras, seja
para uma monografia, um projeto de pesquisa ou trabalhos em
grupo da faculdade, precisa integrar os dados. Para isso, conta-
rá com mapas conceituais.
Não confunda com mapas mentais, que são voltados para
não esquecer informações, sendo vendidos prontos em livrarias
a quem se prepara para concursos públicos. Nesse caso, há um
grande problema, pois as ideias estão integradas de acordo com
alguém que não é você, não seguiram seu roteiro de estudos.
Faça uma busca no Google sobre o assunto, na loja de
aplicativos do seu smartphone e digitando “como fazer” antes

108
Metodologia para Pesquisas Jurídicas & Sociais

no YouTube. Verá inúmeros softwares que poderão lhe ajudar


a construir os mapas, com instruções passo a passo. Se nunca
fez um mapa conceitual antes, siga estas orientações on-line e
continue a leitura depois.
Pronto. Fez a busca? Então, vamos prosseguir. Lembre
que será sempre preciso tomar alguns cuidados. Evite citações
inteiras no mapa, para isso tem seu fichamento. Distribua com
legenda as cores, formas para dividir as leituras e os autores.
Veja como conectar, criando o máximo de ramificações que
puder, pois assim terá, com mais facilidade, como citar um au-
tor fazendo logo depois comentários fundamentados em outro
sucessivamente.
Quando você fez aquela busca on-line que lhe pedi,
constatou que os mapas não são semelhantes, não obedecem
a um padrão, mas procure destacar suas palavras-chave, prin-
cipais autores, deixando-os em figuras maiores ou com cores
mais destacadas. Se todo o esforço for ao redor de uma ideia,
deixe-a no centro.
Seria um enorme risco apresentar aqui propostas de mo-
delos, pois os mapas conceituais ou mentais devem correspon-
der ao caminho dos seus estudos, conectando ideias, autores,
imagens. Mais importante é lembrar que toda associação de
informações deve constar de modo gráfico, representada na
imagem.
A imagem final do mapa precisa corresponder ao seu
percurso de estudos. É uma ferramenta útil em atividades em
grupo quando usa um site ou aplicativo que permita registrar
as contribuições de cada um. Ficará mais fácil que as leituras e

109
Sérgio Coutinho dos Santos

os fichamentos de diversos colegas contribuam de modo siste-


mático, com as ramificações envolvendo os diversos membros.
Façam um mapa em uma reunião em grupo para dividir tare-
fas e comparem com as conexões que integrarão dos estudos de
cada um em reuniões posteriores.
Umberto Eco dedica um capítulo inteiro de seu livro
Como se faz uma tese para tipos de fichamentos. Não precisa-
mos partir para tal preciosismo. Basta que exista uma indica-
ção clara de onde está a informação no livro. Então, cada folha
de um fichamento deve conter indicação bibliográfica, assunto,
citação, comentário e página.
No alto da página inicial de um fichamento, inclua a re-
ferência completa. Na extremidade à direita, a numeração das
páginas daquele fichamento. Logo abaixo da referência, pulan-
do poucas linhas, sobre o que é o fichamento. Em seguida, cita-
ções diretas. Por fim, comentário a cada citação.
O motivo para recomendar que você use citações dire-
tas nos fichamentos é que, assim, ficará mais prático que não
precise voltar à publicação consultada mais tarde. Se já tiver
usado indiretas no fichamento, pode surgir dúvida, meses ou
anos depois, sobre o que originalmente era dito. Mantenha
sua interpretação nos comentários. Na parte de comentários,
ao fim de cada ficha do fichamento, tenha espaço para expli-
car a citação e para conectá-la ao conjunto dos seus ficha-
mentos, lembrando semelhanças ou diferenças em relação a
outras obras lidas.
Não vale a pena indicar uma diagramação como modelo,
afinal os formatos de cadernos usados podem variar muito e,

110
Metodologia para Pesquisas Jurídicas & Sociais

se fizer fichamentos eletrônicos, poderá ajustá-los livremente


segundo o que for melhor para sua leitura.
Talvez seja cansativo no começo. Contudo, na primeira
oportunidade em que precisar novamente de uma citação de
um livro que lera emprestado de um amigo e para o qual já de-
volvera a obra, o fichamento salvará sua pesquisa. Não precisa
voltar aos seus livros, às suas revistas, não precisa desarrumar
constantemente estantes, se anotar tudo que for interessante.
Podem ser cadernos com cores ou etiquetas os distin-
guindo. Ainda é possível usar pastas específicas, sejam elas com
arquivos de computador ou compradas em qualquer papelaria.
Cada um ordena seus fichamentos segundo suas prioridades e
seu ritmo de trabalho. O que importa é que não exista a chance
de esquecer de alguma informação ou de perdê-la.
A dupla ilusão das fotocópias e dos marca-textos só atra-
palha. Acumular fotocópias significa juntar pastas, encaderna-
ções, ocupar espaço e, talvez, ler todo o material. Do mesmo
modo, quem marca tudo que lê com alguma cor de destaque
perderá amigos, que nunca mais emprestarão livros, ou será
expulso de bibliotecas. Sem contar que marcar tudo e não mar-
car nada têm o mesmo destaque, nenhum.
Tudo que citar deve constar das referências no final do
trabalho acadêmico. O que não citar, mas consultar, também.
As referências, citadas ou não, traduzem todo o itinerário da
sua pesquisa.
Existem softwares que facilitam muito a organização de
fichamentos dos seus estudos. Recomendo dois deles, com di-
ferentes funções que se completam: Evernote e Dropbox.

111
Sérgio Coutinho dos Santos

No primeiro caso, o layout está ordenado em cadernos,


o que lhe permite ter um backup de tudo que tenha pesquisa-
do guardado sempre online. Ele sincroniza continuamente as
informações digitadas. É prático que o tenha instalado no ta-
blet, no smartphone, no notebook, no computador do trabalho.
Com login e senha fáceis de cadastrar e um programa que não
pesa em máquina alguma, pode em segundos criar cadernos
virtuais para tudo de que precise. Armazenaria, assim, fotos de
capas de livros para anotar depois o que ainda precisa estudar;
dicas rápidas que alguém tenha feito sem que você estivesse na
hora com papel e caneta nas mãos; ideias que teve subitamente
e que teme esquecer; as aplicações são inúmeras. No segundo
caso, trata-se de um grande backup. O programa cria uma pas-
ta no computador e onde mais estiver instalado. O que estiver
nessa pasta, será sincronizado com o disco virtual. Recomendo
que passe tudo que tem em “Meus Documentos” no computa-
dor para a pasta do programa, pelo menos tudo que for impor-
tante para seu trabalho e seus estudos; menos vídeos, pesam
muito e pode ficar difícil de sincronizar. Porém, para vídeos,
conte com o Youtube.

112
CAPÍTULO VII

Pesquisas Eletrônicas

A
internet é muito maior do que o Google, a Wikipédia e
o Facebook costumam mostrar. Perde-se muito tem-
po consultando apenas essas páginas. Fazer pesquisas
acadêmicas na página inicial do Google é comparável a gritar
na rua. Pode aparecer qualquer informação. Na Wikipédia,
amanhã alguém pode alterar todo o texto que você leu hoje,
além da insegurança que a autoria indeterminada pode causar.
Sobre o Facebook, falarei mais adiante.

7.1 Procurando livros

Nem sempre você contará com os livros que lhe interes-


sam na livraria mais próxima ou na biblioteca da faculdade.
Nessas ocasiões, pode precisar comprar o livro em livrarias
eletrônicas, onde não poderá folheá-lo e talvez seja muito caro
para correr o risco de comprar e apenas depois descobrir que
não lhe servia.
Visite primeiro a Plataforma Lattes do CNPq23 e confira
o currículo do autor. Talvez ele não seja profundo conhecedor
do assunto. Por meio desse website, poderá encontrar também
artigos acadêmicos sobre o mesmo assunto que ele pode ter
http://lattes.cnpq.br.
23

113
Sérgio Coutinho dos Santos

publicado antes. É possível que esses artigos estejam disponí-


veis na internet e você poderá economizar muito em vez de
comprar aquele livro.
Há muitas bibliotecas on-line que também podem ser
úteis para consultas rápidas a livros. Muitas vezes, o livro
pode ser a publicação de uma tese acadêmica disponível na
página da universidade. Encontrará, pelo menos, um resu-
mo da tese ou da dissertação defendida, o que ajudará caso a
livraria eletrônica não disponibilize uma sinopse da obra no
formato de livro.
Talvez não esteja on-line, mas poderá encontrar na pá-
gina da faculdade ou da universidade parte do seu acervo e as
monografias já defendidas. Se não encontrar, procure visitando
a faculdade e consultando terminais locais. Provavelmente, en-
contrará nos computadores do prédio o que precisa sem pro-
curar em cada estante.
Lembre que há revistas eletrônicas não apenas liga-
das a faculdades e universidades. Há tribunais, seccionais
da OAB, conselhos regionais que também têm revistas pró-
prias. Quando a publicação não puder ser encontrada em
versão online, será possível encontrar pelo menos o sumário
de cada volume.
É preciso, portanto, se socorrer de bases acadêmicas de
dados, como o Google Acadêmico24, serviço disponível no pró-
prio Google, no qual teses, artigos e livros podem ser consulta-
dos. Há ainda, por falar em Google, o Google Livros25, em que
http://scholar.google.com.
24

http://books.google.com.
25

114
Metodologia para Pesquisas Jurídicas & Sociais

livros em diversos idiomas podem ser lidos on-line, sem direi-


to a impressão nem download. Mesmo páginas de livrarias
disponibilizam leituras prévias de livros por meio desse
serviço.
Há serviços brasileiros também muito úteis. O mais
conhecido no Brasil é o Periódicos Capes26. Contudo, fora
de universidades e faculdades que possuam programas de
pós-graduação stricto sensu, essa página é limitada. São
milhares de títulos de revistas e jornais acadêmicos dis-
poníveis para consulta, mas, na versão pública, nem todos
poderão ser consultados. Ainda assim, conhecerá os sumá-
rios. Precisaria apenas entrar em contato por e-mail com a
publicação para solicitar as versões impressas de números
específicos. Complemente-o com o Scielo27, que tem fun-
ções semelhantes.
O Ministério da Educação criou o serviço Domínio Pú-
blico , com um bom motor de buscas para material de livre
28

acesso. Músicas, romances, documentos de natureza varia-


da podem ser consultados por qualquer pesquisador. Poderá
encontrar livros que, como o nome do endereço eletrônico já
prevê, estejam disponíveis em domínio público.
Se você for estudante ou professor universitário, confira
se a sua instituição de ensino é assinante de bases de dados
digitais, como Ebrary ou Vlex. Elas criam uma vasta biblioteca
virtual, com milhares de livros e periódicos científicos atuali-
zados no endereço eletrônico do assinante e que pode ser aces-
26
http://periodicos.capes.gov.br.
27
http://www.scielo.br.
28
http://dominiopublico.gov.br.

115
Sérgio Coutinho dos Santos

sada pelo endereço eletrônico da faculdade, do centro univer-


sitário ou da universidade.

7.2 Procurando documentos

Para consultas jurisprudenciais rápidas, cada vez mais


os tribunais disponibilizam todas as suas bases de dados pela
internet com diversos critérios de busca. Possuem também
e-mails de juízes bem como telefones dos seus gabinetes. Des-
se modo, é possível tirar dúvidas que surgirem da base juris-
prudencial e agendar entrevistas, se fizer trabalho de campo.
Todo registro de algo será um documento. Não é um pri-
vilégio cartorial chamar o que armazena de base documental.
Pensando desse modo, as pesquisas documentais pela internet
ganham em diversos aspectos novas dimensões.
Você agora pode ver o Youtube como um grande depósito
de documentos audiovisuais. A Biblioteca Virtual do Estudante
Brasileiro possui discursos de grande importância histórica em
áudio29. Mesmo assim, lembremos que os acervos de museus,
mesmo parcialmente, costumam poder ser consultados pela
internet. Além disso, o que encontramos na página oficial de
um museu ou de uma galeria de arte pode muitas vezes ser
complementado a partir de álbuns de visitas turísticas. Porém,
arquivos em vídeo, sonoros e imagens encontrados pela inter-
net costumam ter dono. Se não forem de domínio público, será
fundamental pedir por e-mail a autorização do proprietário
para poder usar o material caso inclua fotos na sua monogra-
http://www.bibvirt.futuro.usp.br.
29

116
Metodologia para Pesquisas Jurídicas & Sociais

fia. Não há aqui a mesma liberdade dos textos, em que basta a


citação da fonte.

7.3 Usando redes sociais

Facebook30 e outras redes sociais podem ser de grande


importância. Quem estiver com pouco tempo para várias visi-
tas a um fórum para recolher entrevistas, pode fazer consultas
prévias a servidores públicos e estagiários que ali trabalhem
por meio de uma comunidade on-line de servidores. Pode,
pelo perfil e pelos grupos de que o servidor público faça parte,
ter orientações para o roteiro de perguntas das entrevistas e
mesmo sobre a disponibilidade para receber pesquisadores.
É possível, também, enviar questionários por meio de ca-
dastrados em grupos que interessem à pesquisa.
Se faço perguntas a alguém usando softwares como Skype
ou Whatsapp ou outros programas para envio de mensagens
instantâneas, será também uma entrevista, com a vantagem da
facilidade de gravar os diálogos on-line.
Tanto no tópico anterior quanto neste, ressalto que vive-
mos o tempo da Web 2.0. Isso significa que a internet torna-se
cada vez mais participativa na produção de conteúdo, poden-
do todos colaborar para todos. Então, toda informação encon-
trada online pode ser usada como registro para sua pesquisa,
desde que a fonte seja citada e exista relevância do conteúdo
identificado.

http://www.facebook.com.
30

117
Sérgio Coutinho dos Santos

7.4 Acostumando-se com blogs

Para dar continuidade à reflexão sobre a Web 2.0 (a inter-


net como rede colaborativa, em que todos fornecem conteúdo),
é inevitável dar atenção aos blogs, que costumam ser páginas
pessoais na internet31. Não se confundem com websites devido
ao papel de colunista especializado que seu autor, ou seus au-
tores se for blog coletivo, costuma exercer. A grande vantagem
dos blogs sobre websites encontra-se, quando precisamos de
comentários sobre notícias ou fatos específicos.
É muito fácil montar um e atualizá-lo, mas é ainda mais
fácil manter contato com os autores para propor debates, no-
vos temas para que escrevam e tirar dúvidas sobre o conteúdo
exibido.
Se você mesmo fizer um blog, poderá divulgar os pro-
gressos da sua pesquisa em tempo real. O Twitter permitiria
ainda maior agilidade. Como microblog, permite em 140 ca-
racteres a divulgação de mensagens curtas sobre seu cotidiano.
Pode ser de grande utilidade para que pessoas com interesses
em comum se identifiquem à sua pesquisa, agilizará o inter-
câmbio e permitirá que você mantenha um diário dos seus
próprios avanços.
Encontrará na internet muitos grupos de estudos que
montaram blogs e mantêm perfis no Twitter com o objetivo de
que interessados acompanhem o cotidiano dos bastidores das
pesquisas realizadas. Assim, poderá divulgar, quando fará pa-

A propósito, apesar de já estar na minha apresentação no livro, renovo o convite para que
31

conheçam meu blog Mundo em Movimentos – http://www.mundoemmovimentos.com.

118
Metodologia para Pesquisas Jurídicas & Sociais

lestras com base nas suas pesquisas, quando viajar para al-
guma outra cidade em busca de material, o que não con-
segue encontrar durante a investigação, perguntar para
quem acompanha o que você escreve, como entrar em
contato com determinadas pessoas. As possibilidades são
ilimitadas.

7.5. Para se manter atualizado em poucos minutos

Quando cadastramos websites na pasta “Favoritos” do


computador, podemos ter dificuldade para consultá-los em
movimento. Sem contar que, caso a máquina quebre, você per-
derá a relação de endereços eletrônicos acumulados. É inte-
ressante que usemos páginas em que podem ser armazenadas
essas preferências, mas, com o tempo, a lista pode ficar muito
grande e serão minutos preciosos procurando novidades onde
nada acontece.
Para evitar isso, cadastre-se em serviços RSS, ou feeds.
Por meio de um ícone laranja que aparecerá na maioria dos
endereços de websites, na linha de endereço do navegador,
poderá encontrar como assinar (sempre gratuitamente) a
recepção das atualizações de diversas páginas. Isso é espe-
cialmente útil para notícias e blogs.
O cadastro em leitores on-line de feeds é fácil e rá-
pido, seja ele qual for. Há também programas que podem
ser baixados para a leitura off-line. Todos os serviços po-
dem também ser usados pelo celular ou smartphone, se o
usuário tiver acesso à internet pelo telefone. Procure redes

119
Sérgio Coutinho dos Santos

wi-fi ou tenha um plano de dados com sua operadora, para


evitar surpresas desagradáveis na conta telefônica.
Hoje, um serviço assim é facilmente obtido pela conjun-
ção de boa escolha de quem seguir no Twitter com as assina-
turas de boas fanpages no Facebook. No primeiro caso, a brevi-
dade dos 140 caracteres das mensagens faz com que possamos,
em poucos minutos, identificar novidades sobre o que nos in-
teressa; no segundo, pode-se dizer que se trata do herdeiro dos
servidores de feed que enviavam notícias por e-mail.
Revistas e jornais podem ter também serviços semelhan-
tes. Pessoalmente, admiro o blog O Filtro, da Revista Época
online, que traz notícias da semana de modo breve para os lei-
tores daquela publicação.

7.6 Consultando bibliotecas físicas

Todo tribunal possui uma biblioteca com acesso para


estudantes. Diversos escritórios grandes, se abordados com
cordialidade, podem disponibilizar seu acervo para consultas
breves. Presume-se também que toda faculdade, centro uni-
versitário ou universidade tenha uma biblioteca. Contudo,
nunca encontrará uma biblioteca completa, que tenha todos os
livros de que precisa.
Nem mesmo a sua biblioteca, por mais compulsivo e
pródigo que você seja na aquisição de livros, será vista por
você como completa. Basta lembrar que nossa imaginação não
cessará facilmente, então por mais que possamos ler teremos
sempre mais informações para buscar.

