Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Osowski
A Biologia da Abelha
Prefácio
O objetivo deste livro é fornecer uma introdução despretensiosa à
biologia e ao comportamento social de uma única espécie de inseto, a
abelha. Por causa de sua natureza intrinsecamente interessante e valor
econômico, a abelha tem sido estudada intensamente sob todas as
perspectivas, e existe uma vasta literatura sobre quase todos os aspectos
de sua existência. Eu faço, neste livro, um resumo do que considero os
aspectos básicos da biologia da abelha e forneço referências de literatura
sobre o assunto. Tentei capturar o sabor e a riqueza das muitas
alternativas para estudar a abelha, mas minha especialização e treinamento
pessoais são em entomologia e comportamento ecológico e este livro reflete,
naturalmente, minha própria tendência e origem.
Eu gostaria de agradecer, aqui, a meus professores e colegas que
tiveram um impacto particular no meu modo de pensar sobre a ciência e as
abelhas, especialmente Lynn Margulis, Charles Michener, Gard Otis, Keith
Slessor e Orley Taylor; pois a perspicácia e a influência deles pervadem
estas páginas. Sou extremamente grato a todos os que leram parte deste
livro e fizeram críticas contrutivas: Cam Jay, Steve Kolmes, Charles
Michener, Gard Otis, Gene Robinson, Tom Seeley, Keith Slessor e,
especialmente, Susan Katz. Algumas pesquisas originais foram conduzidas por
Cynthia Scott e Mike Smirle, e a tarefa hercúlea de organizar as
referências bibliográficas foi habilmente conduzida por Les Willis, a quem
agradeço a ajuda. Agradeço também aos estudantes das minhas aulas, através
dos anos, sobre apicultura e biologia da abelha e insetos sociais, e espero
que este livro continue a estimulá-los a fazerem questionamentos.
Tenho uma grande dívida de gratidão com Elizabeth Carefoot e o
Istructional Media Center da Universidade de Simon Fraser, pelas
ilustrações deste livro e muitas outras contribuições. As ilustrações são
desenhos originais ou foram redesenhados de outras fontes citadas
individualmente nas legendas das figuras. Sou grato aos seguintes editores,
revistas e autores pela permissão de copiar as ilustrações, das quais eles
são os possuidores dos direitos autorais: M. D. Allen; Bailliere Tindall
(Animal Behaviour); Cornel University Press; H. A. Dade; Dadant and Sons;
D. J. C. Fletcher; W. H. Freeman and Co. (Scientific American); Harcourt,
Brace, Jovanovich; Harvard University Press; International Bee Research
Association; V. Lacher; Macmillan Journals (Nature); Masson S.A. (Insects
Sociaux); H. Martin; National Research Council of Canada (Canadian Journal
of Zoology); Princeton University Press; Charles Scriber’s; T. D. Seeley; e
Springer-Verlag (Behavioural Ecology and Sociobiology, Oecologia). Sou
também grato aos diretores da Harvard University Press por sua ajuda em
todos os estágios de escrita e preparação deste livro, particularmente
Elizabeth Hurwit e Angela von der Lippe.
Finalmente, gostaria de agradecer a assistência financeira das
seguintes agências, que providenciaram substancial suporte para pesquisas e
tornaram, de muitas formas, este livro possível: o U.S. Department of
Agriculture and National Sciences Foundation, o Natural Sciences and
Engineering Research Council of Canada, o British Columbia Science Council
e a Simon Fraser University.
Mark L. Winston 3
ÍNDICE
1. INTRODUÇÃO ....................................................................7
2. ORIGEM E HISTÓRIA EVOLUTIVA DAS ABELHAS .......................................9
2.1. Origem das Abelhas ............................................................... 10
2.2. Raças da A. Mellifera ............................................................ 13
2.2.1. RAÇAS EUROPÉIAS ....................................................................13
2.2.2. RAÇAS AFRICANAS ....................................................................14
2.2.3. RAÇAS ORIENTAIS ....................................................................15
2.3. Raças das Américas do Norte e Sul ................................................ 15
3. ANATOMIA DA ABELHA: FORMA E FUNÇÃO ...........................................17
3.1. Avaliação da Anatomia da Operária ................................................ 17
3.2. Cabeça ........................................................................... 18
3.2.1. ESTRUTURAS SENSORIAIS ..............................................................18
3.2.2. BOCA ...............................................................................21
3.3. Tórax ............................................................................ 22
3.3.1. PERNAS .............................................................................23
3.3.2. ASAS ...............................................................................27
3.4. Abdômen .......................................................................... 28
3.5. Sistemas Internos ................................................................ 30
3.5.1. SISTEMAS DIGESTIVO E EXCRETOR ......................................................31
3.5.2. SISTEMAS CIRCULATÓRIO, RESPIRATÓRIO E NERVOSO ......................................31
3.5.3. SISTEMAS GLÂNDULARES ...............................................................33
3.6. Funções Específicas do Zangão e da Rainha ........................................ 37
3.6.1. ZANGÕES ............................................................................37
3.6.2. RAINHAS ............................................................................39
Mark L. Winston 5
7.4. Comportamento da Operária em Colônias sem Rainha ................................ 103
8. O MUNDO QUÍMICO DAS ABELHAS .................................................109
8.1. Feromônios ...................................................................... 109
8.2. Odores Produzidos pelas Operárias ............................................... 110
8.3. Odores Produzidos pela Rainha ................................................... 115
8.3.1. INIBIÇÃO DO DESENVOLVIMENTO E DA CRIAÇÃO DA RAINHA E ENXAMEAÇÃO ...................117
8.3.2. INIBIÇÃO DO DESENVOLVIMENTO DOS OVÁRIOS DA OPERÁRIA ...............................118
8.3.3. ATRAÇÃO DO ZANGÃO PARA O ACASALAMENTO .............................................118
8.3.4. ATRAÇÃO PARA ESTABILIZAÇÃO DO AGRUPAMENTO DO ENXAME ...............................119
8.3.5. ESTÍMULO PARA LIBERAÇÃO DO FEROMÔNIO DE NASONOV E FORRAGEAMENTO PELAS OPERÁRIAS ...119
8.3.6. ATRAÇÃO PELA RAINHA E SEU RECONHECIMENTO ..........................................119
8.4. Outros Feromônios ............................................................... 123
9. COMUNICAÇÃO E ORIENTAÇÃO ....................................................127
9.1. Linguagem da Dança .............................................................. 127
9.1.1. DANÇA CIRCULAR ....................................................................128
9.1.2. DANÇA DO REQUEBRADO ...............................................................131
9.1.3. DVAV E OUTRAS DANÇAS ..............................................................135
9.2. Navegação e Orientação .......................................................... 137
10. FORRAGEAMENTO ..............................................................143
10.1. Onde as Operárias Vão .......................................................... 143
10.2. Organização das Viagens de Forrageamento ....................................... 145
10.3. Controle do Forrageamento a Nível de Colônia ................................... 149
11. REPRODUÇÃO: ENXAMEAÇÃO E SUBSTITUIÇÃO DA RAINHA ............................153
11.1. História Natural da Enxameação em Climas Temperados ............................ 153
11.2. Fatores Que Induzem as Colônias à Enxameação ................................... 161
11.2.1. TAMANHO DA COLÔNIA ................................................................162
11.2.2. CONGESTIONAMENTO DO NINHO COM CRIA ................................................163
11.2.3. DISTRIBUIÇÃO DA IDADE DAS OPERÁRIA ................................................164
11.2.4. TRANSMISSÃO REDUZIDA DA SUBSTÂNCIA DA RAINHA ......................................164
11.2.5. ABUNDÂNCIA DE RECURSOS ............................................................164
11.2.6. SUBSTITUIÇÃO DA RAINHA ............................................................164
6 A Biologia da Abelha
1
1.. IIN
NTTR
ROOD
DUUÇ
ÇÃÃO
O
A abelha apresenta uma combinação de características individuais e de
cooperação social não encontrada no restante do reino animal. O modo como a
abelha consegue se adaptar ao mundo que a rodeia é uma das mais ricas
fontes de estudo e de conhecimento dentre todos os organismos, e que se
torna mais rica ainda pelos benefícios econômicos trazidos por ela. A
abelha pode ser, e foi, estudada sob perspectivas tão diferentes como a de
um apicultor e de um biólogo molecular, de um ecologista e de um primitivo
caçador de mel, de um estudante de comportamento social e de um doutor
interessado em reações alérgicas, e todos contribuem imensamente para o
entendimento do inseto mais estudado.
Fig. 1.1. Cena típica do interior de uma colônia durante o verão. No topo do favo,
alvéolos contendo mel operculado, néctar não operculado e pólen, enquanto no meio estão os
alvéolos com ovos, larvas e cria operculada. Os alvéolos alongados, na lateral esquerda do
favo, são realeiras contendo princesas em várias fases de desenvolvimento; a realeira foi
aberta no fundo para mostrar uma rainha quase pronta para emergir. As operárias adultas
estão, na seqüência dos ponteiros do relógio, a partir da esquerda superior, descansando,
ventilando para evaporar a água do néctar, trocando comida, assistindo a rainha como
acompanhantes que a cercam, cuidando de si, armazenando néctar e pólen no ninho,
construindo favo, inspecionando alvéolos, expulsando um zangão e operculando uma realeira.
(Baseado em Wilson, 1971.)
Um olhar rápido para dentro da colônia permite entender por que as
Mark L. Winston 7
abelhas fascinam os homens desde os primeiros dias da observação científica
(Fig. 1.1). A infra-estrutura do ninho, favos perfeitamente uniformes e
funcionais, é constituída de cera produzida pelas operárias e construída
numa série repetida de alvéolos hexagonais quase perfeitos. O favo fornece
o substrato para as interações entre os membros do enxame e é usado para
quase tudo o que for imaginado, começando por berço das larvas, passando
por despensa e centro de mensagens. Como base das atividades do enxame, o
favo fornece um campo rico para observar os comportamentos individuais e
sociais que ocorrem no coração da sociedade das abelhas.
A nível individual, o enxame tem não um, mas três tipos de membros:
rainha, zangões e operárias, cada um com suas especializações dentro da
sociedade das abelhas. A rainha reina sobre o enxame, cercada pelas
assistentes e alimentada com uma comida rica, necessária para executar
poucas, mas cruciais, tarefas dentro da colônia. Suas linhas esbeltas
escondem os grandes ovários que fazem dela uma máquina extraordinária de
botar ovos, capaz de pôr milhares de ovos num só dia, e cujo comportamento
tranqüilo mascara seus poderosos feromônios, sinais químicos para as
operárias receptoras, que controlam muitos dos comportamentos das operárias
e agem como verdadeira cola social que faz a abelha viver em sociedade.
Os outros indivíduos assexuados desta sociedade, os zangões,
alimentados pelas operárias, cumprem uma só função, a importante tarefa de
fecundar a rainha, depois do que morrem. Com seus grandes olhos, músculos
de vôo e poderoso desejo de acasalamento, os zangões são magnificamente
construídos para esta função. As operárias executam diversas tarefas no
enxame e, por vezes, morrem ao ferroar o invasor de sua colônia, e, muito
raramente, reproduzem. A qualquer hora podem ser vistas operárias
caminhando na superfície do favo, algumas vezes atendendo a cria, retirando
detritos do ninho, operculando alvéolos, amadurecendo ou armazenando
néctar, preparando pólen para armazenamento junto à cria, alimentando a
rainha ou dela cuidando, ou realizando qualquer outra das milhares de
atividades.
Não só os complexos comportamentos individuais, manifestados por
estas três castas, estimularam nossas investigações sobre a vida da abelha,
mas também, sua socialibilidade e adaptabilidade têm incentivado o estudo
deste inseto numa extensão que não ocorre com nenhum outro organismo da
terra. A sua natureza social e sua grande habilidade em regular as funções
como um conjunto de indivíduos, em função dos eventos dentro e fora da
colônia, fornecem a chave para seu sucesso e torna a contribuição dos
indivíduos mais efetiva do que a soma dos seus comportamentos individuais.
Nós, no entanto, somos motivados a estudar este inseto, antes de tudo, por
razões econômicas, uma vez que os enxames são extremamente valiosos para
nossa agricultura. As abelhas nos fornecem muito mais do que mel, cera,
própolis, geléia real e pólen: elas polinizam nossas plantações, incluindo,
entre elas, plantações agrícolas, árvores frutíferas, oleaginosas, vagens
pequenas e forrageiras.
O estudo das abelhas não é novo; pinturas existentes em cavernas, que
datam de milhares de anos, apresentam a abelha, maravilhosamente, com
grande destaque. Essas pinturas são, certamente, as precursoras dos
milhares de artigos da ciência contemporânea, escritos em revistas
científicas e populares. É uma qualidade intangível da sociedade das
abelhas que nos leva a estudá-la, uma presença quase mística que permeia o
seu ninho e só pode ser dissecada, analisada e relatada, em parte, pelos
observadores. Este livro é uma tentativa de apresentar, pelo menos, um
vislumbre do mundo da rainha dos insetos.
8 A Biologia da Abelha
2
2.. O
ORRIIG
GEEM
MEEH
HIIS
STTÓ
ÓRRIIA
AEEV
VOOL
LUUT
TIIV
VAAD
DAAS
SAAB
BEEL
LHHA
ASS
Abelhas são essencialmente vespas que abandonaram a depredação em
favor do aprovisionamento de seus ninhos com néctar e pólen. A maioria das
vespas com ferrão (isto é, que ferroam), tidas como abelhas, atacam outros
insetos e aranhas para obter comida para as larvas. Os adultos, porém, se
alimentam freqüentemente do néctar das flores, e seu aparelho bucal é
normalmente bem adaptado para sugar e lamber. Pensa-se que as abelhas,
tendo como antepassado a vespa, provavelmente um esfegídeo, evoluíram seu
aparelho bucal para serem capazes de ingerir néctar: em vez de caçar,
começaram a coletar pólen para alimentar sua cria. As abelhas se
diferenciaram das vespas em muitos aspectos (Michener, 1974), e a diferença
morfológica mais evidente diz respeito à especialização para coletar pólen.
Todas as abelhas têm, pelo menos, penugem e pernas traseiras alargadas,
ambas adaptações para recolher pólen e transportá-lo até o ninho. Por causa
de suas estruturas para coleta de pólen e dos hábitos distintos, as abelhas
são classificadas como uma super familia própria, Apoidea – ordem:
Hymenoptera – (Culliney, 1983), embora Michener (1974) tenha proposto
retornar ao antigo sistema que incluia as vespas SPHECIDAE1 na mesma super
familia das abelhas.
Fig. 2.1. Partes bucais de um representante das abelhas de língua grande (esquerda) e
de língua pequena (direita). (Redesenhado, a partir de Michener, 1974.)
As primeiras abelhas devem ter aparecido na vigência – era terciária
- do paleocontinente Godwana que foi, provavelmente, a época do
aparecimento da planta angiosperma (Raven e Axelrod, 1974). Embora os
registros fósseis das abelhas estejam longe de serem completos, pensa-se
que elas divergiram das vespas esfegídeo durante o período Cretáceo mediano
há 100 milhões de anos, aproximadamente, (Michener, 1974), coincidindo com
o aparecimento do angiosperma como vegetação dominante. Os mais antigos
fósseis de abelhas, conhecidos, datam do período Eoceno, 40 milhões de anos
atrás (Manning, 1952; Kelner-Pillault, 1969; Zeuner e Manning, 1976), mas,
considerando que este espécime já era altamente especializado, fica claro
que as abelhas surgiram muito mais cedo. De qualquer modo, a evolução e
divergência das abelhas estão ligadas de perto com o aparecimento das
plantas angiospermas, plantas que produzem flores com odor, forma e cor,
bem como néctar em excesso e pólen, comida para atrair as abelhas, como
1
SPHECIDAE – família dos insetos da ordem dos himenópteros, cujas espécies caçam larvas e adultos.
(Nota do Tradutor).
Mark L. Winston 9
recompensa, e as abelhas, em troca, fornecendo um mecanismo de
transferência de pólen entre as plantas. A coevolução destes dois grupos
tem sido um dos temas dominantes da recente história da evolução.
Existem, atualmente, entre 10 e 11 famílias de abelhas (Michener,
1974; Michener e Greenberg, 1980), com aproximadamente 700 gêneros
(Malyshev, 1968) e 20.000 espécies vivas (Michener, 1969). Estas podem ser
divididas em dois grandes grupos, o mais primitivo, as abelhas de língua
pequena, e, o mais novo, as abelhas de língua grande (Fig. 2.1). As abelhas
de língua pequena utilizaram, provavelmente, a característica rasa das
flores primitivas do angiosperma; mas algumas abelhas evoluíram,
encompridando suas partes bucais da mesma forma que muitos dos angiospermas
evoluiram para flores tubulares mais longas. Estas evoluções permitiram que
as abelhas de língua grande tirassem proveito da complexidade crescente das
flores, mais recentes, do angiosperma.
A abelha Apis mellifera Ligústica é espécie de abelha com língua
grande. Seu nome científico significa “abelha-carregadora-de-mel ou abelha-
produtora-de-mel" e se origina do hábito das abelhas de coletar néctar e
produzir, a partir dele, grandes quantidades de mel para permitir que os
enxames sobrevivam nos períodos de carestia.
2
DISTAL – extremidade mais afastada de um órgão. (Nota do tradutor).
10 A Biologia da Abelha
Todas as abelhas atuais (Apidae: Apini) são classificadas num único
gênero Apis, que inclui cinco espécies: a abelha comum (A. mellifera), a
abelha gigante (A. dorsata e A. laboriosa), a abelha índia (A. cerana) e a
abelha anã (A. florea). O mais antigo fóssil de Apini foi encontrado no
Amber Báltico, nas camadas do Eoceno, com aproximadamente 40 milhões de
anos, e este antigo, mas extinto, “apines”, foi classificado num gênero
próprio Electrapis (Manning, 1960; Zeuner e Manning, 1976; Culliney, 1983).
Um favo de abelha, fossilizado, que data do final do Terciário ou do início
do Quaternário, foi encontrado, recentemente, na Malásia, sugerindo que
esse gênero surgiu há mais tempo (Stauffer, 1979). Este achado e o fato de
que, geralmente, são achados fósseis de espécimes de abelha como indivíduos
agrupados sugere uma evolução anterior para o comportamento social nos
Apini. Evolução rápida, durante os 10 milhões de anos a seguir, é mostrada
por espécimes encontrados do Oligoceno, quando ocorreu uma mudança
considerável na morfologia externa. Estudos bioquímicos comparativos, em
abelhas existentes, indicaram, também, um grau maior de substituição do
aminoácido na A. mellifera, quando comparado com outras abelhas, e,
conseqüentemente, uma taxa de evolução da proteína mais rápida na linhagem
das abelhas de mel do que nas outras (Carlson e Brosemer, 1971, 1973). Com
base na evidência morfológica, porém, houve relativamente pequena mudança
nas abelhas durante os últimos 30 milhões de anos (Culliney, 1983), e a
semelhança física das formas fósseis com as operárias atuais sugere que o
comportamento social complexo já estivesse desenvolvido no Mioceno, 27
milhões de anos atrás.
A distribuição geográfica natural do gênero Apis apresenta a maior
diversidade de espécies na Índia e regiões adjacentes, e todas as espécies,
com exceção da A. mellifera, são lá encontradas. Donde se conclui que estas
regiões são a área onde, provavelmente, se originaram e onde evoluiram as
Apini (Doediker, Thakar, e Shaw, 1959; Michener, 1974; Doediker, 1978).
Pensa-se que a A. mellifera se originou nas regiões tropicais africanas ou
subtropicais durante o período Terciário e migrou, um pouco depois, para a
Ásia Ocidental e climas europeus mais frios. Até os tempos atuais, a Apis
não foi encontrada em qualquer lugar do hemisfério ocidental, Austrália ou
Pacífico, com exceção de algumas das ilhas continentais como Japão,
Formosa, Filipinas e Indonésia (Michener, 1974). Mas, o transporte de
abelhas pelos colonos europeus com fins de apicultura resultou que a A.
mellifera se encontra mundialmente distribuída, e algumas espécies são mais
difundidas na Ásia.
A abelha anã - A. florea - parece manter várias características
ancestrais do gênero Apis e, provavelmente, é o descendente vivo mais
próximo das abelhas primitivas. As operárias são pequenas, aproximadamente
7mm de comprimento, os enxames constroem um único favo preso a galhos e
freqüentemente, em locais cercados por densa vegetação (Seeley, Seeley e
Akratanakul, 1982). Suas danças de comunicação ocorrem numa plataforma
horizontal, construída no topo do favo, e assim a direção das flores é
indicada diretamente pela direção da dança. Os enxames são pequenos, menos
de 5.000 indivíduos, e as operárias são relativamente dóceis (Michener,
1974).
Duas outras espécies de abelhas, parentas próximas, também constróem
seus ninhos ao ar liver com um único favo: as abelhas gigantes - A. dorsata
e A. laboriosa. Estas são grandes, vistosas com 17 a 19mm de comprimento,
enxame com 20.000 ou mais operárias. Os seus ninhos são construídos no alto
das árvores ou ficam suspensos de bordas de penhascos, e os ninhos não
precisam ficar escondidos por causa da natureza agressiva das operárias. Os
ninhos são, também, freqüentemente agregados, e os enxames podem migrar
montanhas acima e abaixo para tirar proveito das fontes sazonais de néctar.
As danças de comunicação são mais avançadas do que da A. florea, uma vez
Mark L. Winston 11
que elas ocorrem na face vertical do favo, e a direção em que se encontram
as flores tem que ser traduzida, pelas operárias, do ângulo da direção da
dança com a vertical para o ângulo entre a direção do sol e as flores
(Michener, 1974). A A. laboriosa é a maior das duas espécies, e seu tamanho
grande, cor escura e cobertura de pelos longos são, provavelmente,
adaptações para seu habitat na altitude do monte Himalaia (Sakagami,
12 A Biologia da Abelha
elas são, freqüentemente, consideradas raças distantes da mesma espécie.
Ruttner e Maul (1983) demonstraram, porém, recentemente, que, embora
rainhas e zangões de cerana e de mellifera tentem acasalar entre si, não
resulta em descendência, e a inseminação instrumental de rainhas de ambas
as espécies, mellifera e cerana, com sêmen hetero especifico revelou que os
ovos resultantes da fertilização híbrida cessam o desenvolvimento na fase
de blástula. Estes resultados indicam que mellifera e cerana são,
realmente, espécies distintas, embora de parentesco próximo. Este livro
trata principalmente da abelha Apis mellifera, e o termo "abelha" será
usado para se referir a esta espécie, a não ser onde ressalvado.
Mark L. Winston 13
A Apis mellifera Ligústica Spin. (abelha italiana) se originou na
Itália e foi a abelha mais popular na apicultura mundial. Embora um pouco
menor do que a Mellifera, a Ligústica tem língua relativamente longa (6,3 a
6,6mm) e abdômen com faixas amarelas luminosas. Ela tende a ser dócil, e a
população do enxame cresce depressa na primavera e permanece forte ao longo
do verão. Elas passam o inverno com grande população de operárias, embora
com alto consumo de mel, o que traz alguma dificuldade em latitudes do
Norte. Elas também têm uma reputação de construtoras eficazes de favo e
parece iniciarem a pilhagem de outras colônias mais depressa do que as
outras raças européias.
A Apis mellifera Cárnica Pollman (abelha Carniolana) se originou na
área compreendida pelos Alpes austríacos meridionais, Norte da Iugoslávia e
Vale do Danúbio. Elas têm tamanho semelhante à Ligústica, mas tendem a ser
de cor cinza ou dourada. Estas abelhas foram, também, populares na
apicultura, particularmente com hobistas, por causa da sua mansidão. Elas
passam o inverno em enxames pequenos com baixo consumo de comida, mas se
desenvolvem depressa na primavera. Elas podem não manter esta alta
população ao longo do verão e podem enxamear mais prontamente do que as
abelhas italianas. Elas são, também, lentas na construção de favos.
A Apis mellifera Caucásica Gorb. (abelha Caucasiana) é originária dos
vales do alto do Cáucaso Central. Elas são semelhantes à Cárnica, mas de
cor mais cinza-chumbo. Embora seu comportamento não seja bem conhecido,
elas são consideradas pouco agressivas, com baixa velocidade de expansão na
primavera, mas capazes de alcançar grandes populações no verão, e
apresentam dificuldade em passar o inverno por causa de sua
susceptibilidade à Nosema, doença da abelha adulta. Esta abelha é, também,
notadamente propolizadora e pouco enxameadora.
Podem existir várias outras raças européias que, ou foram estudadas
insuficientemente, ou se agruparam a uma das outras raças européias. A
abelha Macedônia A. m. Cecropia Kiesw parece, agora, pertencer à raça
Cárnica mas a posição da abelha de estepe russa A. m. Acervorum e a
transcaucasiana A. m. Remipes não é tão clara.
14 A Biologia da Abelha
dúvida se Scutellata e Adansonii são subespécies diferentes, e também sobre
qual das subespécies foi introduzida no Brasil. Considerando que o estudo
de Ruttner de 1975 é a mais recente e completa avaliação da taxionomia3 das
abelhas africanas, eu adotei a classificação dele, embora a identidade
destas subespécies esteja sendo reavaliada e evidências adicionais possam
resultar em mudanças adicionais. A A. m. Scutellata, é abelha pequena com
língua relativamente pequena, altamente agressiva, enxameia e abandona a
colmeia com freqüência e tem capacidade de nidificar em grande variedade de
locais, desde cavidades até locais abertos.
A Apis mellifera Adansonii Latreille (abelha africana ocidental) se
encontra na África Ocidental e é de cor notadamente amarela. Ela parece ser
semelhante à Scutellata em muitos dos comportamentos, mas as abelhas dessa
região não foram bem estudadas.
A Apis mellifera Monticola Smith (abelha das montanhas) despertou
interesse por causa da altitude em que vive, na Tanzânia, entre 1.500 e
3.100m. É uma raça grande, escura, gentil, com pêlos mais longos do que as
outras abelhas africanas.
A Apis mellifera Capensis Escholtz (abelha de Capa) é encontrada só
na extremidade da África do Sul e é a única, entre as Apis mellifera, em
que as operárias poedeiras geram fêmeas. Ela é, morfologicamente,
semelhante à Scutellata, mas o grau de desenvolvimento dos ovaríolos e a
habilidade de, regularmente, gerar, partenogeneticamente, fêmeas as separa
do grupo da Scutellata.
Existem outras raças africanas em áreas limitadas da África que podem
ser distinguíveis, morfometricamente, das outras raças, das quias só foram
examinados alguns espécimes, e porisso sua biologia não foi suficientemente
estudada para se chegar a conclusões firmes sobre a sua taxionomia. Estas
subespécies incluem A. m. Major Ruttner, Sahariensis Baldensperger, Núbica
Ruttner, Littorea Smith, Unicolor Latreille e Jemenetica Ruttner (Dutton et
al., 1981).
3
. TAXIONOMIA – estudo dos princípios da classificação científica. (Nota do tradutor).
Mark L. Winston 15
3
3.. A
ANNA
ATTO
OMMIIA
ADDA
AAAB
BEELLH
HAA:: F
FOOR
RMMA
AEEF
FUUN
NÇÇÃ
ÃOO
Não existe, talvez, aspecto mais significativo da biologia da abelha
do que a relação entre forma e função das abelhas adultas. Numa combinação
complexa de partes integradas num organismo perfeitamente afinado, a abelha
é capaz de executar uma vasta gama de atividades atléticas, graciosas e
objetivas. Uma simples lista de todas as partes que compõem uma abelha
impressiona pelo tamanho. Mais notável, ainda, é como essas estruturas
foram projetadas para que a abelha leve a cabo suas funções. A discussão a
seguir, eu baseei no estudo detalhado da anatomia da abelha apresentado por
Snodgrass (1956) e Dade (1977).
Fig. 3.1. Vista do corpo da operária, mostrando: as três regiões do corpo, as partes
bucais estendidas, os três pares de pernas e os dois pares de asas.
