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4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Na Unidade 2, você pôde conhecer um pouco mais a figura
extraordinária de Paulo e sua importância na fundação do Cristia-
nismo. Mediante as Cartas 1 e 2 Coríntios, você conheceu alguns
traços marcantes de sua personalidade e sua decisiva influência na
comunidade eclesial de Corinto.
Agora, nesta unidade, você vai conhecer outra faceta da
personalidade de Paulo: sua missionariedade. Suas viagens mis-
sionárias tiveram grande impacto na difusão do Evangelho e na
consolidação das comunidades cristãs por ele fundadas. Você terá
a oportunidade de conhecer os motivos de sua última viagem,
chamada "viagem do cativeiro", e, sobretudo, saber o porquê de o
Cristianismo ter se difundido entre os gentios.
Por fim, mediante o estudo da Carta aos Filipenses e da Car-
ta aos Gálatas, você vai adentrar o contexto sociocultural das igre-
jas de Filipos e da Galácia.

5. PAULO MISSIONÁRIO: AS VIAGENS

Três viagens
O "corpus paulinum" não indica quantas viagens fez o Após-
tolo, embora, em alguns lugares, ele admita que fez ou fará uma
viagem. É em Atos dos Apóstolos que ficamos sabendo que Pau-
lo realizou três viagens missionárias e uma viagem que podemos
chamar "do cativeiro".
Pergunta-se se ele teria feito outra, como a que pretende
realizar até a Espanha, como lemos em Romanos 15,23s. Ele se
dirigia aos romanos antes da viagem a Jerusalém, que lhe causou a
prisão. Em Atos 28, ele se encontra em Roma; conforme lemos em
28,30–31, ele esteve preso lá por dois anos, em regime semiaber-
to, como podemos depreender do contexto, uma vez que anuncia-
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va o Evangelho com liberdade. Se foi liberto depois do prazo regu-


lamentar, então, ele bem pôde ter chegado à Espanha, como eram
seus planos. Contudo, lamentavelmente, não temos informações
seguras a esse respeito.
Também não consideramos, aqui, as viagens anteriores à sua
primeira grande viagem missionária. Ele mesmo indica que foi a
Damasco, depois, a Jerusalém e, em seguida, à Antioquia, como
podemos ler em Gálatas 1,13–24. Esses "pequenos" deslocamen-
tos não são considerados viagens.
Assim, ficamos com o número de três viagens missionárias
e uma viagem dita do "cativeiro". Como dissemos, é em Atos dos
Apóstolos que encontramos referências diretas a essas viagens,
com algumas menções nas Cartas.
As três viagens têm origem e término em Antioquia, não em
Jerusalém. É notório que, lá, na cidade onde os discípulos tiveram
o nome de "cristãos" (Atos 11,26), Paulo tenha feito sua base e
referência. A comunidade era de origem gentio-cristã, e ele sentia-
-se, certamente, comprometido com essa realidade, muito mais
do que com os judaizantes de Jerusalém.
Em todas as viagens missionárias, o Apóstolo dirige-se pri-
meiramente às comunidades judaicas. Ele reconhece a prerrogati-
va do povo da aliança na espera do Messias e, assim, leva o anún-
cio desse Messias, que ele indica ser Jesus, até os judeus. Depois
da costumeira rejeição da parte dos judeus, Paulo dirige-se, então,
aos gentios para anunciar-lhes que há esperança em meio a um
mundo tão marcado pela violência, pelo abuso e pela negação da
vida, como é o mundo do Reino de Roma. E é nesse ambiente que
a novidade do Evangelho tem efeito e reúne novos fiéis.

Primeira viagem missionária

Informação ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––

missionárias de Paulo. Geralmente, as edições da Bíblia apresentam mapas des-


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paulinas. É necessário observar com atenção esses mapas. Na internet, é, tam-


bém, possível encontrar esses mapas. Sugerimos, pela praticidade, a consulta
dos sites disponíveis em: <http://www.cpad.com.br/cpad/paginas/sub_mapa_1.
htm> e em: <http://www.cpad.com.br/cpad/paginas/sub_mapa_2.htm>. Acesso
em: 30 mar. 2012.
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A primeira viagem missionária ocorreu entre os anos de 44 e
49. Encontram-se seus relatos em Atos dos Apóstolos 12,1—14,28.
Atos indica que a viagem começou por uma moção interna do Es-
pírito Santo, conforme podemos observar no texto a seguir:
Havia então na Igreja de Antioquia profetas e doutores, entre eles
Barnabé, Simão, apelidado o Negro, Lúcio de Cirene, Manaém,
companheiro de infância do tetrarca Herodes, e Saulo. Enquanto
celebravam o culto do Senhor, depois de terem jejuado, disse-lhes
o Espírito Santo: Separai-me Barnabé e Saulo para a obra a que
os tenho destinado. Então, jejuando e orando, impuseram-lhes as
mãos e os despediram (Atos dos Apóstolos 13,1–3).

