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Copyright ® 2020 Jussara Leal

Capa: Heaven Race


Revisão: Bianca Bonoto
Diagramação: AK Diagramaçõe

Todos os direitos reservados.


Esta é uma obra de ficção. Seu intuito é entreter as pessoas.
Nomes, personagens, lugares e acontecimentos descritos são
produtos da imaginação da autora. Qualquer semelhança com
nomes, datas e acontecimentos reais é mera coincidência.
São proibidos o armazenamento e/ou a reprodução de qualquer
parte dessa obra, através de quaisquer meios — tangível ou
intangível — sem o consentimento escrito da autora.
A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei n°.
9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.
1ª Edição | Criado no Brasil.
Introdução
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo Final
Ava, desde pequena, deixa em evidência sua personalidade
forte e seu gênio indomável. Ela não é a típica mocinha
indefesa, frágil e submissa. Ava é dona de si mesma e bota
muitos marmanjos para correr.
Seguindo os passos do pai, ela se tornou uma advogada
poderosa, sagaz e temida. Mas, não foi apenas isso que ela
seguiu dele; ela pratica Crossfit, Muay Tay, MMA e é faixa preta
em Jiu-jitsu. Ela tem em si a generosidade herdada da família
Brandão, tem o lado selvagem herdado da família Albuquerque,
além de ter suas próprias características. É uma mistura de
Matheus com Victória, somadas à um mix de característica
marcantes e incorrigíveis.
Ava é fogo.
Gabriel é incêndio.
Gabriel Salvatore é um ser enigmático desde o nome.
Gabriel, do aramaico Gabri-el, “homem forte de Deus”, é
um anjo que serve como mensageiro de Deus. Aparece pela
primeira vez numa menção no Livro de Daniel, na Bíblia
hebraica. Em algumas tradições é tido como um dos arcanjos,
noutros como anjo da morte.
Filho de Túlio Salvatore e Analu, ele mistura um pouco das
características dos dois, porém, as características herdadas do
pai sobressaem. Ele é rebelde pela própria natureza. Amante
voraz da adrenalina, nunca foi bom em seguir regras, mas é
mestre em burlá-las, inclusive seu ingresso na faculdade de
direito é uma incógnita até mesmo para seus familiares. É um
excelente filho, um excelente irmão, de forma que, vendo-o no
convívio familiar, você até acreditaria em sua santidade e sua
carinha de bom moço. Gosta de curtir a vida intensamente, ama
estar no sítio de seus pais, é apreciador da natureza. Mas onde
ele se sente em casa mesmo é na cidade grande, sozinho,
fazendo da sua vida o que bem entende sem ter que obedecer a
regras ou limites. Odeia ter que dar satisfações às pessoas e ser
contrariado. Gosta do poder custe o que custar, gosta de estar
no controle e é altamente dominador.
Possessivo. Controlador. Confrontador. Rebelde.
Autoritário. Impaciente. Autoconfiante. Protetor. Estratégico.
Planejador. Encara a vida na base do tudo ou nada, sem meio
termo. Chega a ser um homem altamente intimidador, adora
desafios, é autoconfiante, exigente, entre muitas outras coisas.
É atlético. Praticante de Crossfit, musculação, é faixa preta
em Jiu-jitsu. A mesma disposição que tem para malhar é
compartilhada em outras “áreas” de sua vida. Não é anti-
relacionamentos, mas se julga jovem demais para mergulhar em
algo sério. Ele não está em busca da mulher certa, seu faro é
infalível para detectar as mulheres erradas e são apenas essas
que lhe interessam; as que portam do mesmo pensamento:
diversão, prazer e casualidade.
Gabriel é dominador.
Ava é dominante.
Vir morar no Brasil nunca esteve em meus planos. Mas,
pareceu o correto a fazer após receber dois convites tentadores
que impactariam grandiosamente no meu futuro. Desde
pequena sou bastante calculista e estou sempre em busca do
melhor para mim. Qualquer oportunidade que me faça crescer,
eu agarro com unhas e dentes. Sempre foi assim, sempre será.
Tenho minha lista de prioridades na vida e minha carreira está
no topo dela.
1
Sou considerada uma whorkaholic por muitas pessoas. A
maioria delas não aprova o fato de eu ser viciada em trabalho e
isso impacta muito em minhas relações interpessoais. Inclusive,
por ser tão focada no trabalho, passo por aquelas coisas chatas
dos familiares ficarem perguntando sobre os “namoradinhos”.
Namoros de longa duração não me interessam. O máximo que
fico com alguém é dois meses, isso se o homem tiver algo
atrativo para oferecer (no caso, se ele for bom de cama). Caso
contrário, sou amante e praticante do sexo casual. É bem mais
descomplicado você ter apenas sexo. Relacionamentos exigem
muito e, a minha fome de crescimento, não permite que eu
desperdice meu tempo em situações amorosas complicadas.
Quanto menos sentimento, melhor. Eu sempre serei minha
prioridade, não importa o que aconteça. Primeiro eu, depois os
outros.
Eu e meu pai agradecemos.
Sim, meu pai ama que eu seja assim. Sou sua preferida.
Enquanto Luma se fode cada hora com um babaca diferente, eu
fodo com os idiotas que tentam me foder. Entendeu? É incrível
ter uma irmã gêmea e ela ser o seu oposto. Tudo na vida de
Luma é complicado, porque ela simplesmente se apega e se
ilude. Já eu, sou a personificação da palavra descomplicada. Por
isso, meu pai me mima. Ou mimava. Desde a semana passada
ele tem estado bastante arrasado por eu ter anunciado minha
mudança. Foi muito difícil conversar com ele, expor meus planos
e minhas intenções. Por fim, ele acabou aceitando porque sabe
que é para meu crescimento pessoal. Porém, o conheço o
bastante para saber que ontem, assim que entrei no avião, ele
chorou por horas e horas. Meu pai é um fofo e muito apegado
aos filhos, eu o amo, mas precisava começar a andar com
minhas próprias pernas. É por isso que vim; fome de crescer,
fome de liberdade, fome de independência.
Na minha vida, o trabalho vem sempre em primeiro lugar, o
sexo em segundo e a diversão em terceiro. É assim que eu
pretendo continuar.

Ou pretendia.
Conhecer Gabriel Salvatore definitivamente não estava em
meus planos. Mas, aconteceu e adquiri de cara um ódio gratuito.
Ele é um moleque de 23 anos que se acha o fodedor e é o deus
do egocentrismo, só porque é absurdamente inteligente, bonito e
safo. É, tenho que admitir, sou madura o bastante para saber
separar as situações. Gabriel Salvatore é o maldito aluno mais
inteligente da faculdade inteira e eu nem mesmo compreendo
como ele pode tirar as notas mais altas sendo que vive em
baladas a semana toda. Eu acho que dizer que ele é uma
aberração, combina bem. Ele é uma aberração! Usa a
inteligência tanto para o bem, quanto para o mal. Eu o odeio,
mas ele tem um pau com piercing. O quê? Não, eu nunca
transei com ele e isso está na lista de coisas que eu jamais faria
na vida. Mas, logo você vai descobrir como sei sobre seus
dotes. Aliás, ele é bem dotado, além de ter o piercing e
tatuagens no pau.
Eu odeio os detalhes.
Há pequenos detalhes que se infiltram na mente e tornam-
se uma obsessão, tipo o fato dele possuir um piercing em seu
majestoso pau. Por mais que o odeie, eu adoraria sentar... a
mão na cara dele novamente!
Para piorar minha situação, eu descobri que ele é filho do
inimigo número 1 do meu pai. E, após descobrir esse pequeno
detalhe, descobri também que o fruto proibido é mais excitante
que qualquer outro fruto. Nada no mundo é tão excitante quanto
a sensação de embarcar em uma aventura onde você consegue
sentir a adrenalina consumindo cada parte do seu ser. Eu
preciso da adrenalina correndo forte em minhas veias, como
preciso de oxigênio para respirar.
Conhecê-lo arruinou tudo.
Ele é como um garoto selvagem.
Eu quis muito odiar Gabriel Salvatore.
Mas eu sou amante do perigo.
O perigo é sobrenome dele.
Basta descer do avião para compreender que finalmente
cheguei ao meu destino: o inferno. Como sempre, meu humor
está levemente alterado... para pior. Por Deus! Você tem que ser
muito amante do verão para suportar esse clima escaldante do
Rio de Janeiro. Eu amo esse lugar, mas amaria muito mais se o
calor não fosse tão absurdo.
Aí você vai dizer: “nossa, Ava é uma fresca, mimadinha”. Eu
não sou, até fui bastante mimada, mas, felizmente, sou uma
mulher muito despojada e nada mimada ou fresca. Tá, tudo
bem, se você me ver pela primeira vez, certamente vai pensar
que sim, eu sou uma patricinha mimada. Minha aparência grita
isso e não tenho culpa alguma. Sou alta, loira, esbelta, tenho
algumas curvas generosas, gosto de andar bem vestida e sou
realmente bonita; sem modéstia. Antes que diga merda, não, eu
também não tenho o ego inflado, mas sou bonita e não é crime
se achar bonita (desde que não seja um amor próprio
exagerado). Mas, de qualquer forma, se você me der uma
chance e conversar comigo por cinco minutos, a minha
aparência deixa de valer e talvez você até se assuste.
Voltando lá, no calor escaldante e sobre você me achar
fresca por já chegar reclamando, eu apenas sofro muito com o
calor daqui, a ponto de passar mal. Minha estação preferida do
ano é o inverno. E, convenhamos, inverno é realmente melhor,
se você parar para pensar. Não há suor, não há pele grudenta,
não há pressão caindo devido ao excesso de calor, não há
roupas grudando no corpo. Inverno, para mim, é qualidade de
vida. Agora, o verão, principalmente se for do Rio de Janeiro, é a
quase falência da minha qualidade de vida. Porém, é essa
minha nova realidade e estou feliz (tirando o mal humor pelo
calor). Pela primeira vez estou indo morar sozinha, longe dos
meus pais e da maior parte da família. Há meus irmãos, Lucca e
Victor, que moram aqui no Rio. Mas, sabiamente, fiz questão de
comprar um apartamento bem distante do condomínio onde os
dois vivem. Quero aproveitar minha liberdade e sei o quão
possessivos e controladores eles podem ser. Sendo filhos de
Matheus Albuquerque, a possessividade já está no sangue
deles.
Por falar em irmão...
Victor está me aguardando com uma cara de morto, o que é
super compreensível. São cinco horas da manhã, de um
sábado. Provavelmente ele estava em alguma balada ou
fodendo alguém e teve que sair para vir me buscar. Também não
tenho culpa sobre isso. Eu disse que pegaria um táxi, mas Victor
é um pé no saco e vai tentar bancar meu pai agora, coisa que
não vou aceitar.
— Olá irmãozinho, está destruído — digo sorridente e o
abraço. — Estava numa balada ou em algum motel?
— Numa balada e vou para um motel assim que a deixar
em casa — explica com naturalidade e pega minhas duas
malas.
— Bem feito, teve a foda interrompida, eu disse que
chamaria um táxi.
— Não. Você é mais importante que qualquer mulher e não
confio em taxistas da madrugada. — Sorrio. Eu disse que ele
era protetor, não disse? — Ainda acho que você deveria morar
no condomínio.
— Não! — exclamo de uma maneira enérgica. — Nem
comece, por favor, tenho vinte e nove anos, Victor. Passei vinte
e nove anos sob as asas do papai, agora é o momento de eu
seguir minha vida longe de controle. Nem comece, ou juro por
Deus, mudo para qualquer cidade e vocês nem mesmo ficarão
sabendo.
— Eu não sei o tipo de pessoa que você está acostumada a
lidar, mas apenas tente fugir de mim — ameaça e dou uma
gargalhada.
— Tente me controlar e nós teremos uma boa briga,
irmãozinho.
— Não sou os homens frouxos que você comanda,
irmãzinha — afirma sorrindo. Coitada da mulher que se envolver
com ele. Ele é pior da família e olha que a família é bastante
extensa. Na verdade, dizem que eu e ele somos os piores. Acho
absurdo dizerem isso de mim, uma pessoa tão angelical e
inocente.
— Lucca? — pergunto.
— Oh! — exclama de uma maneira enigmática e dá um
sorriso de lado. — Lucca, neste momento está passando muito
bem — responde rindo. — Ele está com uma dupla incrível.
— Ele está fazendo ménage? — pergunto revirando os
olhos.
— Exatamente isso. Ménage é legal, mas já passei dessa
fase. Prefiro ter uma só e ter um sexo de qualidade, intenso e
duradouro — explica.
— Interessante. Já fiz ménage, com dois homens e já dividi
um homem com outra mulher. Mas, não gostei de fazer com
outra garota, sou muito hétero... sem preconceitos, apenas não
curti a experiência. A garota pegou em meus seios e rolamos no
chão de porrada. Dividir um homem não significava que eu
estava dividindo meu corpo com ela, era apenas o homem
mesmo. — Ele joga minhas malas no chão e se vira para mim
como um animal, colocando o dedo na minha cara.
— Não diga uma merda dessas para mim — avisa puto de
raiva e eu quase quebro seu dedo. Está para nascer o homem
que vai chegar o dedo na minha cara. — Porra, solte meu dedo!
— Então pegue ele e enfie no seu orifício anal ao invés de
apontá-lo para mim, macho escroto — informo soltando-o e ele
pega as malas novamente. Irmãos são um saco, eu queria ser
filha única, mas fui contemplada com 4 irmãos, duas mulheres e
dois homens. Santa MERDA! Ele pode dizer que fez ménage e
eu não? Só porque sou mulher... ah foda-se! Já fiz mesmo e
farei novamente se sentir vontade. Odeio tabus. — Você deveria
arrumar uma namorada, sério, já está com quase 31 anos e está
muito estressadinho. Se fizesse sexo diariamente seria menos
controlador e mais feliz.
— Não estou interessado em namorar, e faço sexo quase
todos os dias. — Volta a sorri e chegamos ao seu carro. Ele abre
o porta-malas rindo e eu torno a revirar os olhos. Sabe aquele
tipo de homem que sabe que é bonito, destruidor e joga bem
com isso? Victor! Chega a ser irritante. Ele é absolutamente auto
confiante e dono de si.
Irrita, mas me inspira.
Estou irritando fácil hoje, inclusive falar de sexo também
está me irritando. Minha última experiência foi uma bosta. Eu
estava praticamente namorando com um cara, mas era apenas
pelo fato dele ser incrivelmente inteligente; porque,
sinceramente, no sexo ele era uma negação, tanto que
terminamos ontem, antes de eu embarcar rumo ao Brasil. Não
tive um único orgasmo com ele em mais de 1 mês. Sorte que
nós mulheres não precisamos de um homem para obter prazer,
temos dedos, consolos incríveis e, às vezes, mais vale um
binquedinho em mãos do que um homem problemático. Pense
só, homens tendem a ser complicados, embora eles insistam em
dizer que nós mulheres é quem somos complicadas. Então, para
evitar estresses, em alguns casos é melhor curtimos um
orgasmo sozinha (mesmo que seja infinitamente melhor ter
mãos em nossos corpos e um contato íntimo com outra pessoa).
Quando vou entrar no carro, percebo que há uma mulher
dentro dele, na frente, no banco do passageiro. Não quero
parecer chata, então abro a outra porta e me acomodo no banco
de trás.
— Olá! — digo fingindo simpatia, apoiando as mãos nos
dois bancos da frente e a encarando. Ao longo dos anos já perdi
as contas de quantas mulheres já vi Victor pegando. Altas,
baixas, gordinhas, magrinhas, boazudas, negras, pardas,
brancas, albinas, loiras, ruivas, morenas... Lilás. Sim, havia uma
que tinha os cabelos lilás. Parecia um unicórnio, mas a filha da
mãe era linda.
— Essa é Raquel. — Victor apresenta. — Raquel, essa é
minha irmã, Ava.
— Uau, você é linda! — a tal Raquel diz.
— Obrigada, você também é. Desculpa atrapalhar os planos
de vocês.
— Não atrapalhou. — Ela sorri. Merda, ela é linda, credo,
beira ao absurdo. Por que Victor não namora nunca? Essa tal
Raquel parece uma miss.
Me jogo no banco e vou em silêncio até chegarmos em meu
novo lar. Despeço da tal Raquel e ajudo Victor com minhas
malas.
— Eu levo para você — ele diz.
— Não há necessidade. Vá curtir uma manhã de sexo
intenso e duradouro — brinco imitando suas palavras e ele me
puxa para um abraço.
— Amo você, pequena, seja bem-vinda e tenha juízo.
Ligarei mais tarde para saber como está.
— Ligue bem mais tarde, vou tomar um banho e desmaiar
agora. A noite tenho uma festa da faculdade e não poderei
perder. — Ele sorri.
— Sim, senhora orientadora. Juízo, Ava. Ligue se precisar
de qualquer coisa.
— Ok, fica tranquilo, vá namorar.
— Meu pau! Namorar é o caralho! — Ele sai andando e o
porteiro do prédio, super bonzinho, surge para me ajudar com as
malas.
Quando o elevador para em meu andar, puxo as malas para
fora e vou andando rumo ao apartamento. Aqui são dois
apartamentos por andar e estou na cobertura, felizmente.
Mesmo sendo gigante para mim...
Vou com todo cuidado para não fazer alarde e então escuto
som de gemidos. Isso me faz caminhar mais devagar ainda. É
então que encontro uma cena de sexo explícito próximo à porta
do meu novo lar.
Há um homem tatuado e uma garota loira, que parece ser
incrivelmente linda e parece estar morrendo. Ela está pedindo
arrego, posso notar. Eu não quero interrompê-los; minha avó diz
que não devemos interromper fodas alheias. Por isso, encosto
em uma parede do outro lado, a uma certa distância deles e fico
acompanhando a performance do casal. O homem é bem gato,
embora eu não tenha visto tão bem seu rosto. Ele tem um corpo
incrível, braços fortes, tatuagens incríveis. Eu realmente tenho
fetiche com homens tatuados. Se o homem não tem no mínimo
uma tatuagem, ele não serve para mim e esse garoto na parede
ao lado, tem muitas delas. Há um leão cobrindo todas suas
costas, é uma verdadeira obra de arte. Leão é meu signo do
zodíaco.
Esse garoto parece ter um preparo físico invejável, porque,
enquanto a garota parece estar correndo a meia maratona, ele
está pleno, como se estivesse esparramado no sofá assistindo
TV e comendo pipoca. As mãos dele estão espalmadas na
parede e é a garota quem está fazendo todo o trabalho de
empurrar seu corpo ao dele.
Analisando melhor, ele parece estar sorrindo do sofrimento
dela. No mínimo ele é mais um babaca que sabe que é bom em
foder e se acha por isso.
Meu Deus, perdoe meus pecados...
Um arrepio que começa na minha espinha e então toma
todo meu corpo quando ele desce uma mão e puxa os cabelos
dela com força. O cara parece bom para foder... e eu novamente
estou pensando em sexo no dia de hoje. Que inferno! Que
pegada!
Chegar no Brasil, em meu novo lar, e presenciar uma cena
desse porte é sinônimo de sorte ou de azar? Aliás, quem é o
síndico dessa merda? É um prédio de luxo, em uma área nobre,
e há um casal fodendo como se não existisse mais moradores
aqui.
— Por favor, eu não estou aguentando mais, você precisa
gozar... — a garota pede atraindo minha atenção. O cara é uma
máquina? Parece que sim.
Nota dez para sua pegada.
Nota dez para seu desempenho.
Nota dez para seu corpo.
Nota mil para suas tatuagens.
Uma salva de palmas, Brasil!!! Sou a melhor espectadora
de sexo alheio que pode existir, poderiam me chamar para ser
jurada.
— Você queria me dar e agora está pedindo arrego? — Oh,
a voz dele é engraçadinha, mas não parece com a voz de um
homão destruidor. Acho que ele é novinho. Um novinho sagaz.
— Não estou tendo incentivo suficiente para gozar ainda, acho
que a bebida atrapalhou seu desempenho no dia de hoje,
Renatinha. Você já foi melhor e mais bem disposta ao sexo. —
Faço uma careta ao ouvir o nome. Renatinha... eu não curti esse
nome, definitivamente. Me perdoem as Renatas, mas Renatinha,
no diminutivo, é... prefiro não falar. Aliás, deveriam evitar nomes
no diminutivo, é escroto. Renatinha, Paulinha, Claudinha...
— Faz muito tempo que estamos aqui...— ela protesta e ele
suspira, demonstrando frustração. Dá vontade de rir, imagino
como ele está se sentindo frustrado. É o mesmo tipo de
frustração quando o homem goza rápido e nos deixa a ver
navios. Renatinha é fraquinha, deveria procurar um Crossfit,
uma academia qualquer, praticar umas atividades físicas, ter
uma alimentação balanceada. Eu sou faixa preta em Jiu-jitsu,
faço musculação, Crossfit e Muay Tay. Talvez eu deveria dar
umas dicas para ela, mas estou cansada e não vou interromper
a foda de ninguém. Só queria minha cama.
Eu não sei em qual momento o jogo inverte, mas o homem
me pega em flagrante, o observando e minha cara nem queima.
É ele quem deveria ter vergonha de estar se expondo dessa
maneira, não eu. Aliás, ele é bem bonito e possui piercings na
orelha e no nariz. Um estilo rebelde, interessante. Mas, tem um
defeito, parece ser mais novo que eu. Sempre tem que ter um
defeito. A vida é bem cruel mesmo.
Sustento seu olhar e o vejo me analisar de cima a baixo.
Então ele sai de dentro da garota e eu engulo a seco ao ver seu
membro ao vivo e em cores, literalmente. Há algo prateado
brilhando na ponta de seu pau e ele parece possuir tatuagens
também... ali. Quem em sã consciência tatua o pau? Eu sou
mulher, mas imagino o quanto isso deve doer. Eu quase quero ir
até ele e pedir para verificar de perto, mas contenho meus
impulsos. Então, ele faz algo inusitado, começa a se tocar, me
encarando. Eu não quero olhar, mas não consigo desconectar
meus olhos da cena. Estou cometendo uma infração gravíssima
e perigosa, mas ele se tocando é bem quente. Me sinto no site
do Red Tube acompanhando masturbações masculinas, só que
essa é ao vivo e parece mais quente. Em outra situação eu já
teria meus dedos dentro de minha calcinha, mas, nesta, só me
resta olhar. Acho que tornei seu “incentivo”. Quão errado é
permitir isso? Ele é ousado e corajoso. Eu poderia processá-lo e
ganharia a causa. Mas, ao invés disso, estou atenta aos
movimentos.
Ele se tocando... uau.
Duro, forte e rápido...
Eu sou uma amante da masturbação. Amo me masturbar e
amo ver homens se masturbando. Na minha opinião,
masturbação é conhecer a si mesma, é ter um nível elevado de
intimidade com o próprio corpo. Eu acho lindo um homem se
masturbando. Imagino que, quando ele faz isso, é pela mais
pura necessidade de se fundir em outra pessoa, é o desejo
gritando alto. Necessidade e desejo são excitantes. Não existe
nada melhor do que transar com alguém desesperado de
desejo.
Ele solta um gemido que me faz gemer junto quando goza
na bunda da garota. Eu tapo minha boca quando percebo que
meu som atraí o olhar da garota. Merda! Eu gemi para um
desconhecido. Mais que depressa fico em uma postura
confiante, seguro minhas malas e caminho rumo ao
apartamento, passando pelos dois. Estou tentando fingir que vê-
los transando não causou um impacto.
— Desculpem-me, eu odeio atrapalhar fodas, por isso
esperei vocês concluírem o ato — digo sem encará-los. — A
propósito, vocês deveriam transar dentro do apartamento de
vocês, há vizinhos, tipo eu. Hoje estou tranquila porque estou
com sono, mas se estivesse em um dia difícil, não toleraria esse
tipo de situação.
— Quem é você? — a garota pergunta com uma voz
insuportável e se vira para o garotão do pau com piercing. —
Quem é ela, Gabriel? — Gabriel... interessante. Gabriel e
Renatinha, que bosta!
— Ava Albuquerque, Renatinha. Aliás, já que estamos
“íntimas”, você deveria tomar uns energéticos ou algo assim,
para aguentar foder. Agora me deem licença, porque estou
morta. Só mais um aviso, espero que seja a última vez... eu sou
louca, completamente louca. Além de louca, sou advogada e
adoro foder pessoas, nos mais diversos sentidos.
Abro a porta, jogo minhas malas no chão e dou um sorriso
angelical antes de batê-la na cara dos dois. Por fim, fico rindo.
Esse tipo de situação só acontece comigo. Não é a primeira vez
e, provavelmente, não será a última. Só que agora a situação é
um pouco diferente das outras, o tal Gabriel tem um maldito
piercing no pau e tenho certeza que essa imagem vai me
perseguir por um tempo.
Eu só não esperava que o tal Gabriel fosse bater em minha
porta no início da noite e muito menos esperava fazer outras
descobertas sobre ele.
Há algo que vocês precisam saber: homens quando veem
uma mulher gostosa, eles olham mesmo. É isso, independente
de qual seja a circunstância, nós olhamos. É como se isso já
fizesse parte de nós desde o nascimento.
É isso que acabou de acontecer.
Um conselho: ouçam sempre os conselhos de sua mãe.
Minha mãe ficou meia hora me dando sermão antes de eu
pegar estrada e voltar para o Rio de Janeiro. Em um dos trechos
ela dizia: “mantenha seu pau com piercing dentro da cueca”, eu
ignorei por completo e até ri. Com poucas horas que cheguei ao
Rio, meu pau com piercing começou a trabalhar furiosamente.
Até aí tudo bem, sexo é algo normal e saudável. Sou jovem,
bem disposto, cheio de saúde e testosterona. Acontece que
duas coisas deram errado: Renatinha não conseguiu me
satisfazer. Então, já desistindo de continuar, eu virei para o lado
e encontrei a personificação do erotismo. É escroto, eu sei,
tendo em vista que havia uma garota quase de quatro para mim.
Mas, é sério o que eu vou dizer, aliás, eu nunca disse isso sobre
qualquer mulher, mas preciso dizer sobre essa. Ela tem uma
cara de atriz pornô que nem mesmo as atrizes pornôs possuem.
O que é aquela pintinha acima da boca? Puta que pariu! Quando
fui informado sobre um novo morador, podia apostar que seria
uma família, um casal com dois filhos e um cachorro, já que o
apartamento é tão gigante quanto o meu. Eu não esperava a
porra de uma mulher fodidamente quente, linda e gostosa. É aí
que a desgraça começa. Não satisfeito ao pegá-la em flagrante
me analisando, eu esqueci da existência da Renatinha, foquei
na mulher e toquei uma punheta rápida sob seu olhar faminto.
Sim, a mulher, além de todos os atributos físicos, parecia ter
fome de sexo, tanto que ela soltou um maldito gemido quando
gozei.
Como se desgraça pouca fosse bobagem, eu sou o síndico
do prédio e ela pode resolver levar esse meu delito ao Conselho
de moradores.
Comecei o ano com o pé direito, definitivamente.
— Você gozou por ela? — Renatinha pergunta atraindo
minha atenção.
— Por ela quem? Está louca?
— A vizinha! — exclama visivelmente irada. Fui pego em
flagrante. — Você gozou por ela.
— Claro que não, princesa. Eu estava fodendo você. Eu
nem mesmo conheço a vizinha — digo pegando minha blusa no
chão e limpo minha porra espalhada em sua bunda. Pego o
preservativo que descartei assim que saí de dentro dela e
caminho para entrar em meu apartamento.
Mulheres, entendam: homens solteiros que dizem não
querer relacionamento, não são confiáveis. Somos cafajestes e
mentimos, o tempo todo. Para aumentar ainda o nível de
canalhice, nós sempre debatemos os questionamentos de uma
maneira carinhosa que envolve apelidos como “princesa, minha
linda, etc.” Na maioria das vezes dá certo e as mulheres caem,
mesmo que fiquem relutante por um tempo.
— Você gozou por ela sim! — Renatinha diz possuída atrás
de mim e eu me viro para vê-la arrumando o vestido.
— Você vai começar a atormentar essa hora da manhã? —
questiono e ela suspira frustrada. — Foi você quem me fez
gozar, minha linda. Era por você que eu estava duro o tempo
todo — argumento.
— Estou indo embora! — avisa e eu sou um homem que
não tem paciência para lidar com dramas, por isso, taco o foda-
se.
— Ok, vai gozada mesmo? Nem um banho?
— Eu tomo banho em casa. — Levanto os ombros e ela
bate à porta. Ela quem sabe.
Pior coisa que existe é quando uma garota que você fica
começa a se iludir e se sente no direito de surtar. Mulheres são
os seres mais complicados do universo. Por mais que eu tenha
um dom em lidar com elas, às vezes é bastante complicado
compreendê-las. Tipo agora. Eu não dou meio dia até que ela
esteja me mandando uma mensagem. Só vai demorar um pouco
porque, no fundo, ela sabe que eu realmente gozei pela vizinha.
E eu sei a porra toda que está passando na mente dela. Neste
momento ela está na luta interna se deve acreditar em seus
instintos ou em minhas palavras falsas. Ela vai ficar nessa
batalha por um tempo, então vai acreditar em minhas palavras
porque, simplesmente, está gostando de mim mais do que
deveria e prefere se apegar a qualquer merda que eu dê, na
esperança de conseguir me conquistar. Mas aí vem uma
questão, homens não curtem mulheres óbvias e que
demonstrem excesso de fraqueza. Logo, se você acredita que
deve aceitar toda e qualquer merda que oferecemos, suas
chances são quase nulas.
É o que é.
Carência excessiva, apego, submissão completa, são três
coisas que todas as mulheres deveriam evitar. O apego é como
um balde de água fria em nós homens. Gostamos de desafios,
de auto confiança, de atitude. Eu posso dizer por mim, não
busco uma “filha” que eu tenha obrigação de ficar mimando.
Busco mulheres adultas, bem resolvidas, independentes
emocionalmente. Porra, isso me deixa louco. Pena que esse tipo
de mulher está escasso.
Retiro minha roupa, tomo banho, faço um lanche e vou
direto para a cama. Ontem o dia foi tumultuado. Viajei de MG
para cá e já cheguei indo para uma festa.

Acordo assustado com uma maldita música alta. No relógio


marcam 5 da tarde e, mesmo assim, estou puto por ter meu
sono interrompido. Parece que estou dentro de uma rave. Ao
menos a filha de uma boa mãe tem bom gosto musical. Se fosse
pagode eu ficaria mais puto do que ela nunca viu. Mas a mulher
está escutando Lift Me Up, do Sesto Sento e eu posso dizer que
estou quase apaixonado por ela agora.
Gata, cara de atriz pornô, gostosa e tem bom gosto musical.
Isso me faz saltar da cama decidido a ir redimir pelos pecados
cometidos essa manhã.
Pego meu celular e, conforme previsto, há uma mensagem
de Renatinha. Rio quando abro e vejo que é uma foto nossa, de
ontem à noite. No texto escrito “eu já estou com saudades”.
Doce ilusão!
Eu não estou com saudades.
Visto uma bermuda e vou até a área da piscina ver se
encontro com uma nova vizinha. Meus nados estando
completamente nu a noite acabaram, meu sexo nas
espreguiçadeiras também.
Eu a encontro rindo sozinha e jogando água piscina para o
alto. Caralho, que corpo, que sorriso, que astral. Esses seios
são quase mais lindos que o sorriso, quase.
Que bunda!
Que mulher gostosa!
Ela certamente será homenageada por mim mais vezes.
Sou pego em flagrante e ela ri, ao invés de ficar brava.
— Fui pego — digo e ela retira os óculos.
— Olha ele! Aposto que te acordei com a música. Foi
apenas uma retribuição por ter me feito perder tempo
observando um desastre sexual. Acostume-se vizinho, você
gosta de transar no corredor, eu gosto de música e festa. — Ela
é atrevida. É quase ruim que a divisão das coberturas tenha
vista de uma para outra.
— Gostos singulares. — Sorrio. — Bom, querida vizinha, se
me permite... — digo e pulo a divisória de vidro que separa
nossas coberturas. Ela fica séria, como se não estivesse
acreditando. Isso não é legal ou correto da minha parte, mas
não começamos legal mesmo. Estou cruzando uma linha tênue
entre o certo e o errado, e, sei que essa linha está mais
inclinada para o errado.
— Isso é invasão de privacidade e de propriedade.
— É, eu sei, mas pense pelo lado positivo, eu estava indo
bater em sua porta e você teria que se deslocar da piscina para
me atender — justifico meu ato e me sento na borda da piscina.
— Não te conheço e nem mesmo temos intimidade para
você pular para o meu apartamento.
— Eu sei disso, acredite. Não farei isso mais — afirmo. —
Só queria me desculpar por ter pego uma cena íntima — digo.
— Só há moradores no primeiro e segundo andar do prédio. O
terceiro andar é desocupado e então vem a cobertura. Meu pai a
comprou quando minha mãe estava grávida de mim, desde
então, somos os únicos moradores. Na verdade, agora apenas
eu resido aqui. Meus pais mudaram-se para Minas Gerais, três
dos meus irmãos estão lá. Eu moro aqui e Davi, um dos meus
irmãos, mora no primeiro andar.
— Seu pai é o dono do prédio? — pergunta curiosa.
— Não. Só da minha cobertura e do apartamento do
primeiro andar — explico.
— Eu também possuo quatro irmãos. Uma irmã gêmea,
uma irmã mais velha e mais dois irmãos, Lucca e Victor. Victor é
mais velho que eu, Lucca é o mais novo.
— Interessante, uma irmã gêmea...
— Não idêntica — pontua e sai da piscina. Eu tenho que
respirar fundo para conter algo que está crescendo em minha
cueca. Estou quase pulando de volta para o meu apartamento,
mas meus olhos estão fixados nela, que está enxugando seu
corpo e o cobrindo com um roupão. — Venha, aqui não é local
mais apropriado para receber uma “visita” — diz fazendo aspas
com os dedos e eu fico de pé, acompanhando-a até a sala. O
apartamento é igual ao meu, só a decoração que muda.
— Então, voltando ao assunto, não tenho o costume de
transar em locais onde posso ser pego, mas foi força do hábito.
Anos e anos sem vizinhos, é como se esse andar fosse apenas
meu. Eu sabia que teria novos vizinhos, mas não pensei que
seria tão rápido. Obtive essa notícia semana passada.
— Eu vim da Califórnia, sem mudança e apenas com duas
malas. O restante das minhas coisas está chegando em breve,
então foi tudo bem rápido mesmo. Só não esperava uma
recepção calorosa de um casal de namorados apaixonado. Mas
relaxa, estou de bom humor hoje, caso contrário eu teria ido
reclamar com o síndico.
— Eu sou o síndico. — Seu sorriso morre.
— Você está falando sério? — questiona e eu balanço a
cabeça confirmando. — Oh, que maravilha! Um belo exemplo de
síndico. Já te aviso de antemão, na próxima eleição, que será
em poucas semanas, eu serei sua concorrente e ganharei a
votação — afirma rindo. Como ela já sabe da próxima eleição?
— Bebe algo? Melhor não, né? Sua namorada parece azeda. Se
ela souber que você está no apartamento da vizinha, certamente
irá surtar.
— Ela não é minha namorada.
— Oh, amiga de foda, interessante. — Sorri. — Sexo casual
é tudo que eu posso querer. — Porra! Essa mulher me deixa
sem palavras. — Mas, aposto que sua amiga é daquelas que
acha que pelo fato de estar fodendo com você, ganha o direito
de controlar sua vida. Estou certa? Ela parece o tipo iludida, que
não sabe separar as coisas.
— É bem isso.
— Afaste-se dela, o quanto antes. Minha irmã é desse tipo,
não desejo para ninguém. Você é novinho, bonito e tem um
piercing no pau, isso é um atrativo a parte. Pode conseguir
muitas amigas de foda, se souber administrar. Você só precisa
prestar atenção nos detalhes, para ser capaz de perceber cedo
que a garota está se iludindo e tirar o time de campo. — Ela
quer me ensinar a lidar com mulheres?
— Novinho, piercing no pau...
— Você parece ter vinte anos, não? Não costumo errar.
— Vinte e três. — Ela balança a cabeça sorrindo.
— Não precisa mentir.
— Eu tenho vinte e três anos — reafirmo e ela arqueia uma
sobrancelha.
— Interessante. Eu tenho vinte e nove, sou seis anos mais
velha e mais experiente que você.
— Interessante. — Sorrio. Ela parece se achar a fodona.
Ficamos em silêncio nos encarando e eu não consigo tirar meus
olhos da pintinha em sua boca. Se piercing no pau é um atrativo,
essa pintinha é além de atrativa. — Você parece uma atriz pornô
— digo antes que consiga raciocinar direito.
Ela primeiro franze a testa, então parece gostar disso.
— Talvez seja porquê sou uma atriz pornô. — Eu abro
minha boca em choque e ela sorri mais amplamente,
caminhando em minha direção. A mulher me agarra pela camisa
e me joga contra a parede, eu estou chocado pra caralho para
reagir. Ela deve estar brincando. Eu não poderei continuar
vivendo aqui se ela for atriz pornô. — Sou ninfomaníaca, por
isso fiquei o observando.
— Sério? — questiono e ela balança a cabeça confirmando.
— Eu tenho um apetite sexual quase incontrolável, por isso
prefiro me divertir sozinha na maioria das vezes, assim não fico
decepcionada com o desempenho masculino. Prefiro me tocar,
me dar prazer sozinha, que ficar frustrada, como você parecia
frustrado fodendo aquela garota. Eu fiquei excitada observando-
os, então entrei e me toquei duas vezes. — Estou hipnotizado
com suas palavras. — Sou atriz pornô desde os dezoito anos de
idade. Só tenho prazer fazendo filmes, porque os atores tomam
muitas coisinhas para aguentarem o tranco. Eu só faço filmes de
classificação hardcore, porque só sinto prazer com sexo
selvagem e intenso. Gosto de bruto, de levar uns tapas bem
forte, de ser fodida por horas seguidas. Muitas das vezes, prefiro
um bom ménage, sinto imenso prazer com sexo anal, até gozo
rios com o anal. Espero que não tenha preconceitos. — BDSM
parece bom para ela. — Vim embora da Califórnia para fugir do
assédio dos homens, espero que fique em segredo minha
profissão, combinado? Não quero ser assediada no Brasil, meu
país de origem, só porque escolhi uma profissão diferenciada. —
Inverto a posição e agora é ela quem fica presa. A vejo engolir a
seco enquanto olha para a minha boca, essa mulher é um
absurdo. Todo seu semblante muda de audaciosa para receosa.
Então ela sorri e eu estou contra a parede novamente. Gato e
rato. — Sabe, embora eu tenha tido muito sexo nos anos de
profissão, nunca senti como é ter um pau com piercing dentro de
mim.
— Quer sentir? — pergunto e ela dá uma gargalhada.
— Não gosto de piroca baby — diz sorridente, deslizando
suas mãos por dentro da minha camisa.
— O que seria piroca baby? Pequeno e delicado meu pau
não é! — questiono enquanto ela traça um dedo no cós da
minha cueca.
— Jovenzinho demais. Gosto de homens acima de 30...
antes que você pense centímetros, eu quero dizer 30 anos de
idade. — Ela parece se divertir. Essa mulher, além de ser a
coisa mais linda e gostosa, é louca.
Defeitos, ela não é imune a eles. Talvez ela faça alguma
espécie de tratamento psiquiátrico e talvez até tenha fugido da
Califórnia, faz todo sentido.
Sorrio e ela parece frustrada por esse meu ato. Então ela
está contra a parede novamente. Com a rapidez de um mestre,
suas mãos estão presas no alto de sua cabeça. Ela sorri
provocativamente e me dá uma forte joelhada no pau, que eu já
esperava. Não grito, ou rolo no chão. Nem mesmo tenho tempo
para isso. A mulher, além de doida, manja das artes marciais e
eu preciso ser esperto agora. Ela captura meu braço em um
golpe Kimura e me dá uma joelhada na barriga. Eu começo a rir
e é necessária minha resistência a esse golpe ou ela quebrará
meu braço. Meu riso parece deixá-la insana, ela me solta e eu
uso minha agilidade para prendê-la em um mata leão.
— A bonitinha luta Jiu-jitsu, é? — pergunto em seu ouvido,
grudado em suas costas, enquanto ela respira com dificuldade.
Essa bunda no meu pau é perfeita. — Diga-me, qual outro
esporte você prática? MMA? Judô? Krav Maga? Eu estou
preparado para lutar com você qualquer um deles. — Ela ri e
então estou no chão. Chocante! Antes que eu possa levantar,
ela está me montando. Capturo sua mão direita no ar antes que
possa se chocar em meu olho direito. Eu não faço ideia do que
fiz para merecer toda essa fúria, mas estou rindo. Nós rolamos
no chão, ela tenta me dar diversos golpes, mas agora estou
usando um pouco mais da minha força para contê-la. Tê-la
nesse ângulo é tentador, mas sinto que preciso ir embora antes
que essa louca me mate. — Vou soltá-la agora e irei embora,
ok? Mestre samurai.
— Você é um idiota.
— E você é louca.
— Piroca baby!
— Piroca baby com piercing. — Pisco um olho para ela. —
Se um dia quiser experimentar, basta chamar na porta ao lado.
Estou sempre disponível ao sexo e você parece necessitada. Eu
escutei você gemer enquanto eu gozava, você estava excitada,
com as bochechas coradas e apertando as pernas — digo
grudando minha ereção em sua buceta e movendo. Errado para
caralho, mas ela geme novamente e eu a solto antes que possa
perder minha mente.
Saio do apartamento dela mais rápido que entrei.
Eu a conheço a menos de 24 horas e já estamos nesse
nível. Com uma semana de “convivência” a morte é certa. Um
dos dois morre, basta saber quem.
Chego no auditório da faculdade e encontro meu irmão. Ele
está no sexto período de Direito e eu no décimo. Esse é meu
último ano na faculdade e eu sou o represente de todas as
turmas, por esse motivo, sou obrigado a participar de todas
essas apresentações anuais. Já meu irmão, está aqui porque,
após a apresentação, teremos uma mega festa de boas-vindas e
início de ano.
A reitora é quem está fazendo o discurso de apresentação e
eu apenas aguardo ser chamado. Não demora muito.
— Convido ao palco nosso querido aluno, representante de
nossa universidade, Gabriel Souza Salvatore. — Ela chama e
todos aplaudem quando subo ao palco. Sou posicionado e
aguardo que ela continue. — Agora quero chamar a nova
integrante do nosso time — Anuncia e então começa a narrar
um currículo extenso e surpreendente da nova orientadora do
curso. Pelo que foi dito, a mulher é um monstro do Direito e
estou ansioso para conhecê-la e poder absorver um pouco do
aprendizado que ela pode fornecer. Sim, sou rebelde, mas
também sou responsável. Minha carreira é tudo o que realmente
levo a sério. — É com muito orgulho que, após tanta insistência
da nossa parte, vos apresento Ava Brandão Albuquerque! — Ela
chama e todos os homens do auditório, sem exceções, fazem
alguns sons intrigantes. Eu olho para trás e encontro o motivo. O
motivo está sorridente e auto confiante. O motivo me faz rir e
abaixar a cabeça. Puta merda! E, neste momento, acho que é o
fim da minha carreira acadêmica.
Ela caminha confiante e é posicionada ao meu lado. Seu
perfume se infiltra no meu nariz e eu solto um suspiro de raiva,
ódio e admiração. Ela é nova orientadora fodona. Isso deve ser
alguma pegadinha.
— Olha ele, o aluno exemplar, representante da turma. Que
bonitinho! Parabéns, Piroca baby.
— Você não era atriz pornô? — pergunto em seu ouvido.
— Tendo em vista o que farei com você, posso sim ser
considerada uma atriz pornô — ela diz sorridente, deixando
absolutamente nada transparecer.
— O que você fará comigo? — pergunto e me arrependo
assim que a vejo mudar a feição. Ela me lança um olhar que
parece expelir chamas. Essa mulher é doida demais, como pode
ter um currículo desse porte? É visível sua insanidade.
— Eu foderei você, Gabriel Salvatore.
Essa mulher nem me conhece e já tem sérios problemas
comigo. Começo a rir. Ela se acha pra caralho, mas o que ela
não sabe é que eu adoro colocar pessoas como ela em seus
devidos lugares. Sou a melhor pessoa que posso ser. Sou um
cafajeste? Sim, eu sou. Mas sou um cafajeste carinhoso, sou
educado, participo de projetos sociais, sou um excelente filho e
o melhor amigo que você pode ter. Mas, não mexa comigo.
Possuo meu lado diabinho, aquele lado de pura rebeldia. Minha
mãe costuma dizer que sou como um rebelde sem causa ou
motivo. Sou rebelde por natureza. Tenho que concordar. Eu diria
que seria melhor você mexer com o diabo, a mexer comigo.
Basta acender o pavio e eu me torno uma explosão em alta
dimensão. É isso que essa tal Ava está fazendo.
— O que eu fiz para merecer toda sua ira? — questiono em
seu ouvido.
— Antipatia gratuita.
— Ou desejo reprimido? — Ela me encara fazendo cara de
nojo e eu seguro o riso.
— Você, além de moleque, é um idiota.
— Só por que disse que você tem cara de atriz pornô? —
Puta que pariu, essa pintinha na boca dela é a minha morte.
— Você acha isso pouco? — Arqueia as sobrancelhas.
— Acho. Tudo na vida depende da maneira como você
decide interpretar. Geralmente atrizes pornôs são malditamente
sexys. Foi um elogio. Você, além de linda, é sexy pra caralho.
Não quis dizer para diminuí-la ou qualquer coisa do tipo. Meu
comentário foi apenas um elogio. Você é naturalmente sexy,
mas usei outras palavras para dizer isso indiretamente.
— Então eu deveria agradecê-lo por me comparar uma atriz
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pornô? Seria qual atriz? Mia Khalifa ?
— Mia Khalifa não é bonita, é forçada. Não quis dizer que
você se pareça com qualquer uma que eu já tenha visto. Enfim,
cansei de explicar. Apenas não disse querendo ofendê-la. — Ela
sorri de uma maneira maquiavélica e sei que estou fodido. Está
bastante evidente que ela será uma pedra no meu caminho,
definitivamente.
As apresentações terminam e noto que eu não ouvi
qualquer palavra desde que ela surgiu no palco. Essa tal Ava já
está influenciando negativamente em minha vida.

Após cumprimentar dezenas de pessoas eu sigo para o


local da festa, disposto a ter um bom momento e aliviar a
tensão.
— Quem é a gostosa que estava no palco? — Meu irmão
pergunta enquanto pego bebida para nós dois.
— Eu posso dizer várias coisas sobre ela e nenhuma delas
faria sentido. Primeiramente, ela é a nossa vizinha. Mudou-se
essa manhã para a cobertura ao lado. Então ela me pegou
fodendo a Renatinha no corredor e ficou assistindo como se
fosse uma sessão de cinema, daí eu fui me desculpar e
brigamos de rolar no chão. Ela luta Jiu-jitsu. — Rio. — Aí,
quando eu achei que teria paz na vida, chego aqui e descubro
que ela é a mais nova orientadora. Resumindo? Essa mulher é a
minha morte.
— Que história mais sem noção. Ela é gata pra caralho,
muito mesmo. Vai ser foda ter uma orientadora desse porte. Já
pensou na fila de homens querendo orientação? Eu farei parte
disso — ele diz rindo e foda-se. Será realmente dessa maneira.
A festa está acontecendo na área externa do campus. Há
um palco armado onde alguns DJs irão tocar durante toda a
noite, a maior parte deles é de música eletrônica. Mas, esse
primeiro, está no funk e as pessoas estão enlouquecendo.
Renatinha parece sentir meu cheiro a distância, porque
surge ao meu lado do nada.
— Oi!
— Oi! — respondo. Não estou com bom humor para lidar
com ela agora.
— Me desculpe por hoje.
— Está de boa. Não há o que desculpar — digo.
— Você está de mal humor — afirma o óbvio.
— Alguns problemas apenas.
— Há algo que eu possa fazer para mudar seu humor? —
pergunta na tentativa de me seduzir. Não, não há nada que ela
possa fazer. Nem mesmo pela manhã ela conseguiu.
— Estou tranquilo, já, já passa. Vou atrás do meu irmão,
nos falamos depois.
— Gabriel — ela diz me puxando pelo braço e a encaro. —
Eu gosto de você e não sei lidar.
— Eu e você não seremos um casal, me lembro de ter
deixado isso claro, não?
— Sim, você deixou, mas...
— Mas nada. Gosto de você, não quero fazê-la sofrer, então
desencane de mim, para o seu próprio bem — falo fazendo um
carinho em seu rosto. — O mundo é seu Renatinha, vá e
aproveite. — Deposito um beijo em sua testa e saio.
Encontro com alguns amigos e tento relaxar. Por algum
motivo, aquela tal Ava fodeu minha noite. Decido esquecer do
dia de hoje e começo a beber e conversar, até estar
devidamente mais leve. Algumas garotas se juntam a nós e eu
não estou interessado em qualquer uma delas. Na verdade,
ainda estou cansado da noite passada.
São duas da manhã quando decido ir embora. Como obra
do destino, encontro uma Ava alcoolizada, caminhando rumo a
saída.
— Ei... — grito e a alcanço. — Você está bem?
— Eu estava, até você aparecer — diz rindo.
— Quanto você bebeu?
— Muitooooooooooo — responde de uma maneira
exagerada. — Eu sou livre pela primeira vez, precisava
comemorar.
— Você não deveria beber aqui no campus. É orientadora,
mesmo sendo a mais jovem de todas que já passaram por aqui.
— Você tem razão, real, oficial! Eu não deveria. Deveria
ficar plena e passar credibilidade, não é mesmo? — pergunta e
eu a seguro quando ela quase torce o pé.
— Tenho razão. Você está de carro?
— Vou chamar um táxi — explica. — Não deu tempo de
comprar um carro ainda. — Até que, para alguém que está
bêbada, ela conversa direitinho.
— Eu levo você.
— Não... você me chamou de atriz pornô. — Seguro a
vontade rir.
— Você pode esquecer isso? — peço e ela mexe em meu
cordão.
— Não. Isso fez de você meu inimigo número 1.
— Sou um homem de sorte, você é uma inimiga boazinha.
Olhe só, está até em meus braços. — Ela me encara séria e fica
observando por alguns longos segundos. Eu quase a beijo,
quase. Só não faço porque ela é o tipo “garota problema”. —
Vamos embora.
— Eu não quero ir para casa — diz fazendo um biquinho.
Porra, eu vou dizer isso até perder as contas, mas essa boca
dela é uma maldição do caralho.
— Onde você quer ir? Está bêbada. É melhor ir para casa,
dormir.
— Você parecia ser mais divertido.
— Eu sou divertido, mas você está bêbada e eu tenho um
instinto de proteção — explico e ela sorri.
— Vou de táxi — avisa saindo dos meus braços e sai
andando de uma maneira engraçada. Eu vou atrás como um
verdadeiro anjo guardião e a pego antes que possa cair de cara
no chão.
— Anda, Ava. Não temos intimidade, mas nada de táxi para
você. Não confio em taxistas da madrugada.
— Oh merda! Você disse como meu irmão. — Ela ri. — Há
algo em mim que atrai todos os homens possessivos do mundo.
É um inferno isso. Por que todos querem cuidar de mim de uma
maneira exagerada?
— Porque você é linda. Sou homem, apesar de respeitar
muito as mulheres, sei que nem todos as respeitam. Tornou-se
minha vizinha. Lá em Minas costumamos dizer que vizinhos são
“chá da horta”. Usam essa expressão para dizer que vizinhos
servem para tudo. Estou servindo para levá-la para casa em
segurança e não quero objeções.
— Ah tá! Não quero objeções! Idiota! Sempre soube me
virar sozinha. Eu nem estou com sono, muito menos quero ir
para a casa. Estou indo embora porque essa festa está muito
adolescente e estou em busca de algo mais adulto.
— Algo mais adulto? — pergunto sorrindo. — Tipo um
passeio em um clube de sexo voltado ao BDSM?
— Não seria má ideia. Sempre sonhei em ir, mas tinha
medo do meu pai descobrir. Você sabe onde tem um clube de
sexo? Não me interessa BDSM, só a parte do sexo mesmo —
pergunta ligeiramente interessada. Ela é tão louca... imagina se
ela souber que eu e meus irmãos somos herdeiros de um clube
de sexo?
Vou testar sua reação...
— Eu sou dono de um. — Ela começa a rir de dobrar a
barriga enquanto fico observando. Adoro que duvidem de mim.
Não esboço reação ao seu show e ela se contém.
— É sério? Você é apenas um bebê. Você é um bebezinho
lindo. — Puta merda!
— Meu pai é dono de um clube de sexo, atualmente
administrado pelo meu padrinho. Eu e meus irmãos somos
herdeiros, exceto minha irmãzinha. — Ela para de rir e eu
começo a rir internamente.
— É realmente sério? Por que sua irmã não pode ser
herdeira de um clube de sexo? Só por que ela é mulher?
— Ela tem menos de 1 ano de idade e o clube já foi
passado para mim e para meus irmãos. Não sou um moleque ou
machista como você acredita. Na verdade, posso apostar que
sou muito mais maduro que você.
— Foda-se você, seu machismo e sua maturidade. Vamos
embora, me leve para conhecer seu clube de sexo. De repente,
você nem é mais o meu inimigo. Que tal sermos melhores
amigos? — propõe pegando minha mão.
— Oh, temos aqui uma bela de uma interesseira. Magnífico,
senhora maturidade. — Um vendedor ambulante passa e a
louca me solta para comprar cerveja. Ela me entrega uma
latinha e fica com uma.
— Sério, vamos lá. É meu sonho conhecer algo assim. O
marido da minha irmã é dono de um, lá em Las Vegas. Meu pai
quase morreu quando descobriu. inclusive foi enfático em dizer
que eu e minhas irmãs jamais pisaríamos em um lugar como
aquele — comenta sorrindo.
— Clubes de sexo são para fazer sexo, tem certeza que
está a fim? — provoco.
— Eu não farei sexo com você, nunca! — exclama. — Mas
por favor, me leve para matar a curiosidade. As pessoas fazem
sexo explícito?
— Há um ambiente onde sexo explícito pode acontecer.
Mas a maior área do clube é privativa. De qualquer forma, você
está alcoolizada. Deveria ir para casa.
— Ok, pai! Você é um saco. O pior vizinho que uma pessoa
poderia ter. — Ela termina de beber sua cerveja, bebe a minha e
vai comprar outra. Seguro em seu braço e a jogo em meu
ombro. — Eu acho que você esqueceu que sei lutar. Eu só não
te darei um golpe, porque estou bêbada mesmo. Caso
contrário... — argumenta colocando suas mãos para dentro da
minha calça. — Ohhh, Calvin Klein — anuncia e aperta minha
bunda por cima da cueca. — Uau, que bunda você tem, Piroca
baby. As novinhas devem amar. — Começo a rir. O que a faz
pensar tão pouco de mim?
— Piroca baby é ridículo.
— Combina com você. Você é ridículo. — Dou outra
gargalhada e a coloco no chão quando chego em meu carro. —
Carro de playboy.
— Você é sempre tão chata assim? Deus me livre de você!
Só sabe reclamar, o tempo todo. — Abro a porta e ela entra
rindo.
Quando entro, ligo o carro e dou partida, ela pede para eu
parar perto do vendedor ambulante. Eu paro e compro uma
maldita cerveja. A mulher quer se embebedar, curtir seu primeiro
dia de liberdade, ao menos ela está comigo, em segurança.
— Por favor, me leve em seu clube. Nunca te pedi nada,
Piroca Baby. — Não respondo ao seu pedido, mas sigo o
caminho do sexo. Quer dizer, o caminho do clube de sexo.
Estaciono na mansão e abro a porta para ela descer.
— Nós estamos no clube de sexo? — pergunta
esperançosa.
— Sim, mas você vai andar de mãos dadas comigo, ok?
Principalmente na entrada e no bar — aviso.
— Ok. Serei uma garota comportada. — Eu até acredito um
pouco. Pego sua mão, entrelaço nossos dedos e caminhamos
rumo a entrada, como se fossemos um casal de namorados,
preparados para curtir um pouco de sexo.
Nunca fiz sexo no clube, não sei o porquê. Só venho aqui
para monitorar as coisas ocasionalmente.
Passamos pela recepção e então estamos no bar principal.
Meu foco está na garota ao meu lado, que está atenta a todos
os detalhes.
— Esse ambiente é extremamente luxuoso e não se parece
com o clube de sexo — diz. — Podemos beber algo? Aqui
parece uma boate.
— O que você quer beber?
— Qualquer merda que tenha álcool. — Sorri e eu caminho
até o bar. Peço um coquetel mais fraco e a entrego. Ela o chupa
pelo canudinho de uma maneira erótica, me encarando. — Muito
gostoso.
— O que você está tentando fazer?
— Nada. Só estou bebendo um coquetel muito gostoso —
explica.
— Ok, então beba seu coquetel muito gostoso para que
possamos ir logo cessar um pouco da sua curiosidade e irmos
embora.
— Está estressado de repente, por quê? — Porque está
nesse ambiente com ela está sendo quase intoxicante, nem
mesmo me passou pela cabeça que poderia ser.
Ela bebe todo o coquetel, o coloca no balcão, segura minha
mão e sai me puxando, como se conhecesse cada parte desse
lugar. Encontro com meu padrinho e minha madrinha, então
puxo Ava, contendo seus passos.
— Fala meu moleque! — meu padrinho diz me abraçando.
— Veio curtir uma primeira vez na mansão?
— Oh, não. Vim trazer essa garota maluca e curiosa para
conhecer o local.
— Oiii! Sou Ana Clara, e você? — minha madrinha pergunta
à Ava.
— Oi, sou Ava Albuquerque — Ava diz sorridente.
— Albuquerque? — meu padrinho indaga ficando sério.
— Sim, algum problema? — ela questiona.
— Qual sua idade? — Minha madrinha parece tão perdida
quanto eu quando meu padrinho pergunta.
— Vinte e nove anos, sabe, é desagradável perguntar a
uma mulher sua idade. Acredito que eu não tenha a aparência
de uma menor de idade — Ava diz sorrindo.
— Ava Albuquerque, interessante — ele diz e então sorri,
mudando de fisionomia de repente. — Bom, eu e Ana estamos
indo. Bom passeio de campo. — Eles se vão.
— Seu padrinho é estranho. Gato, mas estranho. Ele falou
como se me conhecesse.
— Só curiosidade de padrinho super protetor e ele é
casado. Sem chance para você — aviso.
— Eu apenas disse que ele é gato e não que estava
interessada. Ele é gato, a mulher dele também é linda. Qual o
seu problema?
— Você, desde a manhã passada. — Sorrio. — Bom, como
vi pela manhã, você é estilo voyeur, gosta de observar. Quer
começar observando?
— Sim, por favor.
— Só uma dúvida, você também gosta de ser observada?
— Ela sorri maquiavelicamente e não responde. Eu decido
deixar de lado minhas dúvidas e a guio rumo ao local onde
apenas sete pessoas estão fazendo sexo. Há um trio e dois
casais. Os olhos de Ava brilham observando a cena. Eu não
observo os casais, olhar para ela é a única coisa que posso
suportar.
— Não gosta de olhar?
— Não hoje — explico.
— Você não está perdendo muita diversão. Eles são ruins
sexualmente, exceto o trio. O trio está um pouco mais
interessante. Achei que encontraria algo mais chocante, feroz.
Decepcionante, como sua foda hoje pela manhã. — Rio. Ela tem
que me alfinetar de alguma forma.
— Há um ambiente mais interessante — digo e a conduzo
rumo ao elevador.
Subimos nos encarando pelo espelho. Ela nunca desvia o
olhar ou se intimida. Ava é uma incógnita, um labirinto bastante
intrigante.
Não posso levá-la nas suítes ocupadas, então a levo em
uma vazia, cheia dos mais diversos “brinquedos” sexuais. Ela
sorri amplamente observando e tocando tudo.
— Isso sim é incrível! É uma pena que não tenha casais
para observarmos o desempenho. — Ela caminha até a cruz e
sorri antes de virar de frente e se posicionar diante dela. Engulo
a seco sorvendo sua imagem. Ela ficaria bem presa a ela. —
Deve ser insano estar presa aqui. Você nunca fez isso?
— Nunca — afirmo. — Não curto BDSM. Há muitas coisas
desse universo que podem ser introduzidas numa relação
normal. A prática é interessante, mas não gosto da parte teórica
ou de estar nesse ambiente para fazer sexo.
— Algum dos seus irmãos gosta dessa prática?
— Meu pai era dominador, meu irmão mais velho é
praticante fiel. Davi, Pedro e eu, não somos adeptos. — Ela
sorri.
— Seu pai não é mais um dominador?
— Não, ao menos não é dominador tratando-se de BDSM.
— Caminho até o sofá e a pego me observando. — De todas as
coisas neste quarto, essa é a que mais me agrada — confesso.
— Um simples sofá?
— Se você soubesse a infinidade de coisas que podem ser
feitas nele, você não diria que é um simples sofá. — Ela sai da
cruz e caminha até ele. É desconcertante vê-la passando as
mãos por ele.
— Só consigo imaginar sexo sentado.
— Dá para fazer uma infinidade de posições, as mais
diversas. Há um em meu quarto.
— Seu apartamento deve ser um puteiro de luxo com vista
para o mar — diz fazendo uma careta.
— Não. Só levei duas garotas nele até hoje e só porque
tinha um alto nível de intimidade.
— Renatinha é uma delas? — Ela tem problemas com
Renatinha, definitivamente.
— Sim. Somos amigos há anos. Recentemente fizemos
sexo casual, mas acabou essa noite, ela estava se iludindo e
queria mais do que posso oferecer. A outra garota foi uma ex
namorada. Namorei com ela três meses, mas não éramos
compatíveis. Eu cresci naquele apartamento, lá é um local
importante para mim e para minha família. — Ela balança a
cabeça em concordância.
— Menos mal, não quero ter que ir bater na sua porta por
conta de gemidos. — Sorrio.
— Espero não ter que ouvir os seus gemidos também.
— Meu apartamento não é um local sagrado. Não tenho
qualquer objeção a levar homens para ele, mas fica tranquilo,
quando eu estiver fodendo, lembrarei de você e gemerei
baixinho no ouvido do meu parceiro — informa.
— Vai lembrar de mim quando estiver fodendo? —
questiono e ela muda de assunto.
— Vamos embora? Achei aqui chato.
— Você é mimada e chata, puta que pariu. Me fez vir aqui
para ir embora em cinco minutos.
— Não vamos transar, o sexo lá embaixo está dando sono.
Logo, não há mais nada a fazer aqui — argumenta.
Em poucos minutos estamos dentro do carro, passando
pela orla em direção ao nosso prédio. De frente para o prédio há
alguns quiosques abertos e a maluca cisma de querer ir beber.
— Vamos lá, não seja um rabugento. Vamos tomar um
porre juntos, mesmo sendo inimigos. Depois é só atravessarmos
a rua e estaremos em nossos respectivos apartamentos.
— Ok. Mas vou vestir uma roupa mais à vontade e
aconselho você a fazer o mesmo. Salto e areia não combinam.
Estamos cantando nossas músicas preferidas e eu percebo
que nosso gosto musical é o mesmo
— I'm playing the game. The one that'll take me to my end.
3
I'm waiting for the rain. To wash, who I am . — Ela canta e então
sorri. — Eu gosto da versão acústica, embora a versão remixada
seja uma loucura. Preciso de uma rave!
— Eu também preciso. Quando souber de alguma que
valha a pena te aviso.
Demoram ao menos umas três horas para eu descobrir que
foi uma péssima ideia vir beber com ela. Ela derruba um homem
na cachaça com muita facilidade. A mulher bebe, mas bebe com
a propriedade de quem saber beber. A cada dois copos de
bebidas, ela tomar uma garrafinha de água, além disso, assim
que descemos ela me fez beber um Engov.
Agora estamos aqui, sentados na areia porque os
quiosques fecharam e já estão quase abrindo novamente. Nós já
vimos o sol nascer, ela já rolou na areia e agora, após a cantoria
passar, estamos rindo de nada. Ela até disse que eu sou gente
boa e eu disse o mesmo para ela. Bêbados são foda.
— Vamos embora? Já deu por hoje. Você parece um
enroladinho empanado de areia.
— Tem areia até no meu... ouvido — diz rindo. — Você
também está com areia até no piercing.
Fico de pé e a puxo. Ela vem rindo e se joga em minhas
costas. Saio correndo com ela e vou ouvindo os sons de suas
gargalhadas.
Só paro quando percebo algumas senhorinhas de idade,
que veem a praia bem cedo caminhar, nos encarando, como se
fossemos malucos.
— Já deu mesmo — digo colocando-a no chão.
Cambaleando, apostamos corrida até nosso prédio e quase
somos atropelados. No elevador, ficamos rindo até eu avançar
sobre ela e beijar sua boca. Eu juro por Deus, quando nossos
lábios se chocam o elevador até treme, tamanho impacto da
pegada que se inicia. Eu achava que podia ser voraz, mas
percebo que há uma versão feminina minha. Nós dois juntos
somos capazes de quebrar um elevador. A boca dela é a porra
mais viciante que existe. Ela acompanha o ritmo das minhas
investidas e explora meu corpo com suas mãos. Eu aperto sua
bunda e percebo quão perfeita ela fica em minhas mãos. Beijo
seu pescoço e Ava solta um gemido que me faz tremer.
O elevador para e nós saímos ainda nos agarrando. É
quando minhas mãos alcançam o laço que prende o top em
seus seios, que a racionalidade me invade. Eu estou pegando
minha nova vizinha, a garota problema e minha orientadora de
curso. Ela parece ganhar essa percepção também, porque nos
soltamos no mesmo segundo, como se fossemos tóxicos o
bastante um para o outro ou um choque tivesse acabado de nos
eletrocutar.
A madrugada passa a ficar apenas na memória quando ela
sai andando.
— Eu odeio você, Piroca Baby! — ela grita antes de invadir
seu apartamento e bater à porta na minha cara.
— O ódio é recíproco, Little Girl! — grito de volta e fecho a
porta do meu apartamento.
Eu nem tomo banho. Caio no sofá e desmaio em questão
de segundos.
Acordos sem saber que horas são, com o som do grito do
meu pior pesadelo.
Essa mulher mal chegou e transformou minha vida num
inferno. É a segunda vez que essa filha da puta interrompe meu
sono e agora estou muito mal humorado. Ela vai aprender a
gritar, porque estou indo dar todos os motivos do mundo para
ela testar suas cordas vocais.
Tomo o banho mais rápido da minha vida, ao som de gritos
constantes, visto uma cueca, uma bermuda e pulo novamente a
divisória que separa meu apartamento do apartamento da
vizinha infernal. Algo de muito grave deve estar acontecendo
para ela gritar tanto. Por um momento até esqueço-me que ela
me acordou pela segunda vez.
— Ava? — grito e saio invadindo o interior do apartamento.
A encontro em seu quarto, em cima da cama, de calcinha e
sutiã, agarrada a um travesseiro e não consigo compreender o
que está acontecendo. — Que diabos está acontecendo? —
pergunto e ela deixa o travesseiro de lado e se joga em meus
braços. Quase não consigo pegá-la.
— Mata!!! Por favor!!! Mata!!!
— Matar o quê? Quem? — questiono enquanto ela treme e
soa. Caralho, se for um bicho inofensivo eu vou deixá-la cair no
chão.
— Há uma lagartixa gigante e amarela... eu tenho ataque de
pânico com esse ser horroroso. Por favor, você precisa matá-la.
— Choraminga e eu começo a preocupar, porque se existe algo
no mundo que eu tenho pavor é lagartixa. Só de pensar, me dá
arrepios. Eu enfrentaria cobras, baratas, ratos, mas lagartixa e
sapo não é comigo.
— Merda! — exclamo. — Onde ela está?
— Ali — diz apontando para o dedo e eu vejo um rabinho
escondido atrás da cortina. Puta que pariu, sou eu quem
começo a tremer.
— Eu não posso matá-la — confesso.
— Por que não??? Pelo amor de Deus!
— Porque eu tenho tanto pânico quanto você. Por algum
motivo de sorte, nunca vi esse bicho em meu apartamento. Acho
que você é azarada pra caralho.
— Você tem medo de lagartixa? — pergunta me encarando
e eu a deposito ao chão.
— Não diria medo, tenho... nojo, receio.
— Medo — afirma e começa a rir. — Ai meu Deus, eu
realmente não acredito que você tem medo de lagartixa. É
ridículo isso.
— Só você pode ter? Eu não? Por que é ridículo?
— É difícil ver um homem com medo de lagartixa — explica
rindo.
— Prazer, Gabriel Salvatore, um homem que tem... pavor
de lagartixa. Não é medo! — argumento e ela ri mais. — Ok,
Ava. Acho que você já pode ficar sozinha com a lagartixa. Estou
indo para o meu apartamento, livre de insetos e bichos
assustadores — digo provocando e viro para ir embora. Ela se
joga em minhas costas e quase chora. Eu seguro a vontade de
rir. Caralho, que nível de intimidade é esse?
— Por favor!!!
— Eu não vou matar esse bicho, até porque é sacanagem
matar, mesmo que eu não goste. Não há o que ser feito, o
máximo que vai acontecer é ela ir embora sozinha, ou talvez ela
queira fazer morada em seu quarto. — Ela começa a chorar de
verdade e eu a retiro das minhas costas. Merda. — Você está
chorando por uma lagartixa?
— Eu tenho muito medo, muito. — Ela está tremendo e meu
coração de aço é perfurado por essa imagem.
— Ok, vista algo decente e venha comigo. A propósito, a
próxima vez que resolver dar chiliques, vista algo decente ou eu
não responderei por mim. Sua sorte que hoje estou benevolente
e estou evitando olhar para seu corpo — aviso e ela me taca um
travesseiro.
— Você é um idiota! — afirma. — Eu só vou com você,
porque eu iria com qualquer pessoa. — Ela sai andando e dou
uma olhada em sua bunda perfeita, a calcinha dela some entre
as nádegas e mostra apenas um triangulo no alto.
Passo as mãos pelo meu rosto e tento recuperar um pouco
da dignidade que perdi naquele corpo. Minha mente grita uma
coisa e meu corpo outro. Eu juro que tento, mas meu pau acorda
para a vida com força e não há nada que eu possa fazer para
contê-lo. Por maior que seja meu controle psicológico, certas
coisas estão fora dos limites.
Olho para a parede e agora a lagartixa já não está mais
escondida. Na verdade, ela está correndo livremente e eu quero
sair desse inferno o quanto antes.
— Ava, você pode ser um pouco mais ágil? — É então que
ela surge e eu perco a merda do único fio de paciência que
possuo. — Você tem exatos 5 segundos para guardar essa
merda que está em seu rosto ou eu juro por Deus, deixarei de
ser bonzinho e a deixarei sozinha. — Ela sorri
maquiavelicamente.
— São apenas óculos de grau — argumenta.
— Se sem esses óculos você já parecia uma atriz pornô,
com eles... por favor, retire — peço sofrendo e ela encosta na
parede e começa a fazer poses sensuais.
Como se não bastasse sua blusa rasgada e curta,
mostrando parte dos seios e parte da barriga, ela ainda está
usando esse maldito óculos. Eu já tenho todo um raio x para
essa mulher e até mesmo a letra de uma música. Ela sabe o
poder que tem e não tem medo de usá-lo. Aliás, eu nunca mais
escutarei essa música sem lembrar dela. Se encaixa bem para
caralho.
— Você já provou seu ponto — informo cantando seu hino
mentalmente.
“Como pode ser tão gata e ao mesmo tempo tão louca?”
— Ok, parei de brincar, é realmente sério agora.
— Eu espero que seja. — Vou andando e ela vem atrás de
mim correndo. Ela caminha para a porta e eu caminho para a
área da piscina para pular de volta para meu apartamento.
— Por que você apenas não pode sair pela porta? —
questiona pulando atrás de mim.
— Porque entrei por aqui — justifico.
Ela vem atrás de mim e começa a analisar todo o
apartamento.
— Uau, tudo aqui é branco, é lindo! Não se parece com
você — diz.
— O que pareceria comigo? — pergunto rindo.
— Não sei, mas esse tom branco e bege clarinho,
certamente não combina com você.
— Combina, muito. Está com fome? — questiono.
— Morrendo de fome.
— Vou preparar um almoço rápido. Come de tudo ou é
fresca como parece ser? — Ela revira os olhos e eu rio.
— Como quase tudo. Não sou fresca como pareço ser —
afirma.
— Massa?
— Amo!!! Mas só se vier acompanhada de um bom vinho —
explica num tom de exigência.
— Exigente. Sorte sua que vinho é minha bebida preferida.
— Pego uma garrafa, duas taças e sirvo a bebida. Coloco a
massa para cozinhar e começo a preparar os demais
ingredientes sob seu olhar atento.
— Você realmente sabe cozinhar?
— Eu poderia muito bem ser um chefe de algum restaurante
bem renomado. — Ela sorri. — Você, pelo visto, não sabe
cozinhar.
— Não sei — confirma. — Você estava certo sobre dizer
sou mimada. Na verdade, fui mimada a vida toda. Não apenas
eu, mas todos meus irmãos. Não sou fresca e nem mesmo
meus irmãos são, mas o fato de ter sido mimada, acabou
dificultando algumas coisas e juntou com a minha preguiça de
cozinha... — explica. — Eu não sou o tipo de mulher forno e
fogão. Acho que isso nasce com a pessoa. Meu talento é para o
mundo dos negócios. Mas, agora, morando sozinha, quero
aprender a ser dona de casa, tanto que nem quis uma ajudante.
De quinze em quinze dias virá alguém para dar uma faxina mais
pesada. Mas, nos demais dias, quero ser eu a cuidar do meu
próprio lar. Tenho essa necessidade.
— Posso dizer que eu e meus irmãos também fomos muito
mimados. Mas, talvez pelo fato de ser homem, eu sempre senti
a necessidade de me auto afirmar e caminhar com as próprias
pernas. Desde muito pequeno eu lutava pela independência. —
Sorrio. — Minha mãe tem muitas histórias sobre isso para
contar.
— Meus pais são incríveis, minha mãe me mimava, mas o
meu pai... — Ela ri e bebe um pouco de vinho. — Meu pai é a
pessoa mais fofa do mundo. Ele soube nos educar muito bem.
Quando eu fazia algo errado, ele me trancava no escritório dele
e fazia um sermão que eu até gelava, tamanha seriedade. Ele
nunca me bateu, e eu dei muitos motivos. Ele era do castigo e
da conversa, mas houve vezes em que ele até chorava por ter
que castigar.
— Meus pais também nunca levantaram as mãos para mim
ou para meus irmãos, mas castigo... eu mereci todos eles —
digo rindo.
— Eu e meu irmão Victor éramos os piores. Luma, apesar
de ser gêmea, parece ser pisciana. Ela e Lucca são os fofos da
família. Lucca é o meu pai todinho ou até mais fofo que ele.
Minha irmã mais velha é o diabo disfarçado de anjo, eu e Victor
somos singulares.
— Singulares... Humberto é meu irmão mais velho, ele é um
cara centrado, com um coração gigante. Ele é meu irmão
adotivo. Então há Davi, solteiro e guerreiro. Ele frequenta festas
de segunda a segunda e cada dia está ficando com uma mulher
diferente. Já Pedro, meu irmão mais novo, se você o vê-lo vai
falar que ele é maloqueiro, mas ele é da paz também. Ele não
curte o Rio de Janeiro, mora com meus pais em Minas, no sítio
da minha mãe. Curte a natureza, fazer expedições loucas. Odeia
cidade grande. E há minha irmãzinha de sete meses, ela é a
criança mais paparicada do mundo e se chama Aurora, por
conta de uma princesa da Disney. — Rio. — Ela meio que está
fodida quando crescer, porque são 5 homens possessivos para
protegê-la.
— Pobrezinha. Ela deve ser fofa. — Sorrio.
— Mostrarei algumas fotos depois.
— E você? — pergunta. — Você não fala muito sobre si
mesmo.
— Não sou muito de falar sobre mim, é aquele velho clichê,
quem se define, se limita. Eu gosto de deixar as pessoas
conhecerem quem sou. — Ela arqueia a sobrancelha e balança
a cabeça em concordância.
— Sua família é de advogados?
— Não. Meu pai é formado, mas nunca exerceu. Eu e Davi
estamos cursando direito, mas cada um por um motivo diferente.
Pedro faz Engenharia Ambiental, Humberto fez medicina.
— Uau. Minha família é 80% de advogados. Luma fez
odontologia para variar — diz. — O que te levou a escolher o
Direito?
— Justiça. Tenho sede de justiça desde que me entendo por
gente e não me imaginava em outra profissão.
— Você sabe que serei sua orientadora, não sabe? —
questiona.
— Talvez não, há outras orientadoras no Campus. — Ela
abre o celular, digita algumas coisas e mostra meu nome.
— Eu serei sua orientadora. — Eu estou fodido.
— Eu devo chorar ou desistir do curso? — indago e ela ri.
— Talvez. Sobre o que é sua monografia?
— Vamos discutir sobre isso logo no domingo?
— Estou curiosa — diz levantando os ombros.
— Minha monografia será sobre Legítima Defesa.
— Oh, interessante. — Sorri. — Mediante há tantos outros
temas, há algum motivo pessoal para ter escolhido esse?
— Você é curiosa, não?
— Sou sua mais nova orientadora, preciso conhecê-lo para
melhor guiá-lo. Já que estamos aqui e não estamos fazendo
nada, além de beber e você cozinhar, seria um assunto
interessante para conversarmos. Gosto de entender
posicionamentos e escolhas.
— Ok. Você quer mesmo ouvir? — pergunto.
— Por favor, estou excitada por isso.
— Excitada... — Ela revira os olhos. — Meu pai ficou
recluso durante sete anos por matar meu avô. — Ela arregala os
olhos em choque. — Mas não foi apenas isso. Era meu avô ou
toda uma família. A história é um pouco pesada.
— Por favor, continue.
— Meu avô era um ser humano detestável, ruim, que
abusava de garotas menores de idade e abusava do meu pai.
Meu pai viveu grande parte da vida seguindo os comandos dele
para “salvar” a vida de uma garota e de toda a família dela. Os
anos passaram, a garota foi embora e teve uma filha com outro
homem. Sete anos depois, ela retornou ao Brasil e então meu
avô descobriu sua presença e começou a persegui-la
novamente. Houve até mesmo uma tentativa de sequestro.
Então, ele foi preso nessa tentativa de sequestro, juntamente
com meu pai, que havia ido até a casa dela para tentar salvá-la
e levou uma facada do próprio pai. Meu avô era bilionário, por
isso conseguiu pagar agentes penitenciários para conseguir
organizar uma rebelião e fugir. Nisso, meu pai estava detido
juntamente com ele e ficou sabendo dos planos. Meu avô queria
matar toda a família, em especial a mãe da garota. Ele as
perseguiu até o condomínio onde moravam e então tudo
aconteceu. Meu pai o seguiu e, quando meu avô ia fazer a
chacina, ele o matou com sete tiros. Meu pai salvou toda uma
família da morte e ficou preso por isso. Há muitas explicações
jurídicas, a história de vida dele é extremamente pesada, não se
resume a apenas isso que contei, mas eu, Gabriel, não consigo
aceitar o fato de você salvar pessoas de um monstro e ter que
pagar caro por isso.
— Uau. Estou um pouco tonta com essa história. É bastante
pesada. — Dou um sorriso fraco e a vejo limpar algumas
lágrimas furtivas, como se minhas palavras tivessem um peso. A
história do meu pai mexe comigo de uma maneira que eu jamais
conseguiria explicar e é bastante pesada. — Você certamente
será advogado criminalista.
— Com toda certeza. A história do passado do meu pai é o
que me motiva a cada dia a lutar por justiça. Eu vou entregar
meu diploma nas mãos dele e dizer que é por ele que lutarei por
justiça pelo resto dos meus dias.
— Então, após ouvir tudo isso, o peso das suas palavras, a
profundidade dos seus sentimentos, tenho que dizer que me
identifico bastante. Eu também tenho fome de justiça e é como
orgulho que digo, como sua orientadora, nós faremos justiça
pelo seu pai.
O primeiro contato da minha boca com a massa que esse
garoto preparou me faz gemer em alto e bom som. Eu nunca
comi um espaguete à carbonara tão gostoso. A cremosidade do
queijo deixa tudo ainda melhor. Por puro interesse, eu me
tornaria melhor amiga dele agora, só para vir fazer todas as
refeições aqui.
— Você cozinha todos os dias? — pergunto de boca cheia e
então tomo um pouco de vinho. O babaca começa a rir e invoca
minha fúria.
— Cozinho. Gosto de cozinhar, mas durante a semana
preparo comidas mais saudáveis. Só como besteiras a partir de
sexta-feira à noite.
— E você é bom em comidas saudáveis também? —
pergunto levando outra quantidade significativa à boca.
— Um bom cozinheiro deve ser bom em tudo, incluindo
doces.
— Mais uma vez me pego querendo ser sua melhor amiga.
— Ele me encara sério e eu faço uma careta.
— Não curto amizades falsas e por interesse, mas se você
for uma boa vizinha e parar de interromper meu sono, talvez eu
possa dividir algumas refeições com você, mas é só porque sou
realmente bonzinho. — Começo a rir.
— Você fez comida para um batalhão.
— Meu irmão daqui a pouco surge, com ressaca, querendo
comer até as paredes. Ele sabe cozinhar, mas tem preguiça —
explica.
Sei que pode parecer bem cedo, mas pelo pouco que vi,
esse garoto parece bem mais maduro do que eu imaginava.
Acho que ele é não um moleque universitário. Talvez eu tenha
me enganado à primeira vista. Acho que foi o sexo no corredor,
mas quem nunca fez sexo em locais onde poderia ser pego? Eu
deveria dar uma “chance” a ele e ser uma boa vizinha,
independente do interesse gastronômico. Sem contar, que a
história que ele me contou sobre seu pai me causou sensações
estranhas. Eu senti como se estivesse vivendo suas palavras,
tamanho sentimento com o qual ele as pronunciou. De qualquer
forma, mesmo ele tendo medo de lagartixa, teve a grandeza de
me salvar daquele bicho. Ele realmente está merecendo muitos
créditos, mesmo que essa manhã tenhamos tido um episódio
explosivo.
Neste momento eu estou com o garfo vazio parado no ar e
olhando para a boca dele. É apenas mais uma coisa que tenho
que dar o braço a torcer; essa boca é perfeita e sabe beijar. Sim,
Piroca Baby, beija absurdamente bem. Aquele tipo de beijo que
aquece até os fios de cabelos. Ele tem uma pegada firme e
voraz, como eu. Sem contar que ele é realmente bonito e tem
todas essas tatuagens incríveis. Se ele não fosse tão novinho,
eu poderia pensar em ter um sexo casual com ele, só para
provar se ele é tão voraz na cama, quanto é beijando. Mas nem
tudo na vida é perfeito e há uma diferença grande de idade entre
nós. Eu gosto de homens maduros, mais velhos que eu ao
menos 1 ano, nunca fiquei com um homem mais novo, exceto
esse garoto aqui.
Quando terminamos de comer, eu faço questão de lavar as
louças, como forma de agradecimento. Ele acaba me ajudando
e então ficamos sem nada para a fazer. Estou sem graça de
estar no apartamento dele, ocupando seu tempo.
— Ouça, eu preciso superar o medo e não quero te
atrapalhar. Não é sempre que terei alguém para me salvar
daquele bicho.
— Você não está me atrapalhando. Geralmente não faço
nada aos domingos porque estou sempre de ressaca — explica
rindo e novamente estou fixada em sua boca. O sorriso dele é
bem bonito. Não há uma única falha nos dentes. Acho que bem
rola uma química entre nós dois, porque ele está olhando para a
minha boca da mesma maneira e eu o ataco como uma insana.
Essa boca...
Essa pegada...
Deus do céu, eu estou fazendo uma merda das maiores. Eu
sinto isso. Mas ele agarra meus cabelos e não há uma única
possibilidade de eu resistir a isso, porque eu adoro um pouco de
ferocidade e ele parece ter isso em cada célula do seu corpo.
Sua boca é tão esperta, tão exigente, que eu chego a
perder a fôlego. Então suas mãos deslizam pela minha cintura
de uma forma torturante e adentra pela minha camisa. É como
se as partes que ele está tocando, tivessem se chocando
diretamente com o fogo. Suas mãos estão quentes, e mesmo
com todo o calor, é um tipo quente que vale a pena se queimar.
Ele me joga contra a parede e eu sinto sua rigidez em todas as
partes do meu corpo. As coxas fortes contra as minhas coxas,
há algo duro moendo em minha pélvis, há uma barriga rija
contra a minha barriga... O beijo parece torna-se mais
desesperado, como se não estivesse desesperado antes. Mas...
Só nos afastamos quando a campainha toca, então parecemos
eletrocutados, tamanha a fúria e violência que nos separamos. É
como se nossos corpos quisessem algo e nossas mentes não.
— Você é um idiota! — grito. — Nunca mais encoste em
mim!
— Foi você quem me agarrou, sua louca, bipolar do caralho.
Nunca mais me agarre dessa maneira, eu estou avisando, Ava
Albuquerque! — ele diz ameaçadoramente e eu deslizo meu
olhar para a sua pélvis. Eu juro que quase choro ao vislumbrar o
volume. Então a campainha bate novamente e tento me
recompor.
Gabriel abre e há um ser humano muito gato encostado na
porta, com cara de ontem, mas ainda assim, gato!
— Diga que tem comida! — o homem diz.
— Você chegou agora? — Gabriel pergunta e o homem dá
um sorriso que eu conheço bem. É o belo sorriso de um
cafajeste.
— Não vai querer me reprimir como nosso pai, não é
mesmo brow? — Caralho, ele é o irmão de Gabriel, o tal Davi. E
ele nem mesmo se deu conta da minha presença. Quando ele
finalmente faz, retira os óculos e me encara espantado. — Essa
não é a...
— É ela mesma. — Gabriel o corta. — Ava, esse é meu
irmão, Davi.
— Nossa, com todo respeito, mas puta que pariu, você é
gata pra caralho. Estou ansioso para chegar no período que
começarei minha monografia — o tal Davi diz e se senta ao meu
lado, então me puxa para um abraço apertado e eu nem mesmo
consigo entendê-lo. — Prazer, Davi, seu vizinho do primeiro
andar. Se precisar de uma xícara de açúcar, de uma massagem
ou de qualquer outra merda, basta me chamar.
Reviro meus olhos, com preguiça do tal Davi, apesar dele
ser um gato.
— A comida ainda está quente, acabamos de comer —
Gabriel informa.
— Oh, espera, vocês almoçaram juntos? Estão se
pegando? Oh! Devem estar. Me desculpe se interrompi algo.
Mas eu vou comer de qualquer jeito porque estou faminto, dá
para segurar uns quinze minutos antes de retomarem?
— Nossa, vocês realmente são irmãos. Os dois são
extremamente bonitos, até abrirem a boca — digo ficando de pé
e Davi dá um suspiro. Eu até sinto vontade de rir, homens são
seres tão óbvios, não podem ver uma bunda que já ficam
loucos.
Volto para o meu apartamento e então encontro de cara a
maldição chamada lagartixa. Eu grito, porque toda vez que olho
para esse bicho sinto vontade de gritar. Gabriel e seu irmão
surgem. Eu espero que Davi não tenha medo desse troço.
— Diga que você não tem medo disso. — Aponto para o
monstro e peço choramingando.
— Lagartixa? Só meu irmão e meu pai têm medo — ele diz
e sorri. Vou dizer algo realmente sério e terrivelmente
preocupante: eu faria um ménage muito fácil com esses dois. Eu
nem consigo decidir qual deles eu iria querer na frente e qual eu
gostaria de ter atrás, mas realmente faria. — Vamos capturar a
pobrezinha. Pegue uma vassoura e uma pá, mas já aviso, eu
não irei matá-la, vou levá-la para a rua.
— Tirando ela daqui é o que importa — digo e caminho para
pegar o que ele pediu.
Quando volto, ele começa a captura e o bicho cai no chão.
Eu e Gabriel nos jogamos na cama e eu o abraço, chorando
como uma desesperada enquanto Davi dá gargalhadas de nós
dois.
— Ai meu Deus, você viu aquilo? Ela voou! — digo a
Gabriel.
— Eu tenho pavor dessa merda, você não faz ideia, caralho.
— É tão nojento, e parece ser gelada, e é branquela, e
esquisita e... — argumento e ele continua:
— E tem aquele rabo e aquelas patinhas que me dão
desespero. Aquilo é muito nojento, como um sapo. — Ele até
arrepia dizendo, assim como eu.
— Meu Deus, eu não sei se poderei morar sozinha,
definitivamente. Ainda bem que aqui não tem sapos. Mas é
comum aparecer lagartixas?
— Não. Nunca apareceu no meu apartamento. Você trouxe
esse bicho para cá.
— Ok casal, a lagartixa já foi capturada e vocês deveriam
parar com essa conversa de maluco — Davi diz e a lagartixa
escapa da pá. Eu escalo Gabriel como uma parede em cima da
cama, então Davi torna a pegá-la e a leva.
Estou montada em meu vizinho, até dou uma reboladinha
só para testar o instrumento antes dele nos rolar e pairar sobre
meu corpo, entre minhas pernas. Maldição! Estou toda errada,
sei disso. Era para ser o contrário, mas não.
— As coisas estão ficando estranhas rápido demais, não?
— ele questiona ficando de pé. — Se você não quiser que nada
aconteça entre nós dois, é melhor começar a se conter. Não é
todos os dias que terá a sorte de me encontrar calmo — diz. —
De qualquer forma, segue em seu apartamento e eu sigo no
meu, se a gente se esbarrar no elevador ou corredor e você
quiser, eu quero. — Ele ri e eu taco um travesseiro em sua
cabeça.
É então que ouço a voz da...
— Luma? — questiono e saio correndo para a sala. Minha
irmã está nela, de mala e cuia.
Eu quase choro... de raiva.
Ela sabe que ativou minha fúria, porque está fazendo poses
e sua carinha angelical para ver se ameniza a situação.
— Que merda você está fazendo aqui, Luma? — pergunto
irada.
— Somos gêmeas — diz fazendo biquinho e retirando os
óculos. — Nós dividimos espaço na barriga de nossa mãe.
— Sim, eu sei disso, somos gêmeas. E...?
— E que somos gêmeas, ué. Não podemos ficar separadas
— argumenta com seu jeitinho único que conheço muito bem.
— Luma, seja direta — peço.
— Eu aproveitei a deixa do nosso pai e resolvi vir também.
Pronto, falei! Mas não se preocupe, papai acha que vamos
morar juntas por isso ficou imensamente feliz, mas vou arrumar
um apartamento para mim. Só preciso de abrigo por alguns dias,
até conseguir achar um lugar decente.
— O meu apartamento está disponível, posso abrigá-la com
total comodidade e conforto, tudo de graça. Na verdade, se
precisar eu pago sua estada em meu lar doce lar. Eu sei
cozinhar, lavar, passar, faço massagem, dobro suas roupas, lavo
suas calcinhas, te dou comida de aviãozinho, assisto filme
romântico, leio seus livros preferidos para você não precisar
forçar as vistas, acordo cedo para fazer seu café da manhã e
então levo na cama para você não precisar se deslocar até a
cozinha. Se essa mulher for morar aqui na cobertura, eu estou
vindo morar com você Gabriel, por ela eu até viro um menino
direito e passo os sábados assistindo Netflix— Davi diz surgindo
das profundezas e pior, Luma ri e acha lindo.
Eu já disse que ela é retardada? Que ela se apega a
pessoas desse tipo? Que ela acha que a vida é um conto de
fadas e que príncipes encantados existem? Luma é o tipo de
mulher iludida e sonhadora, que espera pelo príncipe, que sonha
em morar em um vilarejo, numa casinha de madeira, com
cercadinho branco, flores no jardim. Acho que seu maior sonho
é ser dona de casa, daquelas que rega plantas diariamente, faz
comida, lava, passa, cuida dos filhos e fica esperando ansiosa
pela chegada do marido que trabalha para sustentar a casa.
Luma é meu lado avesso completo e eu sinto vontade de
protegê-la instintivamente.
— Ok, você fica — digo e ela solta um gritinho agudo, vem
correndo e se joga em meus braços. Tá, eu confesso, ela é
minha gêmea e somos inseparáveis, mesmo que tenhamos uma
quantidade significativa de brigas. Diariamente.
Ela se afasta e observa Gabriel, atrás de mim.
— Ei, prazer, Luma! — ela diz sorridente oferecendo sua
mão a ele. Ele a pega e deixa um beijo, como um cavalheiro.
Sinto uma vontade absurda de matá-lo instantaneamente.
— Gabriel, ao seu dispor, nova vizinha.
— Obrigada, gostei das suas tatuagens. — Ela sorri e eu
reviro os olhos, quase vomitando. Então, ela vai até Davi. —
Olá, prazer, sou Luma.
— Davi Salvatore. Eu juro por Deus, duvidava muito do
amor à primeira vista até vê-la pela primeira vez. Você é a coisa
mais linda e radiante. Seu sorriso parece iluminar ainda mais o
dia e seus olhos possuem um brilho surreal. — Luma dá uma
risadinha e eu a puxo dos braços dele. Cantada barata me irrita.
— Ok Davi e Gabriel. Agradeço vocês pela lagartixa e pela
comida.
— Hoje é domingão, acho que deveríamos nos reunir mais
tarde e assistir um filme, os dois casais — Davi propõe.
— Onde você está vendo casais aqui? — questiono.
— Eu e Luma, você e Gabriel. Dois casais, de amigos.
Porra, eu me deito no chão para essa mulher sapatear de salto
agulha em cima de mim.
— Luma versão homem, que bosta! — protesto. — Ok, se
animarmos assistir algum filme, avisaremos — digo e ele vai até
Luma novamente.
— Se ela não quiser, você pode vir. Apartamento 101. A
propósito, o 102 está disponível para venda ou locação.
— Nem vou falar nada — Gabriel diz rindo.
— Te olhei, você me olhou. Agora, minha vida, acredita,
nunca acreditei em amor à primeira vista. Até você aparecer do
nada e arrancar minha cachaça com o seu beijo de batom. Até
você aparecer do nada...— ele cantarola.
— Ele ainda está bêbado, releve — Gabriel diz o pegando
pelo braço e os dois vão embora. Davi vai contra a vontade e
Luma faz um biquinho que me faz pegá-la pela orelha.
— Aiiii, merda, Ava!
— Gabriel tem 23 anos. Davi é mais novo que ele. Você tem
quase trinta anos de idade, caralho, e acabou de chegar. Pelo
amor de Deus, Luma, deixe de se iludir por um rostinho bonito.
— Vou baixar o Tinder, preciso de um brasileiro quente —
diz rindo. — Onde é meu quarto maninha?
— Há um monte deles disponíveis, basta escolher.
— Mas que os dois são gatos, eles são — ela grita
caminhando como uma patricinha infernal em busca de um
quarto. — Sério, eu poderia morar aqui.
— Não! Qual a parte do que eu quero morar sozinha você
não entendeu? Há apartamentos disponíveis nesse prédio, é o
máximo que aceito. Quero morar sozinha, por mais que eu ame
você.
— Ok, já entendi, amanhã é segunda e eu já começo a
olhar algo para mim — ela diz e solta um gritinho ao encontrar
um quarto com vista para o mar. — Ai meu Deus!!! É lindo!!!
— E seu consultório?
— Não pensei ainda, estou de férias. Estou com fome. Há
algo aqui? — pergunta.
— Não, nem tive tempo de fazer nada ainda, comi no
vizinho. — Ela sorri maquiavelicamente e sai correndo. —
Luma!!! — Eu chamo sua atenção e ela já saiu pela porta, indo
bater na casa do vizinho. Fodeu tanto que eu nem sei por onde
começar a controlar todo o estrago que dois dias já fizeram em
minha vida.
Davi está esquentando o macarrão no micro-ondas quando
a campainha toca. Eu já dou um salto do sofá pronto para dar
um esculacho na vizinha infernal, mas quando abro, é apenas a
irmã dela, que por sinal é gata pra caralho.
Volto a dizer, eu preferia que fosse uma família, ou ao
menos idosos. Ser vizinho de duas mulheres absurdamente
lindas será uma prova de fogo.
— Eiii! — ela diz sorridente. — Vim almoçar. — Mais uma
louca!
— É o amor da minha vida! — Davi diz rindo e se aproxima.
— Venha almoçar comigo, futura namorada. Se quiser te dou de
aviãozinho. Você é uma princesa e merece todo meu amor. —
Reviro os olhos e volto para o sofá. É muita loucura em um curto
intervalo de tempo.
Davi serve um prato para ela, uma taça de vinho e eles
comem conversando e rindo, como se fossem íntimos. Agora
consigo entender porque Ava diz que Luma vive no mundo da
lua, é exatamente assim. A mulher é doida. Na verdade, as duas
são, cada uma ao seu modo e eu nem sei dizer qual delas é
pior. Davi, também parece possuir neurônios a menos, então
diante de mim há uma dupla quase perfeita.
Relaxo no sofá e coloco uma série. Minutos depois Luma
surge no meu campo de visão.
— Muito obrigada pela refeição, estava muito deliciosa. E
desculpa meu disparate de ter vindo aqui, é que estou
empolgada e quando estou empolgada me pareço bem como
uma garota travessa. Pareceu interessante irritar a minha irmã e
eu realmente estava com fome.
— Sempre que quiser irritá-la, basta vir até mim. — Sorrio
gostando dela já.
— Você já tem problemas com ela, não é mesmo? Ava é
temperamental e um pouco difícil de lidar, mas é uma boa
pessoa. Nós brigamos todos os dias. Todos, sem exceções, mas
nos amamos muito.
— Aposto que por culpa dela. — Divago e ela ri.
— Nem sempre. Eu posso ser um pouco invasiva e posso
gostar de perturbá-la.
— Você é linda demais. — Davi está caído pela garota e ele
mal a conhece, estou tentado a dar três tapas na cabeça dele
para acordar.
— Você também é lindo — Luma diz com as bochechas
ruborizadas.
— Ele tem vinte e um anos — explico, não querendo ser
estraga prazeres, mas acontece o efeito contrário. Ela
simplesmente se aproxima e aperta as bochechas dele. Eu
seguro a vontade de rir.
— Você é um nenenzinho.
— Sim, eu realmente sou um nenenzinho. Você gosta? —
Eu gostaria de estar com fones de ouvido.
— Não tenho preconceito com idade, acho ridículo julgar
pessoas pela idade. — Ela sorri. — Seu sorriso é perfeito, estou
encantada. Sou dentista, tenho mania de reparar sorrisos e o
seu é perfeito.
O mundo da imaginação existe, é real e assustador pra
caralho.
— Vamos assistir um filme hoje? Nós podemos convidar
nossos irmãos — Davi propõe.
— Claro, se Ava aceitar, eu aceito.
— Estou fora — aviso.
— Ah, você é muito sem graça, parece com a minha irmã!
— Luma protesta.
— Irei convencê-lo, princesa — Davi diz sorrindo e eu quero
jogar um enfeite de mesa na cabeça dele. Não tenho paciência
para o lindo mundo da imaginação. Acho isso a coisa mais tola e
estúpida do mundo. Eu até os deixo e vou vestir uma sunga para
ficar na piscina. Vá para o inferno, dois idiotas, dois imaturos
sonhadores.
Odeio casais mela cueca. Não existe nada pior que essa
merda e, se Luma e Davi ficarem, vai ser exatamente assim. Já
prevejo um vômito a cada minuto em que eu estiver perto dos
dois. Eles se conhecem a poucas horas e já estão um mimimi do
caralho. Porra, eu sou carinhoso com as garotas que fico, mas
tudo bem equilibrado. Já vi meu irmão com muitas garotas, mas
desconhecia esse lado dele. É escroto e estou ponderando ligar
para o meu pai e comunicar sobre esse disparate.
Os dois ainda estão na sala quando passo rumo à piscina,
pego uma cerveja antes e relaxo olhando o mar.
Não vejo o momento em que eles vão embora, mas sei que
estou sozinho pelo silêncio. Eu realmente aprecio esses
momentos sozinho. Na maioria dos meus domingos, fico quieto
em casa ao menos parte do dia. Quando saio, é a noite e para
fazer algum programa mais tranquilo, tipo sexo. Mas hoje, quero
ficar em casa, aproveitar um pouco da piscina e então ir
organizar minhas coisas para o retorno das aulas. Estou
empolgado para meu último ano na universidade. Foi um longo
caminho percorrido até chegar onde estou chegando. Ver o quão
próximo estou de realizar meu grande sonho, é empolgante.
Eu cumpro tudo o que havia programado para meu dia, sem
mais interrupções. Às oito da noite, já estou com tudo
organizado, e estou deitado em minha cama, conversando com
alguns amigos pelo WhatsApp, quando a campainha toca. Já
suspiro puto, porque sei que só pode ser a vizinha encrenqueira,
caso contrário, o porteiro ligaria avisando.
Abro a porta e é meu irmão.
— Há algo que eu possa te ajudar? — pergunto irritado.
— Por favor, vamos lá pra casa assistir um filme, eu preciso
daquela mulher, mas tenho que chegar no talento, de leve...
— Cara, você praticamente já pediu a mulher em
casamento, como tem a coragem de dizer que quer chegar no
talento, de leve? Você é imbecil?
— Você está estressadão hoje. O que te deu? — pergunta e
suspiro.
— Ok, foi mal.
— Então você vai?
— Ok, eu me sinto como um adolescente de treze anos. A
mulher tem 29 anos de idade e para assistir um filme com um
cara, precisa da irmã e mais alguém? Volte três casas, já
começaram mal.
— Vamos lá, caralho. Ela está tímida e provavelmente até
com receio. Nos conhecemos hoje... — ele argumenta e eu
decido ir nesse caralho.
— Ok, mas se a irmã dela me encher o saco, estarei saindo
e foda-se.
— De boa, tranquilo. — Ele dá um sorriso e eu reviro os
olhos antes de ir vestir algo decente.
Quando desço até o apartamento de Davi, as duas
engraçadinhas já se encontram no local e Ava faz uma careta ao
me ver. Estou começando a pegar um pouco de raiva dela, mas
prefiro usar a perturbação como vingança.
— Você veio Piroca Baby, idiota — ela exclama desgostosa.
— Por um irmão eu até aceito assistir um filme sentado ao
lado do diabo. — Sorrio. — A propósito Davi, só aceito essa
merda se transformarmos o sofá em uma cama. Já que é para
viver algumas horas no umbral, vamos viver com conforto.
Eu e ele arrumamos o sofá e ele vira uma mega cama que
cabe uns quatro casais confortáveis. Busco roupas de cama,
travesseiros, edredons, abaixo a temperatura do ar condicionado
e me acomodo relaxado no sofá.
Davi já fez duas bacias de pipoca, já temos refrigerante e
então um filme qualquer começa.
Eu juro por Deus, em menos de quinze minutos Davi e
Luma estão se beijando, enquanto eu e Ava os observamos,
espantados.
— Se eles iam fazer isso, por que nos chamaram? — Ava
questiona baixinho.
— Talvez eles gostem de plateia — digo rindo. — Achei que
você não ficaria tão impactada, já que tem tendências a
voyeurismo.
— Queria ter desvisto aquela cena desprezível.
— É, minha parceira não estava em um bom dia. Acontece
com todos. — Ela ri.
— Bonitinho você defendê-la. Ela é uma negação sexual,
frígida e arregona. — Debocha. — Você é fortinho, geração
saúde, atleta. Deveria incentivá-la a fazer atividades.
— Até incentivaria, mas tenho coisas mais importantes para
preocupar. Como eu disse, ela não estava em um bom dia, mas
ela é realmente incrível na cama. Nada frígida e muito menos
arregona. Aliás, você parece frígida para caralho, com todo esse
mal humor.
— Ah sim, claro. — Ela sorri maquiavelicamente. — Sou
mais quente que um vulcão, pequeno polegar, só que escolho
com quem quero compartilhar.
— Por que tudo que diz respeito a mim você diz
“diminuindo”? A piroca é baby, agora pequeno polegar... Qual o
teu problema? Você é irritante pra caralho. E eu duvido que seja
tão receptiva e quente na cama. Além de tudo, você tem cara de
fresca. Você fala muito, eu desconfio de pessoas que se dizem
foda.
— Eu não disse que sou foda — ela protesta.
— Você não diz abertamente, mas deixa no ar o tempo
inteiro. Egocentrismo mandou um abraço para você. Humildade
é uma das características mais marcantes que observo em uma
pessoa. Olho para você e não vejo um resquício qualquer.
— Você nem mesmo me conhece para dizer algo assim.
— Pois é. E bom sentir na pele como é ter uma pessoa
atribuindo características a você sem nem mesmo te conhecer o
suficiente, não é? — Sorrio e ela me dá um tapa estalado na
cara. Eu começo a rir e taco o controle na parede, fazendo-o
despedaçar e atraindo o olhar de todos. — Garota, você terá
que nascer novamente para me dar outro tapa igual a esse! —
aviso ficando de pé e a puxo pelas pernas.
— Você é louco? — ela grita desesperada e a jogo em
meus ombros.
— Não vou matá-la ou agredi-la. Sou homem. Aproveitem a
noite casal, Ava estará em segurança, sendo domada — aviso
ao meu irmão e à Luma, seguindo rumo a saída.
A maluca se debate enquanto a carrego para o meu
apartamento.
— Me solta, maldito! Quem você acha que é???
— Vamos lá, senhorita artes marciais, se desvencilhe de
mim após me dar um tapa na cara. Mostre sua força agora. —
Provoco. — Não é você que é a fodona? Então por que não me
golpeia agora? — Porque ela simplesmente acabou de perder
seu poder ao me dar um tapa na cara.
Eu gosto de tapas, durante o sexo pode me bater a
vontade. Mas não venha me agredir gratuitamente; não revido
com agressão porque sou incapaz de agredir uma mulher, mas
posso usar outras formas.
Entro no elevador e subo para a cobertura. Abro a porta do
meu apartamento e caminho decidido. Quando chego no local
ideal, a solto, deixando-a cair dentro da piscina, de roupa e tudo.
Em um primeiro momento ela grita, como uma perfeita
insana. Então, passado o choque, ela se recompõe e começa a
retirar sua camisa, ficando apenas de sutiã, branco, que se
tornou transparente agora. Sou capaz de escutar uma voz do
mal em meu ouvido dizendo: “parece que o jogo virou, não é
mesmo?” É. O jogo virou, porque, além de louca, ela é
absurdamente linda.
A segunda peça que ela retira é o short. Então os chinelos...
Ela os deposita na beira da piscina e dá um mergulho mostrando
que sua calcinha é praticamente invisível.
— Eu iria brigar, mas nesse calor, um banho de piscina é
muito bem-vindo. — Ela sorri e eu não sei se está jogando
comigo, tentando me seduzir para dar um bote. De qualquer
forma, eu me preparo de maneira negativa, pois sei que é isso
que está vindo.
Ela deixa a piscina e caminha em minha direção. Segura a
barra da minha camisa e começa a retirá-la. Eu permito para ver
até onde ela é capaz de ir, até colaboro com a retirada. Uma vez
que a camisa alcança o chão, suas mãos descem até minha
bermuda e ela a abre. Não preciso dizer que ela está indo
encontrar meu pau duro, porque não há como não ficar duro
diante dessa mulher. Ela desliza a bermuda pelas minhas
pernas e eu chuto meus tênis para longe. Suas duas mãos
deslizam ao cós da minha cueca e ela me puxa, ferozmente, de
encontro ao seu corpo. Não tomo qualquer iniciativa, espero que
ela faça o que pretende. Já estou devidamente preparado para
reagir no caso dela tentar chutar minhas bolas, mas não é isso
que acontece. Ava me beija e uma explosão se faz entre nós.
Em um minuto sua boca está na minha, no outro, minha boca
está deslizando rumo aos seus seios. Eu fico receoso quando
ela permite que eu continue avançando. Preciso me manter no
controle, ou ela vai me atropelar. Essa mulher é perigosa e
estrategista.
Grudo minha ereção entre suas pernas e ela solta um
gemido que quase me faz esquecer que é uma bela de uma
garota problemática. Quero levá-la para a cama, mas juro que
há algo gritando alto para que eu permaneça aqui. Então a doida
usa uma mão para abaixar minha cueca e liberar meu pau, é aí
que percebo que ela está falando sério. Porra, isso é errado pra
caralho, mas quando sua mão rodeia meu membro, eu sinto que
estou pronto para jogá-la contra a parede e fodê-la até perder os
sentidos e a dignidade. Na verdade, eu penso que isso é tudo
que ela queria desde o momento em que me viu transando com
Renatinha, acho que seu olhar faminto ficará martelando em
minha mente por um bom tempo. O fato é que essa porra é
recíproca e isso complica as coisas para ambos.
Eu beijo sua boca e ela foge para beijar meu pescoço.
Santo Deus, essa mulher me dá uma vontade louca... ofego
quando ela desliza beijos pelo meu peitoral, então ela se afasta
e olha meu pau em sua mão. Talvez a piroca baby não seja tão
baby assim. A mulher está analisando friamente, com o desejo
estampado em seu rosto perfeito. Ela brinca com o piercing na
glande, parece testar o metal em sua mão.
— Isso é tão estranho. Você tem um piercing no pau, quão
louco você é? — questiona.
— Louco.
— Deve causar uma sensação boa... — divaga e engulo a
seco, tentando controlar meus instintos. Acho que nunca estive
tão receoso e com os dois pés atrás por uma mulher. De
qualquer forma, capturo sua boca mais uma vez só para ter um
pouco mais dessa sensação inebriante e avassaladora. É então
que o show previsto começa, e ao invés de eu ficar puto, apenas
rio quando ela me empurra, pega suas roupas e desaparece,
achando que acabou de me deixar numa situação fodida. Eu
devo avisá-la que já estava preparado e que é preciso vir com
uma munição um pouco forte para conseguir brincar comigo e
me desestruturar?
Eu apenas vou até o quarto, troco uma roupa e envio uma
única mensagem que irá solucionar minha vontade de foder. Se
Ava não quer um pouco de diversão, há muitas que querem.
Para muitos eu sou a menina/mulher, que vive no mundo
dos sonhos e da imaginação, que vê sempre e apenas o lado
bom de todas as coisas. Sim, sou realmente sonhadora e uma
romântica incurável. Mas o que Ava diz sobre eu ser iludida, eu
digo que sou apenas prática. Exatamente isso. Não sou o tipo
de mulher que enrola, que prolonga situações. Se eu quero algo,
eu vou lá e faço. E isso é válido para todas as áreas da minha
vida.
Confesso, muitas das vezes me arrependo no final, mas se
existe uma coisa que não me arrependo é de ter tentado. Prefiro
a certeza de ter tentado e dado errado, que a incerteza de nunca
ter dado o primeiro passo e saber como poderia ser.
Já a minha irmã, sem comentários. Ava tem o prazer de se
mostrar auto suficiente, de querer impor que é foda e alheia a
todo tipo de sentimento. Balela, conversa fiada.
A diferença entre nós duas é simples: eu não perco tempo
criando teorias infundadas e ocultando meus desejos. Ela sim.
Ponto final.
Tipo agora. Eu cheguei em grande estilo, descobrindo um
vizinho incrivelmente lindo que demonstrou interesse por mim
prontamente. É recíproco. Logo, eu deveria fazer cu doce ou ir
logo para o ataque? Logo para o ataque. A vida é curta para
perder tempo e eu não me perdoaria se tivesse abnegado esse
beijo. Meu bom Deus, esse homem sabe como beijar. Não
importa que ele seja mais novo, importa é que ele demonstra
experiência e isso é incrível. Incrível do tipo “me foda”. Talvez eu
seja mais esperta que minha irmãzinha.
Assim que Ava e Gabriel saem protagonizando um show,
Davi se afasta de mim e vai fechar a porta, com chave. Reprimo
um sorriso.
— Então... — Ele sorri voltando ao sofá. — Parece que há
uma química explosiva entre eles, não?
— Parece que sim, mas do tipo que saí explodindo tudo ao
redor, realmente explosiva. — Sorrio e ele fica olhando para
minha boca, como se quisesse devorá-la. Esse garoto é quente,
posso praticamente afirmar, mesmo que eu não tenha provado
1% dele.
— É... me desculpe por tê-la beijado daquela maneira. —
Balanço a cabeça sorrindo.
— Você está mesmo arrependido a ponto de ter que pedir
desculpas?
— Não, na verdade... — ele diz e então sua boca está
novamente sobre a minha, provando, exigindo e testando.
Quando dou por mim, já estou deitada e ele está entre minhas
pernas, tão rápido e natural, sem forçar qualquer situação. O
fato de estar de vestido, colabora para um maior contato dos
nossos corpos, e eu gosto do que sinto, gosto do que tenho
sobre meu corpo, gosto muito. É bem melhor ser uma pessoa
leve e deixar as coisas acontecerem, do que ficar lutando contra
o inevitável. É mais prático, por isso, apenas permito que tudo
siga o fluxo natural e que meu corpo ceda às necessidades que
Davi está conseguindo despertar. É bem rápido, eu sei. Mas não
sou o tipo que foge de um bom sexo no primeiro encontro, não
que isso vá acontecer, mas se tiver que acontecer, não impedirei
em nome da moral e dos bons costumes. Sou espírito livre, feita
de carne, osso e necessidades.
Nos afastamos apenas para que eu possa retirar a camisa
dele, então sou surpreendida com um peitoral incrivelmente
belo.
— Christ... — digo traçando o dedo em uma tatuagem que
ele tem ao lado esquerdo do peito. — Lindo.
— Não tenho muitas tatuagens como meus irmãos e meu
pai — explica e vejo uma águia em seu antebraço, linda
também.
— Você é lindo.
— Você é uma princesa, linda — ele diz carinhoso e volta a
me beijar. Eu perco um pouco da noção completa, porque,
quando dou por mim, as alças do meu vestido já nem existem
mais. Davi é uma mistura de príncipe dos contos de fada com
um príncipe perverso. Ele mistura seu modo carinhoso com um
pouco de selvageria, que faz com que a pessoa não note que
ele pode ser um tanto quanto pervertido. Eu já posso notar que
na cama ele é o tipo “morde e assopra”. Que ele bate e então te
dá carinho. E, por Deus, não existe absolutamente nada que
seja mais quente do que isso.
Pela lógica, eu deveria afastá-lo agora, porque suas mãos
estão invadindo meu vestido e indo até as laterais da minha
calcinha. Mas, foda-se a lógica. Meu pai sempre disse: “sua
impulsividade um dia vai custar caro”, mas nesse caso, vale a
pena pagar o preço.
Ele desliza a calcinha pelas minhas pernas e então solta um
suspiro longo e tortuoso ao observar minha intimidade nua.
— Diga se eu estiver indo longe demais — ele pede com a
sua voz rouca e eu nada digo. O homem é tão lindo e tão
malditamente bom em pegar uma mulher, que seria um crime
interrompê-lo. Minha falta de resposta é o combustível perfeito
para impulsioná-lo a ir adiante. Ele me dá um beijo casto e
então, em um rompante de luxúria e fúria, sua cabeça está entre
minhas pernas e eu estou gritando pela maneira esfomeada e
nada carinhosa que ele me devora. Se antes havia dúvida sobre
o perverso e o encantado, agora não há mais. É perverso,
absurdamente perversos e absurdamente bom. Ele não é doce,
nem mesmo vai “comendo pelas beiradas”, simplesmente vai
direto ao ponto... G! Eu agarro o edredom jogado no sofá, agarro
os cabelos dele, agarro meus seios, meus próprios cabelos e
penso até mesmo em me auto amordaçar. Quanto mais insana
eu me torno, mais ele abre minhas pernas e me fode com sua
boca. Eu tenho 29 e ele 21, e agora parece o contrário e quero
rir disso. Eu nunca havia ficado com um cara mais jovem, e aqui
estou eu, tendo um dos melhores sexo oral de toda a minha
existência, com um garoto que acabei de conhecer. Se vai dar
merda depois não importa, o que importa é o orgasmo que está
se construindo em meu interior.
Minhas pernas começam a tremer, assim como meu ventre.
Eu tenho um orgasmo intenso e duradouro, e a sensação parece
nunca cessar, ainda mais com Davi continuando sua magia
como se nada ao seu redor estivesse acontecendo. Minhas
pernas perdem a força e eu não consigo mais mantê-las, só
assim ele se contém. Eu nem sei se seria capaz de aguentar um
sexo agora.
Davi desliza pelo meu corpo e beija minha boca, eu sinto
meu gosto e, de alguma forma, sentir meu gosto em sua boca é
inebriante.
— Você é uma delícia, mocinha — ele diz em meu ouvido e
se levanta, dono de si. Eu começo a rir de nervoso. — Quer
alguma coisa?
— Água, por favor. — O vejo caminhar confiante até a
cozinha, então sinto a estranha necessidade de me recompor e
não mostrar que um único sexo oral me derrubou.
Sinceramente, esqueça tudo que eu disse lá no início, sobre se
iludir. Eu me iludo mesmo. Neste momento, o observando pegar
água na geladeira, eu consigo vislumbrar um futuro juntos. Eu,
ele, um cachorrinho da raça Lulu da Pomerânia, dois filhos e
muito sexo. Consigo me imaginar de vestido de noiva,
caminhando rumo ao altar para encontrá-lo. Estou apaixonada e
só o conheci a menos de vinte e quatro horas. Ok, não estou
apaixonada, mas ficaria facilmente.
Ele volta com a água e com um pacote de lenços
umedecidos. Sou surpreendida quando ele puxa alguns e
desliza entre minhas pernas, me limpando delicadamente. Ok,
estou mesmo apaixonada. Bebendo água, lanço um olhar furtivo
para entre suas pernas e vislumbro um belíssimo pacote
generoso. Minha boca volta até a ficar seca, mesmo estando
cheia de água.
— Você... está bem? — pergunto apontando para seu
volume e ele ri.
— Bem e vivo, não poderia ser diferente.
— Eu... eu poderia resolver...
— Oh, não senhorita. Teremos outras oportunidades. Quero
sair com você, por isso estou contendo a vontade de dar
continuidade — explica.
— Hum... você quer sair comigo. — Sorrio.
— Sexta-feira.
— Sexta-feira? — Dizer que estou desapontada... hoje é
domingo!
— Sim, sexta-feira você vai sair comigo. Vou pensar em
algo legal. — Deus, ter que esperar até sexta-feira para ter essa
boca em mim novamente!!! Eu terei que inventar muitas
atividades para me distrair durante toda a semana, terei que
usar meus irmãos, Ava... será uma maldição!
— Sexta-feira. — Concordo sorrindo, puro fingimento. Ele
termina de me limpar, eu termino de beber a água e então fico
de pé, semi nua. Um jogo sujo, já que ele geme. ELE GEME!
Isso é algo que preciso falar. Não existe nada mais quente do
que ter um homem gemendo de tesão e prazer, e ele gemeu.
Subo as alças do meu vestido, pego minha calcinha e
deslizo pelas minhas pernas lentamente. fazendo questão de
mostrar um pouco da minha bunda para ele. Então, abro meu
sorriso mais amplo e me despeço:
— Foi realmente incrível esse filme Davi, mas preciso ir.
— Fique mais.
— Não será possível, ou iremos transar. — Ele ri.
— Muito autêntica.
— É a realidade. — Sorrio. — De qualquer forma, foi muito
bom passar um tempo com você. — Ele segura minha mão e a
beija.
— Você é linda. Repetitivo, eu sei, mas não consigo deixar
de dizer.
— Obrigada. — Sorrio e suspiro. O jogo contra a primeira
parede que encontro. Sexta-feira não!
Meu vestido é rasgado ao meio enquanto desabotoo sua
calça. Ele pega um preservativo no bolso e então eu me afasto o
suficiente para vê-lo deslizá-lo pelo seu membro, mas ele nem
mesmo tem tempo.
— PARE!!! — Grito eufórica. — Oh meu Deus!!! Você tem
um piercing!!!
— Sim — ele afirma rindo. — O que tem demais nisso?
— Eu nunca fiquei com um cara com piercing no pau!
— Que bom, serei o primeiro, talvez último.
— Nós precisamos esperar, até sexta... — digo e corro até o
sofá, pego a blusa dele, a visto e saio correndo, rumo a saída.
— Ei, maluquinha...
— Sexta-feira, assim que você chegar da faculdade — grito.

