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PARTE I

Introdução
1 o MAPeAMeNto DA
eDuCAção CrÍtICA
Michael W. Apple, Wayne Au e Luís Armando Gandin

INTRODuçãO com o social. Isso implica uma atitude que


se volta à transformação social e à ruptura
A pedagogia crítica – e os estudos edu- com as ilusões confortadoras que têm como
cacionais críticos de um modo geral – busca pressuposto que os modos em que nossas
expor o modo como as relações de poder e sociedades e seus aparatos educacionais es-
desigualdade (social, cultural, econômica), tão atualmente organizados podem levar à
em sua miríade de combinações de formas e justiça social. Além disso, uma compreensão
complexidades, manifestam-se e são postas mais robusta da pedagogia crítica e da edu-
em questão na educação formal e informal cação crítica baseia-se cada vez mais na per-
das crianças e dos adultos (Darder, Baltoda- cepção da importância das múltiplas dinâmi-
no e Torres, 2003; McCarthy e Apple, 1988). cas que sustentam as relações de exploração
Contudo, isso pode, na verdade, ser uma e dominação em nossas sociedades. Temas
afirmação demasiadamente genérica, pois que dizem respeito à política de redistribui-
o termo “pedagogia crítica” é muito seme- ção (processos e dinâmicas econômicas de
lhante ao conceito de democracia. Trata-se exploração) e à política do reconhecimento
de significante que não se deixa apreender, (lutas culturais contra a dominação e lutas
isto é, um significante que desliza, que es- pela identidade), portanto, precisam ser con-
capa (Foner, 1988), e que tem sido usado sideradas em conjunto (Fraser, 1977).
de múltiplas maneiras para descrever coisas Na própria raiz dessas preocupações
múltiplas. Com efeito, às vezes a pedagogia está um princípio simples. A fim de entender
crítica parece ser usada de modo tão amplo a educação e agir sobre ela nas suas compli-
que pode significar qualquer coisa, de salas cadas conexões com a sociedade como um
de aula cooperativas com algum conteúdo todo, devemos nos envolver no processo
político a uma definição mais robusta, que de reposicionamento, isto é, devemos ver o
envolve uma reconstrução minuciosa da- mundo pelos olhos dos despossuídos e agir
quilo que a educação é ou para que serve, contra os processos ideológicos e institucio-
o modo como deve ser executada, o que se nais e contra as formas ideológicas e insti-
deve ensinar e quem deve ser capacitado a tucionais que reproduzem condições opres-
envolver-se em tal processo. sivas (Apple, 1995). Esse reposicionamento
Essa compreensão mais robusta – em diz respeito tanto a práticas políticas quanto
que nos fundamentamos – envolve trans- culturais que incorporam os princípios da
formações cruciais dos pressupostos epis- educação crítica, mas também tem gerado
temológicos e ideológicos subjacentes rela- uma ampla gama de estudos acadêmicos e
tivos ao que importa como conhecimento teorias que levam a uma reestruturação fun-
legítimo ou “oficial” e a quem detém tal damental de quais sejam os papéis da pes-
conhecimento (Apple, 1979/2004, 2000). quisa e do pesquisador (Smith, 1999; Weis e
Ela também está fundamentada em mudan- Fine, 2004). Falemos mais um pouco sobre
ças radicais dos compromissos de cada um as implicações que disso decorrem.
Educação crítica 15

apresentou­‑nos uma chave para outro pa-


As tarefas da pesquisa e da ação
pel que os “intelectuais orgânicos” pode-
da educação crítica
riam desempenhar (ver também Apple,
1996; Gutstein, 2006). Assim, não deve-
Em geral, há oito tarefas nas quais a mos nos engajar em um processo que se
análise crítica (e o analista crítico) da edu- poderia chamar de “suicídio intelectual”,
cação deve engajar­‑se. isto é, há sérias habilidades intelectuais
(e pedagógicas) quando se lida com his-
1 A análise crítica deve “ser testemunha da tórias e debates que cercam as questões
negatividade”, isto é, uma de suas fun- epistemológicas, políticas e educacionais
ções principais é a de iluminar os modos envolvidas na justificação do que é con-
pelos quais a política e a prática educa- siderado conhecimento importante. Tais
cionais estão conectadas às relações de questões não são simples e inconsequen-
exploração e dominação – e às lutas con- tes, e as competências práticas e intelec-
tra tais relações – na sociedade como um tuais/políticas para lidar com elas foram
todo. bem desenvolvidas. Contudo, elas podem
2 Ao engajar­‑se em tais análises críticas, a atrofiar­‑se caso não sejam usadas. Pode-
própria análise crítica deve apontar para mos fazer com que tais competências es-
as contradições e para os espaços de ação tejam presentes se as empregarmos para
possíveis. Assim, sua meta é a de exami- ajudar as comunidades a pensar sobre
nar criticamente as realidades atuais­com isso, a aprender com elas e a envolver­‑se
um modelo conceitual/político que enfa- nos diálogos mutuamente pedagógicos
tize os espaços nos quais ações contra­ que permitem que decisões sejam toma-
‑hegemônicas possam se realizar ou de das em termos dos interesses de curto e
fato se realizem. longo prazo dos oprimidos.
3 Às vezes, isso também requer uma rede- 5 No processo, o trabalho crítico tem a ta-
finição do que é considerado “pesquisa”. refa de manter vivas as tradições do tra-
Aqui nos referimos a agir como “secre- balho radical. Em face dos ataques orga-
tários” desses grupos de pessoas e mo- nizados sobre as “memórias coletivas” da
vimentos sociais que estão agora enga- diferença e da luta, ataques que tornam
jados em desafiar as relações existentes cada vez mais difícil reter a legitimidade
de poder desigual ou no que foi chamado acadêmica e social das múltiplas aborda-
alhures de “reformas não reformistas”. gens críticas e que provaram ser muito
Essa é precisamente a tarefa que foi as- valiosas na contraposição às narrativas
sumida nas densas descrições das práti- e relações dominantes, é absolutamente
cas escolares criticamente democráticas crucial que essas tradições sejam manti-
feitas em Democratic schools (Apple e Be- das vivas, renovadas e, quando necessá-
ane, 2007) e nas descrições críticas das rio, criticadas por seus silêncios e suas
reformas transformadoras como as da limitações conceituais, empíricas, históri-
Escola Cidadã e do orçamento participa- cas e políticas. Isso implica ser cautelosos
tivo em Porto Alegre (ver Gandin, neste quanto ao reducionismo e essencialismo
livro, e Apple et al., 2003; Apple e Buras, e pede que prestemos atenção ao que
2006). Fraser chamou de política de redistri-
4 Quando Gramsci (1971) argumentou que buição e de política de reconhecimento
uma das tarefas de uma educação verda- (Fraser, 1997). Isso inclui não só manter
deiramente contra­‑hegemônica não era a as tradições teóricas, empíricas, históri-
de jogar fora o “conhecimento de elite”, cas e políticas vivas, mas também, e de
mas reconstruir sua forma e seu conte- maneira importante, ampliá­‑las e criticá­
údo de modo que servisse a necessida- ‑las, apoiando­‑as. E isso envolve manter
des genuinamente progressivas e sociais, vivos sonhos, visões utópicas e “reformas
16 Apple, Au, Gandin e cols.

