Série Livras da Bíblia
Um Vislumbre do livro deEster
O Gozo no Espírito Santo
Christian Chen
SUMÁRIO
Prefácio dos Editores - 7
Diretamente da Escrivaninha do Autor - 9
1. A Palavra de Deus: um Espelho - 13
2. A Época cle Ester - Livros da Restauração 27
3. Assuero: a Alma do Homem - 33
4. Mordecai e Ester: o Espírito Santo e
o Espírito do Homem -59
5. Hamã: A Carne - 81
6. A Alegria no Espírito Santo - 95
O LIVRO DE ESTER E O LIVRO DE RUTE
A Bíblia tem sessenta e seis livros, todos são
a palavra do Senhor e servem como um espelho,
mas dentre todos, o livro de Ester é dos mais
maravilhosos, pois descreve perfeitamente a
condição humana, em especial a vida do homem
diante do Senhor. Nele o Espírito Santo parece
apontar para cada indivíduo separadamente. E um
livro comum a todos, mas se o estudássemos com
cuidado, recordaríamos as lições espirituais que
temos ouvido durante anos. Muitas das
dificuldades pessoais ou da Igreja poderiam ser
resolvidas e respondidas com a leitura desse livro.
Na Bíblia há apenas dois livros que têm como
título nomes de mulher: Rute e Ester. É
interessante notar um contraste muito grande
entre os dois livros. O livro de Rute fala sobre
uma mulher estrangeira que entrou para o círculo
dos judeus, passando a conviver com eles. Por
outro lado, o livro de Ester apresenta uma judia
que foi levada para um território estrangeiro, com
a importante missão de manter o testemunho de
Deus na terra. A leitura desses livros é cativante!
Estudiosos de várias épocas apontaram
diferentes aspectos nesses livros. Alguns
afirmam, por exemplo, que o livro de Rute é o
único que trata sobre o relacionamento entre
sogra e nora. Afirmam que essa é a mais difícil
das relações familiares e por isso deve ser
abordada com atenção para que todos os outros
relacionamentos sejam resolvidos. Muitos
afirmam que é necessário ler o livro de Rute para
que se possa compreender a atitude cristã no
círculo familiar. Outros estudiosos acreditam que
o livro de Rute mostra que nosso Senhor é como
Boaz, como nosso parente mais próximo. O
Verbo Se fez carne, tornando-se nosso Salvador, e
o livro de Rute descreve essa salvação de forma
maravilhosa. Ao lermos o livro sob essas
diferentes óticas, nos deparamos com dificuldades
que possivelmente impedir-nos-iam de enxergar
outros aspectos importantes. Se o livro de Rute
tratasse realmente do relacionamento entre sogra
e nora. bastaria o capítulo 1. Então para que os
outros três capítulos? Por um lado, o Espírito
Santo de Deus deseja que o homem receba ajuda
de forma gradativa., por outro, Ele deseja
transmitir uma mensagem holística através do
livro. Do primeiro ao último versículo, o livro de
Rute traz uma mensagem completa. O mesmo
acontece com o livro de Ester. A narrativa em
Ester é maravilhosa, mas que lição o cristão deve
aprender? Como o Espírito Santo fala por meio
dela com os salvos em Cristo?
A EXPERIÊNCIA ESPIRITUAL NOS LIVROS DE RUTE E ESTER
Muitos estudiosos bíblicos conseguem ver a
obra de Deus na história e na vida dos seres
humanos ao estudar o livro de Ester. Essa é uma
forma especial, correta de estudar a Palavra.
Entretanto, faz-se necessário perguntar se o
Senhor escolheu Mordecai, Ester, Hamã e os
outras personagens desse livro somente com o
objetivo de contar uma história. Não seria
possível aprender aspectos positivos e negativos
da vida espiritual por meio deles? Com esse
objetivo, alguns estudiosos deram um passo
adiante e tentaram desvendar o papel espiritual
desses personagens.
Seria possível ter uma visão completa da
revelação do Espírito Santo por meio desses
personagens? Algumas pessoas focalizam
Mordecai. Nesse caso, qual o papel do rei
Assuero? Outros focalizam principalmente a
Ester. Nesse caso, onde entra Vasti e o motivo de
ter sido destronada? Como utilizar o livro de
Ester para compreender o andar do crente com
seu Senhor? Como utilizar as lições desse livro
em nossa vida cristã?
