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UFRJ
José Henrique Vilhena dc Paiva
Reiror
Coonlenadar do Forum _'_\ 0 ( ”*
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de Ciéncia e Culrum Afonso Carlos Marques dos Santos \ J, [ Q/
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Capo Prologo
Victor Burton
A cidade das mulheres 35
Fora do Capa
Pierre Verger, Relmtos da Bahia, Edilora Corrupio, 1980
Anexos _
Edigfio de iexro e Reviscio
Maria Teresa Kopschitz de Barros Aspectos particulares 317
Projero Grdfico e Ediroraqvio Eletrcinicn
Ana Carreiro Matriarcado cultuai e homossexualidade masculina 319
Digi'ta;;ri0
Claudia Senra O culto fetichista no Brasil 333
Fora do Cflpfl do J“ Edigrria
Escravidfio negra e status feminino 347
Marius Laurilzen Bern
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Forum de Ciéncia e Cuiiura
Editora UFRJ
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Apaia
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Josigcmiléclo _ :2 . 2
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Smilhsonian institulion Na-
fifl Hilda
publicado dois livros. Ambos, Religioes negras (1936) e Negros bantos que conserva, de forma vivida, a memoria de tantos personagens
(1937), sairam na Biblioteca de Divulgaeao Cientifica, colegao dirigida por irnportantes na construgao de um campo antropologico dc estudos sobre
Artur Ramos na Editora Civilizagao Brasileira. Em 1937, Edison Carneiro ' as relagoes raciais no Brasil.
organizou também o II Congresso Afro-Brasileiro. D0 congresso partici-
Se Sally Cole tem razao ao dizer que o Eivro sobre as mulheres oji-
param todos os intelectuais brasileiros que na época se interessavam pelas
bwa “iniciou a vida publica de controvérsias de Landes na antropologia”,“
relaqoes raciais, alguns pesquisadores internacionais, que comecavam a
nao é rnenos verdade que A cidade das mulheres teve igualmente um
por a Bahia no mapa das relagoes raciais no cenario internacional (Donald
papel controverso, ainda que pioneiro (ver Peter Fry, na Apresentagao),
Pierson, Melville Herskovits), mas principalmente figuras de Iideranga do
no campo do estudo das religioes afro-brasileiras, e certarnente contribuiu
candomblé baiano: Martiniano do Bonfim; Eugenia Ana dos Santos, Mae
também para um certo desconforto entre seus colegas academicos, par-
Aninha; Manuel Bernardino da Paixao, 0 Bernardino do Bate Folha, e
ticularmente Melville Herskovits e Margaret Mead nos Estados Unidos.
Manuel Vitorino dos Santos, 0 Manuel Falefa da Formiga, entre outros.
O babalao Martiniano do Bonfim, antigo colaborador de Nina Rodrigues Mead dizia, numa carta a Benedict, em 1939, que Landes deveria ser en-
e, mais tarde, do romancista Jorge Amado, e que também foi entrevistado corajada a “transformar (...) 0 quadro social urbano, complexo, desorga-
por Pierson, Landes e Franklin Frazier, foi o presidente dc honra do nizado, com prostituicfio, num quadro mais tipico de travestismo social-
Congresso e fez parte também da primeira diretoria da Uniao das Seitas lmente aceito e integrado" — o que ela nao fez, pois tomou 0 partido de
Afro-Brasileirasda Bahia, criada em setembro de 1937, como resultado acompanhar a interpretacao de Carneiro e das maes dos terreiros de can-
politico do II Congresso e gracas ao trabalho de organizagao de Bdison domblé que conheceu. A crltica de Mead e a critica inicial de Artur Ramos,
Carneiro. Carneiro,ina época reporter de O Estado do Bahia, participava eram provavelmente dirigidas a um relatorio encomendado a Landes por
ainda, com Jorge Amado e outros intelectuais locais, de uma Academia Gunnar Myrdal, no fimbito da pesquisa coordenada por ele e que redundaria
dos Rebeldes, e escreveu, em colaboragao com o jornalista Osvaldo Dias em An American dilemma, aparentemente o primeiro trabalho escrito por
da Costa e com Jorge Amado, urn romance, Lenira? Quase todos sairiam ela depois de voltar do Brasil. Parte de sua argumentagfio ai exposta esta
de la em seguida, por razoes polfticas: eram todos membros ou simpa- em dois artigos. (1940) que Landes pubiicou antes de escrever seu livro
tizantes do Partido Comunista. e num outro posterior (1953) apresentados como anexos na primeira ediqao
brasileira e mantidos na presente edigao. Nas edigoes em inglés (1947,
Foi a esse grupo de jovens rebeldes que a rebelde Ruth Landes se
1994), esses artigos nao foram inclufdos — deixando de lado urn im-
juntou ao chegar a Bahia no inicio de 1938.“) A historia de sua relagao
portante aspecto da sua analise e que foi a base de muitas criticas ao livro.
com esses jovens intelectuais e com as figuras do candomblé baiano esta
Sua inclusao na prirneira edigao brasileira deve-se a iniciativa de Edison
bem documentada nas paginas deste livro e é desnecessario reproduzi-la
Carneiro, que nfio apenas reviu a tradugao original," mas, segundo infor-
aqui. Mas cabe enfatizar a importancia de Edison Carneiro para sua
macao de Sally Cole, também fez as corregoes sugeridas por Landes, por
pesquisa. Ele representou sua vinculagao com a sociedade local, do mesmo
ocasiao de sua visita ao Brasil em 1966, um ano antes de sua publicaeao."
modo que Maggie Wilson fora seu elo de ligaeao com 0s ojibwa — e, na
Bahia como no Canada, Landes optou por seguir a interpretaeao dos Landes voltara ao Brasil, segundo Cole, para dar inicio ao primeiro
nativos em sua narrativa sobre a vida cotidiana deles. Ambas as pesquisas projeto em sua nova posigao de professora permanente na McMaster
sfio,certamente,c1'6nicas de juventude, mas este livro é também urn registro University, em Ontario, e aqui ficou de maio a setembro. O tema de sua
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pesquisa era urbanizagao, mas Landes esteve doente durante quase toda estivesse dis osta a se uir humildemente seu marido até a aldeia dele 9 ela
a sua estada e nao publicou nada sobre esse assunto. Mas durante esse poderia deixar de lado sua ansiedade a respeito da poluicao sexual”.
