Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
CENTRO DE EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
DOUTORADO EM EDUCAÇÃO
JOÃO PESSOA - PB
2020
AILZA DE FREITAS OLIVEIRA
JOÃO PESSOA - PB
2020
Cat al ogação na publ i cação
Seção de Cat al ogação e Cl assi f i cação
UFPB/BC
AILZA DE FREITAS OLIVEIRA
BANCA EXAMINADORA
P/
Prof.a Dr.ª Sandra Maria Gadelha de Carvalho (MAEI/UECE)
(Avaliadora Externa a UFPB)
P/
Prof.o Dr. Walter Pinheiro Barbosa Júnior (PPGEd-UFRN)
(Avaliador Externo a UFPB)
Ao meu presidente Lula por seu
exemplo de resistência e
empoderamento crítico. Dedico.
AGRADECIMENTOS
Imagem nº 25: Cartões Postais Pontilhismo, Surrealismo e Pop Arte ......................... .95
Imagem nº 39: Lançamento do livro Embarc (A) ções sobre Arte e Educação ...........109
Imagem nº 44: Oficinas que Ministrei entre 2015 e 2018 ........................................... 114
Imagem 74: Oficina “Árvores Literárias sobre a Artista Cely Sousa” .........................242
1 MERGULHOS INTRODUTÓRIOS
1.1 Embarque dos Marinheiros de Primeira Viagem..........................................17
1.2 Mares Por Onde Naveguei ...........................................................................21
1.3 Da Calmaria ao Maremoto: expedição de construção da pesquisa e análise
das rotas com tema, objetivos e problematizações........................................31
1.4 Hasteando as Velas Rumo às Praias de Chegada: desenho teórico-
metodológico da pesquisa..............................................................................36
3 OCEANOS DE EMPODERAMENTO
3.1 Oceanos que Estimulam Processos de Empoderamento............................. 119
3.2 Processos de Empoderamento Crítico x Processos à Deriva: conceito
estruturante ..................................................................................................... 122
3.3 Processos de Empoderamento Crítico em Educação Popular.................... 148
DESEMBARQUES ANEXADOS
DESEMBARQUE A: Anexo da Autorização do Conselho de Ética para Realização da
Pesquisa ....................................................................................................................... 300
DESEMBARQUE B: Anexo das Listas de Frequências das Oficinas ........................ 303
DESEMBARQUE C: Anexo da Certidão de Personalidade Jurídica da Maré Produções
Artísticas e Educacionais ............................................................................................. 309
DESEMBARQUE D: Anexo do Estatuto e Regimento da Maré Produções Artísticas e
Educacionais ................................................................................................................ 310
DESEMBARQUE E: Anexo da Certidão de Aprovação do Projeto de Pesquisa junto ao
PPGE – UFPB ............................................................................................................. 311
DESEMBARQUE F: Ata de Mudança Estatutária ..................................................... 312
17
CAPÍTULO 1:
MERGULHOS INTRODUTÓRIOS
Para isto, inicio o percurso situando Os Mares Por Onde Naveguei. Tópico que
trata de um memorial descritivo que norteia o leitor sobre o lugar social de minha fala e
sobre a minha aproximação pessoal, acadêmica e profissional com o tema e o objeto de
estudo. Registrando a sintonia e a divergência entre o meu percurso educacional,
pessoal e profissional até o mergulho neste trilhar acadêmico.
Em seguida, o tópico DA CALMARIA AO MAREMOTO: expedição de
construção da pesquisa e análise das rotas com tema, objetivos e problematizações.
Nele aponto como ocorre o processo de construção da pesquisa, desenhando como se
deu a análise das rotas que conduziram para o estudo das categorias participação,
diálogo e empoderamento crítico. Trato da explicação da seleção nominal dos(as)
marinheiros(as) e da motivação que originou o tema, os objetivos e problematizações.
HASTEANDO AS VELAS RUMO ÀS PRAIAS DE DESTINO: desenho
teórico- metodológico da pesquisa, situa o campo da pesquisa-ação qualitativa como o
espaço dentro do universo que compõe os mares da pesquisa qualitativa, por onde nado
e mergulho para atingir os objetivos.
No segundo capítulo, mergulho no apanhado teórico que situei como
MERGULHOS LIVRES: da trajetória histórica das ONGs no Brasil ao embarque
na ONG Maré. Para traçar esse percurso, primeiro, realizei Mergulhos Críticos na
Trajetória Histórica das ONGs no Brasil, conceituando os tipos de ONGs e seu
surgimento, assim como, a heterogeneidade dessas organizações. Depois, realizei
Mergulhos Autônomos na Maré Produções Artísticas e Educacionais, ONG que
integro como marinheira fundadora e abriga o meu objeto de estudo. Em seguida,
Navegando com o Projeto Compartilhando Saberes, objeto de estudo desta tese e
finalmente, indico Por Onde Navegaremos: mergulhando neste oceano, que compõe
o referido projeto ao realizar o estado da arte sobre o mesmo, situando escrita
precedente e apontando os detalhes que compõem o Projeto Compartilhando Saberes.
No terceiro capítulo nado nos Oceanos de Empoderamento, nele, trato no
primeiro tópico dos Oceanos que Estimulam Processos de Empoderamento, e situo
que entre os oceanos que estimulam os processos de empoderamento está a educação
popular; depois, mergulho reflexivamente nos Processos de Empoderamento Crítico
x Processos à Deriva: conceito estruturante, neste tópico traço um percurso histórico
do termo empoderamento ao tempo em que, pautada neste percurso histórico e na
pesquisa realizada com a Maré aponto o que denominei de empoderamento crítico; e
por fim, nado nos Processos de Empoderamento Crítico em Educação Popular,
19
Introduzo este percurso situando que “Toda a história contada nas páginas que
virão a seguir foi construída sinergicamente por uma variedade de contribuições, de
diversas pessoas, de distintos saberes” (CRUZ, 2011, p. 27). Por mais autoral que seja
qualquer texto, todo ele copila intrinsecamente todos os demais textos vivenciados por
quem assina a autoria. Nenhum texto nasce do vazio nem se estabelece para o vazio, ele
tem sua construção pautada nas experiências, e dele, novas experiências surgirão, em
novos autores (as), leitores(as). Dessa forma, “Quanto mais investigo o pensar do povo
com ele, tanto mais nos educamos juntos. Quanto mais nos educamos, tanto mais
continuamos investigando” (FREIRE, 2011, p. 142). Assim, inicio esse processo
situando o lugar social de minha fala mediante a narrativa de um memorial, onde situo
minha aproximação pessoal e profissional com o tema e o objeto de estudo, marcando,
conforme sensivelmente percebe Barbosa Júnior (2019), uma trajetória de estudo que se
iniciou na primeira fase da academia, ainda na graduação e se aprofunda a análise agora,
na fase de doutoramento.
Filha primogênita do policial Antonio Freitas e da dona de casa Iraci Oliveira, a
trajetória escolar foi trilhada na rede pública de ensino com vivências educacionais
partilhadas em bairros populares da cidade de João Pessoa-PB, por ser da classe média
baixa. Inicialmente, no bairro do Alto do Mateus, depois, no bairro de Cruz das Armas e
em seguida no bairro de Jaguaribe. Entre os episódios escolares vivenciados, destaco em
minhas memórias a experiência do primeiro castigo, aos quatro anos de idade, no
primeiro ano escolar, quando ao visualizar minha vizinha/amiga e uma colega da sala
dividirem um brinquedo, parti em sua defesa, tomando o brinquedo ao tempo em que
fui direcionada pelo braço ao castigo num quarto escuro, isolada, enquanto ouvia o
transporte escolar chegando para levar as demais crianças de volta às suas casas e a
22
diretora afirmava do lado externo da porta fechada, balançando as chaves da escola, que
eu passaria a noite ali, sozinha, e que ela também iria embora.
Este episódio ocorreu por cerca de quarenta minutos, tempo suficiente para que a
minha mãe percebesse a minha ausência na chegada do transporte escolar e fosse a pé
me buscar na escola, no entanto, as consequências disso perduraram por anos, com
noites de pesadelos, repulsa ao ambiente escolar, interrupção do ano letivo,
acompanhamento psicológico e possivelmente, uma postura acadêmica de silenciar que
me acompanhou por todo o ensino fundamental, cursado na Escola Estadual Coração
Divino, na Escola Estadual Horácio de Almeida e no Instituto Dom Adauto. Escolas em
que me mantive como aluna mediana, nunca reprovei nem fui para final ou recuperação,
nunca recebi advertências comportamentais nem meus pais foram chamados à escola
alguma, raramente tirava sete ou dez, minhas médias se mantinham entre oito e nove,
assim, não pertencia nem ao grupo dos considerados “trabalhosos”, nem ao grupo das
chamadas “estrelas destaques”, por isso, a permanência ano após ano letivo num
patamar de invisibilidade, num silêncio que favorecia essa posição cômoda, silêncio
este que não ocorre mais. Sou negra, mulher, mãe de gêmeas, atriz, professora, arte
educadora, doutoranda e ativista de ONG (Organização não-governamental). Essa
construção de identidade me tirou do silêncio.
O trauma vivenciado no primeiro ano letivo de minha vida foi paulatinamente
sendo superado com o auxílio afetuoso da minha segunda professora, que, ciente do
processo traumático que eu havia sofrido foi me fazendo reaprender a gostar da escola,
e me conquistou ao ponto de me fazer repetir que desejava ser professora, desejava ser
ela, brincava de escolinha, a imitava, pedia seus penteados, seus saltos altos, seus
batons, ali, aos 5 anos de idade surgiam os primeiros indícios de que na educação e no
teatro me realizaria. Posteriormente essa professora se tornou amiga da família e depois
tive a honra de trabalharmos juntas, quando coordenei os programas pedagógicos Escola
Aberta, Ciranda Curricular e Mais Educação na Secretaria de Educação do Município
de João Pessoa em parceria com o Ministério da Educação, e ela estava gestora de uma
das 59 escolas integrantes desses programas. Na época, do auditório lotado, ela afirmou
por inúmeras vezes, que foi minha professora do pré-escolar e que sabia desde então
que essa seria a minha profissão.
Desde muito jovem desejava trabalhar, ter independência financeira e, diante
disso, percebi que a profissão educadora poderia me ofertar essa conquista de forma
mais rápida, ainda durante o ensino médio, por isso optei por cursar o Pedagógico no
23
nível médio, dos 14 aos 16 anos, de 1992 a 1994, na Escola Estadual Maria do Carmo
de Miranda e pratico a profissão de lecionar desde os 14 anos de idade, inicialmente
para complementação da renda familiar, depois fui permanecendo por hábito, e
atualmente também por convicção da importância política e social que minha profissão
tem e por consciência da beleza que habita na troca que ocorre entre o ensinar e
aprender.
Aos 14 anos de idade, no 1º ano do ensino médio Pedagógico, curso de formação
para professores do Ensino Fundamental I, eu era a professora que cursava maior grau
acadêmico na escola privada em que lecionava, depois da direção, lecionando com o
acompanhamento e aprendizagem das colegas que há anos estavam na profissão e que
em sintonia com as novidades que eu apresentava aprendidas na escola normal,
construíamos aulas criativas. O curso era dinâmico, motivador, professores engajados,
aulas práticas, sugestões de atividades variadas, assim, a escola que eu lecionava crescia
em número de estudantes matriculados, e crescia também a minha vontade de continuar
naquele universo de aprender e ensinar, pois as respostas dos estudantes eram
cotidianas, o ambiente escolar tinha cheiro de prazer, a sensação de que estudar valia a
pena era reforçada em cada estudante que era alfabetizado. Acompanhar e contribuir no
processo de alfabetização de uma criança é apaixonante.
Logo que passei a apreciar espetáculos teatrais frequentando as casas de
espetáculos pessoenses me percebi apaixonada pelos processos cênicos pedagógicos que
desenvolvo em parceria com os estudantes e motivada pelo fazer teatral na escola e com
a escola, várias foram as montagens cênicas que desenvolvi, tanto com clássicos da
literatura quanto com textos coletivos, processo criativo intenso de releitura, formação
de plateia e apreciação estética. Como exemplos cito os espetáculos de Paixão de Cristo,
denominados Nossa Paixão (1996, 1997, 1998, 1999, 2000, 2001, 2002, 2003, 2004)
com aproximadamente oitenta atores em cena em cada montagem; O Pequeno Príncipe
de Antonie de Sant Exupérry (2002); Os Saltimbancos de Chico Buarque (2003); A
Rainha do Cine Bundó (1997, 1998) de Sebastian Formiga e A Lenda do Vale da Lua
(1995, 1996) de João das Neves.
Cursando o pedagógico, decidi por “viver a beleza de ser um eterno aprendiz”
(NASCIMENTO JÚNIOR, 1982). Percebi que “Talvez seja este o sentido mais exato da
alfabetização: aprender a escrever a sua vida como autor e como testemunha de sua
história, isto é, biografar-se, existenciar-se, historicizar-se” (FIORI, 1997, p.12). Uma
vez que alfabetizar é o início do processo de conscientização, ali comecei a
24
conscientizar-me de que ser professora me faria uma eterna aprendiz e que, assim,
aprendendo sempre, iria construindo minha biografia em sintonia com a biografia dos
que comigo aprendiam e ensinavam. Participar e presenciar estudantes desvelando o
universo da compreensão da leitura, juntando sílabas desconexas e formando palavras e
frases com significados, é uma experiência ímpar.
Paralelo ao pedagógico, durante os três anos de ensino médio, participei de
cursos de formação continuada em áreas relacionadas à educação, nas noites de segunda
à sexta-feira, e nas manhãs dos sábados, por dois desses anos, vivenciei os sabores da
biodanza intermediados num projeto social. A diodanza é um processo de dança
vivenciado com afetividade e reflexão sobre o viver, uma ação alternativa de
desenvolvimento humano e auto percepção motora.
O triênio do pedagógico transcorreu atropeladamente em sintonia com a
juventude que corre: pelas manhãs, a estudante normalista; às tardes, a “tia” professora;
nas noites, a cursista aplicada; aos sábados, na biodanza, me reconstruía e constituía,
simultaneamente.
Nos cursos de formação continuada aprendi que poderia construir um currículo
bem maior do que o da escolaridade formal e o quanto poderia crescer como educadora
em vivências específicas, em cursos com áreas distintas, muitos deles, voltados à arte e
ao letramento, visto que eram cursos com carga horária ampla – entre 80h/a e 120h/a -
certificados pelo Ministério da Educação - MEC, oferecidos numa das escolas públicas
que eu havia estudado, na biblioteca que eu frequentava como discente, mediados por
uma de minhas ex professoras, e meus colegas cursistas eram os diretores das várias
escolas privadas do bairro, pois os(as) professores(as) não dispunham de todas as noites
de segunda a sexta-feira para participarem das 15h/a semanais e a frequência era
seriamente encaminhada ao MEC.
Neste triênio participei de vários desses cursos e no segundo ano como cursista,
iniciei minha prática como ministrante, convidada pelos gestores que no curso conheci,
oferecendo palestras e oficinas aos docentes das demais escolas privadas do bairro nos
inícios dos anos letivos. As temáticas abordadas versavam sobre Alfabetização, Jogos
Lúdicos, Experimentação Prática para Ampliação da Aprendizagem e Arte como Vetor
da Alfabetização. Ocorreram entre os anos de 1991 à 1993 e desde esse período de
formação há pessoas no meu cotidiano que hoje são membros da Maré.
Nesses vários cursos fui aprendendo a ser protagonista ao perceber que “Ser
protagonista é poder atuar de forma central nos contextos históricos e coletivos, com
25
Depois, passado o tsunami dos anos iniciais da maternidade gemelar, outra troca
de vínculo empregatício e o ajuste do novo, cursei especialização em Psicopedagogia,
buscando compreender os diferentes e difíceis processos de não aprendizagem nas
escolas, com ambientes e estudantes desafiadores e relações complicadas que
desromantizam. E continuo nesta busca compreensiva, caminhando neste solo
inconstante, ora fértil, ora inóspito, mas sempre aprendente. Em sintonia com o que
escreveu Fernando Pessoa (1814) por intermédio de um dos seus pseudônimos, “Quanto
mais vos ouço, mais não me pertenço”, quanto mais busco aprender mais modifico e
sou modificada, essa mutação me fascina, alimenta e move no desejo de ler,
compreender, praticar, debater, repraticar, enfim, crescer. “Assim, diante de um tema
cujo cerne seria a possibilidade de construir práticas mais próximas da democracia
participativa, não poderíamos ficar inertes” (KLEBA; WENDAUSEN, 2010, p.427). Na
especialização, redigi sobre a minha atuação enquanto arte educadora num Centro de
Atenção Psicossocial – CAPS, situado na cidade de Cabedelo – PB, onde ministrei
oficinas artísticas aos usuários e desta experiência prática, refleti no processo de escrita.
Lá obtive a primeira experiência de atuação multiprofissional, com reuniões semanais
entre todos, os usuários eram atendidos por psiquiatra, psicólogo, enfermeiro, arte
educadoras em Artes Visuais, Artes Cênicas e Música, Educador Físico, assistente
social e coordenador. Uma experiência humanizadora implantada como alternativa à
internação compulsória, desenvolvida no governo federal e municipal (Cabedelo)
neodesenvolvimentista, que possibilitou muitos dependentes a reduzirem o uso
medicamentoso ampliando a participação em terapias alternativas e atendimento
multiprofissional.
Depois da especialização iniciei um novo mergulho, mas em mares que eu já
estava habituada a transitar. Comecei a refletir cientificamente sobre as práticas
pedagógicas em artes cênicas que eu desenvolvia nas escolas com os estudantes e essas
práticas foram registradas em forma de artigos científicos e projetos didáticos.
“Reconhecemo-nos como parte e partícipes da realidade que estudamos, interagindo por
meio da linguagem, dos sentidos e das práticas sociais, protagonizando, como
coautores, a história” (KLEBA; WENDAUSEN, 2010, p.432). Nesse período o que
desenvolvíamos tinha mais valor do que eu percebera. E as práticas tão amplamente
exploradas na linguagem oral e corpórea passaram a habitar também na escrita, muitas
delas, publicadas em periódicos científicos e capítulos de livros. A sensação de eternizar
27
das leis de incentivo à cultura. As ações ocorriam em escolas públicas, destinadas aos
estudantes, circulamos por mais de noventa escolas de João Pessoa e cidades
circunvizinhas.
Na época da graduação em Artes Cênicas, entre 1997 e 2002 a ênfase nas
Universidades, em seus cursos de graduação, era ofertada aos processos práticos, pouco
enfatizava na escrita. A montagem cênica supria as necessidades acadêmicas,
atualmente, percebo uma importância na teoria, a produção dos trabalhos de conclusão
de curso escritos é algo obrigatório e a prática ocupa lugar subalterno, por vezes
inexistente. De forma simultânea, também se extingue o incentivo aos festivais, mostras
e editais de financiamento à arte e à cultura. Seus lançamentos ocorriam anualmente,
agora, cada vez mais limitados e escassos, diminui tanto o público que produz quanto o
que consome teatro.
Como praticávamos e vivenciávamos a arte, assim nasceu a Organização não
Governamental Maré Produções Artísticas e Educacionais, assessorada
pedagogicamente pelo Prof. Fernando Abath Cananéa, as oficinas foram assumindo
papel importante nas práticas que realizávamos, passamos a perceber o poder
transformador do compartilhamento de saberes, fomos aperfeiçoando nosso fazer
pedagógico social, aprimorando nosso olhar para a coletividade, a partilha, o que,
consequentemente, me levou a aproximação com a área da educação popular. Uma vez
que nosso assessor também nos mostrava carinhosamente que os mares por onde
estávamos navegando eram banhados das teorias freireanas. Dessa forma, estudando e
atuando sigo nessa compreensão de que o campo da educação popular me cabe e me
satisfaz.
Nacionalmente, o ano de 2003 trouxe à cena brasileira um governo
neodesenvolvimentista pautado no respeito às lutas sociais e incentivo à educação,
cultura e demais veículos de formação cidadã, dessa forma, ecoaram país afora leis que
financiavam circulação e montagem de espetáculos cênicos. Com o término da
graduação no ano anterior e a profissionalização da profissão de atrizes no Ministério do
Trabalho, o quarteto de recém graduadas como arte educadoras, optou por dar
continuidade ao vínculo estabelecido na conclusão do curso de Artes Cênicas na UFPB,
mantendo ativa a montagem do espetáculo “O Marinheiro” com texto de Fernando
Pessoa, e direção de Paulo Vieira.
Em participação na X Mostra Estadual de Teatro e Dança da Fundação Espaço
Cultural da Paraíba – FUNESC, ocorrida em 2003, o grupo obteve quatro prêmios, entre
30
eles, melhor direção para Paulo Vieira; melhor atriz para mim; melhor maquiagem e
trilha sonora para o grupo que atuou conjuntamente na criação da maquiagem e da
sonoplastia. Além de indicação de melhor atriz coadjuvante para Wilma Albuquerque e
melhor figurino para o grupo. Esse incentivo motivou o elenco a manter a montagem do
espetáculo. Este momento histórico, onde a arte foi nacionalmente valorizada,
possibilitou a mobilização deste e de outros grupos artísticos do país a aprofundarem
seus feitos culturais. Julgo importante resaltar isso, porque, meu processo enquanto
profissional e pessoa não se efetiva desmembrado do tempo, lugar em que me insiro.
