Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Introdução
1 o MAPeAMeNto DA
eDuCAção CrÍtICA
Michael W. Apple, Wayne Au e Luís Armando Gandin
não reformistas” que são, em muito, par- espaços, nas universidades e em outros
te dessas tradições radicais (Apple, 1995; lugares, para quem ainda não está lá,
Jacoby, 2005; Teitelbaum, 1993). para quem hoje não tem uma voz em tal
6 Manter as tradições vivas e criticá‑las espaço, e nos locais “profissionais” a que,
sem deixar de apoiá‑las quando elas não por estar em posição privilegiada, você
são adequadas para lidar com as realida- tem acesso.
des atuais é algo que não pode ser feito,
a não ser que perguntemos “Para quem Essas oito tarefas são exigentes e ne-
estamos mantendo vivas tais tradições?” nhuma pessoa pode envolver‑se nelas igual-
e “Como e de que forma elas podem ser mente bem e simultaneamente. Contudo,
disponibilizadas?”. Todas as coisas que há uma longa tradição de pensamento aca-
mencionamos nessa tentativa taxonômi- dêmico crítico e de trabalho cultural crítico
ca exigem reaprendizagem ou desenvol- ao longo de dinâmicas múltiplas que têm
vimento e uso de novas e variadas com- buscado “testemunhar a negatividade” e
petências de lidar em muitos níveis com recapturar a memória coletiva do trabalho
grupos múltiplos. Assim, as competên- pedagógico que seja genuinamente contra
cias jornalísticas e midiáticas, acadêmi- ‑hegemônico. Devemos examinar isso no
cas e populares, e a capacidade de falar a próximo subcapítulo.
audiências muito diferentes são cada vez
mais cruciais.
7 Os educadores críticos devem também As raízes políticas
agir juntamente com os movimentos so- da pedagogia crítica
ciais apoiados por seu trabalho ou com os
movimentos contra os pressupostos direi- Antes de o termo “pedagogia crítica”
tistas e com as políticas que analisam cri- ter sido cunhado por intelectuais e ativis-
ticamente. Assim, a formação acadêmica tas críticos da América Latina, como Paulo
em educação crítica ou pedagogia crítica Freire, educadores de várias comunidades
de fato implica tornar‑se um “intelectual nos Estados Unidos e em muitas outras na-
orgânico” no sentido gramsciano do ter- ções assumiram projetos que certamente
mo (Gramsci, 1971). Devemos participar seriam considerados educacionalmente “crí-
e dar nosso conhecimento especializado ticos” pelos padrões de hoje. Essas primei-
aos movimentos que se voltam às lutas ras manifestações da educação crítica com
por uma política de redistribuição e por frequência puseram em questão as relações
uma política de reconhecimento. Tam- sociais existentes e as estruturas de poder,
bém implica aprender com esses mo- levantando críticas substanciais de raça,
vimentos sociais. Isso quer dizer que o classe e relações de gênero, além de ofere-
papel da “intelligentsia despreocupada” cer alternativas radicais para as formas de
(Mannheim, 1936), alguém “que vive educacionais então existentes.
na sacada” (Bakhtin, 1968), não é um Por exemplo, existe uma longa tradi-
modelo apropriado. Conforme lembra ção na comunidade afro‑americana e afro
Bourdieu (2003, p. 11), nossos esforços ‑caribenha (Jules, 1992; Lewis, 1993, 2000)
intelectuais são cruciais, mas eles “não relativa às metas e à natureza de sua educa-
podem ficar observando tudo ao lado, de ção. Pelo menos desde o final do século XIX,
maneira neutra e indiferente, das lutas os intelectuais e ativistas afro‑americanos,
nas quais o futuro da humanidade está por exemplo, têm se envolvido em lutas
em jogo”. relativas ao objeto da educação dos negros
8 Finalmente, a participação também quer nos Estados Unidos e no Caribe, especial-
dizer usar o privilégio que temos como mente tendo‑se em consideração o contexto
acadêmicos/ativistas, isto é, precisamos pós‑escravidão e do racismo institucional
fazer uso de nosso privilégio para abrir atual em seus países (Lewis, 1993, 2000;
Educação crítica 17
Watkins, 1993). Modelos de educação po- Tem havido uma longa tradição de
pular baseados em tais memórias e formas análises críticas feministas da educação,
culturais ofereceram poderosos recursos e ações feministas sobre a educação, em
para a contraposição às narrativas coloniza- várias nações do mundo. Nos Estados Uni-
doras dominantes e seus métodos (Livings- dos, como em qualquer lugar, no início do
ton, 2003; ver também Jules, 1992). século XX, várias mulheres notáveis assu-
Outro exemplo de atividade contra‑he miram papéis de liderança na organização
gemônica, desta feita centrada na escola pú- dos professores – força de trabalho pre-
blica crítica, e que se organiza em torno de dominantemente feminina (Apple, 1986)
questões de raça e classe, pode ser encontra – por melhores condições de trabalho. En-
do na história do Harlem, em Nova York, en tre elas, estavam Grace Stahan, em Nova
tre1935 e o início da década de 1950. Nessa York, e Margaret Haley, em Chicago. Outras
época, o Harlem Committee for Better Scho- mulheres, como Kate Ames, que em 1908
ols (HCBS), uma coalizão de associações de desafiou a Associação dos professores (do
pais, igrejas e grupos de professores e da co- sexo masculino) da Califórnia, lutou contra
munidade uniram‑se para forçar a melhoria a imposição do patriarcado nas estruturas
das escolas do Harlem, incluindo almoços organizacionais e de pagamento (Weiler,
grátis, melhores condições de trabalho para 1989). Com efeito, essas primeiras lutas
os professores e melhores condições físicas de sindicatos dos professores nos Estados
para as próprias escolas. O HCBS é notável Unidos, Inglaterra e em outros locais (Ap-
por várias razões. Uma é a de que era inter ple, 1986) tornaram‑se modelos para uma
‑racial. Originou‑se em grande parte entre organização que dava conta da classe e do
judeus comunistas que ensinavam nas esco- gênero juntos. A história das mobilizações
las do Harlem e que ganharam o apoio da feministas e do trabalho cultural está re-
comunidade por meio do estabelecimento de pleta de exemplos do uso das formas e do
associações de pais e divisões do Sindicato conteúdo culturais populares para pôr em
dos professores, o que permitiu desenvolver questão a dominância. Embora tenha ha-
laços próximos com a maior parte dos pro- vido críticas acerca do fato de o trabalho
fessores afro‑americanos do Harlem. Outra pedagógico crítico desse tipo ter marginali-
razão para destacar o HCBS é que ele repre- zado mulheres não brancas (negras, latinas
sentou a reforma educacional, o ativismo e e de outras minorias raciais), mulheres da
a organização entre vários distritos, porque classe trabalhadora e mulheres do “Tercei-
incluía professores, membros da comunida- ro mundo” (Copelman, 1996; Gomersall,
de e também organizações políticas (Naison, 1997; Martin, 1999; Munro, 1998; Purvis,
1985). Essas são características principais 1991), por vezes esses esforços críticos de
da ação educacional crítica em sua melhor fato rompiam com as distinções de classe.