Chego em casa seminua e desorientada.


Ava está na sala, comendo brigadeiro de colher. Ela
arregala os olhos ao me ver vestindo apenas uma camisa e uma
calcinha.
— Você transou com o vizinho??? — ela grita e o prédio
inteiro deve ter escutado.
— Ele tem um piercing... lá! — exclamo perplexa e rindo. —
Um piercing, Ava!!! No pau!!!
— O irmão dele também tem, deve ser algum lance de
família. Tradição.
— Você transou com o vizinho??? — grito.
— Não! Eu não sou maluca! Apenas o vi transando com
uma vadia no corredor, assim que cheguei aqui. Mas e você?
— Eu não transei, mas eu realmente ia. Porém, vale a pena
a espera. Sexta-feira nós vamos transar!!!!!! — digo pulando e
me jogo no sofá. — Oh meu Deus, Ava, ele é muito bom! É o
melhor!
— Santa ilusão! Pelo amor de Deus, Luma, você deveria ter
ficado em Los Angeles!
— Por que você não está com o vizinho? Eu juro que pensei
que vocês estavam tendo um sexo quente agora. — Ela faz uma
careta.
— Nunca! Primeiro, ele é um idiota. Segundo, ele é uma
criança. Isso é tudo. Já você... onde você anda com essa
cabeça? No mundo da imaginação? Quando vai deixar de ser
uma iludida sonhadora?
— Iludida por que faço o que quero? Acho que usou o termo
errado, irmãzinha. Ao menos não fico frustrada, como você. O
menino tem 21 anos e é personificação do sexo! Você acha
mesmo que eu vou perder tempo? De jeito algum. Ainda darei
uma surra de buceta nele, até tê-lo rastejando aos meus pés.
Basta saber jogar, querida Ava. Nesse caso, o fato dele ser mais
novinho, só colabora. Preconceito por idade é ridículo, você já
cansou de ficar com idiotas de 35 anos. Enfim, se você quer
ficar frustrada sexualmente, problema é seu! Eu não fico... —
Sorrio maquiavelicamente. — Que pau, Ava! Eu vou caçá-lo na
internet e pedir nudes, só para te mostrar.
— Enfia o nudes no teu orifício. Se eu quiser ver pau com
piercing, entro na internet e vejo.
— Olha aí, o mal humor imperando. Sabe o que é isso?
Falta de rola! — Provoco tacando uma almofada na cabeça dela
e ela se levanta como uma onça, prestes a me matar. Salto do
sofá e saio correndo rumo ao quarto. Tranco a porta rindo e vou
tomar um banho. Eu me toco imaginando como é ter uma parte
significativa de Davi dentro de mim.
Eu, Davi, 2 filhos e um cachorro...
Iludida? Não!
Acordo e logo o bom humor me invade, ao constatar que
hoje é o meu primeiro dia na faculdade. Levanto-me da cama,
faço um alongamento e, após fazer minha higiene matinal,
caminho rumo a cozinha, onde Luma já toma seu café da
manhã.
— Bom dia irmãzinha! — ela diz sorridente e eu tento
entender o que ela está fazendo acordada tão cedo, já que,
quando ela dorme, ela praticamente hiberna.
— Bom dia, caiu da cama? — Deposito um beijo em sua
testa e vou até a geladeira pegar algumas frutas para fazer uma
vitamina.
— Sim, vou passar o dia com Lucca e Victor, no escritório. E
você?
— Vou correr um pouco na praia agora de manhã, malhar
um pouco na academia do prédio, almoçar e então vou preparar
tudo que preciso para levar para a faculdade — explico. — Na
verdade preciso comprar um carro, mas vou pedir um help ao
Victor.
— Deve ser chato trabalhar a noite.
— Acho que não. Acho que funciono melhor a noite, que
pela manhã. Odeio acordar antes das oito. — Ela ri.
— Já eu, sou super matinal!!! — exclama de maneira
exagerada e eu reviro os olhos. Empolgação, seu nome é Luma
Albuquerque!
Após tomar a vitamina, visto uma roupa para correr e desço.
Por obra do cão, o próprio cão está do lado de fora da portaria,
se preparando para alguma atividade física também.
— Bom dia! — digo educadamente.
— Olha, bom dia! — ele diz sorrindo. — Terei uma
companhia para correr essa manhã?
— Não, estou indo correr sozinha. — Ele ri e eu rio também,
porque me pareço como uma adolescente, chata e atrevida.
— Correr acompanhado é mais divertido. Vamos lá, deixe
de ser chata, vizinha.
— Ok, mas você vai me ajudar a alongar — aviso e ele
sorri, levantando as mãos. — Está bem humorado hoje, hein.
— Você poderia estar também, mas não colaborou — diz.
— Vem, apoie sua mão no meu ombro, vamos alongar. A
propósito, essas suas trancinhas te deixam com cara de atriz
pornô estilo menininha travessa. — Eu nem consigo xingá-lo
hoje. Apenas me calo e começo a alongar minhas pernas, junto
com ele.
— Vire de costas. — Ele pede e eu me viro. — Nossa, com
todo respeito, que bunda espetacular. Você é muito gata,
parabéns. Agora me dê seus braços. — Eu dou e ele os puxa
para trás. Até solto um gemido em apreciação, ouvindo minha
coluna estalar. — Prontinho. — Ele me dá um tapa forte na
bunda e sai correndo. Eu vou atrás, preparada para matá-lo. —
Isso mesmo, está indo na pressão, atriz pornô. Tente me
alcançar. — Ele pensa que sou uma patricinha mimada, no
mínimo.
O alcanço, mas decido não o matar por hoje, apenas
passamos a correr no mesmo ritmo pelo calçadão. Corremos até
o fim, voltamos e então me sinto morta. Uma coisa é correr na
academia, ou em parques no final do dia. Outra é você correr no
Rio de Janeiro, com sol escaldante.
Enquanto eu morro sentada, Gabriel desaparece, para
então voltar trazendo duas águas de coco. Ele me entrega
uma...
— Cortesia por ter corrido comigo — diz.
— Você seria um bom personal, tem cuidado e zelo com as
alunas.
— Com a aluna. Nunca malho acompanhado. — Sorrio e
bebo um pouco da água.
— Vou precisar dar um mergulho — falo retirando meu
tênis, retiro meu bracelete com o celular, o short e o top.
— Puta merda... — Ouço Gabriel dizer e corro para o mar,
rindo. Dou um mergulho que me leva diretamente até onde não
consigo dar pé o suficiente e respiro fundo, olhando o céu azul,
sem nuvens. A água está devidamente fria e deliciosamente
confortável. Quando me refresco o bastante, volto à areia e
caminho até o banco, no calçadão.
— Pronto, só vou secar um pouco e subir — digo sorridente.
— Eu farei peixe grelhado hoje, se você e sua irmã
quiserem, estão convidadas para o almoço em meu
apartamento.
— É claro que quero, não é todo dia que surge um convite
para almoçar na casa de alguém — brinco. — Nós realmente
podemos ser amigos, hein, Piroca Baby.
— Claro, ambos temos interesses. — Ele sorri.
— Ah, você tem interesse também? Em quê?
— Qualquer hora te conto, por ora irei me abster de falar
muito. — Sorrio, pego minhas coisas e decido que está na hora
de ir para casa e tomar um banho.
— Bom, vou nessa, precisa de ajuda para cozinhar? Não?
Excelente, sendo assim, chego no horário do almoço. — Ele ri.
— Não, dessa vez você está imune. Mas da próxima...
Eu e ele almoçamos sozinhos, ele me dá carona para a
faculdade e eu percebo que não existe a menor chance de nos
mantermos distantes, já que somos vizinhos, colaboradores na
universidade e vamos nos encontrar todos os dias. A presença
dele é algo que terei que engolir, mas também preciso
confessar, ele não é chato, na verdade, ele é bem legal,
divertido e até bonzinho. Além de ser muito bonito, gostoso e ter
um sorriso cativante. Ou talvez eu apenas esteja carente de
amigos, provavelmente é isso.
No decorrer da semana, eu e Gabriel nos aproximamos
mais. Adquirimos o hábito de correr na praia todas as manhãs,
tomar banho de mar, almoçar e ir para a faculdade juntos, enfim,
nos tornarmos bons amigos, mesmo brigando todos os dias por
motivos diversos.
Na faculdade, trabalhar como orientadora tem sido um
desafio de auto controle, porque eu apenas sinto vontade de
bater em alguns engraçadinhos que estão dando desculpas que
necessitam de orientação para ficarem na sala comigo. De
qualquer forma, vale a pena o desafio, é legal poder ajudar,
guiar pessoas. Há muitos que estão realmente interessados no
conteúdo que tenho a oferecer, além dos meus seios.
Hoje é quinta-feira e Luma, me atormentou até a morte para
sairmos assim que eu chegar da faculdade. Ela está eufórica
com a merda do encontro sexual que ela tem amanhã. Por conta
disso, eu já tive até mesmo que ir passar uma tarde toda no
shopping com ela, para a bonita escolher uma roupa especial
para o grande dia... de dar.
Nossa balada faz com que eu saia uma horinha mais cedo
da faculdade e volte de táxi para casa. Chegando, Luma já está
se arrumando.
Eu tomo um banho rápido e então escolho uma roupa
decente no closet. Um pretinho básico sempre cai bem. Faço
uma maquiagem mais trabalhada para a noite, visto um vestido
preto, uma sandália preta, alguns acessórios e estou
devidamente pronta após passar meu perfume. Estou até
animada, faz tempo que não curto uma balada.
A campainha toca e então Lucca chega pronto para o crime.
— Olha se não é o rei do ménage chegando! — Provoco e
me jogo em seus braços. — Aí moh deuso, é a coisinha mais
linda da minha vida, meu pimpolho, meu Sadbebê! — brinco
apertando suas bochechas. — É a coisinha mais fofa do mundo
todinho.
— Eu sou muito fofo mesmo — ele diz concordando e faz
seu charme, a lá Matheus Albuquerque. — Podemos ir?
— Se Luma não demorar mais meia hora, sim, nós
podemos ir. Você é fofo quando transa? — questiono dando o
braço ao meu irmãozinho.
— Sou fofo em todos os momentos, inclusive transando eu
sou muito fofo. — Sorrio. Deve ser um gentleman transando,
esse garoto. — Aliás, estou saindo com uma garota, não
transamos ainda, mas você vai conhecê-la.
— Saindo? Mas... final de semana você estava fazendo
ménage — argumento rindo.
— É outra história. — Homens! — Ela tem uma filha de dez
meses, a coisa mais linda que eu já vi. Por isso, é difícil para ela
conseguir sair.
— Ok, vou conhecê-la. Se eu não for com a cara dela, nem
adianta.
— É, chatinha da estrela — ele diz me dando um beijo na
cabeça e então, após Luma surgir com outra roupa totalmente
diferente da que estava quando eu cheguei, saímos.
Aguardamos o elevador e ele se abre, revelando Gabriel.
Seus olhos focam logo em mim e Lucca, que está de mãos
dadas comigo. Por algum motivo, ele nem mesmo nos
cumprimenta. Simplesmente passa rapidamente rumo ao seu
apartamento e ainda dá tempo de ouvirmos a porta sendo
batida.
— Quem é esse? — Lucca pergunta.
— Vizinho, mas ele parece mal humorado hoje, geralmente
ele é legal — explico.
— Ele é muito legal, Ava que implica com o garoto o dia
todo.
— Não seria Ava se ela não implicasse — Lucca diz rindo.
Quinze minutos depois estamos em uma boate com pelo
menos seis ambientes diferentes. A música eletrônica faz meu
astral evoluir grandiosamente. Pegamos alguns shots de
bebidas e vamos para a pista, dançar.
Estamos empolgados quando uma garota surge, fazendo
Lucca abrir um sorriso. Se eu me pareço com Victor, ele se
parece com Luma.
— Essa é Laísa — ele diz a abraçando. — Laísa, essa é
minha irmã Ava, e essa é Luma. — Luma corre para esmagar a
garota em um abraço, enquanto eu me torno altamente
avaliativa. Não me julgue, nem venha me chamar de chata. Eu
tenho um gênio possessivo em mim, que me faz ter excesso de
desconfiança e zelo, tudo na mesma proporção, não consigo ser
diferente, tão pouco quero. Sou tipo uma leoa, capaz até mesmo
de matar para defender quem eu amo.
Ela é bonitinha, mas tem cara de ordinária e eu não sei
não... De qualquer forma, a cumprimento, de um jeito menos
emocionante que Luma fez. Meu faro para mulheres que não
prestam é incrível! Sou uma leoa com a minha família, tenho
excesso de protecionismo.
Lucca começa numa pegação louca com a garota, e eu e
Luma nos afastamos. Bebemos quatro tequilas cada uma e
voltamos para pista para dançar.
Sinceramente, existe coisa melhor do que sair para dançar
sem pretensão alguma a não ser se divertir? É tão bom ter uma
noite de meninas, curtir, beber e dançar sem pressão.
Passeamos pelos demais ambientes e há até mesmo um
tocando funk. Luma me obriga a ficarmos nele por um tempo e
acabo gostando, até descobrir que há um outro ambiente com
sinuca e karaokê.
— Meu Deus, temos que ir cantar!!! — digo rindo e ela dá
pulos de alegria.
— Eu amo você quando bebe!!! — exclama exagerada.
Estou mal humorado desde que cheguei em casa, não me
pergunte o porquê. Por isso, acabei cedendo ao convite do meu
irmão para irmos à uma boate. Estamos jogando sinuca,
bebendo cerveja e nos divertindo, quando uma voz bastante
conhecida atrai minha atenção.
Busco com o olhar e sorrio ao ver a cena diante dos meus
olhos. Ava e Luma, estão descalças, sobre um sofá, cantando.
Tenho que dizer, Luma é um pouco desafinada, mas Ava... ela
canta bem pra caralho. Elas estão cantando uma música
relativamente antiga, mas que todos conhecem muito bem. (4
Non Blondes — What's up)
— Aquela não é a minha Luma e a sua Ava? — Davi
questiona.
— É a sua Luma e a Ava, que não é minha. — Mas eu
gostaria que fosse, porém, oculto esse detalhe. Quatro dias de
rotina com ela, e eu estou desesperado o bastante para tê-la. A
mulher é chata muitas vezes, mas é absurdamente inteligente,
sagaz, forte, sexy, linda pra caralho e até divertida. Não tem a
menor chance de um homem ficar perto dela e não desejá-la, a
não ser que seja gay. Mas, ela estava acompanhada essa noite
e foda-se, eu não curti aquilo. Cadê o babaca que estava com
ela? Ele é retardado de deixá-la sozinha.
“Twenty-five years and my life is still
I'm trying to get up that great big hill of hope
For a destination
I realized quickly when I knew I should
That the world was made up for this
Brotherhood of man
For whatever that means

And so I wake in the morning and I step outside


And I take deep breath
And I get real high
And I scream from the top of my lungs
What's going on?
And I say, hey, yeah, yeah-eah
Hey, yeah, yeah
I said, hey! What's goin' on? “

Ela canta até a música acabar e então dá pulinhos de


alegria e abraça Luma. Parece uma criança travessa. A observo
pegar bebidas, então ela escolhe outra música, já vi que
ninguém aqui vai cantar hoje, a mulher monopolizou o aparelho
de karaokê. Ela vira para trás e me encontra, arqueio uma
sobrancelha e sorrio, incentivando a começar o show. Ela ri, se
vira para mim e começa a cantar a música que me surpreende.
Ela gosta de Oriente... surpreendente. Será que tem alguma
mensagem subliminar nessa letra? Não importa, eu só consigo
observar a maneira como seu quadril se move ao ritmo da
música, só consigo ver seu sorriso e seu olhar fixado ao meu.
Essa mulher tem algo que me deixa louco, mas tudo em mim
grita para eu não cair em tentação. Ela é problema.

“A gata arrisca e dropa


Linda, louca e mimada
Bendito seja o homem que possa conquistá-la
Quem tem ninety nine percent é quente, tem que ver de perto
Ela é doce, sal, bala
Embalada, ela dança, uma criança na madrugada
Sua maquiagem, suas tatuagens
São proteção, chamam atenção que seu pai não pode dá-la
Olha dentro dos meus olhos, joga o cabelo
Bota os óculos, fica ainda mais charmosa
No caminho de volta pra casa
Tira a make, vai pra praia, joga altinha
Bebe água, tem uma vida agitada, mas a pele bem tratada
Como pode ser?
Tão gata e ao mesmo tempo tão louca
O homem que já teve sua companhia jamais se satisfaz com
outra
Troca de roupa mil vezes até decidir a melhor
Já foi muito magoada, por isso mágoa sem dó
Pra ter sua companhia só se ela simpatizar
Tem seu carro, tem sua casa, seu dinheiro pra pagar
Tem uma frase que repete, segue que a faz flutuar
Não importa onde estamos, nossa mente é nosso lar”
Bato palmas quando ela termina e Davi vai na captura de
Luma. Eles parecem como um casal agora, porque se beijam de
uma maneira indecente diante de todos. Eu fico na minha,
bebendo minha cerveja, encostado na mesa de sinuca. É ela
quem vem e a merda do seu perfume me faz quase ter uma
ereção, porque eu nunca senti esse cheiro em qualquer outra
mulher.
— Olha, o vizinho mal humorado.
— Olha, a vizinha cantora. Cadê seu namoradinho?
— Namoradinho? Não tenho namoradinho. — Eu sorrio. —
O quê? Lucca? O garoto que estava de mãos dadas comigo no
elevador? Lucca é meu irmão! — ela diz rindo e eu a puxo para
meus braços. — O que você está fazendo? — questiona antes
que eu cale sua boca com a minha. Quando afastamos, estamos
inebriados pela luxúria. Eu tenho certeza de que ela sente isso.
— E ela tá linda, arrumada. Tô do lado da mais gata. E hoje
ela tá comigo, O casal perigo pela madrugada. E hoje ninguém
vai dormir. É a lei da atração. De salto, ela fica mais alta, se
sente mais gata, E sente o mundo na palma da mão. Na palma
da mão... — Canto em seu ouvido e ela ri. — E hoje nós vamos
curtir. E amanhã não se preocupar.
— Será? — Calo sua boca com a minha mão.
— Tipo semideusa, seminua, hey. Tudo que eu pedir um
dia, hey. Quem dera eu morar na sua rua. Quem dera a minha
boca na sua. Tudo que eu pedir um dia, hey. Nada muda sempre
que anoitece. Competição pra minha vista, a lua e ela. Quem
brilha mais na pista? Top na lista das mais, mais belas. Se não
ganha, é finalista. Pedra rara, bruta, pronta pra ser lapidada. E
eu sou o artista.
— Você sabe lapidar uma pedra bruta? — pergunta em tom
de desafio e eu não quero conversar.
Seguro sua mão e decido que vamos embora mais cedo.
Preciso aproveitar sua guarda baixa e seu bom humor. Vamos
saber se sou bom em lapidá-la essa noite.
Essa pintinha na boca é a minha morte.
— Ei Piroca Baby, onde pensa que estamos indo? — Ava
questiona enquanto mantenho minha mão firme contra a sua e a
puxo rumo a saída.
— Para casa.
— Eu não vou transar com você, você é muito baby — diz
rindo e eu paro de andar, encarando-a com seriedade.
— Vai continuar com esse preconceito ridículo? Porque não
parecemos ter o mínimo de diferença de idade e olha que dizem
que as mulheres amadurecem mais rapidamente que os
homens. — Ela faz uma careta. Ava é infantil, não de maneira
geral, mesmo tendo vinte e nove anos, há um pouco de
imaturidade nela em alguns quesitos.
— Mas, de qualquer forma, ainda é cedo para irmos para
casa.
— Eu posso convencê-la a mudar de ideia — digo
promissor.
— Você pode tentar. — Sorrio e então ela está contra a
primeira parede disponível que encontro. O fato dela estar
receptiva às minhas investidas não está me ajudando agora,
porque ela retribui meu toque, retribui o beijo e até mesmo a
pegada. Sinto que estamos de igual para igual. Nós dois temos
fome um pelo outro. Ela é destemida e ousada, pois suas mãos
invadem minha camisa e deslizam pela minha pele, fazendo-me
ofegar com o toque. Eu já senti tesão muitas vezes na vida, mas
eu sinto algo diferente por essa mulher, um desejo mais intenso,
mais incontrolável e mais insuportável. Me afasto quando um
pouco de senso de racionalidade me invade.
— Consegui? — questiono atordoado.
— Quase. — Ela sorri maquiavelicamente, limpa o canto da
boca, me empurra e sai andando para a pista de dança. Se essa
mulher não for a minha morte, certamente ela simboliza a minha
perda de sanidade mental. Acho que aquela merda de ser
pisado e gamar é real, quanto mais difícil ela torna as coisas,
mais louco eu fico.
Sorrindo, pego uma bebida e fico a observando de longe,
dançando, como um espírito livre. Atraindo atenção o bastante
para meu riso morrer, porque, de repente, eu me tornei um
maldito possessivo do caralho; como se tivesse a menor chance
dela tornar-se minha. Não sou iludido, o máximo que conseguirei
dessa mulher é algum tipo de sexo casual. Esse pensamento,
faz com que eu coloque um pouco de pressão em mim mesmo.
Se vai ser casual, eu tenho que representar, de uma forma que
abale um pouco daquela estrutura. E que estrutura... puta
merda.
Alta, pernas torneadas, uma bunda espetacular, seios
incríveis, sorriso perfeito, aquela pintinha na boca... e tem um
homem tentando agarrá-la.
Deixo meu copo no balcão e vou pegá-la, porque ela é
minha. Ao menos essa noite. O cara está sendo um pouco
exaltado, por isso o pego pela camisa pronto para socá-lo.
— Vaza! — aviso encarando-o, olhos nos olhos, então o
solto e ele obedece a meu comando.
— Eu sempre soube me defender sozinha.
— Fico feliz por isso.
— Irmããã. — Luma surge das profundezas do umbral,
exterminando minha chance de capturar Ava e levá-la embora
daqui.
— Fala, cara — meu irmão diz rindo.
— Por que você não está distraindo sua namoradinha? —
questiono.
— Porque nosso encontro real é amanhã.
— Trate de distraí-la, eu preciso ir embora com Ava.
Mantenha-a entretida. Você deve saber o que fazer. — Ele ri.
— Oh, eu sei bem. Só estou tentando ficar em um lugar
mais seguro antes que eu a leve para o banheiro e perca a
mente. A mulher é quente e muito doida. — Ele ri e então se dá
conta de algo: — Você está ficando com Ava?
— Estou tentando, mas você não colabora.
— De boa — ele diz e, como um insano, pega Luma e
desaparece. Eu acabo rindo, mas o riso morre quando Ava me
dá uma encarada, desconfiada. Levanto as mãos, querendo
dizer que não tenho absolutamente nada a ver com o que quer
que ela esteja pensando.
— Vamos jogar sinuca? — ela propõe e, não restando
opções, eu aceito.
Jogamos algumas partidas enquanto tomamos bebidas
aleatórias. Eu passo a beber coquetel sem álcool, e controlo a
ingestão alcoólica de Ava, com sinais discretos para o barman.
Em alguns momentos ela reclama dá bebida estar fraca e eu
seguro a vontade de rir.
— Vamos em Copacabana? — a louca propõe.
— Agora? Você está sugerindo que eu saia da Barra da
Tijuca e vá até Copacabana agora?
— Lá tem um bar que fica aberto a vinte e quatro horas,
eles fazem um milk shake espetacular, estou com fome.
— Eu sei onde levá-la, vem comigo — comento a puxando
pela mão e ela vem contente. Ela provavelmente bateu a cabeça
essa manhã, não se parece com a mulher que eu lido
diariamente.
Pago nossa conta e ela só falta me matar por conta disso,
então caminho rumo à minha moto, mas antes dou uma olhada
para o vestido dela.
— Eu estou de moto e você está de vestido.
— Quando eu tiver seu corpo entre minhas pernas, ninguém
conseguirá ver nada, não se preocupe — diz e não me passa
despercebido sua jogada de palavras maliciosas. Apenas sorrio
e balanço a cabeça.
A pego em meus braços e então ela está sobre a moto,
colocando o capacete, enquanto estou conferindo o quanto de
pele exposta há. Só paro quando um questionamento surge na
mente: que tipo de homem estou me tornando? Eu nunca liguei
para essas merdas, foda-se se as garotas estivessem nuas na
minha garupa, aliás, era até bem-vindo. Já Ava, eu não quero ou
admito qualquer merda de exposição.
Me acomodo na moto, seguro as pernas dela e a puxo um
pouco para frente. Ela apoia as mãos em meus ombros e eu ligo
a moto. Acelero rumo ao nosso prédio e ela esbraveja assim que
estaciono.
— Eu disse que estou com fome.
— Eu estou indo levá-la para comer. Sou muito bom na
cozinha, não sei se reparou isso durante a semana. — Ela salta
da moto de uma maneira nada delicada, coloca o capacete no
guidão e fica me aguardando. Mimadinha do caralho. Eu tenho
vontade de dar uns tapas nessa bunda, para castigá-la mesmo.
Subimos e chegamos em meu apartamento, sigo direto para
cozinha, onde Ava se senta no balcão e fica balançando as
pernas. — Bom, senhorita, o que você quer comer?
— Milk shake, tipo desejo de grávida, e eu duvido que você
saiba fazer ou que tenha qualquer merda aqui — explica.
Caminho até o congelador e, sob o olhar curioso dela, pego
um pote de sorvete de creme, cobertura, Ovomaltine e um
pouco de leite. Enquanto deixo bater um pouco no liquidificador,
pego duas taças e coloco cobertura. Então, retiro o líquido do
liquidificador e despejo nas taças.
Entrego uma a Ava e ela vai com cede ao pote, literalmente.
A vejo fechar os olhos e dar um gemido.
— Isso é infinitamente melhor que o do Bob's, que magia
você fez?
— Eu sou muito bom na cozinha, um bom cozinheiro não
conta seus truques. Se eu fosse você, parava de me testar. —
Sorrio e tomo o meu. Realmente muito bom, mas não há
qualquer truque nisso, apenas joguei os ingredientes no
liquidificador.
Termino de beber e percebo que Ava está enrolando.
— Não está bom o bastante?
— Gosto de apreciar devagar. — Reviro os olhos e ela ri,
então salta do balcão, termina todo o milk shake. Eu pego a taça
de sua mão e a coloco dentro da pia. — Então, estava muito
delicioso, mas preciso ir. — Arqueio as sobrancelhas, mas não
vou pedir que ela fique porque me parece exatamente isso que
ela quer. Não imploro por mulher alguma, muito menos minha
vizinha atrevida, por mais louco que eu esteja.
— Ok. Quer que eu a leve até a porta? — Ela sorri,
incrédula com minha pergunta.
— Sim, por favor. É o mais educado.
— Claro. — Sorrio. — Sou sempre educado. —
Caminhamos até a porta, eu a abro e ela faz charminho.
— Ok, então, obrigada pela carona e pelo milk shake.
Provavelmente não estarei apta a exercícios físicos matinais,
então, nos vemos no almoço?
— Claro, o que você quer comer amanhã? — pergunto e ela
parece pensar.
— Amanhã, acho que quero algo mais leve, nada muito
calórico.
— Farei algo mais light — informo e ela ri.
— Ok, bom restinho de noite, vizinho.
— Desejo o mesmo para você. Tenha bons sonhos, vizinha.
— Sorrio, mas quero matá-la friamente. De qualquer forma, a
observo caminhar rumo a porta de seu apartamento. Ela até dá
um tchauzinho antes de batê-la na minha cara.
Eu fecho a porta e me jogo no sofá, atordoado. Essa mulher
vai me deixar muito mais louco que eu jamais imaginei ficar um
dia.
Levanto-me e vou até a varanda. O céu está começando a
clarear e o “alaranjado” está começando a surgir entre algumas
nuvens, no horizonte. O mar está calmo, a vista desse lugar é
apenas a mais perfeita.
A campainha toca e suspiro de frustração, por saber
exatamente que é o meu irmão. Vou abrir a porta, e Ava entra
como um furacão, vestindo apenas uma lingerie, que se parece
com um maiô.
— É assim que você quer ficar comigo? Tipo, eu digo que
vou embora e você quase diz foda-se? — ela grita para o meu
espanto.
— O que você queria que eu fizesse? Implorasse para a
princesinha ficar? Se você quer ir embora, você vá embora e
foda-se, porque é apenas infantil esse jogo de gato e rato,
senhora maturidade.
— É assim que você demonstra interesse? Sendo
indiferente? Que espécie de homem você é? — diz batendo o
dedo em meu peitoral.
— Eu sou um homem bem decidido, que não gosta de
criança fujona, principalmente criança do tipo que gosta de se
fazer de difícil para se sentir valorizada. Não vou pagar pau para
você, Ava, nunca paguei pau para mulher nenhuma — falo
segurando seu dedo. — Não coloque o dedo em mim — alerto.
— É para eu ficar com medo?
— Deveria — ameaço e ela ri.
— Você é um idiota mesmo, uma perda de tempo.
— Então o que você está fazendo aqui ainda? Saia do meu
apartamento, merda — digo indo abrir a porta e ela fecha. Eu
respiro fundo olhando para o teto, buscando um pouco de
paciência, e então ela me empurra até a parede e me beija de
uma maneira alucinante, como uma selvagem. Ela me pega pela
camisa com tanta força, que a camisa até mesmo rasga e ela
termina o serviço, jogando os restos mortais da peça longe. Eu
tento conter sua fúria, a pegando pela cintura, então ela ofega e
parece assustada consigo mesma.
— Você é louca!
— Para caralho! Você pode lidar com isso?
— Eu posso tentar — respondo e beijo sua boca
delicadamente, tentando acalmar um pouco da loucura.
Mas isso faz o efeito contrário, é como jogar fogo na
gasolina.
Eu me afasto, retiro meus tênis, minha calça e fico de
cueca. A pego para mim e me sinto nervoso pela primeira vez
numa “preliminar”. Eu pondero parede, sofá e cama. Mas decido
que na cama é a melhor maneira de poder explorar mais
dela.
Ava está ávida, faminta, tanto quanto eu. Sinto sua
necessidade sendo expressada em ofego e desespero, me
deixa num nível de excitação extremo.
Quando afasto nossos lábios, ela me olha com avidez,
como se estivesse prestes a me devorar e realizar o maior
desejo da vida. Provavelmente, ela está me olhando da mesma
forma que eu estou olhando para ela.
Gosto quando ela, furtivamente, desliza suas mãos pelo
meu peitoral, explorando cada parte. Gosto mais ainda quando
ela paira no cós da minha cueca e desliza uma mão até meu
pau extremamente rígido por cima do tecido. Não satisfeito,
retiro sua mão e abaixo minha cueca, permitindo que meu pau
salte livre para ser explorado; e ela explora, deliciosamente.
— É incrível — ela diz brincando com o piercing, então
move sua mão pela extensão, bombeando lentamente. Chego a
ofegar com seu toque, sua mão é deliciosa, assim como tenho
certeza que cada parte desse corpo também é. Estou louco de
tesão, principalmente quando ela desliza a mão pela glande,
comprimindo seu aperto.
Retiro sua mão e a faço deitar na cama. Deslizo
delicadamente meus dedos pela sua lingerie e desço lentamente
as alças, tomando um cuidado especial de deixar meus dedos
roçarem pelo seu corpo no processo. Ela está devidamente
arrepiada quando seus seios saltam livres, enchendo minha
boca de água. A quero nua para mim, só por isso contenho meu
impulso de lamber cada um dos seus mamilos. Passeio pelas
suas pernas e quando desço mais o body, exponho sua buceta
lisinha e delicada.
— Santa merda, Ava. — Quero estar dentro dela pra
caralho, por isso jogo a peça longe e pego um preservativo na
mesa de cabeceira.
— Você já transou sem preservativo? — ela pergunta.
— Poucas vezes, na adolescência.
— Eu quero sentir... tudo. Estou limpa, você pode confiar
em mim. — Fico a analisando e pondero entre ceder ou não
ceder. Não por achar que ela pode ter algum tipo de problema,
mas por medo disso tornar-se ainda mais viciante do que parece
ser. — Oh merda, você acha mesmo que eu tenho alguma
doença?
— Pare de colocar palavras na minha boca, por gentileza?
— Ela salta da cama revoltada e eu quase rio, porque estamos
ficando ridículos pra caralho nessa merda de briga infernal. Não
conseguimos ficar mais de meia hora sem brigar, é assim todos
os dias. Essa mulher precisa de uma foda louca para
desestressar. Pensando em acalmá-la, desço da cama e vou
atrás dela, que está indo embora nua e que tem uma tatuagem
incrível perto da bunda (além de ter uma bunda incrível). A pego
pelos cabelos quando está quase alcançando a maçaneta. Seu
corpo se choca contra o meu e ela geme como uma depravada
perfeita, sentindo meu pau em contato com sua bunda.
A viro de frente e a jogo na parede, enlaço suas pernas e
elas rodeiam meu quadril, enquanto tento encontrar passagem
para deslizar em sua carne molhada. Não demora muito até que
eu consiga o ângulo perfeito, então Ava afasta nossas bocas e
me olha de um jeito incrível, incitando-me a continuar. Ela é
apertadinha e meu pau é grosso o bastante para sentir
alargando cada parte dela. Vou até o limite e espero ela se
acostumar com a invasão. Afasto seus cabelos do rosto e meu
pau chega a pulsar quando meus olhos deslizam pela maldita
pintinha na boca. Meu ponto fraco sobre essa mulher é essa
pinta. Seu rosto, tomado pelo prazer, merece ser registrado em
uma fotografia. Arrisco a mover um pouco, e a vejo fechar os
olhos, abrir a boca e soltar um som delicioso, que mexe com
todas as minhas terminações nervosas.
Eu começo a arremeter firme, forte, sem tirar meus olhos do
seu rosto, apenas sorvendo cada detalhe, para não perder
absolutamente nada. Ela apoia suas mãos em meus ombros e
começa a movimentar-se junto, como se estivesse me
montando. Uma gota de suor desliza pela minha testa. Sustento
a bunda de Ava com as mãos e a levo de volta ao quarto. Deito-
me na cama, decidido a deixá-la me montar ao seu modo. Isso
permite que eu explore um pouco dos seus seios. São grandes,
um pouco pesados, seus mamilos são pequenos, delicados,
destoam da dimensão de todo o restante. Os apertos em minhas
mãos e ela rebola forte sobre mim.
— Isso aí... — incentivo a ouvindo gemer alto, desprovida
de timidez ou vergonha. É a imagem de uma fêmea bem
decidida, que gosta de trepar gostoso e desbravar os prazeres
carnais da vida. Sinto sua carne sugando tudo do meu pau e o
indicativo de que ela está prestes a gozar me deixa instável. Ela
apoia as duas mãos em meu peitoral, fecha os olhos, morde o
lábio inferior, joga a cabeça para trás e me dá seu primeiro
orgasmo, da forma mais erótica que eu já vi. Meu coração até
falha umas batidas apreciando a cena e saber que sou eu o
motivo disso é a melhor de todas as sensações.
— Oh! Meu Deus! — Ela tenta jogar seu corpo ao meu, mas
eu inverto a posição e fico por cima, deixando-a se recuperar
alguns segundos, antes de estocar com força, em busca de mais
um orgasmo dela.
Abro bem suas pernas e deixo minha pélvis roçar em seu
clitóris enquanto arremeto forte. Dou a devida atenção a cada
um dos seus seios, seguro seu emaranhado de cabelos entre os
dedos de uma mão e uso a mão livre para deslizar em seu
pescoço, como se fosse estrangulá-la.
— Oh Deus... você é incrível pra caralho, Piroca Baby...,
nada baby — ela diz e eu sorrio. Eu era idiota minutos atrás,
agora sou incrível e em alguns minutos voltarei a ser o idiota.
Nós fazemos uma dança sexual; ela arremetendo sua pélvis
para cima e eu espremendo-a sobre a cama. — Ai Deus...
— Você fica linda desesperada, mas Deus não irá defendê-
la, Atriz Pornô.
— Goza comigo? Por favor — ela pede ofegante e eu
capturo seus lábios porque me tornei um viciado do caralho.
Giro meus quadris fazendo-a perder o fôlego em minha boca e
invisto forte, tomando cuidado para não deixá-la socar a cabeça
na madeira da cabeceira. Suas mãos deslizam pelas minhas
costas, e ela crava as unhas em minha bunda quando seu corpo
explode sob o meu, mais uma vez. Quem diria que esse
mulherão também é sensível pra caralho. Abro um amplo sorriso
de satisfação e permito me entregar ao prazer. Sinto meus
testículos enrijecerem, assim como sinto um calafrio na espinha.
— Goza por mim, goza em mim... — Suas palavras me levam ao
frenesi completo e meu corpo responde, explodindo de maneira
épica dentro dela. Me torno ofegante, audível e instável, e a
pego mirando meu rosto como mirei o dela.
Quando os tremores do meu corpo se esvaem,
carinhosamente ela desliza as mãos pelo meu rosto e me beija.
Isso me quebra em mil pedacinhos, porque eu nunca esperei
qualquer ato de carinho vindo dela.
— Você é muito bom, Piroca Baby.
— Você é incrível, Atriz Pornô. — Sorrio. — Mas agora irei
limpar essa bagunça dentro de você na hidromassagem —
anuncio ficando de pé e pegando-a em meus braços. Ela vai
beijando meu pescoço e minhas bochechas até o banheiro e
passamos pelo menos uma hora dando e recebendo carinho um
do outro, sem sexo, o que é bastante esquisito.
A parte mais assustadora é quando ela veste uma camisa
minha, puxa o edredom da cama e se acomoda. Ou talvez, a
parte mais assustadora, acontece quando ela puxa meu braço,
fazendo com que eu a envolva em uma conchinha.
Não.
A parte mais estranha vem pela manhã, quando a
campainha toca e ela vai abrir a porta, para então eu ouvir algo
terrível:
— Pai???
Há algo nesse garoto que tira toda a minha racionalidade e
me torna instável muito mais do que eu costumava ser quando
era apenas uma adolescente. Ele mexe com meu sistema
nervoso, eu sinto uma vontade louca de brigar com ele o tempo
inteiro, eu tenho ações medíocres e infantis, e apenas não
consigo controlá-las perto dele. Tenho vinte e nove anos de
idade, sou conhecida pelo excesso de maturidade e por ser
“casca grossa”, e então, com poucos dias que o conheço, tornei-
me um alguém que odeio.
Na verdade, minhas ações estão fazendo com que eu
repense muito e crie até mesmo algumas teorias. Acredito que,
na vida, há sempre uma pessoa que tem a capacidade de nos
desestruturar sem esforço. Talvez, essa seja a missão de
Gabriel, me desestruturar, porque é exatamente isso que
acontece. Eu odeio pessoas que agem como eu estou agindo
agora, isso por si só já um grande castigo para mim e combina
com aquela frase clichê “eu tornei o que mais temia”.
Mas, de qualquer forma, vamos falar da parte realmente
boa de toda essa situação. Há uma química bastante explosiva
entre nós dois, embora batalhemos duro para esconder isso,
ambos sabemos que existe, mesmo que não tenhamos
conversado sobre isso antes. Até quando estamos correndo
juntos, há uma conexão, uma linha tênue que nos liga e nos
mantém instáveis entre os limites do prazer e da raiva. Ontem
na boate apenas não deu mais para segurar e mascarar o
desejo, bastou vê-lo, para a maldição se infiltrar e começar a me
atordoar, porque ele apenas mexe absurdamente com meu lado
sexual.
Nós ficamos boa parte da noite curtindo, mas, quando ele
estacionou na garagem do prédio, eu sabia que era o momento
em que estaríamos cruzando uma linha. Aquilo me deixou
nervosa, mas eu não sou idiota o bastante para negar um desejo
tão avassalador; por isso, eu apenas me joguei e permitir viver o
que queria. Há algo sobre mim: eu nunca cedo apenas ao
desejo carnal. Para um homem me levar para cama, tem que
haver um bom trabalho de convencimento da parte dele. Sou
uma pessoa difícil e gosto de ser exatamente assim, por esse
motivo, pouquíssimos homens na vida ousaram brincar comigo.
Mas essa madrugada eu precisei ceder, ou enlouqueceria se
mantivesse a pose de mulher controladora. Eu cedi às investidas
de Gabriel e mais. Eu fui para a merda do meu apartamento,
bancando a difícil, porque simplesmente posso dizer que sou
realmente mimada, todos os homens que eu já me relacionei,
me mimavam o tempo todo pelo fato de eu ser uma pessoa
difícil e nada sugestionável. Todos os homens, exceto um.
Gabriel não faz absolutamente nada disso. Quando eu apenas
penso que ele está sob meus pés, ele simplesmente se mostra
indiferente e passa a me ignorar. E, puta que pariu, é esse o
maldito gatilho que me move: a indiferença. Eu suporto que
brigue comigo, suporto que grite comigo, suporto que faça
muitas coisas inapropriadas comigo, mas eu ODEIO que seja
indiferente a mim, odeio com todas as forças. E esse gatilho me
fez voltar atrás, pois eu precisava ter esse homem dentro de
mim com uma urgência enlouquecedora. Eu vim até a porta dele
e, embora não tenha sido com essas palavras, foi como se eu
estivesse implorando para que ele me desse um pouco de sexo;
e ele deu.
Ele me deu sexo de altíssima qualidade, desde o beijo, até
todo o restante que se desenvolveu. Eu transei sem preservativo
pela primeira vez na vida porque há aquele maldito piercing,
(que vai virar pré requisito para eu sair com os demais homens a
partir de agora), e eu apenas precisava sentir como é ter aquilo
dentro de mim. A sensação é surreal. Num primeiro momento é
incomodo e até machuca, mas depois parece fazer mágica. Para
começar, Gabriel é bem dotado e realmente grosso. Ele não tem
um pau gigante assustador, tem um pau “responsa” e o
assustador fica pela grossura. É grosso, pesado, e eu me senti
alargando consideravelmente para acomodá-lo dentro de mim.
Grosso é tudo que eu me tornei viciada agora e será mais um
pré requisito para ficar com os demais homens. (Procura-se
parceiros sexuais que possuam pau grosso e com piercing). De
qualquer forma, ele parece tocar em pontos desconhecidos e
causa uma explosão devastadora. Foi uma experiência épica,
mesmo que eu tenha tido sexo o suficiente na vida, foi diferente
e muito satisfatório. E eu apenas quero mais, porque eu já disse
isso antes, mas apenas preciso dizer mais uma vez: eu amo
sexo e eu preciso de sexo para me manter sã. E estou indo
propor a esse maldito garoto para ser amigos de foda, pois
preciso de mais sexo com ele.
Ao mesmo tempo, eu estou com uma vontade louca de
pegar um travesseiro e sufocá-lo enquanto ele dorme como um
anjo, já que ele não foi nada carinhoso no pós sexo. Não que
tenha sido grosseiro, porém, carinhoso ele não foi. Eu tentei ser
carinhosa, deslizei minhas mãos pelo seu rosto, brinquei com
seus cabelos, forcei uma conchinha, na banheira de hidro eu
tentei dar muito carinho, me tornei uma pessoa cheia de toques
e suavidade (pessoa que nunca fui). Ele apenas deixou que eu
fizesse tudo, sem protestar, mas não retribuiu o carinho e eu
quero chorar de ódio dele, mesmo querendo montar em seu
rosto.
“Não há nada mais duro que a suavidade da indiferença”. É
verdade.
Eu tenho tanto ódio dele agora, que nem consigo raciocinar.
Aliás, por que eu fui lembrar dessa merda de carinho? Eu estava
tão bem, lembrando das partes boas da situação. Está vendo
como ele me deixa, sem se esforçar? Ele me deixa instável,
desorientada e como uma garota pirracenta. Foi só sexo, por
que eu estou reclamando de carinho? Eu preciso ser indiferente
como ele. Mas eu apenas me aconchego mais em seus braços,
até ele acordar.
Ele abre os olhos, me afasta delicadamente e estica os
braços, espreguiçando.
— Bom dia — diz e fica de pé, completamente nu.
— Deus... — Quando percebo, disse em voz alta. Dou um
tapa na minha testa e o vejo sumir para dentro do banheiro. Rolo
na cama, com lágrimas nos olhos, então começo a rir, porque eu
nunca chorei por macho escroto algum, mas estou numa
frustração máxima.
Salto da cama e decido ir embora o quanto antes, mas,
antes que eu possa sair do quarto, ele já me pegou e está me
jogando na cama.
— Onde você pensa que vai?
— Embora.
— Ok — ele diz saindo de cima de mim e eu soco a cama.
— Deus do céu!!! — grito e começo a socá-lo com força. —
Eu sinto tanta raiva de você, tanta raiva, que você nem mesmo
imagina o quanto eu te odeio. Mas, só para você ficar sabendo,
eu te odeio com muita força, com toda a força que existe dentro
de mim. Sinto vontade de matá-lo lentamente, inclusive deveria
ter te estrangulado enquanto dormia. — Ele segura meus pulsos
e tenta me beijar. Eu fujo da sua boca o quanto consigo, mas ele
me prende na parede e a captura. Quando dou por mim, estou o
abraçando como se fosse uma dependente insana e ele meu
vício. Não quero soltá-lo e nem mesmo permito que isso
aconteça. Então, ele me pega em seus braços e me leva de
volta para a cama. Sua boca deixa a minha para ir explorar o
resto do meu corpo e eu protesto muito alto por isso, o fazendo
rir. Ele retira a blusa do meu corpo, sua boca então desliza pelo
meu pescoço, em um beijo enlouquecedor.
Eu quero abraçá-lo, mas também quero sua boca fazendo
todas as coisas. Suas duas mãos estão em meus seios, quando
ele passeia com a língua por cada um dos meus mamilos.
Delicada e lentamente ele distribui beijos em minha barriga, pela
minha cintura, por meu quadril, pela minha pélvis, então ofego
quando o sinto explorar minha intimidade. Ele me lambe de cima
a baixo, deslizando de maneira precisa em minhas partes mais
sensíveis. Sua boca se fecha em meu clitóris e ele o beija como
se estivesse beijando a minha boca. Enquanto isso, eu apenas
agarro meus cabelos e tento evitar sons que poderiam assustar
metade da população. Ele pressiona sua língua na parte
superior do meu clitóris e move fazendo movimentos precisos,
então desliza até embaixo novamente e volta a repetir o ato. Eu
me sinto mais molhada conforme ele faz rotações com a língua
e beija minha parte mais sensível. E, quando sinto meu orgasmo
se aproximar, ao invés de prendê-lo entre minhas pernas, eu
apenas as abro mais, porque o alívio é tudo que posso querer.
Chamando seu nome, eu gozo e é como se eu fosse
mandada diretamente para outra dimensão. Eu fico alguns bons
segundos numa viagem e só desperto quando o sinto me
invadir, trazendo-me de volta à realidade.
Seus cotovelos estão descansando acima dos meus
ombros e suas mãos estão em meu rosto, carinhosamente,
enquanto seu corpo se move contra o meu lentamente, sem
qualquer pressa ou pressão. Forço minha cabeça para cima e o
beijo, então ele me beija da sua maneira incrível e eu sinto meu
coração bater forte dentro do peito.
Nós atingimos o prazer juntos, no mesmo instante, então
tomamos banho e o noto distante mais uma vez. Acho que ele é
o tipo que só sabe ser mais ou menos carinhoso no sexo. No
pós ele é frio como uma geleira e isso me deixa desapontada.
Eu me achava a Elza, porém ele é um pouco pior.
— Bom, vou nessa então... — Ele é mais do que frio,
merda. Não sei ficar aqui, dessa maneira estranha.
— Vamos tomar o café da manhã juntos ou você está muito
louca para fugir daqui? — ele questiona vestindo uma cueca e
uma bermuda, enquanto eu já estou vestindo uma camisa dele e
uma cueca também.
— Ok, nós podemos tomar o café da manhã juntos — digo
e ele balança a cabeça em confirmação.
Ele pega as bebidas e eu preparo dois sanduíches de
presunto e queijo. Sentamo-nos no balcão mesmo e comemos
conversando sobre Direito. É o único assunto que conseguimos
conversar sem brigar. Gabriel é um garoto muito inteligente,
sagaz e esforçado. Posso dizer que ele, sendo apenas
estudante, já é melhor que muitos advogados que já convivi. Ele
tendência mais para a área criminalista, enquanto eu sou
empresarial. Na verdade, eu não tenho uma área preferida, eu
gosto do direito em geral, mas escolhi a empresarial para ser a
minha segmentação devido aos negócios da minha família, para
darmos continuidade ao legado.
Quando terminamos, eu lavo as louças enquanto ele guarda
a bagunça e, quando estou prestes a ir embora, a campainha
toca e eu abro a porta, encontrando meu pai.
— Pai??? — interrogo chocada e vejo Luma atrás dele, com
um semblante de desespero, enquanto Davi foge de cueca, sem
que meu pai consiga vê-lo.
— O que você está fazendo aqui, Ava? Por que não está no
seu apartamento?
— Eu posso explicar — digo e Gabriel surge, com uma
camisa que nem mesmo sei de onde ele tirou.
— Bom dia. — Ele oferece a mão ao meu pai e meu pai não
pega. Normal. Não seria Matheus Albuquerque se pegasse.
— Quem é ele?
— Eu fui salvar sua filha essa manhã, isso é tudo. Havia
uma lagartixa enorme na parede do quarto dela e eu fui
acordado com gritos de horror. Até tive que pular a parede que
divido nossos apartamentos, achando que havia algum
assaltante ou imaginando ser algo terrível. Mas, era apenas uma
lagartixa. — Gabriel revira os olhos e eu tento não sorrir. Já meu
pai, está desconfiado o bastante, com seus enormes braços
cruzados, prestando atenção nos mínimos detalhes. A parte boa
é que Gabriel é mesmo advogado e sabe como elaborar uma
defesa. Ele está encarando meu pai de igual para igual,
sustentando seu olhar e não vacila em momento algum. —
Acontece, que eu também tenho pavor de lagartixa, você pode
até rir e me chamar de frouxo, mas é a realidade. Por isso, e
apenas por isso, nós dois pulamos para o meu apartamento,
porque Luma disse que iria resolver a situação.
— Sim, eu disse — Luma diz atrás de nós e meu pai foca
em minha roupa.
— Você agora usa roupas masculinas?
— É só uma camisa de dormir pai, porque gosto de dormir
mais confortável, com peças largas. Você sabe disso, já roubei
muitas das suas camisas. — Graças a Deus isso é verdade.
— Ok, e onde está a lagartixa, Luma?
— Eu a peguei pelo rabo e joguei lá embaixo, desculpa pai,
mas não tinha outra maneira, senão matá-la. — Somos uma
máfia, dispostas a enrolar nosso pai, definitivamente. Luma
transou com Davi? Eu apenas espero que não tenha sido em
minha cama ou em meu sofá.
— Ok — ele diz me puxando para seus braços. — Eu sinto
sua falta — fala e eu começo a chorar, por que me sinto tão
sensível?
— Pai... eu sinto sua falta também. — Ele está chorando e
isso parte meu coração. Eu nem me despeço de Gabriel direito
quando meu pai me arrasta de volta ao meu apartamento,
apenas dou um aceno com a mão e ele compreende.
— Eu não sei viver sem vocês, sua mãe brigou comigo por
isso.
— Ela não veio? — questiono.
— Não, porque brigamos mesmo, mas vocês são meus
Sadbebês, e ela apenas não compreende — ele diz abraçando-
me e abraçando Luma, quase nos estrangulando. — Isis já está
encaminhada na vida, tem família e tudo mais. Vocês não e eu
me preocupo, porque são minhas princesinhas.
— Nós estamos bem, papai — Luma diz chorando e vira um
rio de lágrimas. Três loucos chorando no meio da sala. Meu pai
deveria ser menos fofo, mas ele apenas não consegue. Ele é
fofo até quando está bravo.
E assim começa uma série de dias muitos loucos, com a
participação especial do digníssimo Matheus Albuquerque. Ao
menos a diversão é garantida.
Eu amo meu pai, e estou viciada no vizinho. Como isso vai
funcionar nos dias em que meu pai estiver aqui? Não faço a
mínima ideia.
LUMA
AINDA NA BALADA
— Por que me puxou igual louco? — questiono rindo e Davi
para de andar.
— Há algo rolando entre nossos irmãos, estávamos
atrapalhando.
— Oh! — exclamo e ele ri. — Você acha que agora vai? Os
dois parecem bem extremistas.
— Vai, meu irmão é foda.
— Minha irmã também, por isso mesmo tenho minhas
dúvidas.
— Ele é foda no sentido de conseguir absolutamente tudo o
que quer. Ele quer Ava — justifica levantando os ombros. Só
não sei se Ava o quer da mesma intensidade. Minha irmã é
arisca o bastante.
— Isso é kizomba? — questiono ouvindo uma música em
outro ambiente. Fico empolgada e agora sou eu quem o puxa.
Quando chegamos no ambiente, ele não compreende nada.
— Vamos dançar — informo o pegando. Ele desliza as
mãos pela minha cintura e eu começo a guiá-lo nos passos. É
uma dança quase erótica. Estamos tão grudados, que se
estivéssemos nus ele já estaria dentro de mim.
Me viro de costas para ele e dançamos um pouco assim.
Mordo o lábio, comprimindo um sorriso, ao perceber que ele
está devidamente excitado. Eu provoco mais, rebolando e
esfregando minha traseira. Ele afasta meus cabelos, beija meu
pescoço e morde minha orelha.
— Tem ideia do que está fazendo comigo em um local
público? — pergunta e eu me viro de frente para ele, o puxando
mais para o meu corpo e movendo ao ritmo da música.
— O que estou fazendo com você?
— Estou tentado a levá-la para o banheiro. Só não faço
porque você merece infinitamente mais que um banheiro sujo. É
uma princesa, safadinha, mas uma princesa. — Sorrio e beijo
seu pescoço. — Luma... — adverte e eu apenas continuo. Ele
torna-se um pouco mais desesperado e suas mãos deslizam
furtivamente pela minha bunda. — Vamos embora daqui? —
propõe em meu ouvido e eu estou animada o bastante para
torturá-lo um pouco mais.
— Vamos jogar sinuca! — digo me afastando de uma só vez
e saio rumo a área de jogos.
— Eu sei o que você está fazendo. Seus planos estão
sendo bem sucedidos. Quanto mais você prolongar, mais louco
me terá no final dessa noite — avisa pegando um taco.
Ficamos jogando por mais de uma hora, conversando,
bebendo e rindo. Davi é muito leve e descontraído, como eu. A
conversa simplesmente flui, nós falamos de tudo. De assuntos
que não tem nada a ver e de assunto que fazem sentido.
Dançamos agora na área de música eletrônica e eu
descubro que ele é um viciado e que suas festas preferidas são
as raves. Descubro também que ele é totalmente anti-drogas,
sim, eu perguntei porque há todo um Tabu em festas raves
envolvendo uso de drogas.
Quando saímos da boate já é manhã e eu nem mesmo vi a
noite passar.
— Não vim de carro, pedirei um Uber ou táxi — ele informa.
— Vamos andando pela praia? Não é tão distante.
— Caralho, você tem uma disposição surreal. Vamos — fala
rindo. Jesus, ele é muito lindo, principalmente quando sorri.
Atravessamos a avenida e, quando chegamos no calçadão,
retiro minhas sandálias, ele retira o tênis, a camisa e dobra as
barras da calça. Eu vou pulando, hiperativa e animada. Ele vem
atrás rindo e chutando areia em mim.
— Estou com fome, há um quiosque bom ali na frente para
tomarmos o café da manhã.
— Nossa, eu também estou morrendo de fome, só me dei
conta disso agora. Eu amaria comer um misto quente, com uma
vitamina de morango. Será que eles fazem? — questiono
sentindo meu estômago dar sinal de morte.
— Vamos tentar a sorte — comenta segurando a minha
mão. Nós andamos como se fossemos um casal, eu acho
engraçado.
— Você parece modelo, vou tirar uma foto sua — digo
pegando o celular e ele ri.
— Não sou fotogênico. Vamos fazer um book aqui? —
Duvido que ele não seja fotogênico. O cara é lindo em grandes
proporções.
— Sim! — Sorrio animada e ele começa a fazer poses
engraçadas. Eu não registo qualquer uma delas. Deixo para
capturar uma que ele não está esperando. — Você não é
fotogênico? Tem certeza sobre isso? — pergunto impactada com
a obra de arte.
— Não sou. Deixe-me ver... — Ele pega meu celular e faz
uma careta. — Não sou mesmo. Agora faça uma pose, minha
vez de fotografar. Eu faço uma pose morrendo de rir e ele tira a
fotografia. — Que mulherão, meu Deus! Quando vamos nos
casar?
— Amanhã, hoje estou cansada — brinco e ele ri.
Paramos no quiosque e o proprietário faz exatamente o
lanche que pedi. Noto o quão querido Davi é. Aqui é o lugar
dele, literalmente.
Comemos e andamos um pouco mais até chegarmos diante
do nosso prédio. Para atravessarmos a avenida, eu vou
montada nas costas dele e ele só me desce quando estamos
dentro do elevador. Então, tudo muda de repente. Deixando a
leveza de lado e exalando tensão.
— Meu apartamento ou o seu? — pergunta indo direto ao
ponto.
— Meu. — E é assim que ele avança sobre mim e
começamos nos beijar até o elevador indicar que chegamos.
Há uma certa dificuldade em abrir a porta, mas consigo.
— Onde é seu quarto? — Aponto o dedo e ele me leva em
seus braços, trazendo seu tênis, sua camisa e minha sandália.
Uma vez dentro do meu quarto, ele me coloca no chão. Eu
retiro meu vestido, ele retira sua calça e quando ele está a
centímetros da minha boca ouço a voz do meu pai.
— Oh meu Deus! Meu pai! — exclamo.
— É sério? Seu pai não estava na Califórnia?
— Estava, eu não faço ideia do que ele está fazendo aqui,
mas você precisa fugir ou se esconder — digo vestindo um
roupão. — Vou distraí-lo. Eu nem sei onde Ava está.
— No apartamento do meu irmão, pode apostar — ele diz
me puxando para mais um beijo. — Você fugirá e irá encontrar
comigo — avisa e eu saio apressada do quarto.
— Pai? — O encontro na sala.
— Meu amor! Você parece ter chegado da rua agora.
— Sim, eu fui correr cedo.
— Maquiada? — Balanço a cabeça em concordância.
— Ontem saímos, então eu nem tirei a maquiagem.
— Onde está sua irmã? — Fodeu! Fodeu pra caralho!!!!!!
— Ela... ela foi no vizinho aqui da porta ao lado, vou chamá-
la — digo saindo rápido do apartamento, porém ele é mais
rápido que eu, me ultrapassa e toca a campainha.
Tudo acontece muito rápido. Ava abre a porta, Davi sai
correndo seminu e eu quase começo a rir de desespero.
Gabriel é o salvador da nossa manhã, nós viramos um trio
de mentirosos enrolando meu pai e ele parece cair.
— Gabriel, porra, já deu! — o instrutor diz enquanto
mantenho o peso em meus ombros, minhas mãos e minhas
costas. Eu apenas não quero soltar e então surgem mais dois
instrutores para virem me pegar.
— Você perdeu a porra da mente? Pode ter uma lesão,
idiota — um deles grita e então eu libero o peso, deixando-o cair
ao chão.
— O que está acontecendo, camarada? — meu instrutor
pergunta e eu nem sei dizer que merda está acontecendo. Só
estou um pouco nervoso, tendenciado ao desespero. Parece
haver excesso de adrenalina em mim agora e eu não sei o que
fazer para extravasar.
Eu escalo pela corda indo até o teto, desço e vou pegar
uma luva de box.
O treinador sobe comigo no ringue e tenta me ajudar de
alguma forma. Por um lado, ajuda, mas por outro, quanto mais
eu soco o saco de areia, mais eu quero socar. A cada soco, a
imagem de Ava tendo um orgasmo surge na mente e me deixa
puto pra caralho. A loucura maior é quando percebo que estou
quase tendo uma ereção no meio de um círculo de homens. Isso
me faz parar.
Apoio as mãos em minhas coxas, abaixo a cabeça e tento
respirar fundo. Há três dias eu não a vejo, eu não tenho o
telefone dela e eu nem mesmo sei se ligaria se tivesse. A última
vez que a vi foi quando o pai dela foi capturá-la em meu
apartamento, na sexta-feira de manhã. Ava não foi à faculdade
na sexta à noite, nós não almoçamos juntos durante o final de
semana. Hoje é segunda-feira, à tarde, e não corremos juntos
essa manhã, não nos vimos, nós apenas... não. E eu me sinto
fodido para caralho por perceber que em APENAS uma semana
criamos uma rotina que se infiltrou e tornou-se parte da minha
vida com força. Eu fico mais puto ainda porque nunca estive
dessa maneira por mulher alguma. Tinha que ser logo pela mais
complicada de todas?
Deixo de lado as luvas e decido que o melhor a ser feito é ir
embora.
Visto uma camisa, pego a minha mochila, o capacete e
desapareço da porra da academia. Só paro de pilotar quando
chego próximo ao meu prédio. Eu estaciono na orla, deixo minha
mochila no quiosque, pego meu celular e decido que preciso de
uma consulta psicológica. Minha mãe atende no segundo toque.
— Mini Gibi!
— Mãe, pelo amor de Deus, o que eu posso fazer para
conter uma crise insana de ansiedade? Mãe, eu quero atropelar
o mundo hoje e apenas não possuo poder o bastante para fazer.
Eu não consigo me concentrar em nada, mas em minha mente
centenas de pensamentos psicopatas estão digladiando, quero
socar metade do mundo e fazer todas as atividades físicas
possíveis para gastar energia. Estou ficando louco?
— Quem é ela? — ela questiona e eu salto do banco. Como
ela pode saber que há uma “ela”? — Gabriel?
— Oi?
— Quem é a garota? — pergunta mais uma vez. — Isso
que você está sentindo nada mais é que frustração causada por
alguma garota. O que há de errado? Ela não quer se envolver
com você? Você fez merda? O que está acontecendo?
— Nem é...
— Gabriel Salvatore, filho de Túlio, eu tenho muita raiva às
vezes, principalmente quando você me remete ao passado, em
uma época que seu pai era exatamente assim, como você. Você
é muito parecido com ele, eu tenho vontade de matá-lo pelo
menos três vezes por dia. — Isso me faz rir.
— De foder — meu pai grita ao fundo e eu faço uma careta.
— O que há de errado com a garota, meu filho? — ela
pergunta.
— Não tem...
— Gabriel! — ela grita que eu até tremo de pavor e afasto o
celular do ouvido. Puta merda, minha mãe é um amor 90% do
tempo, mas quando ela ativa o modo Pinscher Raivosa, saí
correndo porque é um inferno.
— Ela é mais velha e complicada pra caralho, minha
vizinha, mora ao lado do nosso apartamento mãe, e eu não a
vejo desde sexta-feira de manhã. — Minha mãe faz o que
qualquer mãe anormal faria, começa a rir e eu já consigo vê-la
dobrando a barriga, como ela sempre faz. Ela está rindo da
minha desgraça.
— O que foi filho? Sua mãe é uma onda de raivosidade, fale
com seu pai, eu sou o melhor conselheiro que pode existir nessa
porra — eu pai fala roubando o celular dela. — Quem é a
garota? De qualquer forma já adianto, mulheres são seres
satânicos, elas têm parte com alguma força oculta para foder
homens indefesos. Se ela tem o temperamento difícil, é raivosa
e lembra qualquer característica da sua mãe, vaza o quanto
antes, nem se ilude. Vá pegar geral, você é jovem, vá foder
antes que seja fodido por uma mulher raivosa...
— TÚLIO SALVATORE! — minha mãe berra e eu começo a
rir, porque ele agora está fodido.
— Filho, meu velório deve ser na parte da manhã,
provavelmente. De qualquer forma, seja como for, pedirei seu
irmão para enviar o local e o horário assim que for confirmado.
Foi bom te conhecer garoto, nunca esqueça que você foi um
espermatozoide vencedor e salvou seu pai da escuridão, te amo
moleque, adeus.
Não dá para ter uma conversa normal com meus pais, eles
parecem adolescentes no cio, fora a imaturidade dos dois em
determinadas situações. Eu acho que eles nunca cresceram e
nem mesmo irão crescer.
Encerro a ligação, mas cinco minutos depois minha mãe me
liga, dizendo algo que me faz paralisar de susto. Como ela
sempre sabe o que está se passando comigo sem eu precisar
dizer uma única palavra? Ela é assustadora, pra caralho, mas,
em contrapartida, é a mulher mais foda que eu conheço.
— Filho, eu sei quem muitas vezes nós ficamos na corda
bamba, confusos entre escolher lutar e desistir. A maioria das
pessoas desiste dos ideais por ser o caminho mais fácil; as
pessoas nem mesmo pensam que o caminho mais fácil, é
também o mais doloroso. Você desistir e então ficar no escuro,
sem saber como teria sido se decidisse lutar. Ou seja, desistir é
apenas para pessoas fracas e, infelizmente, no mundo, o que
mais existe são pessoas fracas. Por isso, eu te digo com a
propriedade de quem lutou a vida toda, escolha essa opção por
vários motivos, entre eles, por ter sido criado para ser um
homem forte. Eu e seu pai o criamos para isso. Então, sempre
que estiver confuso entre lutar e desistir de algo, lute, porque
você é um homem e não uma ameba. Compreende?
— Sim.
— Nunca, em hipótese alguma ceda ao medo e à
desistência. Lutar é e sempre será a melhor alternativa. Seja por
uma garota, pelos seus sonhos, contra os seus demônios,
apenas lute. Se você não lutar por alguma coisa, será vencido
por qualquer coisa. Pense nisso e siga seus instintos, deixe eles
te guiarem, sem medo, meu amor. Nunca tenha medo, não
importa que seu coração esteja em jogo. Se eu tivesse desistido
do seu pai, teria tido uma vida infeliz. Eu apenas lutei, hoje
temos uma linda família e somos extremamente felizes, mesmo
eu querendo matá-lo. — Ela ri e a conversa me acalma
significativamente.
— Mãe, eu sinto sua falta.
— Não me faça chorar, inferno! — Sorrio.
— Te amo, Pinscher Raivosa, dê um beijo em minha
Bolinha de Queijo, em Pedro e no meu pai.
— Diga a Davi que irei retirá-lo do meu testamento se ele
não me ligar ainda hoje — ela pede.
— Ok.
— Ela é bonita? — pergunta curiosa.
— Ela é... uma pinscher raivosa, ou talvez seja um pit bull
mesmo.
— Então ela é uma pessoa fantástica — diz rindo. — Um
beijo meu filho, se cuide e me ligue sempre que precisar.

Quando chego na faculdade, Renatinha parece farejar meu


cheiro, porque ela surge do nada, correndo em minha direção.
— Eiii!!! — fala de uma maneira exagerada e me abraça.
— Oi.
— Você sumiu o final de semana todo — diz se afastando.
— Te liguei centenas de vezes.
— Fiquei em casa assistindo série, estava indisposto. —
Sorrio amigavelmente. — Bom, vou nessa, estou atrasado.
— As turmas do oitavo período estão no auditório, está
tendo uma espécie de palestra da nova orientadora — explica.
Caminho para o auditório e ele está cheio, geralmente,
quando há palestras, a maioria dos alunos fogem, mas hoje, por
algum motivo, todos estão aguardando a palestrante que eu
passei a conhecer de uma maneira mais íntima dias atrás. O
mais engraçado é que 60% das pessoas aqui presentes são do
sexo masculino.
Me acomodo na primeira fileira, onde há algumas vagas
ainda e aguardo. A coordenadora do curso surge ao palco, diz
algumas palavras e então convida Ava, que vem num estilo
próprio, usando uma roupa que parece de uma professora
chique, refinada e estilosa.
— Boa noite! — ela diz sorridente e o coro de boa noite
surge. — Bom, embora eu não seja orientadora de todos
presentes aqui, fui convidada pelo conselho da universidade a
dar uma palestra sobre o temido Trabalho de Conclusão de
Curso, popularmente conhecido como TCC.
— Ela é gostosa demais, puta que pariu, estou tentado a
armar algo com a Mada só para conseguir trocar de orientadora.
— Ouço um idiota falando ao meu lado. Mada é uma orientadora
antiga na faculdade e esse idiota é o cara que será expulso da
merda do auditório.
Ava continua falando e eu me sinto um babaca, ela fala,
fala, fala e eu não ouço porra alguma. Mas quando o idiota do
lado volta a abrir a boca, eu ouço tudo e engulo a seco a
vontade de socá-lo apenas por respeito à mulher que está no
palco, dividindo um pouco de sua experiência com todos nós.
Ela se move de um lado para o outro, gesticula com as
mãos e sorri ocasionalmente. Em alguns momentos a vejo
buscando alguém com os olhos, mas ela nunca encontra.
— Olha esses pés...
— Cala a porra da sua boca por gentileza? — peço ao
imbecil pela primeira vez. O cara está tarando até mesmo os pés
de Ava, tudo tem limite.
Estalo meus dedos buscando um pouco de controle e vejo o
momento exato em que os olhos dela capturam os meus. Seu
rosto até mesmo ganha um rubor, deixando-a ainda mais bonita
do que realmente é.
O imbecil ao meu lado continua fazendo piadinhas e,
quando Ava encerra a palestra, junto com ela é decretado o fim
da minha paciência.
— Terei que ir ao banheiro dar uma descarregada, olha
aquela bun... — Eu não dou tempo para que ele possa terminar
a frase. O pego pela camisa e saio o arrastando rumo a saída
sob o olhar e burburinho de todos. Ele deu o azar de me pegar
em um péssimo estado de humor. — Calma aí, Gabriel.
— Não, você vai aprender a respeitar as mulheres, vai
aprender a respeitar a minha... a orientadora — digo
caminhando com ele pelo corredor, rumo à praça de esportes.
— Gabriel! — Ouço a voz da coordenadora, mas ela não
será páreo para me fazer parar.
— Você parece um moleque no cio, um babaca de merda.
Deve ser o tipo que vai em baladas e fica esfregando o corpo
em mulheres que nem mesmo te dão condições. Não é assim
que as coisas funcionam ou talvez você não tenha encontrado
ninguém louco o bastante para chutar sua bunda, babaca.
— Gabriel! — Agora é uma voz que eu conheço bem, mas
ela também não vai me conter.
Quando chego na praça de esportes, o jogo na parede e
dou uma joelhada em seu projeto de pau, que o faz cair direto
ao chão. O levanto com uma só mão, mas, antes que meu
punho se choque em seu rosto, sou pego por trás. Usando os
aprendizados do Jiu-jitsu, Ava bloqueia meu golpe com seu
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antebraço e me aplica um Kimura , que impede toda e qualquer
chance de eu socar o imbecil. É até engraçado, mas me
mantenho paralisado apenas porque não quero machucá-la,
pois hoje, se eu reagir, certamente farei um estrago e nunca me
perdoarei se machucar uma mulher, mesmo que ela seja a
personificação do Kung Fu.
— Ava, minha querida...
— Retire o garoto daqui, por favor, eu lido com Gabriel —
ela diz à coordenadora que obedece ao seu pedido
prontamente. Demora algum tempo até que ela me solte e eu
estico meus braços, alongando. Então me afasto o suficiente e
fico olhando a piscina, para evitar de encará-la. — Que merda
você estava indo fazer? — questiona num tom que me deixa
apreensivo. — Esse local aqui não é um colégio, Gabriel, onde
você pode ficar arrumando briga com os amiguinhos. Aqui é
uma universidade de renome e você está prestes a se formar,
prestes a tornar-se um advogado. — Sermão do caralho. Eu
nem respondo. — Gabriel? Eu estou falando com você. — Ela
me puxa pela camisa e eu sustento seu olhar. — Qual o motivo
de tudo isso? Por que está agindo como um instável pré-
adolescente?
— Eu o ouvi falando merda sobre você a palestra toda, por
fim, ele sugeriu que estava indo se masturbar por você.
— Você está com ciúmes? — ela indaga passando as mãos
no rosto e dá uma risada nervosa. — Você bateu nele por que
está com ciúmes de mim?
— Eu bati nele porque ele estava desrespeitando uma
mulher, ao meu lado. Não tenho ciúmes de você, está louca? —
pergunto. — Acontece, que esse filho da puta deve ser uma
espécie de pervertido, você certamente não é a primeira e nem
será a última mulher sobre quem ele dirá perversões, como um
tarado maluco.
— Se sente mais calmo agora?
— Não, eu não me sinto mais calmo. Na verdade, estou
frustrado de todas as maneiras possíveis.
— Por não bater o suficiente para matar o garoto? —
questiona e eu não respondo.
— Anote o número do seu celular — peço entregando meu
celular a ela. Ela começa a digitar e eu noto que está um pouco
mais bronzeada. — Você está bronzeada.
— Eu passei o final de semana em Ilha Grande, com meu
pai e meus irmãos — explica e me entrega o aparelho de volta.
— E você? O que fez o final de semana?
— Fiquei em casa, assisti todas as temporadas de Billions.
— Ela ri como se não estivesse acreditando, eu permaneço
sério.
— Qual o seu problema, Gabriel? Está mal humorado e
chato. — Antes que possa responder uma voz irritante surge:
— Bielll! — Renatinha grita. — O que aconteceu? — Ava dá
um sorriso nervoso e resmunga algo.
— Está tudo bem, pode ir — digo dispensando-a.
— Seu grosso!
— Bem grosso mesmo — Ava diz baixinho.
— Renata, está tudo bem, você pode ir.
— Mas...
— Ele disse que você pode ir, Renatinha — Ava avisa em
um tom gélido.
— Ela não é aquela mulher que nos viu no corredor? —
Renatinha se dá conta, então abre a boca em espanto. — É ela!
— Prazer, Ava Albuquerque — Ava fala estendendo a mão
para Renatinha, que a pega timidamente. Ava quase quebra o
braço dela balançando. — Bom, Renatinha, no diminutivo, eu e
meu aluno estamos resolvendo questões importantes que
ocorreram na noite de hoje, eu ficaria feliz que se você nos
deixasse a sós. Quanto antes você for, maior a chance de
manter meu bom humor.
— Você gosta dela? — Renatinha questiona com lágrimas
nos olhos. Ela ainda não entendeu que não há mais nada entre
nós, mas também não serei escroto.
— Depois conversamos, ok? — respondo.
Renatinha se vai e eu encaro Ava Albuquerque.
— Ah sim, depois conversamos... Você é tão fofo,
cuidadoso e carinhoso com ELA — Ava diz rindo.
— Ciúmes?
— Impaciência — explica. — Sem contar que detesto
pessoas frígidas.
— Ok, Ava, seu pai foi embora?
— Não tão cedo. Aliás, me desculpe por não ter despedido
de uma forma legal. Ele tende a ser extremamente possessivo.
Inclusive, ele vem me buscar na faculdade hoje. — Porra...
— Diga a ele que não precisa te buscar.
— Mas ele disse que vem, quase impôs — argumenta.
— Qual a sua idade? Você disse que mudou para o Brasil
em busca da sua liberdade e independência, mas aí seu pai vem
vê-la e você continua seguindo mandamentos como se fosse
uma garota de doze anos. Se quer ser livre e independente, é
você quem tem que começar a trabalhar isso. Tem que se impor
Ava, ou nada mudará. Pelo pouco que vi do seu pai, é ele quem
precisa tirar a viseira e enxergar que você é uma puta de uma
mulher foda. Por isso, o primeiro passo é você pegar a merda do
celular e dizer com firmeza que ele não precisa vir buscá-la.
Diga que vai embora com uma amiga, de táxi ou apenas diga
qualquer merda. Enfrente, lute pela sua liberdade.
— A coordenadora me ofereceu carona... — Ela gosta de
me irritar.
— Isso, vá com a merda da coordenadora, ao menos você
já começa impor que não é tão criança e mimada quanto parece.
Seu pai precisa enxergar e você também — digo e a deixo
sozinha.
Volto para a aula e passo a me concentrar nos estudos.
Foda-se também se ela quer que eu fique implorando e
mimando, não tenho paciência para esse tipo de situação. Não
farei isso. Mais uma semana e eu consigo tirá-la do meu
sistema. É em cima desse propósito que irei trabalhar a partir de
agora.
No final da aula pego minha mochila e caminho rumo ao
estacionamento, quando me aproximo do meu carro, Ava está
encostada nele me esperando. Porra louca do caralho.
— Ei.
— Oi.
— Liguei para o meu pai, enfrentei, como você me
aconselhou — Diz.
— Isso aí, parabéns.
— Eu disse a ele que vou dormir na casa de uma amiga,
então, espero que você conheça algum lugar bom para
passarmos a noite Piroca Baby, e que possamos fortalecer não
apenas a amizade, mas uma boa foda essa noite. Você paga! —
Ela pisca um olho e dá um sorriso devasso que me faz ficar duro
no mesmo instante.
Estou um pouco louco por essa mulher, tanto que, sem me
importar em sermos pegos, a pego em meus braços e beijo sua
boca.
Consigo pensar em alguns lugares para passarmos a noite,
eu pagaria muita grana por isso.
Maldição! Eu não estou normal hoje, de forma alguma. Sinto
que estou prestes a ter um infarto fulminante ou algo parecido.
Assim que saímos da faculdade, eu já tenho meu destino
em mente. Então, apenas passamos no Carrefour 24 horas,
compramos algumas roupas básicas (sem Ava saber nosso
destino), e agora estou a quarenta minutos dirigindo, mais
especificamente na Dutra, próximo ao pedágio que nos leva à
serra de Petrópolis. Porém, sinto que preciso respirar um pouco
de ar puro, por pelo menos cinco minutos, antes que eu perca o
controle e nos mate. E é isso que faço após dirigir por mais
alguns minutos após passar o pedágio. Diminuo a velocidade e
tento encontrar na serra um local onde eu possa estacionar por
alguns minutos.
Quando paro o carro, Ava parece se assustar:
— O que aconteceu?
— Só preciso de cinco minutos, fique aqui, nada aconteceu.
— A tranquilizo e desço do carro. A vista daqui é fantástica pra
caralho, tão linda quanto a visão da mulher que está em meu
carro. O que difere as duas é que olhando a cidade aqui do alto,
tudo parece calmo o bastante. Já Ava, você a olha e percebe o
furacão de mulher que ela é.
Eu só não compreendo o que está acontecendo comigo
hoje. Eu estou muito desesperado desde que amanheceu e Ava
está fixada em minha mente, mesmo estando ao meu lado. A
sensação de frustração está forte, talvez por eu saber que ela é
geniosa e arisca. Por saber que, o que estamos fazendo,
provavelmente não nos levará a qualquer lugar. Tornei-me um
viciado que tem que se manter no controle para lidar com ela.
Sinto que não posso ser cem por cento eu quando estamos
juntos. Tenho que ficar podando um pouco meus atos, minhas
palavras, minhas ações.
— Está acontecendo alguma coisa? Está se sentindo mal?
Nós podemos voltar. — Ava surge ao meu lado e eu a observo.
Como uma mulher pode ser tão sexy e sensual naturalmente?
Eu não conheço uma resposta para essa questão e nem mesmo
sei se existe. — Por que está me olhando dessa maneira? Estou
começando a ficar assustada. Onde estamos indo?
— Você vai gostar, tenho certeza. Está tudo bem, só
precisava de um pouco de ar puro. Estou um pouco ansioso hoje
— esclareço e ela balança a cabeça em compreensão.
— Há algo acontecendo? Algum problema familiar? Ansioso
por algo? — Sorrio e balanço a cabeça em negação.
— Não há nada. Vamos? — Ofereço a minha mão a ela, e
ela a pega. Então caminhamos de volta ao carro, onde abro a
porta para ela entrar. Me acomodo, coloco o cinto, respiro fundo
e sigo meu caminho, um pouco mais calmo. Aliás, hoje já tive
dezenas de picos de calmaria, que duram poucos minutos.
Conforme combinado, paro na Casa do Alemão para
lancharmos. Ava desce animada, saltitante.
— Eu vinha sempre aqui quando era criança — comenta
rindo. — Eu amo esse lugar, com todo meu coração. Posso
escolher o que vamos comer? Você precisa confiar no meu bom
gosto.
— Pode. — Sorrio porque ela se parece como uma criança
agora, saltitando em seus saltos gigantes. Eu sempre paro aqui
e talvez ela vá pedir algo que eu certamente já tenha comido,
mas fingirei que não comi apenas para não tirar o sorriso do
rosto dela.
Nos acomodamos em uma mesa e ela pega o cardápio,
folheia alguns minutos e pede ao garçom o meu lanche
preferido.
— Você vai amar, vem com um molho delicioso — diz.
— Deve ser realmente bom, pela sua empolgação.
— É fantástico, eu sou muito comilona, Deus, eu deveria
não ser. Queria ser fitness, mas todas minhas tentativas
fracassam. — Eu rio. Ela é realmente comilona e eu nem sei
para onde vai toda a comida que come.
— A genética é generosa com você.
— Modéstia à parte, sim. — Concorda sorridente. Eu gosto
do quão segura é consigo mesma, é algo admirável e sexy ao
mesmo tempo. Não existe nada mais sexy que uma mulher
segura de si, que sabe o quão poderosa é. Ava é assim. — Está
um pouco melhor?
— Não, mas ficarei bem — afirmo e ela morde o lábio
inferior, eu juro por Deus, é preciso tudo de mim para não socar
a mesa.
O lanche chega e eu começo a atuar, provando como se
fosse a primeira vez na vida.
— Se for ruim, você estará encrencada.
— Duvido que seja ruim, mas gosto de estar encrencada de
qualquer forma — fala e eu mordo o sanduíche sob seu olhar
curioso e ansioso. Eu já disse que ela se parece como uma
criança empolgada? Sim, eu disse, mas vale a pena repetir.
— Hum, Ava Albuquerque, desorientadora, eu beijaria sua
boca agora em agradecimento se ela não estivesse cheia. É o
melhor sanduíche que já comi, parabéns.
— Tem que colocar o molho, fica ainda mais incrível. —
Sorrio e coloco o melhor molho que já comi centenas de vezes e
pretendo comer todas às vezes que for para Minas. Mordo o
sanduíche e faço cara de surpresa, ela até cora, achando o
máximo que eu esteja gostando. Está orgulhosa de sua escolha
e eu não quero estragar isso.
Comemos o lanche todo e Ava vai buscar algumas trufas.
Quando vou pagar a conta, descubro que ela já pagou.
— Por que diabos você pagou a conta?
— Porque eu tenho dinheiro e porque quis, algum
problema? — questiona.
— Apenas atente-se a algo que vou dizer, quando você está
comigo, eu pago a conta e ponto final — informo e ela chega o
dedo na minha cara.
— Eu não obedeço a ninguém. Sou independente
financeiramente, eu pago o que quiser e quando quiser. Eu disse
que você pagaria o hotel e quis pagar o lanche. Então,
resumindo, você paga o local onde vai me comer e eu pago o
outro tipo de comida. — Deuses da ereção, me ajudem porra!
Meus batimentos cardíacos até aceleram com essas palavras.
— Eu nunca pagarei um motel.
— Não estamos indo para um motel.
— Mas estamos indo foder seja em um motel, hotel ou até
seu carro. O importante é...
— Você deveria utilizar o mínimo de pudor em locais
públicos — repreendo a pegando pela mão.
Novamente a acomodo no carro e dou a volta. O resto da
viagem é muito rápido, em menos de vinte minutos estou
subindo a estradinha rumo ao hotel. Ava parece um pouco
boquiaberta quando estaciono.
— Chegamos.
— Como você sabia? — pergunta.
— Eu sabia? Do quê?
— Como conhece esse lugar? — Acho estranha sua
pergunta.
— Em dezembro estava indo para Minas de carro, passar
férias, e então começou um temporal muito forte, não dava para
enxergar um palmo à frente, por isso, eu e Davi passamos a
noite aqui até o tempo firmar para podermos continuar a viagem.
Desde aquela noite, eu penso que aqui é um bom lugar para um
casal de namorados aproveitar, não que sejamos um casal de
namorados.
— Ok.
Pego nossas coisas no carro e caminho rumo à recepção.
— Boa noite senhores — uma recepcionista diz.
— Boa noite, não fizemos uma pré-reserva, mas
gostaríamos de um chalé para passarmos a noite.
— Tem alguma preferência senhor?
— Sim, quero a mais completa e mais confortável, que
tenha a melhor vista indevassável das montanhas. — Passo
meus dados para ela e, após alguns minutos, somos liberados.
— Ok senhor, vocês precisarão fazer uma pequena
caminhada de três minutos. Tenham uma boa estadia. Se
precisarem de qualquer coisa, basta solicitar o serviço de quarto.
— Obrigado. — Sorrio e rumamos em busca do chalé. Vejo
a dificuldade de Ava com o salto e a pego no colo.
— Merda, Gabriel! Eu posso andar — fala e eu rio.
— Você mal está conseguindo se equilibrar nesses saltos.
Seja uma boa menina, Ava.
Ela fica quietinha e logo que chegamos ao chalé, a coloco
no chão. O abro e ela já vai logo retirando os sapatos, sem nem
mesmo se importar com a decoração. Geralmente mulheres se
importam com isso, não Ava.
— Me diga o que estamos fazendo aqui? Logo aqui.
— Estamos tendo um momento nosso.
— E por que esse local? Você decidiu esse local do nada?
— pergunta de costas para mim, apoiando as mãos sobre a
mesa e abaixando sua cabeça. Porra, que mulher difícil. O que
há de errado?
— Que merda há de errado com esse local? Por que você
tem que complicar coisas simples? Eu já disse, desde que vim
aqui com meu irmão, me encantei e quis trazê-la aqui. Isso é
tudo. Por que tem que haver uma justificativa?
— Meus pais... há toda uma história nesse lugar. Todas às
vezes que passávamos aqui, meus pais mostravam a placa
desse hotel e praticamente suspiravam, lembrando de uma vez
que estiveram neste local. É uma história longa, mas resumindo,
eles ficaram sete anos separados, minha mãe se mudou para
Itália, então, quando voltou ao Brasil, passaram um tempo
afastados e foi aqui, exatamente aqui, que eles voltaram a ficar
juntos. É apenas coincidência que estejamos logo neste local.
Eu sempre quis conhecê-lo, pois meus pais atiçavam bastante
minha curiosidade e agora estou aqui, com você.
Me aproximo e inalo o cheiro dos seus cabelos. Os afasto
de suas costas e beijo sua nuca. O assustador é que todo meu
corpo está tremendo enquanto faço isso.
— Little Girl. — Cochicho em seu ouvido e torno a beijar sua
nuca. — Fique nua para mim — peço e ela se vira de frente.
— Você está tremendo. Está sentindo algo?
— Tesão, adrenalina, frustração — confesso e ela avança
para tirar minha blusa. Eu apenas deixo, facilitando o processo.
Chuto meu tênis e minhas meias para longe, em seguida
sou empurrado até a parede. Ela cai de joelhos diante de mim,
abre o zíper da minha calça e eu ajudo a retirá-la, chutando a
peça para longe. A próxima peça a ser retirada é minha cueca e
meu pau salta empinado, duro e extremamente necessitado.
— Deus! Piroca Baby, apenas pare de tremer, estou ficando
preocupada.
— Eu preciso de uma dose de você. — Ela sorri e fica de
pé.
— Sou sua para o que quiser.
— Qualquer coisa que eu quiser? — pergunto com
seriedade.
— Qualquer coisa.
— Lembrarei disso e cobrarei. — Ela me puxa pelo braço e
me joga na cama. Como um strip-tease, a observo se despir. A
mulher é sofisticada até mesmo em suas lingeries, é visível que
gosta de se cuidar, que gosta de estar sempre com o melhor.
Geralmente eu não ligo para lingeries, mas as dela me atraem e
estou percebendo estar começando a me importar com o que
era apenas um detalhe.
Quando está completamente nua, ela vem para cama,
montando minhas pernas e eu reivindico sua boca prontamente.
Minha vontade de beijá-la nesse momento, está gritando mais
alto e mais forte que a vontade de me enterrar dentro dela.
Deslizo minhas mãos pelas suas costas e ela ofega em
minha boca. Eu não consigo conter meus sentimentos e eles
estão claramente sendo expressos em sons de prazer.
Geralmente sou silencioso em momentos íntimos, mas apenas
não estou conseguindo controlar porra alguma hoje e eu
gostaria de uma explicação lógica para toda essa merda.
Deixando de lado os pensamentos conflitantes, inverto a
posição, deixando-a por baixo.
Quando nossos copos se conectam, sou obrigado a afastar
nossos lábios para respirar.
— Meu Deus! — Nós dois falamos juntos e eu capturo
novamente seus lábios. Não quero compreender essa merda de
conexão que nos liga.
Incrível, não sou o único a tremer. Ava também está
tremendo.
Nós transamos nos olhando, trocando sons e toques. E
acordamos na manhã seguintes quase um dentro do outro.

