Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Manifesto dos Profissionais da Educação, Estudantes e Comunidade Escolar contra o Projeto de Lei 573/21
Os Profissionais da Educação, Estudantes e Comunidade Escolar, vem à público, por meio deste documento,
manifestar repúdio à iniciativa de privatização da gestão das escolas públicas prevista no Projeto de Lei
573/21 que dispõe sobre a implementação do Programa de Gestão Compartilhada nas Escolas de Ensino
Fundamental e Médio da Rede Pública Municipal de Ensino, em parceria com organizações da sociedade
civil sem fins lucrativos no Município de São Paulo.
A Rede Municipal de Ensino de São Paulo se destaca por uma trajetória de luta constante pela qualidade
social da Educação. Foi pioneira na ampliação de recursos orçamentários destinados à educação. Seu
modelo de gestão está em consonância com as diretrizes educacionais emanadas da Constituição Federal de
1988, com a LDB de 1996 e com o Plano Nacional de Educação de 2014. Esse modelo inclui o acesso de
profissionais por meio de concurso público, a participação da comunidade através dos Conselhos de Escola e
Associação de Pais e Mestres, e o controle externo via Conselho Municipal de Educação, Tribunal de Contas
do Município e demais órgãos municipais.
O Projeto de Lei 573/21 não apresenta dados científicos sobre a sua possível eficácia, pautados no contexto
da cidade de São Paulo e de suas 527 escolas de Ensino Fundamental, 8 Escolas Municipais de Ensino
Fundamental e Médio (EMEFMs), 6 Escolas Municipais de Educação Bilíngue para Surdos (EMEBS)
considerando a especificidade de suas territorialidades nas 13 Diretorias Regionais de Educação.
Em contrapartida à ausência de evidências deste Projeto, as maiores Universidades do país abrigam em seus
repositórios de produção científica e intelectual, inúmeras pesquisas realizadas na Rede Municipal de
Ensino, que apontam para a necessidade de políticas públicas que intercedam em favor dos estudantes e
famílias atendidos nas escolas municipais, para a garantia de todos os direitos sociais ( moradia digna,
assistência médica adequada, saneamento básico, transporte e mobilidade, acessibilidade, alimentação
salutar, acesso à esporte , lazer e cultura próximo ao local de moradia, dentre outros) que, ao serem
negligenciados, interferem diretamente na consolidação dos processos de ensino e aprendizagem.
Ao culpabilizar a ação docente e gestora nas escolas municipais, pelas dificuldades vivenciadas pelos
estudantes, o PL tem por objetivo dissimular a real intenção desta proposta de gestão compartilhada :o
acesso à administração dos recursos financeiros encaminhados para as escolas municipais de Ensino
Fundamental.
Nos últimos anos, a prefeitura de São Paulo extinguiu programas de benefícios sociais importantes como o
Programa Leve Leite. Tem contratado obras de adequações estruturais à revelia das reais necessidades das
escolas e negligenciando reformas importantes em outras, sem os devidos esclarecimentos à população.
Além de não aplicar todo o orçamento mínimo previsto por Lei na Educação da Cidade, promovendo
inclusive, um grande déficit salarial para os servidores municipais, que também sofrem com a crescente
inflação no país.
De acordo com denúncia realizada junto ao Tribunal de Contas do Município, o Fundo de Manutenção e
Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb) destinou R$ 5,8 bilhões à cidade de São Paulo, no
entanto, R$ 668 milhões não foram aplicados e ficaram em caixa sem uso.
A Lei que regulamentou o Fundeb prevê que, no máximo, 10% dos recursos recebidos no exercício podem
ser utilizados no primeiro quadrimestre posterior. O volume de recursos que ficou parado ultrapassa esse
limite, representando 11,34% dos recursos recebidos.
Além disso, com o advento da pandemia, as escolas de Ensino Fundamental não conseguiram utilizar muitos
dos recursos financeiros repassados à APM com as necessidades de seus estudantes. E os gestores seguem
sobrecarregados com inúmeras demandas e cobranças abusivas por parte da Secretaria Municipal de
Educação sem vínculo com os processos de ensino e aprendizagem, em uma perspectiva de gestão alienante
e burocrata que tem dificultado os processos de conscientização da Comunidade sobre seus direitos
relativos à Educação.
Este volume de recursos financeiros atrai o interesse de muitas Organizações Sociais, à exemplo do que já
ocorre com algumas Unidades de Educação Infantil cuja administração já está terceirizada: os CEIs
conveniados que administram recursos públicos para garantir atendimento aos bebês de 0 a 3 anos na Rede
Municipal de Ensino de São Paulo.
É de conhecimento público a sobrecarga de trabalho cujas profissionais destas Unidades são submetidas,
além de inúmeros casos de denúncia de corrupção: com desvio de verbas destinadas ao aluguel do prédio,
pagamento de salário de profissionais e até mesmo à alimentação de crianças matriculadas em algumas
Unidades da rede parceira. A atual fragilidade da legislação vigente da Rede Municipal de Ensino de São
Paulo restringe aos órgãos centrais, a fiscalização da aplicação dos recursos destes CEIs, dificultando o
acesso e monitoramento por parte da Comunidade Escolar, diferente das Escolas Municipais da
administração direta, nas quais os profissionais são servidores públicos e prestam contas à comunidade
periodicamente através das APMs.
Outro evidente interesse do PL 573/21 é a possibilidade de controle curricular sobre as práticas escolares,
ferindo os princípios da escola pública, laica e totalmente gratuita, da gestão democrática e participativa,
preconizando isonomia entre seus servidores a serviço de um trabalho em rede para o bem social comum à
todos os estudantes da cidade.
Os profissionais da Educação da Rede Municipal de Ensino de São Paulo, das Universidades Públicas e
Privadas, Coletivos Sociais, Institutos Educacionais, estudantes e suas famílias, e todos os cidadãos que
assinam este documento exigem respeito à Educação Municipal como bem público, requerendo imediata
retirada do PL 573/21.
CRECE Central
Deputado Vicentinho
Caso deseje assinar este documento e também o abaixo -assinado para ser entregue a todos os vereadores e
vereadoras da Câmara Municipal de São Paulo, acesse o link: https://bit.ly/3NfGCvt