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DO
CICLONE IDAI
ADEUS MÃE
Bique
2019
Dados de copyright
E-mail: oscaralfredobiquissone@gmail
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Perdi a localização da palhota da minha mãe.
Sem ninguém, para me contar histórias.
Lágrimas impregnaram a minha cara.
Ajoelhei pedindo uma solução ao Senhor. Ele fortificou-me,
dizendo-me que a despretensiosa mãe estava ao lado dele, e o
humilde filho académico encontrar-lhe ia no paraíso.
Moçambique, vamos genufletir pedindo a Deus. Clamando a
salvação ao Senhor. O único dono dos céus e da terra. Ele tem
elucidação para nós.
O ciclone IDAI retirou-me a vontade de continuar a ler e
escrever.
A vontade de voltar para Maputo estudar, também desvaneceu.
Sumiu com o desaparecimento físico da minha mãe.
O ciclone IDAI levou todos os meus sonhos.
Parece que a respiração da minha mãe me dava mais força para
continuar a batalhar. A palhota dela transformou-se em areia, e
aí não consegui localizá-la.
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Pensamentos negativos, virados ao sofrimento não paravam de
mexer a minha mente.
Assim, chegava mais uma etapa da vida. O percurso que marcou
piedade no coração dos Moçambicanos. Afinal, eu não sabia que
um dia a cidade da Beira ficaria assim:
-Tudo arruinado e a cidade transformando-se em uma praia mais
profunda da história.
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tinha dinheiro. Tive que te pedir, uma vez que não tinha a quem
recorrer. Se tivesse teria-me dado mãe.
Naquele dia, as pessoas tinham dispensado o tomate para as suas
refeições. Você levou todo o dia sem vender, nem um tomate se
quer. Alias, o amor que me oferecia bastava. O sorriso que
sempre me deu foi suficiente para eu continuar com a batalha da
vida.
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possa-te ver. O nosso Deus, levou-te. Mesmo assim, sem você
em vida, nasci e cresci.
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ferido pela força de vento.
Não sei quantas vezes você chorou pedindo socorro. Só sei que
morreu e a hora não conheço.
Será que o seu corpo foi arrastado até no Oceano Índico?
Será que os tubarões alimentaram-se do seu corpo?
Será que você ainda vive?
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exigiu a minha presença. Caso contrário, perdia a bolsa.
Realmente, depois do prazo, perdi a bolsa e a minha vida
complicou-se cada vez mais.
Fui-me enquadrar num centro de acomodação, como solução.
A vida não era fácil.
“Será que terei uma vida feliz?
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Foi possível juntar tudo isso.
Porque, a idade e o tempo permitia.
“Agora, por onde começar?”
“Quanto tempo levaremos para juntar?”
“Bloco e bloco”
“Pedra e pedra”
“Areia e areia”
Construir uma casa, não é uma tarefa fácil.
Os custos de materiais de construção estão tão altos.
As vidas humanas perdidas nunca mais serão recuperadas.
Homens e mulheres que tinham muito por dar para o seu país,
para a sua família, foram-se embora. Nunca mais serão
recuperados.
Eu não sei. Só sei que ficou desgosto no coração de cada
moçambicano
Eu não sei.
Só sei que ficou lágrimas no sorriso dos moçambicanos.
Eu não sei. Só sei que ficou luto nas nossas famílias.
Como iria fazer? Será que poderia voar para viver num outro
mundo?
Será que isso seria possível?
Se voasse, iria para que direção?!
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Poderia ter escolhido uma direção aonde as coisas eram piores.
No local onde eu poderia morrer.
Também, poderia escolher uma direção aonde as coisas seriam
melhores.
Portanto, o que faria?
Continuar ou sair.
Estava sozinho, sem ninguém para me dar ideia. Aliás, não é
possível sentir a dor que está no corpo do outrem. De tudo,
obrigados aqueles que tiveram a coragem de doar, o pouco que
tinham. De ajudar um terceiro que nem conhecem, de nós dar o
calor que eles têm. Mais uma vez, obrigado.
Sai da Beira para Maputo, em busca de melhor solução de vida,
estudar. O meu sonho de me tornar um Engenheiro tinha-se ido
embora.
