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São Paulo, 05 de julho de 2022

Manifesto dos Profissionais da Educação, Estudantes e Comunidade Escolar contra o Projeto de Lei 573/21

Os Profissionais da Educação, Estudantes e Comunidade Escolar, vem à público, por meio deste documento,
manifestar repúdio à iniciativa de privatização da gestão das escolas públicas prevista no Projeto de Lei
573/21 que dispõe sobre a implementação do Programa de Gestão Compartilhada nas Escolas de Ensino
Fundamental e Médio da Rede Pública Municipal de Ensino, em parceria com organizações da sociedade
civil sem fins lucrativos no Município de São Paulo.

A Rede Municipal de Ensino de São Paulo se destaca por uma trajetória de luta constante pela qualidade
social da Educação. Foi pioneira na ampliação de recursos orçamentários destinados à educação. Seu
modelo de gestão está em consonância com as diretrizes educacionais emanadas da Constituição Federal de
1988, com a LDB de 1996 e com o Plano Nacional de Educação de 2014. Esse modelo inclui o acesso de
profissionais por meio de concurso público, a participação da comunidade através dos Conselhos de Escola e
Associação de Pais e Mestres, e o controle externo via Conselho Municipal de Educação, Tribunal de Contas
do Município e demais órgãos municipais.

O Projeto de Lei 573/21 não apresenta dados científicos sobre a sua possível eficácia, pautados no contexto
da cidade de São Paulo e de suas 527 escolas de Ensino Fundamental, 8 Escolas Municipais de Ensino
Fundamental e Médio (EMEFMs), 6 Escolas Municipais de Educação Bilíngue para Surdos (EMEBS)
considerando a especificidade de suas territorialidades nas 13 Diretorias Regionais de Educação.
Em contrapartida à ausência de evidências deste Projeto, as maiores Universidades do país abrigam em seus
repositórios de produção científica e intelectual, inúmeras pesquisas realizadas na Rede Municipal de
Ensino, que apontam para a necessidade de políticas públicas que intercedam em favor dos estudantes e
famílias atendidos nas escolas municipais, para a garantia de todos os direitos sociais ( moradia digna,
assistência médica adequada, saneamento básico, transporte e mobilidade, acessibilidade, alimentação
salutar, acesso à esporte , lazer e cultura próximo ao local de moradia, dentre outros) que, ao serem
negligenciados, interferem diretamente na consolidação dos processos de ensino e aprendizagem.

Ao culpabilizar a ação docente e gestora nas escolas municipais, pelas dificuldades vivenciadas pelos
estudantes, o PL tem por objetivo dissimular a real intenção desta proposta de gestão compartilhada :o
acesso à administração dos recursos financeiros encaminhados para as escolas municipais de Ensino
Fundamental.

Nos últimos anos, a prefeitura de São Paulo extinguiu programas de benefícios sociais importantes como o
Programa Leve Leite. Tem contratado obras de adequações estruturais à revelia das reais necessidades das
escolas e negligenciando reformas importantes em outras, sem os devidos esclarecimentos à população.
Além de não aplicar todo o orçamento mínimo previsto por Lei na Educação da Cidade, promovendo
inclusive, um grande déficit salarial para os servidores municipais, que também sofrem com a crescente
inflação no país.

De acordo com denúncia realizada junto ao Tribunal de Contas do Município, o Fundo de Manutenção e
Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb) destinou R$ 5,8 bilhões à cidade de São Paulo, no
entanto, R$ 668 milhões não foram aplicados e ficaram em caixa sem uso.

A Lei que regulamentou o Fundeb prevê que, no máximo, 10% dos recursos recebidos no exercício podem
ser utilizados no primeiro quadrimestre posterior. O volume de recursos que ficou parado ultrapassa esse
limite, representando 11,34% dos recursos recebidos.

