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Diagnóstico
GOVERNO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE
SECRETARIA DE PLANEJAMENTO E FINANÇAS-SEPLAN
INSTITUTO INTERAMERICANO DE COOPERAÇÃO PARA A
AGRICULTURA-IICA
CONSELHO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DO SERIDÓ
(Decreto nº 14.543, de 3.9.99)
VOLUME 1: DIAGNÓSTICO
1
Na diversidade das regiões estão as raízes de nossa riqueza
cultural. (...) A luta contra o subdesenvolvimento é um processo de
construção de estruturas, portanto, implica na existência de uma
vontade política orientada por um projeto. (...) Em face das incertezas
que enfrentamos atualmente, uma estratégia, para ser eficaz, deve
visar um horizonte a longo prazo e privilegiar o esforço de
reconstrução. Os objetivos iniciais devem ser abrangentes e podem
parecer um tanto contraditórios do ponto de vista da lógica econômica
convencional. Mas o que importa é que sejam coerentes do ponto de
vista político.
2
EQUIPE RESPONSÁVEL
GOVERNO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE-GRUPO GESTOR Raimundo da Costa Sobrinho
Leonel Cavalcanti Leite (Coordenador) (Seplan) Sálvio José de Oliveira
Fernando Augusto Noronha (Seplan) Verônica Maria de Barros
Luiz Gonzaga Tavares (Seplan) SUPERVISÃO
Rubens de Souza Passos (Seplan) Carlos Luís de Miranda (IICA – Brasília)
COORDENAÇÃO GERAL
CONSELHO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DO SERIDÓ- Rodolfo Teruel (IICA)
CDS/COMISSÃO DE ACOMPANHAMENTO DO PLANO-CAP
Membros Natos COORDENAÇÃO DO PCT-IICA-RN
D. Jaime Vieira Rocha – Diocese de Caicó (Presidente) Fidel Braceras (IICA)
Abelírio Vasconcelos da Rocha (Fiern) APOIO DO PAPP-RIO GRANDE DO NORTE
José Salim (Seplan) Evandro de Oliveira Borges (Coordenador do PAPP-RN)
Antônio Ferreira de Assunção (AMSO) Sebastião Francisco de Menezes (PCT-IICA-RN)
Rui Pereira dos Santos (AMS)
Luiz Cláudio Souza (Sebrae-RN) EQUIPES TÉCNICAS
João Dinarte Patriota (Fecomercio)
Leônidas Ferreira de Paula (Faern) 1-ABORDAGEM ESPACIAL
Manoel Cândido da Costa (Fetarn) José Otamar de Carvalho (Coordenador) (IICA)
Membros Honorários Tânia Bacelar de Araújo (IICA)
José Cortez Pereira de Araújo
Janúncio Bezerra de Melo (Centro Regional de Ensino Superior do Seridó–Ceres, Campus de Caicó) 2-DIMENSÃO AMBIENTAL
Newton Duque Estrada Barcellos (Projeto Ibama/Pnud/Bra/97/047) José Otamar de Carvalho (Coordenador)
Monsenhor Ausônio Tércio de Araújo (Diocese de Caicó) Mardone Cavalcante França (IICA)
Ubaldo Medeiros (Músico e Maestro) Ana Rosa Cavalcanti da Silva (técnica do Idema)
Membros Convidados Dilma Lucas da Silva (técnica do Idema)
Tarcísio Araújo (Rotary Club) Hélio Batista de Faria (técnico do Idema)
Ronaldo Carlos Dantas de Souza (Lions Club) Hiramises Paiva de Pádua (técnica do Idema)
João Avelino de Lima (Colônia de Pescadores) Adailton J. E. de Carvalho (Projeto Ibama/Pnud/Bra/97/047)
Ridalvo Batista de Araújo (Ibama) Maria Auxiliadora Gariglio (Projeto Ibama/Pnud/Bra/97/047)
Max Rosan dos Santos–Escola do Sertão Newton D. Estrada Barcellos (Projeto Ibama/Pnud/Bra/97/047)
Alvamar da Costa Queiroz (GEDS)
Francisco de Morais Lima (DNOCS) 3-DIMENSÃO TECNOLÓGICA
Miriam Araújo (Cooperativa de Produção Artesanal do Seridó LTDA –Coase) José Otamar de Carvalho (Coordenador)
Maria de Fátima Formiga (Cooperativa de Produtos Artesanais Industriais do Seridó–COOPAIS) Mardone C. França
Maria Mariz da Silva (Sindicato dos Trabalhadores na Educação–Sinte)
José de Araújo Vale (Cooperativa Agropecuária de Caicó–Coacal) 4-DIMENSÃO ECONÔMICA
Pastor Daniel Rodrigues Martins (Igreja Presbiteriana do Brasil) Tânia Bacelar de Araújo, Coordenadora
Membros Colaboradores Eleonora Beaugrand (IICA)
Sandra Lúcia Barbosa Cavalcanti (Fiern) Antônio Ronaldo de Alencar Fernandes (IICA)
Acácio Zânzio de Brito (Sebrae)
José Rangel de Araújo (Associação Comercial, Industrial e de Serviços de Caicó-ACISC) 5-DIMENSÃO SOCIAL
José Mariano Neto (Cooperativa de Eletrificação Rural do Seridó Ltda-Cersel) Leonardo Guimarães Neto (Coordenador) (IICA)
Ione Rodrigues Diniz (Ufrn/Ceres, Campus de Caicó) Dinah S. Tinoco (IICA)
Júlio Roberto Araújo de Amorim (Emparn) Muirakytan Kennedy de Macêdo (Responsável pelo tema Cultura)
Damião Santos de Medeiros (Seapac)
Francisco das Chagas Teixeira de Araújo (Pastoral da Criança) 6-DIMENSÃO POLÍTICO-INSTITUCIONAL
Francisco Galvão Freire Neto (DDAS) Waldecy de Urquiza e Silva (Coordenador) (IICA)
Jailma Oliveira Nóbrega Febrônio de Azevedo (Pastoral da Criança) João Matos Filho (IICA)
EQUIPE DE MOBILIZAÇÃO
Waldecy de Urquiza e Silva (Coordenador) 7-CONSOLIDAÇÃO DOS TEXTOS
João Matos Filho José Otamar de Carvalho (Coordenador)
Bertrand Brito de Araújo Waldecy de Urquiza e Silva
Dione Maria de Freitas
Francisco Jacó Neto EQUIPE DE APOIO ADMINISTRATIVO (IICA, Natal)
José Procópio de Lucena (Assessor do Pres. do CDS/CAP) Geusamy da Silva Oliveira
Léa da S. Oliveira Lopes Maria Goreth B. F. Diógenes
Mário Francisco de Oliveira
Patrícia Morais Fernandes
3
SUMÁRIO GERAL
VOLUME 1
DIAGNÓSTICO
APRESENTAÇÃO 010
1. INTRODUÇÃO 014
4
3.2.1 Ecossistemas do Nordeste e do Seridó 046
5
3.3.1.1 Possibilidades de Produção de Ciência e Tecnologia 104
3.3.1.2 Padrões Tecnológicos 105
3.3.1.3 Alternativas Tecnológicas para Aumentar a
Produtividade e Elevar a Qualidade de Vida 107
6
3.4.4.1 Tendências Gerais 161
3.4.4.2 Principais Produtos Exportados e a importância dos
Minérios 162
7
3.5.3.4 O Trabalho Infantil 215
3.5.3.5 Emprego X Desemprego, Segundo a Percepção
da População 216
8
3.6.3 Panorama Institucional Atual 282
9
APRESENTAÇÃO
Capítulo 1 – Introdução
Esse capítulo mostra a realidade atual da Região do Seridó, em todos os seus aspectos,
desdobrando-se nos sete itens a seguir descritos.
ii. Dimensão Ambiental. Aborda questões relacionadas ao meio ambiente e aos recursos
naturais renováveis. Constatações e considerações sobre recursos hídricos, solos, cobertura vegetal,
recursos minerais, etc., bem como sobre a fragilidade do meio ambiente da região. As pontuações
efetuadas naquelas áreas e domínios possibilitam a construção de uma imagem completa e abrangente
dos ecossistemas do Seridó, em suas múltiplas variações.
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demandas por Ciência & Tecnologia, no estado e no Seridó, por parte dos diferentes sistemas sociais.
São, também, descritas alternativas tecnológicas para o aumento de produtividade das atividades
econômicas e para a elevação da qualidade de vida dos habitantes da região. Apresenta-se, ainda, um
levantamento completo do aparato institucional que atua na área de C&T (tanto no estado, como um
todo, quanto na região, especificamente), destacando-se os incentivos oferecidos ao desenvolvimento
científico-tecnológico.
Capítulo 4 – Estratégia
11
Capítulo 5 – Programas e Projetos
12
Paula, Presidente da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Norte–FAERN e Presidente
do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural–Senar; Maria Auxiliadora Sales Muniz, técnica do Setor
de Negócios do Sebrae–Natal; Mônica G. Lima Menezes, técnica do Sebrae–Natal (responsável pelo
Projeto do Artesanato); e Ricardo Luiz Paiva Medeiros, Gerente do Bradesco, Agência de Caicó.
Todos colaboraram positivamente. Deve-se, porém, colocar ainda em merecido relevo, o apoio
oferecido por D. Jaime Vieira Rocha, Bispo da Diocese de Caicó e Presidente do Conselho de
Desenvolvimento do Seridó e da Comissão de Acompanhamento do Plano, particularmente no que se
refere ao envolvimento das lideranças de todas as instâncias de representação dos diferentes interesses
do Seridó. Sua presença em várias reuniões, na cidade de Caicó ou em Natal, foi sempre estimulante,
pelo apoio prestado ou pela esperança demonstrada nas possibilidades deste Diagnóstico e das
propostas contidas no Volume 2 do Plano de Desenvolvimento do Seridó.
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1. INTRODUÇÃO
14
ao poder público estadual pelas lideranças da Região do Seridó. O atendimento a tais demandas havia
sido anteriormente tentado pelo governo do estado (com o apoio da Fiern). Aludido intento foi
parcialmente concretizado, com a elaboração de um Diagnóstico sobre os problemas e as
potencialidades daquela região.
O desenvolvimento sustentável é entendido como uma construção assentada em uma base ética,
que demanda uma solidariedade social e a necessidade de subordinação da dinâmica econômica aos
interesses da sociedade e às condições do meio ambiente. Cria, neste sentido, duas solidariedades: uma,
sincrônica, para com a geração à qual pertencemos, e outra, diacrônica, para com as gerações futuras.
(Sachs, 1990.) Esta se traduz, em primeiro lugar, na solidariedade intergerações, de tal modo que o
bem estar das gerações atuais não pode comprometer as oportunidades e necessidades futuras. Ao
mesmo tempo, pressupõe uma solidariedade intrageração, segundo a qual o bem-estar de uma minoria
não pode ser construído em detrimento da maioria (oportunidades desiguais na geração atual).
(Miranda et alii, 1999.)
Deve ser visto, portanto, como um processo amplo e abrangente de mudança social e elevação
das escolhas e das oportunidades da sociedade, de modo a compatibilizar no tempo o crescimento
econômico, a eqüidade social e a conservação do meio ambiente. Encerra, de imediato, a necessidade
de uma abordagem multidisciplinar e integradora das diversas dimensões da realidade, como a
ambiental, a científico e tecnológica, a econômica, a sociocultural, e a político-institucional. A
concretização desta abordagem demanda, por outro lado, o fortalecimento da cidadania e a
democratização das instituições e da sociedade.
15
Assim, buscou-se pôr em prática uma estratégia que possibilitasse 1 aos atores sociais manterem
estreito intercâmbio com os técnicos, na troca de percepções e visões que preparassem e
fundamentassem as decisões políticas. Compreende-se que para tornar as aspirações e interesses da
sociedade do Seridó efetivas e representativas, consoante a lógica do processo de desenvolvimento
sustentável, o planejamento deva ser conduzido de forma participativa e democrática, ampliando a
mobilização dos atores e segmentos sociais a serem envolvidos na formulação dos programas e
projetos, bem como na elaboração do Sistema de Gestão do Plano.
A expressão planejamento participativo tem sido, nos últimos anos, largamente utilizada por
técnicos, políticos e governantes, como característica de um modelo novo de gestão governamental,
marcado pelo envolvimento da sociedade na formulação e execução das ações de governo. Embora seja
este o discurso, nem sempre a prática resulta efetiva. A experiência tem mostrado que, muitas vezes, o
que se entende por participação restringe-se, pura e simplesmente, a uma tentativa dos poderes
públicos em dividir responsabilidades, homologar seus atos ou legitimar suas ações, com respaldo da
manifestação de segmentos da sociedade, mobilizados exclusivamente para tais fins.
Dessa forma, foi delineada e posta em prática uma estratégia destinada a envolver os mais
diversos segmentos da sociedade civil (assim como representantes das administrações municipais da
região), fazendo-as ao mesmo tempo sujeito e objeto do processo de desenvolvimento. Com este
balizamento, as atividades desenvolvidas ao longo do processo de elaboração do Plano foram
conduzidas com um duplo direcionamento: além de se destinarem à coleta de informações e subsídios
deveriam também possibilitar o desenvolvimento de ações voltadas para induzir todas as entidades
envolvidas na adoção de práticas voltadas para a consolidação e aprimoramento de sua participação nos
sistemas de planejamento e gestão de programas e projetos de interesse da região.
1.2 METODOLOGIA
Em obediência à filosofia adotada na condução dos trabalhos, o Plano foi elaborado segundo
metodologia participativa, articulando-se rigoroso tratamento técnico e envolvimento da sociedade e
dos atores sociais da região na execução de suas diferentes etapas. Pautado pelo conceito de
desenvolvimento sustentável, o trabalho incorpora a idéia de que o planejamento corresponde a um
processo, que é, ao mesmo tempo, técnico e político, de formulação de ações para a construção do
futuro. Nesta linha de conduta, a metodologia adotada, atendo-se aos aspectos conceituais a seguir
descritos, envolveu: i) compilação e análise de documentos técnicos, dados secundários e material
bibliográfico; ii) consulta à sociedade; e iii) realização de entrevistas.
1
Em todas as etapas de elaboração do Plano (Diagnóstico, Estratégia, Programas e Projetos e Sistema de Gestão).
16
1.2.1 Compilação e Análise de Dados e Documentos
Um amplo acervo de informações a respeito da Região do Seridó foi consultado, daí resultando
subsídios de extrema importância para a elaboração do Plano. Foram analisados todos os estudos,
planos e relatórios anteriormente produzidos, dentre os quais o Plano de Desenvolvimento
Sustentável do Estado do Rio Grande do Norte (produzido sob a coordenação da Secretaria do
Planejamento e das Finanças) e o Relatório Diagnóstico para o Plano de Desenvolvimento do
Seridó (elaborado pelo Consórcio Tecnosolo & CEP, sob encomenda da Fiern, do governo do Estado
do Rio Grande do Norte e das Prefeituras da região). Documentos técnicos e estatísticas básicas
produzidos pelo Instituto de Desenvolvimento Econômico e Meio Ambiente do Rio Grande do Norte–
Idema também forneceram dados secundários importantes sobre os mais variados aspectos
socioeconômicos do Seridó.
Estudos, dissertações e teses sobre o Rio Grande do Norte e o Seridó também foram
examinados e discutidos, aportando elementos fundamentais para a compreensão da realidade hoje
vivida pela região objeto de estudo e a construção de seu futuro.
A convocação feita para essas reuniões envolveu, de maneira geral, um universo constituído por
Associações de Municípios; Prefeituras Municipais; Câmara de Vereadores; Conselhos de Políticas
Sociais; Organizações Comunitárias; Sindicatos; Igrejas; Clubes de Serviços; Organizações
Empresariais; Organizações Governamentais; Organizações Não-Governamentais; Associações outras.
17
principais interessados, ou seja, a população do Seridó.
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2. DESENVOLVIMENTO COM SUSTENTABILIDADE
Embora aquelas circunstâncias tenham continuado nos anos 90, foi possível iniciar e dar corpo
em seu decorrer a novas e importantes experiências de desenvolvimento regional e sub-regional, a
partir de meados da mesma década. Nos anos de 1993/94, o Nordeste foi objeto de um amplo e
diversificado conjunto de estudos sobre os mais diferentes problemas e facetas do desenvolvimento
regional, tanto em termos setoriais, como espaciais. Esses estudos foram conduzidos ao abrigo do
Projeto Áridas, iniciativa concebida e consolidada pela então Secretaria de Planejamento, Orçamento e
Coordenação da Presidência da República–Seplan-PR e por vários governos de estados nordestinos.
Trabalhava-se no Projeto Áridas com a tese de que era não apenas necessário como urgente
refletir e reinventar a política de desenvolvimento do Nordeste, passando esta “pela introdução do conceito
de desenvolvimento sustentável, pelo planejamento de longo prazo – uma geração, pelo menos –, pela
redefinição do papel do governo, pela descentralização do planejamento e da execução das políticas, e pela
criação do espaço necessário para mobilização do potencial criativo da sociedade.” Assim, o Projeto
Áridas foi concebido com o objetivo geral de “elaborar proposta de estratégia, políticas, programas
prioritários, metodologia de planejamento e modelo de gestão, visando ao desenvolvimento sustentável da
Região Nordeste e considerando como área de eleição a zona rural e o espaço semi-árido.” (Magalhães,
1994.)
2
Transformada em Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia–Sudam, em 1966.
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• formular estratégia geral para o desenvolvimento sustentável do espaço semi-árido e, por
extensão, do meio rural do Nordeste, partindo da visão holística e integrada das variáveis econômicas,
ambientais, sociais e políticas;
• delinear as bases gerais − incluindo objetivos, diretrizes gerais e específicas, linhas de ação,
critérios, instrumentos e metodologias − para a elaboração e implementação de políticas e programas
sustentáveis;
Os estudos realizados de acordo com a estratégia do Projeto Áridas propiciaram a produção, dentre
outros, de resultados como os seguintes:
i. quarenta relatórios sobre temas relevantes (recursos naturais e meio ambiente, recursos
hídricos, organização do espaço regional e agricultura, economia, ciência e tecnologia, políticas de
desenvolvimento e modelo de gestão, recursos humanos e integração com a sociedade) e estudos especiais
de interesse dos estados envolvidos na implementação do Projeto;
ii. sete relatórios de grupos de trabalho (relativos aos temas mencionados no item anterior);
iii. seis relatórios consolidados dos estados, reunindo as constatações e propostas dos grupos
de trabalho, atinentes ao contexto estadual;
v. um relatório final do Projeto Áridas, com análise das condições de sustentabilidade atual
e futura da Região, sua vulnerabilidade às secas e eficácia das políticas de governo.
Na linha dos produtos gerados a partir dos relatórios mencionados, foram preparados trabalhos
importantes, com a cooperação técnica do IICA e a participação de estados do Nordeste, dentre os quais se
destaca a retomada do planejamento em escala estadual e sub-regional, no Nordeste. A este respeito, foram
elaborados como base para a já mencionada retomada dos trabalhos de planejamento regional, nas escalas
estadual e sub-regional, os seguintes planos e estratégias estaduais:
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Na linha dos delineamentos estabelecidos nos planos e estratégias estaduais, foram elaborados,
também com a cooperação do IICA, os seguintes planos e programas sub-regionais:
Além dos estudos, planos, programas e estratégias, o IICA está promovendo a realização de cursos
de desenvolvimento sustentável, com ênfase nas escalas municipal e sub-regional.
Reconhece-se que boa parte dos resultados das experiências mais recentes parecem depender
do planejamento e da execução de projetos destinados ao aproveitamento de vantagens comparativas e
de vantagens competitivas, mobilizáveis no interior de espaços de menores superfícies territoriais (ou
sub-regiões de tamanhos variados). A produção desses espaços tem sido realizada como resultado do
desenvolvimento integrado de setores ou “clusters”, como passaram a ser denominados, no quadro dos
novos paradigmas do desenvolvimento, os setores, subsetores e ramos econômicos.
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No Nordeste, vem ganhando espaço a tendência a se atribuir a concretização de novas
possibilidades de desenvolvimento à transformação de vantagens comparativas em vantagens
competitivas. Os resultados das experiências pautadas por essa percepção parecem mostrar-se eficazes
à inserção de economias sub-regionais dinâmicas no quadro de economias regionais mais
desenvolvidas, ainda que ao custo de não considerar na devida conta as exigências sociais. Dar atenção
particular a tais tendências significa deixar à margem ou tratar sem a necessária prioridade os
problemas sociais. Considerando a matriz dos determinantes que responderam pela deflagração do
processo de elaboração do Plano do Seridó, admite-se que os atores envolvidos em sua feitura estarão,
por isso, atentos aos desdobramentos daquele segundo tipo de tendência – ausência de ênfase ou
concessão de escassa prioridade ao social –, trabalhando para que a busca de soluções para os
problemas locais, além de compatíveis com suas possibilidades, se coadunem com as diferentes
dimensões do desenvolvimento sustentável: econômica, sociocultural, ambiental, científico e
tecnológica e político-institucional.
Além, pois, do cuidado com as inovações técnicas e conceituais trazidas pelo desenvolvimento,
em época de globalização, e da busca por uma maior participação dos beneficiários, quer-se ainda
preparar os diferentes atores sociais interessados na melhoria das condições de vida dos que vivem no
Seridó para os desafios e tarefas inerentes ao processo de implementação do Plano em apreço, para que
esse instrumento possa ser não apenas eficiente, mas eficaz, em relação às demandas das diferentes
comunidades daquela região.
As transformações que o Estado do Rio Grande do Norte vem experimentando, nas últimas
quatro décadas, confirmam um padrão de desenvolvimento cujas características principais são a intensa
urbanização, as elevadas taxas de crescimento econômico, a concentração de renda e os altos índices de
exclusão social. A distribuição espacial, que nos anos 50 caracterizava uma sociedade tipicamente
rural, com quase 70% da população habitando em áreas rurais, hoje evidencia traços marcantes de uma
sociedade urbanizada, com 70% dos habitantes vivendo nas cidades.
A economia do Rio Grande do Norte também mudou o seu perfil, com o crescimento das
atividades industrial e de serviços, com destaque para as indústrias têxtil e de transformação, a
construção civil, o comércio, as atividades petrolíferas e o vertiginoso crescimento do turismo. Como
conseqüência, nos anos 70, 80 e 90, as taxas de crescimento econômico no estado situaram-se entre as
maiores, no contexto da região nordestina.
Ao lado desse dinamismo econômico, sem precedentes na história do Rio Grande do Norte,
evidenciam-se os maiores índices de exclusão social nas cidades e no campo. Mais de 80% da
população tem uma renda de até dois salários mínimos mensais. O índice de indigência, calculado pelo
Instituto de Desenvolvimento Econômico e Meio Ambiente (Idema), órgão da administração indireta
estadual, situa-se na faixa dos 46%, portanto, entre as maiores do Nordeste, chegando a mais de 50%,
exatamente nos pólos agroindustriais do estado.
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Plano de Desenvolvimento Sustentável do Rio Grande do Norte. Nas palavras do Governador, “o
processo de transformação da sociedade norte-rio-grandense iniciado neste governo, é pautado na
prudência e uso racional dos recursos naturais renováveis e, principalmente, dos não-renováveis. Ele
nos dá subsídios para promover o crescimento econômico, a melhoria da qualidade de vida e a redução
das desigualdades sociais, tão visíveis no Rio Grande do Norte.” (Idec, 1997: 8.)
O Plano de Desenvolvimento Sustentável do Rio Grande do Norte tem como objetivos gerais
promover:
A partir desses objetivos, foram definidas diretrizes que orientam a atuação do Estado, como
mentor e executor do Plano, assim expressas:
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O desenvolvimento do Rio Grande do Norte está pautado, em terceiro lugar, segundo a ótica do
Plano referido, pela escolha de opções estratégicas sintetizadas na conservação dos recursos naturais e
na reestruturação e democratização do Estado. O primeiro conjunto de opções abrange escolhas
relacionadas ao desenvolvimento humano, ao desenvolvimento científico e tecnológico e à
dinamização e reestruturação da base econômica, cada uma delas detalhada segundo as possibilidades
atuais e os requerimentos do futuro desejado pela sociedade norte-rio-grandense.
De acordo com essa estratégia, foi definido um amplo elenco de programas voltados para a
solução das carências setoriais e espaciais do Rio Grande do Norte, estruturados conforme as seguintes
categorias programáticas:
A elaboração do Plano do Seridó teve abrangência e escopo similares aos das experiências do
Projeto Sertão Forte, no semi-árido da Bahia; do Agropolo do Piranhas, na Paraíba; do Programa de
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Desenvolvimento da Mata Paraibana; do Programa de Desenvolvimento do Agreste e Brejo da Paraíba;
do Plano de Desenvolvimento do Sertão de Pernambuco e do Plano de Desenvolvimento da Mata
Pernambucana, antes mencionados. Apresenta, entretanto, diferenças notáveis em relação àquelas
experiências, tendo em vista a mobilização e a participação das comunidades da área objeto do Plano
em seu processo de elaboração. Uma das características básicas do processo adotado (predominante
em todas as suas etapas) foi, de fato, a participação efetiva dos diferentes atores da sociedade norte-rio-
grandense como um todo e da área objeto de estudo, em particular.
Tal como caracterizado no item 2.2 anterior, o padrão de desenvolvimento econômico hoje
observado no Rio Grande do Norte ainda apresenta traços de forte insustentabilidade, dados os
problemas de natureza econômica, social e cultural que produz, destacando-se uma profunda exclusão
social. Esse quadro torna-se ainda mais grave nas regiões do estado com menor grau de
desenvolvimento relativo, destacando-se, dentre elas, o Seridó. Essa região já foi caracterizada, em
passado nem tão remoto – por volta dos anos 50 e 60 –, como a principal área de produção algodoeira
do Rio Grande do Norte, além de centro de extraordinária importância em matéria de produção mineral
e principal bacia leiteira do estado.
Dadas as carências nela observadas, é imperioso cuidar de reverter a situação desfavorável ali
encontrada, que tende a se agravar, no curto prazo, pelo impacto que oferece às populações rurais e
urbanas, que vivem sem ocupação e não dispõem de renda, e pela degradação ambiental, fruto das
práticas inadequadas de exploração dos recursos naturais, salientando-se, dentre elas, os elevados
índices de desmatamento que sinalizam, em algumas áreas, para situações de completa desutilização do
suporte físico.
Para sanar as dificuldades encontradas, a descentralização foi definida como foco da estratégia
da administração estadual, perfilando-se na prática um novo modelo de gestão participativa, como parte
das mudanças do processo decisório para o nível municipal/comunitário. Esse processo teve início a
partir dos Conselhos Municipais, concebidos e implementados com o apoio do PCPR, financiado com
recursos do Estado do Rio Grande do Norte e do Banco Mundial.
A prática vem mostrando que o processo em apreço ainda carece de maiores ações para ser
consolidado e se tornar mais efetivo. Neste sentido, o PCPR poderá desempenhar papel relevante, em
particular, por meio do aprimoramento do Fundo Municipal de Apoio Comunitário–Fumac. Inclui-se,
neste sentido, sua experiência piloto – o Fumac-P –, com vistas à regionalização do planejamento
sustentável no estado, por intermédio da qual as demandas mais imediatas serão incluídas em
categorias de prioridade, por parte dos representantes dos governos estadual e municipais, além da
sociedade civil.
25
Para regiões como o Seridó, o governo estadual ainda necessita intensificar suas ações de
erradicação da pobreza, particularmente as levadas à prática com os instrumentos do PCPR, em
articulação com outras estratégias e programas. Por isso, o governo do Rio Grande do Norte decidiu
conceder prioridade e articular suas ações naquela região, mediante a elaboração de um Plano de
Desenvolvimento Sustentável para a Região do Seridó. A preparação desse Plano representa um grande
desafio, pois dele depende a definição de novos rumos para o seu desenvolvimento, centrado, em boa
medida, em suas possibilidades endógenas, assim como na real e mutuamente comprometida integração
sociedade civil e governo, repensando a natureza e o papel dos governos nessa integração.
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3. DIAGNÓSTICO
A formulação do Plano do Seridó foi realizada na perspectiva de que o seu resultado deve ser
compatível com a natureza e os rumos das mudanças que vêm sendo exigidas pelos novos paradigmas
do desenvolvimento sustentável, não se perdendo de vista as referências históricas propiciadas pelas
experiências de desenvolvimento regional até hoje conduzidas no Nordeste brasileiro. Este é também o
contexto que preside a elaboração deste capítulo, que se beneficiou extraordinariamente das
contribuições aportadas por todas as instâncias que representam e constituem a sociedade do Seridó do
Rio Grande do Norte.
i. abordagem espacial;
ii. dimensão ambiental;
iii. dimensão tecnológica;
iv. dimensão econômica;
v. dimensão sociocultural;
vi. dimensão político-institucional; e
vii. ambiente externo.
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3.1 ABORDAGEM ESPACIAL
Parciais ou totais, as secas provocam fortes impactos sobre a economia (em particular sobre as
atividades agropecuárias), a população (reduzindo e, no limite, eliminando renda e emprego) e o meio
ambiente (diminuindo ou eliminando a cobertura vegetal de amplas áreas, contribuindo para o aumento
da erosão do solo, por natureza raso e pedregoso, em quase todas as partes da região).
Esse é um retrato recorrente do Nordeste semi-árido, como um todo, ao qual o Seridó Norte-rio-
grandense não está, em absoluto, infenso. As descrições aqui aportadas refletem a vulnerabilidade
ambiental, a variabilidade do clima e a insustentabilidade da economia dos espaços nordestinos,
historicamente submetidos às vicissitudes das secas. Em particular, são apresentados a seguir elementos
básicos sobre os seguintes pontos da problemática espacial do Seridó do Rio Grande do Norte:
O Nordeste brasileiro, integrado pelos Estados do Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do
Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia, abrange uma área de 1.548.672km². Incluindo-
se o território da Área Mineira do (antigo) Polígono das Secas tem-se uma superfície de
1.662.947km², que corresponde ao espaço conhecido como Nordeste da Sudene. Esse território foi
recentemente ampliado em mais 74.246,40 km², com a inclusão de terras do noroeste do Espírito Santo
5
Tanto do Rio Grande do Norte, como da Paraíba e do Ceará. Os estudos mais importantes sobre as regiões naturais do
Nordeste, como um todo, e a região natural do Seridó, em particular, foram produzidos por Guimarães Duque (1953 e
1964) e Vasconcelos Sobrinho (1970).
28
(24.432,70 km²) e de novas áreas de Minas Gerais − agora situadas no Vale do Jequitinhonha
(49.813,70 km²). 6 Hoje, portanto, o Nordeste da Sudene cobre uma superfície de 1.737.193,40 km².
Com a edição da Lei nº 9.690/98, foi alterada a superfície da Região Semi-Árida do Fundo
Constitucional de Financiamento do Nordeste–FNE Anteriormente, com 900.485km², 7 essa área
correspondia a 54,1% do espaço de atuação da Sudene. Agora, totalizando 974.731,40 km², equivale a
56,11% da nova área de atuação da Sudene.
O Rio Grande do Norte tem uma superfície de 53.306,80 km², dos quais 48.343,60 km² estão
inseridos na Região Semi-Árida do FNE. 8 O semi-árido norte-rio-grandense corresponde a 90,69%
do território estadual. Trata-se, portanto, de uma das unidades federadas do Nordeste com maior
percentual de seu território incluído em áreas semi-áridas, no âmbito do estado.
Como espaço natural, o Seridó constitui uma importante região natural do semi-árido
nordestino, figurando com particular importância ao lado das regiões que integram os espaços afetados
pelas secas no Nordeste, integrados pelas regiões naturais de Sertão, Caatinga, Curimataú, Cariris
Velhos, Carrasco e Serras.
O Seridó do Rio Grande do Norte tem particularidades muito especiais, referidas muito mais à
história e à cultura, que a população desse território conseguiu engendrar. Sem trabalhar as
especificidades naturais da região fica, porém, muito difícil compreender as características econômicas
e socioculturais do Seridó norte-rio-grandense. Guimarães Duque, um dos mais argutos pesquisadores
dos ambientes semi-áridos do Nordeste, produziu uma das mais precisas caracterizações do Seridó.
Tratando das questões técnico-materiais do semi-árido nordestino ou do Polígono das Secas, como
eram então denominadas, oficialmente, as áreas afetadas pelas secas, Duque definia assim os principais
traços da paisagem do Seridó:
6
Esses acréscimos resultaram da consolidação e aprovação de Projeto de Lei apresentado, em 1992, pela Senadora Júnia
Marise, de Minas Gerais, ao qual foram acrescentadas emendas de Deputados Federais do Estado do Espírito Santo. A
matéria foi transformada na Lei nº 9.690, de 15.07.98, quando foi sancionada pelo Presidente da República. Sua publicação
no Diário Oficial da União ocorreu no dia 16.07.98.
7
O semi-árido nordestino oficial abrange parte do Norte de Minas Gerais, incluída na antiga figura do Polígono das Secas.
Essa categoria territorial foi extinta com a edição da lei que instituiu o Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste-
FNE (Lei nº 7.827/89). Em seu lugar, tem-se hoje a Região Semi-Árida do FNE, integrada, atualmente, em Minas Gerais,
apenas por uma parte da antiga Área Mineira do Polígono das Secas. Os 74.246,40 km² acrescentados ao território do
Nordeste, em conseqüência das disposições da Lei nº 9.690, de 15.07.98, integram a área de atuação do FNE, expandindo, mais
uma vez, os limites do semi-árido nordestino oficial.
8
Veja-se, a respeito: LINS & BURGOS, 1989, onde se encontram os antecedentes e a configuração da Região Semi-Árida
do FNE.
29
Segundo as pesquisas realizadas por Guimarães Duque, a Região Natural do Seridó do Nordeste
cobre uma superfície de 33.669, 250 km², distribuídos entre os Estados do Ceará, Paraíba e Rio Grande
do Norte, de conformidade com os dados da tabela 3.1.1.1, adiante. O Seridó Norte-rio-grandense
compreende uma área correspondente a 23.55% do total dessa região natural, equivalente a
7.928,70km². Nessa área estavam incluídos, até os anos 50, os seguintes municípios (12 no total):
Acari, Caicó, Currais Novos, Jardim de Piranhas, Jardim do Seridó, Parelhas, São João do Sabugi,
Serra Negra, Cruzeta, Carnaúba dos Dantas, Ouro Branco e São Vicente. 9
TABELA 3.1.1.1
SUPERFÍCIE DA REGIÃO NATURAL DO SERIDÓ NO NORDESTE, POR ESTADO
A superfície da Região do Seridó, como muitas outras regiões, teve seu território ampliado por
critérios políticos, administrativos e culturais, variando seus contornos, ao longo de sua história. José
Augusto Bezerra de Medeiros assinala, em seu livro Seridó, publicado em 1952, que as terras da região
em estudo cobriam, naquela época, uma superfície de 9.332 km², dela fazendo parte os municípios de
Acari, Currais Novos, Florânia, Jardim do Seridó, Jucurutu, Parelhas e Serra Negra do Norte.
(Medeiros, 1952: 9-10.)
ii. Microrregião Geográfica do Seridó Oriental (10 municípios): Acari, Carnaúba dos
Dantas, Cruzeta, Currais Novos, Equador, Jardim do Seridó, Ouro Branco, Parelhas, Santana do Seridó
e São José do Seridó.
Pode-se e se deve, entretanto, salientar os fatos que contribuem para determinar os limites
espaciais do Seridó, segundo as características históricas e culturais que fazem desse espaço uma região
com feição marcadamente norte-rio-grandense. Pela via dos determinantes da cultura, seu território
sobrepassa os limites do espaço natural, para assumir uma configuração econômica e sociocultural, que
9
Formalmente, os Municípios de Cruzeta, Carnaúba dos Dantas, Ouro Branco e São Vicente só passaram a integrar o
Seridó norte-rio-grandense depois de 1953, quando foram criados por desmembramento de outros municípios seridoenses.
30
lhe é específica. O peso dessa região é extremamente forte, pois o cidadão que nasce no Seridó do Rio
Grande do Norte, antes de ser potiguar, é seridoense.
31
cultiváveis. Daí a necessidade de tecnologias especiais para o seu aproveitamento, como as de “cultivo
mínimo, plantio em nível, cobertura permanente do solo, especialmente durante a estação das chuvas.”
O tipo de agricultura e as práticas culturais primitivas, não adaptadas ao manejo adequado de solo, vem
diminuindo progressivamente a capacidade produtiva dos solos, por conta de sua degradação, sendo
possível, atualmente, encontrar grandes extensões de terras que devem deixar de ser exploradas, daí
decorrendo a urgência de restaurar a vegetação de cobertura. (Consórcio Tecnosolo & CEP, 1999: v. 3,
327-328.)
A ocupação dessa região foi efetuada sob o embalo de verdadeiras epopéias. Os fazendeiros que
fizeram o Seridó, vindos da Corte e de outras partes do País, ocuparam a duras lutas boa parte do
ecúmeno pastoril do Nordeste. Ao seu lado, apoiando ou dissentindo, estiveram os nativos – mestiços e
índios, forros ou não –, encarregados da faina de organizar a produção, trazendo e levando gados
(como os do Piauí), mantimentos e outros produtos necessários à criação de vida, riqueza e fixação dos
brancos de fora. Esse numeroso conjunto de mão-de-obra barata foi pacífico e violento – trabalhando,
estruturando seita ou invadindo propriedades.
A ocupação do interior adusto, que atraía mais por sua vastidão do que pela abundância de
recursos, não foi uma mera expedição aventurosa, na qual se sobressaíam os senhores. Dela também
fez parte aquela abundante porção de nativos e mestiços, no seio da qual também chegaram a se
salientar os que haveriam de ensejar a formação de outros senhores – da terra, dos homens e do poder.
Integraram esse conjunto distinto, pouco referido, do exército dos supostos vencidos, os fanáticos e os
cangaceiros. Em seu extremo, constituíram os dois tipos esquemáticos da realidade social, cheia de
nuanças e complexidade. Tal como foi tratado por Djacir Menezes, em O Outro Nordeste, 10 aquele
extremo foi caracterizado pelos “dois pólos da reação do homem sertanejo contra todas as condições
sociais, que agravam injustiças seculares. A reação do que procura conjurar os males, que o esmagam,
recorrendo aos processos mágico-animistas de antepassados – o fanático. A reação do que se ergue,
instintivamente, contra algo que não sabe o que é nem como definir, iniciando a crônica sinistra do
crime e do latrocínio – o cangaceiro. A reação violenta no plano místico; e a reação forte, no plano
histórico. O fanático procura vencer os obstáculos que o constrangem como o primitivo vencia as
hostilidades naturais. ‘Vê’ o mundo social – melhor seria ‘sente’ – através de forças instintivas e cegas,
colorindo-o na subjetividade animista, com a sua técnica, a sua magia. (...) O cangaceiro é a reação
violenta. Em geral, do tipo hígido, cuja história começa numa injustiça cometida pela politicagem
local.” E mais: “na sua percentagem mais ativa, as hordas do cangaço contam os tarados, os
degenerados anti-sociais atraídos pelo crime. Todo o grosso da matula social se recruta pelo crivo
social.” Incrível é verificar que, “Depois de tantas páginas comovidas de Euclides, ainda não se
organizou o processo de atividade normal, que os incorpore à produtividade laboriosa." (Menezes,
1970: 19.)
Essas injustiças também foram vistas por autores reconhecidos, em matéria de Seridó, com a
visão típica dos vencedores, como José Augusto, que afirma: “O povoamento da região começou no
fim do século XVII, quando da guerra dos bárbaros, luta que durou muitos anos e durante a qual, após
crueldades inomináveis, o homem civilizado exterminou os selvagens que habitavam as margens do rio
Açu e seus afluentes, um dos quais, como se sabe, é o rio Seridó.” (Medeiros. 1952: 10.)
10
Em complemento ao “Nordeste” (da cana-de-açúcar), escrito por Gilberto Freyre, publicado em 1937. (Freyre, 1985.)
32
colonização. Teve como ápice da conquista a emancipação administrativa do Seridó, que se deu em 31
de julho de 1788, por intermédio do alvará de criação do Município de Vila Nova do Príncipe, atual
Caicó. Com o desenvolvimento demográfico, político, social e econômico, surgiram outros municípios,
a partir de povoações mais densas, como o de Acari, Jardim do Seridó e Serra Negra – ainda no período
monárquico –, Currais Novos, Flores (hoje Florânia), Parelhas e Jucurutu – após a proclamação da
República. (Medeiros, 1952: 12.)
Não fora a relativamente limitada capacidade de suporte dos recursos naturais – potenciada pelas
crises que passaram a afetar as atividades do complexo pecuária-algodão-lavouras alimentares e da
mineração –, o Seridó poderia ser habitado por um maior contingente populacional. As migrações
provocadas por fatores de expulsão (como as secas periódicas) ou por fatores de atração (a exemplo das
possibilidades de emprego e serviços diversos, como os de educação e saúde) contribuíram para relativizar
os números absolutos da população seridoense, ao longo do período de sua ocupação. Esse processo, em
muitos sentidos, benéfico, responde ainda hoje pela redução considerável da população regional, tanto da
que reside em áreas rurais como urbanas. As cidades e vilas da região talvez abrigassem, em 1996, em
sítios urbanos, um número maior de pessoas do que os 68,13% da população total (197.419 habitantes),
não fossem as migrações, de origem rural e urbana, com destino urbano.
A atividade pastoril e, mais do que ela, o algodão foi importante para assegurar e ampliar o
assentamento das famílias que se instalaram no Seridó. Mas a produção algodoeira, englobando tanto a
produção agrícola como a agroindustrial – impulsionada pelo “locomóvel”, a primeira máquina
descaroçadora de algodão, usada na região – foi mais importante para a expansão da economia e para a
estruturação e sustentação das cidades da região. A integração das atividades da pecuária, do algodão e
das lavouras alimentares vigorou por mais de um século no Seridó. Lastreadas em explorações
dependentes, diretamente, das chuvas, algumas delas foram também desenvolvidas, no curso da
evolução econômica regional, em regime de irrigação. Foi o que aconteceu, de início, com as obras de
açudagem e os experimentos de irrigação e drenagem, conduzidos pela antiga Inspetoria Federal de
Obras Contra as Secas–IFOCS e, na seqüência, pelo DNOCS, dos anos 20 aos anos 50 do século XX.
Expandidos os experimentos pelo setor público (federal e estadual), os benefícios da irrigação
conseguiram chamar a atenção do setor empresarial para as possibilidades agricultura irrigada, sempre
que as condições de solo e água permitem.
A mineração constituiu outra importante fonte de expansão econômica no Seridó, tendo sido ali
introduzida por volta dos anos 30/40, do século XX. Suas possibilidades centraram-se em minerais
33
como a tantalita – com jazidas importantes nos Municípios de Jardim do Seridó, Parelhas, Acari e
Currais Novos –, o berilo, a scheelita (com reservas de minérios e indústrias localizadas em Currais
Novos, Caicó, Serra Negra, Jardim do Seridó e Parelhas) e a cassiterita. (Medeiros, 1952: 86.) Com seu
aproveitamento, o Seridó cresceu, gerou riquezas e empregos; importou e criou tecnologias; construiu
fama e estima; fez história e cultura; 11 e ampliou sua participação nas esferas políticas de decisão do
Rio Grande do Norte. 12
É verdade que no Seridó, mais do que no Estado do Rio Grande do Norte, o padrão de
desenvolvimento atualmente observado ainda apresenta traços de forte insustentabilidade, dados os
problemas de natureza econômica, social e cultural que produz, destacando-se elementos básicos de
exclusão social, que tem forçado sua população a migrar para a capital do Estado e para outras regiões
do País. Observa-se, presentemente, que as atividades mais tradicionais, que produziram certo fausto na
região, apresentam dinâmica bem mais lenta. O espaço econômico do Seridó continua integrado por
aquelas atividades e por outras – em processo de estruturação – como as da pecuária leiteira, ainda
alicerçada em forte apoio oficial. Trata-se esta, entretanto, de atividade dinâmica, pois graças a ela, a
região conseguiu transformar-se na segunda bacia leiteira do Rio Grande do Norte. Além da pecuária
leiteira, está sendo reestruturada a caprino-ovinocultura, estrutura-se a cajucultura, fortalece-se a
agroindústria (com derivados de produtos de origem animal) – em bases artesanais e modernas –,
expande-se a indústria em geral e se mantém o ritmo do comércio e dos serviços, nos dias atuais.
As novas atividades ainda carecem de uma dinâmica mais específica. A indústria do Seridó, por
exemplo, está caracterizada por atividades de baixo consumo de energia. Excetuam-se, a respeito, as
atividades de cerâmica, ainda responsáveis, em boa medida, pelo avanço observado sobre os recursos
naturais de origem vegetal. De todo modo, a indústria, é pautada por processos tecnológicos dotados de
reduzida complexidade e, em conseqüência, geradores de baixo valor agregado. As indústrias
existentes abrangem desde pequenas unidades manufatureiras (como padarias e confecções) até
empresas de grande porte, como as até hoje ligadas à indústria extrativa mineral, de que constitui
exemplo a Wah Chang/Teledine. 13 Os ramos industriais abrangem indústrias processadoras de
alimentos, tanto de matérias-primas produzidas na região – como a mandioca, o leite, o caju, o couro e
o algodão–, quanto oriundas de fora do Seridó, como o café, trigo, borracha sintética e tintas, dentre as
principais. (Consórcio Tecnosolo & CEP, 1999: v. 2, 197.)
11
Exemplo dessa produção, na área literária, foi dado pelo escritor currais-novense José Bezerra Gomes, que escreveu, nos
anos 30 e 40, os seguintes romances: “Os Brutos” (de 1938), “Por que não se Casa, Doutor” (de 1944) e “A Porta e o
Vento” (publicado em 1974).Esses romances foram republicados, em 1998, pela UFRN, em Obras Reunidas. O primeiro
deles – “Os Brutos” – constitui um dos marcos do ciclo literário da economia algodoeiro-pecuária nos Sertões do Rio
Grande do Norte. A cultura do Seridó está sendo reforçada agora com dois novos romances, ainda inéditos, da lavra de
Janúncio Bezerra de Melo, professor da UFRN e escritor de Caicó: “Vida Bruta” e “Sementes de Sangue”. Neles, trata de
coronéis e de cangaço; do desenvolvimento pretérito da pecuária; e das dificuldades por que passa a economia do Seridó.
12
A importância da expansão pastoril no Seridó foi tratada recentemente em romance de um outro nordestino. Trata-se do
livro de Ésio de Souza, “No Rastro do Boi: conquistas, lendas e mitos”. (Souza, 2000.)
13
Empresa de grupo canadense. Baseado em entrevista realizada com o geólogo e professor da UFRN, Edgard Dantas,
realizada em Natal-RN, no dia 17.12.99, com a participação de Otamar de Carvalho, Mardone C. França e Ronaldo de
Alencar Fernandes.
34
A Região do Seridó concentrava 9,4% do número de empresas existentes no Rio Grande do
Norte, em 1998, segundo o Cadastro Industrial produzido pela Federação das Indústrias do Estado do
Rio Grande do Norte–Fiern e o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística–Ibge. Sua distribuição
pelas Zonas Homogêneas–ZH do Seridó, em relação ao total do Estado, era a seguinte: ZH de Caicó
(4,9%), ZH de Currais Novos (4,1%) e ZH das Serras Centrais (0,4%). O percentual de empresas ali
existente reflete o peso econômico de cada uma daquelas zonas.
Embora os padrões tecnológicos ainda sejam mais para o tradicional, a informática já marca
visível presença nos negócios da região. Há empresas ligadas ao setor agropecuário que utilizam
máquinas (computadores pessoais) e softwares destinados à melhora da gestão e ao aumento do
rendimento de suas atividades. Essa presença é mais acentuada na indústria, no comércio e nos
serviços. Profissionais autônomos também fazem uso de novos recursos da informática, como é
possível observar em relação aos que se acham ligados aos centros universitários existentes na região
ou aos negócios, em cidades como Caicó e Currais Novos.
As carências observadas no Seridó podem vir a se agravar, no curto prazo, dado o impacto que
exercem sobre suas populações, rurais e urbanas, que vivem sem ocupação, sujeitas, além disso, à
degradação ambiental, como fruto das práticas inadequadas de exploração dos recursos naturais.
14
Com destaque para a de Santana, em Caicó, onde ocorre a festa religiosa mais importante da região.
35
Salientam-se, neste sentido, os elevados índices de desmatamento, os quais sinalizam, em algumas
áreas, para situações de completa desutilização do suporte físico, chegando a demonstrar, em outras,
fortes evidências de processos (quase) irreversíveis de desertificação.
Os Sertões do Nordeste, de acordo com a regionalização produzida por Mário Lacerda de Melo,
são integrados por Áreas Agropastoris com Combinações Agrícolas Sertanejas (Sertão Sul) e por Áreas do
Sistema Gado-Algodão (Sertão Norte). (Melo, 1978.) O Sertão Sul, que interessa mais aos Estados da
Bahia e de Pernambuco, é extenso e diversificado, em relação aos recursos e condições naturais, tanto no
que se refere às combinações de atividades econômicas como no que toca aos domicílios das populações
que o habitam. Ali, onde dominam “os sistemas Agropastoris com Combinações Sertanejas, essas
diversificações são muito numerosas, o que é óbvio em uma porção territorial de 354.957 km², povoada e
explorada pelo homem desde a segunda metade do século XVI. Apesar de distante do litoral, o chamado
Sertão Sul apresenta peculiaridades que diversificam suas várias porções, tanto levando em conta as
características ecológicas como os sistemas de utilização dos recursos pelo homem.” (Andrade, 1984: 39.)
O Sertão Norte compreende pequena parte das terras de Pernambuco e boa parte dos territórios da
Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará, onde predominaram por muito tempo as atividades do complexo
pecuária-algodão-lavouras alimentares. (Silva & Andrade Lima, 1982: 79.) Aludido espaço cobre uma
superfície de 210.104 km², os quais, somados à área do Sertão Sul, espalham-se por uma longa faixa
territorial de 565.061 km² de Nordeste. O Sertão Sul e o Sertão Norte formam um verdadeiro “paredão”
entre os territórios do Litoral e Agreste e os espaços mais interiores do Nordeste, integrados por partes da
Bahia, Piauí e Maranhão. Esse “paredão” vai do sudeste da Bahia até o “saliente nordestino”, ou seja, a
parte mais setentrional da Região, situada na porção mais extrema do litoral do Rio Grande do Norte.
A maior densidade econômica das Zonas de Caicó e Currais Novos não se estende a todos os seus
municípios. Dentre eles, há os que, por falta ou menor dotação de recursos minerais, apresentam
desempenho econômico menos favorável e Índices Desenvolvimento Humano–IDH que expõem níveis
mais elevados de pobreza. 15 É o que ocorre em Municípios como Equador, na ZH de Currais Novos, e de
São Fernando, na ZH de Caicó. Na ZH das Serras Centrais, que se caracteriza como a de menor
desenvolvimento relativo, os municípios com menores IDH são os de Campo Grande, Santana do Matos,
Jucurutu e Lagoa Nova. Onde o desempenho econômico mostrou-se maior, no passado, é onde também se
observa uma maior degradação ambiental, como ocorre em Equador, onde a mineração desempenhou
papel importante. Equador é hoje um dos municípios mais afetados pela desertificação, dentre os que
integram o Núcleo de Desertificação do Seridó.
15
A análise do IDH do Seridó, como região, segundo as Zonas Homogêneas e a nível municipal, será tratada no item
referente à Dimensão Sociocultural.
36
3.1.4 Regionalização Adotada
Trabalha-se aqui com a regionalização praticada pelo governo do Estado do Rio Grande do
Norte, por intermédio do Instituto de Desenvolvimento e Meio Ambiente do Rio Grande do Norte–
Idema. As diferenças em relação à configuração apresentada pelo Ibge para o Seridó são, portanto, de
natureza política, administrativa e econômica. A regionalização adotada atende, assim, aos propósitos
do planejamento das ações do governo estadual. Assim, o espaço objeto do Plano de Desenvolvimento
Sustentável do Seridó do Rio Grande do Norte foi estabelecido a partir da divisão do Estado em
Zonas Homogêneas. Essas Zonas foram delimitadas a partir de estudo realizado pelo governo do
Estado, em 1975, com a assessoria do Instituto Latino-americano de Pesquisa Econômica e Social–
ILPES, das Nações Unidas, contratado para elaborar estudo orientado para a estruturação da base de
planejamento do Estado. Os resultados desse esforço foram a produção do “Diagnóstico Estrutural do
Estado do Rio Grande do Norte”, integrado por uma série de volumes, tratando, cada um, de aspectos
específicos da realidade estadual. O primeiro estudo tratava do zoneamento do Estado, no qual foram
agrupados os seus municípios em oito Zonas Homogêneas.
Com uma superfície de 53.306,8 km² (0,62% do território nacional), o Rio Grande do Norte
contava, em 1996, com uma população de 2.558.660 habitantes, dos quais 1.847.853 viviam no meio
urbano (72,22%) e 710.807 no meio rural (27,78%). A densidade demográfica total era de 48,00
hab/km². De acordo com a regionalização utilizada, o Rio Grande do Norte está dividido em oito
Zonas Homogêneas–ZH, integradas por 15 Subzonas Homogêneas e por 166 municípios. As
Subzonas estão distribuídas em Zonas Homogêneas, na forma especificada a seguir.
37
a.3 Subzona da Mata (18 municípios)
c. Zona do Agreste
h. Zona Mossoroense
Dentre as oito Zonas Homogêneas referidas, três configuram o espaço aqui considerado como
Região do Seridó. Nele foram incluídas por continuarem caracterizando suas distintas realidades:
histórica, cultural, natural e econômica. O Seridó assim delimitado está integrado pelas Zonas
Homogêneas de Caicó, de Currais Novos e das Serras Centrais. Sua superfície é de 12.965,3 km²,
correspondendo a 1,33% de todo o espaço da nova Região Semi-Árida do FNE (974.731,40 km²) e a
26,82% da mesma Região Semi-Árida do FNE no Rio Grande do Norte – 48.343,60 km². (Vide
Mapa 1.)
38
Juntas, as três Zonas Homogêneas do Seridó abrangem os 28 municípios já referidos, que se
acham listados na tabela 3.1.4.1, adiante referida. Esses municípios abarcam ¼ do território potiguar,
mas apenas 11,3% da população norte-rio-grandense. As Zonas Homogêneas mais densamente
habitadas são as de Caicó e de Currais Novos. A maior densidade demográfica é apresentada por
Currais Novos – 26,7 hab/km² –, seguida de Caicó, com 25,8 hab/km²). Nas Serras Centrais estão as
mais baixas densidades do Seridó e do Estado (16,4 hab/km²). No conjunto, a região tem baixa
densidade para o padrão estadual (22,3 contra 46,6 hab/km²), mas vale lembrar que se trata de espaço
de uma zona semi-árida, onde, em geral, a ocupação humana não se adensa muito.
A base econômica das três Zonas referidas também apresenta diferenciações relevantes. No
conjunto, alguns indicadores básicos das três ZH do Seridó pesam pouco (cerca de 8%, se medidos pelo
PIB regional, estimado no item 3.4 deste capítulo – Dimensão Econômica –, e apenas 4,65% da
economia do Estado, quando medidos por sua participação no total do Imposto sobre Circulação de
Mercadorias e Serviços–ICMS arrecadado pelo Tesouro Estadual). Desse ponto de vista, fica longe da
liderança econômica exercida no Rio Grande do Norte por duas outras Zonas Homogêneas: i) a ZH
Litoral Oriental, no interior da qual se encontra a Subzona de Natal (que gera, sozinha, mais de metade
– 53,74% – da receita do ICMS estadual arrecadado e concentra quase metade – 44,16% – da
população do Estado) e a Mossoroense (com 19,46% da população estadual e 31,63% do ICMS
arrecadado). (Vide tabela 3.1.4.2, adiante.)
Seguem-se algumas indicações sobre o quadro natural e humano das três Zonas Homogêneas
referidas (tabela 3.1.4.1), que mostram suas diferenças e, portanto, a diversidade de situações ali
encontradas. (Tecnosolo & CEP, 1999.)
A ZH de Caicó apresenta clima semi-árido, com média anual de chuvas de 700 mm, solos rasos
ou moderadamente profundos, de textura argilosa e com fertilidade natural média a alta, segundo
Levantamento Exploratório realizado pelo governo do Estado. Em menor proporção, aparecem solos
Litólicos, rasos ou muito rasos (limitados para uso agrícola), mas a ZH dispõe também de várzeas
(contínuas, em cerca de 39 mil hectares), onde dominam solos aluviais profundos, férteis e com
potencial para o desenvolvimento agrícola. Conta com a presença, em suas terras, da bacia hidrográfica
do Piranhas-Açu. Abriga ainda o maior efetivo pecuário do Seridó e vem se destacando como
importante bacia leiteira, inclusive quando vista no contexto geral do Estado.
Essa Zona tem Caicó como principal centro urbano do Seridó, mas vem perdendo população,
com vários municípios apresentando taxas negativas de crescimento. A crise das atividades
agropecuárias estimula o êxodo rural e a urbanização tem se acelerado. Hoje, 3 em cada 4 de seus
habitantes já vive em áreas urbanas. Em muitas delas, encontra-se em expansão o comércio e cresce o
número de pequenos estabelecimentos industriais e prestadores de serviços.
39
A Zona Homogênea de Currais Novos abrange a maior parte da porção oriental da antiga
Região do Seridó, e é integrada por apenas 6 municípios, que representam 6,5% da superfície
territorial e 3,6% da população total do Estado (segundo a Contagem de 1996). Nessa Zona vivem
31,94% da população total do Seridó. As sedes municipais desse subespaço têm altitude que variam de
159 m (São Tomé) a 572 m (Equador). O município mais antigo é o de Acari (desmembrado de Caicó,
em 1833), seguido de Currais Novos (desmembrado de Acari, em 1890). O mais recentemente criado é
o de Equador (desmembrado de Parelhas, em 1962).
Com clima que pode ser considerado árido, apresenta pluviosidade média anual de 430 mm e
déficit hídrico durante todo o ano. Em 90% de sua área predominam solos Litólicos Eutróficos, rasos e
muito rasos – o que dificulta o uso agrícola. As várzeas são bem menores do que em Caicó (apenas 5,1
mil hectares). A formação geológica, constituída pelo complexo cristalino, dificulta a formação de
aqüíferos subterrâneos. Mas abriga alguns rios, como o Seridó e o Acauã, e tem alguma disponibilidade
de águas superficiais.
Sua urbanização é elevada (77% da população), liderando os índices seridoenses nesse aspecto.
Tem na cidade de Currais Novos seu centro urbano mais importante. Uma de suas especificidades se
deve à importância que a mineração tem em sua vida econômica, em função da presença de
importantes jazidas de minerais.
A Zona Homogênea das Serras Centrais situa-se ao redor das serras de Santana e João do
Vale, e a norte das outras duas Zonas Homogêneas mencionadas. Com seus 10 municípios, responde
por 9,6% da superfície territorial e 3,3% da população total do Estado (segundo a Contagem de 1996).
As sedes municipais desse subespaço têm altitude que variam de 63 m (em Jucurutu) a 686 m (em
Lagoa Nova), tipificando o que, a este respeito, ocorre no interior de todo o semi-árido nordestino, com
outras serras úmidas (brejos de altitude ou áreas de exceção). O município mais antigo é o de Santana
do Matos (desmembrado de Açu, em 1836), seguido de Campo Grande (também desmembrado de Açu,
em 1870). A Zona Homogênea das Serras Centrais tem os municípios mais novos do Seridó, com três
deles criados na atual década: Bodó e Triunfo Potiguar, em 1992, e Tenente Laurentino Cruz, em 1993.
Seu clima é semi-árido, a leste e subúmido seco, a oeste, marcando o quadro natural da Zona.
Esse clima exerce influências positivas sobre sua vegetação (onde domina a caatinga hipo e
hiperxerófila). O relevo também merece destaque, valendo salientar a presença das Serras de Santana e
de João do Vale, com potencial para a fruticultura. A ZH das Serras Centrais tem no Piranhas-Açu o
único curso d’água perenizado e uma rede de açudagem, enquanto suas condições naturais não
favorecem a oferta hídrica subterrânea.
40
MAPA 1
41
TABELA 3.1.4.1
ÁREA E POPULAÇÃO DOS MUNICÍPIOS E ZONAS HOMOGÊNEAS QUE INTEGRAM A REGIÃO DO SERIDÓ
42
TABELA 3.1.4.2
RIO GRANDE DO NORTE. SUBZONAS HOMOGÊNEAS, MUNICÍPIOS, ÁREA, POPULAÇÃO, DENSIDADE DEMOGRÁFICA E ARRECADAÇÃO
DO ICMS, POR ZONAS HOMOGÊNEAS
FONTE DOS DADOS BÁSICOS: Estado do Rio Grande do Norte. Secretaria de Planejamento e Finanças. Instituto de Desenvolvimento Econômico e Meio Ambiente
do Rio Grande do Norte-Idema. Anuário estatístico; Rio Grande do Norte, 1998. Natal-RN, 1998.
43
Em termos demográficos, essa Zona tem o menor contingente humano (29,05% do total da
Região do Seridó) e apresenta baixo e declinante crescimento, com vários municípios apresentando
taxas negativas. É ainda a única dominantemente rural, com grau de urbanização baixo, para os padrões
seridoenses atuais: 48% de seus habitantes, em 1996, viviam nas áreas urbanas, contra mais de 75%
nos casos das outras duas Zonas. As Serras Centrais são líderes na pecuária suína e tem boa presença
na bovinocultura. A produção de mandioca, milho, feijão e de castanha de caju (cuja produção também
é liderada pelas Serras Centrais no Seridó) marcam a vida econômica dessa Zona, onde a indústria é
muito incipiente.
De relevante, cabe destacar a capacidade que as secas continuam tendo de fazer com que as
atividades econômicas nas áreas de caatinga persistam subordinadas a processos de descontinuidade,
que impedem a manutenção de um fluxo mais permanente de produção de bens e serviços, nos espaços
da Região do Seridó. Um dos aspectos centrais da problemática a resolver ali refere-se às dificuldades
enfrentadas pelos diferentes agentes produtivos (públicos e privados) para promover a reorganização
econômica daquelas áreas, limitando assim o processo de destruição dos excedentes gerados nos anos
climaticamente normais.
A ênfase na questão climática não diminui a importância conferida à natureza da estrutura das
relações de produção e distribuição dos bens e serviços gerados na esfera dos diferentes setores
econômicos. Pelo contrário, reforça o seu caráter inadequado, particularmente em relação aos
contingentes de pessoas historicamente desprovidas de meios de produção.
Uma efetiva política de (re)ordenamento territorial para o Seridó deve considerar, dentre outros,
elementos como os seguintes: a heterogeneidade da região, a dinâmica urbana recente e a importância
das secas.
44
A importância das secas não pode e nem deve ser descurada. A escassez e a distribuição
irregular das chuvas persistem constituindo uma das marcas do semi-árido do Nordeste. Notabilizam-se
ainda mais na Região Natural do Seridó, pois ali a irregularidade do clima (com chuvas mal
distribuídas e temperaturas relativamente mais altas) tem seus efeitos potenciados pela ação de fatores
físicos, como o solo raso e pedregoso. Esses aspectos contribuem para que os impactos das secas sobre
o Seridó sejam mais intensos do que os observados em algumas outras áreas do semi-árido nordestino.
Como a região em estudo apresenta uma alta percentagem de população vivendo em áreas urbanas, a
escassez de água para abastecimento humano constitui atualmente uma das mais graves conseqüências
das secas no Seridó do Rio Grande do Norte.
ii. Recursos Hídricos (abrangendo as Bacias Hidrográficas do Rio Grande do Norte; Oferta
e Demanda de Recursos Hídricos no Nordeste; Oferta e Demanda de Recursos Hídricos no Rio Grande
do Norte e no Seridó; Projeto de Transposição de Águas do São Francisco; e Restrições Ambientais);
x. Principais Problemas; e
45
3.2.1 Ecossistemas do Nordeste e do Seridó
O ecossistema é entendido como um termo genérico, que diz respeito aos diversos níveis de
organização da Biosfera. A adoção deste conceito pelo Ministério do Meio Ambiente exigiu o
abandono de percepções que, embora usuais, foram consideradas incorretas. Assim, o agrupamento dos
ecossistemas individualizados, antes referido, foi efetuado, deliberadamente, sem levar em
consideração “a corrente metodológica que propõe a regionalização por biomas, conceito inadequado
para os propósitos deste trabalho.” Com efeito, “o bioma ‘Floresta Ombrófila’ está representado pela
Floresta Amazônica e pela Mata Atlântica; o bioma ‘Cerrado’ engloba grande parte do Pantanal; as
‘Florestas Estacionais’ usual e incorretamente não são citadas como bioma; as disjunções de ‘Cerrado’
na ‘Floresta Ombrófila Equatorial’ teriam o mesmo tratamento que o Brasil Central e estariam alheias
ao contexto amazônico ao qual na realidade pertencem.” (BRASIL. MMA, 1996: 17.)
• Ecossistemas Amazônicos;
• Ecossistemas do Pantanal;
• Ecossistemas das Áreas Costeiras e da Região da Mata Atlântica. (Brasil. MMA, 1996:
9.)
16
Situação que vale para o Seridó do Rio Grande do Norte, assim como para as áreas desse tipo de região natural
encontradas na Paraíba e no Ceará.
46
Fotografia J. Marcelino
47
Considerando “a necessidade de síntese frente à complexidade ambiental brasileira,” aqueles
“nove subespaços foram definidos, basicamente, segundo condições ecológicas refletidas pela
vegetação original predominante e a posição geográfica que ocupam, exceto o Pantanal, que detém
características geomorfológicas próprias.” A definição dos nove subespaços (ou ecossistemas) foi
efetuada independentemente “da divisão político-administrativa e segundo critérios de regionalização
já consagrados, além de algumas adaptações que se fizeram necessárias. Assim, os cerrados dos
Estados do Tocantins e do Maranhão fazem parte, neste trabalho, do conjunto dos cerrados do Brasil
Central, não tendo sido incluídos na faixa amazônica pelo mero fato de pertencerem à Amazônia Legal.
Quanto ao Meio Norte, representado nitidamente por ecossistemas de transição, reveste-se de
características próprias sob o ponto de vista socioeconômico e cultural, o mesmo acontecendo com as
Florestas Deciduais, que ora ocorrem na Caatinga, ora no Cerrado. Neste caso, os aspectos culturais –
ou de estilo de vida – orientaram a delimitação cartográfica incluindo as referidas áreas em uma ou
outra unidade de mapeamento.” (Brasil. MMA, 1996: 17.)
A Caatinga é uma região natural que integra o Nordeste Semi-Árido, juntamente com o Sertão, o
Seridó, o Agreste, o Curimataú, o Carrasco e as Serras. No interior das áreas de Caatinga há espaços que
podem ser aproveitados com cultivos de sequeiro tradicional ou tecnificado, bem como áreas irrigáveis,
em esquemas de pequena irrigação. É um espaço que requer preciso e adequado manejo dos recursos de
solo e água, para evitar a degradação e, no limite, a desertificação. Requer esforços de pesquisa pura e
aplicada. O conhecimento atualmente disponível sobre a caatinga ainda é exploratório. Alguns avanços já
48
foram conseguidos pela Embrapa, por intermédio do Centro de Pesquisa Agropecuária do Trópico Semi-
Árido-Cpatsa. Mas ainda há muito o que ser pesquisado, no tocante às inter-relações do complexo solo-
água-planta.
Outras políticas públicas contribuíram para exacerbar o uso inadequado dos recursos florestais
do semi-árido em geral e do Seridó, em particular. A sustentação dessas políticas tem sempre uma
razão econômica. A elevação extraordinária dos preços internacionais do petróleo, em 1973, fez com
que o governo brasileiro estimulasse o uso do carvão vegetal, por parte de indústrias nacionais. Depois,
as indústrias voltaram a consumir combustíveis derivados do petróleo. Mas nesses quase 20 anos foi
grande a devastação da caatinga em municípios como Mossoró, no Rio Grande do Norte, e Sobral e
Barbalha, no Ceará. Além da razão econômica, essas decisões também têm sido pautadas pelos
argumentos de geração de emprego, por parte de empresários urbanos e rurais ligadas ao corte de
17
O estéreo é a medida de volume para lenha. Um estéreo corresponde a uma pilha de lenha com dimensões aproximadas de
1 x 1 x 1 m, equivalente a 0,355 m³ sólidos.
49
madeira e à produção de carvão. (Mendes, 1997: 32.) A exploração econômica dos recursos florestais
é responsável por 29% da renda gerada pelos pequenos produtores rurais do Rio Grande do Norte.
(Pnud/FAO/Ibama, 1993-a.) Essas mesmas razões continuam sendo usadas como argumentos em favor
da continuidade daquelas atividades.
Diante das fragilidades econômicas e sociais, provocadas pelas secas, verifica-se que vão sendo
produzidas outras, particularmente as decorrentes da utilização de processos inadequados de gestão
ambiental. Nessa linha, amplia-se o quadro das dificuldades enfrentadas pelas populações pobres,
forçadas, historicamente, a encontrar no fácies ecológico do semi-árido seus próprios meios de
sobrevivência.
O Seridó é uma das regiões naturais do semi-árido mais premidas pela estreiteza da base de
recursos naturais, especialmente dos renováveis. Dentre esses, os recursos hídricos são os que se
caracterizam por uma mais ampla escassez relativa. Mas os recursos de solo e vegetação também
apresentam características de elevada escassez. Neste item são tratados os seguintes aspectos dos
recursos hídricos, no que em particular interessa ao Seridó: i) oferta e demanda de recursos hídricos no
Nordeste; ii) bacias hidrográficas do Rio Grande do Norte; iii) oferta e demanda de recursos hídricos no
Rio Grande do Norte e no Seridó; iv) restrições ambientais; e v) Projeto de Transposição de Águas do
São Francisco. O exame desses aspectos, no tocante ao Seridó, é realizado em estreita associação com
o que ocorre, em relação ao mesmo tema, no Nordeste e no Estado do Rio Grande do Norte.