Mark L. Winston 17
olhos, antenas e pêlos sensitivos. O tórax é composto de três segmentos,
cada um com um par de pernas; além disso, cada um dos dois segmentos
torácicos posteriores suportam um par de asas. Assim, o tórax é a região
locomotora do corpo da abelha e contém músculos poderosos, para voar e
caminhar, e funções especializadas, como coletar. O abdômen consiste de
sete segmentos visíveis e contém todos os órgãos internos, como, também uma
estrutura de grande interesse para os apicultores, o ferrão.
3.2. Cabeça
Vista de frente e ampliada por um microscópio, a cabeça da operária é
uma visão assustadora; os olhos grandes e as mandíbulas parecem,
particularmente, ameaçadoras. De fato, a cabeça da abelha é região
altamente especializada e relativamente sem defesas, capaz de percepções
sensíveis do ambiente, de manipulação e de ingestão dos dois principais
componentes da comida da abelha, néctar e pólen, cada um dos quais exigindo
recursos anatômicos diferentes para manuseio (Fig. 3.2).
18 A Biologia da Abelha
grupos de facetas são especializados em perceber a luz polarizada (von
Frisch, 1967a; Edrich e von Helversen, 1976; Zolotov e Frantsevich, 1973;
Wehner e Strasser, 1985), o reconhecimento de formas (Wehner, 1972), a
visão de cor (Kaiser, 1972; Menzel, 1973) e à torção da cabeça (Moore,
Penikas, e Rankin, 1981). As imagens são produzidas pelo sistema nervoso
central que integra os sinais individuais das facetas em uma imagem de
mosaico. Uma vez que cada faceta diverge angularmente de suas vizinhas, em,
aproximadamente, só um grau (del Portillo, 1936; Michener, 1974), o padrão
de mosaico é particularmente bem adaptado para detectar o movimento. Os
olhos compostos podem perceber, além do movimento, as correntes de ar, para
o que usam os pêlos sensitivos existentes nas junções das facetas (Fig.
3.2). Quando esses pêlos são removidos, com um escalpelo minúsculo, as
operárias perdem a habilidade de, com tempo ventoso, encontrar o caminho
para os locais habituais de alimentação, porque, talvez, elas já não
conseguem compensar, durante o vôo, a velocidade do vento (Neese, 1965).
Fig. 3.3. Corte do olho de uma operária, mostrando algumas das facetas. Uma das
facetas foi ampliada para mostrar as estruturas que recebem, concentram e percebem a luz.
(Redesenhado, a partir de Snodgrass, 1956. Copyright 1956 da Universidade de Cornell. Usado
com permissão da Cornell University Press.)
As antenas são o nariz da abelha, cada uma consistindo de um flagelo
com dez segmentos, preso ao escápulo e este ao pedicelo, que é a base (Fig.
3.4). O papel das antenas da abelha na percepção dos odores foi
demonstrado, pela primeira vez, por von Frisch (rever von Frisch, 1967a)
que mostrou ser possível treinar operárias para visitar pratos que
continham perfumes de flores naturais ou óleos essenciais. Quando as
antenas foram cirurgicamente removidas a habilidade de discriminação, pelo
olfato, foi eliminada. Experiências subseqüentes demonstraram que a
acuidade olfativa das abelhas é aproximadamente igual à do homem, embora as
operárias sejam de 10 a 100 vezes mais sensíveis para cera, flores e outros
odores, biologicamente significativos para as abelhas (Ribbands, 1955;
Schwarz, 1955; Fischer, 1957; Vareschi, 1971). Além da aguda sensibilidade
olfativa, as abelhas têm o que Forel (1910) chamou "um sentido olfativo
topoquímico”. Quer dizer, as abelhas podem usar o par de antenas para
identificar, com precisão, a direção de onde vem o odor, comparando a
intensidade de moléculas do odor percebido por cada antena. Esta sensação
foi demonstrada por experiências, nas quais foram usadas iscas no
treinamento de operárias para odores, colocadas num tubo em Y (Lindauer e
Martin, 1963; Martin, 1964) (Fig. 3.5). Quando as antenas das abelhas
treinadas foram cruzadas, as operárias escolheram a direção errada na
Mark L. Winston 19
bifurcação, indicando que as antenas estavam fornecendo informação relativa
à localização do odor.
Os órgãos sensoriais consistem de, pelo menos, sete tipos de
estruturas e variam entre cavidades, placas e pêlos (Slifer e Sekhon, 1961;
Lacher, 1964; von Frisch, 1967a; Dietz e Humphreys, 1971) (Fig. 3.4). Só as
cavidades olfativas são conhecidas como sendo olfativas, com base no
comportamento e nas respostas eletrofisiológicas aos odores (Lacher e
Schneider, 1963; Lacher, 1964), e existem aproximadamente 3.000 delas, numa
única antena de operária. Estas cavidades olfativas consistem de poros
muito pequenos, pelos quais as moléculas de odor podem passar e ser
transportadas até as células receptoras, em baixo da placa. Estas placas
estão localizadas nos oito segmentos finais do flagelo, e a amputação
desses segmentos elimina a orientação da operária pelos odores associados à
comida (von Frisch, 1921; Ribbands, 1955). Algumas raças de abelhas têm
mais destas placas olfativas do que outras, mas não foi estabelecido nenhum
vínculo entre a densidade das placas e a acuidade sensitiva (Stort e
Barelli, 1981).
Fig. 3.4. Antena de uma operária com uma das placas sensoriais ampliada, para revelar
a estrutura receptora de odores. A inserção mostra os sete tipos de estruturas sensoriais
encontradas nas antenas: (a) pêlo pequeno de parede grossa (sensillum trichodeum), (b)
cavilha de parede grossa (s. trichodeum), (c) cavilha delgada de parede fina (s. trichodeum
olfactorium), (d) cavilha grande de parede fina (s. basiconicum), (e) placa porosa ou órgão
placa (s. placodeum), (f) cavidade (s. coeloconicum), e (g) cavidade (s. ampullaceum). (A
nomenclatura é de Lacher, 1964. Redesenhado, a partir de von Frisch, 1967a, baseado em
Lacher, 1964, e Snodgrass, 1956. Copyright 1956 da Universidade de Cornell. Usado com
permissão de Cornell University Press.)
As funções das outras estruturas sensoriais não são conhecidas,
embora existam fortes evidências de elas serem utilizadas na percepção de
gás carbônico, umidade, sabor e, possivelmente, temperatura. Usando
técnicas electrofisiológicas Lacher (1964) demonstrou que as operárias têm
20 A Biologia da Abelha
um receptor de gás carbônico nas antenas e Seeley (1974) mostrou que as
operárias podem identificar concentrações de gás carbônico, com diferenças
abaixo de 1%, e podem responder às altas concentrações de gás carbônico no
ninho, ventilando a colônia para aumentar a circulação de ar. As operárias
podem detectar, também, diferenças de umidade relativa tão baixas quanto 5%
(Kiechle, 1961), através de receptores localizados nas antenas (Ribbands,
1955; Kuwabara e Takeda, 1956). Respostas a sabores, através das antenas,
Fig. 3.5. Representação do experimento que demonstra que as operárias utilizam o par
de antenas para detectar a direção de um odor. As operárias comparam a intensidade do odor
percebido por cada antena, o que pode ser demonstrado treinando as operárias para uma fonte
de odor (*) e, depois, o cruzamento de suas antenas faz as operárias escolherem a direção
errada, na bifurcação. (Redesenhado, a partir de von Frisch. 1967a, baseado em Martin,
1964.)
As antenas têm uma outra estrutura de importância funcional, os
órgãos de Johnston, que são concentrações de células sensitivas,
localizadas no interior do pedicelo de cada antena, sensíveis à mínima
mudança de sua posição. Sua função inclui a detecção de correntes de ar
pela porção dobrada da antena, um meio de medir a velocidade de vôo (Heran,
1959).
3.2.2. BOCA
As partes bucais da abelha são classificadas como de mastigação e de
sucção, significando que as abelhas podem mastigar material sólido como
também sugar líquidos. Elas consistem num par de mandíbulas, ou presas,
fixadas nas laterais da cabeça, e na probóscide ou língua, composta do
maxilar e do lábio (Fig. 3.6).
As mandíbulas são fortes, em forma de colher, côncavas e rígidas no
lado interno (Michener e Fraser, 1978). Músculos fortes conectam as
mandíbulas à cabeça, e existe um canal, rodeado de pêlos, na base do duto
que vem das glândulas mandibulares. Elas têm numerosas funções, entre elas:
ingerir pólen para alimentação; cortar, moldar e manipular a cera e a
própolis (resinas de plantas) para a construção do ninho; fornecer alimento
de cria para as larvas e néctar para a rainha, para o que é usada a
superfície interna côncava da boca, como um canal; tirar detritos e abelhas
mortas do ninho; amontoar-se; e defender o ninho.
A probóscide é uma estrutura mais complicada, e tem como primeira
função a ingestão de substâncias líquidas, principalmente, néctar, mel e
água. A probóscide funciona, também, para a troca de comida entre as
operárias, entre estas e a rainha, e entre elas e os zangões. É usada,
também, para lamber os feromônios da rainha e para distribuí-los entre as
outras operárias. A probóscide está presa por dois tendões na base da boca;
Mark L. Winston 21
os maxilares e as estruturas labiais centrais são articuladas, de tal forma
que a probóscide inteira, quando em repouso, pode ser dobrada, em forma de
Z, dentro da boca. Quando a glossa está totalmente estendida, os maxilares
e os lábios formam um tubo ao redor da língua (Winston, 1979a). A
probóscide da operária, estendida, mede entre 5,3 a 7,2mm (Ruttner,
Tassencourt, e Louveaux, 1978), dependendo da raça da abelha, e este
comprimento determina que partes das flores a abelha pode atingir para
coletar néctar, uma vez que a probóscide deve se ajustar bem às corolas das
flores para sugar o néctar na base da flor.
Fig. 3.6. Vista lateral das partes bucais da operária, incluindo as mandíbulas e a
probóscide. Quando em repouso, a probóscide é dobrada em forma de Z dentro da boca, mas
pode ser estendida, completamente, para coletar néctar, pólen e água.
A glossa é densamente cabeluda, possui placas, para ter rigidez,
alternadas com áreas membranosas e suaves, para ter flexibilidade, e um
longo tendão que corre ao longo de toda a probóscide para dar apoio
adicional. Existe um flagelo, na ponta, pelo qual os líquidos são
absorvidos e transportados, através de um canal estreito, para dentro da
boca (Michener e Riachos, 1984). Na base da glossa existe um grupo de
músculos que cercam uma cavidade oca, o cibário, que é usado para bombear
os líquidos. Quando o glossa está estendida, os músculos, a paraglossa e
outras placas da base, formam uma câmara hermética. A movimentação de
líquidos é facilitada pelo movimento, de um lado para outro, da glossa,
pela ação capilar e pelo bombeamento dos músculos do cibário que fazem a
sucção para ingestão. A glossa é, também, importante para a coleta de
pólen, pois os grãos de pólen são, freqüentemente, apanhados nos seus pêlos
e, então, passados para as pernas traseiras (Michener, Winston, e Jander,
1978).
3.3. Tórax
O tórax da abelha, como em outros insetos, consiste em três
segmentos, sendo o primeiro chamado de propódio; a incorporação deste
segmento ao tórax é uma característica sem igual na maioria dos
Hymenoptera. Os três segmentos torácicos da abelha são altamente
modificados e especializados por causa da combinação de funções que os
envolvem: as asas são usadas para vôo e as pernas executam uma variedade de
22 A Biologia da Abelha
funções, entre elas, coleta do pólen e amontoamento. Muito das formas e
construção das partes torácicas centrais são melhor entendidas como
adaptações para os músculos que controlam o movimento, e uma visão
detalhada das camadas torácicas e musculatura pode ser encontrada em
Snodgrass (1956). Aqui, eu me concentro nas estruturas e funções das pernas
e asas.
3.3.1. PERNAS
As seis pernas, existentes no tórax, um par em cada segmento
torácico, têm a mesma construção básica, embora sejam altamente adaptadas
para carregar pólen e própolis. Cada uma das pernas se articula no tórax
pela coxa, que permite os movimentos para frente e para trás (Fig. 3.7). O
próximo segmento da perna, o trocanter, conecta a coxa com o fêmur, a tíbia
e o tarso, os mais longos e finos segmentos da perna. O tarso é formado de
cinco subsegmentos, o basitarso comprido e os quatro tarsômeros menores. A
ponta da perna, finalmente, consiste num segmento terminal, o pretarso, que
inclui a garra associada à almofada (Fig. 3.8). Estas estruturas terminais
são importantes para o caminhar, uma vez que a garra, e a sucção criada
pela almofada, se agarram à superfície, e permitem caminhar em superfície
horizontal e vertical, como também se agarrarem umas às outras, para
formarem os amontoados. As garras do tarso são, também, até certo ponto,
usadas para manipular a cera durante a construção do favo.
Fig. 3.7. Vista externa da perna do meio de uma operária. (Redesenhado, a partir de
Snodgrass, 1956. Copyright 1956 da Universidade de Cornell. Usado com permissão de Cornell
University Press.)
Mark L. Winston 23
não serem modificadas, e elas são usadas para livrar os pêlos do tórax de
sujeira e pólen e transferir material para as pernas traseiras. Existe um
"ponto cego”, o topo do segmento torácico mediano, que as pernas medianas
não conseguem limpar, e podem ser vistas operárias, que retornam da coleta
de pólen de certas flores, com uma faixa brilhante de pólen colorido
naquela região do tórax.
Fig. 3.9. Nas pernas anteriores das operárias existe o limpador de antenas. As
antenas podem ser puxadas e escovadas, através do entalhe. (Redesenhado, a partir de
Snodgrass, 1956. Copyright 1956 da Universidade de Cornell. Usado com permissão de Cornell
University Press.)
As pernas traseiras são altamente adaptadas para exercerem as funções
de transporte de pólen e própolis (Fig. 3.10). A estrutura mais proeminente
é a cesta de pólen, ou corbícula, região expandida, ligeiramente côncava,
na superfície externa de cada uma das tíbias, que contém pêlos nas bordas e
uma cerda central na qual são ancoradas as cargas de pólen e própolis
(Hodges, 1967). Na superfície interna do basitarso, existem estruturas
adicionais, usadas só para manipular o pólen, constituídas de uma série
regular de cerdas duras, chamada pente-de-pólen, como também uma área
aplainada na base, o prensa-pólen. As estruturas de manipulação do pólen
são completadas pela escova-de-pólen, uma fila dura de cerdas na
extremidade interna da tíbia.
Fig. 3.10. Vista externa (acima) e interna (abaixo) da perna traseira da operária. No
lado externo existe a corbícula, ou cesta de pólen, na qual o pólen é transportado, e o
24 A Biologia da Abelha
prensa-pólen, que empurra o pólen até a corbícula. No lado interno estão o pente-de-pólen e
a escova-de-pólen, que manipulam o pólen no prensa-pólen para compactação. (Redesenhado, a
partir de Snodgrass, 1956. Copyright 1956 da Universidade de Cornell. Usado com permissão
de Cornell University Press.)
Acredita-se que a corbícula evoluiu até atingir a forma de cesta para
carregar a própolis pegajosa até o ninho; as outras modificações na perna
traseira surgiram, provavelmente, mais tarde, para se adaptar à coleta de
pólen (Winston e Michener, 1977; Michener, Winston, e Jander, 1978). Para
conseguir uma carga de própolis as operárias usam, suas mandíbulas,
primeiro, para arrancar pedaços de resinas em brotos de plantas e, depois,
para passar o material para a perna dianteira (Fig. 3.11). A carga é
transferida, então, para o lado interno do basitarso da perna mediana, no
mesmo lado do corpo da operária. A perna mediana é usada, em seguida, para
colocar a própolis na corbícula da perna traseira do mesmo lado.
Finalmente, a operária retorna ao ninho, e a própolis é descarregada pelas
mandíbulas de outra operária e é colocada em local, dentro do ninho, que
precise ser vedado (Rosch, 1927; Meyer, 1956a; Jander, 1976; Michener,
Winston, e Jander, 1978).
Mark L. Winston 25
e algum pólen adere, normalmente, aos pêlos do corpo das operárias.
Posteriormente, o pólen é recolhido pelas pernas. As pernas dianteiras
escovam a probóscide e apanham o pólen, que se tornou pegajoso pelo mel
regurgitado, apanham, também, o pólen seco da cabeça e da frente do tórax.
A operária levanta vôo, paira no ar e transfere o pólen das pernas
dianteiras e do segmento torácico posterior para as pernas medianas. O
pólen é, então, passado das pernas medianas para os pentes-de-pólen do lado
interno do basitarso traseiro, esfregando as pernas medianas sobre os
pentes-de-pólen, que, por sua vez, raspam o pólen do abdômen.
Fig. 3.12. Transferência do pólen da superfície interna de uma perna traseira para a
superfície externa da perna traseira oposta. (1) a escova-de-pólen raspa o pólen dos
pentes-de-pólen da perna oposta e o deposita no prensa-pólen. (2) o pólen é empurrado para
a corbícula pelo movimento das pernas, e (3) é transportado até o ninho como uma bola
pegajosa, umedecida com mel regurgitado. (Redesenhado, a partir de Dade, 1977.)
26 A Biologia da Abelha
3.3.2. ASAS
As asas das abelhas, como em todos os outros insetos, não são
verdadeiros apêndices como as pernas, mas são extensões do exosqueleto,
adaptadas substancialmente para possibilitar o vôo (Fig. 3.13). Os dois
pares de asas encontram-se nos segmentos torácicos posteriores e se prendem
ao tórax, através de articulações complexas que permitem uma grande
variedade de movimentos. Na abelha, as asas dianteiras são maiores do que
as posteriores, e podem ser presas às anteriores durante o vôo, através de
ganchos ou presilhas, de forma que os dois pares de asas podem bater em
sincronia. Isto reduz, consideravelmente, a turbulência e a resistência ao
vôo. As asas contêm, também, veias, que não só fortalecem as finas asas,
mas também transportam o sangue, tubos de respiração e nervos que se
estendem até as extremidades.
Fig. 3.13. (A) As asas anterior e posterior das operárias, mostrando as veias e
ganchos, ou presilhas, que prendem as asas posteriores nas dobras das asas anteriores,
durante o vôo. (B) A musculatura torácica que fornece a maior parte da força para o vôo. A
contração dos músculos longitudinais e o relaxamento dos músculos verticais estendem o
tórax verticalmente, puxando as asas para baixo. Em oposição, o relaxamento dos músculos
longitudinais e a contração dos músculos verticais curvam o tórax para fora, empurrando as
asas para cima. (Parte B redesenhada, a partir de Dade, 1977.)
As asas da operária batem, em vôo, numa freqüência superior a 200
ciclos/s, o que, de acordo com análises anatômicas e aerodinâmicas de vôo,
não é possível. Assim, as abelhas devem possuir mecanismos especiais que
garantem esta alta freqüência de batimento das asas. Um mecanismo envolve o
tipo de controle nervoso sobre os músculos do vôo; o sistema nervoso não
consegue operar suficientemente rápido, para acompanhar a velocidade das
contrações musculares de sustentação do vôo, e os músculos torácicos
ressoam. Quer dizer, eles contraem mais de uma vez para cada ordem do nervo
(Esch e Bastian, 1968; Esch, 1976; Bastian e Esch, 1970). As abelhas podem,
também, manter a temperatura torácica em vôo no valor extraordinariamente
alto de 46oC passando o excesso de calor para a cabeça por uma condução
passiva e fluxo acelerado do sangue. Este excesso de calor é eliminado
regurgitando gotas de mel com excesso de umidade, o que esfria a cabeça, de
Mark L. Winston 27
modo semelhante ao que ocorre com o suor dos vertebrados. Isso previne o
superaquecimento, enquanto permite que os músculos torácicos operem com
eficiência (Heinrich, 1979b, 1980a,b).
A velocidade média de vôo de uma operária é de, aproximadamente,
24km/h (Park, 1923a; von Frisch, 1967a); as operárias com cargas completas
de néctar voam a, aproximadamente, 6,5m/s (23,4km/h), enquanto as
descarregadas podem voar a 7,5m/s (27,0km/h) (Wenner, 1963). A velocidade
do vôo e a distância dependem dos poderosos músculos torácicos que são
supridos copiosamente com energia derivada do metabolismo do néctar; se o
teor de açúcar no sangue cai abaixo de 1%, a abelha já não consegue voar
(Dade, 1977). Para garantir o combustível, as operárias se enchem de mel e
o armazenam na vesícula melífera, antes de deixar o ninho, consumindo-o
gradualmente durante vôo. Estudos do vôo de enxames de abelhas
africanizadas mostraram que uma operária típica leva 30mg de mel, contendo
aproximadamente 20mg de açúcar (Otis, Winston, e Taylor, 1981). Com tal
carga média de mel, uma operária pode voar cerca de 60km, antes de lhe
faltar combustível.
Fig. 3.14. Vista lateral e frontal do ferrão, mostrando o saco do veneno, as lancetas
farpadas, os músculos associados e as placas duras. (Redesenhado, a partir de Dade, 1977, e
Snodgrass, 1956. Copyright 1956 da Universidade de Cornell. Usado com permissão da Cornell
University Press.)
3.4. Abdômen
O abdômen da operária é composto de sete segmentos visíveis, contando
o propódio como o primeiro segmento abdominal. Podem ser encontrados dois
segmentos adicionais, associados ao ferrão da operária ou aos órgãos de
reprodução da rainha e do zangão; estes, porém, são muito reduzidos e
aparecem, internamente, só como pequenas e frágeis placas. Cada segmento
abdominal é constituído de uma grande placa dorsal e de uma placa ventral.
A placa dorsal se sobrepõe à ventral, e as duas estão conectadas, através
de membranas. Estas membranas conectivas são importantes, pois permitem que
o abdômen se expanda quando o estômago é enchido com néctar ou água e
28 A Biologia da Abelha
permitem, também, que o abdômen bombeie, o que aumenta a entrada de
oxigênio durante os períodos ativos. O abdômen é geralmente peludo, mas,
por outro lado, não tem nenhuma estrutura externa de grande interesse, com
exceção do ferrão, que se encontra dentro de uma câmara no final do
abdômen. O abdômen contém, internamente, a maioria dos órgãos e algumas
glândulas.
O ferrão da operária é um ovipositor altamente modificado e que
evoluiu para funções defensivas (Fig. 3.14). A abelha, ao contrário da
maioria dos insetos que ferroam, perde seu ferrão, depois do uso, o que
resulta na sua morte pouco tempo depois. A vantagem de perder os órgãos
associados ao ferrão é que a vítima é injetada com uma dose adicional de
veneno. Os enxames tem milhares de operárias; assim, a perda de algumas,
durante a defesa da colônia, é equilibrada pelo veneno extra injetado no
predador.
O ferrão é formado por duas lancetas farpadas, suportadas por placas
endurecidas e fortes músculos, e está conectado à glândula do veneno e às
glândulas que contêm substâncias de alarme. Quando a operária ferroa, as
lancetas entram na vítima rapidamente, e as farpas mantêm o ferrão preso na
pele da vítima. A operária puxa o abdômen, tentando arrancar o ferrão, o
que resulta na ruptura dos órgãos abdominais, e na sua morte dentro de
algumas horas ou dias, (Haydak, 1951). O ferrão permanece preso na vítima
e, pela contração dos músculos que cercam o saco do veneno, continua
bombeando veneno por 30 a 60 segundos. As glândulas associadas ao ferrão
exalam substâncias químicas de alarme que induzem outras operárias a
ferroar.
30 A Biologia da Abelha
3.5.1. SISTEMAS DIGESTIVO E EXCRETOR
O sistema digestivo da abelha está localizado primordialmente no
abdômen e se conecta com a boca pelo longo esôfago (Fig. 3.15). A
extremidade posterior do esôfago se abre na vesícula melífera, bolsa
expansível que retém o mel ingerido na colmeia e usado como fonte de
energia durante o vôo, bem como o néctar e a água coletados a campo pelas
operárias e transportados para o ninho. A vesícula melífera cheia ocupa a
maior parte da cavidade abdominal, que se expande, estirando as membranas
conectivas, conectores das placas quitinosas abdominais. O conteúdo da
vesícula melífera pode ser regurgitado quando os músculos circunvizinhos
contraem e os segmentos abdominais se aproximam, expulsando o conteúdo da
Mark L. Winston 31
do coração dorsal e da aorta que auxilia na circulação do sangue (Fig.
3.16). O sangue enche a cavidade do corpo da abelha, de forma que os órgãos
flutuam livremente no sangue, em vez de receber sangue através de veias. O
sangue entra no coração por uma válvula de retenção, chamada óstio, e é
bombeado pela aorta que derrama o sangue dentro da cabeça. Músculos, presos
ao diafragma dorsal e ventral, são usados para bombear o sangue ao longo do
corpo e de volta para o coração. As principais funções do sistema
circulatório são: transporte de comida do ventrículo para as células do
corpo, remoção de restos de material das células e entrega, desse material,
32 A Biologia da Abelha
3.5.3. SISTEMAS GLÂNDULARES
As glândulas da operária são usadas para quatro funções básicas:
produção de cera, comunicação, defesa e processamento de comida. Um breve
resumo da estrutura e das funções das glândulas, até onde são conhecidas, é
feito a seguir. Embora a pesquisa date de antes de 1800, muitas das funções
e substâncias químicas produzidas pelas glândulas, no entanto, não são,
ainda, bem conhecidas.
Produção de cera. A cera, usada na construção dos favos, ou cera de
abelha, é produzida pelas células modificadas da epiderme localizadas na
área ventral, embaixo dos quarto, quinto, sexto e sétimo segmentos
abdominais (Fig. 3.19). Estes pares de glândulas, chamados de espelho-de-
cera, estão escondidos pela sobreposição das camadas, em cada segmento. As
células secretoras de cera encolhem, quando a cera não está sendo produzida
e aumentam quando a operária a está produzindo (Dreyling, 1903; Rosch,
1927; Boehm, 1965; Cruz-Landim, 1963). A cera líquida, secretada pelas
glândulas, é coletada nos espelhos-de-cera e endurece na forma de placas
visíveis, que são removidas com os pêlos da escova do basitarso das pernas
posteriores (Casteel, 1912; Rosch, 1927). A perna transfere a placa para as
mandíbulas que manipulam a cera, com a ajuda das pernas dianteiras, para a
construção do favo.
Mark L. Winston 33
(35%), diésteres (14%), hidróxipoliésteres (8%) e ácidos livres (12%). A
cera de abelha é, invariavelmente, de cor branca, embora contenha,
geralmente, matizes amarelos causados por pigmentos de carotenóides,
solúveis em gordura, oriundos do pólen (Vansell e Bisson, 1935; Tischer,
1940; Freudenstein, 1962).
Comunicação. As glândulas, conhecidas, que produzem odores utilizados
pelas operárias na comunicação, incluem a glândula de Nasonov, as glândulas
mandibulares, a glândula setose do ferrão e, possivelmente, a glândula
tarsal de Arnhart. A glândula de Nasonov, ou do cheiro, encontra-se embaixo
da placa do último segmento abdominal e secreta seus produtos para um tubo,
o canal do cheiro (McIdoo, 1914; Jacobs, 1924; Renner, 1960; Belik, 1979).
As substâncias químicas, produzidas por essa glândula, são liberadas quando
a operária expõe o canal do odor, levantando o abdômen e abanando as asas,
dispersando, assim, as substâncias químicas da glândula de Nasonov. O canal
do odor exposto é visto como uma faixa marrom–claro, através do abdômen;
quando as operárias estão abanando na entrada da colmeia, para ventilar, o
abdômen não é elevado, e, assim, a glândula do cheiro permanece coberta, e
não pode ser vista.
O odor da glândula de Nasonov é, na verdade, uma mistura de sete
substâncias químicas: geraniol, ácido nerólico, ácido gerânico, (E)-citral,
(Z)-citral, (E,E)farnesol e nerol 4 (Pickett et al., 1980). Desses, o
geraniol, o ácido nerólico e o (E,E)-farnesol estão presentes em proporções
mais altas; no entanto, a mistura desses componentes é igual ou mais
atrativa do que a mistura natural (Free et al., 1984). O odor da glândula
de Nasonov é usado para orientação, particularmente na entrada do ninho
(Butler e Calam, 1969), na aglomeração do enxame (Morse e Boch, 1971;
Avitabile, Morse, e Boch, 1975), na coleta da água (Free, e Williams, 1970)
e, possivelmente, nas flores (Free e Williams, 1972; Free, Ferguson, e
Pickett, 1983; Waller, 1970).
