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DE P E S Q U I S A
EL A BO R A Ç Ã O , REDAÇÃO
E APRESENTAÇÃO
DO R I O D E J A N E I R O
Reitor n iv a l n u n es de a lm e id a
, . i
Vice-reitor ro n a ld o m a rtin s la u r ia
E D I T O R A D A U N I V E R S I D A D E DO
E S T A D O DO R I O DE J A N E I R O
CONSELHO ED IT O R IA L
EdUBRJ
Editora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Rua São Francisco Xavier, 524, Maracanã
c e p 20550 013 I Rio de Janeiro I r j
Apoio Administrativo M A R I A F Á T I M A DE M A T T O S
ROSANE LIMA
CATALOCAÇÃO NA F O N T E
UERJ I REDÉ SIRI US I NPROTEC
ISBN 85-75II-088-8
CDU O O I.8 9 I
Ao Flavio, amor de vida inteira.
M A R I A L U C IA S E ID L DE M O U R A
M A R IA C R IST IN A FE R R E IR A
AG R A D E C IM E N T O S
À professora Eva Nick, pelo exemplo e por tudo o que me ensinou sobre
pesquisa e análise de dados.
A Daniel Seidl, filho querido e revisor competente, com quem venho
aprendendo a escrever melhor, por seu trabalho dedicado neste livro.
Aos professores Aroldo Rodrigues e Celso Pereira de Sá, por me
acolherem em momento difícil de minha vida profissional, abrindo
novas portas quando algumas se fechavam.
M A R I A L U C IA S E ID L DE M O U R A
M A R IA C R IST IN A F E R R E IR A
SU MÁ RI O
PR EFÁ C IO 11
APRESENTAÇÃO
PARTE I E L A B O R A Ç Ã O DE P R O JE T O S DE P E SQ U ISA TJ
C A P ÍT U LO 1 D EC ISÕ ES P R E L I M IN A R E S 1Ç
Escolha do tema 19
Preparação: consulta à literatura 23 -
Revisão da literatura 34
Definição do problema, identificação das questões
de pesquisa e formulação de hipóteses 37
Definição de conceitos, constructos,
variáveis e indicadores 44
CA PÍT U LO 2 D E F IN IÇ Ã O DA M E T O D O L O G IA - 4 9
CA PÍT U LO 3 R E D A Ç Ã O DE P R O JE T O S 91 ^
A redação do projeto 91
Redação dos itens de projetos 93
Observações finais 102
P A R T E III A P R E SE N T A Ç Ã O DE P R O JE T O S IO 3
C A P ÍT U LO 4 A P R E S E N T A Ç Ã O DE P R O J E T O S 105
C O N SID ER A Ç Õ E S F IN A IS H3
R E F E R Ê N C IA S B IB L IO G R Á FIC A S 115
ANEXO 1 P O R T A L DE P E R I Ó D I C O S D A C A P E S H 9
ANEXO 2 E X E M P L O S DE F O L H A S I N I C I A I S D E P R O J E T O S 123
ANEXO 3 R E S O L U Ç Ã O C F P 0 l6 / 2 0 0 0 129
ANEXO 4 É T IC A EM P E SQ U ISA (C O N EP) 137
ANEXO ^ T E R M O DE C O N S E N T I M E N T O
L IV R E E ESCLA R E C ID O I4 I
PRE FÁC IO
Quando lui convidado por Maria Lucia Seidl de Moura e Maria Cristina
Ferreira, amigas de longa data, a prefaciar este livro, agradeci-lhes e
disse que o faria com muito prazer. Não imaginava, entretanto, que
esse prazer seria tão intenso e começaria logo na leitura das primeiras
páginas. Isto acontece com todo professor ao descobrir um texto que
será especialmente útil a seus próprios alunos - um texto que poderão
acompanhar com interesse e sem dificuldades.
Aliás, o primeiro grande mérito deste livro está relacionado preci
samente a esses dois aspectos: interesse e dificuldades. Ele faz com que
o interesse intrínseco à elaboração de um projeto de pesquisa torne-se
evidente e praticamente experimentável para o estudante. Ao mesmo
tempo, o livro afasta as dificuldades, esclarecendo-as antes que possam
se instalar no ânimo dos leitores. Maria Lucia e Maria Cristina propõem
questões absolutamente pertinentes - que, por isso mesmo, despertam o
interesse - e as respondem com competência e clareza, impedindo que
se cristalizem como dificuldades insuperáveis.
A estratégia para a obtenção desses efeitos é simples e freqüentemente
recomendada, mas quase nunca utilizada ou eficientemente desenvolvida.
Tem-se aqui o estabelecimento de um diálogo com os leitores, que, embora
não possam se dirigir às autoras, têm suas expectativas e dúvidas por
elas adivinhadas. Não é um dom natural que lhes permite fazer isto, e
sim sua extensa e produtiva experiência na iniciação de jovens estudan
tes no domínio da pesquisa científica. O dom que cabe reconhecer em
ambas é o da generosidade com que agora estendem os benefícios dessa
experiência aos alunos e orientandos de outros professores.
O segundo mérito do livro são suas "quase obsessivas" sistema-
ticidade e completude. Não se trata de uma seleção de alguns ou de
muitos aspectos importantes das atividades implicadas na elaboração,
redação e apresentação de projetos de pesquisa, mas da explicitação e
discussão sistemáticas de todos eles. E isto, de forma seqüencialmente
hierarquizada, sem "idas e vindas" - nas quais o pesquisador iniciante
pudesse tropeçar - e sem lacunas. Quando algum aspecto técnico foge
ao escopo do livro, não é omitido ou escamoteado, o que configuraria
uma lacuna; é devidamente identificado, sendo o lçitor remetido a outros
textos cuja competência na questão as autoras avalizam.
Finalmente, o livro não é uma receita que graduandos, mestran-
dos e doutorandos possam seguir, sem pensar muito, para terem seus
projetos enquadrados nas "exigências da academia" O texto mostra
que a todo momento o pesquisador, seja ele iniciante ou sênior, tem de
tomar decisões. Também mostra que do adequado embasamento des
tas depende a qualidade do produto final. A definição dos objetivos da
pesquisa, a escolha da fundamentação teórica e o recorte metodológico
- cujo conjunto interdependente e articulado chamei, em outra parte,
de "construção do objeto de pesquisa" - resultam necessariamente de
processos decisórios conscientes por parte do estudante e, como bem
ressaltam as autoras, de seu orientador.
Falando em nome dos orientadores em psicologia - e também arris
cando fazê-lo pelos de áreas afins -, ratifico que este livro representa, no
que se refere à sua simplicidade e despretensão, uma contribuição das
mais importantes ao desenvolvimento da pesquisa e da pós-graduação
brasileiras, pois efetivamente se dirige àqueles que em breve serão por
isso responsáveis.
Entretanto, sei bem que, ainda éstudantes, eles não costumam ler
prefácios. No presente caso, fazem muito bem. Exorto, desse modo, que
vão logo ao que lhes deve interessar, e muito, nas próximas páginas.
Aproveitem a leitura. É tudo o que seus orientadores esperam.
CELSO - P E R E I R A DE SÁ
12
APRESENTAÇÃO
Este livro teve origem numa publicação nossa e de Patricia Ann Paine
(Seidl de Moura, Ferreira e Paine, 1998) e no convite da E du E R j para
que escrevêssemos uma obra mais detalhada e atualizada sobre o tema.
O Manual de elaboração de projetos de pesquisa surgiu da experiência das
três autoras como pesquisadoras e professoras de disciplinas sobre me
todologia de pesquisa, em cursos de graduação e pós-graduação, e da
constatação da dificuldade de alunos de psicologia em se interessar pela
atividade e se apropriar das ferramentas necessárias para exercê-la.
Sete anos mais tarde, ampliamos nossa experiência de orientadoras
e coordenadoras de grupos de pesquisa (em que novos pesquisadores
são formados), enriquecida com a participação em bancas e seminários
de avaliação de projetos em diversos cursos de pós-graduação em psico
logia pelo país e com a atuação como membros de comitês de avaliação
de instituições de fomento e periódicos científicos.
Essas experiências têm confirmado o que já era apontado por nós,
em 1998, quanto a deficiências ainda presentes na formação da atividade
científica, na graduação em psicologia, e a dificuldades dos alunos de
pós-graduação (e mesmo de pesquisadores iniciantes) na elaboração de
projetos de pesquisa. Realmente, não é um processo fácil. Ãcredita-se
que só se forma um pesquisador capaz de elaborar um bom projeto
numa relação de parceria com membros (tanto de graduação quanto de
pós-graduação) de um grupo, liderado por um pesquisador experiente
e produtivo. Assipi orientamos nossos alunos. Acreditamos, no entanto,
que parte dessa experiência pode ser organizada e compartilhada para
contribuir com o processo de formação. Como diz Beveridge,
14
um projeto, a definição do problema e a metodologia escolhida devem
ser conclusões lógicas a que se chega pelo acompanhar do argumento, Já
como narrativa, conta uma história —a história de um problema —e deve
envolver o leitor em sua trama. Uma questão importante é a da forma:
a narrativa e a apresentação do argumento devem ser agradáveis ao
leitor; a linguagem tem de ser clara, sem formas rebuscadas e obscuras;
o texto deve ser redigido visando à compreensão, e não com o objetivo
de confundir ou ofuscar o leitor com uma falsa, ou mesmo verdadeira,
erudição do autor.
Quanto ao prazer, às vezes fica comprometido pelas pressões de
tempo a que os pesquisadores de todos os níveis de experiência ficam
submetidos. No mestrado e no doutorado, há prazos cada vez menores,
estabelecidos pelas entidades de fomento. Com o início da carreira de
professor universitário, vêm os prazos institucionais e dos editais diversos.
Com ou sem prazos, no entanto, se um bom planejamento de tempo for
feito, é possível vivenciar a atividade de elaboração de projetos como
qualquer atividade de criação, com gratificação e energia.
A todos que desejam iniciar-se na atividade científica, nosso depoi
mento de que, embora a atividade apresente inúmeras dificuldades em
nosso país, vale muito a pena. Talvez seja útil reproduzir o que aponta
P. Brian Medawar em Conselho a um jovem cientista (1982, pp. 8-9):
15
algo mais. Lembro-me, a propósito, das dramatis personae na história
dos que desvendaram a estrutura do d n a . Seria efetivamente difícil
imaginar um grupo de pessoas tão diferentes umas das outras, no
que se refere à origem e educação, conduta, vocação, aparência, estilo
e propósitos, quanto James Watson, Francis Crick, Lawrence Bragg,
Rosalind Franklin e Linus Pauling.
Como podem ver, vocês poderão ser cientistas de vários tipos, mas
uma das primeiras competências que deverão ter é a de planejar uma
pesquisa, elaborar e redigir um projeto, que será avaliado em alguma
instituição acadêmica ou de fomento. Ajudar o desenrolar desse processo
é um dos objetivos desta obra.
Este livro está organizado em três partes. A primeira trata da
elaboração de projetos, em dois capítulos: "Decisões preliminares",
em que são apresentados temas como buscas bibliográficas, revisão da
literatura, definição do problema, formulação de hipóteses e definição
de conceitos, constructos, indicadores e variáveis; e "Definição da me
todologia", em que são abordadas a definição da amostra ou grupo de
participantes, a escolha das técnicas de coleta de dados e a definição
do tipo de análise dos mesmos. A segunda parte do livro é dedicada à
redação de projetos, tematizando a atividade em si e seus diversos itens.
A terceira, por sua vez, discute a apresentação de projetos - tanto oral
quanto escrita - a comitês de ética. Os vários capítulos trazem inúmeros
exemplos. Quando esses exemplos são retirados de projetos, a fonte é
indicada. Finalmente, são incluídas breves considerações finais, as re
ferências bibliográficas e os anexos.
16
PARTE I
E L A B O R A Ç Ã O DE
P R O J E T O S DE P E S Q U I S A
I
CAPÍTULO 1
D ECISÕES PR E L IM IN A R E S
E S C O L H A DO T E M A
20
por quem) está sendo publicado e trazer idéias sobre temas diversos.
Esse tipo de atividade não deve ser iniciado somente quando se neces
sita desenvolver um projeto. Faz parte da rotina de um pesquisador e é
fundamental para que ele possa manter-se atualizado.
Na realização de projetos de dissertações e teses, muitas vezes já existe
uma preferência por determinados temas, em geral desenvolvida desde a
graduação. Freqüentemente, há uma inclinação para esta ou aquela abor
dagem teórica, a fim de orientar a investigação. Os cursos variam em suas
exigências. Alguns demandam um anteprojeto para a seleção de candidatos;
outros, um plano de estudos. O primeiro caso é cada vez mais comum no
mestrado e ocorre na quase totalidade dos programas no nível de douto
rado. De qualquer maneira, algumas escolhas já devem ter sido feitas, e o
trabalho será facilitado se for dada continuidade a estudos já realizados
na monografia e/ou em projetos de que o aluno participou na graduação
(no caso do mestrado) ou na dissertação (no caso do doutorado).
Uma condição fundamental em todos os níveis, e que vai prever
em grande parte o sucesso da empreitada, é a escolha do tema ser
orientada por interesse e não por imposição ou falta de opção. A tarefa
de realizar um projeto de pesquisa e uma monografia, dissertação ou
tese é suficientemente árdua para os que estão motivados e orientados
pela busca do conhecimento. Pesquisar algo por que se tem pouco ou
nenhum interesse pode tomar-se frustrante e até mesmo insuportável.
Um problema comum, decorrente da falta de experiência ou de co
nhecimento da literatura na área, além de uma certa dose de onipotência,
é a escolha de temas amplos, de grande complexidade, que envolveriam
a realização de uma série de pesquisas e não de um trabalho apenas.
Exemplos nesse sentido são temas como fracasso escolar e violência; muito
já foi estudado a respeito. Para se obter algum sucesso numa pesquisa
sobre ambos, é preciso bastante cuidado na identificação de um problema
específico, o que requer diversas leituras do que já foi investigado e o
conhecimento das limitações das publicações na área.
Observa-se também, com relativa freqüência, que os alunos, es
pecialmente os do mestrado, desejam realizar um trabalho de grande
relevância científica e social, além de profundo significado em suas vidas.
Não estão conscientes de que o trabalho é apenas uma das investigações
do que se espera ser uma série na carreira de pesquisador que se inicia.
21
Como tal, ele tem o sentido de exercício e de ritual de iniciação; não
constitui uma contribuição significativa ao conhecimento da área, por
mais que isto seja difícil de aceitar. No caso do doutorado, embora o
grau de complexidade esperado seja maior, ainda assim trata-se de um
trabalho que inaugura formalmente a carreira de pesquisador, e não é
possível, nesse momento, a não ser em casos raros da história da ciência
(por exemplo, a tese de N. Chomsky), ter algum tipo de impacto.
Nessa etapa, assim como nas demais, o papel do(a) orientador (a)1 é
de extrema importância. A partir de sua experiência, ele é capaz de su
gerir temas pelos quais o aluno pode se interessar ejindicar leituras para
um contato inicial. Além disso, adverte para os problemas de escolhas
que podem levar a dificuldades por vezes intransponíveis e a becos sem
saída, ou à realização de trabalhos de grande pretensão, mas que pouco
contribuem para o desenvolvimento de quem os executa.