forma. Embora tenha havido uma ampla A questão da classe é crucial aqui. As
gama de opiniões e perspectivas no âmbito relações de classe e as lutas contra elas,
das comunidades afro‑americanas, todas re- assim, não eram invisíveis na história da
presentam respostas diferentes ao que o his- educação crítica. Na verdade, elas com fre-
toriador Woodson (1933/1990) chamou de quência constituíam um enfoque principal.
“deseducação do negro” nos Estados Unidos As primeiras manifestações de educação
e significam análise de raça substancial e crí- crítica nos Estados Unidos foram além da
tica sobre a educação pública. Mobilizações dinâmica de poder associada com a políti-
similares podem ser encontradas na Inglater- ca de raça e gênero, embora às vezes essas
ra, em outros países e em múltiplas comuni- dinâmicas também tenham sido ignoradas,
dades de diáspora e podem ser encontradas para o detrimento do movimento. Mesmo
em outras dinâmicas igualmente opressivas com esses pontos fracos, contudo, as tenta-
de poder diferencial que envolviam gênero e tivas de construir uma educação que ativa-
classe, naquela época e mais recentemente. mente buscasse interromper a dominância
18 Apple, Au, Gandin e cols.
de classe cresciam em outros países. Na In- muitas outras nações. Com efeito, em quase
glaterra e no País de Gales ao final do século todas as regiões do mundo, há movimentos
XIX e no início do século XX, as lutas pelas poderosos e exemplos de esforços pedagó-
políticas e práticas educacionais socialistas gicos radicais tanto no setor educacional
eram bastante visíveis (Rubinstein e Simon, formal quanto nos programas de alfabeti-
1969; Simon, 1965, 1977, 1991, 1972). En- zação comunitária, de educação trabalhista
tre 1909 e 1911 nos Estados Unidos, mais e mobilizações antirracistas e anticoloniais,
de 100 diretores de escolas socialistas foram movimentos de mulheres e outros (ver, por
eleitos para vários distritos escolares do país exemplo, Van Vught, 1991). Na Coreia do
e, entre 1900 e 1920, os ativistas socialistas Sul, por exemplo, durante a primeira meta-
estabeleceram mais do que 100 escolas do- de do século XX, criaram‑se escolas noturnas
minicais em língua inglesa em 20 Estados, para que houvesse contraposição aos esfor-
variando entre turmas de 10 alunos a esco- ços de colonização dos ocupantes japoneses.
las em que se matricularam mais do que 600 Essas práticas contra‑hegemônicas continua-
alunos (Teitelbaum, 1988, 1993). ram por meio dos esforços do Sindicato de
Os currículos dessas escolas enfatiza- professores coreanos para a construção de
vam que: currículos e modelos de ensino baseados em
princípios democráticos críticos. Esses esfor-
1 as crianças deveriam ficar orgulhosas de ços tiveram de suplantar anos de repressão
fazer parte da classe trabalhadora; do governo (Ko e Apple, 1999; Sung e Apple,
2 os trabalhadores são sistematicamente 2003; ver também Kang, neste livro). Ten-
subordinados e devem encontrar solida- dências similares foram vistas recentemente
riedade com outros grupos oprimidos; na Turquia, onde o governo tentou declarar
3 os alunos devem desenvolver um sentido ilegal o maior sindicato de professores do
de coletivismo; país por causa do compromisso do sindicato
4 os alunos aprendiam sobre as conexões en- tanto com uma pedagogia mais culturalmen-
tre suas condições sociais imediatas com as te responsiva quanto com uma posição crítica
relações socioeconômicas mais amplas; acerca das políticas neoliberais de educação
5 a mudança social fundamental é absolu- e da economia (Egitim Sem, 2004).
tamente necessária; Até agora, demos um breve conjunto
6 as relações socioeconômicas contempo- de exemplos dos esforços feitos por alguns
râneas precisavam ser analisadas critica- grupos subalternos para desafiar a domi-
mente à luz dos entendimentos do sen- nância na educação, esforços que se torna-
so comum sobre o mundo (Teitelbaum, ram cada vez mais espalhados em face do
1991). que se constituiu como consequências sérias
e, com frequência, extremamente repressi-
Embora essas Escolas socialistas domi- vas. Porém, como mencionamos, a educação
nicais não fossem parte do sistema escolar crítica não só envolveu uma ação política e
público, elas representavam uma resposta cultural aberta, mas também gerou e foi ge-
classista da comunidade crítica à educação rada por uma ênfase crescente na pesquisa
pública nos Estados Unidos da época. Esses que tanto documenta forças reprodutoras
tipos de repostas socialistas estão espelha- nas escolas quanto aponta para possíveis ca-
das na Inglaterra e no País de Gales (ver, por minhos para questionar tais forças. Assim,
exemplo, Rubinstein e Simon, 1969; Simon, toda a gama de movimentos e esforços pe-
1965, 1991, 1972) e possuem uma história dagógicos críticos tem sido complementada
poderosa também na América Latina, por pelo crescimento de comunidades múltiplas
exemplo (ver Bulhões e Abreu, 1992; Cal- de conhecimento acadêmico que tem busca-
dart, 2003; C. A. Torres, 1990, 1997, 1995). do tanto testemunhar a negatividade quan-
É crucial perceber que essa história da to documentar os espaços para o trabalho
ação educacional crítica tem paralelos em contra‑hegemônico.