tempo leu a tradugfio de seu livro e sugeriu algumas revisoes. Estaria liberada dela, isto é, se ela nfio quisesse, ao mesmo tempo, ser
Depois da pesquisa com os candomblés da Bahia, Landes escreveu “livre e inde endente” e “manter seu marido” - um caso, diz Dou las de l
0 curto relatorio ja referido, para o projeto chefiado por Myrdal, trabalhou, querer ter o bolo e comé-lo.
durante a II Guerra, de 1940 a 1945, no Committee on Fair Employment Normas contraditorias de comportamento sfio o pao de cada dia dos
Practices — trabalho citado por ela no prologo deste livro. Trabalhou antropologos: ao tratar delas, justamente, como contraditorias, tanto em
depois nurn projeto da area metropolitana de Los Angeles, relacionado sua primeira monografia, quanto neste livro, Ruth Landes desafiou, ela
com criangas negras e rnexicanas; no American Jewish Committee em mesma, uma norma de sua disciplina na época ~ a de que os individuos
Nova York; recebeu uma bolsa da Fulbright para estudar a migracfio se adequam a sua cultura. Ela, aolcontrario, corno bem mostra Sally Cole,
caribenha em Londres; e foi professora de antropologia em duas faculdades nfio so nao se adequou aos padroes culturais esperados de uma boa rnoca
arnericanas antes de, finalmente, obter um contrato permanente no Canada,
judia (e branca), como em sua “analise do candornblé afro-brasileiro
aos 56 anos de idade, la ficando até sua morte, em 1991, aos 83 anos.“
descreveu as lutas em torno dos significados e dos papéis sociais, em vez
Quase cinqlienta anos depois de sua pesquisa no Brasil, Landes de enfatizar a integragao e a coeréncia centrais aos retratos de cultura de
descrevia numa carta uma foto tirada no jardim do Museu Nacional em Mead e de Benedict".'5
1939: “D. Heioisa a encomendou porque nos trés estrangeiros farnos partir
Sua narrativa sobre as vicissitudes das macs nago na Bahia — lutando
logo ~ Lévi-Strauss e eu para Nova York, Wagley para Mato Grosso, acho
para estabelecer um padrao cultural por oposigao a poluicfio que elas
— e ela queria uma lembranga. Ela gostava mais dos americanos. L.-S.
viam representada nos cultos caboclos - é, assim, tanto um capitulo da
estava infeliz, claro, a Franga fora invadida pelos nazis; sua esposa 0
historia da antropologia, quanto o registro de uma disputa local que ajuda
tinha deixado cerca de um ano antes. D. Heloisa nos fez escrever nos-
a esclarecer as relagoes entre sexo e raga na nossa sociedade. A0‘ aderir
sos nomes nas costas de cada copia. (...) [A foto] rnostra ela [d. Helofsa],
aos valores de uma fracao do grupo estudado, Landes se expos, ela mesma,
Lévi-Strauss (da minha idade), eu, Charles Wagley (alguns anos mais
a ser vista como parclal em relacao a sociedade que se propunha estudar:
jovem), Luiz de Castro Faria, Raimundo Lopes e Edison Carneiro”. Tal
as criticas que recebeu, na época, mostram bem que ela estava remando
grupo nunca mais se reuniria, mas as imagens do Brasil que todos eles
contra a mare. A visao coirente - nao obstante todas as evidéncias empiri-
deixaram gravadas na cena textual sao parte integrante de nossa rnemoria
cas registradas nos trabalhos de Nina Rodrigues e seus seguidores ~ era
antropologica.
a de que a dominacao masculina, vigente na sociedade brasileira como
Segundo Mary Douglas, (1966) “B preciso dois para manter uma um todo, era tarnbérn vigente nos cultos afro-brasileiros. Ao desmontar
relacfio sexual, mas basta um para cozinhar uma refeigao". Assim Douglas este esquema simplista, mostrando a preeminéncia das mulheres nos cultos
explicava porque, entre os bemba, a poluicao era atribuida as ITlU1ll6l'6S — nago e dos homossexuais nos cultos caboclos, Landes expos uma fratura
responsaveis pelfl" comida cozida. E continua: “Se a mulher bemba nao de género na analise dos cultos afro-brasileiros que merece atengao ate
quisesse ficar em sua aldeia e at tornar-se uma influente matrona, se ela hoje.
_._-. _
E, apesar da énfase que retrospectivamente atribuimos a questéio B irnportante lembrar que 0 proponente de uma “cultura propria" para os negros
racial no seu livro, creio que ela sera lembrada também como uma fina americanos, Herskovits, fez _uma critica negativa a este livro — tendo ele proprio
observadora de detalhes que sao, afinal, a marca da boa antropologia, recebido criticas negativas em relagao a sua proposta, de Benedict e outros
como nessa, uma entre tantas, observagao logo na chegada ao Brasil: antropologos e sociologos americanos, ao publicar seu The myth of the Negro
past, em 1941. Lido hoje, o artigo de Landes, “O culto fectichista”, parece tam-
Passei, pols, trés meses no Rio, adquirindo, como podla, »
bém uma reivindicagao da existencia de mais “africanismos” no Brasil do que
a intrincada e idiomatica linguagem e aprendendo também
entre os saramacca que Herskovits estudara...
a linguagem que nfio é de lfngua, mas se exprime pelos J Sobre a vinda dos piimeiros antropologos, suas trajetorias e a importancia do
1 dedos e pelas maos, até mesmo por movimentos ondulantes
1 Conselho, e de d. Heloisa, nas pesquisas da época, ver L. D. Benzi Grupio-
dos bragtos e dos ombros, pelo brilho do olhar e por muitos ni, Coiecoes e expedicoes vigiadas. .
movimentos sutis que se desenham levemente sobre um rosto 4
No mesmo periodo, Landes tambom sofreu a influéncia da psicanalise, tendo
e dao cor as tonalidades da voz (p. 41). 1 publicado um artigo sobre a personalidade ojibwa em 1937 e sido uma das
O_espelho que Ruth Landes volta para nos com tanta-graga esta candidatas a um curso de introdugfio a psicanalise para antropologos, projetado,
1.
