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medicamentos
decobertos por acaso
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Ácido acetilsalicílico
(AAS – Aspirina®)
Este é um dos fármacos mais antigos da história da farmácia.
Hipócrates, no Século V a.C., descreveu sobre um pó ácido
derivado da casca do salgueiro, que aliviava as dores e
diminuía a febre. Há relatos deste medicamento em outras
civilizações antigas, como os sumérios, egípcios e assírios.
Somente em 1828, o ácido salicílico foi isolado pelo
farmacêutico francês Henri Leroux e pelo químico italiano
Raffaele Piria, na forma cristalina. Em 1897, o laboratório
farmacêutico alemão Bayer conjugou quimicamente o ácido
salicílico com o acetato, criando o ácido acetilsalicílico (e a
patente, Aspirina®), que se mostrou ser menos tóxica. Este
foi o primeiro fármaco a ser sintetizado na história, isto é, não
sendo encontrado na natureza.
Em 1899, a Bayer começa a comercializar a Aspirina®,
porém após a Primeira Guerra Mundial, perde-se a patente
como reparação à guerra aos países Aliados. Seu mecanismo
de ação só foi demonstrado em 1971, por John Vane, que
viria a ganhar o prêmio Nobel da Medicina e Fisiologia em
1982.

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Captopril
Pesquisa de Rocha e Silva e colaboradores, em 1949,
descobriram que o plasma incubado com o veneno
da Bothrops jararaca, gerava um fator hipotensor e
espasmogênico para a musculatura lisa, que foi denominado
ċƖîēŃČѝѝî͆ƕƲĚƞŃĵťŃǼČî movimento lento (bradys = lento;
kinesis = movimento).
Na década de 60, discípulo do Dr. Rocha e Silva, o Dr. Sérgio
Ferreira isolou um princípio ativo do veneno da Bothrops
jararaca, capaz de potencializar os efeitos da bradicinina,
denominado peptídeos potencializadores da bradicinina
(BPP).

Essa descoberta brasileira foi fundamental para o laureado


do Nobel de Medicina (1982), John Vane, demonstrar que
a Enzima Conversora de Angiotensina (ECA) é responsável
pela produção de Angiotensina II, sendo o BPP o precursor
dos inibidores da ECA.
O BPP9a ( nona-peptídeo) era o mais ativo dos estudos
de BPP, demonstrando a habilidade da molécula em inibir
a conversão da angiotensina I e a inativação da bradicinina
pelo pulmão de rato.

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A estrutura e a síntese do BPP9a foram realizadas pelos
pesquisadores da Squibb. Neste momento, a nomenclatura
fora alterada por peptídeos inibidores da ECA. Entretanto, o
BPP9a não demonstrava efetividade na prática clínica, pois
não era oralmente ativo e a síntese dispunha de um alto custo.
Byers e Wolfenden (1972) descobriram a possibilidade de
sintetizar inibidores não peptídeos da carboxipetidase-A.
Esse enfoque orientou os pesquisadores da Squibb para
desenvolver um inibidor não peptídico da cininase II (enzima
conversora da angiotensina II). Em 1977, Cushman e Ondetti
sintetizaram o captopril.

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Penicilina
Em meados de 1910, utilizava-se arsênio para o tratamento
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óbito (aqueles que optava pelo tratamento arriscado).
Em 1929, um divisor de águas na história da humanidade.
Alexander Fleming promove descobre acidentalmente que o
fungo Penicilium notatum produzia uma substância capaz de
cessar o crescimento de colônias de Staphylococcus, quando
observou suas culturas contaminadas pelo tal fungo.
Alexander estudava as bactérias do gênero
Staphyloccocus, quando esqueceu seu material de estudo
sobre a bancada, próximo a janela, enquanto saía de férias. Ao
retornar, observou o crescimento de bolor que apresentava
um halo transparente em torno, impedindo o crescimento
das bactérias, o que poderia sugerir ação bactericida. No
andar acima de seu laboratório, coincidentemente havia
estudos com fungos, sobretudo do gênero Penicilium, o que
sugere que a contaminação poderia ter vindo do andar acima
de Fleming.
A tal substância fornecia a ação bactericida capaz de
eliminar diversas bactérias, além do gênero Staphylococcus
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animais e humanos. Porém, somente em 1940 é que a
penicilina começou a ser produzida em escala industrial e
disponibilizada para a população.