A viagem iniciou-se, então, com Barnabé na liderança, acom-


panhado de Paulo e João Marcos. Eles vão, inicialmente, às cida-
des onde já havia cristãos, como Chipre (cf. Atos 11,19). Isso não
significa que a missão é mais fácil.
Eles vão a Salamis e chegam até Pafos, onde conquistam o
procônsul Sérgio Paulo (I) em meio a um incidente. Ocorre que,
desejoso de ouvir a mensagem dos missionários, o procônsul
chamou-os. Mas estava com ele um mago chamado Bar Jesus. Ele
dificultava o anúncio do Evangelho em função de ter, ainda, seu
poderio sobre o procônsul. O Apóstolo, então, assumindo a lide-
rança da missão, lança sobre o mago uma invectiva e ele fica cego
(Atos 13,4–12).

Informação ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Outrora se dizia com frequência que o motivo da mudança do nome de Saulo
(Shaul) para Paulo seria uma homenagem pessoal do Apóstolo a esse procônsul.
Você poderá encontrar informações a respeito em alguns comentários antigos
e, até mesmo, em edições de algumas bíblias. Mas essa argumentação não se
sustenta hoje.
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De Pafos, os missionários foram para Perge e Panfília, onde


acontece uma deserção: João Marcos desiste da missão e retorna,
indo para Jerusalém. Paulo e Barnabé rumam para Antioquia da
Pisídia. Lá, anunciam o Evangelho com relativo sucesso, dirigindo-
-se aos gentios (Atos 13,14. 43–52).
Os missionários vão para Icônio, depois, para Listra, Derbe e
arredores (14,1–7). Em Listra, ocorreu um fato curioso: a multidão,
encantada com a palavra e a ação dos missionários, especialmente
com a cura de um aleijado (Atos 14,8–10), julga-os deuses desci-
dos do céu e apressa-se a oferecer-lhes sacrifícios (Atos 14,11–14)!
Paulo, com grande esforço, consegue dissuadi-los. Mas alguns ju-
deus vindos de Antioquia e de Icônio instigam o povo contra eles.
O povo, antes admirador dos missionários, agora, apedreja Paulo
(Atos 14,19s). Ele supera esse momento dramático e retoma a mis-
são. Lemos alguma coisa sobre isso em 2 Coríntios 11,25, quando
elenca suas vicissitudes: "Três vezes fui flagelado com varas. Uma
vez apedrejado. Três vezes naufraguei, uma noite e um dia passei
no abismo".
Novamente em Derbe, os missionários conquistam mais
fiéis. Em seguida, iniciam o retorno: passam por Listra, Icônio e
Antioquia da Pisídia. Lá, eles "confirmavam as almas dos discípu-
los e exortavam-nos a perseverar na fé, dizendo que é necessário
entrarmos no Reino de Deus por meio de muitas tribulações" (Atos
14,22).
Depois disso, rumam para Antioquia da Síria. Lá chegando,
fazem relatório de seus feitos, como pode ser lido em Atos 14,21–
28.

Segunda viagem missionária


Informação ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Para aprofundar seus conhecimentos sobre o tema, sugerimos que consulte
o site disponível em: <http://www.all-creatures.org/sermons98/map-08.html>.
Acesso em: 30 mar. 2012, em que você poderá ter mais informações sobre as
viagens de Paulo.
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A segunda viagem missionária aconteceu entre os anos 49