120
Metodologia para Pesquisas Jurídicas & Sociais

Por isso, verifique se é possível consultar acervos de bi-


bliotecas pela internet. Mesmo que não possa tomar os livros
emprestados, já saberá, pelas outras fontes de pesquisa on-line
mencionadas, qual a relevância de cada título, se estão disponí-
veis e poupará tempo nas visitas às bibliotecas ou mesmo não irá
para algumas.
Contudo, muitas vezes, será preciso passar de um termi-
nal de computador para outro rapidamente e há o risco de per-
der informações. Para evitar isso, entram em cena os pendrives.

7.7 Off-line: usando melhor pendrives

Se você usa mp3 players como pendrives, procure mo-


delos com gravador de voz. Teste a qualidade do som. Leia
o manual para conhecer mais funções. Muitos modelos de
celulares já reúnem todos esses serviços também. Desse
modo, se de repente alguém por perto tiver arquivos para
encaminhar, tudo ficará mais simples; se encontrar alguém
que tire dúvidas relevantes, lembrar de um livro, pode fazer
anotações com o gravador de voz para encaminhar depois
ao diário de campo ou aos fichamentos.
Mas, voltando aos pendrives, preste atenção na inter-
net aos programas que funcionam em dispositivos portáteis,
como Portable Apps32. É uma plataforma de serviços, como
editor de texto, de som, de vídeo, de fotos, planilhas, tudo
de modo extremamente compacto e rodando diretamente
de pendrives.
http://www.portableapps.com.
32

121
Sérgio Coutinho dos Santos

Não esqueça que, em pesquisas científicas, não há lugar


para gravações clandestinas, câmeras e gravadores escondidos
ou outros recursos que alguns jornalistas ainda usam. Para man-
ter o cuidado ético necessário, sempre se apresente como pes-
quisador e peça autorização para gravar. Respeite as recusas.
CD-ROM, DVD-ROM são mídias cada vez mais limita-
das para o que você precisa. Afinal, a portabilidade (ou seja, a
capacidade de carregar as informações com você) é limitada pe-
las dificuldades para mudar o conteúdo. A facilidade para mu-
dar o que consta em pendrives é uma grande vantagem. Procure
um cuja capacidade se ajuste ao seu cotidiano. Se busca apenas
textos, então um pendrive de 1 Gb (gigabyte) deve ser suficiente
por alguns anos. Contudo, se lida com imagens, vídeos, nada
inferior a 8 Gb será satisfatório.
Mantenha um pendrive especificamente para sua pesqui-
sa, ou ocupará desnecessariamente seu limitado espaço com in-
formações estranhas distraindo sua atenção. Lembre-se também
de manter um disco virtual ou um HD externo para guardar os
documentos. Um pendrive é algo fácil de perder. Se não tiver
facilidade para lidar com essas mídias para estoque de arquivos,
fica uma dica simples: tenha um e-mail com caixa de entrada
grande e envie e-mails para si mesmo com os arquivos em ane-
xo. Resolverá seus problemas.
Se gravar áudio ou vídeo (no caso de celulares, principal-
mente), mantenha seus arquivos em outras mídias, pois ocu-
pam muito espaço em pendrives. Sempre use alguma forma de
armazenamento on-line. É seguro e onde estiver terá acesso a
seus arquivos mais importantes.

122
CAPÍTULO VIII

Como escrever o seu


Trabalho Científico

C
ada vez mais, artigos têm sido o formato padrão para
trabalhos de conclusão de curso. Veremos as condi-
ções gerais sobre eles, bem como para monografias
(entendidas entre estas também as dissertações e teses). Em se-
guida, mostrarei breves anotações sobre como fazer resenhas e
resumos, por serem atividades acadêmicas por vezes cobradas
na graduação e em cursos de pós-graduação.

8.1 Como fazer um artigo

A sequência das partes da estrutura de um artigo cien-


tífico não tem grandes desafios. Traz consigo o título, pu-
lam-se linhas para que se siga o nome do(s) autor(es) com
um minicurrículo (que costuma vir em nota de rodapé, re-
comendando-se até quatro itens. Sugiro, pessoalmente, que
inclua um e-mail para contato). Pulam-se mais linhas para
dois resumos, um em Português e outro em outro idioma,
normalmente Inglês, Espanhol ou Francês (respectivamente,
Abstract, Resumen ou Resumeé). Os resumos virão acompa-
nhados de palavras-chave, normalmente três. Apenas após
essas partes o próprio texto se inicia.

123
Sérgio Coutinho dos Santos

Pense no conteúdo do resumo, tendo em vista frases cur-


tas. Corte adjetivos, advérbios, subordinações para que fique
fácil compor de 5 a 10 linhas. Tente ordená-lo com uma oração
para cada parte: objetivo do texto; marcos teóricos (principais
referências); metodologia; conclusão.
A Introdução de uma obra tem finalidades bem específi-
cas. É muito comum, em trabalhos coletivos da faculdade, de-
bater quem fará a introdução e a conclusão como um castigo
para quem não colaborou com o grupo. Contudo, não há mis-
térios na redação. Perceba como preparei a introdução a este
livro. Primeiro, expliquei a importância do tema. Em seguida,
o porquê de ter escrito sobre o assunto. Depois, justifiquei a
divisão interna das partes, com parágrafos descritivos de cada
capítulo (e, por favor, nunca escreva “Introdução”, “Desenvol-
vimento” e “Conclusão”, fica horrível).
Divida seus capítulos (ou “seções” como prefere a
ABNT hoje em dia) de acordo com as partes em que pretende
escrever mais ou segundo a variedade de fontes que tenha
encontrado para certos temas. É sempre melhor que faça um
sumário provisório. Sempre peço um para orientandos, para
facilitar organizar as ideias. Não é um contrato seu consigo
mesmo, pode alterá-lo enquanto redigir o seu texto, porém
terá um norte.
Faça, no começo do seu trabalho acadêmico, uma in-
trodução preliminar após o sumário provisório, que sirva de
norte para o andamento da redação. Após finalizar o trabalho,
é inevitável que ela seja alterada, mas pelo menos havia uma
referência inicial como guia.

124
Metodologia para Pesquisas Jurídicas & Sociais

Quando se expressar em seu artigo, lembre que, por ser


um texto científico, quanto mais objetividade melhor. No Bra-
sil, entre as áreas do conhecimento onde não é regra o trabalho
de campo como base para todas as informações, predomina
o uso da voz passiva e falar de si mesmo na terceira pessoa
(“será estudado”, “tem sido examinado pelo pesquisador”) para
aumentar a objetividade. Na Antropologia, na Educação, em
estudos jurídicos em universidades com tradição de pesquisa
indutiva, é comum usar a primeira pessoa do singular. Seu tex-
to não será impessoal, mas a linguagem, sim.
Para que tudo fique fácil de escrever e revisar, faça a pri-
meira versão com orações baseadas em sujeito-verbo-predi-
cado. Deixe conjunções, advérbios, relações de subordinação
para uma segunda leitura do texto. A revisão ficará muito mais
fácil tanto para você aprimorar o que fez quanto para quem
avaliar o que você escreveu.
Na divisão interna dos capítulos, é preciso que, logo nas
primeiras páginas, as categorias de análise que usará sejam cla-
ras, tanto em seu significado quanto para que se possa saber
quais foram suas principais referências para entendê-las. As-
sim, é importante que tenha pelo menos um capítulo em que
as esclareça.
Não serão todos os temas que exigirão um capítulo his-
tórico. Se você quer abordar, por exemplo, o Direito Digital de
algum modo não será possível falar sobre isso desde a Antigui-
dade com facilidade (mesmo que queira falar sobre o mundo
virtual segundo o plano das ideias em Platão). Cuidado com a
possibilidade de sua argumentação ser muito rápida na transi-

125
Sérgio Coutinho dos Santos

ção entre períodos históricos e com o risco de anacronismos.


Se não contribui para entender a construção do seu objeto de
estudo, caso seja uma simples curiosidade para enfeitar o tra-
balho, exclua.
Para escrever sua Conclusão, releia a Introdução pro-
visória e, antes, redija sua Introdução do texto. A Conclusão
será uma prestação de contas. Tenha uma posição sobre o
contexto, a relevância do tema; faça sínteses dos capítulos nos
parágrafos seguintes; por fim, dedique os últimos parágrafos
para a relevância que aquele trabalho tem para você, sua posi-
ção sobre o tema e que importância você espera que ele possa
ter para futuros leitores.
Se seu trabalho de conclusão de curso for um estudo de
caso ou parecer, confira por gentileza o capítulo sobre “fon-
tes não-bibliográficas”, quando me refiro a estudos de caso.
Ele também servirá para fazer resenhas acadêmicas (que nada
mais são do que estudos de caso sobre obras específicas).

8.2 Elementos do trabalho científico

Existe uma divisão básica entre as partes de um artigo


(e não é Introdução, Desenvolvimento e Conclusão): Elemen-
tos pré-textuais, textuais e pós-textuais. Esta organização não
é tão importante em artigos, mas é fundamental em mono-
grafias, dissertações e teses.
Quando nos referirmos a elementos pré-textuais, tere-
mos tudo que antecede o conteúdo que você estudou (capa,
folha de rosto, folha de composição e avaliação da banca, su-

126
Metodologia para Pesquisas Jurídicas & Sociais

mário, como partes de uma monografia, dissertação ou tese


de conclusão de curso; os dois primeiros, no caso de artigo de
conclusão de curso). Tudo que estiver entre a introdução e a
conclusão serão elementos textuais. Das referências em diante,
serão pós-textuais.
Entre os elementos pós-textuais, você terá apêndices e
anexos como os mais comuns. Na primeira condição ficam
aqueles feitos por você (tabelas, informações complementa-
res), entre os anexos ficam aqueles que você obteve prontos
(jurisprudência, fragmentos de leis). Se você usar um glos-
sário (uma relação de termos que precisem de tradução para
melhor compreensão do significado técnico), poderá estar
como pré ou pós-textual.

8.3 Precauções mais comuns

Não generalize o que for particular nem particularize o


que for geral. Evite a tentação de usar na sua pesquisa “A socie-
dade atual afirma que...” ou algo semelhante. A “sociedade” é um
mundo imenso de possibilidades, não é fácil afirmar o que ela
pensa. Do mesmo modo, se falar no “povo” pode ser, caso pense
no povo brasileiro, um conjunto de 190 milhões de habitantes.
Assim também se usar “O mundo de hoje” ou outros termos
muito genéricos.
Assim como podem surgir termos genéricos, evite usar
ideias generalizantes. Afirmações como “sempre se soube”, es-
condem quem soube. Se não diz quem soube, pensa-se logo
que não há quem saiba. “Acredita-se”, “Defende-se” caem no

127
Sérgio Coutinho dos Santos

mesmo problema. A linguagem jurídica às vezes nos permite


esconder nossa escassez de fontes com expressões semelhan-
tes, como “a melhor doutrina” ou “a maioria da doutrina” (para
quem não for da área jurídica, “doutrina” em Direito refere-se a
qualquer teoria jurídica); falar na “melhor” é algo que depende
de gosto e “a maioria” exigiria que tivesse um levantamento
estatístico censitário, com todos os livros da área. Não seriam
boas ideias.
Evite expressões do senso comum. Como você já pode
ter visto no capítulo “Formas de Conhecimento”, o conheci-
mento popular pode se expressar por ditados. As chamadas
verdades das ruas ou da tradição familiar não exigem com-
provação, então tornam-se frases vazias para seu trabalho
científico, como “os homens são todos iguais”, “filho é assim
mesmo” entre outras possibilidades.
Haverá uma tentação, também pautada no conhecimen-
to popular, de acusar os de sempre, aqueles suspeitos cons-
tantes para as conversas de mesa de bar, como falar “a culpa
é do governo”, “os políticos roubam e por isso...”, “a solução é...
(complete como quiser, com livre mercado, socialismo, revo-
lução, novas leis, reforma tributária, as saídas milagrosas são
inúmeras)”. Vamos pelo começo: governo não tem culpa, mas
governantes; Estado, União, Prefeitura nos interessam, não es-
conda a personalidade jurídica. “Políticos” são daquelas plu-
ralidades que, de tão indeterminadas, se encaixam facilmente
em qualquer problema e, como os parlamentos debatem um
pouco de tudo, facilmente pareceria de imediato ser verdade o
que quer que diga.

128
Metodologia para Pesquisas Jurídicas & Sociais

Ainda sobre generalizações, se a sua pesquisa foi, por


exemplo, em uma escola, não afirme que nas escolas do Brasil
algo seja desse ou daquele modo. Você pode falar sobre o espa-
ço onde coletou dados, não sobre todas. Se a tentação for maior
ou seus objetivos pedirem, faça isso por comparação. Procure
dados oficiais do grupo maior e compare com o que você en-
controu. Assim terá garantida a sua objetividade.
Do mesmo modo, lembre que não faz sentido afirmar que
“segundo a Filosofia...”, “os pensadores afirmam...”. Existem mui-
tas correntes teóricas se digladiando dia após dia sem consenso
dentro de cada área do conhecimento, então afirmar algo usan-
do a área em geral como fundamento é o mesmo que dizer nada.
Toda ideia tem autoria e ela pertence a alguém ou a um grupo
determinado de autores, não a abstrações indetermináveis.
Pode ser bonito usar palavras difíceis, pouco emprega-
das, porém uma das características da pesquisa científica é que
qualquer um poderá repetir seus passos, poderá chegar aos
mesmos resultados com as mesmas fontes. Enfeitar costuma
ser o disfarce de quem não tem conteúdo, avaliadores costu-
mam achar ridículo.
Não abra mão, por isso, de figuras de linguagem, pois
metáforas, analogias estreitam distâncias entre áreas do co-
nhecimento, trazem novas conexões entre ideias. Porém,
entre as figuras de linguagem, evite a ironia. Não se trata
de redigir piadas nem um show de humor, então dizer algo
com a intenção de expressar o contrário ou algo diferente
apenas tornará seu texto obscuro. Quanto mais clareza, me-
lhor para ser lido.

129
Sérgio Coutinho dos Santos

A pontuação, a correção gramatical, a acentuação são


fundamentais. Doi nos olhos de quem avalia um trabalho para
atribuir nota, ou para selecionar o que mereça ser publicado,
ter que saltar erros de Português. Tenha carinho pela maté-
ria que você mais tempo deve ter passado estudando na vida.
Tendo maior facilidade ou dificuldade com o idioma, abuse do
corretor ortográfico do seu editor de texto e, sempre que for
possível, deixe seu texto com um especialista que possa fazer
uma revisão mais profunda.
Por falar em pontuação, não encerre frases com reticên-
cias (“...”) nem com perguntas. Dá a impressão de que se trata
de um rascunho, que algo falta ser escrito naquele fragmento
do texto. Destaques devem ser usados na hora certa. Negrito
servirá para títulos, itálico para palavras de origem estran-
geira. Para títulos de livros no corpo do seu trabalho, use as-
pas. Nunca deixe frases em maiúsculas nem use exclamações.
Você estaria gritando com seu leitor.
Por fim, sempre releia o que escreveu, mas lembre que a
segunda leitura no dia seguinte será uma revisão com alguma
distância do seu texto.

130
CAPÍTULO IX

Citações

A
gora que já sabemos o que queremos pesquisar e
como estudar melhor, é preciso indicar as fontes no
corpo do trabalho acadêmico.

9.1 Considerações gerais

Quando citar o que um entrevistado disse, mencione


quando e onde ocorreu a entrevista, em que circunstâncias,
por que entrevistou aquelas pessoas. Ao usar documentos, a
relevância deles deve ser evidente no corpo do trabalho, então
contextualize cada fonte utilizada.
Quando se tratar de fontes literárias, de leituras que se-
rão citadas, as exigências sobre a formatação aumentam. O que
é necessário manter em mente é que sempre será preciso indi-
car a fonte. Se a ideia não for sua, você deve citar de onde ela
veio não apenas incluindo o livro ou artigo nas referências ao
final, mas no corpo do trabalho, diante da ideia.
Para isso, é preciso evitar o vício forense de elogiar o au-
tor. Importam nos trabalhos científicos os objetos, não os sujei-
tos. “Ilustríssimo”, “Grande mestre” podem ser bajulações úteis
para convencer magistrados distraídos em julgamentos, mas,
no meio acadêmico, empobrecem a redação.

131
Sérgio Coutinho dos Santos

Não há espaço também para falsa intimidade. Émile


Durkheim não deve ser mencionado “segundo Émile”. Vocês
não estudaram juntos, não são amigos. No tratamento formal,
costumasse usar mais o sobrenome. O mesmo acontece nas
pesquisas científicas.
As citações podem ser diretas ou indiretas de acordo
com, respectivamente, o uso das próprias palavras do autor
(indicadas entre aspas ou com recuo do texto) ou a interpre-
tação de quem lê.
Nas citações diretas, você usará as próprias palavras do
autor. Até três linhas, aparecerá no corpo do texto, distinto
do que você mesmo disse por aspas (como diria fulano, “as
aspas são necessárias para saber quem escreveu” (FULANO,
2008, p. 3).
Se não usar aspas, usará paráfrases, ou seja, dirá em
outras palavras em que consistem as ideias do autor citado.
Não é mero caso de substituir por sinônimos reescreven-
do, mas traduzir como você entendeu a ideia do autor. É o
fundamento para citações indiretas. Nelas, conta não com a
transcrição mas com sua interpretação. Mesmo assim, pre-
cisará incluir a partir de onde chegou àquela ideia. Então,
lembre-se de citar a fonte ou parecerá plágio.
De acordo com o exemplo usado para citações diretas,
após indicar a fonte, você deve incluir, entre parênteses, o so-
brenome do autor em letras maiúsculas, o ano da publicação
e a página da obra. Se for citação indireta, basta que conste
parênteses o sobrenome do autor, em maiúsculas, e o ano de
publicação da obra.