O par de glândulas mandibulares encontram-se na cabeça da abelha, uma
de cada lado, presas às suas mandíbulas por um tubo. Estas glândulas são
grandes, se estendem até a base das antenas das operárias, e a liberação
dos seus produtos ativos é controlada por uma válvula que permite à abelha
controlar a descarga da secreção, desde um saco de armazenamento (Nedel,
1960). Nas operárias mais jovens, produtoras de comida larval, estas
glândulas estão envolvidas na produção da comida de cria, particularmente o
ácido 10-hiydroxi-2-decenóico, o principal lipídio da comida larval
(Butenandt e Rembold, 1957), o ácido octanóico e outros ácidos voláteis
(Boch, Shearer, e Shuel, 1979). Mas a secreção dessas glândulas é alterada,
quando as operárias envelhecem (Costa-Leonardo, 1980), passando a produzir
a 2-heptanona, uma substância de alarme (o Shearer e Boch, 1965). Embora a
2-heptanona excite as operárias, ela não é tão ativa quanto os compostos
produzidos pelo ferrão (Boch, Shearer, e Petrasovits, 1970; o Gary, 1974).
O complexo de feromônios produzidos pelo ferrão é muito efetivo em
despertar o comportamento defensivo. A localização exata, porém, das
glândulas que produzem essa combinação não é conhecida, mas parece estarem
localizadas na membrana setose na base do ferrão (Maschwitz, 1964a,b; o
Butler, 1967) e essa combinação é liberada, quando a abelha everte o ferrão
e abana as asas ou quando o sistema do ferrão é arrancado da operária
(Maschwitz, 1964b). Por muitos anos, só um composto, o acetato de isoamil,
era tido como substância de alarme do ferrão (Boch, Shearer, e Stone, 1962)
que atua excitando as operárias e as atraindo para a potencial vítima
(Ghent e Gary, 1962). Mais recentemente, foram identificados muitos outros
4
. Néroli – óleo extraído da flor da laranjeira; Citral –aldeído extraído do limão e
verbena; Nerol – álcool extraído da tangerina; Farsenol – álcool extraído da citronela;
Geraniol – álcool extraído do gerânio. (Nota do tradutor)
34 A Biologia da Abelha
compostos que parece provocarem comportamento de alarme, similar, entre
eles 2-nonanol, acetato de n-butil, acetato de n-hexil, acetato benzílico,
álcool isopentílico, acetato de n-octil e (Z)-11-eicosan-1-ol (Blum et al.,
1978; Collins e Blum, 1982, 1983; Pickett, Williams, e Martin, 1982). Um
número tão grande de compostos de alarme, porém, é incomum para um inseto
social, e algumas dessas substâncias podem ter outras funções.
O último segmento do tarso, de todas as seis pernas da operária,
contem a glândula de Arnhart, que libera seu conteúdo pela almofada tarsal
(Arnhart, 1923; Chauvin, 1962). A sua função não é conhecida, embora tenha
sido proposto que essas glândulas produzem a "substância da pegada" que as
operárias podem depositar na entrada do ninho ou nas flores para orientar
as forrageadoras que estão chegando (Butler, Fletcher, e Watler, 1969;
Ferguson e Free, 1979).
Defesa. A principal glândula, com função defensiva, é a glândula do
veneno, o grande saco, associado ao ferrão, que contém o veneno. Esta
glândula foi chamada glândula ácida por causa da falsa impressão de que
contivesse ácido fórmico (Snodgrass, 1956; Michener, 1974). Ela consiste de
células que secretam o veneno para dentro do saco-de-veneno, saco esse
cercado por músculos que bombeiam o veneno pelo ferrão (Cruz-Landim e
Kitajima, 1966; Bridges, 1977). Outra glândula pequena, que descarrega seu
conteúdo na câmara do ferrão, é a glândula alcalina, ou glândula de Dufour,
com função desconhecida. Foram propostas várias funções para essa glândula,
inclusive secreção de veneno, lubrificação do ferrão, secreção de cera para
cobrir o ovo e prendê-lo ao fundo dos alvéolos (Trojan, 1930; Kerr e Lello,
1962).
Processamento de comida. Há dois tipos de glândulas processadoras de
comida: as que digerem a comida e as envolvidas na produção de comida para
a cria. Do tipo digestivo são as duas glândulas labiais, ou salivares, uma
na parte posterior da cabeça e outra, no tórax. Ambas se conectam com a
boca por um tubo salivar comum, e sua secreção age na dissolução dos
açúcares, na limpeza da rainha e, possivelmente, no amolecimento de
material que precisa ser roído. A secreção da glândula torácica é uma
saliva aguada que dissolve açúcares, enquanto a glândula da cabeça produz
uma secreção oleosa de função desconhecida (Simpson, 1960; Arnold e Delage-
Darchen, 1978). O tamanho de ambas as glândulas salivares não varia com a
idade da operária, e o consumo de pólen pelas abelhas adultas,
aparentemente, não é importante para o funcionamento dessas glândulas
(Kratky, 1931).
As glândulas hipofaríngeas produzem algumas das proteínas, lipídios e
vitaminas presentes na comida fornecida às larvas pelas operárias adultas
(Patel, Haydak, e Gochnauer, 1960). Essas glândulas secretam, também, a
enzima invertase, importante na conversão dos néctares florais em mel
(Simpson, 1960; Simpson, Riedel, e Wilding, 1968), e uma enzima que oxida a
glicose em ácido (Cruz-Landim e Hadek, 1969). Esse par de glândulas está
localizado atrás da face, com um tubo que se abre na base da língua (Cruz-
Landim e Hadek, 1969; Ortiz-Picon e Diaz-Flores, 1972). Elas são
relativamente grandes em operárias jovens, que produzem comida para a cria,
e o consumo de proteína é necessário para essas glândulas se desenvolverem
completamente. Nas operárias mais velhas, quando cessam seus deveres com
alimentação, essas glândulas degeneram, embora possam se expandir
novamente, se as operárias mais velhas tiverem de retornar à tarefa de
alimentar a cria (Rosch, 1930; Moskovljevic, 1940; Halberstadt, 1980).
Depois de reabsorvidas, elas produzem, principalmente, invertase (Simpson,
Riedel, e Wilding, 1968). As glândulas mandibulares produzem, também,
alguma comida de cria, notadamente, o ácido 10-hidroxi-2-decenóico.
Glândulas da rainha. Duas outras glândulas presentes na abelha são
Mark L. Winston 35
bem desenvolvidas nas rainhas; entretanto, nenhuma delas teve as funções
adequadamente descritas. A glândula de Koshevnikov está associada ao ferrão
da rainha e pode, também, ser encontrada, numa forma menor, nas operárias;
vários estudos sugeriram que ela produz cheiro para atração (Altenkirch,
1962; Butler e Simpson, 1965; Hemstedt, 1969). Glândulas da Epiderme são
encontradas em todas as partes do corpo da abelha, particularmente no
abdômen. Suas funções ainda não são conhecidas, mas elas podem, também,
produzir substâncias atrativas (Heselhaus, 1922; Jacobs, 1924; Snodgrass,
1956; Renner e Vierling, 1977; Vierling e Renner, 1977). Adicionalmente, a
glândula de Dufour é bem desenvolvida nas rainhas, possivelmente por causa
da sua função de botar ovos.
As glândulas mandibulares são, também, muito desenvolvidas nas
rainhas, e elas produzem, pelo menos, dois compostos, da substância de
rainha, importantes no controle das atividades da colônia, o ácido 9-keto-
(E)-2-decenóico (Barbier e Lederer, 1960; Callow e Johnston, 1960) e o
ácido 9-hidroxi-(E)-2-decenóico (Butler, callow e Chapman, 1964). A ação
desses compostos inclui: inibir a criação de nova rainha, a enxameação, a
postura das operárias, atrair os zangões para o acasalamento, excitar as
operárias para liberação do feromônio da glândula de Nasonov, para
reconhecimento de colônia e para orientação das operária. Há diversos
outros compostos produzidos nas glândulas mandibulares da rainha, cujas
funções não são totalmente conhecidas (Callow, Chapman, e Paton, 1964).
Tabela 3.2. Algumas diferenças estruturais entre as castas das abelhas: operária,
rainha e zangão.
Fonte: Dados de Ribbands, 1953, Snodgrass, 1956, Michener, 1974, Dade, 1977, e outras
36 A Biologia da Abelha
referências citadas adiante.
3.6.1. ZANGÕES
Os zangões são projetados para sua única função significativa, o
acasalamento. Uma vez que o zangão não executa nenhum trabalho para a
colônia e é alimentado pelas operárias as estruturas relacionadas com o
trabalho são reduzidas ou estão ausentes. Por exemplo, o zangão tem uma
probóscide relativamente pequena; as glândulas salivares encefálicas são
muito reduzidas, quase vestígios; não tem glândulas cerígenas,
hipofaríngeas e de Nasonov; mandíbulas pequenas; vesícula melífera
diminuta; nenhuma estrutura para coleta de pólen nas pernas; é destituido
de ferrão. Em contrapartida, as estruturas envolvidas na orientação, vôo e
acasalamento são altamente desenvolvidas. Os olhos compostos são muito
maiores do que os das operárias, ocupando quase toda a cabeça, e com mais
Mark L. Winston 37
de 8.600 omatídios, ao invés dos 6.900 existentes nas operárias (Dade,
1977). O lóbulo ótico do cérebro é, também, muito maior no zangão e suas
antenas têm 30.000 cavidades olfativas, aproximadamente dez vezes o número
encontrado nas operárias. Estas características das antenas e dos olhos
3.6.2. RAINHAS
Muitas das estruturas existentes nas operárias, utilizadas na
realização de atividades, encontram-se, também, na rainha mas de forma
reduzida, ou estão totalmente ausentes. A probóscide da rainha é menor e
desprovida das estruturas para coleta de pólen, e as glândulas cerigenas,
hipofaríngea e de Nasonov, estão ausentes ou são apenas vestígios. A rainha
tem ferrão usado somente na luta contra rainhas rivais, com fisgas pequenas
e ineficazes, e as placas associadas estão firmemente presas, de forma que
o ferrão pode ser recolhido depois de usado. Assim, a rainha, normalmente,
não morre depois de ferroar. O saco de veneno contém duas a três vezes o
volume de veneno da operária (Owen, 1978b), possivelmente porque a rainha
precisa ferroar muitas rivais em pouco tempo. A rainha também tem algumas
glândulas bem desenvolvidas para a produção de feromônios, particularmente
as grandes glândulas mandibulares e, possivelmente, as glândulas de
Koshevnikov.
Mark L. Winston 39
muscular, a válvula dobrada, contra o tubo aberto da espermateca (Ruttner,
1956a). Uma pequena bomba, em forma de S, e uma válvula, que liga a
espermateca ao oviduto, permitem que a rainha solte uma quantidade mínima
de esperma e de fluido seminal dentro do tubo, liberando, assim, alguns
espermatozóides de cada vez (Bresslau, 1905; o Adam, 1912; Harbo, 1979)
(Fig. 3.22). Isso é importante para a rainha, uma vez que ela será
substituída e morta pelo enxame, quando lhe faltar esperma. A espermateca
pode conter até sete milhões de espermatozóides (Dade, 1977), e demora,
geralmente, de 2 a 4 anos, depois do acasalamento, para todo o esperma ser
Fig. 3.23. Os ovários de uma operária normal, de uma operária poedeira e de uma
princesa. (Redesenhado, a partir de Dade, 1977.)
40 A Biologia da Abelha
4
4.. D
DEES
SEEN
NVVO
OLLV
VIIM
MEEN
NTTO
OEEN
NUUT
TRRIIÇ
ÇÃÃO
O
O processo de crescimento e metamorfose da abelha envolve algumas das
mais complexas interações numa colônia de insetos sociais. Do ponto de
vista mais simples, o desenvolvimento da abelha pode ser examinado da
perspectiva de uma única abelha que passa por várias fases, antes de
emergir, finalmente, como inseto adulto. Mas a metamorfose de ovo a adulto
não é exclusiva das abelhas: a maioria dos insetos passa por processo
semelhante. O que separa os insetos sociais, como as abelhas, dos
solitários são as interações que ocorrem entre a cria e os adultos, e são
estas relações que expressam muitos dos aspectos únicos da sociedade das
abelhas.
Mark L. Winston 41
4.1.1. OVOS
Os ovos, assim que postos pelas rainhas, são pequenos e sem
definição, considerando os adultos elaborados nos quais se transformarão.
Eles são de cor branco-pérola, cilíndricos e com a forma de ovo alongado,
ligeiramente curvos, com a ponta que se desenvolverá na cabeça um pouco
mais espessa que a ponta abdominal. Internamente, o ovo consiste na célula
original do ovo e numa grande quantidade de gema depositada pela rainha
antes de por o ovo.
Quando a rainha põe um ovo, ela o cola, por uma das extremidades, no
fundo do alvéolo, de forma que ele parece estar em pé. É posto,
normalmente, um só ovo por alvéolo. Durante 3 dias, aproximadamente,
período que antecede à eclosão, o ovo cai gradualmente, encostando,
finalmente, no fundo. A eclosão do ovo e a passagem para a primeira fase
larval são quase indiscerníveis: a larva se expõe lentamente, enquanto o
embrião se move e a membrana do ovo se dissolve. Todos os outros insetos
eclodem dos ovos, rompendo as membranas; a dissolução gradual da membrana,
durante a eclosão, parece ser exclusiva das abelhas (DuPraw, 1961, 1967).
Existe uma variabilidade considerável no tamanho do ovo e no tempo de
desenvolvimento; ambos têm componentes genéticos e ambientais. Existem
registros de ovos de operária e rainha pesando entre 0,12 a 0,22mg (Taber e
Roberts, 1963; Roberts e Taber, 1965; DuPraw, 1967), e comprimento variando
entre 1,3 a 1,8mm. Algumas dessas variações podem ser explicadas pelas
diferenças hereditárias entre as rainhas e pelos cruzamentos híbridos entre
linhagens com pesos alto e baixo, resultando em ovos de peso intermediário
(Taber e Roberts, 1963). Mas até mesmo ovos da mesma rainha podem variar
muito. DuPraw (1961) constatou que o ovo posto por uma rainha tem quase a
metade do tamanho do outro, posto por ela, 90 minutos antes; no entanto,
ambos se desenvolvem normalmente e eclodem quase simultaneamente. Os ovos
perdem, também, aproximadamente 30% do seu peso durante a incubação,
principalmente devido à perda de água (DuPraw, 1967).
O tempo de desenvolvimento, da postura à eclosão, também varia
amplamente, existindo registros com valores variando entre 48 a 144 horas.
O tempo médio, porém, da incubação, considerado normal, é de setenta e duas
horas. As abelhas tropicais têm períodos de desenvolvimento menores em
todas as fases, inclusive na fase de ovo; o tempo de desenvolvimento do
ovo, para a abelha africanizada, é de 70 a 71 horas (Tribe e Fletcher,
1977; Harbo et al., 1981), enquanto os ovos da abelha européia eclodem
entre 72 a 76 horas (DuPraw, 1961; Harbo et al., 1981).
4.1.2. LARVAS
As larvas de abelha são, essencialmente, máquinas de comer,
projetadas para crescer rapidamente, despojadas de todas as partes externas
dispensáveis e equipadas com um enorme sistema digestivo. A larva é
semelhante a uma minhoca branca sem pernas, sem olhos, sem antenas, sem
asas, nem ferrão e que possui as partes bucais simples e necessárias, tão-
somente para apanhar a copiosa quantidade de comida, colocada pelas
operárias adultas, nos alvéolos. A maior parte da cavidade do corpo é
ocupada pelo estômago intermediário e posterior, bem como pelas outras
estruturas principais, que são as glândulas salivares secretoras de enzima
e os tubos excretores (Fig. 4.2).
As abelhas em desenvolvimento passam por seis mudanças, durante as
quais o exosqueleto exterior é substituído; cinco acontecem durante a fase
larval e a última quando a abelha emerge como adulto. As primeiras quatro
mudanças larvais ocorrem, aproximadamente, uma por dia para operárias e
rainhas e permitem à larva crescer rapidamente, através da substituição do
exosqueleto, toda vez que este fica pequeno. Durante este tempo, o alvéolo
42 A Biologia da Abelha
está desoperculado e as abelhas-amas alimentam a larva com grandes
quantidades de comida de cria, colocando-a no alvéolo ou até mesmo em cima
da larva. A larva pode girar, dentro do alvéolo, para apanhar a comida que
não esteja próxima da sua boca (Lindauer, 1952). Neste ponto, as larvas são
fechadas hermeticamente nos seus alvéolos, com opérculos de cera feitos
pelas operárias adultas; às vezes, sobra um pouco de alimento que pode ou
não, ainda, ser ingerido.
Fig. 4.2. Anatomia externa e interna de uma larva de operária. (Redesenhado, a partir
de Dade, 1977.)
Os últimos dias da vida larval são gastos na construção de um casulo
dentro do alvéolo. Para tecer o casulo, a larva se endireita e se espicha
completamente no alvéolo, com a cabeça voltada para a extremidade
operculada (Jay, 1963b), e começa a tecer o casulo com seus spinnerets. A
principal substância utilizada no casulo é a seda secretada pelo órgão que
se transformará nas glândulas salivares torácicas do adulto. A larva
defeca, também no início da construção do casulo; os tubos excretores e o
estômago estavam fechados até a alimentação ter completado; agora seu
conteúdo é descarregado no fundo do alvéolo. As fezes, de cor marrom
escuro, e uma substância de cor clara do tubo excretor compõem a maioria
dos materiais deixados durante a construção de casulo (Jay, 1964a). Esta
última fase larval é chamada de fase pré-pupal, pois a última muda larval é
a metamorfose para pupa. A larva pré-pupal começa a assumir o formato de
abelha adulta um pouco antes de o exosqueleto ser formado, e, logo após a
muda, as formas de abelha adulta são óbvias na pupa (Jay, 1962a). As asas,
porém, aparecem como pequenos blocos presos ao tórax.
A duração das fases larvais varia entre as castas e as raças de
abelhas, com as rainhas apresentando o menor tempo de desenvolvimento
larval, seguida pelas operárias e pelos zangões. O tempo de desenvolvimento
da larva é considerado, normalmente, como sendo a duração do período larval
não operculado, uma vez que isto é mais fácil de observar. Para as
operárias das raças européias, esse tempo varia entre 5 e 6 dias, com um
tempo médio de 5,5 dias, e com mínimo e máximo entre 4 e 11 dias,
respectivamente. Para as operárias africanas tropicais, o período de larva
não operculada é menor, cerca de 4,2 dias (Tribe e Fletcher, 1977). Para as
rainhas européias, a fase larval não operculada dura de 3 a 5 dias, com um
tempo médio de 4,6 dias, e para os zangões europeus a duração do período
Mark L. Winston 43
larval não operculado é de 4 a 7 dias, com média de 6,3 dias. Depois de
operculadas, o tempo de fiação do casulo e pré-pupal é de 3 a 5 dias para
as operárias, 3 a 4 para as rainhas e 4 a 6 para os zangões.
As três castas ganham uma enorme quantidade de peso durante a fase
larval, aproximadamente 900, 1.700 e 2.300 vezes o peso do ovo para
operárias, rainhas e zangões, respectivamente. O peso da operária no
momento de opercular é aproximadamente 140mg; as rainhas e zangões pesam
aproximadamente 250 e 346mg, respectivamente. Elas também aumentam no
comprimento: as operárias, entre larva e adulto, aumentam de 2,7 para
17,0mm, e as rainhas de 4,2 para 26,5mm.
Fig. 4.3. Tempo médio de desenvolvimento e fases para operárias, zangões e rainhas.
4.1.3. PUPAS
A fase pupal é a última etapa, antes da última muda para inseto
adulto, quando cabeça, olhos, antenas, partes bucais, tórax, pernas e
abdômen, todos, apresentam as características de adulto; só as asas ainda
são pequenas e pouco desenvolvidas. À medida que a pupa se desenvolve, a
cutícula fica, gradualmente, mais escura e, estas bem definidas mudanças de
cor, podem ser usadas para determinar a idade da pupa (Jay, 1962b). As
44 A Biologia da Abelha
pupas não crescem nem mudam a forma externa, mas internamente os músculos e
os órgãos sofrem grandes mudanças para adquirir as formas de adulto. Essa
fase dura aproximadamente 8 a 9 dias para as operárias e os zangões, e 4 a
5 dias para rainhas, e é seguida pela última muda para a fase de adulto.
Após a formação da casca do exosqueleto final, o adulto recém-formado
permanece dentro do alvéolo por várias horas, enquanto a nova cutícula
endurece. Para emergir, o tenro adulto começa usando suas mandíbulas para
abrir pequenos furos no opérculo do alvéolo, e simultaneamente ele gira
dentro do alvéolo; as antenas aparecem, freqüentemente, por estes furos. Os
pedaços de opérculo de cera são manipulados com as mandíbulas permanecem
presos na parede do alvéolo, de onde as operárias adultas os apanham e os
usam de novo para opercular outros alvéolos. Depois de muito roer, e
algumas tentativas fracassadas, a abelha emergente aumenta suficientemente
o furo no opérculo e, finalmente, sai. Uma vez fora do alvéolo, o tenro
adulto desdobra suas asas e antenas, permite que os pêlos do corpo sequem e
começa suas atividades.
O tempo total de desenvolvimento, desde a postura do ovo até o
aparecimento do adulto, para abelhas européias é considerado como sendo 16,
21 e 24 dias para rainhas, operárias e zangões, respectivamente (Fig. 4.3).
Existe, porém, uma variação considerável nesses tempos, havendo registros
dentro da faixa de 14 a 17, 16 a 24, e 20 a 28 dias para as três castas.
Muito desta variabilidade é atribuída a fatores ambientais, particularmente
temperatura e nutrição. Temperaturas abaixo da temperatura normal do ninho
da cria, 35oC, em qualquer fase, pode atrasar o aparecimento em até 5 dias,
e a alimentação deficiente da larva pode, também, atrasar o
desenvolvimento. A cria da periferia da colônia demora mais tempo para se
desenvolver do que a cria localizada no centro do ninho, provavelmente, por
causa da dificuldade em manter a temperatura e umidade constantes nesses
locais (Fukuda e Sakagami, 1968).
Existe, também, uma razão genética para a diferença no tempo de
desenvolvimento; operária e rainha da abelha de evolução africanizada têm
tempo de desenvolvimento menor do que as raças de evolução temperada, com a
média oscilando entre 18,5 e 15 dias, respectivamente (Kerr et al., 1972;
Tribe e Fletcher, 1977; Fletcher, 1978a; Winston, 1979b). O zangão se
desenvolve em 24 dias, igual ao das raças européias (Smith, 1960). A
redução no tempo de desenvolvimento da fêmea, das abelhas tropicais é um
dos fatores que contribuem para a característica de crescimento rápido dos
enxames dessas raças (Fletcher, 1978a; Winston, Taylor, e Otis, 1983), o
que contribui, como conseqüência, para a maior fecundidade da abelha
africanizada. É interessante observar que operárias híbridas entre raças
européias e africanas apresentam um tempo intermediário de desenvolvimento,
aproximadamente 20 dias desde ovo até adulto, indicando a importância do
fator hereditário na duração dos estágios da cria (Garofalo, 1977).
É notável que em condições normais da colônia a mortalidade da cria é
baixa, e os enxames podem cuidar da maioria dos ovos postos pela rainha até
o estágio de abelha adulta (Fig. 4.4). Num estudo sobre a sobrevivência de
operárias em colônias de abelhas italianas (A. m. Ligústica), no verão, 94%
dos ovos postos sobreviveram até a fase larval, 86% até a fase de cria
operculada e 85% chegaram à fase adulta (Fukuda e Sakagami, 1968). A baixa
taxa de mortalidade, característica da fase de cria operculada, deve-se ao
fato de a cria não necessitar de alimentação e ser menos sensível às
flutuações ambientais do que o ovo e as fases larvais ainda não
operculadas. Já foram observadas taxas de sobrevivência de operária até
mais altas: 90% e até 97% dos ovos postos por rainhas das raças européia e
africanizada chegaram à idade adulta (Winston, Dropkin, e Taylor, 1981). A
taxa de sobrevivência dos zangões (A. M. Ligústica) é um pouco mais baixa,
cerca de 56% desde ovo até inseto adulto, com 82% sobrevivendo até a fase
Mark L. Winston 45
de cria aberta e 60% sobrevivendo até os alvéolos serem operculados. Cria
de zangão na periferia do ninho tem a menor taxa de sobrevivência, com a
cria operculada apresentando a menor mortalidade da cria (Fukuda e Ohtani,
1977). A taxa de sobrevivência da cria de rainha é semelhante à do zangão,
aproximadamente, 53% desde ovo até adulto (91% como ovo, 75% como larva)
(Lee, 1985).
O efeito das condições ambientais dentro da colmeia, na sobrevivência
da cria, é confirmado por observações da cria em condições críticas, quando
a mortalidade é muito mais alta. Por exemplo, enxames de abelhas
africanizadas, recentemente alojadas, apresentaram 32% de mortalidade da
cria, e colônias de abelhas européias e africanizadas, apresentaram, após a
enxameação, mortalidade de 42% e 44%, respectivamente (Winston, Dropkin, e
Taylor, 1981). Colônias que perderam suas rainhas exibem, também, alta
mortalidade da cria, cerca de 44 a 50% (Winston 1979b; Punnett e Winston,
1983). As condições existentes nessas colônias, ou mesmo em colônias
saudáveis, na periferia do ninho da cria, são críticas pois não há
operárias suficientes, particularmente abelhas-amas, para atender a cria
adequadamente e manter a temperatura e a umidade apropriadas para um ótimo
desenvolvimento. No entanto, nem mesmo a cria morta é perdida, uma vez que
a maior parte da cria não criada é comida pelas operárias (Myser, 1952;
Fukuda e Sakagami, 1968; Woyke, 1977). Com a falta de pólen, o canibalismo
da cria é uma fonte de proteína importante para a sobrevivência dos adultos
até que as condições melhorem (Weiss, 1984).
Fig. 4.4. Proporção de cria que sobrevive até a eclosão do ovo, operculação do
alvéolo e emergência do adulto operária, zangão e princesa das raças européias e para as
primeiras operárias, de abelhas africanizadas, a emergir logo após a instalação da colônia,
a partir de enxames.
Outros fatores que, além das condições da colônia, contribuem para a
mortalidade da cria incluem consangüinidade e anomalias no desenvolvimento.
Para ovos femininos, o aumento da consangüinidade resulta numa alta taxa de
morte da cria, acima, freqüentemente, de 50% dos ovos postos por rainhas
fertilizadas por seus irmãos (Woyke, 1962; Page, 1980). Mais comumente,
ovos masculinos e femininos exibem anomalias de desenvolvimento antes e
depois da postura, ou, então, falham na eclosão (Fukuda e Sakagami, 1968;
Fukuda e Ohtani, 1977).
Mark L. Winston 47
mais recentes (Nowogrodzki, 1984).
Uma vez emergidas, as operárias podem viver só alguns dias ou até um
ano, dependendo principalmente de fatores sazonais, disponibilidade de
alimento, atividades executadas durante a vida e raça. O padrão geral, em
climas temperados, é as operárias viverem menos no verão; a longevidade
média, para as operárias, no verão, de 15 a 38 dias foi registrada por
diversos autores (revisado por Ribbands, 1953; Fukuda e Sekiguchi, 1966;
Michener, 1974; e Winston, Taylor, e Otis, 1983). As operárias têm, durante
a primavera e outono, tempo de vida intermédiário, normalmente, 30 a 60
dias, enquanto a vida média no inverno é de aproximadamente 140 dias
(Fukuda e Sekiguchi, 1966). Sabe-se, no entanto, de operárias que viveram,
no inverno, 304 dias ( Anderson, 1931) e, até mesmo, 320 dias (Farrar,
1949) dias. As operárias de inverno têm as glândulas hipofaríngeas e os
corpos gordos bem desenvolvidos, devido ao consumo de pólen durante o
outono, características que parecem contribuir para o aumento de seu tempo
de vida. As operárias do inverno são, também, relativamente, inativas e têm
taxas metabólicas mais lentas do que as abelhas do verão (Corkins e
Gilbert, 1932), o que aumenta, também, a sua longevidade. Em qualquer época
do ano, alimentação apropriada é necessária para que as operárias alcancem
o máximo de sua longevidade potencial (Maurizio, 1950; Haydak, 1970).