Educação crítica 19
ser (1971), Stuart Hall (1980a) e Raymond igualmente bem sustentado de McRobbies
Williams (1977), e também aos autores da (1978) sobre as maneiras pelas quais a di-
Escola de Frankfurt (Giroux, 2003), a fim de nâmica de classe e de gênero interagia den-
buscar novos direcionamentos teóricos que tro e fora das escolas, grandes ganhos ra-
abordavam as complexidades de que análises pidamente (mas talvez não suficientemente
como as de Bowles e Gintis (1976) careciam rápidos) surgiram e continuaram a ser obti-
(Au, 2006; McCarthy e Apple, 1988; Morrow dos na compreensão dos modos pelos quais
e Torres, 1995; Whitty, 1985; ver também Au formas e práticas culturais populares estão
e Apple, neste livro). dialeticamente interconectadas com prá-
Os líderes que pertencem aos setores ticas e dinâmicas atravessadas por classe,
mais estruturalistas deste movimento ar- raça e gênero/sexo (Arnot, 2004; Epstein e
gumentavam a esse respeito que as escolas Johnson, 1998; Willis, 1990). Como Willis,
consumavam pelo menos três metas, às ve- por exemplo, essas análises apontavam para
zes contraditórias: espaços contraditórios na experiência vivi-
da pelas pessoas em que o trabalho cultural
1 auxiliavam o processo de acumulação seria capaz de colocar a juventude sob lide-
capitalista por meio da contribuição à es- rança mais progressista (Weis, 1990).
tratificação dos alunos; Sem negar essas ênfases sobre a cul-
2 auxiliavam o processo de legitimação de tura vivida, outros buscaram retornar a
ideologias de liberdade, individualismo uma posição marxista mais tradicional. Eles
e igualdade meritocrática, independen- sugeriram que apenas nesse retorno, em
temente da raça, classe ou gênero; combinação com teorias e práticas políti-
3 operavam como um local de produção, cas associadas com figuras como, digamos,
distribuição e consumo de habilidades de Che Guevara, poderiam as teorias educa-
conhecimento, aptidões e cultura (Apple cionais críticas desenvolver seu potencial
e Weis, 1983). para serem verdadeiramente críticas (ver,
por exemplo, McLaren, 2000). Ainda assim,
Essas três “funções” da escolarização mesmo com os imensos ganhos obtidos pe-
podem às vezes funcionar umas contra as las compreensões marxistas e neomarxistas,
outras. Por exemplo, a ideologia dos indi- e na pesquisa baseada em teorias feministas
víduos livres e iguais e que competem entre e antirracistas, essas tradições foram colo-
si (meritocracia) está em contradição direta cadas sob um exame sério. As abordagens
à quantidade significativa de desigualdade feministas pós‑estruturais e as poderosas
de grupo que existe em nossas escolas e na análises baseadas na teoria racial crítica fi-
sociedade. Independentemente disso, essas zeram intervenções provocativas nos deba-
análises críticas tentam lidar com as com- tes sobre tudo isso (Ladson‑Billings e Tate,
plexidades teórico‑conceituais necessárias 1995; Luke e Gore, 1992). Um enfoque so-
ao entendimento de como as hierarquias de bre a indeterminação, sobre a capilarização
poder operam na educação. do poder, sobre o poder como algo produtor
Ainda assim o poder não era unidire- e não apenas reprodutivo, sobre a identi-
cional e rapidamente desenvolveu‑se uma dade e sobre sua “constituição” discursiva,
série de análises bem sustentadas, baseadas em geral baseado em insights foucaultianos
na relação entre a cultura viva, a escola e a (ver, por exemplo, Youdell, 2006), fez da pe-
economia. Estimuladas em parte pelo livro dagogia crítica um terreno de ricos debates
clássico de Willis (1977) sobre as culturas e conflitos. Mas também deu a ela uma vita-
jovens, a relação de classes e a masculini- lidade que faz com se mantenha viva e em
dade, Learning to Labour,* e o pensamento crescimento.
A natureza internacional dessas ques-
*
N. de R.T.: em português, publicado pela Artmed tões tem sido mais visível graças ao cresci-
Editora: Paul Willis, Aprendendo a ser trabalhador. mento das análises baseadas em perspecti-
Educação crítica 21
vas pós‑coloniais. Influenciadas pelas obras 2002) são valiosas. Elas geralmente ajudam
de autores como Said (1978), Spivak (1987, o campo a evoluir e a fortalecer‑se como um
1999), Thiong’o (1986) e Homi Bhabba meio mais viável para fazer a mudança edu-
(1984), as teorias pós‑coloniais provam ser cacional e social (Au e Apple, 2007).
cada vez mais influentes à medida que os
educadores críticos tentam divergir da glo-
balização das políticas neoliberais e neo Educação crítica e movimentos
conservadoras ou tentam interrompê‑las sociais conservadores
(Burbules e Torres, 2000; Dimitriadis e Mc-
Carthy, 2001; Singh, Kell e Pandian, 2002). Tal vitalidade da pedagogia crítica e os
Tudo isso não quer dizer que as críticas conflitos produtivos que ocorrem não garan
feitas à pedagogia crítica não se justificam, tem seu sucesso, porém. Sejamos honestos.
ou que a pedagogia crítica e todo o terreno A pedagogia crítica e a educação crítica co
da pesquisa e da ação educacional crítica mo um todo – e a pesquisa que está dialeti-
em si não tem necessidade de crescer. As camente conectada a elas – são um conjunto
pesquisadoras feministas e raciais críticas de projetos que está amadurecendo e está
estão entre as muitas que lutam para que a em andamento: projetos inacabados. Am-
pedagogia crítica em geral aborde o racis- bas continuam a ser vitalmente necessárias.
