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Coleção

PROFNIT

Série
CONCEITOS E
APLICAÇÕES DE
PROPRIEDADE
INTELECTUAL

Volume I

Organizadora
Wagna Piler Carvalho dos Santos
Salvador – Bahia – 2018
© 2018 Dos organizadores

Coordenação Editorial
Denise Aparecida Bunn

Revisão de Português e Normalização da ABNT


Patrícia Regina da Costa

Capa, Projeto Gráfico e Diagramação


Claudio José Girardi

Ficha Catalográfica

P965 Propriedade intelectual [Recurso eletrônico on-line] / organizadora Wagna


Piler Carvalho dos Santos. – Salvador (BA) : IFBA, 2018.
262 p. – (PROFNIT, Conceitos e aplicações de propriedade intelectual;
V.1)

Inclui referência e índice remissivo


ISBN: 978-85-67562-25-4
Disponível em: http://www.profnit.org.br/pt/livros-profnit/
http://fortec.org.br/documentos/materias/
http://www.editora.ifba.edu.br/

1. Propriedade intelectual. 2. Direitos autorais. 3. Patentes. 4. Propriedade


Industrial. 5. Moda. 6. Marca registrada. I. Santos, Wagna Piler Carvalho dos.
II. Série.

CDU: 347.78

Catalogação na publicação por: Onélia Silva Guimarães CRB-14/071


Renato da Anunciação Filho
Reitor

Luiz Gustavo da Cruz Duarte


Pró-Reitor de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação

Claudio Reynaldo Barbosa de Souza


Coordenador Geral da Editora do IFBA

Ronaldo Bruno Ramalho Leal


Assistente de Coordenação da Editora do IFBA

Conselho Editorial
Ana Rita Silva Almeida Chiara – Davi Novaes Ladeia Fogaça – Deise Danielle Neves
Dias Piau – Fernando de Azevedo Alves Brito – Jeferson Gabriel da Encarnação –
Luiz Antonio Pimentel Cavalcanti – Marijane de Oliveira Correia – Mauricio Mitsuo
Monção – Selma Rozane Vieira

Suplentes
Carlos Alex de Cantuaria Cypriano – Jocelma Almeida Rios – José Gomes Filho –
Juliana dos Santos Müller – Leonardo Rangel dos Reis – Manuel Alves de Sousa
Junior – Romilson Lopes Sampaio – Tércio Graciano Machado

Conselho Editorial do PROFINIT (C-ED)


Titulares
Cristina M. Quintella (Presidente) (UFBA, Brasil) – Elias Ramos de Souza (IFBA,
Brasil) – Glória Maria Marinho Silva Sampaio (IFCE e SETEC/MEC, Brasil) – Irineu
Afonso Frey (UFSC, Brasil) – Josealdo Tonholo (UFAL, Brasil) – Manuel Mira
Godinho (ISEG, Brasil) – Maria da Graças Ferraz Bezerra (MPEG e MCTIC, Brasil)
– Ricardo Carvalho Rodrigues (INPI, Brasil) – Samira Abdallah Hanna (UFBA, Brasil)
– Wagna Piler Carvalho dos Santos (IFBA, Brasil)

Suplentes
Grace Ferreira Ghesti (UnB, Brasil) – Maria Hosana Conceição (UnB, Brasil) –
Paulo Gustavo Barboni Dantas Nascimento (UnB, Brasil) – Rita de Cássia Pinheiro
Machado (INPI, Brasil) – Silvia Beatriz Uchoa (UFAL, Brasil)
Coordenação

Conselho Gestor (CG)


Representante da Associação FORTEC junto à CAPES (Presidente)
Josealdo Tonholo
Ministério da Educação (MEC)
A indicar
Ministério de Ciência Tecnologia Inovações e Comunicações (MCTIC)
Francisco Silveira dos Santos (Titular) e Antenor Cesar Vanderlei Correa (Suplente)
Sede Acadêmica do PROFNIT
Alejandro Frery (Titular) e Eliana Almeida (Suplente)
Coordenadora Acadêmica Nacional
Cristina M. Quintella
Confederação Nacional da Indústria (CNI)
Marcelo Fabrício Prim (Titular) e Rosangela M. C. F. de Oliveira (Suplente)
Associação Nacional de Entidades Promotoras de
Empreendimentos Inovadores (ANPROTEC)
Renato de Aquino Faria Nunes (Titular) e Francilene Procópio Garcia (Suplente)
Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE)
Célio Cabral de Sousa Júnior (Titular) e Carla Regina Nedel Rech (Suplente)
Comissão Acadêmica Nacional (CAN)
Coordenador Acadêmico Nacional – Presidente
Cristina M. Quintella

FORTEC
Maria das Graças Ferraz Bezerra

Representantes do Corpo Docente


Gesil Sampaio Amarante Segundo (titular) – Irineu Afonso Frey (titular) – Núbia
Moura Ribeiro (suplente) – Flávia Lima do Carmo (suplente)

Coordenador da Comissão Acadêmica Institucional (CAI) da Sede


Josealdo Tonholo

Presidentes das Coordenações Técnicas Nacionais


Disciplina Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual (PI): Wagna Piler Carvalho
dos Santos (titular) e Pierre Barnabé (suplente) – Disciplina Conceitos e Aplicações de
Transferência de Tecnologia (TT): Técia Vieira Carvalho (titular) e Grace Ferreira Ghesti
(suplente) – Disciplina Prospecção Tecnológica: Ricardo Carvalho Rodrigues (titular) e
Núbia Moura Ribeiro (suplente) – Disciplina Metodologia da Pesquisa Científico-Tecnológica
e Inovação: Glória Maria Marinho Silva  (titular) e Maria Hosana Conceição (suplente)
– Disciplina Políticas Públicas de Ciência, Tecnologia e Inovação e o Estado Brasileiro: Edilson
Pedro (titular) e Gesil Sampaio Amarante Segundo (suplente) – Disciplina Seminário
de Projeto de Mestrado: Samira Abdallah Hanna (titular) e Paulo Gustavo Barboni
Dantas Nascimento (suplente)

Representantes Discentes
Camila Lisdalia Dantas Ferreira (titular) e 
Fábio Araujo do Nascimento Teixeira (suplente)
Sumário

Prefácio........................................................................................... 13

Apresentação.................................................................................. 17

Direito Autoral................................................................. 21
Introdução.................................................................................. 22
Histórico e Surgimento do Direito Autoral........................... 28
Conceito e Normas Legais....................................................... 33
Autoria e Titularidade............................................................... 41
Direito Moral e Direito Patrimonial....................................... 49
Proteção ao Direito de Autor: o registro............................... 55
A Duração dos Direitos de Autor e o Domínio Público..... 61
Limitações aos Direitos Autorais............................................ 66
Transferência dos Direitos Autorais....................................... 77
Direitos Conexos....................................................................... 80
Proteção dos Direitos Conexos............................................... 81
Duração dos Direitos Conexos............................................... 82
Sanções às Infrações dos Direitos Autorais.......................... 83
Considerações Finais................................................................ 86
Referências................................................................................. 87

Patentes de Invenção e Modelo de Utilidade..................93


Introdução.................................................................................. 94
Definição de Patente................................................................. 99
O Que é Matéria Patenteável................................................. 102
10 Sumário

Patenteabilidade: o que pode ser considerado invento ou


invenção.............................................................................104
Tipos de Patentes....................................................................111
Busca de Anterioridade..........................................................113
Dados Gerais e Classificação de Patentes............................ 116
O Depósito de Pedido de Patente........................................ 120
As Condições do Pedido de Patente...................................................122
Os Cronogramas para o Depósito de um Pedido de Patente..........123
Noções sobre Redação de Patentes...................................... 129
Relatório Descritivo...............................................................................129
Reivindicações de Patente.....................................................................130
Formato da Reivindicação de Patente.................................................131
Reivindicações Múltiplas.......................................................................135
Desenhos.................................................................................................137
Resumo....................................................................................................138
Listagens de Sequências Biológicas.....................................................139
Conclusão.................................................................................139
Referências...............................................................................140

A Marca e sua Registrabilidade no Direito Brasileiro... 147


Introdução................................................................................148
A Marca como Função Distintiva......................................... 153
Caráter Plurifuncional da Marca........................................... 155
Valor da Marca.........................................................................157
Classificação das Marcas........................................................159
Territorialidade e Especialidade das Marcas........................ 164
Da Aquisição da Marca..........................................................167
Requisitos para o Registro de Marca.................................... 172

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Sumário 11

Pedido de Registro..................................................................176
Concessão, Vigência e Prorrogação do Registro................ 180
Impugnações ao Registro.......................................................182
Considerações Finais..............................................................184
Referências...............................................................................184

As Possibilidades de Aplicação da Propriedade Intelectual


no Setor da Moda........................................................... 195
Introdução................................................................................196
Moda e Sociedade...................................................................197
Aspectos Históricos da Moda..............................................................197
Moda: um Fenômeno Social.................................................................201
Contextualização da Moda no Direito Empresarial........... 203
Princípios Gerais do Direito.................................................................204
Princípios do Direito Empresarial.......................................................205
Princípio da Liberdade de Iniciativa....................................................208
Princípio da Liberdade de Concorrência............................................211
Mecanismos de Proteção Legal no Setor da Moda............ 213
Da Registrabilidade da Moda após o Lançamento da Coleção....... 214
Do Registro como Desenho Industrial...............................................215
Do Registro como Marca......................................................................216
Do Registro como Direito Autoral......................................................218
Importância do Sigilo no Setor da Moda............................. 221
Sigilosidade no Setor da Moda.............................................. 224
Projeto de Lei do Senado (PLS) – Acordo de Proteção de
Informações Sigilosas.............................................................226
Segredo Comercial.................................................................................227
Informação Confidencial......................................................................231

Volume I
12 Sumário

Desdobramentos do Projeto de Lei....................................................234


Do Sigilo em Outros Ramos do Direito.............................................236
Conclusão.................................................................................238
Referências...............................................................................240

Índice Remissivo..........................................................................247

Sobre os Autores.........................................................................257

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Prefácio

Ao receber o convite para escrever o prefácio do Volume 1


da Série Propriedade Intelectual produzido pelo Programa de Pós-
Graduação em Propriedade Intelectual e Transferência de
Tecnologia para a Inovação (PROFNIT), aceitei sem hesitar. Pela
honra do convite, por saber da importância do conhecimento aqui
depositado e o quanto isso demandou de esforço dos autores que
compõem a obra.
O mundo vem sofrendo constante transformação desde os
anos de 1980 com o surgimento das Tecnologias de Comunicação
e Informação (TIC), que começaram a ser desenvolvidas nos anos
de 1960 e se difundiram disseminando informação, ampliando
as relações sociais e institucionais, promovendo a chamada
Sociedade do Conhecimento e trazendo novas perspectivas de
prosperidade. Segundo P. Lévy (1998, p. 19)1:

A prosperidade das nações, das regiões, das empresas e dos indivíduos


depende de sua capacidade de navegar no espaço do saber. A força é
conferida de agora em diante pela gestão ótima dos conhecimentos,
sejam eles técnicos, científicos, da ordem da comunicação ou derivem
da relação “ética” com o outro.

Nesse processo ocorrem mudanças que nos remetem


à introdução de novas perspectivas, de novos procedimentos
e produtos que tomam o lugar do até então existente e se
constituem como oportunidades para todos. Remete também
aos ensinamentos de Thomas Kuhn que em seu livro A estrutura
das revoluções científicas (1962, 1970)2 afirmou que a ciência avança

1
LÉVY, P. A inteligência coletiva: por uma antropologia do ciberespaço. São
Paulo: Edições Loyola, 2007. 212 p.
2
KUHN, T. S. A estrutura das revoluções científicas. São Paulo: Coleção
Debates, Ed. Perspectiva, 1962, 1970. 129 p.
14 Prefácio

pelo surgimento de novos paradigmas, isto é, novas formas de


explicar os fatos e o mundo, promovendo saltos à frente. Para o
autor, a mudança é em si revolucionária, pois altera um conjunto
já estabelecido de premissas. No entanto, a dinâmica apontada,
não se aplica somente à ciência, mas também ao desenvolvimento
de tecnologia e aos mecanismos de colaboração, para que tanto
o conhecimento científico quanto o tecnológico continuem
promovendo mudanças numa velocidade cada vez maior.
A mudança vem sendo a tônica da atualidade. Inovações
surgem em diferentes contextos e formas. Essas mudanças são
inúmeras e em todos os sentidos, tanto que a definição utilizada
para o termo Inovação foi ampliada na última edição do Manual
de Oslo (OCDE, 2005)3, que passou a incluir, além das inovações
tecnológicas (novos produtos e processos), as inovações
não tecnológicas, como as de marketing e as organizacionais,
abrangendo, dessa forma, as mudanças que ocorrem na gestão
empresarial e na prestação de serviços.
Nesse contexto, novos horizontes tecnológicos, parcerias
estratégicas e relações inter e intrainstitucionais devem ser
considerados. Tais fatores podem ser amplificados com
acréscimo do capital humano especializado e bem capacitado,
permitindo que os sistemas de inovação possam ser mais
proativos. E um dos conhecimentos importantes para que
tudo isso possa de fato ocorrer diz respeito aos temas ligados
à Propriedade Intelectual (PI).
E é justamente aí que este primeiro volume da coleção
vem agregar, visto que o uso dos instrumentos de proteção
também deve ser considerado nas relações entre os agentes,
sendo fundamental para garantir segurança jurídica que envolva

3
ORGANIZAÇÃO PARA A COOPERAÇÃO E DESENVOLVIMENTO
ECONÔMICO (OCDE). Manual de Oslo: diretrizes para coleta e
interpretação de dados sobre inovação. Traduzido pela Financiadora de Estudos
e Projetos (FINEP). 3. ed. 1997. 184 p.

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Prefácio 15

os ativos intangíveis. O que influencia no amadurecimento das


relações e no desenvolvimento da economia.
O fato de o Brasil ter sido pioneiro no estabelecimento de
marco legal para PI, mas não fazer uso do sistema adequadamente,
aponta para duas situações: o tratamento isolado dado à matéria,
desarticulado do contexto de esforços de desenvolvimento
industrial e tecnológico; e, a ausência de cultura no uso dos
sistemas de proteção intelectual derivado da falta de disciplinas
nos diversos cursos de graduação e de pós-graduação que tratem
desse tema e correlatos.
Portanto, levando-se em consideração que, na virada do
presente século, o Brasil começou a busca do desenvolvimento
via inovação. E para que o país possa trilhar esse caminho, torna-
se fundamental o conhecimento acerca da importância do uso
estratégico do sistema de proteção intelectual para a promoção
do desenvolvimento local, regional e nacional.
A obra que envolve conceitos e aplicações da Propriedade
Intelectual engloba capítulos destinados a conhecimentos ligados
ao mundo dos direitos autorais e conexos, com suas peculiaridades;
ao universo das patentes, englobando informações gerais sobre o
que expressa a Lei de Propriedade Industrial (1996), classificação
internacional, estrutura do documento, busca de informação
tecnológica, entre outros aspectos. O livro também apresenta a
PI ligada a um setor econômico específico, o da Moda, o que é
interessante, pois mostra que o uso dos ativos varia de acordo
com o segmento econômico ao qual estão destinados a proteger.
Portanto, a obra organizada pela professora Wagna Piler,
sem dúvida, contribuirá para um maior entendimento quanto a
esse importante tema. O esforço para desenvolver profissionais
e prepará-los para a valorização e o uso potencial de PI exige um
novo nível de conhecimento e se faz necessário na economia do

Volume I
16 Prefácio

conhecimento, que privilegia os ativos intangíveis e que faz da


inovação o processo estratégico de seu desenvolvimento.
Desejo a todos uma excelente leitura!

Rita Pinheiro-Machado
Especialista Sênior em Propriedade Intelectual
Academia de Propriedade Intelectual, Inovação e Desenvolvimento do INPI

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Apresentação

Este livro, o primeiro da Série Conceitos e Aplicações de


Propriedade Intelectual, da Coleção PROFNIT®, é resultado
do trabalho em cooperação da Rede que constitui o Programa
de Pós-Graduação – Mestrado Profissional em Rede Nacional
em Propriedade Intelectual e Transferência de Tecnologia para
Núcleos de Inovação Tecnológica (PROFNIT®). O Programa
iniciou suas atividades acadêmicas em 2016 e, em 2018, lança
os primeiros livros didáticos elaborados a partir de um intenso
trabalho coletivo. A construção de conteúdos técnico-científicos,
baseados na pesquisa e na experiência dos profissionais, torna-se,
portanto, uma realidade.
O capítulo inicial do livro, intitulado Direito Autoral, de au-
toria de Grace Ferreira Ghesti, Patrícia de Oliveira Areas e Caro-
lina Diniz Panzolini, apresenta o conceito e discute a importância
do Direito Autoral ao longo da história. Na sequência, faz uma
abordagem ampla sobre os princípios e conceitos relacionados
aos Direitos Autorais e discorre sobre os principais aspectos le-
gais relacionados ao tema. Ao longo do capítulo são apresentados
e discutidos, à luz da doutrina, exemplos de casos de processos
judiciais atuais sobre questões polêmicas e fundantes pertinente
aos Diretos Autorais.
O segundo capítulo, Patentes de Invenção e Modelo de Utilidade,
assinado por Raigenis da Paz Fiuza, Pierre Barnabé Escodro,
Luiz Henrique Castelan Carlson e Wagna Piler Carvalho dos
Santos. O Capítulo apresenta conceitos fundamentais sobre
propriedade industrial, um breve histórico e introdução ao
sistema internacional de patentes, aborda vantagens inerentes
ao depósito e concessão da patente, as naturezas de proteção,
prazos de duração da proteção patentária e fluxos processuais
18 Apresentação

para o depósito de pedido de patente. Pretendeu ainda, fornecer


elementos básicos para uma compreensão sobre a elaboração de
um pedido de patente, com foco nas reivindicações.
O terceiro capítulo, dando continuidade aos institutos da
propriedade industrial, no que tange a Marca, tem como título
Marca e Seu Registro no Direito Brasileiro. O capítulo tem como
autores Alejandro Knaesel Arrabal e Ana Paula Colombo.
O texto apresenta aspectos legais sobre Marca, discute o valor da
marca, bem como conceitos, classificações, princípios, requisitos
básicos para o registro e infrações no âmbito do direito marcário.
Por fim, o quarto capítulo, As Possibilidades de Aplicação
da Propriedade Intelectual no Setor da Moda, assinado por Fernanda
Gonçalves Silveira Fontes, Renata Pacola Mesquita e Marcelo
Farid Pereira, fecha este primeiro livro, possibilitando o leitor
compreender de forma clara, didática e contextualizada, a relação
entre a moda e a propriedade intelectual e a importância desta no
amplo mercado da moda. O capítulo faz um apanhado histórico
e aborda a importância econômica, social e cultural da indústria
da moda brasileira. Aliado a essa importância, o texto apreende
desafios jurídicos do setor da moda apresentando e discutindo
exemplos da realidade do setor e dos profissionais que atuam
nele, relacionando os direitos da Propriedade Industrial e do
Direito Autoral.
A Propriedade Intelectual é, portanto, um tema vasto e
permeia toda a construção histórica da humanidade, apresentando-
se como elemento de grande importância no desenvolvimento
socioeconômico de uma sociedade. Está presente nos diversos
campos do conhecimento e da tecnologia. A despeito de se
identificar como área do Direito é, por natureza, multidisciplinar,
o que coaduna com o perfil do corpo docente do PROFNIT®.
Dessa forma, o compartilhamento de saberes profissionais
articulados aos conhecimentos científicos, em prol da formação

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Apresentação 19

de sujeitos transformadores das relações sociais, nos motiva a


aprender, fazer e realizar.
Esperamos que este livro, o primeiro da Série, possa
contribuir com o despertar para uma caminhada de sucesso e de
transformação social.
Boa leitura a todos!

Wagna Piler Carvalho dos Santos

Volume I
Direito Autoral

Grace Ferreira Ghesti


Patrícia de Oliveira Areas
Carolina Diniz Panzolini

Resumo: o Direito Autoral é uma ferramenta da propriedade intelectual muito


estratégica, não apenas no meio artístico, mas principalmente no meio científico e até
mesmo em vários modelos de negócios do setor produtivo. Pensar o Direito Autoral,
tanto nas atividades acadêmicas como em novas estratégias de mercado, é essencial
em um mundo globalizado e com paradigmas em transformação pela Revolução da
Tecnologia da Informação. Este capítulo tem como objetivo tratar dos principais
conceitos e elementos dos direitos autorais. Para tanto, serão discutidos os conceitos
e os principais elementos dos direitos autorais dispostos na legislação e em doutrina
especializada. Este capítulo está separado em tópicos: História e surgimento do Direito
Autoral; Conceitos e normais legais; Autoria e titularidade; Direito Autoral e direito
patrimonial; Proteção do Direito Autoral por meio do registro; Duração dos direitos
autorais e domínio público; Limitações aos direitos autorais; Transferência dos direitos
autorais; Direitos conexos; Proteção dos direitos conexos; Duração dos direitos
conexos e Sanções às infrações dos direitos autorais.

Abstract: copyright is another very important intellectual property tool, not only in
the artistic sector, but mainly in the scientific and even in various business models of
the productive sector. Thinking about copyright in both academic activities and new
market strategies is essential in a globalized world with paradigms that are changing by
the Information Technology Revolution. The purpose of this chapter is traety the main
concepts and elements of copyright. In order to do so, the concepts and main elements
of the copyright established in the legislation and specialized doctrine will be treated.
This chapter is separated into twelve topics: history and emergence of copyright, legal
concepts and norms, authorship and ownership, copyright and property law, copyright
protection through registration, duration of copyright and public domain, limitations
to rights Copyright, related rights, protection of related rights, duration of related
rights and penalties for copyright infringement.
22 Direito Autoral

Introdução
Assim como a propriedade industrial, o Direito Autoral é
outra ferramenta da propriedade intelectual muito estratégica, não
apenas no meio artístico, mas principalmente no meio científico
e até mesmo em vários modelos de negócios do setor produtivo.
Nesse sentido, duas ressalvas são importantes, a primeira é a
de que o Direito de Autor, juntamente com o Direito Conexo
(intérpretes, entidades de radiodifusão, produtores fonográficos),
são derivações dos Direitos Autorais conforme preceituado no
artigo 1º da Lei n. 9.610, de 19 de fevereiro de 1998 – Lei de
Direitos Autorais (LDA).
Já no que se refere às obras científicas, é importante
destacar que a proteção das referidas criações se restringe à
maneira como os dados científicos são organizados, consolidados
e expressos, uma vez que o mérito científico não é protegido pelo
Direito Autoral. Essa observação ganha relevância no ambiente
acadêmico. “No domínio das ciências, a proteção recairá sobre
a forma literária ou artística, não abrangendo o seu conteúdo
científico ou técnico, sem prejuízo dos direitos que protegem os
demais campos da propriedade imaterial.” (BRASIL, 1998, art.
7º, § 3º, da Lei n. 9.610/1998).
A importância do Direito do Autor está fundamentada em
vários aspectos. Além do aspecto do justo reconhecimento da
paternidade desse direito ao criador da obra e, por conseguinte,
de todos os direitos à utilização, reprodução e circulação do
objeto do seu trabalho intelectual; o direito do autor pode ser
um importante elemento para o fomento da cultura, na medida
em que pode estimular a produção cultural, independentemente
do aspecto econômico envolvido, dependendo do equilíbrio
possibilitado entre as garantias legais legitimadas aos autores e
titulares e a importância do acesso público à informação e ao

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Direito Autoral 23

conhecimento expressos pelas criações protegidas por direitos


autorais1.
Há dois grandes sistemas de Proteção de direitos autorais
no mundo:

• Sistema do copyright (anglo-norte-americano), oriundo


do Commom law: a proteção recai sobre a obra,
especificamente sobre a reprodução da obra. O enfoque
é sobre a obra e seu viés econômico;
• Sistema do Droit D´Auteur (adotado pelo Brasil): a
proteção recai sobre o autor, sobre o criador da obra e
o viés é preponderantemente sobre o direito moral da
obra.

O Direito Autoral é um direito híbrido, que se desdobra em


dimensões complementares: moral e patrimonial.
A definição de direito moral está relacionada à dignidade
da pessoa humana, à personalidade, e tem natureza inalienável,
inegociável e imprescritível. Nesse sentido, o direito moral é uma
evidência do desdobramento da personalidade do autor na sua
criação intelectual, eivada de elementos originais e únicos, em razão
da condição específica de cada indivíduo. Referido direito está
previsto no artigo 24 da Lei de Direitos Autorais (Lei n. 9.610/98)

1
Sobre este assunto, é importante referenciar que a relação entre cultura,
criatividade e direitos autorais (assim como o próprio instituto da propriedade
intelectual, como um todo) não é um terreno alheio a conflitos, contradições
e posicionamentos diversos, ainda mais considerando a complexidade de seus
elementos no momento de transição histórica pelo qual passamos (Era da
Informação, Era Digital, etc.). Há aqueles que defendem que na era digital o
acesso ao conhecimento e a própria cultura deveriam ser livres, ainda que não
necessariamente se exclua totalmente todas as prerrogativas próprias dos direitos
de autor. Para ver contrapontos, veja-se, por exemplo, a obra de: Lawrence
Lessig (2004), Cultura livre: como a mídia usa a tecnologia e a lei para barrar a criação
cultural e controlar a criatividade, tradução de Fábio Emilio Costa. Disponível em:
<http://softwarelivre.org/articles/0018/5102/Lawrence_Lessig_-_Cultura_
Livre.pdf>. Acesso em: 10 out. 2017.

Volume I
24 Direito Autoral

e se desdobra em vários outros direitos conforme descrito no


referido dispositivo legal e mencionado a seguir, in verbis:

I – o de reivindicar, a qualquer tempo, a autoria da obra;


II – o de ter seu nome, pseudônimo ou sinal convencional indicado ou
anunciado, como sendo o do autor, na utilização de sua obra;
III – o de conservar a obra inédita;
IV – o de assegurar a integridade da obra, opondo-se a quaisquer
modificações ou à prática de atos que, de qualquer forma, possam
prejudicá-la ou atingi-lo, como autor, em sua reputação ou honra;
V – o de modificar a obra, antes ou depois de utilizada;
VI – o de retirar de circulação a obra ou de suspender qualquer forma
de utilização já autorizada, quando a circulação ou utilização implicarem
afronta à sua reputação e imagem;
VII – o de ter acesso a exemplar único e raro da obra, quando se
encontre legitimamente em poder de outrem, para o fim de, por meio
de processo fotográfico ou assemelhado, ou audiovisual, preservar
sua memória, de forma que cause o menor inconveniente possível a
seu detentor, que, em todo caso, será indenizado de qualquer dano ou
prejuízo que lhe seja causado. (BRASIL, 1998, art. 24)

Pode-se referir o direito patrimonial à perspectiva


financeira relacionada à exploração econômica da obra intelectual
e aos diversos direitos previstos no artigo 29 da Lei de Direitos
Autorais, como direitos de reprodução, de distribuição e de
comunicação ao público. É importante reiterar que, para cada
direito patrimonial, faz-se necessário uma autorização específica,
prévia e expressa por parte do autor.
Há inúmeros exemplos de demandas judiciais que são
intentadas sob o argumento de que não foi concedida a devida
autorização, prévia e expressa, de maneira a obstar a veiculação
de obras audiovisuais, conforme citado a seguir:

“Os doze macacos” – foi concedida uma decisão judicial e a obra


audiovisual foi interrompida, após 28 dias do seu lançamento, em razão

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Direito Autoral 25

da alegação de um autor de que uma cadeira que aparecia no filme


lembrava um esboço de uma mobília que ele havia desenhado [...]
“O Advogado do Diabo” – foi concedida decisão para suspender, após
2 dias de veiculação da obra audiovisual, porque um escultor alegou que
seu trabalho aparecia no fundo de determinada cena. (PARANAGUÁ;
BRANCO, 2009, p. 43)

Em ambos os exemplos não há a necessidade de se registrar


a obra para que o criador da obra seja constituído autor.
O Direito Autoral é responsável por garantir a exclusividade
sobre as criações artísticas, científicas e literárias, por um período
determinado, no qual o autor ou titular de direitos (uma vez que
são conceitos e possibilidades jurídicas distintas) poderá explorar
ou autorizar sua exploração por meio de reprodução, comunicação
ao público, entre outras inúmeras possibilidades de exploração
econômica das obras intelectuais, nos termos do artigo 29, da Lei
n. 9.610/98, além de concessão de autorização para a obra ser
transformada em obra derivada, por meio de tradução, adaptação,
entre outros (BRASIL, 1998).
A principal diferença para a propriedade industrial, é que
pelo Direito Autoral protege-se a criação do intelecto humano,
devidamente exteriorizado, fixado num suporte tangível e
intangível, em tecnologia que se conheça ou venha a se conhecer
(artigo 7º, da Lei n. 9.610/1998), com um mínimo de originalidade
e criatividade, mas o mais importante: com viés criativo. Portanto,
se o aspecto funcional da obra intelectual ultrapassar o aspecto
artístico, a referida criação não poderá ser protegida sob o manto
do Direito Autoral, mas, provavelmente, por outros institutos
como desenho industrial, patentes, entre outros.
Em outras palavras, quando um artigo científico descreve
o desenvolvimento de um avião, se for protegido por Direito
Autoral, ninguém poderá copiar o que está escrito, reproduzindo,
comercializando, distribuindo, ou qualquer outro uso não

Volume I
26 Direito Autoral

autorizado por lei, sem a autorização do titular dos direitos sobre


tal publicação. Contudo, isso não impede que se possa construir
o avião seguindo o processo descrito no manuscrito. Para garantir
exclusividade sobre o conteúdo do artigo, os institutos adequados
são os da propriedade industrial. Daí a importância de se ter uma
gestão estratégica e sistêmica do conhecimento produzido nas
Instituições de Ciência e Tecnologia (ICTs)2, empresas, centros
de pesquisa, etc.
O Direito Autoral é uma importante ferramenta de
gestão da propriedade intelectual, não apenas pelo que será
publicado, mas principalmente para o mercado conhecido como
“Economia Criativa”. Segundo a Conferência das Nações Unidas
sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), vinculada às
Organizações das Nações Unidas (ONU), os setores da economia
criativa são importante para a geração de empregos, mesmo em
tempos de crise (MAAFIKIANO; AZIMIO, 2016). Segundo
Cavalcanti (2016), um dos setores econômicos que mais crescem
é a cultura.
Em 2015, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro sofreu
queda de, aproximadamente, 4%, com a inflação atingindo 10,7%
e estima-se que a Economia Criativa apresentou crescimento
substancial, mesmo diante da crise econômica. O PIB da
indústria criativa brasileira chegou a R$ 126 bilhões no fim de
2013, ou o equivalente a 2,6% do total produzido no país naquele
ano. Logo, apresentou um avanço de 69,8% em dez anos, acima

2
Utiliza-se, aqui, o conceito proposto pela Lei n. 10.973, de 2 de dezembro
de 2004 (conhecida como Lei de Inovação), alterada pela Lei n. 13.243, de 11
de janeiro de 2016 (conhecida como marco legal da inovação). Artigo 2º, V:
“Instituição Científica, Tecnológica e de Inovação (ICT): órgão ou entidade da
administração pública direta ou indireta ou pessoa jurídica de direito privado
sem fins lucrativos legalmente constituída sob as leis brasileiras, com sede e
foro no País, que inclua em sua missão institucional ou em seu objetivo social
ou estatutário a pesquisa básica ou aplicada de caráter científico ou tecnológico
ou o desenvolvimento de novos produtos, serviços ou processos”.

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Direito Autoral 27

dos 36,4% registrados pelo PIB nacional no mesmo período


(CAVALCANTI, 2016).
Outro aspecto importante que corrobora o Direito Autoral
como um importante instrumento de crescimento da Economia
Criativa concentra-se no fato de que a criação intelectual é produto
exclusivo da criação humana, da engenhosidade do ser humano,
não sendo possível substituir a criatividade e a originalidade
humana por máquinas, ainda que a tecnologia venha para auxiliar
o homem.
Ademais, o Brasil é reconhecido mundo afora por sua
capacidade de criação e suas obras intelectuais, em especial
a música, as novelas, as obras literárias, entre outros, que são
amplamente conhecidos.
Portanto, pensar o Direito Autoral tanto nas atividades
acadêmicas como em novas estratégias de mercado é essencial
num mundo globalizado e com paradigmas em transformação
pela Revolução da Tecnologia da Informação (CASTELLS, 2007).
O objetivo do presente capítulo é trazer uma visão geral
do Direito Autoral, instrumentalizando o leitor nos principais
conceitos e elementos desse instituto da propriedade intelectual.
Para tanto, serão tratados os conceitos e os principais elementos
dos direitos autorais dispostos na legislação e na doutrina
especializada. O capítulo está separado em 12 tópicos: história e
surgimento do Direito Autoral; conceitos e normas legais; autoria
e titularidade; Direito Autoral e direito patrimonial; proteção
do Direito Autoral por meio do registro; duração dos direitos
autorais e domínio público; limitações aos direitos autorais;
transferência dos direitos autorais; direitos conexos; proteção
dos direitos conexos; duração dos direitos conexos; e sanções às
infrações dos direitos autorais.

Volume I
28 Direito Autoral

Histórico e Surgimento do Direito Autoral


O ato de se criar obras artísticas, científicas ou literárias,
de um ponto de vista subjetivo, sempre existiu. Sendo assim,
da mesma maneira, pode-se dizer que o Direito Autoral esteve
presente desde que o homem começou a concretizar as suas
primeiras obras, talvez não com uma acepção de proteção
legislativa, mas pela necessidade de apropriação sobre sua criação.
Segundo Afonso (2009, p. 2):

O estudo da literatura romana mostra que os autores da época não se


conformavam tão somente com a glória, já que, em alguma medida,
seus manuscritos eram fonte de lucro. Estes mesmos especialistas
sustentam que a noção de direito de autor sempre existiu, mas que,
durante muito tempo, não teve uma expressão no campo da legislação.

Os posicionamentos sobre a origem do Direito Autoral


não são pacíficos, tampouco a evolução desse instituto foi menos
complicada. Apesar de sua origem estar vinculada à criação da
imprensa por Gutemberg no século XV na Europa, já se podia
conceber elementos de Direito Autoral antes desse evento.
As técnicas de impressão já eram conhecidas na China e na
Coreia, da mesma forma a “[...] noção de propriedade sobre os
resultados do trabalho intelectual fora reconhecido de diferentes
maneiras antes que Gutemberg desenvolvesse seu invento [...]”,
o próprio plágio era condenado na Antiguidade, na Grécia e em
Roma (LIPSZYC, 2006, p. 28).
Importante observar que nessa época a noção era a de
propriedade tangível, ou seja, o autor era proprietário do objeto,
do manuscrito, do suporte material no qual estava a obra. O que o
autor comercializava era o suporte, transferindo essa propriedade
a outro. Como na Idade Média, antes da criação da imprensa,
a reprodução da obra era difícil e demorada, essas trocas de
propriedades materiais (a qual incluía a obra) bastavam para a

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Direito Autoral 29

proteção da criação, tornando a obra um bem indissociável do


seu suporte (AFONSO, 2009, p. 3)
Com a criação da imprensa, a reprodução da obra tornou-
se mais rápida e fácil, fazendo com que a obra, em si, fosse um
objeto de comércio, independentemente de seu suporte material,
e também uma fonte de lucro. Essa nova forma de comércio
beneficiou primeiro os impressores, que adquiriram direito de
imprimir obras antigas. A partir da nova tecnologia e de suas
potencialidades na difusão de ideias políticas e sociais por meio das
obras impressas, os soberanos outorgavam “direitos exclusivos
de publicação”. “No final do século XVII e começo do século
XVIII, a história da imprensa caracterizou­se pela promulgação
de diversos decretos e leis de concessão de direitos exclusivos”
(AFONSO, 2009, p. 3).
A partir do século XVIII, por influência dos pensadores
liberais, como John Locke, surgiram ideias individualistas que
questionaram o sistema de monopólios de impressão outorgados
aos editores, provocando a quebra desse sistema. Isso fez com
que os livreiros e editores defendessem seus direitos invocando
teorias da propriedade intelectual. Surge então, a partir de tal
movimento, a primeira lei positivada a respeito do Direito Autoral,
em sua concepção moderna na Inglaterra, a Lei da Rainha Ana,
de 10 de abril de 1710, na qual era garantido um direito individual
de proteção sobre a obra impressa (LIPSZYC, 2006).
Desse marco em diante, vários outros direitos foram
acrescentados no rol dos direitos autorais, não apenas pela
legislação inglesa, mas em ordenamentos jurídicos de vários outros
países, como Dinamarca (em 1741), França (em 1777, 1791, 1793) e
Estados Unidos (em 1790). Direitos como os de edição e impressão;
de execução e representação das obras criadas, assim como os de
reprodução, de representações dramáticas, de fotografias, canções;
expressões artísticas; etc. (AFONSO, 2009, p. 5).

Volume I
30 Direito Autoral

A necessidade de uma proteção além dos limites territoriais


do Estado surgiu a partir do século XIX, com as novas tecnologias e
com o desenvolvimento das relações internacionais, intercâmbios
culturais, traduções de obras.
Nesse momento, vários Estados, incluindo alguns da
América Latina, já tinham suas leis, as quais eram modificadas
periodicamente para se adaptarem aos avanços tecnológicos.
A prática de contrafação também era muito comum na esfera
internacional, havendo até um consenso entre editores do país
de que a primeira editora que publicasse (copiasse, em outras
palavras) teria o privilégio. Nos países com autores mais copiados
surgiu um movimento de proteção internacional3.
Entre os anos de 1837 a 1840 começam as discussões nos
órgãos internos dos países. Em 1858, no Congresso de Bruxelas,
houve o reconhecimento internacional da propriedade das
obras literárias e artísticas em favor de seus autores, mesmo sem
reciprocidade. No Congresso em Paris (Congresso da Propriedade
Literária e da Propriedade Artística), em 1878, sob a presidência
de Victor Hugo e Meissonier, foi criada a Associação Literária
e Artística Internacional. Em 1882, o Congresso de Roma,
organizado por essa Associação, inaugurou o reconhecimento
internacional. Houve ainda mais três Conferências de Berna,
em 1883, 1884 e 1885. O trabalho destas duas últimas resultou
na Convenção da União de Berna, de 9 de setembro de 1886:
“Convenção da União para Proteção das Obras Literárias e
Artísticas”,4 cujo foco era criar uma verdadeira união para a
proteção dos direitos de autor (BASSO, 2000, p. 74).

3
Ainda no século XVIII, em 1745, até se tentou uma Conferência de Paz de
Aix-la-Chapelle, encabeçada por Elie Luzac (editor holandês) com a proposta
de tratado de proteção contra a contrafação, mas sem muita aceitação (BASSO,
2000, p. 74).
4
Promulgada pelo Brasil por meio do Decreto n. 75.572, de 8 de abril de 1975.

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Direito Autoral 31

A Convenção de Berna mudou o cenário mundial quanto à


proteção dos direitos autorais, pois foi somente a partir dela que
alguns países passaram a reconhecer o Direito Autoral de autores
estrangeiros. Até então, muitos autores apenas tinham os seus
direitos resguardados em seu país de origem, mas as suas obras
podiam ser livremente reproduzidas em outros países. Com a
Convenção, essa proteção foi finalmente estendida para todos os
países signatários e foi a principal responsável em se uniformizar
o reconhecimento do caráter absoluto e universal dos direitos
autorais.
Portanto, a Convenção de Berna atendeu um pleito impor-
tante que já se fazia presente à época, qual seja, o estabelecimento
de uma relação de reciprocidade, por conseguinte, o reconheci-
mento de um princípio com essa natureza, de maneira que o cria-
dor e detentor de obras intelectuais de outra nacionalidade (País
“A”), mas residente no País “B”, tivesse o mesmo direito que os
demais cidadãos daquele País “B”, e vice-versa.
Após a Convenção de Berna, no século XX, vários acordos
internacionais foram realizados entre os Estados Americanos,
por exemplo, a Convenção Interamericana sobre os Direitos
de Autor em Obras Literárias, Científicas e Artísticas, firmada
em Washington em 22 de junho de 19465. Outro instrumento
importante em matéria de proteção internacional em âmbito
mundial foi a Convenção Universal sobre Direito de Autor, de
1952, revisada em Paris em 19716.
Nesse ínterim, também foi formalizada a Convenção de
Roma (Convenção Internacional para Proteção aos Artistas
Intérpretes ou Executantes, aos Produtores de Fonogramas e aos

5
Promulgada pelo Brasil por meio do Decreto n. 26.675, de 18 de maio de 1949.
6
Promulgada pelo Brasil por meio do Decreto n. 76.905, de 24 de dezembro
de 1975.

Volume I
32 Direito Autoral

Organismos de Radiodifusão)7, que versa exclusivamente sobre


os Direitos Conexos e que o Brasil ratificou nos anos que se
seguiram.
No Brasil, não obstante todo esse movimento internacional
de proteção aos direitos autorais, o sistema de privilégios só foi
extinto após a proclamação da República, mais especificamente
em 1827. Foi então que, em 11 de agosto de 1827, D. Pedro I criou,
por meio de lei, as primeiras Faculdades de Direito brasileiras,
uma em São Paulo e outra em Olinda. Essa lei determinou a
exclusividade dos direitos autorais sobre as obras criadas pelos
professores desses cursos jurídicos aos seus respectivos autores
pelo período de dez anos. Vale ressaltar que a referida lei não
aboliu o sistema de privilégios, uma vez que atingia apenas os
professores acadêmicos daquelas instituições e pelo prazo de
dez anos, porém, tornou­se marco inicial na história do direito de
autor no Brasil (AFONSO, 2009, p. 7).
Em 1830, o Código Criminal penalizou quem “imprimisse,
gravasse, litografasse ou introduzisse quaisquer escritos ou estampas,
que tivessem sido feitos, compostos ou traduzidos por cidadãos
brasileiros, enquanto estes vivessem, e de dez anos depois de sua
morte, se deixassem herdeiros”. O Código Penal de 1890 tratou dos
crimes de contrafação e, em 1891, a Constituição Federal garantiu
o direito exclusivo de reprodução das obras literárias e artísticas aos
autores, resguardando aos herdeiros o gozo desses direitos pelo
tempo determinado por lei (LIPSZYC, 2006).
A lei específica sobre direitos autorais só surgiu em 1898:
Lei n. 496, de 1º de agosto de 1898, também conhecida como
Lei Medeiros e Albuquerque. Alguns dos dispositivos que ainda
estão na legislação brasileira tiveram origem nessa lei. Em 1917,
o Código Civil consolidou o direito do autor nos Institutos do

7
Promulgada pelo Brasil por meio do Decreto n. 57.125, de 19 de outubro de
1965.

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Direito Autoral 33

Direito das Coisas e do Direito das Obrigações. Várias normativas


surgiram após esse período, resultando que, em 1973, consolidou-
se em um instrumento próprio para reunir as diversas normativas
sobre Direito Autoral: a Lei n. 5.988, de 14 de dezembro de 1973
(AFONSO, 2009, p. 8).
Nos dias atuais, a Constituição Federal de 1988 prevê a
proteção dos direitos autorais, regulando a matéria por meio de
Lei n. 9.610, de 19 de fevereiro de 1998, que revogou a lei de
1973.

Conceito e Normas Legais


O Direito Autoral compreende todo o complexo de normas
jurídicas que regem as relações e as consequências pertinentes à
concepção de obras intelectuais artísticas, científicas e literárias
oriundas de criações do espírito, devidamente exteriorizadas e
afixadas num suporte tangível ou intangível, isto é, são as normas
que vão estabelecer quais criações serão passíveis de gerar direitos
ao seu criador e/ou titular, e quais direitos e modalidades de
exploração econômica são esses.
No ordenamento jurídico brasileiro, os direitos autorais
estão previstos da Constituição Federal, em seu artigo 5º, inciso
XXVII, que garante aos autores o direito exclusivo de utilização,
publicação ou reprodução de suas criações, sendo esses direitos
transmissíveis aos respectivos herdeiros.
Na legislação infraconstitucional, a proteção aos referidos
direitos é garantida pela Lei n. 9.610/1998, conhecida como a
Lei de Direitos Autorais, a qual regula tanto os direitos de autor
quanto os que lhes são conexos. Importante destacar que o uso
da expressão “Direitos Autorais” refere-se à proteção tanto
dos direitos relacionados ao autor (Direito de Autor) como dos
direitos relacionados aos artistas, intérpretes, executantes, etc.

Volume I
34 Direito Autoral

(Direitos Conexos) (Lei n. 9.610/1998 art. 1º; AFONSO, 2009,


p. 11).
Ascensão (1997, p. 16), no mesmo sentido, afirma que:

A lei brasileira impõe a distinção entre Direito de Autor e Direito


Autoral. Direito de Autor é o ramo da ordem jurídica que disciplina a
atribuição de direitos relativos a obras literárias e artísticas. O Direito
Autoral abrange, além disso, os chamados direitos conexos, como os
direitos dos artistas intérpretes ou executantes, dos produtores de
fonogramas e dos organismos de radiodifusão.

A Lei n. 9.610/1998, embora mantivesse praticamente


intacta a redação do diploma legal anterior – a Lei n. 5.988, de
14 de dezembro de 1973 –, teve como intuito adequar a lei de
direitos autorais às novas tecnologias.
Outras leis também poderão regular questões específicas
relacionadas aos direitos autorais. Entre elas, é possível citar:

• Lei n. 9.609, de 19 de fevereiro de 1998, que trata da


proteção da propriedade intelectual de programas de
computador, conforme preceituado no artigo 7º, “§ 1º
Os programas de computador são objeto de legislação
específica, observadas as disposições desta Lei que lhes
sejam aplicáveis” (BRASIL, 1998, art. 7º).
• Lei n. 8.685, de 20 de julho de 1993, que cria fomento à
atividade audiovisual.
• Lei n. 7.505, de 2 de julho de 1986, que institui o
Programa Nacional de Apoio a Cultura (também
chamada de Lei Rounet).
• Lei n. 6.615, de 16 de dezembro de 1978, que dispõe
sobre a regulamentação de radialistas; Decreto n. 84.134,
de 30 de outubro de 1979, que regulamenta a lei anterior.

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Direito Autoral 35

• Lei n. 6.533, de 24 de maio de 1978, que dispõe sobre


regulamentação das profissões do artista e de técnico
em espetáculos de diversões, e o Decreto n. 82.385, de 5
de outubro de 1978, que regulamenta a lei anterior.
• Lei n. 12.853, de 14 de agosto de 2013, que altera os
artigos 5º, 68, 97, 98, 99 e 100, acrescenta artigos 98-A,
98-B, 98-C, 99-A, 99-B, 100-A, 100-B e 109-A, e revoga
o artigo 94 da Lei n. 9640, de 19 de fevereiro de 1998,
para dispor sobre gestão coletiva de direitos.
• Decreto n. 8.469, de 22 de junho de 2015, que dispõe
sobre gestão coletiva de direitos autorais.

Além disso, acrescenta-se as seguintes instruções normativas


e portarias ministeriais:

• Instrução Normativa n. 3, de 7 de julho de 2015, do


Ministério da Cultura, que estabelece os procedimentos
de habilitação, organização do cadastro, supervisão e
aplicação de sanções para a atividade de cobrança de
direitos autorais por associações de gestão coletiva e
pelo ente arrecadador de que trata a Lei n. 9.610/98.
• Instrução Normativa n. 4, de 7 de julho de 2015, que
aprova o Regulamento de Mediação e Arbitragem no
âmbito do Ministério da Cultura.
• Portaria n. 53, de 7 de julho de 2015, do Ministério da
Cultura, que constitui a Comissão Permanente para o
Aperfeiçoamento da Gestão Coletiva (CPAGC), com
a finalidade de promover o aprimoramento da gestão
coletiva de direitos autorais no Brasil.
• Instrução Normativa n. 1, de 4 de maio de 2016,
do Ministério da Cultura, que dispõe sobre as
obrigações dos usuários na execução pública de obras

Volume I
36 Direito Autoral

musicais e fonogramas inseridos em obras e outras


produções audiovisuais.
• Instrução Normativa n. 2, de 4 de maio de 2016, do
Ministério da Cultura, que estabelece procedimentos
complementares para a habilitação de atividade de
cobrança, por associações de gestão coletiva de direitos
de autor e direitos conexos na internet.

E, ainda, decretos que incorporam tratados internacionais,


entre os quais o Decreto n. 76.905, de dezembro de 1975, da
Convenção Universal sobre o Direito do Autor, e o Decreto
n. 75.699, de 6 de maio de 1975, da Convenção de Berna.
Ressalta-se, contudo, que, para que o Direito Autoral se
configure uma obra intelectual, esta deverá estar expressa em
algum meio ou fixada em qualquer suporte tangível ou intangível,
conhecido ou que se invente no futuro (BRASIL, 1998, art. 7º).
Em outras palavras, a criação não pode ficar apenas no mundo
das ideias, necessitando estar exteriorizada e idealmente finalizada
para poder ser reconhecida e protegida pela Lei de Direitos
Autorais.
Nesse sentido, já que não há proteção específica para ideias,
é possível abordar um mesmo assunto e tema, mas desde que seja
feito de forma original e com um mínimo de criatividade. Como
exemplos, há várias obras audiovisuais que abordaram a mesma
“ideia” ou a mesma temática, mas sob perspectivas diferentes,
como:

• Armageddon (Michael Bay – 1998) e Impacto Profundo –


Deep impact (Mimi Leder – 2001)
• Inferno de Dante (Roger Donaldson – 1997) e Volcano
(Mick Jackson – 1999)

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Direito Autoral 37

Apesar de não estar expresso na Lei n. 9.610/1998, o


requisito de proteção da obra por meio do Direito Autoral prevê
que a obra seja original. Em outras palavras, que não seja cópia de
outra obra preexistente, mas sim original.
Portanto, já é de consenso dos tribunais8 que a obra
intelectual deve apresentar um mínimo de originalidade e de
criatividade, sem adentrar, propriamente, na valoração qualitativa
artística, ou seja, sem juízo de valores do que seja arte ou não.
Significa dizer que a novidade – artigo 8º da Lei n. 9.279, de
14 de maio de 1997, conhecida como Lei de Propriedade Industrial
– é um requisito importante na proteção das invenções, modelos
de utilidade, entre outras, não se aplica ao Direito Autoral. Diante
do exposto, não existe a obrigatoriedade de as ideias contidas na
obra serem novas, mas a forma na qual as ideias são expressas
deve ser uma criação original do seu autor.
Nesse sentido, a originalidade se justifica principalmente
pelo fato de a obra intelectual ser um resultado do intelecto e
da engenhosidade humana, com traços únicos daquele indivíduo;
razão pela qual, ainda que dois autores estejam se manifestando
sobre um mesmo tema ou objeto de inspiração, o resultado será
diferente, por ser transposição de personalidades específicas.
Afonso (2009, p. 14) ainda segue explicitando três premissas
fundamentais para a proteção por Direito Autoral:

a) o objeto da tutela deve ser o resultado do talento criativo do homem


no domínio literário, artístico ou científico;
b) essa proteção é reconhecida com independência do gênero da obra,
sua forma de expressão, mérito ou destino;

8
Sobre o assunto da originalidade e de sua diferença quanto à novidade,
recomenda-se a leitura da obra de, Denise Borges Barbosa (2009), Do requisito de
originalidade nos desenhos industriais: a perspectiva brasileira. Disponível em: <http://
www.denisbarbosa.addr.com/arquivos/novidades/do_requisito_originalidade.
pdf>. Acesso em: 20 jul. 2017.

Volume I
38 Direito Autoral

c) o produto da criação do espírito humano, por sua forma de expressão,


exige características mínimas de originalidade.

Segundo Panzolini e Demartini (2017, p. 26-27), alguns


aspectos precisam ser observados para que uma obra possa ser
protegida pelo Direito Autoral, quais sejam:

1. Deve ser exteriorizada;


2. Deve ser original (não precisa ser inédita, nova, ao contrário da
propriedade industrial, que exige atividade inventiva). A originalidade
exige pessoalidade, individualidade, uma aposição da própria
personalidade naquela obra autoral, um olhar muito particular
sobre um conteúdo artístico. Portanto, pode-se falar ou exteriorizar
artisticamente sobre um mesmo tema, mas a partir de uma produção
criativa e particular, ou seja, deve haver um esforço criativo por parte
do autor da obra. Os tribunais têm se manifestado por um mínimo de
originalidade;9
3. Deve ser criativa, ou seja, o valor agregado ao acervo comum, portanto
é aquele elemento em que se perceberá também a personalidade do
autor. A expressão traço característico é fundamental nesse aspecto:
é necessário que se verifique um aspecto peculiar à personalidade do
autor, como resultado do esforço criativo na criação artística. Nesse
sentido, aspectos como tempo, dinheiro, esforço, força física, etc., não
são relevantes, mas o quão criativa, o valor efetivamente adicionado ao
mundo, a partir daquela obra. Por exemplo, quando o Direito Autoral
visa proteger o texto científico, visa proteger as palavras, a maneira
como restou diagramado o texto, a criatividade inserida sobre aquela
ideia, e não o conteúdo científico, propriamente dito;
4. A questão da criatividade é de fundamental importância, na medida
em que o nosso Direito Autoral se insere dentro da sistemática do civil
law e segue a linha do direito francês, direito do autor francês, direito
continental que, por conseguinte, tem o valor da personalidade como
um aspecto relevante para se identificar a obra intelectual, porque se é
importante identificar traços da personalidade do autor na obra.

9
A principal diferença em ser ou não autor está na legitimidade para o exercício
dos direitos morais, que serão estudados posteriormente.

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Direito Autoral 39

Portanto, é importante entender a diferença entre novidade


e originalidade. Novidade está relacionada ao elemento tempo, ou
seja, algo que não existia e passou a existir10, conforme a análise do
estado da arte naquele interstício, já originalidade está relacionada
ao criador, aquele que criou e não copiou11. A obra pode ser
protegida por Direito Autoral desde que seja minimamente
original e criativa e que não seja cópia de outra obra.
Quanto à natureza jurídica do Direito Autoral, a doutrina
não é pacífica. A título de exemplificação, é possível citar alguns
doutrinadores e seus posicionamentos.
Ascensão (1997, p. 16, 579, 616) assevera que o Direito
Autoral faz parte dos direitos privados, em especial do Direito
Civil, formando um novo ramo ao lado do direito de família,
direito de sucessões, direito de personalidade etc. O Direito
Autoral estaria relacionado ao direito industrial e à propriedade
industrial, apesar de ambos se referirem a bens incorpóreos
e serem frequentemente unificados sob a denominação de
“propriedade intelectual”. Para Ascensão (1997), a estrutura legal

10
Vale destacar aqui o conceito legal de novidade como aquilo que não
é compreendido no estado da técnica, disposto na Lei n. 9.279/1997, de
Propriedade Industrial. “Art. 11 A invenção e o modelo de utilidade são
considerados novos quando não compreendidos no estado da técnica. § 1º
O estado da técnica é constituído por tudo aquilo tornado acessível ao público
antes da data de depósito do pedido de patente, por descrição escrita ou
oral, por uso ou qualquer outro meio, no Brasil ou no exterior, ressalvado
o disposto nos arts. 12, 16 e 17. § 2º Para fins de aferição da novidade, o
conteúdo completo de pedido depositado no Brasil, e ainda não publicado, será
considerado estado da técnica a partir da data de depósito, ou da prioridade
reivindicada, desde que venha a ser publicado, mesmo que subsequentemente.
§ 3º O disposto no parágrafo anterior será aplicado ao pedido internacional de
patente depositado segundo tratado ou convenção em vigor no Brasil, desde
que haja processamento nacional.”
11
Sobre o assunto da originalidade e sua diferença quanto à novidade,
recomenda-se a leitura da obra de, Denise Borges Barbosa (2009), Do requisito de
originalidade nos desenhos industriais: a perspectiva brasileira, Disponível em: <http://
www.denisbarbosa.addr.com/arquivos/novidades/do_requisito_originalidade.
pdf>. Acesso em: 20 jul. 2017.

Volume I
40 Direito Autoral

dos direitos de autor baseia-se na teoria dualista, ou seja, prevê a


existência de dois direitos: o patrimonial e o pessoal (moral).
Hammes (1992, p. 47 et seq.) destaca ser o Direito Autoral
reconhecido internacionalmente como parte de um novo ramo
jurídico, o Direito da Propriedade Intelectual, que engloba
também o direito da propriedade industrial, por ambos terem
como objeto obras intelectuais.
Bittar (2004) e Eduardo Pimenta (2004, p. 45) afirmam
que esses direitos são sui generis, ou seja, não se enquadram nem
na categoria dos direitos de propriedade (como previa o Código
Civil de 1916), nem na dos direitos de personalidade (como
defendem a jurisprudência e alguns doutrinadores, tendo em vista
os direitos morais do autor), configurando categoria nova, ligada
aos “direitos de cunho intelectual” (BITTAR, 2004, p. 10-11).
Pimenta (2004, p. 27), entre as teorias que buscam enquadrar
o Direito Autoral – e que são responsáveis pela considerável
divergência acerca do tema, relaciona algumas:

[...] teoria do privilégio ou do monopólio legal do autor (Randa e


Renouard); teoria do contrato tácito entre autor e a sociedade (Marion);
teoria da obrigação delitual do contrafator (Gerber e Laban); teoria
da propriedade intelectual, com as suas evoluções, como teoria dos
bens jurídicos imateriais (Kohler e Stobbe); teoria da propriedade (Del
Giudice); teoria do usuário autoral (Miraglia e Ottolengui); teoria da
propriedade sui generis (Vidari e Astuni); teoria da propriedade da forma
(Lasson); teoria do direito patrimonial (Chironi); teoria do direito da
personalidade (Kant e Gierke); teoria da personalidade pensante (Piola
Caslli); teoria dos direitos sobre bens intelectuais (Picard); teoria do
duplo caráter ‘real e pessoal’ (Riezler), com evoluções predominantes
para o pessoal, ora para o real; outros atribuem a cada um desses
elementos uma fase dos direitos do autor (Bianchi e Brini).

Mas, independentemente da natureza jurídica dos direitos


autorais, perante a legislação brasileira, seus principais elementos
são identificáveis e serão estudados a seguir.

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Direito Autoral 41

Autoria e Titularidade
Apesar de a proteção do Direito Autoral recair sobre a obra
em si, e não sobre o autor dessa obra, a figura do autor é crucial
nesse conceito. Como visto na descrição histórica já relatada, é a
partir da necessidade de proteção desse sujeito que se vislumbra
o Direito Autoral como se encontra hoje.
Newton Silveira (1998, p. 15) explica a relação entre o autor
e sua obra:

[...] o fundamento do direito sobre tais obras se explica pela própria


origem da obra, do indivíduo para o mundo exterior. A obra lhe
pertence originalmente pelo próprio processo de criação; só a ele
compete decidir revelá-la pondo-a no mundo, e esse fato não destrói a
ligação original entre obra e autor.

Assim, para a Lei n. 9.610/1998, artigo 11, autor é toda


“[...] pessoa física criadora de obra literária, artística ou científica”.
O parágrafo único, por sua vez, prevê a possibilidade de ampliação
desse direito às pessoas jurídicas, mas não dispõe expressamente
que pessoas jurídicas podem ser consideradas autoras. Em outras
palavras, para o direito brasileiro, o autor sempre é a pessoa física
e não a pessoa jurídica. À pessoa jurídica cabe o exercício da
titularidade do Direito Autoral e não a autoria12. Pode-se citar
o caso da obra coletiva, na qual o titular originário dos direitos
autorais poderá ser uma pessoa jurídica organizadora dessa obra.
Vale ressaltar, entretanto, que essa autoria não exclui o direito
moral de cada autor individualmente. Tal entendimento advém da
própria redação do artigo 17 da LDA que trata das obras coletivas.
No entanto, o que deve remanescer claro é que a pessoa
física é o único autor primígeno da obra, uma vez que o ser

12
A principal diferença em ser ou não autor está na legitimidade para o exercício
dos direitos morais, que serão estudados posteriormente.

Volume I
42 Direito Autoral

humano é o único indivíduo com capacidade criativa e detentor


de engenhosidade para criação de obras intelectuais.
Para ilustrar a condição humana do autor de obra intelectual,
cumpre mencionar um exemplo que se tornou notório. No ano
de 2015, uma organização de proteção animal, denominada
Peta (Pessoas pelo Tratamento Ético dos Animais), ajuizou uma
demanda judicial em nome do Naruto (primata) que alegadamente
teria o direito autoral a uma fotografia. A referida discussão
judicial provocou inúmeros debates técnicos e, por fim, concluiu-
se que o primata não teria direito autoral da sua fotografia, por se
tratar de animal e não de figura humana, o que inviabilizaria, por
conseguinte, a sua condição como autor (WELLE, 2018).
O artigo 17 da Lei n. 9.610/1998 também prevê que,
no caso de obras coletivas, caberá ao organizador da obra a
titularidade dos direitos patrimoniais sobre o conjunto dessa
obra. Contudo, essa titularidade não lhe dá a prerrogativa de
infringir os direitos morais do autor, especialmente o direito de
paternidade e o direito de integridade. Em outras palavras, para
exemplificar, ainda que a empresa tenha todos os direitos autorais
sobre o livro que organizou qualquer alteração feita na obra que
venha a prejudicar ou atingir a reputação ou honra de qualquer
dos autores envolvidos, sem sua autorização, o autor que se sentir
lesado poderá reivindicar seu direito moral sobre a integridade da
obra, com base no artigo 24, IV, da Lei n. 9.610/1998.
Assim estabelece o artigo 17, da Lei n. 9.610/1998:

Art. 17. É assegurada a proteção às participações individuais em obras


coletivas.
§ 1º. Qualquer dos participantes, no exercício de seus direitos morais,
poderá proibir que se indique ou anuncie seu nome na obra coletiva,
sem prejuízo do direito de haver a remuneração contratada.
§ 2º. Cabe ao organizador a titularidade dos direitos patrimoniais sobre
o conjunto da obra coletiva. [...]

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Direito Autoral 43

O artigo 88 da LDA, por seu turno, também determina a


proteção do autor, como indivíduo, na obra coletiva:

Art. 88. Ao publicar a obra coletiva, o organizador mencionará em cada


exemplar: [...]
II – a relação de todos os participantes, em ordem alfabética, se outra
não houver sido convencionada; [...]
Parágrafo único. Para valer-se do disposto no § 1º do Art. 17, deverá
o participante notificar o organizador, por escrito, até a entrega de sua
participação.

Nesse ínterim, Silveira (1998, p. 62) ressalta a


correspondência entre o artigo17 da LDA e a norma constitucional
(art. 5°, XXVIII), ao determinar que cabe à pessoa física do autor
o direito moral sobre a obra, assim como, ao organizador, cabem
os direitos patrimoniais:

Nessa linha, e respondendo ao imperativo constitucional de assegurar


proteção às participações individuais em obras coletivas, a bona lei
define, no Art. n.5°, VIII, h, obra coletiva: [...]
Isso feito pretende pelo Art. 17, dar cumprimento à norma
constitucional, garantindo, em seu § 1°, o direito moral do “participante
individual” e estabelecendo, no § 2°, que ‘cabe ao organizador a
titularidade dos direitos patrimoniais sobre o conjunto da obra coletiva.

Cabe destacar a distinção entre autoria e titularidade. Autor


é quem cria e titular é o detentor dos direitos patrimoniais sobre
a obra criada. Assim, a título de exemplo: a menos que haja
algum contrato estipulando que os direitos autorais patrimoniais
sobre determinada obra, a ser criada, será de pessoa física ou
jurídica diversa do autor, o titular originário da obra será o autor.
Contudo, existe a possibilidade de esse autor fazer um contrato
no qual se compromete a criar algo para outra pessoa, sendo
estipulado nesse contrato que os direitos autorais patrimoniais
serão de quem o contratou. Portanto, nesse caso, o titular da obra
será o contratante.

Volume I
44 Direito Autoral

Uma vez criada a obra, caso o titular ceda os direitos


patrimoniais sobre a obra a outrem, esse cessionário passa a ser o
titular derivado daquela obra. No entanto, é importante enfatizar
que esses casos específicos devem trazer cláusulas expressas
em seus instrumentos jurídicos de contrato, cessão, licença ou
autorização, uma vez que os negócios jurídicos sobre os direitos
autorais interpretam-se restritivamente, conforme preceituado no
artigo 4º da Lei n. 9.610/1998.
Além dos conceitos de titularidade e de autoria, é importante
ater-se ao fato de que o autor pode fazer sua criação em conjunto
com outros autores. O direito de autor, então, admite coautoria
(BRASIL, 1998, art. 15). No entanto, não se considera coautor
quem simplesmente auxiliou o autor na produção da obra
literária, artística ou científica, revendo-a, atualizando-a, bem
como fiscalizando ou dirigindo sua edição ou apresentação por
qualquer meio (BRASIL, 1998, art. 15, §1º).
Para ser considerado autor, faz-se necessário que o alegante
tenha, efetivamente, contribuído com a elaboração e a inserção de
conteúdo criativo na obra, razão pela qual é importante ratificar
que eventuais correções gramaticais ou mesmo adequações
linguísticas, como formato jornalístico, atuação de muitos
editores, não conferem a prerrogativa do reconhecimento da
coautoria a esses profissionais, a menos que seja demonstrada a
contribuição criativa.
A obra em coautoria ainda pode ser classificada em
obra divisível ou indivisível. Divisível é aquela sobre a qual é
possível individualizar a obra de cada coautor, sendo, nesse caso,
asseguradas a cada coautor as faculdades inerentes à sua criação,
desde que não prejudique a exploração da obra comum (BRASIL,
1998, art. 15, §2º). Já no caso da obra indivisível, é impossível
individualizar obra de cada coautor.

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Direito Autoral 45

Ressalta-se que quando uma obra feita em regime de


coautoria não puder ser dividida, nenhum dos coautores poderá
publicá-la ou autorizar sua publicação sem consentimento
dos demais autores da criação, salvo na coleção de suas obras
completas (BRASIL, 1998, art. 32).
Se no momento da utilização da obra existir conflitos de
interesses entre os coautores da criação, a vontade da maioria
prevalecerá. Sendo assim, caso um dos coautores decida por abrir
mão dos direitos patrimoniais da criação, ele não contribuirá
para as despesas de publicação, de divulgação, entre outras, mas
também não terá direito aos ganhos decorrentes dela. O coautor
dissidente possui, ainda, o direito de exigir que o seu nome seja
mencionado ou omitido da autoria da obra (BRASIL, art. 32).
Um tema importante e por vezes polêmico é a questão do
autor empregado, ou seja, aquele vinculado a um determinado
contrato de trabalho. Importante destacar que as lógicas entre
os dois ramos do Direito (autoral e trabalhista) são diferentes e
se contrapõem. Sobre essa questão, a posição do Direito Autoral
e do Direito Trabalhista é antagônica, mas pode e deve ser
harmonizada. No primeiro, a titularidade é do criador da obra;
no segundo, a titularidade é do empregador.
Os direitos morais não serão atingidos pelos contratos
celebrados, sejam de natureza trabalhista, cível ou autoral.
A construção doutrinária e jurisprudencial tem sido no
seguinte sentido, após a rescisão do contrato de trabalho, se a
obra continuar sendo utilizada pelo empregador, o Direito
Autoral dá suporte para o pleito do autor da obra. Enquanto viger
o contrato de trabalho, há uma espécie de licença obrigatória
para o empregador utilizar aquela obra do empregado, dentro das
finalidades institucionais. A partir do momento que se encerrou o
contrato de trabalho, a utilização da obra intelectual por parte do
empregador é ilícita. Segundo Panzolini e Demartini (2017, p. 32),

Volume I
46 Direito Autoral

“O Superior Tribunal da Justiça (STJ) definiu que as demandas


devem ser resolvidas no âmbito privado”. Logo, o empregador,
segundo os autores, tem o “[...] direito patrimonial, até o fim do
contrato, conforme atividade primária do empregador, o que é
próprio da funcionalização do direito autoral [...]”(PANZOLINI;
DEMARTINI, 2017, p. 32).
Outro tema importante é quando o autor é contratado para
fazer obras sob encomenda. São inúmeras as situações em que
se faz a produção de obras intelectuais para outrem, sobretudo
quando há vínculos empregatícios ou contratuais. Nesses casos,
ocorre da mesma forma que analisado anteriormente, há a relação
de prestação de serviços das obras encomendadas, portanto, se
prevê a contratação de um produto, no caso, uma obra.
Em diferentes legislações internacionais, os entendimentos
dessa questão se mostram bifurcados. Em países de tradição
jurídica anglo-saxônica, o direito de autor sobre obras realizadas
em virtude de um contrato de prestação de serviço ou vínculo
empregatício pertence inicialmente ao empregado/contratado,
mas considera-se como cedidos ao empregador/contratante. Por
outro lado, já na tradição do direito romano, o Direito Autoral, nas
mesmas condições de feitura, pertence ao autor, a menos que o
contrato de trabalho ou prestação de serviço estipule outra coisa.
O contrato estabelecido entre as partes é muito importante,
ele se presumirá oneroso (embora possa ser previsto um contrato
gratuito, que deve ser expressa), conforme prevê o artigo 49, da
Lei n. 9.610/1998). Ademais, deverá ser prévia e expressa para
que seja considerada uma cessão.
Um primeiro ponto a ser tratado é com relação à autoria
da obra e seus direitos morais. Com relação aos direitos autorais,
no que tange à obra encomendada, indiscutivelmente, serão do
empregado ou do prestador de serviço, autor, até pela própria
estrutura normativa e natureza jurídica. No que tange à titularidade

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Direito Autoral 47

patrimonial, a LDA, em relação a esse mote, prega que a solução


deve estar negociada no contrato de trabalho ou de serviço.
No caso de autor de obra audiovisual, existem diversos
coautores: autor do argumento literário (quem escreveu), o autor
musical (deve ser a trilha sonora, ou seja, não pode ser qualquer
música) e o diretor. O roteirista não foi contemplado. O exercício
dos direitos morais cabe exclusivamente ao diretor.
No caso da titularidade das obras audiovisuais, essas
regras variam conforme os países. Sobre o assunto, Panzolini e
Demartini (2017, p. 33) aduzem:

a) No países de Common law: produtor autor ou titular do direito. EUA


e Reino Unido, sendo que nesse último se atribuiu Direito Moral do
produtor.
b) Continental europeu ou latina: somente as pessoas físicas podem ser
titulares de Direito Autoral. Países de tradição latina: obras audiovisuais
são consideradas obras em colaboração: autores: autor do argumento
literário e o diretor. Limitação do direito de autor para fazer acontecer.
Nos países latinos: presunção de cessão de direitos patrimoniais ao
produtor. Presunção iuris tantum.

Além disso, o autor pode ser identificado pela natureza


de sua obra, devido à forte vinculação produzida pela formação
profissional. Panzolini e Demartini (2017, p. 33-35) exemplificam:

Autor de desenhos animados – Desenhos animados: considerados


autores, que cria os desenhos.
Autor de obras arquitetônicas (é o arquiteto, mas pode ceder a
titularidade dos direitos para o escritório) – Obras arquitetônicas: o
autor da obra arquitetônica pode repudiar a autoria do projeto.
Autor de obra de artes plásticas – O autor é quem criou a obra e,
aqui, há direito de sequência (irrenunciável e inalienável), o autor tem o
direito, irrenunciável e inalienável, de perceber, no mínimo, cinco por
cento sobre o aumento do preço eventualmente verificável em cada
revenda de obra de arte ou manuscrito, sendo originais, que houver
alienado.

Volume I
48 Direito Autoral

Por lei:
Caso o autor não perceba o seu direito de sequência no ato da revenda,
o vendedor é considerado depositário da quantia a ele devida, salvo se
a operação for realizada por leiloeiro, quando será este o depositário.
Autor de obra jornalística – O direito de utilização econômica dos
escritos publicados pela imprensa, diária ou periódica, com exceção
dos assinados ou que apresentem sinal de reserva, pertence ao editor,
salvo convenção em contrário.
Autor de obra musical adaptada, traduzida, arranjada ou
orquestrada – É titular de direitos de autor quem adapta, traduz,
arranja ou orquestra obra caída no domínio púbico, não podendo opor-
se a outra adaptação, arranjo, orquestração ou tradução, salvo se for
cópia da sua.
Autor servidor público – Há três hipóteses que a Administração
Pública pode-se tornar detentora de direitos autorais:
a) Atividade de fomento da cultura: Constitucionalmente, ao Estado
cabe incentivar e valorizar a cultura, por meio de subvenção de obras
protegidas. Não obstante, a LDA ratifica não pertencer à Administração
Pública as obras por ela simplesmente subvencionadas, de forma que
os direitos autorais pertencerão exclusivamente aos criadores da obra
intelectual, sob análise.
b) Contratando obras intelectuais: Encomendante deterá os direitos
patrimoniais, uma vez que os direitos morais são inalienáveis e
intransmissíveis, ficando, portanto, com o autor originário.

O Tribunal de Contas da União (TCU) já aprofundou


a questão após consulta formulada pelo Fundo Nacional de
Desenvolvimento da Educação (FNDE), oportunidade em que o
órgão perguntou se os manuais produzidos com verba do FNDE
seriam enquadrados como obras intelectuais e, por conseguinte,
seriam protegidos pela lei de Direito Autoral.
Panzolini e Demartini (2017, p. 35-36, grifo nosso)
destacam o acórdão TCU n. 883/2008 – Plenário, o Tribunal, o
qual consolidou o entendimento no seguinte sentido:

A Administração Pública poderia contratar a criação de obras


intelectuais protegidas como manuais e cadernos produzidos pelo

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Direito Autoral 49

FNDE. Caso seja de interesse da Administração obter a titularidade


dos direitos patrimoniais sobre obra protegida contratada, deverá
prever expressamente a transmissão destes direitos no contrato a ser
firmado com o autor:
- Faz-se necessário que haja previsão expressa de transmissão dos
direitos patrimoniais para a Administração Pública. Caso contrário,
ainda que haja verba do Erário, uma vez encomendado pela
Administração Pública, ainda sim, será do autor.
- Quando da encomenda de uma obra autoral, a Administração Pública
deve se cercar da cautela de providenciar um instrumento jurídico
prévio e expresso que preveja a transmissão de direitos patrimoniais
à AP, para evitar eventuais contratempos ou dúvidas. Neste sentido,
destaca-se o Art. 111 da Lei 8.666/93, in verbis: “A Administração só
poderá contratar, pagar, premiar ou receber projeto ou serviço técnico especializado
desde que o autor ceda os direitos patrimoniais a ele relativos e a Administração
possa utilizá-lo de acordo com o previsto no regulamento de concurso ou no ajuste
para sua elaboração”.

Dessa forma, Panzolini e Demartini (2017, p. 36, grifo


nosso) concluem:

Para as obras criadas no estrito cumprimento de dever funcional


não se aplica o regime da livre disposição entre as partes, razão pela
o Direito Autoral seria exclusivo da Administração Pública. Por outro
lado, com relação àquelas obras produzidas e não afetas diretamente
ao objeto do trabalho do autor, essas obras seriam exclusivamente do
autor e não da Administração Pública.

Tais direitos fazem parte até mesmo das faculdades


vinculadas ao autor por seus direitos morais, que junto com os
direitos patrimoniais do autor serão estudados a seguir.

Direito Moral e Direito Patrimonial


Decorrem do Direito do Autor os direitos morais e os
direitos patrimoniais. Ao ser a obra protegida por Direito Autoral,
é garantido ao seu criador “[...] um reconhecimento moral e uma

Volume I
50 Direito Autoral

participação financeira em troca da utilização da obra que ele


criou.” (AFONSO, 2009, p. 10).
Os direitos morais são aqueles intimamente ligados à pessoa
do autor da obra fixada. É o direito que cada criador tem de ter
o seu nome devidamente reconhecido pelo trabalho intelectual
que realiza e, consequentemente, o direito da sociedade de ter o
conhecimento do verdadeiro autor das obras apresentadas a ela.
Por esse motivo, os direitos morais são intransferíveis, inalienáveis
e irrenunciáveis (BRASIL, 1998, art. 27).
Nesse sentido, é oportuno mencionar que os direitos
morais estão intimamente ligados à dignidade da pessoa humana,
assegurado como fundamento constitucional. Referido aspecto
ganha relevância, na medida em que o Direito Autoral brasileiro
é decorrente da vertente internacional do Droit D´Auteur, oriunda
do civil law e do direito continental, que privilegia o viés moral
e, portanto, a dignidade da figura humana, sobretudo. Já os
países anglo-saxões, oriundos do common law, privilegiam o viés
patrimonial em detrimento dos direitos morais.
Conforme o artigo 24 da Lei de Direito Autoral, são direitos
morais do autor:

I – o de reivindicar, a qualquer tempo, a autoria da obra;


II – o de ter seu nome, pseudônimo ou sinal convencional indicado ou
anunciado, como sendo o do autor, na utilização de sua obra;
III – o de conservar a obra inédita;
IV – o de assegurar a integridade da obra, opondo-se a quaisquer
modificações ou à prática de atos que, de qualquer forma, possam
prejudicá-la ou atingi-lo, como autor, em sua reputação ou honra;
V – o de modificar a obra, antes ou depois de utilizada;
VI – o de retirar de circulação a obra ou de suspender qualquer forma
de utilização já autorizada, quando a circulação ou utilização implicarem
afronta à sua reputação e imagem;
VII – o de ter acesso a exemplar único e raro da obra, quando se
encontre legitimamente em poder de outrem, para o fim de, por meio

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Direito Autoral 51

de processo fotográfico ou assemelhado, ou audiovisual, preservar


sua memória, de forma que cause o menor inconveniente possível a
seu detentor, que, em todo caso, será indenizado de qualquer dano ou
prejuízo que lhe seja causado. (BRASIL, 1998, art. 24)

Vale ressaltar que o direito de reivindicar a autoria de uma


obra, de ter seu nome reconhecido como autor, de conservar a
obra inédita e de assegurar a integridade da obra é um direito
moral transferido aos herdeiros após a morte do autor (BRASIL,
1998, art. 24, §1º). Além disso, o direito moral sobre obras
audiovisuais pertencem exclusivamente ao respectivo diretor da
criação (BRASIL, 1998, art. 25).
Uma curiosidade é que o termo “direito moral” não
tem seu uso pacífico entre os doutrinadores. Alguns criticam
afirmando que todo direito é moral, assim, ao usar o termo moral,
pressupõe-se que existe outro imoral (GONZALEZ LOPEZ,
1993, p. 81). Também não seria adequado usar os termos “direito
moral” e “direito econômico”. Vários termos foram criados
para substituir o termo “direito moral”, mas sem sucesso, como:
“direitos pessoais”, “direito de paternidade intelectual”, “direito
ao respeito” (GONZALEZ LOPEZ, 1993, p. 81).
Ascensão (1997, p. 593) critica o uso desse termo
argumentando que é mais adequado chamá-lo de faculdades
pessoais, pertencentes ao direito do autor. O autor entende
que “por mais generalizado, o qualificativo ‘moral’ é impróprio
e incorreto”. Para o autor, “[...] é impróprio, pois há setores
não éticos no chamado direito moral, e é incorreto, pois foi
importado sem tradução da língua francesa. Aí se fala em
pessoas morais, danos morais, direitos morais e assim por diante”
(ASCENSÃO, 1997, p. 593). Portanto, ao falar em direito moral,
se diz, na verdade, “direito pessoal, por oposição ao direito
patrimonial”. Ascensão (1997, p. 129-130) critica igualmente o
uso das expressões “direitos patrimoniais” e “direitos morais”,

Volume I
52 Direito Autoral

no sentido de que cada direito seria mais de um direito, quer na


corrente monista, quer na dualista, e complementa:

[...] não existe à partida nenhum compromisso com a problemática da


estrutura do direito de autor. Não sabemos se há um único direito, se
dois, se muitos. Aceitamos a terminologia legal provisoriamente, só por
ser corrente. (ASCENSÃO, 1997, p. 129-130)

Como já mencionado, somente é detentor e legítimo para


o exercício dos direitos morais a pessoa física do autor. Contudo,
defende-se que se pode admitir o exercício desse direito pela
pessoa jurídica, a fim de facilitar a sua reivindicação. Porém,
recomenda-se que o titular do Direito Autoral de personalidade
seja sempre homem, a pessoa física, ainda quando se trate de
grupo de homens, em comunhão. A pessoa jurídica tem apenas o
exercício do Direito Autoral da personalidade, cumulativamente
com o exercício pelos titulares segundo regras de comunhão, ou
individualmente.
Os direitos patrimoniais referentes ao direito do autor são
aqueles direitos exclusivos do autor da obra de utilizar, de fruir e
de dispor da sua criação e que, portanto, podem ser licenciados
ou transferidos (BRASIL, 1998, art. 28). Eles são independentes
entre si, por isso, o autor pode limitar a fração desses direitos no
âmbito temporal e espacial (AFONSO, 2009, p. 39). Ademais, o
autor ainda pode exercer parte deles, licenciar outros, cedê-los.
Conforme o artigo 29 da Lei de Direito Autoral, são
exemplos de direitos patrimoniais do autor:

I – a reprodução parcial ou integral;


II – a edição;
III – a adaptação, o arranjo musical e quaisquer outras transformações;
IV – a tradução para qualquer idioma;
V – a inclusão em fonograma ou produção audiovisual;

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Direito Autoral 53

VI – a distribuição, quando não intrínseca ao contrato firmado pelo


autor com terceiros para uso ou exploração da obra;
VII – a distribuição para oferta de obras ou produções mediante cabo,
fibra ótica, satélite, ondas ou qualquer outro sistema que permita ao
usuário realizar a seleção da obra ou produção para percebê-la em
um tempo e lugar previamente determinados por quem formula a
demanda, e nos casos em que o acesso às obras ou produções se faça
por qualquer sistema que importe em pagamento pelo usuário;
VIII – a utilização, direta ou indireta, da obra literária, artística ou
científica, mediante:
a) representação, recitação ou declamação;
b) execução musical;
c) emprego de alto-falante ou de sistemas análogos;
d) radiodifusão sonora ou televisiva;
e) captação de transmissão de radiodifusão em locais de freqüência
coletiva;
f) sonorização ambiental;
g) a exibição audiovisual, cinematográfica ou por processo assemelhado;
h) emprego de satélites artificiais;
i) emprego de sistemas óticos, fios telefônicos ou não, cabos de qualquer
tipo e meios de comunicação similares que venham a ser adotados;
j) exposição de obras de artes plásticas e figurativas;
IX – a inclusão em base de dados, o armazenamento em computador, a
microfilmagem e as demais formas de arquivamento do gênero;
X – quaisquer outras modalidades de utilização existentes ou que
venham a ser inventadas. (BRASIL, 1998, art. 29)

Cumpre esclarecer que para cada modalidade de exploração


econômica da obra intelectual, faz-se necessária uma respectiva
autorização por parte do autor da obra ou do titular de direitos,
visto que os negócios jurídicos no âmbito do Direito Autoral
interpretam-se restritivamente e os usos não se comunicam.
Assim, o autor pode explorar ou autorizar a exploração
das seguintes formas: direitos de reprodução; direitos de
comunicação pública; e direitos de transformação. No caso dos
direitos de reprodução, a obra, no todo ou parte dela, poderá

Volume I
54 Direito Autoral

ser editada, reproduzida, na forma material. Nos direitos de


comunicação pública, a obra é exposta ao público, executada,
representada, seja por meio da radiodifusão, em distribuição por
redes de cabo, etc., de forma não material. No caso dos direitos
de transformação, a obra será explorada por meio da criação de
obras derivadas a partir da original como traduções, adaptações,
revisões, antologias, etc. (AFONSO, 2009, p. 40).
Dentro dessas prerrogativas dos direitos patrimoniais,
existe o direito de sequência, no caso específico das artes plásticas,
que é quando ao autor, ao alienar uma obra para terceiro explorá-
la, por qualquer dos meios já relacionados, poderá participar da
“mais-valia” da obra. Ou seja, o autor poderá se beneficiar caso a
obra aumente seu preço. Esse direito está regulado pelo artigo 38
da Lei n. 9.610/1998 e é irrenunciável e inalienável.

O autor tem o direito, irrenunciável e inalienável, de perceber, no


mínimo, cinco por cento sobre o aumento do preço eventualmente
verificável em cada revenda de obra de arte ou manuscrito, sendo
originais, que houver alienado.
Parágrafo único. Caso o autor não perceba o seu direito de seqüência
no ato de revenda, o vendedor é considerado depositário da quantia a
ele devida, salvo se a operação for realizada por leiloeiro, quando será
este o depositário. (BRASIL, 1998, art. 38)

É importante mencionar o direito de distribuição, que


também é uma prerrogativa dos direitos patrimoniais do autor.
Segundo Afonso (2009, p. 45), “[...] o direito de distribuição é a
faculdade exclusiva do autor ou do titular do direto de autorizar
a colocação à disposição do público, de uma obra ou de suas
cópias”. Com esse direito vem o princípio da exaustão dos
direitos, ou também conhecido como a doutrina da “primeira
venda”. Segundo Afonso (2009, p. 45), a chamada exaustão de
direitos que tem seu fundamento no interesse da livre circulação
de obras e intercâmbio culturais. Em outras palavras, uma vez

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Direito Autoral 55

disponibilizada a obra original ou as cópias para a venda e


distribuição, não poderá o autor se opor à sua circulação.
Uma vez detentor de direitos de autor sobre sua obra, seu
criador pode optar ou não por produzir provas de seu direito.
É o que se analisará a seguir.

Proteção ao Direito de Autor: o registro


Uma vez compreendido o que é o Direito Autoral, quem é
o autor e quem é o titular e seu âmbito de proteção, tanto moral
como patrimonial, entende-se o que pode ser considerada uma
obra passível de proteção pelos direitos autorais.
O artigo 7º da Lei n. 9.610/1998, ao invés de colocar o
requisito de proteção do Direito Autoral como o fez a Lei
n. 9.279/1996, que regula direitos e obrigações relativos à
propriedade industrial, arrolou exemplos do que seriam passíveis
de proteção por Direito Autoral. O artigo 8º da LDA, por sua
vez, relacionou o que não seria passível de proteção.
Nesse sentido, deve-se ratificar que qualquer obra intelec-
tual apresenta conteúdos mínimos de originalidade e de criativi-
dade, sem juízo de valor sobre a valoração ou a conceituação do
que seja arte ou não.
Assim, são obras que podem ser protegidas por Direito
Autoral, se cumprirem o requisito da originalidade, de acordo
com o artigo 7º da LDA:

I – os textos de obras literárias, artísticas ou científicas;


II – as conferências, alocuções, sermões e outras obras da mesma
natureza;
III – as obras dramáticas e dramático-musicais;
IV – as obras coreográficas e pantomímicas, cuja execução cênica se
fixe por escrito ou por outra qualquer forma;
V – as composições musicais, tenham ou não letra;

Volume I
56 Direito Autoral

VI – as obras audiovisuais, sonorizadas ou não, inclusive as


cinematográficas;
VII – as obras fotográficas e as produzidas por qualquer processo
análogo ao da fotografia;
VIII – as obras de desenho, pintura, gravura, escultura, litografia e arte
cinética;
IX – as ilustrações, cartas geográficas e outras obras da mesma natureza;
X – os projetos, esboços e obras plásticas concernentes à geografia,
engenharia, topografia, arquitetura, paisagismo, cenografia e ciência;
XI – as adaptações, traduções e outras transformações de obras
originais, apresentadas como criação intelectual nova;
XII – os programas de computador;13
XIII – as coletâneas ou compilações, antologias, enciclopédias,
dicionários, bases de dados e outras obras, que, por sua seleção,
organização ou disposição de seu conteúdo, constituam uma criação
intelectual. (BRASIL, 1998, art. 7º, grifo nosso)

Não são objetos de proteção pelo Direito Autoral em


território brasileiro, segundo o artigo 8º da LDA:

I – as idéias, procedimentos normativos, sistemas, métodos, projetos


ou conceitos matemáticos como tais;
II – os esquemas, planos ou regras para realizar atos mentais, jogos ou
negócios;
III – os formulários em branco para serem preenchidos por qualquer
tipo de informação, científica ou não, e suas instruções;
IV – os textos de tratados ou convenções, leis, decretos, regulamentos,
decisões judiciais e demais atos oficiais;
V – as informações de uso comum tais como calendários, agendas,
cadastros ou legendas;
VI – os nomes e títulos isolados;
VII – o aproveitamento industrial ou comercial das idéias contidas nas
obras. (BRASIL, 1998, art. 8º)

No caso específico do programa de computador, não obstante seja protegido


13

pelo direito autoral, possui uma lei específica: a Lei n. 9.609, de 19 de fevereiro
de 1998, conhecida como Lei do Programa de Computador.

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Direito Autoral 57

É possível classificar os tipos de obras passíveis de proteção,


conforme alega Afonso (2009, p. 16-19):

a) Obra originária e obras derivadas: originária é a aquela que foi criada


por primeiro, é o que denominamos de obra primígena, já a derivada
é criada a partir de uma obra originária sem a participação do autor
originário. As obras derivadas são possíveis desde que autorizado
pelo autor da obra originária, como já estudado anteriormente, ou
se utilizada uma obra que esteja em domínio público, caso em que a
autorização do autor originário não será necessária. Uma vez autorizada
a transformação, o autor da obra derivada possui direitos autorais
(tanto morais, como patrimoniais) sobre a obra derivada. Exemplos de
obras derivadas são as obras traduzidas, adaptadas, dentre outras;
b) Obras anônimas e pseudônimas: anônimas são aquelas obras
publicadas sem a indicação do autor, enquanto as pseudônimas são
as publicadas com um nome distinto do real autor. As primeiras –
anônimas – assim o são por vontade do próprio autor ou por ele ser
desconhecido. No caso de ser anônima por solicitação do autor, apenas
o editor saberá quem ele é, e assim, caberá a ele o exercício dos direitos
patrimoniais do autor. (BRASIL, 1998, art. 40)
c) Obras comuns, também chamadas de obras em colaboração (esta
última tinha previsão legal na lei anterior, de 1973 – art. 4º, V, “a”, da
Lei n. 5.988/1973, o que não foi repetida na lei atual): são aquelas obras
realizadas por mais de um autor por meio de colaboração mútua no
processo de criação, resultando em uma obra indivisível. O legislador
atual, ao não repetir a previsão desta obra, a colocou como sendo uma
obra coletiva ou em coautoria. (BRASIL, 1998, art. 5º, VIII, “a” e “h”)
d) Obras compostas: obra oriunda da reunião de várias obras de
autores diversos, mas que tenham a mesma natureza, mas que de forma
diversa das obras comuns, os coautores não a criaram em comunhão,
comunicando-se entre si para sua construção.
e) Obras coletivas: são as obras criadas: “a criada por iniciativa,
organização e responsabilidade de uma pessoa física ou jurídica, que
a publica sob seu nome ou marca e que é constituída pela participação
de diferentes autores, cujas contribuições se fundem numa criação
autônoma”. (BRASIL, 1998, art. 5º, VIII, “h”)
f) Traduções: são obras derivadas de uma obra original, modificando-a
em seu idioma. São protegidas pelos mesmos direitos autorais morais e
patrimoniais. Precisam de autorização para existir.

Volume I
58 Direito Autoral

g) Arranjos musicais: são obras derivadas que modificam uma obra


originária fazendo ajustes para sua adequação a uma nova linguagem,
tal como para uma orquestra. Neste caso, a obra arranjada possui
seus direitos autorais, assim como os arranjos de originalidade criativa
possui seus direitos autorais.
h) Adaptações: são obras derivadas que modificam uma obra original
de um gênero para outro, ou ainda fazendo variações da obra para
públicos diferentes, por exemplo.
i) Compilações: são obras que reúnem obras originais formando
enciclopédias, antologias, bases de dados.

O artigo 12 da LDA prevê as possibilidades de identificação


do autor, entre essas possibilidades, o pseudônimo. No caso da
obra publicada com pseudônimo, Afonso (2009, p. 17) aduz que
o “[...] exercício dos direitos morais somente será possível se o
autor abandonar o anonimato, visto que tais direitos não são
transmissíveis”.
Diferente de outros tipos de direitos provenientes da
propriedade intelectual, a proteção aos Direitos Autorais
independe de registro, conforme dispõe o artigo 18 da Lei n.
9.610/98.
Segundo essa determinação, mesmo que o autor nunca te-
nha solicitado o registro de sua criação junto ao órgão compe-
tente ou que já o tenha solicitado, mas ainda não tenha o seu
registro devidamente deferido, ainda assim, todos os direitos de
autor decorrentes da criação serão resguardados ao seu verdadei-
ro criador.
Nesse sentido, pode-se depreender que o registro para
fins do Direito Autoral é eminentemente declaratório (e não
constitutivo, por conseguinte), uma vez que para ser atribuído
como autor basta que a obra seja exteriorizada e afixada num
suporte tangível ou intangível.
No caso do Direito Autoral, devido à grande diversidade
das criações que podem ser protegidas, existem vários órgãos

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Direito Autoral 59

específicos para a realização do registro de cada tipo de criação,


a partir da natureza de cada uma delas. Esses órgãos possuem as
normas e exigências próprias que devem ser seguidas para realizar
o registro pretendido.
A seguir, no Quadro 1 constam as instituições nas quais
se deve solicitar o registro conforme a criação que se pretende
proteger.

Quadro 1: Entidade responsável pelo Registro de Direito Autoral no Brasil

Entidade Responsável pelo Registro de


Tipo de Criação
Direito Autoral no Brasil
Agência Nacional do Cinema.
Obras audiovisuais
Disponível em: <www.ancine.gov.br>
Fundação Biblioteca Nacional.
Obras literárias
Disponível em: <www.bn.br>
Escola de Belas Artes.
Obras artísticas
Disponível em: <www.eba.ufrj.br>
Escola de Música.
Disponível em: <www.musica.ufrj.br>
Partituras de músicas
Fundação Biblioteca Nacional.
Disponível em: <www.bn.br>
Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura -
Plantas ou projetos
Unidade da Federação (CREA-DF).
de arquitetura
Disponível em: <www.confes.org.br>
Programas de Instituto Nacional da Propriedade Industrial.
computador Disponível em: <www.inpi.gov.br>
Fonte: Jungmann e Bonetti (2010)

Ante a facultatividade do registro do direito de autoria,


pode-se ter a equivocada impressão de que registrar uma criação
não tenha uma utilidade ou não gere vantagem ao seu autor. Tal
pensamento, contudo, não condiz com a realidade, uma vez que

Volume I
60 Direito Autoral

o registro de um trabalho intelectual realizado é importantíssimo


na hora de se fazer prova de sua real autoria ou no momento de
se comercializar a obra.
Não é raro ter o conhecimento de eventuais litígios judiciais
entre duas ou mais pessoas que alegam serem autoras de uma
obra intelectual14, principalmente quando a obra intelectual teve
grande repercussão na mídia e um retorno financeiro considerável.
O registro é facultativo, mas é uma forte prova para eventuais
conflitos, garantindo uma proteção mais efetiva para o autor na
gestão de seus direitos autorais.
Portanto, a produção do registro para fins do Direito Au-
toral é muito recomendável, na medida em que facilita a compro-
vação da anterioridade, enseja a presunção relativa (iuris tantum),
ou seja, significa que a obra presume-se de autoria daquele autor,
gera efeito a terceiros, viabiliza a publicidade das informações e
14
Veja-se, por exemplo, o caso da Campanha publicitária da Kaiser Cerveja
Nota 10, julgado no STJ, pelo Recurso Especial n. 655.035 – PR, o qual deu
ganho de causa ao publicitário que criou a referida campanha, registrou, e,
anos depois, ingressou com a ação se opondo à campanha promovida pela
Kaiser sem sua autorização. Houve discussões até sobre diferenças entre as
campanhas e as coincidências criativas, mas, no fim, o registro teve um forte
peso probatório no caso. BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. DIREITOS
AUTORAIS. VEICULAÇÃO DE CAMPANHA PUBLICITÁRIA SEM
AUTORIZAÇÃO DE SEU CRIADOR. INDENIZAÇÃO. DIREITOS
MORAIS E PATRIMONIAIS. REGISTRO. PUBLICIDADE. LEIS n.
5.988⁄73 e n. 9.610⁄98. – A proteção dos direitos de autor independe de registro,
que é facultativo. Efetivado, o registro resguarda os direitos e vale como prova
de anterioridade. A hipótese de coincidência criativa é uma das que motivam o
autor a registrar seu trabalho (Lei n. 5.988⁄73, art. 17 seg.). – A não divulgação
do inteiro teor de obra registrada não implica seu desconhecimento por
terceiro. Se o registro acusava a existência de obra semelhante à utilizada pelas
recorridas, caberia a elas procurar o autor para conhecer o trabalho e, em sendo
o caso, conseguir autorização de uso. – O registro por terceiro da expressão
publicitária no INPI não afasta o direito do recorrente, relativos à criatividade
e originalidade do slogan criado. O INPI sequer é órgão competente por tal
registro (Art. 124, VII, da Lei n. 9.279⁄96). Tal efeito somente ocorre quando
o registro é feito em um dos órgãos relacionados no artigo 17 da Lei n.
5.988⁄73. Recurso Especial n. 655.035 – PR. Recorrente: Luiz Eduardo Régnier
Rodrigues. Recorrido: Newcomm Bates Comunicação e Marketing Ltda. e
Outro. Rel. Min. Humberto Gomes de Barros. Brasília, 13 de agosto de 2007.

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Direito Autoral 61

se consubstancia numa obra de grande relevância, caso seja utili-


zada em demandas judiciais ou administrativas, em detrimento de
obras eminentemente testemunhais.
Contudo, essa proteção é limitada no tempo, fazendo com
que obras protegidas por Direito Autoral estejam em domínio
público após o prazo legal.

A Duração dos Direitos de Autor e o Domínio


Público
O prazo de proteção dos direitos patrimoniais do autor
abrange todo o transcurso de sua vida e mais 70 anos, contados a
partir de 1° de janeiro do ano subsequente ao de seu falecimento
(BRASIL, 1998, art. 41). O assunto domínio público sempre
provoca repercussão, porque delimita o início do acesso ao público
e da exploração econômica da obra por terceiros, conforme se
depreende por meio de alguns exemplos de conhecimento da
sociedade, como o debate sobre o tempo de proteção do Mickey
Mouse (LEMOS, 2005), do Diário de Anne Frank e do O Pequeno
Príncipe.
Se o autor for desconhecido, por sua obra ser anônima ou
por usar pseudônimo, não é possível saber a data de sua morte.
Assim, aplica-se o disposto no artigo 43 da Lei n. 9.610/1998,
que conta o prazo de 70 (setenta anos) a partir de 1° de janeiro
do ano subsequente ao da primeira publicação da obra. Caso se
descubra o nome do autor e a data da sua morte antes do termo
final da proteção, aplica-se a regra do artigo 41, contando os 70
anos a partir de 1º de janeiro ao ano subsequente ao falecimento
(HAMMES, 2002, p. 123).
Caso a obra em coautoria for indivisível, não sendo
possível saber qual parte é de quem, o prazo de 70 anos é contado
a partir da morte do último autor. Se um dos coautores não

Volume I
62 Direito Autoral

deixar sucessores, seus direitos serão transmitidos aos coautores


sobreviventes (BRASIL, 1998, art. 42).
São estipulados, também, prazos especiais de proteção.
É o caso das obras audiovisuais e fotográficas, cujo prazo é de
60 (sessenta) anos contados a partir de 1° de janeiro do ano
subsequente ao da divulgação (BRASIL, 1998, art. 44). No caso
de jornais, o prazo é de um ano após a publicação do último
número; se o jornal for anual, o prazo será de dois anos (BRASIL,
1998, art. 10, parágrafo único). Outro prazo especial é o de 50
(cinquenta) anos para proteção de programas de computador,
contados a partir de 1° de janeiro do ano subsequente ao de sua
publicação ou criação (BRASIL, 1998, art. 2°, § 2°).
Esses prazos são válidos para os direitos patrimoniais. No
caso dos direitos morais, a lei não é tão clara quanto a duração.
A Lei n. 9.610/1998, em seu artigo 24, estipula o seguinte:

§ 1º Por morte do autor, transmitem-se a seus sucessores os direitos a


que se referem os incisos I a IV.
§ 2º Compete ao Estado a defesa da integridade e autoria da obra caída
em domínio público.
§ 3º Nos casos dos incisos V e VI, ressalvam-se as prévias indenizações
a terceiros, quando couberem. (BRASIL, 1998, art. 24)

Como se vê, os direitos de reivindicar a autoria, de ter o


nome mencionado, de conservar a obra inédita e de assegurar
a integridade da obra são transmitidos aos herdeiros (incisos I
a IV da LDA), embora não se estabeleça por quanto tempo os
herdeiros gozarão de tais direitos. Pela análise do § 2° do artigo
24 da Lei n. 9.610/1998, pode-se argumentar que os direitos
morais já referidos vigerão enquanto os direitos patrimoniais
estiverem em vigor, com exceção dos referentes à integridade e à
reivindicação da autoria, que devem ser assegurados pelo Estado.

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Direito Autoral 63

Em outras palavras, dos sete direitos morais relacionados no


artigo 24 da Lei n. 9.610/1998, dois vigeriam enquanto durassem
os direitos patrimoniais: o direito de ter o nome ligado à obra e
o de mantê-la inédita. Outros dois, por sua vez, seriam perpétuos
ou ficariam válidos enquanto durar a obra, sendo dever do Estado
garantir esses direitos depois que a obra cair em domínio público:
o direito à integridade e à reivindicação da autoria.
Quanto aos três restantes – o direito de modificação, o
de arrependimento e o de ter acesso a exemplar único e raro da
obra –, a Lei n. 9.610/1998 apenas contempla os dois primeiros,
ressalvando as indenizações prévias a terceiros, quando couberem.
Nada consta, pelo menos expressamente, sobre a duração desses
direitos.
Sobre esse assunto, existem alguns posicionamentos
doutrinários. Para Hammes (2002, p. 124 e 125), os direitos morais
findam com a morte do autor, excetuando-se os transmitidos
aos sucessores por força do §1° do artigo 24 da LDA. Ele não
considera os direitos morais sinônimos de direito personalíssimo.
Ascensão (1997, p. 281) afirma que o fato de a lei não
determinar a duração dos direitos morais não significa que eles
sejam considerados perpétuos de forma generalizada, como faz
a lei francesa:

[...] efetivamente, nos termos do art. 25, § 1° [atual art. 24, § 1°, da
LDA], são direitos personalíssimos o direito de modificação e o direito
de arrependimento: estes não são susceptíveis de sucessão, extinguindo-
se, portanto, em caso de morte do criador intelectual.

Contudo, para alguns direitos, Ascensão (2002, p. 338)


defende que não se pode negar proteção perpétua, como o da
integridade e da genuinidade da obra, ainda que essa obra tenha
caído em domínio público, cabendo ao Estado efetivá-la por

Volume I
64 Direito Autoral

força do § 2°, artigo25, da lei de 1973 (atual § 2° do artigo24 da


Lei n 9.610/98).
Bittar (2004, p. 48), por sua vez, assegura ser a perpetuidade
uma das características dos direitos morais, posicionamento com
o qual concordam Pimenta (2002, p. 82) e Adolfo (2000, p. 7), que
extrai tal conclusão dos §§ 1° e 2° do artigo 24 c/c 27, da LDA.
Também na doutrina estrangeira há controvérsias sobre
a duração dos direitos morais do autor. Baseado na legislação
espanhola, Plaza Penades (1997, p. 137) alega que tais direitos
findam, a princípio, com a morte do autor – e o fato de existirem
vários prazos de proteção após a morte do autor, nas diversas
legislações sobre Direito Autoral, garante apenas maior ou menor
proteção de seus herdeiros.
Por outro lado, Pollaud-Dulian (2005, p. 391-392) explica
que, na concepção da lei francesa, o direito moral tem caráter
perpétuo. Para esse doutrinador pode parecer estranho que o
direito moral – um direito da personalidade e que não pode ser
transmitido – dure mais do que o próprio autor, mas tal regra de
perpetuidade é coerente com a concepção vigente na França sobre
direito moral. Segundo Pollaud-Dulian (2005, p. 392, tradução
nossa), “[...] se a obra exprime a personalidade de seu autor, tanto
que a obra sobrevive, tanto que ela é suscetível de ser comunicada
a um público, uma parte da pessoa do autor sobrevive com ela”15.
Ressalvadas as controvérsias quanto ao prazo dos direitos
morais, findo o prazo de proteção dos direitos patrimoniais, a obra
está em domínio público, podendo ser, por exemplo, reproduzida,
transformada, comunicada ao público sem a necessidade de
autorização de seu titular. Também pertencem ao domínio público
obras “[...] de autores falecidos que não tenham deixado sucessores

“Si" l’oeuvre exprime la personnalité de son auteur, tant que l’oeuvre survit, tant
15

qu’elle est susceptible d’être communiquée à un public, une part de la personne


de l’auteur survit avec elle”..

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Direito Autoral 65

[...] de autor desconhecido, ressalvada a proteção legal aos


conhecimentos étnicos e tradicionais16.” (BRASIL, 1998, art. 45).
Obras “caídas” em domínio público são aquelas que
pertencem a todos, de uso comum, e não necessariamente que
seja do Estado, ou que já não tenham dono. Alguns países até
têm casos de domínio público remunerado, como é o caso da
Argentina, Paraguai, Uruguai e Brasil (que foi revogado em 1983).
Nesse sentido, Afonso (2009, p. 51) aduz:

As obras caídas em domínio público, em alguns países, [Argentina,


Paraguai e Uruguai]13 podem sofrer restrição de uso. É o chamado
“domínio público remunerado”, já adotado pela lei brasileira, mas
revogado em setembro de 1983, pela Lei n 7.123. A restrição dá-se pelo
fato de que nesse sistema, para utilização da obra em domínio público,
é exigida uma autorização e o respectivo pagamento a uma autoridade
ou organismo público. Essas quantias, geralmente, são utilizadas
para fomentar instituições em benefício dos autores e, também, para

16
No que tange aos conhecimentos étnicos e tradicionais, importante
destacar que no Brasil ainda não existe uma lei específica sobre a propriedade
intelectual desses direitos, mas sim algumas relacionadas ao acesso a esses
conhecimentos e à proteção do caráter de patrimônio cultural desses direitos,
mas não de propriedade intelectual. Ver:. Lei n. 13.123, de 20 de maio de 2015.
Regulamenta o inciso II do § 1o e o § 4o do artigo 225 da Constituição Federal,
o artigo 1º, a alínea j do artigo 8º, a alínea c do artigo 10, o artigo 15 e os §§
3o e 4o do artigo 16 da Convenção sobre Diversidade Biológica, promulgada
pelo Decreto n. 2.519, de 16 de março de 1998; dispõe sobre o acesso ao
patrimônio genético, sobre a proteção e o acesso ao conhecimento tradicional
associado e sobre a repartição de benefícios para conservação e uso sustentável
da biodiversidade; revoga a Medida Provisória n. 2.186-16, de 23 de agosto
de 2001; e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.
br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13123.htm>. Acesso em: 5 ago.
2017. Decreto n. 6.040, de 7 de fevereiro de 2007. Institui a Política Nacional
de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/
decreto/d6040.htm>. Acesso em: 5 ago. 2017. Também interessante o Comitê
criado em 1984 pela Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI)
que estuda como proteger os conhecimentos tradicionais e recursos genéticos
por meio da propriedade intelectual. Chamado de Intergovernmental Committee on
Intellectual Property and Genetic Resources, Traditional Knowledge and Folklore (IGC).
Mais informações disponíveis em: <http://www.wipo.int/tk/en/>, acessado
em outubro de 2017.

Volume I
66 Direito Autoral

subsidiar programas culturais governamentais. A atual lei autoral


brasileira revogou este dispositivo do ordenamento jurídico nacional.

Enquanto não estiver em domínio público, o interessado


em usar obra protegida de terceiro terá que pedir autorização,
ressalvados os casos previstos nos chamados limites ao direito de
autor, que serão estudados a seguir.

Limitações aos Direitos Autorais


Os Direitos de Autor possuem uma proteção legal bastante
ampla. Esses direitos, contudo, possuem algumas limitações. As
limitações aos Direitos Autorais significam a não incidência de
proteção do Direito Autoral sobre algumas obras intelectuais,
como uma forma de estabelecer um equilíbrio ao sistema de
Direito Autoral e viabilizar o acesso à cultura, à informação e à
educação, já que, dessa forma, é possível fomentar a produção
artística e o processo criativo.
É importante observar e respeitar a correta nomenclatura
na medida em que limitações e exceções não significam isenção
(termo adequado ao Direito Tributário), mas sim não incidência
da proteção do Direito Autoral em obras intelectuais, nos termos
mencionados.
O artigo 46 da Lei n. 9.610/1998 descreve algumas
hipóteses em que terceiros poderão reproduzir ou utilizar obras
literárias, artísticas ou científicas sem, contudo, constituir ofensa
aos direitos autorais.
Além disso, o artigo 48 da mesma Lei prevê que as obras
situadas permanentemente em espaço público, reconhecido
oficialmente pela administração de cada município, podem
ser representadas livremente por meio de pinturas, desenhos,
fotografias e procedimentos audiovisuais.

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Direito Autoral 67

Uma das polêmicas existentes sobre a legislação brasileira de


limites ao uso direitos autorais é o engessamento que os referidos
artigos deixam. Essa relação é taxativa, só não será necessária
para a autorização prévia nesses casos. Se houver outros casos
que sejam tão justos quanto esses, por não estarem nesse rol, será
preciso solicitar autorização prévia do titular17.
A Constituição Federal também reconheceu para os autores
o direito fundamental e exclusivo de utilização, de publicação
ou de reprodução de suas obras, além da possibilidade de esse
direito ser transmitido aos herdeiros pelo tempo previsto na Lei
n. 9.610/98. Portanto, os Direitos Autorais, entendendo-se sob
essa denominação o Direito do Autor e o Direito Conexo, têm
valores e premissas constitucionais, partindo-se do pressuposto
de haver natureza exclusivista e privada desse ramo jurídico.
Não obstante, como dito, há outros valores constitucionais
e humanos fundamentais que devem ser equilibrados com o
caráter exclusivo imposto pelos Direitos Autorais, quais sejam: o
direito e o acesso à cultura, à informação e à educação. Portanto,
quando se analisa os Direitos Autorais, em um plano ideal, deve-
17
Vale referenciar aqui a análise feita por Afonso (2009, p. 57): “Alguns autores
fazem pesadas críticas a este Capítulo da lei brasileira, especialmente pela
forma desordenada de incluir a matéria no ordenamento jurídico, assim como a
ausência de critérios para definir uma lista de tipos de uso com relação à natureza
das obras. Há, também, limitações que estão fora do próprio Capítulo, como é o
caso da limitação imposta ao direito de reprodução quando esta for temporária
e com o mero propósito de tornar a obra perceptível em meio eletrônico ou
quando for de natureza transitória ou incidental, desde que ocorrida no curso
da utilização devidamente autorizada pelo autor (§ 1o, art. 30, já comentada).
Há que se mencionar, todavia, o inc. II do Art. 46, quando este suprime do
ordenamento jurídico nacional a chamada cópia privada ao impedir que se
possa fazer uma cópia integral de obra protegida, restringir na sua redação a
reprodução “[...] em um só exemplar de pequenos trechos, para uso privado
do copista”. Com este dispositivo, o legislador, salvo equívoco de nossa parte,
estabeleceu que o Brasil é o único país onde o instituto da cópia privada não
existe. A reprodução na íntegra de uma obra protegida deveria ser permitida
em virtude de uma limitação, seja por razões culturais seja em benefício da
educação. É evidente que, hoje, em face dos equipamentos de reprodução cada
vez mais sofisticados, essa limitação mereça ser estudada”.

Volume I
68 Direito Autoral

se buscar um sistema regido pelo equilíbrio entre conteúdos


protegidos exclusivamente ao seu respectivo autor ou titular
de direito e conteúdos intelectuais que toda a sociedade tem o
direito de ter acesso.
Nessa perspectiva, pode-se depreender que o sistema
dos Direitos Autorais idealmente se retroalimentaria, porque
só é possível criar e produzir intelectualmente, em que pese a
genialidade humana, se houver o mínimo de acesso, de influência e
de inspiração, a partir da cultura e da informação preexistente. Por
outro lado, se os Direitos Autorais protegessem todo o conteúdo
intelectual indistintamente, a sociedade seria prejudicada e, por
certo, haveria um desequilíbrio exacerbado e desarrazoado.
A Lei n. 9.610/1998 reconheceu algumas situações e obras
intelectuais que não estariam sujeitas à incidência da proteção dos
Direitos Autorais e as denominou de “Exceções e Limitações”.
Trata-se de circunstâncias jurídicas, sob as quais a utilização,
fruição e exploração de algumas obras intelectuais não estariam
sujeitas ao manto da proteção dos Direitos Autorais. Esclareça-se
que não se trata de isenção ou imunidade (termos emprestados
do Direito Tributário e comumente utilizados, de forma
equivocada), mas simplesmente de previsões (não exaustivas)
de não incidência da proteção dos Direitos Autorais, conforme
teremos oportunidade de analisar de forma mais aprofunda.
Mas há um aspecto fulcral e sensível para esse ramo jurídico
que se estabelece entre a proteção e o acesso, qual seja: o ponto
ideal do equilíbrio. Dessa forma, partindo-se do pressuposto
de que o escopo maior dos Direitos Autorais é, exatamente, a
proteção do autor e da obra intelectual, a não incidência dessa
proteção, sob a denominação de limitação, deve ser tratada
exclusivamente como exceção, como o próprio nome explicita e
não como regra.

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Direito Autoral 69

E é lógico depreender o motivo, uma vez que, caso


houvesse a abertura descontrolada da exceção à proteção dos
Direitos Autorais, certamente haveria uma vulneração das obras
intelectuais e toda a produção criativa restaria prejudicada, porque
não haveria estímulo nem contrapartida moral e financeira aos
autores, que dedicaram tempo, talento e esforço de todas as
ordens.
Nesse contexto, como desdobramento da natureza
excepcional das Exceções e das Limitações à incidência da
proteção aos Direitos Autorais, é fundamental mencionar a
lógica apresentada pelos denominados “Regra dos Três Passos de
Berna” e que são replicados nas legislações nacionais de todos os
países que aderiram a esse tratado internacional. Os “Três Passos
de Berna” são uma previsão oriunda da Convenção de Berna
(datada de 1886), cuja ratificação o Brasil já formalizou (Decreto
n. 75.699, de 6 de maio de 1975) e traz em seu bojo:

ARTIGO 9
1) Os autores de obras literárias e artísticas protegidas pela presente
Convenção gozam do direito exclusivo de autorizar a reprodução
destas obras, de qualquer modo ou sob qualquer forma que seja.
2) Às legislações dos países da União reserva-se a faculdade de permitir
a reprodução das referidas obras em certos casos especiais,
contanto que tal reprodução não afete a exploração normal da
obra nem cause prejuízo injustificado aos interesses legítimos do
autor. (BRASIL, 1975, art. 9º, grifo nosso)

Conforme se depreende no texto anterior, a regra é a


exclusividade do direito de se proteger uma obra intelectual e
aos autores cabe, por conseguinte, o direito exclusivo de serem
instados a fornecer as respectivas autorizações para cada uso e
cada modalidade de exploração econômica de sua obra intelectual.
A Convenção de Berna faculta às legislações nacionais
a possibilidade de preverem em seus normativos domésticos

Volume I
70 Direito Autoral

as circunstâncias de reprodução e não incidência de proteção


dos Direitos Autorais, sob as três seguintes condições, que se
traduzem na “Regra dos Três Passos de Berna”, quais sejam:

• A reprodução, uso ou exploração econômica não afete


a exploração normal da obra, ou seja, a não incidência
de proteção sobre uma determinada obra intelectual,
sob uma determinação circunstância, deve preservar
o equilíbrio da sua fruição e, por conseguinte de sua
circulação econômica.
• Qualquer previsão de exceção e limitação de uma obra
intelectual, sob qualquer condição, não pode ensejar
prejuízo injustificado do autor que, por óbvio é a figura
central desse ramo jurídico e quem merece a preservação
do seu direito de criador.
• Por fim, os casos deverão ser especiais, por conseguinte,
deverá haver, minimamente, a especificação dos casos
sob os quais não haveria a incidência de proteção dos
Direitos Autorais e evitar, terminantemente, a previsão
de cláusulas abertas, como um exemplo hipotético:
as obras para fins culturais poderiam ser consideradas
exceções e limitações para fins de proteção dos
Direitos Autorais.

Seguindo a orientação de Berna, o artigo 46 da Lei


n. 9.610/1998 elenca algumas situações, nas quais não são
consideradas infrações aos Direitos Autorais:

Art. 46. Não constitui ofensa aos direitos autorais:


I – a reprodução:
a) na imprensa diária ou periódica, de notícia ou de artigo informativo,
publicado em diários ou periódicos, com a menção do nome do autor,
se assinados, e da publicação de onde foram transcritos;

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Direito Autoral 71

b) em diários ou periódicos, de discursos pronunciados em reuniões


públicas de qualquer natureza;
c) de retratos, ou de outra forma de representação da imagem,
feitos sob encomenda, quando realizada pelo proprietário do objeto
encomendado, não havendo a oposição da pessoa neles representada
ou de seus herdeiros;
d) de obras literárias, artísticas ou científicas, para uso exclusivo de
deficientes visuais, sempre que a reprodução, sem fins comerciais, seja
feita mediante o sistema Braille ou outro procedimento em qualquer
suporte para esses destinatários;
II – a reprodução, em um só exemplar de pequenos trechos, para uso
privado do copista, desde que feita por este, sem intuito de lucro;
III – a citação em livros, jornais, revistas ou qualquer outro meio de
comunicação, de passagens de qualquer obra, para fins de estudo, crítica
ou polêmica, na medida justificada para o fim a atingir, indicando-se o
nome do autor e a origem da obra;
IV – o apanhado de lições em estabelecimentos de ensino por aqueles
a quem elas se dirigem, vedada sua publicação, integral ou parcial, sem
autorização prévia e expressa de quem as ministrou;
V – a utilização de obras literárias, artísticas ou científicas, fonogramas
e transmissão de rádio e televisão em estabelecimentos comerciais,
exclusivamente para demonstração à clientela, desde que esses
estabelecimentos comercializem os suportes ou equipamentos que
permitam a sua utilização;
VI – a representação teatral e a execução musical, quando realizadas
no recesso familiar ou, para fins exclusivamente didáticos, nos
estabelecimentos de ensino, não havendo em qualquer caso intuito de
lucro;
VII – a utilização de obras literárias, artísticas ou científicas para
produzir prova judiciária ou administrativa;
VIII – a reprodução, em quaisquer obras, de pequenos trechos de
obras preexistentes, de qualquer natureza, ou de obra integral, quando
de artes plásticas, sempre que a reprodução em si não seja o objetivo
principal da obra nova e que não prejudique a exploração normal da
obra reproduzida nem cause um prejuízo injustificado aos legítimos
interesses dos autores.
Art. 47. São livres as paráfrases e paródias que não forem verdadeiras
reproduções da obra originária nem lhe implicarem descrédito.

Volume I
72 Direito Autoral

Art. 48. As obras situadas permanentemente em logradouros públicos


podem ser representadas livremente, por meio de pinturas, desenhos,
fotografias e procedimentos audiovisuais. (BRASIL, 1998, art. 46, 47, 48)

Referido dispositivo seguiu a lógica prevista na Convenção


de Berna, especificamente nos seus Três Passos, ao prever
circunstâncias especiais, embora não exaustivas (conforme será
visto), que não comprometem a circulação da obra e, muito
menos, os direitos do autor.
Em verdade, são condições em que não faria sentido adotar
o escopo exclusivista e privatístico dos Direitos Autorais, como a
utilização de obras intelectuais no recesso familiar, para usos em
provas judiciais ou administrativas, por pessoas com necessidades
especiais, para demonstração à clientela, ou mesmo usos de
pequenos trechos, dentre outras possibilidades.
O Direito é uma ciência social que não consegue esgotar
e prever todas as possibilidades humanas. Da mesma forma,
o Direito Autoral em alguns pontos segue uma lógica e elenca
possibilidades sem, no entanto, esgotar as circunstâncias factíveis
e futuras, até porque seria impossível proceder dessa forma.
E exatamente isso foi proposto no dispositivo contido no artigo
46 da Lei n. 9.610/98 que descreveu uma série de condições,
circunstâncias e exemplos sob os quais a proteção do Direito
Autoral não incidiria, mas sem esgotá-lo.
Trata-se, portanto, de um rol exemplificativo e não exaustivo,
como se verá a seguir, uma vez que inúmeras outras possibilidades
podem advir de uma situação de recesso familiar, por exemplo, ou
mesmo do que seriam considerados pequenos trechos, ou ainda
do que seria compreendido como logradouro público.
Por óbvio, o rol elencado no artigo 46 da Lei n. 9.610/1998
deve seguir a lógica explicitada pelo significado das Exceções e
Limitações e, por conseguinte, não conferir uma interpretação
excessivamente extensiva ou distanciada da lógica proposta em

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Direito Autoral 73

cada inciso apresentado no artigo 46, sob pena de desvirtuamento


do escopo e do entendimento do que seja uma limitação à
incidência da proteção ao Direito Autoral, de forma a provocar
um profundo desequilíbrio no sistema de Direitos Autorais.
Ademais, é lógico que qualquer interpretação derivada do
contido nos incisos previstos no artigo 46 da Lei n. 9.610/98
deve respeitar a Regra dos Três Passos, oriunda de Berna, ou
seja, qualquer limitação ou exceção à proteção dos Direitos
Autorais deverá respeitar a livre circulação/reprodução da
obra intelectual, a preservação dos direitos do autor e deve
ser prevista em casos especiais.
E o que significa estar prevista “em casos especiais”?
Significa a vedação à cláusula aberta, de forma, que é proibida a
criação de cláusulas e de circunstâncias de exceções e de limitações
à proteção do Direito Autoral fundamenta em termos subjetivos
e indeterminados, de forma a causar uma grave insegurança
jurídica no sistema dos Direitos Autorais e, por conseguinte, um
desequilíbrio considerável, conforme dito anteriormente.
Assim, não seria possível criar exceções e limitações à
incidência da proteção dos Direitos Autorais para todas aquelas
obras intelectuais que tenham finalidade cultural, por exemplo.
É necessário perceber que seria quase impossível a delimitação
dessa terminologia e, praticamente, todas as obras intelectuais
poderiam estar inseridas sob esse imenso guarda-chuva que seria
a finalidade cultural. Pode-se depreender o imenso desequilíbrio
e vulnerabilidade que os autores estariam alçados, uma vez que
suas obras estariam praticamente todas caracterizadas como
obras com finalidades culturais e, por conseguinte, sem proteção
dos Direitos Autorais podendo ser utilizadas sem autorização e
sob qualquer modalidade.
Mesmo o sistema anglo-saxão, por meio do seu consolidado
fair use e o sistema continental, por meio do que se denomina

Volume I
74 Direito Autoral

a utilização de “Usos Honrados” não se constituem cláusulas


abertas, porque seguem o preceituado em Berna e são tratadas
casuisticamente, dentro da especificidade e dos casos especiais
que a Regra dos Três Passos exige, ajustados às suas legislações
domésticas.
Com frequência, vários Projetos de Lei são apresentados
utilizando cláusulas abertas, quando se refere a Limitações e
Exceções e, da mesma forma, também com frequência são
considerados violadores da Lei n. 9.610/1998 e da lógica trazida
pela Regra dos Três Passos, pelas razões indigitadas.
No caso concreto, a Limitação e Exceção à incidência
da proteção dos Direitos Autorais pretendida é a que se refere
aos pequenos trechos de obras intelectuais, expostas sobre a
plataforma de uma obra de arte plástica (instalação). Referida
exceção segue a lógica do preceituado no artigo 46 e, ainda,
respeita em sua integralidade os “Três Passos de Berna”, sendo
que, a respeito dos “casos especiais” trazidos na referida Regra,
o caso concreto, ora analisado, discrimina uma circunstância
específica, qual seja, a veiculação/utilização de pequenos trechos
no “corpo” de obras de artes plásticas originando obras novas.
A jurisprudência brasileira (casos reiteradamente decididos
pelos Tribunais), especificamente o Superior Tribunal de Justiça,
que julga matéria infraconstitucional, já pacificou o entendimento
no sentido de que o artigo 46 não é exaustivo, ou seja, que os
incisos discriminados no referido dispositivo são eminentemente
exemplificativos, desde que outras exceções e limitações sejam
consideradas à luz da lógica trazida pelo artigo 46, em respeito
aos Três Passos de Berna e, por conseguinte, que não esteja
fundamentada em cláusula aberta, conforme já explicado.
Nesse sentido, em recente decisão de colegiado, o Superior
Tribunal de Justiça (STJ) considerou que Festa Junina, em
ambiente escolar, poderia ser considerada “atividade de caráter

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Direito Autoral 75

pedagógico e de natureza integrativa”, nos termos do artigo 46,


VI, embora não esteja textualmente prevista dessa forma no
referido dispositivo, o que só demonstra não se tratar de um
artigo exaustivo, conforme se depreende, in verbis:

RECURSO ESPECIAL. DIREITO AUTORAL. COBRANÇA. ECAD.


EXECUÇÃO DE MÚSICAS CULTURAIS E FOLCLÓRICAS EM
FESTA JUNINA PROMOVIDA POR ESCOLA. ATIVIDADE DE
CARÁTER PEDAGÓGICO E DE NATUREZA INTEGRATIVA.
1. A Lei n. 9.610/98, regulando a matéria de forma extensiva e estrita,
aboliu o auferimento de lucro direto ou indireto pela exibição da obra
como critério indicador do dever de pagar retribuição autoral, erigindo
como fato gerador da contribuição tão somente a circunstância de se ter
promovida a exibição pública da obra artística, em local de frequência
coletiva.
2. No entanto, a própria Lei n. 9.610, de 1998, em seu art. 46, VI,
admite exceção à regra, quando estabelece não constituir ofensa aos
direitos autorais “a representação teatral e a execução musical, quando
realizadas no recesso familiar ou, para fins exclusivamente didáticos,
nos estabelecimentos de ensino, não havendo em qualquer caso intuito
de lucro”.
3. Na espécie, as instâncias ordinárias, com base nos elementos
informativos da lide, noticiam o caráter pedagógico da atividade -
execução de músicas culturais e folclóricas em festa junina -, ocorrida,
sem fins lucrativos, no interior do estabelecimento de ensino, afastando
a pretensão da recorrente.
4. Saliente-se que o método pedagógico não só pode como deve envolver
também entretenimento, confraternização e apresentações públicas.
A solução, portanto, depende do caso concreto, pois as circunstâncias
de cada evento, a serem examinados soberanamente pelo julgador
ordinário, é que irão determinar seu devido enquadramento.
A espécie, nos moldes das Súmulas 5 e 7 do Superior Tribunal de
Justiça, comporta, nesta instância recursal extraordinária, tão somente
a revaloração dos fatos e circunstâncias destacadas no acórdão ou na
sentença.
5. Ademais, tratando-se de festa de confraternização, pedagógica,
didática, de fins culturais, que congrega a escola e a família, é fácil
constatar que a admissão da cobrança de direitos autorais representaria
um desestímulo a essa união. Esse desagregamento não deve ser a

Volume I
76 Direito Autoral

tônica, levando-se em consideração a sociedade brasileira, tão marcada


pela violência e carente de valores sociais e culturais mais sólidos.
6. É indevida a cobrança de direitos autorais em hipótese restrita de
evento promovido com fins didáticos, pedagógicos e de integração
entre família e escola, sem intuito de lucro. Inteligência do Art. 46, VI,
da Lei 9.610 de 1998. 7. Recurso especial desprovido18. (SUPERIOR
TRIBUNAL DE JUSTIÇA, 2017, grifo nosso)

Em sequência, o mesmo Superior Tribunal de Justiça


afirmou o seguinte:

AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO ESPECIAL.


COBRANÇA DE DIREITOS AUTORAIS. ESCRITÓRIO
CENTRAL DE ARRECADAÇÃO E DISTRIBUIÇÃO- ECAD.
EXECUÇÕES MUSICAIS E SONORIZAÇÕES AMBIENTAIS.
EVENTO REALIZADO EM ESCOLA, SEM FINS LUCRATIVOS,
COM ENTRADA GRATUITA. FESTA TÍPICA POPULAR DE
NATUREZA PEDAGÓGICA. AGRAVO REGIMENTAL NÃO
PROVIDO.
1. O Tribunal de origem, com base nos elementos fático-probatórios
dos autos, concluiu pelo não cabimento da cobrança de direitos autorais,
por parte da ora recorrida, que promoveu em seu estabelecimento
escolar festa junina, com divulgação da cultura popular brasileira,
destinada a confraternização da Instituição, sendo parte do projeto
pedagógico, sem intuito lucrativo. 2. Agravo regimental não provido19.
(SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA, 2017, grifo nosso)

Ainda em outro caso anterior, o STJ pronunciou-se quanto


à campanha publicitária sem autorização do autor, no processo
julgado:

DIREITOS AUTORAIS. VEICULAÇÃO DE CAMPANHA


PUBLICITÁRIA SEM AUTORIZAÇÃO DE SEU CRIADOR.
INDENIZAÇÃO. DIREITOS MORAIS E PATRIMONIAIS.

18
Resposta 1575225/SP, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO, SEGUNDA SEÇÃO,
julgado em 22/06/2016, DJe 03/08/2016
19
Recurso Especial 725.233/SP, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO,
QUARTA TURMA, julgado em 25/08/2015, DJe 02/09/2015.

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Direito Autoral 77

REGISTRO. PUBLICIDADE. LEIS 5.988⁄73 E 9.610⁄98. - A proteção


dos direitos de autor independe de registro, que é facultativo. Efetivado,
o registro resguarda os direitos e vale como prova de anterioridade.
A hipótese de coincidência criativa é uma das que motivam o autor a
registrar seu trabalho (Lei n 5.988⁄73, Arts. 17 segs.). - A não divulgação
do inteiro teor de obra registrada não implica seu desconhecimento
por terceiro. Se o registro acusava a existência de obra semelhante à
utilizada pelas recorridas, caberia a elas procurar o autor para conhecer
o trabalho e, em sendo o caso, conseguir autorização de uso. -
O registro por terceiro da expressão publicitária no INPI não afasta o
direito do recorrente, relativos à criatividade e originalidade do slogan
criado. O INPI sequer é órgão competente por tal registro (Art. 124,
VII, da Lei n 9.279⁄96). Tal efeito somente ocorre quando o registro
é feito em um dos órgãos relacionados no Art. 17 da Lei n 5.988⁄73.
(SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA, 2007)

Conjugando a disciplina legal com a posição dos Tribunais


sobre as limitações, pode-se afirmar que é possível a utilização
de uma obra intelectual sem autorização do autor ou do titular,
se o uso estiver contido em uma das hipóteses legais, não
atrapalhar a exploração normal da obra e não cause prejuízos
injustificados aos legítimos interesses do autor.
A Convenção de Berna trata de forma diversa os casos que
não são considerados infrações aos direitos autorais. É a regra
dos três passos, que está no artigo 9.2 dessa Convenção:

Às legislações dos países da União reserva-se a faculdade de permitir


a reprodução das referidas obras em certos casos especiais, contanto
que tal reprodução não afete a exploração normal da obra nem cause
prejuízo injustificado aos interesses legítimos do autor. (CONVENÇÃO
DE BERNA, 1975, art. 9.2)

Transferência dos Direitos Autorais


Como se observou, os direitos autorais são passíveis de
alienação, seja por meio de cessão – quando há a transferência

Volume I
78 Direito Autoral

dos direitos patrimoniais a terceiro – seja por licença – quando


há uma permissão de uso, gozo ou fruição dos direitos autorais a
terceiro, sem que haja a transferência da titularidade. Daí serem os
direitos autorais considerados bens móveis, perante a legislação,
conforme artigo 3º, da Lei n. 9.610/1998: “Os direitos autorais
reputam-se, para os efeitos legais, bens móveis”.
Como foi visto anteriormente os direitos morais referentes
aos autores de obras intelectuais não podem ser transferidos ou
cedidos a terceiros.
Sendo assim, a transmissão dos direitos autorais faz-se
mediante licenciamento, concessão, cessão, ou por outros meios
admitidos em Direito, dos direitos patrimoniais do autor, o que
pode ocorrer de maneira permanente, por meio de uma cessão
total, por um período de tempo ou por meio de uma licença
(BRASIL, 1998, art. 49-52).
A transferência ainda pode ocorrer de maneira total ou
parcial, ou seja, pode envolver todos os direitos patrimoniais,
ou pode ser restrita a uma parcela específica desses direitos.
Por exemplo, o autor de um livro pode ceder ou transferir seus
direitos patrimoniais de publicar e reproduzir o romance escrito
originalmente em português para uma determinada editora, mas
ceder ou transferir o seu direito de traduzir o romance em inglês
para outra editora e o direito de traduzir o romance em francês
para uma terceira editora.
É importante ressaltar que existe uma diferença entre a
cessão ou a transferência do direito patrimonial para uma licença.
No caso de uma cessão, o autor transfere a titularidade da sua
obra (direito patrimonial), permanecendo apenas como autor
da criação (direito moral). No caso da licença, o autor autoriza
apenas a utilização pelo licenciado por um período, sem deixar
de ser o titular da criação (BARBOSA, 1999). Esclarece essa
distinção, ainda, Barbosa (2003, p. 84):

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Direito Autoral 79

[...] assim é que, à falta de hábito – no âmbito autoral brasileiro do uso


da expressão “licença” –, a falta de critério científico leva ao emprego
da palavra cessão para descrever tanto transferências de direitos (e.g.
venda), quanto autorizações para o exercício dos direitos (e.g. locação).

Pimenta (2004, p. 57-63) também equipara cessão a


contrato de compra e venda, afirmando que “[...] opera os efeitos
de compra e venda, porque o cedente aliena seus direitos, que se
transferem para a titularidade do cessionário, tal como se dá entre
vendedor e comprador”.
Um ponto importante a ser destacado sobre a transferência
dos direitos autorais é que os instrumentos jurídicos relacionados
a tais direitos (negócios jurídicos) devem especificar cada detalhe
sobre o que é ou não permitido, obrigações, meios, etc. Caso
não conste no contrato, não pode ser presumido. Isso é o que
determina o artigo 4º, da Lei n. 9.610/1998 quando dispõe que
se interpretem “[...] restritivamente os negócios jurídicos sobre os
direitos autorais”.
Nesse sentido, cumpre mencionar que cada modalidade
de exploração econômica deve ser prevista expressamente no
instrumento de transferência de direitos, uma vez que os negócios
jurídicos em Direitos Autorais interpretam-se restritivamente
e não há compartilhamento, ou autorização implícita desses
direitos.
No que tange à transmissão dos direitos morais do autor, o
artigo 27 da LDA deixa claro que os direitos morais do autor não
podem ser objeto de renúncia ou de alienação. Esse pressuposto
deve-se, inclusive, ao fato de os direitos morais emanarem do
direito da personalidade do autor, sendo a proibição coerente
com a natureza dele. Portanto, os direitos morais, como um
desdobramento da personalidade humana e da dignidade de
cada indivíduo, são considerados inalienáveis, imprescritíveis,
irrenunciáveis e inegociáveis.

Volume I
80 Direito Autoral

Os direitos personalíssimos e os direitos pessoais


distinguem-se. Os personalíssimos são totalmente vinculados
ao autor, de tal forma que, caso ele venha a falecer, tais direitos
também se extinguem – é o caso dos direitos de modificação e
de arrependimento. Os direitos pessoais, por sua vez, também
são inalienáveis e intransmissíveis intervivos, mas nada impede
que venham a ser transmitidos20, causa mortis, para os herdeiros
(ASCENSÃO, 1997).
Além dos direitos relacionados no artigo 24 da Lei n.
9.610/1998, há outro também inalienável e irrenunciável: o
direito de sequência. Segundo Ascensão (1997, p. 296), esse
éo único direito inalienável e irrenunciável não previsto na Lei
n. 9.610/1998, e o autor o classifica como direito de natureza
personalíssima, apesar de patrimonial.

Direitos Conexos
Existem algumas obras intelectuais que necessitam ou
permitem que outros trabalhos intelectuais, que possuem de fato
uma atividade criativa e habilidade técnica ou organizacional,
sejam realizados de modo a complementar a obra original ou
possuindo uma relação íntima com ela.
Esse fenômeno é reconhecido pelo ordenamento jurídico
brasileiro como os chamados Direitos Conexos, que estão
previstos na Lei de Direitos Autorais em seu título V, denominado
“Dos Direitos Conexos”.
Os Direitos Conexos são direitos que derivam ou possuem
forte relação com os Direitos de Autor e, por esse motivo,

20
José de Oliveira Ascensão critica a utilização do termo “transmissão” para a
sucessão dos direitos morais aos herdeiros do autor, em que pese sua utilização
pela lei (ASCENSÃO, 1997, p. 276).

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Direito Autoral 81

recebem a mesma proteção, no que couber, conforme o caso.


Nesse sentido, Afonso (2009, p. 69) destaca que:

O importante é ter em mente que falar em direitos conexos é falar de


certos direitos ligados ao direito de autor, mas que não os direitos de
autor. Por isso, a terminologia de direitos conexos, também direitos
vizinhos ou direitos aparentados. A terminologia utilizada no Brasil é
de direitos conexos. O ponto de referência para a conexidade é, assim,
o direito de autor.

Sendo assim, conforme prevê o artigo 89 da Lei n. 9.609/98,


as normas relativas aos direitos de autor aplicam-se, quando for o
caso, aos direitos dos autores de obras conexas.
Diferentemente do Direito de Autor, no âmbito dos
Direitos Conexos, é possível se definir, previamente, os possíveis
tipos de autores de obras conexas. O artigo 89 da LDA divide os
autores de obras conexas em três grandes grupos, sendo eles os
artistas intérpretes ou executantes, os produtores fonográficos e
das empresas de radiodifusão.

Proteção dos Direitos Conexos


Assim como ocorre com os Direitos de Autor, a proteção
aos Direitos Conexos independe de registro, conforme dispõe
o artigo 18, da Lei n. 9.610/98. Contudo, é possível seu registro
nas mesmas entidades relacionadas no Quadro 1 indicado
anteriormente, dependendo da natureza da obra a ser protegida.
É importante ressaltar que, em alguns casos, os Direitos Conexos
podem derivar de obras que não são protegidas por Direitos de
Autor, por exemplo, os casos de obras intelectuais que já estão
em domínio público.
Uma orquestra que realizar concertos das músicas do
famoso e importante compositor Beethoven pode decidir por
fazer uma gravação de suas apresentações. Tendo em vista que

Volume I
82 Direito Autoral

o compositor faleceu em 1827 e, conforme a legislação de seu


país natal, toda a sua obra encontra-se, atualmente, em domínio
público. Sendo assim, as obras de Beethoven não desfrutam da
proteção por Direitos de Autor, mas a orquestra que realizou um
concerto dessas obras possui proteção por Direitos Conexos.
Dessa forma, as obras que estão em domínio público podem
ser utilizadas por artistas intérpretes e executores, mas estes, assim
como as produtoras fonográficas e as empresas de radiodifusão,
gozarão da proteção por Direitos Conexos dos trabalhos realizados
a partir de obras que estão em domínio público. Em outras palavras,
no exemplo considerado, haveria a impossibilidade de que um
espectador gravasse o concerto sem o prévio consentimento dos
executores, assim como ninguém poderia realizar cópias da gravação
musical contendo esse concerto, salvo com o consentimento do
produtor da gravação realizada.

Duração dos Direitos Conexos


No Brasil, o prazo de proteção aos direitos conexos,
conforme o artigo 96 da Lei n. 9.609/1998 é de 70 anos, contados
a partir de 1º de janeiro do ano subsequente à fixação, para
os fonogramas; à transmissão, para as emissões das empresas
de radiodifusão; e à execução e representação pública, para os
demais casos.
Existem, contudo, outros prazos de duração dos Direitos
Conexos, conforme cada acordo ou convenção internacional a
respeito de Direitos Autorais, como será demonstrado a seguir.
O Acordo sobre Aspectos dos Direitos de Propriedade
Intelectual Relacionados ao Comércio, também conhecido por
Acordo TRIPS, prevê que a duração dos Direitos Conexos será de
50 anos para os artistas intérpretes ou executantes e produtores de
fonogramas, contados a partir do último ano da data de fixação,

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Direito Autoral 83

de interpretação ou de execução; e de 20 anos para as empresas


de radiodifusão, contados a partir do último ano de transmissão
(TRIPS, 1994).
No entanto, a Convenção de Roma concede proteção aos
Direitos Conexos com a duração de 20 anos contados do final
do ano que a interpretação ou a execução foi realizada, nos casos
das interpretações ou de execuções não fixadas em fonogramas;
20 anos do final do último ano que a fixação foi realizada, nos
casos dos fonogramas e interpretações ou execuções fixadas
em fonogramas e novamente 20 anos a partir do último ano da
emissão da radiodifusão.
No Quadro 2, encontra-se um resumo com os diferentes
prazos de duração da proteção dos Direitos Conexos.

Quadro 2: Duração dos Direitos Conexos considerando diferentes doutrinas


Lei Convenção
TRIPS
brasileira de Roma
Artistas intérpretes ou executantes 70 anos 50 anos 20 anos
Produtores de fonogramas 70 anos 50 anos 20 anos
Empresas de radiodifusão 70 anos 50 anos 20 anos
Fonte: Elaborado pelos autores deste capítulo, com base nas normativas citadas

Considerando que a maioria das obras não fica restrita a


fronteiras, fenômeno impulsionado pelo avanço da tecnologia,
o qual aumenta exponencialmente o acesso a obras do mundo
todo, o conhecimento da proteção internacional é cada vez mais
importante para uma eficiente gestão dos direitos autorais.

Sanções às Infrações dos Direitos Autorais


E, mesmo depois de todos os cuidados na proteção
dos direitos autorais, ainda são identificadas infrações. Resta

Volume I
84 Direito Autoral

reivindicar os direitos previstos pela LDA, solicitando sanções


contra o infrator, que podem ser de ordem civil ou penal.
A Lei n. 9.610/1998 trata, em seus artigos 102 a 11021, das
sanções civis a serem aplicadas aos infratores, as quais variam
21
“Art. 102. O titular cuja obra seja fraudulentamente reproduzida, divulgada
ou de qualquer forma utilizada, poderá requerer a apreensão dos exemplares
reproduzidos ou a suspensão da divulgação, sem prejuízo da indenização
cabível.
Art. 103. Quem editar obra literária, artística ou científica, sem autorização do
titular, perderá para este os exemplares que se apreenderem e pagar-lhe-á o
preço dos que tiver vendido. Parágrafo único. Não se conhecendo o número de
exemplares que constituem a edição fraudulenta, pagará o transgressor o valor
de três mil exemplares, além dos apreendidos.
Art. 104. Quem vender, expuser a venda, ocultar, adquirir, distribuir, tiver
em depósito ou utilizar obra ou fonograma reproduzidos com fraude, com a
finalidade de vender, obter ganho, vantagem, proveito, lucro direto ou indireto,
para si ou para outrem, será solidariamente responsável com o contrafator,
nos termos dos Artigos precedentes, respondendo como contrafatores o
importador e o distribuidor em caso de reprodução no exterior.
Art. 105. A transmissão e a retransmissão, por qualquer meio ou processo,
e a comunicação ao público de obras artísticas, literárias e científicas, de
interpretações e de fonogramas, realizadas mediante violação aos direitos
de seus titulares, deverão ser imediatamente suspensas ou interrompidas
pela autoridade judicial competente, sem prejuízo da multa diária pelo
descumprimento e das demais indenizações cabíveis, independentemente das
sanções penais aplicáveis; caso se comprove que o infrator é reincidente na
violação aos direitos dos titulares de direitos de autor e conexos, o valor da
multa poderá ser aumentado até o dobro.
Art. 106. A sentença condenatória poderá determinar a destruição de todos
os exemplares ilícitos, bem como as matrizes, moldes, negativos e demais
elementos utilizados para praticar o ilícito civil, assim como a perda de máquinas,
equipamentos e insumos destinados a tal fim ou, servindo eles unicamente para
o fim ilícito, sua destruição.
Art. 107. Independentemente da perda dos equipamentos utilizados,
responderá por perdas e danos, nunca inferiores ao valor que resultaria da
aplicação do disposto no Art. 103 e seu parágrafo único, quem: I - alterar,
suprimir, modificar ou inutilizar, de qualquer maneira, dispositivos técnicos
introduzidos nos exemplares das obras e produções protegidas para evitar ou
restringir sua cópia; II - alterar, suprimir ou inutilizar, de qualquer maneira, os
sinais codificados destinados a restringir a comunicação ao público de obras,
produções ou emissões protegidas ou a evitar a sua cópia; III - suprimir ou
alterar, sem autorização, qualquer informação sobre a gestão de direitos; IV -
distribuir, importar para distribuição, emitir, comunicar ou puser à disposição
do público, sem autorização, obras, interpretações ou execuções, exemplares de
interpretações fixadas em fonogramas e emissões, sabendo que a informação

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Direito Autoral 85

desde o direito de solicitar a suspensão da infração, retirada de


circulação das obras contrafeitas, cessação das ações ilícitas,
indenização por perdas e danos, multas, etc. A sanção varia
conforme a natureza da infração, a natureza da obra e o dano
provocado.
Contudo, a legislação brasileira também prevê sanções
penais que são regidas pelo Decreto-Lei n. 2.848, de 7 de
dezembro de 1940, conhecido como Código Penal, no artigo
18422. As penas variam desde multa até a detenção e reclusão.

sobre a gestão de direitos, sinais codificados e dispositivos técnicos foram


suprimidos ou alterados sem autorização.
Art. 108. Quem, na utilização, por qualquer modalidade, de obra intelectual,
deixar de indicar ou de anunciar, como tal, o nome, pseudônimo ou sinal
convencional do autor e do intérprete, além de responder por danos morais,
está obrigado a divulgar-lhes a identidade da seguinte forma: I - tratando-se de
empresa de radiodifusão, no mesmo horário em que tiver ocorrido a infração,
por três dias consecutivos; II - tratando-se de publicação gráfica ou fonográfica,
mediante inclusão de errata nos exemplares ainda não distribuídos, sem prejuízo
de comunicação, com destaque, por três vezes consecutivas em jornal de grande
circulação, dos domicílios do autor, do intérprete e do editor ou produtor; III -
tratando-se de outra forma de utilização, por intermédio da imprensa, na forma
a que se refere o inciso anterior.
Art. 109. A execução pública feita em desacordo com os Arts. 68, 97, 98 e 99
desta Lei sujeitará os responsáveis a multa de vinte vezes o valor que deveria ser
originariamente pago.
Art. 109-A. A falta de prestação ou a prestação de informações falsas no
cumprimento do disposto no § 6º do Art. 68 e no § 9º do Art. 98 sujeitará os
responsáveis, por determinação da autoridade competente e nos termos do
regulamento desta Lei, a multa de 10 (dez) a 30% (trinta por cento) do valor que
deveria ser originariamente pago, sem prejuízo das perdas e danos. Parágrafo
único. Aplicam-se as regras da legislação civil quanto ao inadimplemento das
obrigações no caso de descumprimento, pelos usuários, dos seus deveres legais
e contratuais junto às associações referidas neste Título.
Art. 110. Pela violação de direitos autorais nos espetáculos e audições
públicas, realizados nos locais ou estabelecimentos a que alude o Art. 68,
seus proprietários, diretores, gerentes, empresários e arrendatários respondem
solidariamente com os organizadores dos espetáculos.
22
Art. 184. Violar direitos de autor e os que lhe são conexos: Pena – detenção, de
3 (três) meses a 1 (um) ano, ou multa. §1o Se a violação consistir em reprodução
total ou parcial, com intuito de lucro direto ou indireto, por qualquer meio
ou processo, de obra intelectual, interpretação, execução ou fonograma, sem
autorização expressa do autor, do artista intérprete ou executante, do produtor,

Volume I
86 Direito Autoral

As violações de Direito Autoral estão previstas no Capítulo


I do Código Penal, Dos Crimes Contra a Propriedade Intelectual
e especificam algumas utilizações ilegais como a reprodução de
obras intelectuais sem autorização expressa do autor, ainda que
parcialmente, com o intuito de lucro direto ou indireto.

Considerações Finais
O Brasil precisa de uma reformulação em algumas partes
das leis relacionadas à proteção do autor. Por mais que a tecnologia
e o ramo do direito autoral avancem, jamais serão capazes de
acabar com os crimes contra propriedade intelectual. Como
não são protegidas ideias e há uma subjetividade relacionada
aos direitos autorais, é difícil justificar e provar quais conceitos
foram inspirados em algo que já existia ou já tinha sido elaborado
anteriormente.
A tipificação penal de condutas violadoras do Direito
Autoral tem sido objeto de constante reflexão por parte da

conforme o caso, ou de quem os represente: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4


(quatro) anos, e multa. § 2o Na mesma pena do § 1o incorre quem, com o intuito
de lucro direto ou indireto, distribui, vende, expõe à venda, aluga, introduz no
País, adquire, oculta, tem em depósito, original ou cópia de obra intelectual
ou fonograma reproduzido com violação do direito de autor, do direito de
artista intérprete ou executante ou do direito do produtor de fonograma, ou,
ainda, aluga original ou cópia de obra intelectual ou fonograma, sem a expressa
autorização dos titulares dos direitos ou de quem os represente. § 3o Se a violação
consistir no oferecimento ao público, mediante cabo, fibra ótica, satélite, ondas
ou qualquer outro sistema que permita ao usuário realizar a seleção da obra ou
produção para recebê-la em um tempo e lugar previamente determinados por
quem formula a demanda, com intuito de lucro, direto ou indireto, sem autorização
expressa, conforme o caso, do autor, do artista intérprete ou executante, do
produtor de fonograma, ou de quem os represente: Pena – reclusão, de 2 (dois) a
4 (quatro) anos, e multa. § 4o O disposto nos §§ 1o, 2o e 3o não se aplica quando se
tratar de exceção ou limitação ao direito de autor ou os que lhe são conexos, em
conformidade com o previsto na Lei n. 9.610, de 19 de fevereiro de 1998, nem a
cópia de obra intelectual ou fonograma, em um só exemplar, para uso privado do
copista, sem intuito de lucro direto ou indireto.

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Direito Autoral 87

sociedade civil e dos poderes competentes, inclusive por meio de


propostas legislativas recentes, ainda sob tramitação legislativa.

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e consolida a legislação sobre direitos autorais e dá outras
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92 Direito Autoral

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f ?Signature=jbr4Vw%2BdVy259c5unLDNoMcwUjA%3D&E
xpires=1528980509&AWSAccessKeyId=AKIAIPM2XEMZA
CAXCMBA&response-content-type=application/pdf&x-amz-
meta-md5-hash=f5c75aa0c635a4e4195ca0a100688a83>. Acesso
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decide tribunal. CartaCapital. 2018. Disponível em: <https://
www.cartacapital.com.br/politica/macaco-nao-tem-direitos-
autorais-sobre-selfie-decide-tribunal>. Acesso em: 5 jun. 2018.

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Patentes de Invenção e Modelo de
Utilidade

Raigenis da Paz Fiuza


Pierre Barnabé Escodro
Luiz Henrique Castelan Carlson
Wagna Piler Carvalho dos Santos

Resumo: as patentes constituem títulos de propriedade temporária outorgado pelo


Estado aos inventores/titulares em relação a sua invenção. Elas representam formas de
proteção da propriedade intelectual e tem como objetivo incentivar o desenvolvimento
econômico e tecnológico, recompensando a criatividade do inventor e/ou investimento
do titular. Neste capítulo, serão abordados a introdução ao sistema internacional, as
Patentes de Invenção (PI) e o Modelo de Utilidade (MU), as vantagens inerentes ao
depósito e concessão da patente, as naturezas (tipos) de proteção, os produtos e os
processos que podem ser protegidos, qual o prazo de duração da proteção patentária,
as bases na elaboração de uma patente (com foco nas reinvindicações) e o fluxo
processual.

Abstract: patents are temporary property titles granted by the State to inventors /
depositors in connection with their invention. They represent forms of protection of
intellectual property, aiming to encourage economic and technological development,
rewarding the creator’s creativity and / or investment of the depositor. In this chapter,
introduction to the international system, the Invention (PI) and Utility Model (MU)
patents, inherent advantages of patent filing and granting, nature of protection,
products and processes that can be protected, Patent protection, bases on the
elaboration of a patent (with focus on the claims) and procedural flow.
94 Patentes de Invenção e Modelo de Utilidade

Introdução
A proteção do conhecimento pelos direitos da propriedade
intelectual, com base na legislação brasileira, pode ser classificada
em três grandes categorias: direito autoral, propriedade industrial
e proteção sui generis. O direito autoral abarca o direito de autor,
programa de computador e direitos conexos. A propriedade
intelectual é um tema abrangente e permeia muitas atividades
humanas. Destarte:

[...] os estudos que tratam de propriedade intelectual envolvem inovação,


estratégias, capital de reputação, conhecimento tácito, e codificado,
colaboração, internacionalização, pesquisa tecnológica, transferência de
tecnologia, entre outros, e, sobretudo, capital intelectual. Como visto,
as definições de propriedade intelectual enfatizam o uso de patentes
[...]. (PIMENTEL; ZIBETTI 2013, p. 299)

Concerne à propriedade industrial: patentes, desenho


industrial, marcas, indicação geográfica, concorrência desleal
e segredo de negócio. São entendidas como proteção sui
generis as modalidades: cultivares, topografia de circuitos
integrados,patrimônio genético e conhecimentos tradicionais
(CADORI, 2013).
As patentes constituem títulos de propriedade temporária
outorgado pelo Estado aos inventores/depositantes em relação
a sua invenção e representam uma das mais antigas formas de
proteção da propriedade intelectual. Segundo Macedo (2000, p. 17):

Até o primeiro quartel do século XVII, reis e governantes concediam


a seus pares exclusividade para exercer um determinado comércio.
Tais monopólios comerciais visavam tão-somente conceder favores
ao invés de recompensar quaisquer possíveis esforços dispendidos
pelos nobres que trouxessem um benefício social. Foi o Estatuto dos
Monopólios, promulgado pela Coroa Britânica em 1623, que deu por
finda a existência e a concessão desses monopólios comerciais e, em
contrapartida, criou o monopólio das invenções.

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Patentes de Invenção e Modelo de Utilidade 95

Ademais, muito tempo antes, na Antiguidade por volta


de 1750 a.C. no Império Babilônico, o Código de Hamurabi
preconizava em suas leis escritas a proteção sobre a transmissão
de conhecimento por meio da oralidade: “Art. 188: Se um artesão
estiver criando uma criança e ensinar a ela sua habilitação, a
criança não poderá ser devolvida” (BRANCO et al., 2011, p. 12).
A necessidade de proteger os inventos, frutos, portanto, da
capacidade criativa e engenhosa da humanidade, vem de muito
tempo e passa a ter um formato mais sistemático e global, como
alude Macedo (2000, p. 17) acerca do Sistema Internacional de
Patentes que foi estabelecido “[...] mediante acordo multilateral,
firmado em 1883 na cidade de Paris, denominado Convenção
de Paris para a Proteção da Propriedade Industrial, ou
abreviadamente, Convenção de Paris”.
A Convenção de Paris para a proteção da propriedade in-
dustrial, também conhecida como Convenção da União de Paris,
sob a sigla CUP, com suas várias revisões ao longo do tempo
(Bruxelas – 1900; Washington – 1911; Haia – 1925; Londres –
1934; Lisboa – 1958; e Estocolmo – 1967), é documento base
para a constituição dos sistemas nacionais de patente. O Brasil,
país signatário original, aderiu à Revisão de Estocolmo em 1992,
por meio do Decreto n. 75.572, de 8 de abril de 1975 (BRASIL,
1975).
Em 1967, na Convenção de Estocolmo, foi criada a
Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI), ou
no inglês World Intellectual Property Organization (WIPO).
Essa organização possui sede em Genebra e figura como uma
das agências especializadas da Organização das Nações Unidas
(ONU). A OMPI tem como objetivo proteger a propriedade
intelectual, dedicando-se à atualização e à proposição de padrões
internacionais de proteção para a propriedade intelectual em
âmbito mundial (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS-

Volume I
96 Patentes de Invenção e Modelo de Utilidade

BRASIL, 2018). Segundo Barros (2007, p. 79), como a ONU é


“[...] sujeito de direito internacional, goza de capacidade jurídica
para concluir acordos bilaterais e multilaterais”.
Em 1973, ocorreu uma iniciativa bem-sucedida de
harmonização de normas e otimização de procedimentos sobre
a matéria: a Convenção de Munique sobre a Patente Europeia.
Conforme aduz Barros (2007, p. 110), “[...] a Convenção de
Munique instituiu um sistema único de patentes para a União
Europeia, criando, inclusive, o Escritório Europeu de Patentes
[...]”, também conhecido pela sigla EPO, do inglês European
Patent Office. Dessa forma, entende-se por “patentes europeias”
aquelas concedidas no âmbito da Convenção de Munique,
possuindo elas os mesmos efeitos em cada estado signatário.
A concessão pode ser solicitada em apenas um, vários ou em
todos os países signatários (BARROS, 2007).
Mais recentemente, no início da década de 1990, o Brasil
promulgou a Ata Final que incorpora os resultados da Rodada
Uruguai de Negociações Comerciais Multilaterais do Acordo
Geral de Tarifas e Comércio, conhecido pela sigla GATT do
inglês General Agreement on Tariffs and Trade. A incorporação
ao arcabouço legal brasileiro deu-se por meio do Decreto n.
1.355, de 30 de dezembro de 1994 (BRASIL, 1994).
A Ata Final de que trata a Rodada Uruguai, assinada em
Marrakech, data de 15 de abril de 1994, e que se refere à criação
do acordo multilateral, denominado Acordo sobre Aspectos
dos Direitos de Propriedade Intelectual Relacionados ao
Comércio (ADPIC) (páginas 406 a 445 da Ata), foi incorporado
ao ordenamento jurídico brasileiro pelo Decreto n. 1.355.
O Acordo também é muito conhecido pela sigla TRIPS, do inglês
Agreementon Trade-Related Aspects of Intellectual Property
Rights, e foi motivado pelo desejo dos seus membros em:

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Patentes de Invenção e Modelo de Utilidade 97

[...] reduzir distorções e obstáculos ao comércio internacional e


levando em consideração a necessidade de promover uma proteção
eficaz e adequada dos direitos de propriedade intelectual e assegurar
que as medidas e procedimentos destinados a fazê-los respeitar não se
tornem, por sua vez, obstáculos ao comércio legítimo [...]. (BRASIL,
1994, anexo, Ata, p. 407)

A proteção patentária é regida em cada país por legislação


específica, consonante aos acordos internacionais sobre a matéria.
No Brasil, a Lei n, 9.279, de 14 de maio 1996, regula os direitos
e as obrigações relativos à propriedade industrial, apresentando a
concessão de patentes de invenção e de modelo de utilidade como
uma das formas de proteção regulamentada, levando em conta o seu
interesse social e o desenvolvimento tecnológico e econômico do
País. Cabe ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI)
executar a legislação e normatizar os procedimentos necessários
para a realização dos pedidos de depósito de patentes. O INPI foi
criado em 1970 e se constitui uma autarquia federal vinculada ao
Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC).
Tem como responsabilidades o aperfeiçoamento, a disseminação
e a gestão do sistema brasileiro de concessão e de garantia de
direitos de propriedade intelectual para a indústria (INSTITUTO
NACIONAL DA PROPRIEDADE INDUSTRIAL, 2017).
As patentes constituem, portanto, uma forma do Estado
outorgar um título de proteção a pessoas físicas ou jurídicas de suas
invenções, as quais podem tornar-se elementos e pontos de partida
para a geração de novas tecnologias, novos empreendimentos
e novos negócios. Nessa oportunidade, a Organização para
a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), por
meio de sua publicação OECD Patent Statistics Manual, descreve
a patente como um meio de proteger invenções desenvolvidas
por empresas, instituições ou indivíduos e, como tal, podem ser
interpretados como indicadores de invenção (ORGANIZAÇÃO
PARA A COOPERAÇÃO E DESENVOLVIMENTO

Volume I
98 Patentes de Invenção e Modelo de Utilidade

ECONÔMICO, 2009). No entanto, pode ser longo e laborioso o


percurso de uma invenção até à inovação:

Antes que uma invenção possa se tornar uma inovação, mais esforços
empreendedores são necessários para desenvolvê-la, fabricá-la e
comercializá-la. Os indicadores de patentes transmitem informações
sobre a produção e os processos de atividades inventivas. As patentes
protegem as invenções e, embora a relação não seja simples, a pesquisa
mostrou que, quando os controles apropriados são aplicados, há uma
relação positiva entre as contagens de patentes e outros indicadores
relacionados ao desempenho inventivo (produtividade, participação de
mercado, etc.). Esse relacionamento varia entre países e indústrias e
ao longo do tempo. (ORGANIZAÇÃO PARA A COOPERAÇÃO E
DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO, 2009, p.13, tradução nossa)

Outro aspecto de grande importância sobre os sistemas de


patentes é o fato de esse sistema organizar informações de forma
sistemática, possibilitando o avanço tecnológico e científico e as
movimentações de áreas tecnológicas, redes institucionais e de
inventores, e de mercados, por meio do acesso a essas informações.