Cabe aqui um pequeno desvio no tema para falar de um aspecto
fundamental para o sucesso do planejamento de um bom projeto nessa
etapa da carreira: a escolha do orientador. Os estilos de orientar trabalhos
científicos de alunos de graduação ou pós são muito variados, dos mais
diretivos aos que deixam o aluno fazer sozinho suas escolhas. Todos •
podem ser adequados conforme as características do aluno e do profes
sor. O que é indispensável, no entanto, é a experiência do orientador no
estudo e na pesquisa do tema ou da subárea escolhida. O estudante deve
procurar conhecer as publicações do professor, consultando seu currículo
Lattes2, se ele o tiver (do contrário, já é um sinal de que não está engajado
como deveria na vida acadêmica). Uma boa estratégia é escolher um
orientador ativo e produtivo, alguém que publica regularmente na área
que investiga. O orientador, além de seu papel óbvio de acompanhar o
trabalho acadêmico, deve ser um mentor de entrada na vida acadêmica
nacional e, algumas vezes, internacional. Além da experiência e pro
dutividade, é preciso conversar, a fim de verificar a compatibilidade de
1 Para não cansar o leitor, a partir desse ponto será usado o termo orientador, enten
dendo-se tanto os professores quanto as professoras que orientam a realização de
projetos, e aluno, indicando ambos os gêneros.
2 O currículo Lattes é uma ferramenta do C N p q para apresentação dos currículos de
pesquisadores brasileiros em todas as áreas da ciência. Estão disponíveis on-line e
podem ser acessados por qualquer interessado. _
22
estilos e perspectivas. Duas pequenas histórias ilustram a importância
dessa escolha, que é recíproca.
Uma aluna de mestrado no exterior tinha um orientador com um
estilo não diretivo. Para ele, orientar era quase uma atividade terapêutica
(havia sido orientando de C. Rogers). As sessões de orientação dependiam
da iniciativa da aluna. Ele se sentava em silêncio, fumando seu cachimbo.
Numa ocasião, a aluna escolheu um instrumento para usar no estudo e
passou um mês pesquisando a respeito. Ao final desse tempo, concluiu
que não era apropriado. Ao levar essa conclusão ao orientador, ele disse
que já sabia. Perplexa, a aluna perguntou por que a deixara estudar um
mês o instrumento; ele respondeu que ela precisava descobrir sozinha.
Esta pode ser uma estratégia interessante, mas, com os prazos atuais de
cursos de pós-graduação no Brasil, talvez não seja a mais eficiente. Além
disso, causou muito estresse à aluna.
Outra história. Uma doutoranda escolheu um tema para pesqui
sar, sem qualquer experiência prévia (nem teórica nem empírica). Seu
orientador recomendou que passasse um mês no campo, observando a
atividade que pretendia investigar. Isto ainda não era coleta de dados,
mas um estudo preliminar, uma espécie de sensibilização, para que a
aluna pudesse formular questões mais pertinentes sobre o tema. Ao cabo
de um mês, a doutoranda voltou e o professor perguntou-lhe como havia
sido a experiência. Ela, muito ofendida, respondeu que não havia gostado
e que "não era atividade de uma doutoranda" ficar observando daquela
maneira. A continuação da conversa - na qual a aluna demonstrou o
pouco valor que atribuía ao dado empírico na ciência - levou o professor
a recomendar-lhe a procura de um novo orientador.
Esses dois exemplos pretendem dizer o seguinte: as escolhas podem
ser boas para a dupla, mas podem também não ser. Caso isto ocorra,
devem ser mudadas a tempo, não quando resta apenas um mês para
a defesa.
p r e p a r a ç ã o : c o n s u l t a à l it e r a t u r a
23
em todas as etapas de realização de um projeto e, mesmo, na preparação
que o antecede. Já foi dito que a escolha do tema exige certa familiari
dade com a literatura. Depois dessa escolha, a consulta à literatura será
novamente fundamental.
Para se preparar, um pesquisador precisa acompanhar o desenvolvi
mento do conhecimento. Isto é o que pensa Beveridge (1957). Para tanto, diz
ele, deve-se estar habituado a ler periódicos científicos, da mesma forma
que se lêem diariamente os jornais. O autor aponta que a edição de 1952
do World List ofScientifíc Periodicals listava mais de 50 mil periódicos. Por
seus cálculos, isso envolvia o equivalente a mais de 2 milhões de artigos
por ano, ou 40 mil por semana! Embora esses cálculos incluam todas as
áreas do conhecimento, pode-se imaginar que, quarenta anos depois,
mesmo considerando apenas a psicologia, só é possível acompanhar
uma pequena fração do que se publica nas línguas em que se sabe ler. *
Adair e Vohra (2003) confirmam essa suposição apresentando números
impressionantes. Segundo os autores, o número de resumos publicados ,
por algumas entidades de psicologia, como a American Psychological
Association ( a p a ), aumentou de 555 mil em 1957 para 3,7 milhões em 1997.
Os autores ainda citam Thorngate (1990), que estimou há quase quinze
anos que "os psicólogos estavam publicando artigos num ritmo de cem
por dia, mais ou menos um a cada quinze minutos" (p. 262).
Como fazer para superar esse impasse? É preciso saber analisar e
selecionar. Mais uma vez, é fundamental a familiaridade com a área e
a subárea nas quais se está interessado. Um pesquisador com experiên
cia, freqüentemente 0 próprio orientador, poderá indicar as publicações
importantes e indispensáveis, além de guiar a busca inicial. Esta é uma
das razões pela qual, como já mencionado, é extremamente importante
o processo de orientação na realização de monografias, dissertações
ou teses. O orientador deve ser alguém que estuda ou pesquisa o tema
escolhido pelo aluno. Só assim pode efetuar algum tipo de indicação
com segurança.
Para a realização da busca, é recomendável dirigir-se a bibliotecas.
É preciso identificar as melhores da cidade ou região, No Rio de Janeiro,
infelizmente, as condições das bibliotecas de psicologia, especialmente
no que se refere à disponibilidade de periódicos especializados inter
nacionais, não são ideais. Atualmente, as melhores são a do Centro de
24
Filosofia e Ciências Humanas da u f r j , no campus da Praia Vermelha, e a
da p u c . Encontram-se também periódicos e livros de áreas relacionadas
nas bibliotecas do Instituto de Medicina Social da u e r j , do i u f e r j e do
Instituto Fernandes Figueira. Fora do Rio, deve-se descobrir e explorar
■as boas bibliotecas, como a do Instituto de Psicologia da u s e
Localizadas as principais bibliotecas, a visita deve ser planejada.
A meta pode ser uma exploração inicial ou uma busca orientada por um
tema pelo qual já se começa a fazer uma opção. Conforme o objetivo, a
consulta aos catálogos é o próximo passo. Eles podem ser organizados por
assuntos ou autores. Geralmente, para os menos experientes, a consulta
por assuntos é mais útil nesse ponto do processo. Nem sempre o caminho
é linear e direto. De acordo com o tema, é preciso explorar subtemas ou
assuntos correlatos para se encontrar a literatura relevante.
Na etapa de consulta à literatura, são úteis as dissertações e teses,
que muitas vezes fazem boas revisões, assim como os artigos que têm
como objetivo a revisão dos estudos sobre um tema ou problema. Um
periódico em que esses artigos são publicados é o Annual Review of
Psychology. A revista American Psychologist também apresenta artigos
que analisam criticamente temas relevantes e por vezes polêmicos na
psicologia contemporânea. Uma de suas seções se dedica especificamente
à análise dessa natureza: a "Science Watch"
Além da busca por temas, é útil consultar nas bibliotecas as listas
de periódicos e localizar os que tratam do assunto ou os que foram in
dicados por pesquisadores consultados. O próximo passo é a consulta a
seus últimos números, ou aos números de um certo período, conforme o
tipo de trabalho que se tem em mente realizar (por exemplo, os últimos
cinco ou dez anos). Finalmente, o exame do conteúdo desses periódicos
pode levar à seleção de trabalhos sobre o tema.
Depois de localizados livros e artigos, é interessante proceder a
uma seleção do c[ue se vai retirar por empréstimo, ou do que se vai
reproduzir em xerox, lembrando sempre as leis de direitos autorais e os
limites para esse tipo de cópia. Muitas vezes já é adequado organizar
o material em fichas, uma para sua referência bibliográfica, outra para
o resumo tal como apresentado na revista, enriquecido de comentários
pessoais. Uma sugestão é criar um banco de dados no programa Access
ou similar. O trabalho e o tempo despendidos na criação de um sistema
25
próprio de organização de material consultado serão compensados com
menos dificuldade no momento de redação do projeto.
Paralelamente à pesquisa manual nas bibliotecas por meio da con
sulta de seus catálogos, pode ser realizada uma busca eletrônica em bases
computadorizadas de dados. Algumas bibliotecas dispõem de assinaturas
desses sistemas que armazenam enorme quantidade de informações e
que permitem ao usuário ter acesso a arquivos de dados, fazendo buscas
por assunto, uma ou mais palavras-chave, autores ou publicações. Tais
buscas podem ser limitadas por períodos, faixas etárias dos sujeitos,
língua em que o trabalho foi publicado etc. Antes, espes bancos estavam
disponíveis em c d -r o m , em bibliotecas que tinham sua assinatura; hoje
a consulta pode ser feita pela internet, em bibliotecas ou instituições. De
forma geral, várias dessas bases de dados estão disponíveis no portal de
periódicos da c a p e s , que será abordado adiante. Serão mencionadas as
bases de acesso livre e as de acesso restrito.
É importante ter consciência de que a pesquisa nas bases de dados
exige algum conhecimento da área e do tema de interesse, para que os
indexadores adequados possam ser usados. A informação está disponível
no sistema, mas o resultado de cada busca depende de que as indicações
fornecidas pelo pesquisador sejam apropriadas ao que se deseja inves
tigar. Além disso, algumas vezes só são incluídos trabalhos publicados
em inglês, ou nos Estados Unidos, ou que tenham resumos nessa língua;
assim, pode não ser apresentada a literatura publicada em português,
de interesse para o pesquisador.
Atualmente, apesar da insubstituível importância das bibliotecas,
outro meio cada vez mais difundido de busca de informações bibliográ
ficas é a internet. O vasto manancial de informações disponíveis na rede
mundial de computadores cria a necessidade de saber onde encontrá-las,
ou seja, onde buscar informações sobre informações.
Dois tipos de fontes de busca podem ser mencionados. O pri
meiro é § de sites que permitem a busca rápida e eficiente sobre um
determinado assunto. São chamados de índices, diretórios, search
engines. Os mais importantes são o AltaVista, o Yahoo! e o Google (há
o Google Scholar, com foco em trabalhos científicos). Existem também
sites brasileiros como Bookmarks e Cadê?. De modo geral, é necessá
rio fornecer palavras-chave e/ou frases, podendo-se também usar os
26
conectivos "e", "ou", "não". Em poucos segundos, aparece uma série
de sites em que foi encontrado o solicitado, em ordem de prioridade.
As buscas podem ser feitas tanto na rede como em newsgroups, num
determinado idioma ou em vários. Nem sempre os resultados são bons
na primeira pesquisa, e refinamentos são necessários. Por exemplo:
deseja-se pesquisar referências sobre o uso de drogas por crianças. Por
intermédio do browser (Netscape ou Explorer), é feita a conexão com
o AltaVista (http://www.altavista.com) e são procuradas as palavras
drugs e children. A pesquisa apresenta as primeiras dez referências em
que houve mais acertos dessas palavras e informa que ao todo foram
encontradas 1.806 referências.
O segundo tipo de ferramenta de busca é voltado especificamente
para publicações científicas. Nesse grupo, há ferramentas de acesso li
vre e de acesso restrito ou limitado. O que isso significa? As primeiras
podem ser acessadas de seu computador pessoal ou em bibliotecas das
instituições de ensino superior - sem nenhum custo para o usuário.
Como dizem Ribas e Ribas,
27
Plataforma Lattes - Base de dados criada pelo CNPq para indexar toda
a produção de pesquisadores brasileiros que possuem currículo
no sistema Lattes. Nela, referências de artigos, livros, dissertações,
teses e resumos de congresso, produzidos por pesquisadores em
todas ãs áreas da ciência, podem ser localizadas. O acesso se dá em
http://lattes.cnpq.br. Busca-se por palavras-chave, e o resultado é uma
lista de pesquisadores em cujos currículos há referências a trabalhos
sobre o tema, com links para os mesmos e para resumos do grupo de
pesquisa a que pertencem, se for o caso;
S c í e l o Brasil - Base de dados que oferece ferramenta de busca e aces
so a artigos científicos de alguns periódicos, como, por exemplo,
Psicologia: Reflexão e Crítica ( u f r g s ) , Estudos de Psicologia ( u f r n )
e Revista Brasileira de Psiquiatria. Pode ser acessada pela página
do c f p e pela Biblioteca Virtual de Psicologia. Seu endereço é
http://www.scielo.br;
Conselho Federal de Psicologia ( c f p ) - Permite acesso à Biblioteca Virtual
de Saúde, à Biblioteca Virtual de Psicologia e, por meio desta, ao
Scielo e ao Index-Psi Periódicos e Livros, além de outras bases de
dados. Também dá acesso a textos completos do periódico Psicologia:
Ciência e Profissão. O endereço é http://www.pol.org.br;
Biblioteca Virtual em Saúde ( b v s ) - Resulta da parceria entre a Rede Nacional
de Bibliotecas da Área de Psicologia, coordenada pelo Serviço de
Biblioteca e Documentação (s b d ) do Instituto de Psicologia da u s p
( ip u s p ) , o c f p e a Organização Pan-Americana da Saúde - repre
30
de pensamento e uma visão ampla do que está sendo estudado. Vale o
conselho de Francis Bacon: "Leia, não para contradizer ou negar, nem
para acreditar ou aceitar sem crítica, mas para ponderar e refletir".
É preciso ler sem se prender apenas aos detalhes dos artigos, mas
buscando compor uma visão da área, fazer analogias, detectar tendências,
identificar abordagens teóricas diversas, seus pontos de aproximação e
de divergência. Uma boa estratégia é, em primeiro lugar, ler o rèsumo e
ter uma idéia geral do artigo ou capítulo; depois, ler tentando identificar
os principais temas abordados e o argumento geral desenvolvido. Deve-
se tentar responder a perguntas do tipo: sobre o que é esse trabalho?
0 que o autor pretendeu argumentar? Como ele conseguiu isso? Com o
que concordo ou não? Por quê? Em que esse trabalho ajuda o desenvol
vimento do argumento de meu projeto?
Weiten (2002) cita o trabalho de Robinson (1970), que pode ser útil.
Segundo esse autor, cinco passos devem ser seguidos para aumentar a
eficiência da leitura para o estudo:
31
sé o projeto se situa na área de representações sociais, e a leitura de um
pesquisador iniciante focaliza apenas estudos orientados pela teoria de
S. Moscovici, não se tomará conhecimento de debates importantes na
área de representações sociais e na de psicologia social como um todo.
Pode-se mesmo ficar com a falsa idéia de consenso, o que não existe.
A consulta à literatura deve incluir estudos teóricos e investigações
empíricas. Muitas vezes, no exame das investigações, identifica-se mais
de uma abordagem teórica e vai-se aos autores citados para maior apro
fundamento. Daí, volta-se ao exame das investigações feitas, contrastando
os estudos com as explicações teóricas. Um exemplo pode ser observado
no trabalho de A. Ribas em seu projeto de tese e, posteriormente, na
própria tese. Interessada em estudar responsividade materna, a autora
realizou um levantamento inicial sobre o tema:
3Este trabalho já foi publicado: Ribas, Seidl de Moura e Ribas Jr. (2003).
