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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS (UNIFAL-MG)

Discente(s): Ana Clara Rodrigues Duarte, Gabriela Nogueira e Naiara Regina Crispim
Vitor Data: 01/10/2023

AVALIAÇÃO 1 (questão única) – HISTÓRIA DA AMÉRICA III


6º período (turmas 2020/2021) – História (Lic.) / Prof. Raphael Sebrian
QUESTÃO ÚNICA E ORIENTAÇÕES PARA A ELABORAÇÃO DA RESPOSTA
A partir dos argumentos apresentados nos textos 2B, 2C, 2D e 2E, dos roteiros de
acompanhamento das aulas e das exposições e das discussões em sala de aula,
elabore(m) um texto de no mínimo duas (2) páginas e de no máximo quatro (4) páginas
(sem contar as referências bibliográficas), no qual explique(m) UMA (1) característica
fundamental das relações do Brasil com UM (1) dos demais países da América Latina
(recomenda-se a Argentina) e com os EUA na segunda metade do século XIX. A resposta
deve contemplar, obrigatoriamente: a) a indicação de UM (1) problema fundamental
referente à construção das identidades nacionais e supranacionais como definidoras de
aproximações e de distanciamentos entre os dois países citados (Brasil e outro país da
América Latina, recomenda-se a Argentina); b) a indicação de UMA (1) implicação da
presença dos EUA nessas relações políticas, culturais e econômicas entre os países latino-
americanos, e mais especificamente entre os dois países citados (recomenda-se Brasil e
Argentina), na segunda metade do século XIX. [valor: 10,0/5,0]

