Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
O Planeta Dos Homens Sem Cor - Margarida Ottoni
O Planeta Dos Homens Sem Cor - Margarida Ottoni
http://groups.google.com/group/digitalsource
O PLANETA DOS
HOMENS SEM COR
MARGARIDA OTTONI
2.a Edição
Orientação da
Dra. Eliane Mazur Rozenblum
Capa:
Arthur Henrique Braga
NAVEGANDO AS ÁGUAS DO SIM
Francisca Nóbrega
Madrugada de verão.
Desperta no leito, de olhos perdidos no pedaço de céu estrelado
que a janela emoldurava, eu ouvia, quieta, o marulhar das ondas ao
longe.
Recordava a festa do meu aniversário daquela noite; revia o
grupinho de jovens amigos, todos mais ou menos da minha idade, e a
alegria que, juntos, desfrutamos, a dançar e a bater papo, numa
barulhada incrível até tarde.
— Uma festança! — disseram-me.
Como de hábito, nós a realizamos no clube à beira-mar do qual
papai é sócio-proprietário desde o tempo em que eu era criança.
Quando a diretoria mandou construir, ao lado da sede, um prédio de
apartamentos, meu pai foi um dos primeiros compradores. A partir de
então, nossa família, residente no subúrbio, acostumou-se a veranear
no apartamento e a fazer essa festa.
Uma imagem surgia-me, de vez em vez, interpondo-se à
seqüência dos fatos lembrados: a de um rapaz moreno, de sorriso largo
e olhar insistente — Flávio. Segundo Celeste, minha melhor amiga, ele
estava interessado em mim.
Permanecia acordada, enquanto todos dormiam. E da cama,
junto à janela, observava a Lua Cheia que clareava de leve o quarto.
Como parecia cansada no seu lento e eterno caminhar!
Para atrair o sono, resolvi contar as estrelas:
— Cinco do Cruzeiro do Sul, mais a Estrela-d'Alva, que, aliás,
não é estrela, mais as Três Marias, mais...
O tempo ia passando, eu contando as luzinhas do céu, os
pensamentos vindo e indo, e o sono... nada!
Súbito, interrompeu-se o silêncio da noite. Um zumbido fino e
regular de motor fez-me sentar e ficar à escuta. Que seria? Ronco de
carro ou de motocicleta não era; barulho de avião ou de helicóptero,
também não. Era um som diferente de todos que já ouvira. Muito
incômodo, agredia-me os ouvidos até deixá-los doendo! Entretanto, não
podia dizer que fosse alto ou forte.
Curiosa, ergui-me, cheguei à janela, debrucei-me. Vi o mar,
quebrando na praia distante, a piscina prateada de luar e o clube
fechado e escuro. Nada mais! Contudo, o ruído fino e desagradável que
me fazia tampar os ouvidos pairava no ar amedrontando-me. Seria uma
máquina infernal? Estaria no pavimento térreo? No telhado?
Pouco a pouco, o gramado, em frente à portaria, foi-se
ruborizando à luz que vinha do alto, e o som terrível começou a baixar
de intensidade. Arregalei os olhos, assustada. Havia algo ali! Um objeto
muito grande, circular e metálico, dava voltas e mais voltas sobre o
clube, estendia os faróis para a piscina, para o campo de esporte, para o
prédio, como se estivesse à procura de alguém ou de alguma coisa. Ia e
vinha. ora devagar, ora depressa, subia e descia facilmente, deslocava-
se para a direita e para a esquerda, em linha reta ou em espiral. Piscava
múltiplas cores e girava como pião.
Senti o coração pular dentro do peito. Quis gritar para chamar
meus pais que dormiam no quarto ao lado, mas faltou-me a voz. Dos
lábios, saiu-me apenas um murmúrio entrecortado de medo:
— Meu Deus! Isto é um...
Devagar, a coisa estranha aproximou-se do gramado. A menos
de um metro do solo, imobilizou-se, e o ruído incomodativo cessou. As
luzes, porém, continuaram a varrer o local.
Fiquei rija de espanto, com todos os sentidos presos à misteriosa
aparição. Ah! Se tivesse comigo a máquina fotográfica! Se houvesse
mais alguém acordado para testemunhar o que acontecia! Se tivesse
ânimo para ir acordar meus pais!