As patentes fornecem informações sobre o conteúdo tecnológico da


invenção (notavelmente seu campo técnico) e a localização geográfica
do processo inventivo. Como as patentes identificam proprietários
e inventores, podem revelar a organização do processo de pesquisa
subjacente quando combinadas com dados complementares [...].
As patentes também podem fornecer informações sobre a mobilidade e
as redes dos inventores, e permitem rastrear a difusão do conhecimento
(a influência de invenções particulares em outras invenções
subseqüentes). (ORGANIZAÇÃO PARA A COOPERAÇÃO E
DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO, 2009, p. 13, tradução livre)

O reconhecimento da patente, segundo Othon (2009,


p. 17), “[...] é prerrogativa exclusiva de cada Estado, separadamente
[...]”, e as motivações relativas à “[...] ingerência das normas
internacionais nas legislações internas sobre o assunto”. Baseado
nessas indagações o autor conclui:

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Patentes de Invenção e Modelo de Utilidade 99

[...] havendo um sistema de propriedade de bens intelectuais, ele,


obrigatoriamente, deve ser internacional, sob pena de o país que
conceder um monopólio de exploração ao titular de um invento ficar
em posição de desvantagem em relação aos que não o outorgam.
Caso isso acontecesse, os consumidores daquele país sofreriam um
preço monopolista, ao passo que os demais teriam o benefício da
concorrência, além de não precisarem investir recursos em pesquisa e
desenvolvimento. (OTHON, 2009, p. 18)

Mesmo diante da necessidade emergente da proteção das


invenções por meio do sistema patentário, no Brasil, ainda se
nota, especialmente dentro da academia científica, uma maior
preocupação na divulgação do conhecimento produzido mediante
publicações em periódicos. Um exemplo atual desse fato pode ser
considerado com o caso do fruto Copaíba, do Norte do Brasil,
que, em pesquisa de 2009, avaliou que durante dez anos o Brasil
foi líder em produção científica com 76 artigos, mas não estava
elencado nos países com depósitos de patentes envolvendo a
Copaíba nos Estados Unidos (MACEDO; BARBOSA, 2009).
Neste capítulo serão tratados aspectos introdutórios
sobre patentes, nas suas modalidades Patentes de Invenção (PI)
e Modelo de Utilidade (MU), abordando definições, vantagens
inerentes ao depósito e concessão da patente, as naturezas (tipos)
de proteção, produtos e processos que podem ser protegidos, qual
prazo de duração da proteção patentária, bases na elaboração de
uma patente (com foco nas reivindicações), introdução ao sistema
internacional e fluxo processual.

Definição de Patente
Os sistemas (nacionais e internacional) de patentes têm por
objetivo incentivar o desenvolvimento econômico e tecnológico,
recompensando a criatividade do criador e/ou investimento do
proprietário, excluindo por tempo limitado o uso e exploração

Volume I
100 Patentes de Invenção e Modelo de Utilidade

do invento por terceiros. Para Bocchino et al. (2011, p. 19, grifo


nosso), a patente:

É um título de propriedade temporário conferido como forma de


estímulo à inovação e recompensa pelos custos de pesquisa realizados.
Durante o prazo de vigência, o titular da patente possui direito de
excluir terceiro da utilização do conhecimento objeto da patente, salvo
se licenciada pelo proprietário.

O invento, portanto, é o resultado da intervenção humana,


pela ação de sua inventividade, criatividade, engenhosidade,
ou seja, não apenas decorre da natureza nem é resultado dos
fenômenos naturais. Dessa forma, considera-se que os inventos
abrangem as invenções e os modelos de utilidade.
A patente constitui uma concessão governamental de
exclusividade de exploração acerca de uma invenção por parte de
quem detém o título, por tempo limitado, também denominada
de título de propriedade temporária outorgado pelo Estado
ao titular ou titulares em relação à invenção. Segundo a visão
tradicional que confirma tal entendimento:

Uma patente, na sua formulação clássica, é um direito, conferido


pelo Estado, que dá ao seu titular a exclusividade da exploração
de uma tecnologia. Como contrapartida pelo acesso do público ao
conhecimento dos pontos essenciais do invento, a lei dá ao titular
da patente um direito limitado no tempo, no pressuposto de que é
socialmente mais produtiva em tais condições a troca da exclusividade
de fato (a do segredo da tecnologia) pela exclusividade temporária de
direito. (BARBOSA, 2010, p. 295, grifo nosso)

Segundo a Organização Mundial da Propriedade Intelectual


(2015, p. 16),

Uma patente, geralmente, concede a seu proprietário e/ou inventor o


direito exclusivo de controlar quem fabrica, usa, vende, oferece para
venda e/ou importa qualquer produto ou tecnologia protegida por
reivindicações de patentes.

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Patentes de Invenção e Modelo de Utilidade 101

Lembrando que não necessariamente o proprietário é o


inventor, como exemplo, pode-se mencionar uma empresa que
investe para obter certa tecnologia e ser detentora dela sem ser
propriamente a inventora.
A patente protege uma invenção ou um melhoramento
de produto ou processo, destacando que uma invenção pode
ser definida como uma nova solução para um problema técnico
específico, dentro de um determinado domínio tecnológico.
Segundo Barbosa (2010, p. 295), “Claramente a patente –
que é um direito imaterial – não se confunde com o produto
material (ou processo) ao qual se refere [...]”, para tanto, o autor
recorre ao artigo 4o quater da Convenção da União de Paris:

Não poderá ser recusada a concessão de uma patente e não poderá


ser uma patente invalidada em virtude de estar a venda o produto
patenteado ou obtido por um processo patenteado sujeito a restrições
ou limitações resultantes da legislação nacional. (BRASIL, 1975, art. 4º)

Ainda segundo Barbosa (2010, p. 295),

[...] patente presume a extinção do segredo, tornando o conhecimento


da tecnologia acessível a todos. Como requisito para conceder a
patente, o Estado exige a descrição exata da tecnologia de forma a que
um técnico com formação média na área seja capaz de reproduzir a
invenção.

Outro entendimento possível para patentes é de um “[...]


contrato social que coloca o interesse da sociedade à frente
do inventor [...]”, conforme aduzem Braga et al. (2018, p. 58,
tradução livre): “Assim, as patentes poderiam ser consideradas
como um ‘contrato’ entre inventores e sociedade, no qual um
direito de propriedade temporário é concedido em troca da sua
divulgação”.

Volume I
102 Patentes de Invenção e Modelo de Utilidade

O Que é Matéria Patenteável


De acordo com o artigo 27, da Seção 5 (Patentes) da Ata
Final do acordo TRIPS, a matéria patenteável é descrita como

1. [...] qualquer invenção, de produto ou de processo, em todos os


setores tecnológicos, será patenteável, desde que seja nova, envolva
um passo inventivo e seja passível de aplicação industrial. [...] as
patentes serão disponíveis e os direitos patentários serão usufruíveis
sem discriminação quanto ao local de invenção, quanto a seu setor
tecnológico e quanto ao fato de os bens serem importados ou
produzidos localmente. (BRASIL, 1994, Ata, anexo, p. 421)

O Acordo delineia a amplitude de atuação dos seus


signatários, no que tange à matéria não patenteável, e está baseado
em motivos relacionados à moral e à ordem pública, à proteção, à
saúde humana e, ainda, à preservação ambiental:

2. Os Membros podem considerar como não patenteáveis invenções


cuja exploração em seu território seja necessário evitar para proteger
a ordem pública ou a moralidade, inclusive para proteger a vida ou a
saúde humana, animal ou vegetal ou para evitar sérios prejuízos ao
meio ambiente, desde que esta determinação não seja feita apenas por
que a exploração é proibida por sua legislação. (BRASIL, 1994, Ata,
anexo, p. 421)

O Acordo também exemplifica invenções que ferem


os princípios morais de uma sociedade num determinado
tempo, por exemplo, um dispositivo ou fármaco que visasse à
esterilização em massa e compulsória da população. Dessa forma,
invenções poderão não ser patenteáveis devido a questões morais.
As concepções de moralidade são próprias de uma determinada
cultura e período histórico, sendo assim, alguns sistemas
patentários nacionais escolhem não incorporar às suas legislações
cláusulas polêmicas relacionadas à moral.

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Patentes de Invenção e Modelo de Utilidade 103

O Acordo ainda prevê que não se possa utilizar o instituto


da patente para proteção de assuntos de interesse do bem comum:

3. Os Membros também podem considerar como não patenteáveis:


a) métodos diagnósticos, terapêuticos e cirúrgicos para o tratamento
de seres humanos ou de animais; b) plantas e animais, exceto
microorganismos e processos essencialmente biológicos para a
produção de plantas ou animais, excetuando-se os processos não-
biológicos e microbiológicos [...]. (BRASIL, 1994, Ata, anexo, p. 421)

O Brasil incorporou à sua doutrina jurídica os elementos do


Acordo TRIPS por meio da Lei n. 9.279, de 14 de maio de 1996,
que regula direitos e obrigações relativos à propriedade industrial
(LPI). Conforme o artigo 18 da Seção III (Das Invenções e
Dos Modelos de Utilidade Não Patenteáveis) da LPI, não são
patenteáveis:

I – o que for contrário à moral, aos bons costumes e à segurança, à


ordem e à saúde públicas;
II – as substâncias, matérias, misturas, elementos ou produtos de
qualquer espécie, bem como a modificação de suas propriedades
físico-químicas e os respectivos processos de obtenção ou modificação,
quando resultantes de transformação do núcleo atômico; e
III – o todo ou parte dos seres vivos, exceto os microorganismos
transgênicos que atendam aos três requisitos de patenteabilidade –
novidade, atividade inventiva e aplicação industrial - previstos no art.
8º e que não sejam mera descoberta.
Parágrafo único. Para os fins desta Lei, microorganismos transgênicos
são organismos, exceto o todo ou parte de plantas ou de animais, que
expressem, mediante intervenção humana direta em sua composição
genética, uma característica normalmente não alcançável pela espécie
em condições naturais. (BRASIL, 1996, art. 18)

Constata-se que na legislação brasileira existem algumas


restrições em relação ao escopo de matéria de patente que se
pratica em outros países. Por exemplo, no Brasil, em função
do parágrafo III do artigo 18 da Lei n. 9.279 (BRASIL, 1996),

Volume I
104 Patentes de Invenção e Modelo de Utilidade

recentemente transcrito, não é possível a obtenção de uma


patente para uma molécula do extrato de uma determinada
planta, enquanto em outros países isso é possível. Embora sejam
passíveis de proteção no Brasil os processos de extração de
uma determinada substância presente numa planta, bem como
composições que contenham a substância, por exemplo, num
fármaco, e tenham aplicação industrial.

Patenteabilidade: o que pode ser considerado


invento ou invenção
Conforme o artigo 2º da LPI: “A proteção dos direitos
relativos à propriedade industrial, considerado o seu interesse
social e o desenvolvimento tecnológico e econômico do País
[...]”. Ou seja, a legislação brasileira chama à luz o papel social da
propriedade industrial, estando no seu bojo o sistema patentário,
mediante concessão de patentes de invenção e de modelo de
utilidade. A patenteabilidade de invenções e modelos de utilidade
é tratada na legislação brasileira, na forma nos artigos de 8º a 15
do Capítulo II, Seção Ida LPI. Inicialmente, destaca-se a distinção
dos requisitos das modalidades patente de invenção e modelo de
utilidade:

Art. 8º É patenteável a invenção que atenda aos requisitos de novidade,


atividade inventiva e aplicação industrial.
Art. 9º É patenteável como modelo de utilidade o objeto de uso
prático, ou parte deste, suscetível de aplicação industrial, que apresente
nova forma ou disposição, envolvendo ato inventivo, que resulte em
melhoria funcional no seu uso ou em sua fabricação. (BRASIL, 1996,
art. 8º, grifo nosso)

Os artigos 13 e 14 da mesma lei reforçam a diferenciação


entre patente de invenção (PI) e modelo de utilidade (MU) no que

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Patentes de Invenção e Modelo de Utilidade 105

tange ao requisito fundamental da “atividade inventiva” para PI e


“ato inventivo” para MU:

Art. 13. A invenção é dotada de atividade inventiva sempre que, para


um técnico no assunto, não decorra de maneira evidente ou óbvia do
estado da técnica.
Art. 14. O modelo de utilidade é dotado de ato inventivo sempre que,
para um técnico no assunto, não decorra de maneira comum ou vulgar
do estado da técnica. (BRASIL, 1996, art. 13 e 14, grifo nosso)

A legislação brasileira optou por usar uma descrição


negativa para o que se pode considerar invento ou invenção. Para
tanto, o artigo 10 da Lei n. 9.729 (BRASIL, 1996) enumera os
casos que não são matérias passíveis de proteção:

I – descobertas, teorias científicas e métodos matemáticos;


II – concepções puramente abstratas;
III – esquemas planos, princípios ou métodos comerciais, contábeis,
financeiros, educativos, publicitários, de sorteio e de fiscalização;
IV – as obras literárias, arquitetônicas, artísticas e científicas ou qualquer
criação estética;
V – programas de computador em si;
VI – apresentação de informações;
VII – regras de jogo;
VIII – técnicas e métodos operatórios ou cirúrgicos, bem como
métodos terapêuticos ou de diagnóstico, para aplicação no corpo
humano ou animal; e
IX – o todo ou parte de seres vivos naturais e materiais biológicos
encontrados na natureza, ou ainda que dela isolados inclusive o genoma
ou germoplasma de qualquer ser vivo natural e os processos biológicos
naturais. (BRASIL, 1996, art. 10)

As patentes deverão descrever uma invenção que seja


nova, útil e não óbvia. Segundo o artigo 11 da LPI, “A invenção
e o modelo de utilidade são considerados novos quando não
compreendidos no estado da técnica”. Define-se como estado

Volume I
106 Patentes de Invenção e Modelo de Utilidade

da técnica todos os conhecimentos públicos, sejam científicos,


inventivos ou tecnológicos, que existam antes do depósito do
pedido de patente. Para Barbosa (2010, p. 322):

O estado da técnica compreende todas as informações tornadas


acessíveis ao público antes da data de depósito do pedido de patente,
por descrição escrita ou oral, por uso ou qualquer outro meio, no
Brasil ou no exterior. Assim, perde-se a novidade não somente com a
divulgação da tecnologia – publicando um paper, por exemplo – mas
também pelo uso da tecnologia.

Barros (2007, p. 195) reforça uma importante característica


da novidade:

Uma das características da novidade exigida é a extraterritorialidade


[...], pouco importa em que país ocorram os elementos identificadores
do estado da técnica. [...] suficiente uma publicação em periódicos ou
sustentação oral em congresso de notícia técnico-científica, em qualquer
país, para que se tenha a novidade comprometida, caracterizando-se,
destarte, a anterioridade.

O termo também ganha definição e circunstância legal nos


três parágrafos do artigo 11 da LPI:

§ 1º O estado da técnica é constituído por tudo aquilo tornado acessível


ao público antes da data de depósito do pedido de patente, por
descrição escrita ou oral, por uso ou qualquer outro meio, no Brasil ou
no exterior, ressalvado o disposto nos arts. 12, 16 e 17.
§ 2º Para fins de aferição da novidade, o conteúdo completo de pedido
depositado no Brasil, e ainda não publicado, será considerado estado
da técnica a partir da data de depósito, ou da prioridade reivindicada,
desde que venha a ser publicado, mesmo que subseqüentemente.
§ 3º O disposto no parágrafo anterior será aplicado ao pedido
internacional de patente depositado segundo tratado ou convenção
em vigor no Brasil, desde que haja processamento nacional. (BRASIL,
1996, art. 11, grifo nosso)

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Patentes de Invenção e Modelo de Utilidade 107

O termo “prioridade” tem significado jurídico no âmbito


do direito à propriedade industrial. Barbosa (2010, p. 331) aduz
que é

Um dos mais antigos princípios internacionais relativos à propriedade


industrial, o direito de prioridade é concedido aos titulares de um
depósito estrangeiro, em oposição a qualquer depósito nacional
subsequente.

Ele adiciona, “Pelo princípio da prioridade, um estrangeiro


pode ter, em todos os demais países partícipes de um ato
internacional, um prazo para requerer seus direitos, sem prejuízo
da novidade e anterioridade” (BARBOSA, 2010, p. 331). Ou seja,
o depósito mais antigo assegura a anterioridade. além disso, “A
retirada de depósito anterior sem produção de qualquer efeito
dará prioridade ao depósito imediatamente posterior [...]”,
conforme prevê o artigo 7º da LPI (BRASIL, 1996).
A Convenção da União de Paris, no artigo 4º, estabelece a
prioridade unionista, quando

[...] assegura que, no prazo de doze meses, a divulgação da Invenção,


ou do Modelo de Utilidade, em decorrência do primeiro depósito de
um pedido em um dos países signatários desse acordo, não prejudica
o depósito posterior do pedido correspondente em nosso país (art.
16 da LPI). (INSTITUTO NACIONAL DA PROPRIEDADE
INDUSTRIAL, 2015, p. 12)

A prioridade interna, que deve ser requerida no ato do


depósito do pedido de patente no INPI, é definida no artigo 17
da LPI:

O pedido de patente de invenção ou de modelo de utilidade depositado


originalmente no Brasil, sem reivindicação de prioridade e não
publicado, assegurará o direito de prioridade ao pedido posterior sobre
a mesma matéria depositado no Brasil pelo mesmo requerente ou
sucessores, dentro do prazo de 1 (um) ano. (BRASIL, 1996, art. 17)

Volume I
108 Patentes de Invenção e Modelo de Utilidade

A partir do conceito de prioridade, desdobra-se outro


termo relacionado: família de patente, entendido como:

Uma família de patente é um conjunto de pedidos de patente depositados


ou de patentes concedidas em mais de um país para proteger uma
mesma invenção desenvolvida pelos mesmos inventores. Um primeiro
depósito de pedido de patente é feito em um país – a prioridade – e em
seguida é estendida para outros escritórios. (INSTITUTO NACIONAL
DA PROPRIEDADE INDUSTRIAL, 2015, p. 4)

Ou seja, as invenções são frequentemente objeto de


pedidos de patentes em vários escritórios de patentes nacionais
ou regionais. Quando existem várias publicações para uma
determinada patente (em outros países) reivindicando a mesma
prioridade ou prioridades, constitui-se a “família de patentes”.
Todos esses “membros da família” têm números de prioridade
com datas de prioridade associadas em comum.
No Brasil, a invenção ou o modelo de utilidade não serão
considerados no estado da técnica quando houver divulgação
destes promovida pelos casos previstos no artigo 12 da LPI,
considerando que a publicação sobre o invento tenha ocorrido
durante “[...] os 12 (doze) meses que procederem a data de
depósito ou a da prioridade do pedido de patente” (BRASIL,
1996, art. 12). A divulgação poderá ser promovida:

I – pelo inventor;
II – pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial – INPI,
através de publicação oficial do pedido de patente depositado sem o
consentimento do inventor, baseado em informações deste obtidas ou
em decorrência de atos por ele realizados; ou
III – por terceiros, com base em informações obtidas direta ou
indiretamente do inventor ou em decorrência de atos por este realizados.
Parágrafo único. O INPI poderá exigir do inventor declaração relativa à
divulgação, acompanhada ou não de provas, nas condições estabelecidas
em regulamento. (BRASIL, 1996, art. 12)

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Patentes de Invenção e Modelo de Utilidade 109

A esse período que precede a data de depósito ou a da


prioridade do pedido de patente, é dado o nome de “período
de graça” e tem definição objetiva, como descreve a lei. Barbosa
(2010, p. 324) esclarece que o período de graça, para a Organização
Mundial da Propriedade Intelectual,

[...] é a exceção ao princípio da novidade, segundo o qual a divulgação


promovida pelo inventor, para propósitos não comerciais, ou por
terceiros sem sua autorização, não prejudica o direito à patente.
Não obstante sua possível origem, o período de graça parece
particularmente útil no estágio atual, em que muitas vezes o inventor
brasileiro desconhece a regra férrea pela qual qualquer divulgação
impede a patente.

Ressalte-se que, na maioria dos outros países, uma


divulgação pública da invenção antes do depósito do pedido de
patente resultaria na negativa do pedido. Daí a importância de se
conhecer a legislação nacional sobre a matéria, compreendendo-
se as exigências específicas em todos os países de interesse para
se encaminhar o processo de proteção (ORGANIZAÇÃO
MUNDIAL DA PROPRIEDADE INTELECTUAL, 2015).
A pesquisa que abrange uma revisão minuciosa sobre o
estado da técnica, buscando patentes correlacionadas à invenção
e trabalhos científicos sobre a temática é conhecida como “busca
de anterioridade”. Recomenda-se que tais conhecimentos devem
ser considerados e amplamente pesquisados antes do depósito
propriamente dito.
O termo “atividade inventiva”, citado anteriormente, é um
dos requisitos essencial de patenteabilidade e relaciona-se com
o conceito de novidade, visto que na sua conceituação legal o
termo “estado da técnica” está presente. Outra expressão-chave
decorrente do conceito apresentado pela LPI é “não obviedade”,
aspecto que deve ser avaliado com atenção. Para Barbosa (2010,
p. 335):

Volume I
110 Patentes de Invenção e Modelo de Utilidade

[...]o padrão de avaliação é o homem especializado na matéria, mas


não o maior expoente mundial do setor. Há um parâmetro usualmente
utilizado para esta avaliação, que é do profissional graduado na
especialidade, detentor dos conhecimentos acadêmicos comuns, e da
experiência média de um engenheiro ou técnico [...].

Com respeito ao modelo de utilidade (um), a legislação


se utiliza do termo ato inventivo, para tratar do requisito de
patenteabilidade. O termo possui um significado difuso, o qual é
conceituado por Barbosa (2010, p. 337) sendo “[...] um mínimo
de inventividade além do que seria simplesmente novo”.
Ainda quanto aos requisitos legais para a proteção de
invenções e modelos de utilidade, cabe mencionar o artigo 15
da LPI: “A invenção e o modelo de utilidade são considerados
suscetíveis de aplicação industrial quando podem ser utilizados
ou produzidos em qualquer tipo de indústria” (BRASIL, 1996,
art. 15). Dessa forma, para um produto ou processo ser apto
à patenteabilidade, ele deve atender ao “tripé para requisição
patentária”, possuindo, portanto, três características fundamentais
e legais:

1. Novidade: a invenção deverá ser nova, ou seja, não


deve estar em uso ou ser de conhecimento de outras
pessoas, em nível mundial. Uma patente ou outra
publicação qualquer no assunto invalida a novidade.
Assim, quando há outra patente de mesmo teor ou
artigo científico previamente publicado, a invenção a
ser patenteada não pode ser protegida, pois já está sob
proteção (patente anterior em vigência) ou tornou-se de
“domínio público” (existe publicação científica anterior
sem proteção patentária ou existe patente com tempo
de proteção extinto).
2. Aplicação Industrial/Utilidade: este é um requisito
identificado em uma invenção fazendo as seguintes

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Patentes de Invenção e Modelo de Utilidade 111

perguntas: é uma invenção útil para a sociedade?


Soluciona algum tipo de problema? Caso as perguntas
sejam respondidas de forma positiva e convençam um
especialista da área, considera-se que a invenção atende
o requisito de ser “útil”.
3. Não obviedade/Atividade Inventiva ou Ato Inventivo:
a não obviedade requer que uma invenção ou modelo
de utilidade não seja óbvio para alguém que é um
especialista na área.

A patente deverá também satisfazer outras exigências


legais, como prazos relacionados ao tempo no qual a invenção
foi divulgada ao público, caso tenha sido antes do depósito do
pedido de patente. Geralmente, as patentes serão negadas se a
invenção tiver sido divulgada ao público antes do depósito do
pedido, excluindo a prerrogativa legal do período de graça que
possa ser aplicado. Portanto, Barbosa (2010, p. 330) destaca:

Importantíssimo, neste contexto, é a prova do momento do invento.


Para satisfazer o requisito do prazo, convém aplicar os exatos
parâmetros de verificação de anterioridade, acima expostos, ainda que
com a ênfase oposta.

Tipos de Patentes
Como já mencionado, as patentes podem admitir diferentes
formas. Podem variar quanto à finalidade: de invenção e de
modelo de utilidade. Na primeira, obtém-se uma nova solução
para um problema técnico específico, dentro de um determinado
campo tecnológico. Na segunda, se objetiva uma nova forma
ou disposição em objeto de uso prático ou parte dele, visando
melhoria funcional no seu uso ou em sua fabricação.

Volume I
112 Patentes de Invenção e Modelo de Utilidade

Na prática, a proteção para modelos de utilidade é


geralmente buscada para “inovações de natureza adicional” que
possam não satisfazer aos critérios para patentes de invenção, por
exemplo, inabilidade em demonstrar a atividade inventiva.
Como patente de modelo de utilidade (MU), é possível
observar o exemplo a seguir que apresenta novas formas para
uma tesoura de poda, produzindo melhoria funcional e de novas
aplicações.

Figura 1: (A) Tesoura de poda semiprofissional; (B) Tesoura de poda com cabo
giratório, que acompanha o movimento da mão, facilitando o corte, e por ser anatômico
e ergonômico, proporciona maior conforto ao operador; (C) Tesoura de poda própria
para podar galhos e ramos de árvores onde não é possível alcançar com as tesouras
normais

Fonte: Organização Mundial da Propriedade Intelectual (2015)

As patentes podem ser categorizadas também quanto à


natureza da solução técnica aportada ao objeto: processo, produto
ou equipamento.
As matérias (ou objetos) de patente (produtos, processos,
equipamentos) que podem ser protegidos por ela são delimitadas
pela legislação de cada país. De uma forma geral, são concedidas
patentes para:

• dispositivos mecânicos e artigos de manufatura;


• processos e métodos;
• composição ou compostos químicos;
• moléculas isoladas e caracterizadas;

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Patentes de Invenção e Modelo de Utilidade 113

• organismos genéticos/sequências genéticas;


• programas de computador (aplicado/embarcado);
• aperfeiçoamentos.

Busca de Anterioridade
A busca de anterioridade consiste no levantamento de
informações e de evidências sobre o “estado da técnica” de
uma determinada invenção para saber se já foi desenvolvida e
apropriada. Trata-se de uma revisão minuciosa sobre o estado da
técnica, buscando patentes correlacionadas à invenção e trabalhos
científicos sobre a temática.
O papel da Busca da Anterioridade é fundamental para a
iniciação do processo de Prospecção Tecnológica, que avalia as
tecnologias existentes, a maturidade da tecnologia em questão
e como ela se insere na sociedade. Numa pesquisa de busca de
anterioridade são identificados também aspectos de tecnologias
concorrentes e lacunas a serem preenchidas, nas quais é possível
que determinada tecnologia ou suas variações sejam competitivas
(QUINTELLA et al., 2011).
As fontes de informações científicas, tecnológicas e de
mercado utilizadas nas buscas de anterioridade para saber se a
invenção é realmente nova são diversas, a exemplo de publicações
científicas, resumos de trabalhos apresentados em congressos,
publicações técnicas, sites especializados e bases de dados de
informações tecnológicas. As fontes de informação mais utilizadas
são pesquisas em artigos científicos, em plataformas acadêmicas
abrangentes, como a da Coordenação de Aperfeiçoamento de
Pessoal de Nível Superior (CAPES), além de bases de documentos
de patentes, por exemplo, as apresentadas no Quadro 1.

Volume I
114 Patentes de Invenção e Modelo de Utilidade

Quadro 1: Bases de dados de patentes disponíveis on-line


País/Organização/
Bases de dados de patentes
Conjunto de países
Sistemas ou Banco de dados públicos gratuitos
INPI
Brasil
Instituto Nacional da Propriedade Industrial
USPTO
Escritório Americano de Patente e Marcas
Estados Unidos
(USPTO, do inglês United States Patent and
Trademark Office).
Espacenet
Escritório Europeu de Patente (EPO, do inglês União Europeia
European Patent Office)
América Latina e
LATIPAT– Espacenet
Espanha
PATENSCOPE OMPI
JPO
Escritório Japonês de Patente (JPO, do inglês Japão
Japan Patent Office)
Sistemas ou Banco de dados privados não gratuitos
Derwent Innovations Index® Thomson Reuters
China PAT
China
China Pat Intellectual Property Office
Fonte: Elaborado pelos autores deste capítulo (2018)

A base de dados da OMPI possibilita consultas em 70


milhões de documentos de patentes, de coleções nacionais e
regionais. Inclui também na sua base 3,4 milhões de pedidos
de patentes internacionais publicados (ORGANIZAÇÃO
MUNDIAL DA PROPRIEDADE INTELECTUAL, 2018).

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Patentes de Invenção e Modelo de Utilidade 115

A base Derwent Innovations Index contém mais de 16 milhões


de documentos de patentes, desde 1963 até os dias de hoje.
As informações de patente são coletadas com 41 autoridades
emissoras de patente em todo o mundo e são classificadas em
três categorias: Química, Engenharia e Elétrica e Eletrônica
(BRASIL, 2018).
Os documentos de patente são importantes fontes de
informações tecnológicas e jurídicas, apresentadas em formato
padronizado e, segundo a Organização Mundial da Propriedade
Intelectual (2015, p. 4), podem:

Evitar a duplicação de esforços de pesquisa e desenvolvimento;


Determinar a patenteabilidade de suas invenções; Evitar infringir
patentes de outros inventores; Estimar o valor de suas patentes ou
de outros inventores; Explorar a tecnologia de pedidos de patentes
que nunca foram concedidos, e patentes que não são válidas em
certos países ou são não mais em vigor; Ganhar inteligência sobre as
atividades inovadoras e direção futura de concorrentes de negócios;
Extrair, analisar e rever as principais tendências em campos técnicos
específicos, nomeadamente os de interesse público, como os que se
referem a questões de saúde e meio ambiente.

A partir dos objetivos da busca de anterioridade, definem-


se os critérios e parâmetros que irão compor o escopo da busca.
Critérios que poderão ser aplicados em diversos campos do
documento a exemplo de título, resumo, quadro reivindicatório
ou mesmo no documento inteiro.
Destaca-se aqui a necessidade de compreender as
características e as especificidades do invento, assim como
a identificação da área tecnológica para subsidiar a escolha
das palavras-chave que irão compor a estratégia de busca de
anterioridade. Segundo Linhares (2017, p. 700):

O profundo conhecimento da invenção e do estado da técnica é


importante para conseguir mensurar o que foi encontrado nas buscas

Volume I
116 Patentes de Invenção e Modelo de Utilidade

de anterioridade para que se tenha a noção exata quanto à efetividade


dos seus possíveis e prováveis desdobramentos para a concessão de um
pedido de patente.

Conhecer suficientemente a invenção e enquadrá-la de


forma adequada no campo do conhecimento torna-se importante
devido à identificação e à utilização dos códigos de classificação
de patentes de interesse relevantes para a pesquisa.
Esse tema será abordado mais amplamente no Capítulo
Busca de Anterioridade do livro dedicado à Prospecção
Tecnológica da Coleção PROFNIT.

Dados Gerais e Classificação de Patentes


O documento de patente segue padrões internacionais
e deve apresentar uma “folha de rosto” (Figura 2), que traz o
conjunto de informações importantes para identificação: o
número da patente, a data de depósito, a data de publicação, a
classificação internacional, título e resumo. Ou seja, a folha de
rosto deve apresentar os elementos bibliográficos contidos no
pedido de patente por meio do Código para Identificação de
Dados Bibliográficos ou Identificação Numérica Internacional
de Dados Bibliográficos (INID). O significado de cada uma
dessas identificações numéricas (ou códigos) é disponibilizado
pela Organização Mundial da Propriedade Intelectual.
Todos os pedidos de patentes publicados são classificados
nas áreas tecnológicas às quais pertencem. A classificação de
patente tem como objetivo inicial estabelecer uma ferramenta
de busca eficaz para a recuperação de documentos de patentes
pelos escritórios de propriedade intelectual e demais usuários.
O INPI adota a Classificação Internacional de Patentes (IPC –
sigla do inglês International Patent Classification) e, desde 2014, a

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Patentes de Invenção e Modelo de Utilidade 117

Classificação Cooperativa de Patentes (CPC) para classificar os


pedidos.
Observa-se já na folha de rosto do pedido de patente a
classificação internacional, o que é de extrema importância
para a pesquisa. Barros (2007, p. 206) reforça que é “[...] o que
interessa a qualquer pesquisador, porquanto nela se sistematizam
as informações técnicas da patente”.

Figura 2: Folha de rosto de pedido de patente depositado no INPI

Fonte: Adaptada de Instituto Nacional da Propriedade Industrial (2010)

Observa-se já na folha de rosto do pedido de patente (Figu-


ra 2) a classificação internacional, o que é de extrema importância
para a pesquisa. Barros (2007, p. 206) reforça que é “[...] o que
interessa a qualquer pesquisador, porquanto nela se sistematizam
as informações técnicas da patente”.

Volume I
118 Patentes de Invenção e Modelo de Utilidade

A IPC é o sistema de classificação internacional, criado a


partir do Acordo de Estrasburgo (1971), cujas áreas tecnológicas
são divididas em seções. Dentro de cada seção, há subdivisões
de classes, e dentro dessas subdivisões há subclasses, grupos
principais e subgrupos, conformando um sistema hierárquico. As
oito seções são identificadas com as letras de A a H (INSTITUTO
NACIONAL DA PROPRIEDADE INDUSTRIAL, 2017),
conforme listadas a seguir:

• Seção A – Necessidades Humanas;


• Seção B – Operações de Processamento; Transporte;
• Seção C – Química; Metalurgia;
• Seção D – Têxteis; Papel;
• Seção E – Construções Fixas;
• Seção F – Engenharia Mecânica; Iluminação;
Aquecimento; Armas; Explosão;
• Seção G – Física;
• Seção H – Eletricidade.

A IPC divide a tecnologia em oito seções com


aproximadamente 70.000 subdivisões. Cada subdivisão tem um
símbolo que consiste em algarismos arábicos e letras do alfabeto
latino. Os símbolos apropriados da IPC são indicados em cada
documento de patente, dos quais mais de 1.000.000 foram emitidos
a cada ano nos últimos 10 anos. Os símbolos IPC são divulgados
pelo escritório nacional ou regional de propriedade industrial
e, para documentos do Tratado de Cooperação em Matéria de
Patentes (PCT), pela Autoridade de Pesquisa Internacional
(ISA) (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA PROPRIEDADE
INTELECTUAL, 2018).

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Patentes de Invenção e Modelo de Utilidade 119

Em 2010, os escritórios norte-americano e europeu, USPTO


e o EPO, lançaram em cooperação um sistema de classificação
de patentes, o chamado CPC. A Classificação Cooperativa de
Patentes usa o Sistema Europeu de Classificação (ECLA) como
base e incorpora as melhores práticas de classificação do USPTO.
Portanto, a CPC é um sistema de classificação desenvolvido em
conjunto, baseado na IPC, sendo mais detalhado do que a IPC e tem
por finalidade melhorar a busca de patentes (ORGANIZAÇÃO
MUNDIAL DA PROPRIEDADE INTELECTUAL, 2018).
Para fins de exemplificação, o Quadro 2 apresenta as
subclasses e os subgrupos associados à classe H quando se deseja
classificar uma patente referente a células a combustível com
eletrólitos sólidos:

Quadro 2: Exemplo de classificação internacional de um invento referente a células a


combustível com eletrólitos sólidos
Classificação Título/denominação
Seção H Eletricidade
Classe H01 Elementos Elétricos Básicos
Processos ou meios, por ex., baterias,
Subclasse H01M para a conversão direta da energia
química em energia elétrica
Grupo H01M8 •Células a combustível; Sua fabricação
••Células a combustível com eletrólitos
Subgrupo H01M8/10
sólidos
Fonte: Elaborado pelos autores deste capítulo (2018)

Logo, uma patente intitulada “Células a combustível


com eletrólitos sólidos” receberá a classificação H01M8/10.
Portanto, a hierarquia se dá por uma diferenciação ordenada
de forma decrescente, ou seja, do campo tecnológico para as
especificidades, os chamados níveis da tecnologia, denominados

Volume I
120 Patentes de Invenção e Modelo de Utilidade

seção, classes, subclasses, grupos e subgrupos. Segundo Barros


(2007, p. 208), a hierarquização “Entre os grupos ela é expressa
pelo número de pontos que precedem os subgrupos, e não por
sua numeração”1.

O Depósito de Pedido de Patente


Apesar das várias etapas e dos exames realizados, ocorre que
escritórios nacionais, regionais e internacionais podem propiciar
a concessão de patentes frágeis ou mesmo equivocadas. Um
dos possíveis motivos atribuídos a essas ocorrências é o grande
volume recente de depósito de pedidos de patente em todo o
mundo e de incentivos inapropriados aos examinadores para a
realização da concessão e dos procedimentos tendenciosos que
favorecem o requerente de patente (FARREL; MERGES, 2004).
No sistema patentário brasileiro, o INPI é o órgão
responsável por acolher os pedidos de patente e instituir os meios
e os procedimentos em conformidade com a doutrina vigente,
ou seja, cumpre o disposto no artigo 19 da LPI. O documento
“Indicadores de Propriedade Industrial 2018”, publicado pelo
órgão (INSTITUTO NACIONAL DA PROPRIEDADE
INDUSTRIAL, 2018, p. 10), registra um aumento no número
de depósitos no período de 2010 a 2013 e decréscimo de 2014
a 2017. A Figura 3 apresenta os pedidos de patente depositados
considerando-se as patentes de invenção, o modelo de utilidade e
os certificados de adição (PI+MU+CA) no período de 2008-2017.
Comportamento semelhante foi observado com os depósitos
via PCT, enquanto o número dos depósitos diretos manteve-se
constante em maior parte do período avaliado.

1
Informações complementares sobre o tema podem ser obtidas em: <http://
www.inpi.gov.br/menu-servicos/patente/classificacao-de-patentes>.

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Patentes de Invenção e Modelo de Utilidade 121

Figura 3: Pedidos de patente depositados (PI+MU+CA), 2008-2017

Fonte: Instituto Nacional da Propriedade Industrial (2018)

A legislação brasileira estabelece os elementos necessários


para o pedido de patente, conforme os incisos:

I – requerimento;
II – relatório descritivo;
III – reivindicações;
IV – desenhos, se for o caso;
V – resumo; e
VI – comprovante do pagamento da retribuição relativa ao depósito.
(BRASIL, 1996, art. 19)

No entanto, o pedido que não contiver todos os itens


descritos anteriormente, de acordo com o artigo 21 da LPI.

[...] poderá ser entregue, mediante recibo datado, ao INPI, que


estabelecerá as exigências a serem cumpridas, no prazo de 30 (trinta)
dias, sob pena de devolução ou arquivamento da documentação.
(BRASIL, 1996, art. 21)

Ainda é previsto na LPI o certificado de adição, que visa a


proteger um aperfeiçoamento ou desenvolvimento introduzido
no objeto da invenção e elaborado em matéria para a qual já
se tem um pedido depositado ou mesmo a patente concedida
(PARANAGUÁ; REIS, 2009). Não é necessário que o objeto
do certificado de adição tenha atividade inventiva, desde que a

Volume I
122 Patentes de Invenção e Modelo de Utilidade

matéria se inclua no mesmo conceito inventivo. Paranaguá e Reis


(2009, p. 30) aduzem que o certificado geralmente contribui com
“[...] detalhamentos de uma patente ou depósito e não constituem
inovação suficiente que mereça novo depósito ou nova patente”.
Os autores ainda acrescentam “O certificado de adição é acessório
à patente, e seu prazo finda quando findar o prazo da patente
principal” (PARANAGUÁ; REIS, 2009, p. 30).
Segundo Barbosa (2002, p. 339), conceito inventivo é outro
requisito de patenteabilidade e pode ser definido

[...] como a resolução de um único problema técnico. Assim, se para


fabricar um novo produto específico, é necessário utilizar um novo
aparelho, e utilizar um novo processo, a análise teleológica indica a
existência de um só conceito inventivo.

O INPI, em sua publicação intitulada Manual para Depositantes


de Patentes, auxilia o usuário quanto aos procedimentos necessários
para a realização do depósito do pedido, além de informar sobre
conceitos básicos da matéria (INSTITUTO NACIONAL DA
PROPRIEDADE INDUSTRIAL, 2015).

As Condições do Pedido de Patente

A LPI, na Seção II, estabelece as condições do pedido


de patente de invenção e patente de modelo de utilidade. Entre
essas condições, destaca-se o fato de as patentes de invenção
“compreenderem um único conceito inventivo”, conforme artigo
22 da LPI (BRASIL, 1996).
Quanto ao modelo de utilidade

[...] terá de se referir a um único modelo principal, que poderá incluir


uma pluralidade de elementos distintos, adicionais ou variantes
construtivas ou configurativas, desde que mantida a unidade técnico-
funcional e corporal do objeto. (BRASIL, 1996, art. 23)

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Patentes de Invenção e Modelo de Utilidade 123

Outra condição fundamental prevista em lei é a chamada


“suficiência descritiva” qualidade atribuída ao relatório. Ou seja,
o invento deverá estar descrito de forma clara e suficiente, “[...]
de modo a possibilitar sua realização por técnico no assunto
e indicar, quando for o caso, a melhor forma de execução”
(BRASIL, 1996, art. 24). Por fim,

As reivindicações deverão ser fundamentadas no relatório descritivo,


caracterizando as particularidades do pedido e definindo, de modo
claro e preciso, a matéria objeto da proteção. (BRASIL, 1996, art. 25)

A descrição da invenção deve ser suficientemente e


caracterizada de forma adequada pelo requerente, conforme
as especificações detalhadas no relatório descritivo. Braga et al.
(2018, p. 60, tradução livre) reforçam ainda:

Durante o processo de exame, presume-se que o requerente descreveu


sua invenção de maneira suficiente [...] uma vez que o examinador
tenha pesado todas as evidências e estabelecido uma base razoável
para questionar a habilitação fornecida para a invenção reivindicada, o
ônus recai sobre o requerente para apresentar argumentos persuasivos,
apoiados por provas adequadas quando necessário, que um perito
na arte seria capaz de fazer e usar a invenção reivindicada usando a
especificação como guia.

A LPI ainda prevê o caso de pedido de patente que envolva


material biológico, o qual, devido à sua natureza singular, não
possa ser descrito satisfatoriamente no relatório descritivo e que
não esteja “acessível ao público”, deverá ser realizado o depósito
suplementar do material. (BRASIL, 1996, art. 24, parágrafo único).

Os Cronogramas para o Depósito de um Pedido de Patente

Como já mencionado, a patente é um título temporário.


Os prazos de vigência são definidos pela LPI: “A patente de

Volume I
124 Patentes de Invenção e Modelo de Utilidade

invenção vigorará pelo prazo de 20 (vinte) anos e a de modelo


de utilidade pelo prazo 15 (quinze) anos contados da data de
depósito” (BRASIL, 1996, art. 40). A exploração na forma
de monopólio finda aos 20 anos. Ou seja, a partir de 20 anos,
considera-se que o monopólio foi extinto e que a invenção vai
para domínio público, e as patentes de modelo de utilidade têm
uso restrito ao proprietário por 15 anos.
A LPI também define um prazo de vigência da PI e do MU
no parágrafo único do artigo 40:
O prazo de vigência não será inferior a 10 (dez) anos para
a patente de invenção e a 7 (sete) anos para a patente de modelo
de utilidade, a contar da data de concessão, ressalvada a hipótese
de o INPI estar impedido de proceder ao exame de mérito do
pedido, por pendência judicial comprovada ou por motivo de
força maior. (BRASIL, 1996, art. 40)
Para o depósito de um pedido de patente no Brasil, as
principais exigências podem ser destacadas no cronograma
apresentado na Figura 4.

Figura 4: CronogramaFigura
do depósito de patente
4: Cronograma no Brasil
do depósito de patente no Brasil

Depósito Publicação Exame Extinção

0 18 meses 36 meses 20 anos

Exigência do examinador Ações judiciais

Terceiros
Contrafator

Fonte: Adaptada de Instituto Nacional da Propriedade Industrial (2017)


Fonte: Adaptado de Instituto Nacional de Propriedade Industrial (2017)

O tempo zero (0) representa a data do depósito e cumpre


as etapas descritas a seguir:

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Patentes de Invenção e Modelo de Utilidade 125

(i) Após o depósito do pedido no INPI, ele é submetido ao exame


formal preliminar e, se considerado propriamente documentado, a data
de recepção (protocolo ou entrada no INPI) é considerada a data do
depósito;
(ii) O pedido de patente permanece em sigilo por dezoito meses
contados a partir da data de depósito ou da data de sua prioridade
mais antiga, caso exista alguma. Após os dezoito meses de sigilo, o
pedido é publicado na Revista da Propriedade Industrial (RPI) que é
publicada semanalmente no site do INPI. Essa publicação pode ser
antecipada a requerimento do depositante, entretanto, isso não acelera
o exame técnico. Após a publicação e até o final do exame, terceiros
interessados podem submeter documentação para subsidiar o exame;
(iii) O exame do pedido de patente deve ser requerido pelo depositante
ou por terceiros interessados, após o prazo de 36 meses contados da
data do depósito. Caso o exame do pedido não seja requisitado, o
pedido é arquivado. O exame técnico contém um relatório de busca e
parecer relativo à patenteabilidade, adaptação à natureza reivindicada
(PI ou MU), necessidade de reformulação ou divisão do pedido e
exigências técnicas;
(iv) A decisão do exame pode ser: indeferimento ou deferimento.
No caso do deferimento, o depositante tem 60 dias para pagar para a
expedição da carta patente. O depositante tem até o 36º, mês contados
a partir do depósito, para requerer o exame substantivo ou exame de
mérito ao INPI. (INSTITUTO NACIONAL DA PROPRIEDADE
INDUSTRIAL, 2018, p. 9)

Como apresentado na Figura 4, a publicação do pedido de


patente na Revista da Propriedade Industrial (RPI) ocorre no prazo
de 18 meses contados do depósito. Paranaguá e Reis (2009, p. 17)
afirmam que no período de sigilo:

[...] já é lícito ao titular do pedido licenciá-lo voluntariamente ou


produzir a invenção, com possibilidade de obter indenização pela
exploração indevida — caso haja concessão da patente ao fim do
procedimento administrativo — retroativa à data da publicação do
pedido da patente ou, mesmo antes da publicação do pedido da patente,
do início da exploração indevida, nesta última situação caso tenha
havido conhecimento do conteúdo depositado antes da publicação do
pedido.

Volume I
126 Patentes de Invenção e Modelo de Utilidade

Os custos de depósito de patente no Brasil são estipulados


pelo INPI e sofrem variação se forem requisitados por meio
eletrônico ou em papel, já que é possível obtê-la a partir do site do
INPI2. Conforme discriminado na Figura 2, as fases do processo,
desde o depósito, a publicação, o pedido de exame técnico, ente
outras, exigem o pagamento de retribuições ou de taxas que são
pagas por Guia de Recolhimento da União (GRU).
Para o depósito do pedido de patente em outros países,
pode-se utilizar um grande mecanismo, ou sistema, conhecido
como Sistema PCT, sigla do inglês, traduzido como Tratado de
Cooperação em Matéria de Patentes (Patent Cooperation Treaty),
assinado em 19 de junho de 1970 e modificado em 1979, 1984
e 2001. Foi incorporado ao ordenamento jurídico brasileiro por
meio do Decreto Legislativo n. 110, de 30 de novembro de 1977
(BRASIL, 1977).
Trata-se de um acordo multilateral administrado pela
Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI), que
dispõe sobre o depósito, a pesquisa (busca por anterioridades), a
publicação e o exame de pedidos internacionais. O Tratado possui
152 (cento e cinquenta e dois) países-membros (ORGANIZAÇÃO
MUNDIAL DA PROPRIEDADE INTELECTUAL, 2017).
O PCT facilita a obtenção de patentes nos países
contratantes prevendo o depósito de um pedido internacional,
que pode, em seguida, ser processado nos diversos escritórios
oficiais nacionais ou regionais designados dos Estados integrantes
do PCT. O processo envolve várias etapas e destaca-se pelas
chamadas fase internacional e fase nacional. O cronograma
apresentado na Figura 5 apresenta as etapas básicas do depósito
de um Pedido de acordo com o PCT. A fase internacional abrange
o período do décimo segundo mês, contados a partir do depósito
do pedido, ao trigésimo mês, após isso, o pedido entra na fase
2
Site do INPI: <http://www.inpi.gov.br/pedidos-em-etapas/pague-taxa>.

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Patentes de Invenção e Modelo de Utilidade 127

nacional do país ou dos países selecionados para a realização da


proteção (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA PROPRIEDADE
INTELECTUAL, 2017).

Figura 5: Etapas básicas do depósito de pedido de patente via CUP e via PCT

Fonte: Organização Mundial da Propriedade Intelectual (2017)

Tipicamente, o início do cronograma de um pedido PCT


ocorre quando um requerente deposita um pedido de patente
nacional em um determinado país, no caso do Brasil no INPI.
Em seu pedido PCT subsequente, ele pode reivindicar a data de
depósito do pedido local como “data de prioridade”. Há uma
série de datas importantes a serem observadas até chegar à fase
nacional, como mostra o cronograma acima.
Os pedidos depositados diretamente no INPI contam com
um período de sigilo (18 meses) e apenas recebem a classificação
pelo examinador antes de serem publicados. Para pedidos
depositados via PCT, o exame de admissibilidade, que ocorre em
fase nacional, pode levar a um retardo na publicação.

Os pedidos depositados via PCT [...] já receberam a classificação


e tiveram a publicação internacional, mas passam por um exame de
admissibilidade no INPI para verificar as informações da publicação

Volume I
128 Patentes de Invenção e Modelo de Utilidade

internacional e, caso necessário, reclassificá-los. Estes pedidos são


publicados no Brasil após o exame de admissibilidade. (INSTITUTO
NACIONAL DA PROPRIEDADE INDUSTRIAL, 2018, anexo, p. 5)

Os requerentes devem entrar na fase nacional antes da


expiração do limite de tempo estabelecido no artigo 39(1)
do PCT. O limite mínimo são 30 meses, a partir da data de
prioridade. Quando entrar na fase nacional, o requerente deve
satisfazer certas exigências nacionais. Elas incluem o pagamento
das taxas nacionais e, quando necessário, o depósito de traduções
do pedido conforme depositado e/ou emendado. Muitos países
requerem que atos adicionais sejam completados ao entrar na
fase nacional, como a indicação dos agentes locais.
A Figura 6 apresenta uma excelente visão, na forma de um
esquema-resumo, do PCT, no qual são evidenciados os atores do
processo. Para aprofundar os estudos sobre o depósito de um
pedido via o Sistema PCT, sugere-se consultar PCT Applicant’s
Guide e a PCT Newsletter.

Figura 6: Atores envolvidos na tramitação de um pedido de patentes via PCT

Fonte: Organização Mundial da Propriedade Intelectual (2018)

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Patentes de Invenção e Modelo de Utilidade 129

Noções sobre Redação de Patentes


O pedido de patente é um documento previsto na LPI
(BRASIL, 1996) que deve ser redigido de forma clara e precisa
e também deve possuir um formato específico e particular
conforme as normativas publicadas pelo órgão responsável,
segundo a legislação de cada país.
No Brasil, de acordo com o artigo 19 do Capítulo III da Lei
n. 9.279 (BRASIL, 1996), o pedido de patente deve apresentar uma
estrutura que contenha Relatório Descritivo, Reivindicações,
Resumo, Desenhos (se aplicáveis) e Listagens de Sequências
(se aplicáveis). Cabe ao INPI definir e publicar as normas que
deverão ser atendidas com relação à estrutura e ao formato.
A redação dos itens descritos a seguir deve obedecer às
Instruções Normativas n. 30 e n. 31 do INPI, que estabelecem
normas gerais de procedimentos para explicitar e cumprir dispo-
sitivos da LPI no que se refere às especificações (INSTITUTO
NACIONAL DA PROPRIEDADE INDUSTRIAL, 2013).

Relatório Descritivo

O relatório descritivo é elemento fundamental do pedido


de patente e, de acordo com a LPI,

[...] deverá descrever clara e suficientemente o objeto, de modo a


possibilitar sua realização por técnico no assunto e indicar, quando for
o caso, a melhor forma de execução. (BRASIL, 1996, art. 24)

O relatório descritivo deve ser suficientemente rico para


descrever de maneira ampla as modalidades de realização da
invenção e ser suporte para a redação do quadro reivindicatório.
É fundamental que o relatório tenha suficiência descritiva
que garanta suportar bem as reivindicações. Adicionalmente, o

Volume I
130 Patentes de Invenção e Modelo de Utilidade

relatório descritivo deve conter uma revisão do estado da técnica,


para demonstrar a singularidade da sua invenção. A revisão da
técnica visa mostrar o que já foi protegido anteriormente por
patente ou que já faz parte do estado da técnica e tem a pretensão
de apresentar como a sua invenção é nova e tem aplicação
industrial (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA PROPRIEDADE
INTELECTUAL, 2015).
Uma orientação usual é construir alguns parágrafos-chave,
como sugeridos a seguir, não sendo estes limitantes.
Parágrafo 1: breve descrição da invenção com aplicações,
usualmente começando com “A presente invenção trata de”
(apresentar em poucas palavras o campo tecnológico da invenção).
Parágrafo 2: introdução breve descrevendo cada um dos
elementos necessários para que exista esta patente.
Parágrafo 3: descrição do estado da técnica, incluindo
referências às patentes e aos artigos já existentes. Para cada caso,
colocar as vantagens e as desvantagens.
Parágrafo 4: descrever brevemente a invenção e suas
vantagens. Detalhar, de modo ordenado, as vantagens da
invenção em relação aos outros inventos e/ou aos produtos
existentes no mercado. Descrição da invenção com magnitudes
de grandezas, por exemplo, (detalhes de faixas de aplicação e/ou
funcionamento). Dar exemplos demonstrativos não limitantes do
invento, mostrando e enfatizando suas vantagens em relação aos
demais já existentes e/ou já utilizados pela sociedade.

Reivindicações de Patente

Segundo a LPI,

As reivindicações deverão ser fundamentadas no relatório descritivo,


caracterizando as particularidades do pedido e definindo, de modo
claro e preciso, a matéria objeto da proteção. (BRASIL, 1996, art. 25)

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Patentes de Invenção e Modelo de Utilidade 131

Dessa forma, as reivindicações compreendem os limites


legais de proteção, ou seja, o escopo de proteção provido por
uma patente. Barros (2007, p. 212) acrescenta que o depositante,
“[...]disponibiliza, assim, as bases técnico-jurídicas do pedido e,
por isso, delimita a proteção patentária pretendida”.
Embora as jurisdições em todo o mundo possam aplicar
diferentes doutrinas legais para interpretação das reivindicações,
na teoria que mais prevalece, as reivindicações estabelecem os
limites externos da proteção da patente (ORGANIZAÇÃO
MUNDIAL DA PROPRIEDADE INTELECTUAL, 2015).
O artigo 3º da Instrução Normativa n. 30, do Instituto
Nacional da Propriedade Industrial (2013) define as
especificações quanto à quantidade, à numeração e às categorias
das reivindicações.

Formato da Reivindicação de Patente

Uma reivindicação de patente é tradicionalmente redigida


como uma sentença única na maioria dos países. Cada uma
dessas “sentenças” é precedida por um número, o qual se torna
o identificador da reivindicação, por exemplo, “Reivindicação 1”.
Quanto à estrutura da reivindicação de patente, esta apresenta
três partes: o preâmbulo, a frase de transição e o corpo.
O preâmbulo é uma frase introdutória que identifica a
categoria da invenção protegida pela reivindicação em questão, que
pode ser um aparelho ou dispositivo, um artigo, uma composição,
um método ou processo. Para melhor elucidação, no Quadro 3
são apresentados dois exemplos (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL
DA PROPRIEDADE INTELECTUAL, 2015).

Volume I
132 Patentes de Invenção e Modelo de Utilidade

Quadro 3: Exemplos para entendimento do uso do preâmbulo na elaboração da


redação das reivindicações de um pedido de patente

Exemplo 1
Um requerente de patente inventou um dispositivo de cozimento de
arroz. Uma vez que o objetivo dessa invenção é cozinhar arroz, o
preâmbulo e o título devem ser lidos da seguinte forma:
Um dispositivo para cozinhar arroz;
a) suponha que o requerente da patente saiba que a sua invenção
poderá ser usada para o cozimento de todos os tipos de grãos.
Então, um preâmbulo mais amplo poderia ser lido como:
Um dispositivo para cozinhar grãos;
b) suponha, ainda, que o requerente da patente saiba que a sua
invenção poderá ser usada para o cozimento de vegetais ou,
ainda, para fundir queijo para preparação de fondue, então, um
preâmbulo mais amplo poderia simplesmente ser lido como:
Um dispositivo para cozinhar.

Exemplo 2
Um requerente de patente deseja reivindicar um método singular de
produzir chá. Em tal caso, o preâmbulo seria lido como:
Um método para produzir chá;
a) novamente, suponha que o inventor acredite que seu método
possa ser aplicável à produção de qualquer bebida proveniente de
uma substância de plantas, então, um preâmbulo mais amplo seria
lido como:
Um método para produzir uma bebida à base de plantas;
b) suponha que o inventor também acredite que o seu método possa
ser aplicável na produção de qualquer bebida quente, então, um
preâmbulo mais amplo que o primeiro preâmbulo citado acima
poderia ser lido como:
Um método para produção de uma bebida quente.
Fonte: Organização Mundial da Propriedade Intelectual (2015)

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Patentes de Invenção e Modelo de Utilidade 133

As frases de transição podem usar termos que dão


conotação aberta ou fechada. As frases com conotação aberta não
excluem quaisquer adicionais elementos ou etapas de métodos
não descritos, ou seja, não excluem outras possibilidades, são
inclusivas. São exemplos de termos que caracterizam as frases com
conotação aberta: “compreendendo”, “incluindo”, “contendo”,
e “caracterizado por”. Esses termos foram construídos ou
interpretados para significar “incluindo os elementos seguintes,
mas, não excluindo outros” e são admitidos pelas normas norte-
americanas.
No Brasil, a Instrução Normativa n. 30, de 4 dezembro
de 2013, define como obrigatório o termo de transição
“caracterizado por” (INSTITUTO NACIONAL DA
PROPRIEDADE INDUSTRIAL, 2013). Utiliza-se a expressão
“caracterizado por” para separar o que já é conhecido no estado
da técnica daquilo que foi inventado.
O termo “consistindo de” que dá conotação fechada, o
qual está presente nas frases fechadas, limita a reivindicação a nada
mais que os elementos especificamente descritos. A reivindicação
cobre apenas os elementos referidos e a nenhum outro mais.

Volume I
134 Patentes de Invenção e Modelo de Utilidade

Quadro 4: Exemplo para entendimento do uso da frase de transição na elaboração da


redação das reivindicações de um pedido de patente
Exemplo 1
Uso do termo aberto: a invenção se refere a um lápis com uma borracha
e um efeito luminoso fixado a ele. Uma reivindicação pode ser lida como:
Um dispositivo, compreendendo:
um lápis;
uma borracha fixada a uma extremidade do lápis; e
um efeito luminoso fixado ao centro do lápis.

Exemplo 2
Uso do termo fechado: o exemplo anterior terminado com termo aberto
pode ser reescrito na forma fechada, da seguinte forma:
Um dispositivo, consistindo de:
um lápis;
uma borracha fixada ao lápis; e
um efeito luminoso fixado ao lápis.
Fonte: Organização Mundial da Propriedade Intelectual (2015)

Ao se utilizar a expressão “consistindo de”, a reivindicação


se torna uma reivindicação fechada, incluindo apenas os três
elementos descritos, o lápis, a borracha, o efeito luminoso e nada
mais. Por outro lado, no Exemplo 1 do Quadro 4, a reivindicação
deixa aberta a possibilidade de incluir uma tampa para o lápis.
O corpo de uma reivindicação é a porção que se segue à
frase de transição. O corpo da reivindicação relata os elementos
e as limitações da reivindicação. O corpo também explica como
os diferentes elementos existem em relacionamento entre si.
Basicamente, o corpo da reivindicação relata e relaciona todos os
elementos da reivindicação.
Para a proteção de uma invenção, pode-se utilizar mais
de uma ou mais reivindicações, desde que se refiram a um

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Patentes de Invenção e Modelo de Utilidade 135

único conceito inventivo. No caso de um pedido de modelo


de utilidade (MU), esse pedido deverá conter uma única
reivindicação independentemente que descreva o modelo,
definindo integralmente todas as características de forma ou de
disposição introduzidas, essenciais para a obtenção da melhoria
funcional. Nos MUs, as reivindicações dependentes são aceitas
somente em casos especiais (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA
PROPRIEDADE INTELECTUAL, 2015).

Reivindicações Múltiplas

O número de reivindicações de uma invenção deve


ser suficiente para definir adequadamente a tecnologia
pretendida (INSTITUTO NACIONAL DA PROPRIEDADE
INDUSTRIAL, 2013). Segundo as normativas do INPI, são
definidas as reivindicações independes e as dependentes.
As reivindicações independentes são definidas no artigo 5º
da Instrução Normativa n. 30 e

[...] a proteção de características técnicas essenciais e específicas


da invenção em seu conceito integral, cabendo a cada categoria
de reivindicação pelo menos uma reivindicação independente.
(INSTITUTO NACIONAL DA PROPRIEDADE INDUSTRIAL,
2013, art. 5º)

O mesmo artigo define as suas especificações:

II. Cada reivindicação independente deve corresponder a um


determinado conjunto de características essenciais à realização da
invenção, sendo que somente será admitida mais de uma reivindicação
independente da mesma categoria se tais reivindicações definirem
diferentes conjuntos de características alternativas e essenciais à
realização da invenção, ligadas pelo mesmo conceito inventivo;
III. As reivindicações independentes de categorias diferentes, e
ligadas pelo mesmo conceito inventivo, em que uma das categorias

Volume I
136 Patentes de Invenção e Modelo de Utilidade

seja especialmente adaptada à outra deverão ser formuladas de


modo a evidenciar sua interligação, empregando-se, na parte inicial
da reivindicação, expressões, como por exemplo: “Aparelho para
realização do processo definido na reivindicação...”, “Processo para a
obtenção do produto definido na reivindicação...”.
IV. As reivindicações independentes devem, quando necessário,
conter, entre a sua parte inicial e a expressão “caracterizado por”, um
preâmbulo explicitando as características essenciais à definição da
matéria reivindicada e já compreendidas pelo estado da técnica;
V. Após a expressão “caracterizado por” devem ser definidas as
características técnicas essenciais e particulares que, em combinação
com os aspectos explicitados no preâmbulo, se deseja proteger; VI.
as reivindicações independentes podem servir de base a uma ou mais
reivindicações dependentes, devendo ser agrupadas pela categoria
(INSTITUTO NACIONAL DA PROPRIEDADE INDUSTRIAL,
2013, art. 5º).

O artigo 6º da Instrução Normativa n. 30 define as


reivindicações dependentes:

[...] são aquelas que, mantida a unidade de invenção, incluem todas as


características de outra(s) reivindicação(ões) anterior(es) e definem
detalhamentos dessas características e/ou características adicionais que
não sejam consideradas características essenciais da invenção, devendo
conter uma indicação de dependência a essa(s) reivindicação(ões) e
a expressão “caracterizado por”. (INSTITUTO NACIONAL DA
PROPRIEDADE INDUSTRIAL, 2013, art. 6º)

Da mesma forma, as reivindicações dependentes são


especificadas no artigo 6º da Instrução Normativa n. 30:

II. As reivindicações dependentes não devem exceder as limitações das


características compreendidas na(s) reivindicação(ões) a que se referem;
III. Nas reivindicações dependentes devem ser definidas, precisa e
compreensivelmente, as suas relações de dependência, não sendo
admitidas formulações do tipo “de acordo com uma ou mais das
reivindicações...”, “de acordo com as reivindicações anteriores/
precedentes...”, “de acordo com quaisquer das reivindicações
anteriores/precedentes”, “de acordo com uma das reivindicações

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Patentes de Invenção e Modelo de Utilidade 137

anteriores/precedentes” ou similares. A formulação do tipo “de acordo


com qualquer uma das reivindicações anteriores/precedentes” é aceita;
IV. Qualquer reivindicação dependente que se referir a mais de uma
reivindicação (reivindicação de dependência múltipla) deve se reportar
a essas reivindicações na forma alternativa ou na forma aditiva, sendo
permitida somente uma das formulações, ou alternativa ou aditiva, para
todas as reivindicações de dependência múltipla, desde que as relações
de dependência das reivindicações estejam estruturadas de maneira
que permitam o imediato entendimento das possíveis combinações
resultantes dessas dependências;
V. As reivindicações de dependência múltipla, seja na forma alternativa
ou aditiva, podem servir de base a qualquer outra reivindicação de
dependência múltipla, desde que as relações de dependência das
reivindicações estejam estruturadas de maneira que permitam o
imediato entendimento das possíveis combinações resultantes dessas
dependências;
VI. Todas as reivindicações dependentes que se referirem a uma ou
mais reivindicações prévias, deverão ser agrupadas de modo a trazer
concisão à estrutura do quadro reivindicatório. Para compreensão da
matéria pleiteada, a reivindicação dependente deve ser lida em conjunto
com a correspondente independente (INSTITUTO NACIONAL DA
PROPRIEDADE INDUSTRIAL, 2013, art. 6º)

Desenhos

São representações dos aparelhos, peças e acessórios,


esquemas elétricos, diagramas de bloco etc., que sejam
imprescindíveis para a compreensão da tecnologia. Os desenhos
são utilizados em situações nas quais são necessários para
a elucidação clara e objetiva do invento. De acordo com a
Instrução Normativa n. 30 (INSTITUTO NACIONAL DA
PROPRIEDADE INDUSTRIAL, 2013):

Os desenhos, fluxogramas e diagramas, esquemas gráficos deverão:


I. Ser isentos de textos, rubricas ou timbres, podendo conter apenas
termos indicativos (tais como “água”, “vapor d’água”, “aberto”,
“fechado”, corte “AA”, etc.), e palavras-chave;

Volume I
138 Patentes de Invenção e Modelo de Utilidade

II. Conter todos os sinais de referência, tais como algarismos, letras ou


alfanuméricos, constantes do relatório descritivo, observando o uso dos
mesmos sinais de referência para identificar determinada característica
em todos os desenhos, sempre que essa apareça;
III. A apresentação de reprodução de fotografias, tais como estruturas
metalográficas, ou imagens tridimensionais gerada por softwares
eletrônicos será aceita desde que tais reproduções apresentem nitidez
e que permitam uma melhor compreensão da invenção. (INSTITUTO
NACIONAL DA PROPRIEDADE INDUSTRIAL, 2013, art. 8º)

No caso dos modelos de utilidade (MU), os desenhos se


aplicam às especificações dispostas no artigo 8º da Instrução
Normativa n. 30 para pedidos de patente de invenção, sendo esses
obrigatórios (INSTITUTO NACIONAL DA PROPRIEDADE
INDUSTRIAL, 2013).

Resumo

O resumo é definido no artigo 7º da Instrução Normativa


n. 30, definindo-se seu conteúdo e suas especificações, conforme
seus incisos:

I. Ser iniciado pelo título e ser um sumário do que foi exposto no


relatório descritivo, nas reivindicações e nos desenhos;
II. Indicar o setor técnico ao qual pertence a invenção;
III. Ser redigido de forma a permitir uma compreensão clara do
problema técnico, da essência da solução desse problema por meio da
invenção e do uso principal ou dos usos principais da invenção;
IV. Ser redigido de forma a poder servir de instrumento eficaz de
pré-seleção para fins de pesquisa em de terminado setor técnico,
especialmente ajudando o usuário a formular uma opinião quanto à
conveniência ou não de consultar o documento na íntegra. Sumário do
exposto no relatório descritivo, nas reivindicações e nos desenhos, é um
instrumento eficaz para fins de pesquisa. (INSTITUTO NACIONAL
DA PROPRIEDADE INDUSTRIAL, 2013, art. 7º)

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Patentes de Invenção e Modelo de Utilidade 139

Listagens de Sequências Biológicas

São necessárias sempre que o pedido descrever uma


sequência de nucleotídeos ou aminoácidos. Conforme o artigo
41 da Instrução Normativa n.31, “A Listagem de Sequências
deverá ser apresentada ao INPI de acordo comas Resoluções
em vigor” (INSTITUTO NACIONAL DA PROPRIEDADE
INDUSTRIAL, 2013, art. 41).

Conclusão
O sistema patentário tem grande importância no mundo
globalizado e mais ainda na contemporaneidade, caracterizada
pela produção de conhecimentos científicos e tecnológicos e
pela velocidade de transmissão da informação gerada nesse
processo de produção. A proteção do conhecimento técnico-
tecnológico por meio das patentes possibilita que o inventor tenha
ressarcido o esforço, o tempo e o investimento empreendido
no desenvolvimento, a partir da garantia de exclusividade que o
Estado lhe outorga para a exploração econômica do invento.
Além disso, a proteção das criações, especialmente por
meio de patentes, permite que a sociedade possa ter acesso ao
conhecimento gerado, visto que o sistema garante a divulgação
das informações detalhadas da tecnologia desenvolvida, após
determinado tempo, a partir do qual o objeto da patente entrará
em domínio público, ou seja, outros poderão beneficiar-se desse
conhecimento. Dessa forma, as patentes atuam como elemento
impulsionador do desenvolvimento científico e tecnológico da
humanidade.
Portanto, conhecer e apropriar-se dos sistemas patentários
nacionais e internacionais é de grande interesse das economias
mundiais.

Volume I
140 Patentes de Invenção e Modelo de Utilidade

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Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


A Marca e sua Registrabilidade no
Direito Brasileiro

Alejandro Knaesel Arrabal


Ana Paula Colombo

Resumo: este capítulo é o resultado de investigação bibliográfica a respeito da marca


e sua registrabilidade no Brasil. Desenvolvido no contexto das atividades do Núcleo
de Inovação Tecnológica da FURB, dos estudos promovidos no curso de Mestrado
Profissional em Propriedade Intelectual e Transferência de Tecnologia para Inovação
(PROFNIT), compreende, em parte, a revisão e a atualização de Trabalho de Conclusão
de Curso realizado por Ana Paula Colombo no Curso de Direito da Universidade
Regional de Blumenau. Em caráter introdutório, o texto explora a importância da
marca e sua base normativa histórica no Brasil e no exterior. Apresenta o conceito de
marca, seu caráter plurifuncional e classificação quanto a sua apresentação e natureza.
Aborda os princípios da especialidade e de territorialidade, os sistemas aquisitivos da
marca e os direitos decorrentes. Por fim, aqui, se descreve os requisitos básicos para
o registro de marca, seu pedido, concessão, vigência, prorrogação e possibilidades de
impugnação.

Abstract: this chapter results from a bibliographical research about trademark in Brazil.
Developed in the context of the activities of the Technological Innovation Nucleus of
FURB, of the studies promoted in the Master Course on Intellectual Property and
Technology Transfer for Innovation (PROFNIT), it includes, in part, the revision and
updating of the Course Completion Work carried out by Ana Paula Colombo in the
Law course of the Regional University of Blumenau. In an introductory character,
the text explores the importance of trademark and its historical normative base in
Brazil and abroad. It presents the trademark concept, its plurifunctional character and
classification as to its presentation and nature. It broaches the principles of specialty
and territoriality, the purchasing systems of trademark and the resulting rights. Finally,
it describes the basic requirements for trademark, its application, grant, validity, renewal
and possibilities of impugnation.
148 A Marca e sua Registrabilidade no Direito Brasileiro

Introdução
Desde o surgimento das primitivas atividades econômicas
para a consolidação do modelo global de sociedade de mercado,
a marca representa um importante fator de constituição de
identidades simbólicas e de distinção. Dos diversos bens
protegidos pela propriedade industrial, a marca merece destaque.
Barbosa (2010, p. 695, grifo nosso) afirma que “[...] de toda a
mágica de uma invenção nova, [...] o que mais vale é o nome da coisa”.
A relação entre os objetos do mundo e seus nomes há muito intriga
a humanidade. Nesse contexto, a expressão “logos” encontra na
vasta tradição filosófica uma espécie de sincretismo que denota
a relação entre a lógica como expressão de uma ordem natural e
verdadeira e os signos (palavras e/ou sinais) que representam e
possibilitam a referencialidade (existência) das coisas no plano
comunicativo (ARRABAL, 2017, p. 20).
Em uma perspectiva histórica, marca, signo e linguagem
se confundem em um cenário em que a humanidade, desde
sempre, buscou significar o mundo e sua própria existência.
Nesse sentido, Nascimento e Lauterborn (2007) observam que as
marcas encontram lugar desde a pré-história, quando o homem
começou a utilizar símbolos para representar algo, como a si
mesmo ou as figuras da natureza, com a finalidade de simbolizar,
representar e dar significado às coisas. Na antiguidade, símbolos
eram utilizados para indicar produtores em transações comerciais,
tornando-se marcas, importantes para o desenvolvimento do
mercantilismo (CESÁRIO, 2016). O emprego de signos em
produtos desenvolvidos por artífices era comum para indicar a
respectiva origem, não apenas do produtor, mas também de sua
localidade (OLIVEIRA, 2003).
Contudo, é a partir do aperfeiçoamento das atividades
mercantil e industrial, especialmente com o surgimento da

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


A Marca e sua Registrabilidade no Direito Brasileiro 149

modernidade, que as marcas consolidam sua função distintiva


contemporânea.
No contexto comercial, as marcas são determinantes
como instrumentos voltados para a representação diferencial de
produtos e serviços. Copetti (2007, p. 2) aduz que as “[...] marcas
são signos, antes de serem valores na concorrência ou objeto
de propriedade. Estão inseridas na economia, para atender à
demanda de individualização dos produtos e serviços”. A autora
complementa que a marca

[...] pode ser entendida como o sinal que permite ao consumidor a


identificação da origem do produto. Integra um amplo sistema de
sinais que aproximam o consumidor do produtor e do comerciante.
(COPETTI, 2007, p. 1)

Ao protagonizar a constituição da cultura como uma entre


muitas “linguagens”, integrando-se ao repertório simbólico do
consumidor, a marca desempenha um relevante papel no contexto
das relações econômicas globais, inclusive na qualidade de
componente essencial em negociações entre empresas de grande
porte e corporações nacionais e transnacionais (STÉFANO, 2007).
No atual cenário, diante da globalização do mercado
internacional, a marca assume um papel fundamental na economia
das nações, de modo que a sua regulamentação compreende um
dever primordial dos Estados (DI BLASI, 2005, p. 333). Sua
utilização como forma de distinguir produtos é prática empregada
há muito tempo, sendo incerto determinar sua origem. Scudeler
(2013, p. 56) afirma ser impossível identificar um momento exato
para o surgimento das marcas, pois, de uma forma ou de outra,
sempre estiveram presentes na história da humanidade.
A marca como fator de diferenciação de produtos e de
serviços tem lugar com o surgimento gradual das cidades e, com
elas, da ascensão da economia de mercado em substituição do

Volume I
150 A Marca e sua Registrabilidade no Direito Brasileiro

modelo feudal agropastoril. O documento oficial mais antigo de


que se tem conhecimento sobre marcas data de 1386. Trata-se de
uma carta dirigida ao rei de Portugal que ordenava aos tecelões
que identificassem seus produtos com a marca da cidade, para que
tais produtos não fossem objeto de fraude. Já, na modernidade, a
primeira regulamentação a respeito do tema é de 1803 e originária
da França (MORO, 2003, p. 26-27). No dizer de Hammes (1998,
p. 289), “[...] desde os tempos mais remotos, os fabricantes e
produtores tinham o hábito de apor sinais que certificassem a
proveniência ou identidade dos seus produtos”.
O período da Revolução Industrial foi marcado por
um substancial desenvolvimento da atividade comercial.
É nesse contexto que o uso de sinais para identificar produtos
se consolida. A partir dessa época, um nome ou um símbolo
passaram a ser, efetivamente, usados como sinais identificadores
e diferenciadores de um objeto, dando a esse objeto um evidente
caráter comercial. Gradualmente, as marcas foram disseminadas
por todo o mundo, qualificadas como instrumento básico de
comercialização de produtos (DI BLASI, 2005, p. 331).
No Brasil, a legislação marcária foi um pouco tardia se
comparada a outros países. A Constituição Imperial de 1824 só
fazia menção aos inventores que tinham assegurada a proteção
sobre suas descobertas e produções (REQUIÃO, 2013, p. 302).
Consta que “[...] o Brasil foi o décimo quinto país a publicar sua
lei de marcas” (COPETTI, 2008, p. 41). Essa lei, sob Decreto n.
2.682, de 23 de outubro de 1875, regulava o direito dos fabricantes
e dos negociantes de marcar os produtos de sua manufatura e de
seu comércio. Sua criação teve origem de uma notória disputa
jurídica que trouxe grande insegurança aos comerciantes da
época, momento em que o então advogado Rui Barbosa viu seu
cliente ser prejudicado pela falta de lei que disciplinasse o assunto
(COPETTI, 2008, p. 42-43).

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


A Marca e sua Registrabilidade no Direito Brasileiro 151

Pouco tempo depois, percebendo a necessidade de dar à


propriedade da indústria uma tutela internacional e homogênea,
11países, incluindo o Brasil, assinaram, em 20 de março de
1883, a Convenção da União de Paris (CUP), para a proteção
da propriedade industrial (SCUDELER, 2013, p. 60). Por meio
do Decreto n. 9.233, de 28 de julho de 1884, o texto da CUP
foi incorporado pelo ordenamento nacional e vigora até hoje,
com algumas modificações (BRASIL, 1884). O artigo 1º, §2º da
convenção, estabelece os bens abrangidos por esta da seguinte
forma:

A proteção da propriedade industrial tem por objetivo os privilégios de


invenção, os modelos de utilidade, os desenhos e modelos industriais,
as marcas de fábrica e de comércio, o nome comercial e as indicações
de procedência ou denominações de origem, bem como a repressão da
concorrência desleal. (BRASIL, 1884, art. 1º)

Em 1891, com o advento da Constituição Republicana


é que se garantiu o direito às marcas. O artigo 72, §27, do
texto constitucional descrevia: “A lei assegurará também a
propriedade das marcas de fábrica” (REQUIÃO, 2013, p. 302).
As Constituições posteriores mantiveram esse direito individual.
A de 1967 inscreveu no artigo 150, §24, ao lado da garantia aos
inventores e do nome comercial, a propriedade das marcas de
indústria e de comércio. Esse texto trouxe como novidade as
marcas de serviço. Até então, somente os nomes apostos sobre
produtos gozavam de proteção (REQUIÃO, 2013, p. 302).
Em 1945, por meio do Decreto-Lei n. 7.903, foi promulga-
do o primeiro Código da Propriedade Industrial, que, entre suas
disposições, enquadrou os crimes em matéria de propriedade
industrial e de concorrência desleal. Esse Decreto-Lei teve sua
vigência até 1971, quando a Lei n. 5.772, de 21 de dezembro,
o revogou parcialmente (SCUDELER, 2013, p. 62). No ano de
1970, foi criado o Instituto Nacional da Propriedade Industrial

Volume I
152 A Marca e sua Registrabilidade no Direito Brasileiro

(INPI), que desde então, figura como autarquia federal, vinculada


ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exte-
rior, responsável pelo aperfeiçoamento, disseminação e gestão do
sistema brasileiro de concessão e garantia de direitos de proprie-
dade intelectual para a indústria (INSTITUTO NACIONAL DA
PROPRIEDADE INDUSTRIAL, 2012).
Em reconhecimento aos tratados firmados e tendo em vista
o interesse social e o desenvolvimento tecnológico e econômico do
País, a proteção à propriedade industrial foi incorporada ao texto
constitucional de 1988. Entre os direitos e garantias fundamentais
elencados no artigo 5º da Constituição Federal (BRASIL, 1988),
o inciso XXIX, assegura privilégio temporário e proteção aos
autores, na utilização de inventos e criações industriais, marcas,
nomes de empresas e outros signos distintivos. Atualmente, o
tema é disciplinado pela Lei n. 9.279, de 14 de maio de 1996
(LPI). Essa Lei revogou o antigo Código de 1971 e, do ponto
de vista de Scudeler (2013, p. 65), apresentou sensível melhora
quanto ao procedimento administrativo para obtenção do registro
marcário. No contexto dos tratados internacionais, cumpre referir
o Acordo sobre Aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual
Relacionados ao Comércio (ADPIC) – TRIPS. Lyard (2007,
p. 83) informa que:

O Acordo, chamado TRIPS – Trade Related Intellectual Property


Rights (Direitos da Propriedade Intelectual Relacionados ao Comércio)
foi assinado em 1994. O TRIPS regula a proteção dos direitos de
propriedade intelectual, incluindo patentes, direitos autorais, marcas
registradas, indicações geográficas e desenhos industriais. O Acordo
requer que todos os membros da Organização Mundial do Comércio
protejam a propriedade intelectual de acordo com a Convenção de
Paris e outros acordos relacionados ao tema.

A respeito de sua aplicação em matéria de marcas, Groos e


Locatelli (2012, p. 33) afirmam que o TRIPS “[...] se comparado

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


A Marca e sua Registrabilidade no Direito Brasileiro 153

com a CUP – Convenção da União de Paris, quanto à proteção


da propriedade intelectual, é mais ampla e abrangente, pois, trata-
se da proteção das marcas tanto das marcas de bens (produtos)
quanto para serviços”.
Ainda no campo dos tratados sobre aspectos, direta ou
indiretamente, relacionados a marcas, cita-se o Protocolo de
Madri, tratado este que procura simplificar o registro de marcas
por meio de um registro internacional. Esse sistema, denominado
Sistema de Madri, data de 1989, mas passou a vigorar em 1996.
Reduz custos por se tratar de apenas um único registro que pode
ser estendido a diversos países que façam parte do protocolo
(GROOS; LOCATELLI, 2012). Cabe à Secretaria Internacional
da Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI)
administrar o sistema, encarregar-se do Registro Internacional
e realizar as publicações na Gazeta da OMPI de Marcas
Internacionais. Além disso, com o Acordo de Madrid, relativo
ao Registro Internacional de Marcas, as reivindicações de
prioridade podem ser requeridas no pedido, conforme o artigo 4º
da CUP (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA PROPRIEDADE
INTELECTUAL, 2018).
O Brasil pretende aderir ao Protocolo de Madrid (INS-
TITUTO NACIONAL DA PROPRIEDADE INDUSTRIAL,
2018). A adesão ao protocolo pode proporcionar ao Brasil di-
versas vantagens em relação ao registro internacional, como a
redução de burocracia e de custos.

A Marca como Função Distintiva


A LPI, em seu artigo 122, conceitua marca como

[...] todo sinal distintivo, visualmente perceptível, que identifica e


distingue produtos e serviços de outros análogos, de procedência diversa,

Volume I
154 A Marca e sua Registrabilidade no Direito Brasileiro

bem como certifica a conformidade dos mesmos com determinadas


normas ou especificações técnicas. (BRASIL, 1996, art. 122)

Soares (2003, p. 116) define a marca como o “[...] sinal


pelo qual o produto ou serviço é conhecido e distinguido no
mercado consumidor ou entre usuários”. Para Cerqueira (1982,
p. 774-774), “[...] a marca de fábrica e de comércio pode ser
definida como todo sinal aposto facultativamente aos produtos
e artigos das indústrias em geral para identificá-los e diferenciá-
los de outros idênticos ou semelhantes de origem diversa”. Por
sua vez, Barbosa (2010, p. 697) afirma que “[...] as marcas são
sinais distintivos apostos a produtos fabricados, a mercadorias
comercializadas, ou a serviços prestados, para a identificação do
objeto a ser lançado no mercado, vinculando-o a um determinado
titular de um direito de clientela”.
Portanto, as marcas caracterizam-se a partir de sua função, no
sentido de distinguir os produtos e serviços existentes no mercado,
orientando o consumidor e resguardando os direitos do
empresário. Se existe marca, então se pressupõe que exista
concorrência de produtos e serviços, idênticos ou similares,
oferecidos no mercado (SILVEIRA, 2005, p. 22).

Ao lançar qualquer produto, é de interesse do industrial ou do


comerciante escolher marca e obter exclusividade: o público adquirindo
pela indicação da marca, adquire o produto que prefere, exatamente
porque, tendo, a princípio, adquirido diferentes produtos para saber
qual é o que mais lhe agrada, o individualizou pela marca. (MIRANDA,
2002, p. 38)

Assim, os consumidores associam o símbolo a uma reputação


ou conjunto de qualidades que valorizam. A empresa terá uma
posição mais vantajosa no mercado, apenas pelo fato de possuir
uma marca de destaque (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA
PROPRIEDADE INTELECTUAL, 2003, p. 4). Observa Torres

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


A Marca e sua Registrabilidade no Direito Brasileiro 155

(2007, p. 20) que “[...] o consenso geral admite que a marca tenha
um sentido individualizador, com reflexos econômicos e, hoje,
ninguém mais dúvida, de interesse público, porque é através
desses sinais que o consumidor pondera e se decide”.

Caráter Plurifuncional da Marca


Em termos comerciais, a marca exerce uma função pública,
auxiliando na defesa do consumidor de forma a evitar confusão.
A marca é “o sinal pelo qual o produto é conhecido e distinguido
no mercado consumidor”.
Di Blasi (2005, p. 335) compara a marca aos nomes de
família. Segundo o autor, existe essa correlação, pois, da mesma
forma, a marca auxilia na verificação da história, da tradição e da
qualidade do produto ou serviço que visa assinalar.
Em linhas gerais, é possível destacar quatro funções primordiais
nas marcas: identificar produtos ou serviços de seus congêneres no
mercado; assinalar que os produtos ou os serviços advêm da mesma
origem; assinalar que os produtos possuem o mesmo padrão
de qualidade e funcionar como um instrumento de publicidade
(CONFEDERAÇÃO NACIONAL DA INDÚSTRIA, 2013,
p. 68). Contudo, a principal função das marcas é a distinção.
Atualmente, é possível identificar uma quantidade
significativa de marcas no mercado. Em uma simples visita a um
estabelecimento comercial, o consumidor pode deparar-se com
centenas de signos distintivos, identificando os mais diversos
produtos e serviços, muitos dos quais, atuando no mesmo
segmento mercantil (CONFEDERAÇÃO NACIONAL DA
INDÚSTRIA, 2013, p. 67). Importa ressaltar a função social da
marca, uma vez que sua utilização serve também como meio de
orientação. Além de atender o empresário na promoção de seus

Volume I
156 A Marca e sua Registrabilidade no Direito Brasileiro

produtos e serviços, a marca auxilia o consumidor a criar um


juízo de valor, permitindo orientar sua escolha.
A marca simplifica a identificação do produto ou serviço
pelo consumidor, que acaba por atribuir qualidades e valor ao
que adquire. Portanto, torna-se uma importante ferramenta de
comunicação utilizada pelos empresários para atrair clientela
(ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA PROPRIEDADE
INTELECTUAL, 2010). Do mesmo modo, Di Blasi (2005,
p. 332) aduz que a marca “[...] é para seu titular o meio eficaz para
a constituição de uma clientela. Para o consumidor representa a
orientação para a compra de um bem, levando em conta fatores
de proveniência ou condições de qualidade e desempenho”. Em
outras palavras:

Uma marca bem trabalhada, objeto de publicidade prudente e persuasiva,


opera como fator de estímulo a aquisição do produto, não só porque
atesta direta ou indiretamente sua qualidade, mas porque é vista como
uma honra do produto. (VENOSA; RODRIGUES, 2010, p. 78)

É corriqueiro encontrar consumidores fiéis a determinadas


marcas, tendo em vista a associação estabelecida entre o signo e
a qualidade do produto ou serviço que buscam adquirir. Nesse
sentido,

[...] é comum que os consumidores criem relação com algumas


marcas, visto que eles esperam encontrar um conjunto de
qualidades ou características nos produtos representados por estas
marcas. (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA PROPRIEDADE
INTELECTUAL, 2003, p. 4)

Essa confiança por parte dos consumidores deve ser


conquistada pelo titular da marca, a quem cabe fazer o uso
correto dela, a fim de obter êxito com sua comercialização. No
entendimento de Silveira (2005, p. 22-23), os sinais distintivos
estão ligados, por uma relação de titularidade ao empresário

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


A Marca e sua Registrabilidade no Direito Brasileiro 157

que os explora. Ademais, a marca não garante a qualidade do


produto ou do serviço posto no mercado e não é sua função
jurídica certificar a origem, no sentindo de identificar o local de
fabricação ou a prestação do que assinala. Caberá ao seu titular
manter um padrão de qualidade para que sua marca não caia em
descrédito, pois o resultado poderá incidir de forma positiva ou
negativa sobre seu estabelecimento. Assim, na visão de Barbosa
(2010, p. 698), “[...] além de poder também identificar a origem,
deve primordialmente incitar ao consumo, ou valorizar a atividade
empresarial do titular”.

Valor da Marca
O sistema registral reconhece estritamente as marcas como
“sinais distintivos visualmente perceptíveis” (BRASIL, 1996, art.
122). Contudo, seu valor transcende a esta caracterização. Além
de um signo designativo/diferencial de produto ou serviço, de
conformidade técnica ou de procedência institucional coletiva
(BRASIL, 1996, art. 123), é possível afirmar que a marca,
adequadamente gerida, pode atingir um status mais amplo de
referencialidades, assumindo assim relevância estratégica no
contexto de qualquer empreendimento. Em outras palavras,
do ponto de vista semiótico, um mesmo signo pode traduzir
múltiplos significados formando um denso e complexo campo
simbólico. Por exemplo, o lançamento de um produto cuja
funcionalidade e eficiência sejam comprovadas pelo consumidor,
tende a incorporar os valores “funcionalidade” e “eficiência”
ao campo simbólico da marca respectiva. Assim também uma
campanha publicitária que apresente a marca associada ao valor
“qualidade de vida”, pode integrar esse valor aos demais valores
já incorporados ao campo simbólico da marca. Além da “soma
de valores” vinculados a um mesmo signo marcário, há também
a possibilidade de composições mais complexas, conferindo à
marca um cariz singular.

Volume I
158 A Marca e sua Registrabilidade no Direito Brasileiro

Cumpre considerar ainda que o valor da marca é sensível


às variáveis de mercado não sujeitas a controles. A percepção do
consumidor não é uma instância hermeticamente responsiva às
ações de marketing. Participam experiências adversas, residentes
no imaginário do consumidor, que o signo marcário pode evocar
e ações dos concorrentes que interferem reflexamente no campo
simbólico da marca (ROCHA; FERREIRA; SILVA, 2012).
Costa e Almeida (2012) informam que há duas perspectivas
principais relativas ao valor da marca: a de ordem financeira e a
perspectiva do consumidor. A financeira “[...] tem como objetivo
típico a verificação do valor monetário da marca para propósitos
contábeis, de fusão e aquisição ou de investimentos” (COSTA;
ALMEIDA, 2012, p. 45-46). Por sua vez, a perspectiva do
consumidor,

[...] também conhecida como consumer-based brand equity, [...] tem como
motivação potencializar os esforços de marketing das organizações ao
permitir uma maior compreensão do comportamento do consumidor.
(COSTA; ALMEIDA, 2012, p. 45-46)

Kotler e Keller (2013, p. 155) definem brand equity como

[...] o valor agregado atribuído a bens e serviços. Esse valor pode se


refletir no modo como os consumidores pensam, sentem e agem em
relação à marca, bem como nos preços, na participação de mercado e
na lucratividade gerada pela marca.

A multiplicidade de contextos e de situações que permitem


a um mesmo signo ampliar, reduzir ou transformar o seu campo
simbólico evidencia a relevância estratégica do signo marcário,
bem como o fato de conferir potencialmente à marca, em sentido
amplo, um valor econômico autônomo e até mesmo maior do
que o valor utilitário ou estético dos produtos e serviços que
juridicamente procura designar.

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


A Marca e sua Registrabilidade no Direito Brasileiro 159

Classificação das Marcas


De acordo com sua apresentação, a marca é categorizada
como nominativa, figurativa, mista e tridimensional. Essa divisão
faz referência à forma como as marcas são exteriorizadas
(SCUDELER, 2013, p. 71).
Marca nominativa: caracteriza-se quando a composição
da marca integra apenas o elemento nominal, ou seja, quando
não possui nenhum logotipo ou traço característico. É, por
assim dizer, a simples grafia, sem nenhuma forma de estilização
(SCUDELER, 2013, p. 71). De acordo com o Instituto Nacional
da Propriedade Industrial (2017a), “[...] é o sinal constituído por
uma ou mais palavras no sentido amplo do alfabeto romano, [...]
desde que esses elementos não se apresentem sob forma fantasiosa
ou figurativa”. Um exemplo é a marca “e-INPI” (INSTITUTO
NACIONAL DA PROPRIEDADE INDUSTRIAL, 2006).
Esse tipo de marca não se vincula a nenhum desenho, o
que pode representar uma grande vantagem ao titular que requer
o registro na forma nominativa. Isso porque a marca pode
ser utilizada de qualquer forma. Ao longo do tempo, o titular
pode alterar o estilo, sem correr o risco de sofrer caducidade
por não usar a marca da forma como foi concedida pelo INPI,
uma vez que estando em sua forma nominativa, não se prende
a nenhuma estilização (CONFEDERAÇÃO NACIONAL DA
INDÚSTRIA, 2013, p. 73).
Marca figurativa: é aquela que se apresenta como figura
desacompanhada de qualquer expressão nominal (SCUDELER,
2013, p. 71). A proteção almejada nessa hipótese recai sobre a
representação gráfica, isto é, figura em si, e não sobre palavra ou
expressão que a imagem representa.

Volume I
160 A Marca e sua Registrabilidade no Direito Brasileiro

Figura 1: Marca Figurativa

Fonte: Instituto Nacional da Propriedade Industrial (2004)

Marca mista: quando houver a junção das duas primeiras


hipóteses, a apresentação da marca será mista. Di Blasi (2005,
p. 358) observa que a marca mista será “[...] aquela representada
com as características combinadas da marca nominativa e
figurativa, não podendo ser enquadrada separadamente nessas
duas categorias”. Aquela que apresenta, portanto, parte nominal,
porém com estilização própria ou acompanhada de um logotipo.
Dessa forma, o sinal marcário é representado com cores, um
tipo especial de letra ou, ainda, acompanhado por uma figura
(SCUDELER, 2013, p. 71).

Figura 2: Marca Mista

Fonte: Instituto Nacional da Propriedade Industrial (2015)

Marca tridimensional: é possível levar ao registro


também as representações tridimensionais de um determinado

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


A Marca e sua Registrabilidade no Direito Brasileiro 161

objeto. Segundo explicação do próprio Instituto Nacional da


Propriedade Industrial (2017a), “Marca tridimensional é o
sinal constituído pela forma plástica distintiva em si, capaz de
individualizar os produtos ou serviços a que se aplica”. Vale
ressaltar que a titularidade dessa marca não implicará na garantia
de exclusividade de nenhum efeito técnico e sua forma não deve
ser de uso comum (CONFEDERAÇÃO NACIONAL DA
INDÚSTRIA, 2013, p. 75).

Figura 3: Marca Tridimensional

Fonte: Instituto Nacional da Propriedade Industrial (1998)

A aplicação da marca é definida pela atividade exercida por


seu titular. Quando da solicitação do registro junto ao INPI, a
marca será classificada de acordo com seu uso (COPETTI, 2008,
p. 65). Desse modo, as marcas normalmente referenciam produtos
ou serviços, mas também podem referir uma determinada coletividade
produtora (marca coletiva) e podem designar certos atributos técnicos
relativos a produtos ou serviços (marca de certificação).
Marca de produto ou serviço: o artigo 123, inciso I, da
LPI, caracteriza como marca de produto ou serviço aquela utilizada
para distinguir um produto ou serviço de outro que seja idêntico,
semelhante ou afim, de origem diversa. Do ponto de vista de
Scudeler (2013, p. 74), “Via de regra, todas as marcas se prestam
para identificar produtos ou serviços”. No mesmo entendimento

Volume I
162 A Marca e sua Registrabilidade no Direito Brasileiro

Di Blasi (2005, p. 357) explica que “[...] toda marca é específica,


com a finalidade de identificar qualquer produto ou serviço”.

Figura 4: Marca de Produto

Fonte: Instituto Nacional da Propriedade Industrial (2015)

Marca de certificação: conforme prevista no artigo


123, inciso II, da LPI, essa marca tem como intuito constatar
se o produto ou o serviço estão de acordo com as normas ou
as especificações técnicas definidas, em relação à qualidade, à
natureza, ao material e à metodologia empregados.
A marca de certificação não é um método de diferenciação
entre produtos ou serviços semelhantes, mas sim um meio de
informar ao público que o objeto distinguido se conforma a
normas ou padrões específicos, por exemplo, as normas baixadas
pelos órgãos oficiais de controle de qualidade. (BARBOSA, 2010,
p. 704)
Dessa forma, a marca de certificação será consagrada pelo
primor da fabricação de um produto ou pela excelência dos
serviços prestados por integrantes de uma união ou organização.
Sua finalidade é distinta das marcas de produto ou serviço, uma
vez que seu principal objeto é informar ao público que o produto
ou serviço está de acordo com normas ou padrões técnicos.
Seu escopo, portanto, é a garantia dos produtos ou serviços
que atesta (SOARES, 1997, p. 181). Importante ressaltar que só
poderá requerê-la o titular que não possua interesse comercial ou
industrial no objeto atestado, assim como determina o artigo 128,
§3º, da LPI.

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


A Marca e sua Registrabilidade no Direito Brasileiro 163

Figura 5: Marca de Certificação

Fonte: Instituto Nacional da Propriedade Industrial (1999)

Marca coletiva: é utilizada para assinalar produtos ou


serviços provindos de uma determinada instituição, assim como
prevê o artigo 123, inciso III, da LPI. Dessa forma, será o signo
utilizado por um grupo de pessoas jurídicas, destinada a assinalar
produtos ou serviços oriundos de uma região (SOARES, 1997,
p. 182). De acordo com o Instituto Nacional da Propriedade
Industrial (2017a), “O objetivo da marca coletiva é indicar ao
consumidor que aquele produto ou serviço provém de membros
de uma determinada entidade”.
Essa utilização é mais recorrente em cooperativas de
produtores que identificam seu produto com a marca coletiva
da cooperativa. Dessa forma, o registro deverá ser pleiteado
apenas por pessoa jurídica que represente uma coletividade
(SCUDELER, 2013, p. 75).

Figura 6: Marca Coletiva

Fonte: Instituto Nacional da Propriedade Industrial (1997)

Volume I
164 A Marca e sua Registrabilidade no Direito Brasileiro

Territorialidade e Especialidade das Marcas


Segundo o Instituto Nacional da Propriedade Industrial
(2014), “A marca registrada garante ao seu proprietário o direito
de uso exclusivo no território nacional em seu ramo de atividade
econômica.”. Nessa afirmação, é possível observar os dois grandes
princípios que norteiam o direito marcário nacional, quais sejam:
o da territorialidade e da especialidade.
Como descrito pelo Instituto Nacional da Propriedade
Industrial (2017a), “A proteção conferida pelo Estado não
ultrapassa os limites territoriais do País e somente nesse espaço
físico é reconhecido o direito de propriedade e a exclusividade
de uso da marca registrada”. Assim, a proteção existente sobre
o registro, tem como limite o território nacional. Tal delimitação
encontra amparo no artigo 129, da LPI, que assegura ao titular do
registro, seu uso exclusivo no país.
Sobre a limitação imposta pelo princípio da territorialidade:

Sua eficácia é limitada ao território deste Estado, o que determina


a relatividade do direito de propriedade da marca no espaço, daí
falar-se em Princípio da Territorialidade tendo o registro/uso local
como elemento de conexão, que determina a lei local como única e
exclusivamente aplicável. Referido princípio implica, pois, em uma
forma de limitação da propriedade. (CASTELLI, 2006, p. 161)

Além da delimitação territorial oponível às marcas, estas


encontram outra restrição no que diz respeito ao objeto que
buscam referir. Para Barbosa (2010, p. 728), “[...] a exclusividade
de um signo se esgota nas fronteiras do gênero de atividades
que ele designa”. Copetti (2008, p. 126), por sua vez, explica que
“O princípio da especialidade concede ao titular o uso exclusivo
em sua atividade precípua”.
O princípio da especialidade, por conseguinte, faz cumprir
a função fundamental da marca, qual seja, diferenciar produtos e

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


A Marca e sua Registrabilidade no Direito Brasileiro 165

serviços em um campo (gênero) mercantil específico. Identificar


para o consumidor um produto, diferenciando-o dos demais, é
característica primordial das marcas (SCUDELER, 2013, p. 87).
Dessa forma:

[...] não se admite a existência de marcas idênticas ou semelhantes,


de titulares distintos, para identificar produtos com afinidade
mercadológica, valendo dizer que as marcas dos produtos, dentro de
um segmento de mercado, devem ser suficientemente distintas, de tal
maneira que não exista possibilidade do consumidor comum, desatento
por natureza, associá-las ou confundi-las. (SCUDELER, 2013, p. 87)

Por outro lado, cumpre observar que:

Nada impede também que a marca seja idêntica ou semelhante a outra


já usada para distinguir produtos diferentes ou empregada em outro
gênero de comércio ou indústria. É neste caso que o princípio da
especialidade da marca tem sua maior aplicação, abrandando a regra
relativa à novidade. A marca deve ser nova, diferente das existentes; mas,
tratando-se de produtos ou indústrias diversas, não importa que ela seja
idêntica ou semelhante a outra em uso. (CERQUEIRA, 1982, p. 779)

Em síntese, podem existir marcas idênticas, desde que


elas identifiquem produtos ou serviços em mercados diversos.
O princípio da especialidade resguarda a novidade da marca
dentro do seu campo de atuação e permite a correta orientação
do consumidor, impedindo a existência, no mesmo segmento
comercial, de sinais que causem dúvida ou confusão quanto ao
seu objeto.
Como exceção a esses dois princípios há as marcas notórias e
as marcas de alto renome. A primeira é prevista no artigo 126, da LPI
que encontra amparo no artigo 6º bis (I), da Convenção da União
de Paris para Proteção da Propriedade Industrial (BRASIL, 1884).
Segundo esses dispositivos, a marca notória gozará de proteção
especial, independentemente de estar previamente depositada
ou registrada no Brasil, já que se tornou conhecida no ramo de
atividade em que atua no seu país de origem.

Volume I
166 A Marca e sua Registrabilidade no Direito Brasileiro

As marcas de alto renome, por sua vez, constituem evidente


exceção ao princípio da especialidade. Sua regulamentação
encontra-se exposta no artigo 125, da LPI, que assegura proteção
especial em todos os ramos de atividade. Isso significa dizer que
a marca considerada de alto renome não pode ser aplicada a
nenhum outro produto, artigo ou serviço, qualquer que seja a
classe. Tal medida visa proteger o consumidor para que não o
induza a erro, diante do prestígio do signo, objeto da proteção
(DI BLASI, 2005, p. 361).
Diferente da notória, a marca considerada de alto renome,
deverá necessariamente estar previamente registrada no território
nacional. A partir da anotação no registro, toda a reprodução ou
imitação, possível de causar confusão ou prejuízo para a reputação
do signo, será proibida.
Dessa forma, a proteção será formalmente conferida
pelo INPI, através de meio incidental, visando impugnar
pedido de registro feito por terceiro ou ainda, de acordo com a
Resolução do Instituto n. 107/2013, por meio de procedimento
autônomo, solicitando diretamente ao INPI a análise do alto
renome (INSTITUTO NACIONAL DA PROPRIEDADE
INDUSTRIAL, 2013).

Figura 7: Marca Notória Figura 8: Marca Alto Renome

Fonte: Instituto Nacional da Propriedade Fonte: Instituto Nacional da Propriedade


Industrial (2000) Industrial (1997)

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


A Marca e sua Registrabilidade no Direito Brasileiro 167

Cabe aqui ressaltar que, diante do notável conhecimento


dessas marcas pelo público consumidor, elas podem vir a se
degenerar. De acordo com Barbosa (2010, p. 711-712), a marca
pode recair em domínio comum, perdendo a distintividade quanto
ao seu conteúdo, ocorrendo então, o fenômeno da diluição.
Dessa forma, a marca se torna referência genérica de produtos
ou serviços. Soares (1997, p. 204) complementa expondo que as
marcas notórias, muitas vezes, perdem seu efetivo valor devido
ao uso inadequado, o que as leva à generalização. Exemplos desse
efeito indesejável são as marcas Chiclets, Durex, Tênis, Zíper,
Xerox, Catupiry, Cotonete e Isopor.
A proteção conferida pela lei às marcas registradas é,
portanto, restrita. Esses princípios delimitam o direito, sendo a
base sobre a qual se constrói o procedimento administrativo para
obtenção do registro marcário (MORO, 2003, p. 63).

Da Aquisição da Marca
Como já mencionado, a proteção às marcas é prerrogativa
constitucional prevista no artigo 5º, inciso XXIX, da Carta
Magna. Barbosa (2006, p. 214) descreve que “[...] existe um
direito constitucional à proteção das marcas, direito esse que
nasce da criação ou ocupação do signo como signo marcário e
sua vinculação a uma atividade”.
Miranda (2002, p. 36), por sua vez, aduz que, “[...] com
relação às marcas, tem-se o direito formativo gerado a partir
do registro da marca. Não há o exercício de um direito quando
ausente o registro para a utilização de um sinal distintivo”.
O direito formativo gerador não se manifesta a partir da
solicitação. A constituição da propriedade da marca se dá, a priori,
ao final do processo administrativo competente. Dessa forma, a
constituição determina que a lei assegure a proteção pertinente

Volume I
168 A Marca e sua Registrabilidade no Direito Brasileiro

à propriedade das marcas (BARBOSA, 2006, p. 200). O amparo


constitucional conferido às marcas decorre, portanto, do registro.
O titular tem a prerrogativa de requerer essa proteção, isto é, de
ver constituída sua propriedade. Sobre a proteção constitucional
conferida às marcas, observa-se que:

[...] a marca, como direito de propriedade constitucionalmente


assegurado, para cumprir as suas finalidades de atendimento simultâneo
dos interesses sociais e desenvolvimento econômico [...] deve possuir
uma proteção que evite a perda de sua distintividade e que evite uma
associação indevida com outros sinais distintivos. (BARCELLOS,
2006, p. 148-149)

Diante da necessidade de se buscar o registro, a proteção


marcária no âmbito constitucional tem o condão de impedir que
eventuais abusos sejam cometidos no mercado de consumo,
preocupando-se com a necessidade jurídica de atender ao fim
social que a marca se destina. Em outras palavras, a proteção do
consumidor no mercado de consumo demanda a existência de um
direito de propriedade sobre as marcas. Essa proteção tornou-se
evidente com a atual Constituição (BRASIL, 1988), posto que,
anteriormente à sua vigência, buscava-se tão somente solucionar
conflitos entre concorrentes. Embora já existisse a preocupação
com as violações decorrentes da utilização da marca por seus
titulares, a legislação anterior não considerava o interesse social e
o desenvolvimento tecnológico e econômico dispostos no atual
diploma constitucional (BARCELLOS, 2006, p. 10).
Há um interesse geral em que a marca seja registrada, ainda
que o registro não seja obrigatório (BARBOSA, 2005, p. 10).
Mediante o registro, o titular adquire direitos de propriedade, a
fim de que possa usar, gozar, fruir e reivindicar a marca, de modo
a impedir que essa marca possa vir a ser utilizada por outros
de forma indevida (VASCONCELOS, 2010, p. 3). Da mesma
forma, Jacob e Pereira (2013, p. 2) explicam: “Como um direito
de propriedade, conquanto sui generis, o registro da marca produz

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


A Marca e sua Registrabilidade no Direito Brasileiro 169

efeitos erga omnes e assegura ao seu titular as prerrogativas de usar,


com exclusividade, gozar e dispor da mesma”.
Constituída a propriedade por meio do registro, seu titular
poderá valer-se de todos os benefícios inerentes desse direito com
o intuito de proteger sua exclusividade sobre o signo e de tomar
as medidas cabíveis em caso de uso indevido por terceiros. Nesse
sentido, Requião (2013, p. 326) afirma que “[...] a exclusividade
concedida pela lei, na esteira de garantia constitucional, legitima
ao titular lançar mão de todos os recursos legalmente previstos,
administrativos, judiciais e extrajudiciais, para impedir que outrem
usufrua da marca registrada”.
Cumpre observar que, ao reconhecer a exclusividade
da marca por meio do registro, diz-se que o sistema adotado é
atributivo. Quando a propriedade advier do uso anterior, mas for
homologada pelo registro, o sistema será declaratório (BARBOSA,
2005, p. 3). Na história das leis brasileiras que versam sobre
propriedade industrial, percebe-se a aplicação dessas duas formas
concessivas. O legislador buscou ao longo do tempo um sistema
que mais se adequasse à realidade nacional como forma de tornar
mais equânime a aquisição da propriedade marcária no país.
O Decreto-Lei n. 7.903/45, primeiro Código de Propriedade
Industrial brasileiro, possibilitava ao usuário anterior, arguido de
boa-fé, requerer a marca para si de forma incidental por meio de
uma petição de oposição, observando-se o prazo fixado na Lei
(VASCONCELOS, 2010, p. 5).
No Código de 1969, o direito era apenas reconhecido, ou
seja, declarado, o registro não atribuía o direito de propriedade.
Esse era o entendimento vigente à época, tanto que o artigo 78
daquele diploma disciplinava: “[...] não será registrada a marca
que constituir reprodução ou imitação de marca de terceiro, ainda
não registrada, mas em uso comprovado no Brasil, desde que o
respectivo utente ofereça impugnação válida” (REQUIÃO, 2013,
p. 304).

Volume I
170 A Marca e sua Registrabilidade no Direito Brasileiro

Por outro lado, com a vigência da Lei n. 5.772/71, mesmo


que restasse comprovada a concorrência desleal, o usuário
anterior não possuía qualquer direito sobre o signo, e, dessa
forma, não havia como reivindicá-lo (VASCONCELOS, 2010, p.
5). Assim, a legislação anterior, sem incluir a de 1971, impedia o
registro de marca por terceiros, com base no uso anterior, desde
que o interessado se manifestasse no prazo certo solicitando o
registro para si. O Código de 1971 tornou o registro marcário
constitutivo puro. Em outras palavras, o uso anterior não produzia
quaisquer direitos. Mesmo ao considerar que o depositante da
marca estivesse agindo de má-fé, sabendo da existência anterior
da marca, o pré-utente, por mais legitimado que fosse a utilizar a
marca dentro de seu ramo comercial, não possuía nenhum direito,
pois o uso prévio não gerava efeitos (BARBOSA, 2005, p. 3-4).
Na vigência dessa lei, o criador e usuário de uma marca,
que não buscava a devida proteção, tinha como amparo apenas o
exposto expressamente na CUP, a qual garante proteção à marca,
desde que esta seja notória ou exista uma relação comercial entre
o titular do direito e o depositário oportunista. A única alternativa
encontrada na legislação pátria era, portanto, a de recorrer aos
princípios gerais do direito, invocando a seu favor a repressão à
concorrência desleal (TORRES, 2012, p. 18).
Atualmente, a Lei n. 9.279/96, em seu artigo 129, disciplina:

A propriedade da marca adquire-se pelo registro validamente expedido,


conforme as disposições desta Lei, sendo assegurado ao titular seu uso
exclusivo em todo o território nacional, observado quanto às marcas
coletivas e de certificação o disposto nos arts. 147 e 148. (BRASIL,
1996, art. 129)

O legislador brasileiro optou por assegurar àquele que


possui o registro validamente expedido pelo órgão competente a
propriedade e exclusividade quanto ao uso da marca. Conforme

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


A Marca e sua Registrabilidade no Direito Brasileiro 171

expõe Requião (2013, p. 304), “O registro, e não a ocupação ou


uso anterior, é que constitui o direito à propriedade da marca.
É titular do direito, consequentemente, o primeiro a registrá-
la”. No entanto, o artigo 129, em seu §1º, garante o direito de
precedência ao usuário anterior, nos seguintes termos:

Toda pessoa que, de boa-fé, na data da prioridade ou depósito, usava


no País, há pelo menos 6 (seis) meses, marca idêntica ou semelhante,
para distinguir ou certificar produto ou serviço idêntico, semelhante ou
afim, terá direito de precedência ao registro. (BRASIL, 1996, art. 129)

Retomou-se assim, com a atual Lei n. 9.279/96, a


possibilidade de permitir ao usuário anterior reivindicar a marca,
pautado em sua boa-fé (VASCONCELOS, 2010, p. 5). Isto é, o
referido artigo conferiu ao usuário o direito de reivindicar para si
a prioridade de uso da marca, caso comprove que, de boa-fé, se
valia de marca similar no país (ZEBULUM, 2007, p. 240).
No entendimento de Moro (2003, p. 54) “Tem-se aqui uma
típica manifestação de um sistema declarativo, numa verdadeira
conjugação com o sistema atributivo, na busca de uma disciplina
mais justa”. Dessa forma, a legislação criou uma exceção ao
sistema atributivo de concessão de registros, ao declarar o direito
à propriedade da marca ao usuário de boa-fé que anteriormente
já a utilizava. Da mesma forma entende Sichel (2001, p. 93)
ao afirmar que “Tem-se, portanto, um preceito legal em que o
princípio atributivo para a aquisição do direito marcário encontra
sua exceção”.
A atual legislação criou um sistema mais flexível, destoando
do diploma anterior que possuía um caráter mais rigoroso. Dessa
forma, contempla a propriedade da marca por meio de seu
registro, porém, possibilita ao utente de boa-fé a prioridade para
sua concessão (SCUDELER, 2013, p. 68).

Volume I
172 A Marca e sua Registrabilidade no Direito Brasileiro

Requisitos para o Registro de Marca


Para que haja a possibilidade de registro, a marca deve
atender a algumas condições expressas em lei. De acordo com
Scudeler (2013, p. 78), “A registrabilidade de um símbolo marcário
pelo INPI obedece aos critérios legais da LPI, em especial, no
quanto disposto no seu artigo 124 que, em vinte e três incisos,
enumera as proibições legais”. Esse dispositivo de lei restringiu
o arbítrio dos interessados pelo registro da marca, estabelecendo
vedações por motivo de ordem pública (PAES, 1996, p. 98).
E ainda sobre os impedimentos da lei:

[...] no caso das marcas, nem tudo que não é expressamente proibido
pode ser registrado como marca. Esta particularidade decorre das
funções que a marca deve exercer no mercado. Já nos diz o artigo
122 da nova lei que são suscetíveis de registro como marca os sinais
distintivos. Portanto, os sinais que, de fato, não forem capazes de
distinguir, tais como aqueles excessivamente complexos ou longos, ou
por presunção legal, tais como os sinais sonoros, não são registráveis.
(LEONARDOS, 1997, p. 41)

O artigo 122 da atual legislação de propriedade industrial


assevera que são suscetíveis de registro como marca os sinais
distintivos visualmente perceptíveis, não compreendidos nas
proibições legais. O sistema marcário brasileiro possui uma
forma negativa de verificar a viabilidade de uma marca. Em
outras palavras, a lei encarregou-se de enumerar exaustivamente
o que não pode ser um signo passível de registro. Assim, para
que haja validade, a marca não poderá compreender nenhuma
das hipóteses previstas para a recusa do registro (MORO, 2003,
p. 57-58).
A maior parte da doutrina afirma que existem quatro
requisitos mínimos que devem ser observados para que haja a

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


A Marca e sua Registrabilidade no Direito Brasileiro 173

constituição de uma marca, são eles: a distintividade, a novidade,


a veracidade e o caráter lícito (SCUDELER, 2013, p. 69).
Conforme observa Copetti (2008, p. 34), “A marca deve
corresponder a um sinal distintivo, o que não significa que todo
o sinal possa ser marca. Existem sinais, que por não preencherem
os requisitos legais não podem ser registrados como marca”.
Miranda (2002, p. 37) alega que “A marca tem de se distinguir.
Se não distingue, não é sinal distintivo visualmente perceptivo
[...], não assinala o produto [...], não se lhe podem mencionar
elementos característicos”.

Para que a marca seja distinta não é necessário que seja nova, baseada
em uma acepção desconhecida, basta que combine elementos de forma
a diferenciá-la das demais e, mais importante, não oferecer semelhança
com outra, ou que se aplique a gêneros que entre si não guardem
qualquer analogia, induzindo o consumidor a confusão ou associação.
(COPETTI, 2008, p. 34)

Miranda (2002, p. 38) exemplifica que “A distinção da


marca há de ser em relação às marcas registradas ou em uso, e
em si mesmas; porque há marcas a que falta qualquer elemento
característico, marcas que são vulgaridades notórias”. Dessa
forma, Almeida (2007, p. 53) alega que “Não é possível haver um
direito de exclusividade sobre dois objetos”.
Tendo como sua principal finalidade identificar os produtos
ou serviços, é necessário que contenha características a fim de
possibilitar tal identidade. A marca é um sinal que se acresce ao
produto o identificando. Dessa forma, deve necessariamente
ser característica para que possa cumprir com essa finalidade.
Consequentemente, quando o sinal não possuir suficiente
característica, não será passível de obter registro (SILVEIRA,
2005, p. 15). Na visão de Lobo (1997, p. 73), “Quanto mais
distintiva for a marca e mais conhecida ela se tornar, maior será
sua proteção em relação à de seus competidores”. Di Blasi (2005,

Volume I
174 A Marca e sua Registrabilidade no Direito Brasileiro

p. 332) observa que: “Quando a marca perde sua distintividade,


deixando de ser um adjetivo para ser um substantivo, o registro,
embora válido, se torna ineficaz”. É necessário, portanto, que a
marca tenha elementos suficientes para se distinguir de outras
(DI BLASI, 2005, p. 332).
Por isso, as expressões de uso comum, não poderão ser
objeto de marca, uma vez que sua utilização é de domínio público
e, portanto, não possuem elementos característicos suficientes
para obter proteção. De acordo com Barbosa (2010, p. 710),
“[...] o símbolo pretendido como marca tem de ser destacado
em grau suficiente para separar-se eficazmente daquilo que está
e deve permanecer no domínio comum”. Essas expressões são
meramente descritivas e não possuem distintividade para serem
passiveis de apropriação, uma vez que não se pode tirar do domínio
comum os sinais que lhe são necessários. Sobre as expressões de
uso comum, Scudeler (2013, p. 108) exemplifica ao dizer que:
“São, em regra, expressões que guardam relação direta com o
produto identificado e, por isso, são despidas de exclusividade,
na medida em que seu titular não pode expropriar do patrimônio
público termos de uso necessário, comum e vulgar”.
Em outras palavras, a expressão ou símbolo utilizado para
identificar o produto, não poderá ser meramente descritivo,
devendo ser afastado o uso de expressões comuns, que guardem
estreita relação com a atividade exercida. Por serem estas de
domínio público, sua utilização é autorizada a qualquer um que
assim desejar, sendo na maior parte das vezes, necessárias para
descrever o produto ou serviço comercializados.
O requisito da novidade, por sua vez, atua no sentido de
que a marca seja nova no mercado. Não poderá existir outra
idêntica ou semelhante, anteriormente adotada por um terceiro
(SCUDELER, 2013, p. 70). Cerqueira (1982, p. 778) utiliza-se da
seguinte argumentação:

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


A Marca e sua Registrabilidade no Direito Brasileiro 175

[...] a marca deve ser diferente de outras em uso, porque, do contrário,


confundindo-se com elas, não corresponderia ao seu fim primordial
de distinguir os produtos a que se aplicam. Esta ideia exprime-se,
geralmente, dizendo-se que a marca deve ser nova. Daí se deduz o
segundo requisito da marca, isto é, a novidade.

Cabe salientar que esse requisito não é absoluto, uma vez


que se deve atentar ao princípio da especialidade, possibilitando
a convivência com outras marcas sem afinidade mercadológica
(SCUDELER, 2013, p. 70). Portanto, o mais adequado é dizer que
o símbolo almejado como registro tenha disponibilidade, ou seja,
que ainda não tenha sido utilizado por terceiro, haja vista a lei não
exigir que exista novidade ou que a marca seja original (MORO,
2003, p. 60). Dessa forma, será necessário que a marca possa ser
passível de apropriação, isto é, para conquistar a proteção jurídica
almejada, o símbolo que representará o produto ou serviço, deve
ser exclusivo em seu segmento e deve estar em conformidade
com a legislação (BARBOSA, 2010, p. 700).
O registro da marca também não pode conter indicação
que seja enganosa ao público, logo, deve possuir veracidade.
Não deverá induzir o destinatário do produto ou serviço
de forma causar-lhe engano com relação à sua natureza ou
qualidade (VENOSA; RODRIGUES, 2010, p. 81). Em síntese,
o consumidor é o principal interessado, posto que a marca trata-
se de um sinal que visa orientá-lo. Diante desse entendimento,
cumpre destacar que:

O requisito da veracidade é, certamente, aquele formado com maior


grau de carga de interesse público. Ainda que os demais tenham uma
certa dose de proteção à ordem pública, o principal alvo da tutela legal,
quando da formação desse requisito, é a proteção do consumidor. Isto
porque, nele é objetivado impedir que a marca outorgue ao produto
identificado qualidades que, na realidade, não são encontradas.
(SCUDELER, 2013, p. 70)

Volume I
176 A Marca e sua Registrabilidade no Direito Brasileiro

Como descrito por Barbosa (2010, p. 703), “A veracidade,


como requisito da marca, é a exigência de que o signo não seja
intrinsecamente deceptivo, de forma a lesar seja o consumidor,
seja o competidor”. Se a marca for utilizada com o intuito de
confundir o consumidor sobre a origem ou qualidade do que
venha a adquirir, estará eivada como instrumento de fraude.
Para que se evite tal circunstância, é exigida sua veracidade
(CERQUEIRA, 1982, p. 785).
Por fim, para ser levada ao registro, a marca deverá ser
licita. Somente poderão ser registradas as marcas que não atentem
contra a moral e os bons costumes. Desta forma, a legislação
tratou de proibir o registro de sinais que de alguma forma sejam
ofensivos à honra, à imagem ou à liberdade de crença. Na visão
de Negrão (2013, p. 189), “A vedação visa proteger a moral média
de determinado povo e seus valores religiosos, de liberdade,
culturais ou dignos de respeito e veneração”. Barbosa (2010, p.
717) explica que “Assim, não é admissível para registro um signo
que incite ao consumo de tóxicos, à prática de atos libidinosos
incompatíveis com o estágio da moral, ou ofenda as religiões
minoritárias ou não”.
Para conquistar o registro, é mais recomendado que o
interessado atente para alguns aspectos, como o de utilizar
palavras inventadas ou fantasiosas, sem nenhum significado
aparente, ou ainda, marcas arbitrárias, cujo significado não guarde
qualquer relação com o que se visa proteger (ORGANIZAÇÃO
MUNDIAL DA PROPRIEDADE INTELECTUAL, 2003, p. 9).

Pedido de Registro
O objetivo basilar do pedido de registro é outorgar uma
anterioridade, ou seja, determinar o momento a partir do qual não
poderão mais ser concedidos registros a outras marcas, dotadas

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


A Marca e sua Registrabilidade no Direito Brasileiro 177

de características semelhantes, que tenham sido depositadas


posteriormente (DI BLASI, 2005, p. 368). É importante salientar
que, enquanto não se inicia o uso exclusivo da marca, isto é,
durante o período em que o INPI estiver processando a análise de
mérito, seu proprietário poderá exercer todas as funções que a lei
lhe garante. Todavia, o titular possuirá apenas uma expectativa de
direito para utilizar a marca com exclusividade (SILVEIRA, 2005,
p. 26). O problema é que esse período de análise, por parte do
INPI, enfrenta uma morosidade latente. Apesar da simplicidade,
o processo de registro leva em torno de 24 meses para obter um
parecer (SCUDELER, 2013, p. 83).
Assim, como determina o artigo 128, da LPI, o pedido de
registro pode ser feito por pessoa natural ou jurídica de direito
privado ou público. Sobre a titularidade, Barbosa (2002, p. 2)
explica:

Para as pessoas de direito privado, além da qualidade de pessoa, se


exige o exercício lícito e efetivo de atividade industrial, comercial ou
profissional compatível com a natureza da marca pretendida – no dizer
da lei, as pessoas de direito privado só podem requerer registro de marca
relativo à atividade que exerçam efetiva e licitamente de modo direto ou
através de empresas que controlem direta ou indiretamente, declarando,
no próprio requerimento, esta condição, sob as penas da lei.

A pessoa jurídica somente pode requerer o registro de marca


relativa à empresa que, efetiva e licitamente, exerça diretamente
ou mediante controle direto ou indireto (NEGRÃO, 2013, p.
192). Nessa seara, uma marca somente poderá ser requerida
comprovando-se a atividade lícita, efetiva e compatível, de seu
titular com o produto ou serviço que visa distinguir.

A lei, assim, só reconhece interesse na obtenção de registro naquele


que exercer atividade compatível com a destinação do registro.
O registro é um direito constituído para cumprir uma função, e só é

Volume I
178 A Marca e sua Registrabilidade no Direito Brasileiro

reconhecida a legitimidade ad adquirendum àquele que desempenha tal


função. (BARBOSA, 2002, p. 2)

Essa restrição impede o registro de pessoas físicas ou


jurídicas que objetivam apenas comercializar a marca, sem
que haja pretensão de vinculá-la à sua atividade profissional
(CONFEDERAÇÃO NACIONAL DA INDÚSTRIA, 2013,
p. 31). Dessa forma, ao requerer o registro junto ao INPI, o
depositante deverá indicar no momento do protocolo o segmento
em que atua.

Para registrar uma marca no Brasil, o depositante deve especificar o tipo


de produto ou serviço ao qual ela se destinará. Esta especificação fará
com que, uma vez registrado o signo, dentro da ideia de anterioridade,
não se possam aceitar registros de signos iguais ou semelhantes que
se tentem registrar para o mesmo tipo de produto ou serviço. Assim,
a proteção do signo se vincula diretamente ao produto ou serviço
assinalado pelo titular. (MORO, 2003, p. 67)

A especificação da marca é previamente estabelecida pelo


INPI, com base na Classificação Internacional de Produtos e
Serviços de Nice (NCL, na sigla em inglês), que possui uma
lista de 45 classes, que compreende 34 para produtos e 11 para
serviços (INSTITUTO NACIONAL DA PROPRIEDADE
INDUSTRIAL, 2018). Atualmente, também se encontra
disponível um formulário para livre preenchimento do requerente,
podendo, dessa forma, especificar sua atividade da forma que
achar mais conveniente, atentando-se evidentemente, ao objeto
compreendido em cada uma das classes previstas.
Deve-se atentar para a exceção referente às marcas coletivas
e de certificação, mencionadas anteriormente, das quais a primeira
poderá e a segunda será impedida de requerer o registro para a
atividade que exerça. Cabe aqui também mencionar que, segundo
o parágrafo 1o do artigo 128 da LPI, o registro só será concedido

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


A Marca e sua Registrabilidade no Direito Brasileiro 179

ao requerente que exerça lícita e efetiva atividade empresarial


relativa à marca.
Também poderão requerer o registro, as pessoas
domiciliadas no exterior, reivindicando ou não a prioridade
do pedido feito em seu país de origem, nos termos do artigo
4º da CUP, observando a necessidade de manter procurador
devidamente qualificado e domiciliado no País (INSTITUTO
NACIONAL DA PROPRIEDADE INDUSTRIAL, 2017b).
Cabe mencionar que o registro marcário é procedimento
administrativo facultativo, porém indispensável para garantir os
direitos de seu titular. Segundo Barbosa (2010, p.698): “Conforme
a clássica justificativa do sistema de marcas, a proteção jurídica
tem por finalidade em primeiro lugar proteger o investimento
do empresário; em segundo lugar, garantir ao consumidor a
capacidade de discernir o bom e o mau produto”.
O registro da marca, portanto, não se trata de uma
obrigação, mas sim de uma escolha. Optar ou não pelo registro
cabe exclusivamente ao interessado, de acordo com sua
conveniência (SOARES, 1997, p. 77). Segundo Loureiro (1999,
p. 228), “O empresário é livre para utilizá-la ou não nos seus
produtos ou serviços”. Mas, de acordo com a Organização
Mundial da Propriedade Intelectual (2003, p. 6), “Apesar de não
ser compulsório, o registro é altamente recomendado, uma vez
que ele confere direitos exclusivos ao titular para prevenir o uso
não autorizado na marca”. Farias (apud SOARES, 1997, p. 78),
explica que

[...] a marca é facultativa. Os princípios da liberdade do trabalho


consagrados pelo direito público moderno repelem com energia
o caráter obrigatório da marca. O seu uso é um direito que assiste
ao industrial ou comerciante; não é, porém, um dever a que fiquem
subordinados.

Volume I
180 A Marca e sua Registrabilidade no Direito Brasileiro

A faculdade do registro pode ser atribuída ao fato de que,


o êxito da marca é de responsabilidade de seu titular, a quem
cabe conquistar a confiança do consumidor. Do ponto de vista
de Miranda (2002, p. 35),

Tem-se entendido que a facultatividade da marca de indústria e de


comércio atende à necessidade de se saber que foi o produtor ou
comerciante que ligou a marca ao produto, para afirmação ao público
de valor dele.

Quando o empresário não opta pelo registro da marca,


corre o risco de que o desempenho da comercialização de seu
produto não seja satisfatório. Isso porque empresas concorrentes
poderão vir a utilizar a mesma marca ou similar, causando
confusão no mercado e induzindo o consumidor a acreditar que
fazem parte do mesmo grupo econômico. Esse conflito pode
reduzir os lucros de uma empresa e prejudicar sua imagem e
reputação, se os produtos de seu concorrente forem de qualidade
inferior (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA PROPRIEDADE
INTELECTUAL, 2003, p. 5).
Depois que o requerimento do registro é protocolado, este
aguardará sua publicação no instrumento oficial do instituto para
que terceiros interessados possam opor-se ao pedido. O INPI,
então, efetuará o exame de mérito, analisando as formalidades
necessárias que devem instruir o pedido, e as possíveis
anterioridades que possam ocorrer, em seguida expedirá um
parecer no sentido de indeferir ou de conceder o registro marcário.

Concessão, Vigência e Prorrogação do Registro


Decidindo o INPI pelo deferimento do pedido, o titular
deverá recolher a taxa necessária, no prazo legal para que haja a
concessão e a consequente expedição do certificado de registro.

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


A Marca e sua Registrabilidade no Direito Brasileiro 181

O certificado, portanto, é o documento expedido pelo


órgão que comprova a titularidade da marca e seu regular registro
perante a Autarquia (SCUDELER, 2013, p. 84). Da mesma forma:

O registro válido garante a titularidade pela anterioridade de pedido,


ou seja, salvo exceção, o titular do registro será o primeiro requerente.
Desse modo, caso o sinal escolhido para identificar o produto ou
serviço já estiver registrado no INPI e protegido para a mesma classe
vinculada ao seu produto ou serviço, em princípio, ele não estará
disponível. (COPETTI, 2008, p. 120)

Assim, conforme aduz Scudeler (2013, p. 86), “O certificado


de registro validamente expedido pelo INPI é o único documento
oficialmente reconhecido que comprova a propriedade sobre
a marca”. O artigo 133, da LPI, estabelece como vigência da
marca o prazo de 10 (dez) anos, contados da data da concessão
do registro, prorrogável por períodos iguais e sucessivos.
A respeito da prorrogação do registro, cumpre observar
que:

A renovação do direito à marca não possui prazo, pode-se dizer que


este direito é perpétuo. A prorrogação do registro não cria um novo
direito, apenas mantém um já existente. Entretanto, a renovação estará
condicionada aos mesmos regulamentos necessários ao registro. Dessa
forma, se vier a carecer de algum dos requisitos exigidos, não poderá
mais ser renovada. (LOUREIRO, 1999. p. 278)

Devido à possibilidade de prorrogação, Scudeler (2013,


p. 85) afirma que “A marca registrada é potencialmente eterna”.
Dessa forma, o registro poderá ser renovado indefinidamente,
de acordo com a vontade de seu titular, desde que continue em
acordo com os preceitos legais.

Volume I
182 A Marca e sua Registrabilidade no Direito Brasileiro

Impugnações ao Registro
O procedimento administrativo para concessão do registro
marcário incluiu determinados momentos que possibilitam a
terceiros protestarem contra o pedido de registro sobre o qual
possuam interesse.
Feito o depósito, de acordo com o artigo 158, da LPI, o
pedido de registro será publicado para a apresentação de eventuais
oposições (DI BLASI, 2005, p. 368). Dessa forma, o terceiro que
se sentir prejudicado pelo novo pedido poderá tempestivamente
oferecer argumentos a fim de inviabilizar o registro. Sobre a
oposição, Copetti (2008, p. 38-39) esclarece: “A oposição é um
recurso administrativo, apresentado por terceiro interessado,
manifestando-se contrário ao pedido de depósito, tendo em vista
a violação dos dispositivos da LPI (artigos 124, 125, 126 e 129,
§ 1º, da LPI) e objetivando a proteção de seu direito”.
Após concedido o registro, este poderá ser impugnado por
meio de um processo administrativo de nulidade, que encerrará
a instância administrativa, como determinado pelo artigo 171, da
LPI. A lei considera nulo o registro concedido em desacordo com
as disposições legais, mais especificamente quanto às proibições
contidas no artigo 124, da LPI (REQUIÃO, 2013, p. 152). Sobre
o tema, observa-se que:

A nulidade administrativa consiste em iniciativa da própria


administração competente, de rever, ex officio ou a requerimento de
terceiros interessados, suas decisões e seus atos, quando contrários
às disposições da Lei da Propriedade Industrial e aos princípios e
requisitos administrativos. (DI BLASI, 2005, p. 373)

O pedido, portanto, viabiliza a revisão da decisão


administrativa expedida. Por esse motivo, a nulidade administrativa

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


A Marca e sua Registrabilidade no Direito Brasileiro 183

foi alvo de duras críticas por parte da doutrina, que acreditava não
ter o INPI competência para analisar esses pedidos. Essa corrente
alega que a atual legislação pecou ao reconhecer tal capacidade ao
órgão, uma vez que o artigo 5º, inciso XXXV, da Constituição
Federal, estabelece que “[...] a lei não excluirá da apreciação do
Poder Judiciário, lesão ou ameaça ao direito”. Dessa forma,
sendo o registro de marca um direito adquirido, sua nulidade,
por ser um atentado ao direito individual, deveria exclusivamente
ser decretada por órgão judicial, assim como ocorria no antigo
Código da Propriedade Industrial (SOARES, 1997, p. 261-262).
Todavia, apesar da discussão existente, a atual legislação
marcária ainda prevê a possibilidade de propositura de ação
de nulidade de registro. De fato, caberá a qualquer um, que
possua legítimo interesse ou ao próprio INPI, ajuizar uma ação
de nulidade de registro junto à Justiça Federal. A ação deverá
estar fundamentada no fato de o registro ter sido concedido em
desacordo com as disposições legais e terá prazo máximo de
cinco anos, contados da concessão do registro, para ser interposta
(DI BLASI, 2005, p. 374).
Por fim, é preciso atentar para o fato de que o registro,
depois de expedido, deve efetivamente ser utilizado da forma que
constar em seu certificado. Como descrito por Requião (2013,
p. 329), após cinco anos da concessão do registro, abre-se a
possibilidade de apresentação de caducidade por terceiros. Isso
ocorrerá quando seu uso ainda não tiver sido iniciado no país,
tiver sido interrompido por mais de cinco anos consecutivos ou,
ainda, tiver ocorrido alguma modificação na marca que implique
alteração do seu caráter distintivo. O titular da marca, portanto,
deverá provar seu uso nos moldes em que foi concedida, sob
pena de ter seu registro extinto.

Volume I
184 A Marca e sua Registrabilidade no Direito Brasileiro

Como bem ressalta Soares (1997, p. 263), “Em toda situação


jurídica deve se observar o princípio do contraditório”. Dessa
forma, em todas as hipóteses demonstradas de impugnação em
sede administrativa, havendo publicação na Revista da Propriedade
Industrial, com intuito de questionar pedido ou registro de marca,
o titular terá 60 dias para se manifestar a respeito das alegações
feitas pelo interessado.

Considerações Finais
O presente estudo apresentou conceitos essenciais
relacionados à marca. Atualmente, esses signos se apresentam
como um dos principais bens no rol dos direitos de propriedade
industrial. Isso porque, além de seu valor financeiro, que pode ser
representativo, seu principal valor se encontra na relação que cria
com o consumidor, transmitindo valores de uma empresa e até
mesmo gerando emoções para quem a percebe, criando, assim,
um laço de fidelidade.
Ademais, só haverá direito de propriedade sobre a marca
se esta for requerida formalmente e concedida pelo órgão
responsável. O registro, portanto, embora facultativo, é essencial
para que se obtenha a exclusividade do sinal, com vistas a
consolidar uma distintividade mercantil, garantindo assim
segurança jurídica e econômica às relações empresariais.

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


A Marca e sua Registrabilidade no Direito Brasileiro 185

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Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


As Possibilidades de Aplicação da
Propriedade Intelectual no Setor da Moda

Fernanda Gonçalves Silveira Fontes


Renata Pacola Mesquita
Marcelo Farid Pereira

Resumo: a indústria da moda brasileira tem importância econômica, social e cultural, e


é responsável por gerar empregos, renda e riqueza, além de projetar o país no mercado
internacional. Entretanto, esse segmento possui particularidades que acabam por impor
desafios jurídicos extremamente peculiares para ser solucionados, uma vez que a moda
e o direito constituem fatos sociais que caminham lado a lado e estão em constante
mudança. Assim, o Direito e a Moda aliados se mostram como a tendência de atuação
jurídica especializada nesse setor da indústria e do comércio voltado à indústria têxtil e de
confecção; aos fabricantes de artigos e acessórios de moda, aos designers, aos fotógrafos
e modelos, às agências de modelos, aos proprietários de lojas online, aos franqueados
e a tantos outros profissionais e atividades envolvidas no mercado da moda. Diante de
tais constatações, o presente capítulo aborda a importância de se utilizar a propriedade
intelectual e de relacioná-la às necessidades desse setor. Dessa forma, foram unidas
matérias da realidade vivida pelos profissionais do ramo têxtil e de confecção com
a tutela jurídica oferecida pela legislação pátria aplicável, como a Lei de Propriedade
Industrial e a Lei de Direito Autoral. Ressalta-se que a junção dos citados fatos sociais
não acarreta desdobramentos apenas no âmbito da propriedade intelectual, mas
também em diversas áreas do Direito. Portanto, conclui-se que é inegável a necessidade
de existir a tutela jurídica no setor da moda, em especial no tocante à proteção e ao
registro de peças e coleções por meio da propriedade intelectual.

Abstract: the Brazilian fashion industry has economic, social and cultural importance.
It is responsible for generating jobs, income and wealth, as well as designing the
country in the international market. However, this segment has particularities that end
up imposing extremely peculiar legal challenges to be solved since fashion and law are
social facts and are constantly changing. Thus, Law and Fashion allies, show themselves
as the trend of legal action specialized in this sector of industry and commerce focused
on the textile and clothing industry, manufacturers of fashion articles and accessories,
designers, photographers and models, franchisees and many other professionals and
activities involved in the fashion market. Than this chapter has as main objective to
address the importance of using intellectual property relating to the needs of this
sector. In this way, uniting the reality lived by the professionals of the textile and
clothing sector, and the legal protection offered by the applicable native law, as the
Industrial Property Law and the Copyright Law. However, it should be emphasized that
the combination of the social facts does not imply developments only in the scope of
intellectual property, but also in several areas of Law. Therefore, it is concluded that
the need for legal protection of the fashion industry is undeniable, especially regarding
the protection and registration of parts and collections through intellectual property.
196 As Possibilidades de Aplicação da Propriedade Intelectual no Setor da Moda

Introdução
O setor da moda movimenta bilhões de dólares no mundo
todo e envolve diversos profissionais, assim como empresas
de variados ramos. No Brasil, esse cenário não é diferente, em
virtude da produção das empresas nacionais e do interesse
de marcas de renome internacional pelo mercado brasileiro
(ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA INDÚSTRIA TÊXTIL E
DE CONFECÇÃO, 2015).
Ocorre que, com o fomento econômico dessa área, a
quantidade de litígios em virtude do desrespeito aos direitos
intelectuais das criações desse setor cresceu e fez com que os
operadores do direito tivessem que se adequar a essas novas
realidades e matérias de fato, até então, pouco conhecidas.
Seguindo esse viés, o presente capítulo teve como escopo
a pesquisa, no ordenamento jurídico brasileiro, das possibilidades
de aplicação da propriedade intelectual no setor da moda e da
proteção à criação por meio da legislação específica.
Justifica-se a pesquisa pela importância da proteção às
informações sigilosas desenvolvidas nesse setor e pela utilização
da propriedade intelectual para tal fim, evitando-se, com isso, que
qualquer informação importante vaze ao concorrente, podendo
causar prejuízo financeiro ao empresário ou, até mesmo, eventual
concorrência desleal.
Ao longo do capítulo, foram discutidas as consequências
jurídicas em caso de inobservância ao dever de sigilo por parte do
empregado ou do prestador de serviço, que podem estar sujeitos
às sanções previstas na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT),
no Código Penal, Lei de Propriedade Industrial (Lei n. 9.279, de
14 de maio de 1996) e nos Tratados Internacionais.
É ainda objeto de estudo o Projeto de Lei do Senado n. 16,
apresentado em 7 de fevereiro de 2007, que propõe o acordo de

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


As Possibilidades de Aplicação da Propriedade Intelectual no Setor da Moda 197

proteção de informações sigilosas com o fim de manter o segredo


comercial ou as informações confidenciais que pertençam ao
empregador.

Moda e Sociedade
A seguir serão apresentados de forma sucinta elementos
sobre a história da Moda e sua importância como fenômeno
social.

Aspectos Históricos da Moda

A evolução histórica da indumentária humana vem sendo


explorada há muito tempo. Supõe-se que tenha sido iniciada antes
mesmo das primeiras civilizações do Egito e da Mesopotâmia.
Registros da Bíblia Sagrada revelam que havia a preocupação
por parte do homem em cobrir o corpo pelo caráter de pudor,
primeiramente usando folhas vegetais e posteriormente a pele de
animais.
Para alguns estudiosos, o uso de vestimentas vem desde a
era paleolítica, devido à sucessão de períodos glaciais nos quais
o homem precisou se proteger do clima extremamente frio. Para
tanto, o homem utilizava os animais capturados na caça não
apenas com o fim de alimentar-se, mas também para usara sua
pele e se proteger das baixas temperaturas, assim como afirma
Laver (1999, p. 8)

Em tais circunstâncias, apesar de os detalhes das roupas poderem ter


sido determinados por implicações sociais e psicológicas, o motivo
principal para se cobrir o corpo era afastar o frio, uma vez que a
natureza fora tão avara com a proteção natural do Homo sapiens.

Volume I
198 As Possibilidades de Aplicação da Propriedade Intelectual no Setor da Moda

O Brasil, por sua vez, teve sua história atrelada à moda a


partir da sua colonização, podendo-se dizer, sem exageros, que
o Brasil nasceu tendo consigo a moda, já que com a chegada
dos portugueses em terras brasileiras veio o escambo, ou seja, as
trocas efetuadas entre portugueses e indígenas, que, curiosamente,
envolveram o vestuário desde o início.
Conforme narrado, a moda, de forma indireta, influenciou
até mesmo no nome atribuído ao país, uma vez que o produto
inicialmente explorado era o pau-brasil, utilizado, entre outras
funções, para tingir tecidos:

O primeiro produto que oferecemos ao mercado externo (e que, mais


tarde, deu nome ao próprio país) foi o pau-brasil: espécie arbórea usada
para a extração de um pigmento, então raro e valorizado, nas cores
vermelha e púrpura, usado para tingir tecido. Assim, podemos dizer
que um produto de moda – um corante de tecidos – deu nome à própria
nação. Mais que isso, foi justamente no período do descobrimento do
nosso continente que o conceito de moda estava se consolidando na
Europa. (PRADO; BRAGA, 2011. p.17)

Nessa mesma linha de raciocínio, os autores continuam


alegando que:

O período da hegemonia da burguesia mercantil na Europa durou do


Renascimento até o início da era industrial, que tem como marcos a
Revolução Francesa (que identifica a decadência do final da monarquia)
e o surgimento incipiente dos processos técnicos de produção em série.
O abastecimento dos mercados europeus durante aquele período foi
feito pelas manufaturas burguesas (dos mestres de ofício) e com os
produtos exóticos levados das novas terras – continentes conquistados,
que se transformaram em colônias européias. Portanto, muitos desses
produtos, envolvidos no processo de fabricação têxtil e das roupas,
foram levados do Brasil à Europa(como foi o caso do pau-brasil, com
sua tinta avermelhada, e das plumárias de aves tropicais, que passaram
a adornar chapéus, roupas etc. (PRADO; BRAGA, 2011, p. 19)

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


As Possibilidades de Aplicação da Propriedade Intelectual no Setor da Moda 199

Como não poderia deixar de ser, a moda no Brasil também


passou por fases diversas desde os primórdios do descobrimento.
Como exemplo, é possível citar a evolução da moda no período
do século XIX ao século XXI, época na qual o mundo passou por
imensas transformações, em especial os dois grandes conflitos
mundiais que tiveram importante influência no modo de vestir,
tanto de homens como de mulheres (POLLINI, 2009).
Um exemplo clássico de referência da moda como um
fenômeno social de extrema importância perante a sociedade
foi o estilo simples e singular (Figura 1) da renomada estilista
francesa Gabrielle Bonheur Chanel. Segundo Pollini (2009,
p. 57), “o que ela vestia, dizia ou fazia virava moda”. A estilista
teve sua inventividade reconhecida por produção de vários itens
do vestuário, o que fez com que se popularizasse na sua época
determinadas peças do indumento feminino, como as calças
(POLLINI, 2009).

Figura 1: As calças femininas inspiradas a partir da criação de Coco Chanel

Fonte: Torre (2015)

Volume I
200 As Possibilidades de Aplicação da Propriedade Intelectual no Setor da Moda

Independentemente da intenção almejada na criação das


primeiras vestimentas, seja pelo caráter de adorno ou pela proteção,
cobrir o corpo era, e ainda é, uma necessidade presente na rotina
do homem, restando evidente a importância da vestimenta no
contexto da sociedade, o que se pode perceber também nas
palavras de Oliveira (2007, p. 59): “Vestir diz respeito ao singelo
e compulsório ato cotidiano, ao qual estamos todos submetidos,
para nos obrigar ou para estarmos socialmente adequados, ou
para causar boa impressão, ou para afirmar nossa identidade”.
A evolução da vestimenta revela não apenas a tendência
sendo o reflexo, como exposto acima, mas também de relações
sociais e políticas de cada período histórico.
Durante todo o período focado, percebe-se uma grande
mudança no modo de se vestir das pessoas, demandando
mudanças também no setor da moda, uma vez que o fenômeno
da moda faz com que as pessoas a adquiriram novas tendências, a
fim de acompanhar as novidades do mundo “fashion”, adequando-
se às necessidades sociais do período vivenciado.
Sendo assim, diante do contexto histórico apresentado,
percebe-se a importância da moda no cotidiano das pessoas,
importância esta que paulatinamente passou a exercer influência
no âmbito da economia nacional, no tocante aos setores têxtil, de
confecção, de acessórios e de calçados.
Em análise específica do setor têxtil e de confecção, já que
esse é o foco do trabalho, nota-se esses setores em destaque em
função do faturamento que rendem para o mercado financeiro
e pela quantidade de empregos que geram, direta como
indiretamente.
Segundo dados da Associação Brasileira da Indústria Têxtil
e de Confecção (ABIT), o faturamento do setor no ano de 2016
foi de US$ 37 bilhões, com investimentos de US$ 479 milhões,
contando com 1,5 milhão de empregados diretos e 8 milhões de

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


As Possibilidades de Aplicação da Propriedade Intelectual no Setor da Moda 201

indiretos, dos quais 75% são de mão de obra feminina. Além disso,
o mercado brasileiro conta hoje com 32 mil empresas formais do
segmento têxtil e de confecção, sendo o quinto maior produtor
têxtil do mundo e o quarto maior parque produtivo de confecção
(ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA INDÚSTRIA TÊXTIL E
DE CONFECÇÃO, 2015).
Diante de tais informações e das constatações históricas,
resta comprovada a importância do setor perante a sociedade,
justificando-se, assim, o interesse do estudo da moda e a forma
de proteção jurídica quanto à sua criação.

Moda: um Fenômeno Social

A indumentária revela muito sobre o indivíduo, é uma


exteriorização de sua condição social, econômica e cultural,
podendo revelar, até mesmo, valores e princípios de cunho moral.
Desde sempre, o modo de vestir teve influência nos grupos
sociais, poi isso se conclui que a moda é um fenômeno social.
Para o sociólogo estudioso dos fatos sociais, Durkheim
(2002, p. 11):

É fato social toda maneira de fazer, fixada ou não, suscetível de exercer


sobre o indivíduo uma coerção exterior; ou ainda, toda maneira de fazer
que é geral na extensão de uma sociedade dada e, ao mesmo tempo,
possui uma existência própria, independente de suas manifestações
individuais

Considera-se fato social, assim, o acontecimento dentro da


sociedade que apresenta algum tipo de interesse para grande parte
dos indivíduos pertencentes a esse mesmo convívio. Porém, não
basta ser um singelo fato para se tornar socialmente relevante,
é preciso apresentar três características que, segundo Durkheim
(2002), definem a relevância do fato.

Volume I
202 As Possibilidades de Aplicação da Propriedade Intelectual no Setor da Moda

A primeira característica diz respeito à exterioridade, ou seja,


deve haver a existência do fato fora da consciência individual,
como modo de pensar e de agir; a segunda característica consiste
na coercitividade, impondo algo ao indivíduo e cabendo a ele decidir
se percebe ou não; e, por fim, a generalidade, que estabelece o fato
como coletivo, para todo um grupo ou sociedade (FARIA, 2015).
De acordo com Durkheim (2002), o fato social pode ter
caráter de coerção ou de maneira de fazer. No primeiro caso,
existe uma obrigatoriedade na observância daquilo que é definido
pelo fenômeno social, ao passo que na segunda hipótese tem-se a
faculdade de seguir ou não indigitado fenômeno social.
Aplicando-se tal definição especificamente à moda, pode-
se concluir que esta não possui caráter coercitivo, tratando-se de
fato social que revela uma maneira de se vestir, ou modo de se
apresentar dentro de um determinado grupo social.
Por outro lado, para Lipovetsky (2009, p. 43):

A moda é um sistema original de regulação e de pressão sociais: suas


mudanças apresentam um caráter constrangedor, são acompanhadas
do ‘dever’ de adoção e de assimilação, impõem-se mais ou menos
obrigatoriamente a um meio social determinado – tal é “despotismo”
da moda tão frequentemente denunciado ao longo dos séculos.
Despotismo muito particular já que sem sanção maior, a não ser o
riso, a zombaria e a reprovação dos contemporâneos. Mas por mais
eficazes que possam ter sido esses meios de conformidade social, em
particular nos séculos de honra e hierarquia, não bastam para explicar os
fenômenos de epidemia de moda. Mais fundamentalmente, é em razão
do desejo dos indivíduos de assemelhar-se àqueles que são considerados
superiores, aqueles que brilham pelo prestígio e pela posição.

Embora haja divergência doutrinária nesse quesito, pode-


se afirmar que a moda constitui-se em fenômeno social, variável
no tempo e no espaço, refletindo o momento histórico, político
e religioso, bem como os costumes, os princípios morais e as
tradições de um grupo (sociedade).

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


As Possibilidades de Aplicação da Propriedade Intelectual no Setor da Moda 203

Tal como a moda, o direito emana da sociedade, sendo


o resultado de um complexo de fatores sociais, intimamente
influenciados pela sociedade e por seus fenômenos. Segundo
Montoro (1997, p. 581):

O direito emana da sociedade sob múltiplos aspectos: 1. Como


resultante do poder social; 2. Como reflexo dos objetivos, valores e
necessidades sociais; 3. Como manifestação ou efeito de fatores sociais:
históricos geográficos, técnicos, econômicos, culturais, psicológicos,
morais, religiosos, etc.

Percebe-se, assim, a estreita ligação entre o direito e a


moda, já que ambos se originam de fatos relevantes ocorridos no
seio da sociedade, aos quais se denomina de fatos sociais. Daí o
motivo de se afirmar que toda a matéria abrangida pelo setor da
moda merece ser tutelada pelo direito, desde que observadas suas
especificidades.

Contextualização da Moda no Direito Empresarial


Como dito anteriormente, o setor da moda precisa ser
tutelado e protegido no âmbito jurídico, garantindo aos criadores
e à indústria segurança quanto à criação e à distribuição das
mercadorias.
O Direito Empresarial, dentre outros ramos do direito, é
capaz de tutelar os diversos aspectos da indústria da moda, em
especial no que tange aos direitos autorais, ao dever de sigilo, à
concorrência desleal, dentre outras situações.
Sendo assim, de antemão, é de suma importância fazer
um breve apontamento acerca dos princípios, tanto norteadores
do direito em geral como os considerados basilares no Direito
Empresarial, com o propósito de melhor compreender a
necessidade de proteção à moda.

Volume I
204 As Possibilidades de Aplicação da Propriedade Intelectual no Setor da Moda

Princípios Gerais do Direito

Pode-se definir o termo “princípio”, segundo o Dicionário


Michaelis da Língua Portuguesa (2015), como: “[...]em uma área de
conhecimento, conjunto de proposições fundamentais e diretivas
que servem de base e das quais todo desenvolvimento posterior
deve ser subordinado; regra ou norma de ação e conduta moral;
ditame, lei, preceito; [...]”.
Os princípios são aplicados a todas as áreas do conhecimento
humano, sejam elas nas ciências exatas, sociais, humanas ou
biológicas. Dessa forma, no que se refere à ciência jurídica, pode-
se colocar os princípios como alicerces fundamentais e filosóficos
que embasam todo o ordenamento jurídico, fazendo com que
surjam as normas. Nesse mesmo sentido é o posicionamento de
Mello (2005, p. 20):

Princípio é, por definição, mandamento nuclear de um sistema,


verdadeiro alicerce dele, disposição fundamental que se irradia sobre
diferentes normas, compondo-lhes o espírito e servindo de critério
para exata compreensão e inteligência delas, exatamente porque define
a lógica e a racionalidade do sistema normativo, conferindo-lhe a
Tônica que lhe dá sentido harmônico.

Adotando semelhante posicionamento, Reale (2003, p. 37)


aduz que:

Princípios são enunciações normativas de valor genérico, que


condicionam e orientam a compreensão do ordenamento jurídico, a
aplicação e integração ou mesmo para a elaboração de novas normas.
São verdades fundantes de um sistema de conhecimento, como tais
admitidas, por serem evidentes ou por terem sido comprovadas, mas
também por motivos de ordem prática de caráter operacional, isto é,
como pressupostos exigidos pelas necessidades da pesquisa e da práxis.

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


As Possibilidades de Aplicação da Propriedade Intelectual no Setor da Moda 205

Nesse diapasão, os princípios gerais do direito são os


fundamentos e as ideias basilares que vão respaldar as normas
jurídicas na busca pelo ideal de justiça que envolve o Direito,
abrangendo tanto os princípios gerais (comuns a qualquer área)
quanto os específicos (relativos a uma determinada área, como
ocorre no Direito Empresarial).

Princípios do Direito Empresarial

O Direito Empresarial, ou Direito Comercial, devido ao


caráter especial de suas atividades, possui princípios próprios
que deverão orientar todo o trabalho jurisdicional realizado pelo
Poder Judiciário, podendo ser classificados segundo três critérios,
conforme propõe Coelho (2013, p. 64):

Os princípios do direito comercial classificam-se em: constitucionais


ou legais (conforme estejam obrigados na Constituição Federal ou na
lei ordinária), gerais ou especiais (se são aplicáveis a todos os ramos
jurídicos ou somente a um de seus desdobramentos) e explícitos ou
implícitos (caso estejam expressamente previstos na norma de direito
positivo ou decorram desta).

Os princípios constitucionais mencionados por Fábio


Ulhoa Coelho (2013, p. 64) “[...] são aqueles que guardam os
valores fundamentais da ordem jurídica”.
Segundo o jurista brasileiro Celso Ribeiro Bastos (2010), os
princípios constitucionais, ao guardarem os valores fundamentais
da ordem jurídica, não têm como objetivo regular situações
específicas, buscando, em verdade, refletir efeitos em todo mundo
jurídico:

Em resumo são os princípios constitucionais aqueles valores


albergados pelo Texto Maior a fim de dar sistematização ao documento
constitucional de servir como critério de interpretação e finalmente,

Volume I
206 As Possibilidades de Aplicação da Propriedade Intelectual no Setor da Moda

o que é mais importante, espraiar os seus valores, pulverizá-los sobre


todo o mundo jurídico. (BASTOS, 2010, p. 221)

Ainda no que tange à importância dos princípios contidos


na Constituição Federal, vale a pena transcrever as palavras de
Bonavides (2006, p. 200):

Os princípios, uma vez constitucionalizados, se fazem a chave de todo


o sistema normativo [...]todo discurso normativo tem que colocar,
portanto, em seu raio de abrangência os princípios, aos quais as regras
se vinculam. Os princípios espargem claridade sobre o entendimento
das questões jurídicas, por mais complicadas que estas sejam no interior
de um sistema de normas.

A Constituição Federal de 1988 traz em seu corpo três


princípios que embasam o direito empresarial, aplicáveis às
necessidades do setor da moda. São eles: o Princípio da Liberdade
de Iniciativa ou Livre-Iniciativa (artigo 170, caput da Constituição
Federal1); o Princípio da Liberdade de Concorrência (artigo 170, IV e
173, §4˚ da Constituição Federal2); e o Princípio da Função Social da
1
Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano
e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme
os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: I – soberania
nacional; II – propriedade privada; III – função social da propriedade; IV –
livre concorrência; V – defesa do consumidor; VI – defesa do meio ambiente,
inclusive mediante tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental
dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e prestação; VII –
redução das desigualdades regionais e sociais; VIII – busca do pleno emprego;
IX – tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte constituídas
sob as leis brasileiras e que tenham sua sede e administração no País.  Parágrafo
único. É assegurado a todos o livre exercício de qualquer atividade econômica,
independentemente de autorização de órgãos públicos, salvo nos casos previstos
em lei. – Constituição Federal de 1988.
2
Art. 173. Ressalvados os casos previstos nesta Constituição, a exploração direta
de atividade econômica pelo Estado só será permitida quando necessária aos
imperativos da segurança nacional ou a relevante interesse coletivo, conforme
definidos em lei.
§ 4º A lei reprimirá o abuso do poder econômico que vise à dominação
dos mercados, à eliminação da concorrência e ao aumento arbitrário dos
lucros.(CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL,

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


As Possibilidades de Aplicação da Propriedade Intelectual no Setor da Moda 207

empresa (artigo 5º, XXIII, artigo 170, artigo 182 e artigo 186 da
Constituição Federal3).
Com o propósito de compreender a importância dos
referidos princípios aplicáveis à moda, será feito o detalhamento
da temática em capítulo próprio, demonstrando a sua relevância
como forma de incentivar a criação na indústria da moda e a
indústria têxtil no país.
Além dos princípios constitucionais, conforme classificação
de Fábio Ulhoa Coelho (2013), há ainda os princípios gerais e os
específicos que devem ser aplicados para a proteção do direito.
Nessa vertente, vale salientar a sigilosidade, a boa-fé e a
preservação da empresa, entre outros.
Cada ramo do direito possui especificidades e características
que lhe são inerentes, as quais se adequarão aos princípios,
constituindo assim autêntica “ideologia” que se identificará
com determinados valores. Nesse sentido, concorda-se com as
palavras de Coelho e Nunes (2015, p. 5-6):

Cada ramo do direito tem, neste sentido, sua “ideologia”, isto é,


um conjunto de valores que visa prestigiar, por meio de normas
constitucionais, legais ou regulamentares. São normas de âmbito

1988)
3
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade
do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos
termos seguintes: XXIII – a propriedade atenderá a sua função social;
Art. 182. A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público
municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar
o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem- estar
de seus habitantes.
Art. 186. A função social é cumprida quando a propriedade rural atende,
simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em lei,
aos seguintes requisitos: I – aproveitamento racional e adequado; II – utilização
adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente;
III – observância das disposições que regulam as relações de trabalho; IV –
exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores.
(CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL, 1988).

Volume I
208 As Possibilidades de Aplicação da Propriedade Intelectual no Setor da Moda

muito largo, que se costumam chamar de princípios. Os princípios


de uma disciplina jurídica formam sua ideologia. [...] Sob o ponto de
vista técnico, os valores de uma disciplina jurídica expressam-se por
meio dos princípios próprios dela. O princípio do reconhecimento da
vulnerabilidade do consumidor corresponde ao valor fundamental do
direito do consumidor; o princípio do poluidor-pagados, ao do direito
ambiental; a indisponibilidade do interesse público, ao do direito
administrativo; e assim por diante.

O presente estudo se limitou aos princípios constitucionais


que são aplicados ao direito empresarial e que se estendem ao
setor da moda na busca de proteção e de incentivo a essa área.

Princípio da Liberdade de Iniciativa

A liberdade de iniciativa, com previsão constitucional,


consiste na liberdade de agir, envolvendo “[...] o livre exercício
de qualquer atividade econômica, a liberdade de trabalho, ofício
ou profissão além da liberdade de contrato” (CERVO, 2014,
p. 2). Nas palavras de Eros Roberto Grau, liberdade de comércio
e indústria corresponde à faculdade de criar e de explorar uma
atividade econômica a título privado, ou seja, liberdade pública; e,
ainda, a não sujeição a qualquer restrição estatal senão em virtude
de lei, configurando novamente a liberdade pública (GRAUS,
2003, p. 184).
Tal princípio não se mostra como uma novidade trazida
pela Constituição Federal de 1988, notando-se sua presença já
nos tempos do Império e nas constituições anteriores, como
ensina Cretella Junior (1998, p. 225):

Livre iniciativa é a possibilidade de agir, neste ou naquele sentido sem


influência externa. Não é novidade entre nós o princípio da liberdade
de iniciativa, prescrito na EC 1/69, art. 160, I (“A ordem econômica
e social tem por fim realizar o desenvolvimento nacional e a justiça
social, com base nos seguintes princípios: liberdade de iniciativa”), na

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


As Possibilidades de Aplicação da Propriedade Intelectual no Setor da Moda 209

Constituição de 1946, art. 145 (“A ordem econômica deve ser organizada
conforme os princípios da justiça social, conciliando a liberdade de
iniciativa com a valorização do trabalho humano”), na Carta de 1937,
art. 135 (“Na iniciativa individual, no poder de criação, de organização
e de invenção do indivíduo, exercido nos limites do bem público,
funda-se a riqueza e a prosperidade nacional. [...] Na Constituição de
1934, art. 115 (“A ordem econômica deve ser organizada conforme os
princípios da justiça e as necessidades da vida nacional, de modo que
possibilite a todos existência digna. Dentro desses limites, é garantida
a liberdade econômica”), na Constituição Política do Império, art.
179, inc. 24 (“Nenhum gênero de trabalho, de cultura, indústria e
comercio, pode ser proibido, uma vez que não se oponha aos costumes
públicos, à segurança e saúde dos cidadãos”), sendo omissa, a respeito
a Constituição de 1891.

