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sovo4i2022 19:22 Tegumandose = la vie familial sous ancien Resi nai constrgi da ia de infincia 4 patie do sdvento da escola, ea faa do Ftd. Rete sobre as obras de Comenius, Tacke ¢ Rousseau, ‘Ares; ida de infinclay iografla ‘Asking bimself about the value of ries book Life Tae fara sous Pancten hein the ‘autbor anaes te cons- traction of the tea of ‘fancy, based on the work of Comentus, Locke and Rouscea Aries idea of infancy: bistoriography tps: revisas.usp briesticfarticl/viow/60786/63635, POF viewor SOBRE UM MOMENTO DA CONSTITUICAO DA IDEJA DE INFANCIA: PONTO DE VISTA DE UM HISTORIADOR Waldir Cauvilla seus fins de semana; a justamente, 0 simpitico titulo de Ur historien du dimanche, que no Brasil recebeu do tradutor 0 titulo fein Feros quedo coal, quero dizer, por que um indi: Viduo ~ Ariés ~interessou-se pelo tema. A resposta casia no mesmo plano de por que uns gostam cle misica cls 10 do Depto, de Flosofia da Edvcoyae # Ciéncios lueago da FEUSP sovo4i2022 19:22 PDF js viewer sica, outros de popular, uns de maga, outros de péra, ete Quem uiser conhecer as razdes pessoais de Ariés, no entanto, pode con sullar seu livto de memérias acima citido (o que @ extremamente interessante e esclarecedon) Ns werd, que € pa ae oo "psa? For au, ain ico oficial franc arco historiografico © hoje € con: siderado um verdadeiro clissieo? Por que, € mesmo com possiveis € virias crtcas, no se pode escrever ou falar nada sobre inflila c familia sem se remeter 3 Ari’s? Tornou-se, antes de qualquer coisa, um bé-i-ba dos estudos sobre esses temas. Mas Ariés nos interessa, aqui, no que nos pode escharecer sobre um dos momentos cle constituigio da idéia de infancia suge- rida pelo titulo deste artigo, Ari&s estudou 0 periodo correspondente a0 Antigo Regime, na Franga, panicularmente os séculos XVI, XVI ¢ pelo menos parte do XVI. E nesse momento que ele capta a emergén: cia do que denominov “sentimente da infincia", Vale notar que ele faz. isso contrastindo esse momento com 0 periodo anterior, da Idade Média, Esclaresamos com as palavras do proprio Aries: [1 Afirmet que essa sociedade via mal a erianga e pior ainda fo adolescente, A duracio da infincia era reduzida a um periodo _mais frigl, enquanto o flhote do homem ainda niao conseguia bas- tarse; a crianca, ento, mal adquiria algum desembaraco fisco, era Jogo misturada 20s adults, e parilhava de seus trabalhos jogos, De cr homem; mas, sem passar pelas etapas da juventude, que fares fos- sem priticadas ames di Fdade Média e que se tormaram aspectos ‘essenciais das sociedades desenvalvidas de hoje” (Aries, 1981, p.10, itlico nosso) que com ‘resistencias iniciais no meio acadé sacabou se tornando um n que no teria existido o sentimento da sane, incinha pequens, cla se transformava imediatamente em “Na sociedade medieval, que tomamos como po 0 de pani dda, sentimento da inffncia nao exist ~ 0 que mao quer dizer que as criangas Fossem negligenciadas, abandonadas ou desprezadas. O sentimento da infincia nao significa o mesmo que afeigio pelas eri angis: cortesponde & consciéncia da partcularidade infantil, essa particularidade que distingue essencialmente a crianga do adult, mesmo jovem, Essa consciéncia nao exista, [.I" (Afi, 198, 1.150) ‘Na verdade, Ariés capta dois sentimentos da infineia, Um pre- sente no século XVI (talver jd pudesse ser captado nos séculos XIV XV) que 0 autor identifica com a “paparicaga0” Crignotage”) sa teria nascido no ambiente familar, no tito com as eriangas pequenas. © segundo, que € © sentimento “verdadeiro” da infin: cia