_____
1-
“O empoderamento não é apenas ser ativo. De fato, a ação é aqui uma ferramenta para
adquirir poder que só mantém sua relevância na medida em que faz parte de uma lógica de
influência pessoal ou coletiva no meio ambiente” (BOSSÉ, 2003, p. 36).
34
Para Valoura (2005, p. 02) “Empoderamento em Paulo Freire segue uma lógica
diferente. Para o educador, a pessoa, grupo ou instituição empoderada é aquela que
realiza, por si mesma, as mudanças e ações que a levam a evoluir e se fortalecer”, com
criticidade e coletividade. Segundo Valoura (2005), Paulo Freire é o educador de nosso
país autor do termo “empoderamento de classe social”, utilizando-o em um sentido
transformador.
Conforme Carvalho (2004, p. 1093), “sob a influência de Paulo Freire, os
teóricos do ‘empowerment comunitário’ vêm preconizando a efetivação de um modelo
pedagógico que assuma a “educação como uma prática da liberdade”. É esta
compreensão de empoderamento que nos interessa aprofundar no campo da educação.
“Em vista disso, é cada vez maior a necessidade de se levarem a cabo estudos que
possibilitem a construção de indicadores que permitam analisar como ocorre o processo
de empoderamento nos sujeitos, no caso dos educandos de classe popular”
(MEIRELLES; INGRASSIA, 2006, p.08), como é o caso dos membros da ONG Maré.
controle sobre suas vidas e sobre seus ambientes materiais” (ROMANO; ANTUNES,
1977, p. 100). Não se trata de poder individualista, mas poder coletivo. “Assim como a
tomada de consciência não se dá nos homens isolados, mas enquanto travam entre si e o
mundo relações de transformação, assim também somente aí pode a conscientização
instaurar-se” (FREIRE, 1983, p. 52), a fim de operar rumo à conscientização.
Não é qualquer educação que satisfaz. A educação que repousa neste trabalho é
a educação adjetivada de popular, e popular aqui se caracteriza por crítico e coletivo,
dessa forma, educação popular é educação que transforma, muda e faz mudar de forma
coletivizada e com criticidade.
Assim, como não é toda pedagogia que acreditamos, mas, sobretudo a freireana,
dessa forma, o empoderamento que nos interessa é o coletivo, embora o empoderamento
pessoal seja importante, sem o empoderamento de classe ele pode se perder no vazio, ou
melhor, se encontrar com a perspectiva individualista da concepção neoliberal. “Em
síntese, podemos dizer que, para Freire, empowerment individual é um pequeno passo
em direção à transformação social; somente via empowerment de classe as minorias
oprimidas conseguirão dar um passo maior em direção à libertação” (ROSO;
ROMANINI, 2014, p.07). Abaixo, imagem onde situo os adjetivos das áreas da
pesquisa.
Educação Popular
Pedagogia do
Oprimido
Empoderamento
Crítico
Muitos são os desenhos teóricos metodológicos que posso mergulhar nos mares
acadêmicos para fundamentação das pesquisas. Como estou no campo da educação
popular, pautado em conceitos freireanos, busco mergulhos numa pesquisa explicativa a
partir do método dialético a fim de contribuir com a perspectiva teórico-crítica e com o
fortalecimento da mudança social. Por isso, optei pela pesquisa de cunho qualitativo
fundamentada no materialismo histórico-dialético. “A ação educativa só se justifica com
o envolvimento da comunidade e sua orientação para as possíveis soluções de
problemas comunitários” (MELO NETO, 2003, p. 97), associando a prática da pesquisa
com a resolução de dificuldades na Maré, percebo que este caminho metodológico
atende ambas as necessidades: científica, enquanto processo acadêmico, e comunitária,
enquanto elucidação e possível solução de problemas deste grupo que compõe o campo
de minha pesquisa. “Diante disso, é preciso reafirmar o compromisso social e científico
da pesquisa-ação” (THIOLLENT, 2011, p. 09), e o meu compromisso enquanto
pesquisadora, autora deste percurso científico, e marinheira, membro da ONG Maré.
A pesquisa qualitativa que aqui tratei se situa com seu perfil questionador de
preocupar-se com os processos, sensível aos detalhes, observadora dos percursos e
escolhas, que respeita a individualidade dentro da totalidade e por isso não rotula, é o
estilo de pesquisa que adotei, pois na educação popular, o como, tem maior ênfase do
que o quanto, ou seja, o processo é importante. Sei que há outros âmbitos na pesquisa
qualitativa que diferem dos acima mencionados, no entanto, este é o que situa a minha
busca científica. Em Freire (2011, p. 89), se vê que “conviver, simpatizar, implicam
comunicar-se”, e pesquisar qualitativamente em nossa construção coletiva é estar em
harmonia não só com a busca da verdade, mas também com a transformação da
realidade social, visando à práxis como processo de transformação.
Não se trata de dar voz ao grupo estudado, mas de escutar a voz que já é dele,
respeitando, interpretando dados, pois, estou ciente de que ao tempo em que “o diálogo
está a serviço de uma educação para a emancipação” (BAQUERO, 2012, p. 182), o
38
objeto vivo se modifica, por ser dinâmico, uma vez que os dados não são neutros, são
construções. Segundo Freire (2011, p. 89) “Somente na comunicação tem sentido a vida
humana”, mas, para a visão do materialismo histórico dialético o trabalho é a categoria
fundante do ser social. Assim sendo, ao longo de seu amadurecimento intelectual, Freire
toma a práxis, categoria central do marxismo, como central na concretização do
processo de conscientização.
Outrossim, “a concentração nos pontos de vista do sujeito e no significado
atribuído por eles às experiências e aos eventos, assim como a orientação em relação ao
significado dos objetos, das atividades e dos eventos, alimenta grande parte da pesquisa
qualitativa” (FLICK, 2009, p. 70). Por isso, pode-se denominar de uma pesquisa
realizada em comunhão entre pesquisados(as) e pesquisadores(as), participação, não no
sentido de ideias e práticas uniformes, mas no sentido de atuação conjunta, coletiva e
dialógica.
Cabe destacar que “a pesquisa impõe respeito entre os sujeitos que se defrontam;
requer cuidado em termos de procedimentos relacionais, possibilitando desencontro e
colaboração” (KLEBA; WENDAUSEN, 2010, p.430). A pesquisa qualitativa alinhada
com a educação popular é aberta e processual. Pfaff (2010, p. 264) afirma que “observar
as pessoas em suas práticas sociais também implica relatar o conteúdo de suas
interações”, em sintonia com o que nos coloca Stake (2011, p. 21) ao pontuar que
pesquisa “qualitativa significa que seu raciocínio se baseia principalmente na percepção
e na compreensão humana”. Assim, na busca por compreender.
com o universo total de sujeitos será utilizado como instrumentos de coleta de dados a
observação, as redes sociais, as fotografias, o diário de bordo, os relatórios, e os
questionários semiestruturados. Com o grupo da amostra, além do hibridismo de
instrumentos já mencionados ocorrerá as entrevistas semiestruturadas. Para análises dos
dados utilizei a técnica análise de conteúdo de Bardin (2011), a luz do método dialético.
Para Bardin (2011), a análise de conteúdo é um conjunto de técnicas de análise
das comunicações, onde se busca a compreensão para além dos seus significados
imediatos e utiliza procedimentos sistemáticos e objetivos com descrição, inferência e
interpretação. Para a autora, a análise de conteúdo pode ser definida como:
14%
14% 10%
55%
Conforme o gráfico 01, os membros da ONG Maré são crianças, jovens, adultos
e idosos. Sendo que a maioria, 55%, possuem idade entre 30 e 39 anos e a minoria, 7%,
possuem mais de 54 anos.
Sobre o sexo, podemos observar na imagem a seguir que apenas 17% da Maré é
integrada por homens, enquanto que 83% são mulheres.
41
Homens Mulheres
17%
83%
Percebo que a predominância deste perfil feminino, 83%, ocorre pela forma de
admissão dos(as) marinheiros(as) na ONG, como ingressam exclusivamente pessoas
conhecidas de algum marinheiro(a), e a grande maioria está inserida profissionalmente
na área da educação, onde a predominância em exercício é de mulheres, essa
preponderância se repete no perfil da ONG.
Para Gadotti (2011, p. 31-32), a profissão do professor é uma profissão
massificada, genérica, e, “Uma terceira característica marcante dessa profissão, como já
afirmamos, é que ela é constituída predominantemente por mulheres”. Pessoas que
afirmam gostar de crianças, por exemplo, como opção de escolha para o magistério, no
entanto, para o autor “A participação da mulher na sociedade é indicador de avanço
social e de desenvolvimento humano”. Já que ser professor é estar implicado na luta
contra a exclusão social, assim, é também uma profissão política.
Quanto ao estado civil, atualmente, os(as) marinheiros(as) estão assim
identificados:
Gráfico 03: Estado Civil
17%
35%
17%
31%
No que diz respeito ao estado civil, 35% são casados(as), o que corresponde a 10
pessoas; 31% são solteiros(as), correspondendo a 9 marinheiros(as); 17% são
42
13%
32%
29%
A minoria dos membros atua na pós graduação, apenas 6%; já 7% dos membros
atuam na educação infantil, depois, os dados apontam para um empate atuação no
ensino superior e no ensino médio com 13% dos membros atuando em cada um dos
níveis de ensino; no ensino fundamental II observo 29% dos membros em atuação e a
maioria dos membros atua no ensino fundamemntal I, o que corresponde a 32%.
Vale ressaltar que um dos membros atua em duas modalidades distintas de
ensino, a saber, ensino fundamental I e II, por isso, aparece 30 respostas no gráfico, que
correspondem às 29 pessoas entrevistadas.
No gráfico a seguir, observo os dados referentes ao tempo de experiência
lecionando dos membros da Maré.
14% 5%
36%
41%
Mestre(a)
14%
Especialista
24%
Mestrando(a) Especializando
0% (a)
14%
Para Barbier (2007, p. 48) “Um estado de não-mudança não faz parte da
natureza do ser vivo. Toda problemática científica que, desde então, não a leve em
consideração, não pode estudar a criatura viva em toda a sua complexidade”. A
mudança que os sujeitos sociais que integram a Maré desejam é a inserção de
envolvimento da maior parte de seus membros nas ações desenvolvidas pelo grupo.
Esse problema a ser resolvido surgiu da análise das primeiras etapas de
realização desta pesquisa, ainda na fase inicial de apresentação deste projeto aos
membros, etapa ocorrida em reunião presencial, em dezembro de 2016, logo após a
aprovação no Doutorado em Educação – PPGE/UFPB, simultânea ao envio do projeto
ao comitê de ética, antes do início do curso das disciplinas. Nesta primeira etapa de
apresentação do projeto ao grupo, oportunizando a apreciação e análise dos objetivos a
serem alcançados e da metodologia designada para tal, atuei no passo fundante que
corresponde a pesquisa-ação, a consciência do grupo de estudo de sua coparticipação
ativa, dialógica e crítica, conforme imagens a seguir.
construção e testemunhos,
reconstrução pelos círculo de
atores sociais. reflexões, entre
outros.
Hernánd Fases Estuda a prática Implica a total O pesquisador é A solução está na
es essenciais: participativa, seu foco colaboração um instrumento de triangulação de
Sampieri observar, é trazer informação dos coleta de dados; fontes dos dados
(2013) pensar e que oriente a tomada participantes Envolve a
agir em de decisões para detectar transformação e
espiral necessidades e melhoria de uma
como buscar realidade;
baseiam- coletivamente Parte da prática.
se demais resolvê-las.
autores
Pimenta, Pesquisa- Baseada em Os sujeitos Adquire o adjetivo Utilizamos
(2005) ação é Thiollent(1994), a compõem um de crítica, entrevistas,
uma autora afirma que a grupo de conforme o questionários e
pesquisa pesquisa-ação tem objetivos e pressuposto e o observações
crítico- como objetivos três metas compromisso dos semi-
colaborati esferas: objetivo comuns, envolvidos. estruturados e
va prático, objetivo de interessados Pesquisadores que abertos, história
conhecimento e em um atuam como de vida e
objetivo de produzir e problema que observadores gravações em
socializar emerge num participantes. vídeos e áudios.
conhecimento. dado contexto
no qual atuam,
desempenhan
do papeis
diversos
Hernánd A Elementos que guiam O grupo de Teoria e prática Diferentes
ez; pesquisa- a investigação: teoria, participantes associadas, unidas técnicas de
Romero, ação é prática, compreensão, assume dialeticamente; reconhecer a
(2008) uma visão diálogo, ser social, conjuntamente A pesquisa-ação é informação;
crítica e relação, construção o ativa e não pode Redes
emancipa da cidadania, desenvolvime ser desenvolvida de constituídas de
dora da consciência da nto da prática- forma atropelada; triangular a
investigaç ineutralidade reflexão-ação. Trabalho em esfera informação
ão grupal proveniente de
diferentes atores.
Novaes; Composta É emancipatória com Faz a Características Sugere de forma
Gil, por origens em Freire transformação situacionais, indireta nos
(2009) modalida- ser percebida desenvolvidas em textos a
des: como pesquisas triangulação de
técnica, necessária funcionalistas e dados
prática, pelo grupo interpretativas
política, com reflexão
socialmen crítica e
te crítica, coletiva onde
emancipat todos
ória participam.
Melo Metodolo O estímulo à reflexão O participante Buscam-se as Sugere
Neto gia que e ao diálogo é o é conduzido à explicações dos questionários e
(2003) estimula a princípio fundamental produção do próprios triangulação de
participaç em todo esse próprio participantes que se dados
ão das processo. Objetiva a conhecimento situam, assim, em
pessoas resolução coletiva de e se torna o situação de
envolvida problemas. Trata-se sujeito dessa investigador
s na de uma metodologia produção
pesquisa e constituída de ação
abre o seu educativa
48
universo
de
respostas
Richards A A pesquisa-ação tem Os membros Tende a ser cíclica, Usa como
on pesquisa- como base um de uma participativa, técnica de coleta
(2003) ação é um conjunto diferente de comunidade qualitativa e de informações
processo princípios, que que reflexiva. resumos de
de tentam assegurar a participam Apresenta quatro reuniões,
construçã participação e a nesse tipo de etapas ou passos da anotações do
o de mudança. pesquisa, pesquisa-ação: pesquisador,
conhecim Para chegar a uma podem diagnóstico, ação, entrevistas,
ento, é ação deve ser capaz desenvolver avaliação e opiniões do
gradual e de responder às conhecimento reflexão. grupo, registros
rigorosa. necessidades de uma suficiente para Tem como anteriores ao
Tal como situação ser co- objetivos melhorar grupo,
o nome pesquisadores e envolver. documentos,
implica, a do grupo relatórios
pesquisa- diversos,
ação visa triangulados com
produzir questionários,
mudanças discussões
(ação) e grupais,
compreen entrevistas semi-
são estruturadas e
(pesquisa) diário de
pesquisa
Barbier A Objetiva e tem por Resulta de Pressupõe-se que Uma nova
(2007) pesquisa- finalidade servir de uma atividade os pesquisadores: pesquisa-ação
ação instrumento de de pesquisa na percebam o utiliza múltiplas
torna-se a mudança social qual os atores processo educativo técnicas de
ciência da se debruçam como um objeto implicação
práxis sobre eles passível de (diário, registros
exercida mesmos pesquisa, percebam audiovisuais,
pelos a natureza social e análise de
técnicos as consequências conteúdo)
no âmago da reforma em
do seu curso, e,
local de compreendam a
investime pesquisa mesma,
nto como uma
atividade social e
política, portanto,
ideológica.
Thiollent Visa Um dos principais A linha A participação das As principais
(2011) elucidar objetivos consiste em seguida pelos pessoas implicadas técnicas
problemas dar aos pesquisadores partidários da nos problemas utilizadas são a
sociais e e grupos de pesquisa-ação pesquisados e uma entrevista
técnicos, participantes os pretendem ação destinada a coletiva,
cientifica meios de se tornarem ficar atentos resolver o individual, a
mente capazes de responder às exigências problema em observação
relevantes, com maior eficiência teóricas e questão participante,
por meio aos problemas da práticas para diário de campo,
de grupos situação em que equacionarem histórias de vida,
de vivem, sob forma de problemas sociodrama,
pesquisad diretrizes de ação relevantes questionários
ores, transformadora dentro da individuais.
membros situação social
da
situação-
problema
49
e outros
1
TEORIA
8
CONSCIÊNCIA 2
DA
INEUTRALIDADE PRÁTICA
3
7
PESQUISA- COMPREENSÃO
CONSTRUÇÃO
DA CIDADANIA AÇÃO
6 4
RELAÇÃO DIÁLOGO
5
SER SOCIAL
Para ilustrar a busca na pesquisa por essa temática rumo ao ato cognoscitivo,
lembro que no decorrer das reuniões trimestrais de avaliação e planejamento, no
primeiro semestre de 2018, o questionamento com o grupo rumou sobre as perguntas: -
Como estou contribuindo? E, - O que posso fazer para contribuir mais? Reafirmo que os
56
questionamentos são oriundos de opiniões coletadas junto aos que integram a equipe de
copesquisadores (as), que estão espontaneamente mais próximos da pesquisa, a saber,
em 2019, Sereia, Ostra, Golfinho, Onda e Corais.
Debateram sobre essas duas questões dezessete marinheiros (as) presentes, que,
em seguida, escreveram sobre. Dentre as respostas apontadas observo que o termo
participação aparece em todas as dezessete respostas, Estrela do Mar (2018) diz que
contribui com a Maré “Participando das reuniões e me comportando”, o comportamento
citado pode ser interpretado como atenção, uma vez que se trata de uma criança que
acompanha a mãe às oficinas. A marinheira Siri (2018) escreve que “Acredito que ainda
preciso me empoderar enquanto marinheira”, aparecendo no registro outra categoria de
estudo, o empoderamento, utilizado pela marinheira como sinônimo de envolvimento e
compromisso.
Em sintonia com a afirmativa a seguir, onde as três categorias de estudo são
cunhadas e por isso, as grifei, para maior observação: “Eu estou contribuindo a partir do
momento que tenho compromisso, frequentando as oficinas, participando, integrando,
dialogando, divulgando, empoderando, me dando de coração” (ÂNCORA, 2018).
Na contramão das opiniões supracitadas está o registro de Cavalo Marinho
(2018), que diz participar das oficinas para fazer volume, por ser obrigada. Depoimento
que teve como desdobramento a desobrigação da mesma por sua genitora, e que observo
como um ponto de reflexão entre os membros, pois se o objetivo das oficinas é
desenvolver ações que envolvam todos(as) e possam ser realizadas em outros ambientes
de aprendizagem, algum elemento destas está deixando a desejar, uma vez que não
envolveu Cavalo Marinho, que desde então, só acompanha as oficinas quando
demonstra espontaneidade para tal.
De certo, para Cavalo Marinho, esses saberes ainda não tem significado, por
isso, não se sente envolvida, dessa forma, ainda se encontra como recebedora de
conhecimento, passar para outra compreensão disto é processual. Este é um dos desafios
dos que fazem a Maré. Uma vez que romper essa barreira é para além, pois, como ela,
muitos (as) nadarão pelos mares que passaremos.
Quanto ao questionamento sobre o que pode fazer para contribuir mais, todos
(as) os(as) dezessete marinheiros(as) presentes redigiram que podem ampliar a
participação, doze afirmaram que podem dialogar mais para que a participação seja
ampliada e três disseram que se empoderando das ações podem contribuir mais. Quinze
afirmaram que uma forma mais adequada é ministrando mais oficinas enquanto que
outras três disseram que necessitam organizar melhor seus horários e compromissos
para maior dedicação. Concha (2018) sugere “Ampliarmos os diálogos com os colegas
que estão entrando ou em processo acadêmico, graduação ou pós. Fazermos um time
que se dispunha a colaborar com essa ação”. Deste feito, participam ativamente com
encontros semanais para auxilio acadêmico o marinheiro Golfinho auxiliado
esporadicamente por Ostra, Corais e Marlin.
A segunda etapa da pesquisa-ação, conforme Hernández e Romero (2008, p.
136), trata da prática, esta é observada e analisada no objeto de estudo, o Projeto
Compartilhando Saberes, em sintonia com a etapa anterior, verificar-se-á o andamento
entre teoria e prática nas ações desenvolvidas no projeto Compartilhando Saberes,
observando para compreender a realidade, se dessa união surge ou não a práxis, que é a
teoria engajada na prática que promove mudanças sociais. A prática engajada que
conduz à práxis foi analisada no tópico que relata e analisa os desdobramentos das
oficinas, intitulado: Da Maré para Outros Mares: compreendendo os desdobramentos do
Projeto Compartilhando Saberes.
