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CURSO DE VERÃO

OFICINA DE
RESTAURO

Dia 01
Prof. Luiz Felipe César
Centro Universitário UNA
2021.1
PROGRAMAÇÃO

Dia 01
Teoria de restauro e instrumentos de patrimônio.
Lançamento das Atividades 01 e 02.

Dia 02
Discussão dos resultados da Atividade 01.
Sistemas construtivos e descrição arquitetônica de bens
de interesse cultural e histórico.

Dia 03
Discussão dos resultados da Atividade 02.
Considerações finais.
PROGRAMAÇÃO

Atividade 01. Construção de fundamentação teórica de projeto.


Utilizar o projeto desenvolvido na UC de Projeto de Reabilitação,
Conservação e Restauro (ou algum outro à escolha) e desenvolver
texto de fundamentação teórica, com base na teoria de restauro.

Atividade 02. Construção de ficha de inventário.


Escolher uma edificação de interesse histórico e cultural
localizada na RMBH e preencher modelo de ficha de inventário,
considerando, especialmente, a ficha técnica da edificação e a
descrição arquitetônica.
CONCEITOS
Primeira missa no Brasil, Victor Meirelles, 1858-1860.

“[...] autores apontam a


modificação e o desaparecimento
da narração tradicional com o
advento da modernidade.”

(CASTRIOTA, 2009)
COM A LÓGICA
DA PERMANÊNCIA
TRADIÇÃO TEM RELAÇÃO

Construção de oca indígena em aldeia Kuikuro, acervo do Museu do Índio.


Obras da Av. Beira Mar, Rio de Janeiro, 1906.
MODERNIDADE TEM RELAÇÃO
COM A LÓGICA
DA MUDANÇA
CULTURAIS ESTÃO
TODOS OS SISTEMAS

EM CONSTANTE MUDANÇA

Índio registra com celular luta em aldeia, Revista Época, 2019.


CONCEITOS

Fotomontagem com casa de BH, Fernando Goes, 2014.


“[...] no mundo moderno, a lógica
da cultura passa a ser a da própria
mudança, da substituição
incessante de valores e modelos.”

(CASTRIOTA, 2009)
LIDAR
COMO

COM A
MUDANÇA
CONTÍNUA?
CONCEITOS

Terreno após demolição da edificação, autor desconhecido, 2016.


MONUMENTO

Monumentum deriva de monere

Plastico di Roma Imperiale, Italo Gismondi, 1971.


que significa “advertir”, “lembrar”.

O monumento tem o propósito de


tocar pela emoção uma memória
viva.
Obeliscos monolíticos de Axum, Etiópia.
OS MONUMENTOS
SÃO UNIVERSAIS CULTURAIS,
PRESENTES EM TODOS CONTINENTES
Arco do triunfo, Paris.

OS MONUMENTOS
BUSCAM REMEMORAR OU
FAZER REMEMORAR
OS MONUMENTOS

PENSADOS A PRIORI
SÃO INTENCIONADOS,

Veduta di Campo Vaccino, Giovanni Battista Piranesi, 1772.


MONUMENTO HISTÓRICO
A Queda da Bastilha, Jean-Pierre Houël, 1789.

O monumento histórico é uma


invenção ocidental europeia.

A fase de consagração do
monumento surge no início do século
XIX na França, após a destruição de
edificações históricas no período da
Revolução Francesa.
SÃO UMA INVENÇÃO
EUROPEIA DO SÉCULO XIX
OS MONUMENTOS HISTÓRICOS

Notre-Dame, fotog. de Charles-François Bossu dit Marville, 1860.


Fazenda do Leitão, atual sede do Museu Abílio Barreto, Belo Horizonte, c. 1935-39.

OS MONUMENTOS HISTÓRICOS
SÃO CONSTITUÍDOS A POSTERIORI,
COMO OBJETOS DE SABER
TEMPO LINEAR
Paisagem contemporânea Ouro Preto, MG, Brasil.

TEMPO CÍCLICO

Ritual de Ise Grand Shrine, Ise, Japão.


PRESERVAÇÃO NO BRASIL

A ideia de preservação de monumentos

Cartaz da Semana de Arte Moderna, São Paulo, 1922.


históricos no Brasil virá dos intelectuais
modernistas que irão elaborar e
implementar políticas de patrimônio.

1924. A busca modernista pelas raízes do


Brasil irá voltar o olhar para o passado
colonial do país, fazendo estes uma viagem
pelo interior mineiro.
Fotos da caravana modernista em Ouro Preto, 1924.