32
Nesse ponto, se isto ainda não foi feito, é importante começar a
pensar em desenvolver um sistema para organizar o que está sendo lido,
Há os que ainda resistem ao computador. Recomenda-se superar o pro
blema, caso haja a intenção de seguir a carreira docente e de pesquisador.
Enquanto isso, sistemas de organização em fichas podem funcionar. lima
p o ssibilidade é usar fichas de tamanhos diferentes: uma para o resumo
do qup pstá gpndn lititx-com comentários devidamente diferenciados do
qnpp.síntese do texto: uma pamjdtacÕPS interessantes, que, se não forem
registradas quando lidas, não serão facilmente recuperadas; e outra para
Uma regra de ouro: não ler nada sem anotar a referência bibliográfica
completa, já no formato apropriado. Colocando as referências em fichas,
podê-sesêiêcíonar com facilidiaè as quê tiverem sido EfettvsnrterrteTisa-
das no texto, na. re d ãp õ lic r^ como estão êrfTftthas
separadas, elas podem ser dispostas em ordem alfabética.
Para quem já se apropriou do computádÔr como ferramenta, as
possibilidades se ampliam. É possível organizar o material_gr|ando
arquivos em Word as mfprênrias e preparar os resumos dos textos
lidos, prgp í n^ separadosltjmk..
'alternativa mais sofisticada é criar bancos de dados usando o utilitário
Access. Cada um pode experimentar e perceber a forma com a qual se
sente mais confortável,
O método de organização é pessoal, porém, seja qual for, é fun
damental para um acesso eficiente ao material consultado e para sua
utilização em textos de natureza diversa. Se o método for eficaz, pode
‘ acompanhar o pesquisador em súa trajetória acadêmica, permitindo a
construção de um acervo valioso. Uma das autoras deste livro criou um
sistema de fichas quando realizou seu mestrado. Tal sistema continuou
a ser usado durante dezessete anos, inclusive em seu doutorado. Ao
se preparar para ejscrever uma tese para concurso de professor titular,
o acervo construído foi de inestimável valor. Muitos livros e artigos
clássicos, lidos mais de uma década antes, não tiveram de ser relidos;
estavam fichados, e a informação sobre eles pôde ser facilmente recu
perada e citada.
Outro aspecto importante no processo de consulta (e, posterior
mente, de revisão) da literatura é o conhecimento de outras línguas.
33
A necessidade varia de uma subárea da psicologia para outra. Em algumas,
a literatura mais importante e a anglo-saxã, e é preciso desenvolver a
capacidade de ler em inglês. Em outras, os trabalhos mais importantes
são em francês, e a proâciênci^em leitura nessa língua é fundamental.
O ideal seria dominar am b ^as línguas mais a alemã, único idioma em
que estão disponíveis importantes trabalhos em psicologia, como a obra
Psicologia dos povos, de W. Wundt.
E bom levar em conta que ler constantemente é essencial para fazer
pesquisa. No entanto, como afirma Medawar,
# • I
# cònh^imento livresco em demasia pode causar dano e eonfinamento
f ® imaginação. Mesmo porque a meditação incessante sobre a pesquisa
alheia e, com freqüencia, um substituto psicológico da pesquisa, do
mesmo modo que a leitura de ficção científica pode estar no lugar do
romance na vida real (1982, p.
R E V ISÃ O DA L IT E R A T U R A
34
Nas monografias, não se espera que a revisão seja exaustiva - atu
almente, isto é impossível, dado o volume de publicações. Nos projetos
de dissertações e, especialmente, de teses, já é fundamental uma ampla
revisão, o que, todavia, costuma ser feito de maneira automática e bu
rocrática, sem a compreensão de seus propósitos.
Um efeito disso é a falta de visão mais ampla e crítica ou do pano
rama da área específica que se pretende investigar. Desse modo, como
será discutido, observa-se a redação de capítulos de revisão da literatura
que consistem numa colagem não articulada de resumos desconexos de
artigos diversos, que foram identificados na revisão feita. Não são discu
tidos os textos levantados, não é realizada uma análise dos mesmos e das
implicações de seus resultados para a teoria em que se apóiam, nem são
discutidas as lacunas do conhecimento na área que justificam o estudo
proposto. Ou seja, a revisão da literatura não atinge seus objetivos. Outro
equívoco comum é identificar alguns estudos na busca inicial realizada,
selecionar os que apóiam as hipóteses ou pressupostos do trabalho e
usá-los como uma espécie de argumento de autoridade para justificar o
trabalho realizado e/ou suas conclusões.
Quando um tema é escolhido e a literatura, consultada, quando se
começa a tomar contato com pesquisadores experientes na área e as pri
meiras idéias para um projeto de pesquisa são esboçadas, a primeira etapa
do processo está concluída. A partir desse momento, a revisão sistemática
da literatura vai levar à seleção de um problema específico, ajudar em sua
delimitação, mostrar sua relação com pesquisas realizadas anteriormente
e colaborar na seleção de técnicas para sua investigação.
Segundo Hitchcock e Hughes, a revisão de literatura
35
não justificada do que já foi amplamente estudado, inconsistência teórica,
inadequação metodológica e desconhecimento de controvérsias importan
tes. Por exemplo, sem uma revisão ampla e crítica da literatura, pode-se
assumir uma posição radical de modularidade da mente, ignorando um
debate contemporâneo e evidências de processamento de domínio espe
cífico, mas também de processamento central. Uma pesquisa empírica
em cognição deve levar em conta esse debate, situar-se nele e discutir
seus resultados à luz dos argumentos que o sustentam.
Como fazer a revisão? Este é um processo muito interessante e
nada mecânico. Exige algum conhecimento inicial da área, curiosidade
e um pouco de capacidade investigativa. Quando o tema é específico, a
revisão pode ser mais focalizada e torna-se mais fácil. Quando o tema
é complexo e multifacetado, pode exigir aproximações e correções de
rumo para que se obtenham bons resultados.
De todo modo, a revisão da literatura é uma busca sistemática, a
fim de mapear o que se tem pesquisado na área. Não é uma fase discreta,
independente da pesquisa. A integração do material levantado deve
permitir uma análise do que se tem denominado "o estado da questão"
sobre um determinado tema ou problema de pesquisa, revelando lacunas
que justificam o estudo que se pretende realizar.
A amplitude da busca pode variar conforme os objetivos do trabalho.
Pode restringir-se aos estudos brasileiros dos últimos cinco anos, incluir
os estudos internacionais de um período ou ser dirigida para uma década
em particular, como a de 1960. Não há possibilidade de ser exaustiva,
mas deve oferecer uma boa amostra do que se tem publicado sobre o
assunto e permitir a identificação das principais questões, tendências e, se
for o caso, controvérsias. Assim, a revisão, em vez de exaustiva, deve ser
seletiva e sistemática, sem ser, no entanto, inadequadamente tendenciosa,
como na situação mencionada, em que se usam os estudos selecionados
apenas para apoiar o ponto de vista do pesquisador. Além disso, nos três
tipos de projeto que vêm sendo discutidos aqui (monografia, dissertação
e tese), esperam-se escopos diversos.
As ferramentas para a revisão da literatura são as mesmas já discuti
das, mas deverão ser mais dirigidas e guiadas pelo conhecimento inicial
do tema. O resultado dessas buscas pode ser frustrante e insatisfatório.
A s vezes, ele se dá graças ao uso de palavras-chave não adequadas ou
36
que mudaram ao longo do tempo. Outras vezes, refletem tendências
na pesquisa do tema, Uma aluna de doutorado vem estudando a fala
materna dirigida a bebês em fase pré-lingüística desde a graduação.
Ao longo do tempo, já aprendeu que não há muitos estudos recentes
sobre o tema - bastante pesquisado em décadas anteriores (especial
mente de 1970 a 1990) - e que os termos mudam: de maternal input para
maternal speech, por exemplo. Apesar disso, fica ainda frustrada ao ter
pouco retorno de algumas tentativas de busca no Psyclnfo. Algumas
bases de dados e ferramentas de busca têm um Thesaurus, sendo útil
consultá-lo.
D E F IN IÇ Ã O DO P R O B L E M A , ID E N T IF IC A Ç Ã O D AS
Q U ESTÕ ES DE P E SQ U ISA E FO R M U LA Ç Ã O DE H IP Ó T E S E S 5
37
Enfim, num determinado instante, chega-se à definição de um proble
ma de pesquisa a ser tratado no projeto, A consulta e a revisão sistemática
da literatura, se bem orientadas, levam naturalmente à identificação de
um problema específico. Na tese, espera-se originalidade. Isto significa
que o problema deve corresponder a uma lacuna no conhecimento da
área e que o trabalho realizado é inédito. Na"dT5ürtação, assim como
na monografia, isto não_éesperadc| No entanto, a revisão da literatura
permite que se identifiquem questões interessantes a serem investigadas.
Nem sempre o alvo da pesquisa necessita ser um problema específico.
Por vezes, o exame da literatura revela que são rijecessários estudos
exploratórios, a fim de definir problemas específicos para pesquisas
posteriores.
O processo de identificação de problemas, como quase todas as
etapas da pesquisa, não é linear e envolve um questionamento constante,
um diálogo interno do aluno-pesquisador e conversas com seus colegas
e o orientador. Dessa maneira, pode-se restringir um foco por demais
amplo, esclarecer idéias vagas e confusas, transformar impressões em
metas sistematizadas e abrir mão de alguns objetivos, mesmo que pro
visoriamente, para a realização de um bom trabalho.
Algumas subetapas do processo de descoberta de questões de pes
quisa consistem em: escolher um tema geral; discutir com o orientador e
outros colegas; buscar a literatura e delinear o contexto geral do estudo
desse tema e sua importância na área; discutir com o orientador e ou
tros professores que se dediquem ao estudo do tema; procurar outros
pesquisadores, identificando-os na literatura (em buscas na base Lattes),
assistindo a congressos ou examinando seus livros de anais; identificar
abordagens teóricas relevantes e seus pressupostos, estudá-las e optar por
uma fundamentação para orientar o trabalho; realizar uma revisão mais
sistemática da literatura, identificando tendências, debates contemporâ
neos e controvérsias, influências e preferências metodológicas; refletir e
discutir; identificar questões de estudo, analisar sua complexidade e a
viabilidade de estudá-las no tempo previsto; submetê-las a pessoas mais
ékperientes no estudo da área; refiná-las e definir o problema a ser estu
dado e os objetivos ou hipóteses da pesquisa, segundo sua natureza.
Pode-se dizer que a capacidade de identificar problemas de pesquisa
já é uma pista do provável sucesso do pesquisador. Beveridge observa:
38
O estudante com algum talento real para pesquisa geralmente não
tem dificuldade para encontrar um problema adequado, Se no curso
de seus estudos ele não percebeu lacunas no conhecimento ou incon
sistências, ou não desenvolveu algumas idéias próprias, não promete
muito como pesquisador (1957, p. 13).
39
A revisão da literatura Indicou que os diversos aspectos aqui discutidos têm sido investi
gados, mas não são considerados de forma articulada. O esquema a seguir dá uma Idéia
dessas articulações.
1
(yèt'S òc loecon ôm ico
|
diálogo interativo no contexto específico da.brincadeira -
40
claramente definidos no projeto, para que se possa, depois de realizada
a investigação, avaliar se foram plenamente atingidos.
Seguem alguns exemplos:
Analisar a relação entre as características da fala materna aos cinco e vinte meses e o
desenvolvimento lingüístico do bebê aos vinte meses, avaliado por melo do MacArthur
- Inventário do desenvolvimento de habilidades comunicativas que será preenchido
pela mãe e pela análise de sua fala registrada na sessão de observação da brincadeira
(Pessôa, 2003, p. 47).
Tendo em vista essas considerações, este projeto tem como objetivos:
41
investigação científica. Segundo Beveridge, a incapacidade de abandonar
idéias estéreis é característica das mentes menos criativas. Uma segunda
recomendação é ter disciplina intelectual ao subordinar idéias a fatos; para
isso, é necessário não esquecer que as hipóteses não são fatos, mas meras
suposições. O autor sugere como estratégia a formulação de hipóteses
múltiplas ou de uma sucessão de hipóteses. A terceira dica é não acolher
automaticamente qualquer conjectura que venha à mente. Deve-se sub
metê-la, mesmo sendo uma hipótese provisória, a uma análise cuidadosa
antes de aceitá-la. Ainda conforme Beveridge, concepções que se mostram
errôneas devem ser abandonadas. Em síntese, adverte;
I
Precisamos resistir à tentação de nos tomarmos muito apegados às
nossas hipóteses e buscar julgá-las objetivamente, modificando-as
ou descartando-as sempre que evidência contrária for disponível.
É necessário vigilância para impedir que nossas observações e inter
pretações sejam tendenciosas em favor da hipótese (1957, p. 71).
42
H ipóteses co rrelacio n ais:
» As pessoas mais inteligentes costumam ser mais criativas;
■ Quanto maior a idade dos parceiros ao se casar, menor a probabilidade de que o
casamento termine em divórcio;
■ Homens com atitudes mais preconceituosas em relação às mulheres tendem a endossar
mais fortemente a prática de violência doméstica contra elas.
H ipóteses com p arativas:
■ Crianças provenientes de lares desestruturados demonstram índices de auto-estima
menores que crianças provenientes de lares estruturados;
« Alunos submetidos a um método de ensino audiovisual apresentam melhor rendimento
num curso de línguas que os alunos submetidos a um método oral;
« Pessoas idosas têm atitudes mais negativas em relação ao aborto que pessoas mais
jovens.
43
D E FIN IÇ Ã O DE C O N C E IT O S,
C O N S T R U C T O S , V A R IÁ V E IS E IN D IC A D O R E S
44
a abordagem teórica considerada. No quadro abaixo, são apresentados
alguns exemplos: ^
í?'Quádfc
‘««6* -i-f_■* •
v a r iá v e is : c o n c e it u a ç ã o e c l a s s if ic a ç ã o
45
■? * ' jf- *&■*■>r- */ t - ' ""
Quadro-5.-Exemp os ae definições operacionais
i' .
■ '
_____________ . . - t ___ _ T K . ■>-____ .
Constructo: fru stração
■ Definição operacional: fenômeno provocado pela situação de impedir um grupo de
crianças de ir ao pátio na hora do recreio após terem sido avisadas de que o recreio
seria no pátio.
C o nstructo: esq u iva de obstáculos
• Definição operacional: fenômeno provocado pela situação de solicitar a pessoas cegas
que andem numa sala com biombos colocados para servir de obstáculos.
C onstructo: agressão
» Definição operacional: número de socos e pontapés que uma criança dá em outra, da
equipe adversária, durante um jogo entre dois times.
■ Indicadores: socos e pontapés.
C onstructo: inteligência
V Definição operacional: número de respostas corretas obtidas no teste de Raven.
■ Indicador: respostas dadas ao teste.
46
papel que desempenham na investigação, isto é, de sua localização
na relação causai, A variável independente é a que ocorre primeiro
no tempo, é a causa, aquela que o pesquisador manipula, expondo os
participantes da pesquisa a determinados atributos dessa variável. Já
a variável dependente associa-se ao efeito dessa manipulação, ou seja,
é o resultado que se observa no indivíduo após ele ser exposto à vari
ável independente, ocorrendo depois desta. A variável extrínseca, por
fim, refere-se aos efeitos indesejáveis, constituindo, portanto, qualquer
outra variável, além da independente, que possa afetar a dependente.