e 52. Depois de concluir a primeira e de participar da assembleia
apostólica de Jerusalém – se seguirmos o relato de Atos –, Paulo
não se deteve muito tempo em Antioquia. Antes de iniciar essa
nova viagem, houve um desencontro entre ele e Barnabé em fun-
ção de João Marcos. Este desejava ir, mas Paulo não o aceitou, pois
havia deixado o grupo em meio à primeira viagem. Nesse desen-
tendimento, houve a separação de Paulo e Barnabé (Atos 15,39).
Barnabé seguiu com Marcos, indo para Chipre, e Paulo tomou con-
sigo a Silas (Atos 15,34).
Logo, iniciou a segunda viagem. Fez o caminho de ida da
primeira viagem: Cilícia, Derbe, Listra e Antioquia da Pisídia. Co-
nheceu Timóteo em Listra. Este iria tornar-se para o Apóstolo um
ponto de referência e maior colaborador no apostolado.
Paulo seguiu para Frígia, a terra dos gálatas. Lá, adoeceu e foi
assim que tomou conhecimento e contato com aquele povo. Retri-
buindo os favores na doença, anunciou-lhes o Evangelho. Depois
disso, os missionários chegaram a Trôade (Atos 16,6–8). O livro de
Atos relata que ele teve, ali, um sonho, no qual um macedônio pe-
dia para receber sua visita. Dirige-se, pois, para aquela cidade. Vai
até Filipos e funda uma igreja florescente, que fará dele os maiores
elogios e carinhos, como se pode ler na sua Carta aos Filipenses.
Em Filipos, encontram dificuldades com os magistrados da
cidade, que os prendem. À noite, entretanto, algo extraordinário
acontece: são libertos subitamente. O carcereiro teme pela própria
vida, mas os missionários acalmam-no e anunciam-lhe o Evange-
lho. Acontecem conversões na sua família. Pela manhã, os magis-
trados dispõem-se a libertá-los, mas eles já estão livres… Buscados
pelos magistrados, que desejam ver-se livres deles, os missionários
declaram que são cidadãos romanos. Isso é um grande problema
para as autoridades, que pedem que eles saiam da cidade. Paulo e
Silas ainda retornam à comunidade recém-fundada e animam seus
participantes (16,38ss).
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Depois disso, continuam a viagem até Tessalônica (Atos 17).


Lá, Paulo prega durante três semanas entre os judeus. Contudo, a
grande presença é de gentios, que aderem ao Evangelho. Tessalô-
nica será a igreja que receberá a primeira Carta de Paulo, também
primeiro escrito do Novo Testamento.

Informação ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Os escritos paulinos são os testemunhos mais antigos do Novo Testamento. São
os textos escritos mais proximamente do evento histórico Jesus Cristo. Antes
dos relatos teológicos dos Evangelhos, temos as Cartas paulinas que enfocam
a novidade cristã como uma notícia de vida, de superação dos limites da morte.
A 1 Tessalonicenses, como já vimos, é o testemunho mais original dos primeiros
anos do Cristianismo!
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De Tessalônica, Paulo e Silas partem para Bereia. Devido às
ameaças dos judaizantes, teve de sair da cidade, deixando lá, con-
tudo, Silas e Timóteo. Prosseguiu até Atenas sozinho, sendo, de-
pois, alcançado por Timóteo.
Em Atenas, Paulo pregou na sinagoga e no mercado. Foi, de-
pois, para a ágora, praça importante da cidade onde os cidadãos se
encontravam, discutiam, filosofavam e faziam política. Lá, ele não
teve grande êxito. Aliás, foi até ridicularizado, como podemos ler
em Atos 17,22–34. O fracasso de Paulo, lembrado em Atos, mos-
trou que ele não devia confiar na sabedoria humana. Chegando a
Corinto, agiu diferente, como recordará em 1 Coríntios 2,3. Paulo
deve apresentar o Cristo crucificado, escândalo para os judeus e
loucura para os gregos, como lemos em 1 Coríntios 1,23. Naquela
cidade, permanece por 18 meses, junto ao casal Priscila e Áquila.
Trabalhava para sustentar-se e, aos sábados, pregava na sinagoga.
Em breve, Silas e Timóteo trouxeram-lhe ajuda financeira de
Filipos, e ele pôde dedicar-se inteiramente ao Evangelho. Foi assim
que alguns judeus e muitos gentios se converteram. Em Corinto,
Paulo escreveu a 1 Tessalonicenses. E, como sempre, houve pro-
blemas com os judeus, que o acusaram perante o procônsul Ga-
lião, em meados do ano 52. Essa é a data-base para a cronologia
de Paulo. Era acusado de ser propagador de uma religião ilícita.
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Galião, contudo, não deu ouvidos a essa situação e libertou Paulo,


que, com Áquila e Priscila, embarcou para Antioquia da Síria. Mas
esses dois ficaram em Éfeso, enquanto Paulo foi para Cesareia ma-
rítima e, de lá, para Antioquia, encerrando, assim, sua segunda e
difícil viagem missionária.