mo, o sexismo e as homofobias (Kumashiro, Bem realizados, tais projetos oferecem análi-
2002) e outras formas de poder na educa- ses críticas que dão aos teóricos e aos profis-
ção. Por exemplo, o importante livro edita- sionais um meio de intervir nas contínuas e
do por Luke e Gore (1992), Feminisms and até mesmo crescentes desigualdades sociais
critical pedagogy, oferece uma série de tex- e educacionais. Contudo esse conjunto dual
tos que desafiam alguns dos fundamentos de projetos é às vezes enfraquecido por sua
da pedagogia crítica com base no fato de tendência ao “‘possibilitarianismo’ românti-
ela ter falhado em seu “engajamento com co” (Whitty, 1974), sua falta de um sentido
o feminismo” (Kenqy e Modra, 1992, p. estratégico refinado do poder dos movimen-
138) ao mesmo tempo em que, em mui- tos sociais e, especialmente, dos movimentos
tos de seus capítulos, mantém uma visão sociais direitistas dentro e fora da educação
que ainda sustenta as metas gerais eman- em um número considerável de nações (Ap-
cipadoras da pedagogia crítica. De modo ple, 2006; Takayama e Apple, 2007). Essa
similar, a excelente coletânea de Leonardo fraqueza é crucial, já que as intervenções as-
(2005b), Critical pedagogy and Race, faz sociadas à pedagogia crítica são de importân-
um trabalho parecido no que diz respeito cia ainda maior, dada a formação recente de
a raça, racismo e pedagogia crítica. Aqui, alianças direitistas extremamente poderosas
Leonardo (2005a) constata que “a questão nos Estados Unidos, no Japão, na Austrália e
da raça desempenhou um papel secundário em tantas outras nações hoje.
no desenvolvimento da pedagogia crítica”, Conforme um de nós (Apple, 2006)
e que a “raça tem estado entrelaçada com a argumentou, existe uma aliança de quatro
pedagogia crítica, mas frequentemente em grandes grupos nos Estados Unidos e em
relação a um engajamento que prioriza a um número crescente de nações do mun-
luta de classes” (p. xii). do. Esses grupos e a aliança tática que eles
Nossa posição é a de que, quando formaram possuem vários graus de poder e
guiadas por uma urgência para construir co- de efetividade, dependendo das histórias re-
letivamente uma “unidade descentralizada” gionais e nacionais e do equilíbrio de forças
que tenta trabalhar ao longo das diferenças, em cada localidade. Contudo, tem se torna-
todas essas críticas da pedagogia crítica – fe- do ainda mais claro que as forças que estão
minista, racial crítica e ecológica – e outras por trás dessa aliança atualmente detêm o
(por exemplo, sexualidade e capacidade, ver poder hegemônico por meio da criação de
Chang, 2005; Erevelles, 2005; Kumashiro, conexões entre o “bom senso” das pessoas e
22 Apple, Au, Gandin e cols.
o uso de tais conexões para desarticular os As interpretações isentas de erro dos textos
grupos sociais e os indivíduos de seus com- sagrados oferecem orientações para a estru-
promissos ideológicos e sociais anteriores tura familiar e para os papéis de gênero – e
e para rearticulá‑los em novos. Esse é um para o que conta como conhecimento legíti-
processo muito criativo, examinado por aca- mo e ação legítima em geral. Na educação
dêmicos como Hall (1980b), Apple (1996, do Ocidente, a agenda autoritária populista
2000, 2006), Apple e Buras (2006), Apple se manifesta, por exemplo, em lutas pela
et al. (2003), J. S. Torres (2001) e uma série exclusão do evolucionismo e pela inclusão
de outros. do criacionismo e do design inteligente nas
Em muitas nações, essa aliança – o que aulas de ciências e pelo rápido crescimento
se chamou de “modernização conservadora” do home schooling (ensino feito em casa),
(Apple, 2006; Dale, 1989‑90) – é feita de fenômeno agora encontrado de maneira
pelo menos três, e às vezes quatro, forças crescente em países como Dinamarca, No-
sociais – neoliberais, neoconservadores, ruega, Alemanha, Austrália, Inglaterra, Isra-
conservadores religiosos autoritários e po- el e em outros países (Apple, 2006; Beck,
pulistas (especialmente poderosos nos Es- no prelo).
tados Unidos, Paquistão, Índia, Israel e em A quarta parte dessa aliança é a nova
outros países) e a classe média profissional classe média profissional e gerencial. Essa
e gerencial. Os neoliberais são geralmente fração de classe usa seu conhecimento téc-
orientados por uma visão de estado fraco, nico em gerenciamento e eficiência para
de estudantes como capital humano e de sustentar os sistemas de responsabilização
mundo como uma espécie de supermercado final, avaliação, produção e mensuração
pronto para a competição do consumidor (e exigidos pela ênfase neoliberal do merca-
do produtor). Na educação, a agenda neoli- do e pelo controle neoconservador sobre
beral manifesta‑se em ligações mais íntimas o conhecimento (ver Clarke e Newman,
entre as escolas e as empresas, além da im- 1997, para uma elaboração mais aprofun-
plementação de reformas de “livre merca- dada desses compromissos). Na educação,
do”, tais como os vouchers (vale-escola), na essa fração de classe, além de sustentar,
política educacional. Os neoconservadores, beneficia‑se, por exemplo, dos sistemas de
por outro lado, são em geral orientados por elevadas exigências, dos testes padroniza-
uma visão de estado forte que detenha o dos e das políticas educacionais construídas
controle sobre o conhecimento, a cultura e sobre as formas redutoras de responsabili-
o corpo. Buscam um retorno a um passado dade final, já que fornecem os meios técni-
romântico em que o “verdadeiro conheci- cos para tornar operacionais tais sistemas e
mento”, a moralidade e uma ordem social políticas. Eles se envolvem em complicadas
supostamente estável existiam. Na educa- estratégias de conversão, nas quais determi-
ção, o neoconservadorismo se manifesta em nados tipos de capital (capital cultural) são
testes e currículos nacionais, em padrões de convertidos em capital social e econômico.
conteúdo, na defesa do cânone ocidental de É frequentemente esse seu jogo cultural que
conhecimento, em um patriotismo relativa- também domina a política educacional (Ap-
mente acrítico e na educação moral (Apple, ple, 2006; Au, 2008).