Os efeitos potenciais dessas variáveis devem ser controlados para que
não cheguem a afetar os resultados da relação causai de interesse do
pesquisador.
Numa pesquisa sobre os efeitos do tipo de problema na memori
zação, por exemplo, o tipo de problema seria a variável independente,
com os problemas numéricos e verbais constituindo seus dois atributos.
A memorização seria a variável dependente, e a experiência anterior com
o tipo de problema, uma das variáveis extrínsecas a serem controladas.
Os leitores interessados em se aprofundar nas técnicas disponíveis para
o controle das variáveis extrínsecas em pesquisas experimentais poderão
consultar o livro de Cozby (2003), qué apresenta uma análise detalhada
sobre tais questões.
Nas pesquisas destinadas a investigar relações não causais entre
variáveis (pesquisas correlacionais e ex post fado), os autores costumam
denominar o fenômeno a ser explicado como "variável dependente" e as
razões trazidas para defini-lo como "variável independente". Tal denomi
nação não implica, entretanto, o fato de que as variáveis independentes
consideradas possam ser tratadas como causas das variáveis dependentes,
já que nessas situações não há a manipulação da variável independente,
tampouco a possibilidade de verificar sua ocorrência anterior à variável
dependente em termos temporais.
No projeto de investigação, é recomendável que todas as variáveis
envolvidas sejam identificadas. Quando se relacionarem a conceitos
mais simples e diretamente observáveis, não é necessário que sejam
constitutiva e operacionalmente definidas, como é o caso, por exemplo,
das variáveis sexo, idade, estado civil etc. No entanto, todas as variáveis
associadas a constructos devem ter sua definição constitutiva e opera-
47
cional explicitada. O processo de especificação das variáveis e definições
de um projeto, conduzido após a formulação das hipóteses da pesquisa,
é exemplificado abaixo:
Exem plo 1:
» Problema: a exposição à violência Interfere na agressividade de crianças?
» Hipótese comparativa: crianças expostas a um filme violento apresentarão maior
agressividade que crianças não expostas a esse filme.
» Variável independente: exposição à violência.
* Definição constitutiva: experiência vivenciada mediante o contato com modelos
que utilizam a força física e o poder para subjugar os mais fracos.
> Definição operacional: fenômeno provocado pela situação de colocar as crianças
para verem o filme X.
» Variável dependente: agressividade.
» Definição constitutiva: atos destinados a causar intencionalmente danos físicos
ou psicológicos a outra pessoa.
* Definição operacional: número de ataques verbais dirigidos a um colega durante
uma brincadeira realizada imediatamente após a exibição do filme.
Exem plo 2;
» Problema: a motivação para o trabalho se associa à produtividade?
» Hipótese correlacionai: quanto maior o grau de motivação para o trabalho, maior o
grau de produtividade. '
» Variável independente: motivação para o trabalho.
, » Definição constitutiva: estado interno caracterizado por uma força que impulsio
na o indivíduo a agir de modo a alcançar as metas de trabalho que lhe são
colocadas,
» Definição operacional: resultado obtido numa escala destinada a avaliar a mo
tivação para o trabalho.
» Variável dependente: produtividade.
» Definição constitutiva: desempenho apresentado em situações de trabalho ao
longo de um determinado período.
» Definição operacional: número de peças fabricadas sob a responsabilidade do
indivíduo durante uma semana.
48
CAPÍTULO 2
D E F IN IÇ Ã O DA M ETO D O LO G IA
D EFIN IÇ Ã O DOS P A R T IC IP A N T E S
os^e^am ostrasVí/'^'^^ -V .
Coljaao & Lucio,;1998) . * ■ ■;
2) Tipos: 2) Tipos:
■ Amostra aleatória simples; a Amostras acidentais:
■ Amostra aleatória estratificada; ■ Amostras intencionais;
■ Amostra aleatória por conglomera u Amostras por cotas.
dos.
3) Conclusões: 3) Conclusões:
■ Ceneralizáveis à população. 11 Não-generalizáveis à população.
50
AMOSTRAS PRO BA BILÍSTICA S
51
elemento individual, mas num conjunto de elementos (conglomerado),
como bairros, escolas, residências, fábricas etc. Desse modo, a listagem
da população é constituída por conglomerados selecionados mediante
procedimentos semelhantes aos utilizados na amostragem aleatória sim
ples. Tal procedimento pode ser útil nas situações em que não é possível
obter uma listagem dos elementos individuais da população, mas apenas
de conglomerados. Assim, num levantamento sobre a opinião de donas
de casa a respeito de determinado produto, por exemplo, pode-se obter
uma listagem de residências, selecionar aleatoriamente as casas a serem
visitadas e, por fim, entrevistar a pessoa que mora em cada uma das
residências selecionadas para compor a amostra.
As amostras probabilísticas são as únicas que permitem a previsão
do tamanho do erro de estimativa em que o pesquisador incorre ao re
alizar generalizações acerca dos resultados obtidos na amostra para a
população da qual ela se originou. Por isso, apenas essa modalidade de
amostra oferece a capacidade potencial de assegurar a representativida-
de da população (Shaughnessy & Zechmeister, 1994). No entanto, para
que tal objetivo seja atingido, é imprescindível a utilização de tabelas
e fórmulas de cálculo que indiquem o tamanho de amostra apropriado
para populações de tamanhos variados, levando em consideração a
magnitude do erro de estimativa em que o pesquisador deseja incorrer.
Mais detalhes sobre o assunto podem ser encontrados em Bunchaft e
Kellner (1997).
A M O ST R A S N Ã O -P R O B A B ILÍST IC A S
52
As principais amostras não-probabilísticas são as acidentais, in
tencionais e por cotas. As amostras acidentais, também chamadas de
amostras de conveniência, caracterizam-se por utilizar pessoas que
se dispõem voluntariamente a colaborar no estudo, respondendo aos
instrumentos de coleta de dados propostos pelo pesquisador. Assim, no
caso da pesquisa a respeito das afitudes de estudantes sobre o aborto,
o pesquisador poderia abordar os alunos em suas salas de aula ou nos
corredores e pedir àqueles que desejassem colaborar na pesquisa que
respondessem a um questionário sobre o assunto.
Já as amostras intencionais utilizam pessoas que, na opinião do
pesquisador, têm, a priori, as características específicas que ele deseja
ver refletidas em sua amostra. Nesse sentido, ele procura dirigir-se a
locais onde sabe que irá encontrá-las, como, por exemplo, um jogo de
futebol - se pretende estudar as opiniões de torcedores sobre uma nova
lei para o esporte - ou um clube de jazz - para encontrar indivíduos que
se disponham a falar sobre os rituais de socialização utilizados pelos
freqüentadores.
De modo semelhante ao processo de amostragem estratificada, a
amostragem por cotas implica a obtenção de uma amostra que reflita a
proporção em que certos subgrupos ocorrem na população. Ela difere,
entretanto, da primeira por não ser aleatória, isto é, a seleção das pessoas
necessárias ao preenchimento de cada cota é feita por conveniência. Um
pesquisador que deseja realizar uma pesquisa sobre convivência familiar \
numa amostra de executivos e tem conhecimento de que a população de
executivos de empresas sediadas no Rio de Janeiro distribui-se em 70%
de homens e 30% de mulheres, por exemplo, poderá compor sua amostra
com 210 homens e 90 mulheres que se disponham voluntariamente a
colaborar com a pesquisa.
As amostras não-probabilísticas são freqüentemente usadas na psi
cologia e nas demais ciências humanas e sociais, em função de que nem
sempre o pesquisador dispõe de uma listagem da população, condição
indispensável à utilização de amostras probabilísticas. Em outras circuns
tâncias, ainda quando tal listagem pode ser reunida, ela se mostra muito
grande e dispersa (como no caso das pessoas residentes em um estado ou
país), o que tende a aumentar excessivamente os custos da investigação.
Acrescente-se a isto o fato de que, na maioria das vezes, o foco de interesse
53
do pesquisador é a investigação de relações entre variáveis, não a descrição
acurada de determinadas características de uma população mediante a
investigação e generalização do modo pelo qual tais características ocorrem
numa amostra representativa daquele conjunto de indivíduos.
Desse modo, na etapa de definição do tamanho e do tipo de amostra,
o pesquisador deve se perguntar se a representatividade da amostra é
ou não crucial para a realização de seus objetivos. Caso a resposta seja
afirmativa, ele deverá adotar procedimentos que garantam tal repre
sentatividade. Por outro lado, se a resposta for negativa, poderá usar
uma amostra de conveniência de tamanho compatível com o método
de coleta de dados que esteja usando. Nessas ocasiões, a consulta aos
tamanhos de amostras costumeiramente adotados em estudos correlatos
pode auxiliar a decisão a ser tomada.
E S C O L H A D A T É C N I C A DE C O L E T A DE D A D O S
54
O conhecimento das principais características, vantagens e limitações de
cada uma delas é de fundamental importância para a decisão sobre a que
se mostra mais apropriada à mensuração dos constructos contemplados
nas questões e/ou hipóteses da pesquisa.
OBSERVAÇÃO
55
como base o pressuposto de que vivenciar a perspectiva de membro do
grupo é fundamental para a compreensão de seus aspectos intrínsecos,
o observador assume um determinado papel no grupo e participa das
atividades que o caracterizam (Adler & Adler, 1994). A observação não-
participante, ao contrário, caracteriza-se pelo não-envolvimento do obser
vador com o contexto a ser observado, isto é, ele realiza suas observações
a distância, sem participar como membro da situação.
Como na observação participante existe um estreito contato entre
os indivíduos pesquisados e o observador, este deve utilizar estratégias
para fazer com que os outros se sintam à vontade em sua presença.
Essas envolvem o estabelecimento de um bom rapport com a comunidade
ou grupo a ser observado e levam as pessoas a agir com naturalidade,
de modo que o pesquisador possa observar e registrar adequadamen
te as informações necessárias (Bernard, 1995). O grau de participação,
contudo, pode variar desde o desempenho de um papel mais periférico
dentro do grupo, em que o observador interage com os demais membros
sem se envolver nas atividades centrais à definição de uma pertença
grupai, até o desenvolvimento de uma identidade grupai, em que o
observador passa a adotar os valòres e metas que definem a pertença
ao grupo (Adler & Adler, 1994).
De acordo com Shaughnessy e Zechmeister (1994), o fato de o obser
vador participante ter as mesmas experiências dos indivíduos em estudo
permite-lhe realizar importantes reflexões a respeito desses indivíduos e
dos grupos aos quais eles estão afiliados. Entretanto, o observador deve
estar atento para não se identificar demasiadamente com as pessoas ou
situações observadas, pois, caso isso aconteça, corre o risco de perder
a objetividade e o distanciamento necessários à elaboração de observa
ções válidas e acuradas. Nesse sentido, Bernard (1995) recomenda que
todos os dias o observador se abstraia da imersão cultural em que esteve
inserido, de modo a intelectualizar e refletir sobre o que aprendeu com
suas observações naquele dia.
Outro problema relacionado à observação participante diz respeito
à influência que ela exerce no comportamento dos sujeitos observados.
Como nesse tipo de procedimento o observador interage com as outras
pessoas, toma decisões e participa de atividades, agindo como se fosse
um membro do grupo, tal participação pode fazer com que os demais
56
membros passem a ter comportamentos que não teriam caso o observador
não estivesse lá. Esse efeito, entretanto, é difícil de ser avaliado, embora
tenha maior probabilidade de ocorrer nas situações em que o grupo em
observação seja pequeno ou as atividades do observador sejam muito
proeminentes dentro do grupo (Goodwin, 1995).
O uso da observação participante remete, ainda, a questões éticas
associadas à invasão da privacidade dos participantes. Desse modo, o
pesquisador deverá tomar os cuidados necessários para que suas obser
vações não causem danos às pessoas observadas. Assim, a observação
realizada sem o consentimento dos participantes, mas em locais públicos,
é considerada eticamente mais correta do que a efetuada em espaços
privados (Goodwin, 1995).
57
A adoção de um registro sistemático de certos comportamentos/
eventos ou de uma descrição compreensiva de todas as situações nas
quais eles ocorrem dependerá dos objetivos do pesquisador e das questões
de pesquisa ou hipóteses que se pretende testar. Na primeira situação,
os ganhos quanto à validade e fidedignidade são maiores, enquanto na
segunda ganha-se em profundidade e abrangência.
Nas duas modalidades, o observador poderá ainda adotar a postura
de revelar aos participantes da pesquisa que eles serão observados ou
de realizar suas anotações sem que eles saibam que estão sendo acom
panhados. No entanto, o fato de as pessoas saberem que estão sendo
observadas pode levá-las a alterar seu comportamento (reatividade),
cabendo ao observador decidir o quanto isso poderá interferir nos obje
tivos da pesquisa e optar, se for o caso, pelo uso de técnicas não-reativas
(Goodwin, 1995) que resguardem os princípios éticos.
Embora, para fins didáticos, seja comum a distinção dos métodos
observacionais em termos de seu grau de estruturação (sistemática versus
assistemática) e em função da interação entre observador e observado
(participante versus não-participante), o que costuma ocorrer, na práti
ca, é a junção dessas variantes num tipo de observação assistemática e
participante ou sistemática e não-participante. Em outras palavras, o
observador participante prefere adotar abordagens menos estruturadas,
isto é, costyma converter-se no próprio instrumento de observação, ao
passo que o observador não-participante tende a privilegiar as estratégias
mais estruturadas, optando, assim, por utilizar instrumentos padroni
zados na coleta de dados.
58
consistem fundamentalmente na descrição por escrito de todas as
manifestações (verbais, ações, atitudes etc.) que o pesquisador observa
no sujeito, as circunstâncias físicas que se considerem necessárias e
que rodeiam a este etc. Também as anotações de campo devem regis
trar 'as reflexões' do investigador que surjam em face da observação
dos fenômenos. Elas representam ou podem representar as primeiras
buscas espontâneas de significados, as primeiras expressões de ex
plicações (1995, pp. 154-5).
59
que orientaram a coleta. É fundamental que os registros de campo re-
únam informações que atendam aos objetivos da pesquisa. Em síntese,
a observação assistemática ocorre em tempo real e de forma contínua,
sem que haja prévia especificação dos elementos a serem observados,
e fornece, como resultado, descrições acerca dos aspectos verbais, não-
verbais e espaciais da conduta, bem como impressões do observador a
respeito dos fenômenos observados (Fernández-Ballesteros, 1996). Segue
um exemplo:
I íSt^QuadrSsí « M S ,
60
empíricas disponíveis a respeito de sistemas observacionais adotados
em estudos anteriores similares. -
Desse modo, o processo de observação sistemática inicia-se com
a escolha da unidade de observação, isto é, do que observar. Segundo
Fernández-Ballesteros (1996), isso pode constituir comportamentos in
dividuais e relações ou interações entre duas ou mais pessoas, ou entre
o indivíduo e seu meio. A definição de tais unidades deve se apoiar nos
pressupostos teóricos que servem de referencial à pesquisa, bem como
em estudos-piloto previamente realizados com o objetivo de testar as
categorias de observação a serem utilizadas no trabalho definitivo.