Terceira viagem missionária


A terceira viagem deve ter acontecido entre os anos 53 e 58.
Paulo deixa Antioquia e ruma para a Galácia. Atravessa a região da
Frígia (Atos 18,23) e chega a Éfeso. Atos 18, 24 indica que Apolo,
um judeu convertido, havia sido instruído na fé pelo casal Áquila e
Priscila e estava pronto para fazer sua obra missionária.

Para se aprofundar no tema estudado além das bibliografias, su-


gerimos que você acesse o site disponível em: <http://eoc.dolf.org.
hk/livingev/stpaul_3mapeng.jpg>. Acesso em: 30 mar. 2012.

Em Éfeso, Paulo conheceu antigos discípulos de João Batista,


aos quais anunciou o Evangelho, que eles aceitaram e assumiram
(Atos 19,2–7). Contudo, a maior parte dos judeus da sinagoga conti-
nuava incrédula, e, assim, Paulo partiu para o anúncio aos gentios.
Em Éfeso, Paulo expulsa demônios, cura, exorta e luta contra
a magia. Sua atuação gera dificuldades, e, ainda que tenha ficado
naquela cidade por três anos, ele teve de partir em função de um
levante dos ourives ali residentes. Podemos ler essa passagem em
Atos 19,23ss. O Apóstolo, embora bem recebido e podendo agir
com liberdade, encontra grandes dificuldades, como provações
e perseguições. Em 2 Coríntios 1,8, ele cita uma tribulação que
foi tão acentuada que ele temeu pela própria vida. Em Romanos
16,3s, ele fala de um grande perigo, no qual foi ajudado por Áquila
e Priscila, que expuseram sua vida para salvar a dele.
Paulo, contudo, adquiriu experiência nas viagens anteriores
e nessa estadia em Éfeso. Seus colaboradores são muitos. Os mais
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destacados são: Timóteo, Tito, Erasto, Gaio, Aristarco e Epafras (ci-


tados em Atos 19,22–29). Foram fundadas igrejas em Laodiceia,
Hierápolis, Trôade e, provavelmente, em Esmirna, Tiatira, Sardes
e Filadelfia.
Deixando Éfeso, ele dirige-se para a Macedônia e visita suas
comunidades. Andava preocupado com algumas comunidades
que havia fundado. Os gálatas quase se deixavam desviar da fé
verdadeira e da liberdade em Cristo por influência dos judaizantes,
o que faz que o Apóstolo escreva a Carta aos Gálatas.

Informação ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––

supõem que ela tenha sido escrita por esse tempo, em meados dos anos 50.
Outros defendem uma data anterior. Para uma análise da questão e para um
conhecimento aprofundado da Carta aos Gálatas, sugerimos que você consul-
te: FERREIRA, J. A. Gálatas. A epístola da abertura de fronteiras. São Paulo:
Loyola, 2005.
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Em Corinto, havia abusos morais absurdos, e Paulo escreve
uma primeira carta, que, lamentavelmente, não chegou até nós,
mencionada em 1 Coríntios 5,9. Seus colaboradores Timóteo e
Erasto são enviados a Corinto (Atos 19,22 e 1 Coríntios 4,17) para
observar a situação. Enquanto isso, alguns daquela igreja vão a
Paulo e propõem-lhe algumas questões. Dessas idas e vindas, nas-
ce provavelmente, pelo ano 55, a Carta que conhecemos como 1
Coríntios.
Contudo, os ataques a Paulo não terminam. Chegam a Corin-
to judeus-cristãos que lançam dúvidas na comunidade. Ele, então,
decide ir até Corinto, mas não consegue resolver a situação, ten-
do sido até ofendido por um membro da comunidade (2 Coríntios
2,1.5). Logo, Paulo retorna a Éfeso e dirige, "com muitas lágrimas",
uma terceira Carta aos coríntios (2 Coríntios 2,4.9; 7,8.12), levada
até lá por Tito, mas da qual não temos qualquer exemplar, infeliz-
mente.
Esperando uma resposta do discípulo Tito, Paulo teve de
deixar Éfeso, voltando para Trôade; lá, embarcou para a Macedô-
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nia. Somente lá foi alcançado por Tito e ouviu, com alegria, que
os coríntios se submetiam às suas observações. Isso o motivou a
escrever outra Carta, a quarta, que, para nós, é a 2 Coríntios, pelo
ano de 57.
Paulo visitou a Macedônia e a Ilíria (Romanos 15,19). Cum-
priu a promessa de visitar Corinto e, lá, escreveu a Carta aos Roma-
nos, isso em fins de 57 ou início de 58, preparando uma visita que
ele desejava há tempos (Atos 19,21).
O Apóstolo desejava ir por mar até a Síria, acompanhado
por alguns companheiros que o haviam ajudado na arrecadação
de auxílios para os cristãos da Judeia. Contudo, por dificuldades
da parte dos judeus, ele acaba indo por terra. Em Mileto, ele cha-
ma os representantes da igreja de Éfeso, os anciãos, e tem com
eles um encontro muito intenso de despedida. Atos dos Apóstolos
19,17–38 deixa claro que Paulo tinha consciência de que algo iria
lhe acontecer. Ele se despede dos efesinos com emoção.
Chegando a Cesareia, um grupo de cristãos insistiu com Pau-
lo para que não fosse a Jerusalém (Atos 21,4). Em Cesareia, ele
esteve na casa de Filipe (Atos 21,8), um dos sete diáconos (Atos
6,5). Um cristão chamado Ágabo predisse que Paulo iria sofrer em
Jerusalém, mas o Apóstolo não se deteve (Atos 21,1–16).

