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O TEÓLOGO E A IGREJA:
Dimensões dos teólogos:
1. Dimensão sapiencial: Captar os aspectos espirituais e vitais da fé.
2. Dimensão missionaria: Paulo houve na teologia uma orientação ad gentes.
3. Dimensão profética: além do puro acadêmico e formal. Citemos a Bartolomeu
das Casas precursor da teologia da libertação. E figuras como Dom Romero o
Casaldaliga.
4. Dimensão comunitária: formação de grupos de humanização.
5. Dimensão laical: preocupação pela formação dos leigos as Igreja.
6. Dimensão Obscuras: os grandes erros que provocaram uma divisão na igreja.
Fundamentação Bíblica: Deve existir uma preocupação existencial da vida humana,
não metafísica. Existe uma falsa sabedoria, dos profetas enganosos. Ao longo da
história temos escribas e fariseus. A sabedoria de Deus é paradoxal: revela-se não os
sábios e aos prudentes deste mundo, mas aos pequenos. A sabedoria da cruz, demostra
como Deus escolheu o pobre e o fraco do mundo.
Reflexão sistemática: O dom do espirito – é a penetração profunda e ardoroso do
mistério da fé. A traves da palavra. O serviço da comunidade eclesial – trabalham na
obra da salvação do seu povo. O teólogo, como todo cristão recebe o dom do espirito
“in ecclesia” e deve exerce-lo “cum ecclesia”. Não “extra ecclesia”. O teólogo deve
evitar as tentações racionalistas ou solipsistas.
RELAÇÃO ENTRE TEÓLOGO E IMAGEM DA IGREJA:
Modelo eclesial do vaticano I: a imagem eclesial em torno do Vaticano I acrescenta às
notas típicas da eclesiologia da cristandade medieval (clericalismo, juridicismo e
triunfalismo).
Modelo eclesial do vaticano II: volta eclesiológica de comunhão da tradição mais
primitiva. Noções como mistério, povo de Deus, tensão escatológica, carismas, laicado.
Uma liturgia mais ecumênica e mais dialogante.
Modelo da igreja dos pobres: Uma práxis liberadora e as CEBs constituem o lugar
teológico primordial sobre o qual o teólogo deverá fazer incidir sua palavra.
Interrogantes e tarefas para o teólogo de hoje: não se pode manter o statu quo.
Devemos questionar as bases atuais de nossa sociedade. Somos servos inúteis.
Igreja: O Vaticano II – chaves de interpretação: o vaticano II promoveu o
ecumenismo. O cardeal Hume, no ultimo sínodo episcopal, contrapôs a imagem de
Igreja fortaleza, símbolo de eclesiologia oitocentista, a imagem da igreja, tenda de
acampamento: ágil, móvel, simples, aberta a todo mundo. Uma igreja acolhedora e
dialogante, sempre com a mesa preparada para a comunhão. É uma igreja que quer ser
fiel aquele que estabeleceu sua tenda no meio de nós (Jo 1,14) o espirito transcendente
toda letra.
Limitações de grande concilio: Os pobres devem ter lugar prioritário na vida e na
reflexão eclesial, como a tradição do NT. Da igreja dos pobres. Os pobres nos ensinam
em sua profundidade mais evangélica.
VATICANO II – FENOMENOLOGIA DO MODELO:
Se o modelo eclesiológico pré-conciliar estava centra lizado na autoridade e no poder
(eclesiologia da potestas), o do Vaticano II se concentra na comunhão: é uma
eclesiologia da comunhão com Deus e com os homens. Os documentos conciliares,
especialmente Lumen gentium, Ad gentes e Gaudium et spes, apresentam nova imagem
da Igreja.
Diante do clericalismo anterior, que reduzia pratica mente a eclesiologia à hierarquia, o
Vaticano II introduz a noção bíblica de povo de Deus (LG II), povo todo ele sacerdotal
(LG 10-11) que possui a infalibilidade da fé (sensus fidei) e pluralidade de carismas
(LG 12). A dimensão hierárquica não era evidentemente negada, porém, sim, inserida
no povo de Deus e a seu serviço (LG III). As mesmas definições do Vaticano I sobre o
primado e seu magistério infalível são "acolhidas" pelo Vaticano II e se restituam no
seio da colegialidade episcopal (LG 22 e 25). Atenção especial merecem os leigos (LG
IV) e os religiosos (LG VI), sobre os quais a eclesiologia do Vaticano I não falou.