132
Metodologia para Pesquisas Jurídicas & Sociais

Para citar um livro mencionado na obra de outro au-


tor, siga o mesmo modelo anterior, mas com a expressão
latina apud antes do sobrenome do autor em cuja obra está
a citação. Assim dirá que está sendo citado de fonte secun-
dária. Por exemplo: Segundo FULANO (apud BELTRANO,
2008, p.).
Quando a citação direta tiver quatro linhas ou mais, será
preciso dar um recuo de quatro centímetros à esquerda, redu-
zir o tamanho das letras em um ponto, reduzir o alinhamento
para simples, tudo sem aspas. Quanto ao resto, mantém-se a
mesma formatação, como no exemplo a seguir:
Segundo Fulano:

É preciso mudar a formatação, sem aspas,


quando o texto citado diretamente tiver ta-
manho igual ou superior a quatro linhas.
Contudo, se forem várias ideias numa só
citação, fragmente em várias citações me-
nores ou lembre que deverá comentar cada
uma das ideias apresentadas. Caso contrário,
apresentará omissões no seu trabalho (FU-
LANO, ano, p. 15).

Quando já citou imediatamente antes a mesma obra,


pode indicar apenas “Idem”, em vez do nome do autor e do ano
da publicação. Caso tenha citado antes, mas alternadamente,
pode apresentar apenas o sobrenome do autor, seguido por
“op. cit.” em vez do ano da publicação.

133
Sérgio Coutinho dos Santos

É sempre interessante trabalhar com fontes primárias, ou


seja, ler o livro, não aqueles que leem o livro, entrevistar as pes-
soas em vez de usar trabalhos baseados em entrevistas. Ficará
mais evidente a credibilidade das suas afirmações.
Entenda igualmente como fontes primárias as versões ori-
ginais, sem tradução. Quando houver tradução, para leitura ou
para sala de aula não há qualquer observação. Porém, quando se
referir a pesquisas acadêmicas que resultarão em uma monogra-
fia, a exigência aumenta para que fique evidente que você tenha
adquirido um entendimento próprio da obra estudada.
Por essa razão, se forem imprescindíveis traduções, que
sejam versões críticas. Há traduções críticas de diversos clássi-
cos. Poderá percebê-las entre edições comemorativas por anos
de existência do original, com capítulos extras de especialistas
comentando o texto, ou quando encontrar prefácios ou notas
de rodapé em que os tradutores expliquem como fizeram a tra-
dução de tal modo que lhe atribuam segurança. Obra traduzi-
da sem o nome do tradutor não pode ser séria de modo algum.
Nem mesmo respeita o direito autoral sobre a tradução.

9.2 Notas de rodapé

As notas de rodapé também podem ser usadas para a in-


dicação da fonte. Contudo, como elas podem apresentar diver-
sas funções são cada vez menos usadas com essa finalidade33.

A influência metodológica de A ética protestante e o espírito do capitalismo, de Max Weber,


33

dá-se, na metodologia das ciências sociais, pelo grande número de notas nas quais o soció-
logo expõe como obteve suas fontes de pesquisa (WEBER, 1996).

134
Metodologia para Pesquisas Jurídicas & Sociais

Elas podem ser explicativas. Se eu usei um termo técnico


ou palavras em outro idioma, posso usar notas de rodapé para
esclarecimentos. Podem também ser complementares. Se tiver
informações relevantes sobre o que está dizendo, mas que não
são fundamentais para o desenvolvimento das ideias, as notas
de rodapé serão de grande importância.
Outra função é completar indicações bibliográficas. Pode
ter encontrado diversos livros com a mesma posição sobre uma
ideia que, aparentemente, seria uma posição isolada. A nota de
rodapé permitirá mostrar quem segue “no mesmo sentido” ou
“em sentido oposto” (as expressões estão entre aspas, pois são
elas que normalmente são usadas).

9.3 Sempre leia os clássicos

Ítalo Calvino, na introdução a seu livro Por que ler os clás-


sicos, brinca com o próprio sentido de uma obra ser considerada
clássica. São sempre aqueles livros que, quando alguém lê, nunca
diz que está lendo, mas “relendo”. Haveria uma vergonha silen-
ciosa em admitir ainda não ter lido uma obra da qual todos os
teóricos falam (CALVINO, 2007). Calvino vai mais longe, pois se
refere à literatura, a romances que fazem parte da cultura geral da
nossa formação acadêmica, mesmo que não tenham sido lidos.
Pela relevância desse livro, que pode ser encontrado em
edições de bolso em português, dedico um tópico apenas a ele.
Não apenas pelas obras clássicas que são comentadas e cuja
leitura Calvino defende. Principalmente, pelo sentido do que
sejam clássicos partilhado pelo autor:

135
Sérgio Coutinho dos Santos

Os clássicos são livros que exercem uma in-


fluência particular quando se impõem como
inesquecíveis e também quando se ocultam
nas dobras da memória, mimetizando-se
como inconsciente coletivo ou individual
(…) Um clássico é um livro que nunca ter-
minou de dizer aquilo que tinha para dizer
(…) Um clássico é uma obra que provoca
incessantemente uma nuvem de discursos
críticos sobre si, mas continuamente a repele
para longe (…) Os clássicos são livros que,
quanto mais pensamos conhecer por ouvir
dizer; quando são lidos de fato mais se re-
velam novos, inesperados, inéditos (…) O
“seu” clássico é aquele que não pode ser-lhe
indiferente e que serve para definir a você
próprio em relação e talvez em contraste
com ele (CALVINO, 2007, p. 10-13).

Infelizmente, sobram professores e orientadores que nos


fazem temer os clássicos. Kant, Hegel, Pontes de Miranda se-
riam inacessíveis, distantes, semideuses que devemos venerar,
mas ouvir aquelas nobres autoridades intelectuais dizendo o
que devemos saber sobre os pensadores da nossa realidade. É
lamentável sempre que algo assim acontece. Há apenas uma
solução: ler e tirar as próprias conclusões.
Não é correto estudar como se juntasse boatos. Imagine
sua família. Você é relativamente próximo de todos que con-

136
Metodologia para Pesquisas Jurídicas & Sociais

sidera da família, não apenas pessoas com laços sanguíneos,


mas amigos, vizinhos queridos, colegas de faculdade, sua fa-
mília expandida. Não precisará que alguém diga quem são as
pessoas que moram na sua casa, com quem você convive. Do
mesmo modo é relevante pensar nos clássicos. Eles são os “seus
clássicos” porque importam para sua formação intelectual por
caminhos que apenas quem tivesse seguido os seus estudos e
tivesse partilhado as mesmas experiências particulares poderia
descrever. Não restrinja-se a autores de segunda mão, portan-
to, para entender aqueles que fornecem categorias, ideias, teses
fundamentais para você se sentir seguro nos seus estudos.
Não esqueça que para cada clássico costumam haver di-
versas correntes teóricas voltadas a explicá-los. Você apenas
poderá aderir a uma delas se conhecer bem aquele que todos
interpretam, caso contrário será inevitável a insegurança entre
tantos que não parecem ter lido os mesmos livros, por guar-
darem tantas divergências. Com o passar das décadas, depen-
dendo da universidade onde tenham estudado, aqueles pesqui-
sadores podem ter se acostumado a estudar alguém ou algum
assunto de determinado modo. Assim se formam as correntes
teóricas. Não é fácil dizer que uma esteja inútil completamente,
mas talvez inadequada para o mundo em que se vive, o que se
chama de anacronismo. Por isso, o cuidado com as escolhas
teóricas é tão importante, mas não apenas por isso.
Como bem diz Calvino, os clássicos se incorporam ao
nosso inconsciente coletivo. Se isso pareceu distante, lem-
bre-se da fuga de Lúcifer, o anjo preferido de Deus, para a
Terra e posteriormente ao Inferno. Há muitos cristãos que

137
Sérgio Coutinho dos Santos

podem comentar isso, mas não é algo descrito na Bíblia.


Pode procurar que eu espero. Não encontrou? Está em Pa-
raíso perdido, de John Milton, poema fundamental para a
língua inglesa que se incorporou de tal modo ao cotidia-
no das narrativas religiosas que faz parte de uma mitologia
cristã, de uma simbologia mais ampla que não está no livro
sagrado do cristianismo, mas aderiu ao que se considera
como sagrado. Assim também as descrições do inferno com
as quais estamos acostumados. São em sua maioria extraí-
das da Divina Comédia, de Dante Alighieri, não havendo
descrições bíblicas sobre como aquele lugar seria. Perceba
com esses exemplos como conhecer os clássicos contribui
para conhecer a nós mesmos.
Encontramos identidade, nos termos do que lemos
juntos capítulos atrás sobre Lógica, com ideias trazidas por
alguém e seguidas por diversos outros autores como se fos-
sem deles ou como se não tivessem dono. O risco, portanto,
de plágio fica altíssimo, se não tivermos estudado os clássi-
cos da nossa área do conhecimento, se ficarmos satisfeitos
com aqueles que escrevem sobre eles.
Considere-os como guias para os clássicos, não como
intérpretes. Como, por vezes, suponho falar com alguém que
estuda Direito e como comecei falando sobre família, peço li-
cença para lembrar algo da minha própria família, onde sou o
único bacharel na área. Quando começava na faculdade, falei
para meu pai, formado em Economia e sem prática jurídica
alguma, que precisaria comprar um Código Civil Comenta-
do, um Código Penal Comentado, Comentários à Constitui-

138
Metodologia para Pesquisas Jurídicas & Sociais

ção... e ele perguntou: “por que você mesmo não comenta, já


que vai ler a mesma lei que os autores?”.
Você bem sabe que não poderá substituir a lei pelo in-
térprete que leu, que ele ajudará a perceber normas na legisla-
ção e tecer caminhos para aplicá-las. Do mesmo modo devem
ser entendidos os clássicos e seus intérpretes em qualquer
área das Ciências Humanas.

139
CAPÍTULO X

Referências

D
esde que as referências eletrônicas se tornaram mais
comuns, não se denomina mais esse tópico “Refe-
rências Bibliográficas”, mas apenas “Referências”.
Tornou-se possível incluir leis, artigos, diferentes fontes no
mesmo lugar.
Não se mencionam entrevistas feitas, questionários nem
outras fontes de pesquisas de campo. Contudo, também po-
dem deixar de ser incluídos dicionários e outras obras de refe-
rência, salvo se as definições forem de grande importância no
seu trabalho acadêmico.
Para começar, lembre que elas serão elencadas de acordo
com a ordem alfabética dos sobrenomes dos autores.
Seguem algumas regras:

Livros
COUTINHO, Sérgio. O movimento dos movimentos: possi-
bilidades e limites do Fórum Social Mundial. Manaus: Secreta-
ria de Cultura da Prefeitura de Manaus, 200734.
Primeiro, o último sobrenome. É comum a todos os ca-
sos começar assim. Em seguida, o título em negrito. Se constar

Breve momento de nostalgia, aproveitando sua leitura para lembrar do meu primeiro livro,
34

há anos esgotado.

141
Sérgio Coutinho dos Santos

um subtítulo, não estará em negrito. Depois, a cidade da editora,


seguida por dois pontos, o nome da editora e o ano da publica-
ção, separados por vírgula. Se a cidade da editora não for capital,
recomenda-se que seja acrescentada, com vírgula antes, o Esta-
do e, se for uma cidade de outro país, o país de origem.

Trabalhos acadêmicos, Monografias dissertações e teses


No caso de usar trabalhos acadêmicos como referências,
o procedimento será parecido, com pequenas distinções, como
no exemplo:

SANTOS, Sérgio Coutinho dos. A construção das ideias políticas


de Pontes de Miranda. Trabalho de conclusão de curso (Licenciatu-
ra em Ciências Sociais) – Universidade Federal de Alagoas, Maceió,
2018

Perceba que, após o título da monografia (poderia ser


uma tese, uma dissertação, qualquer trabalho acadêmico),
consta a natureza acadêmica, qual o objetivo do texto produ-
zido. Em seguida, a cidade da instituição de ensino superior
(não importa se o curso for presencial, não-presencial ou se-
mipresencial; interessa apenas de onde será emitido o título
obtido), a própria instituição e, por fim, o ano da obtenção
do título.

Artigos em revistas científicas


Se o exemplo tiver ficado bastante claro, podemos exa-
minar outra situação:

142
Metodologia para Pesquisas Jurídicas & Sociais

:SOBRENOME, Nome. Título do artigo: subtítulo. Nome da


revista, n.., p. – p, Data. DOI: ISSN:. Disponível em: ... .
Acesso em: ...

Exemplo:

SANTOS, S. C. dos; FRANÇA JÚNIOR, F. A. de;


CORREIA JÚNIOR, J. B. A pessoa com deficiência e o
legislador constituinte: análise crítica dos postulados
eugênicos presentes na história republicana das
constituições brasileiras. Revista Direito e Justiça: reflexões
sociojurídicas, v. 18, n. 32, p. 177-188, setembro-dezembro
de 2018. DOI: http://dx.doi.org/10.31512/rdj.v18i32.2327.
ISSN: 2178-246635.”

Quando tiver duas obras ou mais de um mesmo au-


tor publicadas em um mesmo ano, use letras após o ano (ex.:
“1998a”). A finalidade ficará clara quando você precisar citar as
duas obras no corpo do seu texto e perceber que ficaria confuso
indicar duas obras sem distinguir o ano. Ainda sobre duas ou
mais obras do mesmo autor, quando elencá-las, bastará indicar
por dez espaços sublinhados no começo da segunda indicação.
Nos dois casos do exemplo acima, são artigos acadêmi-
cos. O título do artigo não estará em negrito, mas apenas o
nome da revista. A data da publicação da revista acadêmica
será reproduzida em seus detalhes, se constar dia, mês, estação
Quando você conferir nas regras da ABNT, verá que há exemplos alternativos para muitas hipó-
35

teses de referências. Escolhi o formato mais completo no caso de revistas científicas. Se a revista
não tiver DOI, não precisa se preocupar, basta não incluir, deixando apenas o ISSN.

143
Sérgio Coutinho dos Santos

do ano devem ser apresentados. Por fim, constarão a página


inicial e a página final do artigo.
Se, em vez de revistas, a publicação coletiva fosse um li-
vro com organizadores, teria que começar pelo autor, em se-
guida o título do capítulo do livro. Como sequência, traria a
expressão “In:” para designar que aquilo compõe a obra de ou-
tros autores. Os organizadores apareceriam em seguida, com a
informação “(org.)” ou “(coord.)” de acordo com serem orga-
nizadores ou coordenadores. No final, constará a página inicial
e a última página do capítulo do livro; como no exemplo:

MACHADO, Jorge Luis. O trabalhador indígena e o direito à


diferença: o caminho para um novo paradigma antropológico
no Direito Laboral. In: COUTINHO, Sérgio et al (coord.).
Temas de Direito do Trabalho contemporâneo. Curitiba:
Juruá; Brasília: OAB Editora, 2012, p. 109-126.

Perceba que após o nome do coordenador apareceu “et


al”. Esta expressão quer dizer “e outros”, para quando cons-
tarem mais de três coordenadores ou autores em um mesmo
livro ou artigo. Segue mais um exemplo:

ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL, Conselho Federal.


Estatuto da advocacia e da OAB e legislação complementar.
Brasília: OAB, Conselho Federal, 2005.

Em caso de publicação de uma instituição, o título apa-


recerá em maiúsculas. Como editora, estará a própria institui-

144
Metodologia para Pesquisas Jurídicas & Sociais

ção, mas com a especificação do órgão responsável. Fica pareci-


do com a condição de uma obra publicada por ente federativo:

BRASIL, República Federativa do. Estatuto da Criança e do


Adolescente. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008.

Se estamos citando leis, então o ente federativo respon-


sável será o autor. Preste atenção se for lei municipal, estadual
ou federal. Inclua também a ementa e a data da promulgação
se o documento legislativo não estiver publicado como livro,
mas com indicação da publicação no Diário Oficial e da fonte
por onde teve acesso.
Veja mais um exemplo, agora com referências eletrônicas:

CASTRO, Adilson Gurgel de. O exame de ordem e a


qualidade do ensino jurídico. OAB Notícias, n. 86.
Informativo eletrônico da OAB – RN, p. 2-3. Quinzena de 15
a 31 de julho de 2007. Disponível em: http://www. oab-rn.org.
br. Acesso em 25 ago 2007.

Em fontes on-line, deve indicar o nome do website e a


data da visita. Não lembra quando visitou? Então visite nova-
mente e use a data de hoje. Se a fonte online estiver disponível
em formatos com indicação do número de páginas, lembre que,
caso mencione uma vez o número da página no seu trabalho
acadêmico terá que fazê-lo todas as vezes. A exceção são arqui-
vos on-line no formato “Html”, pela impossibilidade de ter nú-
mero de páginas.

145
Sérgio Coutinho dos Santos

Inclua na referência à fonte on-line todas as informações


que constarem do website, como nome da revista, número,
data da publicação, nome do website, e não apenas seu endere-
ço eletrônico e a data do acesso.
Se não houver na publicação a indicação da data, use
“s/d”. Se não foi publicado, use “mimeo” no final da referên-
cia. Isto ocorre, normalmente, quando autores fornecem dire-
tamente, em uma aula ou em uma palestra, uma transcrição
das suas anotações para o que falou no dia, ou um artigo não
publicado. Não deixará de ser uma fonte, mas você precisará
informar que não estará acessível para todos. Assim, você in-
forma que não consta a data ou que o texto permanece inédito
ao usar uma destas expressões.
Seguem mais espécies de referências úteis para suas
pesquisas:

Jurisprudência em meio eletrônico


BRASIL. Supremo Tribunal Federal (2ª Turma). Recurso Ex-
traordinário 313060/SP. Leis 10.927/91 e 11.262 do municí-
pio de São Paulo. Seguro obrigatório contra furto e roubo
de automóveis. Shopping centers, lojas de departamento,
supermercados e empresas com estacionamento para mais
de cinquenta veículos. Inconstitucionalidade. Recorrente:
Banco do Estado de São Paulo S/A – BANESPA. Recorrido:
Município de São Paulo. Relatora: Min. Ellen Gracie, 29 de
novembro de 2005. Disponível em: http://redir.stf.jus.br/
paginadorpub/ paginador.jsp?docTPAC&docID260670.
Acesso em: 19 ago. 2011.