O cativeiro em Jerusalém
Em Jerusalém, Paulo foi recebido pela Igreja-Mãe, pelos an-
ciãos e por Tiago. Este determinou que ele cumprisse certos ritos
judaicos para desfazer equívocos a respeito de sua conduta. É a
velha questão, nunca resolvida da parte dos judaizantes, de que
era necessário aderir ao Judaísmo antes do seguimento de Jesus
Cristo. Os ritos judaicos praticados por Paulo em Jerusalém de-
monstrariam ser ele judeu.
Podemos imaginar com quanto sofrimento interior Paulo
aceita as determinações de Tiago e sobe ao Templo. E foi lá que
tudo precipitou sobre o Apóstolo, provavelmente pela leitura de
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Atos dos Apóstolos, sem nenhuma intervenção ou defesa de Tiago


e dos anciãos da cidade.
Atos dos Apóstolos 21,27—23,23 apresenta, de modo bem
detalhado, a situação daqueles dias. Paulo é atacado violentamen-
te no Templo e cria-se um enorme tumulto. A guarda romana in-
tervém, e, no meio da situação, o Apóstolo invoca sua cidadania
romana. Os soldados protegem-no, e ele é preso. No dia seguinte,
deve apresentar-se ao Sinédrio. Os debates sobre sua conduta são
conduzidos com o característico tom de preconceito contra ele.
Lembramos o que já dissemos e que deve nos chamar a atenção:
não houve qualquer ajuda da parte da igreja de Jerusalém para
solucionar o impasse perante o Sinédrio.
Paulo defende-se e apresenta o argumento da ressurreição
de Jesus. O Sinédrio divide-se e, conforme o livro de Atos, há uma
reação enorme (23,7–9): uns contra Paulo, outros não vendo qual-
quer problema em sua palavra. Atos afirma, de modo perturbador:
A discussão fazia-se sempre mais violenta. O tribuno temeu que
Paulo fosse despedaçado por eles e mandou aos soldados que
descessem, o tirassem do meio deles e o levassem para a cidadela
(23,10).

Paulo está dando testemunho, cumprindo o projeto teológi-


co do livro de Atos dos Apóstolos.

Informação ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
O livro de Atos dos Apóstolos cumpre um projeto teológico fundamental: testemu-
nhar. Em Atos 1,8, Jesus insiste que seus seguidores devem dar testemunho dele