caracterizado pela conscigncia da especificidade desse momen: to da vida humana, *.. proveio de uma fonte exterior 3 familia: dos teclesidsticos ou dos homens da le, ra#os até o séeulo XVI, e de um maior nimero de moralistas no século XVIL, preacupados com a tps: revisas.usp briesticfarticl/viow/60786/63635, 29 sovo4i2022 19:22 diseiplina @ a ractonalidade dos cos tumes. [1° (Aries, 1981, p.163; ialicos nosso). Ariés chama a atengo para 6 fato de que aquele primeio sentimento ja no século XVI era critcado acerbamen- te por pensadores como Montaigne, ‘que via na “paparicagao” uma forma de tratar as eriangas como “macaquinhos”, fe essa "macagjeago” 0 ieiava profun- lidade que marcars também os eclesisticns, 08 jesultas, os moralisas do século XVII, i que “re ‘eusavam-se a considerar as criangas co smo beinquedos e nels frigeis criaturas de Deus que era preciso 20 mesmo tempo preservar @ Aisciplinar. Ese sentimento, por st vez, passou para a vida familiar” (Aries, 1981, pp.163+4. suas tiltimas citagdes devem nos ar pelo menos ums pergunta: quem ‘sio ewes moralistas, eclestisticus, ho mens da le? onde se encontrany de que lugar falan? como podiam influenciar as farflias? (© proprio Ariés nos di o encami- rnhamento da resposta, Em seu livro, ele ica a escola como uma das respon sveis pela mudanga eftada, na media ‘em que ela vai substitu © aprendizado ‘coma meio de educagio, Expliquemos melhor: antes dos Tempos Modernos (ji ‘que & deles que falamos quando tata mos dos séculos XVI © XVID a edu cagdo realizava'se pelo aprendizado fora da familia original, junto 2 outras familias; assim que a crianga deixava de ser um infante (enfant, em frances) — falante” -, ela era enviada para © conxivio com outa familias, em que aprendiam os habbitos, costumes, modos de ser, componamentos, desde como servir 4 mesa (lembremes que uma das palavras que designam 0 jovem na line ‘qua francesa — gargon — chegou até nds com sua forma portuguesa de “arco” Hhewece cantadores, pois viam de tps: revisas.usp briesticfarticl/viow/60786/63635, PDF js viewer ‘como identificadora daquele que serve a mesa) até como se vesti, cumprimen- tar as pessoas, etc A pani do século XVI temos ent fessa_mudanga: as criangas passario a freqientar a escola, em ver de se dit ‘girem as casas de outras fama, Vale a pena citar 0 préprio Aries: “{u] Iss0 quer dizer que a erianga deixou de ser misturida aos adultos & de aprender a vida diretamente, através do contato com eles. A despelto das muitas reticéneias e retandamentos, a ‘rianga foi separada dos adultos e man- tida 2 distancia numa especie de qua rentena, anes de ser solta no mundo. Essa quarentena foi a escola, 0 eolégio. ‘Comegou entio um longo process de fenclausuramento das criangas (como dos loucos, dos pobres ¢ dis prostitu- tas)! que se estenderia até nossos dias, 20 qual se di 0 nome de escolariza ‘¢do” (Aties, 1981, p-1D, Essas palavras nos mostram, entio, ‘um dos comporamentos do periodo cestuado, que devem ser levados em ‘conta para entender a origem do sent mento da infincia: o ambiente escola ssa pista, para um historiador da 10s chegar a obras educagio, permite de educadores da época, como Come- nivs (1592-1670), Locke (1632-1700) «, ‘como uma culminacio desse proceso de valorizacao da infincia enquaate tal, fino século XVII, Rousseau (1712 1778), Antes de avangarmos um pouco além na pista acima, anotemos mais umm twecho de Ariés que vem logo a seguir desse tlio que citamos “Essa separacao ~ e essa chamada a razio ~ das criangas deve ser inter- pretada como uma das faces do grande ‘movimento de moralizagao dos