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4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Na Unidade 2, você pôde conhecer um pouco mais a figura
extraordinária de Paulo e sua importância na fundação do Cristia-
nismo. Mediante as Cartas 1 e 2 Coríntios, você conheceu alguns
traços marcantes de sua personalidade e sua decisiva influência na
comunidade eclesial de Corinto.
Agora, nesta unidade, você vai conhecer outra faceta da
personalidade de Paulo: sua missionariedade. Suas viagens mis-
sionárias tiveram grande impacto na difusão do Evangelho e na
consolidação das comunidades cristãs por ele fundadas. Você terá
a oportunidade de conhecer os motivos de sua última viagem,
chamada "viagem do cativeiro", e, sobretudo, saber o porquê de o
Cristianismo ter se difundido entre os gentios.
Por fim, mediante o estudo da Carta aos Filipenses e da Car-
ta aos Gálatas, você vai adentrar o contexto sociocultural das igre-
jas de Filipos e da Galácia.
Três viagens
O "corpus paulinum" não indica quantas viagens fez o Após-
tolo, embora, em alguns lugares, ele admita que fez ou fará uma
viagem. É em Atos dos Apóstolos que ficamos sabendo que Pau-
lo realizou três viagens missionárias e uma viagem que podemos
chamar "do cativeiro".
Pergunta-se se ele teria feito outra, como a que pretende
realizar até a Espanha, como lemos em Romanos 15,23s. Ele se
dirigia aos romanos antes da viagem a Jerusalém, que lhe causou a
prisão. Em Atos 28, ele se encontra em Roma; conforme lemos em
28,30–31, ele esteve preso lá por dois anos, em regime semiaber-
to, como podemos depreender do contexto, uma vez que anuncia-
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Outrora se dizia com frequência que o motivo da mudança do nome de Saulo
(Shaul) para Paulo seria uma homenagem pessoal do Apóstolo a esse procônsul.
Você poderá encontrar informações a respeito em alguns comentários antigos
e, até mesmo, em edições de algumas bíblias. Mas essa argumentação não se
sustenta hoje.
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Os escritos paulinos são os testemunhos mais antigos do Novo Testamento. São
os textos escritos mais proximamente do evento histórico Jesus Cristo. Antes
dos relatos teológicos dos Evangelhos, temos as Cartas paulinas que enfocam
a novidade cristã como uma notícia de vida, de superação dos limites da morte.
A 1 Tessalonicenses, como já vimos, é o testemunho mais original dos primeiros
anos do Cristianismo!
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De Tessalônica, Paulo e Silas partem para Bereia. Devido às
ameaças dos judaizantes, teve de sair da cidade, deixando lá, con-
tudo, Silas e Timóteo. Prosseguiu até Atenas sozinho, sendo, de-
pois, alcançado por Timóteo.
Em Atenas, Paulo pregou na sinagoga e no mercado. Foi, de-
pois, para a ágora, praça importante da cidade onde os cidadãos se
encontravam, discutiam, filosofavam e faziam política. Lá, ele não
teve grande êxito. Aliás, foi até ridicularizado, como podemos ler
em Atos 17,22–34. O fracasso de Paulo, lembrado em Atos, mos-
trou que ele não devia confiar na sabedoria humana. Chegando a
Corinto, agiu diferente, como recordará em 1 Coríntios 2,3. Paulo
deve apresentar o Cristo crucificado, escândalo para os judeus e
loucura para os gregos, como lemos em 1 Coríntios 1,23. Naquela
cidade, permanece por 18 meses, junto ao casal Priscila e Áquila.
Trabalhava para sustentar-se e, aos sábados, pregava na sinagoga.
Em breve, Silas e Timóteo trouxeram-lhe ajuda financeira de
Filipos, e ele pôde dedicar-se inteiramente ao Evangelho. Foi assim
que alguns judeus e muitos gentios se converteram. Em Corinto,
Paulo escreveu a 1 Tessalonicenses. E, como sempre, houve pro-
blemas com os judeus, que o acusaram perante o procônsul Ga-
lião, em meados do ano 52. Essa é a data-base para a cronologia
de Paulo. Era acusado de ser propagador de uma religião ilícita.
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supõem que ela tenha sido escrita por esse tempo, em meados dos anos 50.
Outros defendem uma data anterior. Para uma análise da questão e para um
conhecimento aprofundado da Carta aos Gálatas, sugerimos que você consul-
te: FERREIRA, J. A. Gálatas. A epístola da abertura de fronteiras. São Paulo:
Loyola, 2005.
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Em Corinto, havia abusos morais absurdos, e Paulo escreve
uma primeira carta, que, lamentavelmente, não chegou até nós,
mencionada em 1 Coríntios 5,9. Seus colaboradores Timóteo e
Erasto são enviados a Corinto (Atos 19,22 e 1 Coríntios 4,17) para
observar a situação. Enquanto isso, alguns daquela igreja vão a
Paulo e propõem-lhe algumas questões. Dessas idas e vindas, nas-
ce provavelmente, pelo ano 55, a Carta que conhecemos como 1
Coríntios.