Em seguida, o pesquisador deve escolher a unidade de medida,
definindo se as unidades de observação serão registradas em termos
de sua ocorrência, freqüência ou duração. Depois, o pesquisador deve
proceder à elaboração de um roteiro ou catálogo do qual façam parte
todos os comportamentos ou padrões de interação que sejam relevantes,
acompanhados de uma descrição clara e precisa dos mesmos. Quando
o pesquisador não dispõe de informações suficientes sobre o fenômeno
em estudo, pode realizar observações assistemáticas prévias que lhe
permitam estabelecer descrições mais precisas acerca dos diferentes
aspectos que o caracterizam (Fernández-Ballesteros, 1996).
Os roteiros de observação são compostos, portanto, de uma série de
comportamentos ou padrões de inter-relações comportamentais, classi
ficados em categorias mais amplas e acompanhados de uma descrição
precisa, selecionados de forma racional e apriorística por serem catego
rias teoricamente relevantes aos objetivos do estudo. No quadro 10, na
página seguinte, há um exemplo de definição de categoria.
Na maioria das ocasiões, o pesquisador não tem condições de ob
servar os comportamentos de interesse em todos os momentos e locais
em que eles se apresentam, bem como em todas as pessoas nas quais se
manifestam. Nesse Isentido, a decisão a ser tomada consiste na definição
das amostras de tempo, situações e indivíduos a serem observados.
Ao definir a amostragem de tempo, o pesquisador deve decidir
a duração de cada observação, o número de vezes em que ela deve se
realizar e o intervalo de tempo entre cada uma. No que diz respeito
à amostragem de situações, o investigador pode optar entre observar
apenas os comportamentos emitidos numa dada situação ou observá-los
61
Interação:
0 início de uma interação é caracterizado por um dos parceiros ao dirigir um com
portamento social (atividade) em relação ao outro e ser respondido por ele com um
comportamento social (atividade), num intervalo de cinco segundos. O fim do episódio
de interação caracteriza-se por um ou por ambos os parceiros deixarem de dirigir com
portamentos sociais (atividades) em relação ao outro, num intervalo de tempo maior
que cinco segundos. Não são consideradas interações cujo tempo de duração seja igual
ou Inferior a cinco segundos. Assim, o tempo mínimo para caracterizar um episódio de
interação é de seis segundos. I
62
realizar uma pré-observação assistemática que lhe possibilite delimitar
tais critérios com maior precisão (Fernández-Ballesteros, 1996). Os regis
tros obtidos por meio da observação sistemática podem ser submetidos
a análises estatísticas, que permitirão ao pesquisador responder às
questões da pesquisa e interpretar os dados à luz do referencial teórico
que orientou o estudo. Abaixo, segue um exemplo:
1) Situação de pesquisa:
Um pesquisador deseja investigar se existem diferenças de gênero no comportamento
de risco, com o intuito de testar a hipótese de que os homens tendem a correr mais ris
cos que as mulheres. Para tanto, resolve observar a conduta de homens e mulheres ao
atravessarem a rua diante de um sinal de trânsito.
2) Processo de o b servação :
» Escolha da unidade de observação: comportamento de atravessar a rua;
» Definição da unidade de medida: freqüência de emissão de cada categoria de obser
vação;
» Elaboração do roteiro de observação (categorias a serem observadas):
» Atravessar com total segurança: atravessar com o sinal aberto (verde) para os
pedestres;
» Atravessar com segurança moderada: atravessar com 0 sinai fechado (vermelho)
para os pedestres, mas sem carros à vista;
» Atravessar com insegurança: atravessar com 0 sinal fechado (vermelho) para os
pedestres e no meio dos carros;
> Tentar atravessar com Insegurança: começar a atravessar com 0 sinal fechado
(vermelho) para os pedestres, e no meio dos carros, e retornar à calçada até que
0 sinal abra para os pedestres.
» Definição da amostragem de tempo: períodos de observação de trinta minutos a cada
hora, durante oito horas, ao longo de uma semana e em diferentes cruzamentos da
cidade.
63
particularmente apropriadas à apreensão dos fenômenos em seu habitat
natural, isto é, na forma em que se manifestam no mundo real. Isto não
quer dizer, entretanto, que elas não apresentem problemas originados
no próprio observador.
Uma das críticas freqüentemente dirigidas às técnicas observacionais
é a de que elas estão mais sujeitas a erros provenientes de interpretações
subjetivas das situações, na medida em que ao fazer uso das mesmas o
observador se apóia exclusivamente em suas próprias percepções (Adler
& Adler, 1994). Por outro lado, o fato de o observador ter idéias precon
cebidas a respeito do que será observado pode fazer com que tais idéias
interfiram na decisão do que observar (Goodwin, 1995). Além disso,
a adoção desse método costuma implicar grande consumo de tempo,
ainda quando o pesquisador utiliza um sistema de categorias já pronto,
pois mesmo nessas situações há necessidade de ele se familiarizar com
0 material.
Considerando-se que a utilidade das observações como instrumento
de pesquisa depende da acurácia de seu conteúdo, é fundamental que o
pesquisador adote certos procedimentos para garantir tal precisão. Ele
deve proceder a uma descrição clara dos objetivos da pesquisa e, quan
do pertinente, das categorias que compõem o sistema de observação,
bem como a um treinamento adequado dos observadores na realização
de registros narrativos e/ou na utilização do sistema de categorização.
Como parte do treinamento, poderão ser feitas observações prévias, que
proporcionem maior segurança no uso dos procedimentos durante a
condução do estudo propriamente dito.
Outro recurso para garantir a precisão dos dados coletados consiste
na utilização de dois ou mais observadores independentes para cada si
tuação. Isto permite que o pesquisador verifique o grau de concordância
entre os observadores (precisão entre observadores), checando, assim,
suas descobertas e eliminando as interpretações imprecisas.
EN TREV ISTA
64
geral sobre si própria, muito embora tais informações possam se referir a
outras pessoas e eventos relevantes. Apesar de diferirem quanto ao grau
de estruturação, as diversas modalidades dessa técnica têm em comum
o fato de apresentarem, usualmente, um formato flexível e aberto, que
implica grande participação do entrevistador. Este a conduz de acordo
com as características e desdobramentos da situação na realização da
entrevista (Fernández-Ballesteros, 1996). Além disso, desempenha papel
essencial na utilização desse método de coleta de dados, na medida em
que lhe cabe obter a cooperação dos participantes, motivá-los a respon
der adequadamente, dirimir suas dúvidas e avaliar a qualidade das
respostas, de modo que a entrevista forneça de fato informações úteis
aos propósitos da pesquisa (Trochim, 2002). _
a) Tipos de entrevista
As entrevistas podem ser classificadas em estruturadas, inestruturadas
e semi-estruturadas. As primeiras caracterizam-se por apresentar um
formulário previamente elaborado de perguntas, redigidas em conso
nância com os objetivos do estudo, contendo um número limitado de
opções de respostas (Fontana & Frey, 1994). Eqüivalem aos questioná
rios (que serão abordados na seção seguinte) no que diz respeito à sua
confecção, deles diferindo em função de as respostas serem fornecidas
oralmente pelo entrevistado e anotadas pelo entrevistador (naqueles, as
respostas são dadas por escrito). Essa modalidade de entrevista é a que
menos consome tempo e menos exige do entrevistador, já que sua tarefa
consiste apenas em percorrer o roteiro, do qual não há possibilidade de
se afastar para aprofundar as respostas fornecidas pelo entrevistado. No
quadro 32, a seguir, estão as principais recomendações para a realização
de uma entrevista estruturada.
As entrevistas inestruturadas ou livres, em contrapartida, não reque
rem um roteiro préyio de perguntas, sendo compostas apenas de estímu
los iniciais, ditados pelos objetivos da pesquisa. O entrevistado é livre para
conduzir o processo, enquanto o entrevistador limita-se "ao recolhimento
da informação, à estimulação da comunicação e a manter o fluxo de in
formações sobre as variáveis estudadas" (Contandriopoulos, Champagne,
Potvin, Denis & Boyle, 1997, p. 78). Na pesquisa, sua utilização ocorre,
em geral, quando não se tem um conhecimento teórico ou empírico sufi-
65
1 Aparência: vista-se de forma discreta, a fim de não haver contraste com seus entrevis
tados. Evite roupas luxuosas, caras demais ou excessivamente informais (bermudas,
sandálias havaianas etc.);
2 Estabelecimento de rapport: antes de iniciar a entrevista, deixe o entrevistado à
vontade. Dirija sempre o olhar a seu rosto, escute com atenção e não o interrompa.
Ligue o gravador, se for usá-lo, e obtenha permissão para tal;
3 Roteiro: familiarize-se com o roteiro e use-o para conduzir a entrevista. Faça as
perguntas na seqüência prevista, sem alterá-las. Perguntas de checagem podem ser
feitas, mas na forma planejada e pré-especlficada (por exemplo: “Algo mais?”; “Você
gostaria de dizer mais alguma coisa?”); *
4 Registro das respostas: decida se o registro será feito por você ou pelo gravador.
Se for anotar, faça-o verbatim, ou seja, exatamente como foi dito, sem adicionar ou
omitir informações.
O b jetivo d o estudo:
Identificar experiências traumáticas de idosos asilados.
66
já que o entrevistador tem liberdade de acrescentar novas questões com
o intuito de aprofundar pontos considerados relevantes aos propósitos
do estudo (Contandriopoulos & cols., 1997). Veja um exemplo:
O b jetivo do estudo:
Identificar a cultura de determinada organização de trabalho.
Perg un tas:
» “Você poderia me descrever as metas dessa organização?”;
» “O que é mais valorizado aqui?";
■ "Em sua opinião, quais são as práticas mais adotadas nessa organização?";
• "Quais são as datas e eventos mais comemorados na empresa?”;
• “Como é feito o treinamento dos novos membros?”;
• "Como é 0 relacionamento dos donos com os demais empregados?".
67
Na condução da entrevista propriamente dita, são importantes a
especificação e a clarificâção dos diferentes tópicos a serem abordados,
o que pode ocorrer por meio de perguntas mais abertas ou de forma
mais diretiva. Tais posturas condicionam-se ao desenrolar da entrevista,
especialmente no que concerne à necessidade de confrontar hipóteses
emergentes durante o processo. Os dados obtidos nessa etapa podem ser
gravados e transcritos se o entrevistado concordar com o procedimento.
Outra forma de registro consiste em tomar notas imediatamente após o
término da entrevista, visto que o registro simultâneo não é aconselhável,
"por prejudicar o curso natural e espontâneo da entrevista" (Fernández-
Ballesteros, 1996, p. 276).
Antes de terminar a entrevista, é recomendável que o entrevistador
faça um resumo das informações obtidas, de modo a esclarecer algum
ponto porventura obscuro. Em seguida, deve encerrá-la de forma não
abrupta, agradecendo a colaboração e informando quando os resultados
da pesquisa serão disponibilizados.
c) Grupos focais
Os grupos focais, isto é, as entrevistas em profundidade realizadas com
um pequeno grupo de pessoas cuidadosamente selecionadas para dis
cutir determinados tópicos, tornaram-se, nos últimos anos, uma técnica
bastante popular para a coleta de dados acerca de opiniões e atitudes.
A composição desses grupos costuma ser feita de modo a reunir pessoas
com interesses, experiências ou características demográficas similares
(indivíduos que desempenham uma mesma função, alunos de uma
mesma série, jovens de uma mesma faixa etária etc.), o que tende a
resultar em discussões mais produtivas. Dessa forma, uma mesma pes
quisa deveria prever a realização de vários grupos focais, com todos
eles orientados para um mesmo tópico de discussão (por exemplo, as
opiniões sobre a pesquisa com células-tronco), mas diferenciados em
função das características de seus respondentes (grupos de ecologistas,
biólogos e médicos, por exemplo).
Cabe ao moderador desse tipo de grupo manter os indivíduos foca
dos nos tópicos pertinentes aos propósitos da pesquisa e assegurar-lhes
uma discussão rica e proveitosa. Pará tanto, é conveniente lançar ao
grupo cada um dos tópicos a serem abordados e deixar os participantes
conversarem livremente, questionando-se uns aos outros e expondo suas
próprias opiniões, sentimentos e reações. De acordo com a a s a (1997),
o número ideal de participantes nesse tipo de grupo é de seis a doze,
pois grupos muito pequenos são facilmente dominados por um ou dois
membros, enquanto os muito grandes correm o risco de perder em coesão,
com os membros se dispersando em conversas paralelas ou podendo
sentir-se frustrados por ter de esperar muito tempo para participar.
Os grupos focais oferecem a vantagem de reunir grande quantidade
de informação num curto espaço de tempo, além de permitirem que o
moderador explore assuntos rião contemplados previamente no roteiro,
mas ainda assim relacionados aos objetivos da pesquisa, quando emer
gem durante a discussão. Entretanto, a qualidade dos dados fornecidos
depende das habilidades do moderador, que, se não tiver experiência e
treinamento suficientes, pode acabar deixando que umas poucas pes
soas dominem a discussão ou que os rumos do grupo afastem-se dos
objetivos estabelecidos.
Q U E ST IO N Á R IO S
70
tornou muito popular. Permite que um grande número de respondentes
seja atingido num curto espaço de tempo, com uma taxa mais baixa de
não-resposta do que a obtida nos questionários enviados pelo correio
(Neuman, 2003). No entanto, tem um custo mais alto que o dos demais
tipos, além de sofrer limitações quanto à sua extensão, já que se toma difícil
aplicar questionários mais longos por telefone. Essa forma de aplicação
não se mostra adequada às perguntas abertas, face à maior dificuldade
de formular e anotar as respostas a esse tipo de pergunta por telefone.
c) Auto-administração em grupos
Os questionários podem ser também administrados diretamente a grupos
de indivíduos em situações nas quais o aplicador informa os objetivos
da pesquisa, fornece instruções, esclarece as dúvidas sobre a forma de
preenchimento do instrumento e, em seguida, solicita que todos o com
pletem, assegurando-se de que o fazem da melhor forma possível. Essa
modalidade de aplicação é imprópria para pessoas analfabetas ou que
apresentem dificuldades de leitura. Contudo, é um tipo de questionário
de baixo custo e de alta taxa de resposta, em virtude de garantir o ano
nimato e a presença dos entrevistados no local de aplicação, o que faz
com que o preencham até o final e o devolvam, caso tenham concordado
em participar da pesquisa.
71
computador pessoal do respondente e devolvidosUambém por e-mail),
bem como os questionários disponíveis em determinadas páginas da
rede (a serem preenchidos na própria rede e enviados automaticamente),
angariem cada vez mais popularidade entre os pesquisadores nacionais e
estrangeiros. Esses questionários oferecem maior garantia de anonimato
e São capazes de atingir um grande número de pessoas de diferentes
regiões geográficas num curto espaço de tempo e a um custo bastante
baixo. No entanto, a amostra obtida dessa forma apresenta determina
dos vieses, oriundos do fato de que atualmente nem todas as pessoas
têm acesso a computadores e internet. O pesquisador precisa cercar-se
de cuidados (como o uso de softwares que controlem o recebimento de
apenas uma resposta proveniente de cada e-mail ou de cada máquina)
destinados a impedir que uma mesma pessoa responda mais de uma
vez ao questionário.
f) Tipos de perguntas
As perguntas utilizadas num questionário classificam-se em abertas,
fechadas e de múltipla escolha,
f i ) Perguntas abertas
São aquelas que permitem ao respondente expressar livremente sua
opinião sobre o que está sendo perguntado. Ex.: "Em sua opinião, quais
são os motivos que levam um homem a agredir sua esposa ou compa
nheira?"
