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Campus Jacareí
Licenciatura em Pedagogia
VOZES DA EDUCAÇÃO:
A INFLUÊNCIA DOS DISCURSOS SOBRE O QUE É EDUCAÇÃO NA
FORMAÇÃO DO PROFESSOR
Jacareí
2022
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo
Campus Jacareí
Licenciatura em Pedagogia
VOZES DA EDUCAÇÃO:
A INFLUÊNCIA DOS DISCURSOS SOBRE O QUE É EDUCAÇÃO NA
FORMAÇÃO DO PROFESSOR
Orientação:
Prof. Me. Héctor Luis Baz Reyes
Jacareí
2022
AGRADECIMENTOS
Nossas trajetórias são marcadas por diversas pessoas, que acabam por se
tornar parte do que somos. Comigo não poderia ser diferente, por isso gostaria de
aproveitar para agradecer a cada pedaço que compõe esse pedagogo em devir que
sou.
A minha mãe, sempre pronta a me apoiar e aconselhar.
Aos meus amigos, cuja presença e empatia me impediram de desistir nos
momentos que o caminho se tornou mais tortuoso.
Ao pequeno Arthur Gabriel e sua mãe Bruna, que foram essenciais para que
eu me entendesse e crescesse como pessoa.
Ao meu professor de filosofia do ensino médio que fez com que eu desse
mais uma chance aos estudos.
Ao meu orientador, professor Héctor Luis Baz Reyes, por ter aceitado trilhar
esse caminho em conjunto e ter me dado a confiança necessária para a realização
deste memorial.
RESUMO
INTRODUÇÃO
Portanto:
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Com o resgate desses discursos tratarei dos impactos que eles tiveram na
minha percepção do que é educação e na minha relação para com a escola, e como
espero levar isso para a minha atuação como docente. Para tanto, este memorial
será organizado em quatro capítulos. No primeiro capítulo tratarei do meu ingresso
no ensino formal e experiências na pré-escola, focando em um evento específico
que me marcou bastante, que foi minha retenção. O segundo capítulo terá como
foco a minha passagem pelo ensino fundamental e médio, que se deram
inteiramente no âmbito da educação pública. No terceiro capítulo tratarei do meu
ingresso na graduação e no meu contato com novos discursos, muito diferentes do
que eu conhecia até então, nas falas dos professores e autores estudados nas
disciplinas. Finalmente, no quarto capítulo, trarei algumas questões que concernem
ao meu retorno para dentro da escola por meio do estágio não obrigatório, fazendo
paralelos com minha própria escolarização e salientando a mudança de paradigma
que os estudos da graduação trouxeram para minha visão sobre educação.
1. A SEMENTE PLANTADA
Minha relação com a escola começou bastante cedo, minha mãe trabalhou
por muitos anos em um hospital de Jacareí, e próximo a ele havia uma escola para
os filhos dos funcionários, um Jardim de Infância, como era denominado.
Curiosamente, aquela que talvez seja minha memória mais antiga é de esperar
minha mãe voltar do trabalho para me contar mais sobre a escola, onde meus avós
haviam me contado que eu estudaria. Lembro de ficar muito empolgado com a ideia
de ir para um lugar onde haveriam outras crianças com quem eu poderia brincar.
Naquela época o ingresso dos alunos nas escolas só era obrigatório a partir
da 1º série do ensino fundamental (equivalente ao 2º ano do fundamental na
organização atual), para as crianças que completariam 7 anos, e por isso havia
pouca oferta de vagas nas escolas públicas para crianças mais novas, então posso
dizer que comecei minha escolarização mais cedo do que a maioria das pessoas
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com a minha idade. Essa escola era privada, e pelo convênio que ela mantinha com
o hospital era possível matricular os filhos e pagar com uma porcentagem do salário,
isso permitiu que minha mãe me matriculasse mesmo não ganhando muito.
A escola ficava em um terreno extenso, todo gramado e arborizado, com um
caminho cimentado que levava ao centro da propriedade, onde ficavam as
construções. Apesar do tamanho do terreno a parte construída era bem pequena,
com um pátio, a sala da gestão, o refeitório, os banheiros, uma horta e três salas de
aula. A quantidade de alunos por sala também era pequena, muito menor que em
todas as escolas públicas que frequentei posteriormente.