Da água de chuva precipitada sobre uma determinada zona ou bacia, parte se evapora ou é
evapotranspirada; uma outra, sob a forma de escoamento superficial é carreada para os rios; e uma
terceira parte se infiltra nos aqüíferos, para constituir a recarga subterrânea. Esta última é escoada de
maneira muito lenta no seio do subsolo, de onde segue para o mar, se o aqüífero for costeiro, ou para os
rios, se o aqüífero for interiorano. Neste caso, forma o escoamento de base, que é acrescentado ao
escoamento superficial. A soma dessas duas parcelas forma o escoamento total dos rios ou escoamento
50
fluvial. Esse modelo global de circulação da água constitui a essência do ciclo hidrológico. (Gondim
Filho, 1994: 5; e Vieira, 1994: 27.)
Quatro conceitos são essenciais para definir a oferta de água: potencialidades, disponibilidades,
capacidade de armazenamento de recursos hídricos e nível de garantia de suprimento de água. Esses
conceitos foram utilizados durante os trabalhos de elaboração do Plano de Aproveitamento Integrado
dos Recursos Hídricos do Nordeste do Brasil–Plirhine, no final dos anos 70 e princípios dos anos 80
(Sudene, 1980), tendo sido revisitados durante a preparação do Projeto Áridas, em 1993/94 (Projeto
Áridas, 1995). Continuaram sendo usados pelos estudos posteriores ao Plirhine.
18
O nível de garantia pode ser elevado para até 95% ou para até 99%, como foi feito nos estudos do Projeto de
Transposição de Águas do São Francisco, que está sendo conduzido pelo Ministério da Integração Nacional. Ressalte-se,
porém, que a oferta de água regularizada diminui à proporção em que aumenta o nível de garantia de sua utilização. A
utilização de um maior nível de garantia é considerado necessário (ou economicamente mais adequado) quando se trabalha
com a utilização prioritária dos recursos hídricos para atividades como a da irrigação. (MI/SIH, 2000-a: 265, tomo I.)
51
TABELA 3.2.2.1
POTENCIALIDADE, DISPONIBILIDADE E CAPACIDADE DOS AÇUDES E BARRAGENS DO NORDESTE, POR UNIDADE DE PLANEJAMENTO, EM 1991
1
POTENCIALIDADE DISPONIBILIDADE 2 CAPACIDADE DE
UNIDADES DE PLANEJAMENTO (UP) ÁREA DAS UPs DAS UPs (hm³/ano) DAS UPs (hm³/ano) AÇUDAGEM 3
(km²) DAS UPs (hm³)
1-Tocantins Maranhense 32.900 5.950,000 575,000 0,790
2-Gurupi * 50.600 17.800,000 2.594,000 0,260
3-Mearim-Grajaú-Pindaré 97.000 17.570,000 4.021,500 10,260
4-Itapecuru 54.000 9.300,000 1.753,000 2,440
5-Munim-Barreirinhas 27.700 8.810,000 1.930,000 1,570
6-Parnaíba 330.000 40.120,000 9.064,040 6.779,068
7-Acaraú-Coreaú 30.500 5.270,000 700,090 1.825,682
8-Curu 11.500 2.360,000 565,727 1.196,531
9-Fortaleza 14.700 2.270,000 666,199 850,245
10-Jaguaribe 72.000 4.150,000 2.078,360 7.054,173
11-Apodi-Mossoró 15.900 820,000 217,399 657,597
12-Piranhas-Açu 44.100 2.720,000 1.555,525 6.102,101
13-Leste Potiguar 24.440 1.680,000 219,864 458,256
14-Oriental da Paraíba 23.760 2.190,000 363,899 1.047,595
15-Oriental de Pernambuco 25.300 4.330,000 325,931 603,725
16-Bacias Alagoanas 17.100 3.080,000 247,517 31,669
17-São Francisco * 48.700 41.100,000 64.837,880 55.209,933
18-Vaza-Barris 22.330 1.200,000 110,808 302,430
19-Itapicuru-Real 46.100 2.080,000 211,942 653,766
20-Paraguaçu-Salvador 81.560 8.420,000 1.756,000 1.691,652
21-Contas-Jequié 62.240 5.560,000 735,500 617,395
22-Pardo-Cachoeira 42.000 7.160,000 817,000 28,490
23-Jequitinhonha * 23.200 6.110,000 548,500 1,590
24-Extremo Sul da Bahia * 27.300 6.980,000 1.415,000 0,080
NORDESTE (da Sudene) 1.663.230 207.030,000 97.301,681 85.127,298
UPs Localizadas no Rio Grande do Norte, Total ou Parcialmente 68.540 5.220,000 1.992,788 7.217,954
Relação UPs do Rio Grande do Norte/UPs do Nordeste (%) 4,12 2,52 2,05 11,79
Relação UP Piranhas-Açu/Estado do Rio Grande do Norte (%) 64,34 52,11 78,06 84,54
FONTE: VIEIRA, Vicente P. P. B. - Recursos hídricos e o desenvolvimento sustentável do semi-árido nordestino; relatório consolidado. [Brasília], nov., 1994, p. 16 (tabela 1.3.2). (Estudo realizado
no âmbito do Grupo de Recursos Hídricos do Projeto Áridas.)
52
A oferta d’água disponível é, assim, derivada da forma com que são mobilizadas as
potencialidades e as disponibilidades de recursos hídricos, no quadro dos níveis de garantia e de
rendimento afetos à capacidade de acumulação dos açudes. Corresponde, pois, a parte da água
produzida (ou armazenada) em açudes, poços e outros meios (como as cisternas, em bem menores
proporções). Equivale, assim, ao volume regularizado da água efetivamente tornada disponível para
consumo pelos diferentes usuários. Em síntese, a oferta de água é expressa pela capacidade de
açudagem de açudes e barragens construídos (soma das capacidades de acumulação regularizada
daqueles reservatórios) e pela vazão dos poços instalados. Como essa segunda parcela é reduzida em
relação à primeira, considerar-se-á como oferta de água apenas a capacidade de açudagem,
regularizada, dos açudes e barragens existentes.
Verificados esses aspectos gerais da oferta de recursos hídricos, convém examinar agora os da
demanda. A demanda total por recursos hídricos no Nordeste, considerada como uma demanda
potencial, máxima, teórica, para todos os usos, correspondia, em 1991, a 21,8 bilhões de metros cúbicos
por ano, como se vê na tabela 3.2.2.2. (Gondim Filho, 1994:10-78.) Esse agregado abrange as demandas
populacionais urbana e rural, animal, de irrigação, agroindustrial, de distritos agroindustriais e ecológica. 21
De 1979/80 para 1991, a demanda cresceu 144,9%, ao passar de 8,9 bilhões de metros cúbicos, em
1979/80, para 21,8 bilhões, em 1991. (Carvalho, 1994: 154-155.)
19
As informações disponíveis sobre a oferta e a demanda de recursos hídricos, aqui utilizadas, sofreram pouca modificação
em relação ao Nordeste e ao Rio Grande do Norte. Para o Seridó, as mudanças passaram a se referir à melhora realizável na
distribuição de água, com a construção em curso das adutoras de Serra de Santana e Piranhas-Caicó.
20
Incluindo as Barragens do sistema Chesf: Boa Esperança-PI, Itaparica-PE, Sobradinho-BA, Xingó-AL e Moxotó-BA.
21
A demanda ecológica, de acordo com os estudos do Projeto Áridas foi considerada com correspondendo a 10% do
escoamento superficial disponível.
53
de metros cúbicos de água) da capacidade total de armazenagem do Nordeste, calculada em 85,1 bilhões
de metros cúbicos de água. (Vide tabela 3.2.2.3.) 22
22
Dentre os dez açudes e barragens com essa capacidade, destacam-se os seguintes: Sobradinho (que pode acumular cerca
de 35 bilhões de metros cúbicos), Itaparica (com cerca de 15 bilhões de metros cúbicos), Xingó (com cerca de 5 bilhões),
Armando Ribeiro Gonçalves (com 2,2 bilhões) e Orós (com 2,1 bilhões).
54
TABELA 3.2.2.2
DEMANDAS HÍDRICAS DOS ESTADOS DO NORDESTE, EM 1991
POPULAÇÃO (hab) DEMANDA HÍDRICA (hm³/ano)
DE DISTRI-
ESTADO URBANA RURAL URBANA RURAL ANIMAL IRRIGAÇÃO AGROIN- TOS TOTAL
DUSTRIAL INDUS-
TRIAIS
1-Maranhão 1.972.008 2.957.021 183,384 75,554 107,778 403,148 13,142 45,799 828,805
2-Piauí 1.367.184 1.214.953 159,272 31,038 101,641 273,849 5,620 39,817 611,237
3-Ceará 4.162.007 2.204.640 517,944 56,331 109,075 1.003,169 91,909 130,006 1.906,434
4-Rio Grande do Norte 1.669.267 746.300 189,651 19,070 32,528 267,420 45,632 47,639 601,940
5-Paraíba 2.052.066 1.149.048 196,964 29,352 46,318 288,824 55,649 49,242 666,349
6-Pernambuco 5.049.968 2.076.201 593,768 53,050 79,948 1.425,883 547,714 148,441 2.848,804
7-Alagoas 1.482.033 1.032.067 175,222 26,366 20,718 249,459 410,030 43,805 925,600
8-Sergipe 1.002.877 488.999 97,599 12,489 23,170 153,959 36,281 24,400 347,898
9-Bahia 7.016.770 4.851.221 798,814 123,951 366,486 1.643,813 59,608 200,120 3.192,792
10-Minas Gerais 1 736.830 603.018 71,043 15,411 42,648 485,730 7,295 17,761 639,888
2
NORDESTE (DA Sudene) 26.511.010 17.323.468 2.983,661 442,612 930,310 6.195,254 1.272,880 747,030 12.571,747
Relação R. G. do Norte/Nordeste (%) 6,30 4,31 6,36 4,31 3,50 4,32 3,58 6,38 4,79
FONTES: i) VIEIRA, Vicente P. P. B., 1994: Recursos hídricos e o desenvolvimento sustentável do semi-árido nordestino. Brasília, Áridas, p. 25. (Estudo realizado no âmbito do Grupo de
Recursos Hídricos do Projeto Áridas.) ii) GONDIM FILHO, Joaquim Guedes Corrêa: Sustentabilidade do desenvolvimento do semi-árido sob o ponto de vista dos recursos hídricos. Brasília,
Áridas, p. 10 (tabela 2.2) e p. 78 (tabela 3.37). (Estudo realizado no âmbito do Grupo de Recursos Hídricos do Projeto Áridas.)
1
Corresponde à Área Mineira do Polígono das Secas.
2
A esse total deve ser acrescentado o valor da demanda ecológica, equivalente, em 1991, a 9.292,938hm³/ano, para as 24 UPs. A demanda total efetiva passa a ser assim de 21.864,685hm³/ano, para
o Nordeste da Sudene. Nas fontes consultados não consta o volume da demanda ecológica por Estado.
55
TABELA 3.2.2.3
CAPACIDADE DOS AÇUDES E BARRAGENS DO NORDESTE, POR ESTADO
FONTE: VIEIRA, Vicente P. P. B., 1994: Recursos hídricos e o desenvolvimento sustentável do semi-árido
nordestino. Op. cit., p. 16 (tabela 1.3.3).
1
Não inclui as Barragens de Boa Esperança-PI, Itaparica-PE, Sobradinho-BA, Xingó-AL e Moxotó-BA.
2
A Bacia do Piranhas-Açu conta com 64 açudes públicos (35 dos quais contam com capacidade de
acumulação teórica superior a um milhão de metros cúbicos de água, correspondente, no total, a 2.918,580 hm³),
1.010 açudes particulares, com capacidade de acumulação teórica estimada em 178,358 hm³ e 33 açudes
comunitários, com um volume acumulável de 5,465 hm³. No total, essa bacia apresenta uma capacidade de
acumulação de 3.102,402 hm³ de água nos açudes referidos. (Serhid, 1995: 7.)
56
TABELA 3.2.2.4
RESUMO DAS PRINCIPAIS INFORMAÇÕES DAS BACIAS HIDROGRÁFICAS DO ESTADO DO RIO GRANDE DO
NORTE
FONTE: Estado do Rio Grande do Norte. Secretaria de Recursos Hídricos e Projetos Especiais. Coordenadoria de Gestão de
Recursos Hídricos–Serhid (1995)- Caracterização das bacias hidrográficas do Rio Grande do Norte. Natal-RN, Serhid,
1995, p. 39. Xerox.
O quadro descrito no item 3.2.2.1 anterior é mais agudo quando referido ao Estado do Rio Grande
do Norte. No Seridó, embora as informações quantitativas disponíveis não tenham a mesma amplitude, as
condições são sem qualquer margem a dúvidas muito mais graves.
A carência de recursos hídricos no Rio Grande do Norte, também expressa pela diferença entre
a disponibilidade de água e a capacidade de açudagem – ou de armazenamento de água – de todos os
açudes construídos no Estado, é considerável. Em 1991, havia uma disponibilidade de 1.992,788 hm³ para
uma capacidade de açudagem de 7.217,954 hm³. 23 A diferença daí resultante é de menos 5.225,166 hm³.
Essa carência pode ser atendida, parcialmente, com recursos hídricos locais – mediante a mobilização de
sua potencialidade – e com recursos hídricos de outras bacias, dotadas de excedentes mobilizáveis, via
transposição.
23
Incluindo as Unidades de Planejamento do Leste Potiguar, Apodi-Mossoró e do Piranhas-Açu (compartilhada com a
Paraíba), conforme dados da tabela 3.2.2.1.
57
pode ser atendida, parcialmente, por meio da mobilização de recursos hídricos locais (criados pela
mobilização de sua potencialidade) e, complementarmente, de recursos hídricos de outras bacias, também
via transposição.
A oferta de recursos hídricos do Estado do Rio Grande do Norte e do Seridó é representada pela
mesma capacidade de açudagem dos açudes e barragens ali construídos. Da oferta total de recursos
hídricos do Nordeste, apenas 4,11% se encontravam, em 1991, em bacias hidrográficas (total ou
parcialmente) localizadas no Rio Grande do Norte. A capacidade de açudagem do Estado era de 3,495
bilhões de metros cúbicos de água, também em 1991 (tabela 3.2.2.3 anterior). 24 Estudos mais recentes,
realizados pela Secretaria de Recursos Hídricos–Serhid, do Rio Grande do Norte, mostram que aquele
volume foi elevado para 3,592 bilhões de metros cúbicos, por volta de 1995. (Serhid, 1999: 8.)
A capacidade de açudagem do Seridó, especificamente, não foi calculada pelo Projeto Áridas.
Os estudos efetuados pela Serhid indicam que essa capacidade era de 439.962.000 de metros cúbicos, em
1995, quando da elaboração do Plano Estadual de Recursos Hídricos. (Serhid, 1999: 8.) Como consta da
tabela 3.2.2.5, adiante, é de 26 o número de açudes 25 responsáveis por, pelo menos, 80% da capacidade de
açudagem do Seridó. Destaque-se, ademais, que cinco açudes (19,2% do total daqueles 26), com
capacidade individual de armazenagem superior a 40 milhões de metros cúbicos, listados na tabela
referida, respondem por 73% da capacidade de açudagem dos açudes do Seridó, com mais de hum milhão
de metros cúbicos de água.
A demanda total por recursos hídricos no Rio Grande do Norte, também considerada como
demanda potencial, máxima, teórica, para todos os usos, em 1991, era de 601.940.000 milhões de metros
cúbicos por ano. (Vide tabela 3.2.2.2 anterior.) Esse volume correspondia a 4,79% da demanda total do
Nordeste.
No que em particular se refere ao Seridó, a demanda está sendo atendida de forma extremamente
precária, tanto em relação à demanda rural difusa (consumo doméstico e dos animais, ao nível das
fazendas) como à demanda urbana municipal (consumo doméstico e serviços urbanos das principais
cidades da região). Os açudes privados e comunitários se encontravam, em sua grande maioria, em agosto
de 1999, ou totalmente vazios ou com escassa margem de água armazenada. Até mesmo os maiores
açudes públicos apresentavam, naquela data, volume de água disponível inferior a 30% da capacidade
máxima de armazenamento, como mostram os percentuais a seguir especificados, referentes à relação
entre as águas armazenadas e a capacidade nominal total de armazenamento dos maiores açudes do
Seridó:
24
Esse volume está incluído na capacidade de açudagem da Bacia Hidrográfica do Piranhas-Açu, que era de 6,1 bilhões de
metros cúbicos – compreendendo os volumes armazenáveis no Rio Grande do Norte e na Paraíba.
25
De um total de 33, existentes na parte norte-rio-grandense da Bacia do Piranhas-Açu. (Cf. Consórcio Tecnosolo & CEP,
1999: 15, v. 1.)
58
• Açude Marechal Dutra: 29,2%;
• Açude Itans: 15,5%;
• Açude Dourado: 12,0%.
• Açude Cruzeta: 11,3%;
• Açude Sabugi: 9,6%;
• Açude Passagem das Traíras: 7,2%;
• Açude Boqueirão de Parelhas: 3,7%;
• Açude Zangarelhas: 2,5%;
• Açude Caldeirão: 1,4%.
26
Cf. informações obtidas com o Dr. Rômulo Macedo Vieira, Secretário de Infra-Estrutura Hídrica do Ministério da
Integração Nacional, em entrevista realizada pelo consultor Otamar de Carvalho, no dia 18.04.2000, em Brasília-DF. Como
resultado desta entrevista, foi possível acessar informações relacionadas a alguns relatórios do Projeto de Transposição de
Águas do Rio São Francisco para o Nordeste Setentrional, em particular os que tratam da demanda de água no Seridó do
Rio Grande do Norte. (MI/SIH, INPE/Funcate & VBA Consultores, 2000.)
27
Os estudos do Projeto de Transposição de Águas do Rio São Francisco para o Nordeste Setentrional consideram um
nível de garantia de 99% de disponibilidade hídrica. Está destacado nos estudos que, para esse nível de garantia, os açudes
com capacidade de armazenamento inferior a 10 milhões de metros cúbicos – que constituem a grande maioria dos
reservatórios existentes – não dispõe de capacidade de regularização. Esses reservatórios deixam por isso de ser confiáveis,
como suporte único, em matéria de suprimento hídrico, a demandas humanas. (MI/SIH, 2000-b: 243, tomo II.)
59
municípios abastecidos por açudes com capacidade nominal de armazenamento inferior a 10 milhões de
metros cúbicos. (MI/SIH, 2000-b: 243-244 – quadro 2.40, tomo II.)
O balanço entre oferta e demanda, tornado disponível com as informações produzidas pelo
Ministério da Integração Nacional, a partir dos estudos realizados para o Projeto de Transposição de Águas
do São Francisco, reforça a necessidade de aumentar a oferta de água e melhorar sua distribuição, gestão e
conservação no Seridó.
TABELA 3.2.2.5
CAPACIDADE DE ARMAZENAGEM DE ÁGUA DE SUPERFÍCIE DA REGIÃO DO SERIDO, POR AÇUDES
COM CAPACIDADE ARMAZENÁVEL SUPERIOR A HUM MILHÃO DE METROS CÚBICOS
FONTE: Estado do Rio Grande do Norte. Secretaria de Recursos Hídricos e Projetos Especiais (1999)- Informações
técnicas solicitadas pelo Idema, em 14.09.99. Natal-RN, s. e., 1999. Xerox.
A escassez de recursos hídricos no Rio Grande do Norte como um todo e no Seridó em particular
pode ser solucionada mediante a importação de água de bacias hidrográficas com balanço positivo entre
28
As informações aqui apresentadas estão baseadas em Carvalho, 1994-c.
60
oferta e demanda. Presentemente, a solução mais pronta e eficaz é a representada pela implementação do
Projeto de Transposição de Águas do São Francisco, na linha dos estudos e projetos realizados em
1994/95.
Esse Projeto foi formulado pelo antigo Ministério da Integração Regional–MIR, tomando por
base idéias há tempo disponíveis sobre o assunto. Do ponto de vista mais técnico, o MIR apoiou-se em
estudos realizados pelo extinto Departamento Nacional de Obras de Saneamento–DNOS, assim como
em estudos conduzidos, direta ou indiretamente, por aquele Ministério. Em sua concepção mais geral, o
Projeto tinha como objetivo a execução de obras e o desenvolvimento de atividades orientadas para dar
solução ao problema da insuficiência de água no semi-árido nordestino, atendendo as demandas da
população, do campo e das cidades; expandir as áreas irrigadas, como forma de aumentar a produção
de alimentos e matérias-primas; e neutralizar os efeitos das secas.
Antes das iniciativas do MIR, o antigo Departamento Nacional de Águas e Energia Elétrica–
Dnaee, do Ministério das Minas e Energia-MME, preparou e publicou estudo sobre as alternativas de
transposição das águas dos rios Tocantins e São Francisco para o Nordeste Semi-Árido, eentrado nos
estudos do DNOS. A área estudada, em conjunto, pelo Dnaee compreende região que transcende os
limites do semi-árido, pois também abrange o Estado do Maranhão. No estudo do Dnaee, foram
examinadas seis alternativas de transposição para o semi-árido, envolvendo rios como o Tocantins,
Sono, Balsas, Parnaíba, Itaueiras, Piauí, Canindé, Gurguéia, Salgado, Jaguaribe, Piranhas-Açu, Garças e
Brígida. (MME. Dnaee, 1983: 5.)
Estudos posteriores do DNOS, foram enfeixados no Plano de Ação para Irrigação do Nordeste
Semi-Árido, Complementada com Águas do Rio São Francisco, caracterizado como estudo de
viabilidade, a nível técnico, econômico, financeiro e social. Esses trabalhos foram elaborados, em 1985,
por um consórcio de empresas representadas pela Hidroservice-PRC. O United States Bureau of
Reclamation-USBR, órgão vinculado ao Departamento do Interior dos Estados Unidos da América,
também participou daqueles estudos. O Bureau of Reclamation chegou a preparar uma análise dos
aspectos de engenharia do empreendimento, enfatizando sua concepção geral, e fez uma avaliação das
alternativas dos traçados do sistema adutor principal e da classificação das terras para irrigação na área do
Projeto.
O Projeto do MIR correspondia a uma proposta reduzida, frente à originalmente detalhada pelo
DNOS. O sistema adutor principal do Projeto compreendia quatro trechos básicos, seguindo traçado
assemelhado ao do Projeto original, imaginado em 1847, no qual se baseara o DNOS:
61
Assunção, localizada no Município de Cabrobó, em Pernambuco, dos quais 15 m³/s seriam utilizados na
própria bacia do São Francisco, para atender o Estado de Pernambuco. Os outros 55 m³/s teriam a seguinte
distribuição: 25 m³/s para o Ceará (bacia do Jaguaribe), 15 m³/s para a Paraíba (bacia do Piranhas) e 15
m³/s para o Rio Grande do Norte (5 m³/s para o Piranhas-Açu e 10 m³/s para o Apodi). 29
TABELA 3.2.2.6
DISTRIBUIÇÃO DAS VAZÕES POR ESTADO (m³/s), NOS EIXOS NORTE E LESTE
ESTADO EIXO NORTE EIXO LESTE TOTAL
Paraíba 10 10 20
Ceará 40 - 40
Rio Grande do Norte 39 - 39
Total Transferido 89 10 99
Pernambuco (*) 10 18 28
TOTAL 99 28 127
FONTE: Ministério da Integração Nacional-MI. Secretaria de Infra-Estrutura Hídrica-SIH (2000)- Projeto São Francisco.
Brasília, jan., 2000. Xerox.
(*) Distribuição de 8 m³/s para o Agreste e de 10 m³/s para a Bacia do Moxotó.
29
Face á considerável redução da vazão total do Projeto, o trecho Rio Apodi–Chapada do Apodi foi eliminado do Sistema
de Transposição, na alternativa de construção em curso.
30
Essas informações foram fornecidas pelo eng. João Cézar Pierobom, integrante da equipe de coordenação dos estudos do
Projeto de Transposição, no âmbito da Secretaria de Infra-Estrutura Hídrica, do Ministério da Integração Nacional.
62
respeito será semelhante ao desempenhado pela construção do Canal do Trabalhador, no Ceará, com
cujas águas a população da cidade de Fortaleza conseguiu sobreviver nos anos de seca de 1990 a 1993
e no curso das secas de 1998 e 1999. Naturalmente, a construção desse magno empreendimento requer
a adoção de medidas que viabilizem a generalização de seus benefícios às comunidades desprovidas de
mecanismos de acesso ao poder. Dentre as mais importantes, podem ser destacadas as referidas a
seguir, que se acham, em parte, pelo menos, consideradas no quadro das iniciativas conduzidas pelo
Ministério da Integração Nacional, sobre a matéria:
31
Que, inclusive, está sendo revista, dispondo de substitutivo de Projeto de Lei, em tramitação no Senado Federal.
32
Lei nº 9.433, de 8 de janeiro de 1997, que “Institui a Política Nacional de Recursos Hídricos e cria o Sistema Nacional de
Gerenciamento de Recursos Hídricos.
63
O Projeto de Transposição passou a ser considerado prioritário, em 1999, pelo Ministério da
Integração Nacional. Com o Projeto, aquele Ministério pretende fazer avançar a integração econômica
do Nordeste, beneficiando amplos segmentos da população dos Estados do Ceará, Rio Grande do
Norte, Paraíba e Pernambuco, sem causar prejuízos aos outros Estados que integram a Bacia do São
Francisco. A execução desse projeto constitui uma das principais metas daquela Pasta. (O Povo, 1999-
b.)
A decisão de implementar esse Projeto continua objeto de intensa discussão, como mostram as
matérias publicadas nos jornais do eixo Rio de Janeiro–São Paulo. Destaque-se, a propósito, a ampla
matéria divulgada pelo Jornal do Brasil, na edição de 19 de janeiro de 2000. Além de uma alentada
descrição das características do Projeto, a matéria traz um longo rol de opiniões de cidadãos brasileiros
e estrangeiros, aprovando, criticando ou manifestando discordância quanto à oportunidade de
implementação dessa importante iniciativa.
Os estudos realizados pelo governo do Rio Grande do Norte, no contexto do Plano Estadual de
Recursos Hídricos, mostram que os principais açudes do Seridó estão submetidos a forte processo de
assoreamento, como resultado da erosão dos solos das bacias hidrográficas dos reservatórios. A partir
dessas informações é possível chegar ao volume de sedimentos retidos no interior de cada açude.
Combinando os dados de sedimentos retidos com o volume total de água dos açudes, obtém-se o que se
denomina, aqui, de Perda de Capacidade de Armazenamento de Água–PCAA, dada pela relação
entre “volume de sedimentos retidos” e “volume total de água dos açudes”. Para tanto, foram
considerados, em relação ao primeiro caso, as características climáticas, geológicas, geomorfológicas,
de relevo e de cobertura vegetal, da bacia hidrográfica de cada açude, e, para o segundo, o volume de
água também armazenável em cada açude.
64
3.2.3 Recursos de Solo
Depois dos recursos hídricos, os solos do semi-árido nordestino constituem o segundo conjunto
de recursos mais escassos, quer se destinem à agricultura de sequeiro, quer à irrigada. Nos espaços
afetados pelas secas, os solos são em geral ondulados, rasos, muitas vezes pedregosos, erodidos e de
fertilidade mediana. Excetuam-se as áreas de baixadas ao longo das margens dos rios e riachos, sempre
secos no verão (estação sem chuvas), e as de chapadas, nem sempre de topografia suave. Comparados
aos de outras áreas semi-áridas do mundo, os solos do Nordeste semi-árido apresentam características
que lhes conferem uma notória especificidade. (Carvalho, 1988: 88.) Neste sentido, eles se
caracterizam por apresentar um estoque global “muito mais rico em massa e em importância
agropastoril do que a média das regiões semi-áridas conhecidas.” (Ab’Saber, [1975]: 12.)
Além dos solos Bruno Não-Cálcicos, também se observa a presença de solos Litólicos nas terras
do Seridó. Os solos Bruno Não-Cálcicos apresentam fertilidade média e alta. Predominam na Zona
Homogênea de Caicó. Enquanto isso, os solos Litólicos, fisicamente inadequados à agricultura,
ocorrem com maior expressão na Zona Homogênea de Currais Novos. Também há ocorrência de solos
aluviais, de regossolos eutróficos, de latossolos vermelho amarelos distróficos (com nutrição irregular),
de solos podzólicos vermelho amarelos eutróficos e planossolos.
Boa parte desses solos – especialmente os mais rasos, pedregosos e de relevo acidentado –
constituiu outrora o domínio quase absoluto do algodoeiro mocó e da pecuária bovina de corte.
Também foram utilizados, secundariamente, pela criação de caprinos. Mas sua utilização alternativa
com outras atividades agrícolas é cada vez mais reduzida. Com a contração da produção algodoeira,
observada nos 80 do século XX, os solos pouco férteis, pedregosos e ondulados do Seridó foram tendo
seu uso restrito ao desenvolvimento extensivo da caatinga, cujas espécies se destinavam à extração de
madeira, para a produção de lenha e carvão, utilizados com diversas finalidades, conforme salientado.
Certo é que as atividades agrícolas e pecuárias realizadas no Seridó são hoje conduzidas em
solos com as características mencionadas, porque são escassas as manchas de terras férteis, quase
sempre encontradas nas faixas aluviais de alguns rios e riachos. Os solos de melhor fertilidade, textura
e relevo, têm sido usados no cultivo de lavouras alimentares, de frutas e de forrageiras. Atualmente, o
uso com forrageiras tem sido crescente, em virtude da prioridade que está sendo concedida à
alimentação do gado destinado à produção leiteira.
65
TABELA 3.2.2.7
PERDA DE CAPACIDADE DE ARMAZENAMENTO DE ÁGUA DOS NOVE PRINCIPAIS AÇUDES DO SERIDÓ DO RIO GRANDE DO NORTE
1
Volume Total de Armazenamento de Água.
2
Perda de Capacidade de Armazenamento de Água.
66
Convém salientar, ademais, que a disponibilidade de terras agricultáveis em grandes áreas
contínuas, no Seridó, “é reduzida, pois a pequena produtividade dos solos, a pedregosidade na
superfície ou a ocorrência de pequenas áreas de aluviões ao longo dos rios, restringem a ocupação
agrícola a poucas manchas de terras na paisagem, o que pode ser comprovado no campo, pela atual
forma de ocupação das terras, onde agricultores utilizam apenas as manchas de solos ligeiramente mais
profundos, nas meias encostas ou as situadas nas proximidades dos cursos d’água.” (Consórcio
Tecnosolo & CEP, 1999: 22, v. 1)
A aptidão agrícola das terras do Seridó é bem variada, sendo diminuta sua utilização com
lavouras de maior produtividade. O quadro 3.2.3.1 oferece uma visão clara sobre as possibilidades de
aproveitamento agropecuário das terras do Seridó, assim especificadas:
• duas classes de todas as terras da região (abrangendo 3,56% das terras do Seridó – i) a
de terras planas, com moderadas a fortes limitações de fertilidade e deficiência hídrica, e ii) as de terras
com relevo ondulado, mas com susceptibilidade à erosão e deficiência hídrica) – têm aptidão para o
cultivo com a fruticultura irrigada e a olericultura;
• uma classe de aptidão – a de terras com relevo suave a ondulado, com moderadas
limitações de drenagem, fertilidade, deficiência hídrica e susceptibilidade à erosão – pode ser cultivada
com produtos olerícolas, culturas anuais e pastagens, em áreas correspondentes a 2,93% de todas as
terras do Seridó;
• uma classe de aptidão, cobrindo 14,79% das terras do Seridó, referida às terras que se
prestam apenas à preservação ambiental.
33
Como o abacaxi, a abóbora, o mamão, a melancia e a uva, por serem dotadas de sistema radicular superficial.
67
EXIGÊNCIAS DE CULTIVO NOS SOLOS DO SERIDÓ
68
QUADRO 3.2.3.1
SÍNTESE DA APTIDÃO AGRÍCOLA DAS TERRAS DO SERIDÓ
CLASSES DE APTIDÃO DAS TERRAS PRINCIPAIS LIMITAÇÕES GRAU DAS INDICAÇÕES DE ÁREA (% DO TOTAL)
LIMITAÇÕES USO (hectare)
Fi = Planas, com moderadas a fortes limitações Fertilidade Deficiência hídrica Forte Fruticultura irrigada 45.626 3,52
Forte
OFi = Relevo ondulado, com fortes limitações Susceptibilidade à erosão Forte Olericultura e 520 0,04
Deficiência hídrica Forte fruticultura irrigada
OiP = Relevo suave e ondulado, com moderadas Drenagem Moderada Olericultura 37.978 2,93
limitações Fertilidade Forte Culturas anuais
Deficiência hídrica Forte Pastagens
Susceptibilidade à erosão Moderada a forte
EiP = Relevo suave ondulado a ondulado, com Impedimentos à mecanização Forte Culturas especiais 496.833 38,33
fortes limitações Susceptibilidade à erosão Moderada a forte e
Deficiência hídrica Forte Pastagens
PP = Relevo suave ondulado e plano, com muito Impedimentos à mecanização Muito forte 523.535 40,39
fortes limitações Susceptibilidade à erosão Forte
Deficiência hídrica Forte Pastagens
e preservação ambiental
RP = Relevo forte ondulado e montanhoso, com Impedimentos à mecanização Muito forte 191.708 14,79
muito fortes limitações Susceptibilidade à erosão Muito forte Preservação
Deficiência hídrica Forte ambiental
TOTAL 1.296.200 100,00
FONTE: Consórcio Tecnosolo & CEP (1999)- Plano de desenvolvimento do Seridó; relatório diagnóstico e prognóstico. Natal-RN, Federação das Indústria do Estado
do Rio Grande do Norte–Fiern, Governo do Estado do Rio Grande do Norte & Prefeituras Municipais da Região do Seridó, 1999.
69
Trata-se da área do Seridó onde é possível ampliar a fruticultura, a partir, principalmente, da
cajucultura.
Os dois citados conjuntos de limitações físicas expõem ainda mais a fragilidade do meio
ambiente da região, máxime quando se lhes ajunta o caráter extensivo e, em muitos sentidos,
degradador dos processos de exploração das atividades agropecuárias, que têm sido postos em prática
com muito pouca cautela, no tocante às exigências da gestão ambiental.
O Estado do Rio Grande do Norte apresenta uma realidade florestal caracterizada por elevada
dependência em matéria de lenha e carvão vegetal, utilizados como energéticos, tanto pelo setor
domiciliar quanto pelos setores industrial e comercial. A Região do Seridó tem esta realidade agravada
pelas condições edafoclimáticas locais (baixa intensidade de chuvas, concentradas em poucos meses do
ano, e solos rasos) e pelo baixo nível tecnológico de suas indústrias.
O último levantamento da cobertura florestal da Região do Seridó foi efetuado em 1988, a partir
de fotografias aéreas de 1985 (na escala 1:40.000). Seus resultados integram o Plano de Manejo
Florestal da Região do Seridó, elaborado pelo Projeto Pnud/FAO/BRA/87/007. Não se conta com
mapeamentos mais recentes.
Aquele levantamento identificou três estratos bem característicos da vegetação nativa lenhosa
da Região do Seridó, assim especificados:
70
A vegetação natural ocupou 83,40% da área mapeada, sendo 14,94% pela vegetação rala,
52,30% pela semidensa e 16,15% pela densa. Daí, concluir-se que a vegetação característica do
Seridó é a do tipo 3, que ocupou uma maior porcentagem de área na região.
803.436 133.373 107.609 12.455 336.147 84.095 75.806 53.951 652.935 150.501
FONTE: PROJETO Pnud/FAO/Ibama/BRA/87/007 (1992)- Plano de manejo florestal para a Região do Seridó do Rio Grande do
Norte. Natal-RN, Ibama, 1992. Volume 1. (Levantamentos Básicos.)
A tabela 3.2.4.2 apresenta os valores do estoque florestal e as respectivas médias, expressas por
sete variáveis, para cada tipo florestal (ou estrato de vegetação nativa lenhosa).
TABELA 3.2.4.2
ESTOQUE MÉDIO UNITÁRIO POR TIPO FLORESTAL
TIPOS DE NÚMERO ÁREA ÁREA
ESTRATOS DA DE BASAL NA BASAL À ABB x VOLUME
VEGETA-ÇÃO ÁRVORE BASE - ABB ALTURA DO ALTURA ABP.H P. VERDE P.SECO VOLUME EMPILHADO
NATIVA POR (m²/ha) PEITO - ABP MÉDIA - H (m³/ha) (t/ha) (t/ha) REAL (st/ha) (*)
LENHOSA (ha) HECTARE (m²/ha) (m³/ha) (m³/ha)
(n/ha)
TIPO 2 620 3,50 2,21 6,35 4,86 8,93 5,91 8,06 26,90
TIPO 3 1.003 5,48 3,39 8,23 6,56 13,11 9,17 12,01 39,80
TIPO 4 1.781 9,17 5,99 25,45 21,41 29,33 20,58 26,93 89,60
FONTE: PROJETO Pnud/FAO/Ibama/BRA/87/007 (1992)- Plano de manejo florestal para a Região do Seridó do Rio Grande do Norte. Natal-RN,
Ibama, 1992, Volume 1. (Levantamentos Básicos.)
(*) st/ha = Estéreo por hectare. (O estéreo, medida de volume para lenha, estéreo corresponde a uma pilha de lenha com dimensões
aproximadas de 1 x 1 x 1 m, equivalente a 0,355 m³ sólidos.)
71
b. Estoque Global Explorável
TABELA 3.2.4.3
ESTOQUE GLOBAL EXPLORÁVEL
TOTAL DA ÁREA VOLUME VOLUME ESTOQUE EXPLORÁVEL
TIPO EXPLORÁVEL REAL EMPILHADO
ha % m³/ha st/ha m³ x 106 st x106 %
2 107.609 20,71 8,06 26,90 0,87 2,89 12,53
3 336.147 64,70 12,01 39,80 4,04 13,38 58,02
4 75.806 14,54 26,93 89,60 2,04 6,79 29,45
TOTAL 519.562 100,00 6,95 23,06 100,00
FONTE: PROJETO Pnud/FAO/Ibama/BRA/87/007 (1992)- Plano de manejo florestal para a Região do Seridó do Rio Grande do
Norte. Natal-RN, Ibama, 1992. Volume 1. (Levantamentos Básicos.)
(*) st/ha = Estéreo por hectare.
O resultado do estoque florestal nas áreas de preservação permanente pode ser verificado na
tabela 3.2.4.4.
TABELA 3.2.4.4
ESTOQUE DAS ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE
ÁREAS DE VOLUME VOLUME
PRESERVAÇÃO REAL EMPILHADO ESTOQUE
TIPO PERMANENTE
ha % m³/ha st/ha m³ x 106 st x 106 %
2 12.455 8,28 8,06 26,90 0,10 0,33 3,88
3 84.095 55,88 12,01 39,80 1,01 3,35 39,36
4 53.951 35,84 26,93 89,60 1,45 4,83 56,76
TOTAL 150.501 100,00 2,56 8,51 100,00
FONTE: PROJETO Pnud/FAO/Ibama/BRA/87/007 (1992)- Plano de manejo florestal para a Região do Seridó do Rio Grande do
Norte. Natal-RN, Ibama, 1992. Volume 1. (Levantamentos Básicos.)
O estoque total de biomassa florestal nos 670.063 ha de mata nativa do Seridó soma 31,57
milhões de estéreos, dos quais 23,06 milhões de estéreos, ou seja 73,08%, representam o estoque
explorável, enquanto que as áreas de preservação permanente totalizam 8,51 milhões de estéreos, o que
corresponde a 26,96% do volume total de biomassa.
A relação entre o estoque explorável, para cada tipo de estrato de vegetação nativa lenhosa, e o
total do tipo de estrato florestal apresenta os seguintes resultados:
• Tipo 2: 89,75%;
• Tipo 3: 79,98%; e
• Tipo 4: 58,43%.
A baixa proporção explorável observada no tipo 4 é explicada pelo fato de boa parte da
vegetação localizar-se nas encostas dos morros, as quais, segundo o Código Florestal, são consideradas
áreas de preservação permanente.
72
c. Caracterização dos Tipos Florestais
Os três tipos florestais são caracterizados pela estratificação da vegetação nativa (tipo 2 –
vegetação rala; tipo 3 – vegetação semidensa; e tipo 4 – vegetação densa), mas não apresentam
diferenças qualitativas importantes entre si, por constituírem, em conjunto, uma formação vegetal. As
diferenças existentes são, principalmente, de caráter quantitativo, mostrando-se bem visíveis entre os
tipos 2 e 4, sendo o tipo 3 uma transição entre aqueles. As causas dessas diferenças são baseadas ora
em fatores ecológicos, como a qualidade do sítio, ora em fatores antrópicos, como a exploração
florestal e/ou a atividade agropecuária. Os três tipos são caracterizados a seguir.
• Tipo 2 – Vegetação Natural Rala. Esse estrato apresenta duas espécies predominantes
– o pereiro (Aspidosperma pirifolium) e a jurema preta (Mimosa hostilis) –, tanto em número de
árvores (71%) como em área basal (82%). A catingueira (Caesalpinia pyramidalis) e a jurema branca
(Pithecolobium dumosum), o marmeleiro (Croton hemiargyreus) e o mofumbo (Cobretum leprosum)
apresentam-se como espécies acompanhantes. Normalmente, essas áreas sofreram uma ação antrópica
intensa, levando a um alto grau de degradação. Em termos de volume de biomassa florestal, esse é o
estrato menos importante. Apresenta um estoque de 0,97 milhões de m³ ou 3,22 milhões de estéreos.
Ocupa 120.064 ha, sendo 107.609 ha cobertos com vegetação passível de exploração e 12.455 ha de
área de preservação permanente.
• Tipo 3 – Vegetação Natural Semidensa. Nesse estrato não existe uma dominância
clara das espécies. No entanto, as mais encontradas são o pereiro (Aspidosperma pirifolium), o
marmeleiro (Croton hemiargyreus), a jurema preta (Mimosa hostilis), a jurema branca (Pithecolobium
dumosum), o mofumbo (Cobretum leprosum) e a catingueira (Caesalpinia pyramidalis). Em volume de
biomassa, destacam-se três espécies: o pereiro, a jurema preta e a catingueira, que, juntas, representam
76% do volume total de biomassa. No que se refere ao volume de biomassa, é o estrato mais
importante, apresentando um estoque de 5,05 milhões de m³, ou seja, 16,73 milhões de estéreos. Ocupa
uma área de 420.242 ha, sendo 336.147 ha passíveis de exploração e 84.095 ha correspondentes às
áreas de preservação permanente.
As características mais visíveis no campo, que permitem diferenciar os tipos florestais entre si,
são a densidade das árvores e arbustos, a altura e a composição florística, especificadas a seguir.
73
• Tipo 2 – até 800 árvores/ha, 8 árvores em 10 x 10 m;
ii. Altura. Não é grande o contraste de altura entre os tipos florestais; porém, em função
desta característica, é possível distinguir principalmente o tipo 4 dos outros dois. Nos tipos 2 e 3 a
altura média das árvores maiores é de aproximadamente 4 m, enquanto que no tipo 4 é de 5,5 m.
iii. Composição Florística. Também não é de alto contraste a diferença quanto às espécies,
uma vez que esta é gradativa.
QUADRO 3.2.4.1
COMPOSIÇÃO QUALITATIVA E QUANTITATIVA DOS TIPOS FLORESTAIS
CARACTERÍSTICAS TIPO 2 TIPO 3 TIPO 4
Jurema preta e Pereiro (dominante) Catingueira e Jurema preta (dominante)
DOMINÂNCIA Pereiro e Jurema preta (dominante
EM BIOMASSA claramente) Catingueira e Jurema preta Marmeleiro (subdominante)
(PESO SECO) (subdominante)
-Catingueira (pouco freqüente) -Catingueira (muito freqüente) -Catingueira (presença quase certa)
-Angico e Imburana (não ocorrem) -Angico e Imburana (às vezes -Angico e Imburana (às vezes presentes)
FREQÜÊNCIA -Marmeleiro e Jurema branca (às presentes) -Marmeleiro e Jurema branca (muito
vezes presentes) -Marmeleiro e Jurema branca (situação comuns)
-Mofumbo (situação intermediária) intermediária) -Mofumbo (pouco freqüente)
-Mofumbo (muito comum)
Assim a observação combinada dos diferentes caracteres específicos permitirá reconhecer o tipo
florestal em uma determinada área.
A ordenação racional dos recursos florestais de uma determinada região tem, principalmente,
como base o conhecimento da oferta e da demanda desses recursos. Pelas próprias características da
Região do Seridó e dos recursos citados, a demanda naquela região refere-se, em essência, aos
energéticos florestais – lenha e carvão vegetal.
Para conhecer o volume desses energéticos, consumidos pelos setores domiciliar, industrial e
comercial do Seridó, o Projeto Pnud/FAO/Ibama/BRA/87/007 realizou, em 1987, uma amostragem
do consumo para aqueles setores. O consumo dos energéticos referidos atingiu volume equivalente a
501.500 estéreos/ano, o que representava cerca de 12.000 ha desmatados anualmente. No setor
domiciliar, o consumo atingiu cerca de 350.300 estéreos/ano, sendo que 146.400 estéreos/ano (42%)
correspondiam ao consumo domiciliar urbano e 203.900 estéreos/ano (58%) ao consumo domiciliar
rural.
74
Quanto ao setor industrial, o consumo era de 151.200 estéreos/ano, mas na época da
amostragem o setor encontrava-se com capacidade ociosa bastante alta (34%), devido, principalmente,
ao fato de 1987 haver sido um ano de atividade econômica deprimida no País. O consumo potencial, ou
seja, o consumo de lenha nas indústrias, funcionando a plena capacidade, foi calculado em
aproximadamente 227.600 estéreos/ano (50% a mais do que o registrado em 1987).
a. Cenário Atual
Esse fato pode ser comprovado pela circunstância de o setor de cerâmica dispor, em 1987, de 8
indústrias em atividade, e de contar atualmente com 71 cerâmicas em funcionamento na região, ou seja,
houve um incremento de 887%, expressão bastante significativa para as condições locais. Outros ramos
industriais, também consumidores de energéticos florestais, com certeza, tiveram suas atividades
dinamizadas, em função da conjuntura atual, como as indústrias de sabão, óleos vegetais, torrefação de
café, doces e padarias.
Uma das características do setor ceramista da região é sua baixa eficiência técnica e gerencial.
Dentre as razões para tal situação, podem ser citadas as seguintes:
75
c. Cenário do Consumo de Lenha no Setor Cerâmico
FONTE: PROJETO Pnud/FAO/Ibama/BRA/87/007 (1992)- Plano de manejo florestal para a Região do Seridó do Rio Grande do
Norte. Natal-RN, Ibama, 1992. Volume 1. (Levantamentos Básicos.)
Assim, em tese, pode-se admitir que a área desmatada para o atendimento da demanda anual do
setor de cerâmica da Região do Seridó é de aproximadamente 3.800 ha, bastante diferente, portanto,
daquela que seria resultante do consumo declarado ao Ibama (947 ha/ano).
A tabela 3.2.4.6 mostra os valores de incremento médio anual (IMA) de áreas ocupadas com
algaroba no Seridó, calculados pelo Projeto Pnud/FAO/Ibama/BRA/87/007.
TABELA 3.2.4.6
VALORES DE INCREMENTO MÉDIO ANUAL OBTIDOS SEGUNDO A POSIÇÃO TOPOGRÁFICA
POSIÇÃO
INCREMENTO MÉDIO ANUAL-IMA VÁRZEA BAIXIO TABULEIRO MAIS MÉDIA
ENCOSTA
Volume Real (m³/ha ano) 11,30 1,90 0,74 4,60
Volume Empilhado (st/ha ano) 39,00 6,70 2,60 16,10
Peso Verde (t/ha ano) 14,10 2,40 0,93 5,80
Peso Seco (t/ha ano) 9,40 1,60 0,62 3,90
FONTE: PROJETO Pnud/FAO/Ibama/BRA/87/007 (1992)- Plano de manejo florestal para a Região do Seridó do Rio Grande do
Norte. Natal-RN, Ibama, 1992. Volume1. (Levantamentos Básicos.)
Atualmente, a Região do Seridó conta com três unidades de conservação ambiental: as duas
Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPN) e uma Estação Ecológica (ESEC). As RPPN podem
ser preservadas e reconhecidas pelo poder público como reservas particulares do patrimônio natural.
76
Nessas condições, a área passa a receber atenção especial dos órgãos de meio ambiente, instituições de
pesquisa e entidades ambientalistas. A ESEC está a cargo do governo federal. As RPPN estão localizadas
nos Municípios de Acari (RPPN Sernativo) e Jucurutu (RPPN Stoessel de Brito). Possuem área de 156 ha
e 756 ha, respectivamente, e têm como objetivo ordenar o uso e proteger o ecossistema da caatinga. As
atividades de educação ambiental são realizadas nas RPPN. A Estação Ecológica do Seridó, localizada no
Município de Serra Negra do Norte, possui uma área de 1.166,38 ha, e tem como objetivo principal
proteger bancos genéticos de flora e fauna da caatinga, desenvolvendo, para tal, atividades de pesquisa
científica e de educação ambiental.
QUADRO 3.2.4.2
ÁREAS DO SERIDÓ QUE APRESENTAM POTENCIAL PARA A CRIAÇÃO DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO, COM
RESPECTIVO AMPARO LEGAL
No semi-árido estão presentes as mais importantes áreas de ocorrência mineral do Nordeste. O Rio
Grande do Norte é um dos Estados mais bem dotados desses recursos na Região. A contribuição da
indústria extrativa mineral para a geração do Produto Interno Bruto–PIB, a custo de fatores, do Nordeste e
daquele Estado, tem-se ampliado, embora não seja das mais expressivas. A partir desse posicionamento
geral, trata-se, a seguir, ainda que de forma esquemática, de outros importantes elementos da mineração,
assim especificados:
77
2,660 milhões, em 1990, representando uma taxa de crescimento anual de 1,34%. Enquanto isso, a taxa
anual de crescimento da produção mineral brasileira, no mesmo período, foi de 8,68%. O desempenho da
mineração no Rio Grande do Norte superou o da economia mineira no Brasil, pois a taxa de crescimento
anual da produção mineira potiguar, naquele período, foi de 12,40%. (Tabela 3.2.5.1.)
TABELA 3.2.5.1
VALOR DA PRODUÇÃO MINERAL-VPM BRASILEIRA E DO NORDESTE, POR ESTADO, NOS ANOS DE 1981 E 1990
VPM – 1981 VPM – 1990
ESPECIFICAÇÃO ABSOLUTO (US$ % SOBRE O ABSOLUTO (US$ 1,000) % SOBRE O TOTAL
TOTAL
1,000)
Maranhão 4.516 0,2 43.091 1,6
Piauí 4.058 0,1 23.924 0,9
Ceará 115.779 5,0 180.491 6,7
Rio Grande do Norte 255.291 10,8 730.874 27,5
Paraíba 10.614 0,4 43.933 1,7
Pernambuco 20.479 0,8 45.958 1,7
Alagoas 52.910 2,2 117.539 4,4
Sergipe 635.066 27,0 454.390 17,0
Bahia 1.261.508 53,4 1.022.506 38,4
VPM NORDESTE (*) 2.360.221 100,0 2.659.706 100,0
VPM BRASIL (*) 6.157.345 13.018.929
NORDESTE/BRASIL (%) 38,33 20,43
FONTE DOS DADOS BÁSICOS: DNPM. Anuário Mineral Brasileiro, 1982 e 1991. APUD: PINTO, Carlos Almiro Moreira
et alii (1994)- Recursos minerais do semi-árido: diagnóstico e perspectivas. Brasília, Projeto Áridas-Nordeste, 1994.
Xerox. (Trabalho preparado no contexto do Projeto Áridas-Nordeste.)
(*) Inclui energético (petróleo e gás natural), diamantes e gemas.
A contribuição da produção mineira do Rio Grande do Norte para a geração do PIB regional e
estadual qualifica melhor a posição das atividades da indústria extrativa mineral nesse Estado.
O exame de alguns anos do período 1970-95 indica que a contribuição dessa indústria era de
apenas 1,94%, em 1970. Cresceu até 1985, quando ficou no patamar de 5,11%, mas decresceu para 1,83%,
em 1990. Essa quebra foi resultado da queda de preços no mercado internacional da scheelita, wolframita,
Tantalita e Berílio, em relação aos produtos mais tradicionais da pauta de exportação regional. Em 1995, a
contribuição da indústria extrativa mineral voltou a elevar-se, alcançando posição recorde, em virtude da
expansão da produção petrolífera. (Tabela 3.2.5.2.)
A participação da indústria extrativa mineral do Rio Grande do Norte no PIB do Estado também
foi crescente nos anos de 1970 (2,54%) a 1985 (13,02%). Mas diminuiu consideravelmente daí em diante,
apesar da ampliação da produção petrolífera no litoral potiguar. Baixou para 9,5% em 1990 e para 6,00%
em 1995. Essa perda de posição tem a ver com a crise que afetou a indústria extrativa mineral na Região
78
do Seridó, por conta da redução extraordinária enfrentada pela economia mineral, em particular a baseada
na scheelita, como consta da tabela 3.2.5.2.
De todo modo, a participação da indústria extrativa mineral do Rio Grande do Norte nesse mesmo
conjunto de atividades para o Nordeste foi crescente naqueles mesmos anos do período 1975-95, como
mostra a tabela 3.2.5.3. A indústria extrativa mineral–IEM do Rio Grande do Norte que participava com
6,67% no conjunto da IEM do Nordeste, em 1970, elevou sua participação para 36,16%, em 1995. Trata-
se de uma evolução positiva, pois a IEM do Nordeste, além de ter crescido, também diversificou-se.
TABELA 3.2.5.2
PARTICIPAÇÃO DA INDÚSTRIA EXTRATIVA MINERAL-IEM NA GERAÇÃO DO PRODUTO INTERNO BRUTO DO
NORDESTE E DO RIO GRANDE DO NORTE, A CUSTO DE FATORES, EM ANOS DO PERÍODO 1970-95
TABELA 3.2.5.3
PARTICIPAÇÃO DO RIO GRANDE DO NORTE NA INDÚSTRIA EXTRATIVA MINERAL-IEM DO NORDESTE, EM
ANOS DO PERÍODO 1970-95
ANO IEM DO NORDESTE (%) IEM DO RIO GRANDE DO NORTE (% SOBRE O NORDESTE)
1970 100,00 6,67
1975 100,00 12,63
1980 100,00 13,56
1985 100,00 16,22
1990 100,00 31,22
1995 100,00 36,16
FONTE DOS DADOS BÁSICOS: Brasil. Sudene. (1999)- Agregados econômicos regionais – Nordeste do Brasil – 1965-
1998. Recife, Sudene, 1999, p. 18-22 e 94-97.
A sociedade e a economia do Seridó devem boa parte do seu progresso à indústria extrativa
mineral, mormente a ligada à mineração do tungstênio. A Região do Seridó também foi impulsionada por
outros jazimentos, de menor importância econômica, como os minerais de nióbio e tântalo, estanho,
bismuto, lítio, ouro e berílio (também sob a forma de gema preciosa) e água-marinha. Dada a presença
desses minerais, a região em estudo pode ser denominada de Província Mineral Scheelitífera e Pegmatítica
do Seridó.
A Região do Seridó do Rio Grande do Norte só veio a conhecer a mineração como uma
atividade regular no início da década de 30, quando compradores alemães começaram a adquirir na
região os chamados minerais estratégicos, extraídos de pegmatitos, representados principalmente pelo
berílio, columbita, tantalita, cristal de rocha e mica. Antes, o extrativismo mineral esteve constituído
quase que exclusivamente por materiais de construção, representados por argilas ceramificáveis,
calcários para o fabrico do cal, areias e rochas para agregados ou emprego direto. (Dantas, 1993.)
79
Por conta das demandas identificadas no curso da II Guerra Mundial, os recursos minerais já
explorados aumentaram de produção, a eles se acrescendo a descoberta da scheelita, mineral de
tungstênio, que passou a ser o produto mais importante para a economia mineira do Seridó. Nesse
período, a mineração apresentava-se como uma atividade com baixo nível de industrialização,
caracterizada pela garimpagem de minerais de pegmatitos e de tungstênio. Sua importância pode ser
aquilatada pelo número de empregos então gerados, calculados como abrangendo um contingente de
mais de 10.000 trabalhadores. (Dantas, 1999.)
No pós-guerra, começou a se observar uma certa diminuição do nível daquelas atividades. Mas
esse problema teve curta duração, pois o conflito sino-coreano deflagrado na Manchúria, região de
maior produção mundial de tungstênio, ainda hoje, compromete o consumo e a formação de estoques,
que se agravaram em virtude das dificuldades interpostas pela Guerra Fria. Nas brechas do mercado
ampliado, por conta das decisões estratégicas de não exportar a produção local, adotadas naquela parte
do mundo, o Seridó conseguiu ter sua produção expandida, com mercado assegurado. (Dantas, 1999.)
No que de particular interessa ao Seridó, o I Plano Diretor da Sudene dava ênfase a estudos
sobre metais preciosos como o Ouro, minerais não-ferrosos (como o Cobre), Ferro e metais ferrosos
(como o tungstênio), metais menores (como o tântalo, columbita, berílio e lítio). materiais industriais e
refratários (como a mica), materiais cerâmicos (como o caulim), materiais de construção (como o
gesso) e pedras preciosas e semipreciosas (como o berílio, a água-marinha e o corindon). (Mecor,
Sudene, 1966: 223-229.)
A década de 70 começou com uma alta significante nos preços da scheelita, no mercado
externo, ativando as atividades desse subsetor da mineração seridoense. Ademais, contou-se com a
80
ampliação do mercado interno nacional, como resultado do processo de industrialização substitutiva de
importações, em curso na Região Centro-Sul do País. A economia mineira baseada na scheelita
consolidou-se, nesse que foi o seu melhor período de desenvolvimento.
A intensa exploração então realizada contribuiu para que as minas se tornassem profundas,
elevando-se os custos de extração e de beneficiamento. A elevação dos custos, associada à queda de
preços no mercado externo contribuiu gradativamente para que a economia mineira seridoense
declinasse consideravelmente seu nível de atividade, levando muitas empresas à paralisação. Um outro
gravame deve ser registrado. Trata-se do fato de alguns minerais estratégicos terem passado a uma
condição de abundância e enfrentado a concorrência de produtos substitutos ou derivados da
reciclagem de produtos finais. Essas circunstâncias comprometeram a produção das minas, a tal ponto
que a produção de tungstênio, nos dias de hoje, chega a representar 1/3 do seu consumo real.
A economia mineira do Seridó foi afetada ainda pela ausência de uma política mineral, a
exemplo da que fora concebida e levada à prática no começo dos anos 60, sob a coordenação da
Sudene. Na ausência dessa política, os empresários dedicados à mineração no Seridó não conseguiram
delinear novas alternativas para suas atividades, as quais, de mais a mais, foram também seriamente
comprometidas pela crise econômica que se instalou no País, em parte dos anos 80 e 90.
Essa economia apresenta hoje uma configuração com as mesmas características qualitativas
prevalecentes no período que antecedeu a II Guerra Mundial. Neste sentido, ela se encontra restrita à
produção de materiais de construção de demanda no máximo estadual e a uma produção incipiente dos
seus conhecidos minerais estratégicos.
Apesar das limitações indicadas, a mineração no Seridó ainda tem futuro, a começar pelo
tungstênio. Uma das possibilidades a este respeito refere-se ao aproveitamento dos rejeitos da
mineração, hoje considerados um sério problema ambiental. Em lugar de constituir problema, aqueles
rejeitos – que estão fora do subsolo – representam, hoje, “a maior mina de tungstênio do Brasil”. Seu
aproveitamento requer a elaboração de um projeto de caracterização tecnológica, adequadamente
estudado. Todo o processo de concentração ali utilizado era gravimétrico. O rendimento da extração do
Tungstato variava de 80 a 85% desse minério. Assim, de 15 a 20% do produto final a ser beneficiado se
encontra hoje na superfície do solo, em torno das minas. 34
Os rejeitos são parte integrante das minas, assim como os equipamentos nelas utilizados. Desse
modo, os rejeitos pertencem aos donos de minas, desde que essas se encontrem abertas. Mas
pertencerão à Nação, nos casos de corresponderem a minas fechadas, que tenham perdido suas
concessões.
As possibilidades referidas já foram estudadas. Existe uma memória dos estudos realizados por
uma empresa de consultoria, para o Projeto do Complexo Químico-Metalúrgico, por solicitação da
34
Cf. entrevista com o prof. Edgard Dantas, em 20.11.99.
81
Secretaria do Planejamento do Rio Grande do Norte. Foram preparados perfis de projeto, disponíveis e
utilizáveis, contribuindo para o aprofundamento de novos estudos técnicos e institucionais sobre o
assunto. 35
Pode-se dizer que as possibilidades dos demais recursos minerais são favoráveis, até porque há,
hoje, uma percepção distinta da que ainda prevalece em algumas áreas dos setores público e privado, de
que a indústria extrativa mineral do Rio Grande do Norte como um todo continuaria dependente das
atividades extrativas minerais da scheelita e da tantalita. Estudos recentes (Nesi, 1999) indicam que há
uma tendência orientada para a exploração dos recursos energéticos, a partir do petróleo e gás natural.
Para o caso particular do Seridó, as possibilidades estão relacionadas à exploração de:
35
O “Perfil do Tungstênio”, por exemplo, deve estar disponível na área de documentação da Seplan. Em caso contrário, é
possível obter uma cópia do estudo com o prof. Edgard Dantas.
36
A exploração das matérias-primas para cerâmica vermelha está naturalmente, submetida a fortes restrições ambientais,
como já foi salientado. Trata-se de uma questão que envolve decisões políticas específicas, pois a extração dessa matéria-
prima constitui uma fonte de renda e de emprego, para a qual ainda não foram encontrados substitutos. As razões para a
extrair a argila, por parte dos proprietários rurais, têm sido explicadas como resultando da falta absoluta de alternativas
econômicas. O agricultor José Marcelino dos Santos, 57 anos, de São José do Seridó, justifica a prática da venda de argila
extraída dos aluviões de sua fazenda, como uma questão de sobrevivência. Ele fez a seguinte afirmativa ao Jornal do
Comércio do Recife: “Quase não existe mais terra boa para plantar. E quando tem, o que falta é a chuva. O jeito é ganhar
algum dinheiro com o pessoal das cerâmicas.”. Ele informou à jornalista Clara Carvalho, do mencionado jornal, que
vendera, em 1997, cerca de dois hectares de solo de aluvião de sua propriedade, para serem usados como barro. Com o
dinheiro da venda, comprou uma casa na cidade e umas cabeças de gado. Diz não estar arrependido com o negócio, pois
precisava do dinheiro. Compreende, entretanto, que sua terra ficou imprestável para o plantio. (Carvalho, 1999.) Raciocínio
semelhante deve ser esposado pelos industriais de cerâmica. Ligados ao ramo, há tempo, os que se dedicam a essa atividade
já realizaram investimentos, cuja desmobilização significará falências e, na melhor das hipóteses, prejuízos. As alterações
desse quadro deverá, assim, requerer forte ação do poder público e da sociedade, num processo de negociação de
complicada solução, certamente.
37
As cargas minerais ou fillers são minerais não-metálicos acondicionados a outras matérias-primas principais. Sob a forma
de pó eles são quimicamente inertes. O acondicionamento às outras matérias-primas é feito com o objetivo de reduzir a
relação valor/peso do produto final e/ou para transferir algumas de suas propriedades físicas à mistura. Dentre essas
propriedades, destacam-se as seguintes: cor (brancura, brilho e opacidade), densidade, resistência mecânica, dureza ou
maciez, textura e distribuição superficial, resistência ao fogo, condutividade térmica e elétrica, capacidade de adsorção de
óleo e tintas e impermeabilidade, dentre outras. (Nesi, 1999, 126.)
82
• pegmatitos diversos (com destaque para a caulinita, tantalita-columbita, berílio,
cassiterita, granada, espodumênio, bismuto nativo, sericita, mângano-tantalita e fluorita, dentre os
principais). (Moraes, 1999: 30-37.)
Para que esses minerais tenham sua exploração retomada, ainda será necessário realizar estudos
e produzir perfis de projeto, indicativos de sua viabilidade econômica. Alguns deles se encontram em
minas, cujas atividades foram paralisadas. Outros, porém, como a tantalita, os feldspatos e vários
corpos encaixados nos quartzitos da Formação Equador, nas proximidades da cidade de Equador, estão
sendo minerados. (Moraes, 1999: 34.)
A economia mineira do Seridó está pautada por processos de extração e beneficiamento que datam
de mais de meio século. Tem sido assim conduzida sem os cuidados exigidos pela legislação ambiental,
que é bem mais recente. De todo modo, algumas empresas chegaram a se organizar e adotar normas
exigidas pela legislação ambiental pertinente. Os vários cursos, seminários e publicações divulgadas pelos
órgãos de meio ambiente têm contribuído um pouco para minimizar os efeitos de algumas das explorações
minerais realizadas naquela região. Com a crise econômica, é possível que os impactos ambientais tenham
aumentado, pois nessas situações, o interesse particular vem em primeiro lugar.
Os estudos existentes sobre essa matéria indicam que as empresas economicamente mais fortes e
mais organizadas são as que conseguem atender melhor a legislação ambiental, ocorrendo o contrário com
as pequenas e micro atividades de lavra mineral, assim como com os garimpeiros em geral. “É nesse nível
ou escala de produção onde se dão a maioria dos conflitos na área de produção dos recursos minerais. Até
mesmo porque a outorga da Concessão da Lavra, hoje está condicionada ao licenciamento ambiental.”
(Ribeiro, 1995: 92.)
Essa especificidade não indica que as empresas de mineração, de porte e bem organizadas, não
provoquem impactos ambientais. Tanto umas como outras têm se constituído em fontes de degradação
ambiental, em várias áreas do Seridó. A utilização de recursos naturais não-renováveis em bases
sustentáveis e em condições de eficiência e eficácia econômica constitui um desafio, cuja solução depende
tanto da sociedade, direta e indiretamente, beneficiada (com empregos) ou prejudicada (pela perda de
recursos), como dos empresários ligados às atividades de mineração. Por isso, a aplicação de tecnologias e
controles de exploração, constitui modernamente uma das questões centrais da mineração, mais importante
talvez do que a observação formal dos seus aspectos técnicos.
Para uma melhor compreensão da magnitude dos problemas decorrentes da exploração mineral
conduzida de forma ecologicamente incorreta, listam-se a seguir algumas das formas de impactos
provocados por essas atividades:
Há ainda outros importantes impactos ambientais da mineração no Seridó, como os referidos aos
rejeitos das minas e à utilização dos solos aluviais, antes explorados com o cultivo de lavouras
alimentares ou com forragens para arraçoamento dos rebanhos de gado leiteiro, na produção de
cerâmica. A pecuária leiteira apresenta-se hoje como uma das principais atividades econômicas do Seridó,
a partir da qual são engendradas várias outras, de grande importância econômica para as comunidades
locais. Sua continuação depende, em boa medida, da disponibilidade desses solos, cuja área total, nas
várias e dispersas manchas existentes na região, é da ordem de não mais do que 60.000 hectares de
aluvião. A produção de cerâmica, também importante, pela renda e empregos que gera, é feita com argila
também oriunda de outras áreas. Mas há evidentes impactos ambientais decorrentes da exploração desse
tipo de indústria, com a utilização de argila extraída de áreas aluviais. Além da perda de solos férteis e bem
localizados, utilizados para a agricultura e pecuária, a indústria ceramista ainda contribui para a
desertificação, pela queima de recursos florestais escassos e a conseqüente erosão dos solos, carreados
para os riachos, rios e açudes da região, que estão sendo fortemente assoreados.
As alterações aqui tratadas resultam do uso e interação dos recursos naturais (água, solo,
minerais e vegetação), segundo processos específicos ou conjuntos, tão ou mais comuns quanto mais
nítidos forem os fatores determinantes da semi-aridez na região em estudo. Conforme referências
apresentadas no item 3.1.1 anterior, mais de 90% do território do Rio Grande do Norte estão situados
em áreas semi-áridas. Ali, os fatores climáticos, aliados às condições geológicas, pedológicas,
hidrológicas e de cobertura florestal geram restrições ao processo de desenvolvimento, que estão sendo
agravadas por condicionantes de ordem socioeconômica, cultural e político-institucional. A Região do
Seridó, situada na porção meridional do Estado, faz parte desse contexto, sendo constituída por
ecossistemas naturais bastante frágeis, ameaçados no tempo pelas intervenções humanas locais.
84
da perenização de rios), exercem influência decisiva sobre a disponibilidade dos recursos hídricos,
condicionando a existência de rios dominantemente intermitentes. Outro aspecto importante daí
derivado se refere à salinização das águas, processo que ocorre nos terrenos cristalinos por conta da
intensa ação do sol e dos altos índices de evaporação, associados aos ventos. A água das chuvas
solubiliza os sais minerais das rochas, os quais, por sua vez, são carreados para os reservatórios.
Devido a esses fatores, a concentração salina das águas dos mananciais existentes no Seridó sofre
substancial elevação, comprometendo sua qualidade físico-química, inviabilizando seu uso, tanto para
o consumo humano como animal e agrícola. No auge do período das secas, chega-se a observar em
pequenos corpos d'água (açudes) o fenômeno da eflorescência, isto é, a cristalização de sais na
superfície do solo, sob a forma de crostas brancas.