Diante da eclesiologia triunfalista típica da cristandade, a do Vaticano II estabelece que
a Igreja não se identifica com o reino, mas que caminha para a escatologia (LG VII) e
reconhece que a Igreja peregrinante traz consigo a imagem do mundo que passa, vive
criaturas que gemem em dores de parto (LG 48, 4) e confessa que ela própria, apesar de
santa, necessita de contínua purificação (LG 8,4) e de maior amadurecimento (GS 43,
6). Fora uma visão juridicista, agora a Igreja é ministério.
PRESSUPOSTOS TEOLÓGICOS DO MODELO ECLESIAL CONCILIAR
A articulação teológica deste modelo de eclesiologia de comunhão se concentra na
noção de Igreja sacramento universal de salvação (LG 48, 2; AG 1, 1; GS 45, 1),
sacramento da unidade entre Deus e os homens (LG 1,1;2,3; AG 5; SC 5,1)
Já não se concebe a salvação como ligada a alguns poucos espaços sagrados concretos,
mas como oferta uni versal dirigida a todos os homens, como a graça de Cristo que
percorre toda a história da humanidade e a fermenta para seu amadurecimento
escatológico. A Igreja não se identifica com o reino, mas este é, como diz de maneira
bela L. Boff, 20 o arco-íris sob o qual estão a Igreja e o mundo; o mundo é o lugar de
construção do reino, aberto à escatologia. Neste horizonte a Igreja é sacramento, isto é,
sinal e instrumento (LG 1, 1) da ação oficial, pública e comunitária do espírito de Cristo
no mundo, já que Deus, embora salve todos os homens que o temem e praticam a
justiça, quis santificar e salvar os homens não isolada mente, mas formando um povo
(LG 9,1).
A Igreja deverá estar especialmente atenta para auscultar e discernir os sinais dos
tempos, já que por meio deles se expressa o espírito do Senhor que conduz a história
(GS 4, 11, 44). Como afirmava a tradição patrística, a comunidade eclesial é o primeiro
fruto da eucaristia e as duas constituem um mesmo mistério de comunhão entre Deus e
os homens: "communio sanctorum", koinonía.
De Medellín a Puebla: A eclesiologia é vista a partir do reverso da história, a partir dos
crucificados do mundo, dos "Cristos açoitados das Índias", para adotar expressão de Las
Casas que Gustavo Gutiérrez faz sua com frequência. Se o modelo do Vaticano II era o
de uma eclesiologia de comunhão, o da América Latina insiste em que os pobres devem
ser o centro dessa comunhão. Deste modo, os conceitos básicos do Vaticano II são
reformulados a partir dos pobres.
Assim, a noção de povo de Deus, típica do Vaticano II, se concretiza muito mais: este
povo nasceu para ser libertado por Deus da opressão do Egito, como lembra Medellín
em sua Introdução (Medellín, Introdução 6) e nos oferece deste modo um referencial
para compreender o sentido da iniciativa salvadora de Deus. Deus salva libertando
integralmente, fazendo passar de condições de vida menos humanas para condições de
vida mais humanas. Neste sentido, é lógico que Puebla, seguindo Medellín, faça opção
preferencial pelos pobres (Puebla 1. 134-1.165).
Miséria e pobreza desumana em Puebla e Medellín: Diante da eclesiologia pós-conciliar
europeia que produz certa impressão de ingravidez histórica e de neutralidade abstrata, a
eclesiologia latino-americana parte da dolorosa realidade da América Latina. Não é por
acaso que tanto Medellín quanto Puebla comecem analisando a realidade latino-
americana antes de falar da Igreja e da evangelização (Medellín), Promoção humana;
Puebla, Visão histórica da alidade latino-americana 15-17). O centro da Igreja está fora
de seus muros eclesiásticos; não são seus direitos, nem seus privilégios, nem suas
instituições, mas os direitos e as necessidades da maioria da humanidade empobrecida.
Para dizê-lo com uma frase já clássica, este modelo eclesiológico aspira a ser não só
Igreja para os pobres, mas uma Igreja dos pobres e com os pobres. Vaticano II brotou o
famoso documento de 17 bispos do terceiro mundo, encabeçado por Helder Câmara.