2006; Buras e Apple, 2008). Embora cada grupo dessa aliança te-
Os populistas autoritários são diferen- nha sua própria dinâmica interna e trajetó-
tes tanto dos neoliberais quanto dos neocon- rias históricas, juntos eles têm “criativamen-
servadores. Sua sensibilidade relativa à or- te costurado diferentes tendências sociais e
dem social vem diretamente da autoridade compromissos, organizando‑os sob sua pró-
bíblica e da “moralidade cristã” (embora às pria liderança geral” (Apple, 2005, p. 272)
vezes sua autoridade possa vir de leituras do e assim representam uma “modernização
Corão, ou, digamos, de textos hindus, como conservadora” de políticas sociais, culturais,
no caso do movimento hindutva na Índia). econômicas e educacionais em múltiplas
Educação crítica 23
nações, incluindo aquelas com um passado manter a legitimidade das teorias, políticas
supostamente social democrático ou mesmo e práticas educacionais críticas. Em segun-
socialista (Apple, 2006; Apple et al., 2003). do lugar, nós três (Apple, Au e Gandin) pen-
samos que temos muito a aprender com as
forças da Direita, que tem demonstrado que
Movimentos sociais é possível construir uma aliança de grupos
progressistas e educação distintos e, no processo, engajar‑se em um
projeto social e pedagógico vasto para mu-
Um reconhecimento – e o testemunho dar a maneira fundamental pela qual uma
– das condições preocupantes, especialmen- sociedade considera os direitos e a (in)jus-
te nas escolas urbanas é o que funda parte tiça. As políticas radicais que há apenas al-
do trabalho recente sobre os movimentos guns anos pareceriam estranhas e bastante
sociais progressistas, um trabalho que atua tolas são hoje aceitas como senso‑comum.
como um contrapeso da análise crítica das Embora não queiramos emular sua políti-
alianças hegemônicas conservadoras. Por ca cínica e manipuladora, ainda podemos
exemplo, o recente livro de Jean Anyon, Ra aprender muito com a Direita sobre como
dical Possibilities: Public Policy, Urban Edu os movimentos pela mudança social podem
cation and a New Social Movement (2005), ser construídos em meio a diferenças ideoló-
trata do que estamos falando. O livro des- gicas. O capitalismo (assim como os regimes
creve e critica a estruturação escolar sob históricos que cercam a raça e o gênero, e
os aspectos da classe e da raça nos Estados as interseções e contradições dessas dinâmi-
Unidos – e, no processo, oferece em última cas) desempenha um grande papel de força
análise possibilidades para mobilização em motriz que está por trás dessas dinâmicas e
torno dos movimentos sociais. O livro tam- movimentos, mas dizer isso informa muito
bém consegue ir bem além dos floreios re- pouco sobre por que as pessoas participam
tóricos que criticamos anteriormente.1 Uma das mobilizações e movimentos direitistas e
expressão fundamental da análise de Anyon como eles podem ser convencidos em par-
é “um novo movimento social”. Anyon re- ticipar de mobilizações e movimentos mais
conhece algo que outros discutiram em progressistas.
maior extensão em outros textos – que os Enquanto Apple enfoca a compreensão
movimentos sociais são as forças motrizes crítica de por que a Direita está ganhando
que estão por trás de boa parte das trans- e o que devemos aprender com ela, Anyon
formações sociais e educacionais (Apple, muda o enfoque radicalmente. A autora
2000). Na obra de Apple, descrita antes, dirige nossa atenção para as mobilizações
boa parte da atenção crítica foi dedicada às progressistas históricas e atuais que fizeram
forças e aos movimentos que estão por trás a diferença na sociedade. Ela examina as
das políticas neoliberais e neoconservadoras especificidades de tais movimentos sociais,
atuais envolvidas na modernização conser- documentando o porquê e o como de eles
vadora, por duas razões. Primeiramente, terem impulsionado esta sociedade, às ve-
gostemos ou não, esses movimentos têm zes contra grandes dificuldades, rumo a um
sido cada vez mais poderosos na transfor- maior compromisso com a justiça social.
mação de nossas noções de democracia e Nós concordamos com a afirmação de
cidadania. Os efeitos sociais, econômicos e Anyon de que as escolas desempenham pa-
educacionais das políticas que têm chegado péis cruciais no levantamento de questões
da Direita com frequência têm sido muito críticas e na construção de movimentos que
negativos, especialmente para quem dispõe desafiam tanto os modos pelos quais a eco-
do mínimo em nossa sociedade e em outras nomia hoje funciona desigualmente quanto
(Apple, 2006; Apple et al., 2003; Apple e os modos pelos quais, digamos, a política ra-
Buras, 2006), e um dos seus maiores efeitos cial opera em cada uma das nossas institui-
tem sido o de tornar cada vez mais difícil ções. Não somos românticos quanto a essas
24 Apple, Au, Gandin e cols.
tempos de exploração, dominação e cons- papel do inglês como projeto imperial, hoje
tantes lutas contra ambas. Portanto, todos só podemos apontar para esse fato como
os autores e organizadores deste livro dão parte de um dilema.
as boas‑vindas ao diálogo que inevitavel- Além disso, há outras questões “lin-
mente decorrerá de um livro deste tipo. guísticas” que devem ser enfrentadas. De
Aqui estão algumas das tensões que re- alguma forma, temos tratado a educação
conhecemos nesta coletânea. Historicamen- crítica como se fosse um substantivo, algo
te, tem havido um problema muito real que que pode ser conhecido, mesmo que tem-
tem se chamado de “virgulação” (Gillborn, porariamente; contudo, como todas as pes-
2008) no mapeamento das relações opres- soas que participam deste livro entendem
sivas (por exemplo, classe, gênero, raça, se- integralmente, a educação crítica é mais
xualidade, capacidade...). Ao mesmo tempo bem compreendida como um verbo. Ela de-
em que nós percebemos os imensos perigos manda múltiplas espécies de ação, reposi-
desse modelo cumulativo, também percebe- cionamento pessoal e social e uma vontade
mos que ele leva a ignorar o problema da constante de correr riscos. Esse é um ponto
interseccionalidade (Gillborn, 2008). Como crucial. Conforme Mike Davis (2006) lem-
exemplo, a classe ocorre nos corpos racia- bra, em seu retrato devastador das manei-
lizados e sexualizados/atravessados pelo ras pelas quais as pessoas vivem (“existir”
gênero. Nenhum livro poderia resolver inte- seria uma palavra bem melhor) sob as pio-
gralmente problemas como esses nem tratar res condições do capitalismo global, mesmo
com respeito o número crescente de rela- as palavras que ignoramos, como “comida”
ções de dominância e de exploração. Assim, e “abrigo” são reificadas de modo demasia-
há silêncios sobre dinâmicas cruciais que, damente fácil e pensadas como substanti-
dadas as limitações de espaço e de recursos, vos. Mas para milhões de pessoas em todo
não puderam ser incluídas. o mundo, seria o mais alto luxo considerar
O mapa que apresentamos neste ca- essas “palavras” como substantivos. Nossa
pítulo, assim como o livro em si, é tempo- vida cotidiana é condicionada pelo trabalho
rário. É um primeiro passo, que claramente constante em busca do alimento, do abrigo.