Freire (2011, p. 52) aponta que “A práxis, porém, é reflexão e ação dos homens
sobre o mundo para transformá-lo. Sem ela, é impossível a superação da contradição
opressor-oprimidos”. Assim, o Compartilhando Saberes poderá, após a intervenção da
pesquisa, ser práxis, ação reflexiva, coletivo que busca transformar-se e transformar,
simultaneamente.
Lembremos que em Paulo Freire sempre foi cara a idéia de práxis. Se
a recordamos bem, tal como escrita tantas vezes por ele, práxis: um
pensar dialógico e crítico a respeito de uma realidade que uma ação
reflexiva - ela própria o pensamento tornado atividade coletiva e
subversivamente conseqüente - trata de transformar como e através
de um processo inacabado e sempre actancial e reflexivamente
58
preciso enxergar nos terrenos pesquisados. “Portanto, a realidade estudada pela pesquisa
qualitativa não é uma realidade determinada, mas sim construída por diferentes atores”
(FLICK, 2009, p. 76-77), e na construção interacional dessa realidade se pauta a
pesquisa qualitativa.
Como ser social, imersa nesta pesquisa, estou sendo, ao tempo em que também
estão sendo todos(as) os(as) 29 marinheiros(as) que a integram. Seguindo esta
permanente mudança sugerida por Freire, em meu ‘quefazer’ que é situado na esfera
histórica, temporal e social.
A sexta etapa trata da relação, seja ela entre membros, pesquisadores(as) e
pesquisados(as), o trabalho de pesquisa não é um trabalho solitário, isolado e inabitado,
ao contrário, é uma prática coletivizada, constituída na troca de experimentos, saberes e
dados, nele, habitam muitas experiências, de vários sujeitos, em diferentes etapas e
situações, por múltiplas motivações e desejos. “O contexto situacional, as interações
com outros membros e – tanto quanto seja possível – os significados sociais e culturais
são reconstruídos, passo a passo, a partir desses significados subjetivos” (FLICK, 2009,
p. 75), assim, significados vários vão sendo atribuídos em cada contexto, no atual em
que me encontro, busco significar cientificamente o que faço e penso entre meus pares.
A etapa da relação pode ser mais bem vislumbrada no tópico em que relato a
ONG, seus projetos e especificamente o Projeto objeto deste estudo, Compartilhando
Saberes; Denominados: Mergulhos Autônomos na Maré Produções Artísticas e
Educacionais; Navegando com o Projeto Compartilhando Saberes; e Por Onde
Navegaremos: mergulhando neste oceano, respectivamente.
A sétima etapa remete a construção da cidadania. Para construir um projeto com
uma metodologia de pesquisa participativa, assim como é a pesquisa-ação, que busca
61
modo que, aqueles que concordaram, foi solicitada a leitura e assinatura do Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido” (FONSECA; AMARAL, 2012, p.782), todas essas
etapas compuseram a organização que corresponde ao período preparatório para a
execução da pesquisa.
Nesse processo, busquei analisar e compreender se “esse procedimento permitiu
compartilhar os conhecimentos produzidos de maneira conjunta, além de reunir
diferentes percepções e olhares sobre o mesmo território” (FERREIRA; RIGOTTO,
2014, p. 4109), e, assim, contribuir para que o grupo avance para além dos
desmembramentos dos mares que compõem a Maré, a fim de gerar novos sonhos, e,
outros mergulhos onde germinem novos(as) marinheiros(as), mais seres que sintam na
educação popular respaldo para suas ações de aprendizagem compartilhada, para
cumprir a vocação de sermos mais. Corroborando Freire (2011, p.77-78), pois,
“Educador e educandos (liderança e massas), cointencionados à realidade, se encontram
numa tarefa em que ambos são sujeitos no ato, não só de desvelá-la e, assim,
criticamente conhecê-la, mas também no de recriar este conhecimento”. Os saberes
compartilhados vão sendo recriados ao tempo em que as realidades são modificadas de
forma cointencional.
com vida, em que não haja engajamento, empoderamento e transformação entre os(as)
envolvidos(as) nele.
Por estar imersa, há dezessete anos mergulhada nos mares da Maré, acredito ter
sido necessário buscar conhecer criticamente a realidade do Projeto Compartilhando
Saberes, no entanto, para além de conhecer, a meta é transformar, ampliando olhares,
qualificando cientificamente, depurando metodicamente, refletindo sobre a práxis, visto
que a investigação qualitativa em pesquisa-ação é um processo e o investigador(a) não
pode/deve estar separado do sujeito.
Em consonância com o que defende Espejo (2009, p.129), “En el seno de esta
intención estaremos dispuestos a críticas y argumentaciones, para consolidar la
construcción de este proyecto”, assim, disposta a outros mergulhos, nesses mares de
informações que auxiliaram na construção deste trabalho, admitindo, inclusive, a
possibilidade de outras formas de nadar, quando necessário, buscando sempre o melhor
destino. O importante é que nademos juntos, na contramão da correnteza do
conservadorismo, da submissão e do imobilismo.
65
CAPÍTULO 2:
Para mergulharmos nos mares que compõem a ONG Maré Produções Artísticas
e Educacionais, faz-se necessário contextualizar o surgimento das Organizações Não
Governamentais – ONG e seu desdobramento no Brasil. De acordo com Magalhães
Costa, Silva e Bonan (2008, p. 1382), “Dinâmicas transnacionais e internacionais
impulsionaram a formação das ONGs e muitas delas se fortaleceram em conexão com
redes internacionais de ação social e política e de solidariedade”, em todo o mundo as
ONGs se multiplicaram e popularizaram suas atuações e interesses.
Os primeiros mergulhos nesta temática se referem à compreensão do nascimento
do termo que, para Caresia (2006, p. 786), advém da designação inglesa Non-
Governmental Organizations (NGO), e “foi mencionado em seus primórdios, na
resolução nº 288(X), de 1950, do Conselho Econômico e Social para referir-se a
organizações supranacionais e internacionais”. Contudo, para Machado e Machado
(2012, p. 70), em conformidade com Landim (1993) e Gohn (2000, p.72), a expressão
ONG (Organização Não-Governamental), foi criada pela Organização das Nações
Unidas – ONU, na década de 1940, ou seja, pós 2º Guerra Mundial, para designar
entidades não-oficiais que recebiam ajuda financeira de órgãos públicos para executar
projetos de interesse social, dentro de uma filosofia de trabalho denominada
desenvolvimento de comunidade.
do neoliberalismo”: são a unidade dos opostos e, em vista disso, apontam uma terceira
possibilidade de análise, a de que as ONGs são heterogêneas e contraditórias e não um
bloco homogêneo e, não obstante, defendem a articulação entre essas organizações e os
movimentos sociais na revitalização das lutas e reivindicações sociais e não da
dependência ou “parceria” com os governos neoliberais.
Outros autores destacam que, “na América Latina é frequente identificar como
ONG uma classe especial de entidades que se dedica ao desenvolvimento participativo e
sustentável e à construção e defesa de direitos” (OLIVEIRA; HADDAD, 2001, p. 63).
A Associação Brasileira de Organizações Não-Governamentais – ABONG, fundada em
1991, apresenta no art. 2º do seu estatuto a seguinte definição para ONGs:
Com essa dúbia função que versa sobre ONGs assistencialistas ou de fomento a
democracia, observa-se que, as primeiras, atendem aos interesses que motivaram as suas
criações, enquanto que as segundas, pautadas em práticas populares e atuações críticas,
caminham na contramão do que impõe o sistema capitalista. Neste segundo grupo
identifica-se afinidades com a ONG Maré, nosso objeto de estudo.
A Maré pode ser identificada como uma ONG cidadã, por atuar na ampliação da
cidadania por intermédio da qualificação educacional. “Dessa forma, as ONGs passam a
planejar e desenvolver ações de assessoria aos setores públicos, ou, ainda, adotam a luta
pelo acesso e qualificação dos serviços públicos de ensino voltados para os interesses
populares” (OLIVEIRA; HADDAD, 2001, p. 78). Embora existam muitas ONGs
financiadas com recursos públicos e agindo de forma exclusivamente assistencialista.
Para além do assistencialismo à população economicamente fragilizada, a
atuação das ONGs nos últimos anos, se amplia a “Mais que isto, elas têm servido como
polos difusores de conhecimentos, que participam tanto na formação de crianças,
adolescentes e jovens, como na formação continuada de professores” (BARZANO,
2009, p. 183), conforme ocorre na Maré.
No entanto, em consonância com o que defendem Oliveira e Haddad (2001, p.
80), há risco eminente de que a participação das ONGs rume ao esvaziamento do papel
do Estado na área social “Assumindo responsabilidades por ações antes nas mãos dos
setores públicos, particularmente, em uma conjuntura de diminuição dos recursos da
cooperação internacional”. Em cenário capitalista, com crise, ao tempo em que a
política neoliberal induz a uma desqualificação do Estado, como espaço para
universalizar as políticas sociais, induz também à sociedade civil a assumir
responsabilidades no trato da questão social.
As ONGs aparecem concretizando feitos obrigatoriamente realizáveis pelo
Estado, e minimizando os efeitos de transferência das obrigações. Dessa forma, a
reforma do Estado incentivou o chamado “Terceiro Setor” e as ONGs a atuarem, assim;
“As ONGs passaram a ser concebidas como “parceiras” do Estado, e para facilitar essa
“parceria”, ou melhor, a minimização do Estado, este se torna, sobretudo nos anos de
1990, alvo de variados projetos de reformas no âmbito social” (MACHADO;
MACHADO, 2012, p. 99). No neoliberalismo, esta ação integra o ideal de Estado
mínimo.
Enquanto o Estado minimiza sua atuação no âmbito social, mascara seu interesse
na atuação das ONGs denominando-as de parceiras. “O fato é que o neoliberalismo visa
um Estado que não intervenha nas leis do mercado – um Estado mínimo – que
possibilite as condições necessárias ao constante desenvolvimento do capitalismo,
70
Seria importante pensar mais sobre isso. Pois, o que o cenário político
vem evidenciando é que os empresários estão assumindo o governo do
Estado, candidatando-se eles próprios e assim, definindo as prioridades,
sem intermediários. O que venho percebendo é que o Estado, ao
contrário do que dizem, vem se interpenetrando com o mercado, cada
vez menos Estado e mais mercado, o que pode explicar porque no
Brasil o dinheiro público está sendo entregue aos bancos via pagamento
de dívidas públicas e outros mecanismos.
Por isso, ao tempo em que busco sequenciar o surgimento das ONGs no mundo
e no país, situo a Maré como um exemplo de oposição a essas injustiças sociais,
sobretudo, no que se refere à aquisição do conhecimento e alcance de níveis
instrucionais raramente atingidos por perfis como os dos (as) integrantes da Maré que
em sua maioria são negros (as), pobres (as), periféricos (as), nordestinos (as), mulheres.
Logo, “Assim, eis como ela se constitui, de uma maneira aberta e diferenciada,
na e através das alternativas com que os movimentos sociais de vocação popular
estabelecem e vivenciam a sua experiência múltipla de interação entre pessoas ao redor
do saber” (BRANDÃO, 2003, p. 117-118). Ou seja, em busca do exercício de
democratizar o saber, esse conhecimento e esse valor ofertado ao saber e ao
conhecimento.
As organizações sociais se diferem das ONGs por não serem institucionalizadas,
“Contudo, no que diz respeito ao aspecto jurídico, as organizações não-governamentais
são identificadas como associações ou fundações, que regem-se por estatutos
registrados em cartório de registro civil de pessoa jurídica” (MACHADO; MACHADO,
72
2012, p. 56). Para Delgado (2005, p. 02), “Toda ONG deve ter um Estatuto que trace as
diretrizes de seus objetivos e organize sua estrutura interna”.
Isso implica, conforme apregoam Magalhães Costa, Silva e Bonan (2008, p.
1383), que “Por definição, as ONGs são entidades sem fins lucrativos e sem
prerrogativas tributárias, portanto, sua capacidade de autofinanciamento é extremamente
limitada”. A limitação financeira das ONGs junto ao Estado e aos demais órgãos se dá
para que se mantenha controle sobre seus feitos e consequentemente, suas abrangências
e alcances junto à sociedade.
Essa limitação extremada de autofinanciamento ocasiona, segundo os autores
que “Para desenvolver e implementar projetos, dependem de parcerias com setores
públicos e/ou privados e de acesso a seus fundos”. Parcerias essas que por vezes cobram
posturas pré determinadas das entidades, tolhendo suas perspectivas democráticas.
Embora as ONGs tenham sido induzidas a servirem ao sistema capitalista e a
hegemonia neoliberal, é preciso pontuarmos, conforme colocamos anteriormente, que
algumas ONGs atuam articuladas aos movimentos sociais, “[...]apresentam trajetórias
históricas compatíveis com um perfil progressista, isto é, voltadas aos interesses dos
setores populares” (MACHADO; MACHADO, 2012, p. 55). A Maré é um exemplo,
“Afinal, havendo ficado historicamente dentro do âmbito preferencialmente dos
movimentos populares, [...] a educação popular se dá a ver como um projeto destinado a
formar pessoas para operarem transformações” (BRANDÃO, 2003, p. 120). Com
criticidade, fomento ao saber e ao conhecimento, bem como, com autonomia financeira
por intermédio da auto gestão financeira de todos os seus projetos e ações.
Pautada na pesquisa sobre ONG e no meu mergulho na Maré, conceituo ONG
como um grupo de pessoas que congregam objetivos em comum, a fim de alcançarem
coletivamente estes fins, que podem ser traçados em sintonia com o perfil dos que
integram a ONG, variando desde a reprodução do capitalismo com a antidialogicidade,
ao desejo de transformações populares, com o diálogo, de acordo com a ideologia da
equipe. “A antidialogicidade e a dialogicidade se encarnam em maneiras de atuar
contraditórias, que, por sua vez, implicam em teorias igualmente inconciliáveis”
(FREIRE, 1983, p. 26), assim como é inconciliável aos que fazem a Maré agir sem
diálogo e participação na ONG, por exemplo.
Concordo com Soczek (2007, p.137) quando apregoa que “Reinventar a
democracia, radicalizando-a, implica estabelecer uma reflexão e uma aposta em
processos de participação que se efetivem dos mais diversos modos na sociedade”,
73
AjaMulher
Jangada, Âncora, Ostra e Siri - musicistas e dançarinas
Sambatucagem de Mulheres
Concha - Percussionista e vocalista
Fonte: http://mareproducoes.blogspot.com/
78
Presidente(a)
Vice
Presidente(a)
Diretor(a)
Artístico
Coordenador(a)
Pedagógico
Secretário(a)
Geral
Coordenações
dos 14 projetos
80
escrita científica”. Tanto que a grande maiorias das pessoas que publicaram nos 24
livros editados pelo projeto são do universo da educação, em áreas distintas e abordando
temáticas diferentes. E “Assim, como distintas são as áreas de conhecimento dos
autores(as), também são distintas as temáticas abordadas” (OLIVEIRA; CANANÉA,
2019, p. 05), embora, as reflexões sobre ensino aprendizagem ocupem lugar de
destaque. Abaixo, imagens das capas de alguns dos livros deste projeto.
Cabedelo; no Teatro Ednaldo do Egypto, João Pessoa; no Centro Cultural Piollin, João
Pessoa; no auditório da Igreja de Várzea Nova, Santa Rita. O que buscamos atingir é “A
superação da inexperiência democrática por uma nova experiência, a da participação”
(FREIRE, 2013, p. 112). Com as ações que desenvolvemos e as reflexões oriundas
delas, vamos exercitando a práxis na Maré, compreendendo que a apresentação destes
estudantes ao público presente em cada mostra significa além da superação da timidez
de se colocar em público, mas a possibilidade de se perceber capaz.
Dessa forma, mediados pela educação popular como pontua Freire (2013),
enquanto prática da liberdade seguimos desenvolvendo autonomia prática, criatividade
pedagógica, vivência significativa e aprofundamento teórico. As visitações em aulas de
campo além de ampliarem os saberes da equipe de membros da Maré sobre cada local
selecionado para visita, também fortalece os laços afetivos entre a equipe e de seus
familiares, que acompanham nas viagens do projeto, integrando o grupo e revezando
cada aula de campo entre lazer e aprendizado.
Além das ações deste projeto, os familiares dos(as) marinheiros(as) participam
das atividades festivas da ONG, onde pais, companheiros(as) e irmãos(as) integram as
ações, ao tempo em que filhos(as) menores acompanham seus pais durante as oficinas.
Por vezes maridos e filhos(as) de marinheiras ministraram oficinas, tornando-se
simpatizantes da ONG e desenvolvendo o protagonismo juvenil, respectivamente.
Como exemplos, cito as oficinas “Matemática Financeira” e “Dicas de Manutenção
Hidráulica e Elétrica para a sua Casa: economia e segurança”; ambas, ministradas por
companheiros de marinheiras. Além das oficinas “Desenho e Pintura”, “Papel Machê” e
“Paródia”; todas ministradas por filhas de marinheiras.
No Projeto Caminhos do Saber os custos para efetivação das aulas de campo são
rateados entre os marinheiros (as) e familiares que participam de cada visitação. Eles
versam sobre transporte, alimentação, hospedagem, guias turísticos, historiadores e
ingressos de entradas nos locais visitados.
de Poemas
Em sintonia com escrita precedente sobre o Projeto Maré de Poemas, para que
ocorra o desenvolvimento das ações, os participantes perpassam por etapas de ações que
estão abaixo ilustradas no mapa.
89
Elaboração
Coletiva do
Edital
Coleta de
Avaliação
Materiais e
Coletiva do
cronograma
Processo
de utilização
Projeto
Maré de
Evento de Poemas Execução
nas Escolas
Premiação
Fonte:https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/18/19/projeto-mar-de-poemas-relatando-
experincias-pedaggicas-e-educacionais
Produção:
Apresentação do Projeto: Fundamentação Teórica: • Elaboração textual;
•Explicação do concurso; •Vídeos, textos e livros; • Correção ortogrática e xxx;
• Reescrita;
•Abordagem do tema;
•Material (leitura de • Leitura Dramática dos poemas (p
•Tempestade de ideias poemas); turma);
• Exposição escoalr dos poemas;
•concreto(objetos); • Entrega dos produtos ao jiri
•Exercícios praticos, orais e
escritos; individuais e
coletivos
Fonte:https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/18/19/projeto-mar-de-poemas-relatando-
experincias-pedaggicas-e-educacionais
90
ações que mobilizavam este projeto e a ONG, que, desde então, segue com 50% de
membros fundadores, uma vez que duas se desligaram.
Ostra (2019) lembra que a Maré “Era um grupo fechado que só se abriu para a
leitura do coletivo com a saída de alguns membros”. De fato, após esse momento de
ruptura os integrantes que ficaram reorganizaram os fazeres da ONG e traçaram as
formas de ingresso para admissão de novos membros. O que permite atualmente um
quantitativo de trinta integrantes.
Metodologicamente, o projeto És-Crê-Ver segue a sequência didática ilustrada a
seguir.
Imagem nº 21: Sequência Didática do Projeto És-Crê-Ver
1ª carta:
Dados de
identificação
pessoal, familiar e
escolar
4ª carta:
2ª carta:
Respostas aos
questionamentos
PROJETO Dados de
identificação
das cartas ÉS-Crê- artística na escola,
anteriores e relato
da expectativa ao Ver na família e no
bairro
encontro presencial
3ª carta:
Respostas aos
questionamentos
das cartas
anteriores e relato
de preferências
artísticas
O Projeto Maré Editais era coordenado pela atual presidenta Lisianne Saraiva e
visa captar recursos em fundos de financiamentos à ONGs. Nos anos iniciais da Maré
92
houve projetos financiados pelo Fundo Municipal de Cultura de João Pessoa - FMC,
Comissão Municipal de Cultura de Cabedelo - COMIC e Fundo Estadual de Incentivo à
Cultura da Paraíba - FIC, todos com circulação de espetáculos teatrais de integrantes da
Maré. Prática que atualmente está em inatividade mediante decisão da equipe de não
participar de editais públicos de financiamento a fim de manter a autonomia política da
ONG e maior desempenho social nas pautas de reivindicação e fiscalização das ações
dos órgãos públicos do município e do Estado, visto que, para libertarmos, como indica
Freire (2013), oprimidos e opressores, precisamos nos desvencilhar das amarras que os
opressores lançam sobre os oprimidos, atualmente, a mais eficaz é a financeira. Por isso,
por decisão unânime dos integrantes, a ONG não participa de nenhum edital de
financiamento público desde 2005 e todos os seus 14 projetos são realizados por
intermédio de autofinanciamento de seus membros, em sintonia com a economia
solidária, e com doações de membros e simpatizantes.
A iniciativa de não participar de projetos financiados em parceria com órgãos
públicos e/ou privados auxiliou de forma direta no perfil de pessoas interessadas em
integrar o grupo, pois, uma vez que é sabida a não remuneração financeira das ações
desenvolvidas na ONG, considerável número de pessoas não se interessam em
participar, o que viabiliza a aproximação de um público interessado nos ideais de
aprendizagem colaborativa, e que se distanciam do autobeneficiamento financeiro com
recursos públicos e privados. Os ganhos dos que integram a Maré se dão em recursos
imateriais e com a aquisição do conhecimento compartilhado amplia-se o saber e o
currículo formal.