não reformistas” que são, em muito, par- espaços, nas universidades e em outros
te dessas tradições radicais (Apple, 1995; lugares, para quem ainda não está lá,
Jacoby, 2005; Teitelbaum, 1993). para quem hoje não tem uma voz em tal
6 Manter as tradições vivas e criticá­‑las espaço, e nos locais “profissionais” a que,
sem deixar de apoiá­‑las quando elas não por estar em posição privilegiada, você
são adequadas para lidar com as realida- tem acesso.
des atuais é algo que não pode ser feito,
a não ser que perguntemos “Para quem Essas oito tarefas são exigentes e ne-
estamos mantendo vivas tais tradições?” nhuma pessoa pode envolver­‑se nelas igual-
e “Como e de que forma elas podem ser mente bem e simultaneamente. Contudo,
disponibilizadas?”. Todas as coisas que há uma longa tradição de pensamento aca-
mencionamos nessa tentativa taxonômi- dêmico crítico e de trabalho cultural crítico
ca exigem reaprendizagem ou desenvol- ao longo de dinâmicas múltiplas que têm
vimento e uso de novas e variadas com- buscado “testemunhar a negatividade” e
petências de lidar em muitos níveis com recapturar a memória coletiva do trabalho
grupos múltiplos. Assim, as competên- pedagógico que seja genuinamente contra­
cias jornalísticas e midiáticas, acadêmi- ‑hegemônico. Devemos examinar isso no
cas e populares, e a capacidade de falar a próximo subcapítulo.
audiências muito diferentes são cada vez
mais cruciais.
7 Os educadores críticos devem também As raízes políticas
agir juntamente com os movimentos so- da pedagogia crítica
ciais apoiados por seu trabalho ou com os
movimentos contra os pressupostos direi- Antes de o termo “pedagogia crítica”
tistas e com as políticas que analisam cri- ter sido cunhado por intelectuais e ativis-
ticamente. Assim, a formação acadêmica tas críticos da América Latina, como Paulo
em educação crítica ou pedagogia crítica Freire, educadores de várias comunidades
de fato implica tornar­‑se um “intelectual nos Estados Unidos e em muitas outras na-
orgânico” no sentido gramsciano do ter- ções assumiram projetos que certamente
mo (Gramsci, 1971). Devemos participar seriam considerados educacionalmente “crí-
e dar nosso conhecimento especializado ticos” pelos padrões de hoje. Essas primei-
aos movimentos que se voltam às lutas ras manifestações da educação crítica com
por uma política de redistribuição e por frequência puseram em questão as relações
uma política de reconhecimento. Tam- sociais existentes e as estruturas de poder,
bém implica aprender com esses mo- levantando críticas substanciais de raça,
vimentos sociais. Isso quer dizer que o classe e relações de gênero, além de ofere-
papel da “intelligentsia despreocupada” cer alternativas radicais para as formas de
(Mannheim, 1936), alguém “que vive educacionais então existentes.
na sacada” (Bakhtin, 1968), não é um Por exemplo, existe uma longa tradi-
modelo apropriado. Conforme lembra ção na comunidade afro­‑americana e afro­
Bourdieu (2003, p. 11), nossos esforços ‑caribenha (Jules, 1992; Lewis, 1993, 2000)
intelectuais são cruciais, mas eles “não relativa às metas e à natureza de sua educa-
podem ficar observando tudo ao lado, de ção. Pelo menos desde o final do século XIX,
maneira neutra e indiferente, das lutas os intelectuais e ativistas afro­‑americanos,
nas quais o futuro da humanidade está por exemplo, têm se envolvido em lutas
em jogo”. relativas ao objeto da educação dos negros
8 Finalmente, a participação também quer nos Estados Unidos e no Caribe, especial-
dizer usar o privilégio que temos como mente tendo­‑se em consideração o contexto
acadêmicos/ativistas, isto é, precisamos pós­‑escravidão e do racismo institucional
fazer uso de nosso privilégio para abrir atual em seus países (Lewis, 1993, 2000;
Educação crítica 17

Watkins, 1993). Modelos de educação po- Tem havido uma longa tradição de
pular baseados em tais memórias e formas aná­lises críticas feministas da educação,
culturais ofereceram poderosos recursos e ações feministas sobre a educação, em
para a contraposição às narrativas coloniza- várias­ nações do mundo. Nos Estados Uni-
doras dominantes e seus métodos (Livings- dos, como em qualquer lugar, no início do
ton, 2003; ver também Jules, 1992). século XX, várias mulheres notáveis assu-
Outro exemplo de atividade contra­‑he­ miram papéis de liderança na organização
gemônica, desta feita centrada na escola pú- dos professores – força de trabalho pre-
blica crítica, e que se organiza em torno de dominantemente feminina (Apple, 1986)
questões de raça e classe, pode ser encontra­ – por melhores condições de trabalho. En-
do na história do Harlem, em Nova York, en­ tre elas, estavam Grace Stahan, em Nova
tre­1935 e o início da década de 1950. Nessa York, e Margaret Haley, em Chicago. Outras
época, o Harlem Committee for Better Scho- mulheres, como Kate Ames, que em 1908
ols (HCBS), uma coalizão de associações de desafiou a Associação dos professores (do
pais, igrejas e grupos de professores e da co- sexo masculino) da Califórnia, lutou contra
munidade uniram­‑se para forçar a melhoria a imposição do patriarcado nas estruturas
das escolas do Harlem, incluindo almoços organizacionais e de pagamento (Weiler,
grátis, melhores condições de trabalho para 1989). Com efeito, essas primeiras lutas
os professores e melhores condições físicas de sindicatos dos professores nos Estados
para as próprias escolas. O HCBS é notável Unidos, Inglaterra e em outros locais (Ap-
por várias razões. Uma é a de que era inter­ ple, 1986) tornaram­‑se modelos para uma
‑racial. Originou­‑se em grande parte entre organização que dava conta da classe e do
judeus comunistas que ensinavam nas esco- gênero juntos. A história das mobilizações
las do Harlem e que ganharam o apoio da feministas e do trabalho cultural está re-
comunidade por meio do estabelecimento de pleta de exemplos do uso das formas e do
associações de pais e divisões do Sindicato conteúdo culturais populares para pôr em
dos professores, o que permitiu desenvolver questão a dominância. Embora tenha ha-
laços próximos com a maior parte dos pro- vido críticas acerca do fato de o trabalho
fessores afro­‑americanos do Harlem. Outra pedagógico crítico desse tipo ter marginali-
razão para destacar o HCBS é que ele repre- zado mulheres não brancas (negras, latinas
sentou a reforma educacional, o ativismo e e de outras minorias raciais), mulheres da
a organização entre vários distritos, porque classe trabalhadora e mulheres do “Tercei-
incluía professores, membros da comunida- ro mundo” (Copelman, 1996; Gomersall,
de e também organizações políticas (Naison, 1997; Martin, 1999; Munro, 1998; Purvis,
1985). Essas são características principais 1991), por vezes esses esforços críticos de
da ação educacional crítica em sua melhor fato rompiam com as distinções de classe.
forma. Embora tenha havido uma ampla A questão da classe é crucial aqui. As
gama de opiniões e perspectivas no âmbito relações de classe e as lutas contra elas,
das comunidades afro­‑americanas, todas re- assim,­ não eram invisíveis na história da
presentam respostas diferentes ao que o his- educação crítica. Na verdade, elas com fre-
toriador Woodson (1933/1990) chamou de quência constituíam um enfoque principal.
“deseducação do negro” nos Estados Unidos As primeiras manifestações de educação
e significam análise de raça substancial e crí- crítica nos Estados Unidos foram além da
tica sobre a educação pública. Mobilizações dinâmica de poder associada com a políti-
similares podem ser encontradas na Inglater- ca de raça e gênero, embora às vezes essas
ra, em outros países e em múltiplas comuni- dinâmicas também tenham sido ignoradas,
dades de diáspora e podem ser encontradas para o detrimento do movimento. Mesmo
em outras dinâmicas igualmente opressivas com esses pontos fracos, contudo, as tenta-
de poder diferencial que envolviam gênero e tivas de construir uma educação que ativa-
classe, naquela época e mais recentemente. mente buscasse interromper a dominância
18 Apple, Au, Gandin e cols.