Em vez disso, um torpor nunca antes experimentado amorteceu-
me os gestos e perturbou-me as idéias. Ainda que desejasse desviar os
olhos do objeto que via, não o conseguiria nem por um instante.
Comecei, então, a sentir uma força irresistível dominar-me,
suscitando-me a vontade de ir lá fora, para vê-lo de perto. Seria por
natural curiosidade minha, ou viria da atração inevitável daquele enge-
nho? Impossível descobrir, inútil querer raciocinar, sob tamanha tensão
nervosa!
Como autômato, deixei a janela, corri à sala, girei o trinco da
porta, puxei-a para trás, acendi a luz do corredor e, qual um raio, desci
a escada. Num minuto cheguei à portaria. Abri-a com mãos trêmulas e
vi-me a alguns metros da máquina fantástica!
Inconsciente do perigo, corri para ela, mesmo descalça,
magoando os pés nas pedrinhas do chão. Atingi o gramado e continuei
a avançar, resoluta até que, sem forças, estaquei ofegante e confusa.
Da nave, um farol de cor alaranjada iluminou o lugar e pegou-
me em cheio. Cobri os olhos com as mãos, estonteada, e desequilibrei-
me. Cai de bruços e assim fiquei, paralisada, sentindo o latejar
acelerado do coração, que parecia querer saltar do peito.
Surpreendentemente, o ruído infernal recomeçou, e o engenho
ergueu-se como um bólido. Um momento depois, o silêncio e a paz
haviam voltado. Rolando no chão, virei-me para o céu e ainda pude vê-
lo afastar-se, até desaparecer entre as estrelas.
Senti nas costas a umidade do solo. Sentei-me e observei o
ambiente que readquirira a habitual tranqüilidade noturna. Olhei o
gramado muito próximo e rememorei todo o acontecimento. Ainda
trêmula, ergui-me e examinei o lugar onde pousara o objeto terrificante.
Nada existia de anormal, nem sequer vestígio! Ele partira sem deixar
marcas de sua passagem.
Suspirei, aliviada. Ajeitei os cabelos e a roupa e já ia voltando ao
prédio, quando percebi um vulto a distância. Parei para fixá-lo. Ele veio,
então, ao meu encontro. À luz pardacenta do luar, não consegui
distinguir-lhe as feições, mas notei, pelo porte, que se tratava de um
homem. Vestia macacão escuro, calçava botas claras e usava capacete à
moda dos corredores de automóvel de Fórmula 1.
— Deve ser um motoqueiro metido a bacana! — pensei. — Vou
esperá-lo para saber se também viu o disco voador.
Aguardei, pois, que se aproximasse, para falar--lhe. Enquanto
caminhava, ele retirou o capacete e o colocou debaixo do braço. A luz da
lua banhou-o da cabeça aos pés.
Estremeci de pavor ao vê-lo de perto! E não pude conter um grito
de repulsa. O homem tinha as mãos e o rosto prateados!
— É um marciano! — concluí. E, louca de medo, pus-me a
correr, desesperada.
Alcancei a portaria do edifício, entrei espavorida e tranquei a
porta rapidamente. Exausta e ofegante, encostei-me à parede. Senti as
pernas fraquejarem, meu corpo foi deslizando, sentei-me no degrau e
tudo se apagou diante de meus olhos.
10
11
13
14
15
16
17
18
19
20
21
Fim
Ottoni, Margarida.
CDD — 869.93
80-0029 CDU — 869.0 (81) – 3
Esta obra foi digitalizada e revisada pelo grupo Digital Source para proporcionar,
de maneira totalmente gratuita, o benefício de sua leitura àqueles que não podem
comprá-la ou àqueles que necessitam de meios eletrônicos para ler. Dessa forma, a
venda deste e-book ou até mesmo a sua troca por qualquer contraprestação é
totalmente condenável em qualquer circunstância. A generosidade e a humildade é
a marca da distribuição, portanto distribua este livro livremente.
Após sua leitura considere seriamente a possibilidade de adquirir o original, pois
assim você estará incentivando o autor e a publicação de novas obras.
Se quiser outros títulos nos procure :
http://groups.google.com/group/Viciados_em_Livros, será um prazer recebê-lo
em nosso grupo.
http://groups.google.com/group/Viciados_em_Livros
http://groups.google.com/group/digitalsource