Dessa forma, a atuação de todos(as) que compõem a Maré é integralmente
voluntária, não há vínculo empregatício, efetivo(a), prestador(a) de serviços, CLT nem
estagiário(a). Por isso, a carga horária destinada à ONG é reduzida, acompanha a
demanda dos projetos que cada membro participa e ocupa horários reservados mediante
a capacidade de atuar espontaneamente. A totalidade dos(as) marinheiros(as) tem em
outras fontes a remuneração financeira por seus serviços, e, custeiam voluntariamente
os 14 projetos da Maré, fazendo com que as ações se realizem.
Para Gadotti (2011, p. 25) “Em resumo, poderíamos dizer que o professor se
tornou um aprendiz permanente, um construtor de sentidos, um cooperador e,
sobretudo, um organizador da aprendizagem”. É exatamente assim que me percebo e
percebo os(as) demais membros da Maré quando imersos(as) nos projetos que a
compõe.
93
O Projeto Maré Postal atua com o gênero textual cartão postal e, a exemplo dos
Projetos Maré em Telas, Maré de Poemas e Click Maré, também se trata de um
concurso entre estudantes das escolas atendidas pelos membros em todas as
modalidades de ensino com premiação para as escolas, professores (as) e estudantes dos
três primeiros lugares. Utiliza um júri voluntário e especialista na área da arte, pintura e
desenho que seleciona os trabalhos mais aproximados da proposta de cada edital anual
que versa sobre a temática abordada e a técnica artística a ser utilizada.
Passamos por processo de criação, exposição e julgamento nas escolas
participantes, onde estudantes podem apreciar as obras realizadas por seus colegas da
escola e contribuírem na seleção dos 10 trabalhos que representarão a escola junto ao
júri, via votação aberta. No ano em questão, nas imagens a seguir, a técnica abordada
foi o pontilhismo e a temática ilustrada foi natureza. “Por isso é que na reflexão crítica
da formação dos professores a teoria e a prática se misturam” (GADOTTI, 2011, p. 18).
Atualmente o projeto é coordenado por Cely Sousa, artista que assina a direção
artística da Maré. “Preocupados com a questão da democratização da cultura, dentro do
quadro geral da democratização fundamental, tínhamos necessariamente de dar atenção
especial aos déficits quantitativos e qualitativos de nossa educação” (FREIRE, 2013, p.
133). Assim, esse projeto possibilita o acesso a um gênero textual pouco comum entre a
classe de baixa renda da população, uma vez que a função original do cartão postal é
divulgar locais turísticos em viagens, no entanto, essa não é a realidade que pertence aos
estudantes da rede pública de ensino, por isso, a preocupação com a democratização da
cultura, cartões postais não são gêneros textuais acessíveis a todos.
Por isso adaptamos a ideia original do gênero textual cartão postal para a
elaboração de cartões postais que possam mostrar a realidade artística e cultural dos
estudantes envolvidos no projeto, com produções ilustrativas autorais e originais,
possibilitando tanto a aproximação com este gênero literário, quanto à releitura dele.
“Assim, nós membros da ONG Maré e arte educadores (as), ao idealizar, elaborar e
executar o Projeto Maré Postal, nos debruçamos na condição de aprendizes,
pesquisando, construindo e refletindo sobre nossa construção com nossos/as estudantes”
(OLIVEIRA, et al 2018, p. 12). A seguir, imagens dos momentos de atuação do júri
avaliando as obras em quatro anos distintos.
Para Oliveira, Cananéa, Silva e Oliveira (2018, p.02), “Os membros da Maré são
em sua maioria educadores (as); por isso, elaboram continuamente ações que auxiliam
no aperfeiçoamento de suas práticas pedagógicas”. Os autores acreditam que o projeto é
um exemplar dessa feitura que objetiva a união da qualificação profissional e da prática
educacional motivadora, assim interagem “[..] tornando a Maré fonte de formação social
para seus envolvidos” (OLIVEIRA, et al 2018, p.02).
maior classificação são premiados e suas obras expostas nos demais eventos do grupo, a
exemplo do Projeto Mostra Cultural e dos lançamentos dos livros do Projeto Novos
Olhares, Incentivando a autoformação contínua. “Satisfação seguida de aprendizagem
significativa tem norteado nosso fazer pedagógico” (OLIVEIRA, et al 2017, p. 11),
neste projeto e nos demais em que a participação se efetiva.
Anualmente professores(as) selecionam novos conteúdos programáticos para
abordagem no projeto, e, assim, estudam ao tempo em que ensinam, aperfeiçoando seus
saberes técnicos e suas práticas educacionais. “Para nós, o real significado do fazer não
está na prática livre e desplanejada, mas no ato processual de planejar, fazer, refletir,
aprimorar, de maneira cíclica e consciente de que o ganho pedagógico é de todos os
envolvidos [...]” (OLIVEIRA, et al 2017, p. 12), o diálogo entre os (as) marinheiros
(as), membros que integram essa Maré de fazeres se estabelece no crescimento coletivo.
Na Maré a problematização é posta também por intermédio de conteúdos
programáticos que são explanados em reflexão com a realidade, “No fundo, em seu
processo, a problematização é a reflexão que alguém exerce sobre um conteúdo, fruto
de um ato, ou sobre o próprio ato, para agir melhor, com os demais, na realidade”
(FREIRE, 1983, p. 57). Desse feito, projetos que são realizados em sala de aula,
convencional ou não, são estimulados na Maré, pois, a maioria dos (as) marinheiros (as)
é professor (a) e atua há muitos anos em sala de aula, conforme o 5º gráfico deste
trabalho indica.
Estes projetos que envolvem conteúdos didáticos pedagógicos em sala de aula
surgiram da necessidade dos (as) marinheiros (as) em construírem metodologias ativas
aos estudantes, ao tempo em que ocorre o aperfeiçoamento de quem ensina nas mais
diversas áreas do conhecimento, por isso, anualmente, as técnicas de abordagens são
diversificadas e os conteúdos programáticos também. A compreensão dos (as)
marinheiros (as) sobre o autoaperfeiçoamento nas ações desenvolvidas nos espaços
educacionais junto aos estudantes é uma práxis da Maré.
Esta prática relatada pelo autor, muito tem em comum com as ações
desenvolvidas na Maré mediante os projetos Maré ConVida e Novos Olhares.
O Projeto Click Maré funciona em formato de concurso entre estudantes de
escolas atendidas pelos membros do grupo e atua com a vertente artística fotografia. Em
suas edições “objetivando fomentar a produção de imagens relacionadas a uma temática
específica, que muda anualmente, por uma prática popular no tempo atual - a fotografia,
101
Não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino. Fala-se hoje, com
insistência, no professor pesquisador. No meu entender o que há de
pesquisador no professor não é uma qualidade ou uma forma de ser ou
atuar que se acrescente á de ensinar. Faz parte da natureza da prática
docente a indagação, a busca, a pesquisa. O de que se precisa é que, em
sua formação permanente, o professor se perceba e se assuma, porque
professor, como pesquisador (FREIRE, 1996, p. 15).
Como fundadora e membro da Maré me observo imersa nas ações que movem
os 14 projetos do grupo, sobretudo, o Compartilhando Saberes, sob minha coordenação,
por isso, o desenho metodológico de pesquisa participativa aponta para a pesquisa-ação.
Conforme Ferraz de Toledo e Jacobi (2013, p. 155), a pesquisa-ação em educação
compartilha princípios na construção de conhecimentos e no fortalecimento comunitário
para o enfrentamento de problemas. Conforme pontua a marinheira Corais (2017),
“Compartilhar saberes individuais, para produzir novos saberes de forma colaborativa”.
Assim, ao tempo em que galgo passos acadêmicos mais elevados, qualifico
criticamente as ações do projeto, e, consequentemente, amplio nosso acesso aos saberes
e aos conhecimentos, democratizo as informações ao fortalecer nossa equipe. Baleia
(2017) define o projeto apontando que “O próprio nome já é bastante significativo, pois
nos permite, além do conhecimento, compartilhar com os demais. Portanto, o que sei
não é para ficar comigo, é para compartilhar e promover uma corrente marítima de
saberes”. Desse feito, sigo nessa corrente marítima de saberes.
103
Debate
Prática
Teoria
freireana. É comum que as oficinas propostas nos editais anuais do projeto já tenham
sido realizadas em espaços educativos com estudantes, por isso, são ações já
experimentadas e sua fundamentação teórica surge na Maré cheia de possibilidades
concretas de realização assertiva.
Recursos visuais como vídeos que comungam com uma perspectiva crítica,
slides elaborados por quem ministra cada oficina e textos relacionados aos assuntos de
cada oficina específica, são utilizados no momento da fundamentação teórica, sendo
pautados em Paulo Freire. Para Areia (2017), “É um projeto que prevê encontros
mensais que, por meio de oficinas, promove aprendizado e intercâmbio de
conhecimento”. A seguir, imagens deste primeiro momento nas oficinas: Arte com
Espirógrafo, Artesanato Natalino em E.V.A., Pensa e Borda, Árvore Literária sobre
Cely Sousa e Planejamento Estratégico.
outros. Busca esperançosa também”. Analiso se a busca coletiva por dividir nossos
saberes nos faz equipe, nos conduz ao agir conjuntamente, e se nos envolve de práticas
grupais, nos impulsiona a sermos mais.
Para Barbosa Júnior (2019), além dos princípios, a práxis é essencial na
educação popular, “Por que Educação Popular não se pauta só por princípios, mas
fundamentalmente por uma práxis”. A noção de práxis que orienta a construção teórica
desta tese é pautada na mediação entre teoria e prática com diálogo, participação e
empoderamento crítico para educação popular, uma vez que, cada categoria aqui
aprofundada remete a uma prática, teoria e consequente mudança social.
No entanto, para além da minha satisfação em equipe, enquanto integrante do
grupo e sujeito da ação, engajada neste fazer, acredito nesta perspectiva de pesquisa, por
perceber que, com respaldo acadêmico, estudo cuidadoso e análise científica poderá,
através de sua reaplicação, divulgação, validação acadêmica, beneficiar outros grupos e
modificar outros públicos em diferentes mares.
Esse percurso cronológico de estado da arte sobre o projeto que se situa como
objeto de estudo, nesta pesquisa, compreende a realização do primeiro dos oito
109
Alusivo aos dez anos da ONG, o capítulo diz que “O projeto promove oficina
mensal com 4 h/a de duração com escala de atuação individual entre os membros, a
diretoria e convidados que ministram oficinas de uma experiência” (OLIVEIRA, 2012,
p. 14-15); a autora afirma ainda que se trata de uma experiência positiva, planejada e
aplicada em sala de aula. Na época, o projeto já acontecia há 3 anos, o que data seu
nascimento no ano de 2009.
Imagem nº 39: Lançamento do livro Embarc (A) ções sobre Arte e Educação
Com explanação oral na Tenda Elizabeth Teixeira2, que teve como facilitadora
Judy Rosas, essa modalidade de experiência me oportunizou refletir teoricamente de
forma mais aprofundada sobre o Projeto Compartilhando Saberes, uma vez que o debate
oportunizado após a apresentação oral promoveu perguntas oriundas de um público que
estava imerso na educação popular, engajado na prática dialógica e participativa, ali,
motivada com as falas e práticas dos educadores populares, como Agostinho Rosas,
Fernando Abath Cananéa e Wolmir Brutscher, nasceu o desejo de transformar essa
experiência em projeto de pesquisa para concorrer ao edital do Doutorado em Educação
do PPGE na UFPB, tal feito ocorreu no segundo semestre do mesmo ano, no edital de
2016, e aqui estou mergulhada nessa reflexão.
Fonte: http://senapop.blogspot.com/
_____
2 -
A tenda Elizabeth Teixeira era um dos espaços de explanação oral do evento em extensão
popular III Seminário Nacional de Pesquisa em Extensão Popular - SENAPOP, ocorrido em
2016 na UFPB.
113
condiciona sua forma de atuar” (FREIRE, 1983, p. 17). Ciente disto, sigo no relato e na
reflexão de minha atuação como marinheira.
Em relação a efetivação do projeto na ONG, como membro do projeto, não me
ausentei de nenhuma das oficinas realizadas, desde 2009, participei no auxílio técnico e
metodológico aos ministrantes de todas as experiências vivenciadas no projeto. São um
total de 10 anos consecutivos, 11 cronogramas de execução e 121 oficinas realizadas até
o término do ano de 2019. No entanto, para este estudo doutoral, fiz um recorte
temporal dos últimos 5 anos de realização do projeto, que corresponde aos 5
cronogramas dos anos de 2015 a 2019.
Ao longo do percurso, ministrei sete oficinas, a saber: Cubismo Analítico e
Cubismo Sintético, ocorrida em julho de 2011; Criação de Máscaras em gesso baseadas
nos Movimentos Artísticos Surrealismo e Dadaísmo, ministrada em julho de 2012;
Possibilidades Pedagógicas do Filme Como Estrelas no Céu toda Criança é Especial,
realizada em novembro de 2012; Sequência Didática na EJA: gincana Artística sobre
Folclore, ocorrida em agosto de 2015; Quem Canta Seus Males Espanta: projeto
pedagógico em Arte, concretizada em fevereiro de 2016; Árvores Literárias sobre Cely
Sousa, ocorrida em julho de 2018, e Dinâmica de Grupo para Revisão de Conteúdos
com artigo de Soraya Souza, ministrada em agosto de 2018.
Observando os cinco registros escritos onde o projeto foi pauta, percebo que
Oliveira (2012, 2017) e o blog da Maré vislumbraram o registro do processo de
execução, enquanto que as autoras Dantas (2013) e Oliveira (2016, 2018) buscaram
relatar suas experiências pedagógicas enquanto integrantes do processo. Dantas (2013,
p. 91), defende que “Através das oficinas ministradas pelos integrantes da Maré
Produções Artísticas e Educacionais, pude perceber que todas as aulas podem ser
amplas num contexto criativo e lúdico [...]”. Esse processo criativo, comprometido e
assertivo vem mobilizando em busca da reflexão científica, e por isso, crítica, das ações
115
_____
3-
“Assim, os atores que entendem o conceito de empoderamento do ponto de vista das relações
de poder entre os diferentes corpos tendem a recorrer ao conceito de poder ou poder de
influência” (Tradução nossa).
116
CAPÍTULO 3:
OCEANOS DE EMPODERAMENTO
crítica com resgate da dimensão política, numa atuação coletiva. “La notion
d’empowerment dans le champ des pratiques sociales: une approche intégrée du
changement social”4 (BOSSÉ, 2003, p. 33), nado na direção do conceito de
empoderamento que mergulha em oceanos que rumam às práticas sociais e buscam uma
abordagem de mudança social de forma integrada, comunitária, coletiva.
Muitos são os significados que abrigam o termo empoderamento, alguns o
observam de maneira individualista. Gonh (2004, p.23) afirma que “O
‘empoderamento’ da comunidade, para que ela seja protagonista de sua própria história
tem sido um termo que entrou para o jargão das políticas públicas e dos analistas, neste
novo milênio”. Para Bossé (2003, p. 31) “En écho à cette conjoncture difficile, on
assiste à une remise en question de plus en plus ouverte du caractère technocratique et
dominateur du traitement des problèmes sociaux”5, dando margem a pensamentos e
práticas que “São os processos programados de robotização da experiência humana e de
consequente tolhimento da liberdade, sob a aparência de que nunca houve tanto direito à
escolha autônoma” (BRANDÃO; BORGES, 2007, p. 59). Por isso, “Cumpre destacar
que o significado da categoria “empowerment” ou empoderamento como tem sido
traduzida no Brasil, não tem um caráter universal” (GONH, 2004, p. 23). De forma
geral são duas vertentes que movem os significados, a que serve ao neoliberalismo e a
que nos acolhe, que serve ao oposto disso, ou seja, a que vai além das questões
individuais e parte para consciência crítica.
Baquero (2012, p. 175) afirma que, o termo tem raízes protestantes, oriundas
ainda na Reforma Protestante quando a bíblia foi traduzida pelo monge Martinho
Lutero, no século XVI, do latim para o alemão, idioma que na época democratizou o
acesso aos escritos bíblicos para todas as esferas sociais, uma vez que a escrita sempre
foi pautada como poder, pois, ainda hoje, não é acessada pela totalidade da população.
Por isso, a autora afirma que o empoderamento se deu como sinônimo de acesso,
oportunidade, poder, no sentido do direito aos escritos, atingindo consequências além
das esferas religiosas. No entanto, o termo posteriormente reapareceu como sinônimo de
emancipação social, vertente que move esta pesquisa.
Do século XVI aos anos de 1970 o termo navegou pelo esquecimento e a
categoria não figura nas palavras-chave de trabalhos acadêmicos hospedados em
plataformas cientificas do Brasil, nem na oratória da população. Segundo Kleba e
Wendausen (2009, p.735), o uso do termo empowerment “se inicia nos anos 1970
influenciado pelos movimentos de autoajuda; seguindo nos anos 1980 pela psicologia
comunitária e, nos anos 1990, pelos movimentos que buscam afirmar o direito de
cidadania sobre distintas esferas sociais”. Assim, “O termo empoderamento, embora
não seja possível precisar seu surgimento, teve seu uso disseminado a partir dos
movimentos black e feministas, nos anos 1970” (ALVES, 2016, p. 194). Ou seja, para
Baquero (2012, p.174), “O termo é um anglicanismo que significa obtenção,
alargamento ou reforço de poder”. Poder no sentido de emancipação.
A partir de 1970, com a popularização do termo empoderamento nos EUA, ele
passa a figurar na verbalização dos brasileiros, e como moda importada, a exemplo dos
termos modais que o Brasil geralmente imita do exterior, empoderamento vira jargão na
oralidade.
Bossé (1988, p. 33) diz que “La notion d’empowerment dans le champ des
pratiques sociales: une approche intégrée du changement social” 7. Segundo ele, o
conceito de empoderamento no domínio das práticas sociais, visto como uma
abordagem integrada que deseja a mudança social é um tema ainda não discutido por
outros autores na França, sendo ele, o pioneiro ao enfatizar o empoderamento nesta
vertente coletiva.
_____
7-
"O conceito de empoderamento no campo das práticas sociais: uma abordagem integrada à
mudança social" (Tradução livre).
120
Século XVI
Empowerment
Lutero: reforma 1970
protestante com empowerment
2020 tradução da bíblia do Movimentos norte
Empoderamento latin para o alemão americanos de auto
segundo Baquero, ajuda blaks e
Crítico segundo
2012 feministas nos
esta autora, 2020
Estados Unidos
segundo
Kleba;Wendausen,
2009
2000
Empoderamento
comunitário segundo 1980
Valoura, 2005; DE Empowerment
Carvalho, 2004; EMPOWERMENT À Psicologia
Meirelles; Ingrassia, EMPODERAMENTO Comunitária
2006; Ferreira;Rigotto, CRÍTICO ainda pautada na
Oliveira, 2008; 2014; aquisição do
Roso;Romanini, 2014; poder individual e
Muñoz; Solarte-Pazos, fortalecimento da
2015; Bacqué; autoestima,
Biewener, 2015; segundo
Gadotti, 2016 Kleba;Wendausen
Silva; Pinheiro; Chagas, , 2009
2016
1990
Movimentos sociais
segundo Romano;
Antunes, 1977;
Kleba;Wendausen, 1986
2009;
Fonseca;Amaral,
2012; Alves, 2016; Empoderamento
Barreto;Paula, 2014; de Classe Social
Barbosa;Muhl, Freire;Shor, 1986
2016; Guareschi,
2016
um novo modelo de sociedade. O quadro a seguir expõe essa divisão conceitual a partir
de seus autores:
Empod
eramen •Oliveira, 2020
to
Crítico
Empod
eramen
to de •Freire; Shor, 1986
Classe
Social
A maneira que percebo como posso encontrar isso nas ações da Maré é
compreendendo como o empoderamento crítico se fomenta via diálogo e participação.
Diálogo que estimula o crescimento individual dos(as) marinheiro(as) e auxilia para que
este crescimento atinja o nível coletivo, inicialmente, e após maior criticidade, atinja o
nível de classe social. No caso da Maré, trabalhadores(as) assalariados(as) envolvidos
com a Arte Educação que interagem na Maré de forma voluntária. Participação que
ocorre ativa e integral, contínua, com o compartilhamento de saberes, de dúvidas, de
atitudes desejadas, de posturas das quais ocorre auto-reflexão, novo diálogo, nova
participação, novo empoderamento individual, coletivo e crítico.
Em pesquisa sobre publicações precedentes com o emprego do termo
empoderamento crítico o observo escrito em dois registros, num, Florek (2011) o grifa
se referindo ao leitor, quando assevera que este estágio de leitura pode advir do
letramento multimodal crítico, tornando-o um leitor consciente dos condicionamentos
que ideologicamente habitam os discursos ao estabelecerem relações de poder. Noutro,
Cabral (2018) ao se referir sobre a política de ações afirmativas para negros, afirma que
tal política fomenta o empoderamento crítico pela própria população negra. Em nenhum
dos casos os autores retomam aprofundamento do termo fundamentando ou ofertando
sentido diferente dos acima mencionados.