A raça de uma operária é, também, importante na determinação de sua
longevidade: as abelhas tropicais têm menor tempo de vida do que as abelhas
de raças temperadas. Por exemplo, operárias africanizadas, durante a
estação seca da América do Sul, equivalente a um verão temperado,
sobrevivem, em média, só 12 a 18 dias, muito menos dias do que a média de
abelhas européias (Winston, 1979c; Winston, Dropkin, e Taylor, 1981). O
tempo de vida, durante o inverno, na Polônia, de abelhas africanas é de só
90 dias, novamente muito menor do que de raças européias (Woyke, 1973a).
Até mesmo dentro de uma única raça de abelhas a longevidade tem um
componente genético forte. Kulincevic e Rothenbuhler (1982), por exemplo,
conseguiram selecionar linhagens de abelhas italianas de grande e pequena
longevidade (A. M. Ligústica).
As atividades das operárias influenciam, também, o seu tempo de vida.
A longevidade das primeiras operárias africanizadas a emergirem na colmeia,
depois que o enxame se estabeleceu, é a menor de todas as abelhas, e a
média não passa dos 12 dias (Winston, 1979b). O seu curto tempo de vida
está ligado, indubitavelmente, à grande quantidade de serviços a serem
feitos para instalar o ninho, desenvolver a cria e forragear, enquanto a
população da colônia ainda é baixa. É interessante notar: as operárias de
raças européias, que emergem em colônias estabelecidas a partir de enxames,
não apresentam tal diminuição do tempo de vida, sugerindo que a integração
global para execução das tarefas e crescimento da colônia pode ser
notadamente diferente em abelhas de evolução tropical (Winston, Dropkin, e
Taylor, 1981). O meio ambiente da colmeia e a súbita queda da população de
operárias, causada por eventos, como enxameação, depredação, dano ao ninho
e doença, podem, também, influenciar o tempo de vida (Winston e Katz, 1982;
Winston e Fergusson, 1985).
O zangão vive, normalmente, entre 21 e 32 dias durante a primavera e
o meio do verão, embora já existam registros de tempo de vida tão pequeno
quanto 14 dias e longevidade máxima, média, de 43 dias (Jaycox, 1956;
Drescher, 1969; Witherell, 1972; Fukuda e Ohtani, 1977). No final do verão
e no outono, os zangões podem sobreviver até 90 dias, mas, com a
aproximação do inverno, eles são, normalmente, expulsos do ninho, e algum,
ou nenhum, sobrevive ao inverno (Fukuda e Ohtani, 1977).
Das três castas da abelha, a rainha é a que tem o maior tempo de vida
e sobrevive, geralmente, de 1 a 3 anos. Num estudo sobre a história da vida
48 A Biologia da Abelha
de colônias não manejadas, 79% das rainhas viveram durante 1 ano, 26%
durante 2 anos, e, virtualmente, nenhuma rainha viveu mais do que 3 anos
(Seeley, 1978). Estes dados estão de acordo com as recomendações de manejo
de rainhas na exploração apícola, que recomenda a substituição da rainha
das colônias, aproximadamente, a cada 2 anos. Existem registros, porém, de
rainhas com maior tempo de vida; Bozina (1961) observou que mais de 35% das
rainhas de colônias naturais vivem 4 a 6 anos e, ainda, que três rainhas
viveram 8 anos ou mais.
4.2. Nutrição
As três castas de abelha têm necessidades nutricionais e mecanismos
de alimentação um pouco diferentes para satisfazerem suas necessidades,
como também, a larva e o adulto dentro de cada casta. Mas os materiais
básicos para cria, abelhas adultas, sejam elas operárias, rainhas ou
zangões, são os mesmos: néctar e pólen. Esses dois produtos florais provêem
a comida necessária para o crescimento larval, a metamorfose e o
desenvolvimento do adulto e suas atividades. O néctar provê, basicamente,
carboidratos, na forma de açúcares, e o pólen, proteínas, lipídios,
vitaminas e minerais. As abelhas desenvolveram vários mecanismos para
processar o néctar e o pólen, de forma que a comida fornecida em cada fase
e a cada casta é a ideal para as suas necessidades.
4.2.1. NÉCTAR
As abelhas obtêm a maior parte da energia de que precisam, a partir
de carboidratos na forma de açúcares produzidos pelas plantas,
principalmente do néctar produzido pelas flores, mas também,
ocasionalmente, de nectários extraflorais ou secreções de insetos
(honeydew) que se alimentam em plantas. O néctar floral é uma secreção
aquosa da planta que contém de 5 a 80% de açúcar e quantidades pequenas de
compostos nitrogenados, minerais, ácidos orgânicos, vitaminas, lipídios,
pigmentos e substâncias aromáticas (Branco, 1975). Dessas últimas
substâncias só o ácido ascórbico (vitamina C) é encontrado, em quantidade
apreciável, no néctar; o teor de proteína do mel é, normalmente, menor que
0,2% (White e Rudyj, 1978). Sacarose, glicose e frutose são os principais
açúcares encontrados no néctar, e os néctares podem ser classificados, de
forma genérica, em três grupos: (1) predominantemente, ou apenas, sacarose,
(2) proporções, aproximadamente, iguais de sacarose, glicose e frutose e
(3) predominantemente glicose e/ou frutose. Além desses três açúcares, α-
metil-glucosídio, maltose, trealose e melezitose têm valor nutritivo para
as abelhas. A maioria dos outros açúcares não têm sabor doce nem valor
nutritivo. Alguns açúcares, como manose, galactose e ramnose, ou são
tóxicos para as abelhas ou causam a redução de sua longevidade (von Frisch,
1934, 1965).
O néctar coletado pelas operárias forrageadoras pode ser fornecido
diretamente para a cria e as abelhas adultas, mas é comumente transformado,
primeiro, em mel (revisado por Gary, 1975, e Maurizio, 1975). O néctar é
levado até o ninho, dentro da vesícula melífera, e transferido para as
operárias de casa para ser processado. São adicionadas ao néctar, durante a
coleta, enzimas das glândulas hipofaríngeas, especificamente, diastase,
invertase e glucose oxidase. Essas enzimas quebram os açúcares em formas
invertidas simples que são mais facilmente digeridas pelas abelhas e
protegem, também, o mel armazenado de ataques bacterianos. O néctar é
evaporado, então, sobre a língua da operária e é colocado em alvéolos para
evaporação adicional através da ventilação; o teor de água é reduzido,
geralmente, para menos de 18%, a fim de protegê-lo das leveduras. Quando a
atividade enzimática e a evaporação da água estão completas, considera-se
que o néctar está ”maduro" e pode, então, ser chamado de mel, o qual é
Mark L. Winston 49
fechado hermeticamente com opérculo de cera, até ser necessário para
alimentar as larvas ou os adultos. Uma larva de operária necessita de,
aproximadamente, 142mg de mel para seu desenvolvimento, e as exigências
anuais de mel para uma colônia foram calculadas em, aproximadamente, 60 a
80kg (Weipple, 1928; Rosov, 1944; Seeley, 1985a).
4.2.2. PÓLEN
Pólen é o plasma do germe masculino das plantas, mas além de ser
necessário para a reprodução das plantas, muitos polens evoluíram para
serem atraentes e comíveis para as abelhas. Isto é, na verdade, vantajoso
para ambos, abelhas e plantas, uma vez que as abelhas necessitam do pólen
para seu crescimento e desenvolvimento e muitas plantas necessitam das
abelhas para transferir o pólen entre as flores. Para a abelha o componente
mais importante do pólen é a proteína. Os polens contêm, normalmente, de 6
a 28% de proteína e são, virtualmente, a única fonte de proteína natural
disponível para as abelhas. Os polens contêm, também, lipídios (variando de
1 a 20%, mas, normalmente, menos de 5%), que também são importantes para a
nutrição das abelhas. Um outro material, os esteróis, estão presentes em
quantidades menores no pólen, mas são essenciais. A maioria dos polens
contêm menos de 0,5% de esteróis, necessários, porém, para o metabolismo da
abelha, uma vez que as abelhas não podem sintetizar nenhum colesterol sem
os precursores obtidos do pólen. Os polens contêm, também, açúcares, gomas,
vitaminas e minerais, todos importantes para a nutrição da abelha. Há uma
variabilidade considerável no valor nutritivo dos polens de plantas
diferentes, em parte, por causa das quantidades diferentes de proteína; a
importância dos outros componentes encontrados no pólen não está bem
conhecida (Parker, 1926; Vivino e Palmer, 1944; Maurizio, 1954, 1960;
Stanley e Linskens, 1974).
Uma vez depositado na colmeia, pelas forrageadoras, as operárias
tratam de evitar a germinação do pólen, começam o processo digestivo e o
preparam para armazenamento por longo prazo. O ácido fitocidal é adicionado
ao pólen, quando compactado no alvéolo, para evitar sua germinação e a
atividade bacteriana prejudicial. A natureza química dessa substância ainda
não é conhecida, mas parece ser produzida nas glândulas hipofaríngeas e/ou
mandibulares (Maurizio, 1959; Chauvin e Lavie, 1956; Lavie, 1960; Pain e
Maugenet, 1966). Pode ser relacionado ao ácido 10-hidróxi-2-decenóico
(Keularts e Linskens, 1968). Ocorre, também, alguma digestão preliminar do
pólen, como resultado das enzimas adicionadas pelas operárias, e ocorre,
possivelmente, alguma ação bacteriana benéfica. Por exemplo, a sacarose é
profundamente invertida pela invertase adicionada pela operária e o pólen
armazenado tem um alto teor de histamina e vitamina K, indicativo de ação
bacteriana. As enzimas adicionadas com o mel, quando o pólen é armazenado
nos alvéolos, previne o metabolismo anaeróbico e sua fermentação, o que
contribui para a longevidade do pólen armazenado. Quando o pólen está
completamente processado para armazenamento, é, freqüentemente, chamado
"pão de abelha", uma vez que está pronto para ingestão e digestão pelas
abelhas.
O processo da digestão do pólen, ainda não totalmente conhecido, é um
desafio para as larvas e adultos por causa dos componentes duros e não
digeríveis da parede do pólen. Quando ingerido, o pólen passa rapidamente
pela vesícula melífera para o ventrículo onde ocorre a digestão. Parece que
os grãos de pólen são muito pouco quebrados, mecanicamente, pelas partes
bucais ou pela válvula do proventrículo (Parker, 1926; Whitcomb e Wilson,
1929). Uma vez no ventrículo, as membranas secretoras de enzimas envolvem o
bolo de pólen e protegem o ventrículo das pontas afiadas e da superfície
abrasiva da parede do pólen (Barker e Lehner, 1972). A digestão dos
nutrientes utilizáveis do pólen ocorre, ou através dos poros de germinação,
50 A Biologia da Abelha
ou através da parede, que é rompida pelo choque osmótico (Kroon, van
Praegh, e Velthuis, 1974; Stanley e Linskens, 1974; Klungness e Peng,
1984). A massa de pólen demora, geralmente, de 1 a 3 horas para atravessar
o sistema digestivo. O processo digestivo é semelhante nas larvas e
adultos, embora as larvas jovens não sejam muito alimentadas, diretamente,
com pólen. A quantidade de pólen exigida para criar uma única larva de
operária, foi calculada em 125 a 145mg, contendo aproximadamente 30mg de
proteína (Alfonsus, 1933; Rosov, 1944). As exigências anuais de uma colônia
variam, mas já foram citados valores que variam de 15 a 55kg (Eckert, 1942;
Ribbands, 1953; Hirschfelder, 1951; Louveaux, 1958; Seeley, 1985a).
Mark L. Winston 51
adequado (Petit, 1963; Haydak, 1970).
Embora os lipídios não sejam geralmente considerados nutrientes
principais para os insetos, alguns desses são essenciais para o crescimento
e desenvolvimento apropriados. As larvas alimentadas com comida de cria sem
lipídios adquirem peso e crescem mais rapidamente do que as larvas
alimentadas com comida de cria normal, e dietas isentas de lipídios
resultam numa taxa de mortalidade maior na fase pré-pupal e na falha no
tecimento do casulo (Smith, 1960; Petit, 1963; Haydak, 1970). Assim, a
eliminação dos lipídios reduz os componentes da dieta que limitam o
crescimento para uma taxa normal, e são essenciais à metamorfose. Dois
destes componentes foram identificados como sendo o ácido graxo 10-hidroxi-
trans-2-decenóico (10-HDA), que é produzido nas glândulas mandibulares e
participa da comida de cria com aproximadamente 4% (Butenandt e Rembold,
1957; Barker et al., 1959; Callow, Johnston, e Simpson, 1959), e esteróis,
principalmente o colesterol 24-metileno, que participa da comida de cria
com aproximadamente 0,25% (Barbier e Bogdanovsky, 1961). A re-adição destes
componentes em dietas livres de lipídios previne o crescimento larval
acelerado e permite a formação normal da pupa e subseqüente aparecimento do
adulto (Kinoshita e Shuel, 1975).
52 A Biologia da Abelha
crescimento normal, só dez aminoácidos são essenciais: arginina, histidina,
lisina, triptofano, fenilalanina, metionina, treonina, leucina, isoleucina
e valina (de Groot, 1953). As exigências de lipídios, vitaminas e minerais,
pelas abelhas adultas, não foram bem estudadas. Em dois estudos, encontrou-
se que as vitaminas são necessárias para o desenvolvimento das glândulas
hipofaríngeas (Serian-Back, 1961; Standifer e Mills, 1977), mas, em outro
estudo, foi encontrado que o desenvolvimento daquelas glândulas e dos
corpos gordos são normais com dieta livre de vitamina (Maurizio, 1954).
Operárias velhas apresentam crescentes quantidades de vários minerais que
podem estar relacionados às tarefas por elas exercidas, mas esta relação
não foi comprovada (Dietz, 1971). Operárias adultas parecem ter exigências
de lipídios semelhantes às das larvas, entretanto em menores quantidades,
mas se elas precisam de lipídios, em suas dietas, além do que é consumido
pelas larvas, tem que ser, ainda, definido.
Mark L. Winston 53
4.3.3. LARVAS DE ZANGÃO
Relativamente pouco é conhecido sobre a nutrição das larvas de
zangão, embora pareça existir alguma diferença na composição da comida de
cria fornecida para o desenvolvimento dos zangões e das operárias. Os
zangões recebem muito mais comida do que as operárias, por causa do seu
tamanho maior, e, além disso, a sua comida de cria tem maior número de
diferentes proteínas do que a comida fornecida à cria de operária
(Gontarski, 1954). A comida das larvas de zangão mais velhas contém,
também, mais carboidrato, riboflavina e ácido fólico do que a das larvas
mais jovens e menos tiamina, biotina, ácido pantotênico, choline,
piridoxina, proteína, gordura, cinza e niacina. Estas diferenças são
devidas, em parte, à maior quantidade de mel e pólen na dieta das larvas
mais velhas, mas refletem, também, variações na composição da comida de
cria (Haydak, 1957; Matsuka, Watabe, e Takeuchi, 1973).
Durante os primeiros dias de vida, os zangões adultos são alimentados
exclusivamente pelas operárias e, depois, gradualmente, começam a se
alimentar com mel dos alvéolos; com, aproximadamente, uma semana de idade
passam a se alimentar sozinhos. Os zangões jovens imploram por comida às
operárias adultas de qualquer idade, mas só são alimentados pelas operárias
jovens, com idade em que produzem comida de cria. A comida dada ao zangão
recém-emergido é uma mistura de comida de cria, pólen e mel e, em alguns
casos, produto regurgitado diretamente da vesícula melífera (Free, 1957b;
Ruttner, 1966; Haydak, 1970). A produção de espermatozóides não depende da
quantidade de proteína fornecida aos zangões jovens, mas a comida de cria e
o pólen fornecidos podem influenciar na longevidade e na habilidade de
acasalamento, embora isto, ainda, não tenha sido estudado, detalhadamente.
Os zangões mais velhos se alimentam exclusivamente de mel no favo que lhes
fornece a energia necessária para os vôos de acasalamento. Um zangão em
repouso requer só 1 a 3mg/h de açúcar e quando em vôo consome 14mg/h,
(Mindt, 1962), um pouco mais do que as operárias.
4.3.4. RAINHAS
A quantidade e qualidade da comida fornecida às larvas femininas
determina se essas larvas se desenvolverão em operárias ou princesas, como
será discutido na próxima seção, determinação da casta. As rainhas adultas
são alimentadas pelas operárias com idade em que produzem comida de cria e,
presumivelmente, recebem principalmente comida de cria possivelmente com um
pouco de mel (Allen, 1955, 1960; Haydak, 1970). As rainhas isoladas podem
ser alimentadas com cândi, e podem sobreviver durante muitas semanas
(Weiss, 1967), mas as rainhas em colônias raramente, talvez nunca, se
alimentam sozinhas. Como poderia ser esperado, a intensidade da alimentação
da rainha está relacionada com sua taxa de postura; a quantidade de comida,
a duração de cada alimentação e o tempo total de alimentação cresce quando
a colônia e a postura da rainha crescem (Chauvin, 1956; o Allen, 1960)
(Fig. 4.5). A rainha põe apenas 2 ou até 26 ovos entre alimentações
sucessivas e, geralmente, é alimentada por uma só operária entre duas
posturas, embora já tenham sido vistas cinco operárias alimentando-a
sucessivamente (Istomina-Tzvetkova, 1953; o Allen, 1955).
54 A Biologia da Abelha
casta, se conhece induzindo as abelhas a produzirem adultos incomuns, como
zangões diplóides, operárias poedeiras e alguns casos de fêmeas
partenogenéticas, rainhas, a partir de larvas velhas, e intercastas
(indivíduos com características de operária e de rainha). Considerando tudo
o que pode ocorrer de errado na determinação da casta, é notável que as
colônias produzam a casta desejada tão freqüentemente.
4.4.1. GENÉTICA
A primeira diferenciação entre as castas de abelhas é em masculina e
feminina. A razão para esta diferenciação envolve o mecanismo de
determinação do sexo para todos os himenópteros e alguns outros insetos;
ovos haplóides se desenvolvem em machos e ovos diplóides, em fêmeas. Assim,
se o esperma não é lançado, quando a rainha bota um ovo, esse ovo não
fertilizado tem um número haplóide de cromossomos, ou só um conjunto. Se o
esperma se junta ao ovo, é restabelecido o número diplóide, e uma fêmea é
produzida. Controlando a liberação do esperma, antes de botar o ovo, a
rainha pode determinar se daquele ovo emergirá um macho ou uma fêmea.
Fig. 4.6. Fatores que determinam a diferenciação no desenvolvimento dos ovos postos
pela rainha em operárias, rainhas ou zangões.
Uma vez que a rainha quase sempre bota ovos não fertilizados nos
alvéolos de zangão, maiores, e ovos fertilizados nos alvéolos de operária,
menores, ela deve ter condições de identificar o tamanho do alvéolo, antes
da liberação do esperma. De acordo com uma hipótese, que explica como as
rainhas identificam o tamanho do alvéolo, uma vez que o alvéolo de operária
é menor que o alvéolo de zangão, a pressão exercida pela parede do alvéolo,
sobre o abdômen, expulsa o esperma para fora da espermateca e o ovo é
fertilizado (Petrunkewitsch, 1901). Isso, porém, parece improvável, porque
as rainhas botam ovos corretamente em alvéolos que ainda não foram
alongados e a anatomia da espermateca não é condizente com esta idéia
(Koeniger, 1970). Uma segunda hipótese é que a rainha identifica o tamanho
do alvéolo, durante sua inspeção, antes de pôr o ovo: a rainha coloca a
Mark L. Winston 55
cabeça e as pernas dianteiras dentro do alvéolo, retira, então, a cabeça,
vira, curva o abdômen e põe o ovo. Amputando, parcial ou totalmente, as
pernas dianteiras da rainha, ela porá muitos ovos femininos em alvéolos de
zangão, mas não porá, no entanto, ovos de zangão em alvéolos de operária.
Esta constatação sugere que a fertilização do ovo seja suspensa por um
estímulo, obtido durante a inspeção do alvéolo de zangão com as pernas
dianteiras (Koeniger, 1969, 1970). Um mecanismo adicional para medir o
alvéolo pode, também, influir no ângulo do abdômen, durante a oviposição
nos dois diferentes tamanhos de alvéolos.
As rainhas, ocasionalmente, põem ovos fertilizados em alvéolos de
operária que podem, potencialmente, se desenvolver em machos, chamados
zangões diplóides. Uma explicação para esse fenômeno foi proposta, pela
primeira vez, por Mackensen (1951), que sugeriu que o sexo da cria de
abelha fertilizada é determinado num único loco de gene, com múltiplos
alelos. As estimativas do número de alelos variam de 6 a 18 e indivíduos
homozigotos, neste loco, se tornam machos diplóides (revisado por Page,
1980). A condição de zangão diplóide é, invariavelmente, letal, pois as
larvas de zangões diplóides são comidas pelas operárias, 72 horas após a
eclosão, possivelmente, porque uma substância secretada pela larva do
zangão diplóide provoca o canibalismo (Woyke, 1963). Ovos masculinos
normais são haplóides e hemizigotos e, assim, não provocam esse
comportamento. Criando zangões diplóides artificialmente, Woyke (1969,
1973b) pôde mostrar que aqueles machos diplóides, quando se tornam adultos,
têm testículos pequenos e produzem pouco sêmen, o que os torna
funcionalmente infecundos. Assim, comendo larvas jovens de zangões
diplóides, as operárias previnem o desperdício de comida e de espaço
criando indivíduos sem função.
Sob certas condições, as operárias podem, também, por ovos que,
normalmente, se desenvolvem em zangões. Embora numa colônia com rainha não
ocorra quantidade significativa de ovos postos por operárias poedeiras,
operárias com ovários desenvolvidos são encontradas na maioria das colônias
normais. A porcentagem destas operárias varia entre 7 e 45 em colônias
normais, e entre 20 e 70 em colônias prestes a enxamear (Tuenin, 1926;
Perepelova, 1928a; Koptev, 1957); no entanto, elas, provavelmente não põem
ovos, a menos que a colônia fique sem rainha. Quando as rainhas são
perdidas, e o enxame não cria uma rainha nova, as operárias com ovários
aumentados começam a por ovos, dentro de algumas semanas, mas esses ovos,
geralmente, geram só zangão, pois as operárias não podem acasalar. Os ovos
postos pelas operárias são menores do que os postos pela rainha e são
presos nas laterais, em vez de no fundo dos alvéolos, uma vez que o abdômen
da operária não alcança o fundo dos alvéolos perfeitamente, quando inserido
para por o ovo. Muitos ovos de operárias poedeiras são encontrados,
freqüentemente, num único alvéolo, embora cada operária bote só um ovo por
alvéolo. Esses ovos podem se desenvolver em zangões férteis, embora os
adultos resultantes sejam normalmente menores e, possivelmente, não tão
eficazes no acasalamento como os zangões oriundos de ovos de rainha
(revisado por Ribbands, 1953; Gary, 1975).
Finalmente, algumas fêmeas podem, às vezes, se desenvolver
partenogeneticamente, a partir de ovos não fertilizados, postos por rainhas
ou operárias. Princesas que não conseguiram acasalar botam alguns ovos que
se desenvolvem em operárias; só 1%, ou menos, de todos os ovos são postos
deste modo, e deles podem ser criadas rainhas por duas gerações (Mackensen,
1943). Operárias poedeiras da abelha de Cape, Apis m. Capensis, põem
regularmente ovos que se desenvolvem em operárias ou rainhas, e operárias
podeiras de outras raças podem fazer o mesmo, embora não tão freqüentemente
(Anderson, 1963). O mecanismo para o desenvolvimento partenogenético é
automitico; quer dizer, após a meiose ocorre a recombinação dos
56 A Biologia da Abelha
cromossomos, o que restabelece o número diplóide de cromossomos e resulta
no desenvolvimento da fêmea. Tal recombinação resulta em alelos
heterozigotos no loco do sexo ou, assim como para ovos fertilizados, serão
produzidos zangões diplóides (Tucker, 1958; Verma e Ruttner, 1983).
Liberação de Hormônio
Alimentar as
Juvenial – mediado pelo
larvas com mais
Corpora Allata – no
açúcar e geleia
terceiro dia do
real
Maior
alimentação Síntese de proteínas
específicas da rainha
Estimula os
receptores Rainha
stretch do
estômago
58 A Biologia da Abelha
criadas, a partir de larvas com 3 a 4 dias de idade, têm menos ovaríolos,
espermateca menor e pesam menos do que os indivíduos, cuja criação como
rainha começou, a partir de larvas mais jovens (Woyke, 1971) (Tabela 4.1).
A casta é determinada completamente pelo quarto dia, e algumas larvas
sobrevivem depois de transferidas de alvéolo com essa idade. As que
sobrevivem se tornam operárias quase típicas ou operárias com algumas
características de rainha.
60 A Biologia da Abelha
ARQUITETURA DO NINHO
5
5.. A
ARRQ
QUUIIT
TEET
TUUR
RAAD
DOON
NIIN
NHHO
O
A maioria dos nossos contatos com as abelhas ocorrem fora da colmeia,
onde vemos as operárias voando, próximo às flores e, ocasionalmente,
entrando e saindo de um buraco de uma árvore, de um tronco, ou de uma
parede. Para as abelhas, porém, esta circulação pelo mundo externo à
colmeia é apenas uma pequena, embora importante, parte da sua existência. A
abelha operária típica gasta os primeiros 15 a 20 dias de sua vida
totalmente dentro da colônia e, até mesmo, quando começa a forragear passa
só algumas horas por dia ao ar livre.
O ninho, quase uma cidade pela diversidade de funções, é construído
dentro da cavidade de um tronco com uma pequena entrada, facilmente
defensável. Dentro dele, as abelhas constroem favos de cera com alvéolos
hexagonais, nos quais desenvolvem a cria, armazenam néctar, mel e pólen
(Fig. 5.1). Sobre a superfície do favo, as abelhas, entre outras
atividades, patrulham o ninho, realizam ou seguem as danças das campeiras,
transferem comida umas para as outras, ventilam para esfriar o ninho e
evaporar a água do néctar e se amontoam em cachos para aquecer. O ninho,
ele próprio, é perfeitamente projetado para todas essas funções, e o nosso
entendimento, sempre crescente, da relação entre a arquitetura do ninho e a
fisiologia da abelha, seu comportamento e a ecologia, é um dos aspectos
mais excitantes da pesquisa contemporânea sobre a abelha.
Mark L. Winston 61
consenso sobre o local preferido, antes do enxame levantar vôo e se
deslocar. Este processo de seleção pode demorar de algumas horas até uma
semana ou mais, mas, geralmente, demora 1 a 2 dias. Observando o
comportamento das operárias, durante este período de amontoamento, Lindauer
pôde determinar alguns padrões comportamentais de seleção.
Fig. 5.1. Um ninho de abelha típico dentro de uma cavidade, mostrando o arranjo
habitual de alvéolos para mel, armazenamento de pólen, operária cuidando da cria e alvéolos
de zangão. (Redesenhado, a partir de Seeley e Morse, 1976. Usado com permissão de MASSON
S.A., Paris.)