Na Bíblia, as figuras masculinas
representam a verdade de um ponto de vista
objetivo, enquanto as figuras femininas
representam um ponto de vista subjetivo da
verdade. Devido ao fato dos livros de Rute e Ester
terem como título nomes femininos, pode-se
afirmar que, do ponto de vista do Novo
Testamento, eles retratam a experiência espiritual.
Ao ler o livro de Ester, o leitor vê Espírito Santo
descrever com perfeição a experiência e a vida
espiritual diante de Deus, passando a sentir-se
como parte integrante do livro. A sua mensagem
central está plenamente ligada à vida do cristão
diante do Senhor, não devendo apenas ser ouvida,
mas praticada — como o amor, que não deve ser
manifesto em apenas meras palavras, mas em
ações. Desse modo, o livro de Ester não foi
escrito apenas para ser apreciado, mas para que o
Senhor, por meio dele, traga luz à vida de Seus
filhos. Ele mostra o caminho da salvação e o que
o Espírito Santo deseja de cada um de Seus filhos.
SEM A PALAVRA 'AMOR', MAS REPLETO DE AMOR
Se compararmos o livro de Ester ao de Rute,
verificamos que ambos descrevem uma história
de amor. O livro de Rute descreve a história de
amor entre Boaz e Rute, que por sua vez simula o
relacionamento do Senhor com o cristão. Talvez
nenhum outro livro descreva tão bem essa união
com o Senhor. Um dos aspectos mais misteriosos
do Novo Testamento é a ‘união com Cristo’. O
Espírito Santo usa imagens para que os filhos de
Deus assimilem conceitos abstratos. Por meio das
personagens do livro de Rute, Ele leva os cristãos
a compreender mais dessa verdade abstrata.
Apesar do livro representar a salvação e ser um
modelo para relações humanas, tem como
mensagem central a ‘união com Cristo’.
Ao ler o livro, o leitor fica profundamente
tocado pela história de amor entre Boaz e Rute.
Todavia é de se espantar que, do início ao fim do
livro, a palavra ‘amor’ é utilizada para referir-se
ao amor entre Naomi e Rute — que eram sogra e
nora — e não para descrever a relação entre Rute
e Boaz. Mesmo sendo um livro repleto de amor, a
palavra ‘amor’ não está escrita na narrativa!
Grosso modo, tal fato insinua que os lábios cuja
ocupação é sempre falar de ‘amor’ provavelmente
pertencem a quem menos o manifesta. O livro de
Rute é um livro de ação, pois apesar de não conter
a palavra ‘amor’, sua narrativa toca
profundamente o conceito. Por essa razão, ao ler
essa narrativa, o cristão fica cheio do sentimento
de amor.
SEM A PALAVRA 'DEUS', MAS REPLETO DA OBRA DE DEUS
Há uma semelhança entre o livro de Ester e
o de Rute. Apesar do livro de Ester mencionar as
personagens de Ester e Mordecai constantemente,
a obra de Deus está presente em toda parte. Ele
opera constantemente nos bastidores, mas,
estranhamente, a palavra ‘Deus’ não é
mencionada na narrativa. Há menção de nomes
como Assuero, Hamã, Mordecai, Ester, Vasti e de
sete eunucos. Temos o nome da pessoa que
enforcou Hamã, o nome do pai, do avô e do
bisavô de Mordecai. Todavia, é estranho que o
nome mais importante, o nome do nosso Deus,
não tenha sido citado uma única vez. Parece que o
Espírito Santo quer ser minucioso, mas Seu
objetivo é trazer revelação.
Muitas pessoas acreditam que o livro de
Ester não deveria estar na Bíblia, acreditam que
sua narrativa não é Palavra de Deus, pois não
menciona o Seu nome uma única vez. O templo, o
sacrifício, a Páscoa e as leis também não foram
citados. O contexto da história fez com que os
incrédulos e os modistas não considerassem o
livro de Ester como parte da Palavra de Deus. Um
escritor chamado Baxter utilizou uma superstição
judaica antiga e sem fundamento para apoiar esse
ponto de vista. Ele alegou que na Antigüidade os
judeus tinham o costume de jogar o livro de Ester
no chão por não encontrarem nele a palavra
‘Deus’. Essa suposição é totalmente sem funda-
mento; um irmão entendido no assunto disse que:
‘Se voltarmos no tempo, e virmos esse costume
ser praticado entre os judeus, seria pelo seu
repúdio a Hamã’.