146
Metodologia para Pesquisas Jurídicas & Sociais

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Súmula n° 333. Cabe man-


dado de segurança contra ato praticado em licitação promovida
por sociedade de economia mista ou empresa pública. Brasília,
DF: Superior Tribunal de Justiça, [2007]. Disponível em: http://
www.stj.jus.br/SCON/sumanot/toc.jsp?&bTEMA&ptrue&-
t&l10&i340#TIT333TEMA0. Acesso em: 19 ago. 201136.

Artigo em jornal eletrônico


É fundamental que constem a autoria, título, periódico,
cidade, data.

VERÍSSIMO, L. F. Um gosto pela ironia. Zero Hora, Porto Ale-


gre, ano 47, n. 16.414, p. 2, 12 ago. 2010. Disponível em: http://
www.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default.jspx?uf1&ac-
tionflip. Acesso em: 12 ago. 201037

Filmes, vídeos, entre outros


Não use analogia direta com livros e revistas para obras
áudio-visuais. Lembre que será essencial: título, diretor e/ou
produtor, local, empresa produtora ou distribuidora, data e em
que mídia, física ou on-line, aquela obra pode ser encontrada.
O que for pertinente como elemento complementar para tor-
nar possível encontrar a obra será bem-vindo.
Sempre que constarem, inclua “diretor”, “produtor”, “lo-
cal” e “empresa produtora” ou “distribuidora” na descrição da
referência. Exemplo:

Os exemplos de jurisprudência foram encontrados na norma da ABNT.


36

Os exemplos de jurisprudência foram encontrados na norma da ABNT.


37

147
Sérgio Coutinho dos Santos

BREAKING BAD: the complete second season. Creator and


executive produced by Vince Gilligan. Executive Producer:
Mark Johnson. Washington, DC: Sony Pictures, 2009. 3 discos
blu-ray (615 min)38.

Vamos a um exemplo diretamente relacionado às Ciên-


cias Humanas encontrado on-line:

PELA MÃO DE ALICE. Direção de Raquel Freire. Projeto


de Investigação ALICE, da Universidade de Coimbra. Pu-
blicado pelo canal ALICE CES. Disponível em: https://www.
youtube.com/watch?v=5yqQ9n2nhgE&t=8s. Acesso em 18
nov 2019.

Documento sonoro (rádio, podcast, canção...)


Para arquivos em áudio, serão essenciais: título, intér-
prete, compositor da parte (ou faixa de gravação). Use a ex-
pressão “In:” para informar o caráter coletivo, se necessário.
Verifique o que for necessário para individualizar a parte de
toda a obra.
Em audiolivros, lembre do livro escrito, pois a autoria do
livro deve preceder o título; em seguida, procure analogicamen-
te tudo que veria em um livro escrito e dos elementos comple-
mentares à referência que servirem bem para identificar a obra.
Como exemplo de podcast (e recomendo que procure
podcasts da sua área durante suas pesquisas):

Como fã, agradeço à ABNT por usar Breaking Bad como exemplo.
38

148
Metodologia para Pesquisas Jurídicas & Sociais

SALVO MELHOR JUÍZO, n. 56: Terra e povos tradicionais.


Entrevistador: Thiago Hansen. Entrevistados: Samuel Rodri-
gues Barbosa e Thiago Hoshino: AntiCast, 16 out. 2017. Dispo-
nível em: http://salvomelhorjuizo.com/post/166468503893/
smj-56-terra-e-povos-tradicionais-os-direitos. Acesso em: 20
nov. 201839.

Documento iconográfico
São hipóteses: pintura, gravura, ilustração, fotografia,
desenho técnico, diapositivo, diafilme, material estereográ-
fico, transparência, cartaz, entre outros. Veremos cartaz se-
paradamente, pois serão abordados como expressão de uma
obra científica.
São essenciais: autor, título, data e especificação do su-
porte. Muitas vezes, obras visuais de arte não têm título; para
estes casos, use “sem título” entre colchetes. Todas informações
complementares (coleção, galeria, curador) que ajudem a iden-
tificar a obra serão bem recebidas. Exemplo:

CARVALHO, Heron. Munganga. 2017. 1 original de arte, acrí-


lica sobre tela, 30x40 cm. Coleção particular40.

Cartazes
Se você acompanhou cartazes em um congresso (podem
denominar como pôster ou banner também, mas a ABNT usa
“cartaz”), pode incluí-los como referência. Segue um exemplo:

Recomendo que ouçam todos os programas.


39

Grato a Jamilla de Paula dos Santos Almeida pela recomendação.


40

149
Sérgio Coutinho dos Santos

SANTOS, Mariana Cândido dos; ESPINOSA, Danielle Salles


Echaiz. Faces da judicialização da saúde no Tribunal de Justiça
de Alagoas: um panorama dos recursos julgados no período de
2014 a 2016. Jornada de Iniciação Científica do Centro Univer-
sitário CESMAC. 15 nov 2018. Cartaz.

Autoria desconhecida
Comece pelo título quando a autoria for desconhecida,
não usando “Anônimo” ou “Autor desconhecido”. Exemplo:

PEQUENA biblioteca do vinho. São Paulo: Lafonte, 201241.

Se adotar em seu trabalho outras referências não indica-


das aqui, lembre-se de que para todas há uma formatação pre-
vista pela ABNT. Se não encontrar o formato adequado, procu-
re mencionar todas as informações necessárias para localizar a
fonte de pesquisa.
Os nomes dos eventuais tradutores são informações fa-
cultativas. Caso precise indicá-los, devem constar no fim da
referência correspondente. O número da edição ficará após
o título da obra e também é uma informação facultativa, não
sendo necessário nem mesmo assim enumerar a primeira edi-
ção. Mesmo sendo opcionais, lembre que, se incluir em uma
referência, deverá constar em todas.

Parabéns à ABNT por usar vinho como referência.


41

150
CAPÍTULO XI

Teorias do Conhecimento que


precisa conhecer

N
ão pense que basta ordenar suas ideias. Dependen-
do do que tenha escolhido estudar, será preciso sa-
ber com grande clareza que sistema fundamenta o
que você pensa. Em outras palavras, precisará encontrar que
teoria você tem adotado no que escreve e, principalmente,
no seu modo de pensar.
Segue um rol que não tem a pretensão nem de definir
precisamente nem de esgotar as possibilidades teóricas. En-
quanto existirem dúvidas na humanidade, serão formuladas
novas ordenações de ideias para saná-las ou, pelo menos, para
deixar que as perguntas que expressam a dúvida sejam claras o
suficiente para que respostas possam ser procuradas.
Com certeza, as orientações que se seguem não serão
suficientes para compreender toda a riqueza de cada uma das
perspectivas. Porém poderão ser um ponto de partida para que
possa estudar as obras citadas sem receios e com uma ideia do
que possa encontrar em cada uma delas.
Do mesmo modo, não é nem a melhor lista nem exaure a
relação de correntes teóricas pertinentes às Ciências Humanas.
Para não exagerar na superficialidade, escolhi algumas, mas,
para as demais, há obras que servem especificamente para rela-

151
Sérgio Coutinho dos Santos

cioná-las. Do mesmo modo, correntes teóricas que dependem


por completo de autores específicos foram excluídas, por ser
diretamente percebida nas bibliografias de cursos de pós-gra-
duação o que deve ser estudado de cada autor.
Desde já esclareço, também, que para cada corrente há
várias subcorrentes explicativas, tendências divergentes entre
si que não cabem nos objetivos do livro. Portanto, considere
as teorias que se seguem como esboçadas, não como esgota-
das nas minhas linhas.

11.1 Positivismo

Pode parecer estranho referir-se ao Positivismo como


corrente teórica que ainda precisa conhecer, uma vez que du-
rante toda a vida acadêmica ouviu falar dele. Contudo, devido
a um mal entendido comum nas Ciências Humanas, não se
distingue com clareza, muitas vezes, as diversas linhas em que
vige o Positivismo. Um outro problema é a confusão entre Po-
sitivismo e visão técnica ou conservadora da vida.
Não confunda, portanto, o Positivismo Jurídico com a
aplicação de leis ao caso concreto. Ser positivista não significa
ser técnico. Desde Auguste Comte, o objetivo tem sido aproxi-
mar o máximo possível as Ciências Humanas e as Ciências Na-
turais. Por isso, visa-se à máxima neutralidade possível. Como
bem observa Hans Kelsen, na aplicação do Direito ao caso con-
creto o juiz depende de tantas circunstâncias que se torna im-
possível estudá-lo (ao juiz, não ao Direito) sociologicamente e
psicologicamente de tal modo que se faça um exame científico.

152
Metodologia para Pesquisas Jurídicas & Sociais

Tudo que se quer dele é uma sentença, mas o jurista não per-
ceberá facilmente tendências para decisões futuras sequer do
mesmo julgador (KELSEN, 2000).
Apesar disso, não será o positivista alguém omisso pe-
rante excessos do Estado de Direito, legitimando práticas como
o nazismo ou a ditadura brasileira. Ele contará com a referên-
cia aos princípios gerais de Direito, convenções internacionais
de que seu país seja signatário entre outras disposições norma-
tivas para disciplinar seu entendimento e contradizer normas
que sejam vigentes, mas que não tenham valor moral em so-
ciedade para que sejam aplicáveis. A sua neutralidade se refere
a não examinar padrões coletivos de comportamento, mas às
normas que sejam a eles aplicáveis segundo quem tenha legiti-
midade para editar as normas (Idem). Nas próprias palavras de
Kelsen, o caráter comparativo entre sistemas jurídicos faz com
que o jurista positivista possa analisar criticamente padrões de
aplicação das normas:

A Teoria Pura do Direito limita-se a uma


análise estrutural do Direito positivo,
baseado em um estudo comparativo das
ordens sociais que efetivamente existem
e existiram historicamente sob o nome
de Direito. (…) Assim como a questão da
origem do Direito, a questão de se deter-
minada ordem jurídica é justa ou injusta
não pode ser respondida no âmbito e
pelos métodos específicos de uma ciência

153
Sérgio Coutinho dos Santos

voltada para uma análise estrutural do


direito positivo. Isso não implica neces-
sariamente que a questão de o que é a jus-
tiça não possa ser respondida de maneira
científica, isto é, objetiva. Mas, mesmo
que fosse possível decidir objetivamen-
te o que é justo e o que é injusto, como
é possível determinar o que é um ácido
e o que é uma base, a justiça e o Direito
deveriam ser considerados dois conceitos
diferentes. Se a ideia de justiça tem algu-
ma função, é a de ser um modelo para a
feitura de bom Direito e um critério para
distinguir bom e mau Direito (Kelsen ,
2001, p. 289-290).

Por essa referência a quem faz as normas e a quem defini-


ria sua legitimidade, um dos principais debates contínuos nas
reflexões sobre o Positivismo tem sido a polêmica entre teses
monistas e pluralistas sobre as fontes do Direito. No monismo,
toda fonte será decorrente do Estado de Direito, mas há juris-
tas que consideram que normas aplicáveis e incidentes sobre o
sistema jurídico estatal também sejam derivadas do cotidiano
das relações sociais bem como das transformações que possam
ocorrer por conflitos políticos ou culturais. Porém, para um
positivista, como bem adverte Kelsen, essa reflexão não teria
qualquer relevância, pois seria de uma filosofia da justiça, não
propriamente da ciência do Direito (Idem).

154
Metodologia para Pesquisas Jurídicas & Sociais

11.2 Pragmatismo (ou Realismo) Jurídico

Quando William James explicava em suas conferências


o Pragmatismo, a ênfase se dava no combate ao nominalismo
das coisas em seu caráter essencialista. Procurar uma essência
das coisas a partir do seu nome ou de características imateriais
constantes não seria útil para entendê-las. No exemplo cons-
tante, uma mesa não se define por ser conhecida como tal, mas
pelo conjunto de característícas identificadas no momento em
que se percebe estar diante de uma. Sua função, o material usa-
do, o design, serão aspectos úteis e que permitirão entender,
mas que não trarão uma definição.
Afinal, definir, da origem da palavra, é dar fim a algo,
esgotar seu sentido. Isso não é possível ser feito porque as no-
vas relações humanas trarão para as mesmas palavras novos
significados. Por isso, com Wittgenstein será possível entender
o mundo das coisas como uma sucessão de jogos linguísticos,
perante os quais as coisas estão imersas entre sentidos que va-
mos atribuindo, para que possamos construir novas relações
sociais, não apenas para que as contemplemos. Como dizia Ja-
mes sobre os conceitos, o método pragmático “mergulha no rio
da experiência junto com os mesmos e prolonga a perspectiva
por seu intermédio” (JAMES, 2005, p. 80).
Contudo, apesar da importância de Charles Sanders
Peirce, William James, Ferdinand Canning S. Schiller e John
Dewey nos primeiros passos do Pragmatismo, é preciso lem-
brar das mudanças que o método pragmático sofreu. Como
observa Adrualdo Catão, a ruptura trazida pelo primeiro “giro

155
Sérgio Coutinho dos Santos

linguístico” com o Círculo de Viena trouxe a defesa da lingua-


gem como mediadora entre o homem o mundo. Afirma Ca-
tão que mesmo o ato de apontar deva ser examinado sob esses
parâmetros, o que bem exemplifica o potencial pragmático:

Portanto, para que o ato de apontar e no-


mear sirva a seu propósito, os participantes
da linguagem devem, desde já, estar inse-
ridos numa forma de vida e, consequente-
mente, num jogo de linguagem. Ademais, a
denotação é apenas uma preparação para o
uso de uma palavra. Imaginar que a deno-
tação é a essência da linguagem é deixar de
lado as funções mais variadas das palavras
que pronunciamos no dia-a-dia” (CATÃO,
2007, p. 35).

Do mesmo modo, os fatos podem ser avaliados na vida


em sua transição para serem vistos como fatos jurídicos.
Dependendo das relações entre as pessoas bem como do sis-
tema normativo vigente, a ideia de fato bem como de fato jurí-
dico adquirirão novos significados de acordo com as relações
linguísticas que possam ser travadas em cada tentativa de apli-
car a um caso concreto um comando normativo.
Assim, a Teoria Geral do Direito tem na prudência do
Pragmatismo a dissolução do caráter essencialista com que,
por vezes, possa ser examinada a relação fato, valor e norma no
positivismo jurídico. Se assim será preciso ver os fundamentos

156
Metodologia para Pesquisas Jurídicas & Sociais

materiais de uma demanda jurídica, o mesmo ocorrerá com as


provas para justificar os fatos judicialmente descritos. Não ca-
beria, na perspectiva pragmática, considerar cada prova como
algo que seja a própria verdade dos fatos, mas como uma “ver-
dade ligada ao interesse, utilidade e coerência” (Idem, p. 80),
dependendo dos argumentos que possam ser construídos a
partir dela. Como ensina Thamy Pogrebinschi, o Pragmatismo
Jurídico pode ser entendido a partir de três alicerces:

São três as características fundamentais


que definem o pragmatismo jurídico,
quais sejam: contextualismo, consequen-
cialismo e anti-fundacionalismo. O con-
textualismo implica que toda e qualquer
proposição seja julgada a partir de sua
conformidade com as necessidades huma-
nas e sociais. O consequencialismo, por
sua vez, requer que toda e qualquer pro-
posição seja testada por meio da anteci-
pação de suas consequências e resultados
possíveis. E, por fim, o antifundacionalis-
mo consiste na rejeição de quaisquer es-
pécies de entidades metafísicas, conceitos
abstratos, categorias apriorísticas, princí-
pios perpétuos, instâncias últimas, entes
transcendentais e dogmas, entre outros ti-
pos de fundações possíveis ao pensamento
(POGREBINSCHI, s/d, p. 1).

157
Sérgio Coutinho dos Santos

Não há, pois, um caráter essencial para direitos e garan-


tias, mas são construídos segundo cada época em que se aplica
o Direito, para quem se aplica e com que consequências possí-
veis. Neste sentido, José Eisenberg completa as características
quando afirma que o método pragmático (não há consenso
sobre ser uma teoria jurídica, havendo quem o defenda como
um modo de interpretar o Direito) seja útil a partir de três ele-
mentos:

Este método prescreve que (a) se analise o


contexto de normas gerais e precedentes
válidos que iluminam o contexto do caso
particular, (b) se defina com clareza as
conseqüências desejadas pela comunidade
política para a ação engendrada, e (c) que
princípios jurídicos, éticos ou morais, ve-
nham a ser mobilizados como simples ins-
trumentos heurísticos no processo de fazer
um juízo (EISENBERG, s/d, p. 1).
Como fundamento, temos então a possibilidade de ado-
tar, no Pragmatismo Jurídico (também chamado de Realismo
Jurídico) a posição dos tribunais superiores como ponto de
partida, paradigma para a reflexão sobre um fato específico.
Não se trata de concordar com tudo que digam os tribunais,
mas partir da Suprema Corte (no nosso caso, o Supremo Tri-
bunal Federal), como interpretação do Direito segundo certa
época das relações jurídicas.

158
Metodologia para Pesquisas Jurídicas & Sociais

11.3 Pós-Modernidade

É comum que o termo “pós-modernidade” seja julgado


pelos pós-modernos como inadequado para o que eles defen-
dem. Faz sentido ter esta prudência terminológica. Afinal, a
denominação mais comum é equivocada, uma vez que não visa
superar a Modernidade, mas examiná-la sem os seus pressu-
postos. Como resume Boaventura de Sousa Santos:

O paradigma cultural da modernidade


constituiu-se antes de o modo de produ-
ção capitalista se ter tornado dominante e
extinguir-se-á antes de este último deixar
de ser dominante. A sua extinção é com-
plexa porque é em parte um processo de
superação e em parte um processo de ob-
solescência. É superação na medida em
que a modernidade cumpriu alguma das
suas promessas e, de resto, cumpriu-as
em excesso. É obsolescência na medida
em que a modernidade está irremediavel-
mente incapacitada de suprir outras das
suas promessas. Tanto o excesso no cum-
primento de algumas das promessas como
o défice no cumprimento de outras são
responsáveis pela situação presente, que se
apresenta superficialmente como de vazio
ou de crise, mas que é, a nível mais pro-

159
Sérgio Coutinho dos Santos

fundo, uma situação de transição. Como


todas as transições são simultaneamente
semicegas e semi-invisíveis, não é possível
nomear adequadamente a presente situa-
ção. Por esta razão lhe tem sido dado o
nome inadequado de pós-modernidade.
Mas, à falta de melhor, é um nome autên-
tico na sua inadequação (SANTOS, 2003,
p. 76-77).