— Bom dia! — Ava diz animada e eu ainda me encontro


sonolento o bastante.
— Bom...
— Você parou de tremer, Piroca Baby.
— Você foi o antídoto da minha doença — digo a puxando e
cheiro seu pescoço. A noto ficar tensa e então a faço virar o
rosto para mim. — O que há, Little Girl?
— Você está carinhoso — diz como se isso fosse algo
anormal.
— Eu sou, não?
— Não, nem um pouco. Você só é carinhoso com a
Renatinha. — Seguro a vontade de rir.
— Você está com ciúmes?
— Nunca! É mais fácil eu raspar minha cabeça ou tatuar
todo meu corpo do que ter ciúmes de você. — Eu rio.
— Está com ciúmes sim. Posso te contar um segredo?
— Pode.
— Eu bati no imbecil por ciúmes — confesso e ela engole a
seco.
— Você ficou com ciúmes de mim? — Balanço a cabeça
confirmando e ela ri. — Oh meu Deus, Piroca Baby, tem ciúmes
de mim! Nós nem... quer dizer... ok, esqueça tudo.
— Eu não me senti confortável o ouvindo chamar minha
Little Girl de gostosa.
— Sua? Por que me chama de Little Girl?
— Minha. Porque você tem cara de Little Girl, de uma
garotinha travessa. Você faz uso de anticoncepcional?
— O que é tudo isso? — pergunta parecendo confusa, tanto
quanto eu.
— Eu e você.
— Eu não sou sua e não, não faço uso de anticoncepcional,
mas tomei pílula e tomarei novamente — ela diz olhando para o
teto.
— Você é minha e por isso irá ao médico ainda essa
semana, pílula do dia seguinte é muito agressiva ao organismo,
tanto que só deveria tomar 2 vezes ao ano, com intervalo de
seis meses. Não quero ser pai, ainda, e acredito que você não
queira ser mãe. Se queremos sexo sem proteção, temos que ser
cuidadosos.
— Não quero ser mãe e não sou sua. Você é jovenzinho.
— Você sabe que é minha, sou mais maduro do que você
pode imaginar. — Ela suspira. — Se você não fosse minha, ou
melhor, se não quisesse ser minha, estaria em qualquer outro
lugar, menos aqui. Você escolheu isso, enfrentou o seu pai para
estar comigo, não há como fugir. Basta enfrentar suas escolhas.
Você sabe muito bem tudo o que aconteceu essa madrugada.
— Estou morrendo de fome! — Isso me faz rir, porque ela
está desconversando.
— Você não vai fugir tão fácil. Antes de irmos embora nós
teremos uma conversa de adultos — aviso ficando de pé e
caminhando rumo ao banheiro.
— Você é um grosseirão, nada carinhoso! Eu nunca serei
sua! Você não é carinhoso comigo. — Que diabo de mulher!
Quando estou perto dela, não fico quase 1 hora sem passar
raiva.
— Você já é, tente fugir e eu passarei por cima de você
como um trator.
— Tente, seu idiota.
— Você disse essa madrugada que era minha para eu fazer
o que quiser — digo voltando e a encarando friamente.
— Disse..., mas eu estava com tesão, então não conta. —
Ela é tão infantil que me irrita.
— Conta. Eu disse que cobraria o que quero. Eu quero
você, quero que seja minha.
Pela primeira vez na vida eu estou com medo. Não há como
não estar. Sem contar que estou agindo como uma pré-
adolescente.
Sou conhecida pelo meu modo arisco e por botar muita
gente embaixo do meu salto agulha, por nunca em hipótese
alguma ceder ou ser maleável. Mas, em uma semana, vi todos
meus paradigmas sendo quebrados e enfrentei meu pai para
estar em um hotel com um garoto seis anos mais novo que eu.
Garoto esse que tem algum tipo de pacto com forças ocultas.
Nós comemos no mesmo local onde meu pai me levava
para comer, dormimos no mesmo hotel que meus pais se
reconciliaram, moramos no mesmo prédio onde ele passou a
infância, somos vizinhos, sou orientadora dele e ele o único ser
humano que posso dizer ser compatível comigo na cama. Sim,
porque todos os homens que já fui para a cama possuíam ao
menos um defeitinho que os tornavam meros mortais. Gabriel
ainda não demonstrou qualquer defeito de fabricação na cama,
muito pelo contrário, talvez seja eu quem esteja mostrando,
porque me tornei muito sensível ao toque e às investidas dele.
Eu tornei alguém que nunca fui, até mesmo carinhosa, coisa que
não sou. Geralmente sou gélida, impessoal e só permito ceder
um pouco durante o sexo. Com ele está sendo bastante
diferente. Eu posso dizer com a propriedade de quem teve
muitos parceiros sexuais desde os dezessete anos de idade, eu
nunca havia sentido tanto prazer em toda a minha vida. E
confessei isso a ele, no meio de um orgasmo, essa madrugada.
Logo, estou morrendo de ódio de mim mesma. Eu deveria
continuar sendo a mesma Ava, ou até apelar para as práticas de
interpretação, como uma atriz, mas se existe algo que sou é
verdadeira, tanto que não consigo fingir antipatia ou simpatia. Se
eu gosto de você, eu gosto. Se não gosto, foda-se. Eu gosto de
Gabriel. Não de uma forma amorosa, mas eu gosto porque
existe algo incompreensível entre nós dois.
Pode parecer tolice, poético ou que eu esteja na fase Luma
de viver a vida, porém, sabe quando você sente uma força te
puxando, atraindo, incitando e seduzindo? É isso. É uma
situação que eu gostaria de fugir, mas quanto mais me esforço
para isso, mas me vejo infiltrada, mas me vejo querendo. Eu
apenas preciso tentar retomar o controle sobre mim mesma e
sobre a situação, porque estou perdendo tudo, inclusive minha
fama de ser fodona.
Além de toda a merda citada acima, tornei-me patética,
porque estou sentada numa rede, secando o garoto que está em
pé, mexendo em seu celular.
Ele é muito gostoso, tipo excessivamente gostoso. E há
todas essas tatuagens pelo seu corpo, os piercings. Deus, eu
nunca imaginei que um piercing em um nariz masculino seria
algo tão quente. Nunca imaginei que piercing e brincos em uma
orelha masculina era algo tão... tão simétrico. E há também essa
barba, que se encaixa tão bem nesse rosto que não consigo
imaginá-lo sem ela, NUNCA! E a boca dele? Essa boca
certamente faz um estrago em grandes proporções. É carnuda,
desenhada, gostosa. Até as mãos dele são lindas.
Quando dou por mim, estou mais uma vez diante dele,
implorando silenciosamente para um pouquinho mais. Mas,
então, eu olho para o seu celular e vejo algo que definitivamente
não gosto.
— Você não está fazendo isso comigo — digo rindo de
nervoso. — Eu devo estar vendo errado.
— Você apenas está entendendo errado, realmente.
— Nós estamos na porra de um hotel e você está vendo
foto com a ex? É isso mesmo? — questiono entrando de volta
para o chalé. Não tenho sangue de barata e nem mesmo
vocação para ser feita de idiota.
— Ava, pegue a merda do meu celular e veja o horário que
eu recebi essa merda. Apenas abri para ver do que se tratava e
você chegou. Ela não é minha ex, nunca foi minha namorada. —
Eu estou brigando por ciúmes? Meu Deus, eu cheguei no fundo
do poço completo. — Por que você está chorando?
— Eu não estou chorando!
— Você está.
— Não estou, inferno! Quero ir embora, agora! — grito e
bato a porta do banheiro. Meu choro é apenas por perder o auto
controle que eu sempre possuí, apenas isso. A pior sensação do
mundo é perceber que você já não consegue controlar a si
mesma.
— Ok, vá embora, Ava. Eu não estou indo, se quiser pode ir
em meu carro — avisa invocando todas as minhas forças do
mal. Passam alguns minutos até que ele volte. — Abra essa
porta Ava, nós precisamos ter uma conversa.
— Não.
— Porra! — ele diz dando um murro na porta. — Você me
deixa puto pra caralho quando age como uma criança de três
anos. Pare com essa porra, você tem 29 anos de idade, merda.
Enfrente.
Me sinto ainda mais patética, por isso abro a porta e
enfrento. Ele me entrega o celular dele e eu engulo a seco,
lutando entre ver ou entregar de volta.
— Não foi a única foto que recebi essa manhã. — A
curiosidade vence após ele falar isso, então eu vejo uma outra
foto, do contato: Luana. Ou seja, essa manhã ele recebeu foto
de Renatinha e Luana. Minha raiva aumenta.
O pior é vê-lo carinhoso com as duas. Eu sinto dor pela
primeira vez, uma pontada forte no peito que quase me deixa
sem ar. Por que ele é carinhoso com elas e não consegue ser
carinhoso comigo? O que há de errado comigo? Eu juro que
estou sendo maleável, cedendo, mas parece que não está tendo
efeito algum. Gabriel parece inalcançável para mim, apenas
para mim. Eu nem mesmo consigo explodir com ele agora.
Por que ele disse que eu era dele? Por que ele disse que
me queria se é tudo mentira?
— Eu não tenho culpa, Ava. Elas fazem parte do meu
passado e não consigo controlar os sentimentos das pessoas.
Mal estou conseguindo controlar os meus. A única certeza que
tenho é de que quero você, de uma forma insana, possessiva,
desesperadora.
— Por que você é carinhoso com elas e não pode ser
carinhoso comigo? Veja essas fotos, há um excesso de carinho
nelas e você é bastante frio comigo. Só essa madrugada que
você foi um pouco carinhoso, mas então, no início da manhã
voltou a esfriar.
— Porque eu sabia que elas gostavam de mim, Ava. Muito.
E, por mais que não quisesse nada sério com elas, apenas
retribuía o carinho que me davam, é o mínimo que eu podia
fazer já que transávamos. Já você, eu nunca sei o que esperar.
Você é a complexidade ambulante, Ava. É arisca, audaciosa,
impositiva, arrogante muitas vezes e não a quero para o sexo.
Eu disse que queria você e o que você fez, Ava? Você
simplesmente me deixou falando sozinho e foi pedir nosso café
da manhã. Por mais que eu a queira muito, não vou me sujeitar
a tudo, muito menos me humilhar. Não sou grosseiro com você,
sei disso, mas também não consigo ser quem sou porque você
me dá todos os motivos para ser receoso.
— O que eu posso fazer para mudar isso? — pergunto
entregando toda minha vulnerabilidade de bandeja. Merda, eu
não estou sendo racional com ele. Era mais fácil ser a Ava, real
oficial e não essa que ele descobriu. — Eu quero ir embora. —
Eu preciso fugir disso, não sei lidar com a minha vulnerabilidade.
— Você é... Porra, Ava! Quando eu penso que estamos indo
conseguir chegar a um denominador comum, você dá três
passos para trás. Fica difícil para caralho. Você reclama de
carinho e então faz tudo para invocar minha frieza. Eu não sei
lidar com você, compreende agora o porquê é tão difícil? É difícil
pra caralho. Você me deixa num estado de frustração que
ninguém nunca deixou. Eu queria continuar com você, só eu e
você, nem mesmo estou pedindo um rótulo, mas como fazer
isso? Você não ajuda, Ava, apenas foge o tempo inteiro e age
como uma criança mimada. O único momento em que deixa de
lado essa porra é quando estamos transando ou quando está na
faculdade, exercendo seu trabalho. Fora isso, até em conversas
idiotas você age com imaturidade. E ainda me chama de
criança. — Ele ri nervoso.
“Tudo o que vejo é que falta muito para você chegar no meu
nível de maturidade. Muito. Por isso, é essa a conversa séria
que eu quero ter com você. Séria e definitiva. Estou tentando,
Ava. Eu passei a porra do final de semana todinho desesperado
por você, de uma maneira que nem mesmo conseguia
compreender. Eu tive que ligar para a minha mãe, que é
psicóloga, para poder acalmar tudo que estava sentindo. Eu
nunca corro atrás de mulher alguma. Para mim, sexo é sempre
casual e uma vez só. As poucas garotas que transei mais de
uma vez, foi porque elas vieram até mim e eu adquiri algum tipo
de amizade com elas pelo fato de fazerem parte do meu dia a
dia, na faculdade. Fora isso, sempre foi apenas uma vez, sem
chance para segundas. Nenhuma delas, nem mesmo as que eu
repeti, me deixaram da forma como você deixa. E você sente o
mesmo, Ava. Não adianta fugir disso, mentir. Suas ações falam
por si. Você enfrentou até mesmo seu pai, só hoje você já
rejeitou ao menos quatro ligações dele, tudo porque quer estar
comigo. Mas é incapaz de assumir isso, completamente incapaz.
Você viu que maldição nós tivemos essa madrugada? Eu não
sei você, mas nunca havia sentido aquilo, nunca. Você disse o
mesmo, disse que nunca havia sentido tanto prazer. Por que é
tão difícil? Cadê a porra da mulher empoderada que eu conheci?
Me mostre ela, Ava. Porque foi ela quem me deixou maluco e
não essa que está aqui agora. — Eu não consigo formular uma
frase e ele suspira frustrado. — Posso dizer que ficar com você
foi uma das experiências mais satisfatórias da minha vida,
porém, paramos aqui, Ava. Não consigo ser casual ou
masoquista comigo mesmo, ok? Troque de roupa, nós estamos
indo embora — avisa pegando sua carteira na cama e uma
camisa. — Já volto para pegá-la.”
Ele sai e eu caio de bunda na cama, chocada. Pego meu
celular e ligo em desespero.
— Meu amor.
— Mãe, eu estou perdendo um garoto. Mãe, ele... nós
vamos embora e eu não sei lidar. — Ela faz uma chamada de
vídeo e parece assustada ao me ver. Eu corro até a porta da
suíte e fecho a porta com chave.
— Ava, filme esse lugar, por favor — ela pede e eu inverto a
câmera para mostrar o local. — Oh, Deus, você está em
Petrópolis? — indaga. — Eu... já estive nesse quarto com seu
pai. Com quem você está aí? Seu pai sabe disso? Mostre mais
desse lugar. — Eu mostro e quando giro a câmera ela está
limpando algumas lágrimas. — Filha, esse quarto foi onde eu e
seu pai nos reencontramos... — Suspira. — O destino te levou
até aí, nada mudou, nem mesmo a decoração e já passaram
mais de trinta anos.
— Mãe...
— Com quem você está aí?
— Gabriel, meu vizinho, nós ficamos uma vez e então
ontem, após a faculdade, eu disse ao meu pai que iria dormir na
casa da coordenadora da faculdade para trabalharmos em algo
e Gabriel me trouxe aqui. Mas agora mãe, nós estamos... nós
nunca mais ficaremos.
— Oh, Ava, você está perdida. Eu sobrevivi para ver esse
dia. — Ela sorri emocionada. — O que há de errado para ser a
última vez?
— Eu não consigo me entregar, mãe. Estou apenas sendo a
pessoa que sempre fui e agindo como uma garota mimada.
— Porque você é mimada, foi mimada a vida inteira e a
culpa disso é do seu pai. Eu sempre disse a ele, que esse
protecionismo uma hora iria impactar negativamente em sua
vida. Agora estamos tendo a prova — diz. — Filha, você está
gostando desse Gabriel?
— Sim — confesso. — Somos compatíveis em tudo, mãe,
exceto na idade, mas parece não fazer diferença porque ele é
muito mais maduro que eu.
— Ava, então é você quem tem que mudar, filha. Por que
você quis mudar para o Brasil? Embora teime em dizer que foi
pelo trabalho, nós duas sabemos que não foi. Foi para você
crescer, andar com as próprias pernas, ter sua liberdade. Foi
porque o excesso de protecionismo estava te incomodando, já
não cabia mais na sua vida. Se você continuar sendo a mesma
Ava, nenhuma mudança acontecerá. A mudança tem que
começar dentro de você. Mudar de cidade, não muda nada em
sua vida se não estiver disposta a mudar internamente. É a sua
personalidade forte que está o afastando?
— Sim, ele disse que me queria e eu sinto que não deveria
querer pertencer a alguém, apenas a mim mesma. O deixei
falando sozinho e fui pedir café da manhã... — Ela ri.
— Ava, alguns homens tendem a ser possessivos, como
seu pai. Eu pertenço a ele, mas eu também pertenço a mim.
Você pode ser desse Gabriel e continuar pertencendo a si
mesma. Quando um homem te reivindica dizendo “você é
minha”, é porque ele quer exclusividade e quer dar isso a você.
Há uma questão sobre os homens extremamente possessivos, a
fidelidade. Eles exigem de nós, mas eles nos dão a mesma
coisa e essa reciprocidade é a coisa mais fantástica de uma vida
a dois. Além de tudo isso, posso dizer com propriedade, é muito
quente ter um homem possessivo, muito quente. — Ela suspira
novamente e balança a cabeça em negação. — Filha, esse é o
momento de abaixar a guarda que esteve levantada uma vida
inteira, desde pequenininha. Você tem tanto de mim, Ava,
porque eu passei sete anos da minha vida sendo exatamente
como você é. Só seu pai conseguiu destruir todas as barreiras
que me mantinham dessa maneira. Ser assim, é sofrimento.
Mude filha, estabeleça uma meta de mudança e corra atrás
disso. Se entregar não dói, abraçar não fere, beijar não arde, rir
não machuca, amar não mata. Ou seja, não há um motivo para
você não ceder um pouco.
— Acho que não dá mais tempo, mãe. Ele saiu para pagar a
hospedagem e já está voltando para irmos embora.
— Você tem o poder de mudar isso, está nas suas mãos.
Se ele está chateado com algo, é porque gosta de você, caso
contrário ele não se importaria, iria querer apenas o sexo e não
ia perder tempo com chateação. Está em suas mãos.
— O que eu posso fazer?
— Você é uma Albuquerque Brandão, saberá exatamente o
que fazer — responde.
— Mas... — eu digo e Gabriel bate na porta.
— Abra, me conte tudo depois ok? Se jogue, Ava, mude e
amadureça, minha filha. É necessário. Eu te amo e sou a
pessoa que mais torce por você.
— Ok mãe, te amo, obrigada.
— Sempre que precisar, meu amor. Te amo e estou
morrendo de saudades. — É impossível não chorar. Encerro a
ligação aos prantos.
— Ava?
— Eu já vou, só preciso de um minuto — digo indo até o
banheiro, onde choro por pelo menos mais dois minutos.
Lavo meu rosto e então vou abrir a porta.
— Ava, vou perguntar pela última vez, por que você está
chorando?
— Não é difícil apenas para você, é difícil para mim
também. Eu fui minha vida toda contida, dona de mim mesma.
Não é fácil mudar da noite para o dia. Eu estive uma vida toda
envolta em uma redoma, tendo tudo que queria com toda a
facilidade do mundo, inclusive homens. Eu brincava com cada
um deles, era quase um esporte. O conheço há apenas duas
semanas, Gabriel. É apenas a segunda vez que ficamos. — Rio
do quão ridículo é tudo isso. — É absurdo. — Digo e ele enlaça
minha cintura com um braço e traz seu polegar em minha boca.
Eu toco seu rosto e não há um resquício de diversão agora. É
assustador.
— Eu quero que seja minha e é a última tentativa, eu juro
por Deus, Ava, não pedirei isso novamente. Seja minha.
— Sua o quê?
— Minha. — Eu o beijo, porque é como um vício beijá-lo.
Quero mais disso, como uma necessidade louca.
— Sua. — Dou o veredito e ele sorri.
— Toda minha?
— Toda.
— Ava Albuquerque, prazer, eu me chamo Gabriel
Salvatore, e a partir de agora, minha missão na vida é torná-la a
mulher mais amada, saciada e feliz do mundo.
Eu e Davi só nos falamos por telefone durante todo o final
de semana e na segunda-feira também.
Hoje é terça-feira e meu pai está insano porque Ava dormiu
na casa de uma “amiga” e eu estou desesperada, com ódio
mortal da minha irmã que parece muito mais esperta que eu no
quesito fugir para transar. Eu não consigo fugir, me sinto
frustrada comigo mesma. Meu pai até saiu a manhã toda, mas
Davi não estava. Ele disse que tem compromisso todas as
manhãs e que é importante.
São quatro da tarde quando Ava surge, linda, plena e
sorridente.
— Papai! — ela exclama radiante e corre para os braços do
meu pai. — Eu te amo.
— Eu te amo mais.
— Desculpe a demora, nós passamos parte da madrugada
trabalhando e parte da tarde também. Muitos processos para
ajudá-la, mas no fim deu tudo certo.
— Eu não sou idiota, Ava. Já tive sua idade — ele diz. —
Nem quero tocar nesse assunto, há dois presentes na garagem
para vocês — anuncia. — Sua mãe me ligou, pegarei voo às
sete da noite. — Eu fico triste, de verdade. Não gostaria que ele
fosse embora, mesmo eu querendo transar com Davi, meu pai
sempre vem em primeiro lugar. Ele faz uma falta absurda. É o
mais fofo de todos os fofos do mundo.
Ava começa a chorar e o abraça. Isso significa que ela está
numa fase sentimental, porque nunca chora com facilidade.
— Me desculpa por ter dormido fora, papai. Eu deveria ter
ficado...
— Não, você deveria ter ido, só se vive uma vez — ele diz
para a nossa surpresa. — Estarei de volta em um mês, sua mãe
virá comigo, ok? — fala e se vira para mim — Até lá,
comportem-se. Eu estou de longe, mas estou de olho em vocês
duas.
— Prometo me comportar como uma princesa — digo
sorridente.
O abraçamos e então descemos até a garagem.
Há uma BMW e uma Land Rover com laços de fitas. Eu já
até sei qual é o da Ava e qual é o meu.
— Oh meu Deus!!!!! — Ela bota a mão na boca enquanto eu
pulo em cima da minha Range Rover Evoque.
O de Ava é uma BMW. Ela é uma viciada na marca.
— Eu amei pai!!!!! — ela grita e ele nos entrega a chave.
— Já aviso com antecedência, sim, o carro é monitorado,
mas apenas para a segurança de vocês. Os carros de Victor e
Lucca também são monitorados, o de vocês não seria diferente.
Juízo as duas, dirijam com cuidado, lembrem-se sempre que
estão no Rio de Janeiro.
— Ok, papai. — Nós duas dizemos juntas e ele sorri
amplamente.
— Minhas garotas! Lembrem-se do que prometeram ok?
— Eu irei ao abrigo amanhã, pai. Estou com algumas ideias
em mente — Ava informa.
— Eu irei com ela, pai. Não se preocupe, iremos sempre
ajudar.
— Vocês são incríveis. Sentirei saudades das minhas
meninas. — Ele beija nossas testas e sua ida chega rápido
demais.
Após deixar meu pai no aeroporto, com os olhos inchados
eu estaciono meu carro na faculdade.
Eu estou dividida entre a culpa e a felicidade. Culpa por tê-
lo deixado ontem à noite e toda a tarde de hoje. Felicidade pelo
motivo que me levou a tomar essa atitude. Um motivo muito
quente e insaciável, tatuado e absolutamente gostoso. Um
motivo que... inferno!
Para o bem da minha saúde mental eu decidi parar de
pensar em Gabriel ao menos no meu horário de trabalho. É isso
o que infiltro em minha mente enquanto caminho confiante rumo
à minha sala. Das sete da noite às dez e quarenta, sem
intervalo, dou assessoria à pelo menos cinco alunos, indicando
artigos e até mesmo um próprio material desenvolvido por mim.
Às dez e cinquenta às aulas encerram e eu guardo todo
meu material em minha bolsa. Caminho pelo corredor e então o
vejo. Meu Piroca Baby, nada baby, piroca grossa baby com
piercing delicioso, está ali...
Por que as garotas ficam em torno dele na faculdade? Eu,
definitivamente, não tenho sangue de barata.
Gabriel está visivelmente incomodado, mas ele é tão
educado que parece não conseguir sair da situação. Mas eu sei.
Aqui não é como nos Estados Unidos onde os professores
são condenados por se envolverem com alunos. Não há
qualquer termo em meu contrato que explicite isso, portanto, eu
não meço minhas ações quando caminho na direção dele.
Eu fico possessa quando vejo que as duas garotas das
fotos dessa manhã estão na roda: Luana e Renatinha.
É preciso respirar fundo para manter a classe. A parte boa é
que ele sai da roda assim que me vê e vem caminhando em
minha direção.
— Você deveria ser menos sexy, Atriz Pornô. — Ele sorri e
o puxo pela camisa, colando minha boca na dele. Demora um
pouco até que relaxe e retribua, mas quando acontece, eu
quase esqueço onde estamos.
— Meu Deus! Piroca Baby, sua boca é um vício maldito!
— Vamos para casa? Por que está com os olhinhos um
pouco inchados? Andou chorando novamente? — questiona
passando os polegares em minha bochecha.
— Meu pai foi embora, agora sou motorizada, tenho um
quase namorado, algumas novidades no dia de hoje — explico
sorrindo.
— Poxa, eu tinha esperança de conquistar seu pai, sabe,
possuo o dom de convencimento, sou muito bom advogado. —
Sorrio.
— Será que é tão bom assim? — Meu tom de provocação
não passa despercebido.
— Quer que eu te mostre? — Um sorriso cresce em meu
rosto e ele aperta minha cintura.
— Me convença a passar a noite com você, então eu darei
a sentença.
Ele se aproxima mais de mim, enfia uma mão entre meus
cabelos, os puxa com força e chega em meu ouvido:
— Se você aceitar dormir comigo pode ser bem ruim,
porque não vou deixá-la dormir. Há uma piroca baby bem grossa
e dura querendo que você sente nela parte da noite. Minha boca
também está salivando para explorar esse corpo e essa delícia
apertadinha que você tem entre as pernas. Eu quero você me
montando, então depois a quero de pernas bem abertas para eu
meter gostoso meu pau em você, depois quero pegá-la de
quatro e dá uns tapas nessa bunda incrível. Quero você na
minha cama essa noite Ava, porque você é minha, para eu
cuidar, amar e foder. — Eu solto um gemido alto e Gabriel
suspira frustrado. — Você precisa aprender a lidar com algumas
situações em público.
— Você precisa aprender a não me excitar em público.
— Eu vou testá-la em diversas ocasiões, e bom que
comece a se acostumar — diz em meu ouvido. — Agora que
você já provou para todas as garotas que é minha dona,
podemos ir embora? — Que ódio!
— Não estou satisfeita ainda — digo, já que ele percebeu
minhas intenções eu vou até o fim. Pego sua mão, entrelaço
nossos dedos e seguimos, passando por uma manada de vacas.
Nenhuma delas ousa dizer nada, nem mesmo responder o
adeus de Gabriel. A parte ruim é que ele também veio de carro,
a parte engraçada é ir apostando corrida, de forma maneirada,
até em casa, a parte excitante é quando ele começa a se despir
ainda no elevador.
A parte louca vem pela manhã, quando descubro mais uma
coincidência. Os pais de Gabriel têm um abrigo para crianças
carentes, assim como os meus pais e toda a minha família.
Eu não sei mais se é destino, coincidência ou algo mais. Só
sei que a cada dia eu fico mais assustada com os
acontecimentos e com meus sentimentos.
Gabriel já é parte de mim e mal nos conhecemos. Há algo
que me liga a ele, algo que quero descobrir.
Ou não.
— Olá!!! — digo e mais uma vez atrapalho a aula das
crianças, porque assim que escutam minha voz, todas saem
correndo e vem me abraçar. — Aeeee, amiguinhos! Tio Biel
chegou!
— Gabriel Salvatore, eu terei que ligar para o seu pai mais
uma vez? — A coordenadora do abrigo vem com um cabo de
vassoura e eu fujo. Todas as crianças saem correndo atrás de
mim e é decretado o final da aula. Para piorar a situação, eu
tenho comigo algumas dezenas de sacos de doces, isso a deixa
possessa. — Passe isso logo para mim, Gabriel, você sabe que
as crianças têm alimentação controlada por nutricionistas.
— Cara, mais não mata comer doce uma vez após o
almoço. Você pode usar isso de chantagem para eles comerem
tudo, eu sou genial. Seus problemas acabaram, dona Soninha.
— falo dando um tapa na bunda dela e ela volta a me perseguir
com a vassoura.
Ava está de longe me observando. Ela quis vir comigo,
conhecer o local, e ficou extremamente abalada quando soube
da existência do abrigo. Mas, por enquanto está apenas
observando. É o momento de tirá-la do anonimato.
— Há uma moça muito linda que tio Biel quer mostrar para
vocês, preparados? — Todos gritam e eu vou buscá-la.
— Eu já disse que sei andar! — ela grita quando a jogo em
meu ombro.
— Conheçam a minha... minha! — exclamo gritando e a
coloco no chão. As crianças avançam sobre ela, a abraçando, e
eu fico rindo.
— Tio Biel, o que é “conheçam a minha, minha?”
— Ela é minha — Me explico ao Mateus, um dos garotos do
abrigo.
— Namorada? — ele pergunta.
— Minha — respondo.
— Mas ela tem que ser sua alguma coisa — dona Soninha
diz.
— Ela é apenas minha. — Sorrio. — Onde está Miguel? —
pergunto.
— Lá dentro. Ele está desanimado hoje — ela informa e eu
deixo Ava com as crianças.
O encontro, um pouco abatido e meu coração aperta dentro
do peito. A pior coisa da vida é ver uma criança doente, frágil,
em cima de uma cadeira de rodas. Eu queria ter o poder de
mudar algumas situações, certamente eu mudaria toda a vida
dele.
— Miguel! — falo agachando diante dele e então ele sorri.
— Camarada, precisamos tomar um pouco de sol hein... — Ele
balança a cabeça negativamente. — E se eu disser que trouxe
uma coisa que você gosta muito? Uma delícia, hummm, me deu
até vontade de devorar tudo agora.
— Bala de dadinho? — ele pergunta e eu rio.
— Será? Não é dadinho, cabeção, é gamadinho. — Ele ri,
mas sempre fala dadinho.
— Dadinho.
— Gamadinho.
— Dadinho. — Eu faço cócegas nele e ele começa a rir.
— Campeão! — Sorrio. — — Ok, é dadinho então. Você
quer?
— Sim. — Fico de pé e saio correndo com ele na cadeira de
rodas até a área externa. Furtivamente, pego alguns dadinhos
para ele, sem que dona Soninha veja, bem estilo contrabandista
de doces.
— Oi! — Ava surge e agacha até ele. — Eu amo dadinho!
— Olho para ela um tanto quanto chocado.
— Por que você chama essa bala de dadinho?
— Porque é quadradinho e parece um dado — explica
sorridente e rouba um da minha mão. — Vocês estão comendo
escondidos?
— Sim, ninguém pode saber desse segredo, Ava. Não é
mesmo, Miguel?
— É segredo — ele diz e ela come escondido.
— Minha família tem alguns abrigos espalhados em Minas e
aqui. — Olho para ela, chocado pela segunda vez no dia. —
Eu... estou ficando perdida em tantas coincidências. O que é
tudo isso? São muitas coincidências entre nós dois, Gabriel. O
mesmo gosto por carros, por comidas, o mesmo temperamento
explosivo, você me levou no hotel onde meus pais se
reencontraram, somos cem por cento compatíveis na cama e
agora estou no abrigo dos seus pais. Nunca acreditei em
destino, mas está ficando difícil permanecer descrente. Fora que
há toda uma energia envolta em nós dois. Como um imã,
puxando um para o outro. — Ela está assustada, tanto que está
dizendo tudo isso na frente de uma criança, que está bastante
atenta ao assunto.
— Ao menos são coincidências boas. Então, está tudo bem,
ok? Fique calma — digo segurando sua mão. — Vamos apenas
viver, sem se importar com coincidências ou destino. É apenas
eu e você. Nós dois. — Tento tranquilizá-la, mas PUTA QUE
PARIU, essa mulher é meu destino. Ela pode não acreditar, mas
eu acredito. Não tem cabimento.
No dia seguinte, vou conhecer um dos abrigos da família
dela e sou eu quem fico encantado quando ela promove uma
tarde de maquiagem com todas as meninas. Assim como tenho
Miguel como meu protegido, Ava se apaixonou prontamente por
um garotinho com leucemia. Foi uma cena que me fez chorar,
vê-lo careca, com uma máscara no rosto e cheio de vontade de
viver. Quando Ava o pegou no colo, eu até mesmo saí de perto,
porque aquilo me tocou de uma forma muito intensa.
Nós passamos todos os dias juntos, e todas as noites após
a faculdade. Restabelecemos nossa rotina de acordar, correr,
acrescentamos o sexo pós corrida, almoçar juntos, dormir
juntos. Simplesmente deu certo, sem forçarmos nada. Nos
encaixamos um ao outro e Ava até mesmo melhorou seu modo
mimada de ser. Acabamos tornando um quarteto, eu, ela, Davi e
Luma, mesmo Luma sendo altamente descompensada.
Agora há algo sobre Ava que é necessário dizer e é
bastante assustador: o apetite sexual. Não é uma reclamação,
obviamente, mas tenho agradecido muito por ser um homem
atlético, cheio de disposição e com um excelente preparo físico.
Satisfazê-la tem sido uma missão do caralho. Quanto mais sexo
eu dou a ela, mais sexo ela quer.
Hoje é sexta-feira, são pouco mais de onze da noite e estou
dirigindo pela Rio-Santos, rumo à Mangaratiba, onde pegaremos
a lancha para irmos para a casa da família de Ava em Ilha
Grande. Está rolando uma conversa muito despudorada e sem
filtro entre ela e Luma. Eu e meu irmão, por enquanto, estamos
silenciosos, apenas prestando atenção.
— Você sabe, o destino está com um ovo atolado no cu. Só
isso justifica. —– Luma está puta, referindo-se ao fato de ter
ficado “naqueles dias” e não ter conseguido transar com Davi
até a presente data. — Mas, como é ter um pau com piercing?
— pergunta e eu mordo meu lábio para não rir.
— Você está perguntando para mim como é sentir algo
assim dentro ou perguntando para Gabriel e Davi? — Ava
questiona com naturalidade, como se estivessem trocando uma
receita de bolo.
— Para os três.
— Diga, Gabriel, como é ter um pau com piercing? — Ava
questiona fazendo as honras para sua irmã.
— É... normal. Não há nada demais em ter um pau com
piercing. Só muda no quesito de ter mais cuidado, uma higiene
um pouco mais excessiva. Estou sempre trocando o piercing e
tal.
— E você, Davi? — Ava entrevista.
— As mulheres ficam loucas, isso muda tudo. — Luma faz
um som de reprovação e eu começo a rir.
— Então, Ava, como é ter um pau com piercing? — Luma
questiona e Ava me encara.
— É como um vício maldito. Essa pequena pecinha parece
fazer uma diferença gigante, mas talvez seja só em meu
psicológico mesmo. Gabriel é muito gostoso e tem uma rola
responsa... grossa, grande e com piercing. — Eu quase bato o
carro. Santa misericórdia!
— Ava, filtro, meu amor — repreendo enquanto Luma se
acaba de rir.
— Quero muito! Nunca quis tanto!!!
— Eu nem transei com Luma e já traumatizei de sexo. Sinto
que irei brochar pela primeira vez na vida, porque ela está me
pressionando de uma maneira louca. Há alguns dias ela vem me
ameaçando sexualmente. Metade da minha mala é
preservativos e apetrechos sexuais. Os apetrechos são devido
ao fato de eu sentir que em algum momento terei que algemá-la
e brincar de BDSM para conter o fogo dessa mulher, mesmo ela
sendo uma princesa. Uma princesa safada excessivamente.
— Own, você é muito lindo, príncipe. — Ava faz um som de
nojo e eu a acompanho. Deus me livre de tornar esse tipo de
gente. — Mas, nós já chegaremos indo para o quarto porque
preciso disso em minha vida.
— Estou me sentindo pressionado pra caralho, estou
falando sério, Luma — Davi reclama e eu começo a rir.
— Eu terei que contar isso para Pedro e Humberto —
informo. — Meu irmão está com medo de sexo.
— É muita pressão psicológica que Luma está fazendo. Não
é medo de sexo, é medo dela. Eu sou apenas uma criança —
ele diz rindo. Sei que está brincando, mas Luma está perdendo
a noção durante a semana toda. É cada comentário que eu
começarei andar com fone de ouvido.
— Uma criança gostosa e bem dotada.
— Jesus, Luma, você está pior que eu — Ava diz rindo.
— Não precisa ficar com medo, príncipe, eu gosto de ser
submissa na cama.
— Oh! Pelo amor de Deus, eu não preciso de mais
informações sexuais sobre vocês dois, Luma — os repreendo.
Esse povo desconhece a palavra PUDOR e eu sou bem chato
com isso as vezes.
— Luma é como eu — Ava explica.
— Então você está fodido mesmo, Davi — alerto meu
irmão. — Eu acho melhor pararmos em alguma drogaria e
comprarmos Viagra, eu estou falando sério. — Luma até se
engasga de tanto rir e Ava me lança um olhar ameaçador
novamente.
— Se eu bater de carro, você será a única culpada.
— Não transamos hoje — justifica.
— Já, já faremos isso. — Pego sua mão e a beijo.
— Se depender da Luma eu já fico de pau duro agora. —
Davi exprime sua “revolta”.
— Por favor, contenham-se, não somos obrigados a saber
dos detalhes.
— Ah, claro, mas somos obrigados a ouvir Ava gemendo
como uma gata no cio — Luma rebate meu argumento.
— Ava é... escandalosa. — Sorrio.
— Se você não dissesse, jamais perceberíamos isso —
Luma debocha.
— A partir de agora eu e Ava só transaremos em um outro
cômodo que tem no meu apartamento — decreto e Davi ri.
— Vai bobo, depois ela gosta dessa merda e vai querer
dominá-lo com força.
— Que outro cômodo? — a curiosa questiona.
— No meu quarto há um outro quarto secreto. Meu pai o fez
com isolamento acústico e tudo mais, há nele alguns itens de
BDSM. É bastante luxuoso, até mais do que meu quarto.
— E por que você ainda não me mostrou isso?
— Porque eu não sou amante da prática, mas podemos
utilizar a cama que tem lá, e um sofá.
— Eu amaria ser chicoteada com força. — Puta merda! Eu
nem respondo, porque ela é muito mais que louca, apenas
balanço a minha cabeça em negação.
Quando chegamos em Mangaratiba já há uma lancha nos
esperando. O trajeto até a casa é de quinze minutos. É uma big
casa, incrível, que já está toda iluminada, pronta para nos
receber. Ava é a primeira a descer da lancha, Luma, Davi e
então eu.
— Se precisarem de qualquer coisa, basta ligar — o cara
que veio conduzindo a lancha diz e sobe num jet-ski para ir
embora. Então, ficamos nós quatro.
— Que tal um churrasco? — Ava propõe.
— Acho digno, estou com fome — Davi responde.
— Ok, então vamos só levar nossa bagagem para os
quartos e descemos para começar tudo. Sem rapidinhas, dona
Luma. Temos a noite toda para transar. — Luma deve ser muito
descompensada para Ava ter que dar um aviso desse porte.
Subimos um lance de escadaria e Ava caminha rumo a um
quarto. Há dezenas deles e estou impressionado.
Ela me dá um sorrisinho maquiavélico e abre a porta de um.
Assim que entro, ela fecha a porta, me joga na cama e me
monta.
— Qual é a do “Luma, sem rapidinhas, temos a noite toda
para transar”? — questiono enquanto ela retira o vestido.
— Por favor Piroca Baby, só uma bem rapidinha, para o
meu prazer e não o seu — fala abrindo minha bermuda.
— Ava, você acha que meu pau fica duro automaticamente?
— Estou certa disso. — Sorri e meu pau salta duro para ela,
porque é quase no automático mesmo. Ela afasta sua calcinha
para o lado e desliza pela minha extensão lentamente. Eu sorrio,
coloco minhas mãos atrás da cabeça e me torno um vibrador
humano, deixando ela fazer o que quiser em cima de mim.
— Ai meu Deus! — Ela começa a recitar seu mantra como
todas as vezes que fazemos sexo. Eu devo ser incrível, devo
fazer milagres, maravilhas, porque ela fica muito louca. —
Gabriel... — Sua voz chamando meu nome me faz querer reagir.
Ela é linda demais, principalmente quando está com tesão.
Retiro minhas mãos da cabeça e toco em minha garota,
impulsionando seu corpo ao meu e buscando seu orgasmo.
— Vem para mim, meu amor — digo movimentando abaixo
dela e trazendo sua boca para mim. Bem rápido mesmo, ela
goza e eu fico extremamente satisfeito. Estou com fome pra
caralho, e uma rapidinha é tudo que posso aguentar. — Foi bom
para você, Ava?
— Eu gostaria que você gozasse — diz fazendo biquinho.
— Mais tarde, meu amor. Nós temos a noite toda. Estou
com fome. Vá se lavar para descermos. — Ela não gosta. Salta
de mim puta de raiva, pelo simples fato de odiar ser contrariada.
Mimadinha do caralho!
A porra do banheiro é de vidro, eu sou obrigado a vê-la
tomando um banho rápido e provocativo o bastante. Porém, não
cederei agora. A vida não gira em torno de sexo.
A retiro de lá, quando o show se torna insuportável o
bastante, e a seco. Ela fica quietinha como uma garota
obediente e permite que eu vista até mesmo sua roupa. Quando
está devidamente pronta, enlaço sua cintura e beijo sua boca.
— Você está feliz? — pergunto.
— Muito.
— Então eu estou no caminho certo. — Sorrio e ela me
abraça tão forte como nunca abraçou antes.
— Eu gosto muito de você, muito, imensamente. — Eu deito
minha testa em seu ombro e sinto seu perfume natural. Eu
também gosto dela, muito, imensamente.
— Você é minha e eu quero que continue sendo por muito
tempo.
— Eu quero ser sua por muito tempo — diz. — Como você
diz para mim “eu estou um pouco louca por você.”
— Eu estou um pouco louco por você, Ava Albuquerque. —
Ela sorri. — Muito louco, nada pouco.
— Muito?
— Gigante louco por você.
— Então eu estou no caminho certo — fala roubando
minhas frases.
— Feche os olhos, eu tenho um presente para você.
— Eu amo presentes! — ela diz batendo as mãos e então
fecha os olhos.
Vou até minha mochila e pego a caixinha, retiro o cordão
delicado e me aproximo, a pegando por trás. Jogo seus cabelos
para o lado e deslizo a peça em seu pescoço, fechando-a em
sua nuca.
— Um cordão? — questiona e corre até o espelho. — Oh
meu Deus, é lindo!!!!
— Eu estou muito louco por você, então esse cordão
simboliza um pedacinho do meu coração. — Ela sorri e se joga
em meus braços.
— Eu amei muito, seu coração está comigo e eu nunca irei
tirá-lo do meu pescoço.
— Nem para... — Ela balança a cabeça negando.
— Nem... — Sorrio.
— Linda demais, minha princesa mimadinha, Atriz Pornô,
Little Girl.
— Meu Piroca Baby. — A beijo e então decidimos encarar a
realidade.

Quando descemos, Luma e Davi já estão organizando as


carnes na churrasqueira, na área da piscina. Ava coloca uma
música, pega bebidas na geladeira e eu começo a perceber que
essa noite tem tudo para dar muito ruim. Além de despudoradas,
as irmãs Albuquerques gostam de beber.
Eu estou fodido.
— E aí, você e Luma? — questiona meu irmão, que acaba
de se sentar ao meu lado para ver o show protagonizado pelas
irmãs Albuquerques.
— Olha, pelo visto ficaremos no zero a zero mais uma noite
— digo rindo. — Ela já está um pouco alterada e não curto sexo
bêbado, a não ser que eu esteja bêbado também.
— E vocês tem algo definido? — Ora, o que temos aqui, um
irmão curioso que é incapaz de assumir algumas questões.
Vamos ajudá-lo.
— Não, porém, desde que a conheci não fico com ninguém.
Por falta de interesse mesmo. E você e Ava? Tem algo definido?
Já faz duas semanas? Pouco menos?
— Pouco menos. A única definição é que ela é minha.
— Oh, claro, bem possessivo. MINHA. Estilo Tarzan e Jane
— debocho.
— Minha — diz de uma forma que você sente o impacto da
possessividade. Eu sou possessivo, mas não dessa maneira
insana que Gabriel está sendo. Também, é um pouco
compreensível. Na última semana ele e Ava até urinaram juntos.
Eu nem mesmo sei dizer se eles se desgrudaram na faculdade.
Estão vivendo a vida de um casal de recém casados. Já eu e
Luma estamos controlados. Temos nos vistos, assistimos até
filme juntos, mas não passa disso. Estamos nos limitando,
principalmente pelo fato que ela esteve impedida de ter algo
mais que alguns beijos. Isso nos rendeu muitas gargalhadas,
porque Luma é muito descompensada.
O fato de eu não estar ficando com outra é por falta de
interesse completo. Quando um homem encontra uma mulher
completa nos mais diversos sentidos, as demais deixam de ser
atrativas. Não sou o tipo que não sabe se controlar sexualmente.
Sexo é uma das coisas que mais gosto no mundo, mas não é a
minha prioridade na vida. A companhia de Luma tem suprido
minhas necessidades, de uma maneira que estou conseguindo
conciliar bem as diversas situações.
Hoje, enfim, eu estava acreditando que daríamos um novo
passo. Mas, pelo visto não daremos. De qualquer forma estou
me divertindo. Ela é extremamente engraçada, até mesmo Ava.
Estar aqui com meu irmão e com as duas garotas loucas, me
deixa imensamente feliz e satisfeito. É bom vê-las se divertindo,
sem toda a tensão sexual envolvida.
Ava e Gabriel insistem em dizer que eu e Luma somos
iludidos. Mas, tudo que percebo é que eu e Luma somos muito
mais pés no chão que os dois. Os dois estão numa paixão
avassaladora, atropelando o mundo, há uma semana e já
parecem estar juntos uma vida toda. Chega a ser assustador
para quem está vendo de fora.
Gabriel e Ava são seres místicos. Não conseguem participar
de um jantar sem estarem envolvidos em sexo. A forma como
um olha para o outro diz “eu quero foder com você”. É assim o
tempo todo, então, pela primeira vez estou vendo-os apenas se
divertindo, sem qualquer conotação sexual e toda onda de
luxúria.
— Eu farei algo para ela amanhã à noite. — Meu irmão
comunica e eu o encaro um pouco chocado. — Você e Luma
terão a noite toda de amanhã livres de nós dois.
— O que você fará?
— Ela reclamava que eu não era carinhoso, estou indo
provar que eu posso ser — justifica.
— É eita atrás de eita.
— Há uma parada diferenciada entre nós dois. Algo que nos
puxa, como uma força de atração insuperável. Uma conexão
muito forte. Já se sentiu assim? — ele questiona a observando
com um olhar estranho.
— Nunca — respondo sorrindo.
— Há, cara. Você vai debochar, mas há.
— Não estou duvidando — digo levantando minhas mãos.
— Enfim, elas estão de biquíni e eu nem as vi colocar essa
merda. — Observo as duas mulheres e elas estão realmente de
biquíni. Dois mulherões, gêmeas não idênticas. Ou melhor,
gêmeas idênticas apenas na loucura e no gosto por álcool. — É
o momento de intervir.
— Cara, deixa de ser controlador. É sexta-feira, podemos
dizer que estamos em casa, em segurança. Deixe as garotas se
divertirem um pouco. Elas foram controladas toda uma vida.
Relaxa aí, jovem. Vamos beber uma caipirinha — aviso indo
preparar uma caipirinha mais caprichada para Gabriel. Acho que
meu irmão precisa de uma noite de bebedeira para deixar de ser
pau no cu.
É isso que faço. Eu finjo beber caipirinha, mas na verdade
estou bebendo limonada enquanto ele bebe a maldita cachaça.
Na sétima rodada, ele já está mais relaxado. Rindo e
descontraindo com Ava. Os dois agora estão dançando a porra
da tal de Kizomba que Luma me fez dançar na boate. Porém, a
dança deles é mais engraçada porque os dois estão bêbados.
Luma está de pé os observando e então lembra da minha
existência. Ela veste um vestidinho e vem até mim.
— Vem dançar? — convida sorridente e não há como negar.
Ela escolhe uma música muito fodida e começamos a dançar. É
quase como um sexo essa dança e eu já estou começando a
pegar jeito.
O corpo dela está pressionado fortemente contra o meu. Eu
sinto seus seios, sua intimidade, sua barriga grudada a minha,
não ajuda o fato dela estar de biquíni.
— Eles estão muito bêbados — diz em meu ouvido.
— E você também.
— Eu só bebi uma vez — confessa para a minha surpresa.
Eu a encaro parando de dançar e ela levanta os ombros,
fazendo uma carinha angelical. De anjo ela não tem
absolutamente nada, acabei de crer. — Eu a embebedei. —
Sorrio. — Precisava fingir que estava bebendo também.
— Eu embebedei Gabriel. Parece que estamos conectados,
minha princesa linda — digo e a giro, fazendo-a ficar de costas
para mim, enquanto dançamos abraçados. Ela é esperta, gostei
disso. Somos os irmãos que todos acham bobos, e estamos
provando que somos mais espertos do que eles podem
imaginar.
A giro de frente também e a puxo para um beijo enquanto
dançamos. Tudo muda. Há um tesão daqueles fortes, que dão
calafrios na espinha e fazem surgir um frio na barriga.
— Eu quero você. Quero sentir seu corpo sobre o meu —
diz e eu até arrepio. Ela faz com que eu me sinta um garoto
inexperiente.
— Vamos para o quarto — convido e ela olha para Gabriel e
Ava, parece que conferindo a situação dos dois e ponderando o
meu convite.
Ela segura minha mão e nos conduz para o interior da casa.
Subimos rumo ao quarto e eu fecho a porta com chave assim
que entramos. Finalmente, eu matarei quem me matou por
longos e tortuosos dias.
Luma me seduz com seu sorriso angelical e eu não perco
tempo ao puxá-la para mim. Retiro seu vestido e seu biquíni em
seguida, deixando-a nua.
Me afasto o suficiente para contemplar sua nudez pela
primeira vez e assovio, tamanha a perfeição. A mulher é mesmo
uma princesa. É linda de todas as maneiras possíveis e
delicada. Sua pele é sedosa, seus seios combinam
perfeitamente com todas as curvas de seu corpo. Ela possui
uma tatuagem minimalista em sua virilha, um coração que a
deixa ainda mais sexy.
Traço o dedo do vão de seus seios até sua linda e molhada
intimidade. Ela ofega e morde o lábio. Parece que ela estava
falando sério quando disse que gosta de ser submissa no sexo,
apenas permite que eu faça o que quero e não toma qualquer
atitude. Eu deveria não gostar disso, mas gosto, gosto muito.
Sob seu olhar, eu retiro minha bermuda, pego um
preservativo dentro do bolso e retiro minha cueca. Ela arregala
os olhos enquanto deslizo o preservativo em minha ereção e eu
quase rio, quase. Só não faço porque o momento não é nada
engraçado. Há muita tensão entre nós dois e precisamos
resolver isso da melhor forma.
Seus seios grudam em meu peitoral e eu a beijo antes de
conduzi-la a cama.
Não há muito desespero. Na verdade, estou bastante
calmo, sem pressa. Ela ativa meu lado extremamente carinhoso
e preocupado. Sinto vontade de fazer as coisas de maneira mais
lenta e apreciadora.
Ela ofega assim que a deito sobre a cama e me encaixo
entre suas pernas. Beijo sua barriga e então deslizo minha
língua por sua intimidade. Ela parece não gostar, pois protesta.
— Eu preciso senti-lo em mim. Nós podemos fazer sexo
oral depois? — Sorrio e subo para beijá-la.
— Está afoita.
— Sim, eu confesso. —Está mesmo. Até está remexendo-
se abaixo de mim.
— Um bom jogador nunca entra em campo sem beijar o
gramado — brinco e ela sorri.
— Um bom jogador entra em campo e vira artilheiro,
fazendo gols. Basta jogar a bola no gol — argumenta e a beijo
mais uma vez, permitindo que nossos corpos se unam.
Segurando meu pau, o empurro para dentro dela e sou eu
quem mordo o lábio agora; estar dentro dela é muito melhor do
que qualquer coisa que eu tenha imaginado.
Começo a mover lentamente e cuido de seus mamilos rijos,
com minha mão e minha boca. Ela é muito incrível, receptiva e
doce na cama. Eu achei que estaria lidando com uma fera em
potencial, mas ela faz jus mais uma vez ao título de princesa.
Eu cuido de suas necessidades, acrescentando um pouco
de ferocidade e ela retribui da melhor forma, com sons, com seu
rosto tomado pelo tesão.
É muito mais maravilhoso que qualquer merda que eu tenha
feito. Luma é a primeira mulher que é doce e delicada na cama.
A ferocidade de todos os meus atos cometidos antes dela, não
compara a isso. Parece muito mais intenso ir lento, degustando
cada segundo, cada movimento, cada toque. Parece também
que isso faz com que a mulher tenha um orgasmo mais intenso,
porque quando Luma goza, ela parece viajar para outra
dimensão, demorando um tempo para voltar à órbita.
Nós ficamos transando por um longo período e eu conheço
um novo tipo de sexo, descobrindo o quão bom é poder se
reinventar. Não há limites para o ato sexual, é um aprendizado
constante que ajuda no aperfeiçoamento.
Eu gostei para caralho disso. Eu amei poder sentir toda a
intensidade do momento, a nossa busca pelo prazer. Foi
diferente, muito diferente. Perfeito chega perto de definir.
— Você é uma princesa até mesmo na cama. — Sorrio
brincando com seus cabelos, minutos após gozar. — Me
surpreendeu, Luma.
— Eu posso ser muitas. Hoje eu apenas quis ser uma
princesa, porque transei com um príncipe quase encantado —
diz brincando com minhas sobrancelhas. — Estou morrendo de
preguiça agora.
— Um banho cairia bem.
— Foi uma experiência quase transcendental transar com
você. — Eu rio.
— Isso é bom?
— Isso é épico — afirma.
Acordo sentindo que estou no inferno. Há algo queimando
meu corpo exageradamente. Basta abrir os olhos para eu
encontrar o sol, gigante em toda sua glória, quentura e
claridade.
Eu estou em uma espreguiçadeira, sobre o corpo de um
Gabriel nu. A propósito, eu também estou nua. Isso me faz
gritar, eu nunca me perdoarei se Davi e Luma nos pegar dessa
maneira.
— Merda, Ava... — Gabriel deixa seu protesto rouco.
— O que nós dois estamos fazendo nus em cima da
espreguiçadeira, com o sol rachando nossas cabeças? —
pergunto ficando de pé e ele dá um sorriso cafajeste,
observando minha nudez.
— Não saberia te responder, a única coisa que sei é que há
uma gostosa peladinha para mim. — Ele deve estar brincando.
Em qual parte da noite ficamos nus? É isso que estou tentando
lembrar. A última coisa que lembro é de termos caído dançando
Kizomba.
— Nós transamos? — questiono tentando sentir algo em
meu corpo. E eu sinto. Sinto-me destruída, devastada, morta.
Talvez por ter dormido em má posição, ou talvez não. Uma
lancha surge no mar e vejo um pesadelo se aproximando. —
Puta que pariu, Gabriel!!! — exclamo.
— O que há?
— Meu irmão, Lucca, está chegando e nós dois estamos
nus. Onde nossas roupas estão, pelo amor de Deus?
— Eu não faço ideia — ele diz e damos uma única troca de
olhares antes de sairmos correndo rumo ao quarto.
Chegamos quase sem fôlego e eu tranco a porta com
chave, enquanto Gabriel está lutando por ar, com a mão
espalmada em seu peito e seu pau gritando que está acordado
para a vida. Esse tal tesão de mijo engana muito.
— Isso é famoso tesão de mijo? — pergunto apontando
para seu lindo pau e ele começa a rir.
— Não. — É tudo que responde e eu volto a pensar em
meu irmão.
É engraçado, mas poderia ser muito trágico. Eu não deveria
ter dito a Lucca, que viria passar o final de semana aqui,
definitivamente. Os homens da minha família são além de
controladores, isso me dá muita raiva.
— Eu preciso de um banho, estou grudando de suor pelo
sol e por você em cima de mim, se seu irmão não estivesse
surgido das profundezas do oceano, nós estaríamos resolvendo
algumas questões.
— Tipo a questão do seu pau duro?
— Tipo isso. Mas meu pau vai abaixar, estou prestes a
conhecer seu irmão e esse universo é um que nunca habitei
antes — explica com naturalidade e entra no banheiro. Ele liga a
ducha e eu fico um tempo o observando se lavar. É bem sexy
ver a espuma espessa deslizando por todo seu corpo, enquanto
ele se lava. A parte mais quente é quando ele vai lavar sua
piroca baby nada baby. O vejo dando algumas bombeadas e
penso que isso é demais para minha maturidade. Há um gene
sexual muito forte dentro de mim, só isso justifica tamanho
apetite e fraqueza por cenas como essa.
Eu percebo que estou tempo o bastante o observando,
quando ele termina o banho e sai enrolado em uma toalha.
— Se você continuar me olhando dessa maneira, nós
teremos problemas, Ava — diz em um tom ameaçador e até
mesmo sério. Ele se enxuga e então está na cama, se cobrindo
com edredom e completamente nu.
Eu decido não o responder e é a minha vez de tomar
banho, sob seu olhar. O que não esperava era vê-lo se tocando
enquanto me observa com fome. Nós dois temos fogo em
excesso, tenho medo de acontecer uma explosão em grande
proporção e destruir tudo. O fogo tanto pode aquecer, quanto
pode queimar. Mas eu nunca tive vocação para o morno, de
qualquer forma.
Viro de costas para ele, apenas para não continuar olhando
para a cena. Tenho que receber meu irmão e não posso me
distrair com sexo agora. Mas, na verdade, eu daria tudo para
deitar naquela cama e apenas dormir. Estou morta.
Quando estou saindo do banho, Gabriel surge me jogando
embaixo da ducha novamente. Eu rio quando ela me faz
cócegas e quase choro quando ele praticamente me joga contra
a parede e força sua entrada entre minhas pernas. Tudo em
mim responde a ele e eu me pego sendo consumida mais uma
vez.
Nós transamos, numa rapidinha matinal incrível e não
menos satisfatória. Tomamos mais um banho e então trocamos
de roupa. De mãos dadas, descemos a escadas e eu vejo
Lucca, com a garota da boate. Deus, me ajude a ser falsa, eu
definitivamente não fui com a cara dela.
Saio correndo e Lucca me pega em seus braços, rodando-
me até eu ficar tonta.
— Meu princeso mais lindo mundo! — Sorrio distribuindo
beijos por todo seu rosto.
— Te amo.
— Eu te amo mais, amor da minha vida todinha. — Ele me
dá um beijo na testa e me coloca no chão, então cumprimento a
tal Laísa com um oi.
Não adianta me criticarem, comigo é oito ou oitenta. Eu juro
que me esforço para ser falsa, mas não consigo. Tenho um
radar absurdo que indica certinho quando uma pessoa presta ou
não. Essa garota, com rostinho angelical e voz de neném, não
presta.
— Cheguei! — Ouço a voz de Victor e corro para os braços
dele também. — Minha princesa.
— Meu lindezo. Veio sozinho?
— Sim. Não nasci grudado com ninguém nessa vida. — Ele
é muito... eu!
— Bom, esse é Gabriel, meu...
— Dela — Gabriel diz e meus irmãos vão cumprimentá-lo.
Até estranho o fato deles não terem tentado intimidá-lo.
Eles conversam um pouco, juntamente com a tal piriguete
de Lucca. Então, felizmente, surge meu gêmeo não gêmeo, e
prova que estou certa.
— Aquela garota que Lucca está, não vale um real — Victor
comenta.
— Até que enfim, nós somos muito irmãos mesmo. —
Sorrio. — Meu faro detectou... ela tem uma filhinha e sinto que
ela está em busca de um idiota para bancá-la. Eu dou meu cu se
não for isso. Não é preconceito, antes que pense. É claro que
Lucca pode namorar uma mulher que tenha filhos, mas essa,
especificamente essa, não presta.
— Lindo demais a maneira como você fala sobre dar o cu,
Ava — Victor repreende. — Vamos resolver isso, mas em uma
aposta.
— Que aposta? — Sorrio animada, eu amo demais esse
meu irmão. Ele é muito da maldade. Já Luma e Lucca parecem
gêmeos.
— Se eu conseguir o telefone dela e um beijo, você me dá
dez reais. Se eu não conseguir, eu te dou cinco mil reais. —
Super justo ele, simplesmente o cara sabe que vai ganhar.
— Não é sacanagem com Lucca? — questiono receosa.
— Sacanagem é deixá-lo ser feito de idiota por uma ninfeta
interesseira.
— Ok, então como faremos isso?
— Primeiro você vai me falar desse tal Gabriel. — Sabia,
estava demorando pra caralho.
— Ele é incrível, um amorzinho, vamos destruir a garota
quando?
— Vamos tomar um café da manhã em família! — Victor
propõe em alto e bom tom, dando a resposta à minha pergunta.
— Ouça, mantenha-se atenta. Eu piscarei o olho para você no
momento exato, então você irá me seguir para gravar a cena.
Assim que tiver conteúdo o bastante, eu mandarei a garota ir
embora daqui.
— Deus, isso é muito vida louca, Victor.
— Eu me responsabilizo. — Ele sorri e vai para a cozinha.
Gabriel se aproxima, me encarando receoso.
— Qual é o seu problema com a garota?
— Ela não presta, Victor porta da mesma opinião. É uma
caça dinheiro e Lucca, é meio Luma. Vive no mundo da lua,
completamente.
— E você está armando algo? — Não respondo. — Ava...
— Você ainda não me conhece, Gabriel, então não
repreenda. Vou contar alguns detalhes sobre minha
personalidade. — Ele fica atento. — Eu sou muito intensa e
tenho um senso de justiça exagerado. Eu defendo minha família
com unhas e dentes, em qualquer situação. E quando digo
família, inclui primos, animais, tios, agregados. Eu sou tida como
a espécie de uma ovelha negra, mas apenas porque não sei
amar, Gabriel. Não sei amar. Ou eu amo exageradamente, ou eu
odeio na mesma proporção. Eu não sei mentir, sou
extremamente transparente. Quando a situação inclui meus pais
ou meus irmãos, é ainda pior. Eu acho que mataria por eles.
80% dos meus familiares me julgam como fria só pelo fato de
que eu não esboço meus sentimentos facilmente. Porém, sou
quente como o inferno quando amo. É por isso que evito
relacionamentos, devido a intensidade que possuo, eu amo
tanto, que sofro muito ou faço a pessoa sofrer se tiver um único
deslize. Muito intensa, muito justa, e muito cruel quando a
situação merece. Não há nada no mundo que eu não faria para
defender quem amo. Lucca é parte do meu coração, logo,
intervirei todas às vezes que julgar necessário.
— Só não faça com ele o que não gostaria que fizessem
com você. Viemos aqui nos divertir, não causar problemas. Não
é mesmo?
— Sim. Eu me manterei quieta, até porque Victor agirá por
mim. — Ele balança a cabeça, repreendendo real. — Vamos lá
Piroca Baby, tudo que importa é eu e você.
Caminhamos rumo a cozinha, onde os zeladores deixaram
uma farta mesa de café da manhã arrumada. Lucca, Laísa e
Victor estão sentados já. Ela no meio dos dois. Luma ainda está
dormindo com Davi. Então, nos resta tomar café sem eles.
Eu pego um pedaço de bolo de prestígio e um copo de suco
de laranja. Gabriel me acompanha. Davi e Luma finalmente
surgem, e eu me assusto com suas carinhas de acabados.
Certamente eles transaram e eu preciso saber os detalhes
íntimos, por isso bato na cadeira para ela se sentar ao meu lado.
— Irmã! — exclamo a abraçando. — Como foi? — pergunto
em seu ouvido.
— Épico.
— Épico? — questiono e ela sorri.
— Ele é muito além de incrível, e grande, grosso, com
piercing. — Ele é irmão de Gabriel, deve ter sido abençoado
com a genética da mesma forma. Além de ser absurdamente
lindo. Luma não rende muito o assunto, mas parece mesmo ter
sido épico.
Após comermos, optamos por um passeio de lancha.
Victor, que incrivelmente está gente boníssima hoje, é o
piloto da rodada.
Eu e Gabriel vamos sentados na proa, conversando e rindo
enquanto Luma e Davi estão deitados ao nosso lado
praticamente em coma.
— Eu acho que eles colocaram algo em nossa bebida essa
noite — Gabriel diz em meu ouvido e rimos.
— Bom, acordamos nus, talvez tenhamos aproveitado de
maneira satisfatória.
— É sempre satisfatório.
— Sempre — concordo.
— Hoje à noite vou levá-la em um lugar.
— Um lugar? — questiono arqueando as sobrancelhas.
— Sim. Um lugar. Esteja preparada.
— Hum, misterioso, gosto disso. — Ele morde meu pescoço
e beija minha mão em seguida.
Passamos a manhã toda na Lagoa Azul, nadando com os
peixes. Já noto Victor trabalhando, fingindo ser um cunhado
legal e se aproximando consideravelmente de Laísa, enquanto
Lucca, virou melhor amigo de Davi.
Vejo Victor e Laísa nadando rumo a lancha e fico em estado
de alerta. Meu irmão sobe primeiro e então ela vai atrás. Me dá
uma dorzinha no peito por Lucca, mas os fins justificam os
meios.
Da lancha Victor pisca seu olho para mim e eu me
desvencilho de Gabriel.
— O que está acontecendo?
— Victor está em ação — informo mergulhando e Gabriel
puxa meu pé.
— Eu vou com você, mas se a garota for inocente, você a
deixará em paz, Ava.
— Que seja. — Seguimos rumo a lancha e subimos sem
fazer barulho. Pego meu celular na bolsa e Gabriel vira um
investigador junto comigo.
Descemos lentamente os degraus que nos levam aos
quartos, e no último já escuto beijos vindo do banheiro. Eu
sabia! Minha vontade é gritar, mas eu tenho que agir com frieza.
Olho para Gabriel e ele está com olhos arregalados e as mãos
na boca, chocado. Meu faro não erra, nunca!
— Você é uma delícia — a garota diz.
— Você acha?
— Sim, é mais velho, parece mais experiente.
— Sou bastante experiente — Victor afirma.
— Se o seu irmão vier aqui e nos pegar?
— Você gosta dele? — pergunta e a garota não responde.
— Você o largaria para ficar comigo? Soube que você tem uma
filha, deve ser bem difícil criá-la sozinha. Eu tenho muita grana...
— Victor termina de dizer e novamente eles estão se beijando.
Me dá enjoo só de ouvir. Gabriel também está muito enojado
agora e estou fazendo mímica para ele dizendo “eu te falei, filho
de uma boa mãe”.
— Eu o largaria.
— Excelente — Victor diz e abre a porta do banheiro. A
garota perde a cor ao me ver.
— É com você, Ava — meu irmão diz pegando o celular da
minha mão.
5
— Eu não vou te bater, porque você é uma gasguita e eu
sou faixa preta em Jiu-jitsu. Você só tem uma única opção para
sair daqui inteira: vai sair dessa lancha, vai até Lucca e vai dizer
que recebeu um telefonema urgente, que eu já te ajudei a pedir
um táxi boat para levá-la embora. — Ela balança a cabeça em
concordância. — Feito isso, você vai pegar suas coisas e nunca
mais vai aparecer na frente do meu irmão. Você vai ligar para
ele mais tarde e vai dizer qualquer merda que justifique o fato de
não querer ficar com ele nunca mais. Se você se aproximar de
Lucca mais uma vez, eu levantarei o histórico da sua vida, vou
te foder de um jeito ou de outro. Eu irei destrui-la, e tenho poder
para isso, inclusive o poder aquisitivo. Você encontrou as
pessoas erradas para tentar dar um golpe. Ah, e mais um
detalhe, se Lucca tentar beijá-la, no momento em que você o
avisar sobre sua partida, e você permitir, irá embora daqui sem
os dentes. Vá! — ordeno e ela sai correndo, subindo os degraus.
Eu vou atrás conferir, e ela faz exatamente o que mandei.
Lucca vem nadando com ela e é preciso tudo de mim para não
dizer a ele.
O táxi boat chega, ele vai beijá-la e ela me olha antes de
negar o beijo. Meu irmão fica sem entender nada e eu me jogo
em seus braços para distraí-lo.
— Eu não vou mentir para você, brother — Victor surge
dizendo e eu engulo a seco, descendo dos braços de Lucca.
— O que houve?
— Aquela garota não presta de forma alguma. Eu estive
com ela aqui em cima, propus que ela te deixasse e ficasse
comigo, ela topou. — Lucca ri.
— Você e Ava quando cismam...
— É verdade, Lucca. Eu nunca cismei com uma pessoa
gratuitamente. — Me defendo.
— Ok, mas ao contrário dos que vocês pensam, eu não sou
tão idiota. Eu sei que ela não presta, só estava fodendo com ela,
nada além disso. Mas, está de boa, admiro o cuidado excessivo
dos dois. Agora podemos ir almoçar? — Gabriel ri e eu o encaro
como se fosse matá-lo. Então ele se joga ao mar e vai nadar
com Luma e Davi. É engraçado.
— Me desculpe por isso — digo. — Apenas não posso
permitir que você seja feito de idiota por uma mulher
pretensiosa.
— Mas que ela é puta, é — Victor diz levantando as mãos e
o abraça.
Lucca volta para o mar e eu e Victor nos encaramos.
— Você está pensando no que eu estou pensando? — ele
questiona.
— Sim. Ele estava na dela, estava visível.
— Vou guiá-lo ao caminho do bem. — Eu dou uma
gargalhada. — Siga o mestre, Avinha.
— Avinha é o teu cu, Victor!
— Olha a boca! — ele repreende me jogando em seu ombro
e pula no mar.

Quando chega à noite, a temperatura despenca de uma


maneira surpreendente. Não está cem por cento frio, mas está
fresco o bastante. Estou na sala conversando com meus irmãos,
com Davi e mais duas garotas amigas de Victor, quando Gabriel
surge.
— Vamos? — Eu mordo meu lábio e fico de pé
prontamente.
— Olha onde você está levando minha irmã! — Victor
repreende. — Ava, quero você de volta as dez da noite.
— São nove. — Rio e o super protetor fica de pé.
— Vá, juízo, qualquer coisa me liga que eu mando matá-lo.
— Ele brinca e abraça Gabriel.
Caminhamos rumo a lancha e eu vou imensamente
empolgada. Nunca tive muitas surpresas, então a empolgação
está imperando.
— Você tem permissão para pilotar lancha? — pergunto.
— Sim, mas não vou — informa e logo a lancha do zelador
se aproxima.
Fazemos uma viagenzinha rápida, uns quinze minutos.
Somos deixados em uma ilhota cem por cento deserta e não há
qualquer coisa nela.
— Feche os olhos — Gabriel diz ficando atrás de mim e
tapa meus olhos com as mãos. Eu sorrio quando ele começa a
forçar passos. Caminhamos e ele detém meus passos em
determinado momento. — Chegamos — avisa e retira as mãos
dos meus olhos.
Fico bastante surpresa. Isso não tem absolutamente nada a
ver com Gabriel. Há uma mesa de jantar, totalmente decorada e
rodeada de velas que formam um enorme coração. Além disso,
há uma barraca estilizada, com luzes em volta, que dá
perfeitamente para no mínimo dois casais passarem a noite
dentro dela.
Eu olho para ele, e ele gruda seu corpo ao meu. Algo nele
me atrai mais do que deveria. Eu sinto como se houvesse a tal
força nos puxando e que estar perto demais ainda é pouco.
— Você disse que eu não era carinhoso... eu sou e
continuarei sendo carinhoso, cuidadoso, preocupado,
possessivo... — diz de uma maneira enigmática. — Estou um
pouco louco por você, Ava. Eu posso ser qualquer coisa, desde
que a faça sorrir.
— Eu... uau. Nunca imaginei tudo isso... — confesso
apontando para o local. Ele sorri e me beija levemente. Quando
se afasta, estou inebriada o bastante, como se ele se tivesse o
poder de me deixar de pernas bambas e tirar de mim algo que
eu desconhecia: a fraqueza. Eu me torno fraca muito fácil por
ele.
— Minha.
— Sua.
— Minha namorada — diz e eu abro os olhos de uma só
vez. — Por favor, aceite ser minha namorada. Eu quero que seja
minha, de verdade. — Não estava preparada para uma
definição, definitivamente. Estou impactada com tudo isso,
desde a decoração com corações, com a cabana, até o pedido.
Não sei o que responder. Meu coração diz que sim, minha
mente tenta me arrastar para a pessoa fria que sempre fui.
Estou tão perdida nesse duelo, que pela primeira vez na vida eu
gostaria de alguém para me guiar até a melhor opção. — Aceita
namorar comigo?
“Mude filha, estabeleça uma meta de mudança e corra atrás
disso. Se entregar não dói, abraçar não fere, beijar não arde, rir
não machuca, amar não mata. Ou seja, não há um motivo para
você não ceder um pouco.”
As palavras de minha mãe surgem em minha mente e fecho
os olhos. É como se ela estivesse ao meu lado agora,
segurando minhas mãos e me impulsionando a ir a diante.
Como se a sua voz doce e amorosa estivesse bem aqui, em
meu ouvido. Eu abro os olhos, então o vejo, ansioso,
aguardando que eu diga qualquer coisa.
Vocês não sabem o quão difícil é para mim dar um passo
dessa dimensão. Eu sou um ser humano muito difícil e
complexo, minha personalidade é fortíssima, eu sou intensa e
minha intensidade machuca. No meu caso, ser uma mulher
intensa, é tanto uma dádiva, quanto um castigo.
Um minuto para mim é como uma eternidade, uma mínima
situação é muito. Por isso o medo de me entregar. Porque para
mim não é apenas uma entrega superficial, é uma entrega de
alma e eu não sei se tenho maturidade para isso ainda.
“Se entregar não dói” — Ouço novamente.
E se doer? E se for demais? E se...
São tantos questionamentos e não estou pensando apenas
em mim agora. Estou aqui, desprovida de qualquer ato de
egoísmo, ponderando a situação por Gabriel, ele também é
intenso, não como eu, mas intenso. Eu tenho medo de onde isso
vá nos levar.
É preciso enfrentar a situação. Minha intensidade não
permite que eu seja fraca e entregue as fichas. Eu respiro fundo
e dou o meu decreto, com firmeza e segurança.
— Não — digo de repente, assustando até eu mesma.
Gabriel franze a testa, mas há uma grande justificativa para não
aceitar.
— O que há de errado? Por que não? Eu achei que nós
estávamos conectados.
— Nós estamos, bastante. Mas eu não quero mudar nada,
Gabriel. — Eu não estou fazendo sentido e isso está visível no
rosto dele. — Calma. Não é o que parece ser.
— Explique, por favor — pede com um pouco de tristeza em
sua voz.
— Nós estabelecemos que eu sou sua e você é meu. Isso
engloba muitas coisas. Se sou sua, sou toda sua por completo.
Ok, pode parecer confuso. Estou confusa e sendo confusa. —
Ele segura minhas mãos, me incentivando a continuar e eu
respiro fundo. — Ser sua por completo, a meu ver, é muito além
de ser sua simples namorada. E eu não estou disposta a mudar
isso, porque está perfeito como está e porque eu sinto um tesão
desesperador quando você diz que eu sou sua. Compreende?
Se você me rotular como sua namorada, teremos um acréscimo
de palavra nisso e não é tão quente como seria se você
continuasse dizendo MINHA. Eu não quero namorar você, pois
quero ser sua da maneira como estou sendo. Logo, isso nos
leva a além de um namoro. Isso nos leva à intensidade, ao
prazer, à loucura e à entrega.
— Minha.
— Sua. Isso basta. Não?
— Após sua explicação, ser minha é tudo o que interessa.
— Ele sorri e me beija. Eu estou um pouco louca nesse beijo. Os
lábios dele são tão macios, esculpidos para darem prazer a uma
mulher em todos os sentidos, tanto, que ele tenta se afastar e eu
não permito. Ficaria assim, o beijando, por horas seguidas e
tenho certeza que, ainda assim, não teria o suficiente dessa
boca.
— Puta que pariu, Ava, não sei se te amo ou te odeio.
— Por quê?
— Porque você estragou o jantar romântico. — Sorrio. —
Eu pensei em tudo, iria ser realmente carinhoso e romântico. Eu
iria colocar uma música, iríamos beber champanhe, comer,
degustar uma boa sobremesa, ficaríamos abraçados, iluminados
pela luz da lua e pelas estrelas.
— Você iria fazer tudo isso mesmo?
— De forma alguma. — Ele sorri. — Eu iria jantar muito
rápido só para te comer de sobremesa. — Tocando meu rosto,
ele me beija mais uma vez e decreta assim o fim do jantar. Eu
tão pouco estava com fome... de comida.
Abro o moletom dele, e ele abre o meu. Jogamos as peças
ao chão e delicadamente ele me pega em seus braços e me
leva para dentro da barraca, deitando-me em um confortável
colchão. O vejo retirar a camisa, então ele cuida de retirar
minhas sandálias e meu short.
— Ava, você tem problemas com lingeries, não é mesmo?
— questiona traçando um dedo em minha calcinha. — Acho que
você tem um excesso de cuidado para escolher cada uma delas,
e que deve ponderar o quão louco vai me deixar ao ver a peça
em seu corpo. Olhe isso! Antes de você, isso era um mero
detalhe que não tinha qualquer importância. Agora, tornou-se
tudo. Até mesmo suas calcinhas são poderosas. — Sorrio. — Eu
gosto de como é cuidadosa consigo mesma. Acho imensamente
sexy. — Retiro minha blusa e ele sorri ao contemplar meu sutiã.
— Que mulher!
— Você não parece desesperado agora.
— Porque estou contemplando a beleza da mulher que
possuo. Estou desesperado, mas você me tira o fôlego com
essas merdas que chama de lingerie.
— Acho que está na hora de você tirar a bermuda... — falo
e ele a retira. Deus! Abençoado seja quem inventou as cuecas
Calvin Klein, amém. Não é apenas eu quem fico impactante em
roupas íntimas. Gabriel de cueca é a melhor imagem que uma
pessoa pode ter. Ele é muito atlético, então possui coxas
generosas e definidas, sem exagero, tudo sob medida. Além de
ter uma bunda fantástica, que adornada pela cueca chama uma
atenção extrema. Há esse V que desce pela barriga e some
dentro da cueca, há gominhos... O mais fantástico de toda sua
anatomia, é que ele não é só músculos. Há “carne” em sua
barriga e em todo seu corpo. Não é como se eu estivesse
pegando em uma madeira. Isso o torna ainda mais gostoso do
que realmente é. Onde eu ponho minhas mãos, há carne. Esse
homem é um tesão ambulante e ainda possui todas essas
tatuagens simétricas, bem elaboradas para deixarem uma
mulher curiosa e louca. Descrevê-lo é fantástico, mas descobri-
lo é melhor ainda.
Ele beija meu pé esquerdo e vai subindo beijos por toda
extensão da minha perna. Repete o ato na perna direita e
engancha os dedos em minha calcinha, deslizando-a em minhas
pernas e deixando-a jogada em algum lugar. Volta a deslizar
seus lábios na parte interna da minha coxa até chegar em minha
intimidade. Eu estou olhando fixamente para seu rosto, quando
seu olhar encontra o meu e ele dá um sorriso perfeito.
— Não — diz renegando minha intimidade e sobe beijos
pela minha barriga. Suas mãos forçam passagem pelas minhas
costas e ele me impulsiona a sentar. Sua boca reivindica a
minha e logo ele trabalha em retirar meu sutiã, com tanta
delicadeza que chega a doer. Após retirar a peça do meu corpo,
ele se move, e ficamos sentados, frente a frente, eu em cima
dele. E cada olhar instigante, que me deixa curiosa para saber
todos os pensamentos que estão rondando em sua mente. Suas
mãos deslizando pelas laterais do meu corpo e se fecham em
meus seios. — Seus seios são a minha perdição.
— Só eles?
— Não. Mas eu tenho um carinho especial por eles —
comenta os apertando mais forte. Sim, agora sim estou tendo o
leve vislumbre do Gabriel que conheço. Do homem que não é
muito carinhoso na cama, é mais como um selvagem
necessitado.
Ele abaixa sua cabeça e sua barba roça asperamente
contra a minha pele. Seus lábios se fecham em meu mamilo
esquerdo e eu quase grito com a dor. O pior é que a dor é bem-
vinda, pois quando ele é selvagem, ele os aperta também com
uma docilidade que faz toda a diferença.
Quando está satisfeito, sua boca invade a minha com uma
ferocidade surpreendente e ele me joga de volta ao colchão,
como se fosse um rolamento de Jiu-jitsu, encaixando entre
minhas pernas e pronto para me invadir. Com meus pés, puxo
sua cueca para baixo e ele me auxilia. Tão pouco o liberto, ele já
está escorregando para dentro de mim e estocando com força.
Acabou o carinho, nós dois apenas não sabemos conduzir um
ato muito carinhoso quando estamos transando.
— Deus! Gabriel... — eu grito seu nome e ele volta a
devorar minha boca. Eu deslizo minhas mãos pelas suas costas
e as deposito em sua bunda, impulsionando-o a ir mais
profundamente, se é que é possível. Nada parece o suficiente.
Eu uso toda minha força e pairo sobre ele. Ele ri,
ultimamente temos adicionado um pouco de Jiu-jitsu no sexo e
tem sido louco.
Seu riso morre assim que ele lembra da existência dos
meus seios e eu passo a montá-lo com força, com movimentos
precisos. É tão bom possuir um pouco intimidade, assim você
passa a saber exatamente o que fazer para desestabilizar seu
parceiro sexualmente. Mas não é tão fácil desestabilizar Gabriel.
Ele sempre briga pelo controle e as coisas ficam alucinantes
demais.
Damos mais alguns rolamentos até atingirmos o ápice do
prazer e caímos na gargalhada assim que recuperamos o
fôlego.
— Oh meu Deus, eu estou grudando de suor. Isso pareceu
mais uma sessão de luta que sexo — digo e ele me dá um tapa
estalado na bunda. — Merda, Gabriel.
— Quero mais. — Eu começo a rir com vontade agora e ele
não está brincando. Ele é como um adolescente que acabou de
descobrir o sexo, seu apetite é muito intenso, como o meu.
Meu telefone toca e o nome do meu pai brilha na tela.
Franzo a testa, encucada e atendo.
— Pai?
— Você está namorando — meu pai afirma, e eu arregalo
os olhos.
— É... tipo isso.
— Está tendo uma noite romântica — afirma mais uma vez
e eu fecho os olhos, puta com Victor porque sei que foi ele.
— É normal pai, tenho vinte e nove anos.
— Qual o nome dele? — questiona.
— Gabriel.
— Quero conhecê-lo mês que vem, quando estiver aí, ok?
— Ok pai. — Gabriel toma o telefone da minha mão e eu
quase grito.
— Senhor Matheus? — diz e afasta o telefone do ouvido. —
Ok, Matheus. Não se preocupe, sua filha está bem comigo. [...]
Oh sim, eu acredito que tenha, realmente. Mas não será preciso
utilizar seu álibi. É mais fácil sua filha me bater, que o contrário.
[...] Sim, ela realmente é. Um gênio do cão, de verdade, fico
assustado. — Os dois riem e eu fico boquiaberta. — Pode
deixar. Enfim, eu ouvi dizendo que vem ao Rio mês que vem,
meus pais também vêm. Será uma boa oportunidade de todos
se conhecerem. [...] Claro. Basta me dizer quando e eu combino
com meus pais de virem na mesma data. Farei um jantar em
meu apartamento. [...] Ok, foi um prazer falar com você, pode
deixar que cuidarei dela sim. Acredite, ela é valiosa para mim
também. — Gabriel ri e então dá adeus antes de encerrar a
ligação.
— Que merda foi essa?
— Meu sogro é extremamente engraçado e dramático. Acho
que nossas famílias combinam bastante, meus pais são
divertidos, meu pai é um pouco dramático e minha mãe um
pouco louca. Estou ansioso para o jantar. — Eu não estou. Nem
mesmo tinha cogitado essa ideia. É cedo demais para isso.
— Nós podemos ir com um pouco mais de calma? Mal
começamos e nossas famílias já vão se conhecer? Isso é
assustador, até porque irei conhecer os seus pais...
— E a minha bolinha de queijo — ele diz.
— Quem é sua bolinha de queijo?
— Minha irmãzinha, Aurora. — Ele pega o celular e me
mostra uma bebê que é a coisa mais linda do universo todinho.
— Oh meu Deus!!! Eu preciso ver essa criança!
— Na foto não está aparecendo muito, mas ela tem os
olhos azuis claros, como um oceano.
— Aí, definitivamente quero conhecer sua família agora —
digo rindo e ele taca o foda-se para o celular, me deitando
novamente. — Gabriel...
— Ava — ele diz beijando meu pescoço e fazendo cócegas.
— Gabriel — repreendo e ele continua até que eu esteja
quase chorando de rir.
Nós comemos o jantar um pouco frio, bebemos uma garrafa
de champanhe e ficamos deitados, nus, contemplando o céu
estrelado. Até mesmo vemos o sol nascer.

Quando caminhamos pelo deck, rumo ao interior de casa,


noto a piscina sendo esvaziada e um Victor um tanto quanto
nervoso.
— O que houve?
— Vocês dois transaram dentro da porra da piscina?
Quantas vezes minha avó já falou sobre sexo na piscina? — ele
esbraveja.
— Nós não fizemos... não que eu me lembre — Gabriel diz.
— Eu fui dar um mergulho essa manhã e encontrei uma
cueca, uma calcinha de biquíni e um sutiã boiando. Já tomei
dois banhos para tirar possíveis espermas de mim.
— Realmente acho que transamos na espreguiçadeira.
Naquela ali... — digo apontando para onde uma garota está
deitada. Ela dá um salto da espreguiçadeira e eu seguro a
vontade de rir. — Na verdade, os culpados são Luma e Davi. Os
dois nos embebedaram e não sabemos de nada. Vá dizer que
você nunca fez sexo na piscina?
— De motel, apenas — ele diz. — Não faça isso
novamente.
— Não me dedure para o papai novamente.
— Não dedurei, ele perguntou e eu disse — fala com
naturalidade.
— Babaca!
— Meu pau!
— Bem adultos — Gabriel comenta rindo.
Passamos o resto do dia em alto mar e parte do domingo
também.
Um balanço sobre esse final de semana resume-se em uma
única palavra: satisfatório.

Na segunda-feira tudo volta ao normal, exceto eu e Gabriel,


com nossa rotina que não envolve ficarmos afastados. É algo
que não consigo controlar.
As coisas só fogem de controle quando chego na faculdade,
em minha sala e encontro um homão dentro dela.
— Olá — digo receosa e o homem se vira para ver quem
chegou. Eu quase rio. Gabriel está ao meu lado, tenso, e o
homem é absurdamente bonito. É mais velho, tem os cabelos
negros, uma barba por fazer cobrindo todo seu rosto,
sobrancelhas levemente grossas, um nariz esculpido, uns
braços fortes com veias saltadas. Resumindo: ele é alto, forte,
muito bonito, bem definido e deve ter na casa dos trinta e cinco
anos de idade ou pouco menos.
— Ava Albuquerque? — pergunta.
— A própria — confirmo e ele sorri. É aí que sinto vontade
de rir mais.
— Aron, o novo orientador da universidade, seu colega de
sala — diz me oferecendo sua mão.
— Estava bom demais para ser verdade — Gabriel
resmunga baixinho.
Parece que não é apenas eu que não terei sossego na
faculdade.
— Prazer, Aron. Não sabia que teria um companheiro de
sala, de qualquer forma, seja bem-vindo. — Sorrio simpática. —
Esse é Gabriel, meu... — Olho para o garoto ao meu lado,
ponderando o que vou dizer, e vislumbro um pouco de
vulnerabilidade, até mesmo uma certa insegurança, talvez por
ele saber que é mais novo e que diante de nós há um homem da
minha idade. Há certas coisas que não podemos fugir, o destino
se encarrega de nos obrigar a enfrentar de qualquer maneira,
quando menos estamos esperando. Ele não é descartável, não
após tudo que estamos vivendo juntos. Gabriel não é apenas
meu aluno aqui, ele é muito mais que isso. Respiro fundo e faço
o que tem que ser feito: enfrento meus medos, meus tabus e
aceito a realidade dos fatos. — Esse é Gabriel, meu namorado e
aluno.
Não adianta fugir dos desígnios da vida. Há razões que a
própria razão desconhece. Eu sigo sendo dele, ele segue sendo
meu.
DUAS SEMANAS DEPOIS

É quinta-feira à noite, pós faculdade, eu e Ava estamos


sentados na sala do meu apartamento, comendo um
hambúrguer quando Davi surge.
— Fala aí!
— Servido? — pergunto.
— Não, estou de boa. — Ele sorri. — Qual a boa da
noitada?
— Viajamos amanhã cedo, eu e Ava não vamos fazer nada
muito badalado hoje, você deveria fazer o mesmo. Vamos ver
filme. — Explico. Amanhã viajo para São Roque, para ver meus
pais, meus irmãos e minha bolinha, também aproveitarei para
pegar o pen drive onde há todo o processo do meu pai, para
mostrar a Ava. Minha namorada não poderá ir devido a uma
reunião no sábado, então vamos apenas eu e Davi. De qualquer
forma, em duas semanas meus pais conhecerão minha garota e
eu conhecerei os pais dela.
— Olá! — Luma chega também, sem nem mesmo tocar a
campainha. — Ei, Davi! Você por aqui? — Ela sorri e enrola
alguns fios de cabelo no dedo.
— Ei, princesa. Vim aqui, de bobeira. Nada para fazer...
— E aí, qual a boa da noite? — ela questiona para todos
nós. — Estou muito animada hoje, tipo insanamente animada.
— Meu Piroca Baby, viaja amanhã, não sairemos — Ava diz
de boca cheia. Por Deus, essa mulher está com o apetite
descontroladíssimo.
— Bom, já que é assim, eu gostaria de transar hoje, Davi —
Luma anuncia e eu e Ava congelamos o sanduíche no ar,
boquiabertos. Luma e Davi estão nesse não
relacionamento/relacionamento desde Ilha Grande. É cada
absurdo que já ouvimos, estou tentado a mudar de condomínio.
Eles não querem namorar, mas estão transando quase
diariamente.
— Você está a fim? — o imbecil pergunta com seriedade.
— Se você topar, eu topo. Estou de bobeira, não estou
fazendo nada — ela diz e eu balanço minha cabeça, incrédulo.
— Estou de bobeira também, minha princesa, nós podemos
ir para uma balada antes ou então só descer até o primeiro
andar e já começamos os trabalhos. O que escolhe?
— Transar, sempre transar será a minha escolha.
— Isso não pode ser real — Ava esbraveja. — Que porra
vocês estão fazendo, caralho?! Isso é diálogo de maluco.
— Vocês dois são muito chatos, definitivamente. — Luma
faz uma careta e puxa Davi pela camisa. Os dois se vão e eu e
Ava nos encaramos.
— Olha, eu não tenho psicológico para entender esse tipo
de situação — ela confessa e come uma batata frita. — Nossa,
eu vou explodir a qualquer momento.
— A comida está descendo para seus seios ou sua bunda,
então está tudo certo, você pode continuar comendo. Mesmo
que ficasse gordinha, eu ia gostar bastante — brinco e ela
começa a chorar. — Que foi?
— Eu me acostumei com você e você vai viajar — diz.
— E você está chorando por isso? É uma viagem rápida,
nós combinamos isso, você até incentivou devido aos processos
do meu pai.
— Mas estou arrependida.
— Você disse que estará ocupada durante todo final de
semana com a faculdade e o abrigo — argumento segurando o
riso.
— Não quero comer mais nada — ela informa ficando de pé
e recolhendo todo o lanche. Eu não consigo conter o riso
quando ela joga tudo na cozinha e sai correndo rumo ao meu
quarto, chorando, bem mimadinha da estrela.
Vou atrás dela e pego uma cena que dá até um aperto no
peito. Ela está deitada de bruços, abafando o choro no
travesseiro e parece mesmo uma criança agora.
— Ava... meu amor, vamos conversar.
— Saia daqui! — ela grita, muito brava.
— Não vou sair — falo me deitando ao lado dela. — Vem
aqui, meu amor. Vamos conversar — digo mexendo em seus
cabelos e ela começa a se acalmar. — Eu prometo voltar
rapidinho e trazer uma surpresa.
— De comer?
— De comer — confirmo. Se eu mandá-la escolher entre
um anel de diamante e um bolo de prestígio, ela escolhe o bolo.
— Promete que vai voltar rápido?
— Prometo. Quando menos estiver esperando, estarei
invadindo sua cama. Ok? — Ela balança a cabeça em
concordância e limpa o rosto.
— Você me fez gostar de você.
— Graças a Deus, eu consegui isso. — Sorrio.
— Eu te odeio por isso, Gabriel. Eu estava bem antes de
você surgir, agora estou uma bagunça.
— Então temos que terminar? — Para quê eu fui dizer essa
merda? Ava começa a chorar novamente, dessa vez me
agarrando, quase me sufocando. — Eu estou brincando, Ava.
Sou muito louco por você, muito. — A louca me beija chorando,
de uma maneira insana que me faz rir. Então ela fica muito puta
por eu estar rindo e começa a me bater. Sou obrigado a prendê-
la na cama, entre minhas pernas. — Ei, calminha, Little Girl.
Você é uma mocinha.
Só a solto quando ela está devidamente calma.
— Ok, parei de palhaçada, vamos dormir Piroca Baby —
informa limpando o rosto mais uma vez. — Você pode abaixar a
temperatura do ar? Quero bem frio, para dormir abraçada com
você.
Eu faço exatamente o que ela pediu. Abaixo a temperatura,
pego mais um edredom e me junto a ela na cama. Não demora
muito para ela está dormindo e sorrio de toda loucura.
Acordo de manhã com meu telefone tocando. Ava ainda
dorme quando o brilho do visor pisca escrito Davi.
— Oi.
— Já estou pronto, caralho, você está atrasado a meia hora.
— Me dê quinze minutos, já estou indo. — Encerro a
ligação e suspiro, observando a mulher desmaiada em minha
cama. É melhor eu acordá-la, do que deixar apenas algum
bilhete. Ava pode ser doida.
Cuidadosamente afasto seus cabelos do rosto e distribuo
beijos em sua bochecha até tê-la despertando. Ela sorri
preguiçosamente e me puxa pelo moletom.
— Meu amor, eu tenho que ir, Davi está me esperando. —
Ela faz um biquinho de quem vai chorar e a vejo engolir a seco.
— Já volto para você, comporte-se mocinha. Não estarei na
faculdade hoje, mas tenho olheiros. No primeiro deslize, darei
um soco naquele idiota do Aron.
— Sei me defender.
— Não importa. Você é minha e, se ele abusar, terá sérios
problemas comigo — informo. — Vou trocar de roupa, estou
mais que atrasado. Cuide-se ok? Mantenha o celular por perto e
fique com a chave do meu apartamento.
— Ok. Volta logo para mim, tudo bem? — Sorrio e a beijo.
Davi pode esperar mais um pouquinho. — Quero você...
— Não dá tempo agora, Little Girl, me espere ok? Esteja
pronta para matarmos a saudade em grande estilo. — Ela
balança a cabeça em concordância e eu vou trocar de roupa.
Antes de ir embora, vou dar um beijo nela e ela já está
dormindo novamente.
Pego uma fruta e sigo para a garagem, onde não é apenas
Davi que está me esperando, mas Luma também. “Nera” eles
que eram só amigos?
— Ei! Piroca baby!
— Ei, foguentinha. Você está vindo conosco? — questiono.
— Tô de bobeira, não estou fazendo nada... — Essa frase
pronta dos dois já está me irritando. Tudo deles é “tô de bobeira,
não estou fazendo nada”. A questão é que Ava vai surtar com
força pelo fato de Luma ir e ela não. — Estou brincando, não
vou. Só vim trazer Davi na garagem mesmo.
— A claro, veio se despedir do namorado — provoco
abrindo o porta-malas.
— Teu pau com piercing, cunhadinho. Somos apenas
melhores amigos.
— Para todo o sempre — Davi afirma, e eu reviro os olhos.
— Ok, vamos embora — digo e eles se despedem tentando
manter um abraço informal. Eu esperava isso da “relação” Ava e
Gabriel, não dá deles. É surpreendente, mas os dois devem
saber o que estão fazendo.
Ele entra no carro e seguimos nossa longa viagem, fazendo
paradas pelo caminho. A primeira delas é na Casa do Alemão,
onde lembro de Ava no mesmo instante e começo a rir.
— Eu vou querer o sanduíche de linguiça, número 7 e uma
coca de 600 — informo ao garçom.
— Eu quero o sanduíche 5 e uma coca também — Davi fala
e me encara. — Por que você está rindo como um idiota?
— Nada. Estive naquele hotel, que eu e você ficamos
quando estava chovendo muito.
— No chalé? — Ele ri.
— Sim, com Ava.
— Maneiro, que bonitinho — ele diz me tacando um
guardanapo.
— Teu cu!
— Até meu cu deve ser bonito. — Eu rio. — Luma diz que
sou lindo.
— Ah, vá para o inferno vocês dois. Nunca vi um casal que
não é casal mais retardado.

Após comer, seguimos a viagem. Paramos em Juiz de Fora,


em Congonhas, em BH e então chegamos em São Roque
agraciados com a despedida incrível do sol.
Minha mãe surge correndo assim que nos vê e eu a pego
em meus braços.
— Meus bebês!
— Minha luz. — Ela sorri quando digo. — Onde ela está?
— Ela está dormindo com seu pai, não ouse acordá-los. Eu
estou quase os mandando para uma viagem para a Nárnia. —
Começo a rir e ela vai para os braços de Davi.
— Olha, os dois babacas cariocas chegaram! — Pedro
surge com uma mochila no ombro, fumando.
— Eu me lembro de ter dito algo sobre fumar — aviso e ele
detém seus passos à medida que eu caminho diretamente para
ele.
— Gabriel! — minha mãe grita assim que o pego pela
camisa. Foda-se, eu tenho o direito de intervir.
— O que eu disse sobre essa merda?
— Calma, porra, é só ansiedade por uma prova — justifica.
— Foda-se. Há um bebê nessa casa e eu não quero essa
merda aqui. Minha mãe já falou, meu pai e eu. Estou falando
sério, se eu ficar sabendo que você fumou mais uma vez, vou
largar a porra toda no Rio e nós teremos um problema, de
homem para moleque. — Ele apaga o cigarro no chão e eu o
solto.
Pedro é um garoto muito incrível, foda, mas há esse
pequeno problema precisando ser solucionado. Ele nem
despede quando entra em seu carro e sai para a faculdade.
— Você pegou pesado — Davi repreende.
— Vai resolver — digo. — Desculpa mãe, por chegar assim.
— Está tudo bem, meu amor. Vamos comer! Fiz muitas
coisas gostosas.
Quando chego na cozinha há uma mesa farta, com várias
qualidades de comidas. Há bolo de fubá com goiabada, bolo de
prestígio, pães de queijo e salgados. Eu amo minha mãe e a
magia que ela tem para cozinhar.
Assim que termino de lavar a mão, meu celular toca e sorrio
ao ver o nome de Ava.
— Gente, estou pretérita — minha mãe diz e eu contenho o
sorrio.
— Ei, Little Girl — digo e minha mãe se engasga no mesmo
instante, tendo que ser acudida por Davi.
— Alguém está morrendo aí?
— Apenas minha mãe se engasgando. — Sorrio. — Como
você está?
— Só ligando para saber se chegaram bem. Estou indo
para a faculdade.
— Chegamos sim, minha linda. Tudo certo.
— Posso dormir no seu apartamento? — Rio da sua
pergunta e minha mãe está começando a se recompor.
— Minha cama, sua cama. Minha casa, sua casa. — Dona
Analu dá um tapa na mesa, parecendo incrédula.
— Queria sexo. — Essa mulher é o diabinho.
— Segunda, ou quem sabe um pouco antes... consegue
segurar?
— Quando eu chegar da faculdade te ligo e debatemos um
pouco sobre isso. Beijos, meu Piroca Baby, nada baby.
— Nada baby — concordo e ela ri antes de encerrar a
ligação.
— Credoooo! Que absurdo! — minha mãe exclama. —
Digo, que maravilha, meu filho está namorando. Eu quero muito
conhecer minha nora. Por que a chama de Little Girl? Poderia
criar um outro apelido, não?
— Mês que vem, falta pouquinho. A chamo de Little Girl
porque ela se parece como uma garotinha às vezes. Por que eu
mudaria o apelido? Acho bonitinho. — Meu pai surge e minha
mãe muda por completo o foco do apelido.
— Senhor Gibi, seu filho foi laçado pelo ritmo alucinante do
amor.
— Que bosta hein! Tão jovem e decidiu ter uma morte lenta
e dolorosa. — Ele me abraça e minha mãe taca um pão de
queijo na cabeça dele. — Está vendo? Se sua namorada tiver o
mínimo de características da sua mãe, foge com força, meu
filho.
— Davi não está muito atrás.
— Sou solteiro. — Ele se defende.
— Ele está muito louco na irmã da minha namorada — digo
e ele ri.
— Ela é uma princesa, pai. Muito linda, delicada, com uma
pitada de insanidade e gosta de umas coisas proibidas. Perfeita.
Mas somos apenas amigos com algumas vantagens.
— É, eles surgem das profundezas e começam um diálogo
muito louco sobre quem está a fim de transar hoje... — Delato e
meu pai ri. Então escuto um choro e todos já sabem que vem
briga, porque eu e Davi saímos correndo para disputarmos
Aurora. Eu chego mais rápido e ela está nos meus braços,
completamente assustada. — Oh minha bolinha de queijo mais
gostosa do mundo todinho.
— Minha princesinha, você está tão gorducha — Davi diz
tentando pegá-la e eu não permito.
— Tatai — ela diz esfregando os olhinhos e eu sinto que
hoje nem tomo banho mais. Acabou, ninguém tira ela de mim.
Caminho com ela para a cozinha e ela ri assim que vê meu
pai.
— Minha briochinha, você acordou — meu pai diz sorrindo.
— Bom, hoje não tem desculpa, mister Salvatore, a noite é
nossa. Aurora é toda de Gabriel e Davi. Vamos sair para
namorar.
— Aurora é toda de Gabriel, porque eu marquei de
encontrar alguns amigos — Davi anuncia pegando a garota do
meu colo. — Ela vai ficar um pouco comigo, já que não
ficaremos juntos na night, não é mesmo princesa?
— Você tinha planos, filho? — minha mãe pergunta.
— Tinha, ficar com Aurora mesmo. Me acostumei com ela
nas férias, estava louco de saudades. Podem ir namorar. —
Minha mãe solta um gritinho e se joga nos braços do meu pai. —
E Humberto?
— Está em BH, ele vem amanhã — minha mãe explica.
— Me fale mais sobre sua namorada — meu pai pede se
acomodando em uma cadeira.
— Ela é mais velha que eu, seis anos. É advogada,
orientadora da faculdade e a conheci quando ela se mudou para
a cobertura ao lado. Ela é linda, um pouco raivosa como
mamãe, ou talvez dez vezes pior. Mas estou conseguindo domar
a fera, aos poucos.
— Imagino como — minha mãe diz rindo.
— É, ela é ninfomaníaca purinha.
— Assim que é bom! — meu pai fala e ganha um tapa no
braço. — Analu, francamente, nem vou te falar nada em respeito
ao nosso filho. Mas, não faz qualquer sentido você me bater
agora.
Ficamos conversando por um longo tempo e então todos
vão se arrumar para curtirem a noite de sexta-feira. Eu pego
tudo que Aurora pode precisar e levo para o meu quarto.
Minha mãe, quando termina de se arrumar, fica com ela
para eu poder tomar banho. Então, quando termino, todos se
vão.
— E agora, bolinha, você quer assistir qual desenho? Ah!!
Backyardigans! — Ela ri assim que digo o nome. Procuro na TV
os episódios salvos e coloco a lavagem cerebral. Pior de tudo,
esse desenho é bem bonitinho e eu sou fã incondicional do
Pablo.
Só para de assistir um pouco para trocar a fralda dela e dar
mamadeira.
Aurora dorme por volta das dez e quarenta e então, às
onze, eu começo a ligar para Ava e ela não atende. Eu tento até
uma hora da manhã, então desisto, puto pra caralho. Nós temos
um grande problema, pois eu não sei lidar com essa merda.
Você percebe que está muito louca, quando se pega
falando sozinha enquanto dirige. Eu já perdi as contas de
quantas vezes soquei o volante, pobrezinho. Ele não tem
absolutamente nada a ver com as minhas frustrações. Sim, eu
estou bastante frustrada, porque a minha vida não era para ser
assim. Não sou essa pessoa. Eu gostava de quem eu era antes,
uma mulher forte, fria, impessoal e dominadora. Era mais seguro
e eu tinha domínio sobre minha própria vida. Já essa pessoa
que virei, é uma merda. É atrapalhada, instável, emotiva,
sentimental de todas as maneiras e está chorando por conta de
um homem gratuitamente.
O fim da minha dignidade se deu hoje à tarde, quando me vi
sentada no sofá do apartamento de Gabriel, com um pote de
sorvete em mãos, assistindo Como Eu Era Antes de Você e
chorando como uma descompensada. Nem Luma entendeu
quando voltei ao meu apartamento com os olhos inchados.
Aliás, nem eu. Eu odeio filmes de romance, sempre odiei e fui
assistir essa merda, onde o homem morre no final e deixa a
mocinha. Essa maldição, eu odeio essa autora e todo o restante
dos envolvidos nessa barbárie.
Chego na faculdade e já encontro logo de cara Renatinha.
Sorrio e a cumprimento com o veneno em minha mente.
— Ei, Renatinha. — Ela faz uma careta e sai andando
apressada enquanto eu fico rindo. Eu queria dar uns tabefes
nela hoje, gratuitamente, só para descarregar minhas
frustrações. mas, ao contrário disso, ergo a minha cabeça e
caminho até a minha sala, que deixou de ser apenas minha,
para tornar-se compartilhada.
Abro a porta e o capiroto mor já está dentro da sala. Fico
revoltada. Ele hoje está de terno e gravata, combinando bem
com o termo advogado do diabo. Ele é bonito demais quando
está casual, mas de terno, é uma maldição. Sorte que tenho
namorado, ou nem sei...
— Oi — digo e ele me encara de uma maneira estranha.
— Oi, Ava. Boa noite. Sozinha hoje?
— Oh sim, meu namorado não veio me trazer até a sala
essa noite, ele está viajando — explico me acomodando em
minha mesa.
— Interessante. Com todo respeito, você é mais velha que
ele?
— Seis anos. Por quê? Alguma objeção? — Ele levanta as
mãos e sorri.
— Nenhuma objeção, apenas curiosidade.
— E você? É solteiro? — pergunto tentando não soar
grosseira.
— Solteiro.
— Qual a sua idade? — indago.
— Trinta e três. E a sua vinte e nove — diz e eu pressiono
meus olhos. — A coordenadora me informou.
— Ah, sim, interessante. Bom, vamos ao que interessa?
— O que interessa, Ava? — ele questiona apoiando as duas
mãos na minha mesa. Bem bonito. Mas meu Piroca Baby é
mais.
— O trabalho, é a única coisa que tem todo meu interesse.
— Sorrio e abro meu notebook.
Começo a trabalhar e ele ainda fica alguns minutos em
minha mesa, me observando. Eu ignoro. Se com Gabriel eu sou
uma outra Ava, com Aron eu consigo ser a velha, boa e
impiedosa.
Atendo alguns alunos que estavam agendados e, quando a
aula termina, eu ainda fico revisando alguns arquivos em meu
notebook.
Às onze da noite decido que é o momento de ir embora,
quando Aron surge das profundezas para pegar suas coisas.
— Adeus — digo a ele colocando minha bolsa no ombro e
saio da sala.
Meus pés congelam quando vejo um certo homem sentado
num sofá, na recepção, me esperando. Ele dá um sorriso e eu
grito um puta que pariu internamente.
— Rafa... — digo e ele fica de pé. Jesus coroado, me
proteja dessas provações da vida, é a primeira vez que estou
me permitindo viver um amor e aí surgem esses homens.
— Até que enfim, doutora Ava! — diz me abraçando quase
em um estrangulamento. — Deus! Que saudade de você.
Quando meu padrinho disse que você havia mudado de repente
para o Rio, fiquei desesperado. Estava na Bahia, de férias,
acabei de chegar de viagem, nem fui em meu apartamento
ainda. — Puta merda.
Rafael é filho do meu “tio” Ricardo. Além disso, ele é o
homem que tirou minha virgindade e que eu já transei pelo
menos umas vinte vezes ou talvez o triplo. Obviamente que
ninguém sabe disso, ou a morte na família aconteceria.
— Rafa, eu realmente preciso de um apoio psicológico, mas
não vai rolar com você. — Ele ri. Vocês não têm ideia. Ele é
muito lindo, muito lindo quando está sério. Mas ele sorrindo?
Puta que pariu, ele sorrindo foge do controle.
Mas há um outro sorriso em minha mente agora... um tão
lindo quanto, que mais parece com um sorriso de uma criança
inocente.
— Vamos, temos muito papo para colocarmos em dia. —
Convida já segurando minha mão e a filha da puta da Renatinha
passa no momento exato em que eu tento desvencilhar.
— Eu tenho um namorado — digo desesperada.
— E onde ele está?
— Viajando — explico.
— Ótimo, assim sobra tempo para um velho e bom amigo.
— Eu estou passando mal... dor de cabeça.
— Tenho remédio — argumenta. — Vamos lá Ava, eu não
estou indo agarrá-la, embora seja tentador. Somos amigos,
quase primos, família.
— Ok, ok. Mas não posso demorar muito. Vou no meu carro
e você no seu.
— Certo, basta me seguir — avisa e caminhamos rumo ao
estacionamento.
O sigo e em quinze minutos estamos estacionamento na
garagem do prédio dele.
Ele pede uma pizza, vai tomar banho e então surge
descamisado.
Conversamos um pouco sobre as férias dele, a pizza chega
e eu como três fatias, sem nem perceber. Ele tenta me dar
vinho, mas eu recuso todas às vezes. Vinho é meu ponto fraco
das bebidas alcoólicas. Posso beber vodca e ficar bem, mas o
vinho me deixa louca.
Nós ficamos conversando até eu quase cair dura ao ver que
são mais de uma da manhã.
— Merda, eu preciso ir — digo ficando de pé e ele me puxa
pelo braço.
— Seu namorado?
— Também. Mas tenho compromissos amanhã e preciso
me organizar. — Ele faz um biquinho e eu sorrio.
— Eu vim seco, pensando em você, em nós. Achei que
finalmente conseguiríamos ir além.
— Ir além dessa vida né? Meu pai te mataria.
— Não mataria. Ele sabe que sou um bom rapaz e ainda
sou psicólogo, ele admira muito isso — diz sorrindo.
— Ok, senhor psicólogo, que mexe com a mente das
mulheres, preciso realmente ir. — Pego minha bolsa e saio
decidida. Ele vem atrás e entra na frente da porta.
— Você gosta do seu namorado?
— Muito. — Ele balança a cabeça em aceitação e abre a
porta para eu sair.
— Me dê um toque quando chegar em casa, ok?
— Deixa comigo. — O abraço e ele tenta me roubar um
beijo, que escapo como uma profissional.
Quando chego em casa, há pelo menos trinta chamadas de
Gabriel em meu celular. Tento retornar as ligações, mas ele não
atende.
Quando abro meu WhatsApp e clico no nome Gabriel, há
pelo menos quatro fotos minhas com Rafael e apenas uma
mensagem “parabéns, você brilhou nessa”.
Renatinha.
Eu entro num desespero que nem consigo entender. Há um
medo louco de ter perdido Gabriel por nada. Eu não sei quantas
vezes tento ligar para ele e ele rejeita. O surto maior vem
quando ele me bloqueia no WhatsApp.
Eu tento não chorar e começo andar pelo apartamento
descompensada. Não sei o que fazer, definitivamente.
Luma surge também desesperada.
— Meu Deus! Davi está numa balada e ele é o mais gato de
todos os amigos dele! Deve haver uma fila indiana com
centenas de mulheres para pegá-lo, e ele ainda tem um piercing
na piroca, um chamarisco para a população feminina. Deus, eu
sinto que não vou conseguir dormir essa noite. O que há de
errado com você?
Eu me jogo nos braços dela e me permito chorar como
nunca.
— O que foi, Ava?
— Gabriel meio que terminou comigo — digo e ela faz um
own... que ódio.
— Meu Deus, é claro que ele não faria isso. Por que está
dizendo isso?
— Rafael foi me ver na faculdade, a puta da Renatinha,
uma garota que Gabriel ficava, tirou fotos dele segurando minha
mão, me abraçando e indo para o estacionamento, juntos. Ele
me bloqueou no WhatsApp e não atende as ligações.
— Que merda!
— Eu não sei o que fazer... dói. — Ela me abraça mais
forte.
— Fique calma. Descanse, vá dormir, amanhã com calma,
você tenta resolver isso. Mantenha-se confiante. Você vai
explicar que Rafael é parte da nossa família e tudo ficará bem.
— Você acha?
— Sim, Ava. Eu também vou tentar não ficar pilhada,
principalmente por Davi ser solteiro — diz mexendo em meus
cabelos. — Vá tomar um banho e relaxe. Pense positivo.
Eu vou.
Tomo banho e até durmo, mas acordo na manhã seguinte
destruída.
Gabriel não me atende sábado, Gabriel não me atende
domingo e não me atende na segunda de manhã.
Eu tenho febre emocional e nem mesmo consigo controlar.
Me forço a ir ao trabalho e choro nos braços de Aron, como se
fossemos amigos íntimos. É preciso muita força para eu retomar
meu estado normal. Aron até me dá um pedaço de torta de
chocolate, que me faz sorrir um pouco.
No final da aula, estou um pouco melhor, até ver Renatinha
e... meu Piroca Baby, caminhando rumo ao estacionamento. Ao
invés de febre emocional, me sobe um ódio, tipo sangue nos
olhos. Eu ando um pouco mais rápido e a alcanço antes que ela
possa colocar a mão na maçaneta do carro dele.
Me sinto uma adolescente brigando no final da aula, quando
jogo minha bolsa no chão e a pego pela blusa. Não consigo
brigar igual mulherzinha, comigo é na porrada real.
— Para você entrar nesse carro, terá que passar por cima
de mim. Eu sou mais alta, mais forte, faixa preta em Jiu-jitsu e
ainda tem o agravante de eu estar com ódio mortal de você.
— Ava... — Gabriel surge tentando me conter e eu me
afasto, carregando a vadia comigo.
— Não estou falando com você, idiota. Não se aproxime de
mim.
— Ava, deixa ela.
— Não. Ela vai aprender a fazer merda direito — aviso e
puxo os cabelos dela com uma só mão. Num ato de puro
descontrole, a jogo no chão e ela geme. — Tem ideia da merda
que você fez? — questiono e Gabriel me segura, com muita
força, de forma que não há como eu reagir.
— Você fez merda, não ela.
— A única merda que eu fiz foi deixá-lo entrar em minha,
virar tudo do lado avesso, para depois me ignorar porque essa
vadia te mandou fotos minha com meu primo — grito e ele dá
uma fraquejada. Aproveito para me desvencilhar e rio, deles e
de mim mesma. Eu não sou esse tipo de pessoa.
— Onde você estava até mais de uma da manhã?
— Não é mais da sua conta, Gabriel — informo pegando
minha bolsa no chão e caminho rumo ao meu carro, tentando
não desmoronar.
Ligo o motor e acelero com os olhos nublados, seguindo
rumo ao meu apartamento e deixando Gabriel para trás. Em
alguns momentos me pego pedindo a Deus para tirá-lo da
merda da minha vida, mas em outros me pego pedindo para ser
apenas um sonho ruim.
Quando chego em meu apartamento, há um bilhete de
Luma dizendo que vai dormir com Davi. Eu agradeço por estar
sozinha e a invejo por estar melhor bem mais resolvida que eu.
Vou direto para o banho, onde confundo a água caindo da ducha
com as minhas lágrimas. Gostar tanto de alguém pode ser a
melhor e a pior coisa que uma pessoa pode fazer.
Sou obrigada a sair correndo da ducha para vomitar,
tamanho abalo psicológico. Vira uma bagunça de vômito, com
choro compulsivo, com escova de dente... só depois de longos
minutos consigo conter meu desespero. Então me arrasto para a
cama, me encolho em posição fetal e tento ficar bem.
Meu ar está na temperatura mais baixa, tudo está
devidamente escuro e frio, assim como eu me sinto: na
escuridão e frieza completa.
— Ava! — Ouço a voz de Gabriel e salto da cama. Ele está
batendo na porta do meu apartamento e eu saio correndo para a
sala.
— Saia daqui! Eu não vou abrir, idiota.
— Precisamos conversar, Ava. Não vá agir como uma
criança agora.
— Eu que sou a infantil? Você recebe fotos idiotas e fica
dois dias sem falar comigo, até um pouco mais que isso e eu
sou infantil? — questiono voltando a chorar e ele soca a porta.
— Abra essa merda, Ava.
— Eu quero que vá embora, Gabriel, por favor. — Ouço a
porta do apartamento dele batendo com força e escorrego pela
parede. Deus, que merda é essa que existe entre nós dois? Pelo
amor, isso não pode ser dessa intensidade toda, porque
machuca, sufoca, dói absurdamente.
— Pronto, agora nós podemos conversar — ele diz do meu
lado e eu quase tenho um ataque cardíaco.
— Merda, você invadiu meu apartamento.
— Eu te amo, Ava, e justamente por isso cometerei
centenas de erros. Porque eu sou muito, muito, completamente
louco por você e esse sentimento me deixa cego, louco e
insano, pois nunca fui assim com qualquer mulher antes e nunca
gostei tão rápido de alguém como gosto de você. Você sumiu
porra, uma hora da manhã e você não me atendia, então eu
recebo fotos suas com outro cara, de mãos dadas, Ava. Se
juntar tudo, faz sentido pensar que você estava com outro
homem. — Fico de pé e limpo meu rosto, preciso voltar a ser eu
e é esse o momento.
— Saia daqui, Gabriel.
— Não vou sair, Ava.
— Vai, por bem ou por mal — informo e ele é mais rápido,
me jogando contra a parede. Minha respiração se torna uma
bagunça enquanto ele me mantém presa.
— Me perdoa, meu amor.
— Não.
— Ava, eu fiquei cego, meu final de semana foi uma merda
completa — ele diz traçando um dedo em minha bochecha. —
Eu amo essa pintinha em sua boca.
— Você rejeitou mais de duzentas ligações, seu final de
semana deve ter sido incrível.
— Me perdoa.
— Não, eu quero que vá embora, que saia da minha vida,
quero tirar você de tudo porque quando você não existia, eu não
sofria. É o mais indicado para a minha saúde mental. Isso que
há entre nós dois é perigoso, doloroso...
— Incrível, Ava. De uma maneira que precisamos nos
entender para continuarmos vivendo isso — diz bem próximo da
minha boca. Eu não consigo resistir, mas eu gostaria muito forte.
Tento dar uma joelhada nele, ele impede rapidamente. — Você
quer ter filhos?
— Não.
— Então pode dar uma joelhada. — Ele sorri e suspira em
seguida. — Não faça isso, Ava. Você quer que eu peça perdão
de joelhos? Eu peço — fala se ajoelhando aos meus pés. — Por
favor, amor da minha vida, me perdoe. Sou apenas um pobre
garoto que não sabe amar, mas que ama, mesmo do modo
errado.
— Gabriel, saia. Isso está ridículo igual filme de romance
barato. — Ele fica de pé.
— Não vou sair, nem se seu pai surgir nessa porta com a
polícia. Não vou perdê-la, nem por um maldito caralho. Você é
MINHA.
— Não.
— Ava, você é minha — diz segurando meu rosto. —
Minha. Eu não sairei.
— Você estava saindo com aquela vagabunda, Gabriel —
digo socando seu peitoral. — Você, além de tudo, estava saindo
com ela para mais uma sessão de sexo fracassada.
— Só estava indo dar uma carona, para te irritar.
— Você conseguiu, tanto que não quero te ver nunca mais
na vida. — Vejo uma lágrima escorrendo de seus olhos e engulo
a seco.
— Por favor, Ava. Me perdoe — pede segurando minhas
duas mãos em oração e as beijando. — Por favor, não desista
de mim logo no meu primeiro erro. Pese tudo o que vivemos nas
últimas semanas. Não desista de nós, me perdoe por ter errado.
— Saia. — Ele respira fundo, limpa o rosto e me dá as
costas, saindo do meu apartamento pela porta da frente.
Novamente estou no chão, desolada. Nem sei quanto
tempo fico nessa.
São três horas da manhã quando, em um acesso de loucura
e raiva, eu decido confrontá-lo.
Visto um roupão e pulo para o apartamento dele.
O encontro na sala, deitado no tapete, com um travesseiro
cobrindo os olhos.
— Você é um imbecil, Gabriel. Além disso é fraco. Se
contenta com um não fácil demais, estúpido.
— Você invadiu meu apartamento? Isso é crime — diz sério.
— Ava, por mais louco que sou por você, não vou ficar me
humilhando. Te procurei, tentei, você não quis. O que você quer
que eu faça? Te estupre? Force? Não farei isso, Ava. — Eu me
deito no tapete ao lado dele e passo a encarar o teto.
O que diabos está acontecendo? Eu não sei. Deus! É difícil
demais gostar de alguém, merda.
— Eu e Rafael já ficamos dezenas de vezes — admito e ele
vira a cabeça para mim, um pouco chocado. Eu me viro de lado
e o encaro. — Eu perdi minha virgindade com ele, Gabriel, não é
legal ouvir isso, mas eu precisava dizer. Somos meio primos,
meu pai é padrinho dele. Mas, sempre fomos amigos,
independente de tudo que já compartilhamos sexualmente. Ele
não sabia que eu estava aqui, que havia mudado. Então ele
chegou de viagem e foi me ver na faculdade. Nós fomos ao
apartamento dele, comemos pizza e nada além disso. Eu fui
como uma prima, porque não havia como negar, Gabriel. Havia
um bom tempo que não nos víamos. Meu celular estava dentro
da bolsa, no silencioso. Porque eu sempre o deixo silencioso na
faculdade. Só que fui pega de surpresa assim que estava indo
embora, nem mesmo tive o raciocínio de lembrar do celular. Um
erro, eu sei. Mas existe algo que possuo em excesso e chama-
se honestidade. Eu fui honesta com ele, estou sendo honesta
com você. Traição é algo que não perdoo e não faço. Eu tenho
você, de uma forma tão alucinante que não sobra espaço para
qualquer outra pessoa. Compreende? O que nós temos é
diferente, não colocaria isso em risco. — Confesso.
— Eu deixarei ao menos os dois olhos dele roxos.
— Eu tive febre, chorei, não consegui participar da reunião
da faculdade no sábado, não consegui brincar com as crianças
no domingo. — Soluço e tapo minha boca, voltando a deitar de
barriga para cima. — Eu odeio sentir isso. Deus, estou doente...
de amor. — Levanto em um salto e saio correndo para o
banheiro.
Eu vômito, choro e vômito novamente. Fico uns vinte
minutos trancada, escovo os dentes e me jogo embaixo d'água.
Não aguento mais chorar, me sinto fraca por isso, imensamente.
Mal consigo me manter em pé.
Quando saio, Gabriel está parado, encostado na parede de
frente para a porta.
— Ava, eu sinto muito. — Eu balanço minha cabeça em
compreensão. — Você está pálida, abatida, vamos ao médico.
— Não, eu só preciso dormir, porque não sei o que é isso
desde sexta-feira.
— Eu sinto muito, muito — ele diz me puxando para seus
braços e eu finalmente volto a respirar. — Sinto muito, meu
amor. Estou um pouco louco por você, Ava. Não consigo conter
mais. Ava?
— Eu preciso dormir — digo e ele me pega em seus braços,
me coloca em sua cama e eu desmaio sem ver ou ouvir
absolutamente nada.
Não sei ser meio termo, não sei ser rasa. Como eu disse
antes, minha intensidade é tanto uma dádiva, quanto um
castigo.
Quando eu sinto, eu sinto muito.
Quando eu amo, eu transbordo.
E quando dói...
É insuportável!
Acordo antes de Ava e fico contemplando seu sono pesado.
Ela está muito desmaiada e eu me pego sentindo um pouco de
culpa por isso. Fui infantil, enxergo isso. Mas fiquei louco,
principalmente por achar que as fotos justificavam o fato dela
não atender minhas ligações.
Ainda estou aprendendo a lidar com meus sentimentos em
relação a ela e, infelizmente, o ciúme que possuo é grande
demais. Como não ter ciúme e até mesmo um pouco de
insegurança? Olhe para essa mulher... ela é um absurdo
completo. É linda, inteligente, sagaz, experiente, mesmo tendo
um jeito de garotinha muitas vezes, além de ser naturalmente
sexy. Ava é sexy até dormindo, é tão linda, tanto que parece
algo inalcançável.
Ela está um pouco abatida, isso me faz levantar da cama e
começar a agir.
A primeira coisa que faço é minha higiene matinal, a
segunda é trocar de roupa para ir comprar algumas coisas para
o café da manhã.
Há uma enorme e famosa delicatessen, e eu compro desde
salgados à doces para minha garota. Voltando para o
apartamento, preparo o amado café com leite de Ava e coloco
em uma bandeja o iogurte, frutas e todas as demais coisas de
comer. Levo para o quarto, deixo sobre a mesa de canto e vou
acordá-la.
— Meu amor... — sussurro em seu ouvido, enquanto
passeio com meus dedos em seus cabelos. — Acorda para mim,
princesa. — Ela começa a se mexer e eu sorrio. — Acorda, bela
adormecida.
— Hummm... não.
— Eu trouxe muitas coisas de comer, muitas — dito isso,
ela abre os olhos e me encara.
— Gabriel... — ela chama meu nome e começa a chorar.
Deus, eu não sei mais o que fazer, não sei lidar com isso.
— Ava, pelo amor de Deus, diga o que eu preciso fazer
para tirá-la dessa merda e eu farei. Eu sou capaz de aceitar ir
embora e deixá-la, se isso significar ter sua felicidade de volta.
Eu não sei lidar com isso, Ava. Estou assustado — digo
sentando-me na cama e tento respirar fundo. Essa situação terá
que mudar, de uma maneira ou de outra, nós dois precisamos
resolver isso o quanto antes. É melhor que acabe logo de uma
vez, do que prolongar o sofrimento. Mas, a minha coragem vai
toda pelo ralo quando volto meu olhar a ela.
Não consigo pensar em abrir mão dessa mulher, tornei-me
um egoísta mesmo, por completo.
— Ava, vamos decidir nossa situação, do jeito que está, não
tem como ficar. — Ela se levanta a vai direto para o banheiro. Eu
fico sem saber o que fazer e me jogo na cama, com as mãos no
rosto. Estou quase chorando, pela segunda vez por causa de
Ava, eu nunca chorei por qualquer mulher antes. Sabe quando
você consegue sentir o peso do clima? Estou exatamente assim,
sentindo a energia pesada, um sufocamento ao qual eu não
consigo fugir nem por um maldito caralho.
Quando ela sai do banheiro, torno a me sentar e noto que
ela está bem melhor... bem melhor mesmo. Os cabelos
devidamente arrumados, as bochechas levemente coradas,
essas malditas lingeries, que esses benditos roupões escondem,
esses seios fartos. Por Jesus!
Ela é louca e está tentando me deixar no mesmo nível de
loucura. Eu não vou desistir, de forma alguma.
Fico de pé e caminho até ela. Ela tenta fugir, mas a pego
com um só braço e a grudo em meu corpo. Olhos nos olhos.
Seria poético e alucinógeno demais dizer que nossos corações
agora estão batendo no mesmo ritmo? Eu sinto isso.
— Eu não vou deixar você sair da minha vida tão fácil.
— Não é você quem determina isso — fala tentando se
desvencilhar.
— Eu determino qual batalha irei lutar e você não tem
absolutamente poder algum para mudar e muito menos interferir
em minhas decisões.
— Nós dois somos intensos na mesma proporção, Gabriel.
Você consegue enxergar alguma maneira que isso vá dar certo?
Com poucas semanas já há sofrimento. Eu não quero imaginar
se continuarmos juntos e em algum momento der errado — ela
argumenta.
— Você diz que sou fraco, que não luto. Eu acho que você
está dizendo isso de si mesma, porque logo no primeiro
obstáculo você está desistindo, por medo do futuro, Ava. Isso é
ser fraco. Foi um erro, dos dois. Você por ter esquecido da
merda do celular, eu por ter desconfiado e ignorado. Eu pisei na
bola Ava, assumo e já pedi perdão. Agora pare, esqueça de toda
essa merda e foque no que estávamos vivendo. Você quer
desistir de tudo? O que nós vivemos, compartilhamos é tão
insignificante? Olhe isso, Ava, nós dois estamos sofrendo, até
nossas respirações estão em conjunto. Me dê uma chance. Sou
novo nisso, meu amor. Você não faz ideia do quão perdido me
encontro neste momento, pois eu nunca lutei por nada antes,
então apenas não sei como fazer isso e nem mesmo sei se
estou fazendo o certo. Você é importante para mim, faz a
diferença em minha vida e eu amo, muito forte. Eu estou tão
louco por você, como nunca estive antes... Apenas diga alguma
coisa, merda, seu silêncio é pior que um estádio lotado gritando.
— Eu não sei amar, Gabriel, quando eu amo dá nisso... —
ela diz abaixando a cabeça. Ela me ama? Merda, Ava me
confunde tanto, é tão complexa.
— E então, Ava? Nós estamos terminando? Você está
desistindo?
— Eu não! Quero uma medida cautelar que impeça que
você passe pelo menos a vinte metros daquela vadia, quero que
apague todos os contatos dela, que exclua ela de todas as suas
redes sociais e que me deixe bater nela. — Sorrio e passo meu
polegar em sua bochecha. — Ela foi falsa, maquiavélica, tudo
pelo seu pau com piercing que me pertence. — Passo meu
polegar em seus lábios e a beijo.
No momento exato em que nossos lábios se chocam, é
como se o mundo virasse do avesso. Um espelho quebra em
milhões de pedaços quando a pego em meus braços e saio
derrubando o mundo. Estou levando-a para o quarto que ela
ainda não conhece e no meio do caminho já estou sem camisa e
ela sem roupão.
Assim que a porta se abre eu me torno insano e rasgo toda
a lingerie de Ava. Chuto meus tênis para longe, desvencilho-me
da minha bermuda e da cueca, então começo estudar
possibilidades, mas nada desse universo me atrai o suficiente.
Olho para Ava e ela está segurando um sorriso, mordendo
seu lábio. Minha perdição todinha.
— Você parece perdido, Piroca Baby. Tem medo? —
pergunta provocativamente e eu a jogo na cama, invadindo-a de
uma só vez e fazendo com que ela grite em alto e bom som.
— Eu acabo de me encontrar. — Sorrio.
— Senti falta disso como se fosse o oxigênio.
— Então vamos recuperar o tempo perdido. Hoje você é
minha, todinha, sem faculdade, sem sairmos daqui — aviso e
ela me puxa para um beijo.
Eu amo toda a ferocidade e até mesmo um pouco de
violência que Gabriel me dá na cama.
Muitas das vezes ele me trata como uma mulher da vida,
sem muito carinho, como se estivesse em busca apenas do seu
prazer próprio (mesmo eu sabendo que não é, e que meu prazer
vale mais para ele, mas é a forma como ele me trata como uma
puta de zona). Eu nunca fui o tipo de mulher fetichista, mas
desde que começamos a transar, eu descobri que ser tratada
dessa maneira baixa, me excita em grandes proporções. Tipo
agora, ele está com sua mão forte em minha garganta e com a
outra, ele está me dando um tapa na cara (não muito forte, mas
numa intensidade que parece calculada para mexer com os
nervos de uma mulher).
Seu pau desliza incansavelmente para fora e para dentro de
mim, tocando pontos que eu nem sabia que existiam. Enquanto
ele faz todo o trabalho, eu apenas seguro nas grades da cama,
atrás da minha cabeça.
Eu não sei se o que mais me excita são as maravilhas que
ele está fazendo em meu corpo ou se é ver seu rosto,
desprovido de qualquer resquício de um simples garoto,
deixando em evidência um macho selvagem e necessitado.
Em seus olhos, se lê luxúria, gula... um pouco de cada um
dos pecados capitais.
Suja boca desce pelos meus mamilos e sou obrigada a
soltar as grades para tentar contê-lo. Eu sou uma sádica, porque
até a barba dele roçando fortemente contra a minha pele, me
excita.
— Gabriel... — chamo seu nome quando ele agarra um de
meus mamilos com os dentes. Misericórdia, ele está mesmo
tirando o atraso.
Do nada, ele me pega pela cintura, fica de pé e se senta
num sofá esquisito, me deixando por cima dele. Eu fico alguns
bons segundos sem ação e ele sorri.
É exatamente esse sorriso que toca no fundo da minha
alma e faz meu coração pulsar mais forte. Eu sinto muito, muito,
muito forte. E não consigo encontrar uma explicação lógica para
sentir tanto, tão intenso e tão rápido. Eu sinto e sinto com todas
as minhas forças. Eu sinto de uma maneira que nunca senti.
Apenas sinto, com a simplicidade e a humildade de reconhecer
que não há como fugir do sentir, não há como fugir de Gabriel.
Eu sinto o amor por ele, na mesma intensidade que senti o
medo de perdê-lo. Não há diferença alguma em proporções.
Aquela dor que senti esse final de semana, agora foi
transformada em alívio, mas em uma nova dor também: a dor de
querer tanto alguém e não saber lidar com isso.
As mãos dele deslizam em meus seios e fecho os olhos,
permitindo sentir. E, por Deus, seu toque dói no fundo do meu
peito e isso me faz abrir os olhos para encará-lo. Suas mãos
descem pelo meu quadril e então ele força meu corpo para
frente e para trás, porque, de repente, eu perdi a capacidade de
agir.
Seu rosto agora está sério, ele está me avaliando, sei disso
e não me importo. Eu estou permitindo que ele veja a verdade
por trás da fachada de mulher enfurecida. E eu sei que ele vê.
Há em mim muitas fraquezas e ele tornou-se parte delas. É
assustador sentir tanto.
— Ava, estou ouvindo seus pensamentos, quando tudo que
quero é ouvir seus gemidos. Não está rolando... Você está como
uma múmia, meu amor. Diga o que está acontecendo, vamos
resolver.
— Eu... sinto muito.
— Não tem problema, não estou chateado com isso. Só
quero resolver. — Deus, faça ele parar de ser assim...
— Eu quis dizer que tenho muitos sentimentos. Muitos. É
como se eu fosse capaz de absorvê-los com muita facilidade. E
eu sinto intensamente cada um. Senti muita dor nos últimos dias
e então muito medo. A dor, acompanhada do medo, juntos
formam um sufocamento e uma angústia desesperadora. E as
duas coisas unidas ao desprezo...
— Ava, eu não fazia ideia... — ele diz ficando em pé,
comigo em seus braços. Então me coloca ao chão,
desconectando nossos corpos. Pela primeira vez eu me sinto
exposta. — Me desculpa, Ava. Eu sinto muito, nos dois sentidos,
como você. Sinto muito por ter errado, sinto muitos sentimentos
por você. — Me silencio enquanto ele anda pelo quarto.
Ele para e se aproxima. Desliza suas mãos pela minha
cintura e inala o perfume em meu pescoço. Eu me entrego.
— Me abrace — pede. — Me abrace como se dependesse
desse abraço para o seu coração bater. Me abrace como se eu
fosse seu oxigênio. Como todos os sentimentos que possui.
Engulo a seco quando ele me abraça extremamente
apertado e retribuo o gesto. O abraço, com toda a minha
bagunça interior, com todos meus sentimentos e como se eu
dependesse disso para viver. Não sei o que ele quer com isso,
mas quando sinto nossos corações batendo no mesmo ritmo, eu
começo a compreender.
Ele quer me mostrar que se sente da mesma forma. Quer
me mostrar a reciprocidade e mostrar que toda a bagunça que
eu sinto, ele sente também, no mesmo ritmo, na mesma
intensidade. Não estou sozinha nessa confusão, ele está
comigo. Entre erros, acertos, dores e sentimentos, ele está
comigo.
Quando seus olhos encontram os meus, ele é tudo o que
vejo, tudo o que sinto, tudo que amo. É como se ele fosse a
minha redenção completa.
— Eu te amo. — As palavras saem em uníssono de dentro
de nós.
Eu gostaria de entender porquê há tanto tabu em relação às
festas raves. Sinceramente, a energia desse lugar é surreal, não
há brigas, há apenas sorrisos, pessoas dançando, se divertindo.
Claro que há pessoas com tóxicos, mas nem mesmo elas
perturbam. Ou seja, festa rave é o melhor tipo de festa que pode
existir. E Davi, possui o mesmo gosto.
Eu, ele, Ava e Gabriel já estamos aqui há sete horas. O sol
já está surgindo por trás de um lindo céu alaranjado. Não
estamos cansados ou com sono, muito disso porque nos
sentamos em diversas ocasiões, nos hidratamos e não estamos
consumindo bebidas alcoólicas. Sim, esse é o segredo para
você aguentar uma festa que pode durar até vinte e quatro
horas.
Mas, mesmo assim, confesso que está dando uma vontade
de sumir daqui e ir para casa. Davi possui muitos amigos... e
amigas. Não é ciúme, de maneira alguma, mas é irritante vê-lo
cercado por garotas o tempo todo. E elas estariam assim em
torno de Gabriel também, se ele e Ava não estivessem
brincando de cão e guarda. Sim, os dois estão ridículos, como
sem fossem segurança um do outro. E ainda dizem que eu vivo
no mundo da ilusão...
Na verdade, observá-los está sendo uma distração. No
auge da madrugada eles já fizeram quase sexo diante de todos,
já brigaram e agora estão dançando como crianças animadas. A
inconstância entre eles é algo assustador.
Davi estava ao meu lado até este momento, quando dois
homens e cinco garotas surgiram o tirando de mim. Cansada
dessa palhaçada, me afasto e vou dançar sozinha. Foda-se. Eu
odeio como elas o cumprimenta passando as mãos por todos os
lados. Ele ser lindo é um inferno. Talvez eu deva arrumar um
amigo colorido feio, que seja apenas bom no sexo. Acho que
isso evitaria problemas, ou talvez nem isso. Do jeito que a
mulherada tem chamas acesas em suas partes íntimas, nem o
feio irá escapar.
Ando alguns metros e então olho para trás para vê-lo
tirando fotos cada hora com um amigo e uma amiguinha
diferente. Isso me impulsiona a seguir a diante.
— Ei princesa. — Um homem que está sentado no gramado
diz sorridente, contendo meus passos. Amizades são sempre
bem vindas, masculinas ou femininas. Ele não parece
assustador, muito pelo contrário.
— Ei. — Sorrio.
— Está sozinha? — ele pergunta educadamente.
— Depende. Eu vim acompanhada, mas neste momento, eu
estou sozinha.
— Oh, brigou com o namorado, hein? Isso é bem chato, não
é mesmo? Vir para uma balada e brigar com o namorado.
— Não. — Sorrio. — Eu sou solteira, não tenho um
namorado — explico e ele fica de pé. Eu até arregalo os olhos
diante de altura do homem. Sou alta, mas ele deve ter uns
quinze centímetros a mais.
— Já está indo embora ou apenas rodando à toa?
— Não sei — digo com toda indecisão que habita em mim.
Sou muito indecisa, realmente indecisa.
— Desculpa, meu nome é Willian, tenho trinta e um anos. E
você?
— Luma, tenho vinte e nove. — Sorrio e damos um aperto
de mãos, que é interrompido por Davi, o segurando pela camisa.
— Não encoste nela. — Willian sorri e levanta as mãos.
— Missão de paz! — diz. — Ela disse que era solteira.
— Eu sou.
— Você é? — Davi questiona irado, passando as mãos nos
cabelos. — Você não é mais.
— Sou sim, adorável senhor!
— Ah, entendi. Vocês ficam, mas não têm um compromisso
firmado. Isso é tenso, meu caro. Olhe para essa mulher, deixá-la
solta é pedir para perdê-la. — Sorrio achando Willian fofo. Ao
menos ele é gente boa.
— Não pedi a sua opinião.
— Olha o estresse — Willian diz rindo. — Fica tranquilo, sou
do bem, não vou roubar sua futura namorada, ok? Foi um prazer
conhecê-la, Luma. Divirta-se.
— Foi um prazer também, Willian. Você é muito legal.
— Você está de brincadeira comigo, Luma? — Davi
questiona assim que me despeço de Willian com um abraço.
— Por quê? Não posso fazer amizades? Você está a noite
toda em torno de suas amiguinhas, direitos iguais, querido. Não
somos namorados, somos? Não somos.
— Somos.
— Não me lembro de nada disso.
— Você sabe que somos, mesmo que não tenhamos
conversado sobre isso — argumenta.
— Não somos. De qualquer forma, você espantou meu
amigo. — Ele me pega pela cintura e me beija de uma forma
alucinada. Retribuo, mas sou obrigada a lutar pelo fôlego para
poder acompanhá-lo. Suas mãos deslizam pelas minhas costas
e as minhas deslizam em torno do seu pescoço.
Que beijo gostoso, que boca incrível, que toque delicado e
quente. Davi é tão doce, mesmo quando está nervosinho ou me
beijando como um louco possessivo. Ele me trata como se eu
fosse sua princesa, com todo cuidado do mundo.
Quando ele encerra a conexão dos nossos lábios, ficamos
com nossos narizes grudados e sorrio, enquanto ele permanece
com o semblante fechado.
— Por que está com raivinha? — pergunto passando meus
dedos em sua nuca.
— Não sei dizer, não gostei de ver você próxima de outro
cara.
— Não era nada demais para você ficar com raiva —
explico.
— Não gostei, Luma. Não gostei.
— Ok, já entendi, Davi.
— Luma, estamos juntos há semanas. Praticamente
morando juntos. Todos os dias você está na minha cama quando
vou dormir e então quando acordo; mesmo quando não
transamos, estamos juntos porque gostamos de estar juntos.
Nesse período, desde quando transamos pela primeira vez, só
não dormimos juntos os dias que você esteve em Ilha Grande
com seu pai e seus irmãos e mais umas duas vezes. Fora isso...
compreende? Então mesmo que não tenhamos um rótulo, nós
estamos morando junto. Há roupas sua no meu closet, produtos
de beleza, coisas de mulherzinha. Isso diz muito, Luma.
— Tudo bem, agora para de ficar com essa carinha, tudo
bem? Estamos juntos. — Ele suspira, como se estivesse
frustrado.
— Vamos embora?
— Por quê? Ava e Gabriel ainda estão ali.
— Eu e você somos diferentes dele. Gostaria de ir para
casa, de tirar sua roupa e matar quem está me matando. —
Sorrio e deposito um beijo em sua bochecha.
— Você é fofo.
— E você é uma princesa, minha princesa. — Ofereço
minha mão a ele e seguimos para procurar Ava e Gabriel.
Deus, eles estão muito além de apaixonados. É algo tão
surreal ver Ava dessa maneira. É como se não existisse mais
nada no mundo, além de Gabriel. Eu até tiro uma foto deles
escondido, enquanto Davi ri.
— Olá, senhor, vai comer agora ou quer que embrulhe? –
pergunto os interrompendo.
— Dentro de alguns minutos — o engraçadinho responde.
— Estamos indo embora, e vocês? Se forem ficar, vamos de táxi
e vocês ficam com o carro.
— Não, vamos embora também — Davi diz. — Não vamos,
Luma?
— Sim, eu poderia ficar mais umas três, quatro horas...,
mas, vamos embora transar.
— Claro, vocês parecem dois animais no cio.
— E vocês não? — questiono ao meu cunhado
engraçadinho e ele fica calado. — Vocês estão indo embora por
que e para quê?
— Ava está com fome e estamos com vontade de foder —
Gabriel explica e eu abro a boca em espanto. — Estou
aprendendo a ser sem filtro com você e Davi, não me olhe
assim.
Eu me calo e então caminhamos rumo ao estacionamento.
Gabriel vai dirigindo e faz um pit stop em uma farmácia. Eu,
observadora que só, fico olhando Ava sorrindo sozinha. Um
sorriso bastante maquiavélico.
Gabriel volta e entrega a sacola a ela. Ele também está com
um sorriso sarcástico em seu rosto, ou seria um sorriso
cafajeste? Algo eles farão nessa manhã. De qualquer forma,
concentro apenas na mão de Davi, que está bem no alto da
minha coxa. Me remexo, o induzindo a encontrar um outro
lugarzinho e ele sorri.
— Princesa devassa. — Ele cochicha em meu ouvido. —
Estou ansioso para chegarmos em casa.
— Quero muitas doses de você.
— Você terá, quantas quiser e aguentar.
— Vamos parar no Mc Donald's? — Gabriel propõe.
— Drive Thru que é mais rápido, por gentileza — Davi pede
e eu começo a rir. Há três pessoas aqui muito desesperadas
para o sexo, exceto eu. Não que eu não esteja a fim, mas estou
controlada porque sei que em algum momento isso irá acontecer
e eu terei minha vontade devidamente saciada por esse lindo
homem ao meu lado.
— Isso é doença! — Ava argumenta. — Nós vamos descer
e vamos comer como pessoas normais. Pelo amor de Deus!
Transamos todos os dias, gente. Não é o fim do mundo
pararmos por quarenta minutinhos.
— Ava, eu estou duro pra caralho desde que...
— Menos, Gabriel! — ela praticamente grita e Davi dá uma
gargalhada. — Eu não sou a Luma, que gosta de expor os feitos
sexuais e ninguém precisa saber que você está excitado.
— Mas gente... — digo rindo. — Parei de sair com todos
vocês. A partir de agora sairei apenas sozinha, porque a loucura
é contagiante.
Paramos no Mc Donald's e Gabriel está mesmo excitado, a
ponto de Ava ter que entrar na frente dele e andarem abraçados
para conter a visão. Já Davi, está um príncipe como sempre. Eu
já disse que ele é um príncipe perverso? Pois é. Ele é aquele
tipo “dama na sociedade e puta na cama”. Um cavalheiro na
sociedade e um puto de primeira quando estamos entre quatro
paredes. Ele engana bem com essa carinha de anjo. Você olha
para ele e acha que é apenas fofura nesse rostinho bonito. Em
casa ele transforma por completo. Já eu... sou apenas eu. Um
pouquinho desprovida de pudor.
Comemos entre conversas e risos, então vamos embora.
Quando chegamos no prédio, eu e Davi ficamos no primeiro
andar, Ava e Gabriel sobem para as coberturas. É engraçado
que aqui já seja minha casa, realmente. Já há muito de mim no
apartamento de Davi, é tão estranho, nunca fui assim com
qualquer ficante, nem mesmo com namorado.
A primeira coisa que faço é retirar meus sapatos, a segunda
é retirar Davi de cima de mim.
— Preciso tomar banho... — argumento enquanto ele beija
meu pescoço.
— Não precisa, você está cheirosinha, linda como sempre.
— Davi, estávamos a mais de oito horas em uma festa —
explico e ele morde minha orelha. — Davi...
— Ok, Luma, vamos tomar banho... fodendo — diz e me
joga em seu ombro. Eu aperto sua bunda e me divirto com seu
modo apressado. Quando me coloca no chão, retira meu vestido
e minha calcinha. Em seguida chuta suas próprias roupas para
longe, mas, não sem antes pegar um preservativo. Acho fofo
como ele é completamente ligado nisso. É como se o
preservativo fizesse parte dele.
Entramos embaixo da ducha, nos lavando numa confusão
de espuma, beijos e risos. Se há algo que Davi é mestre é em
me fazer rir. Ele é tão leve, espontâneo, me faz sentir tão bem.
— Te adoro, minha princesa.
— Também adoro você. — Sorrio e ele vira meu príncipe da
perversidade em segundos. Fecho meus olhos e me entrego,
deixando que ele se aposse do meu corpo e me submetendo a
todas as suas vontades.
Luma e Davi saem do elevador, as portas se fecham e sou
atacada ferozmente, sem chance de fugir.
— Gabriel, há câmeras aqui — tento argumentar.
— Sou insano por você, muito. Você tem o dom de me
deixar louco. — Deslizo minha língua pela orelha dele, mordo o
lóbulo e sussurro.
— Só por que eu disse que quero te dar uma outra parte do
meu corpo?
— Não. — Ele é firme em sua afirmação. O elevador se
abre e nos afastamos. Então caminhamos rumo ao apartamento
dele. Quando entramos, ele começa a se despir ainda na sala,
sob meu olhar curioso e avaliativo. — Você é muito além de
sexo, Ava. Há a sua inteligência que beira ao absurdo, sua
sagacidade, seu modo estressado, então um lado fofo que surge
raramente em alguns momentos íntimos comigo. Tudo em você,
até seus chiliques e suas manhas, mimadinha da estrela. Você
me deixa louco por ser você, sem máscaras, sem fingimento.
Transparente e autêntica como uma água cristalina. Quente
como o fogo. Um mulherão do caralho, Ava. — Quando ele está
nu, é o meu momento de despir. Retiro minha roupa e fico de
lingerie, rindo internamente da cara dele, que tem um fraco
pelas minhas lingeries. — Ava, por que você faz isso comigo?
— Porque eu gosto de te ver assim, impactado. Vem tomar
um banho comigo? — O convido me aproximando e suas mãos
deslizam pela minha cintura.
— Linda. Eu faço qualquer merda que você queira.
— Eu quero tomar banho com você e depois... você sabe o
que quero — provoco segurando seu membro por cima da
cueca.
— Sei...
Tomamos banho, escovamos os dentes e, quando me ajeito
na cama, Gabriel me puxa e nos leva para o outro quarto,
diretamente para o sofá apelidado de “sofá do sexo”. Ele se
acomoda, me deixando por cima e deixa o tubo de lubrificante
no chão. Há algo que me faz ficar extremamente arrepiada em
antecipação. Já fiz isso, três vezes, mas com Gabriel parece
diferente. Não é por fogo ou por insistência do parceiro, é
porque eu quero dar tudo de mim a ele. Ele nunca sugeriu, eu
ofereci, eu disse que queria isso, então é totalmente diferente.
As mãos dele deslizam pelas minhas costas e
automaticamente, levo meu corpo para frente e sua boca
captura a minha. Eu me movo pelo seu corpo, até ter seu
membro prestes a me invadir. Então Gabriel afasta nossos
lábios e juntos olhamos o encaixe perfeito acontecer. A maldita
intensidade... por que tem que haver tanto disso entre nós? Eu
sinto vontade de chorar e tenho que limpar algumas lágrimas
furtivas. Deus! Desde quando eu me tornei uma chorona?
— Ava, novamente chorando? — Ele fica mais sentado e eu
o abraço. Comigo em seus braços, ele fica de pé e mais uma
vez estamos desconectados, quando éramos para estar cem por
cento conectados.
— Por favor, vamos continuar...
— Não dá, Ava. Se você não percebeu, há algo muito
grandioso acontecendo e precisamos enfrentar. O jantar é
semana que vem e creio que nosso namoro não será a única
atração da noite. — Eu me sinto perdida ouvindo-o dizer. —
Você tem chorado até com propaganda de TV, chora com
cafunés, chora quando eu faço um jantar especial, chora quando
te envio flores na faculdade, você passa mal constantemente e
chora. — Ele sai andando para fora do quarto, veste uma cueca
e pega uma caixinha em sua gaveta. — Vamos lá, Ava,
banheiro.
— O quê?
— Você não entendeu? — pergunta com um excesso de
seriedade que não vi antes. — Ainda não se deu conta do que
está acontecendo?
— Não, eu não entendi, tão pouco me dei conta sobre o que
você está sugerindo. Só estou chorando porque há um excesso
de intensidade entre nós dois e tudo me toca de uma maneira
muito forte, Gabriel. Mas, se você não estiver satisfeito, foda-se!
Eu paro de chorar e nós paramos com a merda toda. Você jura
que vai implicar com o fato de eu chorar de emoção por tudo
que estamos vivendo? Pelo fato de eu te amar de uma forma
louca e incompreensível? É absurdo isso, Gabriel. Eu nunca me
entreguei a ninguém dessa maneira e quando faço, a pessoa
vem me criticar por chorar... INFERNO! Eu odeio você agora,
muito forte. Você é um babaca, insensível, voltou a ser frio do
nada. Qual a desculpa agora? Antes é porque eu não passava
confiança, e agora? — Ele me segura em seus braços e eu o
soco. — Me solte...
— Não. Para de gritar, o prédio todo deve estar ouvindo isso
— repreende.
— Que ouçam, eu não devo nada a ninguém, sou maior de
idade, pago minhas contas...
— Ava.
— Me solta, Gabriel, ou nós iremos brigar muito sério.
— Ava, não irei soltá-la. — Ele me mantém firme em seus
braços e estou respirando com extrema dificuldade. Quando
começo a me acalmar, me pego chorando mais uma vez e ele
me dá um abraço. — Fica calma, meu amor.
— Você não me respeita.
— Tudo que faço e respeitá-la, Ava.
— Mas não me deixa chorar... — Ele ri e eu fico com um
ódio mortal.
— Você pode chorar, a vontade, mas precisamos confirmar
a causa dessa instabilidade. Você disse algumas vezes que
você e sua irmã têm questões de dificuldade emocional, que
passam mal, têm febre, mas não acho que seja o caso agora,
meu amor. — Por que ele parece tão nervoso? — Vai ser difícil
lidar com você nesse segundo, na verdade, eu nem sei como
lidar com você, mas preciso dizer, porque que parece que você
não se deu conta mesmo. Ava... — Ele suspira e morde o lábio.
— Ava, eu acho que você está grávida. — Basta ele proferir as
palavras para eu já conseguir sentir a grandiosidade da
mudança em minha vida. — No mundo onde os amores são
mudos, eu e você somos o grito, Ava. A intensidade nos deu
isso. Tudo entre nós é em torno de muita adrenalina e do calor
do momento. E, sinto muito, mas não me arrependo de ter sido
intenso o tempo inteiro. É extraordinário o que temos, uma
conexão rara e uma entrega pura. Se minha suspeita for
confirmada, preciso dizer que esse bebê terá muita sorte. Nós o
amaremos com toda a intensidade que há em nós e o
defenderemos de tudo e de todos.
Eu sou o tipo de mulher reativa nos momentos de caos.
Estou sempre preparada para resolver qualquer merda que seja.
Mas, agora, estou um pouco paralisada ouvindo Gabriel me dar
um banho de força, positividade e resiliência. Ele não para de
falar, talvez por estar preocupado com a minha reação. Eu já tive
uma palestra nesses minutos, onde ele diz que devemos tirar
uma lição e abraçar o que nos foi dado, diz também que ter um
filho é a coisa mais fantástica, uma dádiva. Ok, eu preciso de
terapia, definitivamente. Não que eu seja insensível, mas estou
apavorada e ponto de não conseguir enxergar nada de bom ou
qualquer merda de positividade.
Pego a caixinha que ele comprou na farmácia e vou direto
para o banheiro, fazer o que tem que ser feito. Por que eu só
penso em meu pai agora? Sou uma mulher feita, não há o que
temer, mas eu temo mesmo assim.
Gabriel entra no banheiro junto comigo e, desprovida de
vergonha, tomada pelo desespero, eu faço xixi no
compartimento. Felizmente ele tem o bom senso de se virar.
Mergulho o teste na urina, me limpo, enquanto Gabriel lê as
instruções.
Fico sentada no vaso e é ele quem retira o teste para
observar o resultado. O homem que estava devidamente
confiante, deixa o teste cair e leva uma mão a boca, chocado o
bastante.
— Positivo — é tudo que ele diz antes de se sentar no chão.
Fodeu! Fodeu pra caralho!
Eu estou grávida, puta que pariu, onde eu estava com a
merda da minha cabeça? Provavelmente entre as pernas de
Gabriel, chupando seu incrível e majestoso pau com piercing.
Como pude ser tão descuidada? Como, desde quando o
conheci, esqueci que sexo engravida e que deveríamos nos
prevenir? Eu esqueci da vida, só isso justifica. É como sempre
digo, a intensidade é tanto uma dádiva, quanto um castigo.
A intensidade entre nós dois é tão forte, que nos faz
esquecer que existe vida fora de nós dois. Bem assim, quando
estamos juntos é como se fossemos uma única pessoa, um
único lugar, é tão louco. Antes de obter a confirmação, tudo
parece fácil demais. Mas, depois que o positivo vem, você nota
que fodeu. Não que ter um filho seja a pior coisa do mundo, mas
é a forma como isso aconteceu, do nada, rápido pra caralho,
sem eu ter a devida estrutura psicológica para um
acontecimento desse porte. E Gabriel? Por Deus, ele parece
desesperado agora. Talvez seja por ser mais novo, ainda estar
na faculdade, não sei dizer. Mas ele está pálido, sentado no
chão, tomado pela perplexidade. Seu discurso de resiliência
parece ter caído por terra e não há outra opção a não ser eu
tomar as rédeas da situação agora. Pois é, era eu quem deveria
estar no maior de todos os abalos, mas pelo visto é ele quem
ficou. Nós erramos, eu fui a primeira a errar, na verdade. Fui eu
quem pedi para que ele não usasse preservativo e ele embalou
na minha ideia, que foi a melhor coisa, preciso dizer isso. Senti-
lo sem barreiras é a coisa mais fantástica da vida.
Deixando os pensamentos de lado, decido enfrentar o que
deve ser enfrentado:
— Ok, Gabriel, não há nada o que possa ser feito.
Aconteceu, estou grávida. Temos que encarar a situação. Temos
condições financeiras de criar um filho, isso é importante agora.
Só precisamos trabalhar nosso psicológico. Nada muda, apenas
teremos um bebê. Eu continuo em meu apartamento, você no
seu. Século vinte e um, vida que segue. — Ele me lança um
olhar quase assassino.
— Simples e prático, com uma frieza absurda, como se não
existisse nada entre nós dois e que tudo o que estamos vivendo
fosse insignificante até você descobrir que está grávida e sua
auto suficiência bastar. É simplesmente “eu estou grávida,
vamos encarar, nada muda, eu no meu apartamento, você no
seu”. Ava, sinceramente, eu esperava mais de você. — Ele
suspira frustrado e até fica de pé. — O meu posicionamento é
totalmente ao contrário. Eu amo você, nós fizemos um filho e eu
quero, aliás, eu quero não, eu faço questão de criar esse bebê
juntamente com você. Nós só precisamos de um tempo para
absorver a informação e então teremos uma conversa sobre o
melhor a ser feito, lembrando que não existe uma única chance
de eu me manter distante. Esteja avisada, Ava. Não é com frieza
e praticidade que estamos indo tratar um assunto que muda
toda a nossa vida e nossa história.
Eu fico caladinha, recolhida em minha insignificância.
Realmente acredito que dê para tratar disso com praticidade,
mas vejo que Gabriel, por mais que sejamos parecidos, possui
algumas peculiaridades em determinados assuntos. Há
determinadas situações que ele encara com toda seriedade que
possui e essa é uma delas. Logicamente é algo que deve ser
levado a sério, mas... Não vou deixá-lo guiar o rumo da situação,
porém, ele pode estar certo em alguns pontos.
— Eu não quero comunicar isso a qualquer pessoa agora,
nem mesmo aos nossos pais. É recente, sei dos riscos de uma
gestação e eu quero estar segura para poder fazer o
comunicado. Não me sinto preparada agora. Nossos pais se
conhecerem já será complexo o bastante, porque meu pai é
extremamente super protetor. Com ele tem que ser um passo de
cada vez. Primeiro ele precisa aceitar nosso relacionamento
para então aceitar que será avô. — Meu Deus! Eu estou muito
fodida! Meu pai vai me matar! Conheço Gabriel a pouquíssimo
tempo...
Ok, Ava, não surte! Você não é uma garota de dezesseis
anos e sim uma mulher de quase trinta.
— Ok, não precisamos comunicar nada a ninguém. Por
enquanto, esse assunto pertence apenas a nós. Deus! — ele
exclama me assustando. — Eu terei um filho! Isso é chocante
demais. Passei a vida toda em torno de crianças, vi minha
irmãzinha nascer e agora terei meu próprio filho. Ava, essa é a
coisa mais louca que já me aconteceu, estou muito
desorientado, mesmo que já estivesse esperando um resultado
positivo. Por que você não está chorando?
— Porque estou anestesiada, como se nenhum outro
sentimento, além da incredulidade, pudesse habitar em mim
agora. Mas, certamente, quando voltar ao meu estado de
espírito natural, eu chorarei — explico e ele sorri.
— Eu espero que volte ao seu estado natural.
— Para me ver chorando? — questiono e ele ri.
— Para você reagir à notícia. Seja uma reação boa ou ruim,
eu prefiro que reaja.
Reagindo, desisto de ficar trancada no banheiro e saio,
acompanhada do meu namorado perseguidor. Me acomodo na
cama e fico olhando para o teto. É surreal todas as coisas que
passam pela minha mente agora. Tudo vira um filme. Parece
que só essa notícia foi capaz de abrir meus olhos para enxergar
que não sou mais uma criança. Eu me sinto saindo da
adolescência e encarando a vida adulta. Bem isso.
— Ava, o que existe entre nós é verdadeiro — ele diz com
firmeza, se acomodando ao meu lado. — Você tem alguma
dúvida? É por isso que está aérea? Está arrependida?
— Eu só estou anestesiada. Não estou arrependida de
qualquer coisa, faria tudo novamente, Gabriel. — Eu sei que é
verdadeiro, tanto que não consigo passar três horas sem vê-lo e
sem estar por perto. Virou uma obsessão, um amor forte e
inabalável, um vício, uma necessidade. Eu não tenho dúvidas do
que existe entre nós, mas a maternidade está me abalando
significativamente agora.
— É que é uma merda maldita vê-la assim, fria e distante —
ele explica. — Não vou conseguir dormir — confessa
suspirando. — Acho que vou descer para a academia.
Eu respiro fundo e então o puxo para mim. Nós dois
precisamos de um pouco de sexo para aliviar a tensão. Eu já
estou nua, então apenas retiro a cueca dele com a ajuda dos
meus pés, enquanto o beijo desesperadamente.
Demora um tempo até que Gabriel esteja devidamente
“animado” e disposto ao sexo, isso nunca havia acontecido
antes. Ele sempre foi como se possuísse um interruptor de subir
e abaixar seu delicioso membro. Mas, quando enfim o ânimo
acontece, nós voltamos a ser nós mesmos e ele me dá toda sua
loucura que amo na cama. O que eu sinto por esse homem foge
da compreensão e até mesmo do aceitável.
Quando as mãos dele envolvem meus seios, eu sinto uma
alta sensibilidade, uma mistura de arrepios e calor. Quando sua
boca desliza pelo meu pescoço, eu apenas levo minha cabeça
mais para trás, só para me deliciar com uma das maravilhas que
a boca dele pode fazer. Ele movimenta seu quadril com precisão
e então paralisa os movimentos por alguns segundos, deixando-
nos completamente encaixados. Ele volta a se mover e então
para. Propositalmente sua boca avança pela minha orelha, ele
disfarça dando uma mordida, mas então solta seus ofegos que
me deixam desesperada. Meu namorado sabe o quão
apaixonada pelos seus sons eu sou, e ele me dá. Gabriel me
sacia até nos sons. Meu orgasmo faz com que eu grite o nome
dele e que todo o meu corpo entre num estado de tremor. Solto
os mais loucos gemidos enquanto ele busca o próprio prazer, e,
quando acontece, eu tenho mais um vislumbre incrível do
semblante tomado pelo mais puro prazer.
Gabriel deveria ser menos lindo e menos tentador quando
está gozando.
Quando estamos recuperados do nosso momento sexual,
tomamos um banho juntos e nos aconchegamos na cama. Eu
fico deitada sobre o braço dele, com uma perna jogada sobre
suas pernas e ele fica fazendo cafuné em meus cabelos até que
eu esteja chorando. Meu senhor, eu serei mãe. Terei um bebê.
Como pode? Terei um alguém dentro de mim, movendo, se
alimentando, crescendo e então terei esse alguém saindo de
dentro de mim.
— Vai dar tudo certo, Ava. Não chore. Nosso encontro não
foi planejado e é perfeito o bastante. Logo, nosso filho não
planejado, só trará coisas incríveis para a nossa vida. Pense
sempre pelo lado positivo. Nosso filho não é uma coisa ruim, é
uma vida sendo gerada no seu ventre. Consequência da
intensidade e de uma força sobressalente que nos liga.
— Suas palavras são lindas..., mas eu serei mãe.
— A mãe mais linda, sexy e com cara de atriz pornô. — Ele
sorri. — Sabe o que é mais incrível? O bebê gerado no ventre
dessa mãe absurdamente linda, é meu. Eu sou um homem de
muita sorte.
— Pare de ser fofo. — Choro e ele dá gargalhada.
— Uma mãe com cara de atriz pornô é tudo que eu posso
querer para o meu filho. Aliás, você ficará ainda mais com cara
de atriz pornô, depois que seus seios estiverem maiores que já
são, eu morrerei, Ava. Será difícil não querer transar com você a
cada vez que eu vê-la. Espero que seus hormônios sigam os
meus, que sexo seja algo que tenhamos em excesso. Te ver
grávida vai me tornar o maior de todos os pervertidos. — Eu
sorrio, limpando as lágrimas.
— Você tem fetiche com gestantes, Gabriel?
— Não. Tenho fetiche com você gestante. Deus, Ava, você
vai ficar cem vezes mais gostosa do que já é. Você já é em
exagero, eu sou alucinado nos seus seios. Vamos transar? —
Eu dou uma gargalhada e então ficamos em silêncio. — Ava —
ele me chama após longos minutos.
— Oi.
— Posso fazer uma coisa? — pergunta se sentando.
— Pode. — Ele sorri, levanta a minha camisa e então faz
algo que faz meu coração vacilar. Ele simplesmente, com o
maior de todos os carinhos, distribui beijos pela minha barriga.
As lágrimas voltam a saltar dos meus olhos, em rompantes.
— Eu te amo.
— Meu Piroca Baby, nada baby, é recíproco.