A despeito de tratar-se do mesmo princípio, os textos da


Emenda Constitucional n. 1/69 e a Constituição Federal de 1988
atribuem finalidades análogas à liberdade de iniciativa. Ainda,
segundo as palavras de Cretella Junior (1998, p. 225):

Na EC 1/69, art. 160, I, a liberdade de iniciativa é um principio


em que repousa a ordem econômica e social para a consecução do
desenvolvimento nacional e da justiça social; na Constituição de 1988,
a livre iniciativa é um dos fundamentos da República Federativa do
Brasil para que o Estado de Direito ou Estado Democrático instituído possa
construir uma sociedade aberta, justa e solidária.

No texto da Constituição Federal de 1988 tem-se como


intento o bem-estar da sociedade como um todo, conquistado
por meio das atividades dos cidadãos que têm a liberdade de
exercê-las. Essa liberdade constitui-se em alicerce para a ordem
econômica e social. Além de caracterizar-se como base para a
ordem econômica e social do país, a liberdade de iniciativa
é classificada como direito fundamental do homem, sendo
classificado de tal forma, a liberdade de iniciativa acaba gerando
obrigações a outros sujeitos, conforme aduz Coelho (2013, p. 63):

Volume I
210 As Possibilidades de Aplicação da Propriedade Intelectual no Setor da Moda

Ao assegurar a liberdade de iniciativa, a Constituição Federal atribui a


todos os brasileiros e residentes no Brasil um direito, o de se estabelecer como
empresário. A todo direito atribuído a alguém, correspondem obrigações
impostas a outros sujeitos. No primeiro vetor, a liberdade de iniciativa
é garantida pela obrigação imposta ao Estado de não intervir na
economia, dificultando ou impedindo a formação e o desenvolvimento
de empresas privadas; no segundo vetor, esse princípio é garantido pela
obrigação imposta aos demais empresários, no sentido de concorrerem
licitamente.

Pode-se dizer que quatro são os desdobramentos resultantes


do princípio da liberdade de iniciativa, ainda segundo Coelho
(2013, p. 71):

a) Imprescindibilidade, no capitalismo, da empresa privada


para o atendimento das necessidades de cada um e de todos; b)
Reconhecimento do lucro como principal fator de motivação da
iniciativa privada; c) Importância, para toda a sociedade, da proteção
jurídica do investimento; d)Importância da empresa na geração de
postos de trabalho e tributos, bem como no fomento da riqueza local,
regional, nacional e global licitamente.

Como se vê, o princípio da livre iniciativa mostra-se


essencial para toda e qualquer atividade de empresa. Por meio da
liberdade de criação, permite-se o desenvolvimento econômico,
incentivando-se novos inventos para a sociedade.
No mundo capitalista, todos os bens, sejam eles essenciais
ou não, só poderão existir em virtude de alguém que se disponha
a investir na abertura de uma empresa destinada a determinado
fim.
O mesmo ocorre na indústria da moda, já que roupas e
acessórios são essenciais ao homem, o que faz com que as
empresas desse segmento mereçam a proteção jurídica necessária
em função de seus investimentos.
Em que pese não se tratar de um princípio absoluto, a
livre iniciativa, como princípio da ordem econômica, influencia o

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


As Possibilidades de Aplicação da Propriedade Intelectual no Setor da Moda 211

desenvolvimento do mercado, inclusive no que tange à indústria


da moda, permitindo-se alcançar o novo, atendendo aos anseios
sociais e econômicos de um determinado período.

Princípio da Liberdade de Concorrência

O princípio da Liberdade de Concorrência encontra-se


fundamentado constitucionalmente no artigo 170, IV4, estando
estreitamente ligado ao princípio já mencionado, o da Liberdade
de Iniciativa.
Foi em função de tais princípios, instituídos com o fim de
regularizar o mercado comercial e financeiro e para combater o
abuso do poder econômico que vise à dominação de mercados,
a eliminação da concorrência e o aumento arbitrário dos lucros,
que se criou, a partir da Lei n. 8.884/94, a Autarquia do Conselho
Administrativo de Defesa Econômica (CADE).
Referida Autarquia Federal foi criada com a missão de
zelar pela livre concorrência no mercado, responsável, no âmbito
do Poder Executivo, não só por investigar e decidir, em última
instância, sobre a matéria concorrencial, como também para
fomentar e disseminar a cultura da livre concorrência, dando a
seguinte definição ao Princípio da Liberdade de Concorrência:

4
Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano
e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme
os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: I – soberania
nacional; II – propriedade privada; III - função social da propriedade; IV –
livre concorrência; V – defesa do consumidor; VI – defesa do meio ambiente,
inclusive mediante tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental
dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e prestação; VII –
redução das desigualdades regionais e sociais; VIII – busca do pleno emprego;
IX – tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte constituídas
sob as leis brasileiras e que tenham sua sede e administração no País. Parágrafo
único. É assegurado a todos o livre exercício de qualquer atividade econômica,
independentemente de autorização de órgãos públicos, salvo nos casos
previstos em lei. (CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO
BRASIL, 1988)

Volume I
212 As Possibilidades de Aplicação da Propriedade Intelectual no Setor da Moda

O princípio da livre concorrência está previsto na Constituição


Federal, em seu artigo 170, inciso IV e baseia-se no pressuposto de
que a concorrência não pode ser restringida por agentes econômicos
com poder de mercado. Em um mercado em que há concorrência
entre os produtores de um bem ou serviço, os preços praticados
tendem a se manter nos menores níveis possíveis e as empresas
devem constantemente buscar formas de se tornarem mais eficientes,
a fim de aumentarem seus lucros. Na medida em que tais ganhos de
eficiência são conquistados e difundidos entre os produtores, ocorre
uma readequação dos preços que beneficia o consumidor. Assim,
a livre concorrência garante, de um lado, os menores preços para
os consumidores e, de outro, o estímulo à criatividade e inovação
das empresas. (CONSELHO ADMINISTRATIVO DE DEFESA
ECONÔMICA, 1994)

No mesmo sentido, posiciona-se Luís Cabral de Mocada,


professor catedrático da Universidade de Coimbra, citado na
obra de Bastos e Martins (1990, p. 27), acerca dos objetivos do
princípio em pauta:

O objetivo (sic) das leis de defesa da concorrência é o de assegurar


uma estrutura e comportamento concorrenciais dos vários mercados
no pressuposto de que é o mercado livre que, selecionando os mais
capazes, logra orientar a produção para os setores susceptíveis de
garantir uma melhor satisfação das necessidades dos consumidores e,
ao mesmo tempo, a mais eficiente afetação dos recursos econômicos
disponíveis, que é como quem diz, os mais baixos custos e preços.
A concorrência é assim encarada como o melhor processo de fazer
circular e orientar livremente a mais completa informação econômica,
quer ao nível do consumidor, quer ao nível de produtores, assim
esclarecendo as respectivas preferências. É por isso que a sua defesa é
um objetivo de política econômica.

Para Coelho (2013, p. 72), tal princípio é fundamental ao


fomento do mercado com bens e serviços de qualidade por um
preço menor, conforme aduz:

A liberdade de concorrência é que garante o fornecimento ao mercado,


de produtos ou serviços com qualidade crescente e preços decrescentes.

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


As Possibilidades de Aplicação da Propriedade Intelectual no Setor da Moda 213

Ao compartirem pela preferência do consumidor, os empresários


se empenham em aparelhar suas empresas visando à melhoria da
qualidade de produtos ou serviços, bem como em ajustá-las com o
objetivo de economizar nos custos e possibilitar redução dos preços;
tudo com vistas a potencializar o volume de vendas e obter mais lucros.

Vale a pena mencionar ainda o comentário de Araújo (2010,


p. 60), no sentido de que a intenção do legislador ao integrar tal
princípio à Constituição Federal foi única e exclusivamente a de
coibir a formação de cartéis e monopólios que abalam a estrutura
do mercado financeiro e comercial, conforme expõe:

[...] a Constituição Federal não condena o exercício do poder econômico;


apenas seu abuso suscita a intervenção estatal, coibindo excessos tais
como os cartéis e monopólios de fato que venham a turbar o livre
funcionamento das estruturas do mercado.

Esse também é o entendimento de Cretella Junior (1998,


p. 241, grifo nosso), ao afirmar que:

No regime da livre concorrência, os preços de mercado tendem a abaixar,


beneficiando-se com isso o comprador, ao contrário do que acontece
no regime de monopólio que prejudica o comprador e afeta o Equilíbrio da
ordem Econômica.

Ora, em que pese proteger a livre concorrência como


princípio da ordem econômica, indigitado princípio tampouco
pode ser considerado como absoluto. Como já exposto, a
liberdade concorrencial é essencial para assegurar um mercado
mais equilibrado, protegendo os consumidores de eventuais
monopólios.
Porém, essa concorrência deve ser devidamente controlada
e fiscalizada pelo CADE, com o fim de garantir a segurança
do mercado. Desse modo, ao se falar nas indústrias de moda, a
concorrência existente no mercado é bastante significativa.

Volume I
214 As Possibilidades de Aplicação da Propriedade Intelectual no Setor da Moda

Diante da dinamicidade da moda, é imprescindível que se


faça uma proteção rápida e eficiente, sob pena de prejudicar toda
criação desenvolvida e a distribuição dessa mercadoria.
Daí a importância da convivência harmônica entre os
princípios da livre iniciativa e da livre concorrência, garantindo-
se, assim, uma maior segurança ao mercado, em especial no setor
da moda, que apresenta grande dinamismo em suas criações e na
distribuição do produto ao seu destino final.
Nesse diapasão, tem-se que o princípio em questão implica a
coibição de certas práticas empresariais, tidas como concorrência
ilícita, podendo ser consideradas infração de ordem econômica
ou configurando a concorrência desleal, ambas extremamente
prejudiciais ao setor econômico, financeiro e comercial, restando
clara a importância desses princípios aos setores comercial e
industrial, em especial na indústria da moda, já que esses são
princípios fundamentais, a fim de garantir proteção a tal setor.

Mecanismos de Proteção Legal no Setor da Moda


Como já mencionado, a moda é regida não apenas pelos
princípios constitucionais, podendo-lhe ser aplicadas outras
normas.
Uma delas, de grande importância para o setor de criação da
indústria da moda, é a sigilosidade nos contratos e na produção.
Diante da brevidade de tal ramo, sendo suas tendências passageiras,
o sigilo nas criações mostra-se essencial para preservar o direito
dos inventores.

Da Registrabilidade da Moda após o Lançamento da Coleção

Antes de adentrar especificamente no tema da proteção


a conhecimentos empresariais sigilosos, é de suma importância

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


As Possibilidades de Aplicação da Propriedade Intelectual no Setor da Moda 215

esclarecer como ocorre a proteção atual ao setor da moda, quando


a coleção já se encontra lançada e presente no mercado.
Ressalta-se, desde já, a importância da preocupação com
a proteção desse setor industrial no momento da criação e do
desenvolvimento dentro de uma empresa, tema este que será
discutido adiante.
Como dito anteriormente, o setor “fashion” é extremamente
rentável financeiramente para o mercado brasileiro, daí a
importância em se proteger tal segmento.
Tal proteção se dá de diferentes formas, sendo possível o
registro no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI),
como Desenho Industrial (Propriedade Intelectual), Marca ou,
ainda, protegido segundo a Lei de Direitos Autorais (LDA), Lei
n. 9.610, de 19 de fevereiro de 1998.

Do Registro como Desenho Industrial

O Desenho Industrial encontra-se positivado no artigo 95


da Lei de Propriedade Industrial (Lei n. 9.279, de 14 de maio de
1996):

Considera-se desenho industrial a forma plástica ornamental de um


objeto ou o conjunto ornamental de linhas e cores que possa ser
aplicado a um produto, proporcionando resultado visual novo e original
na sua configuração externa e que possa servir de tipo de fabricação
industrial (BRASIL, 1996, art. 95)

Esse instrumento de registro é aplicável ao mercado da


moda, já que condiz com o dinamismo inerente ao setor, levando-
se em consideração que esse ramo é extremamente sazonal, com
duração de aproximadamente seis meses por coleção, enquanto a
proteção fornecida pelo Desenho Industrial tem duração de dez
anos, prorrogáveis por três períodos de cinco anos.

Volume I
216 As Possibilidades de Aplicação da Propriedade Intelectual no Setor da Moda

Há de se destacar, porém, que o registro como desenho


industrial deve obedecer a três critérios: a viabilidade industrial;
a novidade; e a originalidade. Ocorre que nem toda criação será
passível de atender a todos os requisitos. Nesse caso, é possível
registrar apenas parte da peça que preencha tais critérios,
conforme aduz Medeiros (2015, p. 8):

Portanto, mesmo que não seja registrável um vestido por completo,


vez que ao vestido falta o requisito da novidade, a criação de uma nova
configuração aplicada a esse vestido, seja ela uma diferenciação em sua
alça ou decote, pode ser protegida pelo registro de desenho industrial.

Dessa forma, a possibilidade do registro como desenho


industrial de um detalhe ínfimo que seja inovador, exclusivo e
original de uma peça considerada comum é extremamente viável
no setor da moda.

Do Registro como Marca

Outra forma de proteção à moda se dá pelo registro da


produção como marca. Nesse caso, a proteção recairá sobre sinais
distintivos, caracterizadores, que sejam visualmente perceptíveis
de certa indústria ou de um designer de moda.
Segundo o artigo 122 da Lei de Propriedade Industrial (Lei
n. 9.279/1996), “[...] são suscetíveis de registro como marca os
sinais distintivos visualmente perceptíveis, não compreendidos
nas proibições legais”.
Exemplo clássico de Marca no mundo fashion é a estampa
“Canvas Monogram” da grife francesa Louis Vuitton, registrada
no INPI como Marca, bem como o xadrez tradicional da marca
britânica Burberry também registrado na autarquia citada.

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


As Possibilidades de Aplicação da Propriedade Intelectual no Setor da Moda 217

Figura 2: Bolsa modelo Speedy, da marca Louis Vuitton com a estampa “Canvas
Monogram” e o registro da estampa como marca pelo INPI (Registro n. 831222760
com vigência até 25/11/2024)

Fonte: Vuitton (2015)

Figura 3: Bolsa da marca Burberry com o xadrez tradicional e o registro da estampa


como marca pelo INPI (Registro n. 822964147 com vigência até 11/09/2017)

Fonte: Burberry (2014)

Igualmente passível de tutela é a marca tridimensional, que


recai sobre a forma externa do objeto, de modo que a exclusividade
no design do objeto liga imediatamente o produto ao seu criador.
Segundo o Instituto Nacional da Propriedade Industrial (2015),
“Marca tridimensional é o sinal constituído pela forma plástica
distintiva em si, capaz de individualizar os produtos ou serviços
a que se aplica”.

Volume I
218 As Possibilidades de Aplicação da Propriedade Intelectual no Setor da Moda

Como exemplo, pode-se citar o perfume Chance, da


empresa Chanel, que tem seu frasco registrado como marca
tridimensional no Instituto Nacional da Propriedade Industrial.

Figura 4: Perfume “Chance”, da grife francesa Chanel, e o registro de seu frasco


como marca tridimensional pelo INPI (Registro n. 824586875 com vigência até
10/06/2018)

Fonte: Chanel (2018)

Do Registro como Direito Autoral

No tocante ao direito autoral, de início, cabe destacar que


não há a necessidade de se fazer qualquer registro dele para que
haja a proteção, diferentemente do que acontece com as marcas
e os desenhos industriais, que devem ser registrados perante o
INPI.
Na indústria da moda é possível a aplicação do direito au-
toral para tutelar os desenhos e as criações aplicadas a estampas.
Esse, aliás, é o entendimento de grande parte dos estudiosos des-
sa área, bem como da jurisprudência.
Em demanda judicial (Autos n. 2.236/2003, em trâmite
perante a 6ª Vara Cível de Barueri, São Paulo), movida pela
empresa Poko Pano contra a rede de “fast fashion” C&A, discutiu-
se a existência de plágio e a concorrência desleal da empresa Ré
ao vender peças idênticas às da marca de biquínis criadas pela
Autora. Conforme defendido na referida demanda judicial, a
empresa C&A valeu-se de estampa de uma boneca desenvolvida

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


As Possibilidades de Aplicação da Propriedade Intelectual no Setor da Moda 219

pela marca Poko Pano logo após esta divulgá-la em desfile no São
Paulo Fashion Week, na edição de julho de 2003 (COSTA, 2007,
p. 1).
Segundo a Magistrada que analisou o caso, a invenção deve
ser protegida, garantindo-se os direitos autorais do criador:

Juízo de Direito da Sexta Vara Cível da Comarca de Barueri Estado de


São Paulo, Processo nº 2236/03 VISTOS. LE GARAGE INDÚSTRIA
E COMÉRCIO DE ROUPAS LTDA. ajuizou AÇÃO ORDINÁRIA
DE ABSTENÇÃO DE ATO COM PRECEITO COMINATÓRIO
REPARAÇÃO DE DANOS contra C&A MODAS LTDA., alegando,
em síntese, que a ré violou seus direitos autorais e praticou atos de
concorrência desleal porque estampou em seus produtos desenho
criado e desenvolvido pela autora e sua equipe de profissionais, objeto
de pedido de registro de marca perante o INPI, colocando-os à venda
em suas diversas lojas, o que lhe causou enormes danos.
[...]
DECIDO.
Procede o pedido da autora.
A vigente Lei de Direitos Autorais (Lei 9.610/98) visa à tutela dos
direitos advindos das obras intelectuais, incumbindo-se de conceituá-las
como as criações do espírito, de qualquer modo exteriorizadas. Assim,
todo ato físico literário, artístico ou científico, resultante da produção
intelectual do homem, criado pelo exercício do intelecto, merece a
proteção legal. É o que decorre do disposto no artigo 7º, “caput” da
referida legislação. O artigo 10 da mesma lei dispõe que “a proteção à
obra intelectual abrange o seu título, se original e inconfundível com o
de obra do mesmo gênero, divulgada anteriormente por outro autor.
Já o artigo 11 define autor como sendo a pessoa física criadora de obra
literária, artística ou científica. Como se vê, os dispositivos legais acima
mencionam as expressões criação, original, inconfundível e criadora.
Não se estabeleceu controvérsia, nestes autos, sobre a autoria, a criação
do desenho, isso sem falar que há elementos fáticos que comprovam a
anterioridade do uso da boneca em produtos da autora, o que permite
considerar que a obra, tal como alegado na inicial, fora idealizada pela
empresa Le Garage Indústria e Comércio de Roupas Ltda, através de
sua equipe.[...]. (COSTA, 2007, p. 4)

Volume I
220 As Possibilidades de Aplicação da Propriedade Intelectual no Setor da Moda

Após a análise do feito, a demanda foi julgada procedente,


tendo sido condenada a empresa C&A, reprodutora da criação
da empresa Poko Pano, ao pagamento por danos patrimoniais do
valor correspondente a três mil exemplares do produto copiado,
in verbis:

Portanto, além de atingido o direito autoral, comprovou a autora o


prejuízo à reputação de seus negócios e a confusão entre os produtos,
decorrente da reprodução, pela C&A, da estampa desenvolvida
antecedentemente pela autora. Enfim, o prejuízo moral da empresa
autora consubstancia-se em sua imagem denegrida, em razão da
conduta da ré. Resta, portanto, fixar o valor da indenização. Em réplica
(fls. 168), o autor concorda que a indenização por danos patrimoniais
seja fixada de acordo com a norma do parágrafo único do artigo 103
da Lei nº 9.610/98, ou seja, o valor correspondente a 3.000 (três mil)
exemplares, ante a impossibilidade de se verificar a quantidade de
exemplares editados e que foram vendidos. (COSTA, 2007, p. 8)

Além de tutelar as estampas e os desenhos, o Direito


Autoral é também passível de proteger criações de estilistas de
alta costura, cujas peças podem ser consideradas verdadeiras
obras de arte, conforme alega Medeiros (2015, p. 10, grifo nosso):

Há, ainda, o caso das peças de Alta Costura, que, em virtude da


complexidade de elaboração e do alto custo de suas peças, patente
a qualidade, os exemplares deste domínio não atendem ao requisito
da possibilidade de comercialização, já que o trabalho absolutamente
artesanal não permite a fabricação [...] tais peças são fruto das
expressões intelectuais artístico-emocionais dos estilistas, que as
criam como forma de saciar a sua ânsia inventiva, e não almejam
serem inseridas no mercado. Quem compra tais peças, as compram
como se adquirissem uma verdadeira obra de arte e, por isso, podem
ser assim classificadas.

Como se vê, o Direito Autoral, assim como o desenho


industrial e o registro de Marca estão aptos a proteger uma peça

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


As Possibilidades de Aplicação da Propriedade Intelectual no Setor da Moda 221

de moda, de onde se conclui que o sistema jurídico brasileiro


possui legislação que ampara a tutela jurídica de tal matéria.

Importância do Sigilo no Setor da Moda


As fases de criação e de desenvolvimento de peças e de
coleções nas quais ocorrem as pesquisas, a coleta de dados e as
informações do que será tendência, com base nos lançamentos
de marcas e grifes nas semanas de moda ao redor do mundo,
para posteriormente desenvolverem-se as novas peças a serem
produzidas pela empresa, constitui-se em uma fragilidade do
setor da moda no que diz respeito à proteção do sigilo.
As criações começam como meras ideias a serem postas
em prática por meio de desenhos e croquis posteriormente
desenvolvidos. Como se sabe, as ideias não são passíveis de registro,
conforme positiva o artigo 8° inciso I, da Lei n. 9.610/19985.
Daí decorre a dificuldade em efetivamente se proteger a fase de
criação e de desenvolvimento.
Sendo assim, é de extrema importância a proteção das
informações desenvolvidas nesse setor por meio do sigilo entre
todos os envolvidos ao longo da produção, evitando-se, com
isso, que qualquer informação importante vaze ao concorrente,
que, usando de má-fé, utilize a informação sigilosa, causando
prejuízo financeiro ao empresário ou, até mesmo, eventualmente,
a concorrência desleal.
Para melhor visualização, tem-se o cronograma a seguir
(Tabela 1), no qual são demonstradas as etapas pelas quais passa
a criação de uma coleção, com todos os seus departamentos e o
tempo despendido para o desenvolvimento de cada fase.

5
Art. 8º Não são objeto de proteção como direitos autorais de que trata esta
Lei: I – as idéias, procedimentos normativos, sistemas, métodos, projetos ou
conceitos matemáticos como tais.(BRASIL. 1998, art. 8º)

Volume I
222 As Possibilidades de Aplicação da Propriedade Intelectual no Setor da Moda

Tabela 1: Cronograma com planejamento anual do setor de desenvolvimento de


produto de indústria de confecção

Fonte: Falleiros e Salem (2014, p. 79)

Conforme descrito no Quadro 1, o processo de criação


inicia-se com o planejamento da coleção, sendo necessárias
pesquisas para o seu desenvolvimento, e, após a elaboração do
material, encerra-se o ciclo com a aprovação da coleção.

Quadro 1: Explicação do Cronograma com planejamento anual do setor de


desenvolvimento de produto de indústria de confecção

Planejamento/
Planeja-se tudo que irá conter na coleção.
Programação
Pesquisa-se tudo que irá influenciar no
desenvolvimento da coleção, por exemplo,
Pesquisa
imagens, tendências, cores, tecidos, aviamentos
e afins.
Definição da cartela
Após a pesquisa, é feita a definição.
de cores e estampas
Programação visual Junção de todas as peças, a fim de verificar a
da coleção harmonia presente na coleção.

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


As Possibilidades de Aplicação da Propriedade Intelectual no Setor da Moda 223

Finalização da A ficha é um documento extremamente


coleção e elaboração importante para a produção, pois nela estão
da ficha técnica da contidas todas as informações detalhas de cada
criação peça.
Compra de tudo que for necessário para o
Compra de matéria- desenvolvimento do modelo da peça, pois
prima para protótipo será feito uma prototipia, ou seja, um modelo,
também chamada de peça piloto.
Recebimento de
Chegada da matéria-prima à empresa para a
matéria-prima para
confecção das peças modelos.
protótipo
Produção dos moldes das peças que serão
Modelagem
confeccionadas.

Prototipia Produção dos modelos desenvolvidos.

Aprovação do Depois que a prototipia de um modelo ficou


protótipo pronta, esse modelo é aprovado ou não.
Verificação de todos os protótipos, análise, a fim
Ajuste da coleção de verificar se foram aprovados ou se necessitam
de algum ajuste.
Aprovação da
Coleção aprovada.
coleção
Fonte: Elaborado pelos autores deste capítulo

Cada uma das etapas mencionadas demanda o envolvimento


de um grande número de empregados, sendo imprescindível que
eles respeitem o sigilo de informações privilegiadas obtidas em
razão da função que exercem na empresa.
Em caso de inobservância ao dever de sigilo, o empregado
sujeita às sanções previstas na Consolidação das Leis do Trabalho
(CLT), Código Penal e Lei de Propriedade Industrial (Lei n.
9.279/96), razão pela qual se faz necessária uma análise acerca do
sigilo nos contratos formalizados pelas empresas do ramo da moda.

Volume I
224 As Possibilidades de Aplicação da Propriedade Intelectual no Setor da Moda

Sigilosidade no Setor da Moda


Conforme já mencionado, o sigilo dentro da empresa,
extremamente relevante no setor da criação, não é passível de
registro. Todavia, disposições contidas na CLT, Código Penal e Lei
de Propriedade Industrial são aplicáveis na proteção do segredo
empresarial. A autenticidade das criações poderá ser provada
por meio de perícia, de documentos ou de testemunhas, seja no
âmbito empresarial, penal ou trabalhista (COELHO, 2013).
Havendo diferentes denominações e significados diversos,
a proteção dos conhecimentos empresariais sigilosos é de extrema
importância, constituindo-se objeto de discussão há muito tempo.
O Código Penal Francês de 1810 prevê a expressão “segredo de
fábrica” (BUSNARDO JUNIOR, 2014).
Com o desenvolvimento e a crescente discussão do assunto
no âmbito empresarial e jurídico, pode-se afirmar que o sigilo não
diz respeito somente ao segredo de indústria, de comércio ou
outras denominações utilizadas, mas também engloba elementos
ligados à proteção e à organização da atividade econômica
exercida por profissionais com o escopo de produzir bens ou
de prestar serviços que constituam um diferencial em relação à
concorrência.
Dessa forma, pode-se dizer que o segredo de empresa
abrange qualquer informação, estratégica ou confidencial, passível
de proporcionar vantagem ao empresário em relação aos seus
concorrentes.
Cumpre registrar o conflito de terminologias existente no
contexto dos chamados sigilos referentes à empresa (segredo de
fábrica, segredo comercial, segredo de empresa, entre outros) na
doutrina.
Conforme traz o dicionário Aurélio da Língua Portuguesa,
sigilo e segredo são sinônimos, ambos definidos como:

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


As Possibilidades de Aplicação da Propriedade Intelectual no Setor da Moda 225

Segredo: Do latim secretu. 1. Aquilo que não pode ser revelado;


sigilo; [...] É segredo profissional. [...] 2. Aquilo que se oculta à vista,
ao conhecimento; aquilo que não se divulga; sigilo. [...] 3. Assunto,
problema, negócio, conhecido apenas de uns poucos; sigilo. [...] 4.
Aquilo que se diz ao pé do ouvido de alguém. 5. Silêncio, discrição,
sigilo. [...] Segredo profissional. Sigilo Profissional. Em segredo.
Confidencialmente, secretamente.
Sigilo: Do latim selo. 1. Segredo [...] Sigilo Profissional. Dever ético que
impede a revelação de assuntos confidenciais relacionados à profissão,
segredo profissional. (FERREIRA, 1999, p. 1.828)

Já no âmbito jurídico, para alguns doutrinadores, não há


que se falar em semelhança entre segredo e sigilo, muito menos
que são expressões sinônimas, conforme esclarece Acquaviva
(1999, p. 652-653):

Sigilo: Do latim sigillum, selo diminutivo de signum, sinal, carimbo,


marca. Meio idôneo de preservação de um segredo profissional. Como
se vê, não há que se confundir sigilo e segredo; enquanto segredo é o fato
que se pretende desconhecido em nome da ordem pública, sigilo é o
meio, o instrumento de que se servem os interessados para manter
íntegro o desconhecimento de tal fato. Rompido o sigilo, revela-se o
segredo. Opera-se então com o rompimento do sigilo, a revelação do
segredo. Inúmeras atividades se vêem às voltas, frequentemente, com
a preservação de segredos: o médico, o sacerdote, o advogado e outros.
Em seu conhecido juramento de Hipócrates, os médicos assumem
o compromisso de não revelar o segredo profissional: “Penetrando no
interior dos lares, meus olhos são cegos, minha língua calará os segredos
que me foram revelados, o que terei como preceito de honra”; Quanto
ao advogado inúmeros dispositivos legais lhe impõem a preservação do
segredo profissional: arts. 144 do CC, 347 do CPC, 154 do CP, L. 8906,
de 04 de julho de 1994 (Estatuto da Advocacia), art. 34, VII, e Código
de Ética e Disciplina da OAB, arts. 25 a 27.

Por outro lado, Fekete (2003, p. 41) defende que as duas


expressões devem ser consideradas sinônimas: “Não obstante
a diferenciação gramatical apontada, as consequências jurídicas
do ato de ‘devassar o sigilo’ são as mesmas que as produzidas

Volume I
226 As Possibilidades de Aplicação da Propriedade Intelectual no Setor da Moda

pela ‘revelação dos segredos’, razão pela qual usamos ambas as


expressões como sinônimas”.
Extremamente importante é a observância do sigilo no
âmbito da indústria da moda por se tratar de um mercado que
movimenta milhões de reais por ano. Os colaboradores e os
prestadores de serviço envolvidos da criação ao desenvolvimento
não podem, com risco de serem penalizados legalmente, divulgar
informações sigilosas da empresa a que tenham acesso a terceiros,
a fim de evitar concorrência desleal por parte de outra empresa
que se utilize com má-fé das informações obtidas.
A fim de regulamentar a proteção ao sigilo no âmbito das
relações trabalhistas e de prestadores de serviço com a empresa,
propôs-se o Projeto de Lei n. 16, de 7 de fevereiro de 2007, de
iniciativa do Senado Federal, que prevê o acordo de proteção de
informações sigilosas.

Projeto de Lei do Senado (PLS) – Acordo de


Proteção de Informações Sigilosas
O Projeto de Lei do Senado n. 16, apresentado em 7 de
fevereiro de 2007, foi proposto com o fim de criar o Acordo de
Proteção de Informações Sigilosas. Atualmente, o PLS encontra-
se pendente de análise pela Comissão de Constituição, Justiça e
Cidadania (CCJ) (SENADO FEDERAL, 2007, PLS n. 16).
Nos termos da proposta, o acordo de proteção de
informações sigilosas “[...] seria este um instrumento, a ser
estipulado individualmente entre empregado e empregador, para
proteger segredo comercial ou informações confidenciais que
pertençam ao empregador.” (SENADO FEDERAL, 2014, PLS
n. 16, Relatório Legislativo, p. 1).
O artigo 1º do PLS n. 16/2007 disciplina o indigitado
acordo, dizendo que:

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


As Possibilidades de Aplicação da Propriedade Intelectual no Setor da Moda 227

Art. 1°. Esta lei cria o acordo de Proteção de Informações Sigilosas,


adjeto ao contrato de trabalho e destinado à proteção de segredo
comercial e informações confidenciais.
Parágrafo Único. Empregado e empregador poderão estipular,
a qualquer momento, o acordo a que se refere o caput deste artigo,
para proteger o segredo comercial ou informações confidenciais
pertencentes ao empregador. (SENADO FEDERAL, 2007, PLS n. 16,
p. 1)

Conforme o artigo primeiro, o intuito dessa proposta é a


proteção ao segredo comercial e à informação confidencial, os
quais, por sua vez, são conceituados pelo artigo 2º do projeto:

Art. 2°. Para efeitos desta Lei consideram-se:


I – Segredo Comercial é todo processo, método, fórmula, dispositivo ou
técnica que não seja de conhecimento público, possua valor econômico
para o empregador, ainda que potencial, e cujo conhecimento, pelo
empregado, decorra do desempenho de suas atividades laborais.
II – Informação Confidencial é toda informação conhecida pelo
empregado, em função de suas atividades laborais, que não configure
segredo comercial, mas possua valor econômico ou estratégico para o
empregador e cuja divulgação seja capaz de causar-lhe dano. (SENADO
FEDERAL, 2007, PLS n. 16, p. 1-2, grifo nosso)

Para melhor compreensão da temática, serão abordados os


conceitos de segredo comercial e de informações confidenciais
nos tópicos a seguir.

Segredo Comercial

O primeiro diploma legal no ordenamento jurídico


brasileiro que previu a proteção ao sigilo de informações dentro
da empresa surgiu com a nomenclatura de segredo de fábrica,
positivado no artigo 39, 6° do Decreto n. 24.507, de 29 de
junho de 1934. Referido dispositivo legal previa punição, tanto
para a divulgação do segredo de “indústria” quanto para o de

Volume I
228 As Possibilidades de Aplicação da Propriedade Intelectual no Setor da Moda

“comércio”, e a divulgação da fórmula e até a divisão de trabalho


ou a lista de clientes (BARBOSA, 2003).
Insta ressaltar que o segredo de fábrica foi fruto do Código
Penal Francês de 1810, dando origem ao segredo de fábrica no
Brasil, a partir do Decreto 24.507, de 29 de junho de 1934, como já
mencionado. Fato interessante acerca do assunto é que, segundo
a doutrina, na França na qual foi desenvolvida uma prática para
que se formalizasse a existência dos segredos de fábrica, na qual o
empresário descrevia a invenção em um relatório com duas vias,
envelopando-as separadamente. Os envelopes eram encaminhados
ao Institut National de la Propriété Industrielle, onde eram registrados
e, em seguida, um envelope era restituído lacrado ao interessado,
enquanto o outro permanecia lacrado na repartição pública pelo
prazo de cinco anos, renovável. O intuito era provar, caso fosse
necessário, a existência e a anterioridade do segredo a partir da
abertura dos envelopes ali registrados (COELHO, 2013).
Posteriormente, o Decreto n. 7.903, de 27 de agosto de
1945, em vigor até 1997, dispunha no artigo 178, XI, XII, acerca
da utilização ou da divulgação não autorizada de segredo de
indústria ou de segredo de serviço aos quais o agente tivesse tido
acesso em decorrência de prestação de serviço ou de contrato
de trabalho, mesmo quando findo o vínculo. Cumpre observar
que a obtenção de dados sigilosos da empresa sem que o agente
adentrasse determinado local (cite-se como exemplo a instalação
de escutas que possibilitassem ouvir-se de longe decisões de
diretoria da empresa ou fotos aéreas de uma instalação industrial)
não caracterizavam condutas passíveis de penalização. Como
meio legal de proteção contra ato de concorrência ilícita havia
então a ação civil, com fulcro no artigo 178, Parágrafo único do
Decreto-Lei n, 7.903/45 (BARBOSA, 2003).
Pode-se considerar o segredo comercial como um bem
incorpóreo pertencente à empresa, sendo ele de extrema

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


As Possibilidades de Aplicação da Propriedade Intelectual no Setor da Moda 229

relevância já que, mesmo que visualmente imperceptível, muitas


vezes encontra-se diretamente relacionado à existência do próprio
estabelecimento empresarial (GOMES, 2012).
Define Barbosa (2003, p. 642), acerca do que se tutela no
segredo da empresa, que:

Não se trata aqui de bens materiais; os bens concorrenciais tutelados


são intangíveis, expressos ou não em forma escrita. Mesmo o
conhecimento intelectual é sujeito à tutela legal, pois não é sua natureza
materializada que é relevante, mas sim seu valor concorrencial.

Em virtude da natureza jurídica do segredo não é possível


registrá-lo, sendo assim, a tutela jurisdicional passível se dá por
meio da proibição da “venda dos segredos” a um concorrente,
prática esta vedada por lei e considerada crime, por se caracterizar
como concorrência desleal (MELO, 2013).
Muitas são as nomenclaturas atinentes aos segredos
comerciais, como segredo de fábrica, de indústria, de comércio,
de negócio e segredo de empresa. Independentemente do termo
utilizado, há semelhança na conceituação entre os doutrinadores,
muito embora não haja atualmente qualquer diploma legal que
conceitue o segredo comercial.
É possível tomar como base de tal afirmação algumas
definições informais a respeito do segredo. Conforme elucida
Augusto (2013, s./p., grifo nosso):

Considera-se como segredo de negócio a informação confidencial


utilizada na indústria, comércio ou prestação de serviços que foi
descoberta mediante elevados investimentos em pesquisa, ou por meio
da prática empresarial ou até mesmo por sorte e que proporciona
vantagem competitiva aos possuidores. Meramente a título ilustrativo,
cita-se como exemplo de segredo de fábrica a diminuição da
temperatura de determinada máquina fabril que proporciona alto
desempenho e maior economia ao processo industrial. A lista de
clientes, por outro lado, configura exemplo clássico de segredo
comercial.

Volume I
230 As Possibilidades de Aplicação da Propriedade Intelectual no Setor da Moda

Já nos dizeres de Amaral (2012, s./p., grifo nosso):

[...] o segredo de comércio consiste num conhecimento utilizável


na atividade empresarial, de caráter industrial ou comercial, de acesso
restrito, provido de certa originalidade, lícito, transmissível a terceiros,
não protegido por patente, cuja reserva representa valor econômico
para seu detentor, o qual exterioriza o seu interesse na preservação
do sigilo através de providências razoáveis. De uma maneira mais
simples, pode-se dizer que o segredo de negócio refere-se a todos os
assuntos reservados, referentes ao bom andamento de uma empresa e
cuja revelação possa vir a ser prejudicial a seu titular, mormente sob o
aspecto econômico.

Ainda, segundo Barbosa (2010, p. 45):

Este “segredo de empresa” em sua perspectiva do direito americano, é


gênero do qual são espécies o know how, o segredo de fábrica, o segredo
comercial, as fórmulas não patenteadas, etc. É um direito de clientela
consistente na detenção de uma informação de disponibilidade escassa
e útil no negócio. Não se trata de um direito exclusivo [...]

Conforme se depreende das explanações supra, os


doutrinadores utilizam diferentes nomenclaturas ao se referirem
ao segredo comercial. Embora as conceituações sejam distintas
na forma, a essência é a mesma, ou seja, o que se pretende é
a proteção de tudo que se relaciona ao negócio geral de uma
empresa, seja o processo, método, fórmula, dispositivo ou técnica
que não seja de conhecimento público e possua valor econômico
ao empregador.
Porém, cumpre salientar que caberá ao inventor decidir
quanto ao registro ou não de sua invenção, podendo optar por
mantê-la em sigilo ou pelo seu registro no Instituto Nacional da
Propriedade Industrial e consequente publicação, já que essa é a
condição para a concessão da patente, conforme leciona Coelho
(2013, p. 208):

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


As Possibilidades de Aplicação da Propriedade Intelectual no Setor da Moda 231

Pois bem, uma vez divulgadas pelo INPI os detalhes da invenção, caberá
ao titular do depósito da patente – e só a ele – zelar para que terceiros
não se utilizem indevidamente de sua criação industrial. A fiscalização
dessa eventualidade e a adoção das providências judiciais pertinentes
são da exclusiva alçada do particular interessado. Se assim é, em algumas
circunstâncias, poderá revelar-se mais interessante ao inventor manter
segredo acerca de sua invenção, explorando-a sem requerer a concessão
da patente. O risco desta alternativa é a de outro inventor, que chegar
aos mesmos resultados posteriormente, acabar titularizando o direito
industrial, por ser o primeiro a depositar o pedido. Neste sentido, cabe
ponderar qual a situação menos desvantajosa: controlar a invenção
depositada e divulgada, ou explorá-la sigilosamente.

Dessa forma, conclui-se que o segredo comercial não possui


uma conceituação jurídica exata, porém, sua proteção encontra
respaldo legal a partir da tipificação como crime de concorrência
desleal a exploração sem autorização de “conhecimentos,
informações ou dados confidenciais, utilizáveis na indústria,
comércio ou prestação de serviços, excluídos aqueles que sejam
de conhecimento público ou que sejam evidentes para um técnico
no assunto”, conforme o artigo 195, XII e XI, da Lei n. 9.279, de
14 de maio de 1996 – Lei de Propriedade Industrial.

Informação Confidencial

Como ocorre com o segredo comercial, a informação


confidencial também não possui uma definição legal, de modo
que cabe à doutrina a tarefa de conceituá-la.
Para Denis Borges Barbosa informações confidenciais são
caracterizadas como a proteção de informação não divulgada
submetida para aprovação da comercialização de produtos
(BARBOSA, 2003). Já, segundo Fekete (2003, p. 42):

O uso da expressão “informação confidencial” tem sido bastante


comum no trato profissional, sobretudo na prática contratual; contudo,
ela só alcançou o status de termo legal ao ser recentemente adotada

Volume I
232 As Possibilidades de Aplicação da Propriedade Intelectual no Setor da Moda

no texto do TRIPS, tratado que as considera objeto de proteção sob o


regime da repressão à concorrência desleal.
Como asseveramos ao tratar das dificuldades terminológicas, o
TRIPS preferiu essa expressão para designar os segredos industriais e
comerciais, ao invés de outras, razão pela qual a mesma adquiriu nova
relevância e nova dimensão.

Dessa forma, a expressão informação confidencial passou


a ser considerada um termo legal em meio ao conteúdo em
questão, a partir do momento em que foi adotada no texto
legal do chamado Acordo TRIPS – do inglês Agreementon Trade-
Related Aspects of Intellectual Property Rights – ou Acordo sobre
Aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual Relacionados
ao Comércio (ADPIC), acordo este que se caracteriza por ser
um tratado internacional, integrante do conjunto de acordos
assinados em 1994 que encerrou a Rodada Uruguai e criou a
Organização Mundial do Comércio, cujo foco precípuo foi:

Reduzir distorções e obstáculos ao comércio internacional levando


em consideração a necessidade de promover uma proteção eficaz e
adequada dos direitos de propriedade intelectual e assegurar que as
medidas e procedimentos destinados a fazê-los respeitar não se tornem,
por sua vez, obstáculos ao comércio legítimo. (TRIPS, 1994, p. 1)

Nesse sentido, o artigo 39 do Acordo TRIPS, nos termos


do artigo 10 bis da Convenção da União de Paris6 dispõe acerca
da proteção dada à informação confidencial:
6
Convenção da União de Paris (Revisão de Estocolmo, de 1967, em vigor no
Brasil por força do Decreto n.635, de 21 de agosto de 1992). Art. 10 bis 1.
Os países da União obrigam-se a assegurar aos nacionais dos países da União
proteção efetiva contra a concorrência desleal. 2. Constitui ato de concorrência
desleal qualquer ato de concorrência contrário aos usos honestos em matéria
industrial ou comercial. 3. Deverão proibir-se particularmente: 1° Todos os atos
suscetíveis de, por qualquer meio estabelecer confusão com o estabelecimento,
os produtos ou a atividade industrial ou comercial de um concorrente; 2°
As falsas alegações no exercício do comércio, suscetíveis de desacreditar o
estabelecimento, os produtos ou a atividade industrial ou comercial de um
concorrente. 3° As indicações ou alegações cuja utilização do exercício do

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


As Possibilidades de Aplicação da Propriedade Intelectual no Setor da Moda 233

1. Ao assegurar proteção efetiva contra competição desleal, como


disposto no Artigo 10bis da Convenção de Paris (1967), os Membros
protegerão informação confidencial de acordo com o parágrafo
2 abaixo, e informação submetida a Governos ou a Agências
Governamentais, de acordo com o parágrafo 3 abaixo.
2. Pessoas físicas e jurídicas terão a possibilidade de evitar que
informação legalmente sob seu controle seja divulgada, adquirida ou
usada por terceiros, sem seu consentimento, de maneira contrária
a práticas comerciais honestas, desde que tal informação: (a) seja
secreta, no sentido de que não seja conhecida em geral nem facilmente
acessível a pessoas de círculos que normalmente lidam com o tipo de
informação em questão, seja como um todo, seja na configuração e
montagem específicas de seus componentes; (b) tenha valor comercial
por ser secreta; e (c) tenha sido objeto de precauções razoáveis, nas
circunstâncias, pela pessoa legalmente em controle da informação, para
mantê-la secreta.
3. Os Membros que exijam a apresentação de resultados de testes
ou outros dados não divulgados, cuja elaboração envolva esforço
considerável, como condição para aprovar a comercialização de
produtos farmacêuticos ou de produtos agrícolas químicos que utilizem
novas entidades químicas, protegerão esses dados contra seu uso
comercial desleal. Ademais, os Membros adotarão providências para
impedir que esses dados sejam divulgados, exceto quando necessário
para proteger o público, ou quando tenham sido adotadas medidas
para assegurar que os dados sejam protegidos contra o uso comercial
desleal. (TRIPS, 1994. art. 39)

Especificamente com relação à moda, sobre o aspecto


da sigilosidade, pode-se afirmar que a informação confidencial
é a modalidade que melhor se adapta às necessidades e às
peculiaridades do setor, já que o contato direto do empregado
e do prestador de serviço com a criação e o desenvolvimento
faz com que todas as peças, desde o esboço até a finalização,
se tornem acessíveis. Portanto, todos os envolvidos precisam
obrigatoriamente guardar total sigilo com relação a cada peça

comércio seja suscetível de induzir o público a erro sobre a natureza, de modo


de fabricação, características, possibilidades de utilização ou a quantidade de
mercadorias.

Volume I
234 As Possibilidades de Aplicação da Propriedade Intelectual no Setor da Moda

desenvolvida, já que um possível vazamento da coleção antes


mesmo de seu lançamento causaria danos ao empresário.
O setor da moda tem como característica primordial o
segmento de tendências, ou seja, a direção na qual a moda se
movimenta, como evolui, podendo fazer parte da tendência
desde um estilo até uma cor ou a padronagem, desde que sejam
amplamente aceitos e desejados por todos.
A sazonalidade da moda não comporta um processo,
método, fórmula, dispositivo ou técnica passíveis de proteção,
razão pela qual o termo mais adequado à realidade do setor da
moda é “informação confidencial”, pois quando da criação, o
empregado ou prestador de serviço tem acesso às informações
e aos moldes de peças de determinada coleção, que logo será
sucedida por outra para a qual haverá outras informações
confidenciais (outras criações, outros moldes, etc.).

Desdobramentos do Projeto de Lei

Feitas as necessárias considerações nos tópicos anteriores


acerca do segredo comercial e da informação confidencial
mencionados no Projeto de Lei do Senado (PLS) n. 16/2007,
pode-se passar ao comentário dos demais dispositivos do referido
Projeto, que tem como finalidade criar o Acordo de Proteção
de Informações Sigilosas, adjeto ao contrato de trabalho, para a
proteção de segredo comercial e de informações confidenciais e
regulamentar sua aplicação (SENADO FEDERAL, 2007, PLS
n. 16).
O PLS dispõe como deverá ser celebrado o acordo entre
empregado e empregador ao longo de seus dez artigos, a seguir
analisados.
Determina o projeto em questão que deverão, sob pena de
nulidade, ser delimitados os segredos e as informações passíveis

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


As Possibilidades de Aplicação da Propriedade Intelectual no Setor da Moda 235

de sigilo dentro da relação de trabalho, podendo o contrato


ser aditado em caso de alterações das condições do acordo
(SENADO FEDERAL, 2007, PLS n. 16, art. 3°).
O acordo deverá ser firmado individualmente, ou seja,
com cada empregado da empresa e não por meio de Acordo ou
Convenção Coletiva de Trabalho, todavia, o empregador não
poderá se opor à interveniência de advogado ou sindicato se
assim o desejar o empregado (SENADO FEDERAL, 2007, PLS
n. 16, art. 4°).
Na redação do PLS é elencada em uma série de restrições
ao empregado, a fim de evitar a concorrência desleal e a má
fé. Observa-se que o rol é meramente exemplificativo, não
esgotando todas as possibilidades de restrições, pois o texto
legislativo dispõe no caput do artigo. 5°: “O Acordo de Proteção
de Informações Sigilosas pode conter as seguintes disposições”.
(SENADO FEDERAL, 2007, PLS n. 16, art. 5°, grifo nosso).
Poderá haver compensação financeira ao empregado
em determinados casos, mas nas hipóteses de restrição à
utilização, de divulgação, de transmissão e de comercialização
de segredos comerciais ou informações confidenciais, ainda
que descaracterizados (inciso I) e restrição à contratação do
empregado por empresa concorrente pelo período máximo de
dois anos a partir da rescisão do contrato de trabalho (inciso
II), a compensação financeira ao empregado será obrigatória.
(SENADO FEDERAL, 2007, PLS n. 16, art. 5°, parágrafo
único).
A rescisão do contrato de trabalho por iniciativa ou culpa do
empregador torna sem efeito o acordo (SENADO FEDERAL,
2007, PLS n. 16, art. 6°).
Mencione-se, ainda, a possibilidade de o empregador
pleitear judicialmente a dissolução do contrato de trabalho de
ex-empregado com novo empregador, caso seja contrário ao

Volume I
236 As Possibilidades de Aplicação da Propriedade Intelectual no Setor da Moda

Acordo de Proteção de Informações Sigilosas, anteriormente


firmado entre ambos, sem prejuízo da responsabilidade civil do
novo empregador pelos danos ocorridos (SENADO FEDERAL,
2007, PLS n. 16, 2007, art. 7°).
No mesmo sentido, eventual demanda judicial, nos termos
do projeto de lei, poderá correr em segredo de justiça desde que
requerido pela parte, devendo o magistrado, ao decidir, considerar
a existência de dano econômico e moral ao empregador, a
liberdade de exercício do trabalho e o interesse econômico e
social da coletividade (SENADO FEDERAL, 2007, PLS n. 16,
2007, art. 8° e 9°).
Visto isso, ao traçar um comparativo entre o Projeto
e a legislação que rege os contratos de trabalho, que visam,
prioritariamente, a proteção do empregado, a redação do Projeto,
ao impor regras de conduta ao empregado no que tange à
proteção de informações sigilosas, busca a proteção do trabalho
desenvolvido pelo empresário.

Do Sigilo em Outros Ramos do direito

Além do Projeto de Lei que trata do instituto do sigilo


dentro da empresa, a matéria também é disciplinada em outras
áreas do Direito, como o Direito Trabalhista, o Direito Penal e o
Direito Empresarial.
No âmbito do Direito do Trabalho, na CLT (Consolidação
das Leis do Trabalho), o artigo 482, que trata das hipóteses de justa
causa para a rescisão do contrato de trabalho pelo empregador
dispõe na alínea “g”: “violação de segredo da empresa” (BRASIL,
1943, art. 482)

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


As Possibilidades de Aplicação da Propriedade Intelectual no Setor da Moda 237

Já, na seara criminal, o Código Penal prevê a punição à


violação do sigilo profissional desde o Código Penal de 1890, in
verbis:

Art. 192. Revelar qualquer pessoa o segredo de que tiver noticia, ou


conhecimento, em razão de ofício, emprego ou profissão:
Penas: de prisão cellular por um a tres mezes e suspensão do officio,
emprego ou profissão por seis mezes a um ano. (BRASIL, 1890, art.
192)

Na mesma toada, o atual Código Penal brasileiro, cuja Parte


Geral é de 1940, ainda tipifica como ato ilícito tal prática:

Art. 154. Revelar alguém, sem justa causa, segredo, de que tem ciência
em razão de função, ministério, ofício ou profissão, e cuja revelação
possa produzir dano a outrem:
Pena – detenção, de três meses a um ano, ou multa de um conto a dez
contos de réis.
Parágrafo único – Somente se procede mediante representação.
(BRASIL, 1940, art. 154)

Com relação ao Direito Empresarial, a Lei n. 9.279, de 14


de maio de 1996, que regula os direitos e obrigações relativos
à propriedade industrial dispõe em seu artigo 195 acerca das
práticas que caracterizam o crime de concorrência desleal, prática
esta intimamente ligada ao desrespeito ao sigilo das informações
confidenciais, conforme relatado anteriormente:

Comete crime de concorrência desleal quem:


XI – divulga, explora ou utiliza-se, sem autorização, de conhecimentos,
informações ou dados confidenciais, utilizáveis na indústria, comércio
ou prestação de serviços, excluídos aqueles que sejam de conhecimento
público ou que sejam evidentes para um técnico no assunto, a que teve
acesso mediante relação contratual ou empregatícia, mesmo após o
término do contrato;

Volume I
238 As Possibilidades de Aplicação da Propriedade Intelectual no Setor da Moda

XII – divulga, explora ou utiliza-se, sem autorização, de conhecimentos


ou informações a que se refere o inciso anterior, obtidos por meios
ilícitos ou a que teve acesso mediante fraude. (BRASIL, 1996, art. 195)

Em análise ao artigo, anteriormente transcrito, percebe-se


a amplitude com que os incisos XI e XII tratam da revelação dos
segredos, seja no âmbito da indústria, comércio ou prestação de
serviços, sendo passível de punição aquele que comete tal crime,
independentemente de os segredos terem sido obtidos por meios
ilícitos ou não.
Como se vê, o sigilo de informações confidenciais da
empresa é tutelado no ordenamento jurídico brasileiro no âmbito
da legislação trabalhista, penal e empresarial na repressão à
concorrência desleal. Além da legislação em vigor, urge salientar,
como exposto anteriormente, que o artigo 39 do acordo TRIPS e
o artigo 10 bis da Convenção da União de Paris repelem o ato da
concorrência desleal.

Conclusão
O setor da moda, por se tratar de importante mercado
em expansão, é alvo de proteção jurídica ao longo de toda a sua
cadeia, durante os períodos de criação e de desenvolvimento das
peças nos quais as ideias tomam forma dentro da empresa de
moda ena etapa posterior ao lançamento da coleção por meio do
registro no Instituto Nacional da Propriedade Industrial, podendo
ser documentado como Desenho Industrial (Propriedade
Intelectual), como Marca, ou, ainda, protegido segundo a Lei de
Direitos Autorais (Lei n. 9.610, de 19 de fevereiro de 1998).

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


As Possibilidades de Aplicação da Propriedade Intelectual no Setor da Moda 239

Ainda há a proteção das informações na etapa de criação


que se dá por meio do sigilo e deve ser observado por todos
os envolvidos (colaboradores e prestadores de serviço), a fim de
evitar o vazamento de qualquer informação sigilosa à concorrência
e o possível prejuízo ao empresário.
O dever de sigilo em questão pode ser imposto por meio da
aplicação da Lei de Propriedade Industrial, da Consolidação das
Leis do Trabalho, do Código Penal e de Tratados Internacionais
como o Acordo TRIPS e a Convenção da União de Paris,
Além dos mencionados diplomas legais em vigência, é
preciso mencionar o Projeto de Lei do Senado brasileiro (PLS n.
16/2007), ainda em tramitação, que prevê o acordo de proteção
de informações sigilosas e segredos comerciais entre empregado e
empregador por meio de contrato adjeto ao contrato de trabalho.
Assim, pode-se afirmar que há a possibilidade de aplicação
da propriedade intelectual no setor da moda, restando ser
praticada pelo segmento, a fim de melhorar seu funcionamento,
proteção e tutela jurídica.
Insta comentar que o estudo da propriedade intelectual é
relativamente recente e, por se tratar de uma área em expansão,
principalmente na região de Maringá, Paraná, onde foi realizada
a pesquisa do capítulo, que se apresenta como forte polo de
indústrias de confecções, tal matéria tende a se tornar cada vez
mais presente no cotidiano das empresas.
Dessa forma, a pesquisa levada a efeito não pretende esgotar
o assunto que se apresenta como vasto campo de pesquisa a ser
desenvolvida.

Volume I
240 As Possibilidades de Aplicação da Propriedade Intelectual no Setor da Moda

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Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Índice Remissivo

A Atributivo 169, 171


Autor 9, 14, 22, 23, 24, 25, 28, 30, 31,
Abuso do Poder Econômico 206, 211 32, 33, 34, 36, 37, 38, 40, 41, 42, 43, 44,
Acesso 22, 23, 24, 37, 39, 50, 53, 61, 63, 45, 46, 47, 48, 49, 50, 51, 52, 53, 54, 55,
65, 66, 67, 68, 83, 87, 88, 89, 90, 91, 92, 57, 58, 59, 60, 61, 62, 63, 64, 65, 66, 67,
98, 100, 139, 140, 141, 142, 143, 144, 68, 69, 70, 71, 72, 73, 76, 77, 78, 79, 80,
145, 185, 186, 187, 188, 189, 190, 191, 81, 82, 84, 85, 86, 87, 88, 90, 91, 94, 98,
192, 193, 194, 226, 228, 230, 234, 237, 101, 155, 193, 219, 220, 257
239, 240, 241, 242, 243, 244, 245 Autor de desenhos Animados 47
Acordo de Proteção de Informações Autor de Obra de Artes Plásticas 47
Sigilosas 11, 196, 226, 227, 234, 235,
236, 239 Autor de Obra Jornalística 48
Acordo Sobre Aspectos dos Direitos de Autor de Obras Arquitetônicas 47
Propriedade Intelectual Relacionados ao Autor Empregado 45
Comércio 82, 96, 152, 232, 245 Autorização 24, 25, 26, 42, 44, 53, 57,
Adaptações 54, 56, 58 60, 64, 66, 67, 71, 73, 76, 77, 79, 84, 85,
Administração Pública 26, 48, 49 86, 109, 206, 211, 231, 237
Afixadas 33 Autor Musical 47
Agentes Locais 128 Autor Primígeno 41
Alta Costura 220 Avanços Tecnológicos 30
Animais 42, 103, 197, 259
Anterioridade 10, 60, 77, 106, 107, 109, B
111, 113, 115, 116, 176, 178, 181, 219,
228 Bases de dados de Informações
Antologias 54, 56, 58 Tecnológicas 113
Aplicação Industrial 102, 103, 104, 110, Busca de Anterioridade 10, 109, 113,
130 115, 116
Aplicação Industrial/Utilidade 110
Apresentação 9, 17, 44, 105, 138, 147, C
159, 160, 182, 183, 233
Caráter Coercitivo 202
Áreas Tecnológicas 98, 116, 118
Caráter Comercial 150
Argumento Literário 47
Caráter Lícito 173
Arranjos 58
Carta Patente 125
Artigos Científicos 113
Causa Mortis 80
Artistas 31, 33, 34, 81, 82, 83, 88
Certificado de Registro 180, 181
Aspecto Funcional 25
Certificados de Adição 120
Atividade Audiovisual 34
Cessão 44, 46, 47, 77, 78, 79, 87
Atividade de Cobrança 35, 36
Cessionário 44, 79
Atividade Empresarial do Titular 157
Civil Law 38, 50
Atividade Inventiva 38, 103, 104, 105,
109, 111, 112, 121 Classificação Cooperativa de Patentes
117, 119
Ato Inventivo 104, 105, 110, 111
Classificação das Marcas 10, 159
248 As Possibilidades de Aplicação da Propriedade Intelectual no Setor da Moda

Classificação de Patentes 10, 116, 119, Congresso Em Paris 30


142 Conhecimento 13, 14, 15, 16, 18, 23, 26,
Classificação Internacional 15, 116, 117, 50, 60, 61, 65, 83, 94, 95, 98, 99, 100,
118, 119, 178 101, 110, 115, 116, 125, 139, 141, 150,
Classificação Internacional de Patentes 167, 204, 225, 227, 229, 230, 231, 237
116 Conhecimento Público 227, 230, 231,
Classificação Internacional de Produtos 237
178 Conhecimentos Étnicos e Tradicionais
Coautor 44, 45 65
Coautor Dissidente 45 Constituição Federal 32, 33, 65, 67, 152,
183, 205, 206, 207, 208, 209, 210, 212,
Coautoria 44, 45, 57, 61 213
Código Criminal 32 Consumidor 149, 154, 155, 156, 157,
Código de Hamurabi 95 158, 163, 165, 166, 167, 168, 173, 175,
Código Penal 32, 85, 86, 88, 196, 223, 176, 179, 180, 184, 187, 206, 208, 211,
224, 228, 236, 237, 239, 240 212, 213
Coercitividade 202 Conteúdos Intelectuais 68
Coleção 11, 13, 14, 17, 45, 116, 214, Conteúdos Protegidos 68
215, 221, 222, 223, 234, 238, 244 Contratação 46, 235, 259
Coletividade 161, 163, 236 Contrato 40, 43, 44, 45, 46, 47, 49, 53,
Commom Law 23 79, 101, 208, 227, 228, 234, 235, 236,
237, 239
Compilações 56, 58
Contrato de Trabalho 45, 46, 47, 227,
Conceito Inventivo 122, 135 228, 234, 235, 236, 239
Concessão 11, 17, 25, 78, 93, 94, 96, 97, Contrato Social 101
99, 100, 101, 104, 116, 120, 124, 125,
147, 152, 171, 180, 181, 182, 183, 230, Convenção 30, 31, 36, 39, 48, 65, 69, 72,
231 77, 82, 83, 88, 89, 95, 96, 101, 106, 107,
141, 151, 152, 153, 165, 186, 232, 233,
Concessão do Registro 181, 182, 183 235, 238, 239
Concorrência 11, 94, 99, 149, 151, 154, Convenção da União de Berna 30
170, 196, 203, 206, 211, 212, 213, 214,
218, 219, 221, 224, 226, 228, 229, 231, Convenção da União de Paris 95, 101,
232, 235, 237, 238 107, 151, 153, 165, 186, 232, 238, 239
Concorrência desleal 94, 151, 170, 196, Convenção da União Para Proteção das
203, 214, 218, 219, 221, 226, 229, 231, Obras Literárias e Artísticas 30
232, 235, 237, 238 Convenção de Berna 31, 36, 69, 72, 77,
Concorrência Ilícita 214, 228 88, 89
Condição Social 201 Convenção de Estocolmo 95
Condições Naturais 103 Convenção de Munique 96
Conferências de Berna 30 Convenção de Munique Sobre A Patente
Europeia 96
Confidencial 11, 224, 227, 229, 231, 232,
233, 234 Convenção de Paris 89, 95, 141, 152,
233
Conflitos Mundiais 199
Convenção de Paris Para A Proteção da
Conformidade 86, 120, 154, 157, 175, Propriedade Industrial 89, 95, 141
202
Convenção de Roma 31, 83
Conformidade Técnica 157
Convenção Interamericana Sobre Os
Congresso de Bruxelas 30 Direitos de Autor Em Obras Literárias,
Congresso de Roma 30 Científicas e Artísticas 31

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


As Possibilidades de Aplicação da Propriedade Intelectual no Setor da Moda 249

Convenção Internacional Para Proteção Designer 216


aos Artistas Intérpretes Ou Executantes, Despesas de Publicação 45
aos Produtores de Fonogramas e aos
Organismos de Radiodifusão 31, 88 Detentor 24, 31, 42, 43, 51, 52, 55, 110,
230
Convenção Universal Sobre O Direito do
Autor 36 Dever Funcional 49
Convivência Harmônica 214 Difusão do Conhecimento 98
Corpo de Uma Reivindicação 134 Dignidade 23, 50, 79
Criação Intelectual 23, 27, 56 Dinamicidade 214
Criações 22, 23, 25, 33, 58, 139, 145, Direito ao Respeito 51
152, 196, 214, 218, 219, 220, 221, 224, Direito Autoral 9, 11, 17, 18, 21, 22, 23,
234 25, 26, 27, 28, 29, 31, 33, 34, 36, 37, 38,
Criador 22, 23, 25, 31, 33, 39, 45, 49, 50, 39, 40, 41, 42, 45, 46, 47, 48, 49, 50, 52,
55, 58, 60, 63, 70, 76, 99, 170, 217, 219 53, 55, 56, 58, 59, 60, 61, 64, 66, 72, 73,
75, 86, 87, 94, 195, 218, 220, 242, 257,
Criatividade 23, 25, 27, 36, 37, 38, 55, 259
60, 77, 93, 99, 100, 212
Direito Conexo 22, 67
Crimes de Contrafação 32
Direito Continental 38, 50
Cronograma do depósito de Patente 124
Direito da Personalidade 40, 64, 79
Cultivares 94, 193
Direito da Propriedade Intelectual 40,
90, 140, 188
D Direito de Arrependimento 63
Direito de Autor 9, 22, 28, 31, 32, 33,
Data de Prioridade 127, 128 34, 44, 46, 47, 52, 55, 66, 81, 86, 87, 88,
Data do depósito 124, 125 94, 193
Declaratório 58, 169 Direito de Clientela 154, 230
Deferimento 125, 180 Direito de Distribuição 54
Depositante 125, 131, 143, 170, 178 Direito de Integridade 42
Depósito 10, 17, 18, 39, 84, 86, 93, 97, Direito de Modificação 63
99, 106, 107, 108, 109, 111, 116, 120, Direito de Paternidade 42, 51
121, 122, 123, 124, 125, 126, 127, 128,
171, 182, 231 Direito de Paternidade Intelectual 51
Depósito de Traduções do Pedido 128 Direito de Prioridade 107
Depósito do Pedido de Patente 39, 106, Direito Econômico 51, 239
107, 109, 111, 126 Direito Empresarial 11, 194, 203, 205,
Depósito Estrangeiro 107 206, 208, 236, 237, 243, 260
Depósito Nacional 107 Direito Imaterial 101
Depósito Suplementar 123 Direito Individual 29, 151, 183
Descobertas 105, 150 Direito Marcário 18, 164, 171
Desenho 11, 25, 56, 94, 159, 215, 216, Direito Moral 9, 23, 41, 42, 43, 47, 49,
219, 220, 238 51, 64, 78, 87
Desenho Industrial 11, 25, 94, 215, 216, Direito Patrimonial 9, 21, 24, 27, 40, 46,
220, 238 49, 51, 78
Desenvolvimento de Produto 222 Direitos de Comunicação Pública 53, 54
Desenvolvimento Econômico 14, 93, 97, Direitos de Reprodução 24, 53
98, 99, 143, 168, 210 Direitos de Transformação 53, 54
desequilíbrio 68, 73 Direitos do Empresário 154

Volume I
250 As Possibilidades de Aplicação da Propriedade Intelectual no Setor da Moda

Direitos Exclusivos 29, 52, 179 Exame Substantivo 125


Direitos Exclusivos de Publicação 29 Examinador 123, 127
Direitos Patentários 102 Exclusividade 25, 26, 32, 69, 94, 100,
Direitos Pessoais 51, 80 139, 154, 161, 164, 169, 170, 173, 174,
177, 184, 217
Direito Trabalhista 45, 236
Execução 29, 35, 53, 55, 71, 75, 82, 83,
Disponibilidade 175, 230 85, 123, 129
Distintividade 167, 168, 173, 174, 184 Executantes 31, 33, 34, 81, 82, 83, 88
Divulgação 45, 60, 62, 76, 77, 84, 99, Exigências 59, 109, 111, 121, 124, 125,
101, 106, 107, 108, 109, 139, 227, 228, 128
235
Exploração Econômica 24, 25, 33, 53,
Domínio Comum 167, 174 61, 69, 70, 79, 139
Domínio Público 9, 21, 27, 57, 61, 62, Exterioridade 202
63, 64, 65, 66, 81, 82, 110, 124, 139, 174
Exteriorizada 36, 38, 58
Domínio Tecnológico 101
Extinção do Segredo 101
Droit D´Auteur 23, 50
Dualista 40, 52
F
e Fabricação 104, 111, 119, 157, 162, 198,
215, 220, 233
Economia Criativa 26, 27, 90 Faculdades Pessoais 51
Edição 14, 29, 44, 52, 84, 219 Facultatividade 59, 180
Eficiência 145, 157, 212 Fair Use 73
Empregador. 45, 46, 227, 234, 235, 236, Família de Patente 108
239
Fantasiosas 176
Encomenda 46, 49, 71
Fase Internacional 126
Encomendante 48
Fase Nacional 126, 127, 128
Encontra Sua Exceção 171
Fashion 195, 200, 215, 216, 218, 219
Engano 175
Fato Social 201, 202, 242
Equipamento. 67, 71, 84, 112
Fenômeno Social 11, 197, 199, 201, 202
Escopo da Busca 115
Ferramenta de Comunicação 156
Especialidade. 10, 147, 164, 165
Finalidade Cultural 73
Estado da Técnica. 39, 105, 106, 108,
115, 130, 133 Folha de Rosto do Pedido de Patente
117
Estampas 32, 218, 220, 222
Fonogramas 31, 34, 36, 71, 82, 83, 84,
Estatuto dos Monopólios 94 88
Estilistas 220 Forma Original 36
Estratégia de Busca de Anterioridade 115 Frases de Transição 133
European Patent Office 96, 114 Fraude 84, 150, 176, 237
Evolução da Vestimenta 200 Função Distintiva 10, 149, 153
Exame 123, 124, 125, 126, 127, 128, 180 Função Pública 155
Exame de Admissibilidade 127, 128 Funcionalidade 157
Exame de Mérito 124, 125, 180 Fundamento Constitucional 50
Exame do Pedido 125

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


As Possibilidades de Aplicação da Propriedade Intelectual no Setor da Moda 251

G Intérpretes 22, 31, 33, 34, 81, 82, 83, 88


Invenção 9, 10, 17, 39, 93, 94, 97, 98,
Generalidade 202 99, 100, 101, 102, 104, 105, 107, 108,
Genuinidade 63 109, 110, 111, 112, 113, 115, 116, 120,
Gestão Coletiva 35, 36 121, 122, 123, 124, 125, 129, 130, 131,
132, 134, 135, 136, 138, 148, 151, 209,
Globalização 149 219, 228, 230, 231
Grifes 221 Inventores 93, 94, 98, 101, 108, 115,
Grupos Sociais 201 150, 151, 214
Gutemberg 28 Irrenunciável 47, 54, 80
Iuris Tantum 47, 60
H
Herdeiros 32, 33, 51, 62, 64, 67, 71, 80 L
Honra 13, 24, 42, 50, 156, 176, 202, 225 Legislação Marcária 150, 183
Legitimidade 38, 41, 178
I Lei Rounet 34
Liberdade de Concorrência 11, 206, 211,
Identidades 148 212
Identificação da Origem do Produto 149 Liberdade de Criação 210
Identificações Numéricas 116 Liberdade de Iniciativa 11, 206, 208,
Ideologia 207, 208 209, 210, 211
Imprensa 28, 29, 48, 70, 85 Licença 44, 45, 78, 79
Impressão 28, 29, 59, 200 Licença Obrigatória 45
Impressores 29 Licenciamento 78
Impugnações 11, 182 Limitações 9, 21, 27, 66, 68, 69, 70, 72,
Inalienável 23, 47, 54, 80 73, 74, 77, 101, 134, 136, 241
Indeferimento 125 Limitações e Exceções 66, 74
Indicação Geográfica 94 Limites Territoriais 30, 164
Individualidade 38 Linguagem 58, 148
Indumentária 197, 201 Listagens de Sequências 10, 129, 139
Indústria da Moda 18, 195, 203, 207, Litígios 60, 196
210, 211, 214, 218, 226 Lucratividade 158
Informação Confidencial 11, 227, 229,
231, 232, 233, 234
Informação Sigilosa 221, 238
M
Infrações 9, 18, 21, 27, 70, 77, 83 Mais-Valia 54
Inovações de Natureza Adicional 112 Maneira Comum 105
Institutos do Direito das Coisas e do Marca Coletiva 161, 163
Direito das Obrigações 32 Marca de Certificação 161, 162, 163
Instrumento de Publicidade 155 Marca de Fábrica 154
Intangível 25, 33, 36, 58, 191 Marca de Produto Ou Serviço 161
Integridade 24, 42, 50, 51, 62, 63 Marca Figurativa 159, 160, 188
IntercâMbio 54 Marca Mista 160, 189
International Patent Classification 116 Marca nominativa 159, 160

Volume I
252 As Possibilidades de Aplicação da Propriedade Intelectual no Setor da Moda

Marca Registrada 6, 164, 169, 181 Novas Tendências 200


Marcas 10, 90, 94, 114, 148, 149, 150, Novidade 37, 39, 103, 104, 106, 107,
151, 152, 153, 154, 155, 156, 157, 159, 109, 110, 151, 165, 173, 174, 175, 208,
161, 162, 164, 165, 166, 167, 168, 170, 216
172, 173, 175, 176, 178, 179, 185, 186, Nulidade 182, 183, 234
187, 188, 190, 191, 192, 193, 194, 196,
218, 221, 243 Nulidade Administrativa 182
Marcas Arbitrárias 176
Marcas de Alto Renome 165, 166 O
Marcas de Bens 153 Objeto de Uso Prático 104, 111
Marcas de Renome Internacional 196 Obra Audiovisual 24, 25, 47
Marcas notórias 165, 167, 191 Obra Coletiva 41, 42, 43, 57
Marca Tridimensional 160, 161, 188, Obra de Arte Plástica 74
217, 218
Obra Divisível 44
Marketing 14, 60, 158, 187, 190, 191,
192 Obra Fixada 50
Material Biológico 123 Obra Indivisível 44, 57
Maturidade da Tecnologia 113 Obra Intelectual 24, 25, 36, 37, 38, 42,
45, 48, 53, 55, 60, 68, 69, 70, 73, 77, 85,
Meissonier 30 86, 219
Melhoramento de Produto Ou Processo Obra Originária 57, 58, 71
101
Obras Anônimas e Pseudônimas 57
Melhoria Funcional 104, 111, 112, 135
Obras Científicas 22
Mercado 18, 21, 26, 27, 98, 113, 130,
148, 149, 154, 155, 157, 158, 165, 168, Obras Coletivas 41, 42, 43, 57
172, 174, 180, 195, 196, 198, 200, 201, Obras Compostas 57
211, 212, 213, 214, 215, 220, 226, 238 Obras Comuns 57
Mercado Brasileiro 196, 201, 215 Obras Conexas. 81
Microorganismos Transgênicos 103 Obras Contrafeitas 85
Moda 6, 11, 15, 18, 195, 196, 197, 198, Obras derivadas 54, 57, 58
199, 200, 201, 202, 203, 206, 207, 208,
210, 211, 213, 214, 215, 216, 218, 221, Obras Impressas 29
224, 226, 233, 234, 238, 239, 243, 244, Obras Intelectuais 25, 27, 31, 33, 40, 42,
257 46, 48, 66, 68, 69, 72, 73, 74, 78, 80, 81,
Modelo de Utilidade 9, 17, 39, 93, 97, 86, 219
99, 104, 105, 107, 108, 110, 111, 112, Obras Musicais 35
120, 122, 124, 135 Ofensa 66, 70, 75
Monopólio Legal 40 Oposição 51, 71, 107, 169, 182
Moral 9, 23, 40, 41, 42, 43, 47, 49, 50, Organização Mundial do Comércio 152,
51, 55, 64, 69, 78, 87, 90, 102, 103, 176, 232
201, 204, 220, 236
Organizador 42, 43
Multiplicidade 158
Originalidade 25, 27, 37, 38, 39, 55, 58,
Mundo das Ideias 36 60, 77, 87, 216, 230

N P
Negócio 94, 225, 229, 230, 239 Padrão de Qualidade 155, 157
Nomes de Empresas 152 País de Origem 31, 165, 179

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


As Possibilidades de Aplicação da Propriedade Intelectual no Setor da Moda 253

Passo Inventivo 102 Prioridade do Pedido de Patente 108,


Patenteabilidade 10, 103, 104, 109, 110, 109
115, 122, 125 Prioridade Interna 107
Patente Invalidada 101 Prioridade Reivindicada 39, 106
Patentes 6, 9, 10, 15, 17, 25, 93, 94, 95, Procedência Institucional Coletiva 157
96, 97, 98, 99, 100, 101, 102, 104, 105, Processo 13, 16, 24, 26, 41, 51, 53, 56,
108, 109, 111, 112, 113, 114, 115, 116, 57, 66, 76, 84, 85, 98, 101, 102, 109, 110,
117, 118, 119, 120, 122, 124, 126, 128, 112, 113, 122, 123, 126, 128, 131, 136,
129, 130, 139, 141, 142, 143, 144, 145, 139, 141, 167, 177, 182, 188, 189, 198,
152, 187, 191, 193, 259 212, 219, 222, 227, 229, 230, 234
Patentes de Invenção 9, 17, 93, 97, 99, Processo Patenteado 101
104, 112, 120, 122
Processos de Extração 104
Patrimônio Genético e Conhecimentos
Tradicionais 94 Produções Audiovisuais 36
Patrimônio Público 174 Produto 26, 27, 38, 46, 100, 101, 102,
110, 112, 122, 136, 149, 154, 155, 156,
Pedido de Patente Nacional 127 157, 161, 162, 163, 165, 166, 171, 173,
Período de Graça 109, 111 174, 175, 177, 178, 179, 180, 181, 198,
Período de Sigilo 125, 127 214, 215, 217, 220, 222
Período Histórico 102, 200 Produto Patenteado 101
Perpetuidade 64 Produtor 47, 82, 85, 86, 148, 149, 180,
201
Pessoa Física 41, 43, 52, 57, 219
Produtores Fonográficos 22, 81
Pessoa Jurídica 26, 41, 52, 163, 177
Professores AcadêMicos 32
Pessoalidade 38
Programa Nacional de Apoio A Cultura
Plágio 28, 218 34
Plantas 59, 103, 132 Programas de Computador 34, 56, 59,
Prazos 17, 62, 64, 82, 83, 111, 123 62, 105, 113
Prazos de Proteção 64 Proibições 172, 182, 216
Prazos de Vigência 123 Proibições Legais 172, 216
Preâmbulo 131, 132, 136 Projeto de Lei 11, 12, 196, 226, 227,
Prestação de Serviço 46, 228 234, 235, 236, 239, 242, 244
Prestígio do Signo 166 Propriedade Imaterial 22
Primeiro depósito 107, 108 Propriedade Industrial 15, 17, 18, 22,
25, 26, 37, 38, 39, 40, 55, 59, 89, 90, 94,
Princípio 11, 31, 54, 64, 107, 109, 154, 95, 97, 103, 104, 107, 108, 114, 117, 118,
164, 165, 166, 171, 175, 181, 184, 186, 120, 121, 122, 124, 125, 128, 129, 131,
187, 204, 206, 208, 209, 210, 211, 212, 133, 135, 136, 137, 138, 139, 141, 142,
213, 214 143, 148, 151, 152, 153, 159, 160, 161,
Princípio da Especialidade 164, 165, 166, 162, 163, 164, 165, 166, 169, 172, 178,
175, 187 179, 182, 183, 184, 185, 186, 187, 188,
Princípio da Exaustão 54 189, 190, 191, 192, 193, 194, 195, 196,
215, 216, 217, 218, 223, 224, 230, 231,
Princípio da Livre Iniciativa 210 237, 238, 241, 243, 259
Princípio da Prioridade 107 Propriedade Intelectual 6, 8, 11, 13, 14,
Princípio da Territorialidade 164, 186 15, 16, 17, 18, 21, 22, 23, 26, 27, 29, 34,
Princípios Constitucionais 205, 207, 208, 39, 40, 58, 65, 82, 86, 87, 89, 90, 91, 93,
214 94, 95, 96, 97, 100, 109, 112, 114, 115,
Prioridade 39, 106, 107, 108, 109, 125, 116, 118, 119, 126, 127, 128, 130, 131,
127, 128, 153, 171, 179, 193 132, 134, 135, 140, 143, 144, 145, 147,

Volume I
254 As Possibilidades de Aplicação da Propriedade Intelectual no Setor da Moda

152, 153, 154, 156, 176, 179, 180, 185, Regra dos Três Passos de Berna 69, 70
186, 187, 188, 192, 193, 195, 196, 215, Regulamento de Mediação e Arbitragem
232, 238, 239, 240, 243, 244, 245, 257, no Âmbito do Ministério da Cultura 35
258, 259, 260
Reivindicação 10, 52, 62, 63, 107, 131,
Propriedade Tangível 28 133, 134, 135, 136, 137
Propriedade Temporária 93, 94, 100 Reivindicações 10, 18, 99, 100, 121, 123,
Proprietário 28, 71, 99, 100, 101, 124, 129, 130, 131, 132, 134, 135, 136, 137,
164, 177 138, 153
Prorrogação do Registro 11, 180, 181 Reivindicações de Patente 10, 130
Prospecção Tecnológica 8, 113, 116, 146 Reivindicações dependentes 135, 136,
Proteção Internacional 30, 31, 83, 188 137
Proteção Marcária 168 Reivindicações Independentes 135, 136
Proteção Patentária 17, 93, 97, 99, 110, Reivindicações Múltiplas 10, 135
131 Relações Econômicas Globais 149
Proteção Perpétua 63 Relatório descritivo 10, 121, 123, 129,
Proteção Sui Generis 94 130, 131, 138
Proveniência 150, 156 Renovação 181
Pseudônimo 24, 50, 58, 61, 85 Repertório Simbólico 149
Publicação Internacional 127, 128 Representação 29, 53, 71, 75, 82, 149,
159, 237
Publicidade 60, 77, 155, 156, 259
Representação Pública 82
Repressão 151, 170, 232, 238
Q Reprodução 22, 23, 24, 25, 28, 29, 32,
Quadro Reivindicatório 115, 129, 137 33, 52, 53, 67, 69, 70, 71, 73, 77, 84, 85,
86, 138, 166, 169, 220
Reputação 24, 42, 50, 94, 154, 166, 180,
R 220
Reputação do Signo 166
Radiodifusão 22, 32, 34, 53, 54, 81, 82,
83, 85, 88 Requisito 37, 39, 55, 87, 101, 105, 110,
111, 122, 174, 175, 176, 216, 220
Radiodifusão. 53
Requisito da novidade 174, 216
Ramo de Atividade 164, 165
Requisito de Proteção 37, 55
Redação de Patentes 10, 129, 144
Requisitos de Patenteabilidade 103
Redes Institucionais 98
Rescisão 45, 235, 236
Referencialidade 148
Responsabilidade Civil 236
Registrabilidade 10, 11, 147, 172, 214
Resumo 10, 21, 83, 93, 115, 116, 121,
Registro 9, 10, 11, 18, 21, 27, 55, 58, 59, 128, 129, 138, 147, 195, 205
60, 77, 81, 147, 152, 153, 159, 160, 161,
163, 164, 166, 167, 168, 169, 170, 171, Retribuições 126
172, 173, 174, 175, 176, 177, 178, 179, Revisões 54, 95
180, 181, 182, 183, 184, 185, 187, 191, Revolução da Tecnologia da Informação
192, 193, 195, 215, 216, 217, 218, 219, 21, 27
220, 221, 224, 230, 238
Revolução Industrial 150
Registro Extinto 183
Rodada Uruguai de Negociações
Registro Internacional 153, 192 Comerciais Multilaterais do Acordo Geral
Registro Marcário 152, 167, 170, 179, de Tarifas e Comércio 96
180, 182, 193 Roteirista 47

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


As Possibilidades de Aplicação da Propriedade Intelectual no Setor da Moda 255

S 257, 259
Sucessores 62, 63, 64, 107
Sanções 9, 21, 27, 35, 83, 84, 85, 196,
223 Suficiência descritiva 123, 129
Sanções Penais 84, 85 Sui Generis 40, 94, 168
Sazonalidade 234 Suporte 25, 28, 29, 33, 36, 45, 58, 71,
129
Segmento Comercial 165
Segredo 11, 94, 100, 101, 197, 224, 225,
226, 227, 228, 229, 230, 231, 234, 236, T
237, 241, 243
Segredo Comercial 11, 197, 224, 226, Técnicas de Impressão 28
227, 228, 229, 230, 231, 234 Técnico Específico 101, 111
Segredo de Fábrica 224, 227, 228, 229, Técnico no Assunto 105, 123, 129, 231,
230 237
Segredo de Indústria 224, 228, 243 Tecnologias Concorrentes 113
Segredo de Negócio 94, 229, 230 Teoria Dualista 40
Segredo de Serviço 228 Territorialidade 10, 147, 164, 186
Serviços de Nice 178 Titular 8, 25, 26, 33, 41, 43, 44, 47, 48,
Setor da Moda 11, 18, 195, 196, 200, 52, 53, 54, 55, 64, 67, 68, 77, 78, 84, 93,
203, 206, 208, 214, 215, 216, 221, 224, 99, 100, 125, 154, 156, 157, 159, 161,
234, 238, 239 162, 164, 168, 169, 170, 171, 174, 177,
178, 179, 180, 181, 183, 184, 230, 231,
Setor Têxtil e de Confecção 200, 240 258
Sigilo 11, 12, 125, 127, 196, 203, 214, Titular da Patente 100
221, 223, 224, 225, 226, 227, 230, 233,
235, 236, 237, 238, 244 Titularidade 9, 21, 27, 41, 42, 43, 44, 45,
46, 47, 49, 78, 79, 156, 161, 177, 181,
Sigilosidade 11, 207, 214, 224, 233 185
Signo 148, 156, 157, 158, 163, 164, 166, Título de Propriedade Temporária 100
167, 169, 170, 172, 176, 178, 185
Topografia de Circuitos Integrados 94
Signo designativo/Diferencial 157
Traduções 30, 54, 56, 57, 128
Signo Marcário 157, 158, 167, 185
Transferência dos Direitos 9, 21, 27,
Símbolo 118, 150, 154, 172, 174, 175 77, 79
Símbolo Marcário 172 Tratado de Cooperação Em Matéria de
Sinal Distintivo 153, 167, 173 Patentes (Pct) 141
Sistema Atributivo 171
Sistema declarativo 171 U
Sistema de Monopólios de Impressão 29
Unidade de Invenção 136
Sistema de Sinais 149
Uso Prático 104, 111
Sistema do Copyright 23
Usos Honrados 74
Sistema do Droit D´Auteur 23
Sistema Hierárquico 118
Sistema Patentário 99, 104, 120, 139 V
Sistema Pct 126, 128 Validade 172
Sistemas de Patentes 98 Valor da Marca 10, 18, 157, 158, 187
Sociedade 11, 13, 18, 40, 50, 61, 68, 76, Valores 37, 67, 76, 149, 157, 176, 184,
87, 90, 101, 102, 111, 113, 130, 139, 148, 201, 203, 205, 206, 207, 208
197, 199, 200, 201, 202, 203, 209, 210,

Volume I
256 As Possibilidades de Aplicação da Propriedade Intelectual no Setor da Moda

Vedações 172
Venda dos Segredos 229
Veracidade 173, 175, 176
Vestimentas 197, 200
Viabilidade 172, 216
Victor Hugo 30, 193
Vulgar 105, 174
Vulgaridades 173
Vulneração 69

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Sobre os Autores

Carolina Diniz Panzolini


Mestre na área de Propriedade Intelectual (Direito Autoral) pela Universidade de
Londres (Kings College) (2012/2013). Especialista em Direito Autoral pela OMPI:
Curso avançado sobre Direitos de Autor e Direitos Conexos organizada pela
Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI) e pela Sociedade Geral de
Autores e Editores da Espanha (SGAE), realizada nos dias 14-18 de novembro/2016,
na cidade de Madri (Espanha). Especialista em Propriedade Intelectual pela
Organização Mundial de Propriedade Intelectual (OMPI): Curso de Direito Autoral
avançado (2012: duração um mês) (curso presencial em Estocolmo – Suécia).
Especialista em Política Regulatória pela Universidade de George Washington, School
of Business, em Washington- EUA (2011). Correspondente voluntária da Organização
das Nações Unidas (ONU), no Brasil. Voluntária na Sociedade de Direito Autoral
de Nova York. Membro da Comissão de Propriedade Intelectual (Direito Autoral)
da Ordem dos Advogados do Brasil/DF. Especialista em Negociação internacional
(Organização Mundial de Propriedade Intelectual e acordos bilaterais). Professora de
Direito Autoral no Saber Direito – TV Justiça – Supremo Tribunal Federal. Professora
de Direito Autoral no Instituto Serzedello Tribunal de Contas da União. Professora
de Direito Autoral no TV Justiça Superior Tribunal de Justiça – Cidadã. Colunista
em Propriedade Intelectual, nas seguintes mídias: a) Rádio RBG (Rádio de Londres);
b) Gazeta News (Jornal da Flórida-EUA; c) The Brasilians (Nova York); d) Migalhas
(site jurídico brasileiro); e) Jota. Especialista em Direito Autoral pela Fundação
Getúlio Vargas (2011). Pós-graduada pela Escola Superior da Magistratura do DF em
1999 (Reciclagem das Carreiras Jurídicas). Pós-graduada em Direito Constitucional
e Administrativo pelo IDP – Instituto de Direito Pública em Brasília (2004). Pós-
graduada em Direito Processual Civil pela Universidade do Centro de Ensino Unificado
de Brasília (2001/2002). Atualmente: Servidora Ministério da Cultura (Coordenadora-
Geral de Regulação em Direitos Autorais) e advogada.

Fernanda Gonçalves Silveira Fontes


Advogada, atuante em Direito da Moda, pós-graduanda em Design de Produtos de
Moda, Fundadora e Presidente da Comissão de Estudos em Direito da Moda da OAB
Maringá, Bolsista na área jurídica na Divisão de Propriedade Intelectual/Núcleo de
Inovação Tecnológica de Maringá.

Grace Ferreira Ghesti


Doutorado em Química pela mesma instituição (2009), mestrado em Química pela
Universidade de Brasília (2006) e mestrado profissionalizante em Certified Brewmaster
Course Versuchs- und Lehranstalt für Brauerei in Berlin, VLB, Alemanha (2008),
258 Sobre os Autores

especialização em Beer Sommelier pela Science of Beer, graduação em Bacharelado


em Química pela Universidade de Brasília (2004). Atualmente, é professora Adjunta IV
do Instituto de Química, campus Darcy Ribeiro da Universidade de Brasília, atuando
como membro no Programa de Pós-graduação em Química – PPGQ e Programa de
Pós-Graduação em Tecnologias Químicas e Biológicas – PPGTQB. Responsável pela
Gerência de Inovação e Transferência de Tecnologia do Centro de Desenvolvimento
Tecnológico da Universidade de Brasília (CDT/UnB). Coordenadora do Programa
de Pós-Graduação em Propriedade Intelectual e Transferência de Tecnologia para
Inovação – PROFNIT - polo Universidade de Brasília. Líder do grupo de pesquisa de
Bioprocessos Cervejeiros e Catálise aplicada a Energias Renováveis – LaBCCERVA/
IQ/UnB.

Luiz Henrique Castelan Carlson


Possui graduação em Engenharia de Alimentos pela Universidade Federal de Santa
Catarina (1997), mestrado em Engenharia Química pela Universidade Federal de Santa
Catarina (2000) e doutorado em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de
Santa Catarina (2006). Tem experiência na área de Ciência e Tecnologia de Alimentos,
com ênfase em Engenharia de Alimentos, atuando principalmente nos seguintes temas:
simulação e otimização de processos, instrumentação e controle de processos, extração
de produtos naturais com dióxido de carbono em alta pressão, propriedade intelectual
e inovação tecnológica. Atualmente é professor titular e Chefe de Departamento de
Inovação (Núcleo de Inovação Tecnológica) do Instituto Federal de Santa Catarina.

Marcelo Farid Pereira


Economista, Mestre e Doutor em Engenharia de Produção, Professor Associado
do Departamento de Economia da UEM, Coordenador Adjunto do PROFNIT
UEM, Coordenador do Grupo estratégico da Incubadora Tecnológica de Maringá e
Maringatech Parque Tecnológico.

Patricia de Oliveira Areas


Pos-doutorado pelo Programa de Parques Científicos e Tecnológicos da CAPES –
PCTI/2014 na cidade de Barcelona – Espanha, juntamente ao Parc Científic Barcelona;
Fundació Bosch i Gimpera; Parc de Humanitats i Ciencies Socials; todos vinculados
à Universidad de Barcelona. Doutora em Direito pela Universidade Federal de Santa
Catarina (2010) e doutoranda em direito na Universidad de Valencia, mestrado em
Direito na área de Relações Internacionais pela Universidade Federal de Santa Catarina
(2006), especialização em Direito Civil e Processual Civil pelo Centro Integrado
de Ensino Superior (2002), especialização em Direito e Negócios Internacionais
pela Universidade Federal de Santa Catarina (2004), graduação em Direito pela

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Sobre os Autores 259

Universidade Estadual de Maringá (2000). Trabalha como professora na Universidade


da Região de Joinville (UNIVILLE), na qual leciona no departamento de Direito, no
departamento de publicidade e propaganda e no Mestrado em Patrimônio Cultural e
Sociedade. Nesta universidade também exerce a função de assessora jurídica do Núcleo
de Inovação e Propriedade Intelectual (NIPI) e do Parque de Inovação Tecnológica
da Região de Joiniville (INOVAPARQ). Também é professora do Programa de Pós-
graduação em Propriedade Intelectual e Transferência de Tecnologia para Inovação
(PROFNIT) – ponto focal UFSC. É pesquisadora e consultora nas áreas de: Direito,
com ênfase em Propriedade Intelectual (propriedade industrial e Direito Autoral),
proteção e contratação de tecnologia, inovação, pesquisa e desenvolvimento (P&D),
contratos internacionais, desenvolvimento, direito internacional privado e proteção do
patrimônio cultural.

Pierre Barnabé Escodro


Graduado em Medicina Veterinária pela Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Especialização em Cirurgia e Anestesiologia de Grandes Animais na Faculdade de
Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita
Filho (FMVZ-UNESP). Especialista em Acupuntura Veterinária CFMV/ABRAVET.
Mestrado em Clínica Cirúrgica Veterinária pela FMVZ-UNESP. Doutorado em
Biotecnologia pelo Instituto de Química e Biotecnologia da Universidade Federal de
Alagoas (IQB-UFAL). De 2001 a 2008 atuou como Diretor Clínico da VETPOLO
Consultoria Veterinária, Pesquisa e Saúde Ltda. em Indaiatuba-SP, desenvolvendo
testes de eficácia de fármacos e testes clínicos em Medicina Veterinária para diversas
empresas. Atualmente é Professor da UFAL, onde é Líder do Grupo de Pesquisa e
Extensão em Equídeos (GRUPEQUI-UFAL) no CNPq, executando atividades na
área de Desenvolvimento Tecnológico e Extensão Inovadora. Orientador no Curso
de Mestrado em Inovação e Tecnologia Integradas à Medicina Veterinária para
o Desenvolvimento Regional-UFAL e no Mestrado Profissional em Propriedade
Intelectual e Transferência de Tecnologia para Inovação em Rede Nacional (PROFNIT).

Raigenis da Paz Fiuza


Possui Mestrado e Doutorado em Engenharia Química e Graduação em Química
pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). É docente efetivo no Instituto Federal
de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia (IFBA), Campus Feira de Santana e atua
como docente da disciplina “Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual” do
Programa de Pós-Graduação em Propriedade Intelectual e Transferência de Tecnologia
para a Inovação (PROFNIT). É membro do comitê de inovação do IFBA, onde
desenvolve ações de difusão da Propriedade Industrial, além da avaliação técnica dos
pedidos de proteção por patentes. Tem pesquisas e projetos na área de química com
interface com a área de inovação e transferência de tecnologia para o setor produtivo.

Volume I
260 Sobre os Autores

Renata Pacola Mesquita


Advogada no Paraná e em Brasília; Mestre em Direito Civil pela Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo; Especialista em Direito Civil e Empresarial pela Pontifícia
Universidade Católica do Paraná; Bacharel em Direito pela Universidade Estadual de
Maringá; Professora de Direito Empresarial na Escola da Magistratura.

Wagna Piler Carvalho dos Santos


Doutora em Química pela Universidade Federal da Bahia – UFBA (2007), mestre em
Química pela UFBA (2003), licenciada em Química pela UFBA (2001) e técnica em
Alimentos pela Escola Técnica Federal de Química do Rio de Janeiro, atual IFRJ. Atuou
como professora do curso Técnico em Alimentos do Centro Federal de Educação
Tecnológica do Paraná – CEFET/PR, atual UTFPR. Atualmente é professora do
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia – IFBA. Tem experiência
na área de Química, com ênfase em Química Analítica, atuando principalmente nos
seguintes temas: técnicas espectroanalíticas, ICP OES, preparo de amostras, alimentos,
leguminosas e elementos essenciais e tóxicos. É Coordenadora Nacional da disciplina
de Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual (PI) do PROFNIT desde seu
início.

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Coleção
PROFNIT
A Coleção PROFNIT® compreende conteúdos
per tinentes à Propriedade Intelectual,
Transferência de Tecnologia e Inovação
Tecnológica. A Série “Conceitos e Aplicações da
Propriedade Intelectual” dedica-se a explorar as
matérias diretamente ligadas à propriedade
intelectual e sua relação com o desenvolvimento
social e econômico da sociedade. Neste Volume
1 foram abordados temas como direito autoral,
marcas, patentes e a importância da propriedade
intelectual na indústria da moda, assuntos
discorridos em seus quatro capítulos: Direito
Autoral; Patentes de Invenção e Modelo de
Utilidade; A Marca e sua Registrabilidade no
Direito Brasileiro e As Possibilidades de
Aplicação da Propriedade Intelectual no Setor da
Moda.
ISBN 978-85-67562-25-4

9 788 567 56 225 4


Salvador – Bahia – 2019
© 2019 Dos organizadores

Coordenação Editorial
Denise Aparecida Bunn

Revisão de Português e Normalização da ABNT


Patrícia Regina da Costa

Capa, Projeto Gráfico e Diagramação


Claudio José Girardi

Ficha Catalográfica

P965 Propriedade intelectual [Recurso eletrônico on-line] / organizadora Wagna


Piler Carvalho dos Santos. – Salvador (BA) : IFBA, 2019.
532 p. – (PROFNIT, Conceitos e aplicações de propriedade intelectual;
V. 2)

Inclui referência e índice remissivo


ISBN: 978-85-67562-39-1
Disponível em: http://www.profnit.org.br/pt/livros-profnit/
http://fortec.org.br/documentos/materias/
http://www.editora.ifba.edu.br/

1. Propriedade intelectual. 2. Direitos autorais. 3. Patentes. 4. Propriedade


Industrial. 5. Moda. 6. Marca registrada. I. Santos, Wagna Piler Carvalho dos.
II. Série.

CDU: 347.78

Catalogação na publicação por: Onélia Silva Guimarães CRB-14/071


Renato da Anunciação Filho
Reitor

Luiz Gustavo da Cruz Duarte


Pró-Reitor de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação

Claudio Reynaldo Barbosa de Souza


Coordenador Geral da Editora do IFBA

Ronaldo Bruno Ramalho Leal


Assistente de Coordenação da Editora do IFBA

Conselho Editorial
Ana Rita Silva Almeida Chiara – Davi Novaes Ladeia Fogaça – Deise Danielle Neves
Dias Piau – Fernando de Azevedo Alves Brito – Jeferson Gabriel da Encarnação –
Luiz Antonio Pimentel Cavalcanti – Marijane de Oliveira Correia – Mauricio Mitsuo
Monção – Selma Rozane Vieira

Suplentes
Carlos Alex de Cantuaria Cypriano – Jocelma Almeida Rios – José Gomes Filho –
Juliana dos Santos Müller – Leonardo Rangel dos Reis – Manuel Alves de Sousa
Junior – Romilson Lopes Sampaio – Tércio Graciano Machado

Conselho Editorial do PROFNIT (C-ED)


Titulares
Cristina M. Quintella (Presidente) (UFBA, Brasil) – Elias Ramos de Souza (IFBA,
Brasil) – Glória Maria Marinho Silva Sampaio (IFCE e SETEC/MEC, Brasil) – Irineu
Afonso Frey (UFSC, Brasil) – Josealdo Tonholo (UFAL, Brasil) – Manuel Mira
Godinho (ISEG, Portugal) – Maria da Graças Ferraz Bezerra (MPEG e MCTIC, Brasil)
– Ricardo Carvalho Rodrigues (INPI, Brasil) – Samira Abdallah Hanna (UFBA, Brasil)
– Wagna Piler Carvalho dos Santos (IFBA, Brasil)

Suplentes
Grace Ferreira Ghesti (UnB, Brasil) – Maria Hosana Conceição (UnB, Brasil) –
Paulo Gustavo Barboni Dantas Nascimento (UnB, Brasil) – Rita de Cássia Pinheiro
Machado (INPI, Brasil) – Silvia Beatriz Beger Uchôa (UFAL, Brasil)
Coordenação

Conselho Gestor (CG)


Representante da Associação FORTEC junto à CAPES (Presidente)
Josealdo Tonholo
Ministério da Educação (MEC)
A indicar
Ministério de Ciência Tecnologia Inovações e Comunicações (MCTIC)
Francisco Silveira dos Santos (Titular) e Antenor Cesar Vanderlei Correa (Suplente)
Sede Acadêmica do PROFNIT
Alejandro Frery (Titular) e Eliana Almeida (Suplente)
Coordenadora Acadêmica Nacional
Cristina M. Quintella
Confederação Nacional da Indústria (CNI)
Marcelo Fabrício Prim (Titular) e Rosangela M. C. F. de Oliveira (Suplente)
Associação Nacional de Entidades Promotoras de
Empreendimentos Inovadores (ANPROTEC)
Renato de Aquino Faria Nunes (Titular) e Francilene Procópio Garcia (Suplente)
Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE)
Célio Cabral de Sousa Júnior (Titular) e Carla Regina Nedel Rech (Suplente)
Comissão Acadêmica Nacional (CAN)
Coordenador Acadêmico Nacional – Presidente
Cristina M. Quintella

FORTEC
Maria das Graças Ferraz Bezerra

Representantes do Corpo Docente


Gesil Sampaio Amarante Segundo (titular) – Irineu Afonso Frey (titular) – Núbia
Moura Ribeiro (suplente) – Flávia Lima do Carmo (suplente)

Coordenador da Comissão Acadêmica Institucional (CAI) da Sede


Josealdo Tonholo

Presidentes das Coordenações Técnicas Nacionais


Disciplina Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual (PI): Wagna Piler Carvalho
dos Santos (titular) e Pierre Barnabé (suplente) – Disciplina Conceitos e Aplicações de
Transferência de Tecnologia (TT): Técia Vieira Carvalho (titular) e Grace Ferreira Ghesti
(suplente) – Disciplina Prospecção Tecnológica: Ricardo Carvalho Rodrigues (titular) e
Núbia Moura Ribeiro (suplente) – Disciplina Metodologia da Pesquisa Científico-Tecnológica
e Inovação: Glória Maria Marinho Silva  (titular) e Maria Hosana Conceição (suplente)
– Disciplina Políticas Públicas de Ciência, Tecnologia e Inovação e o Estado Brasileiro: Edilson
Pedro (titular) e Gesil Sampaio Amarante Segundo (suplente) – Disciplina Seminário
de Projeto de Mestrado: Samira Abdallah Hanna (titular) e Paulo Gustavo Barboni
Dantas Nascimento (suplente)

Representantes Discentes
Camila Lisdalia Dantas Ferreira (titular) e 
Fábio Araujo do Nascimento Teixeira (suplente)
Gestão FORTEC
DIRETORIA Suplente
Presidente Sanderson Barbalho (UnB)
Cristina M. Quintella (UFBA) REGIONAL NORTE
Vice-Presidente Coordenadora
Shirley Virgínia Coutinho (PUC-Rio) Maria do Perpétuo Socorro Lima Verde
Coelho (UFAM)
Diretores Técnicos
Ana Lúcia Vitale Torkomian (UFSCar) Vice-Coordenador
Gesil Sampaio Amarante Segundo Daniel Santigo Chaves Ribeiro (UNIFAP)
(UESC) Suplente
Marcus Julius Zanon (TECPAR) Erna Denzin (IFTO)
Maria das Graças Ferraz Bezerra (MPEG) REGIONAL NORDESTE
Wagna Piler Carvalho dos Santos (IFBA) Coordenador
EX-PRESIDENTE Ricardo Fialho Colares
Rubén Dario Sinisterra (UFMG) Vice-Coordenadora
Vivianni Marques Leite dos Santos
CONSELHO CONSULTIVO (UNIVASF)
Marli Elizabeth Ritter dos Santos Suplente
(PUC-RS) Sérgio Ribeiro de Aguiar (UFPE)
Maria Celeste Emerick (FIOCRUZ)
Rubén Dario Sinisterra (UFMG) REGIONAL SUDESTE
Rita de Cássia Pinheiro Machado (INPI) Coordenadora
Anapatrícia de Oliveira Morales Vilha
CONSELHO FISCAL (UFABC)
Presidente Vice-Coordenador
Ângelo Luiz Maurios Legat (UEPG) Ricardo Silva Pereira (UFRJ)
Conselheiros REGIONAL SUL
Irineu Afonso Frey (UFSC) Coordenador
Sabrina Carvalho Verzola (UNIFAP) Adriano Leonardo Rossi
Conselheiros Suplente Vice-Coordenador
Silvia Beatriz Beger Uchôa (UFAL) Ricardo Antonio Ayub (UEPG)
Paulo Rogério Pinto Rodrigues
(UNICENTRO) Suplente
Luiz Henrique Castelan Carlson (IFSC)
REGIONAL CENTRO-OESTE
Coordenadora
Emanuela Marcelina Dias da Silva (UCB)
Vice-Coordenadora Regional
Juliana Luiza Moreira Del Fiaco
(UniEVANGÉLICA)
Sumário

Prefácio........................................................................................... 19

Apresentação.................................................................................. 24

Introdução e Evolução Histórica da Propriedade


Intelectual........................................................................28
Introdução.................................................................................. 28
Conceitos e Definições da Propriedade Intelectual............. 29
Modalidades da Propriedade Intelectual................................ 31
Evolução Histórica e Arcabouço Jurídico da Propriedade
Intelectual................................................................................... 31
A Propriedade Intelectual no Brasil........................................ 43
A Temporalidade da Propriedade Intelectual........................ 51
Considerações Finais................................................................ 53
Referências................................................................................. 53

Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade


Intelectual........................................................................59
Introdução.................................................................................. 60
Originalidade: história dos acordos internacionais, acordos
internacionais vigentes e sua internalização no Brasil.......... 66
Direitos Autorais: direitos de autor e direitos conexos........ 67
Conhecimentos Tradicionais................................................... 85
Programas de Computador....................................................104
Novidade: história dos acordos internacionais, acordos
internacionais vigentes e sua internalização no Brasil........ 112
Patentes de Invenção e de Modelo de Utilidade................. 115
12 Sumário

Desenhos Industriais..............................................................125
Proteção de Cultivares............................................................130
Topografia de Circuitos Integrados...................................... 141
Distinguibilidade: história dos acordos internacionais,
acordos internacionais vigentes e sua internalização
no Brasil....................................................................................149
Indicações Geográficas...........................................................149
Percurso Histórico dos Acordos Internacionais................................150
Regulação das Indicações Geográficas no Direito Brasileiro..........159
Marcas ......................................................................................168
A Proteção das Marcas nos Acordos Internacionais........................169
Regulação das Marcas no Direito Brasileiro em Face
dos Acordos Internacionais..................................................................180
Considerações Finais..............................................................190
Referências...............................................................................191

Programa de Computador e Topografia de Circuito


Integrado........................................................................209
Introdução................................................................................209
Breve Histórico........................................................................211
Formas de Proteção de Programas de Computador.......... 213
Legislação Brasileira para Registro de Programa de
Computador.............................................................................215
Sistemas Embarcados.............................................................217
Patente de Invenção Implementada por Software................ 218
Sobre o Software Livre e o Registro....................................... 219
Registro de Programa de Computador no
Instituto Nacional da Propriedade Industrial...................... 220
Casos Ilustrativos....................................................................223

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Sumário 13

Caso Ilustrativo 1: SCO x Linux: ........................................................224


Caso Ilustrativo 2: Microsoft x Android.............................................225
Topografia de Circuito Integrado......................................... 228
Procedimentos do Registro de Topografia de Circuito
Integrado no INPI..................................................................229
Considerações Finais..............................................................230
Referências...............................................................................231

Direito Patentário Brasileiro..........................................236


Introdução................................................................................236
Principais Normas e Legislação Vigente Aplicáveis às
Patentes no Brasil....................................................................239
A Lei da Propriedade Industrial (LPI)................................. 244
Natureza Jurídica das Patentes..............................................247
A Definição e a Função da Patente para o Brasil............... 248
A Titularidade sobre as Patentes........................................... 251
Requisitos de Patenteabilidade..............................................256
Novidade.................................................................................................256
Período de Graça...................................................................................259
Atividade Inventiva.................................................................261
Aplicação Industrial................................................................264
As Modalidades de Proteção por Patente............................ 265
Patente de Invenção................................................................265
Modelo de Utilidade...............................................................267
Matérias que não são Consideradas Invenção ou
Modelo de Utilidade...............................................................271
Invenções e Modelos de Utilidade não Patenteáveis.......... 279
Estrutura do Pedido de Patente............................................281

Volume II
14 Sumário

Formulário Específico do INPI............................................ 282


Relatório Descritivo...............................................................................282
Comprovante de Pagamento da Respectiva Retribuição..................287
Documentos dos Depositantes............................................................287
Tramitação de um Pedido de Patente................................... 288
Considerações Finais..............................................................292
Referências...............................................................................293

Desenhos Industriais e suas Especificidades................298


Introdução................................................................................298
Do Conceito de Desenhos Industriais................................. 301
Dos Requisitos para a Proteção dos
Desenhos Industriais..............................................................312
As Diferenças entre o Registro de Desenhos
Industriais e a Proteção por Patentes .................................. 322
Dos Benefícios Advindos da Proteção aos Desenhos
Industriais.................................................................................330
Exemplos de Desenhos Industriais...................................... 334
Considerações Finais..............................................................340
Referências...............................................................................342

Cultivares – O que São, como se Apropriar,


como Consultar..............................................................349
Introdução................................................................................350
Definição e Relevância...........................................................352
A Regulação da Proteção de Produção de Cultivares no
Âmbito Internacional.............................................................355
Antecedentes Econômicos e Institucionais......................... 355

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Sumário 15

União Internacional para Proteção das


Obtenções Vegetais (UPOV).................................................362
UPOV Atos de 1978 e 1991: principais diferenças............ 364
Bases Legais e Critérios para a Obtenção da Proteção da
Cultivar (PC) no Brasil............................................................369
Proteção de Cultivares: conceitos e definições legais......... 371
Duração, Abrangência da Proteção e
Direitos Conferidos................................................................377
Serviço Nacional de Proteção de Cultivares (SNPC)......... 381
Procedimentos para Proteção................................................ 382
Registro Nacional de Cultivares (RNC)............................... 386
Cultivares Protegidas e Impacto da LPC Sobre o
Desenvolvimento de Cultivares.............................................390
Considerações Finais..............................................................393
Referências...............................................................................394

Indicação Geográfica: conceitos, legislação e


proposição......................................................................400
Introdução................................................................................400
Legislação.................................................................................405
Indicação de Procedência e a Denominação de Origem... 407
Histórico de Indicações Geográficas Concedidas
no Brasil....................................................................................412
Preparando o Pedido de Registro de Indicação
Geográfica................................................................................419
Considerações Finais..............................................................423
Referências...............................................................................424

Volume II
16 Sumário

Indicações Geográficas com Foco em Aplicações ........428


Introdução................................................................................429
Indicações Geográficas – Aspectos Teóricos e
Conceituais...............................................................................433
Procedimentos Metodológicos ............................................. 439
O Caso da Indicação Geográfica da Uva de Marialva....... 439
O Caso da Indicação Geográfica Vale dos Vinhedos........ 446
Considerações Finais..............................................................454
Referências...............................................................................457

Estratégias de Proteção da Inovação............................. 461


Introdução................................................................................461
Proteção da Inovação: a visão das empresas inovadoras... 463
Inovação, uma Regra Econômica Incontornável..............................463
A Apropriabilidade como Condição para ter
Investimento em Inovação Sustentável................................ 465
Qual a Relevância real das Patentes como meio
de Proteção da Inovação?......................................................467
Proteção da Inovação: a visão das políticas públicas......... 471
Análise Econômica das Patentes: qual o racional econômico
subjacente à atribuição de patentes e outros direitos de
propriedade intelectual?........................................................................471
Qual a Intensidade Ótima de Proteção?.............................. 479
Proteção da Inovação: realidade complexa ........................ 482
A Complementaridade entre Diferentes Mecanismos de
Apropriabilidade.....................................................................................482
Uso Estratégico de Patentes .................................................485

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Sumário 17

Variância Intersetorial nos Regimes de


Apropriabilidade e Acesso a Ativos Complementares....... 487
Considerações Finais..............................................................491
Referências...............................................................................495

Índice Remissivo..........................................................................500

Sobre os Autores.........................................................................525

Volume II
Prefácio

A propriedade intelectual é uma instituição central no


mundo contemporâneo. Tal centralidade decorre, antes de
tudo, da circunstância de as atividades econômicas assentarem,
cada vez mais, na produção e na aplicação de conhecimentos
especializados de natureza técnica e científica.
Só por si, essa já é uma excelente razão para eu ser grato por
prefaciar um volume que é precisamente dedicado a “Conceitos e
Aplicações de Propriedade Intelectual”, dirigido ao vasto público
dos cursos PROFNIT e, naturalmente, a outros estudiosos da
propriedade intelectual que irão também ler esta obra.
Devido à crescente relevância daqueles conhecimentos
especializados, as empresas e outras entidades têm atividade
intensa na tentativa de proteger tais conceitos e aplicações,
recorrendo a mecanismos de proteção diversos, incluindo as
diferentes modalidades de propriedade intelectual.
Curiosamente, o uso da propriedade intelectual encerra um
paradoxo que os seus estudiosos devem estar bem conscientes.
Na verdade, é inerente ao uso das modalidades de propriedade
intelectual a codificação do conhecimento com relevância
econômica, constituindo os direitos de propriedade intelectual
registados a nível global um enorme repositório de conhecimento
codificado que se encontra acessível em regime de consulta
relativamente livre. O que é bem percetível, por exemplo, no caso
das patentes, em que os avanços tecnológicos são expressos nos
documentos dos pedidos, por meio de palavras, números, fórmulas,
desenhos, enfim, por “códigos”, ficando depois acessíveis a quem
os queira ler. Porém, e reside aqui o paradoxo, a par da massiva
codificação registada, o uso da propriedade intelectual apresenta
20 Prefácio

também uma enorme dimensão tácita, designadamente no que


diz respeito à sua eficaz exploração econômica.
Vale a pena nesse ponto recordar a distinção entre
conhecimento tácito e codificado. Essa distinção tornou-se
clássica a partir dos escritos de Michael Polanyi, um cientista
de origem austro-húngara que se destacou pelos seus trabalhos
sobre filosofia da ciência produzidos em Inglaterra nas décadas
de 1950 e 1960 (POLANYI, 1958; POLANYI, 1966)1 e,
também, a partir dos trabalhos de Ikujiro Nonaka, um professor
japonês que esteve associado à criação da disciplina de Gestão
do Conhecimento com seus trabalhos pioneiros realizados
na década de 1990 (NONAKA, 1991; NONAKA, 1995)2.
O conhecimento tácito (ou informal, ou implícito), em contraste
com o conhecimento codificado (ou formal ou explícito), é o
conhecimento que é difícil transmitir a outra pessoa por meio de
um documento escrito ou de sua verbalização. O exemplo mais
comum dessa dificuldade é como conseguimos nos manter em
cima de uma bicicleta em andamento – na realidade, conseguimos
andar de bicicleta, mas temos dificuldade em explicar como nos
mantemos em equilíbrio ao mesmo tempo em que avançamos.
Em síntese, o “conhecimento tácito” corresponde a aptidões,
ideias e saberes práticos, dificilmente codificáveis. Em geral, ele
apenas pode ser transmitido eficazmente por meio de interações
temporalmente longas e da integração do recetor em ambiente
onde esse conhecimento é usado com regularidade.
Ao chegar aqui, podemos reafirmar que o uso bem-
sucedido da propriedade intelectual encerra uma enorme

1
POLANYI, M. Personal Knowledge: Towards a Post-Critical Philosophy.
University of Chicago Press, Chicago, 1958; POLANYI, M. The Tacit
Dimension. University of Chicago Press, Chicago, 1966.
2
NONAKA, I. (1991). The Knowledge Creating Company. Harvard
Business Review, [S.l.], v. 69, n. 6, 1991; NONAKA, I.; TAKEUCHI, H.
The Knowledge Creating Company: How Japanese Companies Create the
Dynamics of Innovation. Oxford: Oxford University Press, 1995.

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Prefácio 21

dimensão tácita, já que estamos agora em condições de perceber


adequadamente o que significa tal “dimensão tácita”. Na verdade,
a propriedade intelectual está associada a, pelo menos, três tipos
de conhecimento, a saber: conhecimentos técnicos, jurídicos e
econômicos.
Os conhecimentos técnicos têm a ver com o conteúdo do
material relativamente ao qual é feito o pedido de registo, seja o
conteúdo de uma patente, de um desenho industrial ou de uma
marca comercial. Esses conhecimentos podem tipicamente ser
ensinados em escolas de engenharia, de design ou de administração
de empresas, por exemplo.
Os conhecimentos jurídicos têm a ver com a circunstância
de as modalidades de propriedade intelectual se tornarem
instrumentos jurídicos, respeitantes a direitos atribuídos pelos
governos a indivíduos ou a organizações que solicitam sua
proteção, podendo em caso de ameaça de litígio ou de efetiva
litigância ter de recorrer a advogados ou a tribunais para auxiliar
na resolução dos conflitos, embora também possa haver recurso
a esses profissionais para, por exemplo, redigir contratos de
concessão de licença de uso desses direitos.
Por fim, existem também relevantes conhecimentos
econômicos, pois o uso das modalidades de propriedade
intelectual destina-se a permitir a quem a elas recorre recuperar e
obter uma compensação relativamente a seus investimentos em
criatividade e inovação, sendo que, simultaneamente, ela serve
aos governos para determinar um equilíbrio entre interesses
econômicos privados e sociais. A maximização do retorno privado
desses investimentos implica a adoção de estratégias criteriosas,
quanto à oportunidade e abrangência do pedido de proteção,
aqui incluindo resposta a questões como “O que vale a pena
tentar registar ou não? Onde devemos obter registos? Apenas no
nosso país ou também noutros e, nesse caso, em quais?”. Ainda
no âmbito da dimensão estratégica, há de se saber o que fazer

Volume II
22 Prefácio

para evitar ataques jurídicos de concorrentes, seja por infringirem


nossa propriedade intelectual ou por nos acusarem de estar a
infringir a propriedade intelectual de terceiros, ou o que fazer
quando estamos envolvidos em situações de efetiva litigância.
Como se está facilmente a ver, essas três dimensões –
técnica, jurídica, econômica – envolvem todo um conhecimento
específico, de natureza muito especializada, que não pode ser
facilmente obtido por meio do simples recurso a fontes de
conhecimento codificado.
A exposição feita, a par da forte recomendação para leitura
deste livro, conduziu-nos a um segundo paradoxo. Como posso
recomendar a leitura deste livro – no qual o material apresentado
está obviamente sob a forma de conhecimento codificado –
quando parte substancial da natureza do objeto de interesse é
claramente tácita? Não faria mais sentido enviar nossos estudantes
diretamente para comunidades de prática, onde eles pudessem
contatar diretamente com os correspondentes conhecimentos,
absorvendo os respetivos saberes tácitos por osmose a partir de
seus colegas mais seniores?
Felizmente esse segundo paradoxo é de resolução mais fácil
do que o primeiro. A coleção de livros PROFNIT corresponde
a um enorme esforço de maior codificação de saberes que em
boa medida são de natureza tácita. Além disso, a propriedade
intelectual encerra também uma enorme dimensão codificada
– por meio de leis, códigos, protocolos, tratados, normas e
procedimentos escritos. A configuração jurídica das diferentes
modalidades foi historicamente desenvolvida para que os
utilizadores da propriedade intelectual pudessem usar mecanismos
de proteção de recorte bem definidos. Nesse quadro, para ter
capacidade de aceder e de dominar a expressiva componente
tácita da propriedade intelectual, é necessário que os usurários
tenham primordialmente boas bases na componente codificada.

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Prefácio 23

Há a perceção de que existe uma enorme complementaridade


entre o conhecimento dos conceitos formais e o conhecimento
das práticas, de natureza mais informal. Porém, na ausência
do primeiro, o avanço pela via exclusivamente prática irá se
confrontar com barreiras porventura intransponíveis.
Fica assim clara a necessidade de um estudo atento e
rigoroso da Propriedade Intelectual, por meio da leitura e da
análise dos conceitos e de quadros formais desta instituição tão
importante, inclusive para identificar suas limitações e possíveis
defeitos, tendo em conta ser ela própria uma criação humana.
O esforço da equipe editorial do PROFNIT é notável, procurando
abrir milhares de portas de uma instituição complexa e central
dos dias de hoje.

Manuel Mira Godinho


Professor Catedrático de Economia do Instituto Superior de
Economia (ISEG) da Universidade de Lisboa

Volume II
Apresentação

O Volume II da Série Conceitos e Aplicações de Propriedade


Intelectual representa o esforço colaborativo para a produção
de material didático na esfera do Programa de Pós-Graduação
– Mestrado Profissional em Rede Nacional em Propriedade
Intelectual e Transferência de Tecnologia para Núcleos de
Inovação Tecnológica (PROFNIT®). Este segundo volume da
Coleção PROFNIT® reúne temas e conteúdos que abrangem de
forma apreciável o componente curricular de mesmo nome.
O livro tem um capítulo introdutório assinado por
Wagna Piler Carvalho dos Santos e Rejane Sartori, Introdução e
Evolução Histórica da Propriedade Intelectual, que apresenta aspectos
introdutórios conceituais e definições sobre o tema e elenca
importantes fatos históricos e normativas legais.
O segundo capítulo, Acordo Internacionais Relacionados à
Propriedade Intelectual, de autoria de Kelly Lissandra Bruch, Patricia
de Oliveira Areas e Adriana Carvalho Pinto Vieira, possibilita
um aprofundamento dos aspectos históricos relacionados aos
acordos internacionais e os processos de internalização no
ordenamento jurídico brasileiro. O capítulo se estrutura em
três partes, de acordo com a característica da modalidade da
Propriedade Intelectual, ou seja, seu elemento diferenciador, quais
sejam: originalidade (direitos autorais e conexos, conhecimentos
tradicionais e programas de computador); novidade (patentes de
invenção e modelo de utilidade, desenho industrial proteção de
cultivares e topografia de circuitos integrados) e distinguibilidade
(indicações geográficas e marcas).
O terceiro capítulo, assinado por Gesil Sampaio Amarante
Segundo e Eduardo Oliveira Teles, Programa de Computador e
Apresentação 25

Topografia de Circuito Integrado, apresenta um breve histórico,


os princípios legais e os procedimentos de proteção sobre os
institutos da Propriedade Intelectual denominados programas de
computador e topografia de circuito integrado, bem como discute
as razões da modalidade de proteção e os casos reais que ilustram
a relação de interesses contrários na disputa sobre direitos de
propriedade.
O capítulo seguinte, quarto capítulo, intitulado Direito
Patentário Brasileiro, de autoria de Lívia Pereira de Araújo, Larisse
Araújo Lima, Grace Ferreira Ghesti e Thiago Lara Fernandes,
discute o direito patentário e sua aplicação no Brasil, aprofunda e
amplia aspectos relacionados aos institutos Patentes de Invenção
e Modelo de Utilidade, abordados no Volume I da Série Conceitos
e Aplicações de Propriedade Intelectual.
O quinto capítulo, Desenhos Industriais e suas Especificidades, de
autoria de Patricia Pereira Peralta e Cássia Mota de La Houssaye,
traz uma discussão sobre o instituto Desenho Industrial,
abrangendo conceitos, requisitos e importância da proteção,
comparando e discutindo a cumulatividade de proteção dos
institutos, desenho industrial e patentes.
O sexto capítulo, assinado por Flávia Lima do Carmo,
Samira Abdallah Hanna, Silvia Beatriz Beger Uchôa, Renata
Angeli e Kelly Lissandra Bruch, e intitulado Cultivares – O que
São, como se Apropriar, como Consultar, apresenta os conceitos e as
definições fundamentais sobre cultivares, bem como a legislação
que rege a matéria, as normas e os procedimentos para o pedido
de proteção no Brasil. Além disso, apresenta aspectos relacionados
à produção e comercialização de cultivares. O capítulo ressalta a
importância do desenvolvimento biotecnológico e da proteção das
cultivares como um mecanismo estratégico que possibilita novas
oportunidades de negócios e, especialmente, o desenvolvimento
sustentável do país.

Volume II
26 Apresentação

O capítulo Indicação Geográfica: Conceitos, Legislação e


Proposição, cujos autores são Maria das Graças Ferraz Bezerra,
Rejane Sartori, Wagna Piler Carvalho dos Santos e Gesil Sampaio
Amarante Segundo, apresenta conceitos e definições, legislação
nacional e internacional relacionadas à matéria, aos elementos
fundamentais do processo de reconhecimento e ao registro da
Indicação Geográfica.
O capítulo seguinte, oitavo capítulo, intitulado Indicações
Geográficas com Foco em Aplicações, assinado por Kelly Lissandra
Bruch, Rejane Sartori e Weliton Monteiro Perdomo, ilustra
e discute dois importantes processos de reconhecimento de
Indicação Geográfica, as regiões de Marinalva e do Vale dos
Vinhedos, ambas regiões produtoras de vinho. A primeira
reconhecida como nome geográfico de Indicação de Procedência
(IP), e a segunda, representando o mesmo nome geográfico para
Indicação de Procedência (IP) e Denominação de Origem (DO).
Por fim, no capítulo Estratégias de Proteção da Inovação, de
autoria de Manuel Mira Godinho, são apresentadas estratégias
alternativas para proteger a propriedade intelectual, permitindo
a maximização do retorno econômico e identificando os limites
das modalidades de propriedade intelectual. Nesse capítulo
são destacadas estratégias de proteção de acordo com critérios
empresariais, os quais possam se apropriar às realidades dos
Núcleos de Inovação Tecnológica (NITs).
Dando continuidade à Série Conceitos e Aplicações de
Propriedade Intelectual, Coleção PROFNIT®, como o Volume II,
acreditamos que estamos caminhando seguramente na direção de
impender o objetivo de proporcionar à comunidade acadêmica do
PROFNIT® e do público em geral um conteúdo de referência, que
possa permitir a reflexão sobre temas de importância e conduzi-
la, no que tange à propriedade intelectual e sua relevância para o

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Apresentação 27

desenvolvimento social e econômico do país e para implicações


na sociedade contemporânea e suas transformações.
Desejo a todos uma ótima leitura!

Wagna Piler Carvalho dos Santos

Volume II
Introdução e Evolução Histórica da
Propriedade Intelectual

Wagna Piler Carvalho dos Santos


Rejane Sartori

Resumo: O objetivo do presente capítulo é apresentar as noções conceituais e as


definições sobre a propriedade intelectual, sua importância como ativo intangível e suas
modalidades. O capítulo traz também um breve histórico da propriedade intelectual
e as principais leis que fazem parte do arcabouço jurídico da matéria no mundo e no
Brasil.

Abstract: The purpose of this chapter is to present the conceptual notions and
definitions about intellectual property, its importance as an intangible asset and the
modalities that are covered by intellectual property. The chapter also provides a brief
history of intellectual property and the main laws that are part of the legal framework
of the subject in the world and in Brazil.

Introdução
A Propriedade Intelectual é um dos temas que permeia
as relações humanas, especialmente aquelas nas quais estão
envolvidas questões comerciais.
A vontade e o ato de criar são intrínsecos à natureza
humana e, ao longo da história da humanidade, o homem, como
ser social, criou e inventou coisas, meios e formas, que, hoje, mais
propriamente, são identificadas e denominadas de tecnologias.
Neste capítulo são apresentadas as noções gerais sobre
propriedade intelectual, para tanto, serão descritos seus conceitos,
definições e sua importância. Além disso, será exposta uma breve
Introdução e Evolução Histórica da Propriedade Intelectual 29

evolução histórica com foco na principal legislação pertinente,


em nível nacional e internacional.

Conceitos e Definições da Propriedade Intelectual


A Organização Mundial da Propriedade Intelectual, em sua
Convenção fundadora, assinada em Estocolmo em 14 de julho de
1967 e alterada em 28 de setembro de 1979, define propriedade
intelectual como:

Direitos relativos às obras literárias, artísticas e científicas, às


interpretações e às emissões de radiodifusão, às invenções em todos os
domínios da atividade humana, às descobertas científicas, aos desenhos
e modelos industriais, às marcas industriais, comerciais e de serviço,
bem como às firmas comerciais e denominações comerciais, à proteção
contra a concorrência desleal e todos os outros direitos inerentes à
atividade intelectual nos domínios industrial, científico, literário e
artístico. (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA PROPRIEDADE
INTELECTUAL, 2002)

Portanto, o conceito de propriedade intelectual relaciona-


se a qualquer produção do intelecto humano, ou seja, a um bem
imaterial que está nos domínios industrial, científico, literário
ou artístico. O direito relacionado à proteção da propriedade
intelectual permite obter, por um determinado tempo, algum
prêmio ou recompensa que derive da “criação”. Segundo Barros
(2007, p. 44), “O bem pode ser benéfico ao homem tanto pela
propriedade como pela posse. A propriedade implica a segurança
que proporciona o domínio e a posse, o usufruto”.
Diversos são os conceitos atribuídos à propriedade
intelectual, entre os quais o que traz uma importante percepção
de cunho social, compreendendo-a como um instrumento

Volume II
30 Introdução e Evolução Histórica da Propriedade Intelectual

da política de ciência, tecnologia e inovação que possibilita a


apropriação das diversas criações advindas do intelecto humano,
como bens intangíveis; assegura os resultados da pesquisa e
desenvolvimento, valorizando-os e permitindo a transferência
da tecnologia produzida com segurança jurídica necessária, além
disso, a propriedade intelectual possibilita regular as condutas de
mercado (PIMENTEL, 2012; TURCHI; MORAIS, 2017).
Segundo Barbosa (2003, p. 27, grifo nosso), “[...] a
propriedade intelectual é ainda mais funcional, ainda mais
condicionada, ainda mais socialmente responsável, e seguramente
muito menos plena do que qualquer outra forma de propriedade”.
Dias et al. (2015, p. 160) compartilham do mesmo
entendimento quanto ao “regime disciplinador do mercado”.
Por outro lado, pode-se conceber simplesmente a propriedade
intelectual como uma área do direito, entendida como o “[...]
conjunto de direitos imateriais que incidem sobre o intelecto
humano e que são possuidores de valor econômico” (BOCCHINO
et al., 2010, p. 17).
Dessa forma, a proteção da propriedade intelectual tem
como intuito proporcionar retorno econômico para quem investe
esforço e trabalho no desenvolvimento de criações intelectuais
e estimular as atividades e o desenvolvimento de empresas
dedicadas à exploração dessas criações.
O direito relativo à propriedade intelectual possui restrições,
duas delas estão relacionadas à territorialidade, ou à abrangência
geográfica, ou à jurídica. A outra se relaciona à temporalidade,
ou seja, em geral vincula-se um determinado prazo para manter
a proteção.

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Introdução e Evolução Histórica da Propriedade Intelectual 31

Modalidades da Propriedade Intelectual


A propriedade intelectual, como já mencionado no Livro
1 desta Série, pode apresentar-se em diferentes modalidades.
É possível considerar uma divisão tradicional da propriedade
intelectual: I – Direito Autoral, o que inclui o direito de autor,
direitos conexos e programa de computador; II – Propriedade
Industrial, o que insere marca, patente, desenho industrial,
indicação geográfica, segredo industrial e repressão à concorrência
desleal; III – Proteção sui generis, representada pela topografia
de circuito integrado, cultivar e conhecimento tradicional
(JUNGMANN, 2010).
Assim, os bens imateriais abarcados pela propriedade
intelectual e que são atendidos por legislações e por normas no
território brasileiro são: patente de invenção, patente de modelo de
utilidade, registro de computador, registro de desenho industrial,
registro de marcas, registro de indicações geográficas, registro de
cultivares, registro de topografia de circuitos integrados e registro
de direitos autorais.

Evolução Histórica e Arcabouço Jurídico da


Propriedade Intelectual
Desde a Antiguidade, a ideia de propriedade intelectual
está presente na sociedade. Por volta de 4.000 a.C. a lamparina
de óleo, a cerâmica, o tijolo, a cerveja, a tinta e diversas outras
invenções já existiam, contudo, sequer considerava-se proteger
tais invenções (SOARES, 1998).
Com o crescimento do comércio e da profissionalização,
foi no período da Idade Média que se deu a origem dos privilégios
de invenção. A proteção da invenção sob a forma de privilégio
indicava a medida de exceção disposta em favor de uma pessoa

Volume II
32 Introdução e Evolução Histórica da Propriedade Intelectual

ou de lei excepcional. O privilégio era concedido pelo soberano


àquele que introduzia novas técnicas, por um prazo de proteção
determinado, que variava na razão direta da importância da
criação. Era concedido independentemente de lei e sem condições
preestabelecidas (PIMENTEL, 2012).
O privilégio mais antigo que se tem notícia foi concedido
em 1236, em Bordeaux, à época sob o domínio da Inglaterra, a
Bonafusus de Sancta Columbia e Companhia, para tecer e tingir
tecidos de lã para ternos à moda flamenga, francesa e inglesa.
O privilégio foi concedido por um prazo de 15 anos, com
exclusividade (SHERWOOD, 1992; BASSO, 2000; DURÃES;
ANDRADE; TOGNETTI, 2013).
Historiadores relatam que a primeira concessão dos
direitos sobre uma invenção foi concedida ao senhor Francisco
Petri, residente em Veneza, que requereu em 1416 a concessão de
uma patente para construir 24 moinhos de trigo que funcionavam
com a utilização da força da água (ABPI, 2018a). O privilégio
não previa sanção a terceiros, mas assegurava a Petri o direito
de não ter o seu privilégio revogado antes do prazo (DURÃES;
ANDRADE; TOGNETTI, 2013).
Com a Revolução Francesa a propriedade intelectual
passou a ser um direito subjetivo, mas ainda na esfera nacional
dos Países. Exemplos: Patent Act, nos EUA, em 1790; proteção
autor invenção e descoberta, na França, em 1791; primeiras
sanções nos casos de concorrência desleal e usurpação de marcas;
proteção de marcas, na França, nos anos de 1803 e 1857; início
do uso do termo Propriedade Industrial (BASSO, 2000).
O Quadro 1 apresenta resumidamente alguns marcos
legais históricos que estão no bojo da evolução da propriedade
intelectual em nível nacional e internacional. Quando se compara
as datas dos marcos legais no mundo e no Brasil, observa-se um
considerável atraso, ou seja, uma diferença de 40 anos, pois é

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Introdução e Evolução Histórica da Propriedade Intelectual 33

possível comparar a primeira lei estadunidense com a primeira lei


brasileira que tratou de privilégios industriais.

Quadro 1 – Evolução histórica da propriedade intelectual no mundo e no Brasil

Evolução histórica no mundo Evolução histórica no Brasil


1474 – Itália – Lei Veneziana 1824 – 1ª Constituição – Proteção de
1623 – Inglaterra – Estatuto dos Direitos de Inventores
Monopólios 1830 – Lei de Privilégios Industriais
1790 – Estados Unidos – Lei de 1882 – Nova Lei de Patentes: Direitos
Patentes Garantidos por 3 anos
1791 – França – Lei de Privilégio 1883 – Convenção de Paris (Brasil no
de Invenção 1º grupo de signatários)
1970 – Instituto Nacional da
Propriedade Industrial (INPI) –
criado pela Lei n. 5.648, de 11 de
dezembro de 1970
1971 – Código de Propriedade
Intelectual – Lei n. 5.772, de 21 de
dezembro de 1971
Fonte: Adaptado de Basso (2000) e Soares (1998)

Em Veneza, um dos grandes polos mercadológicos da Idade


Média, nasceu em 19 de março de 1474 a primeira lei de patentes,
o Estatuto Veneziano. Esse Estatuto tratava nomeadamente
sobre a concessão de um privilégio temporário, fazendo menção
aos “homens com intelecto muito aguçado capazes de inventar
e de descobrir vários artifícios engenhosos”, os quais, para sua
garantia, deveriam depositar o seu invento ou a sua descoberta nos
Escritórios dos Administradores da Municipalidade (SOARES,
1998, p. 76).

[...] até o presente momento não se teve qualquer conhecimento de outra


lei que se lhe fosse anterior, pode-se destacar que ‘aos homens capazes

Volume II
34 Introdução e Evolução Histórica da Propriedade Intelectual

de inventar e descobrir, desde que não tivesse sido feito anteriormente


naquele domínio e pudesse ser utilizado e colocado em prática, era
facultado o depósito de seu engenho perante os administradores.
Proibido seria a outrem fazer outro objeto à imagem e semelhança
e sem o consentimento e a licença do autor, durante dez. anos. Caso
assim procedesse, o autor estaria liberado para citá-lo a comparecer
perante à administração da cidade para que pagasse a soma de cem
ducados e destruísse o seu objeto. (SOARES, 1998, p. 29)

Assim, desde 1474 as invenções eram protegidas, e esse


diploma legal proibia, por um prazo de 10 anos, a reprodução
dessas invenções por qualquer outra pessoa sem que houvesse
o consentimento do inventor, sob pena de multa e da destruição
da cópia.
Antes mesmo da Lei Veneziana de 1474, em 1454, foi
publicada uma lei na qual eram previstas medidas punitivas que
poderiam conduzir à morte aquele (trabalhador) que levasse sua
criação (arte ou ofício) para fora do país em prejuízo dele e que
ousasse desobedecer às penalidades estabelecidas em lei:

[...] receberá ordem de regressar; se desobedecer, seus parentes mais


próximos serão presos, a fim de que a solidariedade familiar o convença
a regressar; se persistir na desobediência serão tomadas medidas
secretas para matá-lo, onde quer que esteja. (CANALLI; SILVA, 2011,
p. 746)

Na segunda metade do século XVII, com a Revolução


Industrial ocorrida na Inglaterra, o mundo assistiu a uma evolução
tecnológica que demandava a necessidade de salvaguardar os
inventos. Assim, em 1623, na Inglaterra, o Parlamento Inglês
reservou à Coroa o direito de conceder cartas-patente por
meio do Estatuto dos Monopólios. Nasceu então o sistema de
patentes, um marco relevante da propriedade intelectual. Essa lei
reconheceu pela primeira vez o princípio do autor da invenção,
ou seja, o inventor teria o direito ao depósito da patente, além de

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Introdução e Evolução Histórica da Propriedade Intelectual 35

prever a vigência da patente por um período de 14 anos (ABPI,


2018a).
Para Soares (1998), essa lei foi considerada genérica, pois
previa diversas situações, mas pouco tratava de como deveria a
patente ser conferida, o que ocorreria se eventualmente fosse
contrafeita etc.

Havia apenas a indicação do prazo de quatorze anos, em caráter de


exclusividade, dentro daquele Domínio, cuja Carta-Patente seria
conferida ao primeiro inventor ou inventores desde que não contrariasse
a lei. (SOARES, 1998, p. 32)

Na visão de Domingues (1980), o Estatuto do Monopólio


não representou um avanço jurídico, mas sim uma rebelião
política do povo contra os abusos da monarquia representados
pela concessão de privilégios e de monopólios.
Diversos acontecimentos importantes ocorreram no
mundo no final do século XVIII. Na Europa, em 1789, houve a
Revolução Francesa quando o povo se rebelou contra a burguesia
e os privilégios da monarquia. Nos Estados Unidos, em 1776,
foi promulgada a Declaração da Independência dos Estados
Unidos e, em 1787, a Constituição Americana, que protegeu o
desenvolvimento da ciência e garantiu, por tempo determinado,
direitos aos inventores. Tais acontecimentos contribuíram
para que em 10 de abril de 1790, 14 anos depois de decretada
a independência do país, o Congresso Americano aprovasse a
primeira lei de patentes, o Patent Act. Era a primeira vez em que
seria reconhecido o direito de um inventor usufruir exclusivamente
de sua invenção (DURÃES; ANDRADE; TOGNETTI, 2013).
Soares (1998) aponta que esse Ato traz, de forma detalhada,
as diretrizes-gerais para a concessão de proteção dos privilégios
de invenção.

Volume II
36 Introdução e Evolução Histórica da Propriedade Intelectual

[...] a) através de um requerimento ao órgão competente, aquele que


tivesse inventado ou descoberto algum engenho útil ou equivalente,
bem como tivesse aperfeiçoado os existentes até então não conhecidos
e utilizados, poderia solicitar uma patente para que se lhe fosse
concedida; b) se realmente fosse julgada suscetível, seria convertida a
carta-patente pelo prazo de quatorze anos; c) esse documento seria
entregue ao inventor ou seu agente, depois de devidamente inscrita
e confirmada; d) para tal efeito deveria ser entregue um escrito com
os respectivos desenhos ou modelos, cuja especificação deveria ser
minuciosa e os modelos exatos, não só para distinguir a invenção
ou descoberta de outras conhecidas e usadas, mas também para
possibilitar a qualquer pessoa hábil realizá-la; e) se alguém fabricasse ou
vendesse dentro dos Estados Unidos da América o objeto patenteado
sem o consentimento do titular, pagaria pelos danos causados, sendo
o objecto confiscado; f) seriam repelidas as patentes sub-repticiamente
concedidas, etc. (SOARES, 1998, p. 34-35)

Comenta esse autor que entre as diretrizes de concessão


de proteção dos privilégios de invenção na lei americana, o Patent
Act, está o prazo temporário para exploração do privilégio, 14
anos; sendo que após esse prazo a invenção cairia em domínio
público. Assim, o objetivo foi proteger os interesses do Estado
concedente e aumentar o seu acervo científico e a capacitação
tecnológica, propiciando não somente à população do Estado
inventor acesso a uma base de conhecimentos do mundo
científico, como também acesso às informações pelos Estados
estrangeiros. Outro ponto presente nesse Ato era o direito de o
inventor usufruir financeiramente do lucro de sua invenção.
Esse ato foi considerado um ponto de partida para o sistema
de patentes americano e para as próximas legislações vigentes,
por exemplo, a lei francesa de 1791; a lei austríaca de 1810; a lei
russa de 1812; a lei holandesa de 1817; a lei espanhola de 1820; a
lei sueca de 1834; a lei portuguesa de 1837; e a lei suíça de 1890
(DURÃES; ANDRADE; TOGNETTI, 2013).
A França, em pleno período revolucionário, outorgou sua
Lei de Patentes em 1791 (ABPI, 2018a). Ela determinou que o

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Introdução e Evolução Histórica da Propriedade Intelectual 37

direito à propriedade e ao seu gozo absoluto seria do inventor,


estabelecendo o prazo máximo de 15 anos para o uso da invenção
pelo inventor, o princípio da publicidade, a possibilidade de
terceiros contratarem a exploração do invento e a colocação em
domínio público da invenção após o transcurso do prazo legal
(caducidade) (DURÃES; ANDRADE; TOGNETTI, 2013).
A partir do século XIX praticamente todos os povos
começaram, amparados em princípios básicos impostos pelas
leis americana e francesa, a constituir suas normas internas de
proteção e de defesa dos direitos do inventor por meio de atos,
leis e regulamentos.
Em 1809 foi a vez do Brasil, o quinto país a ter uma lei de
patentes. A chegada da família real portuguesa em 1808, além
de um grande número de acompanhantes, trouxe a promessa de
desenvolvimento, uma vez que era inconcebível que a realeza
vivesse isolada das boas coisas do mundo. Assim, com o intuito
de estimular o desenvolvimento da indústria, o Alvará de 28 de
abril de 1809, assinado por D. João VI, é considerado o marco
zero da propriedade industrial no Brasil (ABPI, 2018a).

[...] sendo muito conveniente que os inventores e introductores,


de alguma nova machina, e invenção nas artes gozem do privilégio
exclusivo além do direito que possam ter ao favor pecuniário, que sou
servido estabelecer em benefício da indústria e das artes – Ordeno que
todas as pessoas que estiverem neste caso apresentem o plano de seu
novo invento à Real Junta do Commercio, e que esta, reconhecendo
a verdade e fundamento delle, lhes conceda privilégio exclusivo por
quatorze annos, ficando obrigadas a publica-lo depois para que no
fim desse prazo toda a Nação goze do fructo dessa invenção [...].
(BRASIL, 1809)

Esse Alvará, inspirado no Estatuto de Monopólios da


Inglaterra, de 1623, trazia aspectos fundamentais de proteção
legal das invenções, contudo, para gozar dessa proteção a
invenção deveria atender ao requisito da novidade e da realidade

Volume II
38 Introdução e Evolução Histórica da Propriedade Intelectual

do invento. Desse modo, o inventor teria o privilégio de explorar


a invenção por prazo limitado e a obrigação de publicá-la findo o
privilégio, para livre gozo da coletividade. O Alvará provia, ainda,
revisão dos privilégios concedidos, mandando tornar público
aqueles que já houvessem completado o prazo e revogar os que
não se justificassem (CHRISTMAN, 2006).
Com a necessidade de estabelecer parâmetros comuns aos
diferentes países para legislar sobre a propriedade industrial, o
que ocorreu em função da ampliação das fronteiras nacionais
e, consequentemente, da necessidade de evitar que os produtos
fossem copiados em outros países que não o de origem da
invenção, e ainda buscando respeito ao direito adquirido nos
países originários, em 1883 se reuniram em Paris 11 dirigentes
de Estado para aprovar um texto que reunisse diretrizes para
a proteção internacional das patentes de invenção. Assim, a
Convenção da União de Paris (CUP) é um tratado multilateral
básico que tem por objeto os institutos da propriedade industrial
– patentes, marcas, indicações de procedência e proteção à
concorrência desleal. Considerada o primeiro Sistema Mundial de
Patentes, foi assinada originalmente por Bélgica, Brasil, Espanha,
El Salvador, França, Guatemala, Itália, Holanda, Portugal, Sérvia
e Suíça (MACEDO; BARBOSA, 2000; DURÃES; ANDRADE;
TOGNETTI, 2013).
Em vigor na atualidade, a CUP passou por diversas
revisões – em Bruxelas (1900), Washington (1911), Haia (1925),
Londres (1934), Lisboa (1958) e Estocolmo (1967). Cada revisão
pretendeu aperfeiçoar os mecanismos de internacionalização
da propriedade da tecnologia e dos mercados de produtos, na
medida em que evoluíam as relações de comércio entre países
(ABPI, 2018a; BULZICO, 2007).
Durães, Andrade e Tognetti (2013, p. 238) mencionam que
essa Convenção

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Introdução e Evolução Histórica da Propriedade Intelectual 39

[...] foi o primeiro tratado multilateral a regulamentar e universalizar a


proteção da propriedade industrial. Segundo suas disposições o inventor
poderia obter em um país que não o seu, direitos de propriedade
industrial, exercendo-os plenamente e em igualdade de condições com
os nacionais daquele país; estabeleceu-se um prazo para o solicitante
se uma patente é requerida em um país signatário da Convenção, de
doze meses para requerer a patente em qualquer outro país signatário
(direito de prioridade); além de estabelecer que as patentes concedidas
em diferentes países são independentes entre si, e, a patente é válida
somente no território onde ela foi protegida (territorialidade).

Essa Convenção, de acordo com Barbosa (2003), estabeleceu


os seguintes princípios: tratamento nacional, prioridade unionista,
independência de direitos e territorialidade.
O tratamento nacional considera que o país-membro
tem, nos outros países signatários, os mesmos direitos de
proteção e vantagens concedidos pela legislação nacional. Assim,
os domiciliados ou os que possuem estabelecimentos industriais
ou comerciais efetivos no território de um dos países-membros
da Convenção são equiparados aos nacionais do país onde foi
requerida a patente ou o desenho industrial.
Na prioridade unionista, o primeiro pedido depositado
em um dos países membros serve de base para depósitos
subsequentes relacionados à mesma matéria, efetuado pelo
mesmo depositante ou seus sucessores legais. Tem-se o Direito
de Prioridade.
A independência dos direitos considera que as patentes
sejam concedidas (ou pedidos depositados) em quaisquer dos
países-membros da Convenção independentemente das patentes
concedidas (ou dos pedidos depositados) correspondentes,
em qualquer outro País signatário ou não da Convenção.
A independência está relacionada às causas de nulidade e de
caducidade e do ponto de vista da vigência.

Volume II
40 Introdução e Evolução Histórica da Propriedade Intelectual

Por fim, a territorialidade está relacionada ao fato de que a


proteção conferida pelo Estado tem validade somente nos limites
territoriais do país que a concede.
A Convenção da União de Paris

[...] não tem o objetivo de uniformizar leis nem condicionar o


tratamento nacional à reciprocidade, mas permitir a livre legislação no
âmbito do direito interno. Exige somente paridade de tratamento e
benefícios para os nacionais e estrangeiros. (BULZICO, 2007, p. 4)

Em 1886 foi adotada em Berna, na Suíça, a Convenção


para Proteção das Obras Literárias e Artísticas. Essa Convenção
teve como objetivo inicial auxiliar os nacionais de seus Estados-
membros a obterem a proteção internacional de seus direitos e,
assim, controlar e receber remuneração pelo uso de suas obras.
Entre as revisões pelas quais já passou destacam-se as de Paris
em 1896, de Berlim em 1908, de Roma em 1928, de Bruxelas em
1948, de Estocolmo em 1967 e, novamente, de Paris em 1971
(BULZICO, 2007).
Ambas as convenções – a de Paris e a de Berna – possuíam
secretarias internacionais distintas para organizar as atividades
administrativas. Para atender à demanda crescente de proteção
dos direitos de propriedade intelectual, em 1893 essas duas
secretarias se uniram, formando uma organização denominada de
Bureaux Internationaux Reunis Por la Protecion de la Propriété
Intelectuelle (BIRPI). Em função da crescente importância da
propriedade intelectual, a Organização Mundial da Propriedade
Intelectual (OMPI) substituiu os BIRPIs (BULZICO, 2007).
Assim, em 1967 foi criada a OMPI, com sede em Genebra,
na Suíça, com o objetivo de fomentar a proteção da propriedade
intelectual em todo o mundo, mediante a cooperação entre os
Estados, para estimular e induzir a criação de novos tratados
internacionais e a modernização das legislações nacionais

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Introdução e Evolução Histórica da Propriedade Intelectual 41

(PIMENTEL, 2012; ABPI, 2008a). Em 1974, a OMPI adquiriu


o status de organismo especializado da Organização das Nações
Unidas (ONU).
Entre as atividades que a OMPI executa para promover
os direitos da propriedade intelectual em escala mundial está
a administração de diversos tratados específicos e de uma
Convenção criada pela própria OMPI. Entre os tratados estão
aqueles que se referem à propriedade industrial, incluindo CUP
e CUB, e aos direitos autorais. A proteção internacional relativa
a marcas, desenhos industriais e denominações de origem é
assegurada por três sistemas de registro: o de Madri para marcas;
o de Haia para desenhos industriais; e o Acordo de Lisboa para
as denominações de origem. No entanto, em termos de geração
de receita, o tratado mais importante administrado pela OMPI
é o Tratado de Cooperação em Matéria de Patentes (PCT),
voltado para o depósito de pedidos de patente em diversos países
(BULZICO, 2007).
O PCT, estabelecido em 1970, é um tratado multilateral
internacional que tem como objetivo simplificar e tornar mais
fácil e econômica a proteção das invenções em nível internacional.
Assim, esse tratado permite requerer a proteção patentária de uma
invenção simultaneamente em vários países com o depósito de
um único pedido (DURÃES; ANDRADE; TOGNETTI, 2013).
No início dos anos de 1980, os países debatiam sobre a
liberação do comércio internacional mediante redução de barreiras
tarifárias, gerando várias discussões nas rodadas do Acordo Geral
de Tarifas e Comércio (GATT, do inglês General Agreement on
Tariffs and Trade), até que em 1994, na rodada do Uruguai, criou-
se a Organização Mundial do Comércio (OMC) e o documento
internacional de amparo à proteção intelectual, o “Trade Related
Aspects of Intellectual Property Rights (TRIPS)”, em português,
“Acordo sobre Aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual

Volume II
42 Introdução e Evolução Histórica da Propriedade Intelectual

Relacionados ao Comércio (ADPIC)” (DURÃES; ANDRADE;


TOGNETTI, 2013).
De acordo com Araújo (2010, p. 73), o TRIPS

[...] surgiu em um contexto de expansão do comércio internacional, de


combate às práticas protecionistas e de transformação da sociedade
industrial para a sociedade da informação com base no desenvolvimento
tecnológico e científico, calcado no conhecimento.

Para a Associação Brasileira de Propriedade Intelectual


(ABPI), o TRIPS vincula de forma definitiva os direitos de
Propriedade Intelectual ao comércio internacional (ABPI, 2018b).
O TRIPS é o mais importante instrumento multilateral para
a globalização das leis de propriedade intelectual. Diz respeito a
uma uniformização das regras relativas à propriedade intelectual
de maneira a assegurar uma proteção satisfatória aos países-
membros. Tem como objetivo promover a inovação tecnológica
e a transferência de tecnologia em benefício mútuo de produtores
e usuários de conhecimento tecnológico, oferecendo bem-estar
social e econômico e um equilíbrio entre direitos e obrigações
(DURÃES; ANDRADE; TOGNETTI, 2013).
Esse Acordo tem importância substantiva semelhante e
complementar à Convenção de Paris (MACEDO; BARBOSA,
2000). Regula a proteção dos direitos de propriedade intelectual,
compreendendo patentes, direitos autorais, marcas, indicações
geográficas e desenhos industriais, que deve ser efetuada de acordo
com a Convenção de Paris e de outros acordos relacionados ao
tema (DURÃES; ANDRADE; TOGNETTI, 2013).
O TRIPS estabelece padrões mínimos a serem seguidos
pelas leis nacionais, sob pena de violação do Acordo. Dividido
em três grandes grupos, inicialmente esse Acordo determina
os principais mecanismos de proteção sobre cada tipo de
propriedade intelectual; posteriormente trata das leis que tornam

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Introdução e Evolução Histórica da Propriedade Intelectual 43

obrigatório o acordo e afirma que cada Estado-membro deve


ter uma legislação interna justa e adequada aos princípios do
acordo; por fim, aborda a prevenção de disputas e outros temas
(DURÃES; ANDRADE; TOGNETTI, 2013).

A Propriedade Intelectual no Brasil


O Brasil, como já mencionado, foi o quinto país do mundo a
estabelecer a proteção dos direitos do inventor. O Alvará de 1809
é considerado o marco zero da propriedade industrial no Brasil.
Embora a nação verde amarela tenha sido uma das pioneiras
na introdução de patentes, o que se buscava, à época, com a
publicação desse Alvará, não era exatamente reconhecer o direito
de propriedade, mas estimular o desenvolvimento da indústria,
uma vez que o governo da colônia precisava de impostos (ABPI,
2018b).
Barcellos (2004, p. 9.844) relata que o Alvará de D. João VI
trazia a seguinte redação:

O objetivo deste Alvará é o de promover a felicidade pública dos meus


vassalos ficando estabelecidos com esse desígnio princípios liberais
para a prosperidade do Estado do Brasil, especialmente necessários
para fomentar a agricultura, animar o comércio, adiantar a navegação e
aumentar a povoação, fazendo-se mais extensa e análoga a grandeza do
mesmo Estado, e continua sendo muito conveniente que os inventores
e produtores de alguma nova máquina e de invenção de artes gozem do
privilégio, além do direito que possam ter ao valor pecuniário que seu
serviço estabelece em favor da indústria e das artes. Ordeno que todas
as pessoas que estiverem neste caso apresentem o plano de seu novo
invento à Real Junta do Comércio e que, reconhecendo a verdade do
fundamento dele, lhes conceda privilégio exclusivo de 14 anos, ficando
obrigado a publicá-lo para que no fim deste prazo toda a nação goze
do fruto desta invenção. Ordeno, outrossim, que se faça uma exata
revisão dos que se acham atualmente concedidos, fazendo-se públicos
na forma acima determinada e revogando-se os que, por falsa alegação
ou sem bem fundadas razões, obtiverem semelhantes concessões.

Volume II
44 Introdução e Evolução Histórica da Propriedade Intelectual

Em 1824, já independente da metrópole portuguesa,


outorgou-se a primeira Constituição do então Império Brasileiro,
que abordava os direitos de propriedade do inventor sobre suas
descobertas ou produções, assegurando-lhe o privilégio exclusivo
temporário ou o ressarcimento da perda que poderia sofrer pela
vulgarização. Em 28 de agosto de 1830 foi promulgada a Lei
de Patentes brasileira, legitimando a concessão dos privilégios
industriais por períodos que variavam de cinco a 20 anos. Essa Lei
garantia os direitos de propriedade do inventor e o uso exclusivo
de sua invenção e também reconhecia os mesmos direitos às
pessoas que aperfeiçoassem inventos, além de estabelecer uma
premiação a quem implantasse indústria no país (ABPI, 2018b).
Uma nova lei de patentes foi decretada em 14 de outubro
de 1882. Elaborada durante o período que precedeu a CUP
(1833), da qual o Brasil foi um dos signatários, incorporou os
principais princípios da convenção em sua legislação: o direito de
prioridade e o tratamento igual a pedidos de patentes de nacionais
e estrangeiros (CABELLO; PÓVOA, 2016). Essa lei estabeleceu
a concessão de garantia de patente ao autor de qualquer invenção
de novos produtos industriais, novos meios ou a aplicação nova
de meios conhecidos para se obter um produto ou resultado
industrial, ou o melhoramento de invenção já beneficiada (ABPI,
2018b). Ademais, padronizava o período de vigência da patente
para 15 anos, concedia patentes a estrangeiros que já possuíam
patentes em outros países. A mudança institucional representada
pela nova lei foi no sentido de facilitar a obtenção de patentes,
tanto de brasileiros como de estrangeiros (CABELLO; PÓVOA,
2016).
Em 1891, uma nova Constituição foi promulgada. O §5º do
artigo 72 dessa Lei Maior estabelecia que os autores de inventos
industriais receberiam “[...] um prêmio razoável quando haja
conveniência de vulgarizar o invento [...]”, ou seja, tratava-se de

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Introdução e Evolução Histórica da Propriedade Intelectual 45

um privilégio temporário (NÓBREGA, 2009). Ademais, pela


primeira vez o direito de autor foi constitucionalizado. O §26 do
artigo 72 dispunha que aos autores de obras literárias e artísticas
seria garantido o direito exclusivo de reproduzi-las, seja por meio
da imprensa ou por qualquer outro processo mecânico. Desse
modo, como afirma Mallmann (2013), a Constituição de 1891
constituiu-se em um marco para o direito da propriedade intelectual
no Brasil, uma vez que passou a proteger constitucionalmente os
dois ramos do direito da propriedade intelectual: o direito autoral
e o privilégio industrial.
A Constituição de 1937, diferentemente de sua antecessora,
restringiu-se a dispor que competia à União legislar sobre
direito do autor e sobre os privilégios de invento e a proteção
de modelos, marcas e outras designações de mercadorias, não
determinando nenhuma garantia constitucional à propriedade
intelectual (NÓBREGA, 2009).
Em 1945 foi criado o primeiro Código de Propriedade
Industrial, por meio do Decreto-Lei n. 7.903, de 27 de agosto
de 1945, reconhecido como o marco histórico da Propriedade
Industrial do Brasil (ABPI, 2018b). Esse Código, conforme o
contido no artigo 2º, tinha por objetivo

[...] reconhecer e garantir os direitos daqueles que contribuem para o


melhor aproveitamento e distribuição de riqueza, mantendo a lealdade
de concorrência no comércio e na indústria e estimulando a iniciativa
individual, o poder de criação, de organização e de invenção do
indivíduo. (BRASIL, 1945, art. 2º)

Entre os diversos aspectos legais que foram modificados


nesse Código, foram alterados o conceito legal de novidade das
invenções, estabelecendo vantagens discriminatórias a favor dos
inventores domiciliados no estrangeiro; a concessão de patentes
para invenções que tivessem por objeto substâncias obtidas

Volume II
46 Introdução e Evolução Histórica da Propriedade Intelectual

por meios ou processos químicos foi vedada, assim como pela


primeira vez vedou-se a concessão de patentes para medicamentos
(BRASIL, 1945, art. 8º); introduziu, também pela primeira vez,
a licença obrigatória para a exploração de privilégios (BRASIL,
1945, art. 53 e 63), autorizando, ainda, a desapropriação das
mesmas patentes (BRASIL, 1945, art. 64). Para Barbosa (2002,
p. 3) tratava-se de

[...] excelente peça legislativa, cuja elaboração demonstra sofisticação


técnica infinitamente maior do que toda legislação anterior, subsistiu
– em seus aspectos penais – por mais de meio século, até o início de
vigência deste novo Código de 1996.