homens promovido pelos reformadores catstt- 05 ou protestantesIigados a Igreja, ais Jeis ou ao Estado |..." (Asies, 1981, p.11 itilicos nossos), 38 sovo4i2022 19:22 Assinalamos 0 trecho aecima para, justamente, apontar mais dois fatores — fexternes a familia — que agiram, mar camtemente na geraglo do sentimento da infancia a partir do século XVI as reformas religiosas e a constituigao do Estado Modemo, Vile notar que © pro- pio Ariés, em um outro texto (Aries, 1991), chama a tengo para esses 10S quals acrescenta o movi- fatores, mento de alfabetizacao, impulsionado principalmente depois da invengao © aperfeigoamento da imprensa (desde 0 século XV) CGremos que nto € demais tembrar que, na pritica, todos esses elementos, esto reunidos. Apontemos a seguir al- guns exemplos, A reforma luterana teve como um de seus instrumentos de evangelizago a criagio de escolas. Podemos lembrar {que um dos primeitos colégios propria mente ditas foi criado por J. Sturm, wm huterano, © historiador Frederick Eby 0 considera 0 “fundador do ginisio css co" (Eby, 1978, p76). A reforma catsica vai ter na crs ‘Gio da Companhia de Jesus por Ind de Loyola um de seus principais esteos, 2 ordem jesuta, por sua vez, vai fazer ddo ensino, em seus famosos’ coléxios, ‘um dos principais meios de defesa da Igreja Catdlica. $6 pensar, als, na i= pomiincia que os jesuitas tiveram na historia da educagao no Brasil, antes e depois do periodo pombalino, Notemos também que, de um lado ‘ou de outro das reformas religiosas ~ se pensarmos na polarizacio catdicos x protestantes (simphficaglo valida ape ‘nas para facilitar a discussi0 no Ambito deste artigo) —, 0s Estados nacionais cemergentes da Europa do inicio dos ‘Tempos Modemos tomaram posicio diante das mesmas, assimilando-as como religides oficitis as monarquias ‘atdlicas de Portugal e Espanha, onde 4 Inquisigio foi muitas vezes mais tps: revisas.usp briesticfarticl/viow/60786/63635, PDF js viewer lum instrumento politico do que rel ‘gloso; a monarquia inglesa que faz do rei. o chefe no s6 do Estado, mas tam- ‘bém da Igreja Anglicana; a Suécia © a Noruega convertendo o luteranismo em suas teligides ofciais, © proprio gali- ‘canismo da época de Luis XIV na Fra ‘94, © por ai vai Mas € interessante notar que na formagio do Estado Moderno ~ religito a pane -, panicularmente no caso fran- és, « inicativa do absolutismo mondr- quico, procurando controlar o mais que pudesse « vida do individu, favoreceri também todo um processo de valoriza- {da vida intima das mesmas, no qual tum des aspectos seri uma maior preo: cupacao com os filhos, portanto, com as criangas. Pensammos que & também no Ambito da ifluéncia do Estado, em especial no que ele tem de busca de ‘uma racionalidade administrativa?, que vamos encontrar a génese da. preocu: pacio dos moralsias ¢ dos homens da lei do século, XVII, “a disciplina © a racionalidade dos costumes" citada por Aids (Arits, 1981, p.163) Voltemos, porém, 10 Ambito das lescolas e dos educadores. Aqui, apro veitemos os trés autores acima citados, Comenius, Locke © Rousseau, © ve} ‘mos alguns aspectos de suas obras que podem ter contribuido na constinsigio de uma idéia de “infancia” na época considera Um dos aspectos que podemos citar, comum aos tes, € a valorizagao da crianga no processo pedagdgico. ‘Todos os trés levam em conta 0 amadurecimento biolégico © mesmo picolégico da crianca. O professor, a0 censinar, deve levar em conta as con- digdes da crianga, variiveis conforme sua idade. Claro que, ainda que howwesse ‘esse aspecto comm, existem

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