Contudo, os ataques a Paulo não terminam. Chegam a Corin-
to judeus-cristãos que lançam dúvidas na comunidade. Ele, então,
decide ir até Corinto, mas não consegue resolver a situação, ten-
do sido até ofendido por um membro da comunidade (2 Coríntios
2,1.5). Logo, Paulo retorna a Éfeso e dirige, "com muitas lágrimas",
uma terceira Carta aos coríntios (2 Coríntios 2,4.9; 7,8.12), levada
até lá por Tito, mas da qual não temos qualquer exemplar, infeliz-
mente.
Esperando uma resposta do discípulo Tito, Paulo teve de
deixar Éfeso, voltando para Trôade; lá, embarcou para a Macedô-
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nia. Somente lá foi alcançado por Tito e ouviu, com alegria, que
os coríntios se submetiam às suas observações. Isso o motivou a
escrever outra Carta, a quarta, que, para nós, é a 2 Coríntios, pelo
ano de 57.
Paulo visitou a Macedônia e a Ilíria (Romanos 15,19). Cum-
priu a promessa de visitar Corinto e, lá, escreveu a Carta aos Roma-
nos, isso em fins de 57 ou início de 58, preparando uma visita que
ele desejava há tempos (Atos 19,21).
O Apóstolo desejava ir por mar até a Síria, acompanhado
por alguns companheiros que o haviam ajudado na arrecadação
de auxílios para os cristãos da Judeia. Contudo, por dificuldades
da parte dos judeus, ele acaba indo por terra. Em Mileto, ele cha-
ma os representantes da igreja de Éfeso, os anciãos, e tem com
eles um encontro muito intenso de despedida. Atos dos Apóstolos
19,17–38 deixa claro que Paulo tinha consciência de que algo iria
lhe acontecer. Ele se despede dos efesinos com emoção.
Chegando a Cesareia, um grupo de cristãos insistiu com Pau-
lo para que não fosse a Jerusalém (Atos 21,4). Em Cesareia, ele
esteve na casa de Filipe (Atos 21,8), um dos sete diáconos (Atos
6,5). Um cristão chamado Ágabo predisse que Paulo iria sofrer em
Jerusalém, mas o Apóstolo não se deteve (Atos 21,1–16).
O cativeiro em Jerusalém
Em Jerusalém, Paulo foi recebido pela Igreja-Mãe, pelos an-
ciãos e por Tiago. Este determinou que ele cumprisse certos ritos
judaicos para desfazer equívocos a respeito de sua conduta. É a
velha questão, nunca resolvida da parte dos judaizantes, de que
era necessário aderir ao Judaísmo antes do seguimento de Jesus
Cristo. Os ritos judaicos praticados por Paulo em Jerusalém de-
monstrariam ser ele judeu.
Podemos imaginar com quanto sofrimento interior Paulo
aceita as determinações de Tiago e sobe ao Templo. E foi lá que
tudo precipitou sobre o Apóstolo, provavelmente pela leitura de
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O livro de Atos dos Apóstolos cumpre um projeto teológico fundamental: testemu-
nhar. Em Atos 1,8, Jesus insiste que seus seguidores devem dar testemunho dele
A narração de Atos que seguimos aqui evidencia, de modo dramático, tudo isso.
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A seguir, Paulo é levado para Cesareia marítima, próximo do
procurador Félix, pois é descoberta uma conspiração para matá-lo.
Seu processo dura dois anos, de 58 até 60, e Atos dos Apóstolos
relata a situação em 23,33—26,32. Acusado pelos judeus de vio-
lação do Templo e perturbação da ordem, Paulo defende-se bri-
lhantemente e convence o procurador romano da falsidade das
acusações.
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A viagem do cativeiro
Paulo faz a derradeira viagem, conforme nos informa Atos
dos Apóstolos 27,1—28,16. Em fins do ano 60, com outros pre-
sos, tendo a companhia de Aristarco e Lucas e sob a guarda de um
centurião romano e alguns soldados, inicia o caminho a Roma. O
período não era favorável para uma viagem marítima; antes, era
muito perigoso. Navegam pela costa de Creta e são vítimas de uma
violenta tempestade, que os arrasta, mar adentro, a Malta, onde
acontece o naufrágio. Lá, eles passam o inverno.
Tendo possibilidades de viagem, eles rumam, pela Sicília, até
Puéoli, onde Paulo e seus companheiros foram hóspedes da comu-
nidade cristã durante oito dias. E, depois de uma perigosa viagem,
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A cidade de Filipos
Filipos era uma das principais cidades da Macedônia. Foi
fundada no século 6º a.C. pelos tasianos e conquistada por Filipe
II, da Macedônia, em 356 a.C. Permaneceu como modesta aldeia
até a campanha de Antonio e Otaviano contra Bruto e Cássio. Em
42 a.C., recebeu colonos enviados por Antonio e, pouco depois,
em 31, após a famosa batalha de Ácio, foi Otaviano quem enviou
mais habitantes.
Filipos tinha uma população militar e civil que vivia em har-
monia. Uma colônia militar mantida pelo trabalho agrícola, com
população greco-romana e acentuada presença de trácios. Os cul-
tos romanos eram florescentes, mas havia, também, as religiões
orientais. Filipos era uma espécie de passagem entre a cultura ro-
mana e os elementos e influências orientais.
A igreja de Filipos foi fundada por Paulo entre os anos 50
e 52. Ele passou por lá durante sua segunda viagem missionária
(Atos dos Apóstolos 15,36—18,22). Motivado por um sonho, em