Fazenda do Leitão, atual sede do Museu Abílio Barreto, Belo Horizonte, c. 1935-39.

A SÍNTESE CULTURAL
BRASILEIRA ESTÁ NO BARROCO
DAS CIDADES MINEIRAS Ouro Preto, 1924, desenho de Tarsila do Amaral.
PRESERVAÇÃO NO BRASIL

1933. Ouro Preto sagrada a “monumento

Carta de Mario de Andrade a Gustavo Capanema, 1936.


nacional através do decreto nº 22.928.

1936. Mário de Andrade junto com


Gustavo Capanema, ministro da educação,
prepara proposta de lei de preservação a
ser submetida ao Congresso Nacional.
PRESERVAÇÃO NO BRASIL

Fotografia de Rodrigo Melo de Franco Andrade (1898-1969).


1937. Criação do SPHAN (Serviço do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) e
Decreto Lei nº 25 fornece ao órgão os meios
legais para a política de preservação.

Início da direção de Rodrigo Melo de Franco


Andrade junto ao SPHAN, a qual irá durar
até 1967. O tombamento é o instrumento
central desta primeira fase do SPHAN.
PRESERVAÇÃO NO BRASIL

“Art. 1º. Constitue [sic] o patrimônio histórico e artístico nacional o conjunto dos bens
móveis e imóveis existentes no país e cuja conservação seja de interesse [sic] público,
quer por sua vinculação a fatos memoráveis da história do Brasil, quer por seu
excepcional valor arqueológico ou etnográfico, bibliográfico ou artístico.”

O Decreto Lei nº. 25/1937 cita apenas os bens móveis e imóveis como
referências patrimoniais brasileiras.
PRESERVAÇÃO NO BRASIL
Classificação
Patrimônio cultural
Os bens de natureza
material podem ser
Bens materiais. considerados imóveis, como
as cidades históricas, sítios
Bens imóveis. Bens móveis. arqueológicos e
paisagísticos e bens
individuais; ou, móveis,
como coleções
arqueológicas, acervos
museológicos, documentos,
bibliográficos, arquivisticos,
entre outros.
PRESERVAÇÃO NO BRASIL

O Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional possuirá quatro Livros do Tombo, nos
quais serão inscritas as obras a que se refere o art. 1º desta lei, a saber:
1) no Livro do Tombo Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico [...];
2) no Livro do Tombo Histórico, as coisas de interêsse histórico e as obras de arte histórica [...];
3) no Livro do Tombo das Belas Artes, as coisas de arte erudita, nacional ou estrangeira [...];
4) no Livro do Tombo das Artes Aplicadas [...].

O Decreto Lei nº. 25/1937 estabelece o instrumento de tombamento e seus


quatro Livros do Tombo para proteção e salvaguarda dos monumentos
históricos.
PRESERVAÇÃO NO BRASIL

Art. 17, do Decreto Lei 25/37, decreto lei federal: As coisas tombadas não poderão, em caso
nenhum ser destruídas, demolidas ou mutiladas, nem, sem prévia autorização especial do
Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, ser reparadas, pintadas ou restauradas,
sob pena de multa de cinquenta por cento do dano causado. Parágrafo único. Tratando-se de
bens pertencentes á União, aos Estados ou aos municípios, a autoridade responsável pela
infração do presente artigo incorrerá pessoalmente na multa.

A decretação de que um bem está tombado gera algumas restrições ao


direito de propriedade do proprietário daquele bem.
PRESERVAÇÃO NO BRASIL

1938. Cidades de São João del-


Rei, Diamantina, Ouro Preto,
Mariana, Serro e Tiradentes

Paisagem contemporânea do Serro, MG.


inseridas nos livros do Tombo do
Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional.

Criação do Museu da
Inconfidência, Ouro Preto, MG.
PRESERVAÇÃO NO BRASIL

1940. Criação do Museu das


Missões, Santo Ângelo, RS.

1945. Criação do Museu do Ouro,

Museu das Missões na atualidade, RS.


Sabará, MG.

1954. Criação do Museu do


Diamante, Diamantina, MG.

1957. Criação do Museu da


Abolição, Recife, PE.
PRESERVAÇÃO NO BRASIL

1970. Transformação do DPHAN (mudança de 1946) em


IPHAN, como é conhecido atualmente.

Começa um processo de descentralização das políticas,


com a criação de órgãos estaduais e municipais, como o
IEPHA em Minas Gerais.

