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O Amigo da Floresta

14 de agosto de 2022
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“Codrut, de 10 anos, é uma criança abalada pela morte
de sua amável avó. Em meio a tristeza, encontra abrigado
através de um amigo que conhecerá na floresta, uma
árvore falante, a qual batizou de “Senhor Árvore”. Junto a
esse amigo, ele tentara se reerguer de todo o seu
sofrimento, e encontrar a sua verdadeira felicidade”

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Capítulos –

O Amigo – 4 a 11
A Bolinha da Felicidade – 12 a 23
A criança – 24 a 33
A floresta – 34 a 40
A felicidade – 41 a 50

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O Amigo

Codrut observa tristemente o céu nublado. A fraca luz do sol que perenemente
penetra através das nuvens acinzentadas, do vidro fosco pela sujeira e acoberta o
rosto do garoto “Parece que vai chover hoje... A vovó sempre fazia bolinho da
chuva para mim... Nem consigo lembrar mais do gosto...”. Ele começa a lacrimejar,
seus olhos vermelhos se demonstram entristecidos, nem ao menos se
incomodando com a luz solar que os acertam. Ele se vira em direção a parede e
cobre sua cabeça com sua coberta peluda, com evidente sinais de desgaste e
manchas de comidas.
O chão se forra com migalhas de salgados e doces pela metade, e um odor
empoeirado e de comida velha assola o cômodo.
A porta, que se encontra no lado oposto do quarto, lentamente começa a se abrir,
emitindo um rangido incomodante, donde uma voz calma e doce começa a falar :
— Filho, está tudo bem? — Uma mulher, na casa dos 30 anos, mas com aparência
jovem, apresentado um olhar triste e um sorriso desconfortável.
— Estou sim – Respondeu de forma abrupta e indiferente.
— Já fez muito tempo que você está preso nesse quarto! Você vai precisar sair
uma hora ou outra. Tem sua escola e os amigos também.
Codrut vira sua cabeça em direção a escrivaninha, que se acomodada ao lado de
sua cama. Sobre ela, vários livros escolares, algumas folhas de papel com escritas
inacabadas, um lápis e uma borracha :
— Depois eu vejo isso — E novamente se vira contra parede.
Sem dizer uma única palavra, Katherine fechou lentamente a porta do quarto, e se
dirigiu para longe. As paredes tem uma colocação azul-bebê limpas de forma
impecável, com um assoalho bem cuidado e preservado. Ela se dirigiu até o fim do
corredor de algumas portas, e desceu as escadas para o primeiro andar. Se
encaminha até a cozinha, onde seu marido, Boris, tomava um café feito a alguns
minutos, lendo o jornal da manhã, apoiado sobre a mesa escura :
— E então? — Perguntou enquanto se atenta ao jornal.
— Ele nem olhou para minha cara, continua muito abatido. — Respondeu de forma
amarga.
— Não podemos deixar ele isolado desse jeito, se não fizermos nada vai continuar
assim. Eu sei que você não quer força-lo, nem nada, mas ele já esta com mais de
um mês seguido de faltas na escola. Nesse ritmo, vai acabar reprovando.

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— Já tentamos conversar com ele, trouxemos os primos e amigos, uma psicóloga,
mas nada faz ele sair daquela maldita cama! — Terminou com um tom de
exaltação.
— Opa, não precisa falar assim também.
— Desculpa... É só que... Eu não sei mais o que fazer. Eu só queria dar um tempo
para ele, mas não está funcionando — Ela puxa uma cadeira, e se sentou ao lado
de Boris.
— Tudo do bem então, vou ter que fazer do jeito difícil — Deu um último gole em
sua bebida, e rapidamente se levantou.
— O que você vai fazer? – Katherine questionou, levantando junto a ele.
— O garoto não pode ficar trancado o dia todo, vou fazer ele sair de um jeito ou de
outro! – Disse determinado, enquanto alongava seus braços.
— Espera ai! Você não pode forçar ele.
— “Não posso”? Eu vou!
Ele começou a fazer seu caminho em direção ao quarto, enquanto Katherine o
seguia, com um olhar preocupada. Ao chegar, ele abruptamente abre a porta,
quase a batendo contra a parede, aperta o interruptor ao seu lado, e com uma voz
animadora, diz :
— Bom dia bela adormecida, hora de levantar!
— Apaga essa luz! — pediu o garoto enquanto esfregava os olhos, tentando
entender o que acabará de ocorrer.
— Nada disso, daqui a pouco eu saio para o trabalho, antes disso, você vai tomar
seu café e sair um pouco!
— Deixa eu, por favor — Se deitou novamente, cobrindo seu rosto com a coberta.
— Ehhhhhh... Desculpa te decepcionar, mas sem chances!
Boris foi ao lado da cama, puxou com tudo a cobertura da criança, que gemeu de
susto. Rapidamente a pegou no colo e o colocou em pé :
— O mãe! — Disse, pedindo ajuda. Mas ela apenas acenou com os ombros,
demonstrando que podia fazer nada para impedir, entretanto, tendo um leve sorriso
no rosto, que tentava esconder — Tudo bem então — Concordou irritado, onde
andou até seu guarda roupa, e começou a escolher roupas quentes.
— Viu, nada que insistir não resolva — Sussurrou Boris no ouvido de sua esposa.
— Você que sabe, sabichão. Mas eu ainda não concordo com isso. Bem, vou ver
como estão as crianças — E se retirou para o quarto ao lado.

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Codrut se vestiu com uma calça escura, que aparenta estar a algumas semanas
sem uso, um casaco grande e uma touca, acompanhados de botas e luvas pretas.
Ele desceu até a cozinha, onde sua mãe e seus dois irmãos mais novos estavam.
As crianças, um casal de gêmeos, com seus 5 anos, tomavam leite quente e
comiam um pequeno sanduíche :
— Bom dia!!! – Disse a menina, muito animada.
— Bom dia — Respondeu Codrut, com uma voz cansada e sonolenta, onde se
sentou em uma das cadeiras.
Katherine então coloca um copo de café, e duas fatias de pão tostados em sua
frente :
— Come tudo, viu.
— Pode deixar.
Boris então entra rapidamente na cozinha, guardando suas chaves e carteira no
bolso :
— Já vou indo para o trabalho — Ele beija a bochecha de Katherine, e a testa de
cada um dos gêmeos. Em seguida, esfregando os cabelos castanhos de Codrut, diz
— Se comporta, viu — Se retirando em seguida.
“Eu pensei que ele só fosse sair para o trabalho quando eu saísse para passear”
Indagou o garoto consigo mesmo. Ele então termina sua refeição, onde se levanta
a mesa, e com indiferença, se retira para a porta dos fundos :
— Eu estou saindo.
— Tchau meu amor, toma cuidado, e não vai muito longe!
É possível ouvir a porta sendo batida, onde Katherine se entristece :
— Mamãe, depois podemos passear também? — Perguntou o menino
— Claro Filho.
Nos fundos da casa, se encontra uma floresta. O vento sopra calmamente através
das folhas ovais e alaranjadas das árvores. A cada passo, inúmeras folhas secas e
galhos são pisoteados por Codrut, ondo o som forte e agudo ecoam em volta, mas
não o incomodam, que não se da o trabalho de observar o chão. Adentrando na
mata, é possível observar a grande formação de árvores altas, finas e
esbranquiçadas. Ele apenas caminha pela trilha que ali existia, agora com a cabeça
baixa. Após alguns metros de caminhada incessante, acabou chegando em uma
clareira. Em seu centro, havia uma grande árvore, ela era mais baixa do que as
outras, bem espessa, com grande raízes rastejando aleatoriamente através do solo.
Sua cor e de suas folhas também parecia bem mais vivas que seu entorno.

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Curioso com tal descoberta, o garoto se aproxima, pulando sobre as raízes, e
começou a passar sua mão sobre seu tronco. Era rígido, sua casca demostrava
pequenos sinais de desgastaram, quase como uma forte e jovem árvore “Que
estranho, eu não lembro dessa árvore aqui”. A criança bate três vezes contra a
casca da árvore, era maciça como uma bola de ferro. Ao tentar dar uma volta em
torno da misteriosa planta, Codrut acabou por esbarrar em uma das raízes, onde se
desequilibrou e acabou caindo sobre o solo macio de folhas e terra. Ele não havia
se machucado, mas acabou ficando muito irritado com a situação:
— Mais que droga! — Ele se levantou e começou a sacudir e limpar a terra em seu
casaco — Por que aquele idiota teve que me fazer vir para cá, eu nem gosto dessa
floresta estúpida — Ele se sentou sobre a raiz na qual havia tropeçado — Meus
pais são uns idiotas mesmos — Afirmou, enquanto franzia sua testa, e cruzava
seus braços.
— Algum problema? — Perguntou, com uma voz calma e reconfortantes.

— Não é nada, é só que... — Codrut abruptamente se joga contra o chão, com o


impulso do susto que sofrera naquele momento. Ele rapidamente se levantou e
perguntou — Quem... Quem está ai? — E lentamente começou a dar passos para
trás.

— Ora, ora. Não é muito comum as pessoas esquecerem de seus


amigos queridos, não é?
— Amigo? EU NÃO SEI QUE VOCÊ É? — Gritou, enquanto pegava o maior galho
que poderá do chão, dando cada vez passos mais largos.

— Você não está sendo muito educado, garotinho. Mas tudo bem,
todos merecem uma segunda chance, não é mesmo? — A voz firme e
serena ecoava por toda clareira, era impossível dizer exatamente de onde viera —
Já que não me considera seu amigo, então precisamos nós
apresentar. Estranhos não podem ser amigos, podem? — Codrut
apertou o galho com mais força, tentando manter seu olhar fixo para todas as
direção possíveis — Bem, eu posso começar... Bom dia, meu nome é
вшщуьфдмзб, sou apenas uma simples árvore, eu gosto de conversar
com tudo e todos, minha paixão é conhecer e ajudar outras pessoas!
Bem, agora é sua vez garoto.
Com uma voz trêmula e olhas assustado, Codrut começou :
— Ár... Árvore? Você por acaso é mágica ou algo assim?

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— Mas não é óbvio , amigo?
— Bem... Eu so... Eu sou Codrut... Te-Tenho 10 anos... Gosto-to de brincar com
meus amigos e estudar.

— Muito bom. Eu já sabia dessas coisas, pois somos amigos, mas é


bom se apresentar novamente.
— Nós realmente somos amigos?

— Mas é claro. Eu nunca mentiria para ninguém, muito menos para


você, uma criança tão especial, meu amigo Codrut... A muitos anos
atrás, eu tinhas vários amigos, inúmeros, eu adorava aquilo, mas
agora estou muito solitário, é bom ter alguém como você por perto,
garoto — Afirmou com uma voz calma e respeitosa, quase elogiosa.
— É mesmo? — Questionou Codrut, mais calmo, encantando pela doce voz
misteriosa, na qual ele se sentia reconfortado, entretanto, se mantendo em posição
de defesa.

— É mesmo, garoto. Mesmo que não acredite, somos amigos a muito


tempo. Eu sei que você é uma ótima criança, inteligente e esforçada,
todos te adoram.
Codrut então solta o pedaço de madeira, e com a cabeça baixa, tendo um olhar
triste e profundo, se senta sobre a raiz que anteriormente estava :
— Acho que não me adoram tanto assim, meus pais devem me odiar.

— Por quê você diz isso garoto, aconteceu alguma coisa?


— Sim, parece que eles não me entendem. Minha avó morreu a mais de um mês
atrás, e só eu na minha casa ficou triste com isso. Até adiaram o enterro dele, sem
motivos nenhum.

— Isso acontece garoto, as pessoas se vão uma hora ou outra, você


tem todo direito de ficar triste, mas terá que superar isso.
— Superar? — Onde se levantou rapidamente — Mas... Mas... Ela era minha
família, a pessoa que mais me amava nesse mundo, como você diz que eu tenho
que esquecê-la?!
— Esquecer? Não, não, acho que você não entendeu. Superar não é
esquecer, é aprender a aceitar. Você sempre amara sua avó, e ela com
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certeza gostaria que você saísse da sua cama, e fosse para a escola,
como sempre.
— Espera ai, o que você disse? — Questionou, repentinamente confuso.

— Eu disse que você precisa aceitar. Em vez de ficar triste, por que
não lembra das partes boas. Como era sua avó?
— Bem, ela era uma senhora muito amorosa, todo dia acordava eu e meus irmãos
com um beijo na testa. Seus abraços eram fortes e calorosos, sua comida era a
melhor que eu já comi, e ela vivia contando histórias para a gente — Codrut
começou a lacrimejar.
— Ela devia ser uma ótima avó e um ótimo ser humano. Eu sinto
muito pela sua perda. Mas pense bem, seus pais são mais velhos,
maduros, e seus irmãos são pequenos e imaturos, eles ficaram tristes
tanto quanto você, mas aprenderam a aceitar e olhar as coisas boa
disso, e não as ruins.
— Mas... Como eu faço isso? Como posso aceitar isso?

— Você pode superar a tristeza através de algo chamado felicidade.


Você sabe o que é a felicidade, Codrut?
— Sei lá? Brincar e conversar?