Nós ficamos bem com a notícia, eu só não esperava que ela


teria o poder grandioso de me transformar em uma outra mulher.
Uma mulher muito descompensada, com todos os tipos de
sentimentos e loucuras. Com os hormônios exaltados além do
permitido e sadio para as pessoas que me cercam.
Me tornei o que mais temia: uma pessoa sem limites, sem
medida, sem controle, exagerada, sádica, com todos os mais
diversos sentimentos ilimitados e confusos.
QUINTA-FEIRA — DOIS DIAS PARA O JANTAR

Chorar, transar e enlouquecer. É tudo que Ava tem feito


essa semana. Acho que saber sobre a gestação afetou o
cérebro dela ou algo assim. Antes ela só chorava, era de boa,
mas agora ela tornou-se muito instável e incontrolável.
Na terça-feira ela fez o exame Beta HCG que confirmou o
que já sabíamos. Na próxima semana, assim que nossos pais
forem embora, começaremos com o pré-natal e estou ansioso
para isso. A ideia de ser pai nunca tinha passado pela mente,
mas agora que está acontecendo, parece incrível e eu quero
aproveitar ao máximo todos os detalhes. Eu sempre gostei muito
de crianças, principalmente pelo fato de lidar com elas desde
sempre. Ter meu próprio filho para criar, educar, brincar, curtir...,
é como realizar um sonho que eu não sabia possuir. Outro
detalhe importante é realizar esse sonho ao lado da primeira
mulher que eu realmente amo. Já gostei de muitas garotas, mas
Ava... Ava, supera tudo e todas, em todas os mais diversos
sentidos. O que nós temos é inexplicável, assustador e forte,
muito forte. Há todos os motivos do mundo para estar feliz,
exceto o fato de minha namorada estar trancada em uma sala
com o idiota do Aron, com uma blusa um tanto quanto decotada,
que dá um bom vislumbre dos meus seios, que no caso são os
seios dela, mas que pertencem única e exclusivamente a mim,
por enquanto.
É quando dá o horário de irmos embora da faculdade que
temos tido encontros explosivos. Como de costume, eu saio da
sala, caminho pelo corredor e sou parado a cada dois passos
que dou. É aí que o furacão Ava surge e as pessoas até fogem
de medo. Muito Atriz Pornô. Essa mulher me deixa duro no
automático.
— Ei, Piroca Baby, nada baby.
— Ouça, é a última vez que você vem com uma blusa assim
para a faculdade — informo sério.
— Ouça você, eu sou livre para fazer minhas escolhas. Eu
visto a roupa que quiser e me sentir bem, você não tem controle
algum sobre isso.
— Você fica trancada na porra de uma sala o tempo inteiro
com Aron, o cara que só falta te foder com os olhos. Você
gostaria que fosse o contrário, Ava? Se sentiria bem se eu
trabalhasse sem camisa trancado numa sala com uma garota?
— Ela suspira.
— Eu mataria os dois.
— Então apenas compreenda o que estou dizendo. — Ela
sorri maquiavelicamente e segura minha camisa.
— Você está com ciúmes, Piroca Baby?
— Extremamente, Ava. — Ela se aproxima mais e vem até
meu ouvido.
— Me fode dentro do carro, no estacionamento da
faculdade? — Engulo a seco e solto até um som de frustração.
Por que ela tem que ser assim? Eu nem mesmo respiro mais,
apenas seguro sua mão e a levo embora para o maldito
estacionamento. Ambos entramos pelas portas traseiras do
carro e então tudo acontece rápido demais. Ela retira a calça e
joga para qualquer lado, enquanto eu apenas abaixo a minha,
juntamente com a cueca. Não demora cinco segundos para que
ela esteja me montando, com uma vontade insana e
assustadora, como se cada movimento fosse responsável pelos
seus batimentos cardíacos.

Na sexta-feira, pós faculdade, vamos ao mercado vinte e


quatro horas, fazer compras para o jantar dos nossos pais.
Juntos, elaboramos um cardápio e decidimos que nós mesmos
iremos cozinhar. Mas, conhecendo Ava, sei que eu farei 80% de
tudo. De qualquer forma, estou bastante animado. Nunca fiz um
jantar para os meus pais, muito menos para sogros.
Quando chegamos em meu apartamento, organizamos tudo
na cozinha, tomamos banho, transamos como selvagens
psicóticos e dormimos pela exaustão.
No sábado pela manhã é quando tudo começa diferente do
planejado.
Ava está chorando até por respirar, vomitou a manhã toda,
vomitou o almoço e agora está sentada no balcão, me
observando preparar tudo para o jantar, chorando.
— Ava, você chorou o suficiente para quatro dias — eu
repreendo e ela vem até mim, deita sua cabeça em meu peito e
me abraça forte.
— Estou com mal pressentimento, Gabriel. Eu gostaria que
pudéssemos fugir, como Luma e Davi fizeram. — Davi e Luma
inventaram uma viagem para fugir dessa situação, espertinhos.
— Nada de ruim vai acontecer meu amor, você só está
tensa por medo do seu pai. — Ela balança a cabeça negando e
sai correndo para vomitar mais uma vez. Lavo minhas mãos e
vou atrás. Ela está trancada na merda do banheiro e só me resta
esperar.
Os vômitos hoje não são pela gravidez, são pelo psicológico
abalado, pela ansiedade e o medo. Eu não sabia que Ava
poderia ser tão emocional, mas ela é, bastante. Não sei como
ela conseguia manter a fachada de mulher frígida antes. Ela é
calor, sentimento, fogo. Eu penso em algo que possa fazer
animá-la e decido executar logo. É uma boa desculpa para eu
buscar algo que encomendei também...
— Meu amor, está tudo bem? — pergunto.
— Sim, vou apenas tomar banho.
— Olha, vou sair por uns minutos e já volto, ok? Me ligue
caso precise de qualquer coisa — ela responde com um ok e
decido agir.
Dez minutos depois, estou no outro apartamento que meu
pai possui.
— Olá família! — digo e minha mãe corre para me abraçar.
— Estou ansiosa para conhecer Ava — fala animada.
— Ela também está, tanto que está passando mal de
ansiedade. — Sorrio.
— Filho, o pen drive que você me pediu. — Meu pai me
entrega e então me dá um abraço. Guardo o item no bolso e
sorrio.
— Bom, vim sequestrar uma pequena bolinha de queijo por
algumas horas, pode ser? Quero levá-la para distrair Ava um
pouco.
— Claro que pode, vou arrumar algumas coisas que ela
possa precisar — minha mãe informa e eu vou buscar Aurora no
carrinho. Ela sorri quando me vê e eu a pego no colo.
— Minha bolinha de queijo! — digo beijando seu pescocinho
e ela dá gargalhadas.
— Ela é a mais linda, não é mesmo? — meu pai diz
babando e roubando a atenção de Aurora que até então era
minha. — Briochinha do papai.
— Tatai.
— Exatamente, meu amor. Agora fale, Biel — digo e ela ri.
— Pode ser Ga... pode ser biel, pode ser irmão, maninho — falo
fazendo cócegas em sua barriga rechonchuda.
— Aqui está tudo. Você já sabe as medidas da mamadeira,
sabe trocar fraldas, sabe as coisas que ela pode comer, então
está tudo certo — minha mãe comunica. — Vou descer com
você para pegar o bebê conforto no carro.
Nós descemos, minha mãe pega o bebê conforto e meu pai
o ajeita em meu carro. Prendo Aurora e ela fica batendo as
pernas, animada para passear.
— Diga a Ava que não precisa ficar ansiosa. Somos
pessoas simples e já a amamos — dona Analu diz me
abraçando.
— Acho que o nervoso é pelos pais dela, embora ela esteja
muito ansiosa para conhecer vocês também. Talvez seja uma
junção das duas coisas. — Sorrio.
— Oh, estou extremamente ansiosa.
— Eu também, é a primeira vez que conheço pais de uma
nora — meu pai diz rindo. — Quão sério é o relacionamento de
vocês?
— Extremamente sério — digo. Inclusive você será vovô
pai, parabéns. Penso e rio. Eu ouvirei um sermão da montanha
quando contar a grande notícia.
Me despeço deles e então sigo rumo à joalheria onde há
algo me esperando. Não pode ser apenas um jantar para nossos
pais se conhecerem, não depois dos últimos acontecimentos.
Por mais cedo que seja, eu quero pedir Ava em casamento. E
sim, confesso, foi nosso filho que me impulsionou a isso, mas é
algo que quero muito. Quero que ela seja a minha mulher e que
criemos nosso filho juntos, sob o mesmo teto.
Não demoro cinco minutos na joalheria. Escondo a caixinha
em meu bolso, arruma Aurora novamente no bebê conforto e
sigo até meu apartamento. Quando Ava vê minha princesa pela
primeira vez, ela quase grita.
— Oh meu Deus, oh meu Deus, oh meu Deus!!! — minha
namorada psicopata grita correndo até nós e Aurora, a traidora,
ri. — Ela é mais linda que nas fotos — fala arrancando
brutalmente minha bolinha de queijo dos meus braços. — Ei,
meu amor, não sou muito de bebês, mas por você eu posso ser.
É a coisinha mais linda do mundo todo. Acho que estou
apaixonadíssima por você já.
Como previsto, Ava até mesmo esquece que existe vida e
que há um certo jantar se aproximando. Ela cuida de Aurora e
as duas até tiram um cochilo juntas. A cena é linda, me faz
imagina quando for com nosso bebê.
O restante do dia passa rápido demais e eu descubro que
minhas estáticas estavam erradas. Eu fiquei com 99% da
preparação do jantar e da sobremesa, e não 80%, mas tudo
bem. Ao menos Ava parou de passar mal e ficou mais bem
humorada.
Agora, após levarmos Aurora embora, estamos prontos. Eu
estou bebendo vinho e ela refrigerante. A propósito, ela está
linda com uma blusa floral, um short jeans e uma rasteirinha.
Simples e incrível.
— Ah, antes que eu me esqueça — digo pegando o pen
drive que retirei da bermuda e coloquei no bolso de minha calça.
— Aqui está o pen drive com todo o processo do meu pai.
Peguei com ele mais cedo.
— Ok, senhor futuro advogado. Vou amar descobrir os
segredos dos Salvatore's. — Ela sorri e o guarda em seu bolso.
— Está mais calma?
— Estou apaixonada por Aurora, quero ela para mim —
comenta e a puxo para um beijo.
— Nada disso, ela é minha. — Ela sorri e a campainha toca.
— É agora senhorita Ava, está preparada?
— Ai meu Deus! Ok, eu estou! — Sorrio e vou abrir. São
meus pais. Minha mãe, desesperada, me entrega Aurora e sai
apressada até Ava.
— Uow, ela é linda, filho — meu pai diz observando minha
garota de longe. — Muito linda, parabéns!
— Obrigado. Linda e louca — brinco. — Não é mesmo
bolinha?
— Não conte isso para sua mãe porque o ego dela
desconhece todos os limites, mas as loucas são as melhores. —
Ele me dá um tapa nas costas e vai cumprimentar Ava.
Sentamo-nos em um dos sofás e meu pai fica com Aurora,
enquanto minha mãe e Ava estão em uma conversa muito louca.
A campainha toca outra vez e Ava salta do sofá.
— Oh merda! São os meus pais! — ela diz sem se importar
com a presença dos meus pais e eu rio.
— Ok, vamos recebê-los juntos, está tudo bem! — digo
ficando de pé e seguro a mão trêmula dela.
Ela abre a porta e eu começo a rir, tentando tranquilizá-la.
— Calminha, Little Girl!
— Do que você chamou minha filha? — a mãe dela
questiona com seriedade e meu riso morre, porque ela parece
bem como uma psicopata agora, mais do que Ava aparenta ser
às vezes.
— Ava, isso é uma brincadeira de mal gosto? — o pai dela
questiona olhando diretamente para meus pais. — Seu
namorado é filho de Túlio Salvatore? — Matheus questiona e eu
olho para meus pais, que estão espantados, já de pé, nos
encarando.
— Sim, pai — Ava responde receosa e Matheus dá uma
risada aparentemente nervosa antes de socar a porta com um
murro.
Eu sinto o momento exato em que Ava solta a minha mão.
Algo está errado...
O mal pressentimento dela estava certo.
Eu capturo a mão de Ava novamente e ela me encara, com
o olhar completamente perdido. Demonstrando que está
completamente dividida entre dedicar sua atenção ao seu pai,
que está extremamente exaltado e em mim.
— Eu nunca aceitarei isso, você está compreendendo, Ava?
— Matheus, não é assim... — A mãe dela argumenta. Nós
dois estamos em desvantagem agora, sem saber o que de fato
está acontecendo ou aconteceu no passado.
É Ava quem reage. Ela bate à porta, trancando todos dentro
do apartamento, solta minha mão e torna-se a Ava advogada,
que dá até um certo receio.
— Eu estou em desvantagem aqui — anuncia com firmeza.
— Gabriel também está. Eu quero saber o que está
acontecendo e não quero que ocultem qualquer detalhe. Gabriel
é meu namorado e, até o momento, eu não tenho qualquer
motivo para mudar isso. Há uma maldita confusão acontecendo,
eu quero saber.
— Ava, não é assim... — A mãe dela diz. A mãe dela só
sabe dizer que “não é assim”? Isso é irritante. Mais estranho que
isso é ver minha mãe na frente do meu pai, preparada para
defendê-lo do que quer que seja.
— Por causa desse homem, eu perdi a gravidez de sua
mãe, eu perdi o nascimento de Isis e perdi sete anos da vida da
minha filha. Por causa desse homem, eu quase perdi a mulher
que amo, porque ela era tão quebrada, tão fodidamente
quebrada, que ela precisou fugir de mim, da família, de todas as
pessoas que a amavam. — Ava engole a seco e olha para o
meu pai, que está de cabeça baixa. — Não importa o que digam.
Eu passei a vida inteira tentando proteger você, suas irmãs, sua
mãe e toda a nossa família. Quando você ia dormir na casa de
uma amiga, eu não tinha paz, porque o aconteceu com sua mãe
estava tão infiltrado em minha mente, que eu tinha medo de
acontecer o mesmo com vocês. E sua mãe também tinha medo,
porque ela ficava acordada junto comigo e mandávamos
mensagens o tempo todo para a mãe das suas amiguinhas — o
pai dela diz com lágrimas nos olhos. — Eu tive medo a vida
inteira de que qualquer coisa parecida com as coisas que sua
mamãe sofreu, acontecesse com você e suas irmãs, Ava. E eu
ainda tenho. É algo que está infiltrado em mim, porque eu
também saí traumatizado de toda a merda. Enfrentei um inferno
pela sua mãe, Ava. Este homem, ficou preso por sete anos, um
dos processos que ele respondeu é ligado à sua mãe. E não,
esse era um segredo para ser carregado até meu último suspiro,
mas eu estou... insano agora, Ava. Tão pouco estou
conseguindo raciocinar.
— Não é assim...
— Então diga como é, mãe! — Ava grita entrando em um
choro compulsivo. Eu tento ampará-la e ela me empurra. —
“Não é assim” não salva nada, mãe... por favor, me salve disso,
mãe... É verdade o que meu pai está falando? Me diga, mãe.
— É — Victória diz chorando. Eu sou apenas um mero
espectador, em completo choque. Vendo tudo o que planejei,
descer ladeira abaixo. Esse homem que estão dizendo, não é o
homem que me criou. O meu pai é o homem mais foda que
conheço.
— Sua mãe... o pai dele... por vingança. Ele destruiu a
adolescência e a inocência da sua mãe... ela só tinha quatorze
anos de idade, Ava. Ela era só uma criança — Matheus diz
chorando. — Ele fodeu com uma garota de quatorze anos em
todos os sentidos da palavra...
— Não — meu pai diz chorando. — Eu não sou um
monstro. Não sou um monstro.
— Você esqueceu de contar algumas coisas — minha mãe
diz. — Você esqueceu de contar, que se não fosse o meu
marido matar o próprio pai, você, sua esposa e sua sogra
estariam mortos. Você esqueceu de contar, que seu filho mais
novo foi salvo de ser atropelado por esse homem aqui. O meu
marido não é um monstro, nunca foi e nunca será. Ele cometeu
erros, mas a maioria deles foi para salvar a família da sua
esposa e sua própria esposa. Ele foi tão vítima, quanto sua
esposa foi. Meu marido tinha dezesseis anos, ele também era
uma criança quando tudo aconteceu. Você não sabe da merda
do passado dele, então cale sua maldita boca antes de julgar. O
lobo sempre será mal se você ouvir apenas a versão da maldita
chapeuzinho.
— Mãe? — Ava a chama.
— Não faça isso comigo, Ava. É mais do que eu consigo
suportar — o pai dela pede.
— Pai...
— Oh meu Deus! Fodeu pra caralho, Ava — a mãe dela diz
passando as mãos pelos cabelos. — Entre tantas pessoas no
mundo...
— Vocês são ridículos — minha mãe fala rindo de nervoso.
— Isso não pode ser real.
— Analu.
— Analu o caralho, Túlio Salvatore! Há duas pessoas
inocentes aqui. Era para ser um jantar normal, nosso filho estava
feliz, empolgado. Ava também estava, pelo que Gabriel disse. É
justo foder com a vida dos nossos próprios filhos por causa de
um absurdo que aconteceu a mais de vinte anos atrás? É justo
que a garota só saiba um lado da história? Não é nada justo.
— Ava, venha embora comigo, volte para a Califórnia, filha.
— Não, Matheus... — Victória diz. Eu estou vendo que ela
está enfrentando a maior luta interna, dividida entre o marido e o
meu pai. — Eu não sei o que fazer. Eu vou perdê-lo, Theus... me
perdoe... é a felicidade da nossa filha. Nós precisamos pensar
na felicidade da nossa filha e não no passado fodido, Matheus.
— Vic...
— Não dá, Matheus, isso preciso acabar de alguma forma
— Victória argumenta. — Eu prefiro que acabe conosco, antes
de acabar com a felicidade da nossa filha.
— Mãe... me ajude, por favor — Ava pede mais uma vez,
dessa vez ajoelhando ao chão e eu vou pegá-la. Eu preciso
dizer a ela.
— Ava, meu amor, nós dois somos nós dois, por favor, Ava.
Vamos embora daqui, não abandone o que há entre nós por
problemas do passado que nem mesmo temos culpa, ok? Nós
vamos ter um filho, Ava, eu te amo muito — digo baixo enquanto
ela chora. — Promete que nada disso vai nos separar? Promete
que vai lutar por nós? Por favor, Ava. Fique calma, pense no
nosso filho, esse sofrimento pode... eu não quero perder nosso
bebê, você precisa ficar calma.
— Eu não consigo agora... eu te amo tanto...
— Não vou soltar sua mão, não vou. Não vou deixar você
sair da minha vida. O meu pai é um homem bom, vou provar
para você, Ava. Ele é o melhor homem que eu já conheci, o
melhor pai. Ele me educou para ser o homem que sou hoje. Eu
não sou ruim, Ava, porque eu sou um espelho do meu pai. Estou
tentando ser dez por cento do que ele é. Vou provar isso para
você, nem que seja a última coisa que eu faça na vida.
— Ava, você e Gabriel não fazem parte disso. — Meu pai se
aproxima e agacha ao chão. — O seu pai está certo, eu cometi
erros com sua mãe, mas paguei por eles, não apenas por sete
anos, mas por toda a minha vida. E continuarei pagando. — Ele
é puxado pela camisa e jogado na parede por Matheus. Eu fico
de pé, sentindo que estou prestes a exterminar com uma
possível relação entre meu sogro e eu. Minha irmã começa a
chorar, desviando a atenção da minha mãe. O mundo está
caindo aos meus pés. Meu pai não reage a Matheus, apenas
fica com os braços baixos, grudado na parede. — Faça. Me
soque se isso vai fazê-lo se sentir melhor.
— Não... — Victória pede aos prantos e eu engulo a seco,
controlando a vontade de arrancá-lo de cima do meu pai.
— Ela é minha filha! — Matheus grita. — Minha filha.
— Não há necessidade disso, Matheus. Meu filho é um
homem bom, sua filha está em boas mãos. Ela não está comigo,
ela está com o meu filho. Ele é muito melhor do que eu jamais
fui algum dia. Ele é como a mãe, só coração e bondade.
— Theus, eles não são uns monstros, Theus. — Victória
chora em pleno desespero. — Eu falei isso a você em diversas
oportunidades. Túlio Salvatore não é um monstro, ele foi vítima
como eu. — Matheus solta meu pai e a encara. — Ele me
salvou, ele salvou você, nossa família. Ele salvou meu filho de
ser atropelado, ele apenas salvou e salvou. Quando eu estava
fodida, ele era o único a me dar o conforto e a cuidar de mim...
ele não é um monstro.
— Que poético, o cara que destruiu tudo, é o mesmo que
salvou. Ele te dava conforto, Victória? Após você ser fodida,
espancada e chicoteada, ele te dava conforto? — Ele ri e soca a
mesa. — Tudo parece fácil e bonito demais para quem está de
fora. Mas, Victória, as minhas dores ninguém sentiu,
principalmente porque teve um longo período onde eu tive que
sustentar não apenas a minha dor, mas a sua também. Eu sou
grato por ele ter nos salvado, mas isso não apaga tudo o que
vivemos. Eu não sou grande o bastante para engolir essa
situação, Victória e, mesmo que eu tenha perdoado você,
compreendido suas atitudes, segurado a sua mão, eu estou
soltando agora, porquê nada nessa vida vai apagar a dor de
descobrir que fui privado de conviver com uma filha durante sete
anos, a dor que senti lutando suas batalhadas e a dor que senti
ao te perder, quando eu tinha dezoito anos de idade. Nada
apaga o desespero que senti quando você foi sequestrada, o
medo que eu tive de perder em todas as diversas crises que
passou por conta de um passado fodido. Se isso me torna um
homem pequeno, eu sou pequeno, Vic. Mas, antes pequeno, do
que falso. Estou aqui, sendo sincero com todos vocês. Eu não
consigo sustentar essa situação, porque esse homem nunca
deixou de ser um inimigo e porque a cada vez que olho para ele,
eu só consigo imaginar Isis, só consigo imaginar você aos
quatorze anos sendo chicoteada, estuprada e sofrendo todos os
tipos de abusos psicológicos. Doeu Victória! Doeu muito mais do
que ter levado um tiro. Doeu na minha alma e agora está
doendo tudo novamente. O passado voltou com força e eu não
sei se tenho forças para enfrentá-lo mais uma vez. Não tenho
mais vinte e cinco anos.
— Você precisa perdoar o passado, Theus — Victória pede.
— Eu não sou grande o bastante, Victória. Não sou — ele
confessa e eu busco Ava com os olhos. Tudo que encontro é a
porta do apartamento aberta e nem mesmo um sinal mínimo
dela.
— Ava! — eu grito desesperado, com medo.
— Oh, Deus, Theus... a nossa menina...
— Se acontecer alguma coisa com a minha namorada e o
meu filho, que está no ventre dela, eu vou matar você! Eu juro
por Deus, mato você — é tudo o que digo ao pai dela antes de
sair como um maluco.
— Grávida? — pergunto às paredes e fico completamente
tonta. Eu não sei dizer que o destino é um maldito pau atolado
no cu, como minha sogra diz, ou se é uma benção.
Eu, que sempre fui uma mulher firme, que aprendi a usar
todo o meu poder, em meio a essa situação caótica, me
encontro sem qualquer tipo de força. É como se eu tivesse
regredido ao passado, por completo. Esperando as pessoas
terem atitudes por mim e completamente submissa aos
acontecimentos.
— A minha filha está grávida de um Salvatore — Matheus
diz rindo entre lágrimas. Eu acho que nunca o vi tão
descompensado. O pior de tudo, estou certa de que nós dois já
éramos. Ele não vai compreender e nem mesmo aceitar o fato
de eu ter escolhido o outro lado da história. — Eu terei que
dividir um neto com o meu maior inimigo. Isso deve ser uma
espécie de pesadelo ou pegadinha de extremo mal gosto. Meu
neto terá um Salvatore no sobrenome. Que maldito inferno!
— Victória, sente-se... — Analu diz enquanto encontro-me
boquiaberta. — Nós precisamos ser racionais e resolver a
situação da melhor maneira. Enlouquecer não vai nos levar a
lugar algum. — O barulho da porta batendo indica que meu
marido se foi, só isso me faz reagir. Eu me acomodo no sofá e
tento não desmoronar, porque agora sou uma mulher forte. Mas,
a maior de todas as minhas fraquezas, acaba de sair pela porta,
provavelmente não voltará. Eu sinto que perdi Matheus, na
verdade, posso afirmar conhecendo-o bem o bastante.
Nesse momento milhares de pensamentos corroem minha
mente:
— Minha filha está grávida.
— O namorado dela é filho de Túlio Salvatore.
— Meu marido o odeia.
— Minha filha sumiu.
— Meu marido me abandonou.
— Eu perdi meu chão e meu Norte.
E o mais engraçado de tudo isso, é Túlio quem vem me dar
o mínimo de conforto enquanto a mulher dele vai buscar um
copo de água para mim. Mais uma vez, Túlio está me
confortando em meio a destruição. Destino.
— Ei, Vic — ele diz ajoelhando aos meus pés e pegando
minhas mãos. — Ele está apenas nervoso, com razão. Imagino
como deve ser difícil para um pai ver a filha com o filho do
inimigo. Acho que eu me sentiria da mesma forma. Mas, tudo vai
se acalmar e nós vamos resolver isso da melhor forma.
— Ok.
— Sabe, eu acho que nada na vida acontece por acaso. No
fundo, todas as coisas têm seu plano secreto, mesmo que não
consigamos entender com muita facilidade. Vic, o passado
voltou com todas as forças. Está tudo se desfazendo. Acredito
que o momento de termos uma conversa sobre o que vivemos,
chegou — ele fala. — Se o passado voltou, na verdade ele
nunca se foi. Ele faz parte de nós e ainda está vivo. Nós
seremos avôs. Não sei você, mas eu quero que meu neto ou
minha neta viva numa família feliz — diz limpando as lágrimas
dos meus olhos e eu o abraço.
Não é um abraço normal.
É um abraço libertador.
Um abraço de perdão.
— Ava sumiu — Gabriel surge dizendo e é aí que meu
inferno começa.
Mais uma vez.
É minha filha.
É o pior tipo de dor que já suportei em toda a minha história.
Ele é filho do maior inimigo do meu pai. Ele é filho do
homem que destruiu a inocência da minha mãe.
Ainda assim, eu o amo e em meu ventre está sendo gerado
um filho dele. De longe, essa é a pior situação que passei em
toda a minha vida. Estar dividida entre duas famílias, sendo
afetada diretamente por um passado que não me pertence, mas
pertence as pessoas mais importantes da minha vida: meu pai e
minha mãe. Não há como ter qualquer pensamento racional
agora, mas estou apegando apenas nas palavras da minha mãe,
que parece ter sido a maior vítima da história; não diminuindo a
dor do meu pai, porque está doendo nele, eu nunca o vi daquela
maneira antes. Eu só via a dor em seu semblante e em suas
palavras, e imagino quanto seja difícil lidar com um
acontecimento desse porte. Porém, minha mãe foi enfática em
dizer que o pai de Gabriel foi tão vítima quanto ela. Se ela, a
maior vítima, o defendeu, deve haver motivos para isso. De
qualquer forma, eu jamais imaginaria que minha mãe tivesse
passado por qualquer situação como a que foi descrita por meu
pai. Eu morreria sem desconfiar de absolutamente nada.
Doeu em mim como nunca havia doído antes. Estar naquela
sala, vendo uma destruição acontecer, ouvindo o passado triste
da minha mãe ser derramado por completo, foi sufocante o
bastante para eu fugir daquilo, quando as palavras já estavam
ultrapassando o limite que eu podia suportar.
Agora, andando de carro pelo Rio de Janeiro, posso dizer
que estou um pouco mais racional. Estou sendo forte, há em
mim uma força descomunal que, mesmo em meio as lágrimas,
está me guiando. Eu quero verdades, mas não sei se estou
pronta para desvendá-las. Sei que há um alguém dentro de mim
e que estar nervosa como estou pode interferir diretamente nele
ou nela. É por isso que vou adiar a grande descoberta, mesmo
sentindo o peso do pen drive em meu bolso.
Estou sentindo um mal estar absurdo e, por medo, decido
parar em um pronto atendimento apenas para conferir se está
tudo certo com o bebê. Esse simples ato, me faz perceber que já
me tornei mãe. Já aceitei que há alguém aqui que é toda a
minha vida e que depende da minha saúde para poder “vingar”.
A primeira coisa que faço ao chegar no hospital, é ir ao
banheiro, conferir se está tudo realmente bem. A ausência de
sangramento já é um grande conforto, mas então uma leve
fisgada me faz ficar em estado de alerta.
Quando sou atendida, passo por um exame de toque onde
é confirmado que está tudo certo também. Porém, o médico
passa uma medicação e sou obrigada a ficar uma hora em
observação. Essa uma hora serve para me acalmar
consideravelmente. Não é o momento de tornar vítima das
circunstâncias. Sou advogada, formei com uma das melhores
notas da faculdade e, sem modéstia mesmo, sou excelente.
Passei anos treinando para contornar situações de outras
pessoas, agora é vez de contornar a minha própria situação. Há
um grande problema acontecendo e sei que precisarei resolver
isso. Talvez Gabriel fique perdido, meu menino disfarçado de um
grande homem deve estar temendo tudo agora.
Pego meu celular e então vasculho minha galeria de fotos.
Encontro uma foto que Luma tirou, onde nós dois estamos nos
olhando como se não houvesse mais qualquer pessoa perto.
Luma é nossa fotógrafa oficial. Ela tem mania de capturar
momentos.
Coitada, ela também está apaixonada pelo filho do inimigo
do nosso pai. A probabilidade de ela ser afetada pela notícia é
muito maior que a minha. Logo, a única opção que me resta é
tomar frente, não há saída.
Passo por mais um exame, onde medem minha pressão,
glicose entre outras coisas, e sou liberada após prometer ficar
de repouso e evitar stress. Então, começo a pensar num lugar
onde, talvez, eu possa me livrar de todo stress que passei. Só
um lugar me vem em mente, talvez lá ninguém seja capaz de
me encontrar por essa noite.
Faço retorno e sigo rumo a saída da cidade. Não é uma
viagem demorada. Em menos de 1 hora e meia estou na
pousada, fazendo check-in. Solicito a mesma suíte que eu e
Gabriel ficamos, peço algo saudável para comer e então faço a
pequena caminhada de três minutos.
Está calor, o céu está estrelado e estar isolada da
civilização é a melhor ideia que eu poderia ter tido. Engulo a
seco assim que entro na suíte. Pode parecer loucura, mas basta
dar um passo adentro e sou banhada por uma intensidade
inexplicável. Cada canto desse lugar há uma lembrança forte. A
intensidade é a mesma que se ele estivesse aqui. Isso é
normal? Eu não sou o tipo de mulher que acredita em
horóscopo, previsões ou, destino. Mas, é impossível não pensar
em destino agora, após todos os acontecimentos dessa noite.
Será que fomos destinados a ficar juntos para unir nossas
famílias? Há aquela força de atração insana e surreal entre nós
dois. Como uma atração magnética. Nós dois juntos explodimos
de intensidade e não conseguimos manter distância um do outro
por muito tempo. Acho que essa noite será a mais longa e
solitária desde que o conheci. Mas, é necessário sair um pouco
de cena e botar a mente no lugar. Eu preciso reunir forças para
enfrentar de cabeça erguida e sem vacilar, tudo o que está por
vir. Vem chumbo grosso. É como se eu tivesse que escolher
entre Gabriel e meu pai.
Isso me faz sorrir, puramente de nervoso. Meu pai é o
grande amor da minha vida, sempre foi. A mesma ligação que
tenho com Gabriel, sempre existiu entre meu pai e eu,
logicamente, de maneira diferente. Sou alucinada pela minha
mãe, o nível de amor é o mesmo, mas minha maior ligação
sempre foi com meu pai.
Decido lanchar, retiro minha roupa e então vou tomar um
banho. Visto um roupão da pousada, me acomodo na cama e
então ligo meu celular. Centenas de mensagens surgem e o
nome de Gabriel brilha na tela, em uma ligação. Decido atendê-
lo, apenas para tranquilizá-lo.
— Oi...
— Deus do céu, Ava, você está tentando me matar? — ele
grita demonstrando desespero. — Onde você está? Está tudo
bem com nosso bebê?
— Está tudo bem. Estou bem, apenas dando um tempo
para colocar as ideias no lugar. Fica tranquilo, ok?
— Me diga onde está, passam da meia noite. Venha para
casa. Sua mãe está aqui — diz.
— Ela está bem?
— Ninguém está, Ava. Você quase nos matou de susto.
— E meu pai? — pergunto e ele fica em silêncio. O silêncio
às vezes diz muito mais que palavras. Ele não precisa dizer que
meu pai foi embora e deixou minha mãe. Eu sei que foi isso que
ele fez. — Ok.
— Venha para casa, amor. Diga onde está e eu vou buscá-
la.
— Amanhã eu vou. Só quero dormir agora. — Ele fica em
silêncio e ouço seus passos. — Gabriel?
— Ava... — ele diz ofegante, deixando-me em estado de
alerta. — Ava, nós dois... eu te amo, Ava. — Deus, ele está
chorando e eu não sei lidar com isso. — Por favor, Ava, tende
piedade de mim. Eu não posso respirar sem você, compreende?
Eu não consigo mais ver a minha vida sem você, eu não consigo
mais nada sem você. Por favor, Ava... você é o amor da minha
vida. — Eu começo a chorar, para variar um pouco. Meu Piroca
Baby está sofrendo.
— Estou na pousada em Petrópolis — digo mesmo achando
que não deveria ter dito. Ele encerra a ligação e eu me torno
desesperada. Ele não pode pegar estrada nesse desespero.
Eu tento ligar inúmeras vezes e ele não atende. Tento ligar
para minha mãe e ela não atende. Em menos de dois minutos
há uma batida forte em minha porta e eu quase morro de infarto.
Abro a porta e o encontro com as mãos apoiadas na coxa,
tentando recuperar o fôlego. Ele cai de joelho aos meus pés,
agarra minhas pernas e chora de uma maneira desesperadora.
Tento ajoelhar também, mas ele não permite de forma alguma.
Como ele sabia que eu estaria aqui? Meu Deus, responda
através de um sinal, como Gabriel sabia que eu estaria aqui?
Não importa, o desespero dele está vencendo a curiosidade
agora.
— Gabriel, não faça isso, pelo amor de Deus. — Meu Deus,
como dói vê-lo dessa maneira. Com muito esforço eu me
desvencilho e abaixo até ele, que chora de cabeça baixa. Levo
minhas mãos ao seu rosto e faço com que ele me encare. —
Não faça isso, meu amor. Por favor, não faça.
— Eu te amo.
— Eu também amo você, Gabriel. O que você pensou? Que
eu estaria ignorando tudo o que existe entre nós dois por um
passado que não nos pertence? — Ele, como um garoto
indefesa, balança a cabeça afirmando. — Eu odeio você agora!
Como pode pensar tão pouco de mim? — Ele limpa o rosto e
respira fundo, tentando obter de volta a sua voz. Está trêmulo,
assustado, receoso. Deus, ele está muito destruído.
— O meu pai... ele não é um monstro.
— O meu também não — digo e ele segura minhas mãos.
— Eu aceitaria perdê-la se ele fosse um monstro, mas ele
não é.
— Ok, eu acredito em você, meu amor. — Ele balança a
cabeça.
— Você acredita que meu pai não é um monstro?
— Acredito. — Ele soluça e me abraça.
— Obrigado... obrigado, Ava, por confiar em mim, por
confiar no meu pai.
— Gabriel, pelo amor de Deus, não está sendo fácil ser
forte por nós dois agora. Preciso que você seja forte comigo. —
Ele se contém e fica de pé, me puxando junto.
— Você é louca, porra... — diz quase arrancando os
cabelos e eu não compreendo sua fúria do nada.
— Eu sou louca?
— Você estava destruída no chão da sala e agora está me
dando aula de resiliência. Você é louca. Eu morri achando que
perderia você, Ava. — Eu começo a rir de raiva.
— E está revoltado por que não me perdeu? É tipo isso?
Você é um idiota! Primeiro por achar que me perderia, segundo
por estar puto de não ter me perdido. Que diabos você quer,
Gabriel? Você quer me enlouquecer? Inferno!
— Eu não queria ter te perdido, mas fiquei desesperado pra
caralho.
— Eu saí da merda do apartamento porque eu não
suportava mais aquilo tudo. Passei em um pronto atendimento,
pois estava sentindo mal e então vim pra cá, após ficar uma
hora em observação. — Ele me encara incrédulo e eu faço uma
careta. Amar é difícil mesmo, beira a irritabilidade!
— Está tudo bem com nosso bebê? Você o viu?
— Não, eu não o vi. Apenas fiz exame de toque para
conferir se estava tudo fechadinho.
— Toque? Diga que foi uma médica, pelo amor de Deus. —
Ele não deve estar falando sério.
— Sério isso?
— Muito sério — afirma limpando o rosto mais uma vez e eu
entro. Gabriel bateu a cabeça ou veio rápido demais, a ponto de
a velocidade afetar o cérebro, se é que é possível.
— Foi um médico, muito bonito por sinal. Moreno, alto, forte,
na faixa dos trinta e cinco anos. Solteiro, fez Medicina em Nova
York, mudou-se para o Brasil recentemente, possui algumas
tatuagens — digo segurando o riso.
— E você conseguiu obter todas essas informações em
qual momento? Quando ele tinha os dedos enfiados em você?
— Inclusive. Mas ele tem um problema... — Gabriel
permanece me encarando muito revoltado. Seu rosto está até
vermelho e não é apenas pelo choro.
— Qual o problema?
— Ele não tem um piercing no pau, então isso o torna
completamente desinteressante para mim. — Ele ri e fecha a
porta atrás de nós.
— Então você verificou se ele tinha um piercing nas partes
íntimas?
— Sim, eu fiz essa verificação. Algo contra? — pergunto
enquanto ele retira os tênis, a camisa e a bermuda. Meu Piroca
Baby é apenas a coisa mais linda e perfeita. Eu até paro de
brincar e o abraço o mais apertado que consigo por longos e
incansáveis minutos. — Te amo, Piroca Baby, nada baby. Você
me encontrou! Como soube?
— Sexto sentido. Apenas subi na moto e deixei meus
instintos me guiarem. Eles me trouxeram até aqui. Te liguei
quando cheguei, ainda do estacionamento, então você
confirmou. Seu carro não estava lá...
— Está no estacionamento subtérreo.
— Ava... — Ele suspira. — Ainda bem que tenho você em
meus braços, meu amor. Ainda bem. Há uma música, sabia?
— Há?
— Sim. Vamos deitar e eu vou cantar para você. — Sorrio,
retiro meu roupão, corro até a cama e o aguardo. Ele se
acomoda ao meu lado, arrumando a coberta em nós dois e eu
me viro de lado, para encará-lo. Ele faz o mesmo. —
Preparada?
— Sim.
— Ainda bem
Que você vive comigo
Porque senão
Como seria esta vida?
Sei lá, sei lá
Se há dores, tudo fica mais fácil
Seu rosto silencia e faz parar
As flores que me manda são fato
Do nosso cuidado e entrega
Meus beijos sem os seus, não dariam
Os dias chegariam sem paixão
Meu corpo sem o seu, uma parte
Seria o acaso e não sorte
— De quem é essa música? — pergunto brincando com
alguns fios de seu cabelo.
— Vanessa da Mata — responde. — Esse encontro, nós
dois, esse amor... — Ele canta e sorri. — Eu te amo mesmo.
Hoje tive a total confirmação sobre isso. Sei que vamos
enfrentar muitas merdas a partir de agora Ava, mas só de
estarmos juntos, sei que vamos conseguir passar por cada uma
delas. — Sua mão desliza até minha barriga e sorrio. — Eu acho
que há uma menininha aqui e você?
— Não sei ainda, só compreendi que sou realmente mãe
hoje. Eu estive muito preocupada com o bem estar desse bebê
desde que saí do apartamento. Nunca o vi, mas já é o amor da
minha vida.
— Você é um mulherão do caralho, Ava. Até quando está
no modo mimadinha. — Sorrio. — Será uma mãezona com cara
de atriz pornô e eu terei que socar alguns engraçadinhos.
— Gabriel...
— Sim?
— Eu estou com sono, exausta psicologicamente.
— Você sabe o que fazer. — Sorrio e levantamos juntos
para escovarmos os dentes. Nosso ritual da noite é sempre
esse: escovar os dentes, deitar e dormir abraçados.
É isso o que fazemos.
Mas, durante a manhã, pedimos o café da manhã e quem
vem nos entregar é minha mãe. Ela engole a seco assim que eu
abro a porta da suíte e então lágrimas começam a jorrar de seus
olhos.
— Esse lugar...
— Mãe. — A abraço assim que Gabriel pega o carrinho com
nosso café da manhã.
— Filha, desculpa pelo choro, meu amor. Ninguém no
mundo consegue se manter forte o tempo todo.
— Eu sei disso mãe... — digo mexendo em seus cabelos
enquanto ela tem sua cabeça deitada em meu ombro.
— Eu vou tomar café no restaurante do hotel, deixarei
vocês duas conversarem — Gabriel informa e se vai. Eu a trago
para dentro do quarto e nos acomodamos no sofá.
— Eu precisava vir te dizer algo, filha. — Ela limpa seu rosto
quando se afasta de mim.
— Quer um copo de água?
— Não — responde. — Ouça, Ava. — Ela segura em
minhas mãos e respira fundo. — Eu e seu pai vivemos uma linda
história de amor. Você merece viver o mesmo. Aquele garoto te
ama Ava, muito. Ele estava tão desesperado, que você jamais
conseguiria imaginar. Ele enfrentou seu pai e até mesmo o
ameaçou de morte. — Eu abro a boca em espanto enquanto ela
ri. — O que eu quero dizer é que você e ele não têm
absolutamente nada a ver com o meu passado e o passado de
Túlio. Mais de vinte e cinco anos se passaram, filha. Você agora
tem um Sadbebê. — Ela sorri. — E um homem tão incrível
quanto seu pai foi para mim durante todos esses anos.
— Mãe, você e meu pai...
— Sim, mas nada disso importa agora, filha. Eu fui feliz com
seu pai a vida inteira. Só de ter vivido todos esses anos com ele,
valeu a pena. — Ela soluça. — Tudo valeu a pena, mesmo
tendo terminado. Nunca vou me arrepender de ter vivido todos
esses anos com ele, porque Matheus Albuquerque é o amor da
minha vida e eu vivi esse amor, eu mergulhei nesse amor, Ava,
intensamente. — Meu Deus! Não posso acreditar na separação
dos meus pais. — Filha, tudo o que importa na minha vida é ver
meus filhos felizes. O que importa para mim agora é a sua
felicidade, sua saúde. Eu sou forte, já suportei coisas que você
jamais imaginou e vou suportar viver sem seu pai. Mas você...
você merece ser minha filha, independente de mim, do seu pai,
do Túlio, do nosso passado. — As lágrimas surgem e eu
começo a chorar. Minha mãe é uma fortaleza, que está
quebrada e ainda assim está aqui, me fazendo encarar a
situação. — Você precisa ser feliz, precisa ser feliz ao lado do
homem que ama e do seu bebê. Não importa o que aconteça,
apenas lute e seja feliz. Promete?
— Eu prometo mãe — falo a abraçando e derramando toda
a minha dor. Ela está certa sobre as pessoas não serem fortes o
tempo todo. Como ser forte após saber que meu relacionamento
destruiu o casamento dos meus pais?
Quando estive nesse lugar pela primeira vez, vivi momentos
incríveis e inesquecíveis. Foi aqui o meu grande reencontro com
o amor da minha vida, não apenas isso, eu reencontrei aqui
todos os sentimentos bons, entre eles o prazer de ser amada
como uma mulher normal, longe de todas aquelas merdas do
BDSM que era viciada.
Eu ainda lembro das palavras de Matheus, da nossa
discussão e então, se eu fechar os olhos eu quase posso sentir
seu toque. Antes de nos reencontrarmos aqui, tínhamos dado
um beijo no escritório dele, assim que cheguei de viagem, mas,
a forma como ele me beijou aqui foi diferente de tudo que eu já
havia provado na vida. Matheus me beijou impiedosamente,
exigindo, consumindo, atiçando, instigando, provando. Me
lembro como fiquei perdida, pois eu estava sendo tomada pelo
grande amor da minha vida, da forma mais louca, alucinante e
com toda pureza, mesmo que estivéssemos insanos de desejo.
Tivemos uma noite que, só de lembrar, meu corpo está
coberto por arrepios, tamanha a intensidade do que ocorreu
entre nós. Eu nunca fui tão consumida da forma como fui
durante toda a noite... isso me faz soltar um soluço involuntário,
por puro medo. O medo de nunca mais ter tudo que Matheus me
dá.
É patético, mas eu me sinto tão dependente dele agora,
mesmo que ao longo de todos esses anos eu tenha me tornado
uma mulher empoderada e forte. Como eu sempre disse, ele é a
minha maior fraqueza e sempre será. Se nosso casamento tiver
mesmo acabado, eu não sei como será a minha vida, nem
mesmo sei qual direção irei seguir. Sei que agora no início ficarei
extremamente arrasada, mas em algum momento terei que
retomar a minha vida sem ele. Isso é assustador. Principalmente
por imaginar eu seguindo adiante, conhecendo pessoas novas,
Deus, isso é abominável e me dá um ódio de Matheus por ser
tão cabeça dura. Estou revoltada com ele só de pensar nessa
possibilidade.
O compreendo. Para ele sempre foi difícil demais aceitar
Túlio. Ele tem a consciência de quem Túlio nos salvou, mas a
parte que pega foi o fato dele ter vivido sete anos longe de Isis e
ter descoberto tudo o que vivi. Ele não sabe a versão de Túlio,
ele simplesmente sabe a minha versão e, mesmo eu sempre
dizendo que Túlio foi tão vítima quanto eu, ele não consegue
aceitar de forma alguma e nem mesmo compreender. Não tiro a
razão dele, mas creio que, após mais de trinta anos, Matheus
deveria ser um pouco mais razoável com a situação. Ele jogou
tudo sobre nossa filha, mas também não julgo. O desespero
nele era quase palpável. Foi como se ele estivesse enfrentando
diretamente o meu passado.
Meu Theus... que ÓDIO dele!
Matheus é aquele tipo de amor que só vivemos uma vez na
vida. Tudo com ele é diferente, desde a forma como ele fala o
meu nome, até a forma como ele respira. A grandeza dele é
indescritível, as características dele são incomparáveis. Ele é
apenas Matheus Albuquerque e nenhum outro é como ele.
— Mãe, vamos? — Ava diz dissipando meus pensamentos.
— Vamos, filha — respondo e dou uma última olhada para
esse local. Até a banheira me lembra ele. Lembro quando o filho
da mãe foi atender as camareiras enrolado em uma toalha, com
o corpo coberto de espuma. Eu lembro como elas tentaram
duramente não o devorar com os olhos, e lembro também que
não conseguiram. Quem não olharia? Aqueles cabelos
selvagens, as tatuagens, o lindo sorriso de covinhas, os braços
enormes... não só os braços.
Pensar nisso aumenta mais meu ódio. Como achar um pau
daquele porte? É um maldito inferno ter sido casada com o
homem mais perfeito do mundo durante toda a vida. Agora
fodeu, fodeu pra caralho!
— Vamos embora desse caralho! — grito e Ava me encara
assustada, acompanhada de Gabriel. Sorrio para os dois e
encaro o garoto. — Ele é realmente lindo... — Divago com
minha filha.
— Ele tem um piercing no pau! — Ava exclama e eu me
engasgo com o vento. Merda maldita, eu precisava mesmo
saber desse detalhe? Sinceramente, ele tem um piercing no
pau, só Ava me dizer que eles praticam BDSM, como Túlio
praticava. Sinto muito, mas já que ela me deu essa informação,
ela pode me dar outras.
— Ok, filha, Gabriel herdou o piercing do pai, mas ele
herdou os gostos singulares também?
— Mãe, você já viu o pau do pai do meu namorado... que
inferno! — ela esbraveja enquanto Gabriel ri.
— É, é estranho saber que meu pai teve uma outra pessoa
antes da minha mãe. Não que seja algo anormal, mas é apenas
estranho — o garoto argumento. — Não, senhora Victória, eu
não curto BDSM.
— Mas eu queria... — minha filha diz e eu sinto que essa
filha de uma boa mãe tem muito de mim.
— Ok, adeus crianças, não dá mais. Ava, dirija com cuidado
— digo a abraçando e então abraço Gabriel. — Se cuidem
crianças. Eu estou com vocês.
— Mãe, vai com cuidado, ok?
— Sim, senhorita. — Sorrio e sigo rumo a recepção. Pago a
hospedagem das crianças que fazem crianças e sigo para meu
carro.
Até estrada é uma merda, porque eu me lembro exatamente
de nós dois indo embora daqui de moto.
“— Abra os braços.
— Sério?
— Sim! Você está segura comigo. Pode abrir.
— Theus!!! É maravilhoso!!! Parece que eu estou voando.
— Você precisa aprender a pilotar para eu experimentar.
— Você vai me levar para mais passeios como esse? Eu
me sinto tão feliz, tão viva!!!! Eu te amo Theus.”
— DESGRAÇADO!!! EU VOU TE MATAR, MATHEUS
ALBUQUERQUE!!! — grito socando o volante. Eu vou mostrar
para ele quem é que manda na porra dessa relação! Vamos
relembrar algo do passado, mesmo que ele quebre a casa toda.
Sigo sentido Rio de Janeiro. A viagem é tranquila e rápida
devido a estrada estar vazia. Quando chego na cidade, faço um
pit stop num sex shop e então sigo para casa.
Num chute, eu abro a porta do apartamento e vejo o diabo
saltar do sofá assustado.
— Você é maluca? — ele grita com a mão no peito e eu
chuto a porta para fechá-la. — Victória, você está mesmo
maluca?
Sim, eu estou louca e insana.
Se vamos separar, vamos separar com categoria.
Pego um copo e taco na parede atrás dele. Ele arregala os
olhos em choque e eu seguro a vontade de rir. Pego o chicote
escondido embaixo do meu vestido e ele fica mais chocado
ainda.
— Que diabo é isso, Victória? Satânica! — Vou me
aproximando e ele começa a correr. Acho bom que ele corra
mesmo.
— Vamos lá, enfrente, Matheus Albuquerque!
— Onde você dormiu? — ele questiona correndo para o
quarto e antes que ele fecha a porta eu chuto, o fazendo
arregalar os olhos novamente. — Victória, pare com essa
merda, caralho. Onde você dormiu?
— Na casa do meu genro e então, logo pela manhã, fui até
Petrópolis, numa certa pousada, num certo chalé — digo
chutando minhas sandálias para longe.
— Victória, que merda você pensa que está fazendo? Nós
dois... não há como. Eu não consigo. Não está em mim o que
sinto... eu não consigo.
— Quando eu voltei da Itália, eu também achei que não
conseguiria. Então, você voltou para a minha vida, me deu sua
mão e disse que eu conseguiria. — Ele fica calado e eu dou uma
chicotada no chão. — Você está desistindo de tudo?
— Eu preciso de um tempo.
— A primeira e última vez que demos um tempo, nosso
casamento quase acabou. Você quer um tempo, Matheus? Está
certo disso.
— Victória, como você quer que eu esteja rindo e soltando
fogos? Para completar, Ava está grávida e eu terei que dividir
meu neto ou neta com o rei do BDSM. Além de ter que engolir a
merda do passado todo... Vic, estou falando sério, eu preciso de
um tempo. Sabe o que é mais foda? Eu reconheço agora, diante
de você, que precisarei de ajuda, de auxílio psicológico para
lidar com toda essa merda.
— Não é só Ava que está com um Salvatore — digo e ele
fica me encarando, esperando que eu conclua. É melhor que ele
saiba da merda toda de uma vez, melhor que sofrer a prestação.
— Luma também está com um filho de Túlio Salvatore. — Ele
soca a parede.
— Você está de brincadeira comigo?
— Não. Ela está viajando com ele, eles devem voltar
amanhã, pela manhã. — Matheus se senta na beirada da cama
e esfrega o rosto. — Matheus, vamos encarar de uma vez. É
melhor do que trazer mais mágoa ainda para a situação. Você
vai permitir que isso destrua nosso casamento? Vai perder tudo,
Matheus? Tudo porque não pode aceitar que nossas filhas
estejam com os filhos de Túlio. — Suspiro. — Matheus, eles não
são Túlio, eles são pessoas do bem. A educação de Gabriel é
algo que foge da compreensão. O empenho dele para descobrir
onde Ava estava, o carinho com o qual ele cuida dela... Ava está
feliz, Matheus. Nossa filha sempre foi uma geleira e hoje eu
conheci uma Ava completamente doce, uma mulher totalmente
diferente do que ela sempre demonstrou ser. O que é mais
importante para você, Theus? Ver afastada do amor da vida dela
ou vê-la feliz? Você gostaria que ela largasse o garoto e sumisse
com a criança?
— Vic...
— Você gostou quando eu fui embora e deixei você ficar
sete anos longe da nossa filha?
— Não tem absolutamente nada a ver...
— Tem, Matheus. Se você não aceitar, é isso que vai
acabar acontecendo. Você conhece a filha que tem, sabe que
você é o amor da vida dela. Ava vai querer sumir no mundo,
grudada com você. Gabriel, será o pai que estará longe do
filho...
— PARE COM ESSA MERDA!!! — ele grita ficando de pé e
se aproxima de mim de uma maneira ameaçadora.
— Não vou parar. Você está querendo destruir com tudo
porque não consegue superar um passado que está muito
enterrado. Vá, Matheus Albuquerque, separe de mim! Me largue!
Leve Ava junto.
— Eu mandei você parar.
— Você não manda em mim — grito. — Vá em frente, mas
já te adianto, se você seguir com essa merda, eu ficarei solteira.
— Sorrio de nervoso. — Eu darei para cada maldito homem que
surgiu na minha frente. Eu farei ménages, frequentarei clubes de
swing, clubes de BDSM... — Ele me joga contra a parede, com a
mão em meu pescoço e eu sorrio, passando o chicote em suas
costas. — Eu farei mais sexo em 1 ano, do que fiz com você a
vida inteira. Vou gemer no ouvido de outros homens, vou
encontrar todos os tipos de Matheus que existirem na
humanidade. Vou dar para três homens de uma só vez... porque
eu gosto de foder, você sabe disso. É como um vício maldito
foder...
— Eu mandei você parar — ameaça e levo minha mão em
sua protuberância. Ele está duro, ele apenas gosta de uma boa
briga.
— Você vai destruir tudo, Matheus Albuquerque?
— Pare!
— Eu odeio você, Matheus Albuquerque! — digo tentando
dar uma joelhada nele e a algema de couro que estava presa ao
lado de minha calcinha cai. Vejo o momento exato que seus
olhos capturam a peça e o momento exato que ele dá um sorriso
cafajeste. Deus, eu o amo tanto, tanto...
— Que porra você pensou que faria com essas algemas,
fodida Sadgirl do meu caralho? — questiona me mantendo
presa com uma mão e abaixando para pegar a peça.
— Nós precisamos resolver as coisas...
— Fodendo como você gosta? — pergunta em meu ouvido
e eu tento morder seu pescoço.
— Sim, como nós dois gostamos.
— Quer brincar comigo? — Oh meu Deus... eu odeio como
ele pode me deixar em um estado de calamidade. Eu estou
completamente arrepiada, com a merda de um frio na barriga e
um tesão avassalador. Essa maldita voz dela, é algo que não
deveria existir na vida! — Você quer me dá Vic? — pergunta
pegando minhas mãos e as algemando, enquanto desliza sua
boca até a minha e me beija. Pelo amor de Deus... eu mordo
seus lábios e enlouqueço, querendo mais. — Selvagem.
— Você vai me largar?
— Vou — afirma e eu tento chutá-lo mais uma vez. Ele me
captura pela cintura e me joga na cama, vindo por cima.
— Eu vou deixar todos os homens pegarem em seus
garotos. — Ele olha para meu decote, com a cara nada boa.
— Vai?
— Sim. Vou.
— E sua bunda? — questiona.
— Darei com mais vontade do que dou para você. — Ele
sorri.
— E a Viczinha?
— Eu distribuirei para quem quiser. — Ele arqueia as
sobrancelhas, retira a algema do meu pulso direito, leva minhas
mãos para trás, rodeia a algema na grade da cama e então
torna a me prender.
— Mais o que você fará? — Sorrio olhando para a excitação
em sua bermuda.
— Vou chupar o pau de cada um deles, do jeito que você
gosta.
— Victória, eu amo você — ele diz com seriedade. — Eu te
amo mais do que amo a mim mesmo. Você é praticamente o ar
que eu respiro, a pessoa que mantém meu coração batendo, a
mulher que me deixa duro o tempo inteiro. Você me tem,
Victória, mesmo eu estando puto, estando completamente
perdido, por ter que lidar com toda merda do passado
novamente. Eu tenho esse direito Vic. Me mantive forte a vida
inteira, eu sempre considerei Túlio uma ameaça e isso não
muda assim, da noite para o dia. Terei que enfrentar um inferno
para aceitar essa situação e preciso de um tempo para pensar.
Não estou me separando de você, não conseguiria porque você
é a minha vida. Mas...
— Mas? — indago temendo.
— Mas agora você vai ficar de castigo por ponderar fazer
sexo com outros homens — anuncia e simplesmente sai da
cama, me deixando algemada, pega a chave da porta e me
tranca no quarto.
— DESGRAÇADO!!! EU QUERO O DIVÓRCIO,
MALDITO!!! VOCÊ ESCUTOU, MATHEUS??? NÓS ESTAMOS
OFICIALMENTE DIVORCIADOS!!!
Não sei dizer como ainda não capotei de carro ou algo
parecido.
Estou dirigindo, mas minha mente e minha atenção não
estão na estrada. Meus pais separaram e, pelo olhar da minha
mãe, eu vi que ela está destruída.
Neste momento, a maturidade está pesando muito sobre
mim, mas meu lado emocional também está. Há um grande
problema acontecendo. É como se um vulcão tivesse
despertado, entrado em erupção e estivesse expelindo lavas
para todos os lados de uma só vez.
Não posso controlar todas as coisas que estão em meu
destino, apenas algumas encontram-se sob minha jurisdição,
sobre meu poder legal. Eu posso fazer escolhas a partir dos
acontecimentos. Por exemplo, comprar um bilhete da loteria,
aumentam minhas chances de ganhar; posso escolher as lutas
que quero travar, posso escolher as comidas que quero comer,
posso escolher minha profissão, minhas amizades, com quem
eu quero compartilhar momentos íntimos e posso,
principalmente, escolher como quero encarar as circunstâncias
que o destino impõe.
A palavra que vem a minha mente agora é CORAGEM.
Eu preciso ter coragem para deixar tudo o que me é
confortável para trás, incluindo meu trabalho, Gabriel, minha
família, para poder ir em busca das verdades, sem ouvir mais
versões. Quero embarcar numa jornada em busca da verdade e
eu possuo algo crucial para chegar a uma sentença. Sou eu
quem tenho que dar a sentença referente a minha vida, não são
meus pais, não é Gabriel ou os pais dele. Eu me sinto
devidamente necessitada e preparada, para encarar, tentar
entender e até mesmo perdoar um passado que não pertence a
mim, mas que tem ligação direta comigo. Uma realidade bem
difícil.
Preciso de um tempo para descobrir o passado, descobri
quem me tornei e o que realmente eu quero da minha vida.
Me sinto perdida em meio a um mar de acontecimentos, e
eu só estou conseguindo compreender isso agora. Não posso
me conformar com a separação do meu pai, não posso me
conformar com informações vagas. Irei me conformar apenas
com a verdade, nada além da verdade. É o que preciso.
Gabriel está de moto, na minha frente, e eu estou o
seguindo. Acho que tê-lo diante de mim, está sendo ainda mais
distrativo.
Assim que aproximamos do mirante, eu indico que estou
indo encostar no acostamento e ele faz o mesmo.
Eu desço do carro e vou ver a vista.
Dá uma sensação de paz, mas a angústia leva a melhor.
— Ava? Está tudo bem meu amor? Está se sentindo mal?
— Gabriel surge me abraçando por trás e eu fecho meus olhos,
respiro fundo e tento dizer a mim mesma que tudo isso é
temporário, que o caos vai passar assim que eu conseguir
compreender todos os acontecimentos.
— Não está — digo abrindo meus olhos e me viro para
encará-lo.
— O que há? Vamos solucionar.
— Ouça, muitas coisas estão acontecendo. Meus pais se
separaram, eu preciso cuidar de tudo isso agora e preciso
descobrir toda a verdade sobre o passado, para poder
seguirmos em paz com nosso bebê. Eu quero estudar os
processos do seu pai, quero descobrir as verdades por mim
mesma, sem ser influenciada emocionalmente por qualquer
pessoa.
— E o que você quer dizer com isso?
— Que eu vou me afastar de você, dos meus pais, de todos
por alguns dias. — Ele encosta-se em uma árvore e abaixa sua
cabeça. Não posso negar, isso me toca diretamente no coração
e lá no fundo da alma. — Me desculpe Gabriel, mas enquanto
eu não souber a verdade, as coisas ficarão diferentes e eu não
quero isso — digo. — Eu quero que sejamos eu e você, como
éramos desde o início. E agora eu não conseguirei ser e farei
você sofrer, porque estou sofrendo. Não estamos terminando,
mas eu preciso de alguns dias para compreender tudo isso, para
estudar, para ler, para tirar as minhas próprias conclusões. Você
pode me dar esse tempo?
— Não sei, Ava. Não sei lidar com isso, com essa situação,
com um afastamento. Eu sinto que em alguns momentos sou
apenas um garoto de vinte e três anos, perdido. E agora, esse é
um dos momentos. Não sei o que te dizer, Ava. Portanto, faça o
que você acha certo fazer, o que você precisa fazer para se
sentir bem — fala e começa a caminhar rumo a moto.
— Gabriel?
— Ava, eu te amo porra, eu não sei lidar com isso, agora
sou eu quem preciso de um tempo. Cuide do nosso filho, ok?
Faça isso por mim — grita, coloca o capacete e acelera, rápido
demais.
Uma hora e meia depois, estou em meu apartamento, vazio.
Luma e Davi só devem voltar amanhã e serão engolidos por um
mar de acontecimentos. Ligo para a minha mãe e peço que ela
adie essa notícia, então mando a mensagem para Gabriel,
pedindo que ele faça o mesmo.
Ela é minha irmã, eu saberei lidar com ela assim que souber
de toda a verdade.
No meu quarto, arrumo uma mala com tudo o que
precisarei: roupas, notebook, carregadores, produtos de higiene
pessoal.
Estou fechando a mala quando Gabriel surge em meu
quarto, com os olhos vermelhos.
— Gabriel... — Ele leva um dedo na boca, pedindo que eu
me cale, se aproxima, me pega pela cintura e me beija. Eu reluto
em um primeiro instante, então cedo. Quando me dou conta,
estou tirando a camisa dele e já estou sem meu vestido. Tiramos
nossas roupas e então afastamos nossos lábios, grudamos
nossas testas e nossos narizes. Ambos respiramos com
dificuldade.
— Case comigo.
— O quê? — pergunto chocada e o vejo engolir a seco.
Então, ele desliza até o chão, ficando de joelhos e surge com
um anel em sua mão. Levo minha mão a boca e tento conter as
lágrimas quando ele beija minha barriga.
— Case comigo, Ava. Vamos construir nossa família, juntos.
Eu te amo, absurdamente. Quero passar o resto dos meus dias
ao seu lado e ao lado desse bebê — diz tudo de uma vez. —
Ava, independente do que você descubra, nós não temos nada
a ver com o passado dos nosso pais. Somos eu e você, por
favor, nunca pense de outra maneira. Case comigo. Eu amo
você, meu amor.
Eu estou sendo pedida em casamento. Nunca imaginei que
um dia seria pedida...
Eu não sei...
Meu Deus, por favor, pare o mundo!
Eu consigo escapar das algemas, mas, ao invés de ir matar
Matheus, percebo que estou no auge da exaustão física e
mental. Então, as únicas coisas que faço são ir tomar um banho,
vestir um pijama confortável, fechar todas as janelas e cortinas
do quarto, ligar o ar, me acomodar na cama, falar com Ava e
então deixar o sono me vencer.
Há muitas coisas a serem absorvidas, por mais que eu tente
levar tudo pelo lado bom.
Acordo e no meu celular marca quatro horas da tarde. A
porta do quarto já está aberta, então, parecendo um zumbi,
caminho rumo a cozinha. Matheus está estirado no sofá, com
um pote de sorvete em mãos, assistindo filme. Eu reviro os
olhos e ignoro quando ele fala comigo.
Preparo dois mistos quentes, um copo de suco de laranja e
sigo para o quarto.
— Vic...
— VÁ TOMAR NO... VOCÊ SABE ONDE — é tudo que eu
digo, da maneira mais carinhosa do mundo.
Faço meu lanche e então fico conversando no grupo da
família. Eu não sei por que inventaram isso, só sai merda, nunca
sai nada de útil. Eles estão discutindo, porque Beatriz mandou
um semi-nude errado no grupo.
— Começa assim, depois está no Xvídeos, por fazer
bronzeamento artificial na lage e ficar balançando a raba. Isso é
culpa da sua mãe, que não soube te criar — meu sogro está
dizendo. Eu lembro desse episódio, isso me faz rir.
— Pai, era para o meu marido...
— Não importa, Beatriz, você acaba de ser deserdada!
— Meu cu, Arthur! — minha sogra é quem diz agora. —
Filha, manda mesmo, seu pai ama quando eu faço.
— Eu não quero ler que vocês trocam nudes! — Beatriz diz
mandando um monte de emoticon.
— Eu só não mando foto do meu pau, porque o celular não
suporta o tamanho do arquivo. — Matheus digita e eu começo a
rir. Eu o odeio, muito forte, mas essa foi boa.
— Essa minhoquinha? Matheus usa aqueles produtos que
aparecem nos anúncios do Xvídeos, para aumentar o tamanho
do pau — é meu irmão quem diz agora e eu dou outra
gargalhada.
— É porque metade dele ficou perdida no teu rabo, filho da
puta, aí eu preciso fazer a outra metade crescer para a alegria
da sua irmã.
— Vai se foder, babaca!
— Teu cu!
— Olha o jardim de infância! — meu pai diz.
— Pai! — digito e mando um coração.
— Amor da minha vida!
— Te amo pai. — Mando um sorriso e ele manda vários
corações.
— Ai ai... — Matheus digita. — Está um lindo dia aqui no
Brasil.
— Foda-se. — Digito e todo mundo online manda olhinhos.
— Vou dormir um pouco mais, pessoal. Beijos.
Eu realmente durmo e só acordo as oito da noite. Mando
uma mensagem para Lucca e ele informa que hoje vai para uma
balada com Victor. Isso me dá uma excelente ideia. Mando uma
mensagem informando que irei com eles e solicitando sigilo
absoluto. Saio do quarto para buscar uma fruta, e Matheus
continua no mesmo lugar, plantado como uma árvore.
Como uma banana, bebo um iogurte e volto ao quarto para
começar os preparativos. Primeiro tomo um banho, seco meus
cabelos e então escolho uma roupa que vá deixá-lo perturbado.
Um vestido branco, que contorna todo meu corpo, com um
decote generoso que mostra bem meus garotos. Para ficar ainda
mais chamativo, coloco uma gargantilha prata, em formato de
serpente. Escolho sandálias combinando e então, após conferir
a maquiagem, sinto que estou realmente pronta.
Saio do quarto, carregando minha bolsa e meu celular nas
mãos. Matheus dá pause em sua programação no mesmo
instante.
— Victória, onde você pensa que está indo vestida dessa
maneira? — Coitadinho...
— Eu? Apesar de ser solteira e livre, vou te dizer. — Sorrio.
— Estou indo para balada com Lucca e Victor. Boa sessão
Netflix. — Dou um adeus e antes que eu possa por minha mão
na maçaneta, ele está me puxando. — Me solta.
— Você não está solteira, nem mesmo livre.
— Estou sim. Separei de você essa manhã.
— É isso que você quer? — ele pergunta sério.
— Sim, é isso o que eu quero — afirmo e ele me solta.
— Ok, eu também vou para a balada — informa.
— Boa sorte. — Sorrio e saio.

Baladas são tão cheias. Não ajuda o fato de eu estar com


meus filhos, que estão agindo como seguranças. Arrumo um
lugar em um ponto estratégico do bar e então peço três doses
de tequila, sob olhar curioso e avaliativo dos meus filhos.
— O quê? Vocês não bebem quando vem para a balada?
Querem enganar a mim? A mãe de vocês — questiono.
— Mãe, o que houve com você e papai? — Lucca pergunta.
— Separamos.
— Fala sério, mãe! — Victor debocha e eu arqueio as
sobrancelhas, virando as três doses consecutivas, já que eles
não querem beber.
Bebo mais outras três doses, pego um drink e me viro de
frente para a pista, sendo cercada por dois seguranças, que são
as cópias perfeitas do pai. Eu embalo uma conversa animada
com eles, sobre garotas e logo estamos rindo, mais leves. Eles
até bebem um drink comigo.
Ser mãe é a coisa mais fantástica que já aconteceu na
minha vida. É tão bom ser amiga íntima dos filhos, sentar juntos
para beber, conversar sobre todos os tipos de assunto
abertamente, de igual para igual. Nem mesmo parecemos mãe e
filhos, até porque, graças a Deus, eu sou extremamente
conservada. Você me vê e pode dizer com muita facilidade que
sou namorada de Victor ou Lucca. Definitivamente, não há nada
que nos remeta a mãe e filhos, até mesmo fisicamente. Lucca é
um Matheus todinho, exceto pela ausência de covinhas, e Victor
é uma mistura bastante balanceada. Ele tem um pouco mais de
mim, mas também se parece com o pai em alguns traços.
Estou rindo da última aventura sexual de Victor quando olho
para o lado e vejo Matheus, sentado na outra ponta do balcão,
tomando uísque e me observando.
— Merda mãe, o que está pegando entre vocês?
— Victor, não é o momento, nem o local ideal. Terei uma
conversa com você, Lucca, Ava e Luma. Há coisas sobre o meu
passado que não dão mais para ficarem escondidas como eu
pretendia — explico observando uma garota se aproximar de
Matheus.
Ele me olha uma última vez e então dirige toda sua atenção
a ela.
— Deus! Aquela garota tem o que? 25 anos? — questiono.
— Vinte e dois, já fiquei com ela — meu pimpolho diz e eu
fico boquiaberta. Matheus poderia ser pai dela.
Bebo mais duas doses de tequila, observando como ela
passa as mãos pela camisa dele e ele permite.
Eu sinto uma vontade insana de chegar lá dando uma
voadora na garota. Mas decido não ficar mais aqui, me
torturando por um pau daquele porte. Pego minha bolsa, fujo
dos meus filhos e vou para a pista dançar.
É estranho. Há muitos anos não frequento esse tipo de
ambiente. Eu e Matheus, de vez em quando, deixávamos as
crianças e íamos para a balada. Já fomos até mesmo para
raves, quando éramos mais novos. Mas, nos últimos anos
estamos preferindo outros tipos de programas, coisas mais
light's como locais com música ambiente ou ao vivo, coisas mais
dentro da normalidade de um casal.
Há muitos garotos que poderiam ser meus filhos, me
olhando. Isso me faz rir e, preciso confessar, nessa idade é
excelente para auto estima. Eles me olham com desejo e isso
eleva significativamente meu humor. Não por eu querer qualquer
um deles, mas pelo fato de eu me sentir desejada, jovem e
bonita. Meu amor próprio está em alta desde que cheguei nesse
lugar. Há garotos até mesmo mais jovens que meus filhos. Deus,
eu tenho uma filha de 37 anos, um filho de 30, tenho dois netos,
tenho 55 anos de idade. Mas, dizem que tenho tinha e sete, que
Isis tem vinte e cinco e por aí vai...
O ódio é que Matheus também é uma merda! Ele é continua
o mesmo, mal mudou durante todos esses anos. É forte, atlético,
gratíssimo. Somos um casal com um forte potencial destrutivo.
— Oi — um garoto diz em meu ouvido.
— Oi.
— Você é linda, pra caralho. Posso pagar uma bebida?
— Não. — Sorrio. — Eu mesma pago minhas bebidas. —
Ele sorri. É um garoto muito bonito, forte como meus filhos.
Definitivamente, esse lugar aqui não é mais para mim.
O garoto é audacioso. Ele desliza uma mão pela minha
cintura e tenta me puxar para seu corpo, mas, antes que ele
consiga é arrancado de mim e jogado longe, como se não
pesasse um quilo sequer.
Eu aproveito a muvuca para ir embora. Nada está sendo
como eu previa desde que cheguei ao Brasil.
— Mãe... — Ouço Victor me gritar e faço um sinal para que
ele apenas me deixe. Pago minha conta e saio rumo ao meu
carro.
Minha vida está uma bagunça perfeita, tudo desandou da
noite para o dia.
Dirijo pela orla, vagarosamente, com os vidros abertos,
tentando obter um pouco de oxigênio. Encontro um quiosque
aberto, estaciono e desço.
Me acomodo em uma banqueta e bebo dois drinks, olhando
o mar. O mais estranho de tudo isso é que agora estou calma.
Há em mim uma calmaria muito estranha, tanto que eu nem bati
na garota que estava tocando meu marido. Eu nem sei porquê
estou assim. Talvez seja apenas por cansaço de saber que
tenho um passado.
Eu lutei a vida toda para superar tudo o que aconteceu, e
consegui, com muita luta, muito esforço e muita ajuda. Foram
bons anos sem lembrar de tudo e, agora, quando acho que nada
mais de ruim poderia me afetar e que o passado estava
devidamente enterrado, ele volta para mostrar que determinadas
situações não podem ser enterradas para sempre, que em
algum momento da vida eu serei lembrada que tive um passado
bastante fodido.
— Victória? — Ouço a voz de Túlio e olho para trás, para
encontrá-lo junto com sua esposa.
— Oi. — Sorrio fracamente.
— Está tudo bem? — Analu pergunta.
— Sim, onde está a bolinha de queijo? — pergunto sorrindo.
— Ela está com Gabriel. Ele é muito grudado a ela — Túlio
explica sorridente. — Ava viajou.
— Oi?
— Você não sabia? — Analu questiona.
— Não. Ela só me ligou pedindo que eu não contasse nada
a Luma por enquanto.
— Ela foi descobrir verdades, segundo Gabriel. Ela tem o
pen drive com nossos processos, Vic. Gabriel é estudante de
direito, está no último ano. Ele sabe parte do meu passado e
pediu que eu lhe desse o pen drive com todos os processos,
para estudar. Ele entregou a Ava, antes dos dois descobrirem de
quem são filhos e que no pen drive as informações são sobre
você e eu.
— Maravilha, hein?! — digo rindo de nervoso, mas acredito
que ela descobrir tudo por conta própria seja o melhor para a
cabecinha dela, sem interferências pessoais. Ao mesmo tempo
que estou desesperada, estou orgulhosa da minha garota. Ela é
forte, como eu. Nesse momento estou orgulhosa de mim
mesma. — Ok, está tudo bem. É melhor abrirmos o jogo de uma
vez, não é mesmo?
— É o melhor, Victória — Analu diz.
— Está tudo bem mesmo, Vic?
— Está sim, Túlio. Só estou respirando um pouco antes de
ir para casa.
— Nós ainda precisamos conversar, ok? — ele diz.
— Eu sei, nós iremos. — Sorrio.
— Ok, bom, vamos embora. Qualquer coisa, basta nos ligar,
você já tem nossos números — ele fala.
— Muito obrigada. — Agradeço e os dois se vão. Eles são
um casal muito lindo. Eu consigo os enxergar da mesma
maneira como eles eram anos atrás. Também foram
abençoados pela genética. Ou será que isso tem a ver com ser
bem amado?
Talvez tenha. Acho que quando uma pessoa é devidamente
amada, isso reluz até mesmo fisicamente.
Eu fui devidamente amada por muitos anos.
Chego em casa quando o dia está clareando. Durante toda
noite ignorei centenas de mensagens e ligações enquanto ficava
fitando as ondas irem e vindo.
Sou surpreendida pela ausência de Matheus. Solto um
suspiro, me acomodo na cama e fico olhando a lagoa, pelas
portas de vidro. Dormir não é uma possibilidade.
Não sei quanto tempo passa, mas a porta do quarto é
aberta brutalmente e um Matheus nervoso entra. Eu apenas o
observo.
— Estou tão puto com você, tão puto, como nunca estive,
Victória.
— Interessante.
— Onde diabos você estava? Eu fiquei nessa merda de
apartamento até as quatro e meia da manhã te esperando! —
ele grita tirando a roupa. — Com quem você estava? Onde
estava, porra? — pergunta socando a parede. — Você não vai
se separar de mim, está escutando? VOCÊ É MINHA,
CARALHO! MINHA! UM CAMINHO SEM VOLTA!
— Ok. Sua. — Ele sobe na cama, montando sobre mim e
deixando meu corpo entre suas pernas. Meu vestido é rasgado e
sua boca devora minha nuca enquanto ele joga a peça longe. A
segunda peça rasgada é minha calcinha e eu sorrio quando um
tapa forte e ardido é dado em minha bunda. Eu amo “apanhar”
do meu marido na cama. Ele faz de mim uma marionete e eu
tento não esboçar reações só para deixá-lo mais nervoso. Sou
posta de quatro, tenho meus cabelos puxados com uma mão,
enquanto a mão livre dele trabalha em minha intimidade.
— Victória, maldita, pare de brincar comigo.
— Não estou brincando com você — digo e ele troca seus
dedos por algo mais fantástico. O sinto se encaixando em mim
centímetro por centímetro. Ocupando todos os espaços vazios
até não sobrar mais nada.
Então ele começa a se mover e torna-se impossível conter
os sons, principalmente por ele estar no modo mais selvagem.
Sua mão desliza pelo meu pescoço e ele me beija.
Dura pouco... até que ele começa a chorar.
— Eu te amo... é fodido demais para mim, Vic.
— Eu sei...
— Sou louco por você...
— E eu por você, Theus. — Ele me prende na cama e
enlouquece, me deixando em desespero. Algumas coisas não
mudam nunca. Eu tenho um tesão louco quando sinto um pouco
de dor. Eu vejo estrelas, duendes e fadas, quando um orgasmo
atravessa meu corpo e minha alma. E Theus apenas não para e
isso vale tanto para o choro, quanto para os movimentos.
— Oh Deus, Matheus, eu te amo tanto...
— Fodida Sadgirl do meu caralho, você é uma insana na
cama. Vou morrer fodendo você.
— Sim, me mate e então morra junto.
— Vou gozar em você agora, amor. Posso?
— Por favor, me dê isso... — peço e ele me dá tudo, então
cai sobre meu corpo e ficando beijando minhas costas por
longos minutos. Com meus pés, retiro minhas sandálias e
relaxo.
— Por você, Victória — ele sussurra em meu ouvido.
— Por mim?
— É por você que eu vou enfrentar o passado mais uma
vez. — Fico ligeiramente emocionada, recebendo beijos na
nuca. — Eu farei isso por você novamente, mesmo que doa e
me dilacere tudo outra vez. Eu farei porque eu te amo.
Eu gostaria muito de saber o motivo pelo qual meu marido
está lançando olhares esquisitos para mim e sorrindo desde que
chegamos em nosso apartamento. Os acontecimentos dessa
noite foram pesados e ele parece tão bem.
Estou rodando pela sala com minha bolinha, ela está quase
dormindo, olhar para o teto dá um soninho nela. É tão bonitinho
vê-la sorrindo, como se estivesse sonhando, de olhinhos quase
fechados.
Olho para meu marido, e ele continua com um sorriso
misterioso, me fitando enquanto finge ler um livro. Viro de costas
para ele e ele assovia, me fazendo sorrir. Esse Gibi está muito
engraçadinho. Eu deveria matá-lo por ter um passado com
Victória. Por conta disso, terei que aceitá-la em minha família,
por ser sogra do meu filho. Se ao menos ela fosse feia, mas
não, a filha da puta é bonita da cabeça aos pés eu odeio isso.
Isso me faz olhar para ele novamente, e ele arqueia as duas
sobrancelhas ao ver meu olhar assassino. Filho da puta! Eu vou
matá-lo, será uma morte lenta e dolorosa, bem calculada. Sou
capaz de apostar que ele sabe exatamente o que estou
pensando, porque segura o riso, pressionando os lábios
duramente.
Não tem graça, ele teve uma tatuagem com o nome Little
Girl, que por sinal é o apelido que meu filho chama a filha de
Victória. De todo o meu coração que eu vos digo, eu acabo de
enfiar anos de psicologia no cu. Vou ir em busca de aprender
essas merdas de mapa astral, de coisas místicas, estudar os
desígnios do destino, a puta que pariu. Só isso justifica todas as
coincidências. Não há resiliência que resista, mas preciso resistir
e mostrar que tenho classe, afinal, sou psicóloga, aquela pessoa
apta para compreender situações adversas. Além do mais,
tenho que apoiar meu marido, sei que isso vai impactá-lo, aliás,
já impactou. Está em jogo a felicidade do nosso filho e Túlio é
capaz de qualquer coisa para ver nossas crias felizes. Ver a
felicidade de Gabriel ameaçada pelo passado dele, deve estar o
ferrando internamente.
Minha bolinha finalmente embala em um sono pesado e eu
a levo para o berço.
Vou para o quarto, tomo um banho, visto uma camisola e
então vou para sala, encontrá-lo.
— Por que você está rindo como um engraçadinho, Senhor
Gibi?
— Porque você é uma Pinscher Raivosa — explica
deixando o livro de lado e me puxando. Viro de costas para ele e
me encaixo entre suas pernas, enquanto ele me abraça. — Você
é tudo, Analu.
— Você é.
— Você me defendeu deles, sem medo e sem insegurança.
Estou abismado. Passou até mesmo por cima do seu ciúme. —
Sorrio me aconchegando mais em seus braços. — Você é
gigante, Analu.
— Eu não fiz mais que minha obrigação. Matheus parecia
insano, o culpando de coisas que você foi vítima, não se
importou nem mesmo com a felicidade da filha, estava
transtornado — digo. — Mas eu o compreendo, principalmente
como psicóloga, o compreendo. Não deve ter sido fácil para ele
passar por todas aquelas coisas, viver longe da mulher que
amava, conhecer a filha apenas aos sete anos de idade. Não os
conheço, não conheço a história deles, mas sou capaz de
arriscar o que houve com ele.
— O que você arriscaria dizer?
— Que Victória voltou para o Brasil quebrada o bastante
para precisar de apoio. Eu acho que Matheus guardou todas as
dores dele no bolso e então pegou a batalha dela para ele, de
forma que ele deixou de lado o fato que ele também era um
pouco quebrado, pois foi vítima do passado de Victória, mesmo
sem saber tudo o que ela havia passado. Ele foi a luz dela, mas
esqueceu de cuidar de si mesmo no trajeto. Eles achavam que
nunca mais teriam que voltar ao passado, mas o destino, cruel
que só, ou talvez generoso, não permitiu que o passado se
mantivesse escondido.
— É uma boa análise, estou surpreso e admirado, como
sempre — meu Gibi diz.
— O que você pensa de tudo isso?
— Eu acredito que Matheus tornou-se o super herói de Vic.
Aquele que lutou todas as batalhas, reagiu e guiou. Eu concordo
com sua análise, faz todo sentido. Matheus foi para Vic o
mesmo que você foi para mim naquele início. Ele foi quem a
guiou, assim como você me guiou. A diferença é que não
tínhamos tido uma história antes, não tínhamos filhos. Foi
quando veio Gabriel que tudo mudou. E agora tudo está
mudando novamente através dele. Você compreende o que
quero dizer? — pergunta e eu franzo a testa.
— Não, o que você quer dizer?
— Minha redenção não foi completa, Analu. Eu nunca
enfrentei Matheus e Vic. Enfrentei todos os meus demônios,
enfrentei muitas coisas, mas eu não enfrentei as pessoas que
mais precisava enfrentar: Matheus e Victória. A vida está
cobrando isso agora, eu me sinto pronto e disposto a lidar com o
passado, mais uma vez. — Eu me viro de frente para ele,
jogando minhas pernas por cima das pernas dele.
— Não está doendo?
— Está sim, é meu filho. Se fosse apenas algo sobre mim,
mas não é — explica suspirando. — Ava está com o pen drive
onde contém todas informações. Eu não a conheço, estou
inseguro que ela veja tudo e decida que o melhor é se afastar do
nosso filho. Para completar, ela está grávida e essa é a coisa
mais louca que poderia ter acontecido, Analu. Teremos uma
mistura de Salvatore e Albuquerque. Nosso neto ou neta, terão
nossos sangues. De alguma forma, o destino que nos aproximar
e eu sinto que o momento ideal para enterrarmos de vez o
passado, Analu. Eu vou enfrentá-lo mais uma vez, então
acabou.
— Oh meu Gibi, eu tenho tanto orgulho de você — digo o
abraçando forte.
— É a única maneira de salvar nossos filhos, ainda há Davi
envolvido com a outra filha de Victória, mesmo Gabriel dizendo
que não é tão sério, provavelmente é. Eu enfrentarei Matheus,
Victória, Ava e Luma.
— Enfrentaremos juntos, meu amor, em todos os
momentos, eu sempre estarei com você, te apoiando, te
impulsionando. — Sorrio e ele me beija, até uma bolinha de
queijo acordar. Saio correndo para pegá-la e então ela começa a
rir. — Garota, garota, você está fazendo gracinhas essa hora?
— questiono e ela dá gargalhadas. — Coisa mais perfeita.
Vamos no papai? — Ela bate palmas e eu a levo para a sala. Me
acomodo no sofá e Túlio, como sempre, vira o centro das
atenções. Apoio minhas cabeça na mão e fico os observando.
— Briochinha, você acha mesmo que é justo com o papai
ficar acordada essa hora? Vamos conversar, filha. É bastante
injusto. É hora de criança estar dormindo — ele diz sério e ela
dá uma gargalhada alta que o faz sorrir de orelha a orelha. —
Desse jeito, você pode ficar acordada quanto tempo quiser, ok?
Papai pode esperar para namorar com sua mamãe. Está
tranquilo, de verdade, briochinha.
— Sim, briochinha, mamãe tem que concordar com o papai.
Mamãe está muito nervosa e precisa de pir...
— Analu! — Túlio repreende. — Ela entende.
— Claro que não entende, está louco? Ela nem mesmo tem
1 ano ainda.
— Mas é bom já ir treinando o filtro, não? Ela é uma
menininha, não é como os meninos. — Minha filha está fodida
na vida. Eu faço uma careta e vou até a geladeira pegar dois
Chandelles e chantilly de chocolate. Obviamente, minha bolinha
quase se joga dos braços do pai, ela adora um doce. Comemos,
nós três, e vira uma bagunça, porque Aurora passa a mãozinha
na boca e suja todo o rosto. Então ela leva a mão ao rosto de
Túlio e ri ao ver a sujeira. Ele pega um pote, enfia o dedo e
então passa na minha testa. Nós três ficamos uma maravilhosa
grudenta de chocolate e temos que ir tomar banho. Eu amo
tomar banhos em família e Aurora também se diverte a cada vez
que fazemos isso.
Gibi faz uma espuma gigante nos cabelos dela e eu dou
gargalhadas, nossa pequena fica muito linda.
Quando terminamos, eu pego uma roupinha para ela
enquanto Túlio a enxuga, ele se seca e pega o secador para
secar essa cabeleira. A garota só sabe rir, o tempo inteiro. Não
há nada mais gratificante que ver uma criança tão feliz quanto
Aurora. Ela é a felicidade em forma de mini pessoa.
Preparo uma mamadeira para ela, a colocamos no meio da
nossa cama, entre nós dois e então ela dorme com as
mãozinhas em cima do peito do pai, que acaba dormindo
também.
Adeus sexo!
Mas ver essa cena é um dos prazeres da vida, então está
tudo certo.
Como não estou com sono, pego meu travesseiro, um
edredom e vou para a sala, assistir série. Acabo dormindo com a
TV ligada e só acordo quando braços fortes envolvem meu
corpo e me levam até a cama. Briochinha não está mais e Túlio
informa que a colocou no berço.
— Quero você... — digo o puxando para mim e ele sorri.
— Hum... sexo sonolento? — pergunta com a voz rouca.
— Sim. — Ele sorri e se encaixa entre minhas pernas. Sua
boca se apossa da minha ao mesmo tempo em que suas mãos
encontram as laterais da minha calcinha.
Lentamente ele desliza a peça pelas minhas pernas e então
retira sua cueca. Ficamos nos beijando por longos e incontáveis
minutos, até que apenas beijar já não é o suficiente. Nossos
corpos exigem uma junção e ela acontece, perfeita e sem
pressa. Sexo sonolento com meu Gibi é incrível, porque é doce
o bastante e destoa de como realmente somos. O ápice do
prazer nos atinge juntos e então tomamos um banho para limpar
toda a bagunça.
Gibi me leva de volta a cama, me abraça e então
dormimos... até uma briochinha/ bolinha de queijo nos acordar,
na manhã seguinte, com seu sorriso incrível e sua luz.