de classe cresciam em outros países. Na In- muitas outras nações. Com efeito, em quase
glaterra e no País de Gales ao final do século todas as regiões do mundo, há movimentos
XIX e no início do século XX, as lutas pelas poderosos e exemplos de esforços pedagó-
políticas e práticas educacionais socialistas gicos radicais tanto no setor educacional
eram bastante visíveis (Rubinstein e Simon, formal quanto nos programas de alfabeti-
1969; Simon, 1965, 1977, 1991, 1972). En- zação comunitária, de educação trabalhista
tre 1909 e 1911 nos Estados Unidos, mais e mobilizações antirracistas e anticoloniais,
de 100 diretores de escolas socialistas foram movimentos de mulheres e outros (ver, por
eleitos para vários distritos escolares do país exemplo, Van Vught, 1991). Na Coreia do
e, entre 1900 e 1920, os ativistas socialistas Sul, por exemplo, durante a primeira meta-
estabeleceram mais do que 100 escolas do- de do século XX, criaram­‑se escolas noturnas
minicais em língua inglesa em 20 Estados, para que houvesse contraposição aos esfor-
variando entre turmas de 10 alunos a esco- ços de colonização dos ocupantes japoneses.
las em que se matricularam mais do que 600 Essas práticas contra­‑hegemônicas continua-
alunos (Teitelbaum, 1988, 1993). ram por meio dos esforços do Sindicato de
Os currículos dessas escolas enfatiza- professores coreanos para a construção de
vam que: currículos e modelos de ensino baseados em
princípios democráticos críticos. Esses esfor-
1 as crianças deveriam ficar orgulhosas de ços tiveram de suplantar anos de repressão
fazer parte da classe trabalhadora; do governo (Ko e Apple, 1999; Sung e Apple,
2 os trabalhadores são sistematicamente 2003; ver também Kang, neste livro). Ten-
subordinados e devem encontrar solida- dências similares foram vistas recentemente
riedade com outros grupos oprimidos; na Turquia, onde o governo tentou declarar
3 os alunos devem desenvolver um sentido ilegal o maior sindicato de professores do
de coletivismo; país por causa do compromisso do sindicato
4 os alunos aprendiam sobre as conexões en- tanto com uma pedagogia mais culturalmen-
tre suas condições sociais imediatas com as te responsiva quanto com uma posição crítica
relações socioeconômicas mais amplas; acerca das políticas neoliberais de educação
5 a mudança social fundamental é absolu- e da economia (Egitim Sem, 2004).
tamente necessária; Até agora, demos um breve conjunto
6 as relações socioeconômicas contempo- de exemplos dos esforços feitos por alguns
râneas precisavam ser analisadas critica- grupos subalternos para desafiar a domi-
mente à luz dos entendimentos do sen- nância na educação, esforços que se torna-
so comum sobre o mundo (Teitelbaum, ram cada vez mais espalhados em face do
1991). que se constituiu como consequências sérias
e, com frequência, extremamente repressi-
Embora essas Escolas socialistas domi- vas. Porém, como mencionamos, a educação
nicais não fossem parte do sistema escolar crítica não só envolveu uma ação política e
público, elas representavam uma resposta cultural aberta, mas também gerou e foi ge-
classista da comunidade crítica à educação rada por uma ênfase crescente na pesquisa
pública nos Estados Unidos da época. Esses que tanto documenta forças reprodutoras
tipos de repostas socialistas estão espelha- nas escolas quanto aponta para possíveis ca-
das na Inglaterra e no País de Gales (ver, por minhos para questionar tais forças. Assim,
exemplo, Rubinstein e Simon, 1969; Simon, toda a gama de movimentos e esforços pe-
1965, 1991, 1972) e possuem uma história dagógicos críticos tem sido complementada
poderosa também na América Latina, por pelo crescimento de comunidades múltiplas
exemplo (ver Bulhões e Abreu, 1992; Cal- de conhecimento acadêmico que tem busca-
dart, 2003; C. A. Torres, 1990, 1997, 1995). do tanto testemunhar a negatividade quan-
É crucial perceber que essa história da to documentar os espaços para o trabalho
ação educacional crítica tem paralelos em contra­‑hegemônico.
Educação crítica 19

rização (Apple, 1979/2004; Au, 2006; Cole,


Testemunhar e expandir a
1988). O resultado para os analistas críticos
dinâmica da educação crítica
foi o de continuar a ir além das versões re-
lativamente simplistas de análises da escola
A segunda metade dos anos 1970 foi baseadas na classe social. As análises que
um período fundamental para o desenvol- ampliavam as relações de classe, que eram
vimento de análises críticas da educação, consideradas de importância crucial (ver, por
particularmente aquelas que abordavam o exemplo, Bernstein, 1977; Bourdieu, 1984),
modo como as estruturas sociais, culturais e vieram para o primeiro plano, assim como
econômicas se relacionavam com a organi- a atenção mais explícita a questões de raça
zação e a experiência escolar (Whitty, 1985). e gênero, e assim assinalaram a influên­cia
O enfoque central crítico da época girava em crescente das teorias britânicas e francesas
torno do exame da relação entre as escolas da relação entre cultura, instituições socias
e a reprodução social e cultural. Embora a e educação (ver, por exemplo, Young, 1971;
tradição do exame crítico do conteúdo e dos ver também, Au e Apple, neste livro, para
processos de reprodução cultural já estava uma discussão detalhada).
em andamento na nova sociologia da educa- Ao mesmo tempo, a mobilização e os
ção na Inglaterra (ver, por exemplo, Young, movimentos que surgiram feministas e das
1971), nos estudos críticos do currículo nos populações racializadas desafiaram direta-
Estados Unidos (Apple, 1971) e na obra de mente a ênfase dada apenas às classes no
Bourdieu e Passeron (1977) na França, mui- trabalho crítico, tanto na reprodução social
to do debate sobre essa relação cristalizou­ quanto na econômica. A própria noção de
‑se em torno do livro Schooling in capitalist reprodução em si foi drasticamente desa-
America, de Bowles e Gintis (1976). Nesse fiada no processo (Giroux, 1983). Questões
livro, Bowles e Gintis afirmam um princípio de contradição e conflito no âmbito dessas
de correspondência de nível macro entre as dinâmicas e entre elas tornaram­‑se cada vez
maquinações e as necessidades da produção mais significativas. Assim, por exemplo, Mc-
capitalista e aquelas da produção de diferen- Carthy e Apple (1988) defenderam uma mol-
ças econômicas baseadas em classes na edu- dura “paralela não sincrônica” para a compre-
cação e por meio da educação. Além disso, ensão das questões de raça, classe e gênero;
ainda, essa correspondência foi um processo uma moldura que reconhecia as interações
relativamente mecânico, já que a estrutura intensas e contraditórias no âmbito das vá-
e o resultado das escolas pareciam estar rias dinâmicas, e entre as várias dinâmicas de
completamente determinados pela econo- exploração e dominação e que pedia aos edu-
mia capitalista e pelo mercado de trabalho cadores críticos que fossem menos redutores
remunerado por si sós, de uma maneira em em seus pressupostos. Tomando a frente em
grande parte carente de mediação (Apple, um trabalho que se baseava em teorias de re-
1998; McCArthy e Apple, 1988). lativa autonomia, um conjunto de posições
Mesmo com seus problemas evidentes, com mais nuanças desenvolveu­‑se. Por essa
a obra de Bowles e Gintis fez duas coisas. razão, por exemplo, argumentou­‑se que a
Primeiro, ajudou a estabelecer a relevância desigualdade racial não poderia ser somen-
contemporânea das análises marxistas, neo- te reduzida à desigualdade econômica (ver
marxistas e semimarxistas das escolas e da também, Apple e Weis, 1983), posição que,
educação (Whitty, 1985). Segundo, provo- embora não totalmente desenvolvida, prefi-
cou um forte debate, estimulou uma série gura alguns dos argumentos produtivos da
de críticas de longo alcance das explanações teoria racial crítica (Gillborn, 2005; Ladson­
deterministas de desigualdade na educação, ‑Billings e Tate IV, 1995). Para o desenvolvi-
e impulsionou os pesquisadores críticos a mento de algumas dessas alegações, muitos
irem ainda mais longe em suas análises da acadêmicos críticos voltaram­‑se às obras
reprodução cultural e ideológica da escola- de Antonio Gramsci (1971), Louis Althus-
20 Apple, Au, Gandin e cols.