Uma vez que o enxame pousou temporariamente no local escolhido,
formando cachos, as batedoras deixam o agrupamento , quase imediatamente, e
começam a procurar locais apropriados para nidificar. Em muitos casos, as
batedoras podem começar a procurar o local para nidificação até três dias,
antes de o enxame deixar a colmeia-mãe. Quando a batedora encontra uma
cavidade potencial, gasta um tempo considerável examinando-a. Durante a
primeira etapa do exame, a batedora alterna breves inspeções no interior da
cavidade, com breves períodos de exame fora dela (Lindauer, 1955; Seeley,
1977). A análise externa consiste de um transitar intenso pela superfície
externa do ninho potencial, como também vôos lentos, pairando, a distâncias
crescentes do potencial ninho. As inspeções internas envolvem um caminhar
rápido sobre as superfícies internas da cavidade, entremeadas de vôos
breves de uma área para outra do potencial ninho. As batedoras podem se
juntar a outras, trocar néctar e, até mesmo, espalhar o cheiro
característico na entrada do potencial ninho, expondo a glândula de Nasonov
e, abanando as asas, dispersar os produtos químicos atrativos. Retornos
esporádicos da batedora ao local, ao longo do dia, permitem que avalie o
local sob diferentes condições.
Ao encontrar um local razoável, a batedora volta ao enxame e realiza
danças semelhantes às usadas pelas campeiras para comunicar a localização
das fontes de néctar e pólen. Batedoras de local para nidificação, porém,
raramente trazem néctar ou pólen: elas estão, tão somente, comunicando a
localização do potencial ninho. Estas danças podem durar entre 15 a 30min,
mais tempo do que as danças associadas com a atividade forrageadora, que
62 A Biologia da Abelha
ARQUITETURA DO NINHO
Mark L. Winston 63
de o enxame levantar vôo para o novo ninho.
Num exemplo interessante, descrito por Lindauer, as batedoras não
conseguiram chegar a um acordo e continuaram a dançar vigorosamente para
duas localizações diferentes, uma a 1400m para o oeste-noroeste e a outra a
900m para o norte-nordeste. O enxame decolou repentinamente e se dividiu,
com os dois grupos se movendo para locais diferentes. Essa situação confusa
foi resolvida, quando o enxame se reagrupou a aproximadamente 30m de seu
local inicial e as danças recomeçaram. Depois de aproximadamente 3 horas o
número de danças para o norte-nordeste ficou menos freqüente e, perto do
anoitecer, as únicas danças vistas eram as que indicavam para o local
oeste-noroeste.
Fig. 5.3. Distâncias percorridas por 35 enxames para nidificar. (Dados de Lindauer,
1955, e Seeley e Morse, 1977.)
Estes resultados contraditórios podem, na verdade, refletir
diferenças entre as raças de abelhas ou as condições locais de recursos que
poderiam afetar as preferências de distância para localizar o novo ninho.
Em outras experiências, semelhantes às descritas, com enxames de duas raças
diferentes, foram oferecidos locais para nidificação afastados de 0 a
64 A Biologia da Abelha
ARQUITETURA DO NINHO
Mark L. Winston 65
Mais dramático é o caso dos ninhos não protegidos, característica das
abelhas de evolução tropical (Fig. 5.4). Estes podem ser encontrados
debaixo de galhos, ou pendendo de pedras, ou em edifícios, e ocupam volumes
semelhantes aos ninhos feitos em cavidades, aproximadamente 20 a 30dm3. Em
algumas áreas, a maioria dos ninhos naturais são encontrados fora de
cavidades, embora este tipo de amostra seja parcial, pois ninhos expostos
são mais fáceis de encontrar. Como tais locais são escolhidos pelos enxames
não é conhecido, mas eles podem ser locais de nidificação temporária, nos
quais as operárias começaram a construir favos e o enxame permaneceu. Uma
vez que tais ninhos não são encontrados normalmente perto de uma colônia
estabelecida, parece que o enxame se deslocou pelo menos mais de uma vez,
antes de iniciar a construção do ninho ao ar livre, mas não está claro se
as batedoras indicaram um local em particular, ou se o enxame se moveu,
através dos campos sem um local específico, pousou em um local provável, e
começou a construção dos favos. A última hipótese é mais provável, uma vez
que foram observados muitos casos, nos quais os enxames de evolução
tropical levantaram vôo e se deslocaram, sem que as batedoras dançassem
para indicar um ninho potencial ou local para se amontoar.
Mark L. Winston 67
construção dos favos começa. Muitas operárias já começam a produzir cera
para construir os favos, o que pode ser visto pelas placas de cera embaixo
do abdômen, entre os segmentos abdominais. A construção dos favos é rápida
e essencial para o enxame, pois sem favo não há desenvolvimento de cria na
colônia, produção de mel, nem armazenamento de pólen. Quarente e cinco dias
depois da entrada do enxame, 90% do favo, numa colônia natural, estará
construído, indicando a prioridade que as operárias dão à sua construção
(Lee e Winston, 1985b).
O favo, por si só, é uma das maravilhas da arquitetura animal.
Consiste em um arranjo regular de alvéolos hexagonais, montados fundo
contra fundo, organizados numa série paralela, em que cada favo fica numa
distância precisa de seu vizinho. Há dois tipos de alvéolos hexagonais que
compõem o favo: os alvéolos menores, usados para desenvolver a cria de
operária, e os maiores, para desenvolver a cria de zangão (ver Fig. 1.1).
Ambos podem ser usados, também, para armazenar mel, pólen e ocasionalmente
podem ser molhados por curtos períodos. Um terceiro tipo de célula,
alongada e cônica, pendurada nas bordas dos favos, é construída para criar
rainha; sendo encontradas quando as colônias estão prestes a enxamear ou
estão substituindo rainha ineficiente. São construídas geralmente 10 a 20
dessas células, e as operárias as destroem depois que a princesa emerge.
Fig. 5.5. Formas hexagonais e outras, para alvéolos, mostrando a vantagem do alvéolo
hexagonal, maximizando a área por unidade de volume (Redesenhado, a partir de Frisch, 1974,
em Karl von Frisch e Otto von Frisch, Arquitetura Animal. Desenhos copyright 1974 de Turid
Holldobler. Reproduzido com permissão de Harcourt Brace Jovanovich, Inc.)
A forma hexagonal dos alvéolos é comum entre os insetos sociais
construtores de alvéolos, e há uma boa razão arquitetônica para esta forma.
Arranjos redondos, octogonais ou pentagonais de alvéolos deixam espaços
vazios entre eles e formatos triangulares ou quadrados têm perímetro maior
do que os hexágonos (Fig. 5.5). Assim, utilizando a forma hexagonal pode
ser conseguido um número maior de alvéolos por unidade de área lateral.
Deslocando, um pouco, lateralmente, os alvéolos opostos, as abelhas podem
construir alvéolos fundo-a-fundo, maximizando ainda mais o número de
alvéolos por unidade de área lateral. Ao contrário dos demais insetos
sociais, as abelhas constroem seus alvéolos horizontalmente, em vez de
pendurados verticalmente embora eles estejam inclinados aproximadamente
13o, em relação à base, para impedir que o mel escorra (von Frisch, 1974)
68 A Biologia da Abelha
ARQUITETURA DO NINHO
(Fig. 5.6).
As abelhas da raça italiana (A. m. Ligústica) e outras raças
européias constroem os alvéolos de operária com, geralmente, 5,2 a 5,4mm de
diâmetro, ou 857alvéolos/dm2, já os alvéolos de zangão medem 6,2 a 6,4mm,
ou 520alvéolos/dm2 (von Frisch, 1974; Dadant, 1975). O tamanho de ambos os
alvéolos, porém, pode variar com a raça da abelha (Alber, 1956) e, também,
com a idade da colônia. Por exemplo, a abelha africana, A. mellifera
Adansonii, constrói os alvéolos de operária e de zangão com 4,8 a 4,9mm e
6,0 a 6,3mm de diâmetro respectivamente, e nesses alvéolos são criadas
abelhas menores (Smith, 1961). A construção de um favo novo resulta,
também, em estrutura mais precisa, do alvéolo, do que os encontrados em
colmeias velhas. Enxames de abelhas italianas, recentemente estabelecidos,
constroem alvéolos de operária com uma precisão de 5,2±0,05mm no diâmetro
(Lee e Winston, 1985b), mas os alvéolos de colmeias velhas podem ser muito
irregulares, por causa da distorção provocada pelas pesadas cargas de mel
(Seeley e Morse, 1976). Existe, também, alguma evidência de que enxames de
abelhas de evolução tropical constroem alvéolos menores, inicialmente, e
alvéolos maiores, quando a colônia amadurece. Estudos feitos no Peru
mostraram que os primeiros alvéolos construídos naturalmente por colônias
de abelhas africanizadas tinham um diâmetro de 4,6 a 4,7mm, e os alvéolos
construídos algumas semanas depois da instalação tinham 4,8 a 4,9mm
(Taylor, Winston, e Otis, observações inéditas). Este fenômeno nunca foi
observado nas abelhas de evolução temperada, e pode ser uma adaptação, sem
igual, das abelhas de evolução tropical, que lhes permite criar operárias
Mark L. Winston 69
A construção progride de forma aparentemente randômica, uma vez que
várias abelhas contribuem para a construção de qualquer um dos alvéolos, e
vários alvéolos são construídos simultaneamente. As operárias começam a
construção pelo topo ou pela lateral da cavidade do ninho, com, talvez,
inicialmente, dois ou três locais de construção para cada favo. Camadas
espessas de cera são, primeiro, colocadas na base do que será cada favo, e
os favos são, gradualmente, construídos, alongando e afinando a cera das
paredes do alvéolo. Uma única operária pode adicionar cera ou afinar a
parede, deslocando-se de alvéolo em alvéolo e de local em construção para
outro local em construção, sem ordem evidente. Cada operária aparentemente
pode perceber a fase de construção em cada novo local, e pode contribuir
com o que for necessário para aquele alvéolo. Como resultado desta série de
contribuições individuais, cada seção de favo é unida com as outras, de
forma que nenhum vestígio dos seus inícios, em separado, é visível. A
precisão e resistência do favo, recentemente construído, são notáveis. Por
exemplo, a espessura da parede do alvéolo é de 0,073±0,002mm, o ângulo
entre paredes de alvéolos adjacentes é, exatamente de 120o e cada favo é
conhecidas. Parece que elas não envolvem as antenas para esses ajustes, uma
vez que operárias com ambas as antenas removidas constroem alvéolos, com o
diâmetro e o ângulo normais entre paredes de alvéolos adjacentes.
Experiências com rainhas sugerem que as pernas dianteiras estão envolvidas
na medição do diâmetro do alvéolo. A rainha deve perceber a diferença entre
o diâmetro do alvéolo de operária e o de zangão, uma vez que ela geralmente
põe ovos fertilizados nos alvéolos de operária e não fertilizados nos
alvéolos de zangão. Quando são amputadas as pontas das pernas da rainha,
ela continua pondo ovos, mas já não consegue diferenciar os tamanhos dos
alvéolos, e produz uma mistura de ovos fertilizados e não fertilizados, que
não são postos nos alvéolos corespondentes (Koeniger, 1969, 1970). Esta
experiência sugere que as operárias poderiam, também, usar de modo
semelhante as pontas de suas pernas dianteiras para medir o diâmetro do
alvéolo, mas experiências semelhantes com as operárias não tiveram sucesso;
removendo parte das suas pernas, as operárias perdem a habilidade para
manipular a cera e fazer qualquer construção de alvéolo.
Embora o favo seja totalmente constituído de cera, as abelhas usam
resinas vegetais para outras finalidades na construção do ninho (para
revisões, veja Haydak, 1954, e Ghisalberti, 1979). Estas resinas pegajosas,
própolis ou cola de abelha, são coletadas pelas operárias em plantas
secretoras de resina e são levadas para o ninho nas corbículas, localizadas
em suas pernas traseiras. A própolis é usada pelas operárias para fechar
buracos e frestas do ninho, para prender e fortalecer a base do favo,
revestir internamente a cavidade do ninho com uma fina camada isolante e,
até mesmo, "embalsamar carcaças" de intrusos, como ratos que foram mortos,
mas são muito grandes para serem retirados do ninho. É interessante
registrar que consta que os antigos egípcios usavam a própolis para
embalsamar. A própolis tem, também, algumas propriedades fungicidas e
antibacterianas que protegem o ninho de infeções e bolores.
A organização completa do ninho depende das características da
cavidade e da estação, mas, geralmente, o mel é armazenado nas seções
superiores e periféricas do ninho, e a cria é desenvolvida nas seções mais
baixas dos favos localizados no centro (veja Fig. 5.1). Este arranjo coloca
o mel, mais pesado, perto dos pontos de fixação do favo, minimizando,
assim, a tensão sobre o favo de cera, enquanto a cria é localizada na parte
central do ninho, onde a temperatura pode ser mantida facilmente, e as
atividades de alimentação ficam concentradas numa área única. O pólen é
normalmente colocado em alvéolos próximos da cria, onde é acessado com
facilidade para alimentar as abelhas. Realeiras, quando presentes, são
encontradas geralmente nas bordas inferiores e laterais do favo ou em
depressões na superfície de favo. Alvéolos de zangão são encontrados
normalmente agrupados nas bordas dos favos (Free, 1967a; Taber e Owens,
1970; Seeley e Morse, 1976; Otis, 1980; Lee e Winston, 1985a),
diferentemente de outra espécie de abelha que distribui os alvéolos de
zangão entre os alvéolos de operária (Michener, 1974). O agrupamento dos
alvéolos de zangão auxilia a rainha a pôr ovos fertilizados e não
fertilizados em grupos, facilitando, assim, a determinação do sexo (Seeley
e Morse, 1976). Agrupados, os alvéolos de zangão e de operária, é possível,
também, obter favos mais uniformes e, assim, mais fortes, facilitando a
determinação das operárias pela quantidade de favos a construír. A
construção de alvéolos de zangão nas bordas pode estar ligada ao fato de a
cria de zangão ser mais facilmente descartável do que a cria de operária.
Quando a temperatura externa cai, o agrupamento que cerca a cria fica mais
apertado e menor. Assim, as primeiras áreas a permanecerem desacompanhadas
são as periféricas, onde se localizam os favos e cria de zangão. Além
disso, os zangões, durante o desenvolvimento, podem resistir a temperaturas
mais baixas ou menos constantes do que as operárias, uma vez que eles são
maiores e amadurecem mais lentamente.
Mark L. Winston 71
Depois de construído, o favo é parte permanente do ninho: as abelhas
Apis não destroem os alvéolos para reutilizar a cera, como fazem outras
abelhas (Michener, 1974). Os alvéolos podem ser usados novamente uma vez
que tenham sido limpos, meticulosamente pelas operárias, depois que a cria
emergiu ou tenham sido consertados, quando danificados, durante a remoção
do mel ou pólen armazenados (Darchen, 1968). O diâmetro do alvéolo pode
diminuir ligeiramente, depois de muitos anos de uso por causa dos casulos,
das cascas das larvas e da pele das pupas acumulados e pelo tratamento dado
aos alvéolos na preparação para o próximo ciclo de cria. Favo velho parece
ser frágil, é consideravelmente mais escuro que o favo novo (Gary, 1975), e
as operárias criadas em alvéolos velhos podem ser menores do que as criadas
em alvéolos novos, com maior diâmetro (Abdellatif, 1965; Nowakowski, 1969).
A cera dos opérculos, com que as operárias cobrem as pupas e o mel, pode,
às vezes, ser reciclada, tornando-a mais maleável, antes de desopercular, e
usando placas de cera mais finas, então, para construir em outro lugar
(Lineburg, 1923a,b; Meyer e Ulrich, 1952).
A superfície do favo é importante, para operárias e rainha, nas
atividades de amontoamento, difusão dos feromônios e realização das danças.
As operárias usam o favo como substrato para formar agrupamentos em volta
da cria e para aquecê-la, e as garras existentes no tarso da abelha estão
idealmente preparadas para se agarrar ao favo. A rainha deposita, quando
caminha sobre o favo, a substância chamada "feromônio da pegada", uma
secreção que inibe a criação de rainha (Lensky e Slabezki, 1981). O favo
serve, também, de plataforma para as danças de forrageamento, e o número de
diâmetros de alvéolos percorridos pela operária, enquanto dança, é um dos
mecanismos utilizados na comunicação da distância de uma fonte de comida
(von Frisch, 1967a). As oscilações dorsiventrais da operária (Fletcher,
1978 b,c) e as vibrações dos pios da rainha são, também, transmitidas pelo
favo e são percebidas, através dos detectores de vibração existentes no
tarso das operárias.
72 A Biologia da Abelha
ARQUITETURA DO NINHO
Fig. 5.8. Colmeia de quadros móveis, projetada por Langstroth nos anos 1850, usada
até hoje pela maioria dos apicultores comerciais e hobistas. (Redesenhado, a partir de
Dadant, 1975.)
Assim, algumas inovações simples, derivadas do entendimento dos
aspectos básicos da arquitetura do ninho da abelha, conduziram à indústria
multibilionária do mel, da cera e da polinização, que são a base da
apicultura comercial moderna.
Mark L. Winston 73
6
6.. A
ATTIIV
VIID
DAAD
DEES
SDDA
AOOP
PEER
RÁÁR
RIIA
A,, E
EMMF
FUUN
NÇÇÃ
ÃOOD
DEES
SUUA
A IID
DAAD
DEE
Como o nome diz, as operárias executam praticamente todas as tarefas
no ninho. Desde o momento em que emergem, as operárias começam a executar
as tarefas do ninho como limpar os alvéolos, cuidar da cria e construir os
favos, bem como as atividades externas de guarda e forrageamento. Existe,
porém, um paradoxo curioso, que é revelado, depois de observar as
atividades da colônia: apesar do seu nome, as operárias gastam, na verdade,
a maior parte do seu tempo simplesmente permanecendo ou transitando no
ninho, aparentemente nada fazendo. Estes longos períodos de inatividade são
entremeados de sessões frenéticas de atividade, durante as quais cada
operária, individualmente, executa muitas e diferentes tarefas, num curto
período, antes de descansar novamente. Não obstante, uma tremenda
quantidade de trabalhos é feita na colmeia, e a sociedade das abelhas é
percebida geralmente como ordeira e eficiente. Essas observações
contraditórias inspiraram pesquisas detalhadas na fascinante área do
polietismo da idade, quer dizer, dos fatores organizacionais subjacentes,
que determinam quando as operárias vão executar dada tarefa.
A pesquisa sobre a natureza complicada da divisão do trabalho das
operárias atravessou três fases. Os primeiros estudos, conduzidos por
Butler (1609), Donhoff (1855a,b), e Gerstung (1891–1926), concluíram que as
atividades das operárias têm base temporal, em que as tarefas internas são
executadas pelas operárias mais jovens, e os trabalhos externos, pelas
operárias mais velhas. Estes primeiros estudos conduziram à segunda fase,
na qual foram analisadas mais profundamente a ordem e a natureza das
tarefas das operárias e a flexibilidade na divisão temporal do trabalho, e
foi descoberta a base glândular subjacente para o desempenho de muitas
tarefas (Rosch, 1925, 1930; Perepelova, 1928b; King, 1933; Lindauer, 1952,
1953; Ribbands, 1952; Sekiguchi e Sakagami, 1966; para revisões, ver
Ribbands, 1953; Free, 1965; e Michener, 1974). A terceira e mais recente
área de pesquisa sobre a divisão do trabalho investigou os fatores, a nível
de colmeia, que determinam por que as operárias executam tarefas, em
momentos diferentes, e como a estrutura temporal da casta é integrada no
funcionamento eficiente da colônia.
Mark L. Winston 75
uma grande variabilidade e sobreposição das idades em que estas e outras
tarefas são executadas e, em qualquer idade, a operária poderá estar
executando várias tarefas; segundo, o desenvolvimento das glândulas e sua
reabsorção estão ligados, de perto, a muitas tarefas, particularmente,
cuidado com a cria e construção de favos; e terceiro, a maior parte da vida
da operária é gasta em descanso e passeio pela colmeia.
A característica mais notável da estrutura temporal da casta das
operárias é a variabilidade nas idades em que as tarefas são executados.
Por exemplo, em vários estudos foi observado que as operárias atendem a
cria com a idade de 1 a 52 dias, com a idade média para execução desta
tarefa, variando de 7 a 13 dias. A faixa da idade na qual as operárias
coletam é mais notável ainda, de 3 a 65 dias, com a idade média, para esta
tarefa, variando de 18 a 38 (ver Tabela 6.1). Algo desta variabilidade se
deve indubitavelmente às diferenças entre as técnicas experimentais dos
diferentes estudos. Por exemplo, alguns dos investigadores, citados na
Tabela 6.1, truncaram suas observações; em outras palavras, não seguiram as
operárias até o fim das suas vidas. Além disso, as definições das tarefas
variam entre os estudos, e algumas das tarefas foram divididas em
subcategorias, como a atividade de limpeza dos alvéolos ou a idade de
atendimento da cria. Não obstante, a larga variabilidade da divisão
temporal do trabalho sugere que as características e as exigências da
colônia podem influenciar na idade com que as operárias executam as
tarefas, e essa cronologia da sucessão ontogênica de tarefas pode ser
modificada por necessidades da colônia.
Tabela 6.1. Idade (em dias) com que as operárias executam as atividades. A média é
apresentada quando disponível
76 A Biologia da Abelha
1 a 17 - Kolmes, 1985 a,b,c,
0 a 34 - Sakagami, 1953
Retirar detritos 2 a 20 13,9 Perepelova, 1928b
10 a 23 14,7 Rösch, 1925, 1927
9 a 16 11,3 Seeley, 1982
Limpar os alvéolos
(mais tarde)
Reparar as paredes 1 a 21 13,3 Perepelova, 1928b
dos alvéolos
Emparelhar as 1 a 21 11,0 Perepelova, 1928b
beiradas dos
alvéolos
Remover opérculos 4 a 21 18,2 Perepelova, 1928b
Ventilar 1 a 25 14,7 Seeley, 1982
1 a 61 19,0 Winston e Punnet, 1982
1 a 19 - Kolmes, 1985 a,b,c,
Patrulhar 0 a 60 15,5 Winston e Punnet, 1982
1 a 27 10,3 Seeley, 1982
Repousar 0 a 69 19,2 Winston e Punnet, 1982
1 a 27 9,1 Seeley, 1982
Montar guarda 4 a 60 22,1 Winston e Punnet, 1982
10 a 46 - Sekiguchi a Sakagami, 1966
11 a 25 - Butler e Free, 1952
7 a 23 - Moore, Breed e Moor,1986
Primeiro vôo de 5 a 15 7,9 Rösch, 1925, 1927
orientação 4 a 65 25,7 Winston e Punnet, 1982
7 a 12 8,9 Seeley, 1982
Primeira viagem de 3 a 65 25,6 Winston e Punnet, 1982
coleta 10 a 34 19,5 Ribbands, 1952
10 a 32 20,1 Ribbands, 1952
9 a 35 19,2 Ribbands, 1952
20 a 41 30,2 Lindauer, 1952
5 a 39 18,3 Sakagami, 1953
10 a 27 20,6 Seeley, 1982
10 a 59 37,9 Winston e Ferguson, 1985
10 a 34 19,5 Rösch, 1925, 1927
7 a 43 - Sekiguchi a Sakagami, 1966
Mark L. Winston 77
como a abelha Amarela 57 de Robinson, Underwood e Henderson (1984), que
gastou os últimos 14 dias da sua vida coletando água, e algumas operárias
observadas por Winston e Punnett (1982), que gastaram muito das suas vidas
cuidando de outras operárias. Tal especialização individual, porém, é rara
(Kolmes, 1985b), e o padrão mais comum de execução das tarefas é as
operárias fazerem vários trabalhos diariamente com exceção das limpadoras
78 A Biologia da Abelha
das idades, destes estudos.
O desenvolvimento e a reabsorção de muitas das glândulas da operária
estão vinculados, de perto, com a execução das atividades. Numa tese
concluída, mas nunca publicada, King (1933) demonstrou que as glândulas
mandibular, hipofaríngeas e cerígenas, todas começam a aumentar muito cedo
na vida das operárias, alcançando e mantendo seus tamanhos máximos entre os
dias 5 e 15, coincidindo com as atividades de cuidar da cria e construir
favos (Fig. 6.2). Todas essas glândulas diminuem de tamanho, quando ocorre
a troca das atividades de produzir comida de cria e cera, pelas atividades
de manusear a comida e outras. Em contrapartida, as glândulas salivares
mostram aumento gradual de atividade, até o máximo de produção,
aproximadamente nos dias 15 a 25, depois do que elas recuam rapidamente com
a troca para as atividades de guarda e forrageamento. Durante este tempo as
glândulas hipofaríngeas secretam invertase para processar o néctar,
atividade que a operária passa a executar em lugar de processar comida para
consumo da cria (Simpson, Riedel, e Wilding, 1968). Quando as operárias
começam a montar guarda e forragear, suas glândulas do ferrão estão
produzindo o máximo de substâncias químicas de alarme, e as glândulas
mandibulares mudam da produção de comida de cria para a produção do
feromônio do alarme, a 2-heptanona (Shearer e Boch, 1965; Boch e Shearer,
1966).
Outras mudanças fisiológicas, além do desenvolvimento das glândulas e
sua reabsorção, estão envolvidas na mudança dos deveres com o ninho para os
de forragear (Harrison, 1986). Associado ao início do forrageamento, ocorre
a diminuição da massa corporal em aproximadamente 40%, principalmente do
abdômen, e aumento da taxa de consumo específico de oxigênio pelo tórax e
dos níveis de glicogênio dos tecidos. O efeito dessas mudanças fisiológicas
é aumentar a carga máxima por viagem de forrageamento e a capacidade de vôo
da operária, diminuindo o custo energético do forrageamento.
Não está claro se as atividades glandulares e outras atividades
fisiológicas são programadas geneticamente, de forma que as operárias sejam
capazes de executar determinadas tarefas em certas idades, ou se as
condições da colônia ditam o tamanho das glândulas. Mas o papel das
condições da colônia na indução ao desenvolvimento das glândulas foi
demonstrado em numerosos estudos, que manipularam fatores, como a
quantidade de favo e cria nas colônias e o número de operárias velhas e
jovens (Nolan, 1924; Rosch, 1930; Milojevic, 1940; Moskovljevic-Filipovic,
1956; Free, 1961a; Lindauer, 1961; Kolmes, 1985a,b,c). Sob condições
manipuladas, as operárias mais velhas prolongaram a atividade de suas
glândulas cerígenas e hipofaríngeas, ou as regeneraram, e voltaram a
executar as tarefas de alimentar a cria e de construir favos, sugerindo que
as exigências da colônia podem afetar as atividades temporais da casta, em
parte, influenciando o funcionamento glandular. Parece, assim, que as
abelhas recentemente emergidas seguem uma seqüência de desenvolvimento
glandular e de reabsorção, que coincide com a execução de tarefa, mas,
ambas - condição glandular e desempenho das tarefas relacionadas - podem
ser influenciadas pelas exigências da colônia.
Fig. 6.2. Relação entre o desenvolvimento glandular e as idades em que certas tarefas
são executadas pelas operárias. (Redesenhado, de King, 1933.)
O último aspecto do polietismo da idade, observado por quase todos os
investigadores, é que as operárias gastam a maior parte da sua vida
patrulhando o ninho ou descansando. Este comportamento, aparentemente
preguiçoso, por parte das operárias, é, porém, provavelmente, bastante
importante na estrutura da casta, pois enquanto patrulham as operárias
estão, provavelmente obtendo informações sobre as condições da colônia, as
quais determinarão que tarefas devem ser executadas. Como Lindauer (1952)
Mark L. Winston 79
assinalou, descansar pode ser, também, uma função importante,
particularmente para operárias, que podem passar o tempo de descanso
produzindo comida de cria ou cera.
Assim, a estrutura temporal da casta das operárias pode ser vista
como um sistema flexível, no qual as operárias seguem uma progressão geral
de atividades internas para tarefas de campo. A variabilidade considerável
e a sobreposição das tarefas são evidentes durante esta ontogenia da casta,
ambas acontecendo entre operárias da mesma colônia e entre colônias. As
operárias tendem a executar grupos de tarefas em qualquer idade, e o
desempenho da tarefa está ligado de perto à condição glandular, embora as
operárias gastem a maior parte do seu tempo patrulhando o ninho ou
descansando.