É a tarde que as coisas tornam a ficar pesadas, quando


Gabriel surge devastado no apartamento.
— O que houve filho?
— Eu posso ficar com a bolinha de queijo? — ele pede. —
Onde ela está?
— Na cama, brincando — Túlio explica e Gabriel faz
menção de ir até ela, porém meu marido o contém. — Calma,
vamos conversar. O que está havendo?
— Está tudo difícil, Ava foi viajar... está difícil. Eu não sei
lidar.
— Vá Túlio, eu converso com ele — peço e Túlio balança a
cabeça em concordância, visivelmente se sentindo mal e
culpado. Eu não deixarei meu marido se quebrar mais uma vez,
de forma alguma.
Caminho com Gabriel até o sofá, com o coração na mão por
vê-lo visivelmente bagunçado. Eu nunca o vi assim antes. Ele
sempre foi um garoto alegre e leve, ele sempre foi... eu. Lidar
com filhos é totalmente diferente que lidar com pacientes. É
complicado quando nosso emocional está em jogo, mas é
necessário agora.
— O que está havendo, filho?
— Não sei lidar com o amor. — Meu coração de mãe dói
neste momento. — É muito complicado, estou sentindo que sou
infinitamente inferior a maturidade de Ava, agora. Porque ela
parece certa, sabe mãe? Os argumentos dela fazem total
sentido, mas eu me sinto um egoísta do caralho, me sinto um
garoto mimado que lutar para obter algo que a pessoa não está
disposta agora. Ela foi descobrir as verdades, com o pen drive
que a entreguei, sozinha. Mas eu queria que descobríssemos
juntos. Queria estar com ela enquanto ela vê tudo...
— Você sabe que seu pai é um ser humano único,
verdadeiro e bom, não sabe? — pergunto apenas para garantir
que não é isso que está o afetando e que não há qualquer
desconfiança dele sobre a conduta do pai.
— Eu sei, mãe. Isso nunca esteve à prova. A questão é
Ava. Eu não sei o que ela vai pensar ao ver tudo aquilo, é a mãe
dela.
— Há muitas explicações e depoimentos naquele pen drive,
inclusive o depoimento de Victória, favorável ao seu pai. Eu
posso quase afirmar que Ava irá se apegar a isso. Se ela quis
um tempo para viajar e descobrir, pode ser bom, filho. Ela está
grávida, os hormônios afetados e, ainda assim, ela quer ter a
mente no lugar para poder fazer decisões. Ava está certa de se
afastar das pessoas que está envolvida emocionalmente, para
conseguir pensar racionalmente. Foi uma atitude correta,
embora doa em você. Filho, você só precisa pensar um pouco
mais racionalmente e tentar tirar coisas boas até mesmo da
destruição. Se ela quis fazer isso, é porque ela te ama e quer
tentar compreender tudo da melhor forma. Não acredito que o
relacionamento de vocês será afetado por tudo que está ali.
Aquele pen drive diz muito mais sobre seu avô, do que sobre
seu pai. Você precisa ter fé, não apenas em Deus, mas em
você, em Ava, na história que os dois estão construindo. Se
você não tiver fé no amor de vocês, isso não é um
relacionamento, compreende? Onde há medo, não pode haver
amor.
— Mas eu posso ficar com Aurora? Ela vai ocupar minha
mente, eu cuidarei dela, mãe. Se eu não tiver algo a que me
apegar, vou enlouquecer. Você e meu pai podem ir namorar,
viajar, qualquer coisa que quiserem, eu cuidarei dela com toda a
minha vida, como se ela fosse a minha filha. — Oh meu Deus,
por que o Senhor me deu um filho desse porte? Eu não sei lidar
com meu Mini Gibi.
— Aurora é sua, meu amor. — Sorrio e ele me abraça
quase me partindo ao meio. — Eu te amo, Mini Gibi, vai tudo dar
certo, confie em mim, eu sei o que Ava está fazendo e é muito
por vocês.
— Ok.
Dez minutos depois, ele se vai com minha pequena bolinha
de queijo e é a vez de eu lidar com Senhor Gibi. Ele precisa se
animar e eu farei a noite dele muito louca.
Eu desmaiei após o grande pedido e estou puta comigo
mesma por ter herdado essa situação do meu pai. Quando
acordei, não havia mais aliança ou proposta, Gabriel
desconversou e foi embora. Agora estou chegando em Ilha
Grande, ancorando a lancha para descer, sem saber se estou
noiva, solteira ou namorando.
Sim, eu vim de lancha sozinha, trazendo uma mala de
roupas e uma mala de alimentos congelados; realmente não sou
muito boa na cozinha. Obviamente que buscarei comer coisas
saudáveis ao menos no almoço, em algum restaurante em
Abraão.
Desço com uma mala primeiro e então subo novamente na
lancha para pegar a outra. Então, caminho pelo deck puxando
as duas e assusto ao encontrar a porta da casa aberta.
Deixo as malas na cozinha e então vou em busca das
almas vivas dentro de casa, talvez seja a faxineira ou o zelador.
Ou será que há algum outro integrante da família aqui? Não faço
ideia. No primeiro andar não há ninguém, por isso, subo para o
segundo e confiro todos os quartos, um deles está com a cama
desarrumada e eu só não entro por completo com medo de
pegar alguém nu no banheiro, fazendo necessidades. Caminho
até uma varanda e encontro o habitando inesperado: Rafael. Ele
está deitado em uma rede, olhando o horizonte, vestindo apenas
uma cueca. Deus me livre de toda maldição, está repreendido.
— Rafa? — chamo e ele se assusta com a minha presença.
— Ava? O que está fazendo aqui?
— Era a pergunta que eu estava indo fazer. — Sorrio.
— Ainda tenho alguns poucos dias de férias, porque voltei
viagem antes da hora — explica. — Eu quis fugir de toda
bagunça um pouco. Vim ficar um pouco sozinho comigo mesmo,
pensar um pouco, estabelecer algumas metas. Na Bahia eu mal
dormia, estava rodeado de pessoas o tempo todo.
— Imagino. Muitas mulheres, bebidas, festas...
— É exatamente isso, não necessariamente nessa ordem.
— Ele sorri. Eu já disse sobre o sorriso dele? Pois bem, então
não direi outra vez.
Mas é lindo.
— Então você ficará aqui por alguns dias?
— É esse o plano. Atrapalho em algo? Meu padrinho disse
que estava tranquilo, que ninguém iria vir para cá — fala sem
graça.
— A casa é sua também, não atrapalha.
— O que veio fazer aqui sozinha? — pergunta e eu respiro
fundo.
— Há muitas coisas acontecendo e outras que eu preciso
descobrir. Preferi me isolar um pouco para poder lidar com tudo
e fazer as descobertas que preciso, sem interferência emocional
para me tirar do foco e da razão.
— Coisas difíceis?
— Muito difíceis. Envolvem um passado que não é meu e
duas famílias, entre elas a minha família. — Ele balança a
cabeça em compreensão.
— Eu deveria ir embora? — pergunta demonstrando receio.
Não vejo necessidade, só mantermos distância em
determinados momentos e respeitarmos o espaço um do outro.
Ele veio pensar na vida, eu vim fazer quase o mesmo. Creio que
não atrapalharemos um ao outro.
— Não há necessidade. Só respeitarmos o espaço um do
outro e tudo estará bem. Essa casa é gigante, tem espaço
suficiente para nós dois pensarmos na vida e encontrarmos
respostas. — Ele sorri novamente.
— Ok. Devemos delimitar um espaço?
— Somos bem grandinhos para isso, não? — brinco e ele ri.
— Somos — concorda. — Ok. Isso será estranho, mas por
mim está tudo bem. Temos liberdade um com outro, basta dizer
que não quer que eu fique e eu irei embora, sem stress.
— Está tudo bem. Eu vou em busca de um quarto —
informo me virando e ele me chama.
— Ava... — Eu me viro novamente para ele e ele me encara
sério. — Diga se eu puder ajudar em algo, você está abatida. Se
alimentou hoje?
— Não.
— Eu posso preparar algo para você comer ou estaria
invadindo seu espaço?
— Você pode, mas não sinto fome e nem mesmo posso
afirmar que conseguirei comer — confesso.
— Tentaremos — informa ficando de pé e eu me viro.
— Seria interessante fazer uso de bermudas. — Ele ri.
— Eu estava sozinho, não sabia que você surgiria. Passarei
a fazer uso a partir de agora.
— Agradeço desde já. — Ele ri novamente e eu vou até o
quarto dos meus pais.
Fecho a porta com chave e então retiro minhas roupas e
entro embaixo da ducha, deixando a água cair sobre minha
cabeça, na tentativa de lavar minha alma, como se fosse
possível.
Me lavo e então, pela primeira vez, levo a mão em meu
ventre. Não em minha barriga, em meu ventre, onde há um
pacotinho crescendo. Acho que, mesmo a ficha tendo caído, eu
ainda não tinha me tocado de uma maneira maternal. É estranho
saber que há alguém, que um outro coração está batendo
juntamente com o meu e que essa pessoa aqui depende de mim
por completo.
As lágrimas escorrem dos meus olhos, por ter que lidar com
tantas coisas quando era para ser um momento puramente feliz.
Encerro o momento sofrência, me enxugo e visto uma roupa
confortável. Desço para a cozinha e Rafael já está me
esperando com sanduíches prontos. Nos acomodamos na
varanda e eu começo a comer, forçada.
— Então, senhorita Ava, quer conversar um pouco? Botar
um pouco para fora o que está pegando é muito bom. Não sei se
você sabe, mas eu sou psicólogo.
— É difícil acreditar. A pessoa vai fazer terapia e saí mais
louca que chegou no consultório. — Ele dá uma gargalhada. —
Eu sempre tive essa curiosidade, desde tio Ricardo. Você tem
muitas pacientes mulheres? Como funciona fazer terapia com
um terapeuta gato? Nunca perguntei meu tio, mas ele devia ser
o terror das pacientes.
— Todas minhas pacientes são mulheres — explica
confirmando o que eu desconfiava. — Acho que só tive paciente
homens quando ainda estava na faculdade.
— E elas te cantam?
— Algumas sim — confessa. — Mas eu sei o que você está
fazendo, tentando distrair do assunto.
— Estou grávida, do filho do maior inimigo do meu pai. — A
cara que ele me olha, quase me faz rir.
— Você está grávida, Ava? — questiona boquiaberto e eu
balanço a cabeça afirmando. — E por que o pai do seu filho é
filho do inimigo do seu pai? Caramba, Ava, isso foi programado,
planejado?
— Não.
— Preservativos existem, não sei se já ouviu falar.
— Ele tem um piercing no...
— Não termine. Informações demais — Rafael repreende e
eu começo a rir. — Deus, Ava, isso é insano. Chega a doer meu
pau só de imaginar uma merda dessas. De qualquer forma,
preservativos existem e você sempre soube das suas limitações.
Não adianta reclamar agora, não é mesmo?
— Não estou reclamando do bebê. Estou reclamando do
resto da situação. Há muitas coisas para eu descobrir e grande
parte delas está em um pen drive que trouxe — explico.
— Bom, te conhecendo bem, eu posso dizer que você fugiu
para buscar informações sem interferência do seu pai.
— É exatamente isso, Rafa. Estou fugindo do meu pai para
ter um pouco de racionalidade, mesmo sentindo muita dor por
ter que fazer isso.
— Engraçado, você está fazendo o contrário do que as
pessoas fazem. — Ele sorri olhando para o mar. — Existe uma
frase muito famosa, ela diz que o medo de enfrentar a verdade
para não ferir alguém, nos afasta das pessoas que amamos.
Você afastou das pessoas que ama para enfrentar a verdade e
então pode voltar até elas com a espécie de um veredicto final.
De qualquer forma, eu estarei aqui, em algum canto da casa ou
da ilha. Busque a verdade que precisa, se precisar de um ombro
amigo ou de conselhos, estarei à disposição, mas há algo...
— O quê?
— Essa sua busca pela verdade, mesmo você estando
longe das pessoas que ama, pode vir a feri-las Ava,
principalmente após as descobertas. Você precisa descobrir e
então lidar com a descoberta, digerir as informações até que
esteja bem e segura para poder voltar e lidar com todos, sem
ferir, sem magoar as pessoas que ama, inclusive o pai do seu
filho. Aliás, eu não sei qual é da relação de vocês, mas
certamente o seu afastamento já deve estar surtindo efeito
negativo no cara. Há uma linha tênue entre fazer o que você
acha que é certo e fazer o que é realmente certo.
— Psicólogos confundem muito a mente das pessoas —
falo completamente confusa, não conseguindo compreender o
que ele está querendo dizer.
— Você é livre para fazer suas escolhas, mas é prisioneiro
das consequências. Dizia Pablo Neruda. Você quer descobrir a
verdade? — pergunta.
— Sim.
— Então esteja preparada para lidar com isso, Ava.
Novamente, estou aqui. — Pisca um olho, retira a bermuda e se
joga ao mar. Eu fico comendo por mais alguns segundos e então
subo para o quarto. Pego meu lap top, o pen drive e fico alguns
minutos decidindo entre ver ou não. Até desisto algumas vezes,
mas depois de muito pensar eu decido que quero encarar.
Eu leio os dois principais nome e gelo:
RÉU: TÚLIO SALVATORE
VÍTIMA: VICTÓRIA BRANDÃO
SEGUNDA-FEIRA À TARDE

Eu e Analu estamos deitados na rede, na varanda do


apartamento quando o interfone toca. Vou atender e algo
inusitado acontece.
— Senhor Túlio, me desculpe, mas há um homem subindo
ao seu apartamento. Ele não me deixou anunciá-lo de forma
alguma. Devo chamar a segurança?
— Fique na linha, eu o avisarei assim que a pessoa chegar
— informo.
— O que houve? — Pinscher pergunta.
— Há um homem não identificado subindo — explico e ela
abre a boca em espanto, caminha até a cozinha e pega uma
faca. A cena é engraçada, tanto que rio. É uma Pinscher
Raivosa mesmo. Quem ela acha que consegue conter? De
qualquer forma, não vou desanimá-la. Deixe-a com sua onda de
raivosidade. Seja o que for, só o fato de Aurora não estar, já é de
muito alívio.
A campainha toca e eu olho pela câmera quem é. Matheus
Albuquerque.
— Avise ao porteiro que é Matheus e encerre a ligação —
peço a minha esposa e ela deixa a faca sobre o balcão para ir
cumprir o que pedi.
— Matheus? — questiono ao abrir a porta.
— Eu acho que chegou o momento de resolvermos
algumas questões do passado, Túlio Salvatore — ele diz e uma
Victória muito ofegante surge atrás dele. — Que diabos você
está fazendo aqui?
— Que diabos você está fazendo aqui?
— Eu não sei, apenas... vocês dois sozinhos. — Vic explica
com a mão no peito. — Porra, eu preciso malhar mais nesse
caralho! Eu temo por uma morte, por isso estou aqui.
— Não haverá morte, Victória, está maluca?
— Eu também temo. — Analu entra na jogada segurando
meu braço. Fodeu.
— Bom, Matheus está aqui porque precisa conversar
comigo. Creio que temos muito a resolver, senhoras. Da minha
parte, não haverá morte — digo.
— Vic, vá passear sardinhas, eu estou fazendo o que tem
que ser feito, por você, por nossas filhas traidoras. Apenas vá,
meu amor.
— Não tenho coragem — ela diz cruzando os braços.
— Nem eu.
— Ok Pinscher, nossa bolinha de queijo está com Gabriel,
ele tem aula essa noite. Eu acho que você precisa buscá-la,
não? — Analu faz uma careta, mas Victória salva.
— Eu vou com você, estou apaixonada pela bolinha. Ela é
encantadora. Se Matheus vê-la, vai querer raptá-la.
— Túlio...
— Eu ficarei bem. Matei meu pai... — Analu ri do meu
humor sombrio e se dá por vencida.
— Theus, por favor, por mim, não cometa nenhuma
estupidez.
— Tentarei. Por você.
— Por mim.
— Sempre por você. — Me sinto um intruso num meio de
uma conversa íntima.
Me acomodo no sofá e, quando nossas mulheres saem,
Matheus entra e se acomoda no outro sofá de frente para mim.
É estranho.
— Nossos filhos estão se envolvendo, minha filha está
grávida do seu filho e eu tenho interesse de ser o melhor avô, o
preferido. Na verdade, eu já te adianto, eu serei o preferido, o
mais descolado e o melhor. — Eu seguro a vontade de rir,
porque ele está falando sério.
— Você pode tentar.
— Não vou tentar, eu serei — ele afirma.
— Que seja. Veremos isso no futuro, Matheus. Também sou
advogado — informo. Eu serei o melhor, não há nada ou
qualquer pessoa que vá mudar isso.
— Você tem qualquer merda para beber?
— Uísque? — pergunto.
— Serve. — Eu fico de pé e sirvo duas doses para ele e
duas para mim, já levando a garrafa para a mesa de centro. Pelo
visto, a conversa será pesada.
— Vamos ao que de fato interessa — diz e eu o aguardo. —
Eu não gosto de você, Túlio. Na verdade, há um ódio muito forte
dentro de mim. Sou um cara muito maleável, tranquilo,
benevolente pra caralho, mas, a única parcela de sentimento
ruim que possuo em mim, é dedicada a você. Eu não aceito o
passado fodido que minha esposa teve. Não aceito ter ficado
sete anos sem ver a minha filha, não aceito as coisas que
fizeram uma garota de quatorze anos sofrer, não aceito ter visto
o corpo da minha mulher tão destruído quanto seu psicológico.
Os danos foram terríveis e Vic carrega um pouco deles com ela
até hoje. Eu sofri por longos anos, muitos deles eu sofri calado,
fingindo ser forte e alegre, para poder passar um pouco de força
para minha mulher. Muitas vezes eu ri, estando dilacerado por
dentro, só para tentar levar um sorriso a ela. Muitas vezes eu
segurei a mão dela, querendo soltar e morrer, por não saber
lidar com a dor dela. Muitas vezes ela chorou em meus braços e
eu a consolava, dizendo palavras de força, fé e esperança,
quando eu nem mesmo tinha fé ou esperanças. Eu vivi um
inferno e tinha que mostrar que estava no céu, só para mantê-la
em pé, firme e forte. Foi difícil. Até a adolescência das nossas
filhas foi difícil, porque temíamos o tempo todo que algo do tipo
pudesse acontecer a qualquer uma delas — ele diz tudo de uma
vez. — Você sabe quantas noites sem dormir eu e Vic passamos
juntos? Inúmeras. E isso foi uma fase onde eu achava que tudo
estava resolvido, que o pesadelo tinha acabado. E não acabou
Túlio, talvez nunca acabe, por agora temos netos e sempre
haverá um pouco de temor em nós.
— Se nós vamos conversar em busca de resolver questões
do passado, eu preciso saber se você está mesmo preparado.
Eu não sei o que Victória te contou sobre o passado, mas eu a
conheço, talvez até melhor que você. Sabe por que eu a
conheço melhor que você? Porque eu estive com ela no inferno
e eu vivi todas as dores dela. — O vejo fechar as mãos em
punhos. — Da mesma forma que você sorria estando destruído
só para passar algo bom a ela, eu sorria tentando aliviar o
sofrimento dela. Da mesma forma que você segurou a mão dela
centenas de vezes, eu também segurei. Da mesma forma que
você a abraçava tentando aliviar a dor que ela sentia, eu
escondia a minha dor para acalmá-la. Eu sofri o inferno para
aliviar as dores dela, em diversas ocasiões fui castigado, porque
eu preferia sofrer todas as consequências do que vê-la
machucada. Eu lutei com o próprio diabo, Matheus. — Ele soca
a mesa, eu o compreendo, mas precisamos enfrentar logo. —
Você precisa aceitar ouvir verdades. Pelo pouco que conheço de
Victória, tenho certeza que ela romantizou a versão dela para
poder evitar de te causar uma dor maior do que a que você
sentiu ao descobrir. Se você quer conversar comigo, quer saber
tudo sobre o passado para darmos seguimento a essa “relação”
que teremos a partir de hoje, é bom que você esteja preparado.
Eu te darei tudo. A versão sem cortes de tudo o que aconteceu
comigo e com Victória. Vai doer em você, porque vai doer em
mim também. Mas, minha mulher me ensinou que é melhor doer
tudo de uma vez. Se vamos fazer isso, que façamos logo. Não é
bonito. Há sangue, há dor, há escuridão e eu espero que essa
história morra aqui, nessa sala, entre você e eu — peço. — Você
se sente pronto para ouvir a versão não romantizada do que
aconteceu com sua mulher?
— Estou aqui para isso.
— Se vamos fazer isso, vamos começar do início — digo
apreensivo.
— Que seja, apenas faça de uma vez.
— A história toda, começa comigo, Matheus — falo
enquanto ele me analisa friamente. Nota-se que ele é um
advogado e que essa conversa é uma espécie de julgamento
final. — Eu fui desgraçado pelo meu pai desde quando ainda
estava no ventre da minha mãe. Minha infância foi infernal, de
forma, que eu tive que criar um pouquinho de maturidade desde
muito novinho. Eu nunca tive um pai e muito menos tive minha
mãe. Eu sei que meu pai a matou, mesmo que ele nunca tenha
dito e eu nunca tenha ido em busca da verdade. Ela vivia
machucada, repleta de hematomas pelo corpo... Quando ela
morreu, eu nem mesmo pude chorar, porque meu pai me
ameaçou. Então, eu fui criado pela empregada e pelo monstro
que meu pai era. Eu posso dizer que a empregada tentava me
educar enquanto meu pai me treinava para ser um monstro,
como ele. Quando tudo que eu queria era jogar futebol e brincar,
meu pai me levou até o clube e fez eu perder a virgindade com
onze anos de idade. Não foi bonito. Eram três mulheres,
sádicas, amantes do BDSM, preparadas para me treinarem para
algo sombrio e violento. Meu corpo respondeu aos estímulos e
então tudo aconteceu. Meu pai fazia eu bater nelas, o tempo
todo. E elas gostavam daquilo. Havia em mim todos os tipos de
receios possíveis, mas ele me fazia ir continuar batendo, até que
eu passei a descontar todo ódio que eu sentia, batendo nelas,
como me foi ordenado.
— Pesado.
— Desde aquela fatídica noite, comecei um treinamento
intenso para ser um dominador. Eu relutei no início, porque tudo
que eu queria era brincar, curtir a minha pré-adolescência como
um garoto normal. Mas, como não havia escapatória, eu me
submeti, aprendi centenas de coisas e meu pai gostava. Na
minha mente, se eu fizesse tudo que me era ordenado, meu pai
gostaria de mim. A cada vez que ele batia em meu ombro e dizia
bom garoto, eu achava que estava me aproximando mais de ter
o amor dele. Foi assim até meus dezesseis anos de idade.
Agora vamos chegar na parte que você não vai gostar. Há muito
sobre Victória, porque ela mudou tudo.
— Eu me sinto pronto para ouvir, tudo. — Eu duvido disso.
— Você não vai gostar. — Balanço a cabeça negativamente
e respiro fundo. — Eu conheci Vic, no colégio. Foi meu próprio
pai que me mostrou ela, dizendo que ela era uma garota linda e
atraente, que tinha postura de submissa.
— Quatorze anos de idade, merda...
— Sim. Quatorze anos de idade — confirmo. — Ela era a
garota mais linda e angelical que eu já havia visto. Estava
sentada embaixo de uma árvore, brincando de algum jogo com
duas amigas, rindo, com toda leveza e pureza do mundo, com o
rosto cheio de sardinhas e um olhar radiante. — Matheus
suspira e abaixa a cabeça. — Meu pai começou a me levar à
aula diariamente, como pais fazem. Era a maior de todas as
proximidades que já tínhamos compartilhado, eu estava feliz,
achando que finalmente tinha conseguido algo dele. E nessa de
me levar, ele sempre falava de Victória. Ele não dizia o nome,
mas estava sempre me mostrando ela, dizendo que ela seria
uma boa namorada para mim. Após três meses a observando de
longe, ele fez que eu me aproximasse dela e eu fui. Antes disso,
eu já havia me tornado o garoto popular da escola, que todas as
garotas cobiçavam, exceto a única que eu queria. Foi quando
ela me olhou pela primeira vez, que resolvi agir. Foi a primeira
vez que fui olhado por alguém de uma maneira pura e celestial.
Ela parecia conseguir ver através de mim, ver coisas que nem
eu mesmo conseguia enxergar. Eu me apaixonei por ela. Só
estava acostumado a lidar com mulheres bem mais velhas, Vic
foi a primeira garota da minha vida, e ela roubou a porra do meu
coração de primeira. Eu estava realmente feliz, achava que tudo
estava começando a dar certo. Foi então que contei para o meu
pai que tinha conseguido atrair Vic. Ele deu uma risada e disse
“fácil demais”. Então me fez sentar e descreveu tudo que eu
deveria fazer com ela e disse, “se você não fizer, ela ficará sem
pai, sem mãe, sem família. Eu matarei todos eles, na sua frente
e na frente dela, cortarei cada parte do corpo deles diante dos
olhos de vocês dois”. Aquilo me fodeu, pra caralho. E eu percebi
que já havia me tornado um monstro e não teria mais como fugir
daquilo. Me aproximei mais de Vic, e fiz com que ela passasse a
sentir necessidade carnal.
— Um minuto... — Matheus diz enchendo seu copo com
uísque e vira todo o líquido de uma só vez. Ele está com
lágrimas nos olhos, por isso não é capaz de me encarar. —
Prossiga.
— Victória passou a sentir necessidade de mais. Passou a
sentir necessidade de sexo. Eu a tocava, incitava isso e então
tinha que contar tudo para o meu pai. Quanto mais tesão ela
sentia, mais meu pai me impulsionava a continuar com os
estímulos. Eu era um garoto de dezesseis anos Matheus,
obviamente estava enlouquecido de tesão por ela também.
Então tudo aconteceu — falo limpando meus olhos. A cena é tão
viva... — Meu pai disse para que eu a levasse até o clube,
para...
— Fodê-la...
— Eu a levei, novamente inocente, achando que seria eu e
ela fazendo sexo. Vic sabia que aconteceria, mas ela queria que
fosse eu a fazer e acreditamos que seria algo intimista. Não foi
nada daquilo. Quando chegamos lá, havia meu pai e mais
alguns frequentadores do clube. Ela foi arrancada de mim com
brutalidade e foi dopada, para não sentir tanto o impacto do que
seria feito. Meu pai retirou a roupa dela, a prendeu em uma cruz
de Santo André... e então deu algumas chicotadas nela, diante
do olhar de todos. Eu não conseguia ficar excitado, e ele me deu
um remédio, além de muitos estímulos. Então eu comecei a
trabalhar em meu psicológico, que se eu não fizesse o que ele
estava ordenando, era Vic quem sofreria as maiores
consequências. E eu fui até ela... — Pressiono meus olhos e
tento tirar a imagem da mente. — Eu tirei a virgindade dela
daquela maneira. E não apenas eu. Meu pai também... havia
sangue... e ela foi estuprada dezenas de vezes.
— Não... Eu não consigo. Nãooo! Por favor, pelo amor que
você tem a Deus, isso não. Essa parte não, pelo amor de Deus
— ele diz soluçando e eu consigo sentir a dor dele. — Eu não
posso ouvir... não posso ouvir sobre isso.
— Eu nunca quis que ela sofresse, Matheus, nunca quis
fazer qualquer pessoa sofrer. Eu fui obrigado, para salvar a
família dela, porque se fosse por mim, não havia mais nada a
perder. Mas era injusto com Victória. Ela perderia uma família
perfeita, uma família que cuidava de crianças desabrigadas,
uma mãe perfeita, um pai de verdade. Ela perderia tudo e se
transformaria em alguém como eu. Eu não podia permitir que ela
se transformasse em alguém como eu, porque era fodido, doía...
Eu a amava, eu não queria nada daquilo, nunca quis. Você
precisa acreditar em mim, eu nunca fui e não sou um monstro.
Por muitos anos achava que era, mas a minha esposa me
mostrou que não.
— Fodido...
— Aconteceu tudo. Da forma mais cruel possível. Eu
precisei fazer, ou eles fariam. Eu preferi que fosse eu a fazer,
porque eu saberia como lidar com ela e todos os limites. Essa
explicação não é bonita ou me torna um super herói, é cruel,
mas acredite, naquele momento, foi a melhor coisa que eu podia
fazer por Victória. Naquela tarde, quando terminei de fazer
aquilo com ela, meu pai bateu nela com tanto ódio e ele... ele fez
sexo com ela... não na frente... ele fez... — Gaguejo.
— Não!
— Aquilo durou por uma semana e eu tive que fazer parte
daquilo de uma maneira não carinhosa. Meu pai foi aberto com
ela, ele contou o que faria com a família dela caso ela contasse
qualquer coisa que tinha acontecido, fez com que ela assinasse
vários papeis, muitos onde autorizava tudo o que ele estava
fazendo. E ele tornou-se um perseguidor da garota. Então, daí
aconteceu a mudança da Vic. Eu vi, eu estive com ela, Matheus.
Aquela mesma garota radiante, pura e celestial, tornou-se uma
garota morta. Ela permitia que fizessem tudo com ela, calada.
Ela guardava suas dores, suas lágrimas, para mim. Só comigo
que ela desabafava, só em meus braços ela conseguia o mínimo
de conforto. Eu e Vic, nos tornamos cúmplices, e... amantes. Em
algumas oportunidades, que eram raras, encontrávamos longe
do meu pai e conseguíamos ter um pouco do nosso namoro
adolescente às vezes, porque ela não poderia ter mais ninguém
além de mim. Enfim, sempre após a dor, ela vinha até mim e eu
cuidava dela, mas isso foi apenas no início. Depois Vic tornou-se
ódio, amargura e rancor. Houve momentos em que transávamos
com ódio e aquilo era muito insano, porque havia nela uma
agressividade surreal que eu tentava conter no ato sexual e não
conseguia. Chegou a um ponto, que amor não a satisfazia. Ela
queria apanhar, queria loucura e gozava com aquilo
absurdamente, a ponto de ter orgasmos múltiplos. Ela aprendeu
a gostar de ser subjugada, aprendeu a gostar da dor e suportava
tudo de cabeça erguida, por medo de que qualquer coisa
acontecesse aos seus pais, por medo de perdê-los. Porque sim,
iria acontecer na primeira falha dela e ela sabia disso. Victória
não teve vida até os dezessete anos de idade. Ela era a única
coisa boa que havia em minha vida e eu parecia ser o único
para ela. Passamos a ter necessidade um do outro, porque entre
nós dois não havia mentiras, e onde ela podia se libertar das
dores, dos medos, de tudo. Era assim comigo também, eu me
libertava de quem era obrigado a ser. Vic, era a coisa mais pura
e incrível que eu possuía, e ela dizia que me amava. Ela dizia
isso Matheus, e essas palavras me salvaram por muito tempo.
Até anos atrás, eu achava que a amava também, de todas as
maneiras possíveis e acreditava que nunca seria capaz de
perder esse sentimento. Mas eu não amava, quer dizer, eu
amava, mas não da maneira como acreditava amar. Psicólogos
me mostraram que era apenas um forte instinto de proteção,
misturado com um pouco de obsessão, simplesmente por ter
estado com ela em todos os piores momentos de sua vida. E eu
estive, Matheus e enfrentei meu pai em algumas situações.
Foram noites preso em correntes, sendo açoitado, espancado
por tê-lo desafiado e ajudado Vic a fugir. Todas as minhas
tatuagens, escondem cicatrizes que meu pai fez em meu corpo.
Dos pés à cabeça. Eu tenho tatuagem em todos as partes do
meu corpo onde fui agredido — confesso. — Quando ele notou
que Vic tinha tornado uma necessidade para mim, ele permitiu
que ela fosse, apenas para me fazer sangrar, para me ferir a
alma, mas não deixou que ela fosse completamente. Vic
continuava sob ameaças. A última vez que ela foi até o clube, foi
por conta própria. Ela foi desafiar meu pai, e ali eu soube que
havia alguém na vida dela. Um alguém que não era eu. Meu pai
a estuprou com ódio e eu cuidei dela em seguida. Então eu
permiti que ela fosse — digo chorando, porque eu me lembro
exatamente daquele dia. Mas o choro de Matheus é mais forte,
mais alto e mais assustador que tudo. — Ela se foi, então eu
quem passei a prossegui-la, só para saber de tudo sobre ela, só
para ter algo da garota que eu amava, que era a minha luz no
meio de toda a escuridão fodida que eu vivia. E eu soube que
ela foi para Itália, soube que ela estava grávida... Rhael... Eu o
contratei para cuidar dela na Itália, tudo escondido do meu pai,
eu preferia morrer a permitir que ele soubesse do paradeiro
dela. E Rhael cuidou dela, até demais. Eu sofria, calado, porque
no fundo sabia que Vic, nunca poderia ser minha. Estar na
minha presença era arriscado demais.
Eu só percebo que Matheus foi embora quando ouço a
porta bater com força.
Estuprada.
Estuprada.
De frente.
De costas.
Sangue..
Quatorze anos
Estuprada...
Não.
Não.
Não.
Nada doeu tanto como isso.
Minha sardinhas.
Minha princesa.
Ela é forte.
Não podia ter acontecido...
Não podia.
Ela nasceu para mim.
Ela não nasceu para aquilo.
Ela é o meu coração.
Ela é a minha vida.
Dói.
Dói muito.
Vic.
Seu sorriso.
Seu toque.
Ela é tão forte, Deus.
Por que o Senhor deixou que fizessem isso com ela? Por
quê? Nenhuma garota merece passar por isso. Por que Deus?
O Senhor não existe? Por quê? Ela era só uma criança...
Ela não merecia.
Nenhuma mulher merece.
A minha mulher não merecia.
Dói.
Vic.
Dói muito.
Eu te amo Vic
Eu te amo.
Eu te amo.
— Você é a coisinha mais linda desse mundo. — Sorrio
para Aurora então ouço o som do meu telefone. — Ih, tio Theus
está ligando...
— Eles estão vivos, se ele está ligando — Analu diz.
— Oi Covinhas... — Sorrio e meu riso morre ao ouvi-lo
chorando com o maior de todos os desesperos. — Matheus, o
que houve? Me diga onde você está... — peço já pegando
minha bolsa e saindo do apartamento. — Matheus?
— Você é o amor da minha vida, até o meu último suspiro é
por você, Victória. Até a última batida do meu coração será por
você. Me perdoe por todas as vezes que te julguei...
— Matheus, o que você está fazendo? Pare de chorar. Você
está dirigindo?
— Eu amo você Victória, dói tanto. Dói, Vic. Eu não consigo
suportar a dor.
— Theus, pelo amor de Deus... — imploro descendo as
escadarias correndo. — Theus, meu amor, fica calmo. Estacione
o carro... eu estou indo até você. Me diga onde está?
— Eu não sei... Eu te amo tanto — ele diz e uma explosão
acontece. Uma explosão que faz meu celular cair da mão.
— Matheus! — eu grito em desespero e Gabriel surge
correndo atrás de mim.
— O que houve?
— Matheus... — É tudo que consigo dizer. Todo o restante
vira um borrão. Surge um Túlio desesperado, uma Analu
desesperada, uma Luma, um garoto que não conheço, que deve
ser o tal Davi.
Meu choque, só termina quando chego em um hospital e
vejo meu marido sendo levado em uma maca, coberto de
sangue. Eu me desvencilho de todos e corro atrás deles.
— Theus...
— Senhora, é grave, nós precisamos agir.
— Não, Theus.
— Desfibrilador — uma enfermeira grita. A palavra me
contém e eu olho com horror para a cara do meu marido.
Desfibrilador.
“Até o meu último suspiro é por você, Victória. Até a última
batida do meu coração será por você.”
Matheus está morto.
O meu passado matou meu marido.
“Fodida Sadgirl do meu caralho.”
— Nãooooo!!!!!
— Paiiiiiiiiii...
OH MEU DEUS!
Eu não sou capaz de resistir a isso, em hipótese alguma.
Não sou.
Enquanto levam meu marido morto para dentro da
emergência, sou amparada por dois seguranças. Eu ainda
consigo ver uma tentativa de reanimá-lo.
Luma está jogada nos braços de Davi e Túlio está
desorientado.
Eu me sinto destroçada, de todas as maneiras possíveis.
Como eu direi a minha sogra que meu marido morreu? Como eu
direi a todos algo que eu nunca serei capaz de compreender?
— Senhora? — uma policial me chama e eu me viro para
encará-la. — Os pertences do seu marido — ela informa me
entregando um saquinho com a carteira e a aliança de Theus.
— Vic...
— Eu não sou capaz de nada agora.
— Mãe... o meu pai, mãe... — minha mãe filha diz caindo de
joelhos ao chão e eu levo minha mão a boca, tentando conter
toda a dor. Pela primeira vez em toda a minha existência eu não
consigo guardar minha dor no bolso para cuidar de um outro
alguém. Não consigo amparar minha filha. Não consigo nem
mesmo respirar direito.
Eu os deixo e vou em uma capela que há no hospital. Mas
uma vez meu marido está neste local, o mesmo local que foi
trazido quando levou um tiro para salvar a minha vida.
Me acomodo em um banco e olho para a imagem da Santa
a minha frente. Pode ser uma das piores coisas que eu diga na
vida, mas é difícil ter fé agora. Sabe quando você lutou
incansavelmente uma vida inteira para no final perder seu
Norte? É assim que me sinto. Eu sinto que no final de tudo, não
valeu a pena ser forte, não valeu a pena insistir, não valeu
apena... apenas não valeu a pena. O homem da minha vida está
morto. Eu nem sou capaz de descrever a dimensão do amor que
eu sinto por Matheus, não sou. É tão forte, tão intenso, tão
verdadeiro, que sinto como se minha alma tivesse deixado meu
corpo para acompanhar a alma dele. Nós dois... tínhamos que
ser para sempre. Eu queria morrer junto com meu marido,
porque vê-lo partir é a maior de todas as dores que eu já senti,
simplesmente pelo fato de saber que não há nada que eu possa
fazer para trazê-lo de volta dessa vez.
Pego sua aliança e meu peito dói consideravelmente
quando leio escrito nela Victória Brandão Albuquerque. Eu fui
tão dele, tão dele. Meu Deus, eu não... cansei de forte. Cansei
de ser uma fortaleza. Se Matheus se for, se nada der certo
dentro daquela sala, eu irei junto com ele, de uma forma ou de
outra, porque eu cansei de ter fé, cansei de ser forte, cansei de
toda a merda da minha vida, cansei do meu passado. Foi o meu
passado, mais uma vez, que fez isso com ele. O meu passado
maldito.
Não faz sentido, eu não merecia ter sofrido tanto nessa
vida, não merecia carregar um fardo tão grande. Fui feliz por
muitos anos, com Matheus. Sem ele? Sem ele é como se nada
mais valesse a pena. Me sinto até mesmo egoísta por pensar
dessa forma, mas é a mais pura sinceridade.
— Vic. — Túlio se acomoda ao meu lado. — Eu me sinto
tão culpado agora.
— Eu não sei o teor da conversa de vocês, mas sei o
quanto ele me disse que queria saber de toda a verdade, queria
saber a sua versão. Você deu o que ele queria, você não tem
culpa pelo o que aconteceu.
— Ele vai sobreviver, Vic, eu sinto isso.
— Eu não sinto nada, Túlio — digo e ele me abraça. É um
abraço confortável. Eu já chorei tantas vezes nesses braços,
que perdi as contas. Túlio parece ter vindo ao mundo para me
confortar, porque isso sempre acontece.
— O destino está sempre arrumando uma maneira de
ficarmos próximos — ele fala. — Você já percebeu isso?
— Sim.
— Os nossos filhos... teremos um neto que carregarão
nossos sobrenomes, Vic. Essa é uma das coisas mais loucas
que já aconteceu em minha vida.
— É louco, realmente.
— Ele vai sobreviver e ainda iremos brigar algumas vezes
pela posse de neto. Confia, Vic. Você é forte. Absurdamente
forte, não perca a fé agora, não se porte como se tivesse
acabado de morrer, reaja — incentiva.
— Túlio, você não faz ideia do que ele significa para mim...
— Eu faço. Eu tenho uma esposa que é a minha vida, por
isso eu faço. — Acho bonito que Túlio tenha alguém que o ame
tão loucamente e que ele ame também.
— Ele entrou morto, Túlio...
— E ele sairá vivo, porque ele tem motivos para querer
viver, Vic. Ele é louco por você — comenta. — Victória, aquele
homem enfrentaria mil infernos para ficar com você, eu vi.
— Não posso perdê-lo — digo o abraçando mais forte e
permito-me transbordar. — Eu não posso perdê-lo, não posso.
— Não vai. Enquanto houver 1% de chance, você precisa
ter 99% de fé. Não é o momento para desistir, é o momento para
ter fé, para usar um pouco dessa força enorme que carrega.
— Eu não sei... não sei de nada agora.
— Vic, me desculpa por tudo. Eu queria tê-la salvo, mas
apenas temia ao extremo. Eu nunca quis nada daquilo.
— Eu sei disso, você esteve comigo, eu estava com você —
digo me afastando.
— Se eu tivesse a chance de voltar atrás, teria o matado na
primeira oportunidade. Me desculpa por não ter feito antes...
— Não diga isso, nem mesmo uma folha cai de uma árvore
sem estar designada àquilo — falo e então quero rir. Como é
fácil dizermos coisas bonitas aos outros, darmos conselhos,
dizer palavras de esperança, quando não possuímos nada mais
que um vazio. É fácil demais falar, falar e falar... Se eu estou
dizendo a ele que nem mesmo uma folha cai de uma árvore sem
estar designada, por que essa mesma lição não se aplica a mim
neste momento? Eu devo entender que o que aconteceu com
Matheus estava escrito para acontecer? Eu devo aceitar a morte
por que foi designada? Não! Eu sou uma patética neste
momento. — Você pode dar um pouco de força a minha filha?
Eu não consigo agora.
— Você ficará bem?
— Eu creio que sim. Pior do que estou, não há como ficar.
— Ele balança a cabeça em compreensão e se vai.
Eu fico e, novamente, eu estou naquele momento onde um
filme de toda a vida passa na mente.
“— Ei Sadboy, você não vai dar qualquer pista sobre onde
estamos indo?
— Não. Mas eu posso te contar uma história se quiser... —
Ele sorri e a curiosidade me vence.
— Uma história? Uma história de Matheus Albuquerque?
— Exatamente — confirma.
— Por favor. — Sorrio animada. — Eu amo suas histórias.
— Eu nunca quis ter uma namorada. Sempre achei que
namoro simbolizava prisão, o fim de uma juventude. Na minha
cabeça de adolescente, os planos eram pegar o máximo de
mulheres até por volta dos meus trinta e cinco anos de idade e
então escolher uma para levar a sério. — Ouço atenta. — Você
não faz ideia da quantidade de garotas que se jogavam sobre
mim Vic, não estou com ego inflado agora, estou te contando,
apenas. Eram muitas, muitas. No colégio eu recebia as
propostas mais absurdas. Elas realmente jogavam suas bucetas
na minha cara sem se importar com pudor. Para mim era
incrível, eu nunca desperdiçava as “oportunidades”. Então Bia
aprontou e meus pais resolveram mudar para o Rio de Janeiro,
isso você já sabe. — Não estou gostando dessa história, mas
permaneço atenta. — Quando ele disse RIO DE JANEIRO, eu
fiquei louco. Na minha cabeça só vinham gostosas de biquínis,
eu sabia que passaria o rodo sem piedade. Vic, eu tinha
dezessete anos e pegava mulheres de vinte e cinco.
— Não estou gostando disso, Matheus!
— Imagino. Mas já estamos chegando onde quero —
informa. — Aí eu conheci uma garotinha com sardinhas e eu a
quis de um jeito que beirava a insanidade. Por Deus Victória, eu
ficava com as bolas azuis fingindo ser seu amigo. Na verdade,
não era fingindo, eu realmente gostava de ser seu amigo, mas
queria uma brecha para te pegar. Eu te olhava e imaginava qual
era o sabor dos seus lábios, o gosto do seu beijo. Se seus lábios
eram macios, se você era receptiva ou contida. Eu imaginava
como seria ter suas mãos envolvidas em meus cabelos. E eu
juro, não era em sexo que pensava, mesmo que eu te achasse
uma gostosa do caralho. Minha sede maior era de beijar essa
sua boca. — Sorrio emocionada. — Então, fodida Sadgirl do
meu caralho, eu te beijei. Um beijo no meio daquele shopping e
você me fodeu para todas as outras garotas. Nós tomamos um
ritmo descontrolado, já fomos para o sexo logo de cara e caralho
Vic, você nasceu para ser minha. Nossos corpos se conectavam
de uma forma tão absurdamente boa, que nublou toda a
quantidade excessiva de sexo que eu já tinha tido na vida. Eu
quis namorar quando nunca na vida me imaginei namorando
qualquer outra garota.
— Eu te amo.
— Eu também te amo, desde a primeira palavra que
trocamos, eu te amo. — Ele é o mais perfeito do mundo. —
Agora vamos para uma parte ruim. A parte em que eu tentei de
tudo para ser seu namorado e você não podia, por todas as
merdas que já haviam acontecido. Eu me sentia um merda por
ser rejeitado quando qualquer outra garota nunca rejeitou.
Naquela época, eu não sabia tudo o que havia acontecido com
você e doía pra caralho. Porque, desde quando eu quis namorar
você, passei a prestar atenção em todos os casais que surgiam
diante de mim. Eu os via andando de mãos dadas no shopping,
os via passeando na praia, os via entrando em parques, em
circos. Via casais beijando escondido no colégio, fazendo provas
em dupla, andando de mãos dadas na hora do recreio. Então,
Matheus Albuquerque, o garoto solteiro convicto, se viu sentindo
uma pontada de inveja de cada um deles. O cara mulherengo
que comida todas as garotas estava fodido pela única garota
que não podia ter. — Eu não consigo conter meu choro ouvindo
todas essas coisas. — Não chore, você prometeu.
— Me desculpe.
— Houve aquele dia dos namorados, nós tivemos um bom
momento, mas escondido de todos Vic. Nós não podíamos fazer
qualquer programa normal, então eu tive que insistir para
fazermos um arranjo. Mas não foi nem de longe do que sonhava
para nós dois. Eu aceitei o pouco, eu aceitava qualquer coisa
desde que tivesse você. — Suspiro. — Nós nunca fomos em um
parque, nunca voltamos ao cinema, nunca catamos conchinhas
na praia ou fizemos tatuagens de henna, nunca fomos ao HOT
ZONE jogar e depois lanchamos no MC Donald's. Eu nunca
pude pescar ursinhos para você, nunca pude roubar flores do
jardim de algum parque e te dar. Então a vida mudou, nós
ficamos afastados por sete malditos anos e, quando nos
reencontramos, tudo estava completamente diferente. Éramos
adultos, surgiu Isis, surgiu o sexo, surgiu a pressa de tê-la e
marcá-la como minha, enfrentamos problemas grandiosos,
noivamos, casamos, tivemos filhos e eu nunca pude viver um
namoro adolescente com você. Eu nunca pude comprar um
churros de doce de leite, nunca pude roubar flores, nunca
pesquei ursinhos e nunca pude segurar suas mãos no alto de
uma montanha russa.
— Oh meu Deus, Matheus...
— Você nunca teve adolescência — afirma o óbvio. — Você
nunca pôde fazer isso também. E eu sei que você sente por
isso, sei que teve que virar mulher cedo demais, que teve que
empurrar sua felicidade, seus sonhos para poder proteger sua
família, para poder me proteger. Eu estou nos dando isso hoje.
Nós vamos ser adolescentes, sem nada para se preocupar.
Porque nós merecemos isso. — Eu não consigo conter o
choro... — Não faça isso comigo, pequeninha.
— Você é meu par.
— Eu sou, pequeninha, seu par, até meu último suspiro
serei seu par.”
— Até seu último suspiro, Theus — digo. — Até meu último
suspiro também. Sem você, não dá. Insubstituível e insuperável.
Mais uma vez estamos vivendo a transição temporária...
Eu deixo a capela, decidida.
Sem que possam notar, eu saio do hospital, carregando
apenas a aliança do meu marido. Entro no carro e sigo pelo
recreio, indo sentido prainha. Quando chego no ponto certo,
estaciono e desço. Pulo o muro de proteção e caminho com uma
certa dificuldade pelas pedras. Lá embaixo, as ondas do mar
vêm e vão. Atinjo o topo de uma pedra e respiro fundo, deixando
que as lágrimas desçam em rompantes. Dou um último suspiro e
escuto a voz do meu marido vivo em minha memória:
Até o meu último suspiro será por você.
Até meu último suspiro será por você, Theus, até breve,
meu amor.
Eu me jogo de uma altura absurda. Meu corpo submerge, a
água fria gela até a minha alma, é agoniante quão fundo
submerjo. É tudo escuro, tudo escuro. Eu sinto que agora todas
as dores acabaram. Foi meu último suspiro.
Eu sorrio vendo apenas água, para todos os lados e acima
de mim, vendo a escuridão. Não forço nadar até a superfície. Eu
só quero que pare de doer. Mas, então, braços fortes me pega e
eu tento me desvencilhar. Ele nada muito rápido comigo e o ar
começa a me faltar, sinalizando que estou perto de conseguir o
que vim buscar. Porém, a pessoa é mais forte e parece decidida
a me salvar. Mais decidida do que estou em relação a morrer.
Eu encontro o céu novamente e o oxigênio, junto com eles,
encontro Túlio Salvatore.
— Você é estúpida! Muito estúpida, Victória. — ele grita de
um jeito assustador. — Você é o ser humano mais estúpido que
já conheci na vida!
— Você não tinha que estar aqui, inferno! — digo batendo
nele, enquanto ele me mantém presa em um braço. — Me solte!
— Não. Estúpida.
— Vá para o inferno, Túlio Salvatore!
— Eu posso até ir, mas você vai sair daqui viva.
— O meu marido... eu não quero mais nada disso... — falo
cedendo ao desespero e ao choro. — Eu quero morrer, me deixe
morrer, por favor. Eu só quero morrer, nada além disso, morrer.
— Imploro com todas as minhas forças.
— Matheus está vivo — ele diz e eu engulo um soluço. —
Eu disse que ele iria viver e ele está vivo.
— Eu o vi morto, você está mentindo para mim, eu odeio
você por mentir, odeio! Meu Theus, está morto e eu quero ir com
ele... — grito e Túlio me sacode.
— Ele está vivo, Victória. Conseguiram reanimá-lo e ele
agora está passando por uma cirurgia, inclusive, ele precisa de
sangue e você está dificultando o trabalho dos médicos, porque
eu sou doador.
— Matheus está vivo? — pergunto.
— Ele está vivo.
— Meu Theus...
— Eu contarei para ele a merda que você tentou fazer —
avisa e eu me desvencilho dele, nadando rumo as pedras. Meu
Theus, está vivo. Meu Covinhas Bonitinhas. Ele viveu. Ele viveu
para mim.
Sentada na rede, bebendo um chocolate quente e olhando
o fim de tarde, eu choro. Até a temperatura hoje está esquisita,
só para combinar com meu humor. Eu não sei o que mais está
me fazendo mal: saber de tudo sobre o passado da minha mãe
e do pai de Gabriel, ou a saudade repentina do meu pai. Essa
saudade sem dúvidas hoje está levando a maior. É até estranho,
acho que nunca senti tanto a falta dele como hoje. É aquele tipo
de saudade que dá um aperto no peito a ponto de tornar-se
difícil respirar com facilidade.
Uma lancha surge a frente e aos poucos vai se
aproximando. Eu limpo meu rosto e tento identificar quem é, em
vão. Só identifico Gabriel quando a lancha está se preparando
para estacionar e ancorar. Fico de pé e ele salta com um
semblante que me assusta.
— Como você sabia que eu estava aqui? — pergunto.
— Sexto sentido, radar... — ele diz me puxando pela
cintura. — Meu amor, minha!
— Sua. — O abraço sentindo o conforto de um lar, como se
não o visse há pelo menos um mês.
— Ava, nós precisamos conversar e é um assunto delicado
— ele fala.
— A lancha não vai embora?
— Não, só após nossa conversa — informa e tudo em mim
grita que algo muito ruim aconteceu.
— O que está acontecendo? – pergunto e ele suspira,
segura minhas mãos e diz:
— Ava, seu pai...
— Meu pai?
— Ele sofreu um acidente de carro, está no hospital, em
estado delicado. — Minhas pernas enfraquecem e Gabriel me
ajuda a sentar bem no meio do deck.
— Meu pai...
— Ava, eu sei que há muitas coisas na sua mente agora,
mas sua mãe precisa de ajuda.
— Minha mãe? O que há? Minha mãe está bem? —
pergunto desolada, sem nem mesmo conseguir chorar. Acho
que estou em estado de choque.
— Sua mãe pulou de uma pedra de pelo menos quatro
metros de altura, diretamente no mar. — Eu levo as duas mãos
a boca. — Ela está bem, meu pai a salvou, ela está em
observação no mesmo hospital que seu pai, porque ela está
muito nervosa. Eu saí de lá e ela estava sedada. Luma, Davi e
meu pai, estão lá com ela. — Não consigo reagir. — Amor, você
precisa ser forte agora. Sei que está numa situação delicada
devido a gravidez e todas as descobertas, mas há algo maior
precisando da sua atenção e da sua força.
— Ok. Ok — digo lutando com todas as minhas forças para
ficar de pé. Gabriel me ampara, até Rafael surgir, de sunga,
trazendo dois copos em sua mão.
O olhar que Gabriel me dá, diz muito.
— Esse cara está aqui? — questiona em um tom baixo. —
Ele está aqui com você desde o dia que chegou?
— Não é bem assim, ele já estava aqui e eu não sabia... —
Gabriel dá uma risada nervosa.
— É isso que você chama de dar um tempo sozinha? Numa
ilha deserta com seu ex? Isso é dar um tempo sozinha para
você?
— Gabriel...
— Foda-se, Ava. Enquanto você dava um tempo
acompanhada, o mundo desabava na minha cabeça, na cabeça
das nossas famílias. Seus pais brigaram, nossos pais tiveram
uma conversa filha da puta, seu pai está no hospital, sua mãe...
Você não enxerga? Você está errada! Você errou muito feio
dessa vez, Ava. Muito feio. Peça a ele para levá-la até sua
família, eu não faço parte dessa merda mais. E já aviso, É MEU
FILHO! MEU FILHO QUE ESTÁ EM SEU VENTRE! — ele grita
e sai andando rumo a lancha. Eu permaneço parada, sem ação,
vendo minha vida ser destruída um pouco a cada
acontecimento.
Dor.
Eu não consigo lidar com a força do sentimento que tenho
por Ava. É algo que me cega, me rasga, me faz sentir na
berlinda, em plena corda bamba. Abalar as estruturas, essa
frase nunca fez tanto sentido, pois desde que Ava surgiu, as
minhas estruturas foram diretamente abaladas. Há em mim a
sensação de ter deixado de ser eu. É algo difícil de explicar, mas
talvez seja fácil de ser compreendido.
Sabe quando você muda por completo? Você perde a
capacidade de controlar o que sente, o que faz, o fala? É isso,
basicamente. Mas não é tão básico assim, porque uma vez que
você perde a capacidade de controlar qualquer uma dessas
coisas, você está fodido.
Como controlar o sentir? Existe uma forma para isso? Eu
creio que não, uma vez que os sentimentos surgem forte, como
rompantes de fúria. Alguns tem a capacidade de extrair apenas
coisas boas de você. Mas, há alguns outros, que extraem o seu
pior e são eles que trazem a dor. E dói. Qualquer tombo que
você já tenha levado na vida, qualquer ferida, qualquer merda é
pequena perto da dor que sentimentos fortes trazem consigo. A
verdade, nua e crua, que eu descubro a cada dia é que amar
dói. É isso aí, meus amigos, amar dói. Amar dói quando os atos
tornam-se inconstantes, amar dói quando você se sente
enganado, amar dói quando você se vê fraco, amar dói quando
você se sente inseguro, amar dói quando você sente ciúme,
amar dói quando você diz coisas que não gostaria de dizer, mas
disse apenas porquê está ferido por algum ato ou ação que não
concorda. Amar dói, quando você descobre que ama mais uma
pessoa do que ama a si mesmo. Dói quando você perceber que
já não tem tanto poder sobre si mesmo. Dói quando você se
sente pequeno.
Dói porque a mulher que eu amo estava em uma ilha,
acompanhada de um outro homem que faz parte de sua vida
desde muito antes de eu existir. Dói porque ela disse que
precisava ficar sozinha e eu descobri que o “sozinha” dela
significava um afastamento apenas relacionado a mim e aos
seus pais. O seu sozinha foi seletivo. E, por Deus, me perdoe,
mas eu não consigo compreender. Eu apenas consigo enxergar
que isso foi um ato de egoísmo, onde ela só pensou em si
mesma, mesmo tendo argumentado que era para buscar
respostas que seriam benéficas para nossa relação. Eu respeitei
sua escolha, mesmo detestando. Me apeguei ao sentimento e à
esperança de que ela voltaria compreendendo melhor os
acontecimentos e entendendo que nós dois somos um caso à
parte. Eu respeitei, até o momento em que eu descobri que seu
sozinha, não era tão sozinha.
E eu fiquei cego.
Completamente cego.
Porque Ava desperta em mim todos os tipos de sentimento
possíveis. Ava desperta em mim uma possessividade que eu
nem mesmo sabia possuir. Ava é MINHA! Ela é minha.
Diante de tantos acontecimentos, vê-la acompanhada
daquele babaca foi como receber um murro no estômago. Estou
vivendo sob pressão desde o jantar. Não apenas eu, ela e toda
nossa família.
— Volte.
— O quê? — O mestre arrais, que está conduzindo a
lancha, pergunta.
— Volte lá, eu estou indo pegar minha namorada — peço
decidido e ele atende meu pedido, fazendo uma manobra e
voltando. Não importa que eu esteja puto, importa que eu e ela
temos um compromisso. É isso. Ela é minha. Aquele bebê em
seu ventre é meu. Eu não estou disposto a deixar isso acabar
tão fácil. Nós iremos conversar e discutir isso em algum
momento.
Assim que ele ancora, eu salto da lancha e encontro Ava
chorando, sentada em um banco, de cabeça baixa e as mãos no
rosto, sozinha. É fodido. Há sofrimento para todos os lados e é
difícil lidar com isso. É difícil lidar com tanta vulnerabilidade,
tanto minha quanto a dela.
Eu me ajoelho aos seus pés e respiro fundo, tentando jogar
minha dor e minha frustração de lado para lidar com ela.
— Ava, olhe para mim — falo segurando suas mãos,
forçando-as a sair de seu rosto. — Me desculpe, eu agi como
um babaca. Não estou satisfeito com o que você fez, mas neste
momento temos algo para lidar. Você precisa ser forte.
— O meu pai vai morrer? Diga-me a verdade, por favor.
Quão grave é o estado dele?
— Ele não vai morrer. Está sendo devidamente atendido, há
os melhores profissionais em torno dele, cuidando para que tudo
fique bem.
— Eu senti — ela diz. — Eu fiquei angustiada desde o
almoço, uma angústia que doía tanto... — Ela ofega. — Eu senti
que perderia meu pai. A culpa é minha, não é? É por que... é por
que estamos juntos? — indaga gaguejando. — Ele sofreu um
acidente por minha culpa, não foi?
— Não, Ava. Não sabemos ao certo, mas não foi por sua
culpa. Sua mãe disse que ele havia aceitado, ele até mesmo
teve uma conversa com meu pai hoje, antes do ocorrido —
explico.
— Meu pai vai ficar bem? — Maldição, ela se parece como
uma criança amedrontada. Eu não posso dar garantias a ela,
mas eu posso dar esperanças.
— Se Deus quiser, ele ficará bem, ok? Ele está sendo bem
cuidado.
— A minha mãe...
— Ela está bem, estava em observação quando deixei o
hospital e meu pai estava doando sangue, para ajudar o seu pai.
— Ela me encara um tanto quanto chocada, é chocante
realmente. Eles eram ou talvez ainda são inimigos. É
surpreendente. Meu pai é um gigante.
— O seu pai está doando sangue para salvar o meu pai?
— Exatamente. E seu pai vai ficar bem, você precisa
confiar.
— Eu... Rafael... não foi o que você pensou — esclarece. —
Não foi. Eu não trairia você, não faria isso. Minha fidelidade é
incontestável.
— Nós conversaremos sobre isso depois, ok? Agora você
precisa tomar um banho enquanto eu arrumo suas coisas.
Nossa família precisa de apoio. Nenhuma descoberta agora é
mais importante, ok?
— Ava, estou... — O tal Rafael surge, agora vestido. Eu
gostaria de entender o que ele fazia de sunga, sendo que está
ligeiramente frio aqui. Mas foda-se isso agora, em breve eu e
Ava discutiremos sobre essa situação. — Você vai com ele?
— Sim, ela vai comigo — digo ficando de pé.
— Tudo bem. Eu vou com a lancha então, ok?
— Ok — Ava responde em um tom quase inaudível.
— Estarei no hospital, meu pai também está indo para lá —
ele informa e eu reviro os olhos. Terei que aturar a presença
constante desse homem, isso deve ser brincadeira, de muito mal
gosto por sinal.
Ele volta no interior da casa, então sai com uma mochila
nas costas e sobe na lancha da família de Ava. Eu aproveito e a
conduzo para tomar banho. Enquanto ela se perde embaixo da
ducha, eu pego uma roupa em sua mala, me acomodo sentado
na cama e a observo se lavar. Uma maravilha em meio a
“tempestade”. O mundo está desabando sobre nossas cabeças
e, ainda assim, eu não consigo deixar de admirar a beleza da
mulher diante de mim. Talvez eu faça obras em casa e
transforme meu banheiro, tornando-o ao menos parecido com
esse, apenas para poder apreciar os banhos dela. É linda. Sua
barriga é tão plana, que imaginar uma gravidez é impossível.
Estou ansioso para ver alguma protuberância, acho que, quando
isso acontecer, eu me tornarei um homem completamente
orgulhoso e ainda mais possessivo em torno dela. É um orgulho
saber que serei pai, é um orgulho saber quem a mãe do meu
filho é um dos espetáculos da natureza humana. Não há como
fugir da lei da atração, nem mesmo em situações catastróficas.
Quando ela termina, enrola uma toalha em seus cabelos,
numa técnica impressionante. Pega uma outra toalha e enrola
em seu corpo, antes de caminhar em minha direção. Eu apenas
permaneço sentado, a encarando com cara de paspalho
provavelmente.
— Oh! Deus! Você está excitado! — ela exclama com um
pouco de animação.
— Não estou não — afirmo com segurança e ela sorri.
— Está sim, você está excitado, Piroca Baby.
— Não estou. Vamos logo, Ava. Deixei uma roupa para
você sobre a cama e já organizei sua mala — falo e do nada ela
grita.
— Uma lagartixa!!! — diz apontando para a parede e eu fico
de pé prontamente. Não dura dois segundos até que ela pegue
meu pau duro sobre a calça e comece a rir. — Eu disse que
você está excitado.
— Diabos, Ava, você quase me matou do coração para
provar que eu estou excitado?
— Sim, bem isso mesmo — responde retirando sua toalha e
secando seu corpo perfeito. Ela veste suas roupas íntimas e
então a roupa que eu havia deixado separada. — Você acha que
meu pai vai viver? — pergunta, agora com lágrimas nos olhos.
Num minuto ela sorri, no outro ela chora. Eu acho que sou eu
quem está ficando bagunçado com esses hormônios dela.
— Eu acho, Ava. — Ela começa a chorar de verdade e eu a
abraço.
— Meu pai é meu coração todinho — confessa agarrada a
mim. — Se eu o perder, eu não quero continuar vivendo, porque
nada mais vai fazer sentido.
— Ele não vai morrer, meu amor. Mas toda sua vida faz
sentido, independente do que acontecer. Você agora não está
sozinha, há um bebê em seu ventre. Todos os seus atos,
interferem diretamente na vida desse ser. Seu pai ficará bem,
curtirá esse garoto ou essa garota, conosco.
— Eu não traí você. Quando eu cheguei aqui, Rafael já
estava. Ele também veio pensar na vida. Mal conversamos. Ele
respeitou meu espaço e eu respeitei o dele. Não tivemos
qualquer contato.
— Ava, eu não vou conversar com você sobre isso agora.
Vocês estiveram sob o mesmo teto e eu tive o desprazer de vê-
lo trazendo bebida para você, usando apenas uma sunga, em
pleno frio. Não vou discutir sobre isso agora. Há coisas mais
importantes precisando da nossa atenção — aviso. — Você está
pronta?
— Sim. — Balanço a minha cabeça, pego sua mala sobre a
cama e então seguimos rumo ao primeiro andar da casa.
Ava fecha as janelas, as portas e eu a ajudo a subir na
lancha.
Em uma hora e meia chegamos no hospital, e eu descubro
mais pessoas do que havia quando eu fui em busca de Ava.
Ela corre diretamente para os braços de um homem que eu
acredito ser seu irmão e eu vou até meu pai.
— Deu tudo certo, pai?
— Sim. Acho que ele vai sobreviver, mas é grave. Há uma
lesão na cabeça, ele está sedado e passou por algumas
cirurgias — explica.
— É muito grave?
— Sim. — Suspira. — Victória está sedada também. Ela foi
de uma estupidez... puta merda, só de lembrar eu fico puto. Ela
saltou de uma altura considerável, numa região cercada por
pedras. Se ela batesse a cabeça, era morte certa.
— O desespero...
— A esperança ilumina. O desespero cega — diz. — O
psicólogo da Vic está ali, o filho dele também é psicólogo e os
outros dois rapazes são irmãos de Ava. Você os conhecia?
— Sim, os conheci na ilha. Conhecia inclusive o filho do
psicólogo — digo puto por vê-lo em torno de Ava.
É foda lidar!
Eu sou a única aqui que sabe parte do passado da minha
mãe. Meus três irmãos, nem imaginam o que nossa mãe viveu.
Estamos juntos. Luma é a mais abalada, porque ela diz que
viu nosso pai morrer e essa é a coisa mais aterrorizante que já
ouvi na vida. Porém, saber que ele está vivo, já é um alívio e
tanto. Agora só me resta ser forte para poder lidar com todos
esses acontecimentos.
Luma é levada para uma sala por tio Ricardo e Rafael.
Victor se acomoda em uma cadeira e fica cabisbaixo. Já Lucca...
Lucca é apenas Lucca. Parece um cachorrinho desamparado,
completamente perdido. Isso me faz abraçá-lo. Ele é meu
pimpolho, meu irmão mais novo.
— Vai ficar tudo bem, meu amor. Nosso pai é forte — digo
mexendo em seus cabelos. — Você será tio.
— O quê? — Minhas palavras o afastam, mas também o
distrai.
— É... eu serei mãe.
— Ava! — ele exclama e passa as mãos pelos cabelos. —
Isso é sério?
— Sim — afirmo e faço um sinal para que Gabriel venha até
mim.
— Oi?
— Acabo de contar para meu irmão sobre nossa novidade.
— Caralho, é real! — Lucca exclama.
— É, real, oficial. — Sorrio.
— Você engravidou minha irmã! — fala em tom acusatório.
— É, nós teremos um bebê — Gabriel afirma com
seriedade.
— Ele ao menos é legal de verdade com você? Na ilha não
o conheci o suficiente — Lucca pergunta na cara de pau.
— Na maioria das vezes — respondo e Gabriel aperta meu
nariz.
— Eu sou muito legal e paciente, só assim para conseguir
aturar sua irmã.
— É verdade — Lucca concorda. — Paciência é a palavra
chave para lidar com Ava. Minha irmã mais velha tem muitas
histórias para te contar sobre Ava. — Eu faço uma careta para
Lucca e ele ri. — Bom, eu manterei segredo sobre ser tio,
porque a fera está sentada ali e ele provavelmente terá um
surto. Aconselho esperarem a poeira abaixar antes de dar
notícia para Victor.
Victor não está bem. A forma dele sofrer é preocupante,
porque ele sempre guarda tudo para si mesmo, nunca desabafa,
chora ou grita. Creio que ele será o próximo a ter uma consulta
emergencial com tio Ricardo.
Umas duas horas passam até o médico trazer notícias do
meu pai. O quadro é estável e ele está em coma induzido, para
ajudar numa melhor recuperação, segundo ele.
Uma enfermeira surge dizendo que minha mãe quer falar
com todos os filhos. Então, juntos, eu, Lucca, Victor e Luma
subimos ao quarto dela. Ela está chorando muito e creio que
será sedada novamente.
— Mãe! — eu digo e nós quatro a abraçamos.
— Theus está vivo? Por favor, diga que ele está — ela
pede.
— Ele está vivo, mãe. Está se recuperando — Victor diz.
— É culpa do meu passado — ela anuncia. — Eu preciso
contar a vocês... eu jurei que nunca, qualquer um de vocês,
ficariam sabendo do meu passado... eu jurei e o pai de vocês
também. Isis... ela é a única que sabe. E agora, Ava.
— Mãe, é o seu passado. Você não tem que abri-lo para
ninguém — digo segurando sua mão. — Nada muda mãe.
Absolutamente nada. É o momento de enterrar isso.
— Eu me sinto na obrigação... — confessa e Victor é o
primeiro a tomar partido.
— Mãe, eu te amo absurdamente. Só me interessa quem
você foi a partir do meu nascimento, nada além disso — ele fala.
— Você não precisa dizer nada a mim, ok? Eu te amo, te
respeito, você é a melhor pessoa do mundo, continuará sendo
até o resto dos meus dias. — Eu fico ligeiramente emocionada.
— Mãe, eu estou com Victor. Não quero saber sobre o seu
passado. Eu respeito você, sua história e você é a pessoa mais
incrível, a melhor mãe, melhor amiga, o ser humano mais
benevolente que tenho prazer de ser filho. — Agora é meu
pequeno, que não é pequeno, quem diz.
Luma olha para mim, como se perguntasse o que deve
fazer. Eu apenas balanço a cabeça e ela diz:
— Mãe, não quero saber também. Você não tem obrigação
de abrir toda a sua vida para nós. Você é a melhor mãe, meu
exemplo de mulher e eu quero ser ao menos dez por cento da
mulher que você é. Forte, resiliente, generosa, amorosa...
— Nós te amamos mãe. Com todo seu passado, seu
presente e continuaremos amando no futuro. Por toda a nossa
vida. Você é a nossa maior fonte de inspiração — digo mexendo
em seus cabelos.
— Theus está mesmo vivo?
— Está mãe. Não estaríamos bem se ele não estivesse
mais entre nós — Victor diz tentando confortá-la.
— Eu o amo com toda a minha vida — afirma e eu já estou
aos prantos. — É como se meu coração tivesse sido arrancado
do meu peito.
— Então teremos que recolocá-lo aí, porque logo meu pai
sairá daqui, firme e forte, para aprontar uma centena de loucuras
— Lucca diz.
— Senhora Victória, chega por hoje, não é mesmo? — A
enfermeira surge dizendo. — Hora de descansar um pouco
mais, para ficar bem forte para o seu marido. Ele está reagindo
bem a tudo, é um homem forte e precisa de uma esposa forte.
— É isso mãe. — Luma sorri limpando as lágrimas. —
Papai precisa de você forte.
— Eu amo vocês, meus pequenos. Me perdoem... — minha
mãe diz e a abraçamos novamente antes de sermos expulsos.
Gabriel e Túlio não estão mais. Davi informa que Gabriel foi
levar o pai em casa e verificar sua mãe.
— Vocês podem ir para casa. Eu ficarei, passarei a noite
aqui — Victor anuncia. — Ligarei caso obtenha qualquer notícia.
— Eu posso ficar com você? — peço.
— Não, Ava. Não vai resolver ficarmos todos aqui, ok?
Descanse. Amanhã cedo vocês voltam e eu vou descansar.
Despedimos de todos e seguimos para casa.
Luma vai para o apartamento de Davi e eu sigo para o meu,
sentindo uma confusão de sentimentos. Dor pelo meu pai, medo
de perdê-lo, tristeza pela minha mãe, tristeza por não estar bem
com Gabriel. É uma fase sombria, terrível e impiedosa. Eu não
sei quando essa maré de coisas ruins vai acabar. A insegurança
agora faz morada em mim, de todas as formas possíveis.
Tomada pela exaustão, tomo um banho demorado, faço um
lanche, escovo meus dentes e me acomodo na cama. Eu
demoro a dormir e, quando consigo, sou tomada por pesadelos.
Eu fico assim pelos próximos dez dias. Para piorar a
situação, Gabriel está um pouco afastado, como se tivéssemos
perdido um pouco da intensidade que há entre nós. Ele surge
todos os dias para me verificar, ao menos três vezes por dia. Ele
também vai ao hospital diariamente dar apoio à minha mãe e
verificar meu pai. Mas, não dormimos juntos mais, não fazemos
nada além de trocar algumas palavras. Estar dedicando meu
tempo cem por cento à minha família tem sido a minha tábua da
salvação.
Eu só não esperava que teríamos que enfrentar outra
batalha...
— Ele pode acordar a qualquer momento, senhora Victória,
basta ter um pouco mais de paciência — a enfermeira diz e eu
mantenho minha mão encaixada à mão do meu marido.
Não tenho feito nada além de estar aqui com ele, o tempo
inteiro, rezando, esperando e zelando.
Só o deixo para comer e então fazer minha higiene, nada
além disso. Eu não consigo ficar mais do que meia hora
afastada. Acho que eu nunca tive tanto medo em toda a minha
existência. Na verdade, ao longo da minha existência, eu tive
muito medo, mas nunca algo dessa grandiosidade. Ter tido um
vislumbre de Matheus morto, me abalou de uma maneira que eu
mal consigo descrever. Pior de tudo é ter que ocultar o ocorrido
para parte da família. Só quem sabe são nossos filhos, inclusive
Isis está no Brasil há alguns dias, acompanhada de Bruce, na
desculpa de uma centésima lua de mel.
Estamos contando com a sorte e com a fé.
Estou distraída quando sua mão aperta a minha.
Prontamente aperto um botão e a enfermeira surge na sala. Meu
coração começa a acelerar consideravelmente e eu fico de pé.
Ele se mexe um pouco, aperta mais minha mão e então o vejo
forçar abrir os olhos. É um processo lento, mas ele consegue e
franze a testa devido à luminosidade.
— Bem vindo de volta, Matheus. Você consegue me
escutar? — a enfermeira pergunta. — Se você consegue, aperte
minha mão — ela pede segurando a outra mão dele e ele a
aperta. — Que maravilha! — exclama enquanto as lágrimas de
alívio escorrem pelos meus olhos. Ele está aqui, com os olhos
abertos, respondendo aos comandos. — Você quer um pouco
de água? — Ele aperta a mão dela e ela sorri. — Bom, vamos
levantar a cama um pouco. — Ela faz todo o processo e eu vejo
o momento exato em que os olhos dele encontram os meus.
Solto um soluço e levo minha mão à boca. Eu não sei como não
morri durante todos esses dias. Foram os piores da minha vida.
— Theus, você voltou para mim! — vocifero levando minha
mão em seu rosto e ele a afasta, franzindo a testa. Eu não
compreendo.
A enfermeira tira o respirador dele, faz um monte de
manobras e leva o copo a boca dele, dando goles controlados
para ele. Ele retira sua mão da minha, ainda franzindo a testa e
me olhando de uma maneira gélida.
— Meu amor, eu senti tanto a sua falta, Theus.
— Quem é você? — ele questiona de uma maneira
assustadora, com sua voz intensamente rouca.
— Como assim? — pergunto um tanto quanto chocada.
— Onde eu estou? Quem é você? — ele grita nervoso, sem
qualquer indício de brincadeira. Eu olho para a enfermeira e ela
faz uma cara estranha.
— Vou chamar o médico. Ele saberá o que fazer e o que
explicar — ela anuncia nos deixando.
— Matheus, sou eu, Vic, sua esposa — digo levando
minhas mãos em seu rosto e ele se move abruptamente, não
gostando do meu toque. — Theus...
— Saia daqui! Onde está a minha mãe? Eu quero a minha
mãe! Eu quero sair daqui!
Meu Theus voltou, mas ele não é mais o meu Theus. Ele é
apenas o Matheus Albuquerque, que está perdido em algum
lugar do passado. Eu terei que ser mais forte que nunca para
enfrentar essa situação. Talvez eu tenha até mesmo que
reconquistá-lo. Mais um grande desafio, porque a vida gosta
mesmo de me desafiar e de testar a minha força.
Ao menos ele está vivo e é nisso que irei me apegar.
Meu Theus está vivo e eu irei lutar por ele, eu irei lutar por
nós. Enfrentarei o que for necessário, porque por ele vale a
pena.
Ele é o grande amor da minha vida.
Após uma longa explicação do médico e a solicitação para
que eu me retire do quarto, eu ando pelo corredor do hospital,
sentindo-me um tanto quanto perdida. O sentimento que mais
está habitando em mim agora é a gratidão pela vida do meu
marido, por tê-lo de volta, vivo. Mas então, eu também tenho
que lidar com o fato de que eu o perdi ou talvez seja ele quem
tenha me perdido, em sua memória. Eu lidarei com isso, não
importa quão difícil seja, eu lidarei.
Numa distância considerável, vejo Túlio parado no final do
corredor me observando. Eu soluço, levo minha mão à boca e
saio correndo para os braços dele.
— Ei, calma, vai ficar tudo bem — ele diz mexendo em
meus cabelos e sustentando meu abraço. — Vai dar tudo certo.
— Ele não lembra quem eu sou, não lembra que temos
filhos. A última memória dele é aos dezessete anos, quando
mudou para o Rio. Ele não lembra de nada mais, de nenhum
acontecimento após isso.
— Mas isso é temporário, não é mesmo? Ele esteve em
coma, passou por um longo stress, além de ter levado uma
pancada na cabeça. Você precisa pensar que é temporário e
normal. Terá que lidar com isso, Vic e eu sei que você consegue.
— Será tão louco isso. Você tem ideia da loucura que será
reconquistar o meu marido? Tentar lembrá-lo de tudo o que
vivemos? Será de longe a coisa mais louca que já tive que fazer.
Será que ele deixou de ser louco e dramático? — questiono me
afastando de Túlio e limpo meu rosto, inundada por milhares de
pensamentos e possibilidades.
— Eu não sei dizer isso — Túlio diz rindo. — Vic, tente
relaxar e conduzir isso de uma maneira mais fácil, sem
pressioná-lo e sem pressionar a si mesma. Pense que ele agora
é um garoto de dezessete anos no corpo de um homem de
cinquenta.
— Oh, Deus! Fodeu, fodeu pra caralho! Isso é muito louco.
Eu devo me portar como uma adolescente?
— Porte-se como você mesma e tudo dará certo. — Eu
sorrio, tomada por uma esperança repentina. — E não pense
que estará livre de mim, Victória. Assim que seu marido estiver
bem e tiver sua memória de volta, eu contarei a ele a sua
estupidez — ameaça sério.
— Meu cu! Você não faria isso comigo.
— Eu farei! — ele diz realmente sério. Inferno.
— Os fins justificam os meios. — Ele não ri da minha
piadinha. — Ei... eu ainda não te agradeci. Você me salvou,
mais uma vez. E salvou o amor da minha vida, mais uma vez.
Salvatore é o nome ideal para você. Você nasceu para me
salvar, estou certa disso.
— Não há nada para agradecer.
— Eu tenho uma dívida eterna com você, por todas às
vezes que me acolheu e me salvou, você sabe que não foram
apenas essas... — digo respirando fundo. — Muito obrigada, de
todo o meu coração.
— Não há nada para agradecer. — Ele sorri. — Bom, só vim
verificar se está tudo bem. Você está mesmo bem?
— Ele está vivo, isso é tudo o que importa, por mais louca
que será essa nova jornada — digo. — E bolinha de queijo? —
Túlio abre o maior de todos os sorrisos do mundo.
— Ela está uma bolinha.
— Que família linda você construiu. É admirável vê-lo tão
forte, tão bem. Eu sempre torci por você, sempre quis ser ao
menos um pouco próxima, mas...
— Eu compreendo. Mas aqui estamos nós, mais uma vez,
próximos; por obra do destino agora somos um pouco
“parentes”.
— O destino é um pau atolado no cu. — Túlio arqueia as
sobrancelhas e eu começo a rir.
— O que fizeram com você? Lembro-me que você era mais
educadinha, menos desbocada. — Eu começo a rir.
— Conviva com qualquer membro da família Albuquerque e
você compreenderá.
— Eu terei um neto ou neta Albuquerque, devo me
preocupar? — brinca.
— Não. Você deve ficar muito feliz, os Albuquerques são
incríveis, como os “Brandões”. — Sorrio e me sento em um
banco vazio. — Você acha que nossos filhos irão se casar? —
Ele sorri e se acomoda ao meu lado.
— Eu acho, não apenas Gabriel e Ava, mas Davi e Luma
também. É o destino, não é mesmo? Um pau atolado no cu.
— É, um big pau — concordo. — Você acredita mesmo que
seja o destino? Por que o destino iria querer algo desse porte?
Veja só, Ava viveu grande parte da vida na Califórnia, viajou o
mundo e veio para no Rio de Janeiro, no mesmo prédio que o
seu filho. De tantos homens no mundo, ela foi gostar de Gabriel
Salvatore e está esperando um filho. — Balanço a cabeça
porque é surreal. — Para completar, há Luma. De tantos
homens, ela está com Davi.
— Acho que nos encontraremos no altar duas vezes, Vic.
— É... eu sinto isso. — Ele segura minha mão.
— Eu preciso ir agora. Se precisar de qualquer coisa, ligue.
Ok? Mantenha o pensamento positivo. Amor e positividade. —
Ele sorri.
— Amor e positividade. — Fico de pé e damos um abraço
antes dele ir. Eu fico o observando ir e fico um pouco impactada.
O que esse homem se tornou? É surpreendente.
Meus cinco filhos surgem e é o momento de nos reunirmos
para eu dar notícias.
— Mãe... — Isis diz e me abraça. — Há notícias sobre o
papai?
— Sim. Vamos até ao restaurante? Eu preciso comer algo e
falar com vocês. — Minha tropa me segue e eu me sinto uma
formiga diante deles.
Todos pedimos lanches e nos acomodamos em uma mesa.
Primeiro comemos e então eu decido que preciso ir logo ao
ponto.
— O pai de vocês acordou — informo e vira uma mistura de
lágrimas e risos de felicidade. Eu apenas observo a cena e eles
percebem meu silêncio.
— Ele está bem? Você está estranha — Victor diz.
— Matheus não se lembra de mim, não se lembra de vocês.
— Ava perde a cor do rosto, enquanto todos os demais ficam
boquiabertos. É engraçado, a pessoa que sempre demonstrou
ser uma geleira, uma muralha de força, é a que mais se abate
em situações como essa. Minha Ava tem suas fraquezas. — A
memória dele vai até apenas os dezessete anos de idade. O
médico disso que é normal, pelo trauma, pelo coma e que talvez
a mente dele também esteja bloqueando sentimentos que
causam conflito mental nele. Há muitas explicações, essas são
apenas as que eu me lembro. Enfim, isso pode durar dias,
meses... no pior dos casos, anos. Matheus agora terá
acompanhamento psicológico, clínico em geral. Não podemos
demonstrar irritabilidade, tristeza, mágoa. Precisamos mostrar
força, paciência, compreensão. Não é bom para ele nos ver
abalados e muito menos ser pressionado. Ele vai voltar para
nós, ok? Basta sermos pacientes.
— Nós podemos vê-lo?
— Ele acordou nervoso — explico. — Eu acho que pode ser
assustador lidar com tantas pessoas de uma só vez. Vocês
poderiam esperar um pouco mais. Eu preciso fazer com que ele
se acostume com a minha presença primeiro e aos poucos
vamos introduzindo vocês na relação, pode ser?
Felizmente meus filhos compreendem a situação.
Após ficarmos um pouco mais juntos, eu sigo de volta para
o quarto e o olhar de Matheus captura o meu. Eu sinto vontade
de rir, porque, por mais fodida que a situação seja, eu consigo
achar engraçada também. Theus desmemoriada vai ser uma
maldição do caralho.
Eu tento uma proximidade, mas hoje ele não permite e
muito menos me dá qualquer abertura para conversar.
Na manhã seguinte, eu acordo com ele tossindo e esse som
vira música para os meus ouvidos. Eu abro os olhos e ele está
me encarando daquela maneira estranha novamente. Fico de pé
e estico meus braços, os alongando. Então viro uma mulher
decidida.
— Ei — digo sorridente e me aproximo da cama. Ele não
tira os olhos de mim.
— Oi.
— Você se sente bem?
— Onde meus pais estão? Cadê Bia? E Jé? — Deus
abençoado, se esse homem cisma com a Jéssica novamente?
Isso me faz querer dar gargalhadas de nervoso.
— Seus pais e Bia estão na Califórnia — explico mais uma
vez, porque ontem o médico já havia explicado isso a ele.
— Então eu tenho que ficar com você?
— Sim, você tem. — Ele faz uma careta. — Você
costumava gostar de ficar comigo.
— Eu?
— Você. Gostava muito, excessivamente. — Ele ri, como se
eu estivesse dizendo uma piada.
— Meu pau!
— Ele também gostava. — Matheus arregala os olhos e
olha para todos os lados.
— Você é maluca?
— Você é virgem? — pergunto entrando no novo/velho
mundo dele.
— Não. Por que você está perguntando isso?
— Porque somos casados e fodemos como canibais
desesperados, embora você não lembre. Inclusive, se você
estivesse sendo você, seu pau estaria duro agora e você estaria
fazendo piadinhas infames. — Ele arregala os olhos mais ainda
e corre seu olhar pelo meu corpo.
— Eu e você...
— É — afirmo e ele fecha os olhos, soltando um suspiro
frustrado.
— Você pode chamar a enfermeira? Eu quero ir embora
daqui. Quero ir para casa.
Matheus fica mais dez infernais dias no hospital e então
recebe alta, pronto para seguir com sua vida “normalmente”.
Nossos filhos não puderam visitá-lo, pelo fato dele estar
nervoso, confuso e irritado com a situação.
Eu dirijo pela orla, rumo ao apartamento e ele pede para
que eu pare um pouco. Ele está se recuperando de uma cirurgia
e não pode abusar, mesmo assim decido que ele merece um
pouco de ar puro e me pego estacionando o carro. O maior dano
do acidente foi na cabeça, mas felizmente está tudo controlado.
O pior do acidente foi vê-lo morto, na verdade. Só de pensar
nisso, meus olhos enchem de lágrimas e eu não consigo conter
um levo choro.
— Por que você está chorando?
— Não é nada. Vou ajudá-lo a descer, ok? — informo e ele
balança a cabeça em concordância.
Dou a volta e o ajudo. No momento que ele está de pé,
passa uma mulher com um micro biquíni, andando pelo
calçadão e ele só falta quebrar o pescoço. Sem pensar, eu cravo
minhas unhas nos braços dele, ganhando um olhar assustado.
— Satanás! Você está olhando para a bunda de outra
mulher! Inferno! — grito. — Eu vou matar você, Matheus
Albuquerque, estou falando sério!
— Eu... merda...
— Coloque na sua memória atual que você é um homem
COMPROMETIDO COM UMA MULHER INSANA QUE VAI
MATÁ-LO NO PRÓXIMO DESLIZE! Você consegue guardar isso
que estou te falando? — Ele balança a cabeça em
concordância, assustador e é tão fofo... Deus, por que ele
permanece com essa fofura?
— Eu nunca me casaria. Eu deveria estar louco quando
namorei, imagine quando me casei? Deveria estar dopado com
qualquer merda. Nunca cometeria um erro desse porte. Sempre
fui mulherengo, tenho todas as garotas do colégio que eu quiser.
O que há em você para me fazer casar? — diz com desdém,
fazendo careta e tudo mais.
— Você vai descobrir. E sabe mais o quê? Você vai me
pedir em casamento mais uma vez, ou eu não me chamo
Victória Albuquerque. — Ele debocha, mas se contém quando
vê minha cara de assassina.
— Você, além de tudo, é mal humorada. Isso prova que eu
jamais me casaria com você.
— Em uma semana.
— Uma semana? — ele pergunta curioso.
— Em uma semana você vai descobrir porquê eu sou o
grande amor da sua vida, Matheus Albuquerque.
— Você não é — diz nervoso. — Não é. — Ao invés de
chorar, eu sorrio.
— Até o seu último suspiro, até a última batida do seu
coração terá sido por mim.
Foi preciso ficar um tempo afastada da faculdade e de todos
os meus compromissos. Eu nem mesmo tenho ido ao meu
apartamento com tanta frequência. Eu, meus irmãos e Bruce,
estamos mais unidos que nunca e tem sido algo realmente
incrível. Um apoiando o outro, acompanhando nossa mãe,
observando nosso pai desmemoriado de longe.
Hoje meu pai recebeu alta e eu me sinto pronta para
retornar aos compromissos.
Eu e Gabriel nos mantemos afastados, apenas nos falamos
pelo celular, excessivamente eu diria. E agora, devidamente
pronta para voltar à vida real, posso dizer que estou um pouco
ansiosa. Amanhã tenho minha primeira ultrassonografia, toda a
minha família já sabe que estou grávida e até mesmo recebi
conselhos incríveis de Isis, que deixou nossas desavenças de
lado e se mostrou quase uma mãe para mim. Acho que esse
tempo em família foi bom, esclarecedor, reconfortante. Foi bom
para mim e Gabriel também, mas agora temo que tenhamos
perdido a conexão. Há tanto para conversar, tanto para ser
resolvido. Nossas conversas pelo celular resumiam-se ao meu
pai e a nosso filho, passávamos horas discutindo sobre essas
coisas, sobre o problema de memória do meu pai, sobre minha
família.
Estou retomando o controle da minha vida, carregando
comigo decisões que foram muito bem pensadas. A frase “há
males que vem para o bem”, se encaixa à minha situação. Eu
sinto que dei uma amadurecida significativa nos últimos dias e
estou preparada para colocar minhas decisões em prática.
Uma das minhas decisões envolvem Gabriel, diretamente.
Eu já me sinto um advogado formado, de tanto que estudei
nos últimos dias. Eu precisei entrar de cabeça nos estudos para
não surtar. E assim eu permaneço na faculdade. Tudo que o
professor está dizendo, eu sei e posso dizer que até daria uma
aula melhor que ele.
A distração é tanta, que eu noto sons, gestos. É preciso um
babaca me dar uma cotovelada para me tirar do transe
completo.
— Você é maluco? — questiono fechando o livro e ele
aponta para a frente da sala, onde uma atriz pornô muito sexy
está parada, com sua postura imponente e impenetrável.
Mas eu penetro...
— Bom, agora que tenho a atenção de todos... — ela diz
com seriedade olhando para mim em tom de repreensão. — Eu
sou orientadora de muitos aqui, como sabem... — Um babaca
assobia e eu pressiono meus dedos firmemente. — Porém,
precisei fazer alguns ajustes e alguns de vocês trocarão de
orientadora a partir de hoje. Eu convocarei cada um à minha
sala para explicar as alterações de maneira privada — informa.
— Gabriel Salvatore, me acompanhe por favor. — Ela
simplesmente sai da sala e eu fico alguns segundos sentado,
tentando compreender o porquê dela não ser mais minha
orientadora.
Guardo meu livro na mochila e saio puto pra caralho atrás
dela. Entro na sala de orientação e encontro apenas Aron.
— Oh! Sua namorada, hein? Ela mudou de sala — ele
informa. — No final do corredor, a direita.
— Obrigado — agradeço e vou. Eu nem mesmo bato na
porta e ela salta da cadeira com o susto. — Por que diabos você
não é mais minha orientadora?
— Pode sentar-se por favor?
— Ava, eu não estou brincando com você agora. Não tem
porra de orientadora e aluno aqui. O assunto é pessoal, entre
você e eu.
— Um rebelde sem causa... — diz e me empurra para uma
cadeira, então fecha a porta.
Ao invés de sentar-se, ela encosta na mesa, ao meu lado e
eu fixo meu olhar em sua barriga. Eu devo estar louco, porque
estou ansioso para vê-la barriguda.
O pen drive que eu a entreguei surge em sua mão
estendida.
— É seu — informa.
— Meu?
— Sim, seu. Eu não posso mais ser sua orientadora,
Gabriel, porque dentro desse pen drive há a sua defesa de tese
e sua tese é sobre nossos pais — ela diz. — Eu não passei da
primeira folha — confessa.
— Não?
— No dia da sua apresentação, eu estarei sentada na
primeira fileira do auditório, para ouvir a sua defesa, para vê-lo
defender a história dos nossos pais.
— Eu não vou conseguir, Ava — digo ficando de pé. — Será
a maior pressão de toda a minha vida. Eu não quero isso.
Mudarei meu projeto. — Ela me puxa pela camisa e me encara
fixamente. Não a compreendo.
— Você vai conseguir, porque você é excelente e será um
advogado temido e respeitado. Você irá defender a inocência do
seu pai, o assassinato em legítima defesa e tudo mais que
contém nesse pen drive. Se você não consegue suportar a
pressão de defender uma monografia, de defender a história dos
nossos pais, você está no caminho e na profissão errada.
Advogar é pressão. Não é apenas ficar sentado atrás de uma
mesa, envolto em meio a centenas de processos. Advogar é
luta, estudo, esforço, dedicação e conhecimento. Então você vai
conseguir. — Ela suspira. — Eu não posso te ajudar nisso,
porque estou grávida, e te ajudar, vai impactar em mim, em nós.
Escolho você, independente de todo o passado. Eu quero saber
da história e me orgulhar de você, orgulhar da força dos nossos
pais, que resistiram às tempestades, que venceram a escuridão
— diz. — Gabriel, você consegue. Não deixe que o medo de
falhar seja maior que sua vontade de conquistar o que busca.
Seja o homem determinado que é, o homem determinado que
amo. Defenda a história dos nossos pais, por você, por mim, por
nosso filho. — Essa mulher é... ela apenas é!
— Case comigo.
— Sim.
Essa mulher é maluca, por completo. Deus, que maldição
está acontecendo comigo? Eu não lembro de qualquer merda. É
assustador me olhar no espelho e ver um outro alguém. Meus
braços triplicaram de tamanho, eu tenho uma barba por fazer em
meu rosto, meu corpo é cheio de músculos, meus cabelos estão
um pouco maiores. Sou um homem de cinquenta e cinco anos,
na mente de um garoto de dezessete. Para completar, há uma
gostosa do caralho que cismou ser casada comigo e quer provar
isso.
Eu nem posso falar com meus pais, porque segunda ela,
eles já não têm mais quarenta e dois anos de idade e podem
sofrer um impacto ao saberem da minha atual situação.
Voltando a gostosa... ao menos ela é gostosa, mas ela é
chata. Chata pra caralho. E é ditadora de regras, mal humorada,
e tem uns seios que me atraem. Uma coisa não tem
absolutamente nada a ver com a outra.
Estou sentado na sala de um apartamento que ela diz ser
nosso. Segundo ela, o compramos há alguns anos e fica no
mesmo condomínio que nossos pais moravam. Eu não me sinto
em casa, de forma alguma.
Estou distraído olhando para a lagoa quando ela surge,
trazendo uma caixa em mãos super compenetrada.
Meu foco vai da caixa para o fato dela não estar usando um
sutiã. Ela tem seios incríveis. Talvez eu tenha casado com ela
por ser altamente gostosa.
Ela se senta no tapete, bem próxima a mim, e me encara.
— Vou te mostrar algumas coisas, quer?
— Qual a sua idade? — pergunto curioso. Ela parece ter
uns trinta e cinco anos.
— A mesma que a sua, cinquenta e cinco. — Arregalo os
olhos surpreso. Ela deve estar brincando.
— Você está falando sério?
— Sim. Por quê? — pergunta e balanço a minha cabeça
descrente.
— Você é extremamente bonita, tem um corpo fantástico e
é bem conservada, se é que você tem cinquenta e cinco anos
mesmo...
— Obrigada.
— Nós temos filhos? — pergunto e ela dá uma risada
nervosa.
— Temos. Você quer saber quantos? — Balanço a cabeça
em concordância e ela sorri. — É bom que você esteja
sentado...
— Por quê?
— Porque nós temos cinco filhos. — Eu levo a mão no peito
no mesmo instante. É uma mentira. Qual pessoa em sã
consciência teria cinco filhos? Foda-se, eu quero a minha mãe.
Só confio nela.
— Como você tem cinco filhos e tem esse corpo? Isso é
mentira.
— Nós temos cinco filhos. Se dependesse de você teríamos
mais de dez. — Isso que ela está dizendo é absurdo.
— Eu apreciaria se você pudesse me dizer onde minha mãe
está.
— Nessa caixa há diversas fotos nossas, inclusive do nosso
casamento e dos nossos filhos. Talvez assim você acredite. —
Engulo a seco temendo que as palavras dela sejam verdade. —
Eu te conheci aos dezessete anos de idade, assim que você se
mudou para o Rio de Janeiro, então engravidei da nossa
primeira filha. — Caralho, essa história é a mais louca que já
ouvi. — Mas é uma história que não estou muito interessada em
entrar em detalhes. Enfim, tivemos um afastamento e quando
reatamos, tivemos mais quatro filhos. Dois garotos e outras duas
meninas, que são gêmeas não idênticas.
— Eu tenho três filhas mulheres? — pergunto chocado.
— Sim. — Ela sorri e eu passo as mãos pelo rosto.
— Isso é um pesadelo.
— Você ama a família que construímos, ama nossos filhos e
é um pai incrível pra caralho — explica.
— Qual a minha profissão?
— Você é advogado, fez faculdade em Nova York. — Uow!
— E você foi comigo para Nova York? Nossa filha...
— Não fui. Eu estava na Itália enquanto você esteve em
Nova York. Não me faça mais perguntas sobre esse assunto,
por favor. Pode perguntar sobre outras coisas.
— Quanto tempo ficamos separados?
— Sete anos. — Arregalo os olhos novamente.
— Sete anos e nós voltamos? Quem volta após sete anos
de separação?
— Nós dois — responde.
— Caralho, eu deveria ser muito alucinado por você. — Ela
sorri, com um ar de tristeza, levanta e se acomoda ao meu lado
no sofá.
— Somos loucos, um pelo o outro. Completamente
apaixonados. — Por que eu não consigo enxergar ou sentir
isso? Estou começando a ficar nervoso de tanto buscar
memórias e nada acontecer. — Theus, nós passamos por
muitos momentos difíceis, muitas coisas ruins, mas nosso amor
se manteve firme, forte e inabalável. No fundo eu quero que
você recupere logo a memória, para podermos continuar com a
nossa vidinha. Nós somos muito felizes, nos amamos muito,
estamos numa fase de viajar pelo mundo e curtir a vida. Mas
não estou te pressionando, nem farei isso. Quando eu estava no
meu pior momento, você me deu as mãos, foi paciente e forte
por nós dois. É a minha vez de ser tudo isso para você. Terei
paciência, segurarei suas mãos e serei a força da nossa relação.
Eu só queria que você soubesse que eu sinto muito a sua falta,
Theus. — Eu não sei porquê, mas meus olhos agora estão
cheios de lágrimas, juntamente com os dela. Essa mulher me
ama e é difícil não conseguir retribuir. Eu não sei o que fazer ou
como agir. Ela parece tão estranha para mim. — Theus...
— Sim.
— Você pode tentar me amar de volta? — Num ato
impensado eu a puxo para mim e a beijo. Começa de maneira
delicada, então eu passo a entender que há entre nós uma
ligação a mais: uma química sinistra. O beijo dessa mulher me
deixa ardendo em chamas. Ela é experiente... A minha memória
me leva à garota mais velha que fiquei, ela era cinco anos mais
velha que eu. Agora é como se eu tivesse dezessete e estivesse
pegando uma coroa gostosa. É assim que eu me sinto. Eu me
afasto dela na mesma velocidade em que avancei. Ambos
ficamos ofegantes, nos encarando.
— Deus... eu nunca senti isso antes.
— Nós dois somos assim, desde o primeiro beijo — ela me
explica arrumando os cabelos e tentando se manter firme.
— Então nós fazemos sexo?
— Numa quantidade assustadora — responde com o rosto
ruborizado. Essas sardinhas... eu gosto delas. Ela é muito bonita
com essas sardinhas no rosto.
— Suas sardinhas são bonitinhas. — Ela arregala os olhos
e respira fundo.
— Você me deu vários apelidos, entre eles, Sardinhas
Bonitinhas.
— Sardinhas Bonitinhas, combina com você — digo e ela
fica me observando com um olhar apaixonado. Merda, estou
com medo de fazê-la sofrer. Não sei lidar com essa porra. —
Você pode me mostrar as fotos agora? — peço, precisando de
qualquer incentivo para continuar aqui, sob os cuidados dela.
A primeira foto que ela me mostra, eu sinto uma fisgada
forte no peito ao mesmo tempo que meus olhos se enchem de
lágrimas.
— Casamo-nos na chácara dos seus avós — ela explica e a
foto seguinte me faz arrepiar, porque há nós dois e é visível que
eu amava essa mulher. Dá para ver pelo meu olhar.
— Eu não quero ver mais nada por hoje. Uma coisa de cada
vez, ok? Não quero ver filhos, não quero ver mais o casamento.
É demais para mim. Eu gostaria de lembrar de tudo, mas não
consigo e minha cabeça parece que vai explodir de desespero.
— Ela fecha a caixa, a coloca no chão e segura minhas mãos.
— Fique calmo, ok? Não temos pressa para nada. Eu ainda
tenho um desafio...— Ela sorri. — Preciso fazer você se
apaixonar novamente por mim em uma semana, apenas para
provar a você que com memória ou sem memória eu sou a
mulher da sua vida.
Sem ter o que responder, eu vou para o quarto dormir. Ela
se ajeita ao meu lado e eu me torno tenso. Nunca dormir com
qualquer mulher. É um pouco assustador. Me arrasto para longe
dela o máximo que consigo, fecho os olhos e tento dormir. A
ouço chorar baixinho e isso fode meu psicológico juntamente
com meu coração. Me viro e a encaro:
— Por favor, pare de chorar. Me parte o coração ver você
chorando. — A louca me abraça forte e receosamente eu levo
minha mão em seus cabelos. Fico remexendo até ela se
acalmar. Não demora muito para ela estar dormindo,
completamente agarrada a mim. Não é tão desconfortável
assim, talvez eu possa me acostumar.

Eu acordo numa situação não muito agradável. Meu pau


está duro como uma pedra e há uma bunda fantástica e
empinada em minha direção. Teoricamente é da minha esposa,
mas na prática... ela não é minha esposa, não agora, porque eu
apenas não consigo me lembrar e não há nada que me remeta a
ela. Fecho os olhos e a imagem dela vestida de noiva invade
minha mente. Eu me esforço, esforço de todas as maneiras,
mas nada surge.
Qual a explicação lógica para eu ter perdido a memória a
partir dos dezessete anos? Será que eu perdi a memória apenas
a partir do momento em que ela surgiu na minha vida?
Muitos questionamentos rondam a minha mente e nenhum
deles me levam a qualquer lugar.
Victória se remexe e vira para mim. É surpreendida quando
abro os olhos, a pegando em flagrante.
— Você acordou... — ela diz sorridente.
— É. Você também. — falo. — Como era a nossa rotina
pela manhã? — indago curioso.
— Oh, você quer mesmo saber?
— Sim, por favor.
— Eu posso apostar que tudo em você está bastante
acordado essa manhã. — Entendo a referência...— Você
sempre me acorda com sexo, sempre. Então, tomamos banho
juntos e vamos para a cozinha preparar o café da manhã juntos.
Em seguida vamos malhar...
— Eu preciso de sexo, mas não posso. Não quero fazê-la
sofrer.
— É, eu sei.
— Você sente falta de sexo? — pergunto curioso.
— Muita. — Maldição.
— Não me sinto preparado para isso. Você vai ficar triste?
— Minha sinceridade a machuca, é visível, tanto que ela dá um
sorriso fraco.
— Não. Você está vivo, essa é a única coisa que importa.