ser (1971), Stuart Hall (1980a) e Raymond igualmente bem sustentado de McRobbies
Williams (1977), e também aos autores da (1978) sobre as maneiras pelas quais a di-
Escola de Frankfurt (Giroux, 2003), a fim de nâmica de classe e de gênero interagia den-
buscar novos direcionamentos teóricos que tro e fora das escolas, grandes ganhos ra-
abordavam as complexidades de que análises pidamente (mas talvez não suficientemente
como as de Bowles e Gintis (1976) careciam rápidos) surgiram e continuaram a ser obti-
(Au, 2006; McCarthy e Apple, 1988; Morrow dos na compreensão dos modos pelos quais
e Torres, 1995; Whitty, 1985; ver também Au formas e práticas culturais populares estão
e Apple, neste livro). dialeticamente interconectadas com prá-
Os líderes que pertencem aos setores ticas e dinâmicas atravessadas por classe,
mais estruturalistas deste movimento ar- raça e gênero/sexo (Arnot, 2004; Epstein e
gumentavam a esse respeito que as escolas Johnson, 1998; Willis, 1990). Como Willis,
consumavam pelo menos três metas, às ve- por exemplo, essas análises apontavam para
zes contraditórias: espaços contraditórios na experiência vivi-
da pelas pessoas em que o trabalho cultural
1 auxiliavam o processo de acumulação seria capaz de colocar a juventude sob lide-
capitalista por meio da contribuição à es- rança mais progressista (Weis, 1990).
tratificação dos alunos; Sem negar essas ênfases sobre a cul-
2 auxiliavam o processo de legitimação de tura vivida, outros buscaram retornar a
ideologias de liberdade, individualismo uma posição marxista mais tradicional. Eles
e igualdade meritocrática, independen- sugeriram que apenas nesse retorno, em
temente da raça, classe ou gênero; combinação com teorias e práticas políti-
3 operavam como um local de produção, cas associadas com figuras como, digamos,
distribuição e consumo de habilidades de Che Guevara, poderiam as teorias educa-
conhecimento, aptidões e cultura (Apple cionais críticas desenvolver seu potencial
e Weis, 1983). para serem verdadeiramente críticas (ver,
por exemplo, McLaren, 2000). Ainda assim,
Essas três “funções” da escolarização mesmo com os imensos ganhos obtidos pe-
podem às vezes funcionar umas contra as las compreensões marxistas e neomarxistas,
outras. Por exemplo, a ideologia dos indi- e na pesquisa baseada em teorias feministas
víduos livres e iguais e que competem entre e antirracistas, essas tradições foram colo-
si (meritocracia) está em contradição direta cadas sob um exame sério. As abordagens
à quantidade significativa de desigualdade feministas pós­‑estruturais e as poderosas
de grupo que existe em nossas escolas e na análises baseadas na teoria racial crítica fi-
sociedade. Independentemente disso, essas zeram intervenções provocativas nos deba-
análises críticas tentam lidar com as com- tes sobre tudo isso (Ladson­‑Billings e Tate,
plexidades teórico­‑conceituais necessárias 1995; Luke e Gore, 1992). Um enfoque so-
ao entendimento de como as hierarquias de bre a indeterminação, sobre a capilarização
poder operam na educação. do poder, sobre o poder como algo produtor
Ainda assim o poder não era unidire- e não apenas reprodutivo, sobre a identi-
cional e rapidamente desenvolveu­‑se uma dade e sobre sua “constituição” discursiva,
série de análises bem sustentadas, baseadas em geral baseado em insights foucaultianos
na relação entre a cultura viva, a escola e a (ver, por exemplo, Youdell, 2006), fez da pe-
economia. Estimuladas em parte pelo livro dagogia crítica um terreno de ricos debates
clássico de Willis (1977) sobre as culturas e conflitos. Mas também deu a ela uma vita-
jovens, a relação de classes e a masculini- lidade que faz com se mantenha viva e em
dade, Learning to Labour,* e o pensamento crescimento.
A natureza internacional dessas ques-
*
N. de R.T.: em português, publicado pela Artmed tões tem sido mais visível graças ao cresci-
Editora: Paul Willis, Aprendendo a ser trabalhador. mento das análises baseadas em perspecti-
Educação crítica 21

vas pós­‑coloniais. Influenciadas pelas obras 2002) são valiosas. Elas geralmente ajudam
de autores como Said (1978), Spivak (1987, o campo a evoluir e a fortalecer­‑se como um
1999), Thiong’o (1986) e Homi Bhabba­ meio mais viável para fazer a mudança edu-
(1984), as teorias pós­‑coloniais provam ser cacional e social (Au e Apple, 2007).
cada vez mais influentes à medida que os
educadores críticos tentam divergir da glo-
balização das políticas neoliberais e neo­ Educação crítica e movimentos
conservadoras ou tentam interrompê­‑las sociais conservadores
(Burbules e Torres, 2000; Dimitriadis e Mc-
Carthy, 2001; Singh, Kell e Pandian, 2002). Tal vitalidade da pedagogia crítica e os
Tudo isso não quer dizer que as críticas conflitos produtivos que ocorrem não garan­
feitas à pedagogia crítica não se justificam, tem seu sucesso, porém. Sejamos honestos.
ou que a pedagogia crítica e todo o terreno A pedagogia crítica e a educação crítica co­
da pesquisa e da ação educacional crítica mo um todo – e a pesquisa que está dialeti-
em si não tem necessidade de crescer. As camente conectada a elas – são um conjunto
pesquisadoras feministas e raciais críticas de projetos que está amadurecendo e está
estão entre as muitas que lutam para que a em andamento: projetos inacabados. Am-
pedagogia crítica em geral aborde o racis- bas continuam a ser vitalmente necessárias.
mo, o sexismo e as homofobias (Kumashiro, Bem realizados, tais projetos oferecem análi-
2002) e outras formas de poder na educa- ses críticas que dão aos teóricos e aos profis-
ção. Por exemplo, o importante livro edita- sionais um meio de intervir nas contínuas e
do por Luke e Gore (1992), Feminisms and até mesmo crescentes desigualdades sociais
critical pedagogy, oferece uma série de tex- e educacionais. Contudo esse conjunto­ dual
tos que desafiam alguns dos fundamentos de projetos é às vezes enfraquecido por sua
da pedagogia crítica com base no fato de tendência ao “‘possibilitarianismo’ românti-
ela ter falhado em seu “engajamento com co” (Whitty, 1974), sua falta de um sentido
o feminismo” (Kenqy e Modra, 1992, p. estratégico refinado do poder dos movimen-
138) ao mesmo tempo em que, em mui- tos sociais e, especialmente, dos movimentos
tos de seus capítulos, mantém uma visão sociais direitistas dentro e fora da educação
que ainda sustenta as metas gerais eman- em um número considerá­vel de nações (Ap-
cipadoras da pedagogia crítica. De modo ple, 2006; Takayama e Apple, 2007). Essa
similar, a excelente coletânea de Leonardo fraqueza é crucial, já que as intervenções as-
(2005b), Critical pedagogy and Race, faz sociadas à pedagogia crítica são de importân-
um trabalho parecido no que diz respeito cia ainda maior, dada a formação recente de
a raça, racismo e pedagogia crítica. Aqui, alianças direitistas extremamente poderosas
Leonardo (2005a) constata que “a questão nos Estados Unidos, no Japão, na Austrália e
da raça desempenhou um papel secundário em tantas outras nações hoje.
no desenvolvimento da pedagogia crítica”, Conforme um de nós (Apple, 2006)
e que a “raça tem estado entrelaçada com a argumentou, existe uma aliança de quatro
pedagogia crítica, mas frequentemente em grandes grupos nos Estados Unidos e em
relação a um engajamento que prioriza a um número crescente de nações do mun-
luta de classes” (p. xii). do. Esses grupos e a aliança tática que eles
Nossa posição é a de que, quando formaram possuem vários graus de poder e
guiadas por uma urgência para construir co- de efetividade, dependendo das histórias re-
letivamente uma “unidade descentralizada” gionais e nacionais e do equilíbrio de forças
que tenta trabalhar ao longo das diferenças, em cada localidade. Contudo, tem se torna-
todas essas críticas da pedagogia crítica – fe- do ainda mais claro que as forças que estão
minista, racial crítica e ecológica – e outras por trás dessa aliança atualmente detêm o
(por exemplo, sexualidade e capacidade, ver poder hegemônico por meio da criação de
Chang, 2005; Erevelles, 2005; Kumashiro, conexões entre o “bom senso” das pessoas e
22 Apple, Au, Gandin e cols.