1,. coberto de pequenos esbogos de analise como este e é certamenteessa mas nunca-criado, por Edward Sapir. Ver R. Darnell, Personality and culture:
i qualidade que torna este livro merecedor de ser relido.
5
the fate of_ the Sapirian alternative. 9
A biografa de Landes, Sally Cole, observa: "O registro feito por Landes das
1I praticas shamanisticas dos americanos nativos e seu interesse antigo pela sexua-
I
lidade podem ser atribuidos ao livro de Benedict, Padroes de culture, e a seu
J\/afar artigo “A antropologia e os anormais”, ambos publicados em 1934. Benedict
._. _. _ descrevia como oatras culturas integravam o comportamento considerado ‘des-
‘ O llvro é este, agora em sua segunda edicao brasileira; trés dos artigos, aqui viante’ na-Aniérica e como a possessao por espiritos, a homossexualidade, a
l. inclutdos como anexos, nao fizeram parte da edigao americana; o quarto é a paranoia e a megalomania, por exemplo, sao as vezes 0 fundamento da autoridade
ii memoria de Landes sobre sua pesquisa no Brasil: “A woman anthropologist in e da lideranga. O trabalho de Benedict continha uma critica explicita a intolerancia
Brazil”. - _ da sociedade americana, e ela insistia na pesquisa etnografica a respeito desses
2
Ha outros indfcios interessantes a perseguir, no entanto, ainda que eies nao temas. Nesse contexto historico, o estudo de Landes sobre 0 candomblé na
caibam num curto prefacio como este. Lembrando a énfase da antropologia Bahia deve muito a influéncia de Ruth Benedict." (Cole, Ruth Landes in Brazil).
norte-americana na cultura, nao deixa dc ser instrutivo reler um dialogo entre Sally Cole completou recentemente sua biografia de Ruth Landes, que sera
Landes e seus amigos a respeito da cultura dos negros americanos. Diz ela: publicada pela University of Nebraska Press: Gleaning in the fields of Boas:
“- Bem, os norte-americanos pensam em termos de raga. Um preto é inferior a Ruth Landes and American Anthropology. Sou grata a ela peias inforinagoes
-r._- ma: um branco por causa da sua raga. adicionais que me deu sobre a publicagao de A cidade das mulheres e pelos
- E a cultura do negro? textos que me enviou sobre Ruth Landes, citados no decorrer desta apresentagfio.
- Isso nao importa. Nao se imagina que um negro tenha cultura alguma [no 6
N50 sei se tal estratégia — a de se aliar a uma ou a um especialista nas questoes
original inglész nenhuma culturapropria], a nao ser a que lhe vem do branco; I
4.1;-.4_ ar locals e a de pubiicar os nomes reais das pessoas envolvidas em sua narrativa
e mesmo esta supoe-se que ele oculte. (...) '
- foi seguida por ela ‘em outras obras. Na segunda edicao de The Ojibwa
- Norte-americanps! (...) Que se importam eles com a cultural" (p. 149) _ _
1l 1 T‘ ;_\, / _.-» ..
woman, Sally Cole observa que os nomes foram substituidos por pseudonimos.
r:,. 1
E embora Cole observe que Landes reescreveu A cidade “num estilo popular”
por seus colegas ltomens, no que poderia ser desqualificado como um movimento
(“Pilgrim souls”, p. 24), numa carta a Artur Ramos, no final de 1939, Landes
machista. Margaret Mead, ja uma antropologa preeminente nos Estados Unidos,
ja anunciava sua intencao de escrever o livro "num estilo mais popular”. A
criticava o_ trabalho de Landes na Bahia, logo depois de ela ter voltado_do
questao da identificacfio dos pais-de-santo homossexuais nunca foi mencionada
Brasil, e dizia, na mesma carta a Ruth Benedict: “Se houvesse alguma maneira
na discussao sobre sua pesquisa. Ver Carneiro, “Uma falsela dc Artur Ramos”,
de ensina-la a ser ou (a) uma senhora ou (b) uma mulher academica comam, que
em Ladinos e crioulos. , ' A
se comportasse de maneira rotineira em situacoes académicas, isso ajudaria”.
1 Citado em Cole, Apresentagao a The Ojibwa woman. Sobre esta interessante
Citado em Cole, “Pilgrim souls, honorary men, (un)dutiful daughters: sojoumers
etnologa nativa, ver, de Sally Cole, ‘.‘Dear Ruth: this is the story of Maggie
in modernist Anthropology”. Cole dzi outros exemplos para fundamentar sua
Wilson, Ojibwa etnologist", in E. Cameron e J. Dickin (org.), Great domes.
observacao de que “... ao passo que Benedict apreciava o individualismo do
8 No trecho que se segue, utilizo as informacoes contidas nos excelentes artigos Landes e sua originalidade academics, Mead aclrava a personalidade de Landes
e notas de Waldir Freitas Oliveira e Vivaldo da Costa Lima, no livro-organizado in-itante e nfio concordava com suas referéncias teoricas, para a analise da cultura.” \-n'I\>‘.|u'|l\.;IuA1-':1
“ Ver a saga de Landes em busca de um emprego permanente em Sally Cole, . Introduction. In: LANDES, Ruth. The Ojibwa woman. Lincoln e Londres:
“Pilgrim souls...". Cole comenta que Landes sentia sua vida-no Canada como University of Nebraska Press, 1997.
um “exilio”. Numa carta que me enviou, Landes disse que chegara ao Canada . Dear Ruth: This is the story of Maggie Wilson, Ojibwa ethnologist. In:
"devido at enorme necessidade de escapar de meu marido alcoolatra.” (Carla de CAMERON, E.; DICKIN, J. Great domes. Toronto, Buffalo e Londres: Univer-
24 de agosto de 1986). Na mesma carta ela recusava um convite para vir ao sity of Toronto Press, I997.