Essas perguntas fornecem respostas mais profundas a respeito dos
tópicos aos quais se relacionam, mas provocam uma taxa maior de não-
respostas, além de suscitarem análises mais complexas (Slavin, 1984).
São particularmente úteis nos estágios iniciais da pesquisa, quando o
pesquisador não tem ainda uma compreensão clara do fenômeno em es
tudo, havendo, assim, necessidade de obter informações mais descritivas
que possam ser adotadas posteriormente na elaboração de perguntas de
natureza mais objetiva (Goddard m & Villanova, 1996).
72
Ex.: Você já sofreu algum ti-po de violência doméstica?
( ) Sim ( ) Não
73
As perguntas abertas podem ser utilizadas como um recurso ini
cial na preparação de questões de respostas múltiplas, pois oferecem a
capacidade potencial de fornecer ao pesquisador dados sobre a ampla
gama de alternativas que caracterizam as opiniões dos participantes
da pesquisa.
g) Elaboração do questionário
Atualmente, pode-se encontrar vasta literatura dedicada à apresentação
das diferentes etapas a serem adotadas na elaboração de um questionário.
Na consulta às obras sobre o assunto, foram selecionadas as sugestões
de alguns autores (Goddard n i & Villanova, 1996; Neuman, 2003),
que, combinadas à experiência adquirida pelas autoras deste livro na
confecção desse tipo de instrumento, possibilitaram a organização da
apresentação que se segue.
74
Tabela 1. Exemplo de plano de questionário sobre violência doméstica
Tópicos N ° de perguntas
Total 20
75
"A maioria dos profissionais de saúde condena a prática da violência
doméstica por considerá-la prejudicial à vida emocional da vítima.
Dê sua opinião sobre isso" (pergunta mais tendenciosa); "Quais são,
em sua opinião, as implicações da violência doméstica para a vida
emocional da vítima?" (pergunta menos tendenciosa);
6 Evitar o uso de perguntas de elevada carga emocional. Ex.: "Como
a polícia deve lidar com homens que agridem mulheres indefesas?"
(pergunta de elevada carga emocional); "Como a polícia deve lidar
com quem pratica a violência doméstica?" (pergunta de baixa carga
emocional);
7 Evitar o uso de construções na forma negativa.
76
e reflexão, deixando para o final as questões sobre dados sociodemográ-
ficos e os agradecimentos pela participação.
ESCALAS |
77
. . .Q u a d ro Exem^los|^ç1mãtos;d^ respostas cie escdias- ‘ ’ - '
8
T E S T E S PSIC O L Ó G IC O S
78
sentam características distintas (Slavin, 1984). Destina-se, em geral, a
avaliar aptidões e rendimento e obedece a procedimentos de construção
ainda mais rigorosos e sistemáticos que os adotados no desenvolvimento
de escalas. Por essa razão, não é comum o pesquisador elaborar testes
originais para sua pesquisa, a não ser que ela tenha como finalidade
específica a construção de um novo teste. Caso não seja este o objetivo,
é mais comum o pesquisador lançar mão de testes já industrializados,
adquirindo-os diretamente na editora do instrumento.
De modo contrário ao que ocorre com os testes, a maioria dos es
tudos relacionados ao desenvolvimento de escalas não chega a resultar
em sua editoração. São apenas publicados em periódicos especializados,
que muitas vezes não apresentam o instrumento completo, fazendo com
que o pesquisador precise entrar em contato com o autor da escala para
ter acesso a uma cópia.
D E F I N I Ç Ã O D A T É C N I C A D l A N Á L I S E DE D A D O S
79
A preparação dos dados brutos diz respeito à organização do grande
volume de dados freqüentemente obtido em estudos qualitativos, por
meio do uso de etiquetas e títulos de identificação para cada relato in
dividual, bem como da elaboração de uma listagem geral, que relacione,
segundo determinado critério de ordenação, todo o material coletado.
Desse modo, qualquer pessoa que não tenha participado das etapas an
teriores da pesquisa, ao tomar contato com o material assim organizado,
será capaz de analisá-lo (Contandriopoulos & cols., 1997).
A redução tem por meta estruturar os dados obtidos numa etapa
anterior de análise, mediante a utilização de estratégias de codificação
que objetivam organizar o material coletado em categorias que facilitem
a comparação dos dados de forma intra e intercategorial (Maxwell, 1996).
O processo de codificação consiste, assim, na
Highlen e Finley (1996), citando Patton (1990), afirmam que uma das
técnicas mais freqüentes de geração de categorias é a análise de conte
údo, na qual se procura encontrar padrões ou regularidades nos dados
e, posteriormente, alocá-los dentro desses padrões, mediante o exame
de porções do texto. São criados rótulos ou códigos (categorias) que em
seguida são aplicados às partes do texto que a eles se associam.
As categorias empregadas na codificação podem surgir do refe
rencial teórico que norteou o estudo, ser desenvolvidas indutivamente
80
durante a fase de análise dos dados ou ser fornecidas pelos próprios
participantes do estudo. O fundamental é que sejam desenvolvidas em
estreita interação com os dados, permitindo, assim, sua compreensão.
Deve-se tomar cuidado para não perder o elo entre essas categorias e o
contexto da qual se originaram (Maxwell, 1996). No quadro 16, há um
exemplo de categorias utilizadas para analisar respostas de mães sobre
metas de socialização de seus filhos:
Pergunta:
Que qualidades você desejaria que seu filho tivesse como adulto?
Categorias de análise:
1 Auto-aperfeiçoamento - preocupação com que se torne autoconfiante e independente e
que desenvolva totalmente seus talentos e capacidades como indivíduo. Essa categoria
refere-se a um desenvolvimento pessoal em vários planos. Ex.: que se realize; que
tenha sucesso; que seja inteligente, batalhador, esforçado; que supere obstáculos;
que tenha dinheiro, boa profissão; que tenha saúde; que possa se desenvolver men
talmente e sempre crescer; que tenha auto-estima elevada; que goste de estudar; que
sinta ter valor; que saiba cuidar de si; que busque a excelência e a auto-superação;
2 Autocontrole - preocupação com que desenvolva a capacidade de controlar impulsos
negativos de ganância, agressão ou egocentrismo. Ex.: que seja calmo; que não se
estresse; que domine seus Impulsos e seja uma pessoa controlada; que não seja
egocêntrico nem egoísta; que não se sinta frustrado se não conseguir o que quer; que
seja desprendido; que não brigue por qualquer coisa; que não seja agressivo ou cruel;
que seja paciente; que não seja invejoso; que saiba resolver as coisas conversando;
que tenha tolerância à frustração; que não tenha mau gênio;
3 Emotividade - preocupação com que desenvolva a capacidade para intimidade
emocional com os outros. Ex.: que tenha amigos; que encontre 0 amor; que não se
sinta só; que seja uma pessoa boa; que seja sincero, amoroso, sensível; que tenha
maturidade emocional e otimismo; que seja amigável, afetivo, bondoso, carinhoso;
que não seja solitário; que tenha quem goste dele;
4 Expectativas sociais - preocupação com que atenda a expectativas sociais de trabalhar,
ser honesto e seguir as leis. Ex.: que seja religioso, bom cidadão; que se preocupe
com as outras pessoas; que seja dedicado, responsável; que tenha consciência eco
lógica, bom caráter, boa índole; que seja justo, altruísta; que tenha solidariedade,
integridade; que não seja corrupto;
5 Bom comportamento - preocupação com que se comporte bem, se relacione bem com
os outros e desempenhe bem os papéis esperados (bom pai, boa mãe, boa esposa etc.),
especialmente em relação à família. Ex.: que seja respeitoso; que ajude os pais.
81
Na interpretação dos dados, pode-se verificar-lhes a congruência
com um modelo teórico prévio, explicá-los de forma relativamen
te independente da teoria ou prever o modo pelo qual se daria a
evolução do fenômeno no tempo (Contandriopoulos & cols., 1997).
Trata-se, portanto, de determinar até que ponto os dados obtidos se
mostram úteis e informativos para os objetivos do estudo (Highlen
& Finley, 1996). No quadro 17, há um exemplo de interpretação
baseada numa análise de conteúdo, conduzida por Barros (2000)
em entrevistas realizadas com psicólogos que atendiam casos de
violência doméstica; I
82
A N Á L I S E DE DADOS Q U A N T IT A T IV O S
a) Níveis de medida
As escalas ou níveis de medida podem ser de quatro tipos: nominal,
ordinal, de intervalos e de razão.
As escalas nominais utilizam o número como rótulos para catego
rias, isto é, os valores numéricos a elas associados só têm a função de
identificá-las. Não podem ser somados, subtraídos, multiplicados ou
divididos (Kerlinger, 1973); o único tipo de comparação que permitem
é a de igualdade ou diferença. As perguntas fechadas dos questionários,
com alternativas "sim" e "não", bem como os distintos componentes de
um sistema de observação em que só é possível comparar o número de
pessoas que se enquadram em cada uma das categorias, constituem um
exemplo desse nível de medida.
Já as escalas ordinais permitem a ordenação das pessoas em uma
determinada característica, como, por exemplo, quando se pede a um
professor que ordene um grupo de cinco alunos em função de seu grau
de participação em sala de aula. Essas escalas indicam que há diferenças
entre as pessoas quanto à ordem que ocupam, mas não são capazes de
detectar a distância exata que existe entre elas (Kerlinger, 1973).
Nas escalas intervalares, há o pressuposto de que elas têm uma
unidade de medida constante (como o item de um teste psicológico),
o que torna possível a determinação das distâncias existentes entre
elementos localizados em diferentes pontos da escala. O ponto zero
nessa escala é arbitrário, ou seja, ela não apresenta um ponto de origem
real, que corresponderia à ausência da característica a ser mensurada
(Goodwin, 1995). Os testes psicológicos são um exemplo de instrumento
83
que fornece uma medida no nível intervalar. As escalas do tipo Likert,
estritamente falando, estariam situadas no nível ordinal, mas podem ser
também classificadas no nível intervalar (Günther, 1996), havendo uma
tendência na literatura a considerá-las escalas de intervalo (Goddard m
& Villanova, 1996).
As escalas de razão, por sua vez, além de incorporarem todas as
características das demais, apresentam um ponto zero real, que corres
ponde à ausência da característica a ser mensurada (Goodwin, 1995). As
medidas de tempo de reação, usadas em certos experimentos, são um
exemplo desse tipo de escala. Modelos adicionais de mensurações efetu
adas em cada um dos níveis de medida mencionados são apresentados
na próxima página, no quadro 18.
O nível de medida dos instrumentos adotados no estudo é um
dos critérios que devem ser considerados na decisão sobre as análises
quantitativas a serem efetuadas, pois a utilização de procedimentos
estatísticos específicos está condicionada ao nível de medida do
instrumento. Pasquali (1996c) apresenta um resumo em que oferece
exemplos de vários cálculos estatísticos pertinentes aos diferentes
níveis de medida.
N A T U R E Z A D A S Q U E S T Õ E S D l P E S Q U I S A OU H I P Ó T E S E S
84
• ^ l í . ^ ü f d ^ ^ E x e m p l osjde ri.cs-de m»>oidasS S fô S f M r é ? . - . V ;
na empresa
85
percentagens, médias etc. - que está condicionada ao nível de medida
do instrumento (Pasquali, 1996c). Tabelas e gráficos também podem ser
adotados a fim de sumarizar os dados e obter uma descrição mais clara
a respeito do modo pelo qual as características em estudo se distribuem
na amostra e na população.
Quando a pesquisa é de natureza correlacionai, é possível efe
tuar o cálculo de diferentes tipos de coeficientes de correlação, que
dependerão do nível de medida das variáveis envolvidas. As hipóteses
comparativas pressupõem a utilização de diferentes testes estatísticos.
A escolha do teste mais apropriado a cada caso é determinada por di
versos parâmetros; a) nível de medida dos instrumentos utilizados na
mensuração das variáveis; b) tipo de distribuição (normal, curvilínea
etc.) que as variáveis mensuradas apresentam na população da qual as
amostras foram retiradas; c) número de grupos envolvidos no estudo;
d) número de sujeitos que compõem cada grupo; e) tipo de relação que
os grupos a serem comparados apresentam entre si (independentes ou
correlacionados).
Os testes estatísticos subdividem-se em paramétricos e não-pàra-
métricos. Cada um tem pressuposições específicas para sua utilização,
que devem ser atendidas para que os resultados obtidos sejam válidos.
Como regra geral, pode-se dizer que os testes paramétricos implicam o
pressuposto de normalidade da distribuição da variável na população e
no fato de4er sido mensurada ao nível intervalar ou de razão, enquanto
os testes não-paramétricos não supõem a normalidade da distribuição e
se adaptam a dados mensurados por meio do nível nominal ou ordinal
(Cone & Foster, 1993).
O advento dos pacotes estatísticos fez com que as análises estatísticas
evoluíssem de comparações simples entre grupos para uma multipli
cidade de métodos de análise de elevada complexidade. O tratamento
em profundidade dessas técnicas está fora do escopo deste livro. Em
Bunchaft e Kellner (1997) e Levin (1987), no entanto, há uma apresentação
detalhada das ferramentas mais usadas na análise de dados quantita
tivos. O quadro 19, a seguir, traz uma síntese das principais decisões a
serem tomadas na escolha da análise estatística mais adequada a cada
situação de pesquisa, bem como dos fatores que condicionam cada uma
dessas decisões.
86
jrn/dâ.dè deçlsãQ sobre as . " -
Ordinal Mediana
intervalar Média e
ou de razão desvio-padrão
Intervalar Coeficiente
ou de razão de Pearson
Ordinal Regressão
logística
Intervalar Regressão
ou de razão múltipla
87
Comparativa Uma variável Nominal Teste do
independente e qui-quadrado
dois grupos
independentes Ordinal Teste de
Mann-Whitney
Intervalar Teste t
ou de razão para grupos
independentes
Intervalar Análise da
ou de razão variância
entre-sujeitos
88
PARTE II
R E D A Ç Ã O DE P R O J E T O S
1
CAPÍTULO 3
R E D A Ç Ã O DE P R O J E T O S
A R E D A Ç Ã O DO P R O J E T O
92
livremente, não assinalando quando copiaram verbatim as palavras
do(s) áutor(es). Na redação do trabalho, esquecem que eram trechos
copiados e os transcrevem sem indicação, o que é inadmissível. Mesmo
quando isto não ocorre, o aluno tem dificuldade de libertar-se do estilo
dos autores que consulta. Assim, o texto não revela estilo próprio e a
leitura causa estranhamento. Escrever com estilo é realmente difícil e
só se desenvolve com o tempo. Se estiver sendo muito árduo, pode-se
praticar lendo as anotações e redigindo sem consultá-las. Em casos
extremos, pode-se usar o recurso de falar o que gostaria de escrever,
gravar e depois transcrever.
As citações podem ser oportunas e enriquecer o texto, mas é preciso
dosar seu uso. Citações em excesso ou muito longas retardam o ritmo da
leitura e ocultam a autoria de quem de fato está redigindo. Da mesma
forma, é preciso equilíbrio no uso de referências no texto. É claro que,
se foi feita uma boa revisão e a literatura é fértil, há muito o que citar;
porém, deve-se evitar a referência gratuita a longas listas de autores sem
nenhuma discussão, como será comentado adiante.
