Você está na página 1de 7

Bom dia, Freguesia

Junta de Freguesia de S. Victor, Braga


MOBILIDADE

Baptista da Costa
Junta de Freguesia de S. Victor
Braga, 20 de setembro de 2022

1
Introdução

Tinha o guião para esta intervenção pronto, mas neste domingo o Facebook da Junta de
Freguesia de S. Victor dizia “O dia amanheceu um pouco enevoado, mas convidativo para
passear pelas ruas da nossa cidade. Aproveitem e deixem-se encantar pela sua História”.

Isto trouxe-me à memória o discurso de Pablo Neruda que, quando recebeu o Prémio Nobel,
citou Rimbaud: “Ao amanhecer, armados de uma ardente paciência, entraremos nas
esplêndidas Cidades”.

Vamos fazer uma viagem a pé pela esplêndida Freguesia de S. Victor.

A mobilidade está para a cidade como o Sistema Circulatório está para o Corpo Humano,
alimenta-o.

O que parece impossível passa a ser realidade. A sinistralidade, a poluição, as alterações


climáticas obrigam a intervir na cidade. Há um sentimento de urgência.

Uma Viagem a Pé por S. Victor

Começamos nas Convertidas de Rodrigo de Moura Teles, deixando para trás a aldeia que
D. Diogo de Sousa transformou numa cidade.

Vemos à esquerda a Capela de Guadalupe com o retábulo-mor de André Soares.

Chegamos à Senhora-A-Branca, mas no lado direito não vemos o autocarro turístico. É uma
pena. A cidade deixou de dar este serviço a quem nos visita e que vindo da Rua de S.
Marcos, passava pelo café “A Brasileira”, Turismo, Basílica dos Congregados e a Livraria
Centésima Página, demonstrando que os transportes públicos podem conviver com os
peões.

Estamos na Senhora-A-Branca, a praça mais bonita de Braga com o seu Jardim de Rosas
e à direita vemos a Avenida 31 de Janeiro que vem desde o Bairro Duarte Pacheco e que
se prologa para cima pela Rua de Stª Margarida, com o Seminário Maior, até Infias.

Vamos pôr autocarros a descer a Avenida 31 de Janeiro?

Em frente temos a Igreja da Senhora-A-Branca com a imagem da Senhora das Neves.

Vamos seguir pela Via Romana XVII e acompanhar o percurso da Peregrinação ao Sameiro.

Em frente à Junta de Freguesia, a Rua da Restauração leva-nos até à Segurança Social e


ao Tribunal do lado de lá da Rodovia.
2
Seguimos em direção à Igreja de S. Victor e à esquerda temos a Rua de S. Domingos com
o Seminário Menor e o Espaço Vita.

Mais à frente a Rua Martins Sarmento, á direita, leva-nos à Escola Primária e à Escola Carlos
Amarante.

Logo depois, a Rua Bernardo Sequeira vai até Stº Tecla passando pelo Hospital Lusíadas.

Vamos pôr uma passadeira com semáforos para atravessar a Rodovia?

A meio da Rua D. Pedro V, há uma passagem na antiga “Ilha” que nos leva ao Conservatório
Calouste Gulbenkian e do lado esquerdo a Rua do Taxa com o Colégio Teresiano e a Escola
Francisco Sanches.

Vamos pôr uma paragem aqui para dar serviço a estas escola? Nesta rua já hoje passam
diariamente mais de 8 mil pessoas em transporte público.

A Rua do Taxa segue em direção ao maior museu ao ar livre da cidade, o Cemitério de


Monte D’Arcos.

Prosseguindo para a Casa da Goladas e logo à direita, depois das “Alminhas” temos o
Pavilhão do Hóquei.

Chegamos à Avenida Padre Júlio Fragata.

À esquerda vemos o maior Centro Comercial da Cidade, o Braga Parque e mais ao fundo o
Hospital de Braga. Entre eles estão, nas Sete Fontes, os aquíferos que sempre alimentaram
a cidade e que darão lugar a uma urbanização com zona de lazer.

Já que aqui estamos, vamos colocar as paragens que faltam na Rotunda do Braga
Parque para permitir transbordo? É que passam por lá muitos autocarros e as pessoas
não podem entrar.

À direita vemos o Centro da Cidade do Seculo XXI, a Rotunda das Piscinas. Ponto de
cruzamento das duas grandes avenidas da cidade, a Avenida Padre Júlio Fragata e a
Rodovia.

Não gosto do que vejo. Muitos carros, velocidade excessiva, acidentes e poluição. É
inaceitável. Temos de dar vida ao Centro da Cidade. O centro da cidade tem de ser
desenhado e não permutado.

Vamos seguir o percurso de sempre da Peregrinação ao Sameiro e vamos pela Rua Nova,
a de Stª Cruz.

3
Vamos atravessar a Avenida Padre Júlio Fragata.

Vamos colocar uma passadeira com semáforos, implementando o projeto já


elaborado?

Em frente está a Igreja de S. Victor-o-Velho e depois a Fábrica dos Sabonetes. A Confiança.

Foi lá que na campanha autárquica de 2013 os candidatos à Presidência da Câmara se


comprometeram em preservar a memória da Fábrica e atravessar a Avenida Padre Júlio
Fragata.

Depois disso a Fábrica Confiança já foi posta à venda e agora dizem que vai ser uma
Residência Universitária com um custo semelhante ao que Braga receberá em 2027 como
Capital Europeia da Cultura.