A limitação dos recursos hídricos no Seridó (nos períodos de estiagem, os rios secam) tem
prejudicado o aproveitamento da água para consumo humano, repercutindo sobre o desenvolvimento
agropecuário do Estado, pois a disponibilidade de áreas irrigáveis é maior do que a disponibilidade
hídrica existente. A degradação dos recursos hídricos locais se dá pela destruição da cobertura florestal,
como resultado dos desmatamentos e queimadas (principalmente das matas ciliares), pela acumulação e
uso não controlado da água e pelo lançamento de agentes poluidores nos mananciais. Com relação,
especificamente, à poluição dos cursos d'água (pelo lançamento de esgotos domésticos e efluentes
industriais não tratados, lixo e agrotóxicos), há uma agravante a destacar, expressa pela inexistência de
sistemas de saneamento básico nas cidades, associados à condição de intermitência dos mananciais.
Outro fator importante que se reflete na quantidade e qualidade dos recursos hídricos é a erosão dos
solos (resultante da destruição da cobertura vegetal e do desenvolvimento de atividades agrícolas e
minerais, sem medidas de conservação), que provoca o assoreamento dos corpos d'água, trazendo como
conseqüência inundações e redução da capacidade de acumulação dos reservatórios.
No que se refere aos aspectos pedológicos, cabe salientar a presença no Seridó dos solos
Litólicos Eutróficos, que são rasos e de constituição areno-argilosa. Observam-se, ainda, muitas áreas
onde afloram as rochas cristalinas (restringindo seu uso para a agricultura) e os solos Bruno Não-
Cálcicos, de média e alta fertilidade.
No que tange aos recursos minerais, a Região do Seridó possui a mais expressiva concentração
dessas riquezas no Estado, com destaque para a scheelita, feldspato, berilo, tantalita, columbita, mica,
ouro, gemas, quartzo e rochas ornamentais. Até a década de 70, o Rio Grande do Norte era o maior
produtor nacional de scheelita. Atualmente, as minas e garimpos de scheelita estão paralisados, não por
esgotamento de reservas, mas devido à perda de competitividade em relação ao equivalente chinês.
85
Além dos impactos já mencionados (item 3.2.5.3 anterior), provocados pela atividade mineradora na
região, destacam-se ainda aqueles gerados pela mineração de ouro (poluição pelo uso de mercúrio
durante a garimpagem).
As condições ambientais da região (clima, solo, água e vegetação), associadas à forte pressão
exercida sobre os recursos naturais, pela ação antrópica (pressão populacional, formas inadequadas de
uso e ocupação do solo, entre outros), têm contribuído de forma significativa para os processos de
desertificação existentes no Seridó. Estudos a este respeito foram iniciados no Nordeste e no Rio
Grande do Norte, desde 1977, sob a coordenação da Sudene, objetivando identificar as áreas mais
atingidas pelo fenômeno e a selecionar aquelas consideradas mais críticas, como áreas piloto, para
efeito de mapeamento. A Região do Seridó foi diagnosticada no Rio Grande do Norte como a mais
atingida pelo processo de desertificação, com destaque para os municípios de Equador, Parelhas,
Carnaúba dos Dantas, Caicó, São José do Seridó e Currais Novos.
Esses municípios integram o Núcleo de Desertificação do Seridó, um dos quatro Núcleos que
estão sendo estudados no Nordeste pelo Ministério do Meio Ambiente e várias instituições de pesquisa
– nacionais e internacionais. O Núcleo de Desertificação do Seridó abrange uma área de 2.341 km²
(18,06% da superfície da região), onde vivem 244.000 habitantes (84,21% da população seridoense). A
área em processo de desertificação, apresenta-se, assim, com uma altíssima densidade demográfica
(104,23 hab/km²), que é cerca de cinco vezes superior à densidade observada em todo o Seridó (22,35
hab/km²) e em todo o Nordeste Semi-Árido (cerca de 20,00 hab/km²), considerado uma das áreas semi-
áridas mais densamente povoadas do mundo. Esses números indicam que a capacidade de suporte das
áreas em processo de desertificação no Seridó, por conta da migração para as cidades (da Região do
Seridó ou de outras áreas do Rio Grande do Norte), tende a decrescer. Na ausência de novos processos
tecnológicos, econômica e ambientalmente sustentáveis, também é possível admitir estar havendo uma
tendência à redução da sustentabilidade da economia nessas áreas.
86
A DESERTIFICAÇÃO COMO SÍNTESE DAS ALTERAÇÕES AMBIENTAIS NO
NORDESTE E NO SERIDÓ: A VISÃO DE GESTORES NACIONAIS
O semi-árido nordestino, que sempre resistiu aos longos períodos de estiagem, está entregando os pontos diante
do avanço da desertificação. O fenômeno é muito mais cruel (do) que as terríveis secas. O solo perde definitivamente a
cobertura fértil e se vão para sempre os parcos nutrientes que sustentam a vegetação pobre e agreste. Sobram apenas a
areia, umas poucas plantas espinhosas sem valor econômico e os enormes buracos provocados pela erosão. É um cenário
bastante parecido com o de grandes desertos, como o famoso Vale da Morte, na Califórnia. Se fossem reunidas numa só,
as áreas já transformadas em pequenos desertos no sertão nordestino formariam uma mancha quase do tamanho do
Estado de Sergipe. São mais de 18 000 quilômetros quadrados completamente esturricados, uma terra arenosa e
empobrecida que água nenhuma conseguiria tornar cultivável. O fenômeno torna-se ainda mais preocupante porque os
técnicos identificaram uma área dez vezes maior que esta indo pelo mesmo caminho. “Isso tudo vai virar um imenso
deserto”, diz Heitor Matallo Júnior, diretor do Plano Nacional de Combate à Desertificação. do Ministério do Meio
Ambiente. É um território equivalente a quatro vezes o tamanho do Estado do Rio de Janeiro.
A criação extensiva de bois e de bodes, da forma como é praticada atualmente, tem arrasado o sertão. Os
animais comem a vegetação que sobrevive à estiagem prolongada e ainda pisoteiam mudas e plantas rasteiras. O
desmatamento indiscriminado da caatinga também contribuiu para o desequilíbrio ambiental. A lenha é retirada sem
nenhuma fiscalização, vai nos fogões das famílias e nos fornos de cerâmicas do Seridó, no Rio Grande do Norte, e
de fábricas de gesso no sertão do Araripe, em Pernambuco. Nessas duas áreas e na região de Gilbués, no Piauí, a
mineração dizimou o solo cultivável. Para completar, a algaroba, uma árvore peruana que foi introduzida em
programas de reflorestamento na década de 40, ocupou as áreas que ainda conservam algum superfície de solo fértil
e matou as plantas nativas.
Apesar de o cenário desértico causado pelo homem no Nordeste ser muito semelhante ao que se vê nas
formações desérticas naturais, a região desertificada do semi-árido brasileiro mantém certas particularidades. O problema
não é exatamente a falta de água. Enquanto num deserto chove menos de 100 milímetros por ano, na caatinga a média de
chuva é de 500 milímetros anuais. O tipo de solo da região também altera a configuração dessas áreas ressequidas. Onde
há solo mais cristalino, a formação desértica é de um imenso areal saariano. É esse o caso da região de Rodelas, na
Bahia, próximo à divisa com Pernambuco. Mas em locais de solo mais compacto ou com boa quantidade de argila a
desertificação é caracterizada por um ambiente com arbustos secos e grandes crateras erodida lugares nos quais não
adianta plantar, porque nada prospera
A recuperação desse tipo de solo é possível, mas a alto custo. O Ministério do Meio Ambiente estima serem
necessários 2 bilhões de dólares para reabilitar a região num período de vinte anos. “A conta é alta, mas esse é o preço para
não perdermos o semi-árido,” diz o engenheiro florestal Paulo César Lima, da Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária, Embrapa. O problema maior para a superação não é o dinheiro, mas o tempo exigido. Os Estados Unidos
estão investindo na reabilitação de áreas desertificadas, no Meio Oeste do país, desde a década de 30. No Brasil, a
discussão sobre o assunto tomou impulso na década passada. Em novembro (de 1999), a III Convenção Internacional de
Combate à Desertificação, das Nações Unidas, (...) foi realizada no Recife para discutir quais (...) as soluções mais viáveis.
Tentativas de interromper a passagem do semi-árido para a condição de deserto pipocam aqui e ali. Em Irauçuba, Ceará, a
Embrapa está plantando milhares de árvores de vinte espécies. No Rio Grande do Norte, existem quatro centros de cultivo
de mudas de plantas nativas da caatinga. Em Pernambuco, os agricultores estão recebendo treinamento sobre o uso e
manejo do solo. É pouco para rever processo. Mas essas poucas espécies têm mostrado que mudar a paisagem não é
impossível.
.FONTE: GUSMÃO, Marcos (1999)- “O Sertão Virou Pó”. Revista VEJA, São Paulo, Edição 1.613, Ano 32,
nº 35, 1º.09.99.
87
3.2.7 Fragilidades Ambientais
As atividades humanas que se desenvolveram, e continuam até hoje na Região do Seridó, estão
ligadas à pecuária extensiva, à agricultura de sequeiro, com culturas e técnicas inadequadas, à indústria
extrativista da cerâmica e à mineração, entre as mais significativas. A indústria da cerâmica tem papel
destacado, sustentando-se em dois vetores com efetivos e potenciais poderes de degradação do meio
ambiente: a retirada da argila dos vales e o uso da mata nativa para a produção de lenha, consumida nos
fornos de queima da cerâmica.
O intenso processo de migração para as cidades também contribui para agravar o quadro de
alterações ambientais. A vida nas cidades é bem diferente da vida no meio rural. O padrão de consumo
e o padrão tecnológico das concentrações urbanas elevam os níveis de demanda de água, de energia, de
alimentos, de minerais, enfim, dos recursos renováveis e não-renováveis. Eleva, também, a produção
de descartes e poluentes ambientais como o lixo, esgotos, gases poluentes, etc., que se constituem em
ameaças adicionais ao ambiente seridoense.
A capacidade “de suporte expressa o nível de população que pode ser suportado por um país (ou
região) em um dado nível de bem-estar. Mais precisamente, pode ser definida como o número de
pessoas compartilhando um dado território, que podem, para o futuro visível, sustentar um dado padrão
físico de vida, utilizando energia de outros recursos (incluindo terra, ar, água e minerais) bem como o
espírito de iniciativa, competências e organizações. (...) É um conceito dinâmico, que pode ser
estendido ou restringido de várias maneiras: por mudanças nos valores culturais, descobertas
tecnológicas, melhorias no manejo agrícola ou sistemas de distribuição de terras, mudanças em
sistemas educacionais, modificações de arranjos fiscais e legais, descobertas de novas fontes de
minerais ou a emergência de uma nova vontade política. Nunca existe uma só solução para a equação
população/recursos naturais, porque não é a população sozinha que determina a pressão sobre os
recursos (e os efeitos ecológicos potencialmente associados), mas também o consumo individual, que,
por sua vez, é determinado por sistemas de valores e percepções de estilo de vida." (Hogan, 1991: 64).
38
Cf. dados fornecidos pelo Dr. Cortez Pereira, ao jornal Tribuna do Norte, de 22.12.99.
88
O processo de desenvolvimento enfrenta limites físicos que devem ser previstos e acomodados.
Tanto a capacidade do ambiente de absorver a poluição, como a capacidade de fornecer recursos
esgotáveis, são finitas (Tietenberg, 1994). Quando os limites são desrespeitados, tanto no sentido da
exploração que exaure, como do lixo que polui, os efeitos logo aparecem e, na maioria das vezes, são
os mais pobres que pagam o preço mais alto. É assim, quando as indústrias de cerâmica e as atividades
agropecuárias promovem o desflorestamento que degrada o solo, que mata os rios e que dizima a
biodiversidade da região, pois quem primeiro sofre os efeitos da degradação ambiental é a população
do campo, que é impelida a migrar para viver nas cidades, em condições, muitas vezes, mais miseráveis
do aquelas em que viviam antes. Certamente, se os limites fossem respeitados, segundo os parâmetros
da capacidade de suporte da região, o Seridó não estaria diante do dilema que enfrenta atualmente:
encontrar, a qualquer custo, alternativas para promover o seu desenvolvimento em bases sustentáveis.
Nos gráficos 1, 2 e 3 apresentam-se indicadores ambientais, que tomam por base a utilização
das terras para a exploração agropastoril. O primeiro indicador relaciona a “área alterada com a área
total” e mede, em dois pontos no tempo, a expansão do uso das terras em atividade econômica. Como
se observa no gráfico 1, houve para a Região do Seridó, como um todo, uma diminuição do valor desse
indicador, no período 1985-95, da ordem de 9%, pois passou de 55,86%, em 1985, para 48,65%, em
1995. Nas três Zonas Homogêneas que compõem o território da Região do Seridó, observou-se uma
retração na magnitude do indicador, não obstante, essa diminuição haver sido menor nas Serras
Centrais, pois seu valor passou de 59,64% em 1985 para 55,63% em 1995. Esse resultado se mostra
coerente, pois as Serras Centrais constituem uma realidade ambiental, social e econômica bastante
diferenciada das outras duas Zonas (Caicó e Currais Novos). O fato de se haver observado uma
considerável diminuição relativa da área alterada nas zonas de Caicó e Currais Novos pode estar
sinalizando para o alto grau de saturação das terras e seu conseqüente abandono para fins produtivos.
Enquanto isso, nas Serras, dada a peculiaridade de ali predominarem as pequenas propriedades de
sitiantes, a relação entre “área alterada e área total” manteve-se elevada, mas sem grandes oscilações
nos dez anos considerados.
89
MAPA 2
90
MAPA 3
NÚCLEOS DE DESERTIFICAÇÃO NO NORDESTE
91
GRÁFICOS 1, 2 e 3
92
Quando, porém, se compara o indicador que relaciona as “áreas de mata com a área total”,
que, de certa forma, mede a evolução do processo de desmatamento na região, naqueles dez anos,
verifica-se que a situação permanece imutável, pois os seus valores foram, respectivamente, de 16,78%
e de 15,17%, para 1985 e 1995. O Seridó, com relação a esse aspecto, teve comportamento similar ao
do Estado, que apresentou valores de 13,50% e 13,15%, não apresentando, pois, variação. A ZH de
Caicó, em termos de desmatamento, no decorrer do período analisado, seguiu o padrão regional, pois
apresentou valores bem próximos, para os seus indicadores. As Zonas de Currais Novos e das Serras
Centrais apresentaram variações, para mais ou para menos, que não devem ser consideradas
significativas. A conclusão a que se chega, a partir desses indicadores, é que, surpreendentemente, não
ocorreram alterações significativas na utilização das matas da região. Este fato merece melhor
aprofundamento e reflexão, por contradizer o senso comum acerca do Seridó.
Outro indicador utilizado para avaliar os efeitos da ação do homem na região foi a relação entre
“área de matas e pessoas ocupadas” em atividades rurais. Quanto maior for a relação entre essas duas
variáveis, menores serão as ocorrências de desmatamentos. Conforme pode ser visto no gráfico 3, essa
relação, na Região do Seridó, era de 18,76 hectares por pessoa ocupada, em 1985, tendo crescido para
19,72, em 1995, o que significa um crescimento de menos de 1%. Para o Estado, o indicador foi bem
menor, embora tenha quase dobrado nos dez anos analisados, passando de 7,83 hectares por pessoa
ocupada em atividades rurais, em 1985, para 13,17 hectares por pessoa ocupada, em 1995. Significa,
por esses dados, que o risco de desmatamento da Região do Seridó é quase duas vezes menor do que o
do Estado, não convindo esquecer que no Seridó ele está estabilizado, enquanto no Estado ele
apresentou um incremento relativo de 68%, em dez anos.
A situação aparentemente mais favorável para o Seridó, expressa pelo indicador “área de
matas e pessoas ocupadas”, deve ser vista com muita cautela, pois ela pode decorrer de uma redução
no número de pessoas ocupadas, na zona rural do Seridó, como sugerem as evidências sobre o aumento
das migrações de origem rural. Pode resultar também da diminuição das áreas cultivadas com algodão,
que passaram, com o correr dos anos do período pós-1985, à categoria de “mata rala”. Atente-se,
ademais, para o fato de o mapa 3, anteriormente apresentado, reforçar as evidências sobre o aumento
das áreas desmatadas, via processos de desertificação.
39
As informações aqui apresentadas, no que se refere aos aspectos instrumentais, foram obtidas em consulta ao site da
Caixa Econômica Federal, na Internet.
93
crescente processo de urbanização observado nas cidades da região. A ocorrência desse problema
representa uma contradição, que compromete a imagem de limpeza que caracteriza várias das cidades
do Seridó. Mas se, ali, as cidades têm suas construções limpas e bem cuidadas, o mesmo não acontece
com os riachos e rios que margeiam as áreas urbanas. Na falta de aterros sanitários, a população tem se
valido dos espaços antes vazios dos cursos d’água. Os rios no Seridó também perdem vazão por causa
desse procedimento.
Entre as três Zonas Homogêneas do Seridó, a que apresenta melhor performance é a Zona de
Currais Novos, que coleta 68,25% do lixo doméstico produzido. Em seguida, vem a Zona de Caicó,
com 61,30%, e, por último, bem distante, a Zona das Serras Centrais, provavelmente, por se tratar de
uma área onde ainda há uma razoável presença de habitantes na zona rural.
A partir de parâmetros médios nacionais, foi possível estimar a produção per capita de lixo
para a Região do Seridó, como se mostra na tabela 3.2.8.2. A região produz cerca de 10% do lixo
domiciliar urbano do Estado, correspondendo, em termos de cifras absolutas, a 118.500 kg de lixo por
dia, sendo coletados, pelo sistema regular de coleta de lixo, apenas 55,13%. Para dar uma idéia mais
precisa desse volume, tenha-se em conta que seriam necessárias 30 viagens diárias de caminhões
caçambas, com capacidade de 4.000 kg, cada, para fazer o transporte de todo o lixo produzido
diariamente na região.
Por sua relevância, aludida matéria carece de estudos específicos, a serem realizados no âmbito
de toda a Região do Seridó. As informações a este respeito oferecerão, com certeza, uma visão mais
clara desse problema na região, em particular das questões relacionadas às maiores concentrações
populacionais, como ocorre em Caicó e Currais Novos.
94
TABELA 3.2.8.1
DESTINO DO LIXO DOMICILIAR NA REGIÃO DO SERIDÓ DO RIO GRANDE DO NORTE, EM 1991
FONTE DOS DADOS BÁSICOS: Ibge. Censo demográfico, 1991. (Resultados do universo relativo às características da população e dos domicílios do Rio Grande do Norte.)
95
Com esses estudos, será possível elaborar projetos modulares para os diferentes núcleos urbanos
do Seridó, de forma isolada ou por etapas, até o nível de consórcio. A execução de projetos com tais
características pode ser viabilizada com o apoio do governo federal, que conta com dois grandes
programas na área de saneamento – o Programa de Ação Social em Saneamento–PASS e o Pró-
Saneamento. Esses dois programas podem vir a constituir fontes de financiamento para a
implementação de sistemas de saneamento e coleta de lixo, segundo as características encontradas na
Região do Seridó.
Sabe-se que o PASS está destinado a cidades com população entre 15 mil e 50 mil habitantes,
contando com o aporte de recursos do Banco Interamericano de Desenvolvimento–BID, para
financiamento de projetos voltados para as seguintes áreas: i) instalação, ampliação e/ou melhoria dos
serviços de abastecimento de água; ii) instalação, ampliação e/ou melhoria dos serviços de esgotamento
sanitário; iii) instalação, ampliação e/ou melhoria do sistema de coleta e tratamento de resíduos sólidos;
e iv) saneamento ambiental, quando contempla ações de projetos e/ou programas em execução.
TABELA 3.2.8.2
ESTIMATIVA DA PRODUÇÃO DE LIXO DOMICILIAR URBANO NA REGIÃO DO SERIDÓ E NO RIO GRANDE
DO NORTE, EM 1996
ZONAS POPULAÇÃO PRODUÇÃO PRODUÇÀO LIXO COLETADO
HOMOGÊNEAS- URBANA HAB/DIA DOMICILIAR PARTICIPAÇÃO (%)
ZH (kg)1 (kg/dia) (%)
ZH Caicó 85.623 0,6 51.400 43,40 61,30
ZH Currais Novos 71.587 0,6 43.000 36,30 68,24
ZH Serras Centrais 40.209 0,6 24.100 20,30 31,82
Região do Seridó 197.419 0,6 118.500 100,00 55,15
2
R. G. do Norte 1.843.486 0,6 - 0,8 1.240.000 100,00 57,23
FONTE DOS DADOS BÁSICOS: Ibge. Censo demográfico, 1991. (Resultados do universo relativo às características da
população e dos domicílios do Rio Grande do Norte.) e Contagem Populacional, 1996.
1
Parâmetros médios fornecidos pelo CEMPRE - Compromisso Empresarial para Reciclagem.
2
Aplicou-se o fator 0,8 para 35% (Área de Natal) e 0,6 para os 65% correspondentes aos municípios do interior.
96
3.2.9.1 Com Atuação Direta
As instituições que atuam na área do meio ambiente na Região do Seridó estão referidas a
seguir:
O GEDS, que ainda é um grupo informal, está constituído por organizações não-
governamentais (ONGs), organizações governamentais (OGs), organizações sindicais e instituições
privadas, assim especificadas:
i. Organizações Não-Governamentais
97
• Associação de Apoio às Comunidades do Campo–AACC;
Como grupo informal, o GEDS trabalha em parceria com instituições interessadas e envolvidas
na solução dos problemas de desertificação na Região do Seridó. Os eventos organizados pelo GEDS –
como o I e o II Seminários de Desertificação do Seridó, realizados em 1997 e 1998 – foram executados
em parceria com instituições não-governamentais, como a Fundação Esquel-Brasil, com o apoio de
entidades governamentais.
98
O GEDS está sediado no Município de Caicó, onde são estruturadas suas ações, com a
participação das entidades colaboradoras antes mencionadas. O Grupo tem apenas um profissional
dedicado, em tempo integral, às suas atividades, que é pago pela Fundação Grupo Esquel-Brasil.
O Idema é o Órgão Estadual de Meio Ambiente–Oema do Rio Grande do Norte. Suas origens
remontam ao antigo Departamento Estadual de Estatística–DEE, vinculado à então Secretaria de
Planejamento e Coordenação Geral do Rio Grande do Norte. Pela Lei Estadual nº 4.414, de 04 de
novembro de 1974, foi transformado em Fundação, passando a integrar o Sistema Estadual de
Planejamento, como órgão de assessoramento à administração pública estadual, nas funções de
planejamento, orçamentação e modernização institucional. Sua configuração atual é de autarquia
vinculada à Secretaria de Planejamento e Finanças-Seplan do Estado, 40 tal como estabelecido nas Leis
Complementares de nº 139, de 25.0196 (sob a sigla de Idec) e 163, de 05.02.99 (sob a sigla de Idema).
40
As informações sobre o Idema estão baseadas no texto veiculado pela Seplan do Rio Grande do Norte, em seu site na
Internet.
99
3.2.9.2 Com Atuação Indireta
O conjunto de instituições que apoia a área ambiental no Seridó está integrado pelas
seguintes entidades:
Trabalha-se aqui com o conceito de problema entendido como uma restrição ao processo de
desenvolvimento, em bases sustentáveis, tanto em termos socioculturais, como econômicos,
ambientais, científico e tecnológicos e político-institucionais. Neste sentido, foram apresentadas
evidências de que o Rio Grande do Norte é um dos Estados do Nordeste mais afetados pela agressão ao
meio ambiente. Dessa particularidade se derivam, por sua vez, as restrições impostas ao processo de
desenvolvimento, historicamente posto em prática na Região do Seridó. Ainda assim, a área objeto de
atuação do Plano conta com uma base de recursos naturais, que, embora, submetida a um equilíbrio
extremamente frágil, pode ser bem aproveitada, desde que utilizada de acordo com adequados
princípios de gestão ambiental. Os recursos efetivos vêm sendo utilizados sem os necessários cuidados
para com as normas e padrões de sustentabilidade, conservação ambiental e racionalidade econômica.
Nesta perspectiva, podem ser destacados como problemas principais, os mencionados a seguir:
100
• Desmatamento das áreas de vegetação nativa. Considerável volume das matas nativas
do Seridó vem, há tempos, sendo utilizado para fins energéticos, com nenhuma ou escassas precauções,
no tocante ao seu manejo sustentado. O desmatamento daí decorrente também é intensificado pela
demanda por novas áreas para a formação de pastos. Sua utilização, de forma extensiva, em esquemas
de manejo pouco adequado das matas de caatinga nativa, tem contribuído para o aumento das áreas
erodidas no Seridó. Em conseqüência, diminuem as possibilidades de ampliação de forragem
volumosa, aumentam os custos de alimentação das explorações pastoris e são exacerbados os impactos
ambientais;
Os cuidados com o meio ambiente exercerão efeito multiplicador de grande poder sobre a
dinamização da economia da Região do Seridó. O melhor uso dos recursos naturais constitui garantia
101
de disponibilidade de novas atividades, dinâmicas e sustentáveis. Daqui se derivam os conteúdos de
proteção dos recursos naturais disponíveis - com ênfase nos recursos hídricos, de solo e florestais - e
do patrimônio ecológico encontrado no Seridó. Admite-se a conveniência de mobilizar as
potencialidades existentes, buscando uma crescente integração − espacial, ambiental, econômica e
sociocultural −, que possa contribuir para desconcentrar a base econômica da Região do Seridó.
• Rede de açudes. O Seridó apresenta uma acentuada carência de recursos hídricos. Mas é
uma das regiões mais açudadas do Rio Grande do Norte. Admite-se que a gestão adequada das águas
acumuladas nos mais de 800 açudes existentes e as acumuláveis em novos barramentos na região
contribuirá para diminuir as carências observadas, viabilizando melhores condições de abastecimento
de água para suas populações e para outras finalidades;
• Otimização das áreas irrigáveis do Seridó. As áreas irrigáveis do Seridó não são
amplas. Mas podem ser expandidas e melhor aproveitadas, no quadro de uma adequada conservação
dos recursos naturais, a partir da realização de estudos específicos sobre as possibilidades, riscos,
técnicas de manejo e alocação de recursos financeiros. A organização e fortalecimento da pequena
irrigação pode constituir uma boa diretriz a este respeito;
102
condições locacionais adequadas a esse tipo de exploração, caracterizando-se, por isso, como potencial
a ser explorado; (Ibama, 1999.)
A revisão das pesquisas, discussões com a comunidade e entrevistas realizadas para o estudo
desta Dimensão sugerem, com razoável grau de certeza, que a sustentabilidade do Semi-Árido em geral
e do Seridó, em particular, depende fundamentalmente de novos aportes em matéria de ciência e
tecnologia. Daí ter-se considerado oportuno “ler e reler, para poder pensar e escrever” algo mais
concreto sobre o futuro do Seridó, tomando-se, ainda que de forma simplificada, assentamentos
científicos e tecnológicos que pudessem pautar perspectivas alvissareiras, de efetivo saber científico,
suficientes para consolidar a construção e, em certos casos, a reconstrução, aqui pensadas.
O quadro de mudanças – nem sempre favoráveis – por que tem passado o Seridó, com a crise
que afetou a economia algodoeiro-pecuária e a indústria extrativa mineral, ali assentadas, sugere que a
retomada do seu desenvolvimento irá depender, em grande medida, da identificação e utilização de
novas inovações tecnológicas, na acepção mais precisa da construção teórica aportada pelo economista
Joseph Schumpeter, a respeito do desenvolvimento e do progresso técnico. (Schumpeter, 1982.)
Realiza-se, por isso, um particular esforço para estabelecer as bases da produção de ciência e
tecnologia e dos padrões tecnológicos, hoje prevalecentes, na região objeto de estudo. Discute-se, na
seqüência, a base de ciência e tecnologia existente no Rio Grande do Norte e no Seridó, seguida pelas
referências às inovações e tecnologias adaptadas recentemente, de maior importância econômica para a
região. Descreve-se, depois, a produção acadêmica gerada pela Universidade Federal do Rio Grande do
Norte, com os rebatimentos mais relevantes, identificáveis em relação ao Seridó. Apresenta-se, no
tópico seguinte, apesar da escassez de informações, uma descrição bastante preliminar a respeito das
demandas por informações tecnológicas, identificadas em relação à área objeto de estudo. Por fim,
trata-se, de forma esquemática, dos problemas e das potencialidades existentes na área de ciência e
103
tecnologia, do confronto dos quais espera-se poder identificar soluções compreensíveis, pautadas pela
lógica e sentido da sustentabilidade do desenvolvimento.
Este assunto é tratado a partir da discussão dos seguintes aspectos: possibilidades de produção
de ciência e tecnologia; padrões tecnológicos; e alternativas tecnológicas para aumentar a
produtividade e elevar a qualidade de vida.
Esses passos, entretanto, não foram rápidos, nem concretos o suficiente para que o Brasil
ganhasse forças para fundar sua independência tecnológica. E mais importante, para que pudesse
produzir tecnologia de ponta. As impossibilidades a este respeito deveram-se, em grande medida, ao
caráter incipiente do capitalismo financeiro no Brasil dos anos 60/70. Antes de nos tornarmos
produtores de tecnologia, devíamos nos caracterizar como sistemáticos importadores de tecnologia.
Essa especificidade foi destacada ainda nos anos 70, quando o Brasil começava a desempenhar
papel relevante como importador de tecnologia. O Brasil de então foi “importador de tecnologia, mas
no sentido antigo dessa expressão”, ou seja, importava mais insumos do que tecnologia em estado
puro, capaz de diminuir nossa dependência da importação de mais insumos. (Rangel, 1982: 96.) Aqui
está o centro de referência sobre as possibilidades de produção científica e tecnológica, que precisam
ser consideradas, em relação ao Nordeste, ao Rio Grande do Norte e ao Seridó. Se o Brasil fizer as
opções adequadas e necessárias a essa construção, será, com certeza, mais fácil para o Nordeste, ainda
uma região periférica no Brasil, abrir seus caminhos, naquela mesma direção. Por via de conseqüência,
estarão sendo viabilizadas as opções exigidas pelo Rio Grande do Norte e pelo Seridó. 41
41
A política de ciência e tecnologia ainda vigorante no Nordeste contempla hoje a orientação definida a este respeito pelo
Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento do Nordeste–GTDN. Para a Região em seu conjunto, a política tecnológica
esteve vinculada às expectativas em relação ao “motor” do desenvolvimento, que dependia da industrialização. O próprio
104
3.3.1.2 Padrões Tecnológicos
O progresso técnico envolve três etapas importantes, quais sejam, a invenção, a inovação e a
difusão, sendo as duas últimas determinantes das mudanças tecnológicas, por responderem pela
aplicação do conhecimento à produção. A atuação do Estado, no contexto das economias atrasadas, tem
sido necessária para garantir o acervo de produção científica e tecnológica, hoje disponível. Nesse
processo, a empresa capitalista, tem atuado com a força dos subsídios concedidos pelo Estado. Nos
países desenvolvidos, essa empresa tem-se dedicado ao desenvolvimento final dos produtos e à
pesquisa aplicada. Os centros estatais de pesquisa se concentram em pesquisas aplicadas de interesse
social e militar, e as universidades se especializam na pesquisa fundamental e aplicada de maior
alcance a longo prazo. Há centros independentes de pesquisa e inventores individuais, mas eles estão
sendo substituídos por formas superiores de investigação. São essas instâncias que mudam os padrões
tecnológicos, refletindo a lógica e a dinâmica econômica e financeira das sociedades globalizadas. Nas
economias em desenvolvimento, o papel do Estado continua sendo relevante, dada a importância nelas
desempenhada pelas universidades e a reduzida contribuição ainda apresentada pelo setor privado.
(Santos, 1987: 12-13.)
O uso mais (ou menos) intenso da ciência e da técnica determina o padrão tecnológico vigente
em uma determinada economia e sociedade. O padrão tecnológico, tradicional (no sentido de atraso ou
escasso uso de tecnologia nas atividades produtivas) ou moderno (no sentido de competitivo) permite
que setores, ramos e indústrias locais concorram com seus congêneres externos – ao Estado, à Região e
ao País. O padrão tecnológico é, pois, o conjunto de tecnologias utilizadas na produção de um
determinado produto. Equivale, em linguagem mais clara, a um sistema de produção, como os que
integram um “pacote tecnológico”.
conceito de indústria eqüivalia, de certo modo, ao conceito de desenvolvimento, na linha da boa tradição teórica da
Comissão Econômica para a América Latina–Cepal. Mais importante ainda era que a política de desenvolvimento
tecnológico do GTDN – e depois da Sudene – privilegiava as diferenciações espaciais, neste sentido destacando o semi-
árido. Nesse espaço, o avanço técnico seria viabilizado, em boa medida, pelas possibilidades derivadas da expansão da
agricultura irrigada, sem esquecer, porém, as tecnologias requeridas para modernizar as atividades da economia algodoeiro-
pecuária. (Sicsú & Dias, 1994.)
105
Assim, o padrão tecnológico é resultado e síntese da produção e generalização do
conhecimento, em condições históricas determinadas. Nesta perspectiva, compreende um dado
conjunto de tecnologias, lastreadas por invenções e inovações, geradas internamente ou adquiridas no
exterior. Resulta, assim, da aplicação do progresso técnico, constituindo-se em forças produtivas.
Como indústria que é, a ciência e a tecnologia caracterizam-se como a síntese em que tem se
convertido o trabalho técnico-científico. (Rangel, 1982: 95.) A existência de um dado padrão
tecnológico envolve os resultados e os desdobramentos das atividades do conhecimento, abrangendo a
pesquisa fundamental e a pesquisa aplicada, assim como todo o desenvolvimento final dos produtos e
processos. Compreende no rol das atividades aí desenvolvidas os esforços do setor público e do setor
privado, seja como agentes produtivos, seja como agentes responsáveis pelo seu financiamento.
O Seridó também conta com uma experiência tecnológica específica, que avançou com a
exploração mineral e a economia algodoeira. A região já se fazia notar na produção artesanal de
derivados do leite (queijo, doce), desde o século XIX, pelo menos. Sua boa dotação de recursos
humanos, assinalada no início dos anos 70, do século XX, pelo Banco Mundial, em relatórios sobre os
programas de desenvolvimento rural integrado, pioneiramente concebidos pelo governo do Estado, 43
vis-à-vis as demais regiões do Estado, constitui um indicador das disponibilidades tecnológicas com
que o Estado contava àquela época.
A produção de algodão mocó e a produção de minérios no Seridó foi e continua sendo realizada
segundo padrões tecnológicos, que tipificaram esses dois conjuntos de atividades, no contexto do
Nordeste, do Rio Grande do Norte e do mesmo Seridó. Os padrões tecnológicos dessa região eram
distintos dos encontrados no Seridó da Paraíba, no Seridó do Ceará e no semi-árido nordestino, em
geral. A produção leiteira hoje obtida no Seridó segue, nesse mesmo sentido, um padrão tecnológico,
que caracteriza a pecuária leiteira ali explorada, de forma distinta da encontrada em outras regiões do
Rio Grande do Norte ou do Nordeste.
As evidências identificadas, no quadro das dimensões estudadas neste Diagnóstico, indicam que
o Seridó produz tecnologia em condições capazes de assegurar a ruptura do equilíbrio da crise
econômica hoje vivida pela região. Mostram também que essa crise é grave, pois a economia regional
42
O Jornal Gazeta Mercantil, em Relatório sobre o Rio Grande do Norte, faz o seguinte destaque sobre o Pólo Queijeiro
do Seridó: “O projeto que prevê a criação do Pólo de Modernização Empresarial das Indústrias de Queijos do Seridó, em
Currais Novos, orçado em R$ 22,2 milhões, começará a ser implantado em dezembro (de 1999), com a construção do
Centro Tecnológico do Queijo (CTq). O prédio integra o complexo que também contará com um Núcleo Central de
Processamento de Serviços. A sede da holding, formada por 50 pequenas indústrias de queijos, ocupará uma área de 60
hectares. Quando estiver concluído o Condomínio Empresarial, próxima etapa do projeto, o centro vai ter uma capacidade
para produzir 35 mil quilos de queijo de leite de vaca por dia.
43
Cf. entrevista concedida pelo Dr. José Cortez Pereira, ex-governador do Rio Grande do Norte, a Waldecy de Urquiza e
Silva, Otamar de Carvalho, João Mattos Filho e Ronaldo de Alencar Fernandes, em Natal, no dia 17.12.99.
106
está perdendo capacidade de investimento. Por isso, a retomada de seu desenvolvimento continua a
depender, cada vez mais, de inovações, como as referidas à introdução de novos produtos, de novos
métodos de produção, de novos métodos de transporte, da abertura de novos mercados, da exploração
de novas fontes de matérias-primas, do uso da informática e da biotecnologia, bem como da adoção de
novas formas de organização industrial. 44
As novas atividades serão, com certeza, pautadas por novos padrões tecnológicos. Com a
tecnologia neles embutida espera-se poder eliminar a degradação ambiental e a pobreza, provocada
pela pressão da própria população sobre os recursos naturais, em várias áreas do Seridó. Isto porque a
pobreza tem chegado a caracterizar-se, em algumas daquelas áreas, como forte determinante da
degradação ambiental.
O VTI por pessoa ocupada, para o Nordeste como um todo, diminuiu entre os anos de 1980 e
1985, pois passou de U$ 4,282.00, em 1980, para U$ 2,367.00, em 1985, o que significa uma
diminuição de 45%. Para o Rio Grande do Norte, a situação foi melhor, pois a retração verificada foi de
apenas 17%. O VTI por pessoa ocupada, que era de U$ 6,896.00, em 1980, diminuiu para U$ 5,711.00,
em 1985. Dada a maior presença da indústria em torno de Natal, é lícito assumir que a produtividade
industrial do Seridó é bem mais baixa do que a do Estado. Os dados relativos obtidos para o Seridó
indicam que a produtividade do trabalho em sua indústria correspondia, em 1980, a 62% da observada
44
O que é o mesmo, em relação a este último caso, que tratar da introdução de novos processos de gestão, compatíveis com
as disponibilidades de recursos e a organização social local.
107
para o Estado como um todo. Em 1985, aludida relação caiu para 41%, mostrando perda para o Seridó,
vis-à-vis o Estado.
Embora não se conte com informações quantitativas para os anos 90, pode-se oferecer
indicações qualitativas a este respeito, tomando-se por base tendências deriváveis de informações
globais e de algumas relações entre indicadores macroeconômicos, discutidas neste Diagnóstico.
Estabelecem-se, a partir daqui, inferências para o Seridó, que corroboram perda de posição da região
em comparação ao Estado. O peso da economia do Seridó na arrecadação do ICMS norte-rio-grandense
é de apenas 4,5%. Dada a comprovada correlação entre participação no PIB e esforço de arrecadação, é
aceitável admitir que a contribuição do Seridó para o PIB do Estado, além de modesta, vem, ao longo
das últimas décadas, perdendo posição. A crise enfrentada pela indústria extrativa mineral, reforça as
evidências de perda de dinamismo das atividades da mineração.
As atividades agropecuárias também vêm perdendo posição, desde os anos 80, com a crise da
economia algodoeira, desestruturada com a entrada da praga do bicudo e a ocorrência de vários anos de
seca, como os de 1979-83, 1987, 1990 a 1994, 1998 e 1999. O que de dinâmico existe hoje no Seridó,
em relação ao setor rural, está relacionado à pecuária leiteira e à cajucultura. Mas os níveis de
produtividade ainda são baixos, como indicam os resultados observados em relação à produção de leite,
adiante destacados.
De todo modo, é possível reconhecer que os agentes produtivos que vivem no semi-árido
dispõem de inovações tecnológicas para todas as atividades que pretendam desenvolver naquela região.
Sempre que foi possível aplicar as tecnologias disponíveis – graças a uma conjuntura favorável de
recursos financeiros e decisões conseqüentes sobre políticas públicas –, os resultados obtidos foram
positivos. Tem sido assim em relação a experiências conduzidas por empresários conhecedores das
possibilidades da Região, como o engenheiro Manoel Dantas Vilar Filho, conhecido como Manoelito
Dantas, proprietário da Fazenda Carnaúba, situada no Município de Taperoá, na Paraíba, e outros
empreendedores, radicados no semi-árido nordestino. Naquela fazenda, produz-se carne e leite, oriundos
de rebanhos bovinos e caprinos. Ali, os recursos locais são utilizados segundo técnicas modernas, que
respeitam e refletem as particularidades do meio ambiente. 45
45
Baseado em notas colhidas por Otamar de Carvalho, durante palestra proferida pelo Eng. Manoel Dantas Vilar Filho, em
26.08.1992, no Auditório da Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco–CODEVASF, em Brasília-DF. E em
outras informações colhidas em visita à Fazenda Carnaúba, realizada no dia 12.05.2000, pelos consultores Otamar de Carvalho,
Waldecy Urquiza, João Matos Filho e Ronaldo de Alencar Fernandes.
108
do controle de qualidade do produto, expresso, inclusive, pela impressão de selo ou marca de origem,
identificando o produto. (Baiardi, 1994: 18.)
A classificação do Seridó, em 1996, como a segunda mais importante bacia leiteira do Rio
Grande do Norte, responsável por 22,3% da produção leiteira do Estado (Nobre, 1998: 161), constitui
outro exemplo das possibilidades oferecidas pelas tecnologias disponíveis. O aumento nos níveis de
produtividade alcançados pela pecuária leiteira em expansão, é o resultado dos investimentos feitos na
melhoria da qualidade do rebanho, considerando-se, neste sentido, elementos como mudança nos
padrões tecnológicos utilizados, com destaque para as práticas de alimentação e manejo. Em abril de
1995, o Programa do Leite, apoiado pelo governo do Estado do Rio Grande do Norte, atuava com
45.000 vacas, produzindo 60.000 litros de leite dia, número que representava uma produção para cada
vaca de 1,33 litros de leite-dia. Em setembro de 1999, o número de vacas elevou-se para 120.000 e a
produção de leite para 400.000 litros-dia. Embora o aumento da produção de leite, por vaca-dia, em
números absolutos, não tenha sido muito significativo, ao passar a média, por vaca, para 3,33 litros de
leite-dia, o incremento relativo foi extraordinário, correspondendo a 251%, em relação à produção
média de leite, por vaca, por dia. (SEAS, 1999: 7.)
O apoio oficial, assegurando mercado institucional para aquela expansão da produção leiteira,
constitui o fator garantidor, por excelência, da utilização adequada das tecnologias disponíveis, em
relação à pecuária leiteira. Significa dizer, a ação do Estado continua sendo fundamental para o sucesso
de experiências produtivas, cuja expansão é também pautada por seu caráter social, como ocorre com a
produção de leite, cujo crescimento foi, também, apoiado em função da necessidade de atender a
demanda por leite de vastas camadas da população de mais baixa renda.
Além das tecnologias acessáveis pelas empresas, nas áreas da irrigação e da agroindústria, há
um estoque razoável de tecnologias simples, disponíveis em relação aos produtores individualmente, a
exemplo de forrageiras adaptadas à seca, forrageiras irrigadas, além de outras, específicas para a
caprino-ovinocultura, piscicultura, ranicultura, bovinocultura de leite, confinamento de bovinos e
ovinos, avicultura, apicultura, produção de biofertilizantes, etc. A maior disponibilidade de tecnologias,
em relação à produção animal, é explicada pelo fato de que esse é o conjunto de atividades com mais
alta capacidade de exploração auto-sustentada no semi-árido.
109
A prestação de serviços pode ser amplamente melhorada, desde que sua oferta seja organizada
segundo determinantes culturais específicos, desvinculando-se o seu atendimento das raízes de
obrigações de cunho religioso ou de atribuição de responsabilidade irrestrita ao Estado, no
cumprimento de todas as demandas. A baixa qualidade dos serviços prestados pelo setor público não
pode ser atribuída ao desinteresse, supostamente absoluto, por parte dos servidores públicos. É natural
que haja desinteresse, diante de salários desestimulantes, da falta de treinamento e de certa dose de
corporativismo, que faz com que a “ética da segurança prevaleça sobre a ética da responsabilidade.”
(Baiardi, 1994: 25.)
O Estado do Rio Grande do Norte não se caracteriza como detentor de privilegiado aporte na
área de Ciência e Tecnologia (C & T), mas tem revelado, nos últimos anos, avanços significativos na
institucionalização de C&T, principalmente, por parte do setor público.
Como foi referido no item 3.2.9 anterior (Instituições da Área Ambiental), há um razoável
número de entidades ligadas à base de ciência e tecnologia no Rio Grande do Norte, nele estando
incluídas as que produzem tecnologia ou apoiam atividades nesse campo do conhecimento, como as
relacionadas às seguintes categorias: instituições governamentais (federais, estaduais e municipais);
organizações não-governamentais; instituições empresariais; e organizações sindicais. Esse rol de
entidades foi aqui estruturado em dois conjuntos: i) o de instituições que trabalham na esfera estadual,
incorporando entidades federais e estaduais; e ii) o de instituições (federais ou estaduais) que atuam,
diretamente, na Região do Seridó. Depois de referi-las, segue-se uma breve descrição sobre o
envolvimento do Seridó com as atividades do Sistema Estadual de Ciência e Tecnologia.
a. Instituições Públicas
• Universidade Potiguar–UnP;
110
• Escola Técnica Federal do Rio Grande do Norte–ETFRN (atualmente denominada de
Centro Federal de Ensino Técnico–Cefet);
• Petrobras;
b. Instituições Privadas
• Universidade Potiguar–UnP;
• Faculdade de Natal–FAL;
Cada uma das instituições dos dois conjuntos referidos tem desenvolvido importante papel para
o desenvolvimento de C&T, destacando-se as especificadas a seguir:
111
i. Universidade Federal do Rio Grande do Norte–Ufrn. Possui em sua estrutura de
administração central uma Pró-Reitoria de Pesquisa e Extensão e na área acadêmica um Centro de
Tecnologia, onde se concentram as chamadas engenharias, atualmente com cursos de graduação e pós-
graduação, a nível de mestrado e doutorado. Conta, além disso, com uma agência de gestão e
intermediação de projetos de pesquisas – a Fundação Norte-rio-grandense de Pesquisa e Cultura–
Funpec. Adotando uma política de descentralização das atividades universitárias, a Ufrn interiorizou
sua ação para algumas regiões do Estado, por intermédio do Centro Rural Universitário de Ação
Comunitária–Crutac, que é hoje responsável pela administração dos Campi Universitários, destacando-
se o Centro Regional de Ensino Superior do Seridó−Ceres, Campus de Caicó e Campus de Currais
Novos. Esses dois Campi atendem a 320 alunos dos diferentes municípios da região. Na área do ensino
médio, a Ufrn conta com o Colégio Agrícola de Jundiaí e o Colégio Agrícola de Ceará-Mirim.
viii. Federação das Indústrias do Rio Grande do Norte–Fiern. Vem atuando como
importante parceira do Estado, na alavancagem de projetos estruturantes e na criação de centros
tecnológicos, nas áreas de informática e de tecnologia do gás.
112
• Centro Regional de Ensino Superior do Seridó–Ceres, Campus de Currais Novos,
vinculado à Ufrn;
A participação do setor privado nas atividades de C&T na Região Seridó, como se vê, é pouco
expressiva.
O Sistema Estadual de Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte tem como objetivos
principais:
113
O Seridó não está efetivamente envolvido nas atividades de C&T realizadas no Estado do Rio
Grande do Norte. As particularidades a este respeito estão sendo estudadas, para serem incluídas no III
Plano Estadual de Ciência e Tecnologia–Citec – 2000-2002. As diretrizes setoriais e espaciais desse
envolvimento deverão ser estabelecidas em programa específico do Plano de Desenvolvimento
Sustentável da Região do Seridó. Um programa a este respeito será crucial para o desenvolvimento do
Seridó.
O estudo da Ciência e Tecnologia no Rio Grande do Norte tem um marco importante no Plano
de Desenvolvimento Sustentável do Estado–PDS, publicado em 1997. Esse Plano confere o seguinte
destaque a este tema:
No Rio Grande do Norte, pode-se perceber, pela análise de documentos e portfólios de projetos
das diversas instituições da área de C&T, que a opção prevalecente é de uma política de Ciência e
Tecnologia pautada pelos princípios mencionados. Fica evidente, pela orientação do Conselho Estadual
114
de Ciência e Tecnologia–Conecit, em relação ao apoio que deve ser concedido, pelo Fundo Estadual de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico–Fundet, a Programas e Projetos que induzam e incentivem
o desenvolvimento de iniciativas voltadas para a solução dos problemas mais prementes e desafiadores
da sociedade potiguar, cabendo destacar aqui o aproveitamento das potencialidades do Seridó.
115
Para os negócios não-agrícolas, o Seridó pode contar com o apoio do Pólo de Modernização
Empresarial para Eficiência Coletiva de Micros e Pequenas Empresas–Poloemp, que tem por objetivos:
Como referido anteriormente, o Rio Grande do Norte conta com os seguintes centros
universitários: a Universidade Federal do Rio Grande do Norte–Ufrn, a Escola Superior de Agronomia
de Mossoró–Esam, a Universidade Estadual do Rio Grande do Norte–Uern, a Universidade Potiguar–
UnP, a Faculdade Natalense para o Desenvolvimento–Farn, a Faculdade de Natal–FAL e o Centro de
Formação de Executivos–Facex.
46
Até dezembro de 1999, aquelas outras escolas e centros universitários ainda não haviam tornado disponível sua produção
acadêmica, via Internet.
116
Os 18 cursos de mestrado geraram 645 dissertações no período de 1978 a 1998. As 645
dissertações produzidas estão assim distribuídas, entre as quatro grandes áreas do conhecimento,
especificadas no quadro 3.3.4.1:
117
Destaque-se que a Região do Seridó tem sido beneficiada com a produção acadêmica gerada no
âmbito da Ufrn. Dentre as dissertações de mestrado, ali preparadas, há algumas que tratam
especificamente de problemas do Seridó, tanto na perspectiva sociocultural e econômica, como
ambiental e produtiva, de que constituem exemplo as mencionadas a seguir:
iv. MORAIS, Ione Rodrigues Diniz (1998)- Desvendando a cidade; Caicó em sua dinâmica
espacial. Natal-RN, Ufrn, 1998. Xerox. (Dissertação apresentada ao Programa do Mestrado de Ciências
Sociais da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.) (Essa dissertação foi publicada em livro, em
1999);
A Universidade, como instituição, está presente no Seridó, expressando-se essa presença por
intermédio do Centro Regional de Ensino Superior do Seridó–Ceres, via Campus de Currais Novos e
Campus de Caicó. A Região do Seridó contava, em 1999, com 81 docentes, dos quais 31 eram
graduados, 19 tinham especialização, 29 eram mestres e 2 eram doutores, como consta da tabela
3.3.4.1. Na esfera do Centro Regional de Ensino Superior do Seridó estão sendo especializados três
profissionais em cursos de mestrado e seis em cursos de doutorado.
TABELA 3.3.4.1
CARACTERIZAÇÃO DOCENTE DO CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO SERIDÓ, CAMPUS DE CAICÓ E DE CURRAIS
NOVOS. SITUAÇÃO EM 1999
QUALIFICAÇÃO DOCENTE DOCENTE EM QUALIFICAÇÃO
DEPARTAMENTO DOCENTES GRADUADO ESPECIALISTA MESTRE DOUTOR ESPECIALISTA MESTRE DOUTOR
Caicó 55 24 15 15 1 5 2 3
Currais Novos 26 7 4 14 1 3 1 3
Ceres 81 31 19 29 2 8 3 6
FONTE: Ceres.
118
Comparando-se com os dados de 1998, o Ceres apresentou em 1999 uma melhora significativa
na qualificação docente. Houve uma redução de 22,6% no número de graduados; um aumento de
18,8% no número de especialistas; e de 38,1% no número de mestres. Os docentes em qualificação,
estarão em breve encerrando os respectivos cursos. Significa que o Seridó contará até o final do ano de
2000 com 23 Graduados, 27 Especialistas, 32 Mestres e 08 doutores. Outros professores estarão
iniciando sua pós-graduação – doutorado e mestrado – no mesmo período.
Este tópico constitui complemento das informações até aqui descritas sobre a produção e oferta
de tecnologias, no que em particular, pode interessar ao desenvolvimento do Seridó. Trata-se de
abordagem preliminar e simplificada. A formulação de demandas tecnológicas (ou prospecção
tecnológica) ainda constitui campo muito novo de pesquisa. Seu desenvolvimento vai, aos poucos, se
firmando na gestão de ciência e tecnologia, em decorrência da maturação dos investimentos em
pesquisa e da escassez de recursos para o financiamento de novos investimentos, em C&T, tanto
públicos como privados. A identificação de demandas tecnológicas é problemática, diante das
dificuldades que as instituições de C&T devem solucionar, em matéria de pesquisa e desenvolvimento
(P&D). Na execução de suas atividades, essas instituições devem responder, de saída, a questões como
as seguintes: o que é importante pesquisar e como distribuir os recursos disponíveis (financeiros e
humanos), para atender as demandas identificadas. (Goedert, Paez & Castro, 1994: 167-169.)
A revisão que se fez sobre a identificação de demandas tecnológicas informa que não há
informações quantitativas sobre a demanda por serviços de ciência e tecnologia, tanto em relação ao
Rio Grande do Norte como à Região do Seridó. Essa carência não constitui privilégio desse Estado,
embora a formulação, em detalhe, da demanda por aqueles serviços venha constituindo objeto de
discussão em encontros, simpósios e congressos de C&T. Mesmo assim, os resultados concretos daí
advindos ainda são restritos.
Sabe-se que as entidades dedicadas à pesquisa e à tecnologia estão atentas a esse problema,
como mostram as iniciativas postas em prática por instituições como a Embrapa. Idêntica observação
também vale para as organizações envolvidas com a difusão de tecnologia, tomando-se por base o caso
mais estudado, que é o da aplicação de novas tecnologias em atividades agropecuárias. Em relação a
este setor, o problema é mais complexo. No tocante à difusão de tecnologias, não se conta, atualmente,
com uma instituição que atue, especificamente, sobre o tema, nas esferas nacional e regional. E a que
existe no âmbito estadual, representada pela Emater, deveria dispor de uma mais efetiva capacidade
instalada, compatível com as demandas hoje postas por sua clientela preferencial.
As carências em matéria de difusão de novas tecnologias chegam a integrar o rol das recomendações de
várias instituições de pesquisa, em particular daquelas cujos maiores interessados dispõem de
conhecimento técnico e científico restrito sobre a matéria, como ocorre com as ligadas ao setor
agropecuário. A situação é um pouco diversa, quando se trata de agricultores e pecuaristas,
tecnicamente mais avançados, que até podem não dispor de uma percepção precisa sobre as demandas
119
específicas na área de C&T. Mas sabem localizar os problemas que limitam a rentabilidade de seus
negócios. Na prática, a ligação dos agricultores mais modernos com os centros de pesquisa de
organizações como a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária−Embrapa é realizada, em boa
medida, por intermédio de meios modernos de comunicação, como o telefone e, por fim, a Internet.
As dificuldades maiores – para a prospecção tecnológica – tendem a ficar mais restritas aos
pequenos produtores, em particular os que produzem diminutos excedentes para o mercado, como
ocorre com os que trabalham nas áreas mais carentes de recursos (físicos, materiais, técnicos e
financeiros), do semi-árido em geral e do Seridó em particular. Esses produtores ainda dependem muito
dos técnicos responsáveis pela difusão de tecnologias, integrantes dos quadros da Emater, para terem
suas demandas especificadas.
Passando do setor rural ao setor urbano, verifica-se que as dificuldades antes mencionadas
também são enfrentadas pelos micro e pequenos empresários urbanos, embora a natureza particular de
seus problemas seja diversa. Primeiro, aqueles empresários podem contar com uma disponibilidade de
recursos financeiros relativamente maior do que a mobilizável pelos micro e pequenos agricultores.
Segundo, os problemas que os micro e pequenos empresários urbanos enfrentam ficam relacionados à
capacidade de pagamento dos serviços de informação técnica. Como o Estado não financia a
assistência técnica requerida pelos setores econômicos, ditos urbanos, dada a suposição de sua maior
força econômica e financeira, aquela categoria de empresário só tem acesso a inovações técnicas se
puderem pagar pelos serviços exigidos para a utilização das novas tecnologias. Há exceções, para
confirmar a regra, como as expressas pela assistência técnica aportada pelo Serviço Brasileiro de Apoio
às Micros e Pequenas Empresas–Sebrae.
Assume-se, pois, que no Seridó – e, de resto, no Nordeste e Estados que o integram –, o acesso
aos serviços prestados pelas instituições de difusão tecnológica é realizado pelo emprego de uma
de duas opções: o interessado recebe o serviço de assistência e informação gratuitamente (quando se
trata de um micro ou pequeno agricultor) ou paga por aquele serviço (quando se trata de um
empresário, quer tenha negócio em área rural ou urbana).
O quadro das instituições que atendem a demanda por serviços de C&T, na Região do Seridó, é
constituído por organizações como as especificadas a seguir, em relação às atividades com as quais
operam:
120
Historicamente, as demandas tecnológicas mais efetivas do Rio Grande do Norte e do Seridó
têm sido as colocadas pelos grandes produtores (rurais ou urbanos), em particular aqueles ligados às
atividades algodoeiro-pecuárias e à indústria extrativa mineral. O atendimento dessas demandas, em
particular as de interesse do complexo algodoeiro-pecuária, foi viabilizado pela ação de instituições
públicas e privadas. No primeiro caso, destacaram-se o antigo Instituto de Pesquisas e Experimentação
Agropecuárias do Nordeste–IpeaNE, a Sudene e a Embrapa, além de órgãos do governo do Rio Grande
do Norte. No segundo caso, convém salientar a contribuição de empresas como a Machine Cotton (com
os trabalhos realizados na Fazenda São Miguel, no Município de Angicos), a Anderson Clayton e o
Instituto Nordestino para o Fomento de Algodão e Oleaginosas−Infaol.
ii. exame das necessidades, exigências e aspirações dos consumidores daqueles produtos;
No quadro das informações disponíveis, pode-se assumir que as demandas tecnológicas que se
colocam atualmente referem-se a exigências observáveis nas esferas de atividades dinâmicas e de
47
Veja-se, em particular, sobre o assunto: (Goedert, Paez & Castro, 1994: 177-185.)
121
atividades (tradicionais ou não) ligadas à indústria e à agroindústria. No que se refere às atividades
dinâmicas, destacam-se demandas nos seguintes subsetores:
• pecuária leiteira;
• lavouras empresariais, como a da cajucultura (na Zona Homogênea das Serras Centrais).
A explicitação das demandas referidas aos dois conjuntos de atividades mencionados não
significa carência de tecnologias. Na realidade, boa parcela das inovações requeridas já se acham
dominadas. O que falta, em determinados casos, é torná-las disponíveis, em função das características
dos mercados de produtos e de tecnologia, da disponibilidade de crédito para o desenvolvimento de
novas atividades, da organização das instituições de difusão tecnológica e da criação de apoio aos
micro e pequenos produtores e empresários, rurais ou urbanos.
Por fim, também falta apoio do governo estadual aos trabalhos de ciência e tecnologia, no rol
dos quais se inclui a formação de profissionais bem capacitados, devidamente remunerados, para
identificarem as demandas tecnológicas adequadas e produzirem as inovações a elas correspondentes.
“A maioria dos Estados brasileiros não tem investido em ciência e tecnologia. Pagam mal a seus
cientistas e investem pouco na infra-estrutura laboratorial. Com exceção de São Paulo, há nos Estados a
tradição de esperar pelos investimentos públicos federais, que, por sua vez, também são reduzidos,
principalmente quando comparados, em percentagem do PIB, com os efetuados em países
desenvolvidos.” (Sousa, 1993:85.)
Esta situação apresenta-se mais grave atualmente. O governo federal vem reduzindo seus já
diminutos aportes de recursos às atividades de pesquisa, geração e difusão de tecnologias. Assim, a
contribuição do setor privado, por mais amplas e efetivas que possam a ser os esquemas de parceria,
tenderá a ser insuficiente para equilibrar o balanço entre demanda e oferta de informações tecnológicas.
122
3.3.6 Principais Problemas
A Região do Seridó conta com uma base tecnológica restrita, insuficiente para promover as
atividades potencialmente dinamizáveis. Além de insuficiente, é defasada em relação às demandas das
atividades produtivas. Registra-se, neste sentido, uma grande defasagem entre as tecnologias utilizadas
nos setores da economia, manifestada quando da avaliação do processo produtivo atual e o padrão
tecnológico exigido por essas atividades. Essa defasagem decorre da orientação que tem presidido o
desenvolvimento das atividades de geração e difusão de tecnologia, comprometendo o padrão de
desenvolvimento e sua sustentabilidade.
123
• Escassa articulação entre as iniciativas de C&T e de gestão ambiental. As atividades
de produção e difusão de tecnologias são limitadas, em extensão e profundidade. As que vêm sendo
realizadas não consideram ou respeitam, apenas minimamente, as especificidades do Seridó, no tocante
à compatibilização entre as atividades de C&T e gestão ambiental;
• Base de recursos humanos. Embora insuficiente a uma maior cobertura das demandas,
o Seridó conta com uma base de recursos humanos com formação variada, inclusive de nível superior,
nas principais cidades da região, capacitada para absorver inovações e utilizar as técnicas disponíveis,
se apoiada devidamente;
124
algodoeiro-pastoril) e à indústria extrativa mineral, passíveis de replicagem, em bases ampliadas, em
novos setores e ramos da economia;
Esta Dimensão é descrita tomando por base a identificação das principais características do
ambiente econômico do Seridó, destacando as atividades que desempenharam um papel central, a partir
das quais foi organizada a economia seridoense – os complexos algodoeiro-pecuária, a agricultura de
alimentos e o complexo minerador (comandado pela extração da Scheelita), estando ambos os
complexos em crise, desde os anos 80. Destaca também outras atividades importantes para a economia
regional, como a pecuária de leite, a piscicultura e a ovino-caprinocultura, com suas especificidades
sub-regionais (Zonas Homogêneas), com destaque para as Serras Centrais, pouco urbanizada, e em
cujos platôs se encontra a cajucultura e outras fruteiras (pinha, jaca, graviola), além da produção de
milho, feijão e especialmente da mandioca.
A vida econômica (social e política) seridoense foi estruturada a partir de duas matrizes
básicas: o complexo pecuária/algodão/produtos alimentares (em especial, o milho, o feijão e a
mandioca) e a atividade de extração mineral. O primeiro e mais antigo complexo lastreou a
organização econômica da maior parte da região. Nele, às atividades agropecuárias se associavam
atividades industriais voltadas para o beneficiamento do algodão (para extração da pluma, óleo e torta),
realizado por diversas usinas localizadas principalmente em Parelhas, Caicó, Jardim do Seridó e
125
Currais Novos e Acari. Hoje não existe nenhuma em funcionamento. A mineração, que se desenvolve
no Seridó sobretudo nas décadas de trinta e quarenta do atual século, e que atingiu seu apogeu nos
anos 70, marca principalmente a vida da porção oriental da região seridoense.
Até meados da década de 80, portanto, ainda predominava no Seridó um sistema de produção
baseado nesses dois grandes complexos. No primeiro, as relações sociais de produção eram
fundamentadas na parceria (meação e terça), predominante na grande e média propriedade. Na pequena
unidade produtiva, o trabalho era desenvolvido pela mão-de-obra familiar. No beneficiamento da
produção do complexo algodoeiro-pecuário e na produção do complexo minerador é que se
encontravam os trabalhadores assalariados .
Com o declínio e quase extinção do algodão arbóreo no Seridó, processo que toma força nos
anos 80 e 90, os espaços ocupados por essa cultura foram abandonados e suas capoeiras passaram a ser
utilizadas pelos rebanhos, tendo a agricultura sido reduzida às áreas de vazantes e alguns pequenos
plantios de milho e feijão nos tabuleiros e baixios, porém muito dependentes das chuvas. No mesmo
período a crise também se instala na economia mineira do Seridó.
A forte migração para as cidades representou uma das estratégias de parte importante da
população envolvida nesses dois complexos, e isso contribuiu de maneira decisiva para o abandono das
atividades agrícolas, especialmente nas Zonas Homogêneas de Caicó e Currais Novos.
Foge parcialmente desse quadro, a Zona Homogênea das Serras Centrais. As diferenciações do
quadro natural e do processo de ocupação, associado ao fato de que abriga menor contingente
populacional, fizeram a diferença. Seus platôs estão ocupados pelas culturas do caju, milho, feijão,
mandioca e outras fruteiras como pinha, jaca e graviola. A cajucultura é a atividade mais importante.
Além disso, a ocupação dos platôs é predominantemente de minifúndios, comparativamente as outras
duas zonas, onde as propriedades são bem maiores. As Serras têm, até hoje, baixa urbanização e as
condições de altitude favorecem um melhor regime de quedas pluviométricas. Esta zona tem também
na pecuária de leite um dos mais destacados componentes de sua economia.
Por ser uma região com boa infra-estrutura de açudes, o Seridó a partir dos trabalhos de
peixamento desses açudes, promovido pelo DNOCS, passou a ter na piscicultura outra importante
atividade produtiva, sobretudo na Zona Homogênea de Caicó, onde há maior concentração de
mananciais. A piscicultura é desenvolvida em açudes públicos, sendo a pesca realizada por pescadores
das colônias inscritas no DNOCS ou mediante pesca contratada ou em parceria nos açudes particulares.
Apesar de bem dotado de açudes, a irrigação não tem presença marcante no Seridó. As
limitações físicas de água e solo, características que predominam na região é determinante de sua pouca
importância para fins de agricultura irrigada. A irregularidade pluviométrica torna o fator água, o mais
126
limitante para assegurar o desenvolvimento de uma agricultura sustentável. Os grandes açudes, quando
sangram, permitem a perenização de rios e propiciam a prática da irrigação, sobretudo pontual.
Entretanto, quando ocorre a seca – como a atual, que vem castigando o Estado, desde 1997 – as
condições para a irrigação no Seridó são mínimas, e ficam reduzidas às áreas que margeiam o rio
Piranhas-Açu, no seu trecho seridoense.
A grande maioria das áreas irrigadas da Região correspondem a pequenos projetos pontuais,
dispersos às margens dos rios ou no entorno dos açudes, destacando-se os trechos perenizados dos rios
Acauã, Seridó, São José, Sabugi, Barra Nova e margem direita do Piranhas-Açu. Predominam as
culturas tradicionais de milho, feijão, batata, melancia e forrageiras.
O cadastro dos Usuários de Água para Irrigação, realizado em dezembro de 1966, pela
Secretaria de Recursos Hídricos do Estado, excluídos os projetos públicos de irrigação, mostra a
existência de 2.227 ha de áreas irrigadas na Região do Seridó. Considerando a atual quadra seca,
basicamente nos municípios beneficiados pelo rio Piranhas-Açu (Serra Negra, Jardim de Piranhas e
Jucurutu), prevalecem alguns cultivos irrigados sobretudo de capim, batata-doce, feijão, sorgo e
melancia.
Nas áreas urbanas, em especial nas duas cidades principais da região – Caicó e Currais Novos –
e mesmo nas áreas rurais, as chamadas atividades urbanas ou não-agrícolas têm se desenvolvido e
ampliado, merecendo destaque a atividade comercial, a indústria, o artesanato e a produção de serviços.
127
3.4.1.2 Padrão Tecnológico Dominante, a Baixa Produtividade e as Mudanças
Recentes
Uma das marcas da vida econômica regional são os baixos padrões de produtividade que
prevalecem em grande parte das atividades realizadas. Isso influencia fortemente os baixos níveis de
renda, que também predominam no Seridó, onde a renda média da população é inferior à do Estado, em
seu conjunto (que já é baixa para os padrões nacionais), e onde mais de 70% dos residentes tinham
renda considerada insuficiente, no início da atual década, segundo o Ibge.
Alguns avanços vêm sendo observados na região, mas a melhoria dos padrões tecnológicos
continua sendo um desafio importante da região, como se viu no Item 3.3 anterior (Dimensão
Tecnológica).
Em uma região onde domina uma agropecuária inserida em ambiente de elevado risco
climático, onde a parceria constituiu a relação de trabalho dominante, onde a população ativa tem baixo
nível educacional e reduzida qualificação tecnológica, os produtores tendem a ser conservadores e
resistentes às mudanças. Essa situação ganha amplitude quando se trata de parceiros ou pequenos
proprietários, que apresentam condições, em matéria de poupança e financiamento, extremamente
reduzidas.
Além das limitações naturais, representadas pelas secas e pela inadequação pedológica de
muitas das áreas da região, as dificuldades creditícias, e o pouco uso das técnicas recomendadas pelos
órgãos de pesquisa e assistência técnica devem ser considerados. Afora a semente selecionada que
tinha aceitação crescente, as demais tecnologias recomendadas como: maior adensamento de plantas
nas linhas de plantio, quantidade de sementes por cova, manejo das pragas, poda e plantio orientado
segundo a conservação do solo, sempre tiveram baixo nível de aceitação.
Nesse contexto, a cultura algodoeira apresentava baixa produtividade por unidade de área, em
seu ciclo de 4 a 5 anos. Um exemplo está consignado no trabalho do Centro Nacional do Algodão,
intitulado “Decadência do Algodoeiro Mocó e Medidas para o seu Soerguimento no Nordeste
Brasileiro”. Uma análise da produção, área cultivada e produtividade média desse algodão no Nordeste
revelou que nos extremos do período de 1973-93 a área foi reduzida em 83,9%, a produção em 92,7% e
a produtividade em 55,6%, representando uma produção entre 80 a 180 kg por hectare.
