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EDITORAÇÃO:Teima Custódio
L727
ISBN 978-85-7934-074-1
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ISBN: 978-85-7934-074-1
Apresentação
s investigações na área de Linguística Aplicada sobre ensino de lín-
guas - português como língua materna e inglês como língua adi-
.L.LV""', nas últimas duas décadas, têm se voltado a vários objetos,
tais como os letramentos escolares e não escolares, os referenciais e propos-
tas curriculares, os processos de formação de professores, as práticas e dis-
cursos de sala de aula e os materiais didáticos impressos de diferentes tipos
presentes nessas práticas (apostilados, fascículos, cadernos do professor e do
aluno, sequências didáticas e livros didáticos).
Na pesquisa dos últimos dez anos, o Grupo de Pesquisa LDP-ProperfiF,
cujos objetivos mais gerais são descrever as características editoriais, peda-
portuguesa nos níveis de ensino fundamental e médio. A pesquisa aborda a edição didática brasi-
leira, no período entre 1998 até ° presente, quando importantes modificações foram realizadas nas
políticas de Estado para o manual escolar.
MATERIAlS DIDÁTICOS NO ENSINO DE LrnGUAS
Para as professoras participantes da pesquisa, segundo as autoras (p. 46) "um bom
LD é aquele que traz textos 'atuais', 'interessantes', 'informativos', 'educativos', 'atraentes' e 'vol-
tados para a realidade dos alunos'; conteúdo de ensino bem sequenciado, dosado, adequado à
faixa etária dos alunos e motivador; exercícios 'variados', 'criativos', 'inteligentes', que 'fixam e
reforçam o conteúdo estudado'. E, finalmente, a presença da gramática, que deve ser bem dosa-
da, 'prática' e 'objetiva'".
MATERIAlS DIDATICOS NO ENSINO DE LíNGUAS
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o livro didático e seu papel na prática docente
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co Segundo Choppin (1980: 5), uma das definições de livro escolar é:
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~ Todos os livros concebidos com a intenção de servir ao ensino. Sendo
assim, dirigem-se a todos os alunos, de todos os anos/séries, de todos
os níveis, para todos os exames, certificados e diplomas. Também se
dirigem aos professores: indiretamente primeiro por meio do livro do
aluno e, em seguida, diretamente por meio do livro do professor.
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o único instrumento de apoio do professor e que se constitui em uma impor-
tante fonte de estudo e pesquisa para os estudantes", mas que, ainda assim,
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o professor" deve buscar no livro didático as contribuições que possibilitam
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a ele mediar a construção do conhecimento científico pelo aluno, para que
:3 este se aproprie da linguagem e desenvolva valores éticos, mediante os avan-
ços da ciência, contextualizada e socialmente relevante".
Ora, como fazê-lo se a proposta autoral do LD pode ir - e quase sem-
pre estará indo - por outro percurso, sem transpor ciência situada ou so-
cialmente relevante e sem um trabalho no campo da ética?
Para Lajolo (1996: 4), por exemplo, por um lado, "o livro didático é
um importante mecanismo na homogeneização dos conceitos, conteúdos e
metodologia educacionais", mas, por outro, "apresenta conteúdos fragmen-
tados" para torná-los acessíveis à compreensão do aluno, o que, certamen-
te, dificultará uma apreensão situada, ética e socialmente relevante desses
conceitos.
A conclusão a que chega Frison et alii (2009, s.p.), citando Nufiez et alii
(2009: 03), é que
Aqui se indica uma terceira alternativa para o professor no uso dos ma-
teriais: a primeira seria estar refém do livro escolhido, a segunda seria ter
uma "autonomia" impossível a partir da organização do tempo escolar, da
jornada de trabalho e das tecnologias disponíveis", finalmente, a terceira
o Livro Público do Estado do Para ná pode ser caracterizado como uma tentativa de
contemporizar o conflito entre as duas primeiras alternativas: propõe-se um livro público úni-
co ("submissão"), mas construído pelos próprios professores em formação no Programa de
Desenvolvimento Educacional (PDE) do Estado do Paraná ("autonomia"). O problema é que resul-
MATERIAIS DIDÁTICOS NO ENSlNO DE LÍNGUAS
ta um livro único com unidades de ensino disparatadas, sem progressão e apresentando diferentes
visões de diferentes autores, para ser usado pelo conjunto de professores e alunos do Estado, esses,
não autônomos.