Os direitos de propriedade dos inventores e dos titulares


de marcas e de nomes comerciais continuaram a ser assegurados
nas constituições brasileiras de 1946, 1967 e 1969, assim como
na atual Constituição, aprovada em 1988. A Constituição de 1946
restabeleceu as disposições relativas à proteção dos inventos
industriais, das marcas, do nome comercial, das obras literárias
e outros, mantendo praticamente a redação da Constituição de
1934. Já a Carta de 1967 trouxe importantes alterações no regime
constitucional da propriedade intelectual. Em seu artigo 150, §24,
dispôs sobre a garantia do privilégio temporário para a utilização
de inventos industriais, não mais contemplando a concessão
do justo prêmio ao inventor caso convenha à coletividade a
vulgarização do invento industrial. Restabeleceu que o direito do
autor é transmissível por herança, o que foi mantido pela Emenda
Constitucional de 1969 (NÓBREGA, 2009).
Em 1970, tempo de investimento concentrado na
industrialização do país, foi criado o Instituto Nacional da
Propriedade Industrial (INPI) por meio da Lei n. 5.648, de 1970,
que assumiu as atribuições de conceder patentes e registros de
marcas (BARBOSA, 2003). A lei que criou a autarquia não fez

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Introdução e Evolução Histórica da Propriedade Intelectual 47

menção à habilitação do Agente da Propriedade Industrial no


órgão, o que só foi feito com a assinatura da Portaria n. 32, de 19
de março de 1998 (ABPI, 2018b).
Em 1971 houve um grande avanço – pela primeira vez
um Código de Propriedade Industrial foi votado no Congresso
Nacional, com a participação de setores da sociedade civil
diretamente envolvidos com o tema, Lei n. 5.772 (ABPI, 2018b).
Esse Código foi promulgado com peculiaridades análogas ao
regime internacional que se desenhava em diversos países desde
a Convenção de Paris de 1883. O objetivo com esse novo código
era oferecer maior proteção ao desenvolvimento econômico
brasileiro e, desse modo, ocorreram restrições a setores como
ligas metálicas, alimentícios, farmacêuticos e microrganismos;
as invenções eram patenteadas por até 15 anos de exclusividade,
com devido depósito do pedido junto ao INPI; e as patentes
deveriam ser exploradas no Brasil sob pena de cassação da licença
(DURÃES; ANDRADE; TOGNETTI, 2013).
Também nesse período foi promulgada a primeira lei
brasileira de Direito Autoral, Lei n. 5.988, de 14 de dezembro de
1973 (ABPI, 2018b).
Na Constituição de 1988, o regime da propriedade
intelectual sofreu atualizações significativas. A matéria continuou
a ser tratada no capítulo dos direitos e garantias fundamentais.
No inciso XXIX do artigo 5º consta que é assegurado aos
autores de inventos industriais “[...] privilégios temporários de
utilização e estende esse benefício às marcas, nomes de empresa,
signos distintivos e todas as criações industriais” (BRASIL, 1988,
art. 5º). No inciso XXIII, o Estado insere cláusula que sujeita
a propriedade intelectual à sua função social e deve servir ao
desenvolvimento tecnológico econômico do país. Os incisos
XXVII e XXVIII asseguram aos autores de qualquer obra o
direito exclusivo de publicação, utilização ou reprodução e sua

Volume II
48 Introdução e Evolução Histórica da Propriedade Intelectual

fiscalização em relação ao aproveitamento econômico, garantida


a proteção às participações individuais em obras coletivas, à
reprodução da voz humana, à proteção aos intérpretes, à imagem
inclusive nas atividades desportivas (BRASIL, 1988).
A Carta Magna estabelece ainda, no inciso IX do artigo
24, que é de competência do Estado brasileiro a ciência, a
tecnologia, a pesquisa, o desenvolvimento e a inovação, e prevê,
no §1º do artigo 218, que o Estado promoverá e incentivará o
desenvolvimento científico, a pesquisa, a capacitação científica e
tecnológica e a inovação (BRASIL, 1988).
Em maio de 1996 decretou-se a Lei de Propriedade
Industrial (LPI), Lei n. 9.279, que vigora até os dias de hoje. Além
disso, foram publicadas as leis de Proteção de Cultivares, n. 9.456,
de 1997, a Lei de Direito Autoral e a de Software, respectivamente
Lei n. 9.610 e Lei n. 609, em 1998.
A LPI é responsável por regular os direitos e as obrigações
relativos à propriedade industrial, e se aplica às invenções, às
marcas, aos desenhos industriais, às indicações geográficas
e à concorrência desleal. Traz a inclusão de patente para as
substâncias, as matérias ou os produtos obtidos por meio de
processos químicos e as substâncias, matérias, misturas ou os
produtos alimentícios, químico-farmacêuticos e medicamentos
de qualquer espécie, bem como os respectivos processos de
obtenção ou modificação; o certificado de adição de invenção;
o registro dos desenhos industriais; as marcas coletivas e de
certificação; a substituição das indicações de procedência por
indicações geográficas; os crimes contra a propriedade industrial
(BRASIL, 1996).
A legislação atual vigente pertinente à propriedade
intelectual no âmbito do Brasil encontra-se sumarizada no
Quadro 2.

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Introdução e Evolução Histórica da Propriedade Intelectual 49

Quadro 2 – Legislação brasileira pertinente à propriedade intelectual

Número da lei Data de promulgação Título


Lei da Propriedade
Lei n. 9.279 14 de maio de 1996
Industrial
Regulamenta os artigos
Decreto n. 2.553 16 de abril de 1998 75 e 88 a 93 da Lei n.
9.279
Lei n. 9.456 25 de abril de 1997 Lei dos Cultivares
Lei n. 9.609 19 de fevereiro de 1998 Lei do Software
Lei n. 9.610 19 de fevereiro de 1998 Lei do Direito Autoral
Lei n. 9.748 29 de janeiro de 1999 Processo Administrativo
Lei n. 10.406 10 de janeiro de 2002 Código Civil Brasileiro
Lei n. 10.973 2 de dezembro de 2004 Lei de Inovação
Regulamenta a Lei de
Decreto n. 5.563 11 de outubro de 2005
Inovação
21 de novembro de
Lei n. 11.196 Lei do Bem
2005
Topografia de circuitos
Lei n. 11.484 31 de maio de 2007
integrados
Altera cláusulas da
Emenda 26 de fevereiro de 2015
CFB quanto à Ciência,
Constitucional n. 85
Tecnologia e Inovação
Marco Legal da
Lei n. 13.123 20 de maio de 2015
Biodiversidade
Regulamenta a Lei n.
Decreto n. 8.772 11 de maio de 2016
13.12
Marco Legal de Ciência,
Tecnologia e Inovação
Lei n. 13.243 11 de janeiro de 2016
(Código Nacional de
CTI)

Volume II
50 Introdução e Evolução Histórica da Propriedade Intelectual

Número da lei Data de promulgação Título


Estabelece medidas de
incentivo à inovação e
à pesquisa científica e
tecnológica no ambiente
produtivo. Regulamenta
a Lei n. 10.973/ 2004,
a Lei n. 13.243/2016, o
art. 24 § 3º, e o art. 32,
Decreto n. 9.283 7 de fevereiro de 2018
§7º, da Lei n. 8.666, de
21 de junho de 1993, o
art. 1º da Lei n. 8.010/
1990, e o art. 2º, caput,
inciso I, alínea "g", da
Lei n. 8.032, de 12 de
abril de 1990, e altera o
Decreto n. 6.759/2009
Fonte: Adaptado de Bocchino et al. (2010)

Percebe-se que nos últimos anos a legislação brasileira


vivenciou grandes movimentações em prol de um arcabouço
legal mais robusto e atualizado no que se refere à propriedade
intelectual, à pesquisa, ao desenvolvimento e à inovação (PD&I),
elementos fundamentais na geração do conhecimento e na
aplicação deste na sociedade. Certamente que houve um avanço
significativo com respeito às alterações na Constituição da
República Federativa do Brasil quanto aos acréscimos referentes à
matéria relacionada à PD&I, especialmente no que diz respeito à
Emenda Constitucional n. 85, que inseriu cláusulas fundamentais,
principalmente as referentes ao Sistema Nacional de Ciência e
Tecnologia e Inovação:

Art. 219-A. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios


poderão firmar instrumentos de cooperação com órgãos e entidades

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Introdução e Evolução Histórica da Propriedade Intelectual 51

públicos e com entidades privadas, inclusive para o compartilhamento


de recursos humanos especializados e capacidade instalada, para a
execução de projetos de pesquisa, de desenvolvimento científico e
tecnológico e de inovação, mediante contrapartida financeira ou não
financeira assumida pelo ente beneficiário, na forma da lei.
Art. 219-B. O Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação
(SNCTI) será organizado em regime de colaboração entre entes, tanto
públicos quanto privados, com vistas a promover o desenvolvimento
científico e tecnológico e a inovação.
§ 1º Lei federal disporá sobre as normas gerais do SNCTI.
§ 2º Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios legislarão
concorrentemente sobre suas peculiaridades. (BRASIL, 2015, art. 219
A e B)

O reforço veio por meio da regulamentação prevista no


Decreto n. 9.283, de 2018, que objetiva a capacitação, a autonomia
tecnológica e o desenvolvimento do sistema produtivo nacional e
regional. Todos esses fatores contribuem para que o Brasil, como
país, fortaleça a política pertinente à propriedade intelectual e à
transferência de tecnologia.

A Temporalidade da Propriedade Intelectual


Como já mencionado, o direito relativo à propriedade
intelectual possui uma dimensão temporal, ou seja, a exclusividade
do titular do direito é válida por determinado tempo. O prazo de
validade da forma de proteção, requerido para cada modalidade
da propriedade intelectual, é definido no Brasil pelas leis
correspondentes.
No caso dos bens intangíveis pertinentes à propriedade
industrial, os prazos são regidos pela Lei n. 9.279, de 1996,
ou seja, pela Lei da Propriedade Industrial (LPI). Cada ativo
intangível possui cláusula própria sobre a sua vigência. No caso
de patentes de invenção, o artigo 40 da LPI rege que seu prazo
de vigência é de 20 anos contados da data do depósito do pedido

Volume II
52 Introdução e Evolução Histórica da Propriedade Intelectual

de patente, não sendo possível a sua prorrogação. No entanto, a


patente de modelo de utilidade vigora, por lei, pelo prazo de 15
anos, também contados da data de depósito, não sendo possível
sua prorrogação.
As marcas, tal qual o desenho industrial, também são
abarcadas pela LPI. A marca, conforme artigo 133 da LPI, “[...]
vigorará pelo prazo de 10 (dez) anos, contados da data da concessão
do registro, prorrogável por períodos iguais e sucessivos [...]”
(BRASIL, 1996, art. 133). Semelhante é o prazo de vigência da
concessão do desenho industrial, ditado pelo artigo 108 da LPI,
10 (dez) anos contados da data do depósito, no entanto difere-
se pelo aspecto da prorrogação, pois é apenas prorrogável por 3
(três) períodos sucessivos de 5 (cinco) anos cada.
A topografia de circuitos integrados, cuja proteção à
propriedade intelectual é regida pela Lei n. 11.484, de 31 de maio
de 2007, define que a concessão do registro de topografia de
circuito integrado, que confere ao seu titular o direito exclusivo de
exploração, ou seja, de reproduzir, importar, vender ou distribuir,
será “[...] por 10 (dez) anos contados da data do depósito ou da 1a
(primeira) exploração, o que tiver ocorrido primeiro” (BRASIL,
2007, art. 35).
Por outro lado, o prazo de vigência pode variar com aspectos
bem específicos intrarrelacionados à modalidade da propriedade
intelectual. É o caso da proteção de cultivares, instituída pela Lei
n. 9.456, de 25 de abril de 1997, a qual vincula os prazos à data
da primeira comercialização, iniciando-se na data de concessão
do Certificado Provisório de Concessão, e diferencia-os quanto
às espécies vegetais: 18 anos para videiras, árvores frutíferas,
árvores florestais e árvores ornamentais; e 15 anos para as demais
(BRASIL, 1997).
No caso dos direitos autorais, os prazos de vigência da
proteção variam em decorrência do tipo de direito autoral, se

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Introdução e Evolução Histórica da Propriedade Intelectual 53

moral ou patrimonial, se proteção ao direito de autor ou proteção


aos direitos conexos. Segundo a Lei n, 9.610, de 19 de fevereiro
de 1998, “Os direitos patrimoniais do autor perduram por setenta
anos contados de 1° de janeiro do ano subseqüente ao de seu
falecimento” (BRASIL, 1998, art. 41). Por outro lado, os direitos
morais do autor “[...] são inalienáveis e irrenunciáveis” (BRASIL,
1998, art. 27).
Como se pode constatar, os prazos de vigência de cada
instituto da propriedade intelectual são próprios e variam de
acordo com suas peculiaridades.

Considerações Finais
A Propriedade Intelectual pode ser conceituada sob as
diferentes concepções e é definida, de forma clássica, como o
direito relativo à criação humana nos diversos campos ou áreas do
conhecimento, seja literário, artístico e científico, e das tecnologias.
Ao longo do tempo a legislação pertinente à propriedade
intelectual foi sendo aperfeiçoada em nível internacional e
nacional. A Constituição Federal do Brasil é considerada avançada
quanto aos princípios relacionados à propriedade intelectual e
tem, em tempos recentes, evoluído ainda mais.

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54 Introdução e Evolução Histórica da Propriedade Intelectual

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à propriedade intelectual das topografias de circuitos integrados,
instituindo o Programa de Apoio ao Desenvolvimento
Tecnológico da Indústria de Semicondutores – PADIS e o
Programa de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico da
Indústria de Equipamentos para a TV Digital – PATVD; altera
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Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Acordos Internacionais Relacionados
à Propriedade Intelectual

Kelly Lissandra Bruch


Patricia de Oliveira Areas
Adriana Carvalho Pinto Vieira

Resumo: O objetivo do presente capítulo é analisar a origem e a história dos


acordos internacionais; analisar os acordos internacionais atualmente vigentes,
especialmente aqueles nos quais o Brasil é signatário e aqueles que tenham maior
relevância internacional e compreender como se deu a internalização dos referidos
acordos internacionais no ordenamento jurídico brasileiro. Para tanto, o presente
artigo foi organizando em três partes com o propósito de abranger os principais
aspectos relacionados à propriedade intelectual. Nesse sentido, o texto começa
abordando a história dos acordos internacionais, dos acordos internacionais vigentes
e sua internalização no Brasil referente aos bens intelectuais que têm como elemento
diferenciador a originalidade: direitos autorais e conexos, conhecimentos tradicionais
e programas de computador. Em seguida, serão abordados sob o mesmo enfoque
os bens intelectuais que têm como elemento diferenciador a novidade: patentes de
invenção e modelo de utilidade, desenho industrial proteção de cultivares e topografia
de circuitos integrados. Por fim, na sequência, serão abordados os bens intelectuais
que têm como elemento diferenciador a distinguibilidade: as indicações geográficas e
as marcas. É possível verificar ao longo deste trabalho o grande número e a amplitude
de acordos internacionais que têm como foco os direitos de propriedade intelectual.
Contudo, deu-se especial destaque para três: A Convenção da União de Paris para a
Proteção da Propriedade Industrial; a Convenção da União de Berna para a Proteção
de Obras Artísticas e Literárias e, notadamente; o Acordo sobre Aspetos Relacionados
à Propriedade Intelectual e ao Comércio, o qual efetivamente trouxe o debate da
propriedade intelectual para os holofotes internacionais.

Abstract: The purpose of this chapter is to analyze the origin and history of
international agreements related to intellectual property; to analyze the international
agreements currently in force, especially those in which Brazil is a signatory and those
that have greater international relevance, as well as to understand how the international
agreements were internalized in the Brazilian legal system. To this end, this article has
been organized in three parts to cover the main aspects related to intellectual property.
In this sense, the first deals with the history of international agreements, current
international agreements and their internalization in Brazil concerning intellectual
property, which has as its distinguishing feature originality: copyright and related rights,
60 Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual

traditional knowledge and computer programs. In the second, intellectual property was
approached under the same way as novelty: patents of invention and utility model,
industrial design, plant variety protection and topography of integrated circuits. Lastly,
in the third one, the intellectual property was distinguished under the same approach,
which distinguishes elements: geographical indications and trademarks. Throughout
this work one can verify the large number and range of international agreements that
focus on intellectual property rights. However, particular attention was paid to three:
The Paris Union Convention for the Protection of Industrial Property, the Berne
Union Convention for the Protection of Artistic and Literary Works and, in particular,
the Agreement on Intellectual Property and Trade Related Aspects, which effectively
brought the intellectual property debate to the international spotlight.

Introdução
A propriedade intelectual, considerando sua característica
de “[...] atribuir status de propriedade a produtos da mente
[,] é muito antiga” (SHERWOOD, 1992, p. 26). Por exemplo,
os sacerdotes do Egito guardavam, por meio de segredo, seus
conhecimentos, o que lhes permitia prever as enchentes do
Rio Nilo. Também em Roma e na Grécia existiam formas de
proteger marcas e invenções, ainda que as marcas, por exemplo,
tivessem uma proteção com caráter mais de representação do que
patrimonial (BASSO, 2000, p. 66).
Na Idade Média também havia formas de proteção das
marcas que identificavam ceramistas e talhadores, assim como
os segredos dos artesões, até a proteção contra cópias das
marcas (signum, bulla) das corporações. Também eram concedidos
privilégios às invenções, por ato pessoal e discricionário do
monarca.
A preocupação com a proteção internacional das criações
passa a tomar força com as ideias da Revolução Francesa, somadas
ao processo de industrialização da Europa. Tanto criadores como
autores começam a perceber que a proteção dada pelas normas
de direito interno já não era suficiente para suas demandas, ainda
mais considerando as características imateriais dessas criações

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual 61

(conhecimentos, ideias expressas e aplicadas), que permitiam uma


circulação além das fronteiras nacionais (BASSO, 2000, p. 73).
Interessante observar que as demandas por uma proteção
internacional para as criações humanas, tendo como principal
objetivo a garantia legal de uma exclusividade de mercado, surgem
com a própria inserção da Ciência & Tecnologia (C&T) no
cotidiano da sociedade. Daí a importância da Revolução Francesa
e das Revoluções Industriais para o próprio desenvolvimento da
propriedade intelectual.
Esse é o foco do presente capítulo, entender a origem
e a história dos acordos internacionais; analisar os acordos
internacionais atualmente vigentes, especialmente aqueles nos
quais o Brasil é signatário e os que tenham maior relevância
internacional; entender o processo de internalização dos referidos
acordos internacionais no ordenamento jurídico brasileiro.
Para tratar dos acordos internacionais e do marco legal
que regula os direitos de propriedade intelectual, é necessário
definir o que é esse direito. A propriedade intelectual constitui-
se do conjunto de princípios e regras que regulam a aquisição, o
uso, o exercício e a perda de direitos e de interesses sobre ativos
intangíveis diferenciadores que são suscetíveis de utilização no
comércio. Ressalta-se que neste artigo não se tratará da discussão
acerca da denominação “propriedade intelectual”, na qual se
debate se esta retrataria, sob esse título, um direito de propriedade
civilista1 ou, se o mais adequado seria o uso de “direito intelectual”,
abarcando assim um direito de exclusiva, que não seria nem um
direito pessoal, nem um direito de obrigação e, tão pouco, um
direito real2. Contudo, é importante que se tenha em mente essa
discussão.

1
Esta posição é defendida por Barbosa (2012), entre outros.
2
Esta posição é sustentada por Ascensão (1997), entre outros.

Volume II
62 Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual

Tradicionalmente o direito de propriedade intelectual é


apresentado dividindo-se em Direito Autoral, o qual englobaria
os direitos autorais e conexos e a proteção aos programas de
computador; e em Propriedade Industrial, a qual comportaria
as marcas, as patentes e os desenhos industriais. Ao lado dessas
duas espécies, estariam os direitos sui generis, como a proteção
de cultivares, as topografias de circuitos integrados, as indicações
geográficas, etc. não sendo unânime esse rol. Essa divisão origina-
se dos dois acordos internacionais basilares da propriedade
intelectual no mundo, quais sejam: Convenção União de Paris
para a Proteção da Propriedade Industrial (CUP), de 1883; e
Convenção União de Berna para a Proteção das Obras Artísticas
e Literárias (CUB), de 1886.
A seguinte representação constante da Figura 1 busca
demonstrar como classicamente a Propriedade Intelectual é
dividida.

Figura 1 – Classificação da propriedade intelectual

Fonte: Elaborada pelas autoras deste capítulo (2018)

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual 63

Contudo, com a promulgação do Acordo sobre os


Aspectos de Direito de Propriedade Intelectual relacionados com
o Comércio (TRIPS, em inglês), em 1994, essa clássica divisão
parece perder a força explicativa, em face do surgimento de
outros inúmeros direitos que podem ser classificados como de
propriedade intelectual.
É em face da necessidade de uma teoria explicativa que
se resgata a teoria trazida por Tullio Ascarelli (1970), como uma
forma alternativa de compreensão de todos os institutos que são
abarcados pela propriedade intelectual. Nessa teoria, a propriedade
intelectual abarca a proteção a ativos intangíveis diferenciadores
que são suscetíveis de utilização no comércio. Ou seja, não abarca
todos os ativos intangíveis, mas somente aqueles que servem de
elementos de diferenciação entre concorrentes. E é em face dos
ativos intangíveis diferenciadores que se cria essa classificação,
mediante a concepção dos seguintes elementos diferenciadores:
novidade – que diferencia quanto ao tempo; originalidade – que
diferencia quanto ao autor; e distinguibilidade – que diferencia
quanto ao objeto3.
Assim, o bem intelectual que é protegido pelo direito
de propriedade intelectual tem seu embasamento no elemento
diferenciador que fundamenta a natureza de sua proteção. Com
base nessa concepção inicial, os elementos diferenciadores foram
agregados da seguinte forma:

3
Esse conceito foi trazido por Nuno Tomaz Pires de Carvalho na palestra
“Propriedade Intelectual” proferida no Programa de Pós-Graduação em
Direito da UFSC, em Florianópolis, em 22 de maio de 2004. Aqui se traz à tona
a teoria de Tulio Ascarelli expressa na publicação Teoría de la concurrencia y de los
bienes inmateriales, de 1970.

Volume II
64 Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual

Figura 2 – Elementos diferenciadores da proteção por propriedade intelectual

Fonte: Bruch (2018)

Os elementos diferenciadores quanto à novidade têm no


tempo sua fundamentação, ou seja, aquilo que é novo em relação
ao que já se encontra no comércio, que apresenta características de
novidade e, em regra, é valorizado exatamente por ser novo. Esse
é o elemento agregador das criações técnicas, que são passíveis
de proteção mediante patentes de invenção, patentes de modelo
de utilidade, registro de desenho industrial, proteção de novas
cultivares e de cultivares essencialmente derivadas, registro de
topografia de circuitos integrados. Outros bens intelectuais cuja
proteção venha a ser regulada e que tenham como fundamento
a novidade poderão aqui encontrar um escopo de proteção
adequado.
Os elementos diferenciadores com relação à originalidade
têm na figura do criador sua fundamentação, a qual surge a partir
das criações intelectuais de um ou mais autores. Sua valorização
e o elemento que diferencia e garante a proteção tem como foco
a característica da originalidade. Sem ser original, sua proteção
perderia sua razão de ser. Assim, a originalidade é o elemento
diferenciador abarcado pelos direitos autorais e direitos conexos
aos direitos autorais, pelo registro de programas de computador

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual 65

e, também, pode ser um elemento agregador dos conhecimentos


tradicionais.
Os elementos diferenciadores com relação à distinguibilidade
tem no uso dos signos distintivos seu fundamento. Ou seja, um
determinado signo se torna um bem intelectual se ele abarca um
elemento distintivo que o caracterize e o diferencie, de acordo
com a sua funcionalidade. Nesse sentido, é a distinguibilidade que
fundamenta a proteção de signos como as indicações geográficas,
subentendendo-se as indicações de procedência e denominações
de origem, a reputação dos comerciantes e as marcas, sejam estas
de produtos e serviços, coletivas ou de certificação, os nomes de
domínio e os nomes empresariais.
Assim, para cada espécie de direito que forma o gênero
da propriedade intelectual, há elementos diferenciados que o
distinguem e agrupam.
Em face dessa forma de classificação e de caracterização,
optou-se em organizar o presente artigo, cujo foco está nos
Acordos Internacionais e nos Marcos Legais de Propriedade
Intelectual no Brasil, com base nesses elementos diferenciadores.
Para tanto, o presente capítulo foi organizando em três partes
visando abranger os principais aspectos relacionados à propriedade
intelectual. Nesse sentido, na primeira parte tratou-se da história
dos acordos internacionais, dos acordos internacionais vigentes
e sua internalização no Brasil referente aos bens intelectuais,
que têm como elemento diferenciador a originalidade: direitos
autorais e conexos, conhecimentos tradicionais e programas
de computador. Na segundo parte foram abordados sob o
mesmo enfoque os bens intelectuais que têm como elemento
diferenciador a novidade: patentes de invenção e modelo de
utilidade, desenho industrial proteção de cultivares e topografia
de circuitos integrados. Por fim, na terceira parte foi abordado sob
o mesmo enfoque os bens intelectuais que têm como elemento

Volume II
66 Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual

diferenciador a distinguibilidade: as indicações geográficas e as


marcas.

Originalidade: história dos acordos internacionais,


acordos internacionais vigentes e sua
internalização no Brasil
Como explicado anteriormente, um dos requisitos de
proteção para alguns dos ativos de propriedade intelectual é a
originalidade. Original é aquela obra feita pela primeira vez pelo
autor, que não é cópia de qualquer outra. Assim se entende do
artigo 5º, VII, “f ”, da Lei n. 9.610, de 19 de fevereiro de 1998
(Lei de Diretos Autorais), obra originária é a “criação primígena”.
Não se fala aqui de uma novidade absoluta, mas sim de
criação que possa ser diferenciada das demais, individualizada
conforme alega o autor ou dizem os autores, por suas
características originais (PARANAGUÁ; BRANCO, 2009, p.
24). Ascensão (1997), apesar de utilizar o termo novidade para
se referir à originalidade, faz distinção entre novidade objetiva e
subjetiva, complementando que esta última seria o mesmo que
“originalidade”.
Assim, distingue-se a originalidade (novidade subjetiva) da
novidade objetiva a partir da individualidade da criação. Para ele,
a originalidade consiste na “tarefa de criação, sempre pessoal”, a
qual “implica que o contributo do espírito fique impresso na obra
criada” (ASCENSÃO, 1997, p. 40). A novidade objetiva, por sua
vez, é requisito para concessão de uma patente de invenção, que
será tratada em item específico.
Entre os ativos de propriedade intelectual que têm na
originalidade o principal requisito de proteção, é possível
destacar: direitos autorais, envolvendo os direitos de autor e
direitos conexos; conhecimentos tradicionais e programa de

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual 67

computador. Outros ativos têm a originalidade entre os seus


requisitos, como topografia de circuito integrado e desenho
industrial. Entretanto, nesta subseção, serão analisados apenas os
que têm na originalidade o principal requisito.
A preocupação de uma proteção internacional da
propriedade intelectual surge a partir dos ideais da Revolução
Francesa somado ao processo de industrialização ocorrida na
Europa (BASSO, 2000, p. 73).
Assim, a análise foi realizada conforme cada espécie de
ativo intelectual protegido por propriedade intelectual.

Direitos Autorais: direitos de autor e direitos


conexos
Quando se trata de direitos autorais, faz-se referência aos
direitos de autor com os direitos conexos, conforme explicitado
pelo artigo 1º da Lei de Direitos Autorais. Direitos de autor são
aqueles oriundos da criação primígena de uma obra pelo autor
ou autores. Já os direitos conexos envolvem os direitos dos
intérpretes, artistas, editores, produtores, radiodifusores e das
demais pessoas que de alguma forma utilizam a obra do autor na
sua execução, difusão, propagação, entre outras ações.
A proteção dos direitos autorais passa a ganhar força,
principalmente no ocidente, com a criação da imprensa por
Gutenberg, no século XV, o que ocasionou a redução de custos e
o aumento no número de cópias (GANDELMAN, 2001, p. 30).
Contudo, importante mencionar que já existiam outras formas
de proteção no Oriente. Lipszyc (2006, p. 28) relata que na China
e na Coreia, por exemplo, já eram conhecidas outras formas
de impressão, sendo que a noção de propriedade já havia sido
reconhecida de diferentes maneiras antes de Gutenberg.

Volume II
68 Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual

A partir da criação de Gutemberg, privilégios passam a ser


concedidos pelas autoridades da época. Exemplos de privilégios
foram os concedidos em Veneza: em 1469, a Giovanni de Spira;
em 1486, a Marco Antonio Sabellico; em 1492, a Pier Francesco
Revenna; em 1495, ao impressor Aldo, para editar as obras de
Aristóteles (BASSO, 2000).
Gradativamente esses privilégios passam a ser direito
subjetivo dos cidadãos por meio de legislações nacionais.
A primeira Lei sobre Direito de Autor foi em 1710, na Grã-
Bretanha, sancionada pela Rainha Ana. O objetivo era conceder
copyright em favor dos autores e não dos editores. Na Dinamarca, a
Lei de Direito de autor surgiu em 1741. Em 1777 foram abolidos
os privilégios perpétuos na França. Nos Estados Unidos, a Lei
de copyright surgiu em 1790. Em 1791, a França sancionou sua lei,
sendo considerada, à época, “a mais sagrada, a mais legítima e
mais pessoal das propriedades”4, atribuindo também aos autores
dramáticos durante sua vida e também aos seus herdeiros cinco
anos após a morte do autor. Em 1793, a França ampliou direitos
para autores de escritos, compositores, arquitetos, escultores,
pintores, desenhistas, gravadores de quadros e desenhos, podendo
também ceder seus direitos (BASSO, 2000, p. 72).
A preocupação com a proteção além do território dos Países
surge a partir da prática comum da contrafação nesse ambiente.
Havia uma espécie de consenso entre os editores que aquele
que primeiro publicasse determinada obra em determinado País
teria privilégio na publicação. Contudo, não havia uma regra
válida além das fronteiras nacionais para a proteção dos autores
e suas obras. Diante desses desafios, surgiu um movimento para
a proteção internacional das obras por meio de direitos autorais,
principalmente por parte dos Países com autores mais copiados
(BASSO, 2000; AFONSO, 2009).

4
“Las plus sacrée, la plus legitime, la plus personelle des propriétés” (BASSO, 2000, p. 72)

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual 69

Uma das ações foi a Conferência Internacional de Paz de


Aix-la-Chapelle, em 1745, encabeçada por Elie Luzac (editor
holandês). A intenção era propor um tratado de proteção contra
contrafação, mas não houve muita aceitação. Também se propôs
acordos entre países de mesma língua e nação. Entre 1837 e
1840 houve discussões sobre o tema nos órgãos internos dos
Países. Alguns Estados passaram a admitir proteção para autores
estrangeiros em suas normativas internas, assim como prever
disposições especiais de reciprocidade (BASSO, 2000, p. 74;
AFONSO, 2009, p. 6).
Em 1858, no Congresso de Bruxelas, foi proposto o
reconhecimento internacional da propriedade de obras literárias
e artísticas em favor de seus autores, ainda que não houvesse a
reciprocidade. Em 1878 foi realizado o Congresso da Propriedade
Literária e da Propriedade Artística, conhecido como Congresso de
Paris, promovido por Victor Hugo e Meissonier. Nesse momento
foi criada a Associação Literária e Artística Internacional.
Em 1882, essa Associação organizou o Congresso em Roma,
no qual houve a inauguração de reconhecimento internacional.
Nesse momento, duas correntes para proteção surgiram: a
criação de lei-tipo; e a criação de uma convenção-modelo. Venceu
a segunda proposta. Em 1883 foi realizada uma Conferência em
Berna, seguidas por outras duas em 1884 e 1885. Então em 9
de setembro de 1886 foi finalizada a Convenção da União para
Proteção das Obras Literárias e Artísticas, mais conhecida como
Convenção da União de Berna (CUB), com o foco de criar uma
verdadeira união para proteger os direitos de autor no âmbito
internacional (BASSO, 2000, p. 74).
Surgiu, então, o primeiro acordo internacional envolvendo
a proteção dos direitos autorais5. Em 1892 foi criado o Bureaux

5
O tema de propriedade industrial também é foco de tratativas internacionais,
como se verá nas seções seguintes.

Volume II
70 Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual

Internationaux Réunis Pour la Protection de la Propriété


Intellectuelle (BIRPI), cujo principal objetivo era fazer a gestão
das convenções unionistas, tanto de direitos autorais (CUB) como
de propriedade industrial (Convenção da União de Paris – CUP)
(BASSO, 2000).
Promulgada pelo Brasil a última revisão de Paris, em 1971,
por meio do Decreto n. 75.699, de 6 de maio de 1975, a CUB
possui três princípios básicos:
1 – Tratamento nacional: a obra originária de um dos Países
Unionistas será protegida como se fosse obra originária em cada
Estado contratante da CUB. Entende-se por obra originária de
um País unionista cujo autor seja nacional deste País, ou que
tenha sido publicada a primeira vez neste País (artigo 5º da CUB).
Conforme alega Barbosa (2003, p. 173):

Seu princípio básico, como na CUP, é o da assimilação do unionista ao


nacional – o do tratamento nacional. A Convenção de Berna aplica-
se não no país do autor (de que é nacional ou residente habitual),
mas à proteção dos autores de países unionistas nos demais, ou que
tenham publicado pela primeira vez, sua obra num país da União. A
definição do que seja publicação - que varia conforme a natureza da
obra - presume que esta seja posta à disposição do público, de maneira
a atender razoavelmente às suas necessidades: por exemplo, no caso de
obra cinematográfica, que tenha havido distribuição aos exibidores. De
outro lado, determina-se o país de origem da obra através de uma série
de critérios do art. 5, alínea 4 da Convenção de Berna.

2 – Proteção automática: a proteção da obra não deve ser


subordinada a qualquer formalidade para tanto.
3 – Independência da proteção: a obra é protegida
independentemente se ela é protegida em seu País de origem.
Entretanto, se o País unionista prevê um prazo de proteção maior
que o mínimo garantido pela CUB, poderá a obra oriunda de outro

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual 71

País unionista ter sua proteção limitada ao prazo de proteção de


seu País de origem.
A CUB ainda prevê condições mínimas de proteção a
serem seguidas pelos Países unionistas:
1 – A proteção se estende a todas as criações do campo
literário, científico ou artístico, independentemente do modo de
expressão.
2 – Alguns direitos, dependendo das reservas dos Países,
dependerão de autorização prévia e/ou são direitos exclusivos do
autor/titular:

a) Direito à tradução.
b) Direito de realizar adaptações e arranjos.
c) Direito de representar e executar em público.
d) Direito de recitar e transmitir em público.
e) Direito de radiodifusão.
f) Direito de realizar uma reprodução, exceto pelos casos
previstos como limites aos direitos autorais.
g) Direito de adaptar uma obra para uma obra audiovisual.
h) Direitos morais, que envolvem o direito de reinvindicar
a paternidade de uma obra, de opor-se a qualquer
modificação, deformação ou alteração que possam
prejudicar a honra do autor.

3 – A CUB ainda estabelece prazo mínimo de proteção


à obra, que será de 50 (cinquenta) anos, contados a partir da
morte do autor. No caso de obras anônimas ou pseudônimas e
audiovisuais, o prazo de 50 anos será contato a partir do momento
que a obra tenha sido colocada à disposição do público de forma
lícita e legítima. No caso de obras de artes e fotográficas, o prazo
mínimo será de 25 anos contados a partir da realização da obra.

Volume II
72 Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual

Existe a previsão na CUB de certas limitações e exceções


ao exercício dos direitos autorais, principalmente no que se
refere aos direitos patrimoniais do autor. Tais limitações ou
exceções significam que determinadas ações poderão ser feitas
independentemente da autorização prévia do autor, e sem
necessidade de pagamento para tanto. A CUB utiliza o termo
“livre utilização” para tais casos de uso das obras. Esses casos
são:
1 – Reprodução das obras nos casos especiais, conforme
legislação de cada país, desde que essa “[...] reprodução não afete
a exploração normal da obra nem cause prejuízo injustificado aos
interesses legítimos do autor.” (art. 9º, CUB).
2 – Citações realizadas conforme os bons usos e na medida
justificada para a “finalidade a ser atingida”, sempre mencionando
o nome do autor e da fonte. (art. 10, CUB).
3 – Reprodução “[...] na imprensa, ou a radiodifusão ou
a transmissão por fio ao público, dos artigos de atualidade de
discussão econômica, política, religiosa, publicados em jornais ou
revistas periódicas, ou das obras radiofônicas do mesmo caráter”
(art. 10 bis, CUB).
4 – Gravações efêmeras, se autorizado pelas legislações
nacionais, com a finalidade de radiodifusão.
Outro ponto interessante da CUB é a previsão de condições
especiais para países em desenvolvimento, os quais podem utilizar-
se da “[...] licença obrigatória, não exclusiva e remunerada, para
o caso de traduções de uso escolar, universitário e de pesquisa”
(BARBOSA, 2003, p. 174). Ainda que o Brasil não tenha previsto
expressamente em sua legislação de direito autoral a possibilidade
de licença obrigatória ou compulsória (como ocorre com a
propriedade industrial), existe a possibilidade dessa previsão para
fins de equilíbrio das relações econômicas e de interesse público
no que tange às obras intelectuais (LEONARDI, 2014).

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual 73

Contudo, a estrutura da CUB era muito voltada ao sistema


europeu de proteção do autor. Isso fez com que alguns países,
entre eles os Estados Unidos, não aderissem de imediato a CUB,
passando a negociar outros tratados mais condizentes com seu
sistema de proteção, o chamado copyright.6
Bittar (2004, p. 9) relata essa diferenciação entre sistemas
legislativos de proteção e como isso influenciou a existência de
acordos internacionais. Ele subdivide os sistemas legislativos de
direitos autorais em três: individual, comercial e coletivo.
Individual (europeu ou francês) é o que se reflete na CUB,
tendo um caráter mais subjetivo, “[...] dirigido à proteção do
autor e consubstanciado na exclusividade que se lhe outorga,
permitindo-lhe a participação em todos os diversos meios de
utilização econômica.” (BITTAR, 2004, p. 9).
Já o comercial foi o desenvolvimento nos Estados Unidos e
na Inglaterra, relacionando-se mais à proteção da cultura do país:
“[...] daí por que se volta para a obra em si, em posição objetiva”.
Segundo Bittar (2004, p. 9), o chamado copyright é concedido ao
titular, tendo como foco de proteção mais a obra que o autor, o
que se reflete a sistemática prevista na Convenção de Genebra,
firmada em 1952, e que será estudada posteriormente.
O sistema coletivo, por sua vez, é o que se encontra na
Rússia e nos “países sob sua égide”. A proteção é considerada
essencial para a expansão da própria cultura. “O Direito é
reconhecido para o alcance do progresso do socialismo, ficando
o respectivo regime jurídico sujeito à esquematização baseada na
Convenção de Berna.” (BITTAR, 2004, p. 9).
Alguns anos depois, nas Américas, surgiram as Convenções
Pan-americanas, que formaram o Sistema Internacional da

6
A título de exemplo, os Estados Unidos só aderiram à Convenção de Berna
em 16 de novembro de 1988, passando a viger no País em 1º de março de 1989,
após a Revisão de Paris de 1971.

Volume II
74 Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual

Propriedade Intelectual, geridas pela Organização dos Estados


Americanos (OEA). A primeira reunião aconteceu em 16 de
janeiro de 1889, em Montevidéu, da qual surgiram três acordos,
envolvendo marcas, patentes e propriedade literária e artística7.
As tratativas dessa reunião serviram de base para o Tratado do
México de 1902 sobre os temas envolvendo propriedade industrial,
no qual se previu a União Pan-americana, com inspiração
unionista. Em agosto de 1906 houve a Convenção Pan-americana
no Rio de Janeiro8, cujo foco era ampliar o Tratado do México e
criar dois escritórios: um em Havana, que teria jurisdição válida
no hemisfério norte; e outro no Rio de Janeiro, com jurisdição
para o hemisfério sul. Essas iniciativas não renderam frutos por
falta de ratificação dos 2/3 necessários. Outros acordos foram
negociados nos próximos anos, principalmente envolvendo
propriedade industrial. Em 1928 surgiu a Convenção de direito
internacional privado, de Havana, mais conhecida como Código
de Bustamante, que trata da matéria de direito internacional
privado, o qual, em seu artigo 115, prevê que a lei aplicável a
demandas, envolvendo propriedade intelectual e industrial, seria
a prevista em convênios internacionais especiais e, na falta desses
convênios, pelo direito local9. Em 1946 surgiu a nova Convenção
em Washington sobre “Direitos de Autor em Obras Literárias,

7
O Brasil participou das negociações, assinou, mas não ratificou, já que não
havia na legislação interna brasileira lei regulando a matéria (ASCENSÃO,
1997, p. 643).
8
Promulgada pelo Brasil por meio do Decreto n. 9.190, de 6 de dezembro de
1911.
9
O Código de Bustamante foi promulgado pelo Brasil por meio do Decreto n.
18.871, de 13 de agosto de 1929. Seu artigo 115 dispõe: “La propiedad intelectual
y la industrial se regirán por lo establecido en los convenios internacionales
especiales ahora existentes o que en lo sucesivo se acuerden. A falta de ellos,
su obtención, registro y disfrute quedarán sometidos al derecho local que las
otorgue.”

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual 75

Científicas e Artísticas”, revisando convenções anteriores10


(BASSO, 2000, p. 101).
Tais Convenções Pan-Americanas não obtiveram tanto
êxito na criação de um Sistema Interamericano de Propriedade
Intelectual, como era a pretensão da OEA.
Especificamente sobre a Convenção de Washington e o
termo final de desenvolvimento das convenções interamericanas,
Ascensão (1997) pontua que o pós-Segunda Guerra Mundial
foi o grande momento para as convenções interamericanas,
principalmente pela participação mais consolidada dos Estados
Unidos. Seu intuito, além de se consolidar no continente
americano, consolidando os dois sistemas existentes (direito
autoral e copyright) era criar um bloco para fazer frente à Convenção
de Berna. Contudo, após esse momento, os Estados Unidos
preferiram utilizar a Convenção de Genebra e assim chegou a
termo o desenvolvimento das convenções interamericanas sobre
a matéria neste momento11. Segundo Ascensão (1997, p. 643):

Os Estados Unidos da América, querendo consolidar por tratado as


vantagens que lhe advieram da posição de grande exportador de obras
intelectuais em que se viram constituídos, promoveram a aprovação
de uma Convenção Interamericana que substituísse as anteriores e
unificasse as técnicas diferentes em vigor no continente americano.
Queriam assim também fazer um bloco perante a Convenção de Berna,
que lhes não parecia utilizável.

10
Promulgada pelo Brasil por meio do Decreto n. 26.675, de 18 de maio de
1949.
11
Segundo Basso (2000, p. 104), as razões para tanto foram: baixo número
de países ratificantes; falta de preparação dos delegados; textos discutíveis e
disposições incompatíveis. Para Oliveira (2002, p. 26), “As várias convenções
pan-americanas não tiveram, porém, o êxito esperado nem a mesma repercussão
das convenções internacionais em razão do número inexpressivo de países
ratificantes, das constantes denúncias e de outros fatores. Isso se explica em
vista de que aos países é mais prudente aderir a acordos unionistas, do que
formar um direito regional, aplicável a um número limitado de países”.

Volume II
76 Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual

Fez-se efetivamente a Convenção, apesar das dificuldades, em


Washington, em 1946. Mas o direito interamericano não acusou
qualquer desenvolvimento depois disso, pois os Estados Unidos
preferiram usar como instrumento a Convenção Universal, [...],
em grande parte utilizando a experiência obtida na elaboração da
Convenção de Washington. Parece assim que a linha evolutiva das
convenções interamericanas tocou o seu termo.

Também houve os acordos bilaterais e até mesmo regionais


firmados sobre os temas. Um exemplo de tratado bilateral
envolvendo direitos autorais é a Convenção Literária, Científica e
Artística, firmada no Rio de Janeiro em 15 de dezembro de 1913,
entre Brasil e França12.
Após a Segunda Guerra Mundial (1939 a 1945), o
próprio direito internacional passou por várias transformações,
principalmente a partir da criação da Organização das Nações
Unidas (ONU), em 194513. E isso também impactou a propriedade
intelectual.
Em 1952 surgiu a Convenção Universal sobre Direito de
Autor, concluída em Genebra em 195214 e administrada pela
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e
a Cultura (UNESCO). A Convenção de Genebra foi revista em
1971, em Paris, com a CUB, e que, segundo Ascensão (1997, p.
641), “[...] é sensivelmente menos exigente que a Convenção
de Berna [...]”, muita mais adaptada ao sistema de copyright. Tal
convenção surge até para atender os anseios dos Países que têm
como sistema de proteção o copyright (BITTAR, 2004).

12
Promulgada pelo Brasil por meio do Decreto n. 12.662, de 29 de setembro
de 1917.
13
Sobre ONU, veja-se: ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. History
of the United Nations. Disponível em: http://www.un.org/en/sections/
history/history-united-nations/. Acesso em: 26 dez. 2018.
14
Promulgada pelo Brasil por meio do Decreto n. 48.458, de 4 de julho de 1960.
Sua revisão de 1971, em Paris, foi promulgada pelo Decreto n. 76.905, de 24 de
dezembro de 1975.

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual 77

A Convenção Universal sobre Direito de Autor, como já


explicado, foi uma forma de harmonizar os sistemas de proteção
do direito autoral e do copyright. Assim, disposições como direitos
morais do autor não constam no rol de condições mínimas de
proteção. O prazo de proteção, por exemplo, não poderá ser
inferior a 25 anos contados da morte do autor. Entre outras
diferenças se comparada a CUB.
Conforme afirma Barbosa (2003, p. 174), “[...] a Convenção
Universal, assinada entre os Estados Unidos e outros 23 países,
perdeu muito de sua importância após a adesão daquele país à
Berna”.
Em 1961 foi firmada a Convenção Internacional para
proteção aos artistas intérpretes ou executantes, aos produtores de
fonogramas e aos organismos de radiodifusão, conhecida como
Convenção de Roma. Foi firmada em Roma e administrada pela
UNESCO, pela Organização Mundial da Propriedade Intelectual
(OMPI) e pela Organização Internacional do Trabalho (OIT)15
(ASCENSÃO, 1997, p. 642). Foi a primeira convenção a tutelar,
de forma direta, os direitos conexos artistas intérpretes ou
executantes, dos produtores de fonogramas e dos organismos de
radiodifusão de forma mais ampla.
Em 1967 um marco importante foi a criação da Organização
Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI), por meio da
Convenção celebrada em Estocolmo16. A OMPI é um organismo
da ONU e conta, atualmente, com 191 membros, tendo sua
sede na cidade de Genebra, Suíça17. A OMPI, então, passou
15
Promulgada pelo Brasil por meio do Decreto n. 57.125, de 19 de outubro de
1965.
16
Promulgada pelo Brasil por meio do Decreto n. 75.541, de 31 de março de
1975.
17
Para mais informações sobre a OMPI, veja-se: ORGANIZAÇÃO
MUNDIAL DA PROPRIEDADE INTELECTUAL. La OMPI por dentro,
2018. Disponível em: https://www.wipo.int/about-wipo/es/ . Acesso em: 27
dez. 2018.

Volume II
78 Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual

a administrar tanto a CUB como a CUP e os demais acordos


internacionais multilaterais envolvendo propriedade intelectual.
Em 1971 foi concluída em Genebra a Convenção sobre
Proteção de Produtores de Fonogramas contra a Reprodução não
Autorizada de seus Fonogramas, que visa a “[...] instituir formas
de cooperação internacional contra o que se usa chamar ‘pirataria
do disco’” (ASCENSÃO, 1997, p. 642)18. Sua administração é feita
pela OMPI, OIT e UNESCO19. Para essa Convenção, fonograma
é a fixação exclusivamente sonora, independentemente do
suporte físico ou da forma como é feita. Deixa-se aberta para
que cada País faça a proteção de tais obras por direito autoral
ou por meio de uma legislação sui generis. A proteção mínima é
de 20 anos. Quanto às limitações, são as mesmas previstas com
relação aos autores. Também prevê a possibilidade de licenças
não voluntárias para determinados casos (ORGANIZAÇÃO
MUNDIAL DA PROPRIEDADE INTELECTUAL, 2018b).
Em Bruxelas, no ano de 1974, foi firmado o Convênio
de Bruxelas sobre a distribuição de sinais portadores de
programas transmitidos por satélites, administrado no âmbito
da OMPI. Segundo Ascensão (1997, p. 643), “[...] a entrada
em funcionamento de satélites de comunicação criava novos
problemas em matéria de direito de autor. Para esse efeito foi
assinada uma nova Convenção em Bruxelas, em 1974”20.
As Guerras Mundiais e, mais especificamente, após
essas guerras, não apenas a estrutura e o papel do direito

18
Promulgada pelo Brasil por meio do Decreto n. 76.906, de 24 de dezembro
de 1975.
19
Para mais informações sobre a Convenção de Fonogramas, veja-se:
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA PROPRIEDADE INTELECTUAL.
Convenio para la protección de los productores de fonogramas contra la
reproducción no autorizada de sus fonogramas. Disponível em: https://www.
wipo.int/treaties/es/ip/phonograms/. Acesso em: 27 dez. 2018.
20
Conforme as informações no site da OMPI, o Brasil firmou esta convenção
em 21 de maio de 1974. Mas não consta ratificação.

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual 79

internacional modificaram, mas todas as relações entre os países


e, principalmente, as relações comerciais internacionais. E isso
impactou o sistema internacional de propriedade intelectual21.
A partir da década de 1960 começaram as reivindicações dos
países não industrializados (conhecidos como “países de terceiro
mundo”) por uma “Nova Ordem Econômica Internacional”, na
qual tivesse um tratamento diferenciado a esses países para que
pudessem ter direito ao exercício da soberania econômica. Tais
reivindicações começaram na I Conferência das Nações Unidas
para o Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), em abril de
1955. O Brasil teve um papel importante nesse movimento.
Em 1965 criou-se um capítulo especial para os países em
desenvolvimento no General Agreementon Tariffs and Trade (GATT),
em português, Acordo Geral de Tarifas e Comércio. Em 1971 foi
incluído capítulo especial na Revisão de Paris, da CUB. Também
em 1974 houve uma proposta iniciada pela Índia para revisão
da CUP, tendo como parâmetro esse movimento dos países em
desenvolvimento (BARBOSA, 2003, p. 139 et seq.).
Foram diversos encontros, conferências e negociações para
a flexibilização dos direitos de propriedade intelectual para os
países em desenvolvimento. Em fevereiro de 1980, os avanços
conquistados até então tiveram uma grande perda: os países
desenvolvidos, mais especificamente Estados Unidos, “[...] não
quiseram sequer começar a discutir a revisão” (BARBOSA, 2003,
p. 143). Segundo o autor:

A hora não era propícia. Depois de cinco anos, o Código de Conduta


de Transferência de Tecnologia aproximava-se do impasse definitivo;
em inúmeras negociações similares, o mesmo acontecia. Desde então,
o diálogo Norte/Sul, que já estava faisandé, deteriorou-se por completo,

21
Sobre o assunto, veja-se: BARBOSA, Denis Borges. Uma introdução à
propriedade intelectual. 2 ed. rev. atual., 2003. Disponível em: http://www.
denisbarbosa.addr.com/arquivos/livros/umaintro2.pdf. Acesso em: 27 dez.
2018.

Volume II
80 Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual

chegando no nível mais baixo possivelmente na conferência da United


Nations Industrial Development Organization (UNIDO), realizada
em 1981, em Nova Delhi. Nada melhorou durante a segunda sessão
da Conferência Diplomática em Nairobi, em setembro e outubro do
mesmo ano; outra sessão em Genebra, em 1982, foi seguida da quarta
e última, no mesmo local, em 1984; em seguida, pereceu o exercício.
(BARBOSA, 2003, p. 143-144)

Basso (2000) explica também esse impasse a partir das


divergências existentes entre os países sobre a visão que tinham
do papel e da função da propriedade intelectual:

O debate, nas décadas de 70 e 80, partia de duas perspectivas. Para os


países em desenvolvimento, a propriedade intelectual é um bem público
que deve ser usado para promover o desenvolvimento econômico; para
os países desenvolvidos é um direito privado que deve ser protegido
como qualquer outra propriedade tangível.

Nessa época, então, as negociações do GATT (1947)


seguiam. Em 1982 incluíram o tema dos direitos de propriedade
intelectual relacionados ao comércio no GATT e na Rodada do
Uruguai em 1986. Em 1994 foi criada a Organização Mundial
do Comércio (OMC), tendo como Anexo 1.C do Acordo
Constitutivo, resultado da ata final da Rodada do Uruguai, o
Acordo sobre Aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual
relacionados ao Comércio, mais conhecido por sua sigla em inglês
TRIPS22 (BASSO, 2000).
A partir de então o tema propriedade intelectual é discutido
em dois principais foros internacionais: OMPI e OMC. Conforme
diz Barbosa (2010, p. 4):

A Convenção de Berna foi, em grande parte, acolhida pelo acordo


TRIPS, outro instrumento internacional, de 1994, que vem a ser um
dos anexos da Convenção da Organização Mundial de Comércio
22
A ata final da Rodada do Uruguai, constitutiva da OMC, foi promulgada pelo
Brasil por meio do Decreto n. 1.355, de 30 de dezembro de 1994.

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual 81

(OMC). Devido a uma série de movimentos internacionais de caráter


político que se exerceram a partir dos anos 60 até o início dos anos 80,
a discussão da Propriedade Intelectual foi deslocada da Organização
Mundial de Propriedade Intelectual (OMPI) e da Unesco para um novo
órgão que veio a ser a Organização Mundial de Comércio.

O TRIPS, com relação aos direitos autorais, em seu artigo


9º, remete a proteção às disposições da CUB, com exceção do
artigo 6º bis, que trata especificamente dos direitos morais do
autor. Esse é o principal ponto no qual há divergência entre os
sistemas dos direitos autorais e do copyright23. No que tange aos
direitos autorais em si, o TRIPS retrata maior preocupação com
os temas de programa de computador e base de dados, não tanto
com os temas gerais de direitos autorais. De acordo com Barbosa
e Barbosa ([2018], p. 3):

[...] o que os TRIPS efetivamente fizeram no que pertine a direitos


autorais foi levá-los a determinado grau de proteção, em especial para
bases de dados e programas de computador, e menos para direitos
semelhantes como relativos a fonogramas. Entretanto, o capítulo
pertinente não inovou tanto quanto de patentes. Na verdade, a maioria
das mudanças significativas resultou dos acordos elaborados na OMPI,
pós TRIPS em 1996.

O TRIPS, então, tornou obrigatória para os Países Membros


a observação da CUB com a revisão de 1971. Também trouxe a
previsão da proteção da base de dados, desde que a organização
de tais dados, em si, constitua-se em obra uma original.
Em 1989, em Genebra, foi celebrado o Tratado sobre
o registro internacional de obras audiovisuais, no âmbito da
OMPI24. Os objetivos desse registro são: aumentar a segurança
23
Sobre o impacto do TRIPS para a proteção internacional dos direitos autorais,
veja-se: BARBOSA, Denis Borges; BARBOSA, Ana Beatriz Nunes. Direitos
autorais e TRIPS. [2018]. Disponível em: http://denisbarbosa.addr.com/
arquivos/200/propriedade/direitos_autorais.pdf. Acesso em: 28 dez. 2018.
24
Promulgada pelo Brasil por meio do Decreto n. 972, de 4 de novembro de

Volume II
82 Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual

jurídica nas transações dos direitos sobre tais obras; promover


a criação das obras audiovisuais e o intercâmbio internacional
delas; e combater a pirataria (LIPSZYC, 2006, p. 800).
Em 1996 dois importantes acordos internacionais
envolvendo direitos autorais foram firmados no âmbito da
OMPI. A Convenção da OMPI sobre o Direito de Autor é
mais conhecida por sua sigla em inglês WIPO Copyright Treaty
(WCT); e a Convenção da OMPI sobre Artistas e Produtores
de Fonogramas é mais conhecida por sua sigla em inglês WIPO
Performances and Phonograms Treaty (WPPT). Segundo
Ascensão (1997, p. 644), tais acordos são reflexos das tendências
mais recentes “[...] de procurar abranger os novos problemas
através de convenções específicas, sem atingir o corpo das antigas
convenções, que se tornaram difíceis de modificar”. O Brasil não
faz parte de nenhum desses dois tratados.
A WCT tem como intuito ampliar as exigências já previstas
na CUB, sem modificá-la, principalmente no que se refere aos
novos desafios trazidos pelo acesso às obras por meio da internet.
Também envolve direitos sobre programa de computador e base
de dados (ASCENSÃO, 1997, p. 645).
A WPPT tem como foco atribuir aos artistas e produtores
de fonogramas os mesmos direitos atribuídos aos autores tanto
quanto é possível. Ascensão (1997, p. 646) destaca as duas
principais diferenças dessa Convenção comparada à Convenção
de Roma de 1961: “1) O Tratado é exclusivamente da OMPI:
a UNESCO e a OIT ficam de fora; 2) O Tratado diz respeito
só a artistas e a produtores de fonogramas: os organismos de
radiodifusão ficam de fora”.
Ademais esses acordos internacionais, em sua grande
parte, multilaterais, há que mencionar o movimento chamado
TRIPS Plus, que são outros acordos multilaterais e bilaterais,
1993.

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual 83

envolvendo também aspectos de livre comércio, em sua maior


parte estabelecido pelos Estados Unidos, nos quais constam
regram mais rígidas de proteção da propriedade intelectual do que
as existentes nos acordos multilaterais já existentes, incluindo o
próprio TRIPS. Daí o termo TRIPS Plus (ARBIX, 2009; BASSO,
2000).
Conforme alega Barbosa (2003, p. 154),

[o] Tratado de Direitos Autorais da OMPI, [atua] como subsidiário


à Convenção de Berna, cuidando especificamente dos programas de
computadores e bases de dados, da medidas tecnológicas de proteção, do
direito de distribuição e de locação de software, obras cinematográficas
e fonográficas; e o Tratado de Direitos Conexos (PPT).

Em suma, os principais acordos internacionais vigentes


sobre direitos autorais são:25

Quadro 1 – Principais acordos internacionais vigentes relacionados a direitos autorais

Acordo Internacional Ano Organismo


Convenção da União de Berna (CUB)25. 1886 BIRPI/OMPI
Convenção Universal sobre Direito de Autor. 1952 UNESCO
Convenção Internacional para proteção
aos artistas intérpretes ou executantes, aos
OMPI/
produtores de fonogramas e aos organismos 1961
UNESCO/OIT
de radiodifusão, conhecida como Convenção
de Roma.
Convenção sobre Proteção de Produtores
OMPI/
de Fonogramas contra a Reprodução não 1971
UNESCO/OIT
Autorizada de seus Fonogramas.
Convênio de Bruxelas sobre a distribuição de
sinais portadores de programas transmitidos 1974 OMPI
por satélites.

25
Promulgada pelo Brasil, pela primeira vez, após a primeira revisão em Berlim.

Volume II
84 Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual

Acordo Internacional Ano Organismo


Acordos sobre Aspectos dos Direitos de
Propriedade Intelectual relacionados ao 1994 OMC
Comércio (TRIPS).
Tratado sobre o registro internacional de
1989 OMPI
obras audiovisuais.
Convenção da OMPI sobre o Direito de
1996 OMPI
Autor (WCT).
Convenção da OMPI sobre Artistas e
1996 OMPI
Produtores de Fonogramas (WPPT).
Fonte: Elaborado pelas autoras deste capítulo (2018)

Tais tratados, com exceção das Convenções da OMPI de


1996 – WCT e WPPT, foram incorporados em território brasileiro
pelo processo de ratificação e promulgação. Nem CUB e nem
TRIPS atuam como normas de direito internacional privado
ou lei de tratados. Eles trazem normas materiais, substantivas,
mínimas que devem ser adotadas pelos Estados que fazem parte
de tais acordos internacionais (BARBOSA, 2003, p. 154).
Outro questionamento que se pode fazer é se tais tratados
têm aplicação direta ou carecem de norma interna que crie
direitos subjetivos aos particulares que se encontrem em território
brasileiro.
De acordo com Barbosa (2003, p. 156), isso dependerá do
teor do próprio acordo internacional. Se a característica desse
tratado for de lei uniforme, não haverá a necessidade de haver
uma lei interna que reproduza os direitos subjetivos constantes
desse acordo. Nesse sentido, Barbosa (2003, p. 156) elucida que
“[...] para definir se um tratado é não só suscetível de integração
(pois todos o são, se aprovados pelo Congresso) mas de aplicação
direta, temos que buscar no próprio texto internacional o seu
propósito e destino”. Ele ainda esclarece que:

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual 85

Ou seja, se a norma, precisa e diretamente destinada à esfera jurídica


dos particulares, já se acha íntegra no texto internacional. Cremos que,
a partir da série de decisões do Supremo Tribunal Federal sobre as leis
Uniformes de Genebra a dúvida foi eliminada: não se exige tal lei, se o
tratado tem a natureza de norma uniforme. (BARBOSA, 2003, p. 156)

Portanto, uma vez promulgada em território brasileiro, o


acordo internacional só gera obrigações se estiver claro em suas
normas as regras aplicáveis a particulares, configurando-se como
leis uniformes. De outra sorte, haverá de ter uma lei incorporando
as condições mínimas estabelecidas neste tratado.
De qualquer forma, o marco legal brasileiro de direitos
autorais – Lei de Direitos Autorais, Lei de Programa de
computador, entre outros – incorpora em seus textos vários
dos direitos subjetivos previstos na CUB e outros acordos
internacionais vigentes relacionados a direitos autorais.

Conhecimentos Tradicionais
Quando se trata de conhecimentos tradicionais é
importante destacar que no âmbito internacional não existe uma
definição já aceita. Mas é possível mencionar o conceito utilizado
nos dias atuais pela OMPI, na Comissão Intergovernamental
sobre a Propriedade Intelectual e os Recursos Genéticos, os
Conhecimentos Tradicionais e o Folclore (IGC), criada em 2000.
Conforme definição dessa comissão, conhecimentos tradicionais
são:

[...] um corpo vivo de conhecimento que se transmite de uma geração


a outra em uma mesma comunidade. Frequentemente forma parte da
identidade cultural e espiritual da comunidade. (ORGANIZAÇÃO
MUNDIAL DA PROPRIEDADE INTELECTUAL, 2018b, tradução
nossa)26

26
“Por ‘conocimientos tradicionales’ (CC.TT.) se entiende un cuerpo vivo

Volume II
86 Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual

No que se refere à proteção dos conhecimentos tradicionais,


a CUB, em seu artigo 15 (4), prevê que caberá ao País do qual seja
originária determinada obra não publicada de autor desconhecido
determinar a proteção dessa obra, conforme segue:

a) Quanto às obras não publicadas cujo autor é de identidade


desconhecida, mas, segundo tudo leva a presumir, nacional de um país
da União, é reservada à legislação desse país a faculdade de designar a
autoridade competente para representar esse autor e com poderes para
salvaguardar e fazer valer os direitos do mesmo nos países da União.
b) Os países da União, que, por força desta disposição, procederem
a tal designação, notificá-lo-ão ao Diretor-Geral mediante uma
declaração escrita em que serão indicadas todas as informações
relativas à autoridade assim designada. O Diretor-Geral comunicará
imediatamente a referida declaração a todos os outros países da União.
(CUB, 1886, art.15)

Contudo, não há uma previsão de propriedade sobre os


conhecimentos tradicionais ou obras oriundas das manifestações
culturais de determinada comunidade vinculada a um território.
Alguns países têm em seus ordenamentos jurídicos a proteção
desses conhecimentos por meio do direito autoral, outros
por sistemas sui generis. (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA
PROPRIEDADE INTELECTUAL, 2001).
Esse é um tema cuja proteção a partir do conceito de
uma exclusividade de mercado, como ocorre com o instituto da
propriedade intelectual, ainda está em construção. Alguns países
já têm essa figura, outros não. O que se tem hoje dia, em grande
parte, seja no âmbito internacional, seja como nacional brasileiro,
é a salvaguarda, preservação e proteção dos direitos culturais e
do patrimônio cultural (artigos 215, 216, 216-A, da Constituição
Federal). Contudo, essa proteção não pressupõe, a princípio,

de conocimientos que se transmite de una generación a otra en una misma


comunidad. A menudo forma parte de la identidad cultural y espiritual de la
comunidad.”

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual 87

uma exclusividade de mercado, mas sim a salvaguarda da própria


manifestação cultural, como exercício do direito cultural garantido
constitucionalmente, e a salvaguarda do patrimônio cultural27.
É interessante observar, entretanto, que, apesar do direito do
patrimônio cultural e dos direitos culturais não pressuporem uma
espécie de propriedade, da qual se originaria uma exclusividade
de mercado, na prática, em alguns casos, quando do registro de
patrimônio imaterial junto ao Instituto de Patrimônio Histórico
e Artístico Nacional (IPHAN), há a concessão de uma espécie de
exclusividade de mercado. Exemplos de casos que envolveram
uma proteção dos direitos intelectuais sobre conhecimentos
tradicionais foram: a) a apropriação do termo “viola-de-cocho”
por meio de uma marca mista; b) a apropriação da Arte Kusiwa
(Pintura Corporal e Arte Gráfica Wajãpi) para uso comercial dos
grafismos. Tais casos foram objeto de registro de patrimônio
imaterial, junto ao Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional (IPHAN), regulado pelo Decreto n. 3.551, de 4 de
agosto de 2000, o que garantiu à comunidade, que tem nessas
manifestações seu patrimônio cultural, a proteção também de
seus direitos intelectuais, impedindo o uso desses conhecimentos
tradicionais e de nomes para fins comerciais por pessoas externas
a essas comunidades (COSTA, 2017).

27
Ainda que não seja o foco do presente artigo, é importante destacar algumas
reflexões sobre os usos econômicos da cultura, é um tema polêmico. Por
um lado, é possível visualizar externalidades positivas de tais usos, como
mecanismos de difusão e preservação destas manifestações culturais, sejam
elas patrimônio cultural brasileiro ou não, conforme conceito do artigo 216,
da Constituição Federal, até, por que não, geração de renda e empoderamento
das comunidades tradicionais a partir de uma exclusividade de mercado de suas
manifestações culturais. Por outro lado, isto pode provocar um esvaziamento
do valor simbólico daquela cultura, esvaziando seus sentidos e fazendo com
que se perca a caraterística de pertencimento, tão necessária para a configuração
jurídica de patrimônio cultural e exercício dos direitos culturais. Sobre o assunto
veja-se: Yudice (2004).

Volume II
88 Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual

Porém, há iniciativas e ações em vários organismos


internacionais discutindo a criação de uma espécie de propriedade
intelectual sobre conhecimentos tradicionais.
A OMPI, no ano de 2001, publicou um relatório sobre as
Missões para apurar fatos (Fact-Finding Missions) relacionados a
Conhecimentos tradicionais e Propriedade Intelectual, realizados
entre 1998 e 1999. Esse relatório chamado “Necessidades
de Propriedade Intelectual e Expectativas dos detentores de
conhecimentos tradicionais” (Intellectual property needs and expectations
of traditional knowledge holders) trata de um histórico das iniciativas
de várias entidades e organizações envolvendo a proteção de
conhecimentos tradicionais. A seguir serão apresentados alguns
apontamentos desse relatório.
Na década de 1980 houve uma iniciativa, no âmbito da OMPI
e da UNESCO, para proteção do folclore por meio da criação de
uma Lei-Modelo para leis nacionais sobre proteção da expressão
do folclore contra exploração ilícita e outras ações prejudiciais
(Model Provisions for National Lawson Protectionof Expression of Folklore
Against Illicit Exploitation and Other Prejudicial Actions). Alguns países
adotaram essa lei-modelo, pelo menos em parte, protegendo em seu
ordenamento jurídico interno o folclore, principalmente por direito
autoral (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA PROPRIEDADE
INTELECTUAL, 2001, p. 43).
Outro organismo importante que trata de conhecimentos
tradicionais em seus acordos internacionais é o Programa
das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).
O PNUMA é uma organização do Sistema da ONU, responsável
pelas questões envolvendo o desenvolvimento sustentável e
o meio ambiente. No âmbito desse programa, alguns acordos
internacionais podem ser citados envolvendo temas relacionados
a conhecimentos tradicionais (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL
DA PROPRIEDADE INTELECTUAL, 2001, p. 43).

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual 89

Um desses acordos é a Convenção da Diversidade Biológica


(CDB), firmada em 1992, no Rio de Janeiro.
Sobre esse acordo internacional, é importante fazer uma
relação entre a proteção dos conhecimentos tradicionais e as
questões vinculadas com a biodiversidade tratadas no item
anterior sobre as demandas dos Países em Desenvolvimento nas
décadas de 1960, 1970 e 1980 junto à OMPI. Um dos pontos
reivindicados pelo movimento da Nova Ordem Econômica
Internacional, já citado, ao defender o direito de exercício da
soberania econômica foi a propriedade sobre os recursos naturais
e conhecimentos tradicionais dos países em desenvolvimento.
Esse movimento da Nova Ordem Econômica Internacional,
encabeçado principalmente por países em desenvolvimento –
que na época eram chamados de terceiro mundo – fomentou
negociações e articulações para um tratamento diferenciado dos
países em desenvolvimento, mas também uma espécie de direito
e proteção dos conhecimentos tradicionais e recursos genéticos
oriundos dos países megadiversos, os quais estavam, em sua
grande parte, nos países de terceiro mundo, como chamado à
época.
Albagli (1998, p. 28-29) retrata as dicotomias existentes no
contexto geopolítico no que concerne à proteção da propriedade
intelectual e ao tratamento diferenciado aos países megadiversos,
principalmente considerando o contexto da Ciência & Tecnologia
(C&T) como instrumento de poder:

De um lado, ciência e tecnologia tornam-se variáveis cada vez mais


estratégicas em todos os níveis da vida econômica, política e social,
fazendo do desenvolvimento científico-tecnológico a grande fronteira
a ser conquistada no século XXI. A propriedade intelectual constitui,
por sua vez, o instrumento que estabelece os limites entre os que
detêm conhecimentos de ponta – e para isso investiram pesadamente,
desejando assim protegê-los e cobrar pelo seu acesso – e os que não

Volume II
90 Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual

detêm esses conhecimentos, mas reivindicam tratamento diferenciado,


em face das suas ricas reservas de natureza.
Por outro lado, vivencia-se uma crise ambiental sem precedentes
na história da humanidade. Os desafios ambientais hoje colocados
acentuam a percepção sobre a interdependência das diversas partes do
planeta, introduzindo novos ingredientes nas negociações internacionais
em torno de uma estratégia mais “sustentável” de desenvolvimento,
particularmente quanto à facilitação do acesso a recursos financeiros
e a tecnologias ambientalmente saudáveis. (ALBAGLI, 1998, p. 28-29)

No contexto da política internacional, o tema do meio


ambiente e sua proteção se tornam vigentes nas agendas dos
principais organismos internacionais, principalmente a União
Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos
Naturais (UICN – em inglês IUCN), criada em 1948 e que coopera
com a ONU. Em 1972, na cidade de Estocolmo, foi realizada
a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente
Humano, destacando o caráter global das referidas preocupações.
Mas foi apenas a partir da década de 1980, com os problemas
como a redução da camada de ozônio, mudanças climáticas,
efeito estufa, diminuição da biodiversidade, entre outros, que tais
questões assumem de forma direta um patamar global. Lançou-
se, então, uma nova forma de desenvolvimento, chamado
ecodesenvolvimento e, posteriormente, desenvolvimento
sustentável, que se consolidou com o lançamento do Relatório
Brundtland, em 1987 (ALBAGLI, 1998). Sua consagração,
entretanto, se deu em 1992 na “Conferência das Nações Unidas
sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD – em
inglês UNCED), também conhecida no Brasil como Rio-92”
(ALBAGLI, 1998, p. 45).
As discussões iniciadas na década de 1980 na UICN
foram cruciais para identificar a existência de um instrumento
internacional que protegesse o meio ambiente. Até então as
orientações eram limitadas à proteção dos recursos genéticos.

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual 91

Com as discussões nos ambientes internacionais, passou-se a


falar em diversidade biológica e surgiu a necessidade de uma
Convenção Internacional para proteger e assegurar “[...] a
transferência de biotecnologia de modo condicionado ao acesso,
pelos países desenvolvidos, de espécies selvagens localizadas em
seus territórios” (ALBAGLI, 1998, p. 114). Em junho de 1987 foi
dado início à elaboração da Convenção de Diversidade Biológica
(CDB)28 em reunião do Conselho de Administração do Programa
das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). A versão
final da CDB foi aprovada em maio de 1992, em Nairobi, sendo
aberta para adesão em 5 de junho de 1992, na Rio-92. Entrou
em vigor em 20 de dezembro de 1993. Inicialmente, a CDB foi
assinada por 157 países, atualmente conta com 196 partes, sendo
168 assinaturas29.
Como parte das discussões e das proteções garantidas
pela CDB encontram-se os conhecimentos tradicionais
relacionados ao acesso à biodiversidade. Essa proteção se refere
ao reconhecimento dos conhecimentos tradicionais associados
aos recursos genéticos utilizados para exploração comercial
e, principalmente, a repartição de benefícios a populações
tradicionais detentoras de tais conhecimentos. Percebe-se essa
preocupação, por exemplo, no preâmbulo da CDB:

Reconhecendo a estreita e tradicional dependência de recursos


biológicos de muitas comunidades locais e populações indígenas com
estilos de vida tradicionais, e que é desejável repartir equitativamente
os benefícios derivados da utilização do conhecimento tradicional,
de inovações e de práticas relevantes à conservação da diversidade

28
Promulgada pelo Brasil por meio do Decreto n. 2.519, de 16 de março de
1998.
29
Para mais informações sobre os Países que fazem parte da CDB, ver
Convenção da Diversidade Biológica (2018).

Volume II
92 Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual

biológica e à utilização sustentável de seus componentes. (BRASIL,


1992)30

Importante destacar ainda o artigo 8º(j) da CDB que trata


especificamente dos conhecimentos tradicionais:

Artigo 8º - Conservação in situ


Cada Parte Contratante deve, na medida do possível e conforme o caso:
[...]
j) Em conformidade com sua legislação nacional, respeitar, preservar
e manter o conhecimento, inovações e práticas das comunidades
locais e populações indígenas com estilo de vida tradicionais
relevantes à conservação e à utilização sustentável da diversidade
biológica e incentivar sua mais ampla aplicação com a aprovação e a
participação dos detentores desse conhecimento, inovações e práticas;
e encorajar a repartição equitativa dos benefícios oriundos da utilização
desse conhecimento, inovações e práticas. (CONVENÇÃO DA
DIVERSIDADE BIOLÓGICA, 1992, art. 8º)

Com base neste artigo e para implementá-lo, na terceira


Conferência de Partes (COP) da CDB, realizada em Madri –
Espanha, em novembro de 1997, foi organizado um Workshop
sobre Conhecimentos Tradicionais e Diversidade Biológica, do
qual se originou um relatório sugerindo o desenvolvimento de
um plano de trabalho sobre o artigo 8º(j) e provisões relacionadas.
Na quarta COP, realizada em abril de 1998 em Bratislava –
Eslováquia, foi criado um Grupo de Trabalho Interseccional para

[...] desenvolver um programa de trabalho para implementar o artigo 8º


(j) e disposições relacionadas e aconselhar sobre o desenvolvimento de
formas jurídicas e outras formas apropriadas de proteção das matérias
abrangidas pelo artigo 8º, alínea j)” (tradução nossa)31.
30
BRASIL. Decreto n. 2.519 de 16 de março de 1998. Promulga a Convenção
sobre Diversidade Biológica, assinada no Rio de Janeiro, em 5 de junho de
1992. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D2519.
htm. Acesso em: 28 dez. 2018.
31
“[…] to develop a programme of work for the implementation of Article 8(j)

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual 93

O primeiro encontro desse grupo foi em março de 2000,


em Sevilha – Espanha. A quinta COP, realizada em maio de
2000, em Nairobi – Quênia, endossou esse Grupo de Trabalho
(ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA PROPRIEDADE
INTELECTUAL, 2001, p. 50).
Foi com base, então, nos conceitos tratados neste artigo
8º(j) que se originou o Grupo de Trabalho da OMPI sobre
conhecimentos tradicionais, expressões de folclore e recursos
genéticos, que será analisado posteriormente. Conforme consta
no relatório da OMPI:

O escopo de conhecimentos tradicionais sob a CDB pode ser


considerado mais estreito conceito sobre o qual a WIPO baseou
seu trabalho. Dois elementos do Artigo 8 (j) contribuem para tanto:
a natureza do objeto, que se limita ao conhecimento associados à
conservação e uso sustentável da biodiversidade; e a identificação
dos titulares de direitos como comunidades indígenas e locais
que incorporam estilos de vida tradicionais.32 (ORGANIZAÇÃO
MUNDIAL DA PROPRIEDADE INTELECTUAL, 2001, p. 50)

Ainda no âmbito do PNUMA, outro acordo internacional


que envolve conhecimentos tradicionais é a Convenção
Internacional de Combate à Desertificação nos Países afetados
por Seca Grave e/ou Desertificação, particularmente na África
(UNCCD), de 1994 (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA
PROPRIEDADE INTELECTUAL, 2001, p. 50).

and related provisions and to provide advice on the development of legal and
other appropriate forms of protection for subject matter covered by Article 8(j)”.
32
Conforme consta no Relatório da OMPI de 2001: “The scope of TK under
the CBD may be said to be narrower than the concept on which WIPO has
based its work. Two elements of Article 8(j) contribute to that: the nature of the
subject-matter, which is confined to knowledge associated with the conservation
and sustainable use of biodiversity, and the identification of the right holders
as indigenous and local communities embodying traditional lifestyles”.
(ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA PROPRIEDADE INTELECTUAL,
2001, p. 50)

Volume II
94 Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual

Outra entidade importante foi a Organização das Nações


Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), que tem uma
comissão sobre Recursos Genéticos para alimentação e agricultura.
Em 1993 decidiu-se revisar o Compromisso Internacional sobre os
Recursos Fitogenéticos (1983) para harmonizá-lo às disposições da
CDB, incluindo a questão da realização dos direitos dos agricultores,
considerando ainda o respeito e a proteção aos conhecimentos
tradicionais, pelo menos os vinculados a recursos genéticos para
alimentação e agricultura (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA
PROPRIEDADE INTELECTUAL, 2001, p. 50).
Também teve destaque o Grupo de Trabalho das Nações
Unidas sobre Populações indígenas (sua sigla em inglês WGIP),
criado em 1982, que é um órgão subsidiário da Subcomissão
para promoção e proteção dos Direitos Humanos. Esse grupo
elaborou dois documentos importantes no que concerne
aos conhecimentos tradicionais: a) minuta da Declaração das
Nações Unidas sobre os direitos dos povos indígenas, adotada
pela Subcomissão sobre prevenção de discriminação e proteção
das minorias em 1994; b) minuta dos Princípios e Diretrizes para
a proteção do Patrimônio dos Povos Indígenas. Outras iniciativas
envolvendo conhecimentos tradicionais dos povos indígenas
foram realizadas por esse grupo de trabalho (ORGANIZAÇÃO
MUNDIAL DA PROPRIEDADE INTELECTUAL, 2001, p. 50).
O referido relatório ainda destaca o papel da UNESCO
nas questões envolvendo a proteção dos conhecimentos
tradicionais, desde a década de 1970, principalmente no que se
refere a um de seus elementos: o folclore. Além da Lei modelo
relatada anteriormente, de 1982, a UNESCO ainda adotou uma
“Recomendação sobre a salvaguarda da Cultura Tradicional e
Folclore”, em 1989. Em 1997, no Fórum Mundial UNESCO/
OMPI sobre a Proteção do Folclore foi solicitado que a
UNESCO e a OMPI fizessem consultas regionais sobre tais

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual 95

questões. Foram realizadas quatro consultas regionais, em 1999.


Outras iniciativas importantes da UNESCO estão relacionadas à
proteção do patrimônio cultural e da diversidade, nos quais estão
inseridos os elementos de conhecimentos tradicionais. Algumas
dessas convenções são: “Convenção sobre os Meios de Proibição
e Prevenção da Importação, Exportação e Transferência Ilegal
de Diversidade de Bens Culturais, 1970; a Convenção sobre a
Proteção do Patrimônio Mundial Cultural e Nacional, 1972;
e a Declaração sobre os Princípios da Cooperação Cultural
Internacional, 1966.” (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA
PROPRIEDADE INTELECTUAL, 2001, p. 52).
A Organização Internacional do Trabalho (OIT) também
tem iniciativas que envolvem a proteção de conhecimentos
tradicionais, principalmente no que se refere às condições de
trabalho de trabalhadores indígenas e tribais. Em 1989, a OIT
adotou a Convenção concernente a Povos Indígenas em Países
independentes (Convenção n. 169), a qual trata da importância
da proteção dos conhecimentos tradicionais desses povos
como extensão de suas próprias identidades e exercício de
seus direitos econômicos, sociais e culturais (artigo 2.2 (b)). A
OIT, inspirada nessa Convenção, criou um programa de apoio
a essas comunidades (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA
PROPRIEDADE INTELECTUAL, 2001, p. 52).
O Banco Mundial também tem iniciativas envolvendo
povos indígenas, especificamente uma política desde 1982. Em
1991 ampliou o conceito de povos indígenas, abarcando as
comunidades que tenham identidades sociais e culturais distintas
das sociedades nacionais às quais estão localizadas. A partir de
tais conceitos financia projetos para beneficiar tais comunidades
e povos (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA PROPRIEDADE
INTELECTUAL, 2001, p. 52).

Volume II
96 Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual

Também existem outras iniciativas da Organização


Mundial da Saúde (OMS) envolvendo a saúde dos povos
indígenas, desde 1995. A Conferência das Nações Unidas
sobre o Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) lançou
em 1996 na terceira COP da CDB a iniciativa Biotrade para
estimular o comércio e o investimento em recursos biológicos
para suportar o desenvolvimento sustentável, incluindo
conhecimentos tradicionais. O Programa das Nações Unidas para
o Desenvolvimento (PNUD) também trata de conhecimentos
tradicionais quando visa a garantir o desenvolvimento sustentável
humano, principalmente dos povos indígenas, desde 1999.
Também o Painel Internacional das Nações Unidas sobre
Florestas encoraja os Países envolvidos a estabelecer políticas de
proteção dos conhecimentos tradicionais relacionados a florestas.
O relatório ainda cita outros organismos internacionais: Fundo
de População das Nações Unidas (UNFPA); Programa Alimentar
Mundial (WFP); Fundo das Nações Unidas para a Infância
(UNICEF); Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola
(FIPA) (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA PROPRIEDADE
INTELECTUAL, 2001, p. 53-54).
Na OMC também há iniciativas importantes sobre
conhecimentos tradicionais, principalmente relacionadas à
propriedade intelectual, incluindo as articulações e as demandas
de revisão do artigo 27.3 do TRIPS para prever a necessidade
de proteção dos conhecimentos tradicionais, principalmente
aqueles relacionados ao patenteamento de invenções envolvendo
patrimônio genético e conhecimento tradicional associado
(ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA PROPRIEDADE
INTELECTUAL, 2001, p. 53). É uma forma de harmonizar as
regras da propriedade intelectual do TRIPS com as exigências da
CDB.

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual 97

Esse relatório ainda retrata iniciativas em diversos países,


mas que não serão tratadas aqui por delimitação do tema presente.
Ao final, o relatório traz as expectativas com relação à
proteção dos conhecimentos tradicionais, que são:

• a prevenção da erosão e desaparecimento de tradições, ou seja, a


conservação das tradições;
• a prevenção de exploração não autorizada;
• o estímulo e a promoção a inovação e criatividade com base nos
conhecimentos tradicionais;
• a proteção contra apropriação indevida, distorção e outras ações
prejudiciais;
• a proteção e conservação da diversidade cultural e biológica; e,
• a proteção da dignidade e direitos morais de inovadores e criadores
tradicionais. (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA PROPRIEDADE
INTELECTUAL, 2001, p. 102, tradução nossa)33

A partir de todas essas iniciativas e atendendo às demandas


dos países em desenvolvimento pela proteção dos ativos vistos
como patrimônio da humanidade, considerando o valor econômico

33
“- protection of TK from knowledge erosion and disappearance of traditions,
i.e. the conservation of TK. IP protection for TK should therefore offer
transmission incentives for TK holders; - the promotion of TK and informal
innovations as a strategy for sustainable development; - protection of TK from
unauthorized commercialization and use with gainful intent, i.e. protection
of Commercial interests of TK holders; - protection from distortion and
other prejudicial actions, i.e. protecting the integrity/purity of expressions of
folklore and underlying traditions; - protection of human and moral rights of
TK-holders (while bearing in mind that human rights, as widely conceived,
make certain assumptions, such as individualism, which are culturally specific);
- management of cross-cultural knowledge transactions between traditional
and modern knowledge systems, which take into account the relativity of such
concepts as novelty and inventive step; - protection of TK for biodiversity
conservation, since conservation of biodiversity is related to conservation
of traditional knowledge systems. The conservation of cultural diversity is
thus considered as a precondition for conservation of biological diversity;
- utilization of the existing IP systems within the development of legal and
institutional frameworks for access and benefit-sharing in genetic resources
(“ABS”)”.

Volume II
98 Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual

deles, a OMPI criou em 2000 o Comitê intergovernamental sobre


Propriedade intelectual e Recursos Genéticos, conhecimentos
tradicionais e folclore (conhecido pela sigla IGC). Nesse fórum
foram discutidos temas como o acesso a recursos genéticos e
repartição de benefícios, proteção do conhecimento tradicional
e expressões culturais tradicionais ou, também, chamado por
vezes pela OMPI, como expressões de folclore ou folclore
(ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 2015). As razões
e as origens do IGC são variadas, mas, conforme alega a OMPI,
podem ser resumidas da seguinte forma:

Primeiro, foi estabelecido para abordar três novos temas que


compartilhavam certas características distintas: GRs, TK e TCEs eram
considerados a “herança comum da humanidade” e como valores
intelectuais que exigiam formas apropriadas de proteção à PI.
Em segundo lugar, GRs, TK e TCEs eram vistos como ativos de
novos atores-chave na formulação de políticas de PI, ou seja, países em
desenvolvimento e comunidades indígenas e locais.
Em terceiro lugar, e mais amplamente, o IGC foi concebido como
parte de um esforço maior e estruturado da WIPO para avançar em
direção a um sistema de PI moderno e responsivo que formas não-
ocidentais de criatividade e inovação, sejam abrangentes em termos
de beneficiários e sejam com metas de desenvolvimento e ambientais.
(ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 2015, p. 2, tradução
nossa)34

34
“In sum, the origins of the IGC and its rationales are varied. First, it was
established to address three new themes that shared certain distinct features:
GRs, TK and TCEs were regarded as the “common heritage of humanity”
and as intellectual valuables requiring appropriate forms of IP protection.
Second, GRs, TK and TCEs were seen as the intellectual assets of new key
players in IP policy-making, namely developing countries and indigenous and
local communities. Third, and more broadly, the IGC was conceived as part
of a larger and structured endeavor by WIPO to move towards a modern,
responsive IP system that could embrace non-Western forms of creativity and
innovation, be comprehensive in terms of beneficiaries, and be fully consistente
with developmental and environmental goals”.

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual 99

Conforme apregoa a OMPI, dentro do IGC existem dois


ângulos de proteção dos conhecimentos tradicionais por meio da
propriedade intelectual: proteção defensiva e proteção positiva.
O primeiro ângulo, a proteção defensiva, destina-se a garantir que
pessoas de fora da comunidade adquiram direitos de propriedade
intelectual sobre os conhecimentos tradicionais. Já no segundo
ângulo, a positiva, concede direitos para que a comunidade
promova seus conhecimentos tradicionais, controlando suas
utilizações e se beneficiando de sua exploração comercial.
O trabalho do IGC aborda três campos distintos dentro dos
conhecimentos tradicionais: a) os conhecimentos tradicionais
em sentido estrito (“conhecimentos técnicos, práticas, aptidões
e inovações relacionados com, por exemplo, a biodiversidade,
a agricultura e a saúde”); b) expressões do folclore/expressões
culturais tradicionais (“manifestações culturais, tais como música,
arte, desenhos, símbolos e representações ou execuções”);
c) recursos genéticos (“material genético com valor real ou
potencial encontrado em plantas, animais e microrganismos”)
(ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA PROPRIEDADE
INTELECTUAL, 2016, p. 2).
Assim, o que se discute é a criação de um sistema
internacional de propriedade intelectual que abarca também a
proteção dos conhecimentos tradicionais. Discute-se se seria um
instrumento jurídico internacional que conceda uma proteção sui
generis a tais conhecimentos tradicionais. Conforme informa o
próprio IGC, esse instrumento

[...] definiria o que se entende por conhecimentos tradicionais


e expressões culturais tradicionais, quem seriam os titulares de
direitos, como seriam resolvidos problemas de reivindicações
concorrentes pelas comunidades e que direitos e exceções deveriam
ser aplicáveis. (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA PROPRIEDADE
INTELECTUAL, 2016, p. 3)

Volume II
100 Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual

As discussões envolvem ainda se haveria de ter um


consentimento livre, prévio e informado para os usos destes
conhecimentos, ou se isso poderia entravar as inovações e
criações oriundas a partir desses conhecimentos. Há divergências
também sobre como deverá ser alcançado o equilíbrio entre a
proteção da propriedade intelectual de criações que usem recursos
genéticos e a sustentabilidade de tais recursos (ORGANIZAÇÃO
MUNDIAL DA PROPRIEDADE INTELECTUAL, 2016, p. 3).
Em suma, sobre a proteção do conhecimento tradicional
por meio de um instrumento de propriedade intelectual, que
se garanta exclusividade de mercado, ainda há muita discussão,
considerando as questões geopolíticas e de comércio internacional
vinculadas ao tema.
Segue no Quadro 2 uma relação dos principais convênios
vigentes relacionados a conhecimentos tradicionais, que poderão
ser observados quando se trata de sua proteção internacional.

Quadro 2 – Principais acordos internacionais relacionados com conhecimentos


tradicionais3536373839

Acordo Internacional Ano Organismo


Convenção sobre Medidas a serem adotadas
para proibir e impedir a importação,
1970 UNESCO
exportação e transferência de propriedade
ilícitas dos bens culturais35

35
Promulgada pelo Brasil por meio do Decreto n. 72.132, de 31 de maio de
1973.
36
Promulgada pelo Brasil por meio do Decreto n. 80.978, de 12 de dezembro
de 1977.
37
Promulgada pelo Brasil por meio do Decreto n. 5.051, de 19 de abril de 2004.
38
Promulgada pelo Brasil por meio do Decreto n. 2.741, de 20 de agosto de
1998.
39
Promulgada pelo Brasil por meio do Decreto n. 6.476, de 5 de junho de 2008.

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual 101

Acordo Internacional Ano Organismo


Convenção para a proteção do Patrimônio
1972 UNESCO
mundial, cultural e natural36
Convenção sobre os Povos Indígenas e
1989 OIT
Tribais37
Convenção da Diversidade Biológica 1992 PNUMA
Convenção Internacional de Combate à
Desertificação nos Países afetados por Seca
1994 PNUMA
Grave e/ou Desertificação, Particularmente
na África 38
Tratado Internacional sobre os Recursos
Fitogenéticos para a alimentação e a 2001 FAO
agricultura39
Fonte: Adaptado da Organização Mundial da Propriedade Intelectual (2001, p. 70)

Observa-se que, dos tratados promulgados pelo Brasil,


alguns deles têm reflexos no ordenamento jurídico brasileiro. Um
deles é a própria CDB, que foi incorporada, inicialmente pela
Medida Provisória n. 2.186, de 23 de agosto de 2001, reeditada 16
vezes, e substituída, posteriormente, pela Lei n. 13.123, de 20 de
maio de 2015. Entre as incorporações provenientes da CDB pela
lei interna, estão os conceitos constantes no artigo 2º. Também
foram incorporados direitos e elementos como o Consentimento
Prévio, Esclarecido e Informado para ter acesso a patrimônio
genético e conhecimentos tradicionais associados, repartição de
benefícios, entre outros.
No que tange à proteção das demais formas de conhecimento
tradicional, há as disposições e as legislações relacionadas à
proteção do patrimônio cultural imaterial40. Entretanto, como já

40
Artigos 215, 216 e 216-A da Constituição Federal. Registro de patrimônio
cultural imaterial regulado pelo Decreto n. 3.551, de 4 de agosto de 2000. Bem
como demais atos normativos dos poderes legislativos e executivos.

Volume II
102 Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual

explicado anteriormente, não geram uma forma de propriedade


sobre o conhecimento tradicional, pelo menos de forma expressa
e clara. O que se tem é a disposição do artigo 45, da Lei de Direitos
Autorais, que diz que os conhecimentos éticos e tradicionais não
são de domínio público:

Art. 45 Além das obras em relação às quais decorreu o prazo de


proteção aos direitos patrimoniais, pertencem ao domínio público: I
– as de autores falecidos que não tenham deixado sucessores; II – as
de autor desconhecido, ressalvada a proteção legal aos conhecimentos
étnicos e tradicionais. (BRASIL, 1998, art. 45)

Contudo, não há uma legislação interna que diga que tipo


de proteção tem, já que não é de domínio público.
Cabe reforçar, como já explanado anteriormente, que, na
prática, o registro de patrimônio imaterial realizado no IPHAN,
em alguns casos, tem adotado e gerado garantias como de
propriedade, gerando exclusividade de mercado (COSTA, 2017).
Mas essa não é a natureza da proteção como patrimônio cultural
ou exercício dos direitos culturais. Tais direitos subjetivos estão
mais relacionados ao direito de manifestar, viver, salvaguardar,
proteger e preservar tais conhecimentos, do que propriamente
exercer sobre eles uma forma de propriedade privada. Esses
conhecimentos são de caráter coletivo, apresentando conceitos e
elementos diversos dos característicos do direito autoral ou, até
mesmo, da propriedade intelectual (ainda que no caso de marca
coletiva e de indicações geográficas seja possível observar o
caráter coletivo da titularidade).
O Quadro 3 apresenta as diferenças e as características
da proteção garantida pela propriedade intelectual (ou direitos
culturais, dependendo do marco teórico) e a proteção garantida
pelos direitos culturais.

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual 103

Quadro 3 – Relação entre Propriedade intelectual e direitos culturais

Propriedade Intelectual ou Direitos


Direitos Culturais
Intelectuais
Titular/criador Coletividade
Identidade/memória/
Mercado/economia
representatividade
Bem público (subjetividade/
Exclusividade (escassez artificial)
coletividade)
Interesse cultural – coletivo
Interesse econômico – privado
(público)
Riscos do “enobrecimento”
Requalificação
imaterial
Ganhos econômicos/escalabilidade/ Perda de identidade/mudanças
adaptações no modo de fazer nos modos de fazer
Poder de decisão:
Poder de decisão: pessoa jurídica/
coletividade/comunidade
empreendedor/grupos de
tradicional/quem exerce as
empreendedores/titular/investidor
práticas culturais
Fonte: Areas (2018)

Isso posto, pode-se esperar mudanças e novos direitos


originados para a proteção do conhecimento tradicionais,
ainda mais considerando o valor econômico que tais ativos
vêm adquirindo na sociedade da informação e seu potencial de
inovação. Contudo, vários elementos ainda precisam ser definidos
com muito cuidado para que o caráter identitário e patrimonial
destes conhecimentos sejam esvaziados em virtude de uma
exploração econômica não sustentável (YÚDICE, 2004).

Volume II
104 Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual

Programas de Computador41
Com o surgimento do computador, novas oportunidades
e atividades foram desenvolvidas. Com o desenvolvimento do
software independente do hardware42 foram realizados estudos
jurídicos para definir o tipo de proteção legal que este deveria
receber. Afinal, um novo ativo econômico poderia ser apropriável
a partir deste intangível. Entretanto, perguntava-se: qual o regime
adequado para a proteção? Várias hipóteses foram levantadas:
por patente (propriedade industrial); por direito de autor; por
concorrência desleal; por segredo industrial ou por um direito sui
generis (SANTOS, 2008; VIEIRA, 2005; CARIBÉ; CARIBÉ, 1996).
Nessa época já havia uma consciência de que não bastava
a proteção por leis nacionais para ativos intangíveis passíveis de
apropriações por meio da propriedade intelectual. Portanto, a
discussão sobre a natureza jurídica do software e seus instrumentos
de proteção já começaram a partir dos fóruns internacionais de
propriedade intelectual.
A partir de 1964, estudos passaram a enxergar no software
como um bem passível de proteção por direito autoral. Assim
foi nos EUA quando John F. Banzhaf publicou um estudo que
vislumbrava a proteção dos programas de computador por meio
do direito autoral. Em 1966, o registro destes programas passou
a ser admitido pelo Copyright Office, da mesma forma que o
Patent Office determinou que os programas de computador
não pudessem ser patenteados quando carecessem de “passos
utilitários”. A patente só seria possível caso o programa de
computador envolvesse alguma transformação física de um
computador, convertendo-o em uma máquina com propósitos
especiais. Na metade da década de 1970 foram publicados os
41
Trechos desta seção foram extraídos da tese de AREAS, 2010, sendo
modificados e adaptados em partes, e outros são reproduções literais.
42
Sobre o tema, ver Santos (2008), Vieira (2005) e Caribé e Caribé (1996).

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual 105

estudos do alemão Eugen Ulmer, realizados a pedido da UNESCO


e da OMPI. Ulmer concluiu que a proteção do programa de
computador pelo direito autoral era possível considerando a “[...]
equivalência entre o ingresso do programa de computador e a
fixação de uma obra” (LIPSZYC, 2006, p. 106-107). Assim, tal
posição foi se impondo e o programa de computador foi visto
como uma obra do intelecto que passa por um processo criativo
similar ao que demanda uma obra literária, por exemplo.
Na Europa, em 1973, foi aprovada a Convenção de
Concessão de Patentes Europeias, conhecida como Convenção
de Munique de 5 de outubro. Ela também excluiu a possibilidade
de patenteamento de invenção envolvendo software. Nos EUA, a
adoção pelo Congresso do Relatório da Comissão Nacional sobre
novos usos tecnológicos de trabalhos protegidos por copyright
­(CONTU)43, em 1979, representou um forte golpe à possibilidade
de proteger o software por propriedade industrial, sugerindo-se
a proteção por copyright. Esse relatório gerou alterações nos §§
101 e 117 da Seção 17 do US Code, em 1980 (LIPSZYC, 2006, p.
106-107)44.
Em 1978, a OMPI divulgou sua proposta de Disposições
Tipos para a proteção do software, encomendada pela ONU, que
defendia a criação de uma proteção especial (nova categoria
de direito de propriedade intelectual) do software baseada
genericamente nas normas de Direito de Autor e na concorrência
desleal. Segundo Santos, a “[...] finalidade básica das Disposições
Tipo era orientar os países na adoção de normas visando à
proteção de programas de computador [...]” e não uma exigência
43
CONTU é a sigla para National Comission on New Technological Uses of
Copyrightes Works, criada em 1976 pelo Congresso norte-americano.
44
Antes da decisão de alteração por parte do Congresso, o Supremo Tribunal
Federal norte-americano já decidira que o programa de computador não
poderia ser protegido por patente. Veja-se Gottschalk v. Benson (409 U.S. 63,
de 1972); Damm v. Johnston (425 U.S. 219, de 1976); e Parker v. Flook (437
U.S. 504, de 1978).

Volume II
106 Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual

para que fossem “implementadas como lei especial” (SANTOS,


2008, p. 58).
Começou, então, uma forte pressão internacional, tanto por
parte dos EUA como da Europa, para convencer os demais sócios
comerciais a proteger o software pelo direito autoral. Seguiram-se
as adesões da Austrália, em 1984, e do Japão, Alemanha, França e
Reino Unido, em 1985 (VIEIRA, 2005, p. 25-26).
No âmbito internacional, a proteção por direito autoral foi
primeiramente uniformizada pelo TRIPS em 1994.
No caso do acordo TRIPS, promulgado pelo Brasil por
meio do Decreto n. 1.355/1994, programa de computador está
previsto mais especificamente nos artigos 10 e 11, respectivamente
tratando do programa de computador e direito de aluguel:

Artigo 10 – Programas de Computador e Compilações de Dados


1. Programas de computador, em código fonte ou objeto, serão
protegidos como obras literárias pela Convenção de Berna (1971).
2. As compilações de dados ou de outro material, legíveis por máquina
ou em outra forma, que em função da seleção ou da disposição de
seu conteúdo constituam criações intelectuais, deverão ser protegidas
como tal. Essa proteção, que não se estenderá aos dados ou ao material
em si, se dará sem prejuízo de qualquer direito autoral subsistente
nesses dados ou material.
Artigo 11 – Direitos de Aluguel
Um Membro conferirá aos autores e a seus sucessores legais, pelo
menos no que diz respeito a programas de computador e obras
cinematográficas, o direito de autorizar ou proibir o aluguel público
comercial dos originais ou das cópias de suas obras protegidas pelo
direito do autor. Um Membro estará isento desta obrigação no que
respeita a obras cinematográficas, a menos que esse aluguel tenha
dado lugar a uma ampla copiagem dessas obras, que comprometa
significativamente o direito exclusivo de reprodução conferido por
um Membro aos autores e seus sucessores legais. Com relação aos
programas de computador, esta obrigação não se aplica quando o
programa em si não constitui o objeto essencial do aluguel. (BRASIL,
1994, art. 10-11)

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual 107

O artigo 10, TRIPS, determina que programas de


computador serão protegidos pelos direitos autorais, remetendo
à CUB, com a revisão de 1971. Também está previsto no mesmo
artigo a proteção da base de dados, a qual não se estende aos
dados ou ao material em si, mas sim à organização dada a tais
dados, desde que originais e constituam criações intelectuais
individualizadas.
No caso do artigo 11, referente aos direitos de aluguel,
é conferido aos Estados-membros a liberdade de conferir
aos autores e sucessores o direito de autorizar ou de proibir o
licenciamento comercial ao púbico dos originais ou das cópias
das obras protegidas. No caso do programa de computador, essa
obrigação não se aplica se o objeto essencial do aluguel não seja o
programa em si. Entende-se aqui, aluguel, a licença.
Em 1996, no âmbito da OMPI, surge o WCT, que aborda a
proteção do software por meio do direito autoral. Com o Tratado
sobre Interpretação ou Execução e Fonogramas (WPPT), eles
integram os chamados Tratados Internet45, que visam a adequar as
normas de direito autoral à nova realidade tecnológica (LIPSZYC,
2006, p. 108-110).
Portanto, com o comprometimento de Europa e dos
EUA, a corrente de proteção por meio de propriedade industrial
malogrou. Vários autores46 criticam o enquadramento do software

45
Conforme já explanado, o Brasil não faz parte destes dois tratados.
46
José de Oliveira Ascensão (1997, p. 665-667) afirma que o programa de
computador não pode ser considerado como obra literária ou artística, mas
como um processo (não obstante se trate de uma linguagem destinada à
máquina). Portanto, não deveria ser protegido pelo direito de autor (o programa
de computador escapa à noção de obra, já que é um processo ou esquema de
ação). O direito de autor tutela uma forma e não uma técnica para chegar a
um resultado. Com base na funcionalidade que o programa de computador
apresenta, Carlos Correa (1996, p. 58) também quiestiona sua proteção por
direito de autor. Fernández. Masía (1996, p. 87) explica que “ladecisión de
integrar a los programas de ordenador como unnuevo objeto de protección
por derecho de autor parece venir marcada por consideraciones económicas

Volume II
108 Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual

na proteção por direito autoral, explicando que isso ocorreu


devido à forte pressão dos países desenvolvidos (ASCENSÃO,
1997, p. 668)47.
Apesar de todas as críticas e seus fundamentos
consistentes, o direito de autor tornou-se útil na proteção do
software, já que permite, por meio das exceções e das limitações
do regime autoral, maior acesso ao software e, principalmente, ao
programa de computador, além de garantir aos titulares maior
segurança nos países onde é comercializado. Assim, a não
proteção do algoritmo, da sua funcionalidade – que ocorreria
se fosse garantida exclusivamente por propriedade industrial –
tem sido vantajosa considerando a dicotomia interesse público
v. interesse privado. Com isso propiciou-se maior avanço
tecnológico e maior acessibilidade a esta tecnologia por recentes
desenvolvedores, pequenas empresas, que puderam aprender com
os softwares já desenvolvidos e criar novos, com funcionalidades
parecidas (LIPSZYC, 2006, p. 108-110; LÓPEZ-TARRUELLA
MARTÍNEZ, 2006, p. 253 et seq.; SANTOS, 2008).

más que jurídicas, y en especial por lapresiónejercida por las grandes empresas
informáticas, no cabe duda de que tal decisión parece hoyirreversible”. Ver
também Santos (2008).
47
Segundo Ascensão (1997, p. 668), tal pressão ocorreu por vários motivos
convenientes a esses países: 1) o direito de autor oferece uma proteção
maior comparado aos demais direitos intelectuais, o que convinha ao país-
líder na produção de programas; 2) o direito de autor permite uma proteção
automática, sem a obrigação de revelar o método do programa, ao contrário do
que ocorreria com a patente; 3) a qualificação como direito de autor permitiria
exigir o tratamento nacional, com amparo da Convenção de Berna e outras
convenções multilaterais, não necessitando esperar a elaboração de um novo
convênio e o lento movimento de ratificações; e 4) a qualificação como direito
de autor também permitiria sustentar que o programa de computador seria
tutelado pelas leis nacionais sobre direito autoral, independentemente da
aprovação de leis específicas sobre programa de computador..

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual 109

Contudo, partindo do pressuposto de que o instituto de


propriedade intelectual surgiu para proteger a criação do ser
humano, garantindo-lhe uma exclusividade temporária, a proteção
jurídica do programa de computador não é eficaz do ponto de vista
da criação. Em outras palavras, o que o direito de autor protege
é a forma de expressão do programa de computador, e não a
função que este tem. Na prática, considerando a repercussão do
software no meio industrial, o direito autoral não abrange de forma
eficaz o elemento criativo do software – qual seja, a própria lógica
do programa. A finalidade do programa de computador, assim, e
coadunando com os autores que criticam a posição de proteção
por direito autoral, é determinar um processo, um método, pelo
qual a máquina executará suas funções48.
O software atualmente assumiu uma importância primordial
na sociedade, encontrando-se em todos os setores, de uma
simples comunicação até o controle de grandes redes de logística,
indústria, comércio, governo etc. Com isso, suas funções vão
além de uma expressão de linguagem para a máquina, passando a
fazer parte de grandes inventos. Daí a polêmica e a possibilidade
de proteção deste intangível por outros institutos da propriedade
intelectual, como patente de invenção, marca, desenho industrial,
concorrência desleal e segredo industrial (SANTOS, 2008, p. 65
et seq., PIMENTEL, 2008).
No Quadro 4 estão relacionados os principais acordos
internacionais que preveem disposições sobre programa de
computador, incluindo acordos não ratificados e promulgados
pelo Brasil.

48
Sobre a natureza do software, sua proteção por direito de autor e por outros
institutos que tentam garantir maior proteção, ver Santos (2008).

Volume II
110 Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual

Quadro 4 – Principais acordos internacionais relacionados com programas de


computador

Acordo Internacional Ano Organismo


Acordos sobre Aspectos dos Direitos de
Propriedade Intelectual relacionados ao 1994 OMC
Comércio (TRIPS)
Tratado sobre o registro internacional de obras
1989 OMPI
audiovisuais
Convenção da OMPI sobre o Direito de Autor
1996 OMPI
(WCT)
Convenção da OMPI sobre Artistas e
1996 OMPI
Produtores de Fonogramas (WPPT)
Fonte: Elaborado pelas autoras deste capítulo (2019)

Seguindo a tendência internacional, o Brasil adotou o


direito de autor como instrumento de proteção do programa de
computador – o que foi feito pela primeira vez por meio da Lei
n. 7.646, de 18 de dezembro de 198749. Em seu artigo 2º, a lei
determinava que o regime de proteção seria o de direito autoral,
à época regido pela Lei n. 5.988, de 14 de dezembro de 1973
(BARROS, 2007, p. 426). 50
Desde o início, o Brasil optou por uma lei especial
para regulamentar a proteção do programa de computador,
demonstrando as peculiaridades inerentes a esse ativo intangível51.
49
Carla Eugenia Caldas Barros chama atenção para o fato de que já em 1971,
na Lei n. 5.772, de 21 de dezembro (que então regulamentava a propriedade
industrial), o artigo 9º, caput, alínea “a”, previa como criações intelectuais não-
privilegiáveis os “sistemas e programações”, com os planos ou esquemas, entre
outros (BARROS, 2007, p. 426).
50
Art. 2º, Lei n. 7.646/1987. “O regime de proteção à propriedade intelectual de
programas de computador é o disposto na Lei n. 5.988, de 14 de dezembro de
1973, com as modificações que esta lei estabelece para atender às peculiaridades
inerentes aos programas de computador”.
51
Destaca-se a observação feita por Santos (2008), quando assevera que o Brasil
“se enquadra entre os poucos que implementaram uma legislação específica,

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual 111

A Lei n. 7.646/1987 foi revogada pela Lei n. 9.609/1998


(Lei de Programa de Computador), promulgada com a Lei n.
9.610/1998 (Lei de Direitos Autorais – LDA). A Lei de Programa
de Computador regulamenta tão somente o código-fonte e
código objeto do software, sendo que os demais elementos são
protegidos pela regra geral do direito autoral (Lei de Direitos
Autorais) (BARBOSA, 2001, p. 9)52.
Os direitos patrimoniais do programa de computador têm
prazo de proteção diferente do regime geral dos direitos autorais.
O programa de computador em si será protegido por 50 anos,
computados a partir de 1° de janeiro do ano subsequente ao
de sua publicação ou criação (art. 2°, § 2°, Lei de Programa de
Computador). Esse prazo, contudo, quando aplicado ao software,
pode trazer algumas divergências. A proteção de 50 anos é
garantida somente ao programa de computador (código-fonte
e código-objeto); os demais elementos do software (descrição do

derrogatória do direito de autor comum”. Ascensão (1997, p. 668) também


acentua que a lei brasileira não igualou programa de computador à obra
literária, em que pese ser uma linguagem, mas aplicou a ele, respeitadas suas
peculiaridades, o regime de proteção do direito de autor. Assim, nem todas
as disposições legais referentes ao direito de autor são aplicáveis a programas
de computador. Nos termos de Ascensão: “I – A lei brasileira pressupõe que
sobre o programa de computador não recai um direito de autor. Por isso
mesmo estabeleceu o princípio da reciprocidade: os estrangeiros domiciliados
no exterior só se beneficiarão da proteção se as leis nacionais concederam aos
brasileiros e domiciliados no Brasil proteção equivalente (art. 3/2). Isto seria
vedado se houvesse um verdadeiro direito de autor, pois a Convenção de Berna
impõe o princípio do tratamento nacional, que é inverso do da reciprocidade.
Daqui resulta também que o direito concedido é afinal um direito análogo ao
direito de autor, e não um direito de autor propriamente dito. [...] Em qualquer
caso, será sempre necessário verificar se uma regra de direito de autor é aplicável
à matéria dos programas de computador. Se for compatível, aplicam-se assim
mesmo regras excepcionais. Mas se o não for, o que acontecerá em grande
número de casos, está excluída”.
52
Segundo Barbosa (2001, p. 9), “[...] a intenção do legislador da LPC, assim,
era proteger pelo regime especial exclusivamente o programa de computador,
deixando de lado a documentação técnica associada – que, em princípio, será
objeto do Direito Autoral genérico e do regime fiscal e regulatório próprio aos
livros e documentos, conforme sua natureza”.

Volume II
112 Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual

programa e material de apoio) serão protegidos durante toda a


vida do autor, mais 70 anos, computados a partir de 1° de janeiro
do ano subsequente à morte dele. Se existir mais de um autor para
tais documentos, o prazo começará a contar a partir da morte do
último autor sobrevivente (art. 42, Lei de Direitos Autorais).
Portanto, na proteção do software, serão computados dois
prazos distintos: o de 50 anos para o código-fonte e código-objeto,
e durante toda a vida do autor, mais 70 anos, para os demais
documentos técnicos. Essa diferença de prazos, com a evolução e
importância do software na sociedade, poderá gerar controvérsias
complexas que deverão ser resolvidas pela jurisprudência.
Por fim, destaca-se que a proteção autoral do software é
garantida independentemente de registro, a partir da data de sua
criação ou publicação. O efeito do registro, realizado no Instituto
Nacional da Propriedade Industrial (INPI), é declaratório de
direito e não se faz análise de mérito do software. Ademais, a
proteção é garantida internacionalmente, nos países signatários
da CUB/OMPI e da OMC.

Novidade: história dos acordos internacionais,


acordos internacionais vigentes e sua
internalização no Brasil
A novidade é o elemento característico que compreende
bens intelectuais cuja proteção se justifica por seus titulares
trazerem algo novo à sociedade, em troca da exclusividade
temporária. Nesse item serão tratadas das patentes de invenção
e do modelo de utilidade, desenhos industriais e topografias de
circuitos integrados.
Conforme apontam Vieira e Buainain (2004), a concepção
de propriedade vem se desenvolvendo desde os tempos mais
primitivos. Tem com fio condutor a demarcação de espaços de

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual 113

sobrevivência e dos direitos sobre os meios de produção e poder


das comunidades. Nesse cenário, o homem aprendeu a conhecer
melhor a natureza, a dominar o fogo, a água, estabeleceu regras
de convivência com os semelhantes, desenvolveu instituições
para facilitar e assegurar a reprodução social, consequentemente,
a propriedade passa a ser uma das instituições basilares desde que
o homem se tornou sedentário.
Os avanços tecnológicos, sobretudo na sociedade capitalista
nascente, com a Revolução Industrial, modificaram a divisão e a
especialização do trabalho e o processo de criação e produção
de novos bens. Explicita-se a separação radical entre trabalho
intelectual e trabalho manual ou físico, não especializado.
Enquanto os primeiros concebem, intelectualmente, os objetos a
serem lançados nas linhas de montagem da indústria, aos operários
cabem as tarefas repetitivas e não criativas de dar vida física à
criação dos inventores e inovadores. A estratégia das empresas
incorpora a diferenciação baseada na criação e desenvolvimento
de “sinais” e “marcas” de expressão distintiva para seus produtos
(VIEIRA; BUAINAIN, 2004).
Diante desse cenário, cresce a importância do direito de
propriedade, que passar a abarcar um complexo conjunto de
relações econômicas, jurídicas e sociais, entre os quais a propriedade
sobre bens imateriais. Nesse sentindo, são introduzidas novas
regras no sentido de proteger os diferentes processos produtivos
em mercados cada vez mais amplos e impessoais. Assim, a
propriedade intelectual, passa a ser regulada por meio de tratados
e convenções internacionais, que estabelecem os princípios
básicos, a fim de que os países signatários regulem sobre o tema
em seu território. Os países interessados deveriam aderir a estas
normas, internalizando-as em seus territórios.
A Convenção da União de Paris (1883) e a Convenção da
União de Berna (1886) trazem um dado novo, extremamente

Volume II
114 Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual

significativo, por serem preponderantemente jurídicas, uma vez


que tinham pretensões maiores do que aquelas de simplesmente
contribuir para a formação de uma comunidade internacional de
ordem política, militar, econômica, técnica, administrativa, ou
simplesmente espiritual. As Convenções proporcionaram que a
ordem jurídica internacional passasse a se voltar diretamente aos
indivíduos, onde quer que eles estejam, a fim de lhes reconhecer
direitos fundamentais e protege-los, de acordo com Basso (2000).
Ainda, afirma a autora que essas Convenções representam os
tipos melhores acabados na determinação da natureza jurídica
dos chamados tratados-leis ou tratados normativos, ou seja, as regras
de direito objetivamente validas e nas quais os Estados figuram
como legisladores. Assim, contribuíram para a transformação do
direito internacional, que até então girava em torno do “Estado
Soberano”, alargando os quadros antigos e restritos dos sujeitos,
das pessoas de direito internacional privado.
A primeira organizou a figura jurídica do privilégio de
invenção, exigiu-se que o regime de patentes fosse ampliado e
que se criassem novas formas de proteção para a criação humana,
tendo em vista que estava se ampliando o progresso científico
e tecnológico e o desenvolvimento da indústria e do comércio.
Tinha por objetivo assegurar a proteção das patentes de um país
em outros territórios. Dessa forma, a partir da Convenção da
União de Paris se estabelece um sistema mundial de patentes, do
qual foram signatários 11 países inicialmente, entre os quais o
Brasil.
Dessa forma, os Acordos de Paris e Berna representaram
um passo fundamental para a formação de uma nova categoria
de convenções internacionais: relativas aos direitos privados. E
a propriedade intelectual serviu de ponto de partida para um
verdadeiro sistema de direito internacional privado comum
(BASSO, 2000).

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual 115

Assim, somente com a OMC/TRIPS, o reconhecimento de


propriedade intelectual encontrou seu lugar na ciência do Direito,
interno e internacional, possibilitando aos países que o mesmo ou
similar grau de civilização possam usufruir das mesmas regras, e
os titulares dos mecanismos que garantam o seu reconhecimento
e eficácia (BASSO, 2000).

Patentes de Invenção e de Modelo de Utilidade


No Brasil, o Alvará de D. João VI de 1809, é uma das
primeiras normas a ter legislação sobre propriedade intelectual
(BARBOSA, 2003). De acordo com Del Nero (2004), a discussão
sobre patentes (monopólio sobre inovação), teve início na
Inglaterra, em 1623.
O primeiro documento que estabeleceu uma sistemática
internacional de proteção às patentes de invenção é a Convenção
da União de Paris, em 188353. Teve por objetivo o documento
declarar os princípios básicos que disciplinam a propriedade
industrial. Na revisão de Estocolmo (1967) adota o conceito
mais amplo de propriedade industrial, abrangendo não apenas os
direitos dos inventores, como também as marcas e outros sinais
distintivos da atividade econômica (denominação de origem,
nome e insígnia).
A convenção é dividida em três categorias principais:

a) Tratamento Nacional: cada Estado concede o mesmo


direito de proteção às solicitações vindas do próprio
país ou do exterior.

53
A Convenção de Paris para a proteção da Propriedade Industrial foi aprovada
em 20 de março de 1883 e teve as seguintes revisões: Bruxelas (14/12/1900);
Washington (2/06/1911); Haia (6/11/1925); Londres (2/06/1934); Lisboa
(31/10/1958); Estocolmo (14/07/1967).

Volume II
116 Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual

b) Direito de Prioridade: quando uma patente é solicitada


em um determinado país signatário da Convenção, o
solicitante terá onze meses para requerer a patente em
qualquer outro país, também signatário, e a data do pedido
será aquela apontada na primeira solicitação da patente.
c) Normas que todos os países devem cumprir: as patentes
concedidas em diferentes países são independentes
entre si, ou seja, cada país é autônomo em sua decisão.
Isso significa que uma patente de invenção pode ser
concedida em um país e negada em outro.

Foram convencionados quatro princípios gerais aos


países signatários desse documento: Monopólio de exploração
pelo detentor da patente; Tratamento ao detentor da patente
estrangeira igual ao dispensado aos nacionais; Prioridade para o
requerente de uma patente num país requerê-la em outro durante
período de um ano; Independência entre as patentes requeridas
em diferentes países.
Ainda, a norma permitiu a cada país aderente legislar sobre
os seguintes temas: Definição das áreas sujeitas à patenteabilidade;
Obrigações do detentor da patente; Duração da proteção
patentária; Sanções a terceiros pela infração dos privilégios do
detentor da patente.
Essa Convenção, pela abrangência que conferiu ao conceito
de propriedade industrial, consolidou uma nova perspectiva para
o tratamento da matéria e guiou toda a evolução da temática ao
longo do século XX.
O Brasil é um dos países signatários das normas advindas
da Convenção de Paris, e como país-membro, incorporou em sua
regulamentação, as seguintes diretrizes, de acordo com Del Nero
(2004, p. 51-53):

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual 117

a) O inventor tem o direito de ser apontado como tal em


um processo de patente. Cada país tem o direito de
conceder licenças não voluntárias para evitar abusos
no exercício do monopólio de patentes, como a não
exploração industrial do invento.
b) O Código de Propriedade Industrial previa
expressamente a concessão de licença obrigatória para
exploração do privilégio de patente, nos casos em que
o titular do privilegio não havia iniciado tal exploração,
no país, dentro dos três anos que se seguirem à sua
expedição, ou que a tenha interrompido, por tempo
superior a um ano, ou em caso de interesse público,
situação em que ficará obrigado a conceder a licença
para que terceiro explore a invenção privilegiada (art. 33
e §§ 1º a 3° da Lei n. 5.772/71).
c) No caso de prolongada incidência do abuso, mesmo
depois da concessão de licenças obrigatórias, pode-se
ingressar com uma ação de caducidade ou renovação
de patente, mas não antes de dois anos a partir da
primeira licença obrigatória. Esta norma internacional
foi incorporada à Lei n. 5.772/71, prescrevendo que
caducará o privilégio, de oficio, ou mediante requerimento
de qualquer interessado (salvo por motivo de força
maior comprovada), quando: não tenha sido iniciada
exploração do objeto no país, de modo efetivo, dentro
de quatro anos, ou dentro de cinco anos, se concedida
licença para sua exploração (o prazo será contado a
partir da data da expedição da patente). A caducidade
pode ocorrer, se a exploração do objeto da patente for
interrompida por mais de dois anos consecutivos ou no
caso de não pagamento das anuidades ao INPI (artigos
48 a 54 da Lei n. 5.772/71).

Volume II
118 Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual

d) Os países signatários da Convenção de Paris são


obrigados a assegurar uma proteção eficaz contra a
competição desleal, bem como cada país deverá contar
com um serviço especial de propriedade industrial e um
escritório central para a divulgação pública das patentes.
Deve existir uma publicação oficial e periódica, contendo
o nome dos titulares de patentes concedidas e uma
breve descrição dos inventos patenteados. No Brasil,
são observados estes requisitos, e o órgão encarregado
é o Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI),
que possui publicações periódicas, nos moldes fixados
pela Convenção de Paris.
e) Cada país tem direito, desde que observadas as normas
gerais da Convenção de Paris, de legislar livremente
em matéria de propriedade industrial, podendo excluir
o direito de patentes em algumas áreas de tecnologia,
determinar o prazo de duração das patentes, bem
como regulamentar todos os detalhes administrativos.
O Brasil internalizou estas normas, fixando o que não
é privilegiável (o que não pode ser objeto de patente).
Quanto à duração do privilégio, a Lei n. 5.772/71
previa o prazo de 15 anos e o de modelo de utilidade ou
desenho industrial, pelo prazo de dez. anos – contados a
partir da data do depósito. Extinto o privilégio, o objeto
da patente decai em domínio público (art. 24, § único).

A partir da Convenção de Estocolmo, em 1967, cria-se a


Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI), com
sede em Genebra, Suíça. Esta norma unificou os conceitos
relativos às varias modalidades de propriedade intelectual.
O Brasil aderiu a última revisão, a partir do Decreto n.
1.263 (dez./1994), que ratifica a declaração e adesão aos artigos

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual 119

1º a 12 e ao artigo 28, alínea 1, do texto da revisão de Estocolmo


da Convenção de Paris para Proteção da Propriedade Industrial.
Dessa forma, desde a década de 1970 a OMPI elabora novos
tratados internacionais e se ocupa em dar apoio à modernização
das legislações nacionais, prestando assistência técnica aos países
em desenvolvimento. Recolhe e divulga informações, assegura
os serviços facilitando a obtenção da proteção das invenções,
marcas, desenhos e modelos industriais, em vários países. Assim
conforme aponta Bruch (2013) com a criação da OMPI, houve
a unificação da proteção da propriedade industrial e aos direitos
autorais em um mesmo organismo internacional. No âmbito do
órgão, além da Convenção da União de Paris e da Convenção
de Berna, também são administradas outras convenções, que
abrangem outros ramos, ora relacionados com propriedade
intelectual, tais como topografias de circuitos integrados, nomes
de domínio, direitos conexos aos direitos autorais, etc.
O Tratado de Budapeste (Budapest Treaty on the International
Recognition of the Deposits of Microrganisms for the Purposesof Patent
Procedure) foi finalizado em 1977 e passou a vigorar em 1980, al-
terado em setembro do mesmo ano. É outro tratado internacio-
nal que regulamenta a propriedade intelectual. Atualmente são 80
países signatários (OMPI, 2018). O tratado tem como objetivo
eliminar ou limitar a multiplicidade de depósitos de culturas, es-
tipulando que o país signatário deve exigir o depósito de micror-
ganismo para fins de patente e deve reconhecer, para esse mesmo
fim, o depósito realizado em qualquer “autoridade internacional
de depósito – IDA”, seja em seu território ou não (DEL NERO,
2004).
Dessa forma, este tratado estabelece um sistema uniforme,
já regulamentado, para deposito de microrganismos, bem como a
duração do período do deposito e mecanismo de distribuição de
amostras. No entanto, não estabelece a data em que as culturas

Volume II
120 Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual

devem ser depositadas ou distribuídas; quem determina essa


matéria é a regulamentação interna de cada país-membro, onde a
patente for solicitada. No Brasil, a matéria foi regulamentada na
Lei n. 5.772/71, no artigo 9°, alínea f).
Outra norma aberta a todos os países-membros do
Tratado de Paris e concluído em 1970 é o Patent Cooperation
Treaty (PCT), com duas alterações em 1979 e 1984. O objetivo
é disciplinar os depósitos de pedidos que tenham como objetivo
a obtenção de proteção de patente em diversos países. O tratado
determina, em nível internacional, um procedimento simplificado
a ser obedecido pelo inventor ou depositante para requerer e,
ao final, obter uma carta patente. Outro objetivo é facilitar o
intercambio das informações técnicas contidas nos documentos
de patente entre os países interessados e, igualmente, no âmbito
da comunidade cientifica internacional (DEL NERO, 2004).
Para os países que aderiram a esse tratado, são apresentadas
algumas vantagens, elencadas por Del Nero (2004, p. 55):

a) O solicitante dispõe de oito (8) a dezoito (18) meses


mais do que teria com outro procedimento fora do PCT
para decidir sobre a conveniência em procurar proteção
em países estrangeiros, pra preparar as traduções e pagar
as taxas nacionais.
b) Com base na busca internacional, o solicitante
pode avaliar com maior precisão as perspectivas de
patenteabilidade do seu invento. Caso o solicitante opte
pelo exame preliminar essa precisão será maior ainda.
c) O trabalho da busca ou exame pelos órgãos de
patente nacionais será consideravelmente reduzido, ou
virtualmente eliminado.
d) Como o pedido de patente é publicado com o resultado
da busca internacional, qualquer interessado pode

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual 121

formar uma opinião fundada sobre a patenteabilidade


do invento.

De acordo com Del Nero (2004, p. 56), são duas fases para
que uma patente seja depositada via PCT: a fase internacional
e nacional. Na fase internacional são realizados os seguintes
procedimentos: depósito – que é a apresentação do pedido em um
instituto recebedor. Assim, o deposito pode ser levado a efeito
perante um Escritório Internacional da Organização Mundial
da Propriedade Intelectual; busca internacional – é realizada por
qualquer um dos institutos designados pela Assembleia da União
do PCT; publicação internacional – é o ato praticado exclusivamente
pelo Escritório Internacional da OMPI; exame preliminar
internacional – realizado quando solicitado pelo requerente.
Finalizadas essas etapas, passa-se à tramitação da solicitação da
patente na fase nacional.
A fase nacional ocorre em cada um dos países onde a
patente foi requerida. O depositante deve se dirigir a cada um dos
institutos designados e apresentar a documentação necessária, de
acordo com a legislação de cada um dos países.
No Brasil, o PCT foi internalizado através do Decreto n.
81.742, de 31 de maio de 1978 – a fim de cooperar no terreno de
depósitos, das pesquisas e do exame dos pedidos das invenções,
bem como para prestação de serviços técnicos especiais. Dessa
forma, passa a denominar União Internacional de Cooperação
em Matéria de Patentes (artigo 1°, das disposições introdutórias)
Nas décadas de 1970/1980, o comércio internacional foi
afetado pela questão do desrespeito à propriedade intelectual.
Os produtores e exportadores de bens de maior conteúdo
tecnológico desejavam garantir que os altos custos que possuíam
com P&D, tivessem proteção nos países importadores. A partir
desse cenário, os países desenvolvidos buscaram por meio da

Volume II
122 Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual

OMPI, negociar um tratamento mais rígido referente à temática.


No entanto, decorrente dos fracassos das medidas unilaterais e
bilaterais, protagonizadas pelos EUA e pela União Europeia, e
a insatisfação gerada nos países mais ricos pela incapacidade e
lentidão para conseguir ampliação da proteção da propriedade
intelectual dentro da OMPI, bem como a necessidade de se vincular
o tema da propriedade intelectual ao comercio internacional, esse
cenário fez com que fosse criado o TRIPS (BRUCH, 2013).
Ainda, teve origem na necessidade de se elaborar um
conjunto de princípios, regras e disciplinas multilaterais sobre
comércio de bens contrafeitos; na exigência premente de se fixar
objetivos básicos de política pública dos sistemas nacionais para
a proteção de propriedade intelectual, inclusive dos objetivos de
desenvolvimento e tecnologia e, igualmente, nas necessidades
especiais dos países de menor desenvolvimento no que se refere
à implementação interna de leis e regulamentos com máxima
flexibilidade de forma a habilitá-los a criar uma base tecnológica
solida e viável (VIEIRA; BUAINAIN, 2004).
De acordo com Bruch (2013), o objetivo geral do Acordo
é reduzir as distorções e obstáculos ao comércio internacional
e assegurar que as medidas e procedimentos de repressão
ao comércio ilícito não se tornem, por sua vez, obstáculos ao
comércio internacional legítimo. Ainda, segundo a autora,
se trata de um acordo que estipula uma proteção mínima da
propriedade intelectual em nível mundial, para corrigir a prática
de infrações dessa tutela, elevando o nível de proteção para todos
os países-membros e para garantir que essa proteção, mediante
procedimentos jurídicos predeterminados, sejam ágeis e efetivos
(BRUCH, 2013).
Dessa forma, a partir dos objetivos do TRIPS, a proteção
e a aplicação das normas de proteção dos direitos de propriedade
intelectual devem contribuir para a promoção da inovação
tecnológica e para a transferência e difusão de tecnologia, em

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual 123

benefício mutuo de produtores e usuários de conhecimento


tecnológico e de uma forma conducente ao bem-estar social e
econômico e a um equilíbrio entre direitos e obrigações (VIEIRA;
BUAINAIN, 2004).
Após a adesão do Brasil ao Acordo sobre Aspectos dos
Direitos de Propriedade Intelectual Relacionados ao Comércio
(TRIPS – Agreementon Trade-Related Aspects of Intellectual Property
Rights), por meio do Decreto n. 1.355, em 30 de dezembro de 1994,
ocorreu uma mudança radical na institucionalidade do sistema de
propriedade intelectual, criando um mecanismo de enforcement dos
princípios e regras até então ausentes. Nesse contexto pós-TRIPS,
a simples possibilidade de retaliação comercial ou de exclusão
de negociações importantes em mercados internacionais, levou
os países em desenvolvimento a aprovar, no menor prazo de
tempo possível, novas legislações sobre propriedade intelectual
em todas as áreas, desde a propriedade intelectual até os direitos
de melhorista (VIEIRA; BUAINAIN, 2004).
Com a promulgação da Lei de Propriedade Intelectual
(LPI), em 1996, se iniciou uma nova etapa de valorização da
inovação, provocando um aprendizado contínuo para um país
que dedicava pouca atenção para a proteção, apesar de ser um
dos onze países fundadores da Convenção de Paris em 1883.
O progresso econômico e social requer um fluxo constante de
novas ideias e produtos para melhorar as condições de vida e a
eficácia e eficiência do uso de recursos cada vez mais escassos e
preciosos. Novos produtos e processos são também importantes
para a regeneração ou a substituição de indústrias em declínio e,
em consequência, para a plena utilização dos setores produtivos
de uma economia. As invenções e as inovações são o resultado
lógico do conhecimento acumulado. A experiência demonstra
que a criatividade dos cidadãos contribui consideravelmente
para o progresso tecnológico quando combinada à segurança

Volume II
124 Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual

e à proteção legal garantidas pela propriedade intelectual aos


inventores, aos inovadores e àqueles que investem em Pesquisa e
Desenvolvimento (P&D) (ZILLI et al., 2017).
No Quadro 5 estão apresentados os principais acordos
internacionais relacionados à proteção de patentes de invenção e
modelo de utilidade.

Quadro 5 – Principais acordos internacionais vigentes relacionados a patentes de


invenção e modelo de utilidade

Acordo Internacional Ano Organismo


Convenção da União de Paris para a proteção da BIRPI/
1883
propriedade industrial (CUP) OMPI
Patent Cooperation Treaty (PCT) 1970 OMPI
Tratado de Budapeste/ Budapest Treaty on
the International Recognition of the Deposits of 1977 OMPI
Microrganisms for the Purposes of Patent Procedure
Acordos sobre Aspectos dos Direitos de
Propriedade Intelectual relacionados ao 1994 OMC
Comércio (TRIPS)
Fonte: Elaborado pelas autoras deste capítulo

Além das patentes de invenção e de modelo de utilidade,


também os desenhos industriais têm na novidade um de seus
principais requisitos para a proteção por meio da propriedade
intelectual.

Desenhos Industriais
O homem sempre procurou aplicar ideias que lhe vinham à
mente, concebidas muitas vezes para resolver problemas técnicos.
Com o passar do tempo, surgiu a necessidade de se criar objetos
e coisas que servem não apenas para resolver problemas, mas
também para adorno e deleite, ou seja, com função estética. Se

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual 125

no início o objetivo era ser funcional, a partir da década de 1920 a


forma dos produtos passa a ser elemento de destaque e interesse
para indústria e consumidores (SILVA, 2014). Disso decorre a
necessidade de se encontrar formas de proteção dessas novas
formas, que não são técnicas, mas estéticas e ornamentais.
Em face disso, desde sua primeira versão, de 1883, a CUP
traz a proteção aos desenhos ou modelos industriais54, restando
consolidada, em sua versão de 1967, a referida proteção.
Também em face de sua importância, já em 1925 foi
firmado o Acordo da Haia relativo ao registro internacional
de desenhos industriais. o Acordo estabelece efetivamente um
sistema internacional – o Sistema de Haia – que permite que os
desenhos industriais sejam protegidos em vários países ou regiões
com formalidades mínimas (OMPI, 2018). Atualmente, o acordo
conta com 70 Estados-partes, que são signatários e nos quais os
nacionais de cada um dos países pode fazer o depósito em todos
os demais. O Brasil não é signatário desse acordo.
Posteriormente, esse foi atualizado mediante o Ato de
Haia, de 1960; o Protocolo do Ato de Haia, também em 1960; o
Ato complementar de Estocolmo, de 1967; e o Ato de Genebra,
em 1999 (OMPI, 2018).
Também no âmbito da OMPI, em 1968, é firmado o Acordo
de Locarno que estabelece uma classificação internacional para
desenhos industriais (a Classificação de Locarno). Em face desse
acordo, os escritórios competentes dos Estados-partes devem
indicar em documentos oficiais que reflitam o depósito ou registro
de desenhos ou modelos industriais os números das classes
e subclasses da Classificação à qual pertencem as mercadorias
que incorporam os desenhos. Isto também deve ser feito em
54
A Convenção de Paris para a proteção da Propriedade Industrial foi aprovada
em 20 de março de 1883 e teve as seguintes revisões: Bruxelas (14/12/1900);
Washington (2/06/1911); Haia (6/11/1925); Londres (2/06/1934); Lisboa
(31/10/1958); Estocolmo (14/07/1967).

Volume II
126 Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual

qualquer publicação que os escritórios emitirem em relação ao


depósito ou registro de desenhos industriais. Atualmente este
acordo conta com 56 Estados-partes (OMPI, 2018). O Brasil
não é signatário, mas utiliza esta classificação para o depósito de
desenhos industriais.
Posteriormente, conforme já relatado, foi firmado o
acordo TRIPS, que, entre os direitos protegidos, também trata
da proteção de desenhos industriais, em seus artigos 25 e 26. No
âmbito do Mercosul, com a assinatura do TRIPS, já mencionada,
faz-se necessária a tratativa dos direitos de propriedade intelectual
no âmbito do Mercosul. Nesse sentido foi firmado o Protocolo
de Harmonização de Normasem Matéria de Desenhos Industriais
sob n. 16, de 10 de dezembro de 1998.
O modelo industrial, como modalidade de propriedade
intelectual, é toda disposição ou conjunto de linhas e cores
que tem por fim industrial ou comercial e possa ser aplicado
à ornamentação de um produto, por qualquer meio manual,
mecânico ou químico, singelo ou combinado, de acordo com a Lei
n. 5.772/71. Para essa norma, o desenho industrial era protegido,
por intermédio do privilégio de patente (DEL NERO, 2004).
Mas, com a aprovação da Lei n. 9.279/96, o instituto passa a ser
reconhecido e protegido mediante registro. Assim, nos termos
do artigo 95 da norma, desenho industrial é toda forma plástica
ornamental de um objeto conjunto ornamental de linhas e cores
que possa ser aplicado a um produto, proporcionando resultado
visual novo e original na sua configuração externa e que possa
servir de tipo de fabricação industrial.
Para Silveira (2014), no que diz respeito à proteção dos
desenhos industriais, a proteção, no caso, restringe-se à nova
forma conferida ao produto, sem considerações de utilidade,
podendo achar-se aplicada seja a um objeto útil ou não. Tal
forma, somente deve se achar desvinculada da função técnica,

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual 127

isto é, não pode consistir em uma forma necessária para que


o produto preencha a sua finalidade, hipótese que seria o caso
de um modelo de utilidade. Dessa forma, o caráter ornamental,
se aplica a qualquer classe de objetos, desde que possam ser
industrializados, caso contrário, estariam fora do âmbito da
proteção da lei de propriedade industrial. Portanto, os desenhos
industriais constituem invenções de forma (invenções em sentido
lato), destinadas a produzir efeito meramente visual, não sendo
requisito essencial dessas criações o cunho artístico, mas apenas a
novidade (DEL NERO, 2004).
Segundo Barbosa (2003), os desenhos industriais eram
considerados uma modalidade literal de patente até a promulgação
da Lei n. 9.279/96 e a internalização da ótica adotada pelo
TRIPS. A tutela dos desenhos industriais (antes modelos, se
tridimensionais, desenhos se bidimensionais) passa a ser objeto
de registro, de forma a expressar a automática outorga do direito
a quem satisfaça os requisitos formais para tanto.
Aponta Barbosa (2003, p. 575) que a proteção dos desenhos
industriais é, em direito comparado, a mais polimorfa de todos
os direitos de propriedade intelectual. Proteção por regime
similar aos das patentes, pelo direito autoral por formas mistas
e cumulativas, há de tudo nas varias legislações nacionais. Mas,
o mais certo é seguir o que dispõe o artigo 25.1 do TRIPS, que
deverá sempre haver algum tipo de proteção.
O direito de requerer a proteção é conferido ao autor – art.
6° e 7° da LPI, assim como as regras de apropriação do trabalho
subordinado e autônomo.
E ao contrário do que ocorre com as patentes, a publicação
e a concessão dos direitos de propriedade intelectual aos desenhos
industriais é automática, expedindo-se o respectivo certificado.
Essa é a principal alteração do novo regime de desenhos industriais,
o que configurou a natureza do exame como de registro e não

Volume II
128 Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual

o típico das demais patentes, conforme aponta Barbosa (2003).


Ainda, são aplicadas ao registro do desenho industrial, no que
couber, as disposições do artigo 42 e dos incisos I, II e IV do
artigo 43, os quais se referem a definição do direito oriundo da
patente, e a seus respectivos limites, prescrito no TRIPS:

Art. 26 – 1 – O titular de um desenho industrial protegido terá o direito


de impedir terceiros, sem sua autorização, de fazer, vender ou importar
artigos que ostentem ou incorporem um desenho que constitua uma
cópia, ou seja substancialmente uma cópia, do desenho protegido,
quando esses atos sejam realizados com fins comerciais.

Pelo artigo 187 da LPI, é crime fabricar, sem autorização


do titular, produto que incorpore desenho industrial registrado,
ou imitação substancial que possa induzir em erro ou confusão.
Assim, há de se comprovar a confusão real ou potencial, levando-
se em consideração o consumidor a que se destina o produto
contendo o design. E a proteção não se resume apenas à imagem ou
à forma do desenho, pois também comete crime contra o direito
de desenho industrial quem exporta, vende, expõe ou oferece à
venda; quem tem em estoque, oculta ou recebe, para utilização
com fins econômicos, objeto que se incorpore ilicitamente
desenho industrial registrado, ou imitação substancial que possa
induzir em erro ou em confusão (BARBOSA, 2003).
O prazo de vigência do registro de desenho industrial é
de dez. anos contados da data do deposito prorrogável por três
períodos sucessivos, de cinco anos cada. O pedido de prorrogação
poderá ser requerido durante o último ano de vigência do
registro, com o comprovante de pagamento. No entanto, se não
houver sido requerido o pedido de prorrogação até o termo final
da vigência do registro, o titular poderá realizar nos 180 dias
subsequentes mediante o pagamento de retribuição adicional.
O direito de desenho industrial se extingue pela expiração
do prazo de vigência; pela renuncia do seu titular; pela falta de

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual 129

pagamento da retribuição quinquenal; ou pela inobservância da


regra de que o titular domiciliado no exterior deverá constituir
e manter procurador devidamente qualificado e domiciliado no
país.
No Quadro 6 estão apresentados os principais acordos
internacionais relacionados à proteção de desenhos industriais.

Quadro 6 – Principais acordos internacionais vigentes relacionados a desenhos


industriais

Acordo Internacional Ano Organismo


Convenção da União de Paris para a proteção BIRPI/
1883
da propriedade industrial (CUP) OMPI
Acordo da Haia relativo ao registo
1925 OMPI
internacional de desenhos industriais
Acordo de Locarno que estabelece uma
classificação internacional para desenhos 1968 OMPI
industriais
Acordos sobre Aspectos dos Direitos de
Propriedade Intelectual relacionados ao 1994 OMC
Comércio (TRIPS)
Protocolo de Harmonização de Normas 
em Matéria de Desenhos Industriais sob n. 1998 Mercosul
16/98
Fonte: Elaborado pelas autoras deste capítulo

Também as cultivares são formas de proteção que têm


entre seus requisitos a novidade.

Proteção de Cultivares
Desde o século XIV são propostas regras de propriedade
intelectual sobre variedades vegetais. Uma das primeiras leis foi
em 1790 nos Estados Unidos e serviu de base para a legislação

Volume II
130 Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual

francesa em 1791 e, da Alemanha em 1877, usadas para proteger


inventos de uso industrial. Dessa forma, houve a necessidade de
se estabelecer mecanismos jurídicos para assegurar iguais direitos
do obtentor da propriedade intelectual, a partir de normas
internacionais com os princípios básicos.
Nos anos de 1950, com o objetivo de regulamentar os direitos
dos melhoristas de plantas, diversos países europeus iniciaram
movimento para elaboração de regras para proteção de novas
variedades vegetais. Capitaneado principalmente pela Alemanha,
Países Baixos, Reino Unido e França o movimento resultou, com
a Conferência Diplomática de Paris em 2 de dezembro de 1961,
na criação da União Internacional para Proteção de Obtenções
Vegetais e adoção do Convenio Internacional para Proteção das
Obtenções Vegetais.
No Brasil, desde a década de 1940 já havia tentativas de
implementação do direito de melhoristas. A partir da década de
1990, começaram novas discussões sobre a temática e, com o
envio de Projeto de Lei n. 1.457 converteu-se na Lei n. 9.456,
de 28 de abril de 1997, para disciplinar a propriedade intelectual
de cultivares (também conhecida como direito de melhoristas ou
Plant Breeder’s Rights).
A fonte desta legislação é o tratado da União Internacional
para Proteção das Obtenções Vegetais (UPOV), a qual o Brasil
estava em fase de adesão. E a fonte remota, é o Código de
Propriedade Industrial de 1945 e o Decreto-Lei n. 7.903 (publicado
no Diário Oficial 29/09/1945 – com redação do Decreto-Lei n.
8.481, de 27/12/1945) (SILVEIRA, 2014).
A União Internacional para Proteção das Obtenções
Vegetais (UPOV) é uma organização intergovernamental com
sede em Genebra/Suíça, estabelecida a partir da Convenção para
Proteção de Novas Variedades de Plantas ocorrida em 1961, em
Paris, revisada em 1972, 1978 e 1991. O objetivo do órgão é a

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual 131

proteção dos direitos de propriedade industrial de novas cultivares


de plantas, e sua missão é fomentar um sistema eficaz para a
proteção das espécies vegetais, com a finalidade de promover o
desenvolvimento de novos cultivares para o benefício de toda a
sociedade (UPOV, 2005a; BRUCH, 2013).
Atualmente estão vigentes dois tratados: Ata de 1978 e
a Ata de 1991. Os países membros da UPOV poderiam até a
promulgação da ata de 1991, permanecerem no âmbito da UPOV
1978, ou optarem pela nova Ata. A Ata de 1978 traz proteções
mais brandas para novos cultivares e a proibição da dupla proteção
para uma mesma espécie botânica, ou seja, uma proteção por
patente e outra, concomitante, mediante um sistema sui generis
que pode ser compreendida no Brasil como proteção de cultivar.
A Ata da UPOV de 1991 traz proteções mais rígidas, bem como
não restringe a dupla proteção (UPOV, 2005a).
A revisão da Ata de 1991 foi a mais significativa, conforme
as seguintes razões elencadas por Garcia (2004): a) Tornar claras
certas providências à luz das experiências dos sócios da UPOV
de 1961; b) Fortalecer a proteção das novas variedades oferecida
ao obtentor; c) Adaptar-se às mudanças tecnológicas ocorridas
na agricultura.
A UPOV possui dois órgãos permanentes: o conselho
e o escritório. O conselho é composto pelos representantes
dos Estados-membros e dos membros intergovernamentais
potenciais. Hierarquicamente, é o órgão máximo da instituição. Sua
tarefa é salvaguardar os interesses e fomentar o desenvolvimento
da União na adoção de seus programas e pressupostos. Ainda,
estabeleceu três comitês: Consultivo, Administrativo e Jurídico,
bem como foram criados grupos de trabalhos técnicos sobre:
plantas agrícolas, automatização e programas informáticos,
plantas frutíferas, plantas ornamentais e árvores florestais,
hortaliças, técnicas bioquímicas e moleculares e perfis de ADN

Volume II
132 Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual

em particular (esses comitês seriam organismos subsidiários, na


medida em que tratam dos temas específicos para os quais foram
criados).
O escritório tem por função realizar as obrigações e tarefas
determinadas pelo Conselho.
A UPOV tem por função a uniformização dos instrumentos
que habilitam a proteção de novas variedades de plantas em
nível mundial. Ainda, determina as características essenciais da
legislação de proteção que devem ser incluídas nas leis domésticas
dos países-membros visando à harmonia entre essas leis e a
operação pratica do sistema de proteção. Entretanto, cada país
signatário é livre para estabelecer as suas próprias normas, o que
torna suas legislações distintas (GARCIA, 2004).
Atualmente, são 75 países-membros da UPOV e o Brasil
é um dos países signatários. O órgão tem como principal função
a uniformização dos conceitos e instrumentos que habilitam
a proteção de novas variedades de plantas em nível mundial.
Determina as características essenciais da legislação de proteção
que devem ser incluídas nas leis domésticas dos países-membros
visando a harmonia entre estas leis e a operação prática do sistema
de proteção. Entretanto, cada Estado é livre para estabelecer seus
próprios critérios em nível nacional (GARCIA, 2004; VIEIRA;
BUAINAIN, 2004; BRUCH, 2013).
Entretanto, a atividade mais importante está em estabelecer
os princípios gerais para a conduta do exame de variedades de
plantas no que diz respeito à distinção, uniformidade, estabilidade
e diretrizes mais especificas para as sucessivas colheitas. Esses
princípios permitiram a padronização do conceito de variedade
entre os países signatários, facilitando assim as trocas internacionais
(GARCIA, 2004; VIEIRA; BUAINAIN, 2004; BRUCH, 2013).

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual 133

Para compreender um pouco a proteção de cultivares nos


acordos internacionais, fundamental compreender como se dá
sua previsão e proteção nas Atas UPOV.
A Ata de 1961 estabeleceu as condições de cooperação
administrativa e técnica entre a UPOV e a OMPI, baseadas em um
documento elaborado pelo governo suíço, que era a autoridade
supervisora de ambas as organizações. Mas com a Ata de 1978, a
UPOV foi declarada personalidade jurídica própria. O escritório
da UPOV está sob a coordenação do secretário geral (que de pelo
Acordo entre as duas instituições é também o diretor geral da
OMPI). Os dois órgãos estão localizados em Genebra/Suíça e
ambos mantêm uma estreita cooperação técnica e administrativa.
A Ata da UPOV/78 em seu preâmbulo nos dois primeiros
parágrafos já aborda a importância da proteção de cultivares para
o desenvolvimento da agricultura e das economias dos países
para salvaguardar os interesses de seus obtentores (GARCIA,
2004, p. 56):

a. Estão convencidas da importância da proteção das obtenções vegetais


tanto para o desenvolvimento da agricultura no seu território como
para a salvaguarda dos interesses dos obtentores;
b. Estão cientes dos problemas particulares que representam o
reconhecimento e a proteção do direito do obtentor e, especialmente,
das restrições que as exigências do interesse público podem impor ao
livre exercício desses direitos.

Dependendo da Ata seguida, a forma proteção é facultativa


ao país signatário ao obtentor de novas variedades vegetais,
mediante a concessão de um título de proteção ou de patente.
E, caso o país signatário opte pelo patenteamento, este deve
estar de acordo com as normas internacionais pertinentes ou as
normas nacionais e regionais correspondentes (GARCIA, 2004).

Volume II
134 Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual

Ainda, aqueles países que já haviam concedido patentes


para variedades vegetais anteriores à adesão, a Ata da UPOV,
estabelece:

Cada Estado da União pode reconhecer o direito do obtentor previsto


pela presente Convenção, mediante a outorga de um título especial
de proteção ou de uma patente. Porém, um Estado da União cuja
legislação nacional admita a proteção em ambas as formas, deverá
aplicar apenas uma delas a um mesmo gênero ou a uma mesma espécie
botânica. (UPOV, 1978, Ata, art. 2°)

Portanto, a partir dessa Ata, os países signatários da UPOV


podem ser mais restritos em sua regulamentação nacional, no
que se refere a limitação da aplicabilidade da norma dentro de
um gênero ou espécie botânica, nas variedades que detêm um
sistema particular de reprodução ou multiplicação e, inclusive,
que possuem certa utilização final (art. 2.2 da Ata de 1978).
Dispõe o artigo 3° que deverá ser assegurado a nacionais
e estrangeiros o mesmo tratamento. O quer dizer que, se um
melhorista estrangeiro protocolar seu requerimento de proteção
no mesmo dia em que um nacional o fez, no país onde está sendo
requerida a proteção, deverá ser assegurado o mesmo prazo de
proteção a ambos (GARCIA, 2004).
Ainda de acordo com o mesmo artigo, um Estado pode
limitar o benefício da proteção de uma variedade aos nacionais
ou residentes daqueles outros Estados-membros que apliquem
a Ata a esse gênero ou espécie. O que significa que se um país
decide proteger um determinado gênero ou espécie botânica,
ele terá o direito de estabelecer qual o benefício de proteção se
limita aos nacionais de outro Estado da União que apliquem essa
mesma Ata ao mesmo gênero ou espécie botânica, mas as novas
variedades obtidas seriam diferentes (GARCIA, 2004).

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual 135

O artigo 4° estabelece que a proteção se estenda a todos


os gêneros ou espécies botânicas. Os países que adotam a Ata
de 1978 deveriam iniciar a proteção com cinco espécies e, no
prazo de três anos, deveriam ampliar pelo menos dez. gêneros ou
espécies. No prazo de seis anos, esse número deveria aumentar
para pelo menos dezoito e, no prazo de oito anos, deveria subir
para vinte e quatro. No entanto, não ficou estabelecido o prazo
para estabelecer normas de proteção para todas as espécies do
reino vegetal (GARCIA, 2004).
Expõe Garcia (2004) que o obtentor da proteção da cultivar
tem direitos sobre a produção do material propagativo para fins
de comercialização e venda, conforme o estabelecido no artigo
5° da Ata da UPOV de 1978. O direito do obtentor advém a
toda geração, ao contrario do direito de patente que é somente
para o primeiro material. Este artigo também permite que o
obtentor autorize terceiros a produzirem ou comercializarem sua
variedade, sob suas condições, e ele é livre para conceder licença
a terceiros, em troca de pagamento de royalties.
Mas, uma das principais características apresentada por esta
Convenção ser refere ao livre acesso do agricultor e do melhoristas
na utilização da nova variedade vegetal, sem a autorização do
obtentor:

A autorização do obtentor não é necessária para a utilização da variedade


como fonte inicial de variação com a finalidade de criar outras variedades,
nem para a comercialização destas. Porém, essa autorização é exigida
quando a utilização repetida da variedade é necessária para a produção
comercial de uma outra variedade. (UPOV, 1978, Ata, art. 5.3)

Esse dispositivo é relevante pelo fato de demonstrar


claramente o entendimento da UPOV sobre a natureza do
processo de obtenção das variedades de espécies vegetais; e, ainda,
por que a pesquisa de cultivares frequentemente se realiza a partir

Volume II
136 Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual

da evolução de outras variedades Dessa forma, o documento


estabelece exceções ao obtentor da proteção, permitindo que o
pequeno produtor rural possa trocar ou doar as sementes por ele
cultivadas a outro pequeno produtor rural, desde que não o faça
com intuito comercial. Ainda, segundo a norma, há a permissão
para a pesquisa utilize as variedades protegidas como fonte de
variação genética, desde que não seja para o desenvolvimento de
novas variedades, o que há a necessidade de autorização e/ou
pagamento de royalties ao obtentor daquela variedade (GARCIA,
2004).
Ainda a Ata de 78 abre precedente, de maneira tácita, para
que se permita, em nível nacional, proteger os direitos e privilégios
do agricultor sobre o uso de sementes e material de propagação
em suas próprias colheitas. Ou seja, os agricultores podem, a
princípio, guardar o material de reprodução ou multiplicação
vegetativa de uma variedade protegida e utiliza-las em posterior
plantio em sua propriedade, desde que o resultado não seja a venda
ou comercialização deste material. Assim, pode ser considerado
que há o reconhecimento dos privilégios do agricultor pela Ata
(GARCIA, 2004).
O artigo 6° estabelece os requisitos como base técnica para
a proteção de novas variedades vegetais, exigindo que todos os
seus membros adotem os seguintes critérios: distinguibilidade,
uniformidade ou homogeneidade, estabilidade, novidade e
denominação própria. Esses critérios têm por objetivo verificar
as características da planta, e a nova variedade deve possuir uma
denominação própria, destinada a ser sua designação genérica.
O prazo de proteção está estabelecido no artigo 8° – 15
anos de proteção para variedades anuais e, de 18 anos para as
demais espécies. Esses prazos foram fixados considerando os
aspectos do comércio internacional de variedades vegetais, que

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual 137

envolve quase sempre longos períodos de testes, bem como


regulamentações fitossanitárias.
O artigo 9° estabelece os requisitos para a licença
compulsória, considerado uma limitação aos direitos do obtentor,
nos casos em que for prejudicada a manutenção do fornecimento
da cultivar no mercado, a preços razoáveis, ou quando houver
prejuízo à qualidade da espécie. E o artigo 11 estabelece que os
obtentores são livres para escolher em qual país signatário deseja
apresentar seu primeiro pedido de proteção (GARCIA, 2004).
A Ata da UPOV de 1991 estabelece que os Estados-
membros devem conceder proteção aos obtentores por um
sistema sui generis, ou de patentes ou a combinação de ambos. Ou
seja, esta ata permite a dupla proteção.
O artigo 3° deste documento estabelece que a proteção deve
ser estendida a todos os gêneros e espécies, durante o período de
transição de cinco anos, se o país já for membro da UPOV:

Art. 3° - 1. Estados já membros da União – cada parte contratante que


está vinculada pelo Ato de 1961/1972 ou pelo ato de 1978, aplica as
disposições da presente Convenção,
i) na data em que passa a estar vinculada pela presente Convenção,
a todos os gêneros e espécies vegetais a que ela aplica, nessa data, as
disposições do ato de 1961/1972 ou do ato de 1978 e,
ii) o mais tardar ao fim de um prazo de cinco anos a contar dessa data,
a todos os gêneros e espécies vegetais,
2) Novos Membros da União – cada parte contratante, que não está
vinculada pela ata de 1961/72 ou da ata de 1978, aplica as disposições
da presente Convenção,
i) na data em que passa a estar vinculada pela presente Convenção, a
pelo menos 15 gêneros ou espécies vegetais e,
ii) o mais tardar ao fim de um prazo de 10 anos a contar desta data, a
todos os gêneros e espécies vegetais. (UPOV, 1991, Ata, art. 3°).

Volume II
138 Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual

Para a Ata de 1991 houve modificação quanto a extensão


da proteção, e possibilitou a cada Estado Membro, limitações
aos direitos dos obtentores sobre as variedades. Primeiramente o
documento faculta a exceção e em seguida estabelece as obrigações
aos Estados Membros (art. 15.2 da Ata de 1991). Esses direitos
conferidos aos obtentores impedem que os agricultores utilizem
parte do material de reprodução de suas colheitas para iniciar
novos plantios, sem o consentimento prévio do titular do direito.
Outra característica importante introduzida na Ata de 1991
foi o critério de derivação essencial, segundo o artigo 14.5:

Variedades derivadas e certas outras variedades:


As disposições dos §§ 1 a 4 a aplicam-se também
i. às variedades essencialmente derivadas da variedade protegida, desde
que esta não seja, ela própria, uma variedade essencialmente derivada,
ii. às variedades que não se distinguem claramente, segundo o art. 7°,
da variedade protegida e,
iii. às variedades cuja produção exige a utilização repetida da variedade
protegida.
Para os efeitos da sublinea (a – i), uma variedade é considerada
essencialmente derivada de uma outra variedade (variedade inicial) se
i. ela for predominantemente derivada da variedade inicial, ou de uma
variedade que é ela mesma predominantemente derivada da variedade
inicial, sem perder a expressão das características essenciais que
resultem do genótipo ou da combinação de genótipos da variedade
inicial,
ii. ela se distinguir claramente da variedade inicial e
iii. as variedades essencialmente derivadas podem ser obtidas, por
exemplo, pela seleção de um mutante natural ou induzido, ou de uma
variação somaclonal, pela seleção de um individuo variante escolhido
entre as plantas da variedade inicial, por retrocruzamento, ou por
transformações efetuadas através da engenharia genética. (UPOV,
1991, art. 14.5)

Outra modificação importante introduzida pela Ata de 1991


foi a extensão da proteção, permitindo aos Estados-membros

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual 139

conceder aos obtentores um direito mais amplo, estendendo-o até


a comercialização. Dessa forma, garante a proteção para o produto
final desde o cultivo, colheita, acondicionamento, importação
ou exportação (óleos, suco, rações, etc.). E os requisitos são os
mesmos adotados pela Ata de 1978.
Além das atas da UPOV, a proteção de cultivares se torna
um ponto de atenção a partir da inclusão, no TRIPS – conforme
já relatado, a obrigatoriedade de proteção de tecnologias em
todas as áreas do conhecimento. como determinação do artigo 27
do TRIPS. Assim, embora a regra fosse abrangente, o item 2 do
artigo 27 estabelece certas possibilidades de exclusão de proteção
e alternativas, entre as quais se enquadra a obrigatoriedade à
proteção de variedades vegetais – que são neste texto denominadas
cultivares, mas a opção desta proteção ser por meio de patentes ou
por um sistema sui generis. Assim, a proteção de cultivares, embora
não conste com esta nomenclatura em TRIPS, passa a ser uma
das alternativas de proteção para as plantas e, de certa forma,
a proteção de cultivares acaba adquirindo status diferenciado a
partir desta determinação.
Por força do TRIPS, o Brasil promulgou a Lei n. 9.456,
de 25 de abril de 1997 – (Lei de Proteção de Cultivares – LPC),
que disciplina a proteção de cultivares. Além disso, aderiu à Ata
de 1978, por meio do Decreto n. 3.109, de 30 de junho de 1999,
o qual Promulga a Convenção internacional para a Proteção
das Obtenções Vegetais, de 2 de dezembro de 1961, revista em
Genebra, em 10 de novembro de 1972 e 23 de outubro de 1978.
A partir de então, as cultivares desenvolvidas no Brasil não podem
ser exploradas comercialmente nos países filiados à UPOV sem
o pagamento de direitos aos melhoristas brasileiros. Como se
trata de uma via de mão dupla, da mesma forma são protegidos
os direitos dos obtentores dos países membros. Sem a adesão

Volume II
140 Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual

do Brasil à UPOV, os acordos de reciprocidade teriam que ser


negociados Estado por Estado, a partir de acordos bilaterais.
Atualmente estão em vigor os atos de 1978 e de 1991,
os quais mostram semelhanças quanto a alguns princípios para
a proteção, como: novidade, distinguibilidade, homoneneidade,
estabilidade e denominação própria, além da chamada isenção
do melhorista, que permite a qualquer pesquisador utilizar
uma cultivar protegida para fins de pesquisa ou como fonte de
melhoramento genético (AVIANI, 2011).
O Brasil adotou alguns dispositivos presentes no Ato de
1991 na Lei de Proteção de Cultivares (LPC), como é conhecida
a legislação referente a proteção de novas espécies vegetais,
especialmente a definição de Cultivar Essencialmente Derivada.
No âmbito do Mercosul, com a assinatura do TRIPS,
já mencionada, faz-se necessária a tratativa dos direitos de
propriedade intelectual no âmbito do Mercosul. Nesse sentido, foi
firmado o Acordo de Cooperação e Facilitação Sobre a Proteção
das Obtenções Vegetais nos Estados-partes do Mercosul –
MERCOSUL/CMC/DEC. n. 01/99, firmada em 15 de junho
de 1999.
No Quadro 7 estão apresentados os principais acordos
internacionais relacionados à proteção de cultivares.

Quadro 7 – Principais acordos internacionais vigentes relacionados a proteção de


cultivares

Acordo Internacional Ano Organismo


Convenção da União de Paris para a proteção BIRPI/
1883
da propriedade industrial (CUP) OMPI
União Internacional para a Proteção das OMPI/
1961
Obtenções Vegetais (UPOV) UPOV

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual 141

Acordo Internacional Ano Organismo


Acordos sobre Aspectos dos Direitos de
Propriedade Intelectual relacionados ao 1994 OMC
Comércio (TRIPS)
Acordo de Cooperação e Facilitação Sobre a
1999 Mercosul
Proteção das Obtenções Vegetais
Fonte: Elaborado pelas autoras deste capítulo

As topografias de circuito integrado também têm como um


dos requisitos de proteção a novidade e serão analisadas a seguir.

Topografia de Circuitos Integrados


Sob o ponto de vista de Rodrigues Jr. e Polido (2007), os
benefícios da microeletrônica e o avanço científico relacionado
e na mudança de comportamento do consumo na sociedade
contemporânea, os microchips e circuitos integrados de produtos
semicondutores determinaram novos modelos e valor agregado
na indústria de bens eletrônicos e digitais. Nesse cenário, a
evolução da indústria de semicondutores, nos EUA, UE e Japão,
transformou os direitos de propriedade intelectual, distante dos
modelos estabelecidos pela Convenção de Paris (1883) e Berna
(1886). A evolução da disciplina da proteção das “topografias” ou
layout-designs de circuitos integrados por direitos de propriedade
intelectual no plano internacional considerou inicialmente o
desenvolvimento legislativo sobre o tema.
A OMPI começou a estudar o problema da proteção de
chips, em 1983, após um relatório que indicava a impossibilidade de
se obter proteção eficiente aos circuitos integrados pelos sistemas
já existentes de propriedade intelectual nos apontamentos de
Barbosa (2003).