E assim eu comecei a ir para a escola, cheio de expectativas que acabaram
não sendo correspondidas. Sempre fui curioso e gostei muito de aprender, mas a
verdade é que fora da sala de aula era muito mais interessante. Eu passava a maior
parte do meu tempo no pátio, explorando o campo, subindo nas árvores,
principalmente em uma goiabeira que tinha por ali, na qual podíamos pegar goiabas
a vontade. Além disso, eu descobri que brincar com as outras crianças não era tão
legal assim, eu me divertia bastante sozinho e tinha mais liberdade para fazer o que
quisesse.
Ao final do meu primeiro ano nesse lugar, eu tinha de 4 para 5 anos na época,
fui retido e tive que refazer aquela etapa, que naquela escola era denominada
Jardim I. Eu nunca, em toda minha vida, conheci qualquer outra pessoa que tenha
sido retida na pré-escola, e sempre senti muita vergonha disso. Naquela época era
política comum nas escolas reter os alunos, não havia a progressão continuada, e
em todas as turmas que eu estudei desde meu ingresso no fundamental sempre
tiveram pelo menos um aluno que havia sido retido, que eram vulgarmente
chamados de “repetentes”. Mas como eu fui retido em uma escola em que sequer
éramos avaliados quantitativamente?
Anos depois, conversando com minha mãe, perguntei qual foi a razão de
terem me retido naquele ano. A resposta foi que a professora achou melhor me reter
por conta da minha dificuldade de socialização. Me reter naquele ano não ajudou de
maneira nenhuma a sanar essa dificuldade, eu continuo com ela até hoje e se
aprendi a conviver e contorná-la não foi por causa da escola.
Permita-me neste momento fazer um desvio do percurso das minhas
memórias e retomar aquela pergunta que nos foi feita no começo da graduação: “o
que é educação?” Se a minha resposta naquele momento foi que educar é preparar
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para a vida em sociedade, essa experiência foi um dos momentos que contribuíram
para que eu internalizasse esse discurso. Não bastava que eu aprendesse o que era
ensinado na escola, eu precisava participar, me integrar naquele grupo. Uma
concepção de educação que traz em si um discurso de uma educação que tem
como objetivo a integração dos indivíduos na sociedade, de preparação para a vida
nela. Essa concepção pode ser observada no seguinte fragmento:
2. CULTIVO
3. FLORESCER
4. DA FLOR, O FRUTO
crianças poderem brincar fora das salas, entre outras. Enfim, será que antigamente
era mesmo melhor?
Esse discurso é problemático não porque a escola não venha sofrendo
sucateamentos que dificultam o trabalho docente, mas porque ele desvia o foco dos
verdadeiros ataques que acontecem na forma de reformas e a reorganização da
educação pública. Enquanto os professores desejam essa escola de antigamente,
onde havia “ordem”, todas essas mudanças que minam o trabalho do professor são
aceitas facilmente.
Outro enunciado que ouvi bastante durante esse retorno à escola pública, e
que contrasta grandemente com o que aprendemos no curso é “a teoria na prática é
outra” ou “esse monte teoria não serve de nada”. Dentro da escola se tem esse
discurso de que o conhecimento teórico não se sustenta na prática docente, e,
portanto, estudar teoria é uma perda de tempo. Prática essa que vem sendo
esvaziada, com currículos prontos, livros didáticos que parecem querer substituir o
professor em vez de servirem como material de apoio e atividades prontas para
serem aplicadas, há cada vez menos necessidade de uma formação de qualidade
para os professores, e por isso estudar educação passou a ser entendido como
desnecessário. Isso pode ser entendido a partir da influência de um discurso
tecnicista sobre a educação, um discurso presente de maneira institucionalizada no
ensino público desde o período da ditadura militar no Brasil, como denotado no
seguinte fragmento:
E novamente, em:
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
______. Vigiar e Punir: Nascimento da prisão. 42. ed. Petrópolis: Editora Vozes,
2014.