Pesquisar sobre o empoderamento é também se empoderar numa busca científica
de qualificar a nossa prática e ação, pois “uma das conceituações de empoderamento
refere-se ao fenômeno em que as pessoas passam a ter controle sobre os recursos, sejam
eles físicos ou simbólicos” (BARRETO; PAULA, 2014, p. 112), no caso, estamos nos
124
acordo com Romano e Antunes (2002, p. 11), nesta ótica, “Mais precisamente, a
mudança nas relações de poder existentes tem sido deslocada de seu papel central,
virando uma questão implícita ou diluída entre os elementos que comporiam o
empoderamento”. E pontuando a ênfase na ação coletiva que desenvolve mudanças
sociais das equipes, grupos e comunidades.
De acordo com Villacorta e Rodríguez (2002, p. 48), o empoderamento combina
duas dimensões: a introdução no processo de tomada de decisões das pessoas que se
encontram fora dele e o acesso a processos intangíveis de tomada de decisões. Assim,
“Nesse contexto, a educação disporia de um tipo de empoderamento capaz de abranger
um processo de conscientização, permitindo a passagem de um pensamento ingênuo
para uma consciência crítica do mundo” (SILVA; PINHEIRO; CHAGAS, 2016, p. 09).
Em Pedagogia do Oprimido, Freire (2011) apresenta níveis de consciência, no entanto,
para Melo Neto (2019), todo ser humano intelectualmente saudável tem nível de
consciência mais elevado que o apresentado como ingênuo e desprovido de nenhum
saber, embora, haja nível de alienação, manipulação e doutrinação, em nenhum deles o
indivíduo atua movido por exclusiva ingenuidade, senão, pelo desejo de enquanto
oprimido, passar a ser opressor, e assim, não atingir nem a consciência crítica nem o
empoderamento de classe social, nem o humanismo.
O autor pontua que “Par ailleurs, son utilisation dans la littérature francophone
a donné lieu à la formulation de plusieurs « équivalents » français dont les valeurs
respectives n’ont jamais fait l’objet d’une démonstration explicite” 10 (BOSSÉ, 1988, p.
01). A nossa visão de empoderamento corrobora com a do autor, pois visa refletir sobre
a realidade que está associada à ideia de empoderamento no campo de práticas sociais,
por isso, em sintonia com a realidade, “Não há problematização sem esta última. (Daí
que a própria discussão sobre o além deva ter, como ponto de partida, a discussão sobre
o aqui, que, para o homem, é sempre um agora igualmente)” (FREIRE, 1983, p. 57).
Assim, a realidade é o vetor da problematização.
Dessa forma, observo que é necessária a ação conjunta de outros atores, no
combate à alienação, “[...] como, organizações da sociedade civil, ONGs e cooperação
internacional, que são atores indiscutíveis no campo do desenvolvimento e que assim
como podem favorecer os processos de empoderamento, também podem obstruí-los e
bloqueá-los” (VILLACORTA; RODRÍGUEZ, 2002, p. 51). Favorecer, se este for
pautado na criticidade; e bloquear, se estiver se servindo do neoliberalismo para alienar.
O fato é que “Quem fala de neutralidade são precisamente os que temem perder
o direito de usar de sua ineutralidade em seu favor” (FREIRE, 1983, p. 53). A educação
é um ato político por sua natureza transformadora, assim como, também é o
empoderamento crítico e o empoderamento de classe social. O empoderamento no
âmbito da fase crítica busca realizar mudanças na classe social, o freireano, de classe
social, atinge a mudança.
De acordo com Romano e Antunes (2002, p. 23), “Focalizando em processos e
não nos resultados, o poder pode assumir outras formas que, de maneira geral, podem
ser descritas como poder para, poder com e poder de dentro, que levam à construção de
outras perspectivas de empoderamento”. Poder para todos os envolvidos, oprimido e
opressor, por isso, visto como poder com o outro, surgindo de dentro dos coletivos para
os coletivos e os demais, não é imposto, mas conscientizado, longe do individualismo e
assim, perto da coletividade.
_____
10-
"Além disso, seu uso na literatura de língua francesa deu origem à formulação de vários"
equivalentes "franceses cujos valores respectivos nunca foram objeto de uma demonstração
explícita" (Tradução livre).
133
_____
11-
"Paradoxalmente, empoderamento significa" um processo sócio-político que articula uma
dinâmica individual de auto-estima e desenvolvimento de habilidades com comprometimento
coletivo e ação social transformadora " (Tradução livre).
136
participação que busca atingir mudanças sociais. Ao atingir essas mudanças, pode vir a
atingir o nível de empoderamento de classe social grifado por Freire.
Com base nos dados supracitados sobre o empoderamento, a seguir, elaborei, para
fins metodológicos uma síntese em forma de tabela contendo aspectos relacionados ao
empoderamento, mediante os olhares dos trinta e um textos dos autores distintos,
contendo referências sobre o ano e local de produção de cada pensamento, como os
autores definem empoderamento; qual o objetivo do empoderamento, e, por fim, que
características tem o empoderamento segundo cada autor (a) estudado. Tal organização
se efetivou obedecendo a sequência cronológica que cada autor(a) menciona o termo.
Autor/a,
ano/ local Definição Objetivo Características
Lutero, Séc. Autonomia, segundo Tradução da bíblia do Latim Independência na
Baquero, 2012 para o Alemão leitura bíblica por todos
XVI na
na Alemanha
Alemanha
Freire; Procurando explicar melhor O empowerment da classe Enquanto que o
como compreendo o social é um problema de empowerment
Shor, 1986,
empowerment como o análise, bem como um individual ou o
Estados empowerment de classe problema de pedagogia. empowerment de alguns
social. Não individual, nem Quando se trata de relações alunos, ou a sensação
Unidos
comunitário, nem de classe, percebo ao de ter mudado, não é
meramente social, mas um mesmo tempo clareza e suficiente no que diz
conceito de empowerment confusão nos estudantes. A respeito à
ligado à classe social consciência não é uniforme transformação da
de aluno para aluno, ou de sociedade como um
grupo para grupo. A todo, é absolutamente
consciência é, necessário para o
frequentemente, incoerente processo de
num mesmo aluno transformação social.
Bossé, L’appropriation ou La notion d’empowerment L’empowerment ne
l’appropriation dans le champ des pratiques consiste pas simplement
1988;
psychosociale, sociales: une approche à être actif. En fait,
2003; L’habilitation e Le pouvoir intégrée du changement l’action est ici un outil
ou le pouvoir d’influence. social.Ou seja, d’acquisition de
2007 na
Ou seja, apropriação ou O conceito de pouvoir qui ne conserve
França apropriação psicossocial, empoderamento no campo sa pertinence que dans
Empoderamento e Poder ou das práticas sociais: uma la mesure où elle
poder de influência. abordagem integrada à s’inscrit dans une
logique d’influence
mudança social.
personnelle ou
collective sur
l’environnement. Ou
seja, Empoderamento
não é apenas ser ativo.
De fato, a ação é aqui
uma ferramenta para
adquirir poder que só
mantém sua relevância
138
Emerge una conciencia crítica con respecto a los roles asumidos por
las mujeres en su cotidianidad, comportamientos participativos en la
dirección, reconocimiento de la diversidad y los saberes; debido a la
incidencia de la interpretación de la realidad de la líder sobre la
ruptura y cuestionamiento de las lógicas de pensamiento de las
mujeres, su realidad y autonomía, al reflexionar sobre el valor de sí
mismas y la dignidad de la mujer bajo el princípio de la “enajenación
de las personas” y recuperar la palabra (MUÑOZ; SOLARTE-
PAZOS, 2015, p. 1606).
Assim, “[...] uma vez que o empoderamento, apesar de significar, à letra, mais
poder, ou acréscimo de poder, é um conceito disputado no espectro das orientações
políticas vigentes, dando origem por esse fato a dissensos interpretativos” (BARBOSA;
MÜHL, 2016, p. 12). Por isso, friso sobre que mares nado nesta construção teórica que
se ancora nas práticas dos que fazem a ONG Maré Produções Artísticas e Educacionais
por intermédio do Projeto Compartilhando Saberes, no empoderamento crítico reside a
nossa pesquisa.
“O empoderamento é tanto um processo como resultado desse processo. Ele diz que tanto o
12-
Bacqué e Biewener (2015, p. 387), apontam que “L’ar ticulation des dimensions
individuelle, collective et politique constitue un élément capital de la démarche
transformatrice de l’empowerment”13. Observo que, para o empoderamento ser
transformador, ou seja, de classe social, necessária se faz a articulação entre a
criticidade individualizada, coletiva e estrutural. Atuando no campo pessoal, conjunto
em coletividade e político, socialmente engajado na transformação da sociedade.
Barbosa e Mühl (2016, p. 14), afirmam que “O empoderamento [...] é
simultaneamente um processo individual e coletivo cujo objetivo é ajudar os sujeitos a
conduzirem as suas vidas e também a emanciparem-se, sendo importante, na linha das
teorias de transformação social de Paulo Freire”. Assim, empoderamento crítico e
educação popular nadam em sintonia rumo aos mares que viabilizam atingir as
possibilidades de mudanças sociais coletivas e conscientes, por isso, críticas.
Dessa forma, observa-se que, para que aconteça a liberdade individual, nos
campos psicológico, político e físico, vital para que ocorra o empoderamento, é preciso
que perpasse pela capacitação individual associada às condições de cunho estrutural e
institucional enquanto grupos que se empoderam em sintonia. Só assim pode emergir o
empoderamento contemporâneo que tratamos aqui de crítico, em harmonia com a
educação popular. Aprofundar a reflexão sobre os processos de empoderamento em
educação popular é ação para o capítulo seguinte, e vetor de toda a tese.
_____
13-
“A articulação das dimensões individual, coletiva e política constitui um elemento crucial do
processo transformador de empoderamento” (Tradução livre).
14-
“o empoderamento deixa clara a consideração necessária e emancipatória da liberdade
individual, inseparável das condições estruturais e institucionais que participam de sua condição
de possibilidade e potencialmente encorajaria o surgimento do empoderamento contemporâneo”
(Tradução livre).
151
Empoderamento
Crítico Empoderamento
Empoderamento de Classe Social
Individual Empoderamento
Coletivo
criticidade não basta para atingi-lo, mesmo atuando em sintonia com a educação
popular nos níveis individual e coletivo, o empoderamento crítico, apesar de social,
ainda não é de classe social.
Ao avaliar ONGs consideradas progressistas, Machado (2009, p. 205-206),
chegou a conclusão que:
CAPÍTULO 4:
Assim sendo, em consonância com Freire (1983, p. 53), compreendo que “Para
nós, a ‘educação como prática da liberdade’ é, sobretudo e antes de tudo, uma situação
verdadeiramente gnosiológica”, que trata do conhecer, do conhecimento humano, para o
autor, a situação gnosiológica é “Aquela em que o ato cognoscente não termina no
objeto cognoscível, visto que se comunica a outros sujeitos, igualmente cognoscentes”
(Ibidem), que realiza o ato do conhecimento de maneira benevolente, tolerante, flexível,
capaz de acolher.
154
Para Melo Neto (2015, p. 51), “A Educação Popular vai tornando o mundo da
concretude o seu ponto de partida quando de seu conhecimento. É um processo
educativo que pode acontecer também através do tijolo sobre tijolo”. Oficina a oficina,
mês a mês, marinheiros(as) foram, por intermédio da fundamentação teórica, ação
prática e debate interativo de cada encontro, compreendendo que essa práxis se
fundamenta na educação popular, e por isso, se pauta sobretudo no diálogo e na
participação desenvolvendo empoderamento crítico.
Concordo que “A tentativa de responder a questão – o que é educação popular –
requer uma abordagem sobre o adjetivo popular, que qualifica esse tipo de educação”
(MELO NETO, 2015, p. 62-63), posso tratar de popular uma educação que visa a
transformação social, respeitando os saberes populares tanto quanto os científicos, mas
almejando a mudança em sintonia para oprimidos e opressores. “Nessa perspectiva, a
educação popular dialoga, diretamente, com um projeto político de sociedade”
(BRUTSCHER; SCOCUGLIA, p. 169). Diferente do projeto neoliberal e capitalista,
assim, “O que distinguiria, então, a educação popular das outras variedades de educação
seria a sua proposta e práxis direcionadas para a efetiva transformação do homem, da
sociedade e do Estado” (MELO NETO; SCOCUGLIA, 1999, p.21). Uma ação isolada,
como a realizada no Projeto Compartilhando Saberes, ou em qualquer outro projeto, não
realizará sozinha essa transformação, no entanto, é a partir de ações pontuais,
conscientização contínua, aprimoramento de fazeres e saberes coletivos que podemos
auxiliar nesse processo.
Assim, sabemos que “A educação popular também assume uma matriz de
pensamento fundamentada na compreensão, notadamente freireana, de que o
conhecimento só é possível na interação comunicativa entre os sujeitos [...]”
(BRUTSCHER; SCOCUGLIA, p. 167). A ação dialógica de Freire (2012), sintonizada
com a percepção de que “Não podemos vivenciar processos de educação popular sem
vivenciarmos nossas construções culturais, sem falar como somos e como vivemos”
(CANANÉA, 2016, p. 80). Dessa forma, a educação popular é compreendida como “um
conjunto de princípios inter-relacionados”, princípios estes que se pautam nas esferas
filosóficas, políticas e pedagógicas, e, “[...] que expressam a sua clara opção pelo
protagonismo dos sujeitos envolvidos nos processos educativos bem como sua
intencionalidade de transformação da sociedade” (TRANQUELINO DA SILVA;
MACHADO, 2017, p. 129-130).
155
Esse fazer, ao tempo em que age e reflete, compõe uma complexidade que
conduz necessariamente a mudança do fazer, agir e pensar. Os novos fazeres, as novas
158
ações e os novos pensamentos que surgem disso obrigam cada ser envolvido(a) a
compreender que “A educação popular emerge, neste ambiente, como contrário que se
opõe aos modelos de educação tradicionalmente dominantes, fazendo revelar sua face
na existência da humanidade” (ROSAS, 2008, p. 119). Sem negar a importância da
aquisição do conhecimento historicamente acumulado, presente nos moldes da educação
de cunho tradicional, mas, após e simultaneamente a essa aquisição, ressignificando este
aprender com base na realidade e na mudança dela. “O aumento de consumo de bens, a
agitação e a alienação, resultantes do sistema, dispersam as vontades, fragmentam os
sonhos e acomodam. A gravidade da situação não mobiliza” (VASCONCELOS, 2013,
p. 17). Com a educação popular busca-se exatamente essa mobilização.
A saída do campo de acomodação, que é alienante, é a consciência de que
“Portanto, o discurso fundacional da educação popular contemporânea começa a se
conceituar e a se diferenciar por educar a partir da organização social e da participação
política da população” (BRUTSCHER; SCOCUGLIA, p. 169). Nesse sentido, para
Rosas (2008, p. 107), a educação popular se constitui como expressão de cultura, para o
autor, ela “Pretende sistematizar o pensar e agir dos sujeitos sob orientação da
resistência aos abusos e privações, sobre qualquer forma de exclusão social” (ROSAS,
2008, p.107).
Neste capítulo, não me proponho a situar historicamente a educação popular,
haja vista que tal caminho já foi trilhado com maestria por Rosas (2008), Cananéa
(2016), Machado (2009), Vasconcelos (2013), Brutscher; Scocuglia (2016), Melo Neto
(2005) em escritas precedentes. Sobre isso,
consciência de que “Não há ato educativo que não transforme, quer seja de maneira
libertadora, quer opressora” (VASCONCELOS; OLIVEIRA, 2009, p. 139). É escolher
criticamente de que transformação desejo fazer parte.
outro fala e, ao término do encontro, nenhum dos dois muda. Sem modificações a
relação constituída apenas comunica, e assim sendo, não é dialógica.
Neste percurso reflexivo, onde todos(as) têm consciência de que tem a aprender
e por isso, buscam por saber mais, “Trata-se do diálogo como exercício concreto de se
poder aceitar o risco de não prevalecer o seu ponto de vista ou opinião” (MELO NETO,
2015, p. 82), e com essa abertura para modificações, “O diálogo vai se apresentando
como um caminho, sempre aberto para uma sequência de argumentação ou novas
definições, novos argumentos” (CANANÉA, 2016, p. 66). As novas sínteses oriundas
das relações dialogadas nos conduzem a novas deflexões, novas práticas, novos
pensares. “O problema central que se tem nesta, como em qualquer das categorias da
ação dialógica, é que nenhuma delas se dá fora da práxis” (FREIRE, 2011, p. 235).
Assim sendo, o diálogo, conduz à práxis, pois nutre a tríade ação, reflexão, nova ação.
E, ao alimentar esse triângulo reflexivo, gera nova síntese, continuamente.
No entanto, vale ressaltar que em contraponto, “O diálogo não só revela, como
pode muitas vezes ocultar as relações de poder e os desejos que estão por trás da palavra
falada e, em outros contextos, da palavra escrita e divulgada. O poder e o desejo podem
165
enquanto êste comunicar comunicando-se, é que ela é diálogo, assim como o diálogo é
comunicativo” (FREIRE, 1983, p. 45). Se, observado num espectro voltado à educação
colaborativa, popular e humanista.
Nesta pesquisa “A metodologia precisa ser flexível o suficiente para atingir os
objetivos propostos. Uma educação diretiva é incompatível com a Educação Popular, já
que elimina a possibilidade do diálogo, elemento crucial neste processo educativo”
(VASCONCELOS; OLIVEIRA, 2009, p. 143). Em relação dialogada, traçamos, em
equipe, além do conceito de diálogo, conceitos também para participação e
empoderamento crítico.
tem espaço privilegiado em Pedagogia do Oprimido, nele, Freire (2011, p. 107) apregoa
a importância do diálogo para uma relação em que a palavra aparece como ação e
reflexão que conduz a práxis. Assim, o autor diz que “Não é no silêncio que os homens
se fazem, mas na palavra, no trabalho, na ação-reflexão” (FREIRE, 2011, p. 108), e
acrescenta que “O diálogo é este encontro dos homens, mediatizados pelo mundo, para
pronunciá-lo, não se esgotando, portanto, na relação eu-tu” (Ibidem), conforme
compreende Melo Neto (2013, p. 18), ao defender que “Portanto, a prática pedagógica
de Freire contém uma teoria da educação que vislumbra uma permanente e ilimitada
experiência dialógica, voltada à tarefa histórica, de que os oprimidos possam não só se
libertarem como também libertarem os seus opressores”. Para Melo Neto, os preceitos
freireanos tratam essencialmente, de um Paulo Freire dialogante.
Em ‘Dialogando com a Própria História’, Freire (2011, p. 157) nos convida a
seguir caminho dialogando sempre, enquanto tece valorização sobre a presença do
diálogo entre recordações de memórias vividas, assim, também me perpassa a memória,
nestes 17 anos de existência da Maré, por fatos vivenciados junto ao grupo, e neste
percurso de escrita, ao registrar, rever imagens, rememorizar momentos, percebo que
conforme aponta Merleau-Ponty (1999, p. 06), “A percepção não é uma ciência do
mundo, não é nem mesmo um ato, uma tomada de posição deliberada; ela é o fundo
sobre o qual todos os atos se destacam e ela é pressuposta por eles”, a percepção, sendo
pressuposta pelos atos, é viva, pois ocorre em via de realização, no mundo e com o
mundo, assim, o diálogo é percebido como ação problematizadora, que move, mobiliza.
A interação oriunda dessa postura crítica que transforma, mostra que “Há, ainda,
uma perfeita relação entre o diálogo e a intersubjetividade. O diálogo só acontece entre
sujeitos” (MELO NETO, 2004, p. 106). E entre sujeitos se muda e faz mudar, se reflete
enquanto age, dialogicamente. “Se, em todo caso, um dos caminhos a trilhar seja o do
diálogo, que não percamos a oportunidade de abusar da democracia, mesmo em sua
versão moderna ou contemporânea” (FAUSTINO DA COSTA, 2008, p. 153), versão
169
esta que está direcionada, no entanto, de fato, é no diálogo que se pode aperfeiçoar essa
democracia. Uma vez que “Historicamente, o diálogo é apresentado com Sócrates ao
introduzí-lo como técnica de perguntar e responder, à procura da verdade” (MELO
NETO, 2004, p. 101), que a verdade, construída dialogicamente, possa ser
continuamente reavaliada e refletida, já que a verdade é relativa. É provável que a
verdade oriunda desta pesquisa, de se ajusta num tempo espaço lugar, seja diferente, da
compreendida neste mesmo espaço e lugar, mas em outro tempo. O tempo muda a
história, muda o diálogo, porque faz mudar quem dialoga, mesmo que o diálogo seja
fruto dos mesmos sujeitos.
