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Introdução A AED
Introdução A AED
1 Cf. CHIASSONI, Law and economics: l‘analisi economica del diritto neglio stati
uniti, 1992, p. 15-23.
Cf. ALPA, A análise econômica do direito na perspectiva do jurista, 1997, p. 5 et seq.
STIGLER assinala que “The legal scholar is asked to employ a type of economic
logic and a set of statistical techniques which are not part of his traditional training”.
STIGLER, The law and economics of public policy: a plea to the scholars, apud
CHIASSONI, Law and economics: l`analisi economica del diritto neglio stati uniti,
1992, p. 15. Sem grifos no original.
2 POSNER, Some uses and abuses of economics in law, 1979, p. 281-282. O autor
esclarece que, embora o trabalho de BENTHAM tenha sido antecipado pelo de
BECCARIA (Essay on crimes and punishments), a análise de BECCARIA foi menos
sistemática do que a de BENTHAM. POSNER, op. cit. p. 282.
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O primeiro ramo progrediu rapidamente junto com a Teoria Econômica e
a expansão da regulação governamental dos mercados (Direito Antitruste3 ,
regulação de infra-estrutura básica, Direito de Patentes, Direito Autoral, Tributá-
rio e regulação do sistema financeiro e do comércio internacional). O se-
gundo só veio a ter maior desenvolvimento, chamado por Posner de
renascimento, com os estudos empreendidos pela nova análise econômica
do direito (1979, p. 282-283).
A nova análise econômica do direito (AED – Law and Economics) surgiu
nos Estados Unidos no início da década de 1960, com um artigo de Ronald
Coase (1990, p. 133-185) sobre os problemas dos custos sociais e outro
artigo de Guido Calabresi (1961) tratando da distribuição dos riscos e a
responsabilidade civil.4
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Retomando o argumento sobre a evolução histórica e corroborando as
afirmações anteriores, temos que antes de 1960, a Análise Econômica do Direi-
to consistia basicamente na análise econômica do Direito Antitruste (e alguns
trabalhos em Direito Tributário, Direito das Sociedades por Ações e discussões
sobre serviço público e temas correlatos) o que proporcionou informações vali-
osas sobre o mercado, permitindo aos economistas uma maior compreensão
do mecanismo de funcionamento, da racionalidade econômica e das conseqü-
ências das práticas monopolísticas. Tais descobertas proporcionaram um trata-
mento jurídico mais compatível com a realidade (POSNER, 1998, p. 25). A
‘velha’ AED, na perspectiva de Adam Smith, se refere a leis que afetam o
funcionamento da economia e dos mercados. Examina os efeitos que a lei tem
sobre a concorrência, o desempenho dos mercados, indústrias e empresas,
bem como sobre variáveis econômicas como preços, investimentos, lucro, dis-
tribuição de renda e utilização de recursos. Inclui as leis que afetam a concor-
rência, a regulação das atividades econômicas, os impostos e o comércio, cujas
aplicações evidenciaram-se diante das privatizações e novo modelo
liberalizatório inspirado na economia de mercado, os quais paradoxalmente
colocam em primeiro plano a regulação das atividades econômicas
(VELJANOVSKI, 1994, p. 21-22).
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II – Coase e o problema dos custos sociais
Em seu artigo, The problem of social cost, Coase trata do custo social
ou das externalidades8 produzidas pelas atividades econômicas, sendo, em ter-
mos gerais, uma crítica à postura intervencionista outorgada ao Estado pela
teoria econômica nas soluções dos problemas das falhas de mercado. Coase
ressalta a incoerência da teoria econômica ao ignorar o problema dos custos
que a própria intervenção do Estado cria ao procurar corrigir as falhas do merca-
do. Para o autor, tal intervenção só seria admissível se implicasse em um custo
menor que o custo da falha de mercado que se buscava corrigir. Seu ensaio
contém as premissas fundamentais desta nova abordagem e constitui o ponto
de partida de toda a análise econômica do Direito permitindo a introdução da
análise custo-benefício ao processo de tomada de decisões jurídicas e a utiliza-
ção pelos juristas do aparato analítico dos economistas para examinar e quantificar
os efeitos do direito (COASE, 1990, p. 133-185).
A questão principal analisada por Coase relaciona-se aos atos que provo-
cam danos a terceiros. O ponto de partida do autor (1990, p. 133-185) é a
discordância às conclusões feitas por Pigou a respeito dos prejuízos sofridos por
terceiros, cujas propriedades localizam-se nas vizinhanças de uma fábrica
emissora de fumaça. Os custos suportados pela empresa são chamados custos
privados, enquanto a soma total dos custos é denominado custo social
(PIGOU, 1950).