A partir deste momento, observa-se uma ampliação do


conceito de patrimônio no Brasil.
PRESERVAÇÃO NO BRASIL

1988. O retorno à democracia estabelece a

Ulysse Guimarães apresenta a Constituição, 1988.


Constituição Federal de 1988, que assegura, os
seguintes instrumentos para proteção e
salvaguarda do patrimônio: inventários, registro,
vigilância, tombamento, desapropriação, entre
outros.

Com a Constituição, o inventário foi finalmente


alçado, no Brasil, a instrumento jurídico de
preservação do patrimônio cultural.
PRESERVAÇÃO NO BRASIL

Art.216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e


imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à
identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira,
nos quais se incluem: l. as formas de expressão; ll. os modos de criar, fazer e viver;
lll. as criações cientificas, artísticas e tecnológicas; lV. as obras, objetos, documentos,
edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais; V. os
conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológicos.

A Constituição Federal de 1988 irá incluir, enfim, a categoria do


patrimônio imaterial junto à material.
PRESERVAÇÃO NO BRASIL
Classificação
Patrimônio cultural
Os bens culturais de
natureza imaterial dizem
Bens materiais. Bens imateriais. respeito àquelas práticas e
domínios da vida social que
Bens imóveis. Bens móveis. se manifestam em saberes,
ofícios e modos de fazer;
celebrações; formas de
expressão cênicas, plásticas,
musicais ou lúdicas; e nos
lugares (como mercados,
feiras e santuários que
abrigam práticas culturais
coletivas).
PRESERVAÇÃO NO BRASIL

2000. O IPHAN estabelece o Decreto nº 3551, o


qual instituiu o registro de bens culturais de

Ofício das Paneleiras de Goiabeiras, primeiro


natureza imaterial que constituem patrimônio
cultural brasileiro; criando, assim, o Programa
Nacional do Patrimônio Imaterial; com isso,
viabilizando a efetiva proteção administrativa dos

registro do IPHAN, 2002.


bens culturais intangíveis que se relacionam à
identidade e à ação de grupos sociais.
PRESERVAÇÃO NO BRASIL

Art. 1º. Fica instituído o Registro de Bens Culturais de Natureza Imaterial que constituem
patrimônio cultural brasileiro.
§ 1o Esse registro se fará em um dos seguintes livros:
I – Livro de Registro dos Saberes [...];
II – Livro de Registro das Celebrações, onde serão inscritos rituais e festas [...];
III – Livro de Registro das Formas de Expressão [...];
IV – Livro de Registro dos Lugares [...].

O Decreto nº 3.551/2000 do IPHAN estabelece quatro Livros de


Registro para salvaguarda de bens imateriais.
PRESERVAÇÃO NO BRASIL

2009. O IPHAN estabelece a Portaria nº 127, que


regulamentou a paisagem cultural como instrumento
de preservação do patrimônio cultural brasileiro.
Paisagem cultural é a ocorrência, em determinada

Paisagem cultural do Rio de Janeiro,


fração territorial, do convívio entre a natureza, os
espaços construídos e ocupados, os modos de
produção e as atividades culturais e sociais, numa

chancelada em 2012.
relação complementar capaz de estabelecer uma
identidade que não possa ser conferida por qual
quer um desses elementos isoladamente.
Ampliação

PRESERVAÇÃO NO BRASIL A chancela de Paisagem


Cultural Brasileira é uma
porção peculiar do território
nacional, representativa do
processo de interação do
homem com o meio natural,
à qual a vida e a ciência
Patrimônio cultural humana imprimiram marcas
ou atribuíram valores.

Bens materiais. Bens imateriais. Paisagem cultural.

Bens imóveis. Bens móveis.


PRESERVAÇÃO NO BRASIL

Art. 4º A chancela da Paisagem Cultural Brasileira implica no estabelecimento de pacto


que pode envolver o poder público, a sociedade civil e a iniciativa privada, visando a
gestão compartilhada da porção do território nacional assim reconhecida.
Art. 5º O pacto convencionado para proteção da Paisagem Cultural Brasileira chancelada
poderá ser integrado de Plano de Gestão a ser acordado entre as diversas entidades,
órgãos e agentes públicos e privados envolvidos, o qual será acompanhado pelo IPHAN.