Melo Neto (2015, p. 82) compreende que o diálogo é “entendido como
expressão da possibilidade da existência de outro patamar comum, dependente de outro
registro do ser humano que torna possível a tomada de um caminho com características
que se aproximem de universalidade ou de um caminho de verdade”. Para o autor, “na
experiência freireana o diálogo veio sempre se impondo como indispensável nesse
caminho” (MELO NETO, 2015, p. 163). Em consonância com Moita Lopes (2002), ao
dizer que nossas identidades são fragmentadas e atribuir à construção dialógica toda a
mutação de nossa identidade, para ambos, ao ouvir, agir e falar se pensa, e pensando se
muda.
Posto isso, observo que Cananéa (2015, p.60) afirma que “com o decorrer do
diálogo, é possível observar-se um ajustamento das posições dos dialogantes,
promovendo a possibilidade do saber mesmo diante das individualidades e identidades”,
assim sendo, observo a presença da construção de novas identidades e individualidades,
que são balizadas na relação de respeito ao que constitui cada um dos dialogantes na
intervenção dialogada, seja enquanto ela ocorre, antes e especialmente após. Assim
sendo, o diálogo acontece, na “corrente do querer fazer”, termo grafado por Cananéa
(2015) ao referir-se aos dialogantes que se envolvem e empenham no ato discursivo e
comprometido de dialogar. “Finalmente, o diálogo só se impõe como determinante, na
ação dialógica freireana, ao expressar uma ação cultural” (MELO NETO, 2015, p. 167).
Nossa dificuldade e percurso a percorrer se situa em transformar o diálogo uma prática
cultural ao tempo em que fazemos perceber que a ação antidialógica é uma ação
imobilizante.
Freire (2011, p. 111), alerta que “Não há, por outro lado, diálogo, se não há
humildade. A pronúncia do mundo, com que os homens o recriam permanentemente,
não pode ser um ato arrogante”, a humildade é pré-requisito para estar aberto a aprender
170
com o outro dialogando. É saber que a nossa essência nos convida a sermos mais, e para
sermos mais, precisamos saber que temos sempre a aprender com todos(as) que por nós
passarem, uma vez que “Somente o diálogo, que implica um pensar crítico, é capaz,
também, de gerá-lo” (FREIRE, 2011, p. 114).
É consenso entre os(as) autores(as) que integram este tópico sobre diálogo que a
educação problematizadora é a educação dialógica. Por isso, “A nossa convicção é a de
que, quanto mais cedo comece o diálogo, mais revolução será” (FREIRE, 2011, p. 172).
E trato aqui, da consciência do que de fato é diálogo, pois falar sem refletir é passar
tempo, enquanto que falar e ouvir é “O diálogo, que é sempre comunicação, funda a
colaboração” (FREIRE, 2011, p. 228). Colaboração vista como, colaborara + ação, ou
seja, colaborar com a ação.
De acordo com Cananéa (2015, p. 81), “A educação popular tem significativo
papel nessa construção indispensável dos diálogos entre os diferentes sujeitos sociais e
suas ações intervencionistas” Para ele, a educação popular é a base para um diálogo que
construa simbologias de cooperação, amorosidade, participação e liberdade.
Aparecendo então, a próxima categoria de estudo sob a qual me debruço, participação.
participação permanente seja uma forma de estar sendo do povo, ao lado de sua
responsabilidade social e política”. Para que assim seja, é preciso que essa participação
estimule processos dialógicos.
Sobre os tipos distintos de participação, Nogueira (2004) apud Machado (2009,
p.126-127) afirma:
quatro grandes modalidades de participação: a participação
assistencialista, a participação corporativa, a participação eleitoral e a
participação política.
De acordo com o autor, a participação assistencialista é aquela de
natureza filantrópica ou solidária. Trata-se de uma atividade
universal, encontrável em todas as épocas, que se mostra
particularmente relevante entre os segmentos sociais mais pobres e
marginalizados ou nos momentos históricos em que crescem a
miséria e a falta de proteção;
A participação corporativa dedica-se a defesa de interesses
específicos de determinados grupos sociais ou de categorias
profissionais. Trata-se de uma participação fechada em si, que se
objetiva sobretudo com um propósito particular, em maior ou menor
medida excludente, já que quem ganha são apenas os que pertencem
ao grupo ou associação, um exemplo é a atividade sindical;
A participação eleitoral é a que não visa apenas a defesa de interesses
particulares, interfere diretamente na governabilidade e tem efeitos
que dizem respeito a toda a coletividade. Nela há uma consciência
mais clara do poder político e das possibilidades de direcioná-lo ou
de reorganizá-lo, porém, tem seus limites e não necessariamente leva
a uma organização sustentada do Estado ou do poder político;
E a participação política inclui, complementa e supera tanto a
participação eleitoral, quanto a participação corporativa. Ela se
realiza tendo em vista a comunidade como um todo, a organização da
vida social em seu conjunto, ou seja, o Estado. Por intermédio da
participação política, indivíduos e grupos interferem para fazer com
que diferenças e interesses se explicitem num terreno comum
organizado por leis e instituições, bem como para fazer com que o
poder se democratize e seja compartilhado. Em vista disso, esse tipo
de participação consolida, protege e dinamiza a cidadania e todos os
variados direitos humanos.
Dessa forma, participar é também uma forma de ajudar a tomar conta, cuidar,
cobrar, pois a “Democracia é um estado de participação” (BORDENAVE, 1983, p. 08).
Dialogar com os conceitos de participação ao tempo em que busco compreendê-la no
Projeto, me faz concordar que “Através de sua permanente ação transformadora da
realidade objetiva, os homens, simultaneamente, criam a história e se fazem seres
histórico-sociais” (FREIRE, 2011, p. 128). Dentro da construção coletiva de nossa
história na sociedade vamos transformando a nossa realidade, por intermédio dos
desdobramentos e do resignificar de nosso pensar e agir. Por isso, “Hoje o processo de
empoderamento é visto como estreitamente relacionado ao de participação”
(ROMANO; ANTUNES, 2002, p. 31-32). Ambos, realizados dialogicamente.
Observo que “Neste novo enfoque a participação não mais consiste na recepção
passiva dos benefícios da sociedade, mas na intervenção ativa na sua construção, o que
é feito através da tomada de decisões e das atividades sociais em todos os níveis”
(BORDENAVE, 1983, p. 20). Dessa forma, “A compreensão das diferenças existentes
entre esses níveis de participação permite aprofundar a análise das formas mais
adequadas para organizar os processos participativos regionais” (BANDEIRA, 1999, p.
67). E estes níveis não devem ser classificados como corretos ou errôneos, mas em
sintonia com o objetivo da participação em cada esfera social.
Sobre os “Outros sentidos mais correntes de participação são a modernização, a
integração dos grupos ‘marginalizados’ e o mutirão” (VALLA, 1998, p. 09). Então, a
participação que entra em consonância com a educação popular, o diálogo e o
empoderamento crítico é a participação que estimula a autogestão, a reflexão e a
atuação conjunta, independente do setor social em que esta participação se consolide,
ela orienta a sua ação educativa para uma ação política, que vislumbra e luta por
mudança social, conforme Fávero (2006) propõe em perceber a pedagogia voltada para
a educação popular como uma pedagogia da participação popular.
Assim, a participação desejada e compreendida na Maré é esta em que todos(as)
os(as) marinheiros(as) estejam em atuação conjunta e que esta atuação participativa
tenha desdobramentos na sociedade que integram. E para que isto se efetive, é preciso
que a experiência participativa seja construída nadando em mares inversos a experiência
173
autoritária que estamos imersos nas relações sociais e que foi historicamente construída.
Até porque, a exemplo do ambiente escolar, mas que pode ser ilustrado em qualquer
outro ambiente social,
Empoderamento
Crítico
Diálogo Freireano
Participação
Popular
Estes adjetivos que compõem cada categoria situam a compreensão das mesmas
nesta pesquisa, que tem suas bases pautadas na educação popular. Uma vez que “A
participação está na ordem do dia e devido ao descontentamento geral com a
marginalização do povo dos assuntos que interessam a todos e que são decididos por
poucos” (BORDENAVE, 1983, p. 12). Em muitas situações do cotidiano, a participação
aparece mascarada, no entanto, é sabido que “Esta coparticipação dos sujeitos no ato de
175
Acrescento que as ONGs de cunho cidadã, como a Maré, também integram este
espaço que busca pelo exercício da participação para a cidadania. Outro ponto a ser
lembrado, que é elencado por Bandeira (1999, p. 32), “[...] é que os processos
participativos só se constituirão em práticas efetivamente democráticas se forem
abrangentes e possibilitarem a expressão dos interesses legítimos de todos os segmentos
afetados, direta ou indiretamente, pelas questões em discussão”. Assim, participar
democraticamente é pensar e agir em prol da coletividade, caso contrário, é imposição
velada.
Vale salientar que “Existem, também algumas premissas básicas relativas à
participação da sociedade civil das quais se destaca a participação da sociedade civil na
esfera pública - via conselhos e outras formas institucionalizadas” (GOHN, 2004, p.
24). A autora lembra que esta participação “Não é para substituir o Estado, mas para
lutar para que este cumpra seu dever: propiciar educação, saúde e demais serviços
sociais com QUALIDADE, e para todos” (GOHN, 2004, p.24). Assim sendo, “Essa
participação deve ser ativa e considerar a experiência de cada cidadão que nela se insere
e não tratá-los como corpos amorfos a serem enquadrados em estruturas prévias, num
modelo pragmatista” (Idem). Respeitando cada membro inserido com sua
particularidade em busca do que coletivamente os(as) mobiliza enquanto equipe e
enquanto desejo de mobilizar para além da equipe, mas na esfera social.
Bandeira (1999, p. 10-11) elenca algumas vertentes do argumento em favor da
participação, para o autor,
Deste feito, compreendo que todos(as) que integram a Maré estão participando
do que se estabelece aqui na linguagem escrita. “Participação para nós é mergulhar
fundo nas vivências, nas experiências da vida e no fazer cultural, de minha própria
experiência, na experiência com os outros e no retorno às minhas reflexões sobre o
179
Isto se dá, pelo fato de que “Simplesmente, não posso pensar pelos outros, nem
para os outros, nem sem os outros” (FREIRE, 2011, p. 140-141). É preciso
compreender que o mergulho é coletivo para poder avançar no mar. E para que a
participação seja ativa, preciso perceber que “Participação é uma categoria fundamental
para um processo de fortalecimento de identidade. É uma necessidade humana
universal, as pessoas participam em sua família, no trabalho, etc.” (CANANÉA, 2016,
p. 200-203). No Projeto Compartilhando Saberes os(as) marinheiros(as) participam por
opção, escolha, de forma voluntária, então, se não há laços consanguíneos nem viés
financeiro que os fazem participar, necessário se faz que estejam claros os laços que os
unem, para que possam ser constantemente fortalecidos.
Percebo que “Há uma necessidade não satisfeita de saber em que consiste a
participação na construção de uma sociedade solidária” (BORDENAVE, 1983, p. 09),
no entanto, não consiste em união com unanimidade de opiniões, nem na parceria onde
uns falam e outros escutam, uma vez que se evolui enquanto se aprende a fazer fazendo,
a falar falando, a trabalhar trabalhando, a teorizar teorizando. Antes de começar este
percurso de escrita eu não sabia onde ele chegaria, nem por que mares trilharia, na carta
náutica havia o lugar, mas não as nuances do percurso, elas foram sendo descobertas
enquanto eu nadava com os(as) marinheiros(as). Sem ter começado, saltado da prancha,
dado a primeira braçada, participado, dialogado, tentado compreender os mapas, não
teria nadado até aqui.
Por isso que “Investigar o tema gerador é investigar, repitamos, o pensar dos
homens referido à realidade, é investigar seu atuar sobre a realidade, que é a sua práxis”
(FREIRE, 2011, p. 136). O Projeto Compartilhando Saberes é parte da minha realidade.
E de todos(as) que o fazem. Assim, “O entusiasmo pela participação vem das
contribuições positivas que ela oferece” (BORDENAVE, 1983, p. 12). Quando
democrática e com viés de busca de equidade, a participação atinge níveis positivos de
integração, coletividade, partilha, amorosidade. “Entretanto, se não houver sentido nas
formas de participação na área da educação de emancipação dos cidadãos que objetivem
mudanças substantivas com projetos”, adverte Gohn (2006, p. 36), ao que eu acrescento
que em todas as áreas do conhecimento e de atuação dos seres humanos. Continua a
autora: “e não instrumentais, corre-se o risco de se ter espaços mais autoritários do que
já eram quando centralizados”, até porque, diante dos níveis diferentes de participação
elencados pelos autores a seguir, há os que vislumbram exatamente a manutenção do
autoritarismo.
Uma vez que “O futuro ideal do homem só se dará numa sociedade
participativa” (BORDENAVE, 1983, p. 17). Agir com individualidade e individualismo
não conduz à mudança social, e por isso, não aglutina processos reflexivos. Assim,
subscrevo que “Dessa forma, não há como surpreender os temas históricos isolados,
soltos, desconectados, coisificados, parados, mas em relação dialética com outros, seus
opostos. Como também não há outro lugar para encontrá-los que não seja nas relações
homens-mundo” (FREIRE, 2011, p. 129), e nessas relações se estabelecem as
aprendizagens, por isso que “O conjunto dos temas em interação constitui o “universo
temático” da época” (FREIRE, 2011, p. 129). Nesta época, o universo temático da Maré
181
CAPÍTULO 5:
É fato que, se daqui a algum tempo juntos formos debater sobre os conceitos por
ora elaborados, estes mudem, exatamente por serem o registro das reflexões do aqui e
agora, que retratam a experiência dos que fazem a Maré na atualidade. Esta experiência
é mutável, com o tempo, as vivências, as aprendizagens e o processo reflexivo de
conscientização. Por isso, concordo que “A metodologia que defendemos exige, por isto
mesmo, que, no fluxo da investigação, se façam ambos sujeitos da mesma-os
investigadores e os homens do povo que, aparentemente, seriam seu objeto” (FREIRE,
2011, p. 137). Aqui, não há objetos, por compreensão de que não há seres estáveis, fixos
e imudáveis, assim, há seres humanos em coparticipação que juntos constroem as
compreensões.
Definir a ONG é uma forma de refletir sobre estar nela, e sobre o que ela é para
cada integrante e para o coletivo, “Colocar este mundo humano como problema para os
homens significa propor-lhes que “admirem”, criticamente, numa operação totalizada,
sua ação e a de outros sobre o mundo” (FREIRE, 1983, p. 57). Em busca de definições
que partam dos (as) marinheiros (as), há também, o poema da marinheira Corais (2016),
intitulado Navegar, que integra o texto dramatúrgico Encantos do Mar, nele, a
marinheira demonstra a sua sensibilidade ao descrever mediante a poesia, a sua visão
sobre a Maré Produções Artísticas e Educacionais.
66%
Participação em Formação
Continuada
Atualização em novas áreas de conhecimento
Treinamento/capacitação
Aperfeiçoamento na sua área de conhecimento
10%
14%
76%
189
outras por subgrupos, de acordo com o interesse e assunto. Dessa forma, é comum haver
encontro, reunião, atividade agendada para a manhã e a noite do sábado da oficina,
embora a oficina ocorra das 15h às 19h mensalmente.
Para Golfinho (2017), “Esse projeto é importantíssimo, porque ele oportuniza
aos membros da Maré a troca de conhecimentos teóricos e práticos o que vem
engrandecer a nossa formação, em diferentes áreas e assuntos”, o marinheiro percebe a
práxis acontecer, assim como Concha (2017), quando afirma que o projeto é “Um
momento de trocas de experiências e conhecimentos, de fazeres que proporcionem
novas ideias e o repensar sobre nossa prática pedagógica. Também proporciona
refletirmos de forma criativa práticas do cotidiano”.
Percebo afinidade com o empoderamento crítico na afirmativa de Golfinho
(2019), quando alega que a partir do Projeto Compartilhando Saberes compreende a
educação popular como “Uma pedagogia que prioriza o meu sentir, pensar e agir,
individual e coletivamente”. Marlim (2019) diz que, entende a educação popular no
Projeto Compartilhando Saberes “Como a educação para, com e pelas populações,
através de suas diversas formas de expressão e de representação perante a sociedade e o
mundo”. Enquanto que Baleia (2019) afirma que a educação popular “É uma linguagem
ampla de cultura e de formação, de forma que se luta pela igualdade combate-se o
preconceito, busca investir na coletividade e desenvolve a percepção”. Observo que
estes marcos conceituais sobre a educação popular se estabelecem pautados na vivência
que o Projeto Compartilhando Saberes oportuniza, uma vez que muitos(as) dos(as)
marinheiros(as) não estão relacionados com outras esferas, além da Maré, que debatam
sobre a educação tida como popular. Pelo contrário, atuam em esferas de cunho
positivista, onde a produtividade e o capitalismo estão presentes e são estimulados.
Peixe (2017) fala dos conflitos e dúvidas ao pontuar que o projeto é “Onde os
membros compartilham seus saberes, experiências e projetos. Tiram suas dúvidas e
trocam suas dúvidas e lamentos, somando para fazer o trabalho melhor”. Essa posição
também é situada por Praia (2017), ao redigir que o projeto é “Um momento de reflexão
de troca de experiência onde o outro é o ser importante e os demais, no caso nós,
sentimos o quanto é importante estar em sintonia com as ideias da ONG Maré”. E
complementa que “Mesmo que não concordamos com 100% das discussões, nos
sentimos a vontade de expor nossa opinião”. Assim vão surgindo as vontades e contra
vontades dos que integram a Maré. Abaixo, registros das oficinas de Pedagogia Espírita,
191
Oficinas teórico-práticas
Educacionais, pedagógicas, didático e interdisciplinares
Intercessão de ações
Oficinas dialogadas
Compartilhamento de saberes
21% 17%
10%
21%
31%
Praia (2019), Cavalo Marinho (2019) e Polvo (2019) dizem que o Projeto realiza
ações de autoconhecimento onde os próprios participantes ministram as oficinas com
rodas de conversas e avaliação com experiências que trazem aprendizado, troca de
vivência coletiva, palestras, rodas de conversas, brincadeiras e troca de saberes.
Enquanto que Estrela do Mar (2019) afirma que há “Troca de experiências”. Em
sintonia com Barco (2019) que acrescenta que esta troca de experiências ocorre com
alegria. Em resumo, Brisa (2019), utilizando sinônimos explica que no projeto “Todo
mês tem uma professora diferente para dar aula sobre muitas coisas boas”. Assim,
percebo que, “A problematização é a tal ponto dialética, que seria impossível alguém
estabelecê-la sem comprometer-se com seu processo” (FREIRE, 1983, p. 56). Assim, ao
tempo em que questiono sobre o projeto com os membros, vou refletindo e fazendo
refletir.
Como o problema de pesquisa visa descobrir em que medida o Compartilhando
Saberes, realizado à luz da educação popular, desenvolve o empoderamento crítico nos
membros da Maré, organizei os percursos que comprovem ou refutem esse problema de
pesquisa como itinerário metodológico. Na avaliação trimestral ocorrida em julho de
2018, refletimos sobre como cada componente pode contribuir para resolver o problema
de pouco envolvimento dos membros nos projetos da Maré. Após debate oral, sete
escreveram que se percebem envolvidos(as), entre eles Golfinho (2018) que escreveu
194
“Eu compreendo que participo ativamente das atividades”. Percebo que a participação
que Golfinho afirma se estabelece na prática, uma vez que o mesmo atua de forma
direta em todos os 14 projetos da Maré. Já ministrou oficinas de Planejamento
Estratégico, Escrita Acadêmica e Currículo Lattes no Projeto Compartilhando Saberes;
integrou o júri nos Projetos Click Maré, Maré Postal, Maré de Poemas e Maré em Telas;
é autor em todos os 24 livros do Projeto Novos Olhares, além de organizador e
integrante do conselho editorial; participou de todas as edições do Projeto Caminhos do
Saber e Onda de Estudos. De fato, quando o marinheiro reconhece que sua participação
é ativa, ele demonstra que se encontra empoderado criticamente, pois consegue se
reconhecer como integrante atuante e como ser que muda e faz mudar o seu contexto
social.
Outros seis marinheiros(as) afirmam que podem ampliar esse envolvimento,
ofertando sugestões, entre elas, o autoenvolvimento. Como exemplo, Estrela do Mar
(2018) diz “Acho que começando por mim. Passar a me envolver mais para que os
outros membros vejam e tenham a mesma iniciativa”. Em contradição, Estrela do Mar
(2018) diz que “Sentindo-se envolvida a participar dos projetos ou ainda não sei como
contribuir para essa dinâmica”, ao tempo em que menciona se sentir envolvida a
participar, diz não saber como contribuir. O termo participação aparece em todas as
respostas escritas, o termo empoderamento aparece em quatorze falas, o termo diálogo
aparece em treze falas e em oito respostas escritas.
Ostra (2018) aponta que “Não creio que possa influenciar no envolvimento do
outro, apenas posso me envolver e convidá-lo para. Cada um dá o que tem, quando pode
e como quer. Aceitar”. Em consonância com Concha (2018) que acrescenta “Acredito
que o envolvimento dos integrantes da Maré é uma motivação pessoal e de se sentir
pertencente e ativo (a) ao/no movimento”. Neste encontro, algumas sugestões para
ampliar o envolvimento foram listadas, abaixo, elaborei um quadro ilustrativo em que
elas aparecem distribuídas visualmente.