requer um mapeamento político contínuo, e Movimentos sociais progressistas formaram
esses mapas devem ser constantemente re- ‑se nas nações do mundo para que houvesse
desenhados. Mesmo antes de a importante uma mobilização pelo trabalho voltado à
obra de Foucault ter ingressado no campo “comida” e ao “abrigo”. A percepção de Da-
da educação, muitas pessoas perceberam vis precisa ser levada a sério por todos nós,
que as categorias que são empregadas para que estamos envolvido na educação crítica.
mapear o mundo tanto significam quanto Só depois é que poderemos ter uma com-
criam nexos entre conhecimento e poder preensão mais completamente relacional do
(ver Apple, 1979/2004). Mas os proble- que significa de fato reposicionar‑se.
mas de categorização e as relações poder Paulo Freire nos lembra de modo con-
‑conhecimento que eles estabelecem são sistente de que qualquer educação digna de
apenas uma das questões que enfrentamos. seu nome deve começar e terminar com um
Embora tenhamos nos esforçado por contar diálogo honesto. Reconhecendo o dilema
com análises de muitas partes do mundo, que observamos acima, e para estimular o
este livro foi escrito em inglês. A política da tipo de diálogo constante que é uma carac-
língua é uma política real. Inevitavelmente, terística essencial da educação crítica sob
um livro como este, independentemente de todas as suas formas, desejamos passar a to-
seu tamanho, acaba por parcialmente cen- dos nossos endereços eletrônicos (e‑mails):
trar vozes dominantes mesmo quando tenta Michael Apple <apple@education.wisc.
estar consciente disso (ver Takayama, nes- edu>; Wayne Au <wau@exchange.fuller-
te livro). Dada a geopolítica editorial e da ton.edu>; Luís Armando Gandin <Luis.
escrita acadêmica (Canagarajah, 2002), e o Gandin@ufrgs.br>.
Educação crítica 29
Recebemos bem e, na verdade, pe- Apple. M. W. (1971). The hidden curriculum and
dimos que haja, respostas, afirmações, the nature of conflict. Interchange, 2(4), 27-40.
sugestões, críticas, como parte de nosso Apple, M. W. (1979/2004). Ideology and curriculum
compromisso de manter a educação crítica (3rd ed.). New York: RoutledgeFalmer.
em movimento constante. Se as visões e as Apple, M. W. (1986). Teachers and texts. New York:
ideologias dominantes da educação tentam Routledge & Kegan Paul.
cimentar apenas aquelas formas e aqueles Apple, M. W. (1988). Standing on the shoulders of
processos que são hegemônicos, nossa ta- Bowles and Gintis. History of Education Quarterly,
refa, a tarefa da contra‑hegemonia, não é 28(2), 231-241.
substituir um objeto reificado por outro. A Apple, M. W. (1995). Education and power (2nd
educação crítica é um projeto coletivo, um ed.). New York: Routledge.
projeto que é absolutamente vital para cons- Apple, M. W. (1996). Power, meaning and identity.
trução e defesa de uma educação digna de British Journal of Sociology of Education, 17(2),
seu nome. Dedicamos este livro àquelas mi- 125-144.
lhares e milhares de pessoas no mundo todo Apple, M. W. (2000). Official knowledge (2nd ed.).
que não só matêm viva uma educação digna New York: Routledge.
de seu nome, mas que continuam a ensinar Apple, M. W. (2005). Doing things the “right” way.
a todos nós o que é possível mesmo em con- Educational Review, 57(3), 271-293.
dições que possam com frequência levar ao Apple, M. W. (2006)- Educating the “right” way
cinismo. Um famoso teórico e ativista políti- (2nd ed-). New York: Routledge.
co certa vez disse que as pessoas fazem sua Apple. M. W. Aasen, P., Cho. M. K., Gandin, L. A.,
própria história, mas não sob as condições Oliver, A., Sung, Y.-K., et al. (2003). The state and
que tenham elas mesmas escolhido. Não po- the politics of knowledge. New York: Routledge.
demos controlar todas as condições de nos- Apple, M. W., & Beane, J. A. (Eds.). (2007).
so trabalho, mas, acima de tudo, continua- Democratic schools (2nd ed.). Portsmouth, NH:
Heinemann.
remos a fazer nossa própria história.
Apple, M. W., & Buras, K. L. (Eds.). (2006). The
subaltern speak. New York: Routledge.
Apple, M. W., &; Weis, L. M. (1983). Ideology and
Nota practice in schooling. In M. W. Apple & L. M. Weis
(Eds.), Ideology and practice in schooling (p. 3-33).
1 Precisamos dizer abertamente que alguns dos Philadelphia, PA: Temple University Press.
livros mencionados neste ensaio, especial- Arnot, M. (2004). Male working-class identities
mente os livros de Anyon e Weis, estão em and social justice. In N. Doby & G. Dimitriadis
uma série que um de nós (Apple) organiza. (Eds.), Learning to labor in new times (p. 17-40).
Mas já que a tarefa que nos foi pedida neste New York: RoutledgeFalmer.
ensaio era a de dar uma noção do estado Au, W. (2006). Against economic determinism.
do trabalho crítico nos Estados Unidos e em Journal for Critical Education Policy Studies, 4(2).
outros países, e esses livros são afirmações Retrieved December 12, 2006, from http://www.
importantes disso, sentimos que excluí‑los jeeps.com/?pageID=article&articleID=66
teria levado a uma atitude inadmissível de
Au, W. (2008). Between education and the eco-
silêncio.
nomy. High-stakes testing and the contradictory
location of the new middle class. Journal of Edu-
cation Policy. 23(5), 501-513.