Onde se afirma que os povos do terceiro mundo são o proletariado do mundo atual. É
uma igreja libertadora, popular, comprometida com os pobres.
Nessa nova configuração da Igreja dos pobres, atua o espírito de Jesus. O Espírito de
justiça que formou e ungiu Jesus de Nazaré (At 10,38; Lc 4,18) é o que agora faz nascer
está eclesiologia do seio do povo pobre, que faz brotar esta espiritualidade popular, que
geme pela boca dos que clamam, que reparte novos carismas e fortalece os mártires.
Esse modelo eclesiológico pressupõe nova pneumatologia.
Deste modo, a Igreja dos pobres se torna sacramento histórico de salvação. Sacramento
histórico de libertação. Esta expressão historiza a formulação do Vaticano II:
"sacramento de salvação". Graça e pecado são dimensões históricas que se cristalizam
em estruturas e acontecimentos. Se a injustiça institucionalizada encarna o pecado do
mundo, a Igreja deve encarnar historicamente a salvação e converter-se em sacramento
histórico de libertação para todos os oprimidos pela injustiça e pela violência. Se a
Igreja é sacramento do reino e este possui conteúdo concreto, a Igreja tem de ser o sinal
e o instrumento histórico do reino, e isto não só em nível litúrgico, mas em toda a sua
práxis eclesial.
"São Romero da América, nosso pastor e mártir, ninguém fará calar tua última homilia!
“Mediante estes testemunhos concretos compreende se melhor o que significa "igreja
dos pobres, sacramento histórico de libertação". Como nos tempos de Ireneu, também
aqui a teologia e a eclesiologia estão em conformidade com a eucaristia: são realização
do ministério da solidariedade.
Avaliação crítica: Os riscos desse modelo eclesiológico são os mesmos que se
costumam atribuir à teologia da libertação: risco de reduzir a salvação ao sociopolítico,
risco de absolutizar as ciências sociais, risco de regionalismo eclesial.
Antônio Montesinos, Bartolomeu de las Casas, João Zumárraga, Vasco de Quiroga,
João del Valle, Julião Garcés, José de Anchieta, Manuel da Nóbrega e tantos outros que
defenderam os índios perante os conquistadores, até com a própria morte, como o bispo
Antônio Valdivieso, demonstram, com a evidência dos fatos, como a Igreja faz a
promoção da dignidade e da liberdade do homem latino-americano (Puebla 8).
Puebla menciona também grandes figuras de santos como Toribio de Mogrovejo, Luís
Beltrão e Pedro Cláver e a aventura admirável das missões de religiosos (Puebla 7 e 9).
Todos eles são precursores da atual imagem da Igreja libertadora.
Histórico Paradoxal: A Igreja do terceiro mundo, se encerra um paradoxo que se repete
constantemente na história da salvação: Deus age sempre, não no centro, mas
começando pela margem, pela periferia. O biblista Carlos Mesters assim formula está
misteriosa lei bíblica:
"Na leitura da Bíblia aparece uma constante desde Abraão até o fim do Novo
Testamento: a voz de Deus toma forma, profundidade e sentido sempre nos
marginalizados. Nas épocas de crise e renovação, Deus interpela seu povo a partir da
marginalização e este começa a recuperar o sentido e o dinamismo perdido em sua
caminhada. Também hoje, no seio das igrejas pobres e marginalizadas do mundo, Deus
interpela a Igreja universal: o Espírito chama hoje as igrejas a optarem pelos pobres.
ECLESIOLOGIA LATINO-AMERICANA DA LIBERTAÇÃO:
A fé não é nem uma ideologia racionalista nem uma moral, mas uma experiência
eclesial do Ressuscitado, constituindo parte de seu corpo comunitário e visível, que é a
Igreja, uma Igreja que se edifica pelo batismo e se alimenta da eucaristia.
Ao cristão lúcido toca uma difícil missão: lutar dentro da Igreja para transformá-la
evangelicamente, aceitar sua pecaminosidade e caminhar continuamente para a
conversão, manter ao mesmo tempo a fidelidade e a liberdade crítica, tender para o
reino, porém, sem esquecer que ainda estamos em tempo de agonia.