Brasil porque estava planejando um novo livro sobre seus estudantes em Fisk . Pilgrim souls, honorary men, (un)dntifu1 daughters: sojourners in modemist
na década de 1930, organizando suas notas de campo e livros para enviar a Anthropology. In: BRIDGMAN, R.; COLE, S.; HOWARD-BOBIWASH, H.
Smithsonian Institution e viajando entre 0 Canada e os Estados Unidos em ‘ (org). Feminist fields: ethnographic insights. Canada: Broadview Press, 1999.
busca de um lugar para se estabelecer.
CORREA, Mariza. O mistério dos orixas e das bonecas: raga e género na antropo-
'5 S. Cole, “Pilgrim souls...”, p. 26. Algo muito semelhante ao que mostrara no
gt
logia brasiielra. Einograjica, v. 4, n. 2, 2000. '
livro sobre os ojibwa: ainda que houvesse uma estrita divisao de trabalho entre
1.
. All the women are white, all the blacks are men — but are they? Race and
homens e mulheres, as detaihadas narrativas de Maggie Wilson rnostram as mu-
gender in Bahia candomble. Contours (no prelo).
lheres o tempo inteiro escapando ao roteiro previsto para elas.
ll DARNELL, Regna. Personality and culture. The fate of the Sapirian alternative.
i
In: STOCKING Jr., G. (org.). Molinoi-vsld, Rivers, Benedict and others. Madison:
The University of Wisconsin Press, 1986. V. 4: Essays on culture and personality.
.7€g[eréiwi'ro Brhoaérrhikar (History of Anthropology). _
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2)
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1947-1964. Rio cle Janeiro: Funarte/Fundagfio Getfiiio Vargas, 1997
antropologicas da época; o status das mulheres na sociedade brasileira, o uma relacao entre pobreza e “matrifocalidade” mais tarde muito bem docu-
lugar da dtfrica na interpretagao da “cultura negra” no Novo Mundo e a re- cumentada na literatura, agora classica, tanto em familias negras do Caribe
lagao entre homossexualidade mascutina e religiosidade afro-brasileira. (Clarke, 1957; Smith 1956) quanto em farnilias operarias “bi-ancas” e
De fato, Landes nunca fez mengfio a uma relagao estatica e perene européias (Kerr, 1958; Young e Willmott 1957).
entre feminilidade e lideranca dos candomblés. Ela sugeriu uma tendéncia; Desta forma Landes se aliava it posieao de Frazier (1943b) tao
l um gradual aumento do mimero do maes-de-santo nos candomblés mais criticada por Herskovits (1943), o quai insistia numa interpretacao que con-
tradicionais e um aumento do mimero de “homossexuais passivos" nos siderasse a heranga cultural africana. O desentendimento entre Frazier e
l
candomblés dc caboclo. Talvez por se preocupar menos em estabelecer Herskovits estava fundado em duas visoes bastante distintas sobre 0 papel
linhas genealogicas entre tragos culturais da Africa e manifestacoes aqui da “cultura” na interpretagao dos fenomenos sociais, no caso a “famflia
no Brasil, no estilo _de Herskovitsisobretudo, e mais em compreenderfa negra a_fro~bahiana”. Frazier, ele proprio negro, sugeriu que entre os "assim
logica e o funcionaniento das instituiqoes afro.-brasileiras na Bahia con- chamados negros {negroes]” da Bahia as formas familiares seguiam as
temporanea, -Landes pode enxergar um campo em movimentoe regras da pobrezaorasileira e nao deviam nada a uma “heranga africana”,
u
mutacao. 0 seuguia maior, Edison Carneiro, compartilhava com as macs a qua], segundo ele, estaria mais aparente nas esferas da religiao e do
I
tradicionais um desdém em relagao aos novos cultos de caboclo cuja “fei- folclore. No seu artigo, Herskovits fez criticas muito parecidas as que di-- -\
tura’-’ era rapida demais, porém Landes, mais “antropologa”, questionou a rigiu _a Landes, sugerindo que Frazier, com sua ignorfincia sobre a Africa,
razao do ser desta novidade e indagou sobre o seu signifi'cado~parah os nao poderia sequer enxergar os africanismos presentes na Bahia. Invocando
1.
participantes, em particular os “homossexuais passivos". E ainda viu que, a sua “autoridade” de africanista, interpretou os arranjos de combina-
.1
para muitos destes, 0 candomblé representava um caminho para alcangzar goes dc casamento e amasiamento como heranca da cultura ioruba. Na sua
status e riqueza que a prostituicao e pequenos crimes de rua jamais pode- replica, Frazier langou mao de fina ironia para sugerir que tudo 0 que
riam garantir; F Herskovits havia enxergado como africano entre os negros baianos era, de
Mas de que forma a aurora interpreta a tendéncia dc aumento do fato, brasileiro. E isso, entre outras razfies, devido ao intenso intercambio
poder “feminino" que observa no candomblé (seja o feminino das macs sexual e social entreas varias “ragas” presentes na Bahia ea auséncia do
nos grandes terreiros tradicionais como Gantois e Aké Opo Afonja ou 0 fe- um grupo negro cultural e espacialmente estanque.‘ No-fundo, Frazier
minino dos “homossexuais passivos” nos terreiros de cahoclo)? N50 ape- negava uma cultura especffica aos negros. No fimbito desta Apresentagfio,
lou para a “tradicfio africana“, primeiro, porque ja achava que nao inte- 0 importante é que Frazier, ao contestar a autoridade de Herskovits, buscava
ressava tanto e segundo, porque as sociedades ioruba sempre foram noto- apoio nosudois protagonistas maiores de A cidade das mulheres, Ruth
riamente patriarcais. Indica dois fatores fundamentais: a vontade das Landes -e Edison Carneiro. Confirmou alguns "fatos” sobre uma deter-
mulheres de construir trajetorias independentes dentro do candomblé e, minada famflia citada no artigo de Herskovits com a “dra. Ruth Landes,
significativamente, na sociedade envolvente em geral também. Landes que passou mais de um ano no Brasil e que conhecia hem esta famflia”,
percelqe quepo “matriarcado" nao é exclusividade das “famiiias dc santo", e, numa discussao (sobre a semantica de “pai-de~santo"pe “mac-dc-santoif’
e a sua tradugao para 0 inglés, consultou Landes e Carneirofi F. como"‘s‘€~::.»Fr1 .
para_'_uti11zar_ 0 termo consagrado por Vivaldo Costa Lima (1977),_ mas
,.