Volume II
142 Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual

Diante desse cenário, foi elaborado uma minuta de um


Tratado em 1985 e, as negociações, inclusive com a participação
de técnicos brasileiros, se estenderam até maio de 1989. O texto
final foi aprovado em 26 de maio de 1989 pela CEE e demais
países participantes, mas não aprovado pelos EUA e Japão, de
acordo com o apontado por Barbosa (2003).
O Tratado de Washington (TW) tem por objetivo, no
plano econômico, organizar o mercado de circuitos integrados,
em particular assegurando as vantagens comparativas existentes,
historicamente determinadas. Essa situação pode ser assegurada
enquanto um número limitado de países detiver a capacidade de
geração de novas tecnologias e um grupo, um pouco mais amplo,
inclusive dos países em desenvolvimento, estiver capacitado à
respectiva produção industrial (BARBOSA, 2003).
O artigo 2° do TW estabelece que circuito integrado é
produto, em sua forma final ou intermediária, na qual os elementos,
pelo menos um dos quais seja um elemento ativo, e alguma ou
todas as interconexões, constituam parte integrante do corpo e/
ou da superfície de uma peça de material, e que seja destinado a
realizar uma função eletrônica. A topografia ou layout design, por
sua vez, diz respeito à disposição tridimensional, de elementos,
expressada no circuito ou uma disposição tridimensional
elaborada para um circuito integrado destinado à fabricação na
indústria (RODRIGUES JR.; POLIDO, 2007).
Portanto, cada Estado Membro tem a obrigação de assegurar,
em seu território, a proteção da propriedade intelectual no que se
refere aos circuitos integrados e topografias em conformidade
com o Tratado de Washington. Em particular, deverá assegurar
medidas adequadas para impedir atos considerados ilícitos (art.
6°) e assegurar recursos legais quando se tenham cometido tais
atos.

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual 143

Na visão de Rodrigues Jr. e Polido (2007), a experiência


do tema das topografias de circuitos integrados no campo da
propriedade intelectual demonstrou que a soberania dos Estados
e o principio da territorialidade no direito internacional, em
particular, justificam um papel muito mais ordenador de políticas
públicas nacionais. E, dessa forma, os países signatários do
TRIPS funcionaram como autênticos formuladores de direito
de propriedade intelectual, muitas vezes, desconectados da
linguagem normativa das obrigações substantivas do Acordo,
porém em observância às obrigações ali estabelecidas.
O Tratado, ao invés de se valer de uma teia de reciprocidade,
seu artigo 5° adota o velho princípio de tratamento nacional
adotado pela Convenção de Paris, com a mesma reserva de
proteção substantiva que decorre do próprio Tratado.
A normativa geral que inspira o TRIPS sobre circuito
integrados é o da sua compatibilidade com o Tratado de
Washington sobre Propriedade Intelectual em Matéria de
Circuitos Integrados (1989). O artigo 35 determina que “[...] os
membros acordam outorgar a proteção às topografias de circuitos
integrados (denominados topografias), em conformidade com os
artigos. 2° a 7° (salvo o § 3° do art. 6°)”. art. 13 e § 3° do art. 16
desta norma, de acordo com os apontamentos de Basso (2000).
O TRIPS impõe aos países signatários aplicar as disposições
do Tratado de Washington, independentemente da adesão e
ratificação dos Estados ao referido documento.
No entanto, de acordo com Basso (2000), essa
obrigatoriedade é extremamente importante no que se refere ao
principio do tratamento nacional, que está na base da proteção
dos circuitos integrados no Tratado de Washington, mas que,
devido ao inexpressivo número de países que dele participam,
acabou por não constituir um princípio geral sobre a matéria.

Volume II
144 Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual

Os artigos 2° a 16 do TW estabelecem as obrigações


substantivas sobre a matéria. O artigo 35 do TRIPS manda
aplicar algumas dessas disposições, exceção feita ao § 3° do artigo
6°, para atender à reinvindicação dos EUA quanto às causas e às
condições para a outorga de licenças obrigatórias (BASSO, 2000).
O TRIPS, ainda, não determina as condições para proteção
dos circuitos integrados, nem mesmo os define, bem como o
TW apresenta tal definição. Aponta Basso (2000, p. 243/244)
que topografia de circuitos integrados ou semicondutores são
“portas lógicas”, cujos componentes básicos são os “diodos” e
os “transistores”, semicondutores ativos dentro de um circuito
eletrônico, componentes analógicos com dois estados elétricos.
Determina o TW que a proteção depende da combinação de
dois critérios: originalidade e esforço intelectual e que a topografia
não deve ser lugar comum entre os criadores e fabricantes de
topografia de circuitos integrados no momento da sua criação
(§ 3° (2), “a”). Ainda, não há qualquer vinculação da proteção dos
circuitos integrados com os direitos de autor ou qualquer outro
sistema específico.
O artigo 36 do TRIPS estabelece sem prejuízo do disposto
do § 1° do artigo 37, que os membros considerarão ilícitos
os seguintes atos, se realizados sem autorização do titular do
direito: importar, vender ou distribuir por outro modo para fins
comerciais uma topografia protegida, um circuito integrado no
qual esteja incorporada uma topografia protegida ou um artigo
que incorpore um circuito integrado desse tipo, somente na
medida em que este continue a conter uma reprodução ilícita
de uma topografia. E essa proteção não se estende apenas ao
esquema traçado e ao circuito integrado, mas ao produto que
incorpora o circuito integrado que contenha um esquema de
traçado ilicitamente reproduzido (BASSO, 2000).

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual 145

O TRIPS aumenta o prazo de duração em relação ao TW


de oito para dez. anos:

Art. 38 – duração da proteção


1. Nos membros que exigem o registro como condição de proteção: a
duração da proteção de topografias não expirará antes de um prazo de
dez. anos contados do depósito do pedido de registro ou da primeira
exploração comercial, onde quer que ocorra no mundo;
2. Os membros que não exigem registro como condição de proteção:
as topografias serão protegidas por um prazo não inferior a dez. anos
da data da primeira exploração comercial, onde quer que ocorra no
mundo;
3. Sem prejuízo dos §§ 1° e 2°, um membro pode dispor que a proteção
terminará quinze anos após a criação da topografia. (BRASIL, 1994,
art.38)

Portanto, conclui Basso (2000) que o TRIPS outorga


proteção às topografias de circuitos integrados em conformidade
com as principais normas substanciais do TW e adiciona obrigações
mais complexas, impondo maiores riscos e responsabilidades aos
importadores de circuitos integrados.
Objetivando justificar a criação de um novo marco
regulatório a partir da execução das Diretrizes de Política Industrial
Tecnológica e do Comércio Exterior, em 2002, e a concretização
das metas do Programa Nacional de Microeletrônica, promulga-
se no Brasil, a Medida Provisória n. 352 de 22 janeiro de 2007,
que dispõe sobre os incentivos às indústrias de equipamentos para
TV digital e de componentes eletrônicos semicondutores e sobre
à proteção de propriedade intelectual das topografias de circuitos
integrados no contexto do território brasileiro, estabelecendo
um regime jurídico de proteção dos layouts designs de circuitos
integrados por direitos de propriedade intelectual, estabelecidos
no Acordo TRIPS (RODRIGUES JR.; POLIDO, 2007).

Volume II
146 Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual

Os circuitos integrados são um conjunto organizado de


interconexões, transistores e resistências, dispostos em camadas
sobre uma peça de material semicondutor, que visam a realizar
funções eletrônicas em equipamentos. Esses circuitos integrados,
entre outras utilidades, são atualmente usados como memória ou
processador de computador – os chamados “chips” (BARBOSA,
2003). Para o INPI, topografias de circuito integrado são imagens
relacionadas, construídas ou codificadas sob qualquer meio ou
forma, que represente a configuração tridimensional das camadas
que compõem um circuito integrado. Em outras palavras, é o
desenho de um chip.
Expõe Barbosa (2003) que o sistema constitucional
brasileiro passou a contemplar a proteção às criações industriais,
mesmo que não sejam invenções patenteáveis, por regime que
as submete aos limites impostos pelo interesse público e pelo
desenvolvimento econômico e social do Brasil.
O TRIPS inclui extensa seção prevendo a proteção dos
circuitos integrados designados como “topografia”. Como
resultado da adoção da Rodada do Uruguai, seria a incorporação
do Tratado de Washington à legislação nacional se torna necessário
a avaliação do quanto as novas regras seriam benéficas.
Segundo a Medida Provisória n. 352/07, o titular da
topografia de circuito integrado deverá solicitar junto ao Instituto
Nacional da Propriedade Industrial (INPI) o registro de sua obra
intelectual, para que possa obter a proteção legal. Com a aprovação
desse registro, após o transcorrer de processo administrativo no
INPI, o titular terá a proteção da respectiva topografia pelo prazo
de 10 (dez) anos, a contar do depósito de pedido do registro ou
da primeira exploração, o que ocorrer primeiro.
A proteção legal é condicionada a originalidade da
topografia, ou seja, (I) que resulte de esforço intelectual do
seu criador e (II) que não seja comum ou vulgar para técnicos

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual 147

especialistas em circuitos integrados. Nesse sentido, é admitida


a proteção de topografia resultado da combinação de elementos
e interconexões comuns, ou que incorpore, com a devida
autorização, a topografia de terceiros, desde que original. Portanto,
não será admitido o registro de qualquer topografia, mas apenas
as que cumpram os requisitos legais de originalidade.
O registro de topografia de circuito integrado confere
ao seu titular o direito exclusivo de explorá-la, sendo vedado a
terceiros sem o consentimento do titular:

a) Reproduzir a topografia, no todo ou em parte, por


qualquer meio, inclusive incorporá-la a um circuito
integrado.
b) Importar, vender ou distribuir por outro modo, para fins
comerciais, uma topografia protegida ou um circuito
integrado no qual esteja incorporada uma topografia
protegida.
c) Importar, vender ou distribuir por outro modo, para
fins comerciais, um produto que incorpore um circuito
integrado no qual esteja incorporada uma topografia
protegida, somente na medida em que este continue a
conter uma reprodução ilícita de uma topografia.

A Lei n. 11.484, de 31 de maio de 2007, dispõe em seu capí-


tulo III sobre a proteção à propriedade intelectual das topografias
de circuitos integrados. Segundo o INPI, a proteção prevista só
se aplica à topografia que seja original, no sentido de que resulte
do esforço intelectual do seu criador ou criadores e que não seja
comum ou vulgar para técnicos, especialistas ou fabricantes de
circuitos integrados, no momento de sua criação. Uma topografia
que resulte de uma combinação de elementos e interconexões
comuns ou que incorpore, com a devida autorização, topografias

Volume II
148 Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual

protegidas de terceiros somente será protegida se a combinação,


considerada, for original.
A proteção não será conferida aos conceitos, processos,
sistemas ou técnicas nas quais a topografia se baseie ou a qualquer
informação armazenada pelo emprego da referida proteção. A
proteção da topografia de circuito integrado será concedida por
10 (dez) anos contados da data do depósito do pedido de registro
no INPI ou da data da primeira exploração (o que tiver ocorrido
primeiro).
A Instrução Normativa INPI n. 10, de 18 de março de
2013, regulamenta os procedimentos relativos ao depósito e ao
processamento de pedidos de registro de topografia de circuito
integrado no INPI.
No Quadro 8 estão apresentados os principais acordos
internacionais relacionados à proteção das topografias de circuitos
integrados.

Quadro 8 – Principais acordos internacionais vigentes relacionados a topografia de


circuitos integrados

Acordo Internacional Ano Organismo


Tratado de Washington sobre Propriedade
1989 OMPI
Intelectual em Matéria de Circuitos Integrados
Acordos sobre Aspectos dos Direitos de
Propriedade Intelectual relacionados ao 1994 OMC
Comércio (TRIPS)
Fonte: Elaborado pelas autoras deste capítulo

Esses foram os ativos que possuem na novidade seu


principal requisito de proteção por propriedade intelectual.
Passa-se a analisar os acordos internacionais que envolvem a
distinguibilidade como requisito de proteção.

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual 149

Distinguibilidade: história dos acordos


internacionais, acordos internacionais vigentes e
sua internalização no Brasil55
Desde a Antiguidade os signos são utilizados para identificar
e diferenciar a origem de bens, ou para indicar a propriedade
de um produto, sua origem comercial ou geográfica. Verifica-
se que, ao longo da história, tem havido avanço na construção
e consolidação do uso desses signos no âmbito internacional.
O que todos os signos utilizados têm em comum é uma capacidade
de distinguir o bem sobre o qual eles repousam. Seja um produto,
um serviço, um site da internet, o nome de uma empresa, todos
guardam intrinsicamente este propósito. Neste item serão
tratados os ativos intangíveis que tem como característica comum
o elemento diferenciador da distinguibilidade, notadamente as
indicações geográficas, as marcas e os nomes de domínio.

Indicações Geográficas
Afinal, por que surge a necessidade de proteger Indica-
ções Geográficas (IG)? As (IGs) começam a ganhar notoriedade
quando o nome, antes apenas utilizado para identificar a origem
de um produto, passa a ser usurpado por terceiros que, visando se
aproveitarem da reputação construída ao longo do tempo, usam
do referido nome geográfico para identificar os produtos pro-
venientes de outras localidades. É em face dessa usurpação que
surgem as primeiras regras que buscam disciplinar o uso deste
tipo de signo.
Embora haja outros indícios de regulamentações
anteriores, uma das primeiras intervenções estatais registradas
com foco na proteção de uma IG ocorreu em 1756, quando os

55
Trechos desta seção foram extraídos da tese de Bruch (2011.

Volume II
150 Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual

produtores do vinho do Porto, em Portugal, procuraram o então


Primeiro-Ministro do Reino, Marquês de Pombal, em virtude da
queda nas exportações do produto para a Inglaterra. O vinho
do Porto havia adquirido uma grande notoriedade, o que fez
com que outros vinhos passassem a se utilizar da denominação
“do Porto”, ocasionando redução no preço dos negócios dos
produtores portugueses e maculando a imagem daquele vinho.
Em face disso, o Marquês de Pombal realizou determinados atos
visando à proteção do vinho do Porto: agrupou os produtores
na Companhia dos Vinhos do Porto e determinou a realização
da delimitação da área de produção – não era possível proteger
a origem do produto sem conhecer sua exata área de produção.
Como também não era possível proteger um produto sem
descrevê-lo com exatidão, foi ordenado o estudo deste para se
definirem e fixarem as características do vinho do Porto e suas
regras de produção. Por fim, o nome Porto para vinhos foi
registrado legalmente, por decreto, criando-se, uma, entre as
primeiras, Denominações de Origem Protegidas (MOREIRA,
1998).
Ainda hoje esses são os passos a serem seguidos para o
reconhecimento estatal de uma indicação geográfica.
Nesta parte, primeiramente será realizado o percurso
histórico dos acordos internacionais que as regularam e
regulam atualmente. Após, será discutido como esses acordos
internacionais influenciaram o direito brasileiro.

Percurso Histórico dos Acordos Internacionais

No início, os signos distintivos não eram propriamente


protegidos e, em consequência, havia muitas falsificações. Alguns
países, como a França, por exemplo, criaram legislações nacionais
gerais para coibir o uso indevido. Mas o problema persistia

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual 151

quando se tratava do comércio internacional, muito crescente em


meados do século XIX.
Inicialmente, esses países buscaram fazer acordos bilaterais
que protegessem reciprocamente suas IG. Mas esses acabaram
por se mostrar muito frágeis, havendo dificuldades para serem
cumpridos. As constantes guerras, especialmente as que ocorriam
entre os Estados do continente europeu, não permitiam a
manutenção desses acordos, nem mesmo, por vezes, o seu
cumprimento. Todavia, inúmeros foram os acordos firmados que
visavam desde a repressão às falsas indicações de procedência
à proteção recíproca de determinados nomes já consagrados à
época.
Os Estados produtores, especialmente de vinho, optaram,
então, por organizar um tratado internacional, mas do qual os
principais países consumidores também fizessem parte e se
obrigassem mutuamente. Não era apenas a IG, mas também
outros direitos de propriedade industrial que precisavam desta
proteção internacional. E a troca de concessões entre os diversos
países permitiu que isso se concretizasse por meio da celebração
do tratado constitutivo da Convenção União de Paris para a
proteção da propriedade industrial (CUP),em 1883 por ato
firmado em 20 de março de 1883, entre onze Estados – Brasil,
Bélgica, Espanha, República Francesa, República da Guatemala,
Itália, Países Baixos (Holanda), Portugal, República do Salvador,
Sérvia e Suíça –, tendo sido ratificado, posteriormente, pelo
Reino Unido, a Tunísia e a República do Equador. Por meio
dessa convenção, estabeleceram-se pressupostos que deveriam
ser respeitados por todas as partes contratantes. Em 1892, o
escritório da União de Paris e o escritório da União de Berna
(CUB) foram reunidos, criando-se o Bureau International Reunis
Pour la Protection de la Propriété Intellectuelle (BIRPI) com
finalidade de gerir ambas as Uniões.

Volume II
152 Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual

Posteriormente, a versão da CUP, de 1883, foi revista em


Roma, em 1885; em Bruxelas, em 1900; em Washington, em 1911;
em Haia, em 1925; em Londres, em 1934; em Lisboa, em 1958;
em Estocolmo, em 1967. Em 27 de setembro de 1979, sofreu
emendas e finalmente entrou em vigor em 2 de junho de 1984
(OMPI, 2018).
O objetivo inicial era coibir a falsa indicação de procedência.
Mas a forma que restou definida na CUP permitia, por exemplo,
o uso de “Champagne” da Califórnia, posto que, nesse caso, a
verdadeira procedência estaria ressaltada. Assim, essa forma de
proteção não se mostrou suficiente para países como a França, que
buscaram, então, um Acordo adicional para obter uma proteção
mais consistente contra o uso da falsa indicação de procedência.
Atualmente a versão de 1967 da CUP conta com 195 Estados-
partes56, entre os quais o Brasil, que internalizou a integralidade
desta versão por meio do Decreto n. 1263, de 10 de outubro de
1994 (OMPI, 2018).
É interessante verificar que na primeira versão da CUP, de
1886, havia apenas uma menção a este tema, em seu artigo 10,
que determinava que:

As disposições do artigo precedente (sobre marcas) serão applicaveis a


todo produto que tiver falsamente, como indicação de procedência,
o nome de uma localidade determinada, quando esta indicação estiver
junta a um nome commercial fictício ou alheio usado com intenção
fraudulenta. (CUP, 1886, art. 10)

Em face disso é negociado o Acordo de Madri para a


Repressão das Falsas Indicações de Procedência (Acordo de
Madri), firmado em 14de abril de 1891 e contando, também, com
algumas revisões: Washington, em 1911; Haia, 1925; Londres,

56
Disponível em: https://www.wipo.int/treaties/en/ip/paris/. Acesso em: 29
dez. 2018.

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual 153

1934; Lisboa, 1958; e com ato adicional de Estocolmo, em 1967.


Sua última versão conta com 25 Estados-partes57.
Também a esse tratado o Brasil aderiu originariamente, o
ratificando em 3 de outubro de 1896, e o internalizando por meio
da Lei n. 376, de 30 de julho de 1896 e do Decreto n. 2.380, de 20
de novembro de 1896. A versão original teve 36 Estados-partes
aderentes. O Brasil ainda aderiu à revisão de Haia, de 1925, e o
internalizou por meio do Decreto n. 19.056, de 31 de Dezembro
de 1929, ao qual aderiram também 18 Estados-partes, sendo que
esse tratado o Brasil nunca denunciou, mantendo a sua adesão
(OMPI, 2018).
O objetivo do Acordo era garantir uma repressão mais
efetiva contra o uso das falsas indicações de procedência,
especialmente, para produtos vinícolas. No caso do vinho, não
se admitiam exceções e, também, determinava-se que o produto
não poderia ser considerado genérico nem adaptado a essa
especificidade, como seria o caso de um vinho tipo “Champagne”
(BRUCH, 2012). Todavia o número de adesões foi bem menor
que o dos países que se filiaram à CUP. Posteriormente, ocorre a
Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e a Segunda (1939-1945),
intercaladas pela quebra da bolsa de valores de Nova York,
também conhecida como a Grande Depressão (1929). Após esses
acontecimentos, as relações internacionais, a economia, as trocas
comerciais, etc. demonstram que o mundo é outro.
Somente em 1958 um novo avanço se deu em termos
de regulação das IG em nível internacional. A CUP se reuniu
novamente, e os países tradicionalmente produtores buscaram
uma nova forma de promover a proteção das IG. Tanto a
CUP quanto a alteração no Acordo de Madri não avançaram
suficientemente para uma proteção mais efetiva. Assim, firmou-

57
Disponível em: https://www.wipo.int/treaties/en/ip/madrid/ Acesso em:
29 dez. 2018.

Volume II
154 Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual

se o Acordo de Lisboa relativo à proteção das denominações de


origem (Acordo de Lisboa) de 1958, o qual conta, até o momento,
com 28 Estados-partes58.
Esse prevê uma proteção positiva para as IG, na forma
de denominações de origem, bem como um reconhecimento
recíproco das IG já existentes pelos países signatários, mediante
um registro internacional. (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA
PROPRIEDADE INTELECTUAL, 2018g)
Essa é a primeira vez que se define a denominação de
origem como uma denominação geográfica de um país, uma
região ou uma localidade, que serve para designar um produto
dele originário, cujas qualidades ou características são devidas
exclusiva ou essencialmente ao meio geográfico, incluindo os
fatores naturais e os fatores humanos, conforme está previsto
em seu artigo 2°. Também prevê a proibição do uso de qualquer
IG, mesmo que acompanhado da verdadeira origem, condena
o emprego de termos retificativos, como “tipo” ou “gênero”, e
determina que uma IG não pode se tornar genérica. Assim, com
todas essas regras, poucos países aderiram a esse Acordo, o qual
acabou por ter uma aplicação muito reduzida. O Brasil não o
assinou originariamente e não é signatário do mesmo atualmente.
Importante ressaltar que em 2015 foi adotado o Ato de
Genebra do Acordo de Lisboa foi adotado pela “Conferência
Diplomática para a Adoção de um Novo Ato do Acordo de
Lisboa para a Proteção de Denominações de Origem e seu
Registro Internacional”, que ocorreu em Genebra de 11 a 21
de maio de 2015. A lei estabelece um sistema internacional de
registro e proteção para ambas as denominações de origem e
indicações geográficas59. Certamente a inclusão das indicações

58
Disponível em: https://www.wipo.int/lisbon/en/. Acesso em: 29 dez. 2018.
59
Disponível em: https://www.wipo.int/edocs/pubdocs/en/wipo_lisbon_
flyer.pdf. Acesso em: 29 dez. 2018.

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual 155

geográficas foi um avanço, mas não repercutiu a ponto de


aumentar significativamente o número de novos aderentes.
O Brasil também não é signatário deste Ato. (ORGANIZAÇÃO
MUNDIAL DA PROPRIEDADE INTELECTUAL, 2015).
Esses acordos propiciaram que, já em sua última versão,
de 1967, a CUP trouxesse explicita às indicações de procedência
e às denominações de origem em seu artigo 1º, embora a ênfase
da proteção continue a ser no aspecto de repressão às falsas
indicações, conforme consta no seu artigo 10:

[...]  2) A proteção da propriedade industrial tem por objeto as patentes


de invenção, os modelos de utilidade, os desenhos ou modelos
industriais, as marcas de fábrica ou de comércio, as marcas de serviço,
o nome comercial e as indicações de proveniência ou denominações de
origem, bem como a repressão da concorrência desleal. (CUP, 1967,
art. 1º)
[...]
1) As disposições do artigo precedente serão aplicáveis em caso de
utilização direta ou indireta de uma falsa indicação relativa à procedência
do produto ou à identidade do produtor, fabricante ou comerciante.
(CUP, 1967, art. 10)

Dessa forma, no seu artigo 10, a repressão às falsas


indicações de procedência fica mais objetiva, sem condicionar
que esteja associado a um nome comercial, como constava na
versão inicial.
A partir da Reunião de Estocolmo de 1967, com a criação da
Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI), todos
esses acordos passaram a ser administrados por esta organização
internacional. Para participar da OMPI, os Estados não eram
obrigados a assinar todos os tratados que ela administrava.
Muitos países aderiram apenas à CUP e à CUB, pois não havia
a obrigatoriedade de aceitar o pacote fechado de tratados, como
há, hoje, para se participar da Organização Mundial do Comércio
(OMC). Todavia, se essa era uma das vantagens, um dos problemas

Volume II
156 Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual

da OMPI é que ela não possuía um sistema que permitisse que


um Estado fosse obrigado a cumprir um tratado ou pudesse ser
punido por não cumpri-lo (BRUCH, 2013).
Nesse mesmo período pós-guerra, precisamente em 1947,
também é firmado outro tratado relacionado ao comércio: o
Acordo Geral sobre Pautas Aduaneiras e Comércio, também
conhecido como GATT. Esse evoluiu em um período de grande
prosperidade econômica, conhecido como “anos de ouro”, que
seguiu até o final da década de 1970. Mas, mesmo já havendo
algumas breves disposições sobre proteção de marcas e repressão
às falsas indicações de procedência no artigo IX do GATT, os
países desenvolvidos ainda buscavam uma maior regulação deste
tema relacionado ao comércio (BRUCH, 2011).
É nesse contexto que os países propõem a inclusão no
GATT da discussão sobre a proteção da propriedade intelectual,
o que se concretiza, definitivamente, com a criação da OMC,
em 1994. No âmbito dessa organização, além de tratados
relacionados com tarifas e comércio, negocia-se e aprova-se o
Acordo sobre aspectos relativos aos direitos de propriedade
intelectual concernentes ao comércio (TRIPS). Obrigatório para
todos os membros da OMC – que até o presente momento conta
com 164 Membros (WTO, 2018) –, abarca o previsto pela CUP
e estabelece, entre outras regras, a proteção obrigatória das IG.
Deve ficar claro que o TRIPS é um Acordo que prevê um nível
mínimo do que os seus Membros devem proteger ou garantir,
podendo cada um estabelecer formas mais elevadas de proteção,
desde que não se constituam em um obstáculo ao comércio.
Concomitantemente a esses avanços internacionais, alguns
Estados criaram e aprimoraram suas legislações internas. Alguns
buscaram uma proteção positiva, definindo as IG, estabelecendo
regras para proteção, registro e reconhecimento, criando,

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual 157

objetivamente, um direito “sobre o uso” e “ao uso” do signo60.


Trata-se de um direito voltado ao produtor, para que ele possa
impedir que outros utilizem indevidamente a IG. Esse foi o caso,
por exemplo, da França, da Espanha, da Itália e de Portugal.
Outros Estados optaram por uma proteção negativa, voltada à
repressão às falsas indicações de procedência e à proteção do
consumidor, buscando evitar que esse fosse induzido em erro,
bem como coibindo a concorrência desleal. Assim procederam,
por exemplo, a Inglaterra, a Alemanha, a Austrália, os Estados
Unidos da América (EUA) e o Brasil (BRUCH, 2011).
Também nesse período, alguns acordos bilaterais foram
sendo firmados, especialmente, entre países que defendiam a
proteção positiva, tais como entre França e Espanha e entre França
e Portugal, mas também entre países com posições diversas,
como França e Alemanha. Certamente, a situação política (fim
da guerra) facilitou o encaminhamento das negociações para a
efetivação de alguns desses acordos que tratavam, principalmente,
do reconhecimento mútuo de expressões tradicionais e IG
protegidas, notadamente os acordos de pós-guerra firmados com
a Alemanha (PLAISANT, 1949).
Concomitantemente a isso, firmaram-se diversos acordos
regionais. Primeiramente, houve a criação da Comunidade
Europeia (CE); depois, nasceram a Comunidade Andina de
Nações (CAN), o Mercado Comum do Sul (MERCOSUL), o
Tratado de Livre Comércio de América do Norte (NAFTA), etc.
Nesses acordos, alguns de forma mais expressa e proativa, como
a CE e a CAN, outros como resultados de outras negociações
multilaterais, como o Nafta e o Mercosul, estabeleceram-se
padrões que, com os acordos bilaterais, foram construindo um

Sobre a discussão do direito de uso e do direito ao uso, ver Audier (2008),


60

Audier (2004) Castell (1985), Dehaut e Plasseraud (1989) e Agostini (2009).

Volume II
158 Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual

suporte para se chegar a consensos mais próximos no âmbito


multilateral.
No âmbito do Mercosul61, com a assinatura do TRIPS,
já mencionada, faz-se necessária a tratativa dos direitos de
propriedade intelectual no âmbito do Mercosul. Nesse sentido,
é firmado, em Assunção, em 5 de agosto de 1995, o Protocolo
de Harmonização de Normas sobre Propriedade Intelectual no
Mercosul, em matéria de Marcas, Indicações de Procedência
(IP) e Denominações de Origem (DO) (MERCOSUL/CMC/
DEC. n. 8/95). No tema específico que envolve as indicações
geográficas, regulamentadas pelos artigos 22 e seguintes do
TRIPS, o Protocolo de Harmonização do Mercosul, em seu artigo
19,62 limita-se a definir os conceitos das espécies, IP e DO, que
fariam parte do gênero indicação geográfica, comprometendo-se
os Estados-partes a protegê-las, reciprocamente, sem, no entanto,
especificar como isso deveria ser implementado. Ademais,
o artigo 20 dispõe que as IP e DO previstas nesse protocolo
não poderiam ser registradas como marcas63. Atualmente, há
61
Em 1991 aconteceu a assinatura do Tratado de Assunção, de 1991, entre
Brasil, Paraguai, Uruguai e Argentina, o qual tem por finalidade a constituição
de um Mercado Comum, denominado Mercosul. Esse é complementado pelo
Protocolo Adicional ao Tratado de Assunção sobre a Estrutura Institucional do
Mercosul, também denominado de Protocolo de Ouro Preto, de 1994.
62
“Artigo 19 – Obrigação de Proteção e Definições: 1) Os Estados-partes
comprometem-se a proteger reciprocamente suas indicações de procedência
e suas denominações de origem. 2) Considera-se indicação de procedência
o nome geográfico de país, cidade, região ou localidade de seu território,
que seja conhecido como centro de extração, produção ou fabricação de
determinado produto ou de prestação de determinado serviço. 3) Considera-
se denominação de origem o nome geográfico de país, cidade, região ou
localidade de seu território, que designe produtos ou serviços cujas qualidades
ou características devam-se exclusiva ou essencialmente ao meio geográfico,”
incluídos fatores naturais ou humanos. Disponível em: http://www.mercosur.
int. Acesso em: 29 dez. 2018.
63
“Artigo 20 - Proibição de Registro como Marca: As indicações de procedência
e as denominações de origem previstas nos incisos 2 e 3 acima não serão
registradas como marcas.” Disponível em: http://www.mercosur.int. Acesso
em: 29 dez. 2018.

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual 159

tratativas para se estabelecer efetivamente um registro regional de


indicações geográficas no âmbito do Mercosul.
Também, no âmbito do Mercosul, é firmado o Regulamento
Vitivinícola, por meio da Resolução n. 46, subscrita em 21 de
julho de 1996, pelo Grupo Mercado Comum (GMC). Esta é
modificada pela Resolução n. 103/96 do GMC e pela Resolução
n. 12/02 do GMC64. Essa Resolução dispõe, em seu Capítulo
VII, sobre Denominações de Origem Reconhecidas (DOR) e
Indicações Geográficas Reconhecidas (IGR). O problema que
se encontra é a discrepância entre a nomenclatura utilizada no
Protocolo de Harmonização (DO e IP) e a dessa Resolução
(DOR e IGR). (MERCADO COMUM DO SUL, 1996). Verifica-
se que a definição do Regulamento Vitivinícola é mais rigorosa
e aproxima-se muito da regulamentação da CE. Já o Protocolo
de Harmonização tem uma definição mais simples, e é essa que
se encontra na atual Lei de Propriedade Industrial do Brasil, n.
9.279/1996. De qualquer forma, esses dispositivos não estão em
contradição com o TRIPS, apenas estipulam requisitos a mais,
especificamente, no caso de produtos vitivinícolas, por um lado,
e trazem nomenclaturas diferentes, por outro.
A regulação atual e sua internalização no Brasil são tratadas
em item próprio, na sequência.

Regulação das Indicações Geográficas no Direito Brasileiro

Com a adesão à OMC e ao TRIPS, consequentemente,


por meio do Decreto n. 1.355, de 30 de dezembro de 1994,
as disposições previstas nesse acordo passam a vigorar no
Brasil. Para colocar em prática sua adesão, o Brasil promulga a
Lei n. 9.279, de 14 de maio de 1996. Essa define como se dá a
proteção dos direitos de propriedade industrial e, especialmente,

64
Disponível em: http://www.mercosur.int. Acesso em: 29 dez. 2018.

Volume II
160 Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual

em seus artigos 176 a 182, regulamenta as IG no Brasil. Deve-


se ressaltar que havia proteção à IG no Brasil, anteriormente a
1996 (BRUCH e COPETTI, 2010); todavia tal proteção ocorria
conforme previsto na CUP e no Acordo de Madri, combatendo
as falsas indicações de procedência. A partir de 1996, tem-se uma
proteção positiva desses direitos. Contudo, a Lei n. 9.279, de 14
de maio de 1996 (LPI), em seu artigo 176, ao definir as indicações
geográficas por meio da explicitação de suas duas espécies, o faz
mediante uma junção da definição constante no Protocolo de
Harmonização do Mercosul, e trazendo a tradição (e inclusive
o nome) já constante na CUP. Assim, o resultado é o que segue:

a) indicação de procedência (IP) − indica o nome geográfico


que tenha se tornado conhecido pela produção ou fabricação
de determinado produto, ou prestação de determinado
serviço; e,
b) denominação de origem (DO) − indica o nome geográfico
do local que designa produto, ou serviço, cujas qualidades
ou características se devam exclusiva ou essencialmente ao meio
geográfico, incluídos os fatores naturais e humanos.

Observa-se que a lei não define o gênero IG em si. Apenas


determina as suas espécies: IP e DO. Entretanto, pode-se
compreender que a IG indica o nome geográfico que tenha uma
relação com um produto (ou serviço) específico, e há notoriedade
agregada a esse, em face das suas características ou qualidades
decorrentes dos fatores naturais e humanos relacionados com
aquela origem geográfica.
O legislador brasileiro não internalizou, de forma literal,
a definição de IG contida no TRIPS. Este utilizou a definição
contida no Protocolo de Harmonização do Mercosul para tanto,
conforme citado anteriormente.

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual 161

Com relação à definição apresentada pelo TRIPS, por um


lado, restringiu-se em determinados aspectos, como no caso do
uso de um nome geográfico, tendo em vista que o TRIPS permite
o uso de qualquer nome, desde que esse nome lembre uma
localização geográfica. Um exemplo de um nome não geográfico,
mas que é reconhecido como tal por se identificar com uma região
é a IG para vinho espumante denominada Cava, espumante este
elaborado pelo método tradicional em determinada região da
Espanha.
Por outro lado, a LPI expandiu o TRIPS, notadamente,
ao estender a proteção de uma IG também para os serviços
(CERDAN; BRUCH; SILVA, 2010). De maneira geral, não
é comum, especialmente na Europa, a proteção de “serviços
geográficos”, mas trata-se de uma oportunidade a ser explorada,
embora apenas uma IG tenha sido concedida para serviços, até
este momento, no Brasil, que a IP Porto Digital, reconhecida
sob n. IG201103, em 11 de dezembro de 2012 (INSTITUTO
NACIONAL DA PROPRIEDADE INDUSTRIAL, 2018).
Vale ressaltar que o TRIPS apenas estabelece patamares
mínimos, que podem ser mais restritivos ou abrangentes, segundo
a intenção de cada país ao internalizá-lo.
Compreendidas as principais diferenças entre a definição de
IG prescrita pelo TRIPS e pela Lei n. 9.279/1996, cumpre analisar
como as previsões da CUP, do Protocolo de Harmonização, do
Acordo de Madrid e o TRIPS refletem atualmente no direito
Brasileiro.
Importante ressaltar que a LPI, traz poucos dispositivos
relacionados às IG e nem todos os aspectos tratados pelo TRIPS
estão presentes nesta. Para regular a forma de registro e também
regulamentar complementarmente as disposições do TRIPS, o
INPI que é legalmente responsável por estabelecer normas para

Volume II
162 Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual

registro, conforme o artigo 182, parágrafo único, tem estabelecido


uma série de atos administrativos.
A primeira a regular isso no Brasil foi o Ato Normativo
INPI n. 143, de 31 de agosto de 199865, o qual foi substituído pela
Resolução INPI 075, de 28 de novembro de 200066. Este segundo,
que vigeu até 2013, estabeleceu as bases para o desenvolvimento
das IG no Brasil. Foi revogado pela Instrução Normativa INPI n.
25, de 21 de agosto de 201367, que esclareceu diversos pontos não
previstos no ato anterior. Por fim, essa Instrução Normativa foi
revogada recentemente pela Instrução Normativa n. 95, de 28 de
dezembro de 2018, que ampliou os esclarecimentos sobre o que
pode ou não ser registrado – internalizando diretamente vários
pontos previstos no TRIPS, bem como detalhou os requisitos
para registro de uma IP ou DO, e previu, pela primeira vez, a
possibilidade de alterar alguns pontos das IG já reconhecidas no
Brasil, o que é um significativo avanço.
A CUP, o Protocolo de Harmonização, e o Acordo de
Madrid basicamente trazem a figura da indicação de procedência,
e mais ao final da denominação de origem, que tem sua inspiração
no Acordo de Lisboa, além de focarem sobremaneira na repressão
ao uso das falsas indicações de procedência. Já o TRIPS e a LPI
apresentam ainda alguns dispositivos adicionais, que devem ser
analisados.
O TRIPS apresenta em sua Seção 3, a regulação das
indicações geográficas. Esta se encontra dividida no artigo 22,
que trata da definição das IG em geral, no artigo 23, que aborda
a proteção adicional às indicações geográficas para vinhos e

65
Disponível em: http://www.ufrgs.br/sedetec-intranet/pagina/eitt/
download/indicacoes/an_inpi_143.pdf. Acesso em: 30 dez. 2018.
66
Disponível em: https://www.wipo.int/edocs/lexdocs/laws/pt/br/br070pt.
pdf. Acesso em: 30 dez. 2018.
67
Disponível em: http://www.inpi.gov.br/legislacao-1/in_25_21_de_agosto_
de_2013.pdf. Acesso em: 30 dez. 2018.

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual 163

destilados, e no artigo 24, que trata das exceções e das negociações


internacionais.
No artigo 22, é trazida a definição já debatida, no item 1,
bem como é estabelecido no item 2 como obrigatório que os
Membros do TRIPS estabelecem internamente meios legais para
que as partes interessadas possam impedir o uso indevido da
IG68. No seu item 369 e 470 trata da obrigatoriedade de estabelecer
meios para que seja possível invalidar o registro de uma marca
que contenha ou consista em uma IG, se este uso puder induzir o
público em erro quando ao verdadeiro lugar de origem.
Esses dispositivos foram contemplados, no direito
brasileiro, pela LPI no artigo 124, que estabelece como não
registráveis como marca:

IX – indicação geográfica, sua imitação suscetível de causar confusão


ou sinal que possa falsamente induzir indicação geográfica;
X – sinal que induza a falsa indicação quanto à origem, procedência,
natureza, qualidade ou utilidade do produto ou serviço a que a marca
se destina. (BRASIL, 1996, art. 124)

68
2. Com relação às indicações geográficas, os Membros estabelecerão os meios
legais para que as partes interessadas possam impedir: a) a utilização de qualquer
meio que, na designação ou apresentação do produto, indique ou sugira que o
produto em questão provém de uma área geográfica distinta do verdadeiro
lugar de origem, de uma maneira que conduza o público a erro quanto à origem
geográfica do produto; b) qualquer uso que constitua um ato de concorrência
desleal, no sentido do disposto no artigo 10bis da Convenção de Paris(1967).
69
3. Um Membro recusará ou invalidará, exofficio, se sua legislação assim o
permitir, ou a pedido de uma parte interessada o registro de uma marca que
contenha ou consista em indicação geográfica relativa a bens não originários
do território indicado, se o uso da indicação na marca para esses bens for de
natureza a induzir o público a erro quanto ao verdadeiro lugar de origem.
70
4. As disposições dos parágrafos 1, 2 e 3 serão aplicadas a uma indicação
geográfica que, embora literalmente verdadeira no que se refere ao território,
região ou localidade da qual o produto se origina, dê ao público a falsa idéia de
que esses bens se originam em outro território.

Volume II
164 Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual

Além disso, os artigos 192, 193 e 194, da LPI, que tratam


dos crimes relacionados à IG, também complementam esta
obrigatoriedade.
Já o artigo 23 do TRIPS, item 1, estabelece uma proteção
adicional às IG de vinhos e destilados, ao determinar que cada
membro estabeleça que não poderá ser utilizado inclusive
elementos retificadores, como “tipo”, o que é permitido para os
outros produtos. A título de exemplo, atualmente é possível utilizar
em uma embalagem de queijo a expressão “tipo” roquefort, por
exemplo. Isso não é possível para vinhos e destilados. No item 2
também se determina que não possam ser registradas marcas para
vinhos e destilados que incluam uma IG, independentemente de
isso induzir o público a erro sobre a origem do produto. Estas
proibições não estão expressamente internalizadas na legislação
brasileira.
Estabelece o item 3, do artigo 23 do TRIPS, a possibilidade
de se reconhecer IG homônimas para vinhos. Isso não estava
previsto na legislação brasileira até a publicação da já referida
Instrução Normativa INPI n. 95/2018, que agora regula esta
possibilidade, e a estende a todas as IG.
Por fim, o item 4 do artigo 23 do TRIPS estabelece que
os Membros negociarão estabelecer um sistema multilateral de
notificação e registro para IG de vinhos. Contudo, isso não foi
implementado até a presente data. No caso do Brasil, apenas se
considera uma IG como reconhecida quando esta efetivamente
for reconhecida pelo INPI, aplicando-se os dispositivos já citados
apenas nestes casos. Para IG que sejam reconhecidas no país de
origem mas que não tenham solicitado o seu reconhecimento
no Brasil, a proteção que pode ser aplicada é a referente ao
disposto na CUP, que trata da repressão às falsas indicações de
procedência. É o caso, por exemplo, de um processo judicial
que tem questionado a concessão de uma marca denominada

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual 165

Bordeaux para buffets do Brasil. Bordeaux não é uma IG cujo


reconhecimento foi solicitado no Brasil e em princípio não
haveria proibição legal para o seu uso71.
Por fim, o artigo 24, além de prever que os Membros
acordam em estabelecer negociações com o objetivo de aumentar
a proteção das IG de vinho e destilados – o que ainda não
aconteceu, também estabelece as exceções à proteção de IG.
No item 4 do artigo 24 do TRIPS, está prevista o que se
denomina “clausula do avó” que permite que um membro não
impeça o uso de uma IG reconhecia por outro Membro e que
venha a ser protegida, se esta já era utilizada no território do
Membro “[...] por, no mínimo, 10 anos antes de 15 de abril de
1994 ou, (b) de boa fé, antes dessa data”. Esse é o caso, por
exemplo, de Champagne que, embora reconhecido pelo INPI,
já era utilizado por uma vinícola brasileira e, portanto, pode
continuar a ser utilizado por esta, sem que a IG seja questionada
(BRUCH, 2012).
Além disso, o item 5 do artigo 24 do TRIPS, estabelece que
nenhum dispositivo posterior pode prejudicar o registro de uma
marca, nem seu direito a uso, com base no fato de que esta seria
similar ou idêntica a uma IG, quando essa marca foi solicitada de
boa-fé ou os direitos sobre ela tenham sido adquiridos de boa-
fé antes do TRIPS ou antes que a IG tenha sido protegida em
seu país de origem. Isso garante, por exemplo, que uma marca já
registrada no Brasil continue o sendo, mesmo que uma IG venha
a ser reconhecida com nome similar ou idêntico. É o caso, por
exemplo, de Salinas, cuja marca foi registrada sob n. 816669589 no
INPI, em 29/06/1993, ou seja, anteriormente ao reconhecimento
da IG Região de Salinas, sob n. IG200908, em 16/10/2012.
A marca não poderá impedir o reconhecimento da IG, mas este
reconhecimento também não impede que esta marca continue a
71
Ver REsp 1165655-SP e Bruch e Kretschmann (2014).

Volume II
166 Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual

ser utilizada enquanto o registro continuar vigente. Contudo, não


há nada na legislação brasileira que explicite isso.
O item 6 do artigo 24 do TRIPS estabelece também a
possibilidade de não se permitir o reconhecimento como IG de
um nome que tenha se tornado de uso comum. Esta previsão
foi recepcionada pelo artigo 180 da LPI, que estabelece que “[...]
quando o nome geográfico se houver tornado de uso comum,
designando produto ou serviço, não será considerado indicação
geográfica”. Esta previsão é complementada pelo disposto no
artigo 181 da LPI, que esclarece que “[...] o nome geográfico
que não constitua indicação de procedência ou denominação de
origem poderá servir de elemento característico de marca para
produto ou serviço, desde que não induza falsa procedência”.
Ainda o referido item 6 prevê que o Membro não está
obrigado a reconhecer como IG um nome que seja igual ao home
habitual de uma variedade de uva existente no território deste
Membro na entrada em vigor do TRIPS. Esse é o caso da variedade
Prosecco, utilizada para produção de espumantes, cujo uso
remonta à década de 1970 no Brasil. Em 2008 a União Europeia
reconheceu internamente esta como uma DO e apresentou um
pedido para o seu reconhecimento no Brasil (BRUCH, 2015).
Atualmente, o referido pedido encontra-se sobrestado no INPI.
Por outro lado, na Instrução Normativa INPI n. 95/2018,
finalmente vem a prever essa exceção do TRIPS, referendando
tal impossibilidade.
O item 8 do artigo 24 do TRIPS ainda prevê que nada
poderá impedir que uma pessoa utilize, “[...] em operações
comerciais, seu nome ou o de seu predecessor no negócio, exceto
quando esse nome for utilizado de maneira que induza o público
a erro”. Essa previsão não está expressa na legislação brasileira.
Por fim, o item 9 do artigo 24 do TRIPS estabelece que
não há “[...] obrigação de proteger indicações geográficas que não

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual 167

estejam protegidas, que tenham deixado de estar protegidas ou


que tenham caído em desuso no seu país de origem”. Esse item
também foi regulado pela Instrução Normativa INPI n. 95/2018.
A LPI ainda prevê, em seu artigo 182, que “[...] o uso da
indicação geográfica é restrito aos produtores e prestadores de
serviço estabelecidos no local, exigindo-se, ainda, em relação
às denominações de origem, o atendimento de requisitos de
qualidade”.
No Quadro 10 são apresentados os principais acordos
internacionais relacionados à proteção das indicações geográficas.

Quadro 10 – Principais acordos internacionais vigentes relacionados a indicações


geográficas

Acordo Internacional Ano Organismo


Convenção da União de Paris para a proteção BIRPI/
1883
da propriedade industrial (CUP) OMPI
Acordo de Madri para a Repressão das Falsas BIRPI/
1891
Indicações de Procedência OMPI
Acordo de Lisboa relativo à proteção das BIRPI/
1958
denominações de origem OMPI
Acordos sobre Aspectos dos Direitos de
Propriedade Intelectual relacionados ao 1994 OMC
Comércio (TRIPS)
Protocolo de Harmonização de Normas sobre
Propriedade Intelectual no Mercosul, em
matéria de Marcas, Indicações de Procedência 1995 Mercosul
(IP) e Denominações de Origem (DO)
(MERCOSUL/CMC/DEC. n. 8/95).
Ato de Genebra do Acordo de Lisboa 2015 OMPI
Fonte: Elaborado pelas autoras deste capítulo

Volume II
168 Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual

Passa-se agora para a análise dos acordos internacionais


de marcas, que também têm na distinguibilidade seu principal
requisito de proteção por propriedade intelectual.

Marcas
Os artesãos livres usavam símbolos que distinguiam seus
produtos, bem como segredos de manufatura e produção de
determinados objetos que eram preservados no seio das famílias
durante gerações. Isso pode ser encontrado na cultura das mais
diversas civilizações da Antiguidade.
Verifica-se, já nesse período, a presença de algumas funções
para tais signos: identificar o produto para os distribuidores e
consumidores e servir-lhes de referência para a comparação com
mercadorias concorrentes. O que diferencia os signos antigos dos
contemporâneos é que eles, hoje, na visão de Carvalho (2009),
deixaram de constituir certificação de origem e de qualidade,
passando apenas à função de distinguir produtos entre si. Talvez o
adequado seja dizer que houve uma partição entre as funções: hoje
há signos que designam origem, signos que designam qualidade
e também signos que deixaram de fazer isso ao se associarem a
nomes ou a figuras arbitrárias – as marcas de produtos e serviços.
Grecia e Roma são pródigas no uso de signos. Durante a
Idade Média, contudo, é que se desenvolveram os alicerces do
uso de marcas coletivas, com caráter certificativo, e também
posteriormente marcas de fábrica e comércio. Todavia, o
desenvolvimento da proteção destes signos teve caminho diverso
nos países de civil law e nos países de common law72. Contudo,
um ponto em comum, evidenciava-se: a migração progressiva
para a possibilidade e posterior obrigatoriedade do registro dos
signos distintivos, a fim de assegurar a garantia de sua proteção.
72
Sobre esta evolução, ver Bruch (2011).

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual 169

E é em face dessa migração, da expansão da proteção destes


signos para todos os países da Europa e para a América, que se
verificar a necessidade de estabelecer bases internacionais para
essas proteções.

A Proteção das Marcas nos Acordos Internacionais

Primeiramente, os Estados buscaram firmar acordos


bilaterais (LADAS, 1930), geralmente, denominados de tratados
“de amizade, de comércio e de navegação”, buscando um respeito
entre as partes relacionado às práticas comerciais em geral. Esses
acordos, em regra, também envolviam o combate à contrafação,
à concorrência desleal e, especialmente para os Estados cujas
regiões já eram conhecidas, a busca da proibição recíproca do
uso inadequado desses nomes. Todavia, acordos duramente
negociados, por vezes, eram rompidos em face de disputas entre
os Estados, guerras, desentendimentos políticos, mudança de
poder interno, entre tantos outros inconvenientes e caprichos
advindos da relação entre Estados absolutistas e seus monarcas
(LADAS, 1930).. Como se pode observar, esses entendimentos
eram, efetivamente, tratativas frágeis.
Concomitante a esse movimento, e na forma de uma
iniciativa plúrima, surgiram as Convenções Pan-Americanas,
que foram uma espécie de acordos regionais com a finalidade
de regular as relações comerciais entre os Estados de todo o
continente americano. Entre os temas tratados e acordados,
estavam os direitos de propriedade intelectual. Todavia, esta
iniciativa não teve o êxito esperado, pois essas Convenções
foram negociadas entre Estados de poder econômico e político,
bastante diferenciados e com objetivos díspares, o que resultou
em seu fracasso. Na prática, nenhuma delas, efetivamente, entrou
em vigor (LADAS, 1930).

Volume II
170 Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual

Assim, a contemplação de um acordo plurilateral, que


pudesse obrigar um determinado número de Estados – que
fossem centrais no comércio internacional e equivalentes em
poder político e econômico – apresentou-se como uma das
formas mais apropriadas de se regular a situação de insegurança
já apresentada73. A busca por esse acordo plurilateral é, portanto,
o resultado da constatação de que os diversos e inúmeros acordos
bilaterais não resultavam na construção de uma efetiva proteção
internacional (LADAS, 1930).
Em virtude disso, depois de um congresso ocorrido em
Viena, no ano de 1873 (PELLETIER; VIDAL-NAQUET, 1902),
durante a Exposição Universal realizada naquela cidade, iniciou-
se o concerto para criar uma União de Estados em torno do tema
comum que mais tocava os participantes de tais exposições: a
proteção da propriedade industrial, especialmente, no tocante às
falsificações e contrafações (PLAISANT, 1949). Se, para alguns
Estados, o maior incômodo era causado pelo não respeito à
titularidade das patentes de invenções, para outros, a luta consistia
em pleitear o respeito ao uso dos nomes geográficos. Nesse
propósito, entrevia-se que uma união multilateral, atendendo,
reciprocamente, às demandas complementares, poderia ser mais
eficaz que os acordos bilaterais que vinham sendo firmados
(MICHELET, 1911).
Com estes objetivos, foi criada a referida União,
denominada Convenção União de Paris para a Proteção da Propriedade
Industrial (CUP), por ato firmado em 20 de março de 1883, entre
onze Estados – Brasil, Bélgica, Espanha, República Francesa,
República da Guatemala, Itália, Países Baixos (Holanda), Portugal,

73
Acordos plurilaterais já vinham sendo ensaiados desde a Paz de Vestfália,
em 1648, que não trata, necessariamente, de um acordo plurilateral, mas de
uma série de acordos concatenados com finalidades próximas e que firmaram
princípios comuns, como as concepções de soberania e Estado. Isso se repete
em 1815, no Congresso de Viena. Ver Accioly, Silva e Casella (2009).

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual 171

República do Salvador, Sérvia e Suíça – tendo sido ratificado,


posteriormente, pelo Reino Unido, a Tunísia e a República do
Equador.
Por meio dessa convenção, estabeleceram-se pressupostos
que deveriam ser respeitados por todas as partes contratantes. Em
1892, o escritório da União de Paris e o escritório da União de
Berna (CUB) foram reunidos, criando-se o Bureau International
Reunis Pourla Protection de la Propriété Intellectuelle (BIRPI)
com finalidade de gerir ambas as Uniões.
Posteriormente, a versão da CUP, de 1883, foi revista em
Roma, em 1885; em Bruxelas, em 1900; em Washington, em 1911;
em Haia, em 1925; em Londres, em 1934; em Lisboa, em 1958;
em Estocolmo, em 1967. Em sua última versão, em Estocolmo,
foi criada a Organização Mundial da Propriedade Intelectual
(OMPI), tendo em vista que, após a Segunda Guerra Mundial,
mostrou-se importante a reestruturação do BIRPI para atender
às novas necessidades e transformações ocorridas na ordem
mundial. No âmbito da WIPO, além da Convenção União de Paris
e da Convenção União de Berna, também foram acrescentadas
à sua competência a administração de tratados e convenções
que abrangem outros ramos, algumas vezes, relacionados com
propriedade intelectual, tais como circuitos integrados, nomes
de domínio, direitos conexos aos direitos autorais, etc. Interessa
particularmente apresentar os acordos geridos por esta que tratam
da proteção marcaria, os quais serão apresentados na sequência.
Um dos grandes entraves ao aprofundamento de seus
acordos afirma Thorstensen (2001) que se deve, em parte, à
falta de poder coercitivo para determinar a aplicação de medidas
sancionatórias em face do descumprimento de dispositivos de
quaisquer dos tratados por ela geridos, nem havendo em sua
atuação mecanismos que pudessem garantir standards mínimos
de proteção à propriedade intelectual nos Estados signatários,

Volume II
172 Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual

determinado grupo de Estados passou a procurar alternativas


para essas fragilidades.
A opção que se mostrou mais interessante foi a inclusão
da discussão da proteção aos direitos de propriedade intelectual
relacionados ao comércio no âmbito do Acordo Geral sobre
Tarifas e Comércio (GATT, em inglês), na Declaração Ministerial
de 1986. Essa declaração deu início à Rodada Uruguai na qual,
entre outros objetivos, encontrava-se a formação de um órgão
com objetivo de estabelecer soluções de controvérsias que
viessem a surgir entre seus Estados-membros, o que viria atender
os anseios daqueles que se encontravam descontentes com as
possibilidades de atuação da OMPI.
Após oito anos de discussão, a Rodada Uruguai resultou na
criação da OMC. Entre os acordos que compõem esta organização,
encontra-se o Acordo sobre os Aspectos de Direito de Propriedade
Intelectual relacionados com o Comércio (TRIPS), que forma o
Anexo 1.C do Acordo Constitutivo da OMC. Destaca-se que a
adesão à OMC tem uma particularidade, que implica a aceitação
de todos os acordos obrigatórios,74 não podendo o Estado apenas
aderir àqueles que lhe convierem. Assim, para poder participar
dos acordos que hoje regem o comércio internacional, todos os

74
A maioria dos acordos da OMC são resultado das negociações da Rodada
Uruguai de 1986 a 1994, assinados na Reunião Ministerial de Marrakesh, em
abril de 1994. No total, são em torno de sessenta acordos e decisões. Mas,
desses, seis acordos são considerados como fundamentais da OMC e são
obrigatórios a todos os Estados-membros bem como a futuros aderentes.
Trata-se do Acordo Geral, que é o acordo que estabelece a OMC, os três
acordos que cobrem cada uma das três áreas fundamentais da OMC, ou seja,
o Acordo Geral sobre Tarifas Aduaneiras e Comércio (GATT, em inglês) que
trata dos bens e mercadorias, o Acordo Geral sobre o Comércio de Serviços
(AGCS) e o Acordo sobre os Aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual
Relacionados com o Comércio (TRIPS), além do sistema de solução de
controvérsias e dos exames das políticas comerciais dos governos dos
Estados-membros. Outrossim, há acordos e anexos para setores específicos,
como vestuário. Informações disponíveis em: http://www.wto.org/english/
thewto_e/whatis_e/tif_e/agrm1_e.htm . Acesso em: 10 jun. 2009.

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual 173

Estados foram compelidos a aderir ao TRIPS e ao Sistema de


Solução de Controvérsias (SSC). Esse acordo entrou em vigor,
para a grande maioria dos Estados, a partir de 1995, havendo
a possibilidade dos considerados Países em desenvolvimento
Membros e os Países de Menor Desenvolvimento Relativo
Membros de postergarem a implementação deste. Ressalta-
se que a adesão ao TRIPS, conforme dispõe o seu artigo 2,
item 1, determina que “os Membros cumprirão o disposto nos
Artigos 1 a 12, e 19, da Convenção de Paris (1967)”. Assim, a
partir daquela data (1994), todos os aderentes ao TRIPS também
se comprometem a respeitar os citados artigos da CUP. Esta
disposição obrigou a países, entre os quais o Brasil, a aderirem
plenamente à versão de 1967 da CUP, firmada em Estocolmo,
o que estes não haviam feito até então, posto que a OMPI e
inclusive a CUP não condicionava a participação dos países à
aceitação integral dos acordos.
Assim, a partir da entrada em vigor do TRIPS um novo
standard mínimo é estabelecido para a proteção da propriedade
intelectual em âmbito internacional. Todavia, interessa ainda
conhecer quais acordos atualmente a OMPI gere e que estão
diretamente relacionados à proteção de marcas, para depois se
adentrar nas disposições específicas estabelecidas no TRIPS.
Atualmente, a OMPI administra 26 acordos, que podem
ser classificados em acordos relativos à Proteção à propriedade
intelectual, acordos referentes a Sistemas globais de proteção e
Acordos de classificação.
Primeiramente deve-se ressaltar a CUP, que passou por
inúmeras revisões, encontrando-se vigente, atualmente, a versão
de 1967, que foi integralmente internalizada no Brasil apenas por
meio do Decreto n. 1.263, de 10 de outubro de 1994. A partir
desta, no âmbito marcário, podem ser identificados os seguintes
acordos referentes à proteção da propriedade intelectual.

Volume II
174 Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual

O Tratado de Nairobi sobre a proteção do símbolo


olímpico, firmado em 1981 e em vigor desde 1982, determina,
segundo a OMPI (1981), que todos os Estados signatários do
Tratado de Nairobi estão sob a obrigação de proteger o símbolo
olímpico – cinco anéis entrelaçados – contra o uso para fins
comerciais (em propagandas, em mercadorias, como marca, etc.)
sem a autorização do Comitê Olímpico Internacional (tradução
livre)75.
Atualmente, o tratado conta com 52 Estados-partes, entre
os quais o Brasil, que o firmou em 1982 e o internalizou por meio
do Decreto n. 90.129, de 30 de agosto de 1984.
O Tratado Lei de Marcas, denominado Trademark Law
Treaty (TLT), constitui-se em um tratado do tipo lei quadro, foi
firmado em 28 de outubro de 1994 e entrou em vigor em 1996,
sendo que ele objetiva padronizar e agilizar as procedimentos
de registro de marcas. Segundo a Organização Mundial da
Propriedade Intelectual (1994), isso é conseguido através da
simplificação e harmonização de certas características desses
procedimentos, tornando assim as aplicações de marcas e a
administração de registros de marcas em várias jurisdições menos
complexas e mais previsíveis. (tradução livre) 76
A maior parte das suas disposições se refere ao procedimento
perante os escritórios nacionais de registro de marcas, o qual
é dividido em três fases: pedido de registro, mudanças após o
registro e renovação do registro. As regras buscam clareza com

75
All States party to the Nairobi Treaty are under the obligation to protect the Olympic
symbol – five interlaced rings – against use for commercial purposes (in advertisements, on
goods, as a mark, etc.) without the authorization of the International Olympic Committee.
Disponível em: https://www.wipo.int/treaties/en/ip/nairobi/ Acesso em: 29
dez. 2018.
76
This is achieved through the simplification and harmonization of certain features of those
procedures, thus making trademark applications and the administration of trademark
registrations in multiple jurisdictions less complex and more predictable. Disponível em:
https://www.wipo.int/treaties/en/ip/tlt/ Acesso em: 29 dez. 2018.

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual 175

relação aos requisitos para se realizar um pedido de registro


e suas respectivas alterações ou renovação. Um dos pontos
fundamentais do tratado é a não permissão de se exigir atestado,
notarização, autenticação, legalização ou certificação de qualquer
assinatura, exceto no caso da entrega de um registro. Este conta
atualmente com 54 Estados-partes, sendo que o Brasil não é seu
signatário (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA PROPRIEDADE
INTELECTUAL, 1994).
O Tratado de Cingapura sobre Lei de Marcas, denominado
em inglês Singapore Treaty on the Law of Trademarks, foi firmado
em 2006 e entrou em vigor em 2009. Segundo a Organização
Mundial da Propriedade Intelectual (2006),

[...] o objetivo do Tratado de Cingapura é criar um marco internacional


moderno e dinâmico para a harmonização dos procedimentos
administrativos de registro de marcas. Com base no Tratado Lei de
Marcas de 1994 (TLT), o Tratado de Singapura tem um âmbito mais
amplo de aplicação e aborda desenvolvimentos mais recentes no campo
das tecnologias de comunicação77.

Atualmente, o tratado conta com 47 Estados-partes, sendo


que o Brasil não é signatário desta acordo (ORGANIZAÇÃO
MUNDIAL DA PROPRIEDADE INTELECTUAL, 2006).
No formato de sistemas globais de proteção, merecem
destaque o Acordo de Madrid e o Protocolo de Madrid.
O Acordo de Madrid, referente ao registro internacional
de marcas, foi firmado originalmente em 1891. Tento sido
internalização no Brasil por meio da Lei n. 376, de 30 de julho
de 1896 e do Decreto n. 2.380, de 20 de novembro de 1896.
Importante ressaltar que este denominado “Acordo de Madrid”,
se refere a quatro protocolos que foram firmados conjuntamente.

77
Disponível em: https://www.wipo.int/treaties/en/ip/singapore/. Acesso
em: 29 dez. 2018.

Volume II
176 Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual

Entre estes estava o Acordo de Madrid referente à repressão às


falsas indicações de procedência e o Acordo de Madri referente
ao registro internacional de marca. Ambos foram firmado e
internalizados pelo Brasil. Todavia, em 1934 o Brasil denunciou o
Acordo de Madrid referente ao registro internacional de marcas,
continuando vigente atualmente apenas o acordo referente às
falsas indicações de procedência (BRUCH; COPETTI, 2010).
Todavia, o Acordo de Madrid referente ao registro
internacional de marcas continuou a ser aperfeiçoado. Em 1991
foi firmado, o Protocolo de Madrid, que entrou em vigor em
1996. Segundo a Organização Mundial da Propriedade Intelectual
(2018d),

[...] o Sistema Madrid é uma solução conveniente e econômica para


registrar e gerenciar marcas registradas em todo o mundo. Registra-
se um único aplicativo e paga-se um conjunto de taxas para solicitar
proteção em até 119 países.78

Ou seja, por meio da adesão a esse acordo, os países


signatários podem partilhar – para os seus cidadãos – de um
registro internacional, que permite a uma empresa da Argentina,
por exemplo, solicitar o depósito de sua marca no Japão, União
Europeia e EUA com um único protocolo, pagando as taxas
referentes a cada país. Atualmente, o Brasil trabalha para ter
as condições técnicas necessárias para aderir ao Protocolo de
Madrid, as quais implicam em um tempo máximo para análise dos
pedidos de marca. Como pode ser verificado no site do Instituto
Nacional da Propriedade Industrial (2018): “[...] redução do
estoque de pedidos pendentes de exame (backlog) [...]. Os tempos

78
The Madrid System is a convenient and cost-effective solution for registering and managing
trademarks worldwide. File a single application and pay one set of fees to apply for protection
in up to 119 countries. Modify, renew or expand your global trademark portfolio through
one centralized system. Disponível em: https://www.wipo.int/madrid/en/. Acesso
em: 29 dez. 2018.

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual 177

de exame de pedidos com oposição caíram de 48 para 13 meses e


de pedidos sem oposição, de 24 para 12 meses”.
Esta expressiva queda, que se acentuou entre 2015 e 2018,
tem como um dos focos permitir que o Brasil possa aderir sem
prejuízos a este acordo. Sua adesão certamente beneficiará a todos
que solicitam a proteção de suas marcas no Brasil e poderão com
a mesma facilidade as proteger no exterior. Em contrapartida,
os nacionais dos atualmente 119 países que fazem parte do
protocolo, também terão um acesso facilitado para registro de
suas marcas no Brasil.
Por fim, no âmbito dos acordos de classificação, devem ser
destacados o Acordo de Nice e o Acordo de Viena.
O Acordo de Nice, firmado em 1957, revisado em
Estocolmo em 1967, em Genebra em 1977 e emendada em
1979, engloba a Classificação de Nice (NCL), constitui-se em
uma classificação internacional e bens e serviços, que serve como
base para o registro de marcas (OMPI, 2018e)79. É com base
nessa classificação que, internalizada e utilizada pelos Estados-
partes, o titular de uma marca solicita que esta seja protegida
em uma respectiva classe, de acordo com o produto ou serviço
que a referida marca irá sinalizar. É com base nesta classificação
inicialmente que se aplica o princípio da especialidade para
marcas, o que permite que um mesmo signo seja apropriado por
titulares diferentes, deste que o uso se dê em classes diferentes.
Também é com base nessa classificação que é possível pesquisar
se já há uma marca registrada contendo um signo que se deseja na
classe de interesse, tanto no âmbito nacional quanto nos países de
interesse. Sobre o tema se recomenda consultar Copetti (2010),
em seu livro Afinidade entre marcas: uma questão de direito.

79
Disponível em: https://www.wipo.int/classifications/nice/en/. Acesso em:
29 dez. 2018.

Volume II
178 Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual

Os países signatários do Acordo de Nice, atualmente


em número de 85, constituem uma União Especial no âmbito
da União de Paris para a Proteção da Propriedade Industrial
(CUP). Cada um dos países que fazem parte do Acordo de Nice
é obrigado a aplicar a Classificação de Nice em conexão com o
registro de marcas, seja como a principal classificação ou como
uma classificação subsidiária, e deve incluir nos documentos
oficiais e publicações relativas aos seus registros de marca os
números das classes da Classificação às quais os bens ou serviços
para os quais as marcas estão registradas pertencem. O uso da
Classificação de Nice é obrigatório não apenas para o registro
nacional de marcas em países que fazem parte do Acordo de
Nice, mas também para o registro internacional de marcas.
A Classificação de Nice também é aplicada em vários países que
não fazem parte do Acordo de Nice. Interessante ressaltar que
o Brasil não é signatário do Acordo, mas utiliza a classificação.
Desde 2000 a classificação conta com 45 classes, sendo 34 para
produtos e da 35 à 45 para serviços. A atual versão, que é a décima
primeira (NCL 11), entrou em vigor em 1º de janeiro de 2018
(OMPI, 2018e).
O acordo de Viena, firmado em 1973, emendado em
1985, também denominado de Classificação de Viena (VCL),
é uma classificação internacional dos elementos figurativos das
marcas. É com base nesta classificação que é possível fazer busca
para verificar se uma marca de alguma forma utiliza-se de um
elemento ou de um conjunto de elementos figurativos de uma
marca precedente.
Segundo a OMPI (2018f)80:
80
Disponível em: https://www.wipo.int/classifications/vienna/en/preface.
html. Acesso em: 29 dez. 2018. “Structure of the Vienna Classification. The
Classification constitutes a hierarchical system that proceeds from the general to the particular,
dividing all figurative elements into categories, divisions and sections. Where appropriate,
explanatory notes have been introduced. They concern either a category as a whole or any
given division or section. There are two kinds of sections: main and auxiliary sections. The

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual 179

A Classificação constitui um sistema hierárquico que procede do


geral para o particular, dividindo todos os elementos figurativos em
categorias, divisões e seções. Onde apropriado, notas explicativas
foram introduzidas. Dizem respeito a uma categoria como um todo ou
a qualquer divisão ou seção.
Existem dois tipos de seções: seções principais e auxiliares. Estes
últimos destinam-se a elementos figurativos que já são abrangidos pelas
secções principais, mas que é considerado útil agrupar de acordo com
um critério específico para facilitar a pesquisa antecipada.
Cada categoria, divisão e seção recebeu um número de acordo com um
sistema especial de codificação. Cada elemento figurativo em uma seção
é referido por três números: o primeiro, que pode ser qualquer número
de 1 a 29, denota a categoria; o segundo, que pode ser qualquer número
de 1 a 19, a divisão; e o terceiro, que pode ser qualquer número de 1 a
30, a seção. Por exemplo, a representação de “uma menina comendo”
pertence à categoria 2 (seres humanos), divisão 5 (crianças), seção
principal 3 (meninas). Se seções auxiliares forem usadas, o elemento
figurativo pode ser identificado adicionalmente com a Seção Auxiliar
18 (Crianças bebendo ou comendo, código A 2.5.18). A codificação
deste exemplo será então indicada como segue: 2.5.3, 18. O número
de divisões e seções varia de acordo com as categorias e divisões a
que pertencem. Dentro das divisões e seções, alguns números foram
deixados vagos para permitir a introdução de novas divisões ou seções
quando necessário. (OMPI, 2018f, tradução nossa)

Atualmente, ele conta com 33 Estados-partes, sendo que


o Brasil não é signatário, mas o utiliza. Segundo a OMPI (2018),

latter are intended for figurative elements that are already covered by the main sections, but
which it is considered useful to group according to a particular criterion for ease of anticipation
searching. Every category, division and section has been given a number according to a special
coding system. Every figurative element in a section is referred to by three numbers: the first,
which may be any number from 1 to 29, denotes the category; the second, which may be any
number from 1 to 19, the division; and the third, which may be any number from 1 to 30,
the section. For instance, the representation of "a little girl eating" belongs to Category 2
(Human beings), Division 5 (Children), Main Section 3 (Girls). If auxiliary sections are
used, the figurative element can be identified additionally with the Auxiliary Section 18
(Children drinking or eating, code A 2.5.18). The codification of this example will be then
indicated as follows: 2.5.3, 18.
The number of divisions and sections varies according to the categories and divisions to which
they belong. Within the divisions and sections, certain numbers have been left vacant in order
to permit the introduction of new divisions or sections when necessary.”

Volume II
180 Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual

o “[...] objetivo da Classificação é, essencialmente, facilitar as


buscas antecipadas de marcas registradas e evitar um substancial
trabalho de reclassificação quando documentos são trocados em
nível internacional”. Outra vantagem é que os Estados-membros
do Acordo de Viena não precisam mais elaborar sua própria
classificação nacional ou manter uma existente em dia. Demais
países, como o Brasil, podem utilizar esta classificação para o
mesmo propósito. A oitava edição do VCL entrou em vigor em
1º de janeiro de 2018.
Concomitantemente a estes acordos multilaterais, também
no âmbito do Mercosul verificou-se a necessidade de estabelecer
uma harmonização de regulações no âmbito da propriedade
intelectual. Para tanto, conforme já mencionado, foi firmado
o Protocolo de Harmonização de Normas sobre Propriedade
Intelectual em Matéria de marcas, Indicações de Procedência
e Denominação de Origem81 (MERCOSUL/CMC/DEC. n.
8/95), o qual trata da regulação de marcas nos seus artigos 5
a 20. Todavia, este acabou não sendo internalizado no Brasil.
(MERCADO COMUM DO SUL, 1995).
Em resumo, esse é o histórico dos acordos internacionais
relacionados com o registro e proteção de marcas.

Regulação das Marcas no Direito Brasileiro em Face dos


Acordos Internacionais

O histórico da proteção direito marcário no Brasil é muito


mais antigo que das indicações geográficas e, por isso, se diz que
há no Brasil uma tradição marcária. Para esta primeira parte será
utilizado como base o trabalho realizado por Copetti (2010), que
faz um acurado resgate da proteção de marcas no Brasil.

81
Disponível em: http://www.sice.oas.org/trade/mrcsrs/decisions/dec0895.
asp. Acesso em: 30 dez. 2018.

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual 181

A primeira legislação que regula a proteção de marcas no


Brasil é o Decreto n. 2.682, de 23 de outubro de 1875 – anterior
inclusive à CUP. Após esta, 11 leis e decretos foram editados
regulando o tema no Brasil, para então chegar à atual Lei n.
9.279/1996, também denominada LPI82.
Assim, considerando que a LPI é fruto desta história, mas
também dos acordos internacionais firmados pelo Brasil, que a
precederam, nesta parte objetiva-se analisar como os principais
dois acordos internalizados no Brasil refletiram sobre a regulação
da proteção de marcas no Brasil.
Importante relembrar que a CUP, desde sua versão de 1883,
criou uma união de países que se comprometeram mutuamente
em estabelecer bases mínimas e recíprocas para a proteção da
propriedade industrial. E isso se reflete de maneira clara na
última versão, de 1967. É com base nesta versão que se trabalha
aqui, posto que a vigente. Por outro lado, o TRIPS surge de uma
demanda que visava compatibilizar livre comércio e propriedade
intelectual, bem como sua regulação de maneira harmônica em
todos os Membros da OMC. Este foi internalizado no direito
brasileiro por meio do Decreto n. 1.355, de 30 de dezembro de
1994.
Assim, é interessante destacar o texto do item 1 do artigo
2º do TRIPS, que determina que “Com relação às Partes II, III e
IV deste Acordo, os Membros cumprirão o disposto nos Artigos
1 a 12, e 19, da Convenção de Paris (1967)”. Dessa forma, o
TRIPS obrigou a todos os Membro da OMC que eventualmente
não fossem signatários da CUP a cumpri-la no que tange à parte
material da proteção à propriedade industrial. Como já destacado,
isso também foi feito com relação à CUB, com exceção do artigo
6º bis. Desta maneira, hoje 164 países do mundo obrigatoriamente

82
Para um estudo mais detalhado deste histórico, ver Copetti (2010).

Volume II
182 Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual

devem observar a CUP e o TRIPS para regular internamente a


proteção à propriedade intelectual.
Importa destacar ainda que, com a adesão à OMC e por
conseguinte ao TRIPS, todos os Membros também devem
observar, para todos os direitos de propriedade intelectual,
os princípios estabelecidos no referido acordo. De todos os
princípios, é possível destacar: proteção mínima; tratamento
nacional; nação mais favorecida e esgotamento de direitos83.
O princípio da proteção mínima, também conhecido como
de minimus, prevista no artigo 1º do TRIPS, estabelece que Os
Membros poderão, mas não estarão obrigados a prover, em sua
legislação, proteção mais ampla que a exigida nesse Acordo, desde
que tal proteção não contrarie as disposições deste Acordo. Ou
seja, ele estabelece uma base mínima de proteção, podendo os
membros protegerem mais, estabelecendo um prazo maior de
proteção, por exemplo.
O princípio do tratamento nacional tem sua origem na CUP,
em seu artigo 2º, item 1, o qual estabelecia que o país signatário
do acordo deveria dar o mesmo tratamento para os titulares de
direito nacionais daquele país e para os nacionais dos outros
países signatários da CUP. Ou seja, não pode haver discriminação
pelo fato do titular ser estrangeiro. No Acordo Geral sobre
Tarifas e Comércio (GATT, em inglês), que foi firmado em 1947,
conforme já relatado, e é parte integrante do conjunto de acordo
que compõe a OMC, é estabelecido também um tratamento
nacional para os direitos de propriedade intelectual. Mas este
não é para os titulares, e sim para os bens (bens intelectuais ou
ativos intangíveis) que representem ou contenham um direito
de propriedade intelectual. Assim, por exemplo, uma camiseta
com uma marca importada não poderá ter uma tributação maior

83
Para uma análise mais detalhada de cada princípio, ver Polido (2013), Basso
(2000) e Bruch (2011).

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual 183

que o mesmo tipo de bem (a camiseta) que contenha uma marca


nacional. Todavia, o artigo 3º do TRIPS vai além, ao estabelecer
que o tratamento que o Membro deve dar aos titulares de direito
de propriedade intelectual dos outros Membros não poderá ser
menos favorável que o previsto no TRIPS. Isso quer dizer que,
se o país resolver não dar uma proteção conforme previsto no
TRIPS para os seus nacionais, mesmo assim ele deverá garantir o
que está previsto no TRIPS para os nacionais de outros Membros
que queiram, por exemplo, proteger uma marca em seu país. Isso
praticamente obrigou os países a rever sua proteção interna para
se equiparar ao mínimo estabelecido em TRIPS.
O princípio da nação mais favorecida foi estabelecido
também pela primeira vez no GATT de 1947, o qual continua
obrigando a todos os Membros da OMC. No seu artigo 1º, este
estabelece que uma vantagem, favor, imunidade ou privilégio,
concedido por uma parte contratante em relação a um bem
originário de qualquer outro Estado ou a ele destinado, deveria,
imediatamente e sem qualquer condição, ser estendida ao bem
similar que fosse proveniente do território de todas as demais
partes contratantes ou ao mesmo destinatário. Assim, o país não
pode oferecer um privilégio a outro país sem que este se estenda
a todos os demais países membros da OMC. Claro que há
exceções, como é o caso dos acordo regionais como o Mercosul.
No caso do TRIPS, em seu artigo 4º ele também estabelece que
toda vantagem, favorecimento, privilégio ou imunidade que um
membro concedesse aos nacionais de qualquer outro Membro
devia ser outorgada, de forma imediata e incondicional, aos
nacionais de todos os demais Membros. Isso quer dizer que, se
por exemplo o Brasil concedesse uma isenção de taxa para o
depósito de marcas de nacionais de um determinado país, isso
deveria se estender a todos os nacionais dos demais Membros.

Volume II
184 Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual

Por fim, com relação ao esgotamento ou exaustão de


direitos, o artigo 6º determina que nada nesse acordo será utilizado
para tratar da questão da exaustão dos direitos de propriedade
intelectual.
Assim, considerando-se esse voo panorâmico sobre os
princípios norteadores, passa-se a analisar o que está previsto no
TRIPS, o que corresponde a CUP e o como foi internalizado no
Brasil. Destaca-se desde já que essa análise não é exaustiva, em
face da limitação de um artigo, mas apenas busca trazer os pontos
que parecem ser os mais relevantes.
No TRIPS as marcas são tratadas na Seção 2, nos artigo
15 a 21. O primeiro artigo, 15, estabelece o objeto da proteção.
Assim, o item 1 especifica que:

Qualquer sinal, ou combinação de sinais, capaz de distinguir bens e


serviços de um empreendimento daqueles de outro empreendimento,
poderá constituir uma marca. Estes sinais, em particular palavras,
inclusive nomes próprios, letras, numerais, elementos figurativos
e combinação de cores, bem como qualquer combinação desses
sinais, serão registráveis como marcas. Quando os sinais não forem
intrinsecamente capazes de distinguir os bens e serviços pertinentes,
os Membros poderão condicionar a possibilidade do registro ao caráter
distintivo que tenham adquirido pelo seu uso. Os Membros poderão
exigir, como condição para registro, que os sinais sejam visualmente
perceptíveis. (TRIPS, 1994, art. 15.1)

Já a CUP, em seu artigo 6º, estabelece que “As condições de


depósito e de registro das marcas de fábrica ou de comércio serão
determinadas, em cada país da União, pela respectiva legislação
nacional”. Importante ressaltar que a CUP não obrigava ao
registro de marcas de serviço, o que se torna obrigatório em
TRIPS (BASSO, 2000).
No Brasil, a previsão legal para marcas está nos artigos 122
e seguintes da LPI. Considerando a definição de TRIPS, o Brasil
optou por exigir que os signos distintivos sejam visualmente

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual 185

perceptíveis para que possam ser registrados, conforme consta


no artigo 122, não sendo possível o registro de marcas sonoras ou
olfativas, por exemplo. Além disso, o Brasil acolheu expressamente
a proteção de marcas de produtos e serviços, em seu artigo 123,
I, da LPI.
Não há referencia no artigo 15,1 de TRIPS à obrigatoriedade
de registrar marcas coletivas ou de certificação (BASSO, 2000).
Todavia, o artigo 7º bis, 1 da CUP determina que

Os países da União se comprometem a admitir o registro e a proteger


as marcas coletivas pertencentes a coletividades cuja existência não seja
contrária à lei do país de origem, ainda que essas coletividades não
possuam estabelecimento industrial ou comercial.

O Brasil escolheu, em seu artigo 123, I e II, LPI, a proteção


de marcas coletivas e marcas de certificação. Indo além da CUP
e do TRIPS.
Nos itens 2, 3, 4 e 5, do artigo 15 do TRIPS são estabelecidos
quais motivos poderão ser alegados para a não concessão de
uma marca, bem como a possibilidade de estabelecer prazo para
oposição à marcas. Adicionalmente, o artigo 6º e seguintes da
CUP detalham as condições de depósito e os motivos de recusa.
No Brasil, o artigo 124, LPI, estabelece o que não pode ser
registrado como marca, em consonância com estas disposições.
O item 3 do artigo 15 do TRIPS ainda possibilita condicionalidade
de uso para o registro da marca, embora determine que a prova
de não uso não pode obstar o pedido de registro. O Brasil não
internalizou esta condicionalidade.
No artigo 16,1 do TRIPS estão previstos os direitos
conferidos ao titular da marca:

O titular de marca registrada gozará do direito exclusivo de impedir que


terceiros, sem seu consentimento, utilizem em operações comerciais
sinais idênticos ou similares para bens ou serviços que sejam idênticos

Volume II
186 Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual

ou similares àqueles para os quais a marca está registrada, quando esse


uso possa resultar em confusão. No caso de utilização de um sinal
idêntico para bens e serviços idênticos presumir-se-á uma possibilidade
de confusão. Os direitos descritos acima não prejudicarão quaisquer
direitos prévios existentes, nem afetarão a possibilidade dos Membros
reconhecerem direitos baseados no uso. (TRIPS, 1994, art.16.1)

Em face dessa disposição, o artigo 130 da LPI estabelece


que “[...] ao titular da marca ou ao depositante é ainda assegurado
o direito de: I – ceder seu registro ou pedido de registro; II –
licenciar seu uso; III – zelar pela sua integridade material ou
reputação.”
Com relação as marcas notoriamente conhecidas, o TRIPS
traz sua proteção ao mencionar expressamente o artigo 6º bis da
CUP e estender sua aplicação a serviços. Estabelece a CUP que:

Artigo 6º bis 1) Os países da União comprometem-se a recusar ou


invalidar o registro, quer administrativamente, se a lei do país o permitir,
quer a pedido do interessado e a proibir o uso de marca de fábrica ou de
comércio que constitua reprodução, imitação ou tradução, suscetíveis
de estabelecer confusão, de uma marca que a autoridade competente
do país do registro ou do uso considere que nele é notoriamente
conhecida como sendo já marca de uma pessoa amparada pela presente
Convenção, e utilizada para produtos idênticos ou similares. O mesmo
sucederá quando a parte essencial da marca constitui reprodução de
marca notoriamente conhecida ou imitação suscetível de estabelecer
confusão com esta. (CUP, 1883, art. 6º bis)

No Brasil, além da marca notoriamente conhecida, que está


prevista no artigo 126 da LPI, também há a proteção da marca
de alto renome, estabelecida em seu artigo 125, LPI: “À marca
registrada no Brasil considerada de alto renome será assegurada
proteção especial, em todos os ramos de atividade”.
O artigo 17 de TRIPS prevê os limites que podem ser
estabelecidos aos direitos do titular da marca, determinado que

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual 187

[...] os Membros poderão estabelecer exceções limitadas aos direitos


conferidos para uma marca, tal como o uso adequado de termos
descritivos, desde que tais exceções levem em conta os legítimos
interesses do titular da marca e de terceiros.

O artigo 132, LPI, estabelece no Brasil os referidos limites


aos direitos do titular, os quais estão de acordo com o artigo 17
de TRIPS.
O artigo 18 de TRIPS trata da duração da proteção. Este
determina que “[...] o registro inicial de uma marca, e cada uma
das renovações do registro, terá duração não inferior a sete anos.
O registro de uma marca será renovável indefinidamente”. Trata-
se de um avanço com relação à CUP, pois esta não previa um
prazo mínimo (BASSO, 2000). O Brasil estabeleceu em seu artigo
133 , LPI, o prazo de 10 anos, indo além de TRIPS.
Com relação à caducidade das marcas, o artigo 19 do TRIPS
estabeleceu que um registro de uma marca “[...] só poderá ser
cancelado após transcorrido um prazo ininterrupto de pelo menos
três anos de não-uso, a menos que o titular da marca demonstre
motivos válidos, baseados na existência de obstáculos a esse uso”.
No Brasil, a caducidade foi prevista no artigo 143, LPI, na qual
se estabeleceu o prazo de cinco anos para que caduque o registro:

Art. 143 – Caducará o registro, a requerimento de qualquer pessoa com


legítimo interesse se, decorridos 5 (cinco) anos da sua concessão, na
data do requerimento:
I – o uso da marca não tiver sido iniciado no Brasil; ou
II – o uso da marca tiver sido interrompido por mais de 5 (cinco) anos
consecutivos, ou se, no mesmo prazo, a marca tiver sido usada com
modificação que implique alteração de seu caráter distintivo original,
tal como constante do certificado de registro.

Volume II
188 Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual

No artigo 20 de TRIPS ficou previsto que

O uso comercial de uma marca não será injustificavelmente


sobrecarregado com exigências especiais, tais como o uso com outra
marca, o uso em uma forma especial ou o uso em detrimento de sua
capacidade de distinguir os bens e serviços de uma empresa daqueles
de outra empresa. Esta disposição não impedirá uma exigência de que
uma marca que identifique a empresa produtora de bens e serviços seja
usada juntamente, mas não vinculadamente, com a marca que distinga
os bens e serviços específicos em questão daquela empresa. (TRIPS,
1994, art. 20)

Isso foi estabelecido, segundo Basso (2000), porque havia


uma tendência das legislações nacionais em estabelecerem
requisitos especiais para o uso da marca pelo titular. No Brasil
não há qualquer disposição a este respeito que contrarie
expressamente o TRIPS.
Por fim, o artigo 21 de TRIPS estabelece, sobre
licenciamento de uso e cessão de marcas que:

Os Membros poderão determinar as condições para a concessão


de licenças de uso e cessão de marcas, no entendimento de que não
serão permitidas licenças compulsórias e que o titular de uma marca
registrada terá o direito de ceder a marca, com ou sem a transferência
do negócio ao qual a marca pertença. (TRIPS, 1994, art. 21)

No Brasil, as previsões sobre licenciamento estão nos


artigos 139, 140 e 141 da LPI, e a cessão nos artigos 134 e 135
da LPI.
O objetivo dessa previsão, expressa em TRIPS, da
possibilidade de ceder a marca com o sem a transferência do
negócio ao qual pertence a marca, é, para Basso (2000), favorecer
a comercialização de marcas como ativos intangíveis.
No Quadro 11 estão apresentados os principais acordos
internacionais relacionados à proteção de marcas.

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual 189

Quadro 11 – Principais acordos internacionais vigentes relacionados a direitos de


marcas

Acordo Internacional Ano Organismo


Convenção da União de Paris para a proteção da BIRPI/
1883
propriedade industrial (CUP) OMPI
Acordo de Madrid, referente ao registro BIRPI/
1891
internacional de marcas OMPI
BIRPI/
Acordo de Nice 1957
OMPI
Acordo de Viena 1973 OMPI
Tratado de Nairobi sobre a proteção do símbolo
1981 OMPI
olímpico
Protocolo de Madrid 1991 OMPI
Acordos sobre Aspectos dos Direitos de
Propriedade Intelectual relacionados ao 1994 OMC
Comércio (TRIPS)
Protocolo de Harmonização de Normas sobre
Propriedade Intelectual no Mercosul, em matéria
de Marcas, Indicações de Procedência (IP) e 1995 Mercosul
Denominações de Origem (DO) (MERCOSUL/
CMC/DEC. n. 8/95).
Tratado Lei de Marcas /Trademark Law Treaty
1994 OMPI
(TLT),
O Tratado de Cingapura sobre Lei de
Marcas/Singapore Treaty on the Law of 2006 OMPI
Trademarks
Fonte: Elaborado pelas autoras deste capítulo

Vê-se, portanto, que para cada ativo de propriedade


intelectual há acordos internacionais diversos, sendo reflexo das
políticas internacionais vigentes em cada momento histórico, junto
aos interesses próprios envolvendo o comércio internacional.

Volume II
190 Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual

Considerações Finais
Neste capítulo procurou-se analisar a origem e a história
dos acordos internacionais, os acordos internacionais atualmente
vigentes, especialmente aqueles nos quais o Brasil é signatário, e
aqueles que tenham maior relevância internacional; Também se
buscou compreender como se deu a internalização dos referidos
acordos internacionais no ordenamento jurídico brasileiro.
Para atingir esses objetivos, o capítulo foi organizado em
três partes, utilizando como pano de fundo a teoria do Tulio
Ascarelli, que compreende que a propriedade intelectual abarca a
proteção a ativos intangíveis diferenciadores que são suscetíveis
de utilização no comércio. Ou seja, não abarca todos os ativos
intangíveis, mas somente aqueles que servem de elementos
de diferenciação entre concorrentes. E é diante dos ativos
intangíveis diferenciadores que este criou a classificação aqui
utilizada agrupando os bens intelectuais com relação à novidade,
à originalidade e à distinguibilidade.
Diante do que foi exposto, primeiramente abordou-se
a história dos acordos internacionais, acordos internacionais
vigentes e sua internalização no Brasil, referente aos bens
intelectuais que têm como elemento diferenciador a originalidade:
direitos autorais e conexos, conhecimentos tradicionais e
programas de computador.
Em um segundo momento, foram discutidos sob o
mesmo enfoque os bens intelectuais que têm como elemento
diferenciador a novidade: patentes de invenção e modelo de
utilidade, desenho industrial proteção de cultivares e topografia
de circuitos integrados.
Por fim, no terceiro momento foram abordados sob o mesmo
enfoque os bens intelectuais que têm como elemento diferenciador
a distinguibilidade: as indicações geográficas e as marcas.

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Acordos Internacionais Relacionados à Propriedade Intelectual 191

Foi possível verificar ao longo deste trabalho o grande


número e a amplitude de acordos internacionais que têm como
foco os direitos de propriedade intelectual. Contudo, observou-
se especial destaque para três: A Convenção União de Paris para a
Proteção da Propriedade Industrial, a Convenção União de Berna
para a Proteção de Obras Artísticas e Literárias e, notadamente, o
Acordo sobre Aspetos Relacionados à Propriedade Intelectual e
ao Comércio, o qual efetivamente trouxe o debate da propriedade
intelectual para os holofotes internacionais.

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Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Programa de Computador e
Topografia de Circuito Integrado

Gesil Sampaio Amarante Segundo


Eduardo Oliveira Teles

Resumo: Este capítulo cobre os princípios legais envolvendo a proteção da propriedade


intelectual que recai sobre os programas de computador e sobre topografia de circuito
integrado no Brasil, discutindo, particularmente, no primeiro caso, as razões para a
modalidade de proteção adotada.

Abstract: It covers the legal principles regarding the protection of intellectual property
that applyto computer programs and integrated circuit topography in Brazil, discussing,
particularly in the first case, the reasons for the modality of protection adopted.

Introdução
A propriedade intelectual compreende tanto a propriedade
industrial quanto os direitos autorais. A propriedade industrial
está mais relacionada ao direito empresarial/negocial protegendo
a técnica, em si. Os direitos autorais se vinculam mais fortemente
à proteção de obra, têm caráter civil e servem como declaração de
autoria. A legislação relacionada à propriedade intelectual busca
dar direitos e garantias ao inventor que realizar a exploração,
sendo beneficiado pelo resultado de sua atividade inventiva.
A atividade inventiva tem como resultado um produto
ou técnica que pode ser registrada no órgão competente desde
que se prove o ato de criação, o que difere, por exemplo, a
atividade de criação da atividade de descoberta. Realizar uma
descoberta envolve ações com o objetivo de se obter o direito
210 Programa de Computador e Topografia de Circuito Integrado

de comercializar o objeto descoberto através, por exemplo: do


direito de uso do solo, pagamento de taxas/royalties, dentre
outros.. Mas, nesse caso, outros trâmites para exploração deverão
ser realizados até que a exploração e a comercialização de um
bem natural ocorram. No caso da invenção, provando a atividade
inventiva e tendo seu direito reconhecido, o inventor tem direitos
plenos sobre seu invento de forma direta, o que lhe permite,
dentro dos parâmetros legais, tomar qualquer ação de negociação,
licenciamento e/ou comercialização.
A proteção dada ao inventor, de modo geral, é dada por
meio da concessão de patentes e/ou registros. Patentes estando
relacionadas às invenções de produtos/processo e modelos de
utilidade e o registro se aplicando para desenhos industriais,
topografias de circuitos, marcas e programas de computador.
Programas de computador são ferramentas cada vez
mais presentes em todas as atividades humanas, viabilizando ou
aperfeiçoando uma série crescente de tarefas com complexidade
e autonomia cada vez maiores. Essas ferramentas apresentam-se
de forma mais evidente, como no caso de um editor de texto ou
como em aplicativos do smartphone ou em formas mais discretas,
como nos vários sistemas embarcados que controlam funções de
equipamentos domésticos, automóveis, aviões e uma infinidade de
instrumentos. Além disso, com o aumento de sistemas ciberfísicos,
discutir sobre topografia de circuitos integrados desenvolvidos
a partir dessa demanda de integração entre hardware e software
enriquece a discussão acerca do tema.
Neste capítulo, será realizada a discussão sobre o
entendimento atual da proteção (seja por patente, seja por
registro) dos programas de computador e das topografias de
circuitos integrados, apresentando também as possibilidades de
licenciamento de uso.

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Programa de Computador e Topografia de Circuito Integrado 211

Breve Histórico
O primeiro programa de computador é atribuído a Ada
Augusta Byron, Condessa de Lovelace (costumeiramente citada
como Ada Lovelace), que propôs em 1843 uma forma de utilizar
a Máquina Analítica proposta por Charles Babbage para calcular
números de Bernoulli (WALKER, 2018). Uma das primeiras
utilizações de máquinas de calcular, ainda no século XIX foram os
equipamentos de cartões perfurados, depois as máquinas de censo
de Hollerith. Ele, inclusive, criou uma empresa que participou da
formação, em 1924, da International Business Machine (IBM).
As máquinas analógicas eletromecânicas foram
desenvolvidas na primeira metade do século XX, paralelamente
ao crescimento de extenso ferramental matemático e tecnológico
que resultou na primeira máquina de cálculo controlada
automaticamente, a Z1, de Konrad Zuse, em 1936 (FONSECA
FILHO, 2007).
Nesse período, Allan Turing começou o desenvolvimento
teórico da ideia de Máquina Universal, enquanto Eckert,
Mauchly e Goldstine começaram a construir o primeiro
computador eletrônico programável de uso geral funcional, o
ENIAC (Electronic Numerical Integrator and Computer), no
que contribuiu muito, a partir de 1944, John von Neumann.
Os trabalhos de Turing foram essenciais para a construção do
COLOSSUS que decodificou o código secreto da máquina alemã
ENIGMA, contribuindo para a vitória aliada na Segunda Guerra
Mundial.
A partir dos trabalhos de Suze, as máquinas passaram a ter
dispositivos embutidos de memória, usando diversas tecnologias,
desde mecânicas até núcleos magnéticos. Isso foi importante
para que os computadores passassem a contar com programas
armazenados e modificáveis.

Volume II
212 Programa de Computador e Topografia de Circuito Integrado

No período entre os anos de 1936 e início da década de 1950


foram desenvolvidos os fundamentos teóricos que caracterizaram
procedimentos efetivamente computáveis. Os procedimentos
efetivos envolvem uma sequência finita de instruções que atendem
a um conjunto de propriedades bem definidas e compõem o
que se chama de algoritmo. Algoritmos, por sua vez, podem ser
implementados em linguagens não naturais ou subconjuntos não
ambíguos de linguagens naturais.
O ENIAC tinha sua programação feita por meio do arranjo
dos fios (era “hardwired”), o que conferia certa eficiência, mas
levava horas ou dias para alterar a programação. Muito evoluiu
desde então até que as linguagens de programação alcançassem
o atual estágio de proximidade com a linguagem humana, o que
teve momento particularmente importante em novembro de
1954, com a criação do IBM Mathematical FORmula TRANslation
System, o FORTRAN.
O FORTRAN foi a primeira linguagem “próxima da
humana” de sucesso e ainda é utilizada por físicos e engenheiros
em suas versões mais recentes (ou nem tão recentes, como o ainda
usado FORTRAN77). As linguagens de “alto nível”, próximas
da linguagem natural, envolvem algum processo de tradução das
instruções para o “código de máquina”, que pode ocorrer “em
tempo de execução” ou por meio da geração de executáveis,
por compiladores. Linguagens mais próximas do hardware são
chamadas “de baixo nível”.
Hoje, há uma infinidade de linguagens de programação
para computador, cada uma com características que as tornam
mais adequadas para determinadas tarefas, que vão desde o
cálculo eficiente, em máquinas paralelas, de sistemas complexos
de equações aplicadas em engenharia, física e química à tradução
de textos em páginas da internet.

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Programa de Computador e Topografia de Circuito Integrado 213

A percepção, para o público geral, da importância dos


programas de computador tem aumentado em muito desde a
popularização dos computadores pessoais, a partir dos anos 1980,
mais ainda a partir da abertura da internet, em meados dos anos
1990 e, finalmente, a partir da maior penetração dos dispositivos
móveis, particularmente smartphones, iniciados em 2007.
O grande crescimento, no final dos anos 1990, de negócios
de empresas que exploravam comercialmente a internet (as
.com, muitas fechando na explosão da bolha especulativa em
2000) alimentou a percepção do valor comercial das criações
de programas de computador, incluindo sua forma de proteção,
o que já era bastante discutido desde os anos 1970 (NOVICK;
VALLENSTEIN, 1980). Diferentes formas foram propostas e
continuam sendo objeto de grande disputa.
A recente emergência de sistemas de inteligência artificial,
capazes de emular o pensamento humano em tarefas específicas
e até mesmo criar seus próprios códigos, resultantes da avaliação
de grandes quantidades de dados em redes neurais criadas
para identificar padrões e a importância desses sistemas para a
economia, cada vez mais automatizada, da indústria 4.0 dá certeza
de que esses debates estão longe de serem superados.

Formas de Proteção de Programas de Computador


A definição de programa de computador, presente na Lei
de Software, (Lei n. 9.609) é: “[...] expressão de um conjunto
organizado de instruções em linguagem natural ou codificada,
contida em um suporte físico de qualquer natureza [...] para
fazê-los funcionar de modo e para fins determinados”.
Por sua óbvia aplicação industrial, uma contínua geração de
novas técnicas e produtos, que são derivados de evidente esforço
inventivo, resulta em inovações com variados graus de adição

Volume II
214 Programa de Computador e Topografia de Circuito Integrado

de valor à atividade econômica e gerando soluções para uma


infinidade de problemas, é comum esperar que a proteção desse
tipo de criação se dê na forma de patentes (cujas condicionantes
são justamente novidade, aplicação industrial e atividade
inventiva).
Contudo, seguindo a orientação do Acordo TRIPS, em
seu artigo 10, o Brasil optou pela não admissão de patentes para
softwares: “Programas de computador, em código fonte ou objeto,
serão protegidos como obras literárias pela Convenção de Berna
(1971).” (BRASIL, 1994).
Tal escolha é constantemente rediscutida (TIGRE, 2009) e
foi feita levando-se em consideração tanto os aspectos jurídicos
e técnicos quanto a viabilidade e a conveniência, para o país, de
uma eventual proteção forte (patente) no ciclo de inovação típico
de programas de computador.
A adoção da modalidade patentária para a proteção
de programas de computador representaria uma barreira de
entrada de difícil transposição a novos atores, especialmente
considerando-se a quantidade de métodos e soluções empregadas,
mesmo na confecção de um aplicativo simples. Também pesaram
argumentos relativos ao interesse nacional no desenvolvimento de
soluções locais e na oportunidade do aparecimento de empresas
que não sejam fortemente limitadas por patentes de terceiros,
em um campo que é majoritariamente dominado por grandes
empresas estrangeiras.
Esses entendimentos são seguidos pela maioria dos
países (com importante exceção dos Estados Unidos e Japão).
É importante destacar a decisão do Parlamento Europeu, que
em julho de 2005 recusou a patenteabilidade de software (por 648
votos a 14), ratificando a Convenção Europeia sobre Patentes de
1973, que proíbe explicitamente o patenteamento de programas
de computador.

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Programa de Computador e Topografia de Circuito Integrado 215

Ainda assim, perto de 30 mil patentes de software foram


reconhecidas pelo Departamento Europeu de Patentes em
Munique, para programas classificados como “contribuição
técnica a uma invenção protegida por lei” (DW BRASIL, 2006;
UNIÃO EUROPEIA, 2005).
Mesmo não considerando aspectos de política de
desenvolvimento local, há dúvidas sobre como reforçar de
maneira equilibrada a proteção patentária para softwares, já que
muitas vezes não é viável garantir que uma técnica específica foi
realmente empregada para gerar o resultado computacional sem
acesso ao código-fonte. Tal dificuldade pode facilmente gerar
situações em que uma proteção mais forte operaria no sentido
contrário à ideia fundamental da promoção da inovação, com
empresas acusando outras de violação de patentes apenas como
estratégia de lawfare, envolvendo batalhas legais motivadas por
interesses comerciais e deflagradas usando a particularmente
difícil caracterização da infração de patentes.
Dois casos emblemáticos de lawfare envolvendo programas
de computador, ocorridos nos Estados Unidos, mas com
impacto global e com dinâmicas e resultados bem diferentes,
são os da Santa Cruz Operations Group (SCO) contra a IBM
(e outras empresas que empregam o sistema operacional
GNU/Linux) e o da Microsoft contra companhias que utilizam o
sistema operacional Android em smartphones. Esses casos serão
resumidamente mostrados ao longo deste texto.

Legislação Brasileira para Registro de Programa


de Computador
No Brasil, os principais instrumentos relativos a esse tema
são a Lei de Software (Lei n. 9.609) e a Lei de Direito Autoral (Lei
n. 9.610), ambas de 1998.

Volume II
216 Programa de Computador e Topografia de Circuito Integrado

Da Lei de Direito Autoral, resta estabelecido que:

Art. 7º São obras intelectuais protegidas as criações do espírito,


expressas por qualquer meio ou fixadas em qualquer suporte, tangível
ou intangível, conhecido ou que se invente no futuro, tais como:
[...]
XII - os programas de computador;
[...]
§ 1º Os programas de computador são objeto de legislação específica,
observadas as disposições desta Lei que lhes sejam aplicáveis.
[...]
§ 3º No domínio das ciências, a proteção recairá sobre a forma literária
ou artística, não abrangendo o seu conteúdo científico ou técnico, sem
prejuízo dos direitos que protegem os demais campos da propriedade
imaterial.

A Lei de Software de maneira coerente com a linha adotada


pela Lei de Direito Autoral, sendo mais explícita no artigo 2º:
“O regime de proteção à propriedade intelectual de programa
de computador é o conferido às obras literárias pela legislação
de direitos autorais e conexos vigentes no País, observado o
disposto nesta Lei”.
A proteção recai, portanto, sobre a expressão literal do
programa, não sobre sua lógica de funcionamento. Com isso, se
a implementação da mesma solução técnica acontece de forma
independente por outro autor, sem que haja cópia de trechos do
código original, não se configura ato ilícito.
Outro aspecto importante a ressaltar, como resultado da
forma de proteção adotada no Brasil é que, da mesma forma como
em obras literárias, o direito “nasce com a obra” e não é, a rigor,
necessário um procedimento padronizado de reconhecimento do
direito, sendo o registro opcional.
Comparar os princípios contidos na Lei de Registros
Públicos e na Lei de Notários e Registradores, fazendo uma

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Programa de Computador e Topografia de Circuito Integrado 217

relação com a proteção através do registro de software, permite


verificar a estreita relação existente entre o direito autoral de
software no Brasil e os demais registros públicos instaurados. Essa
relação permite afirmar que há relação direta para os princípios:

• Segurança jurídica;
• Boa-fé e confiança;
• Legalidade;
• Disponibilidade;
• Continuidade;
• Especialidade;
• Unitariedade;
• Rogação;
• Legitimação

Formando um arcabouço sobre as formas de registro no


Brasil, qualquer estudo profundo sobre a atividade de Registro de
Computador no Brasil deve elencar as relações existentes entre
estes princípios e os atores envolvidos no processo de registro.

Sistemas Embarcados
Programas que sejam parte integrante de um equipamento,
imprescindíveis para desempenho funcional e insubstituíveis
(exceto por atualizações), como no caso de diversos instrumentos
de navegação em aeronaves, injeção eletrônica em automóveis,
dispositivos de rede e até mesmo alguns eletrodomésticos, são
chamados softwares embarcados (para partes de computadores
ou dispositivo periférico de computadores, normalmente este
software é chamado de firmware). Os softwares embarcados fazem
parte da documentação patentária do equipamento e podem ter
seus processos de funcionamento protegidos. Mesmo nesse caso,

Volume II
218 Programa de Computador e Topografia de Circuito Integrado

o código-fonte pode ser também registrado, como forma de


proteger também a implementação particular do esquema, mas
não pode ser, isoladamente, objeto de patenteamento.
A proteção de softwares embarcados constitui um caso
particular, uma vez que a funcionalidade conferida pelo programa
é chave para o funcionamento do equipamento de que é parte. Tais
programas são, portanto, elementos integrantes do equipamento
e não complementos opcionais. No caso de um equipamento
que demonstre efetiva criação passível de patenteamento, o
software embarcado pode ser parte imprescindível do processo
de proteção. Sua funcionalidade (não o código) é protegida com
parte da patente do equipamento. Isso não impede que o código-
fonte seja também registrado. De fato, não é incomum nestes
casos haver, simultaneamente, patente, registro de software,
segredo industrial e registro de topografia de circuito, tudo ao
mesmo tempo.

Patente de Invenção Implementada por Software


O Instituto Nacional da Propriedade Industrial (2012)
abriu a Consulta Pública n. 01/2012 para discutir o tema de
“Invenções Implementadas por Programas de Computador”, o
que foi visto por muitos como uma forma de introduzir no Brasil
à patenteabilidade dos programas, e recebeu muitas críticas de
setores acadêmicos (CCSL-USP, 2012) e até mesmo de correntes
de partidos políticos (PÁGINA 13, 2012).
Apesar de toda a resistência, o INPI continuou a conceder
patentes de invenção implementadas por software, em especial
para o segmento de telecomunicações. Em fins de 2016, o
INPI publicou a resolução 158, com as “Diretrizes de Exame
de Pedidos de Patentes Envolvendo Invenções Implementadas
por Programas de computador” (INSTITUTO NACIONAL DA
PROPRIEDADE INDUSTRIAL, 2016).

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Programa de Computador e Topografia de Circuito Integrado 219

Sobre o Software Livre e o Registro


É importante não confundir a questão do registro com a
modalidade de licenciamento, através da qual o programa será
disponibilizado a outras pessoas. O Registro não diferencia, a
priori, software de código aberto (ou mesmo Software Livre – SL)
de software fechado e comercial, na medida em que o registro não
interfere nesta etapa (de sua forma de disponibilização para uso),
apenas garante legalmente o reconhecimento da autoria. O que
é útil para reforçar o direito do autor de definir a forma aberta
(ou não) da disponibilização ao público. Nesse sentido, o autor
pode tanto reforçar a liberdade do código quanto o seu caráter
fechado.
O Software Livre é definido pela Free Software Foundation
(FSF) como aquele que assegura as seguintes liberdades essenciais:

1. A liberdade de executar o programa como você desejar, para qualquer


propósito (liberdade 0).
2. A liberdade de estudar como o programa funciona, e adaptá-lo às
suas necessidades (liberdade 1). Para tanto, acesso ao código-fonte é
um pré-requisito.
3. A liberdade de redistribuir cópias de modo que você possa ajudar ao
próximo (liberdade 2).
4. A liberdade de distribuir cópias de suas versões modificadas a outros
(liberdade 3). (GNU. ORG, 2017, p. 1)

O detentor do direito de autor pode dar a toda comunidade


de usuários a chance de beneficiar-se de suas mudanças. Para
tanto, acesso ao código-fonte é um pré-requisito.
Há várias “licenças livres”, sendo a mais famosa a licença
GNU (da FSF) – também dividida em categorias (GNU General
Public License, GNU Lesser General Public License, GNU
Affero General Public License, GNU Free Documentation
License). Também há outras que são reconhecidas como licenças

Volume II
220 Programa de Computador e Topografia de Circuito Integrado

de “código aberto” (open source), mas não são licenças livres (não
cumprem as quatro liberdades).
As licenças de código aberto envolvem, por exemplo,
códigos que podem ser reutilizados na construção de versões
fechadas (licença BSD – Berkeley Software Distribution, por
exemplo), algo não permitido em SL (como definido pela FSF),
que tem caráter viral (o programa derivado de software livre tem
de ser livre).
Também não existe relação de dependência real entre o
caráter de software livre (ou código aberto) e ausência de utilização
como parte de uma operação comercial. Diversas empresas (HP,
IBM, RedHat) com fins lucrativos utilizam SL como parte de
sua estratégia de negócios ou mesmo como elemento central do
negócio.

Registro de Programa de Computador no Instituto


Nacional da Propriedade Industrial
Como a autoria necessita ser confirmada com base na
efetiva anterioridade em eventual caso de litígio, motivado
por cópia não autorizada ou plágio, pode ser de interesses dos
autores contar com mecanismos publicamente acreditados de
comprovação de autoria e originalidade, o que justifica a oferta
de um procedimento de registro.
O Instituto Nacional da Propriedade Industrial realiza
registro de código-fonte como forma de proteção contra cópia
não autorizada, para conferir segurança aos direitos autorais.
Tal registro tem validade legal, assegurando, na ausência de
eventual outra forma, uma “data de criação” da obra. Trata-
se de procedimento relativamente simples de ser executado,
especialmente desde a Instrução Normativa INPI n. 074/2017,
que instaurou o registro por via eletrônica (INSTITUTO

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Programa de Computador e Topografia de Circuito Integrado 221

NACIONAL DA PROPRIEDADE INDUSTRIAL, 2017).


Antes disso, o procedimento completo (que envolvia o envio de
material pelo correio, Instrução Normativa n. 11/2013 do INPI),
apesar de não ser mais complexo, poderia demorar alguns meses.
Entre essas duas Instruções Nprmativas, houve uma “regra de
transição”, aplicada por meio da Instrução Normativa INPI n.
071/2017.
Alguns aspectos importantes a respeito do Registro de
Programas de Computador:

• A proteção recai sobre o “código-fonte em si”,


não protegendo esquemas e técnicas subjacentes
ao funcionamento.
• O registro não exclui outras proteções eventualmente
aplicáveis ao programa (como nos casos de
software embarcado).
• Conjuntos comercialmente indivisíveis de programas,
que componham um mesmo “pacote” de aplicações
podem obter registro único.
• A documentação pode envolver transcrição parcial
(trechos do código-fonte) ou total;.
• Alterações ou derivações requerem autorização do autor
da versão original.
• A validade é de 50 anos, contados do ano seguinte
à criação.
• A abrangência é internacional, compreendendo os 175
países signatários da Convenção de Berna (1886);
• Não há análise técnica ou de anterioridade para a admissão
do Registro. Apenas exame documental formal.

Volume II
222 Programa de Computador e Topografia de Circuito Integrado

• O Registro confere maior segurança jurídica nas


transações comerciais envolvendo os direitos dos
programas (venda ou licenciamentos).
• Pode ser usado para obtenção de incentivos (Lei
do Bem).
• É necessário para algumas certificações de software.
• É requerido para participação em licitações ou para
pontuação no caso de concursos.

As etapas para o registro são:

1. Acesso ao portal do INPI (www.inpi.gov.br) para


cadastro no sistema e-INPI, criação do Login e Senha
(ou acesso, caso já haja cadastro). O cadastro envolve
cliente e procurador (se houver).
2. Seleciona-se no campo “Tipo de Serviço” e o serviço
desejado, no caso “Pedido de Registro de Programa de
Computador – RPC (730)”.
3. Pagamento da Guia de Recolhimento à União (GRU).
4. Download da GRU e da Declaração de Veracidade,
necessário para realizar o Peticionamento Eletrônico.,
5. Acesso ao Formulário eletrônico, com login em
https://gru.inpi.gov.br/peticionamentoeletronico/ e
informação da GRU anteriormente gerada.
6. Preenchimento de dados de titulares e autores.
7. Preenchimento dos dados do programa, incluindo
Linguagem, Campo de Aplicação e Tipo de Programa,
entre outros.
8. Gerar a criptografia do código-fonte e informar o
resumo digital no campo <Resumo digital Hash>.

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Programa de Computador e Topografia de Circuito Integrado 223

9. Inserção de dados de derivação de software preexistente,


quando for o caso;
10. Declaração de Veracidade, assinada digitalmente, pelo
Procurador (se for o caso) ou pelo titular;
11. Conferência dos dados;
12. Efetivação do Protocolo, com geração do número de
pedido.

O prazo esperado entre a efetivação destas etapas e a


expedição e disponibilização do certificado no portal do INPI é
de até 10 dias corridos.
O resumo hash, também chamado de código hash (hash code)
ou resumo criptográfico – é um número único que representa
um dado arquivo. As chances de dois arquivos gerarem o mesmo
resumo hash são pequenas e técnicas são empregadas nas funções
hash para tornar as “colisões hash” ainda mais improváveis. Não é
possível recuperar o dado original a partir do resumo hash gerado.
Importante ter em mente que, pelo fato de apenas o resumo
digital hash ser enviado ao INPI e não mais a cópia do código-
fonte, é imprescindível o armazenamento pelo requerente de mais
de uma cópia (preferencialmente em mídias de tipo diferente)
das listagens de código utilizadas para a geração do resumo hash.
Mais detalhes acerca do registro podem ser obtidos no manual
completo do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (2018).

Casos Ilustrativos
Como elucidação de situações reais, nas quais é possível
verificar a relação de interesses contrários na disputa sobre direitos
de propriedade, são apresentadas a seguir descrições sumarizadas
de casos ilustrativos.

Volume II
224 Programa de Computador e Topografia de Circuito Integrado

Caso Ilustrativo 1: SCO x Linux:

Após a junção da companhia Santa Cruz Operations


(SCO) com a Caldera Systems, a resultante SCO Group entrou,
em 6 de março de 2003, com ação contra a IBM no valor de
1 bilhão de dólares, alegando ser detentora dos direitos sobre
códigos utilizados no Kernel do sistema operacional de código
aberto GNU/Linux, que, supostamente, teriam sido copiados do
sistema UNIX, cujos direitos a SCO dizia possuir. A SCO, a rigor,
declarava que qualquer um que usasse o sistema GNU/Linux
ou qualquer sistema inspirado no UNIX lhes devia retribuição
e que, particularmente as contribuições da IBM para o sistema
de código aberto teriam lhe causado especial prejuízo. Enviou
também comunicação a 1500 companhias que ofereciam soluções
derivadas do GNU/Linux, notificando-lhes de potencial risco de
processo.
O Sistema operacional UNIX, fortemente usado em
servidores e que inspirou, mas não teve código diretamente
empregado no GNU/Linux, foi desenvolvido pela Unix System
Laboratories (USL), uma divisão da empresa AT&T, que vendeu
todos os seus direitos acerca do sistema para outra empresa, a
Novell. Esta última havia vendido alguns de seus ativos à SCO
que entendia ter direito a todo o UNIX e alegava que parte do
código do Linux usava trechos do mesmo.
Logo após o início do processo, um email vazado lançou
dúvidas sobre um possível financiamento da SCO por parte da
Microsoft, que à época disputava o mercado de servidores com
várias empresas envolvidas com Linux, inclusive a IBM.
Desde então, o caso tem sido decidido contrariamente
à SCO e reaberto por meio de recursos seguidas vezes, com
movimentações até o presente ano (GROOKLAW, 2018).

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Programa de Computador e Topografia de Circuito Integrado 225

Caso Ilustrativo 2: Microsoft x Android

Este caso ficou conhecido como a guerra de patentes


dos smartphones e acabou envolvendo toda a indústria do setor.
A gênese deste caso ocorreu quando a Microsoft, então detentora
do sistema operacional Windows Mobile para dispositivos móveis,
passou a pressionar fabricantes de smartphones, que utilizavam o
sistema operacional da Google, o Android a usarem o seu sistema.
Caso as empresas se negassem a utilizar o Windows Mobile, a
Microsoft ameaçava processá-las, alegando que sistema Android
violava várias patentes da Microsoft, patentes estas que a
Microsoft sequer declarava explicitamente.
Às empresas fabricantes ficavam as opções de enfrentar
longas e custosas batalhas judiciais contra a Microsoft, utilizar o
sistema Windows ou pagar à Microsoft pela utilização do sistema
da Google. Detalhe importante: a Microsoft cobrava mais às
fabricantes pelo uso do Android do que pelo uso do Windows.
Este procedimento perdurou desde 2011 até 2014, quando
um órgão do governo chinês (aparentemente por acidente) vazou
as informações que a Microsoft as havia fornecido sobre suas
patentes relacionadas à smartphone, como parte de processo de
aceitação da aquisição da Nokia. Nesta lista de 310 patentes, 127
eram alegadamente relacionadas ao Android.
De acordo com Mullin (apud FREITAS, 2014), a Microsoft
estava ganhando royalties da ordem de 2 bilhões de dólares por
conta de um sistema operacional que não era de sua autoria. Tal
lucro se daria por conta da posse de algumas poucas patentes
que, supostamente, cobriam funcionalidades do sistema rival e do
seu peso econômico, que equivale ao fôlego para longas batalhas
judiciais.

Volume II
226 Programa de Computador e Topografia de Circuito Integrado

A única empresa que resolveu desafiar a Microsoft foi a


Barnes & Noble. A rede de livrarias alegou que as 14 patentes que
a Microsoft disse que estavam sendo violadas pelo tablet Nook
e-reader cobrem funções triviais do sistema Android. Ademais,
estas patentes se encontravam em lista divulgada pelos chineses.
A ação da Barnes & Noble foi arquivada, mas poucos meses depois
a Microsoft adquiriu 300 milhões de dólares em ações da B&N.
Esse é um caso emblemático de uso de patentes contrário
ao interesse de promoção da inovação, mas não foi o único
envolvendo smartphones. A própria Google foi acusada de potencial
uso abusivo de seu portfólio de patentes. Para se defender, a
Google adquiriu em 2011 a Motorola Mobility por 12,5 bilhões
de dólares, essencialmente por conta de seu portfólio de patentes.
Em 2013, a Microsoft adquiriu a NOKIA, por 5 bilhões de
dólares.
A Figura 1 mostra um infográfico das batalhas judiciais
envolvendo a indústria de Tecnologias de Informação e
Comunicação (TICs) entre as grandes empresas, entre 2008
e 2012. Ainda que muito do que se alega serem patentes de
software, na verdade envolva poucos elementos reais de software
(GRAHAM; VISHNUBHAKAT, 2013), há muito a se debater
acerca desse tipo de proteção.

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Programa de Computador e Topografia de Circuito Integrado 227

Figura 1 – Infográfico dos processos legais envolvendo patentes em smartphones

Fonte: Visually (2018)

De acordo com matéria do jornal The New York Times


(DUHIGG; LOHR, 2012), uma análise da Universidade de
Stanford, entre 2000 e 2012, por volta de 20 bilhões de dólares
foram gastos em litígios e aquisições de patente, apenas na área
de smartphones. Em 2011, o valor gasto com litígios e aquisições de
patentes foi, pela primeira vez, superior às despesas com pesquisa
e desenvolvimento de novos produtos.

Volume II
228 Programa de Computador e Topografia de Circuito Integrado

Topografia de Circuito Integrado


O registro da topografia de circuito integrado, parte
integrante dos dispositivos eletrônicos, é outra modalidade de
ativo de propriedade intelectual que tem características peculiares
e únicas. Com efeito, não pertence à categoria dos direitos autorais
e nem à de propriedade industrial, mas à de propriedade sui generis.
A Lei n. 11.484, de 2007, no seu capítulo III, artigo 26, diz

[...]
Para os fins deste Capítulo, adotam-se as seguintes definições:
I – circuito integrado significa um produto, em forma final ou
intermediária, com elementos dos quais pelo menos um seja ativo
e com algumas ou todas as interconexões integralmente formadas
sobre uma peça de material ou em seu interior e cuja finalidade seja
desempenhar uma função eletrônica;
II – topografia de circuitos integrados significa uma série de imagens
relacionadas, construídas ou codificadas sob qualquer meio ou forma,
que represente a configuração tridimensional das camadas que
compõem um circuito integrado, e na qual cada imagem represente,
no todo ou em parte, a disposição geométrica ou arranjos da superfície
do circuito integrado em qualquer estágio de sua concepção ou
manufatura. (BRASIL, 2007, art. 26)

A natureza diferenciada desta forma de proteção reside em


que a disposição geométrica e o arranjo dos componentes num
circuito integrado estão intrinsecamente ligados às funcionalidades
possíveis a este circuito e ao equipamento de que este faz parte.
Isso tem reflexos na verificação da viabilidade técnica e também
na maior facilidade de aferição de eventuais anterioridades, o que
traz elementos de processo diferenciados.
Os requisitos legais são semelhantes aos das patentes:
novidade, esforço intelectual (a aplicação industrial é implícita).
O requisito da novidade, nesse caso, não impede que a topografia
em questão já esteja em uso na data do registro, desde que essa

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Programa de Computador e Topografia de Circuito Integrado 229

exploração não tenha sido iniciada mais de 24 meses antes. Não


é vedada a combinação de elementos preexistentes, contanto que
essa combinação seja original e, se tais elementos envolverem
topografias já registradas, houver autorização.
A proteção será conferida apenas à topografia e não
aos conceitos, processos, sistemas ou técnicas envolvidas ou a
qualquer dado ou informação gerada pelo uso da topografia.
O prazo de validade do registro é de 10 anos, contados a
partir da data de registro ou da data da primeira exploração (a que
ocorrer primeiro).
Além do capítulo III da Lei n. 11.484, de 2007, o
procedimento é regulado pela Instrução Normativa INPI n. 10
de 18/03/2013 e seus anexos.
Os direitos legais conferidos ao titular são:

I. reproduzir a topografia, no todo ou em parte, por qualquer meio,


inclusive incorporá-la a um circuito integrado;
II. importar, vender ou distribuir por outro modo, para fins comerciais,
uma topografia protegida ou um circuito integrado no qual esteja
incorporada uma topografia protegida; ou
III. importar, vender ou distribuir por outro modo, para fins
comerciais, um produto que incorpore um circuito integrado no qual
esteja incorporada uma topografia protegida, somente na medida em
que este continue a conter uma reprodução ilícita de uma topografia.
(INSTITUTO NACIONAL DA PROPRIEDADE INDUSTRIAL,
2017, art. 36)

Procedimentos do Registro de Topografia de


Circuito Integrado no INPI
Ainda não há procedimento eletrônico para o requerimento
de depósito, que deve ser efetuado pessoalmente ou por via postal,

Volume II
230 Programa de Computador e Topografia de Circuito Integrado

contendo (de acordo com o artigo 3º da Instrução Normativa n.


10/2013):

I – descrição da topografia, com todos os elementos que a compõe tais


como: memórias, conversores e controladores e o número de imagens
que representa a configuração tridimensional da topografia, de maneira
ordenada;
II – imagens da topografia, apresentadas por meio de desenhos ou
fotografias, em meio digitais óticos, essenciais para permitir sua exata
identificação e a caracterização de sua originalidade;
III – descrição da função correspondente da topografia;
IV – declaração de exploração anterior da topografia, no Brasil ou no
exterior, se houver, com a indicação da data do início da exploração;
V – comprovante do pagamento da retribuição correspondente no
valor vigente à data de apresentação do pedido de registro;
VI – procuração, se for o caso. (INSTITUTO NACIONAL DE
PROPRIEDADE INTELECTUAL, 2013, art. 3º)

Considerações Finais
Neste capítulo foi possível entender formas de proteção
de programas de computador, a orientação do Acordo TRIPS
de não se admitir patentes para softwares e a constante discussão
sobre a viabilidade e a conveniência de uma eventual proteção
forte (patente) no ciclo de inovação típico de programas
de computador. Pode- se dizer que são conhecidos casos
específicos aqui no Brasil para concessão de patentes de invenção
implementadas por software, mas para casos específicos de áreas
como telecomunicações, por exemplo.
Foi apresentada a legislação brasileira para registro de
programas de computador e como esse registro está vinculado a
princípios como: segurança jurídica, boa-fé e confiança, legalidade,
disponibilidade, continuidade, especialidade, unitariedade,
rogação e legitimação.

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Programa de Computador e Topografia de Circuito Integrado 231

Já, no que se refere aos sistemas embarcados, os códigos


de programação fazem parte da documentação patentária do
equipamento e podem ter seus processos de funcionamento
protegidos (por se tratar de uma camada mais próxima do
hardware – firmware). Entretanto, o código-fonte pode ser também
registrado para garantir a proteção da implementação do software.
Também foram apresentadas formas de licenciamento
para software e a diferença entre registro e o licenciamento, além
de apresentar aspectos importantes e as etapas do registro de
programas de computador e do registro de topografia de circuito
integrado junto ao INPI.
Assim, é possível perceber que o avanço tecnológico e a
integração cada vez maior entre hardware e software aumenta a
necessidade de discutir a proteção para invenções nesse campo.
A proteção do inventor deve ser o principal foco e, a partir daí,
buscar mecanismos para que as invenções permitam avanços e/
ou melhorias de processo e produtos para a sociedade.

Referências
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Promulgo a Ata Final que Incorpora os Resultados da Rodada
do Uruguai de Negociações Comerciais Multilaterais do GATT.
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os incentivos às indústrias de equipamentos para TV digital e de
componentes eletrônicos semicondutores e sobre a proteção à
propriedade intelectual das topografias de circuitos integrados.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_
ato20072010/2007/lei/l11484.htm. Acesso em: 10 maio 2016.

Volume II
232 Programa de Computador e Topografia de Circuito Integrado

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sobre a proteção da propriedade intelectual de programa
de computador, sua comercialização no País, e dá outras
providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 20 de maio
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atualiza e consolida a legislação sobre direitos autorais e dá
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de patentes envolvendo invenções implementadas por
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Programa de Computador e Topografia de Circuito Integrado 235

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fourmilab.ch/babbage/sketch.html. Acesso em: 10 ago. 2018.

Volume II
Direito Patentário Brasileiro

Lívia Pereira de Araújo


Larisse Araújo Lima
Grace Ferreira Ghesti
Thiago Lara Fernandes

Resumo: Os direitos de propriedade industrial, no Brasil, datam da primeira década do


século XIX, sendo um dos primeiros países do mundo (mais precisamente o quarto país
do mundo e o primeiro da América Latina) a estabelecer normativamente as regras para
obtenção da proteção dos direitos provenientes da propriedade intelectual. O instituto
da patente, quando bem utilizado, é, sem sombra de dúvidas, uma forma de incentivo
ao desenvolvimento de pesquisas e ao crescimento do investimento em ciência e
tecnologia. É o Estado que impõe sobre o mercado as limitações que permitem que a
proteção por meio de patente se concretize por meio das suas leis e regulamentações
internas. O presente capítulo tem como objetivo estudar o direito patentário brasileiro
de forma a entender melhor o instituto da patente e sua aplicação no país.

Abstract: Industrial property rights in Brazil date back to the first decade of the
nineteenth century, being one of the first countries in the world (more precisely the
fourth country in the world and the first in Latin America) to establish normatively the
rules for obtaining protection of rights from intellectual property. The patent institute,
when well used, is, without a doubt, a way of encouraging the development of research
and the growth of investment in science and technology. It is the State that imposes
on the market the limitations that allow patent protection to be realized through its
internal laws and regulations. This book chapter aims to study Brazilian patent law in
order to better understand the patent institute and its application in the country.

Introdução
Os direitos de propriedade industrial, no Brasil, datam da
primeira década do século XIX, sendo um dos primeiros países do
mundo (mais precisamente o quarto país do mundo e o primeiro
da América Latina) a estabelecer normativamente as regras para
Direito Patentário Brasileiro 237

obtenção da proteção dos direitos provenientes da propriedade


intelectual (MEDEIROS, 20-?).
A primeira norma com efeito de lei no Brasil a tratar dos
direitos de propriedade industrial foi o Alvará de 28 de abril de
1809, promulgado na época pela Vossa Alteza Real, o príncipe
João Álvares de Miranda Varejão. Motivado pela vinda da
família real ao Brasil e sentindo-se a necessidade se incentivar o
desenvolvimento econômico do país e a vinda de novas empresas
e indústrias para o país o Alvará foi promulgado e em seu item
VI determinou o privilégio de exclusividade aos inventores ou
introdutores de uma nova invenção desde que estes apresentassem
o plano da invenção junto à Real Junta do Comércio para que
esta realize a análise e, se for o caso, reconheça o privilégio pelo
prazo de 14 anos, sendo publicado o plano do invento depois de
encerrado o prazo da concessão do privilégio de exclusividade
para que toda a nação e a indústria pudessem gozar do fruto da
invenção (IMPÉRIO DO BRASIL, 1809).
Alguns anos depois surgiu a Constituição Política do
Império do Brasil em 25 de março de 1824, elaborada por um
Conselho de Estado e outorgada pelo Imperador D. Pedro
I. Sendo a primeira Constituição brasileira, em seu artigo 179,
inciso XXVI, reforçou a previsão já existente no Alvará de 28 de
abril de 1809 trazendo nova menção aos direitos dos inventores
sobre suas invenções:

Art. 179 A inviolabilidade dos Direitos Civis, e Políticos dos Cidadãos


Brasileiros, que tem por base a liberdade, a segurança individual, e a
propriedade, é garantida pela Constituição do Império, pela maneira
seguinte.
[...]
XXVI. Os inventores terão a propriedade das suas descobertas, ou
das suas produções. A Lei lhes assegurará um privilégio exclusivo
temporário, ou lhes remunerará em ressarcimento da perda, que hajam
de sofrer pela vulgarização. (IMPÉRIO DO BRASIL, 1809, art. 179)

Volume II
238 Direito Patentário Brasileiro

Com o objetivo de regulamentar a disposição do artigo


179, inciso XXVI, da Constituição Política do Império, seis
anos depois de outorgada a Constituição, surgiu a Lei de 28 de
agosto de 1830, sendo a primeira Lei de Patentes brasileira. Tal
Lei concedia privilegio aquele que descobrisse, inventasse ou
melhoras se o que a Lei chamou de “uma indústria útil”, além
de prometer uma premiação ao que introduzisse uma “indústria
estrangeira” no país (CABELLO, 2016). Conforme previsto
no artigo 4º da Lei, a patente era concedida gratuitamente ao
inventor ou descobridor que, para adquiri-la tinham que declarar
por meio de um documento escrito que a invenção ou descoberta
a ele pertencia, além de depositar no Arquivo Público uma
descrição detalhada dos meios e processos para reprodução da
invenção ou descoberta, incluindo planos, desenhos, modelos e
todos os esclarecimentos necessários para ilustrar exatamente a
matéria. De acordo com o artigo 5º da Lei de patentes a patente
era concedida conforme a qualidade da descoberta ou invenção,
podendo receber um prazo de proteção que variava entre cinco
a vintes anos, sendo o maior prazo concedido somente mediante
lei (IMPÉRIO DO BRASIL, 1830).
Nos anos seguintes, o Brasil passou por mais algumas
alterações da legislação de patentes, como a Lei n. 3.129, de 14 de
outubro de 1882, que foi uma nova Lei para regular a concessão
de patentes aos autores de invenção ou descoberta industrial.
Essa mesma Lei regulava a participação do Brasil em importantes
tratados e acordos internacionais na área de propriedade
intelectual. Pode-se citar a Convenção de Paris de 1883 e suas
várias atualizações e revisões ao longo do tempo (Bruxelas, 1900;
Washington, 1911; Haia, 1925; Londres, 1934; Lisboa, 1958; e
Estocolmo, 1967), considerado um dos mais importantes nortes
para a legislação de propriedade industrial no mundo (PROFNIT,
2018). Houve também a Convenção de Berna regulamentada pelo
Decreto n. 75.699/1975 e o Tratado de Cooperação em Matéria

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Direito Patentário Brasileiro 239

de Patentes (PCT) que foi implementado no Brasil por meio do


Decreto n. 81.742/1978, sendo um importantíssimo documento
no âmbito internacional de proteção por patentes. Até que, em
14 de maio de 1996, surgiu a Lei. n. 9.279 com o objetivo de
uniformizar a legislação brasileira sobre propriedade industrial,
com os diversos tratos e acordos internacionais do qual o Brasil
tornou-se signatário ao longo desses anos, sendo, até hoje essa a
Lei da Propriedade Industrial que trata sobre os procedimentos
para obtenção da proteção por patente.
Diante do exposto, o presente capítulo tem como proposta
estudar o direito patentário brasileiro e resumir, de maneira
objetiva, os principais conhecimentos que cercam a temática de
forma a instruir na boa consecução da proteção tecnológica no
país.

Principais Normas e Legislação Vigente Aplicáveis


às Patentes no Brasil
No Brasil, podemos citar como principais normas na
legislação a respeito de patentes:

a) A Lei n. 9.279, de 14 de maio de 1996, que regula direitos


e obrigações relativos à propriedade industrial. Título I
– Das patentes.
b) A Lei n. 10.196, de 14 de fevereiro de 2001, que altera
e acresce dispositivos à Lei n. 9.279, de 14 de maio
de 1996, que regula direitos e obrigações relativos à
propriedade industrial, e dá outras providências.
c) A Lei n. 13.123, de 20 de maio de 2015, que regulamenta
o inciso II do § 1º e o § 4º do artigo 225 da Constituição
Federal, o artigo 1º, a alínea j do artigo 8º, a alínea c
do artigo 10, o artigo 15 e os §§ 3º e 4º do artigo 16

Volume II
240 Direito Patentário Brasileiro

da Convenção sobre Diversidade Biológica, promulgada


pelo Decreto n. 2.519, de 16 de março de 1998; dispõe
sobre o acesso ao patrimônio genético, sobre a proteção
e o acesso ao conhecimento tradicional associado e
sobre a repartição de benefícios para conservação e
uso sustentável da biodiversidade; revoga a Medida
Provisória n. 2.186-16, de 23 de agosto de 2001; e dá
outras providências.
d) O Decreto n. 2.553, de 16 de abril de 1998, que
regulamenta os artigos 75 e 88 a 93 da Lei n. 9.279, de 14
de maio de 1996, que regula os direitos e as obrigações
relativos à propriedade industrial.

Além disso, o Brasil é país signatário dos seguintes tratados


e acordos internacionais que tratam da proteção pelo instituto da
patente: Tratado de Cooperação em matéria de Patentes (PCT);
Regulamento de Execução do Tratado de Cooperação em Matéria
de Patentes.
É o Instituto Nacional da Propriedade Intelectual (INPI)
o responsável por analisar os pedidos de patente e, se for o caso,
conceder a carta patente. Para tanto, o INPI possui Resoluções,
Instruções e Diretrizes diversas que orientam e auxiliam na
obtenção da proteção por patente, sendo as principais delas:

a) A Instrução Normativa n. 30/2013, que estabelece


normas gerais de procedimentos para explicitar e
cumprir dispositivos da Lei de Propriedade Industrial –
Lei n. 9.279, de 14 de maio de 1996, no que se refere às
especificações dos pedidos de patente.
b) A Instrução Normativa n. 031/2013, que estabelece
normas gerais de procedimentos para explicitar e
cumprir dispositivos da Lei de Propriedade Industrial –

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Direito Patentário Brasileiro 241

Lei n. 9279, de 14 de maio de 1996, no que se refere às


especificações formais dos pedidos de patente.
c) A Resolução n. 187, de 27 de abril de 2017, que
dispõe sobre os procedimentos para a apresentação da
Listagem de Sequências em meio eletrônico para fins
de complementação do relatório descritivo constante
dos pedidos de patentes depositados no INPI e sobre
as regras para a representação das sequências de
nucleotídeos e de aminoácidos.
d) A Resolução n. 190, de 2 de maio de 2017, que prevê
a eliminação de serviços em papel e sua supressão na
Tabela de Retribuições dos serviços prestados pelo
INPI.
e) A Resolução n. 179, de 21 de fevereiro de 2017,
que aperfeiçoa os procedimentos para a entrada na
fase nacional dos pedidos internacionais de patente
depositados nos termos do Tratado de Cooperação
em Matéria de Patentes (PCT), junto ao INPI, como
Organismo Designado ou Eleito.
f) A Resolução n. 158, de 28 de novembro de 2016, que
institui as Diretrizes de Exame de Pedidos de Patentes
Envolvendo Invenções Implementadas por Programas
de computador.
g) A Resolução n. 175, de 5 de novembro de 2016, que
disciplina o exame prioritário de pedidos de “Patente
Verde”.
h) A Resolução n. 169, de 15 de julho de 2016, que institui
as Diretrizes de Exame de Pedidos de Patente – Bloco
II – Patenteabilidade.
i) A Resolução n. 144, de 12 de março de 2015, que institui
as diretrizes de exame de pedidos de patente na área de
biotecnologia.

Volume II
242 Direito Patentário Brasileiro

j) A Resolução n. 145, de 17 de março de 2015, que


prorroga a Terceira Fase do Programa Piloto de Patentes
Verdes.
k) A Resolução n. 151, de 23 de outubro de 2015, que
disciplina o exame prioritário de pedidos de patente em
razão da idade, de uso indevido do invento, de doença
grave e de pedido de recursos de fomento no âmbito do
INPI.
l) A Resolução PR n. 139, de 16 de outubro de 2014, que
dispõe sobre a entrada em vigor do sistema de depósito
eletrônico para os pedidos PCT.
m) A Resolução n. 13, de 18 de março de 2013, que
disciplina a entrega da Carta Patente somente em
formato eletrônico e dá outras providências.
n) A Resolução n. 14, de 18 de março de 2013, que
estabelece as filas de primeiro exame dos pedidos de
patente e os critérios para distribuição dos pedidos para
os examinadores de patente efetuarem o exame técnico
no âmbito do INPI e dá outras providências.
o) A Resolução n. 64, de 18 de março de 2013, que institui
Diretrizes de Exame de Patentes.
p) A Resolução PR n. 73, de 18 de março de 2013, que
dispõe sobre o depósito dos pedidos de patente
nacionais, certificados de adição de invenção e dos
pedidos internacionais depositados por meio do Tratado
de Cooperação em Matéria de Patentes (PCT); que
optaram pela entrada na fase nacional brasileira e sobre
os procedimentos relativos ao exame formal do pedido
nacional de patente, conforme prevê o artigo 21 da Lei
da Propriedade Industrial (LPI).
q) A Resolução PR n. 74, de 18 de março de 2013, que
dispõe sobre o depósito dos pedidos de patente
nacionais, dos certificados de adição de invenção,

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Direito Patentário Brasileiro 243

dos pedidos internacionais depositados por meio do


Tratado de Cooperação em Matéria de Patentes (PCT);
que optaram pela entrada na fase nacional brasileira e
sobre os procedimentos relativos ao exame formal e a
numeração do pedido nacional de patente.
r) A Resolução n. 77, de 18 de março de 2013, que disciplina
os procedimentos para a entrada na fase nacional
dos pedidos internacionais de patente depositados
nos termos do Tratado de Cooperação em Matéria
de Patentes (PCT), junto ao INPI, como Organismo
Designado ou Eleito, de forma a adequar tais pedidos
às disposições da Lei de Propriedade Industrial – Lei n.
9.279, de 14 de maio de 1996 (LPI).
s) A Resolução n. 80, de 19 de março de 2013, que
disciplina a priorização do exame de pedidos de patente
de produtos e processos farmacêuticos, bem como
equipamentos e materiais relacionados à saúde pública.
t) A Resolução n. 85, de 11 de abril de 2013, que institui a
Diretriz de Exame de patente de Modelo de Utilidade.
u) A Resolução n. 93, de 10 de junho de 2013, que institui
as diretrizes sobre a aplicabilidade do disposto no artigo
32 da Lei n. 9.279/96 nos pedidos de patentes, no
âmbito do INPI.
v) A Resolução n. 94, de 13 de junho de 2013, que
normaliza os procedimentos relativos à comprovação
do pagamento do requerimento do exame do pedido de
patente.
w) A Resolução n. 113, de 15 de outubro de 2013, que
normatiza os procedimentos relativos ao controle de
pagamento das retribuições anuais de que trata o artigo
84, bem como o da restauração prevista no artigo 87,
todos da Lei n. 9.279/96.

Volume II
244 Direito Patentário Brasileiro

x) A Resolução n. 123, de 29 de novembro de 2013,


que altera e disciplina o procedimento facultativo da
primeira ação em pedido de patente, denominado
“Opinião Preliminar sobre a Patenteabilidade” e dá
outras providências.
y) A Resolução n. 124, de 4 de dezembro de 2013, que
institui as diretrizes de exame de pedidos de patente –
Conteúdo de Pedido de Patente.

A Lei da Propriedade Industrial (LPI)


Conforme mencionado, a principal legislação vigente em
matéria de patentes é a Lei n. 9.279/96, também conhecida
como Lei da Propriedade Industrial (LPI), responsável por
regular os direitos e obrigações relativos à propriedade industrial
e sua proteção no Brasil; considerando o interesse social e o
desenvolvimento tecnológico e econômico do país, estando
inseridos, portanto, a concessão de patentes de invenção e
de modelo de utilidade, a concessão de registros de marcas e
desenho industrial, a repressão às falsas indicações geográficas e
a repressão à concorrência desleal (BRASIL, 1996).
A LPI trouxe importantes mudanças no âmbito da
propriedade industrial no Brasil. Todavia, como já foi exposto
na introdução do presente capítulo, não foi a primeira norma no
país a tratar do assunto. Para melhor entender as mudanças que a
LPI trouxe para a propriedade intelectual brasileira, é importante
mencionar mais a fundo a respeito do Decreto-Lei n. 7.903, de
27 de agosto 1945, o primeiro Código de Propriedade Industrial
brasileiro, que permaneceu com seus efeitos por mais de 50 anos,
sendo a norma brasileira que antecedeu a atual Lei da Propriedade
Industrial brasileira, ainda em vigor.

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Direito Patentário Brasileiro 245

A necessidade de se alterar a legislação vigente sobre


propriedade industrial se deu principalmente pelas principais
mudanças que estavam acontecendo no Brasil e no mundo. Com
a posse do presidente Fernando Collor em 1990 bem como a
implementação da sua política de governo voltada a abertura da
indústria estrangeira em alguns dos setores produtivos no Brasil,
além Nova Política Industrial no setor tecnológico, as discussões
sobre o tema da propriedade industrial apresentaram repercussão
nacional (FURTADO, 1996). Seguindo a tendência das novas
relações comerciais do país com outras nações, em especial os
Estados Unidos e outras grandes potências econômicas mundiais,
sentiu-se a necessidade de se adequar a legislação brasileira a esta
nova realidade.
Umas das principais e mais relevantes mudanças na
legislação com o surgimento da LPI, mais precisamente em
matéria de patentes, foi a implementação dos requisitos básicos
de patenteabilidade das invenções e modelos de utilidade bem
como as normativas e regras para validade de cada um deles. Na
vigência do Decreto-Lei n. 7.903/45, os requisitos básicos de
patenteabilidade de uma invenção resumiam-se em novidade e
aplicação industrial, não existindo a necessidade de cumprimento
do requisito da atividade inventiva, exigido na LPI. Além disso,
o próprio requisito da novidade, apesar de estar presente no
Decreto-Lei n. 7.903/45, a sua definição era menos exigente do
que definição na atual LPI, de modo que não se pode dizer que
ambos os documentos legais possuem este mesmo requisito em
conceito.
Para o Decreto-Lei n. 7.903/45:

Considera-se nova a invenção.


a) que até a data, ao depósito do pedido de patente não tenha sido, no
país, depositada ou patenteada, nem usada publicamente ou descrita
em publicações de modo que possa ser realizada;

Volume II
246 Direito Patentário Brasileiro

b) que até um ano antes do deposito do pedido de patente, no país, não


tenha sido patenteada no estrangeiro, nem descrita em publicações de
modo que possa ser realizada. (BRASIL, 1945, art. 8º)

Outra mudança, que vale a pena ser mencionada com o


advento da LPI, diz respeito à proteção dada a medicamentos,
proibida anteriormente, conforme prevê o artigo 8º do Decreto-
Lei mencionando: “Art. 8º Não são privilegiáveis: [...] 2º) as
invenções que tiverem por objeto substâncias ou produtos
alimentícios e medicamentos de qualquer gênero.” (BRASIL,
1945, art. 8).
Sendo assim, torna-se evidente o impacto que a Lei da
Propriedade Industrial trouxe para o ordenamento jurídico
brasileiro com a sua vinda em 1996.
Nas disposições gerais da LPI, alguns pontos são definidos,
como a aplicabilidade da nova Lei aos pedidos de patente
provenientes do exterior e devidamente depositados Brasil, de
titularidade daqueles que tenham proteção assegurada por tratado
ou convenção internacional em vigor, por exemplo, o Tratado de
Cooperação em matéria de Patentes (PCT). Além disso, a LPI
concedeu aos nacionais ou às pessoas domiciliadas em países que
assegurem brasileiros ou pessoas domiciliadas no Brasil, igualdade
de direitos em relação aos seus próprios cidadãos, garantindo,
assim, uma a reciprocidade de direitos e deveres. Outra questão
tratada ainda nas disposições gerais na LPI diz respeito às
pessoas físicas e jurídicas nacionais ou domiciliadas no País
possuírem igualdade de condições na aplicação das disposições
dos tratados em vigor no Brasil. Por fim, as disposições gerais da
LPI determinam que os bens de propriedade industrial, para seus
efeitos legais, equiparem-se aos bens móveis (BRASIL, 1996).

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Direito Patentário Brasileiro 247

Natureza Jurídica das Patentes


Conforme foi mencionado anteriormente, o ordenamento
jurídico brasileiro equipara as patentes de invenção e modelo
de utilidade, para efeitos legais, com os bens móveis. No Brasil,
a legislação trata dos bens móveis por meio do Código Civil
Brasileiro (CCB), instituído pela Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de
2002. Em seu Livro II, intitulado “Dons bens”, Título único, “Das
diferentes classes de bens”, Capítulo I, “Dos bens considerados
em si mesmos”, Seção II, “Dos bens móveis”, o CCB define os
bens móveis como os bens que estão suscetíveis à movimentação
própria, ou de movimento por meio de ação de terceiros, sem
que, com isto, a essência da substância do bem ou a destinação
econômico-social tenha sido alterada (BRASIL, 2002).
Segundo a doutrina, os bens móveis podem ser classificados
como bens móveis por determinação legal e bens móveis por
antecipação. Os bens móveis por determinação legal são aqueles
que bens incorpóreos ou imateriais por sua natureza, mas que
adquiram a qualidade de bens móveis por expressa previsão em
legal. Esses bens, originariamente estão previstos no artigo 83
da Lei n. 10.406/2002, sendo eles as energias que tenham valor
econômico, os direitos reais sobre objetos móveis e as ações
correspondentes, os direitos pessoais de caráter patrimonial e
as ações correspondentes. Ademais, integram-se a lista de bens
móveis por determinação legal todos aqueles que receberem
tal definição por meio de legislação específica. São então
classificados como bens móveis por antecipação aqueles bens que
ora são incorporados ao solo, todavia que podem ser separados
posteriormente quando necessário, tornando-se, oportunamente,
em móveis (SILVA, 2008).
As principais diferenças, no que diz respeito a efeitos
jurídicos, entre os bens móveis e os bens imóveis referem-se, por
exemplo, a sua forma de aquisição. Os bens móveis normalmente

Volume II
248 Direito Patentário Brasileiro

são adquiridos por simples transação, estando o seu uso, gozo e


posse aptos independentemente de outorga uxória, ao passo que
os bens imóveis necessitam da prévia escritura pública e registro
em cartório correspondente além de normalmente exigirem
depender da outorga uxória, exceto quando dispensado por lei.
Ademais, aos bens móveis cabe o penhor e aos bens imóveis
a hipoteca. Bens móveis e imóveis estão sujeitos a diferentes
impostos, a exemplo o Imposto sobre Circulação de Mercadorias
e Serviços (ICMS) que recaí sobre os bens móveis e o Imposto
de Transmissão de Bens Imóveis (ITBI) que recaí sobre os bens
imóveis.
Dessa maneira, do ponto de vista conceitual, as patentes,
naturalmente, não se enquadrariam na definição legal de bem móvel
prevista no CCB. Entretanto, diante dos efeitos que reincidem
sobre os bens móveis e bens imóveis, os direitos normalmente
concedidos às patentes se familiarizam em parte com um e em parte
com outro, tornando-se difícil definir, sem uma prévia definição
legal, em qual leque de efeitos legais as patentes se enquadrariam
melhor. Por esse motivo, o legislador tomou o cuidado de deixar
previamente definido que, no ordenamento jurídico brasileiro, é
preciso considerar a propriedade industrial como um bem móvel
para efeitos legais; mesmo que, por definição, a propriedade
industrial esteja no âmbito da propriedade intelectual, sendo,
portanto, um bem intangível, e consequentemente, não se
enquadraria na definição de bem móvel previamente define no
artigo 82 da Lei n. 10.406/2002. Sendo assim, as patentes são
bens móveis não por sua natureza, mas por determinação legal.

A Definição e a Função da Patente para o Brasil


Entende-se por patente o direito proveniente do documento
comprobatório de que uma pessoa física ou jurídica é a detentora

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Direito Patentário Brasileiro 249

dos direitos de monopólio e de exclusividade sobre determinado


invento. É um título de propriedade destinado a proteger, por
determinado período de tempo e em um território específico, as
criações produzidas pelo homem, possibilitando posteriormente
a recompensa de seus empenhos na criação e a garantia dos
direitos exclusivos de uso (MACEDO: BARBOSA, 2000).
Em outras palavras, a patente é uma vantagem concedida
pelo governo ao inventor sobre a sua própria criação, que poderá
excluir terceiros de usar a sua tecnologia, possibilitando, assim,
que o inventor receba uma contraprestação pelo desenvolvimento
daquela tecnologia, pois só ele poderá licenciar ou transferir o
invento protegido, permitindo terceiros autorizados a utilizá-
lo mediante pagamento de royalties. Sendo assim, o instituto da
patente é uma forma de incentivo aos inventores independentes,
centros de pesquisa, empresas desenvolvedoras e qualquer
instituição ou indivíduo que venha investir em desenvolvimento
tecnológico.
Sem a proteção concedida por meio da patente, seria
muito difícil imaginar uma instituição que investiria milhões, ou
até bilhões, em pesquisa e desenvolvimento tecnológico pura
e simplesmente por valorizar e entender a importância de se
investir em ciência e tecnologia, sem esperar qualquer tipo de
retorno financeiro. Não fosse a proteção intelectual dada por
meio da carta patente, investir em desenvolvimento tecnológico se
tornaria algo ainda mais oneroso, uma vez que aquela instituição
que investiu anos em ciência e tecnologia e que conseguiu chegar
a uma determinada invenção que propõe solucionar um problema
social e real, não receberia nenhum tipo de compensação pelo
seu esforço e investimento, visto que as demais empresas, que
não fizeram o mesmo investimento para desenvolver aquela
tecnologia, poderiam replicá-la e comercializá-la livremente,
entrando em concorrência direta com a empresa desenvolvedora.

Volume II
250 Direito Patentário Brasileiro

Além disso, como as demais empresas não tiveram que


fazer um alto investimento para desenvolver a tecnologia, elas
teriam condições de comercializar a mesma tecnologia a um preço
menor do que a empresa que investiu e desenvolveu o invento,
causando assim um forte desestímulo para o setor de pesquisa e
investimento tecnológico.
Ressalta-se, portanto, que uma invenção pode ser fruto
da busca de uma solução para um problema técnico específico
existente em uma determinada área tecnológica. Essas soluções
podem decorrer inclusive de um processo produtivo ou de um
aperfeiçoamento de produtos ou processos já existentes, desde
que possua vantagens bem estabelecidas e consolidadas frente às
soluções já existentes.
A partir do momento em que se consegue criar uma
solução nova, que preenche os requisitos de patenteabilidade, os
quais serão abordados mais adiante, o novo invento poderá ser
submetido ao processo de proteção. E sendo submetido, uma
vez deferido o pedido de patente, os direitos exclusivos de uso
serão concedidos ao detentor da proteção, isto é, ao seu titular, ao
qual é garantindo o direito de usufruir da exploração econômica
de sua criação, assim como os bens e os processos produtivos
decorrentes do invento.
Em termos de reconhecimento mercadológico quando se
patenteia uma tecnologia, gera-se a boa reputação do detentor
da tecnologia, demonstrando a futuros investidores e acionistas
um alto conhecimento técnico, especialização e capacidade
tecnológica. No caso dos centros de ensino e universidades,
além da validação da pesquisa produzida no meio acadêmico,
estimula-se o empreendedorismo e o fomento de pesquisas em
determinados setores, contribuindo dessa forma para ações
sociais e econômicas de um país. Assim, uma patente proporciona
à sociedade o legado de conhecimento sobre tecnologias, que se

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Direito Patentário Brasileiro 251

estivessem em forma de segredo industrial, não seria difundido.


A respeito da titularidade sobre uma criação patenteável, faz-se
necessário observar alguns pontos, conforme será abordado a
seguir.

A Titularidade sobre as Patentes


É o Capítulo I do Título “Das patentes” que trata a
respeito da titularidade sobre os direitos de propriedade industrial
provenientes das invenções e dos modelos de utilidade. Antes
de tratar a respeito da titularidade em si, é necessário fazer uma
distinção sobre o que é direito patrimonial e o direito moral
no âmbito da propriedade intelectual. De toda criação, seja ela
passível ou não de proteção por meio de patente, decorrem os
direitos patrimoniais e os direitos morais. Os direitos materiais
são aqueles direitos exclusivos do criador de usar, fruir e dispor
da sua criação, inclusive o direito de ceder, transferir ou licenciar
o bem. É, por exemplo, o direito de realizar melhorias na sua
criação, de fabricá-la e pôr à venda, de distribuir ou autorizar que
distribuam a criação. Vale ressaltar que podem ser detentores dos
direitos materiais sobre uma invenção ou modelo de utilidade
tanto pessoa física, quanto pessoa jurídica (GHESTI, 2016).
Já os direitos morais são aqueles intimamente ligados à
pessoa criadora da obra. É o direito que cada criador tem de ter
o seu nome devidamente reconhecido pelo trabalho intelectual
realizado, e consequentemente, o direito da sociedade de saber a
verdadeira autoria das obras apresentadas a ela. Por esse motivo,
os direitos morais são intransferíveis, inalienáveis e irrenunciáveis
(BRASIL, 1998).
São exemplos de direitos morais o direito de reivindicar, a
qualquer tempo, a autoria da obra; de ter seu nome, pseudônimo
ou sinal convencional indicado ou anunciado, como sendo o do

Volume II
252 Direito Patentário Brasileiro

autor, na utilização de sua criação; de conservar a sua criação;


de assegurar a integridade da criação, opondo-se a quaisquer
modificações ou à prática de atos que, de qualquer forma, possam
prejudicá-la ou atingi-lo, como autor, em sua reputação ou honra;
de modificar a obra, antes ou depois de utilizada (BRASIL, 1998).
Vale ressaltar que o direito de reivindicar a autoria de uma
criação, de ter seu nome reconhecido como autor, de conservar
a obra inédita e o direito de assegurar a integridade da obra, é
absolutamente moral e pode ser transferido aos herdeiros após
a morte do autor. Além disso, o direito moral sobre uma criação
estringe-se às pessoas físicas, não podendo ser reivindicados por
pessoa jurídica.
Diante dos esclarecimentos acima, pontua-se a questão da
titularidade no âmbito do direito patentário. A titularidade sobre
uma tecnologia objeto de patente é normalmente concedida
ao autor da invenção ou modelo de utilidade, conforme prevê
o artigo 6º da LPI. Um detalhe importante a respeito do
conceito apresentado é referente ao fato de que a titularidade
é “normalmente” concedida a quem criou a invenção. Diz-se
normalmente, uma vez que existem casos em que o criador,
mesmo sendo o desenvolvedor da tecnologia, não será o seu
legítimo titular, isto é, não será o detentor dos direitos patrimoniais
da invenção ou modelo de utilidade. Um exemplo é a previsão do
§ 2º do artigo 6º da LPI que determina que os direitos concedidos
ao criador da invenção ou modelo de utilidade estende-se aos
seus herdeiros e sucessores, podendo estes, inclusive, requerer em
nome próprio, a proteção por patente.
Presume-se que a titularidade sobre a criação pertence
àquele que a requerer junto ao órgão responsável pela concessão
da proteção. Sendo assim, salvo prova em contrário, considere-
se o requerente legitimado a obter a patente, não cabendo ao
órgão de proteção, no caso das patentes o Instituto Nacional da

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Direito Patentário Brasileiro 253

Propriedade Industrial (INPI), questionar, de ofício, a legitimidade


do depositante de solicitar a proteção. Tal condição não se refere
à análise formal do pedido de patente quando houver quanto a
análise documental dos comprovantes entregues, pelo próprio
depositante, para fins solicitação da proteção. Ademais, o titular
poderá solicitar a não divulgação da sua nomeação, exercendo
o seu direito autoral de impedir que se indique ou anuncie seu
nome na sua invenção, se resguardadas as formalidades internas
de identificação e qualificação dos inventores junto ao INPI para
a correta consecução do processo de proteção.
Na hipótese de dois ou mais inventores desenvolverem a
mesma invenção ou modelo de utilidade, de forma totalmente
independente, sem um saber da existência do trabalho do outro,
utilizando-se apenas dos conteúdos existentes no estado da técnica
e partir dele desenvolverem uma solução técnica totalmente nova
que preencha os requisitos de patenteabilidade, o direito de obter
patente será assegurado somente àquele que provar o depósito
mais antigo, independentemente das datas de invenção ou
criação, conforme disposição do artigo 7º da LPI. Vale ressaltar,
entretanto, que se ocorrer a retirada do depósito anterior sem
produção de qualquer efeito será concedida a prioridade ao
depósito imediatamente posterior, e assim sucessivamente
(BRASIL, 1996).
Outro exemplo de situação em que a titularidade sobre a
invenção ou modelo de utilidade não pertencerá aquele que a
desenvolveu é a previsão do artigo 88, da LPI, que determina que
a invenção e o modelo de utilidade pertencerão exclusivamente
ao empregador quando decorrerem de uma relação trabalhista
formalizada por meio de contrato de trabalho; desde que a
execução desse contrato ocorra no Brasil e que tenha por objeto
específico a pesquisa ou a atividade inventiva, ou resulte esta da
natureza dos serviços para os quais foi o empregado contratado.

Volume II
254 Direito Patentário Brasileiro

Igualmente, são considerados desenvolvidos na vigência do


contrato de trabalho, dando, assim, a titularidade ao empregador,
da invenção ou do modelo de utilidade, requeridos pelo empregado
no prazo de até um ano após a extinção do vínculo empregatício.
O mesmo se aplica no caso da Administração Pública, direta,
indireta e fundacional, seja ela federal, estadual ou municipal, por
exemplo, as instituições de ensino público (BRASIL, 1996).
Conforme anuncia o parágrafo segundo do artigo 88 da LPI,
a contrapartida da empresa ao empregado pelo desenvolvimento
de uma tecnologia se limitará à remuneração prevista no
contrato de trabalho, salvo expressa disposição contratual em
contrário. Ademais, o empregador titular da patente poderá
conceder ao empregado inventor uma participação nos ganhos
econômicos resultantes da exploração comercial da patente, não
se incorporando os valores recebidos, a qualquer título, ao salário
do empregado.
É importante mencionar ainda que se considera pertencente
exclusivamente ao empregado a invenção ou o modelo de utilidade
por ele desenvolvido, quando o desenvolvimento ocorrer sem
vínculo com o contrato de trabalho e não houver qualquer aporte
de recursos materiais ou financeiros por parte do empregador,
conforme previsão do artigo 90 da LPI.
Sendo assim, se um empregado de uma instituição
desenvolve, por exemplo, uma tecnologia no âmbito do seu
doutorado em uma instituição de ensino pública ou privada,
não necessariamente a empresa na qual o empregado trabalha
será titular da invenção. Na verdade, a empresa somente será
titular da tecnologia desenvolvida pelo seu empregado no âmbito
do doutorado que ele realiza se existir alguma ligação entre o
doutorado realizado e o contrato de trabalho. Deve-se observar
também os diretos da instituição de ensino sobre os resultados
conseguidos no âmbito do doutorado deste empregado. Se a

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Direito Patentário Brasileiro 255

tecnologia desenvolvida utilizou de recursos materiais, financeiros,


humanos ou do conhecimento prévio advindo da instituição,
então a titularidade da instituição sobre a criação deverá ser
resguardada.
No caso de haver a participação de duas ou mais instituições
no desenvolvimento de uma tecnologia, a titularidade sobre esta
será compartilhada entre todas as instituições. O percentual de
titularidade cabível a cada instituição deverá ser estabelecido entre
as partes por meio de um acordo de titularidade. Sendo assim,
sempre que uma ou mais pessoas físicas ou jurídicas desenvolverem
uma invenção ou modelo de utilidade conjuntamente decorrerá,
daí a cotitularidade sobre a patente que deverá ser posteriormente
regulamentada por instrumento jurídico específico onde definirá
a titularidade da propriedade intelectual e a participação nos
resultados da exploração da criação, conforme prevê artigo 9º,
parágrafo 2º da Lei n. 10.973/2004, a Lei de Inovação.
Ressalta-se que quando uma tecnologia é desenvolvida
em colaboração entre duas ou mais instituições, gerando-se a
cotitularidade, nenhum dos cotitulares poderá protegê-la ou
autorizar a sua proteção sem consentimento dos demais titulares
da invenção.
Se no momento da proteção da tecnologia um dos
cotitulares decida por abrir mão dos direitos patrimoniais da
criação, este não contribuirá para as despesas de proteção,
manutenção, entre outras, mas também não terá direito aos ganhos
econômicos decorrentes de uma comercialização. Contudo, a
instituição cotitular dissidente possui, ainda, o direito de exigir
que o seu nome seja mencionado ou omitido ao se tratar dos
desenvolvedores da tecnologia. O mesmo vale para os inventores.