O cristão tem que ter os olhos limpos para reconhecer e amar esta Igreja, que, apesar de
seus anos, de suas rugas e de suas debilidades, é a mãe que nos gerou para a fé e nos
comunicou o mistério de Jesus. O melhor da Igreja de hoje é fruto de um passado quiçá
pouco glorioso, mas que fermentou a história.
SACRAMENTOS:
Pai revelou aos pequeninos 0 que havia ocultado aos sábios e prudentes deste mundo
(Lc 10,21-22; Mt 11,25-27); mas no fim de sua vida sua oração é clamor com lágrimas
pedindo ao Pai para ser salvo da morte (Hb 5,7; Mt 26,26-46; Mc 14,32-42 Le 22,40-46;
Jo 12,27-30). Sua oração culmina no clamor da cruz ao sentir-se abandonado pelo Pai
(Mt 27,46; Mc 15,34) e no grito final, oração confiante entregando toda a sua vida nas
mãos do Pai (Mt 27,50; Le 23,46; Mc 15,37).
Esta é a óptica para compreender a oração da Igreja primitiva (assim At 4,24-31; 7,33-
34.60) e a oração de todos os que são perseguidos (Ap 6,10; 21,4). Também para Paulo,
o cristão e toda a criação gemem em dores de parto, esperando a libertação plena e total
dos filhos de Deus (Rm 8,20-23). Este gemido, porém, é cheio de espe rança, porque
nasce de filhos que clamam: Abbá! Pail (Rm 8,15; Gl 4,6) e brota do Espírito, que com
gemidos inenarráveis vem em nossa ajuda e intercede por nós (Rm 8,26-27; GI 4,6).
A oração cristã possui tensão contínua escatológica para a Jerusalém celeste: "Vem,
Senhor Jesus" (Ap 21,20). Nos céus novos e na terra nova não haverá pranto, nem
morte, nem queixa, pois Deus habita rá definitivamente em meio de seu povo (Is 35,10;
65,19; Ap 21,3-4). Mas, enquanto peregrinos na história desta vida, a Igreja continua
repetindo: "Escuta, Senhor, minha oração e suba até a ti o meu clamor". A própia oração
eucarística de ação de graças é o clamor da Igreja e uma invocação ao Espírito para que
transforme os dons e a comunidade no corpo de Cristo, antecipando assim, sacra
mentalmente, a terra nova do reino, onde tudo será transfigurado definitivamente em
Cristo.
A vida religiosa como seguimento de Cristo:
Senhor que chamava a viver a uto pia do reino e o seguimento de Jesus com nova
intensidade. Há dois temas que se repetem em cada nova fundação: o desejo de imitar a
comunidade apostólica dos discípulos de Jesus e o de atualizar a comunidade da Igreja
primitiva descrita nos Atos dos Apóstolos. Cada época redescobre novos aspectos da
vida apostólica e da Igreja de Jerusalém, mas sempre surge como básico um projeto de
vida que quer concentrar-se no seguimento de Jesus. A vida religiosa é uma vida que
une à fé em Jesus a práxis do seguimento. As outras estruturas da vida religiosa (votos,
comunidade, missão...) nada mais são que expressões simbólicas necessárias para viver
na história esta experiência espiritual do seguimento de Jesus, e deixariam de ter sentido
evangélico se se desvinculassem do amor preferencial por Jesus e do desejo de segui-lo.
Os mendicantes se situarão na periferia, iniciando um seguimento de Jesus a partir dos
pobres e em solidariedade com eles, em meio a uma situação de Igreja triunfal e de
cristandade.
Vida religiosa como vida profética: De fato a vida religiosa constitui, em suas origens
carismáticas, uma crítica evangélica da sociedade e da própria Igreja. Sem pretendê-lo
diretamente, nem orquestrá-lo, monges e religiosos de vida apostólica foram um
revulsivo evangélico, uma "terapia de choque" na expressão de J. B. Metz, para a
comunidade cristã. Difícil mente podemos hoje avaliar o sentido de contestação
evangélica que supôs para a Igreja constantiniana a marcha para o deserto dos monges,
ou para a Igreja medieval.
Se à vida religiosa compete certa anormalidade estrutural, ela entra em crise quando se
tende à normalidade, quando não se está presente nem no deserto, nem na periferia, nem
na fronteira.