, 1
s
—,.__. existe”ta'mbém nasifamilias negras e pobres em geral - Assim » ela identifica as posicoes teoricas fossem sinais diacriticos para as aliancas de amizadei z- L_€_v?ir- '-' .
. . .. 3 J 3- . . p _, - . , ou, quem sabe, vice-versa.
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em A cidade das mulheres e mais desenvolvida no artigo “Matriarcado inglés ver, mostrei uma_relac?:io entre os poderes magicos dos pais-de-
cultual e homossexualidade masculina,” que provocou a ira do establish- santo e a sua sexualidadeconsiderada desviante na sociedade envolvente
ment e causou tanta magoa a Ruth Landes. Ramos negou qualquer relagfao e, ao mesmo tempo, sugeri terem combinado bem os papéis de género
entre homossexualidade mascuiina e candomblé: feminino e masculino nas suas trajetorias dentro do culto. Patricia Birman,
mais fiel a Ruth Landes, concentrou-se em deslindar a logica degénero
N50 ha homossexualismo ritual ou religioso entre os negros _ nos candomblés do Rio de Janeiro, baseada na associacfio entre a femi-
do Brasil. O que a_ A. observou foram aiguns indivfduos ho- nilidade e a possessao. J. Lorand Matory, por sua vez, engenhosamente
mossexuais, na Bahia, que, por coincidéncia, tinham encar- reconheceu a logica simbolica da relagao na situacfio contemporanea
gos religiosos. Mas isso é um fenomeno puramente indi- brasileira mas também na cosmologia ioruba que entende a relacao entre
vidual, e nada tem que ver com as praticas religiosas; nao uma pessoa e seu espirito no momento da possessao como relagao entre
ha significacao ritual ou cultural. Eu mesmo conhego alguns feminilidade e masculinidade. Argumentou convincentemente que a relacao
pals-de-santo homossexuais; como sao homossexuais alguns entre “desvio" e possessao por mim postulada simplesmente nao explica
negros, mulatos e caboclos, queinada (em que ver com o 0 prestigio das mulheres no candomble. “Na articulagfio entre concepcoes
culto. Os casos isolados que a A. observou nao tém, pois, populares brasileiras de género e o abrangente simbolismo ioruba-de
significado étnico nem cultural; nao estao Iigados a nenhuma relagoes cosmicas, as bichas e as mulheres sac depositarias normals do
. tradigao africana. (Ramos, .1942, p.-.188) poder divino" (Matoi-y,,'1988, p. 230, 231). Mesmo assim, segundo o
Herskovits foi mais cauteloso na sua crftica, admoestando a autora esquema e a légica de‘Matory, os candomblés mais tradicionais “deve-
apenas por ter enfatizado demais a homossexualidade de sacerdotes.mas- riam ser os mais tolerantesa presenca do filhos femininos quandode fato
culinosz ‘lharmuitos sacerdotes tanto ‘ortodoxos’ quanto-de icaboclo que é o oposto que ocorre.-De acordo com Landes, sao justamenteios can-
nao tém nenhuma tendencia at .inversao".(Herskovits, _'1947, p. 7125). domblés “de caboclo” que possuem o maior nlimero-de filhos e, pais-de-
santo homossexuais. - p ' N ' i 9
‘Desde entaoiha iritensa discussaowsobre o tema. A antropologia
-A questfio do status da "Africa para_a interpretacao do Brasil con-
posterior defendeu at posigao de ‘Landes, mesmotenvdoltomadoatitude
‘ ‘L ~ “I ltemporfineo, que foi 0 centro da disputa entre Landes, Carneiro e Frazier,
mais crttica em relagao a sua posigao umtanto essencialistajsobre a
-ode-um lado, e Ramos -e Herkovits, de outro, continua até os enossosdias.
homossexualidade “passiva” e “ativa". Estes termos,-supostamente uni-
Mas agora essa questao é mais cornplexa, porque esta cada "vez mais
versais e correntes nas ciencias sociais e médicas da época,-sac,‘ no fundo,
prdxima aos sentimentos e apolitica. <Uma crescente énfasena questfio
“tradug6es” de termos nativos brasileiros hoje em dia: “bicha” ou “viado"
racial no.Brasil incentiva a busca de origens africanas e a celebracfio
e “bofe". Estudos posteriores confirmaram as tendencias observadas por
idestas no cenario contemporfineo brasileiro. Quao distinto parece ser o
Carneiro e Landes: Rene Ribeiro em Recife (Ribeiro, 1954),’Seth e Ruth
Brasil do final do século XX daquele outro Brasil da década de
Leacock e Peter Fry Fem} Belém_(Fry, 1982; Leacock, 1975), e -Patricia
3
Binnan no Rio de__Janeiro (Birrnan, 1995). Como ‘Landes, estes autores De fato, estas poucas palavras de apresentagao nfio seriam completas
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11509 pr<)icurararn;n_a:7_15ttric_aiuiiia_‘inter-pretagilo para as suas observacoesz sem uma referéncia a questfio das relacoes raciais, que, como notamos, foi
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0 que conduziu Ruth Landes a Salvador..E muito comum paraos an-V¢»,,;;_-,_-‘,,f%}§;_,§,§_
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encontrada nocampo. Mas neste caso nao ha mudanga propriamente dita, afirma que o artigo foi rejeitado pela revista Sociologia, de S50 Paulo (Carneiro,
mas sim uma reviravolta quase completa. Como declara Landes no seu 1964, p. 227). _
prologoz “Este livro acerca do Brasil nao discute problemas raciais all —~' 2 E possfvel que Landes tenha utilizado esta expressao no seu relatorio para
porque nao havia nenhum. Descreve, simplesmente, a vida de brasileiros Gunnar Myrdal. '
de raga negra, gente graciosa e equilibrada, cujo encanto é proverbial na 3 Uma parte desta correspondéncia se encontra em Barres, 2000.