o uso de tais conexões para desarticular os As interpretações isentas de erro dos textos
grupos sociais e os indivíduos de seus com- sagrados oferecem orientações para a estru-
promissos ideológicos e sociais anteriores tura familiar e para os papéis de gênero – e
e para rearticulá­‑los em novos. Esse é um para o que conta como conhecimento legíti-
processo muito criativo, examinado por aca- mo e ação legítima em geral. Na educação
dêmicos como Hall (1980b), Apple (1996, do Ocidente, a agenda autoritária populista
2000, 2006), Apple e Buras (2006), Apple se manifesta, por exemplo, em lutas pela
et al. (2003), J. S. Torres (2001) e uma série exclusão do evolucionismo e pela inclusão
de outros. do criacionismo e do design inteligente nas
Em muitas nações, essa aliança – o que aulas de ciências e pelo rápido crescimento
se chamou de “modernização conservadora” do home schooling (ensino feito em casa),
(Apple, 2006; Dale, 1989­‑90) – é feita de fe­nômeno agora encontrado de maneira
pelo menos três, e às vezes quatro, forças crescente em países como Dinamarca, No-
sociais – neoliberais, neoconservadores, ruega, Alemanha, Austrália, Inglaterra, Isra-
conservadores religiosos autoritários e po- el e em outros países (Apple, 2006; Beck,
pulistas (especialmente poderosos nos Es- no prelo).
tados Unidos, Paquistão, Índia, Israel e em A quarta parte dessa aliança é a nova
outros países) e a classe média profissional classe média profissional e gerencial. Essa
e gerencial. Os neoliberais são geralmente fração de classe usa seu conhecimento téc-
orientados por uma visão de estado fraco, nico em gerenciamento e eficiência para
de estudantes como capital humano e de sustentar os sistemas de responsabilização
mundo como uma espécie de supermercado final, avaliação, produção e mensuração
pronto para a competição do consumidor (e exigidos pela ênfase neoliberal do merca-
do produtor). Na educação, a agenda neoli- do e pelo controle neoconservador sobre
beral manifesta­‑se em ligações mais íntimas o conhecimento (ver Clarke e Newman,
entre as escolas e as empresas, além da im- 1997, para uma elaboração mais aprofun-
plementação de reformas de “livre merca- dada desses compromissos). Na educação,
do”, tais como os vouchers (vale-escola), na essa fração de classe, além de sustentar,
política educacional. Os neoconservadores, beneficia­‑se, por exemplo, dos sistemas de
por outro lado, são em geral orientados por elevadas exigências, dos testes padroniza-
uma visão de estado forte que detenha o dos e das políticas educacionais construídas
controle sobre o conhecimento, a cultura e sobre as formas redutoras de responsabili-
o corpo. Buscam um retorno a um passado dade final, já que fornecem os meios técni-
romântico em que o “verdadeiro conheci- cos para tornar operacionais tais sistemas e
mento”, a moralidade e uma ordem social políticas. Eles se envolvem em complicadas
supostamente estável existiam. Na educa- estratégias de conversão, nas quais determi-
ção, o neoconservadorismo se manifesta em nados tipos de capital (capital cultural) são
testes e currículos nacionais, em padrões de convertidos em capital social e econômico.
conteúdo, na defesa do cânone ocidental de É frequentemente esse seu jogo cultural que
conhecimento, em um patriotismo relativa- também domina a política educacional (Ap-
mente acrítico e na educação moral (Apple, ple, 2006; Au, 2008).
2006; Buras e Apple, 2008). Embora cada grupo dessa aliança te-
Os populistas autoritários são diferen- nha sua própria dinâmica interna e trajetó-
tes tanto dos neoliberais quanto dos neocon- rias históricas, juntos eles têm “criativamen-
servadores. Sua sensibilidade relativa à or- te costurado diferentes tendências sociais e
dem social vem diretamente da autoridade compromissos, organizando­‑os sob sua pró-
bíblica e da “moralidade cristã” (embora às pria liderança geral” (Apple, 2005, p. 272)
vezes sua autoridade possa vir de leituras do e assim representam uma “modernização
Corão, ou, digamos, de textos hindus, como conservadora” de políticas sociais, culturais,
no caso do movimento hindutva na Índia). econômicas e educacionais em múltiplas
Educação crítica 23

nações, incluindo aquelas com um passado manter a legitimidade das teorias, políticas
supostamente social democrático ou mesmo e práticas educacionais críticas. Em segun-
socialista (Apple, 2006; Apple et al., 2003). do lugar, nós três (Apple, Au e Gandin) pen-
samos que temos muito a aprender com as
forças da Direita, que tem demonstrado que
Movimentos sociais é possível construir uma aliança de grupos
progressistas e educação distintos e, no processo, engajar­‑se em um
projeto social e pedagógico vasto para mu-
Um reconhecimento – e o testemunho dar a maneira fundamental pela qual uma
– das condições preocupantes, especialmen- sociedade considera os direitos e a (in)jus-
te nas escolas urbanas é o que funda parte tiça. As políticas radicais que há apenas al-
do trabalho recente sobre os movimentos guns anos pareceriam estranhas e bastante
sociais progressistas, um trabalho que atua tolas são hoje aceitas como senso­‑comum.
como um contrapeso da análise crítica das Embora não queiramos emular sua políti-
alianças hegemônicas conservadoras. Por ca cínica e manipuladora, ainda podemos
exemplo, o recente livro de Jean Anyon, Ra­ aprender muito com a Direita sobre como
dical Possibilities: Public Policy, Urban Edu­ os movimentos pela mudança social podem
cation and a New Social Movement (2005), ser construídos em meio a diferenças ideoló-
trata do que estamos falando. O livro des- gicas. O capitalismo (assim como os regimes
creve e critica a estruturação escolar sob históricos que cercam a raça e o gênero, e
os aspectos da classe e da raça nos Estados as interseções e contradições dessas dinâmi-
Unidos – e, no processo, oferece em última cas) desempenha um grande papel de força
análise possibilidades para mobilização em motriz que está por trás dessas dinâmicas e
torno dos movimentos sociais. O livro tam- movimentos, mas dizer isso informa muito
bém consegue ir bem além dos floreios re- pouco sobre por que as pessoas participam
tóricos que criticamos anteriormente.1 Uma das mobilizações e movimentos direitistas e
expressão fundamental da análise de Anyon como eles podem ser convencidos em par-
é “um novo movimento social”. Anyon re- ticipar de mobilizações e movimentos mais
conhece algo que outros discutiram em progressistas.
maior extensão em outros textos – que os Enquanto Apple enfoca a compreensão
movimentos sociais são as forças motrizes crítica de por que a Direita está ganhando
que estão por trás de boa parte das trans- e o que devemos aprender com ela, Anyon
formações sociais e educacionais (Apple, muda o enfoque radicalmente. A autora
2000). Na obra de Apple, descrita antes, dirige nossa atenção para as mobilizações
boa parte da atenção crítica foi dedicada às progressistas históricas e atuais que fizeram
forças e aos movimentos que estão por trás a diferença na sociedade. Ela examina as
das políticas neoliberais e neoconservadoras especificidades de tais movimentos sociais,
atuais envolvidas na modernização conser- documentando o porquê e o como de eles
vadora, por duas razões. Primeiramente, terem impulsionado esta sociedade, às ve-
gostemos ou não, esses movimentos têm zes contra grandes dificuldades, rumo a um
sido cada vez mais poderosos na transfor- maior compromisso com a justiça social.
mação de nossas noções de democracia e Nós concordamos com a afirmação de
cidadania. Os efeitos sociais, econômicos e Anyon de que as escolas desempenham pa-
educacionais das políticas que têm chegado péis cruciais no levantamento de questões
da Direita com frequência têm sido muito críticas e na construção de movimentos que
negativos, especialmente para quem dispõe desafiam tanto os modos pelos quais a eco-
do mínimo em nossa sociedade e em outras nomia hoje funciona desigualmente quanto
(Apple, 2006; Apple et al., 2003; Apple e os modos pelos quais, digamos, a política ra-
Buras, 2006), e um dos seus maiores efeitos cial opera em cada uma das nossas institui-
tem sido o de tornar cada vez mais difícil ções. Não somos românticos quanto a essas
24 Apple, Au, Gandin e cols.