Do lado direito temos a Rua da Fábrica que cruza a Rodovia e nos leva à Zona Desportiva.

Vamos substituir a passagem aérea por uma passadeira com semáforos?

Olhado para a esquerda vemos a Rua Quinta da Armada que nos leva à Obra Social Sagrado
Coração de Maria, ao Bairro da Alegria e ao Hospital de Braga.

Continuamos pela recentemente descaracterizada Rua Nova de Stª Cruz onde nasceu e
morreu o Dr. Manuel Monteiro, que foi ministro da 1ª República e dá nome a uma sala da
Biblioteca Pública de Braga onde está depositada a sua biblioteca particular.

A capa do Facebook da Junta de Freguesia de S. Victor mostra o comboio a vapor que ligava
o Elevador do Bom Jesus á cidade que, em 1914, foi substituído pelo Carro Elétrico.

Hoje o Dr. Manuel Monteiro não teria transporte para a cidade. A Câmara de Braga retirou
os autocarros desde a Universidade em direção ao Centro da Cidade pela Rua Nova de Stª
Cruz por onde passavam 213 circulações diárias em 2017.

Vamos repor esta ligação?

Vamos aproveitar para retirar a passagem aérea sobre a Rodovia que liga a Rua Nova
de Stª Cruz ao INL, substituindo-a por uma passadeira com semáforos?

Chegamos à Rotunda da Universidade. Que confusão de trânsito e peões sempre a


atravessar as ruas. Não vamos colocar mais travessias aéreas.

Vamos levar as pessoas até mais próximo do seu destino?

4
É que a entrada na Universidade que era feita por Gualtar passou a ser feita por S. Victor
onde também estão as Escolas de Medicina, Direito, Engenharia II, Psicologia até ao Bairro
do Sol.

Não há alegria sem sol e S. Victor tem estes dois bairros.

Em 2015 no dia seguinte aos autocarros terem entrado no Hospital, havia a intenção de
entrarem na Universidade do Minho. Acontece que os acessos têm lombas muito
acentuadas e os autocarros não conseguem passar.

Fez-se um acordo em que a universidade retirava estas lombas e criava uma entrada a norte
da Escola de Medicina, permitindo que autocarros elétricos atravessassem o Campus e
dessem acesso às várias linhas, com 12 circulações por hora, que servem o Hospital.

Até hoje!

A Universidade representa mais de 30 mil deslocações diárias e está crescentemente


fechada à cidade.

Mesmo a recentemente construída ciclovia que a ligaria à Variante da Encosta é perigosa e


não legível.

Vamos reduzir, em S. Victor, a grave poluição provocada pelo acesso à Universidade?

Sim a Universidade é um dos grandes poluidores da cidade.

E se concretizarem as projetadas construções sobre a Estrada Velha ligando a Universidade


à Quinta dos Peões, a Rua de Gualtar até aos semáforos junto ao Café Tuxo será eliminada
criando graves problemas de mobilidade, retirando os percursos lineares de transportes
públicos, os percursos de peões e de bicicletas.

Os carros podem e devem sair dessa rua pela projetada ligação da Rotunda do Café Tuxo
ao Fojo.

As opções Políticas

A nova Visão para mobilidade em Braga foi estruturada desde 2012.

O plano, com metas, foi público em 2014 e incluído no PDM – Plano Diretor Municipal e, com
ele, previa-se até 2025:

- Retirar 25% dos carros da cidade

- Construir 80 km de ciclovias

5
- Ter 10 mil utilizadores regulares de bicicleta

- Duplicar o número de passageiros transportados pelos Transporte Urbanos

- Criar uma rede regrante de transportes públicos em BRT.

O traçado do sistema regrante de transportes em BRT foi decidido em 2014. É o “Anel da


Mobilidade” composto por duas linhas que se encontram nos extremos. Uma na Rodovia
desde a Estação da CP em Ferreiros até à Estação de Serviço da Prio, no Fojo e outra desde
o E’Leclerc até Novainho, em Gualtar, que cruza o Centro Histórico.

O traçado das linhas de transporte público é uma decisão política. A título de exemplo,
recordo que Nantes, cidade pioneira na europa no transporte público, decidiu começar por
construir uma linha que promovia a coesão social em vez da que os técnicos, com estudos
de procura, recomendavam.

Mas a realidade em Braga é:

- Há dez anos que não se faz um corredor de BUS

- Não há prioridade semafórica para o Transporte Coletivo

- Não há duplos sentidos nos traçados dos transportes públicos

- Circuitos Urbanos 40 e 41, que servem o Hospital não têm uma frequência de 20 em 20
minutos, sete dias por semana, indispensável para complementar a oferta já existente,
nomeadamente as linhas 95 e 96.

Conclusão

A mobilidade urbana é determinante para a economia e o bem-estar coletivo e deve dar


resposta às necessidades reais da sociedade.

Um bom sistema de transportes dá acesso ao trabalho, á saúde e ao ensino.

Se é verdade que a sociedade exige a redução da sinistralidade e da poluição, também é


certo que a construção de um sistema regrante de transportes, que implica grandes
intervenções físicas na cidade, não pode ignorar o património e deve participar na
modernização da memória e valorização das preexistências.

6
Melhorar a mobilidade não exige, obrigatoriamente, grandes investimentos. Há pequenas
intervenções que podem fazer toda a diferença no dia-a-dia dos utilizadores da cidade.

Você também pode gostar