128
extensiva, sendo a maior parte dos animais SRD (sem raça definida). Falta-lhes um mínimo de
cuidados e práticas elementares de alimentação, manejo e sanidade. A alimentação é obtida pelo que a
natureza oferece. Não há calendários de vacinação, controle de reprodução, melhoramento genético e
adoção de práticas zootécnicas. Todavia, cumpre mencionar o esforço que vem sendo desenvolvido
pelas Associações de Criadores, em várias regiões do Estado, inclusive no Seridó. Verifica-se, ainda, a
existência de produtores cujos criatórios estão se constituindo em verdadeiras unidades de
demonstração, no que tange a melhoramento genético, alimentação, sanidade, manejo e instalações. As
explorações estão voltadas para a venda de reprodutores, produção de carne, leite e queijo de cabra. O
Sebrae e a Emater estão promovendo assistência técnica e gerencial a diversos núcleos de caprino e
ovinos.
A cajucultura, como já referido, está restrita aos platôs serranos da Serra de Santana, ocupando,
no total da Zona Homogênea, 6.726 ha, onde os minifúndios correspondem a 74% do total dos
estabelecimentos, ocupando 14% da área. (Incra, 1992.) Ali predomina um sistema de plantio aleatório,
disperso em pequenas áreas, sem espaçamento definido. A seleção das castanhas para plantio foi feita a
base da escolha dos pés tidos como mais produtivos e de caju mais doce. Sem um espaçamento regular,
os cajueiros formaram bosques, com árvores espaçosas, entremeadas por espaços livres para o
consórcio com lavouras de mandioca, milho e feijão, além de outras fruteiras. A maioria do cajueiral da
Serra deve estar com mais de 30 anos (Emparn, 1999), apresentando grande heterogeneidade e baixa
produtividade. A tecnologia empregada resume-se ao coroamento das plantas e à poda dos galhos mais
baixos para facilitar a apanha das castanhas. O sistema de produção guarda forte conotação extrativista,
em virtude de sua condição de árvore rústica, tolerante à seca, pouco exigente e de longa vida útil. Os
trabalhos de pesquisa iniciados no Ceará pela Empresa de Pesquisa Agropecuária do Ceará–Epace e
Embrapa, resultando na obtenção da variedade anã, precoce, e em tecnologias de substituição de copas,
estão sendo difundidas na Serra, já com algumas áreas iniciando o emprego dessas novas técnicas de
produção. A melhoria dos padrões tecnológicos da cajucultura é um dos desafios importantes da região.
Quanto à piscicultura, predomina a exploração extensiva dos mananciais, tanto públicos como
privados. A pesca tem caráter artesanal, extrativista, com baixo volume de inversões em equipamentos
e infra-estrutura. A tecnologia é rudimentar e de modo geral o pescador não é qualificado. Os
equipamentos e apetrechos são utilizados de acordo com a modalidade da pesca e da espécie a ser
capturada. São empregadas canoas, redes, covos, chumbadas e anzol, via de regra, fornecidas pelo
comerciante atacadista. A produtividade média, possível de obter em açudes do Nordeste, é estimada
em 250 kg de pescado/hectare/ano de espelho d’água, quando bem manejados, para a pesca extensiva.
Nas atividades urbanas, o padrão tecnológico dominante no Seridó tende a acompanhar o que
ocorre em áreas urbanas semelhantes da região Nordeste e do Rio Grande do Norte, especialmente em
Caicó e Currais Novos. Algumas especificidades são referidas adiante.
As características predominantes na Região não fogem muito das condições gerais do Estado e
do Nordeste. No Seridó, predomina a mesma combinação de grandes e pequenas propriedades. Por ser
uma área de grande número de açudes, a grande propriedade concentra a terra e a água. E nunca é
demais lembrar que “água” é um dos fatores centrais de estrangulamento ao desenvolvimento
agropecuário do Nordeste semi-árido em seu conjunto e, dentro dele, também do Seridó.
129
No entanto, a estrutura fundiária seridoense não se inscreve entre as mais desigualmente
distribuídas do Nordeste e do Rio Grande do Norte, tanto que no levantamento realizado em seminários
feitos nos diversos municípios da região, como parte do processo de elaboração do Plano de
Desenvolvimento Sustentável do Seridó, a reforma agrária não apareceu entre as demandas principais.
A demanda por água foi muito mais intensa.
Segundo o Censo Agropecuário de 1985, a Região do Seridó tinha 89% dos seus
estabelecimentos nos estratos de área de até 100 ha, participando com 24,4 % da área total. Os acima
de 1.000 ha representavam somente 0,7% do total de estabelecimentos, mas ocupavam 24,8 % da área.
Em 1995/96 os menores estabelecimentos haviam aumentado em número (de 12.716 passaram a ser
13.807), mas haviam reduzido seu peso tanto no total de estabelecimentos (de 89% para 87%) quanto
na área (de 24,4% para 22% da área total). Por sua vez, os grandes estabelecimentos (com mais de
1.000 ha) também eram mais numerosos (passaram de 106 para 126) e haviam mantido praticamente
igual sua participação tanto no total quanto na área ocupada. As mudanças em dez anos, portanto, não
haviam sido relevantes.
TABELA 3.4.1.1
SERIDÓ. ESTRUTURA FUNDIÁRIA, SEGUNDO OS CENSOS AGROPECUÁRIOS DE 1985 E DE 19995/1996
1985 1995/96
Nº DE ESTABE- % ÁREA (ha) % Nº DE ESTABELECI- % ÁREA (ha) %
ESTRATO DE ÁREA (ha) LECIMENTOS MENTOS
Abaixo de 100 ha 12.716 88,9 196.921 24,4 13.807 87,3 222.038 22,3
101 a 500 ha 1.311 9,1 278.159 34,5 1647 10,3 354.036 35,6
501 a 1.000 ha 189 1,3 129.250 16,3 257 1,6 175.723 17,7
Acima de 1.000 ha 106 0,7 199.714 24,8 126 0,8 242.625 24,4
TOTAL 14.322 100,0 804.044 100,0 15.837 100,0 994.422 100,0
FONTE DOS DADOS BÁSICOS: Ibge, Censos Agropecuários de 1985 e de 1995/1996.
A situação por Zona Homogênea do Seridó pode ser particularizada, conforme os dados
apresentados a seguir. Na Zona Homogênea de Caicó, em 1985, 83,8% dos estabelecimentos tinham
área de até 100 ha, ocupando 24,2 % da área total. Em 1995/96, aquele percentual caíra para 80% do
número e para 21% da área. Já os estabelecimentos com mais de 500 ha compreendiam apenas 2,6% do
total, mas detinham 37,8% da área total, revelando importante concentração fundiária. Em 1995/96,
eles abrangiam 3,2% dos estabelecimentos e ocupavam 37,2% da área. O quadro não sofreu alteração
relevante, portanto.
A Zona Homogênea de Currais Novos, naquele mesmo ano, tinha 88,7% do total dos
estabelecimentos, com até 100 ha, apropriando 24,8% da área total. Também declinaram um pouco sua
participação. Por sua vez, os estabelecimentos acima de 500 ha abrangiam 2,4% do número total de
estabelecimentos e abrangiam 46,1% das terras dessa ZH, caracterizando concentração de terra mais
forte do que em Caicó. Em 1995/96, compreendiam 2% do número de estabelecimentos, mas detinham
menos terra: 41% da área total, revelando ligeira atenuação do quadro anterior.
A Zona Homogênea das Serras Centrais tem 15% de suas terras ocupadas por estabelecimentos
com menos de 50 ha. Os de área até 100 ha constituíam 92,6% do total, detendo 22,6 % da área total.
Esses percentuais não mudaram muito, em 10 anos. Entretanto, os situados acima de 500 ha, somente
1,8% do total, ocupavam 47% da área total, indicando grande concentração de terra. Esses percentuais
praticamente se mantiveram no Censo de 1995/96.
As análises realizadas para o Censo 1995/96 não apontam alterações expressivas na estrutura
fundiária do Seridó, particularizado por suas Zonas Homogêneas. Mantém-se a concentração fundiária
existente. Quando se calcula o Índice de Gini, observa-se uma modesta redução dessa concentração,
130
vez que ele passa de 0,76 para 0,74, entre 1985 e 1995/96, no conjunto do Seridó. Foge a esse
comportamento a ZH das Serras Centrais, onde esse índice passou de 0,79 para 0,80, no mesmo
período. (Consórcio Tecnosolo & CEP, 1999.)
TABELA 3.4.1.2
ZONA DE CAICÓ. ESTRUTURA FUNDIÁRIA, SEGUNDO OS CENSOS DE 1985 E DE 1995/1996
1985 1995/96
ESTRATO DE ÁREA Nº DE ESTABE- % ÁREA(ha) % Nº DE ESTABELE- % ÁREA(ha) %
(ha) CIMENTOS
LECIMENTOS
Abaixo de 100 ha 4.366 83,8 94.843 24,2 3.338 80,4 77.244 21,2
101 a 500 ha 708 13,6 148.607 38,0 681 16,4 151.332 41,6
501 a 1.000 ha 84 1,6 55.738 14,2 89 2,1 59.455 16,3
Acima de 1.000 ha 53 1,0 92.070 23,6 41 1,1 75.284 20,9
TOTAL 5.211 100,0 391.258 100,0 4.149 100,0 363.315 100,0
FONTE DOS DADOS BÁSICOS: Ibge, Censos Agropecuários de 1985 e de 1995/1996.
TABELA 3.4.1.3
ZONA DE CURRAIS NOVOS. FUNDIÁRIA, SEGUNDO OS CENSOS DE 1985 E DE 1995/1996
1985 1995/96
ESTRATO DE ÁREA Nº DE ESTABELE- % ÁREA(ha) % Nº DE ESTABELE- % ÁREA(ha) %
CIMENTOS CIMENTOS
(ha)
Abaixo de 100 ha 4.136 88,7 70.896 24,8 2.818 84,5 60.671 23,9
101 a 500 ha 414 8,9 83.288 29,1 418 12,5 89.484 35,2
501 a 1.000 ha 75 1,6 51.240 17,9 66 1,9 45.202 17,8
Acima de 1.000 ha 39 0,8 80.759 28,2 31 1,1 58.293 23,1
TOTAL 4.664 100,0 286.183 100,0 3.333 100,0 253.650 100,0
FONTE DOS DADOS BÁSICOS: Ibge, Censos Agropecuários de 1985 e de 1995/1996.
TABELA 3.4.1.4
ZONA DAS SERRAS CENTRAIS. ESTRUTURA FUNDIÁRIA, SEGUNDO OS CENSOS DE 1985 E DE 1995/1996
Vale destacar, ao lado da grande predominância dos estabelecimentos com menos de 100 ha
de área (cerca de 13,8 mil), que representam cerca de ¼ do total, em todas as Zonas Homogêneas do
Seridó), uma tendência preocupante que se observa nesse segmento (a da fragmentação) e uma
característica que dificulta o acesso dos que neles produzem: a falta de regularização de suas
propriedades. A não regularização fundiária prejudica os produtores na medida em que dificulta ou
bloqueia seu acesso a políticas públicas e ao sistema de crédito. E não têm sido realizadas políticas
fundiárias significativas no Estado. Ao contrário, o antigo órgão estadual de terras foi desativado, em
meio à Reforma do Estado implementada na segunda metade da atual década, e suas atribuições
transferidas a uma mera coordenadoria da Emater (COF), sem meios e sem nível institucional para
exercer ação relevante.
131
Vale também salientar que, de acordo com informações fornecidas pela Fetarn, há no Seridó 14
Assentamentos Rurais, com 958 famílias ocupando 25.958 ha de área, ou apenas 2,6 % da área total
dos estabelecimentos do Seridó (estimada em 995 mil ha, no Censo Agropecuário de 1995/1996). Uma
participação, portanto, muito modesta. Há mais 5 assentamentos, que estão sendo instalados, com 366
pessoas, abrangendo área de 5.949 ha (no município de Cerro Corá). E uma demanda crescente por
desapropriações, em curso junto ao Incra.
Em contraposição, as áreas com matas e as terras de lavouras em descanso crescem seu peso na
área total do Seridó, passando de 33%, em 1985, para 49%, em 1995/96, como mostra o Gráfico
abaixo.
Quando se analisam esses dados por Zona Homogênea, tal como apresentados nas tabelas a
seguir, verificam-se diferenças importantes. A redução do uso das terras com lavouras foi muito mais
visível nas ZH de Currais Novos e Caicó do que na das Serras Centrais, e o menor uso das terras com
pastagens representou processo muito mais intenso nas Serras Centrais, teve queda menor em Caicó e
não ocorreu em Currais Novos (onde se mantiveram os 103 mil ha com esse uso).
Por sua vez, os dados sobre o uso da terra mostram as mudanças que vêm ocorrendo na
região, nas décadas recentes. A crise da base agropecuária, cujo elemento central é a brusca queda da
produção algodoeira, fica evidenciada na redução muito significativa (de 15%, em 1985, para apenas
8%, em 1995/96) das áreas utilizadas com lavouras, tanto permanentes como temporárias (passando de
164 mil ha para 78 mil ha). No Estado como um todo, esse processo também ocorreu, mas em menor
intensidade (as lavouras reduzem seu peso nas terras ocupadas de 23% para 16%, no mesmo período).
Por sua vez, as áreas ocupadas com pastagens (naturais e artificiais) confirmam que a enorme redução
da produção do algodão também afetou negativamente a atividade pecuária (pois afetou seus custos,
que o algodão ajudava a reduzir, ao fornecer, dentro da própria fazenda pecuária, o volumoso –
restolho do algodoal – e a torta para a alimentação do rebanho. As pastagens que ocupavam 43% das
terras do Seridó, em 1985, passaram a ocupar apenas 37%, em 1995/96. No Estado como um todo, a
redução também foi observada, mas passou de 35% para 33%, apenas.
TABELA 3.4.1.5
RIO GRANDE DO NORTE, SERIDÓ E ZONAS HOMOGÊNEAS. UTILIZAÇÃO DAS TERRAS (EM 1000 ha)
UTILIZAÇÃO DA TERRA
ÁREA TOTAL LAVOURAS PASTAGENS MATAS LAVOURAS EM TERRAS
DISCRIMINA-ÇÃO PERMANEN-TES E NATURAIS E NATURAIS E DESCANSO INAPROVEI-
TEMPORÁRIAS ARTIFICIAIS PLANTADAS TÁVEIS
1985 1995 1985 1995 1985 1995 1985 1995 1985 1995 1985 1995
R. G. do Norte 4.382 3.733 1.029 589 1.534 1.246 1.107 1.127 433 609 279 162
Região Seridó 1.129 995 164 78 488 370 299 344 79 144 99 58
ZH Currais Novos 287 254 51 18 103 103 85 72 20 48 28 12
ZH Caicó 393 363 44 22 181 148 118 133 19 38 31 22
ZH Serras Centrais 450 377 69 38 204 119 96 139 40 58 41 24
FONTE DOS DADOS BÁSICOS: Ibge, Censos Agropecuários de 1985 e de 1995/1996.
132
UTILIZAÇÃO DAS TERRAS NO ESTADO E NA REGIÃO DO SERIDÓ NOS ANOS DE 1985
E 1995
50 Lavouras Permanentes e
43 Temporárias
Pastagens Naturais e Artificiais
40
35
V alores Perccentuais
1985
Matas Naturais e Plantadas
30 26
25
23 Lavouras emDescanso
20 15 Terras Inaproveitáveis
10 9
10 6 7
0
Estado Região do Seridö
40 37
Discriminação 35
33
30
30
Valores Perccentuais
1995 20
16 16
14
10 8
6
4
0
Estado Região do Seridö
Discriminação
133
TABELA 3.4.1.6
RIO GRANDE DO NORTE, SERIDÓ E ZONAS HOMOGÊNEAS – UTILIZAÇÃO DAS TERRAS (EM %)
UTILIZAÇÃO DA TERRA
LAVOURAS PASTAGENS MATAS NATURAIS LAVOURAS EM TERRAS
DISCRIMINAÇÃO ÁREA TOTAL EPERMANENTES
TEMPORÁRIAS
NATURAIS E E PLANTADAS DESCANSO INAPROVEI-
ARTIFICIAIS TÁVEIS
1985 1995 1985 1995 1985 1995 1985 1995 1985 1995 1985 1995
Estado 100,0 100,0 23,0 16,0 35,0 33,0 25,0 30,0 10,0 16,0 6,0 4,0
Seridó 100,0 100,0 15,0 8,0 43,0 37,0 26,0 35,0 7,0 14,0 9,0 6,0
ZH Currais Novos 100,0 100,0 18,0 7,0 36,0 41,0 30,0 28,0 7,0 19,0 10,0 5,0
ZH Caicó 100,0 100,0 11,0 6,0 46,0 41,0 30,0 37,0 5,0 10,0 8,0 6,0
ZH Serras Centrais 100,0 100,0 15,0 10,0 45,0 32,0 21,0 37,0 9,0 15,0 9,0 6,0
FONTE DOS DADOS BÁSICOS: Ibge, Censos Agropecuários de 1985 e de 1995/1996.
Estão tratadas a partir da descrição dos seguintes tópicos: i) Atividades Dinâmicas ou que Dão
Sustentação à Economia Local; ii) Atividades em Crise; e iii) As Principais Trajetórias do Pós-Crise
Assim, em anos recentes, enquanto as atividades que produziram riqueza (e um certo luxo) na
região, apresentam problemas graves de competitividade e algumas praticamente desapareceram
(como o algodão), outras atividades ganharam peso relativo ou passaram a integrar a base produtiva
local – caracterizando-a como em nítido processo de reestruturação.
Dentre as que marcam, atualmente, a vida econômica, social e política regional, merece
destaque uma, que é realizada nos espaços rurais, e que tem a ver com a antiga vocação regional: a
pecuária leiteira, como se destacou anteriormente. Esse segmento teve seu crescimento recente puxado
por importante iniciativa governamental (o Programa do Leite, que há alguns anos vem sustentando um
mercado institucional capaz de fomentar a ampliação da produção local, e que, agora, estimula sua
diversificação).
134
A existência de duas cooperativas (a Coacal e a Cersel) participando do mercado de laticínios e
de mais de uma centena de queijarias, vem consolidando as explorações. A partir de 1995, com a
implementação do Programa do Leite, aquele subsetor tomou novo impulso, com a criação desse
mercado institucional. Este mercado compra das usinas credenciadas da região 30 mil litros diários de
leite, ou ¼ dos 120 mil litros adquiridos pelo governo estadual, para distribuição em diversos
programas sociais do próprio governo do Estado e da Prefeitura de Natal.
Vale destacar que a tradição leiteira da região e sua conhecida pauta de produtos artesanais,
como queijo-de-manteiga, queijo-de-coalho, nata e manteiga-de-garrafa – além da carne-de-sol –,
fazem deste um segmento promissor. A produção seridoense marca presença no Estado e se afirma em
outras regiões do País, especialmente onde residem emigrantes nordestinos. Não só a produção mas a
“marca Seridó”, e dentro dela a “marca Caicó”, são pontos fortes da economia regional, num mundo
onde cada dia mais as “marcas” se valorizam. Já existe uma consciência na região sobre a importância
desse “patrimônio”, registrando-se esforços iniciais para valorizá-lo devidamente.
A caprino-ovinocultura é outra atividade que vem despertando interesse na região e que tem
plena condição de integrar-se à bovinocultura regional para fortalecer a base pecuária seridoense. A
pecuária é sem dúvida, um dos esteios de qualquer proposta de desenvolvimento da economia da região
semi árida do Nordeste. As condições de adaptabilidade do efetivo caprino, as potencialidades de
mercado e os incentivos governamentais como o Programa de Leite – que estabeleceu uma cota para o
leite-de-cabra –, criou um forte estímulo para o seu criatório. Gradualmente, essa que era tida na região
como “atividade de pobres” (pois o gado bovino é que era muito valorizado econômica e
culturalmente) supera essa visão e se afirma como atividade a ser prestigiada e promovida, nos grandes
e pequenos estabelecimentos. Por outro lado, o avanço e a difusão de tecnologias e a existência do
Centro de Caprinos da Embrapa, no Nordeste (em Sobral, Ceará), aliado aos trabalhos da Empresa de
Pesquisa Agropecuária do Estado da Paraíba–Emepa, constituem referências para a Região, conferindo
suporte tecnológico para o desenvolvimento dessa exploração.
135
A cajucultura, ao lado de outras atividades da fruticultura ( especialmente a produção de pinha,
graviola e jaca), no que toca à base agrícola, tem ajudado a manter a economia da região. A
fruticultura, e em especial a cajucultura, embora fortemente concentrada nos platôs da Serra de
Santana, na Zona Homogênea das Serras Centrais, apresenta boas perspectivas de expansão horizontal
e vertical. À disponibilidade de áreas que podem ser ocupadas racionalmente com o cajueiro anão e à
possibilidade de substituição de copas dos cajueiros comuns pouco produtivos, somam-se à
participação dos produtores no beneficiamento e comercialização da castanha. Fatos relevantes para o
futuro são expressos pela existência de cerca de 10 associações de produtores (que devem ser ativadas),
da Cooperativa de Cerro Corá–Coopersertana e do Programa de Substituição de Copas em Cajueiros
Improdutivos e Adensamento (Protocolo entre o governo do Estado, Banco do Brasil, Secretarias de
Estado e Associações de Classe, de grande importância para a continuidade desse programa). A
existência de unidades de beneficiamento do pedúnculo do caju, dentre as quais se destaca a Cersel,
constitui uma nova oportunidade para os cajucultores da região.
As novas atividades, a seguir melhor diagnosticadas, estão se estruturando, mas sua dinâmica
ainda não tem força suficiente para competir com a de outros pólos do Estado (como Natal, Mossoró e
o Vale do Açu), levando alguns estratos sociais (especialmente os de maior renda) a enfatizar um
discurso de que o Seridó perde espaço econômico e político na vida norte-rio-grandense. Além do
mais, os pequenos negócios, especialmente os informalmente organizados, como se verá adiante, é que
têm apresentado forte dinamismo.
136
De acordo com o Cadastro Industrial do Rio Grande do Norte de 1998, no Seridó estão 9,4 %
do total de empresas dessa atividade do Estado, com especial destaque para o município de Caicó, que
detém 2,3% do total estadual; em seguida, vem Currais Novos, com 50 empresas (1,9% do total),
dentre o total das registradas no Cadastro Industrial da Fiern.
TABELA 3.4.2.1
RIO GRANDE DO NORTE. DISTRIBUIÇÃO DAS INDÚSTRIAS NA REGIÃO DO SERIDÓ, POR ZONA
HOMOGÊNEA
Usando como referência os dados da arrecadação do ICMS, por atividade, dos municípios do
Seridó em 1995 e 1998 percebe-se uma concentração nas atividades industriais de pequeno porte, com
destaque para: cerâmicas, panificadoras, confecções, produção de redes, artesanatos, industrias de
massas. Para muitos municípios a única atividade que registra arrecadação é o comércio varejista,
como é o caso de Florânia, Ipueira, São Fernando, São João do Sabugi e Timbaúba dos Batistas.
Outros municípios ostentam dados relativos apenas à arrecadação dos Serviços Públicos, como é o caso
de Santana do Seridó (onde dos R$ 61.870,00 arrecadados, R$ 51.153,62 vêm dos serviços públicos).
Dentre as atividades urbanas, algumas merecem destaque, sendo examinadas com mais detalhe,
a seguir.
137
vantagem competitiva é atribuída à adoção de um regime tributário especial ( pauta) e à utilização de
mão-de-obra infantil nas unidades de produção, na sua grande maioria de caráter informal. De acordo
com registro feito pelo Ministério Público do Trabalho, esses estabelecimentos produtivos têm sido
freqüentemente autuados, em toda a Região do Seridó. Apesar desse ponto, as fábricas de bonés
marcam presença crescente no tecido econômico regional. Tanto que para suprir suas necessidades a
região já implantou indústrias de insumos para bonelaria, como 3 unidades de dublagem e 3 fábricas
de reciclagem de plástico (a aba do boné é feita com plástico reciclado, o que cria empregos na coleta
seletiva de lixo).
Além dos bonés, a região produz chapéus (tanto de couro como de tecido) em cerca de 10
unidades, situadas sobretudo em Caicó.
Uma outra atividade de destaque diz respeito ao ramo alimentício que apresentou forte
crescimento, principalmente em razão da elevação do número de panificadoras. Uma indústria que
merece ser citada é a Indústria de Massas do Nordeste Ltda. que produz massas e biscoitos para o RN
e a Paraíba. O aumento das panificadoras é observado para vários municípios seridoenses.
De acordo com as manifestações ocorridas por ocasião das reuniões foram sugeridos alguns
encaminhamentos para a melhoria dos serviços relativos à comercialização de alguns produtos:
c. Indústrias de Calçados
138
d. Artesanato e Turismo
Um dos principais cartões de visitas do Seridó é, sem dúvida, montado a partir da fama dos
bordados de Caicó, que são na grande maioria fabricados em Timbaúba dos Batistas. Tradicionalmente
conhecidos pela riqueza de detalhes, os bordados passaram a ser vendidos principalmente pelas lojas
de artesanato de Natal mas também exportados para outros estados do Brasil e para o exterior. Com a
intensificação do comércio internacional outros países puderam também divulgar os seus bordados
(Ilha da Madeira, Indonésia ...), muitas vezes com preços inferiores aos praticados pelos comerciantes
locais, o que acabou provocando uma queda nas vendas e consequentemente na produção. O projeto de
revitalização do Artesanato patrocinado pelo Banco do Nordeste e Sebrae vem tentando tornar os
produtos mais competitivos, permitindo que eles sejam divulgados nas missões e Feiras Internacionais
multissetoriais. Um trabalho de conscientização e treinamento de pessoal ocupado no setor vem sendo
realizado. Foi também desenvolvido um estudo para reformular a estrutura dos bordados tentando
diferencia-los dos bordados do Ceará e transformá-los em mercadorias mais baratas (por conterem
menos figuras bordadas).
O artesanato está incluído nas principais atividades de vários municípios da região seridoense,
como Jardim de Piranhas, Timbaúba dos Batistas, Serra Negra, Caicó, São João do Sabugi, Ipueira,
Santana do Seridó, Carnaúba dos Dantas, Jucurutu e Parelhas. Outros produtos artesanais, além dos
bordados, permanecem importantes como: licor, produtos da cerâmica, doces, queijos, carne-de-sol,
redes de dormir, produtos de palha, entre outros, todos facilmente comercializados. 48 Todavia, há
dificuldades de recursos para a produção e a comercialização dos produtos. Para enfrentar esses
problemas foi criada a Cooperativa de Produção Artesanal de Caicó–Coase, em 1978, congregando
todos os municípios da região. A cooperativa dispõe de uma loja para a comercialização dos produtos.
Existe ainda uma outra cooperativa constituída pelas indústrias de beneficiamento de leite e seus
derivados, a Cooperativa Agropecuária de Caicó–Coacal, com 3 549 associados, em 1998, que fabrica
leite in natura, tipo C, iogurte e manteiga.
e. Indústria Cerâmica
48
Pesquisa realizada, em dezembro de 1999 e janeiro de 2000, junto a 5 lojinhas do tipo “Cantinho Sertanejo”, na cidade de
Natal, demonstrou que, embora esses estabelecimentos respeitem a venda de produtos, com registro comercial, selo e
especificações da composição, é muito grande a oferta de fornecedores do circuito informal de produtos da região, que são,
em grande parte, vendidos nas feiras livres, a camelôs e a particulares. Muitos desses produtos não são necessariamente
fabricados no Seridó, nem somente por pessoas originárias da região. A marca “Seridó”, por se vender bem, já justifica a
aceitação por parte dos consumidores em geral, que não verificam necessariamente a proveniência dos produtos vendidos.
Quanto às feiras livres, a venda de produtos “made in Seridó” se dá sem nenhuma exigência de qualidade e/ou
discriminação dos produtos. Portanto, permitem a venda de qualquer produto sob o selo de Produtos de Caicó ou Seridó.
139
relativa aos dados, tanto para o número de cerâmicas, quanto para o número de empregados e total da
produção. É importante observar que existe uma diferenciação entre cerâmicas e olarias nos cadastros e
dados em geral, como duas atividades distintas. De acordo com o Dicionário Aurélio (1980) e a
Enciclopédia e Dicionário Ilustrado Koogan/Houaiss (1994), o termo olaria é sinônimo de cerâmica.
Dessa forma se forem somadas as atividades registradas sob os dois termos a produção é, sem dúvida,
superior aos números indicados. Na verdade, o termo olaria diz respeito ao local onde se trabalha de
forma mais artesanal, com técnicas rudimentares. Já a cerâmica caracteriza-se como um
empreendimento industrial, mecanizado, com técnicas mais elaboradas. Isso reforça a existência de um
considerável número de empresas informais, que trabalham na região. Segundo o Dr. Edgard Dantas, 49
“para cada cerâmica legalizada existem duas não registradas, camuflando, finalmente, a produção
total”. Acrescente-se a isso o fato de que são vários os elementos que compõem a indústria de
cerâmicas, pois nem sempre a atividade de garimpo e extração está registrada nas atividades das
cerâmicas. Dentre aqueles elementos, são utilizados os seguintes bens minerais na indústria cerâmica:
Areia, Argila, Caulim, Diatomita, Feldspato, Mica, Quartzo e Talco.
De acordo com o Estudo sobre Minerais Industriais do Rio Grande do Norte do (Nesi &
Carvalho, 1999), a industria da cerâmica vermelha do Rio Grande do Norte é constituída de 3 pólos,
responsáveis por 60% da produção total: Pólo de Açu-Ipanguassu, Pólo de São Gonçalo do Amarante
e Pólo de Parelhas.
• Parelhas emprega mais de 1.000 trabalhadores, valendo ressaltar que esse é um dos
segmentos que também faz uso do trabalho infantil. (IICA, 1999.) Estima-se que esses dados são
inferiores aos do número de pessoas empregadas, de fato, nas cerâmicas do município;
• Carnaúba dos Dantas conta com 15 olarias, que são responsáveis pela geração de 1.000
empregos diretos e indiretos;
49
Edgard Dantas, geólogo, pesquisador do Rio Grande do Norte e Prof. da Ufrn.
50
Otacílio Oziel de Carvalho é ainda especialista em Gerência de qualidade total, Mestre em Geologia Econômica.
Atualmente, está desenvolvendo pesquisa sobre as cerâmicas no Estado do Rio Grande do Norte
51
Segundo o Projeto Pnud/FAO/Ibama/BRA/87/007, o setor de cerâmica conta atualmente com 71 cerâmicas em
funcionamento na Região do Seridó. Veja-se, a respeito, as informações apresentadas no item 3.2.4 anterior.
140
• as unidades existentes em Santana do Seridó estão sendo beneficiadas pela parceria
realizada entre a Associação de Oleiros, governo do Estado, Prefeitura e Embaixada Americana,
gerando 50 empregos diretos e produzindo 25.000 telhas diárias (Consórcio Tecnosolo & CEP, 1999:
397-398, v. 3.); e
A exploração dessa atividade exige muito do solo, pois tem como combustível principal as
arvores da mata, queimadas como lenha em seus fornos. Mas dela se origina uma grande diversidade de
produto: tijolos, telhas, louças de barro, artesanato de peças de cerâmica, entre outros.
Alguns municípios apresentam potencial das atividades ceramistas, como é o caso de Parelhas,
grande produtor oleiro, com importantes jazidas de matéria-prima. Por enquanto, a produção se
restringe praticamente a telhas romanas. Os esforços que vêm sendo feitos suscitam a possibilidade de
melhorar a qualidade dos produtos e de desenvolver outros produtos, capazes de superar a
concorrência, o alto custo da produção, o mercado restrito, degradação ambiental e excessiva
exploração da mão-de-obra.
Finalmente, cabe destacar que a produção de argila no Rio Grande do Norte é de 50 a 60 mil
metros cúbicos por mês, concentrada basicamente em cerca de 15 produtores. A brita é produzida por
18 empresas com uma produção de 40.000 m3 por mês. Cada empresa emprega em média 30 pessoas,
num total de 500 pessoas. O Feldspato é produzido por 4 a 5 empresas, um total de 5.000 toneladas por
mês, empregando em torno de 15 a 20 pessoa por empresa. (IICA, 1999.) 52
Esse destaque torna-se importante, pelo peso que esse município tem, tanto em termos
populacionais como econômicos. A existência de trabalhos específicos sobre Caicó permitiu que se
fizesse análises mais detalhadas sobre as diferenças de dinâmica entre as três Zonas seridoenses.
Partindo dos dados relativos aos estabelecimentos industriais, número e natureza das atividades, é
possível acompanhar a evolução de alguns segmentos, ao longo do período observado. Percebe-se que
algumas atividades se encontram em retração como é o caso dos calçados (que representavam 13
estabelecimentos em 1980 e foram reduzidos para 7 no ano de 1998) e das tecelagens de redes. Outro
foi o movimento das Panificadoras, cujo número elevou-se de 11 para 21, incluindo-se aí as fábricas de
massa.
A tabela 3.4.2.2 mostra que a estrutura industrial do município, em 1980, apresentava-se
concentrada em dois setores principais: a tecelagem de rede e a produção de calçados e chapelaria de
couro. Os dois setores, juntos, representavam metade dos estabelecimentos existentes. Os demais
setores representativos foram o de panificação e o de carpintaria e esquadrias de madeira. Observou-
se pouca diversificação de indústrias, que pertencem, na sua maioria, aos setores tradicionais que
utilizam máquinas e tecnologia rudimentar. Já em 1998, a composição das indústrias de Caicó
comporta uma maior diversificação de atividades, embora o número de estabelecimentos tenha passado
de 100 para 141, ou seja, um aumento de apenas 41% em dezoito anos.
52
Informações obtidas com Otacílio Oziel de Carvalho.
141
g. O Comércio
O comércio, organizado em padrões que não são os das grandes cidades brasileiras – onde as
estruturas comerciais se concentraram (comandadas por grandes grupos econômicos e grandes
superfícies como os shopping centers ) –, tem mantido dinamismo. O domínio de empresários locais e
a presença marcante dos médios e pequenos estabelecimentos é característica importante desse
segmento econômico na região. A importância das feiras semanais nos diversos municípios , mesmo
nos maiores, é reveladora desse padrão, criado e sustentado na força da cultura local, mais forte até
agora que a influência dos padrões importados de outros lugares.
Quanto à estrutura das atividades comerciais do Município de Currais Novos, observa-se que os
pequenos empreendimentos, também se destacam, como em Caicó, justificando a baixa arrecadação
por parte da Secretaria de Tributação. A tabela 3.4.2.4 não relaciona a totalidade dos estabelecimentos
comerciais (trata-se de uma amostra escolhida para analisar o potencial econômico do município, numa
pesquisa realizada pelo Sebrae-RN, em 1996), mas revela grande diversidade da estrutura comercial
local.
53
Entrevista feita com o Gerente do Sebrae, em Caicó, em dezembro de 1999 – “O município possui um número
considerável de pequenas empresas de fundo de quintal que não constam dos registros da Secretaria mas que se revelam nas
consultas à agência, no sentido de obterem informações de como abrir uma empresa e sobre programas de investimentos
para pequena e médias empresas. Por se tratar de um pequeno município onde todos se conhecem a maioria já desenvolve
algum tipo de atividade.”
142
TABELA 3.4.2.2
CAICÓ. TIPO E NÚMERO DE ESTABELECIMENTOS INDUSTRIAIS, EM 1980 E 1998
ESTABELECIMENTOS INDUSTRIAIS ESTABELECIMENTOS INDUSTRIAIS
TIPO, EM 1980 NÚMERO TIPO, EM 1998 NÚMERO
Tecelagem(de rede) 27 “Bonelaria” 29
Cordão de rede 3 Dubladora 2
Chapelaria(de couro) 11 Chapelaria (veludo e napa) 9
Calçado 13 Tecidos (rede, toalha e pano de prato) 8
Panificadora 11 Confecção de roupas em malha 7
Doçaria 1 Artefato de tecido (enxoval) 5
Gelo, picolé e sorvete 2 Calçados 7
Torrefação e moagem de café 3 Indústria de massa e panificação 21
Beneficiamento de arroz 1 Fábrica de bolacha, bolo, doce 12
Beneficiamento de algodão 1 Queijaria 4
Óleo de caroço de algodão 1 Beneficiamento de milho, arroz e café (torrefação) 4
Carpintaria e Esquadria de madeira 9 Tratamento de água 1
Movelaria e malas de madeira 4 Gelo 1
Mosaicos e pré-moldados 3 Beneficiamento de leite 1
Esquadrias de ferro 4 Fabricação de ração animal 1
Molas para veículo 1 Movelaria e carpintaria 5
Funerária 1 Serraria 11
Caixa de papelão 4 Pré-moldados, gesso e laje 6
Artefatos de ferro e alumínio 3
Marmoraria 2
Beneficiamento de couro 1
Fabricação de plástico 1
TOTAL 100 TOTAL 141
FONTE DOS DADOS BÁSICOS: MORAIS, MORAIS, Ione Rodrigues Diniz (1998)- Desvendando a cidade; Caicó em sua dinâmica espacial. Natal-RN,
Ufrn, 1998. Xerox. (Dissertação apresentada ao Programa do Mestrado de Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.) Caicó em sua
dinâmica espacial. Natal-RN, Ufrn, 1998, p. 162 (tabela 7) e 165 (tabela 8). Xerox. (Dissertação apresentada ao Programa do Mestrado de Ciências Sociais da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte.)
Nota: a ordem de apresentação dos estabelecimentos foi modificada.
TABELA 3.4.2.3
CAICÓ. TIPO E NÚMERO DE ESTABELECIMENTOS COMERCIAIS EXISTENTES EM CAICÓ, EM 1998
TIPO DE ESTABELECIMENTO NÚMERO TIPO DE ESTABELECIMENTO NÚMERO
Mercearia 139 Farmácia 21
Açougue 36 Livraria e Papelaria 6
Mercadinho 33 Floricultura 3
Armazém 21 Compact disc 4
Frigorífico, galeteria, fruta e verdura 13 Vidraçaria 4
Supermercado 12 Venda de gás 3
Confeitaria(bombons) 10 Produto veterinário 5
Distribuição de bebidas 7 Ração para alimentação animal 6
Frio e Laticínio 3 Barraco 79
Importadora e bebida 4 Autopeça e acessório p/bicicleta 24
Produto artesanal regional 3 Placa p/automóvel 2
Confecção em geral 24 Peça, pneu, tinta, etc. 8
Malharia 3 Posto combustível 8
Butique 34 Revenda de automóveis novos e usados 3
Sapataria 14 Concessionárias 12
Tecido 5 Máquina de costura – peça 1
Armarinho, presente e bijuteria 57 Balança, máquina e equipamentos para /lanchonete 1
Artigo para recém-nascido 3 Antena parabólica 1
Artigo para bordado 7 Móvel e eletrodomésticos 20
Artigo evangélico 2 Colchão 3
Artigo para caça e pesca 1 Funerária 3
Material para decoração 5 Instrumentos musicais 1
Material para confecção de boné 2 Variedade (alumínio, plástico, inox) 14
Material esportivo 3 Material de construção 10
Ótica 8 Revista e jornal 2
Artigo para festa 5 Outros tipos 80
Cosmético e Produto Natural 7
TOTAL 461 324
FONTE DOS DADOS BÁSICOS: MORAIS, Ione Rodrigues Diniz (1998)- Desvendando a cidade. Op. cit., p. 178 (tabela 10).
Nota: a ordem de apresentação dos estabelecimentos foi modificada.
143
TABELA 3.4.2.4
CURRAIS NOVOS. PRINCIPAIS ATIVIDADES COMERCIAIS
h. Os Serviços
144
TABELA 3.4.2.5
CAICÓ. TIPO E NÚMERO DE ESTABELECIMENTOS PRESTADORES DE SERVIÇOS PESSOAIS, EM 1998
ESTABELECIMENTOS ESTABELECIMENTOS
TIPO NÚMERO TIPO NÚMERO
Bar 68 Curso de Informática 4
Lanchonete 48 Curso de Inglês 1
Restaurante e Pizzaria 28 Escola de Natação 1
Sorveteria 27 Auto-escola 2
Trailer 27 Agência de Segurança 1
Cantina e Churrascaria 9 Agência de Viagem 1
Hotel e Pousada 5 Chaveiro 1
Salão de Beleza 19 Foto 4
Barbearia 14 Dedetização 1
Academia 10 Vídeo game 4
Clube recreativo 12 Locadora de Automóveis 2
Motel 3 Locadora de Cd e Vídeos 4
Casa lotérica 4 Funerária 2
TOTAL 274 28 28
FONTE DOS DADOS BÁSICOS: MORAIS, Ione Rodrigues Diniz (1998)- Desvendando a cidade. Op. cit., p. 190 (tabela 13).
Nota: a ordem de apresentação dos estabelecimentos foi modificada.
TABELA 3.4.2.6
CAICÓ. TIPO E NÚMERO DE ESTABELECIMENTOS PRESTADORES DE SERVIÇOS PRODUTIVOS, EM 1998
ESTABELECIMENTOS ESTABELECIMENTOS
TIPO NÚMERO TIPO NÚMERO
Oficinas e ourives 83 Agências bancárias (*) 4
Posto de lavagem de carro 8 Agências de publicidade 3
Borracharia 15 Auditoria e consultoria empresarial 3
Capotaria 1 Corretora de seguros 1
Máquinas, eletrodomésticos e. assistência técnica 3 Escritórios de contabilidade 14
Construtora 17 Centro de convenções 1
Imobiliária 1 Gráfica 7
Projeto para construção 1 Serigrafia 1
Transportadora 1 Computador- assistência técnica 3
Cooperativa de artesanato 1 Empacotadeira 1
Cooperativa de desenvolvimento rural 2
Cooperativa médico-odontológica 2
TOTAL 135 38
FONTE DOS DADOS BÁSICOS: MORAIS, Ione Rodrigues Diniz (1998)- Desvendando a cidade. Op. cit., p. 193 (tabela 4).
Nota: a ordem de apresentação dos estabelecimentos foi modificada.
(*) BB, Banco do Nordeste, CEF e Bradesco.
Ainda de acordo com a mesma pesquisa observamos dados percentuais referentes à prestação de
Serviços e a distribuição por setores de atividade. Cabe ressaltar a importância do peso das Agências
Bancárias, dos Escritórios de Contabilidade, Lojas de Fotografia e Setores Privados de Saúde que
juntos correspondem a quase 50% do total das atividades de Prestação de Serviços Específicos de
Currais Novos.
145
TABELA 3.4.2.7
CURRAIS NOVOS. RAMOS DE ATIVIDADES PRESTADORAS DE SERVIÇOS
RAMO DE ATIVIDADE % SOBRE O TOTAL
Hospedagem 3,33
Restaurante e lanchonete 3,33
Eventos, propaganda, promoções sociais 6,67
Advocacia 3,33
Locadora de fitas de vídeo 3,33
Consultórios, clínicas e laboratórios 10,00
Fotografia 10,00
Cartório 6,67
Escritório de contabilidade 10,00
Educação 3,33
Banco 16,68
Comunicação 13,33
Prestação de serviços 6,67
Água e esgotos 3,33
TOTAL 100,00
FONTE: Sebrae-RN (1998)- Diagnóstico e plano estratégico de desenvolvimento de Currais Novos. Natal, Sebrae-RN, 1998.
A renda regional é formada pelo fluxo das remunerações dos fatores produtivos alocados nas
atividades da região, mas recebe, também, importante complemento de diversos tipos de transferências,
como se verá no item 3.2.5, adiante). Isso ajuda a ampliar a demanda global regional e permite explicar
parte do dinamismo que se observa em várias atividades produtoras de bens e serviços de consumo. A
vida econômica regional tem na demanda local um elemento importante de sustentação. Sua variação
(positiva ou negativa) tem impactos importantes na economia seridoense, agora que a crise se
estabeleceu nas antigas bases da economia regional.
O setor público tem papel importante na vida regional, sobretudo como ofertante de serviços,
especialmente os sociais, que ampliaram sua oferta nas décadas recentes, como se verá na análise da
dimensão sociocultural da realidade seridoense. Os gastos que realiza (em especial os de custeio)
ajudam a manter a demanda local ativa.
Como já foi destacado, as atividades que foram as âncoras principais da dinâmica econômica
seridoense, no passado, encontram-se em crise, no presente.
a. A Crise da Cotonicultura
O algodão foi até o final da década de 70 a principal fonte de emprego e renda no Estado e da
Região do Seridó. As atividades agropecuárias participavam com 45% do PIB estadual e o algodão
isoladamente, contribuía com um percentual médio de 32% , no período de 1962-1971. (Melo, 1973.)
A área plantada chegou a alcançar cerca de 500 mil hectares, no Estado do Rio Grande do
Norte, utilizando um contingente de mão-de-obra que ultrapassava 100 mil pessoas. O algodoeiro de
fibra longa representava mais de 60% do cultivo dessa malvácea, concentrando-se nas regiões mais
áridas do espaço norte-rio-grandense – o Seridó e o Sertão Central.
146
As dificuldades para o algodão nordestino, para alguns analistas, começa a se delinear no
início da década de 30, quando o Estado de São Paulo inicia a produção do algodão herbáceo em
grande escala e já em 1936, a produção paulista supera a do resto do País. As bases da crescente
importância do algodão herbáceo e da competição inter-regional no mercado brasileiro, em formação,
estariam ali lançadas. Mas o dinamismo da indústria têxtil no Sudeste e Sul criavam uma demanda
importante e o algodão do Nordeste não recebe impactos relevantes, pois mantém forte presença num
mercado brasileiro e nordestino em expansão.
Em período mais recente e até os dias atuais, alguns fatores podem ser identificados como
responsáveis pela redução da cultura algodoeira no Nordeste, no Estado do Rio Grande do Norte, e no
Seridó, tais como: o aparecimento das fibras sintéticas no final dos anos 50, a modernização do parque
têxtil dando preferência ao algodão de fibra curta – quando o Seridó era forte em fibra longa –, o baixo
rendimento agrícola das variedades arbóreas – predominantes no Seridó –, as repetidas secas ocorridas
nas décadas de 60, 70 e 90, as dificuldades de financiamento, etc. Contribuindo para agravar mais ainda
a situação, a economia nacional passava por forte processo inflacionário sobretudo nos anos 80,
coincidindo com o surgimento da praga do bicudo que generalizou-se em 1985/86 inviabilizando a
cultura do algodoeiro arbóreo. A inclusão da correção monetária, no período de inflação alta, nos
financiamentos rurais foi mais um elemento a dificultar as condições para investir e custear a produção
agrícola, principalmente nas áreas mais secas, vez que os preços dificilmente acompanhavam o custo
do financiamento.
Atualmente, a área cultivada com algodão arbóreo no Rio Grande do Norte está reduzida a
9.642 ha, dos quais 8.852 ha na Região do Seridó, seu habitat natural. Este dado, por si só, retrata a
grave crise da cotonicultura seridoense. (Idec, 1997). No Estado como um todo, a área total cultivada
com algodão é atualmente inferior a 10% do total ocupado por essa cultura nas décadas de 60 e 70.
No Seridó, em 1996, o valor da produção do algodão arbóreo foi de apenas R$ 522 mil (57%
gerados na Zona Homogênea de Caicó) e respondendo por quase 90% na produção do Estado do Rio
Grande do Norte. Por sua vez, a produção do herbáceo gerou valor insignificante, estimado em R$ 46
mil, com peso irrelevante no total estadual (R$ 4.926 mil). Assim, a produção anual dos dois tipos de
algodão geram apenas R$ 568 mil, no Seridó, segundo dados do Ibge. No mesmo ano, a região
apresentou um valor de produção maior em outras culturas: R$ 592 mil na produção de batata-doce,
R$1.130 mil na cajucultura, R$ 1.214 mil na produção do milho, R$ 2.834 na de mandioca e R$ 2.907
na de feijão, conforme dados do Ibge. (Idema, 1998.)
As iniciativas de retomada dessa atividade ainda são muito tímidas, no Nordeste e no Rio
Grande do Norte. O Ceará é quem mais tem avançado, em anos recentes, mas o ambiente
macroeconômico nacional tem sido bastante adverso, por favorecer exageradamente as importações.
Com a desvalorização do Real e a mudança do regime cambial, em 1999, recomeçaram os debates
sobre as possibilidades competitivas do semi-árido para retomar essa atividade. Mas ainda estão
incipientes, também no Seridó.
147
b. A Crise e o Potencial da Mineração
A década de 70 foi de grande euforia para o setor da mineração. Ela é portanto marco de um
período de prosperidade para o Estado ao mesmo tempo que constitui um divisor de águas na base
econômica da região pelo período de retração da atividade que acontece na década seguinte. As
transformações no mercado mundial de matérias primas, a queda dos preços de alguns produtos, a
chegada de produtos de países concorrentes, o surgimento de produtos alternativos e sucedâneos
provocam impactos negativos na região. Tradicionais fornecedores de matéria prima local ao comércio
exterior entram em crise e parte importante da população envolvida nessa atividade adota formas
precárias de sobrevivência, na falta de fontes alternativas de sustentação econômica. O impacto inicial
é desestruturante.
Foi apenas nos últimos anos que as atenções se voltaram para a região e algumas iniciativas
foram tomadas, no sentido de avaliar o verdadeiro potencial desses setores. Alguns empresários não
deixaram de acreditar na revitalização do setor. Marcelo Porto, Diretor Presidente da METASA diz:
( ) Eu acredito na mineração como atividade rentável. Não é por acaso que esses anos todos
eu não abandonei a atividade da mineração, como fez a maioria. Continuo batalhando, comprando e
reabrindo minas por esse Estado afora. O que falta, como sempre, para o Nordeste é vontade política,
é decisão de uma política econômica que modifique a legislação das alíquotas para os produtos
importados. Eu produzo a Scheelita ao mesmo preço que os Chineses colocam o produto no porto de
Santos. Só que com alíquota zero sobre as importações não dá para concorrer. Mas eu não desisto.
Onde tem uma reunião sobre o tema eu vou...
Por iniciativa da Fiern 54 foram realizados, em 1999, dois estudos sobre o setor de Mineração no
Rio Grande do Norte – “Minerais Industriais do Estado do Rio Grande do Norte” e “Gemas do Rio
Grande do Norte”. Esses trabalhos revelam que, apesar do declínio da atividade, a década de 90 já pode
54
O Presidente da Fiern – Abelírio Rocha – informa que a Federação promoveu a realização de estudos sobre as
potencialidades do setor mineral do Rio Grande do Norte, por acreditar que essas atividades constituem alternativa positiva
para o desenvolvimento do Estado. Por isso também, a Federação destinou um local para as atividades do Sindicato dos
Proprietários de Minas do Estado.
148
ser considerada como o início de uma nova era para os minerais e rochas no Brasil. Acrescenta ainda o
documento, que face “à tendência da demanda futura destes insumos minerais o Rio Grande do Norte
tem um excelente potencial de depósitos de minerais e rochas industriais inexplorados ou pouco
explorados podendo portanto ser desenvolvido”. Ainda de acordo com o documento, dentre os
principais bens minerais produzidos destacam-se o sal, a scheelita, a diatomita, calcários, mármores
feldspato, caulim, berilo e gemas. Quanto ao potencial gemológico do Estado, o estudo concluiu que o
Rio Grande do Norte está entre os mais importantes do País, tanto pela quantidade de jazimentos, como
pela qualidade e variedade de suas pedras preciosas e semipreciosas.
Até os primeiros anos da década de 50, o capital brasileiro tinha a seu favor uma legislação que
proibia a presença do capital estrangeiro na esfera da extração mineral, permitindo apenas a sua atuação
a nível da comercialização e beneficiamento de produtos, a partir de concentrados de scheelita. Assim,
empresas como a Wah Chang e a Hoshschid (Brasilet), que tinham representações na Região do Seridó,
adquiriam o produto extraído em grandes quantidades da mina de Brejuí (Alves, 1997: 305) e
comercializavam, em seguida, para outros países. Até a metade da década de 50, as empresas do Seridó
se dedicavam, portanto, à extração mineral. A Mineração Tomaz Salustino S/A – principal empresa
do Estado na extração da scheelita – foi basicamente fornecedora de matéria-prima, mas sua
incapacidade de verticalização produtiva esteve relacionada à natureza do capital fechado e familiar
que o grupo representava. Ainda assim, a Mineração correspondia a um imenso complexo, que
ultrapassava o Rio Grande do Norte e explorava minas até na Paraíba.
De acordo com a tabela 3.4.2.8, a produção de tungstênio no Rio Grande do Norte apresentou
desde então sete intervalos de picos de produção.
TABELA 3.4.2.8
RIO GRANDE DO NORTE – PRODUÇÃO DE TUNGSTÊNIO EM ANOS SELECIONADOS
FONTE DOS DADOS BÁSICOS: NESI, Júlio de Resende (1993)- “Prognóstico da situação do tungstênio no Rio Grande do Norte.”
Anais do XII Simpósio de Geologia do Nordeste. João Pessoa-PB, 1º a 04 de maio de 1986, p. 360-373 e Anuário Mineral Brasileiro,
MME/DNPM – 1981-93.
É a partir de 1982 que a produção “despenca”, em queda livre: de 1.524 toneladas de tungstênio
produzidas no referido ano, o estado chega a 254 toneladas, em 1993, significando um decréscimo de
84%, tornando inviáveis as minas brasileiras.
Já em 1990, Barra Verde e Boca de Lage paralisaram suas atividades e a mina de Brejuí
reduziu drasticamente sua produção. A decadência do setor fica confirmada pelos dados atuais da
produção nacional de wolfrâmio, que corresponderam, em 1996, a 98 t (obtidas a partir de 171
toneladas de concentrado de scheelita, vindas essencialmente da Mina de Brejuí). Se comparado ao
período áureo, os anos 70, quando a produção alcançava 1.600 toneladas/ano, constata-se que o setor
ainda resiste.
Outros aspectos devem ser ressaltados, quanto ao desempenho decrescente dos minerais
metálicos. Além da queda dos preços no mercado internacional da scheelita, wolframita, tantalita e
berilo, observa-se ainda uma redução da demanda interna por parte do setor metalúrgico nacional.
150
b.2 Principais Entraves à Expansão e Sinais de Recuperação
TABELA 3.4.2.9
RIO GRANDE DO NORTE - OCUPAÇÃO DE MÃO-DE-OBRA NA INDÚSTRIA EXTRATIVA MINERAL
FONTE DOS DADOS BÁSICOS: MME. DNPM. Anuário Mineral Brasileiro, 1981. 1986, 1991, 1996 e 1997.
Nota: Os números entre parênteses ( ) apresentam variação negativa.
Quando se analisam, hoje, as perspectivas comerciais para alguns produtos, se elege o mercado
internacional como possível canal de escoamento e fonte de rentabilidade para a produção existente. A
realidade é que a competitividade constitui exigência indispensável, e já não basta apenas produzir. Em
se tratando de algumas matérias-primas tradicionais, a questão é ainda mais complexa. Veja-se o caso
do Tungstênio.
151
Um outro entrave ao processo de expansão das minas diz respeito basicamente à natureza dos
empreendimentos e à forma como foram estruturadas essas atividades. A histórica “falta de visão
empresarial de maior alcance”, e que visasse mercados maiores e mais competitivos, significou em
dado momento a perda progressiva de consumidores.
Vários dos problemas mencionados pelos participantes das reuniões e entrevistas realizadas,
durante o processo de mobilização das comunidades dos 28 municípios do Seridó, se assemelham aos
depoimentos de alguns empresários da área, como Marcelo Porto. Eles atribuem a estagnação do setor
de minérios à ausência de políticas públicas, à falta de pesquisa sobre as potencialidades minerais da
região e à falta de laboratórios que permitam uma maior divulgação e aproveitamento dos minérios.
Neste sentido, um primeiro passo parece ter sido dado com o Projeto Minerais Industriais do
Estado do Rio Grande do Norte, que aponta os pólos de desenvolvimento e os principais minerais e
rochas industriais existentes. Os principais objetivos desse projeto são: revitalizar o setor de minérios
do Estado; estimular o desenvolvimento da industria de minerais e rochas industriais do Estado;
qualificar os minerais e rochas industriais selecionados; iniciar ações imediatas para fomentar o
aproveitamento de minerais e rochas; e contribuir para o descobrimento de novas jazidas de minerais e
rochas industriais.
TABELA 3.4.2.10
RIO GRANDE DO NORTE. RESERVAS DE MINERAIS E ROCHAS INDUSTRIAIS, 1996
RESERVAS (t)
SUBSTÂNCIA MINERAL MEDIDA INDICADA INFERIDA
Argila 6.063.016 --- ---
Calcário sedimentar 2.425.085.276 2.355.965.558 1.416.947.690
Calcário metamórfico 46.717.652 17.351.475 19.840.631
Caulim 990.233 727.000 ---
Diatomita 1.912.617 4.900 15.000
Feldspato 107.261 147.838 94.440
Fluorita 363 508 871
Gipsita 7.618.377 2.405.660 ---
FONTES DOS DADOS BÁSICOS: MME/DNPM e DNPM/RN (1997)- Anuário Mineral Brasileiro.
Por sua vez, a produção de gemas do Estado é ainda muito baixa. Sua participação na
economia é insignificante, não ocupando, portanto, posição de destaque nas possibilidades de
desenvolvimento citadas pela comunidade nas reuniões municipais. Além da falta de investimentos e
incentivos governamentais, o setor é explorado de forma precária e sua vitalidade não pode ser medida
apenas pela existência das reservas.
152
TABELA 3.4.2.11
RIO GRANDE DO NORTE. PRODUÇÃO DE MINERAIS E ROCHAS INDUSTRIAIS, 1996
Identificada ao longo dos anos com a economia da Região do Seridó, a atividade extrativa
mineral já apresenta sinais de uma tímida recuperação. A Armil Mineração do Nordeste, recém
inaugurada, recebeu um financiamento de R$ 2,8 milhões do Banco do Nordeste, prometendo gerar, a
curto prazo, 500 empregos diretos e indiretos. A empresa prevê o beneficiamento de 50 mil toneladas
de minérios não-metálicos, por mês, extraindo 5 mil toneladas de pó de Feldspato, Quartzo, Argila
refrataria, Caulim e Barita, para atender as indústrias de louças, cerâmicas, vidros e tintas do País
(Jornal de Hoje, 20.01.2000.) O governo do Estado fez construir uma ponte na cidade de Parelhas, para
permitir a ampliação do tráfego de caminhões transportadores de minérios. Um outro elemento
importante é a exportação de parte da produção, via Porto de Natal, justificando um maior interesse por
parte do governo, no sentido de intensificar a saída de produtos pelo sistema de escoamento portuário
do estado. (Tribuna do Norte, 18.01.2000.)
( ) Está tudo pronto. Até as casas para os técnicos e operários estão lá, prontas para serem
habitadas. Ia resolver o desemprego de muita gente.
Durante os seminários municipais realizados, foram apontados alguns pontos comuns, para
diferentes municípios da Zona Homogênea de Currais Novos, particularmente quanto aos fatores
endógenos de estrangulamento da atividade mineral. Eles foram agrupados de acordo com as
manifestações e inquietações de parte da população, para a qual a atividade é importante e são
apresentados a seguir:
153
• Falta de capacitação de mão-de-obra especializada. Aspectos quanto à falta de
tecnologia e de pessoal capacitado na mineração foram inúmeras vezes mencionados como fatores
negativos na expansão da atividade Assim, se ressaltam elementos de natureza endógena, com muita
freqüência, para justificar as dificuldades enfrentadas por diversos setores, que atribuem o processo de
estagnação econômico à falta de capacitação da mão-de-obra, na maioria das vezes, e até mesmo à falta
de capacidade empresarial.
• Exploração dos recursos minerais por agentes externos, sem retorno para o
município. Constitui preocupação resultante da presença de grupos de fora na região, especialmente de
empresas estrangeiras como a HIR – grupo alemão, que, embora há pouco tempo em Parelhas, tem
aumentado suas exportações para a Europa. Um outro grupo – o Artesanal Gemas –, ainda que com
exportação incipiente, desenvolve pesquisa de prospeção para ampliar suas exportações. Segundo
empresário local do setor, outros grupos têm manifestado interesse na comercialização de alguns
produtos da região, como é o caso da Amsterdã Sauer – fabricante de jóias de alto luxo. O
representante daquela empresa já visitou a região e mantêm contatos com empresários locais, no
sentido de estabelecer parceria para o fornecimento de algumas pedras. As dificuldades para competir,
por parte dos empreendedores locais, começam dentro do próprio município, com a vinda de estruturas
extremamente organizadas, que, embora dinamizem parte da cadeia produtiva, também fragilizam o
tradicional processo de comercialização da região. Em janeiro de 2000, foi inaugurada em Parelhas a
Armil Mineradora do Nordeste Ltda., que desencadeou manifestações contrárias por parte dos
produtores locais. Uma outra firma vem desenvolvendo atividades no setor. Trata-se da empresa alemã
Paul Wild, que possui direito de lavra em uma mina de Parelhas, que compra turmalinas, ametistas e
água-marinha, freqüentemente, no Seridó. A presença desse agente revela, por outro lado, o potencial
regional para essa atividade.
154
ao longo dos tempos. O perfil que se redesenha hoje na região acena para alternativas imediatistas de
sobrevivência, na grande maioria, enquanto outros seridoenses insistem em manter estruturas
tradicionais de produção e comercialização que resistem a toda e qualquer tentativa de modernização.
55
Quanto aos tradicionais produtores de algodão, de scheelita e empresários da região, muitos se
direcionaram para outros ramos de atividades. As pessoas da classe média e os pequenos produtores ou
antigos trabalhadores dos complexos em crise buscam alternativas de sobrevivência nas cidades da
região (quando não emigram para outras regiões).
Segundo o deputado Álvaro Dias, os poucos grandes empresários de Caicó, que ainda tinham
condições de investir, orientaram seus investimentos para Natal. Um deles, o Sr. Emídio Germano da
Silva, proprietário de 5 fazendas de algodão e 4 fábricas de óleo, fala melancolicamente:
(...) Quando o algodão acabou, eu resolvi investir em imóveis. Eu já investia, mas sai
comprando o que aparecia, em Caicó principalmente. Mas também em Natal. Comprei para preservar
parte do meu patrimônio. Vendi as fábricas de óleo e sabão, mas conservei as fazendas, onde vou
todos os dias. Agora estão dizendo que o algodão vai voltar. Difícil vai ser convencer o povo ...
Os diretores de uma mineradora que já foi importante, com a derrocada das atividades da
empresa, adquiriram, nos anos 80, vários imóveis em Natal, além de duas concessionárias de
automóveis FIAT (uma em Natal, outra em Currais Novos). Mas faliram nos anos 90. O empresário
Marcelo Porto, antigo diretor da Mineração Tomaz Salustino, que ainda permanece na atividade de
minérios, assim se manifestou sobre os diferentes ramos de investimento do grupo:
(...) Na família Salustino, muita gente tinha outros negócios. Quando a Mineração parou suas
atividades, cada um seguiu seu caminho. Os médicos construíram uma clínica, os outros botaram
lojas. E os engenheiros mais capacitados foram trabalhar em outras minas, lá para o Norte.
A busca das cidades da região foi a trajetória mais comum para os que não eram os principais
empresários ou seus descendentes. Basta um passeio pelas ruas de algumas das maiores cidades do
Seridó, para se perceber a natureza das atividades econômicas, ancoradas principalmente nos pequenos
negócios. Foram eles que abrigaram os novos demandantes de inserção na vida econômica regional e
os que saíram das atividades em crise. São as atividades urbanas que retratam a realidade econômica
atual, constituindo sua principal base de sustentação, seja por meio dos pequenos empreendimentos,
das atividades de fundo de quintal ou da tradicional estrutura de comercialização.
55
Há dois anos foi inaugurado na cidade de Caicó um açougue, nos moldes dos modernos estabelecimentos de venda de
produtos perecíveis, existentes nas grandes cidades. Esse açougue fechou suas portas antes mesmo de completar um ano de
funcionamento. Seus maiores concorrentes foram o açougue municipal e as feiras livres, que ali funcionam, apesar das
péssimas condições de armazenamento dos produtos. Em matéria recentemente veiculada pelos jornais locais (Tribuna do
Norte, 21.01.2000) foram denunciadas as condições de funcionamento do matadouro municipal, assim como a utilização da
mão-de-obra infantil, que executa todo tipo de trabalho. Na fala de um habitante de Caicó: “carne embrulhada em plástico,
fica com gosto de plástico, não presta”.
155
reuniões municipais, solicitando a iniciativa do poder público, no sentido de apoiar o desenvolvimento
do comércio local, especialmente por intermédio de feiras livres.
Formais ou informais, o fato é que, nos anos 90, as atividades ligadas à economia urbana do
Seridó já se caracterizavam como mais dinâmicas do que as tradicionais. A decadência da base
econômica agrária, além de acelerar o processo de urbanização nos principais pólos da região, abriu
espaço para uma economia essencialmente urbana, fundamentalmente apoiada no setor terciário, e com
particular destaque para o setor de serviços. É importante ressaltar que, na origem, esse setor não se
expandiu em função do desenvolvimento das atividades produtivas da agricultura e indústria, pois essas
atividades eram ainda pouco dinâmicas para constituir outros processos produtivos mais estruturados.
Ele se revela nos setores de distribuição, comércio, serviços sociais e pessoais, relativos aos transportes
coletivos, educação, saúde, lazer, alimentação. E cresceu, de fato, nos últimos anos, como uma
alternativa econômica, diante de um cenário de poucas possibilidades.
Como de resto no Rio Grande do Norte, a infra-estrutura econômica não é um gargalo central ao
desenvolvimento do Seridó. O Nordeste brasileiro realizou importante esforço de ampliação de sua
base de estradas, energia e comunicações, nas últimas décadas e isso beneficiou também o Seridó,
como revelam os dados a seguir apresentados, para os diversos segmentos que interessam ao
desenvolvimento regional.
A acessibilidade ao Seridó é bastante boa. A ligação da região com Natal, Mossoró, as demais
regiões do Estado, com outros Estados do Nordeste e com o resto do País se faz com facilidade, e é de
boa qualidade. Uma malha rodoviária (estradas pavimentadas) de padrão semelhante ao do Nordeste
em seu conjunto dá acessibilidade à região. Não existe, no entanto, infra-estrutura para o transporte
ferroviário, como em outras regiões do Estado.
Observa-se que alguns dos entraves que impedem a ampliação da comercialização dizem
respeito às dificuldades encontradas para o escoamento da produção, em conseqüência da insuficiência
das estradas ou de sua inadequada conservação. A crise da base produtiva da região, nos últimos anos,
certamente contribuiu para o agravamento de alguns aspectos relevantes do quadro infra-estrutural de
transportes.
156
Como em todo o País, o predomínio do transporte rodoviário é evidente em sua oferta regional.
O quadro nas diversas zonas, a este respeito, vai especificado a seguir:
• a Zona de Currais Novos é servida pelas rodovias federais BR-104, BR-226 e BR-427
(servindo aos Municípios de Acari e Currais Novos). As Rodovias Estaduais são as seguintes: RN-023,
RN-041, RN-042, RN-086, RN-129, RN-203 e RN-288; e
• a Zona Homogênea das Serras Centrais é servida por três Rodovias Federais, assim
especificadas: BR-104, a BR-110 e BR-226. Por sua vez, a Zona é cortada pelas seguintes Rodovias
Estaduais: RN-041, RN-042, RN-087 (única estrada para Tenente Laurentino), RN-088, RN-023 (única
estrada para Bodó), RN-118 (única estrada para Jucurutu) e RN-223 (única estrada para Triunfo
Potiguar).
O transporte de passageiros é realizado pelo setor privado. As principais linhas são servidas
pelas empresas abaixo discriminadas:
O Transporte aéreo também pode ser feito no Seridó, pois a região conta com três campos de
pouso (Caicó, Currais Novos e Jardim do Seridó) para aeronaves do tipo leve, da classe Bandeirante
(BEM-110). As condições de uso, no entanto, deixam a desejar, pela pouca utilização e importância
dos mesmos. Dentre os campos disponíveis destacam-se os seguintes:
56
As informações sobre as telecomunicações baseiam-se no Anuário Estatístico do Rio Grande do Norte, publicado pelo
IDEC, em 1998; no “Relatório de Localidades da TELERN”; no "Diagnóstico Socioeconômico e Cadastro Empresarial de
Caicó”; e nos “Diagnósticos e Planos Estratégicos de Desenvolvimento dos Municípios de Currais Novos e Florânia”.
157
Telern, o crescimento da telefonia móvel e a chegada de outras operadoras no sistema, 57 nos últimos
meses de 1999, tendem a redesenhar o mapa da telefonia no estado e na Região do Seridó.
De acordo com os dados da tabela 3.4.3.1, o Estado do Rio Grande do Norte contava, em 1997,
com 200.252 terminais instalados e 204.941 terminais em serviço. Dentre aqueles, 11.891 estavam
instalados na Região do Seridó, distribuídos da seguinte forma: 4.278 na ZH de Currais Novos, 7.021
na ZH de Caicó e 592 na ZH das Serras Centrais. É importante observar que essas informações revelam
uma cobertura desigual do sistema de telecomunicações. A ZH de Caicó apresentava uma média de
15,8 habitantes por linha telefônica instalada. Essa proporção sobe na ZH de Currais Novos para 21,3
habitante/linha e chega a 140,2 habitante/linha telefônica na ZH das Serras Centrais. A média do
Estado era de 12 linhas/habitante, superior à média da Região Seridó. Alguns municípios apresentavam
carências maiores do que atualmente.
Observa-se que existe uma grande concentração de terminais nas cidades maiores – a cidade de
Caicó, por exemplo, concentrava 92% do total de terminais instalados (fixo e celular), na Zona
Homogênea do mesmo nome, enquanto 7 dos outros municípios tinham apenas postos de serviço.
Currais Novos concentrava 82%, enquanto 2 municípios da Zona Homogênea tinham apenas um posto
de serviço cada. As maiores deficiências encontram-se na Zona Homogênea das Serras Centrais, com
37,5% do total de terminais instalados em Jucurutu e 3 dos municípios daquela zona, com somente
postos de serviços. (Consórcio Tecnosolo & CEP, 1999.) Florânia conta com 4 postos de serviço, sendo
um na cidade e 3 nas comunidades: Cajueiro, Caiçara e Ipueira.