Observação 1: a avaliação deve ser realizada OBRIGATORIAMENTE em grupos (de três ou de quatro
discentes). O texto deverá ser entregue digitado via Google Classroom, conforme as normas a seguir,
obrigatoriamente até o dia 26/10/2023 (quinta-feira). Uma versão prévia (não obrigatória) poderá ser
enviada ao professor até o dia 19/10/2023 (quinta-feira), também via Google Classroom.
Observação 2: apenas um(a) integrante do grupo deverá entregar a versão prévia; todos(as) os(as)
integrantes deverão entregar a versão final; não entregar a versão prévia e/ou a versão final em PDF.
Observação 3: os aspectos avaliados na resposta são os seguintes: desenvolvimento do tema proposto
e encadeamento das ideias. A subjetividade, neste caso, deve estar pautada pela proposta do
enunciado. Fuga ao tema anulará a resposta.
Observação 4: a resposta não deve ser composta por cópia de trechos dos textos, antes precisa
apresentar argumentação a partir dos textos. Os textos podem ser usados e citados, desde que
devidamente referenciados e analisados. Pode-se usar citações, desde que estejam devidamente
elaboradas e referenciadas, conforme as normas ABNT, e que os trechos transcritos não ocupem mais
espaço na resposta do que os argumentos individuais.
Observação 5: as normas para elaboração da avaliação são – fonte Times New Roman; tamanho 12
para o texto e 10 para citações recuadas e notas de rodapé; página formato A4; margens ABNT (3 cm
superior e esquerda, 2 cm direita e inferior); espaçamento 1,5 entre linhas e 1,0 para citações e notas;
as referências bibliográficas, no formato ABNT, devem ser apresentadas obrigatoriamente no fim do
trabalho. Todos os demais elementos devem respeitar o estipulado nas normas ABNT. Não é
necessário apresentar nenhum tipo de capa ou folha de rosto, apenas se deve indicar os/as
autores/as e o nome da disciplina no início do trabalho.
Observação 6: é permitida somente a consulta aos textos da disciplina, aos roteiros de
acompanhamento das aulas, às anotações das aulas e a materiais para estudo elaborados
individualmente. Não será permitida consulta a outros materiais e/ou a utilização de tais materiais
para a elaboração da avaliação e tal procedimento poderá resultar em anulação da avaliação e em
atribuição de nota zero. Plágios também resultarão em nota zero. Portanto, cuidado com o uso de
outros materiais. Repito: qualquer tipo de plágio, mesmo que em pequena quantidade, resultará na
atribuição de nota zero (0,0), sem direito a recurso.
Ao analisarmos as identidades construídas ao longo da segunda metade do século
XIX nos países latinoamericanos, é importante compreendermos que elas são construções
discursivas,. As quais estão inseridas em contexto de conflitos e disputas sobre universos
imaginários e representações. São ferramentas que ao mesmo tempo servem de base para a
formulação de discursos e decisões políticas, justificam-nas. Elas são mobilizadas,
também, para diferenciar o outro, estabelecer limites e critérios que particularizam um
coletivo em relação ao outro (PradoPRADO, 2008, p. 584-585).
Desde a independência brasileira, em 1822, desenvolveu-se na sociedade brasileira
a ideia que o Brasil teria um futuro grandioso no continente americano. Diante dessa
perspectiva, as políticas do regime monárquico guiaram-se motivadaos pela busca da
realização dessa crença. Nesse contexto, conforme explica Maria Helena Capelato (2000,
p. 287-288), a América Hispânica era vista como a “Outra América”, aquela queà qual não
deveria ser tida como exemplo. A identidade nacional brasileira forjou-se, principalmente,
na valorização das singularidades nacionais em relação à América Hispânica.
A diferença entre o regime político dos países latinoamericanos com o Brasil foi
um elemento central para a construção das narrativas que uma sociedade formulava sobre a
outra. Para as repúblicas lationamericanas, o regime imperial e escravocrata brasileiro eram
sinônimos e símbolos de ideias e valores do “Antigo Regime”. Em contraposição, aà
monarquia brasileira interpretava as dificuldades e os conflitos que ocorreram ao longo do
processo de independência das ex-colônias hispânicas e nao período posterior a elas, como
expressão de anarquia e desordem,; colocando-as em uma posição de fragilidade e
incapacidade, sendo esses aspectos que caracterizavam o regime republicano
(CapelatoCAPELATO, 2000, p. 289).
Tal percepção está bem sintetizada na visão de Domingo Faustino Sarmiento,
político e intelectual argentino, após uma viagjem ao Brasil, afirmou que os “propósitos de
domínio do governo brasileiro” eram assegurados pelo “câêncer da escravidão que servia
de segurança ao despotismo” (CapelatoCAPELATO, 2000, p. 289). Observar a relação do
Brasil com a Argentina, ao longo da segunda metade do século XIX, é uma forma de
perceber as políticas adotadas pelo governo brasileiro nao desenrolar desse período. De um
modo geral, ao longo do período monárquico o governo brasileiro não se aproximou-se da
América Hispânica, não participando, também, de projetos que objetivavam a formulação
de unidade naquele momento.
Com a proclamação da República no Brasil, conforme explica Capelato (2000, p.
290), houve uma mudança do Brasil em relação àa sua política externa com os países
latinoamericanos, sendo perceptíveisl tentativas de aproximação e da formulação de
projetos de cooperação com os vizinhos. Tal postura orientava-se pelas ideias de
“confraternização americana”, “amizade e paz” e “americanização”. No entanto, havia uma
questão pendente na relação entre o Brasil e a Argentina: a disputa pelo domínio da região
do Prata, evento conhecido como “questão das Missões”.
Na época, Quintino de Bocaiúva, Ministro das Relações Exteriores, em uma visita à
Argentina, tentou articular o acerto das fronteiras pelo Tratado de Montevidéu,
estabelecido em 1890. Tal medida, apesar de não ter sido aprovada pelo Congresso
Nacional, e ter levado a Argentina a ter perderido as Missões em 1895, devido ao laudo
arbitral dos norte-americanos, é um indicativo da mudança da política externa brasileira de
aproximação aos países da América Latina após a Proclamação da República
(CapelatoCAPELATO, 2000, p. 290).
Ao observarmos as relações estabelecidas entre os Estados Unidos e o Brasil na
segunda metade do século XIX, é necessário um olhar crítico. Um aspectoponto que
merece destaque está relacionado à dominação imperialista dos Estados Unidos na
América Latina, a qual é inegável. No entanto, conforme explica Maria Lígia Coelho Prado
(2000, p. 326), essas relações –- principalmente com o Brasil –- devem ser analisadas em
uma perspectiva que atente-se aos mecanismos de reação, contestação e repúdio à atuação
norte-americana. Atribuir aos países latinoamericanos uma condição de passividade, como
“simples receptor[es] das determinações de fora”, é submetê-los à posição de incapacidade
e inferioridade perante àa grande “civilização”.
No final do século XIX, os Estados Unidos iniciaram a política do pan-
americanismo, que visava àa integração dos países americanos sobre sua hegemonia
(CapelatoCAPELATO, 2000, p. 292). A partir dessa política de relação com os países
latinoamericanos, emergiram movimentos favoráveisa favor e contrários a essa
aproximação dos países latinoamericanos com os Estados Unidos. Anteriormente vistos
como exemplo de progresso, os EUA começaram a “representar ameaça à soberania e
obstáculo ao desenvolvimento dos países latino-americanos no seu conjunto”
(CapelatoCAPELATO, 2000, p. 297). Sendo, portanto, o pan-americanismo um discurso
oficial que visava legitimar as interferências norte-americanas nos países latinoamericanos,
que eram motivadas por interesses econômicos e políticos desses primeiros.
A justificativa para tal postura estava fortemente vinculada à ideia de levar, para o
restante da América, a civilização. Os EUAEles colocavam-se na postura de possuidores,
por direito, de intervir, devido àa sua superioridade, nos demais países latinoamericanos
(PradoPRADO, 2000, p. 324). Em 1898, os Estados Unidos dão início a um período de
intervenções armadas no Caribe (PradoPRADO, 2000, p. 326-327). Após a intervenção
realizada na Nicarágua, intensificaram-se as críticas ao pan-americanismo.
Com a proclamação da república no Brasil houve uma aproximação com a política
externa norte-americana. Nessa perspectiva de aproximação, em 1893, chegou ao Brasil
uma esquadra estadunidense, composta por 12 navios, que tinha como objetivo defender o
governo de Floriano Peixoto, o qual tinha sido desafiado por uma revolta naval pelos
almirantes Custódio de Melo e Saldanha da Gama (PradoPRADO, 2000, p. 327). No
entanto, o aspecto interessante relacionado a tal acontecimento, refere-se àa forma como a
historiografia oficial e a memória oficial trataram-no posteriormente. Conforme expõe
Prado (2000, p. 328), o banimento nda historiografia oficial dessa “intromissão
estrangeira” configura-se como uma estratégia de esquecimento diante do poder
imperialista dos Estados Unidos. Isto é, uma forma de resistência e oposição à hegemonia
desse país.
As identidades nacionais e supranacionais construídas ao longo do século XIX
pelos países latinoamericanos eram discursos que legitimavam a aproximação ou o
distanciamento de determinados países em relação a outros. A construção da identidade
nacional por parte desses países utilizava-se da historiografia, da literatura, da pintura,
entre outras produções culturais para constituirírem a sua formação identitária
(PradoPRADO, 2000, p. 588). Em um cenário mais amplo, o fortalecimento da identidade
latino-americana, deu-se, em grande parte, motivados pelos discursos críticos à presença
dos Estados Unidos na América Latina.
De acordo com Maria Lígia Coelho Prado (2008, p. 584):,