São pressupostos para os nossos tempos modernos o ra-


cionalismo, a autonomia da vontade individual, a historicidade
das ideias sobre o mundo bem como um mundo que não de-
penda da tradição nem da revelação transcendental para ser
explicado. Os defensores da Pós-Modernidade42 relativizam to-
dos esses caminhos. Essa é a razão pela qual Bauman prefere se
referir a uma Modernidade Líquida, já que não se trata de um
novo período da História após a Modernidade. Morin, por ou-
tro lado, denomina de “pensamento complexo”, por se definir a
partir da transdiciplinaridade ou pela necessária simultaneida-
de de distintas perspectivas, sem que apenas uma possa expli-
car fenômenos da sociedade por sua contínua transformação
(MORIN, 2004).
A autonomia da vontade individual é hipervalorizada,
com a supremacia da percepção sobre a reflexão. Com isso, a
imagem do mundo se autonomiza e a aparência imediata será

Para se aprofundar sobre a Pós-Modernidade: LYOTARD, 2003; MAGALHÃES, 2004; SAN-


42

TOS, 1998 e 2003; MORIN, 2004.

160
Metodologia para Pesquisas Jurídicas & Sociais

determinante para muitas das impressões possíveis. Isso per-


mite que o processo de construir significados de si e daqueles
que lhe cercam no cotidiano seja algo mais flexível do que esta-
mos acostumados nas reflexões tipicamente modernas.
É resultado da desconstrução do sujeito (expressão mui-
to apreciada na perspectiva pós-moderna) o qual passa a ser
reconstituído no dia a dia segundo os sentidos que precise par-
tilhar com alguém ou mesmo de acordo com a sua livre vonta-
de. As representações sociais não serão vistas como lentes que
ajustam do coletivo ao particular o olhar de alguém, mas como
referências que podem ser substituídas quando se desejar.
Assim, a linearidade histórica que vê os fatos como fenô-
menos de processos maiores, constituindo estruturas sociais,
não é algo relevante para pós-modernos. Os fenômenos serão
examinados segundo o presente e o conjunto das relações que
o constituam em dado momento e como sejam entendidos na-
quele instante.
Sujeitos se constituem segundo a ideia de si mesmos e o
modo como essa ideia seja reconhecida no cotidiano. Muitas
teorias microssociológicas têm afinidade com essa perspectiva,
desconsiderando grandes estruturas para dar atenção especial a
cada relação humana como fenômeno socialmente significante.
Santos adota, por isso, o senso comum como denomina-
dor necessário para novos paradigmas científicos: “Se o senso
comum é o menor denominador comum daquilo em que um
grupo ou um povo coletivamente acredita, ele tem, por isso,
uma vocação solidarista e transclassista” (1989, p. 37). As bar-
reiras entre formas de conhecimento não seriam mais tão ri-

161
Sérgio Coutinho dos Santos

gorosas. Como equilibrar, essas distinções ainda permaneceria


inconstante, pois o método seria constituído a partir da neces-
sidade de cada reflexão.
Não se diria, conforme Shakespeare em A Tempestade
que “tudo que é sólido se desmancha no ar”, mas que tudo que
pareceria sólido já era por si esfacelado. Apenas não se conse-
guia ver assim.
Uma crítica adotada, por muitas vezes, vem do risco de
estarmos falando de um mundo em fragmentos, nem mesmo
em mosaico, cujos sentidos seriam continuamente variáveis.
Isso iria contra os pressupostos da ciência, pois não haveria
regularidades nem evidências claras a serem estudadas. Não
é à toa que os defensores da pós-modernidade defendam com
veemência a revisão de paradigmas científicos para incorporar
fenômenos que a visão moderna tradicional não seria capaz de
entender.
Por essas razões, a Pós-Modernidade pode ser de gran-
de utilidade. Por diversas vezes, precisamos refletir sobre fa-
tos em constante transformação ou sobre os quais não seja
nada fácil definir quem seja seu protagonista e, por isso, te-
nham mesma importância diversas perspectivas simultâneas.
Se lembrarmos de seriados e telenovelas mais recentes, o en-
tretenimento mostra como já é corriqueiro algo assim, ha-
vendo vários núcleos de personagens sem que qualquer entre
eles seja o herói ou o vilão.
Do mesmo modo, imagens, vídeos e fotografias, poderão
ser examinadas com maior riqueza de detalhes quando consi-
derarmos a perspectiva pós-moderna por permitir que vários

162
Metodologia para Pesquisas Jurídicas & Sociais

ângulos tenham mesma relevância e apareçam na reflexão pa-


ralelos entre si para compor uma perspectiva que apenas faz
sentido por haver alguém que vê e descreve o objeto, não pelo
objeto em si.

11.4 Análise de discurso

É fundamental para a compreensão da análise de discur-


so a grande autonomia que a subjetividade adquire na segunda
metade do século XX. O mesmo giro linguístico que fora fun-
damental para a renovação do Pragmatismo contribuíra para
diversas teorias da linguagem. Entre elas, a análise de discurso
foi uma que prosperou bastante.
Começando com a Linguística sistematizada por Ferdi-
nand Saussure, a análise de discurso defende que a linguagem
seja estudada a partir de sua efetivação, sendo constitutivas
dela tanto a fala quanto os signos empregados e mesmo o sig-
nificante e os significados que sejam por ele trazidos ao conhe-
cimento.
Os “signos” têm a mesma raiz de “símbolos”, designando
algo que só existe como representação, em que o modo como
damos sentido a uma ou mais ideias precisa ser analisado, sem
ser possível pensar na sua simples objetividade. A análise de
discurso lida com processos de significação, não apenas com
significados, pois importa como se constroi o significado da-
quela representação de informações. Quem atribui sentido
será identificado como significante, ou aquilo que permite que
algo seja reconhecido a partir de sua simbologia.

163
Sérgio Coutinho dos Santos

O sujeito que se expressa é estudado segundo sua com-


petência, como alguém hábil para expressar a linguagem em
dado contexto linguístico. Ao mesmo tempo, é examinado o
seu uso da língua, ou seja, sua performance linguística.
Pela diversidade de intérpretes que surgem, tanto para
dar sentido ao se expressar quanto ao receber os signos trans-
mitidos, serão significantes os diversos interlocutores envolvi-
dos. Os sentidos, portanto, devem variar no tempo e no espaço
bem como segundo os jogos linguísticos constituídos. O méto-
do visa, pois, identificar interdiscursos e sentidos simultâneos,
cruza-se, assim, com outras teorias da linguagem da segunda
metade do século XX.
Um texto será constituído na pesquisa por seu contexto
e pelos possíveis discursos envolvidos. Releia procurando os
objetivos do autor, porque ele deu ênfase a certas ideias, a cer-
tas expressões. A escolha de palavras e o modo como elas são
usadas (marcadas por negrito, sublinhado, alternância entre
linguagem formal e coloquial, escolha de imagens para ilustrar
o conteúdo, entre outras marcas do sentido) costuma mostrar
muito sobre quem fala43, pertence a certo grupo social, a certa
religião, etnia, classe social, enfim, demarca objetivos do autor.
Será preciso identificar as circunstâncias da enunciação
(onde se situam os fatos); o contexto sócio-histórico (as regras
esperadas, os padrões morais incorporados naquele texto); a
memória discursiva (como as pessoas envolvidas têm com-
preensões preestabelecidas para os fatos, partilham significa-

O Código Penal tinha a expressão “mulher honesta” como sinônimo de obediente ao mari-
43

do. Era o espelho de uma época, não fazendo sentido se fosse mantida até nossos dias.

164
Metodologia para Pesquisas Jurídicas & Sociais

dos, como a atribuição de voz de autoridade a certas frases,


a certos gestos, de acordo com padrões coletivos de conduta)
e o modo de circulação (como as informações são transmi-
tidas, se ocorre o uso de mídias, expressão corporal, onde se
encontra o texto escrito). O discurso pode carregar consigo
interdiscursos, ou seja, discursos menores que alimentam os
signos dos sujeitos (para uma campanha de utilidade pública
governamental, pode-se ter uma voz afetiva ou coloquial para
conquistar a atenção, uma voz técnica para explicar como se
transmite certa doença, uma voz de autoridade para falar so-
bre a multa que pode ser atribuída a quem descumprir aquelas
informações etc.). Por essas razões, é possível afirmar que, por
meio da análise de discurso torna-se possível identificar ideo-
logias daqueles que trazem consigo os discursos, assim como a
sua própria história. É quase um ditado da análise de discurso
repetir que, quando damos significado a algo também nos sig-
nificamos, pois nossas escolhas de palavras, nossos silêncios
diante de certos temas, a opção por transmitir algo deste e não
daquele modo, dizem muito sobre nossas identidades.

11.5 Materialismo Histórico

A crise do chamado socialismo real, baseado politicamente


na existência da União Soviética e da Alemanha Oriental como
duas hipóteses ao capitalismo, fez com que o ceticismo passasse a
ser comum ao se falar em pesquisas com base em Karl Marx.
Contudo, não é necessário que assim seja. O Materialismo
Histórico, método desenvolvido por Karl Marx e Friedrich En-

165
Sérgio Coutinho dos Santos

gels, é de grande importância até nossos dias para diversas análi-


ses da sociedade. O que é preciso refletir é a quantidade de pers-
pectivas que existem hoje sendo denominadas como marxistas
ou, como preferem alguns, marxianas (onde se procuraria um
autêntico Marx). Entre marxismos com base em Gyorgy Lukács,
Antonio Gramsci, Theodor Adorno, Ernesto Laclau entre tantos
outros, fiquemos com os fundamentos que se supõem comuns a
todos eles, presentes na obra do próprio Karl Marx44.
A base do materialismo histórico é a ruptura com o
idealismo de qualquer espécie. As ideias não seriam vistas
como autônomas ao mundo, sendo este decorrente da siste-
matização daquelas. Seria o mundo que as constituiria. Se essa
tese se mostraria muito abrangente, é preciso partir daquilo
que constitui o mundo concreto em que vivemos, em outros
termos, partir do modo de produção. Nos últimos séculos,
os meios de produção dos bens da vida têm sido voltados ao
valor de mercado desses bens. Seu valor de troca é início para
entender, portanto, o que ocorre em nosso tempo.
Não podemos esquecer que os bens da vida não partem
de fábricas nem da terra diretamente. Precisam contar com a
mediação da forma-mercadoria do uso da força de trabalho.
Portanto, a atividade do ser humano também é meio de tro-
ca na nossa sociedade. Quanto mais estivermos afastados do
produto de nosso trabalho, mais afastados estaremos da nossa
plena realização como seres humanos. Isto é o que Marx chama
de alienação, o processo pelo qual torna-se impossível que o

Para se aprofundar sobre os rumos do Materialismo Histórico hoje, algumas sugestões são:
44

ANDERSON, 2004; MÉSZÁROS, 2003 e NETTO, 2004.

166
Metodologia para Pesquisas Jurídicas & Sociais

ser humano se reconheça no produto do uso da sua força de


trabalho, não guardando identidade com as mercadorias pro-
duzidas.
A superação dos limites que a reprodução da riqueza do
mundo, os contínuos reprodução e acúmulo da lógica do capi-
tal (esta riqueza em contínua reprodução) em sociedade seria
possível por meio da consciência de classe. Quanto mais o tra-
balhador tivesse conhecimento dos limites de sua atividade e de
seu potencial como ser humano, mais poderia, coletivamente,
enfrentá-las e distribuir o produto da capacidade de trabalho
por toda a sociedade. A isso se chama comunismo. Toda tran-
sição vigente em sociedade durante o andamento desse movi-
mento, seria chamada de socialismo. Por isso é justificável entre
marxistas a existência de tantas perspectivas que igualmente se
denominam marxistas, pelas transcrições possíveis.

11.6 Neoconstitucionalismo e Pós-Positivismo

A interpretação de uma constituição não se confunde


com o constitucionalismo. Este se refere a uma visão de mun-
do predominante em certa época sobre o que possam significar
as constituições. Temos como fundamentos do constituciona-
lismo contemporâneo ocidental a democracia com eleições li-
vres, a autonomia entre os Poderes da República, entre outros
fatores que independem do país em particular.
O Pós-positivismo identifica, na busca da solidez hermenêu-
tica da norma, uma carência para a solução de todos os problemas
jurídicos. Disso resulta a luta pela ampliação dos princípios no fim

167
Sérgio Coutinho dos Santos

do século XX que repercute cada vez mais nos debates jurídicos


do século XXI. Como observa bem Barroso (2005), a existência de
normas, como da dignidade da pessoa humana entre tantas outras
que ele exemplifica, cujas interpretações possam ser tão distintas
quanto igualmente aplicáveis, facilitaria muito os conflitos entre
normas. Aumentar o alcance de princípios jurídicos específicos,
como na proposta neoconstitucionalista aqueles relacionados aos
direitos fundamentais e a bases éticas para o constitucionalismo,
cria critérios de ponderação entre normas.
Será sempre possível considerar que a supremacia de princí-
pios sobre normas possa diminuir a segurança jurídica. Para quem
assim argumenta, sempre será possível formar o debate a partir da
antítese de que o que alguns chamariam de segurança para outros
seria afastar o caráter dialético do Direito, sua transformação contí-
nua a partir de novos pontos de vista sobre seus fundamentos.
Diante da possibilidade de desconfianças perante o
Neoconstitucionalismo, Marcelo Barros Jobim recorda que
os princípios constitucionais permitiram uma transformação
epistemológica relevante para o constitucionalismo, com va-
lores humanos (mais amplos, portanto, do que direitos) sendo
reconhecidos pela ordem estatal, a necessidade de não apenas
governos mas o próprio Estado ter metas, seriam alguns entre
muitos aspectos que trariam não insegurança, mas uma reno-
vação da ordem jurídica (JOBIM, 2013).
O Estado Constitucional passa, assim, a ser interpreta-
do como um projeto coletivo, que incorpora diversos grupos
da sociedade e não apenas comandos genéricos, válidos para a
sociedade como ente genérico, igual para todos sem distinções.

168
Metodologia para Pesquisas Jurídicas & Sociais

11.7 Pluralismo Jurídico

Você deve se lembrar do debate entre monismo e plura-


lismo, mencionado quando expliquei o Positivismo Jurídico.
Este corresponde ao monismo, à defesa de que todo Direito
deriva do Estado; enquanto o pluralismo jurídico defende que
existam diversas fontes não-estatais que seriam igualmente ju-
rídicas. A coercitividade, típica do poder concentrado estatal,
estaria na verdade difusa entre diversos mecanismos de con-
trole social, como a família e as religiões.
Para as teses do pluralismo jurídico, é a presença da le-
gitimidade jurídica fora do Estado que garante a possibilidade
de identificar normas estatais que não sejam legítimas, que não
correspondam aos anseios culturais, políticos, afetivos de uma
parcela da sociedade.
Os debates sobre limites ao pluralismo passam pela
possibilidade de planos legais paralelos, a incorporação da
internacionalização do Direito de modo abrangente, mas,
principalmente, pelo multiculturalismo; em outros termos,
pela defesa ampla de um relativismo valorativo sobre o que
seja culturalmente e juridicamente certo ou errado, ten-
do em vista a diversidade de padrões culturais existentes.
Também é simpática ao pluralismo jurídico a aplicação das
categorias “Direito do asfalto x Direito achado na rua”, sen-
do o primeiro termo aquele oficial, derivado do Estado, e
o segundo derivado do campo, da periferia, de formas não
regulamentadas, ou precariamente previstas pela legislação,
de conflitos sociais.

169
Sérgio Coutinho dos Santos

Desses ideais, decorre o chamado ativismo judicial, por


meio do qual juízes usariam da sua profissão para defender
seus parâmetros de justiça. Como é comum em movimentos
sociais e em correntes teóricas, não há um consenso sobre
objetivos: o ativismo é muito mais uma postura do que uma
bandeira que agregue pessoas em uma mesma associação. Por
outro lado, tem sido foco dos debates a possibilidade de juízes
se posicionarem fora dos limites da legislação, seja formando
uma jurisprudência que contraria preceitos legais seja por meio
de sentenças que atendem apenas à equidade. Se por um lado
a ideologia dos magistrados não fica mais escondida e torna-
-se possível que se vejam como cidadãos e participantes ativos
da vida política coletiva, por outro poderiam traduzir em belo
discurso distributivo o que seriam atos de totalitarismo.
Como observado por Boaventura de Sousa Santos, o ati-
vismo judicial cresce à medida que o Estado fracassa nos servi-
ços públicos oferecidos (SANTOS, 2009). O planejamento das
metas da gestão pública em diferentes direitos sociais (com des-
taque ao acesso de crianças a escolas e de pessoas com doenças
crônicas a medicamentos caros) tem aumentado a tutela litigiosa
do que o gestor deveria cuidar para satisfazer à sociedade.
O ativismo judicial começou a ser examinado no Brasil
por meio de magistrados que se contrapunham à ditadura das
décadas de 1960 a 1980. Hoje, manifestam não mais ideologias
políticas necessariamente, mas posturas subjetivas e prévias
aos casos que avaliam, mas de acordo com as garantias para
direitos sociais, agindo ora como gestores públicos ora como
legisladores.