Especialização em Língua Portuguesa, organizado pelo Instituto de Estudos da
Linguagem da UNICAMP (lEL/UNICAMP) em convênio comaSecretaria deEstadodaEducação
de São Paulo (SEE-SP), no âmbito da Rede de Formação Docente do Estado (REDEFOR), que
atendeu aos docentes de ensino fundamental e médio.
LlNGuiSTICA APLICADA NA MODERNIDADE RECENTE
Há dez anos, o autor já aconselhava ao PNLD e ao MEC certas mudanças: são necessá-
rios, pelas razões apresentadas, esforços para que o PNLD contribua para o desenvolvimento de
novas concepções de livro didático; dê acolhida a propostas de novos modos de relação do manual
com o trabalho docente; possibilite uma renovação dos padrões editoriais associados ao conceito
de livro didático que se cristalizou na tradição brasileira. Em outros termos: para que o MEC atue
de modo mais significativo na promoção de um ensino de melhor qualidade, é necessário ampliar
a concepção de livro didático, possibilitando que a oferta de materiais inscritos se diversifique e se
enriqueça (Batista, 2003: 49).
LINGmSTICA APLICADA NA MODERNIDADE RECENTE
Saber
Teoria teórico
Saber Saber
prático prático
Planeja-
mento Aula Professor Aluno
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31
p. forma de composição como de estilo (teorias textuais) teorias linguís-
o
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1.' É sempre preciso lembrar que, muitas vezes, não há saberes teóricos disponíveis, no cam-
po dos estudos linguísticos (linguística textual, análises de discurso, teorias de enunciação, retóri-
ca, dentre outros) para descrever as características de um conjunto de textos em um gênero. Nem
sempre a ciência os valorizou o suficiente para descrevê-Ias. É o que acontece com grande parte dos
gêneros orais e com os gêneros chamados por García Canclini (2008[1989]) de "impuros", como
as HQ., os videoclipes etc. Nesses casos, temos de recorrer aos saberes práticos de seus produtores
e receptores críticos, que, aliás, são sempre úteis, mesmo quando há conhecimento de natureza
científica disponível.
MATERTATS DIDATlCOS NO ENSINO DE LlNGUAS
Objeto
de Saber
ensino teórico
Objeto Saber
de prático
ensino
Avaliação
formativa Alunos Professor Alunos
I
Apresentu'ião PRODUÇÃO
da situação INICIAL
Ela se inicia, pois, pela apresentação da situação) que visa expor aos alu-
nos os objetivos da sequência de ensino, norteados por um projeto de produ-
ção de circulação efetiva e situada, mas que só será realizado "verdadeira-
mente" na produção final. A apresentação da situação é, portanto, o momen-
to em que a turma constrói uma representação da situação discursiva e da
atividade de linguagem a ser executada.
16 Que pode ser também uma atividade de leitura reflexiva de textos do gênero, por exem-
plo. O objetivo é sempre a avaliação diagnóstica ali formativa.
LINGulSTTCA APLICADA NA MODERNlDADE RECENTE
TALITA BEDINELLI
FOLHA DE S.PAULO
Leitores vorazes dos livros de papel, segundo eles mesmos contam, os dois
começam agora a se aventurar pelo mundo da leitura digital.
O colégio onde estudam, o Notre Dame, na zona oeste de São Paulo, adotou
na semana passada uma biblioteca virtual de literatura infantil, criada pela
editora Callis.