Estamos na praia. Eu estou sentado, porque não posso me


exercitar ou esforçar muito, recomendação médica. Victória está
voltando de uma caminhada na areia quando um homem a para.
Não sei o porquê, mas fico em completo estado de alerta e
ligeiramente incomodado com a situação. Talvez seja apenas
pelo fato de ela ser minha esposa. Não gosto da forma como ela
sorri para o homem, não gosto da forma como ele a toca, como
se fosse bastante familiar.
Há algumas características nela que tem chamado minha
atenção. Ela é extremamente carinhosa, doce e amorosa. É
dona de uma inteligência fascinante. Demonstra ser uma
fortaleza até mesmo quando está chorando. Além dos atributos
físicos fantásticos, como por exemplo, ela é naturalmente sexy,
do tipo que chama atenção por onde passa. Há nela também um
pouco de vulnerabilidade em alguns momentos, do tipo que dá
vontade de segurar sua mão e protegê-la do mundo.
Qual homem não vai se interessar por ela? A cada minuto
fica mais evidente porque eu me casei com ela. Se ela é mesmo
a minha esposa, há coisas a serem resolvidas agora, e é por
isso que levanto com uma certa dificuldade e me vejo
caminhando até ela de uma maneira impulsiva.
Primeiro eu encaro o homem diante dela fixamente, depois
pego minha esposa pelo braço e saio a puxando comigo.
— Matheus, o que você está fazendo?
— Se eu não posso olhar para bunda de mulheres, você
não pode olhar para homens e nem mesmo conviver com eles.
— Ela fica me olhando, segurando a vontade de sorrir sendo
que não há graça alguma. — Quem é aquele homem? Não fui
com a cara dele.
— Ricardo, meu psicólogo e nosso amigo, inclusive somos
padrinhos do filho dele.
— Ele estava te olhando, não gosto dele.
— No passado, eu iria namorar com ele. — Eu não gosto
dessa porra! — Até você me sequestrar, com ajuda do meu
irmão e da Beatriz.
— Eu te sequestrei?
— Sim. Era aniversário da minha mãe, eu estava com
Ricardo. Queria seguir minha vida porque não tinha mais
esperanças de que ficaríamos juntos. Ricardo tornou-se um
grande amigo e nos aproximamos. Então, naquela noite eu tinha
aceitado ser namorada dele, até que você surgiu, me colocou
em cima de uma moto e me levou para uma pequena viagem,
onde nos reencontramos em muitos sentidos.
— Você beijou aquele cara?
— Não. Iria beijar, mas o restante você já sabe... fui
sequestrada. — Ela é sincera pra caralho.
— Bia conhece seu irmão.
— Bia é casada com meu irmão e eles têm três filhos: Maria
Flor, Heitor e Enzo. — Uau! Minha irmã tem filhos e se casou. —
Você está com ciúmes?
— Não. É apenas por você ser minha esposa — explico e
ela ri.
— Isso foi muito Matheus. Possessivo, ciumento... — Ela
envolve seus braços em torno de mim e me dá um abraço,
suspirando. — Eu acho que ainda tenho um pouco de você,
afinal. Não te perdi por completo. E, o mais importante, a
conexão ainda está aqui, entre nós, juntamente com a química e
o desejo. É só questão de tempo... Mas, agora vou ali comprar
água de coco, você quer?
— Não — digo sentindo-me completamente confuso. Quero
ir para a casa. Não sei como lidar com essa tal Victória e com
esses malditos sentimentos.
Ela sai correndo como uma garota feliz e eu fico parado
observando.
Na minha mente eu ainda estou no colégio, sem
preocupações, sem qualquer desejo de me apegar a qualquer
garota. Então por que eu pareço estar me apegando a ela? Qual
o maldito mistério sobre essa mulher?
Ela é tão... cheia de vida, sorridente e confiante. Ela confia
em si própria e isso é incrível, principalmente nesse momento,
onde eu não confio em mim.
Eu já sei porquê me casei com ela: acredito que seja
praticamente, e humanamente, impossível não se apaixonar por
ela. Preciso descobrir quem me tornei, preciso lembrar de tudo
sobre essa mulher. Preciso descobrir o motivo pelo qual perdi a
memória e porquê meu coração está batendo mais forte apenas
por ver uma linda mulher com sardinhas no rosto e os cabelos
esvoaçantes.
O desejo existe.
Mas a mente não coopera.
SIM: 1. exprime afirmação, aprovação, consentimento. “s.,
concordo com este casamento” 2. exprime reiteração de algo
afirmado. “é preciso, s., liquidar esse assunto já”
Eu disse sim. Tudo mudou a partir de agora a pronúncia
dessa palavra tão pequena e dona de um significado gigante.
A maioria das garotas passam a vida inteira idealizando
esse momento. Na verdade, isso começa bem cedo, lá na
infância, brincando de casinha e sonhando, acreditando
ludicamente que a vida é um perfeito conto de fadas.
Tenho para mim que essa doce ilusão dura até o momento
em que tudo deixa de ser lúdico e passamos a conhecer os
garotos. Sim, eu posso estar enganada, mas a primeira
desilusão de uma garota é por conta de um garoto, lá na pré-
adolescência. É onde ganhamos a noção de que homens são
seres complicados e, infelizmente, essas pequenas desilusões
nos moldam em relação à relacionamentos. O que era um
perfeito conto de fadas, cai por terra logo na primeira desilusão
amorosa, onde parte dos seus sonhos são destruídos. É um
pouco parecido com a fase onde descobrimos que Papai Noel
não existe. Dá aquela frustração e você começa a perder um
pouco do encantamento pela data.
Eu me lembro bem quando descobri que Papai Noel não
existia, foi uma noite difícil para mim, quando surgi na escadaria
da Ilha e vi meus pais, juntamente com meus tios organizando
todos os presentes em torno da árvore e em outros pontos da
casa. Foi então que Isis surgiu e deu uma risada maquiavélica,
me chamando de bobinha. Naquele momento eu quis fazer a
Nazaré Tedesco e jogá-la da escada, então meu pai me pegou
em flagrante e eu corri para os braços dele. Isis se fodeu, afinal.
Enfim, voltando a parte do meu pai... ele me pegou em seus
braços, sentou comigo na borda da piscina e me contou, com
lágrimas nos olhos, sobre o Papai Noel. Contou da forma mais
doce possível, com toda a fofura que possui, tudo sobre o
famoso Papai Noel. Eu chorei, ele chorou junto e dormimos
abraçados depois, após eu prometer que manteria o segredo
sobre a inexistência do Papai Noel de Lucca, meu irmão mais
novo e de Luma. Na manhã seguinte, eu fui ótima atriz fingindo
surpresa ao ver os presentes. Tornou-se um segredo meu e do
meu pai e foi assim até Luma e Lucca descobrirem, da mesma
maneira que eu descobri, no ano seguinte.
O pedido de Gabriel não foi como nos filmes, onde o
homem surge com um anel, flores, ajoelha aos pés da garota e
propõe. As duas vezes que ele me propôs foram desprovidas de
romantismo: uma em meu quarto, quando eu estava arrumando
minhas coisas para viajar e a outra aqui, na minha mais nova
sala da faculdade, de forma inesperada. Ele não faz o tipo
príncipe encantado que vem montado num cavalo branco, com
todo romantismo, suavidade e o típico jeito de conquistador. O
meu príncipe encantado é um garoto rebelde, tatuado e com
piercings em diversas partes. É um garoto que gosta de usar
roupas esporte, bonés diferenciados e tem um estilo próprio. O
meu príncipe encantado sabe sim ser carinhoso, mas é um tanto
quanto limitado, do tipo que sabe o momento exato para
distribuir seu carinho. Gabriel é de verdade, ele não força ou
mente ser algo que ele não é. Ele não enrola para ir direto ao
ponto. É bem resolvido, sabe tanto “bater”, quanto dar carinho,
sabe os momentos exatos de agir e, principalmente, ele sabe
como agir. E, se quis me propor um casamento dessa maneira,
eu sei que é com todo coração e amor que possui.
Como eu o conheço tão bem em pouco tempo? Eu não
saberia explicar isso. Química, intensidade e conexão,
responderiam? Porque há muito disso em nós. Eu temia que
tivéssemos perdido isso nos dias em que estivemos afastados,
mas não perdemos. Ok, nessa sala aqui, no meio da
universidade, eu não posso tirar a prova real da intensidade que
existe entre nós. Mas apenas pelo olhar dele, eu vejo tudo que
sempre vi, todas as forças vivas, dançando através dos seus
olhos brilhantes.
— O sim não anula o fato de que ainda temos assuntos
pendentes. — Ele anuncia com seriedade. — Eu adorei seu
discurso, sei que é verdadeiro, real e mostra a mulher gigante
que habita em seu interior. Mas ainda há coisas para
resolvermos. Há coisas que não me deixam satisfeito e que
precisamos nos sentar para ter uma conversa séria. O sim muda
tudo entre nós, porque você será a minha esposa. Não significa
que eu tenha poder sobre você ou seja seu dono, mas significa
que algumas coisas não serão aceitas e que o respeito terá que
prevalecer entre nós.
— Eu não desrespeitei você, mas concordo que agi errado
em algo. Porém, aqui não é o local e nem mesmo é o momento
para conversarmos sobre isso.
— Por que mudou de sala? — pergunta.
— Porque eu não estava confortável e você também não.
— Já passou pela sua cabeça que pode ser que tenhamos
gêmeos? — Eu sou obrigada a me apoiar na mesa assim que
ouço essas palavras. Misericórdia, Senhor, eu sou gêmea. Eu
acho que acabo de perder a cor do meu rosto, porque Gabriel
deixa sua mochila de lado e vem me acudir. — Deus, Ava! Você
precisa de água? Eu achei que você tinha pensado nessa
possibilidade.
— Não, eu definitivamente não tinha.
— Somos dois, Ava. Daremos conta — diz com
tranquilidade e segurança, então fica me observando, perto
demais. Eu acho que o sangue retorna ao meu rosto de uma só
vez. De repente, sinto o sangue bombear pelo meu corpo mais
forte, as batidas do meu coração intensificam e minha boca fica
seca. Eu deslizo minha língua pelos meus lábios e levo minha
mão em minha nuca, afastando os cabelos que passaram a ser
incômodos diante do calor latente que surge.
Tudo está vivo, afinal. Graças a Deus!
Gabriel assopra meu pescoço, e inspira meu perfume. Eu
contenho a vontade de gemer e aperto a barra da mesa com
firmeza. Ele desliza uma mão levemente pela minha perna
esquerda, mal encostando e eu tento beijá-lo.
— Se eu te beijar agora, perderei a razão.
— Às vezes é preferível perder a razão a perder o que
deseja.
— Eu perderei a razão em algumas horas, fora da
universidade — ele fala me dando um beijo na testa. — Preciso
ir, eu te amo, Ava. Te encontro no final da aula — anuncia indo
embora. Eu abaixo minha cabeça e sorrio. Gabriel resolveu ser
difícil.
Respiro fundo e tento voltar ao trabalho. Meus pensamentos
vão até meu pai e eu acabo ligando para a minha mãe. É tão
fodido, porque sei que ela está sofrendo e tentando manter-se
forte.
— Oi filha.
— Ei mãe, como você está?
— Estou bem, sabe, nem está sendo tão ruim, seu pai já
está interessado em mim, talvez a gente volte a se pegar. — Eu
fico alguns segundos em silêncio absorvendo as palavras dela.
— É sério isso?
— Bastante sério — ela diz e pela sua voz sei que está
sorrindo. — Está até divertido, por mais que eu gostaria de ter
meu Theus de volta. Ele se parece tanto com o garoto de
dezessete anos que conheci, ele é tão apaixonante, tão... Eu
sinto que estou me apaixonando por ele novamente, se é que
isso é possível.
— Uau e quando eu poderei vê-lo?
— Em breve. Ava, eu sei que é difícil para você e para seus
irmãos, mas primeiro ele precisa confiar em alguém, já que seus
avós não sabem de absolutamente nada. Estou trabalhando
para que ele passe a confiar em mim, para então introduzir você
e seus irmãos na rotina dele. Compreende? São
aconselhamentos médicos. Seu pai está desconfiado de tudo.
Está começando a se soltar um pouco, mas permanece com os
dois pés atrás. Irei conquistar a confiança dele, então as coisas
poderão caminhar mais rapidamente.
— Eu sei, faz sentido, mãe. Mas, eu estou com saudades
dele. Sinto tanta a falta dele, mãe.
— Eu também filha. Ele está aqui, mas é tão diferente
agora. Precisamos ter paciência e fé.
— Mãe, o Gabriel me pediu em casamento — conto e ela
fica muda por alguns segundos.
— Meu Deus, filha! Você aceitou?
— Sim, eu aceitei. Ele é o meu par e estamos grávidos, nós
dois fazemos sentido.
— Ai meu Deus! Túlio Salvatore e eu seremos família! Ava,
essa é a coisa mais louca, você sabe. Túlio é um homem muito
bom, mas é muito louco que nossos filhos tenham se envolvido.
O que eu posso dizer? Se Gabriel é o seu par, se ele te faz bem
e se você o ama, eu apenas torço para que sejam imensamente
felizes. Vocês têm a minha benção e sei que seu pai, quando
retomar a memória, vai abençoá-los também, porque você é
preciosa para ele e sua felicidade está acima de todas as coisas
— ela diz. — Gabriel é um garoto encantador, além dos atributos
físicos, estou feliz que estejam dando um passo a mais. É muito
importante que criem o filho ou filhos de vocês juntos. Faz toda a
diferença, se existe amor.
— Eu sei. Quero ser para meu bebê ou bebês, o que você e
meu pai foram e ainda são para mim, mãe. É em vocês e no
relacionamento de vocês que irei me inspirar, sempre. — Ela
começa a chorar e eu choro junto.
— Eu amo tanto seu pai... tanto... tanto. Eu acho que não
tinha dimensão da grandiosidade, ou tinha e estava apenas
escondido dentro de mim. Eu o amo tanto Ava, espero que você
possa amar Gabriel da mesma forma, da mesma profundidade.
— Sim, mãe.
— Por que você está chorando novamente? — Eu ouço a
voz do meu pai perguntando a ela. — Eu não gosto quando você
chora, meu coração dói.
— Deus do céu, mesmo desmemoriado ele consegue ser a
pessoa mais encantadora do mundo — digo e minha mãe ri.
— Isso é tão fodido, Ava. É fodido pra caralho. Depois nos
falamos, ok?
— Quem é Ava?
— Ava é uma das nossas filhas — minha mãe diz e meu pai
fica em silêncio. — Filha, nos falamos depois, ok?
— Ok. Diga a ele que mesmo desmemoriado, ele é o
homem da minha vida todinha. Eu amo vocês, mãe.
— Também te amo muito, filha! Estou muito feliz por você.
Muito. — Sorrio e encerro a ligação.
Trabalho mais e até esqueço do tempo. Só lembro do final
da aula quando Gabriel me liga.
— Onde você está?
— Eu perdi a hora, vou arrumar minhas coisas e te encontro
no estacionamento — informo.
— Ok.
Arrumo minhas coisas e sigo rumo ao estacionamento. O
encontro digitando coisas em seu celular e me aproximo.
— Ei.
— Só um minuto — ele pede. — Estou ensinando algo para
meu irmão mais novo.
Eu fico esperando. Vou até meu carro e guardo minha
bolsa, então fico encostada do lado de fora, aguardando
pacientemente Gabriel, que resolveu testar meus nervos essa
noite. Ele parece estar fazendo de propósito, ou talvez seja eu,
que estou desesperada o bastante para ter qualquer coisa dele.
— Pronto — ele anuncia. — Vamos? Estou de moto, te sigo.
— Sim.
— Então vamos — diz apontando para o carro e eu sorrio.
— Ava, vamos?
— Super vamos. — Ele suspira frustrado, caminha até mim
e me puxa para o carro. Eu o agarro pela camisa, de uma
maneira nada delicada e o puxo junto comigo.
— Ava, há pessoas aqui ainda. Quanto antes chegarmos
em casa, mais cedo conversaremos e então terei minhas mãos
sobre você. — Coitado, ele está louco de pensar que teremos
qualquer conversa essa noite. Completamente louco.
— Não estamos indo ter uma conversa hoje. Estou
cansada, o mundo desabou sobre minha cabeça, estou grávida
e preciso de você nu, dentro de mim — falo empurrando-o e
fecho a porta do carro. Dou partida e o vejo correndo para a
moto. Pegue-me se for capaz, Gabriel Salvatore.
Chego em casa em tempo recorde, e ele chega junto. Entro
no elevador, e ele quase não consegue entrar. Então eu sorrio,
maquiavelicamente, e ele me ataca do jeito que eu gosto,
esquecendo até mesmo que há câmeras no elevador.
Suas mãos deslizam pela minha bunda e ele gruda nossos
corpos. O elevador chega ao nosso destino e sou pega nos
braços dele, de mala e cuia.
Sou jogada contra a primeira parede que encontro,
deixando minha bolsa cair no chão para ter as mãos livres. A
boca de Gabriel desliza pelo meu pescoço e desce rumo ao meu
decote, eu sorrio e puxo seus cabelos, fazendo com que ele
traga a boca até a minha. Ele me beija alucinadamente e roça
seu membro duro em minha intimidade. Enlouquecida pelo
tesão, puxo seus cabelos e dou um tapa forte em seu rosto. O
estalo é quase tão alto quanto o grito assustado de uma mulher.
— Credo!!!! — O som ecoa pelo corredor e Gabriel me
coloca no chão. Eu arrisco o olhar para encontrar os pais dele.
— Que maravilha hein?! Não é mesmo, Senhor Gibi? Eles
curtem um pouco de violência, genética talvez explique.
— É... estou bastante impactado com essa demonstração
pública de afeto. É costume de vocês? Ou apenas... às vezes é
difícil segurar, compreendo. Eu e Analu transamos nessas
escadarias algumas dezenas de vezes, porque dez passos para
dentro de casa, parecia insuportável e longe demais.
— Acho que nessa parede também já transamos — Analu
diz.
— Ok, não estamos interessados em saber da performance
sexual de vocês dois — Gabriel fala e eu estou mortificada, não
pela performance deles, mas pela performance que acabei de
dar diante dos pais do meu namorado.
— Não precisa ficar com vergonha, vocês são jovens, e
tal... — a pai dele comenta. — Ao menos não os pegamos na
ação final. Estão vestidos e dignos. É normal, acredite. Só uns
pegas sinistros.
— Muito normal. Apenas tenha cuidado com as câmeras de
segurança, então vocês podem transar livremente — a mãe dele
diz com naturalidade.
— Onde está a bolinha? — Gabriel questiona me colocando
à frente dele, para cobrir sua ereção viva em suas calças.
— Com Davi e Luma. A propósito, os dois combinam, não?
Combinam bastante.
— Oh sim, eles combinam — respondo sorrindo. — Ok,
bom, vocês querem entrar... eu estarei no meu apartamento —
informo.
— Você é bem-vinda a ficar — Analu informa. — Na
verdade, eu adoraria se você ficasse. Quero conhecê-la um
pouco mais.
— Oh! — exclamo impactada.
— Sim, ela ficará, mãe — Gabriel sentencia. — Bom, vamos
entrar.
— Sim, vamos entrar — digo concordando e abaixo para
pegar minha bolsa.
— Deus, Ava, não está fácil para mim — Gabriel diz quando
eu esfrego a bunda sem querer contra seu corpo.
— Eu acho que podemos voltar amanhã... O que acha
Senhor Gibi?
— Eu acho que podemos empatar uma foda, já que tivemos
muitas fodas empatadas por nossos filhos. É hora de dar o
troco. — O pai dele sorri, pega uma chave no bolso e sai
entrando para o apartamento.
Meu sogro é um empata fodas. Minha vó Mari chutaria as
bolas dele se estivesse aqui.
Deixo minha bolsa sobre a mesa e os acompanho até o
sofá. Estou acostumada com total falta de pudor, mas eu não
esperava que os pais do Gabriel fossem despudorados também.
É uma surpresa desconcertante. Deus! Eles nos pegaram em
uma situação tensa e agora eu tenho que bancar a boa nora,
ocultando a excitação que estou sentindo.
Como conversar com os sogros estando com a calcinha
levemente molhada, um calor que não é desse mundo e
contrações involuntárias em minha intimidade? Sinceramente,
eu acho que nunca senti tanto tesão em toda a minha vida,
porque sempre que eu estive com tesão e tive momentos
interrompidos, o desejo passava muito rápido. Hoje não. Eu
permaneço excitada diante dos meus sogros e estou tendo que
atuar, fingindo plenitude e que está tudo sob controle. Acho que
pior que é isso é o fato de Gabriel estar com sua armadura
trabalhando intensamente diante dos pais. Juro que estou
nervosa. Essa situação é extremamente desconfortável.
Eu e Gabriel estamos sentados em um sofá, e os pais dele
em outro, de frente para nós. Os dois estão nos observando,
enquanto nós dois os observamos. Isso está bizarro.
— Então... — a mãe dele diz sorrindo. — Estou feliz por
estarem juntos e bem. Viemos convidá-los para um novo jantar,
sem maiores surpresas. Um jantar de boas-vindas, do presente
e do futuro. — Eu foco minha atenção no famoso Túlio
Salvatore. Ele é um coroa muito gato, imagino que ele tenha
sido ainda melhor na juventude, quando minha mãe o conheceu.
Ele é um completo tatuado, mas não são tatuagens
assustadoras. Parecem ser parte de quem ele é, cheio de
personalidade. Você, olhando apenas as tatuagens, acha que
ele pode ser um homem assustador, mas então, você olha para
o rosto dele e vê nele uma inocência que um homem dessa
idade não deveria possuir. Minha mãe fala bem dele, portanto,
eu vou seguir a visão dela e dar uma chance, independente do
passado. Se ele fosse um monstro, certamente minha mãe
falaria.
— Iremos — digo sorrindo. — Eu quero começar com o pé
direito, eu acho que esse jantar será incrível. — Analu abre um
sorriso radiante.
— Humberto e Pedro, virão passar o próximo final de
semana. É bom que teremos toda a família reunida — Túlio fala.
— Estou feliz que tenha aceitado, Ava. Quero muito poder
conhecê-la melhor. Você faz parte da família agora.
— Muito obrigada. — Sorrio emocionada. — Quero estar
perto da família do meu noivo.
— Noivo? — Analu pergunta boquiaberta. — Noivo?
— Sim, mãe. Eu e Ava estamos noivos há poucas horas.
— Uow! — Túlio exclama. — Isso é incrível e inesperado.
Eu acho que não estava preparado para esse momento. O que
eu posso dizer? Parabéns! Desejo que sejam felizes como eu
sou feliz com Analu. E isso significa muita felicidade.
— Muita felicidade, amor e positividade — Analu diz
segurando a mão de Túlio. Um casal incrível, é visível.
— Bom, agora senti o peso de empatar situações, por isso
vamos embora. Estraguei a comemoração do noivado — Túlio
fala ficando de pé e puxando Analu.
Eu e Gabriel também levantamos e eu me despeço dos dois
com um abraço. Quando abraço Túlio, eu sinto meu coração se
apertar no peito de uma maneira que não consigo compreender.
Eu gosto dele, assim, do nada. Saber que ele esteve com minha
mãe em momentos difíceis, que ele salvou meu pai e minha
mãe... o sentimento agora é de gratidão.
— Obrigada por ter ajudado meus pais — digo no ouvido
dele e ele apenas balança a cabeça em confirmação.
Eles se vão, Gabriel tranca e porta e me encara.
— Vamos aproveitar o clima de conversa? Que tal? Sente-
se Ava Albuquerque, futura Salvatore. — Eu reviro os olhos e
torno a me acomodar no sofá. Gabriel agora se senta no outro
sofá, onde os pais estavam sentados.
— Vá, pontue meus erros, Gabriel Salvatore.
— Ava, você simplesmente diz que quer ficar sozinha, eu
não concordo, porém, aceito. Seus argumentos faziam sentido.
Aí eu chego na porra da Ilha e você não apenas está
acompanhada, mas acompanhada do seu ex. Ava, sozinha, é
sozinha.
— Eu cheguei lá e ele já estava. Fizemos um acordo de nos
mantermos distantes e foi assim, a casa é gigante, nos
mantivemos distante — explico.
— Distante significa o cara ficar andando de sunga trazendo
bebidas para você? — É... foi foda.
— Foi inesperado para mim também, fui pega de surpresa,
Gabriel.
— Ava, aquilo foi difícil para mim, até porque estava frio e o
cara seminu. Eu confiei no que existe entre nós, mas eu fiquei
surtado quando o vi. Minha reação não foi a mais adulta, mas
coloque-se em meu lugar. Ava, se fosse o contrário, você ficaria
satisfeita? Imagine se eu te peço um tempo, alegando que
preciso e quero ficar sozinho, e aí você vai atrás de mim e me
pega com a Renatinha ou qualquer outra mulher? Como você
reagiria, Ava? — indaga. Eu certamente perderia a razão, não
iria fugir, iria ficar e bater nos dois. Eu o compreendo. Deveria ter
ido ficar realmente sozinha, em qualquer outro lugar. Há
dezenas de hotéis na Ilha, eu poderia ter ido para qualquer um
deles, mas não. Eu apenas fiquei e acompanhada. Suspiro
frustrada, mesmo não tendo medido as consequências.
— Eu compreendo você e o que está dizendo. Às vezes sou
inocente, Gabriel. É raro, mas às vezes sou. Foi na inocência
que agi. Respeitei você e fui respeitada por Rafael. Eu e ele só
nos víamos nos momentos de refeições ou quando ele batia na
porta do quarto para me lembrar de comer, por conta da
gravidez. Nada além disso.
— Ava, é difícil para mim lidar com tudo isso, compreende?
Antes de você, eu nunca tive que lutar por absolutamente nada.
Minha vida sempre foi fácil demais. Tudo que eu queria, eu tinha
com muita facilidade. Sempre fui o aluno exemplar, o queridinho
do colégio, o descolado com as garotas. Eu nem mesmo fazia
esforço algum. Então você surgiu, trazendo um monte de novos
sentimentos para a minha vida. Eu me considero um homem
muito maduro, mas às vezes minha maturidade vai à prova
porque não sei lidar com todas as novidades — ele me explica,
deixando toda sua sinceridade fluir. — Tenho medo, Ava.
Receios. Você é uma mulher feita na vida, mais velha,
experiente, com a carreira consolidada. Sou apenas um
moleque. Perto de você às vezes me sinto como um garoto. Eu
me senti ameaçado, porque você e aquele cara tiveram algo e
ele é da sua idade, tem a carreira consolidada...
— E eu amo você — digo interrompendo-o.
— Eu me senti mal, Ava. — Ele é tão intenso que eu
consigo sentir o peso de suas palavras. — Me senti mal porque
você é muito para mim, porque além de ser muito para mim,
você é tudo para mim. E tudo isso é tão recente, que ainda há o
receio de perdê-la. Fiquei com ciúme e só me dei conta de que
eu deveria voltar e lutar por você, quando eu já estava me
aproximando do porto. Novamente eu te digo, nunca lutei por
nada, logo não sou um bom combatente. É algo que tenho que
me adequar, porque agora tenho você, tenho um filho, tenho
motivos e razões para lutar. Estou aprendendo, meu amor. Sou
um mero aprendiz, descobrindo pela primeira vez o amor,
descobrindo você. — Ele é infinitamente mais maduro que eu.
Eu ainda não decidi como me sentir diante disso. Gabriel é
maduro, seus deslizes são pequenos diante dos meus. Às vezes
eu me sinto como uma garota mimada de dezesseis anos,
principalmente diante dele. — Você compreendeu tudo, Ava?
— Sim, eu compreendi. Não há motivos para sentir-se
inseguro. Você é incrível, Gabriel e maduro. Eu jamais diria que
você tem vinte e três anos, você é um homão cheio de atitude e
maturidade. A idade não é um problema entre nós. Eu sou
imatura, não costumo pensar antes de agir. Sou impulsiva,
inocente em alguns momentos. Você nunca teve que lutar, eu
nunca tive que dar satisfações ou medir meus atos, porque
simplesmente sempre agia da forma que eu achava benéfica
para mim, sem pensar nas demais pessoas. Egocentrismo o
nome disso. Eu sempre fui o centro do meu mundo e pela
primeira vez estou me permitindo dividir minha vida com alguém.
Nós dois estamos nos encaixando nas mudanças, acredito que
passaremos por muitas outras discussões ainda, principalmente
nesse início. Nós só precisamos fazer um pacto.
— Um pacto?
— Sempre que as coisas saírem dos eixos, vamos nos
sentar e resolver, como estamos fazendo agora. Por mais que
no calor do momento um dos dois aja com impulsividade, vamos
procurar respirar fundo, voltar atrás e conversar. É esse o pacto
que proponho a você. É algo que meus pais sempre fizeram. —
Sorrio. — Sentar e conversar, eu acho que podemos agregar
isso à nossa relação. Acho que temos excelentes exemplos a
seguir: nossos pais.
— Sentar e conversar parece bom para mim.
— Me desculpe por agir de forma impensada e impulsiva.
— Me desculpe pelas coisas que disse e pela forma como
agi. Nada justifica, mas foi por amar você, foi por você significar
muito que doeu e explodi. Se você não simbolizasse nada, eu
teria aceito muito facilmente. E é exatamente onde tudo é aceito,
que não existe amor o bastante. Eu não aceitei, você é muito
importante para mim, você é minha, Ava. Minha de uma forma
muito louca. Minha bem no pronome possessivo.
— Sua.
— Minha. Começou sendo apenas minha, tornou-se minha
namorada, agora é minha noiva e mãe do meu filho. Minha. O
minha sempre virá antes de todos os rótulos da nossa relação.
Você me tornou um homem possessivo.
— Eu gosto disso — confesso. — Acho quente sua
possessividade.
— Você não comeu na faculdade. Está a muitas horas sem
comer — ele diz ficando de pé e caminhando para a cozinha. —
O que quer comer, Ava?
— Qualquer coisa que leve o seu tempero. Eu senti falta
disso — digo ficando de pé e então caminho até a bancada,
debruçando sobre ela. — Me surpreenda, chefe.
— Surpreenderei, Atriz Pornô. Surpreenderei com algo fácil
e leve. Pode ser? Não estou com cabeça para cozinhar hoje.
— Está com cabeça para quê, Piroca Baby? — pergunto e
ele dá a volta no balcão, me enlaça pela cintura e me beija.
— Estou feliz por tê-la de volta, Ava. Tudo esteve apagado
sem você.
— Senti sua falta — falo. — Eu estive com meus irmãos,
foram dias bons, mas você esteve comigo, em meus
pensamentos e eu senti falta da nossa rotina, senti falta de vê-lo
cozinhar, senti falta de vê-lo dormir, senti falta do seu toque, do
seu carinho. Eu senti falta de você, muito.
— Você precisa comer.
— Isso pode esperar alguns minutos? Eu preciso de você.
— Seus olhos encontram os meus e vejo a indecisão passar
entre eles. Não estou com fome agora. Não há como estar. Ele
sorri e se afasta.
— Vamos comer, mocinha. — O puxo pela camisa e seu
corpo bate contra o meu. — Ava...
— Eu não consigo resistir a você agora. — Ele fixa seus
olhos novamente aos meus e eles passeiam furtivamente pelos
meus lábios. — Por favor.
Sua boca avança sobre a minha de uma maneira que me
faz sorrir entre o beijo. A fome dele por mim é a mesma que
fome que nutro por ele. Ele sai me arrastando pela casa, sem
parar nosso beijo, um tanto desesperado, mais do que estava no
corredor, quando fomos interrompidos.
Na porta do quarto, suas mãos deslizam pela minha bunda
de maneira fervorosa. Sua boca deixa a minha a desce para
meu pescoço, num beijo que me deixa de pernas bambas. Eu
agarro a barra de sua camisa e ele se afasta permitindo que eu
a retire. Eu amo esse corpo incrível e tatuado. É a imagem da
perfeição diante de mim. Suas mãos tornam a reivindicar meu
corpo e eu me entrego a ele, por completo, para que seja feito o
que ele bem entender comigo. Qualquer coisa. Eu darei a ele
qualquer coisa que queira de mim.
Ele desliza o fecho do meu vestido e a peça cai aos meus
pés. Como de costume, se afasta e analisa minha lingerie,
enquanto me livro do sapato. Meu Piroca Baby, gosta muito
disso.
— Meu Deus, Ava! Você ainda irá me matar — ele diz e
desliza um dedo indo do meu decote até a minha calcinha. —
Cada pedacinho de você é meu.
— Sim.
— Eu quero deitá-la na cama, abrir as suas pernas, sentir
seu corpo sob o meu, tocar você. Quero sentir nossos corpos
unidos, quero estar enterrado em você Ava, bem fundo. — O
puxo pela calça e ele sorri. Abro o botão e deslizo o fecho,
enquanto ele chuta o tênis para longe, juntamente com as
meias. Ele permite que eu deslize a calça dele para baixo e
então desliza a cueca, ficando completamente nu. Eu sinto meu
coração tomar um novo ritmo, ao mesmo tempo que um arrepio
percorre minha espinha. Tesão. O mais puro tesão que pode
existir. Ele desliza meu body pelos meus braços delicadamente
enquanto beija a minha boca e eu me desvencilho da peça
rapidamente. Estou nua, não apenas por estar sem roupa, mas
por estar cem por cento entregue. Gabriel me despe o corpo e a
alma com seu jeito intenso de ser.
Suas mãos deslizam pela minha cintura e ele me vira,
guiando-me até a cama. Sinto a beirada dela bater atrás dos
meus joelhos e sou pega em seus braços para ele me conduzir
até o centro da cama. Ele me deita delicadamente e eu jogo
meus braços para trás, o observando deslizar seus olhos por
todo meu corpo.
— Você é perfeita, Ava. Eu gostaria de registrar essa
imagem, tem ideia do quão linda você está com esses lábios
vermelhos, esse rosto que exprime luxúria, esse corpo feito para
me enlouquecer? — Ele traz suas mãos aos meus seios e os
aperta cuidadosamente, eu engulo a seco, tentando não me
contorcer ou me mostrar no mais alto nível de desespero. —
Olha esses seios, eu sou completamente apaixonado por eles.
São tão grandes, sob medida. — Ele aperta meus mamilos entre
seus dedos e eu ofego. — Que tesão, Ava. Você me deixa com
tanto tesão, meu amor. — Essa atenção completa aos meus
seios, envia ondas de calor por todo meu corpo.
— Eu quero você em mim.
— Você está com tesão, meu amor? Muito tesão, não é
mesmo? — Balanço a minha cabeça afirmando e ele desliza
dois dedos pela minha barriga e alcança minha intimidade.
Ofego quando ele toca meu clitóris e ele sorri. — Até aqui é
linda. Linda, delicada e quente — elogia e então lentamente
desliza seus dedos para dentro de mim, soltando um gemido em
apreciação. — Deus, você é tão apertada meu amor. Olha como
aperta meus dedos. Tem ideia de como me sinto quando tenho
meu pau em você?
— Misericórdia, Gabriel. Você deveria parar de me testar.
— Abre mais essas pernas para mim? Quero brincar com
você — pede. — Não pressione, deixe vir, meu amor. Deixa-me
tocar você. — Ele força e eu me abro mais para ele. Levo
minhas mãos em meus cabelos e fecho os olhos, ficando irritada
por ter meu desejo de tê-lo adiado por alguns minutos. Mas ele
me toca tão bem... tão deliciosamente, que me pego gemendo e
pedindo mais. Ele leva seus dedos tão fundo e toca num ponto
tão delicado, que todo meu corpo começa a tremer. — Abra os
olhos para mim Ava, vamos lá meu amor, quero ver seus olhos.
Eu os abro e é uma imagem bastante erótica observar o
desejo em seu rosto enquanto ele me toca. Tudo piora quando
ele retira os dedos e passa a fazer movimentos circulares em
meus clitóris. Eu agarro meus cabelos, o lençol da cama, eu
enlouqueço.
— Para, por favor... vem dentro de mim... — peço com
lágrimas nos olhos. Eu estou chorando de tesão, merda,
chorando...
— Diga o que você quer que eu faça, eu quero ouvi-la me
pedindo.
— Eu quero que você me foda, Gabriel, bem forte.
— Você quer forte? — pergunta se encaixando entre
minhas pernas.
— Sim — digo em concordância enquanto ele brica de
passear com sua ereção em minha entrada. Levo minhas mãos
para seus quadris e ele sorri quando tento puxá-lo. Ele empurra
de uma só vez, deslizando e então para. Eu o sinto pulsar dentro
de mim e isso é enlouquecedor.
— Você sente isso?
— Sim, sinto.
— É por você. É assim que você me deixa – fala e sai de
mim. — Você está tão molhada, olha como deixou meu pau.
— Gabriel, você não é tão falante e provocador —
repreendo choramingando e ele torna a me penetrar e me deixar
vazia. Eu começo a chorar. As lágrimas escorrem dos meus
olhos livremente e ele volta a penetrar e retirar. Eu luto para
conter o soluço e ele apenas não me dá o que quero.
— Você está chorando de tesão, amor. — Ele enfia
novamente e eu contraio meus músculos, tentando mantê-lo
dentro, preso. — Puta merda, se você fizer isso novamente eu
vou gozar.
— Por favor, pare de me torturar — peço e ele inclina seu
corpo sobre o meu, apoiando os cotovelos acima dos meus
ombros e completamente dentro de mim, até a última
extremidade. Ele balança seus quadris e eu impulsiono minhas
pélvis para cima. Sua boca reivindica a minha, num beijo
alucinante que combina perfeitamente com o novo ritmo da
brincadeira. Eu mantenho minhas pernas bem abertas para
recebê-lo e contraio a cada fricção deliciosa que seu pau faz
dentro de mim. Nem mesmo o ar passa entre nós. Meu noivo.
Ele me dá tudo o que eu precisava, eu senti tanta falta de tê-lo
em mim.
A cada estocada eu sinto a pressão dentro de mim crescer
e meu corpo se preparar para um orgasmo. Movimento abaixo
dele, buscando o alívio, buscando tudo que ele pode me dar.
Gabriel captura minhas mãos, e entrelaça nossos dedos acima
da minha cabeça.
— Eu te amo — diz em minha boca.
— Eu te amo.
— Me dá o que quero — pede girando seus quadris mais
fortemente, arremetendo fundo, duro e rápido. — Me dá, Ava.
Eu quero que goze agora, meu amor. Bem gostoso. Geme e
goza.
— Deus... você... — Eu me sinto em plena queda livre,
como se estivesse sendo jogada de um penhasco gigantesco.
Eu tenho um orgasmo avassalador que me faz perder a mente.
Fecho os meus olhos, aperto suas mãos e deixo meu corpo
explodir de todas as maneiras possíveis, em um dos orgasmos
mais intensos que já tive em toda minha vida.
Gabriel é dono do meu prazer. Ele parece saber exatamente
como manipular meu corpo. Ele torna-se mais frenético e morde
meu ombro, indo fundo e rápido, até obter seu próprio prazer. O
meu orgasmo parece infinito. Todo meu corpo treme, em
compasso com o dele. Eu não sei o que é mais incrível: senti-lo
pulsar em mim ou ouvi-lo gemer, ofegar, de tesão. Ele me beija,
um beijo sem língua, apenas para tentar conter as sensações.
Isso foi devastador, intenso, incrível.
Demora um pouco para as sensações diminuírem e, quando
acontece, ele descansa o corpo sobre o meu, e eu brinco em
seus cabelos. Eu quero chorar novamente, mas, ao invés disso,
o abraço tão forte quanto consigo.
— Eu te amo muito, Piroca Baby. Muito. Nunca duvide
disso.
— Minha.
— Sua.
— Meus. — Sorrio. Caramba, por alguns minutos eu
esqueci que estou grávida.
— É, agora é no plural.
— Eu comprei presentes para o nosso bebê — ele diz se
afastando, rolando para o lado. — Mas não vou te mostrar
agora. Primeiro vamos tomar um banho, comer algo e eu te
mostrarei.
— Isso é tão doce, Gabriel.
— Eu estou apaixonado por você e por essa novidade, Ava.
— Você me fez mãe. — Sorrio com lágrimas nos olhos.
— Você me fez pai.
Raramente acordo bem humorada. Porém, hoje é um
desses dias raros, onde acordo, abro os olhos juntamente com
um enorme sorriso, em uma perfeita sincronia. Nada melhor que
uma boa noite e uma excelente madrugada de sexo. Mas acho
que hoje, em especial, meu bom humor não se trata apenas de
sexo. Estou acordando no quarto do meu noivo, na cama do
meu noivo e, após longos dias, estou me sentindo em casa. É
estranho se sentir mais em casa na casa do noivo, do que na
própria casa? É tão gostoso. Seria ainda mais se Gabriel
estivesse na cama, mas ele não está.
Vou até o banheiro, escovo meus dentes, visto uma camisa
de Gabriel e então vou em busca dele. O ouço rir e conversar
com alguém, mas não o encontro. Então caminho até a área da
piscina e o vejo, gostoso demais. Eu o quero na cama, agora.
— Mas é óbvio que vocês estão em um relacionamento —
ele está dizendo para Luma e Davi, que estão na piscina do meu
apartamento.
— Não estamos, não é mesmo Davi? — Eu reviro os olhos
ao ouvir a voz da minha irmã. Quando foi que invertemos o
papel? Porque estou vivendo em um mundo de arco íris,
enquanto ela resolveu ser uma tirana.
— Iremos conversar como adultos hoje à noite — Davi diz e
eu arqueia as sobrancelhas em orgulho. Fico um pouco
embasbacada com a maturidade dele e de Gabriel, eles são tão
jovens, e tão adultos ao mesmo tempo.
Gabriel me encontra e sorri amplamente.
— Bom dia — fala vindo até mim e eu o puxo pela bermuda.
— Ei, ei, ei, calma. — Esbraveja e eu continuo o puxando até o
quarto. Chuto a porta com o pé e o jogo na cama. — O que te
deu Ava? — ele questiona rindo enquanto me desfaço da
camisa, ficando nua.
Deslizo pela cama e puxo a bermuda, juntamente com a
cueca dele. Então sorrio, com todas as intenções melhores na
mente. É hora de acordar o que quero e preciso, e é exatamente
isso que faço quando o levo em minha boca.
Gabriel se mantém silencioso enquanto o chupo. Ele enfia
as duas mãos entre meus cabelos, contribuindo assim para um
melhor desempenho meu. Meu Piroca Baby, apenas observa eu
fazer a mágica em seu corpo, sem expressar qualquer som. Isso
me faz pegar mais pesado, porém Gabriel sabe ser genioso
quando quer e ele decidiu que hoje vai fingir não estar
impactado o bastante. Apenas o corpo dele que está
demonstrando o tesão.
Quando ele está grande, duro o bastante, eu deslizo beijos
pela sua barriga e seu peitoral, indo rumo à sua boca, então ele
solta meus cabelos.
Alcanço sua boca, suas mãos deslizam pela minha cintura,
em um aperto firme, capaz de deixar marcas. Nossas partes
necessitadas se encontram e eu me esfrego em sua ereção
como uma devassa descontrolada. Não sei o que deu em mim
essa manhã, mas eu gostaria de passar o dia inteiro nessa
cama com Gabriel, transando incansavelmente. Eu senti falta
dele, definitivamente eu senti. Nada que estou tendo dele parece
o suficiente.
Ele guia meu corpo ao dele, e a conexão fantástica
acontece. Eu levo minhas mãos em minha cabeça, fecho os
olhos e solto um som de apreciação, tamanho prazer que sinto
em tê-lo dentro de mim. Todo o meu poder se esvai e Gabriel é
quem passa a controlar, porque eu estou mais interessada no
sentir agora. A boca dele desliza pelo meu pescoço e alcança
um dos meus seios, eu apoio as mãos em seus ombros e
observo como sua boca fica fantástica em torno do meu mamilo.
Após dar a devida atenção aos meus seios, seus olhos
encontram os meus e sua boca captura a minha, num beijo
deliciosamente quente. Ele me abraça e apoia suas mãos em
meus ombros, impulsionando meu corpo para baixo e
transformando uma fricção deliciosa. Não demora muito para
que eu esteja gozando e, quando acontece, ele me vira,
deixando-me de quatro e se apossa novamente do meu corpo,
dessa vez de uma maneira mais selvagem e menos delicada. Eu
fico com meu rosto na cama, minhas mãos agarrando os lençóis
e completamente empinada para ele, da maneira como ele
gosta. E quando ele me preenche com seu prazer, eu sorrio ao
sentir jogando seu corpo contra o meu. Eu simplesmente amo
isso, porque ele beija minhas costas, alcança meu rosto e sua
respiração ofegante fica diretamente em meu ouvido. Eu relaxo
meu corpo, então, deitado sobre mim ele torna a movimentar-se.
Arregalo os olhos ao perceber que ele está completamente rijo
novamente, dentro de mim. Ele geme em meu ouvido e eu
respondo com um gemido, completamente perdida. Esse
homem não pode ser de Deus... ele afasta meus cabelos e beija
minha nuca enquanto me fode com vigor, me dando um outro
orgasmo e gozando em seguida.
Eu permaneço deitada como estava, incapaz de mover.
Estou bamba e até mesmo sonolenta agora. Gabriel exterminou
com a minha energia.
Ele beija minhas costas e então está fora de mim. Só tenho
forças para virar a cabeça de lado a observá-lo de pé ao lado da
cama.
— Vamos, Ava, banho. — Convida me oferecendo uma
mão.
— Não... quero dormir.
— Há uma bagunça dupla dentro de você, vamos lá. Um
banho na hidro, então trocarei o lençol para você poder voltar a
dormir. — Eu cubro a minha cabeça com um travesseiro e ele
me pega em seus braços, como se eu fosse um bebê.
Ele me coloca dentro da hidro e então a liga. Jatos de água
surgem para todos os lados e ele ri do meu desespero. Quando
há água o suficiente eu mergulho, tentando manter meus olhos
abertos e espantar a moleza. Quem espanta é Gabriel, ao entrar
na hidro com sabão e começar a me levar.
— Apenas não faça isso, Piroca Baby — peço. — Isso entre
nós está começando a ficar doentio.
— Só estou te dando banho.
— Não, você sabe disso. — Ele morde meu ombro e beija
meu pescoço.
— Sou viciado em você, Atriz Pornô. — Me viro de frente
para ele e sorrio antes de beijá-lo intensamente, de maneira que
fazem calafrios deslizarem por todo meu corpo. Só para quando
estou sem fôlego, entorpecida pela magia do meu Piroca Baby.
— Te amo. — Prova — digo brincando e ele arqueia a
sobrancelha.
— Provarei. — Sorri enquanto bagunço os cabelos dele. —
Hoje à tarde iremos ver nosso bebê pela primeira vez, estou
ansioso.
— Também estou ansiosa.
— Será que teremos gêmeos? — questiona beijando minha
bochecha em seguida.
— Eu sinto que isso pode acontecer.
— Seremos bons pais, Ava. Um ou dois, três, não importa.
Sairemos muito bem como pais. — Sorrio emocionada. —
Chorona. Quero me casar com você logo. Há muitas coisas para
decidirmos.
— Decidiremos, assim que eu dormi um pouco mais.
— Dorminhoca. Não sei se deixarei você dormir, estou
animado. — Eu mordo meu lábio e olho para baixo, confirmando
sua animação.
— Está muito animado essa manhã...
— Estava calmo, até minha noiva acordar me puxando para
o quarto. Sua ação trouxe uma reação, o que faremos agora? —
pergunta de um jeito fofo e eu o abraço forte.
— Amor.
— Amor? Você quer amor carinhoso?
— Sim. Gosto quando você é carinhoso — confesso.
— Então te darei todo o meu carinho, ok?
— Sim, quero isso. — Ele me afasta o suficiente para me
beijar e então ele me dá muito carinho. Ele transcende e
intensifica o que fizemos mais cedo, ele me ama, lentamente.
Puta que pariu, que mulher gostosa!
Eu acho que ela está fazendo de propósito, apenas para me
deixar maluco. Ou talvez não seja nada disso, sua sedução
parece tão natural. Ela simplesmente é sexy até cozinhando. O
rosto dele é sexy, o corpo, o modo como se mexe, a maneira
como ela chupa o dedo provando a massa do bolo de chocolate.
Eu acho que nunca estive tão duro.
Todos os dias eu fico confuso entre coisas que me levaram
a ser apaixonado por ela a ponto de casar e ter cinco filhos. Por
exemplo, já me peguei umas cinco vezes tendo certeza que me
apaixonei por ela ser gostosa. Mas aí ela tem atitudes que me
levam a crer que me apaixonei muito mais pela beleza interior,
porque Victória é uma mulher fantástica.
Ela cuida tão bem de mim, que às vezes sinto vontade de
inventar alguma doença só para tê-la mais perto. Então eu a
ouço falando com nossos filhos ao telefone e ela é sempre tão
carinhosa e dócil. Essa mulher parece ser uma excepcional mãe
e uma esposa fantástica. Fora o senso de humor... Ela é muito
engraçada, espirituosa e tenta levar humor até mesmo para
situações caóticas, como a que vivo agora.
Fingindo assistir TV, a observo limpar a cozinha e então ela
surge, com um sorriso fantástico em seu rosto perfeito.
— Ei, seu bolo já está no forno, vou apenas tomar um
banho porque estou com calor — informa e eu fico como um
imbecil, boquiaberto, sem conseguir dizer qualquer palavra. —
Matheus?
— Oi.
— Eu vou tomar banho, ok?
— Ok — concordo.
— Precisa de algo? — Por que eu tenho a leva a impressão
de que ela está dizendo numa maneira sugestiva?
— Não, estou bem — respondo e ela sorri.
— Ok, se está tudo bem... — diz indo para o quarto. Eu me
sento direito e esfrego meu rosto com as mãos. Eu só queria
lembrar de tudo. Queria lembrar dela para poder voltar a ter o
mínimo de intimidade. É ruim para caralho não lembrar de
absolutamente nada e, ainda assim, ela parecer tão familiar para
mim.
Caminho para o quarto e encontro a porta do banheiro
aberta. Pondero se devo ou não entrar. A curiosidade de vê-la
completamente nua vence e, como um maldito pervertido, me
pego invadindo o banheiro cuidadosamente para observá-la.
Eu quase solto um som de desespero com a cena, até
mesmo levo a mão em meu peito. Puta que pariu, a mulher vai
muito além da perfeição. Ela está de costas, embaixo da ducha,
lavando seus cabelos. O corpo dela é tão perfeito, tão simétrico.
Suas curvas, sua pele, seus cabelos. Eu me pego invejando
todas as milhares de gotículas d'água que estão escorrendo por
cada parte dela.
Com os olhos fechados, ela se vira de frente e é
exatamente aí que o desespero aumenta. Os seios dela são a
visão do próprio paraíso, eu gostaria de mergulhar entre eles,
reivindicar cada um de seus mamilos.
Desço meu olhar e no ventre dela há um risco, que prova
que ela passou por alguma cirurgia, provavelmente ela teve
nossos filhos de cesariana. Eu não sei o motivo, mas essa
marquinha me atrai absurdamente. Descendo mais o olhar eu
encontro sua buceta lisa e escondida. Na verdade, nem mesmo
dá para enxergar muito, tamanha delicadeza.
Sentindo-me um invasor, deixo o banheiro, pego uma roupa
e vou para o banheiro social, tomar um banho. Ao tirar minha
roupa, meu pau salta duro, a glande brilhando de excitação. Eu
engulo a seco ligando a ducha e luto contra a vontade de me
tocar. Cada parte do meu corpo que lavo, está completamente
desperta, meu pau está latejando, contraindo sem eu nem
mesmo forçá-lo. Suspiro frustrado e dou um soco na parede,
consumido pela raiva de não conseguir lembrar quem eu me
tornei e toda a minha relação com aquela mulher. Eu a quero tão
insanamente, como eu nunca quis qualquer outra garota. Não
me recordo de já ter estado tão afetado por uma mulher.
Excitado já fiquei centenas de vezes, mas isso que estou
sentindo dói. É um desejo tão forte, que machuca, que me faz
faltar o ar.
Preciso fazer algo, ou vou agir com Victória como um
homem não deveria agir e não será bonito, será selvagem,
errado pra caralho. Como será que era nosso sexo? Será que
havia algo selvagem ou sempre foi amor? Eu nem sei como ela
gosta de ser tocada ou tratada na cama. Esses pensamentos
me fazem socar a parede mais uma vez e antes que eu possa
controlar, minha mão está envolvida em torno do meu pau e eu
estou me tocando rápido e forte. Imagens de Victória nua
dançam em minha mente. Eu a vejo nua, vejo seus lábios
entreabertos, seus olhos fechados, ouço seus gemidos, quase
posso sentir sua buceta moendo em meu pau. Eu gozo tão
rápido e tão intensamente, que me pego chorando no fim. Apoio
minhas duas mãos na parede, abaixo a minha cabeça e permito-
me chorar por ser tão fraco, que nem mesmo a minha memória
eu consigo recuperar.
Eu gostaria de fazer tantas coisas com aquela mulher e
apenas não posso, por medo, por insegurança, por um monte de
fatores. Gostaria de poder abraçá-la com frequência, mas nunca
faço porque não sei como será aceitação. Gostaria de beijar
ocasionalmente, mas o receio sempre diz mais alto. Me
mantenho afastado por medo de mim e medo dela. Por medo de
fazê-la sofrer, de tudo não passar apenas de algo superficial,
tesão. A mulher é tão boa e tão fantástica, que não posso
brincar com os sentimentos dela, isso para mim é inadmissível.
Mas eu a desejo. A desejo mais do que desejo o oxigênio. A
desejo como um insano e não estou conseguindo mais segurar
isso.
Só que eu preciso segurar. Eu preciso descobrir quem
somos juntos, preciso retomar a minha maldita memória, que
insiste em não aparecer.
Fecho a ducha, me enxugo e troco de roupa. Fico mais
alguns minutos no banheiro, tentando ocultar meu choro. Então
eu saio e ela já está na cozinha, com os cabelos levemente
molhados, uma saia curta e uma blusa que deixa um decote
generoso. É roupa de ficar em casa, mas de alguma forma, é
uma tortura do caralho para a atual situação em que me
encontro.
— Theus, está pronto! — ela diz animada. — Coloquei
muito brigadeiro em cima, como você gosta.
— Vic, me desculpa, mas não estou com fome agora. Posso
comer depois? — pergunto me acomodando no sofá, meu fiel
escudeiro. Ela faz um biquinho e eu mordo meu lábio de
desespero. Então a filha de uma boa mãe parte uma fatia e se
aproxima de mim. Ela se acomoda no braço do sofá e estica seu
corpo para próximo do meu. Até o perfume dela é fodido.
— Só uma provinha para eu saber que está bom, por
favor... — pede trazendo uma colher com um pedaço de bolo
coberto de brigadeiro. Não há como negar, então permito que
ela me dê e puta que pariu, essa mulher sabe fazer bolo.
— Porra, isso está muito bom. — Elogio.
— Sim, mas o seu preferido é meu bolo de cenoura, porém,
não tínhamos cenoura e teve que ser esse, que você também
adora — diz levando uma colher em sua boca. Virgem Maria,
retira isso de mim, pelo amor de Deus. Tira essa mulher do meu
sistema. Acho que preciso sair de casa um pouco, sem ela...
O canto da sua boca suja de brigadeiro e ela passa um
dedo limpando e o leva em sua boca. Mais uma vez estou duro,
quase que automaticamente.
— Ficou realmente bom. Você quer mais? — pergunta
trazendo outra colher cheia até minha boca e eu aceito.
Comemos assim e eu pego o prato de sua mão para levar até a
cozinha e levá-lo.
— Eu lavo, não precisa se incomodar — diz vindo atrás de
mim e eu finjo não ouvir. — Matheus Albuquerque.
— É só um prato, eu posso levá-lo, não estou doente. Não
cem por cento. Aliás, por que eu tenho uma cicatriz no peito? —
Ela para de sorrir e engole a seco.
— Theus, ainda não...
— Só me diga como consegui isso.
— Você levou um tiro — diz e eu arregalo os olhos. — Era
para pegar em mim, então você entrou na frente e o levou em
meu lugar. Eu estava grávida do nosso segundo filho, Victor.
Havíamos chegado da lua de mel, em Dubai.
— Nós fomos para Dubai? — pergunto.
— Sim, mas é como se não tivéssemos ido — fala corando
e balança a cabeça, como se estivesse tentando apagar
memórias.
— Por quê? Por que é como se não tivéssemos ido?
— Porque mal saímos do quarto. — Sorrio. É impossível
isso ter acontecido.
— Eu estou falando sério — Digo a ela.
— Eu também — fala com firmeza. — Matheus, acho que
nenhum casal normal consegue ter a quantidade de sexo que
nós dois temos. — Ela suspira. — Foder é nosso esporte
favorito. — Eu deixo o prato cair dentro da pia ao ouvir as
palavras. Apoio minhas mãos e respiro fundo. Ela se afasta e
num impulso a puxo pelo braço. Inverto nossas posições a
grudando na pia, levanto sua saia e permito que minha mão
explore sua bunda fantástica enquanto beijo sua boca.
— Quero foder você — digo em seu ouvido. — Me faça
lembrar como é foder você — peço e ela desliza uma mão até
minha ereção. Eu jogo tudo que está na pia nos atrapalhando
para o chão. O som de vidros estilhaçando não é nada perto do
gemido que ela dá quando grudo mais nossos corpos.
Ela está abrindo minha bermuda quando a campainha toca.
Eu me afasto assustado e ela fica ofegante. Merda, o que diabos
eu estava fazendo? Graças a Deus fomos interrompidos, porra,
porra, porra!
— Eu preciso de um minuto — informo a deixando só e me
tranco no banheiro.
Seja quem for que está na porta, eu ODEIO muito neste
momento. ÓDIO ETERNO! Eu estava perto de ter um momento
épico com meu marido desmemoriado e então esse inferno de
campainha toca. Eu quero chorar de rolar no chão, mas apenas
respiro fundo, endireito minha saia, minha blusa, meus cabelos e
vou atender a porta como uma dama perfeita.
A abro e Victor entra, me pegando em seus braços fortes,
como de costume.
— Coisa mais linda da minha vida!!! — ele diz beijando meu
rosto e eu sorrio o abraçando.
— Amor da minha vida todinha.
— Estou com saudades, eu te amo dona Vic.
— Eu também amo você, mais do que amo a mim mesma
— digo e sou arrancada dos braços dele por um Matheus
desesperado. Levo minhas duas mãos à boca quando Matheus
dá um mata-leão em Victor. Preciso agir. Eu entro no meio da
confusão e tento tirar Matheus de cima de Victor, mas o homem
tem um excesso de força que nem mesmo Victor consegue lutar
com ele.
— Matheus, pare! Você vai matá-lo!!! — grito tentando tirá-
lo a todo custo e ele apenas não o solta.
— Ele tocou em você! Você é... eu não gosto que toquem
em você... eu odeio isso... — Theus grita com lágrimas nos
olhos. — Você é minha, minha, para sempre minha. — As
palavras quase me fazem sorrir de alegria, mas meu filho está
sob o poder insano dele e eu preciso salvá-lo.
— Ele é nosso filho — digo e só isso o faz diminuir a força.
Ele olha para Victor assustado, diria que seu rosto acabou de
perder a cor. — Está tudo bem, ele me tocou porque eu sou a
mãe dele, compreende? E você é o pai... ele é um dos nossos
filhos, Theus. — Matheus o solta e leva as mãos na cabeça,
completamente desesperado.
— Vic...— ele me chama em um pedido de socorro que faz
meu coração errar algumas batidas. Eu o abraço, tentando
acalmá-lo e ele me segura como se eu fosse sua salvação
completa.
— Está tudo bem, está tudo bem, ok? — digo e ele me
abraça mais apertado que nunca, chorando desesperadamente.
— Pai, está tudo bem, cara. Eu compreendo que você não
se lembra, está tudo certo. Só não lutei com o senhor ou revidei,
porque eu nunca faria isso — nosso filho diz nos abraçando e
aos poucos ele vai me empurrando para ficar apenas ele e
Matheus. Victor parece seguro do que está fazendo. Ele captura
Matheus e meus olhos enchem de lágrimas quando vejo meu
marido o abraçando de volta.
Deus... eu achava que seria fácil e divertido, mas apenas
está ficando difícil, cada vez mais.
— Ei pai, está tudo bem, cara.
— Me desculpa, eu não fazia ideia... — Theus diz se
afastando dele e se acomodando no sofá. — Merda, eu não
aguento mais viver dessa maneira. A pior sensação da vida e
você saber que já viveu algo e não conseguir ter uma única
memória. Eu não aguento mais isso, não aguento.
— Theus, você vai se lembrar, ok? Já, já tudo vai
normalizar, meu amor — falo me ajoelhando aos pés dele. —
Você vai lembrar meu amor. Você pode não se lembrar agora,
mas as pessoas que te amam se lembram. Nós estamos aqui
com você e por você, sempre. Tudo bem?
— Tudo — ele responde como uma criança, como o meu
Theus.
— Ei pai, vamos em algum lugar tomar umas cervejas,
trocar umas ideias e nos conhecermos novamente? — Victor
propõe para o meu desespero. Embora eu saiba que Matheus
precisa disso, meu lado egoísta dá as caras. Eu vejo a dúvida
dançando nos olhos do meu marido e eu quero simplesmente
sumir ou perder a memória junto com ele, apenas para sentir-me
tão insegura como me sinto agora.
O meu filho é um homem adulto e forte...
Isso é tão louco. Eu me sinto com dezessete anos, mas
nem mesmo meu filho tem dezessete anos. Ele é um homem
completo e estou chocado. Eu ia matá-lo e então eis a palavra
mágica “filho”. Maldição.
— Ei pai, vamos em algum lugar tomar umas cervejas,
trocar umas ideias e nos conhecermos novamente? — ele
propõe e eu vejo o desespero na cara de Victória.
— Não! — ela exclama ficando de pé. — Não, não e não,
Victor. — Não compreendo. — Ele...— Gagueja. — Ele perdeu a
memória. Ele sequer se lembra que me ama... — diz. — E se...
e se ele conhece alguém? E se... — Merda. Ela está insegura,
está com medo, está sofrendo por mim. — Eu não consigo...
— Mãe, eu sou seu filho, filho dele, você acha que eu
permitiria algo desse tipo? Só quero me aproximar do meu pai
novamente, mãe. Você não precisa lidar sozinha com tudo, você
tem a mim, aos meus irmãos. Sei que não está fácil para você,
inclusive permiti que vocês ficassem nessa bolha, mas já
pensou que, meu pai conviver com mais pessoas, pode ser de
grande ajuda para ele recuperar a memória? — Eu sou um
espectador, antenado num diálogo mãe e filho. Esse rapaz é
meu filho mesmo. O garoto é foda, não que eu seja foda, mas
ele é foda. Se eu morrer, sei que Victória estará bem amparada,
isso dá um alívio filho da puta. — Mãe, eu sei que você é forte
pra caralho, mas ninguém é tão forte dessa maneira. Está
pesado, você está sofrendo, está insegura. Então permita que
eu te ajude, por favor. Eu quero conversar meu pai, quero saber
tudo sobre ele, como foram os últimos dias. Ele é meu pai, mãe.
Ele é o marido da minha mãe e eu nunca na vida vi amor como
o amor de vocês dois. Ele pode estar sem memória, mas sei que
ele te ama e você sabe disso também, porque o amor de vocês
é tão forte, que é um amor de alma e isso memória alguma
consegue apagar.
Vic soluça e as lágrimas escorrem dos meus olhos por vê-la
tão desolada. Eu não sei o que fazer, inferno. Eu queria tirar
toda a dor dela. Eu...
Isso é amor.
Victor a abraça, tentando consolá-la. Ela chora tão forte, tão
alto, tão desesperadamente. E eu não consigo mais lidar com
isso, não consigo lidar com o fato de que, involuntariamente,
estou fazendo uma mulher sofrer. Não consigo lidar com o fato
de que eu estava indo socar meu filho.
Eu pego minha carteira sobre a mesa e saio sem rumo.
Preciso respirar, preciso de espaço, preciso ficar sozinho.
Estou dando uma corrida pela areia da praia, sozinho,
pensando em um pouco na quantidade absurda de
acontecimentos que vivi no último mês. Não é fácil, por mais
forte e resiliente que eu tenha me tornado, é impossível não
sentir o peso de tudo. É pesado. Meu passado é extremamente
pesado, feio e sofrido. É algo que eu não tinha o costume de
relembrar, até Vic surgir novamente em minha vida.
Tenho tentado encarar tudo como o acerto de contas final.
Pensar dessa maneira é muito melhor, mais prático e menos
doloroso. Além do mais, tenho uma super incentivadora raivosa
do meu lado e, esse simples fato, é o maior de todos os meus
incentivos.
Estou distraído o bastante em meus pensamentos, quando
uma figura familiar surge no meu campo de visão, fazendo algo
que me deixa em estado de alerta. Qual é da vida ficar
colocando-os no meu caminho? Pergunto ao céu em busca de
resposta, mas o máximo que vou conseguir é levar uma cagada
de algum pássaro.
Matheus está subindo uma enorme pedra e eu temo que
seja mais um tentando acabar com a própria vida. Por isso,
caminho cuidadosamente atrás dele e suspiro aliviado quando
ele apenas se senta e passa a observar o mar. Ele
definitivamente não está bem. Parece perdido, em todos os
sentidos.
Pondero se devo ir bancar o bom samaritano ou se devo
apenas descer e ir embora. Mas, me conhecendo bem, sei que
não conseguirei ir embora de qualquer maneira. Vai que ele
cima de se jogar aqui do alto? Porra, desde quando eu virei um
salva vidas? Talvez eu deva fazer um curso e passe a ficar aqui
na praia, à espreita, buscando suicidas.
Respiro fundo e decido me aproximar.
— Matheus? — o chamo e ele me encara de uma maneira
estranha. Claro. Ele perdeu a memória e nem mesmo sabe
quem sou.
— Eu conheço você? — Dou um sorriso fraco. Deve ser
difícil demais perder a memória e o controle da própria vida.
— Bom, o que posso dizer? — Penso em voz alta. Eu
deveria dizer que eu e Victória tivemos uma quantidade
generosa de sexo no passado? Devo dizer que nosso passado é
fodido e que ele me odeia? Não. Eu não devo dizer qualquer
uma dessas merdas. Quem sabe nós possamos nos aproximar?
Porra, compartilharemos netos. — Sou sogro da sua filha. — Ele
olha para o mar assim que digo, com a tristeza explicita em seu
rosto.
— Então você deve ser meu amigo. — Merda! Se ele
soubesse o quanto somos amigos... inferno. Está visível que ele
precisa de um amigo. Talvez eu possa ajudá-lo de alguma
maneira. Talvez possamos ser amigos ao menos enquanto a
memória dele não volta.
— Se você precisa de um amigo, eu estou aqui. — Respiro
fundo e me acomodo ao lado dele. — Diga cara, o que está
pegando?
— Me ajude a descobrir quem sou? — pede para a minha
surpresa e abaixa a cabeça. Quão idiota vocês dirão que sou se
eu disser que meus olhos acabaram de encher de lágrimas? O
cara está fodido, numa situação fodida.
— Você não se lembra de nada, não é mesmo?
— A única coisa que me parece familiar é Victória, nada
além dela. Eu quase matei meu filho minutos atrás, porque eu
achei que ele estava interessado dela. Mas eu também não
consigo me lembrar dela, entende? Ela só me parece familiar,
aquela sensação de lar? Eu sinto quando estou com ela, mas
não lembro, nada surge na mente. Eu já tentei de tudo — ele diz
levando as mãos na cabeça. — Eu só queria lembrar da minha
esposa, dos meus filhos, nada além disso.
— Eu imagino que deve ser difícil, mas vamos olhar por
outro ângulo? Você acredita em Deus?
— Claro que acredito — ele afirma.
— E se essa é uma oportunidade de você recomeçar? Por
que não tentar levar as coisas para esse lado ao invés de ficar
lutando contra a própria mente para recuperar memórias? Já
pensou que na tentativa de recuperá-las, você está deixando de
construir novas memórias? — Caralho, que diabos eu estou
falando? Isso faz sentido, não faz?
— Como assim?
— Por que você não finge que está conhecendo todos
agora? Leve as coisas pelo lado mais leve, ao invés de
perseguir o mais difícil, talvez, dessa forma, sua mente coopere.
Por exemplo, vamos falar de Vic — digo e ele me encara atento.
— Ela é muito bonita, não é mesmo?
— Porra... — diz esfregando o rosto.
— Pois é. — Sorrio. — Que tal você tentar conhecê-la
novamente? Que tal um namoro? Cara, se fosse eu na sua
situação, eu iria querer conhecer todos os meus parentes e
meus amigos novamente. Minha esposa certamente me
conduziria para esse lado, ao invés da busca constante para
recuperar meu passado. Imagina o tanto de coisas divertidas
você terá vivido até recuperar sua história?
— Você está propondo que eu peça Victória em namoro?
— Estou propondo que você a conquiste com seu eu do
passado, aquele garoto de dezessete anos que está na sua
mente e que hoje é um homem. Acho que com dezessete anos
você não tinha muitas possibilidades, hoje você tem grana,
poder. Use isso. A conquiste, leve-a para jantar, uma viagem.
— Mas eu não sei o que sinto por ela.
— Eu acho que você sabe, Matheus. Caso contrário você
não estaria aqui, tão preocupado em recuperar sua memória
para poder lembrar dela e dos seus filhos. — Ele volta a olhar
para o mar. — Pare de tentar descobrir todas as coisas e siga
seu coração. Me diga, o que seu coração está pedindo?
— Victória. — O cara é mesmo louco por ela. Nem a perda
de memória destruiu o sentimento. Chego a estar arrepiado pra
caralho.
— Conquiste ela. Tenha o prazer de conhecê-la mais uma
vez. Imagina que louco, pode apagar tudo e recomeçar? Não
estou dizendo sobre seu caso, mas cara, eu queria perder a
minha memória do dia que nasci até meus trinta e quatro anos.
Eu sinto que minha vida começou quando conheci a minha
esposa, antes dela tudo foi fodido pra caralho — confidencio. —
No seu caso, você teve uma infância foda, pais fodas, uma
adolescência normal e incrível. Sua memória apagou desde o
momento em que conheceu Vic. Use isso a seu favor então.
Tenha o prazer de conhecer a sua esposa mais uma vez e
descobrir porque ela é o grande amor da sua vida. Deve ser
foda você ir a reconhecendo e compreendendo mais uma vez
todos os motivos que o levaram a se apaixonar.
— Eu não havia pensado nisso.
— Faça o mesmo com seus filhos. Combine algo com eles,
torne-se amigo, conheça-os como amigos em potencial e saiba
o motivo pelo qual eles te admiram tanto. Matheus, com
dezessete anos você tinha planos, projetos e sonhos. Acredito
que você sonhava com o homem que queria ser. Porque você
não aproveita que em sua mente você está com dezessete anos
e recomeça buscando ser tudo que você sonhava? O que eu
posso dizer é que sua vida é muito incrível. Você ama sua
esposa, ama seus filhos, é um homem foda que conquistou
muitas coisas. Você se orgulharia do homem que é, certamente.
— Eu tenho medo de machucá-la.
— Você não precisa ter medo, só precisa tem em mente
quatro coisas: primeiro, você tornou- se um homem excepcional.
Segundo, Victória te ama mais do que ama a si própria. Terceiro,
seus filhos te veem como um super herói deles, sua família ama
você. E quarto, volte ao primeiro, você tornou-se um homem
excepcional. Isso é tudo.
— Eu sou bom?
— Certamente você é, Matheus. Eu acho que, na atual
circunstância, isso é tudo que você precisa ter mente, ao invés
de ficar se matando buscando o passado. Saber que somos
bons significa muito e eu acredito que é nisso que deve focar.
Você é bom, então esqueça o passado e foque no seu presente,
no seu coração, siga os instintos, conheça novamente seus
familiares e, principalmente, conheça Victória. Vale a pena para
caralho — digo e ele balança a cabeça em compreensão.
— Ela me ama.
— Oh, meu caro, você não faz ideia do quanto. Com todas
as forças que ela possui.
— Eu a amo. — Não é uma pergunta. Isso me faz sorrir e
ficar emocionado mais uma vez.
— É isso aí. Pra caralho. — Ele me dá um abraço
inesperado e eu demoro alguns segundos para retribuir. Porra!
Eu odeio esse homem, porque ele está me fazendo chorar como
um garotinho. Eu tenho tanto para dizer a ele, e simplesmente
não posso.
— Eu acho que você é o meu melhor amigo, não é?
— Nem perto, Matheus. Mas eu gostaria de ser um dia. —
Ele franze a testa e eu limpo meu rosto.
— Seu filho faz a minha filha feliz?
— Eles se amam e terão um bebê em breve. — Sorrio.
— Eu serei avô?
— Eu acredito que sua primogênita já tenha te dado netos,
mas você será avô novamente — explico e ele sorri.
— Porra, eu... não tenho dezessete anos.
— Não mesmo — brinco. — Você está se sente bem agora?
— Você me deu novas perspectivas. Estou infinitamente
melhor do que estava quando cheguei. — Suspira. — Quando
eu cheguei, estava certo que não voltaria para casa. Eu só iria
voltar quando obtivesse minha memória de volta.
— Isso faria Victória sofrer pra caralho.
— Eu sei. Eu não quero fazê-la sofrer — diz. — Mas, agora
estou ansioso para voltar para casa. Quero vê-la e tentar fazer
algo para conhecê-la. Porém, não sei como chegar em casa
também. Simplesmente vim andando sem rumo e encontrei a
praia. Isso me incomoda pra caralho, porque não tenho mais
controle sobre nada, inclusive sobre o meu presente.
— É como se você tivesse acabado de mudar para uma
cidade nova e precisa aprender onde fica a padaria, o mercado,
quais ruas te levam mais rápido à determinados lugares. —
Sorrio. — É normal, cara. Apenas pare de pressionar a si
mesmo, porque isso pode atrapalhar na sua recuperação. Pense
que é só uma fase e, já que é uma fase, aproveite ela. Crie
memórias.
— Você pode me levar embora?
— Pra já! — Fico de pé e ele se levanta também.
Descemos a pedra, caminhamos pelo calçadão até eu
encontrar meu carro. Essa vida é muito louca mesmo, puta
merda, olha com quem estou. Puta que pariu, Pinscher vai dar
três ataques cardíacos quando souber. Não é forçado. Eu estou
apenas agindo com meu coração e o meu coração diz que
preciso ajudá-lo.
Entro no condomínio dele e Vic está na portaria do prédio,
sentada de cabeça baixa.
— Eu a faço sofrer.
— Não. Você não faz. Você jamais faria qualquer coisa que
a fizesse sofrer. Você a ama, Matheus — digo. — Vamos lá, vou
falar com ela. Lembre-se de tudo que falei na praia e ponha em
prática, ok? — Ele balança a cabeça em concordância e
descemos do carro. Vic levanta sua cabeça e me encara
chocada.
— Túlio?
— Vim trazer seu marido. — Sorrio.
— Ele é o meu melhor amigo, Vic. Ele diz que não, mas eu
sinto que ele é. — Vic leva as duas mãos à boca.
— Túlio! — ela exclama e vem me abraçar. — Obrigada por
tê-lo encontrado, obrigada.
— Nós tivemos uma conversa legal, eu acho que as coisas
vão se ajustar a partir de agora — digo baixo em seu ouvido. —
Eu só queria te dizer algo que talvez alivie um pouco o que você
está sentindo. Algo que ele me disse.
— O que ele disse? — ela pergunta esperançosa.
— Ele disse que te ama, Vic. — Ela solta um soluço. — Não
chore, você vai assustá-lo, ok? Ele está confuso pra caralho,
mas está bem melhor agora. Me ligue sempre que precisar.
Tentarei aparecer com frequência, porque parece que ele confia
em mim agora.
— Muito obrigada, Túlio, muito obrigada.
— Não tem que agradecer. Vá lá, acho que ele tem umas
propostas aí... — falo me afastando e Matheus me puxa para um
abraço.
— Obrigado por ter conversado comigo, cara. Eu realmente
gosto de você, porque você me trouxe novas perspectivas e eu
irei prossegui-las.
— Faça isso, amigo. Menos razão, mais coração. Você não
está sozinho, não precisa lutar sozinho. Estarei aqui sempre que
precisar de um amigo.
— Ei, talvez possamos levar nossas garotas no cinema
juntos. O que acha? — Sorrio e Vic também.
— Acho uma ideia genial, me ligue para combinarmos, ok?
Vic tem meu número.
— Ok, ligarei. — Ele sorri. — Obrigado novamente. Você é
grande. — Essas palavras me fazem arquear as sobrancelhas,
mas apenas balanço a cabeça, incrédulo. Isso deve ser fruto da
minha imaginação.
É com lágrimas nos olhos que eu dirijo até meu
apartamento e é com lágrimas nos olhos que eu caio de joelhos
aos pés da minha esposa e choro. Ele não se lembra de mim,
mas, de alguma maneira, eu me sinto liberto.
Eu tenho um novo amigo, até que ele recupere a memória e
se lembre de quem eu sou.
— Estou ansioso — confesso enquanto dirijo para o
consultório, onde Ava fará a primeira ultrassonografia.
— Sim, você está, mais nervoso que eu — ela diz rindo. —
Por que está tão nervoso?
— Não sei explicar. É a minha primeira experiência, então é
um universo novo e desconhecido. É a primeira vez que teremos
a espécie de um contato com nosso bebê, acho que isso torna
as coisas realmente reais — explico.
— Eu acho que não estou tão assustada mais. Talvez você
esteja assim um pouco pela idade, o que é super compreensível.
Estou perto de completar trinta anos de idade, já sou um pouco
mais experiente em algumas situações, independente por
completo. Eu sinto que posso fazer isso. Há algo em mim que
talvez você ainda não conheça.
— O quê? — pergunto. — Conheço muito de você em
pouco tempo. — Sorrio.
— Sou competitiva, comigo mesma. Por esse motivo, eu
farei o melhor para a maternidade ser perfeita, não aceito ser
menos que ser a melhor mãe. — E é exatamente isso que vai
acontecer, porque Ava é teimosa, perseverante e decidida. Ela é
um mulherão, mesmo tendo seus momentos de pura
imaturidade, a maturidade dela sobressai e a torna incrível pra
caralho. — Você também será um pai incrível, Piroca Baby, não
tema.
— Temos algo em comum. Sou competitivo comigo mesmo,
serei o melhor pai para nosso bebê.
— Eu sei que sim. — Ela sorri depositando uma mão em
minha coxa. Apenas sorrio e ganho um aperto. Essa mulher me
atenta o bastante. É incrível seu potencial de me levar de um
extremo ao outro. O toque dela não é mais um simples toque. É
sempre intencional, porque ela gosta de me manter muito ligado,
o tempo todo.
Quando chegamos no consultório, a ansiedade aumenta.
Eu sou o pai nervoso, que fica andando de um lado para o outro.
Não quero imaginar quando for o parto, eu provavelmente
precisarei de uma maca só para mim.
Passam ao menos vinte minutos até sermos chamados. Ava
é prontamente enviada para se preparar para uma tal de
ultrassonografia transvaginal e eu me acomodo em uma cadeira,
tenso.
— Temos aqui a imagem de um pai de primeira viagem — a
médica, doutora Lia, diz sorrindo.
— Sim, eu sou esse homem. — Sorrio.
— Que sorriso lindo! — Ela elogia. É uma senhora, de uns
cinquenta anos, então sei que ela está dizendo de maneira
carinhosa. — Ava é maravilhosa, você também, essa criança
será magnífica.
— Quero seja saudável, essa é minha única preocupação
— digo e ela sorri.
— Vamos cuidar para que seja. — Ava surge e se acomoda
em uma mesa ginecológica, é tudo muito estranho e eu fico
apenas observando o desenrolar da situação.
A doutora explica o procedimento e então introduz o
aparelho em minha Atriz Pornô. Ava faz uma careta e eu mordo
meu lábio de nervoso. Então passo a acompanhar o telão à
nossa frente, um espectador atento. Uma bolinha surge e eu
arregalo os olhos.
— Aqui está! — a doutora informa e faz alguns
procedimentos para que consigamos ver melhor. E ali está ele,
realmente.
— É um bebê só! — Ava exclama. — Ou estou errada
doutora?
— Está certa, Ava. Há apenas um embrião.
— Não chame meu filho de embrião — repreendo. — É tão
bonitinho.
— É lindo, mesmo não conseguindo ver o bastante. — Ava
sorri feliz da vida e eu sorrio também. Que sensação surreal,
porra. Eu não esperava que fosse assim. Nunca senti nada
parecido antes e ele ainda está apenas na barriga de Ava.
— É real agora, papai? — Ava questiona enquanto o som
de batimentos cardíacos invade o espaço. Nada é mais perfeito
que ouvir as batidas do coração do nosso bebê. Nem mesmo os
gemidos de Ava, que tanto me enlouquecem, chegam perto
dessa maravilha. A vida é muito louca, há uma outra vida dentro
da minha noiva. Fruto de muita loucura e insaciabilidade. É
louco que o sexo seja capaz de transformar a vida de todas as
maneiras possíveis.
— Muito real — digo emocionado, levando minha mão em
sua barriga. — Nosso bebê. — Sorrio.
— Nosso.
— Quando saberemos o sexo? — questiono à doutora.
— Pelo método tradicional, por volta da décima sexta
semana, mas vocês podem fazer a sexagem fetal, porém, eu
não indico.
— Oh não, vamos esperar. Acho que a espera será incrível,
e você piro... Gabriel? — Ava pergunta.
— Eu escolho esperar. — Sorrio. A doutora perde um tempo
nos explicando diversas coisas, responde a diversas dúvidas e a
consulta dura pelo menos 1 hora.
Saímos do consultório com uma lista de exames, algumas
vitaminas e mais pés no chão do que quando chegamos.
Ava vai para seu apartamento e eu sigo para o meu. Estou
devidamente anestesiado quando caminho pela enorme
cobertura, onde vivi toda a minha infância. Em cada canto que
olho, consigo obter lembranças especiais, isso me faz sorrir,
porque agora eu cresci, terei um filho ou uma filha e seria o
homem mais feliz do mundo se tivesse a chance de criar meu
filho aqui, no mesmo ambiente em que fui criado com amor.
Entro no meu antigo quarto da adolescência, me acomodo
em minha antiga cama de solteiro e a imagem de um quarto de
bebê surge em minha mente. A imaginação flui com muita
facilidade e eu consigo ver um mini ser humano tomando conta
de tudo.
Caralho, constatar o quão rápido a vida passa é assustador.
Eu queria que o tempo fosse mais devagar, para curtir esses
momentos com toda intensidade e aproveitar cada segundo.
Mas o tempo é um tanto quanto traidor.
Após ficar perdido em pensamentos por um tempo, levanto
e vou direto para o banho, me preparar para mais um dia de
estudos que certamente não será bem proveitoso. Estou aéreo e
acho que essa sensação vai durar por um período.

Mas o aéreo passa rápido demais quando encontro o ex de


Ava a esperando na universidade. Eu não sei lidar com o
sentimento de posse, é novo para mim.
Ava sabe disso.
Eu gostaria de compreender o motivo pelo qual Davi está
me olhando da forma como está. É estranho. Está grande parte
do dia me olhando de maneira misteriosa, avaliativa, como se
estivesse analisando cada respiração minha. Sem contar que
ele está bastante silencioso, com um ar de mistério e
monossilábico, de uma maneira que ele não costuma ser.
Davi é leve, brincalhão, divertido, fala pelos cotovelos,
inventa loucuras do nada. Já essa versão que ele está hoje, é
um pouco chata e desconcertante.
Estou na sala quando ele surge pronto para ir para a
faculdade.
— Luma, estou indo — diz sério e eu franzo a testa, o
observando. Definitivamente não ficarei aqui o aguardando. Vou
para o apartamento de Ava, porque lá é o meu lugar. Não posso
permanecer quando Davi está esquisito.
— Eu vou para casa — informo ficando de pé. — Vou
apenas pegar minhas coisas. — Ele diz coisas e eu finjo não
escutar.
Homens também têm TPM, tenho experiência o bastante
para saber disso. E, a TPM masculina, consegue ser pior que a
feminina. É surreal e surpreendente. Aprenda, quando seu
parceiro estiver de TPM, se afaste, releve as palavras, finja
demência ou vocês vão brigar. Agora, se você é o tipo de mulher
que gosta de uma boa briga, tipo a minha irmã, provoque, grite,
confronte; a colheita do mal é certa.
Eu já sou o tipo pacífica, que gosta de paz e amor, por isso
me calo, finjo que nem estou vendo nada, muito menos notando
a TPM. Pego minha bolsa, algumas roupas que estão no closet
dele e então sigo de volta para a sala.
— Por que pegou todas as suas coisas?
— Não peguei todas as minhas coisas. Ainda há muitas
delas no seu banheiro e no seu closet — explico. — Falamos
depois, ok? — digo roubando um beijo dele e abrindo a porta.
Antes que eu possa sair ele me puxa, fazendo com que todas as
coisas que estão na minha mão caiam. — Davi! — repreendo e
olho para seu rosto. A beleza dele desconhece limites, credo.
Ele é muito, muito, bonito. O rosto dele é perfeito pra caralho.
Ele me dá um beijo um tanto quanto desesperado e então
se afasta repentinamente.
— Sabe, eu nunca acreditei nas palavras do meu pai — diz
passando as mãos no rosto, demonstrando um certo
nervosismo.
— Quais são as palavras que você nunca acreditou? —
pergunto curiosa, me apoiando na mesa atrás de mim. Um calor
de repente...
— Que uma mulher tem o poder de desestruturar um
homem, de modificar tudo. — Arqueio a sobrancelha,
incentivando que continue a falar e tentando compreender onde
ele quer chegar.
— Eu te desestruturo? É isso?
— Pra caralho — afirma. — Sou um apenas um cara de
vinte e um anos de idade, na universidade ainda. Minha vida até
te conhecer resumia-se em baladas, bebidas, sexo sem
compromisso. Eu não tinha compromisso algum, exceto com a
faculdade e o abrigo do meu pai. Aí te conheci e rolou uma
atração mediata. Ficamos uma primeira vez e você se tornou
parte da minha vida desde então, por que somos compatíveis
pra caralho, tanto na cama quanto em todos os demais fatores.
Você é alegre, animada, nós dois curtimos baladas juntos,
somos excelentes amigos, amantes, você é leve, é positivista, e
surreal. Você é surreal, Luma, eu gosto muito de você, você nem
mesmo compreenderia. — Meus olhos enchem de lágrimas,
porque acho excessivamente fofo a maneira como ele está
dizendo. — Porém...
— Porém?
— Porém você parece inalcançável, mesmo estando sob o
mesmo teto que eu. Eu sinto que não sou capaz de te alcançar o
suficiente. Não compreendo sua mente às vezes, porque todas
as vezes que sugiro formalizar nossa relação, você apenas foge
disso. — Eu permaneço em silêncio. — Sábado haverá um
jantar, meus pais pensam que nós somos namorados, que
temos um relacionamento sério e eu não quero mentir para eles.
Preciso que me explique, Luma. Estamos morando juntos,
praticamente, e não somos namorados. Como funciona a sua
mente?
Eu sou uma mulher que vive no mundo dos sonhos. Sou
assim desde criança, vivo no lúdico, no mundo da imaginação e
já me ferrei centenas de vezes por conta disso. Minha irmã não
mentiu ao dizer que minha vida se parece como um conto de
fadas e que sempre me fodo. Eu sempre me fodo! Isso é
inquestionável. Eu só não quero me foder com Davi, por isso
acho que não devemos ir tão rápido assim... mesmo que já
estejamos rápido. Creio que o status possa mudar as coisas,
porque muda.
— Não precisamos de um status, estamos ficando e as
coisas estão fluindo bem da maneira como estamos conduzindo
— argumento.
— Luma, estamos ficando e morando sob o mesmo teto?
Como funciona? Estamos tendo uma rotina de casal casado.
Não estou te propondo casamento ou noivado, mas quero que
seja a minha namorada.
— Eu não consigo pensar nisso ainda, você está me
pressionando. — Ele suspira frustrado e pega minhas coisas no
chão.
— É a terceira vez que falamos sobre isso e nunca saímos
bem dessa conversa, nada muda. É maçante para você,
sufocante e é doloroso para mim. Então, Luma, nós teremos que
mudar algumas coisas na nossa rotina. Agiremos como ficantes,
cada um em seu canto, cada um levando a vida da forma como
quer e ficamos quando der vontade ou surgir oportunidade. Você
permanece solteira e eu também, vida que segue. Está bom
assim para você? Essa “roupa” não me cabe mais. Esse nosso
arranjo não me cabe mais. Compreende? — fala com seriedade.
— Estou indo para a faculdade — informa entregando minhas
coisas.
Ele pega a mochila, a joga em um ombro e fica com a porta
aberta, esperando a minha saída. Eu faço a caminhada da
vergonha, sentindo como se ele estivesse me expulsando. Eu
pego o elevador rumo à cobertura e ele desce pela escadaria.
Entro no apartamento e desabado em cima da cama. Eu
choro por diversas coisas, os últimos dias não têm sido fácil.
Tenho tentado me manter firme, mas os acontecimentos estão
me engolindo. Sinto falta do meu pai, sinto falta de poder estar
próxima dele e da minha mãe. Eu espero que isso acabe logo e
eu possa me aproximar, para ter o acalento que só os dois são
capazes de me dar.
Pego meu celular e ligo para o meu segundo pai. Ele atende
prontamente.
— Meu amor.
— Victor, você pode vir dormir comigo hoje? — Ele nem
mesmo pensa duas vezes.
— Estou desmarcando um compromisso, chego aí em meia
hora, ok?
— Sim, eu te amo! — Sorrio entre lágrimas.
— Eu te amo mais, pequena geminha.

Meia hora em ponto, meu irmão chega com uma pizza em


mãos, uma sacola com refrigerante, sorvete e chocolate.
Nós dois montamos um acampamento na sala, assistimos
série e dormimos abraçados. Quando acordo percebo que há
mais uma pessoa grudada a nós: Ava. Isso me faz sorrir. Irmãos,
família, não existe nada mais perfeito que isso.
Vou preparar o café da manhã e sou surpreendida por um
abraço do meu irmão e um beijo carinhoso na cabeça.
— Bom dia, geminha. Quer conversar um pouco?
— Eu e Davi meio que terminamos, então juntou a fase que
nossa família está vivendo. Eu sinto falta do papai e da mamãe
— confesso com a voz embargada.
— Papai quase me matou — ele diz rindo. — Eu estava
com mamãe no colo, dizendo que eu a amo, então ele achou
que eu fosse algum concorrente, me deu um mata-leão. —
Arregalo os olhos enquanto ele ri. — Sabe a moral da história,
Luma? O que eu consegui compreender através do ato dele?
— Não.
— Há amores que nem mesmo o tempo ou a memória
conseguem apagar. Ou seja, quando as coisas têm que
acontecer, elas simplesmente acontecem e não adianta lutar
contra, nem mesmo a favor. Isso vale para você. Se você e Davi
estão passando por uma fase ruim, fique na sua, reflita, pense
nas suas atitudes, o deixe pensar nas atitudes dele. Se for para
acontecer, a vida vai se encarregar de colocá-los juntos. Basta
ter paciência. Respire fundo, vá fazer atividades porque tudo o
que você tem feito desde que chegou é viver em função de Davi.
Arrume uma academia, faça atividades físicas, pense no seu
consultório, arrume algo para ocupar a mente. Talvez seja isso
que você esteja precisando neste momento. Sair da bolha,
Luma, é sempre a melhor coisa que pode fazer por si mesma. —
Eu o amo tanto!
— Você gosta de alguma garota? — Ele sorri com a minha
pergunta.
— Eu gosto de infinitas garotas — diz. — Não quero me
prender, Luma. Há muitas coisas que são mais importantes para
mim do que um relacionamento sério. Relacionamentos não são
do meu interesse.
— Você nunca vai se amarrar a alguém? — Ele sorri
novamente.
— Não posso dizer a palavra nunca. As pessoas estão
sujeitas a mutações. Eu não sei quem eu serei daqui a alguns
anos, nem mesmo sei quem eu serei amanhã. Mas, meus
planos são não me envolver. Eu gosto de ser livre, aprecio a
liberdade, aprecio a solidão. Quando quero companhia, eu
simplesmente vou atrás, sem aquele compromisso diário, sem
dar satisfações e sem ser cobrado. Praticidade é o que busco na
minha vida. Sou imensamente feliz comigo mesmo. Eu acho que
todas as pessoas no mundo deveriam aprender a apreciar a
própria companhia. Não existe nada mais perfeito do que estar
só e se sentir feliz com a própria companhia. Não devemos ser
dependentes de qualquer pessoa na vida.
— Vou levar isso para a vida. — Sorrio o abraçando. —
Obrigada por vir e por todas as palavras.
— Eu por você, sempre.
— E eu por você! — Sorrio.
— Ninguém por mim? — Ava surge descabelada. — Merda,
parece que um trator me atropelou essa manhã — ela diz,
arregala os olhos e então sai correndo para mais uma sessão de
enjoo matinal. Eu e Victor ficamos rindo.
Matheus voltou diferente, de uma maneira que está me
deixando realmente intimidada. E eu posso afirmar a você,
jamais me intimido. As poucas vezes que me senti intimidada foi
por ele, lá num passado bastante distante e é surpreendente
que ele tenha a capacidade de conseguir me sentir dessa
maneira tantos anos depois. É tudo pela maneira como ele está
me olhando. Querendo ou não, com a perda de memória,
perdemos um pouco da intimidade, então é como se
estivéssemos nos redescobrindo. Tê-lo me olhando dessa
forma, me deixa até mesmo tímida e eu nem mesmo sou tímida,
principalmente com ele.
Contenho a vontade de rir de nervoso e me mantenho séria,
apenas sustentando seu olhar. Acho que nunca senti tantas
emoções em um único dia. Minutos atrás eu estava uma
completa desesperada, achando que ele não voltaria para casa
tão cedo, então surge Túlio com ele, e eles se tornam melhores
amigos nessa fase desmemoriada. Acho que terei que dispensar
Ricardo e buscar um tratamento mais eficaz depois de tudo isso.
Eu sinto que vou precisar de um psiquiatra, uma internação para
um tratamento de choque, porque definitivamente estou ficando
maluca já.
Quando o elevador chega à cobertura, saímos juntos e
ficamos presos na porta. Então ele se afasta e dá a passagem a
mim. É um tanto quanto engraçado. Em agradecimento, eu abro
a porta do apartamento e permito que ele entre primeiro.
— Eu quero te levar em um lugar — digo ao mesmo tempo
que ele diz:
— Eu quero marcar um almoço ou jantar com nossos filhos.
— Uau! — exclamo. — Você sente pronto para isso?
— Sim, eu quero conhecê-los e quero conhecer você. —
Surpresa é como me encontro agora.
— Você quer me conhecer?
— Sim. Estou interessado em você. — Estou pretérita mais
que perfeita e sem palavras. — Você... eu era bastante ativo nos
meus dezessete anos, não tinha problemas em chegar em
garotas, na verdade, minha desenvoltura era digna de prêmios.
Mas estou completamente desajeitado para falar com você,
porque você me intimida — confessa aumentando meu choque.
— Você me intimidava quando nos conhecemos?
— Você quer saber a história? — questiono e ele balança a
cabeça afirmativamente. — Ok, quer comer algo?
— Não.
— Tudo bem — digo me acomodando no sofá e ele se
senta ao meu lado, meio inclinado para me observar
atentamente. Intimidante é ele, merda. — Bom, você se
aproximou de mim como amigo. — Começo a contar. — Sua
irmã começou a se envolver com meu irmão e isso causou uma
aproximação da nossa família e de nós dois. Fizemos o terceiro
ano juntos.
— Eu estudei com você?
— Sim. Estudávamos na mesma escola, na mesma sala,
eu, você e Pietro, meu irmão gêmeo. Enfim, isso contribuiu para
uma aproximação maior. Mas, na verdade, nos conhecemos nas
férias de janeiro, quando você mudou para o Rio. Era sua
vizinha de cobertura. Por um período acreditei que você era meu
amigo gay.
— Gay?
— Sim, você era perfeito pra caralho e nenhum garoto
poderia ser tão perfeito dessa forma — admito. — Você me
ajudava até escolher roupas e eu era um pouco inocente para
não perceber que o fato de você me ajudar, era para poder
controlar a altura da minha saia, o tamanho do meu decote —
digo batendo uma mão na testa e rindo. — Achava que você
entendia de moda, porque as escolhas eram perfeitas.
— Deus, Victória, você está inventando essa merda — ele
afirma.
— Não. É a mais pura verdade. Você se fez de meu amigo
gay, mesmo nunca tendo dito que era gay e nem mesmo tendo o
tipo gay. Para falar a verdade você era bem masculino e lindo,
de morrer. Muito lindo mesmo. Era a atração por onde passava.
Enfim, é aí que a loucura começa, Matheus. Porque eu e você
sempre fomos muito loucos e intensos.
— Eu sinto a intensidade.
— Eu também, sua memória não conseguiu levar isso de
nós. — Ele suspira. — Bom, continuando. Meus pais tinham um
enorme abrigo para crianças, por isso sempre tínhamos muitos
bailes beneficentes. Eu precisava de um vestido novo e o
convidei para ir ao shopping comigo, você foi. — Sorrio. —
Matheus, todos os malditos vestidos que experimentei você
colocou defeito, dizendo que era ousado, que mostrava muito,
que deveria ser algo mais formal. Então você, pessoalmente,
correu até as araras de vestido e ficou perdido até encontrar o
vestido ideal. Eu o experimentei e foi ali que eu vi que você não
era gay, porque me olhava de uma forma nada gay. Porém, eu
preferi manter em minha mente que sim, você era gay, para a
minha própria sanidade. Para completar, você escolheu sapatos
e pagou tudo. Foi realmente lindo. Então, quando saímos da
loja, você parou no meio do corredor do shopping e me puxou
para um beijo cinematográfico, que me tirou o fôlego e bambeou
as minhas pernas. E você disse que sonhava com aquilo desde
o primeiro dia em que me viu. Então nós fomos para o cinema
e... — Eu esfrego meu rosto. — Deus, Matheus! As coisas
esquentaram muito, de uma intensidade capaz de incendiar o
mundo a nossa volta. O cinema estava vazio, aquilo contribuiu
bastante.
— Nós transamos num cinema de primeira?
— Nos beijávamos enlouquecidamente, eu não era virgem,
então estava desesperada. Você tocou meus seios, desceu suas
mãos para entre minhas pernas, eu estava de saia... e minha
mão tinha vida própria, dentro da sua bermuda. Você deslizou
pela cadeira e abriu minhas pernas, então me chupou.
— Pelo amor de Deus, Victória! — ele exclama e eu estou
com um tesão desesperador agora. — Isso é como um conto
erótico.
— Eu chupei você logo em seguida. Você gozou na minha
boca...
— Maldição... eu não quero saber mais.
— Ok. Te agradeço.
— Nós transamos dentro do cinema? — ele pergunta
mesmo dizendo que não queria saber mais.
— Não. Na escadaria do prédio, quando chegamos do
cinema. — Ele abre a boca surpreso e eu mordo meu lábio. —
Eu... você queria calma, queria me respeitar. Eu não queria
respeito. Queria foder com você, desesperadamente. E você
ficou assustado, mesmo estando a fim. Eu fiz todo o trabalho...
— Como assim? Como você fez todo o trabalho? Eu era
experto quanto tinha essa idade.
— Eu era mais. — Isso o deixa chocado. — O joguei
sentado em um degrau e montei em você, enlouquecidamente.
— Vou gozar na cueca... Maldição.
— Mas, na verdade, eu realmente preciso de algo e estava
indo te convidar — digo e ele me encara, colocando uma
almofada sobre suas pernas, tentando cobrir a ereção.
— Me convidar?
— Eu preciso de um vestido, urgente. Há um baile
beneficente sábado e, como moramos na Califórnia, eu não
trouxe vestidos para a ocasião. — É verdade, há mesmo um
baile. — Eu preciso ir ao shopping comprar algo. Sempre que
quero comprar roupas assim, o convido para ir comigo, porque
você possui um ótimo gosto. Você pode vir comigo, Matheus?
Podemos assistir um filme no cinema depois, para você distrair
um pouco a mente de todos os acontecimentos.
— Podemos jantar depois? Eu iria convidá-la para um
encontro. Sou rico.
— Muito rico, de uma maneira que não sabe quanto
dinheiro possui. — Ele arqueia as sobrancelhas.
— Isso é bom, não é? Eu posso levá-la para muitos lugares.
— Theus inocente é muito fofo.
— Exatamente. — Sorrio. — Por falar nisso, vou te passar
as senhas dos seus cartões — digo ficando de pé e correndo até
o quarto, onde pego a carteira dele. Anoto em um papel as
senhas, que são todas a nossa data de casamento. Quando
volto a sala, ele está de pé e é impossível não observar o pacote
acordado entre as pernas dele. — Aqui está.
— Nós vamos ao shopping agora?
— Sim, se você não tiver nada em mente. — Maldição de
homem.
— Preciso apenas de um banho — ele informa.
— Eu também preciso. — Ele arqueia as sobrancelhas. —
Em outro banheiro, tomar banho...
— Ok. — Ele se vai e eu mando uma mensagem para Victor
dizendo que o pai está em casa, sã e salvo. Vou direto para o
banho e me sinto uma diaba desvirtuando Matheus. Eu o quero
e não suporto mais esperar.
Cinquenta minutos depois estamos andando pelo shopping,
sem dar as mãos. É estranho. Eu odeio que ele atraia olhares
excessivos. Se ele atraía quando tinha dezessete anos, imagine
agora? Sendo um homão feito...
A loja que comprei o vestido anos atrás, não existe mais.
Porém, felizmente encontro uma loja de vestidos e decido que é
ela o local ideal.
Três atendentes vêm me atender e eu me pergunto se é por
mim e pelo fato de eu estar com um homão do caralho ao meu
lado. Isso é algo que eu já me acostumei, acontece todas as
vezes que vamos ao shopping.
— Boa tarde, quase noite. — Sorrio. — Preciso de um
vestido para um baile. Pode me mostrar alguns modelos?
— Claro, senhora — uma das atendentes diz sorridente. —
O senhor precisa de algo?
— Ele é meu marido, só precisa me ajudar na escolha —
digo tomando partido e elas se vão.
— Ei, você foi mal educada hein? — ele diz baixo.
— Não. Fui amorzinho, acredite. Até acho que é a vez que
mais estou sendo bem educada. — respondo o puxando pelo
braço rumo ao balcão, onde a atendente começa colocar vários
modelos de vestidos. Eu escolho cinco (os mais ousados que sei
que ele irá reprovar) e sigo para o provador. Matheus fica
sentado em uma cadeira de frente, aguardando, enquanto
experimento.
Visto o primeiro e quero rir. Coloco um salto bem alto que
estava no provador e abro a porta, fazendo uma pose sensual.
— Estou mesmo apaixonada por esse. Achei que ele ficou
perfeito — digo enquanto Matheus me devora com os olhos. —
Você gosta, Theus?
— Você deve estar de brincadeira com a minha cara,
Victória. Retire esse vestido, imediatamente — esbraveja e
então respira fundo. — Desculpe. Mas, enfim, acho que ele não
combina com a ocasião, por mais gostosa que você seja, não
rola. Ele mostra demais, acho que as pessoas vão recriminar...
Maldição, Vic, esse nem fodendo, compreende? — Olha, olha,
olha, a reação dele é mais intensa que no passado. Eu faço um
bico fingindo tristeza e fecho a porta.
O segundo é mais ousado, eu até improviso um rabo de
cavalo para mostrar mais. Eu jamais o usaria, mas enfim, eu
preciso testar meu marido. Quando abro a porta, ele me encara,
ficando vermelho.
— Eu prefiro esse ao primeiro, definitivamente. Acho que
tenho um corpo incrível, o que acha? Realmente me sinto
gostosa agora — provoco.
— Você está fazendo de propósito? Inferno Victória. Meus...
— Ele vai falar dos garotos? Deus, espero que ele diga sobre
isso. — Seus seios... Nem fodendo. Suas pernas... quase dá
para ver sua... Por Deus, Victória, você está tentando me matar?
É isso? — ele diz tão salto que até a atendente surge. — Eu vou
escolher o caralho do vestido, retire esse merda — avisa bravo
enquanto eu começo a passar mal de segurar a vontade de rir.
— Eu gostei. Minhas pernas estão me dando orgulho
agora...
— Meu pau! — ele grita para quem quer que esteja na loja
escutar. Fico o esperando até ele surgir com um vestido
fantástico em mãos. Preto, como o que ele escolheu da primeira
vez. — Vista esse, vamos testar. — Balanço a minha cabeça em
concordância e entro novamente no provador.
Eu visto o vestido e Matheus bate na porta. A abro e ele
apenas estende as mãos, me entregando um novo par de
sapatos e uma gargantilha. Quando eu digo que ele é perfeito, é
porque realmente é.
Visto tudo e percebo como cada peça adorna perfeitamente,
compondo o look. Estou boquiaberta.
Abro a porta e sou recebida por brilho nos olhos e um
sorriso de covinhas estonteante.
Ele arranha a garganta e se aproxima.
— Veja só Vic, você ainda está sexy pra caralho. Há uma
fenda em seu vestido — ele diz deslizando um dedo pela minha
coxa levemente exposta. — Mas é uma fenda que não expõe
tanto, é uma fenda que dá vontade de descobrir mais sobre o
que há por baixo. Não é algo agressivo aos olhos, é sutil e sexy.
— Engulo a seco. — Então, subindo, há um pouco de exposição
em sua cintura, mas também sutil, algo sensual e não vulgar.
Então há o decote, generoso, porém não exibe tanto dos seus
seios, é sexy, e novamente, sutil. A gargantilha combinou pra
caralho, assim como os sapatos delicados. O primeiro sapato
era agressivo o bastante, e você é delicada. Você está perfeita,
como uma dama. Sutil, sexy com moderação, e linda. Linda pra
caralho, Victória. Você parece ter roubado toda a beleza do
mundo para si, deixa tudo muito injusto para as demais
mulheres. Eu compreendo a cada dia o motivo pelo qual o meu
outro “eu” se apaixonou por você. É perfeita pra caralho, linda da
cabeça aos pés e internamente também.
— Theus...— chamo seu nome emocionada e ele me dá um
beijo na testa.
— Vá se trocar. — Balanço a cabeça em concordância e
vou. Estou emocionada e tenho que me esforçar para tirar o
vestido, a gargantilha e o sapato. Visto o vestido que vim,
minhas sandálias, pego minha bolsa e todas as peças que
trouxe ao provador. Matheus pega as que ficarei e vai pagar
enquanto eu fico sorrindo, tendo um flashback do passado bem
diante dos meus olhos.
Nós saímos da loja e ele vai carregando as sacolas.
— Você precisa de mais alguma coisa? — pergunta e eu
tenho uma ideia maquiavélica.
— Lingeries.
— É sério? Você vai experimentar lingeries, é isso? Merda
Vic! — Eu dou uma gargalhada e ele para de andar. Então tudo
acontece bem rápido, num segundo estou rindo, no outro ele
está me beijando, sem se importar com as centenas de pessoas
passando pelo local. Fico completamente tonta quando ele se
afasta, tentando manter a compostura. — Me desculpe por isso.
— Pelo amor de Deus, você não precisa pedir desculpas a
cada vez que me beijar.
— E agora? — ele pergunta desviando do assunto.
— Adoraria chupar... — Ele arregala os olhos e olha para
todos os lados. — Uma casquinha do Mc Donald's, antes de
irmos para o cinema.
— Você vai me matar antes dos trinta. — Eu começo a rir
novamente, porque ele já passou dos trinta há um bom tempo.
Pegamos uma casquinha mista do Mc Donald's e vamos
comendo até chegarmos no cinema. Eu até deixo que ele
escolha o filme, porque eu definitivamente não vou assistir.
O cinema está devidamente vazio quando buscamos nosso
lugar na última fileira. Há apenas mais uns cinco casais
espalhados lá para baixo e eu sorrio maquiavelicamente.
Matheus coloca as sacolas de compras numa cadeira vaga,
juntamente com a minha bolsa e eu me distraio com a pipoca,
esticando minhas pernas. Esse cinema é ultramoderno e os
assentos são tipo mini camas, é até mesmo reclinável. Uma
pequena fortuna que vale a pena.
Theus bebe sua coca, como se nada no mundo pudesse
abalá-lo e como se ele estivesse realmente de assistir ao filme.
Passam alguns minutos até que as luzes se apagam e eu sorrio,
feliz da vida. Eu olho para o meu marido e então ele me olha de
volta. Ele balança a cabeça em negação e repreensão quando
deixo o pote de pipoca de lado e o puxo pela camisa.
— Não, não mesmo. Não temos mais dezessete anos, Vic.
— Ele força se afastar e eu o puxo com mais força, grudando
minha boca á dele. Ele é Matheus Albuquerque, o fogo e a
intensidade ainda estão nele, por isso demora poucos minutos
até que ele esteja agindo, com as mãos em meus seios.
Sua boca desliza da minha e explora meu pescoço. O
Matheus atual é muito além de selvagem, bem diferente do
Matheus de dezessete anos. Eu acho difícil não fazermos sexo
no cinema dessa vez, mas eu tentarei controlar de qualquer
forma, porque quero fazer exatamente como no passado.
Suas mãos puxam meus seios para fora e ele suga cada
um dos meus mamilos por vez, de uma forma dolorosa e
deliciosa, eu tento conter meus gemidos, mas eles saem baixos,
mas saem. Antes fui eu quem botei para foder com ele, hoje é
ele quem está dominando tudo, porque o meu marido ainda está
aqui, nessa mente desmemoriada, perdido em algum lugar.
Matheus se move e o pote de pipoca cai, mas eu não estou
preocupada com isso agora, não quando uma mão esperta está
deslizando pela minha calcinha, a afastando e entrando em
contato com minha intimidade.
— Misericórdia, Victória, olha como você está molhada...
estou perdendo a minha mente. Estamos na porra de um
cinema. — Eu abro mais as pernas e ele geme. — Merda,
merda... você quer isso? Aqui? Quão maluca você é, inferno?
Você é completamente louca e insana.
— Eu sou o seu par na vida. Você é ainda mais louco que
eu, Matheus, acredite. — Ela cai de joelhos no chão, sobe mais
meu vestido e desliza sua língua lentamente pelo meu clitóris.
— Caralho! — exclama. — Quero comer você. Vamos
embora daqui.
— Logo. — Ele respira fundo e é preciso tudo de mim para
não gritar quando ele me come com sua boca, como uma
refeição suculenta e como se ele estivesse sentindo uma fome
absurda. Uma mão sobe ao meu seio e eu gostaria muito de
conseguir ver onde sua outra mão está. Mas ela logo das as
caras, deslizando pela minha entrada enquanto ele me chupa
com maestria. O meu orgasmo surge de maneira avassaladora,
foi um longo período sem Matheus me tocar. Contrações
involuntárias tomam conta de mim, tremores percorrem minha
barriga e todo restante do meu corpo, então fecho os olhos,
mordo meu lábio e gozo na boca do meu marido, agarrando
seus cabelos. Ele se afasta e sua boca vem até a minha, num
beijo abrasador que retribuo com fervor. É a minha vez. E eu
tomo partido do que quero.
Com as mãos fixadas em seus cabelos eu beijo seu
pescoço, vendo seu pomo de Adão subir e descer. Deslizo as
mãos para baixo e as enfio por dentro de sua camisa.
— Não Vic... Não faça isso... — ele implora quando alcanço
o fecho de sua bermuda e segura minhas mãos. — Não faça.
— Por favor, me dê isso. Eu preciso fazer, quero senti-lo
pulsar por mim, quero sentir que o que existe entre nós está
vivo. — Ele me solta e leva as mãos ao rosto.
— Eu estou morrendo, Victória — sussurra conforme
deslizo o fecho e abaixo sua cueca, o libertando.
A glande do seu incrível pau está molhada pelo líquido pré-
ejaculatório. Olho em seu rosto, ainda coberto pelas mãos e não
perco tempo. Primeiro passeio com a língua pela cabeça rosada,
provando um pouco do sabor tão viciante que só Matheus
possui. Ele faz um som de sofrimento e eu o chupo o quanto
consigo.
As mãos dele deixam seu rosto e descem até meus
cabelos. Matheus se rende ao prazer e até mesmo impulsiona
seu membro para minha boca.
— Você me deixa muito louco, pra caralho. — Eu faço a
minha melhor performance de sexo oral já vista na vida e meu
marido quase arranca meus cabelos quando goza em minha
boca. Como uma garota prendada, eu passo minha língua por
toda sua extensão, recolhendo todo e qualquer resquício que
sobrou. Então limpo o canto da boca com o polegar, dou um
sorriso e volto a me acomodar em meu lugar, como a dama
perfeita que sou. Inclusive pego o copo de Coca e bebo um
pouco.
— Odeio filmes de terror — comento enquanto ele me olha
boquiaberto.
Ele coloca seu objeto sexual para dentro da cueca, fecha a
bermuda, fica de pé, pega todas as sacolas, minha bolsa e me
oferece sua mão.
— O que foi, Theteus? Cansou do filme? — Ele não
responde e eu percebo que o modo Matheus Albuquerque
insano ainda existe também. O melhor a fazer é obedecê-lo
agora e eu faço com muito orgulho, sei que ser uma garota
obediente em situações sexuais é incrível.
Me arrumo rapidamente e saímos da seção cinema
apressados. Eu até mesmo tenho que ir correndo para conseguir
acompanhar os passos apressados dele. Ele pega a chave do
carro na minha bolsa e me entrega, para que eu dirija. Não diz
uma única palavra durante todo trajeto.
— Você está com raiva de mim? — pergunto quando
entramos no elevador do nosso prédio, sem minha bolsa e sem
as sacolas de compra. Há apenas a chave do apartamento e a
chave do carro.
— Eu fodo você sem camisinha? — Eu arrepio até os pelos
das sobrancelhas com o tom de voz dele.
— Sim — digo me abanando. Santa misériaaaaaaa.
O elevador para na cobertura e Matheus torna-se muito
louco, se livrando dos tênis no hall. Ele procura por algo e o
encontra, então me olha antes de retirar sua camisa e deixá-la
cair aos seus pés. Graças a Deus ninguém mora aqui mais,
amém Deus!
— Não! — eu grito quando ele está indo retirar a bermuda e
corro no cômodo onde ele está, fechando a porta atrás de nós.
— Você perdeu a mente? — questiono e sou jogada contra a
parede.
— Foi nessa escadaria? — pergunta. — Quando eu a fodi
pela primeira vez, foi aqui?
— Sim.
— Me mostre como foi, faça... — ele pede. — Mas se foi de
roupa, eu quero que fique nua dessa vez.
— Você está cedendo o controle? — Provoco deslizando
um dedo pelos seus lábios.
— Eu não faço isso?
— Raramente. — Sorrio. — Você gostar de estar no
controle e eu gosto que esteja. Gosto de ser sua submissa. Mas
eu sei algumas coisas... — digo o empurrando e o faço sentar
em um degrau após retirar sua bermuda. Eu fico no degrau de
baixo e subo meu vestido apenas para alcançar minha calcinha
e deslizá-la por minhas pernas. Ele tenta me tocar e eu o
repreendo. — Não me toque agora.
— Se eu quiser, irei tocá-la. Você é minha e eu estou
apaixonado por você. — Meus olhos nublam, porque consegui.
Eu consegui antes de 1 semana. Eu me torno submissa, minha
vontade é de me atirar nos braços dele e ter um pouco do seu
carinho, do seu amor. Mas eu foco na cena de anos atrás,
arranco toda a minha roupa e o monto para darmos uma pegada
muito quente. Suas mãos deslizam pelas minhas costas e meus
cabelos. Sua boca desce pelo meu pescoço e alcança meus
seios, então eu trato de libertá-lo de sua cueca. O pau dele salta
livre, ereto, entre nós e ele se afasta para observar o momento
onde eu o deslizo pela minha entrada. Pouco a pouco vou
descendo, deslizando tudo para dentro de mim. Matheus... eu
gostaria muito de gravar o rosto dele neste momento. É puro
tesão.
Quando ele está completamente dentro, eu apoio minhas
mãos em seus ombros e ofego, olhando em seus olhos.
— Foi assim? — ele pergunta com a voz embargada. —
Porque isso não se parece com uma foda agora, isso se parece
com o amor. Eu acho que sempre que alguém me perguntar o
que é amor, eu vou lembrar desse momento.
— Não foi assim. — Sorrio. — Foi selvagem.
— Mas eu acho que não quero mais nada selvagem. Assim
parece perfeito para mim, para nós. Você é muito além da
perfeição, Sardinhas Bonitinhas.
— Eu te amo tanto, Theus. Você é o dono do meu coração.
— E eu acho que você é dona do meu, porque eu acho que
em poucos segundos deixei de estar apaixonado. — Sorrio
beijando suas bochechas. — Serei bom para você, Vic.
— Você é o melhor do mundo, Matheus. Você é incrível,
insuperável e meu, até o meu último suspiro eu vou amar você.
— Ele me beija, desliza as mãos pela minha cintura e então pela
minha bunda. Ele impulsiona meu corpo para cima para baixo e
eu percebo que mesmo tentando imitar, o passado não me
pertence mais. Sou outra mulher agora, graças a esse homem.
Ele me salvou de tudo e eu sinto que essa é a chance que tenho
de salvá-lo de si mesmo.
Tudo agora faz sentido. No passado foi ele quem segurou
as minhas mãos e me ajudou a ter um encontro comigo mesma,
agora sou eu quem tenho que segurar as dele e ajudá-lo a se
reencontrar.
O sexo na escadaria aquela vez foi insano, selvagem. O
sexo de agora é nada mais do que puro amor. Lento, intenso,
apaixonado.
— Vou gozar Vic...
— Eu também.
— Vem comigo, fodi... fodida? Eu posso chamá-la assim ou
é agressivo?
— Sim, muito fodida. — Sorrio. — Fodida Sadgirl do seu
caralho.
— É isso. — Sorrio e ele toma um ritmo mais intenso, que
me faz conter o sorriso e gemer de prazer.
Gozamos juntos, sincronizados e ficamos abraçados na
escadaria por longos minutos, em um silêncio profundo. As
lágrimas descem dos meus olhos, me lembro de tudo que
vivemos no último mês, eu iria perder esse homem e ele está
aqui comigo. Ele é meu alicerce, meu coração, minha vida.
Ele ainda está aqui e eu ainda estou nos braços dele.