170
CAPÍTULO XII

Sobre Bancas

U
ma confusão muito comum é medir nossa primeira
apresentação diante de uma banca por palestras que
tenham nos inspirado. Lembre-se: a banca é, antes de
tudo, um procedimento para avaliação. Você precisa, pois, não
se assustar nem tentar deslumbrar, mas mostrar que conhece
bem o conteúdo que está escrito no trabalho acadêmico e que
tem segurança para apresentá-lo.
O tempo da apresetação do trabalho na defesa não cos-
tuma ser pouco. É comum que seja estipulado entre 15 e 30
minutos, dependendo da instituição de ensino superior. Quan-
do você relê seu trabalho de 50 páginas (tamanho médio na
graduação), parece desesperador porque a impressão é de que
tudo será apresentado.
Relembre seu projeto. A defesa do trabalho é o momento
em que você mostrará, daquele projeto inicial, o que foi reali-
zado. Então, precisará tão somente apresentar quais eram seus
objetivos, que metodologia adotou, quais foram suas principais
referências teóricas. Em seguida, que resultado alcançou para
aqueles objetivos, em que o método empregado foi útil e que
reflexão é possível fazer com base nos marcos teóricos consul-
tados. Em resumo, a defesa da sua pesquisa será uma releitura
da conclusão do seu trabalho.

171
Sérgio Coutinho dos Santos

Treine uma ou duas vezes antes, exponha informalmente


ao orientador o que pretende apresentar perante a banca e o
tempo em nenhum momento será um problema.
Para isso, não consulte a versão completa da pesqui-
sa durante a apresentação. Leve uma cópia para responder às
perguntas da banca, mas não para consultá-la. Afinal, basta se
perder uma vez procurando uma citação para se tornar escra-
vo da insegurança e perder tempo. Faça uma versão menor do
texto para apresentação. Sem consultar o que escreveu antes,
sente-se para preparar um texto de uma a duas páginas. Essa
será a base da sua apresentação. Se quiser usar algum gráfico,
alguma fotografia, alguma citação durante a apresentação, faça
marcas no texto indicando quando serão usadas. De preferên-
cia, inclua nessa versão reduzida, cópias do que apresentará ao
público e as citações que pretende ler.
Em seguida, pegue meia folha de papel e anote palavras-
-chave, com a sequência dos tópicos da apresentação que não
pode esquecer. Você verá que, ao fazer isso, não precisará mais
estar com a monografia à mão nem com a versão reduzida e,
talvez, não precise nem mesmo das palavras-chave (mas leve
no bolso, nunca se sabe).
Não pense nos slides que usará para exibição de aspectos
da pesquisa como se fossem anotações para não esquecer da
sequência do trabalho. Pode ser interessante ter um slide com
as partes da pesquisa, mas não necessariamente com o sumá-
rio, caso ele seja muito longo. Pense nas etapas da pesquisa que
apresentou no projeto. Esse é o momento de prestação de con-
tas do que conseguiu fazer.

172
Metodologia para Pesquisas Jurídicas & Sociais

Assim como nas anotações que lhe acompanharão na


defesa, tenha nos slides tópicos, não textos longos. Caso con-
trário, terá a tentação de ler os textos, o que tomará tempo e
gerará inevitavelmente grande ansiedade em você. Quanto
mais prática for a apresentação, quanto mais sucinto for com
os temas, melhor manterá a sua segurança.
Então, serão aspectos que tornarão prática sua pesquisa:
− Contexto socioeconômico do tema;
− Marcos teóricos, com principais autores e conceitos
principais;
− Sequência das partes em que dividiu a pesquisa;
− Fontes de que se socorreu;
− Conclusões que alcançou.
− Lista das principais referências.
A banca fará perguntas, correções e contestações. É para
isso que ela existe, não é maldade (pelo menos presuma que não
seja). Se discordar de alguma consideração dos avaliadores, diga,
com educação mas sem submissão. É uma forma de mostrar segu-
rança no que estudou reforçar com mais argumentos, mas, prin-
cipalmente, é uma oportunidade para completar o tempo anterior
trazendo mais afirmações. Veja cada tempo de réplica a um exa-
minador como prorrogação do seu tempo de apresentação.
Quando assistimos às defesas de outros estudantes, as in-
tervenções da banca parecem um massacre. Lembre que você
apenas precisa responder sobre o que estiver escrito ou tiver
sido exposto na sua defesa. Você tem todo o direito de escla-
recer um integrante da banca se fugir do seu tema e o dever
de justificar o desconhecimento de algo perguntado que não

173
Sérgio Coutinho dos Santos

conste do objeto de estudo. Quem assiste à apresentação não


sabe o que consta da monografia. Por isso, sente que as bancas
são rígidas demais quando, na verdade, apenas avaliam o que o
pesquisador escreveu e apresentou ao público.
Por falar em público, as defesas são públicas. Mesmo que
você não divulgue, pode ser que seu orientador ou um membro
da banca tenha convidado alguém para assistir. É normal que as
faculdades divulguem em murais, que outros professores infor-
mem aos alunos para que apareçam, principalmente professores
de Metodologia, enfim, não pense em evitar ser visto nessa hora.
Será mais alguém para elogiar seu trabalho após a apre-
sentação mas, em todo caso, se ficar constrangido, lembre que
será alguém ali presente que não o avaliará. Fale voltado ora
à parede, ora a essas pessoas da audiência, ora à banca. Se al-
guém da banca olhá-lo com expressão desagradável, volte a
olhar para a parede do fundo da sala que ela não decepciona.
Em todo caso, pense que, em poucos minutos, se apenas
se detiver a defender o que pesquisou nos limites do que in-
cluiu no texto da investigação, estará tudo resolvido e precisará
apenas esperar por um título.
Não se esqueça de perguntar na faculdade sobre procedi-
mentos para versões finais do trabalho, edições em capa dura,
para agilizar a burocracia para obtenção do certificado de con-
clusão do curso ou seu diploma. A nota final não importará
tanto, desde que esteja acima da média. Porém, dependendo
da instituição de ensino superior, pode ser o critério para que o
trabalho passe a estar disponível para consulta na biblioteca ou
para ser recomendado para publicação.

174
CAPÍTULO XIII

O que fazer após a aprovação


da sua pesquisa

V
ocê escreveu um trabalho para determinada discipli-
na. O professor elogiou, atribuiu uma boa nota, co-
legas quiseram ler. Você pensa em usar esse trabalho
para escrever a monografia para conclusão de curso, amplian-
do a problematização anterior. Isso pode ser feito.
Observe entre os congressos na área de ciências humanas
aqueles que têm espaço para inscrição de trabalhos de estudan-
tes. Inscreva seu trabalho. Há diversas vantagens caso seja sele-
cionado.
Por vezes, quando nos inscrevemos em algum seminário,
pensamos apenas nas palestras, nos minicursos, em conhecer
pessoalmente autores de livros. Contudo, a relação custo-be-
nefício do valor do evento pode ser bem mais interessante. Se
você comparecer, incluirá no currículo a participação. Ao ins-
crever um trabalho acadêmico que é selecionado para apresen-
tação, poderá incluir no item do currículo destinado à apresen-
tação de trabalho, publicação nos anais do evento (coletânea
que pode ser em capa dura ou em CD-ROM com resumos de
todos os trabalhos), entre outras vantagens que podem surgir.
Levou seu trabalho para um seminário, uma banca ou
espectadores fizeram perguntas, deram sugestões e você aper-

175
Sérgio Coutinho dos Santos

feiçoou o que escreveu. Você é realmente um pesquisador, pois


não deixa de procurar novos resultados, aprimorar suas des-
cobertas, dar vazão à sua curiosidade. Então, quando alcançar
resultados, mesmo que sejam preliminares, pode escrever um
artigo científico e publicar.
As faculdades costumam exigir, na graduação, que os es-
tudantes recolham horas de atividades extracurriculares. É uma
imposição da Lei de Diretrizes e Bases da Educação. Quanto à
divulgação do seu trabalho, surgem oportunidades interessantes
para suprir esta obrigação acadêmica para sua formatura.
É muito comum que existam seminários em que há
oportunidade para apresentações de trabalhos de estudantes
perante bancas. Nesses casos, a carga horária das palestras será
somada pela correspondente à apresentação de trabalho. Não
é raro que exista também a publicação, integral ou do resumo,
do trabalho. Seriam três itens para seu currículo (seminário,
apresentação de trabalho e publicação) bem como para a com-
pensação de horas extracurriculares para a faculdade.
É interessante observar que eventos somam maior carga
horária de acordo com a abrangência territorial: internacio-
nais atribuirão maior carga horária do que aqueles que forem
nacionais, assim como regionais em relação a estaduais e lo-
cais em relação aos demais. Assim, havendo diversos eventos
para escolher para onde levar seu trabalho, se precisar esco-
lher pelo valor da inscrição, escolha aquele que tenha maior
valor curricular.
Nem sempre terá espaço para apresentação de trabalhos,
mas poderá ter para apresentar um banner, ou cartaz corres-

176
Metodologia para Pesquisas Jurídicas & Sociais

pondente à pesquisa. Cuide de não ter apenas texto. Lembre


das observações sobre slides no capítulo XII e ilustre bem com
imagens. Em vez de pensar no tempo que passará ao lado do
cartaz esperando alguém interessado aparecer para que expli-
que sua pesquisa, veja essa oportunidade como espaço para
diálogo. Nas apresentações em seminários, o espaço para per-
guntas costuma ser curto. Você conversará com quem pode ter
feito também pesquisa sobre o mesmo tema, aumentando sua
rede de contatos para dar prosseguimento aos estudos com no-
vas leituras enquanto expõe seu banner.
Há diversas revistas científicas eletrônicas ou impressas
e as chamadas de artigos podem ser encontradas pela internet.
Em Ciências Sociais, elas aparecem na página da ANPOCS.
Em Direito, é preciso manter contatos com faculdades, visitar
websites de instituições de ensino superior para encontrar avi-
sos. Hoje em dia, é fácil encontrar chamadas de trabalhos por
meio de redes sociais, também.
Quando for publicar seu trabalho, pense bem na nature-
za do espaço para publicação. Além das revistas científicas, das
coletâneas de autores, há revistas de ampla circulação que pu-
blicam artigos de opinião. Não seria autoplágio você fazer uma
versão de menos páginas para publicação na imprensa especia-
lizada. Um exemplo: você pode publicar seu artigo científico
na revista Sementes, para iniciação científica do CESMAC; po-
rém, na Revista Jurídica Consulex, o espaço se reduz a poucas
páginas, o que faz com que reduza significativamente seu arti-
go, fazendo se tornar algo distinto do original. Aumentará não
apenas seu curriculum vitae com mais uma publicação mas, o

177
Sérgio Coutinho dos Santos

que é muito mais importante, divulgará melhor o que escreveu,


atingindo um público mais amplo.
O que importa é que seus estudos, como diria Karl Marx
(1995, p. 53) no prefácio à Crítica da Economia Política, sobre
o manuscrito que mais tarde foi publicado sob o título A Ideo-
logia Alemã, não fiquem “entregues à crítica roedora dos ratos”.
Porém, como bem lembra Marx (Idem, p. 54) citando na mes-
ma obra A Divina Comédia: “Que aqui se afaste toda a suspeita.
/ Que neste lugar se despreze toda a covardia”.
Quando você concluir a graduação, costuma ser a primeira
etapa do prosseguimento dos estudos fazer um curso de Pós-gra-
duação Lato Sensu, ou Especialização. A grande finalidade será
o aperfeiçoamento para o mercado de trabalho. Porém, mesmo
que não seja voltado ao ensino, é cada vez mais comum que seja
preciso fazer uma monografia ou um TCC ao final do curso. Para
que possa ser útil para ensinar e reconhecida em outras etapas da
pós-graduação, observe se o curso possui na matriz curricular as
disciplinas Metodologia da Pesquisa e Metodologia do Ensino Su-
perior. Caso não as tenha, não precisa se preocupar. Pode pagar as
disciplinas em outro curso desde que a carga horária seja equiva-
lente às outras disciplinas que tenha cumprido e que, no final, o
curso tenha, pelo menos, 360 horas-aulas.
Há poucos anos, foi criada a categoria Mestrado Profis-
sionalizante. Não confunda com MBA, ou Master in Business
Administration. Os MBAs não têm regulamentação precisa no
Brasil, sendo o termo adotado com frequência para cursos de
Especialização. Observe a tradição da faculdade que o oferece e
pergunte qual é a diferença para os cursos de Especialização. Se

178
Metodologia para Pesquisas Jurídicas & Sociais

não souberem responder, não faça o curso. No caso dos cursos


de Mestrado Profissionalizante, você se prepara para ser pes-
quisador fora do ambiente acadêmico. É uma necessidade do
mercado de trabalho ter, para consultorias, como pareceristas,
executivos, pessoas aptas a fazer pesquisa.
O Mestrado Acadêmico, ou simplesmente Mestrado já
que tem muito mais tempo de existência do que os Profissio-
nalizantes e são em maior número, é etapa obrigatória para
ser professor universitário. Os cursos não preparam para en-
sinar, infelizmente, mas para fazer pesquisa, o que será fun-
damental para programas de Iniciação Científica nas faculda-
des, bem como orientação de TCCs, organização de eventos,
atualização contínua de currículo com atividades extracur-
riculares com publicações, todas atividades valorizadas nas
faculdades. Nos cursos de Mestrado, o status de pesquisador
é atestado pelo título após a defesa de uma dissertação. Para
ser membro do programa de Mestrado de uma universidade
brasileira, costuma ocorrer a análise de currículo, a avaliação
de um projeto (às vezes com defesa oral perante uma ban-
ca) e a comprovação de fluência em pelo menos um segundo
idioma. Basta, normalmente, a fluência instrumental, saber
interpretar textos no idioma.
O Doutorado, já tendo o estudante sido avaliado como
pesquisador no Mestrado, permitirá que elabore uma tese ori-
ginal. Não há esta finalidade nos TCCs de graduação e pós-
-graduação nem nas dissertações de Mestrado. Normalmente,
exige-se por isso que tenha sido concluído um Mestrado antes.
Nas seleções, tanto do Mestrado quanto do Doutorado, é co-

179
Sérgio Coutinho dos Santos

mum no Brasil que se tenha a avaliação prévia de um projeto.


A diferença é que agora serão exigidos dois idiomas além da-
quele do seu país.
Os critérios para ingresso em Mestrados e Doutorados
fora do Brasil costumam variar de acordo com cada país. Exa-
mine as comparações e as possibilidades de obtenção de bolsas
de estudos em todos os casos em que se deslocar para fora do
seu estado. Mesmo dentro do estado, universidades públicas
costumam oferecer bolsas de estudos. Esteja atento para datas
de ingresso de pedidos de bolsas.
Com a bolsa de estudos, poderá ser pago para estudar. É
comum haver contrapartidas exigidas da universidade, como
um prazo máximo para encerramento do curso, apresentações
em eventos vinculados ao programa de bolsa entre outras pos-
sibilidades. A enorme vantagem é que não terá distrações du-
rante a investigação, podendo se dedicar em tempo integral.
Quando está fora do seu estado, providências assim fazem uma
grande diferença para a produtividade da pesquisa.

180
Conclusão

E
spero que este livro possa servir como um bom guia aos
seus estudos. Meu objetivo foi perseguí-lo em todas as
etapas da sua pesquisa, complementando o trabalho do
orientador-pessoa como se fosse um orientador-impresso.
Pretendi, com os capítulos que você leu, orientar cada
etapa da pesquisa, desde a formulação da curiosidade inicial
até a divulgação do trabalho acadêmico. Sinta-se à vontade
para avisar se este livro foi útil aos seus estudos, escrevendo
para mim.
A conclusão de qualquer trabalho acadêmico começa as-
sim: traz os objetivos do autor e de que modo ele considera
que foram alcançados. Em seguida, traz uma síntese de cada
capítulo. Não exporei aqui por se tornar desnecessário diante
dos nossos fins.
Todavia, fica como último aviso que a metodologia, seja
ela qual for, não deve engessar seu estudo nem ser mais im-
portante do que ele mesmo. Poderá encontrar quem simples-
mente lhe diga que basta fazer em uma monografia uma boa
leitura de um número fixo de livros (existe quem defina isso
para orientandos), ou que apenas estará boa se escrever certo
número de páginas.
É possível que encontre também quem diga que deve es-
crever um capítulo de introdução geral às ideias, um a favor de
algo, outro contra e uma Conclusão com sua visão do assunto.

181
Sérgio Coutinho dos Santos

Fica muito pobre e não produz conhecimento. Logo, não se


pode pensar nisso como monografia, mas como preenchimen-
to de um formulário.
Você, que acaba de ler um livro de metodologia até a sua
conclusão não precisa se reduzir a formas fixas. Os métodos
devem ser instrumentais a você, não o contrário. Teorias, téc-
nicas e anotações não devem ser usadas para bloquear sua vi-
são de mundo, mas ajudá-lo a ampliar suas perspectivas e satis-
fazer curiosidades para poder ter novas dúvidas nas próximas
etapas da vida como cientista.
Se de algum modo eu tiver colaborado para isso, este li-
vro terá cumprido o meu objetivo. Se encontrou alguma falha,
omissão, pensou que fui superficial em algo, sempre poderá
haver uma nova edição. Faz parte, como já viu no livro, da vida
de todo cientista reconhecer seus erros e procurar corrigi-los.
Agradecerei, repito, se escrever para mim para que possa tor-
nar a próxima edição ainda mais útil.

182
Leituras Recomendadas 45

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS.


NBR 10520: Informação e documentação – referências – ela-
boração. Rio de Janeiro: ABNT, ago 2002.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS.
NBR 14724: Informação e documentação – trabalhos acadê-
micos – apresentação. Rio de Janeiro: ABNT, ago 2002.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS.
NBR 6023: Informação e documentação – apresentação de ci-
tação em documentos. Rio de Janeiro: ABNT, ago 2002.
BAUER, Martin W.; GASKELL, George. Pesquisa qualitativa
com texto, imagem e som: um manual prático. Petrópolis, RJ:
Vozes, 2002.
CALVINO, Ítalo. Por que ler os clássicos. São Paulo: Compa-
nhia das Letras, 2007.
COMTE, Auguste. Curso de filosofia positiva. São Paulo:
Nova Cultural, 1996.
CONSELHO NACIONAL DE SAÚDE. Resolução n. 196: Di-
retrizes e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo
seres humanos. Disponível em: http://www.bioetica.ufrgs.br/
res19696.htm. Acesso em 24 abr 2013.
COSTA, Sérgio Francisco. Introdução ilustrada à Estatística.
São Paulo: Harbra, 2005.