80 A Biologia da Abelha
alimentação, na qual as operárias, com as glândulas hipofaríngeas e
mandibulares bem desenvolvidas, alimentam as larvas com comida de cria.
Existem relatos conflitantes, quanto à idade em que as operárias começam a
alimentar as larvas porque, provavelmente, seja difícil distinguir entre a
inspeção do alvéolo e a verdadeira alimentação da larva. Contudo, a maioria
dos estudos indicam que as glândulas produtoras de comida de cria estão,
geralmente, bem desenvolvidas em operárias com 3 dias de idade, e as
tarefas de atendimento da cria parece atingirem o máximo, quando a abelha
tem entre 6 e 16 dias de idade. Os primeiros estudos sugeriram que as
operárias mais jovens alimentavam as larvas mais velhas e vice-versa
(Lineburg, 1924; Rosch, 1925; Perepelova, 1928 c); mas, mais recentemente,
a pesquisa não mostrou nenhuma diferença nas idades das abelhas visitantes
das larvas de diferentes idades. Uma única larva é atendida por muitas
abelhas-amas, e as larvas são visitadas e inspecionadas muito mais
freqüentemente do que são alimentadas. Lindauer (1952) observou que uma
larva comum foi inspecionada 1.926 vezes, durante um total de 72 min, mas
só foi alimentada em 143 visitas. A média do tempo da visita de alimentação
foi calculada em 1,3min, para um total de 110min de tempo de alimentação
por larva, ou, aproximadamente, 2% da sua vida larval. Outros estudos
(Lineburg, 1924; Kuwabara, 1947) mostraram valores mais altos, de até 7.200
visitas ou um máximo de 1.140 visitas de alimentação por larva porque,
provavelmente, o número de inspeções e alimentações pode variar, de acordo
com a quantidade de larvas a alimentar. Quando foi calculada a relação
entre cria para alimentar e abelhas-amas, o resultado mostrou que uma única
abelha-ama cuida, o equivalente a, duas ou três larvas, durante sua vida de
abelha de casa.
O mecanismo pelo qual as abelhas-amas identificam quanto de comida
uma larva requer não é conhecido, mas, presumivelmente, é identificado
durante as inspeções, quando a abelha-ama está com sua cabeça dentro do
alvéolo da larva. Todas as alimentações são precedidas por 2 a 20 inspeções
desse segundo tipo. As larvas não são alimentadas pela troca de comida,
diretamente boca a boca, mas a abelha-ama deposita uma gota da secreção da
comida de cria na parede do alvéolo ou no fundo, normalmente, próximo da
boca da larva. As proporções de comida de cria, das glândulas hipofaringea
e mandibulares, fornecidas às larvas, de diferentes idades, diferem
consistentemente, sugerindo que as abelhas-amas podem identificar a idade
da larva, bem como a necessidade de comida, e alimentar adequadamente.
Mark L. Winston 81
6.2.4. CONSTRUÇÃO DO FAVO
O período de construtora, na vida da operária, tem, normalmente, duas
fases: opercular os alvéolos, pelas operárias jovens, e construir os favos,
pelas operárias mais velhas. A tarefa de, inicialmente, opercular é
possível, pois as operárias com 2 a 3 dias de idade podem produzir cera,
embora as glândulas estejam bem desenvolvidas em operárias com 8 a 17 dias
de idade. As operárias mais velhas, produtoras de cera, colocam, também,
placas de cera na beira dos alvéolos que precisam ser operculados, de forma
que a copiosa produção de cera pelas operculadoras mais jovens não é
necessária; as operárias podem moldar e manipular a cera, estando ou não,
elas próprias, secretando cera. Opercular é um processo um pouco
desorganizado, no qual, muitas operárias agem, cada uma fazendo uma parte
do opérculo, numa seqüência não sistemática. A operculação de um alvéolo
típico pode levar mais de 6 horas e pode ter a participação de centenas de
operárias. Nem todas as operárias ajudam a completar a tarefa;
freqüentemente uma operária removerá um pedaço de cera de um alvéolo,
parcialmente operculado, e o juntará a um que esteja sendo operculado. A
operculação do alvéolo pode ocorrer mais depressa; Smith (1959) constatou,
porém, um tempo de operculação de um alvéolo de apenas 20min por uma única
operária.
A construção do favo (descrita no Capítulo 5) é executada, realmente,
pelas operárias mais velhas, com apenas alguns dias mais idosas do que as
abelhas abelhas-amas. Uma construtora de favo típica pode usar parte do seu
tempo num agrupamento de construtoras de favo e, então, poderá se deslocar
para a área de cria e passar a inspecionar ou alimentar as larvas e,
talvez, fazer outra limpeza, ou tarefas de manuseio de comida, antes de
retornar para a construção de favos. Esta alternânciaação entre tarefas
provê tempo para as glândulas cerígenas produzirem mais cera para a
construção e para as glândulas hipofaríngeas e mandibulares produzirem
comida de cria.
6.2.6. VENTILAÇÃO
82 A Biologia da Abelha
A primeira tarefa que muitas operárias executam, fora da colmeia, é a
ventilação: elas se postam na entrada do ninho, de frente para a entrada,
com seus abdômens apontados para baixo e abanam as asas. Embora possam ser
vistas operárias de qualquer idade a abanar, esta atividade é executada
primordialmente pelas abelhas com, aproximadamente, 18 dias de idade. A
ventilação do ninho pode ser executada com vários propósitos, entre eles,
resfriamento da colmeia, evaporação da umidade do mel e redução da umidade
e do nível de gás carbônico dentro da colmeia. Tal atividade é mais
facilmente verificável nas tardes quentes do verão, após a coleta de
grandes quantidades de néctar. Podem ser vistas centenas de operárias
abanando as asas na entrada, afastadas umas das outras o suficiente, para
que a movimentação vigorosa de suas asas não toquem as vizinhas, e criando
um som audível que encanta os apicultores. As operárias abanam, também, as
asas, quando necessário, dentro do ninho, particularmente, sobre os favos,
enquanto evaporam a água do néctar.
6.2.7. GUARDA
Montar guarda na entrada do ninho é uma atividade transitória
executada por algumas, mas não todas, operárias, normalmente, antes de
iniciar o forrageamento e, às vezes, depois. A atividade de montar guarda é
executada, freqüentemente, com a idade de 12 a 25 dias, e é executada,
normalmente, durante só algumans horas ou dias, antes de iniciar a
forragear (Moore, Breed, e Moor, 1986). As operárias-guardas podem ser
reconhecidas pela sua postura característica, na entrada, onde elas ficam
sobre as quatro pernas traseiras e com as antenas estendidas e as pernas da
frente erguidas. Cada guarda patrulha uma área limitada da entrada,
inspeciona as operárias entrantes que chegam com suas antenas e identifica,
pelo odor e comportamento, se elas pertencem ou não à colônia (Kalmus e
Ribbands, 1952; Breed, 1983b). As operárias da colônia são prontamente
aceitas, como também, operárias jovens, ou submissas e ou campeiras de
outras colônias, desde que carregadas de néctar ou pólen. O número de
operárias em guarda aumenta quando a colônia está sendo atacada, ou durante
os períodos de carestia de forragem, ou quando a pilhagem é mais provável
(Butler e Free, 1952; Ribbands, 1954).
Mark L. Winston 83
de abelhas.)
6.2.9. FORRAGEAMENTO
A última atividade executada pelas operárias, antes da sua morte, é
de forrageamento, embora as operárias revertam, ocasionalmente, para outras
tarefas, se as necessidades da colônia assim o exigirem. Novamente, a idade
em que iniciam os vôos de forrageamento é altamente variável (Tabela 6.1);
inicia, porém, aproximadamente, no 23o dia da vida da abelha. As campeiras
deixam a colônia para coletar quatro recursos: néctar, pólen, água e
própolis. As condições da colmeia, como também, os recursos encontrados
pelas campeiras é que determinam que recurso, ou que combinação de
recursos, será coletado. As glândulas da comida de cria e de produção de
cera das campeiras degeneram, e as campeiras, que forragearam por alguns
dias começam a parecer velhas e estropiadas, pois perdem os pêlos e suas
asas são rompidas. O tempo de vida de uma campeira é curto; algumas coletam
por apenas 4 ou 5 dias antes de morrer. A maioria das camperias faz,
aproximadamente, 10 viagens por dia, mas Ribbands (1949) observou uma
campeira que fez 29 carregamentos de pólen num só dia. Foram registradas,
também, cento e cinqüenta viagens por dia para coletar xarope artificial
(Butler, Jeffree, e Kalmus, 1943) e cento e dez viagens para coletar água
(Parkque, 1928b). A distância total de vôo, acumulada por uma campeira, tem
mais influência no seu tempo de vida do que sua idade cronológica, uma vez
que as campeiras parece morrerem, depois de voar um total de, cerca de,
800km, seja essa distância voada em 5 ou 30 dias. Parece que isso é causado
pela quebra nos mecanismos enzimáticos que metabolizam os carboidratos em
glicogêenio. As campeiras velhas não têm condições de sintetizar glicogênio
adicional; assim, a campeira morre, quando acaba a reserva do glicogêenio
acumulada nos músculos de vôo, quando a operária era jovem (Neukirch,
1982).
84 A Biologia da Abelha
técnica de nutrição cruzada, em que operárias, recentemente emergidas, de
ambas as raças, foram marcadas e introduzidas em colônias, de ambas as
raças, e foram comparadas as idades em que as operárias introduzidas
iniciaram o forrageamento. Os resultados foram surpreendentes: em colônias
da sua própria raça, as abelhas africanizadas tropicais começaram o
forrageamento, significativamente, mais cedo do que as abelhas européias em
colônias européias, - 20 contra 26 dias. Mais impressionante ainda foram os
resultados com operárias submetidas à nutrição cruzada. As abelhas
africanizadas, em colônias européias, começaram o forrageamento com idade
mais avançada do que nas suas próprias colônias - idade de 23 dias, em
média - e, estatisticamente, não foi possível diferenciar, nessas
condições, das operárias européias nessas colônias. A situação oposta, na
qual foram comparadas as operárias européias com as operárias
africanizadas, em colônias de abelhas africanizadas, revelou que as
operárias européias começaram o forrageamento mais cedo do que as abelhas
africanizadas - com 14 dias de idade.
A hipótese para explicar estes resultados é que o nível de
incentivos, que induzem o comportamento de forrageamento, é mais alto em
colônias africanizadas, e que as operárias africanizadas têm uma
sensibilidade maior para esses estímulos. Entre estes, incentivos pode-se
incluir a distribuição de idade das operárias, a longevidade da operária, o
tamanho da colônia, a quantidade de cria a atender, mel e pólen armazenados
na colmeia, como também, a disponibilidade de néctar e pólen no campo, o
nível geral de atividade e a história da colônia. Fez-se a suposição de que
a probabilidade de uma operária forragear aumenta com a idade, o que parece
razoável, frente aos estudos que demonstraram, consistentemente, que são as
operárias mais velhas que fazem a maior parte das tarefas de forrageamento.
É provável a existência de um mecanismo para iniciar a atividade de
forrageadora, que dependente da idade de forragear, pois as operárias mais
velhas exigem menos estímulos para começar a forragear do que as operárias
mais jovens.
Fig. 6.3. A idade em que as operárias começam o forrageamento, como uma função do
nível de estímulo existente nas colônias. É sabido que as colônias de africanizadas (A) tem
níivel mais alto de estímulo do que as colônias européias (E). TA e TE são os limites nos
quais as operárias africanizadas e européias começam o forrageamento. (Redesenhado, a
partir de Winston e Katz, 1982.)
Mark L. Winston 85
Podem ser apontadas, graficamente, diferenças na idade de
forrageamento entre as operárias das duas raças, como uma função da idade
da operária e dos níveis de estímulo, presumidos, existentes nas colônias
(Fig. 6.3). Os estímulos, em colônias de africanizadas, para o
forrageamento são maiores do que em colônias européias, uma vez que as
operárias africanizadas, em colônias européias, forragearam com maior
idade, e as operárias de abelhas européias, em colônias africanizadas,
começaram a forragear com menor idade. Além disso, as operárias
africanizadas mostraram uma sensibilidade maior aos estímulos para o
forrageamento, e as operárias européias em colônias de africanizadas
começaram a forragear significativamente mais cedo do que as operárias
africanizadas na mesma colônia. Assim, há, geneticamente falando,
diferenças na ontogenia de, pelo menos, uma tarefa, a de forrageamento,
entre abelhas de evolução temperada e abelhas de evolução tropical, e estas
diferenças envolvem ambiente da colônia e respostas das operárias às
condições da colônia.
Uma das características da colônia, que influencia na divisão
temporal do trabalho, é a população da colônia; este fator é
particularmente importante na determinação da idade de forrageamentdo
(Winston e Fergusson, 1985). Naquele estudo, metade a dois terços das
operárias foram removidas da colônia, na primavera, uma perda de população
de operárias semelhante à que acontece, normalmente, em colônias naturais,
devido a depredação, enxameação, destruição do ninho e doenças. Operárias
marcadas, recentemente emergidas, foram introduzidas nessas colônias e em
colônias de controle, das quais nenhuma operária foi removida, e
determinadas as idades em que as operárias começaram o forrageamento. As
operárias começaram o forrageamento com menor idade e viveram menos tempo
nas colônias em que as operárias foram removidas; as operárias em colônias
de controle começaram o forrageamento com a idade média de 38 dias,
enquanto as operárias, nas colônias das quais foram removidos 1,8 kg e 2,7
kg de operárias, começaram a forragear com 33 e 31 dias de vida,
respectivamente. É notável que, estas e outras colônias semelhantemente
estressadas, produziram, até o final da estação, a mesma quantidade de cria
e de mel que as colônias de controle não estressadas (Winston, Mitchell, e
Punnett, 1985).
Estes resultados têm um interesse particular pois eles podem explicar
uma das funções do repouso. Parece que, as operárias em repouso na colônia
constituem uma força reserva para reagir a mudanças repentinas nas
condições da colônia como enxameação, dano por praga ou infecção, e reagir,
também, a oportunidades súbitas de descoberta de recursos abundantes de
néctar; a força reserva pode responder, também, prontamente a predadores,
antes que o ninho ou a cria sejam destruídos. Aumentando seu nível de
atividade, as operárias podem comprimir a ontogenia normal das tarefas para
um menor tempo de vida; as operárias que estão em repouso trabalham mais
duro e morrem mais cedo em colônias estressadas do que em colônias não
estressadas, evidência de um mecanismo de ajuste da ontogenia temporal da
casta, como resposta às necessidades da colônia.
Foram documentadas outras mudanças, na divisão temporal do trabalho,
como resposta às exigências da colônia, particularmente as que envolvem o
desenvolvimento da cria e construção de favos. Porém, a maioria dessas
mudanças, apresentadas na ontogenia da casta, envolveram manipulações
extremas da colmeia, como, por exemplo, remoção da maioria das operárias
adultas e reconstituição da colônia com cria por emergir ou remoção de
todos os favos. Em ambas as situações, as operárias começaram a secretar
comida de cria e cera, cuidar da cria e construir favos com menos idade. Em
colônias formadas apenas por operárias jovens, os vôos de orientação,
atividade de guarda e forrageamento começaram, também, mais cedo (revisado
86 A Biologia da Abelha
por Ribbands, 1953; Free, 1965; Michener, 1974). Nas situações em que foram
removidas as operárias jovens e/ou os favos, as operárias mais velhas
Fig. 6.4. Mapas que mostram os locais de execução de algumas tarefas internas ao
ninho e um diagrama esquemático da colmeia de observação, usada para tais estudos.
(Redesenhado, a partir de Seeley, 1982.)
Mark L. Winston 87
temporais na execução da tarefa; por exemplo, a idade quando começa o
forrageamento foi inversamente correlacionada com a quantidade de ovos e
larvas existentes na colônia, sugerindo que as operárias começam a
forragear com menos idade em colônias com mais cria (Winston e Fergusson,
1985). As operárias podem, também, responder às condições da colônia,
aumentando o tempo gasto numa determinada atividade, sem alterar a idade,
quando aquela tarefa é executada. Kolmes (1985a, observações inéditas)
demonstrou que nas colônias das quais alguns favos, mas não todos, foram
removidos, as operárias, com idade de construir favo, gastaram mais tempo
executando essa tarefa, mas não a executaram em idade significativamente
diferente das que ocorrem em colônias não estressadas. Assim, a resposta da
estrutura temporal da casta parece depender da extensão da interrupção das
atividades normais da colônia. É mais facil documentar a alteração na
divisão do trabalho, para compensar as mudanças nas condições da colônia
sob profundo estresse. Mudanças mais sutis nas condições da colônia
resultam em mudanças sutis na divisão do trabalho, envolvendo, por vezes,
trocas secundárias nas idades de execução das tarefas ou no tempo gasto
numa tarefa numa dada idade.
Outro aspecto da organização interna da colmeia, que influencia a
ontogenia da casta, é o local em que os trabalhos, dentro do ninho, são
executados. Seeley (1982) dividiu as operárias em subcastas temporárias
semelhante às da Figura 6.1, mas lembrou que, a formação destes subgrupos,
estava baseada, em parte, nos locais, dentro do ninho, onde as tarefas são
executadas (Fig. 6.4). As operárias mais jovens, se tornaram limpadoras de
alvéolos, principalmente, porque elas podem localizar, facilmente, uma
longa série de alvéolos que precisam de limpeza, na área próxima da qual
elas, recentemente, emergiram. O próximo grupo de tarefas ocorre, também,
no centro do ninho e inclui atividades, como alimentação, operculação da
cria e assistência à rainha. À medida que as operárias envelhecem, elas
começam a se dispersar e a executar atividades por todo o ninho,
realizando, primeiro, tarefas, como cuidar e alimentar a cria e ventilar, e
movendo-se em seguida, gradualmente, para a periferia do ninho, para
executar as tarefas de manusear a comida. A subcasta final se ocupa do
forrageamento e de outras atividades, fora do ninho. Assim, a organização
do espaço da colmeia parece ser outro fator subjacente, envolvido na
organização da divisão temporal do trabalho.
Fatores externos à colmeia, particularmente a disponibilidade de
néctar e de pólen, podem, também, afetar a ontogenia da casta, ambos,
direta e juntamente com as necessidades de comida da colônia. Este conceito
foi mais bem entendido, depois da apresentação feita por Ribbands (1952,
1953), que sugeriu que a quantidade e a qualidade do néctar e do pólen que
entram na colmeia podem determinar, em parte, a extensão do desenvolvimento
da cria, o manuseio da comida e a construção de favos e as idades nas quais
estas tarefas são executadas. Existem, certamente, evidências abundantes de
que o desenvolvimento da cria é aumentado, quando néctar e,
particularmente, pólen estão disponíveis, e que é necessário existir mel
armazenado, ou entrada de néctar, para ocorrer secreção de cera e
construção de favo. Poder-se-ia esperar que o aumento do estímulo do
recurso, nestas tarefas, afetaria a idade nas quais elas são executadas,
mas esta questão tem que ser, ainda, especificamente enfocada. A evidência
mais direta, que apóia esta hipótese, vem de Kolmes (1985a), que mostrou
que as operárias, durante as estações com fraco fluxo de néctar e de pólen,
executam menos tarefas associadas com a coleta e armazenamento destes
materiais do que as operárias, durante estações melhores. Nenhuma troca,
porém, foi constatada nas idades nas quais estas tarefas foram executadas.
São necessários estudos mais profundos que comparem a divisão do trabalho,
sob diferentes condições de recursos, para examinar adequadamente a
interação entre o ambiente da colmeia, recursos e ontogenia da casta.
88 A Biologia da Abelha
6.4. Elo Perdido: Percepção e Controle
Embora existam, ainda, muitos aspectos desses padrões de tarefa que
precisam ser examinados, está claro que a natureza flexível e sobreposta da
ontogenia da casta é responsável por, pelo menos, algumas condições da
colônia e fornece um mecanismo para as colônias relocarem, com presteza, a
sua força de trabalho, levando em conta as exigências variáveis da colônia.
Existe, porém, outro aspecto na ontogenia da casta, que precisa ser
examinado mais profundamente, para completar nossa compreensão do
polietismo da idade, o mecanismo de percepção e controle, pelo qual as
operárias se dão conta de e agem, para satisfazer as necessidades da
colônia. Existem quatro fases no controle de execução da tarefa, pelo qual
(1) as exigências da colônia são (2) percebidas pelas operárias e (3) essas
percepções são traduzidas, por mecanismos de controle fisiológicos, na (4)
idade em que estas tarefas são executadas (Fig. 6.5). Pouco é conhecido
sobre as duas fases do meio, as percepções e os mecanismos internos de
controle da operária, que medeiam o polietismo da idade.
EXIGÊNCIAS Desenvolvimento da
DO ENXAME cria, Forrageamento,
Construção, Guarda,
MECANISMOS Patrulhamento,
DE PERCEPÇÃO Feromônios, Entrada de
Recursos, Trofalaxis,
MECANISMOS Componente
INTERNOS DE Genético da
Hormônio Desenvolvim
s (HJ) ento
IDADE EM QUE AS
TAREFAS SÃO
EXECUTADAS
Fig. 6.5. Os fatores que controlam a idade em que as operárias executam as tarefas.
As setas indicam a direção do fluxo, das exigências da colônia para os fatores de controle,
que determinam a idade de execução da tarefa.
A natureza das percepções, pelas quais as necessidades da colônia são
traduzidas em tarefas, nunca foi examinada, explicitamente, no contexto de
execução das atividades específicas a de cada idade. Mas estudos, em outros
contextos, sugerem que mecanismos, como patrulhamento, percepção de
feromônios, trofalaxis, taxa de entrada de recursos e danças estão
envolvidas no controle das tarefas. As operárias patrulham,
intencionalmente, o ninho, e parece estarem avaliando o estado da colmeia,
embora não tenham sido determinadas as sugestões precisas de relacionamento
com a idade que elas estejam usando. O nível de certos feromônios na
colônia influencia, provavelmente, as atividades da operária; por exemplo,
um feromônio da cria, ainda não descrito, estimula o forrageamento de pólen
(Free, 1967b), e poderia influenciar a idade em que as operárias iniciam
essa tarefa. Entre as operárias existe a trofalaxis que pode prover
Mark L. Winston 89
informações sobre as necessidades de manuseio de comida e a taxa de entrada
de recursos. As danças do requebrado e vibração dorsiventralabdominal,
entre outras, provêem informação considerável sobre a qualidade da forragem
e sua quantidade, que podem influenciar nas tarefas específicas da idade e
outros tipos de comunicação, como produção de som ou cuidados, poderiam
transmitir informações usadas na determinação da divisão temporal do
trabalho.
Destes mecanismos de percepção, propostos, a trofalaxis recebeu a
maior atenção no contexto do polietismo da idade. A extensão da troca de
comida boca a boca foi apresentada, pela primeira vez, por Park (1923b),
Rosch (1925) e Nixon e Ribbands (1952), que mostraram que mais da metade
das operárias de uma colônia continham néctar colorido, ou marcado
radioativamente, na sua vesícula melifera 24 horas depois de, somente, dez
campeiras o trazerem para a colmeia. As campeiras são, particularmente,
envolvidas na troca de comida, e mais de 75% contêm néctar radioativo
dentro de 24 horas. Free (1957) e Korst e Velthuis (1982) apresentaram,
mais tarde, cinco pontos-chaves. Primeiro, existe uma tendência para passar
comida da abelha mais velha para a mais jovem. Segundo, a troca ocorre
entre abelhas com quantidades quase iguais de comida nas suas vesículas.
Terceiro, a disponibilidade prévia de comida influencia a participação na
troca de comida. Quarto, algumas operárias tendem a implorar comida,
enquanto outras se especializam em oferecê-la. E, quinto, muitas interações
de trofalaxis resultam numa transferência pequena ou, realmente, nula de
comida. Todos esses autores especularam que a trofalaxis está envolvida no
polietismo da idade, embora o mecanismo exato tenha, ainda, que ser
elucidado. Não obstante, as características da troca de comida, aqui
descritas, sugerem que, durante a trofalaxis seja transferida alguma
informação que pode influenciar nos aspectos temporais da divisão de
trabalho.
zzzz
Qualquer que seja o mecanismo de percepção envolvido na mediação de
execução da tarefa, mecanismos de controle, internos da operária, unem
essas percepções com a divisão temporal de trabalho. Estes mecanismos
internos incluem um componente genético que interage com a secreção
hormonal e o desenvolvimento glandular (veja Fig. 6.5). Viu-se que a
ontogenia da casta tem uma base genética subjacente, e que o
desenvolvimento e reabsorção das glândulas produtoras de comida de cria, de
cera e de feromônio estão ligados, de perto, à divisão do trabalho. Está
ficando incrivelmente claro que hormônios, particularmente o hormônio
juvenil, estão, também, envolvidos na execução de tarefas específicas à
idade. As operárias tratadas com um substituto do HJ, ou compostos
análogos, passaram, da região do ninho, de tratamento da cria para
armazenamento de comida mais cedo do que as operárias não tratadas (Jaycox,
Skowronek, e Gwynn, 1974; Jaycox, 1976; Robinson, 1985). A quantidade de HJ
foi relacionada, também, com o desenvolvimento da glândula hipofaríngea; a
remoção dos "corpora allata", produtores de HJ, suspendeu o desenvolvimento
da glândula hipofaríngea (Imboden e Luscher, 1975), e aplicações de HJ, ou
seu análogo, induziram a degeneração prematura dessas glândulas (Rutz et
al., 1976, 1977). Finalmente, Robinson (1985) demonstrou que a aplicação de
substância análoga ao HJ induziu as operárias a exibir comportamento de
orientação e forrageamento mais cedo e a produzir feromônios de alarme mais
cedo do que as operárias não tratadas. Todos estes resultados confirmam a
hipótese de que alto nível de HJ estão envolvidos na degeneração das
glândulas produtoras de comida de cria e na troca de tarefas do ninho para
tarefas do campo. Pesquisa futura, para desvendar o envolvimento das
hipóteses perceptual e hormonal na determinação da divisão temporal de
tarefas, terá, certamente, alta prioridade, durante os próximos anos,
90 A Biologia da Abelha
particularmente porque este tipo de pesquisa se expande para explicar a
interação entre as características da colônia e as tarefas dependentes da
idade.
Mark L. Winston 91
7
7.. O
OUUT
TRRA
ASSA
ATTIIV
VIID
DAAD
DEES
SDDA
AOOP
PEER
RÁÁR
RIIA
A
Está claro que as operárias podem executar um número notável de
tarefas relacionadas com a idade, como também, que elas são flexíveis, em
relação à idade em que executam essas atividades, e podem, assim, ajustar o
programa de trabalho às exigências da colônia. Mas muitas outras atividades
são necessárias para o funcionamento normal da colônia, algumas das quais
devem ser realizadas normalmente e outras, como resposta a mudanças
repentinas nas necessidades. Numa colônia típica, as operárias devem
despender algum tempo do seu dia para aquecer ou resfriar a colmeia;
guardar o alvado de possível ataque de predadores; descobrir uma colônia
fraca num tronco próximo, voar até ela para roubar seu mel. Algumas destas
operárias podem, ao retornar ao ninho, não se orientar corretamente, e
entrar, talvez, numa colmeia vizinha, que há pouco perdeu a rainha. As
operárias respondem a todas essas e a outras circunstâncias através de
modificações comportamentais simples e únicas, adaptadas a cada situação.
Mark L. Winston 93
é capaz de digerir e de utilizar como energia (Queeny, 1952; Friedmann,
1955); a cria e o mel são comidos pelos predadores. O gambá arranha a
entrada do ninho, à noite, e come as abelhas adultas que respondem à sua
perturbação; um gambá esperto pode voltar à mesma colmeia, noite após
noite, podendo reduzir seriamente a população de abelhas adultas (Storer e
Vansell, 1935; Eckert e Shaw, 1960). As abelhas adultas que voam em volta
do alvado ou longe, para forragear ou acasalar, são comidas por muitos
pássaros, incluindo-se entre os comedores de abelhas: pica-paus, titmice,
picanço, andorinha, e tirano-flycatchers (papa-moscas) (Ambrose, 1978).