Ainda estamos abraçados quando Matheus solta um


gemido, me afasta e fica de pé.
Ele se veste enquanto eu fico paralisada, observando. O
vejo pegar minha bolsa, a chave do apartamento e ele
simplesmente sai. Algo está errado com ele agora e eu já
começo a me preparar para enfrentar o desafio que parece estar
vindo. Eu às vezes me sinto como uma muralha, uma fortaleza,
algo impossível de ser derrubado. Eu só não sei até quando
permanecerei dessa maneira, com uma resiliência que foge da
compreensão.
Eu me visto e vou em busca de compreender, então o pego
sentado no sofá, com uma foto de Isis quando era criança em
mãos. Ele lembra. Eu quero gritar de felicidade agora, mas há
um medo do caralho. Até onde ele se lembra? Eu não sei se
posso suportar lidar com o distanciamento dele novamente. Não
sei se posso passar por tudo novamente.
— Isis, Victor, Ava, Luma e então Lucca — diz. — Somos
casados, fodemos pra caralho mesmo. Parabéns, Vic. Nós
somos muito fodas!
— Assim, do nada? — questiono chocada. — Como isso
funciona?
— Minha cabeça parece prestes a explodir. Eu acho que
nunca senti tanta dor assim — ele diz deixando a foto de lado e
depositando as mãos na cabeça.
— Vá tomar um banho, eu pegarei alguns comprimidos —
digo um pouco desesperada, pisando em ovos por completo. Eu
achei que quando ele recuperasse a memória seria fantástico
pra caralho, mas ele está devidamente estranho.
Ele vai tomar banho no nosso quarto e eu tomo um banho
rápido no banheiro social. Pego os comprimidos, um copo de
água gelada e fico o esperando. Eu percebo que ele está de
volta quando surge de cueca na sala, bem Matheus. Ele toma os
remédios e se senta na mesa de centro, de frente para mim.
— Você não merece sofrer mais, Vic. Eu não devo falar
mais com você.
— Como?
— Há tantas coisas que eu preciso falar e apenas não
posso, porque vou causar dor a você — explica.
— Você se lembra de tudo? Isso é tão louco, Matheus, há
meia hora você achava que estávamos tendo nossa primeira vez
na escada. Terei que fazer um tratamento diferenciado com
Ricardo depois disso, porque eu quem estou confusa agora. É
assim? As memórias voltam do nada e você vira uma plenitude?
Eu deveria ter pesquisado sobre isso.
— Não há plenitude, Vic. Só me lembrei de algo que eu
mesmo deveria estar bloqueando. Acho que o sexo, a maneira
como foi... Eu achei que morreria dessa vez, Vic. De verdade.
Em poucos momentos de lucidez que tive, eu achei que morreria
— diz.
— Não.
— Eu estou com tanta dor de cabeça.
— Vai passar, meu amor — digo. Ele se levanta, me pega
em seus braços e nos conduz até nosso quarto; se deita e me
puxa para seus braços, ficando quietinho, como se quisesse
dormir. Respiro fundo, sentindo uma leve frustração, mas
sabendo que há uma necessidade de compreendê-lo, mesmo
que pareça confuso demais todas essas últimas reações.
Eu sou muito forte mesmo. Eu já conseguia enxergar minha
força, mas agora eu sinto que sou capaz de falar sobre ela. Só
sendo muito forte para conseguir lidar com todos os
acontecimentos. Minha força e minha fraqueza agora são de
Matheus: com ele eu me torno forte, sem ele eu me torno fraca.
Nem mesmo há uma linha tênue sobre isso.
Eu acabo adormecendo com ele, me apegando ao fato de
que meu Theus, meu marido que tanto amo, voltou a ser ele
mesmo.
Acordamos juntos, quando já é noite. Ele dá um sorriso
fraco ao me ver e me abraça muito forte.
— Se Deus me desse a oportunidade de fazer um pedido,
eu pediria a Ele que voltasse no passado e mudasse toda a sua
história. Independente de eu estar na sua vida ou não. Eu só
queria que você nunca tivesse passado pelas coisas que
passou. Só isso. Eu aceitaria perdê-la, se toda sua história
pudesse ser diferente. Aceitaria perdê-la só para você ser uma
garota feliz e ter apenas lembranças fantásticas sobre a vida –
fala. — Eu não sabia de todas as coisas, agora eu sei. E dói
tanto, mais do que doeu quando descobri parte da sua história.
A dor agora é quase incontrolável, insuportável.
— Eu queria que não doesse.
— Dói porque você é o meu coração todinho. — O abraço
mais apertado.
— Te conforta eu dizer que sou uma mulher muito feliz?
Que minha felicidade é graças a você? Que você me ama tanto
e me faz tão feliz que, meu passado perto disso nem mesmo
existiu?
— Conforta.
— Então temos que enterrar essa história de uma vez por
todas, Theus. Ela já estava enterrada para mim, até nossas
filhas se envolverem com Salvatores — digo. — Theus, você
precisa superar isso. Túlio não é um monstro. Nesses dias, você
esteve com ele, apenas você e ele.
Matheus me afasta, fica de pé e vai até o closet. Eu fico
deitada, esperando ver qual a próxima atitude estranha que ele
terá. Então ele surge arrumado.
— Matheus...
— Vou enterrar o passado.
— Como assim?
— Vou matar Túlio Salvatore — diz com naturalidade e eu
quase dou um infarto, saltando da cama.
— O quê?
— Relaxa, tenho uma pá e um álibi — diz caçando a chave
do carro. Me adianto, correndo na frente dele e escondendo. —
Vic, me dê a chave.
— Não, você não pode fazer merda, Matheus! Deus, eu só
queria um pouco de paz! — falo quase chorando e ele me pega
pela cintura.
— Como você deixou que eu o chamasse de amigo? Você
viu isso acontecer e não me disse nada.
— Você se lembra de tudo dos últimos dias? — pergunto
impactada e ele balança a cabeça confirmando. — Eu... tive
medo de contar tudo, porque eu teria que te contar todos os
motivos e então você me deixaria — explico começando a
chorar.
— Não sofra mais, Vic. Por favor. Eu odeio vê-la chorando.
— Te parte o coração.
— Muito — diz me abraçando. — Não chore nunca mais,
por favor.
— Não morra, nunca mais. Promete para mim que se
morrer, você me leva junto? Não me deixa ficar sem você, por
favor.
— Não tenho como prometer, mas prometo puxar seu pé e
dar socos se outro homem ousar se aproximar. — Eu sorrio
entre lágrimas. — Você sempre será minha, mesmo que a morte
nos separe.
— Nunca. Prefiro morrer antes.
— Não ficarei de luto não, já vou te avisando. Preciso de
sexo e vou pegar geral, chorando no seu buraco — diz
cheirando meu pescoço. — Pare de chorar, ok?
— Então não me deixe.
— Vou resolver algo, você fique, se arrume que jantaremos
fora — informa.
— Não vá, Theus....
— Vic, eu voltarei inteiro para você. Nada de ruim vai
acontecer — ele avisa me dando um beijo na testa e pega a
chave, presa no meu sutiã.
— Você vai procurar Túlio?
— Sim.
— Eu preciso dizer algo antes...
— Pode dizer — ele diz voltando atrás.
— Quando você sofreu o acidente, eu entrei no maior de
todos os abalos da minha existência, porque seu coração parou
de bater diante dos meus olhos, por um período. Para mim você
estava morto e eu fugi do hospital. Túlio Salvatore doou sangue,
o sangue que foi preciso para te salvar. — Vejo uma série de
sentimentos passaram pelos olhos dele.
— Você está falando sério?
— Eu não inventaria algo dessa grandiosidade. — Ele
balança a cabeça em compreensão e se vai.
— Por favorzinho, só um bolinho de prestígio. Olhe para sua
filha, ela está implorando.
— Você está usando nossa bolinha de queijo para eu
levantar do sofá e ir pegar bolo para você? — Pinscher Raivosa
pergunta.
— Ela quer um pouco de brigadeiro, ela está dizendo pelo
olhar — digo sério, enquanto Aurora está devidamente sentada
na minha barriga, com uma boneca em mãos, descabelando a
pobre coitada.
— Que inferno! Túlio Salvatore! Eu irei pegar, mas você terá
que fazer massagem nos meus pés antes de dormir.
— Essas massagens nunca ficam só no pé né... — digo
com um sorriso cafajeste. — Geralmente elas terminam com
você gritando meu nome, enquanto invado umas partes aí...
pensando bem, é perfeito. Você pode pedir por massagem
sempre, eu gosto muito.
— Você aproveita minha vulnerabilidade e meu modo
escorregadio para invadir a minha bunda!
— Você pode não falar esse tipo de coisa na frente da
nossa filha? Ela é uma princesinha inocente, que nunca, jamais,
fará ou dirá sobre esse tipo de coisa. — Pinscher começa a rir e
eu taco uma almofada nela.
— Doce ilusão, Senhor Gibi. Já imaginou se o BDSM corre
quente nas veias dela?
— Não, nunca imaginei, mas se correr, espero que ela seja
Dominatrix e atole consolo no cu de todos os engraçadinhos que
ousarem brincar com ela. Por falar nisso, logo ela estará
andando e entrará para a aula de defesa pessoal.
— Ah com certeza! Assim que ela começar andar irá fazer
balé, será uma princesinha cor de rosa. Imagine ela, com tutu?
Ai meu Deus! — A psicopata vem pegar minha filha de mim e eu
agarro minha borboletinha. — Me dê!
— Não! Ela é minha! Você pode ir pegar meu bolo?
— Não parece tão vantajoso, pensando bem. Terei buracos
invadidos — argumenta.
— Por favor, nunca te pedi nada.
— Você só me pede, Túlio! Me pede mais coisas que
nossos filhos! — Ela fica puta e vai pegar meu bolo, enquanto
fico rindo com minha bolinha.
Analu volta com o bolo e eu me sento, enquanto Aurora fica
de pé, apoiando as mãos em meus joelhos e dançando. Ela ama
bolo de prestígio, fazer o quê? Basta colocar uma colherzinha de
brigadeiro na boca dela, para ela ficar mega empolgada.
O interfone toca e Analu vai atender, segundos depois volta
com uma cara estranha.
— O quê?
— Matheus. Eu permiti que ele subisse, fiz errado? —
questiona.
— Acho que não. Você acha que ele pode ter recuperado a
memória?
— Não faço ideia, mas se ele te ofender, eu baterei nele —
avisa e dou uma gargalhada.
— Mulher maravilha! — digo e ela me dá um beijo.
A campainha toca e ele entra. Eu permaneço sentado, com
Aurora diante de mim, comendo todo meu bolo.
— Desculpa vir, mas eu precisava conversar — ele diz.
— Tudo bem, pode vir quando precisar — Analu fala. —
Devo deixá-los a sós?
— Acho que seria melhor — digo ficando de pé. Pego
Aurora no colo e ela fica olhando para Matheus, rindo. Ele se
aproxima e ela joga os braços para ele. Eu quero pegá-la e sair
correndo, porque ela é só minha, mas ela realmente quer ir ao
colo dele.
— Olá, pequeninha — ele diz para ela. — Você é muito
linda e está suja de chocolate. — Minha filha traidora dá
gargalhadas. — Ela é muito linda, cara. Parabéns. Muito linda
mesmo.
— Obrigado — digo e ele a entrega para Analu, que pega
minha bolinha e o prato de bolo, e vai para nosso quarto. —
Sente-se, fique à vontade.
— Eu relembrei de tudo, do nada. Algo aconteceu entre
Victória e eu, e de repente é como se tudo tivesse voltado à
minha mente, de uma maneira que não sei explicar e que talvez
nem seja normal. Você já salvou minha vida algumas vezes.
Mesmo tendo tido uma discussão, você me salvou novamente
— diz e dá uma risada nervosa. — O sangue do homem que eu
intitulava como meu maior inimigo corre forte em minhas veias e
salvou a minha vida, mais uma vez.
— Vic... ela foi a culpada! Você tem ideia da estupidez que
sua mulher ia fazer? Eu espero que ela tenha te contado isso
também. Ela seria sua doadora. — Ele franze a testa. — Cara,
tenho um certo medo de agulhas, foi do caralho...
— Porra, eu também. Acho que não doaria — ele diz sério.
— Mentira. Eu doaria. Mas o que Victória fez?
— Ela foi sentido Grumari, estacionou o carro no
acostamento, pulou o muro de proteção, caminhou por matos e
pedras e saltou no mar. — Ele fica de pé.
— Você está dizendo que Victória tentou suicídio? —
Balanço a cabeça afirmando.
— Sim, ela fez. E eu quase cometi junto, me lançando ao
mar para poder salvá-la. Nós dois podíamos ter morrido, aquela
região é cheia de pedras, o mar estava agitado, eu nem sei
como consegui sair daquilo.
— Eu vou matá-la!
— Sim, você deveria mesmo fazer isso. Eu mataria Analu —
argumento. — Eu a entendo, ela te viu morto. Você ter renascido
foi tipo a volta dos que não foram. Eu acho que morreria se
Analu morresse.
— Eu também morreria se Vic morresse. Mas eu não estava
totalmente morto, eu até podia estar, mas eu daria um jeito de
voltar...
— Sim, talvez tenha um jeito de voltar depois de morto.
— Na boa, isso é conversa de gente louca! — Analu surge
dizendo. — Mais dez minutos dentro desse apartamento e eu
ficarei tão louca quanto vocês. Vou sair com a minha bolinha,
Adeus.
— Ela é tipo Victória né? Credo — Matheus diz tornando-se
a sentar. — Victória é a reencarnação do satanás.
— Analu também, ela é uma Pinscher Raivosa. Pequena,
mas faz um estrago do caralho.
— Enfim, Túlio, é o apocalipse, simboliza o final de todos os
tempos, mas nossos filhos vão se casar, teremos netos em
comum e seu sangue está dentro de mim. Acho que o momento
de enterrarmos o passado e darmos uma chance a nós. Eu
agradeço por todas às vezes que você esteve com Victória nas
dificuldades, agradeço por ter nos salvo do seu pai, agradeço
por ter salvo meu filho de entrar na frente de um carro, te
agradeço por ter salvo minha vida doando sangue, e,
principalmente, eu te agradeço por ter se lançado ao mar para
salvar Victória. Não adiantaria eu sobreviver se a tivesse
perdido.
— Eu faria tudo novamente— digo com sinceridade. — Isso
não me faz um herói.
— Faz. Você foi de inimigo a herói para mim. Eu agora
consigo reconhecer. Você salvou minha vida muitas vezes,
direta e indiretamente. Seremos uma só família e eu gostaria de
saber se você pode ser o meu amigo? — ele pede com lágrimas
escorrendo pelos olhos e eu me sinto fodido, chorando junto. O
cara simplesmente cai de joelhos ao chão e eu fico impactado o
suficiente: — Me perdoe, por tudo, por nunca ter te dado a
oportunidade de se explicar, por te julgar, por bater em você, por
todas as coisas terríveis que eu já disse sobre você. Eu sou
pequeno por ter enxergado apenas o que me era conveniente,
você é um gigante, por ter enfrentando mil demônios e ainda ter
tanta pureza em seu coração, a ponto de me salvar todas às
vezes que foram necessárias. Você é gigante porque me
mostrou para onde eu deveria voltar quando eu mais estava
fodido. Me perdoa, Túlio Salvatore.
Ajoelho diante dele e dou um abraço. O abraço que eu
sonhei uma vida inteira. O abraço de perdão. O abraço que
simboliza o fim do carma que carreguei por tantos anos.
O abraço que sentencia a minha redenção final.
— Você é tão grande quanto eu! Nós somos gigantes! —
digo com a voz embargada. — Obrigado por me perdoar, eu
perdoo você também. Eu perdoo você!
— Isso deve ser uma brincadeira de muito mal gosto — digo
e Ava me encara. Eu sustento seu olhar, para que ela saiba que
as coisas estão fugindo do controle já. Esse homem cismou de
estar por perto dela e tudo tem limite.
Eles são parentes, praticamente, e eu sei que encontros
acontecerão, mas ele tem vindo atrás dela e isso é fodido para
mim.
— Gabriel, eu não vou me casar com um homem inseguro,
não é mesmo? — Sim, agora é o momento que ela me faz sentir
como um garoto de dezoito anos de idade. Me julgue, foda-se.
Ela não faz ideia do que sinto.
— Não, mas também não vai se casar com um homem
idiota — respondo. — Ava, sou homem, sei o que se passa na
cabeça de outro homem, principalmente de um homem solteiro.
Você é linda, é gostosa pra caralho, é sexy, tem esses lábios e
essa pintinha acima deles e parece atriz pornô, portanto, eu
tenho todos os motivos do mundo para sentir ciúmes. Sem
contar que você é uma mulher foda, e isso a torna um pacote
completo e bastante desejável.
Porra, ela é linda!
— Você já parou? — ela questiona séria.
— Não, Ava — informo e saio andando para a minha sala.
Eu espero que ela lide com esse cara.
— Problemas no paraíso? — Renatinha questiona minutos
depois, quando já estou dentro da sala, acomodado em meu
lugar.
— Olha, geralmente eu sou muito educado, mas hoje não
serei. Não é da sua maldita conta, Renata.
— Sempre soube que esse namoro seria temporário, você
não está para relacionamentos, principalmente com uma mulher
mais velha. Ela deve fazer de você um tapete, deve pisotear.
Vejo ela com Aron, agora esse cara lindo que está sempre aqui.
Qual a sensação de ser corno? — Eu sorrio.
— Não sei, mas você deve saber muito bem. Oh não! —
exclamo. — Você não deve saber, porque ninguém a leva a
sério, você é só um lance casual para todos. — Ela me dá um
tapa na cara que faz todos da sala olharem. — Eu gosto de
apanhar, Renata, você sabe. Se quiser dar do outro lado, sinta-
se à vontade.
— Você é um imbecil. Um babaca.
— Deve ser por isso que você só falta esfregar a buceta na
minha cara e fica me perseguindo. Diga-me, Renata, você sente
tesão por babacas? É algum tipo de fetiche? — Ela me dá outro
tapa e eu sorrio mais amplamente. — Isso é o melhor que
consegue fazer? Qual o teu problema? Gosta de ficar sendo
humilhada? Que diabos você ainda está fazendo aqui?
— Corno.
— Oh, feriu meus sentimentos agora — digo ficando de pé.
— Vá para o inferno, Renata.
— Corno — ela grita agora em alto e bom tom e eu paro de
frente para ela, apoiando as mãos em sua mesa.
— Você é uma pobre coitada, louca por mim e revoltada
porque não conseguiu me laçar. Sabe a última vez que
transamos? Aquela no corredor do meu prédio? Foi a primeira
vez que vi Ava e eu fodi você olhando para ela. — Sorrio. —
Sabe quando gozei? Foi por ela. Porque nem mesmo foder você
sabe. Foder não é só abrir as pernas, ao invés de ficar falando
merda, você deveria procurar aperfeiçoar sua desenvoltura
sexual, talvez assim você consiga prender algum babaca, que é
seu estilo de homem preferido. Você já não possui cérebro, se
não tiver ao menos uma coisa que faça bem, fodeu!
— Eita! — Ouço uma voz dizendo e então saio da sala.
Passo o restante da aula no laboratório de informática
centrado em minha monografia. Não saio nem mesmo para
beber água.
Eu... apenas estou tentando me adequar às situações, mas
está difícil.
Quando meu despertador toca, percebo que é hora de ir
para casa. Encontro Ava me esperando encostada em meu
carro e a puxo para um beijo.
— Eu não te vi na hora do intervalo. Onde esteve?
— Laboratório de informática. Tive uma discussão com
Renata e não assisti aula alguma. — Ela arregala os olhos.
— Renata seria Renatinha?
— A própria. Não foi bonito, ela falou merda, me deu dois
tapas na cara e ouviu tudo o que não gostaria. Enfim Ava,
vamos sair daqui — digo abrindo o carro.
— Por que ela te deu dois tapas na cara? — Ava questiona
sem se mover.
— Porque ela disse que eu sou corno e eu praticamente
disse que ela é uma puta. Foi infantil, foi tipo um homem de vinte
e três anos de idade caindo na pilha de uma retardada. Deu por
hoje, Ava. Vamos embora. — A louca vem em minha direção,
me pega pela camisa e me joga contra o carro. Ela desliza a
língua pelo meu pescoço e eu entro em estado de atenção.
— Eu amo suas crises infantis — confessa. — Fico com
tesão.
— Então vamos para casa.
— Não. Eu vou ali resolver uma questão — informa se
afastando, voltando para a faculdade. Fecho a porta do carro,
mas Ava não vai longe. Renatinha surge no estacionamento e é
pega pela minha mulher, pelos cabelos. Puta merda. Ava está
grávida, caralho!
Eu vejo Renatinha caindo de joelhos e imagino quão forte
Ava está puxando os cabelos dela.
— Qual o motivo de você chamar meu noivo de corno?
Vamos lá, me diga agora, garota corajosa. Gabriel não pode te
bater, mas eu posso.
— Ava, vamos embora, amor? — Chego com cuidado, a
pegando por trás e tentando puxá-la. — Vamos embora, ok?
— Eu farei você ser demitida, farei boletim de ocorrência de
agressão — Renatinha diz e Ava dá uma gargalhada, me
empurrando.
— Você pode tentar. Você me conhece, Renata? Sabe meu
currículo ao menos? Antes de me ameaçar, deveria pesquisar o
mínimo sobre mim. É muito mais fácil você ser convidada a se
retirar da universidade, porque você parece se sentir num
galinheiro e isso aqui está longe de ser um galinheiro.
— Ava, o bebê. — É tudo que preciso dizer para ela se
afastar. Então Renatinha fica no chão, olhando para a barriga de
Ava e eu sou rápido o bastante para tirar Ava daqui antes que
ela possa ser chutada. Essa mulher perdeu a porra da noção
completa, está como uma psicopata perfeita.
— Encoste em mim e você sofrerá consequências — Ava
ameaça e eu a pego em meus braços, pois é a única maneira de
contê-la por completo. — Eu quero matá-la.
— Shiu, nada disso, mocinha.
— Ela é uma puta, desqualificada.
— Ava, acabou ok? — digo a colocando no chão quando
chegamos ao carro. — Vamos lá, entre. — Ela bate o pé, suspira
frustrada e entra. Coloca o cinto e cruza os braços no peito.
Talvez nós dois precisamos amadurecer um pouco, às vezes
agimos mesmo como crianças.
Porém, tem algo que fazemos com muita maturidade e
profissionalismo, e começa a rolar ainda no elevador, para
terminar sobre a mesa de jantar do meu apartamento. Nós
quebramos alguns enfeites, mas descontamos nossas
frustrações em um sexo selvagem e bastante suado.
Felizmente, o resto da semana passa sem maiores
problemas.

Na sexta-feira, eu não vou a faculdade, apenas Ava. Estou


preparando uns aperitivos para meus irmãos que estão
chegando.
Quando termino, pego uma cerveja na geladeira, coloco
uma música e fico na varanda, vendo o movimento de pessoas
correndo pelo calçadão. Hoje está quente, o clima propício para
curtir o mar a noite, para exercitar.
A campainha toca e vou atender. Pedro, Humberto e Davi
entram animados, rindo de algo.
— Fala aí Mini Gibi! — Humberto diz rindo e me pega no
colo como se eu não pesasse nada.
— Filho da puta, me coloca no chão. — Ele me coloca e vai
direto para a geladeira. — E aí garoto! — digo a Pedro e ele me
dá um abraço. Davi fica na fila do abraço só para fazer graça e
eu dou um soco em seu braço.
— Bora tomar uma! — Humberto anuncia com cervejas em
mãos, distribuindo aos garotos. — Calor pra caralho hoje, puta
merda. Cadê as mulheres?
— Que mulheres? — questiono.
— Mulheres em geral. Cadê sua garota? Quero conhecê-la
— diz.
— Já deve estar chegando. — Sorrio. — E você? Sem
garotas?
— Uma garota, sub.
— É o rei do BDSM — Pedro debocha. — Tem essa porra
de exclusividade mesmo? Se ela é sua submissa, só pode ficar
com você e você só pode ficar com ela?
— Nesse caso não. Não acordamos nada sobre isso ainda
— Humberto explica. — Ela é nova nisso, sou seu mentor.
— Não sou desse universo mesmo — Davi argumenta
rindo.
— Há coisas legais que podem ser encaixadas num
relacionamento tradicional. Porém, Humberto gosta do outro
lado da história — digo.
— É bem isso. Mas, não significa que tudo na minha vida e
em meus relacionamentos girem em torno disso. Há
concessões. Enfim, você será papai, cara! — ele fala oferecendo
um brinde e eu brindo.
— Serei.
— Agora nossos pais vão querer voltar para o Rio, para a
minha alegria — Pedro diz rindo e Davi dá um tapa na cabeça
dele.
— Minha mãe disse que você está noivo — Humberto
comenta. — É pelo bebê ou porquê é o que você realmente
quer?
— Eu quero, independente do bebê. Ava é fantástica. — Ele
sorri e a campainha toca.
Davi vai abrir a faz uma careta ao avistar Luma atrás de
Ava.
— Agora sim isso aqui ficou bom hein? — Humberto ri. —
Caralho!
— Você pode ser dez vezes mais musculoso e forte, se
você mexer com Ava eu te darei um soco no olho. — Ele ri e eu
fico de pé para receber minha garota.
— Ei Piroca Baby! — ela diz em meu ouvido. — Quero
transar. — Caralho, ela tem tido esses ataques do nada. Por
exemplo: no meio do supermercado ela para e diz que quer
transar. Será que ela pensa que eu vou colocar o pau para fora
e fodê-la? Estou emagrecendo, Ava está me sugando.
— Mais tarde. — Sorrio. — Bom, vou apresentá-la aos
meus irmãos. Esse é Pedro — digo e Pedro vem educadamente
abraçá-la. — E esse é Humberto.
— Agora eu entendo a paixonite do meu irmão — Humberto
diz sorrindo. — Bem-vinda a família Salvatore, Ava. É um prazer
conhecê-la. — Ele a abraça e então olha para Luma. — Você é?
— Luma, irmã gêmea de Ava — Luma responde oferecendo
uma mão a ele e ele simplesmente a puxa para um abraço.
— Você é muito linda, Luma. Ficaria ainda mais linda com
uma corda de sisal envolvendo seu corpo, como uma obra de
arte, completamente presa e suspensa no teto do meu quarto.
— Ele beija a mão de Luma que está boquiaberta, assim como
eu e Ava estamos.
— Você é um babaca — Davi diz.
— Você pratica BDSM? — Luma questiona curiosa.
— Sim, pegou no ar, não é mesmo?
— Shibari? — ela pergunta.
— Shibari — ele afirma.
— Nossa, muito legal. Já fui em uma exposição de Shibari,
em Nova York. — Humberto oferece o braço a ela e eles
caminham, se acomodando no sofá e conversando sobre
BDSM, enquanto Davi parece querer explodir.
— Ela é a mina do Davi? — Pedro pergunta.
— Oh, Pedro, meu cunhado, sim, ao menos era até inverter
o papel comigo e tornar-se durona — Ava responde rindo e se
acomoda em uma banqueta. Eu passo analisar as reações de
Davi e me sinto mal. Ele abaixa a cabeça em alguns momentos,
em outro fica atento a Luma, que está numa conversa divertida
com Humberto. Então deixo Ava com Pedro e me acomodo ao
lado dele.
— E aí, cara. Foi na facul? — pergunto.
— Sim, mas saí cedo para encontrar com Humberto e
Pedro.
— Falou com nossos pais hoje? — Ele balança a cabeça
negativamente.
— Não. Amanhã vou passar o dia com eles, não vou ao
jantar.
— Por que não? Vamos estar todos reunidos.
— Porque Luma vai — diz e fica de pé. — Vou nessa, cara.
Vou ligar para meus amigos e ver qual a boa.
— Fica aí, cara... — digo.
— Eu gosto dela, pra caralho, mas sou só um menino.
Tenho vinte e um anos, embora aparente ter mais. Sou um
moleque. Alí, naquele sofá, há duas pessoas compatíveis, com a
mesma faixa etária, com muitos assuntos e provavelmente
gostos em comum. — Ele me dá um tapa nas costas e se vai.
— Licença. — Ouço Luma dizendo a Humberto e então ela
vai atrás de Davi.
— Eles têm algo? — Humberto questiona.
— Sim. Uma história mal resolvida — explico.
— Putz...
Legal da vida é que aposto que as mulheres acreditam que
os homens sofrem em cima de uma mesa de bar ou se
atracando com outra, na intenção de substituí-las. Na verdade,
pode até ser que isso aconteça ou talvez seja como no meu
caso, onde, por puro orgulho masculino, eu acabei de dizer que
estou indo curtir a noite. Bom, se curtir a noite é assistir Netflix e
comer besteiras, é isso que estou indo fazer.
É temporário. Puxei o lado resiliente da minha mãe e
compreendo que é apenas uma fase ruim, pela qual tenho que
passar. Faz parte do meu crescimento como homem e como ser
humano.
Retiro meus sapatos, pego meu celular e vou direto no
Ifood. Melhor aplicativo inventado por um ser humano. Existe
algo melhor que ter comida disponível por um clique? Sem
esforço algum? Antes mesmo que eu possa procurar algo, a
campainha toca e eu abro, para ver Luma parada na porta.
— Ei.
— Precisa de algo? — pergunto.
— Podemos conversar?
— Luma, sabe, vou ser bem sincero com você, de verdade.
Não estou bom para uma conversa agora, estou desanimado e
estava prestes a começar uma série — digo. — Eu não sei se
você já se sentiu assim alguma vez, mas eu estou de uma
maneira que quero evitar toda e qualquer conversa que possa
vir a ser tensa. Quero apenas ficar quieto no meu canto, em
silêncio, sozinho, em paz, me recuperando de você. Inclusive,
agradeceria se você fosse agora, porque olhar diretamente para
você não me faz bem.
— Eu só estou com medo — ela diz apertando as mãos,
impaciente. — Tenho medo de dar errado, como meus demais
relacionamentos. Porém, com você o medo é maior, porque eu
gosto de você de verdade, de uma maneira diferente. Os meus
outros relacionamentos fracassados foram superados com
poucas horas. Mas se essa tentativa, eu e você, fracassar, vou
sofrer de verdade e não como uma princesa dos contos de fada
que teve que lutar contra a bruxa má.
— Então você preferiu cortar o mal pela raiz. Acabou, Luma.
Nós dois terminamos e ponto final.
— Sim sobre cortar o mal pela raiz, eu pensei que dessa
maneira sofreria menos, mas já sinto sua falta e gostaria que
pudéssemos conversar, sem ser na porta do seu apartamento,
no corredor do prédio. — Ela suspira. — Sei que deveria deixá-
lo, porque estou te fazendo mal, minha presença está te fazendo
mal neste momento e você pediu para eu ir, mas eu não
consigo. Por favor Davi, eu também estou sofrendo. Nós
podemos sofrer juntos?
— Você quer sofrer junto comigo, Luma? — pergunto e ela
balança a cabeça afirmativamente. — Ok, minha sofrência
envolve comer um hambúrguer gigante do Bob's, beber Coca-
Cola e comer chocolates de sobremesa enquanto assisto séries.
É isso que você quer?
— Se for Bob's picanha gourmet eu animo. — Suspiro
frustrado e abro a porta para que ela possa entrar.
Ela retira a sandália, corre até meu quarto e então volta com
dois travesseiros e meu edredom. Ela fecha as cortinas, apagas
as luzes e se joga no sofá, fica me esperando como uma criança
e é tão bonitinha.
Balanço a minha cabeça, sentindo o quão fodido estou e
faço pedido. Então me junto a ela, um pouco afastado.
— Que série vamos assistir? Podemos assistir Sense 8?
— Ok, nunca assisti — digo concordando e coloco na série.
Nós dois realmente sofremos juntos, nos entupimos de
hambúrguer, batata, Coca e por fim detonamos uma caixa de
bombom. Quando tudo se torna silencioso demais, ela vai até a
adega, pega um vinho e duas taças, então bebemos até ela
estar chorando, bêbada. A maneira feminina de sofrer é
diferente mesmo...
— Eu te amo, não me deixeee... — ela diz me puxando pela
blusa.
— Foi você quem me deixou, basicamente.
— Mas eu... eu não quero te perder. Eu não quero...
— Ok Luma, você está bêbada, é o momento de tomar um
banho frio e dormir — digo tentando levantar e ela me escala
como se eu fosse uma parede. — Luma...
— Você é meu nenenzinho, meu bebê, meu príncipe.
— Amanhã você não vai se lembrar dessa merda, Luma.
Bora tomar banho.
— Eu vou te pedir em casamento. — Eu rio, porque ela é
uma bêbada engraçada. — Vou pedir sua mão.
— Está bem, Luma, você pode pedir, quando estiver sã.
— Já tenho tudo na minha mente. — Ela sorri entre
lágrimas e eu a pego em meus braços. Logo suas pernas estão
rodeando meu corpo e eu a conduzo até o banheiro. — Vou te
propor...
— Ok. Estou ansioso por isso, hein? — falo fingindo entrar
em sua loucura.
— Você é meu neném. — Repete. — Você é bonito pra
caralho, Davi. Porra! Olha esse rosto... Deus! Você é o mais
lindo do mundo. Não quero que ninguém te olhe nunca mais —
diz puxando minha cabeça e quase me sufocando em seus
seios. — Ninguém nunca mais vai te ver.
— Luma... — digo mais uma vez de maneira repreensiva e
a coloco sentada na pia do banheiro. Abro a ducha e a ajudo a
tirar o vestido e a roupa íntima. A filha da puta vai rebolando
sensualmente e entra embaixo da ducha. Ela aperta os seios e
estou além de fodido.
A noite será longa, porque Luma é uma bêbada agitada pra
caralho e ela vai me deixar maluco de todas as maneiras, não
me refiro sexualmente.
Encosto na pia do banheiro e fico zelando pelo seu show.
Ela desiste de se masturbar, pega o pote de shampoo e começa
a cantar, dançando e fazendo caras engraçadas.
Pego uma cueca e uma camisa minha para ela e a retiro a
força do banho. A ajudo escovar os dentes, escovo os meus e
então a levo para meu quarto. Então, enquanto troco de roupa,
ela começa a virar cambalhotas na cama até cair no chão e ficar
rindo como uma maluca.
— Daviiiii
— Luma, pelo amor de Deus!
— Vamos fazer uma boate? Ou vamos a uma boate?
— São três da manhã, Luma, a boate vai ser no seu sonho.
— Davi, você aceita ser meu marido até que a morte nos
separe? — ela pergunta deitada no chão.
— Não. Nós podemos dormir?
— Vou te propor — diz engatinhando e subindo na cama. —
Vou te propor em casamento...
— Eu juro por Deus, se você não ficar quieta, vou levá-la
para dormir com Ava.
— A Ava não tem sua piroca — ela diz rindo. — Oh, Sensei,
piroca é muito feio, não é mesmo? Seu pau sobe quando eu
digo piroca?
— Boa noite, Luma — falo apagando o abajur e ela fica
rindo por pelo menos uns vinte minutos até cansar. Eu penso
que ela está quieta e dormindo, mas a louca joga um travesseiro
em meu rosto gritando que ninguém nunca mais vai me ver
porque sou bonito.
Fico puto pra caralho agora, muito puto. Tanto que fico de
pé, a jogo em meu ombro, decidido a levá-la embora.
— Não, não, não, não, eu prometo que fico quietinha para
todo o sempre, por favor, príncipe — pede chorando e eu a
coloco de volta ao chão.
— Luma, é a última chance, estou cansado — aviso e ela
beija os dedos em x, ainda chorando. — Pare de chorar e já
para a cama. — Ela balança a cabeça como uma garota
obediente e sai correndo. Eu sorrio e quando volto a insana está
coberta até a cabeça.
Me acomodo na cama, achando que a paz reinará, mas ela
começa a rir e aperta minha bunda quando me deito de bruços.
— Sua bunda é fantástica.
— Luma!!! — eu grito e é a última coisa que sou obrigado a
dizer nessa noite. Ela finalmente fica quieta e dorme.
De manhã, ela parece estar sob efeitos do álcool ainda,
porque acordo com ela beijando minhas costas e minha nuca.
Eu me viro de frente e percebo que não, ela não está sob o
efeito de álcool, ela está chorando baixinho e se joga em meus
braços.
— Me desculpa... me dê uma chance, por favor — ela pede
com a cabeça enfiada no vão do meu pescoço. — Por favor, só
mais uma chance.
— Luma, não quero sofrer, agora somos praticamente da
mesma família, não quero no futuro ter que agir como se
fossemos estranhos. Talvez você esteja certa em cortar o mal
pela raiz.
— Não, Davi. Por favor. Eu estou disposta a fazer dar certo.
Estou — diz se desesperando.
— Vamos pensar, ok? Não vamos agir com impulsividade
agora, tudo bem? Vamos pensar juntos.
— Eu perdi você... Vou recuperá-lo. — Sorrio mesmo
sentindo um aperto no peito. Às vezes temos que abrir mãos do
que mais queremos para evitarmos problemas futuros... talvez
eu vá abrir mão dela.
— Game Over!!! — Ava grita quase me matando, fica de pé
sobre a cama e começa a fazer a dança da vitória. Eu não vou
brigar agora, acabo de perder minha última partícula de força.
Ela é vitoriosa, eu preciso aceitar isso agora, porque não tenho
forças. — Vamos lá, Piroca Baby, mostre sua força. Estou
insatisfeita sexualmente! — Eu finjo de morto, é real. Até viro de
bruços, pego o travesseiro e o coloco sobre minha cabeça. —
Gabriel? — Ouço a voz abafada da minha noiva e estou quase
entrando em coma quando ela se senta em minhas costas. —
Piroca, Piroca, Piroca, baby. Meu Piroca Baby! Meu, tudo meu,
todo meu, para sempre meu! Eu quero você, para abraçar e
beijar, meu Piroquita! — Essa gestação fodeu com Ava para
caralho. — Você pode acordar novamente? Por favor? Nós
temos que tomar banho para ir para a casa dos seus pais. Hein,
Piroca Baby? Meu Piroca Baby, nada Baby!
— Ava, eu preciso dormir. Me deixe dormir, por favor. Eu te
amo, mas preciso dormir.
— Eu vou tomar banho e vou até a rua comprar
energéticos, catuaba, essas coisas — informa saindo de cima de
mim. Não tenho forças nem para brigar com ela agora. Meu filho
nem nasceu e eu já tenho que acordar ao menos três vezes
durante a madrugada para dar “mamadeira” a Ava. Isso é
doença. Ela está com um espírito obsessor infiltrado na mente,
no corpo, na alma. Sem conta com o sexo matinal, o sexo pós
academia, o sexo pós almoço, o sexo antes da faculdade, o
sexo pós... o sexo. Eu traumatizei de sexo, caralho! Meu pau
funciona, mas meu psicológico está abalado.
Nessa altura do “campeonato” se Ava quiser espalhar para
o mundo que sou brocha ou fraco, nem ligo. Estou tão morto,
que é capaz de eu rir e concordar com quem for rir da minha
cara. Estou ponderando comprar um cinto de castidade
masculino, prender meu pau bem preso, colocar o cadeado e
jogar a chave no mar.
Eu durmo, como vim ao mundo. Na verdade, acho que
desmaio pela exaustão.

Eu acordo de um afogamento, completamente


desesperado. Estou completamente molhado, como se tivesse
acabado de tomar banho. E tomei. Eu só vejo Ava com a porra
de um balde em mãos e uma carinha de quem sabe que está
fodida.
— Que merda você acabou de fazer?
— Eu tentei te acordar de todas as maneiras possíveis e
você não colaborou, não tive opção — ela explica. — Nós temos
o jantar em uma hora... eu... eu acho que vou me arrumar lá no
meu apartamento.
— Você tem 5 segundos para sumir daqui, caso contrário
vamos testar nossas habilidades no Jiu-jitsu. — Ela deixa o
balde e sai correndo. Eu salto da cama e saio correndo atrás
dela. A pego por trás e a rodo enquanto ela ri. — Você foi uma
garota muito malvada.
— Eu te amo, mereço o perdão — diz e a coloco no chão.
Ela tem parecido cada vez mais como uma garota travessa,
bagunceira para caralho. — Você está nu, tem cinco segundos
para correr antes que eu te ataque sexualmente.
— Vá se arrumar. Já, já chego em seu apartamento — aviso
dando um tapa em sua bunda.
— Te amo — ela diz se jogando em meus braços e a pego.
— Eu te amo mais, Atriz Pornô ninfomaníaca.
— São os hormônios — explica rindo.
— Até o final da gravidez eu morro. — Sorrio. — Vá.
A coloco no chão novamente e ela se vai, então vou tomar
um banho frio, para acordar de uma vez por todas. Eu juro para
vocês, até tomo um relaxante muscular. Estou acostumado a
malhar pra caralho, mas malhar para caralho e fazer triatlo
sexual com Ava, está me fodendo. Eu sou mais forte que isso e
irei dar a volta por cima, fé em Deus sempre!
Quanto exagero! Puta merda!
De qualquer forma, saio do banho revigorado, talvez eu
aguente outra maratona.
Visto uma roupa, bebo um copo de iogurte e vou até Ava.
Ela atende, usando um vestidinho e perfeita pra caralho.
— Você é linda demais, demasiadamente linda.
— Você também está lindo, pirocudo.
— Vamos? — Ela acena a cabeça positivamente, fecha a
porta e seguimos para a garagem. — Ei, Luma não vem?
— Não. Ela está trancada no quarto o dia inteiro. Não quer
sair.
— Algo com Davi? — pergunto.
— Sim, eles estão tendo problemas — explica. — Mas ela
não quis me contar o que é, só vai se abrir assim que acalmar. É
típico dela se isolar.
— Vou tentar falar com Davi e ver o que rolou.
— A propósito, eu amei seus irmãos. Humberto é genial e
Pedro é muito engraçado. Vocês formam uma família fantástica,
tanto quanto a minha família é. Estou ansiosa para você poder
conhecer toda a loucademia dos Albuquerque Brandão — diz
sorridente e abro a porta do carro para ela entrar.
— No nosso casamento teremos todos reunidos — digo ao
me acomodar e ligar o carro. Ela fica calada e eu contenho o
impulso de rir. Que espécie de pessoa que aceitar um pedido de
casamento e então fica tímida, tentando fugir, todas às vezes em
que toco no assunto “casamento”? Ava!
Ignoro a situação e em poucos minutos estamos no
apartamento dos meus pais.
— Olá, família! — digo sorridente e vou cumprimentar a
todos. Então ouço uma risada que faz meu coração bater mais
forte. — Bolinha de queijo, eu vou pegar você! — anuncio e ela
dá gargalhadas mais altas. — Olá, princesa do meu reino. Você
está uma bolota e não uma bolinha. Está comendo muito papa?
É isso? Acho que tem muito papa nesse barrigão.
— Ão — ela diz fazendo todos rirem.
— Own, me dê ela!
— Não! — aviso a Ava. — Acabei de pegá-la!
— Por favor piro... Gabriel. Me dê ela, é sua irmã, inferno!
— Olha ela revoltada enquanto Aurora acha graça. Acabo
cedendo e entrego bolinha a Ava, então vou tomar cerveja com
meu pai e meus irmãos. Meus irmãos estão envolvidos numa
conversa louca sobre BDSM e meu pai apenas observa.
— E aí, moleque — ele diz se aproximando. — Como você
está?
— Bem, pai. Há apenas algumas questões que estou com
dúvidas.
— Sobre?
— Gravidez — digo e ele começa a rir.
— Sim, vamos lá, pode falar.
— A mamãe tinha um descontrole na gravidez? — Ele volta
a rir.
— Bom, posso dizer que a primeira gestação dela, quando
estava grávida de você, foi a mais tranquila, porque você sabe,
tive aquelas questões de aceitação e só acompanhei de perto
poucos meses. Na gestação de Davi foi terror e pânico também.
A de Pedro foi mais ou menos. A de Aurora foi a pior, sem
sombra de dúvidas. Eu quis fugir para o meio do mato e ficar
perdido por ao menos três meses. — Sorrio. — Mas acho que
isso não é uma regra, Gabriel. Há mulheres que se distanciam
significativamente dos maridos, inclusive há casamentos,
relacionamentos, que não sobrevivem ao período da gestação.
Então, se Ava está exigindo muito de você, acho que deve se
considerar um felizardo, um cara de sorte. Assim como eu me
considero.
— Entendi. É só um pouco assustador, aliás, tudo tem sido
assustador desde o início. Tenho medo de tudo mudar quando o
bebê nascer.
— É o medo que todos os casais enfrentam, então está
tudo dentro da normalidade — diz com tranquilidade. — Mas há
algo, filho. Algo que se chama sintonia. Se você e Ava estiverem
na mesma sintonia, nada vai mudar. O desejo não muda quando
duas pessoas estão dispostas a ficar juntas. Vocês são jovens,
apaixonados, apenas relaxe e mantenha-se em sintonia com
Ava. É lógico que algumas questões vão mudar. Haverá
inúmeros momentos que você estará bem próximo de ter um
momento com sua esposa e então um choro vai interromper —
ele comenta rindo. — Você me interrompeu centenas de vezes,
agora é a vez de ser interrompido. Mas há uma magia em torno
de ser pai, porque você será interrompido centenas de vezes,
filho, e todas elas você se sentirá o homem mais foda do mundo
a cada vez que olhar para o ser humano que causou
interrupções. Por mais importante que seja, naturalmente o sexo
fica em segundo plano, mas isso não faz diferença na sua vida,
porque ela simplesmente estará mais do que completa. É aí que
entra a sintonia e então os ajustes. Você é Ava vão se adequar,
não há uma receita, mas a ajuda tipo celestial, sabe? Que faz
tudo caminhar e as questões se encontrarem, se encaixarem.
— Obrigado por isso, pai.
— Sabe, estou muito feliz. Não tivemos tempo de conversar
direito ainda, mas quero que você saiba que eu estou muito feliz
por ganhar um neto ou uma neta. Mais feliz ainda por saber que
você irá enfrentar a mesma situação que eu enfrentei no
passado com seu nascimento e o nascimento dos seus irmãos,
inclusive com a chegada de Humberto. Ele não nasceu da sua
mãe, mas ele nasceu para nós dois, e você vai entender o que
estou dizendo quando ouvir pela primeira vez a palavra “papai”.
Vai ser ao ouvir essa palavra que sua vida vai ganhar outra
dimensão. Essa palavra muda o sentido da existência. — Sorrio
emocionado. — A primeira vez que ouvi um “papai” foi Humberto
quem disse. Aquilo mudou minha vida pra caralho, então você
foi o segundo e eu achei que não ficaria tão impactado, tendo
em vista que seu irmão havia dito antes. E eu fiquei impactado
mais uma vez. E o mesmo aconteceu com Davi, com Pedro e
Aurora. Ser pai é a coisa mais fantástica que pode acontecer na
vida de um homem e é por isso que estou feliz, você foi
privilegiado e terá um filho, para entender o real sentido da
palavra AMOR. A minha vida mudou desde o dia em que fiquei
sabendo da sua existência, você me fez um homem bom, filho e
eu desejo que você seja feliz, como eu fui e como eu sou. — O
abraço, lutando para não chorar, mas eu falho, porque meu pai é
tudo para mim, o meu super herói e a melhor pessoa que
conheço.
— Eu te amo, pai.
— Não há nada no mundo que seja tão bom quanto ouvir
isso, Gabriel — ele diz. — Significa que eu fiz a coisa certa.
— Você é o melhor!
— Agora chega, porque sua mãe é diabólica e vai ficar rindo
de mim em algum momento. — Eu rio e limpo meu rosto. — Vai
dar tudo certo, sua garota é filha de Victória e Matheus, isso diz
muito.
— Ok. Obrigado novamente.
— Voltaremos para o Rio — ele anuncia para o meu choque
absoluto. — Queremos estar mais próximos do nosso neto. — O
abraço novamente. Pode parecer infantil, mas é um conforto e
tanto saber que os terei perto de mim nesse momento onde
tantas mudanças estão acontecendo em minha vida. Um alívio,
como se eu tivesse tirado um peso das costas. Aliás, eu acho
que não fazia ideia de quão tenso eu estava até este momento,
onde fui invadido pelo alívio.
— Eu não podia receber notícia melhor. Estou feliz pra
caralho agora, pai. Obrigado, obrigado mesmo! É muito
importante, significa muito tê-los por perto.
— Estamos com você, Mini Eu! — Sorrio e vou até minha
mãe, pegá-la no colo.
— Meu Deus, Gabriel Salvatore!
— Eu te amo muito, obrigado por vir para o Rio, senhora
Analu! — digo dando beijos em sua bochecha.
— Seu pai!!! — ela repreende. — TÚLIO SALVATORE!
— Nem venha, eu estava tendo um momento pai e filho,
realmente foi necessário dizer — meu pai grita de volta.
— Meu Mini Gibi mais lindo do mundo, você agora é um
homenzinho. — Ava começa a rir, debochando
— Obrigado, mãe!
— Então! Quando pretendem se casar? — minha mãe
questiona.
— Nos próximos três meses — Gabriel anuncia no mesmo
instante em que digo:
— No futuro.
— Você está de brincadeira, Ava! — ele exclama
nervosinho. — O futuro é daqui, no máximo, três meses. Nem
tem conversa.
— No seu sonho piro... Gabriel Salvatore.
— Ava, eu não compreendo sua relutância, você disse sim,
então é o momento de cumprir com sua palavra e casar comigo.
Não há motivos para adiarmos se nós dois queremos isso — ele
argumenta diante de todos os olhares. A parte engraçada é
quando Davi, Humberto, Pedro, Túlio e Analu pegam cervejas,
se acomodam no sofá e ficam observando atentamente a
discussão.
— É sério isso? — pergunto.
— Pipoca é para os fracos. Os Salvatores bebem cerveja
observando tretas — Humberto diz.
— Essa está estupidamente gelada — Pedro fala dando
uma risada e Davi completa:
— Ainda bem que eu vim nesse jantar. Eu quase desisti...
Enfim, podem continuar. O placar está 1x0 para Gabriel, dê o
seu melhor, Ava.
— Ok — digo em concordância. — Não há necessidade de
nos casarmos logo apenas porque eu disse sim.
— Claro que há, Ava. Se eu te pedi em casamento e você
disse sim, é porque você aceitou. Aceitação é igual a VOU ME
CASAR COM VOCÊ.
— Esse é meu filho! — Túlio diz. — 2x0.
— Mas eu disse que vou me casar com você, não marquei
o dia. Nesse caso, aceitar não é o mesmo de VOU ME CASAR
COM VOCÊ EM TRÊS MESES. O meu SIM não teve data
marcada — falo cobrindo os ouvidos da bolinha de queijo, que
está no meio de um tiroteio.
— 2x1 — Humberto diz. — Vamos lá, Gabriel, honre suas
calças e seu sobrenome.
— Mas não cabe a você decidir — Gabriel rebate.
— E nem a você.
— Mas fui eu quem propus o casamento. Se você aceitou,
eu tenho direito de escolher.
— Xi, parei de contabilizar o placar depois dessa — Davi
anuncia rindo.
— Ava, não vamos demorar a casar, ok? Você está grávida
e eu pretendo criar essa criança sob o mesmo teto que você,
casados. Iremos debater em casa.
— Estou ansiosa por isso! — digo. — Seu irmão acha que
manda, Aurora. Isso é insustentável!
— Pobrezinha, me dê minha bolinha — Humberto diz
ficando de pé e pegando bolinha dos meus braços. — Irmão vai
te defender de toda louca, minha princesa. Vamos ver a piscina.
— Cara, essa menina vai ser tão mimada, tão mimada, que
eu fugirei de casa, deixando-a com o pai e os irmãos. Irei curtir a
vida na selva, onde só tenha mato e o canto dos pássaros —
Analu diz enquanto rio. — Vamos jantar, crianças. Sinceramente,
Ava deve estar tendo uma péssima imagem da nossa família.
— A minha família é insuperável no quesito loucura,
acredite — digo e a campainha toca. Gabriel vai abrir e Luma
chega, com um buquê de flores em mãos. Eu meio que a abro,
perplexa, então fecho a olho para Davi, que abaixa a cabeça no
mesmo instante.
— Ei — minha irmã diz, felizmente Túlio e Analu são um
casal receptivos e vão abraçá-la. Em seguida vai Humberto com
bolinha de queijo e então Pedro. — Desculpem eu vir sem ser
convidada.
— Você foi convidada, meu amor. Eu a convidei, disse a
Davi e a Gabriel — Analu argumenta.
— Sim, ela disse — meu noivo afirma. — Venha, junte-se a
nós.
— Eu vim falar com Davi — ela anuncia e eu noto lágrimas
caindo de seus olhos. Fico de pé prontamente, há algo
acontecendo e ela é a minha irmã.
— Ei, meu amor, o que há? — digo a abraçando. — Você
não acha melhor irmos lá fora? Há muitas pessoas aqui agora —
digo baixinho.
— Você traz o Davi? — Pede e eu olho para Gabriel, com
um sinal ele entende.
— Sim, vamos lá na área externa do condomínio, ok?
— Ok, me desculpe por estragar tudo — ela pede.
— Você não estragou nada. — A acalmo. — E essas flores?
— Para Davi, para ele saber que eu gosto dele. — Ai meu
Deus, não tenho estruturas para isso.
— Ok, me dê elas. Deixarei com Analu. — Ela me entrega e
eu entrego para Analu. — São de Davi, você pode colocá-las
num jarro?
— Claro, claro que sim. Vocês precisam de algo?
— Não. Vamos resolver. — Sorrio e então levo minha irmã.
Descemos pelo elevador e paramos na área externa, próxima a
piscina. Então me sento Luma em uma cadeira e me acomodo
ao lado. — O que está acontecendo?
— Ele não quer me dar uma chance. Eu gosto tanto dele...
por favor, peça a ele. — Ela começa a chorar compulsivamente,
logo estou chorando junto. Merda.
— Ele é um bom garoto, vocês vão se entender. Não
precisa ficar dessa maneira, Luma. Não precisa fazer coisas
estúpidas, basta acalmar, esperar passar um tempo e então
conversar.
— Luma, o que está havendo? Por que você está aqui? —
Davi chega perguntando. — Nós já havíamos conversado.
— Não posso aceitar fácil, não consigo. — Fico de pé e sigo
para Gabriel. Os dois parecem não se importar por estarmos
aqui.
— Davi gosta dela.
— Luma gosta dele.
— Então por que tem que ser tão difícil? Por que o amor é
tão difícil? — meu Piroca pergunta.
— Porque tudo que vem fácil, se vai fácil demais, Gabriel.
Se você conquista algo sem esforço, certamente não tem o
mesmo valor e o mesmo sabor que teria se você tivesse lutado
incansavelmente. — Ele beija meu ombro. — Está doendo neles
agora, mas nesse caso, a dor vale a pena, simboliza
crescimento e aprendizado, como acontece sempre quando eu e
você nos desentendemos. No fundo, estamos crescendo juntos,
aprendendo juntos. Estaremos sempre em conflito porque temos
personalidades fortes, mas o amor tem que ser maior que tudo
isso. E é, por isso estamos juntos.
— Você virou romancista? — pergunta beijando minha nuca
agora.
— De vez em quando a maturidade dá as caras — brinco.
— Você acha que a vontade de estar juntos faz a diferença?
— Se recíproca? Faz. Quando duas pessoas estão
dispostas a lutar por algo, não há nada ou qualquer força que
seja capaz de impedir. Eu acredito que a força de vontade move
o mundo.
— Você é incrível, Atriz Pornô. Mas eu acho que não haverá
um jantar com meus pais, livre de problemas — brinca. — Mas é
por amor, não é mesmo?
— Parece que sim.
— Vamos deixá-los resolver as questões. Agora é entre
eles.
— Eu me sinto ruim em deixar Luma. Não vamos intrometer,
vamos apenas ficar afastados — ele concorda e me puxa para
uma mesinha.
— Ava, case comigo.
— Eu já disse que sim.
— Nos próximos meses. — Fodeu pra caralho.
— Conversaremos sobre isso em casa.
— Não, Davi... — A voz de Luma atrai minha atenção e eu
vejo uma cena que nenhuma mulher deveria se submeter. Ela
de joelhos, agarrada às pernas dele.
Eu não posso mais me manter distante. Não mais.
Desespero.
Uma sensação de sufocamento.
Vulnerabilidade extrema.
Desespero.
Medo de perder.
Dor.
Angústia.
DESESPERO.
Fragilidade.
Necessidade.
Inutilidade.
Fraqueza.
Lembranças.
Humilhação.
E o desespero novamente.
Só quem já passou por isso vai compreender. A dor de
perder alguém que gostamos tanto, é algo intenso, sufocante,
que nos faz cometer atos de estupidez que jamais
cometeríamos se estivéssemos devidamente sãos. E as
pessoas vão julgar seus atos, vão julgar muito forte, porque elas
jamais conseguirão compreender o que está acontecendo dentro
de você, dentro do seu coração. Coisas que somente você sabe.
E eu, com a experiência que possuo, sei bem que
acontecimentos como esse são frutos de uma sucessão de
erros. Você vai errando, vai achando que é auto suficiente e que
a pessoa não é capaz de abrir mão de você. Então você entra
numa linha de conforto, onde acha que pode testar limites, pode
acomodar-se e tudo continuará como sempre foi.
Ele avisou uma, avisou duas, avisou três vezes, eu ignorei
todos os avisos porque me achava a foda, a indispensável.
MERO ENGANO.
Ninguém é indispensável, ninguém! Todos somos
substituíveis sim, e não adianta dizer o contrário, porque não irei
acreditar.
Eu acabo de descobrir que paciência e bondade têm limite.
E eu não queria que tivesse, não agora.
Nós julgamos pessoas que só passam a dar valor quando
perde, debochamos, falamos “bem feito”, mas viver isso na pele
é extremamente doloroso, acredite. Principalmente porque dá
vontade de voltar atrás e poder corrigir todas as falhas e
simplesmente a vida não te dá essa chance. E talvez o amor
também não dê.
De longe esse é o meu maior erro cometido. Antes eu vivia
um conto de fadas e pela primeira vez eu quis mostrar que
posso não mergulhar de cabeça nas histórias. Eu fiz isso com a
pessoa errada, Davi é simplesmente o homem perfeito para
mim. Nós realmente podíamos dar muito certo, somos
compatíveis até em gosto musicais, tão compatíveis que a
diferença de idade não significa nada, absolutamente nada.
Acho que todas as pessoas que sofrem por amor passam
pelo mesmo que estou passando: uma tempestade torrencial de
memórias, que parecem surgir só para cravar ainda mais um
punhal em seu peito. Você passa a se lembrar até de coisas
que, antes não faziam sentido e nem tinham tanto impacto, mas
que agora, de repente, fazem e impactam o bastante. Parece
fruto de alguma maldição, isso é extremamente sufocante e
doloroso.
Então você tenta de tudo. É como se perdesse a dignidade
por completo, como se fosse a maior de todas as humilhações
da vida. Sim, nenhuma mulher no mundo deveria se submeter a
isso, mas por acaso você está dentro dela para sentir o impacto
de tudo o que ela sentindo? Você por acaso esteve no lugar dela
quando ela viveu centenas de momentos incríveis com a pessoa
pela qual ela está se perdendo? Você consegue imaginar todas
as coisas que estão passando pela mente dela agora? Não! E,
acredite, se ela não tivesse vivido momentos tão fantásticos e
surpreendentes, ela jamais estaria tão desesperada.
Se você fez isso alguma vez na vida, saiba que eu a
compreendo.
Dói. Sufoca. Rasga.
Eu julgaria se visse alguém fazendo o que estou fazendo.
Nós temos a péssima mania de sermos julgadores da vida dos
outros até vivermos algo que nos põe de joelhos.
E acha que é só isso? Esse é apenas o topo de ICEBERG.
Além de centenas de lembranças estarem inundando minha
mente, ainda tenho que lidar com o medo de ter alguém
ocupando o lugar que parecia perfeito para eu ocupar. Vai dizer
que você nunca teve esses pensamentos quando terminou um
relacionamento ao qual saiu machucada? Não minta. Você fecha
os olhos e então imagina os beijos que a pessoa dava em você,
sendo dados em outras mulheres; os toques que eram seus,
sendo distribuídos em outras; a risada que era sua, sendo
entregues a outras; os carinhos...
A dor de perder quem se ama. A vontade de voltar atrás e
se entregar e dizer essas palavras em alto e bom tom “ EU TE
AMO”. Eu não as disse, por medo, por achar ser cedo demais e
talvez, por conta do medo, eu nunca mais tenha essa
oportunidade. Acredite em minhas palavras, é como se
estivessem levando um pedaço de mim, como estivesse
rasgando a minha alma e distribuindo pancadas sem dó em meu
coração. E eu sei que, neste momento, há milhares de pessoas
no mundo passando pela mesma dor e sentindo a mesma
sensação de perda que eu, talvez de formas diferentes; tendo
seus momentos de despedidas e tendo, obrigatoriamente, que
abrir mão de quem se ama.
Dói, mesmo sabendo que talvez seja algo momentâneo e
que, talvez, por obra do destino, vocês voltem a se reencontrar
lá na frente. Mas quando você sabe que a despedida é culpa
sua, dói infinitamente mais.
Acabo de descobrir que grandeza do sentimento só é
percebida em casos extremos como esse, talvez seja por isso
que as pessoas só passem a valorizar umas às outras, após
terem passado por um momento de perda. Eu aprendi isso hoje,
aos vinte e nove anos de idade, neste exato momento. E isso
me mostra que a dor também é aprendizado, mesmo que
estejamos tacando o foda-se para aprender qualquer coisa
agora.
Neste momento de dor eu só consigo enxergar que Davi é
além de especial para mim. Ele representa parte do meu mundo.
E eu não faço ideia de como será se ele for embora agora,
porque se eu permitir isso, estarei o perdendo, por completo.
Sinto isso, em meus ossos.
Talvez a dor passe, o tempo amenize, mas uma coisa é
certa, ninguém se vai sem deixar marcas. E eu fui devidamente
marcada por ele. De uma maneira que ninguém foi capaz de
marcar.
Saiba, você não deve apenas sorrir, você tem sim o direito
de enlouquecer.
Meu Deus!
Não sou padrão.
Não sou exemplo para qualquer mulher agora. Eu tenho
essa consciência, em toda totalidade da situação. Mas estou
sendo o que quero, o que posso, o que sou. Sem mascarar
minha dor, sem mostrar uma força que, neste momento, é
completamente nula. Eu não sou a mulher que vai sorrir para
você quando tudo dentro de mim está desabando. Sou aquela
que vai chorar e vai mostrar que está doendo. Respeito e admiro
quem se isola e vai sofrer sozinho, mas eu não sou assim. Sou
verdade, sou acertos, sou erros, sou loucura, paixão, sou dor.
Sou mil e uma em só um corpo e um só coração.
Davi Salvatore...
Eu definitivamente não posso perder isso, de forma alguma.
E não importa que Ava esteja vindo como um furacão para cima
de mim agora, eu apenas não posso perder tudo o que eu e
Davi vivemos nos últimos meses.
Porém, antes que ela possa me alcançar, é Davi quem se
abaixa e me pega.
— Não faça isso, Luma, você perdeu a mente?
— Por favor, me perdoe, me perdoe, eu não posso perdê-lo.
Me desculpe. — Eu peço o abraçando. Mas não é um abraço
normal. É um abraço de desespero, daqueles que você só dá
uma vez na vida: quando está se despedindo obrigatoriamente
da pessoa que ama. Um abraço com medo, com
vulnerabilidade. Um abraço que você sabe que se soltar, a
pessoa irá e você estará infeliz até conseguir se recuperar.
— Luma... pelo amor de Deus! — Ava praticamente grita.
Ela tenta me afastar de Davi, da mesma forma que Gabriel tenta
afastá-lo de mim. Então eles finalmente conseguem e eu vejo
Davi chorando, porque a mesma dor que eu estou sentindo, ele
também está. — Não faça isso, por favor, não faça... — minha
irmã diz baixinho, me abraçando, enquanto olho para Davi por
cima do ombro dela.
Perder alguém para a morte parece insuportável, até que
você perca alguém para a vida, porque esse alguém decidiu que
você não quer mais ficar em sua vida. A dor que antes parecia
ilusória demais, agora é real e dá para ser sentida na pele, de
uma maneira intensa. Não poderia ser diferente de intenso,
porque foi intenso desde o primeiro beijo até a despedida.
Eu o vejo se desvencilhar de Gabriel, então ele está diante
de mim novamente. Eu solto Ava e me agarro a ele, eu não
posso perdê-lo. Eu enrolo minhas pernas em sua cintura e ele
nos leva rumo do desconhecido. Não importa onde, não importa
nada.
Só abro meus olhos quando percebo que estamos entrando
em um táxi, mas eu ainda não sou capaz de desfazer meu
aperto em volta de seu pescoço, eu sinto a necessidade extrema
de estar assim, abraçada a ele, o segurando para mim apenas
para ele não ser capaz de ir. É assim que seguimos para o
apartamento dele, eu montada em seu colo, sem deixá-lo
respirar.
Só o solto quando ele vai pagar o motorista e então estou
de volta, na mesma posição, agarrada a ele.
O ouço cumprimentar o porteiro e ele sobe um lance de
escadas comigo em seus braços até chegarmos em seu
apartamento.
Neste momento não é sobre o quanto, talvez, eu esteja me
humilhando. Neste momento é sobre saber que errei e sobre
enxergar que meu medo me trouxe diretamente a essa situação.
É sobre enxergar os erros e pedir a chance de corrigi-los. Por
favor, todos merecem uma segunda chance. Eu mereço.
— Eu nunca mais quero vê-la de joelhos, nunca mais,
Luma. Você não precisa disso, você é maior, é superior, pelo
amor de Deus, eu nunca estive tão assustado na vida antes.
Não sei nem mesmo como agir agora. Nenhuma mulher deve
ajoelhar aos pés de um homem, não importa o que tenham
vivido, pelo amor de Deus, Luma, você me deu três socos no
estômago fazendo aquilo. Você não precisa dessa merda... —
Ele está praticamente gritando, chega a estar trêmulo.
— Apenas não vá, por favor — peço e ele me abraça um
pouco mais forte, deitando sua testa em meu ombro. — Eu sei
que você está com medo, com razão, eu dei muitos motivos,
mas por favor, me dê uma segunda chance. Eu não quero viver
sem você, por favor — digo o enchendo de beijos. — Fique
comigo, fique...
Eu vou morrer antes dos vinte e cinco anos de idade, isso é
um fato comprovado. Luma deve estar tentando me deixar louco
ou algo do tipo. Inclusive, eu acho que os pais dela deveriam ter
lançado um maldito manual explicando a maneira ideal de
conduzi-la, porque simplesmente não dá para compreender. Não
dá.
— Quem garante que você não vai embora amanhã?
Compreende que tornou as coisas difíceis para nós, Luma? Eu
conversei muito com você, e você simplesmente teimou, foi
firme em dizer que éramos solteiros e livres, até chegarmos
nessa situação, onde você conseguiu enxergar que gosta de
mim e que fodeu com tudo. Eu me sinto perdido, Luma. Tenho
vinte e um anos de idade e nunca havia levado qualquer merda
a sério. Então eu vou, me embarco de cabeça e tenho minha
primeira grande desilusão amorosa, porque a mulher que eu
amo é teimosa, louca, pirada, e teimosa novamente. Não sei
como decifrá-la, Luma. Não sei o que esperar de você, é como
uma incógnita. Num minuto você joga tudo para o alto e se vai,
no outro você está aqui, chorando em meus braços e pedindo
para voltar. Caralho, eu vou ficar louco.
— Eu estava com medo, todos dizem que vivo no mundo da
“Luma” — ela diz choramingando. Puta merda. Luma, sua filha
de uma boa mãe! Eu te odeio, mas te amo. — Todo mundo diz
que vivo num conto de fadas e então eu quis mostrar que nem
é...
— Mas é...
— Talvez.
— É.
— Que seja. Eu me perdi — diz voltando a chorar. — E eu
perdi você junto. — Ela arranca meu casaco e eu juro por Deus,
quero voltar para o ventre da minha mãe.
— Luma, você perdeu a mente mesmo.
— Você não me ama... — Ela chora e eu me desvencilho do
casaco que ela tanto insiste em tirar.
— Satisfeita?
— Não vá...
— Quem foi, foi você! Eu te pedi para morar comigo, Luma.
Eu disse isso, eu disse: “more comigo”. Aliás, nós estávamos
morando juntos, praticamente — argumento enquanto ela tenta
tirar minha blusa. — Porra, Luma, o que você está fazendo?
— Eu preciso consertar isso, definitivamente. Não posso
ficar mais dez minutos sem saber se estamos bem.
— E você acha que é o sexo que vai mostrar isso? —
questiono retirando minha camisa.
— Acho que sexo ajuda.
— Não ajuda — digo tirando-a de cima de mim e a deixando
cair no sofá. Eu preciso de um copo de água. Preciso mesmo.
Vou até a cozinha, abro a geladeira e pego a garrafa de
água, bem gelada. Despejo o líquido em um copo e bebo,
tentando compreender a porra toda, mas apenas não consigo,
há coisas que fogem da compreensão. Eu tinha que me
apaixonar logo pela mulher mais louca que já cruzou o meu
caminho? Tinha! Meu pai avisou que na maioria das vezes é
assim, eu ignorei o aviso.
Eu volto para a sala e fico a encarando. Não sei o que fazer,
isso me dá vontade de rir, de longe é a situação mais
embaraçosa que já vivi. E se eu a pego de volta para mim e
essa louca cisma de ir embora? Ela vai me destruir, caralho! E
se eu disse que não vai rolar, para o bem do meu coração? Mas
eu sentirei falta dela. Pra caralho mesmo.
Ela tira algo do bolso de sua calça jeans e se aproxima. Eu
vou andando para trás, sei lá o que ela tem em mãos, se for um
daqueles choque elétricos para me obrigar a ceder? Não sei
mais o que esperar de Luma. Caminho até bater na parede,
então ela limpa as lágrimas de seus olhos e cai de joelhos
novamente.
— Você deve estar de brincadeira comigo, Luma — grito
desesperado e ela surge com um maldito anel em suas mãos. —
Que porra é essa?
— Você quer casar comigo?
— O quê? — pergunto chocado pra caralho. Estava pronto
para ir morrer e ela... — Você não está fazendo isso.
— Estou, eu ia pedir sua mão aos seus pais — explica com
naturalidade. — Por favor, você aceita se casar comigo?
— Deus, Luma, não! — digo me abaixando até ela. — Você
não tem que me pedir em casamento, merda.
— Eu tracei metas que vão me ajudar — explica. —
Segunda-feira irei começar a olhar locais para eu abrir meu
consultório de odontologia, vou entrar em um curso de culinária
a noite, malhar todas as manhãs, vou ajudar nos abrigos e serei
sua noiva em tempo integral. Mesmo trabalhando, estudando,
ajudando nos abrigos e malhando, serei sempre sua noiva. Eu
nunca disse tão abertamente, mas eu amo você e sinto muito
por ter feito tudo o que fiz. Você me faz bem e sei que faço bem
a você também. Não precisamos nos casar agora, eu posso
esperar sua formatura daqui a alguns poucos anos, mas
podemos ser noivos — diz com uma carinha muito linda, que
decreta a morte da minha sanidade. — Quer ser meu noivo?
— Você não vai dar uma de louca e me largar?
— Eu juro que não — afirma piscando os cílios e eu a beijo.
A beijo até estarmos rolando no chão.
Essas porras dessas mulheres Albuquerques são malucas!
Victor veio buscar eu e Luma para irmos ao almoço na casa
dos nossos pais. Lucca e Isis estão juntos em outro carro. Acho
que todos estamos apreensivos o bastante, pois não sabemos
como nosso pai irá lidar com toda a turma de uma só vez.
— Vamos com calma, sem muitas informações para ele ok?
— Victor aconselha. — Finjam que estão o conhecendo hoje,
não depositem assunto demais na cabeça dele e muito menos
cobranças. Ele quase me matou achando que eu estava dando
em cima da mamãe, a situação foi um pouco complicada. Luma,
você é mais emocional, então tente controlar isso. Sem chorar,
porque isso pode fazer com que ele se sinta mal. Tenha em
mente que ele está vivo e bem, que a falta de memória é
passageira. Ele ainda é nosso pai, sempre será.
— Tudo bem. Tentarei me manter firme, principalmente
porque estou feliz hoje. Eu e Davi estamos noivos, vamos nos
casar daqui a alguns anos. — Eu olho para Luma, virando meu
pescoço como a garota do exorcista. — O que foi?
— Você está noiva? — questiono. — Mas e o que rolou
ontem? Como assim você está noiva?
— Nos entendemos. Eu estava errando com ele, mas
ganhei a chance de consertar — ela explica.
— O que rolou ontem? — Victor pergunta.
— Eu irei contar, talvez assim Victor consiga colocar algo
que preste na sua mente — aviso. — Luma e Davi estavam
terminados, então ela simplesmente se jogou ao chão, agarrou
as pernas dele e implorou. A sorte é que ele é um cara muito
legal, se fosse um cafajeste, ele ia pisotear na cabeça dela para
sempre depois daquela cena.
— Luma não fez isso — Victor diz com um sorriso de quem
está puto. — Você fez, Luma?
— Eu estava desesperada.
— E por isso você se joga aos pés de um homem? É isso?
— Eu finjo lixar minhas unhas, sempre sou a errada, a fria e a
ruim da história.
— Eu gosto dele.
— Sim, tudo bem, eu compreendo. Davi é um cara legal
mesmo. Mas daí se jogar ao chão, Luma? Você não conseguiria
ter uma conversa sem precisar se jogar ao chão e implorar? —
Victor pergunta. — Isso chega a ser assustador. Aposto que se
nossos pais ficarem sabendo disso, ficarão decepcionados. Não
é por questão de se humilhar, é apenas porque não existe
qualquer pessoa que mereça um ato desse. Ficar de joelhos
para mim só é válido em três ocasiões: para o sexo oral, para
um pedido de casamento ou para orar. Todo o restante não cabe
ficar de joelhos.
— Eu sei, Davi me xingou parte da noite e ainda essa
manhã. Foi errado, mas ninguém tem o direito de me julgar.
Nenhum de vocês estavam na minha pele naquele momento,
então apenas fiquem calados. Nós dois conversamos, nos
entendemos e tentaremos fazer o relacionamento dar certo. —
Luma se defende.
— Não é tão julgamento, Luma — digo. — Estamos falando
porque amamos você, nos preocupamos e ficamos tristes. Eu
fiquei muito triste ontem, de chorar. Vê-la naquela situação doeu
até a minha alma, porque você é minha irmã. Tenho certeza que
se fosse o contrário, você sentiria também.
— Luma, eu já disse isso a você. Desde que chegou você
deixou de viver e deixou de ser você mesma. A Luma que
conheço tinha planos e por isso veio para o Brasil. Até hoje você
não deu um passo para conquistar as coisas que deseja. Então
acho que seria interessante começar a sair da inércia e correr
atrás de ser a mulher que você queria ser. Independência
emocional é uma das coisas mais importantes da vida. Você
pode amar Davi, pode se casar com Davi, ter filhos com Davi,
mas você precisa ter a sua independência emocional. O que
significa isso? Não depender de qualquer pessoa para ser feliz.
Não depositar sua saúde mental em outra pessoa. A verdadeira
liberdade começa quando você se torna independente
emocionalmente. Eu li uma frase que faz muito sentido: Uma
pessoa independente é aquela que ao acordar não pergunta se
o dia está quente ou frio. Ela levanta, abre a janela, põe a cara
para fora e tira suas próprias conclusões. — Meu irmão dá uma
aula que vale para mim também. — Compreenderam? Isso vale
para as duas.
— Sim — respondo enquanto Luma chora.
— Vocês podem amar, podem se casar, podem tudo.
Apenas se amem em primeiro lugar, sejam independentes
emocionalmente e então tudo dará certo — ele explica. — Não
deposite suas expectativas e sua sanidade mental nos outros.
Vá atrás do que querem, sejam independentes. Mulherões da
porra, não aceito menos que isso de vocês. Tentem perceber
que a felicidade depende apenas de vocês mesmas. A felicidade
está dentro de nós, e nunca poderá estar dependente do que os
outros fazem, ou dizem.
— Você é feliz? — pergunto a ele.
— Sim. Absolutamente feliz. Sou independente em todos os
sentidos, faço minhas próprias escolhas, tenho uma família foda,
um emprego dos sonhos, sou bem resolvido, rico, nunca me
faltou nada, absolutamente nada, há centenas de crianças que
me amam, tenho sexo quando quero ter — explica rindo. — Sou
muito feliz, de verdade. Não há nada para reclamar, apenas
agradecer.
— Você pretende se casar um dia? — Faço mais uma
pergunta.
— Eu não sei, Ava. Atualmente não. Não posso dizer sobre
o futuro. Não é que eu nunca vá namorar na vida, mas no
momento essa não é a minha prioridade e nem mesmo há
qualquer mulher que me atraia e me faça pensar sobre um
relacionamento. Talvez ela surja e eu mude minhas convicções.
— Só perguntei, porque o dia que isso acontecer, a garota
será muito privilegiada na vida. — Sorrio deitando minha cabeça
no ombro dele, enquanto ele dirige. — Sério, depois do papai,
você é o melhor homem que conheço. Você é tão foda, tão foda,
mais tão foda... eu te amo e tenho muito orgulho. Todas as
mulheres deveriam ter um homem como você.
— Eu também te amo, e amo a cabeçuda da Luma também
— ele diz rindo. — Pare de chorar Luma.
— Já parei — ela diz e eu olho para trás, para vê-la
limpando os olhos.
Victor ri e chegamos ao condomínio. Na portaria, Isis e
Lucca nos aguardam.
— Estou nervosa — Luma confessa.
— Respire e se acalme — Victor aconselha. — Vamos lá.
Entramos no elevador e eu e Isis já começamos a guerra.
Eu amo minha irmã, mas sempre tivemos problemas por ciúmes
do meu pai.
— Aposto que ele vai me reconhecer — ela diz.
— Ah vai sim! Porque você é a especial, né? A diferentona!
A fodona! A primogênita! A Sadbebê especial!
— Sou a primeira filha dele mesmo — ela pontua.
— E por isso todos os demais deixam de existir, entendi —
provoco.
— Já pararam? Eu juro que pego as duas, entrego uma
para Gabriel e a outra para Bruce — Victor ameaça. — Se eu
ver mais uma gracinha, nós teremos problemas.
Ficamos caladas, cada uma num canto até chegarmos à
cobertura. Então tudo recomeça, quando nós duas saímos
correndo para abrir a porta. Victor nos pega pelo braço, não de
uma maneira que machuque, apenas para nos conter. Ele nos
puxa para trás, deixando que Luma e Lucca entrem primeiro.
— Qual a idade de vocês? Na boa, Isis, você deveria dar o
exemplo, caralho! Não tem mais dez anos de idade não. Parem
de palhaçada.
— Foi ela quem começou — aviso.
— Parem, estou pedindo.
— Parei — Isis diz se desvencilhando dele e saio também.
Luma e Lucca estão agarrados ao nosso pai e vou abraçar
minha mãe.
— Minha princesa! Você está linda!
— Eu não gosto de Isis mais — digo choramingando.
— Novamente isso?
— Ela me irrita, ela disse que o papai só vai reconhecer ela.
— Minha mãe começa a rir.
— Será?
— Não sei, estou com medo — digo chorando. Merda, os
hormônios. — E se ele gostar mais dela?
— Seu pai ama todos os filhos igualmente. Não existe um
que ele ame mais que o outro.
— Quando ele vai lembrar de mim? — Minha mãe me
abraça mais forte e eu desabo. — Ele era só meu.
— Pare de bobeira, Ava. Estou vendo aqui uma garota de
quinze anos —ela me repreende. — Parem com isso, vocês já
são adultas, você está grávida.
— Quem é essa, Victória? — Ouço a voz de meu pai e
quero morrer de chorar. Ele não se lembra de mim, é tão triste
isso.
— É sua filha, não se lembra dela?
— De forma alguma. Eu só lembrei de Isis, porque os olhos
dela são muito azuis. — Eu agarro minha mãe mais forte, e
começo a chorar mais alto. Inclusive o silêncio se faz, porque
todos devem estar vendo meu show agora. — Me lembro que eu
tinha uma preferida, que dizia que nunca ia me abandonar... é
essa? — Fico quietinha, tentando conter o choro.
— Ava, você está me sufocando, filha — minha mãe
comenta. — Pare de graça, Matheus, eu quem estou sofrendo
as consequências. — Eu me afasto dela e limpo meu rosto,
ainda estou tremendo e suspirando, tentando fazer o choro
passar. Não tenho coragem de olhar para meu pai, mesmo
assim ele me puxa e me abraça.
— Ei minha princesinha.
— Pai!!! Você voltou? — pergunto o abraçando muito forte.
— Pai...
— Meu amor, você tem um Sadbebê na barriga, não pode
ficar assim, nesse estado de desespero.
— Pai, eu senti tanto sua falta! Você pode nunca mais ir
embora?
— Pretendo nunca mais ir — ele diz rindo. — Eu fiz uma
surpresa para você.
— Para mim? Só para mim?
— Para Luma também, mas principalmente para você. —
Eu me afasto, devastada em lágrimas. — Não existe nada no
mundo que eu não faria por vocês.
— Pai, eu te amo tanto.
— Eu também, minha princesa. Agora vá lavar o rosto,
temos uma surpresa no salão de festas — avisa.
Corro até o banheiro, lavo meu rosto, cato um óculos escuro
da minha mãe e todos descemos até o salão de festas. Antes de
entrarmos meu pai venda meus olhos e começo a rir de nervoso.
— Vamos lá — ele diz me conduzindo.
Quando ele tira minha venda, encontro uma enorme mesa,
com várias refeições servidas. Isso é realmente ótimo, mas
melhor que isso é ver toda a família de Gabriel em volta dela,
meu Piroca Baby, com o maior de todos os sorrisos e Bruce.
— Pai! — Me emociono novamente e o abraço. — Muito
obrigada, pai. Muito obrigada!
— Somos uma só família agora. Mas eu ainda serei o
melhor avô, nem adianta.
— Sim, você será — digo rindo.
Vou cumprimentar todos, ficamos alguns minutos
conversando até Davi ficar de pé e solicitar nosso silêncio. Eu já
imagino o que vá acontecer e estou sorrindo.
— Bom, estou com vergonha, mas vamos lá. — Todos riem.
— Para a maioria, sou apenas um garoto de vinte e um anos,
que cursa a faculdade de Direito, cheio de planos e projetos
para o futuro. Meus pais e a minha família sabem que sempre fui
muito maduro, desde jovem, assim como todos meus irmãos
são. Talvez pela criação, rica em valores que nossos pais nos
deram, por sabermos parte da história deles, enfim. Vinte e um
anos de idade, namorado de uma mulher de vinte e nove. — Ele
sorri olhando para Luma. — Nunca esteve nos meus planos
namorar, casar, constituir minha própria família. Na universidade,
aos vinte e um anos de idade, certamente vocês devem saber
como as coisas funcionam. Muito estudo, mas também muitas
festas e tudo mais. Meu plano era curtir a vida acadêmica,
aproveitar todos os momentos e oportunidades.
— Até conhecer Luma — digo sorrindo.
— Exatamente. Acho que eu e ela nos identificamos no
primeiro minuto de conversa. — Ele sorri. Deus do céu, ele é
realmente muito gato. Compreensível Luma estar nesse estado.
— Estamos a pouco tempo juntos, tivemos algumas diferenças
nesse período principalmente pelo fato de Luma ser cabeça
dura. — Rimos. — Mas nos entendemos e essa maluquinha fez
algo exótico ontem, que eu não direi o que é. Enfim, Luma... —
ele diz estendendo a mão para ela, para que ela fique de pé. —
Há muitas coisas ainda para acontecer, eu quero me formar,
poder comprar a casa dos meus sonhos para ter nossa própria
família, faltam alguns poucos anos ainda pela frente, mas eu
quero passar eles com você. Eu gostaria de pedir,
primeiramente, a permissão de seu pai — ele anuncia olhando
para meu pai...
— Puta merda, Vic, estão roubando minhas meninas. — Ele
dramatiza. — Esses Salvatores, isso não se faz.
— Cara, quando é para foder, é para foder. Não adianta
mais — Túlio diz rindo. — O jeito é aceitar e foda-se.
— Tá, apenas retire minha última filha de mim... — Todos
riem. — Pelo menos ele me pediu, diferente de uns e outros —
diz se referindo a Gabriel.
— Eu pedirei, de uma maneira mais discreta — eu Piroca,
anuncia apertando minha coxa por baixo da mesa.
— Bom, Luma, agora sim. — Davi sorri. — Vai, me peça em
casamento. — Ele brinca.
— Novamente?
— O quê? Minha filha pediu você em casamento? — meu
pai questiona.
— Matheus, não vamos interromper com drama — minha
mãe repreende.
— Você aceita casar comigo daqui alguns anos? — Davi
pergunta e Luma é só sorrisos.
— Sim, mil vezes eu aceito!
— Ownnn! — eu digo emocionada.
— Ela é menos complicada que uma certa pessoa —
Gabriel sussurra em meu ouvido. — Agora estou realmente
triste, Ava. Meu primeiro pedido de casamento foi um fiasco.
Farei algo, te pedirei novamente, mesmo você já tendo aceito.
— Você sabia desse almoço com toda família? — pergunto.
— Não. Fui informado essa manhã — ele explica. — Mas
estou feliz, parece que nossos pais se entenderam. Tudo está
se ajustando.
— Matheus, há algo que você precisa saber desde já —
meu sogro informa atraindo a atenção de todos.
— Eu sinto que vem uma merda do caralho agora — meu
pai responde.
— Gabriel tem um padrinho — meu sogro informa. — Um
padrinho aí... que talvez...
— Ai fodeu demais agora! — minha mãe diz ficando de pé e
apoiando as duas mãos na mesa. — Túlio Salvatore, você não
fez isso! — Meu sogro levanta os ombros. — Fodeu pra caralho!
Ava, minha filha, que caralho!
— Deus do céu, minha filha no meio de todos esses
palavrões. Ainda bem que ela está dormindo — minha sogra diz
rindo.
— Quem? — meu pai pergunta receoso.
— Rhael. — Meu pai fecha os olhos e dá um sorriso
assustador.
— Ah, fodeu, meu pai também tem um problema com seu
padrinho — digo escondendo meu rosto no pescoço do meu
Piroca Baby. — Eu juro que não está dando mais...
— Você está de brincadeira com a minha cara! — Ouço
meu pai dizer. — Porra, Victória, isso é culpa sua, filha da puta!
— Minha mãe começa a rir. — Na boa, vou achar todas as
minhas ex peguetes e trazer para o Brasil, caralho. Já não basta
eu virar amigo do rei do chicote, agora vou ter que virar amigo
do Italiano made in china! Não vou não! Já estou avisando! Só
Túlio me basta! — Todo mundo está rindo, e eu não estou
entendendo nada.
— O que tem o tal Rhael? — pergunto.
— Puta que pariu! Eu lembrei! — Isis diz rindo. — Nossa... o
tio Rhael, mãe?
— Sim, filha.
— Tio é meu cu, Isis! Vou te deserdar! — meu pai ameaça.
— Ah nem... quero minha mãe. Não quero mais fazer parte
disso não. Só tomo no cu! — ele diz. — Que caralho, você não
gostava dele, merda!
— Eu também não gostava de você — Túlio justifica.
— Qual o nível de convivência? — meu pai questiona de um
jeito engraçado.
— Você terá que aturá-lo apenas em casamentos,
aniversários dos netos, eventos familiares — Analu explica
rindo.
— Deus, eu e os três homens que já... — Minha mãe é
impedida de continuar a frase.
— Não termine! — meu pai diz ficando de pé e cobrindo a
boca da minha mãe.
— Mamãe já transou com Rhael? E com Túlio? — Lucca
questiona.
— Olha, sinceramente? Não quero ouvir mais nada. Alguém
tem fones de ouvido? — Victor pede. — Pelo amor de Deus, eu
não quero ouvir mais qualquer coisa relacionada a sexo e minha
mãe.
— Princeso, você nem era nascido. É uma longa história —
minha mãe diz indo até Victor e se senta nas pernas dele. —
Meu princeso da mamãe, não foi nada.
— Foi sim — meu pai diz. — Se ele olhar para Victória, eu
vou quebrá-lo na porrada com força dessa vez.
— Podemos voltar a programação normal de almoço? —
Bruce pede e eu o amo por isso.
— Ok, já que é para tomar no cu, vamos tomar por
completo! — meu pai anuncia dando um sorriso. — Estou puto,
hein, não se enganem. Mas são as mulheres da minha vida,
essa sardinhas, filha da mãe me fode há nem sei quantos anos
mais.
— Seu pai é bem humorado — Gabriel diz. — Apenas pare
de pensar em problemas que não lhe dizem respeito
diretamente. Eles vão se resolver, meu amor. Foque no nosso
bebê, sem stress e sem culpa Ava. O passado é deles e não
nosso.
— Ok.
— Um brinde à perda da última prega que tinha no meu cu!
— meu pai propõe levantando um copo e eu percebo que não
tem jeito. A loucura desse povo é algo que nunca conseguirei
entender.
Minha vida virou uma loucura desde que meu pai resolver
ser amigo do pai de Gabriel. Inclusive, Túlio Salvatore resolveu
mudar para o Rio de Janeiro da noite para o dia, para
acompanhar o nascimento do meu bebê, meu casamento. Com
isso, meu pai também resolveu voltar para o Brasil, para o
desespero de Isis, #chupa!
Minha sogra e minha mãe tornaram-se as melhores amigas
e estão unidas para me enlouquecer com o assunto casamento.
Na verdade, acho que todos estão contra mim. Gabriel, meu pai,
Túlio, Analu, os irmãos de Gabriel, os meus irmãos, a minha
nova empregada. Todos se uniram para resolver o MEU
casamento. E eu resolvi deixar que elas façam tudo. Irei de
convidada. Devido a minha decisão, Gabriel não conversa
comigo há três dias. Mas, ele não compreende que eu só quero
ficar livre de stress. Imagina um monte de pessoas unidas, te
pressionando para fazer todas as escolhas, diariamente? Aí eu
digo que gostei de algo, uma pessoa concorda e quinhentas
discordam e começa uma discussão absurda.
Estou grávida! Será que terei que tatuar em minha testa
para que as pessoas consigam entender? Só quero paz e
sossego, já que meus hormônios estão enfurecidos trabalhando
intensamente, ao menos meus familiares têm que me dar
sossego. Mas isso não está acontecendo, então eu prefiro ficar
avulsa e alheia aos acontecimentos, lidando apenas com meus
hormônios mesmo.
É por isso, que nessa linda tarde, estou indo para mais uma
tentativa de descobrir o sexo do meu bebê SOZINHA!
Eu entro em meu carro e pelo retrovisor vejo Gabriel com
um capacete em mãos, indo em busca de sua moto. Acelero,
saindo da garagem e sigo rumo a clínica. Quando eu chego,
meus pés já congelam logo na entrada e eu quero sair correndo.
Parece festa, inferno!
Há Victor, Lucca, meu pai, Túlio, Davi, Luma, minha mãe,
Analu, e bolinha de queijo.
— Vocês não estão aqui! — exclamo emputecida,
caminhando até a recepcionista. — Boa tarde, vim para uma
consulta.
— Sim, senhorita Ava, a doutora está a sua espera já. —
Ela sorri, mas eu não sorrio de volta, porque estou mal
humorada.
— Filha! É o papai! — Meu pai surge me abraçando. —
Minha preciosa.
— Pai, menos!
— Ava, eu, sua mãe e Luma combinamos de ir ver alguns
vestidos. — Analu surge dizendo. — Após a ultra.
— Ah, é mesmo? — digo fingindo sorrir. — Claro! Será o
melhor de todos os programas.
— Ava, minha querida, vamos? — A doutora aparece me
chamando e eu vou.
A minha ida implica numa procissão atrás de mim.
— Doutora, diga que eles não podem vir, por favor — eu
peço, quase suplicando.
— Ava, estão todos felizes, empolgados e curiosos — ela
argumenta.
— Mas são muitas pessoas, eles estão me deixando
completamente louca, descompensada mesmo.
— É só uma fase, logo passa. — Suspiro frustrada e, ao
entrar na sala, encontro Gabriel, sentadinho ao lado da cama.
— Como você está aqui? — pergunto chocada.
— Vim de moto — explica vagamente, contendo um sorriso.
— Eu não sei se você sabe, mas é o MEU FILHO ou MINHA
FILHA. Essa criança não é apenas sua. Tenho direitos e deveres
como pai. Eu cumprirei meus deveres e aproveitarei dos meus
direitos.
— Não sabia, foi bom você me ensinar — digo sarcástica.
Soco minha bolsa sobre a mesa da médica e me deito,
revoltada da vida.
O bando de familiares que possuo, faz da minha
ultrassonografia uma festa. Eles falam tanto e eu me encontro
com um mal humor tão insuportável, que tampo meus olhos com
um braço e tento me desligar de tudo.
Sim, eu estou muito chata mesmo. Estou irritada, rebelde,
irritante, mas não é à toa. Lógico que os hormônios contribuem
para uma intensificação, mas eles realmente estão me
enlouquecendo. Luma também está noiva, por que todos não se
unem para perturbá-la e me deixam quieta com meu bebê?
Um líquido gelado desliza em minha barriga e então sinto o
aparelho de ultrassonografia deslizando pela minha pele.
Respiro fundo e fico calada apenas ouvindo todos falarem.
— O que temos aqui... — a médica diz e eu mordo meu
lábio inferior, demora longos segundos até que ela diga: —
Temos um piu piu! É um garotão!
Eu retiro meu braço dos meus olhos e olho para Gabriel. Ele
está com as duas mãos a boca, com olhos marejados, olhando
para a tela como se não estivesse acreditando que será papai
de um menino. Eu paro de ouvir todas as pessoas e concentro-
me apenas nas ações dele. É tão bonito, suas reações são tão
puras. Ele parece em uma outra dimensão neste momento.
Não tínhamos preferência de menino ou menina, mas sei
que ele deve estar no céu por ter feito um mini ele. Mesmo eu
estando puta de raiva, não consigo não ficar tocada com a
emoção dele.
A médica vai explicando várias coisas, e Gabriel permanece
da mesma maneira, enquanto Túlio dá um beijo na cabeça dele
e bagunça os cabelos.
— Um garotão! — Victor surge do meu lado, segurando
minha mão. — Estou muito feliz, muito feliz mesmo. — Sorrio
beijando a mão dele.
— Ei, você quer ser padrinho do meu meninão? — pergunto
e ele abre um enorme sorriso.
— Sério?
— Sim! Tipo um segundo pai! — Os olhos dele brilham,
cheios de lágrimas. — Você é um dos homens mais fantásticos
que existe. Ficarei muito feliz se você aceitar.
— É claro que aceito, Ava. Serei o melhor padrinho para ele
— ele diz beijando minha testa. — Obrigado por confiar em mim.
— Obrigada por aceitar! — Sorrio. — Quando terá filhos?
— Nunca? Não tão cedo, soa melhor? — Reviro meus
olhos.
— Quando terá uma namorada?
— Nunca? Não tão cedo, soa melhor? — Repete a resposta
e então ri. — Na boa, não aguento mais ser pressionado para
arrumar uma namorada, já basta nossas avós e nossos pais.
Por gentileza, não entre nesse time, por favor.
— Ok, solteirão. Não entrarei.
— Você também não curtia se apegar e agora vai se casar.
As coisas acontecem quando têm que acontecer, não adianta
pressionar. — Tenho que concordar.
— Você está certo — digo beijando sua mão novamente.
— Ava, já terminamos — a médica informa. Eu me sento,
subindo a pouca parte do meu short que foi abaixada e então
todos vem me abraçar de uma só vez, exceto Gabriel, porque
ele também sabe ser rebelde. Nós dois somos muito iguais, é
surreal.
Ele é o primeiro a ir embora, em seguida meu pai, meu
sogro, Davi, Victor e Lucca vão para um barzinho no shopping
comemorar. Já eu, sou arrastada pela minha sogra, Luma e
minha mãe. Felizmente há bolinha de queijo para me distrair das
loucuras dela. Eu a pego em meus braços e decido que não a
soltarei mais.
Conforme nós andamos, ela vai mexendo em meus cabelos
e eu vou sorrindo. Quando chegamos na calçada, do lado de
fora da clínica, a entrego para Analu.
— Então, vamos no estilista? — minha mãe pergunta.
— Mãe, estou me sentindo um pouco mal, enjoada e
irritada. Talvez eu nem vá trabalhar hoje. Estou precisando ficar
um pouco na cama, relaxando. Estou estressada, muitas
informações de uma só vez. Vocês poderiam deixar eu relaxar
um pouco? Todos estão em cima de mim desde o noivado de
Davi e Luma. Parece que aquele dia foi o marco do início de
uma grande amizade e o marco do início de uma perseguição.
— Ava... — minha mãe diz.
— Ela está certa, Victória. Estamos todos bastante
empolgados e estamos transferindo isso diretamente para Ava.
Ela está num período delicado, devemos ser mais razoáveis —
minha sogra argumenta. — Me perdoe, Ava. Sou psicóloga e
não estou dando o exemplo. Mas é porque é meu primeiro filho
a se casar e ser pai. É normal que eu esteja esbanjando
ansiedade e alegria. Até deixei de lado um pouco a organização
do aniversário de um ano de Aurora.
— Eu compreendo vocês — digo com sinceridade. — Mas
tenham calma. Irei me casar, irei resolver tudo, mas não com a
intensidade insana que vocês estão querendo. Pode parecer
insensibilidade, mas para mim, mais importante que o meu
casamento, é a minha gestação.
— Você está certa — Analu diz.
— Ok, filha, eu compreendi. Me perdoe.
— Mãe, eu te amo, apenas pegue leve comigo. — Sorrio a
abraçando.
— Não brigue com Gabriel, vocês precisam se entender. Ele
só está empolgado também, ele ama você — minha mãe diz.
— Mãe, foi ele quem brigou comigo e eu o amo também.
— Ava, até Davi está empolgado — Luma diz levantando os
ombros. — Acho que todos os acontecimentos das últimas
semanas serviram para empolgar a todos. Há semanas temos
vivido como numa festa constante.
— É por isso que estou estressada e cansada. Só preciso
dormir, ficar quietinha em meu apartamento fazendo coisas
normais sozinha. Assistir filmes, ler livros, comer besteiras.
— Então vá, filha. — Minha mãe me dá um beijo e eu vou
me despedir de Analu.
— Meu amor, enfrentei quatro gestações, é louco demais
mesmo — ela diz rindo. — Se te conforta, todas as mulheres
ficam meio loucas nesse período, instáveis, oscilando entre
vontades e sentimentos. Está tudo bem, tudo dentro da
normalidade. Gabriel ama você, ele tende a ser um pouco
rebelde em algumas situações. Vocês dois são geniosos, isso é
bom quase sempre, porque tem o gênio forte pode ser
interessante na relação, mas há apenas alguns detalhes que ter
o gênio forte não é bem-vindo, poucos, mas há. Logo vocês se
resolvem.
— Com certeza. — Sorrio e encho Aurora de beijos. —
Adeus minha princesinha mais linda — digo e ela sorri.
— Estarei no apartamento de Davi, se precisar de qualquer
coisa só chamar. Luma diz quando a abraço.
— Te amo, twin! — Ela sorri e eu sigo para meu carro.
Em poucos minutos estou em casa. Jogo meus sapatos
para longe, bem disposta a não me importar com organização
hoje. Retiro minha roupa e vou tomar um banho de
hidromassagem.
Encho a banheira, despejo alguns sais de banho e coloco
uma música em meu celular. Coloco os fones de ouvido e então
relaxo na hidro, com as mãos em minha barriga.
Um menino. Qual será o nome? Acho que a maternidade
nunca havia passado em minha mente mesmo, porque nunca
havia pensado em nomes para um futuro filho ou filha. Na minha
família já há tantos nomes lindos: Matheus, Arthur, Heitor,
Gabriel, Victor, Lucca, Enzo... faltam nomes para meu filho.
Théo? Théo Albuquerque Salvatore. Théo é legal. Theodoro
não, apenas Théo. Ou Theodoro?
Ain!! Qual nome Gabriel gostaria? Será que ele já pensou
sobre isso?
Respiro fundo e tento mesmo relaxar. Tudo tem me deixado
tensa, até uma escolha de nome.
Fico pelo menos uns vinte minutos na hidro, então saio.
Visto um roupão, faço um lanche, volto até o quarto e fecho as
cortinas, deixando-o mais escuro o possível, e me deito. Acabo
dormindo profundamente, nem mesmo aviso na faculdade que
não irei.
— Ei. — Ouço uma voz me chamar e me viro para
encontrar Aron.
— Oi.
— Ava está bem? Ela não veio, não avisou. Desculpe
perguntar, é porque ela está grávida e ficamos preocupados. As
meninas da secretária tentaram falar com ela, mas não foram
bem sucedidas. — Eu começo a ficar preocupado. Não fazia
ideia que ela não havia vindo para a faculdade.
— Até onde sei ela estava bem sim — digo vagamente,
tentando evitar que ele perceba que eu e Ava estamos com
problemas. — Tentarei falar com ela.
— Ok — ele diz se afastando e eu tento ligar para Ava, que
não atende à ligação.
Pego minha mochila, meu capacete e vou descobrir que
diabos está acontecendo com Ava. Eu morrerei antes de ver
meu filho nascer, porque Ava é o diabo em forma de gente,
disfarçada de doçura em alguns momentos.
Chego no prédio e vou direto bater campainha em seu
apartamento. Ela não atende, então terei que bancar o invasor,
psicopata.
Entro em meu apartamento, joga a mochila no sofá e pulo
do meu apartamento para o dela. Está tudo devidamente
apagado. Então uso meu celular para ajudar a iluminar o
caminho. Entro pela sala, já que a porta de vidro do quarto dela
está fechada. Tudo escuro.
Caminho pelo corredor, rumo ao quarto e, quando entro, a
pego dormindo, abraça a um travesseiro e com outro travesseiro
entre as pernas. Ela está de roupão e sua respiração está muito
pesada, como se ela estivesse imensamente cansada. Verifico
se ela está febril, mas não está. Está normal, apenas dormindo
pesado, graças a Deus.
Após ficar calmo, volto ao meu apartamento e vou direto
para o banho. Há três dias eu e Ava não conversamos, porque
ela simplesmente está irritante. Compreendo a situação crítica
hormonal, então, para não brigar, preferi me afastar. Mas eu
sinto falta dela, bastante. Eu me acostumei a ela, me apeguei,
estabelecemos uma rotina de casados.
Estou com os olhos fechados, deixando que a água caia
com força em minha cabeça, quando a ouço dar um grito de
horror.
Fecho o chuveiro, me enrolo em uma toalha e me pego
pulando novamente para a casa dela. Nós dois trombamos na
sala e quase caímos juntos. Ela está respirando com dificuldade
e tremendo.
— O que houve? — pergunto.
— Uma lagartixa no meu banheiro! Ela é horrível! Você
precisa matá-la, urgente, pelo amor de Deus!
— Nem fodendo, Ava. Sem chance mesmo — informo a
soltando e ela me puxa pela toalha, fazendo-a cair. — Maldição,
Ava!
— Eu não vou ficar aqui sozinha com aquele monstro em
meu banheiro — ela diz se jogando em meus braços e
enrolando as pernas em minha cintura, enquanto quase me
sufoca. — Não vou ficar aqui!
— Ok, Ava, e eu vou sair nu com você em meus braços?
— Vai — afirma. — Eu não vou descer! — diz
choramingando. Eu sigo para a porta, porque é impossível pular
com Ava em meus braços. Por sorte não tranquei a porta com
chave.
Coloco Ava sentada sobre o balcão da cozinha e ela me
puxa pelo cordão.
— Ava, eu não estou nem um pouco bom com você.
— Mas nós podemos transar? — pede. — E você pode
fazer comida para mim e nosso filho?
— Eu posso fazer comida para meu filho, mas não posso
transar com a mãe dele, porque sexo não resolve problemas e
nós estamos com alguns.
— Ok, comida dá para o gasto então. Eu nem estava a fim
de sexo mesmo, foi apenas porque você está nu. — Sorrio e vou
fechar o apartamento dela com chave, quando estou voltando
para meu apartamento outro grito surge e dessa vez é Luma!
Só melhora! Inferno astral!
O merda!
Saio correndo e fico na frente de Gabriel, enquanto Luma
grita feito uma descompensada.
— O piercing dele é quase igual ao do Davi — Luma diz
com olhos arregalados. — Uau Ava...
— Luma, por obséquio — digo na tentativa de fazê-la se
situar. Gabriel aproveita da situação para me abraçar por trás e
eu sou obrigada a morder meu lábio inferior, de nervoso. Alguns
dias sem sexo e, de repente, o homem está nu atrás de mim.
Quão tentador isso pode ser? Eu queria sexo, bastante, mas eu
passaria parte dessa noite chupando sua piroca nada baby e
brincando com seu piercing em minha língua, mesmo que ele
não mereça. Na verdade, acho que estou desejo de chupá-lo.
Um desejo tipo avassalador mesmo, quase incontrolável. Por
isso, eu me viro de frente para e saio o empurrando para dentro
do apartamento. Dou um até logo para Luma e fecho a porta
com chave.
— Por que está me olhando dessa maneira? — ele
pergunta receoso e eu o empurro até a parede. Isso que estou
fazendo está completamente errado. Suspiro frustrada comigo,
com a minha situação atual.
Me afasto dele e me acomodo no sofá. Me sinto tão
cansada, tão à flor da pele, tão sensível. Eu odeio me sentir
dessa maneira.
Gabriel desaparece dentro do apartamento e então volta
minutos depois, vestindo uma cueca boxer branca. Ele se senta
na mesinha de frente e segura minhas mãos. Eu me sinto tão
vulnerável agora, com ele fazendo isso.
— Vamos conversar, Ava. Vamos nos entender, ok? — Eu
balanço a cabeça em concordância. — Me diga tudo o que está
sentindo, sem ocultar nada.
— Estou grávida. — Ele balança a cabeça em
concordância. — E eu só queria curtir a minha gravidez, em paz,
Gabriel. Mas estou sendo pressionada de todos os lados. Eu
não tenho mais tempo para curtir o meu momento mãe, o meu
momento noiva. Vocês estão atropelando tudo como tratores
desgovernados, estão sendo puramente emocionais. E então eu
sou chamada de mimada, sou mal interpretada e opto por ficar
reclusa, porque parece que a minha palavra não tem valor, que
as palavras de todos vocês são muito mais importantes que as
minhas. Vocês tiraram meu direito de escolha e de falar. E não
diga que estou mentindo. Tudo que tento dizer, vocês vão lá e
me criticam, passam por cima. Acontece que eu estou de saco
cheio disso, Gabriel.
Ele balança a cabeça me incentivando a continuar e eu
respiro fundo.
— Eu amo meus pais, mais do que amo qualquer coisa na
vida. Mas, meu pai especialmente, me sufocava com excesso de
zelo e protecionismo. Eu gostava daquilo, sempre fui mimada e
nunca escondi de ninguém. Mas meses atrás, eu notei que era
uma adolescente presa no corpo de uma mulher de vinte e nove
anos de idade. Já estava formada, já havia feito pós, vários
cursos, simpósios importantes. Mas minha maturidade resumia-
se ao trabalho. Fora dele eu voltava a ser a Ava mimada, que
morava com os pais e que tinha um pai que me tratava como
uma adolescente. Aquilo era confortável para mim, mas de uns
tempos para cá, eu saí da bolha e comecei a sentir a extrema
necessidade de crescer, de ser uma mulher de vinte e nove
anos. Só, que isso não seria possível se eu continuasse
morando em Los Angeles, na casa dos meus pais. Por isso, eu
quis vir embora para o Brasil. Vim em busca da minha
independência emocional, financeira, da minha liberdade — digo
respirando fundo, sentida com minhas palavras e minhas
revelações.
— Continue.
— No primeiro dia, logo de cara, eu conheci você, mas eu
estava bastante decidida a peitar o mundo e buscar minha
independência, então tentei me afastar. Porém, quando dei por
mim, nós já estávamos envolvidos na mais intensa
profundidade. — Ele balança a cabeça positivamente.
— Sim.
— Temos tido uma relação intensa em todos os sentidos.
Nós dois somos intensos, rebeldes, geniosos, tarados. — Ele
sorri. — E eu cometi erros com você, fui infantil, você também foi
em alguns momentos. Mas, tudo isso é perdoável, porque ainda
estamos nos conhecendo, e estamos crescendo com pessoas e
como casal. Não é? — pergunto.
— Muito perdoável, Ava. Estamos aprendendo um com o
outro e o aprendizado só vem após muitos erros. — Eu o amo.
— Sim, é o que acho. Inclusive acho que já dei uma
amadurecida significativa.
— Sim, você deu — ele diz concordando.
— Assim como você amadureceu também. Ambos
tínhamos vidas completamente diferentes e então nos
envolvemos e passamos a viver meio que uma só vida. Faz
sentido? — Ele sorri.
— Faz sim.
— Eu engravidei de você. Foi um baque para mim, mesmo
sabendo que abusamos da situação, que não fomos cuidadosos
o bastante — confesso. — Estou assustada, porque eu não tive
vivência o suficiente nem mesmo para pensar em ter um filho e
agora já o tenho em meu ventre.
— Eu compreendo você, me sinto assustado também. —
Sua confissão me acalma, porque não sou a única assustada.
— Mas eu quero isso. Eu já amo nosso filho e eu já imagino
nossa vida com um bebê — digo dando um sorriso fraco. —
Então veio o pedido de casamento. Eu amo você, Gabriel, de
verdade, mas foi outro susto. Casamento é algo extremamente
sério, ao menos fui criada sendo ensinada sobre a importância
de um casamento. Minha família é uma família apaixonada, com
casamentos fantásticos, histórias fantásticas. Tenho exemplos o
tempo todo.
— Você não quer se casar, é isso?
— Não é isso — digo. — Vou chegar onde quero.
— Por favor.
— Não estava nos meus planos um casamento, Gabriel.
Mas você fez o pedido, eu fui para aquela Ilha e estar lá ampliou
minha visão, me mostrou a importância que você tem na minha
vida. Eu aceitei, porque eu consigo vislumbrar um futuro ao seu
lado, com nosso filho. Portanto, eu te digo novamente, eu aceito
casar com você. De verdade. Eu te amo e aceito. — Ele sorri.
— Mas?
— Mas não dessa maneira que está sendo, Gabriel. Não é
o momento de eu ir conhecer possíveis salões de festas, de
decidir buffet's, decidir recheios dos bem-casados, ou ir
experimentar dezenas de vestidos até encontrar o vestido ideal
— digo suspirando. — É o momento de decidirmos onde iremos
morar, parar criarmos nosso bebê juntos. É o momento de
decidirmos a decoração do quarto dele, e então fazer compras
de roupas fofas. É o momento de eu fazer algumas atividades
físicas específicas para gestantes, que podem vir a me ajudar na
hora do parto. É o momento de escolher o hospital ideal para o
nascimento dele.
— Compreendo, nós podemos adiar, Ava. Se é isso que
você quer.
— Não. Espere eu concluir, ok?
— Sim. Então me diga — ele pede.
— Eu tenho uma proposta a fazer, mas apenas ouça
primeiro. — Ele balança a cabeça em concordância. — Eu quero
algo digno com tudo que tem direito, quero pajens, daminhas,
chuva de arroz. Quero escolher a decoração junto com você, e
todo restante. Quero nossas famílias unidas e quero estar bem
disposta para participar ativamente das escolhas, porém, isso
que eu quero terá que ser adiado — explico.
— Não entendo, Ava. E onde está a proposta nisso? —
Respiro fundo e digo.
— Nós podemos casar semana que vem. Eu e você,
apenas. Nós só precisamos ir ao cartório e assinar uns papeis,
então podemos fazer uma pequena viagem de um final de
semana e curtir nossa lua de mel. Uma lua de mel num lugar
mais perto, aconchegante, confortável para uma gestante que
tem estado emocionalmente abalada e fisicamente esgotada.
Não tem sido fácil, Gabriel, os enjoos permanecem, tenho tido
sono constante, fome. Mas eu quero ser sua esposa, tão rápido
quanto você também deseja isso. — Sorrio emocionada. —
Quando nosso filho nascer e ele tiver pelo menos um aninho,
tiver passado toda a fase de cuidado extremo, nós fazemos o
casamento religioso, com direito a festa, e tudo mais. Você já
terá se formado, nosso bebê já estará conosco e então podemos
ter uma lua de mel grandiosa, com tudo que temos direito. Você
aceita se casar comigo dessa maneira? — pergunto receosa e
ansiosa.
— Semana que vem? — pergunta e balanço a cabeça
positivamente.
— Mas há mais algumas coisas que quero dizer.
— Diga.
— Eu custei a sair debaixo das asas do meu pai para
colocar as minhas próprias asas de fora e poder alçar voos
sozinha. Sei que agora tenho você e que voaremos juntos, e eu
gosto disso como é. Gosto da perspectiva de você ser o meu
companheiro da vida. — Sorrio limpando minhas lágrimas. —
Mas não corte minhas asas, Gabriel. Não faça como você tem
feito nas últimas semanas, ou nosso voo terá que ser em
direções opostas, tendo nosso filho como a nossa única ligação.
— Ele abaixa a cabeça. — Não é uma ameaça de separação.
Eu não quero voar para qualquer lugar que você não esteja. Mas
não quero ser oprimida ou julgada como mimada porque não
concordo com a opinião de vocês. Eu quero usar a minha voz,
pontuar minhas necessidades, gritar sobre as minhas vontades,
expor as minhas opiniões. Tenho o direito de ter opinião, de
fazer minhas escolhas e, principalmente, de saber o que é
melhor para mim. Acho que a união das nossas famílias subiu
na cabeça de todos. Eles estão muito empolgados, eu também
estou. É muito feliz que o passado dos nossos pais tenha sido
superado e que eles tenham tornado-se amigos. Mas, isso fez
com que todos se unissem também para me pressionar, para
querer comandar o meu destino e atropelar a fase mais bonita
que estou vivendo. Quero ser sua esposa, mas quero ser mãe.
Quero curtir os momentos do meu bebê em meu ventre. Me
desculpe, Gabriel, mas ele é a minha prioridade neste momento.
Nós podemos conciliar as duas coisas de uma maneira mais
intimista, é um momento nosso, meu e seu. Mesmo que
tenhamos uma família para dividirmos os acontecimentos, não
deixa de ser algo entre nós dois e nosso bebê. É o que quero
agora, a nossa intimidade de casal, a magia da gestação.
— Eu aceito — ele sentencia para meu alívio, mas está
cabisbaixo. — Estou me sentindo como um merda agora, Ava.
Me desculpe, ok? Eu não pensei em nada, fui egoísta. Eu não
parei para pensar em nada além de ter você da forma como
quero. Nem mesmo pensei em seu bem estar. Não estou feliz
comigo agora.
— Não fique assim. Estamos conversando e nos
entendendo.
— Eu atropelei tudo, você está certa — diz suspirando e
então olha em meus olhos. — Eu acho que o amor nos torna
egoísta. Mas um amor egoísta não é saudável, nem mesmo tem
por onde ser. O amor egoísta é tóxico, envenena. — Ele ofega,
como se estivesse sentindo dor. — Era só parar e analisar, mas
não. Eu não fiz isso.
— Está tudo bem.
— Juntos. Eu esqueci dessa pequena palavra por um
período, mas você acaba de mostrar isso, você está me dando a
chance de corrigir, ao invés de fugir de mim — diz. — Nós
estávamos nos perdendo e eu acho que essa lagartixa veio para
mostrar isso. — Sorrio. — Victor aceitou ser o padrinho?
— Sim, ele aceitou feliz da vida — digo beijando suas duas
mãos. — Eu te amo, Piroca Baby. Só quero nossa intimidade um
pouco preservada neste momento.
— Teremos isso, Ava. Me perdoe, eu também estou em
fase de crescimento, aprendendo. Eu senti sua falta pra caralho
— diz me puxando pelos braços e fazendo com que eu sente em
suas pernas. — Senti falta do seu cheiro, do seu jeito, da sua
risada, do seu toque, de ser chutado de madrugada enquanto
durmo, de você roubando a coberta toda para si, senti falta de
você pedindo comida o tempo inteiro. Poucos dias, mas pareceu
uma eternidade.
— Senti sua falta também.
— Não vou oprimi-la, Ava. Não quero isso. Você é uma
mulher gigante, cheia de personalidade, forte. Eu nunca quis
oprimi-la e não irei. Me perdoe por ter sido um imbecil nessa
fase tão sensível que você está vivendo. — Ele suspira
cheirando meu pescoço. — Me perdoe, quero voar junto com
você, minha águia.
— Águia?
— Você é como uma águia. — Ele sorri. — Quer saber a
história por trás da águia?
— Sim, por favor. — Ele fica de pé, comigo em seus braços,
e me leva para o quarto. Me coloca na cama e se deita ao meu
lado.
— A águia é símbolo universal do poder, da força, da
autoridade, da vitória e da proteção espiritual. É uma ave muito
ágil e habilidosa, guerreira e predadora, conhecida como a
“rainha das aves”, está relacionada com os deuses e a realeza.
Isso porque a perspicácia do seu olhar lhe permite fitar o sol
diretamente, o que representa um símbolo da clarividência. A
águia carrega tanto o desejo de poder quanto o de elevação
espiritual, ambos simbolizados pelos altos voos do pensamento
e da fantasia. A imagem da águia está associada à liderança,
elevação, determinação, superação e vitória. Por isso, no mundo
dos negócios e empreendimentos, usa-se muito a seguinte
expressão: “visão de águia” representando pessoas visionárias e
que enxergam além e conseguem avançar, superar limites e
chegar ao topo.
— Que lindo. — Sorrio.
— Você será uma mãe águia, tenho certeza.
— E como é uma mãe águia? — pergunto e ele sorri.
— A águia mãe ensina seu filhote a voar, empurrando-o do
ninho, ou seja, ela o ensina a ser forte e confiante e não mimado
e super protegido.
— Quero ser uma mãe águia. — Ele me rola na cama,
deixando-me de barriga para cima e então deposita vários beijos
em meu ventre.
— Você tem ideia para um nome? — Pergunta entre minhas
pernas.
— Eu gosto muito de Théo.
— Theodoro? — pergunta.
— Só Théo? — questiono de volta.
— Théo Brandão Salvatore — digo ficando ligeiramente
emocionada.
— Brandão?
— Nossos pais tiveram uma história. Eu quero homenagear
a minha mãe e o seu pai, por todo passado fodido que os dois
tiveram e por serem exemplos de força e superação — digo
limpando as lágrimas. — Théo Brandão Salvatore. O nosso filho
os uniu para uma redenção que nossas famílias precisavam.
— O que eu posso fazer para você parar de chorar? —
pergunto a uma Ava chorona.
— Só fiquei emocionada por lembrar a história dos nossos
pais — ela explica e eu vou pegar lenços de papel para ela
limpar o rosto. Quando volto, ela se limpa e suspira.
— Bom, acho que o mínimo que podemos fazer é marcar
um jantar ou almoço para explicarmos aos nossos familiares
nossa decisão. O que acha? Pode servir de uma pré-
comemoração do nosso casamento. Eles merecem isso.
— Merecem. — Ela sorri. — Pode ser no próximo final de
semana.
— Perfeito. Vou procurar um buffet, podemos fazer aqui na
cobertura mesmo, há espaço de sobra.
— Sim. Bom, onde iremos morar? — ela pergunta.
— Ava, se abrirmos as duas coberturas, é provável nos
perdermos dentro da nossa própria casa — explico e ela ri. —
Eu tenho uma história nesse lugar, ficaria feliz de criar nosso
filho aqui, se você estiver de acordo.
— Eu não tenho história no meu apartamento, então não
me importo de vir para cá. Mas teremos que fazer algumas
obras.
— Sim. Eu acho que seria interessante redecorarmos nosso
quarto e então preparar um dos quartos para ser do nosso filho
— argumento.
— Sim. Acho que é apenas isso, de resto está tudo perfeito.
Esse lugar é lindo, transmite paz e tem uma decoração
impecável. Só mudaria um pouco o quarto e então transformaria
um dos quartos no quarto do nosso filho.
— Perfeito, vamos procurar algum estúdio de arquitetura e
decoração — digo fazendo uma anotação mental. — Alguma
ideia para nossa lua de mel?
— Eu acho que ela poderia começar agora — diz
sugestivamente me empurrando até que eu esteja deitado no
sofá. Senti falta disso. Uma das coisas que mais admiro em Ava
é que ela não espera. Ela vai e faz o que quer. Seu modo
decidido é excitante pra caralho, bem diferente de tudo que fui
acostumado.
Ela está vindo me beijar quando dá um salto e sai correndo.
Ouço a porta do banheiro batendo com força e vou atrás dela.
— Ava, abra a porta. — Ela não responde e eu tento ouvi-la.
A ouço vomitar e me pergunto se enjoos não são apenas
matinais. Como sei que ela não vai abrir, me sento na cama e
aguardo por longos minutos, até ela surgir e se jogar na cama.
— Estou morrendo.
— Você se alimentou direito hoje? — pergunto preocupado.
— A última vez que comi foi a tarde. Você pode preparar um
macarrão suculento, com molho pomodoro de preferência? —
Sorrio da maneira como ela pediu. — Apenas me deixe aqui um
pouco e me chame quando estiver pronto. Eu te amo, obrigada.
— Está muito ruim? Não acha que devemos ligar para sua
médica?
— É apenas enjoo. Ela disse que eles aconteceriam, então
não há com o que se preocupar — diz pegando minha mão e
depositando um beijo. — Senti sua falta.
— Também senti sua falta, Atriz Pornô. — Ela dá um sorriso
fraco e abraça meu travesseiro. — Vou preparar nosso jantar.
— Você é o melhor, mesmo que eu queira te matar muitas
vezes.
— Devo agradecer? — pergunto divertido e caminho rumo a
cozinha. Coloco a massa para cozinhar e a campainha toca.
Reviro os olhos, já sabendo exatamente quem é. Abro e a dupla
Davi e Luma entram. — Não é horário de visita.
— Bom te ver também — Davi debocha. — A próxima vez
que quiser mostrar seu pau, mostre para outra pessoa que não
seja a minha noiva.
— O quadrado de vocês é lá embaixo. Esse andar pertence
a mim e Ava — argumento e vou cortar alguns tomates.
— Onde minha irmã está?
— Ela está se sentindo mal. Está no quarto — digo e Luma
vai atrás de Ava. — Você poderia ir conferir a lagartixa no
apartamento de Ava, por favor? — Davi dá uma gargalhada.
— Ok, contanto que você nos convide para jantar — ele
propõe.
— Desde que a campainha tocou eu soube que era isso
que você queria, querido irmão. Agora mate aquele animal.
— Não vou matar uma lagartixa porque os dois idiotas têm
medo. A bichinha não faz mal a ninguém. Vou levá-la para a rua
— Davi informa.
— A porta está aberta, sem chave. Basta ir e tirar aquilo de
lá. — Ele vai em meio a risadas e eu vou colocar o molho para
cozinhar. Começo a grelhar alguns bifes de picanha para
acompanhamento e Ava surge como uma louca.
— Deus! Piroca baby! Eu quero isso! — diz quase saltando
o balcão.
— Deus, Ava! Você parece louca! — exclamo.
— Sim, ela está meio louca e eu acho que estou
traumatizando de ser mãe um dia — Luma fala sentando-se em
uma banqueta.
— Num minuto ela estava gemendo, sentindo mal. Agora
ela já está aqui, querendo roubar carne — digo a abraçando. —
Já está quase pronto, Atriz Pornô.
— Vocês acham mesmo que esses apelidos são legais?
Piroca Baby remete a uma piroca pequena e eu vi que é grande.
Atriz Pornô remete até um pouco a falsidade, porque aqueles
gemidos e aquelas caras que as atrizes pornôs fazem são muito
superficiais e forçados.
— E você acha que é legal manjar o pau do meu noivo? —
Ava questiona.
— E você acha que é normal sair nu no corredor? — Luma
rebate.
— Apenas para você saber, Ava não é superficial na cama,
nem mesmo força situações. Ela tem um rostinho lindo de atriz
pornô, com essa pintinha na boca. Atriz pornô é no sentindo de
ser sexy e provocante — explico. — Já você, não é nada atriz
pornô, sem ofensas.
— Você é um punheteiro pervertido que fica assistindo
pornô então? — Luma diz rindo.
— Não. Mas obviamente já assisti pornô e isso não faz de
mim um pervertido, cara cunhada — argumento e Davi volta.
— Pronto, sem lagartixas — diz sentando-se uma banqueta
ao lado de Luma. — Qual o debate?
— Filme pornô, além da sua noiva ficar falando sobre o pau
do meu noivo — Ava diz provocando Luma.
— Não sou cega ou tenho quaisquer problemas de visão.
Foi inevitável, estava diante dos meus olhos, príncipe — ela diz
para Davi e dá um beijo na bochecha dele.
— Eu via muito pornô. Há algum tabu aqui? — Davi
questiona.
— Sua noiva disse que sou um pervertido punheteiro
porque assisti pornô — explico.
— Então eu também sou. Já...
— Ok, chega! — Ava diz cortando o assunto. — Não
preciso saber que Davi fica tocando punheta, pelo amor de
Deus. Por mais gato que ele seja...
— Davi é gato então? — questiono.
— Ele é, me desculpe Piroca Baby. Mas você é muito mais.
— Luma fala tanto que sou bonito, que estou começando a
achar que sou realmente um gato — Davi diz rindo.
— Você é muito lindo, de verdade. O mais lindo da família
— Luma argumenta. — Tudo em você é lindo, até seus dedos
dos pés. Não há imperfeições, sem contar seu pau com piercing,
é realmente lindo. E há esse rosto lindo, esse sorriso, os
músculos, até as tatuagens.
— Nossa, que bosta!
— Realmente, uma bosta — Ava diz concordando comigo.
— Estou com fome!
— Um pouco mais de paciência, por obséquio, doutora Ava
— brinco e ela faz um bico gigante. — Linda, espero que esteja
ficando boa, porque há algumas coisas que quero fazer com
você hoje. — Cochicho em seu ouvido.
— Tipo sexo?
— Tipo.
— Então eu sinto muito, mas terei que te dizer algo. — Ela
sorri. — Não é você que quer fazer sexo comigo essa noite, sou
eu quem quero fazer sexo com você.
— Há diferença?
— Há, bastante. Espero que tenha disposição. — Ela pisca
um olho e sorrio.
Minutos depois nos reunimos na mesa de jantar e comemos
nossa refeição conversando assuntos aleatórios. Até mesmo
confessamos aos dois nossa decisão sobre o casamento e
ganhamos o apoio.
Quando eles se vão, eu e Ava escovamos os dentes e...
foda-se... Ainda dentro do banheiro a jogo contra a parede.
Como um pobre garoto oprimido, eu gozo antes dela e sou
obrigado a ficar ouvindo piadinhas que só terminam quando
mostro que preciso de muito mais que um orgasmo para ser
derrubado. Embalamos uma disputa para ver quem pede arrego
primeiro, mas nenhum dos dois sai vitorioso. Terminamos a
disputa durante a madrugada, caídos no tapete da sala, rindo.
A semana volta à normalidade: enjoo, sexo, choros por
nada, ciúmes de ambas as partes, decisões como um casal
maduro, discussões infantis porque faz parte de nós dois, sexo
louco de reconciliação.
Hoje é sábado e estamos aguardando nossa família para
um almoço. Não um almoço comum, mais como uma recepção
intimista em comemoração ao nosso casamento que será
semana que vem. Felizmente contratamos um buffet e agora, eu
e Ava estamos de bobeira, apenas esperando.
— Eu vou explodir, não vou? Estou bem barriguda.
— Você está muito linda, mesmo parecendo grávida de
trigêmeos. — Ela me dá um tapa forte e eu dou uma gargalhada.
— Pare de graça, Ava. Você está linda, ok? Muito linda, muito
gostosa, muito sexy. E creio eu que nosso filho será bastante
parecido com você, então ele será absurdamente lindo, como a
mãe.
— Te amo às vezes — ela diz e eu beijo sua testa. Então os
convidados começam a chegar.
— Olá! — Victor é o primeiro chegar, trazendo em suas
mãos um enorme buquê de flores para a irmã, que levanta
prontamente para recebê-lo.
— Eu te amo tanto! — Ava diz sorridente.
— Não tanto quanto eu te amo. — Victor sorri e então me
dá um abraço.
— Piroca Baby... — Ava diz olhando para mim e eu fecho
meus olhos.
— Como? — Victor questiona.
— É o lindo apelido que Ava deu para Gabriel — Luma
surge explicando. — Piroca Baby, não que seja uma piroca
baby, eu já vi.
— Você está dizendo que viu o pau de Gabriel? — Victor
pergunta.
— Uma longa história — Luma fala.
— Não senhora, eu quero saber.
— Gabriel estava nu no corredor e eu cheguei, então foi
inevitável ver — Luma explica.
— Ela vai mesmo contar isso para todo mundo? — pergunto
a Ava.
— Luma, você deveria se recolher à sua insignificância —
Ava repreende e um bando de loucos surgem. A confusão
começa logo na entrada, entre meu pai e Matheus, para ver qual
dos dois vai entrar primeiro. Matheus vence a disputa e chega
em nós como um velocista, respirando com dificuldade.
— Olá!
— Pai, o que te deu? — Ava pergunta o abraçando.
— Subi pela escada. Enfim, pratico atividades físicas, mas
essa foi foda, por conta desse idiota — ele explica apontando
para meu pai.
— E aí filhão, enfim, estou mais em forma que seu sogro,
nem estou cansado. Aguento uma meia maratona — meu pai diz
rindo.
— Teu cu que aguenta — Matheus rebate. — Bom, querida
filha, eu quero presenteá-los com o quarto de Théo, inclusive já
contactei uma designer.
— Por cima do meu cadáver — Meu pai rebate. — Eu darei
o quarto do Théo, sou excelente nisso.
— Você não é excelente nisso, eu sou! Pergunte a Victória
quem escolheu a decoração do quarto de todos os nossos filhos
— Matheus diz.
— É o meu primeiro neto.
— Foda-se, eu não tenho absolutamente nada a ver com
isso, camarada! — Matheus diz rindo.
— É o que vamos ver! Ouviu, Gabriel? Eu já tenho uma
designer responsável pelo projeto.
— Sonha! — Matheus debocha. — Ava, meu amor, minha
neném do papai, o quarto do MEU NETO vai ficar muito bonito,
confie em mim.
— Não...
— CHEGA! CARALHO! — Ava grita como louca. —
Ninguém vai dar nada, ok? Se for para ter briga, ninguém dará
nada ao meu filho. Eu e Gabriel faremos tudo sozinhos, sem
intromissões.
— Eu sou o padrinho, eu darei o quarto do meu afilhado.
Ponto final. — Victor decreta.
— É isso! Pronto! Decidido! Victor é padrinho, tipo
paidrinho, segundo pai. Ele dará o quarto — Ava argumenta.
— Eu e Analu estamos de acordo. Matheus e Túlio parecem
dois adolescentes disputando um título importante. Se
continuarem assim, não farão parte de absolutamente nada —
Victória ameaça e Victor pega Aurora dos braços dela.
— Vamos, princesa Aurora, esses adultos são loucos. Tio
Victor vai te levar para tomar sorvete lá no quiosque.
— Ei, ela é minha filha! — Túlio diz.
— É, e eu estou livrando a menina por alguns minutos da
loucura do pai.
— Eu estou de acordo, porque ela é minha filha, mais do
que sua. Ela nasceu da minha barriga! — minha mãe diz
provocando meu pai.
— Ela saiu do meu...
— Eita! Dá para termos um almoço normal? — peço
cortando meu pai e então Lucca surge na porta um tanto quanto
destruído. Ele dá um sorriso, encara o sofá e segundos depois
está deitado, praticamente desmaiado.
— Há alguém normal na sua família? — eu pergunto à
minha noiva.
— Não. Deus! Eles são muito insanos! Veja o estado que
meu irmão surge no nosso almoço?! Pior, Humberto e Pedro
nem mesmo vieram ainda.
— Eu acho que esse almoço será um pouco mais delicado
do que imaginávamos. Se você disser ao seu pai que nosso filho
não terá Albuquerque no nome, temo por uma guerra ainda pior.
Acho melhor acrescentarmos o Albuquerque, por medida de
segurança. Théo Brandão Albuquerque Salvatore... — digo com
toda sinceridade que possuo e então ouvimos um barulho na
piscina.
Corremos até a área externa para encontrarmos meu pai
caído dentro d'água, agarrando a perna de Matheus para
derrubá-lo também.
Meia hora depois, sinto-me como se estivesse num circo de
horrores, repleta de pessoas completamente loucas. Sim, eu já
deveria ter me acostumado, sendo que nasci nessa linda família
Albuquerque Brandão, mas é como se com o passar dos anos a
loucura amplificasse, subisse de níveis. Eu juro que é
assustador pra caralho. Para completar, eu estou descobrindo
que a família de Gabriel é tão insana quanto a minha, um pouco
menos apenas.
O que é Túlio Salvatore fazendo pirraça? Meu pai eu já
estou acostumada, mas Túlio é novidade e ele parece irmão
gêmeo do meu pai. É chocante imaginar que eles eram inimigos
declarados, quando se parecem tanto.
Eles estão agora sentados no sofá. Um de um lado e o
outro do outro lado. Ambos com os braços cruzados no peito e
de cara feia.
No meio da sala há Victor, que eu descubro a cada dia que
tem vocação para babá ou professor de escolinha infantil. Ele
está deitado de bruços e Aurora está em suas costas, fazendo-o
de gato e sapato.
Luma e Davi estão se pegando na sacada, como se não
houvesse mais ninguém, enquanto minha mãe e Analu tentam
encobri-los. A porta se abre e Humberto e Pedro chegam juntos.
Os dois não só chegam juntos, como também ficam paralisados
juntos, observando a imagem de nossos respectivos pais.
— O que houve? — Pedro pergunta tirando sua camisa e
jogando sobre a mesa. Com todo respeito ao meu futuro marido,
ele é gostoso e deve fazer a limpa na mulherada.
É alto, tem uns músculos salientes, um olhar penetrante
como o do irmão, além de ser corpo ser uma obra de arte, onde
tatuagens incríveis dão um toque a mais. Fora os piercings na
orelha e no mamilo. Ele provavelmente tem no pau também e,
posso garantir com propriedade, que isso é um chamarisco a
mais. Ele parece mais velho do que realmente é, tem uma barba
por fazer em seu rosto, sobrancelhas bem torneadas, enfim,
uma bomba relógio repleta de testosterona. Gato! Realmente
gato! Mas, ainda assim, eu, completamente apaixonada, não
acho que ele, Davi ou Humberto cheguem aos pés do meu
Piroca Baby nada baby.
Levo um forte tapa na nuca e olho para Gabriel com um
olhar assassino. Ele me deu um tapa mesmo? Eu deveria matá-
lo!
— Você está meio que babando no meu irmão — ele diz
puto.
— Não estou. Quer dizer, estava um pouco, ele é realmente
bonito, mas não tenho interesse. Estava apenas pensando se há
alguém da família para ele pegar, mas não vem ninguém em
mente.
— Estou de olho em você, Ava! — meu Piroca Baby diz
sério e eu me calo, porque ele está certo. — Vou te dar umas
palmadas se você voltar a olhá-lo dessa maneira e teremos um
grande problema, compreende?
— Problema algum. Não o olhei cobiçando ou desejando o
garoto.
— Ok, parece que nossas reuniões familiares sempre dão
errado, não é mesmo? — Analu diz atraindo nossa atenção,
desviando de uma pequena discussão. — Vamos discutir sobre
isso, AGORA! — Ela quase grita e se acomoda entre meu pai e
Túlio. Sei que eles levarão um sermão e minha mãe parece
empolgada. — Quão velhos vocês dois estão para agirem como
moleques de cinco anos de idade?
— Retirando a criança novamente. Vamos assistir desenho
com tio Victor? Galinha pintadinha ou baby shark? — Meu irmão
questiona a Aurora que grita ga... — Galinha? — Ela ri. — Então
vamos ver galinha! — Ele some com a garota para dentro do
apartamento e eu fico sorrindo.
— Túlio é mais velho que eu — meu pai diz levantando os
ombros, como se justificasse ou sei lá o que. Ele é tão fofo, não
tem como ficar com raiva. Inclusive, os olhos da minha mãe
agora estão brilhando e há um sorriso de admiração em seu
rosto.
— Sou mais maduro, realmente. Você é um imbecil às
vezes. Detesto ter te chamado de amigo algum dia.
— Eu não sou seu amigo mais. Antes de você dizer, eu já
havia descartado essa possibilidade. Estou alguns passos à sua
frente — Meu pai rebate e o mais engraçado agora é a cara de
Analu.
— Agora sei de quem você puxou seus momentos de
infantilidade. — Gabriel cochicha em meu ouvido.
— Que bom, porque acabo de descobrir o mesmo sobre
você — rebato.
— Ouçam, nossos filhos terão um bebê — Analu diz. — O
bebê é neto dos dois, não apenas de um. Não têm que ficar
discutindo para ver quem é o melhor, quem será o primeiro,
quem dará coisas. É mais bonito se vocês se unirem para
poderem proporcionar o melhor à criança. Não seria mais fácil
vocês decidirem juntos sobre o quarto? Ao invés de ficarem
brigando para ver quem vai pagar, quem goza mais longe, qual
pau fica mais ereto.
— O meu, sem dúvida — meu pai diz e Analu revira os
olhos.
— Eu estou falando para as paredes? — ela questiona. —
Porque você parece não estar escutando, Matheus! Nossos
filhos marcaram uma reunião familiar e, ao invés de estarmos
nos divertindo e escutando o que eles querem nos dizer,
estamos aqui, sentados no sofá, porque há dois velhos
passando vergonha gratuitamente.
— Só para deixar registrado aqui diante de todas essas
pessoas, para que todos sejam testemunhas do que estou
dizendo. Você está sem sexo por um mês a partir desse minuto,
apenas por me chamar de velho. E não há nada que você possa
fazer para mudar isso, Pinscher Raivosa. Nem sua raiva irá me
conter — Túlio informa.
— Há muitas coisas que eu possa fazer, Túlio Salvatore,
como por exemplo, arrumar sexo com outro homem — Analu diz
e ele abre a boca em choque enquanto meu pai começa a rir.
— Se fodeu!
— Se continuar, você passará pelo mesmo — minha mãe
avisa.
— Te algemo na cama e quero ver, fodida Sadgirl. — Ele
pisca um olho confiante e minha mãe nem rebate. Isso diz
muito... devem ser quentes. Merda, eu não deveria pensar sobre
meus pais transando!
— Ok, arrume outro. Quero ver ele possuir piercing no pau
e te dar orgasmos múltiplos — meu sogro diz rindo.
— Por favor, estou indo ficar traumatizada — digo.
— Essa discussão não vai acabar? — Humberto questiona
e Victor fica de pé com Aurora.
— Eu, particularmente, estou gostando. Temos aqui
exemplos para levarmos para a vida. Por exemplo, eu jamais me
casarei. — Pedro ri.
Gabriel parece ter perdido a paciência, de repente, ele fica
de pé.
— Chega ok? Eu e Ava queremos anunciar que não nos
casaremos agora. Resolvemos adiar para depois do nascimento
de Théo. Neste momento decidimos focar na gestação, teremos
algumas obras em casa por conta da chegada do nosso primeiro
filho, vamos nos dedicar inteiramente a essa nova fase — ele
anuncia e, conforme previsto, oculta nosso casamento no civil
na próxima semana. Se falarmos, corre o risco de nossos
familiares causarem, então estou de pleno acordo sobre não
contarmos agora.
— Perfeito, cabe a nós compreendermos, sem julgá-los —
Analu diz. — Mas estou puta, hein? Não vou negar. Eu estava
muito empolgada pelo casamento. Meu primeiro filho que subirá
ao altar. Já estava sonhando com esse dia, estava olhando
smokings e tudo mais que temos direito.
— Só estamos adiando mãe — Gabriel garante. — Em
breve realizaremos seu sonho. É que precisamos ajeitar tudo
para a chegada do Théo e não estava dando para Ava conciliar
as duas coisas, fora que ela é a gestante e tem esse lance de
sono, enjoo, mal humor do cão.
— Do cão? — questiono e Piroca Baby levanta os ombros.
— Também estava empolgada, mas estou de acordo com a
decisão de vocês. — Amo minha mãe. — Gravidez é um período
desgastante, vocês devem se dedicar a esse momento.
— Queremos comunicar também o nome oficial do nosso
filho — Gabriel informa. — Théo Brandão Albuquerque Souza
Salvatore. — Ele acrescentou o sobrenome da mãe, e admiro
seu ato. Muito orgulho dele agora.
— Own!!!! — minha mãe diz começando a chorar e eu fico
de pé para abraçá-la. — Não acredito!
— Eu te amo, tenho muito orgulho da sua história, mãe.
Muito orgulho da mulher que é e eu quero ser ao menos dez por
cento do que você é.
— Minha princesa! — ela diz me abraçando forte. — Você é
muito mais do que sou ou fui algum dia. Tenho muito orgulho de
ter uma filha como você. Tenho orgulho de todos meus filhos,
jamais imaginar criar seres humanos tão incríveis.
— É apenas porque fomos criados, educados, pelos
melhores pais — digo convicta. — Nossos exemplos começaram
em casa.
— Me preocupa que meu neto vá carregar o sobrenome
Salvatore — meu pai diz.
— A é? Por quê? — Túlio pergunta.
— Albuquerque significa que ele terá o pau acima da média.
Mas, agregando o Salvatore, temo que ele tenha uma piroquinha
de nada. A partir do quinto mês de vida dele, irei ensiná-lo a
tomar danoninho sem colher. Se o pau falhar, ele ao menos tem
que ser bom em práticas orais. — Até Túlio ri.
— O pau de Gabriel é acima da média — digo e meu pai me
taca uma almofada.
— EU NÃO QUERO LEMBRAR QUE VOCÊ VÊ PAUS, AVA
ALBUQUERQUE!
— Pai, mas eu já estou até grávida, então é irrelevante —
argumento.
— O de Davi também é... — Meu pai encara Luma e ela fica
sem graça. — Eu... do que vocês estão falando?
— Ela é péssima atriz — Pedro diz rindo. — Mas, quero
dizer que meu pau também é bacana, então do meu sobrinho
será também.
— Eu nem vou falar do meu. Sou negão e tal — Humberto
diz com seriedade.
— É o Kid bengala essa porra! — Davi solta a perola.
— Agora vocês podem fazer as pazes? — Analu propõe ao
meu pai e Túlio.
— Tudo bem, por mim — meu pai diz de braços cruzados
ainda.
— Acho que posso fazer isso, mesmo sabendo que serei o
melhor avô posso aceitar suportá-lo. — Meu sogro debocha. Os
dois acabam ficando de pé e dando um abraço amigável.
— Bacana! Mas eu ainda serei o melhor. Sou Matheus
Albuquerque, você não sabe o que significa isso, mas eu sei o
bastante para dizer que não há como você competir comigo. —
Meu pai dá dois tapinhas nas costas de Túlio.
— Vamos ver! — Túlio desafia.
É assim que eles estão fazendo as pazes? Vai entender!
Depois de conversarmos um pouco mais, comemos, nos
divertimos e todos se vão. Felizmente a aceitação foi geral.
Nosso casamento oficial foi adiado com sucesso e é como tirar
um peso das minhas costas. Théo é a minha prioridade agora,
de forma que não quero mais me preocupar com nada além de
sua chegada.

