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Nos anos 80 os proprietários promoveram o parcelamento do solo ali na região conhecida

por Mestre D'Armas, Planaltina/DF, sem registro em cartório. Por desconhecer as regras da
recente Lei nº 6.766/79 ou por não compreendê-las, eles, possivelmente, lotearam e
venderam sem o registro do loteamento na matrícula dos imóveis. Em razão disso, nos
anos 90, políticos com viés populista e eleitoreiro, propagaram, indevidamente, aos
moradores que eles não precisavam pagar pelos lotes. O que a Lei nº 6.766/79 faz, todavia,
é autorizar a suspensão dos pagamentos pelos adquirentes nesses casos até que se tenha
a regularização. Desde então, os proprietários diligenciaram para alcançar a regularização
do loteamento e em 2017, eles alcançaram a regularidade fundiária e das matrículas dos
imóveis (8º RIDF). Nesse interregno, os proprietários alcançaram a aprovação urbanística e
ambiental do loteamento pelo Memorial Descritivo de Regularização de Loteamento -
MDE/RP nº 072/2009, conforme Decreto nº 35.913, de 15.10.2014, editado pelo
Governador do Distrito Federal. Nesse processo, os proprietários disponibilizaram cerca de
30% do total dos imóveis, em áreas ainda desocupadas, para dar lugar à instalação de
equipamentos públicos coletivos e comunitários, conforme determina a Lei nº 6.766/79.
Esse ônus foi todo suportado pelos proprietários sem prejudicar nenhum morador. A
participação da CODHAB se deu apenas como mediadora para a titulação dos moradores
que optassem por receber seu título de propriedade, mediante o pagamento dos custos da
regularização, autorizado, inclusive, o abatimento dos pagamentos que eles já haviam feito,
quando da aquisição do terreno. Assim, editou-se o Decreto nº 40.886, de 16.06.2020,
dispondo sobre sobre a titulação dominial dos ocupantes e a remissão dos custos de
investimentos de infraestrutura realizados pelo Distrito Federal em benefício dos ocupantes
da Área de Regularização de Interesse Social -ARIS Mestre D’Armas. Muitos dos
moradores aderiram ao termo, outros, entretanto, acreditaram que teriam direito à aquisição
do lote por usucapião e ingressaram na justiça. Esses são, significativamente, em menor
número, havendo apenas 22 processos em curso contra a JMR - Agroindustrial e Mercantil
Ltda., proprietária de cerca de 750 lotes no local. Desses que demandaram o judiciário, em
três foi proferida sentença pelo juiz da Vara de Meio Ambiente, Desenvolvimento Urbano e
Fundiário do Distrito Federal, sendo 2 de procedência do pedido, ou seja, a favor dos
ocupantes, e 1 de improcedência, ou seja, em favor da proprietária. Com o devido respeito
ao livre convencimento do magistrado de 1ª Instância, entende-se, contudo, que a sua
posição favorável aos ocupantes não deve prevalecer quando do julgamento pelo Tribunal
de Justiça do Distrito Federal. Isso porque, questiona-se a competência do referido juiz, que
não seria o natural para julgar as causas, bem como em razão dele desprezar a relação
negocial que deu origem às ocupações, diga-se, os contratos de compromisso de compra e
venda firmados, em que mesmo que cedida a posse nesse interregno, ela manteria o seu
caráter de vinculação com a sua origem, pois a posse se passa com as mesmas
características com que foi adquirida, incluídos os bônus e os ônus, e o possuidor direto não
tira a posse do indireto, esse o proprietário, conforme consta do Código Civil. E, também,
porque é firme a jurisprudência do TJDFT no sentido de que não corre a posse para a
aquisição da propriedade pela usucapião, enquanto está irregular a situação fundiária,
urbanística e ambiental do imóvel, por desrespeitar a função social da propriedade alçada à
competência do Distrito Federal na organização da ocupação do solo urbano e bem estar
de seus habitantes, nos termos do art. 182 da Constituição Federal. E o TJDFT já firmou a
regularidade dos procedimentos adotados pelos proprietários no julgamento do AGI nº
0707335-28.2021.8.07.0000, relatado pela Des. Simone Lucindo.

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