Alguns irmãos fervorosos e estudiosos da Bíblia
descobriram no livro de Ester uma relação com o
nome de Deus. Alguns caracteres foram
sabiamente colocados em alguns versículos-
chave: 1:20, 5:4, 5:13 e 7:7. Em hebraico, o nome
de Jeová é YHVH, cujas letras são as iniciais de
cada palavra do versículo 4:20 e a última letra de
cada palavra do versículo 7:7. O mesmo ocorre
com os versículos 1:20 e 5:13, todavia, neles a
ordem das letras YHVH está ao contrário. Para as
pessoas que não entendem hebraico, um irmão
chamado Pierson também verificou essa
maravilhosa ‘coincidência’ na língua inglesa. Ele
utilizou a palavra LORD (que significa Jeová) e
substituiu as letras YHYH do hebraico.
Aqueles que entendem inglês, ao terminar
de 1er essas linhas, certamente se admiram de
quão maravilhosa é essa ‘coincidência’! Quem
pode dizer que isso é mera coincidência e não
obra de Deus? Esse dado maravilhoso mostra que
Deus escondeu propositadamente Seu nome nesse
livro. Estudiosos e amantes da Palavra do Senhor
acreditam que Ele “assinou” com genialidade o
Seu nome nesses versículos, do mesmo modo
como operou no livro de Ester e ali fez com que
realizassem Sua vontade. Isso é a sabedoria de
Deus. O nosso Senhor, quando estava na Terra,
fazia uso de parábolas para que os discípulos e os
que ansiavam por Sua palavra pudessem entender
Seus ensinamentos, enquanto que outros ouviam-
nas e não as compreendiam. Foi assim também
com as palavras de sabedoria do rei Salomão.
Portanto, ao 1er o livro de Ester, o cristão deve
permitir que o Espírito Santo conduza-o a um
entendimento mais profundo desse mistério. Por
isso, Ester deixa de ser apenas Ester para repre-
sentar um ensinamento mais sólido. Da mesma
forma Mordecai, Hamã e o rei Assuero são
utilizados para o ensinamento. Temos então uma
chave para entrar na abundância do mistério
espiritual do livro de Ester.
O ESCONDER DO NOME DE DEUS E O ENSINAMENTO
ESPIRITUAL
Por que Deus escondeu Seu nome no livro
de Ester? Será que há algum ensinamento
espiritual por detrás disso? Na história de Ester,
Deus conduz tudo como um diretor. Aliás, Ele
sempre está por detrás de tudo. Ao aplicar essa
máxima à vida dos salvos em Cristo, perguntamos
quem opera em suas vidas. Deus é O mais
atuante; Ele pastoreia os cristãos a vida inteira,
está por trás de tudo o que acontece e tem
domínio sobre tudo. Caso contrário, como ainda
estaríamos aqui? Porém, as pessoas vêem as
maravilhas de Deus na vida dos cristãos, mas não
vêem o nome de Deus, muitas vezes seu próprio
nome parece-lhes mais forte e relevante! E isso o
que mostra o livro de Ester. Ao concentrarmos
nesse ponto específico, temos a chave para o
livro.
O Espírito Santo utiliza as palavras já ditas
pelo Senhor para falar com os cristãos e utiliza as
palavras não ditas para Se revelar. Deus escondeu
Seu nome com um objetivo definido, as palavras
explicitadas ou não pelo Senhor têm a mesma
importância. Por exemplo, a Bíblia não menciona
a palavra ‘ponte’, o que é muito interessante
porque o Senhor muitas vezes conduz Seus filhos
por dificuldades, como a passagem pelo Mar
Vermelho. A vontade de Deus era que Seus filhos
passassem pelo meio da água e não que
construíssem uma ponte. Como está escrito nos
Salmos, Ele nos faz passar pela água e o fogo para
alcançarmos um lugar de abundância. Utilizando-
se do mesmo princípio, entendemos porque o
nome de Deus está escondido no livro de Ester e
encontramos o significado e o ensinamento
espiritual por trás disso. A partir do capítulo 2,
analisaremos esse livro de duas formas: do ponto
de vista histórico e também da experiência.
A ÉPOCA DE ESTER E OS LIVROS DA
RESTAURAÇÃO
“... e quem sabe se para conjuntura como esta
é que foste elevada a rainha?”