Coase critica a posição de Pigou, segundo a qual, o dono da fábrica seria
responsabilizado pelo dano causado e como solução para o caso, deveria exigir-
se o pagamento de um imposto ou o equivalente em dinheiro para indenizar o
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livre mercado, pressupondo concorrência perfeita, informação perfeita e sem
custos de transação, a distribuição dos recursos será eficiente e não afetará as
disposições legais, respeitando o impacto inicial dos custos que resultam das
externalidades – ou seja, quando os custos de transação ou negociação são
nulos, os direitos de propriedade serão transferidos aos agentes que atribuam o
maior valor a estes direitos. Coase demonstrou ainda que o nível de poluição
seria o mesmo, quer a lei atribuísse a responsabilidade ao poluidor ou não,
desde que as partes envolvidas pudessem reunir-se para negociar a custos
não proibitivos. Os ganhos da não negociação e não os decorrentes da lei,
determinariam o destino dos recursos entre suas utilizações alternativas
(VELJANOVSKI, 1994, p. 310).
Embora a hipótese de ausência de custos de transação seja irreal, do
ponto de vista de um modelo teórico, traz vantagens para a análise jurídico-
econômica do mundo real, tal como ocorre com a concorrência perfeita ou a
teoria dos mercados contestáveis. 10
Stigler, no capítulo 6 de sua Teoria dos Preços, ao tratar de custos priva-
dos e custos sociais, faz considerações relacionadas ao artigo seminal de Coase,
em que relaciona conceitos jurídicos e econômicos, ficando clara a
interdisciplinaridade entre Teoria Econômica, Direito de Defesa da Concorrên-
cia, Law and economics e Direito Econômico.11
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Se a lei responsabilizar o plantador pelos danos, o rebanho ainda será de 12
cabeças. Porque agora os plantadores oferecerão ao criador somas iguais ao dano
marginal se ele não aumentar o rebanho. Se, por exemplo, o rebanho for de 12
cabeças,os plantadores oferecerção até $ 4 para o criador não acrescentar a 13ª
cabeça de gado. Desde que ele peder esta receita pela inclusão do 13º animal,
este é o custo (porque os custos são alternativas prévias). A maneira por que a lei
determine a responsabilidade não afetará o custo marginal privado da produ-
ção de gado e de trigo.
Mas este procedimento obviamente conduz aos resultados sociais corretos – os
resultados seriam obtidos se tanto a fazenda de gado como as de trigo perten-
cessem ao mesmo dono. O teorema de Coase, assim assevera, que sob concor-
rência perfeita os custos sociais e privados serão iguais. Esta proposição é tanto
mais notável para nós, economistas mais velhos que, durante uma geração, acredi-
tamos no oposto disso, do que será para o jovem leitor que nunva esteve errado
neste ponto.
A proposição de que o volume de produção não será afetado pela maneira pela
qual a lei determina a responsabilidade por danos parece surpreendente. Mas
não deveria ser. Muitas vezes, as leis provam não ter importância: as leis especifi-
cando que o vendedor ou alternativamente, o comprador deve pagar o imposto
sobre vendas a varejo são em efeito completamente equivalentes. De modo igual,
a determinação de responsabilidade por danos pode ser ignorada: é só imagi-
nar que o mesmo fazendeiro cria gado e planta trigo, e se torna óbvio que a
determinação de seu volume de produção será independente da responsabili-
dade. Ou será proveitoso criar gado e plantar trigo, e então, um ‘produto’ ’pagará’
o quantum necessário para maximizar a soma dos volumes de produção dos dois
(não importa quais sejam os arranhos legais), ou não será proveitoso, e então, um
dos produtos não será produzido.
A proposição precisa, com certeza, ser qualificada por um fato importante.
Quando uma fábrica lança fumaça sobre milhares de residências, a solução
ideal é arranjar um sistema de compensação pelo qual os proprietários de
residências paguem à fabrica para instalar um redutor de fumaça, até o ponto
em que o custo marginal da redução de fumaça seja igual à soma dos ganhos
marginais dos proprietários. Mas os custos dessa transação podem ser proibitivos
– de reunir os proprietários, de avaliar os danos, etc., – de modo que, somente
uma intervenção reguladora pode ser exeqüível. Uma política reguladora em si
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III – Calabresi e a crítica ao sistema de regulação dos acidentes
12 CALABRESI, Some Thoughts on Risk Distribution and the Law of Torts, Yale Law
Journal, v. 68, 1961, p. 499 e ss., apud PACHECO, El análisis económico del
derecho: una reconstrucción teórica, 1994, p. 29.
