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ELEMENTOS DA CARTOGRAFIA SOCIAL E A

REPRESENTATIVIDADE DO ESPAÇO GEOGRÁFICO NO ENSINO


DE GEOGRAFIA

Ana Paula Benato; Ramon de Oliveira Bieco Braga; Stefany Pontes de Freitas.

Palavras-chave: Cartografia Social, Ensino de Geografia, Geografia.

Introdução

Na educação básica, a disciplina Geografia almeja sensibilizar as pessoas em torno da


vivencia espacial que é múltipla e fluída por que as pessoas transitam por discrepantes espaços
formais e não formais como, por exemplo, o bairro, a escola, a unidade de saúde, o
supermercado, a via pública, etc.
O ensino de Geografia visa que o aluno (a) seja capaz de compreender as mais díspares
realidades construídas socialmente a partir da relação destes com a natureza, isto é, a Geografia
ultrapassa a mera descrição e quantificação dos lugares, espaços e territórios de modo a superar
a dicotomia existente nessa ciência em relação ao mundo físico e ao mundo social.
É notável a complexidade da vida em sociedade ao que tange relações socioespaciais
e visando responder estas questões foi necessária a criação de novos instrumentos e estratégias
a fim de tornar tangível as realidades e tendências que estão presentes na vida cotidiana. Nesse
contexto, surgiu a Cartografia Social como tentativa de elucidar as realidades sociais a partir da
participação social na confecção de mapas no final do século XX.
Nesse contexto, a vivência multiescalar do espaço geográfico possibilita problematizar
como a Cartografia Social reconhece os elementos espaciais e exorta a inteligibilidade do
espaço geográfico?
Diante do exposto, objetiva-se teoricamente apresentar concepções acerca da
Cartografia Social para o ensino de Geografia, afim de sensibilizar acadêmicos e docentes de
Geografia sobre o seu uso na educação básica, sobretudo nos anos finais do Ensino
Fundamental e no Ensino Médio.

Considerações acerca da Cartografia Social

Conforme Ascelrad (2010), a Cartografia Social surgiu no final do século XX,


juntamente com as representações cartográficas que passaram a contemplar a participação de
populações locais nos processos de produção de mapas, sendo que essa nova forma de
mapeamento envolvia, e ainda envolve, agências governamentais, organizações não
governamentais, povos e comunidades tradicionais como indígenas e quilombolas, cooperação
internacional, fundações privadas, universidades, dentre outros.
Segundo a SEED-PR (2010), a Cartografia Social se remete à uma proposta de
conceitos e metodologias que almejam a construção de conhecimentos a partir de técnicas
elencadas a experiências do convívio social, dependendo da participação e do compromisso
social no processo de construção dessa Cartografia.
Nesse contexto, a Cartografia Social se trata de uma construção de díspares
conhecimentos a partir da ação e do comprometimento coletivo, tornando possível a
aproximação das pessoas com o espaço geográfico que vivem, assim como com as realidades
socioeconômicas e com os processos históricos e culturais elencados as mais diferentes
realidades sociais (SEED-PR, 2010).
Segundo Landim Neto, Silva e Costa (2016), as relações do mundo contemporâneo
devem ser compreendidas para além das quantificações e é nesse contexto que entra a
Cartografia social, isto é, essa cartografia consiste em um procedimento metodológico
participativo que tem por objetivo central a confecção de mapas que consideram dimensões
coletivas e participativas da sociedade que colabora com tal cartografia.
Conforme a SEED-PR (2010), a Cartografia Social é compreendida como uma
ferramenta que possibilita a facilitação no manuseio das informações a partir do impacto visual
dos mapas confeccionadas.
De acordo com Bargas e Cardoso (2015), com a Cartografia Social é possível produzir
mapas que congregam o conhecimento técnico da própria cartografia clássica na elaboração de
mapas com os conhecimentos de mundo e as experiências de comunidades tradicionais, e
movimentos sociais.
Entretanto, conforme a SEED-PR (2010), a Cartografia Social utiliza instrumentos que
vão além dos mapas participativos, isto é, essa cartografia se apropria de instrumento como as
entrevistas (estruturadas e abertas), as observação participativa, as pesquisas relacionadas às
percepções individuais e demais instrumentos sociais que podem ser compreendidos como
oficinas, reuniões, narrativas da vida cotidiana, dentre outros.
Conforme Landim Neto, Silva e Costa (2016), a Cartografia Social trata-se de um
instrumento capaz de produzir conhecimento numa perspectiva de diálogo com das produções
científicas juntamente com o conhecimento produzidos pelas pessoas do cotidiano a partir do
princípio da produção social. Isto é, a Cartografia Social trata-se de uma dialética.
O campo em que a Cartografia Social se insere é constituído por disputas, sendo que
os grupos sociais contidos em determinados territórios possuem uma intrínseca necessidade de
estabelecerem formas próprias de representação do território em que estão a partir de técnicas
ditas como convencionais de cartografia (LANDIM NETO, SILVA, COSTA, 2016).
De acordo com a SEED-PR (2010), A Cartografia Social consiste em uma proposta de
instrumento a serviço da cidadania, dando visibilidade aos grupos oprimidos a fim de tornar
inteligível as múltiplas violências e os conflitos territoriais que estes sofrem diariamente.
Dessa forma, a Cartografia Social está enraizada no campo das Ciências Humanas e
sociais, que vai muito além de mapeamento de aspectos físicos, tratando-se de um mapeamento
que evidencia relações, movimentos, pertencimento, lutas, disputas, jogos, práticas de
resistência e até mesmo liberdade (LANDIM NETO, SILVA, COSTA, 2016).
A educação, as Ciências Socias e as novas tecnologias possuem uma dívida histórica
com os grupos marginalizados e oprimidos e nesse contexto, fez-se necessária a criação de
instrumentos e metodologias que elucidem as realidades socias, sensibilizem para as diferenças
e superem as desigualdades (SEED-PR, 2010).
Desse modo, Pussinini, Pidorodeski e Toledo (2012), afirmam que a partir de
representações dos cotidianos dos diversos grupos sociais com a incorporação de aspectos
naturais, culturais, conflitos e ideias, são aspectos relevantes para o trabalho de geógrafos e
geógrafas.
De acordo com Landim Neto, Silva e Costa (2016), a Cartografia Social se direciona
à construção do conhecimento de forma integral do território a partir de junções e
representações das percepções das pessoas no processo de um mapeamento de forma
participativa. Trata-se de uma cartografia que denuncia conflitos e tensões, bem como trata-se
de uma metodologia que ultrapassa a fronteira da objetividade cartesiana na elaboração de
mapas, pois a Cartografia Social leva em consideração um conjunto de percepções subjetivas
voltadas à construção de mapas.
Segundo a SEED-PR (2010), as pesquisas que tangenciam à Cartografia Social são
compreendidas como pesquisas humanistas e humanizadoras por se tratarem de uma ação
participativa em que um saber comum é legitimado com técnicas de cartografia, visando
entendimento e soluções de problemas e/ou conflitos.
Deve-se levar em consideração a complexidade na compreensão dos mapas elaborados
a partir dessa ferramenta social por parte dos grupos que não fazem parte da realidade ali
elucidada, pois na construção social participativa destes mapas aparecem símbolos e aspectos
culturais que fazem parta da vida cotidiana de um território em específico, tornando difícil a
compreensão destas simbologias para quem observa o fenômeno retratado a partir de outra
perspectiva (SEED-PR, 2010).
Portanto, segundo a SEED-PR (2010), a Cartografia Social é compreendida como uma
prática facilitadora enraizada no processo de aprendizagem a partir da reflexão de problemas
concretos vivenciados pelos discentes.
Nos espaços escolares, a Cartografia Social está presente no currículo do ensino de
Geografia e cabe ao docente sensibilizar o corpo discente acerca da temática, tomando cuidado
para que o conteúdo de cartografia não seja interpretado somente com atividades lúdicas como,
por exemplo, ‘pintar mapinha’, porém cabe ao docente sensibilizar espacialmente o corpos
discente acerca do espaço vivenciado internamente e externamente ao espaço escolar.

