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urbano-rurais
1 INTRODUÇÃO
1 Pesquisador no Centro de Estudos em Política e Economia do Setor Público da FGV (CEPESP/FGV); pós
graduando em Direitos Humanos na Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP); bacharel em Direito pela
Universidade Presbiteriana Mackenzie e graduando em Gestão de Políticas Públicas pela Universidade de
São Paulo (USP). E-mail: paulo.psilva97@gmail.com
2 Graduando em Direito pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM). Pesquisador do Núcleo de Direito
1
na Coreia do Sul, e Londres, na Inglaterra. Todavia, nenhuma cidade brasileira está incluída no “top
50”.3
O projeto de cidade inteligente em Angra dos Reis visa ampliar o acesso à internet para o
município, incluindo, gratuitamente, pontos de internet em diferentes locais da cidade. Já o projeto
em Juazeiro do Norte discute a implementação de energia renovável para serviços públicos, o
acesso à internet gratuito e um sistema de vigilância voltado para a segurança pública. Neste ponto,
é relevante citarmos que ambos projetos foram elaborados para serem implementados por meio de
concessão patrocinada, isto é, a partir de Parcerias Público-Privadas (PPP). Ocorre que, uma
concepção mais crítica do conceito e das experiências internacionais, classifica esse movimento
como um projeto neoliberal que estaria se utilizando de um discurso pró-inovação e progresso, em
nome de interesses privados de determinados grupos e da descentralização do Estado na gestão,
planejamento, na oferta de serviços de mobilidade e infraestrutura no espaço urbano, além de coleta
e exploração de dados.
Desse modo, partimos da hipótese de que os projetos de cidade inteligente tão somente
vislumbram o emprego de novas tecnologias desprovidas de um potencial de mudança substancial
em termos de redução da desigualdade, promoção da cidadania. O tema das cidades inteligentes
têm instigado muitos pesquisadores e fomentado discussões interdisciplinares que contribuem para
a construção de um arcabouço teórico expressivo e relevante, no entanto, ainda são muito
incipientes os estudos que se debruçam em análises que contemplem a experiência prática em
cidades brasileiras. Portanto, neste artigo, propomos analisar duas experiências em andamento no
Brasil: Juazeiro do Norte e Angra dos Reis.
A pesquisa original dividiu-se em três seções. Primeiramente, nos atentamos a realizar uma
explanação conceitual de cidade inteligente. Em seguida, investigamos os projetos brasileiros com
a implementação desse tipo de sistema. Em um último momento realizamos uma análise das
cidades inteligentes, trazendo considerações críticas de teóricos quanto a viabilidade e a realidade
por trás desse conceito.
2 APRESENTAÇÃO DE RESULTADOS
2
tecnologia na cidade que não suprem problemas crônicos presentes nos espaços públicos e que
não atendem as demandas das populações mais vulneráveis.
A título de exemplificação, diante de tantos problemas socioeconômicos e urbanísticos, será
que as soluções que as cidades inteligentes podem oferecer se resumem a transformações na
iluminação pública ou na instalação de câmeras de reconhecimento facial? Quais seriam as
propostas para o aumento da qualidade na mobilidade urbana e na democratização dos espaços?
A cidade inteligente chega nas periferias? Quais propostas poderiam ultrapassar a superfície dos
projetos apresentados?
Chama a atenção que ambos os projetos sejam realizados por meio de Parcerias Público
Privadas, o que desperta o olhar para a atuação das empresas envolvidas e para agentes que
acreditam que a desestatização seja a solução para todos os problemas públicos.
É de se notar a presença de acenos neoliberais e a discursos popularmente persuasivos,
como é a questão da segurança pública. O tema é disputado por diversos setores da sociedade e
costuma receber bastante atenção, o que faz com que iniciativas que prometem entregar melhorias
neste âmbito recebam adesão significativa. Mas a que custo? Considerando que as experiências
nacionais e internacionais demonstram que o uso de tecnologias de reconhecimento facial para fins
de segurança é ineficaz e, somado a isso, contribui para a criminalização de pessoas negras.