Em circunstâncias normais, esse tópico deveria ser chamado “Referências”. Contudo, prefiro
45

elencar sugestões que possam ser úteis para a sua pesquisa. Na seção seguinte, encontrará
uma relação maior de obras, pois serão as referências que consultei para escrever o seu livro.

183
Sérgio Coutinho dos Santos

CRUZ, Ana Maria da Costa et al. Publicações periódicas cien-


tíficas impressas (NBR 6021 e 6022). Niterói: Intertexto; São
Paulo: Xamã, 2003.
DURKHEIM, Émile. As regras do método sociológico.São
Paulo: Martin Claret, 2003.
ECO, Umberto. Como se faz uma tese. 15ª ed. São Paulo: Perspectiva,
1999.
FOUCAULT, Michel. A ordem do discurso. São Paulo:Loyola,
2007.
GIANNETTI, Eduardo. Auto-engano. São Paulo: Companhia
das Letras, 2005.
GODOI, Christiane Kleinübing; MELLO, Rodrigo Bandeira
de; SILVA, Anielson Barbosa da (org.). Pesquisa qualitativa
em estudos organizacionais: paradigmas, estratégias e méto-
dos. São Paulo: Saraiva, 2006
HAGUETTE, Teresa Maria Frota. Metodologias qualitativas
na Sociologia. Petrópolis, RJ: Vozes, 2003.
HAMLIN, Cynthia. Sociologia: sua bússola para um novo
mundo. São Paulo: Thomson Learning, 2006.
KUHN, Thomas S. A estrutura das revoluções científicas. São
Paulo: Perspectiva, 1998.
MANGUEL, Alberto. A biblioteca à noite. São Paulo: Compa-
nhia das Letras, 2006.
MANGUEL, Alberto. Uma história da leitura. São Paulo:
Companhia das Letras, 1997.
MARQUES NETO, Agostinho Ramalho. A ciência do Direito:
conceito, objeto, método. Rio de Janeiro: Renovar, 2001.
POPPER, Karl. A lógica da pesquisa científica. São Paulo:
Cultrix, 1972.

184
Metodologia para Pesquisas Jurídicas & Sociais

PROSE, Francine. Para ler como um escritor. Rio de Janeiro:


Jorge Zahar, 2008.
VIEIRA, Padre Antônio. Sermão da Sexagésima. Disponível
em http://www.cce.ufsc.br/~nupill/literatura/sexagesi.html.
Acesso em 04 set 2010.
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Literalis, 2003.

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ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS.
NBR 10520: Informação e documentação – referências – ela-
boração. Rio de Janeiro: ABNT, ago 2002.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS.
NBR 14724: Informação e documentação – trabalhos aca-
dêmicos – apresentação. Rio de Janeiro: ABNT, ago 2002.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS.
NBR 6023: Informação e documentação – apresentação de
citação em documentos. Rio de Janeiro: ABNT, ago 2002.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS.
NBR 6023: informação e documentação – referências – ela-
boração. Segunda edição. Rio de Janeiro: ABNT, 14 nov 2018.
BARRAL, Welber. Metodologia da pesquisa jurídica. Floria-
nópolis: Fundação Boiteux, 2003.
BARTHES, Roland. Elementos de semiologia. São Paulo: Cul-
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BAUER, Martin W.; GASKELL, George. Pesquisa qualitativa
com texto, imagem e som: um manual prático. Petrópolis, RJ:
Vozes, 2002.
BAUMAN, Zygmunt. Modernidade líquida. Buenos Aires:
Fondo de Cultura Económica, 2009.

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Metodologia para Pesquisas Jurídicas & Sociais

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CICCO, Cláudio de. História do pensamento jurídico e da
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COMTE, Auguste. Curso de filosofia positiva. São Paulo:
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mite-de-etica-em-pesquisa. Acesso em: 19 dez 2018.
CONSELHO NACIONAL DE SAÚDE. Resolução n. 510, de
07 abr 2016. Disponível em: https://cesmac.edu.br/cesmac/co-
mite-de-etica-em-pesquisa. Acesso em: 19 nov 2018.
COSTA, Sérgio Francisco. Introdução ilustrada à Estatística.
São Paulo: Harbra, 2005.
CRUZ, Ana Maria da Costa et al. Publicações periódicas cien-
tíficas impressas (NBR 6021 e 6022). Niterói: Intertexto; São
Paulo: Xamã, 2003.
BABBIE, Earl. Métodos de pesquisas de survey. Belo Hori-
zonte: Ed. UFMG, 2005.
BARBIER, René. A pesquisa-ação na instituição educativa.
Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1985.
BARROSO, Luís Roberto. Neoconstitucionalismo e constitu-
cionalização do Direito. O triunfo tardio do Direito Constitu-
cional no Brasil. Jus Navigandi, ano 10, n. 851, Teresina, 01
nov 2005. Disponível em: http://jus.com.br/revista/texto/7547.
Acesso em: 4 maio 2013.

187
Sérgio Coutinho dos Santos

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de fondo y de forma: una mirada desde el Derecho del Trabajo.
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reito perpassados pela lógica. Curitiba: Juruá, 2008.
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a falsificabilidade como critério de demarcação do discurso
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-socráticos a Aristóteles. São Paulo: Companhia das Letras,
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COELHO, Fábio Ulhoa. Roteiro de lógica jurídica. São Paulo:
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guste Comte. Coleção Os Pensadores. São Paulo: Nova Cultu-
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188
Metodologia para Pesquisas Jurídicas & Sociais

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bilidades e limites do Fórum Social Mundial. Manaus: Secreta-
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DEL PERCIO, Enrique M. La condición social: consumo, po-
der y representación em el capitalismo tardio. Buenos Aires:
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DIOÉGENES, Eliseu. Como definir uma amostra numa pes-
quisa científica: uma contribuição para elaboração de mono-
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discurso nos estudos organizacionais. In GODOI, Christiane
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um ensaio crítico sobre a relevância da função jurisdicional em
face das omissões do poder público. Maceió: Viva, 2013.
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LYOTARD, Jean-François. A condição pós-moderna. Lisboa:
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MAGALHÃES, Fernando. Tempos pós-modernos. São Paulo:
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MARQUES NETO, Agostinho Ramalho. A ciência do Direito:
conceito, objeto, método. Rio de Janeiro: Renovar, 2001.
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MEZZAROBA, Orides; MONTEIRO, Cláudia Servilha. Manual
de metodologia da pesquisa no Direito. São Paulo: Saraiva, 2004.

191
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MÉSZÁROS, István. O século XXI: socialismo ou barbárie.


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MORIN, Edgar. Saberes globais e saberes locais: o olhar
transdisciplinar. Rio de Janeiro: Garamond, 2004.
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NETTO, José Paulo. Marxismo impenitente: contribuição à
história das ideias marxistas. São Paulo: Cortez, 2004.
NEVES, Marcelo. A constitucionalização simbólica. São Pau-
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NEVES, Marcelo. Entre Têmis e Leviatã: uma relação difícil.
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NEVES, Marcelo. Transconstitucionalismo. São Paulo: WMF
Martins Fontes, 2009.
NIETZSCHE, Friedrich. A gaia ciência. São Paulo: Martin
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NOGUEIRA, Darcy. Pesquisa social: introdução às suas técni-
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NUNES, Rizzatto. Manual da monografia jurídica. São Paulo:
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PARSONS, Talcott (org.). A sociologia americana: perspecti-
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PASQUINELLI, Alberto. Carnap e o Positivismo Lógico. Lis-
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POPPER, Karl. A lógica da pesquisa científica. São Paulo:
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PROSE, Francine. Para ler como um escritor: um guia para
quem gosta de livros e para quem quer escrevê-los. Rio de Ja-
neiro: Jorge Zahar, 2008.
REA, Louis M.; PARKER, Richard A. Metodologia da pesqui-
sa: do planejamento à execução. São Paulo: Pioneira Thomson
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ROSA, Maria Virgínia de Figueiredo Pereira do Couto; AR-
NOLDI, Marlene Aparecida Gonzales Colombo. A entrevista
na pesquisa qualitativa: mecanismos para validação dos re-
sultados. Belo Horizonte: Autêntica, 2008.
SABADELL, Ana Lúcia. Manual de Sociologia Jurídica: intro-
dução a uma leitura externa do Direito. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2002.
SAGAN, Carl. Bilhões e bilhões: reflexões sobre vida e morte na
virada do milênio. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.
SAGAN, Carl. O mundo assombrado pelos demônios: a ciência
vista como uma vela no escuro. São Paulo: Companhia das Letras,
1996.
SANTOS, Boaventura de Sousa. A crítica da razão indolente:
contra o desperdício da experiência. São Paulo: Cortez, 2005.
SANTOS, Boaventura de Sousa Introdução a uma ciência
pós-moderna. Rio de Janeiro: Graal, 1989.
SANTOS, Boaventura de Sousa Pela mão de Alice: o social e o
político na pós-modernidade. São Paulo: Cortez, 2003.

193
Sérgio Coutinho dos Santos

SANTOS, Boaventura de Sousa Sociología jurídica crítica:


para un nuevo sentido común em el Derecho. Bogotá: Ilsa,
2009.
SANTOS, Izequias Estevam dos. Manual de métodos e técni-
cas de pesquisa científica. Niterói, RJ: Impetus, 2005.
SARAIVA, Vicente de Paulo. A técnica da redação jurídica ou
a arte de convencer. Brasília: Consulex, 2002.
SERRANO, Pablo Jiménez. Metodologia do ensino e da pesquisa
jurídica: manual destinado à requalificação da atividade docente e
da pesquisa científica nas universidades. Barueri, SP: Manole, 2003.
SPINK, Mary Jane (org.). Práticas discursivas e produção de
sentidos no cotidiano: aproximações teóricas e metodológi-
cas. São Paulo: Cortez, 2004.
THIOLLENT, Michel. Metodologia da pesquisa-ação. São
Paulo: Cortez, 1985.
VIEIRA, Jorge et al (coord.). Temas de Direito do Trabalho
contemporâneo. Curitiba: Juruá; Brasília: OAB Editora, 2012.
VIEIRA, Padre Antônio. Sermão da Sexagésima. Disponível
em http://www.cce.ufsc.br/~nupill/ literatura/sexagesi.html.
Acesso em 04 set 2010.
VIGOTSKI, Lev Semenovich. A construção do pensamento e
da linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
WAGNER, Jaime. A arte de planejar o tempo. Porto Alegre:
Literalis, 2003.
WEBER, Max. A objectividade do conhecimento nas ciências
e na política sociais. In: Sobre a teoria das ciências sociais.
Lisboa: Presença, 1974a, p. 7-111.
WEBER, Max. Economia e sociedade: fundamentos de Socio-
logia Compreensiva, vol. 1. Brasília: UnB; São Paulo: Imprensa
Oficial do Estado de São Paulo, 2004.

194
Metodologia para Pesquisas Jurídicas & Sociais

WEBER, Max. A ética protestante e o espírito do capitalis-


mo. 11ª ed. São Paulo: Pioneira, 1996.
WEBER, Max. Ciência e política: duas vocações. São Paulo:
Martin Claret, 2002.
WEBER, Silke; LEITHÄUSER, Thomas (org.). Métodos quali-
tativos nas Ciências Sociais e na prática social. Recife: UFPE,
2007.

195
ANEXO I:

Redação dos elementos pré-


textuais e pós-textuais

Capa:
Nome do autor
Titulo
Subtítulo
Cidade da instituição
Mês e ano da entrega da monografia

Folha de rosto:
Título
Subtítulo
Em quadro destacado pouco abaixo do centro da página:
Natureza do trabalho (monografia? Tese? Dissertação?)
Objetivo (aprovação em quê?)
Nome do orientador, com sua respectiva titulação à
frente
No final da página
Cidade da instituição
Mês e ano da entrega

197
Sérgio Coutinho dos Santos

Folha de aprovação
Autor
Título e subtítulo
Natureza, objetivo e nome da instituição
Local e data da aprovação, com a nota
Nome, titulação e instituição dos membros da banca
Linhas para assinaturas dos membros da banca
(centralizadas, separadas do texto anterior)

Dedicatória
Facultativa.
Na segunda metade da página, com recuo.

Agradecimentos
Facultativo. Quase obrigatória, não seja ingrato(a).
Dirija a quem contribuiu para a realização da sua
pesquisa.

Epígrafe
Citação com indicação da autoria que abre a pesquisa.
Deve ter relação com a matéria ou com a direção que
você segue.
Pode vir uma para cada capítulo.

Resumo
Apresentação do problema de pesquisa; dos objetivos; da
metodologia, dos marcos teóricos e dos resultados. Não
ultrapasse 250 palavras, excluídos artigos e preposições

198
Metodologia para Pesquisas Jurídicas & Sociais

da contagem. O seu editor de texto conta palavras. Não


faça marcas de parágrafo. Deve vir acompanhado por
versão em língua estrangeira e, em ambas, devem vir pa-
lavras-chave abaixo do resumo.

Palavras-chave
Elementos pós-textuais: anexos e apêndices
Quando usar anexos e apêndices nas pesquisas, não esque-
ça que eles devem ser úteis. O cuidado parece óbvio, mas
sobram anexos em trabalhos jurídicos em que se fazem pre-
sentes a íntegra de leis ou de acórdãos sem que contribuam.
Em estudos sociológicos, os detalhes das planilhas de sur-
veys comprometem, por vezes, a clareza da leitura.
Para ter certeza de que os anexos sejam úteis, procure
citá-los o máximo possível no corpo do trabalho. Contri-
buirão caso consistam em ideias que não cabiam no texto
sem deformar as páginas do conteúdo da sua pesquisa,
mas sejam algo útil para entender melhor. Ao mesmo
tempo, não caberiam pelo tamanho em notas de roda-
pé sem, mais uma vez, dificultar a leitura das páginas do
corpo do texto. Seja, portanto, econômico com anexos.
Use com moderação. Pense se sente realmente falta da-
quela informação, se quem examinar sua pesquisa deve
sentir necessidade de ler seu anexo. Se isso não ocorrer,
pode ter certeza de que será dispensável e bastará fazer
menção àquelas informações se referindo às fontes de
onde elas vieram.

199
ANEXO II:

Modelo de Capa

UNIVERSIDAD DE BUENOS AIRES

SÉRGIO COUTINHO DOS SANTOS

A REFLEXÃO SOBRE O IMPACTO


CONSTITUCIONAL DAS DIRETRIZES
TRIBUTÁRIAS DO ORÇAMENTO FEDERAL
BRASILEIRO PARA 2011

Buenos Aires
2011

200
ANEXO III:

Modelo de Folha de Rosto

UNIVERSIDAD DE BUENOS AIRES

A REFLEXÃO SOBRE O IMPACTO


CONSTITUCIONAL DAS DIRETRIZES
TRIBUTÁRIAS DO ORÇAMENTO FEDERAL
BRASILEIRO PARA 2011

Trabalho de conclusão de curso apre-


sentado ao Curso de Direito, da Uni-
versidad de Buenos Aires, para a ob-
tenção do título de Mestre em Direito
Tributário.

Orientador: Prof. Dr. Brás Cubas

Buenos Aires
2011

201
ANEXO IV:

Modelo de Sumário

PREFÁCIO ....................................................................................1

1. INTRODUÇÃO ........................................................................2

2. HISTÓRIA DO PROBLEMA .................................................4


2.1 História colonial ......................................................................5
2.2 História republicana ................................................................7

3. ANÁLISE CONSTITUCIONAL ............................................8


3.1.

CONSIDERAÇOES FINAIS ........................................................

REFERÊNCIAS ..............................................................................

202
Anexo V:
ANEXO V:
Modelo de Cronograma
Modelo de Cronograma

ATIVIDADES 2010 2011


J A S O N D J F M A M J J A S

203
ANEXO VI:

Referências Eletrônicas
Recomendadas

Plataforma Lattes
http://lattes.cnpq.br

Google Acadêmico
http://scholar.google.com.br

Google Livros
http://books.google.com.br

Periódicos Capes
http://www.periodicos.capes.gov.br

Scielo
http://www.scielo.br

Domínio Público
http://dominiopublico.gov.br

Biblioteca Virtual do Estudante Brasileiro


http://www.bibvirt.futuro.usp.br

204
Metodologia para Pesquisas Jurídicas & Sociais

Portable Apps
http://www.portableapps.com
Associação Brasileira de Ensino do Direito – ABEDI
http://www.abedi.org

Migalhas - “site jurídico com pílulas de informação de


direito, política e economia”
http://www.migalhas.com.br

Consultor Jurídico
http://www.conjur.com.br

Estante Virtual – maior portal de sebos do Brasil


http://www.estantevirtual.com.br

Vida Jurídica Acadêmica


http://www.vidajuridicaacademica.blogspot.com.br

Para quaisquer temas que queira ilustrar com vídeos sua


pesquisa, recomendo que adote palavras-chave variadas fazendo
buscas em http://youtube.com, bem como para tirar dúvidas rápi-
das sobre algum tema. Você poderá assinar canais da TV Justiça,
dos tribunais superiores, de professores de Direito e se atualizar
em vídeo constantemente. Onde houver canais no Youtube, pro-
vavelmente terá fanpages no Facebook, para ficar sabendo rapida-
mente das novidades nos sites de seu interesse.
Lembre-se de conferir se o portal acadêmico da sua insti-
tuição de ensino superior possui uma biblioteca virtual. Alguns
entre estes e muitos outros links devem estar disponíveis lá.

205
ANEXO VII:

Normas sobre Termos de


consentimento para Comitês de
Ética

(Orientações da Resolução n. 466 do Conselho Nacional


de Saúde )

IV – DO PROCESSO DE CONSENTIMENTO LIVRE E


ESCLARECIDO
O respeito devido à dignidade humana exige que toda
pesquisa se processe com consentimento livre e esclarecido dos
participantes, indivíduos ou grupos que, por si e/ou por seus re-
presentantes legais, manifestem a sua anuência à participação
na pesquisa. Entende-se por Processo de Consentimento Livre e
Esclarecido todas as etapas a serem necessariamente observadas
para que o convidado a participar de uma pesquisa possa se mani-
festar, de forma autônoma, consciente, livre e esclarecida.