57
O sindicato dos empregados em Telecomunicações do Rio Grande do Norte informa que, com a chegada da VESPER,
agora em janeiro, e a ampliação dos Serviços da BCP (que estrategicamente não comunica os seus números), o panorama da
telefonia no Estado tende a ser permanentemente modificado.
58
A instalação de terminais públicos nas pequenas cidades do interior do País foi, durante muito tempo, fruto de
negociações políticas, quando se trocava um posto da Telern ou um telefone público, em pequenos municípios, por votos. A
privatização da empresa, com a margem de influência do Estado, nas estratégias de implantação de novos terminais, não
está contribuindo para reduzir as carências de algumas regiões, que podem, até mesmo, aumentar.
158
TABELA 3.4.3.1
RIO GRANDE DO NORTE E SERIDÓ - TERMINAIS INSTALADOS E TERMINAIS EM SERVIÇO DA
TELERN, SEGUNDO AS ZONAS E SUBZONAS HOMOGÊNEAS E MUNICÍPIOS – 1997
A oferta da energia elétrica, no Nordeste das últimas décadas, foi significativamente ampliada.
Os benefícios daí decorrentes alcançaram o Rio Grande do Norte e, em seu interior, a região
seridoense. As áreas urbanas estão bem servidas e as cidades do Seridó seguem o padrão estadual, com
uma boa cobertura. Tanto que em termos do total de consumidores, o Seridó representa 11% do total
estadual. No que se refere aos consumidores residenciais, os domicílios da região têm uma
participação, no total estadual atendido por energia, semelhante ao seu peso no total populacional
(ambos os pesos situam-se próximo dos 11%). Os menores percentuais de domicílios com acesso a
energia são encontrados na região das Serras Centrais, por conta do maior peso da população rural
naquele espaço. Isso porque as áreas rurais são em menos atendidas.
159
De fato, a eletrificação rural ainda constitui uma demanda prioritária em vários municípios
seridoenses, tanto que apareceu citado entre os problemas prioritários nas reuniões municipais, para os
municípios de São João do Sabugi, Ipueira, Serra Negra, Ouro Branco, Cerro Corá, e Tenente
Laurentino. No entanto, são carências localizadas, pois no Seridó, em seu conjunto, estavam, em 1997,
18% dos consumidores rurais do Estado, apresentando a região participação mais elevada do que a que
tem no número de consumidores residenciais. No que se refere ao número de consumidores industriais,
a participação da região é de 17%, o que pode ser considerada uma situação pelo menos regular.
(Idema, 1998.)
Em alguns municípios, o acesso à energia parece dificultado por outro motivo: o custo da tarifa
da energia elétrica, considerado alto em locais como Jardim de Piranhas e São Fernando. O problema
não é de oferta, mas de renda da população.
Cabe ainda destacar que quando o indicador utilizado deixa de ser o número de consumidores, e
passa a ser o consumo (medido em MWh), a participação do Seridó no total do Estado declina para
cerca de metade de seu peso, em número de consumidores, ficando com cerca de 5,6% do total
estadual, o que revela relativamente menor capacidade de consumo, tanto das famílias como da
economia regional, face à de outras regiões do Estado, que fazem uso mais intensivo de energia. Isso se
confirma no dado do consumo médio, inferior no Seridó ao da média estadual (0,86 e 1,14,
respectivamente). Apenas Caicó tem um consumo médio superior à media estadual, e mais uma vez, o
menor índice é apresentado pela ZH das Serras Centrais, segundo dados do Anuário Estatístico do Rio
Grande do Norte, citados no diagnóstico produzido pelo Consórcio Tecnosolo & CEP.
Para o futuro, a matriz energética do Nordeste e do Brasil tende a se modificar, com perda de
importância do fornecimento da energia hidroelétrica, que predominou no passado recente. Já se
verifica o crescimento da oferta de outras fontes, com destaque para o gás natural e a termelétrica. A
energia solar e a energia eólica também tendem a crescer. No Seridó, não há avanços nessa direção. O
Rio Grande do Norte é rico em gás natural, mas os gasodutos previstos não passam pela região. Mas
levarão esse tipo de energia para outros Estados, como o Ceará e Pernambuco. Esse é um ponto
relevante, que deve ser discutido no âmbito do Plano de Desenvolvimento do Seridó. Por sua vez,
outras áreas do semi-árido nordestino já vêm avançando na oferta de energia solar, especialmente para
localidades ou estabelecimentos isolados, onde os custos para levar a energia elétrica de origem
hidráulica têm se mostrado muito altos. No Seridó esse processo é muito incipiente.
Mesmo assim, o otimismo das previsões do governo federal, de atingir o marco de 100 bilhões
de dólares, em produtos exportados, até o ano 2002, repercutiu da mesma forma nas previsões do
Estado, para 1999, com a meta anunciada de atingir 100 milhões de dólares em mercadorias vendidas
para outros países. Isso baseado na existência de um grande potencial que pode contribuir para o
desenvolvimento econômico do Estado, para uma série de fatores examinados em seguida.
160
3.4.4.1 Tendências Gerais
O comércio exterior do Rio Grande do Norte acompanhou nesses últimos anos a tendência da
economia brasileira, marcada pelo acréscimo e superação das importações em detrimento das
exportações. De acordo com a tabela 3.4.4.1, pode-se observar que as exportações apresentaram
crescimento, entre 1992 e 1994, mas já a partir de 1995 houve uma inversão, e o Estado passou a
importar mais do que a exportar, ostentando em 1997 um déficit recorde em sua balança comercial.
Segundo dados da Sudene, as exportações se recuperaram nos últimos anos, e em 1998 o Rio Grande
do Norte já apresentava pequeno superávit comercial (1/5 do valor registrado em 1992).
TABELA 3.4.4.1
RIO GRANDE DO NORTE. COMËRCIO EXTERIOR - 1992/1997 ( US$ 1000 )
FONTE DOS DADOS BÁSICOS: i) Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Secretaria de
Comércio Exterior–Secex. Departamento de Comércio Exterior–Decex; e ii) Sudene, Boletim Conjuntural, ago., 1999.
Nota: Os números entre parênteses representam variação negativa.
Esse déficit se deu basicamente em conseqüência das importações das empresas têxteis, 59 que
reativaram o parque industrial do estado, comprando a maior parte dos novos equipamentos fora do
Brasil. Assim, de acordo com dados da Subsecretaria de Comércio Exterior e Captação de
Investimentos do Rio Grande do Norte, vinculada à Sintec, foram adquiridos no exterior, entre
equipamentos, máquinas e matérias-primas, 131 milhões de dólares/ano, correspondendo a 2/3 do valor
total das importações do Estado. Acrescente-se a isso a importação de algodão, que aumenta ainda mais
nos anos seguintes, com a valorização cambial e os altos preços praticados no mercado interno.
59
O Programa de Apoio ao Desenvolvimento Industrial–Proadi foi constituído para apoiar e incrementar o desenvolvimento
industrial, assegurando a concessão de financiamento a empresas industriais. Seu objetivo principal é o de atrair empresas
industriais que possam aportar seu capital, concedendo-lhes benefícios fiscais no recolhimento de ICMS.
60
O setor de Negócios Internacionais do Sebrae-RN registrou um número considerável de consultas sobre as empresas
importadoras de produtos “made in China”, que provocaram a abertura de centenas de estabelecimentos comerciais, do tipo
“Tudo por R$ 1,99”, em todo o Estado do Rio Grande do Norte. Até o ano de 1998, de cada dez novos empreendimentos
registrados pelo Sebrae 3 eram de pequenos comerciantes, que se instalavam levados pela febre do consumismo de produtos
da economia de “miudezas”. (Sebrae-RN, 1999.)
161
desenvolveram esquemas de distribuição e abastecimento permanente a pequenas lojas, que acabaram
proliferando em todo o Estado.
De acordo com os dados da base de dados “Análise e Informações sobre Comércio Exterior–
ALICE, no que se refere aos exportadores do Rio Grande do Norte, observa-se que as maiores
empresas presentes nos registros têm sido as mesmas dos últimos 10 anos, o que traduz um mercado
fechado, concentrado em grupos tradicionalmente detentores desse segmento no mercado. As
iniciativas das instituições promovedoras do Comércio Exterior não têm despertado interesse na
maioria dos produtores do Rio Grande do Norte, exceto para os das tradicionais áreas mais rentáveis,
tipo fruticultura e pescados, que se beneficiaram dos programas de financiamento, tipo APEX, nos
últimos 2 anos. As “rodas de negócios”, 61 realizadas pelo Sebrae, com o objetivo de sensibilizar
produtores em potencial, têm apresentado resultados medíocres, quanto à participação e aumento de
produtos na pauta de exportação do Estado. Em relação à Região do Seridó, que durante anos
desempenhou papel importante com a exportação de vários produtos, verifica-se que ela está hoje
reduzida a uma participação insignificante, com alguns produtos como minérios, chifres e galhadas, e
produtos da Indústria de Massas. Cabe ressaltar a presença do produto “chifres e galhadas”, que
compõe a pauta de exportação do Estado, mas é explorada por uma empresa localizada em Macaíba – a
Medeiros Irmãos Indústria e Comércio Ltda. –, embora a matéria-prima adquirida seja comercializada
em sua quase totalidade na Região do Seridó.
O principal produto da pauta de exportação do Rio Grande do Norte é o melão, que disputa com
a castanha-de-caju o primeiro lugar na pauta estadual, constituindo o carro-chefe da fruticultura, que,
juntamente com mangas, uvas, bananas e melancias, caracteriza-se como o setor mais rentável da
economia exportadora do Estado. O valor e o volume relativos às exportações desses produtos vem
aumentando substancialmente, nos últimos anos, consolidando o subsetor da fruticultura. Justifica-se,
assim, a política de incentivos destinada à região do Vale do Açu e Mossoró, que, durante os últimos
tempos, absorveu a maior parte dos recursos do governo do Estado.
61
As Rodas de Negócios são reuniões entre produtores, comerciantes e consumidores, feitas com o objetivo de facilitar a
compra e venda de produtos, geralmente entre uma empresa âncora e empresas de médio e pequeno porte. O Estado realiza
duas “rodas de negócios” formais – uma em setembro e outra em outubro. Além das Rodas de Negócios, foi realizado em
Natal uma reunião do Encontro do Comercio Exterior–Encomex, com s participação de mais de 450 inscritos, entre
empresários, agentes públicos e estudantes
62
A atividade pesqueira ainda se faz presente com a lagosta (1,6 %) e camarão (1,1%), o que eleva para 6,6% seu peso entre
os principais produtos exportados pelo Estado.
63
O segmento têxtil/confecções soma a esses 4,9%, dos tecidos de algodão, 4,4% das camisas de malha e 1,8% das T-shirts,
totalizando 11,1% de participação nas vendas totais, só entre os principais produtos.
162
A exportação de minérios do Estado corresponde principalmente à Scheelita, Tantalita e Sal
Marinho, seguindo-se de a Berilo e Columbita. De acordo com a tabela 3.4.4.2, as exportações de bens
minerais atingiram seu pico máximo, em 1980, representando 43% do total exportado (US$ 54,8
milhões do total do Estado, ou seja, US$ 23,7 milhões oriundos de bens minerais). A partir de 1996, as
exportações registraram valores anuais decrescentes, caindo, no período analisado, cerca de 95,2%. Em
1996, as exportações de bens minerais representaram apenas 2,4 % do total das exportações do Estado
(US$94,8 milhões, contra US$ 2,2 milhões), como é possível verificar na tabela 3.4.4.3.
Não são numerosas as empresas da Região do Seridó que exportam seus produtos para outros
países. De acordo com dados do ALICE, 64 grandes empresas estão registradas na balança comercial,
no item das exportações. A maioria com produtos da industria de minérios, principalmente o
Tungstênio. A tabela 3.4.4.3 contém dados sobre a relação quantidade/valor negociado por elas.
Acredita-se, portanto, que o aumento das exportações de minérios, especialmente as gemas da Região
de Parelhas, incrementarão os valores referentes ao comércio exterior, para as quais não há ainda
registro na base ALICE, uma vez que a comercialização desses produtos só se acentuou nos últimos
dois anos, com a revitalização das minas de Parelhas e a chegada de grupos estrangeiros operando no
município. 65 Algumas operações não são registradas nas exportações, por alguns fatores: i) em se
tratando da matéria-prima bruta, saem muitas vezes do Estado, para sofrerem processo de
beneficiamento em outros estados brasileiros; e ii) saem por outros portos da região, como Cabedelo,
na Paraíba, e Suape, em Pernambuco.
TABELA 3.4.4.2
RIO GRANDE DO NORTE -EXPORTAÇÃO DE BENS MINERAIS – SETOR PRIMÁRIO ( US$ 1000 FOB )
FONTE: NESI, Júlio de Rezende & CARVALHO, Valdecílio Galvão Duarte de (1999)- Minerais industriais do Estado do
Rio Grande do Norte. Recife, Serviço Geológico do Brasil–CPRM 1999, p. 19.
64
O ALICE (Análise de Informações sobre Comércio Exterior) é uma base de dados do Ministério do Desenvolvimento,
Indústria e Comércio, operada pelo Departamento de Comércio Exterior–Decex, da Secretaria de Comércio Exterior–Secex
daquele Ministério. Essa base é trabalhada no Rio Grande do Norte pela Subsecretaria de Comércio Exterior e Captação de
Investimentos, vinculada à Secretaria de Indústria, Comércio, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte–Sintec.
65
Dentre esses grupos estão a HIR Minérios, de origem alemã, que exportou, no segundo semestre de 1999, US$ 190.000
dólares para a Alemanha, conforme informações da TerraSul–Assessoria de Comércio Exterior, na pessoa de José Suterland
Guimarães Menezes, Presidente da TerraSul..
163
TABELA 3.4.4.3
SERIDÓ. PRINCIPAIS EMPRESAS EXPORTADORAS DE MINÉRIOS, EM 1997
Quanto à importação de minérios, ela é verificada para produtos como farinha siliciosa, num
total de 102.380 kg, correspondendo a 0,05% do total das importações, e mármore cortado, num total
de 62.800 kg, equivalente a 0,02%, segundo a base de dados ALICE (outubro, 1997).
a. Problemas Detectados
66
Segundo o Professor Edgar Ramalho Dantas (geólogo e pesquisador dos minérios do Rio Grande do Norte), o
desconhecimento técnico do processo de exploração não somente acarretou danos às minas, mas contribuiu para fragilizar o
grau de competitividade do produto, nos mercados externos. (Cf. entrevista realizada em 10.01.2000.)
67
Cf. NESI, Júlio de Rezende & CARVALHO, Valdecílio Galvão Duarte de (1999)- Minerais industriais do Estado do Rio
Grande do Norte. Recife, Serviço Geológico do Brasil–CPRM 1999.
164
b. Principais Países Importadores
Segundo o Ibge, o PIB, a preços de mercado, do Rio Grande do Norte era estimado em R$ 6,6
Bi, em 1997 (último ano para o qual se dispõe de informação), representando 5,8 % do total da
produção do Nordeste e 0,7% do total brasileiro. Em meados da década anterior (1985), a participação
da economia norte-rio-grandense na economia nordestina era pouco menor (5,5%), mas seu peso no
total nacional era semelhante.
Para a Sudene, que estima o PIB dos estados do Nordeste, a produção do Rio Grande do Norte e
do Nordeste, em seu conjunto, no mesmo ano, era maior (R$ 8,4 bilhões para o Estado e R$130,4
bilhões para o Nordeste, segundo a estimativa a custo de fatores, e de R$ 9,0 bilhões e R$139,0 bilhões,
respectivamente, para a estimativa a preços de mercado). Isso fazia o peso norte-rio-grandense subir
para 6,5% no total nordestino.
Tomando como referência os dados do Ibge, cuja estimativa apresenta um valor menor do que o
da Sudene, o PIB per capita do Rio Grande do Norte, naquele mesmo ano, era de R$ 2.522,00
(estimando-se uma população de 2,593 mil pessoas). Ora, estimativas realizadas com base nos dados
universais do recenseamento de 1991, pelo mesmo Ibge, demonstraram que a renda familiar per capita,
média, da Região do Seridó (R$ 510,00, a preços da época) correspondia a 71% da mesma renda per
capita média, calculada para o Estado do Rio Grande do Norte, em seu conjunto (que era de R$
720,00) .
165
Como esse percentual não tende a apresentar mudanças bruscas a prazo curto, é possível adotá-
lo para estimar, em primeira aproximação, o PIB per capita do Seridó. Assim procedendo, percebe-se
que esse indicador elevou-se para R$ 1.790,00, em 1997 (ou seja, 71% do valor estadual).
Como a população do Seridó, naquele ano era de cerca de 290 mil pessoas, pode-se estimar,
grosso modo, na ausência de um cálculo concreto e preciso, que se gera naquela região um PIB de
cerca de R$ 520 milhões, valor que corresponderia a uma primeira aproximação do montante da Renda
Interna Regional.
Isso nos permitiria afirmar que a economia da Região do Seridó responde por algo em torno de
8% do total da economia estadual e a menos de 0,5% da economia do Nordeste, em seu conjunto.
Como a Sudene dispõe de uma série mais longa, pode-se destacar um aspecto muito importante:
a economia do Rio Grande do Norte vem aumentando sua importância na Região, passando de
uma participação de 5,1%, na década de 70 para 5,9 % nos anos 80, e para 6,5 % nos anos 90 (1990-
98). Para ter ganho posição, a economia norte-rio-grandense cresceu, nas últimas década, a um ritmo
mais intenso que a média nordestina.
Esse dinamismo, como ressaltam diversos estudos sobre o Estado, não foi semelhante, nas suas
diversas regiões. Se concentrou na Zona Homogênea do Litoral Oriental – onde Natal tem apresentado
forte tendência expansiva, sobretudo para os padrões atuais da economia brasileira e nordestina –, na
região do Vale do Açu – onde a fruticultura irrigada marcou presença nos anos recentes – e na ZH
Mossoroense, especialmente com a presença da atividade petrolífera, realizada pela Petrobrás, mas
onde se extrai também o sal marinho e o gás natural.
TABELA 3.4.5.1
NORDESTE, RIO GRANDE DO NORTE E SERIDÓ. PIB A PREÇOS CORRENTES, EM 1997 (R$ bilhões)
FONTES DOS DADOS BÁSICOS: i) Sudene. Boletim Conjuntural, ago., 1999; e ii) Ibge. Contas Regionais do Brasil: 1985-97.
Mimeogr.
* Estimativa, conforme explicado no texto acima.
Por sua vez, as atividades econômicas do Agreste e do Sertão norte-rio-grandense não têm sido
igualmente dinâmicas. Como o Seridó situa-se na porção sertaneja do Estado, apresenta-se com mais
dificuldade para expandir sua base produtiva, nas duas últimas décadas.
Isso explica a percepção que se dissemina entre a população seridoense de que a região precisa
de um tratamento especial, principalmente no que se refere às políticas públicas. É que, enquanto a
moderna base de fruticultura recebia investimentos relevantes e se expandia no Vale do Açu, a
principal atividade agrícola do Seridó – o algodão – entrava em crise profunda, da qual não se
166
recuperou ainda. Ao mesmo tempo, enquanto a Petrobrás se instalou na região noroeste do Estado,
transformando o Rio Grande do Norte no segundo produtor de petróleo do Brasil, e num importante
fornecedor de gás natural, no Seridó, a atividade mineradora entrou em crise. A concorrência da China
no mercado mundial de Scheelita, onde oferecia produtos a preços muito mais baixos, levou a crise à
Zona Homogênea de Currais Novos.
Enquanto a base produtiva regional teve que enfrentar essas dificuldades, a renda apropriada
pela população foi sendo ampliada através de transferências, como se verá a seguir.
Os dados disponíveis sobre a renda média das famílias do Seridó mostram que a sociedade
regional apresenta uma situação muito mais desfavorável de acesso à renda do que a média do País.
Nos diversos anos da pesquisa censitária realizada pelo Ibge, mesmo nos municípios de melhor renda
da região (Caicó e Currais Novos), as famílias dispunham de apenas 62% e 53%, respectivamente, da
renda familiar média do brasileiro. Na grande maioria dos municípios, a renda familiar média local
flutua entre 20% e 45% do valor médio do País. Há casos com valores médios ainda mais baixos, como
o de Santana do Matos.
A tabela 3.4.5.2 contém informações a este respeito, para os anos de 1970, 1980 e 1991. Cabe,
de saída, ressaltar que o dado inicial apresentado em 1970 sugere uma melhoria da situação, mas o ano
base, nesse caso, não pode ser tomado como referência, pois a pesquisa surpreendeu a região em ano de
seca, situação em que a crise da produção afeta fortemente a renda monetária das famílias em todo o
semi-árido do Nordeste, e, portanto, também, no Seridó.
O quadro antes descrito, que demonstra a dificuldade das atividades econômicas regionais de
gerarem e distribuírem renda, é atenuado pela presença de rendimentos acessados pela população, por
intermédio de transferências que lhes chegam de outras partes de País, e até do exterior.
Dentre essas transferências, se destacam as que são feitas entre esferas de governo, por meio do
FPM (da União para as Prefeituras), da distribuição de quotas dos 25% do ICMS arrecadado e dos
50% do IPVA recolhido pelo governo estadual. No item 3.5 (Dimensão Social) se fará uma análise
mais detalhada sobre essas transferências, mas aqui cabe destacar que parte importante desses recursos,
ao chegarem aos municípios, são transformados em renda familiar, via pagamento aos funcionários
municipais, via compra de bens e serviços de ofertantes locais, etc. Acrescente-se a esses fluxos outras
transferências como as do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de
Valorização do Magistério–Fundef (que se transforma em salários de professores) e como as de vários
programas sociais dos governos federal e estadual.
167
TABELA 3.4.5.2
SERIDÓ DO RIO GRANDE DO NORTE. RENDA FAMILIAR, NOS ANOS DE 1970, 1980 E 1991
RENDA FAMILIAR MEDIA PER CAPITA PORCENTAGEM DE PESSOAS COM
MUNICÍPIO (Salário Mínimo de Setembro de 1991) RENDA INSUFICIENTE (P0 )
Cabe, especialmente, destacar o papel que vem sendo desempenhado desde o final dos anos 80,
pelas transferências via sistema de aposentadoria, ampliado pela Constituição Federal de 1988, e que
beneficiam bastante regiões com o perfil do Seridó.
Segundo os dados da tabela 3.4.5.3, havia na região 27.149 pessoas de 10 anos e mais,
recebendo benefícios da aposentadoria ou de pensões. 68 Como na mesma ocasião, a população total
dessa faixa etária na Região do Seridó abrangia 228.050 pessoas, pode-se estimar que 12% eram
beneficiários do Sistema Previdenciário.
68
O que representava 12,7 % do total de beneficiários do Estado do Rio Grande do Norte.
168
TABELA 3.4.5.3
RIO GRANDE DO NORTE. APOSENTADOS E PENSIONISTAS DE 10 ANOS E MAIS DE IDADE, EM 1991
LOCALIDADE NÚMERO %
Estado 214.076 100,0
Seridó 27.149 12,7
Serras Centrais 6.394 3,0
Caicó 11.086 5,2
Currais Novos 9.669 4,5
FONTE DOS DADOS BÁSICOS: Ibge, Censo Demográfico de 1991.
Em anos recentes, o contingente de seridoenses com 10 anos e mais cresceu para cerca de 235
mil pessoas. Supondo, numa hipótese conservadora, que o percentual dos beneficiários não se elevou
(continuando a ser de 12%), pode-se estimar que cerca de 28,2 mil habitantes do Seridó recebem
rendimentos da previdência social.
Pesquisa recente, encomendada pelo Ipea, levantou dados diretos da renda média dos
aposentados e pensionistas em diversos municípios do Seridó, chegando a estimar que essas pessoas
recebem R$ 142,00 mensais, 69 durante os meses do ano, além do 13º salário. Com base nesse
rendimento médio, estima-se que circule na economia local, mensalmente, cerca de R$ 4 milhões,
provenientes de tal rendimento, transferido pelo Sistema da Previdência. Multiplicando-se esses valores
mensais por 13 meses (incluindo a gratificação natalina conhecida como 13º salário), pode-se estimar
que é transferido e circula na região um valor anual, médio, de R$ 52 milhões. Isso representa cerca de
10% da renda regional, estimada em R$ 520 milhões, como foi discutido no item 3.4.5.1 anterior.
Trata-se de um volume não desprezível, tanto em virtude da dimensão da economia da maioria dos
municípios seridoenses, como diante dos níveis médios de renda da maioria da população. Evidências a
este respeito foram obtidas nas entrevistas, nas quais sempre foram feitas referências à ampliação do
movimento de vendas na região, no período de pagamento dos aposentados e pensionistas.
Nos anos de seca, como os de 1998 e 1999, também se observa uma outra forma de
transferência, via programa público de assistência às famílias atendidas pelo Programa de Emergência
de Seca. Na seca de 1999, segundo informações do Grupo Executivo que gerencia o referido Programa
no Estado, foram atendidas 17.360 pessoas no Seridó, número que representava 19% do total da
população rural da região, e 16% do número de alistados no Estado como um todo. 70 Lembre-se, a
propósito, que o Seridó abriga cerca de 11% da população residente no Rio Grande do Norte.
O atendimento à população é feito por meio da distribuição de cestas básicas de alimentos, que
funcionam como uma importante fonte de renda não-monetária, e do pagamento de rendimento
monetário, que na seca de 1999 correspondia a R$ 65,00 por pessoa (o que representa 47,8% do valor
do salário mínimo vigente no País). A região capta, assim, mensalmente, R$ 2,25 milhões, dessa fonte,
o que, em números anuais, chega aos R$ 27 milhões (ou seja, 5,2% do valor da renda anual aqui
estimado para a região, ou valor que representa 52% do montante, já referido, transferido anualmente
aos pensionistas e aposentados pelo Sistema Previdenciário).
169
para seus familiares. Um primeiro levantamento, nos Correios de Caicó e de Currais Novos, confirma
esse tipo de fluxo, vez que registra envio de R$ 170,6 mil no ano de 1999, sob a forma de vale postal (o
que dá cerca de 103 salários mínimos por mês).
Dada a importância dos volumes de renda transferidos é que se explica, em grande parte, porque
a crise econômica que afetou, nos últimos anos, tão duramente diversas atividades de peso no Seridó,
não gerou uma crise social ainda mais grave. A pobreza da população é um dado perceptível, mas parte
do dinamismo registrado no comércio local, nos serviços e na vida cultural é financiado por meio
desses diversos tipos de transferência.
Serão abordadas no contexto de sua geração, viabilizada pelas receitas dos municípios do
Seridó e pela composição das diferentes formas de transferências recebidas pela região. Mas antes
dessa análise cabe destacar um problema experimentado pelas atividades econômicas da região,
especialmente as de menor porte: a implementação pela Secretaria Estadual da Tributação de regime
de antecipação tributária para diversos produtos. Isso, na prática, reduz um fator escasso no Seridó:
capital de giro das empresas de menor porte. Mesmo a adoção do SIMPLES, específico e benéfico para
pequenas empresas, vem tendo sua regulamentação postergada no Estado (embora exista legislação
aprovada desde 1999).
Cabe, de início, destacar que o valor da receita pública das diversas municipalidades integrantes
do Seridó é muito pequeno, tendo alcançado pouco menos de R$ 54 milhões, em 1997, valor
semelhante, portanto, ao das transferências realizadas pela Previdência Social (estimada em R$ 52
milhões, no item 3.4.5.2 anterior).
TABELA 3.4.6.1
RECEITAS DOS MUNICÍPIOS DO RIO GRANDE DO NORTE E DO SERIDÓ, EM 1995 (Em R$ 1.000,00)
Mesmo assim, a Região do Seridó tem um peso maior na geração da receita arrecadada pelo
conjunto dos municípios do Estado (9,4%) do que sua participação no PIB estadual (cerca de 8%). Isso
em parte tem a ver com a importância das transferências (correntes e de capital), captadas pelos
municípios da região.
170
TABELA 3.4.6.2
TRANSFERÊNCIAS RECEBIDAS PELAS PREFEITURAS DOS MUNICÍPIOS DO RIO GRANDE DO
NORTE E DO SERIDÓ, EM 1997 (R$ 1.000,00)
A tabela 3.4.6.2, anterior, revela que os municípios seridoenses captaram sob a forma de
transferências R$ 48,7 milhões, em 1997, valor que representa 90,3% da Receita Total por eles
apropriada. Isso confirma a importância das transferências para o financiamento da atividade pública
realizada pelas municipalidades, como ocorre na imensa maioria dos municípios do Nordeste, onde
essa dependência também se faz notória.
E segue igualmente, como se vê na tabela 3.4.6.3, o padrão observado para municípios do porte
(até 20 mil habitantes) da quase totalidade dos que integram o Seridó, 71 em estudo sobre as finanças
municipais realizado, recentemente, pelo Centro Josué de Castro, no qual foram analisados os
municípios de todas as regiões do Estado.
TABELA 3.4.6.3
RIO GRANDE DO NORTE. GRAU DE DEPENDÊNCIA DOS MUNICÍPIOS (%), NOS ANOS DE
1991 a 1996
Finalmente, cabe destacar que as transferências realizadas pelo Fundo de Participação dos
Municípios–FPM são muito mais importantes, como fonte de recursos para a região, do que as captadas
por intermédio das cotas correspondentes à distribuição dos 25% do ICMS que o governo estadual
arrecada e é obrigado a distribuir com os municípios. Em 1997, foram 6,6 vezes maior, como se vê na
tabela 3.4.6.4. Nela se observa que esse fato se repete para todas as Zonas Homogêneas que integram o
espaço seridoense, mas que é especialmente verdadeiro na ZH das Serras Centrais, onde a participação
do ICMS na receita dos municípios é muito reduzida (33,5 vezes menor do que a do FPM, em 1997,
enquanto nas outras duas ela é pouco mais de 4 vezes maior).
71
Só Caicó e Currais Novos têm população superior.
171
Essas duas formas de transferência, juntas, geraram R$ 41,9 milhões, como se vê tabela
referida, ou seja, 86% dos R$ 48,7 milhões de transferências totais captadas pelos municípios naquele
ano.
O impacto da crise afetou fortemente a renda regional, especialmente a que era apropriada pelos
grades produtores – que correspondia, obviamente, à maior parte, face ao restrito grau de apropriação
dos pequenos produtores, parceiros e assalariados, como revela o índice de concentração da Renda,
aqui apresentado. As camadas mais pobres foram apoiadas por transferências de diversos tipos, e têm
sobrevivido dos pequenos negócios, muitos deles integrantes da chamada “economia informal”, tanto
em pequenas indústrias como no comércio e na prestação de serviços. A migração para as áreas
urbanas melhorou para muitos o acesso a serviços públicos – muito mais precário nas áreas rurais. A
pobreza é uma marca da vida social seridoense, mas a miséria é menos evidente do que em outras
áreas, até mais ricas e dinâmicas, do próprio Estado e do País. Mas a alta relevância do trabalho infantil
em diversas dessas pequenas unidades produtivas é um dos fatos reveladores da fragilidade desse
processo de reestruturação produtiva em curso.
Na realidade, a economia urbana de base local é que tem dado sustentação à vida econômica
seridoense, com a demanda local ampliada pelas transferências, como se mostrou antes.
Com base neste sucinto diagnóstico, pode-se partir para apresentar, de forma sintética, os
principais Problemas e as mais relevantes Potencialidades com que a região conta para avançar na
172
reestruturação de sua base econômica e construir um processo de desenvolvimento sustentável, num
futuro próximo.
TABELA 3.4.6.4
SERIDÓ. TRANSFERÊNCIAS DA COTA DO ICMS E DO FPM, EM 1997
ZONAS E SUBZONAS ICMS FPM
HOMOGÊNEAS E MUNICÍPIOS (R$ 1,00) (%) (R$ 1,00) (%)
IV – Zona de Currais Novos 2.052.666 1,7876 9.320.723 6,0
Acari 94.389 0,0822 1.242.761 0,8
Carnaúba dos Dantas 125.392 0,1092 932.073 0,6
Currais Novos 1.318.915 1,1486 3.106.910 2,0
Equador 90.714 0,0790 932.073 0,6
Parelhas 269.846 0,2350 1.864.145 1,2
São Tomé 153.410 0,1336 1.242.761 0,8
V – Zona de Caicó 2.882.069 2,5099 13.981.089 9,0
Caicó 1.914.873 1,6676 3.106.910 2,0
Cruzeta 182.232 0,1587 932.073 0,6
Ipueira 3.100 0,0027 932.073 0,6
Jardim de Piranhas 176.835 0,1540 1.242.761 0,8
Jardim do Seridó 263.530 0,2295 1.242.761 0,8
Ouro Branco 29.855 0,0260 932.073 0,6
Santana do Seridó 23.310 0,0203 932.073 0,6
São Fernando 8.268 0,0072 932.073 0,6
São João do Sabugi 23.769 0,0207 932.073 0,6
São José do Seridó 203.246 0,1770 932.073 0,6
Serra Negra do Norte 47.080 0,0410 932.073 0,6
Timbaúba dos Batistas 5.971 0,0052 932.073 0,6
VI – Zona das Serras Centrais 398.568 0,3471 13.359.707 8,6
Subzona de Santana do Matos 255.378 0,2224 9.010.034
Bodó 230 0,0002 932.073 0,6
Cerro Corá 40.764 0,0355 1.242.761 0,8
Florânia 46.735 0,0407 1.553.455 1,0
Lagoa Nova 81.758 0,0712 1.242.761 0,8
Santana do Matos 66.371 0,0578 2.174.838 1,4
São Vicente 18.487 0,0161 932.073 0,6
Tenente Laurentino Cruz 1.033 0,0009 932.073 0,6
Subzona de Jucurutu 143.190 0,1247 4.349.673
Campo Grande 38.697 0,0337 1.553.455 1,0
Jucurutu 103.345 0,0900 1.864.145 1,2
Triunfo Potiguar 1.148 0,0010 932.073 0,6
SERIDÓ 5.333.303 9,6363 36.661.519 23,6
FONTE DOS DADOS BÁSICOS: Instituto de Desenvolvimento Econômico e Meio Ambiente do Rio Grande do Norte-
Idema (1998)- Anuário estatístico; Rio Grande do Norte, 1998. Natal-RN, 1998.
173
termos de geração de renda ou criação de oportunidades de inserção da população ativa na vida
econômica regional. Algumas dessas atividades perderam condições de competitividade (em especial a
produção de algodão e a de mineração do Tungstênio), por causas internas ou por impactos de
processos e políticas externas à região. As atividades emergentes ainda não se fazem suficientemente
fortes para comandar um novo ciclo de dinamismo econômico na região;
• Acesso da região ao gás natural. Presentemente, o Seridó está fora das rotas de acesso
ao gás natural, recurso energético abundante no Estado – que o fornece a outros Estados do Nordeste –,
mas não há previsão para levá-lo ao Seridó;
• Alta freqüência com que vem ocorrendo secas, ampliando a carência da oferta de
água e prejudicando a colheita de lavouras tradicionais da região (como o feijão e a mandioca), com
impactos importantes na vida econômica das populações que vivem na zona rural;
174
• Futuro do Programa do Leite, que criou uma demanda institucional importante para o
desenvolvimento da bacia leiteira local nos anos recentes, mas que precisa ter uma perspectiva de
futuro melhor definida, para que os produtores se planejem face ao cenário mais provável a ser
construído; e
3.4.7.2 Potencialidades
O futuro do Seridó pode ser construído a partir de potencialidades como as sintetizadas a seguir.
• Existência de uma base inicial de cooperativas, que precisa ser fortalecida e ampliada,
mas que no caso das mais exitosas já funcionam como fato positivo na região.
175
consideradas e repetidas, sempre que necessário, por questões de ênfase ou de melhor compreensão das
questões abordadas.
Quando se fala em Seridó, vêm à tona algumas imagens que delineiam a noção de um lugar
particular. Neste sentido, existe a percepção de que há uma recorrência ao Seridó – ou dos enunciados
que o formam – em vários discursos que circulam no imaginário estadual e regional. É bastante
sugestivo que o Seridó exerça essa marcação no campo discursivo, a ponto de ser uma região tão
nitidamente pronunciada nesse recorte estadual, vis-à-vis outras regiões. 72
Tal evidência termina por imprimir uma visibilidade regional específica, associada a
determinados padrões identitários. Obviamente, tem-se clareza de que essa identidade regional existe
por meio de um efeito do poder, produzido por uma construção histórica que se entranhou e se
emaranhou na memória social, ao longo de séculos de ocupação humana na ribeira do Seridó. Também
é certo que, ao discorrer sobre elementos identitários, tem-se clareza de que tais elementos não serão
encontrados em “estado puro”, consubstanciados em um tipo ou estereótipo humano, flagrantemente
reconhecido como “o seridoense”.
Decerto que, além da religião católica, outros credos e confissões religiosas hoje encontram
abrigo e espaço no território seridoense. Os evangélicos foram os primeiros que se constituíram como
contraponto religioso aos católicos no Seridó; posteriormente, ou concomitante a eles, vieram outras
fés: manifestações espirituais afro-brasileiras, Testemunhas de Jeová, Espíritas Kardecistas e,
ultimamente, os Mórmons. Um leque considerável de subjetividades e práticas espirituais a campearem
em prados majoritariamente católicos. Entretanto, há uma persistência do referencial cristão, que se
encontra imantado no imaginário seridoense com uma aderência identitária muito forte. Isto porque,
inegavelmente, a religião católica tem um caráter de fundação e instituição de um estilo de pensar, de
viver e de delimitar espaços nos sertões seridoenses.
Assim, a primeira constatação aponta para o fato de que essa instância contribui decisivamente
para a constituição do território seridoense, ou aquele que mais se aproxima da atual delimitação para
fins de planejamento. E aqui é necessário que se adiante e se admita que esse território tem
especificidade tanto geográfica quanto cultural. Primeiramente, é necessário discutir a territorialização
cartográfica, de forma a precisar quais são as possíveis determinações que, neste sentido, a religião
católica investiu no Seridó.
72
Decerto que outras regiões aparecem no discurso, mas sem a clareza com que se configura o Seridó.
73
É evidente que elas não se hierarquizam, nem tampouco podem ser entendidas como estanques e fechadas em esferas
incomunicáveis.
176
Espaço povoado pela expansão da pecuária pelos sertões, por volta da segunda metade do
século XVII, o Seridó foi, a princípio, somente uma ribeira, que ao se espraiar pelos chãos sertanejos
demarcava, a partir de suas margens, os espaços das fazendas. Com o aumento da complexidade da
vida sertaneja, diminutos núcleos urbanos foram tímida e vagarosamente surgindo. População e
economia voltadas para as atividades pastoris foram se avolumando e gerando maiores demandas pelo
poder espiritual e secular. A princípio subordinado aos serviços religiosos da distante Freguesia de
Piancó (vila paraibana), até 1748, o Seridó foi secionado dessa jurisdição e delimitado como freguesia
da Gloriosa Senhora Sant’Ana, para atender as necessidades espirituais da população. É interessante
notar que o recorte espacial que tomava a freguesia seria o mesmo da Vila do Príncipe (correspondente
à atual Caicó). 74 Foi a primeira regionalização do espaço seridoense que se desenhava. Partindo da
divisão administrativa da Igreja Católica na Colônia, o Seridó ganhou existência no plano cartográfico
como território fiscal – o dízimo do gado era cobrado nesse espaço; como território espiritual –
dominado por Sant’Ana; e como território político – a povoação do Queiquó (antiga denominação de
Caicó), posteriormente Vila do Príncipe, como sede do poder civil da freguesia. 75
Se a religião católica está presente na fundação territorial do Seridó, ela se impregna também no
imaginário, fundando poderosas chaves explicativas para a realidade regional, que até hoje estão
presentes na subjetividade sertaneja. Neste sentido, basta que se atente para dois fatos significativos
que corroboraram esse raciocínio. O primeiro deles data de meados da primeira metade do século XIX:
é o aparecimento do Seridó como um objeto de conhecimento de suas elites. É o primeiro elemento
discursivo que forma articuladamente o regionalismo seridoense, mas que também é moeda corrente
nas falas que se referem ao semi-árido. Trata-se do entendimento do espaço como provação e
promissão: o espaço percebido como estratégia do plano divino para testar a fé humana, ao mesmo
tempo em que Deus lembra a promessa de bem-aventurança. Tal interpretação é decalcada da crônica
de Manoel Antônio Dantas Corrêa, escrita em 1847. A partir desse manuscrito pode-se demonstrar em
que medida essa noção de espaço agônico 76 foi estabelecida pela intertextualidade presente no
documento, ou seja, de um diálogo semântico com o segundo livro da Bíblia, o Êxodo. (Macedo,
1998.) Texto flagrantemente citado, tanto episodicamente quanto estilisticamente, para explicar o
deserto árido do Seridó.
74
Assim, o Visitador lavrou a primeira regionalização: “- a Ribeira das Espinharas, começando das suas nascenças, ou
nascenças do seu Rio com todas as suas vertentes e desaguadôros nelle até a Barra que faz no Rio das Piranhas, e por este
abaixo até os limites da Freguezia do Assú, ficando a Ribeira do Seridó, suas vertentes e todas as mais que d’esta parte
correm para o Rio de Piranhas (que será diviza entre a antiga e a nova Freguezia) para Freguezia de Santa Anna; e o que
fica para a outra banda do Rio Piranhas pela parte do Patú, e que não fôr Ribeira das Espinharas e suas vertentes ficam
continuando a pertencer a antiga Freguezia de Nossa Senhora do Bom Sucesso. Nesta divizão assim interponho minha
Autoridade Ordinaria, e quero que em todo tempo se tenha, e mantenha, como neste hei expresso, e mando aos Freguezes
de uma e outra Freguesia, assim divididos, e aos Parochos, sob pena de Excommunhão assim o tenham entendido e
cumpram e façam cumprir e guardar, como neste se contem. Os Parochianos da nova Freguezia pagarão à seus
Reverendos Parochos, os mesmos estipendios e emolumentos que antes pagavão e era uso e costume pagarem ao de Nossa
Senhora do Bom Successo, sem que, em razão da divisão, haja auteração ou diminuição nos sobreditos emolumentos e
direito: e poderão erigir sua Matriz, como o sobredito Titulo de Nossa Senhora Santa Anna, no lugar, que julgarem mais
apto para serem curados, e para se lhes administrarem os Sacramentos” . Documento transcrito na íntegra por Monteiro
(1945: 40).
75
Os limites do Seridó colonial herdavam parcela do território paraibano. Procurando objetivar os limites da Vila Nova do
Príncipe, o Padre Francisco de Brito Guerra – deputado geral que representava os interesses seridoenses –, pleiteando
dirimir as dúvidas, propôs ao Senado a demarcação do território da vila. Seu projeto foi ratificado pelo Decreto de 25 de
outubro de 1831. Tal delimitação, no entanto, não foi ponto pacífico senão em 1834, quando o Senado imperial ratificou a
pertença seridoense à província do Rio Grande.
76
Ou seja, um lugar onde se está sempre lutando contra a morte: nas figuras da fome e da peste.
177
O segundo deles guarda contornos míticos e está associado à própria explicação do nascimento
da povoação de Caicó. Segundo essa narrativa, um vaqueiro acossado por um touro bravio – possuído
por Tupã – rogou à Sant’Ana que o protegesse do ataque do animal. Atendido em sua solicitação, o
vaqueiro fez construir uma capela dedicada à santa de sua devoção. 77 No entorno dessa capela,
começou a povoação de Caicó. O interessante é que a estrutura desse mito de origem está presente em
outras cidades que tiveram seu espaço produzido pela pecuária. Note-se, de passagem, que Sant’Ana
era considerada a protetora dos pastores.
Veja-se o caso de Santana do Matos. A exemplo de outras cidades sertanejas, cujos territórios
municipais foram delineados pelos limites da freguesia primeva, Santana do Matos tem seu mito de
origem na intervenção da avó de Cristo, nos vexames sofridos pelos primeiros vaqueiros. Os historiadores
que se ocuparam das histórias municipais não deixam de registrar esses fatos. Câmara Cascudo não fugiu à
regra de ouro. Explica essa “história que se enovela em lenda”: Manoel José de Matos – daí o sobrenome
da cidade – desesperado pelas tribulações por que passava, prometeu cultuar Sant’Ana, com capela e
imagem votivas; agraciado, cumpre a promessa, lançando em terra o que seria a semente urbana. Da
construção da capela à instituição da freguesia, foi um movimento natural; em 1821, a povoação
santanense assim tinha sido reconhecida. (Cascudo, 1955-a: 15.)
Esta é, pois, mais uma evidência do regionalismo seridoense. De fato, está-se aqui diante de um
dos símbolos mais fortes e consensuais da identidade da Região Seridó. Para reforçar ainda mais essa
percepção, basta que se perceba o quanto se ritualiza Sant’Ana no mês de julho, em festas de
padroeiras, em que cidades como Caicó e Currais Novos dobram sua população flutuante. 78
A tradição política – a que os atores sociais acima reivindicam – começou, de forma mais
positiva e perene, a entrar no mercado simbólico da política estadual na última eleição do Império.
Nessa campanha, o Seridó ganhou visibilidade política própria. Foi a região – ou zona como era mais
comum na época – que deu as cartas no 2o Distrito (como era conhecido o colégio eleitoral do Sertão
77
“No lugar onde é hoje a cidade de Caicó o que havia era só mofumbo... Mas, certa vez, durante a seca, apareceu por aí
um fazendeiro de Jardim de Piranhas, procurando um touro que havia, há dias, desaparecido do curral. E nesta mata de
mofumbos deu com ele, mas o animal parecendo um demônio marchou, furioso, para derrubar o cavaleiro e o seu cavalo.
O vaqueiro correu apavorado, fugindo à perseguição do touro lembrando-se, porém, na aflição, de prometer uma Capela a
Sant’Ana, no lugar onde o touro o abandonasse. E olhando para trás viu que o animal, seguira outro caminho,
desaparecendo.
O fazendeiro voltou ao sítio de Jardim de Piranhas e, expondo o ocorrido aos seus trabalhadores, estes se prontificaram de
construir a Capela, exatamente onde está, hoje, a Catedral de Caicó. Construída a Capela, foi fácil, mais tarde,
aparecerem as habitações que deram início à atual cidade.” (Monteiro,1945: 12-13.)
78
Este aspecto será tratado em mais detalhe posteriormente.
178
Potiguar). Emerge aí, como líder, José Bernardo de Medeiros, caicoense, fundador de uma genealogia
de influentes políticos seridoenses, que culminará com o domínio da oligarquia seridoense no poder
estadual, em fins da República Velha.
Impossível falar desse perfil identitário seridoense sem que se toque nas imagens políticas
evidenciadas por esse regionalismo. Assim, o tempo político que é citado no imaginário seridoense é o
que se funda principalmente até o fim da República Velha, com figuras do porte de Amaro Cavalcanti,
José Augusto de Medeiros e Juvenal Lamartine, que definham quando é chegada a Revolução de 30,
posto que são indivíduos visceralmente integrados à política oligárquica do período. 79
Se há alguma significação nesses elementos, a importância se explica pelo espaço seridoense ter
sido pensado pela elite algodoeiro-pecuária, à época do processo de mudança do eixo político potiguar
do litoral para o sertão. Um dos elementos que assoma do discurso dessa elite é um Seridó apreendido
unilateralmente, como espaço voltado quase que exclusivamente para a produção cotonicultora.
Políticas públicas, programas educacionais, instalação de estações de pesquisa experimental, todas
essas atitudes administrativas ficaram como fortes marcas de suas passagens pelo poder estadual.
A visibilidade dada ao Seridó a partir da República Velha tinha como principal marca
discursiva a valorização do espaço pela cotonicultura. Os saberes que eram investidos na nomeação
dessa região estavam voltados para o melhoramento da cultura algodoeira, para o seu beneficiamento,
etc. Eram falas técnicas, ancoradas nas séries estatísticas, nas condutas científicas agenciadas, por
exemplo, pelas novidades da botânica e da nascente agronomia brasileira.
A paisagem hoje do Seridó não mais é pontilhada pelas plumas de algodão que branqueavam a
perder de vista os campos sertanejos. Sua economia não mais produz o ouro branco e principalmente a
sua mais nobre variedade, o mocó. Todavia, a persistência do algodão no regionalismo seridoense é tal
que, nos dias atuais, embora sendo a cotonicultura apenas um residual traço estatístico no Seridó, esse
produto continua a gerar valores simbólicos.
O algodão é muito freqüentemente lembrado nos períodos em que são discutidas propostas de
soerguimento econômico da região. Nesses momentos, as falas que pensam a crise reencenam um
Seridó orgulhoso de si, exportador de um produto cuja excelência foi reconhecida no Brasil e no
exterior. Neste sentido, mesmo ausente, o algodão ocupa um lugar decisivo na formação da rede de
significações da paisagem regionalista. 80
179
Interessante é que, atividade econômica inicial do Seridó, o criatório não é celebrado nesta
crise. Tal lapso é o resultado de não se associarem as lides pastoris às imagens de superação regional.
Esse fato conduz a observação de que a pecuária não foi pródiga em elaborar símbolos no imaginário
regional, de forma tão laica quanto a cotonicultura. A pecuária está associada à origem do Seridó, ao
ambiente do misticismo católico coetâneo, à fundação das primeiras cidades seridoenses, em suma, ao
passado imemorial da fundação do Seridó.
Só ultimamente a pecuária começou a modernizar-se, mas com uma velocidade muito lenta de
incorporação das novidades tecnológicas contemporâneas. É a própria natureza da pecuária que não
conseguiu se urbanizar. 81 Em larga medida, a atividade pastoril, ao permanecer no rural, construiu
uma carapaça não muito afeita às inovações. Tal imaginário em ambiente pastoril arcaico – das
sociedades tradicionais – está preso, em sua estrutura mental mais profunda, a uma noção de tempo que
se revela por meio de certas características cíclicas da natureza. O tempo recorrente, da instância das
coisas que ocorrem sem o controle do homem, um tempo que não pode ser modificado, posto que quem
o opera é o próprio Deus. Neste, há o sentido sempiterno do clima que não se dobra a qualquer
intervenção humana. Daí o descrédito nas novidades que afetam o mundo da produção. Se as gerações
anteriores sobreviveram aos ciclos da natureza, não haveria razão para contrariá-las. A ordem natural
não poderia, neste sentido, ser quebrada pela tangível mão humana, eis o que reza tal percepção.
Veja-se, como exemplo – para que seja analisado um dado cultural –, a obra de um ficcionista
seridoense. Comumente, José Bezerra Gomes, autor currais-novense, é visto sob o prisma reducionista
de um escritor regionalista, incluído na literatura potiguar no que ficou conhecido como “ciclo do
algodão”. Na leitura de um dos seus romances, “Os Brutos”, pode ser detectado, além dos elementos
regionalistas que despontam da narrativa – e são o seu pano de fundo –, que José Bezerra Gomes está
antenado ao ambiente moderno e seus móveis, sejam eles o não-referenciamento e destino não-
exemplar dos personagens, o deslumbre perante a modernização e os símbolos gestados pela introdução
das novas máquinas.
81
Aqui é necessário que se faça uma distinção das noções de “rural” e “urbano”, da forma como se instrumentaliza no
presente texto. Fique desde logo esclarecido que essas noções correspondem a termos utilizados a partir da percepção que o
imaginário regional faz deles. Portanto, não têm a pretensão de serem ferramentas conceituais rigorosamente científicas. Se
aqui são contempladas dessa forma, deve-se à necessidade de clareza mais imediata. No sentido aqui utilizado, “rural”
denota um ambiente ainda plasmado por relações de produção tecnicamente pouco desenvolvidas, pouco alfabetizado e com
padrões societários tradicionais. “Urbano” é o ambiente modernizado, com padrões educacionais e sanitários eficientes,
onde a empregabilidade se dá em serviços, fábricas ou indústrias, e onde os equipamentos de usos comunitários são
acessados e administrados publicamente.
180
cidade estejam presentes os elementos da ordem e da desordem, binômios ambíguos, caros à
urbanidade. A cena urbana denota também as modificações acarretadas pelo desenvolvimento
econômico da região, a partir da cultura do algodão.
Nos romances daquele autor, os signos urbanos são trazidos do mundo exterior. Estes
elementos, pelo fato de serem exógenos e desafinarem, com sua estranheza e “ruído”, o concerto
uníssono do “mesmo”, são tidos como valores de prestígio: o primeiro automóvel, seu motorista
(Jesus), os doutores (médico, advogado e juiz). Por sua vez, o campo abriga o mundo do trabalho,
rotineiro e óbvio: o lugar ordenado pela família, pela produção, pelo ritmo monocórdio de uma
natureza estéril ou abundante. Este é o espaço afetivo para onde todos – segundo o que se percebe do
autor – deveriam voltar, em busca de identidade. Mas, paradoxalmente, será também o campo onde a
natureza pune com o exílio.
Interessante essa percepção de José Bezerra Gomes, para se demonstrar que o rural foi tido – e
ainda é – no Seridó, como um locus de conservadorismo. Se inovações foram possíveis a partir do
algodão, é porque ele modificou perenemente a face urbana das cidades sertanejas, com os móveis de
qualquer processo de modernização: máquinas, energia e urbanização. O mesmo processo ocorreu com
a mineração em Currais Novos – evidentemente que a modernização chega à cidade indiretamente pelo
processo de urbanização.
No caso específico de Caicó, anota Ione Rodrigues Diniz Morais (1998: 94): “A expansão da
atividade algodoeira e a modernização das unidades de beneficiamento na década de 60 repercutiam
em termos de organização espacial de Caicó, por meio da localização de usinas na cidade. As usinas
funcionaram como pólos dinamizadores tanto em termos de economia – oferta de empregos e
circulação de capital – como no que se refere à expansão urbana – surgimento de bairros novos e
crescimento de alguns já existentes.”
Parece que quanto mais afastado desse ambiente urbano de produção, mais persiste a
resistência à modernização, seja das relações sociais de produção, seja das relações técnicas de
produção.
Um exemplo culinário expressivo que se pode extrair desse universo, para corroborar tal juízo,
pode ser dado pela produção alimentícia artesanal do Seridó: queijos, carnes-de-sol, manteiga, etc. A
sua fragilidade ficou demonstrada tragicamente quando o mercado exigiu um maior gradiente
produtivo.
Ora, ambientada somente no mundo rural, portanto arcaico, essa produção não atendeu
eficientemente a demanda e grande parte degenerou-se, ou simplesmente, extinguiu-se. Para dar conta
da demanda, é notória a adulteração feita nos queijos, a partir de amidos encontrados no macarrão,
farinha de trigo, etc. Atualmente, essas mercadorias têm a marca, mas não a qualidade de outras
épocas. Ou então, existe somente a marca e o produto é manufaturado fora da região do Seridó – muitas
mercadorias vendidas em outros mercados são negociadas como produtos seridoenses, sem de fato o
serem. O desafio seridoense seria o de modernizar sua produção alimentícia para exportação interna,
sem, no entanto, desfigurar o padrão de qualidade, higiene e sabor. Talvez somente com a urbanização
dessa produção, essa mudança possa tornar-se possível.
181
3.5.1.4 Instância Educacional
Tais objeções às mudanças operadas pelo homem sertanejo foram percebidas desde os
primeiros momentos da cotonicultura. A despeito de tudo, a saída ao marasmo sertanejo era – em fins
do Império – propugnada por meio da educação formal.
Manoel Dantas, seridoense acadêmico de Direito na Faculdade do Recife, em 1889, numa série
de reportagens sobre a vida sertaneja, já detectava que o modus vivendi sertanejo era antípoda à lei do
progresso. Sua cultura e costumes estacionários paralisaram o desenvolvimento sertanejo rumo ao
progresso material e espiritual. Não se tratava, no entanto, de um caso perdido. As condições de sua
superação estariam já esboçadas dentro dele mesmo, mas as potencialidades estariam, todavia,
encarceradas pela cultura conservantista dos sertões. Somente à luz da instrução pública, da educação
formal, romperia a crisálida que punha travas à sua emancipação.
Há, pelo que foi discutido acima, uma identificação entre a significação das lideranças políticas
e sua formação intelectual. Interessante perceber-se que um dos elementos constituintes da identidade
regional é também o valor dado à educação formal. 82 Ao analisar-se mais detidamente tal constatação,
dá-se conta de alguns fatos que são definidores dessa percepção.
O primeiro deles, que mais remotamente ganha significado, é a Escola de Latim, que foi criada
em Caicó (na época, Príncipe), na primeira metade do século XIX. O ingresso no ensino secundário, no
qual percebe-se a presença de alunos de extração social mais elevada, dava-se, em grande parte, nas
Escolas de Latim; só, posteriormente, quando esgotadas as possibilidades de ensino de qualidade no
interior, procurava-se Natal. No Rio Grande do Norte, as mais antigas foram fundadas em Natal (1731),
Açu (1827) e Caicó (Príncipe). No caso do Seridó, o exemplo mais expressivo fica por conta da
Cadeira de Gramática Latina, que o Deputado Pe. Brito Guerra fez aprovar na corte, em 1832. A Escola
de Latim já funcionava no sobrado do padre antes dessa data e, segundo o próprio deputado, em sua
argumentação parlamentar, contava com mais de trinta alunos. Nos bancos da Escola de Latim do
Seridó sentaram-se, entre outros, o Padre João Maria e Amaro Cavalcanti. 83
82
Somente à guisa de ilustração, vale lembrar que há, na iconografia mais poderosa da região, uma coincidência no mínimo
sugestiva com relação à valoração da educação: a imagem clássica de Sant’Ana é aquela em que ela aparece sentada
alfabetizando a Virgem. Sobre esse detalhe na cultura cristã Ocidental veja-se Manguel (1997: 90).
83
Certamente o ensino do latim esmerilhou a educação dos seridoenses que estudaram tal idioma, dando polidez formal e
adornos eruditos às construções gramaticais de uso coloquial, cultivados na literatura clássica. Assevera Câmara Cascudo
que “Os velhos fazendeiros, iletrados e poderosos, sabiam empregar uma frase de Vergílio ou de Horácio, um provérbio,
uma sentença bíblica, recitando orações no idioma Clássico que tomava acentos imprevistos de ineditismo naqueles
lábios habituados a comandar”. (Cascudo, 1955-b: 265.)
84
Veja-se o caso de Manoel Dantas, no Jornal O Povo, primeiro jornal editado no Seridó (fins do Império), numa série de
artigos sobre a superação da vida sertaneja, via educação pública.
182
A educação formal como idéia positiva na formação do seridoense estendeu-se até a década de
70. Até aquela década, cidades-pólos como Caicó, principalmente essa, e Currais Novos, serão
reconhecidas como centros educacionais de respeitável qualidade, para onde convergiram estudantes
das mais variadas procedências regionais.
Parece que nenhuma outra característica do perfil identitário seridoense contribuiu mais que o
valor dado à educação formal, entendida como força motriz da mobilidade social. A educação nesse
nível foi considerada talvez a principal esperança dos pobres para alçarem seus filhos a um patamar
social superior ao seu.
Estes são, em linhas gerais, os tons mais fortes da identidade seridoense, tal como se conseguiu
analisá-la nos discursos regionalistas que tentam construí-la. Tem-se, pois, claro que essas marcas, a
despeito de toda a celeridade dos meios de informação de massa, do mundo midiático, continuam a
moldar a identidade seridoense. Mesmo assim, convém fazer algumas ressalvas quanto às práticas
culturais seridoenses. 88
85
“Potiguares, paraibanos, cearenses, pernambucanos e alagoanos eram mandados , pelo menos até meados de 60, para o
educandário (...)” . (Caicó em Revista, 1976: 23).
86
Sobre esse aspecto, o cantor e compositor Chico César, em entrevista à imprensa, chegou a dizer que a Emissora de
Educação Rural de Caicó tinha sido sua “internet”, à época em que vivia em Catolé do Rocha, na Paraíba.
87
O programa mais antigo da referida emissora é “Violeiros do Seridó”, em funcionamento, sem interrupção, desde 1963.
88
Genericamente, cultura, da forma como aqui se entende, pode ser tanto os traços que identificam uma sociedade do
âmbito de suas particularidades subjetivas, quanto também é a expressão dos desejos simbólicos dessa sociedade, em termos
183
Já é lugar comum apontar-se na cultura seridoense um locus de arcaísmos. No entanto, essa
noção de cultura que se esmera em encontrar o naif, o primitivo, o ingênuo, já não corresponde à
realidade seridoense. Identificar no folclore e artesanato as variantes mais verídicas do Seridó denota
flagrantemente uma certa percepção cultural muito elitista (na acepção pejorativa do termo), no sentido
de instituir-se para o povo o que deveria ser eleição dele próprio.
No entanto, se essa visão reducionista persiste, deve-se primeiro a uma concepção de cultura
que a crê imóvel – portanto conservadora, literalmente; segundo, credita-se à noção que entende que a
cultura do povo deve assim permanecer drenada por benesses quase filantrópicas dos poderes
municipais, estaduais e federais.
Os aspectos aqui apresentados, de forma sumária, não podem deixar de ser considerados quando
se pretende, numa perspectiva de mobilização da sociedade, articular esforços no sentido de produzir
condições para que o Seridó alcance melhores níveis de desenvolvimento econômico e social. Neste
sentido, os limites e as potencialidade que a identidade cultural de região – produzida pela instância
religiosa, política, socioeconômica e educacional, consolidada no decorrer da história do Seridó –
constituem marcos fundamentais, quando se pensa em ações e estratégias nas diferentes dimensões da
realidade: a ambiental, a tecnológica, a econômica, a sociocultural e a político-institucional. Em
qualquer delas, a forma como a sociedade se comporta e o modo como os atores sociais estabelecem
suas relações fundamentais, na produção ou na convivência diária, constituem ponto de referência,
tanto na concepção como na implementação ou avaliação de um Plano de Desenvolvimento
Sustentável para a Região. Muitos dos valores assinalados, como os vinculados à identidade própria de
região, à forma de pensar e avaliar a educação, a tradição de participação política das lideranças
regionais no contexto estadual e nacional, a valoração do urbano e moderno, ou outros não
considerados na análise, como o maior ou menor grau de solidariedade ou de cooperação que define a
convivência entre as classes sociais e os seus principais atores, tendem a exercer no estabelecimento da
estratégia de desenvolvimento sustentável peso da maior importância.
Além disso, o conhecimento dessa identidade e das manifestações culturais da região devem
constituir objetivo de programas e projetos, voltados tanto para sua valorização e, em decorrência, para
o fortalecimento da identidade regional, como para sua utilização como fonte geradora de emprego e
renda para a população do Seridó.
Estima-se a população total do Seridó, no ano 2000, em aproximadamente 294 mil pessoas, o
que representa cerca de 11% da população do Estado do Rio Grande do Norte. Esta população estaria
distribuída desigualmente pelas três Zonas Homogêneas–ZH, com a população da Zona Homogênea de
Currais Novos calculada, no referido ano, em 94 mil habitantes; a de Caicó (115 mil) e a da Zona
Homogênea das Serras Centrais (85 mil). Na última Contagem de População, realizada pelo Ibge, em
da materialização de suas representações: festas, artes cênicas, plásticas, danças, culinária, etc. Essas últimas é que se
identificam como práticas culturais. (Coelho, 1999.)
184
1996, a Região do Seridó havia registrado cerca de 289,8 mil, a ZH de Currais Novos (com 92,5 mil), a
de Caicó (113,1 mil) e a ZH das Serras Centrais (aproximadamente 84,2 mil).
185
da metade de sua população residindo no meio rural. Este é um ponto que deve ser considerado nas
ações a serem desenvolvidas na região.
No que se refere ao grau de urbanização, convém destacar, para o Seridó, sobretudo nas Zonas
Homogêneas de Currais Novos e Caicó, a presença de municípios com participação da população
urbana maior ou igual a 75%, alguns deles de pequeno porte. É o que ocorre em Acari (76,3%),
Carnaúba dos Dantas (75,3%), Parelhas (80,6%), Caicó (88,1%) e Timbaúba dos Batistas (80,3%).
Salvo os dois municípios-pólo, já referidos, o de Currais Novos, com 40,5 mil habitantes, dos
quais 34,7 mil no meio urbano, e o de Caicó, com 53 mil habitantes (com 45,8 mil residentes na
cidade), a região se caracteriza pela presença de municípios de pequeno porte, em todas as suas Zonas
Homogêneas. Isto se torna mais patente quando se considera a população urbana de cada um deles.
Neste particular, dos 25 municípios considerados na tabela 3.5.2.1, cerca de 22 apresentam uma
população urbana inferior a 10 mil habitantes. 89
89
Além dos municípios considerados na tabela 3.5.2.1, vale assinalar a existência do município de Bodó, desmembrado de
Santana do Matos, o de Tenente Laurentino, desmembrado de Florânia e o de Triunfo Potiguar, desmembrado de Campo
Grande. Eles não existiam por ocasião da Contagem da População, em 1996.
186
gráfico 3.5.1, apresentado adiante, destaca, por meio das taxas anuais de crescimento, não só os valores
maiores estimados para o Rio Grande do Norte, como os valores diferenciados das Zonas Homogêneas
que compreendem a Região do Seridó.
TABELA 3.5.2.1
RIO GRANDE DO NORTE, SERIDÓ E SUAS ZONAS HOMOGÊNEAS: POPULAÇÃO EM 1996
187
TABELA 3.5.2.2
RIO GRANDE DO NORTE, SERIDÓ E ZONAS HOMOGÊNEAS: EVOLUÇÃO DA POPULAÇÃO
FONTE DOS DADOS BÁSICOS: Ibge. Censos demográficos de 1970 a 1991 e Contagem da população, 1996.
* Estimativa baseada na taxa de crescimento anual, do período 1991-1996.
188
Gráfico 3.5.2.1
R.G.do Norte, Seridó e suas Zonas Homogêneas: Taxas
Anuais de Crescimento da População Total - 1970-96
2.50
2.00
1.50
(%)
1970-80
1.00 1980-91
1991-96
0.50
Caicó
Estado
Centrais
Seridó
Currais
Novos
Serras
TABELA 3.5.2.3
RIO GRANDE DO NORTE, SERIDÓ E ZONAS HOMOGÊNEAS: TAXAS ANUAIS DE CRESCIMENTO DA
POPULAÇÃO TOTAL, URBANA E RURAL - 1970-96
ESTADO, REGIÃO E POPULAÇÃO TOTAL POPULAÇÃO URBANA POPULAÇÃO RURAL
ZONA`HOMOGÊNEA 1970-80 1980-91 1991-96 1970-96 1970-80 1980-91 1991-96 1970-96 1970-80 1980-91 1991-96 1970-96
Estado 2,05 2,22 1,16 1,95 4,22 3,74 2,01 3,59 (0,37) (0,44) (0,85) (0,49)
Região do Seridó 0,86 1,11 0,33 0,86 3,36 3,26 1,67 2,99 (1,14) (1,71) (2,22) (1,59)
Currais Novos 1,37 0,96 0,26 0,98 3,70 3,02 1,24 2,94 (1,20) (3,02) (2,72) (2,27)
Acari 0,11 (0,02) (0,06) 0,02 2,13 1,65 1,37 1,78 (2,21) 3,10) (4,00) (2,93)
Carnaúba dos Dantas 1,78 0,37 1,88 1,20 3,36 3,64 3,21 3,45 0,44 (4,41) (1,63) (2,04)
Currais Novos 2,94 1,28 0,18 1,70 4,96 2,54 0,54 3,08 (1,07) (3,34) (1,85) (2,19)
Equador 0,85 0,83 0,45 0,76 4,22 6,25 2,97 4,83 (0,53) (3,91) (4,15) (2,67)
Parelhas 1,50 1,78 0,69 1,46 3,36 3,71 1,87 3,22 (0,89) (2,42) (3,48) (2,04)
São Tomé (1,43) 0,09 (0,73) (0,65) (0,60) 4,85 1,20 2,02 (1,71) (2,32) (2,32) (2,09)
Caicó 0,59 1,47 0,43 0,93 2,70 3,36 1,79 2,80 (1,80) (1,77) (3,23) (2,06)
Caicó 0,92 2,16 0,54 1,37 2,28 3,03 1,39 2,42 (2,53) (1,46) (4,66) (2,49)
Cruzeta 0,51 1,32 0,17 0,79 2,15 3,12 1,27 2,39 (1,14) (1,39) (2,14) (1,44)
Ipueira 0,19 1,09 0,99 0,73 2,74 5,92 4,58 4,43 (1,04) (3,44) (6,29) (3,09)
Jardim de Piranhas 0,71 1,46 1,09 1,10 5,00 3,85 4,57 4,43 (1,87) (1,23) (5,34) (2,28)
Jardim do Seridó 1,51 1,23 0,08 1,12 4,38 2,67 0,79 2,96 (1,80) (1,66) (1,88) (1,75)
Ouro Branco (0,94) 0,01 0,15 (0,33) 1,90 3,08 2,14 2,44 (2,33) (2,47) (2,29) (2,38)
Santana do Seridó 0,17 0,11 (1,55) (0,19) 3,33 6,62 3,27 4,70 (0,50) (2,62) (5,64) (2,41)
São Fernando (1,80) 0,85 (0,01) (0,34) 2,49 5,51 2,60 3,78 (2,78) (1,13) (1,77) (1,89)
São João do Sabugi 0,70 1,73 (0,12) 0,97 2,84 3,73 1,24 2,90 (1,40) (1,43) (3,33) (1,79)
São José do Seridó 0,45 0,46 1,73 0,70 3,83 4,67 5,45 4,50 (0,98) (2,91) (3,86) (2,36)
Serra Negra do Norte 0,23 (0,36) (0,22) (0,11) 3,92 3,07 0,05 2,81 (0,88) (2,10) (0,40) (1,31)
Timbaúba dos Batista (0,55) 2,35 2,23 1,20 2,04 5,49 4,71 4,00 (2,64) (2,48) (5,23) (3,08)
Serras Centrais 0,67 0,80 0,27 0,65 4,07 3,70 2,20 3,55 (0,57) (0,89) (1,31) (0,85)
Campo Grande 0,83 0,21 1,01 0,60 5,85 3,28 2,33 4,07 (0,71) (1,49) (0,00) (0,91)
Cerro Corá 0,41 1,63 (0,41) 0,76 2,47 4,01 1,10 2,85 (0,34) 0,44 (1,39) (0,21)
Florânia 1,16 0,72 (0,28) 0,70 6,08 2,62 1,60 3,74 (0,74) (0,52) (1,84) (0,86)
Jucurutu 0,82 0,92 3,03 1,28 5,64 5,65 5,10 5,54 (0,69) (2,11) 0,75 (1,02)
Lagoa Nova 3,08 2,58 0,19 2,31 3,56 4,26 2,67 3,69 2,84 1,55 (1,76) 1,39
Santana do Matos (0,86) (0,03) (1,90) (0,71) 1,84 3,01 (0,37) 1,90 (1,79) (1,64) (3,03) (1,97)
São Vicente 1,62 0,11 (0,04) 0,66 3,84 2,50 1,88 2,89 0,53 (1,61) (1,95) (0,86)
FONTE DOS DADOS BÁSICOS: Ibge. Censos demográficos de 1970 a 1991 e Contagem da população, 1996.