A narração de Atos que seguimos aqui evidencia, de modo dramático, tudo isso.
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A seguir, Paulo é levado para Cesareia marítima, próximo do
procurador Félix, pois é descoberta uma conspiração para matá-lo.
Seu processo dura dois anos, de 58 até 60, e Atos dos Apóstolos
relata a situação em 23,33—26,32. Acusado pelos judeus de vio-
lação do Templo e perturbação da ordem, Paulo defende-se bri-
lhantemente e convence o procurador romano da falsidade das
acusações.
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Félix esperava que Paulo lhe desse dinheiro, comprando a


sua liberdade, mas ele não o faz, e, por isso, a prisão dura os ci-
tados dois anos, até que chega o novo procurador, Pórcio Festo,
perante quem Paulo se defende (24,27—25,1). O rei Agripa e sua
esposa, Berenice, conhecem Paulo e ouvem-no. A situação fica
nesta esfera: as autoridades devem decidir o que fazer com Paulo,
que, a essa época, depois de dois anos, já passa a ser um proble-
ma para a ordem política estabelecida. O novo procurador, Pórcio
Festo, pergunta a Paulo se deseja ser julgado em Jerusalém, mas
ele apela para o Imperador, devendo, assim, ir até Roma. Na saída
do tribunal, Atos 26,27–32 conta-nos o diálogo de Paulo com o
rei Agripa e a reação deste, bem como sua observação dirigida ao
governador. É uma situação interessante e significativa:
(Paulo disse:) Crês, ó rei, nos profetas? Bem sei que crês! Disse en-
tão Agripa a Paulo: Por pouco não me persuades a fazer-me cristão!
Respondeu Paulo: Prouvera a Deus que, por pouco e por muito,
não somente tu, senão também quantos me ouvem, se fizessem
hoje tal qual eu sou... menos estas algemas! Então o rei, o governa-
dor, Berenice e os que estavam sentados com eles se levantaram.
Retirando-se, comentavam uns com os outros: Esse homem não
fez coisa que mereça a morte ou prisão. Agripa ainda disse a Fes-
to: ele poderia ser solto, se não tivesse apelado para César (Atos
26,27–32).

A viagem do cativeiro
Paulo faz a derradeira viagem, conforme nos informa Atos
dos Apóstolos 27,1—28,16. Em fins do ano 60, com outros pre-
sos, tendo a companhia de Aristarco e Lucas e sob a guarda de um
centurião romano e alguns soldados, inicia o caminho a Roma. O
período não era favorável para uma viagem marítima; antes, era
muito perigoso. Navegam pela costa de Creta e são vítimas de uma
violenta tempestade, que os arrasta, mar adentro, a Malta, onde
acontece o naufrágio. Lá, eles passam o inverno.
Tendo possibilidades de viagem, eles rumam, pela Sicília, até
Puéoli, onde Paulo e seus companheiros foram hóspedes da comu-
nidade cristã durante oito dias. E, depois de uma perigosa viagem,
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chegam a Roma (Atos 28,16). Lá, Paulo mantém contato com os


judeus e, enquanto espera seu julgamento, que não sabemos se
houve ou não, inicia a pregação. Atos dos Apóstolos indica que
Paulo esteve nessa situação durante dois anos (28,30).
Não temos notícias seguras de outras viagens de Paulo nem
da situação posterior à sua certeira libertação da prisão. Provavel-
mente, conforme alguns dados tradicionais, teria sido martirizado
em Roma pelo ano 64, durante a perseguição de Nero, decapita-
do em um local chamado "ad Aquas Salvias", hoje, "Tre Fontane",
e sepultado em uma propriedade particular à beira da Via Óstia,
onde, hoje, se ergue a Basílica de São Paulo, fora dos muros.

6. CARTA DE PAULO AOS FILIPENSES

A cidade de Filipos
Filipos era uma das principais cidades da Macedônia. Foi
fundada no século 6º a.C. pelos tasianos e conquistada por Filipe
II, da Macedônia, em 356 a.C. Permaneceu como modesta aldeia
até a campanha de Antonio e Otaviano contra Bruto e Cássio. Em
42 a.C., recebeu colonos enviados por Antonio e, pouco depois,
em 31, após a famosa batalha de Ácio, foi Otaviano quem enviou
mais habitantes.
Filipos tinha uma população militar e civil que vivia em har-
monia. Uma colônia militar mantida pelo trabalho agrícola, com
população greco-romana e acentuada presença de trácios. Os cul-
tos romanos eram florescentes, mas havia, também, as religiões
orientais. Filipos era uma espécie de passagem entre a cultura ro-
mana e os elementos e influências orientais.
A igreja de Filipos foi fundada por Paulo entre os anos 50
e 52. Ele passou por lá durante sua segunda viagem missionária
(Atos dos Apóstolos 15,36—18,22). Motivado por um sonho, em

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