Ela será usada ao menos uma vez por semana com as crianças dos ensinos
infantil e início do fundamental.
O objetivo das editoras é criar livros mais interativos: além de poder virar a
página e colori-Ias com o mouse, os leitores podem ouvir músicas e a narra-
ção das historinhas. Em versões para iPads, as crianças podem tocar na tela
do dispositivo e mover os personagens, por exemplo. [...]
LIVRO COMPLEMENTAR
Educadores ouvidos pela Folha dizem, entretanto, que o uso desses disposi-
tivos requer cuidado: como funcionam como uma proposta diferente da do
livro de papel, não devem substituí-Io. Os dois devem conviver.
LINGulSTICA APLICADA NA MODERNIDADE RECENTE
A escola deve manter e estimular a ida das crianças à biblioteca tradicional. Eos
pais não podem trocar a leitura de historinhas em livro de papel pelas do iPad.
Segundo ela, o livro digital, com recursos que simulam barulhos ou ações do
personagem, acabam não permitindo que a criança imagine o que está lendo e
exerça a criatividade, por isso é importante manter a leitura do livro de papel.
18 Notem que, em 2012, um livro digital interativo, que nasceu como um app para tablets
e celulares, transformado em curta metragem de animação, ganhou o Oscar: Os [antásticos livros
MATERIAlS DIDÁTICOS NO ENSINO DE L1NGUAS
Que fazer, hoje em dia, dessa polifonia? A quem dar razão? Aos alunos,
às escolas de elite e aos editores que, por razões diversas, mas principalmen-
te pelos lucros visados, valorizam os avanços das TICsj ou aos "teóricos"
e assessores de escolas públicas, aos "educadores", que buscam a preserva-
ção das tecnologias dos séculos XVII a XIX, aliás, bem mais caras e menos
flexíveis?
Como dizia Chartier, já em 1997 (p. 88-91), tratando do que chama de
quatro revoluções da escrita - a invenção da própria escrita (manuscrita), a
invenção do livro (do códice), a imprensa e as novas tecnologias-,
A notícia em epígrafe nos introduz a meu último tema: será que os avan-
ços das TICs representam simplesmente e tão somente (o que, notem, não
seria poucol), para os alunos e professores, as possibilidades interativas e hi-
permidiáticas de poder colorir um bichinho na tela, ouvir música, um áudio,
uma narração (em várias línguas), responder a um quiz, ver um vídeo, mover
objetos visuais e até mesmo jogar um game? Ou será que elas descortinam
um mirabolante novo universo de possibilidades de ensino-aprendizagem?
Escolas de elite e editores (os donos do capital) já sabem que não se trata
de "simples digitalização do livro impresso". É mais que isso. "Educadores"
proíbem veladamente. Alunos de colégios de classe A e B não se preocupam:
I'oadores do Sr. Morris Lessniore. De fato, enquanto livro digital interativo, uma obra-prima que,
antes do Oscar, ganhou treze outros prêmios como filme de animação. Após a premi ação do Oscar,
foi finalmente lançado como livro impresso, perdendo assim suas propriedades de interatividade e
animação.
LINGulSTICA APLTCADA NA MODERNlDADE RECENTE
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iil se não for lá (na escola), será cá (em casa), apesar dos conselhos apocalípti-
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rs cos dos "educadores". Mesmo os alunos de classe C e D podem ter acesso:
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-c no trabalho, em casa, na casa de amigos, em centros comunitários ou lan
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houses e, em um futuro breve, na escola. Claro que os alunos dessas classes
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e da escola pública ficam mais desvalidos e mais "barrados no baile", isto é:
na escola e na vida.
Se essas mudanças de tecnologia significam mais do que acesso à hi-
permídia - significam, como quer Chartier, acentuadas mudanças nos mo-
dos de ler e de produzir textos - então o que mais elas trazem consigo, em
especial para o ensino de línguas?