Outros vertebrados que atacam as abelhas são: o sapo que come as abelhas no
alvado, o opossum, o musaranho, o ouriço, o tatu e o tamanduá (Caron, 1978;
Morse, 1978).
Muitos invertebrados atacam, também, as colônias de abelhas, com
pressão predatória mais intensa novamente em hábitats tropicais. Os
principais grupos de insetos que atacam os ninhos, as formigas e as vespas,
são da mesma ordem que as abelhas; exército de formigas e alguns vespídeos
sociais das vespas são particularmente perigosos. Um exército de formigas
ataca o ninho com tal número, que rivaliza com a população da colônia e,
quando bem sucedido, carrega toda a cria, deixando para trás pilhas de
adultos mortos. As vespas voam sem rumo junto do alvado ou próximo das
flores, atacam as abelhas adultas e removem seu tórax, levando-o para o
ninho, a fim de alimentar as larvas de vespa. Por vezes, as vespas
conseguem entrar no ninho das abelhas e consomem a cria; em 1949, o
secretário da Associação de Apicultores de Israel informou uma perda de
3.000 colmeias devido ao ataque de vespas (De Jong, 1978). As próprias
colônias de abelha podem, também, ser um sério predador, particularmente
pela pilhagem. As traças atacam as colmeias de abelha, consomem pólen
armazenado, mel e até mesmo a cera; as traças de cera, grandes e pequenas,
são capazes de digerir cera de abelha, e são a pior praga dos ninhos, na
maior parte do mundo (Williams, 1978). Em resumo, um ninho de abelha sem
defesa não terá praticamente nenhuma possibilidade de sobreviver à
depredação de vertebrados e invertebrados e, assim, a ação de ferroar e os
outros comportamentos defensivos são essenciais para a sobrevivência da
colônia.
O sistema defensivo inicia, quando as abelhas em guarda no alvado ou
outras operárias que por ali circulam, reconhecem algum predador na entrada
e alertam as abelhas de casa, através de sua postura tensa e liberação das
substâncias químicas de alarme do ferrão e das glândulas mandibulares
(Ghent e Gary, 1962; Maschwitz, 1964a). As abelhas de casa alertadas
deixam, então, a colmeia e procuram o predador, orientadas por estímulos
como movimentos, contrastes coloridos, vibrações e odores. Uma vez
encontrado o predador, a operária executa repetidamente vários
comportamentos contra o predador, antes de ferroar, já que perde a vida
quando ferroa. Estes comportamentos, pré-ferroada, podem incluir posturas
ameaçadoras, zumbidos, esbarrões, mordida, puxação de pêlos e corridas
(Collins et al., 1980). Depois que o atacante foi ferroado, outras
operárias são orientadas para o local da ferroada e incentivadas pelos
feromônios do alarme, secretados pelas glândulas do ferrão. Cores escuras,
texturas ásperas, cheiros de animais e objetos em movimento, todos induzem
as operárias a ferroar, e estas características são comuns a muitos
predadores potenciais de colmeias (Free, 1961b).
A intensidade e a natureza defensiva da colônia podem ser atribuídas
a um componente genético e a fatores ambientais, como temperatura, umidade,
tamanho da colmeia, distribuição da idade das operárias e disponibilidade
de néctar, pólen e água no campo. A genética do comportamento defensivo foi
o fator mais bem estudado, pois esta característica é extremamente variável
com a raça. Para avaliar o comportamento defensivo de uma colônia, foram
94 A Biologia da Abelha
criados testes: um estímulo-padrão é apresentado às abelhas, normalmente
uma bola de couro, balançando na frente do alvado, seguido de uma
perturbação, como batida na colmeia ou impregnação da bola de couro com
feromônios de alarme. São medidos fatores como o tempo de resposta aos
vários estímulos, o número de ferroadas na bola de couro e o tempo até que
a colônia se acalme (Stort, 1974a; Collins e Kubasek, 1982). Desses
estudos, fica claro que as raças de abelha de evolução tropical têm níveis
mais altos de comportamento defensivo do que as raças de evolução
temperada, com muitas das características defensivas, sendo até dez vezes
mais intensas nas abelhas de evolução tropical. Num estudo, as abelhas
africanizadas da América do Sul reagiram ao incentivo-padrão na faixa de 1
a 5 segundos, enquanto as abelhas européias levaram 10 segundos ou mais
tempo. O número médio de ferroadas na bola de couro foi de aproximadamente
80 nas colônias africanizada e somente 10 nas colônias européias (Collins
et al., 1982). Em outra série de experimentos, a bola de couro recebeu uma
média de 61 ferroadas e as luvas do experimentador 49 ferroadas em 1
minuto, junto à entrada da colmeia de abelhas africanizadas; para um mesmo
período de tempo, os valores para as colônias européias foram 26 e 0
ferroadas, respectivamente (Stort 1974a,b, 1975a,b,). Tais observações
quantitativas são reforçadas por experiências qualitativas de apicultores e
outros, em contato com as abelhas, que informam ataques ferozes de abelhas
de evolução tropical, após pequenas perturbações, devido à mobilização
rápida da colônia, que resultaram na distribuição de grande número de
ferroadas e muitas mortes de gado e de pessoas. Em contraste, abelhas de
evolução temperada são vagarosas em se organizarem, frente à maioria das
circunstâncias, e um intruso receberá poucas ferroadas, após a perturbação
da colmeia.
A base genética do comportamento defensivo, dentro de uma única raça
de abelha, foi demonstrada pela hibridação de linhagens agressivas e
dóceis. Boch e Rothenbuhler (1974), por exemplo, cruzaram linhagens
agressivas e dóceis e concluíram que o híbrido resultante era mais dócil em
algumas características, indicando predomínio das características dóceis, e
medianamente dócil em outras, indicando ausência de domínio em qualquer
direção. Mas experiências subseqüentes feitas por Collins (1979) e Stort
(1974a,b, 1975a,b) sugerem que os comportamentos agressivos podem ser, de
fato, dominantes, uma vez que a primeira geração de híbridos reteve muitos
dos comportamentos intensamente defensivos das linhagens mais agressivas.
Dos estudos deles, ficou claro que vários genes são envolvidos na defesa de
ninho, com dois ou três loco que controlam cada um dos componentes do
comportamento defensivo. As observações feitas por apicultores da grande
variabilidade no comportamento agressivo, de colônias, encabeçadas por
rainhas aparentadas, mantidas sob idênticas condições, confirmam novamente
a existência de um forte componente genético na defesa da colmeia.
Fatores ambientais têm, também, um papel na determinação da
intensidade dos comportamentos defensivos. Temperaturas mais altas estão
associadas com o aumento da probabilidade de resposta defensiva com maior
velocidade, intensidade e duração; a umidade mais alta parece afetar
somente a intensidade da resposta (Collins, 1981; ver também Drum e
Rothenbuhler, 1984). Colônias com mais favos vazios apresentam, também,
níveis mais altos de comportamento defensivo, possivelmente porque os
feromônios básicos para defesa da colônia estejam presentes na cera dos
favos (Collins e Rinderer, 1985).
Outros fatores que podem influenciar a defesa são a população da
colônia, quantidade de recursos armazenados, disponibilidade de néctar e de
pólen no campo e experiência prévia. Dados referentes a estes fatores,
porém, não estão disponíveis ou são ambíguos. É tido como verdade universal
pelos apicultores que as colônias grandes são mais agressivas que as
Mark L. Winston 95
pequenas, o que faz sentido, uma vez que as colônias grandes têm mais para
defender e mais operárias para perder na defesa do ninho. Num estudo
(Collins et al., 1982), os resultados para as abelhas européias e as
africanizadas confirmaram esta predição: colônias maiores reagiram mais
rapidamente e com comportamento de distribuir mais ferroadas do que
colônias menores. Outros estudos não mostraram qualquer correlação positiva
e ocasionalmente uma relação negativa, entre tamanho da colônia e
comportamento defensivo (Boch e Rothenbuhler, 1974; Collins e Kubasek,
1982). As observações dos apicultores sugerem que colônias com pouco mel
armazenado são menos agressivas que as que têm mais mel para defender, e
que todas as colônias são menos agressivas, quando há um bom fluxo de
néctar no campo, possivelmente porque muitas das abelhas mais velhas
estejam forrageando. Finalmente, colônias que foram despertadas para a
defesa continuam sendo agressivas, durante muitas horas e, às vezes, dias.
Todos estes comportamentos requerem estudo adicional.
As operárias da mesma colônia mostram individualmente variabilidade
considerável nas suas respostas defensivas, e abelhas mais velhas são
geralmente mais sensíveis às perturbações. Isto se deve, em parte, à sua
localização: as abelhas mais velhas tendem a estar no alvado da colmeia
mais do que as abelhas mais jovens, mas também há uma base fisiológica para
as respostas aos intrusos. As abelhas mais velhas são mais sensíveis ao
alarme dos feromônios e outros odores; gravações electriantenogramas
mostraram que as respostas nervosas de operárias com 8 dias de idade ou
mais velhas são aproximadamente três vezes mais sensíveis do que as das
operárias com um dia (Masson e Arnold, 1984; Allan, Winston, e Slessor,
observações inéditas; ver também Fig. 8.3). Além disso, as operárias velhas
produzem mais feromônio de alarme do que as operárias jovens, alcançando
sua produção máxima entre 15 a 30 dias de idade, coincidente com a época de
montar guarda e de forragear (Boch e Shearer, 1966). Finalmente, o hormônio
juvenil influencia o estado defensivo das operárias. A redução no tamanho
dos "corpora allata", produtores de HJ, está associada aos níveis reduzidos
de comportamento agressivo para com as rainhas (Breed, 1983a), e a
aplicação de metoprene, produto que imita o HJ, induz a produção prematura
de feromônios de alarme (Robinson, 1985).
As abelhas têm diferentes táticas de defesa, que dependem da natureza
dos agressores. Tentativas de afugentar vertebrados envolvem normalmente
morder, puxar o pêlo e eventualmente ferroar. Alguns insetos são mais
difíceis de serem ferroados, uma vez que eles têm o mesmo tipo de cutícula
endurecida que as abelhas, e só podem ser ferroados, através das suaves
membranas conetivas das placas do exosqueleto. Por conseguinte, ataques,
seguidos de comportamento de luta, são mais conhecidos com os insetos que
com os vertebrados, e o número de operárias para afastar os agressores
aumenta muito. Como resposta às formigas, as operárias do alvado abanam as
asas e chutam suas pernas traseiras o que freqüentemente é bem sucedido,
levando as formigas a desistirem de entrar no ninho (Spangler e Taber,
1970). Os ataques de vespas podem ser conhecidos pelo comportamento de
espanto, no qual as operárias tremem violentamente de lado a lado, o que
freqüentemente dissuade as agressoras (Butler, 1974). Alguns dos mais
elaborados comportamentos de defesa são apresentados para dissuadir as
abelhas de outras colônias da pilhagem (como será discutido na próxima
seção).
As abelhas têm, também, vários mecanismos para se defenderem dos
fungos e dos microorganismos que podem atacar os produtos armazenados ou as
próprias abelhas. O mel tem sua própria defesa química: contém a enzima
glucose oxidase, que hidrolisa a glicose, liberando o peróxido de
hidrogênio, agente antibacteriano (White, Subers, e Schepartz, 1963); tem,
também, uma pressão osmótica alta, devido a seu alto teor de açúcar, que
96 A Biologia da Abelha
inibe o crescimento dos fungos. O pólen armazenado é protegido, em parte,
pela fina camada de mel com que é coberto, quando nos alvéolos, mas alguns
polens podem conter antibióticos que fornecem proteção adicional (Stanley e
Linskens, 1974). As abelhas apresentam algum comportamento de resistência
às doenças típicas, por exemplo, cria pútrida americana, provocada pela
bactéria "Bacillus larvae", que mata a cria. As operárias de linhagens
resistentes à doença removem do ninho as larvas e pupas mortas, mais
depressa do que linhagens suscetíveis, e reduzem, assim, a fonte da
infecção (Rothenbuhler, 1964). Além disso, as operárias de linhagens de
abelhas resistentes podem alimentar as larvas com um antibiótico, ainda não
identificado, o que reduz os efeitos da cria pútrida, e podem, também,
remover os esporos do mel infectado, contido na vesícula melífera, pela
ação do proventrículo que retira os esporos (Thompson e Rothenbuhler,
1957). O estômago das operárias contém várias enzimas desintoxicantes que
podem destruir os venenos encontrados no ambiente, como alcalóides e outras
substâncias e, às vezes, em plantas. Estas enzimas são usadas, também, para
combater os pesticidas e outros venenos químicos contemporâneos (Yu,
Robinson, e Nation, 1984).
7.2. Pilhagem
Durante o forrageamento, as abelhas são totalmente oportunistas, e
qualquer fonte rica de mel pode ser descoberta e explorada com presteza. A
fonte mais rica de mel disponível normalmente no campo não são as flores,
mas o mel armazenado por outra colmeia. O comportamento de pilhagem ocorre,
sempre que as abelhas de uma colônia conseguem acessar o ninho de outra
colônia levando-lhe o mel. Tal tipo de ataque pode durar dias e pode
resultar na morte de milhares de abelhas. O comportamento de guardar o
alvado é evidentemente projetado para proteger as abelhas dos membros da
sua própria espécie.
A pilhagem dificilmente ocorre, durante os períodos de grande
disponibilidade de forragem no campo; no caso, as abelhas-guardas permitem
freqüentemente que operárias estranhas, depois de cuidadosa e prolongada
inspeção e interações de domínio, entrem em seus ninhos, sendo normalmente
aceitas pela nova colônia. O comportamento da pilhadora potencial, porém, é
bastante diferente da troca de colmeia e da desorientação das campeiras de
outras colônias, e provoca comportamento defensivo mais intenso, por parte
das abelhas-guardas. As pilhadoras são alertadas da presença de concentrada
fonte de mel em outra colmeia, através do forte odor de mel que emana do
alvado dela. Tais odores são mais fortes no final do verão, quando as
colmeias estão cheias de mel, ocasião em que existe o maior número de
abelhas abanando para esfriar o ninho e evaporar a água do néctar. As
abelhas pilhadoras potenciais exibem freqüentemente um padrão de vôo
característico: pairam no ar e voam de um lado para o outro em frente ao
alvado, possivelmente porque (1) não estão familiarizadas com a outra
colmeia, como fonte de comida, (2) percebem as potenciais defensoras no
alvado ou (3) estão alertando outras pilhadoras para a localização da
colmeia a ser pilhada (Free, 1954; o Gary, 1966). Quando este tipo de vôo
irregular e o estranho odor das pilhadoras, são reconhecidos, as operárias
em guarda respondem imediatamente com ataques ferozes. A abelha-guarda e a
pilhadora se agarram uma à outra, pelas pernas, enroscam seus abdomens e
tentam se ferroar enquanto rolam, num movimento de rodopio. Normalmente,
uma ou outra operária é ferida seriamente ou morre (Butler e Free, 1952;
Ribbands, 1954). Se a pilhadora tiver êxito em entrar na colmeia, ingerirá
uma carga de mel e voltará à sua colônia, onde recrutará outras operárias
para pilharem a atacada. Se a colônia pilhadora é mais forte que a pilhada,
ela pode recolher todo o mel, e o resultado pode ser a morte da colônia
pilhada. Uma vez habituadas a localizar a rica fonte de mel de outras
colmeias, as pilhadoras podem continuar procurando outras para atacar. As
Mark L. Winston 97
pilhadoras ficam lisas, brilhantes e quase negras, como resultado dos
confrontos com outras abelhas.
Fig. 7.1. Diâmetro do agrupamento de uma colônia sob diferentes temperaturas (oC).
(Dados do Wilson e Milum, 1927.)
Embora o desafio de manter o ninho aquecido no inverno (ou
refrigerado no verão) seja conhecido como uma resposta a nível de colônia,
é a soma dos comportamentos individuais das operárias que, de fato, regulam
a temperatura do ninho. Operárias podem elevar a temperatura de seus
Mark L. Winston 99
corpos, contraindo os músculos de vôo do tórax, sem mover as asas, gerando,
assim, calor (Esch 1960, 1964a; Roth, 1965; Esch e Bastian, 1968; Bastian e
Esch, 1970). Em repouso, a temperatura da operária é aproximadamente igual
à do ar, mas, quando ativa, a taxa metabólica é significativamente elevada.
A taxa metabólica é medida pelos microlitros de oxigênio consumidos pela
abelha por minuto; esses valores podem ser altamente variáveis, e foram
constatados valores de aproximadamente 3, para uma abelha em repouso; 25,
para um operária cuidando da cria; 68, para uma abelha que se move
ocasionalmente e vibra suas asas; e 146 a 460, para uma operária em vôo
(Kosmin, Alpatov, e Resnitschenko, 1932; Jongbloed e Wiersma, 1934). Uma
operária que aquece o ninho vibrando os músculos torácicos está
provavelmente respirando em nível semelhante a uma abelha em vôo (Bastian e
Esch, 1970).
O comportamento da operária individual em agrupamentos foi
investigado por Esch (1960). Ele observou que as operárias da camada
externa agarram-se às operárias vizinhas, quase imóveis, com quase nenhuma
diferença em suas temperaturas torácicas e abdominais. Os indivíduos da
camada externa passam, no entanto, ocasionalmente, para o centro do
agrupamento, onde suas temperaturas torácicas aumentarão 10oC, de 23 a 27
para 33 a 37oC, em poucos minutos. Elas podem permanecer no centro do
agrupamento por até 12 horas, elevando a temperatura torácica, sempre que
começar a cair e, eventualmente, voltando a se juntar às operárias da
casca. O agrupamento pode ser visto, assim, como um sistema dinâmico, no
qual o calor é gerado metabolicamente, liberado no centro do agrupamento e
retido pela camada externa compacta e isolante, com os mesmos indivíduos,
executando ambas as tarefas de aquecimento e isolamento, em diferentes
ocasiões. Um mecanismo semelhante de aquecimento torácico funciona
provavelmente na incubação da cria, em temperaturas acima de 18oC, no
limite do amontoado, mas abaixo dos 35oC, ótimo para o desenvolvimento da
cria. Em tais condições, uma fina camada de operárias pode cobrir a área da
cria e gerar calor suficiente para aquecê-la. O mecanismo de aquecimento da
cria poderia não envolver qualquer percepção especial da temperatura da
cria; as operárias poderiam regular a temperatura do seu próprio corpo,
próximo a 35oC, ajustando a taxa de geração de calor (Cahill e Lustick,
1976), e fazendo, assim, estariam aquecendo a área da cria até a
temperatura ótima. Mas, resultados mais recentes indicam que as operárias
ajustam a sua taxa metabólica, como resposta à temperatura da cria
operculada, preferencialmente à temperatura do seu próprio corpo
(Kronenberg e Heller, 1982).
Quando a temperatura ambiental sobe, o resfriamento do ninho passa a
ter importância crescente, particularmente, quando existe cria.
Temperaturas acima de 36oC, por qualquer período apreciável de tempo, são
prejudiciais à cria, e excessos de apenas 1 a 2oC podem causar
anormalidades no desenvolvimento e morte (Himmer, 1927; revisado por Jay,
1963a). A faixa de temperatura ambiente na qual as colmeias devem ser
resfriadas é tão essencial, quanto a faixa de temperaturas de inverno nas
quais as colônias geram calor. Num experimento, uma colmeia foi colocada ao
sol sem nenhuma proteção, num campo de lava, na Itália meridional, e,
embora a temperatura externa tenha subido a 60oC, a temperatura máxima
interna da colmeia nunca excedeu 36oC (Lindauer, 1954). Para esfriar o
ninho, as operárias empregam várias táticas, sendo a mais simples, a
dispersão dos adultos pela colmeia. Quando a temperatura interna do ninho
sobe, as operárias começam a ventilá-lo, abanando as asas e evaporando a
água, chegando até, em condições extremas, a abandoná-lo, parcialmente.
A ventilação começa geralmente, quando a temperatura do ninho alcança
36oC, ou mesmo antes, com as operárias que abanam se alinhando em cadeias,
voltadas para a mesma direção, ao longo da área de cria. Outras operárias,
Fig. 7.2. Controle da temperatura (oC) num enxame. Em situações de baixa temperatura,
as operárias se aproximam firmemente, com pouca ventilação interna, e mantêm a temperatura
do miolo mais alta do que a da superfície. Em situações de altas temperaturas, o
agrupamento se espalha para esfriar o centro, e as temperaturas da superfície e do miolo
ficam mais uniformes. (Redesenhado, a partir de Heinrich, 1981. Copyright 1981 Scientific
American, Inc. Todos os direitos reservados.)
Um controle tão preciso da temperatura do ninho, sob condições de
temperatura ambiente extremamente variáveis, requer mecanismos, pelos quais
as operárias possam, não só perceber a temperatura, mas também, determinar
qual das muitas táticas termoreguladoras é a mais apropriada. A habilidade
Mark L. Winston 101
das operárias em identificar pequenas diferenças de temperatura foi
demonstrada claramente por Heran (1952), que mostrou que as abelhas podem
identificar diferenças de temperatura tão pequenas, quanto 0,25oC,
provavelmente com os termorreceptores de suas antenas. Os mecanismos, a
nível de colônia, porém, que integram comportamentos individuais, não são
bem entendidos, e as hipóteses para explicar como as colônias controlam a
termorregulação podem ser divididas em dois grupos: o conceito de
"superorganismo", como exemplificado por Southwick e Mugaas (1971), e a
hipótese da "operária individual", como proposto por Heinrich (1985). De
acordo com o conceito de superorganismo, as operárias não agem
independentemente, mas subordinam antes suas necessidades e respostas
individuais a uma resposta coordenada, a nível de colônia. De acordo com a
hipótese de operária individual, as operárias se comportam essencialmente
como indivíduos isolados, mantendo a temperatura do seu próprio corpo em
níveis ótimos, para as diferentes estações e condições, e a
termorregulação, a nível da colônia, é simplesmente um efeito colateral
vantajoso dos comportamentos individuais.
A diferenciação entre estas hipóteses é difícil, uma vez que os
mesmos comportamentos da operária podem ser usados para apoiar qualquer
conceito. Um bom exemplo é o sistema de comunicação, para regular a coleta
de água a ser usada no resfriamento da colmeia (Lindauer, 1954). Quando uma
pequena área do favo central foi artificialmente aquecida, as campeiras da
colônia foram estimuladas a coletar água, sem ter estado em contato com tal
área. O mecanismo para esta excitação envolve a recepção da água trazida
pelas campeiras pelas abelhas do ninho: quando a água é necessária para
esfriar, a campeira que retorna com água, ou néctar muito diluído, é
recebida entusiasticamente enquanto as demais, com néctar concentrado, têm
dificuldade para descarregar; isso estimula a coleta adicional de água.
Quando as necessidades por água foram satisfeitas, as campeiras têm
dificuldade de descarregar a água, o que não as estimula a coletar mais.
Tempos de descarga de até 60 segundos estimulam para mais coleta de água,
enquanto tempos mais longos do que 60 segundos desencorajam; tempos de
descarga de água maiores que 180 segundos suspendem praticamente a coleta.
A hipótese do superorganismo argumenta que tal comportamento envolve uma
resposta ao superaquecimento, a nível de colônia, enquanto a hipótese da
operária individual argumenta que as operárias que aceitam a água a usam
simplesmente para se esfriar, e deixam de aceitar água, quando estão
suficientemente frias. Um segundo exemplo, é o das abelhas que abanam no
alvado. O estímulo usado para provocar a ventilação não é a temperatura das
correntes de ar, mas a velocidade e a freqüência das vibrações dos fluxos
de ar, produzidas pelas operárias que estão abanando dentro do ninho,
percebidas pelas operárias do alvado e que começam, então, a abanar. Isso
parece ser novamente um fenômeno a nível da colônia; mas Heinrich propôs
que os indivíduos que abanam, estão simplesmente se resfrescando. Um
terceiro exemplo, é o aquecimento da cria; o conceito de superorganismo diz
que as operárias regulam a temperatura da cria, enquanto estão na área da
cria e a hipótese da operária individual afirma que as operárias estão
mantendo a sua própria temperatura constante, nos desejados 35oC, e o
aquecimento da cria é apenas um subproduto vantajoso desses comportamentos
individuais.
O argumento mais convincente para a termorregulação individual
envolve o comportamento das operárias nos enxames (Heinrich, 1981a,b,c).
Agrupamentos de abelhas em enxames têm problemas semelhantes aos
agrupamentos nos ninhos, e parece responderem a eles de modo semelhante,
isto é, as operárias alternam, entre o miolo e a camada exterior, as
operárias centrais geram o calor, enquanto as operárias exteriores provêem
isolamento. O miolo é mantido a aproximadamente 36oC, enquanto a capa está
entre 15 a 21oC, diferencial semelhante ao encontrado nos agrupamentos da
Fig. 7.3. A ontogenia de eventos, após a perda de rainha, mostrando os tempos médios
para iniciar o desenvolvimento da rainha, opercular a realeira, emergir a primeira
princesa, perder a rainha pela enxameação e a nova rainha iniciar a postura.
Os eventos que seguem à perda da rainha são totalmente diferentes em
colônia sem cria, dos que ocorrem em colônia com cria, mas que falhou no
desenvolvimento da rainha. As operárias podem, nestas condições, começar a
Mark L. Winston 105
postura, produzindo geralmente somente ovos de zangão, embora, em alguns
casos sejam produzidos ovos partenogenéticos de fêmeas que podem se
desenvolver em rainhas (veja Capítulo 4). Muitas das operárias em colônias
com rainha têm potencial para pôr ovos, mas a presença da rainha e da cria
na colônia inibe esta postura. O desenvolvimento dos ovários e da oogênese
nas operárias são inibidos pelo feromônio da rainha, ácido 9-keto-
decenóico, como também por outras substâncias por ela produzidas (Butler e
Fairey, 1963); pensa-se, também, que alguns odores da cria, ainda não
identificados, inibem o desenvolvimento de operárias poedeiras (Dor, 1961;
Jay, 1972). Na ausência da rainha, os ovários e as glândulas mandibulares
das operárias aumentam (Costa-Leonardo, 1985).
O período de latência da operária poedeira (antes de começar a
postura), depois que a colônia perde a rainha, varia entre as diferentes
raças: nas raças européias, a média é de 23 a 30 dias e nas raças
africanizadas, é de só 5 a 10 dias. As operárias poedeiras das raças
européias poem, também, menos ovos do que as africanizadas (Ruttner e
Hesse, 1981). Logo que as operárias começam a postura, as colônias são
caracterizadas por agressividade e briga entre elas e, geralmente, não
aceitam nova rainha (Sakagami, 1954). O destino da desesperada colônia sem
rainha é a morte, pois só é desenvolvida cria de macho.
Acidentalmente são encontradas colônias que só construíram favos de
zangão, e as operárias poedeiras puseram neles só ovos de zangão; estes
enxames se originaram, presumivelmente, de enxames que perderam suas
rainhas durante o trânsito e desenvolveram operárias poedeiras. Às vezes,
uma operária poedeira desenvolve um nível mais alto de comportamento
semelhante ao da rainha do que as outras e é tratada como rainha (Sakagami,
1958). Esta operária poedeira é chamada de falsa rainha, e é assistida por
um séquito de operárias, que a alimentam e a lambem, como se fosse rainha.
Falsas rainhas têm o abdômen ligeiramente aumentado, e parece inibirem o
desenvolvimento dos ovários e a oviposição de outras operárias,
provavelmente por causa da maior produção de substâncias pela glândula
mandibular, idênticas às produzidas por rainhas verdadeiras (Velthuis,
Verheijen, e Gottenbos, 1965; Crewe e Velthuis, 1980).