17%
38%
28%
“Bom, pois possui uma boa teoria, possui uma dinâmica prática sobre
essa teoria e um debate sobre o aprendizado da oficina” (POLVO,
2019).
ano, sendo que 52% dos(as) membros estão na Maré entre um e cinco anos; 24% estão
entre seis e dez anos na Maré; 21% participam entre onze e dezessete anos; e, 3% são
membros fundadores(as) da Maré. Compreendo o longo tempo de participação como
um dos fatores da ampliação de laços ao longo dos dezessete anos de existência da
Maré.
21%
24% 52%
aproveita em outras esferas sociais; 10% apontaram que na ONG aprendem sempre
mais e melhor e, 7% disseram que a contribuição do Projeto na formação acadêmica e
profissional é a ajuda coletiva.
28%
41%
14%
10% 7%
10% 7%
7% 10%
14%
31%
21%
(2019) complementa “Eu entendo que com as oficinas há uma melhor desenvoltura dos
professores em sala de aula e lá nós aprendemos juntos compartilhando o que sabemos”.
São compreensões complementares de marinheiros(as) sobre a educação popular no
projeto.
Para Vasconcelos (2011, p. 34), a educação popular é, portanto, uma maneira de
condução do trabalho educativo de forma comprometida e participativa, onde “[...]
orientado pela perspectiva de realização de todos os direitos do povo, ou seja, dos
excluídos e que vivem ou viverão do trabalho, bem como dos seus parceiros e aliados”,
assim, ofertando, como sugere Freire (2011), a oprimidos e opressores a possibilidade
de libertação mútua, sendo está iniciativa oriunda de oprimidos para com todos(as).
Observando esse contexto, Lopes da Silva e Tranquelino da Silva (2017, p. 145),
percebem a educação popular “[...] como sendo de fundamental importância; ela é um
instrumento de valorização da diversidade e dos saberes populares numa perspectiva de
emancipação dos sujeitos, a qual contribui para o protagonismo”.
Assim, em busca de aprofundar a reflexão do grupo sobre o conceito de
educação popular, uma oficina foi realizada pós-respostas do quadro anterior. Nela, os
conceitos anteriormente apontados pelos(as) marinheiros(as) foram debatidos
coletivamente, as categorias oriundas deles foram reafirmadas, e um conceito coletivo
surgiu.
Para os integrantes da ONG Maré, com síntese realizada coletivamente em
outubro de 2019 mediante as definições elaboradas previamente de maneira individual,
educação popular é:
4%
2% 7%
6%
2% 19%
2% 4%
2%
6%
17%
19% 4%
6%
Observo que catorze categorias são apontadas como integrantes das ações que
constituem o projeto, dentre elas, empoderamento ocupa 19%, seguida de diálogo com
19% e participação com 17%. Para os(as) marinheiros(as), estas categorias constituem o
projeto, nele, habitam práticas e teorias condizentes com as categorias apontadas. No
entanto, “É missão da educação popular oportunizar as pessoas a se assumirem como
sujeitos da história, com capacidade de decidir e irromper, se responsabilizando pelo
mundo, apesar dos condicionamentos” (CANANÉA, 2016, p. 272); ciente disto, não
posso me furtar ao registro de que nas respostas de dois marinheiros(as) não
encontramos categorias condizentes com a educação popular. Numa, a resposta foi que
se trata de uma pergunta muito profunda, e por isso, a mesma não sabe responder,
noutra, a questão não foi respondida por escrito, mas, na ocasião de preenchimento do
questionário, ela afirmou que é uma pergunta muito difícil de resposta.
205
Significa afirmar que ambas não estão cientes das categorias que integram a
educação popular, por isso, não as souberam apontar nem neste projeto, nem em
nenhum outro patamar. Contradição passível de aprofundamento em debate futuro com
os(as) marinheiros(as), pois, “Em pesquisas de educação com perspectiva popular,
consagra-se a discussão dos próprios critérios de verdade a serem utilizados como
referendo ao conhecimento produzido” (MELO NETO, 2005, p. 56), se duas integrantes
não conhecem as categorias da educação popular, como afirmar ou refutar a presença
das estudadas aqui?
Por isso, concordo que “De pouco adianta proclamar-se, alto e bom som, que se
abraça tal horizonte, quando os pés sistematicamente pisam trilhas que acenam para um
rumo inverso ao declarado” (CANANÉA, 2016, p. 168). A compreensão do que
aprofundamos neste estudo precisa permear o universo de todos(as) que integram a
Maré e participam dialogando no Projeto Compartilhando Saberes. Caso contrário, o
empoderamento oportunizado não é crítico. “Não basta proclamar a vontade de fazer
uma educação participativa, dialogada e emancipadora. A dificuldade maior é de se
saber como fazê-la, porquanto há muitos empecilhos. O poder do educador inibe a voz
do educando” (VASCONCELOS, 2011, p. 29-30). Assim, sigo junto aos que fazem a
ONG com novos diálogos, novas compreensões, novos envolvimentos e novas sínteses.
Para que essas posturas sejam coerentes com a educação popular, necessário se
faz que a compreendam como esse processo formativo permanente. O desejo é que
todos(as) que integram a Maré e o Projeto Compartilhando Saberes seja “Um ser
humano que se conhece mais, que se reconhece histórico e social e que percebe as
condições opressoras do contexto em que está inserido tem maiores possibilidades de
libertar-se dessa opressão” (VASCONCELOS; OLIVEIRA, 2009, p. 140). Por vezes,
me é oportuno registrar, essas constatações me desviam do distanciamento da pesquisa
enquanto pesquisadora, pois, são contradições que aparecem de forma inesperada em
territórios que julgamos sólidos, no entanto, acredito que surgem para que a reflexão
206
7%
28%
38%
10%
17%
Acho que uma pessoa quando quer algo tem que saber querer para
poder fazer (ESTRELA DO MAR, 2019).
Sim. Com algumas oficinas aprendi a não ligar com o que as pessoas
falam de mim (ESTRELA DO MAR, 2019).
Após debate oral, realizamos a escrita individual de cada membro sobre a sua
definição, onde pude perceber que todas as respostas se entrelaçam e complementam,
pois pontuam o diálogo como uma ação horizontal que visa a ação-reflexão, realizada
por intermédio do falar e ouvir, como por exemplo na definição de Ostra (2019) que
aponta o diálogo como “Dizer e ouvir algo”. Ao tempo em que Jangada (2019) pontua
que diálogo é “Um feedback de ideias concordantes ou não. Só existe diálogo quando
existe respeito”, em concordância com Peixe ao pontuar que diálogo é o “Ato de
conversar, compartilhar ideias, saber ouvir e falar”, complementada por Cavalo
214
Marinho (2019) que grifou diálogo como “A troca de ideias e interação entre
indivíduos”. Todos(as) os(as) marinheiros(as) apontam para relações dialógicas como as
que conduzem a mudança, respeito e reflexão crítica.
As afirmativas acima são reforçadas no conceito elaborado por Barco (2019), ao
pontuar que diálogo é “Conversar, interagir, dar opinião, falar, opinar”, e de Arraia
(2019) onde assevera que “Diálogo é troca de saberes”. Ao tempo em que Estrela do
Mar (2019) afirma que “Diálogo é respeito ao próximo, amor e carinho”. Sobre o
conflito de ideias que pode haver durante um diálogo, destaco as respostas a seguir.
Com essa e demais ações coletivas, observo que atuo nesta pesquisa
“Reiterando, os objetivos na Educação Popular são construídos com os participantes e
não para eles, conformando-se em um processo permanente de reflexão crítica da
realidade” (VASCONCELOS; OLIVEIRA, 2009, p. 143). Isto porque, concordo que “O
diálogo é o encontro amoroso dos homens que, mediatizados pelo mundo, o
“pronunciam”, isto é, o transformam, e, transformando-o, o humanizam para a
humanização de todos” (FREIRE, 1983, p. 28). E ao humanizarmo-nos desenvolvemos
o respeito igualitário das diferenças.
48%
35%
216
Nesta etapa individual, após debate, observo respostas com sentidos parecidos,
mas também, outras com significados distintos. Ostra (2019) diz que participação é
“Ação com pares”, em sintonia com Jangada (2019) ao afirmar que participação é
“Estar junto dialogando e contribuir no coletivo”. Complementado por Peixe que
escreveu como participação “A ação de agir, atuar sobre algo”. Corroborando Cavalo
Marinho que afirma por participação “O ato de estar presente, cooperando ativamente
em uma situação”, assim como Barco (2019) que pontua “Participação: interação entre
pessoas, agir, meter-se, cooperar”. Na perspectiva da mudança individual, coletiva e
posteriormente, visando a transformação social. São significados complementares para a
categoria debatida. Assim como os elencados a seguir:
No entanto, em sentido diferente, que soa como fazer parte sem necessariamente
atuar em busca de modificação, Arraia (2019) grifou por participação “Atividade de
atuação”, enquanto Estrela do Mar (2019) aponta como sinônimo de participação “A
presença de alguma pessoa em algum lugar”. E Polvo (2019) diz que participação é “O
ato de participar de alguma ação”. Assim, compreendo que “Uma unidade epocal se
caracteriza pelo conjunto de ideias, de concepções, esperanças, dúvidas, valores,
desafios, em interação dialética com seus contrários, buscando plenitude” (FREIRE,
2011, p. 128).
As respostas acima sobre participação revelam que vêem essa categoria tal qual
em dicionários, ou seja, senso comum, nenhum associa a participação a mudança ou
transformação social, não associam a lutas de classes, não associam a movimento de
217
luta ou resistência. Não há uma conexão com educação popular, mas participação no
sentido de simplesmente agir para algum fim. Neste sentido, de não se trata de educação
popular. Na verdade, a categoria foge a luz dessa teoria, que, como foi visto, trata de
participação como engajamento político e social. Portanto, a perspectiva dos
entrevistados difere da perspectiva freireana.
Esta interação dialética entre os contrários, conduziu o grupo, após novo debate,
a elaborar um conceito coletivo de participação.
Deste feito, para os marinheiros(as) da Maré, em outubro de 2019, participação
foi definida como:
7% 3%
90%
Partindo deste pré-requisito, observo que “Pois bem, se a educação é esta relação
entre sujeitos cognoscentes, mediatizados pelo objeto cognoscível, na qual o educador
reconstrói, permanentemente, seu ato de conhecer ela é necessariamente, em
consequência, um ‘quefazer’ problematizador” (FREIRE, 1983, p. 56). E diante deste
‘quefazer’ problematizador, Onda, reconstruindo as suas aprendizagens, realizou em
setembro de 2019, na escola municipal em que atua como arte educadora, a oficina
Contação de Histórias. Nela, as aprendizagens se fundiram, e a marinheira se permitiu
realizar a ação, conforme imagens a seguir, com contação de quatro histórias até o final
do ano letivo de 2019 em parceria com o Projeto de Letramento numa escola municipal,
localizada no bairro do Róger, João Pessoa/PB.
A mesma técnica foi mais uma vez ressignificada e utilizada no projeto sobre
Jackson do Pandeiro junto aos estudantes da Educação de Jovens e Adultos – EJA em
uma das escolas em que Âncora ministra aula de Arte, no ano letivo de 2019, conforme
imagens a seguir no projeto cultural sobre Jackson do Pandeiro, em homenagem ao seu
centenário de nascimento, realizado pela Prefeitura Municipal de João Pessoa, por
intermédio da Secretaria de Educação e Cultura em todas as escolas municipais da rede
de ensino.
Imagem nº 60: Vivência Ressignificada em outra escola
227
A partir desta experiência, narrei minha prática na escola em que trabalho, com a
maquiagem artística sobre a temática circo, em homenagem ao artista circense Dadá
Venceslau, por ocasião do Projeto Artes Visuais em Cena, desenvolvido no ano letivo
de 2018. Desta experiência, nasceram os artigos Artes Visuais em Cena: motivações
iniciais, e Artes Visuais em Cena: percursos metodológicos, ambos publicados na
228
condição para que um ser possa assumir um ato comprometido está em ser capaz de agir
e refletir”. Dessa forma, percebo que as ações aqui narradas podem ser compreendidas
como atos comprometidos e por isso, empoderados criticamente.
Assim, “A pesquisa qualitativa não está limitada aos tipos de dados coletados ou
aos instrumentos implementados. Mas, visa a análise de dados tendo em vista a
interpretação da realidade social” (RICHARDSON, 2015, p. 194). Interpretar esses
dados oriundos da realidade social de cada marinheiro(a) como desdobramento das
experiências vivenciadas no Projeto Compartilhando Saberes faz evidenciar o
empoderamento crítico presente.
Nesta intersecção de aprendizagens, os saberes adquiridos em um projeto da
Maré perpassam os outros. Essa observação se originou em reflexão da marinheira
Jangada (2019), ao pontuar em rede social da ONG sobre as imagens que ilustram as
capas de três livros do Projeto Novos Olhares serem frutos de resultados e etapas das
oficinas do projeto Compartilhando Saberes. A capa do livro Educação e Suas
Interfaces (2012) é fruto da oficina Pintura em Tela, ministrada em parceria por Sereia e
Cavalo Marinho. Tal tela foi elaborada por Golfinho e tem como título “Treme Terra”.
A oficina Criando histórias com Pop-Up, ministrada por Onda (2019), em março
de 2019, propôs técnicas de pop-up para produção de livreto de forma prática e criativa,
nela, os livretos foram confeccionados e a arte da dobradura de papel esteve presente
aperfeiçoando a técnica em artes visuais do grupo que desenvolveu Pop-Up e origami
criando histórias.
Imagem nº 67: Oficina “Criando histórias com Pop-Up”
afirma: “já estou na produção e montagem do espetáculo que vou editar a trilha sonora
de acordo com o que aprendi em sua oficina”. Chama-se: "Aula de Carnaval".
Compreendo que “A prática, por sua vez, ganha uma significação nova ao ser iluminada
por uma teoria da qual o sujeito que atua se apropria lucidamente” (FREIRE, 1983, p.
26). Esta prática também auxiliou Corais (2019) na edição da trilha sonora de seus
espetáculos cênicos enquanto dramaturga, que realiza semestralmente na Escola de Arte
em que ministra o curso.
Freire (1983, p. 31) afirma que “O saber começa com a consciência do saber
pouco (enquanto alguém atua). Pois sabendo que sabe pouco é que uma pessoa se
prepara para saber mais”. E de forma sábia prossegue, “Se tivéssemos um saber
absoluto, já não poderíamos continuar sabendo, pois que êste seria um saber que não
estaria sendo” (FREIRE, 1983, p. 31); ciente disso que marinheiros(as) se encontram de
forma presencial mensalmente no projeto Compartilhando Saberes, em busca de
saberem e serem mais. “Acredito que a formação continuada do professor deve ser
concebida como reflexão, pesquisa, ação, descoberta, organização, fundamentação,
revisão e construção teórica” (GADOTTI, 2011, p. 41).
Dentre os espetáculos cênicos dirigidos por Corais, que tiveram a trilha sonora
editada em sintonia com a aprendizagem da oficina Edição de Áudios, destaco a
adaptação de Alice no País das Maravilhas em junho de 2017 e Encantos do Mar,
encenado em maio, em ambos, Sereia interpretou compondo o elenco.
1983, p. 57). Este retorno ocorre inovador de significados, por isso, atua com criticidade
e problematiza ofertando a nova realidade outra ressignificação.
Esta ressignificação ocorreu com estudantes da Educação de Jovens e Adultos –
EJA numa escola municipal da cidade de João Pessoa.
14%
3%
83%
Gráfico nº 21: Recursos pedagógicos utilizados nas aulas a partir das oficinas do
Projeto
38%
62%
Os jogos elaborados são trilha, memória, dominó, dama e quebra cabeça. “Como
estamos vendo, a educação, enquanto uma situação gnosiológica que solidariza
educador e educando como sujeitos cognoscentes, abre a êstes múltiplos e
indispensáveis caminhos para sua afirmação como sêres da práxis” (FREIRE, 1983, p.
58). Dessa forma, além de recriar os recursos pedagógicos, há também o envolvimento
dos estudantes neste feito, isso demonstra a ressignificação das ações podendo ser
traduzida em uma das demonstrações de empoderamento crítico.
Tais confecções foram inspiradas na oficina de novembro de 2015 ministrada
por Corais (2019). Denominada Aprendizagem Significativa, a oficina propôs a junção
da Arte e da Ciência como conhecimentos complementares por intermédio das
invenções de Leonardo da Vinci. Nela, confeccionamos jogos didáticos utilizando
materiais recicláveis, conforme realizado por outra marinheira na recriação
desenvolvida na escola em que atua.
É sabido que, para além dos materiais pedagógicos e das ações práticas, as
oficinas também carregam saberes e conhecimentos específicos, que são aprendidos
mediante a realização. “Se o objeto do pensamento fôsse um puro comunicado, não
seria um significado significante mediador dos sujeitos” (FREIRE, 1983, p. 45), mas
quando se percebe o que e como ocorre à aprendizagem, se aprende mais, possibilitando
a aprendizagem se refazer em novo aprender, cíclico, mutável, crescente. Estes saberes
e conhecimentos presentes nas oficinas do Projeto Compartilhando Saberes foram
251
elencados por marinheiros(as), sendo que 48% afirmam que aprendem sobre teorias da
educação e conhecimento científico; 38% pontuam que aprendem sobre jogos e saberes
do cotidiano, enquanto que 14% apontam aprenderem sobre fundamentos e leis da
educação.
14%
48%
38%
4%
10%
86%
Uma marinheira respondeu que não sabe o que é perspectiva metodológica, por
isso, não sabe como avaliar. Tal marinheira não está imersa no campo da educação, por
isso, esta questão não se faz familiar ao vocabulário da mesma. Diante desta resposta,
compreendo que “Daí a necessidade que tem de ampliar o diálogo – como uma
fundamental estrutura do conhecimento – a outros sujeitos cognoscentes” (FREIRE,
1983, p. 53). Estar aberta ao inesperado foi advertência me dada na qualificação desta
escrita, este é um fato inesperado, e a solução viável reside em proferir discurso em que
todos(as) estejam compreendendo, para que assim, aprendam e apreendam, ajam e
reflitam.
As respostas que apontam a metodologia como excelente e boa atendem 87%
dos(as) membros, dentre estas, destacamos as elencadas a seguir, num primeiro bloco,
por situarem semelhanças da metodologia realizada com os fundamentos freireanos que
situam a dialogicidade, a transformação colaborativa, o respeito aos múltiplos
conhecimentos, provocações para pensar e agir, e, trabalham numa perspectiva de
empoderamento crítico.
Golfinho (2019) afirma que, “Tudo que é construído coletivamente precisa ser
regado a todo o instante. O principal desafio é “crescer” coletivamente. Um acreditar no
outro como forma de se fortalecer individualmente”. Este desafio apresentado pelo
marinheiro aponta para a necessidade de atuação coletiva consciente. “O desafio é a
superação da atitude antidialógica, a necessária supervisão, também dialogal, na
perspectiva de não sucumbir aos perigos do não diálogo. Assim, parece ser a construção
de uma democracia por práticas que despontam para a liberdade” (MELO NETO, 2013,
p. 15-16). Apenas práticas conscientes e críticas conduzem à liberdade. “A educação
tem a capacidade de potencializar ou não os demais condicionantes” (CANANÉA,
2016, p. 268). Este potencializar é nosso desejo e empenho. Sereia (2019) aponta que,
A dificuldade apontada por Sereia nos remete a afirmativa de que “Quanto mais
alguém, por meio da ação e da reflexão, se aproxima da “razão”, do “logos” da
realidade, objetiva e desafiadora, tanto mais, introduzindo-se nela, alcançará o seu
desvelamento” (FREIRE, 1983, p. 20), e este desvelamento da realidade é mais
aprofundado quando o nado é coletivo, até porque, se cada marinheiro(a) nada em
direção independente, não evolui o grupo, apenas, as vaidades individuais que movem
um(a) ou outro(a). Desapegar delas é fundamental para planejar nados sincronizados.
Não no sentido de imitação irracional ou cópia sem criatividade, mas nadar junto, na
256
mesma direção, admitindo, e, sobretudo, respeitando, que cada um(a) nade a sua
maneira, em seu tempo, no entanto, todos(as) rumo a conscientização crítica, àquela que
Freire chama de empoderamento de classe social, jamais, rumo ao reflexo oriundo do
espelho da vaidade. Este, além de afogar, corrompe e algema.
Sobre essa necessidade da compreensão de que o coletivo se faz mais forte
quando em união, Costa (2017, p. 219-220) diz que “O amadurecimento das relações
entre os membros em formação facilita o debate de problemas afins, projeção de
possíveis saídas, bem como a indicação e responsabilização das disposições necessárias
à resolução dos mesmos”, dessa forma, compreendo que esta fragilidade necessita ser
superada entre os(as) marinheiros(as) que integram o projeto. Igualmente, Barco (2019)
aponta como desafio se organizar em sua agenda para comparecer as oficinas. Bem
como, falar para pessoas de formação e culturas diferentes. Já Ostra (2019) diz que o
desafio do Projeto Compartilhando Saberes é a falta de participação e estímulo de
alguns membros diante de não termos verba para custear o projeto.