— Bem, para vocês, humanos, existem três caminhos para encontrar


a felicidade. A família, os amigos e os animais. Eu quero lhe ajudar a
conquistar todas essas coisas. Lhe fazer feliz.
— Família? — O garoto se entristeceu novamente — Para nós humanos, mas, o
que é a felicidade para você?
— É a liberdade, poder me desprender das coisas terrenas, e ser
muito mais. Infelizmente, sou apenas uma árvore, porém, posso
ajudar outras pessoas a serem felizes.
De repente, do alto da misteriosa árvore, dentre suas folhos, caiu uma pequena
bolinha amarela. Ela devia ter o tamanho da cabeça de um alfinete, brilhava como o
sol, e era quente como uma fogueira. Quando olhou fundo em seu brilho, Codrut
sentiu uma felicidade e conforto inigualável, o mesmo que sentia quando era
abraçado pela sua avó :
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— Eu chamo isso de “Bolinha da felicidade”. Eu mesmo a criei, para
que assim pudesse ajudar meus amigos com seus problemas. Eu fiz ela
com o brilho de uma estrela, não existe outra como essa no mundo, e
vou entregar para você. Esse brilho lhe ajudara a ser mais feliz. Me
traga os três caminhos para a felicidade, assim você será capaz de
superar sua tristeza. Você só precisa de Família, amigos e um animal,
não é muito difícil.
Codrut se aproximou lentamente, se ajoelhou, e a colocou sobre suas duas mãos.
Sentia seu calor, que se espalhava por toda sua pele :
— Você está falando sério? — Falou com uma voz animada. Ele havia se
apaixonado pelo brilho do objeto.

— Claro. Somos amigos, não? Temos que nos ajudar, considere isso
como um presente pela nossa amizade.
— Muito obrigado!

— Bem, acho que está na hora de voltar para sua casa. Aliais, se não
se lembra, você me chamava de Senhor Árvore, garoto.
— Senhor Árvore? — Esse nome era familiar para Codrut — Tudo bem então —
Codrut colocou o bolinha na bolsa de seu casaco — Bem, eu volto para ver você,
tchau amigo — E seguiu seu caminho novamente para sua casa.
Ele caminhou todo percurso com um sorriso, nem se questionava quem era seu
misterioso amigo, apenas sabia que agora não ficaria mais triste.
Após alguns minutos, ele chegou nos fundos de sua casa, abriu a porta enquanto
arrastava a terra de suas botas contra o a madeira. Ao entrar, falou alto e em bom
som disse :
— Cheguei!
A mãe rapidamente apareceu, com um olhar um pouco preocupada, onde chegou
diante do filho, se abaixou, olhou o garoto de cima a baixo, e perguntou :
— Está tudo bem com você?
— Ah? Claro, por que?
— Por que? Você sabe que horas são?! — Questionou, em um tom alto.
— Não — Respondeu, temendo a resposta.

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— Já são mais de meio dia! Faz 5 horas que você saiu — Respondeu enquanto o
abraçava — Ainda bem que está tudo bem com você.
— Mas... Mas, eu sai só a uns 10 minutos! Eu acho... — Terminou, confuso.
— Não importa a quanto tempo você saiu, só que agora voltou.
Codrut olhou um momento para atrás, e começou a duvidar das próprias
memórias. Será que ele realmente havia saído a 5 horas? Ele tinha certeza que
não, tudo o dizia que não. Quando sua mãe voltou para a cozinha, ele colocou a
mão sobre seu bolso, e sentiu sobre o tecido, uma pequena bolinha. Voltou para
seu quarto, onde trocou de roupa. Por alguns momentos, observou a “Bolinha da
Felicidade” sobre suas mãos, enquanto imaginava se o encontrou com seu “amigo”
realmente foi real. Mas a bolinha era real. Ele sentia seu peso, seu calor, via seu
brilho. Tinha certeza do que havia visto era real. Ele decidiu apenas continuar o
resto do seu dia, não queria se preocupar com essas coisas. Ele então a colocou
dentro da gaveta de camisetas de seu guarda roupa, a escondendo sobre os
tecidos escuros, a fechou, e saiu de seu quarto, sem olhar para trás.

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A Bolinha da Felicidade

* Codrut descansa calmamente sobre sua cama. Dormindo como uma pedra,
totalmente imóvel e pacífica. A luz da manhã paira sobre seu rosto, penetrando as
cortinas brancas e limpas que cobrem a janela de seu quarto. Serena calmamente
abre a porta do cômodo, evitando fazer o máximo de barulho possível. Ela está
velha, e suas articulações não são como antes, entretanto, ainda tem uma alta
destreza em seus movimentos. Ela se aproxima do rosto do garoto adormecido, e o
da um pequeno beijo carinhoso em sua testa :
— Acorda, meu filho, está na hora de ir para a escola — Disse, como uma voz roca
e calma.
Codrut lentamente abre seus olhos, e observa sua avó em sua frente :
— Bom dia, vovó, eu já estava acordando — Ele se senta sobre sua cama, estica
seus braços e abraço sua avó.
— Claro que estava meu amor, agora vai se arrumar logo, para não se atrasar —
Disse com um sorriso no rosto.
Codrut se levanta, se dirige até o banheiro da casa, pequeno, porém bem ajeitado,
onde lava o rosto e escova seus dentes. Coloca suas roupas escolares, e se dirige
até a cozinha de sua casa. Lá, ele encontra toda sua família. Seus irmãos comem e
conversam sobre a mesa, ao lado de Serena, que acompanha eles, enquanto Boris
e Katherine estão bem arrumados. Ele usa uma roupa social justa, acompanhado
de um colete marrom, enquanto ela estava usando um vestido esverdeado bem
limpo :
— Bom dia mãe, pai. Vocês vão sair?
— Bom dia meu amor. Eu e seu pai precisamos resolver uns problemas em outra
cidade, então vamos ficar fora até mais tarde, bem tarde. Vocês vão fazer
companhia para sua avó, tudo bem?
— Claro.
— Você já está bem grandinho, então se comporta, nada de causar problemas.
— Com certeza.
Boris e Katherine partem em viagem, enquanto Codrut toma seu café da manhã,
ao terminar, se dirige para a escola. Depois de algumas horas estudando,
conversando e brincando com seus amigos, ele retorna. Caminhava com um
grande sorriso no rosto. Seus sapatos tinham um pouco de terra e areia em suas
solas, então decide entrar pelos fundos da casa, assim, evitando sujar qualquer
coisa. O sol brilhava forte, mas o vento soprava calmo, criando um dia fresco e

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animador. Ele chega de frente a porta, arrasta seus sapatos na grama do solo, e na
madeira do piso,
Logo, após coloca sua mão sobre a maçaneta. Ao tocar o objeto metálico, ele sente
um calafrio cobrir toda sua espinha, os ventos que transpassavam as árvore
começaram a soar como sussurros, que chamavam seu nome. O garoto se vira em
direção a floresta, a observa por alguns segundos. Ao notar nada de especial, se
volta para a porta e a abre :
— Vó, cheguei!
Ao entrar, seu corpo congela por um segundo. O que antes era um cenário
ensolarado e animador, tinha sido tomado pelo ar da escuridão da noite. Ao olhar
para trás, ele via apenas a Lua e as estrelas, e dentro de sua casa estava uma
completa escuridão. Ele, soando frio, começou a caminhar em direção a sala,
tentando raciocinar o que acabará de acontecer.
Podia notar um pequeno brilho vindo de dentro da sala de estar, de cor amarela
alaranjada, a única luz que havia em meio as sombras da casa. Ao chegar em
frente a porta do cômodo, percebe que essa luz vem da poltrona, de costa para sua
direção, e sentado sobre ele, podia notar que era sua avó, aquele cabelos grisalhos
com um coque eram fáceis de reconhecer :
— Ai, que susto, vó. Acabou de acontecer algo muito estranho — Ele disse
aliviado, mas não obterá nenhuma resposta — Eu tinha certeza que estava de dia a
um segundo atrás, mas agora... — Continuou, desconfortável, quase como se
estivesse falando com a parede. Ele notava que aquele brilho vinham de sua avó,
possivelmente uma lamparina que estava em seu colo, entretanto, ela parecia estar
totalmente inerte a realidade — Vó, está tudo bem com a senhora? — Questiona
preocupado, enquanto se aproxima cada vez mais, com passos curtos e trêmulos
sobre o tapete da sala. Ele então coloca a mão sobre os ombros dela, sentindo sua
pele, gelada, muito além do natural e possível. Parecia que estava colocando seus
dedos sobre um grande bloco de gelo.
Ele rapidamente caiu para trás, assustado com a situação. Mesmo jovem e
inocente, sabe o que esses sinais significavam, entrando em um estado de pânico.
Desesperado, começou a correr em direção a porta de frente da casa, tentando
gritar por ajuda, desesperado e em lagrimas. A única coisa que conseguia pensar
era em buscar ajuda para sua avó*
Essas são as memórias que Codrut tem quase todos os dias, em seus sonhos.
Algo tão irreal. Apenas uma tortura criada pela sua mente? Ele não sabe dizer, mas
o evitava a todo custo. Para uma criança tão jovem, era difícil discernir o que
realmente estava acontecendo. Ele não estava triste essa manhã, afinal, tinha com
ele um “pedaço da felicidade”. Seu quarto agora estava limpo e apresentável, pois
pedirá para sua mãe o fazer no dia anterior, com sua ajuda, claro.