Volume II
256 Direito Patentário Brasileiro

Requisitos de Patenteabilidade
O artigo 8º da LPI prevê os requisitos básicos de
patenteabilidade de uma invenção, sendo eles a novidade, a
atividade inventiva e a aplicação industrial. O artigo 9º prevê como
requisitos para proteção por modelo de utilidade, a novidade, o
ato inventivo, a aplicação industrial e a melhoria funcional.

Novidade

A novidade é definida mais adiante no artigo 11 da mesma


Lei quando afirma que “[...] a invenção e o modelo de utilidade
são considerados novos quando não compreendidos no estado da
técnica”. Já o parágrafo primeiro define como estado da técnica
“[...] tudo aquilo tornado acessível ao público antes da data de
depósito do pedido de patente, por descrição escrita ou oral, por
uso ou qualquer outro meio, no Brasil ou no exterior”.
Sendo assim, tudo aquilo que for divulgado por meio de
artigos científicos, publicações, livros, palestras, apresentações,
defesas de mestrado ou de doutorado, ou qualquer outro tipo de
divulgação, oral ou escrita, será considerado como pertencente ao
estado da técnica e, portanto, não será passível de proteção por
patente de invenção ou modelo de utilidade. Nesse sentido, se
existe a pretensão de proteção futura não deve haver divulgação
da matéria a ser reivindicada em nenhum momento durante os
estágios de desenvolvimento da tecnologia. Por isso a importância
de se praticar, como praxe, a celebração de instrumentos de
sigilo e confidencialidade ao se realizar qualquer tipo de pesquisa
científica, mesmo que não exista, inicialmente, a intenção de se
desenvolver algo passível de proteção.
É importante ressaltar que a novidade recai não somente
sobre a totalidade do pedido de patente em si, mas também sobre
cada uma de suas reivindicações individualmente de forma que

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Direito Patentário Brasileiro 257

o atendimento ao requisito de novidade exigida na LPI deve


ser observado para cada reivindicação do pedido de patente.
Ademais, a novidade exigida para uma reivindicação deve ser
analisada sobre a reivindicação inteira, e não somente sobre a
parte que caracteriza a reivindicação. O mesmo se aplica ao se
verificar a novidade durante a análise individual de cada elemento
que compõem a reivindicação, que poderá separadamente estar
abrangido pelo estado da técnica, mas ao se verificar conjuntamente
preencherem o requisito da novidade (INSTITUTO NACIONAL
DA PROPRIEDADE INDUSTRIAL, 2015d).
A título de exemplo, se o preâmbulo de uma reivindicação
define as características A e B e sua parte que caracteriza e
define as características C e D, não importa de C e D estejam
compreendidos no estado da técnica, mas sim se as características
C e D são conhecidas em associação com A e B. Não somente
com A, nem somente com B, mas sim com A e B conjuntamente.
Outro ponto importante é que para se analisar o cumprimento
do requisito da novidade não se pode fazer a combinação de
dois documentos diferentes que estejam compreendidos no
estado da técnica. Nos casos em que existe a necessidade de se
combinar dois ou mais documentos compreendidos no estado
da técnica a novidade estará resguardada, restando somente a
análise da atividade inventiva em si (INSTITUTO NACIONAL
DA PROPRIEDADE INDUSTRIAL, 2015d). Nada impede,
contudo, que dois ou mais documentos compreendidos no estado
da técnica sejam utilizados para se verificar a novidade, desde que
não exista a necessidade de combinação entre eles.
Uma ferramenta importantíssima para compreensão do
estado da técnica e aferição da novidade sobre uma matéria
são as buscas nos diferentes bancos de dados, sejam bancos de
documentos patentários quanto à busca por artigos, dissertações,

Volume II
258 Direito Patentário Brasileiro

teses, entre outros documentos. Há uma série de bancos de dados


gratuitos disponíveis para realização dessas buscas, tais como Sci
Finder, Patent Scope, Web of Science, a base de patentes do INPI, a
base de patente norte-americana USPTO, entre outras. Existem
publicações que auxiliam pesquisadores a realizar buscas nos
diversos bancos de dados e de patentes disponíveis, tais como
o livro “Tutorial de busca nos principais bancos de patentes”,
desenvolvido por pesquisadores vinculados ao Centro de Apoio
ao Desenvolvimento Tecnológico (CDT) da Universidade de
Brasília (UnB). No livro, são passadas informações básicas
necessárias para que seja realizada uma busca nos mais diversos
bancos de patentes, por exemplo, como utilizar os caracteres de
truncamento e quais são os principais operadores booleanos.
Além disso, o tutorial mostra o passo a passo para a realização
de buscas no banco de patentes do INPI, do banco de patente
norte-americano USPTO, do Derwnt Innovations Index,
Google Patents, Espacenet, J-Plat, Krips, Lens, entre outros
(GHESTI, 2016). O tutorial pode ser encontrado gratuitamente
pelo endereço eletrônico http://www.cdt.unb.br/pdf/
programaseprojetos/nupitec/LIVRO-BANCO%20DE%20
PATENTES.compressed.pdf.
Uma vez realizada a busca de anterioridade nos principais
bancos de dados e levantados pelos principais documentos
relacionados à matéria que se pretende proteger por patente
de invenção ou modelo de utilidade, deve-se fazer uma leitura
criteriosa desses documentos, a fim de verificar se de fato o
conteúdo a ser protegido preenche o requisito da novidade.
Segundo as Diretrizes de exame de pedidos de patente do
INPI publicada pela Diretoria de Patentes (DIRPA) em 2015,
para a avaliação da novidade os examinadores do INPI devem
aplicar as seguintes etapas:

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Direito Patentário Brasileiro 259

(i) identificar os elementos contidos na reivindicação;


(ii) determinar se um documento em análise faz parte do estado da
técnica;
(iii) determinar se todos os elementos ou etapas da reivindicação
foram explicitamente ou inerentemente combinados no documento,
para um técnico no assunto, na data da publicação do documento, e
de modo a antecipar a reivindicação. (INSTITUTO NACIONAL DA
PROPRIEDADE INDUSTRIAL, 2015d, p. 39)

Sendo assim é importante observar esses mesmos critérios


ao se reivindicar o conteúdo a ser protegido, a fim de garantir que
a matéria reivindicada no pedido de patente de invenção ou de
modelo de utilidade preencha o requisito da novidade exigido no
artigo 8º da LPI.

Período de Graça

Um instituto importante de ser mencionado a respeito da


proteção por patente de invenção ou modelo de utilidade é o
período de graça. O artigo 12 da LPI traz a seguinte proposição:

Não será considerada como estado da técnica a divulgação de invenção


ou modelo de utilidade, quando ocorrida durante os 12 (doze) meses
que precederem a data de depósito ou a da prioridade do pedido de
patente, se promovida:
I – pelo inventor;
II – pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial – INPI,
através de publicação oficial do pedido de patente depositado sem o
consentimento do inventor, baseado em informações deste obtidas ou
em decorrência de atos por ele realizados; ou
III – por terceiros, com base em informações obtidas direta ou
indiretamente do inventor ou em decorrência de atos por este
realizados. (BRASIL, 1996, art. 12)

Volume II
260 Direito Patentário Brasileiro

Sendo assim, o período de graça trata-se de uma exceção


ao estado da técnica que será concedido ao inventor, por um
período de 12 meses, caso uma publicação tenha sido realizada
pelo próprio inventor, pelo Instituto Nacional da Propriedade
Industrial (INPI), por meio da publicação oficial de um pedido
de patente depositado sem o consentimento do inventor, ou até
por terceiros, com base nas informações adquiridas direta ou
indiretamente do inventor.
É importante mencionar que, para fins de aferição do
período de graça, não são aceitos documentos patentários, isto
é, não são aceitos, para fins do exercício do benefício concedido
pelo período de graça, um depósito de pedido de patente do
próprio inventor. Sendo assim, para os casos de diferentes
proteções patentárias que guardem entre si semelhanças que
possam ser consideradas uma, anterioridade da outra, deve-se
depositar todos estes pedidos de patente no mesmo dia, para que
o requisito da novidade seja resguardado.
Dessa maneira, no momento de elaborar o pedido de
patente, o inventor deve mencionar a divulgação que deu origem
ao período de graça no momento de descrever o estado da
técnica, justificando que tal publicação não se enquadra como
anterioridade e que, portanto, não deve ser utilizado como
objeção para o deferimento do pedido de patente tendo em vista
a previsão disposta no artigo 12 da LPI.
Outro ponto importante a ser mencionado refere-se aos
diferentes prazos de período de graça, conforme o país em que
se pretende fazer a proteção. Sendo assim, deve-se observar esses
prazos no caso de haver o interesse de solicitar a proteção no
exterior. A Tabela 1 traz alguns dos diferentes prazos de período
de graça conforme rege a legislação de cada país.

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Direito Patentário Brasileiro 261

Tabela 1 – Prazos dos períodos de graça conforme regem as legislações dos países

País Período de graça


Alemanha 6 meses
Austrália 6 meses
Brasil 12 meses
Canadá 12 meses
Chile 6 meses
China 6 meses
Coreia do Sul 6 meses
Estados Unidos 12 meses
Índia 12 meses
Inglaterra 6 meses
Japão 6 meses
Malásia 12 meses
México 12 meses
Noruega 6 meses
Portugal 6 meses
Rússia 6 meses
Suíça 6 meses
Fonte: Elaborada pelos autores deste capítulo

Atividade Inventiva
Quanto à atividade inventiva, o artigo 13 prevê que “[...]
a invenção é dotada de atividade inventiva sempre que, para
um técnico no assunto, não decorra de maneira evidente ou
óbvia do estado da técnica” (BRASIL, 1996, art. 13). Entende-
se por “óbvio” ou “evidente” o resultado que não vai além do
desenvolvimento normal da tecnologia, que se refere apenas

Volume II
262 Direito Patentário Brasileiro

aquilo que se pode chegar ao resultado logicamente a partir do


conteúdo disponível no estado da técnica. Em outros termos,
algo que não exige o nada além do habitual do que se se espera
de um técnico no assunto.
Deve-se observar que se um profissional com formação
na área da matéria que está sendo objeto de requerimento de
proteção por patente for capaz de chegar à invenção pleiteada
apenas por análise lógica, inferência ou sem experimentação
indevida com base nos documentos disponíveis no estado da
técnica; então, é possível deduzir que a invenção é óbvia e, dessa
forma, não preenche o requisito da atividade inventiva por não
apresentar qualquer solução técnica imprevista.
Para uma verificação bem-sucedida da atividade inventiva
é importante primeiramente identificar a matéria que está sendo
reivindicada, de forma a se determinar o estado da técnica que mais
se aproxima com a invenção. Uma vez identificado o conteúdo
compreendido no estado da técnica, deve-se aferir o que da
invenção se difere do estado da técnica em termos de proposição
de solução do problema técnico a ser resolvido. A partir desse
ponto, é possível analisar se de fato a solução apresentada como
sendo a invenção de fato não decorre do óbvio ou se já estava
evidenciado no estado da técnica (INSTITUTO NACIONAL
DA PROPRIEDADE INDUSTRIAL, 2015d).
Quando uma invenção abre um campo totalmente novo,
a verificação da atividade inventiva torna-se algo mais evidente.
Contudo, existe a possibilidade de uma invenção partir de uma
combinação de campos previamente conhecidos. Nestes casos
é necessário se fazer uma verificação de a matéria reivindicada
como invenção é resultado de uma combinação óbvia ou não
óbvia para determinar a atividade inventiva.

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Direito Patentário Brasileiro 263

Uma invenção por combinação somente preenche a


atividade inventiva se partir de uma combinação não previsível.
Dessa forma, deve-se observar se no processo de combinação
dos elementos previamente conhecidos existiu, por exemplo, um
efeito técnico resultante dessa combinação capaz de solucionar
um problema técnico, ou existe, de fato, uma real motivação e
necessidade para a realização da combinação (INSTITUTO
NACIONAL DA PROPRIEDADE INDUSTRIAL, 2015d).
Outro fator é se os elementos a serem combinados se
integram funcionalmente para gerar a solução técnica a qual a
invenção ou modelo de utilidade se propõe a resolver, bem
como o nível de dificuldade de realização da combinação. Todos
esses são fatores relevantes e importantes para configurar uma
combinação como não óbvia e, portanto, patenteável.
Já uma combinação óbvia é aquela que é realiza simplesmente
uma agregação ou justaposição de elementos conhecidos, de
forma que eles não tenham uma integração na sua funcionalidade,
mantendo-se, cada elemento, a sua funcionalidade original e
costumeira, e o resultado da união não gera um efeito técnico
novo objetivando a solução de um problema técnica, significando
apenas o somatório dos efeitos técnicos de cada elemento
conforma já se deduzia do estado da técnica (INSTITUTO
NACIONAL DA PROPRIEDADE INDUSTRIAL, 2015d).
Configura-se uma combinação óbvia, por exemplo, quando
uma molécula A, que tem como função o efeito A, é combinada
com a molécula B, que tem como função o efeito B, gerando a
molécula C, que tem como função os efeitos A e B. Já se uma
molécula A, que tem como função o efeito A, é combinada com
a molécula B, que tem como função o efeito B, gerar a molécula
C, que tem como função o efeito C, tem-se um exemplo de
combinação não óbvia.

Volume II
264 Direito Patentário Brasileiro

Aplicação Industrial
O artigo 15 da LPI afirma que a invenção ou modelo e
utilidade preenche o requisito da aplicação industrial quando esta
possa ser produzida em qualquer tipo de indústria ou até mesmo
utilizada por ela. Deve-se observar que o conceito de aplicação
industrial está relacionado à existência de uma invenção que
seja passível de repetibilidade e não diz respeito simplesmente
à obrigatoriedade do uso de uma máquina para a manufatura de
um bem uma vez que tal concepção adapta-se a cada tipo de
invenção. Ao se analisar a aplicação industrial de uma invenção,
deve-se, portanto, compreender o termo indústria de uma forma
mais ampla, incluindo-se, nesse contexto, qualquer atividade de
caráter técnico não individualizado, personalizado ou específico
para um único indivíduo, ou seja, sem a característica de
repetibilidade (INSTITUTO NACIONAL DA PROPRIEDADE
INDUSTRIAL, 2015d).
Outro ponto importante a ser observado diz respeito
ao fato de que é necessário que a invenção ou o modelo de
utilidade tenham uma finalidade útil, sendo necessário que no
relatório descritivo da redação de patente, tal utilidade esteja
bem configurada, identificando e descrevendo qualquer forma
prática de utilização da tecnologia. Se uma invenção ou modelo
de utilidade não possui qualquer forma de aplicação prática
ou de utilidade, mostrando-se claramente ser contrária às
aplicações das leis naturais físico-químicas estabelecidas, ela não
preenche o requisito da aplicação industrial prevista no artigo
15 da LPI (INSTITUTO NACIONAL DA PROPRIEDADE
INDUSTRIAL, 2015d).
Nessa perspectiva, nota-se que métodos de teste podem
ser considerados como uma invenção ou modelo de utilidade
que preenchem o requisito da aplicação industrial. Quando o
método para o teste for aplicável para melhoria de algo que é

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Direito Patentário Brasileiro 265

suscetível à aplicação industrial, por conseguinte, considera-se o


próprio método como passível de aplicação industrial. Em ouras
palavras, os métodos para testes ou controle de um produto,
aparelho ou processo preenchem o requisito da aplicação
industrial (INSTITUTO NACIONAL DA PROPRIEDADE
INDUSTRIAL, 2015d). Nota-se que o requisito da aplicação
industrial não é algo tão simples de ser verificado em alguns casos,
ficando evidente a importância de se procurar por profissionais
experientes na área de redação de patentes e proteção da
propriedade intelectual no momento de se proteger uma
tecnologia, devido à complexidade que a matéria pode envolver a
depender do tipo de tecnologia que foi desenvolvida.

As Modalidades de Proteção por Patente


Consciente da importância da proteção intelectual para a
continuidade e crescimento da ciência e tecnologia no país, em
14 de maio de 1996, a Lei n. 9.279 entrou em vigor visando
regulamentar os direitos e obrigações relativos à propriedade
industrial no Brasil. Por força de tal Lei, o sistema patentário
brasileiro admite duas modalidades de proteção por meio de
patente: a invenção e o modelo de utilidade.
Para um melhor entendimento do que se tratam essas
diferentes modalidades de proteção, tanto a definição baseada na
Lei da Propriedade Industrial, na Lei n. 9.279/1996, quanto o
Manual para o Depositante de Patentes, fornecido pelo INPI,
elas serão expostas nos tópicos a seguir.

Patente de Invenção
A patente de invenção é a concepção resultante do
exercício da capacidade de criação do homem que represente

Volume II
266 Direito Patentário Brasileiro

uma solução nova para um problema técnico existente dentro de


um determinado campo tecnológico e que possa ser fabricada a
nível industrial e tem sua proteção referente ao caráter técnico.
Em outras palavras, a invenção nada mais é do uma solução
prática para um problema técnico específico, dado um contexto
em um determinado campo tecnológico e que possa ser passível
de reprodução industrial.
A lamparina ou lâmpada a óleo, por exemplo, foram
invenções que foram desenvolvidas para solucionar o problema
técnico de falta de iluminação pública e doméstica. Posteriormente,
surgiu a lâmpada incandescente, uma nova invenção para
resolver o mesmo problema técnico. Ambas as tecnologias são
inteiramente independentes uma da outra e, por mais que a nova
tecnologia possa ser considerada como uma melhoria do ponto
de vista de praticidade e comodidade em resolver o problema
técnico da falta de iluminação, quando comparada à tecnologia
anterior, tecnicamente, cada uma delas representa uma patente de
invenção própria, não se confundindo com o conceito de modelo
de utilidade.
Dessa forma, dentro do mesmo campo tecnológico e visando
a mesma solução prática, surgiram as lâmpadas fluorescentes, que
prometiam, além da luminosidade por meio da energia elétrica,
uma economia de energia. As lâmpadas fluorescentes são, portanto,
consideradas uma nova invenção. Igualmente ocorreu com o
surgimento das lâmpadas “light emitting diode”, conhecidas como
lâmpadas LED, que proporcionam uma economia de energia
ainda maior do que as lâmpadas fluorescentes e prometem ser
mais duráveis. Sendo assim, todas essas tecnologias são novas
soluções para resolver o mesmo problema técnico, representando
uma evolução tecnológica ao longo do tempo e não uma melhoria
funcional de uma única tecnologia, conforme ilustrado na Figura 1.

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Direito Patentário Brasileiro 267

Figura 1 – Evolução de patentes de invenção relacionadas à solução do problema


técnico de iluminação doméstica

Fonte: Elaborada pelos autores deste capítulo

Modelo de Utilidade
A patente de modelo de utilidade é a criação referente a um
objeto tridimensional de uso prático, ou parte deste, suscetível
de aplicação industrial, que apresente nova forma ou disposição,
envolvendo ato inventivo, que resulte em melhoria funcional no
seu uso ou em sua fabricação (como instrumentos, utensílios e
ferramentas) e suscetível de aplicação industrial.
O modelo de utilidade funciona como um anexo à
invenção, pois se trata de uma nova formulação ou definição na
invenção que lhe trará uma melhoria funcional no seu uso ou em
sua fabricação.
Sendo assim, a patente por modelo de utilidade (MU)
não se confunde com a patente de invenção (PI), pois apesar
de trazer uma solução prática para um determinado problema
técnico, ele está intimamente ligado a uma invenção principal
e não pode existir desvinculado dela. A invenção refere-se ao
invento propriamente dito. O modelo de utilidade refere-se a
uma melhoria funcional no invento ou processo.

Volume II
268 Direito Patentário Brasileiro

A tesoura, por exemplo, por si só é uma invenção, mas a


alteração base da tesoura própria para uso desta por canhotos é
um modelo de utilidade. Essa base própria para canhotos não
pode existir sem o invento principal, que é a tesoura, mas sem
essa alteração (o modelo de utilidade) não seria possível o uso da
invenção principal por canhotos, o que significa que houve uma
melhoria no invento principal.
Um exemplo importante para se entender a diferença entre
PI e MU é a invenção do sistema de identificação de chamadas,
a famosa bina, que, apesar de ser uma patente de invenção muito
utilizada com o telefone (que também é outra invenção), não pode
ser confundida com um modelo de utilidade, por se tratar de uma
tecnologia com tal grau de complexidade e que se qualifica como
uma invenção totalmente nova e independente do telefone, então,
não pode ser classificada como uma simples melhoria (Figura 2).

Figura 2 – Comparação das tecnologias desenvolvidas ao longo


do tempo quanto ao telefone
Patente de invenção (PI) Modelo de Utilidade (MU)
(b) Separação do dispositivo
(a) Primeiro telefone inventado.
transmissor e receptor
Utilizava um sistema de ondas
elétricas contínuas

Fonte: Presentation name on emaze.


Fonte: Alexander Graham Bell.
Disponível em https://goo.gl/
Disponível em https://goo.gl/
bTn5GT
bfdguU

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Direito Patentário Brasileiro 269

(c) O novo telefone utilizava um (d) Emissor e o receptor se unem


sistema de disco para realização
das chamadas

Fonte: When history calls. Disponível Fonte: History of things. Disponível


em https://goo.gl/MfjEKV. em https://goo.gl/uSq0FS
(f) Teclado integrado com receptor
(e) Aparelho com sistema de
e transmissor em uma única peça
discagem r tom

Fonte: Telefone antigo americano.


Fonte: Telefonia e comunicação.
Disponível em https://goo.gl/
Disponível em https://goo.gl/
pxEgn9
slc9Ko
Fonte: Elaborada pelos autores deste capítulo

A Figura 2 apresenta uma comparação de tecnologias


relacionadas à telefonia. Do lado esquerdo (Figura 2a, 2c, 2e) estão
exemplos de tecnologias novas que visam a solucionar o mesmo
problema técnico da comunicação a distância, sendo, todas elas,

Volume II
270 Direito Patentário Brasileiro

patentes de invenção. Por outro lado, o lado direito (Figura 2b,


2d, 2f) representa diferentes patentes de modelo de utilidade
referentes à patente de invenção apresentada à sua esquerda.
Os modelos de utilidade têm como propósito gerar uma melhoria
funcional distinta em diferentes tecnologias trazendo soluções
para problemas práticos diversos.
A primeira tecnologia, Figura 2a, representa o primeiro
telefone inventado que utilizava um sistema de ondas elétricas
contínuas para transmitir a mensagem do emissor ao receptor.
Contudo, o dispositivo transmissor e receptor da mensagem
concentrava-se em um mesmo local do aparelho telefônico. No
modelo de utilidade correspondente (Figura 2b), houve uma
separação do dispositivo transmissor em relação ao receptor,
trazendo maior conforto e comodidade ao usuário do telefone.
Na Figura 2c é apresentada a tecnologia para transmissão
de mensagens a longa distância, deixando de utilizar a tecnologia
de ondas elétricas contínuas para utilizar um sistema de disco
para realização das chamadas. O modelo de utilidade à tecnologia
de sistema de disco (Figura 2d) trouxe uma união dos dispositivos
emissor e o receptor de forma que o usuário passou a poder
utilizar o telefone ocupando uma única mão.
Por fim, na Figura 2e, a tecnologia utiliza o sistema de
discagem por tom para a realização de chamadas. O modelo de
utilidade ao telefone de discagem por tom (Figura 2f) utiliza a
mesma tecnologia para a realização das chamadas trazendo,
contudo, uma melhoria em relação a disposição do teclado e do
encaixe do aparelho telefônico, de forma que ele ocupe menos
espaço e que possa ser instalado em paredes aumentando o leque
de possibilidades de uso e disposição do aparelho pelos usuários,
conforme a necessidade de cada consumidor do produto.

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Direito Patentário Brasileiro 271

Matérias que não são Consideradas Invenção ou


Modelo de Utilidade
O artigo 10 da Lei da propriedade industrial preestabelece
um rol taxativo de matérias que não são consideradas invenções
ou modelo de utilidade, Sendo assim, na legislação de patentes
brasileira não se considera invenção a mera descoberta de
produtos ou processos não biológicos encontrados na natureza,
por exemplo, novos minerais naturais ou elementos químicos,
não sendo também passíveis de proteção a revelação de uma
nova propriedade de um produto até mesmo porque descobrir
algo novo na natureza e descrevê-lo, por si só, não preenche
os requisitos de patenteabilidade exigidos pela Lei. Contudo,
ao se desenvolver, a partir desta descoberta, um novo produto,
conferindo-lhe uma aplicação prática para resolver um problema
técnico pode sim ser passível de proteção por pedido de patente.
Por exemplo, a descoberta de um novo material resistente ao calor
por si só não é passível de proteção, mas desenvolver trilhos para
trens de metrô que contenham tal material, resolvendo assim um
problema técnico de superaquecimento e dilatação dos trilhos que
impossibilitava a utilização dos trens de metrô durante o verão ou
em dias de temperaturas elevadas poderia sim ser algo passível
de proteção por patente de invenção ou modelo de utilidade, se
preenchidos todos os requisitos de patenteabilidade.
Segundo o mesmo entendimento, não se concede proteção
às teorias científicas e aos métodos matemáticos, uma vez que
se trata da observação, da análise e da descrição dos fenômenos
contidos na natureza e seus desdobramentos e aplicações diversas,
além disso, não trazem consigo a solução de um problema
técnico. Não obstante, utilizar as teorias científicas conhecidas
para o desenvolvimento de processos e produtos que utilizem tais
princípios pode sim gerar algo passível de proteção por patente de
invenção ou modelo de utilidade. Ademais é necessário observar

Volume II
272 Direito Patentário Brasileiro

que, a teoria científica da física a respeito semicondutividade da


matéria em si não é patenteável, mas o desenvolvimento de novos
dispositivos semicondutores e os processos para a obtenção e
fabricação deles podem ser considerados uma invenção. Além
disso, muito embora métodos matemáticos não sejam passíveis
de proteção por patente, uma máquina de calcular que aplique
métodos matemáticos pode ser passível de proteção, se cumprir
todos os requisitos de patenteabilidade.
As concepções puramente abstratas também não podem
ser protegidas como invenção ou modelo de utilidade justamente
por se tratar de matéria que existe apenas no plano das ideias,
e, portanto, não possuem qualquer aplicação prática ou não
resolvem um problema técnico. Além disso, em se tratando de
concepções essencialmente abstratas lhes faltaria a suficiência
descritiva, uma condição de patenteabilidade exigida da Lei da
Propriedade Industrial brasileira conforme será elucidado mais
adiante no presente capítulo. Observa-se, contudo, que tanto as
concepções puramente abstratas quanto as descobertas e teorias
científicas podem fazer parte de um processo de desenvolvimento
de uma nova tecnologia. Entretanto, tais etapas isoladas ou não
amadurecidas na forma de uma invenção são insuficientes para se
chegar à proteção por patente.
Considere, por exemplo, a ideia de se desenvolver um veículo
flutuante ou os estudos sobre magnetismo e a descoberta de um
novo material que possui poderosas propriedades magnéticas.
Tais elementos isolados não constituem uma invenção ou
modelo de utilidade. Todavia, a criação de um trem que flutue
pelas propriedades magnéticas de umas barras inferiores feitas
com o material novo de propriedades magnéticas fortes e estáveis
que se repelem ao se aproximarem dos trilhos especialmente
desenvolvidos para manter os vagões do trem no ar pode ser
passível de proteção por patente.

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Direito Patentário Brasileiro 273

A mesma lógica se aplica ao inciso III do artigo 10 da


LPI, que prevê que não são invenção ou modelo de utilidade os
esquemas, os planos, os princípios ou os métodos comerciais,
contábeis, financeiros, educativos, publicitários, de sorteio e de
fiscalização; mesmo quando se utilizam de meios técnicos ou
que possuam uma utilidade prática de resolução de problemas
comerciais, contábeis, financeiros, educativos, publicitários
etc., não resolvendo, apesar disso, um problema técnico.
Conhecimentos que resolvem problemas práticos de comércio,
contabilidade, finanças, educação, publicidade, sorteio ou até
mesmo de fiscalização, trata-se ainda de conhecimentos em si,
estando, portanto, incluídos no que chamamos, dentro dos ramos
da propriedade intelectual, de know-how, ou segredo industrial.
É, por exemplo, a criação da prática do leilão, dos
consórcios, de programas de incentivo, de métodos de valoração,
de procedimentos de auditoria, de planejamento de investimentos,
de planos de previdência privada, de convênios médicos, de planos
de aula, de métodos didáticos; além de outros inúmeros métodos,
costumes e padrões que resolvem problemas práticos, podendo
ser extremamente complexos e imensamente úteis, mas que não
preenchem os requisitos necessários para serem invenções ou
modelos de utilidade.
Deve-se sempre observar se a solução proposta pelo criador
resolve um problema técnico e se constituí uma solução para
ele, tendo em vista que, para se ter uma invenção, é necessário
evidenciar o caráter técnico do problema a ser resolvido, da
solução proposta e dos efeitos alcançados. Ou seja, existe
uma linha tênue entre se ter puramente um método financeiro
e se fazer a indicação do campo técnico ao qual a invenção se
relaciona como campo técnico “finanças”, pois o primeiro caso
não é passível de proteção, mas este último existe a possibilidade
de ser uma invenção. Sendo assim, é precipitado se considerar

Volume II
274 Direito Patentário Brasileiro

uma matéria como um método financeiro, ou contábil etc.,


simplesmente por ser aplicável à área financeira ou contábil,
uma vez que se deve avaliar a matéria reivindicada no pedido de
patente e se esta resolve um problema de natureza técnica.
Como exemplo, um método que realiza o reconhecimento
de uma nota fiscal a partir do reconhecimento da incidência de
textos, imagens e cores de maneiras sucessivas e segundo um
parâmetro predefinido, pode ser considerado uma invenção que
resolve um problema técnico aplicável ao campo tecnológico da
contabilidade, ainda este método seja aplicado especificamente
ao reconhecimento de notas fiscais, não se confundindo,
contudo, com um método contábil, pois trata-se de um método
de reconhecimento de documentos que resolve um problema
de natureza técnica. Em outras palavras, no exemplo dado,
o problema técnico refere-se à identificação e contagem de
documentos (notas fiscais) ou qualquer outro objeto a partir
de um padrão, não se configurando, consequentemente, como
um método contábil, este último, não considerado passível de
proteção por patente.
Em resumo, métodos que propiciam soluções de caráter
técnico, ou seja, não financeiros, contábeis, educativos etc., para
um problema técnico, podem sim ser considerados uma invenção,
desde que preencha os demais requisitos de patenteabilidade.
Tratando-se ainda do artigo 10 da LPI, mais precisamente
sobre o inciso IV, não são considerados invenção ou modelo de
utilidade às obras literárias, arquitetônicas, artísticas e científicas
ou qualquer criação de efeito meramente estético. Tais criações
possuem suas proteções compreendidas no âmbito dos Direito
Autorais, regidos pela Lei n. 9.610/1998, ou até mesmo passível
de proteção por desenho industrial, se preenchidos os requisitos
previstos na LPI. Isso se deve pela própria natureza das obras
literárias e estéticas, pois, em suas próprias definições, são

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Direito Patentário Brasileiro 275

essencialmente descritas por aspectos, não técnicos, mas sim


subjetivos, e, desse modo, não são consideradas invenção.
Dessa forma, pinturas, músicas, composições, partituras,
esculturas, contos, parábolas, poemas, livros, entre outras obras
literárias, arquitetônicas, artísticas e científicas ou qualquer
criação de efeito meramente estético não pode ser protegidas
como patente, existindo, para cada caso, a modalidade e forma
correta de proteção intelectual.
Não obstante, vale ressaltar que, se uma propriedade
meramente estética for consequência de uma estrutura técnica,
muito embora a questão estética por si só não seja considerada
uma invenção, os meios para sua obtenção podem ser passíveis de
proteção por patente, não se confundido os meios técnicos para
sua obtenção com o resultado estético decorrente da aplicação
dele. Como exemplo, pode-se citar uma invenção que viabiliza a
fabricação de tecidos de forma diferenciada, trazendo melhorias na
peça final, como maior resistência e economia dos materiais para
produção da peça e que por consequência gera uma diferenciação
estética no produto final a ser obtido, podendo essa diferenciação
estética ser uma característica desejável em aspectos puramente
artísticos, ainda sim é uma invenção que pode ser passível de
proteção, sendo os aspectos estéticos uma mera consequência
do problema técnico resolvido que é trazer maior resistência e
economia no processo de produção de tecidos.
Deve-se observar também que um processo específico
para a obtenção de um efeito puramente estético também pode
ser considerado invenção. Por exemplo, o processo técnico
novo de lapidação de diamantes conferindo a eles uma forma
estética particular. A forma estética diferenciada do diamante não
é considerada invenção, mas o processo técnico novo para sua
obtenção sim.

Volume II
276 Direito Patentário Brasileiro

O artigo 10 da LPI coloca como não sendo invenção ou


modelo de utilidade os programas de computador. Conforme
foi dito anteriormente, os programas de computador estão
inseridos no ramo dos Direitos Autorais e possui uma legislação
própria, a Lei n. 9.609/1998. É importante ressaltar, todavia,
que um método que preenche os requisitos de patenteabilidade,
mas é considerado invenção, pode ser aplicado por meio de um
programa de computador, não se confundido, a proteção a ser
conferida pela patente de invenção com a proteção conferida ao
programa de computador (seu código fonte) como um direito
autoral. Em outras palavras, a implementação de um método
patenteável por meio de um programa de computador não
configura o enquadramento do método no impedimento previsto
no inciso V do artigo 10 da LPI.
Outro ponto tratado no artigo 10 da LPI é sobre a
impossibilidade de se proteger, como invenção ou modelo de
utilidade, a apresentação de informações, por mais complexas
que elas possam ser, por exemplo, uma bula de um medicamento,
as instruções de uso de um equipamento ou receitas. Tais
informações devem ser protegidas por Direitos Autorais e não
por patente. Nos casos das interfaces gráficas para comunicação
com o usuário, comumente utilizadas em computadores, celulares
e tablets, em relação aos aspectos que dizem respeito apenas ao
seu conteúdo informacional, eles não são considerados invenção.
No entanto, o método utilizado na interface gráfica em relação
aos aspectos funcionais pode ser considerado uma invenção e ser
passível de proteção por patente.
O mesmo entendimento é aplicável às regras de jogo, por
constituírem a solução de um problema não considerado como
técnico. Sendo assim, nos pedidos de patentes de jogos em si não
se deve reivindicar qualquer informação relacionada às regras do
jogo por mais que estas estejam ligadas às descrições de caráter

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Direito Patentário Brasileiro 277

técnico da invenção, pois os jogos são patenteáveis, mas as suas


regras não. Sendo assim, aquele que inventasse um ioiô ou um
peão poderia solicitar a proteção destes objetos, mas não das
regras que compõe a utilização deles na forma do jogo em si.
O inciso VIII do artigo 10 da LPI trata a respeito das
técnicas e métodos operatórios ou cirúrgicos, bem como métodos
terapêuticos ou de diagnóstico, para aplicação no corpo humano
ou animal. Nesses casos, deve-se observar se existe uma ligação
direta entre o tratamento e a condição a ser tratada ou prevenida
para que seja considerado um método terapêutico e, portanto,
não ser considerado uma invenção ou modelo de utilidade. Por
exemplo, um método para hidratar a pele humana que consiste
na aplicação de um composto bioquímico para prevenir o
envelhecimento precoce da pele não é considerado um método
terapêutico, mas um método para hidratar a pele humana que
consiste na aplicação de um composto bioquímico para cura de
micose é um método terapêutico, pois existe uma ligação direta
entre o tratamento “hidratação da pele” e a condição a ser tratada
“micose”.
É importante mencionar, ainda, a possibilidade de existirem
métodos que podem ser, ao mesmo tempo, terapêuticos e não
terapêuticos. Nesses casos, se o efeito considerado não terapêutico
for algo que não se pode desvincular do efeito considerado
terapêutico, ou, ainda, se um for uma consequência da terapia, a
matéria não será considerada invenção. Nesse sentido, um método
para branqueamento dos dentes (efeito estético e, portanto, não
terapêutico) que é, na verdade, uma consequência do efeito
terapêutico inerente ao processo de remoção da placa presente
nos dentes não poderá ser considerado uma invenção, pois não
pode ser separado do efeito puramente cosmético de melhorar a
aparência dos dentes. Da mesma maneira, não se pode considerar
invenção um método para aumento de peso de um animal na

Volume II
278 Direito Patentário Brasileiro

produção e comercialização de carne (um benefício industrial)


se este aumento de peso estiver associado necessariamente ao
tratamento de uma patologia animal (efeito terapêutico).
Sobre os métodos de diagnóstico, estes não são considerados
invenção quando se trata de procedimentos a serem seguidos
de detecção de sintomas, medição e marcação no paciente etc.,
mas podem ser considerados uma invenção quando se trata de
testes in vitro, realizados em biológicas do paciente tais como
amostras de sangue, saliva, fezes entre outros. Ressalta-se ainda
que métodos para aquisição de dados ou informações do corpo
humano ou animal, uma vez que apresentem apenas um resultado
intermediário que, isolado, não é suficiente para se chegar a um
diagnóstico, consequentemente, não são considerados métodos
de diagnóstico. São os casos dos aparelhos de ressonância
magnética, raios X e ultrassom, que não são considerados
métodos de diagnósticos uma vez que, se utilizados isoladamente,
são insuficientes para se chegar a uma determinação conclusiva
da enfermidade do paciente.
Por fim, o artigo 10 da LPI, em seu inciso IX, retira a
possibilidade de se proteger por invenção ou modelo de utilidade
todo ou parte dos seres vivos naturais e materiais biológicos na
forma como eles são encontrados na natureza; mesmo que dela
sejam isolados, estando inclusos os genomas ou germoplasmas de
qualquer ser vivo natural e os processos biológicos naturais. Uma
questão a ser ressaltada a respeito dessa previsão do inciso IX
diz respeito ao fato de que sua aplicação refere-se tão somente às
reivindicações de produto, não estando inclusas às reivindicações
de processos, aplicações e uso, observando-se a restrição
exclusivamente aos processos biológicos naturais. Isso posto, se
o processo que está sendo reivindicado envolver todo ou parte
de seres vivos naturais e materiais biológicos encontrados na
natureza, inclusive se envolver genoma ou germoplasma, mas não

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Direito Patentário Brasileiro 279

consistir na reivindicação de um processo biológico natural, este


processo poderá sim ser considerado uma patente de invenção.
Em outras palavras, o processo não natural que utiliza um produto
natural, ou seja, processo resultante de uma intervenção humana,
não possui impedimento para a sua patenteabilidade com base no
inciso IX do artigo 10 da LPI.

Invenções e Modelos de Utilidade não Patenteáveis


A Lei da Propriedade Industrial exclui algumas matérias da
possibilidade de proteção por patente de invenção ou modelo de
utilidade, ainda que preenchidos os requisitos de patenteabilidade,
conforme previsto em seu artigo 18 da LPI.
A previsão do inciso I de proibição de patentes que forem
contrárias à moral, aos bons costumes e à segurança, à ordem e
à saúde públicas possui, nitidamente como objetivo, a proteção
da ordem pública, a moralidade, a vida e a saúde humana, animal
ou vegetal, além de prevenir sérios prejuízos à sociedade e ao
meio ambiente. Observa-se que a aplicação desta proibição pode
parecer um tanto subjetiva em alguns casos, de modo que se deve
considerar, por exemplo, se é plausível que a população de modo
geral consideraria a invenção de fato repugnante de modo a gerar
o indeferimento da invenção visto que o seu uso ou exploração
comercial traria resultados inconcebíveis para a sociedade a
qual ela seria inserida. Sendo assim, uma mera probabilidade de
inadequação de uma invenção não seria suficiente para negar
proteção patentária, se a invenção puder ter aplicações diversas
que não infrinjam a ordem pública e a moral.
Um bom exemplo seria a reivindicação de proteção de
uma impressora tão moderna e precisa em sua impressão que
seria possível a impressão quase fiel de cédulas de real, porém,
praticamente impossíveis de serem percebidas como falsas;

Volume II
280 Direito Patentário Brasileiro

o que poderia prejudicar gravemente à ordem pública. Não se


pode considerar o indeferimento da invenção pela possibilidade
de utilização da invenção para tais fins, tendo em vista que as
suas propriedades avançadas de aperfeiçoamento da impressão
em papel podem ser utilizadas para diversos outros fins lícitos
e permitidos. Todavia, se no pedido de patente houver a
reivindicação expressa de uma utilização que seja contrária à
ordem pública ou à moral, tal reivindicação deverá ser retirada do
pedido sob pena de se poder negar a sua concessão.
O inciso II do artigo 18 da LPI fala a respeito da
impossibilidade de se patentear as substâncias, matérias, misturas,
elementos ou produtos de qualquer espécie, além da modificação
de suas propriedades físico-químicas e os respectivos processos de
obtenção ou modificação, quando resultantes de transformação
do núcleo atômico. Sendo assim, os procedimentos para fissão
ou fusão nuclear em si, assim como seus produtos, não são
patenteáveis. É importante ressaltar, entretanto, que máquinas,
dispositivos e equipamentos associados à tecnologia nuclear, não
entram na vedação prevista no inciso II.
O inciso III diz respeito à proibição da proteção por meio
de patente sobre todo ou parte dos seres vivos, exceto os micro-
organismos transgênicos, desde que atendam aos requisitos de
patenteabilidade. Deve-se ressaltar primeiramente que, conforme
apregoa o parágrafo único do artigo 18 da LPI, “micro-
organismos transgênicos são organismos, exceto o todo ou parte
de plantas ou de animais, que expressem, mediante intervenção
humana direta em sua composição genética, uma característica
normalmente não alcançável pela espécie em condições
naturais”. Em outras palavras, para fins do direito patentário
brasileiro “micro-organismo” refere-se a fungos, bactérias,
algas unicelulares que não são classificadas no Reino Plantae e

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Direito Patentário Brasileiro 281

protozoários (INSTITUTO NACIONAL DA PROPRIEDADE


INDUSTRIAL, 2015d).

Estrutura do Pedido de Patente


Um pedido de patente deverá conter a seguinte estrutura:

1. Formulário específico do INPI;


2. Relatório Descritivo (título, campo da invenção, estado da
técnica, descrição sucinta das figuras, descrição detalhada
do invento, melhor execução do invento/exemplos se
houver);
3. Figuras/desenhos (sendo opcional para patentes de
invenção e obrigatório para os modelos de utilidade);
4. Resumo;
5. Listagem de sequências biológicas (quando houver
material biológico);
6. Reivindicações;
7. Comprovante de pagamento da respectiva retribuição;
8. Documentos dos depositantes.

A Resolução Normativa n. 17/2013 do INPI, que revogou


o Ato Normativo n. 127 de 1997, normatiza o detalhamento
de cada um desses itens. Os pedidos de patente de tecnologias
envolvendo material biológico requerem a inclusão de outros
procedimentos, os quais estão tratados no item 16 do mencionado
Ato. Ainda, informa como e onde devem ser depositados esses
materiais (leveduras, fungos, bactérias, actinomicetos, algas,
protozoários, vírus e outras matérias vivas).

Volume II
282 Direito Patentário Brasileiro

Formulário Específico do INPI


Para realizar um depósito de pedido de patente é necessário
preencher o formulário próprio disponibilizado pelo INPI, o
formulário FQ001, chamado “Formulário para depósito de
pedido de patente ou de certificado de adição”. Nesse formulário,
é preciso informar os dados ao depositante, a natureza do pedido
de patente (invenção, modelo de utilidade ou certificado de
adição), o título do pedido de patente, a prioridade, os dados do
inventor, entre outras informações.

Relatório Descritivo

O relatório descritivo é uma das partes mais importantes


de uma redação de patente e também uma das a mais complexas.
É constituído por título, campo da invenção, estado da técnica,
descrição sucinta das figuras, descrição detalhada do invento,
melhor execução do invento ou exemplos, se houver. Observe a
seguir cada um deles.

Título
O título deverá ser conciso, claro e preciso, identificando
o objeto do pedido, sem expressões ou palavras irrelevantes
ou desnecessárias (como “novo”, “melhor”, “original” e
“semelhante”), ou quaisquer denominações de fantasia, assim
como o campo da invenção deverá descrever sucintamente o
campo tecnológico no qual a invenção se enquadra.

Descrição do Estado da Técnica


O Estado da Técnica destina-se a citar as informações de
cunho básico e descrever o estado da arte ou da técnica preexistente
(com base em documentos patentários, artigos científicos,

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Direito Patentário Brasileiro 283

apresentações de congresso e/ou outras apresentações de cunho


científico), o qual deve fornecer informações para que se possa
entender, buscar ou examinar a invenção proposta, evidenciando
o(s) problema(s) com que os inventores se defrontaram naquela
área e como ele(s) era(m) resolvido(s).
Além disso, o estado da técnica se propõe a descrever
como o problema técnico foi abordado no invento e a solução
técnica encontrada em função do estado da técnica, descrevendo,
de forma clara, a solução proposta para o problema existente;
evidenciando as vantagens da invenção em relação ao estado da
técnica, ressaltando a novidade e o efeito técnico alcançado.

Figuras
A descrição das figuras se propõe a descrever sucintamente
as figuras dispostas em um documento próprio denominado
“Figuras” de modo que a descrição corrobore para melhor
elucidação do invento. É facultado ao invento dispor de figuras,
entretanto quando houver, deve ter relação de importância com
o invento e o esclarecimento das ideias.

Descrição Detalhada do Invento


A descrição detalhada do invento caracteriza-se como
sendo uma das principais partes contidas numa redação de
patente, pois esta se destina a descrever a invenção em detalhes
suficientes para reprodução por um técnico da arte. Um aspecto
relevante que deve ser levado em consideração na proteção de
uma invenção refere-se à suficiência descritiva, que a falta ou
omissão de informações poderão acarretar prejuízo no processo
de proteção, podendo ocasionar até mesmo o indeferimento do
pedido de patente.

Volume II
284 Direito Patentário Brasileiro

A melhor execução do invento é representada, a fim de


ilustrar mais detalhadamente determinadas modalidades da
invenção. É importante destacar que invenção a qual se pretende
proteger não se limitará aos exemplos citados, podendo ser
utilizada em todas as aplicações descritas ou em quaisquer outras
variações equivalentes.

Resumo
O resumo deve ser apresentado de forma sucinta e clara,
pois o texto apresentado servirá de subsídio para a opção de busca
por palavras chaves em diversos bancos de patentes. Conforme
prevê a Instrução Normativa n. 17/2013 do INPI, o resumo deve
conter entre 50 e 200 palavras e/ou não exceder 20 linhas de
texto, não podendo ser usado à própria reivindicação principal.
O fato de o resumo apresentar-se sob uma forma sucinta, não
significa dizer que não fornecerá uma compreensão clara e
objetiva da invenção, pelo contrário, deverá expressar a essência
da tecnologia.

Listagem de sequências biológicas


No caso de pedidos de patente que se enquadrem na área
de biotecnologia a Listagem de sequências biológicas deverá ser
apresentada ao INPI como uma espécie de complementação do
relatório descritivo, já estudado. A representação das sequências
de nucleotídeos ou de aminoácidos deve seguir um padrão
preestabelecido pela OMPI, de acordo com as regras constantes
na Resolução n. 81/2013 do INPI.

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Direito Patentário Brasileiro 285

Reivindicações
As reivindicações caracterizam-se como o desejo por parte
do inventor sobre o que se pretende proteger, ou seja, são as
peculiaridades do invento para as quais se requer a proteção
legal. As reivindicações se estabelecerão na descrição detalhada
do invento e definirão o escopo de proteção para produtos,
processos, uso ou ambos em um mesmo pedido de patente,
enfatizando assim a necessidade da suficiência descritiva da
invenção. São elas que estabelecem e delimitam os direitos da
patente, e independente do número de reivindicações, o quadro
reivindicatório deve estar unido pelo mesmo conceito inventivo.
Nas reivindicações, cabe ressaltar que não podem ser
reproduzidas citações a trechos do relatório descritivo, exceto
quando absolutamente necessários. São proibidas as expressões
do tipo “conforme apresentado na parte X do relatório
descritivo”. Outra consideração importante condiz com o fato
de que é proibido utilizar-se de trechos explicativos com relação
ao funcionamento, vantagens do objeto de invenção e mínimos
detalhes de seu uso.
Uma dificuldade percebida na concepção da redação de
uma patente condiz no fato da escrita peculiar, distanciando-se
significativamente da escrita, por exemplo, de um artigo. O Quadro
2 demonstra de forma simplificada as principais diferenças entre
um artigo científico e uma redação de patente.

Volume II
286 Direito Patentário Brasileiro

Quadro 2 – Artigo científico e redação de patente – principais diferenças

Artigo Científico Redação de Patente


Campo da Invenção e Estado da
Introdução
Técnica
• Apresenta o Estado da Técnica;
• Apresenta os fatos relevantes
sobre o que será discorrido ao • Apresenta o problema a ser
longo do trabalho; resolvido pela invenção;

• Apresenta a hipótese em contexto • Deve deixar claro que todo o


e como o conhecimento na área conhecimento até o presente
não foi capaz de encontrar uma
encaminhou a hipótese.
solução para o problema.
Material, Métodos e Resultados Exemplos
• Exemplos específicos que devem
servir de base para a generalização;
• Base fundamental para a
• Comprovam que o inventor
comprovação da hipótese.
tinha posse da invenção na data do
depósito do pedido.
Discussão Descrição Detalhada da Invenção
• Resultados (exemplos) como a
base para a generalização;
• Coloca os resultados no contexto
• Expande-os para todas as
do conhecimento presente, e
variáveis possíveis e imagináveis
no caminho óbvio do que já era
para as quais o proprietário
sabido, da hipótese, e de como os
procura proteção.
resultados comprovam a hipótese.
• Importante manter o aspecto
inesperado dos resultados obtidos.
Fonte: Elaborado pelos autores deste capítulo

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Direito Patentário Brasileiro 287

Comprovante de Pagamento da Respectiva Retribuição

É necessário realizar o pagamento da retribuição referente


ao depósito de pedido de patente. Para fins de comprovação do
pagamento, deve-se juntar ao processo de pedido de patente
tanto a GRU quanto o comprovante de seu pagamento.
Pessoas físicas e microempresas, entre outros, gozam do
direito de receberem um desconto no pagamento das taxas do
INPI. É possível consultar esses valores na página do INPI
acessando o documento “Tabela de retribuições dos serviços
prestados pelo INPI” disponível no endereço eletrônico http://
www.inpi.gov.br/menu-servicos/patente/arquivos/dirpa-taxa-
com-portaria-e-brasao.pdf.

Documentos dos Depositantes

Para realizar o depósito de pedido de patente o depositante


deve anexar toda documentação pertinente a ele. No caso do
inventor independente (pessoa física) basta anexar a cópia da
identidade e CPF. No caso de instituições públicas ou privadas,
são necessárias as seguintes documentações:

1. Cartão CNPJ da empresa/instituição;


2. Estatuto/Contrato social;
3. Cópia da identidade e do CPF do representante legal;
4. Nomeação no cargo ou função;
5. Delegação de poderes (no caso do representante legal
não ser o presidente da instituição ou dono da empresa);
6. Demais documentos que forem pertinentes.

É comum, dentro de uma empresa ou instituição, haver


um setor responsável pela proteção de tecnologias junto ao

Volume II
288 Direito Patentário Brasileiro

INPI. Nesse caso, será necessário anexar ao processo toda a


documentação que comprove que esse setor e seu representante
são os responsáveis e possuem os poderes necessários para atuar
junto ao INPI em proteção de tecnologia.
É possível citar como exemplo o caso das instituições
públicas de ensino, como as universidades, que possuem os NITs
para atuar nas questões de Propriedade Intelectual. Esse NIT, por
sua vez, pode possuir um diretor ou coordenador responsável
por representar a universidade. Nesse caso, é necessário anexar a
norma interna que decreta tal função ao diretor ou coordenador
do NIT, além da nomeação do respectivo servidor no cargo ou
função de diretor ou coordenador.
Além disso, pode ser necessário anexar uma procuração,
no caso da tecnologia ter sido desenvolvida com outra instituição
pública ou privada. Uma das instituições (instituição gestora)
deverá ficar responsável pelo depósito junto ao INPI e as demais
instituições deverão assinar uma procuração delegando poderes
para que a instituição gestora da tecnologia tenha poderes de
representá-las junto ao INPI. Nesses casos, todas as instituições
deverão providenciar a documentação listada e não apenas a
instituição gestora da tecnologia.

Tramitação de um Pedido de Patente


Para que se entenda melhor o trâmite de proteção e como
um pedido de patente tem seus direitos suspensos ou expirados,
cabe esclarecer que um pedido, no momento em que é depositado,
ainda não tem sua vigência em vigor, mas o titular possui a
expectativa de direitos, ou seja, o depositante possui o direito
de explorar seu desenvolvimento tecnológico, porém ainda não
goza de certificação da proteção. Assim sendo, após o depósito,
o pedido insere-se em uma fila de espera para submeter-se a um

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Direito Patentário Brasileiro 289

exame técnico, o qual analisa o pedido quanto à patenteabilidade


e decide pelo seu deferimento ou por uma emissão de exigência
técnica para adequação do pedido aos critérios de patenteabilidade,
conforme entendimento do órgão ao disposto em lei. Somente
após vencer essa etapa e ainda submeter-se ao deferimento, é que
o pedido alcança a concessão do título de patente.
Esse trâmite pode durar em média dez. anos para
acontecer, pois segue uma cronologia em um fila de espera para
a análise do órgão, o INPI, o qual se encontra com defasagem
do número de examinadores perante o número de pedidos de
patentes depositados e, portanto, não consegue acompanhar a
demanda proporcionalmente, formando um backlog. Até que
o exame técnico não ocorra, o pedido passa por um exame
formal, que analisa a documentação apresentada de acordo
com os documentos obrigatórios, as informações necessárias e
a adequação dos documentos às normas exigidas em lei e em
instruções normativas do INPI, fazendo com que o pedido
também sofra exigências, a depender do caso.
Qualquer um desses exames, quando emite uma exigência
para adequação do pedido, faz com que os direitos do pedido de
patente fiquem suspensos, obrigando o seu cumprimento dentro
dos prazos estabelecidos para cada caso. Ao se cumprir, o pedido
de patente volta à vigência de expectativa de direitos e segue seu
trâmite normal até o momento do deferimento ou indeferimento
no exame técnico. Não se cumprindo, o pedido de patente tem
seus direitos suspensos definitivamente.
Dessa forma, existe uma diferenciação quanto ao status da
tecnologia, a depender do caso em que se encontra diante destas
etapas dentro do trâmite de proteção e a vigência de direitos se
dá pelo desenrolar deste. A vigência prevista em lei concede a
proteção de Patentes de Invenção de 20 anos e de Patentes de

Volume II
290 Direito Patentário Brasileiro

Modelo de Utilidade, de 15 anos, as quais são extintas após este


prazo, ou seja, têm seus direitos expirados.
Por conseguinte, as tecnologias são relacionadas quanto ao
status em que se encontram da seguinte maneira:

a) Arquivados: expectativa de direitos suspensa para


regularização do pedido conforme exigência emitida
pelo órgão, podendo voltar ao atendê-la.
b) Arquivados definitivamente: pedido de patente com seus
direitos suspensos definitivamente por não atendimento
à(s) exigência(s) do órgão dentro do prazo estabelecido
em lei.
c) Em andamento: pedido de patente segue o trâmite
normal até o momento do exame técnico.
d) Concedidas: pedidos de patente que foram deferidos e,
em seguida, a patente foi concedida.
e) Indeferidos: pedidos de patente que passaram pelo
exame técnico e, não atendendo aos requisitos de
patenteabilidade, foram indeferidos e o processo de
proteção foi encerrado.
f) Extintas: patentes concedidas, com seu prazo de vigência
de 15 ou 20 anos vencido, conforme sua natureza.
g) Desistência: pedido de patente que apresentou desistência
em seu trâmite por requerimento do depositante.

A Figura 2 apresenta um esquema simplificado do processo


de proteção de patentes junto ao INPI.

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Direito Patentário Brasileiro 291

Figura 2 – Fluxograma resumido do processamento de um pedido de patentes no


Brasil

Fonte: Instituto Nacional da Propriedade Industrial (2015a)

Depois de depositado o pedido de patente, de acordo


com determinação da LPI, este será mantido em sigilo durante
18 meses, contados da data do depósito ou da prioridade mais
antiga, para os casos de pedidos que foram modificados dentro
do que é permitido por Lei.
Depois desse período de sigilo, o INPI publica o pedido
e as informações sobre o pedido de patente em sua Revista da

Volume II
292 Direito Patentário Brasileiro

Propriedade Industrial (RPI), que é o meio de comunicação


o­ficial do órgão. Entretanto, a decisão de manter o pedido sob
sigilo durante o período citado, é opcional para o titular, que
poderá, conforme sua conveniência, requerer a antecipação da
publicação. Isso pode acontecer, por exemplo, nos casos em
que o titular quiser usufruir da expectativa de direito e assinar
contrato de transferência de tecnologia.
Consideram-se como presentes no estado da técnica,
inclusive, os pedidos de patentes que se encontram no período
de sigilo e que ainda não foram publicados na RPI, a fim de evitar
a concessão de duas patentes para dois inventores diferentes
relativas à mesma invenção. Dispõe o artigo 11 em seu § 2º da
LPI que um pedido anterior de patente sobre uma invenção,
mesmo que ainda não tenha sido publicado, é assimilado a uma
anterioridade, com o propósito de impedir um segundo pedido de
patente sobre a mesma invenção (BRASIL, 1996). Dessa forma,
para efeito de detectar a novidade, considera-se não apenas o que
se tornou público antes da data do depósito, mas também o que
se encontra sob a análise no INPI e que ainda não tenha sido
publicado.

Considerações Finais
O direito patentário brasileiro possui mais de duzentos
anos tendo amadurecido muito ao longo de todo este período e
seguindo as mudanças que exigências que ocorreram no cenário
internacional acerca do tema. De modo geral, o Brasil é um país
amadurecido em termos de normas de propriedade industrial e
aplicação delas o que demonstra que existe uma preocupação
antiga no país em se reconhecer os direitos de propriedade
intelectual bem como de valorizar os respectivos desenvolvedores
de novas tecnologias.

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Direito Patentário Brasileiro 293

Além disso, o Brasil é signatário dos principais acordos e


tratados internacionais em matéria de patentes e já tem devidamente
instituído todos estes documentos no país, por meio de Decretos
e Leis. Isso demonstra que existe certo alinhamento das normas
jurídicas brasileiras com as principais tendências e necessidades
mundiais no que diz respeito à propriedade industrial.

Referências
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1977. Aprova o texto do Tratado de Cooperação em Matéria
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294 Direito Patentário Brasileiro

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Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Direito Patentário Brasileiro 295

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296 Direito Patentário Brasileiro

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patentes. Diretoria de Patentes – DIRPA. 2015b. Disponível
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de patente: Bloco I. Diretoria de Patentes – DIRPA. 2015c.
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Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Direito Patentário Brasileiro 297

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de janeiro: Editora Forense, 2008.

Volume II
Desenhos Industriais e suas
Especificidades

Patricia Pereira Peralta


Cássia Mota de La Houssaye

Resumo: Este capítulo visa a discutir o instituto da Propriedade Industrial denominado


Desenho Industrial. Para tanto, parte-se de uma conceituação do que vem a ser Desenho
Industrial e o que não pode ser compreendido como tal. Em seguida, discutem-se
os requisitos necessários para a obtenção da proteção como Desenho Industrial,
abordando-se a novidade, a originalidade e a aplicação industrial. Compara-se também
o Desenho Industrial com a proteção por Patentes, principalmente as Patentes de
Modelo de Utilidade, expondo quando pode ou não ocorrer a cumulatividade de
proteção dos dois institutos. Como forma de destacar a importância da proteção
dos Desenhos Industriais, serão abordados os benefícios advindos dessa proteção e
apresentados alguns exemplos.

Abstract: This chapter aims to discuss the industrial property law called Industrial
Design. For this, a conception of what is Industrial Design and what cannot be
understood as such is presented. Thus, the necessary requirements for obtaining the
protection as industrial design are contemplated, including novelty, originality and
industrial application. Industrial Design is also compared with Patent protection,
mainly, the Utility Model Patent, exposing when the overlapping protection may or may
not occur for the two institutes. As a way of emphasizing the protection of Industrial
Designs importance, the benefits of this protection are considered and some examples
are provided.

Introdução
O Desenho Industrial (DI) é um dos institutos da
Propriedade Industrial, regulado pela Lei de Propriedade
Industrial (LPI) Lei n. 9.279/1996, que visa a proteger a forma
de objetos ou a forma de padrões aplicados a produtos. Apesar
de sua relevância mercadológica ser evidenciada pelo número
Desenhos Industriais e suas Especificidades 299

crescente de depósitos dessa forma de proteção na Europa, como


apontado por Carvalho (2010)1, no Brasil, a proteção tem sido
pouco utilizada, o que pode indicar uma falta de compreensão
sobre a relevância da mesma.
Não há taxa significativa de crescimento2 da proteção de
Desenhos Industriais junto ao Instituto Nacional da Propriedade
Industrial (INPI), autarquia responsável pelo exame e concessão
da proteção aos DI, conforme pode ser observado na próxima
figura (Figura 1):

Figura 1 – Pedidos de Desenhos Industriais depositados entre 2008 e 2017

Fonte: Instituto Nacional da Propriedade Industrial (2018)

1
Nas palavras da citada autora: “A importância dos desenhos e modelos é
também evidenciada pelos números relativos aos pedidos de registro. Ao nível
comunitário, nos primeiros cinco anos de actividade no âmbito do IHMI
foram concedidos mais de 300.000 [...]. Os dados mais recentes [...] podem ser
obtidos no sítio: http://oami.europa/ows/rw/resource/documents/OHIM/
OHIMPublications/2008_annual_report_es.pdf [...]” (CARVALHO, 2010).
2
Segundo dados fornecidos pela Assessoria de Assuntos Econômicos
(AECON) do INPI, a taxa de crescimento para os depósitos de Desenho
Industrial tem oscilado, entre os anos de 2008 e 2018, tendo como máxima
uma taxa de crescimento de 15,9% em 2010 e uma mínima a taxa de -12,6% em
2009. Os depósitos se mantiveram numa ordem de grandeza próxima aos 6.000
depósitos, estando os depósitos nacionais entre 56% e 66% dos depósitos totais.
Fonte: INPI, 2018. Disponível em: http://www.inpi.gov.br/sobre/estatisticas/
arquivos/pagina-inicial/indicadores-de-propriedade-industrial-2018_versao_
portal.pdf. Acesso em: 20 set. 2018.

Volume II
300 Desenhos Industriais e suas Especificidades

Em outros dados, que podem ser consultados no sítio do


INPI, percebe-se ser a proteção de Desenho Industrial mais
utilizada em alguns setores, como ocorre com o de móveis e o
de calçados, e praticamente inexistente em outros. Tais dados
podem servir para a proposição de políticas industriais relativas
ao Design como fator de diferenciação e agregação de valor do
produto nacional em função de apontarem quais setores investem
mais em Design e quais não investem, a partir da interpretação
dos dados referentes à proteção.
Apesar de isso parecer claro, a exploração das informações
contidas e extraídas da base de dados do INPI parece não
despertar maior interesse por parte da sociedade, principalmente,
empresarial, mas também por parte dos criadores de produtos.
Insiste-se que tal cenário possa ser fruto da baixa relevância ou
da falta de conhecimento referente à proteção, o que acarreta na
sua parca ou inexistente procura, tanto pelo meio profissional,
quanto pelo meio da formação acadêmica relacionada ao Design.
Diante dessas observações iniciais, este capítulo tem como
objetivo apresentar o que seja Desenho Industrial, quais são os
seus requisitos, em que tais requisitos se assemelham ou não
com aqueles presentes nos países que mais recebem proteção
de Desenhos Industriais, as diferenças entre a proteção de
Desenhos Industriais e aquela conferida às Patentes de Invenção
e às de Modelo de Utilidade, além de abordar de forma breve a
relevância da proteção, bem como apresentar alguns exemplos
dessa proteção utilizada por requerentes nacionais.
Para cumprir esse objetivo, será utilizado referencial
bibliográfico pertinente ao campo teórico do Desenho Industrial
e a legislação sobre a matéria existente no Brasil e alguns exemplos
extraídos do banco de dados do INPI.
De forma a tornar clara a estrutura deste capítulo, no
primeiro tópico será abordado o conceito de Design e de

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Desenhos Industriais e suas Especificidades 301

Desenhos Industriais, comparando os mesmos. A seguir, será


apresentado o conceito de Desenho Industrial constante da LPI
9279/96, a partir daquilo que é definido em lei, tanto em seu
aspecto positivo, o que pode ser Desenho registrado, quanto
negativo, o que não pode ser registrado.
Em seguida, serão abordados os requisitos que a forma
requerida terá que possuir para poder obter a proteção legal. Após
a apresentação dos requisitos, serão discutidas, de forma não
exaustiva, as diferenças entre Desenhos Industriais e Patentes,
principalmente, Patentes de Modelos de Utilidade.
Falaremos também dos benefícios da proteção, questão que
parece mal compreendida no Brasil, principalmente, quando se
observa que muitos criadores preferem utilizar a proteção autoral
em detrimento da proteção por Propriedade Industrial. Além
disso, serão apresentados alguns casos de Desenhos Industriais
registrados no Brasil que pertencem ao cotidiano dos brasileiros
e têm na proteção conferida pelo INPI o direito de exploração
exclusiva de suas formas protegidas. Por fim, algumas palavras
como conclusão.

Do Conceito de Desenhos Industriais


Tratar de Desenhos Industriais torna necessária a feitura
de uma primeira diferenciação entre aquilo compreendido como
Design e aquilo que é abarcado, conceitualmente, pela expressão
“Desenhos Industriais” (DI), como um Direito de Propriedade
Industrial (DPI). A concepção de Design como uma atividade
projetual é bem mais abrangente do que aquela presente na noção
de Desenho Industrial como um dos institutos da Propriedade
Industrial. Em termos históricos, ambas as concepções são

Volume II
302 Desenhos Industriais e suas Especificidades

contemporâneas3 no que diz respeito às suas origens, pois


resultam de demandas de uma nascente sociedade industrial que,
em suas buscas de diferenciação e agregação de valor aos produtos
resultantes do processo de mecanização, também requeria
proteção para os resultados obtidos por esse novo processo.
A historiografia tradicional4 do Design sugere a possibilida-
de do surgimento do campo profissional do designer, de forma
ainda muito embrionária, atrelada aos questionamentos advindos
do movimento Arts and Crafts. Para os mentores desse movimen-
to, especialmente William Morris, o objeto industrial, formatado
pela linha de produção, fruto do processo de mecanização, era
carente de atributos que o tornassem agradável e mesmo belo se
comparado com o objeto artesanal. O Arts and Crafts sugeria o
retorno ao modo de produção artesanal como uma proposta de
recuperação de formas mais belas para os objetos (CARDOSO,
2004).
Não obstante à crítica e à reflexão surgidas com o Arts
and Crafts, foi apenas com a Werkbund alemã, do final do século
XIX, que se iniciou um processo mais claro acerca da busca da
melhoria das formas dos produtos industriais para transformá-
los em algo mais competitivo (SCHNEIDER, 2010, p. 52).

3
Para uma revisão histórica do surgimento do Desenho Industrial como uma
forma de proteção, sugere-se a obra de Otero Lastres (1977), El modelo industrial.
Por sua vez, para leituras que contemplem a história do Design, indica-se Heskett
(1998) Cardoso (2004), Forty (2007), Pevsner (2002) e Schneider (2010).
4
O surgimento do Design enquanto campo de atuação profissional é um
fato dependente da noção de Design da qual se parta. Nesse texto, retoma-
se as contribuições de Cardoso, mas é possível atribuir a origem do campo a
diversos fatores. Richard Buchanan (1995), um teórico do campo dos Estudos
de Design (Design Studies) formula a hipótese de uma matriz quádrupla para a
origem do Design: uma delas estaria vinculada ao criacionismo, ao surgimento
do universo em si; a segunda, aos objetos e imagens pré-históricos feitos pelo
homem; a terceira relaciona o surgimento do Design à Revolução Industrial; a
última e quarta, por fim, atribui ao início do século XX o surgimento do Design
como campo.

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Desenhos Industriais e suas Especificidades 303

Posteriormente à Werkbund, já no século XX, surge a


Bauhaus. Essa escola, também situada na Alemanha, ainda tem
pilares basilares construídos sobre o uso de técnicas artesanais a
serem aplicadas à produção industrial, segundo Heskett (1998),
tendo discreta influência sobre processo produtivo da indústria.
Por seu turno, a escola de Ulm, que propôs novas metodologias
que permitissem ao designer projetar de modo mais flexível
diante das complexas exigências da tecnologia e da indústria,
parece ter se posicionado de forma mais alinhada com a ideia de
Design enquanto um campo de criação voltado para a produção
da indústria (HESKETT, 1998). Como dito, ambas as escolas
surgem no século XX, com outros movimentos, como o Styling,
auxiliando o designer a ocupar um espaço mais claro na sociedade.
Por Industrial Design, Löbach (2001, p. 21) compreende
o “[...] processo de adaptação dos produtos de uso fabricados
industrialmente às necessidades físicas e psíquicas dos usuários
[...]”. Heskett acrescenta ser o Design um processo de criação,
invenção e definição que são separados dos meios de produção,
envolvendo uma síntese de fatores contributivos e muitas vezes
conflitantes numa concepção de forma tridimensional que, em
sua realidade material, torna-se passível de reprodução múltipla
por meios mecânicos (HESKETT, 1998, p. 10).
Do disposto por Löbach e Heskett, percebe-se que as ideias
de projeto e de criação são atividades do designer e que o produto
por esse desenvolvido se adaptará à realidade de reprodução
múltipla por meios mecânicos, ou seja, do processo industrial.
Outro ponto de nota trazido pela primeira definição é o fato de
o Design compreender um processo que deve levar em conta
necessidades físicas e psíquicas dos usuários.
Como será visto na discussão adiante travada, aquilo
compreendido como registro de Desenho Industrial protegerá

Volume II
304 Desenhos Industriais e suas Especificidades

a forma externa da nova concepção de um produto, não


abrangendo possíveis melhorias funcionais e ergonômicas, que
também fazem parte da atividade projetual de um novo Design.
Essa característica da proteção dos Desenhos Industriais pode
parecer fragilizar o título concedido. Entretanto, como se
tentará demonstrar, se bem equacionada com outros direitos de
Propriedade Industrial, o que poderia indicar uma deficiência
converte-se em um ponto positivo da proteção.
Nas definições de Design trazidas, destaca-se também o
fato de o Design ser algo produzido industrialmente ou passível
de reprodução múltipla por meios mecânicos. Essa característica
tornou-se decisiva para afastar o campo projetual do designer
daquele comum ao artesão. Como será abordado adiante,
ser passível de aplicação industrial é um dos requisitos para a
obtenção da proteção por Propriedade Industrial aos Desenhos
Industriais.
Introduzidas de forma breve algumas noções históricas e
conceituais de Design, acrescenta-se que o Desenho Industrial –
enquanto proteção – surge muito associado a algumas atividades
produtivas, como foram a indústria de tecido nos séculos XVIII
e XIX e a indústria de ferro. Foram demandas específicas
desses produtores, principalmente em cidades francesas, que
fizeram surgir as primeiras leis ou adaptações legislativas que
dessem conta de garantir algum tipo de proteção aos desenhos
bidimensionais (indústria de tecido) e tridimensionais (indústria
de ferro fundido), conforme disposto pelo jurista, advogado, e
professor espanhol Otero Lastres (1977).
A proteção aos Desenhos Industriais foi sendo construída
na Europa por todo o século XIX, ora como algo pertinente ao
universo da proteção dedicada à obra autoral, aquilo entendido
como Direito de Autor, ora como uma forma de proteção

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Desenhos Industriais e suas Especificidades 305

que buscava certa autonomia (OTERO LASTRES, 1977)5.


Apenas com a Convenção da União de Paris para a Proteção da
Propriedade Industrial (CUP), os Desenhos Industriais foram
reunidos às Marcas, às Patentes e a outros direitos a partir de
então compreendidos como Propriedade Industrial6. Mas a citada
Convenção pouco trouxe de substancioso à matéria, deixando
total liberdade a seus países para regulamentá-la, como pode ser
conferido a partir do trecho extraído da obra de Bodenhausen
(1969, p. 93):

Lo único que se inserto en la Convenio fue la mera obligación de que


los Estados miembros protejan los dibujos y modelos industriales. Nada
se dice sobre los medios para proveer a esa protection, de tal modo
que los paises pueden cumplir con él, no solo mediante una legislación
especial para la proteccion de los dibujos y modelos industriales, sino
también por medio de la concesión de esa proteccion, por ejemplo,
en sus leyes sobre derecho de autor o en sus disposiciones contra la
competencia desleal. Lo que es necesario y, al mismo tiempo, suficiente,
es que cuando las autoridades compétentes de un Estado miembro
definan o reconozan un objeto como ‘dibujo o modelo industrial’, por
ejemplo, con vistas a su registro como tal en el pais mismo, o de e
manera interancionale le concedan protection en una u otra forma.

5
A questão da proteção dos Desenhos Industriais por Direitos Autorais e
por Propriedade Industrial ainda persiste até a atualidade, tendo países que
garantem a dupla proteção ou cumulativa de proteções sobre um mesmo
objeto, aplicando as duas legislações. No caso do Brasil, a questão ainda merece
ser melhor aprofundada, mas já era observada por Gama Cerqueira, quando
este autor, ao falar do Desenho Industrial, dispunha que: “Entre a propriedade
artística e a propriedade industrial, existe uma zona intermediária. Nesta situam-
se as criações que participam, ao mesmo tempo, da natureza das obras de arte
das produções industriais. É o que se dá com os desenhos industriais, não se
podendo saber onde finda a arte e começa a indústria.” (CERQUEIRA, 1982,
p. 57).
6
Por Propriedade Industrial entende-se: “Conjunto dos institutos jurídicos que
visam a garantir os direitos de autor sobre as produções intelectuais do domínio
da indústria e assegurar a lealdade da concorrência comercial e industrial.”
(CERQUEIRA, 1982, p. 55).

Volume II
306 Desenhos Industriais e suas Especificidades

Apesar de o Brasil ser membro da CUP desde 1883, os


Desenhos Industriais (DI), como forma de proteção pertencente
à Propriedade Industrial, foram introduzidos na legislação
brasileira apenas em 1934, por meio do Decreto n. 24.507/34.
Àquela época, compreendia-se por Desenho Industrial, no citado
Decreto, a proteção por Modelo Industrial que abarcava as formas
tridimensionais, e a proteção por Desenhos Industriais, destinada
a abranger as formas bidimensionais. Modelos e Desenhos
Industriais permaneceram com essa configuração conceitual
até a entrada em vigor da LPI, Lei n. 9.279/1996, quando a
nomenclatura Desenhos Industriais unificou os Modelos e
Desenhos Industriais em uma única categoria. Torna-se relevante
apontar essa duplicidade conceitual para o que hoje no Brasil
é denominado Desenho Industrial, pois, em outros países,
permanece a divisão entre Modelos e Desenhos Industriais7.
Os Desenhos Industriais são considerados por Otero
Lastres (1998; 2008) como o direito de Propriedade Industrial
mais complexo de todos8. O citado autor defende essa assertiva

7
Nos Estados Unidos, o Desenho Industrial é compreendido como uma
modalidade de Patente, recebendo a denominação de patent design. No Japão,
entende-se a proteção ao Desenho Industrial como um registro, conforme
pode ser conferido no extrato do Design Act japonês: “Article 3 (1) A creator
of a design that is industrially applicable may be entitled to 3 obtain a design
registration for the said design, except for the following: [...]” (JAPÃO, 1959,
n.p.) Na União Europeia, permanece a nomenclatura Modelos Industriais e
Desenhos Industriais. Segundo Otero Lastres: “Pero auque la deonominación
es doble, se regula un único derecho, el de dibujo o modelo, con lo cual
desaparece, acertadamente, la distinción tradicional entre el derecho de
dibujo para las creaciones bidimensionales y el derecho de ‘modelo’ para las
tridimensionales. En lo sucesivo, la distinción entre dibujo o modelo será
puramente conceptual y carecerá de consecuencias prácticas, al quedar incluído
en el ámbito de protección de la figura tanto la reproducción bidimensional
como la tridimensional de correspondiente creación de forma. En la Directiva,
y por consecuencia en la futura legislación de los Estados miembros, puede
haber doble deonominación, pero un derecho único.” (OTERO LASTRES,
1998, p. 25).
8
“No es exagerado afirmar que se trata de la figura más compleja de las que
integran el Derecho Industrial. Y ello porque estamos ante un derecho que

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Desenhos Industriais e suas Especificidades 307

apontando que essa complexidade é derivada, entre outras


razões, pela delimitação do objeto protegido e pela determinação
do sistema de proteção. Ainda acompanhando suas reflexões,
Otero Lastres destaca que uma mesma criação da forma pode
ser protegida por vários direitos de Propriedade Industrial, como
também pelo Direito de Autor. Quanto ao sistema de proteção,
se há a possibilidade de, sobre uma mesma criação da forma,
recaírem diversas proteções, cabe verificar se as distintas normas
que protegem essa mesma criação da forma recaem sobre eles e
/ou distintos elementos e se as ditas normas devem ser aplicadas
simultânea ou sucessivamente (OTERO LASTRES, 2008).
Pelo disposto por Otero Lastres, percebe-se que o Desenho
Industrial reveste-se de complexidade por se tratar de uma
criação da forma sobre a qual poderão ser acionadas proteções
que envolvam uma Patente de Modelo de Utilidade (MU), ou um
Direito Autoral ou mesmo uma Marca Tridimensional. A própria
noção de Desenhos Industriais, tanto no Brasil como nos demais
países que garantem a sua proteção, leva a extensas discussões
sobre a cumulatividade de proteções por esses diferentes institutos:
Patentes, registros de Desenhos Industriais, Marcas e Direitos
Autorais. Estes são enquadrados dentro da nomenclatura mais
geral de Propriedade Intelectual, mas mantêm suas idiossincrasias
que envolvem, entre outras coisas, a temporalidade da proteção, o
escopo do que vem a ser protegido por cada instituto e a eficácia
de cada proteção.
Como acima disposto, o Desenho Industrial, por meio da
atual LPI de 1996, passou a englobar as figuras de Modelos e

recae sobre una creación materializada en la forma visible de un objeto que,


en función de las cualidades que reúna, puede ser protegida también por la
Propiedad Intelectual [direito de autor], por otras modalidades híbrida de la
figura ha provocado dos tendências contrapuestas, una que trata de aproximar
su regulación a la Propriedade intelectual [direito de autor], y outra que trata de
harcerlo a la Propiedad Industrial y, dentro de ésta, ao Derecho de Patentes.”
(OTERO LASTRES, 1998, p. 22).

Volume II
308 Desenhos Industriais e suas Especificidades

Desenhos Industriais, ainda constantes em diversas legislações de


outros países. Na atual LPI, Desenho Industrial é compreendido,
por meio do disposto no artigo 95, como:

[...] a forma plástica ornamental de um objeto ou o conjunto ornamental


de linhas e cores que possa ser aplicado a um produto, proporcionando
resultado visual novo e original na sua configuração externa e que
possa servir de tipo de fabricação industrial. (BRASIL, 1996, art. 95)

Conforme já visto, por meio da leitura do artigo 95, podem-


se extrair diversas informações que são de extrema relevância
para a compreensão do Desenho Industrial. A primeira é que
por meio desse conceito são protegidas as formas plásticas
ornamentais aplicadas aos objetos, aquilo antes compreendido
como Modelos Industriais, e o conjunto ornamental de linhas
e cores, compreendido como um padrão a ser aplicado a um
produto, e anteriormente protegido como um Desenho industrial
da forma bidimensional.
Outra informação apresentada pela leitura do artigo 95
da LPI de 1996 diz respeito aos requisitos a serem preenchidos
pela forma requerida para fins de proteção como Desenhos
Industriais. Essa forma deverá ser nova, original e ter aplicação
industrial. Tais requisitos serão objetos do próximo tópico deste
capítulo.
Por fim, destacam-se as noções de ornamento e de
configuração externa presentes no artigo 95. A forma requerida
deverá ser ornamental. Assim, afasta-se da proteção de Desenhos
Industriais, por meio de sua conceituação, a forma que apenas
atribua melhoramento no funcionamento ou na utilidade de um
objeto, além de restringir a proteção ao aspecto exterior do objeto.
O artigo, 95 que conceitua Desenhos Industriais, é
fundamental para a compreensão desse instituto da Propriedade
Industrial, tendo em vista a riqueza de informações que ele

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Desenhos Industriais e suas Especificidades 309

apresenta, devendo tal artigo fazer-se presente e acompanhar


as ponderações deste capítulo em diversos momentos desta
exposição.
Além do artigo 95 que conceitua Desenhos Industriais,
torna-se relevante destacar, neste tópico, o que não pode
constituir um Desenho Industrial (DI) registrado, pois isso limita
as formas que, por uma exclusão legal, delineiam, de maneira
mais substanciosa, a própria noção conceitual de proteção ao
Desenho Industrial.
Assim, segundo o artigo 98 da LPI de 1996 não podem
ser registrados como Desenhos Industriais “[...] qualquer obra de
caráter puramente artístico.” (BRASIL, 1996, art. 98). Para a obra
de caráter puramente artístico, sem nenhuma aplicação industrial,
já há a proteção garantida pela Lei de Direitos Autorais (LDA),
Lei n. 9.610/1998. Não seria sensato, aos olhos dos legisladores,
em um sistema que visa a proteger o investimento na exploração
industrial da forma de um objeto, a existência de obras que não
possuem essa destinação obtendo uma proteção por um instituto
de Propriedade Industrial9.
Todavia, o artigo 98 não é o único a excluir da proteção por
DI algumas formas. O artigo 100 da LPI de 1996 traz outras duas
limitações externadas por meio dos parágrafos 1º e 2º do citado
artigo de Lei. Destarte, no parágrafo 1º do artigo 100 pode-
se ler que não se registrará como Desenhos Industriais: “[...] o

9
Tal arrazoado é posto por Otero Lastres na seguinte passagem: “[...] debe
elegirse un sistema que no produzca inseguridad jurídica: ha de tratarse de un
sistema que permita que los interesados conozcan con exactitud qué límites
pueden traspasar y cuáles no. Lo cual está estrechamente relacionado con el
tema, anteriormente indicado, de la publicidad del derecho derivada del registro.
Y es que la no obligatoriedad del registro propia de la propiedad intelectual
[direito de autor] hace que los terceros no puedan conocer con certeza ni los
posibles derechos que existan sobre las distintas creaciones ni la vida legal
que reste en cada caso sobre tales derechos. Y esta indiscutible inseguridad es
inaceptable en el mercado de los productos industriales.” (OTERO LASTRES,
2008, p. 231).

Volume II
310 Desenhos Industriais e suas Especificidades

que for contrário à moral e aos bons costumes ou que ofenda a


honra ou imagem de pessoas, ou atente contra a liberdade [...]”
(BRASIL, 1996, art. 100). Tal limitação é algo pertinente a cada
um dos institutos de Propriedade Industrial, como são as Marcas e
Patentes, e silente no caso das Indicações Geográficas, não sendo,
portanto, específica somente para os Desenhos Industriais.
Por seu turno, por meio do parágrafo 2º do artigo 100, tem-
se norma que delimita e ajuda na compreensão do conceito de DI
quando, através da leitura do citado artigo, apreende-se que não
pode ser Desenho Industrial registrado: “[...] a forma necessária
comum ou vulgar do objeto ou, ainda, aquela determinada
essencialmente por considerações técnicas ou funcionais.”
(BRASIL, 1996, art. 100). A respeito do ora exposto, há duas
claras exclusões. A primeira versa sobre a impossibilidade de
garantir a proteção por meio do registro de Desenhos Industriais
a formas que, por serem consideradas comuns vulgares ou
necessárias, devem permanecer disponíveis a todos os operadores
de mercado. Não seria justo impedir o uso de formas comuns à
boa parte da sociedade, por meio de um direito exclusivo, como
muitos entendem ser a proteção conferida pela Propriedade
Industrial, garantindo, com isso, um monopólio que não seria
benéfico para o bem estar social.
Entretanto, a exclusão presente no parágrafo 2º do artigo
100 não envolve apenas as formas comuns vulgares e necessárias.
Não se concede a proteção àquelas formas determinadas
essencialmente por considerações técnicas ou funcionais.
A lógica dessa proibição reforça a presença da noção de
ornamental contida no conceito de Desenhos Industriais do artigo
95, além de evitar a cumulatividade de proteções entre Desenhos
Industriais e Patentes de Invenção ou Patentes de Modelo de
Utilidade. Além disso, busca-se evitar que, por meio da proteção
de Desenhos Industriais, se venha a defraudar a proteção das

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Desenhos Industriais e suas Especificidades 311

Patentes, que possui finalidade distinta. A proteção patentária


segue requisitos e diretrizes de exame próprios e distintos, além
de ter uma menor temporalidade de proteção, sendo a proteção
de 20 anos conferida às Patentes de Invenção a partir da data
de depósito e de 15 anos às Patentes de Modelo de Utilidade,
também, a partir da data de depósito.
Conforme afirma Otero Lastres (1998), não se deve conferir
um registro de DI às formas que devem ser protegidas por outra
modalidade da Propriedade Industrial ou àquelas que devem ficar
livres à disposição de todos. No caso das formas ditadas por
considerações técnicas ou funcionais, a proibição visa, segundo
o citado autor, a estabelecer limites entre as criações protegidas
por Patentes e Modelos de Utilidade e aquelas protegidas por
Desenhos Industriais (OTERO LASTRES, 1998).
Mas o citado autor acrescenta que apenas as formas ditadas
ou determinadas essencial ou necessariamente por questões
técnicas ou funcionais são vedadas à proteção por Desenhos
Industriais. Para aquelas formas que sejam funcionais ou técnicas,
todavia não ditadas exclusivamente por sua funcionalidade, a
proteção por DI poderá ser conferida ao aspecto ornamental
dessa forma (OTERO LASTRES, 1998).
A Doutora em Direito madrilena Lence Reija aponta
existirem na Europa critérios para aferir se uma forma é
ditada exclusivamente por sua função como são: o critério da
multiplicidade das formas; da variação da forma sobre a função;
dos contornos; entre outros, que serão discutidos adiante (LENCE
REIJA, 1998). No Brasil, tais critérios não estão presentes em
sede de exame para a registrabilidade de Desenhos Industriais,
mas nada impede que eles sejam inseridos futuramente em
diretrizes de exame pelo INPI, fazendo-se pertinente a discussão
e o aprofundamento deles, o que será feito adiante de forma
ainda introdutória.

Volume II
312 Desenhos Industriais e suas Especificidades

Disposto o que pode ser Desenho Industrial e o que não


pode, crê-se ter uma dimensão conceitual precisa acerca desse
instituto de Propriedade Industrial. De forma a obter uma
compreensão do DI mais clara e proveitosa, cabe abordar, no
próximo tópico, os requisitos que deve possuir uma criação da
forma para vir a ser protegida por meio do registro de Desenhos
Industriais.

Dos Requisitos para a Proteção dos Desenhos


Industriais
Conforme já comentado, os requisitos para conferir a
proteção por Desenhos Industriais são apresentados com o
conceito de DI por meio do disposto no artigo 95 da LPI de
1996. Retomando tais requisitos, menciona-se no citado artigo a
necessidade da forma ou conjunto ornamental ser nova, original
e ter aplicação industrial.
Há autores, entre eles a professora de direito empresarial
brasileira Maitê Cecília Fabbri Moro (2009), que apontam a
ornamentalidade como outro requisito que pode ser inferido da
leitura do citado artigo 9510. Citando o tratadista brasileiro em
Propriedade Industrial, João da Gama Cerqueira, que defende
esse requisito, Moro dispõe que não se deve confundir o caráter
ornamental com um eventual cunho artístico, pois este seria
mais pessoal e parcial, enquanto aquele teria uma aplicação mais
positiva e segura, dispensando qualquer juízo relacionado a um

10
José Roberto Gusmão, ex-presidente do INPI, doutor e professor de
Propriedade Intelectual, elenca como requisitos para a proteção dos Desenhos
Industriais, os seguintes: “Os requisitos de validade para a obtenção da proteção
do desenho industrial são os seguintes: a) tratar-se de uma criação da forma de
duas ou três dimensões que: 1. Seja nova, original e ‘ornamental’ (tenha caráter
estético) 2. Possa servir de tipo de fabricação industrial 3. Tenha sido objeto de
pedido de registro devidamente protocolado no INPI b) e, negativamente, da
qual não resulte nenhuma funcionalidade inerente.” (GUSMÃO, 2015).

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Desenhos Industriais e suas Especificidades 313

possível valor estético (CERQUEIRA apud MORO, 2009). Moro


ainda cita os professores franceses Pierre e François Greffe que
apontam ser:

[...] une ornamentation résultant de dispositions ou de la réunion


d’elements décoratifs qui peuvent être les plus divers à la condicion que
ces éléments bien individualisés, fixes, puissent toujours être reproduits
à l’identique, et ne soient pas en conséquence le résultat du hasard.
(GREFFE; GREFFE apud MORO, 2009, p. 241)11

O requisito da novidade, por seu turno, além de constar


do artigo 95, possui artigo próprio no qual se encontra definição
para o mesmo. Destarte, por meio do artigo 96, compreende-
se que o Desenho Industrial é considerado novo quando não
está compreendido no estado da técnica e; por estado da técnica
compreende-se tudo aquilo tornado acessível ao público antes da
data de depósito do pedido, no Brasil ou no exterior, por uso ou
qualquer outro meio, ressalvado o disposto no § 3º deste artigo,
que trata do período de graça12, e no artigo 99, que versa sobre a
prioridade13 (BRASIL, 1996).
A novidade é considerada um requisito objetivo provindo
da proteção patentária. A lógica dessa apreciação, portanto, segue
a mesma apreciação que é utilizada no exame de uma Patente
de Invenção ou de Modelo de Utilidade. No Brasil, o requisito

11
Uma ornamentação resulta da disposição ou da reunião de elementos
decorativos que podem ser os mais diversos à condição que estes elementos
bem individualizados, fixos, possam sempre ser reproduzidos de forma idêntica,
e não sejam, em consequência, o resultado do acaso. Tradução livre.
12
“§ 3º Não será considerado como incluído no estado da técnica o Desenho
Industrial cuja divulgação tenha ocorrido durante os 180 (cento e oitenta)
dias que precederam a data do depósito ou a da prioridade reivindicada, se
promovida nas situações previstas nos incisos I a III do art. 12.” (BRASIL,
1996).
13
“Art. 99. Aplicam-se ao pedido de registro, no que couber, as disposições
do art. 16, exceto o prazo previsto no seu §3º, que será de 90 (noventa) dias.”
(BRASIL, 1996).

Volume II
314 Desenhos Industriais e suas Especificidades

de novidade aplicado durante o exame de registrabilidade é


considerado absoluto, pois não há limitações temporais ou
espaciais (geográficas) à apreciação desse requisito, conforme
diz Moro que também acrescenta que cabe a quem contesta a
novidade comprovar a sua inexistência (MORO, 2009).
Para o doutor e advogado espanhol da área e Propriedade
Intelectual, David Peral Cerdá, “[...] la novedad es el criterio
fundamental que determina una válida proteción por influencia
del derecho de patentes.” (CERDÁ, 2015 p. 56). Esse autor, bem
como Otero Lastres (1974), apresenta que há tipos diversos de
novidade quando se compara a presença desse requisito entre
os países europeus, existindo a novidade objetiva (entendida,
aqui, como absoluta), a relativa (que pode fazer referência a um
espaço geográfico ou a um círculo determinado de pessoas) e a
subjetiva (que pressupõe ser nova só para quem criou, ou seja,
que a forma seja fruto de uma criação independente e não de
uma cópia) (CERDÁ, 2015; OTERO LASTRES, 1974). Esse
cenário, no qual convivem diversas noções de novidade, para
os países europeus, cria complexidades que não são comuns no
Brasil que utiliza a noção de novidade absoluta, por mais difícil
que possa ser a aferição da mesma. Ou seja, no Brasil, o Desenho
Industrial deverá ser novo sem que se tome um período e um
espaço geográfico específico como parâmetro.
Enquanto Cerdá (2015) entende ser pertinente o requisito
de novidade para os Desenhos Industriais, Otero Lastres defende
que o mesmo não seria próprio aos Desenhos, por não estar em
consonância com os princípios em que se baseia esse título de
Propriedade Industrial. Para esse último autor, a novidade revela-
se um requisito pertinente apenas às Patentes, pois estas, como já
disposto, podem ser exploradas em segredo (OTERO LASTRES,
1997). De forma a evitar a exploração em segrego da tecnologia,
a sociedade se dispõe a dar um tempo de exploração exclusiva

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Desenhos Industriais e suas Especificidades 315

em troca da revelação da tecnologia por meio da patente. Ainda


Otero Lastres, em trabalho diverso, aponta que novo é o que
se diferencia dos Desenhos já existentes em um determinado
momento (OTERO LASTRES, 1998); sendo esse o sentido que
deveria preponderar na apreciação de um requisito de DI. Para
fins de aplicação do requisito no Brasil, o INPI entende que basta
haver alguma diferença que permita dizer inexistir identidade
entre as formas para considerar que cumprido está o requisito da
novidade.
O requisito da originalidade também possuiu artigo próprio
a indicar a conceituação do mesmo. Dessa forma, o artigo 97
da LPI de 1996 evidencia ser o Desenho Industrial original
quando dele resulte uma configuração visual distintiva, em
relação a outros objetos anteriores. O mesmo artigo, por meio
do seu parágrafo único, acrescenta que o resultado visual original
poderá ser decorrente da combinação de elementos conhecidos
(BRASIL, 1996).
Em uma primeira leitura, pode parecer ser o artigo 97
bem simples. Todavia, esse artigo traz complexidades para sua
efetiva compreensão. A primeira complexidade é a utilização da
terminologia “distintiva” para qualificar configuração visual. Essa
terminologia é vastamente reconhecida no campo da Propriedade
Industrial como o principal requisito da Marca, que deve ser um
sinal distintivo, e mesmo como sendo a função juridicamente
protegida do sinal concedido como Marca. Ou seja, a Marca é
concedida para exercer a função distintiva, auxiliando nas práticas
de escolha consumeristas14.
A vinculação da terminologia distintiva à configuração
visual, no caso do Desenho Industrial, auxilia – mas não parece
14
O debate sobre a função distintiva da Marca é bem extenso e recomenda-
se, para o aprofundamento sobre a matéria, a leitura das obras de Fernandez-
Nóvoa (2004), Ascensão (2002), Gonçalves (1999), McCarthy (1996), para
apontar alguns dos principais.

Volume II
316 Desenhos Industriais e suas Especificidades

ser tão decisiva – para evitar e afastar as associações daquele com a


Marca, pois, para esta, o termo distintivo vincula-se a sinal. Assim,
tem-se que o Desenho Industrial deve ter uma configuração
visual distintiva e deve a Marca ser um sinal distintivo, sendo este
limitado pelas especificidades do sistema de proteção de Marcas.
Não obstante, há que se ressaltar que, no caso do Desenho
Industrial, a distintividade dar-se-á em relação a objetos
anteriores. Em nada o diploma legal aponta serem tais objetos
pertencentes a um mesmo setor produtivo ou classe e nem
serem tais objetos similares, como ocorre na legislação francesa,
segundo Otero Lastres (1974). Assim, parece que a comparação
a ser travada não está limitada a alguns objetos, mas a todos os
possíveis objetos. Por seu turno, no sistema de Marca, vigora o
denominado princípio da especialidade. Segundo este, o sinal
requerido como Marca só será protegido no segmento no qual
o produto ou serviço, ao qual a Marca será aposta, enquadra-se.
Importante apontar essa diferença entre Desenhos Industriais e
Marcas, que ainda carece de aprofundamento, pois há a previsão,
no Brasil e em várias partes do mundo, da proteção como Marca
Tridimensional das formas plásticas, muitas vezes, constituídas
pela forma do produto ou de sua embalagem. Apesar disso, não
se deve comparar a proteção conferida pelo título de Desenho
Industrial com aquela conferida pela Marca, pois distintas são
suas finalidades e o escopo de cada uma.
O requisito da originalidade, presente no campo teórico
da Propriedade Industrial, conforme discutido, também se
encontra associado à proteção autoral, consoante ao que pode
ser observado nas palavras do doutrinador e ex-professor da USP
Carlos Alberto Bittar (2005). O posicionamento de Bittar, acerca
do requisito de originalidade no Direito Autoral, é o mesmo
defendido por Gusmão quando este autor aponta:

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Desenhos Industriais e suas Especificidades 317

Original é conceito derivado do Direito de Autor e significa a


qualidade que tem uma origem. Quando se fala em originalidade, está
naturalmente referindo à impressão digital da personalidade do autor
na obra criada. Ou seja, que se possa reconhecer, na obra, o traço da
personalidade de seu criador, sua origem. (GUSMÃO, 2015, p. 291)

A originalidade – na doutrina alemã e conforme apontado


por Otero Lastres (1974) – é compreendida como novidade
subjetiva. À vista disso, torna-se novo tudo aquilo que foi criado
independentemente, ou seja, sem ter sido copiado. Essa acepção
de originalidade, ou novidade subjetiva, é típica do Direito
Autoral, no qual a proteção é dada por conta de ser a obra uma
criação pessoal de um autor, sem se aferir o mérito ou o grau
artístico para conceder ou não a proteção. A criação tem que ser
independente, não podendo ser fruto de uma cópia, conforme
pode ser aferido da leitura de Otero Lastres (2003), para poder
pleitear a proteção autoral. No trabalho do citado autor, inclusive,
este aponta ser o direito ao Desenho Industrial, quando protegido
pela Propriedade Industrial, exclusivo e excludente15, algo que
protege não só contra a cópia, como também contra toda criação
independente que invada o âmbito da exclusiva. Por seu turno, o

15
De acordo com Otero Lastres et al. (2009, p. 54): “El derecho de autor es un
derecho exclusivo pero no exluyente, porque si bien, [...], solamente protege
contra la copia. [...]. Por tanto, el derecho de autor de cada obra no se extiende
a otra obra, que, aunque sea igual o prácticamente igual, haya sido creada
independientemente por su autor, es decir, sin copiarla. [...] En cambio, los
derechos de propiedad industrial son derechos exclusivos y excluyentes, en el
sentido de que sólo se puede conceder un derecho de exclusiva sobre un mismo
objeto, aunque exista otro objeto igual creado de manera independiente por
um tercero. Por ceñirnos a la patente: no caben dos patentes sobre la misma
invención a nombre de dos titulares distintos por mucho que el segundo de
ellos la hubiera obtenido sin copiar al primero. En la propiedad industrial, el
derecho concedido es, por eso mismo, excluyente, en el sentido de que una
vez concedido a uno quedan excluidos todos los demás. Por eso se dice que
los derechos de propiedad industrial, cada uno dentro de sus proprios límites,
producen un efecto de bloqueo, en el sentido de que el titular puede excluir
a todos los demás de la explotación del objeto sobre el que recae su derecho.

Volume II
318 Desenhos Industriais e suas Especificidades

Direito Autoral possui caráter apenas de exclusivo, pois protege


apenas contra a cópia, mas não contra a criação independente.
Dispostas as similaridades que podem ser inferidas entre
o requisito de originalidade presente no Desenho Industrial e o
contido no Direito Autoral e na proteção às Marcas, bem como
todas as diferenças que afastam relações entre a originalidade
requerida para os registros de DI e os requisitos a serem
preenchidos pela obra autoral ou pelo sinal distintivo, pode-se
afirmar que o requisito de originalidade é específico, conforme
concebido na LPI de 1996, para a proteção dos Desenhos
Industriais.
No cenário internacional16, tal requisito se assemelha ao
caráter singular, utilizado pelos países europeus, que preferiram
cunhar uma nova expressão, evitando utilizar termos que já
fossem requisitos de outros institutos (como distintividade, para
Marca, e originalidade, para o Direito Autoral) e a não obviedade
do sistema norte americano de proteção ao Design Patent.
Consoante ao que foi colocado, os países europeus
preferiram utilizar a noção construída especificamente para a
proteção dos Desenhos Industriais de “caráter singular”. Otero
Lastres afirma que esse deveria ser o único requisito para a proteção
aos DI, pelo mesmo estar em concordância com a essência dessa
figura e como fundamento de sua proteção (OTERO LASTRES,
1996). Para este autor, o fundamento da proteção concedida
ao criador do Desenho Industrial não se baseia na revelação da
forma que não pode ser explorada em segredo, como ocorre com
as tecnologias protegidas por Patentes, de acordo com explanação

16
“[...] industrial design registration systems vary among regions. To illustrate,
India, Indonesia, Japan, Korea (in almost all product categories), Russia, and
the United States register industrial designs and patents after professional
examiners examine their novelty and other requirements, while in Brazil, China,
and the European Union (EU) member states patent experts only check their
formality […]. (AKIIKE et al., 2018, p. 15)

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Desenhos Industriais e suas Especificidades 319

anterior. Então, esse fundamento, para o citado autor, estaria


no enriquecimento das formas estéticas aplicadas à indústria
(OTERO LASTRES, 1974; 1976). Sendo assim, não haveria
incentivos em garantir proteções de formas muito parecidas que
não enriqueceriam o patrimônio da indústria. O requisito do
caráter singular, que pode ser aqui equacionado ao requisito de
originalidade utilizado no Brasil, torna-se, pois, determinante na
concessão de formas que aumentem esse patrimônio.
Cerdá (2015) ainda acrescenta, em relação ao requisito
denominado caráter singular, que isso consiste no nível de
diferenciação e particularização, o que pode ser claramente
correlacionado à forma como o requisito de originalidade de
Desenhos Industriais é apreciado no Brasil.
Voltando ao cenário doutrinário brasileiro, Moro (2009)
adiciona que o requisito da originalidade para Desenhos
Industriais deve ser observado sob um ângulo mais objetivo,
contrapondo essa noção de objetividade àquela de subjetividade
presente na apreciação da originalidade do Direito Autoral. Assim
se posiciona a citada autora sobre a apreciação do requisito de
originalidade no Brasil:

No desenho industrial o impacto do aspecto visual externo do objeto


e a diferença que este provoque em relação aos objetos já conhecidos
são mais importantes do que o fato de uma pessoa diversa ter realizado
uma obra e nela tenha manifestado sua personalidade (expressão da
personalidade do artista). No caso do direito autoral, a originalidade
não necessariamente implica uma diferença de objeto, mas sim uma
diferença de observação do objeto e realização da obra. Entende-se
que a diversidade de apreciação da originalidade nos casos de direito
de autor e desenho industrial condiz com a razão de ser de cada uma
dessas tutelas, a primeira mais voltada para o autor e sua obra e a
segunda direcionada a uma visão empresarial. (MORO, 2009, p. 258)

Encerrando a discussão sobre o requisito de originalidade,


conforme está previsto na LPI de 1996, importante se faz trazer

Volume II
320 Desenhos Industriais e suas Especificidades

as ponderações de Barbosa que destaca a necessidade, à luz da


Constituição, de existir um contributo mínimo para a concessão
de uma proteção que gera um exclusivo, um monopólio de
exploração:

Segue, igualmente, já à luz da norma constitucional, um imperativo de


contributo mínimo, ou seja, de que a proteção só seja atribuída nos casos
em que a criação ornamental, além da novidade, ainda manifeste um
elemento significativo de criação. (BARBOSA, 2009, p. 45)

Por fim, o último requisito a ser cumprido por um Desenho


que pretenda a proteção é a necessidade de ele ter que possuir
aplicação industrial. Moro expõe que tal requisito determina
que aquilo a ser protegido precisa ser usado ou produzido na
indústria. Assim, segundo a citada autora, objetos artesanais –
que não podem ser produzidos em série sem perder o caráter
de trabalho artesanal – bem como objetos que façam uso de
produtos ou materiais in natura17 não podem obter a proteção por
Desenhos Industriais. Há, para Moro, a necessidade de o objeto
ser reproduzido fielmente em série (MORO, 2009).
Apresentados os requisitos do Desenho Industrial, faz-
se importante fazer um esclarecimento sobre o processo de
exame, conforme esse processo, é aplicado pelo INPI por
força das disposições contidas na LPI de 1996. Segundo o
artigo 106, depositado o pedido de Desenho Industrial e
observado o disposto nos artigos 100, 101 e 104, o mesmo
será automaticamente publicado e simultaneamente concedido,
expedindo-se o respectivo certificado (BRASIL, 1996). Ou seja,
o exame observa a adequação ao artigo 100, que expõe o que não
pode ser registrado como DI, conforme já visto, bem como as

17
Exemplos de produtos in natura: fibras, pedras, argilas, pericarpos, cascas e
folhas, entre outros.

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Desenhos Industriais e suas Especificidades 321

condições de apresentação do pedido dispostas no artigo 10118


e, ainda, a existência de variações configurativas, como assim se
encontra disposto no artigo 10419.
Destarte, pedidos compostos por forma que não tenha
aplicação industrial ou por uma obra de caráter puramente
artístico serão concedidos e posteriormente anulados com base
nos artigos 95 e 98, respectivamente. Por sua vez, a novidade ou
originalidade, geralmente, serão avaliadas em sede de processos
de nulidade propostos por terceiros ou, ocasionalmente, por
processo administrativo de nulidade proposto pelo INPI ou,
ainda, no eventual pedido de exame de mérito, que pode ser
requerido a qualquer época de vigência do registro de Desenhos
Industriais, apenas, pelo titular desse direito, conforme previsto
no artigo 111.
A possibilidade da apreciação dos requisitos de novidade
e originalidade em momento posterior à concessão é fato
decorrente da entrada em vigor da LPI de 1996. Desde o início
da proteção no Brasil, por meio do Decreto de 1934, já citado,
até a vigência do extinto Código da Propriedade Industrial (CPI)
5.772, de 1971, o Desenho Industrial era considerado uma espécie
de Patente e todo o exame daquele deveria seguir o procedimento
comum às Patentes. Com a entrada em vigor da LPI, o que antes

18
“Art. 101. O pedido de registro, nas condições estabelecidas pelo INPI,
conterá: I – requerimento; II – relatório descritivo, se for o caso; III –
reivindicações, se for o caso; IV – desenhos e fotografias; V – comprovante de
pagamento da retribuição relativa ao depósito.” (BRASIL, 1996). No caso dos
Desenhos Industriais, o elemento central da requisição da proteção é composto
pelas imagens e fotografias que permitem a compreensão do objeto pleiteado
como um possível DI.
19
“Art. 104. O pedido de registro de desenho industrial terá que se referir a um
único objeto, permitida uma pluralidade de variações, desde que se destinem
ao mesmo propósito e guardem entre si a mesma característica distintiva
preponderante, limitado cada pedido ao máximo de 20 (vinte) variações.
Parágrafo único. O desenho deverá representar clara e suficientemente o objeto
e suas variações, se houver, de modo a possibilitar sua reprodução por técnico
no assunto.” (BRASIL, 1996).

Volume II
322 Desenhos Industriais e suas Especificidades

era Patente passou a ser registro de Desenhos Industriais, o que


possibilitou a alteração do fluxo processual do exame do pedido,
bem como deu maior celeridade à concessão do título.
Na União Europeia, que possui um registro de Desenhos
Industriais comunitário, o trâmite processual é muito similar ao
Brasil no que tange à concessão sem a avaliação dos principais
requisitos. Entretanto, em países como o Japão e os Estados
Unidos, o exame substantivo ocorre antes da concessão do título de
proteção do DI. Nos Estados Unidos, importante faz-se destacar
ser a proteção conferida por uma Patente de Design, conforme
já comentado, tendo que ser observados, para fins de concessão,
os seguintes requisitos: a novidade, a originalidade (relacionada à
não obviedade), o caráter ornamental e a adequação aos demais
artigos do código legal (DE LA HOUSSAYE; PERALTA, 2018).
Apresentados e discutidos os requisitos pertinente ao
Desenho Industrial, passar-se-á à diferenciação entre esse tipo de
proteção em relação às Patentes, mais especificamente, à Patente
de Modelo de Utilidade.

As Diferenças entre o Registro de Desenhos


Industriais e a Proteção por Patentes
Conforme apresentado em tópico anterior, o Desenho
Industrial, no Brasil, foi uma modalidade de Patente até a entrada
em vigor da atual LPI de 1996. Nesse sentido, interessante faz-
se a leitura do apontamento do jurista, procurador e professor
Denis Borges Barbosa (2003) sobre a longa vivência do Desenho
como uma espécie de Patente:

Considerados até a Lei n. 9.279/96 uma modalidade literal de patente,


a tutela dos desenhos industriais (antes modelos, se tridimensionais,
desenhos, se bidimensionais) passa a ser objeto de registro, de forma a
expressar a automática outorga do direito a quem satisfaça os requisitos

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Desenhos Industriais e suas Especificidades 323

formais para tanto. Sujeito, sob o CPI de 1971, a um procedimento em


tudo similar ao das demais patentes, os desenhos e modelos passavam
pelo exame substantivo, prévio a concessão. [...] Não obstante essa
singularidade, entendo que o desenho industrial se submete ao modelo
constitucional da patente, e está sujeito a seus requisitos. Não é a
natureza do exame que define o título, mas seus requisitos, seus efeitos
jurídicos e econômicos, e sua funcionalidade social. Em todos esses
requisitos, a proteção do desenho industrial é uma proteção patentária.
(BARBOSA, 2003, p. 499-500)

Do disposto por Barbosa, seria possível pensar que há


muitas similaridades entre Desenhos Industriais e Patentes de
Invenção e de Modelo de Utilidade (MU). De certa forma, há
grandes similaridades, mas há também diferenças centrais que
fazem com que essas proteções possam conviver, mantendo
identidades próprias que não são passíveis de serem cambiáveis.
A maior proximidade ocorre entre os DIs e os MUs. A proteção
por Patentes de Invenção pode vir a concorrer em um objeto
protegido por DI, mas é algo mais raro de ocorrer. Sendo assim,
focar-se-á de forma mais específica, neste tópico, em traçar as
diferenças entre Desenhos Industriais e Modelos de Utilidade, não
só por entender que são mais recorrentes as interfaces entre esses
dois títulos de Propriedade Industrial, como, também, por serem
os mesmos complementares e, por isso, poderem ser acionados
concomitantemente de forma estratégica por seus titulares.
Como disposto no início deste capítulo, o Desenho
Industrial é considerado por Otero Lastres o mais complexo
direito de Propriedade Industrial em função do objeto de
proteção e do sistema de proteção. A natureza do DI é entendida
pelo autor espanhol como híbrida, pois há tanto a possibilidade
da proteção como DI, como, também, Marcas, Direitos Autorais
e Patentes, todas recaindo sobre uma mesma forma (OTERO
LASTRES, 2008).

Volume II
324 Desenhos Industriais e suas Especificidades

No caso das Patentes, conforme dito, o Modelo de Utilidade


é o que mais se aproxima da proteção conferida pelo título de
Desenhos Industriais, pois, geralmente, o MU visa a garantir
a proteção da forma, tal qual o Desenho, mas não do aspecto
externo dessa forma, como ocorre no caso do registro de DI, e
sim no aspecto útil ou funcional. Segundo Otero Lastres:

Es relativamente frecuente que un objeto posea una forma que cumple


una función técnica y que es, al mismo tiempo, estéticamente atractiva
para el consumidor. En este caso surge el problema de determinar
qué protección debe dispensarse a esta creación de forma que es la
plasmación material de una regla técnica, pero que resulta también
estéticamente atractiva. (OTERO LASTRES, 1975, p. 438)

O citado autor ainda acrescenta que, no caso em questão,


no qual uma forma produza um resultado técnico, mas também
possua uma atratividade estética, caberá ao Modelo de Utilidade
proteger a forma que executa e que dá origem a um resultado
industrial útil ou funcional e ao Desenho Industrial proteger a
forma (OTERO LASTRES, 1975). Ao apontar essa possibilidade,
o citado autor acrescenta ser necessário

[...] averiguar si entre la forma y la función técnica hay o no separabilidad.


Y únicamente en el supuesto de que la forma y la función técnica que la
misma cumple sean inseparables, habrá de denegarse el correspondiente
modelo industrial. (OTERO LASTRES, 1975, p. 439)

O posicionamento de Otero Lastres aponta para a


possibilidade de sobre uma mesma forma concorrerem à
proteção do Desenho Industrial e a do Modelo de Utilidade,
desde que o efeito técnico ou útil possa ser separado do aspecto
ornamental. Essa ponderação do autor espanhol coaduna-se com
o especificado no artigo 100 da LPI brasileira de 1996 que, como
visto anteriormente, apenas exclui da proteção pelo instituto
do DI a forma determinada essencialmente por considerações

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Desenhos Industriais e suas Especificidades 325

técnicas ou funcionais. Assim, as formas que sejam técnicas


ou funcionais, mas não determinadas essencialmente por essas
considerações, serão passíveis de serem protegidas por DI. Caso
as considerações técnicas e funcionais atendam aos requisitos
de Modelos de Utilidade (novidade, ato inventivo e aplicação
industrial) ou mesmo da Patente de Invenção (novidade, atividade
inventiva e aplicação industrial), a forma também poderá ter
proteção por um desses dois últimos institutos.
Para conseguir aferir se há a possibilidade de dissociação
entre forma ornamental e forma técnica, os autores europeus se
valem de alguns critérios, aqui já comentados, que auxiliam nessa
tarefa, como o da multiplicidade das formas, o dos contornos, o
do embelezamento, o da intenção do designer e o da incidência
da variação da forma de um objeto sobre o resultado por essa
forma produzido (OTERO LASTRES, 1975; 1996; LENCE
REIJA, 1998). No caso do Brasil, tais critérios não aparecem nas
decisões que tratam da proteção cumulativa das Patentes com
os DIs que possa incidir sobre uma mesma forma. Todavia,
ressalta-se serem eles bem oportunos para a reflexão da análise
da questão da dissociação dos aspectos ornamentais e técnicos
diante do disposto na legislação brasileira, tornando pertinente o
comentário desses critérios de forma breve neste capítulo.
O critério da multiplicidade das formas parece ser o que
tem maior adesão pelos juristas europeus. Todavia, há críticas ao
mesmo, assim como há críticas aos demais. Por multiplicidade
das formas, Lence Reija destaca que um Desenho não será ditado
por uma função técnica quando a utilidade do produto possa ser
alcançada por várias formas, ou que a forma em questão não seja
a única possível (LENCE REIJA, 1998). Otero Lastre acrescenta
que se existem diversas formas que permitam conseguir um
determinado efeito técnico, qualquer delas seria, em princípio,

Volume II
326 Desenhos Industriais e suas Especificidades

passível de proteção como Desenho Industrial (OTERO


LASTRES, 1996).
Por seu turno, o critério dos contornos, para Lence Reija,
parece desfavorável em relação ao anterior, pois basta que as
características da aparência do produto alcancem um resultado
técnico qualquer para que a forma não possa ser protegida por
DI. Assim, segundo a autora, recusa-se a proteção à forma pela
única razão de que ela seja útil, sem ter em conta que o Desenho
Industrial é, boa parte das vezes, a união inseparável entre o
ornamental e o funcional (LENCE REIJA, 1998).
O critério do embelezamento ou das adições deriva da
jurisprudência britânica. Nesse critério, parte-se do pressuposto
que o designer não é livre, pois ele deve respeitar uma forma
necessária para que o produto possa funcionar. Assim sendo, o DI
não seria ditado pela função técnica nos casos nos quais se possa
considerar adições ou embelezamentos à forma básica. Portanto,
há que se determinar a forma básica do produto, o que sugere um
exercício de abstração não muito trivial (LENCE REIJA, 1998).
Quanto ao critério da intenção do designer, crê-se que a
forma cumpre uma função técnica, pois assim o designer o quis,
pois, no processo de eleição entre vários Designs possíveis, a
opção do designer foi por aquele que cumpria uma função técnica
em detrimento de outro que não cumpria função técnica alguma
(LENCE REIJA, 1998).
Por fim, quanto ao último critério elencado, Otero Lastres
aponta que se a forma tem sido concebida em razão de seu
caráter utilitário, modificando a forma, se modificará o resultado
técnico produzido pela mesma. Em sentido contrário, se a criação
de forma unicamente serve para ornamentar um determinado
produto, quando se varia a forma, não se produzirá modificação
alguma na função técnica cumprida por essa forma (OTERO
LASTRES, 1975).

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Desenhos Industriais e suas Especificidades 327

Como disposto, nenhum desses critérios são claramente


utilizados no Brasil. Todavia, a aplicação desses critérios em
nada contraria a legislação brasileira, podendo ser eles utilizados,
auxiliando no exame que visa a verificar a possibilidade de
dissociação entre a forma e a função.
No Brasil, a LPI de 1996 é clara ao definir a Patente de
Invenção e o Modelo de Utilidade por meio dos seus artigos 8º e
9º, respectivamente, onde se pode ler:

[É] patenteável a invenção que atenda aos requisitos de novidade,


atividade inventiva e aplicação industrial.
Art. 9º [é] patenteável como modelo de utilidade o objeto de uso
prático, ou parte deste, suscetível de aplicação industrial, que apresente
nova forma ou disposição, envolvendo ato inventivo, que resulte em
melhoria funcional no seu uso ou em sua fabricação. (BRASIL, 1996,
art. 8º, 9º)

Pelo artigo 8º, pode-se extrair que apenas a invenção que


for nova (não estando, portanto, compreendida no estado da
técnica), possuir atividade inventiva (ou seja, não sendo óbvia
para um técnico no assunto) e que possua aplicação industrial
poderá ser patenteável. Alguns projetos de produto podem ter a
proteção como Patente de Invenção e Desenho Industrial, desde
que preencham os requisitos de cada um dos institutos. Pode-
se afirmar que, nesse caso, a proteção de cada instituto recairá
sobre partes distintas do mesmo objeto/invenção, ou seja,
uma protegerá o efeito técnico e a outra o aspecto ornamental.
Todavia, também cabe relembrar e ressaltar que, caso a forma
seja determinada essencialmente por considerações técnicas ou
funcionais, não há que se falar em proteção por DI.
Para além do disposto no artigo 8º sobre Patentes, há o
contido no artigo 9º, que versa sobre o Modelo de Utilidade.
Diante do contido no citado artigo 9º, afere-se que o que vem
a ser protegido é um objeto – tal qual no Desenho Industrial –

Volume II
328 Desenhos Industriais e suas Especificidades

mas que, no caso do Modelo de Utilidade, esse objeto tem que


possuir um uso prático. Outra diferença entre as duas formas de
proteção revela-se na possibilidade de proteção de partes de um
objeto (“[...] ou parte deste [...]”), o que não ocorre no caso dos
Desenhos Industriais, onde o texto legal fala apenas em objeto,
ou seja, como uma unidade autônoma.
Ademais, extrai-se também da leitura do artigo 9º que o
objeto ou parte deste a ser protegido por Modelo de Utilidade
deve apresentar nova forma ou disposição. Nesse trecho, surge o
requisito de novidade, sendo este similar às Patentes de Invenção,
Modelos de Utilidades e Desenhos Industriais, bem como
surgem as palavras “forma” ou “disposição”, explicitando serem
a nova forma ou a nova disposição os objetos da proteção do
MU. O artigo de lei ainda acrescenta a necessidade de ter-se o ato
inventivo, requisito específico do Modelo de Utilidade, mas que
está em equivalência com a atividade inventiva das Patentes de
Invenção e mesmo com a originalidade dos Desenhos Industriais.
Cada um destes requisitos, pertinentes a cada instituto citado, pode
ser compreendido como aquilo que Barbosa (2009) denomina
“contributo mínimo”.

Tem-se assim, a aproximação não só entre os regimes jurídicos de


proteção de desenhos industriais, como também, no tocante a esse
requisito em especial, [...] outra e significativa aproximação com o
regime da atividade inventiva (ou ato inventivo) próprio às patentes
técnicas. As formas de apuração de diferenças significativas (para usar a
expressão de TRIPS) seguem idênticos procedimentos de objetividade,
comparando-se o regime de desenhos industriais e de patentes, apenas
modificando-se o ponto de diferença, que no caso dos desenhos é a
aparência global. [e acrescentando] [...] um imperativo de contributo
mínimo. (BARBOSA, 2009, p.45, grifo do autor)

Conforme pode ser aferido da leitura do excerto de Barbosa,


este entende que a sociedade deve receber algo pela permissão
concedida à exploração exclusiva de algo derivado do acervo do

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Desenhos Industriais e suas Especificidades 329

conhecimento comum. Essa contrapartida a ser recebida pela


sociedade não pode ser algo banal (BARBOSA, 2009). Há que se
ter uma invenção que modifique o padrão tecnológico vigente, um
objeto que realmente traga um contributo para o seu uso ou uma
forma que, efetivamente, promova diferenciação. Esse contributo
mínimo é indispensável para a concessão desses direitos.
Ainda na comparação entre o instituto da Patente e o dos
Desenhos Industriais, destaca-se que, assim como a proteção dos
DIs afasta a obra de caráter puramente artístico de seu escopo,
no caso das Patentes e dos MU não são passíveis de proteção
obras literárias, arquitetônicas, artísticas e científicas ou qualquer
criação estética, conforme prevê artigo 10º da LPI (BRASIL,
1996). Evita-se, com essas disposições legais, a sobreposição ou
cumulatividade de proteções sobre um mesmo objeto, pois se
a obra é artística, científica, literária ou de cunho estético, ela já
possui sua guarida na proteção conferida pelos Direitos Autorais.
A LPI de 1996 permite proteções concorrentes que recaiam em
partes distintas de um mesmo objeto e não que recaiam sobre as
mesmas partes.
A limitação entre as proteções do Direito Autoral e da
Propriedade Industrial é própria à lógica de cada um desses
sistemas de proteção. Enquanto no Direito Autoral, de acordo
com Cerqueira, resguardam-se mais os interesses do autor, na
obra industrial, o objetivo é o aproveitamento pela coletividade
da utilidade resultante e da manutenção da concorrência leal
(CERQUEIRA, 1982). Portanto, pode-se afirmar que limitar
o que é próprio do Direito de Autor e o que é da Propriedade
Industrial acaba sendo um elemento que aproxima a proteção das
Patentes da proteção dos Desenhos Industriais.
Todavia, a discussão sobre a cumulatividade de proteções
por Patente e por DI sobre uma mesma forma continua sendo
um nó górdio da Propriedade Industrial. Isto porque os prazos

Volume II
330 Desenhos Industriais e suas Especificidades

de proteção são diferentes, conforme já visto. Assim, enquanto


uma Patente terá 20 anos de proteção, a partir do depósito, um
MU terá uma proteção de 15 anos a contar do depósito e um
DI uma proteção de no máximo 25 anos, também, a contar do
depósito. Não se poderia admitir, dessa forma, que, extinta uma
proteção, permanecesse outra a impedir a utilização da forma
pela sociedade. Faz-se, portanto, necessário estabelecer com
clareza sobre quais as partes da forma que recairão na proteção
da Propriedade Industrial, buscando-se, com isso, evitar a
cumulatividade de proteção de mesmos elementos pertencentes
a uma mesma forma por institutos diversos de temporalidades
também diversas.
Dispostas as diferenças entre Patentes e Desenhos
Industriais, bem como acreditando ter-se esclarecido o que pode
ou não ser DI e os requisitos necessários para a concessão da
proteção, faz-se pertinente, agora, a reflexão sobre os benefícios
da proteção ao Desenho Industrial que caminha junta ao
investimento em Design.

Dos Benefícios Advindos da Proteção aos


Desenhos Industriais
Em seguida à concessão do registro de Desenho Industrial,
o titular do direito de Propriedade Industrial tem direito a um
certificado que, no prazo de vigência do direito e respeitadas as
condições de pagamento das retribuições quinquenais (conforme
versa o artigo 107 da LPI), lhe confere exclusividade sobre a forma
ornamental protegida. Não havendo Processo Administrativo de
Nulidade (PAN) incidente sobre o referido título, os efeitos de
direito advindos da proteção vigoram.
Além do efeito legal, há ainda um efeito mercadológico
imediato que deriva da posse desse título. Segundo a publicação

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Desenhos Industriais e suas Especificidades 331

introdutória a respeito da proteção aos Desenhos Industriais


para as Pequenas e Médias Empresas, organizada pelo INPI em
parceria com a Organização Mundial da Propriedade Intelectual
(OMPI) e intitulada “A beleza exterior”, um registro de Desenho
Industrial é capaz de aumentar o valor comercial do produto
vinculado à criação da forma protegida pelo registro (INSTITUTO
NACIONAL DA PROPRIEDADE INDUSTRIAL, 2013, p. 5).
Os investimentos em pesquisa no desenvolvimento e na criação
da forma envolvidos no processo de projeto desse produto são,
portanto, recompensados com o aumento do valor comercial,
bem como com a exclusividade de exploração econômica no
mercado, garantida pelo registro.
Segundo a OMPI, o projeto de produto pode tornar um
produto mais atrativo para os consumidores, podendo a aparência
externa do mesmo ser o fator chave na escolha de compra dos
consumidores (OMPI, 2018).
A posse do registro permite ao titular impedir terceiros de
copiar parcial ou integralmente a forma protegida em seu registro,
impedindo práticas de imitação e atos concorrenciais não leais.
Os artigos 187 e 188 da LPI disciplinam as condutas que podem
ser consideradas criminosas contra os Desenhos Industriais e,
quando comprovado o crime, há pena aplicável prevista em lei.
A pesquisadora em Propriedade Intelectual e designer
australiana Alisson Page usa a metáfora da espada e do escudo
para caracterizar direitos de Propriedade Industrial como são
os Desenhos Industriais: “O escudo protege contra o ataque, a
espada ajuda a lutar por mais negócios” (PAGE, 2012, p. 6).
Outros fatores podem ser ainda elencados quanto aos
benefícios da proteção aos Desenhos Industriais: o fortalecimento
das Marcas e das imagens corporativas das empresas ou
empresários detentores dos direitos de DI e a oportunidade de

Volume II
332 Desenhos Industriais e suas Especificidades

criação, venda e licenciamento dos direitos, uma vez que são


considerados ativos financeiros nos negócios dessas empresas.
Esse fortalecimento das empresas e a ampliação de seus
negócios pode ainda gerar impactos positivos para a economia
nacional. Segundo o Diagnóstico do Design Brasileiro, organizado
pelo Centro Brasil Design (2014), em parceria com o Ministério do
Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MIDC) e com a
Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos
(ApexBrasil), os registros de Propriedade Industrial relativos aos
Desenhos Industriais são fundamentais para assegurar às empresas
a  proteção necessária ao desenvolvimento de inovações.
Ainda de acordo com esse documento, o investimento
em Design é considerado como elo integrador entre a indústria
e o mercado e, por isso, é visto como um fator potencial de
competitividade na agenda estratégica da economia nacional,
uma vez que contribui para a elevação da taxa de exportação na
medida em que desenvolve produtos capazes de oferecer um
nível de qualidade e desempenho percebido como superior:

O design é ainda descrito como um ativo para o desempenho


empresarial que traz contribuições como manutenção e conquista
de mercado, diferenciação de produtos e serviços, novos nichos de
mercado e potenciais consumidores, redução de custos envolvidos com
a produção, preservação ambiental, entre outros aspectos relacionados
à sustentabilidade e inovação. (CENTRO BRASIL DESIGN, 2014,
p.197)

O Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES) organiza


periodicamente a publicação BNDES Setorial contendo textos
sobre diversos aspectos da estrutura produtiva da economia
brasileira. Em 2012, a edição 35 dessa publicação, contendo artigo
intitulado “Design estratégico: inovação, diferenciação, agregação
de valor e competitividade”, elaborado pelos economistas Job
Rodrigues Teixeira Junior, Paulo Fernandes Montano, João Paulo

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Desenhos Industriais e suas Especificidades 333

Martin Faleiros e Hugo Bertha Bastos, evidenciava dados a


respeito do modo como a pesquisa e o investimento em Design
transpareciam na indústria brasileira, em especial em empresas
médias e grandes dos setores têxtil e de confecções, calçadista e
moveleiro.
Teixeira et al. (2012, p. 353) mostram a importância
desses setores, que também são responsáveis por grande parte
dos depósitos de Desenho Industrial no país, para a economia
brasileira. A partir dos dados colhidos pelos autores percebe-
se que, em relação ao comércio exterior, os setores calçadista e
moveleiro são superavitários, gerando exportações na ordem de
bilhões de dólares e, em relação à geração de postos de trabalho,
os três setores juntos se responsabilizavam por cerca de dois
milhões e trezentos postos de trabalhos no Brasil.
Para além desses setores, o investimento em Design
é considerado crucial para a competividade das pequenas e
médias empresas brasileiras. Segundo os autores vinculados
respectivamente ao INPI, à FIOCRUZ e Ministério da Ciência
e Tecnologia, Sérgio Medeiros Paulino de Carvalho, Jorge Ávila,
Cláudia Chamas e Claudenício Ferreira, que se debruçaram sobre
os dados relativos aos pedidos de Desenho Industrial depositados
no INPI por pequenas e médias empresas entre os anos de 2000
e 2004, o Desenho Industrial é considerado um elemento central
para a agregação de valor comercial aos produtos e serviços.
Segundo Carvalho et al. (2006, p.45), a diferenciação do produto
brasileiro pelo Desenho Industrial é “[...] uma alternativa à lógica
de ocupação do mercado internacional pela redução de preço
baseado nas vantagens comparativas estáticas, sempre altamente
vulneráveis às variações cambiais”.
Explanados de forma breve a relevância do Design e o
cuidado com a sua proteção por meio do instituto do Desenho
Industrial, para a competitividade dos operadores do mercado,

Volume II
334 Desenhos Industriais e suas Especificidades

serão apresentados, no tópico seguinte, alguns poucos exemplos


da utilização dessa proteção por parte de agentes brasileiros.

Exemplos de Desenhos Industriais


Além de fazer parte da estratégia de negócios de algumas
empresas ou de ser o negócio principal de indústrias e designers,
o registro de Desenho Industrial faz parte do cotidiano das
pessoas sem que muitas vezes elas se deem conta disso. A ideia
de que há projeto nos artefatos com os quais os indivíduos se
relacionam já está bastante consolidada, e certa consciência
sobre a existência do Design também parece estar bem radicada
na mente dos brasileiros, sobretudo quando equacionada aos
principais domínios do campo: o Design Gráfico e o Design de
Produto.
Contudo, poucos parecem atentar para o fato de como
os registros de Desenho Industrial acabam por moldar as
dinâmicas concorrenciais e comerciais de acesso aos produtos
em distintas localidades e momentos históricos. Tome-se como
exemplo alegórico um objeto que faz parte do dia a dia de muitos
estudantes, professores e escritores, um objeto que de tal maneira
representa a educação que se converte em metonímia visual da
própria ideia de educação: o lápis.
Em maio de 2017, cientistas, designers e programadores
da Google Creative Lab, espécie de laboratório criativo da
gigante tecnológica Google, desenvolveram um experimento
de inteligência artificial, com base em redes neurais, que extraía
dados sobre desenhos rápidos, executados em 20 segundos, por
usuários e colaboradores de toda a world wide web conectada à
plataforma Google de buscas. O experimento, desenvolvido por
Jonas Jongejan, Henry Rowley, Takashi Kawashima, Jongmin Kim,
Nick Fox-Gieg e outros colaboradores da Google Creative Lab,

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Desenhos Industriais e suas Especificidades 335

chamava-se “Rápido, Desenhe”20 e recolheu mais de 50 milhões


de croquis, sumarizando mais de 400 tipos de objetos. Para o
desenho do lápis em específico, 110.000 usuários contribuíram
com desenhos, que exemplificam o imaginário coletivo a respeito
da forma comum de um lápis.
A forma plástica comum do lápis – que muitos conhecem
e rapidamente remetem em seus imaginários – é a de tronco
longilíneo e sextavado (materialmente constituído em madeira
em sua parte externa e grafite na parte interna), com seção
hexagonal, ao qual vem anexada peça cilíndrica (usualmente em
borracha) pequena, circunscrita por lâmina (geralmente metálica)
contenedora. Essa forma, ainda que pareça sempre haver existido,
é o resultado do trabalho e das adaptações posteriores de um
registro de Desenho Industrial – embora nos Estados Unidos, o
termo mais adequado seja Patente de Design – atribuído em 1858
ao industrial norte-americano do ramo de materiais de escritório
Hymen Lipman.

Figura 2 – Patente de H.L. Lipman, US19783A de 30 de março de 1858

Fonte: Google Patents (2018)

20
Para mais informações sobre o experimento, visitar: https://experiments.
withgoogle.com/quick-draw.

Volume II
336 Desenhos Industriais e suas Especificidades

Tudo poderia ser muito diferente se, por exemplo, a história


do lápis tivesse gravitado em torno do registro do porta-grafite
FR0000006333-01, atribuído, em 1919, ao francês E. Stordeur e
intitulado “Le Grapho”,

Figura 3 – Registro de porta-grafite intitulado Le Grapho, publicado


em 3 de março de 1919

Fonte: Institut National de la Proprieté Industrielle (2018b)

O mesmo ocorre com o seguinte objeto: a bola de futebol.


O já citado experimento de inteligência artificial “Rápido,
Desenhe!” recolheu ainda, para o desenho da bola de futebol,
cerca de 120.000 desenhos representando a forma plástica que
melhor expressava, em poucos segundos, o que os usuários do
experimento tinham em mente quando pensavam em bolas de
futebol.
O que muitos usuários tentaram reproduzir era a icônica
bola de futebol de couro, constituída por um padrão gráfico
feito de icosaedros adjacentes e truncados: pentágonos negros
e hexágonos brancos. A bola, que sempre pareceu figurar
no imaginário dos apaixonados por futebol, é na verdade

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Desenhos Industriais e suas Especificidades 337

relativamente recente: sua genealogia patentária aponta para a


década de 1960.
Segundo o historiador de Design norte-americano
Kurt Kohlstedt (2018), a bola icosaédrica teve sua aparição
pública mais significativa na Copa do Mundo da FIFA de
1970, no México, que também foi uma das primeiras Copas a
ser radiodifundida internacionalmente por meio de sistema de
televisão em cores. Graças a essa transição de televisores preto
e branco para televisores a cores, o alto contraste apresentado
pelo padrão gráfico da bola de futebol era bastante benéfico para
captar a atenção do telespectador que assistia em preto e branco a
transmissão das partidas de futebol. Essa bola icosaédrica da Copa
de 1970 era de Propriedade Intelectual da Adidas e se chamava
Telstar, homonimamente ao sistema de comunicação via satélite.

Figura 4 – Registro USD199,535, de 10 de novembro de 1964, um dos primeiros a


mostrar a bola de futebol de icosaedro truncado

Fonte: Google Patents (2018a)

Volume II
338 Desenhos Industriais e suas Especificidades

Antes da Telstar, as bolas de futebol usadas pelas Copas


do Mundo Fifa eram monocromáticas, e seus padrões gráficos
variavam bastante, a exemplo da bola de futebol argentina Tiento,
e a bola T uruguaia, usadas na Copa de 1930. Apesar de um grande
debate sobre a paternidade da bola, alguns apontando o arquiteto
Buckminster Fuller e sua tradução geodésica, outros apontando o
futebolista dinamarquês Eigil Nielsen (ALTER, 2014), o primeiro
registro de Propriedade Intelectual da famosa bola icosaédrica
é atribuído ao futebolista alemão radicado nos Estados Unidos,
Max Doss (Figura 4).
Mais uma vez, as histórias do Design e da Propriedade
Intelectual evidenciam que, ainda na forma mais banalizada de
configuração aplicada a objeto de fabricação industrial, pode
haver importantes projetos e registros de Desenho Industrial.
No Brasil, conscientes da importância dos registros de
Desenho Industrial para o sucesso dos seus negócios, muitas
empresas e designers se valem desse título para proteger suas
criações em território nacional. Os exemplos apontados a seguir
foram extraídos de diferentes Revistas de Propriedade Industrial
– sessão de Desenhos Industriais – publicadas ao longo do mês
de setembro de 2018.
Um exemplo recorrente de depositante nacional desse
tipo de registro é a empresa calçadista fundada originalmente no
Rio Grande do Sul Grendene, responsável pela Marca Melissa.
A RPI 2489, publicada em 18 de setembro de 2018, apresenta
a concessão do registro BR 30 2014 001850-7, de configuração
aplicada em calçado, de titularidade da Grendene S.A. e autoria
do designer Edson Matsuo.

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Desenhos Industriais e suas Especificidades 339

Figura 5 – Registro de Configuração Aplicada em Calçado, BR 30 2014 001850-7

Fonte: Revista de Propriedade Industrial (2018a)

O calçado apresenta três variações configurativas diferentes


e, como poderá ser verificado no sítio da Melissa21, faz parte
da linha One By One da Melissa, que propõe a combinação de
diferentes variações configurativas do calçado, que, por sua vez, é
vendido em separado e pode ser customizado pelos consumidores.
Outro exemplo de empresa que investe na proteção de suas
criações é a Duratex S.A., proprietária da Marca Deca, produtora
de louças e metais sanitários. A RPI 2488, publicada em 11 de
setembro de 2018, apresenta a concessão do registro BR 30
2013 004887-0 (Figura 6), de configuração aplicada em pia para
lavatório, de titularidade da Duratex S.A. e autoria do designer
Felipe De Braga Castro.

21
Disponível em http://2015.melissa.com.br/onebyone/>, Acesso em 26 set.
2018.

Volume II
340 Desenhos Industriais e suas Especificidades

Figura 6 – Registro de Configuração Aplicada em Pia para


Lavatório, BR 30 2013 004887-0

Fonte: Revista de Propriedade Industrial (2018b)

A referida configuração aplicada em pia para lavatório foi


elemento central em diferentes projetos de interiores e mostras
de decoração no país, sendo o registro de Desenho Industrial um
importante fator para a proteção contra cópias e apropriações
indevidas da forma plástica ornamental da citada cuba.
Muitos poderiam ser os exemplos para registros de
Desenhos Industriais concedidos no Brasil capazes de valorizar
o projeto de produto e o Design e de agregar valor comercial à
produção industrial nacional. Os exemplos aqui escolhidos não
exaurem o universo de amostras possíveis. Longe disso, apenas
conformam uma pequena amostragem da importância desse ativo
de Propriedade Industrial que é o registro de Desenho Industrial.

Considerações Finais
O registro de Desenho Industrial revela-se um dos
institutos de Propriedade Industrial de grande relevância na atual
sociedade de mercado. Muito do que vem sendo produzido é
baseado na transformação e no redesenho de objetos conhecidos
do cotidiano de cada um; sem que se tenha a percepção de que
objetos tão familiares podem gozar de uma proteção que garante
a exploração exclusiva da forma por até 25 anos.

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Desenhos Industriais e suas Especificidades 341

Essa proteção garantida permite o retorno ao investimento


dispendido para a realização de um objeto com nova forma. Por
seu turno, esta forma auxilia no processo de diferenciação ocorrido
no mercado, agregando valor à produção do empreendedor que
se destaca por seu investimento em produtos novos e originais.
Apesar dos benefícios que podem ser auferidos com a
exploração exclusiva de uma nova forma, não se verifica um
aumento na procura da proteção de Desenhos Industriais no
Brasil, que se mantém praticamente a mesma há uma década. Tal
constatação é motivo de destaque, pois revela um conhecimento
parcial ou insuficiente por parte do mercado brasileiro sobre os
aspectos de diferenciação pela forma e proteção desta.
Assim, por meio deste capítulo, foi possível destacar a
importância que o investimento em Design possui, acreditando
que tal investimento, para ser relevante para a empresa, tem que
ser apropriado por meio dos institutos de Propriedade Industrial;
o que inclui o registro de Desenho Industrial e a Patente,
principalmente, de Modelo de Utilidade. Acredita-se que a melhor
compreensão de cada uma dessas proteções torna-se essencial
para que novos empreendedores se posicionem no mercado com
vantagens competitivas diante da concorrência.
Sem essa compreensão por parte dos agentes de
mercado, o cenário contrário parece desenhar-se, qual seja: um
baixo aproveitamento dos investimentos em diferenciação e
inovação das formas dos produtos. Em um cenário de crescente
globalização dos mercados, nos quais a competição acirrada
torna-se determinante para os agentes, ignorar a eficácia dos
institutos de Propriedade Industrial pode significar a perda de
posições duramente conquistadas ou mesmo a não conquista de
posições de destaque.
No contexto atual, é possível perceber como as empresas
podem se tornar produtoras de bens físicos, enquanto outras

Volume II
342 Desenhos Industriais e suas Especificidades

produzem, essencialmente, bens intangíveis. Tais bens podem


ser sintetizados, em sua maior parte, em tecnologia, Marca e
Design. Em muitos dos bens físicos que chegam ao mercado, são
os bens intangíveis agregados aos mesmos que permitem preços
diferenciados, com relevante agregação de valor. Não investir na
capacidade de geração de bens intangíveis e na proteção deles
significa ser dependente daqueles que neles investem e obter, por
consequência, receitas bem mais modestas.
Mudar esse panorama de baixa utilização da proteção
ao Desenho Industrial faz-se premente. Torna-se, também, a
mensagem primordial deixada por este texto. Há que se produzir
e discutir mais o Desenho Industrial como um dos institutos de
Propriedade Industrial. Há muito espaço para aprofundamentos,
pesquisas e disseminação do conhecimento acerca dessa
matéria. No Brasil, particularmente, em que algumas iniciativas
em políticas públicas buscam uma identidade brasileira que
diferencie nossos produtos no mundo, comunicando valores
como o de brasilidade, o Design tornar-se parte estratégica do
processo. Todavia, para comunicar nosso diferencial, por meio de
um Design que incorpore nossa identidade, há que se ter cuidado
com a proteção dispensada para o mesmo.

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Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Cultivares – O que São, como se
Apropriar, como Consultar

Flávia Lima do Carmo


Samira Abdallah Hanna
Sivia Beatriz Beger Uchôa
Renata Angeli
Kelly Lissandra Bruch

Resumo: Cultivar é a designação dada a uma determinada forma de uma planta


cultivada, correspondendo a um determinado genótipo e fenótipo que foi selecionado
e recebeu um nome único e devidamente registrado com base nas suas características
produtivas, decorativas ou outras que o tornem interessante para cultivo. Assim, após a
adesão do Brasil à OMC e, por consequência, ao TRIPS, um novo impulso é dado a esta
temática em face da determinação prevista neste acordo de se proteger plantas seja por
meio de patentes seja por meio de um sistema sui generis. O resultado é a Lei n. 9.456,
de 25 de abril de 1997 (Lei de Proteção de Cultivar – LPC). A proteção prevista para
novas cultivares e cultivares essencialmente derivadas tem a duração de 15 anos, como
regra, e 18 para videiras, árvores frutíferas, árvores florestais e árvores ornamentais e
seus porta-enxertos, conforme estabelece o artigo 11 da LPC. A proteção de cultivares,
como nos demais direitos relacionados à propriedade industrial, é territorial, ou seja, é
limitado ao país no qual foi feito o pedido de proteção da cultivar. Esta proteção não
abrange a planta, mas apenas o material de reprodução ou multiplicação vegetativa. Ao
SNPC (MAPA) compete proteger os cultivares no Brasil, sendo ele responsável por
aplicar a Lei n. 9.456, de 1997; fazer a análise de pedidos e conceder os certificados
de proteção e zelar pelo cumprimento dos ordenamentos internacionais. Ele é, de
acordo com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, um serviço no
qual se reconhece a propriedade intelectual sobre uma nova cultivar, resultante de
um trabalho de melhoramento genético vegetal e/ou engenharia genética. Ainda, o
Registro Nacional de Cultivares (RNC), também ligado ao MAPA, tem por finalidade
habilitar previamente cultivares e espécies para a produção e a comercialização de
sementes e mudas no País, independente do grupo a qual pertencem – florestais,
forrageiras, frutíferas, grandes culturas, olerícolas, ornamentais e outros. Uma nova
cultivar representa mais do que um caminho de oportunidades, de negócios e de
investimentos na busca constante das transformações no campo da propriedade
intelectual e do desenvolvimento biotecnológico; constitui valioso instrumento
propulsor do desenvolvimento sustentável, merecendo ser observada como um
mecanismo estratégico de inserção das regiões produtivas, voltadas ao setor agrícola,
proporcionando benefícios diretos e indiretos para toda a sociedade.
350 Cultivares – O que São, como se Apropriar, como Consultar

Abstract: Cultivar is the designation given to a particular form of a cultivated plant,


corresponding to a particular genotype and phenotype that was selected and received
a unique name and properly registered based on its productive, decorative or other
characteristics that make it interesting for cultivation. Thus, after the accession of
Brazil to the WTO and, consequently, to TRIPS, what new impetus is given to this
issue in the face of the determination provided in this agreement to protect plants
either through patents or through a sui generis system. The result is Law n. 9,456, of
April 25, 1997 (Law of Protection of Cultivar – LPC). The protection provided for
new cultivars and essentially derived cultivars has a duration of 15 years, as a rule,
and 18 for vines, fruit trees, forest trees and ornamental trees and their rootstocks, as
established in art. 11 of the LPC. The protection of cultivars, as in other rights related
to industrial property, is territorial, that is, it is limited to the country in which the
application for protection of the cultivar was made. This protection does not cover
the plant as a whole, but only the material of reproduction or vegetative multiplication.
The SNPC (MAPA) is responsible for the protection of cultivars in Brazil, and it is
responsible for applying Law No. 9,456, of 1997; make the analysis of applications
and grant the certificates of protection and ensure compliance with international law.
It is, according to the Ministry of Agriculture, Livestock and Food Supply, a service
where it recognizes the intellectual property of a new cultivar, resulting from a work
of genetic improvement and/genetic engineering. In addition, the National Register
of Cultivars (RNC), also linked to MAPA, has the purpose of previously qualifying
cultivars and species for the production and commercialization of seeds and seedlings
in the country, regardless of the group to which they belong – forest, forage, fruit, large
crops, olive groves, ornamental and others. A new cultivar represents more than a path
of opportunities, business and investment in the constant search for transformations
in the field of intellectual property and biotechnological development; is a valuable tool
for sustainable development, and deserves to be seen as a strategic mechanism for the
insertion of productive regions, oriented to the agricultural sector, providing direct and
indirect benefits for the whole society.

Introdução
Conhecimento e tecnologia são fundamentais para o
crescimento sustentável do agronegócio brasileiro. Os destaques
nessa área são a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
(Embrapa),a Rede Interuniversitária para o Desenvolvimento
do Setor Sucroenergético (RIDESA) e as Instituições Estaduais
de pesquisa que desenvolvem estudos e técnicas agropecuárias e
contribuem para a expansão das agroindústrias.
O melhoramento genético de plantas trouxe um avanço
no setor agrícola por várias razões, como a alta produtividade
das sementes; resistência à pragas e doenças; menor dependência

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Cultivares – O que São, como se Apropriar, como Consultar 351

da sazonalidade; vigor e longevidade das plantas; viabilidade de


produzir na entressafra, entre outras.
Para a obtenção de uma cultivar, há várias etapas como:
caracterização de germoplasma; estudos de variabilidade;
planejamento de cruzamentos; métodos de melhoramento;
seleção das plantas melhoradas, validação em condições
comerciais; produção e comercialização.
Todo esse processo dispende tempo e investimentos,
contudo uma vez pronta, a cultivar é facilmente reproduzida,
daí a necessidade de proteção e registro. A proteção da cultivar
interessa ao agricultor face às qualidades de inovação da cultivar e
diversificação de cultivos; ao produtor de sementes, pela expansão
dos negócios e segurança nos investimentos;ao obtentor, pelo
retorno de seus investimentos nas pesquisas, além do governo,
uma vez que aumenta os investimentos do setor privado na
pesquisa, o que atrai investimentos para o setor agrícola, gera mais
tributos para o próprio governo, é uma estratégia para o sucesso
da agricultura brasileira e, gera uma maior competitividade
brasileira no agronegócio internacional.
As empresas de melhoramento precisam de estímulo
para continuar gerando novos materiais. A proteção de ativos
intangíveis por meio dos Direitos de Propriedade Intelectual
permitem que o titular deste direito(obtentor) e o criador
(melhorista) beneficiem-se da sua própria criação (nova cultivar)
por certo período de tempo.
Como decorrência da adesão do Brasil à Organização
Mundial do Comércio, que implicou entre outros acordos
na assinatura do Acordo sobre Aspectos dos Direitos de
Propriedade Intelectual Relacionados ao Comércio (em inglês:
Agreement on Trade-Related Aspects of Intellectual Property Rights),
doravante denominado TRIPS,o Brasil atualizou sua legislação
vigente relacionada à propriedade intelectual. Sob este aspecto,

Volume II
352 Cultivares – O que São, como se Apropriar, como Consultar

passa a proteger invenções em todos os setores tecnológicos,


conforme determinação do artigo 27 do TRIPS1.Todavia, embora
a regra fosse abrangente, o item 2 do artigo 27 estabelece certas
possibilidades de exclusão de proteção e alternativas, entre as quais
se enquadra a obrigatoriedade à proteção de variedades vegetais
– que são neste texto denominadas cultivares, mas a opção desta
proteção ser por meio de patentes ou por um sistema sui generis.
Assim, o propósito do presente capítulo é abordar a
proteção de cultivares no Brasil, demonstrando sua origem,
abrangência e definições, além das legislações que o regulamentam
no exteriore no Brasil. Apresentaremos também o sistema de
registro nacional de cultivares, suas particularidades e o impacto
deste no desenvolvimento do país.

Definição e Relevância
Cultivar é a designação dada a uma determinada forma
de uma planta cultivada, correspondendo a um determinado
genótipo e fenótipo que foi selecionado e recebeu um nome
único e devidamente registrado com base nas suas características
produtivas, decorativas ou outras que o tornem interessante para
cultivo.
A cultivar deve apresentar em cultura, e manter durante
o processo de propagação, um conjunto único de características

1
Artigo 27 – Matéria Patenteável
1. Sem prejuízo do disposto nos parágrafos 2 e 3 abaixo, qualquer invenção,
de produto ou de processo, em todos os setores tecnológicos, será patenteável,
desde que seja nova, envolva um passo inventivo e seja passível de aplicação
industrial5. Sem prejuízo do disposto no parágrafo 4 do Artigo 65, no parágrafo
8 do Artigo 70 e no parágrafo 3 deste Artigo, as patentes serão disponíveis e
os direitos patentários serão usufruíveis sem discriminação quanto ao local de
invenção, quanto a seu setor tecnológico e quanto ao fato de os bens serem
importados ou produzidos localmente.

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Cultivares – O que São, como se Apropriar, como Consultar 353

que o distingam de maneira suficiente de cultivares semelhantes


da mesma espécie.
O termo foi criado pelo especialista em horticultura Liberty
Hyde Bailey, que o derivou das palavras inglesas “cultivated”
e “variety” (“cultivado” e “variedade”) e do latim: varietas culta,
significando “variedade cultivada” de uma espécie vegetal.
O conceito foi oficialmente adotado no XIII Congresso
de Horticultura, realizado em Londres (1952), com o objetivo de
distinguir as variedades cultivadas das de ocorrência natural.
Dados publicados pela Organização das Nações Unidas
(ONU) mostram que a população mundial deve chegar a 11
bilhões de pessoas em 2100 (ONU, 2017); o que revela um
aumento de 53% em relação a hoje, implicando na necessidade
de incremento de produtividade agrícola frente à limitação de
uso das terras cultiváveis, da água e de demais recursos naturais,
que são finitos. Daí o desafio de aumentar a produtividade de
cultivares, elevar resistência dos cultivos a pragas e doenças, a fim
de tornar mais eficiente o uso de insumos e recursos naturais e
contribuir para o desenvolvimento sustentável.
O potencial genético de uma cultivar é expresso em seu
fenótipo, na lavoura, mediante o ótimo desenvolvimento de mudas
e das sementes. As exigências produtivas da agricultura moderna
requerem a multiplicação e disseminação rápida e eficaz denovas
cultivares, aliadas à manutenção das características diferenciadas
das mesmas. A multiplicação destas se dá mediante pequenas
quantidades que geram volumes em escala comercial. Em regra
um obtentor de uma nova cultivar faz a produção das sementes
ou mudas denominadas “genéticas”. Estas, de maneira geral, são
passadas a produtores parceiros para a produção em uma escala
maior das sementes ou mudas denominadas “básicas”. É a partir
destas que, em regra o obtentor firma contratos com produtores
de sementes e mudas, para que estes produzam a “semente

Volume II
354 Cultivares – O que São, como se Apropriar, como Consultar

certificada da primeira geração” ou “planta certificada”, também


conhecida como C1 para disponibilização ao mercado. Este
mesmo multiplicador pode ter autorização para produzir a C2,
que seria a semente ou muda certificada de segunda geração (Lei
n. 10.711, de 5 de agosto de 2003) A partir daí compreende-se
não ser mais possível a manutenção do potencial genético inicial.
Por isso recomenda-se fortemente a produtores a aquisição de
sementes e mudas certificadas, pois a guarda de sementes para a
próxima safra, por exemplo, embora permitida, pode prejudicar a
expressão ótima dos descritores destas cultivares.
Novas cultivares melhoradas somente se tornarão insumos
agrícolas quando suas sementes e mudas tornam-se disponíveis
aos agricultores e mantiverem seu comportamento diferenciado
no campo. Por outro lado, as utilizações de sementes de qualidade
aliada a práticas de manejo inadequadas podem levar a redução da
expressão genética da cultivar e, consequentemente, ao insucesso
da cultura. Dessa forma, aliar o uso de sementes de alta qualidade
com práticas de manejo adequado trazem uma série de benefícios
que incluem:

a) aumento de produção e produtividade;


b) utilização mais eficiente de fertilizantes, água e demais
agrotóxicos, devido a maior uniformidade de emergência
e vigor das plântulas;
c) menores problemas com plantas daninhas, doenças e
pragas do solo.

A semente é o veículo que leva ao agricultor todo o potencial


genético de uma cultivar com características diferenciadas.
O custo e o tempo requerido para criação e liberação de uma nova
cultivar são grandes. A produção de sementes comerciais é um

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Cultivares – O que São, como se Apropriar, como Consultar 355

dos componentes mais importantes do programa de sementes,


constituindo seu elo central.

A Regulação da Proteção de Produção de


Cultivares no Âmbito Internacional
Para tratar do marco legal brasileiro relacionado à proteção
de cultivares, é fundamental compreender o contexto econômico
e institucional que antecederam essa forma específica de proteção,
pois não se trata de um instituto que nasce no direito brasileiro:
ele é internalizado em face dos acordos internacionais firmados
pelo Brasil.
Assim, esse item primeiramente trata dos antecedentes que
propiciaram esta proteção para depois tratar do marco regulatório
internacional que abarca este ativo intangível.

Antecedentes Econômicos e Institucionais


Nessa seção são elencados os principais fatos relacionados
à história e à economia que contribuíram para a evolução da
regulação da proteção de novas espécies vegetais, em nível
mundial.
A ideia de se proteger novas espécies vegetais causou
durante muito tempo o receio de se elevar demasiadamente o
preço dos alimentos, sendo o motivo para que fosse excluída das
proteções conferidas à propriedade industrial, ainda no século
XIX. Pode-se citar algumas iniciativas para a proteção de novas
espécies vegetais, como o Edito dos Estados Papais (região na
parte central da atual Itália), que concedia o privilégio para quem
descobrisse, encontrasse ou introduzisse uma nova planta em
seus estados, publicado em 1833. Esse Edito não foi colocado

Volume II
356 Cultivares – O que São, como se Apropriar, como Consultar

em prática, mas pode ser considerado um precursor da proteção


de cultivares (UPOV, 1987, p. 60).
Importante ressaltar que quando da discussão da Convenção
União de Paris para a Proteção da Propriedade Industrial (CUP),
firmada em 1883, a proteção de plantas não foi expressamente
abrangida. Isso se repetiu em todas as suas novas versões.
Segundo Bruch (2013), a Convenção, ainda vigente, tem por
objeto material a proteção da propriedade industrial consistente
nas patentes de invenção, modelos de utilidade, desenhos ou
modelos industriais, marca de fábrica ou de comércio, marcas
de serviço, nome comercial, indicações de proveniência ou
denominações de origem e a repressão à concorrência desleal
(Decreto n. 75.572/1975, art. 1, § 2º). As disposições, tanto
materiais quanto formais, referentes a essa proteção se encontram
doartigos 1º ao 12 da CUP. Na CUP, contudo, não há qualquer
menção permitindo ou proibindo a proteção, mediante patentes
de invenção ou outro sistema, de plantas. Vale ressaltar que na
primeira versão dessa Convenção ainda não era conhecida a
engenharia genética, mas em sua revisão de 1967, de Estocolmo,
já se conhecia esta possibilidade e mesmo assim não se fez menção
ao tema. Dessa maneira aos seus Estados-membros possibilitou-
se a opção de proteger ou não proteger este campo tecnológico.
A falta de interesse por esse tipo de proteção pode estar
associada ao pouco desenvolvimento de novas cultivares, aliada
à dificuldade de se descrever suficientemente uma planta. Isso
começou a mudar a partir da necessidade de se obter espécies
vinícolas mais resistentes a uma praga que assolou inicialmente
a França no final do século XIX e da obtenção de diferentes
espécies de frutíferas, como pereiras e macieiras desenvolvidas
na Bélgica e de batatas nos Estados Unidos da América (UPOV,
1987).

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Cultivares – O que São, como se Apropriar, como Consultar 357

Outro fato que pode ser citado como um marco fundamental


para o avanço da proteção de cultivares foi a promulgação do
PlantPatentAct de 1930, nos Estados Unidos da América (EUA),
estabelecendo direitos de patente aos obtentores de novas
variedades de plantas propagadas assexuadamente, com exceção
dos tubérculos.
Na primeira metade do século XX, as duas guerras mundiais
trouxeram um ambiente bastante instável para o comércio
mundial. Em julho de 1944, quase ao final da Segunda Guerra
Mundial, a partir de uma reunião de 730 delegados de 44 países,
que ocorreu em Bretton Woods, foram buscadas alternativas
para que as grandes guerras não voltassem a se repetir. Após a
primeira guerra mundial havia sido criada a Liga das Nações.
Mas esta, por abarcar apenas as tratativas diplomáticas, não foi
suficiente para que a segunda grande guerra acontecesse. Sob esse
aspecto, verificou-se que além das relações diplomáticas, também
era fundamental que se estabelecessem alicerces sólidos para o
comércio internacional, que destes tempos remotos tem sido um
grande promotor da paz entre os povos.
Segundo Barreto (2009), “O objetivo era urgente:
reconstruir o capitalismo mundial, a partir de um sistema de regras
que regulasse a política econômica internacional”. A Conferência
de Bretton Woods decidiu pela criação de instituições e normas
com o intuito de gerir a economia mundial, reduzindo tensões e
impulsionando o comércio e o desenvolvimento. Para tanto, entre
outros compromissos e iniciativas, foram criadas instituições
multilaterais que teriam como objetivo acompanhar esse novo
sistema financeiro, garantir liquidez. na economia, a promoção
do comércio internacional: o Fundo Monetário Internacional
(FMI) e um banco, que ficaria responsável pela reconstrução
dos países atingidos, o Banco Internacional para a Reconstrução
e o Desenvolvimento (BIRD), além de uma Organização

Volume II
358 Cultivares – O que São, como se Apropriar, como Consultar

Internacional do Comércio (OIC). Embora os dois primeiros


tenham se estabelecido e implementado o papel a eles conferido,
a OIC não foi institucionalizada em face da retirada, de última
hora, do apoio do governo americano.
Assim, os pilares financeiro e econômico foram
estabelecidos, mas o pilar que garantisse o comércio internacional
teve que ser substituído por um o Acordo Geral sobre Tarifas
e Comércio (em inglês, General Agreement on Tariffs and Trade)
doravante GATT. O objetivo desse acordo multilateral – que veio
a substituir a ambiciosa proposição da OIC, foi abolir restrições
quantitativas no comércio, estabelecer a cláusula da nação mais
favorecida e reduzir barreiras tarifárias. Esta foi sendo atualizada
por meio de rodadas de negociação, até que em 1984, na
denominada Rodada Uruguai, lançou-se o propósito ambicioso
de retomar a ideia da OIC. Em face desta, depois de dez. anos
de negociações, em dezembro de 1994 é firmado o Acordo de
Marraqueche, que cria a Organização Mundial do Comércio
(OMC), da qual se trata na sequencia.
Nesse mesmo período reestruturou-se o BIRPI2 para
atender às novas necessidades e transformações ocorridas na
ordem mundial. A solução apresentada, através da Convenção de
Estocolmo, de 14 de julho de 1967, foi a criação da Organização
Mundial da Propriedade Intelectual (WIPO, em inglês), com
sede em Genebra e com status de organismo especializado da
Organização das Nações Unidas (ONU). Todavia, mais uma vez
nenhuma menção expressa é feita à proteção de plantas.
Concomitantemente, foi criada em 1945, a Organização
das Nações Unidas (ONU), que – vindo a substituir a Liga das

2
Em 1892, o escritório que geria a Convenção União de Paris e o escritório
que geria a Convenção União de Berna, que trata da proteção dos direitos
autorais, os quais foram reunidos, criando o Bureaux Internationaux Reunis
Pour la Protection de la Propriété Intellectuelle (BIRPI), com finalidade de
gerir aqueles.