Brisa (2019) aponta, sobre os desafios que percebe, que “Observei que o número
de pessoas está diminuindo, pois muitas pessoas estão faltando as oficinas, acho que
este é um desafio”. O mesmo desafio foi apontado por Praia (2019) quando traduz que o
desafio é “A comunicação e falta de compromisso”, arrematado por Arraia (2019) ao
pontuar que o desafio é “Manter viva a expectativa dos saberes e troca coletiva, manter
viva também o pulsar da nossa eterna coletividade e querer aprender cada vez mais”. Ou
seja, retroalimentar o desejo de aprender, reaprender e partilhar o que se aprende.
Em sintonia, Concha (2019) afirma que a dificuldade do projeto é “Envolver o
grupo em sua curiosidade e interesse, fazendo-o participar ativamente da prática”. Ao
tempo em que Marlin (2019) diz que vê como dificuldade “Fazer com que os seus
integrantes ampliem a percepção sobre o universo a sua volta, para que possam explorar
as diversas possibilidades e suas potencialidades que podem se encontram inertes”. Em
relação dialética, compreendi por intermédio da pesquisa que, “Desta maneira, as
relações do homem, ou dos homens, com o mundo, sua ação, sua percepção, se dão
também em níveis diferentes” (FREIRE, 1983, p. 25), por isso a atuação em grupo
fortalece processos de empoderamento crítico, pois como ações processuais, ocorrem de
forma distinta entre os(as) marinheiros(as), mas juntos(as) o percurso é melhor trilhado.
Pois, para empoderar criticamente é necessário ter consciência de que este
empoderamento precisa ser de todos(as), a partir do individual, perpassando o coletivo,
257
empoderamento e que além das atividades e ações da Ong possam demonstrar também
no seu dia a dia profissional, pessoal e coletivo”. Ou seja, que possam realizar a
inferência dessa aprendizagem alcançando com maior ênfase além do campo pessoal,
também o profissional e o coletivo. “Por isso, precisa estar atenta e fazer da contradição
seu principal objeto de reflexão e ação. O poder. Esta talvez seja a primeira das
contradições com que a educação popular precisa lidar” (CANANÉA, 2016, p. 268). E
o poder não é só algo negativo, seu perfil depende do uso que faz quem o detém. Se
alguém tem poder e no lugar de incluir, segrega, age na contra mão da educação
popular.
A práxis significando ação transformadora, conforme pontua Gadotti (1994, p.
03). Para o autor,
Corais (2019) aponta como desafios no projeto “Conseguir que seus membros
tenham a consciência de seus respectivos papéis na ONG Maré, assumindo uma postura
mais ativa diante das demandas de trabalho; Diminuir a rotatividade de seus membros”.
Sobre isto, Freire (1983, p. 21) coloca que “Este é, diga-se de passagem, um dos
equívocos de algumas tentativas no setor da organização e do desenvolvimento das
comunidades, como também da chamada “capacitação de líderes”. O equívoco de não
ver a realidade como totalidade”.
A consciência vista enquanto processo é atingível, mas é preciso que se busque
reflexão, autorreflexão, antes de desejar mudar o outro, é preciso que mudemos. Pois,
quando em atuação conjunta, quando mudo, faço mudar, mas, se permaneço inerte,
estimulo a inércia. “Com certa ousadia pode-se dizer que a questão central da educação
popular é a questão do poder, considerando que ele constitui os dois lados da mesma
moeda que traz impresso, de um lado, o brasão da opressão e, do outro, a força da
libertação” (CANANÉA, 2016, p. 269). O desejo perseguido com estudo, integração e
reflexão na Maré é operar rumo ao lado da libertação.
A marinheira Cavalo Marinho (2019) diz que o desafio do Projeto
Compartilhando Saberes é conseguir “Passar a importância dessas vivências”, em
harmonia com o que redigiu Polvo (2019) ao apontar que é preciso “Valorizar cada vez
259
Compreender esta presença no mundo, que pode ser ativa ou passiva, pode
transformar ou imobilizar, é compreender a necessidade de se posicionar buscando
superar as dificuldades, ao tempo em que, de forma ativa e transformadora, mobiliza.
Thiollent (2011, p. 109), diz que “Na pesquisa-ação a argumentação é realizada ao vivo,
sob forma de discussões e deliberações entre diferentes interlocutores reunidos em
seminários ou reuniões”, na Maré, além das oficinas mensais, as reuniões trimestrais
geram conteúdo para análise, uma vez que nelas produzimos documentos, elaboramos
ações e desenvolvemos debates. Tudo conduz a reflexão dialogada e participativa,
embora, nem sempre amistosa, mas sempre mutável. Por isso que “Em todos os casos, o
poder é uma capacidade ou força que realiza ou faz acontecer” (CANANÉA, 2016, p.
269). Na Maré o poder é compartilhado, por isso,
5.4 Na Rota Certa com a Educação Popular à luz das Categorias Participação,
Diálogo e Empoderamento Crítico
Conciliar ações práticas e teóricas que reflitam e conduzam ao alcance de todas essas
esferas é o desejo constante.
Assim, podemos inferir que embora em níveis diferentes porque diferentes são
os(as) marinheiros(as), o empoderamento crítico é estimulado no Projeto
Compartilhando Saberes. E a dialética habita exatamente nessas diferenças que ao
coexistirem, mudam e fazem mudar. Reafirmo que em estudos precedentes, autores(as)
situam o empoderamento em três níveis, tais quais: individual, coletivo e de classe
social. Aponto neste estudo o quarto nível, o empoderamento crítico, que reside entre o
empoderamento coletivo e o de classe social, como passagem, do empoderamento
individual e coletivo para o crítico em busca de atingir o de classe social.
Quando mergulhada neste estudo, “Ao fazê-lo, o que antes talvez não se
apresentasse a nós como teoria de nossa ação, se nos revela como tal. E, se a teoria e a
prática são algo indicotomizável, a reflexão sôbre a ação ressalta a teoria, sem a qual a
ação (ou a prática) não é verdadeira” (FREIRE, 1983, p. 26). Por isso, compreendo que
essa inserção teórica sobre a prática na Maré faz refletir e gerar novas práticas que
conduzem às novas reflexões teóricas, em movimento constante, quanto mais mergulho,
mais teoria e prática resignifico.
Cananéa (2016, p. 273) pontua que “A educação popular assume positivamente a
lógica da contradição. A contradição é a característica própria do pensamento dialético.
Pensamento que busca compreender a realidade em movimento”. Movimento este, que
me faz compreender hoje, nesta pesquisa, coisas que no futuro, receberão novas
compreensões, e isso não significa que entre um tempo e outro algo esteja errado e
depois certo, mas que, por estar em movimento contínuo, essa realidade muda. “Assim,
concebe que a vida, as relações e o próprio poder se constituem na dinâmica da
contradição” (CANANÉA, 2016, p. 273). Dialeticamente, se constituem as práticas de
diálogo, participação e empoderamento crítico no Projeto Compartilhando Saberes entre
os que fazem a Maré.
Percebo que “Na educação que seja verdadeiramente uma situação gnosiológica,
não há, para o educador, um momento em que, sozinho, em sua biblioteca ou em seu
laboratório, conheceu, e outro em que, afastado deste, simplesmente narra, disserta ou
expõe o que conheceu” (FREIRE, 1983, p. 53). De certo, sozinha, eu não teria
mergulhado nos mares da pesquisa qualitativa, nem tão pouco, surfado nos oceanos da
pesquisa-ação. De forma solitária não se dialoga, não há de haver participação, nem se
desenvolve processos de empoderamento crítico.
268
ÂNCORAS REFERENCIAIS
BARRETO, Raquel de Oliveira; PAULA, Ana Paula Paes de. Rio da Vida Coletivo:
empoderamento, emancipação e práxis. Rev. Adm. Pública — Rio de Janeiro
48(1):111-30, jan./fev. 2014. Disponível em: <
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S003476122014000100005&la
ng=pt>. Acesso em: 04 jan. 2018.
BARZANO, Marco Antonio Leandro. Uma ONG e Suas Práticas Pedagógicas: uma
contribuição para a educação não formal. Revista FACED, Salvador, n.15, jan./jul.
2009.
BERTH, Joice. Empoderamento: feminismos plurais. São Paulo: Editora Pólen, 2019.
BRUTSCHER, Volmir José: CRUZ, Pedro José Santos Carneiro; MELO NETO, José
Francisco de; TÓFOLI, Adriana Maria Macêdo de Almeida. (Orgs.). Anais do I
Encontro Paraibano de Experiências em Educação Popular, CEJUBE – 18 e 19 de
agosto de 2016. João Pessoa: Editora da UFPB, 2017.
CANANÉA, Fernando Antonio Abath Luna Cardoso. (Org.). Elos de Saberes. João
Pessoa: Imprell, 2014.
CANANÉA, Fernando Antonio Abath Luna Cardoso. (Org.). Embarca (ações) sobre
Arte e Educação . João Pessoa: Imprell, 2012.
CANANÉA, Fernando Antonio Abath Luna Cardoso. (Org.). Novos Olhares Artístico-
Culturais. João Pessoa: Imprell, 2011.
CANANÉA, Fernando Antonio Abath Luna Cardoso. (Org.). Teias Educacionais. João
Pessoa: Imprell, 2017.
Chambers, R. & Conway, G. Sustainable rural livelihoods: practical concepts for the
21st century. IDS Discussion Paper 296, Brighton: IDS, 1992, citado por DFID (1999,
2000).
273
FIORI, Ernani Maria. Prefácio: aprender a dizer a sua palavra. In: FREIRE, Paulo.
Pedagogia do Oprimido. 50. ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2011.
FLICK, Uwe. Introdução à Pesquisa Qualitativa. Tradução: Joice Elias Costa. 3. ed.
Porto Alegre: Artmed, 2009.
FLOREK, Cristiane Salete. Uma proposta didática para o ensino de leitura e de
escritade um gênero acadêmico multimodal. Veredas atemática – 2/2016, p. 239-256
– PPG Linguística/UFJF – Juiz de Fora - E-ISSN: 1982-2243. Disponível em<
https://www.academia.edu/31738261/A_didactic_proposal_for_teaching_reading_and_
writing_of_a_multimodal_academic_genre> Acesso em: 12 maio 2020.
FONSECA, Rosa Maria Godoy Serpa da; AMARAL, Marta Araújo. Reinterpretação da
Potencialidade das Oficinas de Trabalho Crítico-emancipatórias. Revista Bras.
Enferm, Brasília 2012 set-out; 65(5): 780-7. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-7167201200050001
0&lang=pt>. Acesso em: 06 jan. 2018.
FREIRE, Paulo. Educação como Prática da Liberdade. 15. ed. ver. atual. Rio de
Janeiro: Paz e Terra, 2013.
FREIRE, Paulo. Educação e Mudança. 12. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 50. ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Paz e
Terra, 2011.
FREIRE, Paulo; FAUNDEZ, Antonio. Por uma Pedagogia da Pergunta. Rio de
Janeiro: Paz e Terra, 1985.
GADOTTI, Moacir. Poder In: STRECK, Danilo R.; REDIN, Euclides; ZITKOSKI,
Jaime José (Orgs.). Dicionário Paulo Freire. 3. ed. Belo Horizonte: Autêntica Editora,
2016.
_____. Maria da Glória. Os sem-terra, ONGs e cidadania. 2 ed. São Paulo: Cortez,
2000.
GUARESCHI, Pedrinho. Empoderamento In: STRECK, Danilo R.; REDIN, Euclides;
ZITKOSKI, Jaime José (Orgs.). Dicionário Paulo Freire. 3. ed. Belo Horizonte:
Autêntica Editora, 2016.
HOUTART, François. A Mundialização das resistências e das lutas contra o
neoliberalismo. In: SEOANE, J.; TADDEI, E. (Orgs.). Resistências Mundiais de
Seattle a Porto Alegre. Petrópolis, RJ: Vozes, 2001.
LINS, Lúcio; VIEIRA, Adeildo. Memória das Águas, Perdidos Astrolábios, 1999.
MACHADO, Aline Maria Batista. Paulo Freire na História do Serviço Social Brasileiro:
releitura crítica da tradição profissional. In: Paulo Freire: culturas, ética e
subjetividades no ensinar e aprender. LOPES, Eduardo Jorge; AMORIM, Roseana
Maria. (Orgs.). João Pessoa: Editora do CCTA, 2018.
MACHADO, Aline Maria Batista; MACHADO, Charliton José dos Santos. Gênero,
Movimentos Sociais e ONGs: reflexões de pesquisas. João Pessoa: Editora
Universitária, 2012.
MAGALHÃES COSTA, Ana Maria Aranha; SILVA, Kátia Silveira da; BONAN
Cláudia. Organizações Não Governamentais na área da Saúde da Criança. Ciência e
Saúde Coletiva. Associação Brasileira de Saúde Coletiva. 16(7):3181-3196, 2011.
Disponível em: https://scielosp.org/pdf/csc/2011.v16n7/3181-3196 Acesso em: 03 mar.
2019.
MARÉ. Maré Produções Artísticas e Educacionais-ONG. Disponível em:<
http://mareproducoes.blogspot.com/ >. Acesso em: 05 abr. 2019.
MARQUES, Berenice Pinto. A Educação Popular para Todos de Uma Cidade
Educadora (Natal, Rio Grande do Norte 1957- 1964). 2015. 180 f. DISSERTAÇÃO
(Mestrado em Educação) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Rio Grande
do Norte, 2015. Disponível em <
https://repositorio.ufrn.br/jspui/bitstream/123456789/19841/1/BerenicePintoMarques_D
ISSERT.pdf> Acesso em: 20 jun. 2019.
MEIRELLES, Mauro; INGRASSIA, Thiago. Perspectivas Téoricas acerca do
Empoderamento de Classe Social. Revista Eletrônica “Fórum Paulo Freire”- Ano 2
Nº 2 Agosto 2006. Disponível em: <
https://s3.amazonaws.com/academia.edu.documents/30383408/mauro_meirelles_e_thia
go.pdf?response-content-
disposition=inline%3B%20filename%3DPerspectivas_teoricas_acerca_do_empodera.p
df&X-Amz-Algorithm=AWS4-HMAC-SHA256&X-Amz-
Credential=AKIAIWOWYYGZ2Y53UL3A%2F20190719%2Fus-east-
1%2Fs3%2Faws4_request&X-Amz-Date=20190719T145629Z&X-Amz-
Expires=3600&X-Amz-SignedHeaders=host&X-Amz-
Signature=9e338375be5b16a0ea6dbc6c8ad03fcef1427d15abf0a1bbbd3d379a571340e8
> .Acesso em: 17 jul. 2019.
MELO NETO, José Francisco de. Educação Popular: enunciados teóricos. João
Pessoa/PB: Editora do CCTA/UFPB, 2004.
MELO NETO, José Francisco de. Educação Popular: enunciados teóricos. Vol. 2.
João Pessoa/PB: Editora do CCTA/UFPB, 2008.
278
MELO NETO, José Francisco de. Educação Popular: enunciados teóricos. Vol. 3.
João Pessoa/PB: Editora do CCTA/UFPB, 2013.
MELO NETO, José Francisco de. Paulo Freire Dialogante. Disponível em <
https://www.researchgate.net/publication/265003514_Paulo_Freire_dialogante> Acesso
em: 20 set. 2019.
MELO NETO, José Francisco de. Pesquisa-ação aspectos práticos nos movimentos
sociais populares e em extensão popular. In: RICHARDSON, Roberto Jarry (Org.).
Pesquisa-ação: princípios e métodos. João Pessoa: editora Universitária/UFPB, 2003.
MELO NETO, José Francisco de. Usina Catende: lutas Sociais e Educação Popular
para um Desenvolvimento Regional. Disponível em <
https://www.workerscontrol.net/pt-pt/authors/usina-catende-lutas-sociais-e-educacao-
popular-para-um-desenvolvimento-regional> Acesso em: 20 set. 2019.
MELO NETO, José Francisco de; SCOCUGLIA, Afonso Celso. Educação Popular:
outros caminhos. (Orgs.). João Pessoa: Editora da UFPB, 1999.
VÁZQUEZ, Adolfo Sánchez. Filosofia da Práxis. Buenos Aires: Paz Terra, 1968.
Agradeço sua valiosa atenção em contribuir com esta PESQUISA SOBRE O PROJETO
COMPARTILHANDO SABERES DA ONG MARÉ PRODUÇÕES ARTÍSTICAS E
EDUCACIONAIS ao responder todos os itens deste formulário. Saliento que, em
hipótese alguma, será permitido a identificação do entrevistado(a).
1- Sexo:
( ) Feminino ( ) Masculino
2- Faixa etária:
( ) Até 20 anos. ( ) De 21 à 29 anos. ( ) De 30 à 39 anos. ( ) De 40 à 54 anos.
( ) 55 ou mais.
3- Estado civil:
( ) casado(a) ( ) solteiro(a) ( ) divorciado(a) ( ) união estável
4- Nível de formação:
( ) Médio completo
( ) Cursando graduação. Que curso? ________________
( ) Graduado(a). Que curso? ________________
( ) Cursando Especialização. Que curso? ________________
( ) Especialista. Que curso? ___________________________
( ) Cursando Mestrado. Que Curso? ____________________
( ) Mestre. Que curso? _______________________________
( ) Cursando doutorado. Que curso? ____________________
( ) Doutor (a). Que curso? ____________________________
284
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
2-No Projeto Compartilhando Saberes da ONG Maré há incentivo aos seus estudos?
( ) Sim. ( ) Não
Em caso positivo, de que forma?
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
5- Como você classifica o formato das oficinas (teoria, prática e debate) em relação ao
seu processo de aprendizagem?
( ) excelente ( ) bom ( ) regular ( ) ruim ( ) péssimo
Por quê?
_____________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
7- Quais os recursos pedagógicos você utiliza nas suas aulas que aprendeu nas oficinas
do Projeto Compartilhando Saberes?
287
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
10- Você avalia que a ONG Maré contribui com o empoderamento dos membros do
Projeto Compartilhando Saberes?
Por quê?
_____________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
288
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
15- Você acha que o Projeto Compartilhando Saberes contribui com o empoderamento
dos seus membros? Por quê?
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
289
Edital Anual
Projeto Compartilhando Saberes
Oficinas - 2018
1- Dos Objetivos
A ONG Maré Produções Artísticas e Educacionais promove o Projeto
Compartilhando Saberes que mensalmente desenvolve encontros onde se ministra
oficina de uma experiência positiva planejada e aplicada em sala de aula do ensino
regular (ou não) em qualquer disciplina curricular ou área correlata à educação.
2- Das Condições
Está apto a participar do presente edital qualquer profissional e/ou estudante
interessado em ministrar voluntariamente uma oficina para os membros da Maré.
Pautando sua atuação nos seguintes passos: momento teórico sobre o tema abordado;
momento de experimentação prática; debate sobre a vivência oportunizada.
As oficinas acontecem no 1º sábado de cada mês, das 15h às 18h, com suporte
técnico da coordenação, que não participa de forma direta da oficina, pois promove
registro fotográfico, organização de materiais e espaço, frequência, certificação e
acolhida na chegada dos membros.
3- Das Inscrições
Podem se inscrever profissionais e/ou estudantes interessados em ministrar oficina
de forma gratuita e voluntária, mediante recebimento de certificação;
O período de inscrição é de 15 de outubro de 2017 a 15 de janeiro de 2018 mediante
o envio dos dados para o e-mail: ailzafreitas@hotmail.com
Para realizar a inscrição o(a) voluntário(a) deve enviar:
3.1 Resumo da proposta a ser ministrada (máximo uma lauda)
3.2 Relação de material necessário (indicando quais serão fornecidos pelo
ministrante)
3.3 Mês de preferência para realização (de fevereiro à dezembro)
4- Da Seleção
Serão selecionadas as propostas que tratarem de temas de interesse dos membros e
apresentarem material compatível de aquisição na ordem em que forem inscritas até o
limite de meses disponíveis (11);
Cada ministrante poderá apresentar quantas propostas desejar e receberá
certificação;
Serão desclassificadas as propostas que não apresentarem os itens solicitados no
tópico 3;
O aceite, ou não, será respondido no e-mail em que cada proposta for enviada, e o
cronograma anual será divulgado posteriormente.
5- Das Disposições Gerais
O ato da inscrição implica na plena aceitação das normas constantes no presente
edital;
Os casos omissos serão apreciados e resolvidos pela coordenação.
290
Edital Anual
Projeto Compartilhando Saberes
Oficinas - 2018
FICHA DE INSCRIÇÃO
Mês de
Realização Oficineiro(a):
(sugestão):
Título da
Oficina:
Resumo da Proposta
Cronograma 2019
Projeto Compartilhando Saberes
ROTEIRO DA ENTREVISTA
DESEMBARQUES ANEXADOS