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Bens Comuns e Ecodemocracia

Uma introdução

@afonsomurad
Um dos critérios fundamentais para avaliar se a
democracia efetiva, não somente formal,
impacta positivamente na biosfera consiste na
maneira como a sociedade civil, a organização
política e o mercado tratam dos bens comuns.
Os bens comuns são práticas sociais e coletivas
que associam diversos indivíduos para a
realização de uma finalidade comum, de um
benefício para todos, sob a lógica da cooperação
e da reciprocidade.
Os bens comuns são realidades tanto de origem
natural (a biosfera e seus componentes) como
social (tecnologia, espaços, arte) porque têm a
ver com a organização coletiva dos seres
humanos.
Um pouco de história
Até a revolução agrícola e
industrial, não havia cercas
de delimitação de
propriedades. A Inglaterra
iniciou o cercamento das
propriedades, e impulsionou
a migração para as cidades,
em vista de mão de obra
para indústrias nascentes.
O PÚBLICO, enquanto utilidade pública é uma
realidade criada e regulamentada pela ação do Estado
através do direito positivo.
Enquanto diz respeito à utilidade da coisa pública, o
COMUM é a realidade criada pela atuação livre e
organizada dos cidadãos e cidadãs.
O COMUM tem a ver com a organização coletiva,
democrática e autônoma das pessoas para beneficiar a
todos
ALGUMA QUESTÕES....
Há uma mentalidade, fruto da cultura
colonial: o que é público não tem dono. Não
precisa ser cuidado e muitas vezes é alvo de
vandalismo ou indiferença.
A degradação da função do Estado
• A função clássica: garantir a propriedade privada e oferecer
à população serviços básicos em vista do bem comum.
• O neoliberalismo converte o Estado num parceiro do
grande capital (financeiro e produtivo). Para isso, reduz ao
máximo possível o acesso aos bens comuns. Facilita que ele
seja apropriado pelo capital.
• Sua lógica: a sociedade é constituída por indivíduos (e não
comunidades), em contínua competição. Há que garantir
aos indivíduos (consumidores) as melhores oportunidades.
• Mas, quais indivíduos?
As falácias do “Estado Mínimo”
Na América Latina e no Caribe, os defensores do “Estado
Mínimo” e da mão invisível do mercado:
-Mantém todos os privilégios (salários, benefícios,
funcionários, assessores) do poder executivo, legislativo (e
judiciário). Se o estado está mais enxuto, a “máquina estatal”
deveria custar menos à nação.
-Reduz as normas e o controle sobre os empreendimentos
com impacto sobre as coletividades e o meio ambiente.
A luta pelos bens comuns consolida
a democracia, pois amplia a
participação da população para
além da representatividade formal.
A água: bem
comum
ou commodity?
A apropriação, privatização e
mercantilização dos bens tanto comuns
como públicos tem transformado a
compreensão da Terra e dos seres que a
habitam. Tudo é coisificado sob a lógica do
progresso, da inovação, da geração de
novos modos de produção e
mercantilização.
A lógica reducionista
• Existiriam somente dois tipos de bens:
-O público, administrado pelo Estado
-O privado, pertencentes a pessoas físicas e
jurídicas.

E os bens comuns?
Uma outra proposta
Os bens comuns são: a água, os rios, a terra, o território, as
florestas, os pastos, as sementes, os mares, o vento, o
conhecimento, as sabedorias ancestrais, a cultura, a música e as
artes, a educação, a saúde, os meios de transporte, o trabalho,
as praças.
Esses são comuns porque proporcionam um benefício grupal e
têm a ver com o interagir de um coletivo.
Não podem ser apropriados nem privatizados, pois pertencem
a todos, visando desenvolvimento integral da vida humana e
natural na Terra.
*O paradigma dos comuns, do ponto de vista ecológico,
ressalta que os seres humanos são parte da Terra assim
como todos os outros seres (bióticos e não bióticos).
*As relações geradas não se compreendem sob a
racionalidade de dominação e exploração, e sim a partir
da racionalidade da cooperação, do respeito e da
convivência interdependente.
*Todos os seres da Terra são fundamentais para o
sustento das condições necessárias para a vida se
manter e desenvolver.

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