Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Capítulo 2
Sobre a história da escrita
1
Introdução
2
Février e sua Histoire de l’écriture
ponto; às vezes, podem ser tomados por uma escrita como o aviso de
contra-mão. Dentre eles, o que teve maior desenvolvimento foi a escrita.
Février reúne os meios de expressão duráveis em vários grupos: os
nós, os signos geométricos, os signos pictográficos, os signos silábicos e,
finalmente, a letra.
As formas embrionárias da escrita são autônomas em relação à
palavra. O surgimento do signo foi o passo decisivo na direção da escrita.
O signo não é um objeto, mas é material; é herdeiro do símbolo (no caso
da escrita de objetos, por exemplo). Para Février, é aí que começa a
escrita. A partir do signo, a escrita tende a coincidir com a palavra por
aproximação, alusão ou sugestão. Em uma primeira etapa, um signo de
escrita ou um grupo de signos, sugerem – não notam – uma frase ou uma
idéia. Evidentemente, este tipo de escrita implica um número sempre
crescente de signos. Février as denomina escritas sintéticas ou escrita de
idéias.
Em uma segunda etapa, o signo passa a representar uma palavra
e não mais evocar uma frase. Há vantagens práticas aqui, pois o número
de palavras de uma língua sendo finito, os signos de escrita também o
serão. E constitui-se assim um conjunto de signos com valor estável. A
68
2.1
A escrita chinesa
2.2
A escrita japonesa
3
A teoria da escrita de I.-J. Gelb
palavra árabe, sātūr, que significa grande faca; o radical ktb (escrever)
significava originalmente gravar, tal como é indicado pela palavra siríaca
maktţ bā (punção, furar); a raiz shf ou shf significava não somente
escrever como também escavar, esvaziar.
Temos aí a mecânica primária da escrita e também sua estreita
conexão com a imagem. Para Gelb, a imagem é a maneira mais natural
de comunicar uma idéia. O desenho, nas culturas mais arcaicas,
preencheria as funções da escrita. Mas Gelb, além de tomar o “arcaico”
como inferior, não leva em conta que, mesmo no período paleolítico, já
havia inscrições rupestres de signos geométricos que tinham função
obscura, talvez ornamental apenas, o que não é nada “arcaico”, e
certamente não se prestavam a comunicar nada.
No entender deste autor, a partir desta pictografia primitiva,
originou-se a pintura enquanto arte, independente da fala e da escrita. Os
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0115571/CA
por uma consoante fraca, eram ligados à sílaba precedente por um signo
conhecido como scriptio plena ou escrita plena. Por exemplo, o nome
David em hebraico se escreve Dawid(i) em scriptio defectiva e Dawiyid(i) em
scriptio plena. A razão de ser do y(i) é fazer que a sílaba precedente wi
seja lida como w(i) e não como wa, we, wi, wu ou wo.
Estes signos complementares ajudam a decifrar a vogal da sílaba
precedente. São as matres lectionis, tradução latina do hebraico “mães da
leitura”. Há, em hebraico, dez vogais: as cinco longas são as mães e as
cinco curtas são as filhas. Este procedimento não foi inventado pelos
hebreus. Há a scriptio plena egípcia que aparece nos textos de
execração. Estes textos eram invectivas contra invasores e povos
inimigos. Gelb atribui o surgimento das vogais, neles, à necessidade de
escrever nomes próprios estrangeiros. Pommier tem outra interpretação,
que veremos adiante.
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0115571/CA
3.1
A escrita cuneiforme
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0115571/CA
3.2
A escrita egípcia
4
Gérard Pommier: uma teoria psicanalítica da origem da escrita
4.1
A origem do monoteísmo e da escrita
4.2
A sacralidade da escrita
4.3
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0115571/CA
4.4
As matres lectionis
4.5
Questões de fronteiras
5
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0115571/CA
Discussão e conclusões
5.1
Definição de escrita, função da escrita e do escrever
5.2
História da escrita e evolução da escrita
5.3
O rébus
5.4
A estilização
características do estilete?
Para Février, a estilização constitui um caminho para a escrita no
sentido em que os olhos não reconhecem mais o objeto representado e
conseqüentemente, é preciso ligar àquele caracter um nome preciso ou
um grupo de idéias. Este caracter poderá servir a uma escrita nascente ou
a uma arte ornamental quando esvaziado de sentido. Seria a estilização
efeito da rotina da técnica ou ao contrário, um refinamento voluntário da
mesma? Ou estaria a serviço do abandono da significação própria ao
pictograma a favor de um valor simbólico? Février deixa estas questões
sem resposta. Gelb não se atrapalha muito: a tendência à estilização seria
uma simples economia e, por outro lado, a persistência da logografia ou
ideografia na escrita chinesa, por exemplo, seria devida à tradição.
Gerard Pommier observa que já as pinturas rupestres
apresentavam uma tendência à estilização, tornando-se mais símbolos do
que figuras. Mas não se trata de um avanço racional, consciente. A
estilização é aquilo que trabalha a representação por dentro, aquilo que a
mina por estar animada por uma presentação do sagrado, mais do que
por uma vontade de comunicação, desejo de ocultar e velar. Pois é
102
6
Conclusão