Finalmente, costuma-se não empregar estrangeirismos ou expressões
em outras línguas. Quando usados, precisam vir em itálico.
R E D A Ç Ã O D O S I T E N S DE P R O J E T O S
C A P A , F O L H A DE R O S T O E S U M Á R I O
93
em que estará em condições de fazer uma síntese mais acurada dessas
etapas e dc nomear, de modo claro e objetivo, seu objeto de pesquisa.
Ainda assim, títulos provisórios costumam ser criados ao longo do
processo e paulatinamente refinados à medida que o pesquisador se
apropria de seu projeto. O resumo pode incluir uma rápida apresen
tação do referencial teórico do estudo, seus objetivos, uma descrição
sucinta do método a ser utilizado e a apresentação das justificativas
como conclusão.
IN T R O D U ÇÃO
JU S T IF IC A T IV A
FU N D AM E N TAÇ Ã O TEÓ R IC A - R E V IS Ã O DA L IT E R A T U R A
O principal aspecto é o número de fontes secundárias citadas, que é muito grande (13)
em relação ao total de referências (63) a fontes primárias. Em segundo lugar, em relação
à apresentação dos estudos empíricos, há uma tendência a apresentar os resultados de
forma descontextualizada, sem falar no que foi pesquisado, em que grupo, de que ma
neira etc. (v. pp. 19-20). Resultados, inclusive numéricos, apresentados assim não têm
muito sentido: por exemplo, dados sobre incidência da depressão materna, na página
19. Finalmente, não há uma discussão crítica e explicitada do estado da questão. Não
fica demonstrada uma lacuna que o estudo vem a preencher, porque efetivamente não
são apresentados elementos suficientes dos estudos citados para que se possa perceber
a contribuição desse estudo. Nesse sentido, pergunta-se: como, em sua opinião, esse
estudo contribuiu para a compreensão do tema?
96
a) Definição do problema
Nesse item, fundamental num projeto de pesquisa, devem ser tornadas
explícitas as questões a que se pretende responder com a investigação,
ou seja, deve ser delimitado o que se visa pesquisar. Em certos tipos de
pesquisa, a delimitação é mais específica e circunscrita; em outros, será
definida no campo e, até mesmo, com os próprios participantes do grupo
estudado. No segundo caso, uma formulação provisória, de caráter mais
geral, pode e deve ser feita, No quadro a seguir, a autora faz a ligação
entre a revisão da literatura e o estudo que propõe:
b) Objetivos da pesquisa/hipótese .. . . . . ..
Justificando-se a escolha de um determinado tema ou área de inves
tigação e demonstrando-se uma lacuna que constitua um problema a
ser estudado - a pergunta a ser respondida pela pesquisa -, explicita-se,
97
em seguida, em vários tipos de pesquisa, a resposta provisória a ser
dada. A resposta, sob a forma de afirmação (hipótese), será posta em
xeque na investigação. Além das hipóteses, nesse caso, são apontados
os objetivos do estudo. Não se aplicando, pela natureza da pesquisa,
a formulação de hipóteses, são indicados apenas os objetivos gerais e
específicos.
No caso da formulação de hipóteses, estas devem obedecer a todos
os requisitos de qualidade de uma boa hipótese, já indicados em capítulo
anterior; têm de ser claras, precisas, incluir termos definidos e evidenciar
as relações previstas entre as variáveis. 1
No quadro abaixo, há a definição inicial de objetivos, feita num an
teprojeto de doutorado apresentado na seleção por Engelhard (2004):
O b jetivo geral;
Investigar e discutir as características da comunicação gestual mãe-bebê em períodos
precoces do desenvolvimento (de um a treze meses de idade), comparando duas díades
mãe-bebê.
O b jetivos específicos:
■ Identificar e analisar qualitativa e quantitativamente a presença de comportamentos
que funcionam como precursores dos gestos comunicativos infantis (p. ex,, extensão
do dedo indicador, estender os braços, abrir as mãos e mostrar algo etc.);
> Analisar qualitativa e quantitativamente a emergência da produção de gestos comu
nicativos explícitos (p. ex., mostrar, apontar etc.);
^ Identificar a natureza da comunicação gestual observada, classificando-a em impe
rativa ou declarativa;
» Analisar quantitativa e qualitativamente como se caracterizam a emergência e a
transição da produção de gestos imperativos para declarativos, e vice-versa;
■ Analisar quantitativa e qualitativamente os tipos de gestos produzidos pelas
mães;
■ Investigar se há diferenças na produção dos gestos maternos em função da idade
da criança;
• Investigar se há alguma relação entre a produção de gestos maternos e a emergência
da produção de gestos infantis.
98
M E T O D O L O G IA
a) Grupo estudado/sujeito/amostra
Deve-se incluir uma discussão/descrição do grupo que se pretende
estudar e como e por que será escolhido. Por exemplo: participarão
do estudo cinqüenta mães primíparas de nível educacional médio
e superior, residentes na cidade do Rio de Janeiro, que vivem com
o pai do bebê. As mães serão contatadas e convidadas a participar
a partir de indicações de pediatras. Outro exemplo: a amostra será
constituída de cem alunos do terceiro período de graduação em psi
cologia, filosofia e sociologia, de universidades públicas da cidade
de São Paulo.
b) Cuidados éticos
Devem ser discutidos aspectos éticos, como a submissão do projeto a
um comitê de ética e os cuidados para que os participantes não sofram
riscos ou constrangimentos. Vide item posterior sobre a preparação do
projeto para submissão a comitê de ética, na página 1 1 1 .
99
*{para avaliá-las. Em outros casos, como no uso da técnica de observa
ção, devem ser especificados o alvo, a natureza e como se pretende
utilizá-la.
é) Procedimento
Nesse item, faz-se uma descrição mais ou menos pormenorizada do que
será realizado: o trabalho de campo, a aproximação do grupo estudado,
o compromisso estabelecido com este, onde e como serão colhidos os
dados, por quem etc.
R E F E R Ê N C I A S B IB LIO G R ÁFICA S
a) Livros
Seidl de Moura, M.L. (2004). (Org.) O bebê do século x x i e a psicologia em
desenvolvimento. São Paulo: Casa do Psicólogo.
100
. \
b) Livros antigos
Piaget, J, (1996). A construção do real na criança. São Paulo: Ática. (Original
publicado em 1937.)
c) Capítulos de livros
Keller, H. (2002). Development as the interface between biology and
culture: a conceptualization of early ontogenetic experiences. Em
H. Keller, Y.H. Poortinga & A. Scholmerich (Orgs.), Between culture
an biology (pp. 215-240). Cambridge: Cambridge University Press.
d) Artigos
Seidl de Moura, M.L.; Ribas, A.F.P.; Seabra, K. da C.; Pessoa, L.F.; Ribas,
Jr., R. de C.; Engelhard, S. (2004). Interações iniciais mãe-bebê.
Psicologia: Reflexão e Crítica, 17 (3), 295-302.
CR O N O G RA M A
A N EX O S
Deve ser evitada a citação de resumos provenientes de anais de congresso, pois não
são de fácil consulta para os leitores.
101
OBSERVAÇÕES FIN A IS
102
PARTE II I
APRESENTAÇÃO
DE P R O J E T O S
CAPÍTULO 4
A P R E S E N T A Ç Ã O DE P R O J E T O S
N O R M A S G E R A I S DE A P R E S E N T A Ç Ã O DE P R O J E T O S E S C R I T O S 1
APRESENTAÇÃO GERAL 1 ^
0 projeto deverá ser entregue digitado, com base nas normas gerais in
dicadas aqui. Foram seguidas neste livro as diretrizes da a p a (American
Psychological Association), adotadas na maioria dos periódicos interna
cionais de psicologia e nos nacionais qualificados. É mais conveniente
preparar projetos de dissertações e teses segundo essas normas, pois isto
facilita sua transformação em textos a serem submetidos à publicação,
se for o caso, No entanto, cabe adaptá-las às exigências institucionais
específicas, algumas das quais podem exigir que o documento seja
preparado de acordo com as normas da a b n t (Associação Brasileira de
Normas Técnicas).
Em geral, usa-se papel de tamanho A4 internacional, branco e de
boa qualidade. A s margens das páginas são: superior e inferior, 3 cm;
esquerda e direita, 15 espaços (2,5 cm); parágrafo, 10 espaços (1,25 cm).
Usam-se 26 a 38 linhas por página. No corpo do texto, emprega-se es
paço 1,5; em citações e notas de rodapé, espaço simples. As páginas são
numeradas, da primeira até o início da introdução, em algarismo roma
no, minúsculo, no centro do rodapé. Nas demais/usam-se algarismos
arábicos, na margem superior, à direita.
Em geral, a ortjlem das páginas iniciais é:
1 Capa;
2 Folha de rosto;
1 Para a elaboração deste item, foram consultadas as normas de publicação das revistas
Psicologia: Teoria e Pesquisa e Psicologia; Reflexão e Crítica.
3 Sumário;
4 Lista de quadros e tabelas (se houver).
A ' ■ ■
NUM ERO DE E X E M P L A R E S
n o t a s de r o d apé
106
[Por exemplo: Newman, Griffin e Cole (1989).] A partir da segunda vez
que o trabalho for citado, usa-se 0 sobrenome do primeiro autor, seguido
da expressão "e colaboradores" (ou "e cols/'), terminando com o ano da
publicação. [Por exemplo: Newman e colaboradores (1989).] No caso de
seis ou mais autores, desde a primeira vez deve ser citado apenas o primeiro
deles (sobrenome), seguido de "e colaboradores" e a data entre parênte
ses. A data mencionada no texto deverá ser a mesma que aparecerá nas
referências bibliográficas do projeto. No caso de obras antigas, das quais
foi consultada uma versão recente, usa-se o sobrenome do autor seguido
entre parênteses da data original, separada por uma barra da data da
publicação consultada. [Por exemplo: Bronfenbrenner (1979/1996).]
Quando a citação for no corpo do texto [p. ex.: Newman, Griffin
e Cole (1989) introduzem o conceito de...], usa-se "e" como conectivo.
Quando a citação for entre parênteses [p. ex.: a noção de zona de cons
trução (Newman, Griffin & Cole, 1989)], emprega-se (ampersand). Se
uma lista de citações for usada entre parênteses [p. ex.: (Newman, Griffin
& Cole, 1989; Seidl de Moura & Ribas, 2004; Vygotsky, 1984)], elas são
organizadas em ordem alfabética e cronológica. As citações textuais ou
sob a forma de paráfrase dos autores consultados devem corresponder
exatamente ao original em todos os seus aspectos. Quaisquer modifica
ções, como supressões, comentários, interpolações ou grifos, deverão ser
indicadas de forma apropriada. Supressões são indicadas por parênteses
e três pontos - (...); comentários ou interpolações, por colchetes - [...]; e
grifos, por indicação em nota de rodapé.
Citações curtas de até quarenta palavras podem fazer parte do
próprio parágrafo no qual estão inseridas. Devem ser precedidas pelo
sobrenome do autor e pela data da obra e conter o número da página
entre parênteses no final, bem como devem ser sempre indicadas pela
inclusão de aspas no início e no final do período. Por exemplo: Jablonski
(1994) aponta: "Historicamente, família e casamento eram uma questão
de sobrevivência: impossível viver sem ambos" (p. 67). Não é necessário
usar itálico, já que as aspas já indicam a citação. Citações mais longas
precisam ser apresentadas em bloco próprio, em espaço simples e um
pouco mais afastadas das margens esquerda e direita. Nesse caso, as
aspas devem ser suprimidas, porque há a indicação clara de que se trata
de uma citação. Por exemplo: Leme considera que,
107
com relação às variáveis que influem sobre o surgimento e a manutenção
da agressão, verificamos que, apesar das indicações da existência de um
componente biológico, de função adaptativa, podem ser apontados mui
tos outros fatores que intervém sobre o processo (...) (2004, p. 368).
P R E P A R A Ç Ã O DE A P R E S E N T A Ç Õ E S O R A I S D l P R O J E T O S
108
O doutorando tem de vinte a trinta minutos para apresentar seu
projeto, e os membros da banca têm igual tempo cada um para suas
considerações. Espera-se que ofereçam uma contribuição teórica e meto
dológica ao que foi apresentado. O doutorando deve ser capaz de justificar
suas escolhas e pode ou não aceitar as ponderações feitas.
Quanto à apresentação, a primeira questão é a limitação de tempo.
Muitos reclamam que é pouco, mas já se trata de um ensaio para a defesa
da tese e para outras apresentações acadêmicas. É preciso ser profissional
desde então e programar-se para o tempo disponível. A primeira pro
vidência é pensar nos itens a serem apresentados, hierarquizá-los em
termos de relevância e dividir o tempo disponível entre eles de forma
proporcional à importância atribuída. Em geral, é prudente dedicar maior
tempo à metodologia do que à revisão da literatura, já que naquele item
a contribuição dos membros da comissão é importante.
A apresentação pode fazer uso de transparências em retroprojetores,
datashow ou multimídia. Embora os dois últimos sejam atraentes, deve-se
contar com possíveis falhas; nesse caso, é bom ter transparências im
pressas como segunda alternativa. Para a preparação de apresentações,
0 programa PowerPoint é muito útil e constitui uma ferramenta da qual
os pesquisadores devem pensar em se apropriar ao longo do curso de %
pós, se já não a dominam. Alguns cuidados com o aspecto visual da
apresentação devem ser tomados:
109
trabalho. A seguir, sugere-se uma lista de aspectos a serem observados
na preparação de apresentações orais de projetos:
1) Conteúdo da apresentação;
a) Colocar o títuio do projeto, autor, orientador (se pertinente) e instituição;
b) Introdução;
■ Explicitar o problema da pesquisa;
* Apresentar as justificativas para o estudo; |
* Apresentar o referencial teórico de modo condensado e logicamente encadeado;
■ Especificar as questões de pesquisa e/ou hipóteses.
c) Método:
■ Caracterizar os participantes (número, aspectos sociodemográficos etc.);
* Especificar os instrumentos de pesquisa com um ou dois itens que exemplifiquem
cada um deles;
■ Definir os procedimentos a serem adotados na aplicação dos instrumentos;
« Explicitar as técnicas a serem adotadas na análise dos dados.
2) Slides ou transparências:
a) Quantidade:
■ Preparar um número suficiente de slides ou transparências (nem poucos nem
muitos).
b) Conteúdo:
• Cuidar para que o conteúdo inserido em cada slide ou transparência não seja
excessivo;
• Utilizar letras de tamanho facilmente visível à audiência (corpo 24 ou mais);
■ Utilizar cores de fundo e de letras que não atrapalhem a leitura do slide (fundo
escuro e letras de cor clara) ou da transparência (fundo claro e letra de cor escu
ra);
• Utilizar recursos visuais que despertem a atenção (setas, esquemas conceituais,
cores variadas etc.) e transmitam o conteúdo de forma ciara e direta.
110
P R E P A R A Ç Ã O DE P R O J E T O S P A R A
S U B M E T E R A C O M I T Ê S DE É T I C A
111
CONSIDERAÇÕES FIN AIS
115
de doutorado do Programa de Pós-graduação em Psicologia da
Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
Fernández-Ballesteros, R. (1996). Introducción a la evaluación psicológica
(vol. 1). Madri; Ediciones Pirâmide.