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Ele se levantou, alongou-se, arrumou sua cama, e trocou de roupas. Enquanto
guardava seu pijama, observou o brilho advindo da gaveta, mesmo debaixo
daqueles pilhas de roupas. Ele a abriu lentamente, retirou a bolinha, e passou
alguns segundos a observando. Logo em seguida, a guardou no bolso de sua
calça. Ele estava pronto para ir a sua escola, ainda casando, mas motivado.
Desceu para a cozinha, onde estava sua mãe e pai :
— Bom dia — Disse rapidamente.
— Bom dia meu amor, e bom ver que você realmente quer ir para a escola hoje, eu
já preparei seu café da manhã — Um copo de café e um sanduiche sobre a mesa.
Katherine estava com um olhar sorridente. Boris então se aproximou dela, e
sussurrou em seu ouvido :
— Eu disse que não a nada que um empurrãozinho não resolva.
— Que bom que ele resolveu finalmente sair daquele quarto — Disse ao filho.
— Bem, estou indo para o trabalho — Falou, enquanto a beijava — E você, vê se
estuda direitinho, nada de cara emburrada.
— Eu sei, pai.
— Que bom que sabe.
Ao terminar de tomar seu café da manhã, se despediu de sua mãe, e foi em
direção a escola, que fica a poucos quarteirões de sua casa, um caminho curto e
seguro.
Não demorou muito para que chegasse ao portão da escola. Entre as crianças que
junto com ele entravam, reconhecera vários, de rosto ou conhecidos por nome, mas
ninguém notou sua presença, pelo menos é o que aparentava. Ele seguiu através
dos corredores coloridos, pisos velhos e cenário mal iluminado. Em poucos
segundos chegou em sua sala, um cômodo pequeno, com uma dúzia e meia de
carteiras, porém, bem aconchegante e acolhedor, ela passa um ar de paz e
tranquilidade. De antemão, a maioria dos alunos e a professora já estavam
presentes. A docente demora alguns segundos ate reconhecer Codrut, na qual, em
seguida, fica muito feliz e surpresa :
— Ora, o que temos aqui — Ela se aproximou, abaixou-se enquanto colocava a
mão em seu ombro, e falou baixo com um tom triste — Eu sinto muito pela sua avó.
— Obrigado — Apenas concordou
— Bem, vamos começar a aula, senta no seu lugar mocinho.
Ao observar mais atentamente toda a sala, Codrut trocou olhares com vários
colegas, principalmente dois em especial, Yenni e Andrei, dois amigos próximos, a
qual não conversava a muito tempo. De cabeça baixa, se dirigiu até sua carteira.
Durante todas as aulas, se manteve silencioso e recluso.
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Quando chegou o intervalo, rapidamente saiu até o pátio do local. Era aberto, com
um chão coberto de uma grama verde e bem cuidada. Codrut apenas sentou em
um canto, e lá ficou, até que notou a aproximação de Yenni e Andrei :
— Oi, tudo bem? — Disse Yenni, um pouco desconfortada com a situação.
— Tudo bem sim, e com vocês? — Respondeu, tentando evitar contado visual.
— Estamos bem — Disse Andrei, neutro diante a situação.
Por alguns segundos, teve um silêncio desconfortante e constrangedor, quase
atormentador, parecia durar muito mais do que a realidade. Codrut, agora decido,
se levantou e disse :
— Olha, eu sinto muito por ter falado aquelas coisas para vocês aquele dia... Eu
não estava nervoso nem nada... Só... Sinto muito.
— Eu fiquei bem triste, queríamos só ajudar, mas... — Parou Andrei, por um
estante — Mas nós não estamos bravos com você. Sempre vamos ser amigos.
— Sentimos muito pela sua vó, se precisar da gente, estamos aqui, é para isso que
serve os amigos, não é? — Completou Yenni.
Codrut colocou um grande sorriso em seu rosto, se aproximou, e colocou seus
braços sobre os ombros de ambos, dando um abraço nos dois com a maior força
que podia :
— Esta bem, não precisa de tudo isso — Disse Andrei, desconfortável.
Após poucos segundos, Codrut termina o longo abraço grupal, e continua :
— Mas então, aconteceu algo de interessante enquanto eu estava fora?
— O Andrei ganhou um cachorro de estimação! — Exclamou Yenni, com um
sorriso.
— Sério? Que legal! Qual é o nome dele?
— Senhor Bolinho! — Afirmou Andrei, com um tom de grande orgulho, que logo se
cessou, ao perceber o olhar de desaprovação de seus colegas — O que que foi? É
um ótimo nome para cachorro!
— “Senhor Bolinho” é muita coisa, mas com certeza NÃO É um ótimo nome de
cachorro — Respondeu Codrut, com grande ênfase em “Não é”.
— Você são muito chatos.
Após um longo dia (para uma criança de 10 anos) de estudos e conversas, termina
o horário da escola, e retornam cada um para sua residência. No portão de entrada,
o três amigos se despedem, e seguem seu rumo em cada direção. A casa de
Andrei ficava relativamente distantes, mas nada que não desse para cobrir em
alguns minutos de caminhada. Com o Sol da tarde brilhando sobre sua cabeça, ele
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chega em frente a sua casa, um lugar pequeno, porém de aparência bem cuidada e
aconchegante. No Jardim, havia um Pastor-do-sudeste-europeu adulto, bem
cuidado e de aparência saudável. O cão, ao ver seu dono, se levantou de seu
descanso sobre as sombras de uma árvore, e correu em direção, recebendo-o a
lambidas :
— Oi garoto, também senti sua falta — Disse Andrei, na qual acaricia sua cabeça
peluda, e segue seu caminho para dentro de sua casa — Cheguei! — Exclamou
bem alto.
Seu irmão mais velho não estava, havia saído para trabalhar pela manhã, e
apenas chega pela noite, um trabalho árduo, mas que o recompensará o suficiente
para sobreviver junto de sua família. Andrei seguiu por um corredor de madeira até
o seu final, onde lentamente abriu uma porta desgastada a sua direita. Aquele
quarto pertence a sua mãe, que estava sentada sobre a sua cama, lendo um livro.
Ela estava pálida, seus olhos profundos e cansados, com enormes olheiras,
aparentava desnutrição, e seus cabelos pareciam duros como uma parede :
— Oh meu amor, nem ouvi você chegando — Disse com uma voz melancólica e
fraca.
Andrei se aproximou, e beijou sua bochecha, onde falou :
— Mãe, Codrut me convidou para ir na casa dele amanhã, depois da aula.
— Que bom filho, você vai, não?
— Acho que não, preciso ficar aqui em casa para ajudar você.
— Meu amor, eu fico muito feliz em você querer ajudar, mas é bom você sair para
brincar, ainda é uma criança, precisa disso. Não precisa se preocupar comigo —
Respondeu, com uma voz animadora.
Andrei deu um pequeno sorriso de felicidade, mas com um olhar de tristeza :
— Se acha isso, tudo bem então. Você deveria descansar um pouco.
— Ah, não precisa, eu estou ótima.
— Por favor — Insistiu.
— Tudo bem então.
Andrei se retirou do quarto para deixá-la descansando em sossego. Ele se dirigiu
até a cozinha, e começou a lavar os pratos sujos de manhã sobre a pia.
Todo dia que retornava para casa, a criança se entristecia, via sua mãe naquela
deplorável situação, e não havia nada que podia fazer. Os hospitais cobram muito
mais do que seu irmão recebe, então a deixam em sua cama, todos os dias. Aquela
criança só queria ter uma chance de fazer sua mãe sorrir que nem antes, ficar feliz,
mesmo com todos esses problemas, algo que parece inalcançável.
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Na manhã seguinte, Andrei se arrumou para escola, tomou seu café da manhã,
que havia sido preparado pelo irmão antes de sua saída. No quintal, Senhor
Bolinho comia a ração barata que a ele era comprada. Não era muito, mas
conseguiam o manter bem daquele jeito. O garoto esfregou e acariciou o animal por
alguns segundos, que retribuiu o carinho com algumas lambidas :
— Muito bem, tchau garoto — Disse em meio a alguns risos, e seguiu seu rumo
até a escola.
Após o horário de aulas, todas as crianças saíam, algumas sendo buscadas pelos
pais, outras indo sozinhas. Era o caso dos três amigos, que seguiam rumo a casa
de Codrut :
— Que bom que sua mãe deixou a gente ir na sua casa — Disse Yenni.
— Ela ficou muito feliz com isso, disse que não esperava para ver vocês — Ao
olhar para Andrei, notou uma tristeza anormal em seu olhar — Está tudo bem?
— Ah... Sim, eu só estou pensando em umas coisas que deveria estar fazendo em
casa.
— Se tem coisa para fazer, pode ir na minha casa outro dia, não tem problema —
Respondeu, preocupado.
— Nhe, acho que tem problema não.
Yenni e Codrut se sentem incomodados com a situação, mas seguem sem dizer
nada sobre isso. Após alguns minutos de caminhada e bate papos, as três crianças
chegam na casa. Rapidamente, Codrut se dirigi até a porta da frente, onde puxou a
maçaneta, dizendo bem alto :
— Chegamos!
Katherine, que estava na sala junta com os gêmeos, no cômodo ao lado do
corredor de entrada, seguiu caminho até a porta :
— Oi Yenni, Andrei, tudo bem com vocês?
— Tudo sim, tia, e com a senhora? — Perguntou a garota, educadamente.
— Estou sim, obrigada. Vamos, entrem.
Os três seguiram a mulher até a sala, um cômodo relativamente espaçosa, com
um grande tapete no centro, uma estante, uma televisão de tubo sobre o móvel,
uma mesa sobre a cobertura do chão e uma poltrona azul escura, no canto do
lugar, a qual Codrut evita olhar. Os gêmeos estão deitados sobre o tapete,
acompanhados de papel e alguns giz de ceras. Ao ver isso, Yenni se aproximou
rapidamente e disse:
— Oh, que coisa linda, oi lindinhos, vocês lembram de mim?
— Você é amiga do “Code”? — Perguntou o menino
17
— Isso mesmo! O que estão desenhando?
A menina pega o seu papel, uma combinação de linhas indecifráveis de cor azul,
vermelha e roxa, com uma forma semelhante das ondas do oceano :
— Aqui é a nossa casa. Não parece? — Perguntou, com um sorriso.
Yenni desvia o olhar por um segundo, e responde :
— É... Claro, idêntico — Isso parece ter animados os gêmeos.
Andrei observa atentamente tudo em volta. Uma casa espaçosa, bem cuidada,
havia um leve cheiro da floresta vinda do lado de fora, os ventos suaves trazem o
aroma através das janelas entre abertas. Ao olhar para Codrut, percebe que ele
apenas observa Yenni conversando com seus irmãos, mas havia algo anormal.
Andrei estava a direita do amigo, e notou que seu bolso de seu casaco vermelho
estava alaranjado. “Isso estava ai, não lembro de ter o visto antes?” Refletiu, “Não
parece uma mancha de comida ou algo assim, será que ele está com uma lâmpada
no bolso?”. A criatividade da criança o leve a imaginar coisas sensatas como
apenas uma impressão de seu olhar, até um pequeno portal para outra dimensão,
mas nada que ele realmente se preocupava. Codrut rapidamente retorna a si
mesmo, e diz :
— Bem, eu vou guardar minha bolsa.
— Eu vou com você — Disse Andrei.
— Tudo bem, Yenni, você vai ficar ai... Com meus irmãos? — Questionou.
— Claro — Respondeu, sem notar qualquer tom de sacarmos vindo de seu amigo.
Ao chegarem no quarto, Codrut retirou sua bolsa, e a colocou no chão, ao lado da
cabeceira. A sua cama estava forrada, o chão bem limpo, e o vidro quase
transparente. Enquanto Codrut se abaixa para acomodar sua mochila, Andrei nota
um pequeno brilho amarelado advindo de dentro do bolso alaranjado do casado :
— Andrei, pode deixar sua bolsa aqui no canto também se quiser.
— Ah, claro — Ele simplesmente a retira de suas costa e a joga ao lado da outra
bolsa — Posso fazer uma pergunta?
— Claro! O que que foi?
— Tem alguma coisa brilhante no seu casaco, e eu queria saber o que é.
Codrut gelou por um segundo, e com uma voz surpresa, diz :
— Ahhh... Bem... Como vou dizer... Pode parecer meio estranho, mas é a
verdade... Você é meu amigo, eu confio em você.
— O que exatamente você tem ai? — Perguntou, genuinamente curioso.

18
Codrut então colocou sua mão, e de dentro do bolso, retirou a “bolinha da
felicidade”, irradiando uma luz mais forte e um calor mais reconfortante do que
antes :
— Uou... O que é isso?
— Bem... Como posso dizer... Você acreditaria se eu disser que uma árvore falante
me deu?
Andrei olhou para Codrut por alguns segundos, evidentemente o julgando como
louco :
— Eu estaria mentindo se dissesse que sim. Não temos mais 6 anos, você sabe
que árvores não falam, não sabe?
— É claro que eu sei, mas escuta — Se aproximou do amigo, onde colocou a sua
mão com a bolinha brilhante próximo de seu rosto, e começou a falar mais baixo —
Pode parecer loucura, mas a alguns dias atrás, enquanto eu passeava na floresta
atrás de casa, encontrei uma árvore estranha, e ela falava. Dizia que era meu
amigo, e me deu essa “coisa” como presente.
— Eu não estou entendo muito bem.
— Então pega você mesmo — Disse, soltando a bolinha sobre as mãos do amigo.
Andrei ficou por um momento confuso, mas ao observar bem a “Bolinha da
felicidade”, ignorou todo resto. Esse pequeno brilho aqueceu seu coração, ele
conseguia sentir sua mãe, todo amor que ela o dava, um conforto que não sentia
desde que ela ficou piorou a anos atrás :
— Você está sentindo também, não está? — Andrei apenas concordou com a
cabeça — Eu estava muito triste pela minha avó, mas essa pedrinha me fez ficar
feliz como nunca, e me fez seguir em frente, agradeço muito o Senhor árvore.
Andrei se lembrou de sua mãe no momento em que Codrut terminou de falar.
“Será que essa pedra poderia ajudar a minha mãe a ser feliz?” pensou. Ele
realmente queria isso, não sabia como, mais sentia que isso funcionária, como o
sentimento de estar sendo observado, você não saber de onde, apenas o sente.
Logo em seguida, Codrut calmamente retirou a bolinha das mãos de Andrei,
dizendo :
— Olha, eu sei que a Yenni é nossa amiga, mas não fala para ela, tudo bem? E
nem para ninguém, isso é nosso segredo — Suou como se fosse uma missão
secreta.
— Claro, claro — Ele sabia pelo o que seu amigo passou durante a morte de sua
avó. Não teria coragem de tirar dele o seu “presente”, nem a ousadia de pedir
emprestado — Mas sério? Reclamou do meu “Senhor Bolinho” e o nome desse
“amigo” é “Senhor árvore”. — Terminou de forma irônica.

19
— Pelo menos o meu realmente é uma árvore — Respondeu sarcástico.
— Tanto faz.
Eles retornaram para o primeiro andar, onde começaram a conversar um pouco.
Não demorou muito tempo até a chegada de Boris em casa. Aparentava estar bem
cansado, agradecia por não precisar trabalhar no dia seguinte, então apenas
sentou em uma cadeira da cozinha e observou tudo. As crianças passaram
algumas horas brincando, conversando e fazendo um lanche. O brilhante sol da
tarde começou a ser substituído pelo o alaranjado do anoitecer. Deveria demorar
uma meia hora para a completa noite, tempo mais do que o suficiente para Andrei e
Yenni retornarem para suas respectivas casas. A garota foi embora primeiro, pois
morava mais longe, e poucos minutos depois, o garoto já se despedia de seu
amigo.
Andrei se encontrava em frente as portas da casa de Codrut. Começou a caminhar
em direção a sua própria casa, mas depois de poucos passos, se recordou da
“bolinha da felicidade”, a qual o nome não conhecia “Será que isso é verdade?
Realmente existe uma árvore amiga na floresta?”, ele refletiu. Ele sentia como se
tivesse a obrigação de descobrir isso, se houvesse chance, mesmo mínima, de
poder ajudar sua mãe, gostaria de tentar. Sentia o vento da natureza soprando em
seu rosto “por que parece que as árvores estão me chamando?”, era um
sentimento esquisito, incompreensível. Estava relutante, entretanto, deu meia volta,
e sorrateiramente, atravessou o quintal do amigo, em direção a floresta.
Ele sentia o pouco calor do sol restante batendo no lado direito de seu rosto, se
corresse, podia voltar para casa antes de anoitecer totalmente. Acelerou o passo,
esmagava folhas e galhos consecutivamente, não sabia para onde estava indo,
mas estranhamente, tinha certeza que estava no caminho correto. Após um minuto,
encontrou uma árvore diferente de todas as outras, uma grande e verde árvore. Ele
teve um breve sentimento de missão comprida “é essa?”, pensou:
— Olá?! Senhor árvore? Eu sou Andrei, amigo do Codrut.
Houve alguns segundos ininterruptos de silêncio. Apenas o ventos que circulavam
pelas folhas podiam ser ouvidas. Andrei estava impaciente, então esses poucos
segundo lhe pareceram uma eternidade. Ele imaginara que estava maluco “Árvore
falante, eu sou muito idiota mesmo”, e decidiu ir embora :

—Olá, garoto.
Andrei congelou. Tinha consciência da situação, mas ainda lhe parecia totalmente
absurdo. Ele lentamente se virou contra a árvore, observando-a atentamente. Não
havia uma boca ou buracos “Mágica?” ele pensou, era o que parecia mais coerente
nesse momento :

20
— Sim, eu sei quem é você, senhor Andrei. Não somos amigos, mas
podemos nos apresentar. Pode me chamar de “Senhor Árvore”, como
desejar, sou um protetor da floresta, que adora fazer amigos, e
ajudar os necessitados e desesperados. Imagino que tenha vindo aqui
por mais do que simples curiosidade, não é?
— Me desculpe, nas você tem razão. Codrut me falou sobre aquela bolinha
amarela...

— A Bolinha da Felicidade...
— Então esse é o nome? Ele me parece a coisa certa — Andrei engoliu seco, e
continuou — Bem, eu tenho minha mãe, faz anos em que ela está doente, e ela fica
deitado o dia todo sobre uma cama, fraca e triste. Eu vejo sua tristeza, e tento
anima-la, mas nunca consegui. Quando segurei a “bolinha da felicidade”, eu senti
que poderia entregá-lo a minha mãe, assim, fazendo ela ser feliz que nem antes.
Um longo silêncio atormentador circulou todo o lugar, Andrei se sentia ansioso,
esperando de forma impaciente a resposta, temia o que a árvore tinha a dizer :

— Me diga garoto, qual o seu propósito vindo até mim?