189
Entre os pontos relevantes da evolução da população, sugeridos pelos dados da tabela 3.5.2.3,
podem se destacados os seguintes:
• esse processo vem-se acelerando, com o correr do tempo, quando se considera, no geral,
o Estado, a Região do Seridó, suas Zonas Homogêneas e os municípios que as compõem;
• deve-se chamar, ainda, atenção, nesse processo, para o fato de que nos anos 90 (1991-
96), quando se acelera a saída de população do campo, muitos municípios do Seridó registram taxas
negativas da evolução da população rural superiores a – 3% ao ano: três municípios da ZH de Currais
Novos (Acari, Equador e Parelhas), sete da ZH de Caicó (Caicó, Ipueira, Jardim de Piranhas, Santana
do Seridó, São João do Sabugi, São José do Seridó e Timbaúba dos Batistas) e um da Zona Homogênea
das Serras Centrais (Santana do Matos);
Sem dúvida, uma característica muito importante da evolução da população do Seridó, como já
se fez referência, é o acelerado declínio de sua população rural, seguramente associado à instabilidade
da economia agrícola, às secas periódicas e ao processo de desertificação, em algumas de suas áreas,
como têm ressaltado mais recentemente alguns estudos e planos. Este comportamento fica bem
evidente com o exame das informações do gráfico 3.5.2.2, relacionadas às taxas anuais de crescimento
da população da região. Neste particular, chama-se atenção para o progressivo aumento da taxa
negativa de evolução da população rural, de um nível na década de 70 correspondente a – 1,14%
alcança – 2,22% ao ano, na década de 90 (1991-96). Essa taxa praticamente duplica, em termos
absolutos, entre as duas décadas referidas.
190
GRÁFICO 3.5.2.2
S e r i d ó : T a x a s d e C r e sc i m e n to d a P o p u l a ç ã o - 1 9 7 0 -9 6
4 .0 0
3 .0 0
2 .0 0
1 .0 0
T o ta l
(%)
Urbano
- Rural
( 1 .0 0 )
( 2 .0 0 )
( 3 .0 0 )
1970-80 1980-91 1991-96
191
TABELA 3.5.2.4
MUNICÍPIOS DO SERIDÓ: POPULAÇÃO FORA DO MUNICÍPIO DE NASCIMENTO – 1996
O reduzido crescimento da população do Seridó, a uma taxa anual sempre menor do que a do
Estado, sobretudo entre 1991 e 1996, que alcançou apenas 0,33% ao ano, enquanto o Estado, em seu
conjunto, registrou uma taxa de 1,16%, sugere a presença de um processo migratório com saldos
negativos, que não somente alcança o meio rural mas a totalidade da região. A tabela 3.5.2.4 apresenta
as informações coletadas em 1996, sobre a população dos municípios do Seridó, que residiam em
municípios diferentes daqueles em que nasceram, e, por meio desses dados, mostra o destino escolhido
pela população que migra. Tais fenômenos demográficos têm, seguramente, estreita relação com o que
se registrou anteriormente, quando foram assinalados aspectos relevantes da crise da agricultura
tradicional do Seridó, notadamente a do algodão.
192
Segundo aqueles dados, em 1996, se encontrariam fora dos municípios em que nasceram cerca
de 13 mil pessoas, das quais cerca de 8,1 mil estariam residindo em municípios do Rio Grande do
Norte, inclusive no interior do Seridó. No entanto, o destaque deve ser dado para o fato de que 3,2 mil
estariam morando em outros estados nordestinos, sendo que cerca de 1,4 mil estariam no Sudeste;
desse total, aproximadamente 929 pessoas nascidas no Seridó estariam residindo no Estado de São
Paulo.
Do total dos migrantes, cerca de 5,7 mil saíram de municípios da Zona Homogênea de Caicó;
especificamente do município de Caicó teriam saído, segundo a estimativa do Ibge, cerca de 2.2 mil
pessoas. Este contingente só é superado pelo do município de Currais Novos, de onde teriam saído, no
correr dos anos, cerca de 2,7 mil pessoas.
O que se pretende a seguir, no que se refere à qualidade de vida da população do Seridó, neste
momento, é buscar elementos para respostas a duas questões: i) como se situa a qualidade de vida no
Seridó, relativamente ao Estado, em seu conjunto, nas últimas décadas? ii) nesta evolução recente,
quanto dos determinantes do índice de desenvolvimento humano (IDH) tem contribuído para reduzir a
intensidade da melhoria que se constata no indicador geral do IDH? Para a primeira resposta fez-se um
esforço no sentido de estimar o IDH para o Seridó e suas Zonas Homogêneas, a partir dos dados
disponíveis para os municípios, estabelecendo-se com base nesta estimativa um confronto com a
evolução do IDH para o Estado. Para a resposta à segunda pergunta, fez-se o confronto entre as
dimensões do IDH relativa à longevidade, instrução e renda.
TABELA 3.5.2.5
RIO GRANDE DO NORTE, SERIDÓ E ZONAS HOMOGÊNEAS: ESTIMATIVA DO IDH: 1971, 1980 E 1991
ESTADO, SERIDÓ E ZONAS HOMOGÊNEAS 1970 1980 1991
Estado 0,266 0,501 0,620
Seridó 0,268 0,404 0,481
ZH de Currais Novos 0,272 0,435 0,508
ZH de Caicó 0,315 0,462 0,543
ZH das Serras Centrais 0,204 0,299 0,368
FONTE DOS DADOS BÁSICOS: Pnud-Ipea-Ibge-FJP (1997)- Relatório de desenvolvimento humano do Brasil, 1997.
Nota: Foram feitas estimativas para a região e as Zonas Homogêneas, a partir dos dados municipais.
193
Quando se desce ao exame das Zonas Homogêneas, no interior da Região do Seridó, constatam-
se diferenças relevantes no seu comportamento, no que se refere à evolução do seu índices de
desenvolvimento humano. A Zona Homogênea das Serras Centrais registra níveis muito baixos do
índice. Ela parte de um nível muito reduzido em 1971 e permanece, relativamente às demais Zonas, em
patamar bem inferior às ZH de Currais Novos e de Caicó, e, em conseqüência, que a média da região,
nos anos seguintes: 1980 e 1991. A Zona Homogênea de Currais Novos registra um comportamento
similar ao do Seridó, em seu conjunto. Já a de Caicó, iniciando o período com um nível mais elevado
do que o Seridó, registra no final do período um nível inferior ao do Estado, no entanto superior ao da
média da região. Tudo indica que, enquanto os indicadores dos municípios da Zona Homogênea de
Caicó contribuem para elevar o nível de desenvolvimento humano do Seridó, os municípios das Serras
Centrais contribuem, provavelmente, para a redução do seu patamar, com o passar dos anos.
É importante examinar esse aspecto a partir dos dados apresentados pelos diferentes municípios
integrantes do Seridó. Na tabela 3.5.2.6 são apresentados os dados originais do Relatório de
Desenvolvimento Humano, para cada município e para o Estado, em seu conjunto, e as estimativas
feitas para a região e Zonas Homogêneas.
O exame dos dados calculados pelo Pnud, Ipea, Ibge e Fundação João Pinheiro–FJP, para os
municípios do Seridó, revelam que sua grande maioria registra níveis que os qualifica como de baixo
grau de desenvolvimento humano. De fato, quando se considera que neste nível encontram-se aqueles
municípios cujos IDH estão abaixo do 0,50, o que se percebe é que dos 25 listados na tabela 3.5.2.6
cerca de 14 deles não alcançam o referido patamar, e cerca de 6 apenas ultrapassam a marca de 0,50,
registrando entre 0,50 e 0,52, para 1991, último ano para o qual se dispõe de estimativa municipal para
o IDH.
O peso relativo desses municípios, com baixo nível no índice de desenvolvimento humano,
contribui para que a Região do Seridó, em seu conjunto, esteja, ainda, em 1991, classificada como de
baixo nível de desenvolvimento humano.
Note-se que, na Zona Homogênea das Serras Centrais, todos os municípios apresentam IDH
abaixo da média considerada como patamar para sua classificação como municípios com baixo nível de
desenvolvimento humano. O que não acontece com as demais Zonas Homogêneas. A de Currais Novos
apresenta uma maior diversificação dos municípios, neste particular, o que permite que supere, por
pouco, o patamar de baixo nível de desenvolvimento humano, na média que foi calculada a partir dos
dados dos municípios.
Resta agora examinar, no IDH, as suas diferentes dimensões, e explicitar, no período, qual delas
contribuiu mais para a determinação dos valores apresentados na índice composto (IDH), anteriormente
comentado. Isso poderá sugerir caminhos para algumas ações voltadas para o desenvolvimento humano
do Seridó e de seus municípios e Zonas Homogêneas.
194
O IDH possui três dimensões básicas que, igualmente ponderadas, definem o seu valor. Tais
dimensões referem-se aos aspectos de longevidade (estimado a partir da expectativa de vida), da
educação (taxa de analfabetismo e número média de anos de estudos) e de renda (renda familiar per
capita). O que se pretende é ter, nos três intervalos de tempo considerados, uma noção mínima da
evolução dessas dimensões e de sua influência sobre o indicador mais geral – o IDH.
TABELA 3.5.2.6
RIO GRANDE DO NORTE, SERIDÓ, SUAS ZONAS HOMOGÊNEAS E MUNICÍPIOS: ESTIMATIVAS DE IDH -
1971, 1980 E 1991
FONTE DOS DADOS BÁSICOS: Pnud-Ipea-Ibge-FJP (1997)- Relatório de desenvolvimento humano do Brasil, 1997.
195
Gráfico 3.5.2.3
R.G. do Norte: Estimativa do IDH para Seridó e sua
Zonas Homogêneas - 1970-91
0.700
0.600
0.500
0.400
1970
0.300
1980
0.200
1991
0.100
0.000
Estado
ZH de
Centrais
Seridó
Currais
Caicó
ZH das
Novos
ZH de
Serras
As informações mais gerais a respeito das três dimensões do IDH estão apresentados no gráfico
3.5.1.4. A partir dele algumas observações relevantes podem ser consideradas a respeito da evolução da
região. (Tabela 3.5.2.7.)
Gráfico 3.5.2.4
Seridó: Evolução do IDH, segundo suas
Dimensões - 1970-91
0.700
0.600
0.500
(índice)
Em primeiro lugar, cabe a constatação de que grande parte da evolução do IDH, no sentido de
melhoria dos níveis apresentados pelo Seridó, deve-se à sua dimensão relacionada à longevidade. De
196
fato, o índice que reflete estes aspectos não só apresenta valores maiores em todos os anos, como
constitui o que mais cresceu, de modo sistemático, no período, comparativamente aos demais. Convém
observar que o índice que reflete a evolução dos aspectos relativos à educação, embora registre uma
expansão, com o correr do tempo, a intensidade do seu crescimento é menor, sobretudo quando se
consideram os dois últimos anos da série na qual sua expansão é menor. Neste particular, cabe observar
que no início do ano o referido índice (IDH–educação) era similar ao índice que reflete os aspectos da
longevidade (IDH–longevidade).
No que se refere ao IDH–renda, cuja variável básica é a renda familiar per capita, alguns
comentários iniciais devem ser feitos. Seu ponto de partida, o ano de 1970, quando o índice alcançava
valor extremamente baixo, em comparação com os demais, está muito influenciado pela seca que
ocorreu naquele ano. Em 1970, o Produto Interno Bruto–PIB total registrado para o Rio Grande do
Norte correspondeu a 64,2% do apresentado em 1971, quando terminada a seca os níveis de atividade
voltaram ao patamar anterior. Quanto ao PIB agrícola, o Estado apresentou em 1970 um nível que
correspondia a apenas 52,4% do de 1971, isto é, à metade. Como a dinâmica do região, sobretudo há
décadas atrás, é, em grande parte, explicada pelas atividades agropecuárias, não resta dúvida de que nas
comparações que estão sendo feitas partiu-se de uma base muito reduzida.
Considerando este fato, o que o gráfico assinala é que o IDH–renda apresenta, em todos os
anos, nível bem mais reduzido do que os demais, e, além disso, entre 1980 e 1991, praticamente
estagnou.
TABELA 3.5.2.7
RIO GRANDE DO NORTE, SERIDÓ E ZONAS HOMOGÊNEAS: ESTIMATIVAS DO IDH SEGUNDO SUA
DIMENSÕES - 1970-1991
FONTE DOS DADOS BÁSICOS: Pnud-Ipea-Ibge-FJP (1997)- Relatório de desenvolvimento humano do Brasil, 1997.
Com exceção do grande salto que dá entre 1970 e 1980 – explicado em grande parte pela seca
de 1970, que reduziu significativamente o seu valor naquele ano –, o IDH–renda é particularmente
responsável pelo menor dinamismo ocorrido na evolução do valor do IDH em geral, no Seridó e nas
suas Zonas Homogêneas. A hipótese que se pode extrair a partir desses dados é que o avanço ocorrido
no IDH se deveu, provavelmente, mais aos fatores que possibilitaram uma redução da mortalidade
infantil e um aumento da expectativa de vida (entre os quais não se pode esquecer o aumento da
cobertura da vacinação, a expansão da oferta de água tratada e uma ampliação da assistência médica),
bem como aos fatores associados ao aumento da escolaridade, do que a uma melhoria substancial da
renda, decorrente, por exemplo, do aumento da base produtiva do Seridó. A base produtiva da região,
dependente em grande parte do setor primário, não só é extremamente vulnerável às condições
climáticas adversas, como assiste à perda de importância econômica de culturas agrícolas comerciais,
que tiveram peso da maior relevância na sua vida econômica, tempos atrás.
197
O gráfico 3.5.2.5 apresenta a evolução do IDH–renda, nos anos 1970-91, para o Seridó e suas
três Zonas Homogêneas. O que os dados revelam, de modo enfático, são aspectos já comentados
anteriormente: o aumento significativo de 1970 (ano de uma intensa seca) para 1980 e uma redução ou
pequeno crescimento, entre 1980 e 1991. De fato, quando se considera a região em seu conjunto, o que
se percebe é que os níveis entre 1980 e 1991 permanecem, praticamente, os mesmos, no que se refere
ao ÍDH–renda. Com relação à Zona Homogênea de Currais Novos, verifica-se um declínio entre os
dois últimos anos, o mesmo acontecendo na Zona Homogênea das Serras Centrais. O crescimento do
nível de renda, de acordo com o IDH–renda, ocorre apenas na Zona Homogênea de Caicó, o que é
explicado em parte pelo crescimento do referido índice no município-pólo (Caicó), entre 1980 e 1991.
Essa perspectiva da evolução da renda pode ser melhor entendida com a utilização, não de um
índice, mas dos valores reais do rendimento familiar per capita, dos residentes no Seridó,
comparativamente aos do Estado, em média. Na tabela 3.5.2.8 são apresentados os valores do
rendimento familiar por residente no domicílio, medido em salários mínimos de setembro de 1991, que
correspondia, na moeda vigente, a CR$ 36.161,60.
Gráfico 3.5.2.5
Seridó e suas Zonas Homogêneas: IDH - Renda
no Período - 1970-91
0.500
0.450
0.400
0.350
0.300
(índice)
0.250 1970
0.200 1980
0.150
1991
0.100
0.050
-
Caicó
Centrais
Seridó
Currais
ZH -
Novos
Serras
ZH -
ZH -
Convém notar, quando se examina a participação da renda familiar por habitante do Seridó e de
suas Zonas Homogêneas, no total da renda familiar per capita do Estado, que, salvo a renda por
habitante da ZH de Caicó, todas as demais perdem importância relativa. O declínio maior da
participação ocorre nas Serras Centrais, que participavam com 50% da renda familiar por habitante do
Estado, em 1970, mas reduziram sua participação para 40,3%, em 1991. O Seridó, em seu conjunto,
198
apresenta um aumento da participação, entre 1970 e 1980, para, em seguida, em 1991, registrar um
declínio, apresentando nesse ano uma participação menor do que a apresentada em 1970. A região,
portanto, não acompanha a evolução do Estado, em seu conjunto, neste particular.
TABELA 3.5.2.8
RIO GRANDE DO NORTE, SERIDÓ E ZONAS HOMOGÊNEAS – ESTIMATIVA DO RENDIMENTO
FAMILIAR PER CAPIT:A: 1970, 1980 E 1991
FONTE DOS DADOS BÁSICOS: Pnud-Ipea-Ibge-FJP (1997)- Relatório de desenvolvimento humano do Brasil, 1997.
Como era de se esperar, a partir da trajetória da renda por habitante, anteriormente comentada
(tabela 3.5.2.7), não ocorreu nenhuma melhoria neste indicador de insuficiência de renda, entre 1980 e
1991. Ao contrário, registrou-se um pequeno aumento da população que pode ser considerada pobre,
uma vez que o nível do índice que mede a população com renda insuficiente passou de 71,9% para
72,5% (tabela 3.5.2.9).
90
Ou Relatório de Desenvolvimento Humano.
199
TABELA 3.5.2.9
RIO GRANDE DO NORTE, SERIDÓ E ZONAS HOMOGÊNEAS: ESTIMATIVA DA POPULAÇÃO COM
INSUFICIÊNCIA DE RENDA - 1970-1991 (%)
FONTE DOS DADOS BÁSICOS: Pnud-Ipea-Ibge-FJP (1997)- Relatório de desenvolvimento humano do Brasil, 1997.
Essa trajetória de melhoria substancial, entre 1970 e 1980, e de estagnação ou mesmo aumento
da insuficiência de renda, entre 1980 e 1991, ocorreu em relação às Zonas Homogêneas e para o
conjunto do Estado do Rio Grande do Norte. Em síntese, por várias razões associadas, tanto ao
reduzido crescimento da economia entre 1980 e 1991, ou ainda à instabilidade da agropecuária, da qual
depende parte importante da população da região – mesmo que não trabalhe diretamente no meio rural
– o que se constata é a ausência de melhoria da situação de pobreza ou de insuficiência de renda que,
no Seridó, e de modo mais geral, no Estado, alcança parcela relevante da população.
Do exposto, é importante extrair algumas tendências da população que têm grande significado
para a implantação de ações voltadas para o desenvolvimento sustentável da Região do Seridó e de suas
Zonas Homogêneas.
Além disso, cabe na distribuição espacial da população, destacar o grande peso que têm os dois
municípios de porte médio, o de Currais Novos e o Caicó, que concentram não só parte relevante da
população urbana, mas parcela importante da vida econômica e social da região.
• há, além disso, um processo muito intenso de redução da população rural, não só em
termos relativos, mas em valores absolutos; esse processo de emigração da população do campo para a
200
cidade tornou-se bem mais acelerado nos anos 90 e vem ocorrendo a taxas negativas, que
correspondem, em termos absolutos, a duas vezes e meia a taxa registrada para o Rio Grande do Norte;
e
Isto significa que, como se verá mais adiante, além do desenvolvimento de programas voltados
para a melhoria das condições de saúde e de educação, é da maior importância a realização de um
conjunto de ações articuladas, voltadas para o fortalecimento e a reestruturação da base produtiva da
região, se se pretender um progressivo e sustentável aumento dos indicadores de desenvolvimento
humano do Seridó.
201
Sudene. Em terceiro lugar, não se constatou nenhuma melhora neste indicador, entre 1980 e 1991, que
seguramente está associada ao reduzido crescimento da base produtiva da região.
A economia do Rio Grande do Norte, como reflexo da brasileira, apresenta também diversidade
de modelos produtivos e organizacionais, quanto aos setores e ocupações. A política do atual governo,
no sentido de criar mais emprego, tem dado destaque para a instalação de projetos em setores
dinâmicos da economia, como o Pólo Gás Sal, o Centro Industrial Avançado–CIA e a vinda de
empresas com o apoio do programa de isenção fiscal – Programa de Apoio ao Desenvolvimento
Industrial–Proadi. Algumas regiões fortemente atingidas pelas secas, a exemplo do Seridó, têm
recebido a ação governamental por intermédio de alguns programas específicos, como o Programa do
Leite, o Programa de Convivência com a Seca (a construção de adutoras e barragens, a distribuição
de cestas básicas e as frentes de trabalho) e o Programa de Erradicação de Casas de Taipa.
202
A apreensão do emprego no Estado e no Seridó se defronta com a limitação dos dados
estatísticos disponíveis, principalmente em escala regional. Portanto, para que seja possível apreender
em alguma medida, a dinâmica do emprego no Seridó é necessário, inicialmente, tecer considerações
sumárias sobre a realidade laboral no Estado, cujos reflexos se fazem sentir no âmbito dessa região.
Outra fonte de dados a que se recorrerá com freqüência nesta análise é o Censo de 1991 do Ibge, que
dispõe de informações detalhadas sobre os municípios e o Estado.
A variação do emprego formal (com carteira assinada) por setor de atividade, com base nas
informações do Ministério do Trabalho (Caged), permite verificar os setores econômicos mais
dinâmicos, em termos de criação de novas vagas. A indústria de construção civil lidera com mais de
17% do total. Em seguida, vem a indústria têxtil, com dados próximos a 12%. O segmento industrial
alimentação e bebidas é também significativo. Já o setor serviços embora apresente dados positivos,
tem seus diversos segmentos bastante próximos, com ligeira predominância dos serviços médico-
odontológicos. (Tabela 3.5.3.1.)
Os setores que sofreram maiores reduções no número de vagas foram a agricultura, os serviços
de utilidade pública e a indústria extrativa mineral. Essa indústria tem sofrido uma perda crescente de
mão-de-obra, a partir dos anos 80. Perda essa que se fez ainda mais drástica nos anos 90.
O elevado índice de redução dos empregados na agropecuária permite fazer inferências de que a
situação do setor agrícola, enquanto empregador, ainda é mais grave nas áreas mais atingidas pelas
secas, como é o caso do Seridó.
Não há estatísticas sobre emprego e desemprego no Brasil em âmbito municipal, salvo para os
municípios que integram as regiões metropolitanas. Contudo, os dados censitários permitem apreender
características e transformações da população economicamente ativa–PEA, ao longo das três últimas
décadas. Inicialmente, será abordada a drástica redução que se operou nas ocupações ligadas às
atividades agropecuárias, ao extrativismo vegetal e à pesca, nos anos 1970, 1980 e 1991. Em seguida,
serão examinados os dados de emprego por setor de atividade econômica, nos anos de 1980 e 1991, de
forma a apreender sua estrutura e evolução, por setores e subsetores econômicos. Optou-se por não
incluir 1970, porque as subcategorias estabelecidas nesse ano não são compatíveis com as adotadas
posteriormente. A análise prosseguirá com as informações obtidas no Censo de 1991, o qual permitiu
uma percepção mais acurada das pessoas ocupadas, visto que as classificou i) por condição de
ocupação e relações de trabalho, ii) por local de trabalho e iii) por forma de vinculação ao
203
estabelecimento agrícola, no caso específico dos trabalhadores rurais. Portanto, achou-se elucidativo
abordar o emprego segundo essas perspectivas.
TABELA 3.5.3.1
RIO GRANDE DO NORTE: POPULAÇÃO ECONOMICAMENTE ATIVA –1997
204
TABELA 3.5.3.2
RIO GRANDE DO NORTE E SERIDÓ: PESSOAS OCUPADAS NA ATIVIDADE AGROPECUÁRIA
FONTE DOS DADOS BÁSICOS: Ibge, Censos Demográficos, 1970, 1980 e 1991.
O cálculo das taxas de crescimento na década de 70 (1970-80) e na seguinte (1980-91) mostra não
só que o declínio – indicado também pela participação percentual assinalada na tabela 3.5.3.2 – do
emprego agropecuário é mais intenso no Seridó, do que no total do Estado. Indica também que tal
processo, no interior da região, é mais intenso na ZH de Caicó e na de Currais Novos do que na ZH das
Serras Centrais. Enquanto as taxas do Rio Grande do Norte eram, para tal setor, nas duas décadas,
respectivamente, de – 0,1% e – 1,1, no Seridó era de – 0,7% (1970-80) e – 1,6% (1980-91). Nas Serras
Centrais era de – 0,2% e – 1,2%, enquanto na ZH de Caicó era de – 1,3% e – 1,8% e na de Currais Novos
– 0,8% e 1,9%. Note-se que em todos os caso há um nítido processo de redução do emprego, com o correr
dos anos.
A tabela 3.5.3.3 apresenta as pessoas ocupadas por setor de atividade, para os anos de 1980 e
1991 (que permitem uma maior comparabilidade). Constata-se que o comportamento do Seridó se
diferencia do observado para o Estado do Rio Grande do Norte, visto que esta região apresenta peso
mais acentuado da população vinculada ao setor primário da economia nos anos 80 e 91 em relação aos
dados do Estado. Apesar desse fato, a população ocupada nas atividades primárias da região decresceu
nesse período, como se fez referência, o que se expressou em termos absolutos e relativos. Em números
absolutos, a população ocupada do setor agrícola decresceu em uma década o equivalente a mais de
cinco mil pessoas. Em termos relativos, houve uma perda de cerca de 13 pontos percentuais.
205
agropecuárias. As demais zonas apresentam menos de 30% da população ocupada ligadas ao setor
agropecuário.
Quanto às atividades industriais, o Seridó apresentou uma média pouco superior a 20%, o que a
coloca relativamente próxima da situação do Estado, cuja média se mostra ligeiramente inferior a esse
patamar. A Zona Homogênea que se destacou mais em relação à indústria, em 1980, foi a de Currais
Novos, que detinha, então, 30% da PEA ocupada no setor industrial. Essa participação decresceu na
década seguinte, apresentando crescimento negativo, em razão provavelmente da crise da indústria
extrativa mineral. Nas demais Zonas Homogêneas, as taxas de crescimento das pessoas ocupadas na
indústria têm sido em geral modestas. Embora alguns novos setores tenham despontado na economia
da região, como a confecção de bonés, malharia e calçados, outros foram extintos, a exemplo das
usinas de beneficiamento de algodão, ou se encontram em decadência, como a fabricação de redes.
A população ocupada da Zona Homogênea das Serras Centrais ainda está fortemente ancorada
na atividade agropecuária, apresentando pequeno contingente vinculado às atividades industriais.
Todavia, essa Zona tem apresentado fortalecimento da população ligada ao setor terciário.
O setor serviços apresenta-se como tendo uma menor participação no Seridó do que na média
do Rio Grande do Norte, que já superava os 50 pontos percentuais em 1991. Todavia, foi esse setor
que apresentou as maiores taxas de crescimento, principalmente no âmbito das Zonas Homogêneas de
Caicó e das Serras Centrais. Em 1991, os serviços já representavam mais de 40% da PEA regional,
contudo, as posições das Zonas Homogêneas se diferenciam. A Região de Caicó, por exemplo, se
destacou quanto às atividades terciárias, aproximando-se do patamar observado no Estado. As
atividades terciárias são lideradas pela prestação de serviços e pelas atividades sociais. As primeiras
são significativas no âmbito da Região do Seridó e de todas as Zonas Homogêneas, exceto a Zona das
Serras Centrais, para o ano de 1980. As segundas têm apresentado elevado significado e crescimento
em todas as Zonas Homogêneas indistintamente, a exemplo do que foi observado no Estado do Rio
Grande do Norte em seu conjunto.
Vale ressaltar que a Zona Homogênea de Currais Novos tem apresentado o mais baixo índice de
crescimento da população ocupada em todos os setores econômicos, com crescimento negativo nos
dois primeiros (agropecuária e indústria) e crescimento inferior às demais zonas no setor serviços, o
que leva a supor que a crise do emprego nessa Zona Homogênea pode ser mais grave do que a
observada no âmbito da região. De fato, a crise da mineração, desencadeada em meados dos anos 1980,
teve forte repercussão, tanto no que se refere ao extrativismo mineral quanto ao beneficiamento de
minérios. Ademais, os serviços ainda são pouco diversificados nessa Zona, concentrando-se em
estabelecimentos de pequeno porte, com baixa absorção de mão-de-obra.
Em resumo, no Seridó, mais do que no Estado, o grande decréscimo ocorrido no emprego rural
é compensado pelo emprego no segmento urbano, não obstante o fato de as atividades industriais, salvo
na ZH de Caicó, não se mostrarem muito dinâmicas, sobretudo quando se compara com o Estado. Os
serviços apresentam maior dinamismo, muito embora isto ocorra desigualmente: as Zonas Centrais
revelam um crescimento do emprego no terciário, que corresponde a quase metade do verificado no
Seridó e a menos da metade do que se verificou no Estado. O crescimento do emprego total na região,
em seu conjunto, correspondeu, entre 1980 e 1991, a um pouco mais da metade do que se constatou
para o Rio Grande do Norte. O emprego das atividades urbanas nas Serras Centrais foi apenas capaz de
compensar a perda de emprego no meio rural: o crescimento total da ocupação foi de apenas 0,1% ao
ano. Do declínio do emprego agropecuário e industrial na Zona Homogênea de Currais Novos e do
crescimento do emprego nos serviços, resultou uma expansão de apenas 0,6% do emprego nesta Zona
206
Homogênea. A ZH de Caicó é, de longe, a mais dinâmica, no tocante ao crescimento do emprego total:
3,6% ao ano. Ali, os estabelecimentos industriais, comerciais e de serviços apresentam-se mais
diversificados e em maior número.
TABELA 3.5.3.3
RIO GRANDE DO NORTE E SERIDÓ: EVOLUÇÃO SETORIAL DO EMPREGO – 1980-91
A posição da população ocupada, quanto ao tipo de ocupação principal, pode ser observada na
tabela 3.5.3.4, mediante as seguintes categorias: i) empregado do setor privado, ii) do setor público, iii)
trabalhadores por conta própria, iv) empregador e v) ocupação não remunerada. 91
91
O Censo Demográfico do Rio Grande do Norte – Mão-de-Obra, 1991 – classifica as pessoas de 10 anos ou mais de idade
quanto à posição na ocupação em quatro principais categorias: Empregado – aquele que presta serviço a um empregador
remunerado em dinheiro ou mercadoria. Incluem-se trabalhadores agrícolas volantes, parceiros ou meeiros empregados,
trabalhadores domésticos empregados, além de empregados do setor privado e empregados do setor público. Conta-
Própria, o que exerce uma atividade de forma individual ou com a ajuda de pessoa não-remunerada moradora no domicílio.
Integram essa categoria os parceiros e meeiros conta-própria bem como os trabalhadores domésticos conta-própria.
Empregador, o que explora uma atividade econômica, com o auxílio de um ou mais empregados. Esse item contempla os
parceiros ou meeiros empregadores. Não foi considerado empregador a pessoa que só dispunha de empregado doméstico.
207
Constatou-se que mais da metade das pessoas ocupadas no Seridó é constituída de pessoas
empregadas (assalariadas). Se for estabelecida uma comparação com o Rio Grande do Norte, a
participação dos empregados na região é inferior, visto que aproximadamente 65% das pessoas
ocupadas no Estado são empregados. No que se refere aos trabalhadores vinculados ao setor público e
ao setor privado, é preciso ter muita cautela no exame desses dados, pois o setor público tem se
utilizado amplamente da terceirização, por intermédio de associações, cooperativas, ONGs, entre outras
e da adoção de ampla flexibilização nas formas de contratação, tais como contratos temporários,
serviços prestados, gratificações, pró-labores, entre outras práticas até mesmo informais. O setor saúde
tem sido fortemente atingido por essas novas formas de contratação de pessoal. Por isso, funcionários
formalmente vinculados ao setor privado podem estar prestando serviço em órgãos públicos, embora de
forma mascarada. 92
Feitas essas ressalvas, o exame da tabela 3.5.3.4 mostra que o principal empregador é o setor
privado, tanto no que se refere ao Estado quanto ao Seridó e suas Zonas Homogêneas, com médias
próximas a 40% da população ocupada total. O setor público representa na região e nas Zonas
Homogêneas menos de 20% do total, patamar levemente inferior ao Estado. Já os trabalhadores por
conta própria alcançam mais de 30% do total na região do Seridó e nas Zonas Homogêneas, dado
superior ao observado para o Estado. A Zona Homogênea das Serras Centrais se destaca com
aproximadamente 44% de trabalhadores por conta própria. Os empregadores são em número reduzido,
atingindo entre 1 a 3% do total. Os trabalhadores não remunerados são superiores à média estadual,
situando-se no Seridó em torno de 6%. Mais uma vez, a Zona Homogênea das Serras Centrais
apresenta uma situação diferenciada com 9% de pessoas ocupadas não remuneradas.
Essas informações podem ser desmembradas por município, apresentando maiores detalhes. É
possível observar então que os empregados do setor privado dividem-se em trabalhador agrícola
volante, parceiro ou meeiro e outros, 93 sendo as duas primeiras categorias numericamente pouco
significativas, predominando a categoria outros, ou seja, relações não identificadas, provavelmente
relações de trabalho vinculadas às atividades urbanas. Isso é válido igualmente para o Estado e as três
Zonas Homogêneas, as quais apresentam situação similar. Quanto ao setor público 94 predomina o
servidor público conforme seria de se esperar com patamares entre 15% a 20% nas Zonas Homogêneas.
Situação próxima a observada no Estado do Rio Grande do Norte. Porém, alguns municípios
Não-Remunerado é aquele que exerce uma atividade econômica sem remuneração durante pelo menos 15 horas por semana,
a título de ajuda.
92
Cf. BRASIL. Ministério da Saúde-MS (1999)- Política de recursos humanos para a saúde: questões na área da gestão
e regulação do trabalho; relatório final. Natal-RN, DRH/SUS-MS, OPAS/OMS-Conasems, ago.,1999.
93
O Censo Demográfico de 1991 – Mão-de-Obra – classifica, quanto à Relação de Emprego, dois principais tipos de
Empregados: Empregado do Setor Privado e Empregado do Setor Público. Inclui na categoria Empregado do Setor Privado
a pessoa prestadora de serviços a empresa, firma, instituição, etc., de caráter privado, em sociedade limitada, anônima, de
cotas de capital aberto, etc. O Empregado do Setor Privado foi então subdividido nas subcategorias: Trabalhador Agrícola
Volante – aquele que não dispõe de trabalho fixo, mas presta serviço a um ou mais estabelecimentos agropecuários ou de
extração vegetal, pago por tarefa, dia ou hora. Parceiro ou Meeiro – aquele que explora ou exerce atividade econômica e
recebe pelo trabalho efetuado parte da produção ou paga com parte da produção pelo uso da terra. Essa subcategoria foi
subdividida em duas outras: Empregado, no caso de não ter autonomia em relação a quem lhe cedia a parceria, sendo ou não
auxiliado por pessoas não remuneradas moradoras do domicílio. Conta Própria – quando tinha autonomia em relação a
quem lhe cedia a parceria sendo ou não era auxiliado por pessoas não-remuneradas moradoras do domicílio. A categoria
Outro não foi explicada pelo Censo; supõe-se que essa categoria refere-se aos trabalhadores não incluídos nas categorias
explicitadas, ou seja, os trabalhadores urbanos.
94
O Censo Demográfico de 1991 – Mão-de-Obra – classifica quanto à Relação de Emprego na categoria Empregado do
Setor Público: a pessoa que presta serviço a órgão da administração direta, autarquia, fundação e empresa pública ou de
economia mista, na qual o governo é o principal ou único acionista.
208
apresentam elevado número de funcionários públicos superando largamente a média regional tais como
Ipueira e São Fernando, o primeiro com 36% e o último com 29% de funcionários públicos.
Os trabalhadores por conta própria são de um modo geral mais numerosos no Seridó que no
Rio Grande do Norte. Essa categoria foi subdividida em parceiro ou meeiro e outras. Também nesse
caso predomina a categoria “outras”, ao invés das tradicionais relações de parceiro e meeiro. O número
de empregadores é reduzido e a média de pessoas ocupadas não remuneradas é de 6%, levemente
superior ao observado no Estado (4%).Todavia, em alguns municípios as pessoas não remuneradas
atingem percentuais iguais ou superiores a 13%, como em Equador, na Zona Homogênea de Currais
Novos, e em Cerro Corá e Florânia, na Zona Homogênea de Caicó, representando 16% e 13%
respectivamente das pessoas ocupadas.
TABELA 3.5.3.4
RIO GRANDE DO NORTE E SERIDÓ. RELAÇÕES DE EMPREGO, 1991
RELAÇÕES DE EMPREGO ESTADO SERIDÓ ZH – CN ZH - CA ZH - SC
Valores Absolutos (1.000)
Total 784,1 98,7 30,8 43,3 24,6
Empregado – Total 510,6 55,4 18,2 25,9 11,3
Setor Privado 346,4 37,9 13,1 17,5 7,3
Setor Público 164,2 17,5 5,1 8,4 4,0
Conta Própria 228,0 34,9 10,2 13,8 10,9
Empregador 18,0 2,6 0,8 1,5 0,3
Não Remunerado 27,5 5,8 1,6 2,1 2,1
Percentuais
Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0
Empregado – Total 65,1 56,1 59,1 59,8 45,9
Setor Privado 44,2 38,4 42,5 40,4 29,7
Setor Público 20,9 17,7 16,6 19,4 16,3
Conta Própria 29,1 35,4 33,1 31,9 44,3
Empregador 2,3 2,6 2,6 3,5 1,2
Não Remunerado 3,5 5,9 5,2 4,8 8,5
FONTE DOS DADOS BÁSICOS: Ibge. Censo Demográfico de 1991.
Nota: em razão das aproximações feitas, os totais podem não coincidir com o da tabela anterior (tabela 3.5.3.3).
O local onde as pessoas exercem suas atividades laborais é um elemento importante de análise
da ocupação (tabela 3.5.3.5). O efetivo das pessoas que desenvolvem trabalho nas propriedades
agropecuárias é maior no Seridó (33%) do que no Estado do Rio Grande do Norte. Todavia, as pessoas
que trabalham em empresas ou firmas são em maior número no Estado do Rio Grande do Norte (52%)
do que no Seridó, cujo participação é inferior à média estadual em nove pontos percentuais. Os que
trabalham em casa do cliente ou patrão somam apenas 10% no Estado e na região. Já os que trabalham
no domicílio representam 8% na região, sendo em número ainda menor no Estado do Rio Grande do
Norte. Em geral, o trabalho em domicílio se efetua sem um local exclusivo para seu desempenho.
Todavia, observam-se grandes diferenças no âmbito das Zonas Homogêneas e no interior delas.
A propriedade agropecuária enquanto local de trabalho está muito presente na Zona Homogênea
das Serras Centrais, aproximando-se dos 60% (mais exatamente 58%). Nas demais Zonas
Homogêneas, apenas em torno de 25% do total exercem atividades nesse local. O que se verifica para
as Serras Centrais eleva, sem dúvida, a média da região. O mesmo ocorre em relação aos que trabalham
209
em empresas ou firmas. Esses atingem acima de 45%, tanto na Zona Homogênea de Currais Novos
quanto na de Caicó, mas na Zona Homogênea das Serras Centrais decaem para patamares em torno de
27%, o que também influencia fortemente a média regional.
No interior das Zonas Homogêneas destacam-se alguns municípios. É o caso dos municípios de
Jardim de Piranhas e Timbaúba dos Batistas que apresentam elevada participação de trabalhadores que
desempenham suas atividades no domicílio. O primeiro devido às tecelagens que se situam nas
residências e se utilizam de mão-de-obra familiar. O segundo em razão do artesanato (bordados)
realizado também pelas famílias.
TABELA 3.5.3.5
RIO GRANDE DO NORTE E SERIDÓ: POPULAÇÃO OCUPADA SEGUNDO LOCAL DE TRABALHO, 1991
LOCAL DE TRABALHO ESTADO SERIDÓ ZH - CN ZH - CA ZH - SC
Total 100 100 100 100 100
Propriedade agropecuária 26 33 26 24 58
Empresa ou firma 53 43 48 46 27
Em casa do cliente ou patrão 10 10 12 11 7
No domicílio – total 5 8 6 12 4
Com local exclusivo 3 3 3 3 2
Sem local exclusivo 2 5 3 9 2
Via pública 4 4 5 5 2
Com equipamento pesado 1 1 2 2 1
Com Equipamento leve ou sem equipamento 3 3 3 3 1
Outro 2 2 3 2 2
FONTE DOS DADOS BÁSICOS: Ibge. Censo Demográfico de 1991.
Nota: foram realizadas algumas aproximações nas parcelas.
Além dessas informações, os dados dos censos demográficos revelam que o pessoal ocupado
residente nos estabelecimentos é elevado, superando 70% do total na região e nas Zonas Homogêneas,
210
mostrando-se superior à média estadual. O que chama a atenção é o número significativo de
estabelecimentos sem pessoal contratado, em torno de 20%.
TABELA 3.5.3.6
I.RIO GRANDE DO NORTE E SERIDÓ: CATEGORIAS DE OCUPAÇÃO NA AGROPECUÁRIA – 1985 E 1995-96
O nível de renda da população do Seridó está excessivamente concentrado nas faixas mais
baixas. O exame dos rendimentos dos chefes de domicílios particulares pode ilustrar bem a repartição
da renda no âmbito da Região do Seridó e das suas Zonas Homogêneas (tabela 3.5.3.7).
A Região do Seridó apresentou 60,6% dos chefes de família percebendo até um salário mínimo,
situação próxima à observada para o Estado do Rio Grande do Norte, que concentra mais de 57% do
total nessa faixa de rendimento.
Há algumas diferenças, no âmbito das Zonas Homogêneas, que devem ser especificadas. A
Zona Homogênea de Caicó encontra-se mais bem posicionada em relação às demais, embora ainda
disponha de cerca de 48% ganhando até um salário mínimo. Essa Zona apresentou o maior percentual
dos que ganham acima de dois salários mínimos, cerca de 25% do total, porcentagem quase equivalente
à verificada para o Estado do Rio Grande do Norte. A Zona Homogênea das Serras Centrais por sua
211
vez é a que apresentou os piores rendimentos. Quase 38% do total dos chefes ganham até meio salário
mínimo, enquanto apenas 7% do total recebem mais de dois salários mínimos.
A composição da renda da população urbana apresentou apenas uma pequena diferença para
mais, em relação à renda total. Uma desagregação dos dados no nível de municípios permite que se
tenha uma idéia mais detalhada desses aspectos. Os dois municípios mais populosos – Caicó e Currais
Novos – apresentaram melhor posição, em relação à renda dos chefes de família do que os demais
municípios. É provável que esse fato possa ser atribuído à maior diversificação de atividades
produtivas presentes nesses centros, que dispõem de serviços de referência de âmbito regional.
TABELA 3.5.3.7
RIO GRANDE DO NORTE E SERIDÓ: NÍVEL DE RENDIMENTO DOS CHEFES DE FAMÍLIA – 1991
FONTE DOS DADOS BÁSICOS: Ibge. Censo Demográfico de 1991. Malha Municipal do Brasil.
212
não se pode deixar de assinalar o menor poder de barganha dos trabalhadores, no contexto de um
mercado de trabalho com uma grande disponibilidade de pessoas procurando emprego.
O Seridó tem perdido posição em relação a outras regiões do Rio Grande do Norte. A crise da
cotonicultura, a decadência do setor de minérios, as dificuldades da pecuária, aliado às adversidades
climáticas e à degradação ambiental, fragilizam a região, que apresenta baixíssimo nível de renda, de
grande parte de sua população e um êxodo rural muito intenso.
Embora não haja dados estatísticos que permitam mensurar o desemprego, esse é um problema
crônico, ressaltado pela população em todos os municípios da região, por ocasião das reuniões
preparatórias do Plano de Desenvolvimento Sustentável do Seridó.
213
TABELA 3.5.3.8
RIO GRANDE DO NORTE E SERIDÓ: APOSENTADOS E PENSIONISTAS DE MAIS DE 10 ANOS, 1991
APOSENTADOS E PENSIONISTAS ESTADO SERIDÓ ZH - CN ZH - CA ZH - SC
Valores Absolutos
Total 214.076 28.351 9.669 11.094 7.588
Somente aposentados 177.331 24.535 8.169 9.448 6.918
Somente pensionistas 34.148 3.607 1.452 1.512 643
Aposentados e pensionistas 2.597 209 48 134 27
Percentuais
Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0
Somente aposentados 82,8 86,5 84,5 85,2 91,2
Somente pensionistas 16,0 12,7 15,0 13,6 8,5
Aposentados e pensionistas 1,2 0,7 0,5 1,2 0,4
FONTE DOS DADOS BÁSICOS: Ibge. Censo Demográfico, 1991.
O Programa de Convivência com a Seca foi concebido para atender às populações rurais
atingidas pelas estiagens em cerca de 156 municípios, de um total de 166, ou seja 93% do território
estadual. Esse programa teve inicio em abril de 1998, e contempla um conjunto de ações que pretende
minorar a situação dos municípios atingidos pelas secas. São cinco suas principais linhas: i)
recuperação e/ou formação de infra-estrutura; ii) programa de alfabetização de jovens e adultos; iii)
programa especial de financiamento de combate à estiagem – crédito rural; iv) ação emergencial de
distribuição de cestas básicas, no começo da seca; e v) distribuição de sementes.
As cestas básicas são constituídas por 20 quilos de alimentos. No total, foram distribuídas
170.000 cestas, principalmente nos meses de abril e maio de 1998. A partir de junho daquele ano
ocorreu o primeiro pagamento a um total de 84.567 trabalhadores rurais, recebendo R $80,00 por mês.
O Seridó estava dividido em duas principais zonas administrativas: a de Caicó, que recebeu 10.787
cestas básicas, e a de Currais Novos (com 15.697 cestas). (Brasil. Sudene. RN, 1999.)
Esse programa, também conhecido como Programa de Emergência, tem contribuído para
minorar os problemas advindos da seca, visto que proporciona, entre outros benefícios, um salário
mensal ao trabalhador rural. Embora obtendo um valor inferior ao salário mínimo, a população
assistida pelo Programa é variável, mas atinge números significativos em alguns municípios, superando
30% da população. A média da população assistida no Seridó é de 19%, levemente superior à atendida
em todo o Estado, que é de 17%. A Zona Homogênea das Serras Centrais é a mais beneficiada, mas é a
que concentra maior parcela da população carente e localizada na área rural. A relação entre a
população atendida no Seridó vis-à-vis a atendida no Estado é de 16%. (Tabela 3.5.3.9.)
Essas ações, se foram capazes de minorar, em alguma medida, a fome, deixa a população
extremamente dependente das benesses do Estado e de medidas de assistência, perpetuando a
dependência e o comodismo, o que agrava a situação da extremada pobreza vigente.
214
TABELA 3.5.3.9
RIO GRANDE DO NORTE. POPULAÇÃO ATENDIDA PELO PROGRAMA DE EMERGÊNCIA DE COMBATE AOS EFEITOS DA
SECA
ZONA HOMOGÊNEA, EMERGÊN- POPULA- POPULAÇÃO POPULAÇÃO TOTAL
MUNICÍPIOS, SERIDÓ E CIA DE 1998 ÇÃO CADASTRADA ATENDIDA GERAL/POPULA-
ESTADO RURAL EM SETEMBRO DE 1999 EM 10.11.99 ÇÃO RURAL (%)
ZH DE CURRAIS NOVOS 7.901 20.960 3.105 3.259 16
Acari 810 2.590 384 384 15
Carnaúba dos Dantas 420 1.521 150 150 10
Currais Novos 1.630 5.837 1.387 1.387 24
Equador 540 1.715 195 195 11
Parelhas 1.200 3.533 555 558 16
São Tomé 3.301 5.764 434 585 10
ZH DE CAICÓ 8.693 27.432 4.909 4.905 18
Caicó 2.000 6.190 1.048 1.048 17
Cruzeta 680 2.379 397 397 17
Ipueira 240 466 188 188 40
Jardim de Piranhas 1.002 3.009 400 400 13
Jardim do Seridó 840 2.992 320 319 11
Ouro Branco 550 1.904 388 387 20
Santana do Seridó 370 1.098 208 207 19
São Fernando 661 1.980 281 281 14
São João do Sabugi 450 1.468 434 434 30
São José do Seridó 360 1.158 305 305 26
Serra Negra do norte 1.300 4.363 798 798 18
Timbaúba dos Batistas 240 425 142 141 33
ZH DE SERRAS CENTRAIS 12.012 44.136 9.116 9.196 21
Bodó ... 1.361 637 640 47
Campo Grande 1.820 5.138 979 979 19
Cerro Corá 1.650 6.067 1.117 1.117 18
Florânia 1.820 4.633 1.064 1.064 23
Jucurutu 1.870 7.585 928 931 12
Lagoa Nova 1.620 5.735 1.212 1.274 22
Santana do Matos 2.532 7.278 1.665 1.676 23
São Vicente 700 2.354 461 461 20
Ten. Laurentino Cruz ... 1.732 612 612 35
Triunfo Potiguar ... 2.253 441 442 20
SERIDÓ 28.606 92.528 17.130 17.360 19
TOTAL DO ESTADO 164.282 650.326 107.913 109.401 17
FONTE DOS DADOS BÁSICOS: Estado do Rio Grande do Norte. Grupo Executivo. Gerência de Operações. Programa emergencial
de combate aos efeitos da seca; mapa de cadastramento. Natal-RN, nov., 1999.
De acordo com as mencionadas informações, bastante detalhadas na análise que foi feita da
situação educacional da população, cerca de 4.000 crianças, de 10 a 14 anos, exerciam algum tipo de
trabalho no Seridó. A Zona Homogênea de Caicó destacou-se, pela maior concentração de crianças
trabalhando (cerca de 1,8 mil). As informações disponíveis mostram uma redução do número de
crianças exercendo atividade de trabalho, principalmente em 1991. Todavia, nesse ano as estatísticas
215
para o Estado do Rio Grande do Norte ainda apontam a elevada cifra de mais de 21 mil crianças, de 10
a 14 anos, no mercado de trabalho. O peso maior é de municípios como Caicó e Currais Novos, no total
de contingente de crianças que trabalham. Não obstante este fato, aparecem, também, municípios como
Florânia, Jardim de Piranhas e Acari. 95
Como já foi observado, o desemprego constitui o principal problema indicado pela população
nas reuniões preparatórias do Plano de Desenvolvimento Sustentável do Seridó. Naquela ocasião,
foram apontados a precariedade do mercado de trabalho, a má distribuição de renda (baixos salários), o
subemprego, a falta de segurança no trabalho, bem como a exploração de mão-de-obra infantil.
A economia do Seridó tem passado por modificações relevantes, mostrando um decréscimo das
ocupações ligadas às atividades agropecuárias e um crescimento dos segmentos vinculados à economia
urbana. Todavia, a indústria é de pequeno porte e tem capacidade limitada de absorção de pessoal. O
comércio local é constituído de pequenos estabelecimentos ligados à atividades de subsistência
(mercearias, mercadinhos, entre outros), utilizando principalmente mão-de-obra familiar. Os serviços
são, sobretudo os do setor privado, de reduzida dimensão, constituído-se de atividades de reparação e
manutenção, além de serviços pessoais. Os serviços sociais, públicos e privados, por sua vez, têm
crescido e tendem a se elevar nesse contexto de reduzido dinamismo das atividades econômicas.
95
Para uma análise mais detida desses dados, ver o subitem 3.5.4, adiante, onde se trata das condições de educação.
216
TABELA 3.5.3.10
SERIDÓ: TRABALHO INFANTO-JUVENIL, SEGUNDO ATIVIDADES
Para uma mais acurada percepção da questão do desemprego, é pertinente resgatar como a
população tem se expressado em relação à identificação dos problemas e das possíveis soluções, em
relação ao emprego e à sua falta, bem como às suas aspirações, quanto ao futuro desejado.
Há uma clara percepção que o emprego, visto como ocupação ou colocação no mercado de
trabalho, não necessariamente formal, está estreitamente ligado ao dinamismo da economia local e à
capacidade de articulação da sociedade, com vistas ao associativismo para viabilizar a formação de
cooperativas e outras formas organizacionais autogestionárias, que permitam às coletividades lutar por
novos espaços de produção.
Um conjunto de ações e medidas de políticas públicas foram propostas pelas lideranças locais,
no sentido de possibilitar uma melhor convivência com a seca e prestar apoio às atividades econômicas.
Dentre as medidas propostas nas discussões, destacam-se o incentivo à produção e à produtividade da
agricultura e da piscicultura e, principalmente, à percepção da importância de melhor aproveitamento
das potencialidades locais, mediante pesquisa científica para a escolha de produtos apropriados,
melhoramento de rebanhos e seleção de raças mais adequadas para a criação no semi-árido. O
estabelecimento de uma política agrícola – crédito rural e a prestação de assistência técnica ao homem
do campo, bem como a transferência de tecnologias e o estabelecimento de uma política de convivência
com a seca, por meio da construção de barragens, perenização de rios, entre outras medidas, foram
percebidas, pelas lideranças de vários municípios, como formas de conter o êxodo rural.
217
O incentivo à atividade industrial e à agroindústria, vinculada a utilização de frutas, bem como à
criação de unidades de produção artesanal, são vistas como capazes de propiciar a criação de novos
postos de trabalho, assim como a dinamização do comércio e dos serviços. Preconizam, também, os
representantes de amplos segmentos da população, o desenvolvimento de programas que busquem a
preservação do patrimônio histórico e o incentivo ao turismo. Acredita-se que a exploração do
potencial de sítios paisagísticos é capaz de reverter, de forma favorável, na criação de novas
colocações. O recurso à economia familiar tem sido percebido como forma adicional de geração de
renda.
Há uma mudança de perspectiva quanto às atividades econômicas rurais, visto que já se sugere a
criação de indústrias, tanto no meio urbano quanto no rural, 96 bem como a interiorização de indústrias,
numa clara mudança de apreensão do que se entende por rural, perspectiva que emerge do “novo rural“,
ou seja, do espaço econômico híbrido, onde as atividades urbanas e rurais se imbricam e se
interpenetram numa dinâmica que supera claras divisões de atividades anteriormente prevalecentes.
(Silva, s.d.)
As aspirações da sociedade seridoense convergem para uma sociedade mais justa e igualitária,
capaz de propiciar emprego e renda para todos e serviços sociais de qualidade. Neste sentido, percebe-
se a importância da educação, da qualificação e do treinamento como elementos chaves para a
superação do atual quadro de estagnação econômica. Uma sociedade ancorada no associativismo, com
organizações sociais fortes e capacitadas para gerenciar recursos e participar ativamente da
administração, visando o desenvolvimento sustentável em todas as suas dimensões.
O desenvolvimento sustentável não pode ocorrer em qualquer região, sem que avanços
substanciais no desenvolvimento humano e, em particular, na melhoria das condições de educação da
população, sejam obtidos. Neste particular, trata-se não somente de desenvolver esforços importantes
na formação e treinamento da parcela da população que constitui a força de trabalho, visando o melhor
desenvolvimento da suas atividades produtivas, mas de um esforço no sentido de universalização do
conhecimento, que possa transformar cada membro da sociedade em cidadão consciente dos seus
direitos e deveres.
O exame sumário das condições educacionais da população do Seridó mostra que não obstante
os avanços realizados nas últimas décadas, expressos pela melhoria de parte significativa dos
indicadores mais tradicionais, a situação atual da população merece que ações mais intensas e de maior
96
Conforme sugerido na Reunião Municipal de Ipueira-RN, em 23.11.99.
218
impacto venham a ser desenvolvidas, sobretudo quando se considera o contexto no qual o
conhecimento, a produção de conhecimento e sua difusão, passam a se constituir peça chave da
promoção do desenvolvimento sustentável.
O que se apresenta em seguida é, num primeiro momento, um balanço sumário das condições
educacionais da população da região, a partir dos dados secundários ou com base na perspectiva da
lideranças municipais, e, em seguida, uma descrição da dimensão e das condições da oferta dos
serviços de educação, com destaque para os seus problemas e potencialidades.
De acordo com os dados mais recentes. a respeito do grau de instrução da população do Estado
do Rio Grande do Norte, em 1996, da população de 7 a 14 anos, cerca de 27,8% estavam constituídos
por analfabetos. Nessa mesma condição e no referido ano, encontravam-se, no Estado, cerca de 28,4%
da população de 15 anos e mais, segundo informações da Pnad. Os dados dos censos de 1996 mostram
que 28,5% do total das pessoas de 4 e mais anos ou não tinham instrução ou possuíam apenas 1 ano de
estudo.
No que se refere ao Seridó, sabe-se que, em 1996, cerca de 30,2% da população de 4 anos e
mais estava constituída de analfabetos ou de pessoas com menos de um ano de escola. Isso
representava um total de 78,9 mil pessoas na região.
Como pode ser observado na tabela 3.5.4.1, ocorre uma diferença entre as Zonas Homogêneas
do Seridó, no que se refere ao percentual da população de 4 anos e mais, analfabeta ou com apenas 1
ano de instrução formal, com as Serras Centrais apresentando percentuais bem maiores do que as
demais.
De fato, enquanto a Zona Homogênea de Currais Novos registra uma participação de 27,3% da
população de 4 anos e mais, nesta condição, e a da Zona de Caicó cerca de 25,6%, a Zona Homogênea
das Serras Centrais alcança cerca de 39,6% (ou seja quase 40%).
Os casos extremos, de municípios com piores condições, neste particular, são encontrados nos
municípios das Serras Centrais, com destaque para Campo Grande (43,9%), Lagoa Nova (40,6%) e
Santana do Matos (40,2%). É nítido o contraste entre o município de Campo Grande, com o alto
percentual anteriormente apresentado e o município de Carnaúba dos Dantas (com 21,9%).
Tais informações, como pode ser claramente percebido pelo exame da tabela 3.5.4.1, mostram,
no confronto entre os municípios, as diferenças marcantes entre eles, o que, desde logo, exige um
tratamento diferenciado, tanto no nível das Zonas Homogêneas quanto dos municípios, em particular,
nas ações voltadas para a melhoria dos níveis de educação da população do Seridó.
219
TABELA 3.5.4.1
RIO GRANDE DO NORTE E SERIDO. POPULAÇÃO DE 4 ANOS E MAIS, SEM INSTRUÇÃO OU COM MENOS DE
UM ANO DE ESTUDO, EM 1996
(*) População de 4 anos e mais, sem instrução ou com menos de um ano de estudo.
220
A tabela 3.5.4.2, anterior, mostra aspectos relevantes da cobertura que o sistema educacional
tem, relativamente à população jovem, e ressalta, também, a média de anos de estudos da população de
4 anos e mais nos municípios do Seridó e na média do Estado. Tendo em vista a dificuldades de acesso
aos dados demográficos, segundo determinadas faixas de idade, não foi possível apresentar a situação
média da região, nem das Zonas Homogêneas que a compõem.
TABELA 3.5.4.2
RIO GRANDE DO NORTE E SERIDÓ: PARTICIPAÇÃO DAS PESSOAS SEGUNDO FAIXA ETÁRIA NAS
ESCOLAS E MÉDIA DOS ANOS DE ESCOLA – 1996
221
TABELA 3.5.4.3
RIO GRANDE DO NORTE E SERIDÓ: TAXA DE ANALFABETISMO DA
POPULAÇÃO DE 15 ANOS E MAIS - 1970-91
É importante chamar a atenção para o fato de que os dados registram uma cobertura quase total
do sistema, no que se refere à população de 7 a 9 anos, em geral apresentando cifras em torno de 90%.
No entanto, no que se refere às faixas anteriores (de 4 a 6 anos e às faixas de idade posteriores,
notadamente a de 15 a 19 anos), os percentuais são menores, em geral, revelando a menor ênfase no
atendimento dessas faixas de idade.
Algumas dessas constatações, como se verá mais adiante, vão ao encontro de diagnósticos
feitos nas reuniões realizadas nos municípios, notadamente as que se referem à necessidade de ampliar
o sistema de cobertura escolar, para as faixas de mais idade da população ou para o meio rural, onde a
cobertura é insatisfatória em alguns municípios. Mais uma vez, é relevante destacar a situação dos
municípios das Serras Centrais, que registram, comparativamente aos das demais Zonas Homogêneas,
o menor nível de cobertura escolar.
A análise detida para os anos de 1970, 1980 e 1991, considerando-se os municípios e as Zonas
Homogêneas do Seridó, num perspectiva de longo prazo, revela que embora algum avanço tenha sido
realizado, os níveis de analfabetismo da população entre 15 anos e mais são, ainda, muito altos, para o
último ano. Como se pode depreender dos dados da tabela 3.5.4.3, tais níveis abrangiam, em 1991,
cerca de 37,9% da população, o que, em termos absolutos, significava que, neste ano, cerca de 68,9
mil pessoas não sabiam ler nem escrever. Deve-se destacar, embora a taxa de analfabetismo no Seridó
tenha passado de 54,7%, em 1970, para 45,3%, em 1980, e 37,9% em 1991, que o total de pessoas na
condição de analfabetos, de acordo com os levantamentos censitários do Ibge, teria passado de 77,2 mil
(1970) para 68,3 mil (1980) e, finalmente, para 68,9 mil (1991). Isto significa que, nos dois últimos
anos considerados, embora tivesse havido uma importante redução nas taxas de analfabetismo (de
45,3% para 37,9%), o número de pessoas, de 15 anos e mais, classificados como analfabetos teria
permanecido, praticamente, o mesmo.
As taxas são, sem dúvida, muito altas, para todos os municípios e Zonas Homogêneas, mesmo
quando se considera um município como o de Caicó (27,4%), entre todos, o que mais avançou na
redução das taxas referidas. Para que se tenha uma percepção da dimensão das taxas de analfabetismo
do Seridó e do Rio Grande do Norte, apresentadas na tabela 3.5.4.3, é importante considerar que sua
evolução, no País em seu conjunto, ocorreu com a passagem, no período, de uma taxa de 33% (1970)
para 25,3% (1980) e, por fim, para 19,4% (1991). O que significa que a taxa de analfabetismo do País
correspondeu, em 1991, à metade da taxa registrada para o Seridó, no referido ano e um pouco mais da
metade, relativamente à do Rio Grande do Norte.
No interior da região, deve-se chamar a atenção, mais uma vez, para o conjunto de municípios
que compõem a Zona Homogênea das Serras Centrais, que, em média, registra uma taxa de
analfabetismo, em 1991, de quase 50% (mais exatamente, 49,5%). Neste caso, a grande participação da
população rural, no total da população, e a fragilidade da oferta de serviços no campo explica em
grande parte essa situação.
Comparativamente com o total do Estado, tendo partido de, praticamente, o mesmo patamar em
1970, o Seridó registra, no último ano da série considerada, uma taxa de analfabetismo um pouco maior
que a média registrada para o Rio Grande do Norte. A Zona Homogênea de Currais Novos
praticamente acompanha a evolução do Estado, enquanto que a de Caicó apresenta, em todos os anos,
níveis de analfabetismo menores do que o Rio Grande do Norte.
Para que se tenha uma idéia da dimensão do esforço que os atores sociais da região,
considerados entre estes os governos federal, estadual e municipais, além da sociedade civil, a tabela
223
apresenta o total de pessoas que não sabiam ler nem escrever nos anos considerados, no Seridó, em
suas Zonas Homogêneas e municípios.
É importante levar em conta que, com exceção da Zona Homogênea de Currais Novos e não
obstante o fato de que houve para todas as zonas e municípios uma redução das taxas de analfabetismo,
há uma tendência de permanecer o mesmo número absoluto de população analfabeta com o correr dos
anos. Assim, na Zona Homogênea de Caicó, por exemplo, passa-se de 25,4 mil pessoas, de mais de 15
anos, que não sabiam ler nem escrever, em 1970, para 33,9 mil, em 1991. Nas Serras Centrais, de 27,6
mil (1970) para 25 mil (1991). Tudo indica que o avanço que se obtém na maior oferta de serviços de
educação que, em tese, implicaria a redução da população analfabeta, é anulado, em grande parte, pelo
crescimento da população, que alcança a idade para demandar tais serviços.
Vale lembrar, com relação a essas informações, que se trata de um contingente de pessoas que
já entrou ou está entrando na força de trabalho, em busca de uma oportunidade de emprego – ou no
Seridó ou, através da emigração, em outras partes do Estado ou do País – e que seguramente terá muito
mais dificuldades para encontrar trabalho do que um contingente mais qualificado e que saiba, no
mínimo, ler e escrever. Numa fase em que, no mercado de trabalho, há uma crescente exigência de
mão-de-obra mais capacitada e apta a dominar os novos processos produtivos que estão sendo
introduzidos em todos os segmentos econômicos, notadamente os urbanos (industriais e de serviços), o
analfabetismo ou o baixo nível de instrução constitui obstáculo não desprezível para o futuro das
pessoas com estas características.
Uma outra perspectiva da grande fragilidade dos serviços de educação no Seridó e no próprio
Estado do Rio Grande do Norte é dado pelo número de anos de estudos da população adulta. Embora
esta questão tenha sido abordada anteriormente, com dados para 1996, a faixa etária considerada era
outra, o que não permite comparação com os dados que seguem.
As informações trabalhadas pelo Pnud, Ipea, Ibge e FJP, no Atlas de Desenvolvimento Humano
do Brasil, permitem que se tenha uma idéia do número médio de estudos da população adulta, de 25
anos e mais. O que se observa é que o número médio de estudos da população adulta (25 anos e mais),
no Seridó, é muito pequeno, como a do Estado, mesmo no contexto do País em seu conjunto, que, na
América Latina, registra uma das menores médias entre os países que a compõem.
Há, sem dúvida, um avanço nas duas décadas consideradas, que, no Seridó, em média,
significou triplicar entre 1970 e 1991 o número média de anos de estudos dessa população, quando se
passou de 1,1 ano (1970) para 3 (1991). No entanto, está ultima média, que pode ter melhorado entre
1991 e este final de século, é ainda muito pouco significativa, quando se sabe que, mesmo no caso
brasileiro, o nível era de 2,5 anos, em 1970 e de 4,9, em 1991. No Rio Grande do Norte, de acordo com
os dados da tabela 3.5.4.5 é de 1,3 (1970), 2,3 (1980) e 3,8 (1991). Tais cifras constituem, não resta
dúvida, a tradução de uma situação ainda crítica para o Seridó, o Rio Grande do Norte e mesmo o País,
em seu conjunto, e, certamente, um desafio que terá que ser enfrentado, neste início de século, pelo
224
sistema de ensino nacional, estadual e regional, sobretudo quando se leva em conta a crescente
exigência, no mercado de trabalho, quanto ao conhecimento e capacidade de absorver novos processos
produtivos.
Os municípios das Serras Centrais mostram, em média, não só o menor número de anos de
estudos de sua população adulta, como uma menor intensidade do crescimento da referida média, com
o decorrer dos anos. O que se pode assinalar, a partir dos dados disponíveis, a respeito das condições
educacionais da população em idade escolar? Qual o grau de cobertura do sistema, relativamente à
população que constitui o público-alvo da educação básica ou do ensino fundamental?
TABELA 3.5.4.4
SERIDÓ: NÚMERO DE PESSOAS ANALFABETAS, DE 15 ANOS E MAIS - 1970-91
FONTE DOS DADOS BÁSICOS: Pnud-Ipea-Ibge-FJP (1997)- Relatório de desenvolvimento humano do Brasil, 1997.
225
TABELA 3.5.4.5
R. G. DO NORTE E SERIDÓ: MÉDIA DOS ANOS DE ESTUDOS DA POPULAÇÃO DE 25 ANOS E MAIS - 1970-91
FONTE DOS DADOS BÁSICOS: Pnud-Ipea-Ibge-FJP (1997)- Relatório de desenvolvimento humano do Brasil, 1997.
Embora seja razoável esperar que de 1991 até o presente tenha havido melhoria na participação
da população de 7 a 14 anos, no sistema escolar, as informações revelam um contingente muito
significativo da população jovem que está fora das escolas. Não resta dúvida que a ausência de quase ¼
da população nesta faixa etária (mais exatamente 23%, na região) representa a falta de cobertura do
226
sistema de ensino e, em última instância, a continuidade, por alguns anos, das altas taxas de
analfabetismo da população local.
É bem verdade que houve, de 1970 a 1991, avanços significativos, uma vez que se passou de
uma participação de 45,4%, em 1970, para 40,5%, em 1980, e 23%, em 1991, no Seridó. Mas não se
pode negar, também, que os níveis continuam muito altos e representam, em termos absolutos, um
número significativos de crianças fora da sala de aula. Em 1991, segundo os cálculos realizados, cerca
de 12,7 mil crianças não estavam freqüentando as aulas, no Seridó. Em municípios maiores, como
Caicó e Currais Novos (e Santana do Matos), este contigente superava a marca de mil crianças em cada
uma deles. Além disso, na Zona Homogênea das Serras Centrais, a ausência de crianças de 7 a 14 anos
da escola, ainda em 1991, chegava a representar um pouco menos de 1/3 da população dessa faixa
etária.