Talvez, a situação mais interessante, envolvendo operárias poedeiras,
é encontrada na abelha de Capa, Apis m. Capensis, raça de abelha localizada
só no sudoeste da África do Sul. Esta raça peculiar de abelha é distinta de
todas as outras pela alta freqüência de produção de ovos partenogenéticos
de fêmeas, postos pelas operárias poedeiras, após a perda da rainha; são
postos, também, alguns ovos de zangão. Esta característica foi relatada já
em 1912 (Onions, 1912, 1914; Jack, 1916), mas não foi amplamente aceita,
até que Anderson (1963) demonstrou conclusivamente que as operárias
poedeiras Capensis realmente produziam cria fêmea. Além disso, as operárias
da Apis m. Capensis diferem das operárias de outras raças, por terem a
espermateca maior, embora sem função, (Ruttner, 1977), alto número de
ovaríolos (o Anderson, 1963; Ruttner, 1977) e substâncias da rainha nas
glândulas mandibulares (Ruttner, Koeniger, e Veith, 1976; Hemmling,
Koeniger, e Veith, 1979; Crewe, 1982).
A perda de uma rainha Capensis é seguida de brigas intensas na
colônia, muito mais significativas do que as de outras raças, possivelmente
porque as operárias poedeiras têm o potencial de produzir rainhas e, assim,
sua descendência poderia herdar a colônia. Os primeiros ovos de operária
poedeira são encontrados dentro de 4 a 8 dias, após a perda da rainha e,
quando a colônia perde sua rainha, as operárias começam a postura, mesmo
com cria presente. Alguma cria usada para desenvolver a rainha se origina
de ovos da rainha, mas algumas rainhas se originam de ovos
partenogenéticos, postos pelas operárias poedeiras. As colônias podem
permanecer sem rainha e produzir cria por até 4 meses, com toda cria fêmea
8.1. Feromônios
Feromônios são substâncias químicas usadas para a comunicação entre
os membros da mesma espécie. Entre as abelhas, esses odores podem ser
produzidos pelas operárias, pelas rainhas e, possivelmente, pelos zangões
e, é sabido, agem no acasalamento, no alarme, na defesa, na orientação, no
reconhecimento da colônia e na integração de suas atividades (Tabela 8.1).
Foram identificadas, pelo menos, 18 substâncias químicas com a função de
feromônios, e estima-se que existam 18 substâncias adicionais, para
descrever inteiramente as atividades baseadas nos feromônios (Dor, 1973). A
compreensão dos feromônios se expandiu drasticamente na década de 1960, com
o advento da instrumentação capaz de amostrar e identificar essas
substâncias, e aumentou novamente em anos recentes, visto as habilidades
crescentes de identificar substâncias de um único inseto e de usar
traçadores biológicos sofisticados para testar novos compostos. No entanto,
a comunicação química entre as abelhas é pouco explorada no mundo, e cada
nova descoberta demonstra o quão pouco, ainda, se conhece sobre este
assunto tão complexo. O que está claro, porém, é que as abelhas, enquanto
indivíduos, são afetadas por odores biologicamente significativos,
produzidos por outras, pelas flores e pelos materiais do ninho, e que
identificar e responder a esses odores são funções críticas no desempenho
da colônia.
Fig. 8.5. O movimento hipotético dos feromônios produzidos pela rainha, e levados
pelas operárias mensageirasa outras operárias por transmissão de superfície e pelo
deslocamento interno.
As substâncias da rainha agem provavelmente no sistema hormonal da
operária, quando os feromônios são transferidos da superfície para o
interior do corpo. Num experimento (Butler e Fairey, 1963), a injeção de
9ODA suprimiu, em parte, o desenvolvimento do ovário, provavelmente por ter
inibido o crescimento dos "corpora allata", glândula que secreta os
hormônios responsáveis pelo estímulo do desenvolvimento do ovário (Lüscher
e Walker, 1963; Gast, 1967). O crescimento de células neurossecretoras
pode, também, ser inibido pela substância da rainha (Gast, 1967). Numerosos
estudos mostraram que a substância da rainha apresenta um declínio gradual
na sua atividade, por um período de 30min, com uma meia-vida de 15 a 20min
Fig. 9.1. A dança circular indica um recurso próximo do ninho. A campeira que retorna
está no grupo de operárias de cima, trocando néctar regurgitado com as recrutas em
potencial; no grupo de baixo, está executando a dança circular e sendo seguida pelas
nível de danças.
produzidas pela dançarina, quanto o são para perceber o odor (Esch, 1961;
Esch, Esch, e Kerr, 1965).
Fig. 9.3. A dança do requebrado, ou em forma de oito, sendo seguida por recrutas em
potencial. (Redesenhado, a partir de von Frisch, 1967a.)
Outro aspecto notável da comunicação da distância pela dança do
requebrado é que as campeiras não sinalizam a distância absoluta da fonte
de comida, mas sim a quantidade de energia a ser gasta para lá chegar. Isto
foi demonstrado de vários modos. Por exemplo, amarrando pequenos pesos ou
pontas arrastar-produtoras (drag-producing flaps) nas campeiras, a fim de
induzir danças para distâncias maiores que a da verdadeira localização da
fonte de comida (Schifferer, 1952), ou danças, quando existe vento contra
ou quando a fonte se encontra no alto, o que também indica distância maior.
Quando as campeiras são forçadas a caminhar em vez de voar, gastando,
assim, mais energia, a distância indicada é, também, muito maior (Bisetzky,
1957). A quantidade de energia a ser gasta num vôo pode ser prevista pelas
recrutas, a partir das danças que elas seguem; quando a distância para os
recursos aumenta, mais mel é apanhado na colmeia antes do vôo.
É importante reconhecer, porém, que a comunicação da distância não é
perfeita e nem todas as recrutas encontram os recursos na sua primeira
viagem. Dependendo das circunstâncias e do tipo de experiência, as recrutas
voam 2 a 10% da distância até o recurso. Algo dessa imprecisão se deve à
variabilidade do "tempo" da dança entre indivíduos, uma vez que o "tempo"
diminui particularmente com a idade da campeira, de forma que campeiras
132 A Biologia da Abelha
mais velhas indicam distâncias maiores das que indicavam quando mais
jovens. Além disso, existem dialetos entre as abelhas: diferentes raças
mostram danças ligeiramente diferentes para a mesma fonte de comida.
Fatores ambientais podem influenciar o padrão da dança, assim, em
temperaturas mais altas foi notado leve aumento. Parte dos problemas de
comunicação são resolvidos pelas recrutas seguindo as danças de várias
campeiras, antes de deixar a colmeia, e somando evidentemente a informação
de todas as danças para calcular a distância média. Não obstante, apesar
das imperfeições do idioma de dança, muitas recrutas chegam perto dos
Fig. 9.4. A relação entre a distância de uma fonte de comida e duas características
da dança usada pelas recrutas, ao interpretá-la, o número de balanços por corrida e o
"tempo" da dança. (Redesenhado, a partir de Frisch, 1967a, e Michener, 1974).
Os mesmos componentes da dança que indicam a distância transmitem
informações sobre a qualidade do recurso. Isto pode ser visto facilmente
numa colmeia de observação, onde para algumas danças parece faltar vigor, e
são pobremente assistidas, enquanto outras são viva e ansiosamente
acompanhadas pelas recrutas em potencial. Os principais atributos da dança,
que comunicam a qualidade do recurso, são a extensão lateral do balanço, o
número total de ciclos e a intensidade das vibrações do zumbido; todas
essas características aumentam para recursos melhores. Além disso, a abelha
que dança com carga desejável é encorajada pelas suas "companheiras" a
dançar vigorosamente, por meio da recepção entusiástica e rápida do
Fig. 9.6. A freqüência com que uma rainha foi vibrada, durante o ciclo de enxameação.
(a) Construção da primeira realeira. (b) Primeiro ovo posto na realeira. (c) Primeira
realeira operculada. (d) A colônia enxameou em 20 de março. (e) A rainha partiu com o
enxame. (Este estudo foi realizado na África do Sul; redesenhado, a partir de Fletcher,
1975. Reimpresso por permissão da Nature. Copyright 1975 de Macmillan Journal Limited.)
A atividade reguladora das danças DVAV funciona de vários modos.
Primeiro, as operárias com idade de campeiras, não, porém, as operárias
mais jovens, respondem à dança, aumentando a sua movimentação pelo ninho e
passando particularmente para a área, onde as danças do requebrado estão
sendo executadas. Segundo, os picos diários no nível de danças DVAV estão
relacionados, de perto, com os picos na atividade de forrageamento; as
colônias que experimentaram 3 a 4 dias de forrageamento bem sucedido
apresentam um aumento nas danças DVAV, no início da manhã, e picos menores
são evidentes, a qualquer hora do dia, após 30min de crescente atividade de
forrageamento, induzido pela disponibilidade súbita de novo recurso.
Terceiro, há picos sazonais de longo prazo nas danças DVAV, associados a
períodos de abundância de comida. A dança DVAV atua, assim, como reforço de
136 A Biologia da Abelha
curto e longo prazo para o forrageamento, por concentrar as recrutas
potenciais na região da colônia em que ocorre a dança do requebrado,
aumentando, dessa forma, a eficiência do recrutamento e regulando e
atividade diária e sazonal do forrageamento.
Um dos aspectos mais interessantes desta dança é que o mesmo
comportamento da operária tem diferentes efeitos em diferentes contextos.
Além de ativar o forrageamento, a dança DVAV regula as atividades da
rainha, associadas à enxameação (Fletcher, 1975, 1978b,c). O número de
vezes que a rainha fecundada vibra aumenta rapidamente, uma vez iniciado o
desenvolvimento, mas cai abruptamente algumas horas antes da enxameação
(Fig. 9.6). Esta vibração intensa da rainha serve para inibir-lhe a
atividade e lhe impede possivelmente de destruir as princesas em
desenvolvimento. Quando a dança cessa repentinamente, a remoção do efeito
inibidor na atividade da rainha pode estimulá-la a sair do ninho com um
enxame. Durante o período que segue à saída do enxame primário com a rainha
velha, as operárias vibrarão as realeiras em desenvolvimento com
intensidade crescente, e vibram quase continuamente as que contem princesas
maduras, particularmente depois que uma princesa emerge. Essas danças sobre
as realeiras diminuem imediatamente antes da saída de um enxame secundário.
Assim, a dança DVAV exerce controle sobre o aparecimento da princesa e
saída do enxame secundário. Diminuição das vibrações da operária sobre as
princesas em idade de acasalamento pode estimular o vôo de acasalamento,
embora a associação da dança DVAV não seja tão forte quanto para as outras
funções relacionadas com a rainha. Em resumo, as vibrações
dorsiventralabdominais parece terem efeito ativador do forrageamento nas
interações operária-operária e um efeito inibidor na atividade da rainha, e
pode funcionar, também, para preparar as rainhas gradualmente para a
enxameação ou vôo de acasalamento, quando a vibração diminui.
Há outras danças no ninho, cujas funções não são tão entendidas, como
a circular, a do requebrado e a DVAV. Essas danças foram revisadas por von
Frisch (1967a), e incluem a dos empurrões, das convulsões, do zumbido, do
estremecimento e do tremor. Na dança dos empurrões, as campeiras bem
sucedidas que retornam esbarram suas companheiras, correm até elas e as
empurram para os lados; isso pode alertá-las que uma dança está por
iniciar. A dança das convulsões envolve distribuição de comida, entremeada
com pequenos movimentos de sacudidas do abdomen, e pode ser semelhante à
dança dos empurrões, significando que está para chegar uma informação sobre
recursos. A dança do zumbido é usada para sinalizar a saída de um enxame ou
induzir um enxame a pousar. Nela, as operárias zumbem suas asas e
atravessam a colônia ou o enxame de forma randômica, mas enérgica e esses
movimentos aumentam a atividade de suas companheiras e induzem o vôo. Na
dança do estremecimento, a operária treme o seu corpo rapidamente, de lado
a lado, e induz as operárias próximas a cuidarem dela. Foram observadas
danças do tremor, logo após perturbações da colônia, na qual as operárias
crispam, tremem e correm sobre quatro pernas, e sua função é totalmente
desconhecida.
terra, pelo torque induzido pelo mesmo campo, quando a operária muda de
posição.
Fig. 9.7. Emcima: cores do espectro para os olhos dos humanos e da abelha. Embaixo:
círculo das cores para os humanos e as abelhas. (Redesenhado, a partir de von Frisch,
1967a, e Michener, 1974.)
O odor local, que pode atrair as operárias desde longas distâncias,
foi proposto como dica adicional e alternativa para a linguagem da dança. A
sugestão de que a linguagem da dança não pode, de modo algum, comunicar a
distância e a direção foi feita por Wenner e colegas, que acreditam que o
odor sozinho pode explicar o recrutamento (veja, particularmente, Johnson,
1967; Wenner e Johnson, 1967; Wenner, Wells, e Rohlf, 1967; Wenner, 1971; e
refutações resumidas por von Frisch, 1967b, e Gould, 1976). Embora as
experiências de von Frisch e seus colegas e experiências adicionais com
controles mais extensos, tenham confirmado de forma clara a eficácia da
linguagem de dança, está claro, também, que os odores do lugar são
informados pelas operárias e usados como uma dica adicional para a
orientação. Estes odores poderiam incluir odores florais ou odores
ambientais locais, como vegetais, terra virada e lixo vegetal, e, claro,
seriam mais importantes, se o recurso estivesse localizado contra o vento.
As operárias têm capacidade de orientação para pequenas distâncias,
usada para localizar o recurso e para encontrar o ninho no retorno. Como se
140 A Biologia da Abelha
viu, as recrutas que seguem as danças da abelha obtêm informações sobre o
odor das flores que são visitadas, através da antenação das dançarinas, e
esta informação ajuda a encontrar a flor que está produzindo néctar e
pólen. No vôo de retorno, podem se orientar pelos feromônios de orientação
em geral, como os odores da glândula de Nasonov, e pelos odores específicos
do ninho, que lhes permite distinguir sua colônia das colônias estranhas.
O sistema visual é utilizado, também, na orientação para o local das
flores ou dos ninhos e, nesta capacidade, exibem nível notável de aptidões
perceptivas. As operárias são particularmente boas na percepção das cores,
formas e movimentos, todas características especialmente úteis no contexto
que a operária precisa reconhecer. As abelhas possuem visão tricromática da
cor, comparável aproximadamente aos humanos, mas com algumas diferenças
importantes (Fig. 9.7). As abelhas são muito sensíveis para as ondas de
comprimentos curtos do final do espectro, particularmente para a luz
ultravioleta. A sensibilidade delas para outras cores diminui do
ultravioleta, na ordem, para azul-violeta, verde, amarelo, azul-verde e
laranja; as abelhas são insensíveis para o vermelho, e podem ver uma cor
chamada "púrpura de abelha", que é o resultado da combinação das duas cores
do final do espectro visível pela abelha, ultravioleta e amarelo. Como para
os humanos, as cores cruzadas no círculo das cores, uma em frente à outra,
se complementam para formar o branco.
Duas evidências confirmaram a visão da cor pelas abelhas: (1) quando
as operárias são treinadas a visitar cores, elas o fazem na ordem descrita
acima; e (2) técnicas eletrofisiologicas para determinar curvas de
sensibilidade para receptores de céluas únicas conseguiram resultados
idênticos. Foram usadas técnicas semelhantes para demonstrar que a abelha
que se aproxima de uma flor tem visão muito diferente da percebida pelos
humanos. Parece que as flores evoluíram, de fato, suas características
visuais para serem muito visíveis a suas polinisadoras, as abelhas. As
campeiras, por exemplo, pousam freqüentemente em flores que refletem a luz
do padrão ultravioleta, e estes padrões estão freqüentemente na posição de
"guias de néctar", ou em regiões da flor que não refletem o ultravioleta e
que indicam a localização dos nectários, estames e pistilos (Free, 1970). A
folhagem verde, de fundo, aparece cinza para a abelhas, de forma que as
cores das flores ficam mais vistosas.
As abelhas podem, outrossim, perceber a forma, especialmente o grau
de descontinuidade causado pela freqüência com que as extremidades de um
corpo atravessam o seu campo de visão (veja particularmente a pesquisa de
Hertz como citado e revisado por Ribbands, 1953; von Frisch, 1967a; e Free,
1970). Ângulos largos são, também, mais distinguíveis do que ângulos
estreitos, e formas fechadas, como círculos, triângulos e quadrados não são
facilmente distinguíveis uma da outra, embora possam ser distinguidas de
formas abertas, com ângulos largos. Este tipo de acuidade visual é comum
entre insetos voadores, que podem ver melhor descontinuidades, ângulos
largos, enquanto se movem em vôo. Em contrapartida, as operárias que
retornam para casa preferem figuras escuras com pequena estrutura ou
contornos, padrão semelhante à escura entrada do ninho, para onde estão
voltando.
Outro aspecto da visão particularmente marcante nas abelhas, é a
percepção do movimento. Movendo padrões de cor negra e faixas brancas em
frente aos olhos das abelhas, foi comprovado que as operárias podem
detectar taxas de até 300 ciclos/seg (Autrum e Stoeker, 1950). Esta
freqüência de luz piscante é notavelmente mais alta do que a taxa humana,
que é só 15 a 20 ciclos/seg. Acuidade tão alta é novamente esperada em
insetos voadores, que têm que responder rapidamente a padrões relativamente
estacionários, formados pela vegetação ou entradas de ninho. Assim, as
abelhas combinam acuidade visual para percepção de luz polarizada, cor,
Fig. 10.1 Fluxos de néctar em duas regiões da Columbia Britânica, Canadá, durante
dois anos diferentes, valores médios semanais do peso conseguido ou perdido pelas colmeias.
A região do Vale Fraser está localizada no sudoeste, e tem normalmente um fluxo na
primavera e outro no verão. O Riacho Dawson se encontra na parte norte da província e tem
fluxo forte no verão. As colmeias ganham peso, quando coletam mais néctar do que o
consumido pelas abelhas e perdem peso, quando o néctar não é suficiente para o consumo.
(Dados condensados do B.C. Ministry of Agriculture and Foods, registros de colônias
mantidas em balanças durante vários anos.)
Muitas plantas gastam energia na produção de néctar para atrair as
abelhas, que servem para transferir o pólen de uma planta para outra. As
abelhas, na verdade, usam o pólen como alimento, mas, no processo de
coletar néctar e pólen, muitos grãos de pólen são transferidos entre as
flores para concretizar a polinização. O pólen é produzido no estame da
planta e, como o néctar, a qualidade e quantidade dele podem variar
tremendamente, conforme as espécies de plantas. Algumas plantas produzem,
na verdade, pouco ou nenhum néctar, mas são, não obstante, atrativas às
abelhas por causa da sua produção de pólen. As operárias escolhem o pólen
para coletar não pelo seu valor nutritivo, idade, teor de umidade ou cor,
mas com base no odor e configuração física do grão (revisado por Stanley e
Linskens, 1974, e Jay, 1986).
Além de decidir qual a espécie de flor a visitar na viagem de
forrageamento, as operárias têm que determinar onde e a que distância
habitualmente forragear. Em áreas agrícolas, o raio médio de forrageamento
das colônias é, em torno, de cem metros (revisado por Visscher e Seeley,
Fig. 10.2. Mapas dos locais de forrageamento diário de uma colônia de abelha,
deduzidos da leitura das danças de recrutamento, em colmeias de observação envidraçadas.
(Redesenhado, a partir de Seeley, 1985a, Honeybee Ecology. Copyright 1985 por Princeton
University Press. Figure 7.3 adaptados com permissão de Princeton University Press. Veja,
também, Visscher e Seeley, 1982.)
Enquanto avaliar as exigências de comida de uma colônia é de
importância óbvia, a descoberta e exploração eficiente dos recursos também
é fundamental para sua sobrevivência. Uma operária pode, é claro, procurar
flores e coletar néctar e pólen sem comunicar às outras, mas este tipo de
4) TRANSMISSÃO REDUZIDA
DOS FEROMONIOS DA RAINHA
Fig. 11.4. Volume da cavidade, ocupada por dez colônias naturais de abelhas
africanizadas, na hora da enxameação primária, perto de Pucallpa, Peru, contra o volume
total das cavidades. A linha reta indica o tamanho potencial da cavidade na primeira
enxameação, se as cavidades estivessem completamente cheias. (Redesenhado, a partir de
Winston e Taylor, 1980. Usado com permissão de MASSON S.A., Paris.)
Fig. 11.5. Percentagens médias e desvio-padrão da área total do favo ocupado por
cria, mel e pólen armazenados, para abelhas africanizadas na América do Sul e para abelhas
européias na América do Norte. (Redesenhado, a partir de Winston, Dropkin, e Taylor, 1981.)
Quando começa o desenvolvimento da rainha, o número de operárias está
aumentando rapidamente (Fig. 11.1) e podem ser encontrados agrupamentos de
abelhas quietas em favo que contém cria. A maioria dos favos de cria está
coberta por camadas de operárias, duas a três operárias de espessura,
princesas.
Fig. 12.3. A sucessão de eventos da cópula de zangão com princesa numa área de
importantes.
Fig. 13.1. A relação entre o percentual de favos para zangão e a quantidade total de
favos construídos pelas colônias de abelhas de evolução tropical africanizadas da América
do Sul (dados de Otis, 1980) e abelhas européias de evolução temperada na América Norte
(dados de Lee e Winston, 1985b). Os dados foram plotados e analisados em escala
transformada, vista no eixo esquerdo; para comparação, à direita, a escala não
transformada. (Redesenhado, a partir de Lee e Winston, 1985b.)
Em colônias de tamanhos semelhantes, as raças de abelhas de evolução
temperada e tropical diferem, também, na percentagem construída de favo
para zangão (Otis, 1980; Lee e Winston, 1985b). Colônias pequenas de
abelhas africanizadas tropicais na América do Sul constroem porcentagem
maior de favos para zangão que as abelhas das raças européias temperadas,
para o mesmo tamanho de colônia (Fig. 13.1). De modo semelhante, as
colônias pequenas de abelhas de evolução temperada não alocam inicialmente
Fig. 13.2. Área ocupada por ovos, larvas e cria operculada em colônias de abelhas
africanizadas antes do abandono. (Redesenhado, a partir de Winston, Otis, e Taylor, 1979.)
O abandono induzido por falta de recursos parece resultar da escassez
de néctar, pólen ou água, e ocorre principalmente durante a estação de
carestia em hábitats tropicais. Colônias tropicais africanas e
africanizadas fogem freqüentemente durante os períodos de carestia; na
182 A Biologia da Abelha
Guiana Francesa, 30% das colônias africanizadas fogem, durante a estação
úmida, quando há relativamente pouca floração, presumivelmente à procura de
áreas com melhores recursos (Winston, Otis, e Taylor, 1979). De modo
semelhante, 79% dos abandonos registrados no Brasil por Cosenza (1972),
ocorreram, durante período de carestia de recursos. A taxa de abandono
pelas abelhas africanas tropicais é geralmente de 15 a 30% por ano, e pode
ser, em algumas áreas, tão alta quanto 100%. A incidência mais alta do
abandono pelas abelhas africanas acontece, durante a estação seca, quando
há menos flores e, também, menos água, no momento em que elas mais precisam
dela, para regular a temperatura interna do ninho (Smith, 1960; Fletcher,
1975/1976, 1978a; Woyke, 1976b). Em contrapartida, o abandono induzido pela
falta de recursos, em abelhas européias de regiões temperadas ou tropicais,
é registrado como sendo de baixa freqüência (Martin, 1963; Winston, Otis, e
Taylor, 1979; Robinson, i982). Nas condições de estação úmida, na Guiana
Francesa, as colônias de abelhas européias, mantidas nas mesmas condições
das africanizadas, diminuíram e morreram, em vez de abandonar, e
informações dos apicultores da África do Sul e da América do Sul indicam
que o abandono por abelhas européias é, também, pouco freqüente, sob as
condições de manejo (Winston, Otis, e Taylor, 1979).
O abandono da colmeia, induzido por falta de recurso, difere, no
padrão de preparação, do abandono por perturbação. Enquanto a perturbação
pode induzir a colônia a partir dentro de algumas horas ou dias,
preparações cuidadosas são feitas, durante muitas semanas, antes de
abandonar o ninho, por causa da escassez de recursos (Winston, Otis, e
Taylor, 1979). As colônias que se preparam para abandonar, começam a
reduzir o desenvolvimento da sua cria 25 dias aproximadamente antes de
partir, e não criam nenhuma larva nova nos 10 a 15 dias que precedem a
saida (Fig. 13.2). A rainha continua pondo alguns ovos até a data do
abandono, embora estes sejam evidentemente consumidos pelas operárias, em
vez de serem criados. A maior parte do pólen armazenado é consumido,
também, antes do abandono, bem como, muito do mel armazenado. É
interessante observar que esse tipo de abandono sazonal é programado, de
forma que não ocorra antes que a última cria operculada tenha emergido;
assim o enxame de abandono terá população razoável de operárias jovens para
iniciar o ninho novo. As operárias se enchem mel antes de abandonar, de
forma que o enxame de abandono só deixa para trás o favo de cera, e leva
consigo todos os outros recursos: operárias recentemente emergidas, mel e
proteína do pólen recentemente consumido, que é armazenada provavelmente
nos corpos gordos e nas glândulas hipofaríngeas das operárias.
A deterioração das condições dos recursos, porém, não é suficiente
para explicar o abandono pois muitas colônias, existentes nos mesmos locais
das colmeias abandonadas, resistiram à carestia. O abandono de colmeia
induzido pela falta de recursos é provocado provavelmente pela combinação
de forragem pobre com condições internas da colônia, particularmente
crônica e baixa sobrevivência da cria (Winston, Otis, e Taylor, 1979;
Winston, 1980). É interessante observar: não há diferença entre as
quantidades de mel, pólen ou áreas de cria entre as colmeias abandonadas e
as que persistiram; há, porém, diferenças na programação da enxameação,
relativa à estação de abandono. Colônias que abandonam são geralmente as
que enxamearam há menos de 6 semanas do período de carestia, o que resulta
em baixa população de operárias, operárias mais velhas e mortalidade de
cria mais alta que das colônias que enxamearam, há mais de 6 semanas, antes
da estação de abandono.
Qualquer que seja a causa do abandono, as colônias que deixam os seus
ninhos podem migrar por longas distâncias, à procura de melhores condições
de forragem. As operárias de enxames de abandono levam quase duas vezes
mais mel que as de enxames de reprodução, ficando assim abastecidas de
Dadant, C. P., ed. 1975. The hive and the honeybee. Hamilton, 111., Dadant.
Dade, H. A. 1977. Anatomy and dissection of the honeybee. London,
International Bee Research Association.
Daly, H. V., and S. S. Balling. 1978. Identification of Africanized
honeybees in the Western hemisphere by discriminant analysis. J. Kans.
Entomol. Soc. 51:857-869.
Darchen, R. 1962. Observation directe du developpement d'un rayon de cire:
Ie role des chaines d'abeilles. Insectes Sociaux 9:103-120.
———— 1968. Le travail de la cire et la construction dans la ruche. In
Traite de biologie de I'abeille, vol. 2, ed. R. Chauvin, pp. 241-331.
Paris, Masson.
DeJong, D. 1978. Insects: hymenoptera (ants, wasps, bees). In Honey bee
pests, predators, and diseases, ed. R. A. Morse, pp. 138-157. Ithaca,
Cornell Univ. Press.
Demuth, G. S. 1921. Swarm control. Fmrs.' Bull. U.S. Dep. Agric. 1198:1-28.
———— 1922. The cause of swarming. Glean. Bee Cult. 50:371-373.
———— 1931. Cause of swarming is known. Amer. Bee J. 71:419.
Dietz, A. 1969. Initiation of pollen consumption and pollen movement
through the alimentary canal of newly emerged honey bees. Ann. Entomol.
Soc. Amer. 62:43-46.
———— 1971. Changes with age in some mineral constituents of worker honey
bees, I. Phosphorus, potassium, calcium, magnesium, sodium and iron. J.
Ga. Entomol. Soc. 6:54-57.
Dietz, A., and W. J. Humphreys. 1971. Scanning electron microscopic studies
of antennal receptors of the worker honey bee, including sensilla
campaniformia. Ann. Entomol. Soc. Amer. 64:919-925.
Dietz, A., and E. Lambremont. 1970. Caste determination in honeybees, II.
Food consumption of individual honey bee larvae, determined with 32P -
labelled royal jelly. Ann. Entomol. Soc. Amer. 63:1342-45.
Dietz, A., R. Krell, and F. A. Eischen. 1985. Preliminary investigation on
the distribution of Africanized honey bees in Argentina. Apidologie