— Bem, eu acabei de dizer, eu queria a “Bolinha da felicidade” para minha mãe.

— Só existe uma Bolinha da felicidade, eu a fiz a muitas eras, não


pode ser recriada nem copiada — O garoto se entristeceu com tal afirmação
— Entretanto, me parece que você já obtém tal recurso, então não
entendo o proposito de vim até mim.
Ao ouvir isso, inconscientemente, Andrei pois sua mão sobre o bolso direito de sua
calça, sentira uma pequena protuberância arredondada. Ficou surpreso, tanto com
a própria atitude, quanto o fato de talvez ele estivesse com ela. Lentamente colocou
a mão dentro de seu bolso, onde sentiu ela, o sentimento reconfortante e o calor
aconchegante era incomparáveis, não havia duvidas que era ela :
— Mas como? Eu...

— Você não sabe? Garoto, tu roubou a bolinha de Codrut.


— O que?! NÃO! Eu nunca faria isso. Nem com ninguém, muito menos com meu
amigo. Eu tenho certeza qu...

21
— Não lhe estou julgando garoto. Entendo sua situação, você quer
apenas fazer o bem. Não se culpe também.
— Mas...

— Bom, por que ainda não levou a bolinha até sua amada mãe? Não
se preocupe com Codrut, tenho certeza que ele entenderá sua
situação. Afinal, você quer apenas ajudar.
Andrei olhou para as bolinhas em sua mão. Ele sabia que não havia pego a
bolinha, mas não havia como negar que estava com ele. Se sentiu culpado, era
como se estivesse enganando seu querido amigo, ao mesmo tempo, se sentiu
tentado pela doce voz que ele deveria apenas continuar o que estava fazendo. :
— Isso realmente é o certo?

— Não está óbvio garoto? Eu criei esse pequeno objeto com apenas
um objetivo, ajudar meus amigos, fazê-los feliz. Não a nada que eu
ame mais do que fazer meus amigos felizes. Família, Amigos e
animais, eu acredito que seja a companhia desses organismos que
cria a sua felicidade, e de todas as pessoas, a sua mãe deve estar
acima, acima de tudo para você, incluindo o que e certo ou errado,
não?
— Acho que você esta certo...

— Somos amigos, Andrei, e como amigos, eu quero que faça isso, eu


quero lhe ver feliz.
— Amigos...? — O garoto olhou para a bolinha em sua mão. Se lembrou de sua
mãe, o tanto que ela sofreu por conta da doença, o quanto ela perdeu por estar
presa a uma cama. Ele estava decidido do que fazer — Você está certo, eu preciso
fazer isso. Muito obrigado.
Andrei se dirigiu para a saída da floresta, enquanto a clareira ficou em um grande
silêncio.
Enquanto corria, podia sentir a luz do sol bater contra o lado direito de seu rosto,
“Já está ficando tarde, preciso ir rápido para não preocupar ninguém”. Em menos
tempo do que havia chegado, ele saiu da floresta, atravessou rapidamente o
quintal, e já estava do outro lado da rua antes de se dar conta. Ele estava muito
animado, fazia muito tempo que não se enchia de tanta alegria e esperança. Estava
com pressa, então mal olhava para os lados antes de atravessar a rua, mas por
22
sorte nenhum carro estava passando nesses momentos, na verdade, a rua estava
estranhamente vazia, mesmo para o anoitecer, algo perfeita para a situação de
Andrei. Sentia como se a luz se tornasse cada vez mais quente em sua pele, já
podia ver sua casa. Mas antes de atravessar a rua, viu que um carro vinha de
longe, era fácil ele atravessar correndo, mas decidiu parar. Olhou para aquele
objeto em sua mão, e quase soltará uma lagrima de felicidade. Via o carro se
aproximar cada vez mais, e sua ansiedade aumentava a cada segundo.
“Finalmente”. Pensou...

23
A Criança

Se passaram uma hora após o amanhecer, o frio da madrugada ainda circula


pelas ruas vazias. Anton, um jovem policial, fardado e atento, dirigi seu carro em
direção a principal delegacia da cidade. Ela se encontra próximo ao centro, em uma
praça relativamente grande, com uma grama verde e árvores antigas. Ele percebe
a presença de um número maior de veículos policias do que o comum nessas
horas. Após estacionar, segue para dentro, atravessando a porta de madeira
grossa e bem polida de entrada, e percebe alguns agentes cansados, sentados nos
bancos de espera do lugar :
— Bom dia Anton, o delegado disse que queria falar com você quando chegasse
— Disse um dos policiais.
— Bom dia. Eu vou lá ver — Respondeu
Curioso, se move rapidamente em direção a sala de seu chefe, atravessando um
longo corredor, e adentrando no último cômodo do lugar.
Anton da algumas batidas na porta, em seguida, a abrindo lentamente, questiona :
— Com licença senhor, queria falar comigo?
— Ou, bom dia Anton. Sim, preciso fazer um pedido, entre, por favor —
Respondeu o Delegado, aparentemente sonolento.
O jovem entrou e se sentou na cadeira a sua frente :
— E o que o senhor quer me pedir?
— Bem, imagino que não tenha consciência dos últimos acontecimentos, não é?
— Eh, não senhor, acabei de acordar, e não conversei com ninguém —
Respondeu, preocupado.
— Bem, conhece a Helena Loviyst?
— Ah, sim, algo aconteceu com ela?
— Então — Suspirou — Ela tem dois filhos. O mais velho e um adulto honesto e
trabalhador, enquanto o mais novo é apenas uma criança. Mais ou menos a meia
noite, recebemos uma ligação do filho mais velho, Nicolau, aparentemente o mais
novo, Andrei, havia saído da escola, e indo direto na casa de um colega, para fazer
coisas de crianças. Quando chegou em casa após o trabalho, porém, o irmão não
estava lá. Ele ligou para os país desse amigo. Disseram que a criança havia saído
fazia uma hora. Começaram a procurar pela criança na região e na cidade, um
número alto de pessoas se mobilizaram no momento, mas como nada havia sido
encontrado, ligaram para cá.

24
— Entendi. Mas conseguiram encontrar a criança?
— Infelizmente — Suspirou novamente.
— Co... Como assim?
— Um homem havia acordado na madrugada, se arrumou, e estava indo para seu
trabalho, como todos os dias. Ele estava passando em frente a casa dos Loviyst,
como normalmente fazia, quando de repente a criança, o Andrei, pulou sobre o
veículo... O garoto morreu na hora.
— Espera ai, como é? — Questionou, evidentemente indignado. O delegado então
se levantou e continuou.
— Havia duas pessoas passando por perto no momento, que confirmaram a
historia do motorista, a criança simplesmente esperou o homem se aproximar com
o veículo, e pulou...
— Mas... Mas o que levaria uma criança a sumir por horas e se matar na frente da
própria casa?
— É exatamente isso que quero saber. Eu estou muito cansado, estou acordado a
dois dias já, nem consigo pensar direito. Estou com uma baita insônia
recentemente. Bem, eu preparei duas equipes, para investigar cidade e a floresta,
em busca de alguma coisa, achar o lugar onde a criança poderia ter ficado por tanto
tempo despercebido por todo mundo. Você vai liderar a segunda equipe, peça para
o Huck te explicar os detalhes — Finalizou, enquanto colocava seu casado marrom
de couro.
— Sim senhor! — Exclamou, se levantando e batendo reverência.
— Bom, estou indo para casa, conto com você — Disse enquanto dava pequenos
tapas no ombro de Anton, e olhava bem fundo em seus olhos.
Codrut caminhava em torno de seu amigo, senhor Árvore. Os ventos estavam mais
amenos nessa manhã, o Sol radiante equilibrava a gélida geada com seus
confortante brilhar, uma sensação doce e revigorante, as folhas não balançavam
tanto quanto antes :
— Eu não sei não Senhor Árvore, acho que meus pais estão escondendo algo de
mim — Disse, com um tom indiferente, se preocupava mais em pular sobre as
raízes, evitando qualquer queda.
— O que lhe faz pensar isso, garoto?
— Bem... Hoje de manhã, eu percebi que os dois estavam tristes. Eu perguntei se
tinha acontecido algo, mas eles disseram “Não aconteceu nada”. Quando perguntei
de novo depois, me falaram para vir aqui para fora brincar.
— .................

25
— Então, Senhor Árvore, não parece que eles estão realmente escondendo algo?

— Você está certo garoto, isso é realmente estranho — Alguns segundos


de um silêncio desconfortável para Codrut se instaurou. Como seus ouvidos
acompanhavam apenas o som vindo das folhas, a curta resposta do seu “amigo”
lhe parecia um sinal de desapontamento, ou então discordância — Mas o que
acha que eles estão escondendo de vós, exatamente?
— Beeem... Eu não faço ideia... O que você acha? — Terminou, com um leve
sorriso olhando para a enorme planta.

— Eu não sei... — Codrut se demonstrou evidentemente decepcionado com a


resposta, na qual até parou de fazer suas peripécias em torno da árvore —
Garoto, por que você não vai visitar seu amigo Andrei, talvez ele
precise se sua companhia.
— Andrei? — Questionou, confuso — Você conhece ele?

— Mas é claro. Um amigo de meu amigo, é meu amigo também.


— Hmmmmm, isso realmente parece fazer sentido. Tudo bem então, eu acho que
ainda lembro onde ele mora — Rapidamente, sem pestanejar, se virou em direção
a saída da floresta, e abanando seu braço em forma de despedida, falou — Tchau
Senhor Árvore, venho te ver depois.
Codrut se retirou do local, deixando apenas o silêncio da natureza para trás.
Anton bateu de forma rápida e suave contra a madeira lustrada da porta da casa.
Um lugar bem elegante e bem cuidado, considera, a grama ainda estava
verdejante, mesmo com a época do ano, coisa que não duraria muito tempo. Em
poucos segundos, Boris a abriu, com um forma triste, porém calma, questionou :
— Bom dia senhor policial, esta precisando de alguma coisa?
— Bom dia, sou o agente Anton Pavlov, você é o senhor Boris Petrov?
— Sim senhor, eu mesmo — Esse nome era estranhamento familiar para Anton.
— Bem, eu não estou feliz em estar aqui tendo essa conversa, mas é preciso.
Sobre o desaparecimento e morte do Andrei Loviyst... Bem... Precisamos de
informações para saber o que aconteceu exatamente.
— Claro, claro. Por favor, entre.
Os gêmeos ainda dormiam, então Anton pode conhecer apenas Katherine, que
estava na cozinha, preparando um pouco de café :
— Ou, bom dia, senhor policial.

26
— Bom dia.
— Por favor, sente-se — Disse Boris, enquanto puxava a cadeira ao lado de Anton
de forma lenta e educada — Quais perguntas o senhor quer fazer exatamente? —
Questionou, enquanto ele mesmo sentava na cadeira oposta.
— Bem... Eu vou ser bem breve e claro. Vocês, não são suspeitos de nada, pelo
menos não temos evidências disso. As análises demonstraram que a criança não
tinha nenhuma forma de ferimento ou hematoma, aparentemente, não foi forçada a
nada. Entretanto, ela de fato ficou desaparecida por um período de 12 horas, desde
o momento em que saiu da casa dos senhores, até o momento que chegou na
própria. Eu sei que já perguntaram isso para vocês, mas quero ouvir por mim
mesmo. Vocês viram alguma atitude suspeita do garoto?
— Eh, não senhor — Respondeu Katherine — O tempo todo ele parecia feliz e
animado.
— Entendido. E viram algo estranho na saída dele?
— Havia duas crianças aqui em casa. A outra menina saiu primeiro, e minutos
depois, o Andrei. Eu olhei pela janela por alguns segundos, ele seguiu para a
direita, subindo a rua, aparentava estar normal — Respondeu Boris.
— Entendo. Agora algo mais específico. Vocês acham que ele poderia estar na
floresta esse tempo todo? — Questionou o policial
— Bem... — Boris passou alguns segundos pensando — Conversamos com
muitas pessoas na vizinhança, e no caminho dele para a casa, e ninguém havia o
visto. Ao menos que ele estivesse se escondendo, faz sentido estar na floresta.
— Beleza. E tem algo estranho nela?
— Na floresta? Claro que não — Disse Katherine — Moro nessa cidade desde que
nasci, nunca houve um problema envolvendo a floresta.
— Eu já sabia disso. O que quero dizer, é, bem, coisas estranhas, entende?
— Acho que sim — Respondeu Boris — Mas não, é só uma floresta normal, sem
animais perigosos, cavernas ou buracos, apenas árvores.
— Isso complica as coisas. A principal teoria de explicação seria que a criança
decidiu sozinho por sumir todo esse tempo, não existe nada que prove que ela foi
forçada. Talvez alienada — Houve alguns segundos de silêncio, quando Anton se
deu conta de algo que havia sentido familiar — Espera um estante. Eu acho que
lembrei de onde ouvi esse sobrenome. Vocês não tiverem um incidente de
desaparecimento ou algo assim? Não querendo parecer insensível, mas...
— Sim e não. A alguns semanas, a minha sogra faleceu — Disse Boris — Causas
naturais. Fizemos o preparativos para o enterro, mas no dia anterior, seu corpo
havia desaparecido — Katherine se demonstra incomodada com a conversa, e vira
27
seu rosto para o lado — Adiamos o enterro, mas como nada havia sido encontrado,
decidimos dar continuidade.
— E Não acharam o corpo?
— Não senhor.
— Bem, desculpa pela pergunta — Anton então se levanta de sua cadeira — Bem,
eu vejo que vocês não sabem de muita coisa, obrigado pela ajuda. Eu já estou indo.
— Claro, eu abro a porta para o senhor — Acompanhou Boris.
Codrut acabará de chegar nas portas dos fundos de sua casa. Ele esfregara seus
sapatos contra o tapete para garantir que não haveria terra nele, e animadamente
girou a maçaneta. Ao entrar, ouvi uma voz que desconhece de fundo, seguido da
porta frontal da casa sendo fechada :
— Mãe, pai, cheguei!
— Oi meu bem, foi tudo bem? — Perguntou Katherine, agora mais animada.
— Tudo sim. Tinha alguém aqui agora?
— Não! — Exclamou Boris — Filho, posso te fazer uma pergunta rápida? —
Questionou, com um olhar sério e voz forte.
— Claro pai — Respondeu, engolindo seco.
— Sabe seu amigo, o Andrei, tinha algo de errado com ele ontem, quando veio
aqui?
— Bem, não. Ele parecia triste, disse que tinha algumas coisas para fazer em
casa, mas não parecia ter nada de diferente — Disse preocupado.
— Ele não te falou nada, para onde ia, o que ia fazer?
— Não, apenas saiu falando que precisava ir para casa, ver a mãe, eu acho.
— Entendi então — Terminou Boris, se virando para o lado oposto.
— É... Eu posso passear um pouquinho pela cidade? Por favor?
Boris e Katherine se olharam por alguns segundos, tentado buscar no outro a
resposta que deveriam dar, mas o pai decidiu falar primeiro :
— Melhor não, filho.
— Mas pai...
— Sem mais, você tem muito o que fazer aqui! — E se dirigiu para a sala.
— Mãe?
— Desculpa filho, mas acho que é melhor você ficar aqui em casa mesmo.