DIAS DEPOIS

Hoje é o dia que assinarei os papeis do meu casamento


com meu Piroca Baby. Acabo de acordar, mas ele ainda está
dormindo e eu aproveito para fitá-lo um pouquinho. Tão lindo e
sereno. Num primeiro momento, ele parece assustador com
todas essas tatuagens, mas então, você entra no mundo dele e
se perde.
Gabriel é um pouco rebelde, mas ele também é doce,
carinhoso, repleto de valores importantes. É compreensível sua
rebeldia, típica de garotos mais jovens. Mas ele também é
portador de uma maturidade que muitas vezes me coloca no
chinelo.
Ele é muito lindo, todinho lindo e tem essa boca deliciosa
que eu gostaria de beijar agora. Mas, a vida tem outros planos
para mim nesse início de manhã e sou obrigada a saltar da
cama e correr para o banheiro, para mais uma sessão de enjoo
matinal.
Após vomitar tudo o que não havia em meu estômago,
escovo os dentes e vou tomar um banho mais frio, pois sempre
me ajuda.
Quando termino, fico nua diante do enorme espelho no
banheiro e observo meu corpo. Meus seios deram uma caída
considerável nas últimas semanas, e minha barriga cresceu. Eu
gosto de vê-la um pouco maiorzinha. Me sinto bonita, mais
mulher, cheia de poder, gerando uma vida. Viro de lado e minha
bunda continua a mesma, só cresceu um pouquinho. Enfim, só
tenho que reclamar dos meus seios, mas isso é passageiro.
Gabriel surge no banheiro e sorri ao me ver.
— Que bela visão! — exclama se aproximando.
— Meus seios estão caídos.
— Não — afirma. — Ok, Ava, eles cresceram um pouco,
com o peso eles não conseguem ficar apontados para o céu,
mas não estão caídos. Você está gostosa. Muito gostosa, de
forma que estou amando todas as mudanças, principalmente
essa aqui. — Ele me abraça por trás e traz suas mãos em minha
barriga. — Nosso garotão está crescendo rápido.
— Você está ansioso? — pergunto sorridente.
— Eu não vejo a hora de tê-lo conosco. Estou contando os
dias, as horas, os minutos.
— Foi assustador no início, mas estou desesperada pelo
nascimento dele. Eu o quero em meus braços. Sinto que estou
completamente apaixonada e nem mesmo o conheço —
confesso.
— Nenhuma mulher nasce preparada para a maternidade.
Nem mesmo as que planejam isso, Ava. A maternidade
simplesmente acontece, sem manual de instruções ou qualquer
merda. É assim também na paternidade, mas certamente as
duas coisas são completamente diferentes, já que é a mãe que
gera, carrega o bebê em seu ventre e responsável desde o início
pelo bem estar da criança. Então o amor acontece a partir do
momento que você ganha consciência de que há uma vida em
seu ventre e que você deve mudar hábitos, cuidar do bebê
desde o momento da descoberta. — Uau, Piroca Baby acordou
com inspiração para me deixar emocionada. — É óbvio que
você está apaixonada. Mas, não apenas isso. É óbvio que essa
criança já é a sua vida todinha, não é mesmo?
— Sim — confirmo. — Eu agora tomo cuidado até mesmo
para andar. — Sorrio. — Isso é louco, não é?
— Isso é... mãe! E cada dia tenho mais certeza de que você
será a melhor.
Sorrio depositando minhas mãos sobre as dele.
O mais incrível é perceber que estamos conseguindo fazer
isso entre nós dar certo. Se ele tem a certeza de que serei a
melhor mãe, eu tenho a certeza de que ele será o melhor pai e
melhor marido.
— Ei, é hoje! — ele diz em meu ouvido. — Senhora Ava
Albuquerque Salvatore.
— Estou ansiosa!
Os meses estão passando rápido demais. Outro dia mesmo
descobri que estava grávida e agora estou gigantesca, casada
com o Piroca Baby, vivendo sob o mesmo teto que ele e de
licença do trabalho.
O último mês de gestação é o pior, estou certa disso. O
primeiro trimestre foi marcado por enjoos e oscilação de humor,
o segundo foi marcado por perdas de roupas e choros
compulsivos devido ao fato de estar engordando muito mais do
que pretendia engordar, parte do terceiro trimestre foi marcado
pela preguiça, pelo medo do parto, novamente por choros
compulsivos e agora pela ansiedade. Estou ansiosa, receosa,
temerosa, um saco! Mas, felizmente eu tenho um marido
paciente e bom. Eu vejo em seus olhos muitas vezes a vontade
de me matar, mas ele apenas sorri e faz o ritual de me abraçar
forte e deixar eu chorar. Posso ser bastante sincera sobre a
maternidade? Me desculpem, me julguem, mas eu creio que
Théo será filho único. Não há glamour ou conforto em ficar
grávida. Há momentos incríveis tipo quando você sente seu
bebê indo de um lado para o outro, quando você vai a ultra e
ouve o coraçãozinho bater, quando você se pega tendo um papo
cabeça com o ser humano pequenino que habita o seu interior.
Mas, de resto, não é legal! Você até pode achar bacana, mas eu
não acho e não vejo glamour.
Sem contar o sexo. Há um lado bom e um lado ruim. O lado
ruim é em relação as posições, agora no último trimestre tem
sido foda. Não existe mais sexo na parede, ele resume-se à
cama e as posições mais tradicionais. Não há mais uma quantia
de selvageria que eu gostava, porque meu marido está
constantemente preocupado com meu bem estar e respeitando
esse momento mágico da maternidade. Gabriel tornou-se doce,
mas é compreensível, a minha atual fase pede um pouco mais
de cuidado e docilidade; é aí que entra a parte boa. Os
orgasmos são infinitamente mais intensos, como se antes não
tivessem sido intensos o bastante (revirando os olhos). Mas algo
mudou e eu sinto um prazer gigantesco quando estou prestes a
ter um orgasmo.
Aliás, nosso casamento começou bem exótico. Após
sairmos do cartório, cheguei a pensar que era sinal de que seria
um fracasso.
— Gabriel Souza Salvatore, Ava Brandão Albuquerque
Salvatore, considerem-se casados — a juíza de paz diz e eu
levo minha mão à boca, em total estado de descrença.
Caralho! Eu agora sou uma mulher casado. Esse Gabriel é
do caralho mesmo e ele está rindo da minha cara neste
momento!
— Se fodeu, não é mesmo? Não há mais como fugir, Atriz
Pornô — ele diz na cara da Juíza.
— Pra caralho — confirmo rindo em meio ao choque. É fácil
falar, mas na hora que o bicho pega a mente começa a fervilhar.
É como se a ficha sobre todos os acontecimentos tivesse
acabado de cair sobre mim, bem aqui dentro desse cartório. Eu
olho para meu marido tatuado, com piercing no pau, e não
consigo imaginar tudo isso que estamos vivendo. Parece que
estou imersa em um sonho e irei despertar a qualquer momento.
Marido!
Gabriel não é mais meu vizinho gostoso, o rebelde sem
causa, o meu aluno da orientação, um ficante qualquer, meu pau
amigo ou namorado. Ele é meu marido. Eu, Ava, a garota
problema, estou casada com um garoto/homem incrível e juntos
estamos crescendo a cada dia, aprimorando, melhorando,
modificando.
— Você pode reagir? Ou ficaremos aqui a tarde inteira? —
ele questiona e eu pego nas mãos da Juíza a pasta com os
documentos oficiais que comprovam nossa união. Eu agora sou
uma Salvatore. Carregar esse sobrenome traz todo um peso do
passado. Salvatore costumava ser o inimigo número um do meu
pai, da minha família em geral e agora é meu sobrenome e
sobrenome do meu filho.
— Salvatore.
— Você parece estar em outro planeta.
— Estava num momento “realidade”, completamente em
choque, ainda estou — explico. — Nós somos casados.
— Foi o que viemos fazer, não? — pergunta sorrindo e me
abraça. — Você está arrependida.
— Não. Só é surpreendente. Você não acha chocante? Nós
nos casamos, somos marido e mulher, teremos nosso bebê e
nem mesmo tem um ano que estamos juntos.
— Nosso aniversário de envolvimento está se aproximando
— diz sorrindo. — Estou bem com isso, com todas essas
mudanças e acontecimentos, e você? — pergunta e abre a porta
do carro para eu me acomodar. Em seguida dá a volta e se
acomoda ao meu lado.
— É claro que estou bem, você me pediu em casamento
num momento caóticos, tivemos alguns problemas e
enfrentamos tudo para chegar aqui, neste local hoje, e dar um
enorme passo. Somos muito casados. — Sorrio.
— Praticamente foi ontem. — Ele se diverte. — Está
passando rápido, Atriz Pornô. Quando menos esperarmos, Théo
estará conosco.
— Nossa, é muito chocante! — Sério, eu não deveria estar
tão chocada, mas esse casamento acabou mexendo comigo
mais do que eu imaginei.
— De qualquer forma, eu espero que nosso casamento real
seja mais romântico. Esse foi uma merda. — Nós dois rimos.
— Foi mesmo. Nem um beijinho, juíza com cara de bosta.
Será que é por conta das suas tatuagens? Ela parecia
apressada e perdeu um tempo te olhando, por conta das
tatuagens e piercings. Imagina se ela soubesse que você tem o
pau perfurado? — Gabriel ri.
— Talvez seja falta de sexo. — Concordo plenamente com o
meu marido. A falta de sexo é fodida. — Estou arrependido de
termos adiado a viagem — ele diz com um biquinho. — Mas
temos tantos compromissos. É meu último ano na faculdade, há
o TCC e seu trabalho, tantas coisas.
— Quando Théo nascer, teremos nossa lua de mel decente,
Piroca Baby. Eu prometo a você. Ao menos temos essa noite de
folga e vamos curti-la da melhor maneira. Será nossa primeira
viagem sem nosso filho, quero apenas você e eu.
— Esse dia vai chegar rápido, meu amor. Estou ansioso
pelo futuro — confessa.
— Eu também estou.
— Agora vamos curtir nossa noite de núpcias e amanhã
cedo voltaremos à rotina.
Nós fomos para uma pousada em Petrópolis, mas, ainda
assim, as coisas deram errado...
A vista da nossa suíte é incrível pra caralho. Há piscina
privativa do lado de fora, e dentro há tudo ideal para curtir o
clima da região serrana. Uma enorme cama, lareira, banheira de
hidromassagem, uma mesinha pequena de jantar que no
momento está ocupada com algumas frutas, bombons e
champanhe.
— A médica disse que eu podia beber um golinho — digo
sorridente.
— Sim, eu sei. Mas só um golinho, Atriz Pornô.
— Só um golinho — concluo. De repente, não mais que de
repente, estou excitada e decidida a provocar meu marido. As
alças do meu vestido estão caindo, expondo uma quantidade
generosa de pele e, como se ele nunca tivesse me visto nua,
seus olhos não perdem um único detalhe sobre mim.
Ele serve champanhe em duas taças e me entrega uma.
— Senhora Ava Salvatore, um brinde ao nosso casamento
meio fracassado — propõe e dou uma risada.
— Foi péssimo, de verdade. Mas não importa. A lua de mel
vai compensar, não vai?
— Eu darei meu melhor para isso. — Promete pegando
minha taça de volta assim que tomo um gole. Maldito
controlador! — Já bebeu um golinho. — Ok, se eu já bebi o
suficiente, é o momento de ter sexo o suficiente. Eu o puxo pela
camisa e sua taça de champanhe escorrega, caindo ao chão e
quebrando-se em mil pedaços. Isso não importa agora, nem
para ele e nem para mim. Ele vem e me beija, da forma como eu
gosto.
Eu sinto um arrepio na espinha, um frio na barriga conforme
ele aperta meus seios e beijo um ponto estratégico em meu
pescoço. Mas também sinto uma queimação no estômago e um
enjoo absurdo que me faz empurrá-lo e sair correndo rumo ao
banheiro.
Eu vômito chorando, de frustração.
Ao menos a lua de mel tinha que ser decente. Mas não foi.
Eu passei mal o tempo inteiro e só transamos duas vezes!
Pois é, a derrota do meu casamento no civil e a noite de
núpcias serviu para me ensinar muitas coisas, principalmente a
ser compreensiva comigo mesma e com a minha limitação
devido a gestação. Naquela noite, eu quis revoltar, mas foi
Gabriel quem me deu um sacode, me trazendo de volta a
realidade. Ele me ensinou que não adiantava fazer pirraça ou
ficar nervosa, que era parte de um ciclo e que era super comum
e aceitável. Ele foi compreensivo, não ficou magoado nem por
um segundo sequer e cuidou de fazer com que eu me sentisse
um pouco melhor.
A gestação é isso, adaptação, mudanças, minha
autoafirmação como mulher. Antes que pense, não estou
dizendo que mulheres que não são mães não são
autossuficientes, nada disso. Estou dizendo sobre eu mesma,
que sofri e tenho sofrido mudanças radicais desde que me tornei
mãe. Aos poucos, a Ava mimada está se despedindo e está
surgindo uma Ava mais pés no chão, mais realista,
compreensiva, calma. E, por mais que eu esteja roendo as
unhas de ansiedade pelo nascimento do meu bebê, eu também
aprendi a ter calma e esperar. Ele virá quando for o momento
certo, virá no seu tempo.
Eu espero que seja logo. Ele tem feito morada em meus
sonhos sem eu nem mesmo tê-lo visto ainda. Théo significa
muito, Théo significa tudo e todos estão esperando por ele
ansiosos.
TEMPOS DEPOIS
São quase onze da noite quando meu Piroca Baby chega
da faculdade. A primeira coisa que ele faz é vir me dar um beijo
e a segunda é beijar minha enorme barriga. Estou deitada em
nossa cama, com os pés em cima de travesseiros. Nessa altura
da brincadeira, eu já estou além de inchada. Hoje em especial,
desde que anoiteceu, estou tendo contrações nada agradáveis.
Meus pés estão imensos e é desconfortável o bastante. Me sinto
como um hipopótamo hibernando.
— Está bem?
— Melhor agora — digo sorridente.
— Vou tomar banho e venho cuidar de você, ok?
— Podemos tomar banho juntos? Na banheira? — peço
fazendo bico.
— Oh! Alguém está carente, é isso? — ele pergunta tirando
a camisa.
— Você é um tesão, Piroca Baby. E sim, eu estou carente.
Quero massagem completa e muito carinho.
— O que eu ganho em troca?
— Uma chupada em seu pau e outras coisas mais... — Ele
sorri e me ajuda a ficar de pé.
— Eu não lembro de ter dito hoje que você é a grávida mais
linda da história da humanidade — diz tirando meu pijama. —
Gostosa também.
— Como foi a aula?
— Chata. Fiquei grande parte trabalhando em meu TCC.
Não vai mesmo querer ler? Estou inseguro.
— Quero ser surpreendida. Mas me envie uma cópia por e-
mail, vou enviar para Victor e ele fará uma análise crítica. Ele é
realmente mestre nisso — digo tentando tranquilizá-lo.
— A obra do escritório está quase finalizada. Uma fusão de
Albuquerque e Salvatore. — Ele sorri. — Acho que nem nossos
pais acreditam.
Victor deu a ideia de expandir o escritório para direito
criminal também. Gabriel, será o primeiro a assumir e então Davi
quando formar. Agora somos uma equipe completa para auxiliar
nossos clientes.
— Em breve trabalharemos juntos, Piroca Baby. — Sorrio.
— Como será isso?
— Vejo três opções. — Ele me leva para o banheiro e
coloca a hidromassagem para encher. — Primeira: nós vamos
brigar muito. Segunda: vamos transar diariamente em cima da
mesa do escritório até Victor nos expulsar e desfazer nosso
acordo. Terceira: vamos nos comportar como civilizados,
deixando nosso relacionamento fora do trabalho. Em qual você
aposta?
— Opção 1 e 2. — Ele dá uma gargalhada e termina de tirar
sua roupa.
— Eu apostaria as mesmas. Civilizados não combina
conosco.
— De forma alguma. Seu pau está duro — digo o tocando.
— Uma promessa de boquete levanta até defunto.
— Isso não foi romântico. — O solto e entro na banheira.
Solto até um gemido de satisfação.
Gabriel se acomoda de frente para mim e pega meus pés,
então os gemidos se intensificam. Nada como uma boa
massagem e meu marido sabe fazer isso bom.
Quando já está tempo o bastante nos meus pés, ele me
ajuda a virar de costas e massageia meus ombros por longos
minutos.
— Te amo, pirocudo.
— Te amo, Ava pornô. — Sorrio. — Vamos namorar um
pouquinho? Estou com tesão... — diz em meu ouvido. — Vem
pra cama comigo.
— Sim...— Até estou com vontade, porém, meus desejos
não são bem sucedidos. Eu realmente estou sentindo cólica e
contrações, mas não quero assustar Gabriel. Ele o primeiro a
sair da banheira e então me ajuda a sair e me secar. Quando
dou o primeiro passo de volta para o quarto, eu sinto algo
molhar minhas pernas, assim como sinto uma forte fisgada.
— O que foi? — Gabriel pergunta e eu já vejo o desespero
em seu rosto. — Ava...
— Calma.
— Ava, eu não sei se eu estou... você... sua... nosso.
— Respira fundo, vamos lá. Respira, inspira. — Ele faz o
que estou ordenando e eu tanto quero rir, quanto quero chorar. A
dor começa a vir forte. — Pode pegar meu celular? — peço sem
me mover e ele pega. — Obrigada, agora veste uma cueca e
uma bermuda, ok? — Com um aceno de cabeça ele se vai e eu
ligo para minha mãe.
— Oi, minha princesa.
— Mãe, vai nascer e provavelmente será em casa. — Ela
fica em silêncio. — Mãe, eu preciso de você, Gabriel vai
desmaiar.
— Ok, ok. Calma. Eu já estou indo e vou ligar para sua
médica... — Ela desliga na minha cara e eu respiro fundo antes
de dar passos calculados até o closet. Gabriel já está com uma
bermuda quando entro e eu apenas visto uma camisola antes de
voltar a sentir uma dor que me faz querer rolar no chão.
— Ava, calma... nós... vamos logo para o hospital.
— Não vai dar tempo.
— Como assim?
— Ava... — Ouço a voz de Victor e o alívio me invade. —
Ava, vamos lá, meu afilhado vai nascer porra! — ele diz
emocionado. — Relaxa Gabriel, sou parteiro nas horas vagas.
— Você está louco? — Gabriel questiona.
Felizmente a médica surge logo em seguida e a briga
acaba.
— Ava, a bolsa estourou?
— Sim, mas eu já estava sentindo contrações desde o início
da noite — explico.
— E por que você não falou? — Gabriel e Victor perguntam
juntos.
— Eu achei que era normal, tinha uma ultra marcada
semana que vem, como eu ia saber que ia parir hoje? inferno! —
digo sentindo dor e eles continuam tagarelando. — Saiam! Victor
e Gabriel, saiam! — grito e a médica me ajuda a ir para a cama.
Ela coloca suas luvas e mede minha dilatação. Ela arregala
os olhos.
— Ava, nós já estamos mais do que prontas — informa e
começa a preparar tudo. — Melhor não arriscarmos ir para o
hospital.
Eu começo a chorar. De dor, medo, ansiedade e emoção.
Minha mãe surge no quarto e vem correndo até mim.
— Meu Théo vai nascer! — ela diz emocionada. — Isis quer
falar com você – anuncia me entregando o celular.
— Ei, pequena rabugenta — Isis diz chorando. — Eu te amo
tanto, Ava! Tanto e tanto, mesmo pegando no seu pé e mesmo
com nossas brigas. Estou chorando porque queria estar aí, de
mãos dadas com você agora.
— Eu também te amo muito, você é um dos meus
exemplos. Merda... isso dói.
— Enfim, que nosso Théo nasça com muita saúde e que
traga muitas delícias para a sua vida e para toda a nossa
família.
— Eu te amo, mas preciso desligar. — Encerro a ligação. —
Mãe, eu preciso de Gabriel. — Ela vai correndo chamá-lo e ele
vem.
— Deus, Ava, é real — ele diz tremendo e se acomoda ao
meu lado. — Em casa parece mais aterrorizante.
— Vai dar tudo certo, Gabriel. — A médica tranquiliza. —
Preparada Ava?
— Não.
— Mas precisa estar. Vamos lá?
— Sim — digo.
— Quando eu mandar, você faz força, ok?
— Ok. — Aperto a mão de Gabriel com toda a força.
— Eu te amo demais, você consegue, meu amor. —
Balanço a cabeça positivamente com o incentivo do meu marido.
— Agora Ava — a médica ordena e eu faço toda força que
consigo. Em seguida tenho que fazer exercícios de respiração.
— Novamente... — Eu faço e quero que isso termine logo,
porque dói demais. Por que eu escolhi parto normal mesmo?
Alguém me diz!!!!
— Novamente, Ava, estamos quase lá ...
Esse novamente foi dito por exatas sete vezes. É na sétima
tentativa que meu filho nasce e o choro toma conta do ambiente.
Théo nasce e Gabriel desmaia. É Victor quem surge ao
ouvir o choro e corta o cordão umbilical com autorização da
médica, então um pacote todo sujo e, ainda assim perfeito, vem
para os meus braços, mostrando que a minha vida nunca mais
será a mesma e que não há nada que eu não vá fazer por ele.
Graças a Deus, isso foi mais rápido do que eu previa e meu
filho está comigo! É o melhor dia de toda a minha existência!
— Ele é lindo — Victor diz chorando junto com a minha
mãe. — Talvez eu queira um desses um dia.
— Ei Théo, bem-vindo!!! — digo. — Eu te amo, filho!
— Meu filho nasceu? — Ouço a voz de Gabriel depois que
eu já estou praticamente limpa e começo a rir.
Victor o ajuda levantar enquanto eu admiro a coisa mais
linda da minha vida. Eu não fazia ideia da perfeição que era ter
meu filho em meus braços.
— MEU NETO! — A voz de meu pai preenche o ambiente.
Ele me vê com Théo nos braços e cai durinho no chão. Caralho!
Até meu parto tem que ser louco, para variar.
Há a minha médica e a enfermeira ainda me arrumando e o
quarto está começando a encher. Há dois fracotes: um recém
desmaiado e outro recém desperto. Há Victor que quer tirar meu
filho dos meus braços, há minha mãe chorando. Meu Deus do
céu! Eles não entendem que estou numa situação quase
constrangedora? Acabei de ter parto NORMAL em casa.
Ok, não é o momento para brigar. É o amor. Há amor
demais aqui dentro desse quarto. Somos uma família repleta de
amor e loucuras, não seria diferente agora.
— Ele vai ficar desmaiado? — pergunto à minha mãe.
— Já, já ele acorda. É sempre assim — ela explica com
naturalidade e Gabriel se aproxima, com lágrimas nos olhos. É
um momento que era para ser apenas nosso, mas não me
importo de compartilhar com a minha família.
— Você quer pegá-lo? — pergunto e ele balança a cabeça
positivamente, incapaz de encontrar sua fala. — Não vai
desmaiar novamente, não é mesmo? — Ele nega com a cabeça
e eu entrego Théo a ele. O vejo engolir seco a emoção e meus
olhos se inundam em lágrimas. É o momento mais lindo da
minha vida e essa imagem do meu Piroca Baby, pegando nosso
filho em seus braços pela primeira vez jamais sairá da minha
mente.
Victor agora está chorando, parece que ver meu marido
com o filho nos braços ativou algo nele. No fundo eu espero
ansiosa pelo dia que Victor permitirá viver um grande amor.
Acho que nunca ansiei por algo como anseio por isso. O dia que
ele for pai, acho que também será um dos dias mais felizes da
minha vida. Sabe quando a pessoa nasce com vocação para
algo? Victor nasceu com vocação para lidar com crianças,
embora você o olhe e nunca imagine isso. Alto, extremamente
forte, tatuado, cara de mal. Ele engana tão bem e bota medo em
tantas pessoas que não o conhece. Ele é meu pai todinho ou até
mesmo um pouco mais exagerado. Mas há algumas coisas que
Victor é mais rigoroso que meu pai; por exemplo: mulheres.
Victor não se entrega por nada. É durão mesmo e totalmente
decidido de que não quer se apegar ou se apaixonar. Não há
quem tire isso da mente dele. Mas eu acho que isso vai
acontecer e, quando acontecer, eu vou rir, porque já o imagino
num relacionamento pior do que o relacionamento dos meus
pais, que vivem um casamento insano.
Ele me pega em flagrante e então limpa o rosto, tentando
permanecer o fodão. Eu dou uma risadinha e ele faz uma careta.
— Era cisco.
— Meu cu que era! — digo e a médica me encara chocada.
— Mentira, doutora. Não foi nada.
— Você é meu maior orgulho! Sinceramente, Ava! — minha
mãe diz. — Isso que você acabou de fazer eu jamais faria.
— Ter um bebê? — pergunto sorrindo.
— A forma como foi e como conduziu. Eu jamais faria,
jamais. Você se manteve firme e forte, não desesperou, foi lá e
simplesmente deu à luz em cima da sua própria cama. Foi tão
rápido e tão perfeito que estou assustada, mas também
relaxada. Meu coração de mãe estaria aflito neste momento se
você estivesse em uma sala de cirurgia. — Ela é linda demais.
— Eu, qualquer coisa, já estava correndo para o hospital, até
porque seu pai é louco. Você foi fria como precisava ter sido e
foi incrível. Ainda está aqui, sorrindo e plena. De onde você tirou
tanta força?
— De você. — Ela sorri e se emociona. — Te amo, mãe.
Quero ser para o Théo tudo que você e meu pai foram e ainda
são para mim. — Ela também perde as palavras e vai até
Gabriel conferir Théo.
Victor é quem se aproxima agora e segura minha mão.
— Eu já disse que você é foda?
— Hummm, me deixe tentar lembrar... — Ele sorri.
— Muitas vezes, porque você é realmente foda! Em algo
que possivelmente deveria estar assustada, receosa, você
simplesmente deu um show, Ava. Foi a coisa mais doida que eu
jamais imaginei acontecer. Você deu à luz em seu quarto, em
sua cama, sem todo o conforto e suporte que um hospital traria.
Correu riscos, foi forte e corajosa.
— Tenho exemplos de força na família.
— Você é maravilhosa demais, Ava! Tenho muito orgulho da
mulher que você se tornou. É a minha referência, junto com
nossa mãe. — Eu beijo a mão do meu irmão e sorrio, porque
nós dois parecemos tanto. Eu sempre brinquei que sou a versão
feminina dele.
— Te amo demais. Um dia quero estar ao seu lado, quando
seu filho nascer.
— Não tenho planos — afirma sorrindo. — Mas, se por um
milagre acontecer, quero ter você ao meu lado e quero que seja
a tia dinda.
— Eu serei. — Sorrio. — A melhor da porra toda, só para
constar.
— Eu duvido que seja melhor que eu, mas ficarei feliz se
for. — Nosso pai levanta fazendo um enorme bico.
— Vic, nem me salvou! — ele protesta. — Era mentira, eu
não desmaiei, foi só um teste para ver se vocês se importavam,
mas ninguém se importa. Deveria ir embora, mas vou ver meu
neto, antes que Túlio o pegue primeiro. Vocês não ligaram para
ele, né?
— Aliás, Victor, você poderia ligar? — peço.
— Já liguei — minha mãe informa.
— Traidora! — Meu pai faz uma careta e se aproxima de
Gabriel. — Eu poderia pegar meu neto Sadbebê? — Gabriel ri e
entrega Théo ao meu pai, que chora. — Olá, Sadbebê!
— Se eu te amava antes, hoje eu passei te amar muito além
do que imaginava poder existir — Gabriel diz ao sentar-se ao
meu lado. — Eu te amo muito, te admiro muito, você é melhor
coisa que poderia acontecer na minha vida — fala beijando meu
rosto. — Eu te amo, Ava.
— Eu também te amo muito, Piroca Baby. Nosso filho é a
coisinha mais linda desse universo.
— Ele se parece com você, mesmo sujinho e inchado, eu
pude perceber. — Reviro os olhos sorrindo.
— Ainda é cedo.
— Você verá. Os cabelinhos dele são meio castanhos
dourados, mais puxadinhos para um loiro, mas não são tão
loiros, é difícil explicar.
— Você desmaiou — digo sorrindo.
— A minha mulher pariu em cima da cama onde eu estava
indo fodê-la antes dar bolsa estourar. O que você queria? Aquilo
foi assustador, Ava. Eu estava pronto para algo num hospital e
não um parto doméstico. Fui forte até nosso bebê nascer.
— Você foi, meu amor. Você é incrível, segurou minhas
mãos, me deu forças. Sozinha eu provavelmente não teria
conseguido.
— Você está se sentindo bem?
— Sim. Um pouco dolorida apenas, mas estou bem e feliz.
Não consigo pensar que eu não queria ser mãe. É apenas a
coisa mais fantástica da vida. Théo... eu estou tão apaixonada
por ele. Não consigo explicar a dimensão do amor que sinto pelo
nosso filho. Ele é tão perfeito que beira ao surreal.
— Ele é. — Gabriel sorri. — Você foi perfeita pra caralho,
sabe disso, não sabe? Você foi fodidamente perfeita, forte, cheia
de raça.
— Théo quis nascer e ele foi apressadinho.
— Para combinar com nós dois, que atropelamos o mundo
desde que nos conhecemos. — É, faz todo sentido. Filho de
peixes, peixinho é.
— Eu te amo, Gabriel.
— Isso foi tão verdadeiro. Eu senti o impacto aqui — ele diz
sorridente.
— É verdadeiro.
— Meu orgulho! Que sorte ter você. — Ele me dá um beijo
na testa e então a enfermeira e minha mãe começam organizar
tudo para dar o primeiro banho do meu bebê.
São três da manhã e todos já se foram. Túlio e Analu
deixaram para vir amanhã, porque eles não estavam na cidade.
Meu bebê já está limpinho, eu já estou de banho tomado,
ele já mamou em meus seios, todas as roupas de cama já foram
trocadas, tudo está perfeito, exceto que estou tendo hemorragia.
Segundo a médica é normal, mas não deixa de ser assustador
pra caralho.
Théo está num bercinho pequeno ao lado da minha cama e
eu estou exausta. O cansaço agora bateu com força. Mas, para
me mostrar a nova realidade daqui para frente, meu bezerrinho
começa a resmungar no berço e comer sua mãozinha.
Gabriel o pega e por Deus, estou com um pouquinho de
pena. Meu Piroca Baby Master está cansado também, mas
permanece firme ao meu lado. Eu acho a coisa mais linda nosso
filho nos braços tatuados do pai. É um contraste e tanto.
— Ele quer mamar. Isso é com você mamãe — Gabriel diz.
— Ei, garoto, saiba que eu te amo muito e, só por isso, estou
dividindo os seios da mamãe, moleque! Se eu te amasse um
pouco menos, eu não dividiria não.
Sorrio e pego meu pequeno no colo. Eu quase mordo minha
mão com a pressão que Théo abocanha meu mamilo. Eu mordo
meu lábio e Gabriel ri.
— Dói?
— Ele é mais potente que você na mamada. — Gabriel dá
uma gargalhada que quase assusta Théo. — Ele vai destruir
meus mamilos. Ainda bem que já estava me preparando com as
pomadas e tudo que a médica indicou. Não é legal, ok? Se
existe alguma mera mortal que não tenha sentido dor me diga
pelo amor de Deus! Isso dói, mas serei firme. Eu amamentarei
meu filho, exceto se algo der errado e atrapalhar a
amamentação.
— E nasce uma mãezona — ele elogia. Nós ficamos em
silêncio, vendo o pequeno bezerro mamar. Nosso Piroquinha
Baby é uma fofura de tão lindo. Quando ele termina, Gabriel o
faz arrotar e o coloca para dormir. Acho que ele realmente
treinou com bolinha de queijo, porque faz tudo com a
naturalidade de um homem acostumado a lidar com bebês. Nos
deitamos e meu celular toca. Eu quero matar um!
— Isis... — Digo bocejando e ela boceja do outro lado.
— Diga que meu sobrinho nasceu? Não consigo dormir.
— Sim, ele nasceu. — Sorrio. — Agora ele acabou de
mamar e está dormindo, é a coisinha mais fofa do universo.
— Eu quero vê-lo, amanhã você pode fazer chamada de
vídeo?
— Claro que sim. E Hygor e Catarina?
— Estão desmaiados a muito tempo. Eles têm aula
amanhã. — Explica. — Ok, irmã. Eu te desejo toda felicidade do
mundo, meu amor. Que Théo traga muita alegria, praz, para
você e toda a nossa família. Dê um beijo enorme em Gabriel.
— Mande um beijo para a garotada e um beijão para Bruce.
Muito obrigada. Eu te amo, Isis.
— Também te amo muito, mesmo brigando.
— Mesmo brigando. — Sorrio.
— Você é incrível, Ava. Sempre foi, sempre será. Tenho
orgulho imenso de você.
— E eu de você.
— Descanse. Beijocas. — Ela encerra a ligação e eu
desmaio real.
Acordo duas vezes durante o resto da madrugada para
amamentar meu pequeno. Quando acordo no dia seguinte,
estou ligeiramente destruída, mas há em minha cama uma
bandeja de café da manhã com tudo que tenho direito. Só então
percebo que estou mesmo faminta. Eu nem dou falta do meu
filho, simplesmente como grande parte das coisas que estão
postas aqui.
Quando termino, levanto parecendo uma estátua. Há um
nervoso enorme de não ter mais uma barriga dura e gigante, e
sim uma flacidez incrível. A primeira coisa que faço é colocar
uma cinta para me sustentar melhor, em seguida escovo os
dentes, faço minhas necessidades e vou em busca do meu filho.
No corredor eu ouço uma conversa:
— Ava indicou que eu procurasse Victor para me dar uma
ajuda, mas não achei certo. Eu preferi falar com você por receio
de Victor não saber de toda a história.
— Ele não sabe de toda a história — meu pai confirma.
— Eu não quis pedir ajuda ao meu pai, porque é a história
dele e porque ele nunca exerceu a profissão, portanto está
bastante desatualizado. Eu gostaria, se você puder é claro, que
você lesse a minha monografia, porque parte da sua história e
de Vic está ali, eu não quero decepcioná-los. Somos uma família
agora.
— Sabe, eu ajudei Victor, ajudei Ava e então Lucca. Quer
dizer, ajudei apenas lendo, direcionando. Você agora é como um
filho e eu ficarei muito honrado em poder ajudá-lo a defender a
história do seu pai e da minha esposa — meu pai diz. — Agora
você pode vir, Ava.
— Ok — digo na cara de pau. — Bom dia, o meu filho fugiu
de mim. — Ele está nos braços do meu pai, dormindo como um
anjo.
— Ele não mamou ainda?
— Ele choramingou apenas porque estava com a fraldinha
cheia de merda — Gabriel explica rindo. — Mas já está quase
perto dele mamar. Já, já ele acorda.
— Ele é a minha cara — meu pai fala orgulhoso e eu rio.
— Túlio não vai gostar nada disso, pai.
— Ele que se dane. Quem pegou Théo no colo primeiro?
Eu!
— Zero maturidade, senhor Matheus Albuquerque. — Ele
sorri e olha para meu pacotinho.
— Eu sou o homem mais feliz do mundo. Sou filho de dona
Mari e de Arthur, irmão de Bia e Arthurzinho, casado com
Victória, genro de Liz e Bê, pai de cinco adultos incrivelmente
maravilhosos e avô de netos lindos. Eu fiz meu legado nessa
vida!
— E continuará fazendo — afirmo.
— Se Deus quiser, filha!
Eu acredito que a maioria das mulheres sentem um pouco
de receio do relacionamento mudar após a chegada de um filho.
Não posso generalizar, mas ao menos comigo esse foi um medo
que me acompanhou durante toda a gestação. Meu balanço
após o nascimento de Théo, é que realmente o relacionamento
mudou. É inevitável não mudar. Porém, neste momento, estou
analisando as mudanças e sorrindo em plena satisfação.
A vida mudou, meu mundo agora é azul e tenho dois
garotos: meu filho e meu marido. E, meu relacionamento com o
homem que amo, ficou ainda mais perfeito do que já era. Nós
dois atingimos um novo nível de cumplicidade. Nossa relação
fortaleceu significativamente desde o nascimento de Théo. Nós
agora somos mais amigos que nunca, além de sermos amantes.
Ainda estou no resguardo, mas descobri que isso não impede de
namorar. Não fazemos sexo, mas namoramos bastante de uma
maneira quase inocente. Vivemos nos beijando, abraçados,
inventando entretenimentos em casa.
O meu Piroca Baby é surpreendente demais. Por enquanto,
não há mais todo aquele clima sexual, nós dois estamos
respeitando minhas limitações, a chegada do nosso filho e o
momento mágico que estamos vivenciando. Estamos vivendo
um novo tipo de relacionamento. Um onde somos centrados,
pés no chão e pacientes. É surpreendente, porque sempre
fomos o oposto da calma.
Esse período está sendo de grande aprendizagem. É
incrível como nós conseguimos nos reinventar e nos encaixar
nas mais diversas situações. Estou descobrindo mais sobre
mim, mais sobre Gabriel, mais sobre todos ao meu redor.
Enxergando a vida com outros olhos que, sem a maternidade,
jamais conseguiria enxergar. E de repente estou ganhando a
percepção de que não tenho mais medo das mudanças, elas
acontecem para que possamos amadurecer, adaptar à novas
situações e exigências.
Há vinte dias pós dar à luz, estou me sentindo mais mulher
do que eu era antes de ter um filho. Descobri que não sou o tipo
de mulher cheia de neuras e que respeito meu corpo,
juntamente com as mudanças que ele sofreu. A barriga ainda
está um pouquinho desregulada, meus seios parecem ter dado
uma pequena caída, nada muito assustador. Mas isso não me
incomoda ou me faz sentir vergonha perto do meu marido. Muito
pelo contrário. Nos três primeiros dias pós parto, eu tive um
imenso nervoso em tocar minha barriga devida à flacidez em
que se encontrava, então foi ele que me deu banho e que me
ajudou a lidar com isso. Tenho tido uma imensa dificuldade para
amamentar, então é ele que cuidadosamente me “ordenha” com
bombinhas de tirar leite. Felizmente, há dois dias eu pude
abandonar as enormes calcinhas, mas Gabriel me viu usando-as
todos os dias e ele nunca deixou de falar que eu sou linda, muito
pelo contrário. Desde o nascimento do Théo, parece que me
tornei a mulher mais linda e desejada do mundo por ele.
Por tudo que estou vivendo, eu me pergunto se o erro está
nos homens que não sabem valorizar uma mulher. Já vi tantos
relatos de pós parto, de insegurança, mas será que elas têm um
companheiro compreensivo que saiba enxergar a grandeza dela
ter dado à luz e saiba respeitar as mudanças? Talvez seja por
isso que muitas mulheres se tornam inseguras. Apesar de quê,
eu sou muito a mulher do amor próprio, do tipo que acha que
não dependemos de elogios para nos sentir bem e segura.
Enfim.
O que quero dizer é que meu corpo mudou, mas é isso aí.
Como não poderia mudar? Me diga um motivo pelo qual eu
deveria entrar numa dieta extrema e perder um período tão
importante de resguardo e do meu bebê? Estou feliz, estou
segura e meu marido está sentado na cama observando-me
através do espelho enquanto visto uma calcinha “normal”.
É bom saber que, quando eu me sentir preparada e segura
para o sexo, tudo voltará ao normal. Ao menos é o que os olhos
dele dizem. Por mais controlados que estejamos, há faíscas o
tempo todo, principalmente em momentos como esse, onde a
intimidade é tão grandiosa que eu não me importo de tomar
banho com a porta aberta e tão pouco analisar meu corpo, como
tenho feito diariamente, através do espelho.
Eu sorrio para ele, e ele retribui o sorriso, desviando o olhar
como se estivesse atento no notebook. Mas não dura nem
mesmo cinco segundos antes que o olhar dele volta para minha
bunda. Eu o vejo passar as mãos no rosto e então volta a focar
no notebook. Certamente ele está revisando pela vigésima vez
sua monografia e eu nem mesmo sei porque tanta insegurança,
sendo que meu pai disse que é uma das monografias mais
fantásticas que já viu e até mesmo chorou, por ter parte da
história da minha mãe.
Visto meu roupão e sigo para me acomodar na cama, ao
lado dele.
— Gabriel, você vai revisar quantas vezes mais? —
pergunto.
— Isso me distrai quando Théo está dormindo — ele explica
e eu sorrio. — Eu acho que ficaria mais seguro se eu fosse
apresentá-la para um público maior. O fato de terem alterado
para uma banca com seis pessoas está me deixando nervoso.
— Você é ótimo. É o representante das turmas de direito do
seu período acadêmico. Não foi à toa que foi o escolhido para tal
função. Você conversa bem, tem o poder de atrair a atenção e
manter as pessoas interessadas em sua conversa. Eu acho que
seria pior se fosse para um auditório inteiro, sabia?
— Por quê?
— Porque seus pais estariam lá, os meus também e você
teria a obrigação de transformar a história de dor e sofrimento
deles, em algo mágico no final. Isso seria de uma
responsabilidade imensa. Já parou para pensar? — argumento e
ele fica pensativo.
— Estou tão tenso que nem mesmo havia pensado nisso —
confessa fechando o notebook. Meu Piroca Baby precisa de um
carinho, é isso. — Mas seu pai já viu...
— Apenas ele — afirmo. — O que eu disse anteriormente
refere-se exclusivamente à minha mãe e seu pai, as duas
pessoas mais envolvidas na história. Meu pai sofreu um impacto
com a leitura, imagina sua mãe?
— Ok. Você está certa, Atriz Pornô. Preciso relaxar.
— Em dois dias isso tudo acaba, então virão as festividades
e eu terei que estar lá sem nosso pacotinho de Piroquinha Baby
— digo fazendo bico. — Não sei se quero trabalhar mais nessa
vida — brinco.
— Théo vai estar em boas mãos — diz sorrindo. — É uma
merda sair de casa sem ele — confessa. — Mesmo eu sabendo
que você está aqui, é como se o moleque fosse o responsável
pelo meu oxigênio. Eu saio e na garagem já estou ansioso para
voltar.
— É doido ser pai e mãe, não é mesmo? — Sorrio.
— Muito. Nem sei explicar — ele diz olhando para o decote
do roupão. — Enfim. Você está bem?
— Muito bem.
— Acho que vou fazer nosso jantar. — Desde ontem, em
alguns momentos ele tem fugido de mim. Eu acho que a falta de
sexo está começando a afetá-lo, mesmo que ele jamais vá dizer
ou cobrar qualquer coisa referente a sexo.
— Você pode fazer uma massa? Eu beberia um pouco de
vinho hoje. Quer que te ajude?
— Não. Fique descansando e eu irei preparar. — Ele me dá
um beijo na testa e se levanta da cama.
A médica me disse que eu posso retomar a vida sexual
quando eu me sentir bem. Ainda não me sinto preparada, mas
eu posso cuidar do meu marido, que, de uma forma totalmente
diferente, tem cuidado de mim o tempo todo.
Théo começa a chorar e eu vou até o quarto pegá-lo. Basta
estar com ele no colo para ele se acalmar. Mas ainda há um
enorme biquinho e olhinhos brilhando de lágrimas. Não existe
nada mais perfeito que esse garotinho aqui.
— Não faz esse biquinho para a mamãe, companheiro. Eu
morro de amores por você. É arriscado eu fazê-lo chorar só para
registrar esse momento — brinco. — O que você quer? Conta
para a mamãe?
Ele tenta morder a própria mãozinha, dando o sinal de que
está com fome, como se tivesse entendido perfeitamente a
minha pergunta. Eu me acomodo na cadeira de amamentação e
o garoto vem quente assim que coloco meu seio para fora.
Como diz minha avó, a vida é um pau atolado no cu
realmente. Gabriel já colocou até grampos de mamilo em meus
seios e eu nunca senti dor, mas Théo tem o dom de massacrar
meus mamilos, de forma que eu fico tensa enquanto ele se
perde por longos minutos na mamada. O filho de uma boa mãe
até respira com dificuldade e cochila em alguns momentos, mas
sem soltar meu seio. É uma coisinha linda, mas mamador o
bastante.
Ele se perde por quase uma hora, entre dormidas e
mamadas. Então apaga de vez. Eu fico observando seu rostinho
fofo e meu coração até acelera. Como pode existir um amor tão
forte? Eu sou completamente apaixonada e refém desse
pequeno garotinho Piroquinha Baby. Nem mesmo o coloco no
berço. Permaneço exatamente sentada onde estava, na mesma
posição em que estava, admirando, contando cada uma de suas
respirações.
— Psiu. — Ouço o barulho e Gabriel está na porta, sorrindo.
— O jantar está pronto. — Ele entra e pega Théo
cuidadosamente dos meus braços. Coloca nosso pacotinho no
berço enquanto eu ajeito meu sutiã amamentação e arrumo meu
roupão.
Seguimos para a sala e jantamos sentados no tapete, em
volta da mesinha de centro. Gabriel coloca uma música baixinha
e então eu degusto após longos meses um pouco de vinho. Até
solto um gemido em apreciação ao sentir o sabor em minha
boca.
— Deus! Eu estava sentindo falta de vinho!
— Percebi.
— Sua lasanha está do caralho! Deus do céu! Você quer
casar comigo? — pergunto.
— Espero nosso casamento oficial, Ava, eu não desisti
disso e não quero corpo mole. Assim que passar pelo menos
uns dois meses do nascimento de Théo, nós voltaremos a
discutir sobre o casamento.
— Já somos casados, gostosão da piroca. — Pisco um olho
sorrindo.
— Não como eu gostaria.
— É fetiche me ver vestida de noiva?
— É — afirma de maneira decidida. — Você vai caminhar
em minha direção ao altar, e eu vou pensar em mil e uma
maneiras de arrancá-la do vestido e consumar o casamento.
— Hummmm.... — Sorrio maliciosa. — Vai estar de pau
duro em um momento tão “virginal”?
— Não há nada virginal quando você está envolvida, Ava.
— Dou uma risada e ele me encara com um brilho nos olhos. —
O que foi?
— Nós ainda podemos ser quem éramos — diz sorrindo. —
Eu pensei que mudaria um pouco, mas nós ainda estamos
“aqui”, entende?
— Entendo. — Sorrio. — Química, conexão, amor e desejo.
Ainda estamos “aqui”.
— Eu sou muito mais feliz desde que você chegou, Ava.
Vejo amigos reclamando do casamento, mas não há nada aqui
que me faça querer reclamar, muito pelo contrário.
— Estamos na mesma sintonia, Piroca Baby — digo ficando
de pé e recolhendo nossos pratos.
Gabriel fica de pé também e tenta tomá-los das minhas
mãos.
— Eu cuido disso, senhora.
— Eu cuido. Você já cuidou demais, não acha? É o
momento de eu cuidar também. — Sorrio.
— Das louças?
— De tudo. Das louças, da casa, de você. — Ele sorri. —
Eu quero que você vá para nosso quarto, escove os dentes e
me espere, ok?
— Por quê? Não posso simplesmente ficar aqui te vendo
fazer trabalhos domésticos?
— Você vai gostar. Vá. — Ele percebe que há algo, noto
isso pela forma como ele sorri. Ele deixa sua taça sobre o
balcão e vai, sem mais protestos.
Eu lavo toda a louça, guardo o restante do vinho e pego um
pote de sorvete na geladeira antes de seguir para o quarto.
Meu marido merece cuidados especiais.
Eu não me orgulho da minha história, dos meus feitos, do
meu passado. É algo que aprendi a conviver, a aceitar e tive que
perdoar a mim mesmo para conseguir viver em paz e constituir a
minha família. Todas as pessoas (que merecem), são dignas de
receber uma chance. Eu dei uma chance a mim mesmo, mas
isso jamais teria acontecido se eu não tivesse conhecido Analu.
Sei que é forte demais, que isso coloca um peso grande
sobre a minha esposa — mesmo que para o bem —, mas é o
que é. Eu não tinha vontade de deixar de ser quem eu era; um
homem sombrio, revoltado de todas as maneiras possíveis,
sozinho e cruel. Por isso, não tenho vergonha de dizer, eu era e
ainda seria um homem fraco se eu não tivesse encontrado a
minha força. Força essa que só uma pessoa conseguiu fazer eu
enxergar.
Só posso dizer: “quem diria”.
Quem diria que eu me apaixonaria por uma Pinscher
Raivosa.
Quem diria que eu a engravidaria quando ser pai era tudo
que eu mais tinha pavor na vida.
Quem diria que a gravidez dela seria o grande impulso para
eu correr atrás de superar os meus traumas.
Quem diria que eu conheceria um filho do coração; meu
amado Humberto.
Quem diria que além de Gabriel e Humberto, teríamos mais
três filhos: Davi, Pedro e minha linda princesa, minha bolinha de
queijo.
Quem diria que Gabriel estaria neste exato momento
defendendo uma monografia usando a minha triste e fodida
história como base da sua defesa. Pela primeira vez em anos,
hoje estou me permitindo ter orgulho da minha história, apenas
por isso.
É algo que nunca esqueci. Ainda convivo com a culpa e
agora sou pai de uma menina. Ser pai de menina sempre foi um
desejo, mas eu acredito que Deus deixou Aurora por último,
porque certamente hoje sou muito mais maduro, mais pés no
chão e mais racional. Hoje tenho base para educar, guiar, passar
ensinamentos a uma garotinha.
Mesmo Aurora sendo fruto de um enorme sonho, ter me
tornado pai de uma garota me fez pensar em tudo que os pais
de Vic passaram, me fez enxergar outra perspectiva dos fatos.
Esses pensamentos são algo que guardo para mim, porque a
vida mudou por completo. Hoje sou amigo íntimo de Victória,
Matheus e toda família. Nossos filhos são casados, eu e
Matheus somos quase como melhores amigos. Então não há
por que alimentar a culpa, mas também não é algo que nunca
serei capaz de esquecer. Posso ter superado, posso ter me
perdoado e ganhado o perdão, mas esquecer é uma outra
história.
Eu sinto medo de que, em algum momento da vida, minha
filha seja a pessoa a pagar pelos meus atos do passado. Isso é
algo que converso constantemente com Analu, que, como
sempre, me acalma em todas as conversas e me passa uma
quantia da sua positividade, fazendo com que eu enxergue tudo
por uma outra perspectiva.
Sorrio vendo-a brincar com Aurora na grama da
universidade, sem se importar com nada além das gargalhadas
da nossa filha.
— Olá! — Victória surge e se acomoda ao meu lado.
— Olá! Não sabia que viria.
— Vim com Ava, ela quis estar aqui — explica e Ava surge
logo em seguida. Após me cumprimentar, ela vai para a frente
da porta da sala onde Gabriel está e fica mexendo em seu
celular, demonstrando estar nervosa, talvez ansiosa.
— Onde está Théo?
— Matheus. — Reviro os olhos e Vic dá uma gargalhada. —
Matheus, Davi e Luma estão com ele, numa disputa insana.
Quem não disputaria? Existe coisa mais perfeita nesse mundo?
Apenas bolinha de queijo. Os dois são perfeitos!
— Será que eles serão amigos?
— Tenho certeza que sim. — Ela é outra pessoa positivista.
Graças a Deus, Vic tornou-se uma grande mulher e é cem por
cento feliz. — Como se sente sabendo que seu filho estudou
anos para chegar no dia de hoje e poder homenageá-lo?
— Não sei. Acho que estou pegando a doença de Matheus,
de viver constantemente chorando. — Sorrio. — Eu não merecia
o que Gabriel está fazendo, não merecia o que Davi está
fazendo. Ambos escolheram o direito por mim, pela justiça, mas
não acho que eu tenha sido tão injustiçado na vida. Fiz coisas
ruins e foi justo pagar por elas.
— Não concordo, Túlio. Mas eu entendo de verdade como
se sente. Porém, posso dizer que 90% dos seus erros, foi
porque era obrigado por Humberto. Você não os teria cometido
se não tivessem tantas coisas em jogo. Mas não acho que é
algo que devemos lembrar agora.
— Mas é difícil não lembrar do passado quando meu filho
está ali.
— É, eu sei. É parte da nossa história e traz lembranças a
todos. Mas posso te dizer algo? Você criou seres humanos
maravilhosos, Túlio Salvatore. A educação, os valores dos seus
filhos, tudo que eles são, é mérito seu, não apenas de Analu.
Vocês dois fizeram um excelente trabalho. Ter Ava casada com
Gabriel é uma das coisas mais fantásticas que já aconteceu na
minha vida. Eu me sinto segura como mãe, sabendo que minha
filha está casada com um homem tão bom e tão rico de valores.
E eu me sinto da mesma forma sobre Luma. Acredito que no
futuro seja ela a se casar com Davi, que é uma outra maravilha
criada por Túlio Salvatore e Analu. — Ela sorri. — Costumam
dizer que os filhos são o espelho dos pais e é verdade. Seus
filhos são espelho da sua criação e da criação de Analu.
Normalmente, na fase adulta isso tende a sofrer mudanças, já
que as asas são cortadas e eles se tornam “emancipados”. Eles
poderiam ter feito escolhas diferentes, ter sofrido alteração de
caráter, entre outras questões. Mas não, cada um deles
escolheu continuar seguindo o que vocês passaram a eles e é
fantástico isso. Eles herdaram a sua grandeza.
— Assim como seus filhos herdaram a grandeza que você e
Matheus possuem. Olho para Ava e vejo você por completo —
digo rindo. — Um projeto de Victória.
— Ela é uma mistura. — Vic sorri. — Ela é firme como eu,
mas possui a sensibilidade do pai, mesmo que às vezes ela
tente se mostrar indiferente. Acho que ela, Isis e Victor são os
únicos que se parecem comigo. Na verdade, talvez nem Victor
se pareça comigo. Eu acho que por trás daquele modo
“resistente” dele, habita um Matheus versão 2.0. Posso quase
apostar nisso. Enfim, Luma, Victor e Lucca são o pai. Isis e Ava
são uma mistura, oscilam bastante nas duas personalidades, por
isso vivem brigando, mas se amam incondicionalmente, graças
a Deus!
— Não posso dizer sobre Aurora ainda, mas Pedro é o que
mais se parece comigo. Ele tem um jeito um tanto quanto
rebelde, anda aprontando, mas é um garoto fantástico por trás
da fachada de “garoto problema” — divago. — Também, não
posso dizer que ele apronte tanto. Ele faz coisas que jovens
fazem, beber, curtir festas. O único problema é o cigarro, mas já
estamos trabalhando sobre isso.
— Normal. Ele é maravilhoso, carinhoso e atencioso com
todos. Não tem onde ele ser ruim. Mas, sobre o jeito rebelde,
concordo que se pareça com você.
— Bastante. — Rio.
— Papaaaa! — Minha bolinha surge andando e rouba toda
a minha atenção.
— Olá, garota bolinha — digo ficando de pé e a pegando no
colo. A garota é mesmo uma bolinha, bem pesada por sinal. —
Você vai me dar trabalho pra caralho, não vai? Estou fodido!
— Olha a sua boca, Túlio Salvatore! — Analu repreende.
— É verdade, desculpe o papai, filha. Mas, só para constar,
papai já ficou preso por sete anos, não me importo de ficar por
mais sete.
— Que humor sombrio!
— Sombrio é o que farei com você quando chegar em casa,
senhora Pinscher Raivosa. — Ela sorri e nos abraça.
— Não me incomodaria de deixar nossa bolinha com Davi e
Luma essa noite para darmos um passeio num certo clube, e
brincar com certos tipos de corda — sussurra em meu ouvido.
Essa mulher é doida com shibari, foi paixão à primeira usada,
quando fiz a corda roçar no clitóris dela até ela gozar.
— Me dê essa bolinha! — Vic pede e a traidora da minha
filha se joga nos braços dela. Ela sai, me deixando com a Analu
Souza Salvatore, minha Pinscher esposa.
— Demora assim mesmo?
— Não — digo abraçando-a. — Te amo.
— Também te amo. — Sons de palmas atraem nossa
atenção e sou tomado por um tremor. Analu sorri, me apertando
mais. — Você é grande, Senhor Gibi.
— Eu vou embora antes de passar vergonha — digo
suspirando. — Ok?
— Não! Você veio fazer uma surpresa para nosso filho e vai
ficar. Não é vergonha se emocionar, Túlio. Já disse isso a você
centenas de vezes.
— Estou virando um Matheus, Analu. — Ela ri.
— Matheus é insuperável no drama, bebê e nem mesmo
conheço ele a muito tempo.
A porta se abre e então meu filho sai da sala limpando seus
olhos, que estão devidamente vermelhos. Ele tromba em Ava e
levanta a cabeça. É interessante ver a surpresa dele ao
encontrá-la e é emocionante ver a surpresa dele ao me ver.
Ele soluça, Analu me solta e então ele está nos meus
braços, como fazia quando era criança.
— Pai! — Fodeu! Eu me pego chorando no meio do
corredor da universidade, agarrado ao meu filho. — Foi por
você, pai! Eu consegui! — Sou inundado de orgulho do meu
filho! Nunca duvidei que ele conseguiria, sempre acreditei nele,
sempre depositei minha confiança. E ele conseguiu. Meu garoto
cresceu, se dedicou aos estudos, tem uma linda esposa, um
filho e agora um diploma.
— Você é grande, filho! — exclamo com toda a segurança
que possuo em mim. — Seu filho vai se orgulhar do homem que
é!
— Eu quero ser para ele, o que você foi e é para mim. Se
eu conseguir ser metade, já serei bom o bastante.
— Você é muito melhor que eu, Gabriel. Infinitamente.
— Nem perto, pai — ele diz se afastando e ambos
limpamos o rosto, então sorrimos antes de darmos mais um
abraço.
— Parabéns, filho!
— Obrigado, pai! Foi por você e por isso valeu a pena!
Espero honrá-lo sendo um excelente advogado e lutar sempre
pelo direito e pela justiça.
— Você é meu orgulho, desde sempre. Foi por você,
Gabriel, que, com impulso da sua mãe, eu fui em busca de ser
um homem melhor. Sou grato a sua existência, grato ao homem
que se tornou. Te amo, filho, obrigado!
— Você é meu exemplo de homem. — Dito isso, ele vai
abraçar Analu e então pega Ava em seus braços, eles
protagonizam uma cena bonita no corredor e eu sorrio, feliz por
vê-lo feliz e por vê-lo crescendo mais a cada dia.
— Por você, Senhor Gibi! É quem você é, e não quem você
foi. É onde termina, e não onde começa.
— Terminou quando conheci você — digo abraçando minha
esposa. — Por você, meu amor, nós vamos comemorar essa
noite. — Ela sorri.
— Ansiedade é meu nome do meio.
— Desde o dia em que te vi pela primeira vez eu quis fazer
isso — Gabriel sussurra em meu ouvido enquanto me pressiona
contra a parede, no corredor dos nossos apartamentos.
— É? Mas há uma pequena diferença. — Sorrio abrindo sua
calça e libertando seu incrível pau do cativeiro.
— Qual?
— Naquela noite era Renatinha aqui e ela parecia morta o
bastante para pedir arrego. — Ele sorri. — Agora sou eu e talvez
seja você a pedir arrego, belo rapaz Piroca Baby.
— Aqui não é um bom lugar para nossa primeira foda pós
parto — argumenta apertando meus seios.
— Aqui é o lugar ideal. Naquela noite eu senti inveja
daquela imbecil, eu queria estar no lugar dela, sentindo todas as
coisas que você poderia vir a me proporcionar. É sua obrigação
saciar meu desejo.
— Você pode senti-las agora.
— Estou ansiando por isso — digo o puxando pela gravata
e então algo vibra do paletó do terno de Gabriel. — Não
atenda... — peço beijando seu pescoço e esquecendo que
temos um filho. Felizmente, ele consegue ser racional.
— Pode ser algo com Théo. — Isso tanto me contém,
quanto me deixa em completo estado de alerta. — Oi, Davi...
Ok, estamos descendo. — Ele encerra a ligação e guarda seu
brinquedo de volta na cueca.
— O que houve?
— Parece que Théo está se sentindo mal. Deve ser cólica,
Davi parecia desesperado — explica.
Davi e Luma são praticamente babás de Théo, até quando
não há necessidade eles tentam roubar meu filho. Há lados bons
nisso, confio mais neles do que em uma babá desconhecida.
Eu me recomponho e então solicitamos o elevador.
São três da manhã e acabamos de chegar da formatura do
meu Piroca Baby. Talvez eu seja demitida do meu cargo,
inclusive. Digamos que eu tenha tacado um prato de bolo na
cara de Renatinha, quando a vi deslizando a mão pelo peitoral
do meu marido, fingindo parabenizá-lo, talvez esse bolo tenha
respingado em pessoas cujo cargo são importantes na
universidade e, talvez, eu tenha a pego pelos cabelos e a jogado
dentro do pequeno lago que há do lado de fora do salão. Isso é
motivo para eu ser demitida? De qualquer forma, paciência.
Tenho meus motivos e talvez seja ela a ser expulsa da
universidade, e não eu.
Gabriel nem discutiu, e considero isso um ato de pura
inteligência. No fundo acredito que ele até tenha gostado, afinal,
me mantive quieta durante muito tempo, respondendo a minha
gestação, porém, agora, quem mexer com meu marido vai levar
uma porrada sem dó e foda— se a classe ou o que vão dizer de
mim.
Descemos até o primeiro andar e então chegamos ao
apartamento de Davi, que está muito engraçado andando de um
lado para o outro com Théo, enquanto Luma chora. Reviro meus
olhos com a cena enquanto Gabriel pega nosso bebê.
— Por que diabos você está chorando, Luma? — pergunto.
— Porque Théo está chorando. Não consigo conviver com
isso, nunca serei mãe! — exclama soluçando.
— Será sim! Eu quero filhos, no mínimo dois, e você ama
bebês. Só está dizendo isso porque o bichinho está chorando,
quando ele está calmo você fica toda animada para ser mãe —
Davi argumenta bravo.
— Não venha com esses espermatozoides vencedores, eu
não quero ser mãe tão cedo. Apenas no futuro distante.
— Após eu formar, assim que casarmos — ele comenta
sorrindo. — Falta muito? Estou ansioso! — Luma faz uma careta
e eu vou auxiliar Gabriel.
— É cólica, a barriguinha dele está bem durinha. Vamos
levá-lo para casa, dar um banho morninho e fazer massagem.
Deve resolver — meu marido diz e eu pego a bolsa do nosso
bebê. Por que Gabriel sabe mais do que eu às vezes? Talvez
seja por conta da minha bolinha de queijo maravilhosa. Ele teve
treinamento intensivo, já eu, nunca fui uma mulher toda “bebês”.
Em casa, eu arrumo o banho de Théo enquanto Gabriel
retira a roupinha dele. Meu filho agora já não está chorando
mais, e sim rindo. É possível ficar mais apaixonada a cada
minuto? Não existe nada mais perfeito na vida do que meu
bebê. Mas, ainda assim, não quero mais filhos. Não sou o tipo
muito maternal, tão pouco tenho vocação para possuir uma mini
creche, como meus pais. Acho que dois filhos seriam meu limite,
mas estou mais do que satisfeita com Théo, de forma que não
quero mais bebês.
Gabriel fica fazendo massagem na barriguinha e então o
vejo começar a ficar vermelho e fazer força. Sei que uma
explosão de merda está vindo e já me preparo para isso. Théo
faz força até respirar com dificuldade e então a magia acontece.
O garoto faz sua quantidade assustadora de caquinha e Gabriel
fica rindo.
— Era isso! — ele diz orgulhoso por saber.
— Provavelmente vazou — comento passando a mão nos
cabelinhos do meu bebê. — Ei, cagão, você é lindo até fazendo
força para fazer caquinha, não é mesmo? — Théo fica
sorridente, um belo sorriso de alívio.
— Acho melhor dar banho nele no chuveiro — Gabriel
sugere e eu concordo. Fico com Théo para que ele possa retirar
a roupa. Enquanto é isso, retiro a fralda cagada e tento limpá-lo
ao máximo.
— Eca, isso aqui está caótico! — comento rindo. — Théo
precisará de um banho de perfume.
— Me dê esse garoto cagado. — Sorrio e entrego meu filho,
então vou jogar a fralda e os lenços umedecidos fora, no lixo do
condomínio porque dentro do apartamento é impossível.
Meia hora depois, Théo está limpo, alimentado e dormindo
nos braços do pai. É uma cena muito linda, porque Gabriel fica
passando o dedo no vão entre as sobrancelhas de Théo e Théo
fica sorrindo, mesmo dormindo.
É muito amor, tanto pelo pai quanto pelo filho. E eu jamais
imaginei sentir isso.
Quando Gabriel o coloca no berço, ele volta a chorar
desesperadamente. Por ser tarde, e estarmos cansados, dou
uma sugestão:
— E se o deixarmos dormir conosco essa noite? Ele não
parece bem para dormir sozinho. — Gabriel fica um pouco
chateado, porque iríamos finalmente foder como canibais, mas
aceita minha sugestão de bom grado, adequando-se à nova
realidade.
E é assim que nossos dias vão passando. Com Théo
empatando fodas, Théo se desenvolvendo mais a cada dia,
Théo tornando nossos dias preenchidos, e nos ensinando a
valorizar até mesmo os momentos a sós. Théo, o meu garoto
inesperado que trouxe tantas alegrias, união, loucuras, vida,
trouxe sentido à vida....
Eu sou tão feliz por tê-lo, tão feliz por ter entrado de cabeça
num relacionamento louco, tão feliz por ter sido indiretamente a
responsável pela união de duas famílias que se odiavam e agora
são só amor.
O amor, à maternidade, um relacionamento sólido, nunca
estiveram em meus planos, mas parece tão certo, porque a vida
é assim, um montante de acontecimentos inesperados,
momentos que desafiam a lógica, desafiam a compreensão,
mas que fazem todo sentido em algum momento, principalmente
quando você olha para trás e percebe quanto amadureceu.
Eu mudei tanto, Gabriel também. Mas isso não teria
acontecido se não tivéssemos nos encontrado. Meu vizinho,
meu aluno, meu marido.
Ele teve a capacidade de mudar meu modo durão e me
transformar numa pessoa mais emoção. Ele tornou-se meu lado
certo, e eu mudei sua vida errada.
A decoração do jardim da casa da Ilha está de tirar o fôlego.
Sofisticada, elegante e deslumbrante como Ava.
Um arco de flores brancas misturadas com o tom verde das
folhas, está diante do altar, com vista exclusiva para o mar. No
teto acima de nós, há flores por todos os cantos e uma luminária
luxuosa, adornando a decoração. Coqueiros delicados e duas
fileiras de flores nas laterais da pista central, onde minha mulher
passará em alguns minutos, dão o toque final.
Não imaginei que poderia ficar tão nervoso e ansioso, mas
é exatamente assim que me encontro. Chego a estar
transpirando, mesmo que um ventinho bastante fresco vindo do
oceano esteja nos agraciando na tarde de hoje.
Nosso casamento é completamente discreto. Restrito
apenas para familiares e amigos mais íntimos, como ambos
queríamos. Ava prefere a discrição e tenho que concordar com
ela. Não sei se estaria tão feliz se houvessem centenas de
convidados aqui.
Num carrinho próximo a mim, Théo, no auge dos seus sete
meses de vida, está desmaiado o bastante para não notar
qualquer movimento. Olhá-lo agora faz um nó surgir na minha
garganta. Pela primeira vez, ficaremos 1 semana longe do nosso
bebê, em uma viagem de lua de mel. E, como pai e marido,
tenho que dizer que é necessário. Há sete meses eu e Ava
vivemos em função do nosso pequeno, de forma que não
conseguimos dar um passo sem ele. Acho que merecemos um
tempinho para podermos curtir um ao outro sem interrupções e,
nada melhor que a lua de mel para isso.
Porém, a dor a inevitável. Tenho certeza que assim que
entrarmos no avião, eu e ela estaremos um tanto quanto
abalados e precisaremos nos esforçar para dar uma relaxada.
A vida materna/paterna é muito doida. É impressionante a
revolução que um pequeno ser humano faz na vida de um casal.
— Eu ainda não acredito que minha filha vai se unir a um
Salvatore do caralho — Meu sogro protesta ao meu lado,
arrancando risadas de várias pessoas.
— Você deveria dar graças a Deus. Salvatores são as
melhores pessoas, muito mais que os Albuquerques. Eu quem
deveria estar lamentando essa união. Meu filho era normal até
conhecer Ava. Ela é meio Sadgirl, como você chama Vic. Tenho
pena do meu pobre filho. Essa mulher deve chicoteá-lo.
— Meu pau! — meu sogro diz.
— Você não deveria estar com ela? Não é você quem vai
conduzi-la ao altar? — pergunto.
— Sou eu, mas me recuso a ficar perto dela agora. A
mulher parece endiabrada, dando coice igual uma égua. Ava
puxou a mãe. É tudo culpa dos genes de Vic.
— Sim, meus genes são dominantes e os seus submissos,
então cale-se! — Victória diz dando um beliscão na bunda dele.
— É o contrário, Sadgirl, você sabe bem disso. Quem
domina?
— Eu?
— Vic.
— Você... quando estou com preguiça de dominar — ela
argumenta.
— Ok, senhores, não queremos saber da vida sexual de
vocês — meu pai diz rindo. — Mas, em defesa de Matheus,
somos machos dominantes. Você e Analu são as fêmeas
submissas.
— No doce sonho de vocês — minha mãe debocha. —
Vocês dois são capazes de lamber o chão para nós duas
passarmos, babacas!
— Você me chamou de babaca? — meu pai pergunta e ela
sorri.
— Bom, parece que é o momento de dor e sofrimento —
Matheus diz olhando em seu celular. — É com muito pesar e
ódio no coração que estou indo buscar minha filha para cometer
esse ato de insanidade. Talvez, no meio do caminho, eu consiga
fazer com que ela desista dessa união. Eu odeio você, Túlio
Salvatore, mas vamos encher a cara depois desse evento
porque somos amigos — ele brinca e me dá dois tapinhas nas
costas antes de ir.
Quando ele se vai, aí sim começo a ficar nervoso. Mas, por
que estou nervoso? Ela já é toda minha, não há motivo para eu
estar dessa maneira. Porém, nem mesmo esses pensamentos
fazem minha mente mudar.
Acho que é por vê-la vestida de noiva. Sinto que isso vai
mudar alguma coisa dentro de mim, se é que é possível. Há
toda uma coisa em torno de ver sua mulher vestida de noiva,
caminhando em sua direção rumo ao altar.
Eu começo a andar de um lado para o outro e ouço
algumas risadinhas, em especial a de Victor. Então eu paro de
andar e o encaro:
— Um dia serei eu rindo da sua cara de babaca! — aviso e
ele faz uma careta.
— Tá pra nascer a mulher que vai conseguir casar comigo.
Ser solteiro é o esquema!
— Os idiotas que dizem isso, são os que mais se fodem.
Pode demorar, mas que eu vou vê-lo rastejando por uma mulher,
eu vou!
— Vai jogar praga no inferno! — esbraveja. — Não quero
essa maldição na minha vida.
— Ok. Eu vou jogar na sua cara, já estou avisando.
— Olhe para você, vê minha irmã todos os dias e parece
um insano desesperado, ansioso para vê-la. Não quero essa
maldição na minha vida. — Dou uma risada e então a pequena
orquestra começa a tocar a marcha nupcial e lá está ela,
roubando meu fôlego.
Absurdamente linda! Mas, por Deus, nem mesmo esse
vestido quebra o ar sexy dessa mulher. Ava tem a cara de atriz
pornô, de forma que nem estar vestida como um anjo faz com
que eu esqueça disso. Está explícito em seu rosto,
principalmente por conta dessa pintinha acima da boca. Além
disso, há o decote do seu vestido, expondo os fantásticos seios
arredondados que cresceram ainda mais durante a gravidez,
deixando-a ainda mais gostosa do que já era. Porra, eu estou
indo casar de pau duro porque tenho uma atriz pornô para
chamar de minha. Isso não é romântico, definitivamente, mas
acredite, ela é o amor da minha vida e eu amo com todas as
minhas forças.
Quando está bem próxima do altar, eu me aproximo.
Matheus me dá um abraço.
— Gosto muito de você, Piroca Baby — ele diz em meu
ouvido. — Cuide da minha princesa.
— Com toda certeza que sim. — O abraço de volta e vou
pegá-la. — Porra, você está gostosa!
— Romântico demais!
— Uma Atriz Pornô perfeita.
— Um Piroca Baby nada baby delicioso.
— Estou ansioso para ver a lingerie que escolheu para essa
ocasião — digo sorrindo. Ava é a rainha das lingeries mais fodas
que já vi.
— Então vamos nos casar logo e sumir por esse mundão
por alguns dias. Há uma quantia exagerada de lingeries na
minha mala, todas esperando para serem destruídas. — Sorrio e
a conduzo até o altar.
Tudo ocorre dentro da normalidade, inclusive o final,
quando o padre diz que eu posso beijar a noiva e Théo escolhe
esse momento para acordar, desviando a atenção do beijo. Ao
invés de ficarmos putos, damos gargalhadas e o pegamos, eu o
beijo de um lado da bochecha e a Ava o beija do outro. É assim
que selamos nossa união.
Após uma longa sessão de fotos, eu e minha esposa
curtimos um pouco da recepção com a nossa família. Porém,
quando anoitece, um helicóptero chega para nos pegar e o
chororô começa.
Eu juro que estou numa luta interna para não chorar, mas,
ainda assim, algumas lágrimas escapam dos meus olhos. Minha
mulher está agarrada ao nosso filho, dando milhares de beijos
nele e dizendo o quanto vai sentir saudades. Ava nunca foi o
tipo de pessoa fofa, mas, desde que Théo chegou, ela tem tido
excessos de fofura e tem sido lindo pra caralho.
Quando ela está começando a assustá-lo com seu choro,
eu o pego e é a minha vez de despedir. Parece que é a coisa
mais difícil que já fiz em toda a minha vida, como se eu
estivesse deixando parte do meu coração. Com muita relutância
o deixamos e embarcamos no helicóptero. Ava se joga em meus
braços e chora.
— Diga que não sou maluca por estar desesperada! — ela
pede soluçando.
— É ruim realmente, Ava.
— Ok, combinamos de esquecer um pouco de tudo e focar
apenas em nós — ela diz se recompondo e limpando o rosto. É
isso aí.
Mas vai ser foda não acordar durante a madrugada para
limpar coco.
Quando o helicóptero pousa no heliporto do hotel que
passaremos a noite, Ava dá um de seus sorrisos safados.
— Ei, podemos não passar essa noite aqui? — pede.
— Sério?
— Sério. Quero ir para o aconchego do nosso lar. — Franzo
a testa desconfiado, mas acabo topando.
Um funcionário do hotel pega nossas malas e solicito um
carro para nos levar para casa.
Quando chegamos em nosso prédio, o porteiro nos
parabeniza e entramos no elevador com as malas. Ava está
tramando algo, sinto isso no ar. Pelo menos consigo estar
preparado psicologicamente.
O elevador para em nosso andar e eu puxo nossas malas.
Ainda no corredor minha esposa começa a se desfazer do
vestido, numa rapidez surpreendente ela está de lingerie branca,
me encarando e mordendo seu lábio inferior. Ela leva as mãos
aos cabelos e desfaz o incrível penteado, jogando a coroa no
chão.
Quando estou a um passo dela, ela puxa as malas das
minhas mãos e então me puxa pela gravata, grudando meu
corpo na parede.
— É o momento perfeito para fazermos sexo aqui —
sussurra em meu ouvido. — Não há o risco de recebermos
visitas ou do nosso filho interromper.
— É um fetiche real, hein?
— Sim.
— Não é o que esperava para nossa noite de núpcias —
digo me desfazendo do paletó enquanto ela traz suas mãos
espertas na minha calça, arrancando a blusa de dentro e
abrindo fecho. Quando ela liberta meu pau da prisão, eu a giro,
invertendo nossas posições, deixando-a contra a parede. Sorrio
enfiando uma mão por entre seus cabelos e deslizo minha
língua pelo seu pescoço.
— Ainda bem que você é o síndico e não há câmeras aqui
— diz em um sussurro rouco, esfregando-se em meu corpo.
— Não é?
— Estive ocupada nos últimos tempos, mas ano que vem
irei concorrer com você, farei uma revolução no condomínio.
— Vai me derrotar? Costumo ser bom nas propostas e em
meus argumentos — digo afastando sua calcinha de renda para
o lado e tocando em sua buceta que está deliciosamente
molhada. Porra! Ava é uma delícia!
Seguro meu pau e o posiciono em sua entrada, porém não
penetro. Ela arfa e, ao invés de discutir comigo sobre a próxima
eleição de síndico, que eu irei ganhar porque aqui nesse prédio
moram poucas pessoas e todos me conhecem bem, ela beija
minha boca e impulsiona seu corpo, fazendo com que eu
escorrego lentamente por sua entrada.
— Ai, meu Deus.
— Eu não farei nada. Seu fetiche não era repetir a cena que
me viu fazer aqui?
— Quase isso.
— Eu colocarei minhas duas mãos na parede, você irá fazer
todo trabalho sujo. Vai envolver seus braços em torno do meu
pescoço e arremeter forte contra meu pau. — Ela geme
mordendo meu ombro e eu faço exatamente o que falei,
posiciono minhas mãos contra as paredes enquanto ela sustenta
seu corpo agarrada ao meu pescoço.
Como uma louca, ela sem move de maneira desesperada, e
eu sou fraco demais para não tocá-la.
Levo minhas mãos em sua bunda e beijo sua boca.
— Te amo demais.
— Eu te amo mais — ela diz. — Eu te amo demais, Piroca
Baby nada baby.
— Quando coloco meus lábios em você, sinto arrepios em
sua espinha, por mim.
— Quando coloco meus lábios em você, ouço sua voz
ecoar por mim a noite inteira — cantarola.
— Nós podemos esquecer todas as boas maneiras, os
vizinhos devem achar que somos loucos, olhe como nos
descontrolamos fácil... você quer ser imprudente...
— Essa música é nossa... — Sorri. — Me leva para dentro
do nosso apartamento. Sexo no corredor só é legal quando sou
a espectadora.
— Que bom, eu achei que você nunca pediria por isso —
digo a colocando de volta ao chão e deixando-a vazia. Subo
minhas calças, pego a chave, as malas e então entramos, com
Ava arrastando o vestido de noiva pelo chão. Há uma decoração
especial no apartamento que não havia quando o deixei há dois
dias. Olho para minha esposa e ela dá um sorriso travesso. —
Oh, a senhorita armou tudo isso?
— Sim. — Deixo as malas de lado e a abraço. — Você me
transformou numa romântica incurável, Piroca Baby.
— Agora eu preciso terminar o que começamos ali fora, e
então vou passar a noite inteira aproveitando do seu romantismo
e mostrando o meu. — Ela geme em satisfação, apoiando minha
proposta e eu a pego em meus braços levando-a até nosso
quarto.
Então o romantismo acaba, porque Ava é uma perfeita
rebelde com uma pitada pequena de docilidade. Eu passo
algumas horas cuidando de satisfazê-la e tendo minha própria
satisfação, porque não há nada mais lindo do que o rosto da
minha mulher quanto está gozando.
Quando enfim transamos o suficiente, ficamos deitados na
cama, preguiçosos. Fico brincando com alguns fios de seus
cabelos enquanto ela fica traçando um dedo pelo meu peitoral.
Acho que nem dormiremos, iremos direto para o aeroporto
quando acordarmos, para a nossa lua de mel na Grécia. Estou
ansioso por isso.
Do nada, me lembro de algo que me faz sorrir.
— Lembrei de quando você perguntou na boate se eu sabia
como lapidar uma pedra bruta — digo.
— Sim... — Ela sorri e beija meu peitoral.
— Então... o dia de hoje responde a sua pergunta? — Por
mais que tenhamos casado no cartório meses atrás, o dia de
hoje parece tornar o casamento mais real. É quase surreal estar
casado com essa mulher teimosa e arisca.
— Dizem que um diamante bruto lapidado se transforma em
pedra preciosa.
— Você é a minha pedra preciosa, e o nosso filho também.
— Minha mulher me beija com um tipo de adoração e então olha
fixamente em meus olhos.
— Você é a melhor coisa que me aconteceu e me deu o
maior presente que já ganhei na vida. Te amo, Piroca Baby.
— Te amo, Atriz Pornô.
Notas

[←1]
Workaholic é uma gíria em inglês que significa alguém viciado em trabalho
[←2]
Atuou como atriz pornô entre 2014 e 2015.
[←3]
I Wish – Infected Mushroom.
[←4]
Golpe usado no Jiu-jitso.
[←5]
Pessoa que tem a voz esganiçada.
Table of Contents
Introdução
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo Final

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