possibilidades. Mas as escolas são lugares de


A pedagogia crítica pode
conflito. Elas incorporam não apenas nossas
ser colocada em prática?
derrotas, mas também nossas vitórias em
muitos países. Assim, precisam ser conside-
radas muito seriamente. Embora seja crucial “testemunhar”,
Anyon nos ajuda aqui. No processo reconhecer e analisar a força e as reais con-
de contar as histórias de diferentes tipos sequências das políticas neoliberais e neo-
de movimentos, Anyon também demons- conservadoras (Apple, 1996, 2000, 2006;
tra como, pela participação em ações po- Gandin, 1994, 1998, 1999) e documentar
líticas, os grupos despossuídos formam no- os modos pelos quais os novos movimentos
vas identidades ativistas ao mesmo tempo sociais podem crescer, e têm crescido, para
em que se faz um progresso bastante real contrapor­‑se a tais movimentos e tendências
cultural, educacional, política e economi- conservadoras, é também essencial enten-
camente (ver Apple e Buras, 2006). Mas der as renegociações que são feitas em nível
os movimentos ativistas não só ajudam a regional e em nível municipal. Conforme
transformar as instituições e políticas eco- enfatiza Ball (1994), “as políticas [...] são
nômicas, políticas, culturais e educacionais. um conjunto de tecnologias e práticas que
Eles também têm efeitos profundos sobre se realizam e pelas quais se lutam em am-
outras organizações semelhantes ou simpa- bientes locais” (p. 10). Assim, mais do que
tizantes. Os movimentos que faziam o que dar por certo que as políticas neoliberais e
parecia ser à época demandas utópicas e neoconservadoras ditam exatamente o que
radicais, historicamente têm impulsiona- ocorre em nível local, temos de estudar as
do organizações mais tradicionais, criando rearticulações que ocorrem nesse nível para
uma situação em que estas devem também que sejamos capazes de mapear a criação de
apoiar mudanças fundamentais nas políti- alternativas. É aqui que a(s) tradição(ões)
cas que são amplamente discriminatórias e da pesquisa crítica, o papel do pesquisador
danosas (Sewell, 2004). como “secretário crítico” e a ênfase freiriana
Anyon é muito honesta quanto ao que sobre a política da interrupção se unem.
de fato é necessário para mudar as escolas, Os educadores de uma série de nações
o que é muito animador, já que com muita tiveram de lidar com as grandes transforma-
frequência parecemos nos contentar com ções de ideologia, políticas e práticas para as
slogans críticos, em vez de examinar o que quais apontamos neste capítulo. Para nós, é
de fato é possível e como trazer essas pos- importante aprender duas coisas com as ex-
sibilidades à existência no mundo real das periências de outros educadores que estão
escolas e das comunidades. Anyon destaca lutando contra as forças da desigualdade.
as coalizões poderosas que envolvem os mo- Primeiramente, podemos aprender sobre os
vimentos antirracistas, as mobilizações de efeitos reais das políticas e práticas neolibe-
classe e também o papel central das mulhe- rais e neoconservadoras na educação. Em
res ativistas nessas lutas (ver também Apple segundo lugar, e de modo até mais impor-
e Buras, 2006). Ela coloca a política de raça tante, podemos aprender como interromper
e classe no centro das discussões. Em essên- as políticas e práticas neoliberais e neocon-
cia, seguindo a liderança que advém, diga- servadoras e como construir alternativas
mos, das comunidades negras, ela consegue educacionais mais integralmente democrá-
destacar os modos pelos quais os movimen- ticas (Apple, 2006; Apple e Buras, 2006).
tos contra a economia de classe e de raça, o Um dos melhores exemplos disso
estado racial, e na política da vida cotidiana encontra­‑se atualmente em Porto Alegre
criam novas identidades políticas coletivas e (Gandin, 2006). As políticas que foram
mais poderosas que podem desafiar os racis- postas em prática pelo Partido dos Traba-
mos hegemônicos e as realidades hegemô- lhadores, tais como o “orçamento partici-
nicas de classe. pativo” e a “Escola Cidadã”, têm ajudado
Educação crítica 25

a construir a sustentação de políticas mais ção mais ativa na construção de soluções a


progressistas e democráticas, em face do esses problemas (Gandin, 2006).
poder crescente dos movimentos neoli- Repita­‑se que não desejamos ser ro-
berais que ocorrem em nível nacional. O mânticos aqui. Há problemas em Porto Ale-
Partido dos Trabalhadores conseguiu au- gre – políticos, econômicos e educacionais
mentar sua maioria, mesmo entre as pes- (Gandin e Apple, 2003). Contudo, apesar
soas que haviam anteriormente votado em disso, somos otimistas quanto ao impacto
partidos com programas educacionais e duradouro de suas iniciativas democráticas
sociais muito mais conservadores, porque e sua construção de uma educação mais di-
comprometeu­‑se em capacitar mesmo os versa e inclusiva. Por si só, a Escola Cidadã
mais pobres de seus cidadãos a participar tem sido muito bem­‑sucedida na inclusão de
de deliberações que tratavam das próprias toda uma população que, se não fosse por
políticas e de onde e como o dinheiro deve- esse projeto, estaria fora das escolas e até
ria ser gasto. Ao prestar atenção a formas mesmo excluída de uma sociedade já ativa-
mais substantivas de participação coletiva mente excludente. Mas o aspecto educativo
e, da mesma forma, ao dedicar recursos ao mais amplo da Escola Cidadã – dar poder
estímulo à participação, Porto Alegre de- às comunidades empobrecidas onde elas
monstrou que é possível ter­‑se uma demo- estão e transformar tanto as escolas quanto
cracia mais “densa”, mesmo em períodos de aquilo que conta como “conhecimento ofi-
crise econômica e ataques ideológicos dos cial” lá – é também de significativa impor-
partidos neoliberais e da imprensa conser- tância. As transformações de Porto Alegre
vadora. Programas como a “Escola Cidadã” representam novas alternativas na criação
e o compartilhamento do poder real com de uma cidadania ativa – uma cidadania
quem vive nas favelas, bem como com as que aprende com suas próprias experiências
classes trabalhadoras e a classe média, com e cultura – não só para agora, mas também
os profissionais, e outros, oferecem amplas para as gerações futuras. Por essas razões,
evidências de que uma democracia densa acreditamos que as experiências de Porto
apresenta alternativas realistas à versão de Alegre têm considerável importância não só
democracia esquálida que encontramos no para o Brasil, mas também para todos nós
neoliberalismo (Gandin, neste livro; Apple que estamos profundamente preocupados
et al., 2003; Apple e Buras, 2006). com os efeitos da reestruturação neoliberal
A Escola Cidadã tem sido importan- e neoconservadora da educação e da esfera
te não apenas como uma maneira de dar a pública em geral. Há muito a aprender com
uma população empobrecida uma educação as lutas que tiveram sucesso lá. Compreen-
de qualidade que a capacitará a ter melhores der essas lutas, documentá­‑las e sustentá­‑las
chances no mercado de trabalho e a atuar ativamente pode ajudar­‑nos em nossas ten-
como cidadãos com poder, mas também por- tativas de viver as tarefas da análise e da
que gerou formas estruturadas de “educar” ação educacionais críticas que indicamos no
as comunidades, tanto para organizarem­‑se começo deste capítulo.
e discutirem seus problemas quanto para
agir por conta própria por meio de canais de
participação e deliberação. No processo, ela Esboçando o
também “educou” os agentes do estado. As conteúdo deste livro
reformas administrativas, organizacionais e
curriculares – tomadas em conjunto – ajuda- Não é possível para nós entendermos
ram a criar o começo de uma nova realidade os limites e as possibilidades do trabalho
para os excluídos. Eles forjaram novas lide- educacional crítico a não ser que tenhamos
ranças, trouxeram à tona o engajamento ati- uma compreensão profundamente séria dos
vo das comunidades nas próprias situações contextos econômicos, políticos e ideológi-
das comunidades, e conduziram à participa- cos nos quais tal trabalho seria feito. A seção
26 Apple, Au, Gandin e cols.