28
Codrut era inocente demais para ligar os pontos, mas sabia algo de errado estava
acontecendo “Aconteceu algo com o Andrei? Mas o que?”, passava em sua
cabeça. O que antes era uma dúvida se tornou medo, medo por algo ter acontecido
com a pessoa que ele se importava tanto, na qual, silenciosamente, apenas subiu
os degraus e se assentou em seu quarto.
O garoto tinha vários pensamentos corroendo sua mente “Será que o Andrei fez
algo de errado? Será que algo aconteceu com ele?”. Tentando buscar um pouco de
conforto, decidiu buscar sua “Bolinha da Felicidade” na gaveta de roupas. Ele a
abriu rapidamente, e começou a tirar as vestimentas sem nenhum cuidado, fora
quando chegará no fundo, que percebeu “Espera, eu não guardei minha bolinha
ontem. Mas, onde ela esta?” Ele rapidamente desceu para o primeiro andar,
adentrou a sala de estar, e procurou através das pernas dos móveis, e abaixo do
tapeta :
— Ehh, o que você está fazendo, Codrut? — Questionou Boris, sentado na
poltrona.
— Bem... Nada, só estou procurando... Minha.... Borracha! — O sorriso
desconfortável da criança atiçou a desconfiança do pai, mas que decidiu relevar no
momento.
— Tudo bem então, só não faz bagunça.
— Claro — E se lançou novamente para seu quarto.
Enquanto isso, Anton se dirigia até a residência da família Loviyst, muito menor e
mais velha do que aquelas que habitavam a vizinhança. O Homem decidiu
estacionar na rua anterior da casa, saiu de seu veículo, e conduziu o restante do
caminho a pé. Ao atravessar para a calçada em frente ao imóvel, observou
atentamente o solo concretado que havia na rua, ainda se podia ver algumas gotas
de sangue no solo, algo que ninguém pareceu dar muita importância. Ao chegar,
observou ligeiramente o quintal. Podia avistar um grande cachorro em uma casinha,
no canto direito de sua vista, parecia triste, imóvel. Anton abriu a portinha da cerca
sem receio, onde se aproximou do animal :
— Olá garotão! Tudo bem? — Diz enquanto acaricia sua cabeça peluda, na qual
não tem nenhum resposta, somente um rosnar solitário.
Ele caminhou até a porta de entrada, onde bateu três vezes na porta de madeira
velha. Alguns segundos depois, um jovem, de vinte anos, a entre abriu :
— Bom dia, eu sou o agente Anton Pavlov — Disse com uma voz baixa — Eu sei
que já fizeram algumas perguntas para vocês, não quero incomodar, apenas ter
uma conversa.
Com um olhar fundo e triste, terminou de abrir a porta, dizendo :
— Claro, entre por favor.
29
Conduziu seu “convidado” até a cozinha, onde puxou uma das cadeiras antigas
para ele, e outra pra si mesmo :
— Sobre o que você quer conversar?
— Eu sei todos os problemas que você e sua família passam. Eu sei como você se
sente, fiquei arrasado quando perdi meu pai, era a pessoa que eu mais amava
nesse mundo. Eu sinto muito pela sua perda.
— Obrigado.
— Bem, eu imagino que toda essa situação possa ser muito estressante para você,
e principalmente, sua mãe — Nicolau olhou em direção ao quarto de sua mãe, na
qual retornou seus olhos a seu convidado em segundos — Olha, pode parecer meio
estranho, estúpido, mas essa cidade é bem pequena e pacífica, então casos como
esse costumar me tocarem bastante — Anton retira um papel branco dobrado, com
as pontas levemente amareladas e amassadas, de dentro de seu jaleco — Na
cidade vizinha, está tendo uma falta de trabalhadores na área de mecânica e
concerto de grandes maquinas. Não tinha ninguém para recomendar esse trabalho,
mas agora, ouvi que você é muito bom no que faz, então... — Nicolau se apossa do
papel que a ele estava sendo apontado. Ao abrir, percebe que era um a chamada
de emprego, ofertando inúmeras vagas, dentro de uma grande fabrica na região —
Eles pagam muito mais do que seu atual emprego, imagino que assim você possa
proporcionar uma vida melhor para sua mãe.
Nicolau desvia o olhar, enquanto apertava o papel com suas mãos:
— Olha... Muito obrigado... Mas acho que terei que recusar... Sabe, eu já sugeri
isso, a muito tempo... Eu trabalho desde jovem para ajudar essa casa, desde que
meu pai faleceu, e minha mãe piorou... Meus pais se conheceram jovens, ambos
dessa cidade, se casaram, e com anos de trabalho, compraram essa casa. Eu
tentei avisar ela sobre como seria melhor sair daqui, mas minha mãe é teimosa. Diz
que ama essa cidade, e não a deixaria por nada — Uma pequena lagrima podia ser
vista sobre as pálpebras de seus olhos.
— Eu entendo... Eu imagino que você queira fazer ela feliz, mesmo que isso lhe
custe a saúde — Anton se levantou de sua cadeira — Pelo visto não posso fazer
nada, mas você pode. Converse com sua mãe, nunca e tarde para tentar coisas
novas, talvez ela consiga ser tão feliz em outra cidade tanto quanto nessa.
Nicolau olhou novamente para a porta que fechava o quarto de sua mãe, e para o
papel que estava em suas mãos. Eles haviam passado muita coisa nessa cidade, e
sentia a necessidade de começar algo diferente. Anton apenas foi para fora da
casa, sem dizer uma única palavra, ou sequer olhar para trás. Seguiu o seu
caminho fixo para seu carro, ignorando o cachorro, que se mantinha na mesma
posição.

30
Senhor Bolinho havia ignorado tudo a sua volta, o homem misterioso que acabará
de sair, as aves que cantavam sobre as árvores, o vento que soprava em seu rosto.
Quando seu querido dono foi atropelado, ele foi o primeiro a reagir. Estava
acordado, havia sentido o cheiro de Andrei de longe, apenas esperando sua caricia
aconchegante, mas não foi o que havia chegado. Ao ouvir a batida, empurrou a
portinha da cerca já entreaberto e correu para o meio da rua, onde encontra a
pobre criança, pálida, com muito sangue sobre sua camisa, saindo de sua boca e
escorrendo de seu nariz. O lambeu, acariciou, o tentou fazer levantar, mas nada
funcionará. Quando o corpo foi levado embora, apenas ficou abatido.
Mesmo sendo um animal irracional, percebeu que aquele homem misterioso havia
deixado o portinha aberto. Aquilo não o importava, afinal, por que um cachorro
deveria se importar? Mas, estranhamento atraído, decidiu ir até a porta fechá-la.
Talvez um impulso natural? Talvez habito? Não se sabe, mas ele o fez. Ao chegar,
em vez de fecha-lo, se sentiu tentado a se mover para a rua, abrindo a portinha o
suficiente para que se pudesse sair, o fazendo lentamente para se fazer o menor
barulho possível. Na calçada, observou a rua, o sangue a qual o cheiro não
conseguia ignorar. Isso fazia lembrar se seu dono, daquele abraço, forte e quente
abraço que sempre recebia. Se conheciam a pouco tempo, mas foi a pessoa que
mais o amou em sua curta vida.
O animal se aproximou do meio fio, aonde havia algumas folhas secas de outono
cobrindo o lugar. Isso estranhamente atraía a criatura, que era capaz de sentir uma
estranha sensação, muito familiar, vindo delas. As mexeu um pouco com seu
focinho escuro, na qual encontrou algo diferença, uma pequena bolinha, brilhante
como o sol. Esse pequeno objeto era quente, confortável, lembrava dos carinhos de
seu dono, era como se ele ainda estivesse ao seu lado. Sem pensar duas vezes, a
pegou entre seus dentes, mas por um deslize, a deixou escorregar pela sua boca,
onde caiu abaixo em sua garganta. Ele se engasgou com o susto, em seguida,
tentou força objeto para fora, mas era tarde demais, aquilo se mostrava muito
pequeno para de fato fazer seu corpo tomar tais medidas.
Mesmo assim, conseguia sentir o calor e amor de seu dono vindo dela, de dentro
de seu estômago, um sentimento estranho, porém, maravilhoso.
O sentimento era tão forte, que podia ouvir a voz de seu dono, vindo de um lugar a
qual não conhecia. Pobre criatura estúpida. Seguiu o barulho sem pensar, pois era
incapaz de pensar o contrário. Correu através das ruas, esbarrando nas pessoas
que normalmente caminhavam pelo lugar, e desviando por centímetros dos carros
que se encontravam em seu caminho. Esse era o melhor sentimento que sentiu em
muito tempo, o melhor de sua vida, incomparável. Não demorou muito para se
encontrar no quintal da casa de Codrut. Ele empurrou lentamente a portinhola que
separava a cerca da calçada. No lado de trás, evitou esse trabalho, não havia uma
cerca que separava a casa da floresta, mesmo assim, o animal não ousou

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atravessar a linha imaginário que separava as duas, apenas ficou ali, observando a
profundeza dessa mata.
O animal havia sido rápido, porém silencioso. Por conta da situação, ninguém da
casa havia ido no quintal, por qualquer que seja o motivo, então, ninguém havia
notado a presença do animal ali. É estranho, mas é o que aconteceu.
Codrut andava de um ladro para o outro em seu quarto, já fazia uma hora desde o
momento em que percebeu a falta da “bolinha da felicidade”, tentava lembrar aonde
o objeto poderia estar. Nada passava por sua mente, ela simplesmente havia
sumido. Em um momento de bloqueio criativo com as buscas, olhou pela janela
aberta, recebendo um pouco do ar da natureza em seu rosto. Olhou para baixo sem
nenhuma intenção, e avistou o cachorro. Ele teve um choque inicial de susto,
seguido de felicidade. Seus pais não o deixavam ter um, então o animal ali animou
bastante a criança.
Sem cerimônias, desceu as escada, onde se dirigiu para a porta dos fundos.
Atravessou seu pai, mãe e irmãos, todos que apenas ignoram seu movimento, o
garoto vive saindo pelo lugar, então era mais um dia desses.
Ao sair, observou o animal sentado, observando atentamente a floresta, situação a
qual ignorou :
— Olha só, que coisa fofa... Oi amigo, tudo bem — Não ousou tocar no cachorro,
mas se aproximou bastante — Posso fazer carinho em você? — O animal sequer
desviou o olhar de seu objetivo.
Codrut, após reunir coragem, colocou a mão lentamente sobre a cabeça dele, que
não reagiu. O garoto aproximou os olhos da coleira vermelha da criatura, não havia
nomes, nem do animal, sequer do dono, era apenas um detalhe para demonstrar
que ele pertencia a alguém :
— Oi! Você está me ouvindo? — Sem resposta. A criança começou a ficar
incomodado com a situação, se sentindo ignorado.
Codrut finalmente percebeu a concentração do animal diante a floresta. O garoto
estanhou, e agora tentava ver aquilo que o animal tanto observará. Havia apenas
uma legião de árvores enfileiradas aleatoriamente, nada que já não havia visto
centenas de vezes em sua vida. Mas era estranho, ele já caminhou por esse lugar
varias vezes, mas não conseguia reconhecer essa formação. Parecia outra floresta.
Curioso, a criança decidiu se aproximar para ter certeza que seus olhos não o
enganavam, passo após passo, chegando cada vez mais perto. Ficou apenas um
passo de atravessar a linha imaginária que separava o quintal dessa profunda
floresta, aquela linha que o Senhor Bolinho nem ousou chegar perto. Codrut olhou
para trás, nos olhos do animal, notou que ele não estava feliz ou nervoso, não
demostrava nenhum emoção. Decidiu seguir em frente, onde lentamente colocava
seus pés sobre o território da natureza.