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Cultivares – O que São, como se Apropriar, como Consultar 359

Nações em termos diplomáticos, foi instituída com o propósito


de ser um pilar para a organização da base politica de ordem
internacional (VIANA, 2011). Seu marco fundamental é a
Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948.
A União para a Proteção de Espécies Vegetais (UPOV)
cita como marco fundamental para a proteção de cultivares o
artigo 27(2) da Declaração Universal dos Direitos Humanos, de
1948, que traz o reconhecimento dos direitos de propriedade
intelectual, nos quais está inserido: “Todo ser humano tem
direito à proteção dos interesses morais e materiais decorrentes
de qualquer produção científica literária ou artística da qual seja
autor” (UPOV, 1987 p. 53-54). Considera ainda que a proteção de
cultivares seria, sob a perspectiva histórica, um desdobramento
da legislação referente à propriedade industrial, em especial a
referente às patentes. Isso tudo, todavia, embora seja um marco
para sua proteção e reconhecimento com direito humano, já vinha
sendo previsto desde a CUP de 1883 e a Convenção de Berna de
1886, sem qualquer menção expressa plantas. Assim, enquanto as
patentes já se encontravam em estado avançado, sendo protegidas
e implementadas em diversos países, a proteção de novas espécies
vegetais ainda encontrava barreiras ou não despertava suficiente
interesse para que se promovesse uma regulação internacional.
Assim, essa omissão nos âmbitos dos acordos internacionais
e a não uniformidade de tratamento à proteção de cultivares no
direito interno de diversos países, levou a necessidade de ser
estabelecido um sistema reconhecido em nível mundial, de forma
a garantir os direitos dos melhoristas. Para exemplificar, além dos
EUA, outros países defendiam a proteção de plantas por patentes:
Dinamarca, França e Itália; a Alemanha defendia a proteção por
patentes para novas variedades absolutas e proteção especial para
novas variedades ordinárias; há ainda os países que defendiam

Volume II
360 Cultivares – O que São, como se Apropriar, como Consultar

um sistema de proteção específico como: Luxemburgo, Holanda,


Reino Unido e Suíça (UPOV, 1987, p. 78).
Um movimento capitaneado pela Associação Internacional
para a Proteção da Propriedade Intelectual – International
Association for the Protection of Intellectual Property (IAPPI) - e
pela Associação Internacional dos Profissionais Melhoristas
– International Association of the Professional Plant Breeders –
resultou na Conferência da UPOV em Paris, em 1961, com a
criação da União Internacional para a Proteção das Obtenções
Vegetais (UPOV, sigla em francês para Union Internacionale
pourlaProtectiondesObtentionsVegetales) (UPOV, 1987). A conferência
realizada em Paris, em 1961, é denominada de Conferência da
UPOV, para não haver conflito com a Conferência de Paris para
a proteção da Propriedade Industrial, de 1883. A UPOV não teve
tanto sucesso inicialmente, atraindo apenas 12 países até 1980
(UPOV, 1987, p. 89).
No período após reconstrução da Segunda Guerra,
surgiriam novas indústrias e tecnologias que exigiam uma
ampliação no mercado e também a definição de regras para que
fossem facilitadas as trocas comerciais. O GATT que deveria ter
tido um caráter provisório, no entanto, continuou vigorando. Em
1986, na rodada do Uruguai deu-se inicio a uma ampla revisão
do acordo – conforme já mencionado, tratando inclusive sobre
a introdução de regras sobre propriedade intelectual e comércio
de serviços. Após sete rodadas de negociação sobre as tarifas,
somente em 1994, foi criada a Organização Mundial do Comércio
(OMC) e em sua ata final foi estabelecido o Acordo sobre os
Aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual relacionados ao
Comércio (ADPIC), conhecido pela sua sigla na língua de origem
como TRIPS de Trade Related Intelectual Property Rights.

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Cultivares – O que São, como se Apropriar, como Consultar 361

Importante ressaltar que além do TRIPS, outros acordos


foram firmados no âmbito da OMC em um sistema denominado
“single under take”, que significava que não havia a possibilidade
de se firmar apenas um dos acordos ou mudar cláusulas destes:
ou se aceitava tudo ou não era possível aderir à OMC.
O TRIPS teve como objetivo servir de estímulo à inovação
e ao desenvolvimento tecnológico, abrangendo as diversas formas
de propriedade intelectual (VIANA, 2011) e é fundamental para
a disseminação da proteção da propriedade intelectual em todos
os países membros da OMC – hoje em número de 159. Também
é o TRIPS, conforme já mencionado, que obriga todos os países
aderentes a proteger invenções em todos os campos tecnológicos.
Ou seja, é por meio deste que também a proteção de plantas é
tornada obrigatória em esfera global, por meio do disposto no
artigo 27.2 e 27.3:

2. Os Membros podem considerar como não patenteáveis invenções


cuja exploração em seu território seja necessária evitar para proteger
a ordem pública ou a moralidade, inclusive para proteger a vida ou
a saúde humana, animal ou vegetal ou para evitar sérios prejuízos ao
meio ambiente, desde que esta determinação não seja feita apenas por
que a exploração é proibida por sua legislação.
3. Os Membros também podem considerar como não patenteáveis:
[...](b) plantas e animais, exceto micro-organismos e processos
essencialmente biológicos para a produção de plantas ou animais,
excetuando-se os processos não-biológicos e microbiológicos.
Não obstante, os Membros concederão proteção a variedades vegetais,
seja por meio de patentes, seja por meio de um sistema sui generis eficaz,
seja por uma combinação de ambos. O disposto neste subparágrafo será
revisto quatro anos após a entrada em vigor do Acordo Constitutivo da
OMC. (BRASIL, 1994, art. 27.2 e 27.3)

Volume II
362 Cultivares – O que São, como se Apropriar, como Consultar

Assim, o acordo procurou considerar as diversas formas que


os legisladores de diferentes países poderiam dar à sua legislação
específica.As diversas possibilidades de proteção procuraram
contemplar o que já era posto em algumas legislações nacionais,
por exemplo, a lei conhecida como Plant Patent Act nos Estados
Unidos da América, e outras iniciativas, como na Alemanha e na
Holanda, na primeira metade do século XX.
Também é esse dispositivo que passa a jogar luzes sobre a
UPOV, conforme se verá no próximo item, ao permitir que esta
se estabelecesse no cenário mundial como a forma de apresentar
alternativas para a proteção de plantas tanto na UPOV 1978
quanto na UPVO 1991.

União Internacional para Proteção das Obtenções


Vegetais (UPOV)
A UPOV foi criada com a missão de “fornecer e promover
um sistema efetivo de proteção de variedades vegetais, com vistas
a encorajar o desenvolvimento de novas variedades de plantas
para o benefício da sociedade” (AVIANI; MACHADO, 2011).
Sua sede fica em Genebra, Suíça, e, no ano de 2018, contava com
75 membros, em um total de 94 países, conforme mostrado na
Figura 1.
A relação da UPOV com a Organização Mundial da
Propriedade Intelectual OMPI é muito próxima, havendo
cooperação técnica e administrativa entre ambas, sendo o
secretário geral da UPOV o próprio diretor geral da OMPI.

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Cultivares – O que São, como se Apropriar, como Consultar 363

Figura 1 – Estados membros da UPOV (em verde), em contato com a UPOV


(amarelo) e iniciando o processo de adesão (vermelho)

Fonte: UPOV (2018)

O instrumento original, que estabeleceu a Convenção


Internacional para Proteção das Novas Obtenções Vegetais e
criou a UPOV, foi assinado em 2 de dezembro de 1961 pelos
países: Bélgica, França, Alemanha, Itália e Holanda, então,em
1962 foi assinado pelo Reino Unido, Dinamarca e Suíça. A entrada
em vigor foi no ano de 1968.De acordo com UPOV (1987, p. 89),
o documento da Convenção deveria ser revisto periodicamente,
a cada 5 anos. Assim, a primeira revisão ocorreu em 1972.
Outras revisões foram realizadas,resultando nos chamados atos
adicionais: em 1978 e 1991.
O seu objetivo é proteger o direito de propriedade
industrial de novas cultivares de plantas, e sua missão é fomentar
um sistema eficaz para a proteção das espécies vegetais, com a
finalidade de promover o desenvolvimento de novas cultivares
para o benefício de toda a sociedade (UPOV, 2005).

Volume II
364 Cultivares – O que São, como se Apropriar, como Consultar

UPOV Atos de 1978 e 1991: principais diferenças


Segundo Bruch (2013),atualmente se encontram vigentes
os dois tratados: Ata de 1978 da UPOV (UPOV/1978); e a
Ata de 1991 da UPOV (UPOV/1991). Houve possibilidade,
até a promulgação da UPOV/1991, dos países membros da
UPOV permanecerem no âmbito da UPOV/1978 ou optarem
pela UPOV/1991. A UPOV/1978 traz proteções mais brandas
para novas cultivares e a proibição da dupla proteção, ou seja,
uma proteção por patente e outra, concomitante, mediante um
sistema sui generis, que pode ser compreendida no Brasil como
a proteção de cultivar. O UPOV/1991 traz proteções mais
rígidas e a possibilidade da dupla proteção. A maioria dos países
em desenvolvimento, entre eles o Brasil, são signatários do
UPOV/1978. Já a maioria dos países desenvolvidos, entre eles
os EUA, são signatários do UPOV/1991 (UPOV, 2005). Uma
análise comparativa destas atas é feita no Quadro 1.

Quadro 1 – Dispositivos e principais diferenças entre os Atos de 1978 e 1991

Dispositivo Ato 1978 Ato 1991


Possibilidade de proteção de
todos os gêneros e espécies
Obrigatoriedade
Espécies vegetais. Obrigatoriedade gradual
de proteção de
vegetais de proteção de cinco gêneros ou
todos os gêneros
abrangidas pela espécies na entrada em vigor da
e espécies
proteção. Convenção e um mínimo de 24
vegetais.
gêneros ou espécies após oito anos
da entrada em vigor.
Partes Qualquer material
protegidas da Material de propagação. oriundo da
cultivar. cultivar.

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Cultivares – O que São, como se Apropriar, como Consultar 365

Dispositivo Ato 1978 Ato 1991


Produção ou
reprodução;
armazenamento
para fins de
reprodução;
Produção para comercialização
Direitos sobre oferta; venda
de material propagativo; ofertar;
o material ou outro tipo
vender; uso repetitivo para
propagativo. de comércio;
produção de outra cultivar.
exportação;
importação ou
armazenamento
para essas
finalidades.
Os mesmos
do material
propagativo, no
Não há, exceto para plantas
Direitos sobre caso da cultivar
ornamentais utilizadas para
o produto da ter sido utilizada
propagação com finalidade
colheita. sem autorização
comercial.
do detentor
do direito de
proteção
A comercialização
de cultivar
essencialmente
derivada de
Cultivar
cultivar protegida
Essencialmente Não prevista.
requer autorização
Derivada.
do detentor
dos direitos de
proteção sobre a
cultivar inicial.

Volume II
366 Cultivares – O que São, como se Apropriar, como Consultar

Dispositivo Ato 1978 Ato 1991


Permitido desde
que dentro
de limites
Não previsto (implícito na estabelecidos
Privilégio do
definição de minimum exclusive e preservado o
Agricultor.
rights). legítimo interesse
do detentor
do direito de
proteção.
25 anos para
15 anos para espécies em geral e espécies arbóreas
Período mínimo
18 anos para espécies arbóreas e e videiras; 20 anos
de proteção.
videiras. para as demais
espécies.
Fonte: Adaptado de Aviani e Machado (2011) e Bruch (2006)

Uma das principais modificações trazidas na Convenção


da UPOV e contida no Ato de 1991 estende a proteção a todos
as espécies do reino vegetal. Outra mudança significativa faculta
aos países que a ratificarem a estenderem o direito do obtentor
até qualquer material oriundo da cultivar, estendendo ao produto
da colheita comercial, por exemplo, grãos que podem ser usados
para consumo ou pela indústria e seus derivados. Pela Ata de
1978, não havia o direito do obtentor sobre o produto da colheita,
somente sobre o material propagativo, isto é, somente alcançava
o produtor de sementes, ou o agricultor que tentasse vender o seu
material como material de plantio.
Atualmente estão em vigor os atos de 1978 e de 1991,
os quais mostram semelhanças quanto a alguns princípios para
a proteção, como: novidade, distinguibilidade, homoneneidade,
estabilidade e denominação própria, além da chamada isenção
do melhorista, que permite a qualquer pesquisador utilizar

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Cultivares – O que São, como se Apropriar, como Consultar 367

uma cultivar protegida para fins de pesquisa ou como fonte de


melhoramento genético (AVIANI; MACHADO, 2011).
O Brasil adotou alguns dispositivos presentes no Ato de
1991 na Lei de Proteção de Cultivares (LPC), como é conhecida
a legislação referente à proteção de novas espécies vegetais,
especialmente a definição de Cultivar Essencialmente Derivada.
Ao aderir a UPOV, o país signatário se compromete com
a reciprocidade, ou seja, a reconhecer e proteger cultivares
protegidas em outros países membros, facilitando a realização
de pesquisas de melhoramento vegetal por meiode intercambio
de espécies. Também promove a harmonização de conceitos,
documentos técnicos, procedimentos administrativos além de
viabilizar cooperações técnicas.
Uma das principais modificações trazidas na Convenção
da UPOV e contida no Ato de 1991 estende a proteção a todos
as espécies do reino vegetal. Outra mudança significativa faculta
aos países que a ratificarem a estenderem o direito do obtentor
até qualquer material oriundo da cultivar, estendendo ao produto
da colheita comercial, por exemplo, grãos que podem ser usados
para consumo ou pela indústria e seus derivados. Pela Ata de
1978, não havia o direito do obtentor sobre o produto da colheita,
somente sobre o material propagativo, isto é, somente alcançava
o produtor de sementes, ou o agricultor que tentasse vender o seu
material como material de plantio.
Para Bruch (2013), ambas as Atas apresentam uma série de
limites à proteção da propriedade de cultivares. Embora em graus
diferenciados, os principais limites são: Exceptions to the Breeder’s
Right, Farm’s Right, o princípio do esgotamento de direitos e a
licença compulsória por abuso de direito e por interesse público.
Conforme traz o Exceptions to the Breeder’s Right (exceção do
direito de melhorista), o direito do melhorista não se estende a
atos realizados de forma privada e com propósitos não comerciais,

Volume II
368 Cultivares – O que São, como se Apropriar, como Consultar

atos realizados para experimentação e atos realizados para criar


outras cultivares.
Segundo Farm’s Right (direito do agricultor), o Estado-
membro da UPOV também pode, com limites razoáveis e
respeitando os interesses legítimos do melhorista, restringir os
direitos do melhorista em relação para qualquer nova cultivar,
para permitir que os produtores rurais usem, com o fim de
propagação e em suas próprias propriedades, as sementes que
eles mesmos tenham colhido, mediante o plantio das cultivares
protegidas em suas próprias propriedades.
De acordo com o princípio do esgotamento de direitos,
o melhorista não pode interferir na utilização do material que,
com seu consentimento, tenha sido vendido ou enviado a outro
mercado. Contudo, ele pode interferir se a utilização envolva
propagação da cultivar ou exportação de material da cultivar
que possa ser propagado para um país que não proteja cultivares
de plantas, exceto se ele for exportado para consumo final. Em
algumas situações pode o Estado-membro estabelecer um direito
mais amplo referente a certos gêneros ou espécies alterando o
momento em que se esgotam os direitos do melhorista para até,
inclusive, o produto comercializado.
Na licença compulsória por abuso de direito e por interesse
público, há possibilidade de o Estado-membro autorizar a uma
terceira parte a propagação da cultivar, mediante uma justa
remuneração.
Destaca-se que tanto dispositivos previstos na Ata de 1978
quanto na Ata de 1991 foram trazidos para a legislação brasileira,
apesar da adesão forma à ATA 1978. Entre eles pode-se destacar
o privilégio do agricultor, as cultivares essencialmente derivadas,
entre outras.
A recepção brasileira e o marco legal que regulamenta a
proteção de cultivares é objeto do próximo item.

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Cultivares – O que São, como se Apropriar, como Consultar 369

Bases Legais e Critérios para a Obtenção da


Proteção da Cultivar (PC) no Brasil
Refletindo o panorama internacional, também é recente a
regulação brasileira referente à proteção de cultivares. A primeira
lei que trata do tema é Código de Propriedade Industrial, instituído
pelo Decreto-Lei n.7.903, de 27 de agosto de 1945 (BRASIL,
1945) Neste, fica estabelecido em seu artigo 3º, que “A proteção
da propriedade industrial se efetua mediante: a) a concessão
de privilégio de: patentes de invenção, modelos de utilidade
desenhos ou modelos industriais, variedades novas de plantas”.
A esta fica acrescido que “Art. 219. A proteção das variedades novas
de plantas, prevista no art. 3º alinea a, dêste Código, dependerá
de regulamentação especial”. Infelizmente, a regulamentação
determinada em seu artigo 219 nunca foi realizada.
Assim, somenteapós a adesão do Brasil à OMC e, por
consequência, ao TRIPS, que novo impulso é dado a essa temática
em face da determinação prevista neste acordo de se proteger
plantas seja por meio de patentes seja por meio de um sistema
sui generis.
Em face dessa determinação, iniciou-se o trabalho de ela-
boração de uma Lei de Proteção de Cultivares que atendesse ao
Brasil. O resultado é a Lei n. 9.456, de 25 de abril de 1997. Con-
forme será demonstrado, sua composição é uma junção de dispo-
sições da UPOV/1978 e da UPOV/1991, embora claramente o
Brasil tenha aderido à Ata de 1978, por meio do Decreto n. 3.109,
de 30 de junho de 1999, o qual Promulga a Convenção interna-
cional para a Proteção das Obtenções Vegetais, de 2 de dezembro
de 1961, revista em Genebra, em 10 de novembro de 1972 e 23
de outubro de 1978.
Essa lei se propõe a proteger uma nova obtenção vegetal,
que seja distinguível de outros cultivares e espécies vegetais por

Volume II
370 Cultivares – O que São, como se Apropriar, como Consultar

um conjunto mínimo de características morfológicas, fisiológicas,


bioquímicas ou moleculares, herdadas geneticamente. Essas
características, denominadas descritores, devem se mostrar
homogêneas e estáveis por sucessivas gerações (LOUREIRO,
1999, p. 39).
Portanto, é com base na Lei n. 9.456/1997, doravante LPC,
que se analisa a regulação desta temática no Brasil. Ressalta-se,
preliminarmente, que há premente discussão sobre a possiblidade
de se aplicar a Lei n. 9.279, de 14 de maio de 1996, também
conhecida como Lei de Propriedade Industrial (LPI) à proteção
de cultivares. Destaca-se que, embora a LPI trata da proteção
de microorganismos, desde que transgênicos, há clareza na
proibição da de conferir patentes ao todo ou parte de seres vivos,
compreendido nestas plantas (reino: plantae) e animais (reino:
animalia), conforme dispõe o artigo 18, III, da LPI. Também
não são consideradas invenções “[...]o todo ou parte de seres
vivos naturais e materiais biológicos encontrados na natureza, ou
ainda que dela isolados, inclusive o genoma ou germoplasma de
qualquer ser vivo natural e os processos biológicos naturais [...]”,
conforme dispõe o artigo 10, IX, da LPI. Assim, o foto deste
trabalho será a LPC. Uma maior discussão sobre esta intersecção
de proteções pode ser vista em Bruch, Vieira e Dewes (2015).
Conforme já ressaltado, também não se deve confundir a
proteção jurídica de cultivares com o registro de cultivares, cujo
propósito já foi explicitado e cuja regulação se dá pela Lei n.
10.711, de 5 de agosto de 2003, também conhecida como Lei de
Sementes e Mudas.
Assim, o foco deste item será analisar o disposto na Lei de
Cultivares.

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Cultivares – O que São, como se Apropriar, como Consultar 371

Proteção de Cultivares: conceitos e definições


legais
No ordenamento jurídico brasileiro, uma cultivar é definida
com base nos seguintes requisitos, apregoado por Brasil (1997,
art. 3º, IV):

• constituir-se em uma variedade de qualquer gênero ou


espécie vegetal superior;
• ser distinguível de outras cultivares conhecidas por
margem mínima de descritores;
• ter uma denominação própria;
• ser homogênea, apresentando variabilidade mínima quanto
aos descritores que a identifiquem em escala comercial;
• demonstrar-se estável quanto aos descritores, ao longo de
sucessivas gerações;
• consistir em uma espécie passível de uso pelo complexo
agroflorestal ou de uma linhagem componente de híbridos.

Considerando-se que essa é a definição de uma cultivar, a


nova cultivar tem como base de sua definição o critério temporal.
Ou seja, a cultivar, para ser considerada nova e, portanto, passível
de proteção, além de apresentar os requisitos supramencionados,
distingue-se – e esse é o caráter de novidade que a lei pode conferir
a uma cultivar – por não ter sido oferecida à venda, no Brasil, há
mais de 12 meses em relação à data do pedido de proteção e, em
outros países, com o consentimento do obtentor, há mais de seis
anos para espécies de árvores e videiras ou há mais de quatro
anos para as demais espécies (BRUCH et al., 2015).
Portanto, diferentemente do critério utilizado para patentes
de invenção, nos quais se busca novidade técnica, atividade
inventiva, novas funcionalidades, etc., o critério de análise e

Volume II
372 Cultivares – O que São, como se Apropriar, como Consultar

concessão de uma nova cultivar é sua novidade temporal, que


se expressa não no sentido compreendido como algo novo em
termos absolutos – como o é no caso de patentes – mas sim
algo que não tenha sido comercializado durante um determinado
período temporal.
Além da nova cultivar, a LPC também traz a possibilidade
de proteção de cultivares essencialmente derivadas, cuja previsão
se encontra na Ata UPOV de 1991.
Assim, a cultivar essencialmente derivada (CED), além
de observar a novidade temporal, será uma cultivar derivada
da cultivar inicial ou de outra cultivar essencialmente derivada.
Todavia, esta não poderá perder a expressão das características
essenciais que resultem do genótipo ou da combinação de
genótipos da cultivar da qual derivou, exceto no que diz respeito
às diferenças resultantes da derivação da cultivar da qual derivou,
por margem mínima de descritores (BRASIL, 1997, art. 3º, IX).
Sem esta previsão legal, qualquer empresa de biotecnologia
poderia, por exemplo, agregar resistência à herbicida em uma
cultivar protegida, proteger a nova cultivar e comercializá-la sem
que o obtentor da cultivar que foi utilizada inicialmente fosse
recompensado. Assim, as CED podem ser obtidas, entre outros,
por: seleção de um mutante natural ou induzido, ou de uma
variação somaclonal (mas nem todas as mutações são consideradas
como CED); seleção de um indivíduo variante escolhido entre as
plantas da cultivar inicial; retrocruzamentos ou transformações
efetuadas por meio de engenharia genética.
Feitos estes esclarecimentos, estabelece o artigo 4° da
LPC que “[...] é passível de proteção a nova cultivar ou a cultivar
essencialmente derivada, de qualquer gênero ou espécie vegetal.”
(BRASIL, 1997, art. 4º, grifo nosso)
Assim, para que uma cultivar seja passível de proteção,
primeiramente ela precisa ser considerada uma cultivar, o que

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Cultivares – O que São, como se Apropriar, como Consultar 373

implica atender aos requisitos de distinguibilidade, homogeneidade,


estabilidade e ser compreendida entre as espécies já descritas e de
uso pelo complexo agroflorestal.
Uma cultivar é considerada distinta quando “[...] se distingue
claramente de qualquer outra cuja existência na data do pedido
de proteção seja reconhecida” (BRASIL, 1997, art. 3°, VI). Já a
cultivar é considerada homogênea quando “[...] utilizada em plantio,
em escala comercial, apresente variabilidade mínima quanto aos
descritores que a identifiquem.” (BRASIL, 1997, art. 3°, VII). E
será considerada estável a cultivar que “[...] reproduzida em escala
comercial, mantenha a sua homogeneidade através de gerações
sucessivas.” (BRASIL, 1997, art. 3°, VIII).
Além disso, a cultivar deverá possuir uma denominação
própria, a qual deve ser única, não podendo esta ser referida de
outra forma. Esta denominação não pode se constituir apenas de
forma numérica, devendo ser diferente da denominação de uma
cultivar preexistente e não podendo a sua denominação induzir a
erro quanto às características intrínsecas ou quando à procedência
geográfica ou comercial da cultivar (BRASIL, 1997, art. 15).
Ressalta-se, inclusive, que a denominação de uma cultivar não é
passível de proteção no âmbito do direito marcário, conforme
dispõe o artigo 4º do Decreto n. 2.366, de 5 de novembro de
1997, que regulamenta a LPC (SCHLITTLER, 2014).
Por fim, a referida cultivar deverá ser nova, o que significa
que ela não pode ter sido oferecida à venda no Brasil há mais de
12 meses em relação à data do pedido de proteção e em outros
países, com o consentimento do obtentor, há mais de seis anos
para espécies de árvores e videiras ou há mais de quatro anos para
as demais espécies.
Para Oliveira (2011a, p. 117), deve ser ressaltado que “[...]
o quesito novidadenão tem relação alguma com a atividade

Volume II
374 Cultivares – O que São, como se Apropriar, como Consultar

inventiva, como faz crer à primeira vista”. Sob a ótica da LPC, o


atributo de novidade diz respeito ao tempo de comercialização.
Por outro lado, os descritores utilizados para expressar a
distinguibilidade da cultivar se referem às variações atribuíveis
às características morfológica, fisiológica, bioquímica ou
molecular da espécie, e que sejam herdadas geneticamente
(BRASIL, 1997, art. 3°, II). Portanto, a distinguibilidade não se
trata especificamente da proteção de cultivares melhores do que
aqueles já existentes, mas sim de cultivares diferentes daquelas já
existentes. Para cada espécie há um conjunto de características,
ou descritores, previamente descritos. É entre estes que o titular
do direito deverá optar quando fizer a solicitação do pedido de
proteção.
Assim, para que se compreenda como se verifica se
uma cultivar é nova em relação às cultivares já existentes, é
fundamental haver critérios que auxiliem na realização do teste
que é utilizado para verificar essa diferenciação, denominado de
teste DHE. O teste, basicamente, visa a aferir a distinguibilidade,
homogeneidade e estabilidade de uma cultivar. A distinguibilidade
se é verificada por meio de uma tabela de descritores – tendo
sido criada uma tabela para cada espécie de planta, e que contém
descritores referentes à ordem botânica de desenvolvimento da
planta: a) sementes (para as características a serem analisadas
antes do plantio); b)  plântula; c)  planta inteira (por exemplo,
hábito de crescimento); d)  raiz; e)  sistema radicular ou outros
órgãos subterrâneos; f)  caule; g)  folhas (lâmina foliar, pecíolo,
estípulas); h) inflorescência; i) flor (cálice, sépala, corola,
pétala, estames, pistilo); j) fruto; k) grãos (características a serem
examinadas dos grãos colhidos no ensaio de campo). Em cada uma
dessas fases,segundo a espécie, são estabelecidas características
que deverão ser identificadas. Esta é a base para se identificar se

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Cultivares – O que São, como se Apropriar, como Consultar 375

efetivamente há e é uma nova cultivar: sua distinguibilidade com


relação às cultivares já existentes (BRUCH et al., 2015).
Todavia, não apenas descritores morfológicos podem
ser usados. Características como a resistência a uma condição
adversa, a uma doença ou mesmo a um agroquímico pode ser
considerado um descritor (LOVATO, 2011).
Outra questão bastante controversa, ainda no âmbito das
características de uma cultivar, trata-se do uso de marcadores
moleculares para sua proteção. Hoje, segundo Aviani e Santos
(2011, p. 156):

As técnicas moleculares vêm sendo utilizadas no âmbito da proteção


de cultivares como ferramentas auxiliares nas análises dos processos –
por exemplo, na comprovação da origem genética da cultivar (teste de
paternidade), na identificação de cultivares em casos de uso indevido
e em atividades de fiscalização. [...]Ainda que não tenham caráter
decisivo, os perfis genéticos (“fingerprinting”) de cultivares, obtidos por
meio de marcadores, podem ser anexados ao pedido de proteção pelos
obtentores para fins de caracterização de cultivares. [...]Caso as diferenças
entre os DNAs de cultivares não sejam relacionadas a uma expressão
fenotípica, a técnica molecular é empregada complementarmente às
análises efetuadas, na maioria dos casos, para planejamento de testes
comparativos entre cultivares. Assim, a cultivar candidata à proteção
será considerada, de fato, distinta quando os descritores morfológicos,
fisiológicos ou bioquímicos usualmente empregados forem suficientes para
diferenciá-la das demais conhecidas.

Dessa forma, os marcadores moleculares servem mais


como subsídio para a identificação das cultivares do que para
efetivamente realizar a sua distinção, posto que, ao final, a
proteção conferida está atrelada à expressão fenotípica que é
dada pelos descritores morfológicos, fisiológicos ou bioquímicos.
O que se protege por meio do instituto da proteção de cultivares
é a expressão, e não a genética de uma planta.

Volume II
376 Cultivares – O que São, como se Apropriar, como Consultar

Para Aviani (2011, p. 40, grifos do autor):

A ênfase dada a características tem uma razão prática: é por meio de


um conjunto predefinido de características que a cultivar pode ser
inicialmente descrita (por isso, o nome descritor é utilizado como sinônimo
de característica), permitindo determinar quais delas diferenciam a
nova cultivar de outras variedades conhecidas.

Nesse sentido, é interessante a afirmação da autora quando


aponta que “[...] o direito de propriedade sobre uma cultivar só
pode ser exercido pelo titular a partir do momento em que ele
pode identificar essa cultivar [...]”, portanto, é esse conjunto de
descritores, que distinguem a cultivar, que garantirão o direito de
exclusividade (AVIANI, 2011a, p. 41).
E é a manutenção destes descritores ao longo das gerações
que garantirá a manutenção do direito de exclusividade, tendo em
vista que, a partir do momento em que as características perderem
a estabilidade, a cultivar deixa de ser protegida e passa a não ser
mais possível identificar uma cultivar que foi objeto de proteção.
É importante lembrar que, no Brasil, o teste DHE, é
realizado pelo próprio titular da cultivar, que é também quem
o relata, ao fazer o pedido de proteção. Trata-se, como afirma
Oliveira (2011b), de um sistema declaratório de proteção, no qual
é o titular do direito que declara quais são as características da
cultivar a ser protegida. Neste caso, ele também deve fornecer
uma amostra viva da cultivar ao Serviço Nacional de Proteção
de Cutlivares (SNPC), que servirá para que eventualmente se
cultive – seja a semente, o bulbo ou outra parte do material de
propagação – como forma de verificar a declaração. Esta amostra
viva fará parte de uma coleção a ser mantida pelo SNPC durante
todo o período de duração da proteção.
Outros dois conceitos são importantes para a compreensão
da temática: obtentor e melhorista. No âmbito da proteção de

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Cultivares – O que São, como se Apropriar, como Consultar 377

cultivares o melhorista é o inventor, o autor, pessoa física que


executa o ato de melhoramento genético e que estabelece os
descritores que diferenciem a cultivar das demais, conforme
dispõe o artigo 3º, I, da LCP. Já o obtentor – que pode ser o
melhorista ou não – é o titular do direito, ou seja, aquele que
detém o direito de usar, gozar e dispor da nova cultivar ou
cultivar essencialmente derivada. O obtentor é o titular do direito
patrimonial sobre este ativo intangível.

Duração, Abrangência da Proteção e Direitos


Conferidos
A proteção prevista para novas cultivares e cultivares
essencialmente derivadas tem a duração de 15 anos, como regra,
e 18 para videiras, árvores frutíferas, árvores florestais e árvores
ornamentais e seus porta-enxertos, conforme estabelece o artigo
11 da LPC. Após esse prazo, a cultivar cairá em domínio público e
nenhum outro direito poderá obstar sua livre utilização, conforme
prevê o artigo 12, LPC. É por isso, por exemplo, que se impede
que a denominação de uma cultivar colida com uma marca,
ou seja, apropriada por meio de proteção de marcas. Pois, se a
denominação da cultivar for de titularidade de alguém, o titular
poderá obstar o uso do seu nome, o que implica em impedir sua
livre utilização.
A proteção de cultivares, como nos demais direitos
relacionados à propriedade industrial, é territorial, ou seja, é
limitado ao país no qual foi feito o pedido de proteção da cultivar.
Isso significa que cada nova cultivar ou cultivar essencialmente
derivada deve ter a sua solicitação de proteção nos países para os
quais haja interesse para o obtentor. Em suma, nenhum país tem
a possibilidade de conceder uma patente ou proteção de cultivar
que tenha validade internacional (BRUCH, 2006).

Volume II
378 Cultivares – O que São, como se Apropriar, como Consultar

Essa proteção não abrange a planta, mas apenas o material de


reprodução ou multiplicação vegetativa. Podem ser considerados
como exemplos de materiais propagativos as sementes, as mudas,
os tubérculos, as estacas e os brotos, entre outros. Contudo, não
estão abrangidas pela proteção a planta e suas partes, quando o
uso for diverso da reprodução ou multiplicação vegetativa da
cultivar protegida.
Em face disso, é importante ressaltar que também à
proteção de cultivares se aplica o esgotamento de direitos do
obtentor titular. Isso significa que, a partir da primeira inserção
no mercado interno, seja ela gratuita ou onerosa, de uma nova
cultivar ou, essencialmente, derivada; seja por titular ou terceiro
autorizado e salvo para uso expresso para multiplicação ou
reprodução, os usos seguintes não podem ser controlados pelo
titular. Isso porque a proteção recai apenas sobre os materiais de
reprodução ou multiplicação. O que o comprador fizer com os
frutos de uma cultivar que não seja para reprodução, está em sua
única e exclusiva esfera de atuação.
Segundo o artigo 9° da LPC (BRASIL, 1997), ao titular da
proteção do cultivar é garantido o direito à reprodução comercial,
podendo ele usar, gozar, dispor e reaver a cultivar de quem quer que,
sem a sua autorização, ofereça à venda o material de propagação
da cultivar, com fins comerciais. Trata-se de um direito positivo,
combinado com o direito negativo de excluir terceiros do uso.
Ficam assim vedados a terceiros, durante o prazo de proteção,
a produção com fins comercias, o oferecimento à venda ou a
comercialização, do material de propagação da cultivar, sem sua
autorização.
Ocorre a Extinção da Proteção quando o prazo de proteção
foi expiração; por renúncia do titular; pelo cancelamento do
certificado em face da ausência de pagamento da anuidade; quanto
o titular deixar de ter procurador no Brasil; pela não apresentação

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Cultivares – O que São, como se Apropriar, como Consultar 379

da amostra viva; e pela comprovação que a cultivar tenha causado


impacto desfavorável ao meio ambiente ou à saúde humana.
Por outro lado, somente são passíveis de proteção, median-
te a proteção de uma nova cultivar ou de cultivar essencialmente
derivada, as espécies que tenham todos os seus descritores já esta-
belecidos e sua proteção já autorizada pelo SNPC. Em janeiro de
2006 havia 69 espécies descritas e autorizadas (BRUCH, 2006);
em 2015 já eram 155 espécies (BRUCH, 2015).
Todavia, com relação à existência do direito, há uma
grande dificuldade na sua concretização. Seja pela dificuldade
de se implementar um sistema integrado, em todo o Brasil, que
monitore a origem das mudas e sementes comercializadas, seja
porque as pessoas que as comercializam por vezes desconhecem
que se tratam de variedades protegidas, ou ignoram a possibilidade
desta multiplicação. Acoplado a isso, há um número expressivo de
exceções ao direito do melhorista, que complementa este cenário
(BRUCH et al., 2015)
A abrangência da proteção e do direito conferido é limitada
legalmente pelo que dispõe o artigo 10 da LPC. De acordo com
esse dispositivo, não fere o direito de propriedade sobre a cultivar
protegida aquele que:

I – reserva e planta sementes para uso próprio, em seu estabelecimento


ou em estabelecimento de terceiros cuja posse detenha;
II – usa ou vende como alimento ou matéria-prima o produto obtido
do seu plantio, exceto para fins reprodutivos;
III – utiliza a cultivar como fonte de variação no melhoramento
genético ou na pesquisa científica;
IV – sendo pequeno produtor rural, multiplica sementes, para doação
ou troca, exclusivamente para outros pequenos produtores rurais,
no âmbito de programas de financiamento ou de apoio a pequenos
produtores rurais, conduzidos por órgãos públicos ou organizações
não-governamentais, autorizados pelo Poder Público.

Volume II
380 Cultivares – O que São, como se Apropriar, como Consultar

V – multiplica, distribui, troca ou comercializa sementes, mudas e


outros materiais propagativos no âmbito do disposto no art. 19 da Lei
no 10.696, de 2 de julho de 2003, na qualidade de agricultores familiares
ou por empreendimentos familiares que se enquadrem nos critérios da
Lei no 11.326, de 24 de julho de 2006. (BRASIL, 1997, art. 10)

Ressalta-se que as limitações previstas no artigo 10 não se


aplicam a cultivares de cana-de-açúcar. Além destas limitações, há
a possibilidade da decretação da licença compulsória e declaração
de uso público restrito, conforme traz o artigo 28 e os seguintes
da Lei n. 9.456/1997.
Diante da importância desses limites e da repercussão que
estes podem ter sobre os direitos do titular, eles são analisados
mais detidamente.
O artigo 10, I da Lei n. 9.456/1997, que fala de reserva e
plantio de sementes para uso próprio, em seu estabelecimento
ou em estabelecimento de terceiros cuja posse detenha, não
limita a quantidade do uso e não se refere necessariamente à
impossibilidade de auferir lucros com esse plantio. A proibição
é de fornecer essas sementes ou mudas para terceiro. Contudo,
a Lei n. 10.711, de 5 de agosto de 2003, trouxe outra limitação
a essa possibilidade de replantio, em seu artigo 23. Embora seja
possível guardar e replantar as sementes ou mudas, para fazer isso
o produtor rural fica condicionado à prévia inscrição dos campos
de produção no MAPA (BRUCH, 2006).
O artigo 10, III da Lei n. 9.456/1997 possibilita o uso
da cultivar como fonte de variação na pesquisa científica. Esse
limite também pode ser denominado, no âmbito da proteção
de cultivares, de exceptions to the breeder’s right, que compreende
a utilização da cultivar protegida como fonte de variação no
melhoramento genético ou na pesquisa científica, e encontra-
se previsto como obrigatório nas UPOV/1978 e UPOV/1991.
O limite imposto ao titular do direito refere-se a permitir que

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Cultivares – O que São, como se Apropriar, como Consultar 381

terceiros possam inovar a partir das cultivares protegidas, que


é essencial para a evolução do conhecimento e o progresso da
sociedade(BRUCH, 2006).
O artigo 10, II, da Lei n. 9.456/1997 determina que se
possa usar ou vender como alimento que:

Multiplica, distribui, troca ou comercializa sementes, mudas e outros


materiais propagativos no âmbito do disposto no art. 19 da Lei no
10.696, de 2 de julho de 2003, na qualidade de agricultores familiares
ou por empreendimentos familiares que se enquadrem nos critérios  da
Lei no 11.326, de 24 de julho de 2006. (BRASIL, 1997, art.10)

Esse direito, também conhecido como farms right, encontra-


se previsto como obrigatório na UPOV/1978 e como facultativo
na UPOV/1991. Sua finalidade é garantir a segurança alimentar
desse pequeno agricultor. Pode-se compreender que o disposto
no inciso I do artigo 10 também estaria incluído no princípio do
farm’s right (BRUCH, 2006).

Serviço Nacional de Proteção de Cultivares


(SNPC)
O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
(MAPA) tem como missão promover o desenvolvimento
sustentável e a competitividade do agronegócio em benefício da
sociedade brasileira. Pelo Decreto n. 5.351/2005, ele estabeleceu
cinco Secretarias, quais sejam:

a) SDA: Secretaria de Defesa Agropecuária.


b) SDC: Secretaria de Desenvolvimento Agropecuário e
Cooperativismo.
c) SRI: Secretaria de Relações Internacionais do
Agronegócio.

Volume II
382 Cultivares – O que São, como se Apropriar, como Consultar

d) SPA: Secretaria de Política Agrícola.


e) SAE: Secretaria de Produção e Agroenergia.

A SDC, em sua organização possui o Departamento de


Propriedade Intelectual e Tecnologia Agropecuária (DEPTA),
com as competências de gestão da informação no agronegócio;
desenvolvimento da biotecnologia agropecuária; ampliação do
capital intelectual protegido e da inovação no agronegócio (cultura
de PI); direitos de PI na proteção de cultivares; fortalecimento
do sistema Marcário (marcas coletivas e IGs). Ainda, a SDC
congrega as instâncias:

a) Coordenação de Acompanhamento e Promoção da


Tecnologia Agropecuária (CAPTA).
b) Coordenação de Incentivo à Indicação Geográfica de
Produtos Agropecuários (CIG).
c) Coordenação do Serviço Nacional de Proteção de
Cultivares (SNPC).

Ao SNPC compete a proteção de cultivares no Brasil,


sendo este o responsável por aplicar a Lei n. 9.456, de 1997; fazer
a análise de pedidos e conceder os certificados de proteção e
zelar pelo cumprimento dos ordenamentos internacionais. Esse
órgão é, de acordo com o Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento, um serviço no qualse reconhece a propriedade
intelectual sobre uma nova cultivar, resultante de um trabalho de
melhoramento genético vegetal e/ou engenharia genética.

Procedimentos para Proteção


Ao contrário dos demais direitos de propriedade industrial,
que são regulados e protegidos junto ao Instituto Nacional da
Propriedade Industrial (INPI), as cultivares são protegidas no

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Cultivares – O que São, como se Apropriar, como Consultar 383

Brasil SNPC descrito acima. O Manual denominado “Informações


aos Usuários de Proteção de Cultivares”, elaborado pelo SNPC
e disponível no site do Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento (MAPA)3, apresenta um passo a passo de como se
deve realizar o depósito do pedido. Possui atualização periódica e
sua última versão é de outubro de 2018.
Assim, seguindo a sistemática deste, apresenta-se o passo
a passo para a proteção. A solicitação de proteção deve ser
realizada mediante o preenchimento e encaminhamento por meio
eletrônico (via CultivarWeb) dos seguintes formulários (SERVIÇO
NACIONAL DE PROTEÇÃO DE CULTIVAR, 2018):

1) Formulário 1 – Requerimento de Proteção de Cultivar: Deve


ser acessado pelo sistema CultivarWeb (link a seguir), efetuado o
cadastramento e preenchido o pedido de proteção de cultivar, anexando
em formato pdf os formulários/documentos seguintes.
2) Formulário 2 – Relatório Técnico: Deve ser efetuado o download do
arquivo que deve ser preenchido, rubricado e assinado pelo Responsável
Técnico e digitalizado em pdf.
3) Formulário 3 – Descritores Mínimos: Deve ser efetuado o download
do formulário, que deve ser preenchido, rubricado e assinado pelo
Responsável Técnico e digitalizado em formato pdf. OBS: Pedimos
atentar que cada espécie vegetal possui um formulário específico e que
os testes de DHE devem ser realizados antes do protocolo do pedido
de proteção.
4) Demais documentos: Os demais documentos necessários ao
protocolo do pedido (Procuração/Contrato Social, e fotografia (para
casos específicos)), também devem ser digitalizados em formato pdf.

Os referidos formulários estão disponíveis atualmente no


link: http://www.agricultura.gov.br/assuntos/insumos-agrope
cuarios/insumos-agricolas/protecao-de-cultivar/formularios-
para-protecao-de-cultivares.
3
http://www.agricultura.gov.br/assuntos/insumos-agropecuarios/insumos-
agricolas/protecao-de-cultivar/INFORMACOES_AOS_USUARIOS_
SNPC_09out2018.pdf/view

Volume II
384 Cultivares – O que São, como se Apropriar, como Consultar

Sobre o preenchimento desses formulários, é importante


ressaltar que o requerimento (formulário 1) pode ser feito
pelo próprio obtentor, por seu representante legal ou pelo
cessionário do direito sobre a cultivar no Brasil, especialmente
no caso de cultivares estrangeiras. Todavia, é indispensável um
responsável técnico para o preenchimento dos formulários 2
e 3, que apresentam respectivamente o relatório técnico e os
descritores mínimos. Em regra geral o responsável técnico será
um engenheiro agrônomo, podendo ser engenheiro florestal para
as cultivares abrangidas por esta categoria.
O relatório técnico (formulário 2) engloba os dados, como
a origem genética e o método de obtenção da cultivar, local e
época em que foram realizados os testes de DHE, indicação de
cultivar mais parecida com a cultivar candidata, e características
que asdiferenciam. Já o formulário 3 compreende a descrição do
teste DHE e a indicação dos descritores mínimos, lembrando
que estes estão já estabelecidos para cada espécie e o responsável
técnico deverá indicar os descritores que foram verificados no
referido teste.
Outra questão importante e que deve ser ressaltada mais
uma vez, é que no Brasil o teste DHA é feito e de responsabilidade
do titular da cultivar. Assim, o responsável pelas informações
prestadas ao SNPC é o próprio obtentor ou o cessionário do
direito sobre a cultivar, que pode ser responsabilizado caso as
informações não correspondam ao objeto submetido à proteção.
Adicionalmente, devem ser anexados os documentos
adicionais relacionados a identificar quem é o solicitante (obtentor
ou cessionário), bem como, se houver, o procurador. Também deve
ser providenciado o pagamento da taxa correspondente ao pedido,
por meio da Guia de Recolhimento da União (GRU), que deve ser
emitida na própria plataforma CultivarWeb. Os valores das taxas
estão previstos na Portaria n. 503, de 3 de dezembro de 1997. Para
o pedido de proteção, o valor é de R$ 200,00 por pedido.

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Cultivares – O que São, como se Apropriar, como Consultar 385

Munido de todos esses documentos, pode-se protocolar


digitalmente o pedido. O trâmite do pedido junto ao SNPC pode
ser resumido no organograma apresentado na Figura 1:

Figura 1 – Organograma do Serviço Nacional de Proteção de Cultivares(SNPC)

Fonte: Serviço Nacional de Proteção de Cultivar(2018)

Algo diferenciado no trâmite é a publicação do pedido e


a emissão concomitante do certificado provisório, cujo valor é

Volume II
386 Cultivares – O que São, como se Apropriar, como Consultar

de R$ 600,00. É partir desta publicação que se inicia o prazo


de proteção da cultivar. Após, é aberto o prazo de 90 dias para
impugnação e, após é publicado o deferimento ou indeferimento,
do qual cabe recurso, no prazo de 60 dias. Por fim, é emitido o
certificado definitivo de proteção.
Importante ressaltar que, após a concessão, deve-se pagar
a anuidade durante o período de 15 ou 18 anos, atualmente no
valor de R$ 400,00 ao ano e indispensável para a manutenção do
registro.
Ocorre a Extinção da Proteção, quando o prazo de proteção
foi expiração; por renúncia do titular; pelo cancelamento do
certificado: ausência de pagamento da anuidade; titular deixar
de ter procurador no Brasil; não apresentação da amostra viva;
comprovação que a cultivar tenha causado impacto desfavorável
ao meio ambiente ou à saúde humana.

Registro Nacional de Cultivares (RNC)


O MAPA estabeleceu mecanismos para a organização,
sistematização e controle da produção e comercialização de
sementes e mudas, e instituiu, por meio da Portaria n. 527, de 30
de dezembro de 1997, o Registro Nacional de Cultivares (RNC).
Atualmente, o RNC é regido pela Lei n. 10.711, de 5 de
agosto de 2003, e regulamentado pelo Decreto n. 5.153, de 23 de
julho de 2004, tendo como preceito fundamental que a geração de
novas cultivares se traduza em altas tecnologias transferidas para
o agronegócio, indispensáveis ao sucesso deste, pelo aumento
da produtividade agrícola e da qualidade dos insumos e dos
produtos deles derivados. As cultivares são disponibilizadas ao
agricultor com os mais recentes avanços da pesquisa em genética
e melhoramento vegetal, transformadas em insumos, sob a forma
de material de propagação.

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Cultivares – O que São, como se Apropriar, como Consultar 387

O RNC tem por finalidade habilitar previamente cultivares


e espécies para a produção e a comercialização de sementes e
mudas no País, independente do grupo a qual pertencem –
florestais, forrageiras, frutíferas, grandes culturas, olerícolas,
ornamentais e outros.
O RNC é de responsabilidade da Coordenação de Sementes
e Mudas (CSM), do Departamento de Fiscalização de Insumos
Agrícolas (DFIA), da Secretaria de Defesa Agropecuária (das).
Para que a cultivar seja levada ao mercado como insumo,
ela deve passar por um processo de registro. O processo de
registro e liberação de uma cultivar passa pela demonstração ao
órgão registrador dos resultados obtidos em diferentes locais e
anos, demonstrando, através do valor de cultivo e uso (VCU),
que o valor agronômico da cultivar justifica o seu registro. Para
isso, é necessário que o valor agronômico da cultivar demonstre
que ela apresenta, dependendo dos descritores que se pretende
expressar:

a) alto potencial de rendimento;


b) resistência a doenças e insetos;
c) resistência a fatores ambientais adversos;
d) qualidade de seus produtos;
e) resposta a insumos;
f) precocidade.

O registro não deve ser confundido com a proteção de cul-


tivares. Esse registro se dá junto ao Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento (MAPA), por meio do Registro Nacio-
nal de Cultivares (RNC), o qual é regido pela Lei de Sementes e
Mudas – Lei n. 10.711, de 5 de agosto de 2003, doravante Lei n.
10.711/2003, e que cria o Sistema Nacional de Sementes e Mu-

Volume II
388 Cultivares – O que São, como se Apropriar, como Consultar

das. O Quadro 2 ilustra a diferença entre registro e proteção de


cultivares.

Quadro 2 – Comparação entre registro e proteção de cultivares

Proteção de cultivares Registro de Cultivares


Habilita as cultivares
Garantir os direitos de a serem produzidas e
propriedade industrial para comercializadas no Brasil.
o obtentor e o melhorista. Pode-se ter cultivares
Objetivo Pode-se ter a proteção registradas produzidas
de uma cultivar, sem que e comercializadas sem
sua comercialização seja pagamento de royalties, pela
permitida. não proteção ou estar em
domínio público.
Lei n. 9.456/1997 – Lei de
Fundamento Lei n. 10.711/2003 – Lei de
Proteção
legal Sementes.
de Cultivares (LPC).
Distinguibilidade,
Instrumento Valor de cultivo e uso
Homogeneidade e
técnico (VCU).
Estabilidade (DHE).
Assegurar os direitos de Constituição de um
exclusividade de titular(es) banco de informações
sobre o uso de cultivares. O agronômicas, fornecendo
Finalidade titular pode licenciar, cobrar dados ao poder público
royalties, ceder e impedir que referentes à origem
terceiros a utilizem sem a do material e ao seu
sua autorização. responsável no Brasil.
Fonte: Bruch, Vieira e Dewes (2015)

De acordo com Vieira et al. (2012), as características que


distinguem o SNPC do RNC podem ser elencadas em quatro
pontos:

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Cultivares – O que São, como se Apropriar, como Consultar 389

1. Objetivo: a proteção de cultivares tem como finalidade


garantir os direitos de propriedade intelectual para
o obtentor e o melhorista, ao passo que o registro
de cultivares habilita estas a serem produzidas e
comercializadas no Brasil. Pode-se ter a proteção de uma
cultivar sem que sua comercialização necessariamente
seja permitida, bem como se pode ter cultivares
registradas que são produzidas e comercializadas sem
pagamento de royalties, posto que seus titulares não
pediram proteção ou o direito ao uso já caiu em domínio
público.
2. Fundamento legal: a proteção de cultivares se
fundamenta na lei n. 9.456/1997, também conhecida
como Lei de Proteção de Cultivares (LPC), ao passo que
o registro tem base na Lei n. 10.711/2003, conhecida
como Lei de Sementes, e no Decreto n. 5.153/2004, que
a regulamenta.
3. Instrumento técnico: para a proteção de uma cultivar é
necessário elaborar e apresentar o DHE, que comprova
a distinguibilidade, homogeneidade e estabilidade da
cultivar perante outras. Para o registro é necessário
apresentar o VCU, que visa a estabelecer o valor de
cultivo e uso da cultivar a ser registrada.
4. Finalidade: a proteção de novas cultivares e cultivares
essencialmente derivadas tem como finalidade assegurar
os direitos de exclusividade de uso das cultivares para
o titular, o qual poderá licenciar o uso comercial destas
mediante o pagamento de royalties, ceder a titularidade,
bem como impedir que terceiros as utilizem sem a sua
autorização. A finalidade do registro de cultivares é bem
diversa, posto que busca a constituição de um banco
de informações agronômicas, fornecendo dados ao

Volume II
390 Cultivares – O que São, como se Apropriar, como Consultar

poder público referentes à origem do material e ao seu


responsável no Brasil.

Mesmo levando em conta que a proteção no Brasil só foi


instituída a partir de 1997, e, quando se analisa os dois órgãos
(SNPC e RNC), percebe-se que é grande a diferença entre o
número de cultivares registradas e o de cultivares protegidas,
no Brasil, o que provavelmente reflete o estado ainda nascente
do segmento da indústria de sementes e mudas, cuja estratégia
comercial passa pela proteção. Além disso, enquanto apenas pode
ser requerida a proteção de cultivares cujas espécies já tenham
seus descritores aprovados e publicados pelo SNPC, todas as
espécies vegetais de uso no complexo agroflorestal podem ser
registradas no RNC (VIEIRA et al., 2012).
Vale, por fim, ressaltar a existência de outro instrumento
que difere dos anteriores, mas com os quais pode ser confundido.
Trata-se do zoneamento, que tem como objetivo indicar quais
as cultivares – sejam elas protegidas ou não – são mais aptas
para uma determinada região, com a finalidade, entre outras, de
orientar os produtores e servir de subsídio para contratação e
pagamento de seguro agrícola (VIEIRA et al., 2012).
Importante ressaltar que todos esses instrumentos
são geridos e promovidos pelo MAPA, cuja missão pode ser
definida como a promoção do desenvolvimento sustentável e
da competitividade do agronegócio em benefício da sociedade
brasileira.

Cultivares Protegidas e Impacto da LPC Sobre o


Desenvolvimento de Cultivares
O sistema CultivarWeb, disponível no sítio eletrônico do
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA),

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Cultivares – O que São, como se Apropriar, como Consultar 391

disponibiliza funções de envio eletrônico dos requerimentos


de proteção intelectual de cultivar, de acompanhamento do
andamento e visualização dos seus processos de proteção, além
de pesquisa pública na base de dados de cultivares protegidas e
inscritas no registro comercial de cultivares (BRASIL, 2018).
No CultivarWeb é possível consultar dados como o nome
científico e comum das espécies, a denominação da cultivar e
os protocolos de pedido de proteção.Atualmente existem 1.265
cultivares protegidas, no Brasil, e quase dois mil pedidos de
proteção já analisados ou em análise pelo Serviço Nacional de
Proteção de Cultivares (BRASIL, 2018).
O melhoramento genético tem contribuído para o avanço
e desenvolvimento de várias culturas que representam o setor
agrícola brasileiro e desde a promulgação da LPC, o número de
novas cultivares aumentou expressivamente. O melhoramento de
plantas é uma atividade econômica importante principalmente no
Brasil onde os produtos agrícolas são os principais produtos de
nossa economia.
O lançamento contínuo de novas variedades de plantas
contribui decisivamente para melhorar e manter a quantidade e a
qualidade, e reduzir os custos de alimentos, combustíveis e fibras,
além de fornecer matéria prima para indústrias como óleo vegetal,
borracha e produtos farmacêuticos. Por isso a construção de um
arcabouço legal para essa proteção propiciou aos produtores e
detentores de novas cultivares um maior incentivo para geração
de novas variedades. Como destaca Marcel Garbin em 2101, o
regramento legal também propiciou inequívoca contribuição
jurídica no que tange a efetividade do exercício dos direitos
exclusivos relativos à propriedade industrial; uma vez que a cultivar
é considerada um bem intangível de grande valor econômico,
científico e tecnológico e, consequentemente, é investida de

Volume II
392 Cultivares – O que São, como se Apropriar, como Consultar

grande interesse público nas ações de incentivo à pesquisa, ao


diagnóstico de cultivares de plantas distintas.
A Lei de Proteção de Cultivares trouxe maior rigor científico
nas pesquisas o que, em última análise, assegura maior segurança
nos resultados que podem refletir positivamente nas futuras
parcerias entre entidades públicas de pesquisas e a iniciativa
privada, especialmente quanto à captação de recursos destinada a
financiar programas de melhoramento genético de longa duração.
De acordo com o Conselho de Informações sobre
Biotecnologia (CIB), o cultivo de soja transgênica no Brasil é
de extrema importância para a agricultura e a economia do País,
sendo o grão mais produzido. Aqui 92% da área total de plantio
da oleaginosa é de soja geneticamente modificada (GM). A maior
parte dessas lavouras fica em Mato Grosso, líder nacional de
produção do grão. No mercado brasileiro, tolerância a herbicidas,
resistência a insetos e as duas características combinadas são as
melhorias trazidas pela transgenia à soja. Isso torna as variedades
transgênicas mais protegidas e, consequentemente, mais
produtivas do que as suas versões convencionais(CONSELHO
DE INFORMAÇÕES SOBRE BIOTECNOLOGIA, 2018).
Cabe pontuar que, em 2015, a Embrapa e Basf lançaram a
primeira soja transgênica totalmente brasileira fruto de um
processo que durou quase 20 anos desde o começo da pesquisa
até o seu registro. A nova cultivar brasileira (cultivance)combina a
utilização de cultivares de soja com herbicida de amplo espectro
de ação para o manejo de plantas daninhas de folhas largas e
estreitas.
Outroexemplo é o Setor Vitivinícola Nacional através
da obtenção de cultivares de uva para diferentes finalidades e
adaptadas às condições edafoclimáticas brasileiras. As demandas
de cada cadeia produtiva de uva estão relacionadas com a
adaptação de cultivares às diferentes regiões produtoras e com

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Cultivares – O que São, como se Apropriar, como Consultar 393

a qualidade da uva para finalidades específica.Nos últimos anos,


foram lançadas cultivares que atendem às demandas das diferentes
cadeias produtivas de uva que formam o Setor Vitivinícola
nacional. De maneira geral, essas cultivares se caracterizam por
apresentar adaptação às condições edafoclimáticas brasileiras;o
que reflete em elevada produtividade e maior nível de resistência
às principais doenças que atacam a cultura da videira, como o
míldio (Plasmopara viticola), o oídio (Uncinula necator) a podridão
cinzenta da uva (Botrytis cinerea), a antracnose (Elsinoe ampelina),
a podridão da uva madura (Glomerella cingullata), entre outras
(RITSCHEL; MAIA, 2009).
Uma nova cultivar representa mais do que um caminho de
oportunidades, de negócios e de investimentos na busca constante
das transformações no campo da propriedade intelectual e do
desenvolvimento biotecnológico; constitui valioso instrumento
propulsor do desenvolvimento sustentável, merecendo ser
observada como um mecanismo estratégico de inserção das
regiões produtivas, voltadas ao setor agrícola, proporcionando
benefícios diretos e indiretos para toda a sociedade (GARBIN,
2011).

Considerações Finais
A discussão para proteção de plantas e variedades vegetais
começou no século XIX, contudo, somente em 1961 foi realizada
a Convenção Internacional para Proteção das Novas Obtenções
Vegetais (UPOV) realizada em Paris para a construção de um
sistema de proteção para estimular o desenvolvimento de novas
variedades de plantas. Aqui, apenas após a adesão do Brasil à
OMC e, por consequência, ao TRIPS, que foi promulgada em
1997 a Lei de Proteção a Cultivares (LPC).

Volume II
394 Cultivares – O que São, como se Apropriar, como Consultar

Ao Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento


(MAPA) compete a aplicação da LPC, ou seja, cabe ao MAPA
a proteção das novas cultivares por meio do Sistema Nacional
de Proteção de Cultivares e a regulação do comércio de novas
cultivares através do Registro Nacional de Cultivares (RNC).
A obtenção e a proteção das novas cultivares requer um
conhecimento específico e demanda tempo e recursos, e o
processo de proteção visa a proteger àqueles que investem e
assim podem usufruir dos ganhos de comercialização oriundos
das plantas.
A cultivar representa, assim, a possibilidade de
desenvolvimento e aprimoramento de espécies que traz vantagens
de maior produtividade, maior resistência a doenças e pragas,
entre outros fatores, podendo ser uma das formas de suprir a
necessidade cada vez mais crescente de produção agrícola, desde
alimentos até energias renováveis e novos materiais.
Esse capítulo mostrou como o sistema de proteção de
cultivar se organiza, diferenciando-o do sistema de proteção
por patentes e sendo feito através da proteção sui generes. Ainda,
podemos ver a relação entre a engenharia genética, a lei de
Biossegurança e a produção de novas variedades de plantas para
promoção da economia e melhoria da população brasileira.

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Volume II
Indicação Geográfica: conceitos,
legislação e proposição

Maria das Graças Ferraz Bezerra


Rejane Sartori
Wagna Piler Carvalho dos Santos
Gesil Sampaio Amarante Segundo

Resumo: As Indicações Geográficas são formas de propriedade intelectual que


conferem proteção legal a produtos e serviços. Elas protegem regiões e produtos contra
falsificações e garantem ao consumidor que os produtos são diferenciados, especiais e
exclusivos. Desse modo, este capítulo apresenta os conceitos de Indicação Geográfica
e a legislação nacional e internacional que rege a matéria. Ademais, evidencia um
histórico das Indicações Geográficas concedidas no Brasil, bem como são relatados
os procedimentos necessários para o processo de reconhecimento e registro de uma
Indicação Geográfica, conforme estabelece o Instituto Nacional da Propriedade
Industrial.

Abstract: Geographical Indications are forms of intellectual property that give


legal protection to products and services. They protect regions and products against
counterfeiting and guarantee consumers that products are differentiated, special and
exclusive. In this way, this chapter presents the concepts of Geographical Indication,
as well as national and international legislation that rules the matter. Im addition, it
shows a history oh Geographical Indications granted in Brazil, as well as the necessary
procedures for the process of recognition and registration of a Geographical Indication
are reported, as established by the National Institute of Industrial Property.

Introdução
A Propriedade Intelectual é um ramo do Direito que trata
dos bens imateriais ou incorpóreos resultantes da manifestação
intelectual do ser humano (BARBOSA, 2003) e divide-se em dois
grandes ramos: de um lado há os direitos de autor e os direitos
Indicação Geográfica: conceitos, legislação e proposição 401

conexos e, de outro, os direitos de propriedade industrial, ou seja,


direitos de propriedade intelectual voltados especificamente para
a indústria de bens e serviços. Há ainda formas de proteção da
propriedade intelectual que apresentam características híbridas
dos dois ramos acima mencionados, constituindo um terceiro, o
das Proteções Sui Generis. Os direitos protegidos pela propriedade
intelectual são fruto do reconhecimento de uma novidade, de
uma criação.
No âmbito dos direitos de propriedade industrial está o que
se denomina de Indicação Geográfica, que de modo geral pode
ser entendida como uma marca territorial. A Indicação Geográfica
tem suas bases no passado, na reputação ou nas características
peculiares de determinado local em produzir determinado produto
ou serviço. Assim, ela reconhece uma localidade como origem de
um produto ou serviço, seja em função de sua qualidade peculiar,
reputação ou outra característica relacionada especificamente à
origem.
O conceito de Indicação Geográfica se desenvolveu
paulatinamente no decorrer da história e de forma natural quando
produtores, comerciantes e consumidores constataram que
alguns produtos de lugares específicos apresentavam qualidades
particulares, atribuíveis à sua origem geográfica, e começaram
a denominá-los com o seu topônimo (LAGES; LAGARES;
BRAGA, 2005).
Historicamente, produtos são rotulados e discriminados
desde a antiguidade. Na era romana, nobres, generais e o próprio
imperador recebiam ânforas (vasos antigos) de vinho com a
indicação da região de procedência e produção controlada da
bebida de sua preferência (vinhos de Falerne são um exemplo);
o mármore de Carrara também já era particularmente apreciado.
Há ainda relatos que datam do século IV a.C., na Grécia, com
os vinhos de Corínthio, de Ícaro e de Rodhes. Até mesmo na

Volume II
402 Indicação Geográfica: conceitos, legislação e proposição

Bíblia são encontrados exemplos de citações de origem notória,


como os vinhos de En-Gedi (Cãnticos, I, 14) e o cedro do Líbano
(Cãnticos, III, 9, e Reis, V, 6). Das várias modalidades de proteção
da propriedade intelectual, provavelmente a Indicação Geográfica
é a mais antiga e, certamente, uma das menos conhecidas em
termos formais (LAGES; LAGARES; BRAGA, 2005).
Apesar de os princípios das Indicações Geográficas serem
utilizados desde a antiguidade, somente no final do século XX
elas alcançaram uma formulação mais efetiva e padronizada,
quando da assinatura do Agreement on Trade-Related Aspects of
Intellectual Property Rights (TRIPS), em português Acordo sobre
Aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual Relacionados
ao Comércio (ADPIC), no âmbito da então recém-criada
Organização Mundial do Comércio (OMC). As principais
particularidades desta modalidade de propriedade industrial são a
titularidade coletiva, a ligação intrínseca com o território no qual
o produto ocorre ou o serviço é desenvolvido e a ausência no
limite do prazo de proteção.
Ao longo dos anos, um grande número de Indicações
Geográficas relacionadas a alimentos e bebidas foi reconhecido,
particularmente na Europa. Desse modo, além do Vinho do
Porto, a primeira Indicação Geográfica reconhecida em moldes
semelhantes aos atuais (ainda no século XVIII), há vários
casos mundialmente famosos, como o do queijo Roquefort, do
espumante da região de Champagne, do vinho Chianti, do queijo
Feta, da Carnalentejana, dos queijos Grana Padano, Gorgonzola
e Parmigiano Reggiano, do Prosciuttodi Parma, da Tequila, do
Cognac e muitos outros (FÁVERO, 2010).
A Indicação Geográfica é cada vez mais percebida como
um elemento de grande importância na distinção e promoção de
diversos produtos, mas também na valorização das culturas em
que se inserem. Trata-se de um instrumento público globalmente

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Indicação Geográfica: conceitos, legislação e proposição 403

disseminado de valorização das características únicas de produtos


provenientes de determinada zona geográfica, delimitada por
critérios físicos ou de tradição e vocação produtiva (KRÜCKEN-
PEREIRA, 2001). No Brasil, em particular, a legislação além
de conceder a Indicação Geográfica relacionada a produtos,
contempla também as origens de serviços que podem se distinguir.
A Indicação Geográfica é um símbolo de diferenciação,
um direito privativo (e exclusivo), reconhecido nacional e
internacionalmente, de uso coletivo restrito aos produtores e/ou
prestadores de serviços estabelecidos no local, que definem, de
comum acordo, as condições para o uso deste símbolo por meio
de um regulamento por eles elaborado, que especifique o sistema
de produção, a extração ou a prestação do serviço. A outra
modalidade de propriedade industrial que mais se assemelha com
a Indicação Geográfica é a marca.
No que se refere a produtos, para além da tradição, é
possível ainda identificar elementos que os tornam materialmente
diferenciados de outros do mesmo tipo, provenientes das diversas
regiões do mundo, por sua qualidade, textura, sabor, coloração
e quaisquer outras características físicas, químicas ou biológicas,
as quais sejam identificáveis no produto e que o tornem mais
atraentes aos consumidores ou apresentem propriedades
inigualáveis.
A Indicação Geográfica pode ser considerada também uma
forma de proteção do conhecimento, concedida (reconhecida)
pelo Estado uma única vez, sem limite de prazo. Essa proteção
interessa a múltiplos atores, a saber:

a) ao consumidor, que deseja um produto/serviço


diferenciado e autêntico;
b) ao Estado, devido ao fortalecimento das cadeias
produtivas locais e do setor produtivo no qual está

Volume II
404 Indicação Geográfica: conceitos, legislação e proposição

inserido o produto/serviço, além da frequente conexão


com outros setores empresariais, por exemplo, o
turismo; e
c) ao produtor, pois proporciona aumento da demanda e do
valor agregado do produto ou serviço, diferenciando-o
dos demais.

Os benefícios das Indicações Geográficas são de grande


importância para o produto e sua posição no mercado, podendo-
se citar a proteção de um patrimônio nacional e econômico tanto
das regiões quanto ao saber fazer, e dos produtos em decorrência
da proteção legal dos produtores e dos consumidores, conferida
por meio de selo outorgado pelo Instituto Nacional da Propriedade
Industrial (INPI), o que gera, com relação aos produtos e/
ou serviços, uma exclusividade que não permite que os outros
produtores ou prestadores de serviços não incluídos na zona de
produção delimitada utilizem o selo da Indicação Geográfica, o
que oportuniza ao produtor ou prestador de serviços a proteção
da riqueza, da variedade e da imagem de seus produtos.
No caso de comunidades rurais, a localidade se beneficiará
do próprio desenvolvimento do campo, o qual contribuirá para a
redução do êxodo rural, ensejando a manutenção da população
nas zonas rurais em consequência da geração de empregos
advindos do incremento da atividade econômica. Haverá maior
vitalidade dessas localidades e crescimento do turismo e uma
maior satisfação do produtor, o qual sentirá orgulho de seu
produto.
Particularmente, passa a haver uma garantia de produtos de
notoriedade, originais e de qualidade, e uma afirmação da imagem
autêntica de um artigo associada à facilidade de presença do
produto no mercado e ao acesso a este por meio de uma marca
coletiva e de renome, e a uma clara identificação do produto pelo

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Indicação Geográfica: conceitos, legislação e proposição 405

consumidor entre outros artigos. Em decorrência, haverá também


um estímulo à gradativa melhoria qualitativa dos produtos tanto
pela crescente apreciação do produtor por seu produto quanto
pela valorização e estímulo do mercado que o consome, gerando
um ciclo virtuoso.
Esse conjunto de fatores de crescimento e melhoramento
da região detentora de uma Indicação Geográfica e do produto
protegido gera também a promoção e a facilitação da venda para
outros Estados ou regiões onde eventualmente nem se conhecia
o produto ou o serviço ou não o atribuíam o devido valor, assim
como para outros países, facilitando a exportação no caso de os
produtos receberem o respectivo registro.
O desenvolvimento econômico da localidade que obtém
a Indicação Geográfica gera, como já mencionado, o aumento
do valor agregado dos artigos, mas não só isso. Ela ocasiona
também o incremento do valor dos imóveis da região, além do
estímulo aos investimentos na própria zona de produção e no
desenvolvimento de outros setores pelo aumento geral da renda
e do dinheiro em circulação na respectiva localidade.
Em suma, a Indicação Geográfica é um selo distintivo
e em virtude dessa distinção, dos direitos por ela gerados e do
consequente renome que será vinculado aos produtos ou serviços,
estes passarão a ser mais prestigiados, gerando os diversos
benefícios advindos dessa valorização.

Legislação
O objetivo básico da Indicação Geográfica é a proteção
do nome da região associada aos produtos e serviços dela
originados, o que, em geral, resulta em benefício aos produtores
e aos consumidores. Segundo Valente et al. (2012, p. 554), a
proteção jurídica é um dos grandes benefícios proporcionados

Volume II
406 Indicação Geográfica: conceitos, legislação e proposição

pelo registro da Indicação Geográfica, tanto do ponto de vista


dos produtores quanto dos consumidores.

a) As Indicações Geográficas são regidas por acordos


internacionais como:
b) A Convenção de Paris para a Proteção da Propriedade
Industrial (1883);
c) O Acordo de Madri para a Repressão das Falsas
Indicações de Procedência (1891);
d) O Acordo de Lisboa relativo à Proteção das
Denominações de Origem (1958);
e) O Acordo sobre Aspectos dos Direitos de Propriedade
Intelectual Relacionados ao Comércio (TRIPS) (1994).

No Brasil, essa matéria é regida pela Lei de Propriedade


Industrial (LPI), Lei n. 9.279, de 1996. A LPI determina o
preenchimento de requisitos de alguns elementos norteadores.
Cabe ao INPI, por meio das instruções normativas e resoluções,
o detalhamento desses requisitos, condições de proteção e demais
instruções para os pedidos.
Segundo a Convenção de Paris para a Proteção da
Propriedade Industrial (CUP), o artigo 1.2 define as Indicações
de Procedência e as Denominações de Origem como objetos
de propriedade industrial. Indicação de Procedência significa
qualquer expressão ou sinal utilizado para indicar que um
produto ou serviço tem a sua origem em um país, região ou
lugar específico, e Denominação de Origem significa o nome
geográfico de um país, região ou lugar específico que serve para
designar um produto local cujas qualidades e características se
devem exclusivamente ou essencialmente ao meio geográfico,
inclusive a fatores naturais ou humanos ou a fatores tanto naturais
como humanos (CUP, 1883).

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Indicação Geográfica: conceitos, legislação e proposição 407

O termo Indicação Geográfica abrange tanto as Indicações


de Procedência como as Denominações de Origem, e é definido
no artigo 22.1 do TRIPS como indicações que identificam um
produto como originário do território de um Membro, ou de uma
região ou localidade nesse território, em que uma determinada
qualidade, reputação ou outra característica do produto é
essencialmente atribuível à sua origem geográfica (BRASIL,
1994).
A definição legal de Indicação Geográfica incorporada à
legislação brasileira está contida na LPI, segundo a qual existem
duas modalidades de Indicação Geográfica: a

Indicação de Procedência e a Denominação de


Origem

Art. 176. Constitui indicação geográfica a indicação de procedência ou


a denominação de origem.
Art. 177. Considera-se indicação de procedência o nome geográfico
de país, cidade, região ou localidade de seu território, que se tenha
tornado conhecido como centro de extração, produção ou fabricação
de determinado produto ou de prestação de determinado serviço.
Art. 178. Considera-se denominação de origem o nome geográfico de
país, cidade, região ou localidade de seu território, que designe produto
ou serviço cujas qualidades ou características se devam exclusiva
ou essencialmente ao meio geográfico, incluídos fatores naturais e
humanos. (BRASIL, 1996, art. 176-178)

A LPI traz no seu texto as diretrizes da regulamentação


da Indicação Geográfica no Brasil, as quais estão contempladas
pelos artigos 179 ao 182:

Art. 179. A proteção estender-se-á à representação gráfica ou figurativa


da indicação geográfica, bem como à representação geográfica de país,

Volume II
408 Indicação Geográfica: conceitos, legislação e proposição

cidade, região ou localidade de seu território cujo nome seja indicação


geográfica.
Art. 180. Quando o nome geográfico se houver tornado de uso comum,
designando produto ou serviço, não será considerado indicação
geográfica.
Art. 181. O nome geográfico que não constitua indicação de
procedência ou denominação de origem poderá servir de elemento
característico de marca para produto ou serviço, desde que não induza
falsa procedência.
Art. 182. O uso da indicação geográfica é restrito aos produtores e
prestadores de serviço estabelecidos no local, exigindo-se, ainda, em
relação às denominações de origem, o atendimento de requisitos de
qualidade.
Parágrafo único. O INPI estabelecerá as condições de registro das
indicações geográficas. (BRASIL, 1996, art. 179-182)

Como já mencionado, e definido na LPI (Parágrafo único


do artigo 182), o INPI tem importante papel na descrição dos
requisitos e condições para o registro de uma Indicação Geográfica
no Brasil. A Instrução Normativa n. 25/2013 do INPI estabelecia
as condições para o registro das Indicações Geográficas, citando
em seus artigos 1º, 2º e 3º as condições necessárias (INPI, 2013).
Uma nova revisão foi feita por meio da Instrução Normativa
n. 95, de 28 de dezembro de 2018, que entrará em vigor em março
de 2019, revogando assim a Instrução Normativa n. 25/2013.
Essa nova normativa, já no seu artigo 2º, insere três
novos parágrafos que qualificam e deixam mais claros termos e
expressões, a exemplo do significado de “nome geográfico” e do
termo “conhecido”, expresso nos parágrafos 3º e 4º.

Art. 2º Para os fins desta Instrução Normativa, constitui Indicação


Geográfica a Indicação de Procedência e a Denominação de Origem.
§ 1º Considera-se a Indicação de Procedência o nome geográfico de
país, cidade, região ou localidade de seu território, que tenha tornado
conhecido como centro de extração, produção ou fabricação de
determinado produto ou de prestação de determinado serviço.

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Indicação Geográfica: conceitos, legislação e proposição 409

§ 2º Considera-se Denominação de Origem o nome geográfico de


país, cidade, região ou localidade de seu território, que designe produto
ou serviço cujas qualidades ou características se devam exclusiva
ou essencialmente ao meio geográfico, incluídos fatores naturais e
humanos.
§ 3º Nome geográfico e ou gentílico, que poderá vir acompanhado
de nome do produto ou do serviço, é o nome usado comumente para
se referir a um lugar em particular, a uma feição ou a uma área com
identidade reconhecida na superfície terrestre.
§ 4º Para fins de Indicação de Procedência, considera-se que o nome
geográfico tornou-se conhecido quando expressamente mencionado,
por diferentes fontes, como centro de extração, produção ou
fabricação do produto ou prestação de serviço assinado. (INSTITUTO
NACIONAL DA PROPRIEDADE INDUSTRIAL, 2018, IN n. 95)

Além disso, a nova normativa incorpora definições


relacionadas à Denominação de Origem, expressas no seu
parágrafo 5º, elucidando as expressões “fatores naturais, “fatores
humanos” e os termos “qualidades” e características”.

§ 5º Consideram-se as seguintes definições para fins de Denominação


de Origem:
I. Fatores naturais são os elementos do meio geográfico
relacionados ao meio ambiente, como solo, relevo, clima,
flora, fauna, entre outros, e que influenciam as qualidades ou
características do produto ou serviço;
II. Fatores humanos são os elementos característicos da
comunidade produtora ou prestadora do serviço, como o
saber-fazer local, incluindo o desenvolvimento, adaptação ou
aperfeiçoamento de técnicas próprias;
III. Qualidades são os atributos tecnicamente comprováveis e
mensuráveis do produto ou serviço, ou de sua cadeia de produção
ou de prestação de serviços;
IV. Características são traços ou propriedades inerentes ao
produto ou serviço, ou de sua cadeia de produção ou de prestação
de serviços.
Art. 3º As disposições desta Instrução Normativa estendem-se, ainda, à
representação gráfica ou figurativa da Indicação Geográfica, bem como

Volume II
410 Indicação Geográfica: conceitos, legislação e proposição

à representação geográfica de país, cidade, região ou localidade de seu


território de cujo nome seja indicação geográfica.
Parágrafo único. O elemento nominativo de representação gráfica deve
ser idêntico à Indicação Geográfica (INSTITUTO NACIONAL DA
PROPRIEDADE INDUSTRIAL, 2018, IN n. 95, grifo nosso)

Ampliaram-se as situações nas quais termos não são


considerados registráveis como Indicação Geográfica, pois são
suscetíveis de causar confusão, conforme disposto no artigo
4º dessa Instrução Normativa, “que reproduzam, imitem ou se
constituam por”:

I – nome geográfico ou seu gentílico que houver se tornado de uso


comum, designando produto ou serviço;
II – nome de uma variedade vegetal, cultivada ou não, que esteja
registrada como cultivar, ou que seja de uso corrente ou existente no
território brasileiro na data do pedido;
III - nome de uma raça animal que seja de uso corrente ou existente no
território brasileiro na data do pedido;
IV - homônimo à Indicação Geográfica já registrada no Brasil
para assinalar produto ou serviço idêntico ou afim, salvo quando
houver diferenciação substancial no signo distintivo. (INSTITUTO
NACIONAL DA PROPRIEDADE INDUSTRIAL, 2018, IN n. 95)

De fato, o texto avançou significativamente ante a Instrução


Normativa n. 25/2013 e contribuiu consideravelmente para o
melhor entendimento dos interessados. Além disso, a normativa
deixou os aspectos relacionados aos requerentes e usuários
do registro mais especificados, especialmente com a inserção
dos parágrafos 2º e 4º no artigo 5º e do artigo 6º, nos quais se
definem as condições de uso da Indicação Geográfica por parte
dos produtores e prestadores de serviço.
A Resolução n. 55 de 2013 do INPI dispõe sobre o depósito
dos pedidos de registro de Desenho Industrial e dos pedidos
de registro de Indicação Geográfica, além dos procedimentos

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Indicação Geográfica: conceitos, legislação e proposição 411

relativos à numeração destes pedidos (INSTITUTO NACIONAL


DA PROPRIEDADE INDUSTRIAL, 2018).
Em 2017, o INPI publicou a Instrução Normativa PR
n. 68, de 2 de março de 2017, que estabelece as condições
específicas para o Registro da Indicação Geográfica Cachaça.
A normativa define cláusulas sobre o requerente do registro
e o pedido do registro, bem como elenca a documentação
necessária (INSTITUTO NACIONAL DA PROPRIEDADE
INDUSTRIAL, 2018, IN n. 68).
Mais recentemente, em 2018, a Instrução Normativa PR
n. 91, de 6 de julho de 2018, alterou o artigo 16 da Instrução
Normativa PR n. 68, de 2 de março de 2017, que trata da cobrança
da retribuição correspondente (INSTITUTO NACIONAL DA
PROPRIEDADE INDUSTRIAL, 2018, IN n. 91).
A garantia da identidade e qualidade dos produtos e
serviços protegidos pelo instituto da Indicação Geográfica é
previsto legalmente. Segundo a LPI, no inciso IV do artigo 2º,

A proteção dos direitos relativos à propriedade industrial, considerado


o seu interesse social e o desenvolvimento tecnológico e econômico
do País, efetua-se mediante: repressão às falsas indicações geográficas.
(BRASIL, 1996, art. 2º)

Além disso, dos sinais não registráveis como marca,


incluem-se, conforme dispõe o inciso IX do artigo 124, a “[...]
indicação geográfica, sua imitação suscetível de causar confusão
ou sinal que possa falsamente induzir indicação geográfica”
(BRASIL, 1996, art. 124).
A legislação brasileira vai mais além, cria um Capítulo que
trata “Dos Crimes Contra Indicações Geográficas e Demais
Indicações”, atribuindo penas que vão desde a detenção ao
pagamento de multas:

Volume II
412 Indicação Geográfica: conceitos, legislação e proposição

Art. 192. Fabricar, importar, exportar, vender, expor ou oferecer à venda


ou ter em estoque produto que apresente falsa indicação geográfica.
Pena – detenção, de 1 (um) a 3 (três) meses, ou multa.
Art. 193. Usar, em produto, recipiente, invólucro, cinta, rótulo, fatura,
circular, cartaz ou em outro meio de divulgação ou propaganda,
termos retificativos, tais como “tipo”, “espécie”, “gênero”, “sistema”,
“semelhante”, “sucedâneo”, “idêntico”, ou equivalente, não ressalvando
a verdadeira procedência do produto.
Pena – detenção, de 1 (um) a 3 (três) meses, ou multa.
Art. 194. Usar marca, nome comercial, título de estabelecimento,
insígnia, expressão ou sinal de propaganda ou qualquer outra forma
que indique procedência que não a verdadeira, ou vender ou expor à
venda produto com esses sinais.
Pena – detenção, de 1 (um) a 3 (três) meses, ou multa. (BRASIL, 1996,
art. 192-194)

Histórico de Indicações Geográficas Concedidas


no Brasil
Segundo o INPI, que publica a Planilha de Acompanhamento
dos Pedidos/Registros de Indicações Geográficas, em janeiro de
2019 constavam 69 registros de Indicação Geográfica concedidos,
dos quais 19 são Denominação de Origem, sendo 11 registros
nacionais e oito estrangeiros, e 50 são registros de Indicação de
Procedência (INSTITUTO NACIONAL DA PROPRIEDADE
INDUSTRIAL, 2019).
Ao publicar o Atlas de Indicações Geográficas do Brasil,
em 2016, o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas
Empresas (SEBRAE) indicava que esta iniciativa vinha se
consolidando na região Sul e se expandindo pelas Regiões Sudeste
e Nordeste (GIESBRECHT; MINAS, 2016). As Regiões Centro
Oeste e Norte apresentavam somente uma Indicação Geográfica
concedida. Considerando a extensão geográfica destas duas
regiões e sua riqueza cultural, vê-se que há um longo caminho

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Indicação Geográfica: conceitos, legislação e proposição 413

a ser percorrido e muito esforço a ser realizado para que as


Indicações Geográficas venham a cumprir o seu papel de indutor
do desenvolvimento econômico no País.
O Quadro 1 apresenta as Indicações Geográficas na
modalidade Indicação de Procedência, concedidas pelo INPI até
janeiro de 2019.

Quadro 1 – Indicações de procedências do Brasil concedidas pelo INPI até janeiro


de 2019

Indicação de Procedência Produto ou serviço


Alta Mogiana Café
Altos Montes Vinho
Cachoeiro de Itapemirim Mármore
Canastra Queijo
Cariri Paraibano Renda renascença
Carlópolis Goiaba
Colônia Witmarsum Queijo
Cruzeiro do Sul Farinha de Mandioca
Divina Pastora Renda de agulha em lace
Farroupilha Vinho
Franca Calçados
Goiabeiras Panelas de barro
Linhares Cacau em amêndoas
Mara Rosa Açafrão
Maracaju Linguiça
Marialva Uvas finas de mesa
Maués Guaraná
Aguardente de Cana do tipo
Microrregião de Abaíra
Cachaça

Volume II
414 Indicação Geográfica: conceitos, legislação e proposição

Indicação de Procedência Produto ou serviço


Monte Belo Vinho
Mossoró Melão
Café verde em grão e
Norte Pioneiro do Paraná industrializado e torrado em grão e
ou moído
Mel de abelha Apis Melífera
Escutelata (Apis Africanizada) – Mel
Oeste do Paraná
de abelha Tetragonisca Augustula
(Jataí)
Pampa Gaúcho da Campanha
Carne bovina e seus derivados
Meridional
Pantanal Mel
Paraíba Têxteis em algodão colorido
Aguardentes, tipo cachaça e
Paraty
aguardente composta azulada
Opalas preciosas de Pedro II e joias
Pedro Ii
artesanais de opalas de Pedro II
Doces finos tradicionais e de
Pelotas
confeitaria
Piauí Cajuína
Pinto Bandeira Vinho tinto, branco e espumante
Serviços de Tecnologia da
Porto Digital
Informação
Região da Serra da Mantiqueira de
Café
Minas Gerais
Região das Lagoas Mundaú-
Bordado Filé
Manguaba
Região de Pinhal Café verde, torrado e moído
Região de Salinas Aguardente de cana tipo cachaça

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Indicação Geográfica: conceitos, legislação e proposição 415

Indicação de Procedência Produto ou serviço


Região do Cerrado Mineiro Café
Região do Jalapão do Estado de
Artesanato em Capim Dourado
Tocantins
Região São Bento de Urânia Inhame
Rio Negro Peixes ornamentais
Derivados de jabuticaba: licor,
Sabará geleia, molho, casca cristalizada e
compota
São João Del Rei Peças artesanais em estanho
São Matheus Erva-mate
São Tiago Biscoitos
Serro Queijo
Amêndoas de cacau (Theobroma
Sul Da Bahia
cacao L.)
Vale do Sinos Couro acabado
Vale do Submédio São Francisco Uvas de mesa e manga
Vale dos Vinhedos Vinho tinto, branco e espumantes
Vales da Uva Goethe Vinho da Uva Goethe
Venda Nova do Imigrante Socol
Fonte: Adaptado de Instituto Nacional da Propriedade Industrial (2019)

O Quadro 2 apresenta as concessões realizadas até janeiro


de 2019 pelo INPI na modalidade Denominação de Origem.

Volume II
416 Indicação Geográfica: conceitos, legislação e proposição

Quadro 2 – Denominações de Origem do Brasil concedidas pelo INPI até janeiro de


2019

Denominação de Origem Produto ou serviço


Litoral Norte Gaúcho Arroz
Própolis vermelha e extrato de
Manguezais de Alagoas
própolis vermelha
Costa Negra Camarões
Região da Própolis Verde de Minas
Própolis Verde
Gerais
Café verde em grão e café
Região do Cerrado Mineiro industrializado torrado em grão ou
moído
Gnaisse fitado milonítico de
Região Pedra Carijó Rio Janeiro coloração branca e pontos
vermelhos
Ortigueira Mel de abelha
Gnaisse milonítico de coloração
cinza possuindo três variedades:
Região Pedra Cinza Rio Janeiro
“olho de pombo”, “pinta rosa” e
“granito fino”
Gnaisse milonítico de coloração
Região Pedra Madeira Rio Janeiro clara com quatro variedades de cor:
branca, rosa, verde e amarela
Vale dos Vinhedos Vinho tinto, branco e espumante
Fonte: Adaptado de Instituto Nacional da Propriedade Industrial (2019)

Constata-se que o número de Denominações de Origem


concedidas pelo INPI, totalizando onze selos brasileiros até
2018, é bem inferior ao número de Indicação de Procedência, que
chegou a 50. Em ambos os casos, é importante ressaltar o quão
incipiente e pouco aproveitado ainda tem sido esta possibilidade
de registro de propriedade industrial no Brasil. Houve um período

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Indicação Geográfica: conceitos, legislação e proposição 417

de crescimento acelerado de concessões entre 2011 e 2012, tendo


retornado a valores mais modestos, embora superiores ao período
2002-2010 nos anos seguintes, o que pode ser visualizado na
Figura 1.

Figura 1 – Evolução do número de Indicações de Procedência e Denominações de


Origem brasileiras concedidas pelo INPI até 2018

Fonte: Elaborada pelos autores deste capítulo com base nos dados do INPI (2019)

Demonstrados por tipo de produtos nas Indicações


de Procedência, verifica-se que os alimentos estão em maior
número, com destaque para o café e os vinhos, seguido de queijos,
biscoitos e carnes. O artesanato demonstra o potencial ainda a ser
explorado no Brasil, cuja cultura e diversidade chamam a atenção
do mundo. Quando se trata de Denominação de Origem, as pedras
se destacam, o percentual seguido pelos alimentos, entre eles o
café, os vinhos e camarões. A própolis vermelha dos Manguezais
de Alagoas, por exemplo, é utilizada como nutracêutico ou como
medicamento, o que talvez possa justificar uma classificação à
parte.
Na Figura 2 é possível identificar 58 das 61 Indicações
Geográficas do Brasil em mapa produzido conjuntamente pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e pelo
INPI em outubro de 2018.

Volume II
418 Indicação Geográfica: conceitos, legislação e proposição

Figura 2 – Mapa das Indicações Geográficas

Fonte: INPI e IBGE (2018)

No período de 2014 a 2018 foram concedidos registros de


três Denominações de Origem, a saber: Mel de abelha – Apis
Mellífera, Ortigueira, Paraná; Própolis Verde de Minas Gerais,
região composta de 102 municípios de Minas Gerais; Banana da
Região de Corupá, parte dos municípios de Schroeder, Jaraguá do
Sul, Corupá, São Bento do Sul, Santa Catarina.
No mesmo período foram concedidas 20 Indicações de
Procedência em território nacional, como segue: Cajuína-Piauí;
Peixes Ornamentais – Rio Negro, municípios de Barcelos e Santa
Isabel do Rio Negro, Amazonas; Cachaça de Abaira, região da
Chapada Diamantina, Bahia; Mel – Pantanal, Mato Grosso;
Vinho Fino Branco Moscatel, Vinho Moscatel Espumante, Vinho
Frisante Moscatel, Vinho Licoroso Moscatel, Mistela Simples
Moscatel, Brandy de Vinho Moscatel – Farroupilha, Rio Grande
do Sul; Linguiça – Maracaju, Mato Grosso do Sul; Açafrão –

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Indicação Geográfica: conceitos, legislação e proposição 419

Mara Rosa, Goiás; Bordado Filé – Região das Lagoas Mundaú-


Manguaba, Alagoas; Goiaba – Carlópolis, Paraná; Café Verde e
Café Torrado e Moído – Região de Pinhal, São Paulo; Inhame
– São Bento de Urânia, Espírito Santo; Uvas Finas de Mesa –
Marialva, Paraná; Erva-mate – São Matheus, Paraná; Mel de
abelha Apis Melífera Escutelata (Apis Africanizada) – Mel de abelha
Tetragonisca Angustula (Jataí) – Oeste do Paraná, Paraná; Farinha de
Mandioca – Cruzeiro do Sul, Acre; Guaraná – Maués, Amazonas;
Amêndoas de cacau (Theobromacacao L.) – Sul da Bahia, Bahia;
Queijo – Colônia Witmarsum, Paraná; Socol – Venda Nova do
Imigrante, Espírito Santo; Derivados de jabuticaba: licor, geleia,
molho, casca cristalizada e compota – Sabará, Minas Gerais.

Preparando o Pedido de Registro de Indicação


Geográfica
A própria construção de uma Indicação Geográfica é
um processo dinâmico no qual diferentes grupos interagem
simultaneamente: produtores, consumidores, governo, técnicos,
associações, instituições acadêmicas e pesquisadores. A confiança
entre os atores é fator determinante para o sucesso ou insucesso
da empreitada. A sintonia e o respeito devido a cada um pode
impedir que, resolvidas as questões técnicas, organizacionais e
burocráticas, o pedido de registro de uma Indicação Geográfica se
prolongue por tempo indeterminado, ou mesmo não se concretize
por dissensões políticas entre associações ou comunidades,
causando frustração e descrédito entre os participantes.
A Instrução Normativa n. 95/2018 do INPI determina, por
meio do seu artigo 7o, os itens do pedido de registro. São nove
incisos que pontuam e descrevem os documentos necessários,
desde os formais que identificam o requerente até os de aspectos

Volume II
420 Indicação Geográfica: conceitos, legislação e proposição

técnicos, os quais definem e caracterizam a Indicação Geográfica


requerida.
A realização de estudo para a proposição de um pedido
de registro de Indicação Geográfica tem como pré-requisito o
levantamento da possível incidência do produto na região de
produção por ocorrência natural. Em caso positivo, devem ser
pesquisadas as razões do endemismo natural, verificando-se os
diversos elementos naturais, por exemplo, a temperatura do local,
a umidade relativa do ar, o nível e a frequência da incidência de
luz solar, o índice pluviométrico da área, as características do solo,
do ar etc., com vistas a determinar inclusive a impossibilidade e
inviabilidade de se efetuar o mesmo tipo de produção em outras
áreas do Brasil e/ou de outros países, justificando e motivando,
assim, o procedimento de pedido futuro de Indicação Geográfica
ao INPI.
No que tange aos serviços, deve-se realizar um levantamento
com o objetivo de identificar os serviços oferecidos na região
cujos prestadores executam de forma individualizada ou exclusiva,
inusitada ou excepcional, tornando-os especiais e essencialmente
diferenciados de outros e típicos da localidade onde são exercidos,
o que os faz potenciais candidatos a Indicações Geográficas.
Essa etapa do levantamento pode ser realizada por
pesquisadores e alunos de pós-graduação de Instituições
de Ciência e Tecnologia, como contribuição da Academia.
Concomitantemente, é necessário identificar o nível de
organização dos produtores e prestadores de serviços e o
quanto será necessário avançar. A organização de associações
é um dos pontos críticos no processo de pedido de registro de
Indicação Geográfica e uma das etapas mais importantes, pois a
organização implica em acordos que podem modificar o modus
operandi do grupo no sentido de estabelecimento de critérios e
adoção de normas de órgãos de controle no País que regulam os

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Indicação Geográfica: conceitos, legislação e proposição 421

diversos setores: alimentos, artesanato, produtos não madeireiros


extraídos da floresta, entre outros.
O entendimento de regras e normativas é frequentemente
demasiado complexo para populações tradicionais que vivem
em situação de isolamento ou cuja cultura obedece a requisitos
específicos, sendo um dos mais destacados e carentes de observação
a oralidade. O pesquisador/técnico que se propõe a trabalhar
junto a populações tradicionais precisa estar sensibilizado para o
valor do que é dito, visto que a cultura brasileira, em parte herdada
dos povos europeus, privilegia e reconhece primordialmente o
que está escrito. Não significa dizer que os povos tradicionais não
se submetem às mesmas regras, mas, tão somente, que o trabalho
flui quando o investigador reconhece a diferença, demonstra
respeito e dispõe-se a ouvir aqueles que detêm o conhecimento
tradicional.
Para a obtenção do selo de Indicação Geográfica, algumas
etapas devem ser cumpridas, vejamos:

a) Identificar geograficamente áreas produtoras de artigos


ou de prestação de serviços com características próprias
que tornaram conhecidas as regiões ou localidades como
centro de produção, fabricação ou extração do produto
ou prestação do serviço, para uma possível solicitação
de registro de Indicação de Procedência.
b) Identificar geograficamente áreas produtoras de
artigos ou de prestação de serviços com características
próprias possuidores de peculiaridades que se devam
essencialmente ao meio geográfico, incluindo fatores
naturais e humanos da região ou localidade, para um
possível pedido de registro de Denominação de Origem.

Volume II
422 Indicação Geográfica: conceitos, legislação e proposição

c) Identificar quais os fatores se diferenciam ou podem


influenciar na diferenciação dos produtos em si, tais
como sua qualidade, textura, sabor, coloração e outros.
d) Investigar a possível incidência do produto na região de
produção por ocorrência natural e suas razões.
e) Verificar os fatores naturais que determinam a ocorrência
do produto, tais como a temperatura do local, a umidade
relativa do ar, nível e frequência da incidência de luz
solar, o índice pluviométrico da área, as características
do solo, do ar, e outros.
f) Determinar a (im)possibilidade e a (in)viabilidade de
efetuar o mesmo tipo de produção em outras áreas do
Brasil e/ou de outros países.
g) Identificar na região serviços especiais oferecidos
e essencialmente diferenciados de outros e típicos
da localidade onde são exercidos, com potencial a
Indicações Geográficas.
h) Identificar as comunidades fabricantes de produtos com
características próprias e potencial para registro nos
parâmetros de uma Indicação Geográfica.
i) Verificar a organização dos produtores e prestadores
de serviços e, quando for o caso, ajudá-los a acessar os
caminhos necessários para atingir o nível de organização
requerido.

Do ponto de vista metodológico, a preparação de um pedido


de registro de Indicação Geográfica requer a realização de revisão
bibliográfica para verificar o estado da arte em que se encontra
o produto ou o serviço. Por meio da pesquisa bibliográfica é
possível conhecer, por exemplo, aspectos da flora da região e
o que é produzido em função dela, assim como as atividades
econômicas de prestação de serviços. Em seguida, é requerida
uma literatura mais específica sobre produtos e serviços pelos

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Indicação Geográfica: conceitos, legislação e proposição 423

quais as diferentes áreas tenham ficado conhecidas como centro de


produção, com características específicas devidas essencialmente
ao meio geográfico, incluindo fatores naturais e humanos. Passa-
se, então, à etapa descritiva, que visa a apresentar os produtos e as
áreas identificadas como produtoras, delineando os detalhes que
os fazem típicos, únicos, e assim, fortes pretendentes à obtenção
do selo de Indicação Geográfica.
Importantes instrumentos de apoio, além da revisão
bibliográfica, são as entrevistas estruturadas ou com preenchimento
de formulários com produtores, profissionais e pesquisadores
das diversas disciplinas ligados à produção da região, tais como
engenheiros agrônomos, nutricionistas, artesãos, empresários e
outros.
A mais recente alteração nas normas de submissão de
pedidos de Indicação Geográfica (até a conclusão deste texto) é a
Resolução n. 233, de 18 de janeiro de 2019, que institui o Módulo
de Peticionamento Eletrônico de Indicações Geográficas.
A partir de 30 dias da publicação desta Resolução, todo o
procedimento passará a ser eletrônico, com os originais dos
documentos sendo mantidos pelo usuário, e o peticionamento
em papel será descontinuado (INSTITUTO NACIONAL DA
PROPRIEDADE INDUSTRIAL, 2019).

Considerações Finais
As Indicações Geográficas, como o próprio nome
diz, promovem os produtos ou serviços de determinados
territórios, oportunizam a valorização de produtos e serviços
com características regionais, bem como contribuem com o
desenvolvimento local e a competitividade nos mercados, trazendo
inúmeros benefícios para o consumidor e produtor. Trata-se de
um mecanismo de proteção da propriedade intelectual utilizado

Volume II
424 Indicação Geográfica: conceitos, legislação e proposição

e aperfeiçoado desde a antiguidade. Hoje são regidas por acordos


internacionais e normas locais, sendo que no Brasil a matéria é
regulada pela LPI, além de normativas internas do INPI.
O selo de Indicação Geográfica pode ser considerado
como uma verdadeira garantia para o consumidor, pois indica
que se trata de um produto genuíno, cuja especificidade se deve à
sua origem. Ademais, assegura que o produto tem história, conta
com uma forma específica de produção local e boa reputação em
função das características da região onde foi produzido.
Embora tenha havido um notável aumento do número de
registros de Indicações Geográficas no Brasil ao longo dos últimos
anos, especialmente na modalidade Indicação de Procedência,
registra-se um pequeno avanço nas regiões Norte e Centro-
Oeste, o que atesta ainda mais o potencial para crescimento deste
instrumento.
Políticas públicas voltadas para esta modalidade de
propriedade intelectual podem ser reforçadas com grande
potencial de retorno, em particular dado o seu caráter coletivo e
seu potencial de influenciar positivamente na vida de grupos que
privilegiam saberes tradicionais e/ou características específicas de
seu território.

Referências
BARBOSA, Denis Borges. Uma introdução à propriedade
intelectual. 2. ed. rev. atual. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2003.
BRASIL. Decreto n. 1.355, de 30 de dezembro de 1994.
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Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Indicação Geográfica: conceitos, legislação e proposição 425

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FÁVERO, K. C. As Indicações Geográficas como
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Volume II
426 Indicação Geográfica: conceitos, legislação e proposição

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INDUSTRIAL (INPI). Instrução Normativa INPI/PR n. 68,
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Registro da Indicação Geográfica Cachaça. [2017]. Disponível
em: http://www.inpi.gov.br/menu-servicos/marcas/arquivos/
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INSTITUTO NACIONAL DA PROPRIEDADE
INDUSTRIAL (INPI). Instrução Normativa PR n. 91, de 6
de julho de 2018. Altera o artigo 16 da Instrução Normativa
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Disponível em: http://www.inpi.gov.br/menu-servicos/marcas/
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INSTITUTO NACIONAL DA PROPRIEDADE
INDUSTRIAL (INPI). Instrução Normativa PR n. 95/2018,
de 28 de dezembro de 2018. Que estabelece as condições para
o registro das Indicações Geográficas. [2018]. Disponível em:
http://www.inpi.gov.br/menu-servicos/indicacao-geografica/
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INSTITUTO NACIONAL DA PROPRIEDADE
INDUSTRIAL (INPI). Resolução n. 233, de 18 de janeiro
de 2019. Institui o Módulo de Peticionamento Eletrônico
de Indicações Geográficas do Sistema Eletrônico de Gestão
de Propriedade Industrial e dá outras providências. [2019].
Disponível em: http://www.inpi.gov.br/noticias/inpi-lanca-
peticionamento-eletronico-de-indicacoes-geograficas/res_inpi_
pr_233_2019.pdf. Acesso em: 25 jan. 2019.
INSTITUTO NACIONAL DA PROPRIEDADE
INDUSTRIAL (INPI). Resolução PR n. 55, de 18 de março
de 2013. Dispõe sobre o depósito dos pedidos de registro

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Indicação Geográfica: conceitos, legislação e proposição 427

de desenho industrial e dos pedidos de registro de indicação


geográfica e dos procedimentos relativos a numeração destes
pedidos. Disponível em: http://www.inpi.gov.br/legislacao-1/
resolucao_55-2013.pdf. Acesso em: 5 fev. 2019.
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INDUSTRIAL (INPI); INSTITUTO BRASILEIRO DE
GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). INPI e IBGE
lançam a edição 2018 do mapa das IGs brasileiras. [2018].
Disponível em: ftp://geoftp.ibge.gov.br/cartas_e_mapas/
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KRÜCKEN-PEREIRA, L. O processo de valorização de
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2001. 167f. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção)
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2018.

Volume II
Indicações Geográficas com Foco em
Aplicações

Kelly Lissandra Bruch


Rejane Sartori
Weliton Monteiro Perdomo

Resumo: O acirrado desafio de introduzir produtos no mercado, frente à competitividade


de empresas, faz com que seja necessário buscar alternativas e soluções que promovam
um diferencial e que agreguem valor aos produtos. Desse modo, uma das formas
empregadas pode ser o reconhecimento de uma Indicação Geográfica (IG), que vista
como estratégica tem a possibilidade de capilarmente promover o desenvolvimento
local e regional e de motivar pequenos produtores agregados a associações e/ou
cooperativas a manterem as tradições ligadas à produção do agronegócio, estimulando
a criação de produtos únicos com apelo ao turismo local e diferencial competitivo.
Ao comprovar que produtos e/ou serviços têm um legado originado de uma região
específica, a IG surge como uma forma de reconhecer sua origem, atribuindo-lhe uma
identidade própria. Como um ativo da propriedade industrial, a IG vem expandindo
seu papel no cenário econômico mundial como uma opção para a promoção de
desenvolvimento social e cultural sob uma perspectiva que valoriza a ação coletiva e a
identidade local.

Abstract: The intense challenge of introducing products to the market, in face of


the competitiveness of companies, has led to the search for alternatives and solutions
that promote differential and add value to products. Thus, one of the forms used may
be the recognition of a Geographical Indication (IG), which, viewed as strategic, has
the potential to promote local and regional development, as well as to motivate small
aggregate producers to associations and/or cooperatives to maintain traditions related
to agribusiness production, stimulating the creation of unique products with appeal
to local tourism and competitive differential. When proving that products and/or
services have a legacy originating from a specific region, the GI appears as a way of
recognizing its origin, giving it its own identity. As an industrial property asset, GI has
expanded its role in the world economic scenario as an option for promoting social and
cultural development from a perspective that values collective action and local identity.
Indicações Geográficas com Foco em Aplicações 429

Introdução
A ciência, a tecnologia e a inovação são as principais molas
propulsoras do desenvolvimento da economia e da sociedade atual
e à medida que as sociedades se desenvolvem, cidades e regiões
ganham reputação e notoriedade decorrente de seus produtos e/
ou serviços, seja por suas características indenitárias únicas, por
sua qualidade diferenciada ou pelos aspectos culturais e históricos
que os permeiam. Ao se comprovar que estes produtos e/ou
serviços têm um legado originado de uma localidade específica, a
Indicação Geográfica (IG) surge como uma forma de reconhecer
sua origem, atribuindo-lhe uma identidade própria.
A IG tem origem na busca da preservação da tradição, da
cultura, da história e do saber fazer de um determinado lugar.
Sua proteção iniciou-se de forma negativa, mediante a repressão
às falsas indicações de procedência (IPs) que buscavam usurpar
a reputação conquistada por determinados lugares, notadamente
na França e em Portugal. É em face desta busca pela proteção que,
por exemplo, incluiu-se na Convenção União de Paris de Proteção
à Propriedade Industrial (CUP), em sua versão originária de 1883,
seu artigo 101. É também devido a esta iniciativa, especialmente da
França, que se firma o Acordo de Madrid referente às falsas IPs,
de 1891. O Brasil é signatário dos dois acordos que continuam
vigentes (BRUCH, 2013).
Todavia, verificou-se que apenas a repressão não era
suficiente.Desse modo, os países passaram a estabelecer leis
nacionais de reconhecimento e proteção positivas às IG. É nesse
sentido que a França cria o Ato de 05 de outubro de 1908, que
estabelece as appellations, possibilitando o reconhecimento destas

1
Art. 10o As disposições do artigo precedente serão aplicáveis a todo o
produto que tiver falsamente, como indicação de procedência, o nome de
uma localidade determinada, quando esta indicação estiver junto a um nome
comercial fictício ou alheio (emprunté) usado com intenção fraudulenta.

Volume II
430 Indicações Geográficas com Foco em Aplicações

mediante Decreto se demonstrassem ter uso local, leal e constante.


Assim se reconhece Champagne pelo Decreto de 17 de dezembro
de 1908 e Bordeaux pelo Decreto de 18 de fevereiro de 1911.
Também nesse sentido é publicada a lei francesa de 6 de maio de
1919, que cria a definição de appellation d’origine ou denominação de
origem (DO), cujas áreas deveriam ser reconhecidas por decisão
judicial que considerava para tanto a origem e a área delimitada.
Em face da inexistência de critérios precisos, por fim, é publicada
a lei francesa em 22 de julho de 1927, que cria o que ainda hoje
se denomina de appellation d’origine contrôlée, ou denominação de
origem controlada, que determina que o reconhecimento se
daria mediante o reconhecimento do terroir e a identificação das
variedades consagradas (BRUCH, 2013).
É devido a esta definição de AOC francesa que, no âmbito
internacional, se cria o Acordo de Lisboa relativo à proteção
das DOs e ao seu registro internacional e o seu Regulamento
de Execução, firmado em 1958, do qual o Brasil não é membro
aderente. Este Acordo define, pela primeira vez, no âmbito
internacional, o que é uma DO2. Todavia, trata-se de uma
definição bastante restritiva e em face desta há pouca adesão de
países membros (BRUCH, 2013).
Assim, não havendo no âmbito internacional uma definição
mais abrangente que a apresentada pelo Acordo de Lisboa e
que fosse mais protetiva que a do Acordo de Madrid, inclui-
se em 1994, no âmbito das negociações que dão nascimento à
Organização Mundial do Comércio, em um acordo específico
sobre propriedade intelectual, notadamente o Acordo sobre

2
Art. 2. 1) Entende-se por denominação de origem, no sentido do presente
Acordo, a denominação geográfica de um país, região ou localidade que serve
para designar um produto dele originário cuja qualidade ou caracteres são
devidos exclusiva ou essencialmente no meio geográfico, incluindo os fatores
naturais e os fatores humanos. 2) O país de origem é aquele cujo nome, ou no
qual está situada a região ou localidade cujo nome constitui a denominação de
origem que deu ao produto a sua notoriedade.

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Indicações Geográficas com Foco em Aplicações 431

Aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual Relacionados


ao Comércio (TRIPS), a definição de IG como indicações que
qualificam um produto e/ou serviço como originário de um
território específico, quando “determinada qualidade, reputação
ou outra característica do produto seja essencialmente atribuída a
sua origem geográfica” (BRASIL, 1994).
Concomitantemente a isso, firma-se no âmbito do Mercado
Comum do Sul (Mercosul) a Resolução MERCOSUL/CMC/
DEC. n. 8/95 – Protocolo de harmonização de normas sobre
propriedade intelectual no Mercosul, em matéria de marcas, IPs e
DOs, a qual as define3 (BRUCH, 2013).
O Brasil, embora tenha em seu histórico legislação que
trata da repressão às falsas IPs desde o início do século XX
(BRUCH; COPETTI, 2010), apenas em face da obrigatoriedade
estabelecida no TRIPS inclui no direito brasileiro, na Lei de
Propriedade Intelectual (LPI), Lei n. 9.279/1996, de 14 de maio
de 1996, a proteção às IGs, mas de acordo com o Mercosul e não
exatamente seguindo a definição contida no TRIPS (BRUCH,
2013). Assim, estabelece em seus artigos 176, 177 e 178:

Art. 176. Constitui indicação geográfica a indicação de procedência ou


a denominação de origem.
Art. 177. Considera-se indicação de procedência o nome geográfico
de país, cidade, região ou localidade de seu território, que se tenha
tornado conhecido como centro de extração, produção ou fabricação
de determinado produto ou de prestação de determinado serviço.
Art. 178. Considera-se denominação de origem o nome geográfico de
país, cidade, região ou localidade de seu território, que designe produto

3
Art. 19 2) Considera-se indicação de procedência o nome geográfico de país,
cidade, região ou localidade de seu território, que seja conhecido como centro
de extração, produção ou fabricação de determinado produto ou de prestação
de determinado serviço. 3) Considera-se denominação de origem o nome
geográfico de país, cidade, região ou localidade de seu território, que designe
produtos ou serviços cujas qualidades ou características devam-se exclusiva ou
essencialmente ao meio geográfico, incluídos fatores naturais ou humanos.

Volume II
432 Indicações Geográficas com Foco em Aplicações

ou serviço cujas qualidades ou características se devam exclusiva


ou essencialmente ao meio geográfico, incluídos fatores naturais e
humanos (BRASIL, 1996).

Dessa forma, por meio do reconhecimento de uma IG


pressupõe-se a existência de uma delimitação territorial, da
qual sejam originários os produtos ou serviços que se tornaram
conhecidos e, no caso da DO, que fatores naturais e humanos são
devidos ao meio geográfico de onde estes têm origem, agrupando
esses produtores e prestadores de serviço em torno de um signo
distintivo de uso coletivo, que serve para diferenciar o produto
dessa região ante aos demais (CALDAS; CERQUEIRA; PERIN,
2005).
Como um ativo da propriedade industrial, a IG vem
expandido seu papel no cenário econômico mundial. Além de sua
finalidade voltada para as transações comerciais, a IG surge como
uma opção para a promoção de desenvolvimento social e cultural
sob uma perspectiva que valoriza a ação coletiva e a identidade
local (MARINS; CABRAL, 2015).
Desse modo, este capítulo demonstra o processo de
reconhecimento de duas experiências de IG do setor vitivinícola
do sul do Brasil, a IG para a produção de uvas finas de mesa
do município de Marialva, localizado no estado do Paraná, e as
IGs de vinhos reconhecidas no Rio Grande do Sul. Estudos
dessa natureza são relevantes uma vez que no Brasil a IG é tema
recente, sendo que os primeiros registros efetuados junto ao
Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) ocorreram
a partir de 1999, e a primeira IP brasileira foi reconhecida apenas
em 2002 (INPI, 2018).
Para tanto, este capítulo está estruturado em cinco partes.
Além desta introdução, a seção seguinte trata dos aspectos
teóricos e conceituais relativos às IG. Na terceira seção relatam-
se os procedimentos metodológicos empregados neste estudo.

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Indicações Geográficas com Foco em Aplicações 433

Na quarta seção são apresentados os casos da IP Marialva para


uvas finas de mesa e da IP e DO Vale dos Vinhedos para vinhos.
Por fim, na quinta e última seção constam as conclusões, seguida
das referências utilizadas.

Indicações Geográficas – Aspectos Teóricos e


Conceituais
A noção do que é uma IG surge de forma gradativa
quando produtores e consumidores passaram a perceber
sabores ou qualidades peculiares de determinados produtos que
consistentemente provinham de determinados locais. Ou seja,
qualidades – que não são nem melhores nem piores, mas típicas,
diferenciadas – não encontradas em produtos equivalentes feitos
em outro local (CERDAN et al., 2014).
Em face disso inicia-se o processo de denominar estes
produtos, que apresentavam esta reputação com o nome
geográfico de sua proveniência. Ressalta-se que os vinhos
foram os primeiros que se destacaram neste uso e nos quais esta
influência inicialmente começou a ser observada. As qualidades
desses produtos, ligados à sua origem, devem-se ao ambiente nos
quais são elaborados, o que ia muito além das condições naturais
(edafoclimáticas) e incluíam os fatores humanos e as relações
sociais. Sob este aspecto, o conceito de IG mostra-se importante,
pois destaca as particularidades de produtos provenientes de
diferentes regiões, valorizando seus respectivos territórios, suas
culturas e tradições (CERDAN et al., 2014).
Nesse sentido, pode-se definir que a IG, no contexto
brasileiro, é um nome geográfico que distingue um produto ou
serviço de seus semelhantes ou afins por apresentar características
diferenciadas que podem ser atribuídas à sua origem geográfica,
configurando nestes o reflexo de fatores naturais e humanos

Volume II
434 Indicações Geográficas com Foco em Aplicações

(CERDAN et al., 2014). Trata-se de um signo distintivo, de


uso coletivo, restrito a produtores e/ou prestadores de serviço
estabelecidos em determinado local. Por tratar-se de um direito
de propriedade intelectual, traz no seu escopo o direito de excluir
terceiros que não estejam estabelecidos no local e, no caso da
DO, excluir aqueles que não cumpram os requisitos de qualidade
estabelecidos no regulamento de uso (BRASIL, 1996, art. 182).
No Brasil, em conformidade com a LPI, DO e IP compõem
as duas modalidades de IGs, as quais têm sido consideradas
como formas de mobilização e valorização dos territórios
e de agregação de valor aos produtos típicos e de qualidade
diferenciada (BRASIL, 1996).
O reconhecimento de uma IP é uma forma de proteção
da notoriedade adquirida pelos produtos ou serviços em face da
sua proveniência e, portanto, deve ter como referência a origem
geográfica da produção ou prestação de serviços, identificando-
os. É possível garantir a exclusividade de uso a um grupo de
pessoas em razão da reputação que a região obteve na produção
de um bem, da qualidade ou de outras características atribuídas
à origem (INPI, 2018). Desse modo, a IP deve estar diretamente
relacionada ao nome geográfico da região em que se encontra
e que obteve notoriedade na extração, produção ou fabricação
de determinado produto ou prestação de determinado serviço.
Dessa maneira, o seu reconhecimento pode propiciar a criação de
valor local e estímulo ao desenvolvimento territorial.
Diferentemente da IP, a DO estende-se ao nome do local
devido aos atributos característicos inerentes à origem geográfica
(INPI, 2018). Todavia, nesses casos, o que se verifica, além da
notoriedade da região, é se esses produtos ou serviços se tornaram
conhecidos por terem qualidades ou características que se devam
exclusiva ou essencialmente ao meio geográfico, no qual devem
ser compreendidos seus fatores naturais – tais como clima, solo e

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Indicações Geográficas com Foco em Aplicações 435

relevo, e também os fatores humanos – como a tradição, a cultura,


a história e o saber fazer.
Em face do reconhecimento, confere-se aos solicitantes a
exclusividade de uso da DO ou IP. Esse registro é concedido em
cada país por órgãos oficiais, e no caso do Brasil, é de competência
do INPI, uma Autarquia Federal. Esse reconhecimento possibilita
aos produtores certa vantagem competitiva no mercado em razão
de outros do mesmo segmento. Também garante a exclusividade
de uso das referidas denominações e permite que os produtores
ou prestadores de serviços divulguem seus produtos ou serviços,
possibilitando a agregação de valor – que pode ser financeiro ou
não – e uma garantia de demanda mais constante.
Mundialmente a IG é caracterizada por aspectos de
notoriedade, seja por conglomerados de empreendimentos, que
viabilizam produtos diferenciados, ou pela configuração de novos
modelos de negócio com agregação de valor à territorialidade
e gênese geográfica específica (NIEDERLE, 2012). No setor
agroalimentar, a estratégia de agregar valor a produtos e serviços
por meio de IG tem permitido o desenvolvimento econômico
e cultural de regiões, bem como o enraizamento de pequenos
produtores em suas práticas tradicionais. A IG, vista como
estratégica, tem a possibilidade de capilarmente promover o
desenvolvimento local e regional, bem como motivar pequenos
produtores agregados a associações e/ou cooperativas a
manterem as tradições ligadas à produção do agronegócio,
estimulando a criação de produtos únicos com apelo ao turismo
local e diferencial competitivo (LAGES; LAGARES; BRAGA,
2005).
Quanto ao apelo turístico, D´Alexandria (2015) afirma que
IGs como a do Vale dos Vinhedos, do Vale do Submédio do
São Francisco, da Cachaça de Paraty, da Região de Salinas, da
Região do Jalapão do estado do Tocantins, entre outras, foram

Volume II
436 Indicações Geográficas com Foco em Aplicações

capazes, além de agregar maior valor aos produtos ou serviços, de


estimular a criação de roteiros turísticos, com potencialização de
empreendimentos nas áreas de gastronomia, hotelaria, agências
de turismo e novos modelos de negócio. Esse incremento nos
negócios é também constatado por Scheneider, Zilli e Vieira
(2017), que em seus estudos sobre os impactos da IP Vales da
Uva Goethe relataram que além da agregação significativa do
valor da produção, ocorreu um crescimento de 15% de visitas de
turistas na região.
Para o reconhecimento de uma IG é necessário preencher
requisitos e critérios previstos na LPI e na Instrução Normativa
n. 95/2018 do INPI. O pedido deve constituir-se na apresentação
de formulário devidamente preenchido, de documentos
comprobatórios específicos e da guia de recolhimento da União
devidamente quitada. Entre os documentos comprobatórios
são solicitados aqueles que comprovem a legitimidade do
requerente, que atestem as características inerentes às IPs e às
DOs, e a representação gráfica ou figurativa cujo signo distintivo
representará a IG.
Para comprovar a legitimidade do requerente, entre outros,
solicita-se:

a) Instrumento comprobatório da legitimidade da entidade


requerente em representar a coletividade estabelecida na
área delimitada.
b) Comprovação de que os produtores ou prestadores
de serviços estão estabelecidos na área geográfica
demarcada e exercendo a atividade econômica no local
que buscam proteger.
c) Documentos referentes aos atos constitutivos da
entidade requerente.

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Indicações Geográficas com Foco em Aplicações 437

d) Documento que identifique o representante legal da


entidade requerente.
e) Procuração, se for o caso.

Da documentação técnica, solicita-se, entre outros:

a) O caderno de especificações técnicas da IG.


b) O instrumento oficial que delimita a área geográfica,
emitido por autoridade competente, fazendo uso das
normas do Sistema Cartográfico Nacional vigente.
c) A descrição do produto ou serviço.
d) Para pedido de IP, descrição do processo de extração,
produção ou fabricação do produto ou de prestação
do serviço, pelo qual o nome geográfico se tornou
conhecido.
e) Para pedido de DO, a descrição das qualidades ou
características do produto ou serviço que se devam
exclusiva ou essencialmente ao meio geográfico,
incluindo os fatores naturais e humanos, e seu processo
de obtenção ou prestação.
f) A descrição do mecanismo de controle sobre os
produtores ou prestadores que tenham o direito ao uso
exclusivo da IG, bem como sobre produto ou prestação
do serviço distinguido pela IG.

Por fim, deve-se apresentar um signo distintivo que pode


ser nominativo, figurativo ou misto.
O registro deve se referir a um único nome geográfico,
sendo que é este nome que deve ter se tornado conhecido como
origem do produto ou serviço. Além disso, deve conter a descrição
do produto ou serviço e suas características, destacando-se
aquelas que podem ser atribuídas à origem geográfica no caso da

Volume II
438 Indicações Geográficas com Foco em Aplicações

DO, incluindo-se notadamente os fatores naturais e humanos, e


aquelas que derem reputação ao local, no caso da IP (BRASIL,
1996; INPI, 2018).
Assim, é necessário apresentar os aspectos que possibilitam
comprovações referentes à inovação, tecnologia, alto padrão de
qualidade, bem como os saberes tradicionais e características das
regiões, que têm relevância no desenvolvimento social e cultural.
As particularidades do produto objeto da IG que levam à referida
distinção são alvo de inúmeras revisões literárias envolvendo a
cadeia produtiva, além do envolvimento de diferentes instituições
e atores compreendidos na criação e elaboração de argumentos
a serem defendidos no momento da solicitação e posterior
obtenção da IG (LAGES; LAGARES; BRAGA, 2005).
Para que todos os requisitos sejam atendidos é indispensável
a realização de um trabalho articulado e integrado entre
produtores, associações, governo, universidades, instituições de
pesquisa e de apoio, entre outros (MARINS; CABRAL, 2015).
Destaca-se que sem a participação efetiva e liderança
daqueles que estão na região, uma IG, embora possa ser
reconhecida, pode fracassar no período que pode ser denominado
de “pós-IG”, ou seja, após sua implementação efetiva. Também
o regulamento de uso deve estar de acordo com a realidade
do território e devidamente acordado com os atores locais,
notadamente produtores e prestadores de serviço, para que
possa ser exequível. Por fim, esse regulamento de uso deve
ser passível de ser controlável, ou seja, apenas as caraterísticas
diferenciadoras do produto ou serviço devem constar nele e estas
devem ter caráter objetivo para que seu controle seja realizado
pelo Conselho Regulador ou órgão equivalente. Cumprimento de
leis ambientais ou trabalhistas já é obrigatório para todos aqueles
que praticam o comércio, assim, o regulamento de uso deve se

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Indicações Geográficas com Foco em Aplicações 439

ater às diferenças que efetivamente garantem reputação à região e


que são de controle facultativo (ABNT 16536, 2016).

Procedimentos Metodológicos
O presente estudo diz respeito a uma análise de caráter
exploratório, com abordagem qualitativa, sustentado no estudo
de dois casos do setor vitivinícola do sul do Brasil. Além de
uma consulta à bibliografia recente, no caso da IP de Marialva
foram examinados documentos do Instituto Paranaense de
Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes), Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Empresa Brasileira
de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Empresa de Assistência
Técnica e Extensão Rural (Emater), Embrapa Centro Nacional
de Pesquisa de Uva e Vinho (Embrapa Uva e Vinho), Secretaria
de Estado da Agricultura e Abastecimento (SEAB) e Prefeitura
Municipal de Marialva. Foram realizadas ainda, em setembro de
2017, entrevistas não estruturadas com um dos responsáveis pelo
estudo e pela implantação dos requisitos da IP e com o presidente
da Associação de Fruticultores do Noroeste do Paraná (Anfrut).
Para a análise do caso do Vale dos Vinhedos, foram
consultados documentos do INPI, da Associação dos
Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale),
da Universidade de Caxias do Sul (UCS), do Instituto Brasileiro
do Vinho (Ibravin), entre outros.

O Caso da Indicação Geográfica da Uva de


Marialva
A peculiaridade das uvas produzidas na região de Marialva
está vinculada diretamente com o solo roxo, rico em nutrientes,
e o clima da região. Esses elementos combinados tornam-se

Volume II
440 Indicações Geográficas com Foco em Aplicações

propícios para a obtenção de elevados padrões de Brix4, contudo,


não se pode deixar de destacar que, ocasionalmente, fatores
críticos de sucesso, como excesso de chuva, podem prejudicar a
qualidade do produto (ASSOCIAÇÃO NORTE PARANAENSE
DE ESTUDOS EM FRUTICULTURA, 2015a).
Marialva é um município com uma população estimada em
torno de 35.000 habitantes e área total de 475,564 km², localizado
no noroeste do Estado do Paraná. Possui a maior área destinada
à cultura da uva desse Estado, com cerca de 1.500 hectares,
enquanto outros municípios paranaenses que se dedicam ao
cultivo dessa fruta, como Assaí e Bandeirantes, possuem entre
215 e 220 hectares. Assim, a cidade é considerada um dos polos
de produção de uvas finas de mesa no Estado (IBGE, 2015).
Os descendentes de japoneses da região tiveram grande
influência no cultivo de uvas de mesa em Marialva. Na década de
1960 foram os primeiros a apostarem na viticultura, a qual teve
grande impulso no final dos anos 1980 e atingiu seu ápice no
ano 2000 (ALMEIDA; SERRA, 2012), passando a movimentar
a economia do município com variedades como a Uva Brasil,
Benitaka, Niágara, Rubi, Itália, e a mais recente, a Uva Vitória
(ASSOCIAÇÃO NORTE PARANAENSE DE ESTUDOS EM
FRUTICULTURA, 2015a).
No decorrer dos anos, as políticas públicas também
influenciaram positivamente no fortalecimento da viticultura
na região por meio de programas de financiamento voltados
exclusivamente para as propriedades produtoras de uva, assim
como na criação de legislação específica para a atividade (PMM,
2018).
Quatro fatores foram determinantes para o crescimento
da viticultura no município de Marialva: 1) a proximidade dos

4
Escala numérica que mede a quantidade de sólidos solúveis em uma fruta.
Pode ser considerado o grau de doçura de uma fruta ou um líquido.

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Indicações Geográficas com Foco em Aplicações 441

grandes mercados consumidores; 2) a possibilidade de colheita


para as festas de final de ano; 3) a realização de duas safras anuais; e
4) a produção pelo sistema de parceria (ASSOCIAÇÃO NORTE
PARANAENSE DE ESTUDOS EM FRUTICULTURA, 2015a).
É necessário evidenciar que foram as pequenas propriedades
que consolidaram a cultura da uva como a base econômica local.
No ano de 1988 eram 180 hectares cultivados e atualmente
são cerca de 1.500, com produção de 150 mil toneladas por
ano, em duas safras, envolvendo 1.500 famílias na atividade e
empregando aproximadamente seis mil pessoas (PMM, 2018).
Marialva contribui com aproximadamente 40% do total dessa
produção no estado do Paraná (IBGE, 2015). A uva responde
por 60% da receita agrícola do município (PMM, 2018). Assim,
a atividade cresceu e ganhou espaço no cenário da economia
devido ao trabalho e empenho de produtores e de especialistas
da área técnica e, em decorrência disso, a cidade recebeu o título
de Capital da Uva Fina.
Outros fatores que permitem enfatizar a importância da
uva fina para o município é o fato de que a agropecuária res-
pondeu, em 2015, por 9,93% de todo o valor adicionado bruto
a preços básicos de Marialva (IPARDES, 2017); no ano de 2016
o valor bruto da produção (VBP) da agricultura representou, no
município, 90% do VBP da agropecuária, e o VBP da uva 20%
do VBP da agricultura, mais do que o VBP do milho, perdendo
somente para a soja (SEAB, 2016).
A partir da compreensão da importância atribuída à
produção da uva no município de Marialva para a economia local,
um grupo de atores e instituições da região, preocupados com a
manutenção das áreas produzidas, com a possibilidade de evasão
rural, com a necessidade de geração de uma identidade própria
e aumento de ganho para os produtores, vislumbraram na IG

Volume II
442 Indicações Geográficas com Foco em Aplicações

uma estratégia para alavancar as propriedades rurais por meio de


agregação de valor ao produto produzido.
Assim, decorrente de um trabalho estimulado pelo Serviço
Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) em
diversas regiões do país, a iniciativa para a solicitação da IG da uva,
na modalidade IP, partiu, inicialmente, de uma equipe técnica do
Sebrae Paraná Regional Noroeste, com o apoio dos produtores e
poder público. Esse processo foi constituído em diversas etapas,
sumarizadas no Quadro 1 e descritas na sequência.

Quadro 1 – Etapas do processo de solicitação da IG

Etapa Descrição
Especialistas da área da produção agrícola
Pesquisa com especialistas
para definição da região.
Pesquisa com produtores de uva na
Levantamento de campo
região.
Identificação de aspectos mercadológicos
Levantamento logístico
e de potencial de comercialização.
Requisitos necessários à obtenção da IG
Descrição teórica e dados históricos da produção de uva na
região.
Profissionalização da Capacitação para produtores e lideranças
produção sobre IG.
Juntada de documentos e relatórios para
Envio ao INPI
posterior envio.
Fonte: Elaborado pelos autores deste capítulo

Inicialmente, o Sebrae efetuou uma breve pesquisa na


região, que contou com o apoio de especialistas da área de
produção agrícola. Entre as áreas produtoras Marialva foi
escolhida para iniciar o processo de solicitação da IP da uva em
função, principalmente, da qualidade do produto.

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Indicações Geográficas com Foco em Aplicações 443

A Anfrut foi convidada para realizar pesquisas com a


finalidade de embasar a viabilidade de uma IP. Foi necessário um
levantamento de campo, o qual foi realizado por especialistas
em engenharia agronômica ligados ao Sebrae. Houve ainda uma
fase de levantamento logístico, descrição teórica dos requisitos
necessários à obtenção da IP e dados históricos da produção
de uva na região, material esse que deu sustentação ao aparato
documental encaminhado ao INPI e que contou com o apoio
de profissionais da Universidade Estadual de Maringá, da
Universidade Estadual de Londrina e suporte do Sebrae Paraná.
De acordo com os resultados das entrevistas, essa
documentação contemplou desde entrevistas com pioneiros
da uva em Marialva até a apresentação e análise de indicadores
econômicos estratégicos, como volume de produção e vendas,
mão de obra empregada, entre outros, que comprovassem a
importância da cultura para o município e região. Foram mais de
40 anos de história catalogados.
Ademais, segundo relatos obtidos a partir de entrevista,
alguns dos atores envolvidos nesse processo, como representantes
do Sebrae e da área técnica dessa entidade e os produtores de uva
de Marialva, participaram de treinamentos a fim de obter maior
conhecimento a respeito do tema IG, e ainda participaram de
rodadas de negócio pelo país.
Conforme os relatos dos entrevistados, o processo de
preparação para a solicitação da IP junto ao INPI foi dividido em
duas fases para melhor aproveitamento dos recursos e pessoas.
Em um primeiro momento os técnicos do Sebrae sugeriram
iniciar com a atuação de 30 produtores rurais, contudo, como se
tratava de um grande desafio naquele momento, esse processo
foi efetuado com a participação efetiva de 15 propriedades rurais.
Vale ressaltar que como critério de escolha dos produtores para o
início de preparação desse processo foram considerados o perfil

Volume II
444 Indicações Geográficas com Foco em Aplicações

do produtor, as características de associativismo e a facilidade de


acesso e de comunicação.
Todo o processo foi discutido com os produtores
selecionados. Foram diversas reuniões e encontros realizados
com a finalidade de idealizar as diretrizes de uso do selo da IP.
Tais procedimentos visavam estabelecer padrões de qualidade,
como homogeneidade das bagas e cachos, aparência e índice de
Brix.
Vale ressaltar que a ideia inicial de uma IP parte da
demarcação de um espaço geográfico determinado. Para tanto,
propriedades no entorno não podem ser impedidas de usufruir
dos benefícios de uso da IP na comercialização da produção
desde que comprovem os padrões de qualidade ora estabelecidos
em regimento. A aprovação de uso do selo e de futura
comercialização se dá a partir de inspeção dos lotes por meio
do conselho regulador, constituído por produtores e engenheiros
agrônomos.
No caso em estudo, a preparação dos processos produtivos,
pesquisas de campo e experimentos contou com o apoio do
Sebrae, Emater, Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar),
Instituto Agronômico do Paraná (IAPAR), Embrapa, Prefeitura
Municipal de Marialva, SEAB-PR e Associação Norte Paranaense
de Estudos em Fruticultura (ANPEF), além da Universidade
Estadual de Maringá e Universidade Estadual de Londrina. Isso
vem ao encontro do que afirmam Lages, Lagares e Braga (2005)
e Marins e Cabral (2015), D´Alexandria (2015), Locatelli (2016),
Schneider, Zilli e Vieira (2017), de que o processo de qualificação
de uma IG envolve um trabalho articulado e integrado de múltiplos
atores, como produtores, associações, governo, universidades,
instituições de pesquisa e de apoio.
A identidade visual da IP Marialva (Figura 1) foi elaborada
com o apoio do Sebrae, contanto com subsídio do Programa

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Indicações Geográficas com Foco em Aplicações 445

Sebraetec, que por meio de uma empresa especializada em branding


e conceito de marcas, e após diversas reuniões com produtores
e representantes da cadeia produtiva, chegou a um modelo que
retratasse a imagem e a ideia de qualidade atribuída ao produto
da IG.

Figura 1 – Signo Distintivo da Indicação de Procedência Marialva

Fonte: Associação de Fruticultores do Noroeste do Paraná (2015b)

Reconhecendo a existência dessas variáveis às quais a uva


está sujeita, tanto a Anfrut quanto os produtores estão cientes da
possibilidade ou não de poderem usar o signo distintivo da IP,
ficando dependente de cada ano e de cada período de colheita
do controle a ser realizado, pois estão em consonância com o
regulamento de uso da IG estabelecido previamente pelos
próprios produtores e responsáveis técnicos agrícolas.
Todo esse processo levou mais de 12 meses até que fosse
depositado o pedido de reconhecimento ao INPI. A IP Marialva
foi concedida para a comercialização pós-safra de 2017/2018,
ou seja, junho de 2017, contudo os produtores consideraram
prudente não fazer uso do signo distintivo no período da primeira
safra.

Volume II
446 Indicações Geográficas com Foco em Aplicações

Logo após a concessão, deu-se início à segunda fase do


processo. Assim, por meio de apoio do Sebrae, buscou-se ampliar
de 15 para 25 as propriedades rurais envolvidas no processo,
bem como realizar ações com o Senar para capacitação em
boas práticas de produção agrícola. Ademais, por intermédio de
recursos oriundos do Programa Sebraetec, atualmente encontra-
se em fase de elaboração embalagens com layout diferenciado
para os produtos vendidos com o signo distintivo da IP Marialva.
Essas embalagens estão sendo criadas a partir de um conceito
que enalteça os atributos e a excelência do produto, com vistas a
agregar valor e conquistar novos mercados.
Por sua vez, os lotes de uvas que não estiverem em
conformidade, após o controle de qualidade, serão comercializados
na forma tradicional, ou seja, sem o signo distintivo. Assim,
observa-se que a Anfrut tem buscado alternativas e soluções que
promovam um diferencial e agreguem valor às uvas produzidas
na região.

O Caso da Indicação Geográfica Vale dos


Vinhedos
Este segundo estudo visa a uma análise de caso da IP e DO
Vale dos Vinhedos. Apresentá-las de forma conjunta objetiva
contextualizar historicamente a evolução que este tema teve no
Brasil, posto que é uma das primeiras a ser solicitada e registrada
perante o INPI.
Recapitulando este contexto histórico, é importante frisar
que a partir de 1990 a Embrapa Centro Nacional de Pesquisa
de Uva e Vinho (EMBRAPA Uva e Vinho), na pessoa do
pesquisador Dr. Jorge Tonietto, e a Universidade de Caxias do
Sul (UCS), na pessoa da professora Dra. Ivanira Falcate, foram
as pioneiras no tema das IGs no Brasil, realizando pesquisas e

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Indicações Geográficas com Foco em Aplicações 447

iniciando o estímulo de sua discussão e desenvolvimento no setor


vitivinícola. Já em 1995 inicia-se, mesmo antes da LPI/1996, o
primeiro projeto visando atender a demanda dos produtores
de uva e vinha da região do Vale dos Vinhedos, que veio a ser
reconhecida como a primeira IP brasileira em 2002. Atualmente
o Brasil conta com sete IGs reconhecidas para vinho e quatro
projetos em desenvolvimento.
Estão reconhecidas no Brasil como IPs, Vale dos Vinhedos,
Pinto Bandeira, Altos Montes, Região de Monte Belo, Vales da
Uva Goethe e Farroupilha, e como DO a Vale dos Vinhedos
(EMBRAPA, 2018). Além dessas, conforme assinalado, encontra-
se depositada perante o INPI a IP Campanha Gaúcha. A DO
Altos de Pinto Bandeira e as IPs Vinhos de Altitude de Santa
Catarina e Vale do São Francisco estão em fase de coleta de
informações para solicitação do registro (EMBRAPA, 2018). No
mapa da Figura 2 podem ser localizadas as referidas IGs.

Figura 2 – Mapas das Indicações Geográficas de Vinhos do Brasil

Fonte: Embrapa Uva e Vinho (2018)

Volume II
448 Indicações Geográficas com Foco em Aplicações

Todos os projetos são resultado de um trabalho


interdisciplinar, que envolve os produtores de uva e vinho, as
associações que os congregam, instituições de ensino e pesquisa
localizadas nas respectivas regiões, instituições representativas,
como o Ibravin, além de apoios financeiros, como os provenientes
da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep).
Considerando-se esta perspectiva, ressalta-se que ao longo
desta trajetória diversas iniciativas vieram a se somar a este
propósito em comum. Entre eles ressalta-se a construção, no
âmbito do Grupo Interministerial de Propriedade Intelectual
(GIPI), de um anteprojeto de lei para regular de maneira mais
detalhada o instituto das IGs, que foi finalizado em 2008, mas
não foi efetivamente encaminhado ao Congresso Nacional.
Também a criação da Comissão Especial de Estudos sobre
Indicações Geográficas da Associação Brasileira de Normas
Técnicas (CEE 216 – ABNT), com apoio direto do Sebrae, que
resultou na publicação de duas normas brasileiras: ABNT NBR
16536 – Indicações Geográficas: orientações para a estruturação
de indicação geográfica de produto e ABNT NBR 16.479 –
Indicação Geográfica – Terminologia. Por fim, em 2018 foi
criado um grupo de trabalho ad hoc para propor alterações à atual
Instrução Normativa n. 25/2013 do INPI, o qual entregou os
referidos trabalhos à presidência daquele Instituto em setembro
de 2018, resultando na Instrução Normativa INPI n. 95, publicada
em 28 de dezembro de 2018.
Adicionalmente, no setor vitivinícola brasileiro foi criado o
Comitê de Indicações Geográficas, que visa a congregar todas as
IGs já reconhecidas, projetos em andamento, entidades do setor
e instituições de ensino e pesquisa. Esse Comitê encontra-se no
âmbito do Ibravin e atualmente é coordenado pela Embrapa
Uva e Vinho. Além das reuniões periódicas, dois workshops já
foram organizados, com o objetivo de levantar demandas e dar

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Indicações Geográficas com Foco em Aplicações 449

encaminhamentos a propostas de aperfeiçoamento das IGs. Uma


das demandas já atendidas pelo INPI foi a disponibilização integral
de todos os regulamentos de uso de todas as IGs reconhecidas,
os quais se encontram disponíveis no site desse Instituto.
Feita a contextualização, apresenta-se o caso escolhido.
A primeira IG brasileira reconhecida pelo INPI foi a IP
Vale dos Vinhedos. Seu processo de reconhecimento inicia-
se com a criação da Aprovale, que estabeleceu as condições
organizacionais junto ao setor produtivo para o desenvolvimento
da primeira IG brasileira. Essa Associação trabalhou fortemente
com a Embrapa Uva e Vinho e a UCS para reunir as evidências
necessárias. Assim, após o protocolo junto ao INPI em 06 de
julho de 2000, a IP Vale dos Vinhedos foi reconhecida em 19 de
novembro de 2002. Em 2005 iniciou-se o processo de pesquisa
de evidências para solicitar o reconhecimento da DO Vale dos
Vinhedos. Em 16 de agosto de 2010 foi protocolado o pedido
de reconhecimento, tendo sido concedido em 25 de setembro de
2012, sob n. IG 201008.
Destaca-se que não havia na época – e ainda não há –
regulação no direito brasileiro sobre a migração ou sobreposição
de uso de um mesmo nome geográfico para o mesmo produto.
Este caso é particularmente emblemático – assim como o caso da
Região do Cerrado Mineiro, pois ambos possuem o mesmo nome
para IP e DO, embora as regiões sejam ligeiramente distintas e as
regras bastante diferenciadas. Além disso, havia inicialmente uma
percepção geral – que atualmente se entende como equivocada
– de que a IP era um primeiro passo para se alcançar uma DO e
muitas iniciativas foram feitas para que primeiro se reconhecesse
a IP para depois se alcançar a DO.
Todavia, atualmente há uma clareza maior, tanto na
literatura sobre o tema como perante os órgãos oficiais de
reconhecimento e de fomento, de que se trata de figuras distintas.

Volume II
450 Indicações Geográficas com Foco em Aplicações

A IP tem como foco a proteção de nomes geográficos que se


tornaram conhecidos por ser origem de um produto ou serviço.
Já a DO tem como objetivo a proteção de nomes geográficos que
se relacione a um produto ou serviço em face de suas qualidades
ou características que devam ao meio geográfico, nos quais estão
incluídos fatores naturais e humanos. Não há efetivamente uma
hierarquia entre estas duas espécies de IG, diferentemente do que
ocorre em outras legislações. Assim, não faria sentido solicitar
uma IP para depois se solicitar uma DO se o nome geográfico já
apresentasse as características necessárias ao seu reconhecimento
com DO.
Essa questão deve ser destacada posto que afeta diversos
aspectos relacionados às IGs, entre os quais os direitos dos
produtores ao uso de ambos os signos e o direito do consumidor
de ser esclarecido sobre o tema.
Em relação ao produtor, deve-se ter claro que a IP e a DO,
reconhecidas, garantem a todos que estão na área delimitada
o direito de uso do referido signo distintivo se atendidas as
características estabelecidas no regulamento de uso. Assim, pode-
se afirmar que há um direito adquirido dos produtores em usar
a IP ou a DO se atenderem os requisitos. A opção por uma em
detrimento da outra poderia em tese lesionar este direito que é de
uso coletivo e não pertence à entidade que solicitou – na condição
de substituta processual – o reconhecimento da IG.
Em relação ao consumidor, a este pode gerar confusão a
existência em tese de duas IGs com o mesmo nome geográfico para
institutos distintos. Embora na prática inclusive haja signos distintivos
diferentes para a IP e a DO Vale dos Vinhedos, a informação de que
se referem a qualidades diferentes precisa ser clara, precisa e objetiva,
para que o consumidor não seja levado a erro.
No caso concreto, atualmente não se tem realizado o uso
da IP, mas tão somente da DO. Embora isso não possa ser aferido

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Indicações Geográficas com Foco em Aplicações 451

com exatidão, percebe-se neste momento um acordo tácito para


o uso apenas da DO. Todavia, até pelas características de cada um
dos institutos, é sabido que os requisitos que devem ser observados
para que o produtor tenha direito ao uso do signo distintivo da
DO são mais restritivos do que para o uso do signo distintivo da
IP. Inclusive, pode ser observado no site da Embrapa Uva e Vinho
que esta não disponibiliza mais informações sobre a IP Vale dos
Vinhedos (EMBRAPA UVA E VINHO, 2018). O próprio site da
Aprovale não apresenta informações mais precisas sobre a IP,
como delimitação e regulamento de uso, apenas fazendo menção
de que esta foi utilizada até 2009 (APROVALE, 2018).
Em breve resumo, fazendo uma análise comparativa do
regulamento da IP e da DO, pode-se observar que na primeira
um número muito maior de variedades de uva era permitido,
assim como a delimitação da área geográfica era mais abrangente.
O Quadro 2 demonstra as principais diferenças.

Quadro 2 – Análise comparativa das características do produto da IG contidas no


regulamento de uso da IP Vale dos Vinhedos e da DO Vale dos Vinhedos

Características IP DO
Cabernet Sauvignon,
Cabernet Sauvignon,
Cabernet Franc, Merlot,
Cabernet Franc, Merlot e
Tannat, Pinot noir,
Variedades tintas Tannat;
Gamay, Pinotage,
Pinot Noir (para
Alicante Bouschet,
espumante).
Ancelotta e Egiodola.
Chardonnay, Riesling
Itálico, Sauvignon
Blanc, Sémillon,
Variedades Chardonnay e Riesling
Trebbiano, Pinot Blanc,
brancas Itálico.
Gewurztraminer, Flora,
Prosecco, Moscattos e
Malvasias.

Volume II
452 Indicações Geográficas com Foco em Aplicações

Características IP DO
Varietal Merlot: Mínimo de
85% da variedade
Assemblage Tinto: Mínimo
de 60% de Merlot +
corte com uso das demais
Vinho Tinto Seco, variedades autorizadas
Vinho Branco Seco, Varietal Chardonnay:
Vinho Rosado Seco, Mínimo de 85% da
Tipos de Vinho Leve, Vinho variedade
produtos Espumante Natural, Assemblage Branco:
Vinho Moscatel Mínimo de 60% de
Espumante, Vinho Chardonnay + corte com
Licoroso. uso da Riesling Itálico
Base Espumante: Mínimo
de 60% de Chardonnay e/
ou Pinot Noir. Elaboração
somente pelo Método
Tradicional.
Recomenda-se a
espaldeira, sendo que
Sistema de
estão autorizados
condução e Exclusivamente em
outros sistemas desde
sustentação dos espaldeira.
que colaborem para a
parreirais
qualidade da uva a ser
produzida.
Origem da 85% da região
100 % da região delimitada.
matéria prima delimitada.

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Indicações Geográficas com Foco em Aplicações 453

Características IP DO
Para uvas tintas: 10
toneladas/ha ou 2,5 kg de
uva por planta.
Para uvas brancas: 10
Rendimento ou toneladas/ha ou 3 kg de uva
150 hectolitros de vinho
produtividade por planta
por hectare.
da uva Para uvas a serem
utilizadas na elaboração de
espumantes: 12 toneladas/
ha ou 4 kg de uva por
planta.

Área delimitada

Identidade visual

Fonte: Elaborado com base no Regulamento de uso da DO, da IP, em Bruch,


Vitrolles e Locatelli (2014) e em Embrapa Uva e Vinho (2018)

Atualmente, a Aprovale conta com 23 vinícolas associadas e


43 empreendimentos de apoio ao turismo, entre hotéis, pousadas,
restaurantes, artesanatos, queijarias, ateliês de artesanato e
antiguidades e outros (APROVALE, 2018).

Volume II
454 Indicações Geográficas com Foco em Aplicações

Não há disponibilização pública dos volumes que


atualmente são comercializados com a DO Vale dos Vinhedos,
contudo, a associação informa que os seguintes vinhos apresen-
tam a possibilidade de portar o signo distintivo: Vinícola
Almaúnica: Amaúnica Reserva Merlot, Almaúnica Chardonnay
Super Premiun; Casa Valduga: Casa Valduga Chardonnay Gran
Reserva; Vinícola Dom Cândido: Dom Cândido Documento
Merlot; Vinhos Don Laurindo: Don Laurindo Reserva Merlot,
Don Laurindo Chardonnay; Miolo Wine Group: Miolo Cuvée
Giuseppe Merlot/Cabernet Sauvigon, Miolo Cuvée Giuseppe
Chardonnay, Miolo Merlot Terroir, Espumante Brut Miolo
Millésime, Miolo Lote 43; PIZZATO Vinhas e Vinhos: Espumante
Pizzato Brut, Espumante Pizzato Brut Rosé, Pizzato Chardonnay,
Pizzato Merlot, Pizzato LEGNO Gran Reserva Chardonnay,
Pizzato CONCENTUS Gran Reserva, Pizzato DNA99 Single
Vineyard Merlot; Peculiare Vinhos Finos: Peculiare Merlot,
Espumante Peculiare Brut; Vinícola Terragnolo: Terragnolo
Merlot; Vinícola Cave de Pedra: Espumante Brut Branco: Vinhos
Larentis: Merlot Santa Lúcia (APROVALE, 2018).
A questão que fica é saber se efetivamente hoje todos os
produtores que se encontram na região delimitada para a IP e a
DO estão de acordo com o uso apenas da DO, mesmo isso sendo
mais restritivo em termos de regulamento de uso.

Considerações Finais
O desafio encontrado por associações para introduzir
produtos no mercado, frente à acirrada competitividade de
empresas no mesmo setor, tem levado tais instituições a
buscar alternativas e soluções que promovam um diferencial e
que agreguem valor aos seus produtos. Desse modo, uma das
estratégias empregadas pode ser o reconhecimento de uma IG.

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Indicações Geográficas com Foco em Aplicações 455

Assim, o objetivo deste capítulo foi analisar dois casos de


reconhecimento de IGs aplicadas ao setor vitivinícola. O primeiro
caso trata do processo de reconhecimento da IP de Marialva para
a produção de uvas finas de mesa e de estruturação da cadeia
de valor para atender as exigências de obtenção desse registro.
Para tanto foram realizadas pesquisa documental e de campo.
Os resultados evidenciam que o município de Marialva constitui
território considerado como um dos polos de produção de uvas
finas de mesa no Estado. A atividade vitícola tem forte impacto na
economia marialvense, respondendo por 60% da receita agrícola
do município.
A iniciativa para solicitação da IP da uva partiu de uma
equipe técnica do Sebrae Paraná Regional Noroeste, sendo
que o processo contou inicialmente com a participação de 15
propriedades rurais. De forma colaborativa, elaborou-se o
regulamento de uso do selo da IP, que contém padrões de
qualidade que vão desde a uniformidade das bagas e dos cachos
de uvas até o aspecto visual e, principalmente, o índice Brix, que
mede a quantidade de açúcar na fruta. Ademais, a autorização
para o uso do signo distintivo e posterior comercialização das
uvas se dá mediante inspeção de lotes por meio de um conselho
regulador, formado por produtores e técnicos engenheiros
agrônomos.
Há que se fazer menção à quantidade de atores envolvidos
no processo de preparação e qualificação tanto de produtores
como da profissionalização da gestão. O processo de preparação
evidencia o nível de exigência pela qualidade da uva, uma vez
que o simples fato de ser produzida na região não garante o
uso do signo distintivo. A qualidade do produto é reconhecida
por profissionais, atestando que contém peculiaridades relativas
aos aspectos de produção e entrega a qualidade desejada ao

Volume II
456 Indicações Geográficas com Foco em Aplicações

consumidor. Por sua vez, a identidade visual da IP Marialva


retrata o conceito de tipicidade atribuído ao produto da IG.
Atualmente, a segunda fase do projeto contempla a
ampliação do número de propriedades rurais, realização de
treinamentos, aplicação de boas práticas de produção agrícola e
desenvolvimento de embalagens diferenciadas para os produtos
que serão comercializados com o signo distintivo. Evidencia-se
a necessidade de estratégias de comunicação a serem utilizadas
pelos municípios que possuem o reconhecimento da IP Marialva,
explorando assim um potencial comercial de apelo econômico,
trazendo principalmente maior renda para o produtor e
movimentando positivamente a economia local.
No caso da IP e da DO Vale dos Vinhedos, buscou-se,
realizando uma contextualização histórica, compreender como
se deu o processo de reconhecimento da primeira IP brasileira
e como esta veio a ser acompanhada do reconhecimento da
DO para o mesmo nome geográfico. Com base em análise
documental e participação ativa de um dos autores em todo o
processo, foi possível verificar que atualmente apenas se tem
feito uso, por parte dos produtores, da DO. Todavia, não restou
claro, nesse primeiro momento, se este reconhecimento e um
possível abandono da IP em face do uso da DO se deu de forma
consensual entre os produtores da região. Não há atualmente
nenhuma ação judicial ou processo administrativo que questione
a referida situação. Contudo, uma pesquisa mais aprofundada
certamente poderá fornecer elementos concretos sobre como os
produtores da região veem esta questão.

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Indicações Geográficas com Foco em Aplicações 457

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Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Estratégias de Proteção da Inovação

Manuel Mira Godinho

Resumo: Neste capítulo são apresentadas as estratégias alternativas empregadas para


proteger a inovação e permitir a maximização do retorno econômico dos investimentos
em P&D e em inovação. São identificados os limites do uso das modalidades de
propriedade intelectual (PI), incluindo patentes e marcas, para proteger a inovação.
São também explicitados os fins alternativos para os quais as modalidades de PI são
empregadas. É dado relevo ao segredo industrial, às estratégias de reconhecimento no
mercado e de diferenciação do produto aos olhos do consumidor. No final se sugere
como os critérios empresariais de uso estratégico da PI podem ser extrapolados para o
contexto dos Núcleos de Inovação Tecnológica (NITs).

Abstract: This chapter presents the alternative strategies used to protect innovation
and maximize the economic return on R & D and innovation investments. The limits
of the use of intellectual property (IP) modalities, including patents, are identified
to protect innovation. Also explained are the alternative purposes for which the IP
modalities are employed. Emphasis is placed on industrial secrecy, market recognition
strategies and product differentiation in the eyes of consumers. In the end, it is
suggested how the strategic criteria for strategic use of IP can be extrapolated to the
context of Technological Innovation Centers (NITs).

Introdução
Neste capítulo são apresentadas as estratégias alternativas
empregadas para proteger a inovação e permitir a maximização
do retorno econômico dos investimentos inovadores. No que
se segue, considera-se sucessivamente a perspectiva privada de
empresas individuais e a perspectiva do conjunto da sociedade
quanto a este tema da proteção da inovação, procurando no final
equacionar-se as questões relevantes da proteção do ponto de
vista dos Núcleos de Inovação Tecnológica (NITs). Para o efeito,
o capítulo está organizado em três partes.
462 Estratégias de Proteção da Inovação

Na primeira parte abordamos as razões pelas quais as


empresas inovadoras necessitam de recorrer a mecanismos de
proteção, como meio de garantia de obtenção de retorno dos
investimentos que elas realizam em inovação. Concretamente,
é introduzida a problemática da “apropriabilidade”, isto é, das
condições que as empresas criam ou tentam explorar para se
conseguirem apropriar do retorno econômico gerado pelos seus
investimentos em inovação.
Na segunda parte o tema da proteção é tratado do ponto de
vista das políticas públicas e do interesse global da sociedade que
é suposto essas políticas protegerem. Nessa parte é explicado qual
o racional econômico para a atribuição de direitos de propriedade
intelectual por agências públicas, incluindo patentes e marcas.
Na terceira parte exploramos em maior detalhe as estratégias
seguidas pelas empresas para se apropriarem do retorno
econômico gerados por suas inovações, tentando evitar que
outras empresas possam com elas repartir os benefícios gerados
a partir dessas inovações. Como veremos, toda essa temática da
proteção é bem complexa, suscitando debate e mesmo litigância
frequente entre os grandes gigantes tecnológicos.
No final será apresentada uma breve conclusão, em que se
sistematizam os aspetos principais discutidos e se tenta equacionar
a temática analisada ao longo das diferentes partes deste trabalho
na perspectiva das entidades que incentivam, administram e
tentam explorar conhecimentos relacionados com inovação
produzidos por instituições acadêmicas, incluindo universidades
e institutos públicos de pesquisa.

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Estratégias de Proteção da Inovação 463

Proteção da Inovação: a visão das empresas


inovadoras

Inovação, uma Regra Econômica Incontornável

É uma regra geral da vida humana a necessidade de adaptação


e inovação. É bem sabido que à medida que o ambiente social e
natural se vai alterando, as pessoas necessitam de adotar estratégias
de adaptação e reposicionamento para poderem sobreviver e
garantir seu desenvolvimento numa base continuada. E, embora
no curto prazo faça sentido aderirmos a regras e rotinas que no
passado se verificaram adequadas, a manutenção inalterada dessas
rotinas durante períodos excessivamente grandes pode, no longo
prazo, resultar em prejuízo para o bem estar individual e coletivo.
Facilmente entendemos que este tipo de constatação se
aplica não apenas a cada indivíduo tomado isoladamente, mas
também às estruturas sociais, incluindo as empresas, as regiões
e os próprios países. Em acréscimo, é para todos nós bem claro
que numa época de aceleração econômica como a que vivemos
desde pelo menos o início da revolução industrial em finais do
século dezoito, se verifica de forma cada vez mais imperativa essa
necessidade de nos adaptarmos e incorporamos novas rotinas, a
tal ponto que com frequência, para se conseguir manter posições
ou melhorá-las, não basta introduzirmos pequenos ajustamentos,
mas há que desenvolver e adotarmos inovações que incorporem
significativos graus de novidade.
Na verdade, o uso de inovações tem se tornado cada vez
mais frequente na vida competitiva das empresas e das economias
no seu todo. Enquanto no passado os processos tecnológicos
empregados pelas empresas se mantinham razoavelmente estáveis
durante décadas e os produtos tinham ciclos de vida longos, na
atualidade verifica-se um encurtamento significativo dos ciclos de

Volume II
464 Estratégias de Proteção da Inovação

vida das tecnologias. Cada vez mais as empresas, para se manterem


competitivas, têm de seguir práticas de inovação como modo de
vida e não como a exceção da sua atividade ao longo dos anos.
Relativamente à introdução de inovações, as empresas e
outras organizações têm basicamente duas escolhas: ou (I) adotam
inovações desenvolvidas por terceiros; ou (II) desenvolvem elas
próprias suas inovações. Como sabemos, o primeiro modo é para
a ampla maioria das empresas mais frequente que o segundo.
Porém, como se sabe também, as empresas que alcançam maiores
níveis de competitividade, são principalmente as que aderem ao
modo II, inovando por si próprias nos seus produtos (exemplo:
Apple) ou nos seus processos (exemplo: Amazon).
Tal não significa que o modo I não possa produzir bons
resultados. Empresas como a Samsung ou a Huawei seguiram
o modo I quando ofereceram pela primeira vez smartphones
inspirados pelo iPhone. Porém, para poderem verdadeiramente
competir com a Apple, estas outras empresas vieram
posteriormente a investir fortemente em inovações desenvolvidas
por elas próprias. Por isso podemos dizer que com frequência
ambos os modos de inovação coexistem e se combinam na
prática, em vez de funcionarem separadamente.
O modo como as empresas alcançam e produzem as suas
inovações, nas suas opções por seguirem mais o modo I ou
o modo II, não é o objeto deste trabalho. Esse é um assunto
que é considerado no âmbito de disciplinas e aulas de Gestão
da Inovação ou Administração da Inovação, por exemplo. No
entanto, sabe-se que para inovar e conseguir competir com base
em inovações próprias (modo II), as empresas realizam grandes
investimentos. A larga maioria das principais inovações resulta
de esforços continuados e muito significativos de investimento
em P&D (Pesquisa e Desenvolvimento), sendo que existem
ainda outros investimentos complementares que não sendo

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Estratégias de Proteção da Inovação 465

normalmente contabilizados como P&D, igualmente implicam


forte investimento para garantir que a inovação seja introduzida e
explorada com sucesso.
É bem claro que as empresas apenas se dispõem a
esses investimentos, se tiverem condições para garantir que
vão conseguir apropriar-se dos benefícios econômicos do
seu investimento. Para o efeito, as empresas recorrem a uma
diversidade de mecanismos de proteção, tentando impedir seus
rivais atuais ou futuros de acederem aos seus conhecimentos
secretos, copiando-os ou reproduzindo-os sem terem de suportar
os custos que elas próprias tiveram quando investiram em P&D e
noutras despesas necessárias para introdução das suas inovações.
O exemplo das empresas de smartphones é, a este respeito,
muito ilustrativo. As guerras de patentes que a Apple travou
nos últimos anos com a Samsung e também com a Huawei, são
muito ilustrativas do clima existente. Com as suas patentes, a
Apple tentou proteger conceitos inovadores que desenvolveu.
Em alguns casos conseguiu atrasar o acesso dos rivais aos seus
níveis de desempenho. Mas nem sempre foi bem sucedida.
E noutros casos, ao que se sabe, as empresas rivais foram mais
inovadoras que a Apple, tentando resistir a que esta acedesse aos
seus conhecimentos mais avançados.