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Sildenafila (Viagra®)
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em desenvolvimento de fármacos para hipertensão e
angina. Em 1992, os estudos foram encerrados, pois o
Citrato de Sildenafila sugeriram pequenos efeitos sobre a
angina. Entretanto, as pesquisas demonstraram resultados
promissores sobre o tratamento da disfunção erétil.
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haver relação sexual. Em 1996, o fármaco foi patenteado
(Viagra®) e aprovado pelo FDA em 1998, tornando-se o
primeiro medicamento aprovado nos Estados Unidos para o
tratamento da disfunção erétil.
As notícias tomaram a mídia, demonstrando-se não ser só
um afrodisíaco, mas um medicamento testado, comprovado
e aprovado. O produto inovador oferecia uma melhora na
qualidade de vida a mais de 100 milhões de homens em
todo o mundo. Assim, rapidamente o fármaco tornou-se
um fenômeno mercadológico, cultural, médico e econômico,
apelidado de Diamante Azul. Foi o fármaco mais vendido
durante muitos anos, chegando a média de US$ 1,5 bilhões
de vendas anuais em 110 países.

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Iproniazida e Imipramina:
antidepressivos
A imipramina foi desenvolvida com semelhança estrutural
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esquizofrenia. Entretanto, não demonstrou atividades
antipsicóticas, somente melhora no humor afetivo. Em 1956,
o psiquiatra Roland Kuhn divulga as mudanças do estado
de humor em indivíduos deprimidos. Deu-se início a classe
dos antidepressivos tricíclicos, que mais tarde, saberia que
envolveria o aumento da recaptação de noradrenalina e
serotonina.
Já a iproniazida, usada no tratamento da tuberculose,
promoveu elevação do humor e euforia. Em 1956, Crane e
Kline introduziram o tratamento da depressão em pacientes
hospitalizados. Estes efeitos também são observados quando
se utiliza linezolida e isoniazida. O mecanismo antidepressivo
foi esclarecido posteriormente e atribui-se que se dava por
meio da inibição da enzima monoamino-oxidase (MAO).
A inibição da MAO impede a degradação da monoaminas
envolvidas na depressão (serotonina, dopamina e
noradrenalina). Esses efeitos são observados, pois mesmo

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durante a antibioticoterapia, o individuo tende a apresentar
elevação da pressão arterial, pois aumento da disposição de
noradrenalina nas fendas sinápticas.
As observações na iproniazida e isoniazida levaram ao
desenvolvimento da fenelzina, que possui baixo ou nenhum
efeito antimicobacteriano e maior inibição da MAO, potente
antidepressivo.
Tanto os tricíclicos quanto os IMAO, foi possui elaborar
a Hipótese das Monoaminas e a Hipótese com base nos
receptores. A primeira hipótese dizia que a depressão é um
ƖĚǽĚǐŰ ēî ēŃţŃťƲŃďĈŰ ēîƞ ţŰťŰîţŃťîƞ ťî ĴĚťēî ƞŃťïƓƪŃČî
e o seu tratamento consistia em elevar os níveis destes
neurotransmissores, por meio a inibição da proteína de
recaptura ou por meio da inibição da enzima de degradação.
Porém, o tratamento da depressão consiste em um maior
tempo de latência entre o inicio do tratamento e o inicio do
aparecimento da resposta farmacológica, o que sustentou a
hipótese que descrevia que poderia haver depleção ou algum
dano nos receptores e que, por meio do aumento dos níveis
dos neurotransmissores, induziria o organismo a sintetizar
ţîŃƞƖĚČĚƓƪŰƖĚƞ͆ŰƕƲĚœƲƞƪŃǼČîƖŃîŰƪĚţƓŰēĚŚîƪğťČŃî͋
Os antidepressivos tricíclicos, atualmente, possuem
maior atuação na dor neuropática, sobretudo a amitriptilina
e nortriptilina, pois devido aos efeitos adversos e inúmeras
interações, apareceram alternativos antidepressivas
superiores. Os inibidores da MAO caíram em desuso pelo
aumento da pressão arterial, interação com inúmeros
fármacos e alimentos. São opções somente em casos de
depressão refratária.

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Referências bibliográficas
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