sua propria terra e imorredouro na minha mem6ria”~ (p. 34). ‘ Veja Correa, 2000. '
Lendo estas palavras hoje, 0 leitor pode concluir que faltava a Lan- 5 “Nae encontrei na Bahia nenhum grupo de ‘negros puros’ ou negros que
des qualquer senso critico, por nao perceber 0 racismo a brasileira; Mas, estivessem isolados dos brancos, amarelos ou pardos. E possivel, é claro, que
nos idos das clécadas de 1930 e 1940, esta imagem sobre 0 Brasil era am- o professor Herskovits tenha achado tais grupos e que entre estes grupos tracos
plamente aceita,‘ no Pais e no resto do rnundo. Na verdade, ha boas razoes da cuitura africana estivessem presentes na sua vida familiar" (Frazier, 1943a,
para supor que a idéia ‘de “democracia racial” tenha sido consolidada por p. 402). _
ativistas, escritores e intelectuais que olhavam para 0 Brasil a partir de 6 “Um antropologo brasileiro e um antropologo americano traduziram o termo
terras onde a regra era a segregagao. Por cxemplo,*negr0s dos Estados ‘pai-de-santo‘, para o ingles, como _ffather-in-saintliness’” (Frazier, 1943a,
Unidos que visitavam o Brasil voltavam cheios do elogios. Lfdcres como P- 404) , _ A -
Booker T. Washington e W. E. B. DuBois escreveram positi-vamente sobre T Ver Michael George Hanchard, 1994.
a experiéncia negra no Brasil, enquanto o nacionalista negro Henry McNeal 3, Yer Spitzer, 1989 e Zweig, 1960.
Turner e o jornalista radical Cyril Biggs chegaram ao ponto de defender
a emigragfio para o Brasil como reftigio a opressao nos Estad0s’Unidos."
Em 1944, o escritorjudeu Stefan Zweig achou que 0 Brasil era a sociedade _ 25’;'eZr'%rt§‘;'ca.r
racialmente mais harmoniosa que havia visitadof‘ Na época dc DuBois e
Landes, entao, considerava~se 0 Brasil uma ‘fdemocracia racial", onde. as BIRMAN, P. Fazer estilo criando género: possessfio e diferenga de género cm
relagoes entre pessoas de cores diferentes eram fundamentalmente teneiros deumbanda e candomblé no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Eduerjl
consonantes. Ha boas razoes para se pensar que alguns problemas, assim Relume Dumarfi, 1995.
como algumas belezas, estao nos olhos de quem os vé. CARNEIRO, E. Uma falseta de Artur Ramos. In: Ladinos e crioulos. Rio dc
Janeiro: Civilizagfio Brasileira,'l964. ,
CLARKE, E. My mother who fathered me: a study of the family in three selected
communities in Jamaica. Londres: George Allen & Unwin, 1957. .
Warm FRAZIER, F. Rejoinder by E. Franklin Frazier. American Sociological Review,
n. 8, p. 402-404, 1943. "
' Luitgard Oliveira Cavalcanti Barros publicou uma versao mais ampla desta
critica que ela encontrou na Coiecfio Artur Ramos na Biblioteca Nacional do . The Negro family in Bahia, Brazil. American Sociological Review, n. 7,
Rio de Janeiro. Nesta versao, Ramos comeca com cépias da correspondéncia 1943.
entre ele e Guy Johnson sobre o relatdrio (Barros, 2000). Edison Carneiro FRY, P. Homossexualidade masculina e cultos afro-brasileiros. In: ’. Para
_. p _, I . ,.__.; inglés ver. Rio de Janeiro: Zahar, 1982. '
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O material para este livro foi coihido durante uma pesquisa an-
tropologica de campo na Bahia e no Rio de Janeiro, em 1938 e 1939, ge-
nerosamente apoiada pelo Conselho de Pesquisas em Ciéncias Sociais da
Universidade de Columbia e dirigida pelo Departamento de Antropologia
da Universidade. Muitas pessoas, de diversas maneiras, ajudaram, de todo
co1'agao,_com orientacao, conselhos e criticas indispensaveis. Nos Estados
Unidos a dra. Ruth Benedict e o dr. Franz Boas, da Universidade de Co-
ltirnbia, ja falecidos, deram-me simpatia e_ apoio seguros. Igualmente ama-
veis e instrutivos foram 0 dr. Charles S. Johnson, o dr. e a sra. Donald
Pierson, o falecido dr. Robert E. Park, da Universidade de Fisk, o falecido
sr. Walter White, da Associagao Nacional para o Progresso dos Homens
de Cor, a dra. Margaret Mead, do Museu Americano de Historia Natural.
Os srs. Morris Ernst, Alexander Lindey e Drew Pearson proporcionaram-
me valiosas apresentacoes.
No Brasil, todas as pessoas que encontrei ensinaram-me muito. Os
meus constantes tutbres, sem os quais me perderia - e cuja indulgente
1 t
paciéncia sempre recordarei - foram o etnologo dr. Edison Carneiro, os
eminentes missionarios dr. e sra. Hugh C. Tucker, d. Heloisa Alberto Tor-
res, entfio diretora do Museu Nacional, d. Dina Venancio, que me ensinou
r
1 portugues, e minhas amigas particulates no Rio, srta. Isabel do Prado, sra.
Kate di Pierri e srta. (hoje sra.) Maria Julia Pourchet. Além disso, mantive,
u
na Bahia, valiosas conversacoes com o_d_r.'g Nestor Duarte, que entfio
v estudava o papel das mulheres negrasgnalhistoria brasileira; com o dr.