Al lado de las identidades nacionales, a fines del siglo XIX, la concepción de una
identidad latinoamericana se elaboró en oposición a la ideia de otro externo, los
Estados Unidos. Este sentimiento de unidad fue ganando fuerza y partidarios, al
coincidir con la inauguración de una agresiva política externa norteamericana,
que ocasiones se tragujo en intervenciones armadas en el Caribe y en América
Central.

A constituição e o fortalecimento da identidade latinoamericana foi, em grande


parte, motivadoa pelas contínuas políticas intervencionistas realizadas pelos Estados
Unidos na América Latina. Esse projeto conseguiu sensibilizar e mobilizar parcelas da
sociedade nao decorrer do processo de constituição das identidades nacionais e
supranacionais (PradoPRADO, 2008, p. 604). O conceito de América Latina foi sendo
aceito e se consolidando através da vontade de estabelecer diferenças entre a América
Latina e a América Anglossoxinica. Assim, torna-se interessante observar como a presença
dos Estados Unidos refletiu nas relações políticas, culturais e econômicas entre os países
da latino-americanos. Sendo, portanto, a aproximação desses países, uma forma de se opor
à atuação norte-americana na porção sul do continente, configurando-se como uma
estratégia de confronto.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CAPELATO, Maria Helena. O “gigante brasileiro” na América Latina: ser ou não ser
latino-americano. In: MOTA, Carlos Guilherme (org.). Viagem incompleta. A experiência
brasileira (1500- 2000): a grande transação. 2. ed. São Paulo: Ed. SENAC São Paulo, 2000.
p. 285-316.

PRADO, Maria Ligia Coelho. Davi e Golias: as relações entre Brasil e Estados Unidos no
século XX. In: MOTA, Carlos Guilherme (org.). Viagem incompleta. A experiência
brasileira (1500-2000): a grande transação. 2. Ed. São Paulo: Ed. SENAC São Paulo, 2000.
p. 319-347.

PRADO, Maria Ligia Coelho. Identidades latinoamericanas. In: MORA, Enrique Ayala;
CARBÓ, Eduardo Posada (dir.). Historia General de América Latina, v. VII: Los
proyectos nacionales latinoamericanos: sus instrumentos y articulación, 1870-1930.
Madrid: Ediciones UNESCO; Editorial Trotta, 2008. p. 583-615.

CAPELATO, Maria Helena. O “gigante brasileiro” na América Latina: ser ou não ser
latino-americano. In: MOTA, Carlos Guilherme (org.). Viagem incompleta. A experiência
brasileira (1500- 2000): a grande transação. 2. ed. São Paulo: Ed. SENAC São Paulo, 2000.
p. 285-316.

PRADO, Maria Ligia Coelho. Davi e Golias: as relações entre Brasil e Estados Unidos no
século XX. In: MOTA, Carlos Guilherme (org.). Viagem incompleta. A experiência
brasileira (1500-2000): a grande transação. 2. Ed. São Paulo: Ed. SENAC São Paulo, 2000.
p. 319-347.

Há elementos corretos, mas também equívocos e imprecisões a serem


corrigidos. Recomenda-se trabalhar melhor a estruturação do texto.

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