A Apropriabilidade como Condição para ter


Investimento em Inovação Sustentável
Toda esta problemática competitiva da proteção da
inovação constitui o objeto principal deste trabalho. Ela é
designada normalmente na literatura anglo-saxónica pela
noção de apropriability, que podemos traduzir para português
simplesmente por “apropriabilidade”. Quando falamos de
apropriabilidade, estamos falando da capacidade das empresas

Volume II
466 Estratégias de Proteção da Inovação

inovadoras, que investem em P&D e noutras despesas similares,


conseguirem atrair para si próprias o retorno econômico das suas
inovações, sem o partilhar com os seus rivais que tentam alcançar
os ganhos potenciais dessas inovações, por exemplo, copiando
os produtos inovadores, sem para elas terem contribuído em
primeiro lugar.
É evidente que quanto melhores forem as condições
de apropriabilidade da empresa inovadora, maior será o seu
investimento futuro em P&D e em inovação em geral. E quanto
menor for o retorno apropriado pela empresa inovadora, menor
certamente será sua disponibilidade para continuar a realizar esse
tipo de investimentos.
O que se verifica em termos práticos é que as empresas
que mais investem em inovação, e que são bem sucedidas nesses
esforços, procuram criar condições para explorarem as suas
inovações em regime de monopólio, tentando que esse monopólio
perdure durante o maior tempo possível. Os produtos inovadores
são procurados mais intensamente por consumidores que estão
dispostos a pagar um valor mais elevado comparativamente
a outros produtos substitutos que pudessem já existir. As
inovações são tipicamente superiores aos produtos e processos
que pretendem substituir. Como tal, essa superioridade permite
aos detentores da inovação, enquanto funcionam em regime de
monopólio, obterem aquilo que os economistas vulgarmente
designam por “rendas”. É evidente, que do mesmo modo que
qualquer monopolista, que por uma determinada razão possa
usufruir de tal tipo de rendas, o objetivo das empresas mais
inovadoras é impedir durante o tempo em que conseguirem o
acesso dos seus rivais ao “bolo” de rendimentos gerados por
suas inovações. Para o efeito, as empresas inovadoras empregam
diferentes mecanismos de apropriabilidade, construindo muros
protetores em torno de suas inovações de forma a bloquear o

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Estratégias de Proteção da Inovação 467

mais que lhes for possível o acesso de seus rivais ao “bolo” do


retorno econômico proporcionado pela inovação.

Apropriabilidade e Mecanismos de Apropriabilidade


Entende-se por apropriabilidade a capacidade que o agente executor de um
determinado investimento tem de se apropriar dos benefícios gerados por esse
investimento. No caso da P&D, a apropriabilidade está relacionada com
a capacidade que esse agente tem de reduzir o diferencial entre o benefício
social e o benefício privado. O benefício privado diz estritamente respeito à
empresa investidora em P&D. O benefício social diz respeito à totalidade
de benefícios colhidos, pela empresa inovadora e por terceiros, incluindo
consumidores, com a introdução dessa inovação. Em geral, esse diferencial
será tanto mais pequeno quanto mais eficazes forem os meios de proteção
do conhecimento gerado com a atividade de P&D.
Os meios de proteção e de garantia da apropriabilidade incluem as
patentes, mas também outros mecanismos, incluindo o segredo industrial,
a liderança sistemática face aos concorrentes, a descida rápida das curvas
de aprendizagem, a ocupação dos canais de distribuição e o investimento
em marcas e reputação. Conhecimentos usados nas atividades econômicas
que tenham uma natureza mais tácita também favorecem a proteção da
inovação.

Qual a Relevância real das Patentes como meio de


Proteção da Inovação?
Como veremos na parte 2 deste trabalho, os governos de
diferentes países oferecem direitos de propriedade intelectual,
incluindo patentes e marcas, para oferecer meios de proteção às
empresas inovadoras, procurando desse modo incentivar essas
empresas a manterem-se ativas nos seus esforços inovadores.
Especificamente as patentes foram concebidas para se constituírem
como mecanismo primordial de garantia da apropriabilidade no
caso de inovações tecnológicas.

Volume II
468 Estratégias de Proteção da Inovação

Os Direitos de Propriedade Intelectual


Entende-se por Propriedade Intelectual o conjunto de direitos privados,
designados por direitos de propriedade intelectual, concedidos pelo Estado,
cuja função é proteger criações intelectuais com potencial aplicação
econômica. Essas “criações intelectuais” são bens intangíveis, obtidos
por meio de atividades organizadas que envolvem esforço e criatividade.
O produto dessas atividades é, em primeiro lugar, conhecimento novo
ou substancialmente distinto de conhecimento previamente existente.
Esse conhecimento é posteriormente materializado ou surge associado a
obras, processos ou artefatos que se destinam a responder a necessidades
econômicas e sociais.
Os “direitos de propriedade intelectual” são concedidos pelo Estado a
indivíduos ou organizações e, como tais, constituem uma intervenção do
Estado na economia. Os agentes privados procuram beneficiar da proteção
atribuída por esses direitos, a fim de obter compensação pelo esforço
realizado e pela criatividade existente nas suas obras intelectuais. Mesmo
quando é possível solicitar esses direitos simultaneamente para diversos
países, a respectiva legitimação ocorre geralmente no âmbito individual de
cada país. As principais modalidades de direitos de propriedade intelectual
são as patentes, as marcas comerciais, os desenhos ou modelos industriais
e os direitos de autor.
O principal argumento subjacente aos direitos de propriedade intelectual
é que, na ausência da sua concessão, o potencial de oferta de novas
criações intelectuais com interesse econômico seria deficitário face ao
socialmente justificável. Nessa situação verificar-se-ia uma “falha de
mercado” (ver neste trabalho a caixa sobre “Falha de mercado”). De
acordo com essa linha de argumentação, esses direitos são necessários para
que os indivíduos e organizações se empenhem na produção de criações
intelectuais. Concretamente, argumenta-se que é a possibilidade de obtenção
de condições de monopólio, em consequência dos direitos de propriedade
intelectual concedidos, que permite aos agentes criativos recuperarem com
uma razoável compensação os investimentos realizados na produção de suas
obras intelectuais (ver neste trabalho a caixa sobre “Apropriabilidade”).

Porém, e de forma algo paradoxal, estudos empíricos


realizados nas últimas décadas (LEVIN et al., 1987; COHEN
et al., 1996) revelam que as patentes não constituem o principal
meio de proteção empregue pelas empresas inovadoras. Esses
estudos também revelam que as patentes:

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Estratégias de Proteção da Inovação 469

a) São mais empregados na proteção de novos produtos


que na proteção de novos processos.
b) São mais frequentes em indústrias, como a farmacêutica
ou a química, onde é mais fácil impor a patente, devido
à identidade única das moléculas patenteadas.
c) São muitas vezes obtidas com fins estratégicos, a fim
de evitar o acesso de concorrentes a determinadas áreas
tecnológicas essenciais para o seu desenvolvimento, e
não tanto para garantir o retorno econômico sobre uma
determinada inovação específica.

Os estudos acima mencionados, aos quais voltaremos no


início da parte 3 deste trabalho, revelam que, na realidade, o
sistema da propriedade intelectual, incluindo as patentes, não são
apreciados de forma unânime pelas empresas enquanto meios de
proteção da inovação, suscitando pelo contrário alguma reserva
e verificando-se uma procura de outros meios para garantir uma
apropriabilidade eficaz dos investimentos em P&D e inovação.
Para já, na parte 2, iremos olhar para a proteção da inovação
numa perspectiva mais abrangente procurando equacionar, com
a ajuda da teoria económica, a temática do ponto de vista do
conjunto da sociedade e não apenas do ponto de vista individual
das empresas inovadoras. A consideração dos argumentos da
teoria econômica é relevante, pois esses argumentos fornecem o
racional em que assentam as políticas públicas sobre atribuição de
direitos de propriedade intelectual.

O Uso de Marcas Comerciais no Âmbito de


Estratégias de Inovação

As marcas comerciais são sinais distintivos utilizados para ajudar a


identificar bens e serviços fornecidos por determinado indivíduo ou empresa.
Em contraste com as patentes que têm uma duração limitada no tempo, as

Volume II
470 Estratégias de Proteção da Inovação

marcas comerciais não têm limite temporal, desde que sejam usadas para
fins adequados e pagas taxas de manutenção à entidade que administra o
sistema de atribuição de marcas.
Até há alguns anos existiam poucos trabalhos analisando as marcas do
ponto de vista da sua justificação econômica. Num dos poucos trabalhos
sobre essa matéria existentes até à década de 1990, Economides (1987)
desenvolveu uma análise custo-benefício para o investimento em marcas. A
ideia que ele propôs foi que uma empresa investe em uma marca se o valor
esperado do retorno, dado pelo produto da probabilidade de registro da
marca vezes o fluxo de rendimentos que essa marca permitirá obter, exceder
o somatório do custo de oportunidade de requerer o registro da marca e
do valor atualizado das taxas de manutenção a ser pagas à entidade que
administra o sistema de atribuição de marcas.
Economides (1987) referiu que as marcas comerciais são necessárias para
garantir uma eficiente alocação de produtos nos mercados, pois elas facilitam
a escolha dos consumidores em situações de grande variedade de produtos.
Porém, Porém, ele reconheceu que o potencial de monopólio existente nessa
modalidade de propriedade intelectual pode provocar ineficiências e distorções
na alocação de recursos, sendo que os benefícios que os consumidores
usufruem por terem acesso à informação proporcionada pelas marcas são
contrabalançados por custos que ocorrem com as barreiras à entrada no
mercado que as marcas impõem a potenciais novos concorrentes.
Um trabalho pioneiro analisando as marcas de um ponto de vista da análise
econômica é o de Mendonça et al. (2004) que propôs que o fluxo de novas
marcas para as quais é solicitado registro pode ser visto como um indicador
de inovação. Naturalmente, nem todas as novas marcas podem se destinam
a proteger inovações importantes. É sabido que com frequência são pedidas
novas marcas para produtos que não são substancialmente distintos de
outros já existentes no mercado. Porém, podemos admitir não ser essa a
regra. Uma empresa apenas poderá recuperar o investimento associado a
uma marca, que se concretiza em gastos em publicidade para obtenção de
notoriedade e taxas de registro e taxas de manutenção, se o produto ao
qual a marca é associada verificar significativo grau de diferenciação e for
qualitativamente superior em comparação a outros produtos concorrentes
existentes no mercado.

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Estratégias de Proteção da Inovação 471

Proteção da Inovação: a visão das políticas


públicas

Análise Econômica das Patentes: qual o racional econômico


subjacente à atribuição de patentes e outros direitos de
propriedade intelectual?

O foco deste trabalho é a análise da eficácia relativa de


patentes e outros direitos de propriedade intelectual como meios
empregados pelas empresas para garantirem a apropriabilidade
de seus investimentos em P&D e inovação. De acordo com a
teoria econômica existente sobre estas matérias, a questão do
retorno que a empresa individual tem com seu investimento em
P&D corresponde à designada perspectiva “privada” de avaliação
de ganhos com os direitos de propriedade intelectual. Porém,
os economistas consideram também a perspectiva “social” dos
ganhos econômicos. Enquanto que na perspectiva “privada” o que
está em causa é o benefício da empresa X ou da empresa Y com a
utilização de uma dada patente ou marca, na perspectiva “social”
o que está em causa é o benefício líquido global da totalidade das
empresas e consumidores que interagem num dado mercado em
consequência do uso de direitos de propriedade intelectual.
Os primeiros economistas que abordaram este tema da
avaliação econômica, na perspectiva do conjunto da sociedade (e
não do ponto de vista de uma dada empresa X ou Y), da produção
de novos conhecimentos científicos e tecnológicos e da atribuição
de patentes e outros direitos de propriedade intelectual, foram
Kenneth Arrow e Richard Nelson.
O trabalho que Arrow publicou em 1962 e que fazia
referência no seu título à análise do “bem-estar econômico e
alocação de recursos para invenção”, estabeleceu um conjunto de
ideias fundadoras que vieram a estar na base, conjuntamente com

Volume II
472 Estratégias de Proteção da Inovação

os trabalhos de Zvi Griliches e outros, de uma área disciplinar


que, nos EUA, se veio a designar por R&D Economics. Para
efeitos da presente exposição, a primeira ideia que nos interessa
reter desse trabalho de Arrow é que o produto das atividades
de P&D que, como se sabe, se consubstancia em primeiro
lugar em novos conhecimentos, tem características idênticas às
dos designados bens públicos puros. Esse tipo de bens dispõe
de duas características distintivas: o respectivo consumo é não
rival e verifica-se a impossibilidade de exclusão. Entende-se por
consumo não rival a circunstância do bem produzido poder
ser consumido por um qualquer agente econômico sem que tal
degrade o respectivo valor de consumo para todos os restantes
agentes que também o pretendam consumir. A impossibilidade
de exclusão tem a ver com a incapacidade de limitar eficazmente
o acesso ao consumo a qualquer agente que o pretenda fazer. Um
bem público é, portanto, um bem de acesso livre e relativamente
ao qual o acesso por um dado agente econômico não implica
custos para todos os restantes agentes.

Bem Público
Bem público trata-se de um bem cujo consumo beneficia simultaneamente
todos os indivíduos que habitam uma dada região ou país, sem que a
sua oferta incorra em custos superiores aos que se verificariam se ele fosse
oferecido apenas a um subgrupo desses indivíduos. Um bem público puro
distingue-se de um bem privado pelo fato do respectivo consumo ser não rival
e por ser impossível excluir do seu consumo um dado consumidor individual.
A ocorrência de não rivalidade verifica-se por o consumo do bem por um
dado indivíduo não afetar as possibilidades de consumo dos restantes. A
impossibilidade de exclusão tem a ver com o fato de uma vez verificada a
oferta, não ser possível em termos práticos excluir qualquer indivíduo que
tenha intenção de consumir o bem em causa. O exemplo mais tradicional de
um bem público puro são os faróis que existem nas faixas costeiras, junto
ao oceano, onde o consumo dos respetivos serviços verifica simultaneamente
as características de “não rivalidade” e “não excludibilidade”.

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Estratégias de Proteção da Inovação 473

De acordo com Arrow (1962), os conhecimentos gerados


pelas atividades de P&D têm características análogas aos bens
públicos, dado que (i) a natureza informacional desses novos
conhecimentos torna difícil excluir terceiros de os acederem
e (ii) a utilização repetida pode ocorrer sem que o conteúdo
informacional do novo conhecimento se desgaste. Assim, na
ausência de direitos de propriedade claramente identificados,
impedindo o acesso de terceiros às novas ideias e conhecimentos
gerados pelo investimento em P&D, verificar-se-ia uma tendência
para subinvestimento nessa atividade, uma vez que o agente
executor da P&D não seria capaz de se apropriar dos benefícios
do respectivo investimento. Ou seja, verifica-se o problema de
não apropriabilidade dos benefícios dos investimentos em P&D.
Ideia semelhante havia já sido defendida por Richard Nelson
(1959). De acordo com Nelson, verifica-se um desajuste entre
os benefícios sociais e os benefícios privados nos investimentos
em P&D. Dada a dificuldade em impedir o acesso a um novo
conhecimento, logo na sequência da sua criação ele se difunde
rapidamente pelo conjunto dos potenciais interessados no seu
uso, registando-se desse modo um benefício social com um valor
econômico elevado e previsivelmente superior ao investimento
realizado. Contudo, do ponto de vista do produtor privado desse
novo conhecimento, a sua utilização sem restrições por terceiros
leva a que ele se aproprie apenas de uma fracção limitada dos
benefícios totais gerados a partir desse conhecimento. Tal situação
faz com que se verifique um benefício privado insuficiente para
compensar adequadamente o investimento privado feito em P&D.
A consequência desta situação seria a existência de um sistemático
subinvestimento em P&D por parte dos agentes privados, em
comparação com aquele que seria socialmente justificável.
Esta conclusão conduz, inevitavelmente, à constatação
da existência de uma falha de mercado, razão que justifica

Volume II
474 Estratégias de Proteção da Inovação

uma intervenção pública, no sentido de melhorar as condições


de apropriabilidade ou de compensar o produtor através do
subsídio à produção de novas ideias. Na análise de Nelson
(1959), ele concluiu que este tipo de falha de mercado tem maior
probabilidade de ocorrer no caso da investigação básica que no
caso da investigação aplicada realizada por empresas.

Falha de Mercado
Diz-se que ocorre uma “falha de mercado” sempre que os agentes que
interagem num dado mercado não conseguem livremente, sem intervenção
dos poderes públicos, alcançar o melhor resultado econômico possível para o
conjunto desses agentes. Do ponto de vista da teoria econômica, esse melhor
resultado é designado por “ótimo”, descrevendo-se essa situação como
“eficiente”. Há diferentes situações em que dado mercado não se comporta
de forma “eficiente”.
Uma dessas situações é quando o bem transacionado tem características de
bem púbico. No exemplo de bem público dado anteriormente, facilmente se
compreenderá que a impossibilidade de excluir determinado indivíduo do
seu consumo, leva a que a produção desse bem não seja atrativa do ponto
de vista de empresas privadas. Como tal, faz sentido que esse bem público
seja oferecido pelo agente público.
Mercados caracterizados por um nível significativo de “externalidades” (ver
o que significam “externalidades” adiante neste trabalho) são susceptíveis
de sofrer falhas de mercado, como tal requerendo intervenção externa ao
mercado para que ele alcance uma situação mais eficiente.

A constatação da possibilidade de verificação de uma


falha de mercado constitui, pois o fundamento econômico da
necessidade dos governos financiarem atividades de P&D de base
(também designada por P&D fundamental), como aquelas que se
realizam nas universidades ou em institutos públicos de pesquisa.
Para este tipo de P&D, a inexistência de direitos de propriedade
privada sobre os respectivos produtos (novos conhecimentos
amplamente divulgados através, por exemplo, da publicação em
revistas científicas), constitui a justificação da necessidade de

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Estratégias de Proteção da Inovação 475

intervenção, designadamente através do financiamento público


da pesquisa de base promovida pelas universidades e outras
instituições acadêmicas.
Na ausência de mecanismos de proteção ao inventor, Arrow
(1962) constata uma possibilidade idêntica de fuga (spillovers ou
externalidades) das ideias produzidas através da P&D realizada
em empresas. A produção de informação envolveria, na óptica
de Arrow, externalidades (positivas) que seriam absorvidas por
terceiros (free-riders), sem que estes paguem qualquer compensação
ao produtor dos novos conhecimentos. Os mecanismos de
absorção gratuita através dos quais se materializam estes efeitos
externos são variados: em primeiro lugar, a observação dos
produtos que materializam a nova ideia; em segundo lugar,
a espionagem industrial; em terceiro lugar, a mobilidade no
mercado de trabalho. Uma consequência da difícil exclusão
de terceiros e, portanto, de se verificar uma apropriabilidade
limitada, é a existência de um benefício privado inferior ao
benefício social. Tal circunstância conduz a um subinvestimento
privado em P&D, sistematicamente inferior ao investimento em
P&D que seria ótimo em termos sociais. Este resultado é que
justifica a necessidade de imposição de direitos de propriedade
que protejam o inventor face aos assaltos dos free-riders.

Externalidades
São efeitos econômicos que se verificam para além das relações diretas
estabelecidas no mercado entre os diferentes agentes. Ocorrem em
consequência da ação de um determinado agente suscitar efeitos positivos
ou negativos, respetivamente considerados como benefícios ou custos, sobre
terceiros, sem que estes paguem pelos benefícios usufruídos ou sejam
compensados pelos custos suportados. Sempre que se verificam estes efeitos
externos, os custos e benefícios privados e sociais não coincidem.
No caso da produção de novos conhecimentos, o fato do respectivo consumo
poder ter características não rivais e ser difícil a exclusão de terceiros, implica
que se verifiquem externalidades positivas, isto é, outros agentes podem

Volume II
476 Estratégias de Proteção da Inovação

beneficiar do consumo desses conhecimentos sem compensar o produtor pela


respectiva utilização. Nesta situação, o benefício social tende a ser superior
ao benefício privado do produtor (o benefício social é dado pela adição do
benefício de terceiros ao benefício do produtor).
Na literatura anglo-saxónica os beneficiários de externalidades positivas
são denominados de free-riders. Nessa literatura as expressões externality
e spill-over surgem com idêntico significado.
Um exemplo de externalidades negativas é a poluição gerada por uma
fábrica ou pelos táxis de uma dada empresa de transportes de passageiros.
Os custos ambientais gerados são transferidos para o conjunto da sociedade,
sendo que tradicionalmente o agente responsável por esse tipo de efeito
externo não tinha de compensar os moradores das zonas envolventes pelo
custo provocado.

Contudo, em contraste com a afirmação da necessidade


de tais direitos, Arrow (1962) também sustenta que do ponto
de vista social se justifica que os novos conhecimentos possam
ser disponibilizados gratuitamente, visto a sua reprodução e
uso por mais utilizadores ocorrer sem custos adicionais. Ou
seja, o consumo não-rival da informação subjacente aos novos
conhecimentos faz com que a situação ótima apenas se verifique
quando há disponibilização gratuita dessa informação. Desse
modo, Arrow (1962) conclui que para haver maximização do
benefício social, não deveria ser imposto qualquer direito de
propriedade sobre novos conhecimentos.
Esta argumentação contraditória conduz-nos a um dilema
crucial no que respeita à atribuição de direitos de propriedade sobre
novos conhecimentos. Tal dilema ocorre por se ter de escolher
entre (um maior) estímulo à inovação e (um maior) estímulo à
difusão. Como se compreenderá, a decisão relativamente a este
dilema impõe uma escolha entre duas vertentes do progresso
tecnológico. De um lado, se incentivarmos mais a inovação,
estaremos a estimular a introdução de mais inovações de forma
continuada. Por outro lado, se incentivarmos mais a difusão,
sabemos que se irão verificar ganhos globais muito significativos,

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Estratégias de Proteção da Inovação 477

devido ao valor econômico da inovação ser necessariamente maior


quando ela é usada por um número mais alargado de utilizadores.
Vale a pena aqui recordar que é através de uma difusão mais
alargada, designadamente no caso das inovações mais radicais,
que se verificam significativas mudanças estruturais, com o
aparecimento de novas indústrias e novos setores econômicos
que mudam por completo a economia. Face a este dilema, que
posição é que deve ser tomada pelo chamado “decisor-central”,
o agente responsável pela atribuição de direitos de propriedade?
Foi em boa medida a esta pergunta que Arrow (1962)
procurou responder. Vale a pena aqui dizer que ele também avaliou,
no trabalho que temos estado a referir, o uso de outras alternativas
aos direitos de propriedade sobre novos conhecimentos,
incluindo a atribuição de prémios ou o estabelecimento de
contratos para aquisição de novos conhecimentos entre o agente
decisor-central e os produtores privados. Porém, no imediato,
não nos vamos concentrar nessas opções alternativas, mas sim na
avaliação que Arrow fez dos direitos de propriedade sobre novos
conhecimentos. Concretamente, vamo-nos deter no assunto a
que ele deu maior relevo, a análise dos custos e benefícios sociais
da proteção através de patentes.

Existirão Alternativas às Patentes?


A consideração dos mecanismos alternativos às patentes e outros direitos
de propriedade intelectual conduziu Arrow a um outro problema,
central na sua análise, mas que no presente contexto não constitui nossa
preocupação. Trata-se do problema da assimetria de informação entre os
dois tipos de agentes econômicos, o decisor central e as empresas privadas.
Resumidamente, esse problema pode ser apresentado do seguinte modo:
enquanto que os agentes privados dispõem de informação quanto aos custos
de produção de uma dada invenção e quanto à respectiva receptividade no
mercado, o decisor-central não dispõe de capacidades informacionais que lhe
permitam aceder a tal tipo de informação para a totalidade de invenções
que podem surgir em diferentes áreas industriais e tecnológicas, numa dada

Volume II
478 Estratégias de Proteção da Inovação

economia e num dado período temporal. Assim, torna-se preferível a opção


por um sistema descentralizado de atribuição de direitos de propriedade, tal
como o sistema de patentes, onde o decisor-central não tem necessidade de
adquirir informação necessária, para cada nova invenção, para determinar
o valor do prémio a atribuir ou do contrato a realizar. O sistema de
patentes resolve este problema atribuindo uma compensação padronizada
a todas as invenções, independentemente do seu custo de produção e do
respectivo benefício potencial. Esta imperfeição, de tratamento igual a casos
muito diversificados, é compensada pela redução dos custos de aquisição de
informação face aos sistemas alternativos.

A análise de Arrow (1962) considera a decisão que o agente


decisor-central deve tomar em face do dilema anteriormente
referido. Deve o decisor-central, seja ele o governo central ou
o instituto responsável pelo sistema de patentes, impor fortes
direitos de propriedade para estimular o aparecimento de mais
inovações? Ou pelo contrário, deverá antes optar por direitos
de propriedade menos fortes, a fim de permitir uma difusão
bem alargada? Na consideração deste dilema, o decisor-central
equaciona considerações de eficiência estática (não provocar danos
irreparáveis nos benefícios que os consumidores podem obter já
hoje, através de uma disponibilização mais alargada e a preços
mais baixos da inovação) comparativamente a considerações de
eficiência dinâmica (como estimular o progresso tecnológico,
proporcionando condições para uma introdução contínua, agora
e no futuro, de mais inovações).
É evidente que do ponto de vista privado, o investimento
em P&D se justifica sempre que o benefício privado for superior
ao custo privado. Do mesmo modo, do ponto de vista social, esse
mesmo investimento é justificável se o benefício social for superior
ao custo social. Através do esquema analítico que desenvolveu e
cujo detalhe aqui não apresentamos, Arrow observou que quanto
mais forte for a proteção concedida pela patente, naturalmente
maior será o benefício privado, embora mais dificilmente e mais
tarde poderão os consumidores ter acesso aos benefícios de uma

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Estratégias de Proteção da Inovação 479

ampla difusão a preços menores. É entre estes dois benefícios


que o decisor-central deverá procurar estabelecer um equilíbrio.
Esta conclusão é muitíssimo importante, pois sugere que haverá
um nível ótimo subjacente ao grau de proteção atribuído pelas
patentes. O decisor central deve procurar identificar esse nível
adequado de proteção, de modo a conseguir garantir que os
consumidores acedam a inovação da forma mais ampla e com
os menores custos possíveis, mas sem reduzir o retorno privado,
desse modo compromete a possibilidade de continuarem a ser
produzidas e introduzidas mais inovações na economia.

Qual a Intensidade Ótima de Proteção?


A questão a que vários trabalhos de economistas que se
sucederam nas décadas seguintes aos trabalhos pioneiros de
Nelson e de Arrow, tem sido precisamente saber qual o nível
ótimo de proteção que deve ser atribuído pelo sistema de patentes
e em geral pelos direitos de propriedade intelectual concedidos
por diferentes países e organizações. Na prática o problema
considerado consiste em determinar qual o melhor equilíbrio entre
as necessidades contraditórias de oferta de proteção, necessária
para garantir a apropriabilidade e estimular um investimento
contínuo em inovação, e garantir o acesso a custos adequados
aos potenciais utilizadores das inovações, maximizando-se desse
modo o bem-estar social.
No caso concreto das patentes a intensidade da proteção
concedida é controlada por um conjunto de parâmetros (GODI-
NHO, 2000). O primeiro desses parâmetros é o “comprimento”
ou “extensão da patente”, ou seja, o tempo de duração da pro-
teção. Esse assunto foi discutido por Nordhaus (1969; 1972) e
Scherer (1972). O segundo parâmetro é a “largura da patente”
e tem a ver com a maior ou menor facilidade de acesso a novas

Volume II
480 Estratégias de Proteção da Inovação

patentes por parte de invenções relativamente semelhantes a ou-


tras já patenteadas. Essa temática foi inicialmente investigada por
Klemperer (1990), no âmbito de um modelo dedicado à análise
do grau de diferenciação entre invenções patenteadas e outras
candidatas à obtenção de novas patentes. O terceiro parâmetro
é a “amplitude” do sistema de patentes, dimensão esta relacio-
nada com a extensão de áreas técnicas abrangidas pelo sistema
de patentes. As discussões sobre a patenteabilidade do software,
de organismos vivos ou dos chamados métodos de negócio, têm
precisamente a ver com essa dimensão da “amplitude” do sistema
de patentes. Acresce a estes três parâmetros (extensão, largura e
amplitude) um quarto parâmetro, geralmente associado à exigên-
cia que cada instituto de patentes aplica no exame realizado para
decidir a concessão de uma nova patente.
O decisor central ou quem o representa, incluindo
a entidade responsável pela administração do sistema de
propriedade intelectual ou pela concessão de patentes e marcas,
podem tentar identificar qual a intensidade ótima de proteção a
atribuir, manipulando cada um destes parâmetros ou todos eles
em conjunto. O que sabemos é que quanto maior a intensidade
de proteção, pelo menos de um ponto de vista teórico, maior
será o incentivo dado aos inovadores para manterem o fluxo
de seus investimentos em P&D e inovação, pois sabem, por
exemplo, que vão deter em regime de monopólio a tecnologia que
patentearam e, como tal, absorver um maior volume de rendas
exclusivas. Em contrapartida, o acesso dos consumidores aos
produtos incorporando essa tecnologia ficará mais restringida,
em virtude de eles serem transacionados por um valor mais
elevado que aquele que vigoraria numa situação de mercado mais
concorrencial. Em contrapartida, se o regime de proteção for
menos forte, como se costuma dizer, então mais rapidamente
as empresas rivais vão também poder empregar essa tecnologia,
dispersando-se os seus benefícios de uma forma mais ampla, e

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Estratégias de Proteção da Inovação 481

naturalmente os consumidores vão ter acesso a valores monetários


mais baixos, aumentando seu consumo. O decisor central terá
assim de encontrar uma resposta ao dilema que anteriormente
identificamos, calibrando o sistema de propriedade intelectual de
modo a determinar qual a intensidade de proteção que considera
mais adequada, fazendo com que seu país siga uma política mais
pró-inovação ou mais pró-difusão. A Figura 1 ilustra o dilema do
decisor central quanto à intensidade ótima de proteção.

Figura 1 – Intensidade ótima de proteção

Fonte: Elaborado pelo autor deste capítulo (2018)

É evidente que em países onde predominam empresas


altamente inovadoras, fará sentido intensificar os mecanismos
de garantia de retorno. Em contrapartida, em países onde esse
tipo de empresas escasseia, e onde as tecnologias inovadoras e
os produtos inovadores são predominantemente importados,
fará sentido deslocar o ponto da gravidade mais para o lado da
menor intensidade de proteção. Embora se a orientação for pela
menor intensidade, teremos também de encontrar uma resposta

Volume II
482 Estratégias de Proteção da Inovação

para a seguinte pergunta: será que tal opção não manterá fora do
mercado, doravante, as potenciais empresas inovadoras?

Proteção da Inovação: realidade complexa


A Complementaridade entre Diferentes Mecanismos de
Apropriabilidade

Foi referido no final da parte 1 que estudos empíricos


efetuados há já algumas décadas detectaram que as empresas mais
inovadoras não se sentem felizes com a proteção que as patentes
oferecem, enquanto mecanismo de garantia da apropriabilidade
do retorno suscitado por suas inovações. Outra constatação
significativa desses estudos pioneiros, nomeadamente o de
Scherer et al. (1959) para os Estados Unidos e o de Taylor e
Silberston (1973) para o Reino Unido, foi que o interesse e
satisfação com o uso de patentes era desigual entre diferentes
setores de atividade, sendo o setor farmacêutica, e genericamente
as indústrias químicas onde esse setor se insere, aquele onde se
verificava um melhor ajustamento entre as características das
patentes e as tecnologias e necessidades das empresas que atuam
nessas indústrias. No essencial, essa constatação mantém-se
válida nos dias de hoje.
O estudo de Levin et al. (1987) reportou os resultados a
um inquérito realizado a 650 diretores de P&D de empresas dos
EUA sobre patentes e outros mecanismos de apropriabilidade.
Os resultados alcançados e que, entretanto, foram confirmados
por outros estudos análogos (COHEN et al., 1996) revelam que a
generalidade das empresas inovadoras não valorizam as patentes
como o mecanismo de apropriabilidade mais eficaz.
Os inquiridos desse estudo foram convidados a pronunciar-
se, numa escala de 1 a 7, sobre como valorizavam diferentes

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Estratégias de Proteção da Inovação 483

mecanismos de apropriabilidade em termos da sua eficácia.


A hierarquia resultante é perceptível na Tabela 1, surgindo
como mecanismos mais valorizados “Caminhar sempre à
frente dos rivais”, “Descer rapidamente ao longo das curvas de
aprendizagem” e meios ligados a “Marketing”, incluindo nestes
a reputação alcançada, a ocupação de canais de distribuição de
maior visibilidade e a oferta de serviços pós-venda adequados.
Em seguida vem o “segredo industrial” e só depois vêm as
patentes, respetivamente para “impedir duplicação” e para
“garantir royalties”.
O “caminhar sempre à frente dos rivais” surge como o
mecanismo mais eficaz. Sabemos o que isso significa – foi esse
o caminho seguido, por exemplo, pela Apple, quando introduziu
produtos inovadores como o Macintosh em 1984, o iPod em
2001, o iPhone em 2007 ou o iPad em 2010. A manutenção de
um diferencial temporal de antecipação face aos rivais que apenas
passado algum tempo introduzem produtos imitadores, é crítico
para a captura de rendas, ajudando ainda muito à construção
notoriedade da empresa, um aspecto ligado aos mecanismos
referidos em ligação com “marketing”. A descida rápida das curvas
da aprendizagem é outro dos principais mecanismos de proteção,
de acordo com o estudo que temos estado a referir. Tal significa
que desde que uma dada inovação é introduzida, ela é rapidamente
aperfeiçoada, permitindo que todos os seus potenciais benefícios
sejam alcançados num curto espaço de tempo. Este aspecto é
essencial para conquistar um grande número de consumidores.
Um exemplo é o caso de um novo sistema operativo que
quando é introduzido pode ainda apresentar disfuncionalidades,
mas rapidamente os problemas são corrigidos. Se o tempo de
funcionamento das versões beta de novos softwares ou sistemas
operativos se prolonga, tal pode na prática inviabilizar esses
produtos no mercado, por mais inovadores que eles sejam.

Volume II
484 Estratégias de Proteção da Inovação

É interessante observar como nos resultados de Levin et al.


(1987) varia a classificação atribuída aos diferentes mecanismos de
proteção de acordo com a distinção entre inovações de produto
e inovações de processo, sendo que se verifica que as patentes
são relativamente mais eficazes para proteger as inovações do
primeiro tipo e menos eficazes para proteger as do segundo tipo,
embora em média sejam sempre consideradas menos eficazes
que os restantes mecanismos de apropriabilidade. É também
compreensível o fato das empresas valorizarem mais o segredo
industrial no caso de inovações de processo que se mantêm no
interior das respetivas instalações, que no caso de inovações de
produto, situação em que são obrigadas a expor externamente
suas inovações e como tal permitindo que seus rivais possam
observar e replicar suas soluções inovadoras. Em contrapartida,
e de modo lógico, os mecanismos ligados ao marketing são
relativamente mais eficazes a proteger as inovações de produto.

Tabela 1 – Classificação de diferentes mecanismos de apropriabilidade por empresas


executoras de P&D

Inovações Inovações
de Processo de Produto
1. Patentes para impedir duplicação 3.52 4.33
2. Patentes para garantir Royalties 3.31 3.75
3. Segredo industrial 4.31 3.57
4. Caminhar sempre à frente dos rivais 5.11 5.41
Descer rapidamente ao longo das
5. 5.02 5.09
curvas de aprendizagem
Marketing (reputação, ocupação de
6. canais de distribuição e serviços pós- 4.55 5.59
venda)
Fonte: Adaptada de Levin et al. (1987)

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Estratégias de Proteção da Inovação 485

Uma conclusão fundamental do estudo de Levin et al.


(1987) é que na realidade competitiva das empresas estas usam
vários mecanismos de apropriabilidade simultaneamente, para
assim garantirem que capturam o máximo do retorno potencial
gerado por suas inovações. Nessa conjuntura, as patentes são um
dos mecanismos de proteção empregados, sendo que elas têm em
muitos casos uma complementaridade grande, por exemplo, com
os mecanismos ligados ao marketing, incluindo o uso de marcas
comerciais. Mesmo no caso da indústria farmacêutica onde as
patentes recebem a nota máxima, esta complementaridade entre
patentes e marcas é bem conhecida.

Uso Estratégico de Patentes


Na sequência dos estudos pioneiros que temos estado a
referir, estudos posteriores argumentaram que muitas das patentes
em vigor não se destinam, na realidade, a proteger a inovação.
Na verdade, os estudos mais recentes têm vindo a verificar um
recurso crescente à utilização indiscriminada de patentes, inclusive
das chamadas “patentes triviais” (patentes com pouco valor
tecnológico ou com pouco potencial de aplicação prática) que
são usadas apenas com o fim dos seus detentores constituírem
extensas carteiras (portfólios) de ativos intangíveis. De acordo com
Cohen et al. (1996), esse tipo de estratégia permite:

a) amplificar a notoriedade das empresas que detêm essas


patentes, aumentando seu valor em bolsa;
b) ocupar terreno, criando muros protetores em torno de
áreas tecnológicas críticas, dissuadindo terceiros de se
aproximarem dessas áreas críticas;
c) obter meio de troca quando há litígio por infração de
direitos de propriedade intelectual de outras entidades;

Volume II
486 Estratégias de Proteção da Inovação

d) constituir base de licenciamento cruzado de tecnologias


complementares.

Esse tipo de práticas têm sido englobadas no chamado “uso


estratégico das patentes”. É atualmente claro que as motivações
que conduzem muitas empresas a procurar obter patentes estão
longe da função originalmente reconhecida a esses direitos que
era, como se sabe, o estímulo à invenção e o favorecimento da
subsequente exploração da inovação no mercado. Com referência
ao caso dos EUA, já no início dos anos 2000, Jaffe e Lerner
(2004) afirmaram que um recurso crescente a patentes sem
relevância econômica e social tem ocorrido em consequência
de práticas judiciárias que privilegiam excessivamente os direitos
dos detentores de patentes; bem como por uma diminuição dos
limiares de exigência na atribuição de novas patentes por parte
do escritório de propriedade industrial dos EUA (USPTO),
proporcionando o crescimento das referidas patentes triviais.
O uso estratégico das patentes verifica-se não só por parte de
empresas mais tradicionais, mas especialmente por parte dos
chamados patent trolls. Estes “monstros de patentes” são entidades
especializadas na gestão de extensas carteiras de patentes e outros
títulos, através das quais alimentam litigância com eventuais
infratores dos seus direitos de propriedade intelectual, tentando
extorquir-lhes compensações milionárias.
Práticas agressivas deste tipo estarão mesmo a conduzir a
uma situação em que o benefício econômico líquido das patentes
será atualmente negativo, devido aos custos de contencioso terem
aumentado exponencialmente. Essa foi a conclusão do estudo
realizado por Bessen e Meurer (2008), que contabilizaram com
detalhe os proveitos e custos de contencioso com patentes de
empresas cotadas em bolsa nos Estados Unidos, tendo concluído
que as patentes estão a gerar mais prejuízo que benefício na
generalidade dos setores de atividade, com exceção da indústria

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Estratégias de Proteção da Inovação 487

farmacêutica. Os custos com patentes foram estimados por


Bessen e Meurer (2008) tomando em conta os honorários dos
advogados e a erosão que ocorre no valor das ações cada vez que
as empresas têm de ir a tribunal por litigância ligada a patentes.
Estes autores argumentaram que, com exceção de setores como
o das indústrias químicas, as patentes não permitem identificar
adequadamente as fronteiras do objeto de proteção, facilitando
assim uma fácil contestação em tribunal. Os custos associados
à utilização de patentes estarão a ser de tal ordem que mesmo
economistas ortodoxos têm apelado a pura e simplesmente se
abolir o sistema de patentes (BOLDRIN; LEVINE, 2008).
O sucesso relativo de outros sistemas de incentivo à
produção de inovações, incluindo as chamadas metodologias open
source de produção de software e a atribuição de prémios, tem vindo
a contribuir para um debate (GODINHO, 2011) em torno da
reforma e das alternativas ao sistema de patentes, um tema que
se mantém na ordem do dia, mas que como vimos no ponto 2.1
deste trabalho já era referido por Ken Arrow em 1962.

Variância Intersetorial nos Regimes


de Apropriabilidade e Acesso a Ativos
Complementares
Para além de contribuir para desmistificar a importância das
patentes enquanto mecanismo único ou principal para proteção
de inovações, o estudo de Levin et al. (1987), em conjunto com
outros estudos pioneiros referidos, evidenciaram uma significativa
variância intersetorial no uso das patentes, com diferentes setores
econômicos valorizando-as e outros simplesmente revelando total
desinteresse no seu uso. Assim, esse estudo recolheu informação
relativa a 130 setores, sendo que apenas em cinco deles foi
atribuída a nota máxima de 7 às patentes enquanto mecanismo de

Volume II
488 Estratégias de Proteção da Inovação

proteção de inovações de produto; e apenas em três foi atribuída


essa nota máxima enquanto mecanismo de proteção de inovações
de processo. Coincidentemente, a indústria farmacêutica é nos
dois casos um dos pouquíssimos setores que atribui a nota
máxima a patentes enquanto mecanismo de apropriabilidade
dos benefícios da inovação. Em contrapartida, bastantes dos 130
setores recenseados atribuíram a nota mínima ao uso de patentes
como meio de proteção da inovação.
A variância da eficácia dos diferentes mecanismos de
proteção através dos diferentes sectores que coexistem nas
economias conduziu à consideração da presença de diferentes
regimes de apropriabilidade. Alguns sectores usufruem de
regimes de apropriabilidade “fortes”, enquanto outros sectores
têm de viver com regimes de apropriabilidade “fracos”. Em boa
medida, cada regime de apropriabilidade vigente em cada sector
decorre da combinação específica dos diferentes mecanismos de
proteção listados anteriormente na Tabela 1. Pode-se definir o
regime de apropriabilidade como as condições relativas à proteção
de conhecimentos economicamente relevantes, seja através de
mecanismos legais (incluindo a propriedade intelectual, mas
também, por exemplo, acordos de licenciamento) ou de barreiras
específicas proporcionadas por características da tecnologia que
impedem a imitação (incluindo aqui o grau mais ou menos tácito
das tecnologias e as dificuldades de imitação por parte dos rivais)
(PISANO; TEECE, 2007).
Um dos fatores que contribui para que exista uma
pronunciada variância dos regimes de apropriabilidade, tem
a ver com as características das tecnologias que imperam nos
diferentes setores. Por exemplo, certas tecnologias têm uma
natureza mais tácita, outras uma natureza mais codificada.
Sabemos que o conhecimento tácito (ou implícito) tem uma
certa dimensão subjetiva, resultando predominantemente da

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Estratégias de Proteção da Inovação 489

experiência acumulada e de aptidões inatas que os indivíduos


aprimoram durante sua atividade profissional, enquanto que o
conhecimento codificado (ou explícito) é transmissível através de
linguagens formais e sistemáticas, podendo ser expresso através de
palavras, números, símbolos, bases de dados, fórmulas químicas
ou matemáticas, ou outras linguagens de codificação. Como tal
o conhecimento codificado é mais facilmente comunicado e
compartilhado que o conhecimento tácito, sendo que tecnologias,
como as empregadas nas indústrias químicas, apresentam um
grau maior de codificação que, por exemplo, as empregadas em
sectores onde dominem considerações de carácter estético ou de
apreciação do gosto de potenciais consumidores. É precisamente
a facilidade de codificação que permite às empresas farmacêuticas
redigirem patentes bem eficazes, pois dessa forma fica muitíssimo
claro sempre que terceiros infringem suas patentes, podendo-se
provar facilmente a ocorrência.
Há que saber quais as consequências desta dupla natureza
das tecnologias em termos de posicionamento competitivo.
A natureza mais tácita do conhecimento dominante em certos
sectores de atividade dificulta a eficácia das patentes como meio
de proteção. Nesse caso, as vantagens competitivas nesses sectores
estão fortemente associadas à localização do conhecimento
em determinados contextos empresariais ou geográficos, o que
torna difícil a respectiva transferência. Por outro lado, mesmo o
conhecimento codificado, que pela sua natureza mais se presta
à transferência, pode exigir para a sua absorção a presença de
determinado tipos de ativos especializados, de mobilidade
reduzida, o que implica que por esta razão ele possa igualmente não
ser facilmente transferível. Assim, em diferentes circunstâncias
geográficas e setoriais, a natureza dos conhecimentos empregados
poderá por si própria contribuir para a proteção, facilitando a
apropriabilidade.

Volume II
490 Estratégias de Proteção da Inovação

Vale a pena aqui referir, por manter totalmente sua


atualidade, um argumento que surgiu na década de 1990 e que diz
respeito à tendência que se estaria a verificar em nível global, no
conjunto das atividades econômicas, para uma maior codificação
do conhecimento (COWAN; FORAY, 1997; ORGANIZATION
FOR COOPERATION AND ECONOMIC DEVELOPMENT,
1996). De acordo com este argumento, a redução do carácter
tácito do conhecimento tecnológico, com a aproximação do
conhecimento tecnológico ao conhecimento científico, bem
como a disseminação das novas tecnologias da informação,
seriam elementos facilitadores da difusão internacional dos
novos conhecimentos. Porém, se por um lado a circulação de
conhecimento fica facilitada pela codificação, podemos também
identificar um efeito oposto, ligado a uma previsível maior eficácia
das patentes em sectores de conhecimentos mais codificados.
Contudo, há que reconhecer que a par da codificação,
outras transformações que estão a ocorrer na produção do
conhecimento economicamente relevante, também afectam a
respectiva difusão. O aumento da complexidade, relacionada com
a especialização disciplinar crescente das ciências mais associadas
à tecnologia, dificulta a difusão. A tarefa dos seguidores, para
adquirirem o domínio das novas tecnologias, não se limita à
capacidade de descodificação. Eles necessitam de dispor de
capacidades integradoras, ou de “ativos complementares”,
utilizando a expressão de Teece (1996), para darem sentido à
conjugação de saberes especializados que estão presentes nas
tecnologias de muitos dos produtos e processos mais avançados
presentes nos mercados globais.
Os ativos complementares são importantes para as
empresas que desejam comercializar e maximizar o retorno com
as suas inovações. Eles distinguem-se entre ativos “genéricos”
que não precisam ser adaptados a cada inovação específica, ativos

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Estratégias de Proteção da Inovação 491

“especializados” que apenas se adequam a uma determinada


inovação e ativos co-especializados, nos quais há uma
dependência bilateral entre a inovação e o ativo complementar.
Muitas empresas jovens de alta tecnologia, por exemplo, detêm
conhecimentos críticos relativamente às tecnologias e aos produtos
que pretendem introduzir no mercado, mas têm de recorrer a
parcerias com empresas maduras já estabelecidas que possuem os
ativos complementares necessários, como capacidades de fabrico,
canais de distribuição próprios, experiência em matérias legais ou
a reputação de marcas que detêm.

Considerações Finais
Neste capítulo consideramos as estratégias alternativas que
são empregadas para proteger a inovação e permitir a maximização
do retorno econômico dos investimentos inovadores. Da análise
feita resultou claro que os mecanismos e regimes de proteção e
apropriabilidade existentes constituem uma dimensão essencial
dos incentivos que determinam o comportamento das empresas
e das economias em termos de inovação.
Mais especificamente, verificamos que as patentes e outros
direitos de propriedade intelectual não recolhem uma apreciação
unânime das empresas enquanto meios de proteção da inovação,
suscitando pelo contrário alguma reserva e verificando-se a
utilização muito significativa de outros meios para garantir uma
apropriabilidade eficaz dos investimentos em P&D e inovação.
Em paralelo, para além da avaliação na perspetiva das
empresas, observámos a problemática da propriedade intelectual,
com maior incidência nas patentes, do ponto de vista “social”,
isto é, do ponto de vista do conjunto de todos os agentes
econômicos e não apenas de um determinado agente econômico
individual. Esta perspectiva é aquela que é suposto as políticas

Volume II
492 Estratégias de Proteção da Inovação

públicas adotarem, para poderem conceber políticas adequadas


que compensem eventuais falhas de mercado e que promovam
adequadamente a maximização do bem-estar do conjunto da
sociedade. Verificou-se também que os decisores públicos
podem optar por políticas mais ou menos pró-proteção, tentando
determinar uma intensidade de proteção “ótima” que equilibre
os interesses não inteiramente concordantes da inovação e da
difusão da inovação.
Na prática, a intensidade de proteção não é apenas ditada
pelo sistema de propriedade intelectual vigente, mas pelo conjunto
de mecanismos de proteção que se consubstanciam nos diferentes
regimes de apropriabilidade que vigoram nos vários setores
da economia. O sucesso das empresas inovadoras depende da
forma como conjugam seus regimes de apropriabilidade com a
capacidade de acederem a ativos complementares que necessitam
para comercializar suas inovações.
Verificamos também que, apesar da existência de diferentes
percepções entre as empresas quanto à eficácia das patentes
enquanto meio de proteção da inovação, tal não impede que
bastantes empresas recorram de forma massiva à sua utilização,
designadamente para efeitos de usos estratégicos que se tornaram
mais comuns nas décadas mais recentes. Provavelmente este tipo
de usos, desalinhados da finalidade primeira para a qual as patentes
foram concebidas, conduz à situação socialmente indesejável dos
sistemas de patentes acabarem por gerar custos que em vários
setores de atividade econômica serão já superiores aos benefícios
que permitem alcançar.
Acresce que, ao longo das últimas duas décadas, verificou-
se, generalizadamente, tanto nas economias mais desenvolvidas
como nas economias em desenvolvimento, um reforço dos
direitos de propriedade intelectual, com particular incidência no
caso das patentes (GRANSTRAND, 1999; GODINHO, 2011).

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Estratégias de Proteção da Inovação 493

Em boa medida, a alteração das condições regulatórias, que estão


por detrás desta tendência de reforço dos direitos atribuídos, foi
concomitante com a preparação e início da execução do acordo
TRIPS cuja essência consiste numa harmonização das regras
de propriedade intelectual em nível global. Os efeitos dessas
mudanças regulatórias, que fortalecem a proteção de patentes,
foram investigados em numerosos estudos empíricos, sendo que
quase nenhum desses estudos relata a existência de um impacto
positivo dessas alterações ao nível de inovação (veja-se, p. ex.
LERNER, 2002; 2009; QIAN, 2007, entre outros).
Fica assim perceptível, através da análise que realizámos,
que o atual sistema de propriedade intelectual, incluindo
evidentemente a atribuição de patentes, constitui uma realidade
algo paradoxal, marcada por um elevado grau de complexidade
e conflitualidade, carecendo da introdução de reformas para
melhorar a sua eficiência.
Convém neste ponto procuramos equacionar o que
retiramos da análise feita para o caso específico de entidades
como os NITs, que têm como missão identificar o conhecimento
com potencial valor econômico em instituições acadêmicas;
tentar registrar direitos de propriedade sobre esse conhecimento
e, nessa sequência; conseguir incentivar a aplicação e o retorno
econômico a favor das suas instituições de pertença.
Num trabalho sobre as unidades de transferência de
tecnologia existentes em universidades de Espanha e Portugal,
similares aos NITs existentes no Brasil, foi referido que essas
unidades devem dar atenção, no âmbito da sua atividade, ao
regime de apropriabilidade das tecnologias desenvolvidas pelos
inventores das respetivas universidades (ARQUÉ-CASTELLS
et al., 2016). Nas conclusões desse trabalho foi salientado que
embora algumas tecnologias produzidas por inventores de
universidades possam ter um valor econômico elevado, elas

Volume II
494 Estratégias de Proteção da Inovação

podem não ser adequadas para obter proteção através de patentes,


sendo que essas tecnologias não patenteadas serão mais difíceis
de ser comercializadas no mercado por meio de licenciamento. É
ainda referido que mesmo que todas as tecnologias desenvolvidas
em universidades fossem adequadas para proteção por patentes,
podem verificar-se restrições de natureza geográfica limitando a
sua comercialização, dado unidades de transferência pertencentes
a universidades de menor dimensão poderem não ter a capacidade
de negociar licenças com possíveis clientes localizados muito além
da sua região. Nesses casos, em que há dificuldade em alcançar o
mercado global, o potencial de licenciamento fica essencialmente
limitado a parceiros locais que podem ser, sobretudo, empresas
de baixa tecnologia.
Um outro fator que condicionará as estratégias de
valorização da propriedade intelectual por instituições acadêmicas
prende-se com a natureza, diversidade e estrutura das bases de
conhecimento das diferentes disciplinas científicas que existem
nessas instituições. Essa diversidade das bases de conhecimentos
determina diferentes métodos de transferência do lado acadêmico,
que interagem com as estratégias de apropriabilidade do lado das
empresas. O patenteamento oriundo de instituições acadêmicas
nos países mais desenvolvidos cresceu muito, principalmente
com base nas ciências da vida e na biotecnologia, áreas nas quais
a pesquisa científica está mais próxima das aplicações comerciais.
No entanto, os mecanismos de transferência de tecnologia
variam consideravelmente de acordo com a estrutura das bases
de conhecimento, o grau de desenvolvimento dos conhecimentos
e também entre as regiões, de acordo com suas configurações
institucionais, estruturas produtivas e sistemas de pesquisa
vigentes nessas regiões (MONTOBBIO, 2009). Em muitos
casos, a transferência de conhecimento verifica-se mais através
de mecanismos de natureza tácita, com colaboração em projetos
conjuntos, visitas de técnicos das empresas aos laboratórios de

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Estratégias de Proteção da Inovação 495

pesquisa das entidades acadêmicas, permanência de cientistas


nas empresas, ou ações de formação concebidas à medida das
necessidades das empresas parceiras (CARTAXO; GODINHO,
2017).
Relativamente à temática de como a natureza dos regimes
de apropriabilidade das tecnologias envolvidas afeta a atividade
de transferência de conhecimento das entidades acadêmicas
para as empresas, fará sentido também considerar as conclusões
da literatura que analisa as estratégias de desenvolvimento das
novas empresas baseadas em pesquisa que surgem a partir de
pesquisa acadêmica (research spin-offs). Essas empresas, em geral,
detêm bons conhecimentos em áreas tecnológicas nucleares,
mas carecem de ativos complementares críticos, incluindo
conhecimentos administrativos, de métodos de financiamento de
atividades, de produção e de comercialização. Esta circunstância
leva a que muitas destas empresas se limitem a operar no
mercado das tecnologias, com base no licenciamento de patentes
e outros ativos intangíveis que detêm, deixando a produção e
comercialização para outros parceiros de negocio. O que tem sido
constatado é que quanto mais fraco é o regime de apropriabilidade
das tecnologias que detêm, mais este tipo de empresas necessita
de se associar a parceiros que possuam ativos complementares,
de modo a conseguirem capturar rendas a partir das tecnologias
por elas desenvolvidas (CONCEIÇÃO; FONTES; CALAPEZ,
2012).

Referências
ARQUÉ-CASTELLS, P. et al. Royalty sharing, effort and
invention in universities: evidence from Portugal and Spain.
Research Policy, [S.l.], v. 45, p. 1.858-1.872, 2016.

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496 Estratégias de Proteção da Inovação

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Volume II
Índice Remissivo

A Acordo Geral de Tarifas e Comércio 41,


79
Absoluta 66, 314 Acordo Geral de Tarifas e Comércio
Abstração 326 (GATT) 41, 79
Abuso de Direito 206, 367, 368 Acordo Plurilateral 170
Ação Judicial 456 Acordos Bilaterais 76, 140, 151, 157,
Acervo 36, 328 169, 170
Acessibilidade 108 Acordos de Classificação 173, 177
Acesso 17, 36, 53, 54, 55, 56, 57, 58, 76, Acordos Internacionais 11, 12, 24, 59,
77, 78, 79, 81, 82, 89, 90, 91, 92, 98, 101, 61, 62, 65, 66, 73, 78, 82, 83, 84, 85, 88,
108, 135, 152, 153, 154, 158, 159, 162, 100, 109, 110, 112, 124, 129, 133, 140,
172, 174, 175, 176, 177, 178, 180, 191, 148, 149, 150, 167, 168, 169, 180, 181,
192, 193, 194, 195, 196, 197, 198, 199, 188, 189, 190, 191, 238, 239, 240, 355,
201, 202, 203, 204, 205, 215, 219, 222, 359, 406, 424
231, 232, 233, 234, 235, 240, 293, 294, Acordos Internalizados 181
295, 296, 297, 299, 334, 339, 342, 344, Acordos Multilaterais 82, 83, 180
345, 346, 347, 348, 395, 396, 397, 398,
404, 413, 425, 426, 427, 444, 457, 458, Acordo Sobre Aspectos dos Direitos de
459, 460, 465, 466, 467, 469, 470, 472, Propriedade Intelectual Relacionados Ao
473, 478, 479, 480, 481, 487, 523 Comércio (ADPIC) 41, 80, 123, 351,
395, 402, 406, 430
Ações Prejudiciais 88, 97
Acordos Regionais 157, 169
Acordo Constitutivo 80, 172, 361
Acordo Trips 80, 106, 126, 145, 214,
Acordo Constitutivo da OMC 172, 361 230, 493
Acordo da HAIA 125, 129 Acreditados 220
Acordo de Cooperação e Facilitação Actinomicetos 281
Sobre a Proteção das Obtenções Vegetais
140, 141 Açúcar 380, 455
Acordo de Lisboa 41, 154, 162, 167, Adaptado 33, 50, 101, 153, 366, 415,
406, 427, 430 416
Acordo de Lisboa Relativo À Proteção Adequação do Pedido 289
das denominações de Origem 154, 167, Adesão 91, 119, 123, 130, 134, 140, 143,
406 153, 159, 172, 173, 176, 177, 182, 325,
Acordo de Locarno 126, 129 349, 351, 363, 368, 369, 393, 430
Acordo de Madri 152, 153, 160, 167, Adesões 106, 153
176, 406 Administração Pública 254
Acordo de Madrid 161, 162, 175, 176, Administrativa 114, 133, 344, 362
189, 429, 430 Agência Brasileira de Promoção
Acordo de Madri Para a Repressão das de Exportações e Investimentos
Falsas Indicações de Procedência 152, (APEXBRASIL) 332
167, 406 Agências de Turismo 436
Acordo de Marraqueche 358 Agente 36, 47, 467, 472, 473, 474, 475,
Acordo de Nice 177, 178, 189 476, 477, 478, 491
Acordo de Viena 177, 178, 180, 189 Agente da Propriedade Industrial 47
Índice Remissivo 501

Agregação 263, 300, 302, 332, 333, 342, Arquivados 290


348, 434, 435, 436, 442, 496 Arranjo dos Componentes 228
Agregar Valor 340, 435, 446 Arte 34, 87, 99, 282, 283, 305, 422, 519
Agricultura 43, 94, 99, 131, 133, 193, Artesão 304
196, 199, 200, 203, 208, 349, 351, 353,
381, 382, 383, 387, 390, 392, 394, 395, Artistas 67, 77, 82, 83, 84, 110, 196
396, 397, 398, 399, 439, 441, 460 Artístico 29, 53, 71, 87, 127, 309, 312,
Agronegócio Internacional 351 317, 321, 329, 523
Agropecuária 350, 381, 382, 387, 439, Arts And Crafts 302
441 Árvores Florestais 52, 132, 349, 377
Agroquímico 375 Assembleia da União do PCT 121
Algas 280, 281 Assistência Técnica 119, 439
Algoritmo 108, 212 Associação Brasileira de Propriedade
Algoritmos 212 Intelectual (ABPI) 42, 207, 521
Alimentação 94, 101, 196 Associação Internacional dos
Profissionais Melhoristas 360
Aluguel Público 106
Associação Internacional Para a Proteção
Alvará 37, 38, 43, 54, 115, 237, 295 da Propriedade Intelectual 360
Âmbito Internacional 14, 69, 85, 86, Associação Literária e Artística
106, 149, 173, 239, 355, 430 Internacional 69
Amostra Viva 376, 379, 386, 397 Associações 316, 419, 420, 428, 435,
Análise de Mérito 112 438, 444, 448, 454
Android 13, 215, 225, 226 Ata 80, 131, 133, 134, 135, 136, 137,
Animais 99, 280, 361, 370 138, 139, 194, 231, 293, 360, 364, 366,
367, 368, 369, 372, 457
Antiguidade 31, 149, 168, 401, 402, 424
Ata da UPOV 131, 133, 134, 135, 137
Aparelho Telefônico 270
Atividade Econômica 115, 214, 391,
Aplicação Industrial 13, 213, 214, 228, 404, 436, 492
245, 256, 264, 265, 267, 298, 304, 308,
309, 312, 320, 321, 325, 327 Atividade Projetual 301, 304
Aplicação Prática 264, 271, 272, 485 Atividades Desportivas 48
Aplicativos 210 Ativo Econômico 104
Apple 464, 465, 483 Ativo Intelectual Protegido 67
Apropriabilidade 16, 17, 462, 465, 466, Ativos Financeiros 332
467, 468, 469, 471, 473, 474, 475, 479, Ativos Intangíveis 61, 63, 104, 149, 182,
482, 483, 484, 485, 487, 488, 489, 491, 188, 190, 351, 485, 495, 525
492, 493, 494, 495 Ativos Intangíveis Diferenciadores 61,
Apropriability 465 63, 190
Apropriações 104, 340 Ato 28, 35, 36, 60, 121, 125, 137, 140,
Apropriar 14, 25, 26, 349, 462, 465, 467, 151, 153, 154, 155, 162, 163, 167, 170,
473 209, 216, 256, 267, 281, 325, 327, 328,
364, 366, 367, 377, 429
Apropriável 104
Ato de Genebra do Acordo de Lisboa
Área Financeira 274 154, 167
Argumentação 468, 476 Ato de HAIA 125
Armazenamento 223, 365 Atos Administrativos 162
Arquitetônicas 274, 275, 329 Atribuição 16, 462, 469, 470, 471, 476,
Arquitetos 68 477, 478, 486, 487, 493

Volume II
502 Índice Remissivo

Atualizações 47, 217, 238 Brasileiro. 8, 12, 13, 31, 44, 47, 48, 84,
Audiovisuais 71, 81, 82, 84, 110, 198 85, 87, 111, 139, 142, 146, 160, 180, 181,
191, 192, 203, 236, 237, 239, 246, 247,
Autenticação 175 265, 292, 301, 312, 333, 334, 341, 344,
Autonomia Tecnológica 51 355, 391, 410, 412, 416, 417, 427, 439,
Autônomo 116, 128 442, 448, 449, 459, 521
Autores de Escritos 68 Brix 440, 444, 455
Autores Dramáticos 68 Budapest Treaty on The International
Recognition of The deposits of
Autoridade Competente 86, 186, 437 Microrganisms for The Purposesof
Autoridade Internacional de depósito Patent Procedure 119
(IDA) 119 Bureaux Internationaux Reunis Por La
Autorização 71, 72, 128, 135, 136, 144, Protecion de La Propriété Intelectuelle
147, 148, 174, 221, 229, 354, 365, 378, (BIRPI) 40
388, 389, 455 Busca 62, 120, 121, 169, 170, 178, 184,
Autorizar 106, 107, 251, 255, 368 209, 250, 257, 258, 284, 302, 310, 349,
Autor Sobrevivente 112 371, 389, 393, 429, 523
Avançados 465, 490 Busca Internacional 120, 121
Avanço Tecnológico 108, 231
C
B Cachaça 411, 413, 414, 418, 426, 435
Backlog 177, 289 Cachaça de Paraty 435
Bactérias 280, 281 Cadeias Produtivas Locais 403
Banco Internacional Para a Reconstrução Caducidade 37, 39, 117, 187
e o desenvolvimento (BIRD) 357 Caduque o Registro 187
Banco Mundial 95 Camada de Ozônio 90
Banco Nacional do desenvolvimento Campo da Invenção 281, 282, 286
(BNDES) 332 Campo Projetual 304
Base Tecnológica 122 Campo Técnico 273
Básicas 205, 258, 353 Campo Tecnológico 266, 274, 282, 356
Batalhas Judiciais 225, 226 Cancelamento do Certificado 378, 386
Bem-Estar Social e Econômico 42, 123 Capacidade de Geração de Novas
Bem Público 16, 80, 103, 472, 474 Tecnologias 142
Benefício Concedido 260 Características Essenciais 132, 138, 372
Bens Contrafeitos 122 Características Produtivas 349, 352
Bidimensionais 127, 304, 306, 322 Caracterização de Germoplasma 351
Bioquímicos 375 Carácter Tácito 490
Biotecnologia 91, 201, 203, 207, 241, Caráter Certificativo 168
284, 372, 382, 392, 396, 397, 399, 494, Caráter Distintivo Original 187
519, 521, 523, 524
Caráter Identitário 103
Boa-Fé 165, 217, 230
Caráter Singular 318, 319, 343
Boas Práticas 446, 456
Caráter Viral 220
Bons Costumes 279, 310
Carnalentejana 402
Bordeaux Para Buffets 165
Carta-Patente 35, 36
Carteiras 485, 486

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Índice Remissivo 503

Caso Ilustrativo 13, 224, 225 Cognac 402


Categorias 115, 179, 219 Colaboração 51, 255, 494
Celulares 276 Coletivo 73, 102, 103, 335, 403, 424,
Central do Negócio 220 432, 434, 450, 463
Centro Brasil design 332, 344 Colheitas 133, 136, 138
Centro de Apoio Ao desenvolvimento Colisões Hash 223
Tecnológico (Cdt) 258, 521, 522 Colossus 211
Certificação 48, 65, 168, 175, 185, 207, Combinação 137, 138, 144, 147, 148,
288 184, 229, 257, 262, 263, 315, 339, 361,
Champagne 152, 153, 165, 200, 402, 430 372, 488
Chips 141, 146 Combinação de Genótipos 138, 372
Ciclos de Vida 463, 464 Combinação Óbvia 262, 263
Ciência & Tecnologia (C&T) 61, 89, 234 Comercial 21, 46, 73, 87, 91, 99, 106,
107, 123, 126, 135, 136, 145, 149, 155,
Cientistas 334, 495 185, 188, 213, 219, 220, 254, 279, 305,
Circuito 12, 13, 25, 31, 52, 67, 141, 142, 331, 333, 340, 345, 353, 356, 365, 366,
143, 144, 146, 147, 148, 209, 218, 228, 367, 371, 373, 378, 389, 390, 391, 412,
229, 231 429, 456
Circuito Eletrônico 144 Comercialização 25, 52, 55, 135, 136,
Circuito Integrado 12, 13, 25, 31, 52, 67, 139, 188, 210, 232, 255, 278, 349, 351,
141, 142, 144, 146, 147, 148, 209, 228, 365, 374, 378, 386, 387, 388, 389, 394,
229, 231 442, 444, 445, 455, 494, 495
Circuitos Integrados 12, 24, 31, 49, 52, Comercialização. 25, 55, 135, 136, 188,
55, 59, 62, 64, 65, 112, 119, 141, 142, 210, 232, 278, 349, 365, 386, 387, 388,
143, 144, 145, 146, 147, 148, 171, 191, 389, 394, 444, 445, 455, 495
205, 206, 210, 228, 231 Comércio 31, 38, 41, 42, 43, 45, 59, 61,
Civilizações 168 63, 64, 79, 80, 83, 84, 96, 100, 109, 110,
114, 122, 123, 124, 129, 137, 141, 145,
Civil Law 168 148, 151, 155, 156, 157, 167, 168, 169,
Classificação de Nice (NCL) 177, 178 170, 172, 173, 181, 182, 184, 186, 189,
Classificação de Viena (VCL) 178 190, 191, 192, 205, 207, 237, 273, 294,
332, 333, 347, 348, 351, 356, 357, 358,
Classificação Internacional 126, 129, 360, 365, 394, 395, 402, 406, 430, 431,
177, 178 438, 457, 519
Clausula do Avó 165 Comércio Internacional 41, 42, 100, 122,
Código Aberto 219, 220, 224 137, 151, 170, 173, 190, 207, 357, 358
Código Civil Brasileiro (CCB) 49, 247 Comissão Intergovernamental Sobre a
Código de Bustamante 74 Propriedade Intelectual e Os Recursos
Código de Máquina 212 Genéticos, Os Conhecimentos
Tradicionais e o Folclore (IGC) 85
Código de Propriedade Industrial 45, 47,
117, 131, 244, 369 Common Law 168
Código-Fonte 111, 112, 215, 218, 219, Compensação 21, 249, 468, 475, 478
220, 221, 222, 223, 231 Competitividade 332, 333, 348, 351, 381,
Código Hash 223 390, 423, 427, 428, 454, 457, 459, 464
Código-Objeto 111, 112 Competitivo 302, 428, 435, 489
Código Original 216 Complexa 17, 23, 462, 482
Código Secreto 211 Complexidades 314, 315
Complexo Agroflorestal 371, 373, 390

Volume II
504 Índice Remissivo

Complexo Conjunto 113 Meio Ambiente e desenvolvimento


Componentes Analógicos 144 (CNUMAD, em Inglês Unced) 90
Compositores 68 Conferência das Nações Unidas
Sobre o Comércio e desenvolvimento
Comprobatório 248, 436 (UNCTAD) Biotrade 96
Compromisso Internacional Sobre os Conferência das Nações Unidas Sobre o
Recursos Fitogenéticos 94 Meio Ambiente Humano 90
Comprovação de Autoria 220 Conferência da Upov 360
Comprovante de Pagamento 14, 129, Conferência de Bretton Woods 357
281, 287, 321
Conferência de Partes (COP) 92
Compulsória 72, 137, 367, 368, 380
Conferência Diplomática de Paris 130
Computadores Pessoais 213
Conferência Diplomática Para a Adoção
Comunidade 26, 85, 86, 87, 99, 103, de um Novo Ato do Acordo de Lisboa
114, 120, 157, 219, 409 para a Proteção de denominações de
Comunidade Andina de Nações (Can) Origem e seu Registro Internacional 154
157 Confiança 217, 230, 419
Comunidade Cientifica Internacional 120 Configuração Externa 127, 308
Comunidade Europeia (CE) 157 Configuração Visual 315, 316
Comunidades 22, 87, 91, 92, 93, 95, 98, Conflito 360, 398
99, 113, 201, 404, 419, 422
Conflitualidade 493
Concedidas 15, 36, 39, 116, 118, 290,
400, 412, 413, 416, 417, 418 Conformidade 92, 142, 143, 145, 434,
446
Conceituação 298, 308, 315
Confusão 128, 163, 186, 410, 411, 450
Concepção 63, 112, 228, 264, 265, 285,
301, 303, 304 Congresso do Relatório da Comissão
Nacional Sobre Novos Usos
Concessão de Garantia de Patente 44 Tecnológicos de Trabalhos Protegidos
Concessão de Licenças Obrigatórias 117 Por Copyright (CONTU) 105
Concessão de Patentes 45, 46, 105, 210, Conhecimento Comum 329
230, 238, 244, 294, 480 Conhecimento Prévio 255
Concessão dos Direitos 32, 128 Conhecimentos Éticos e Tradicionais
Concorrência desleal 29, 31, 32, 38, 48, 102
104, 105, 109, 155, 157, 163, 169, 244, Conhecimentos Tradicionais 11, 24, 59,
356 65, 66, 85, 86, 87, 88, 89, 91, 92, 93, 94,
Condicionalidade 185 95, 96, 97, 98, 99, 100, 101, 190, 203,
Condicionantes 214 523
Condições de depósito 184, 185 Conhecimento Tecnológico 42, 123, 490
Condições de Trabalho 95 Conhecimento Tradicional 31, 91, 96,
98, 100, 101, 102, 240, 421, 425, 523
Condições Edafoclimáticas 392, 393
Conjunto de Linhas e Cores 126
Conexos 11, 24, 31, 53, 59, 62, 64, 65,
66, 67, 77, 83, 119, 171, 190, 202, 216, Conselho de Administração do Programa
401 das Nações Unidas para o Meio
Ambiente (PNUMA) 91
Conferência 69, 79, 92, 96, 130, 154,
198, 223, 357, 360, 496 Conselho de Informações Sobre
Biotecnologia (CIB) 392, 396
Conferência das Nações Unidas
para o Comércio e desenvolvimento Conselho Regulador 438, 444, 455, 519
(UNCTAD) 79 Consentimento 34, 36, 100, 101, 138,
Conferência das Nações Unidas Sobre 147, 185, 255, 259, 260, 368, 371, 373

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Índice Remissivo 505

Consentimento Prévio 101, 138 Convenção de Munique 105


Consentimento Prévio, Esclarecido e Convenção de Roma 77, 82, 83
Informado 101, 138 Convenção de Washington 75, 76
Conservação da Diversidade Biológica Convenção Internacional 77, 83, 91, 93,
91 101, 139, 195, 196, 246, 363, 369, 393
Consonância 185, 314, 445 Convenção Literária, Científica e Artística
Consórcios 273 76
Constituição 33, 35, 44, 45, 46, 47, 50, Convenção Para Proteção das Obras
53, 55, 56, 86, 87, 101, 158, 194, 237, Literárias e Artísticas 40
238, 239, 295, 320, 388, 389 Convenção Sobre a Proteção do
Constituição Americana 35 Patrimônio Mundial Cultural e Nacional
Constituição Federal do Brasil 53 95
Constituição Política do Império do Convenção Sobre os Meios de Proibição
Brasil 237 e Prevenção da Importação, Exportação
e Transferência Ilegal de Diversidade de
Consumeristas 315 Bens Culturais 95
Consumidor 128, 157, 270, 324, 400, Convenção Sobre Proteção de
403, 405, 423, 424, 450, 456, 461, 472, Produtores de Fonogramas Contra a
519 Reprodução Não Autorizada de Seus
Contábil 274 Fonogramas 78, 83
Contemporâneos 168 Convenção Universal 76, 77, 83, 195,
Conteúdo 21, 26, 106, 122, 216, 244, 197
258, 259, 262, 276, 473 Convenção Universal Sobre Direito de
Conteúdo Tecnológico 122 Autor 76, 77, 83, 195, 197
Contexto Geopolítico 89 Convenções Pan-Americanas 73, 75, 169
Continuidade 26, 217, 230, 265 Conveniência 44, 120, 208, 214, 230, 292
Contornos 115, 311, 325, 326 Convênio de Bruxelas 78, 83
Contos 275 Convênios 74, 100, 273
Contrafação 68, 69, 169 Convênios Médicos 273
Contrato de Trabalho 253, 254 Cooperação Técnica 133, 362
Contrato de Transferência de Tecnologia Cooperativas 428, 435
292 Copiagem 106
Contributo Mínimo 320, 328, 329 Copyright 59, 68, 73, 75, 76, 77, 81, 82,
Convenção da Diversidade Biológica 104, 105
(CDB) 89, 91, 92, 101, 200 Copyright Office 104
Convenção da União de Berna (CUB) Correspondente da Topografia 230
59, 69, 83, 113 Criação Humana 23, 53, 114
Convenção da União de Paris (CUP) 38, Criação Primígena 66, 67
40, 59, 70, 113, 114, 115, 119, 124, 129,
140, 167, 189, 305 Criações Industriais 47, 146
Convenção de Berna 73, 75, 76, 106, Criações Intelectuais Individualizadas
108, 111, 119, 197, 214, 221, 238, 359 107
Convenção de Concessão de Patentes Criadores 60, 97, 144, 147, 300, 301
Europeias 105 Criatividade 21, 97, 98, 124, 468
Convenção de Estocolmo 118, 358 Critérios Físicos 403
Convenção de Genebra 73, 75, 76 Cruzamentos 351

Volume II
506 Índice Remissivo

Cultivares 12, 14, 15, 24, 25, 31, 48, 49, Denominação Própria 136, 140, 366,
52, 55, 59, 62, 64, 65, 130, 131, 133, 136, 371, 373
139, 140, 141, 190, 193, 198, 199, 202, Denominações de Origem (DO) 41, 65,
203, 207, 208, 349, 352, 353, 354, 355, 150, 154, 155, 158, 159, 167, 189, 356,
356, 357, 359, 363, 364, 367, 368, 369, 406, 407, 408, 416, 417, 418, 427
370, 371, 372, 374, 375, 377, 378, 380,
381, 382, 383, 384, 385, 386, 387, 388, Denominações de Origem Protegidas
389, 390, 391, 392, 393, 394, 395, 396, 150
397, 398, 399 Denominações de Origem Reconhecidas
Cultivar Essencialmente derivada 140, (DOR) 159
365, 367, 372, 377, 379 Depositante 39, 120, 121, 186, 253, 265,
Cultivar Preexistente 373 282, 287, 288, 290, 294, 296, 338
Cultivar Protegida 140, 365, 367, 372, Depósito 34, 41, 47, 51, 52, 118, 119,
378, 379, 380 121, 125, 126, 145, 146, 148, 176, 183,
184, 185, 229, 242, 245, 253, 256, 259,
Cultivo 139, 349, 352, 387, 388, 389, 260, 282, 286, 287, 288, 291, 292, 311,
392, 440 313, 321, 330, 383, 410, 427
Cultura 73, 76, 87, 94, 168, 208, 344, Deposito de Microrganismos 120
352, 354, 382, 393, 417, 421, 429, 435,
440, 441, 443, 524 Derivação Essencial 138
Cultura da Videira 393 Derwnt Innovations Index 258
Cumulativas 127 Descrição da Função 230
Cumulatividade 25, 298, 307, 310, 329, Descrição detalhada do Invento 281,
330 282, 283, 285
Custos Ambientais 476 Descritor 375, 376
Descritores 342, 354, 370, 371, 372, 373,
374, 375, 376, 377, 379, 383, 384, 387,
D 390
Descritores Mínimos 383, 384
Dados 81, 82, 83, 106, 107, 213, 222,
223, 257, 258, 278, 282, 299, 300, 333, Descritores Morfológicos 375
334, 353, 384, 388, 390, 391, 417, 442, Desempenho Funcional 217
443, 489 Desenhistas 68
Decisor-Central 477, 478, 479 Desenho Industrial (DI) 21, 24, 25, 31,
Decisores Públicos 492 39, 52, 59, 64, 65, 67, 109, 118, 126, 128,
Declaração Ministerial 172 129, 190, 206, 207, 244, 274, 296, 298,
299, 300, 301, 302, 303, 304, 305, 306,
Declaração Sobre os Princípios da 307, 308, 309, 310, 312, 313, 314, 315,
Cooperação Cultural Internacional 95 316, 317, 318, 319, 320, 321, 322, 323,
Declaração Universal dos Direitos 324, 326, 327, 330, 331, 333, 334, 335,
Humanos 359 338, 340, 341, 342, 344, 345, 410, 427,
Declaratório 112, 376 519
Decorativas 349, 352 Desenho Protegido 128
Deferimento 260, 289, 386 Desenhos 12, 14, 19, 25, 29, 36, 41, 42,
Deficitário 468 48, 62, 68, 99, 112, 119, 124, 125, 126,
127, 128, 129, 155, 198, 210, 230, 238,
Delimitação da Área de Produção 150 281, 298, 299, 300, 301, 304, 305, 306,
Delimitação do Objeto 307 307, 308, 309, 310, 311, 312, 314, 315,
Denominação de Origem 15, 26, 115, 316, 318, 319, 320, 321, 322, 323, 324,
154, 158, 160, 162, 166, 180, 191, 192, 328, 329, 330, 331, 332, 334, 335, 336,
406, 407, 408, 409, 412, 416, 417, 422, 338, 340, 341, 343, 345, 356, 369, 468,
430, 431, 458 523

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Índice Remissivo 507

Desenhos ou Modelos Industriais 125, Direito de Realizar Adaptações e


126, 155, 356, 369, 468 Arranjos 71
Desenvolvimento Biotecnológico 25, Direito de Realizar uma Reprodução 71
349, 393 Direito de Recitar e Transmitir em
Desenvolvimento Científico 48, 51 Público 71
Desenvolvimento da Indústria e do Direito de Representar e Executar em
Comércio 114 Público 71
Desenvolvimento Sustentável 25, 88, 90, Direito Exclusivo 45, 47, 52, 106, 147,
96, 349, 353, 381, 390, 393 185, 310
Design 21, 60, 128, 142, 298, 300, 301, Direito Internacional 54, 74, 76, 78, 84,
302, 303, 304, 306, 318, 322, 330, 332, 114, 143, 191, 192, 193, 194, 206, 522
333, 334, 335, 337, 338, 340, 341, 342, Direito Patentário 13, 25, 236, 239, 252,
343, 344, 346, 347, 348, 519 280, 292
Designação Genérica 137 Direito Reconhecido 210
Design de Produto 334 Direitos Autorais e Conexos 24, 59, 62,
Designer 302, 303, 304, 325, 326, 331, 65, 190, 216
338, 339 Direitos Conexos 11, 31, 53, 64, 66, 67,
Design Gráfico 334, 519 77, 83, 119, 171, 400
Design Patent 318 Direitos de Autor 11, 66, 67, 69, 74,
Desistência 290 144, 195, 305, 400, 468
Desmistificar 487 Direitos dos Intérpretes 67
Destilados 163, 164, 165 Direitos Exclusivos de Uso 249, 250
Detentor 116, 219, 250, 252, 365, 366 Direitos Expirados 290
Detentor da Patente 116 Direitos Morais 53, 71, 77, 81, 97, 251
Diagnóstico do design Brasileiro 332, Direitos Pessoais 247
344 Direitos Plenos 210
Diferenciação 63, 73, 113, 190, 275, 289, Direitos Privados 114, 468
300, 301, 302, 319, 322, 329, 332, 333, Direitos Reais 247
341, 348, 374, 403, 410, 422, 461, 470,
480 Direitos Sui Generis 62
Difusão 67, 87, 123, 476, 477, 478, 479, Direitos Suspensos 288, 289, 290
481, 490, 492, 520, 523 Direito Subjetivo 32, 68
Dilema 476, 477, 478, 481 Diretrizes 35, 36, 38, 94, 117, 133, 145,
Diminuição da Biodiversidade 90 218, 240, 241, 242, 243, 244, 258, 296,
311, 407, 444
Diodos 144
Diretrizes de Exame de Pedidos
Direito Autoral 31, 45, 47, 48, 49, 52, de Patentes Envolvendo Invenções
62, 72, 75, 77, 78, 86, 88, 102, 104, 105, Implementadas por Programas de
106, 107, 108, 109, 110, 111, 127, 191, Computador 218, 241
192, 208, 215, 216, 217, 253, 276, 307,
316, 317, 318, 319, 329, 522 Diretrizes de Política Industrial
Tecnológica e do Comércio Exterior 145
Direito Cultural Garantido
Constitucionalmente 87 Disciplinar 120, 130, 149, 472, 490
Direito de Adaptar uma Obra para uma Disciplinas Multilaterais 122
Obra Audiovisual 71 Disfuncionalidades 483
Direito de Aluguel 106 Disponibilidade 217, 230, 466
Direito de Prioridade 39, 44, 116 Disposição Geométrica 228
Direito de Radiodifusão 71 Disposição Tridimensional 142

Volume II
508 Índice Remissivo

Disposições 39, 46, 69, 75, 77, 81, 92, Eficácia 115, 123, 307, 341, 471, 483,
94, 101, 105, 109, 111, 121, 128, 137, 488, 489, 490, 492
138, 143, 144, 152, 155, 156, 159, 161, Eficiência 123, 212, 478, 493
163, 173, 174, 182, 185, 216, 243, 246,
313, 320, 329, 356, 369, 409, 429 Electronic Numerical Integrator And
Computer (ENIAC) 211
Disposições Específicas 173
Elemento Criativo 109
Disposições Tipos 105
Elementos Figurativos 178, 179, 184
Dispositivo Periférico 217
Em Andamento 20, 290, 448
Dispositivos Eletrônicos 228
Embalagem 164, 316
Dispositivos Embutidos de Memória 211
Embelezamento 325, 326
Dispositivos Móveis 213, 225
Embrapa Centro Nacional de Pesquisa de
Disseminação 342, 353, 361, 490 Uva e Vinho 439, 446, 459
Dissidente 255 Emenda Constitucional 46, 49, 50, 56
Dissociação 325, 327 Emergência 213, 354
Distinção 20, 66, 133, 251, 375, 402, Empíricos 468, 482, 493
405, 438, 484
Empreendimentos 8, 380, 381, 435, 436,
Distinguibilidade 12, 24, 59, 63, 65, 66, 453
136, 140, 148, 149, 168, 190, 191, 366,
373, 374, 375, 388, 389 Empregador 253, 254
Distintivo 65, 184, 187, 200, 315, 316, Empresa Brasileira de Pesquisa
318, 405, 410, 432, 434, 436, 437, 445, Agropecuária (EMBRAPA) 350, 439
446, 450, 451, 454, 455, 456 Empresa Inovadora 466, 467
Distribuição de Riqueza 45 Empresa Produtora de Bens e Serviços
Distribuição de Sinais Portadores de 188
Programas Transmitidos Por Satélites Empresas Estrangeiras 214
78, 83 Empresas Inovadoras 16, 462, 463, 466,
Divisões 179 467, 468, 469, 482, 492
Documentação Patentária 217, 231 Empresas Médias 333
Documentos dos depositantes 14, 281, Enforcement 123
287 Engenharia Genética 138, 349, 356, 372,
Domínio Público 36, 37, 102, 118, 377, 382, 394
388, 389 Enigma 211
Domínios do Campo 334 Entressafra 351
Equilíbrio 20, 21, 42, 72, 100, 123, 479
E Equitativamente 91
Escritório Internacional da Ompi 121
Ecodesenvolvimento 90
Escritório Internacional da Organização
Econômica 16, 19, 20, 22, 41, 56, 72, Mundial da Propriedade Intelectual 121
73, 79, 89, 103, 114, 115, 156, 176, 214,
250, 294, 331, 357, 391, 399, 404, 436, Escritórios Competentes 126
441, 463, 468, 469, 470, 471, 474, 486, Escultores 68
492 Esculturas 275
Edafoclimáticas 392, 393, 433 Esgotamento 182, 184, 367, 368, 378
Editores 67, 68 Espacenet 258
Efeito Estufa 90 Espaço Geográfico 314, 444
Efeito Terapêutico 277, 278 Especialidade 177, 217, 230, 316
Efetivação do Protocolo 223 Especialistas 147, 441, 442, 443

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Índice Remissivo 509

Espécie 48, 65, 67, 68, 87, 88, 89, 131, Examinadores 242, 258, 289
134, 135, 137, 169, 280, 284, 321, 322, Exceção do Direito 367
334, 353, 371, 372, 374, 383, 384, 412
Exceções 72, 99, 108, 136, 153, 163,
Espécies Vegetais 52, 131, 136, 137, 138, 165, 183, 187, 379
140, 355, 359, 363, 364, 367, 369, 390
Exceptions To The Breeder’s Right 367,
Especificidade 153, 424 380
Especificidades 14, 25, 298, 316 Excluir 118, 249, 309, 317, 378, 434,
Espiritual 85, 86, 114 472, 473, 474
Essencialmente 64, 138, 140, 154, 158, Exclusiva 61, 72, 154, 158, 160, 301,
160, 180, 226, 272, 275, 310, 324, 325, 314, 317, 328, 340, 341, 378, 407, 409,
327, 342, 349, 361, 365, 367, 368, 372, 420, 430, 431, 432, 434, 437
377, 378, 379, 389, 406, 407, 409, 420, Exclusivamente 23, 35, 78, 82, 108, 111,
421, 422, 423, 430, 431, 432, 434, 437, 121, 253, 254, 278, 311, 379, 406, 440,
494 452
Estabelecimento Industrial 185 Exclusividade 32, 35, 47, 51, 61, 73, 86,
Estabilidade 133, 136, 140, 366, 373, 87, 100, 102, 103, 109, 112, 237, 249,
374, 376, 388, 389 330, 331, 376, 388, 389, 404, 434, 435
Estado da Técnica 253, 256, 257, 259, Exclusividade de Exploração Econômica
260, 261, 262, 263, 281, 282, 283, 286, 331
292, 313, 327 Exclusividade de Mercado 61, 86, 87,
Estado Soberano 114 100, 102
Estados-Partes 125, 126, 140, 152, 153, Exclusividade Temporária 109, 112
154, 158, 174, 175, 177, 179 Exclusões 310
Estadual 254, 443, 444, 519, 520, 522, Execução 51, 67, 107, 145, 212, 240,
523, 524, 525 253, 281, 282, 284, 430, 493, 521
Estatuto dos Monopólios 33, 34 Execuções 99
Estatuto Veneziano 33 Exigência Técnica 289
Estética 125, 275, 324, 329 Expectativa de Direito 292
Estéticas 125, 274, 319 Experimentação 262, 368
Estético 274, 275, 277, 312, 313, 329, Expirados 288, 290
489
Exploração 20, 30, 36, 37, 46, 52, 72,
Estilo de Vida 92 88, 91, 97, 99, 103, 116, 117, 145, 146,
Estratégia 113, 215, 220, 334, 351, 390, 148, 209, 210, 229, 230, 250, 254, 255,
435, 442, 485, 519 279, 300, 301, 309, 314, 320, 328, 331,
Estratégia de Negócios 220, 334 340, 341, 361, 486
Estratégias 16, 21, 26, 396, 454, 456, Exploração Comercial 91, 99, 145, 254,
461, 462, 463, 469, 491, 494, 495 279
Estrutura 13, 24, 73, 78, 158, 193, 200, Exploração de Privilégios 46
275, 281, 300, 332, 494 Exploração Econômica 20, 103, 250,
Evidente 210, 213, 246, 261, 262, 265, 331
466, 478, 481 Exploração Exclusiva 301, 314, 328,
Exame 120, 121, 128, 133, 177, 218, 340, 341
221, 232, 241, 242, 243, 244, 258, 289, Exploração Ilícita 88
290, 296, 299, 311, 313, 314, 320, 321, Exploração Industrial 117, 309
322, 323, 327, 344, 480, 521
Exportadores 122
Exame Preliminar Internacional 121
Exposição Universal 170
Exame Prioritário 241, 242

Volume II
510 Índice Remissivo

Expressão 71, 88, 109, 113, 138, 164, Folclore 85, 88, 93, 94, 98, 99
213, 216, 301, 318, 319, 328, 354, 372, Forma Estética 275
375, 406, 412, 490
Forma Estética Particular 275
Expressão das Características Essenciais
138, 372 Forma Final Ou Intermediária 142, 228
Expressão Distintiva 113 Forma Plástica 126, 308, 335, 336, 340
Expressão Fenotípica 375 Forma Requerida 301, 308
Expressão Literal 216 Formas Mistas 127
Expressões Tradicionais 157 Formulário Eletrônico 222
Externalidades 16, 87, 474, 475, 476 Formulário Específico 14, 281, 282, 383
Extinção da Proteção 378, 386 Fóruns Internacionais de Propriedade
Intelectual 104
Extintas 290
Fotográficas 71
Free-Riders 475, 476
F Free Software Foundation (Fsf) 219
Fabricação Industrial. 312 Fronteiras Nacionais 38, 61, 68
Fabricantes 144, 147, 225, 295, 422 Fuga 475
Facilidade de Aferição 228 Função Distintiva 315, 344
Fact-Finding Missions 88, 204 Função Eletrônica 142, 228
Faculta 138, 366, 367 Função Social 47
Falha de Mercado 16, 468, 473, 474 Funcional 30, 125, 211, 217, 256, 266,
267, 270, 324, 326, 327
Falsas Indicações de Procedência 151,
152, 153, 155, 156, 157, 160, 162, 164, Funcionalidade 65, 107, 108, 218, 263,
167, 176, 406, 429 311, 312, 323
Falsificações 150, 170, 400 Funcionalidades 108, 225, 228, 371
Fase Nacional 121, 241, 242, 243 Funções HASH 223
Fatores Naturais e Humanos 160, 407, Fundacional 254
409, 421, 423, 432, 433, 437, 438, 450 Fundamento Legal 388, 389
Federal 50, 51, 53, 55, 56, 85, 86, 87, Fundo das Nações Unidas Para a Infância
101, 105, 192, 199, 201, 203, 207, 239, (UNICEF) 96
254, 343, 396, 425, 427, 435, 519, 520, Fundo de População das Nações Unidas
522, 523, 524, 525 (UNFPA) 96
Fenótipo 349, 352, 353 Fundo Internacional de desenvolvimento
Fertilizantes 354 Agrícola (Fipa) 96
Figuras 168, 281, 282, 283, 307, 449 Fungos 280, 281, 524
Figuras Arbitrárias 168
Finalidade 72, 105, 109, 127, 131, 135,
151, 158, 169, 171, 228, 264, 311, 349, G
358, 363, 365, 381, 387, 388, 389, 390, Gastronomia 436
432, 443, 444, 492
Genealogia Patentária 337
Finalidade Útil 264
General Agreementon Tariffs And Trade
Finanças 273, 525 (GATT) 79
Fins Lícitos 280 Generalidade 482, 486
Firmware 217, 231 Genérico 111, 153
Fisiológicos 375 Gênero 65, 134, 135, 154, 158, 160, 246,
Fluxo de Rendimentos 470 371, 372, 412

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Índice Remissivo 511

Genótipo 138, 349, 352, 372 Imagens da Topografia 230


Gnu Affero General Public License 219 Imateriais 30, 31, 60, 113, 247, 400
Gnu Free Documentation License 219 Imitação Substancial 128
Google 225, 226, 258, 334, 335, 337, Impacto Global 215
345 Impedimento 276, 279
Google Creative Lab 334 Impossibilidade 141, 166, 276, 280, 310,
Google Patents 258, 335, 337, 345 380, 420, 472, 474
Gorgonzola 402 Imposto 248, 380, 476
Grana Padano 402 Imposto de Transmissão de Bens Imóveis
Gravações Efêmeras 72 (ITBI) 248
Gravadores de Quadros 68 Imposto Sobre Circulação de
Mercadorias e Serviços (ICMS) 248
Grupo de Trabalho das Nações Unidas
Sobre Populações Indígenas (Sua Sigla Impressão 67, 279, 280, 317
em Inglês WGIP) 94 Inadequação 279
Grupo Mercado Comum (Gmc) 159 Incremento 353, 404, 405, 436
Indeferidos 290
Independência da Proteção 70
H
Independência de Direitos 39
Hardware 104, 210, 212, 231 Indicação de Procedência 15, 26, 152,
Harmonia 132 158, 160, 162, 166, 406, 407, 408, 409,
Harmonização 126, 129, 158, 159, 160, 412, 413, 416, 421, 424, 429, 431, 445,
161, 162, 167, 174, 175, 180, 189, 367, 457, 460, 519
431, 493 Indicação Geográfica. 16, 163, 167, 200,
Harmonizar 56, 77, 96 382, 400, 401, 402, 403, 405, 407, 408,
Hash Code 223 410, 411, 412, 419, 420, 422, 424, 426,
427, 429, 431, 439, 446, 448, 457, 458,
Herdeiros 68, 252 460
História 11, 12, 28, 56, 59, 61, 65, 66, Indicações de Procedência 38, 48, 65,
112, 149, 181, 190, 233, 297, 302, 336, 151, 152, 153, 155, 156, 157, 158, 160,
343, 355, 395, 401, 424, 429, 435, 443 162, 164, 167, 176, 180, 189, 406, 407,
Historiador 337 417, 418, 429
Historiografia Tradicional 302 Indicações de Procedência (IP) 38, 48,
Homoneneidade 140, 366 65, 151, 152, 153, 155, 156, 157, 158,
160, 162, 164, 167, 176, 180, 189, 406,
Homônimas 164 407, 417, 418, 429
Honra 71, 252, 310 Indicações Geográficas 12, 15, 16, 24,
Hortaliças 132 26, 31, 42, 48, 59, 62, 65, 66, 102, 149,
Hotelaria 436 154, 158, 159, 160, 162, 163, 167, 180,
191, 200, 244, 296, 310, 400, 402, 404,
Huawei 464, 465 406, 408, 411, 412, 413, 417, 418, 420,
422, 423, 424, 425, 426, 427, 428, 433,
447, 448, 457, 458, 459, 460, 519, 521,
I 525
Idade Média 31, 33, 60, 168 Indicações Geográficas Reconhecidas
Identidade Local 428, 432 (IGR) 159
Identidade Reconhecida 409 Individual 45, 73, 237, 257, 463, 468,
469, 471, 472, 491
Idiossincrasias 307
Individuo Variante 138
Imagens Corporativas 331

Volume II
512 Índice Remissivo

Indivíduo Variante 372 Integridade 186, 252


Indústria Útil 238, 295 Inteligência Artificial 213, 334, 336
Infográfico 226, 227 Intellectual Property Needs And
Informacionais 477 Expectations of Traditional Knowledge
Holders 88, 204
Infração 116, 215, 485
Intensidade de Proteção 480, 481, 492
Inovação Sustentável 16, 465
Intercâmbio 82
Inovação Tecnológica 24, 26, 42, 58,
123, 461, 521, 522, 523, 524 Interconexões 142, 146, 147, 228
Inovações 8, 57, 91, 92, 99, 100, 124, Interesse Público 72, 108, 117, 133, 146,
200, 208, 213, 332, 396, 399, 462, 463, 192, 367, 368, 392
464, 465, 466, 467, 470, 476, 477, 478, Intergovernamentais 132
479, 482, 484, 485, 487, 488, 490, 492 Internalização 11, 12, 24, 59, 61, 65, 66,
Inovadores 8, 97, 113, 124, 461, 465, 112, 127, 149, 159, 175, 190
466, 467, 480, 481, 483, 491 Internalizadas 164
Inseparável 326 Intrinsecamente 184, 228
Insígnia 115, 412 Invenção 11, 12, 13, 24, 25, 31, 32, 33,
Inspeção 444, 455 34, 35, 36, 37, 38, 41, 43, 44, 45, 48, 51,
Institucionalidade 123 59, 64, 65, 66, 105, 109, 112, 114, 115,
116, 117, 124, 155, 190, 198, 210, 215,
Instituição Gestora da Tecnologia 288 218, 230, 237, 238, 242, 244, 245, 247,
Instituto 12, 23, 25, 33, 46, 53, 86, 87, 249, 250, 251, 252, 253, 254, 255, 256,
109, 112, 118, 121, 126, 146, 161, 176, 258, 259, 261, 262, 263, 264, 265, 266,
191, 202, 207, 218, 220, 223, 229, 230, 267, 268, 270, 271, 272, 273, 274, 275,
233, 234, 236, 240, 249, 252, 257, 259, 276, 277, 278, 279, 280, 281, 282, 283,
260, 262, 263, 264, 265, 281, 291, 294, 284, 285, 286, 289, 292, 294, 297, 300,
295, 296, 297, 298, 299, 307, 308, 309, 303, 310, 311, 313, 323, 325, 327, 328,
312, 324, 327, 328, 329, 331, 333, 345, 329, 352, 356, 369, 371, 471, 477, 478,
355, 375, 382, 395, 396, 400, 404, 409, 486
410, 411, 412, 415, 416, 417, 423, 425, Invenção Privilegiada 117
426, 427, 432, 439, 444, 448, 449, 459,
478, 480, 519, 520, 521, 522, 523, 524, Invenções Patenteáveis 146
525 Invento 33, 37, 38, 43, 44, 45, 46, 117,
Instituto Brasileiro de Geografia e 120, 121, 210, 237, 242, 249, 250, 267,
Estatística (IBGE) 417, 427, 439, 459 268, 281, 282, 283, 284, 285
Instituto de Patrimônio Histórico e Inventores 33, 35, 37, 43, 45, 46, 113,
Artístico Nacional (IPHAN) 87 115, 124, 237, 249, 253, 255, 283, 292,
493
Instituto Nacional da Propriedade
Industrial (INPI) 12, 33, 46, 112, 118, Iphone 464, 483
146, 161, 176, 202, 218, 220, 223, 229, Isenção de Taxa 183
233, 234, 252, 257, 259, 260, 262, 263,
264, 265, 281, 291, 294, 295, 296, 297,
299, 331, 345, 382, 400, 404, 409, 410, J
411, 412, 415, 416, 423, 425, 426, 427,
432, 459, 519, 523 J-Plat 258
Instrução Normativa 148, 162, 164, 166, Jurídica 13, 22, 30, 58, 82, 87, 103, 104,
167, 220, 221, 229, 230, 233, 234, 240, 109, 114, 115, 133, 191, 201, 202, 205,
284, 295, 297, 408, 409, 410, 411, 419, 217, 222, 230, 247, 248, 251, 252, 295,
425, 426, 436, 448, 459 309, 347, 370, 391, 397, 398, 405, 425,
522
Instrumentos de Proteção 104
Jurisprudência 112, 326
Instrumento Técnico 388, 389

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Índice Remissivo 513

K Liberdade 107, 219, 237, 305, 310


Liberdade do Código 219
Krips 258
Licença 21, 34, 46, 47, 72, 107, 117, 135,
137, 219, 220, 367, 368, 380
L Licença Compulsória 137, 367, 368, 380
Lâmpada 266 Licença Obrigatória 72
Lawfare 215 Licenças Compulsórias 188, 202
Layout-designs 141 Licenças Livres 219, 220
Layouts designs 145 Licenciamento 107, 188, 210, 219, 231,
332, 486, 488, 494, 495
Lealdade de Concorrência 45
Licenciamento de Uso 188, 210
Legalidade 217, 230
Liga das Nações 357, 358
Legalização 175
Limitação 134, 137, 184, 310, 329, 353,
Legislação Brasileira 12, 49, 50, 164, 380
166, 215, 230, 239, 245, 306, 325, 327,
368, 407, 411 Limitações 23, 58, 72, 78, 108, 138, 236,
309, 314, 380
Legitimação 217, 230, 468
Limites 26, 40, 71, 89, 128, 146, 186,
Legitimado 252 187, 199, 311, 366, 367, 368, 380, 396,
Legítimo 122, 187, 252, 366 461
Lei de Biossegurança 394 Linguagem Natural 212, 213
Lei de Copyright 68 Linguagem Normativa 143
Lei de Direito Autoral 48, 215, 216 Linguagens de Programação 212
Lei de Direitos Autorais 67, 85, 102, Linguagens Naturais 212
111, 112, 199, 309 Linux 13, 215, 224
Lei de Notários e Registradores 216 Listagem de Sequências 241, 281, 284
Lei de Patentes 33, 35, 36, 37, 44, 56, Listagem de Sequências Biológicas 281,
238, 294 284
Lei de Patentes Brasileira 44, 56, 238, Litigância 21, 22, 462, 486, 487
294
Livre Comércio 83, 157, 181
Lei de Programa de Computador 85, 111
Livros 6, 22, 79, 111, 256, 275
Lei de Programa de Computador 85, 111
Localidades 149, 334, 404, 421
Lei de Propriedade Intelectual (LPI) 123,
431 Localização Geográfica 161
Lei de Proteção de Cultivares (LPC) 55, Lógica 109, 216, 262, 273, 310, 313,
139, 140, 198, 367, 369, 389, 392, 395, 329, 333
396 Longevidade 351
Lei de Registros Públicos 216 Lugar de Origem 163
Lei de Sementes 370, 387, 388, 389
Lei de Software 213, 215, 216 M
Lei do Bem 49, 222
Magnetismo 272
Lei Especial 106, 110
Manifestações Culturais 86, 87, 99
Leilão 273
Manifestar 102
Lei Veneziana 33, 34
Mapa das Indicações Geográficas 418
Lens 258
Máquina Universal 211
Leveduras 281

Volume II
514 Índice Remissivo

Marca 6, 21, 31, 52, 87, 102, 109, 158, Meio Ambiente 88, 90, 91, 191, 279,
163, 165, 166, 174, 176, 177, 178, 182, 361, 379, 386, 409
183, 184, 185, 186, 187, 188, 191, 207, Meio Geográfico 154, 158, 160, 406,
307, 315, 316, 318, 338, 339, 342, 343, 407, 409, 421, 423, 430, 431, 432, 434,
344, 356, 377, 398, 401, 403, 404, 408, 437, 450
411, 412, 470, 471, 523
Melhoramento 44, 140, 308, 349, 350,
Marcas 12, 16, 24, 29, 31, 32, 38, 41, 42, 351, 367, 377, 379, 380, 382, 386, 391,
45, 46, 47, 48, 52, 59, 60, 62, 65, 66, 74, 392, 398, 405
113, 115, 119, 149, 152, 155, 156, 158,
159, 164, 167, 168, 169, 173, 174, 175, Melhoramento Genético 140, 349, 350,
176, 177, 178, 180, 181, 183, 184, 185, 367, 377, 379, 380, 382, 391, 392, 398
186, 187, 188, 189, 191, 193, 198, 200, Melhoria Funcional 256, 266, 267, 270,
201, 202, 203, 205, 207, 210, 244, 294, 327
305, 307, 310, 316, 318, 323, 331, 344, Melhorista 123, 134, 140, 351, 366, 367,
346, 356, 377, 382, 426, 431, 445, 461, 368, 376, 377, 379, 388, 389
462, 467, 468, 469, 470, 480, 485, 491,
521, 523 Melhoristas de Plantas 130
Marcas Coletivas 48, 168, 185, 382, 521 Memória 103, 146, 211
Marcas Sonoras 185 Mercado 16, 30, 61, 86, 87, 100, 102,
103, 137, 142, 157, 158, 159, 206, 224,
Marcos Legais de Propriedade Intelectual 236, 309, 310, 331, 332, 333, 340, 341,
65 342, 354, 360, 368, 378, 387, 392, 404,
Marcos Legais Históricos 32 405, 428, 431, 435, 454, 460, 461, 468,
Marialva 16, 413, 419, 432, 433, 439, 470, 471, 473, 474, 475, 477, 480, 482,
440, 441, 442, 443, 444, 445, 446, 455, 483, 486, 491, 492, 494, 495
456, 457, 460 Mercado Comum do Sul (Mercosul) 157,
Matéria 25, 26, 28, 39, 41, 47, 50, 74, 431
75, 78, 111, 115, 116, 118, 120, 121, 126, Métodos de Diagnóstico 278
129, 143, 144, 148, 158, 167, 180, 189, Métodos de Valoração 273
227, 238, 240, 241, 242, 243, 244, 245,
246, 256, 257, 258, 259, 262, 265, 272, Métodos Didáticos 273
274, 277, 293, 300, 305, 315, 342, 352, Método Terapêutico 277
379, 391, 400, 406, 424, 431, 452, 470 Microchips 141
Materiais Propagativos 378, 380, 381 Microeletrônica 141, 145
Material de Reprodução 136, 138, 349, Micro-Organismo 280
378
Microrganismos 47, 99, 120
Matéria Reivindicada 259, 262, 274
Microsoft 13, 215, 224, 225, 226
Matérias Vivas 282
Migração 168, 169, 449
Mathematical Formula Translation
System (FORTRAN). 212 Militar 114
Maximização 21, 26, 461, 476, 491, 492 Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento (MAPA) 193, 199, 203,
Mecanismo de Distribuição de Amostras 349, 381, 382, 383, 387, 390, 394, 395,
120 397, 399
Mecanismos 16, 17, 19, 22, 38, 42, 57, Ministério do desenvolvimento, Indústria
87, 115, 130, 171, 220, 231, 386, 462, e Comércio Exterior (MIDC) 294, 332
465, 466, 467, 475, 477, 481, 482, 483,
484, 485, 488, 491, 492, 494, 524 Modalidade 24, 51, 52, 126, 127, 209,
214, 219, 228, 275, 306, 311, 322, 402,
Mecanismos de Proteção 19, 22, 42, 462, 403, 413, 416, 424, 442, 470
465, 475, 483, 484, 485, 488, 492
Modalidade Patentária 214
Medidas Sancionatórias 171

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Índice Remissivo 515

Modelo de Utilidade 11, 13, 24, 25, 31, Norma Constitucional 320
52, 59, 64, 65, 112, 115, 118, 124, 127, Notarização 175
190, 243, 244, 247, 251, 252, 253, 254,
255, 256, 258, 259, 263, 264, 265, 266, Notoriedade 149, 150, 160, 404, 429,
267, 268, 270, 271, 272, 273, 274, 276, 430, 434, 435, 470, 483, 485
277, 278, 279, 282, 290, 298, 300, 307, Nova Ordem Econômica Internacional
310, 311, 313, 322, 323, 324, 327, 328, 79, 89
341 Nova Variedade Vegetal 135
Model Provisions for National Lawson Novidade 11, 13, 24, 37, 45, 59, 63, 64,
Protectionof Expression of Folklore 65, 66, 112, 124, 127, 130, 136, 140, 141,
Against Illicit Exploitation and Other 148, 190, 214, 228, 245, 256, 257, 258,
Prejudicial Actions 88 259, 260, 283, 292, 298, 313, 314, 315,
Modernização 40, 119 317, 320, 321, 322, 325, 327, 328, 366,
Modificáveis 211 371, 372, 374, 401, 463
Moléculas 469 Novidade das Invenções 45
Monopólio Sobre Inovação 115 Novidade Objetiva 66, 314
Moradores 476 Nuclear 280
Motorola Mobility 226 Núcleo Atômico 280
Mudanças Climáticas 90 Núcleos de Inovação Tecnológica (NITS)
24, 26, 461, 521
Mudas 198, 349, 353, 354, 370, 378,
379, 380, 381, 386, 387, 388, 390 Nulidade 39, 321, 330
Mudas e Sementes Comercializadas 379 Números das Classes 126, 178
Multiplicação 134, 136, 349, 353, 378,
379 O
Multiplicação Vegetativa 136, 349, 378
Objetividade 319, 328
Multiplicidade 119, 311, 325
Objeto Artesanal 302
Municipal 254, 439, 444, 457, 460
Objeto Essencial 106, 107
Música 99
Obra Industrial 329
Mutante Natural Ou Induzido 138, 372
Obra Literária 105, 107, 111
Obras Anônimas 71
N Obras de Artes 71
Natureza 13, 19, 22, 23, 28, 63, 70, 85, Obrigações 42, 48, 55, 85, 116, 123, 132,
90, 93, 102, 104, 109, 111, 113, 114, 128, 138, 143, 144, 145, 198, 232, 239, 240,
136, 163, 195, 213, 228, 247, 248, 253, 244, 265, 294, 425, 458
271, 274, 278, 282, 290, 305, 323, 370, Obstáculos 122, 187
432, 467, 473, 488, 489, 494, 495
Obtentor 130, 131, 133, 134, 135, 136,
Natureza Informacional 473 137, 351, 353, 366, 367, 371, 372, 373,
Natureza Técnica 19, 274 376, 377, 378, 384, 388, 389
Negociações Internacionais 163 Obtentores 133, 137, 138, 139, 140, 357,
Nível Global 19, 490, 493 375
Nome dos Titulares 118 Óbvia 213, 261, 262, 263, 264, 327
Nome Geográfico 26, 149, 158, 160, Obviedade 318, 322
161, 166, 406, 407, 408, 409, 410, 431, Óbvio 261, 262, 286
433, 434, 437, 449, 450, 456 Olfativas 185
Nome Geográfico do Local 160 Open Source 220, 487
Nomes de Domínio 65, 119, 149, 171 Operação Comercial 220

Volume II
516 Índice Remissivo

Operações Comerciais 166, 185 P


Operadores do Mercado 333
Padrões Aplicados 298
Opinião 121, 244
Pagamento 14, 72, 118, 129, 135, 136,
Opinião Preliminar Sobre a 139, 210, 222, 230, 243, 249, 281, 287,
Patenteabilidade 244 321, 330, 378, 384, 386, 388, 389, 390,
Ordenamento Jurídico 24, 59, 61, 88, 411
101, 190, 246, 247, 248, 371 Painel Internacional das Nações Unidas
Organização das Nações Unidas (ONU) Sobre Florestas 96
41, 76, 94, 98, 203, 353, 358, 398 Países desenvolvidos 91
Organização das Nações Unidas Para Países em desenvolvimento 72, 79, 80,
a Educação, a Ciência e a Cultura 89, 97, 98, 119, 123, 142, 173, 364
(UNESCO) 76
Países Membros 39, 81, 131, 140, 183,
Organização das Nações Unidas Para 361, 364, 367, 430
Alimentação e Agricultura (FAO) 94
Países Signatários 39, 112, 113, 116, 118,
Organização dos Estados Americanos 119, 132, 133, 134, 143, 154, 176, 178,
(OEA) 74 182, 221
Organização Internacional do Comércio Países Unionistas 70, 71
(OIC) 357
País Signatário 39, 116, 119, 132, 134,
Organização Internacional do Trabalho 137, 182, 240, 367
(OIT) 77, 95, 196
País Unionista 70, 71
Organização Mundial da Propriedade
Intelectual (OMPI) 29, 40, 57, 77, 78, Parábolas 275
85, 86, 88, 93, 94, 95, 96, 97, 99, 100, Paradoxal 468, 493
101, 118, 121, 155, 171, 174, 175, 176, Parlamento Europeu 214, 233, 235
197, 203, 204, 205, 297, 331, 346, 358,
362, 427 Parmigiano Reggiano 402
Organização Mundial da Saúde (OMS) Participação nos Ganhos Econômicos
96 254
Organização Mundial do Comércio Partituras 275
(OMC) 41, 80, 155, 205, 207, 351, 358, Passos Utilitários 104
360, 402, 430 Patent Act. 362
Origem Geográfica 160, 163, 407, 431, Patente 12, 13, 14, 21, 31, 32, 34, 35, 36,
433, 434, 437 39, 41, 44, 48, 52, 66, 104, 105, 108, 109,
Original 64, 66, 81, 127, 147, 148, 153, 116, 117, 118, 119, 120, 121, 126, 127,
187, 216, 221, 223, 229, 263, 282, 308, 128, 131, 134, 135, 203, 210, 214, 218,
312, 315, 317, 346, 363 227, 230, 234, 236, 238, 239, 240, 241,
Originalidade 11, 24, 59, 63, 64, 65, 66, 242, 243, 244, 245, 246, 248, 249, 250,
67, 144, 146, 147, 190, 220, 230, 298, 251, 252, 253, 254, 255, 256, 257, 258,
315, 316, 317, 318, 319, 321, 322, 328, 259, 260, 262, 264, 265, 266, 267, 268,
343 270, 271, 272, 273, 274, 275, 276, 279,
280, 281, 282, 283, 284, 285, 286, 287,
Ornamentais 52, 125, 132, 308, 325, 288, 289, 290, 291, 292, 294, 295, 296,
349, 365, 377, 387, 415, 418 297, 306, 307, 313, 315, 317, 321, 322,
Ornamental 126, 127, 308, 310, 311, 323, 325, 327, 329, 330, 335, 341, 357,
312, 320, 322, 324, 325, 326, 327, 330, 364, 377, 397, 469, 471, 478, 479, 480
340, 350 Patenteabilidade 13, 116, 120, 121, 203,
Ornamentalidade 312 214, 218, 241, 244, 245, 250, 253, 256,
Outorga 73, 127, 134, 144, 145, 248, 322 271, 272, 274, 276, 279, 280, 289, 290,
397, 480

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Índice Remissivo 517

Patenteamento 96, 105, 134, 214, 218, Pesquisa Acadêmica 495


494, 523 Pessoa Física 248, 251, 287, 377
Patenteáveis 13, 146, 277, 279, 280, 361 Pessoa Jurídica 103, 251, 252
Patente de design 322, 335 Pintores 68
Patente de Invenção 12, 13, 31, 66, 109, Planejamento de Investimentos 273
116, 218, 256, 258, 259, 265, 266, 267,
268, 270, 271, 276, 279, 313, 325, 327 Plano do Invento 237
Patentes de Invenção 11, 24, 25, 38, 51, Planos de Aula 273
59, 64, 65, 112, 115, 124, 155, 190, 198, Planos de Previdência Privada 273
218, 230, 244, 247, 267, 270, 281, 289, Planta Certificada 354
297, 300, 310, 311, 323, 328, 356, 369,
371 Planta Cultivada 349, 352
Patente Verde 241 Plantas 99, 130, 131, 132, 133, 138, 139,
199, 202, 280, 349, 350, 351, 354, 356,
Patent Office 104 357, 358, 359, 361, 362, 363, 365, 368,
Patent Scope 258 369, 370, 372, 391, 392, 393, 394, 396,
Patent Trolls 486 397, 398
Patrimonial 53, 60, 103, 247, 251, 377 Plantas Frutíferas 132
Patrimônio Cultural 86, 87, 95, 101, 102, Plantas Ornamentais 132, 365
195, 522 Plant Breeder’s Rights 130
Patrimônio Cultural Imaterial 101 Plant Patent ACT 362
Patrimônio da Humanidade 97 Poder Coercitivo 171
Patrimônio Imaterial 87, 102, 195 Poemas 275
P&D (Pesquisa e desenvolvimento) 122, Polimorfa 127
124, 461, 464, 465, 466, 467, 469, 471, Política 30, 35, 51, 72, 90, 95, 114, 122,
472, 473, 474, 475, 478, 480, 482, 484, 145, 157, 192, 215, 237, 238, 245, 295,
491, 522 357, 382, 481, 519, 522
Peculiaridades 47, 51, 53, 110, 111, 285, Política Pública 122
421, 455
Políticas Públicas Nacionais 143
Pedido de Patente 13, 14, 52, 121, 243,
244, 245, 246, 250, 253, 256, 257, 259, Populações Indígenas 91, 92, 94
260, 271, 274, 280, 281, 282, 284, 285, Populações Tradicionais 91, 421
287, 288, 289, 290, 291, 292 Popularização 213
Pedido de Prorrogação 129 Porta-Enxertos 349, 377
Pequenas e Médias Empresas 331, 333, Portas Lógicas 144
345
Portfólios 233, 485
Período de Graça 13, 259, 260, 261, 313
Pós-Segunda Guerra Mundial 75
Período de Transição 137
Potencial Genético 353, 354
Período do deposito 120
Potencialização 436
Períodos Sucessivos 52, 129
Práticas Comerciais 169
Perspectiva 115, 116, 193, 201, 264, 343,
359, 428, 432, 448, 461, 462, 469, 471, 491 Práticas das Comunidades Locais 92
Pesquisa 7, 8, 30, 48, 50, 51, 57, 72, 124, Prazo de Proteção 32, 70, 71, 77, 102,
136, 140, 179, 192, 227, 249, 250, 253, 111, 134, 137, 238, 378, 386, 402
256, 297, 331, 333, 344, 350, 351, 367, Prazo de Validade 51, 229
379, 380, 386, 391, 392, 396, 422, 438, Predecessor 166
439, 442, 444, 446, 448, 449, 455, 456, Predominantemente derivada da
459, 462, 464, 474, 475, 494, 495, 519, Variedade Inicial 138
520, 521, 522, 523, 525

Volume II
518 Índice Remissivo

Prémio 478 446, 455, 456, 460, 468, 471, 474, 475,
Prescrevendo 117 477, 478, 487, 490, 495, 520, 523
Preservação 86, 87, 332, 429 Produção Artesanal 302
Preservar 92, 102 Produção Industrial 142, 303, 340
Prestação de determinado Serviço 158, Produtividade Agrícola 353, 386
160, 407, 408, 431, 434 Produto 44, 126, 127, 128, 139, 142,
Princípio da Especialidade 177, 316 144, 147, 149, 150, 152, 153, 154, 155,
158, 160, 163, 164, 166, 168, 177, 209,
Princípio da Proteção Mínima 182 228, 229, 265, 271, 275, 278, 279, 300,
Principio da Territorialidade 143 303, 304, 308, 316, 325, 326, 327, 331,
Princípio do Farm’s Right 381 333, 334, 340, 352, 365, 366, 367, 368,
379, 401, 402, 403, 404, 405, 406, 407,
Princípios Básicos 37, 70, 113, 115, 130 408, 409, 410, 412, 413, 416, 420, 421,
Princípios e Diretrizes Para a Proteção do 422, 424, 429, 430, 431, 432, 433, 434,
Patrimônio dos Povos Indígenas 94 437, 438, 440, 442, 445, 446, 448, 449,
Prioridade 39, 44, 116, 253, 259, 282, 450, 451, 455, 456, 457, 461, 468, 470,
291, 313 472, 484, 488
Prioridade Unionista 39 Produtores 42, 43, 67, 77, 78, 82, 83,
84, 110, 122, 123, 150, 151, 153, 167,
Privilégio 31, 32, 33, 36, 37, 38, 43, 44, 196, 197, 304, 353, 354, 368, 379, 390,
45, 46, 68, 114, 117, 118, 126, 183, 237, 391, 401, 403, 404, 405, 406, 408, 410,
355, 366, 368, 369 419, 420, 422, 423, 428, 432, 433, 434,
Privilégio de Invenção 33, 114 435, 436, 437, 438, 439, 441, 442, 443,
Privilégios de Invenção 31, 35, 36 444, 445, 447, 448, 450, 454, 455, 456,
Privilégios Industriais 33, 44 457, 477
Privilégio Temporário 33, 45, 46 Produtores Privados 477
Probabilidade 279, 470, 474 Produtos Concorrentes 470
Problema Social 249 Produtos Inovadores 466, 481, 483
Problemas Técnicos 125 Programa Alimentar Mundial (WFP); 96
Procedimentos de Auditoria 273 Programa das Nações Unidas Para o
desenvolvimento (PNUD) 96
Procedimento Simplificado 120
Programa das Nações Unidas Para o
Processador de Computador 146 Meio Ambiente (PNUMA) 88
Processo Administrativo 49, 146, 321, Programa de Computador 12, 25, 31, 55,
330, 456 66, 81, 82, 85, 104, 105, 106, 107, 108,
Processo Administrativo de Nulidade 109, 110, 111, 209, 211, 213, 215, 216,
(PAN) 321, 330 220, 222, 232, 276
Processo Criativo 105 Programadores 334
Processo de Mecanização 302 Programas Armazenados 211
Processo de Proteção de Patentes 290 Programas de Computador 11, 12, 24,
Processos Produtivos 113, 250, 444 25, 59, 62, 64, 65, 81, 104, 105, 106, 107,
110, 111, 190, 198, 206, 208, 209, 210,
Procuração 230, 288, 383, 437 213, 214, 215, 216, 218, 221, 230, 231,
Produção 14, 19, 24, 25, 29, 108, 113, 234, 241, 276
135, 138, 142, 150, 158, 160, 166, 168, Programas de Computador e
253, 275, 278, 302, 303, 332, 340, 341, Compilações de dados 106
349, 351, 353, 354, 355, 359, 361, 365,
378, 380, 382, 386, 387, 392, 394, 401, Programas de Incentivo 273
403, 404, 405, 407, 408, 409, 420, 421, Progresso Científico e Tecnológico 114
422, 423, 424, 427, 428, 431, 432, 434, Proibir 100, 106, 107, 186, 196
435, 436, 437, 440, 441, 442, 443, 444,

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Índice Remissivo 519

Propagação 67, 136, 352, 364, 365, 368, Proteção de Cultivares 12, 15, 24, 48, 52,
376, 378, 386 55, 59, 62, 65, 130, 133, 139, 140, 141,
Propriedade Industrial 12, 13, 31, 32, 33, 190, 193, 198, 199, 203, 207, 349, 352,
37, 38, 39, 41, 43, 45, 46, 47, 48, 49, 51, 355, 356, 357, 359, 367, 368, 369, 370,
55, 58, 59, 62, 69, 70, 72, 74, 104, 105, 371, 372, 374, 375, 376, 377, 378, 380,
107, 108, 110, 112, 115, 116, 117, 118, 381, 382, 383, 385, 387, 388, 389, 390,
119, 124, 125, 127, 129, 131, 140, 146, 391, 392, 394, 395, 396, 397, 398, 399
151, 155, 159, 161, 167, 170, 176, 178, Proteção de Plantas 356, 358, 359, 361,
181, 189, 191, 192, 198, 199, 202, 207, 362, 393
209, 218, 220, 221, 223, 228, 229, 232, Proteção do Consumidor 157
233, 234, 236, 237, 238, 239, 240, 242,
243, 244, 245, 246, 248, 251, 253, 257, Proteção dos Direitos Culturais 86
259, 260, 262, 263, 264, 265, 271, 272, Proteção Interna 183
279, 281, 291, 292, 293, 294, 295, 296, Proteção Internacional 38, 40, 41, 60,
297, 298, 299, 301, 304, 305, 306, 307, 61, 67, 68, 81, 100, 151, 170
308, 309, 310, 311, 312, 314, 315, 316,
317, 321, 323, 329, 330, 331, 332, 338, Proteção Jurídica 109, 202, 205, 370,
339, 340, 341, 342, 343, 344, 345, 347, 397, 398, 405, 425
348, 349, 355, 356, 359, 360, 363, 369, Proteção Negativa 157
370, 377, 382, 388, 391, 395, 396, 397, Proteção por Patente 13, 131, 239, 240,
400, 401, 402, 403, 404, 406, 409, 410, 252, 256, 259, 262, 265, 271, 272, 274,
411, 412, 415, 416, 417, 423, 425, 426, 275, 276, 279, 364
427, 428, 429, 432, 458, 459, 486, 519,
522, 523, 525 Proteção Recíproca 151
Propriedade Intelectual 6, 8, 11, 16, 19, Proteção Tecnológica 239
20, 21, 22, 23, 24, 25, 26, 28, 29, 30, 31, Proteger 19, 26, 31, 36, 45, 60, 69, 91,
32, 33, 34, 40, 41, 42, 43, 45, 46, 47, 48, 102, 105, 106, 109, 111, 113, 130, 135,
49, 50, 51, 52, 53, 54, 55, 56, 57, 59, 60, 136, 149, 150, 156, 158, 166, 174, 177,
61, 62, 63, 64, 65, 66, 67, 74, 75, 76, 77, 183, 185, 218, 249, 258, 265, 276, 278,
78, 79, 80, 81, 83, 84, 85, 86, 88, 89, 93, 284, 285, 298, 309, 324, 338, 349, 352,
94, 95, 96, 97, 98, 99, 100, 101, 102, 103, 355, 356, 361, 363, 367, 369, 372, 394,
104, 105, 109, 110, 113, 114, 115, 118, 436, 461, 465, 468, 470, 484, 485, 491
119, 121, 122, 123, 124, 125, 126, 127, Protocolar 134, 385
128, 129, 130, 140, 141, 142, 143, 145, Protocolo de Harmonização 126, 129,
147, 148, 155, 156, 158, 167, 168, 169, 158, 159, 160, 161, 162, 167, 180, 189,
171, 172, 173, 174, 175, 176, 180, 181, 431
182, 183, 184, 189, 190, 191, 193, 197,
198, 199, 200, 201, 203, 204, 205, 206, Protocolo de Harmonização do Mercosul
207, 208, 209, 216, 228, 230, 231, 232, 158, 160
233, 235, 236, 237, 238, 240, 244, 248, Protocolo de Madrid 175, 176, 189
251, 255, 265, 273, 288, 292, 297, 307, Protozoários 281
312, 314, 331, 337, 338, 346, 349, 351,
358, 359, 360, 361, 362, 382, 389, 393, Pseudônimas 71
395, 396, 399, 400, 401, 402, 406, 424, Pseudônimo 251
427, 430, 431, 434, 448, 457, 458, 461, Publicação Internacional 121
462, 467, 468, 469, 470, 471, 477, 479,
480, 481, 485, 486, 488, 491, 492, 493, Publicação Oficial e Periódica 118
494, 497, 519, 520, 521, 522, 523, 524, Público 16, 19, 26, 36, 37, 38, 71, 72, 80,
525 102, 103, 106, 108, 117, 118, 133, 146,
Prosciuttodi Parma 402 163, 164, 166, 191, 192, 213, 219, 238,
254, 256, 292, 313, 367, 368, 377, 379,
Prosecco 166, 199, 451 380, 388, 389, 390, 392, 402, 442, 472,
Proteção Automática 70, 108 474, 475
Proteção da Dignidade e Direitos Morais
97

Volume II
520 Índice Remissivo

Q Registro de Marcas 31, 174, 175, 177,


178, 184, 185
Queijo Feta 402 Registro Internacional de Marcas 175,
176, 178, 189
R Registro Regional 159
Registros de Marcas 46, 174, 244
Radiodifundida 337
Regra de Transição 221
Radiodifusão 29, 71, 72, 77, 82, 83, 196
Regras de Convivência 113
Radiodifusores 67
Regulações 180
Ratificação 74, 78, 84, 143
Regulamentações Fitossanitárias 137
Real Junta do Comércio 43, 237
Regulamento Vitivinícola 159
Receptividade 477
Reino: Animalia 370
Reciprocidade 40, 69, 111, 140, 143,
246, 367 Reino: Plantae 370
Reclassificação 180 Reino Plantae 281
Reconhecimento 26, 69, 91, 115, 133, Reinvindicação 144
136, 150, 154, 157, 164, 165, 166, 201, Reivindicação 257, 259, 279, 280, 284
216, 219, 250, 274, 359, 400, 401, 428, Reivindicações 79, 99, 256, 278, 281,
429, 430, 432, 434, 435, 436, 445, 449, 285, 321
450, 454, 455, 456, 461 Reivindicações 79, 99, 256, 278, 281,
Recursos Biológicos 91, 96 285, 321
Recursos Genéticos 85, 89, 90, 91, 93, Reivindicada 256, 259, 262, 274, 313
94, 98, 99, 100, 207 Relatório 14, 88, 90, 92, 93, 94, 96, 97,
Recursos Materiais ou Financeiros 254 105, 141, 241, 264, 281, 282, 284, 285,
Rede Interuniversitária para 321, 383, 384, 457
o desenvolvimento do Setor Relatório Brundtland 90
Sucroenergético (RIDESA) 350 Relatório Descritivo 14, 241, 264, 281,
Redes de Logística 109 282, 284, 285, 321
Região de Salinas 165, 414, 435 Relatório Técnico 383, 384
Região do Jalapão 415, 435 Relevância 14, 16, 19, 26, 59, 61, 190,
Regime de Monopólio 466, 480 298, 299, 300, 308, 333, 340, 352, 438,
Regime de Proteção 110, 111, 216, 480 467, 486
Regiões Produtivas 349, 393 Remunerada 72
Registrabilidade 311, 314 Rendas 466, 480, 483, 495
Registro 12, 13, 14, 15, 26, 31, 41, 48, Renovação de Patente 117
52, 64, 74, 81, 84, 87, 101, 102, 104, 110, Renúncia do Titular 378, 386
112, 125, 126, 127, 128, 129, 145, 146, Repartição de Benefícios 91, 98, 101,
147, 148, 154, 156, 158, 159, 161, 162, 240
163, 164, 165, 166, 168, 174, 175, 176, Repetibilidade 264
177, 178, 180, 184, 185, 186, 187, 189,
195, 198, 201, 210, 215, 216, 217, 218, Representações 99
219, 220, 221, 222, 223, 228, 229, 230, Repressão 31, 122, 151, 152, 153, 155,
231, 234, 248, 299, 303, 305, 306, 309, 156, 157, 162, 164, 167, 176, 244, 356,
310, 311, 312, 313, 321, 322, 324, 330, 406, 411, 429, 431
331, 334, 335, 336, 337, 338, 339, 340, Reprodução 34, 47, 48, 71, 72, 78, 83,
341, 349, 351, 352, 370, 386, 387, 388, 106, 113, 134, 136, 138, 144, 147, 186,
389, 391, 392, 394, 400, 405, 406, 408, 197, 229, 238, 266, 283, 303, 304, 321,
410, 411, 416, 419, 420, 421, 422, 425, 349, 365, 378, 476
426, 427, 430, 435, 437, 447, 455, 459, 470

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Índice Remissivo 521

Reprodução Ilícita 144, 147, 229 Saúde 57, 96, 99, 243, 279, 361, 379,
Reprodução Social 113 386, 524
Reputação 65, 149, 186, 250, 252, 401, Sazonalidade 351
407, 424, 429, 431, 433, 434, 438, 439, SCI Finder 258
467, 483, 484, 491 Seções 69, 179
Requerimento 36, 117, 134, 187, 229, Segredo Industrial 31, 104, 109, 218,
243, 262, 290, 321, 383, 384 251, 273, 461, 467, 483, 484
Requerimento de Depósito 229 Segrego da Tecnologia 314
Requisito Essencial 127 Segurança Jurídica 30, 81, 217, 222, 230
Requisitos de Patenteabilidade 13, 250, Selo Distintivo. 405
253, 256, 271, 272, 274, 276, 279, 280,
290 Semente Certificada da Primeira Geração
353
Requisitos de Proteção 66, 141
Sementes 136, 198, 349, 350, 351, 353,
Requisitos de Qualidade 167, 408, 434 354, 355, 366, 367, 368, 370, 374, 378,
Research Spin-Offs 495 379, 380, 381, 386, 387, 388, 389, 390,
Resistências 146 397
Responsável Técnico 383, 384 Sementes Comerciais 354
Resumo 28, 59, 180, 209, 222, 223, 236, Semicondutividade 272
274, 281, 284, 298, 349, 396, 400, 428, Semicondutores 55, 141, 144, 145, 231,
451, 461 272
Resumo Criptográfico 223 Sequência Finita 212
Resumo HASH 223 Seres Vivos 203, 278, 280, 370, 397
Retorno dos Investimentos 462 Serviço Brasileiro de Apoio Às Micro e
Retribuição 14, 129, 224, 230, 281, 287, Pequenas Empresas (Sebrae) 8, 412, 442
321, 411 Serviço Nacional de Proteção de
Retrocruzamento 138 Cutlivares (SNPC) 376
Revisão de Estocolmo 115, 119, 293 Serviços Geográficos 161
Revisão de Paris 70, 73, 79, 197 Setor Agroalimentar 435
Revolução Francesa 32, 35, 60, 61, 67 Setor Vitivinícola 392, 393, 432, 439,
447, 448, 455
Revolução Industrial 34, 113, 302, 463
Signo Distintivo. 200, 432, 436, 437,
Revoluções Industriais 61 445, 446, 450, 451, 455
Riscos 103, 145 Signos Antigos 168
Rivalidade 472 Signos Distintivos 47, 65, 150, 168, 185,
Rodada do Uruguai 41, 80, 146, 231, 360 199, 450, 458
Rogação 217, 230 Símbolos 99, 168, 489
Roquefort 164, 402 Simplificação 174
Roteiros Turísticos 436 Sinal Convencional 251
Royalties. 136, 225 Singapore Treaty on The Law of
Trademarks 175, 189
Single Under Take 361
S Sistema de Haia 125
Saberes Tradicionais 424, 438 Sistema de Proteção 73, 76, 132, 307,
Salvaguarda 86, 87, 94, 133 316, 323, 360, 393, 394
Salvaguardar 34, 86, 102, 132, 133 Sistema de Solução de Controvérsias
Samsung 464, 465 (SSC) 172, 173

Volume II
522 Índice Remissivo

Sistema Internacional da Propriedade Técnicas Bioquímicas e Moleculares 132


Intelectual 73 Técnicos 9, 21, 99, 112, 121, 125, 132,
Sistema Madrid 176 142, 147, 214, 263, 273, 275, 325, 367,
Sistema Mundial de Patentes 38, 114 419, 420, 443, 445, 455, 494
Sistema Nacional de Ciência e Tecnologia Tecnologias de Informação e
e Inovação 50 Comunicação (Tics) 226
Sistema Operacional 215, 224, 225 Temporalidade 11, 30, 51, 307, 311
Sistemas Embarcados 12, 210, 217, 231 Tequila 402
Smartphone 210, 225 Terceiros 22, 32, 37, 116, 128, 135, 147,
148, 149, 185, 187, 214, 247, 249, 259,
Socialmente Justificável 468, 473 260, 321, 331, 378, 379, 380, 381, 388,
Software 12, 48, 49, 83, 104, 105, 106, 389, 434, 464, 467, 473, 475, 476, 485,
107, 108, 109, 111, 112, 192, 193, 203, 489
205, 207, 210, 213, 214, 215, 216, 217, Terminologia 315, 448, 457
218, 219, 220, 221, 222, 223, 226, 230,
231, 232, 233, 234, 235, 480, 487 Territorialidade 30, 39, 40, 143, 435
Software Embarcado 218, 221 Território 31, 39, 68, 84, 85, 86, 113,
119, 133, 142, 145, 158, 163, 165, 166,
Software Fechado e Comercial 219 183, 249, 338, 361, 402, 407, 408, 409,
Software Independente 104 410, 418, 424, 431, 438, 455, 457
Software Livre 12, 219, 220, 232, 233 Teste Dhe 374, 376, 384
Softwares Embarcados 217, 218 Tipicidade 456
Solução do Problema Técnico 262, 267 Titular 8, 36, 51, 52, 71, 73, 103, 117,
Solução Técnica 216, 253, 262, 263, 283 128, 129, 138, 144, 146, 147, 177, 182,
185, 186, 187, 188, 193, 223, 229, 250,
Soluções 172, 214, 224, 250, 266, 270, 252, 253, 254, 288, 292, 317, 321, 330,
274, 428, 446, 454, 484 331, 351, 374, 376, 377, 378, 380, 384,
Spillovers 475 386, 388, 389, 520, 524
Subclasses 126 Titular do Direito. 51, 330, 374, 376,
Subjetividade 103, 319 377, 380
Suficiência descritiva 272, 283, 285 Titularidade 13, 102, 170, 246, 251, 252,
253, 254, 255, 338, 339, 377, 389, 402
Superioridade 466
Título 49, 61, 73, 134, 164, 239, 247,
Sustentabilidade 100, 208, 332, 399 249, 251, 254, 257, 281, 282, 289, 304,
Sustentável 16, 25, 88, 90, 92, 93, 96, 314, 316, 322, 323, 324, 330, 338, 412,
103, 240, 349, 350, 353, 381, 390, 393, 441, 471
465 Título Especial de Proteção 134
Topografia de Circuitos Integrados 12,
T 24, 31, 49, 52, 59, 64, 65, 141, 144, 148,
191, 210, 228
Tablets 276 Topografia Protegida 144, 147, 229
Taxas de Manutenção 470 Topografias 55, 62, 112, 119, 141, 142,
Taxas de Registro 470 143, 145, 146, 147, 148, 206, 210, 229,
Técnica 19, 22, 46, 107, 111, 114, 119, 231
127, 133, 136, 209, 215, 216, 221, 228, Topografias Protegidas 148
253, 256, 257, 259, 260, 261, 262, 263, Trabalhadores Indígenas e Tribais 95
274, 275, 281, 282, 283, 286, 289, 292,
313, 324, 325, 326, 327, 347, 362, 371, Trabalho Intelectual 56, 113, 251
375, 437, 439, 441, 442, 443, 455, 521, Trabalho Manual 113
525 Trademark Law Treaty (TLT) 174, 189

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Índice Remissivo 523

Trade Related Aspects Of Intellectual União Internacional de Cooperação em


Property Rights (Trips) 41 Matéria de Patentes 121
Tradição 160, 180, 403, 429, 435 União Internacional Para a Conservação
Tramitação 14, 121, 288 da Natureza e dos Recursos Naturais
(UICN - em Inglês IUCN) 90
Trâmite 288, 289, 290, 322, 385
União Internacional Para Proteção das
Transacionado 474 Obtenções Vegetais (UPOV) 130, 131,
Transferência de Tecnologia 8, 24, 42, 362, 395
51, 292, 493, 494, 520, 521, 522, 523, Uniformidade 133, 136, 354, 359, 455
524, 525
Uniformizar 40, 239
Transgênicos 280, 370, 396
Unitariedade 217, 230
Transistores 144, 146
Universidades 250, 288, 438, 444, 462,
Tratado de Budapeste 119, 124 474, 475, 493, 494, 524
Tratado de Cingapura Sobre Lei de Unix System Laboratories 224
Marcas 175, 189
Uso Comum 166, 408, 410
Tratado de Cooperação em Matéria de
Patentes (Pct) 41, 238, 240, 241, 242, Uso Estratégico das Patentes 486
243, 246, 293 Uspto 258, 344, 486
Tratado de Direitos Conexos (PPT) 83 Usuários 42, 123, 219, 270, 303, 334,
Tratado de Nairobi 174, 189 335, 336, 383, 410
Tratado de Paris 120 Usufruir 35, 36, 115, 250, 292, 394, 444,
466
Tratado do México 74
Utilidade 11, 13, 24, 25, 31, 52, 59, 64,
Tratado Lei de Marcas 174, 175, 189 65, 112, 115, 118, 124, 127, 155, 163,
Tratado Multilateral 38, 39, 41 190, 210, 243, 244, 245, 247, 251, 252,
Tratados 22, 40, 41, 73, 82, 84, 93, 101, 253, 254, 255, 256, 258, 259, 263, 264,
107, 113, 114, 119, 131, 149, 155, 156, 265, 266, 267, 268, 270, 271, 272, 273,
161, 169, 171, 192, 238, 240, 246, 281, 274, 276, 277, 278, 279, 281, 282, 290,
293, 364 297, 298, 300, 301, 307, 308, 310, 311,
313, 322, 323, 324, 325, 327, 328, 329,
Tratados Internet 107 341, 356, 369
Tratados Normativos 114 Uva 16, 166, 392, 393, 398, 415, 436,
Tratado Sobre Interpretação Ou 439, 440, 441, 442, 443, 445, 446, 447,
Execução e Fonogramas (WPPT) 107 448, 449, 451, 452, 453, 455, 457, 459,
Tratamento Igual 44, 478 460, 519, 521
Tratamento Nacional 39, 40, 70, 108,
111, 116, 143, 182
Tratativa 126, 140, 158
V
Tridimensionais 127, 304, 306, 322, 346 Vale do Submédio do São Francisco 435
Trips Plus 82, 83, 192 Vale dos Vinhedos 16, 26, 415, 416, 433,
435, 439, 446, 447, 449, 450, 451, 454,
Turístico 435 456, 457, 458, 460
Tutela 107, 122, 127, 201, 322 Valor Econômico 30, 97, 103, 247, 391,
Tutorial 258 473, 477, 493
Valor Estético 313
Vantagem 180, 183, 249, 435
U
Variação Genética 136
União Especial 178 Variação Somaclonal 138, 372

Volume II
524 Índice Remissivo

Variações Cambiais 333 W


Variações Equivalentes 284
Web of Science 258
Variedade 133, 134, 135, 136, 138, 166,
199, 353, 371, 404, 410, 452, 470 Werkbund 302, 303
Variedade Cultivada 353 Windows Mobile 225
Variedade Essencialmente derivada 138 Wipo Copyright Treaty (WCT) 82
Variedade Inicial 138 Wipo Performances and Phonograms
Treaty (WPPT) 82
Variedade Protegida 136, 138
World Wide Web 334
Variedades Essencialmente derivadas 138
Variedades Vegetais 130, 134, 136, 137,
139, 352, 361, 362, 393 Z
Veículo Flutuante 272 Zona Geográfica 403
Venda 128, 135, 136, 222, 251, 332, 365,
371, 373, 378, 405, 412, 415, 419, 483,
484
Vertentes 476
Viabilidade 214, 228, 230, 351, 422, 443
Viabilidade Técnica 228
Vigor 38, 54, 75, 91, 140, 152, 166, 170,
173, 174, 175, 176, 178, 180, 242, 244,
246, 265, 288, 306, 321, 322, 351, 354,
361, 363, 364, 366, 408, 485
Vigor das Plântulas 354
Vinho Chianti 402
Vinho do Porto 150, 402
Vinhos 150, 163, 164, 401, 402, 417,
432, 433, 439, 447, 454, 457, 459
Vírus 281
Visual Novo 127, 308
Viver 102, 488
Vocação Produtiva 403
Vulgar 147, 310

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Sobre os Autores

Adriana Carvalho Pinto Vieira


Pós-Doutorado em Política Científica e Tecnológica pelo Instituto de Geociências
pela Universidade Estadual de Campinas (2012), com Bolsa da Capes PNPD. Pós-
doutorado no Programa de Agronegócio e Desenvolvimento da Universidade Estadual
Julio de Mesquita Filho, Campus de Tupã (2018/2019), com bolsa Capes PNPD.
Doutorado em Desenvolvimento Econômico pela Universidade Estadual de Campinas
(2009), fez parte do doutorado com Bolsa Santander, na Universidad Politécnica de
Madrid/Escuela UPM, com orientação dos professores Ignácio Trueba, Julián Briz
e Isabel de Felipe. Mestrado em Direito pela Universidade Metodista de Piracicaba
(1999). Graduação em Direito pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (1993).
Atualmente é pesquisadora colaboradora da Universidade Federal do Estado do Rio
de Janeiro pelo projeto INCT/PPED. É líder do Grupo de Pesquisa cadastrado no
CNPq denominado Propriedade Intelectual, Desenvolvimento e Inovação (PIDI). É
colaboradora do Grupo de Pesquisa Gestão e Estratégia em Negócios Internacionais
(GENINT), que tem como líder MSC Júlio Cesar Zilli e colaboradora do Grupo
Interdisciplinar de Pesquisa em Propriedade Intelectual (GIPPI), que tem como líder a
professora Dra. Kelly Lissandra Bruch, da UFRGS. É membro da Sociedade Brasileira
de Economia, Sociologia e Administração Rural (SOBER). Tem experiência na área
de Direito e Administração, atuando principalmente nos seguintes temas: sistema de
propriedade intelectual, indicação geográfica, estudos jurídicos (direito consumidor),
gestão da inovação, sucessão familiar, agronegócio, cadeias alimentares e biotecnologia,
comércio exterior e negócios internacionais. Integra o conselho consultivo e conselho
editorial dos seguintes periódicos: Anais Workshop de Comércio Exterior, Revista
Desenvolvimento Socioeconômico em Debate e Editora da Universidade Estadual
de Goiás. Membro da Comissão de Estudos Especiais de Indicações Geográficas da
Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT/SEBRAE). Membro do Conselho
Regulador da Indicação de Procedência dos Vales da Uva Goethe.

Cássia Mota de La Houssaye


Mestre em Representação Gráfica pelo Programa de Pós-Graduação em Urbanismo
(PROURB) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Tecnologista em
Propriedade Industrial, especialista em Desenho Industrial pelo Instituto Nacional
da Propriedade Industrial (INPI). Doutoranda em Design pelo Programa de Pós-
Graduação em Design (PPD) da Escola Superior de Desenho Industrial (ESDI).
Especialista (lato sensu) em Design Gráfico pela Universidade Estácio de Sá. Produtora
de Arte e Cenógrafa para a TV Brasil por quatro anos (2013-2017), na Empresa Brasil de
Comunicação (EBC). Certificações Internacionais Adobe Certified Expert in Graphic
Design (ACE) e Autodesk Certified Professional em Autocad. Professora dos cursos
de Design de Interiores e Design de Moda na Universidade Cândido Mendes (2013-
2016). Pesquisadora convidada na École Supérieure d’Aménagement du Territoire et
de Développement Régional da l’Université Laval, em Québec (CA) pelo Programa de
526 Sobre os Autores

Futuros Líderes da América (PFLA) do Bureau Canadien d’Éducation Internationale


(BCEI) do Governo Canadense.

Eduardo Oliveira Teles


Doutor em Engenharia Industrial, Professor do Instituto Federal de Educação, Ciência
e Tecnologia da Bahia, Professor Permanente do PROFNIT – Ponto Focal IFBA e
do Doutorado em Difusão do Conhecimento (IFBA), Líder do grupo de pesquisa do
Laboratório de Computação e Engenharia (LACE).

Gesil Sampaio Amarante Segundo


Doutor em Física pela USP, Professor Titular da Universidade Estadual de Santa
Cruz (UESC), Coordenador do Ponto Focal UESC do PROFNIT, Presidente do
Parque Científico e Tecnológico do Sul da Bahia e Diretor Técnico do FORTEC para
arcabouço legal.

Grace Ferreira Ghesti


Possui graduação em Bacharelado em Química pela Universidade de Brasília (2004),
mestrado em Química pela Universidade de Brasília (2006) e doutorado em Química
pela mesma instituição (2009). Possui mestrado profissionalizante em Certified
Brewmaster Course Versuchs-und Lehranstaltfür Brauerei in Berlin, VLB, Alemanha
(2008). Possui curso de especialização em Beer Sommelier pela Science of Beer.
Atualmente, é professora Associada I do Instituto de Química, Campus Darcy Ribeiro
da Universidade de Brasília. Coordenadora Adjunta do Programa de Pós-Graduação
em Propriedade Intelectual e Transferência de Tecnologia para Inovação (PROFNIT),
polo Universidade de Brasília. Líder do grupo de pesquisa de Bioprocessos Cervejeiros
e Catálise aplicada a Energias Renováveis – LaBCCERVA/IQ/UnB. Sócia minoritária
da empresa start up CIPCs (consultoria inteligente em processos cervejeiros). Sua
pesquisa e sua atuação profissional consistem no desenvolvimento de diversas
tecnologias (de conversão de biomassa e de alimentos, com ênfase em cerveja e malte)
para produção de bioenergia e cerveja/malte.

Kelly Lissandra Bruch


Pós-doutora em Agronegócios pelo CEPAN/UFRGS. Doutora em Direito pela
Université Rennes I, France em cotutela com a UFRGS. Mestre em Agronegócios
pelo CEPAN/UFRGS. Especialista em Direito e Negócios Internacionais pela UFSC.
Graduada em Direito pela Universidade Estadual de Ponta Grossa. Professora do
Departamento de Direito Econômico e do Trabalho, da Faculdade de Direito da

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Sobre os Autores 527

UFRGS. Professora do Programa de Pós Graduação (mestrado e doutorado) do


Centro em Estudos e Pesquisas em Agronegócios (CEPAN/UFRGS). Professora do
PROFNIT (Mestrado Profissional em Rede Nacional em Propriedade Intelectual e
Transferência de Tecnologia para Inovação) no Ponto Focal IFRS e Consultora Técnica
do Instituto Brasileiro do Vinho (IBRAVIN). Membro da Comissão Especial de
Propriedade Intelectual da OAB/RS, Coordenadora da Comissão de Estudos Especiais
de Indicações Geográficas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).
Expert indicada pelo Governo Brasileiro junto à Organização Internacional da Uva
e do Vinho (OIV), Secretária Executiva da Comissão Técnica Brasileira da Vinha e
do Vinho (CTBVV). Vinculada à Associação Internacional de Juristas do Vinho
(AIDV). Associada à União Brasileira dos Agraristas Universitários (UBAU). Vinculada
à Associação Brasileira de Propriedade Intelectual (ABPI). Associada à Academia
Brasileira de Direito do Vinho (ABDvin). 

Maria das Graças Ferraz Bezerra


Doutora em Ciências Sociais, Analista em Ciência e Tecnologia Sênior do MPEG/
MCTIC, professora do Programa de Mestrado Profissional em Propriedade Intelectual
e Transferência de Tecnologia para a Inovação; Coordenadora da Rede de Núcleos
de Inovação Tecnológica Amazônia Oriental (Redenamor); Membro do Fórum
Paraense de Indicações Geográficas e Marcas Coletivas do Estado do Pará; Professora
da Disciplina Bionegócios e Marcos Regulatórios em Biotecnologia no Programa de
Doutorado Biodiversidade e Biotecnologia na Amazônia (BIONORTE).

Larisse Araújo Lima


Graduada em Química (2009), mestre em Ciências de Materiais Estruturados (2013).
Atua há mais de sete anos em projetos de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação
geridos pelo Centro de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico da Universidade de
Brasília (CDT/UnB). Possui experiência na execução e no acompanhamento do Projeto
Serviço Brasileiro de Respostas Técnicas (SBRT) como mediadora na elaboração de
produtos de informações tecnológicas. Atualmente desempenha a função de redatora
de patentes na área química e biotecnológica das demandas oriundas da Universidade
de Brasília (UnB).

Lívia Pereira de Araújo


Mestranda em Propriedade Intelectual e Transferência de Tecnologia para Inovação
pela Universidade de Brasília (UnB). Bacharel em Direito pela Faculdade Projeção;
graduada em 2012; e licenciada em Letras Português pela Universidade de Brasília
(UnB), graduada em 2014. Especialista em Direito do Trabalho e Processo do Trabalho.
Obteve sua aprovação no exame a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) em 2012,
antes mesmo de concluir sua graduação em Direito. Em sua trajetória acadêmica adquiriu
experiência na área de Direito Trabalhista durante realização de estágio não obrigatório

Volume II
528 Sobre os Autores

no Tribunal Superior do Trabalho (TST), no período de 2011 a 2012, no Gabinete do


Ministro Caputo Bastos. Ainda como estudante de direito, atuou durante um ano como
voluntária na Fundação de Assistência Judiciária (FAJ), atendendo, principalmente,
demandas da área cível (Direito de Família) e também no Direito Penal. Atualmente
atua como pesquisadora em propriedade intelectual e transferência de tecnologia no
Centro de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico (CDT) da Universidade de Brasília
(UnB), auxiliando na formalização de instrumentos jurídicos referentes as proteções
realizadas no âmbito da Universidade e transferindo as tecnologias protegidas.

Manuel Mira Godinho


Professor Catedrático de Economia no ISEG (Instituto Superior de Economia e
Gestão)na Universidade de Lisboa. Ele recebeu o grau de PhD em Política de Ciência
e Tecnologia no SPRU, Universidade de Sussex, em 1995. Seu foco de pesquisa é nas
áreas de economia da inovação, direitos de propriedade intelectual e políticas de ciência
e tecnologia. Tem publicações em revistas, como Research Policy, Scientometrics,
Science and Public Policy, Research Evaluation e Industry and Innovation. Tem
coordenado o Mestrado em Economia e Gestão de Ciência, Tecnologia e Inovação no
ISEG desde 2004. Trabalhou como consultor para organizações públicas e privadas
em Portugal e outros países. Foi Presidente do ISEG em 2017-2018 e antes disso foi
Presidente do Conselho Científico do ISEG, em 2014-2017.

Patricia de Oliveira Areas


Pós-doutora pelo Programa de Parques Científicos e Tecnológicos da CAPES
(PCTI/2014) na cidade de Barcelona – Espanha, juntamente ao Parc Científic Barcelona;
Fundació Bosch i Gimpera; Parc de Humanitats i Ciencies Socials; todos vinculados
à Universidad de Barcelona. Doutora em Direito pela Universidade Federal de Santa
Catarina (2010); e doutoranda em direito na Universidad de Valencia, mestrado em
Direito na área de Relações Internacionais pela Universidade Federal de Santa Catarina
(2006); especialização em Direito Civil e Processual Civil pelo Centro Integrado de
Ensino Superior (2002); especialização em Direito e Negócios Internacionais pela
Universidade Federal de Santa Catarina (2004); graduação em Direito pela Universidade
Estadual de Maringá (2000). Trabalha como professora na Universidade da Região de
Joinville (UNIVILLE), na qual leciona no departamento de Direito, no departamento
de publicidade e propaganda e no Mestrado em Patrimônio Cultural e Sociedade. Nesta
universidade também exerce a função de assessora jurídica do Núcleo de Inovação e
Propriedade Intelectual (NIPI) e do Parque de Inovação Tecnológica da Região de
Joinville (INOVAPARQ). Também é professora do Programa de Pós-graduação em
Propriedade Intelectual e Transferência de Tecnologia para Inovação (PROFNIT) –
ponto focal UFSC. É pesquisadora e consultora nas áreas de: Direito, com ênfase em
Propriedade Intelectual (propriedade industrial e direito autoral), proteção e contratação
de tecnologia, inovação, pesquisa e desenvolvimento (P&D), contratos internacionais,
desenvolvimento, direito internacional privado e proteção do patrimônio cultural.

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Sobre os Autores 529

Patricia Pereira Peralta


Doutora em Artes Visuais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Tecnologista em Propriedade Industrial no Instituto Nacional da Propriedade Industrial
– INPI. Professora permanente do Mestrado e Doutorado profissionais da Academia
em Propriedade Intelectual e Inovação do INPI, disciplinas de Desenhos Industriais
e Marcas. Integrante da equipe de Desenhos Industriais, como colaboradora, de 2001
até 2005. Examinadora de Marcas do INPI de 2005 até 2008. Docente da disciplina de
Marcas na pós-graduação do INPI de 2008 até 2015. Docente da disciplina de Desenhos
Industriais da pós-graduação do INPI de 2016 até o momento atual. Professora
colaboradora do Mestrado Profissional do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional (IPHAN), disciplina: Patrimônio e Propriedade Intelectual. Pós-doutorado
em Estudos Culturais pela UFRJ com abordagem sobre a temática da apropriação dos
Conhecimentos Tradicionais por meio da Marca Coletiva – estudo de caso da Rede
Fitovida.

Rejane Sartori
Doutorado em Engenharia e Gestão do Conhecimento pela Universidade Federal
de Santa Catarina. Mestrado em Engenharia de Produção pela Universidade Federal
de Santa Catarina. Graduação em Ciências Econômicas pela Universidade Estadual
de Maringá. Docente do PROFNIT – Mestrado Profissional em Rede Nacional em
Propriedade Intelectual e Transferência de Tecnologia para Inovação – no Ponto
Focal da Universidade Estadual de Maringá. Docente do Programa de Pós-Graduação
em Gestão do Conhecimento nas Organizações da Unicesumar. Coordenadora da
disciplina de Propriedade Intelectual do PROFNIT no Ponto Focal da Universidade
Estadual de Maringá.

Renata Angeli
Possui graduação em Ciências Biomédicas pela Universidade Federal de Pernambuco
(2004), mestrado em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Pernambuco
(2006) e doutorado em Bioquímica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro
(2010), atuando principalmente nos seguintes temas: Proteínas: Lectinas e Defensinas,
interação de defensinas com membrana por RMN e avaliação de componentes da
saliva em diferentes grupos de pessoas por RMN. Desenvolveu seu projeto de pós-
doutorado na área de Propriedade Intelectual, Inovação Tecnológica e Transferência
de Tecnologia na Agência de Inovação da UFRJ sob a supervisão da Dra. Angela
Uller, e participou de processos de avaliação de tecnologias na área biomédica para
seu patenteamento, busca e redação de patentes, negociações com empresas, além de
ministrar palestras para a difusão da Propriedade Intelectual da universidade. Ainda,
criou a disciplina Propriedade Intelectual e Inovação em Biotecnologia ministrada em
diversos cursos de Pós Graduação na UFRJ e no curso de graduação de Biotecnologia
da mesma. Está envolvida nas discussões da Biodiversidade e Acesso ao Patrimônio
Genético e ao Conhecimento Tradicional Associado participando da Câmara Ética em
Pesquisa, unidade da Pró-Reitoria de Pós Graduação e Pesquisa da PR2. Foi professora

Volume II
530 Sobre os Autores

temporária do Centro Universitário da Zona Oeste (UEZO), de agosto de 2013 a maio


de 2014 ministrando a disciplina de Empreendedorismo para os Cursos de Ciências
Biológicas e Biotecnologia e a disciplina de Propriedade Intelectual para o Curso de
Ciências Biológicas. Atualmente é Professora Adjunta da UEZO atuando nos temas:
propriedade intelectual, empreendedorismo, patentes, biotecnologia e monitoramento
tecnológico. E coordenadora do Núcleo de Consultoria e Serviços da Pró-Reitoria de
Extensão da UEZO e coordena a implantação do Núcleo de Inovação Tecnológica
da Instituição (NIT/UEZO) e professora permanente do Mestrado Profissional
em Ciência Ambientais da UEZO e do Mestrado Profissional em Rede Nacional
PROFNIT. Participa do Grupo Executivo do Complexo Industrial das Ciências da Vida
GECIV, da Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Estado do Rio de Janeiro
(Fórum de Capacitação e Formação em Biotecnologia do ERJ) como representante
da UEZO. Desenvolve junto ao Sebrae o projeto de Bioeconomia baseado em criar
um ambiente de empresas de base biotecnológica em parceria com as universidades.
Bolsista da FAPERJ.

Samira Abdallah Hanna


Possui graduação em Farmácia Bioquímica pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas
da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Mestrado em Ciências
Biológicas, área de concentração em Microbiologia Aplicada, pela UNESP e Doutorado
em Doenças Tropicais pela Faculdade de Medicina da UNESP. É Docente Associado
do Departamento de Biointeração (2007) e do Curso de Biotecnologia (2009) do
Instituto de Ciências da Saúde da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Atuou na
elaboração do Curso de Biotecnologia da UFBA do qual foi coordenadora. Pesquisas
na área de Microbiologia, especialmente micologia, tendo desenvolvido trabalhos
em micologia clínica, incluindo mecanismos de patogenicidade e ensaios in vitro
utilizando-se cultura de células. Atualmente, Coordenadora do Colegiado do Programa
de Mestrado Profissional em Propriedade Intelectual e Transferência de Tecnologia
para Inovação (PROFNIT) do Ponto Focal UFBA (2018), no Instituto de Química,
desenvolvendo projetos na área de Inovação Tecnológica e Gestão da Inovação.
Desenvolve projetos na área de bioprospecção de fungos endofíticos do Semi-Árido
Baiano e de micro-organismos de resíduos e coprodutos agrícolas e industriais, visando
produtos microbianos de interesse em biotecnologia e bioenergia, entre outros, no
Laboratório de Microbiologia Aplicada e Bioprospecção (LAMAB).

Sivia Beatriz Beger Uchôa


Possui graduação em Engenharia Civil pela Universidade Federal de Mato Grosso
(1984); mestrado em Arquitetura e Planejamento pela Escola de Engenharia de São
Carlos da Universidade de São Paulo (1989) e Doutorado em Química e Biotecnologia
– Área de concentração Físico-química, pelo Instituto de Química e Biotecnologia da
UFAL (2007). Atualmente é professora titular da Universidade Federal de Alagoas,
tendo sido Vice-coordenadora do Mestrado Profissional PROFNIT – Ponto Focal
UFAL até agosto de 2018. Foi coordenadora do Núcleo de Inovação Tecnológica e de
Programas Especiais da PROPEP/UFAL, de 2010 a janeiro de 2016. Tem experiência

Série Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual


Sobre os Autores 531

nas áreas de Propriedade Intelectual e de Materiais de Construção Civil. Coordenadora


da disciplina de Prospecção Tecnológica do PROFNIT no Ponto Focal UFAL.

Thiago Lara Fernandes


Graduado em Química pela Universidade Católica de Brasília (2015). Possui interesse
nas áreas de Química Inorgânica, mais especificamente na parte de complexos metálicos
e Propriedade Intelectual. Obteve experiência em Propriedade Industrial, com ênfase
na pesquisa, elaboração e acompanhamento de patentes e outros ativos intangíveis de
química e bioquímica da Universidade de Brasília por meio do CDT/UnB.

Wagna Piler Carvalho dos Santos


Doutora em Química pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) (2007); mestre em
Química pela UFBA (2003); licenciada em Química pela UFBA (2001) e técnica em
Alimentos pela Escola Técnica Federal de Química do Rio de Janeiro, atual IFRJ. Atuou
como professora do curso Técnico em Alimentos do Centro Federal de Educação
Tecnológica do Paraná (CEFET/PR), atual UTFPR. Atualmente é professora do
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia (IFBA). Tem experiência
na área de Química, com ênfase em Química Analítica, atuando principalmente nos
seguintes temas: técnicas espectroanalíticas, ICP OES, preparo de amostras, alimentos,
leguminosas e elementos essenciais e tóxicos. É Coordenadora Nacional da disciplina
de Conceitos e Aplicações de Propriedade Intelectual (PI) do PROFNIT desde seu
início.

Weliton Monteiro Perdomo


Mestrando em Propriedade Intelectual e Transferência de Tecnologia para Inovação
(PROFNIT) no Ponto Focal da Universidade Estadual de Maringá. Especialização
em Gestão Empresarial e MBA em Finanças pela Faculdade Maringá. Graduação em
Administração de Empresas pela Faculdade de Ponta Porã. Consultor do SEBRAE/
PR atuando como Gestor de Projetos de Empreendedorismo e Gestão, Inovação e
Projetos do Agronegócio vinculados a Indicações Geográficas. Entre os anos de 2012
e 2014 participou do Programa Agentes Locais de Inovação pelo Sebrae/CNPq.

Volume II

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