À medida que a vida religiosa deixa a fronteira e a periferia, para instalar-se em um
cômodo centro, ela deixa de ser sinal escatológico da esperança do reino e se converte
em sinal da força domesticadora e mundana da história. O mais triste e alarmante é que
muitos religiosos inúmeros vezes não estão conscientes disto, contentando-se por vezes
com sublimar certa mediocridade espiritual e até se admiram de que deles se exija uma
dimensão profética em sua vida. Quando o Vaticano II insistiu com os religiosos para
que voltassem ao evangelho e ao carisma fundacional, e até obrigou todas as
congregações a convocarem um capítulo especial de renovação, no fundo nada mais fez
do que questionar os religiosos sobre sua fidelidade à sua vocação profética na Igreja.
1. Submergir-se nos lugares onde a vida está ameaçada.
2. Solidariedade com as aspirações de vida. A "descida aos infernos" se ordena à
ressurreição e à vida.
Seguir Jesus significa hoje, na América Latina, se gui-lo na luta crucial contra os
poderes de morte e em sua entrega da vida ao Pai pelo bem dos irmãos;
Ser sinal do reino significa, na América Latina, testemunhar que o reino de Deus
surge quando são expulsos os demônios da injustiça e da morte, em continuidade
com a missão exorcística de Jesus e de seus discípulos (Mc 16,17);
ser sinal de transcendência significa, na América Latina, crer que o Deus de
Jesus é o Deus da vida, desqualificando todos os outros deuses terrenos e
mundanos que causam a morte do povo;
Ser sinal da escatologia significa, na América Lati na lutar pela construção de
uma humanidade que antecipe, ainda que de forma parcial e sacramental, as
dimensões de fraternidade e de filiação da nova humanidade;
Ser testemunha da ressurreição significa, na América Latina, crer que a força do
Ressuscitado é maior que todo poder de morte.
Puebla (721-776). Deste itinerário dos religiosos parecem deduzir-se quatro linhas
fundamentais:
a) maior inserção no meio dos pobres;
b) nova ênfase nas relações fraternas da comunidade;
c) maior insistência nas tarefas da evangelização missionária, em conexão com a
Igreja particular;
d) experiência mais profunda de Deus.
TESTEMUNHOS:
Opção pelos pobres na cristandade colonial: os bispos protetores do índio (séculos XVI-
XVII) uma opção preferencial pelos índios. A opção pela misericórdia.
O fato de o índio ser a parte privilegiada de sua tarefa apostólica implicava em primeiro
lugar um reconheci mento da dignidade e da liberdade do índio, que o tornava apto para
ser evangelizado e para ser sujeito dos sacramentos da Igreja. Isto obriga também a dar
prioridade à evangelização, à pregação e à catequese. Os bispos protestam contra
qualquer forma de violência moral e defendem a liberdade do índio à conversão: deve
ser atraído pela verdade do evangelho e pela lei da graça e da liberdade. Já Loaysa,
primeiro arcebispo de Lima, protesta contra algumas coações. Tudo isso, é uma opção
humanizadora. Também é uma opção profética. Uma opção conflitiva.
Sua posição é geralmente paternalista e consideram os índios rudes e infantis; não
souberam compreender de forma positiva o sentido das religiões indígenas em vista da
evangelização; suas próprias posições eclesiais não superaram os limites da cristandade
colonial. No entanto sua figura é exemplar e sua opção pelos pobres já antecipa as
linhas da eclesiologia libertadora da América Latina. Do ponto de vista teológico,
chegam à intuição de que a fé sem justiça é coisa vã e que a pregação evangélica deve
incluir compromisso solidário com os pobres, porque a salvação de Deus é libertação
integral e tem a ver com a justiça para os pobres (Puebla 1144).
Os índios foram para eles o lugar teológico privilegiado onde leram a palavra de Deus e
repensaram sua missão eclesial... Os evangelizadores foram primeiro evangelizados.
Assim se realizou, desde então, o que Puebla expressou como sendo o "potencial
evangelizador dos pobres" (Puebla 1147). De cada um desses bispos vale o que o bispo
Casaldáliga dirá de dom Romero: Os pobres te ensinaram a ler o evangelho.