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O garoto adentrou, não havia nada demais, ele imaginava que haveria. Sua
imaginação infantil o fez acreditar que apenas pisar no solo da floresta faria algo
terrível acontecer. Ele suspirou, e mentalmente zombou da própria estupidez.
Quando se virou e voltou para a grama de sua casa, notou que o cachorro que
antes ali estava, imóvel, havia sumido. Ele olhou em volta, mas nada avistou. Era
estranho, mas decidiu imaginar que o animal apenas foi embora, e voltou para
dentro de sua casa, havia coisas mais importantes a que se preocupar.
Ao abrir a porta, sua mãe saiu da cozinha, aos passos largos, enquanto preparava
o almoço. Codrut sentia o cheiro da comida, parecia delicioso, mas em apenas um
segundo, pensou “Espera, por que minha mãe está fazendo almoço? Ainda esta
cedo!” :
— Filho! Onde você estava? — Perguntou, com aparente raiva e preocupação,
algo bem incomum — Não dissemos que você não podia sair?
— Como assim? — Se questionou, confuso — Eu fui por 5 minutos ali no quintal!
— Do que você está falando? Você saiu faz 3 horas já! Seu pai inclusive foi ver se
não estava na floresta ou em algum lugar na vizinhança — Disse, ainda mais
irritada.
— Mas... Mas...
— Eu disse para seu pai que você sabe se cuidar, mas ele insistiu em ver. Pelo
menos você está bem — Terminou aliviada — Quando seu pai chegar, eu converso
com ele, mas nunca mais faz uma coisas dessas, entendeu? — Codrut ficou
imóvel, preso em seus próprios pensamentos — Você entendeu?
— Ah? Claro, mãe, entendi!
— Que bom, vem almoçar.
Mesmo com toda essa situação, ele conseguiu apenas olhar para a porta que
separava sua casa do quintal, e o garoto da floresta. Estranhamente, a principal
coisa que vinha em sua mente, aquilo que mais lhe causará duvida era “O que
aconteceu com o cachorro?”

33
A Floresta

A policia estava dividia em duas equipes. Uma que deveria averiguar locais dentro
da cidade onde Andrei poderia ter se escondido por todo aquele tempo (como
prédios abandonados, terrenos ou a casa de alguma pessoa, entre outras), e a
segunda deveria averiguar a floresta que cercava as redondezas da cidade.
Após dois dias de buscas, nada havia sido encontrado. Dentro da cidade, parece
que a existência da criança havia sido totalmente apagada, e algum tempo depois
voltou a existir. Ninguém o viu, sequer ouviram algo suspeito. “E se ele apenas
ficou em uma casa abandona por todo esse tempo e depois voltou?” alguns
pensaram. Era algo racional de se imaginar. Se na cidade não havia rastros de sua
passagem, na floresta tão pouco. O corpo detinha sinais de estar em ótimo estado
durante o acidente, então ele se alimentou e hidratou durante esse tempo.
Entretanto, aquilo que mais pesava na cabeça dos agentes policias não era aonde
a criança se encontrava durante todo esse tempo, e sim “Por quê ela pulou na
frente do carro?”. Desde teorias dizendo que ela apenas estava distraída, até outras
onde a versão contada pelo motorista era mentirosa, e suas “testemunhas” apenas
estavam seguindo a trilha que já existia. Nenhuma das hipóteses pareciam
verdadeiras o suficiente. O motorista parecia sincero em suas palavras como uma
criança é sincera com seus colegas, e o resultado do incidente, incluindo o
amassado feito no para-choque e capo do carro mostrava que Andrei não vou
simplesmente acertado.
Sufocado por toda essa situação, Anton decidiu dar uma passada pela pequena e
bem ajeitada biblioteca da cidade. Formada por um único andar, tinha poucas
dezenas de estantes amontoadas com livros, jornais antigos, álbuns de fotos e
registros. O homem começou a olhar as obras de ficção, passando gênero por
gênero, até chegar nos registros históricos da cidade. Ele observou
desajeitadamente o nome das obras, mas um em questão lhe chamou a atenção :
“Santa floresta”, um livro de capa dura de cor azul bem escura, ele a pegou de seu
lugar, sentou-se sobre uma cadeira, e a abriu.
O Sol estava brilhante, e acompanhada de inúmeras janelas, todo o lugar era bem
iluminada, propício a uma boa leitura durante essa hora.
O autor de tal obra estava marcado como desconhecido, então apenas começou a
foliar as paginas, lendo de forma rápida e grosseira.

“Santa Floresta – Capítulo 1

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A Santa floresta (também conhecida como a antiga casa dos deuses) é uma área
florestal de centenas de quilômetros, localizada principalmente na região dos
Balcãs, cobrindo áreas da Romênia, União Soviética, Iugoslávia, Áustria, Hungria,
Polônia e Bulgária. De clima temperado, é formada desde áreas montanhosas
nevadas, até grandes planícies de temperaturas mais convidativas. Sua principal
vegetação são as árvores Colineres Adilis.

Colineres Adilis – Também conhecida como “Árvore galhada” ou “Árvore da terra


(Na Polônia e URSS)” é uma árvore alta, fina e esbranquiçadas, com ausência de
galhos, de madeira leve, com folhas em formato ovais. Costuma perdê-las durante
as épocas frias.

Outra Árvore nativa da floresta que se vale ressaltar é a Abadeia Strucpt.

Abadeia Strucpt – Também conhecida como “Árvore das almas” ou “Boca de


Deus”, é uma grande árvore, espessas, de tamanho superior ao de um homem
adulto, com uma madeira escura e pesada. Suas raízes cobrem grandes áreas ao
seu redor, crianças vastas clareiras (já que impede o nascimento de outras
plantas).
Recebe esse nome, pois, muitos povos advindos de regiões do Sul da Hungria,
Oeste da Romênia e nordeste da Iugoslávia costumavam contar lendas sobre como
ouviam vozes vindo de dentro dessa árvore. As pessoas eram advertidas a não
chegarem perto, e muito menos tentar manter comunicação com tal árvore. Alguns
grupos religiosos pensavam o contrário, queriam entrar em contato com elas, pois
acreditavam que as almas de deuses mortos habitavam dentro dessas grandes
plantas.

Durante o início do século, mais precisamente em 1905, as “Árvore das almas”


começaram a ser largamente procuradas e desmatadas, pois sua madeira forte e
bonita era muito apreciada por nobres e empresários de inúmeros países. Tendo
sido os austro-húngaros os principais produtores de tal material.
Durante o início da segunda guerra mundial (1939-1945) a Árvore já era
considerado extinta por inúmeras entidades internacionais, principalmente aqueles
que produziam em cima de sua madeira. Após o fim da guerra, entretanto, alguns
exemplares dessa planta foram encontrados, espalhadas através de dezenas de
quilômetros de densas florestas, nas regiões mais isoladas. Como forte símbolo da
cultura de toda região, a União Soviética, que tem influência sobre alguns países
que abrigam a floresta, decidiu transformas a árvore em um símbolo anticapitalista,

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argumentando que a busca incessante de riquezas sobre ela quase causou sua
extinção.”

Anton parou sua leitura ao perceber que o walkie-talkie que sempre carrega
contigo começou a tocar. Querendo evitar incômodo, pois estava dentro da
biblioteca, abandonou o livro aberto sobre a mesa e correu para fora :
— Anton na escuta. Câmbio!
Uma voz metálica com interferência de estica respondeu :
— Alô Anton, aqui é o delegado, aconteceu uma merda muito grande aqui, câmbio.
— O que aconteceu exatamente, câmbio — Respondeu, onde rapidamente
começou a suar frio. “Será que outro incidente havia acontecido nessa cidade tão
pacífica?” pensava.
— Então, o corpo do garoto Andrei estava sendo preparado para ser tirado do
necrotério, para o enterro, que aconteceria hoje. Mas... Merda... O corpo sumiu!
— O QUE?!
— Calma, escuta. Preciso que você corra para o necrotério, vou estar aqui te
esperando, Câmbio?
— Câmbio, desligo.
Anton paralisou por alguns segundos com o choque inicial dessa notícia. Decidiu
que não tinha tempo de ler aquelas baboseiras, entrou em seu carro, e partiu em
direção a seu objetivo. Imaginou se o caso do garoto tinha algo haver com a mãe
de Katherine. Não tinha tempo para pensar, apenas seguiu o mais rápido que podia
pelas ruas da cidade.

Enquanto isso, Codrut está em seu quarto, no canto ao lado do guarda roupa. O
garoto está sentado, cobrindo seu rosto com seus braços, e seu corpo com suas
pernas. Ele havia descoberto sobre o Andrei. Seus país não tiveram coragem de
contar para ele, então descobriu do pior jeito, por ele mesmo. Não estava tão triste
quanto esteve com sua avó, mas estava evidentemente abalado. Seu rosto estava
pálido, seus olhos avermelhados, e seu nariz escorria. Uma batida na porta pode
ser ouvida, calma e suave :
— Quem é? — Questionou, sem levantar a cabeça.
A porta se abriu, mostrando ser a Katherine. A mulher, evidentemente preocupada,
se aproxima de seu filho, enquanto diz :
— Sou eu, meu amor.

36
— Não chega perto de mim!
— Mas por que não? — Questionou, enquanto passava a mão sobre seu cabelo
desarrumado.
— Por que não me falaram sobre o Andrei? — Perguntou com uma voz baixa.
— Olha filho, depois do que aconteceu com sua avó, ficamos com medo... Eu sei
que deveríamos ter falado, mas agora é tarde. Essas coisas acontecem, não tem o
que fazer.
Codrut levantou lentamente sua cabeça, olhou para os olhos de sua mãe, e disse :
— Mas por que? Por quê comigo?
Ela o abraça forte :
— Não tem nada haver com você, essa é a vida. Mas sempre estaremos aqui para
te ajudar, eu e seu pai — Codrut a abraça de volta, enquanto ainda digeria toda
essa informação, olhando para o vazio a sua frente, o vazio criado pela sua própria
mente — Vem, vamos almoçar, você não pode ficar sem comer nada.
— Tudo bem, eu já estou indo.
Katherine se retira do quarto, e a criança consegue força para se levantar e a
acompanhar.

Anton chegou no necrotério em poucos minutos. Parou seu carro diante a entrada,
onde havia mais duas viaturas a sua volta. Ele saiu, trancou o carro, e correu para
dentro. Ainda na entrada, pode ver o delegado na recepção, acompanhado de outro
agente, que conversava com a secretária do local :
— Boa tarde delegado.
— Boa tarde Anton, chegou rápido.
— Acelerei o máximo que pude.
— Muito bem. Venha comigo — O Delegado se dirigiu para os fundos do local,
atravessando a porta principal que havia ao seu lado, seguindo um corredor com
poucas portas, e entrando na penúltima, a direita. O ar de todo lugar era estranho, o
chão e as paredes brancas, um local pequeno, acompanhados de uma luz fraca o
tornava um pouco melancólico e desesperador. O ar coberto de álcool e carne
podre significava um sinal de perigo para cada célula do corpo de Anton — Aqui
está — O Delegado apontou para uma maca vazia, a única do lugar, em uma sala
relativamente grande, porém vazia, contendo apenas as gavetas dos cadáveres –
Após toda a pericia, e a constatação de nada de errado, a família recebeu a
permissão de retirar o corpo para o velório. A criança já estava pronta para ser
retirada, entretanto, antes disso acontecer, ele simplesmente sumiu.
37
— Espera, apenas isso? Só sumiu? — Perguntou indignado.
— O legista responsável estava junto do corpo, após prepará-lo. Ele recebeu a
notícia da secretária que os responsáveis pelo transporte haviam chegado, na qual
ele foi encontrá-los pessoalmente, mas quando voltaram, ele não estava aqui. A
única saída é pela porta da frente, onde eles estavam.
Anton parou, e refletiu para toda situação por alguns segundos. Ele olhos em volta.
Havia alguns ventilações, mas um homem adulto seria incapaz de entrar em uma
dessas coisas. Não havia sinais de buracos em nenhum lugar, nem pegadas, muito
menos rastros de roupas :
— Você já chamou alguém detetive ou outros agentes, senhor delegado?
— Chamei, mas você foi o primeiro a chegar.
Anton se aproxima da maca para analisá-la. Tamanho adulto, de um metal
brilhante. Ele se abaixou e olhou atentamente para as rodinhas, mas nada de
errado aparentava nelas :
— Bem, de primeira vista, não parece ter nada aqui. É melhor esperar os
profissionais chegarem e avaliarem corretamente.
— Realmente.
Anton novamente começou a pensar “Sem entradas, sem saídas... Ou o pessoal
do necrotério está tramando alguma coisa, ou ele corpo simplesmente evaporou
desse lugar. Mas o pior não é como o cadáver saiu daqui, mas onde ele está agora.
É meio difícil esconder um corpo por ai, principalmente em plena luz do dia, no
meio da cidade” Ele pensará bastante, mas não encontrou nenhuma resposta
racional e satisfatória para suas duvidas.
Codrut está em seu quarto. Acabou de anoitecer. Com as luzes desligadas, o
garoto observa a floresta através da janela. É lua cheia, o brilho pálido do corpo
celeste recobre até onde a vista pode alcançar. Ele a vigia sem medo, raiva ou
tristeza, ele sente apenas uma curiosidade. Desde o momento em que estava no
ventre de sua mãe, já habitava essa casa, mesmo assim, não sabia dizer o que
havia nesse grande floresta, “nada” parecia a resposta mais simples e sensata,
entretanto, nem sempre o simples e sensato é o correto. A realidade tem suas
peculiaridades, suas estranhezas, e aqueles que só sabem pensar dentro da caixa
são incapazes ver o verdadeiro potencial do mundo. “Monstros?” imaginou em
seguida. Não, isso é muito absurdo, mesmo para nosso estranho mundo.
Após alguns minutos enfrentando as profundezas verdejantes, começou a ter um
estranho sentimento. Ele ainda estava muito abalado pelo seu amigo, seus olhos
mal se mantém aberto, a tristeza lhe faz sentir muito sono. Mas esse sentimento.
Era quente, reconfortante, estranhamente, ele começou a superar o luto, e se tornar
mais feliz. Ele já imaginara de onde isso vinha. Ao olhar para baixo, em seu quintal,
podia ver no meio da escuridão, em meio a grama, um pequeno brilho. Era difícil de
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se enxergar, parecia tentar observar um grão de areia no meio da praia. Mas
aquele brilho amarelo, mesmo minúsculo, era incomparável. Seu coração começou
a bater mais forte, ele achava errado, mas a oportunidade de ficar feliz embaralhou
seus pensamentos “aquilo é realmente minha bolinha?” pensou. Por que não
tentar? Lentamente, evitando o máximo de barulho, começou a caminhar em meio
ao breu de sua casa. Ele poderia acabar pisando em falso na escada, ou acertar de
cara uma parede, mas nada disso lhe importava, sua determinação era maior so
que tudo isso. Do que o medo. Conhecia bem o lugar, pode chegar na porta sem
esbarrar em nada.
O garoto lentamente abriu a porta, criou-se um pequeno rangido, mas nada que o
vento advindo de fora não pudesse abafar. A fechou novamente, e caminho em
direção a pequena luz em seu quintal. Seu brilho era como de uma única estrela na
escuridão do céu noturno.
Tremendo de frio, Codrut se aproxima dela, e cuidadosamente a retira do chão
usando seu polegar e indicador, colocando-o sobre a palma de sua mão, e voltando
para dentro.
O garoto não sabia de onde a bolinha tinha saído, talvez ele tenha apenas a
deixado cair no quintal? Era a melhor da possibilidades. A criança se embolou em
seu cobertor, e a observou por alguns segundos. Seus olhos se encheram de brilho
e alegria ao observar a pequena estrela em suas mãos. Toda sua angústia e
tristeza desapareceram como folhas ao vento, agora só a felicidade o cobria.
Colocou a “bolinha da felicidade” embaixo de seu travessia, e se deitou para uma
noite de descanso, afinal, precisaria sair e estudar no dia seguinte.