IV. 1 - A etapa inicial do Processo de Consentimento Li-


vre e Esclarecido é a do esclarecimento ao convidado a partici-
par da pesquisa, ocasião em que o pesquisador, ou pessoa por
ele delegada e sob sua responsabilidade, deverá:
a) buscar o momento, condição e local mais adequados para
que o esclarecimento seja efetuado, considerando, para isso,

206
Metodologia para Pesquisas Jurídicas & Sociais

as peculiaridades do convidado a participar da pesquisa e


sua privacidade;
b) prestar informações em linguagem clara e acessível, utili-
zando-se das estratégias mais apropriadas à cultura, faixa
etária, condição socioeconômica e autonomia dos convida-
dos a participar da pesquisa; e
c) conceder o tempo adequado para que o convidado a parti-
cipar da pesquisa possa refletir, consultando, se necessário,
seus familiares ou outras pessoas que possam ajudá-lo na
tomada de decisão livre e esclarecida.

IV. 2 - Superada a etapa inicial de esclarecimento, o


pesquisador responsável, ou pessoa por ele delegada, deverá
apresentar, ao convidado para participar da pesquisa, ou a seu
representante legal, o Termo de Consentimento Livre e Escla-
recido para que seja lido e compreendido, antes da concessão
do seu consentimento livre e esclarecido.

IV. 3 - O Termo de Consentimento Livre e Esclarecido


deverá conter, obrigatoriamente:
a) justificativa, os objetivos e os procedimentos que serão uti-
lizados na pesquisa, com o detalhamento dos métodos a se-
rem utilizados, informando a possibilidade de inclusão em
grupo controle ou experimental, quando aplicável;
b) explicitação dos possíveis desconfortos e riscos decorrentes
da participação na pesquisa, além dos benefícios esperados
dessa participação e apresentação das providências e cau-
telas a serem empregadas para evitar e/ou reduzir efeitos e

207
Sérgio Coutinho dos Santos

condições adversas que possam causar dano, considerando


características e contexto do participante da pesquisa;
c) esclarecimento sobre a forma de acompanhamento e assis-
tência a que terão direito os participantes da pesquisa, in-
clusive considerando benefícios e acompanhamentos pos-
teriores ao encerramento e/ ou a interrupção da pesquisa;
d) garantia de plena liberdade ao participante da pesquisa, de
recusar-se a participar ou retirar seu consentimento, em
qualquer fase da pesquisa, sem penalização alguma;
e) garantia de manutenção do sigilo e da privacidade dos par-
ticipantes da pesquisa durante todas as fases da pesquisa;
f) garantia de que o participante da pesquisa receberá uma via
do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido;
g) explicitação da garantia de ressarcimento e como serão co-
bertas as despesas tidas pelos participantes da pesquisa e
dela decorrentes; e
h) explicitação da garantia de indenização diante de eventuais
danos decorrentes da pesquisa.
(...)

IV. 5 - O Termo de Consentimento Livre e Esclarecido


deverá, ainda:
a) conter declaração do pesquisador responsável que expresse
o cumprimento das exigências contidas nos itens IV. 3 e IV.
4, este último se pertinente [o item IV.4 foi suprimido deste
anexo porque refere-se a pesquisas na área de saúde];
b) ser adaptado, pelo pesquisador responsável, nas pesqui-
sas com cooperação estrangeira concebidas em âmbito

208
Metodologia para Pesquisas Jurídicas & Sociais

internacional, às normas éticas e à cultura local, sempre


com linguagem clara e acessível a todos e, em especial, aos
participantes da pesquisa, tomando o especial cuidado para
que seja de fácil leitura e compreensão;
c) ser aprovado pelo CEP perante o qual o projeto foi apresen-
tado e pela CONEP, quando pertinente; e
d) ser elaborado em duas vias, rubricadas em todas as suas pá-
ginas e assinadas, ao seu término, pelo convidado a partici-
par da pesquisa, ou por seu representante legal, assim como
pelo pesquisador responsável, ou pela (s) pessoa(s) por ele
delegada (s), devendo as páginas de assinaturas estar na
mesma folha. Em ambas as vias deverão constar o endereço
e contato telefônico ou outro, dos responsáveis pela pesqui-
sa e do CEP local e da CONEP, quando pertinente.

IV. 6 - Nos casos de restrição da liberdade ou do esclare-


cimento necessários para o adequado consentimento, deve-se,
também, observar:
a) em pesquisas cujos convidados sejam crianças, adolescentes,
pessoas com transtorno ou doença mental ou em situação
de substancial diminuição em sua capacidade de decisão,
deverá haver justificativa clara de sua escolha, especificada
no protocolo e aprovada pelo CEP, e pela CONEP, quando
pertinente. Nestes casos deverão ser cumpridas as etapas do
esclarecimento e do consentimento livre e esclarecido, por
meio dos representantes legais dos convidados a participar
da pesquisa, preservado o direito de informação destes, no
limite de sua capacidade;

209
Sérgio Coutinho dos Santos

b) a liberdade do consentimento deverá ser particularmen-


te garantida para aqueles participantes de pesquisa que,
embora plenamente capazes, estejam expostos a condi-
cionamentos específicos, ou à influência de autoridade,
caracterizando situações passíveis de limitação da au-
tonomia, como estudantes, militares, empregados, pre-
sidiários e internos em centros de readaptação, em ca-
sas-abrigo, asilos, associações religiosas e semelhantes,
assegurando-lhes inteira liberdade de participar, ou não,
da pesquisa, sem quaisquer represálias;
(...)

IV. 7 - Na pesquisa que dependa de restrição de informa-


ções aos seus participantes, tal fato deverá ser devidamente ex-
plicitado e justificado pelo pesquisador responsável ao Sistema
CEP/CONEP. Os dados obtidos a partir dos participantes da
pesquisa não poderão ser usados para outros fins além dos pre-
vistos no protocolo e/ ou no consentimento livre e esclarecido.

IV. 8 - Nos casos em que seja inviável a obtenção do Ter-


mo de Consentimento Livre e Esclarecido ou que esta obtenção
signifique riscos substanciais à privacidade e confidencialidade
dos dados do participante ou aos vínculos de confiança entre
pesquisador e pesquisado, a dispensa do TCLE deve ser justifi-
cadamente solicitada pelo pesquisador responsável ao Sistema
CEP/CONEP, para apreciação, sem prejuízo do posterior pro-
cesso de esclarecimento.

210
ANEXO VIII:

Normas sobre Protocolos de


Pesquisa para Comitês de Ética

(Orientações da Resolução n. 196 do Conselho Nacional


de Saúde, mantidas pela Resolução n. 466)

O protocolo a ser submetido à revisão ética somente po-


derá ser apreciado se estiver instruído com os seguintes docu-
mentos, em português:

VI. 1 - folha de rosto: título do projeto, nome, núme-


ro da carteira de identidade, CPF, telefone e endereço para
correspondência do pesquisador responsável e do patroci-
nador, nome e assinaturas dos dirigentes da instituição e/ou
organização;

VI 2 - descrição da pesquisa, compreendendo os seguin-


tes itens:
a) descrição dos propósitos e das hipóteses a serem testadas;
b) antecedentes científicos e dados que justifiquem a pesquisa.
Se o propósito for testar um novo produto ou dispositivo
para a saúde, de procedência estrangeira ou não, deverá ser
indicada a situação atual de registro junto a agências regula-
tórias do país de origem;

211
Sérgio Coutinho dos Santos

c) descrição detalhada e ordenada do projeto de pesquisa (material


e métodos, casuística, resultados esperados e bibliografia);
d) análise crítica de riscos e benefícios;
e) duração total da pesquisa, a partir da aprovação;
f) explicação das responsabilidades do pesquisador, da insti-
tuição, do promotor e do patrocinador;
g) explicitação de critérios para suspender ou encerrar a pes-
quisa;
h) local da pesquisa: detalhar as instalações dos serviços, cen-
tros, comunidades e instituições nas quais se processarão as
várias etapas da pesquisa;
i) demonstrativo da existência de infra-estrutura necessária ao
desenvolvimento da pesquisa e para atender eventuais pro-
blemas dela resultantes, com a concordância documentada da
instituição;
j) orçamento financeiro detalhado da pesquisa: recursos, fon-
tes e destinação, bem como a forma e o valor da remunera-
ção do pesquisador;
l) explicitação de acordo preexistente quanto à propriedade
das informações geradas, demonstrando a inexistência de
qualquer cláusula restritiva quanto à divulgação pública dos
resultados, a menos que se trate de caso de obtenção de pa-
tenteamento; neste caso, os resultados devem se tornar pú-
blicos, tão logo se encerre a etapa de patenteamento;
m) declaração de que os resultados da pesquisa serão tornados
públicos, sejam eles favoráveis ou não; e
n) declaração sobre o uso e destinação do material e/ou dados
coletados.

212
Metodologia para Pesquisas Jurídicas & Sociais

VI. 3 - informações relativas ao sujeito da pesquisa:


a) descrever as características da população a estudar: tama-
nho, faixa etária, sexo, cor (classificação do IBGE), estado
geral de saúde, classes e grupos sociais, etc. Expor as razões
para a utilização de grupos vulneráveis;
b) descrever os métodos que afetem diretamente os sujeitos da
pesquisa;
c) identificar as fontes de material de pesquisa, tais como espé-
cimens, registros e dados a serem obtidos de seres humanos.
Indicar se esse material será obtido especificamente para os
propósitos da pesquisa ou se será usado para outros fins;
d) descrever os planos para o recrutamento de indivíduos e os
procedimentos a serem seguidos. Fornecer critérios de in-
clusão e exclusão;
e) apresentar o formulário ou termo de consentimento, especí-
fico para a pesquisa, para a apreciação do Comitê de Ética em
Pesquisa, incluindo informações sobre as circunstâncias sob as
quais o consentimento será obtido, quem irá tratar de obtê-lo e a
natureza da informação a ser fornecida aos sujeitos da pesquisa;
f) descrever qualquer risco, avaliando sua possibilidade e gravi-
dade;
g) descrever as medidas para proteção ou minimização de
qualquer risco eventual. Quando apropriado, descrever as
medidas para assegurar os necessários cuidados à saúde, no
caso de danos aos indivíduos. Descrever também os pro-
cedimentos para monitoramento da coleta de dados para
prover a segurança dos indivíduos, incluindo as medidas de
proteção à confidencialidade; e

213
Sérgio Coutinho dos Santos

h) apresentar previsão de ressarcimento de gastos aos sujeitos


da pesquisa. A importância referente não poderá ser de tal
monta que possa interferir na autonomia da decisão do in-
divíduo ou responsável de participar ou não da pesquisa.

VI. 4 - qualificação dos pesquisadores: “Curriculum Vi-


tae” do pesquisador responsável e dos demais participantes.

VI. 5 - termo de compromisso do pesquisador responsá-


vel e da instituição de cumprir os termos desta Resolução.

214
ANEXO IX:

Modelo de Termo de
Consentimento Livre e
Esclarecido (T.C.L.E.)

(Adaptado a partir de modelo fornecido pela CONEP)

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E


ESCLARECIDO (T.C.L.E.)
(Em 2 vias, firmado por cada participante voluntário(a)
da pesquisa e pelo responsável)

“O respeito devido à dignidade humana


exige que toda pesquisa se processe após o
consentimento livre e esclarecido dos sujei-
tos, indivíduos ou grupos que por si e/ou por
seus representantes legais manifestem a sua
anuência à participação na pesquisa”

O (a) Senhor (a) está sendo convidado (a) a participar


como voluntário (a) do estudo “incluir o título do projeto de
pesquisa”, que será realizada no (a) incluir o local de coleta de
dados da pesquisa recebi do (a) Sr (a) incluir o nome do pesqui-
sador principal da pesquisa (orientador), sua profissão e cargo,

215
Sérgio Coutinho dos Santos

responsável por sua execução, as seguintes informações que me


fizeram entender sem dificuldades e sem dúvidas os seguintes
aspectos:
O estudo se destina a descrever os objetivos do estudo;
considerando que a sua importância é descrever baseando-se
na justificativa constante na introdução do projeto de pesquisa;
que os resultados que se desejam alcançar são descrever o que
se espera comprovar com a realização da pesquisa; tendo início
planejado para começar em incluir data prevista para início da
coleta de dados e terminar em incluir data prevista para a pu-
blicação dos resultados.
O (a) Senhor (a) participará do estudo da seguinte ma-
neira descrever de forma detalhada a participação do sujeito
nos procedimentos metodológicos. Sabendo que os possíveis
riscos à sua saúde física e mental são descrever baseando-se
no item “Riscos” do projeto de pesquisa, e serão minimizados
da seguinte forma descrever baseando-se no item “Riscos” do
projeto de pesquisa (como, onde, quando).
Os benefícios previstos com a sua participação são
descrever baseando-se no item “Benefícios” descritos no
projeto de pesquisa, conseguidos através de “descrever de
forma clara quais as formas como o pesquisador alcança-
rá os benefícios propostos (como, onde, quando) e no caso
de palestras workshop ou uso de cartazes e folhetos (anexar
documento com o conteúdo proposto (plataforma Brasil)
para a apreciação ética pelo sistema CEP/CONEP); para
isso o (a) Senhor (a) poderá contar com a assistência in-
cluir o nome e a declaração do profissional responsável pela

216
Metodologia para Pesquisas Jurídicas & Sociais

assistência, se esta for realizada por outro profissional que


não o pesquisador principal. INCLUIR também o nome e a
declaração do local que se responsabilizará pela assistência
aos sujeitos.
Durante todo o estudo, a qualquer momento que se faça
necessário, serão fornecidos esclarecimentos sobre cada uma
das etapas do estudo. A qualquer momento, o (a) Senhor (a)
poderá recusar a continuar participando do estudo e, retirar o
seu consentimento, sem que isso lhe traga qualquer penalidade
ou prejuízo. As informações conseguidas através da sua parti-
cipação não permitirão a identificação da sua pessoa, exceto
aos responsáveis pelo estudo. A divulgação dos resultados será
realizada somente entre profissionais e no meio cientifico per-
tinente.
O (a) Senhor (a) deverá ser ressarcido (a) por qualquer
despesa que venha a ter com a sua participação nesse estudo
e, também, indenizado por todos os danos que venha a sofrer
pela mesma razão, sendo que, para essas despesas é garantida a
existência de recursos.
O (a) Senhor (a) tendo compreendido o que lhe foi infor-
mado sobre a sua participação voluntária no estudo “incluir o
título do projeto de pesquisa”, consciente dos seus direitos, das
suas responsabilidades, dos riscos e dos benefícios que terá
com a sua participação, concordará em participar da pesquisa
mediante a sua assinatura deste Termo de Consentimento.

Ciente, ______________________________________
___

217
Sérgio Coutinho dos Santos

DOU O MEU CONSENTIMENTO SEM QUE PARA


ISSO EU TENHA SIDO FORÇADO OU OBRIGADO.
Endereço do(a) participante voluntário(a):
Residência: (rua).............................................Bloco: ............
Nº: ......... complemento: .................................. Bairro: ........
Cidade: .............. CEP.: ..................... Telefone: ....................
Ponto de referência: ...............................................................

Apenas para pesquisas em que haja intervenção e possibilidades


de riscos oriundo dos procedimentos para com o sujeito da pes-
quisa.
Contato de urgência (participante): Sr(a): .....................
Domicílio: (rua, conjunto) ............................. Bloco: .........
Nº: ......... complemento: .................................. Bairro: .........
Cidade: ...................... CEP.: ................ Telefone: ..................
Ponto de referência: ...............................................................

Nome e Endereço do Pesquisador Responsável:

Incluir dados completos como nome, telefone e endereço atuali-


zados para que, em situações necessárias, o sujeito possa ter aces-
so ao pesquisador

Instituição:

Incluir dados completos como nome, telefone e endereço atuali-


zados da instituição à qual pertence o pesquisador principal.

218
Metodologia para Pesquisas Jurídicas & Sociais

ATENÇÃO: Para informar ocorrências irregulares


ou danosas, dirija-se ao Comitê de Ética em Pesquisa e En-
sino (COEPE), pertencente ao Centro Universitário Ces-
mac : Rua Cônego Machado, 918. Farol, CEP.: 57021- 060.
Telefone: 3215-5062. Correio eletrônico: coepe. cesmac@
cesmac.edu.br Horário de funcionamento: diariamente no
horário de 12 às 22 horas.

Maceió, ______ de ____________________ de _______

_____________________ ____________________
Assinatura ou impressão dati- Assinatura do responsável
loscópica do(a) voluntário(a) ou pelo Estudo
responsável legal (rubricar as demais folhas)
(rubricar as demais folhas)

Obs.: Lembre-se de que isso é apenas um modelo. O


seu TCLE poderá conter mais itens a depender do tipo do
seu estudo. Em caso de dúvidas procure o CEP antes de sub-
meter o projeto ou consulte a resolução CNS 466/12.

Título do trabalho, pesquisadores


(orientador, co-orientador e acadêmicos)

219
Formato: 150 x 210 mm
Tipologia: texto Minion Pro - 12/15,
títulos e subtítulos GothamLight - 18/18
Papel miolo: Off-set 90g/m2
Papel capa: Couchê fosco 300g/m2
Impresso em 2019

COSTA & BARROS


Na presente obra, Sérgio Coutinho faz o apanhado do que
há de melhor sobre o tema e vai mais além, inovando, na
medida em que explora a temática da utilização de novas
ferramentas tecnológicas na pesquisa e elaboração do
trabalho, apresentando o tema em linguagem coloquial,
própria de quem tem intimidade com o tema e convivência
como professor e orientador de pesquisa em diversos cursos
de direito, conhecendo assim os maiores obstáculos e
dificuldades.
Embora o evidente e confesso objetivo do presente livro
seja auxiliar o estudante no empreendimento das tarefas
acadêmicas, como uma carta de navegação no oceano do
conhecimento, com suas borrascas e tempestades, há de
cumprir seu desiderato de despertar para a necessidade de
uma cultura jurídica parametrizada pelo método científico,
que é sempre crítico, progressivo e progressista, no sentido
de permitir o surgimento do novo, mais evidente, mais
verdadeiro e mais próximo.

Tácito Yuri de Mello Barros


Professor da Universidade Federal de Alagoas

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