É necessário desenvolver um Plano de Gestão e estabelecer um pacto


entre poder público, sociedade civil e a iniciativa privada, para uma
gestão compartilhada da paisagem e manutenção da chancela.
AMPLIAÇÃO PARA
O RECONHECIMENTO DO
ENTORNO E SÍTIO URBANO

Paraty, RJ, patrimônio cultural e natural da humanidade, 201


Casarão na Av. Getúlio Vargas, Belo Horizonte, MG.

AMPLIAÇÃO PARA
O RECONHECIMENTO DE
OUTROS ESTILOS ARQUITETÔNICOS
Teatro Erótides de Campos, Brasil Arquitetura, Piracicaba, SP, 2012.

AMPLIAÇÃO PARA
O RECONHECIMENTO DO
PATRIMÔNIO INDUSTRIAL
AMPLIAÇÃO PARA

PATRIMÔNIO IMATERIAL
O RECONHECIMENTO DO

Ofício das Paneleiras de Goiabeiras, ES, Registro do IPHAN de 200


Conjunto moderno da Pampulha, Belo Horizonte, chancela concedida pela UNESCO em 2016.

AMPLIAÇÃO PARA
O RECONHECIMENTO DA
PAISAGEM
TEORIA DO RESTAURO
Século XV . Humanistas . Restauro Pictórico

Século XVIII . Iluministas . Antiquários

Século XIX . Viollet-le-Duc . Restauro estilístico

Século XIX . John Ruskin . Anti-restauro

Século XIX/XX . Camillo Boito . Restauro moderno

Século XX . Gustavo Giovannonni . Restauro científico

Século XX . Cesare Brandi . Restauro crítico

Século XX/XXI . Teóricos contemporâneos . Linhas contemporâneas


TEORIA DO RESTAURO

Séc. XV-XVI. Alberti realiza viagens a Roma. Escreve


o De re aedificatoria, livro de referência sobre a
construção na Renascença que procurava ser uma
atualização do De architectura de Vitrúvio. Enquanto
isso, bulas papais prezam pela preservação dos

Leon Batista Alberti, 1404-1472.


monumentos romanos, ao mesmo tempo em que
diversos destes são depredados.

“O MONUMENTO HISTÓRICO SÓ
PODE SER ANTIGO, A ARTE SÓ PODE
SER ANTIGA OU CONTEMPORÂNEA.”
TEORIA DO RESTAURO

Séc. XVIII. Descoberta dos sítios de Herculano em 1713,


de Pesto em 1746 e Pompeia em 1748, estimula uma
nova pesquisa sobre a Antiguidade Clássica.

Representação da Queda da Bastilha.


Criação dos primeiros museus de imagens e da
coleção de arte, ainda chamados de antiquários.

Revolução Francesa e criação do Comitê de Instrução


Pública, que se utiliza do valor nacional do
monumento para conservação dos mesmos.
TEORIA DO RESTAURO

1854-1868. Viollet-le-Duc escreve o Dicionário


razoado da arquitetura francesa do século XI ao XVI,
incluindo o verbete “restauração”.

“RESTAURAR UM EDIFÍCIO NÃO É


MANTÊ-LO, REPARÁ-LO OU REFAZÊ-

Viollet-le-Duc, 1814-1879.
LO, É RESTABELECÊ-LO EM UM
ESTADO COMPLETO QUE PODE NÃO
TER EXISTIDO NUNCA EM UM DADO
MOMENTO.”
TEORIA DO RESTAURO

1849. John Ruskin escreve o livro “As sete lâmpadas


da arquitetura”, incluindo “A lâmpada da memória”.

“[RESTAURO] SIGNIFICA A MAIS TOTAL


DESTRUIÇÃO QUE UM EDIFÍCIO POSSA SOFRER:

John Ruskin, 1819-1900.


UMA DESTRUIÇÃO NO FIM DA QUAL NÃO RESTA
NEM AO MENOS UM RESTO AUTÊNTICO A SER
RECOLHIDO, UMA DESTRUIÇÃO ACOMPANHADA
DA FALSA DESCRIÇÃO DA COISA QUE DESTRUÍMOS.”
TEORIA DO RESTAURO

VIOLLET-LE-DUC JOHN RUSKIN

França, século XIX. Inglaterra, século XIX.

Restauro estilístico, considerando Anti-restauro, considerando o valor


elementos de estilo da edificação sagrado da edificação.
pensados como um modelo ideal.