A situação e a evolução da Zona Homogênea das Serras Centrais é muito diferente das duas
outras Zonas Homogêneas. Ela parte de um patamar muito alto e registra, tanto em termos relativos
quanto absolutos, um avanço muito menor da cobertura do sistema de ensino, no que se refere à
população de 7 a 14 anos.
Sem ter ainda, pelo menos até 1991, alcançado a totalidade das crianças que constituem, em
geral, o público especial dos serviços que são oferecidos, o sistema de ensino no Seridó ainda tem um
longo espaço a percorrer, como se constatou anteriormente, no sentido de oferecer à população adulta
condições para que ela tenha um acesso mínimo ao conhecimento e à informação que lhe permita não
só uma mais fácil inserção no mercado de trabalho, como o exercício pleno da cidadania.
Gráfico 3.5.4.1
RG N, S e rid ó e ZH: P o p u la çã o d e 7-14 An o s q u e n ã o
F re q ü e n ta Esco la - 1970-91
120
100
80
(1970=100)
1970
60 1980
1991
40
20
-
Es tado Seridó ZH - ZH - ZH -
Curr ais Caic ó Serras
Nov os Centr ais
FONTE DOS DADOS BÁSICOS: Pnud-Ipea-Ibge-FJP (1997)- Relatório de desenvolvimento humano do Brasil, 1997.
227
O gráfico 3.5.4.1, anterior, mostra alguns traços relevantes da evolução da participação da
população de 7 a 14 anos, que não freqüenta escola. Neste particular, ele destaca que, considerando o
contingente da população fora da escola, em 1970, igual a 100, o Seridó registra uma tendência
declinante sistemática dessa população, enquanto que o Estado do Rio Grande do Norte apresenta um
aumento entre 1970 e 1980, para registrar uma redução dessa parcela da população somente entre 1980
e 1991. Diferentemente, o Seridó e as Zonas Homogêneas de Currais Novos e de Caicó registram um
declínio do contingente de crianças fora da sala de aulas já entre os dois primeiros anos considerados, e
isto prossegue no ano final da série.
TABELA 3.5.4.6
RIO GRANDE DO NORTE E SERIDÓ: POPULAÇÃO DE 7 A 14 ANOS QUE NÃO FREQÜENTA A ESCOLA - 1970-91
FONTE DOS DADOS BÁSICOS: Pnud-Ipea-Ibge-FJP (1997)- Relatório de desenvolvimento humano do Brasil, 1997.
Em resumo, os dados apresentados até agora mostram, pelo menos até 1991, deficiências
significativas nos serviços de educação básica no Seridó, não só da perspectiva da população adulta
228
cujo percentual de analfabetos é significativo, como da perspectiva de atendimento da parcela da
população jovem sem acesso ao sistema escolar.
Convém ressaltar o destaque dado nos seminários à presença marcante do analfabetismo entre a
população rural da região, o que de certa forma é confirmado pelas informações estatísticas, uma vez
que as taxas maiores de analfabetismo ocorrem nos municípios nos quais a taxa de urbanização (%
população urbana sobre população total) é menor.
229
No que se refere aos cursos profissionalizantes, a demanda é muito extensa e complexa, o que
exige um aprofundamento futuro da identificação das formas de atendimento das aspirações. Cabe,
apenas para ilustrar, sem a pretensão de cobrir toda a demanda, a menção à:
iv. falta de escolas rurais ou de sistemas de transporte que permitam o acesso de populações
rurais às escolas; carência de escolas do 1º grau nas zonas rurais.
É importante lembrar, mais uma vez, que as informações estatísticas mais recentes (1996),
anteriormente apresentadas, mostram que é desigual a cobertura do sistema educacional, no que se
refere à população escolar de diferentes faixas etárias, o que confirma reivindicações feitas por
representantes das populações locais nos seminários realizados.
230
Manifestações apresentadas pelos representantes de alguns municípios sugerem a presença de
cobertura desigual do sistema educacional. A demanda de escolas rurais e a demanda de escola de 2º
grau em municípios menores, constituem sinais de que embora em média o sistema cubra parte
significativa das necessidades, em determinados municípios e espaços estão presentes déficits
localizados.
Este último aspecto é muito ressaltado, tanto ao serem feitas referências à necessidade de
vinculação do ensino com a realidade, as condições de vida e de trabalho locais, quanto à necessidade
de eliminação de sua defasagem (atualização), relativamente às questões presentes, nas quais a
população escolar está inserida. Associada a esta desvinculação está a proposta de capacitação e
atualização dos professores.
É importante assinalar que a questão da qualidade da educação oferecida, como ficou patente
nas discussões realizadas durante as Reuniões Municipais e Sub-Regionais e em reuniões técnicas,
depende de uma grande complexidade de fatores, não podendo ser atribuída ao nível de interesse e de
qualificação dos professores, que nas avaliações tradicionais são apontados como os principais
responsáveis por tais deficiências. Há, de fato, uma profunda conjugação de fatores que passam pelas
231
condições materiais, pelos valores da sociedade e pelas condições de remuneração e de trabalho dos
que integram o sistema de ensino, como professores ou funcionários. Disso resulta que os avanços na
qualidade da educação envolvem, ao lado de ações específicas no sistema educacional, profundas
mudanças no próprio comportamento da sociedade e da sua relação com a educação.
Nos cenários futuros desejados pela população local, que constituíam, nos seminários, a parte
final das discussões, a questão da educação de qualidade, de erradicação do analfabetismo e da oferta
de cursos profissionalizantes, em diferentes aspectos – como foi assinalado – compreendiam os pontos
centrais das aspirações das comunidades.
Note-se pela tabela 3.5.4.7, o peso dos maiores municípios, como Caicó e Currais Novos, no
total do contingente de crianças que trabalham. Não obstante este fato, aparecem, também, municípios
como Florânia, Jardim de Piranhas e Acari.
232
Há, ainda, uma questão que, embora já referida, merece ser enfatizada. Trata-se da demanda por
infra-estrutura para lazer e para a prática de esportes ou para apoio ao desenvolvimento de
manifestações culturais, que aparece ora vinculada às questões tratadas, quando da discussão da
educação ou independentemente dela. Neste caso, é freqüentemente sugerida a construção de ginásios
poliesportivos, de organizações de eventos, com destaque, por vezes, não só considerando a população
jovem como o lazer e a atenção para a população de terceira idade.
Não obstante o fato de que, sobretudo no contexto atual de profundas mudanças na sociedade,
na economia e no mercado de trabalho, a educação e a qualificação passaram a ter um papel da maior
relevância. No que em particular se refere à inserção no mercado de trabalho, a solução para o
desemprego reside, fundamentalmente, na expansão da economia e nas oportunidades de trabalho que
surgem no interior de uma economia dotada de maior dinamismo.
Começando por esses três níveis de ensino, o que está assinalado nas tabelas 3.5.4.8 e 3.5.4.9
revela as características mais importantes dos estabelecimentos, do corpo docente e da matrícula
(inicial e final) desse sistema.
No Seridó, de acordo com os dados das referidas tabelas, estão concentrados cerca de 16,5%
dos estabelecimentos de ensino (federais, estaduais, municipais e privados) e cerca de 12,8% dos
docentes. Além disso, 11,6% das matrículas iniciais foram registradas nessa região. Não esquecer que a
população do Seridó representa cerca de 11,3% da população do Estado.
Nos níveis de ensino antes assinalados, existiam no Seridó, em 1997, cerca de 1147
estabelecimentos de ensino, dos quais 787 estavam no meio rural. No total dos estabelecimentos
trabalhavam cerca de 4,4 mil professores, sendo que 1,2 vinculados aos estabelecimento de ensino
localizados no meio rural.
Algumas constatações relevantes podem ser extraídas das informações que resumem aspectos
dos serviços educacionais prestados no Seridó. Entre eles cabe fazer referência aos seguintes:
• assim, do total dos estabelecimentos voltados para o pré-escolar, cerca de 48,2% estão
no meio rural; ademais, cerca de 22,9% do corpo docente e 37,5% das matrículas iniciais estão
vinculados aos estabelecimentos rurais;
• no que se refere ao 1º grau, estão registrados no meio rural aproximadamente 79,4% dos
estabelecimentos, 31,3% dos integrantes ao corpo docente, 26,2% das matrículas iniciais; neste
233
particular, é importante considerar que cerca de 31,9% da população do Seridó residem no meio rural;
esta distribuição, como era de se esperar, não ocorre com relação ao ensino do 2º grau;
• vale o destaque ainda nesta questão para o fato de que, de acordo com as informações da
base de dados consultada, em todos os municípios, com exceção de Bodó e Triunfo Potiguar (que não
registram nenhum estabelecimento de 2ºgrau), existe pelo menos um estabelecimento com este nível de
ensino.
TABELA 3.5.4.7
RIO GRANDE DO NORTE E SERIDÓ: POPULAÇÃO DE 10 A 14 ANOS QUE TRABALHA - 1970, 1980 E 1991
ESTADO, SERIDÓ, ZONAS 1970 1980 1991
HOMOGÊNEAS E MUNICÍPIOS
ESTADO 24.910 30.720 21.833
Seridó 5.187 4.862 3.935
Currais Novos 1.334 1.889 1.172
Acari 149 280 211
Carnaúba dos Dantas 54 210 74
Currais Novos 378 772 525
Equador 61 95 110
Parelhas 287 195 200
São Tomé 404 338 52
Caicó 1.743 1.367 1.815
Caicó 341 446 541
Cruzeta 42 100 282
Ipueira 53 5 9
Jardim de Piranhas 263 95 388
Jardim do Seridó 219 223 165
Ouro Branco 237 23 71
Santana do Seridó 48 33
São Fernando 147 115 22
São João do Sabugi 116 55 96
São José do Seridó 135 81 51
Serra Negra do Norte 163 164 118
Timbaúba dos Batistas 27 11 42
Serras Centrais 2.110 1.605 948
Campo Grande 328 259 154
Cerro Corá 323 172 139
Florânia 308 250 253
Jucurutu 300 266 158
Lagoa Nova 160 285 110
Santana do Matos 594 289 65
São Vicente 97 85 69
FONTE DOS DADOS BÁSICOS: Pnud-Ipea-Ibge-FJP (1997)- Relatório de desenvolvimento humano do Brasil, 1997.
234
TABELA 3.5.4.8
RIO GRANDE DO NORTE E SERIDÓ: ESTABELECIMENTO E CORPO DOCENTE DO PRÉ-ESCOLAR, DO 1º E
DO 2º GRAU, SEGUNDO ZONAS HOMOGÊNEAS - 1997
FONTE DOS DADOS BÁSICOS: Idema. Anuário Estatístico do Rio Grande do Norte, 1998.
É com relação a esses estabelecimentos de 2º grau que parte relevante das recomendações
relacionadas com a melhoria do acesso a este tipo de ensino foram feitas nos seminários realizados.
Tanto no que se refere às dificuldades de transporte, sobretudo para as pessoas que residem no meio
rural, como à distribuição da rede de ensino do 2º grau foram feitas freqüentes referências.
Relativamente ao ensino superior, cabe fazer referência não só à presença como ao papel
estratégico que as instituições de ensino superior exercem na região. De acordo com os dados do
Anuário Estatístico do Rio Grande do Norte, em 1997, marcava presença no Seridó, o Centro Regional
de Ensino Superior (Ceres) de Caicó e o Centro Regional de Ensino Superior (Ceres) de Currais Novos,
ambos integrantes da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (Ufrn).
235
TABELA 3.5.4.9
RIO GRANDE DO NORTE E SERIDÓ: MATRÍCULA INICIAL E FINAL NO PRÉ-ESCOLAR, NO 1º E NO 2º GRAU,
SEGUNDO ZONAS HOMOGÊNEAS – 1997
FONTE DOS DADOS BÁSICOS: Idema. Anuário Estatístico do Rio Grande do Norte, 1998.
Os problemas. No que se refere aos problemas mais relevantes, deve-se considerar que não
obstante os avanços ocorridos tanto no que se refere à redução do analfabetismo, como à melhoria da
qualidade do ensino, quanto à sua maior cobertura, relativamente à população em idade escolar, que
marcam ainda presença no Seridó os especificados a seguir.
236
Isto implica, certamente, dificuldades crescentes da população, para ampliar o seu nível de
entendimento e compreensão de uma realidade crescentemente complexa e um obstáculo significativo
no acesso ao mercado de trabalho, em constantes mudanças e cada vez mais exigente quanto ao
conhecimento e domínio dos processos de trabalho mais modernos e complexos.
• Muitos aspectos que podem ser associados a fatores que reduzem a qualidade do ensino
oferecido no Seridó foram mencionados durante a consulta à sociedade. Tais aspectos tomaram as mais
diferentes dimensões e podem ser assim resumidos: i) quanto à disponibilidade de meios materiais nas
unidades de ensino: falta de instalações adequadas, de material didático, insuficiência de laboratórios,
de mobiliário, falta de equipamentos em escolas rurais, ausência ou carência de bibliotecas e de
equipamentos de computação e informática, ausência de instalações para práticas esportivas e para o
desenvolvimento de manifestações culturais e problemas associados à conservação dos prédios e
instalações das escolas; ii) problemas associados ao corpo docente e à disponibilidade de funcionários:
existência de professores sem qualificação adequada; falta de interesse de professores no
desenvolvimento de suas atividades, ausência de acompanhamento psicológico ou de assistência social
aos alunos; iii) questões associadas ao currículo escolar: necessidade de adaptação do currículo escolar
à realidade local e sua atualização em relações às exigências mais recentes da comunidade.
• Outros problemas relevantes. Muitos outros aspectos foram diagnosticados a partir dos
levantamentos de dados secundários realizados ou com base nos seminários de consulta à sociedade
organizada no Seridó: a presença de contingente relevante de crianças no mercado de trabalho e o
impacto que este fato tem sobre a quantidade da população em idade escolar fora da escola, em relação
à evasão escolar e o nível de aproveitamento a crianças na escola; os dados do Atlas de
237
Desenvolvimento Humano registram para o Seridó, em 1991, a presença de aproximadamente 3,9 mil
crianças, de 10 a 14 anos no mercado de trabalho; a isto é importante acrescentar a dificuldade de
deslocamento dos alunos, sobretudo no meio rural e em localidade distantes dos estabelecimentos de
ensino, que têm induzido a evasão escolar e deficiência no aproveitamento escolar dos alunos nestas
condições.
238
Da consulta feita à população, fica patente o interesse marcante da sociedade no Seridó na
melhoria da oferta de serviços de educação na região, que, em sua perspectiva, deve ser traduzida tanto
no encaminhamento de soluções para questões que já deviam ter sido solucionadas – caso do
analfabetismo e da cobertura do sistema de ensino a toda população em idade escolar – como de
aspectos relacionados com a qualidade da educação oferecida, considerando-se suas várias dimensões,
como de sua maior abrangência, no que se refere a um grande elenco de cursos profissionalizantes ou
de treinamento e capacitação, mais diretamente vinculados ao acesso ao mercado de trabalho, em
constantes mudanças. Os termos utilizados nos encontros realizados com as lideranças de
“analfabetismo zero”, “educação para todos” e “educação de qualidade” definem pontos relevantes do
futuro desejado, relacionado com o sistema de educação para o Seridó.
Além disso, foram examinados aspectos considerados relevantes dos serviços de saúde
existentes na região, a partir dos dados secundários disponíveis.
Repete-se, nos problemas de saúde, o que foi encontrado nos demais aspectos da dimensão
social do desenvolvimento do Seridó. Ocorreram avanços, alguns significativos, no entanto, os
indicadores locais mostram que permanecem defasagens consideráveis, relativamente aos indicadores
sociais do País e das regiões mais industrializadas. Além disso, tais defasagens tornam-se mais
relevantes quando se sabe que o País, no contexto internacional, apresenta os níveis mais baixos no
tocante aos indicadores de saúde, de educação e de saneamento básico, mesmo quando a comparação
do Brasil é feita com países de nível de renda similar.
Neste particular, pois, importa não só a continuidade dos avanços ocorridos, mas sua
intensificação, no sentido de universalizar no curto e médio prazo, junto à população, o conjunto de
serviços de saúde, educação, saneamento e seguridade social.
Os valores encontrados mostram que em 1991 a esperança de vida do Seridó era de 61,62 anos,
comparativamente com a do Estado do Rio Grande do Norte (60,58 anos). 97 Tais valores são mais
baixos do que os registrados para o Brasil e para os Estados da Federação de maior nível de renda e
mais industrializados. Para se ter uma idéia, o País em seu conjunto apresentava, em 1991, uma
esperança de vida de 65,37 anos e o Estado do Rio Grande do Sul (um dos que registram melhores
indicadores sociais), cerca de 66,10 anos, também, em 1991.
Relativamente ao Seridó, para 1991, vale o destaque para o fato de ocorrerem diferenças
significativas, quando comparados os dados para as distintas Zonas Homogêneas. A Zona Homogênea
de Currais Novos apresenta 63,06 anos de esperança de vida, valor próximo ao da Zona Homogênea de
Caicó (63,58), mas distante dos valores apresentados pela Zona Homogênea das Serras Centrais: cerca
de 57,42 anos.
Entre os valores registrados para os municípios, alguns casos extremos mostram a variação
existente na região. Assim, entre os que apresentam os níveis mais altos de esperança de vida ao nascer,
mostrando melhores condições de vida, cabe referir-se Caicó (64,28 anos) e Cruzeta (64,12 anos). No
outro extremo, situam-se, por exemplo, Jucurutu (51,85) e Campo Grande (56,31) (tabela 3.5.4.1).
No que se refere às taxas de mortalidade infantil, é importante assinalar o valor muito alto
apresentado pelo Rio Grande do Norte, em 1991, de 90,51‰, quando se faz a comparação com o
Brasil, que registrou, naquele mesmo ano, uma taxa de 49,49‰. A taxa do Rio Grande do Norte é,
pois, quase o dobro daquela do Brasil. A taxa apresentada pelo Estado é inclusive maior do que a que
foi calculada para o Seridó, em seu conjunto (86,43), e para as Zonas Homogêneas de Currais Novos
(73,92) e a de Caicó (69,83). No entanto, a média estadual é bem inferior à taxa de mortalidade infantil
da Zona Homogênea das Serras Centrais (116,64). (Tabela 3.5.5.1.)
97
No texto que acompanha o CD-Rom os dados de esperança de vida para o Estado são 38,91 anos em 1970, 59,41 anos
em 1980 e 63,42 anos em 1991, 64,82 em 1995 e 65,18 anos em 1996. Os dados apresentados pelo CD, que registram
estimativas até 1991, mostram os seguintes valores 44,36 (1970), 51,03 (1980) e 60,58 (1991).
240
Considerando-se apenas os valores para 1991, percebe-se a heterogeneidade de situações
constatadas para a Região do Seridó. Isto ocorre, como se assinalou, com os valores antes referidos
para as Zonas Homogêneas, com destaque para as piores condições de saúde dos municípios das Serras
Centrais, refletidas na mortalidade infantil ainda muito alta, e ocorre também quando se considera a
perspectiva dos municípios isoladamente.
A tabela 3.5.4.1, apresentada no item anterior, oferece informações sobre a evolução dos
indicadores tradicionais de longevidade no Estado e no Seridó, fornecendo uma indicação da evolução
das condições de saúde e nutrição, que, geralmente, estão por trás dos valores registrados.
O Seridó, em seu conjunto, assiste a uma melhoria dos seus indicadores, tanto o de esperança de
vida ao nascer, que sugere um aumento da vida média das pessoas, como em relação à taxa de
mortalidade infantil, que mostra a redução da mortalidade da população da faixa etária de menos de um
ano, indicador extremamente sensível às condições de nutrição, saneamento básico e saúde da
população. De fato, houve entre 1970 e 1991 um aumento de 14,89 anos (aproximadamente 15 anos,
portanto) na esperança de vida média da população regional, que passou de 46,73 anos para 61,62 anos.
Esse incremento está próximo do que ocorreu no Estado do Rio Grande do Norte (16,22 anos, uma vez
que se elevou de 44,36 para 60,58 anos) e maior do que ocorreu no Brasil em seu conjunto (11,52 anos:
de 53,85 para 65,37).
O caso da Zona Homogênea de Caicó é intermediário a essas duas situações. Ela parte de um
patamar alto, inclusive em relação ao Estado (50,90 anos em relação a 44,36 do Estado) e alcança, em
1991, 63,58 anos, ou seja 12,68 anos.
Em síntese, os ganhos em anos não foram desprezíveis, no entanto, o patamar a que se chegou
no Seridó, no início dos anos 90, e em cada uma das suas Zonas Homogêneas é, ainda, muito reduzido.
O que era de esperar, uma vez que a região partiu de uma base muito reduzida em anos, em 1970.
TABELA 3.5.5.1
RIO GRANDE DO NORTE E SERIDÓ: ESPERANÇA DE VIDA E MORTALIDADE INFANTIL, SEGUNDO ZONAS
HOMOGÊNEAS E MUNICÍPIOS - 1970, 1980 E 1991
FONTE DOS DADOS BÁSICOS: Pnud-Ipea-Ibge-FJP (1997)- Relatório de desenvolvimento humano do Brasil, 1997.
Comportamento similar ocorreu nas taxas de mortalidade infantil, nas Zonas Homogêneas da
região. De acordo com os dados da tabela 3.5.5.1, apresentada no item anterior, na Zona Homogênea
(ZH) de Currais Novos, a redução da mortalidade infantil ocorre com a taxa passando de 219,58 (1970)
242
para 73,92 (1991). Esta última cifra equivale a 1/3 daquela registrada em 1970. No caso da ZH de
Caicó, passou-se de 171,50 para 69,83. A intensidade foi menor (a taxa de 1991 corresponde a 41% da
taxa de 1970), mas a Zona Homogênea de Caicó partiu, no primeiro ano, de um nível de mortalidade
infantil bem menor.
No caso das Serras Centrais, não só era muito elevada a taxa de mortalidade infantil, calculada
para 1970 (260,92), como a redução foi bem menos intensa do que nas demais zonas: a de 1991
(116,64) equivale a 45% do que era em 1970. A distância – como pode ser observada na tabela 3.5.5.1
– entre os municípios das Serras Centrais e os das demais Zonas Homogêneas, no que se refere às taxas
de mortalidade infantil, tornaram-se relativamente mais amplas.
No que se refere à mortalidade infantil, a situação dos municípios é muito heterogênea, tanto em
relação à base da qual se partiu, em 1970, como no que se refere à intensidade com a qual foram
realizados esforços para reduzir os altos níveis de mortalidade da população de menos de um ano de
idade. Mais uma vez os municípios das Serras Centrais se destacam pelos baixos níveis das condições
de vida de sua população.
Embora não se possa atribuir somente às condições de saneamento básico os níveis altos atuais
de mortalidade, inclusive infantil, é evidente que tais condições têm influência marcante, neste
particular. Na parte do plano dedicada às condições de habitação e de saneamento da população, esta
questão será abordada com maior nível de detalhe. No entanto, algumas referências devem ser feitas
aqui a respeito das condições de abastecimento de água e da presença de instalações sanitárias. Os
levantamentos realizados pelo censo demográfico para 1991, último dado que se tem a respeito, no
nível dos municípios, revelam que, nos domicílios urbanos de parte relevante das localidades, é muito
reduzido o percentual com abastecimento e instalações consideradas adequadas.
Na verdade, em 1991, dos 25 municípios para os quais se tinha uma avaliação das condições de
abastecimento de água, referidos aos domicílios urbanos, cerca de 11 registravam que menos da metade
das habitações não possuíam abastecimento de água adequado. Municípios como Campo Grande
(21,8%), Cerro Corá (26,8%), Lagoa Nova (8,7%) não alcançavam a cifra de 30% de domicílios
urbanos com condições adequadas. Cifras similares eram encontradas em relação às instalações
sanitárias. Cerca de 9 dos 21 municípios que apresentavam informações a respeito das instalações
sanitárias, registravam percentuais correspondentes a menos da metade dos domicílios com condições
consideradas adequadas.
É bem verdade que relativamente às décadas anteriores houve avanços, tanto no que se refere ao
abastecimento de água quanto à existência de instalações sanitárias adequadas. No entanto, os níveis
são, para grande parte dos municípios, muito baixos.
243
3.5.5.3 A Saúde na Perspectiva da População
A análise que segue foi construída a partir dos seminários realizados em todos os municípios do
Seridó, com as suas lideranças mais representativas, quer da perspectiva política, quer religiosa,
econômica e administrativa. Tais seminários contaram com a participação de prefeitos, líderes
religiosos (católicos e evangélicos), professores, dirigentes de organizações não-governamentais e de
órgãos públicos com atuação nos respectivos municípios. Nos seminários foram discutidos os grandes
problemas dos municípios, examinadas suas potencialidades e possibilidades de soluções e pensados
cenários ou futuros desejados para cada município. Na parte que segue, retiraram-se das discussões os
temas específicos relacionados às condições de saúde da população e aos serviços prestados.
Entre os problemas mais referidos nos seminários municipais, consideram-se situados entre os
mais relevantes os especificados a seguir.
Por vezes, as referências dizem respeito não apenas à inexistência de hospitais ou postos de
saúde, mas, mesmo quando eles existem, a menção é feita à sua reduzida capacidade – dada a
disponibilidade de pessoal total, pessoal especializado ou instalações – de atender na quantidade e na
especificidade desejada as necessidades básicas da população na área da saúde.
Isto chama a atenção para o tema da qualidade dos serviços, ao qual deve acrescentar-se a
questão da formação e do permanente aperfeiçoamento dos médicos e outros profissionais das áreas de
saúde.
244
• Déficit no atendimento: médicos residentes. A reivindicação da presença de médicos
residentes na comunidade traduz, certamente, a insegurança da população diante da ocorrência de
doenças entre os membros da família.
Além disso, tal referência torna clara a exigência de uma presença permanente nos municípios
de serviços de atendimento à saúde, aos quais a população possa ter acesso, tanto nas emergência como
em outras situações, sem ter que se deslocar para centros urbanos de maior porte, inclusive incorrendo
em maiores custos para obter o atendimento médico necessário.
Foram feitas referência, por exemplo, ao combate ao barbeiro, à vigilância junto ao mercado de
alimentos e matadouros, a uma ação mais eficaz dos poderes públicos e da sociedade quanto ao destino
e tratamento do lixo, quanto ao problema da qualidade da água consumida, ao esclarecimento
permanente da população em geral e da população de determinadas faixas etárias quanto à gravidez
precoce, ao uso de drogas e ao alcoolismo e relativamente a hábitos de higiene e a incidência de
doenças da pele ou à incidência de câncer.
245
Por trás dessas considerações, está a concepção de que, não obstante o papel estratégico que tais
agentes vêm desenvolvendo em várias experiências municipais, de grande sucesso na melhoria dos
indicadores sociais, torna-se necessário não só um treinamento permanente dos agentes mas, sobretudo,
uma supervisão do seu trabalho, visando orientá-los na busca de soluções para determinadas situações
que fogem da norma da sua atuação diária. Sem essa estrutura de apoio, constituída por profissionais
mais especializados e experientes, a importância do trabalho dos agentes se reduz significativamente.
Uma segunda cobrança feita nas reuniões nos municípios diz respeito à necessidade de atuação
mais agressiva e vigilante dos Conselhos de Saúde, no sentido de avaliar a execução de programas em
sua área específica e de fiscalização dos recursos aplicados.
Este aspecto institucional, que envolve não só a presença, a articulação e integração mais efetiva
de programas adequados de saúde na região, mas, igualmente, uma articulação e integração, também,
entre as diferentes entidades públicas e privadas – definindo entre elas uma divisão de trabalho que
estabeleça uma racional abrangência territorial dos serviços prestados – é um ponto relevante a ser
considerado numa estratégia de desenvolvimento sustentável, sobretudo levando-se em conta a
experiência de sucesso dos consórcios municipais em vários estados brasileiros.
É evidente que um processo de melhoria das condições de saúde da população não se limita aos
programas específicos de saúde, sejam os voltados para a medicina preventiva ou curativa. A saúde da
população exige uma renda mínima capaz de adquirir os bens e serviços básicos, uma infra-estrutura de
abastecimento de água tratada e de instalações sanitárias adequadas no interior dos domicílios e fora
deles, além de informações e um nível educacional que permitam à população conhecer os meios e as
condições através das quais possa, nos limites estabelecidos pelo ambiente e pela estrutura econômica e
social em que se situa, viver de modo saudável.
246
Do que foi considerado neste e nas outras partes do Diagnóstico sobre a população do Seridó,
ficaram claros os limites que vários aspectos estabeleceram para a melhoria dos indicadores de saúde
da população. Tais limites vão desde o nível de renda da população e de grande parte dele com renda
insuficiente, de acordo com os padrões estabelecidos, aos níveis de instrução caracterizados pelo
reduzido número de anos de estudo, em média, da população adulta e, ainda neste particular, da
presença marcante do analfabetismo. Além disso, é importante considerar os níveis de desemprego e
subemprego existentes na região, sobretudo a partir da ausência de atividades econômicas que, durante
anos, constituíram a base produtiva do Seridó, notadamente o algodão e a mineração.
Finalmente, os limites impostos pelos déficits e carências dos serviços de saúde, que foram
assinalados pela população do Seridó, mostram os elementos adicionais que são responsáveis pelos
níveis atuais dos indicadores sociais, relativos às condições de saúde.
A distribuição espacial dessas unidades, segundo Zonas Homogêneas e municípios, pode ser
observada na tabela 3.5.5.2, elaborada com base nas informações constantes do Anuário Estatístico do
Rio Grande do Norte. Observa-se ali que 9 das unidades existentes no Seridó estão na ZH de Currais
Novos, 13 na de Caicó (das quais cerca de 4 no município de Caicó) e o restante, 8 unidades, nas Serras
Centrais. Como pode ser observado pela tabela 3.5.5.3, predominam no Seridó e nas suas Zonas
Homogêneas, as unidades privadas, com exceção das Serras Centrais.
Um primeiro aspecto a ser considerado a partir da tabela 3.5.5.3 é que no Seridó estão
instalados, nas suas unidades hospitalares, cerca de 933 leitos destinados às mais diferentes
especialidades clínicas. Isto representa aproximadamente 12,6% do todos os leitos deste tipo no Estado.
A maior concentração de tais leitos, tanto no Seridó como no Rio Grande do Norte, é em clínica
e obstetrícia. Marcam, também, presença no Seridó os leitos vinculados à pediatria.
Dos 191 hospitais da rede hospitalar do SUS, existentes no Estado do Rio Grande do Norte,
cerca de 30 estavam no Seridó, em 1997. Destes, 13 eram públicos e 17 privados, não existindo
nenhum universitário. A rede regional, portanto, representava, aproximadamente, 15,7% das unidades
existentes no Estado.
247
TABELA 3.5.5.2
RIO GRANDE DO NORTE E SERIDÓ: REDE HOSPITALAR DO SUS – 1997
ESTADO, SERIDÓ, ZH HOSPITAIS
E MUNICÍPIOS TOTAL PÚBLICO PRIVADO UNIVERSITÁRIO
ESTADO 191 117 70 4
Seridó 30 13 17
Currais Novos 9 4 5
Acari 2 1 1
Carnaúba dos Dantas 1 1
Currais Novos 1 1
Equador 2 2
Parelhas 2 1 1
São Tomé 1 1
Caicó 13 5 8
Caicó 4 1 3
Cruzeta 1 1
Ipueira
Jardim de Piranhas 1 1
Jardim do Seridó 1 1
Ouro Branco 1 1
Santana do Seridó 1 1
São Fernando
São João do Sabugi 1 1
São José do Seridó 1 1
Serra Negra do Norte 1 1
Timbaúba dos Batistas 1 1
Serras Centrais 8 4 4
Campo Grande 2 1 1
Cerro Corá 1 1
Florânia 1 1
Jucurutu 1 1
Lagoa Nova
Santana do Matos 2 1 1
São Vicente 1 1
FONTE DOS DADOS BÁSICOS: Idema. Anuário Estatístico do Rio Grande do Norte, 1998.
De fato, dividindo-se o número de leitos (de 1997) pela população do Seridó e de suas Zonas
Homogêneas (em 1996), considerando-se a relação de leitos para 1.000 pessoas, obtêm-se, como média
248
para o Seridó, aproximadamente 3,3 leitos por 1.000 habitantes. No caso da Zona Homogênea de
Currais Novos, a relação era, também, de 3,3 e para a ZH de Caicó, em melhor situação, a relação era
de 4,2 leitos por 1.000 habitantes. A pior situação, neste particular, é a das Serras Centrais: de 1,9 leito
por 1.000 habitantes. É de se esperar que diferenças similares sejam observadas entre as Zonas
Homogêneas do Seridó, no que se refere a outros recursos médicos, sejam materiais, sejam recursos
humanos. Para que se tenha uma idéia da situação do Seridó, neste caso, relativamente ao Estado, é
importante assinalar, a partir dos mesmos dados, que a relação leitos por 1.000 habitantes era de 2,9,
menor do que a média da região, no entanto, bem maior do que a média encontrada na Zona
Homogênea das Serras Centrais.
Neste particular, de acordo com a tabela 3.5.5.4, estavam instalados, em 1995, no Seridó, cerca
de 17 postos e centros de saúde, além de policlínicas e postos de assistência médica, de um total de 801
existentes no Estado, ou seja, 21,8%. Os postos de saúde representavam, do total dessas unidades, cerca
de 78,3%, ou seja, a maior parte delas.
As informações mostram, a exemplo do que ocorre com as unidades hospitalares do SUS e com
os leitos disponíveis nos hospitais, uma desigual distribuição territorial dos postos, centros e
policlínicas. Em municípios das Serras Centrais, Zona Homogênea que registra 43 unidades – sendo
38 postos de saúde, 5 centros de saúde e nenhuma policlínica ou posto de assistência médica – há
municípios que não possuem nenhuma dessas instituições, de acordo com o Anuário Estatístico de
1995. Trata-se dos municípios de Bodó, Campo Grande, Tenente Laurentino Cruz e Triunfo Potiguar.
É verdade que para o exame mais detido da distribuição das instalações e equipamentos de
saúde da região, da perspectiva de uma utilização racional que permitisse o máximo de cobertura da
população neste particular, é necessário considerar todas as unidades em conjunto. No entanto as
informações revelam indício de ausência de cobertura dos serviços de saúde, o que é de certo modo
confirmado pelas avaliações feitas pelas lideranças consultadas durante os seminários ocorridos,
sobretudo nos municípios de pequeno porte e criados mais recentemente e naqueles que registram
grande parte da sua população residente no meio rural.
249
TABELA 3.5.5.3
RIO GRANDE DO NORTE E SERIDÓ: LEITOS HOSPITALARES, SEGUNDO ESPECIALIDADES
CLÍNICAS. 1997
FONTE DOS DADOS BÁSICOS: Idema. Anuário Estatístico do Rio Grande do Norte, 1998.
250
TABELA 3.5.5.4
RIO GRANDE DO NORTE E SERIDÓ: POSTOS, CENTROS DE SAÚDE, POLICLÍNICAS E POSTOS DE
ASSISTÊNCIA MÉDICA – 1995
FONTE DOS DADOS BÁSICOS: Idema. Anuário Estatístico do Rio Grande do Norte, 1998.
No que se refere ao Seridó, a cobertura regional se aproxima da constatada para o Rio Grande
do Norte, em seu conjunto. A vacinação alcançou o público–alvo, no tocante à BCG e à Anti-sarampo.
No entanto, no que se refere à Sabin, seu alcance foi de 81%; e com relação à tríplice, de 88,7%,
superando, em ambos os casos, os valores médios, já assinalados, encontrados para o Estado, em 1997.
Descendo ao caso das Zonas Homogêneas, o que se constata é uma bem maior cobertura na ZH
de Currais Novos e de Caicó, relativamente ao conjunto dos municípios das Serras Centrais. Na ZH de
Currais Novos ocorreu a plena cobertura em todas as demais vacinas, e cerca de 92,5%, no que se
251
refere à Sabin. Na de Caicó, registrou-se a cobertura no que se refere à BCG e à Anti-sarampo, e a
abrangência de 90,5% da população–alvo no que se refere à Sabin, e cerca de 98,8% para a Tríplice.
Mais uma vez, a situação da Zona Homogênea das Serras Centrais difere das demais Zonas
Homogêneas, da média do Seridó e da média do Rio Grande do Norte. Em nenhuma das vacinas
assinaladas, ocorreu a plena cobertura, relativamente à população–alvo. No que se refere à Sabin,
somente 58%, à Tríplice (63,1%), à Anti-sarampo (67,1%) e à BCG (84,8%). Pode-se dizer, num
espaço pequeno constituído pelas Zonas Homogêneas ou os municípios que a compõem, que é possível
a vacinação fora dos limites das zonas ou fora dos limites municipais. No entanto os déficits de
cobertura são muito grandes, o que sugere deficiências muito importantes na estrutura responsável pela
medicina preventiva no Seridó, em particular nas Serras Centrais. Vale lembrar que é nessa parte da
região que estão os municípios com maior proporção da população rural, nos quais os indicadores de
longevidade são os mais precários e os níveis educacionais os piores.
Resumindo o que foi assinalado anteriormente, tanto no que se refere à análise dos indicadores
secundários como das informações obtidas diretamente das discussões com as lideranças e
representantes de segmentos da sociedade organizada de todos os municípios da região, os problemas
mais relevantes podem ser especificados na forma a seguir.
252
iii. deficiência no atendimento à demanda e às necessidade da população, em relação à
presença de médicos residentes ou de médicos da família no sistema de saúde;
• Ausência de política preventiva de saúde, por parte das entidades estaduais e sobretudo
locais;
• Reduzido apoio técnico e institucional aos agentes de saúde que desempenham papel da
maior relevância no sistema de saúde local; e
• Atuação desarticulada das entidades públicas que atuam na área da saúde e atuação
passiva dos Conselhos de Saúde dos municípios na cobrança e fiscalização dos programas de saúde
municipais.
• As possibilidades concretas que podem surgir a partir dos consórcios de saúde, que já
começam a ser discutidos no Seridó, seguindo exemplo de experiências de sucesso em outras partes do
País, a partir das quais podem ser introduzidos processos racionais e eficazes de utilização dos recursos
disponíveis, com uma divisão de trabalho e de funções dos municípios consorciados, na gestão da
questão da saúde na região.
Não estão disponíveis, até o presente, informações mais detalhadas e articuladas que permitam
formular os traços mais marcantes de um cenário ou futuro desejado para a população, no que se
refere particularmente à saúde. As afirmações mais freqüentes a respeito destacam a aspiração da
população quanto à existência de um serviço universal de saúde, tanto no que se refere aos aspectos
preventivos quanto curativos, e, sobretudo de meios que permitam a redução das altas taxas de
mortalidade infantil. Há uma demanda freqüente, também, relativamente à qualidade dos serviços de
saúde, ao lado da demanda mais relacionada à sua maior abrangência, em termos quantitativos. A
questão da articulação dos governos municipais com o governo estadual, no que se refere à saúde, bem
como a dos governos municipais, e, no seu interior, entre os programas complementares (saúde e
educação, por exemplo) são parte integrante de um cenário desejado, expresso nas discussões com as
lideranças municipais.
253
TABELA 3.5.4.5
II.RIO GRANDE DO NORTE E SERIDÓ: MENORES DE 1 ANO IMUNIZADOS – 1997
FONTE DOS DADOS BÁSICOS: Idema. Anuário Estatístico do Rio Grande do Norte, 1998.
A análise que se faz a seguir está centrada nas questões cruciais para as condições de vida da
população, que são as do abastecimento de água e disponibilidade de instalações sanitárias, nos
domicílios situados nos municípios da região. Nesta análise, são consideradas as informações
secundárias, retiradas de fontes oficiais, e as informações provenientes das discussões realizadas no
processo de elaboração do Plano de Desenvolvimento Sustentável do Seridó, junto às lideranças locais,
em seminários ocorridos em todos os municípios da região.
a. Abastecimento de Água
No que se refere às condições de domicílios, as informações para 1991 oferecem uma idéia das
habitações em alguns municípios e nas Zonas Homogêneas do Seridó, relativamente à disponibilidade
de água. O que se observa é, mais uma vez, as diferenças marcantes entre os municípios da região, com
os municípios das Serras Centrais apresentando os piores indicadores, neste particular.
Começando pelo abastecimento de água, o que se percebe é que a situação dos domicílios do
Seridó é similar à situação média do Estado. De fato, cerca de 64% da população residia em domicílios
que possuíam abastecimento considerado adequado, percentual próximo aos 65,1% do total da Estado.
É importante destacar que esta média para o Seridó é muito influenciada pela situação das duas Zonas
Homogêneas nas quais se localizam os dois maiores municípios do Seridó: Currais Novos e Caicó. É
importante destacar que se está tratando de domicílios urbanos. 98
São, portanto, marcantes as diferenças entre os municípios das diferentes Zonas Homogêneas
do Seridó. Enquanto aproximadamente 71,7% da população dos municípios da Zona Homogênea de
Currais Novos vivem em domicílios com abastecimento adequado, na ZH de Caicó este percentual é de
98
O Atlas de Desenvolvimento Humano, já referido, define abastecimento adequado de água como: “Percentual da
população urbana que vive em domicílios com condição adequada de abastecimento de água. Considera-se adequado o
abastecimento através da rede geral, com canalização interna ou através de poço ou nascente com canalização interna.”
255
71,9%. Neste particular, apenas 32,7% da população das Serras Centrais vive em domicílios urbanos
que apresentam condições adequadas de abastecimento de água (tabela 3.5.6.1).
Se tais percentuais, válidos para a população que vive nos domicílios urbanos, são considerados
representativos do número de domicílios, os dados para 1991 mostram que existiriam, à época, cerca de
15 mil domicílios urbanos sem condições adequadas de abastecimento de água, nos termos definidos
pelo Atlas de Desenvolvimento Humano do Brasil. Além disso, tal procedimento mostra que a parte
significativa de tais domicílios urbanos se localiza nos municípios das Serras Centrais. Tal estimativa
mostraria a presença de 4,3 mil domicílios urbanos na Zona de Currais Novos, 5,1 mil na de Caicó e
5,6 mil nas Serras Centrais. Mais uma vez, cabe a referência ao fato de que se está trabalhando com
populações e domicílios urbanos, o que sugere que o déficit de abastecimento adequado nos domicílios
municipais deve ser bem maior quando se leva em conta, além dos domicílios urbanos, aqueles
localizados no meio rural.
É de se esperar que tenha ocorrido melhoria, desde 1991 até o presente, nas condições de
abastecimento de água dos domicílios urbanos. No entanto, a recente crise de oferta de água no Seridó
pode ter anulado, em grande parte, tal avanço, eliminando as vantagens que as instalações de
abastecimento de água domiciliar possam ter trazido para a melhoria da saúde da população.
b. Instalações Sanitárias
No que se refere às instalações de esgotos nos domicílios, em 1991, os dados são mais
precários, e sugerem piores condições para a população do Seridó. A ausência de dados censitários em
alguns municípios obrigou a uma estimativa da média das Zonas Homogêneas e da região, com uma
base menor de dados do que a que fora feito para o abastecimento de água.
Assim, no Seridó, em 1991, apenas 58,2% da população urbana morava em domicílios que
possuíam instalações sanitárias consideradas adequadas. Esse percentual era, à época, um pouco maior
do que o do Estado em seu conjunto (47,6%). 99
A comparação, neste particular, entre as Zonas Homogêneas mostra, em primeiro lugar, uma
situação mais favorável para a de Caicó, que alcançou, neste caso, cerca de 71,7% da população
vivendo em domicílios, cujo levantamento censitário considerou que possuíam condições adequadas de
esgotamento sanitário. Esta situação difere da condição das demais zonas: a Zona Homogênea de
Currais Novos registra que 57,8%, apenas, da população urbana morava em domicílios com instalações
sanitárias adequadas e a das Serras Centrais com 30,8%, portanto, menos de 1/3 do total.
99
“Instalações adequadas de esgoto. Percentual da população que vive em domicílios com instalações adequadas de esgotos,
ou seja, com instalações sanitárias não compartilhadas com outros domicílios e com escoamento através de fossa séptica ou
rede geral de esgoto”. (Atlas de Desenvolvimento Humano do Brasil .)
256
esperar, as instalações sanitárias são mais precárias do que as encontradas nos domicílios das cidades e
vilas. Isto, seguramente, elevaria, em muito, o déficit das habitações, no que se refere às condições
adequadas de esgotamento sanitário.
TABELA 3.5.6.1
RIO GRANDE DO NORTE E SERIDÓ: SITUAÇÃO DOS DOMICÍLIOS URBANOS QUANTO AO
ABASTECIMENTO E ESGOTOS – 1991
ESTADO, SERIDÓ, ZH % DE DOMICÍLIOS COM % DE INSTALAÇÕES ADEQUADAS
E MUNICÍPIOS ABASTECIMENTO ADEQUADO DE DE
ÁGUA. ESGOTOS
ESTADO 65.1 47.6
Seridó 64.0 58.2
Currais Novos 71.7 57.8
Acari 71.4 15.0
Carnaúba dos Dantas 59.0
Currais Novos 79.1 79.5
Equador 38.7 46.4
Parelhas 75.8 31.8
São Tomé 47.6 58.3
Caicó 71.9 71.7
Caicó 77.0 72.7
Cruzeta 73.9 90.4
Ipueira 69.5
Jardim de Piranhas 36.0 79.2
Jardim do Seridó 79.6 75.2
Ouro Branco 67.6 4.1
Santana do Seridó 97.0
São Fernando 65.6
São João do Sabugi 52.1 56.0
São José do Seridó 79.3 77.7
Serra Negra do Norte 76.2 85.9
Timbaúba dos Batistas 38.5 38.5
Serras Centrais 32.7 30.8
Campo Grande 21.8 31.7
Cerro Corá 26.8 69.6
Florânia 44.4 57.6
Jucurutu 37.4 36.1
Lagoa Nova 8.7 16.6
Santana do Matos 43.5 1.1
São Vicente 36.2 1.2
FONTE DOS DADOS BÁSICOS: Pnud-Ipea-Ibge-FJP (1997)- Relatório de desenvolvimento humano do Brasil, 1997.
257
c. Densidade Populacional do Domicílio e Durabilidade do Material de Construção
A tabela 3.5.6.2 mostra os traços mais relevantes destes dois indicadores, assinalando, mais uma
vez as diferenças internas existentes no Seridó, quando são comparadas as situações das populações
dos municípios das Zonas Homogêneas.
Quanto à densidade dos domicílios, o que os dados sugerem é que, em 1991, 30% das
habitações apresentavam uma densidade por dormitório disponível superior a duas pessoas. Esse
percentual, para o Seridó em seu conjunto e para a Zona Homogênea de Currais Novos e de Caicó, é
menor do que o registrado para a média do Estado do Rio Grande do Norte. No entanto, a ocorrência de
população vivendo em domicílios com densidade maior do que duas pessoas por dormitório existente é
bem maior nos municípios das Serras Centrais, uma vez que, no ano referido, conforme tabela 3.5.5.2,
alcança 39,2%. Em alguns municípios desta Zona Homogênea, como Campo Grande e Jucurutu, tal
percentual alcançou nível igual ou superior a 45%.
Para que se tenha uma idéia aproximada do número de domicílios nos quais há indício de alta
densidade nos dormitórios disponíveis, aplicando-se o percentual acima referido sobre o número total
de domicílios no Seridó e nas suas Zonas Homogêneas, pode-se estimar que haveria, em 1991, no
Seridó, cerca de 19,2 mil habitações, nas quais a densidade dos dormitórios era superior a 2 pessoas.
Deste total, cerca de 5,2 mil estavam na ZH de Currais Novos, 7,1 mil na de Caicó e 6,9 mil na Zona
Homogênea das Serras Centrais.
Cabe, mais uma vez, o destaque para os municípios das Serras Centrais. O percentual da
população que reside em domicílios constituídos por material durável é de 84,8%. Merece destaque o
município de Campo Grande que registra, neste particular, apenas 71,6%, ou seja, quase 1/3 dos
domicílios existentes em 1991 foram construídos por material não durável.
100
Densidade: “Percentual da população que vive em domicílios com densidade superior a duas pessoas por dormitório. No
cálculo da densidade do domicílio considera-se o número de dormitórios como sendo igual ao número total de cômodos
menos dois (destinados, provavelmente, à cozinha e ao banheiro). Portanto, a densidade do domicílio é dada por Di =
Ni/(Ci-2), onde Ni é o numero de pessoas do domicílio e Ci é o número de cômodos do domicílio.” Durabilidade:
“Percentual da população que vive em domicílios duráveis, em que a cobertura e as paredes são construídas de materiais
duráveis.” (Atlas de Desenvolvimento Humano do Brasil.) Há dificuldade de comparação entre os censos.
258
Adotando-se o mesmo procedimento anterior – admitindo o percentual das condições de
habitação da população como válidos para as condições dos domicílios –, observa-se que, na data
referida, haveria no Seridó cerca de 5 mil habitações construídas com material não durável, das quais
mais da metade (2,7 mil) estariam localizadas nos municípios das Serras Centrais. A outra metade se
distribuiria pelas ZH de Currais Novos (1,3 mil) e de Caicó (1,1 mil).
d. Um Resumo
A exemplo do que ocorre com a maioria dos indicadores sociais, aqueles relacionados com
saneamento básico e com as condições de habitação, registram melhoria com o correr do ano,
sobretudo quando se tem como referência o ano de 1970. Tal processo pode ser verificado
relativamente às condições de abastecimento de água, de instalação sanitária e da densidade
populacional dos domicílios, ou, ainda, no que se refere ao material (durável ou não) utilizado na
construção das habitações.
Se, de fato, ocorre melhoria nos indicadores, as condições são ainda precárias, pela presença de
déficits no que se refere, por exemplo, ao abastecimento de água, à disponibilidade de instalações
sanitárias e aos demais aspectos das habitações no Seridó.
Na tabela 3.5.6.3 estão apresentados dados mais relevantes sobre os municípios e condições de
abastecimento de água e de instalações sanitárias da população, para os anos de 1970, 1980 e 1991.
Utilizaram-se os mesmos critérios antes apresentados para considerar a parcela da população que
possuía abastecimento de água ou instalações sanitárias considerados adequados. Como se fez
referência anteriormente, não estão disponíveis para todos os anos e para todos os municípios as
informações a este respeito. Além disso, para alguns municípios, como São Vicente ou Lagoa Nova,
por exemplo, as informações não são confiáveis, em razão de diferenças marcantes, quando se passa de
um para outro ano, como ocorre com as instalações sanitárias, entre 1980 e 1991. No entanto, as
informações disponíveis mostram, em geral, a ocorrência de melhoria dos indicadores, com o decorrer
do tempo.
259
TABELA 3.5.6.2
RIO GRANDE DO NORTE E SERIDÓ: PARTICIPAÇÃO DA POPULAÇÃO SEGUNDO
A DENSIDADE E O MATERIAL DE CONSTRUÇÃO DOS DOMICÍLIOS - 1991
FONTE DOS DADOS BÁSICOS: Pnud-Ipea-Ibge-FJP (1997)- Relatório de desenvolvimento humano do Brasil, 1997.
Este aspecto fica bem evidente quando se consideram, para ilustrar, os municípios de Currais
Novos e Caicó, de maior porte no Seridó. Neste caso, são evidentes os avanços ocorridos tanto na
abrangência de domicílios com abastecimento adequado ou com instalações sanitárias adequadas.
Como se pode perceber pelos dados disponíveis, que não cobrem todos os municípios – daí a
dificuldade para se estimar a média para a região e para as Zonas Homogêneas –, a melhoria das
condições das habitações, neste particular, ocorrem, de modo similar, tanto no tocante ao
abastecimento de água como na disponibilidade das instalações sanitárias.
260
Tudo indica, a partir da aceitação das informações disponíveis, que grande parte dos avanços no
abastecimento de água e na disponibilidade de instalações sanitárias adequadas ocorreram entre 1980 e
1991. É de se esperar que tais avanços tenham continuado no decorrer dos anos 90.
No que se refere aos outros aspectos das condições da habitação – densidade populacional e
natureza do material de construção – repetem-se os avanços com o decorrer dos anos.
Os dados mostram também que a melhoria generalizada ocorrida, neste particular, manteve
diferenças marcantes de situações, com os municípios situados na Zona Homogênea das Serras
Centrais registrando os piores indicadores. Isto sugere que para tais indicadores, como para os demais
examinados, em vários segmentos da Dimensão Social, o tratamento que deve ser dado nas políticas e
programas sociais deve ser diferenciado, no sentido de privilegiar os municípios que registram maior
carência e déficits e, em conseqüência, que têm maiores dificuldades para avançar na melhoria das
condições de vida.
Nas discussões e nos levantamentos feitos junto à população do Seridó, em todos os municípios
visitados, foram ressaltados pontos da maior relevância que, em grande parte, complementam e
reforçam o que os especialistas e as informações secundárias assinalam. Assim, resumindo o que foi
discutido e referido a partir das discussões com as lideranças locais, podem ser considerados pontos
relevantes os que são apresentados a seguir.
Antes, porém, de assinalar tais pontos, é importante ressaltar, no que se refere ao saneamento
básico e às condições de habitação da população residente no Seridó, que, entre as 20 aspirações sociais
assinaladas com maior freqüência pelas lideranças sociais da quase totalidade dos municípios
consultados, 4 dizem respeito diretamente aos segmentos que estão sendo aqui examinados.
A primeira delas diz respeito aos recursos hídricos – em quarto lugar entre todas as aspirações
das comunidades consultadas –, e que tem a ver com abastecimento de água, açudes, barragens e poços.
Nas demandas relacionadas a essa aspiração aparecem, entre outras, idéias relacionadas à construção de
mais açudes, barragens, cisternas, além da ampliação e recuperação das já existentes; implementação
das obras de transposição do Rio São Francisco; perfuração de poços profundos; mapeamento dos
mananciais; aquisição de dessalinizadores; construção de adutoras; abastecimento nas zonas rurais;
combate às secas; ampliação dos sistemas de água encanada; e, finalmente, gerenciamento das águas
dos açudes.
261
A segunda aspiração – classificada em sétimo lugar – relaciona-se ao meio ambiente, com
destaque para a questão da reciclagem do lixo. Além dessa, merece referência a aspiração associada à
existência de saneamento básico e rede de esgotos nas zonas rural e urbana, classificada em 12o
lugar. Neste caso, a questão dos esgotos e o desvio no sentido de eliminar a poluição dos açudes, rios e
riachos, além da necessidade de um sistema de saneamento mais eficiente e abrangente, inclusive na
zona rural, ao lado da oferta de sanitários públicos, constituem pontos freqüentemente referidos nas
discussões.
TABELA 3.5.6.3
RIO GRANDE DO NORTE E MUNICÍPIOS DO SERIDÓ: PERCENTAGEM DA POPULAÇÃO URBANA EM
DOMICÍLIOS COM ABASTECIMENTO DE ÁGUA E INSTALAÇÕES SANITÁRIAS CONSIDERADAS
ADEQUADAS - 1970, 1980 E 1991
FONTE DOS DADOS BÁSICOS: Pnud-Ipea-Ibge-FJP (1997)- Relatório de desenvolvimento humano do Brasil, 1997.
262
TABELA 3.5.6.4
RIO GRANDE DO NORTE E SERIDÓ: DENSIDADE E NATUREZA DO MATERIAL DE CONSTRUÇÃO DAS
HABITAÇÕES 1970, 1980 E 1991
ESTADO, SERIDÓ, ZH DENSIDADE SUPERIOR A 2 MATERIAL DE CONSTRUÇÃO DURÁVEL
E MUNICÍPIOS PESSOAS POR DORMITÓRIO
1970 1980 1991 1970 1980 1991
ESTADO 58,6 47,6 34,0 68,6 79,6 88,2
Seridó 30,6 92,0
Currais Novos 25,7 93,7
Acari 57,0 41,0 22,2 88,3 82,9 92,8
Carnaúba dos Dantas 49,3 41,3 23,8 98,0 94,2 99,8
Currais Novos 54,1 41,0 26,7 85,4 87,2 95,0
Equador 55,9 51,5 36,2 73,1 82,0 95,6
Parelhas 46,9 35,0 23,6 86,7 91,7 97,0
São Tomé 54,3 46,9 24,8 62,5 60,8 81,7
Caicó 28,5 95,7
Caicó 54,9 42,1 26,9 88,8 93,7 98,1
Cruzeta 51,7 40,2 24,3 84,0 85,0 93,1
Ipueira 63,8 37,0 32,2 84,6 95,9 93,5
Jardim de Piranhas 60,0 52,3 41,7 77,7 85,0 89,7
Jardim do Seridó 49,8 43,3 21,8 74,7 81,2 94,0
Ouro Branco 55,6 41,5 25,0 87,7 91,9 100,0
Santana do Seridó 40,0 44,4 21,7 93,2 93,5 99,8
São Fernando 59,1 48,8 29,2 94,7 90,4 98,0
São João do Sabugi 57,1 44,0 28,9 71,6 79,9 93,0
São José do Seridó 59,8 52,6 27,8 83,9 88,0 99,3
Serra Negra do Norte 63,8 45,3 42,6 60,4 75,9 88,1
Timbaúba dos Batistas 39,6 36,1 29,2 88,1 80,8 96,8
Serras Centrais 39,3 84,8
Campo Grande 65,9 63,2 50,1 61,9 68,3 71,6
Cerro Corá 56,0 51,9 35,3 94,4 71,9 85,9
Florânia 51,7 46,4 30,4 66,5 75,3 92,1
Jucurutu 66,4 61,7 45,0 68,7 66,3 86,4
Lagoa Nova 74,9 56,3 40,7 63,5 83,8 90,4
Santana do Matos 49,3 47,9 37,2 59,6 65,8 80,2
São Vicente 51,8 45,2 28,4 79,0 88,6 96,6
FONTE DOS DADOS BÁSICOS: Pnud-Ipea-Ibge-FJP (1997)- Relatório de desenvolvimento humano do Brasil, 1997.
Por fim, entre as aspirações da população, coloca-se em 20o lugar, no contexto das aspirações
assinaladas pelas lideranças em praticamente todos os municípios do Seridó, o problema da habitação,
com destaque para a erradicação de casas de taipa. Isto tem a ver, entre outros aspectos, com a
disponibilidade de habitação de boa qualidade e com a ampliação dos programas habitacionais
existentes, tanto para o campo como para a cidade.
Esta constatação esteve presente nas discussões municipais, tanto no que se refere à Dimensão
Social quanto à Ambiental. Ela se traduz, sobretudo, em proposições das mais diferentes formas de
ampliação da disponibilidade de água (construção de novos açudes, ampliação da captação dos açudes
e barragens existentes, construção de poços profundos, cisternas, barragens submersas, recuperação dos
263
mananciais, aceleração das obras das adutoras), junto com as referidas aos problemas associados ao
gerenciamento dos recursos hídricos, improvisação cara e de má qualidade dos carros-pipa.
Não é sem razão que a questão do abastecimento de água, no tocante à disponibilidade de água,
aparece em 4o lugar entre as aspirações mais destacadas das lideranças da região. É bem verdade que o
Seridó, como todo o semi-árido, viveu períodos críticos, no que se refere às condições climáticas, nos
últimos anos. No entanto, as referências apontam para problemas que dizem respeito ao descaso e à
ausência de investimentos sistemáticos no abastecimento, que permitam uma ampla cobertura e
garantia de água tratada, em particular junto aos centros urbanos e aglomerados rurais.
A questão da oferta de água e do seu uso foi tratada com mais propriedade no diagnóstico da
Dimensão Ambiental (Item 3.2 anterior).
Neste particular, em algumas manifestações dos presentes às reuniões nos municípios, foi
assinalado que a questão da qualidade da água oferecida à população, para os mais diferentes usos, é
comprometida pela precariedade do sistema de esgotamento sanitário, que, sem o tratamento devido,
polui os reservatórios e os cursos de água, usados no sistema local de abastecimento.
De outro lado, mesmo na presença de esgotos em alguns municípios, foi destacada a existência
do escoamento direto dos dejetos para os cursos de água e os reservatórios, dada a ausência de
tratamento e de lagoas de retenção de dejetos, daí resultando o comprometimento dos mananciais. Daí
também decorre a necessidade de criação de condições para que as residências tenham instalações
sanitárias adequadas (fossas sépticas ou ligações com a rede geral), e para que o sistema de
esgotamento sanitário seja complementado com a construção de obras relacionadas ao tratamento e ao
destino adequado dos dejetos.
As necessidades vão desde uma maior cobertura dos serviços de água e esgotamento sanitário à
construção de novas unidades habitacionais, à substituição de casas de material não-durável ou precário
por casas de material durável, à ampliação de cômodos em habitações de maior densidade e à
instalação de infra-estrutura de água e esgotos nos domicílios que não têm tais serviços básicos.
Esta parece ser não só uma intenção subjacente a algumas ações governamentais e o seu
reconhecimento da dimensão dos problemas habitacionais do Estado. De fato, o governo estadual desde
1998, estabeleceu um programa habitacional que possui um componente emergencial e outro de maior
duração. No que se refere ao primeiro componente, o que se pretende é a erradicação das casas de
taipas. Neste particular, o Plano Habitacional de Emergência – Erradicação de Casas de Taipa, estima a
existência, no Estado, de 10,5 mil habitações precárias, que deveriam constituir objeto de intervenção
no ano de 1998, desdobrável em etapas voltadas para a eliminação do déficit habitacional do Estado.
265
Neste caso, considera-se além da instalação de 38,1 mil unidades habitacionais para substituição de
habitações rústicas na zona rural, a construção de 30,9 mil unidades para resolver o problema de
convivência familiar urbana (para as famílias de até 2 salários mínimos); a construção de 17,4 mil
unidades habitacionais, para resolver o problema de convivência de famílias rurais (de baixo nível de
renda); a construção 6,4 mil casas, para atender a demanda da população de baixa renda, que paga
alugueis excessivos; a construção de 7,3 mil dormitórios nas habitações com mais de 3 pessoas por
dormitórios; e a execução de 61 mil serviços de infra-estrutura em vivendas duráveis de famílias de
baixa renda, que deveriam constituir-se de instalações domiciliares de água, esgotos, energia elétrica e
coleta de lixo.
O esforço a ser desenvolvido implica, portanto, avaliar o que foi executado no Seridó, atualizar
as estimativas das carências em sua várias dimensões e articular a sociedade e os poderes públicos,
visando a implementação imediata das ações.
As questões, neste particular, dizem respeito a demandas ressaltadas pelas comunidades nos
encontros, sobre a necessidade de uma permanente vigilância sanitária, voltada para os serviços de
coleta e destino do lixo – em especial o lixo hospitalar – e para o destino e tratamento dos dejetos, por
meio de sistema de esgotos, pois muitos deles têm como destino os cursos de água e os reservatórios.
Tal vigilância deveria abranger também os matadouros que, em alguns municípios, constituem-se em
fatores responsáveis pela poluição dos mananciais.
Muito freqüente também foram as demandas por sanitários e banheiros públicos, como já se fez
referência.
Além das informações sobre a disponibilidade de serviços já registrada nos itens anteriores, é
importante destacar os dados referentes à oferta de água fornecida pelo governo estadual nos
municípios do Seridó. Na tabela 3.5.6.5, são apresentados os dados coletados e trabalhados pelo Idema,
para o Anuário Estatístico do Rio Grande do Norte.
Embora as economias ativas residenciais não sejam idênticas a domicílios com abastecimento
de água, a comparação entre os domicílios existentes e as economias ativas registradas para os
municípios pode fornecer uma idéia do atendimento dado ao municípios, em data mais recente do que
os dados anteriormente analisados.
Em 1996, de acordo com a Contagem da População do Ibge, havia 61,3 mil domicílios
permanentes no Seridó. Destes, 46,8 mil localizavam-se no meio urbano. A comparação com as
economias ativas, para o ano de 1997, mostra que as 46,8 mil economias ativas residenciais, registradas
266
pela Caern, correspondiam aos domicílios permanentes urbanos do Seridó e a apenas 76,3% do total
dos domicílios permanentes.
TABELA 3.5.6.5
RIO GRANDE DO NORTE E SERIDÓ: ABASTECIMENTO DE ÁGUA - NÚMERO DE ECONOMIAS ATIVAS DA
CAERN – 1997
FONTE DOS DADOS BÁSICOS: Idema. Anuário Estatístico do Rio Grande do Norte, 1998.
O que os dados sugerem, no tocante aos domicílios urbanos, é que há uma cobertura muito
abrangente – considerando que o conceito de economia ativa adotado pela empresa de abastecimento
de água se aproxima do de domicílio –, não havendo, como era de se esperar, em se tratando de sistema
de abastecimento de água (que abrange em geral o meio urbano), uma tal cobertura, quando a
referência é feita ao total de domicílios, incluindo neste os domicílios rurais. Neste particular, estão
fora da abrangência referida 23,7% dos domicílios ou 14,5 mil.
Comparando-se os dados de 1991, dos domicílios urbanos do Seridó que, segundo o Atlas de
Desenvolvimento Humano, possuíam abastecimento de água adequado (cerca de 64%), com as
267
comparações feitas anteriormente, é provável que tenha havido um avanço substancial na cobertura das
habitações urbanas, quanto ao abastecimento de água na região.
No entanto, não se deve descartar o fato de que a redução da disponibilidade de água na região,
tendo em vista o reduzido percentual de acumulação existente e a questão da qualidade do
abastecimento referida, durante a consulta às lideranças, qualifica significativamente este fato, no
sentido de reduzir a dimensão dos efeitos positivos que pode representar esta maior cobertura do
sistema de abastecimento de água.
268
Relativamente às instalações sanitárias, de menor cobertura junto aos domicílios, é importante
considerar, conforme várias manifestações nas discussões com as lideranças municipais, o destino que
é dado aos dejetos, que comprometem os recursos hídricos disponíveis e, ademais, a ausência de lagoas
de retenção dos dejetos e o seu tratamento adequado. Assim, o esforço para avançar neste sentido exige
a ampliação da cobertura da população no tocante aos serviços e a complementação do sistema de
esgotamento sanitário em alguns municípios, sobretudo no tratamento e retenção dos dejetos.
269
• Os avanços ocorridos na oferta de alguns serviços. Não obstante o fato de que há
déficits significativos nas condições dos domicílios, quando são examinados os diferentes aspectos
(abastecimento de água, instalações sanitárias, densidade populacional dos domicílios, material de
construção adotado), a maior parte dos indicadores existentes revelou progressos, notadamente na
cobertura do serviço de abastecimento e, um pouco menos, na de instalações sanitárias. Mesmo no que
se refere à densidade populacional das moradias e à durabilidade do material usado na construção das
habitações, alguns avanços são perceptíveis, quando se tem como referência a década de 70. Isto
significa que a população e a sociedade, de modo geral, e as autoridades públicas, de modo particular,
mostraram capacidade de encaminhar soluções para esta questão, embora não o fizessem na intensidade
e na abrangência desejadas, daí os significativos déficits ainda presentes.
Para o estudo das questões institucionais aqui tratadas considerou-se oportuno apresentar
conceitos básicos, comumente aceitos, sobre o Estado. Desde logo, cabe distinguir conceitualmente
Sociedade, Estado e Governo. A superposição de conceitos, no caso desses três entes distintos, tem
sido responsável, com freqüência, pelo mal desempenho das instituições governamentais.
Deixa-se claro, portanto, que Estado é Nação politicamente organizada e que Governo é
instrumento – da Sociedade e do Estado. Freqüentemente, confunde-se Governo com Estado. Como o
Estado é abstração jurídica, e não se o vê, o que se vê é o Governo, nas suas manifestações tangíveis
(tais como: o direito positivo, a bandeira, as autoridades constituídas, os edifícios públicos, os guardas
de trânsito, os oficiais de justiça, as guias de recolhimento dos tributos, etc.), segue-se que muitas vezes
se toma o Governo pelo Estado.
Estado, na perspectiva aqui considerada, se articula, por conseguinte, com duas esferas, a da
Sociedade Política e a da Sociedade Civil, às quais correspondem, respectivamente, o governo e as
270
organizações e iniciativas não-governamentais, entre estas os sindicatos, as Igrejas, as sociedades e
associações civis, etc.
Tais considerações são importantes para que se tenha em mente que o tratamento das questões
institucionais, mormente no que relaciona à melhora de seu desempenho, está mais diretamente
relacionado ao Governo do que ao Estado. É muito comum, no entanto, quando se procura buscar
maior racionalidade e eficiência nas ações de governo, dizer-se que é absolutamente necessário
redesenhar o perfil do Estado, tornando-o mínimo, quando, na realidade, mínimo (ou de adequado
tamanho) deve ser o governo. Teoricamente, o Estado não pode ser nem mínimo nem máximo, pelo
simples fato de que a Sociedade, da qual o Estado é a expressão jurídica, não pode ser nem minimizada
nem maximizada. Além disso, há que se ter consciência de que o Governo é que se subordina à
Sociedade e não esta àquele.
Por outro lado, é de ressaltar que a capacidade para enfrentar os desafios emergentes não pode
ser cometida exclusivamente ao Estado, até porque o governo, em algumas áreas, tem-se mostrado
incapaz de encontrar e viabilizar as soluções mais adequadas. A obtenção de resultados mais
consentâneos com a realidade irá depender da forma como o Estado vier a incorporar à sua filosofia de
ação a participação das organizações da Sociedade Civil nos processos de gestão, em todas as suas
fases. Isso determina a necessidade de criação e de utilização efetiva de mecanismos de controle social
(como tais considerados os colegiados que acompanham o desempenho da gestão pública) e de seu
envolvimento no próprio processo de gestão, como coadjuvantes da administração pública.
Torna-se indispensável, portanto, interessar e envolver o setor privado – bem como os diversos
segmentos da Sociedade Civil – na participação efetiva do planejamento e na própria execução de
determinados projetos, passíveis de serem desenvolvidos em parceria. Dentro dessa orientação cabe
definir, com a maior clareza, o verdadeiro papel do Estado no tocante ao desenvolvimento dos setores
produtivos e atribuir às organizações do setor privado as tarefas que elas devem e podem desempenhar
com mais eficiência.