DOM ROMERO: TESTEMUNHO DE UMA IGREJA LIBERTADORA
Dom Romero mártir, testemunha de uma Igreja perseguida: Dom Romero vivia em
modesto quartinho do hospital da Divina Providência para cancerosos incuráveis. Na
tarde de 24 de março de 1980, celebrava missa no primeiro aniversário de dona Sara de
Pinto-dona Sarita-mãe do editor do jornal El Independiente. Na homilia falou sobre o
sentido da vida e da morte:
Quem se entrega por amor a Cristo ao serviço dos outros viverá como o grãozinho de
trigo que morre, mas morre aparentemente. Se não morresse, ficaria só. Se há colheita é
porque morre, é porque se deixa imolar nesta terra, é porque se deixa desfazer e
somente desfazendo-se, produz a colheita.
Quando ia começar o ofertório da missa, às 18:30 soou o disparo que lhe tirou a vida.
No caminho do pronto socorro, pronunciou suas últimas palavras: "Que Deus os
perdoe". Assim morria, mártir da libertação, uma das figuras mais representativas da
Igreja contemporânea. Sua mor te abalou o país, a América Latina, o mundo inteiro.
O martírio é coma a semente da libertação. O pastor da segurança a seu rebanho. A voz
dos sem voz. Denuncio a riqueza dos opressores. Também estigmatizou o servilismo
dos militares á oligarquia do dinheiro. Para defender seus interesses da instituição
armada em si mesma. Criticou os governantes. Denunciou a intervenção imperialista
dos Estados Unidos. Desmascarou as mentiras dos meios de comunicação social a
serviço dos poderosos. E criticou, a atitude intransigente e imobilista de muitos
cristãos. Don Romero, testemunho de uma igreja encarnada nos pobres. É protetor do
índio. Ele diz: os pobres o evangelizaram. Ele experimentou Deus na história. Jesus
nos pobres. Sinal de seguimento da paixão de Jesus.
LUÍS ESPINAL: SINAL DE ESPERANÇA PARA O POVO BOLIVIANO
O contexto e o homem: A Bolívia é um país maravilhoso, situado no coração
geográfico da América do Sul. Mas sua grande riqueza humana e material acha-se
submetida aos interesses de algumas minorias nacionais e estrangeiras, que em pobre
ceram a maioria do país¹ e o converteram em cenário de contínuos golpes e
contragolpes militares.² A Igreja, por sua vez, acostumada ao regime de cristandade,
mais habituada a abençoar do que a profetizar, desde Medellín vem abrindo os olhos
para a nova tarefa de libertação que dela exige o evangelho.
Provavelmente as críticas ao narcotráfico serão um dos motivos da morte de espinal...
Este sistema de morte, morte rápida ou morte lenta de todo um país, submetido a
condições subumanas por uma minoria nacional que está aliada ao grande capital
internacional, não tem possibilidade de reforma. É preciso uma mudança radical, uma
alternativa diferente. Tudo está corrompido. Até a justiça é venal e os crimes políticos
permanecem impunes.
A vida e a morte de Luís têm explicação óbvia: foi um homem que amou a justiça e a
liberdade, que se colocou ao lado do povo oprimido e sofreu a repressão dos poderosos.
Há um nível de compreensão de sua vida facilmente inteligível. Os milhares de pessoas
que o acompanharam ao cemitério em gesto de dor espontâneo e bem sincero
compreenderam que Luís havia sido homem do povo e seu porta-voz.
Espinal vê, por outro lado, que o povo e os cristãos comprometidos com o povo só
recuperarão a esperança e sairão da paralisia do medo, se tais ídolos forem
desmascarados e se forem anunciados o verdadeiro Deus da vida, o evangelho de Jesus,
sem covardias, nem reticências, se se recuperar realmente a verdade que nos torna
livres.
No entanto, esta luta pela liberdade não é superficial. A libertação do povo não é
simplesmente assunto social, econômico ou político, mas escatológico, sendo que este,
incluindo os aspectos anteriores, os supera e transcende. Suas armas não são puramente
temporais ou políticas, mas são evangélicas: o amor, a justiça, a entrega, a oração, o
jejum, o seguimento de Jesus. A luta é contra a morte, a crucifixão, como a de Jesus. A
libertação autêntica é salvífica, vai além de todo reducionismo. E Espinal oferece,
sacerdotalmente, sua vida pelo povo.