Eu tinha regressado sem nenhum sucesso. Talvez, se eu não
tivesse ido para Maputo, minha mãe não teria morrido. Até o
sofrimento ter-se-ia minimizado. Ou se eu não tivesse ido
estudar. Teria morrido também. Então, fiquei sem saber, qual
seria a melhor ideia.
Fiquei conformado, porque já tinha acontecido.
A menina bonita de Maputo que eu tinha escolhido, a única que
furou o meu coração e introduziu uma rosa romântica de amor,
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como a minha parceira. Ela me abandonou. Todas as promessas
que fazíamos eram falsas. Qual é o motivo de nos enganamos
dizendo:
“Te amo”
Amo-lhe, mas ela não está comigo. O Ciclone levou o coração
da minha vida. A querida mãe que me consolava, sempre me
dizia:
“Sou a sua mãe e sempre serei.
Não deposite cem por cento de confiança numa mulher.
Ela pode ser a sua esposa hoje e manhã, a esposa de outrem.”
Mãe, não levei em conta as suas palavras. Mas hoje é a
realidade. Agora, assim que você partiu. Quem fará o mesmo?
A dor de amor.
A perda de ente querido.
Todas as perdas num único coração. Desse jeito, como
sobreviver faces as perdas incomparáveis.
A solidão está-me dominando e sou o inimigo dela.
-Quem virá-me salvar?
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Quem terá essa coragem?
Afoiteza de se enfiar no rumo de martírio que eu padeço.
Agora, tudo voltando a normalidade. O nível das águas voltando
também a sanidade.
O sol brilhando para todos os sobreviventes e fazendo enxugar
as lágrimas que mana nas bochechas de milhares dos
moçambicanos.
O apagão, ainda dominando o espaço.
A iluminação artificial, sem sucesso. Porque os danos foram
piores e irreparáveis.
Os órgãos de comunicação social interrompidos.
Nós ficamos isolados do mundo social. Tanto como do mundo
virtual. Até quando com esse episódio da novela de morte sem
título?
Outros dizem:
- É a penitência de Deus.
Eu digo, não se galhofa com o nome de Senhor.
O senhor nunca traria essa ânsia para provar a sua existência.
Nós sabemos.
As coisas voltaram a normalidade. A ajuda de caridade vinda de
deferentes pontos do mundo:
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-Europa, América, Ásia e África.
A solidariedade existe.
O mundo é solidário.
A redenção, a lazeira, o asilo e as mazelas são os pontos
comuns por onde o mundo se juntou, para apoiar as vítimas de
Ciclone IDAI. O apoio chegou. Compareceu sem reparar as
etnias que constituem o país. Veio, sem reparar a cor da pele,
nem da raça.
Os centros de acomodações estão bem lotados. Abarrotado pelos
médicos e para médicos.
Sendo homens e mulheres de deferentes cores que juraram para
salvar a vida. Vindo de deferentes pontos do mundo. Mais uma
vez. Obrigado!
Moçambique é um país. Mas nele, três cenários deferentes:
-A queda normal de chuva, no norte;
-Cheias, no centro;
-Seca, no sul.
Fora de calamidades naturais. Regista-se matanças no norte do
país protagonizado pelos desconhecidos. Afinal, o que está
acontecendo?
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Situações perigosas e anormais, causadas pelos fenómenos
naturais e pelos homens desonestos.
A cólera segue atrás, poucos dias depois das cheias. Afinal, até
quando com esse sofrimento?
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As palavras já inscritas no papel estão se apagando, pela fúria
das lágrimas. Mas ele não para de escrever. Não é
constrangimento para ele. Porque, elas já estão na mente. Em
nenhum dia se apagaram na memória dos moçambicanos. Mas
no papel estão se apagando.
Mãe, esse é o meu último ano na faculdade. As organizações de
caridade apoiaram-me. Assim, voltei na capital dos pais.
Recuperei a bolsa de estudo. Também, a matéria dada. Estou
caminhando com os outros. O que aconteceu, aconteceu.
Partiu, aonde eu não conheço.
Partiu, aonde eu ainda não cheguei.
Partiu, eu fiquei.
Encontrar-te-ei com o meu pai quando o meu dia chegar. Afinal,
cada um tem o seu dia de partida. Por Isso, nascemos nos
tempos deferentes e cada um tem o seu dia de partida.
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família feliz, que tanto sonhamos quando você estava em vida.
Você será sempre a minha mãe.
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