dedicada aos “Contextos sociais e estru­turas a dinâmica da(s) masculinidade(s) na esco-


sociais” oferece uma análise crítica de­talhada larização (Weaver­‑Hightower); a inserção
do contexto econômico e social e das lutas das necessidades especiais como preocupa-
ideológicas que cercam a educação. A seção ção central das lutas críticas na educação
inclui um enfoque das realidades globais as- (Slee); o papel fundamental do conheci-
sociadas ao neoliberalismo e às formas capi- mento indígena e das identidades indígenas
talistas globais, incluindo as maneiras pelas na luta secular relativa ao poder desigual e à
quais a dinâmica do neoliberalismo e do educação (Grande); e os modos pelos quais
neoconservadorismo estrutura as reformas novas perspectivas baseadas no trabalho de
educacionais nacional e internacionalmen- Foucault podem dar continuidade (além de
te. Os capítulos incluem interrogações sobre: questionar e acrescentar elementos) à tradi-
o modo pelo qual o Banco Mundial e o Fundo ção crítica de examinar os conceitos de su-
Monetário Internacional exercem considerá- jeito, poder e discurso (Fischer).
vel poder sobre as reformas educacionais no Talvez a figura mais central internacio­
mundo todo (Robertson­ e Dale); os modos nalmente para o desenvolvimento da educa-
pelos quais o neoliberalismo propiciou o con- ção crítica seja Paulo Freire. Sua influência
texto de reformas influentes, tais como a No permanece um elemento fundamental no
Child Left Behind (Nenhuma criança deixada mundo. Por causa disso, dedicamos uma
para trás) nos Estados Unidos (McCarthy et seção inteira do livro, “O legado freiriano”,
al.); os impulsos em favor da privatização e às raízes conceituais e políticas da tradição
do domínio corporativo no controle das esco- que evoluiu a partir de sua obra e aos modos
las (Saltman); as tensões contínuas da políti- pelos quais ela influenciou os educadores
ca e do neoliberalismo sobre o conteúdo cur- críticos de uma série de áreas. Os capítulos
ricular na Europa, especialmente na Espanha dessa seção contêm: uma análise detalhada
(Torres Santomé). dos princípios teóricos e políticos subjacen-
Fazer a análise crítica da maneira pela tes à pedagogia crítica de Freire, bem como
qual o poder opera na educação exige uma seu desenvolvimento em diferentes contex-
imensa sutileza e um reconhecimento da tos (Au); uma releitura de A pedagogia do
multiplicidade das relações de poder em oprimido, demonstrando a persistência de
qualquer contexto. A próxima seção do livro sua relevância para as demandas de uma
(“Redistribuição, reconhecimento e poder educação verdadeiramente radical (Fisch-
diferencial”) traz análises bem construídas man); o trabalho imensamente criativo de
do que Nancy Fraser (1997) corretamente Augusto Boal e o papel do Teatro do Oprimi-
chamou de política de redistribuição e po- do nas mobilizações contra a dominação no
lítica de reconhecimento. Entre as dinâmi- Brasil e em outros lugares (Rosa); como as
cas com as quais tal parte do livro lida estão abordagens freirianas de fato foram institu-
áreas cruciais como: o estudo neomarxista cionalizadas no âmbito da educação crítica
da desigualdade na educação (Au e Apple); nos Estados Unidos, principalmente no esta-
as relações de classe e a práxis educacio- do da Califórnia (Wong).
nal (Scatamburlo­‑D’Annibale e McLaren); A política da educação crítica e a in­
as contribuições da Teoria racial crítica fluência das múltiplas tradições de educação
(Ladson­‑Billings): branquidade como o fun- crítica podem ser encontradas em todos os
damento sempre presente na política e na níveis educacionais. Essas tradições também
prática educacional (Leonardo); os modos foram influentes na transformação institucio-
pelos quais as abordagens pós­‑estruturais nal. A seção seguinte, “A política da prática e
feministas oferecem recursos fundamentais a recriação da teoria”, contém análises bem
para a realização de análises da educação pensadas da influência de uma abordagem
(McLeod); a importância central que a se- verdadeiramente crítica à educação nos se-
xualidade e heteronormatividade ocupam guintes temas: construção de alternativas
na escolarização (Loutzenheiser e Moore); críticas na educação de adultos (Mayo);
Educação crítica 27

compreensão e interrupção do papel da mí- enfocando: os impulsos metodológicos que


dia na democracia radical (Kellner e Share); surgem e que sustentam algumas das novas
na reestruturação da educação do professor formas de pesquisa etnográfica que se des-
de maneira poderosa e socialmente reflexiva dobra no contexto da globalização (Weis,
(Zeichner e Flessner); criação de instituições Fine e Dimitridis); os usos de novas tecno-
e processos socialistas contra­‑hegemônicos logias tais como os Sistemas de Informação
historicamente (Teitelbaum); condução à Geográfica no rastreamento das desigualda-
pressões criativas para a transformação dos des crescentes pioradas pelas novas formas
sistemas escolares nacionais (Flecha); trans- de capitalismo (Choi); a significação dos
formações básicas e por inteiro de sistemas métodos quantitativos para complementar
escolares que tenham resistido ao teste do os métodos mais qualitativos que domina-
tempo e às turbulências políticas em lugares ram a pesquisa crítica (Ferrare); e como a
como o Brasil (Gandin); seu papel como lu- pesquisa comparativa deve dar conta da
gar para o desenvolvimento de movimentos política do orientalismo e das perspectivas
contínuos para interromper o neoliberalismo pós­‑coloniais (Nozaki).
e o neoconservadorismo no Japão (Takaya-
ma); e a influência crescente em lugares que
tenham uma autoridade central estatal mui- Posfácio pessoal e político
to forte sobre a educação em nações como a
China (Yan e Chang). Na seção que conclui este capítulo,
Muitos dos esforços e resultados mais queremos ser bastante francos. Estamos
criativos da educação crítica podem ser en- conscientes do fato de que os imensos ga-
contrados nos movimentos sociais. Em “Mo- nhos que foram conquistados pela educação
vimentos sociais e trabalho pedagógico”, crítica ao longo das três últimas décadas tor-
cada um dos capítulos enfoca as conexões naram a tarefa de propiciar um quadro com-
entre os movimentos organizados e a cons- pleto das comunidades críticas de educação
trução de sérias transformações ideológi- algo praticamente impossível. Tomamos
cas e sociais. Estas incluem os modos pelos isso como um símbolo extremamente posi-
quais os movimentos sociais radicais leva- tivo da pujança de um conjunto de tradições
ram a possibilidades contra­‑hegemônicas que ainda está em formação. Dado o fato
na educação (Anyon); o lugar que os sin- de que essas tradições estão fundadas nas
dicatos de professores politicamente com- oito tarefas que salientamos no início desta
prometidos têm ocupado nas batalhas sobre introdução, um dos fundamentos principais
a escolaridade criticamente democrática está no elemento da análise crítica. Um li-
em muitas nações (Compton e Weiner) e vro como este é um momento da progres-
no caso da Coreia do Sul, onde essas lutas são dialética dessas tradições da crítica e de
foram particularmente intensas (Kang); e a afirmação de novas realidades e novas lutas
importância dos movimentos sociais popu- contra as condições opressivas. E um livro
lares no desenvolvimento de formas poli- como esse precisa também afirmar projetos
ticizadas de educação popular na América mais emancipadores que tenham surgido
Latina (­ Sandler). dessas críticas. Por causa da própria natu-
Paralelamente à influência da edu- reza deste projeto e dos campos políticos,
cação crítica sobre o desenvolvimento de empíricos, conceituais e práticos dos quais
teorias, políticas e práticas nas lutas edu- ele fala, consideramos este livro como uma
cacionais e culturais, há um conjunto con- avaliação “temporária” que por sua própria
comitante de influências sobre as políticas e natureza precisará ser aprimorada, supera-
processos de pesquisa. Essa influência está da e sujeita, ela própria, aos tipos de crítica
crescendo rapidamente. A seção sobre “Mé- que são necessários para que participemos
todos de pesquisa crítica para a educação do que um de nós chamou de “unidades des-
crítica” documenta alguns desses ganhos, centralizadas” que são tão necessárias em
28 Apple, Au, Gandin e cols.