Caberá, assim, ao Estado, cada vez mais, o papel de principal facilitador da aprendizagem
coletiva e de catalisador de suas iniciativas. É imprescindível, pois, a tarefa de conceber, executar e
manter, em constante aperfeiçoamento, um processo de desenvolvimento institucional que possibilite
ao Estado cumprir, de forma eficiente e eficaz, as ações a seu cargo, de acordo com sua nova feição.
Isto vale dizer que, para garantia de plena e efetiva execução de planos, programas e projetos
inovadores (como é o caso do Plano de Desenvolvimento Sustentável do Seridó), há necessidade de se
melhorar a estrutura e o desempenho do aparato institucional atuante na região.
• uma clara definição das funções do Estado em ação, como instância ampliada da qual
participam as duas esferas do Governo e da Sociedade Civil num processo articulado de formulação e
implementação de políticas públicas;
271
• a definição de normas e a adoção de procedimentos que agilizem o desempenho
organizacional.
Trata-se, neste subitem, tomando por base concepções e evidências produzidas pelo Projeto
Áridas-Nordeste, do delineamento de uma tipologia dos municípios do Seridó, a partir de suas
características particulares, pautando-as pelos seguintes indicadores básicos: i) grau de urbanização; ii)
grau de indigência; e iii) grau de dependência, a seguir conceituados:
Grau de Indigência. Trata-se da relação entre famílias em situação de indigência e o total das
famílias de um município, expressa pelo nível de pobreza. Oferece uma idéia da magnitude dos
problemas com que se defronta a administração municipal, possibilitando o estabelecimento de
prioridades de atuação junto aos municípios, de acordo com os níveis de miséria encontrados em cada
municipalidade; e
Dos estudos realizados para o Projeto Áridas-Nordeste, destacou-se o Estado do Rio Grande do
Norte e, nele, a Região do Seridó, classificando-se os municípios segundo a tipologia antes referida.
Esclareça-se, ainda, que os resultados apontados no trabalho citado apoiaram-se em base de dados
relativa ao ano de 1994, razão pela qual não contemplam municípios criados, por desmembramento,
após aquele ano. Assim, os municípios da Região do Seridó, em 1994, apresentavam as características
especificadas na tabela 3.6.1.1, em termos de enquadramento na tipologia adotada.
Como é possível observar, todos os municípios da região, com uma exceção (Currais Novos),
apresentam um elevado Grau de Dependência, que seria maior ainda caso fossem consideradas as
transferências não-constitucionais.
Este fato, aparentemente sem importância, tem enorme significado do ponto de vista social e
político-institucional, sugerindo uma maior democratização e aproveitamento dos recursos hídricos
acumulados pela via das políticas governamentais nas áreas antigas de concentração do complexo
algodoeiro-pecuário e uma menor presença do Estado na área serrana.
272
TABELA 3.6.1.1
CLASSIFICAÇÃO DOS MUNICÍPIOS DO SERIDÓ, SEGUNDO OS GRAUS DE URBANIZAÇÃO,
DEPENDÊNCIA E INDIGÊNCIA
POPULA- DENSIDA- GRAU DE GRAU DE GRAU DE
MUNICÍPIO ÇÃO ÁREA DE URBANIZA- INDIGÊNCIA DEPENDÊNCIA
(hab.) (km2) (hab./km²) ÇÃO (%) (%) (%)
Cruzeta 7.874 301,7 26,10 66,34 51,8 83,47
S. J. do Sabugi 5.483 289,6 18,93 68,28 54,4 83,71
Acari 10.981 596,5 18,41 71,08 48,8 78,73
Caicó 50.658 1.222,7 41,43 84,49 42,2 61,71
Carnaúba dos Dantas 5.602 272,7 20,54 70,58 43,3 79,07
Jardim do Seridó 11.825 377,3 31,34 72,20 44,3 68,80
Parelhas 17.566 410,7 42,77 75,98 43,0 66,77
Timbaúba dos. Batistas 1.934 144,4 13,39 71,25 43,3 80,31
Currais Novos 40.212 873,2 46,05 84,11 43,8 48,82
Cerro Corá 10.499 407,6 25,76 38,25 57,8 82,77
Florânia 12.417 593,8 20,91 43,84 56,1 80,16
Jardim de Piranhas 9.962 375,4 26,54 60,26 54,6 82,47
Jucurutu 14.677 934,8 15,70 50,18 53,5 84,03
Lagoa Nova 10.856 132,9 81,69 41,63 59,9 84,25
Ouro Branco 4.543 220,6 20,59 52,94 53,9 86,56
Santana do Matos 17.164 1.684,4 10,19 41,17 56,0 84,14
São Fernando 3.502 410,1 8,54 38,24 51,8 83,59
São José do Seridó 3.178 196,3 16,19 55,60 52,0 88,10
Serra Negra 7.504 544,6 13,78 40,67 53,1 63,18
São Tomé 11.461 873,6 13,12 43,46 54,4 56,05
Equador 5.490 424,3 12,94 61,38 47,7 88,09
Santana do Seridó 2.510 171,6 14,63 41,51 47,5 77,75
FONTES DOS DADOS BÁSICOS: i) Estado do Rio Grande do Norte. Secretaria de Planejamento e Finanças. Instituto de
Desenvolvimento Econômico e Meio Ambiente do Rio Grande do Norte-Idema. Anuário estatístico; Rio Grande do Norte,
1998. Natal-RN, 1998, p. 21-23; e ii) GUSMÃO, Paulo P.. de (1994)- Sistemas municipais de governo. Brasília, Seplan-
PR/IICA, 1994. Xerox. (Estudo realizado no âmbito do Grupo de Políticas de Desenvolvimento e Modelo de Gestão do Projeto
Áridas-Nordeste.)
A presença do Estado na Região do Seridó pode ser adequadamente interpretada a partir dos
estudos que analisaram a trajetória geral das políticas governamentais sobre os problemas do Nordeste
brasileiro e da evolução das formas específicas de intervenção pública naquela Região, desde a segunda
metade do século XIX, quando se consolidou o chamado complexo algodoeiro-pecuário, por cujo
intermédio os novos atores sociais seridoenses entraram em cena e assumiram posição hegemônica na
política do Rio Grande do Norte, por quase meio século. 101
101
Alguns exemplos dessas contribuições podem ser encontrados nos trabalhos de Cohn (1978) e Oliveira (1987), que
analisam as condições econômicas e políticas que propiciaram a emergência da Superintendência do Desenvolvimento do
Nordeste–Sudene e o desenvolvimento dessa experiência inédita de planejamento regional; em Carvalho (1988), que
examinou as “fontes de atraso” do Nordeste brasileiro e o sentido das políticas “anti-seca” e de irrigação para o
desenvolvimento regional; em Bursztyn (1984), que identificou a maneira peculiar de articulação entre os poderes central e
local como forma de atendimento dos interesses desses poderes e de manutenção das oligarquias locais; e, finalmente, mas
não exclusivamente, em Carvalho (1987), que interpretou o discurso e as práticas das instituições de planejamento regional,
o caráter recorrente das políticas, programas e projetos de desenvolvimento regional e a manutenção dos problemas
nordestinos com a força e a gravidade que lhes são peculiares.
273
A primeira geração daqueles estudos descreve a trajetória da ação governamental como um
conjunto de soluções ou fases técnicas, que tiveram início na grande seca de 1877-1879 e emergiram da
interpretação dada aos problemas regionais como sendo uma decorrência direta da falta de água, da
irregularidade das chuvas e da respectiva formulação das políticas de combate aos efeitos das secas,
porém, acima de tudo, da própria consolidação do complexo algodoeiro-pecuário.
Por sua vez, as análises fundamentadas na trajetória das instituições e dos instrumentos de
planejamento regional permitem caracterizar a ação governamental em cinco importantes momentos
históricos, assim especificados: i) de 1877-79 a 1963, compreendendo a fase hidráulica e a emergência
do planejamento para o desenvolvimento regional; ii) de 1964 a 1970, caracterizado pelo rebaixamento
do status da Sudene, que teve cortada a sua ligação direta com a Presidência da República, ficando
subordinada ao então Ministério da Coordenação Regional–Mecor, perdendo autonomia, prestígio e
recursos financeiros; iii) de 1970 a 1974, quando ocorreu uma profunda mudança no padrão de
intervenção estatal, que passou a ser conduzido por um Estado nacional forte, centralizador e
autoritário, com as políticas regionais passando a ser meros capítulos dos Planos Nacionais de
Desenvolvimento; iv) de 1974 a 1979, caracterizado pela vigência do II PND e dos Programas
Especiais de Desenvolvimento Regional; e, finalmente, v) de 1979 a 1985, caracterizado pela
acentuada intervenção do Estado, no final do período autoritário. (Carvalho, 1987: 43-297.)
Na entanto, outras contribuições teóricas sobre esse mesmo tema evidenciaram a existência de
uma grande interdependência entre os poderes central e local e os processos articulados de
centralização e descentralização que daí decorrem, o que possibilitou dividir a ação do Estado no
Nordeste em três grandes períodos: i) o anterior a 1959, quando as ações se assentaram fortemente no
poder central, porém executadas de forma desconcentrada por diferentes organismos pertencentes
àquela esfera de poder; ii) o período situado entre 1960 e 1970, quando a ação do Estado foi
descentralizada, passando a ser coordenada pela Sudene; e, finalmente, iii) o período posterior a 1970,
caracterizado mais uma vez pela centralização das decisões no governo federal e pela participação de
uma multiplicidade de organismos federais e estaduais, atuando de forma descoordenada e superposta.
(Bursztyn, 1984: 27-29.)
Para os propósitos deste trabalho, a presença do Estado no Seridó será analisada tomando como
referência os três últimos momentos históricos assinalados no parágrafo anterior, explicitando-se, ao
274
final, as mudanças mais recentes, em direção à descentralização das políticas públicas, cujo marco
inicial foi o período da redemocratização que culminou com a Constituição Federal de 1988.
A maioria dos estudos sobre as formas de ação do Estado no Nordeste consideraram a seca de
1877-79 como marco a partir do qual os problemas do Nordeste ganharam visibilidade e começaram a
fazer parte da agenda, das ações e das instituições governamentais para a Região. As secas, no entanto,
não datam do final do século XIX, reconhecendo-se sua ocorrência no semi-árido nordestino, há pelo
menos vinte mil anos, se vistas pelo prisma de sua conceituação climático-meteorológica. (Carvalho,
1988: 194-195.)
Por que, então, somente no final do século XIX as secas e os problemas delas decorrentes
ganharam visibilidade, justificando a presença do Estado na Região? Que fatores, situados fora das
fronteiras governamentais, tiveram capacidade para determinar a forma e o conteúdo da ação
governamental?
Seis sertanejos, sendo cinco seridoenses – José Augusto Bezerra de Medeiros, Juvenal
Lamartine, Dinarte de Medeiros Mariz, Walfredo Gurgel, José Cortez Pereira de Araújo – e um
oestano, Dix-Sept Rosado, foram sucessivamente eleitos Governadores do Rio Grande do Norte e
manejaram instrumentos de política econômica que podem ser considerados complexos, principalmente
para a época anterior à Sudene, quando ainda não havia sistemas de planejamento e finanças
estruturados, além de terem contribuído para a consolidação de uma forte presença do Estado na região
algodoeira e, principalmente, no Seridó, mediante a realização de estudos, investimentos, concessão de
financiamentos, isenções fiscais e atividades educacionais e cooperativas, pautadas, inclusive, por uma
estreita articulação com a Igreja Católica.
O Rio Grande do Norte, a Paraíba e o Ceará foram os Estados de onde primeiro se irradiou a
forma institucionalizada de combate aos efeitos das secas, concretizada por um conjunto de
organizações formais, criadas com a finalidade de tratar dos problemas ocasionados pelas secas, e em
nome destas, de realizar os investimentos e desenvolver as atividades requeridas para viabilizar a
formação da infra-estrutura hídrica necessária, por meio da construção de açudes e da perfuração de
poços, complementada com a construção de estradas destinadas ao escoamento da produção oriunda do
complexo algodoeiro-pecuário.
O Estado também se fez presente na Região por meio da criação do Serviço Estadual do
Algodão, em 1924, e da Estação Experimental do Seridó, Fazendas de Sementes e Campos de
Cooperação para multiplicação de sementes selecionadas, a partir de 1926. Por estes mecanismos, o
Estado garantia a qualidade da semente, defendo-a da infestação de pragas provenientes de outras
regiões. Em 1927, foi criado o Serviço de Classificação do Algodão, com uma Seção permanente em
Jardim do Seridó. Aquele Serviço chegou a cadastrar 400 usinas beneficiadoras de algodão, cujo
produto era inspecionado, classificado e marcado com as iniciais do Rio Grande do Norte, para
somente depois ser exportado. Não era difícil também, por este meio, chegar ao fornecedor do produto
para a usina, o que praticamente fechava o ciclo de controle do Estado sobre a atividade algodoeira,
menos, evidentemente, a apropriação do excedente pelas grandes empresas multinacionais dos ramos
têxteis e de óleos vegetais. Em 1928, foi construído o Açude Cruzeta, sendo ali desenvolvidos
experimentos com irrigação aplicada ao cultivo do algodão. (Lima & Takeya, 1996: 118-129.)
Em 1958, foi criado o Programa Cooperativo de Extensão Rural do Rio Grande do Norte,
mediante convênio firmado entre o governo do Estado, a ANCAR (Regional), o BNB e o Serviço de
Assistência Rural (SAR), organização não-governamental ligada à Igreja Católica, em Natal. O aporte
de recursos de outras fontes, além do governo do Estado, entre elas os Ministérios da Agricultura e da
Educação e Cultura, o Banco do Brasil, o Escritório Técnico da Agricultura, a AID, além das
Prefeituras Municipais, garantiu a presença desse serviço em diversas regiões, inclusive no Seridó.
A segunda metade dos anos 50 caracterizou-se como uma fase de grande ebulição social no
Nordeste, com maior visibilidade na Zona Litoral-Mata de Pernambuco, com a criação das Ligas
Camponesas e a vitória de governadores de oposição.
Foi nesse contexto histórico, portanto, que os proprietários ligados ao complexo algodoeiro-
pecuário exerceram sua hegemonia, contribuindo, de forma decisiva, para a manutenção da “solução
hidráulica”, como estratégia fundamental de tratamento dos problemas na Região do Seridó, pelo
menos até o final dos anos 50, quando foi criada a Sudene e desenhada a nova forma de ação do Estado
no Nordeste brasileiro e no Rio Grande do Norte, em particular, cujas conseqüências foram
fundamentais para consolidar a presença do Estado no Seridó norte-rio-grandense.
O início dos anos 60 foram marcados por profundas mudanças no cenário político estadual e,
consequentemente, na presença do Estado no Seridó. A principal mudança referiu-se ao fim do “ciclo
dos governadores”, articulados entre os atores sociais mais importantes do complexo algodoeiro-
pastoril.
277
Aluísio Alves, que fora o primeiro superintendente da Legião Brasileira de Assistência–LBA,
no Rio Grande do Norte, combinou o assistencialismo da LBA com a política do governo americano de
doação de alimentos. Além disso, estabeleceu propostas de modernização dos serviços públicos e
utilizou um marketing eleitoral inovador na política local. Candidato a governador, Aluísio Alves
obteve o apoio de dois ex-correligionários de Dinarte Mariz (seu antigo aliado e naquele momento já
ferrenho opositor) – os empresários Odilon Ribeiro Coutinho, da agroindústria canavieira, e
Aristófanes Fernandes, da agroindústria algodoeira, “homens de dinheiro” dispostos a financiar a
campanha. Tomou como candidato a Vice-Governador o Monsenhor Walfredo Gurgel, político
caicoense, há anos auto-recolhido à direção do Ginásio Diocesano de Caicó, por desavenças políticas
no seio da oligarquia seridoense. Com essa engenharia política, conseguiu dividir os mais lídimos
representantes da política estadual, elegendo-se Governador do Rio Grande do Norte, em campanha
onde não faltaram ramos e folhas e às vezes plantas inteiras carregadas por populares que compareciam
aos comícios. O verde das plantas, naquele momento, simbolizava a Cruzada da Esperança, como era
denominada a coligação partidária que apoiou a candidatura de Aluísio Alves. 102
A ênfase na construção de uma burocracia pública complexa, como a que acaba de ser vista, não
significou o abandono da “solução hidráulica”. No entanto, ela sofreu um claro arrefecimento, com a
construção de apenas nove açudes pelo DNOCS, naquele período, sendo dois públicos e sete em
cooperação.
102
A Cruzada da Esperança foi a denominação dada à “frente partidária criada por Aluísio Alves para agasalhar dissidentes
da UDN, do PSD, aliados do PTN, PTB e PDC..A Cruzada da Esperança representou um conjunto de força eleitoral
imbatível, enquanto viveu. O golpe militar de 1964 alterou a vida política nacional e teve entre as repercussões, no Rio
Grande do Norte, a cassação de Aluísio e o fim da Cruzada”. (Silvestre, 1999.).A expressão Cruzada da Esperança havia
sido encontrada, anteriormente, em “um artigo publicado pelo acadêmico de medicina e presidente do Comitê Estudantil
pró-Aluísio Alves, Quinho Alves Filho, na Tribuna do Norte. Sob o título Cruzada da Esperança, Quinho convocava os
jovens universitários à luta, tendo como lema esse slogan, que seria dado ao comitê estudantil. Mas o “marqueteiro” pegou
a idéia e transformou-a no nome da coligação dos partidos que apoiavam a candidatura de Aluísio Alves ao Governo do
Estado”. (Machado, 1999: 86-87..)
278
Os planos de emergência e as políticas setoriais continuaram a ser executados, mas agora sob a
perspectiva inédita de um esforço regional de coordenação, do qual participaram os governadores
nordestinos, todos com assento no Conselho Deliberativo da Sudene.
A participação do Rio Grande do Norte, entretanto, foi pequena, no que concerne aos
investimentos realizados com o apoio daquela Superintendência, pelo menos até a segunda metade dos
anos 70. A política de industrialização, que seria decisiva como fator catalisador das mudanças na
agricultura, teve, no Rio Grande do Norte, uma de suas menores performances. Estudos realizados
naquele período indicam que a política de industrialização foi instituída de forma desigual. Os Estados
mais privilegiados com essa política foram a Bahia, Pernambuco e Ceará. Do total de 1.205 projetos
aprovados, para todo o Nordeste, no período 1960-77, o Rio Grande do Norte participou com apenas 86
projetos, não se tendo notícia de nenhuma participação mais significativa da Região do Seridó nesse
contexto.
A seca de 1970, a primeira, de grandes proporções, após a criação da Sudene, trouxe à tona os
mesmos problemas evidenciados nas secas anteriores, porém de forma agravada, face ao progressivo
afastamento daquela Superintendência dos problemas estruturais do Nordeste e à conseqüente
ineficácia das políticas adotadas durante todo aquele período. Repetiram-se as cenas de lavradores
famintos, os saques a trens e a invasão das cidades, como último recurso dos camponeses e
trabalhadores rurais para se manterem vivos. E novamente se instalaram as frentes de emergência, o
repetido paliativo das épocas críticas.
279
“grandes objetivos nacionais” e na implantação dos chamados “projetos de impacto”, que constituíram
a “marca” dos governos daquela época.
Foi nesse contexto que se verificou o fim dos Planos Diretores da Sudene, que se constituíram
nos instrumentos de planejamento devidamente aprovados pelo Congresso Nacional, seguido pela
adoção de um novo estilo de planejamento e intervenção governamental, caracterizado pela
predominância de programas, projetos e medidas de ordem setorial, concentrados em espaços
econômicos restritos e com maior capacidade de resposta imediata, com a adoção dos PND.
O II PND (1975-79) definiu como pontos principais da sua estratégia para o Nordeste a
implantação de grandes complexos industriais articulados, como o Pólo Petroquímico e o Pólo de
Fertilizantes do Nordeste; o Complexo Mineral-Petroquímico Regional (no circuito Salvador-Aracaju-
Maceió) e o fortalecimento dos pólos industriais tradicionais, a exemplo do Têxtil e de Confecções e do
Couro-Calçadista; a continuidade da execução do Programa de Agroindústria do Nordeste, do
Programa de Irrigação do Nordeste e a execução dos chamados “Programas Especiais de
Desenvolvimento Regional”, entre os quais se destacaram, pela importância para a região semi-árida do
Nordeste brasileiro, o Programa de Desenvolvimento de Áreas Integradas do Nordeste–Polonordeste e
o Programa Especial de Apoio ao Desenvolvimento da Região Semi-Árida do Nordeste (Projeto
Sertanejo).
Apesar das elevadas taxas de crescimento econômico, a grande seca de 1979-83 veio, mais uma
vez, revelar a persistência dos velhos problemas da vulnerabilidade às secas, da estrutura agrária
103
Alguns dados relativos ao período 1960-80 são bastante ilustrativos das mudanças ocorridas no Nordeste neste período:
o produto interno bruto do Nordeste cresceu 7,1%; o produto industrial mais do que quadruplicou; a infra-estrutura
energética cresceu 1.156%; e, a rede pavimentada federal cresceu 1.136%. (Carvalho, 1987: 237-240.)
280
injusta, dos baixos salários, do analfabetismo, da carência alimentar, das reduzidas oportunidades de
ocupação e renda, dos restritos efeitos internos do crescimento industrial e da “modernização
conservadora” possibilitada por alguns dos grandes projetos agroindustriais financiados com incentivos
fiscais e com crédito rural subsidiado.
Por tudo isto, a primeira metade dos anos 80 foi marcada por uma intensa rediscussão dos
problemas do Nordeste, da qual participaram diferentes atores sociais, com distintas visões do processo
de desenvolvimento, entre eles os novos Governadores, eleitos pela primeira vez, pela via direta, em
1982, após o golpe militar de 1964. Do mesmo esforço, participaram a Conferência Nacional dos
Bispos do Brasil–CNBB, a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura–Contag e as
Federações dos Trabalhadores na Agricultura–Fetags da Região Nordeste, e seus respectivos
Sindicatos, além do Banco Mundial, de longe a principal agência internacional de financiamento de
programas de desenvolvimento rural na Região.
A resposta do Governo veio sob a forma de uma ampla avaliação das políticas e programas de
desenvolvimento regional e da elaboração de uma nova política de desenvolvimento para o Nordeste,
contemplando um elenco de diretrizes de natureza global e setorial, que ficou conhecida sob a
denominação de Projeto Nordeste.
Valendo-se das numerosas críticas que antecederam à própria elaboração do Projeto Nordeste,
entre elas as que associavam a ineficiência da ação governamental à existência de um grande número
de programas similares, competindo pelas mesmas fontes de recursos, o governo federal resolveu
unificar os diversos programas especiais (Polonordeste, Projeto Sertanejo, Procanor e Prohidro),
englobando-os em um único instrumento de política regional, o Programa de Apoio ao Pequeno
Produtor Rural (PAPP).
Além das políticas públicas acima referidas, se faz presente, na região do Seridó, uma série de
instrumentos de política social consagrados nos modelos clássicos de “Welfare State”, entre os quais se
incluem a educação, a saúde, a previdência social e a nutrição.
As instituições que atuam nos municípios do Seridó, foram classificadas, para os fins do presente
estudo, em sete grandes grupos: i) governamentais; ii) não-governamentais; iii) empresariais; iv) sindicais;
v) organizações civis; vi) instituições judiciárias; e vii) outras categorias. Em seu conjunto, as instituições
que atuam na região formam um quadro de mais de quinhentas entidades, cuja base de dados está
apresentada nas tabelas 3.6.3.1, 3.6.3.2, 3.6.3.3 e 3.6.3.4, apresentadas ao final deste item 3.6.3, das quais
constam as matrizes institucionais sintéticas das três Zonas Homogêneas, juntamente com uma matriz
consolidada para as mesmas três ZH. Para cada uma dessas quatro tabelas constam os correspondentes
gráficos, plotados depois das respectivas tabelas.
As mais expressivas das instituições encontradas no Seridó são aqui analisadas, segundo a natureza
de suas atividades e os grupos em que se situam.
Nesse rol estão considerados os órgãos e entidades oficiais, ou seja, os que se encontram
situados no âmbito dos governos federal e estadual. Em linhas gerais, a atuação das organizações desse
aparato institucional, na Região do Seridó, já foi abordada no item referente à Presença do Governo;
faz-se, agora, uma descrição mais detalhada de algumas daquelas instituições que mais diretamente
atuam nos diversos municípios seridoenses.
282
a. Integrantes do Governo Federal
Diversas entidades vinculadas ao governo federal atuam no Estado do Rio Grande do Norte,
como um todo; algumas delas têm unidades operacionais localizadas na Região do Seridó, destacando-
se como as mais importantes as seguintes:
Centro Regional de Ensino Superior do Seridó–Ceres, Campus de Caicó – 245 vagas nos
seguintes cursos:
Centro Regional de Ensino Superior do Seridó–Ceres, Campus de Currais Novos – 75 vagas nos
seguintes cursos:
O Ibama mantém dois escritórios, um em Caicó e outro em Jardim do Seridó, por meio dos
quais exerce, principalmente, ações de fiscalização e controle da exploração de recursos naturais.
Administra, ainda, a Estação Ecológica de Serra Negra do Norte.
O DNOCS, que já representou, até passado recente, um importante papel na Região do Seridó,
construindo açudes, instalando e administrando projetos de irrigação, limita hoje sua atuação na área a
operar a Estação de Piscicultura de Caicó, onde produz alevinos para atender à demanda da região.
O Ibge atua no Seridó por intermédio de sua Delegacia Regional, que coleta dados e
informações destinados a compor seus estudos e publicações demográficas e socioeconômicas.
283
vi. Bancos Oficiais
Atuam na região três instituições bancárias, ligadas ao governo federal: Banco do Brasil, Banco
do Nordeste e Caixa Econômica Federal. Por intermédio de suas 14 agências, oferecem financiamento
a todos os setores da economia, de acordo com as políticas fixadas pela direção daquelas entidades.
A atuação dessas instituições foi duramente criticada nas reuniões municipais, notadamente no
que diz respeito às linhas de crédito destinadas aos pequenos produtores rurais, cuja utilização foi
considerada praticamente inviável, em virtude das exigências burocráticas, principalmente as
relacionadas ao oferecimento de garantias e à comprovação de capacidade de pagamento.
De uma maneira geral, operam nos municípios do Seridó, direta ou indiretamente, todas as
instituições da esfera estadual. A seguir são citadas aquelas cuja atuação, na região, é mais destacada,
quer por desenvolverem ações de interesse mais específico, quer por terem ali escritórios ou agências
regionais.
• Central de Incubação de Aves Caipira. Tem uma produção mensal de 28 mil pintos de
um dia. Trata-se de projeto destinado à diversificação da agricultura familiar, com apoio do Ministério
da Agricultura (Projeto Ave Caipira).
284
Secretaria de Desenvolvimento Rural do Ministério da Agricultura e Abastecimento. Está atualmente
em construção.
Além disso, opera uma unidade de pesquisa em Cruzeta, onde dispõe de uma Estação
Meteorológica completa, com instrumentos para medição de pluviosidade, ventos, umidade, insolação,
etc. e desenvolve pesquisas com forrageiras, manejo sustentável da caatinga e avaliação do
desempenho do gado pardo suíço, com produção e venda de reprodutores.
Instituição voltada para a difusão tecnológica e apoio técnico (principalmente aos pequenos
produtores rurais), a Emater está presente na região por intermédio de 2 Escritórios Regionais (em
Caicó e Currais Novos) e de uma rede de 21 Escritórios Municipais com atuação em 24 municípios,
dispondo da seguinte equipe técnica: 7 engenheiros agrônomos, 2 médicos veterinários e 37 técnicos
agrícolas. Além das atividades de assistência técnica, a Emater esteve muito envolvida na
operacionalização do programa de emergência de seca, desde 1997. A instituição vem passando por
grandes dificuldades, tanto financeiras (com recursos muito aquém de suas reais necessidades) quanto
operacionais, uma vez que seus profissionais mais experientes foram aposentados ou estão em processo
de aposentadoria, não havendo renovação nos seus quadros técnicos. Contudo, é inegável a folha de
serviços prestados à região, sobretudo no período áureo do sistema de produção do complexo
bovinocultura/algodão arbóreo/cultura de subsistência, em relação ao qual se destacam os trabalhos de
infra-estrutura hídrica, produção e armazenamento de forragens (capineira, feno e silagem), difusão de
sementes selecionadas e controle integrado de pragas no algodão, técnicas para racionalizar o manejo
das vazantes, além das ações no campo da saúde, educação e nutrição.
Nos últimos anos, em decorrência, principalmente, do fraco desempenho do setor público, tem
ocorrido um fenômeno inovador que, aos poucos, vai assumindo maior importância e fazendo com que
a própria sociedade se mobilize para criar oportunidades autônomas de investimento, principalmente na
área social. Trata-se do surgimento das chamadas Organizações Não-Governamentais–ONGs. Atuando
de forma independente do setor público (embora, em alguns casos, contratadas por órgãos
governamentais), essas organizações têm mobilizado recursos técnicos, materiais e financeiros
destinados a implementar projetos de desenvolvimento social, principalmente junto a pequenas
comunidades.
A rigor, a atuação dessas instituições tende a ser mais eficiente do que a do Estado, cujos
projetos (particularmente os desenvolvidos na área social) têm sua execução comprometida por
entraves das mais diversas naturezas, que vão desde a escassez e intempestividade dos recursos até a
rigidez de seus processos burocráticos. As ONGs, ao contrário, podem operar com mais flexibilidade e
facilidade administrativas e, principalmente, assumir uma postura participativa de mobilização da
sociedade e seu envolvimento nos processos decisórios.
Por essas razões, já se começa a perceber que várias instituições multilaterais ou órgãos de
países desenvolvidos, voltados para o fomento ao desenvolvimento, tendem a preferir direcionar o
285
apoio financeiro a projetos não-governamentais, principalmente quando voltados para pequenos
produtores rurais e para desenvolvimento comunitário.
Atuando desde 1997, o GEDS tem como objetivos conceber, propor e pôr em prática medidas
destinadas a controlar o processo de desertificação que ameaça a Região do Seridó. É ainda um grupo
informal (não tendo, portanto personalidade jurídica definida), que congrega representantes de
organizações governamentais, não-governamentais, sindicatos, etc.
Entidade vinculada à Igreja Católica do Rio Grande do Norte, seu braço executivo na Região do
Seridó encontra-se no âmbito da Diocese de Caicó. Desenvolve um diversificado elenco de ações,
dentre as quais destacam-se aquelas voltadas para:
Além das atividades voltadas para os objetivos acima, o Seapac também atua no sentido de
mobilizar recursos de fontes diversas (principalmente de entidades ligadas à Igreja Católica, como a
Misereor e a Cáritas), com os quais viabiliza projetos destinados à geração de trabalho e renda e
melhoria da qualidade de vida de pequenas comunidades.
Criada com o apoio da Fundação Konrad Adenauer, a AACC tem um perfil assemelhado ao do
Seapac e também atua junto a pequenas comunidades rurais. Muito embora suas ações, atualmente,
estejam mais localizadas na Zona Oeste do Rio Grande do Norte, já marcou presença na Região do
Seridó, onde eventualmente ainda desenvolve algum tipo de atividade.
286
3.6.3.3 Organizações Empresariais
Este grupo abriga instituições da esfera da iniciativa privada, que desempenham funções
importantes no processo de desenvolvimento da região; descrevem-se, a seguir, as de atuação mais
destacada.
a. Cooperativas
Como tem sido uma constante no cooperativismo nordestino, também no Seridó as instituições
cooperativas enfrentam uma série de dificuldades, que envolvem a falta de conscientização dos
associados, a precariedade ou inadequação dos processos gerenciais e a falta de apoio das instituições
oficiais de crédito.
Instituição que atua em âmbito nacional (através de suas filiadas estaduais) o Sebrae tem como
objetivo central o apoio à atividade empresarial de pequeno porte, voltado para o fomento e difusão de
programas e projetos que visam a promoção e o fortalecimento das micro e pequenas empresas. Vem
desenvolvendo trabalho eficiente nos municípios que compõem a Região do Seridó (onde tem dois
escritórios – Currais Novos e Caicó), ali operando em parceria com várias instituições governamentais
e não-governamentais na execução de inúmeros projetos.
Para facilitar o acesso do empresário a informações técnicas, o Sistema Fiern oferece uma série
de produtos desenvolvidos não apenas no Rio Grande do Norte, mas também no Brasil e no mundo,
entre os quais podem ser destacados: Cadastro Industrial, Fitas de Vídeo para Treinamento, Pesquisa de
Fornecedores, Pesquisas sobre Processos de Fabricação, além de Projetos de Desenvolvimento
Econômico, a exemplo do Pólo Gás/Sal.
A Federação da Agricultura do Rio Grande do Norte, criada em 1968, é uma Entidade Sindical
de Grau Superior, sem fins lucrativos, com sede e foro na cidade de Natal e base territorial no Estado
do Rio Grande do Norte. É constituída pela categoria econômica ligada às atividades da agropecuária,
do extrativismo rural, da pesca e outras que lhe guardem similitude, inspirando-se na solidariedade
social, na livre iniciativa, no direito de propriedade, na economia de mercado e nos interesses do País.
As Câmaras de Dirigentes Lojistas são entidades de classe, sem fins lucrativos, que têm por
objetivos: orientar e representar os interesses dos associados junto às demais organizações da sociedade
civil e do governo; aproximar os associados e promover o intercâmbio de idéias e conhecimentos
relevantes para as práticas comerciais e o exercício da cidadania; promover a política profissional e
defender os interesses dos associados; esclarecer a opinião pública sobre as finalidades
288
socioeconômicas das atividades comerciais; cooperar com os poderes públicos e promover serviços de
natureza assistencial e realizar serviços de utilidade pública, tais como SPC, SPI, etc.
O Estado do Rio Grande do Norte possui uma Federação de Dirigentes Lojistas, localizada
em Natal, e 19 Câmaras de Dirigentes Lojistas a ela filiadas, situadas no interior do Estado; na
Região do Seridó há duas dessas instituições: uma em Caicó (com 250 associados) e outra em Currais
Novos (com 161 filiados).
A Ocern é o órgão de representação das cooperativas potiguares, integrando todos os ramos das
atividades cooperativistas, tendo sido criada em dezembro de 1963. É uma entidade civil sem fins
lucrativos, que assessora as cooperativas singulares tanto nas providências relativas à constituição e
legalização quanto na realização de estudos, promoção e divulgação, além de estimular o
fortalecimento e a integração daquelas entidades. Em todo o Estado, a Ocern congrega 95 cooperativas
singulares e três de segundo grau, totalizando 46.693 associados.
Tem sido também extremamente importante sua contribuição para o processo de consolidação e
aperfeiçoamento das atividades de organização comunitária. Outro aspecto que merece ser destacado é
a abrangência de sua articulação com outras instituições (governamentais e não-governamentais) e a
facilidade que encontram na prática desse inter-relacionamento. Apoiados por sua entidade central (a
Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado do Rio Grande do Norte–Fetarn), os sindicatos
desenvolvem inúmeros trabalhos em parceria com prefeituras, bancos oficiais, associações rurais e
urbanas, Emater e tantas outras instituições, no apoio à execução de variados programas e projetos. É
de ressaltar, ainda, a atuação extremamente importante que os sindicatos rurais vêm desenvolvendo no
sentido de apoiar a execução do Pronaf e do Programa de Emergência de Seca.
O projeto político da Fetarn segue a orientação defendida pela Confederação Nacional dos
Trabalhadores na Agricultura–Contag, em especial no que concerne ao Projeto Alternativo de
Desenvolvimento Rural Sustentável–PADRS, cujo objetivo fundamental é estabelecer um novo modelo
de desenvolvimento para o País com base na reforma agrária, no fortalecimento da agricultura familiar,
na interiorização do desenvolvimento e na implementação de políticas públicas que concedam
prioridade à inclusão social e ao resgate da cidadania.
Nos municípios que compõem a Região do Seridó há mais de 450 associações civis, a maioria
congregando famílias de pequenos produtores rurais, para as quais viabilizam recursos financeiros de
programas e projetos implementados por órgãos governamentais. Dentre aquelas associações foram
destacadas, para análise, as Associações Comunitárias e os Conselhos do Fumac.
a. Associações Comunitárias
Tais projetos, além disso, são marcados por processos deficientes de elaboração e análise, pela
carência de pessoal qualificado para planejar e implementar o desenvolvimento municipal participativo
e pelo despreparo técnico nos recursos humanos locais, com pouca (ou quase nenhuma) capacidade nos
aspectos gerenciais, tanto na fase de implementação quanto no que diz respeito ao seu funcionamento.
A propósito, cabe ressaltar que um dos principais problemas na implementação dos projetos
comunitários é a falta de serviços adequados de Assistência Técnica, para garantir a sua susten-
tabilidade. Isto porque nas instituições envolvidas não há suficiente capacidade operacional e financeira
para atender as múltiplas demandas das comunidades, embora existam profissionais articulados á
instituições que demonstram uma certa experiência e formação técnico-administrativa, mas cuja gestão,
de certa forma, é comprometida.
290
Deve ser destacada, no entanto, a existência de um conjunto de associações comunitárias, cujas
experiências inovadoras de formulação e implementação de investimentos comunitários associativos
estão contribuindo de forma efetiva para a geração de ocupação e renda e para a construção da
cidadania. Incluem-se neste caso, investimentos em olarias, beneficiamento de leite, queijarias, com
assistência técnica e gerencial aportada por organizações não governamentais ligadas à Igreja Católica
e Cooperativas de Serviços Técnicos com atuação na Região.
O Fundo Municipal de Apoio Comunitário–Fumac é uma das formas sob a qual são
viabilizados projetos destinados a melhorar a qualidade de vida das pequenas comunidades rurais, no
âmbito do Projeto de Combate à Pobreza Rural–PCPR, financiado pelo Banco Mundial. De acordo com
a sistemática adotada pelo PCPR (que, no Rio Grande do Norte, ainda conserva a denominação de
Projeto de Apoio ao Pequeno Produtor–PAPP), para serem acolhidos no Programa os projetos devem
ser aprovados por um Conselho Municipal, que se responsabiliza, igualmente, pela supervisão de sua
implantação e gerenciamento. Para atender a tal exigência, a unidade responsável pela condução do
PAPP apoia as comunidades rurais quanto às atividades de criação e funcionamento dos respectivos
Conselhos.
Na Região do Seridó há 18 desses Conselhos que, embora criados com a finalidade específica
de integrarem o sistema de funcionamento do PAPP, têm se mostrado um importante instrumento de
organização comunitária, em alguns casos desempenhando funções que vão além dos objetivos
contemplados em sua concepção original.
a. Poder judiciário
Braço jurídico do poder estatal, tem a finalidade de solucionar as lides ou pendências em suas
mais variadas esferas. É dividido em Comarcas e classificado de acordo com o número de habitantes da
sede do município ou do distrito. Na Região do Seridó há um total de 13 Comarcas, sendo duas de 3ª
Entrância (Caicó e Currais Novos), ambas com duas Varas e maior volume de processos, cinco de 2ª
Entrância (Acari, Jardim do Seridó, Jucurutu, Parelhas e Santana do Matos), com apenas uma Vara e
um volume menor de processos. As demais, enquadradas na categoria de 1ª Entrância, são as Comarcas
de Cruzeta, Florânia, Jardim de Piranhas, São João do Sabugi, São Tomé e Serra Negra do Norte, com
apenas uma Vara por Comarca. Em todas as Comarcas, há um Juiz titular para cada Vara.
b. Ministério Público
De acordo com a Lei Federal n.º 8.625/93 e a Lei Estadual complementar n.º 141/96, o Ministério
Público, por meio de seus Promotores Públicos, atua na Região do Seridó em todas as Comarcas e Varas
existentes. O Ministério Público, pela definição constitucional, não faz parte do poder judiciário, cabendo-
lhe a preservação da justiça e a fiscalização da correta aplicação da lei. Em sua lei orgânica, o Ministério
Público se incumbe da defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses individuais e
291
sociais. Dispõe de independência funcional, e tem competência para tratar dos mais variados interesses,
incluídos o direito ambiental e suas variáveis, a defesa do patrimônio histórico, e quaisquer outros em que
se faça necessária a intervenção do poder público.
O quadro institucional da Região do Seridó é integrado, ainda, por várias outras entidades, que,
embora não se enquadrem na classificação adotada no presente relatório, de certa forma desenvolvem
ações ou prestam algum tipo de serviço de interesse público. São Lojas Maçônicas, associações
desportivas e culturais, Clubes de Serviços, etc. Destacam-se, pela sua importância para a futura
implementação do Plano de Desenvolvimento Sustentável do Seridó, as especificadas a seguir.
a. Associações de Municípios
• Vinculadas à AMSO: Acari; Carnaúba dos Dantas; Currais Novos; Equador; Parelhas;
Jardim do Seridó; Ouro Branco; Santana do Seridó; Bodó; Cerro Corá; Florânia; Lagoa Nova; Santana
do Matos; São Vicente; e Tenente Laurentino Cruz; e
• Vinculadas à AMS: Caicó; Cruzeta; Ipueira; Jardim de Piranhas; São Fernando; São
João do Sabugi; São José do Seridó; Serra Negra do Norte; e Timbaúba dos Batistas
b. Diocese de Caicó
Com o decidido apoio da Diocese, põem em prática, com indiscutível sucesso, programas
voltados para objetivos, dentre outros, como os seguintes: combate ao trabalho do menor; apoio ao
menor carente; combate à desnutrição infantil; defesa dos direitos humanos; combate às drogas e à
prostituição infantil; capacitação de mão-de-obra. O trabalho desenvolvido pelas suas diversas pastorais
em muito tem contribuído para a melhoria da qualidade de vida da população carente da região.
292
b. Batalhão de Engenharia de Construção
O Exército Brasileiro mantém, em Caicó, uma unidade da Arma de Engenharia, que presta
inestimáveis serviços, em termos de construção e conservação de estradas, construção de barragens e
adutoras. O Batalhão também tem colaborado na administração dos Programas de Emergência de Seca.
TABELA 3.6.3.1
MATRIZ INSTITUCIONAL – ZONA HOMOGÊNEA DE CURRAIS NOVOS
GRÁFICO 3.6.3.1
MATRIZ INSTITUCIONAL-ZONA HOMOGÊNEA DE CURRAIS NOVOS
17%
1% G o v e r n a m e n ta i s
5% N ã o G o v e r n a m e n ta i s
E n ti d a d e s S i n d i c a i s
A s s o c ia ç õ e s C ivis
77%
TABELA 3.6.3.2
MATRIZ INSTITUCIONAL – ZONA HOMOGÊNEA DAS SERRAS CENTRAIS
293
GRÁFICO 3.6.3.2
MATRIZ INSTITUCIONAL – ZONA HOMOGÊNEA DAS SERRAS CENTRAIS
15%
1%
Governamentais
7% Não Governamentais
Entidades Sindicais
Associações Civis
77%
TABELA 3.6.3.3
MATRIZ INSTITUCIONAL – ZONA HOMOGÊNEA DE CAICÓ
GRÁFICO 3.6.3.3
MATRIZ INSTITUCIONAL – ZONA HOMOGÊNEA DE CAICÓ
16%
1% G overnamentais
8% Não Governamentais
Entidades Sindicais
Associações Civis
75%
294
TABELA 3.6.3.4
MATRIZ INSTITUCIONAL CONSOLIDADA DA REGIÃO DO SERIDÓ
GRÁFICO 3.6.3.4
MATRIZ INSTITUCIONAL CONSOLIDADA DA REGIÃO DO SERIDÓ
16%
1%
Governamentais
7% Não Governamentais
Entidades Sindicais
Associações Civis
76%
FONTE DO DADOS BÁSICOS: Pesquisa Direta, novembro 1999. Coordenadoria Técnica do PAPP, Fetarn.
Preliminarmente, convém esclarecer que o Sistema Municipal de Governo deve ser considerado
sob um conceito mais abrangente do que aquele derivado do binômio representado por
Prefeitura/Câmara de Vereadores. Embora seja este o modelo tradicional, a evolução do exercício da
cidadania já aponta, hoje, no sentido de se fazerem presentes, junto à administração pública, algumas
formas de participação da sociedade, principalmente ao nível dos municípios. Esse processo de
participação comunitária na gestão municipal, embora ainda incipiente, deverá resultar na ampliação do
Sistema, à medida que se consolidem e se institucionalizem os canais através dos quais tal participação
é exercida. Assim, o Sistema Municipal de Governo é visto, aqui, como sendo o conjunto de
instituições políticas e sociais que interagem nos processos de gestão das ações públicas municipais,
em todas as suas fases.
A administração municipal ainda é marcada, com maior ou menor intensidade, por uma das
características históricas da administração pública brasileira, entre as quais se sobressaem, de um lado,
a concentração do poder no âmbito da Prefeitura (e, nesta, nas figuras do Prefeito e de seus auxiliares
295
mais imediatos) e, de outro, a ausência de mecanismos descentralizados de planejamento, participação
e ação governamental compartilhada.
Como instrumento do poder legislativo local, a maioria das Câmaras Municipais se caracteriza
por uma atuação extremamente deficiente, com pouca presença nas decisões sobre as questões de
interesse público, quer operando a reboque do Executivo, quer exercendo uma oposição plena e
radical, a depender das relações políticas entre os Vereadores e o Prefeito. Como regra geral observa-
se, também, um relativo despreparo dos Vereadores para o exercício de suas funções, principalmente
nas comunidades de pequeno porte.
Como característica comum aos municípios da região (principalmente aqueles de menor porte),
há que destacar a dificuldade encontrada pelas administrações na constituição de suas equipes de
trabalho. Como não há muitas pessoas disponíveis para o exercício das diversas funções gerenciais, e
como, em decorrência da extrema debilidade econômica da quase totalidade dos municípios, os salários
não estimulam possíveis interessados, são poucas as Prefeituras que dispõem de um quadro de pessoal
qualitativamente satisfatório.
Apesar de, como foi anteriormente referido, o Sistema Municipal de Governo, na Região do
Seridó, refletir a situação geral encontrada na grande maioria dos municípios nordestinos, incorporando
os vícios do velho sistema, já é possível vislumbrar alguma tendência no sentido de se ampliar e de se
acelerar um processo de mudança nas práticas e métodos da administração municipal, como, por
exemplo, a adoção de um maior controle sobre os orçamentos e sobre os gastos públicos, seriedade e
transparência nas compras e a definição prévia de prioridades para a ação governamental.
A idade média dos prefeitos da Região do Seridó é relativamente elevada, com 53,6% situando-se
nas faixas etárias entre 50 e 70 anos (tabela 3.6.4.1).
Este fato fornece um primeiro indicativo do estilo predominante nas administrações municipais,
caracterizado, neste caso, por um traço cultural onde a hierarquia guarda uma estreita relação com a
faixa etária, portanto compatível com as características da Região, onde o chefe, seja ele de família ou
de estabelecimento industrial, comercial e de serviços, aparece como o personagem fundamental na
tomada de decisões.
TABELA 3.6.4.1
PREFEITOS SEGUNDO A FAIXA ETÁRIA – 1999
GRÁFICO 3.6.4.1
P R E F E IT O S S E G U N D O F A IX A
E T Á R IA
2 5 %
4 0 -5 0
4 6 %
5 0 -6 0
6 0 -7 0
2 9 %
A composição das administrações municipais, segundo o gênero, constitui outro traço cultural
importante na região. A maioria dos Prefeitos (92,9%) é do sexo masculino, o que revela não só a pequena
participação da mulher na política regional, mas, sobretudo, a permanência de um tipo de divisão do
trabalho historicamente arraigado no Nordeste brasileiro e no Seridó, em particular, no qual os homens se
ocupam predominantemente da gestão das empresas privadas e das organizações públicas. O índice
correspondente à participação das mulheres, observado na tabela 3.6.4.2, é de apenas 7,1%, quando se
considera o universo dos Prefeitos da Região do Seridó, onde há apenas 2 mulheres e 26 homens ocupando
as administrações municipais.
297
Não é desprezível, no entanto, o índice encontrado nas duas situações, o qual para os padrões
culturais do Seridó do Rio Grande do Norte, já é uma mudança significativa.
TABELA 3.6.4.2
COMPOSIÇÃO DOS PREFEITOS SEGUNDO O GÊNERO
ESPECIFICAÇÃO NÚMERO %
Masculino 26 92,9
Feminino 02 7,1
TOTAL 28 100
FONTE: Pesquisa direta, dezembro, 1999.
GRÁFICO 3.6.4.2
C O M P O S IÇ Ã O D O S P R E F E IT O S
SEGUNDO O GÊNERO
7%
M a s c u lin o
F e m in in o
93%
c. Filiação Partidária
As três mais importantes forças políticas da região continuam situadas à direita, na linha
ideológica partidária, tal qual aconteceu desde os primórdios da organização política no Estado, onde a
UDN e o PSD, e, posteriormente (no período militar), a ARENA e o MDB, dominavam a política
estadual. Com a reorganização partidária ocorrida na redemocratização, mudaram-se as siglas, porém a
essência ideológica continua a mesma, com 85,7% dos Prefeitos filiados ao PPB, PFL e PMDB, com,
respectivamente, 28,6%; 14,3%; e, 42,8% (tabela 3.6.4.3).
TABELA 3.6.4.3
FILIAÇÃO PARTIDÁRIA DOS PREFEITOS
PARTIDO NÚMERO DE PREFEITOS %
PPB 08 28,6
PFL 04 14,3
PMDB 12 42,8
OUTROS 04 14,3
TOTAL 28 100
FONTE: Pesquisa direta, dezembro, 1999.
298
GRÁFICO 3.6.4.3
F IL IA Ç Ã O P A R T ID Á R IA D O S
P R E F E IT O S
1 4 % 2 9 % P P B
P F L
P M D B
4 3 % 1 4 %
O U T R O S
Com efeito, apenas 32,1% dos Prefeitos têm a agropecuária como atividade principal,
distribuindo-se os restantes 67,9% entre agrônomos, médicos e outras profissões (tabela 3.6.4.4).
Ainda que vários dos Prefeitos sejam também agropecuaristas (como foi possível observar durante
a realização da pesquisa de campo), o perfil atual é de caráter predominantemente urbano, o que pode
determinar implicações quanto à visão de mundo desses administradores, notadamente quanto às ênfases
diferenciadas, de natureza urbano-industrial e não exclusivamente agropecuária.
TABELA 3.6.4.4
PREFEITOS SEGUNDO A PROFISSÃO
ESPECIFICAÇÃO NÚMERO %
Agrônomo 04 14,3
Médico 06 21,5
Agropecuarista 09 32,1
Outros 09 32,1
TOTAL 28 100
FONTE: Pesquisa direta, dezembro, 1999.
299
GRÁFICO 3.6.4.4
P R E F E IT O S S E G U N D O A
P R O F IS S Ã O
14% A g rô n o m o
32%
M é d ic o
21% A g ro p e c u a ris t a
33% O u tro s
O número de Vereadores nas Câmaras Municipais variou entre 9 e 13, com uma média de 9,6
Vereadores por Câmara Municipal, na região. Chama a atenção, neste caso, o baixo desempenho das
Câmaras Municipais, no ano de 1999, com apenas 1,3 projetos por Vereador (tabela 3.6.4.5).
TABELA 3.6.4.5
ESTRUTURA E DINÂMICA DA CÂMARA DE VEREADORES
NÚMERO MÉDIO DE VEREADORES POR NÚMERO MÉDIO DE PROJETOS NÚMERO MÉDIO DE PROJETOS POR VEREADOR
MUNICÍPIO EM 1999
9,6 12,8 1,3
A composição das Câmaras Municipais, segundo o gênero, segue o padrão encontrado para os
prefeitos, pertencendo a maioria dos vereadores (81%) ao sexo masculino. A participação das mulheres
é, pois, de apenas 19%. (Tabela 3.6.4.6.) Assim mesmo, a presença das mulheres nas Câmaras de
Vereadores é superior à encontrada nas Prefeituras, pois em todo o Seridó havia apenas duas prefeitas
para 26 prefeitos, em 1999.
300
TABELA 3.6.4.6
COMPOSIÇÃO DOS VEREADORES SEGUNDO O GÊNERO
ESPECIFICAÇÃO NÚMERO %
Masculino 222 81,0
Feminino 52 19,0
TOTAL 274 100,0
c. Filiação Partidária
TABELA 3.6.4.7
FILIAÇÃO PARTIDÁRIA DOS VEREADORES
301
TABELA 3.6.4.8
VEREADORES SEGUNDO A PROFISSÃO
ESPECIFICAÇÃO NÚMERO %
Funcionário Público 83 30,3
Agropecuarista 72 26,3
Comerciante 35 12,8
Político Profissional 18 6,5
Outros 66 24,1
TOTAL 274 100,0
TABELA 3.6.4.9
PRINCIPAIS PROBLEMAS SEGUNDO OS ENTREVISTADOS
A análise da estrutura organizacional das Prefeituras pesquisadas revelou que a maioria dos
municípios possui um número suficiente de secretarias para cobrir as responsabilidades fundamentais
de um sistema municipal de administração pública.
302
TABELA 3.6.4.10
ESTRUTURA ORGANIZACIONAL DAS PREFEITURAS
Apesar dos dados terem dupla contagem, pois um mesmo município pode usar diferentes formas
de prestação para um mesmo tipo de serviço, verifica-se que as modalidades terceirizada e em parceria
(que poderiam ser considerados como experiências inovadoras de descentralização no âmbito municipal),
ocorrem nas áreas de limpeza pública, educação e agricultura. Dado o potencial dessas experiências
inovadoras para o aumento da eficiência da administração pública, elas serão reavaliadas na perspectiva de
implantação em outros municípios da região.
TABELA 3.6.4.11
FORMA DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS
303
3.6.4.6 A Atuação do Sistema
Embora não se possa criticar essa postura por parte dos administradores (pois, afinal de contas,
aquelas são as áreas críticas em todos os municípios), não deixa de causar certa estranheza o fato de as
ações públicas praticamente se limitarem à prestação daqueles serviços. Enquanto isso, também em
todos os municípios, constatou-se uma certa dificuldade, por parte das Prefeituras, quanto ao
planejamento e execução de ações relacionadas ao desenvolvimento da economia municipal. Malgrado
a existência, na estrutura organizacional de várias delas, de unidades operacionais voltadas para o apoio
às atividades econômicas (como Secretarias de Agricultura e Indústria e Comércio, por exemplo) as
administrações municipais não contam com políticas definidas com relação às atividades produtivas,
capazes de contribuir para o fortalecimento de suas bases econômicas. Além disso, à inexistência de
políticas soma-se a fragilidade das próprias unidades operacionais existentes, marcadas pela
insuficiência quantitativa e qualitativa das equipes técnicas que as compõem.
Esses fatos, aliados à evidência de que, de uma maneira geral, os instrumentos de execução das
políticas econômicas (crédito, assistência técnica, incentivos fiscais, etc.) não estão ao alcance das
administrações municipais – uma vez que são manejados pelas outras esferas do poder público –
determinam a omissão constatada.
Nas entrevistas realizadas para os trabalhos de diagnóstico, as constatações acima foram objeto
de preocupação por parte dos próprios dirigentes municipais, que reconhecem a impossibilidade de
demarrar e de consolidar um processo de desenvolvimento municipal sustentável, sem o delineamento
de estratégias e sem a execução de ações concretas voltadas para a diversificação e para o
fortalecimento da economia dos municípios. Isso é tanto mais crucial, quando se considera o fato de
que todos os municípios do Seridó apresentam elevados Graus de Indigência, quadro que só poderá
ser alterado com a adoção de políticas capazes de viabilizar, no âmbito municipal, a diversificação e a
dinamização de atividades econômicas geradoras de emprego e de renda.
Não se pode esquecer, portanto, que a melhoria do Sistema guarda uma relação com a base
econômica do município. Sem alterações positivas nessa base serão infrutíferos todos os esforços que
vierem a ser desenvolvidos no sentido de aprimorar os processos decisórios e organizacionais e a
capacidade técnica, financeira e gerencial dos municípios, assim como suas possibilidades de planejar e
de gerir as ações públicas.
As decisões de investimentos das esferas federais e estaduais não passam por objetivos e
estratégias previamente definidas para os municípios, em conformidade com as vocações e
necessidades para promover o desenvolvimento sustentável. Os investimentos são pontuais, ou seja,
voltados para atender a necessidades específicas (como melhoria de uma estrada, eletrificação de um
distrito, construção de açudes, etc.) ou para projetos menores e isolados, muitas vezes obtidos com a
intervenção de políticos locais, em atendimento à solicitação de pequenas comunidades.
Além disso, as decisões não levam em conta as grandes limitações para promover o
desenvolvimento sustentável em municípios pequenos e pobres como os da Região do Seridó, quando
considerados isoladamente. Ou seja, não há uma visão de desenvolvimento regional, compreendendo
um conjunto de municípios que configurem uma região com as mesmas potencialidades e
características desenvolvimentistas.
Embora se perceba algum avanço nas áreas de saúde e educação, ainda se mantém a falta de
objetividade e de integração. Mesmo nestes casos a falta de visão regional se faz sentir, impedindo a
otimização de alguns investimentos que poderia ser obtida, por exemplo, na construção de hospitais e
escolas técnicas capazes de atender a um conjunto de municípios.
Mas é nos aspectos do desenvolvimento socioeconômico, nas áreas industrial e agrícola, onde
as deficiências provenientes da desarticulação entre as esferas de governo se apresentam com maior
gravidade. Em conseqüência, as instâncias municipais (Conselhos, Associações, etc.) atuam, quase
sempre, de forma isolada e em função de objetivos pontuais e específicos (construir uma casa de
farinha, promover a criação de alguns animais, instalar um posto de saúde num distrito, etc.). Essas
ações isoladas constituem campo fértil para os políticos clientelistas, que formam seu eleitorado em
troca de pequenas realizações. Como contrapartida, essa prática nutre o comportamento subserviente da
população, baseado na política dos favores prestados por esse tipo de político.
305
A desarticulação provém, ainda, de outras deficiências e características, próprias das instâncias
municipais de gestão, que não têm suas funções claramente definidas. As associações comunitárias são
criadas, de maneira geral, em função de interesse específico, quase sempre para obtenção de recursos
para pequenos investimentos. Dessa forma, perdem de vista seu papel principal, que seria o de
articular-se com outras instâncias, para o exercício da gestão participativa e da cidadania, com
objetivos mais amplos de elevar a qualidade de vida da população local.
Assim, as transformações têm se dado mais por forças de cima para baixo do que por
exigências da população, de baixo para cima. Mesmo em municípios onde as lideranças políticas
estabelecem novos valores e princípios administrativos (transparência, participação, prioridades para os
interesses sociais, etc.) ainda é lento o processo de mudança cultural, entre a população e a grande
maioria dos funcionários da administração municipal.
Dessa forma, a maior parte dos municípios não dispõe de planos condizentes com suas
necessidades de desenvolvimento sustentável, nem de sistemática de planejamento, acompanhamento,
avaliação, controle e replanejamento das ações exercidas pelas instâncias que interferem em sua
evolução, em particular a Prefeitura, que deveria ser o carro-chefe desse processo.
Além disso, a estrutura organizacional das Prefeituras é, em geral, muito deficiente. Em alguns
casos, algumas funções básicas não existem, como, por exemplo, as voltadas para o desenvolvimento
econômico das áreas agrícola, industrial e comercial. O quadro de pessoal mostra-se extremamente
carente de técnicos e administradores capacitados ao mesmo tempo em que, em alguns casos, o excesso
de pessoal sobrecarrega a folha de pagamento, reduzindo a capacidade de investimentos.
Os processos de gestão são também, quase sempre, primários. A centralização é a tônica das
decisões e o trabalho em equipe é pouco praticado, caracterizando um estilo burocrático, segmentado e
desintegrado de administrar. Não há política de pessoal, plano de carreira e de qualificação dos
integrantes da administração municipal.
As leis orgânicas vigentes nos municípios seridoenses não divergem muito entre si, uma vez
que foram elaboradas a partir de um modelo padrão, no qual foram feitos os ajustes julgados
pertinentes em cada caso. Assim, no que se relaciona às atribuições e competências das Câmaras de
Vereadores, aquelas leis, de uma maneira geral, estabelecem que cabe à Câmara Municipal legislar
sobre assuntos de interesse local e fiscalizar, mediante controle externo, a administração direta ou
indireta e as empresas de que participe o município, como detentor da maioria das ações com direito a
voto. Além disso, em defesa do bem comum, a Câmara tem o direito de se pronunciar sobre qualquer
assunto de interesse público.
Essas atribuições de caráter geral determinam a competência da Câmara Municipal para tratar,
entre outros, dos seguintes assuntos:
307
ii. Matéria Orçamentária: plano plurianual, diretrizes orçamentarias, orçamento anual,
operações de crédito, dívida pública;
Como se pode observar a partir desse elenco de atribuições, são de considerável amplitude as
funções a serem desempenhadas pela Câmara Municipal. Mas a questão fundamental não reside na
abrangência das funções do poder legislativo, pois, como foi referido, ela decorre de disposições
constitucionais e da própria lei orgânica municipal. O problema a ser considerado diz respeito ao
exercício daquelas funções. E é exatamente neste ponto que se constatou o exercício de uma prática
pouco recomendável: os vereadores funcionam mais como intermediários de pleitos pessoais de seus
eleitores, junto ao poder executivo, do que como legisladores e fiscalizadores dos atos da administração
municipal. Nos casos em que os administradores repudiam tais práticas, por vezes os vereadores
bloqueiam de todas as formas a atuação do executivo, dificultando o desempenho de suas funções.
Claro que há as tradicionais exceções, que, também tradicionalmente, apenas confirmam a regra
geral; e esta significa um Legislativo quase sempre a reboque do Executivo (ou radicalmente contra
ele), uma Câmara Municipal fragilizada em decorrência de sua própria maneira de atuar.
É neste ponto – deficiência dos instrumentos de participação popular – que reside, talvez, a
maior fragilidade do sistema de governo municipal. A superação dessa deficiência é condição sine qua
308
non para o desenvolvimento sustentável no interior do Estado. Sem isso, quaisquer avanços, mesmo os
mais bem intencionados, serão efêmeros.
• Deficiência das Equipes Técnicas. Uma das grandes dificuldades enfrentadas pelas
administrações municipais diz respeito à formação de equipes técnicas para conduzirem as diversas
unidades operacionais através das quais são prestados os serviços à população. Sempre a braços com
problemas financeiros, em virtude das limitações de seus orçamentos, as Prefeituras não têm condições
de oferecer salários compatíveis com o perfil dos profissionais de que carecem e, em conseqüência, são
obrigados a trabalhar com equipes técnicas mínimas e qualitativamente deficientes.
A outra fonte de receita dos municípios é a participação no ICMS (Imposto Sobre Circulação de
Mercadorias e Serviços), arrecadado pelo Estado. Muitos municípios não cobram IPTU, por
considerarem que o valor a ser arrecadado não compensa os desgastes políticos que sofreriam com a
reação da população e os custos administrativos que seriam exigidos. Outros impostos a cargo das
administrações municipais, tais como Imposto Sobre Serviços (ISS) e venda de propriedades (ITBI), só
chegam a ser significativos para os casos excepcionais, isto é, para os municípios de maior porte, como
Currais Novos e Caicó.
Para compensar as deficiências das receitas oriundas das transferências e de recursos próprios,
os municípios recorrem às parcerias e colaboração junto a organismos de governo das esferas federal e
estadual, às organizações não-governamentais e agências internacionais.
309
que o Seridó dele mais necessitava. A política de descentralização de alguns serviços, principalmente
na área social, também tem contribuído para o quase desamparo que ocorre na região, no que diz
respeito à presença do Estado. É claro que o processo de municipalização de serviços como educação e
saúde, por exemplo, é medida de extrema importância não só para a sua melhoria como, também, para
a redução de seus custos e para o próprio fortalecimento do Sistema Municipal de Governo. Não se
pode esquecer, no entanto, que é indispensável assegurar recursos financeiros e técnicos que
viabilizem a concretização de tais objetivos.
A mobilização das forças sociais no sentido de participarem mais diretamente junto às esferas
do poder público (fazendo reivindicações ou acompanhando o seu desempenho) começa a se
manifestar de forma mais objetiva, não só através de mecanismos de controle social (como tais
considerados os colegiados que acompanham o desempenho da gestão pública), mas, também, de
outros, destinados a se envolver no próprio processo de gestão, como coadjuvantes da administração
pública.
310
Hoje, a participação da sociedade na gestão da coisa pública já começa a avultar de importância,
determinando um novo desenho para o sistema de governo (com a incorporação de conselhos ou
comitês formados, a partir de organizações comunitárias e classistas, de clubes de serviços, instituições
religiosas. etc.) e contribuindo para a adoção de novos métodos e processos de gestão, notadamente no
que se relaciona à transparência da administração pública.
É bem verdade que esse processo de mudança ainda não é forte o bastante para viabilizar o
exercício pleno da cidadania. E, por via de conseqüência, consolidar a prática democrática em toda a
sua plenitude, aperfeiçoando o desempenho da administração pública, principalmente porque os
instrumentos criados ainda carecem de orientação adequada sobre suas competências e sobre o
universo de sua atuação. A consolidação e o aperfeiçoamento dessa prática, no entanto, serão
decorrência natural de seu próprio exercício.
A análise da realidade interna da região seridoense precisa, agora, ser complementada com uma
breve análise do que ocorre no ambiente externo à região (ambiente mundial, nacional e do Estado do Rio
Grande do Norte), para que se possa especular sobre prováveis impactos positivos e negativos que as
principais tendências externas possam aportar à vida regional. Busca-se, assim, identificar as possíveis
ameaças e oportunidades que possam advir para o Seridó.
De maneira muito sucinta, podem ser destacados alguns movimentos e tendências com capacidade
de produzir impactos sobre a vida seridoense, tanto de forma negativa, aportando ameaças a enfrentar,
como de forma positiva, criando oportunidades a aproveitar. Dentre os mais relevantes se destacam os
311
seguintes: o avanço da globalização; a mudança de paradigma tecnológico; a reestruturação produtiva e
financeira; as mudanças no padrão de organização do comércio internacional e a política de abertura
conduzida pelo governo do Brasil; as mudanças no mercado de trabalho; a opção brasileira pela
“integração competitiva”; e a crise e reforma do Estado.
A reestruturação produtiva e financeira, que constitui uma tendência mundial, também avança
no Brasil. Em nosso caso, de forma tardia mas rápida, tem provocado ruptura e desmonte de atividades,
empresas e organizações produtivas. A crise do complexo algodoeiro e da atividade mineradora
seridoense, por exemplo, tem determinantes internos, mas têm influência desses novos patamares
mundiais. E as possibilidades de sua recuperação não pode deixar de considerar esse processo
reestruturador que ocorre mundialmente. A não ser atividades de base local, que se destinam a mercados
muito locais, as atividades a serem patrocinadas na região precisam ser promovidas considerando os novos
padrões definidos por esse intenso movimento de reestruturação, que ocorre no mundo e no Brasil.
A opção brasileira pela “integração competitiva”, que termina por valorizar espaços e atividades
já mais competitivas, para estimular sua maior inserção na economia mundial e que contribui para se
conferir menos prioridade a regiões mais problemáticas como o Seridó, também constitui um movimento
importante nos domínios das opções e ameaças que se está examinando.
A crise e Reforma do Estado, por fim, representa um processo mundial, cujas particularidades
vêm sendo importantes para o ambiente brasileiro. As ocorrências nessa área passaram a ser melhor
conhecidas e a pesarem nas decisões de investimento em décadas mais recentes.
Apresenta-se, a seguir, um esforço de síntese sobre prováveis impactos sobre o Seridó, tanto
positivos como negativos, advindos das relações entre essa sub-região do Rio Grande do Norte e seu
ambiente externo. Num primeiro momento são apresentados os aspectos que podem ser classificados
como ameaças ao desenvolvimento sustentável do Seridó. Descortinam-se possíveis obstáculos e
empecilhos corporificados em aspectos capazes de produzirem repercussões negativas significativas
sobre o desenvolvimento da economia, de contribuírem para a deterioração das condições de vida ou,
ainda, impactos que possam ampliar a degradação do ambiente natural. Num segundo momento, são
apresentadas as oportunidades que o ambiente externo pode trazer. São identificados aspectos positivos
para o desenvolvimento sustentável do Seridó, em suas diferentes dimensões, permitindo-lhe evoluir na
direção de uma sociedade com grau maior de sustentabilidade nas relações sociais, nas condições de
vida e nas relações das pessoas e empresas com o meio ambiente.
3.7.1 Ameaças
Entre as ameaças do ambiente externo, cabe referência aos seguintes pontos, considerados da
maior relevância:
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• a crescente tendência de intensa competição no mercado interno e, em decorrência, as
exigências crescentes quanto ao custo e a qualidade dos produtos. Essa circunstância atua no sentido de
excluir a produção local das sub-regiões mais atrasadas, econômica e tecnologicamente, por adotarem
processos de produção inadequados, do ponto de vista das novas exigências do mercado;
3.7.2 Oportunidades
No contexto das oportunidades que o ambiente externo oferece, e que devem ser levadas em
consideração na elaboração de uma estratégia de desenvolvimento sustentável para o Seridó, cabe fazer
referências às seguintes:
• a prioridade que tem sido dada, nas administrações recentes, aos programas voltados
para o aumento da oferta de água, em particular o abastecimento de água dos centros urbanos;
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• redefinição das estratégias de grandes empresas no sentido de descentralização,
terceirização e interiorização de algumas atividades, que poderá beneficiar empresas da região,
oferecendo oportunidades locais de emprego, sobretudo se a descentralização e interiorização
ocorrerem em contexto de relações formais e institucionais de trabalho. O Seridó, embora ainda de
forma incipiente, já se beneficia dessas estratégias, como comprovam as tendências recentes da
produção de chuteiras e da castanha-de-caju;
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