Hosannah de Oliveira, notavel 6Sp€Cl3llSit‘l:?‘tj.‘.l11‘d0€n(}flS infantis; com o
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conego Manuel Barbosa, l1’derI_'_de'ipensrlmenloiliheraij como jovem e
, ,. , _ 2 I- 1.- .-.'~ ' .-~'‘<*.‘i‘;-_'1-’ %f+i:;'».'-gee;-r I-‘ .=.-;-'
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<- talentoso poeta dr. Aidano do Couto Ferraz; com 0 consul americano
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Fp Robert Janz e sua equipe, em especial George Hasselman; com 0 mis- :'».an--_..|.
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>51 Crkfadc a'a1J\/in/Ana: --~ 39
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de linchamentos ocasionais, com o sinistro acompanhamento de édio, s obter emprego numa escola branca respeitavel. Estao nos explorando. Se
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predade, horror, hrsteria. Criada na rebelde Nova York, treinada na provoca- fossem realmente competentes na sua profissao, seriam contratados por
tiva dialética da minha ciéncia que declara serem todas as racas igualmente uma escola branca.
humanas, e nesse sentido iguais, cheguei a estagzao de Nashville preparada
para a controvérsia. Veio ao meu encontro 0 chefe do departamento no Esta afirmativa desafiadora, carregada de desconfianga ate mesmo
qual eu deveria trabalhar - um professor negro de reputacao internacionai, para com simpatizantes brancos, era peculiarmenle norte-americana.,Com0
de fala suave e lromca. Note: que estava tenso e alerta. Naqueles dias, era eu deveria entender ma_is_tai'de, nada tinha a ver com as atitudes da raga
uma experiéncia extravagante para brancos e negros trabalhar como iguais, negra no Brasil. it J‘
num campo profissional; e somente agora, enquanto escrevo, compreendo . "air-x
perfeitamente com que habilidade aquele professor conteve a efervescéncia
I ~
de um C3ld61l'fl0 borbulhante.
A viagem maritima para o Rio foi longa - doze dias calmos e -M»\-4"»!-1 .7. .-
».
Acostumei-me aos negros, como se esperava que acontecesse, mas
luminosos de abril sobre o Atlantico. Latino-americanos de diferentes
de maneira imprevista e extenuante. Os negros da Universidade - os meus
nacionalidades voltavam aos seus Iares.'Um argentino de Buenos Aires,
superiores e colegas do corpo docente, osrmeus alunos, a maioria deles
produtor da nova indtistria cinematografica do seu pals, demonstrou-me
de origem muito humilde - sentiam-se irritados e autoconscientes quanto
como o seu grupo estava aprendendo bem uma espécie nortc-americana
a sua posicao na América e talvez se tenham aborrecido ainda maisao. me
tde intolerancia. p ,_
verem e aosrdois ou trés outrosinstrutores brancos trazidos da‘Universidade
de Columbia. ‘Nos, os nortistas, éramos tao inocentes e entusiastas! Os — Vocé vai para o pais dos macacosl - exciamou, com escarnio e
negros nos ensinaram algo sobre 0s estilos raciais do Sul, como os haviam desapontamento, quando eu disse que planejava passar cerca de ano e
aprendido, com medo edesconfianca, e de.um modo ou de outro logome meio no Brasil. —-Ora,'sao todos pretos, atrasados como na Africa.
fizeram ver que seria melhor nao pretenderagir como uma igual, dentro Surpreendi-me com a sua veeméncia, pois, entao, estavamos menos
de uma equagao honesta de ragas e classes, ‘mas como uma. patroa bem familiarizados com as ideoiogias da Argentina. _ g - . '
educada segundo os padroes classicos. Assim haveria menos sofrimento
para todos. O -Sul, acreditavameles, corrompe todos os que la chegam. i - .. , __.__ _- Vocé os encontrara balangando-se nas arvores, suspensos ‘pelo
rabo - continuou. —~ Seria melhor ir a Argentina, onde estao os brancos,
_ N50 era isso 0 que os meus companheiros tinham em mente quando
instaram por que me preparasse para estudar os negros do Brasil vivendo _. Lernbrando a minha experiéncia na Universidade de Fisk,'tentei ser
enlre os negros da Universidade de Fisk. Os intelectuaisde Nova York razoavel. Disse-lhe: —Talvez vocé mudasse de opinifio se chegasse a
nao conhecem o Sul e sempre se sentem chocados a um breve contato conhecer umnegro amavel, bem educado. E aiguns tém a pele t'ao clara
com aquela regiao. Por outro;lado,‘os meus amigos negros do Sul jamais quanto eu... E bem possfvel que vocé nao os reconhecesse!
haviam experimentado a ausencia do obsessivo pensamento em termos dc _ r Ele me olhou de alto a baiiro. ~ Entao, voce é u_ma negra...! - disse
raga que distingue o Brasil. N ' r -p _ t _ , r em tom desconcertado e surpreendido,_ sem que eu me preocupasse em
. — Vocés, os brancos vém aqui nos ensinar — disse-me confiden-' 4 corrigi-lo. . _ Mal posso acreditar - acrescentou — e sirito nao poder vé-la
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Ii I
formas de culto religioso, atémesmo a personaiidade ea beleza fisica das - Vocé precisa mesmo ir? — gemeu a minha professora brasileira.
mulheres sao parte preciosa do Brasil. -Da Bahia vém as Jfonnas e os
Contorceu o rosto jovem e simpatico, simulando horror, e depois
simbolos a que se apegou o chauvinismo nacional. Mais tarde, Carmem
riu, citando uma cancao: - A Bahia é boa terra; ela la e eu aqui."