Ferreira, M.C. (1995). Masculinidade, feminilidade e ajustamento.
Psicologia: Reflexão e Crítica, 8,205-224.
Fontana, A. & Frey, J.H. (1994). Interviewing: the art of Science. Em N.K.
Denzin & Y.S. Lincoln (Orgs.), Handbook of qualitative research (pp.
361-376). Thousand Oaks: Sage.
Goddard 111, R.D. & Villanova, P. (1996). Designing surveys and ques-
tionnaires for research. Em F.T.L. Leong & J.T. Austin (Orgs.), The
psychology research handbook: a guidefor graduate students and research
assistants (pp. 85-97). Thousand Oaks: Sage.
Goodwin, C.J. (1995). Research in psychology: methods and design. Nova
York: John Wiley & Sons.
Günther, H. (1996). Desenvolvimento de um instrumento para levanta
mento de dados (Survey). Em L. Pasquali (Org.), Teoria e método de
medida em ciências do comportamento (pp. 387-403). Brasília: i n e p .
Highlen, P.S. & Finley, H.C. (1996). Doing qualitative analysis. Em F.T.L.
Leong «ScJ.T. Austin (Orgs.), The psychology research handbook: a guide
for graduate students and research assistants (pp. 177-192). Thousand
Oaks: Sage.
Hitchcock, G. & Hughes, D. (1995). Research and the teacher: a qualitative
introduction to school based research. Londres/Nova York: Routledge.
Kerlinger, F.N. (1973). Foundations ofbehavioral research. 2a ed. Nova York;
Holt, Rinehart & Winston.
Levin, J. (1987). Estatística aplicada a ciências humanas. 2a ed. São Paulo:
Harbra.
Maxwell, J.A. (1996). Qualitative research design: an integrative approach.
Thousand Oaks: Sage.
Medawar, P.B. (1982). Conselho a um jovem cientista. Brasília: Ed. uns.
Myers, D.G. (2000). Psicologia social. 6a ed. (A.B.P. Lemos, Trad.). Rio de
Janeiro: l t c . (Original publicado em 1999.)
Neuman, W.L. (2003). Social research methods: qualitative and quantitative
approaches. 5a ed. Boston: Peárson Education.
Pasquali, L. (1996a). Medida psicométrica. Em L. Pasquali (Org.), Teoria
116
e método de medida em ciências do comportamento (pp. 73-115). Brasília:
INEP.
Pasquali, L. (1996b). Medidas escalares. Em L. Pasquali (Org.), Teoria e
método de medida em ciências do comportamento (pp. 117-139). Brasília:
INEP.
117
Shaughnessy, J.J. & Zechmeister, E.B. (1994). Research methods in psychology.
3a ed. Nova York; McGraw-Hill.
Slavin, R. E. (1984). Research methods in educatiom a practical guide.
Englewood Cliffs; Prentice-Hall
Trivinos, A.N.S. {1995), Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa
qualitativa em educação. Sio Paulo: Atlas.
Trochinv W.M.K. (200$. Research methods knowledge base. 2a ed. Retirado
de www.socialresearchmethods.net/kb em 22/02/2005. *
Weiten, W. {2002). Introdução à psicologia: temas e variações. São Paulo:’
Pioneira. ,
ANEXO 1
P O R T A L DE P E R I Ó D I C O S D A C A P E S
http://www.periodicos.capes.gov.br
COMO USAR?
Você pode iniciar sua pesquisa no portal consultando: periódicos com textos
completos, resumos ou patentes, estatísticas, livros e outras fontes,
É importante também entrar em contato com a biblioteca de sua ins
tituição e solicitar treinamento para grupos de usuários. Em poucas horas,
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119
letras e artes. Dessa forma, você obterá a relação das publicações com
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utilizado pela c a p e s e pelo C N p q , para organizar seus bancos de dados
de informação científica e tecnológica. Com a lista na tela, clique no título
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do texto completo.
RESUM OS
120
Especifique sua consulta em termos de assuntos, datas, tipos de
publicação e idiomas, conforme o formulário que o sistema apresentar,
para obter os resultados mais precisos e relevantes possíveis.
Com a relação dos documentos sobre o assunto de seu interesse,
identifique os que deseja consultar e em que periódicos foram publicados.
Verifique na lista alfabética se os títulos estão disponíveis no portal e, caso
positivo, faça o download do texto completo na hora.
Para agilizar sua pesquisa bibliográfica, algumas bases de dados de
resumos incluem em suas referências links para os textos completos das pu
blicações eletrônicas assinadas pela c a p e s e para os catálogos us p ^d e d a l u s ,
p u c / p r - p e r g a m u m e Catálogo Coletivo Nacional de Publicações Seriadas
O U T R A S FONTES DE PESQUISA
121
HI
%
ANEXO 2
EX E M P L O S D l F O L H A S I N I C I A I S D l P R O JE T O S
(Título)
(Autor)
(Orientador)
U ER J
TÍTULO
por
AUTOR
INSTITUTO DE PSICOLOGIA
' I '
2005
125
FO L H A D l ROS TO I
-------------------------------------------- -------:----------------------------
INSTITUTO DE PSICOLOGIA
TÍTULO
AUTOR(A)
ORIENTADOR(A)
126
FO L H A DE ROSTO II
INSTITUTO DE PSICOLOGIA
TÍTULO
AUTOR(A)
ORIENTADOR(A)
127
ANEXO 3
R E S O L U Ç Ã O C F P 016/2000
(20 de dezembro de 2000)
129
Resolve:
DO PROTO CO LO
I
Art. za - O protocolo, a que se refere o artigo 12, deverá contemplar:
I - Os objetivos;
II - A justificativa: cabe ao pesquisador a responsabilidade de jus
tificar a relevância teórica e social da pesquisa;
iii - Os procedimentos adotados;
iv - As salvaguardas éticas, incluindo-se:
DO RISCO DA PESQUISA
130
§ 2a - A avaliação do risco na pesquisa com grupos vulneráveis ou
em situação de risco (por exemplo, crianças e adolescentes em situação
de ma, moradores de rua, habitantes de favelas e regiões periféricas
das cidades, entre outros) deverá ser feita somente por pesquisadores e
profissionais que conheçam bem a realidade dos participantes e tenham
experiência de pesquisa e trabalho com esses grupos,
§ 3“ - As pesquisas que manipulem variáveis que possam gerar
ansiedade, ou que utilizem instrumentos (inclusive entrevista) com o
objetivo de obter dados e informações sobre eventos que possam ter
sido traumáticos (por exemplo, com vítimas de violência, abuso físico
ou sexual, entre outros), não receberão classificação de risco mínimo. No
entanto, o pesquisador deverá incorporar procedimentos que permitam
avaliar, ao término da participação de cada indivíduo, se nenhum dano
foi causado.
§ 4a - O pesquisador deverá garantir que dispõe dos meios, recursos
e competências para l i d a r com as possíveis conseqüências d e seus pro-
c e d im e n t Q s e i n t e r v ir , i m e d i a t a m e n t e , para l i m i t a r e r e m e d i a r qualquer
dano causado. .
DO C O N S E N T I M E N T O INFO RM ADO
131
i - Que os indivíduos, assegurada sua capacidade legal, cognitiva
e emocional para entender os objetivos e possíveis conseqüências da
pesquisa, devem decidir se desejam ou não participar;
ii - Que os pais ou guardiães, quando a pesquisa envolve crianças
e adolescentes, devem dar seu consentimento;
in - As crianças e adolescentes, mesmo já se tendo consentimento
dos pais ou responsáveis, devem ser também informados, em linguagem
apropriada, sobre os objetivos e procedimentos da pesquisa e devem
concordar em participar voluntariamente;
rv - Aplica-se o princípio das alíneas "b " e "c" deste artigo aos
indivíduos que, por qualquer razão, não tenham plena capacidade legal,
cognitiva ou emocional.
132
que, efetivamente, não interajam sistematicamente nem conheçam bem
a criança ou adolescente;
iii - Pais ou guardiães legais que abusaram õu negligenciaram ou
foram coniventes com o abuso ou a negligência;
iv - Pais ou guardiães que não tenham condições cognitivas ou
emocionais para avaliar as conseqüências da participação de seus filhos
na pesquisa,
133
§ i fi- 0 uso de dados e informações para quaisquer finalidades que
não tenham sido informadas aos participantes somente poderá ser feito
após consulta ao Comitê de Ética em Pesquisa.
§ 2a - A critério do pesquisador principal, bancos de dados pode
rão ser compartilhados com outros pesquisadores, desde que garan
tida a proteção dos participantes, em projetos nos quais esse tipo de
colaboração tenha sido prevista e aprovada pelo Comitê de Ética em
Pesquisa.
§ 3a - No caso de pesquisa com crianças e adolescentes e outros
indivíduos vulneráveis, o pesquisador é responsável pela proteção dos
participantes, devendo tomar providências sempre que constatar qiie
estes se encontram em situação de risco sério e iminente à sua integri
dade física ou emocional.
§ 4a - Quando pertinente, o projeto deve conter previsões claras
de ações a serem tomadas, quando forem constatados casos de abuso
físico ou sejçual contra crianças e adolescentes ou outras situações que
requeiram ação imediata dos pesquisadores.
§ 5a - As ações a serem tomadas, descritas no projeto, devem ser
apropriadas e compatíveis com a gravidade da situação, buscando o
uso dos recursos comunitários e legais disponíveis, visando sempre
minimizar danos, proteger e não causar malefício.
§ 6a - O psicólogo pesquisador, em decorrência da pesquisa e pela
confiança que os participantes depositam nele, deverá manter sigilo ao
tomar conhecimento de transgressões de qualquer natureza, mesmo que
não envolvam risco iminente e grave, especialmente se dizem respeito
a acontecimentos pretéritos, levando o assunto ao Comitê de Ética em
Pesquisa.
DOS P A R E C E R E S
DA D IV U L G A Ç Ã O DOS R ESULTADOS
Brasília (d f ), 2 0 de dezembro de 2 0 0 0
A N A M ER CÊS B A H IA BOCK
Conselheira-presidente
136
ANEXO 4
É T IC A E M P E S Q U IS A (C O N E P )
D O C U M EN T O S P A R A A N Á L IS E D l PR O JET O DE P E SQ U IS A
137
:Ü í í i ü i ....... .............................................
X Folha de rosto .
Duração 1
138
%
C O N S E N T IM E N T O L I V R E E E S C L A R E C ID O
Desconfortos e riscos
Benefícios esperados
Formas de ressarcimento
Formas de Indenização
P E S Q U I S A S C O N D U Z ID A S DO E X T E R IO R
O U C O M C O O P E R A Ç Ã O E S T R A N G E IR A
139
P E S Q U IS A S CO M N O V O S FÁ R M A C O S ,
V A C IN A S E T E S T E S D IA G N Ó S T IC O S
Formas de recrutamento
P A R A E N V IA R O PRO TO C O LO À C O N EP
P A R A A P R E C IA Ç Ã O , A C R E S C E N T A R : •
i§ g
X C arta de encam inham ento do C EP institu cio n al
140
ANEXO 5
T E R M O D E C O N S E N T IM E N T O L I V R E E E S C L A R E C ID O
Pesquisa .
Interação mãe-bebê e desenvolvimento infantil: um estudo longitudinal
e transcultural
Coordenador
Natureza da pesquisa . -. .
Você e seu bebê são convidados a participar dessa pesquisa, que tem
como finalidade investigar as relações entre as mães e seus bebês e a
influência dessa relação no desenvolvimento infantil. Além disso, a pes
quisa pretende comparar informações sobre as mães brasileiras com
informações sobre mães que vivem em outros países.
Participantes da pesquisa
Aproxim adam ente sessenta mães e seus bebês participarão da
pesquisa.
"Envolvimento na pesquisa
Ao participar desse estudo, você deve permitir que um membro do grupo
de pesquisa desse projeto visite você e seu filho em sua residência. Ao
todo serão duas vi?itas quando o bebê tiver cinco meses e duas visitas
quando ele tiver vinte meses de idade. Cada encontro deve durar mais
ou menos duas horas. .
Você tem a liberdade de não participar e pode abandonar o projeto
em qualquer fase da pesquisa, sem prejuízo para você ou seu bebê.
Sempre que quiser, você poderá pedir mais informações sobre a
pesquisa. Para isto, entre em contato com o coordenador por meio do
141
telefone xxx. Se você achar necessário, contate o secretário executivo do
Comitê de Ética em Pesquisa xxx pelo telefone xxx.
Sobre as visitas
As visitas serão marcadas com antecedência. Você deverá se comportar
de forma natural, realizando suas atividades normais. Além disso, terá
de responder alguns questionários e fornecer informações básicas,, como
idade, emprego e dados sobre a saúde de seu bebê.
Aos cinco meses, será realizada uma filmagem de todas as expe
riências do bebê que acontecerem durante uma hora,. Aos vinte meses,
ele será filmado por dois períodos de dez minutos enquanto estiver
brincando.
Riscos e desconforto
A participação nessa pesquisa não traz complicações, à exceção apenas,
talvez, de certa timidez que algumas pessoas têm quando observadas
ou filmadas.
Os procedimentos utilizados seguem as normas estabelecidas pelo
Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8.069, de 13/07/1990) e não
oferecem risco à integridade física, psíquica e moral do bebê.
Confidencialidade
Todas as informações coletadas nesse estudo são estritamente confi
denciais. Os vídeos e os relatos de pesquisa serão identificados com um
código, e não com seu nome ou o de seu bebê. Apenas os membros do
grupo de pesquisa terão conhecimento dos dados. Se você der sua au
torização por escrito, assinando a permissão para utilização de imagens
em vídeo, os dados poderão ser utilizados para fins de ensino e durante
encontros e debates científicos.
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Benefícios
Participando da pesquisa, você e seu bebê não terão nenhum benefício
direto. Entretanto, esperamos que esse estudo nos dê informações im
portantes a respeito das relações entre as mães e seus bebês no Brasil.
Essas informações poderão ser usadas em benefício de mães e bebês
brasileiros.
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Pagamento
Você não terá nenhum tipo de despesa por participar dessa pesquisa.
Também nada será pago por sua participação. No entanto, você receberá
cópias dos relatórios da pesquisa contendo os resultados do estuda
Tendo em vista os itens acima apresentados, eu, de forma livre e
esclarecida, manifesto meu interesse em participar da pesquisa.
Nome da criança
Nome da mãe
Local e data
Assinatura da mãe
Coordenador do projeto
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P E R M I S S Ã O P A R A U T IL I Z A Ç Ã O DE IM AG ENS EM VÍDEO
Eu, por meio desta, concedo aos professores xxx e membros de seu grupo
de pesquisa a permissão para usarem os dados contidos em videotei-
pe realizado comigo e meu(minha) filho(a) e colhidos para a pesquisa
"Interação mãe-bebê e desenvolvimento infantil; um estudo longitudinal
e transcultural". A permissão é para que o videoteipe possa ser utilizado
em encontros científicos a fim de ilustrar aspectos do desenvolvimento
infantil, em debates entre grupos de pesquisa ou ainda para fins didáticos.
Fotografias geradas a partir das imagens podem também ser utilizadas,
de modo similar, em publicações da pesquisa. Estou ciente de que os
participantes não serão identificados pelo nome, excèto se eu tiver cha
mado meu bebê pelo nome durante a sessão de videoteipe.
Nome da criança
Nome da mãe
Local e data
Assinatura da mãe
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