tempos de exploração, dominação e cons- papel do inglês como projeto imperial, hoje
tantes lutas contra ambas. Portanto, todos só podemos apontar para esse fato como
os autores e organizadores deste livro dão parte de um dilema.
as boas­‑vindas ao diálogo que inevitavel- Além disso, há outras questões “lin-
mente decorrerá de um livro deste tipo. guísticas” que devem ser enfrentadas. De
Aqui estão algumas das tensões que re- alguma forma, temos tratado a educação
conhecemos nesta coletânea. Historicamen- crítica como se fosse um substantivo, algo
te, tem havido um problema muito real que que pode ser conhecido, mesmo que tem-
tem se chamado de “virgulação” (Gillborn, porariamente; contudo, como todas as pes-
2008) no mapeamento das relações opres- soas que participam deste livro entendem
sivas (por exemplo, classe, gênero, raça, se- integralmente, a educação crítica é mais
xualidade, capacidade...). Ao mesmo tempo bem compreendida como um verbo. Ela de-
em que nós percebemos os imensos perigos manda múltiplas espécies de ação, reposi-
desse modelo cumulativo, também percebe- cionamento pessoal e social e uma vontade
mos que ele leva a ignorar o problema da constante de correr riscos. Esse é um ponto
interseccionalidade (Gillborn, 2008). Como crucial. Conforme Mike Davis (2006) lem-
exemplo, a classe ocorre nos corpos racia- bra, em seu retrato devastador das manei-
lizados e sexualizados/atravessados pelo ras pelas quais as pessoas vivem (“existir”
gênero. Nenhum livro poderia resolver inte- seria uma palavra bem melhor) sob as pio-
gralmente problemas como esses nem tratar res condições do capitalismo global, mesmo
com respeito o número crescente de rela- as palavras que ignoramos, como “comida”
ções de dominância e de exploração. Assim, e “abrigo” são reificadas de modo demasia-
há silêncios sobre dinâmicas cruciais que, damente fácil e pensadas como substanti-
dadas as limitações de espaço e de recursos, vos. Mas para milhões de pessoas em todo
não puderam ser incluídas. o mundo, seria o mais alto luxo considerar
O mapa que apresentamos neste ca- essas “palavras” como substantivos. Nossa
pítulo, assim como o livro em si, é tempo- vida cotidiana é condicionada pelo trabalho
rário. É um primeiro passo, que claramente constante em busca do alimento, do abrigo.
requer um mapeamento político contínuo, e Movimentos sociais progressistas formaram­
esses mapas devem ser constantemente re- ‑se nas nações do mundo para que houvesse
desenhados. Mesmo antes de a importante uma mobilização pelo trabalho voltado à
obra de Foucault ter ingressado no campo “comida” e ao “abrigo”. A percepção de Da-
da educação, muitas pessoas perceberam vis precisa ser levada a sério por todos nós,
que as categorias que são empregadas para que estamos envolvido na educação crítica.
mapear o mundo tanto significam quanto Só depois é que poderemos ter uma com-
criam nexos entre conhecimento e poder preensão mais completamente relacional do
(ver Apple, 1979/2004). Mas os proble- que significa de fato reposicionar­‑se.
mas de categorização e as relações poder­ Paulo Freire nos lembra de modo con-
‑conhecimento que eles estabelecem são sistente de que qualquer educação digna de
apenas uma das questões que enfrentamos. seu nome deve começar e terminar com um
Embora tenhamos nos esforçado por contar diálogo honesto. Reconhecendo o dilema
com análises de muitas partes do mundo, que observamos acima, e para estimular o
este livro foi escrito em inglês. A política da tipo de diálogo constante que é uma carac-
língua é uma política real. Inevitavelmente, terística essencial da educação crítica sob
um livro como este, independentemente de todas as suas formas, desejamos passar a to-
seu tamanho, acaba por parcialmente cen- dos nossos endereços eletrônicos (e­‑mails):
trar vozes dominantes mesmo quando tenta Michael Apple <apple@education.wisc.
estar consciente disso (ver Takayama, nes- edu>; Wayne Au <wau@exchange.fuller-
te livro). Dada a geopolítica editorial e da ton.edu>; Luís Armando Gandin <Luis.
escrita acadêmica (Canagarajah, 2002), e o Gandin@ufrgs.br>.
Educação crítica 29

Recebemos bem e, na verdade, pe- Apple. M. W. (1971). The hidden curriculum and
dimos que haja, respostas, afirmações, the nature of conflict. Interchange, 2(4), 27-40.
sugestões, críticas, como parte de nosso Apple, M. W. (1979/2004). Ideology and curriculum
compromisso de manter a educação crítica (3rd ed.). New York: RoutledgeFalmer.
em movimento constante. Se as visões e as Apple, M. W. (1986). Teachers and texts. New York:
ideologias dominantes da educação tentam Routledge & Kegan Paul.
cimentar apenas aquelas formas e aqueles Apple, M. W. (1988). Standing on the shoulders of
processos que são hegemônicos, nossa ta- Bowles and Gintis. History of Education Quarterly,
refa, a tarefa da contra­‑hegemonia, não é 28(2), 231-241.
substituir um objeto reificado por outro. A Apple, M. W. (1995). Education and power (2nd
educação crítica é um projeto coletivo, um ed.). New York: Routledge.
projeto que é absolutamente vital para cons- Apple, M. W. (1996). Power, meaning and identity.
trução e defesa de uma educação digna de British Journal of Sociology of Education, 17(2),
seu nome. Dedicamos este livro àquelas mi- 125-144.
lhares e milhares de pessoas no mundo todo Apple, M. W. (2000). Official knowledge (2nd ed.).
que não só matêm viva uma educação digna New York: Routledge.
de seu nome, mas que continuam a ensinar Apple, M. W. (2005). Doing things the “right” way.
a todos nós o que é possível mesmo em con- Educational Review, 57(3), 271-293.
dições que possam com frequência levar ao Apple, M. W. (2006)- Educating the “right” way
cinismo. Um famoso teórico e ativista políti- (2nd ed-). New York: Routledge.
co certa vez disse que as pessoas fazem sua Apple. M. W. Aasen, P., Cho. M. K., Gandin, L. A.,
própria história, mas não sob as condições Oliver, A., Sung, Y.-K., et al. (2003). The state and
que tenham elas mesmas escolhido. Não po- the politics of knowledge. New York: Routledge.
demos controlar todas as condições de nos- Apple, M. W., & Beane, J. A. (Eds.). (2007).
so trabalho, mas, acima de tudo, continua- Democratic schools (2nd ed.). Portsmouth, NH:
Heinemann.
remos a fazer nossa própria história.
Apple, M. W., & Buras, K. L. (Eds.). (2006). The
subaltern speak. New York: Routledge.
Apple, M. W., &; Weis, L. M. (1983). Ideology and
Nota practice in schooling. In M. W. Apple & L. M. Weis
(Eds.), Ideology and practice in schooling (p. 3-33).
1 Precisamos dizer abertamente que alguns dos Philadelphia, PA: Temple University Press.
livros mencionados neste ensaio, especial- Arnot, M. (2004). Male working-class identities
mente os livros de Anyon e Weis, estão em and social justice. In N. Doby & G. Dimitriadis
uma série que um de nós (Apple) organiza. (Eds.), Learning to labor in new times (p. 17-40).
Mas já que a tarefa que nos foi pedida neste New York: RoutledgeFalmer.
ensaio era a de dar uma noção do estado Au, W. (2006). Against economic determinism.
do trabalho crítico nos Estados Unidos e em Journal for Critical Education Policy Studies, 4(2).
outros países, e esses livros são afirmações Retrieved December 12, 2006, from http://www.
importantes disso, sentimos que excluí­‑los jeeps.com/?pageID=article&articleID=66
teria levado a uma atitude inadmissível de
Au, W. (2008). Between education and the eco-
silêncio.
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