Considerações Finais

A Cartografia Social é uma potente ferramenta que empodera a comunidade escolar


afim de reconhecer as potencialidades e identificar as dificuldades espaciais em relação ao uso
e ocupação do solo, bem como a compreensão do espaço urbano e rural.
Esse instrumento cartográfico sensibiliza, e depende, da participação social ativa para
a elaboração das mais diferentes realidades sociais e a partir da participação social, realidades
que poderiam passar despercebidas pelo pesquisador (a) são retratados com o olhar de quem
vivência e experiencia o espaço no dia a dia da convivência socioespacial.
A Cartografia Social é capaz de exortar uma educação que pense as desigualdades
mundanas a partir do oprimido e não para o oprimido, lhes concedendo voz e vez em relação
as realidades que eles próprios vivenciam e denunciam.
Ela sensibiliza as pessoas a analisarem o espaço vivenciado e as posiciona como uma
pessoa que produz e transforma o espaço geográfico. Portanto, a Cartografia Social é uma
estratégia de ensino que o(a) docente de Geografia deve utilizar em sala de aula e os produtos
cartográficos produzidos nessa perspectiva como, por exemplo, croquis, podem aproximar
os(as) discentes do conteúdo específico.

REFERÊNCIAS

ACSELRAD, Henri. Cartografia social e dinâmicas territoriais: marcos para o debate. Rio
de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto de Pesquisa e Planejamento
Urbano e Regional, 2010.
BARGAS, Janine de Kássia Rocha; CARDOSO, Luís Fernando. Cartografia Social e
organização política das comunidades remanescentes de quilombos de Salvaterra, Marajó, Pará,
Brasil. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi Ciências Humanas. Belém, v. 10, n. 2, p.
467-488, 2015.
LANDIM NETO, Francisco Otávio; SILVA, Edson Vicente da; COSTA, Nátane Oliveira da.
Cartografia Social instrumento de construção do conhecimento territorial: reflexões e
proposições acerca dos procedimentos metodológicos do mapeamento participativo. Revista
Casa da Geografia de Sobral. Universidade Estadual vale do Acaraú, v. 18, n. 2, p. 56-70,
2016.
PUSSININI, Nilmar; PIDORODESKI, Adriana; TOLEDO, Bruno Henrique Costa. Cartografia
Social dos povos e comunidades tradicionais no paraná: novas perspectivas temáticas para a
cartografia. Entre-Lugar. Dourados-MS, n. 5, p. 19-36, 2012.
SEEDPR – Secretaria Estadual de Educação do Estado do Paraná. Conhecendo a Cartografia
Social, técnicas, vantagens e limitações: Caderno Temático. Curitiba: SEEDPR, 2010.
Disponível em:
<http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/cadernospde/pdebusca/producoes_pde/2010/2
010_ufpr_geo_pdp_manoel_messias_moraes_da_costa.pdf > Acesso em: 29/08/2018

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