Miranda levou-os a Broadway e a Hollywood. "Heitor'Vila-LobosVapre-
sentou-os em- harmonia e temas melodicos, not Carnegie ‘Hall. Candido - Uma mulher branca, sozinha, la? ~ disse um americano da Georgia,
Portinari pintou 0s ecos cariocas dessa vida, que o Museu de'Arte‘Moderna em tom reprovador. — Vocé sabe o que os negros farfio.
de Nova York exibiu apos o encerramento=da mostra da Feir,a‘Mundial. Nao pude partir antes de ser liberada pelo Ministério da Agricultura
Os negros da>Bahia inspiraram uma literatura rica e variada,-motivaram e obter aprovacao militar. Eu era uma estrangeira, na-verdade indesejada,
cientistas e romancistas. Os jornais tratam das suas atividades como coisa mas Vtoleradapor me ter identificado como “cientista”, que nao buscava
normal. Os cientistas sociais do Brasil se dedicam a esses cidadaosnegros emprego pago, antes gastaria dinheiro. Esperava-seque eu entrasse em
tao completamente como os seus colegas mexicanos 0 fazem-_c0m»os contato com as autoridades da Bahia e,-como deixei:_de faze-lo - pensando
fndios, com oimesmo carater de apreciacao lisonjeira-e deexpiacao do que as cartas amaveis eram simples cartas de apresentacao a serem usadas
passado. _ " H ' ' A r ‘ A apenas em caso de necessidade — a policia secreta foi notificada e eu fui
Assim, parti para a Bahia, e pelaprimeira vez_nessa.expIoraga'o -seguida constantemente e afinal recebi ordem de sair da regiao. Mas isto
através de diferentes mundos_de idéias estava.conscientemente.pouco.a se den meses mais tarde. A
vontade. E o estava porque ja aprendera osuficiente para compreender -Esta bem-intencionada pesquisa de reiacoes raciais nao podia furtar-
que nao tinha ponto dereferéncia, nem teoria ou crenca aesustehtar ou se ao fragor dos tempos. Naturalmente que nao, pois as ideologias fascistas
demolir. Sabia, porem, que nnnca mais deveria ser tao.inge‘nua’quanto a eram apenas versoes mais novas de amplas motivacfies que se haviam
linguagem de “igualdade racial” como quando cheguei a Nashville. La, cristalizado, no nosso pais, como intolerancia racial. O Rroera uma area
um homem poderia ser torturado e morto pela sua cor fisica. NofBrasil, de dumping para mercadorias alemas,-italianas e japonesas, e o Brasil w
isso so poderia acontecer pela sua cor politica. Mas podia acontecer e, figurava entre os muitos paises sul-americanos atratdos por acordos comer-
s — 1 ‘
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assim, a questao nao era “seguranca ou “liberdade?’, apesarda diferenga' ciais faceis, e propicios, com as nacoes do Eixo.Em pconseqfiencia, tran-g;,_a___V_g,.i
r-'1. -‘,-
_- r —_ ’ Hi
§_!__'_J’I_2éY1_=(
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_ ‘iri- dos_ termos. Em Nashville, um negro poderia chegar ao college,_ mas a sua satlanticos do Erxo atulhavam
,_ o rmenso-,-;e;3;;.-r,;-,"§-:.;='.V_-',~j;:_3;§;g;__r,p;§;§r;?g§‘§g;.VV1_;_,,.;.";,:=.
porto do_R1one pr0porc1onavam,,j;,~f;;5,;__- 2
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concordar com a policia da Bahia, e assim me vi obrigada a recorrer ao . Pareceu-me significativo que Edison fosse um mulato, da cor
consul britfinico e isso tambem contribuiu para confundir a minha antiga trigueira chamada parda no Brasil. Era significativo porque as cartas de
admirapao pelos direitos do cidadao sob a bandeira dos Estados Unidos. apresentacao vinham de colegas brancos, que nao haviam mencionado a
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provado valor como jornalista o como erudito. Em momento algum porcebi,
de sua parto, qualquer preocupaoao especial com a minha raga. . para estar A vontade naqueias partes do Brasil. Mas Edison, que vivera
entre eles toda a sua vida e os doscrevia na imprensa diaria, apresontava-
Vinha do famflia pobre mas boa, quaiificada do fidalga. O pai, do me e era considorado 0 meu ‘Fproteto1"’.
tez clara, ora professor do ongonharia, aposontado, do otima roputagao por
trabalhos originais. A tia parecia India e era dirotora do uma escola. Um
dos tios era juiz. Um irmfio mais velho era advogado conhecido. Uma das
irmas mais mogas era ruiva, a outra morena, o ambas estudavam para
serem profossoras. Era o tipo do familia as vezes chamada do “negros
brancos”, por muito rospeitada- Nao, nao ligava a raoa aassuntos pessoais
ou sociais, pois planojava, ontao, uma viagom pelo Sul dos Estados Unidos,
para ostudar as condigoes locais. Quando lhe disso: — Nao, vocé nao pode
fazor isso - ele protestou: - E por que nao? — insistiu. Tive do oxplicar:
- La existe o Jim Crow'o eles o incomodarfio com o protoxto da sua cor.
— O sou rosto so contorcou como so eu 0 tivesse chicoteado sobre os
olhos. Pensoi, agoniada, que um amoricano nao devia ter de fazer tais
coisas a outros sores humanos. " " ‘
Edison ompreondia as suas proprias posquisas do campo ontreifos
negros, colhendo material para o jorrial que op contratara como reporter e
para 0 novo livro que-projetava oscrever. De modo que concordamos em
fundir os nossos recursos, os nossos conhecimentos, o nosso tempo, as
nossas observagoes. Preciso dizor que Ha-dovedora fui ou? Na verdade, a
sua companhia convencou a poifcia do que ou era politicamonte culpada;
mas, naquoia terra, onde a tradigao trancava as mulheres solteiras em_ casa
ou as langava a sarjeta, eu»teria sido jncapaz do me locomover,-aymenos
que escoltada por um homem do boa reputagao. E ali ostavaole. Além do
mais, para os negros era a melhor garantia possfvel do que ou nao era uma
espia da ciasse alta, nem uma simples onxorida; e, até certo ponto, ele
anulava 0 mal~esta1' que sentiam na prosonea doostrangeiros. Ainda que
ou nao fosse tfio obviamonte uma -gringa (— Orosto dela é branco como
um longol - diziam as criangas, arregalando os olhos. — E por isso que ola
faia gringo), os negros toriam hesitado em falar cornigo sozinha, para meu E
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