Referências Au, W., & Apple, M. W. (2007). Freire, critical edu-
cation, and the environmental crisis. Educational
Althusser, L. (1971). Lenin and philosophy and Policy, 21(3), 457-470.
other essays (B. Brewster, Trans.). New York: Mon- Bakhtin, M. M. (1968). Rabelais and his world (H.
thly Review Books. Iswolsky, Trans.). Cambridge, MA: MIT Press.
Anyon, J. (2005). Radical possibilities. New York: Ball, S. J. (1994). Education reform. Buckingham,
Routledge. England: Open University Press.
30 Apple, Au, Gandin e cols.
Beck, C. (in press). Home education. Norwegian Epstein. D., & Johnson, R. (1998). Schooling sexua
Journal of Educational Research, (3). lities. Philadelphia, PA: Open University Press.
Bernstein, B. B. (1977). Class, codes and control (2nd Erevelles. N. (2005). Understanding curriculum
ed., Vol. 3). London: Routledge and Kegan Paul. as normalizing text. Journal of Curriculum Studies,
Bhabha, H. (1984). The location of culture. New 37(4), 421-439.
York: Routledge. Foner. E. (1998). The story of America freedom.
New York: Norton.
Bourdieu, P. (1984). Distinction (R. Nice, Trans.).
Cambridge, MA: Routledge & Kegan Paul Ltd. Fraser, N. (1997). Justice interruptus. New York:
Routledge.
Bourdieu, P. (2003). Firing back. New York: Verso.
Gandin. L. A. (1994). Qualidade total em educa-
Bourdieu, P., & Passeron, J. (1977). Reproduction
ção. Revista de Educação AEC, 23(92). 75-80.
in education, society, and culture. Beverly Hills,
CA: Sage. Gandin. L. A. (1998). Para onde a escola está sendo
levada? (ou a escola pode ser levada para algum
Bowles. S., & Gintis, H. (1976). Schooling in capi lugar diferente daquele que o projeto hegemonico
talist America (1st ed.). New York: Basic Books. quer?). Revista de Educação AEC. 27(107), 9-16.
Bulhões, M. G., & Abreu, M. (1992). A luta dos Gandin. L. A. (1999). A educação escolar como
professores gaúchos dc 1979 a 1991: O difícil produto de marketing. Revista de Educação AEC,
aprcndizado da democracia. Porto Alegre, Brazil: 28 (112), 33-39.
L&PM.
Gandin. L. A. (2006). Creating real alternatives to
Buras, K. L., & Apple, M. W. (2008). Radical neoliberal policies in education. In M. W. Apple &
disenchantments. Comparative Education. 44(3), K. L. Burns (Eds.), The subaltern speak (p. 217-
291-304. 242). New York: Routledge.
Burbules, N. C., & Torres, C. A. (2000). Globaliza Gandin. L. A., & Apple, M. W. (2003). Educating
tion and education. New York: Routledge. the state, democratizing knowledge, In M. W.
Caldart, R. S. (2003). Movimento sem terra. Cur Apple et al., The state and the politics of knowledge
rículo sem Fronteiras, 3(1), 50-59. (p. 193-219). New York: Routledge.
Canagarajah, S. A. (2002). A geopolitics of academic Gillborn. D. (2005). Education policy as an act
writing. Pittsburgh, PA: University of Pittsburgh of white supremacy, Journal of Education Policy.
Press. 20(4), 485-505.
Chang. Y.-K. (2005). No more gods and monsters. Gillborn. D. (2008). Racism and education. London:
Unpublished doctoral dissertation, University of Routledge.
Wisconsin-Madison. Giroux. H. A. (1983). Theories of reproduction
Clarke. J., & Newnian, J. (1997). The managerial and resistance in the new sociology of education.
state. London: SAGE Publications. Harvard Educational Review, 53(3), 257-293.
Cole, M. (Ed.). (1988). Bowles and Gintis revisited Giroux. H. A. (1997). Pedagogy and the politics of
(1st ed.). Philadelphia, PA: The Palmer Press. hope. Boulder, CO: Westview.
Copelman, D. M. (1996). London’s women teachers. Giroux, H. A. (2003). Critical theory and educa-
New York: Routledge. tional practice. In A. Darder, M. Baltodano, & R.
D. Torres (Eds.), The critical pedagogy reader (1st
Dale, R. (1989-90). The Thatcherite project in ed., p. 27-56). New York: RoutledgeFalmer.
education. Critical Social Policy, 9, 4-19.
Gomersall, M. (1997). Working-class girls in ninete
Darder. A., Baltodano, M., & Torres, R. D. (2003). enth-century England. Basingstoke: Macmillan.
Critical pedagogy. In A. Darder. M. Baltodano, & R.
Gramsci, A. (1971). Selections from the prison
D. Torres (Eds.), The critical pedagogy reader (1st
notebooks (Q. Hoare & G. N. Smith, Trans.). New
ed., p. 1-21). New York: RoutledgeFalmer.
York: International Publishers.
Davis, M. (2006). Planet of slums. London: New
Gutstein, E. (2006). Reading and writing the world
Left Books.
with mathematics. New York: Routledge.
Dimitriadis, G., & McCarthy, C. (2001). Reading
Hall, S. (1980a). Culture, media, language. Lon-
& teaching the postcolonial. New York: Teachers
don: Centre for Contemporary Cultural Studies,
College Press.
University of Birmingham.
Egitim Sen (Ed.). (2004). Democratic Egitim Ku Hall, S. (1980b). Popular democratic vs. autho-
rultayi. Ankara, Turkey: Egitim Sen. ritarian populist. In A. Hunt (Ed.), Marxism and
Educação crítica 31
democracy (p. 150-170). London: Lawrence and Morrow, R. A., & Torres, C. A. (1995). Social theo
Wishart. ry and education. Albany, NY: State University of
Jacoby, R. (2005). Picture imperfect. New York: New York.
Columbia University Press. Munro, P. (1998). Subject to fiction. Buckingham,
Jules, D. (1992). Education and social transforma- England: Open University Press.
tion in Grenada, 1979-1983. Unpublished doctoral Naison, M. (1985). Communists in Harlem during
dissertation. University ot Wisconsin. the depression. New York: Grove Press Inc. Purvis, J.
