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Diante de um mundo que nem sequer se livrou dos terríveis impactos da Covid-
19 nestes últimos dois longos anos, e que, com algum esforço, tenta a todo o
custo expurgar as sequelas políticas e sociais deixadas pela pandemia, vimo-nos
novamente surpreendidos pelo estouro da guerra na Ucrânia.
A guerra na Ucrânia, que opõem Moscovo e Kiev, com contornos históricos ligados as
relações territorial, cultural e política entre os dois países, e que conheceu o seu ponto
de inflexão, o seu estopim no dia 24 de Fevereiro de 2022, quando a Rússia colocou
em marcha a designada “Operação Militar Especial”, mais do que frear os cuidados
que os Estados canalizavam para a proteção contra a pandemia da Covid-19, deslocar a
atenção dos países para a geopolítica mundial, elevar a retórica belicista entre os
Estados, fragilizar ainda mais um sistema económico e financeiro internacional que já
se encontrava em recessão desde há dois anos, e trazer ao de cima a lógica da Guerra-
Fria, abriu vários cenários, e um destes, fruto do carácter metamórfico das relações
internacionais, foi o abandono da Finlândia e da Suécia ao estatuto de neutralidade e a
consequente manifestação de adesão dos dois países nórdicos a uma das maiores
organizações de segurança colectiva, a OTAN.
Perante a possibilidade de adesão da Finlândia e da Suécia à OTAN, urge indagar,
porquê os dois países, neutros há 70 anos, manifestam, agora a intenção em aderir a
OTAN?. A partida, por mais óbvia que se afigura constactar tal pretensão por parte da
Finlândia e da Suécia, somente através de um exercício mental, longe dos
maniqueísmos políticos e com a devida ruptura epistemológica necessária, nos
permitiria compreender com alguma lucidez, a manifestação de vontade dos dois
países.
Baseado no seu artigo 5º, que privilegia a defesa coletiva e prevê que um ataque a um
dos membros seja considerado um ataque a todos, a OTAN é uma organização de
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segurança colectiva criada em 1949 no contexto da Guerra Fria, e que actualmente
conta com 30 membros, sendo a Macedônia do Norte, o último país a aderir a
organização em 2020.
Neste sentido, aderir a Aliança Atlântica pressupõem a disponibilidade de uma
garantia colectiva contra qualquer agressão externa, e exige que cada membro tome as
medidas necessárias, incluindo o uso de forças armadas, para restaurar e manter a
segurança da área de todos os países aliados.
Infere-se que a Operação Militar Especial russa na Ucrânia, suscitou preocupações nos
dois países nórdicos e revelou-se um ponto de viragem ao levar a Finlândia e a Suécia
a considerar um pedido de adesão à Aliança Atlântica ao entenderem que o
“expansionismo russo”, tal como sentenciam a maior parte dos líderes europeus,
poderá alastrar-se até aos seus territórios.
Ora, com algum rigor e ligação óbvia dos factos, percebe-se que o conflito que temos
diante de nós, que impele a Finlândia e a Suécia a aderirem à OTAN com a pretensa
intenção de se diluir o dilema de segurança reinante na Europa, não é UNO mas
TRINO, pois trata-se de uma guerra que contém em concomitância várias guerras.
1. O conflito armado entre a Rússia e o Estado ucraniano;
2. O conflito entre russos da Ucrânia e ucranianos da parte ocidental do país;
3. O conflito entre a Rússia e os Estados Unidos (OTAN).
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corroem a estrutura económica global, reposicionam os alinhamentos com dos BRICS
e reconfiguram o próprio sistema internacional?!.
Mais do que determinar que cenário poderá encerrar o actual conflito entre a Rússia e
Ucrânia, e em que medida o processo de adesão dos dois países poderá ser validada de
maneira imediata, compreende-se que tanto a Finlândia quanto a Suécia, ao
manifestarem a intenção em aderir a OTAN, pretendem abdicar do estatuto de
neutralidade e ocupar uma posição mais central na geopolítica mundial.