Além disso, com o advento da pandemia, as escolas de Ensino Fundamental não conseguiram utilizar muitos
dos recursos financeiros repassados à APM com as necessidades de seus estudantes. E os gestores seguem
sobrecarregados com inúmeras demandas e cobranças abusivas por parte da Secretaria Municipal de
Educação sem vínculo com os processos de ensino e aprendizagem, em uma perspectiva de gestão alienante
e burocrata que tem dificultado os processos de conscientização da Comunidade sobre seus direitos
relativos à Educação.

Este volume de recursos financeiros atrai o interesse de muitas Organizações Sociais, à exemplo do que já
ocorre com algumas Unidades de Educação Infantil cuja administração já está terceirizada: os CEIs
conveniados que administram recursos públicos para garantir atendimento aos bebês de 0 a 3 anos na Rede
Municipal de Ensino de São Paulo.

É de conhecimento público a sobrecarga de trabalho cujas profissionais destas Unidades são submetidas,
além de inúmeros casos de denúncia de corrupção: com desvio de verbas destinadas ao aluguel do prédio,
pagamento de salário de profissionais e até mesmo à alimentação de crianças matriculadas em algumas
Unidades da rede parceira. A atual fragilidade da legislação vigente da Rede Municipal de Ensino de São
Paulo restringe aos órgãos centrais, a fiscalização da aplicação dos recursos destes CEIs, dificultando o
acesso e monitoramento por parte da Comunidade Escolar, diferente das Escolas Municipais da
administração direta, nas quais os profissionais são servidores públicos e prestam contas à comunidade
periodicamente através das APMs.

Outro evidente interesse do PL 573/21 é a possibilidade de controle curricular sobre as práticas escolares,
ferindo os princípios da escola pública, laica e totalmente gratuita, da gestão democrática e participativa,
preconizando isonomia entre seus servidores a serviço de um trabalho em rede para o bem social comum à
todos os estudantes da cidade.

Considerando todos os fatores aqui apresentados, reiteramos o repúdio à tentativa de privatização da


gestão das escolas municipais, construída sobre uma narrativa de incapacidade dos servidores públicos na
gestão das escolas. Omitindo, assim, todos os dificultadores presentes no atual contexto dos territórios das
escolas municipais, com nítida ausência de políticas intersecretariais na garantia de direitos, dissimulando
os interesses de administração dos recursos financeiros das escolas públicas.

Os profissionais da Educação da Rede Municipal de Ensino de São Paulo, das Universidades Públicas e
Privadas, Coletivos Sociais, Institutos Educacionais, estudantes e suas famílias, e todos os cidadãos que
assinam este documento exigem respeito à Educação Municipal como bem público, requerendo imediata
retirada do PL 573/21.

Este documento segue assinado por:

Coletivo Gestores em Luta

Coletivo Paulo Freire

CRECE Central

Movimento Escolas em Luta

Campanha Nacional pelo Direito à Educação

Professor Vitor Paro – USP

Professor Daniel Cara – USP

Professor Eduardo Januário – USP

Professor Rubens Barbosa de Camargo – USP

Professora Selma Rocha - USP

Professora Teise de Oliveira Garcia – USP Ribeirão Preto

Professora Tereza Adrião – UNICAMP


Professor Eugênio Maria de França Ramos – UNESP

Professora Márcia Jacomini – UNIFESP

GEPAE- Grupo de pesquisa em administração escolar

GEPUD – Grupo de pesquisa da escola pública e democracia

GEPPEGE- Grupo de pesquisa em política educacional e gestão escolar

Setorial Municipal de Educação SP – PT

Douglas Izzo – Presidente licenciado da CUT

Vereador Celso Giannazi

Vereador Toninho Véspoli

Vereadora Juliana Cardoso

Vereador Antônio Donato

Deputado Carlos Giannazi

Deputada Luiza Erundina

Deputado Ivan Valente

Deputado Vicentinho

Caso deseje assinar este documento e também o abaixo -assinado para ser entregue a todos os vereadores e
vereadoras da Câmara Municipal de São Paulo, acesse o link: https://bit.ly/3NfGCvt

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