Kenway, J., & Modra, H. (1992). Feminist peda- (1991). A history of women’s education in England.
gogy and emancipatory possibilities. In C. Luke & Philadelphia, PA: Open University Press.
J. Gote (Eds.), Feminism and critic! pedagogy (p. Rubinstein, D.. & Simon. 13. (1969). The evolution
138-166). London: Routledge. of the comprehensive school, 1926-1966. London:
Ko, J.-H., & Apple, M. W. (1999). Teachers, poli- Routledge & Kegan Paul.
tics, and democracy. Education and Social Justice, Said, E. W. (1978). Orientalism: (1st ed.). New
2(1). 67-73. York: Pantheon Books.
Kumashiro, K. (2002). Troubling education. New Sewell, S. K. (2004). The “not-buying” power of
York: RoutledgeFalmer. the Black community, Journal of African American
Ladson-Billings, G., & Tate IV. W. F. (1995). To- History.89. 131-151.
wards a critical race theory of education. Teachers Simon, B. (1965). Education and the labour move
College Record, 97(1), 47-68. ment, 1870-1920. London: Lawrence & Wishart.
Leonardo, Z. (2005a). Foreword. In Z. Leonardo Simon, B. (1977). Education and social change.
(Ed.), Critical pedagogy and race (p. xii—xv). Marxism Today, 21(2), 36-44.
Maiden, MA: Blackwell Publishing. Simon, B. (1991). Education and the social order,
Leonardo, Z. (Ed.). (2005b). Critical pedagogy and 1940-1990. New York: St Martin’s Press.
race. Maiden, MA: Blackwell Publishing. Simon, B. (Ed.). (1972). The radical tradition
Lewis, D. L. (1993). W.E.B. DuBois. New York: in education in Britain. London: Lawrence and
Henry Holt. Wishart.
Lewis, D. L. (2000). W.E.B. DuBois. New York: Singh, M., Kell, P., & Pandian, A. (2002). Appro
Henry Holt. priating English. New York; Peter Lang.
Livingston, G. (2003). Chronic silencing and stru- Smith. L. T. (1999). Decolonizing methodologies.
ggling without witness: Race, education and the New York: Zed Books.
production of political knowledge. Unpublished
Spivak. G. C. (1987). In other worlds. New York:
doctoral dissertation, University of Wisconsin-
Methuen.
Madison.
Spivak, G. C. (1999). A critique of postcolonial rea
Luke, C., & Gore, J, (Eds.). (1992). Feminisms and
son. Cambridge, MA: Harvard University Press.
critical pedagogy. New York: Routledge.
Mannheim, K. (1936). Ideology and Utopia. New Sung. Y.-K., & Apple, M. W. (2003). Democracy,
York: Harvest Books. technology, and curriculum. In M. W. Apple, et al.
(Eds.), The state and the politics of knowledge (p.
Martin, J. (1999). Women and the politics of schoo 177-192). New York: RoutledgeFalmer.
ling in Victorian and Edwardian England. London:
Leicester University Press. Takayama, K., & Apple, M. W. (2007). The cultural
politics of borrowing. British Journal of Sociology
McCarthy, C., & Apple, M. W. (1988). Race, class
of Education, 29(3), 289-301.
and gender in American educational research. In L.
M. Weis (Ed.), Class, race, and gender in American Teitelbaum, K. (1988). Contestation and curri-
education (p. 9-39). Albany, NY: State University culum. In L. E. Beyer & M. W. Apple (Eds.), The
of New York Press. curriculum (p. 32-55). Albany, NY: State University
of New York Press.
McLaren, P, (2000). Che Guevara, Paulo Freire, and
the pedagogy of revolution. Lanham, ML.): Rowman Teitelbaum, K. (1991). Critical lessons from our
& Littlefield Publishers. past. In M. W. Apple & L. K. Christian-Smith (Eds.),
The politics of the textbook (p. 135-165). New York:
McRobbie, A. (1978). Working class girls and the
Routledge.
culture of femininity. In Women’s Studies Group
(Ed.). Women take issue (p. 96-109). London: Teitelbaum, K. (1993). Schooling for “good rebels”.
Hutchinson of London. Philadelphia, PA: Temple University Press.
32 Apple, Au, Gandin e cols.
Thiong’o, N. (1986). Decolonizing the mind. Ports- Weis. L. M., & Fine, M. (2004). Working method.
mouth, NH: Heinemann. New York: Routledge.
Torres. C. A. (1990). The politics of nonformal edu Whitry. G. (1974). Sociology and the problem of
cation in Latin America. New York: Praeger. radical education change. In M. Flude & J. Aluer
Torres C. A. (1997). Pedagogia da luta. São Paulo: (Eds.), Educability, schools, and ideology (p. 112-
Papirus. 137). London: Croom Helm.
Torres C. A. (Ed.). (1995). Education and social Whitty. G. (1985). Sociology and school knowledge.
change in Latin America. Albert Park. Australia: London: Metheun & Co. Ltd.
James Nicholas Publishers. Williams. R. (1977). Marxism and literature. New
Torres. J. S. (2001). Educacion en tiempos de neo York: Oxford University Press.
liberalismo. Madrid: Morata. Willis. P. (1977). Learning to labor. New York:
Van Vught, J. (1991). Democratic organizations for Columbia University Press.
social change. New York: Bergin & Garvey. Willis. P. (1990). Common culture. Boulder, CO:
Watkins. W. H. (1993). Black curriculum orien- Westview Press.
tations. Harvard Educational Review: 63(3), Woodson, C:. G. (1990/1933). The mis-education
321-338. of the negro (1990 Africa World Press. Inc. edition
Weiler. K. (1989). Women’s history and the history ed.). Trenton, NJ: Africa World Press, Inc.
of women teachers. Journal of Education, 171(3), Youdell. D. (2006). Impossible bodies, impossible
9-30. selves. Dordrecht, Netherlands: Springer.
Weis. L. M. (1990). Working class without work. Young. M. F. D. (Ed.) (1971). Knowledge and con
New York: Routledge. trol. London: Collier-Macmillan.