Cf. CHIASSONI, Law and economics: l‘analisi economica del diritto neglio stati
uniti, 1992, p. 113-140.
13 MERCURO e MEDEMA, Economics and the law: from Posner to post modernism,
1999, p.66-83.
Cf. ALPA, A análise econômica do direito na perspectiva do jurista, 1997, p. 18.
14 Cf. POLINSKY, An introduction to law and economics, 1989, p. 39-52.
Cf. CALABRESI, La responsabilità civile como diritto della società mista, 1982, p.
496-516.
Cf. CALABRESI e MELAMED, Modelli di analisi economica e regole giuridiche
nella disciplina della proprietà, 1982, p.145-154.
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Esta hipótese dificilmente é encontrada na realidade conforme aponta
Hovenkamp, ao lembrar que mesmo uma lei prescrevendo a punição ao furto
é Pareto ineficiente, uma vez que estabelece uma situação desvantajosa para
os criminosos, o mesmo ocorrendo quando normas de defesa da concorrência
incidem sobre condutas anticompetitivas. Daí ser mais apropriado considerar a
eficiência alocativa pelo critério “Pareto Potencial”.19
Posner utiliza o conceito de eficiência que mais se aproxima da realida-
de, o de “Kaldor-Hicks”,20 também chamado “Pareto Potencial”. Nessa hipóte-
se, situação eficiente é aquela em que os benefícios são superiores às
perdas e os prejuízos sofridos por terceiros podem ser compensados, ainda
que isso não ocorra.
Desse modo, eficiência para Posner significa o resultado da maximização
do valor, obtido na exploração dos recursos necessários à satisfação das neces-
sidades econômicas do homem. Há eficiência quando se atinge o valor máximo
proposto pelo vendedor, comparado ao valor máximo que se tem a intenção de
pagar, situação em que ocorre incremento de riqueza para ambas as partes
(POSNER, 1998, p. 13-17).
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POSSAS afirma que estas barreiras se existirem, são logicamente
preexistentes à própria configuração do mercado e suas estruturas de parcelas
de mercado (market shares) atuais, porque elas decorrem de condições estrutu-
rais, técnico-produtivas e de mercado, que não são essencialmente alteradas
por eventuais operações de concentração.27
Possas (1996) considera como distorcidos os critérios de dimensionamento
do mercado relevante. Há uma tendência de subestimação do potencial com-
petitivo e inibidor de práticas abusivas, visto que a própria definição de merca-
do relevante torna a possibilidade de substituição de serviços ou produtos pelo
consumidor muito restrita.
Posner (1976) adverte que nestas condições o poder de mercado das
empresas se torna superestimado fazendo com que um número surpreendente
de fusões inócuas possam vir a parecer perigosamente monopolísticas.28
29 Cf. United States v. General Dynamics Corp, 415 U.S. 486 (1974). Continental T.V.,
Inc. v. GTE Sylvania Inc., 433 U.S. 36 (1977). MORGAN, Cases and materials on
modern antitrust law and its origins, 2001, p. 485.
30 HOVENKAMP, Antitrust policy after chicago, in GAVIL, An antitrust anthology,
1996, p. 417.
MORGAN destaca em 1992 divergências na Suprema Corte quanto ao uso dos
postulados da Escola de Chicago. No Caso Eastman Kodak Co. v Image Techinical
Services, Inc., 504 U.S. 451 (1992), a eficiência é criticada como critério consisten-
te à aprovação de atos concorrenciais.
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Não obstante, Hovenkamp destaca a indiscutível, essencial e definitiva
contribuição estabelecida pela Law and Economics à política de defesa da con-
corrência, com o que corrobora Guido Alpa ao afirmar que os instrumentos da
análise econômica não se restringem ao Direito Antitruste podendo ser usados
no estudo dos demais ramos do direito e instituições jurídicas, tanto do common-
law como dos ordenamentos romanos-germânicos, ainda que se julgue no sen-
tido do sistema não tender à eficiência e mesmo admitindo que a eficiência
não deva ser considerada como um objetivo importante (1997, p. 33-34).
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