Alteração de partes da edificação e Condenação de todo e qualquer tipo de


inserção de novos elementos conforme intervenção nas edificações históricas, à
o estilo exceção de pequenas obras de
consolidação.
TEORIA DO RESTAURO

1883. Camillo Boito, através de um olhar sobre a


visão de restauro de seus predecessores, estabelece
seus sete princípios fundamentais enunciados no
Congresso dos Engenheiros e Arquitetos Italianos
realizado em Roma.

Camillo Boito, 1836-1914.


TEORIA DO RESTAURO

SETE PRINCÍPIOS DE CAMILLO BOITO

01. Ênfase no valor documental dos monumentos [consolidação > reparação > restauro];

02. Evitar acréscimos e renovações [mínima intervenção] e, sendo necessários, devem ter caráter diverso do
original, porém sem destoar do conjunto [distinguibilidade];

03. Complementos de partes faltantes ou deterioradas devem ser de material diverso ou ter incisa a data de sua
restauração ou, ainda, ter formas simplificadas [distinguibilidade];

04. Obras de consolidação devem limitar-se ao estritamente necessário, evitando-se a perda de elementos
característicos ou pitorescos [mínima intervenção];

05. Respeito às várias fases do monumento, sem remoção de elementos, o que só é admitido se estes forem de
qualidade artística inferior ao edifício;

06. Registro das obras, utilizando, inclusive, a fotografia como meio primordial antes, durante e depois da
intervenção;

07. Inserção de uma lápide com inscrições para apontar data e obras de restauro realizadas.
TEORIA DO RESTAURO

DE VIOLLET-LE-DUC, BOITO... DE JOHN RUSKIN, BOITO...

Lógica impiedosa de deixar o edifício à


Perigos de se querer alcançar um
própria sorte até ruir: “A arte do
estado completo que pode nunca ter
CRITICA restaurador é como a do cirurgião”;
existido, o que pode gerar
melhor amputar um dedo ou usar perna
arbitrariedade.
de pau a morrer.

Prioridade do presente em relação ao Conservação dos monumentos baseada


passado. Legitimidade da restauração na ideia de autenticidade. Deve-se
aplicada quando outros meios de preservar não só a pátina do edifício como
RETOMA salvaguarda falharem. também os sucessivos acréscimos ao
longo do tempo.
TEORIA DO RESTAURO

1931. Giovannoni escreve Vecchie Città ed Edilizia


Nuova, na qual estabelece os princípios de trabalho
com patrimônio urbano: (01) todo fragmento urbano
deve ser integrado em um plano diretor local,
regional e territorial [relação com o presente]; (02) o

Gustavo Giovannoni, 1873-1947..


conceito de monumento histórico não deve isolar e
sim integrar um edifício ao contexto das construções
em que se insere; (03) os conjuntos urbanos
requerem procedimentos de preservação e
restauração que respeitem sua escala e morfologia
[referência a Boito].
TEORIA DO RESTAURO

1931. Giovannoni estabelece o método do


diradamento edilizio, “desadensamento” ou

Plano de 1931 com ideias de diratamento edilizio.


“desbastamento, que consiste na realização
de adaptações construtivas limitadas,
“microcirúrgicas”, a fim de sanar problemas
sanitários, de ventilação e iluminação,
permitir a fruição contemporânea das
funções compatíveis e ainda respeitar
qualidades históricas e estéticas, suprimindo
obstáculos visuais e realizando demolições
controladas.
TEORIA DO RESTAURO

CAMILLO BOITO GIOVANNONI

Itália, século XIX/XX. Itália, século XX.

Restauro moderno: arte do passado e Restauro científico: monumento como


modernidade técnica. documento histórico, distinguibilidade

Valor documental dos monumentos, Patrimônio urbano: integração com plano


mínima intervenção, distinguibilidade, diretor, integração do edifício ao entorno,
respeito às várias fases do monumento. separação funcional entre tecido urbano
antigo e moderno, “desadensamento”.
SEGUNDA GUERRA
MUNDIAL CAUSA DESTRUIÇÃO
DO PATRIMÔNIO.
SEGUNDA GUERRA
MUNDIAL CAUSA DESTRUIÇÃO
DO PATRIMÔNIO.
TEORIA DO RESTAURO

1963. Brandi escreve o livro Teoria da Restauração,


após vários anos de trabalho no Instituto Central de
Restauro, em Roma.

““[...] A RESTAURAÇÃO CONSTITUI O MOMENTO

Cesare Brandi, 1906-1988.