A policia procurará o corpo de Andrei aonde podiam. Interrogaram os funcionários


do necrotério, os vizinhos do local, buscaram indícios se invasão, mas nada, era
como se o corpo simplesmente tivesse desaparecido, ou sequer tivesse existido.
Os agentes decidiram manter o desaparecimento do cadáver em segredo, para
evitar pânico ou alarde entre a população local. A notícia de que corpos estivessem
desaparecendo em uma cidade pequena poderia chamar uma atenção ruim e
desnecessária para todos. Anton estava sonolento, sentado sobre uma das
cadeiras de entrada do necrotério. Tentava pensar sobre tudo que recentemente
aconteceu, mas o sono o impedia de raciocinar corretamente. Um policia mais
velho, evidentemente cansado, se sentou ao lado de Anton, e começou a dizer :
— Oi Anton, está tudo bem?
— Oi Vladimir. Depende do que você quer dizer “bem”.
— Faz quanto tempo que você não dorme?
— Um dia e pouco mais ou menos, eu acho.

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— A polícia se mostrou empenhada em encontrar o garoto, a maioria aqui
trabalhou mais do que deveria, mesmo tendo aqueles que não se importaram muito
com a situação — Afirmou Vladimir.
— Realmente...
— Eu e mais alguns policiais conduzimos a procura com os cachorros, os animais
não encontraram nada.
— Isso é um péssimo sinal.
— Com certeza é — Alguns segundos de silêncio cercaram os dois
— Deixa eu te perguntar uma coisa. Pode parecer algo idiota, mas... Você acha
que pode ter sido “outra coisa” que levou o corpo do garoto? — Questiona Anton.
— “Outra coisa”? Tipo um fantasma ou mostro?
— Não sei, talvez?
— Eu não acredito nessas coisas, mas considerando a situação, não tem como ter
certeza... Foi você e sua equipe que buscaram pistas na floresta, não foi?
— Sim, fomos. Encontramos o mais puro nada naquela merda. Só tinha árvores e
mais árvores.
— Ah... Árvores. Quando eu era mais novo, meu pai vivia dizendo que as árvores
dessa floresta conversavam com ele... Era só um delírio dele, após a morte de
minha mãe, ficou muito abalado, dizia que as árvores que a mataram.
— Sinto muito...
— Não precisa, isso aconteceu a décadas. Meu pai parou com essas paranoias
depois, mas proibia as pessoas, principalmente as crianças, de entrarem na
floresta. Não era nada oficial, mas a população confiava e escutava ele. Como
delegado, as pessoas confiavam bastante nele — Disse Vladimir.
— Eu não nasci aqui, mas acho que já ouvi dizer nele.
— Pois é, provavelmente ouviu. Antigamente, principalmente antes de 1945, os
desaparecimentos e mortes eram bem comuns. Todo mês surgia um caso.
— Por acaso está dizendo que os nazistas tem algo a ver com isso?
— Sei lá? Talvez os comunistas. Só Deus sabe agora.
— É, só Deus...

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A Felicidade

*Codrut descansa calmamente sobre sua cama. Dormindo como uma pedra,
totalmente imóvel e pacífica. A luz da manhã paira sobre seu rosto, penetrando as
cortinas brancas e limpas que cobrem a janela de seu quarto. Serena calmamente
abre a porta do cômodo, evitando fazer o máximo de barulho possível. Ela está
velha, e suas articulações não são como antes, entretanto, ainda tem uma alta
destreza em seus movimentos. Ela se aproxima do rosto do garoto adormecido, e o
da um pequeno beijo carinhoso em sua testa :
— Acorda, meu filho, está na hora de ir para a escola — Disse, como uma voz roca
e calma.
Codrut lentamente abre seus olhos, e observa sua avó em sua frente :
— Bom dia, vovó, eu já estava acordando — Ele se senta sobre sua cama, estica
seus braços e abraço sua avó.
— Claro que estava meu amor, agora vai se arrumar logo, para não se atrasar —
Disse com um sorriso no rosto.
Codrut se levanta, se dirige até o banheiro da casa, pequeno, porém bem ajeitado,
onde lava o rosto e escova seus dentes. Coloca suas roupas escolares, e se dirige
até a cozinha de sua casa. Lá, ele encontra toda sua família. Seus irmãos comem e
conversam sobre a mesa, ao lado de Serena, que acompanha eles, enquanto Boris
e Katherine estão bem arrumados. Ele usa uma roupa social justa, acompanhado
de um colete marrom, enquanto ela estava usando um vestido esverdeado bem
limpo :
— Bom dia mãe, pai. Vocês vão sair?
— Bom dia meu amor. Eu e seu pai precisamos resolver uns problemas em outra
cidade, então vamos ficar fora até mais tarde, bem tarde. Vocês vão fazer
companhia para sua avó, tudo bem?
— Claro.
— Você já está bem grandinho, então se comporta, nada de causar problemas.
— Com certeza.
Boris e Katherine partem em viagem, enquanto Codrut toma seu café da manhã, e
se dirige para a escola. Depois de algumas horas estudando, conversando e
brincando com seus amigos, ele retorna. Caminhava com um grande sorriso no
rosto. Seus sapatos tinham um pouco de terra e areia em suas solas, então decide
entrar pelos fundos da casa, assim, evitando sujar qualquer coisa. O sol brilhava
forte, mas o vento soprava calmo, criando um dia fresco e animador. Ele chega de
frente a porta, arrasta seus sapatos na grama do solo, e na madeira do piso,
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Logo após coloca sua mão sobre a maçaneta. Ao tocar o objeto metálico, ele sente
um calafrio cobrir toda sua espinha, os ventos que transpassavam as árvore
começaram a soar como sussurros, que chamavam seu nome. O garoto se vira em
direção a floresta, a observa por alguns segundos. Ao notar nada de especial, se
volta para a porta e a abre :
— Vó, cheguei!
Ao entrar, segue seu caminho para o fim do corredor. Antes de subir as escadas,
decidiu dar uma espiada através da sala, onde encontra sua avó, sentada sobre a
poltrona. De olhos fechados, e um grande sorriso, cantarolava. Ao perceber a
presença de seu neto, diz :
— Ou, meu filho, não tinha ouvido você chegar.
— Oi vó — Codrut se aproxima e a abraça — Está tudo bem com a senhora? —
Perguntou, estranhamente triste.
— Sim, estou ótima. Você parece deprimido, aconteceu algo?
— Não, não, esta tudo bem. Eu estou feliz por ver a senhora — E deu um grande
sorriso.
Ao prestar atenção, a criança notará algo diferente. Sua avó usava um vestido
florido, que continha dois bolsos na altura da barriga. Ao notar isso, percebera que
de dentro do bolso esquerdo, um brilho amarelado transpassava o tecido. Ele não
sabia o que era aquilo, mas tinha uma forte sensação de que o conhecia. Era doce,
forte, brilhante, familiar. Muito familiar.*

Codrut acordou para ir a escola. Está bem cedo, ele se levanta e estica seu corpo.
Esteve desorientado por alguns segundos, sem se der conta que estava acordado,
mas acabou tendo um flash em sua mente : “A bolinha da felicidade? Minha avó?
Mas...?” ele tentava entender o que havia sonhado. Ele pegou a bolinha que estava
abaixo de seu travesseiro, e o observou por alguns segundos. Parecia mais
profundo e aconchegante do que antes. Ele se trocou para as roupas escolares, e
guardou o objeto no bolso direito de sua calça. A manhã foi como todas as outras,
mas ele não parecia triste, algo que seus pais notaram, mais decidiram ignorar.
Talvez fosse deprimente admitir que sua criança tenha se acostumado com todos
esses ultrages? Não sabiam. Boris saiu para o trabalho, Katherine cuidava dos
gêmeos, então sozinho, Codrut se dirigiu para a escola.
Aquele sonho, ainda tentava compreender o que havia acontecido. Ele se tomou a
lembrar apenas pequenas cenas em sua mente, mas viu sua avó viva, e ela
carregava a “pedrinha da felicidade”, ou será que tudo isso e apenas impressão de
sua visão?

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Ao chegar na sala de aula, sentiu a falta de Yenni. Ela não apareceu em nenhum
dia ate agora. Havia recebido a notícia sobre Andrei pelos seus pais. As crianças
eram jovens, mas se conheciam a alguns anos, sua amizade inocente era muito
forte e promissora. Codrut ficou triste pela situação, mas decidiu seguir
normalmente.
Não conversou com ninguém durante todo o dia, e nem havia tentado. Na saída,
parecia que nem esteve na escola, apenas uma perda de tempo para ele.
Caminhou até sua casa. Ao chegar, se lembrou do sonho que teve “vovó?” pensou.
Ele foi para o fundo de sua casa, e decidiu seguir para a floresta. Ele sabia que isso
talvez preocupasse os seus país, e tinha consciência que ele pode apenas ter
sonhado um absurdo, mas deveria tentar. Acelerando os passos, alcançou seu
objetivo em poucos minutos :
— Senhor Árvore! Precisamos conversar! — Gritou, comprometido.

— Ora, ora. Boa tarde Codrut, sobre o que precisamos conversar?


— É... Bem... Pode parecer estranho, mas quero saber... Você consegue trazer
minha avó de volta? — Perguntou, se embolando nas próprias palavras.
Um silêncio predominou na atmosfera por alguns segundos, e sem demonstrar
nenhum sentimento, apenas mantendo sua voz calma e reconfortante, respondeu :

— O que lhe faz pensar isso?


— Bem... Tipo... Eu... Não importa! Apenas diga se você é capaz!

— Hahaha, garoto. Sua coragem de se impor a minha pergunta é


muito bom, muito mesmo. Você quer acabar com essa dor, a dor da
perda, você quer alcança a felicidade, estou certo? — Codrut abaixou a
cabeça com essa pergunta — Vocês, humanos, não são capazes de superar
e esquecer, não é? Não lhe culpo, você não é o primeiro a me fazer
essa pergunta. Bem, eu já lhe apresentei os três passos para se
alcançar a felicidade, mas se quer perder toda essa dor, preciso que
me traga apenas uma coisa, algo muito simples.
— Sério?! — Gritou animado — Eu faço qualquer coisa!

— Ótimo!........... ME TRAGA O SOL.....


— Espera! Trazer o Sol? — Questionou confuso — Mas... Como eu faço isso?

43
— Se eu soubesse como, faria sozinho, mas eu preciso de sua ajuda
para isso. Abandone a sua felicidade e me traga o Sol. Dessa forma,
poderei fazer você esquecer sua dor.
O garoto parou e pensou por alguns segundos. Não sabia o que essas palavras
significam, mas precisava tentar. Ele queria a sua avó, e faria de tudo para
conseguir isso :
— Tudo bem, eu irei descobrir como farei isso!
Deu meia volta, e correu em direção a sua casa, deixando apenas o silêncio da
clareira para trás. Nada fora feito, nada fora mudado, apenas o mundo seguindo
seu rumo natural. Codrut tinha um objetivo, mas como o faria? Pobre criatura
inocente, havia se colocado em uma situação que não era capaz de entender.
Retornou para sua casa, e nem sequer cumprimentou sua mãe, correu para seu
quarto. Ele colocou a bolsa em seu canto tradicional, e começou a caminhar,
rodando de um lado para o outro, pensando naquelas palavras. Ele rodou, rodou,
rodou e rodou. Continuou rodando e pensando, pois não havia o que faria ele
desistir de obter sua felicidade.