Em um mundo cada vez mais urbanizado, os centros urbanos vêm enfrentando novos
desafios ambientais, econômicos, climáticos, políticos e de infraestrutura. Conforme relatório de
2018 divulgado pela ONU, 55% da população mundial vive em áreas urbanas e, até 2050, essa
porcentagem tende a aumentar para aproximadamente 70% (ONU NEWS, 2019). Portanto, o
grande desafio que se impõe é encontrar formas de organização com o intuito de melhorar e facilitar
a vida das pessoas inseridas nesses contextos, visto que mais do que metade das pessoas do
mundo residem em centros urbanos. Uma dessas propostas, que está ganhando notoriedade nas
últimas décadas – decorrente do avanço tecnológico e a crescente globalização – é o projeto de
cidades inteligentes.
O conceito de cidades inteligentes, conforme cunhado pelo Conselho de Cidades
inteligentes, refere-se a cidades que utilizam a “tecnologia da informação e comunicação (TIC) para
melhorar sua habitabilidade, trabalhabilidade e sustentabilidade” 4. Ou seja, trata-se de um projeto
de modernização urbana que pretende aprimorar a qualidade de vida das pessoas por meio de
5
sistemas de inteligência e gestão de dados.
Uma cidade inteligente aplica sistematicamente tecnologias digitais para reduzir a entrada
de recursos, melhorar a qualidade de vida de seu povo e aumentar a competitividade da economia
4 No original, em inglês: “inf ormation and communications technology (ICT) to enhance its livability, workability
and sustainability.” (SMART CITIES COUNCIL, s.p., tradução nossa)
5 (ALBINO; BERARDI; DANGELICO, 2015; ROTUNA et al., 2017; SHAHAT OSMAN; ELRAGAL, 2021).
3
regional de forma sustentável. Isso implica o uso de soluções inteligentes para infraestrutura,
energia, habitação, mobilidade, serviços e segurança, baseadas na tecnologia de sensores
integrados, conectividade, análise de dados e processos de valor agregado funcionais
independentes.
Destarte, a ideia de criar, ou tornar, as cidades em polos inteligentes decorre da ideia de
usar tanto o conhecimento quanto a tecnologia para melhorar as cidades , ao mesmo tempo que as
transformam em centros sustentáveis .“As metas de desenvolvimento sustentável são as mesmas
com os objetivos das cidades inteligentes. Precisamos investir em nossa localidade para melhorar
a qualidade de vida. Nas cidades inteligentes, o progresso técnico é o suporte para um menor
consumo de recursos.”
Para que uma cidade seja, de fato, considerada como inteligente, ela precisa possuir um
sistema interconectado de recursos que tornem a vivência de seus habitantes mais prática, moderna
e sustentável. À vista disso, uma cidade inteligente:
6 No original, em inglês: “A smart city systematically applies digital technologies to reduce resource input,
improve its people’s quality of lif e, and increase the competitiveness of the regional economy in a sustainable
manner. It entails the use of intelligent solutions f or inf rastructure, energy, housing, mobility, services, and
security, based on integrated sensor technology, connectivity, data analytics, and independently f unctional
value-added processes.”(GASSMANN; BÖHM; PALMIÉ, 2019, p. 25, tradução nossa.
7 KITCHIN, 2015; 2018; KUMMITHA, 2017; GREEN, 2019; BRIA; MOROZOV, 2020)
8 (SILVA NETO; NALINI, 2017; CALGARO, 2020)
9 No original, em inglês: “[...]the goals of sustainable development are the same with the objectives of smart
cities. We need to invest in our locality f or improve quality of lif e. In smart cities technical progress is the
support f or a less consume of resources.”(Lorena Bătăgan, 2011, p. 81, tradução nossa)
10 (ANGELIDOU, 2015)
4
tornam ef etivamente inteligentes e conseguem promover desenvolvimento
sustentável e integrado [...]. 11
REFERÊNCIAS
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11
(BOUSKELA et al., 2016, p. 16).