Bem, para o ensino de português nas escolas, de saída, podemos vislum-
brar novas e interessantes possibilidades - em relação aos LD impressos
- de trabalhar com textos e gêneros que eram abordados com dificuldades,
como os gêneros orais e os multimodais e hipermidiáticos. No PNLD, dife-
rentemente dos LD e materiais impressos para línguas adicionais (inglês e es-
panhol), os LD impressos de português nunca foram, até o momento, acompa-
nhados por satélites (fitas, CDS ou DVDS), que eram vetados no Programa para
esta disciplina, e que permitiriam um pequeno acervo desses textos com todas
as suas propriedades. Evidentemente, a transcrição de um texto oral não é um
texto oral e os impressos não permitem imagens em movimento ou áudio.
No caso dos materiais para línguas adicionais, os satélites acompa-
nhando o livro podem ser considerados até tradicionais. Como dizem os
professores da pesquisa de Xavier e Urias (2006), o aparelho de som e os
dicionários são mais importantes que o livro didático e até que o quadro de
giz, nas aulas de inglês.
Nos dois casos, no entanto, a presença das 'I'ICs e de dispositivos digi-
tais conectados em sala de aula tem efeitos de alcance mais amplo, como, por
exemplo, poder acessar outras amostras e acervos que não somente aqueles
valorizados e selecionados por autores e editores de impressos, tais como, no
primeiro caso (LP), amostras e acervos de diferentes culturas e variedades
do português do Brasil (que quase nunca são abordados nos LDP) e, no caso
de inglês, o mesmo: textos de diferentes culturas e de diferentes variedades
dos ingleses americano, britânico e dos ingleses do mundo.
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MATERIAIS DIDÁTICOS NO ENSINO DE LíNGUAS
Mentalidade 1 Mentalidade 2
o mundo funciona basicamente a O mundo funciona cada vez mais a
partir do físico/material e de uma partir de princípios e lógicas não ma-
lógica e princípios industriais. teriais (por exemplo) o ciberespaço) e
pós-industriais.
o mundo é "centrado" e hierárquico. O mundo é "descentrado" e "plano".
O valor é função da raridade. O valor é função da dispersão.
A produção baseia-se no modelo Visão "pós-industrial" da produção.
"industrial".
Produtos são artefatos e mercadorias Produtos habilitam serviços.
materiais.
A produção baseia-se na infraestru- Foco na influência e na participação
tura e em unidades ou centros (por contínua.
exemplo) uma firma ou companhia).
1:1 L1NGU1STlCA APLICADA NA MODERNIDADE RECENTE
Ferramentas são principalmente fer- Ferramentas são cada vez mais ferra-
ramentas de produção. mentas de mediação e tecnologias de
relação.
Vemos, pois, que esse novo "ethos" traz consigo mudanças fundamen-
tais, tanto no campo do trabalho e da produção como da vida pessoal e da
vida pública. A educação não pode continuar a ignorar essas mudanças na
formação de nossos alunos.
Portanto, trata-se de muito mais do que simplesmente dar textos a ler
em um novo suporte ou colocar em tablets PDFS de livros impressos: trata-
-se de novas relações com o mundo, o trabalho, a produção e o consumo, as
pessoas e coletivos, a cidade e a vida pública e - por que não? - também e
principalmente com o conhecimento livremente distribuído.
Para retomar a nosso tema do papel dos materiais didáticos na prática
docente do professor, vamos comentar três tipos de materiais digitais que
funcionam segundo esse novo "eihos". E o primeiro deles é justamente o li-
vro didático digital interativo (LDDI).
1" Vale a pena ver a palestra de Mike Matas no TED, apresentando seu novo livro digital Our
Choice, em abril de 2011. Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=LV-RvzXGH2Y>.
acesso: 26 set. 2013.
11 L1NGulSTlCA APLICADA NA MODERNlDADE RECENTE
Considerações finais