Nicolau e Helena acabaram de se mudar para a cidade vizinha. Maior e mais


movimentada, não tinha o ar de silêncio e paz das pequenas cidades. Entretanto,
as oportunidades de trabalho poderiam dar a eles uma vida mais confortável.
Helena não parece feliz com isso, precisaram da ajuda de um vizinho para mover o
necessário, e sair de sua amada comunidade lhe parecia o maior absurdo que
poderia ter feito em toda sua vida. Nicolau se sentia confiante, podia ver um futuro
melhor a sua frente, algo diferente do de antes, algo que podia os fazer feliz.
Alugaram um pequeno apartamento em uma área mais humilde da cidade. Era
pequeno, porém bem limpo, seria o suficiente para o momento. Rapidamente,
Nicolau se retirou da nova casa, e correu em busca de um emprego. Quanto mais
rápido fosse capaz de manter os gastos de um bom hospital, mais rápido seria
capaz de favorecer sua mãe. Usando da carta que recebeu de Anton, criou seu
currículo, usando de recomendações de pessoas com qual havia trabalhado, e
correu para o endereço registrado. Após algum tempo, recebeu a chamada para
uma entrevista presencial.
O entrevistador era um homem de meia idade, tinha um olhar velho, porém
simpático.:
— Bem, meu jovem, me fale um pouco sobre você — Falou, com uma voz roca e
forte.
— Bem, eu me chamo Nicolau Loviyst. Tenho 21 anos, trabalho desde jovem na
área de mecânica e concertos de máquinas. Nunca me especializei nessa área,
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mas fui ensinado por profissionais como manejar tais equipamentos... — O jovem
usava a roupa mais formal que tinha em seu guarda roupas, limpa e bem passada.
Falava com uma voz forte e o rosto levantado.
— Bem, eu vejo isso em seu currículo. Você tem um bom histórico, e boas
referências, mesmo com a falta de formação. Me diga, o que pretende com esse
trabalho?
— Bem... Meu pai trabalhava nesta mesma área. Fui influenciado por ele a seguir
esse caminho. Adoro fazer isso, não tem sensação melhor, do que der capaz de
concertar algo quebrado. Quando você se esforça por horas, e é recompensado
com um bom resultado de seu esforço. Além de gostar, sou muito bom no que faço,
sempre busco me esforçar mais e mais.
— Muito bem. E por que você busca esse trabalho?
— Para poder ter uma vida melhor. Sou o filho único, nascido em uma cidade aqui
na região. Minha mãe sempre teve uma saúde frágil, mas a alguns anos, após o
falecimento de meu pai, a tristeza fez ela piorar muito. A alguns dias, recebi a
recomendação desse trabalho de um amigo.
— Entendo, sinto muito pela sua mãe. Você aparenta ser um jovem honesto e
comprometido, se for capaz de manter uma boa conduta em seu trabalho, isso está
ótimo. Mas me diga, por que você não buscou uma vida melhor antes?
Nicolau estava pronto para respondeu, mas... Mas? Ele não sabia da resposta?
Teve uma repentina dor de cabeça. Pensou por alguns segundos, e nada vinha em
sua mente. O que mudou em sua vida dos anos para agora, que finalmente o fez
sair daquela pequena cidade? Tentava e tentava, mas não sabia :
— Bem... Minha mãe é apaixonada pela nossa antiga cidade, então demorou muito
para eu convencê-la de deixar o lugar.
— Hum, entendi. Você me aparenta ser a pessoa mais qualificada para o trabalho
até o momento, mesmo sem formação, temos algumas vagas, e eu passarei a sua
em breve. Infelizmente, não se encontra tantas pessoas qualificadas hoje em dia —
Nicolau criou um grande sorriso em seu rosto — Entrarei em contato quando tudo
estiver tudo acertado, mas imagino que você comece na Segunda.
— Muito obrigado, senhor!
Os dois se cumprimentaram, e Nicolau se retirou para sua casa. Mas por todo
caminho, uma dúvida assolava sua mente. “Por quê?” só isso que pensava. Ele
tentou ignorar toda situação, e apenas seguir sua vida em frente. Agora o passado
fica no passado, não tem nada a ser lembrado.

O noite já chegava na região. Codrut passou todo o resto do dia pensando


naquelas palavras. Ele estava evidentemente nervoso, não era capaz de entender,
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e sua própria incapacidade o irritava. Pisava cada passo com força, e sua cabeça já
estava doendo. Ele estava bem estressado, ficou extremamente ansioso com toda
a situação. Esse stress começou a afetar seus outros sentimentos. A tristeza a
angústia da morte de sua avó e amigo, que antes pensava que havia superado, se
tornou mais evidente. Ele começou a ficar mais cansado, queria se deitar, e não
pensar em mais nada. Nesse momento, começou a sentir um pequeno calor em
seu bolso. A bolinha da felicidade, a única coisa capaz de lhe ajudar nesse
momento. Rapidamente, a retirou, mas algo estava errado, a bolinha não brilhava
como antes, e seu calor estava muito fraco, comparado com o de costume. Aquele
sentimento de conforto e carinho que exalava do objeto havia desaparecido.
Codrut balançou, soprou e apertou a pequena bola :
— Mas que droga!!! Não me diga que você quebrou!? — Ele continuou a
balançando por alguns segundos — Por favor, eu preciso de você! Você é a única
coisa que pode me fazer feliz — O brilho do objeto se tornou ainda mais fraco do
que antes.
A frustração e indignação do garoto, depois de alguns segundos, se tornou uma
grande raiva, raiva de si mesmo e daquele pequeno objeto. Em um momento de
fúria, atirou a bolinha através da janela. Seu brilho estava tão fraco, que
rapidamente desapareceu na escuridão da floresta :
— Sua coisa inútil!
Nesse mesmo instante, a criança se deitou na cama de bruços, colocou o
travesseiro sobre sua nuca, e começou a lacrimejar. Katherine, seguidamente, abriu
a porta de seu quarto :
— Querido, esta tudo bem? Eu ouvi uns barulhos... — Ela rapidamente notou sua
situação, e ligeiramente se aproximou — O meu bem, o que aconteceu? —
Perguntou, enquanto sentava ao seu lado na cama.
— Não aconteceu nada.
— Não precisa esconder nada de mim, eu sou sua mãe, pode me falar qualquer
coisa, só assim eu vou poder ajudar.
— Eu já disse que aconteceu nada!
— Eu sei que aconteceu muito coisa essas semanas, você tem todo direito de
estar triste, mas não pode ficar assim para sempre. Eu e seu pai estamos muito
preocupados com você.
— Meu pai? Ele por acaso se preocupa comigo?
— É claro que sim. Seu pai não conversa ou brinca tanto com vocês quanto queria,
ele trabalha muito, volta cansado para casa, mas tenta sempre dar uma vida boa e
feliz para vocês!

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— Sério?
— Claro, você conhece seu pai, sabe que ele quer apenas seu bem — Codrut se
levantou, e deitou sua cabeça sobre os ombros de sua mãe — Nós sempre
estaremos aqui para você, não precisa se preocupar.
— Mãe, você é feliz?
— O que? Sim claro que sim! — Respondeu sem nenhuma demora.
— E por quê?
— Por quê eu tenho vocês meu amor. Seu pai, seus irmãos. Não tem nada que me
deixe mais feliz que a minha família — Disse, logo após abraçando seu filho
Codrut deu um pequeno sorriso após esse comentário, retribuindo o abraço que
recebeu de sua mãe, um abraço quente e aconchegante, tanto quanto aquele que
recebera de sua avó. Talvez ele tenha encontrado forças, sem depender daquela
maldita “Bolinha da felicidade”, ele encontrou um lugar para procurar sua felicidade.

Codrut acorda de manhã. Ele teve um ótima e calma noite de sono, a luz solar do
amanhecer em seu rosto é como um doce beijo de bom dia. Rapidamente se
levanta, e coloca algumas roupas quente, a seguir, desceu correndo para o
segundo andar. Ao chegar, a criança encontra seus dois irmãos brincando na sala
como normalmente, e sua mãe e pai conversando na cozinha :
— Bom dia mãe, bom dia pai.
— Bom dia meu amor.
— Bom dia Codrut.
— Pai, você vai nos levar para passear hoje, não vai? — Perguntou com um soar
sorridente.
— É claro, garoto, mais tarde saímos um pouco.
A criança se sentou em uma cadeira, onde foi servido uma xícara de café pelo seu
pai. Sua mãe também se senta, e diz :
— Codrut, temos uma surpresa.
— E qual seria?... Ai, ainda está quente!
— A sua avó vai vir passar suas férias aqui em casa.
— Sério?
— Sim senhor — Respondeu Boris
— Que legal! Faz tempo que não vejo a vovó. Vai ser muito legal... Mãe, e a sua
mãe, você nunca a trouxe aqui?
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Katherine parou por alguns segundos :
— Minha mãe? — Ela coloca a mão sobre a testa, enquanto fecha seus dois olhos,
como se tivesse uma forte e repentina dor de cabeça — Minha mãe... Eu.... Não...
Ela morreu a muito tempo, nunca a conheci...
Codrut ficou quieto e de cabeça baixa por alguns segundos, mas continuou a tomar
seu café normalmente.

Enquanto isso, uma festa especial ocorre na delegacia de policia da cidade. O


delegado, centro da festinha, se pronuncia para todos ali presentes :
— Bem, como todos vocês sabem, já fazem 30 anos que eu estou nesse cargo,
conheci muitas pessoas, as vezes, os pais de muitos de vocês aqui, e estou
extremamente feliz em ter proporcionado segurança a todos. Nossa cidade sempre
foi segura, e me da alegria que nenhum incidente tenha acontecido nesses últimos
tempos. Eu vou me aposentar, mas espero que essa paz continue do jeito que
sempre esteve.
Enquanto discursava, Anton estava sentado na cadeira de entrada da delegacia.
Ele está de cabeça baixa, estranhamente deprimido. Vladimir se aproxima e senta
ao seu lado :
— Está tudo bem com você?
— Sim, é só que...
— Que?
— Não sei — Anton sofre uma repentina dor de cabeça — E como se estivesse
faltando algo.
— Entendo, tenho essa sensação as vezes. Mas não precisa se preocupar, nossa
cidadezinha é bem segura, não tem muita coisa errada a se preocupar.
— Acho que você esta certo... Sabe quem vai substituir o delegado?
— Não faço ideia. Eu perguntei se seria eu, e ele disse que eu sou um bom
policial, mas acha que não estou apto para o cargo.
— Seu pai ia adorar se fosse você.
— Pois é, ia — Respondeu. Vladimir tinha um grande sorriso, enquanto olhava
para o céu (que estava coberto pelo telhado do lugar, mas não parecia atrapalha-lo)
Anton continua pensativo “Será que realmente não é nada? Eu nunca esqueço
nada, mas agora, eu não consigo lembrar”. Ele apenas desistiu de pensar, afinal, o
que poderia acontecer nessa pequena cidade, que fosse preciso de ser lembrado
com urgência? Nada, então o melhor é apenas esquecer essa história.

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Após terminar seu café, Codrut se dirige até a sala de estar, onde seus dois irmãos
estavam desenhando :
— Vocês sabiam que a vovó vem para cá?
— Sim, sabíamos... Olha meu desenho — Respondeu a garota, apontando seu
desenho de um campo verdejante, ostentando um grande sorriso.
— Legal — Codrut observa seu irmão, que parecia não ter reagido a notícia —
Está tudo bem? O que você está desenhando? — Ao se aproximar, o garoto
percebe que a criança desenha uma árvore, enorme, cheia de raízes que rastejam
através da terra a sua volta — Muito... Bonito... Que árvore é essa?
— Não sei, você que deveria saber — Respondeu sorrindo.
— Por que eu deveria saber?
— Não lembra Code? Você saia toda hora de casa para ver uma árvore na
floresta.
— Mas... Eu não lembro disso — Codrut tem uma repentina dor de cabeça. Essa
árvore era lhe familiar e desconhecida ao mesmo tempo.
O garoto se retirou ate o quintal de sua casa. Sobre a grama verde, e
bombardeado pelos gélidos ventos, observou a floresta dançando, quase em
sincronia, tentando lembrar de que árvore seu irmão falava. O que havia naquela
floresta? “Eu não sei... Eu sabia?”.

Atravessando a tal floresta, dois trabalhadores circulavam seus caminhos. Homens


de 30 e poucos anos, usando macacões laranjas, e chapéus de segurança. O
Homem mais jovem guiava o mais velho. Eles caminharam por algum momento,
procurando algo em questão. Após alguns minutos, chegaram a uma grande árvore
em uma clareira. Sua madeira escura e suas raízes profundas cobriam toda a
região. Estava verde e viva, diferentes das outras em sua volta, finas e altas :
— É essa aqui? — Perguntou o mais velho, apontando para tal árvore.
— Não, não — Respondeu o mais jovem — Esse lugar é muito perto da cidade,
fica mais ao leste.
— Entendi então.
— E também — O jovem se aproxima da árvore — Coloca seus ouvidos aqui! — O
mais velho assim o fez, em seguida, o mais jovem bateu 3 vezes contra a madeira.
Um eco pode ser ouvido dentro da árvore.
— Você ouviu? É oca! Nossa árvore é a mais maciça de toda floresta, além do
mais, essa e muito grande.
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— Bem, nesse caso, vamos seguindo viagem.
— Vamos.
E os dois se caminharam floresta a dentro, tendo como única companhia um ao
outro.
A floresta agora retornou ao ser o que era antes. Apenas um grande campo
florestado, pacífico, tendo o Sol, a Lua e as estrelas como sua única
acompanhante.

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Nota Final : “Essa é a primeira obra que fiz até o momento que
finalizei. Tentei deixar de melhor qualidade que pude, me perdoe
em caso de erros de ortografia, concordância, ou lógica
narrativa.
Espero que tenha tido uma boa leitura, e principalmente se
entretido e divertido durante essa experiência.
Obrigado por chegar ate aqui”

B.H.N.G.
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