METODOLÓGICO DO RECONHECIMENTO DA
OBRA DE ARTE, NA SUA CONSISTÊNCIA FÍSICA E
NA SUA DÚPLICE POLARIDADE ESTÉTICA E
HISTÓRICA, COM VISTAS À SUA TRANSMISSÃO
PARA O FUTURO.”
TEORIA DO RESTAURO

1963. Primeiro axioma: “Restaura-se somente a


matéria da obra de arte”.

Livro “Teoria da Restauração” de Cesare Brandi.


Segundo axioma: “A restauração deve visar ao
restabelecimento da unidade potencial da obra de
arte, desde que isso seja possível sem cometer um
falso artístico ou um falso histórico, e sem cancelar
nenhum traço da passagem da obra de arte no
tempo”.
TEORIA DO RESTAURO

1963. Três princípios de Brandi:

Livro “Teoria da Restauração” de Cesare Brandi.


01. a reintegração deve ser reconhecível facilmente
[princípio da distinguibilidade já presente em Boito e
Giovannoni];

02. a matéria só é insubstituível quando colaborar


diretamente com a figuração da imagem [a instância
estética em relação à matéria];

03. as intervenções não devem impossibilitar


eventuais intervenções futuras, mas facilitá-las
[princípio da reversibilidade].
PRINCÍPIO

EM PROJETO
DA DISTINGUIBILIDADE

Teatro Erótides de Campos, Brasil Arquitetura, Piracicaba, SP, 2012.


EM PROJETO.
O RIPRISTINO
É INADMISSÍVEL

Frauenkirche em Dresden, construída em 1726-43, destruída


durante a Segunda Guerra e reconstruída em 1994-2004.
TEORIA DO RESTAURO

2004. Viñas publica o livro Teoria contemporánea de


la restauración, no qual desenvolve uma análise
profunda das teorias da restauração (chamadas
clássicas) de modo a atualizar à contemporaneidade

“[...] CUALQUIERA QUE SEA EL MOMENTO DE LA

Salvador Muñoz Viñas, 1963-.


HISTORIA DEL OBJETO QUE SE ESCOJA COMO
ESTADO DE VERDAD, [...] AL QUE EL RESTAURADOR
PRETENDE DEVOLVER EL OBJETO RESTAURADO,
SE ESTÁ HACIENDO UNA ELECCIÓN [...] QUE TIENE
INEVITABLEMENTE UN CARÁCTER [...] SUBJETIVO”.
REFERÊNCIAS

BOITO, Camillo. Os restauradores. Cotia: Ateliê Editorial, 2008.


BRANDI, Cesare. Teoria da restauração. Cotia: Ateliê Editorial, 2004.
CALDAS, Karen Velleda. A Restauração em foco: entre mitos e realidades. Vitruvius, jun. 2013. Disponível em:
<http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/resenhasonline/12.138/4765>. Acesso em: 19 set. 2018.
CARMO, Fernanda Heloísa do et al. Cesare Brandi: uma releitura da teoria do restauro crítico sob a ótica da fenomenologia. Vitruvius, fev.
2016. Disponível em: <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/16.189/5946>. Acesso em: 19 set. 2018.
CARSALADE, Flavio. A pedra e o tempo: Arquitetura como patrimônio cultural. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2014.
CASTRIOTA, Leonardo Baci. Patrimônio cultural: conceitos, políticas, instrumentos. SãoPaulo: Annablume; Belo Horizonte: IEDS, 2009.
CHOAY, Françoise. A alegoria do patrimônio. São Paulo: Editora da UNESP, 2001.
CUNHA, Claudia dos Reis e. A atualidade do pensamento de Cesare Brandi. Vitruvius, ago. 2004 Disponível em:
<http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/resenhasonline/03.032/3181>. Acesso em: 19 set. 2018.
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Disponível em: <http://portal.iphan.gov.br/>. Acesso em: 14 maio 2020.
KÜHL, Beatriz Mugayar (Org.). Gustavo Giovannonni. Textos escolhidos. Cotia: Ateliê Editorial, 2013.

RESENDE, Maria Antônio Botelho de; FRAZÃO, Quênia. A tutela do patrimônio cultural na legislação brasileira: instrumentos de proteção
do patrimônio material e imaterial. Revista Jurídica UNIARAXÁ, Araxá, v. 21, n. 20, p. 197-219, ago. 2017

VIÑAS, Salvador Muñoz. Teoria contemporánea de la restauración. Madrid: Sintesis, 2004.


Obrigado ;)
@luiz.brito@una.br

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