Redigir texto opinativo, com temática livre em que apareçam, pelo menos, três tipos de argumentos, entre eles, pela autoridade, testemunho, definições (de caráter científico), valores ou pressupostos comuns (conforme texto ‘O enquadramento do real”). O texto deverá ter cerca de três mil caracteres. Entrega até a próxima quarta-feira.
Para os clubes “sem divisão”: nem migalhas
A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) destinou R$ 19 milhões
distribuídos à exatamente 88 clubes (séries C e D) da modalidade masculina, à 52 clubes da feminina (A1 e A2) e às federações estaduais. Os 20 clubes da Série B receberam um adiantamento calculado em 10% do pagamento dos direitos de transmissão, totalizando mais R$ 12 milhões desembolsados pela entidade. Com mais as isenções de taxas e pagamentos à arbitragem, as ações da CBF representaram um total de R$ 36 milhões. Mas e os clubes “sem divisão”? Há poucos meses a CBF comemorava um superávit gigantesco em suas receitas, com um aumento de 265% em relação a 2018. Em 2019, a entidade faturou um montante total de R$ 957 milhões, com um superávit total de R$ 190 milhões. Somando os encargos sociais e tributos ao longo do ano passado, a CBF registrou um ativo total de R$ 1,248 bilhão. Neste momento em que o futebol como um todo vive uma crise devido às perdas de receitas por conta da pandemia do novo coronavírus, a CBF deveria se mostrar solidária com os clubes, mas parece se importar mais com os direitos de transmissões do exterior da elite do Brasileirão, o que, por óbvio, lhe convém. O Rio Grande do Sul conta com 44 clubes em atividade, sendo que apenas sete foram agraciados com a doação da entidade máxima do futebol. O restante dos clubes, em sua grande parte, implora pela manutenção dos patrocinadores e pela paciência de seus atletas. A CBF, ao fechar os olhos para os clubes que não estão entre as quatro divisões nacionais, fere com o seu próprio estatuto: “Capítulo II – Objetivo: Art.12 – IX. Administrar, fomentar, difundir, incentivar, aperfeiçoar e fiscalizar a prática formal de futebol não profissional e profissional, em todo o território nacional”. Não podemos deixar de salientar os esforços da Federação Gaúcha de Futebol (FGF), que se mostra transparente e solidária com os clubes do interior. Cada federação recebeu da CBF um total de R$ 120 mil, mas para ser injetado onde? Se fosse para os clubes, cada um receberia em torno de R$ 3.400, ou seja, uma migalha. O presidente da entidade, Luciano Hocsman, explicou: "Originalmente, pelo estatuto da CBF, é para custear despesas administrativas das federações e, no nosso caso, usamos para pagamento das competições”. Ou seja, voltamos a estaca zero. No interior do Rio Grande do Sul, os presidentes dos clubes que disputam a Divisão de Acesso temem a desistência em massa em disputar o campeonato no segundo semestre. É o caso do São Paulo, de Rio Grande. “Tem gente achando que estamos blefando para tentar alguma coisa, mas não é essa a realidade. A situação financeira do São Paulo beira o caos. O São Paulo hoje não tem cinco reais em caixa", desabafou o presidente do clube, Deivid Pereira. Mas, por trás de tudo isso, há milhares de famílias angustiadas pela paralisação do futebol. Cada clube do interior gaúcho emprega aproximadamente 30 profissionais, entre jogadores e comissão técnica, sem contar os funcionários que fazem o clube funcionar internamente. Em 2016, segundo a CBF, 23.238 jogadores de futebol ganhavam até R$ 1 mil mensais em seus clubes, o que equivale a 82,40% dos atletas cadastrados naquele ano, e 96% do total ganhavam menos de R$ 5 mil mensais. A preocupação pelas incertezas é refletida na angústia de atletas do interior gaúcho. “O clube aqui foi transparente com a gente. Eles dependem das rendas dos jogos. Está preocupante, pois todo mundo tem família, tem filhos, tem que ajudar a mãe. Todo mundo tem dependentes a sua volta. Ninguém tem renda extra aqui. Vivemos exclusivamente do futebol. Ansiedade está lá em cima. Jogador da Série A do brasileiro tem como se manter uns 4 meses e a gente aqui vai fazer o quê?”, relatou o goleiro do São Paulo-RG, Medina. Depois de tantos escândalos por corrupção nos últimos anos, a CBF poderia observar a pandemia como uma boa alternativa para, ao menos, melhorar a credibilidade que lhe sobrou. Porém, parece se dirigir em direção contrária, deixando os clubes “sem divisão” a mercê das consequências da pandemia.