Et 4:14
“... Mordecai (...) que fora transportado de
Jerusalém com os exilados que foram deportados
com Jeconias, rei de Judá, a quem
Nabucodonosor, rei da Babilônia, havia
transportado”.
Et 2:5,6
HISTÓRIA DO PASSADO: A RESTAURAÇÃO DE
DEUS
Na Bíblia, há cinco livros que falam a
respeito da restauração de Deus: Esdras, Neemias,
Ageu, Zacarias e Ester. A fim de verificar que
posição o livro de Ester ocupa entre esses livros é
preciso recordar rapidamente a história dos
israelitas no Antigo Testamento, para depois
traduzi-la para a linguagem do Novo Testamento
e verificar a lição espiritual para a igreja de Deus
no livro de Ester..
A PRESENÇA DE DEUS E SEU TESTEMUNHO
O templo e a Cidade Santa estão ligados à
história de Israel principalmente à época de ouro
— do Rei Salomão — q u a n d o templo foi
construído e a Cidade Santa edificada. Deus fez
de Seu povo a Sua morada, era o seu Deus e eles,
o Seu povo, Ele habitava no meio deles. O templo
visível foi utilizado por Deus para exemplificar a
plenitude de Sua presença. Sendo a presença de
Deus plena no meio do Seu povo, a glória de
Deus nesse período pôde ser vista plenamente
num glorioso testemunho externo. Deus utilizou
uma cidade gloriosa e visível para falar de Sua
existência. O templo representava a presença de
Deus e a ('cidade Santa representava o Seu
testemunho. A glória exterior refletia o gozo
pleno da presença interior de Deus. De acordo
com a Sua vontade, o povo de Israel na terra
deveria dar testemunho dEle como o único Deus
vivo e declarar a Sua santidade e glória entre as
nações.
A história do povo terreno de Deus conta
também a história de Seu povo celestial. A igreja
de Deus não pode ser separada da Sua presença e
testemunho. O objetivo da igreja na Terra é
também dar testemunho de Deus e manifestar a
Sua glória. A igreja é como a lua, que não possui
luz própria, mas pelo fato de voltar sua face para
o Sol da Justiça, adquire a sua glória e
conseqüentemente reflete a sua luz. Quando as
pessoas conseguem ver a glória de Deus na igreja,
entendemos que a igreja cumpriu o seu dever.
Quando a igreja está repleta da presença de Deus,
conseqüentemente reflete o testemunho da glória,
e essa glória não é de si mesma, mas de Deus.
Como a lua, não tem luz própria, mas reflete a luz
do sol. Mesmo que o povo de Deus seja terreno e
celestial, mesmo que suas épocas sejam diferen-
ciadas no Antigo e Novo Testamentos, o eterno
propósito de Deus é um só: revelar Sua presença
para que o mundo possa ver Sua glória na vida de
Seu povo. Assim é gerado o testemunho de Deus.
Ao estudarmos a história, verificamos que o
testemunho de Deus atinge o seu auge na época
do rei Salomão. É uma lástima as coisas boas não
serem permanentes. O povo de Israel foi
perdendo sua pureza gradativamente, deixou-se
macular pelos ídolos, a pureza da glória de Deus
foi sendo substituída pelo vazio. Na época do
profeta Jeremias, a condição do povo de Israel
atingiu o seu pior estágio e Deus declarou que
Seu povo havia contraído uma doença incurável.
Jeremias viu, com seus próprios olhos, um
moribundo debatendo-se no leito. Completando
os dias, Deus finalmente entregou Israel nas mãos
da Babilônia, fazendo com que fosse desarraigado
e levado para a terra distante da Babilônia,
impedido de habitar na sua terra natal.
O ESCONDER DE DEUS
Quando a presença de Deus sofreu perda no
meio de Seu povo e foi destituída da sua
realidade interior a ponto de ter apenas a
aparência exterior, Deus fez com que o externo e
o visível - o templo - fosse totalmente destruído,
sem que ficasse pedra sobre pedia. Segundo o
livro de Ezequiel, a glória de Deus, por causa dos
pecados abomináveis cometidos por Seu povo,
deixou o Santo dos Santos, chegou à porta da
tenda e foi ascendendo. Depois de pairar ao redor
do templo por muito tempo, deixou o Monte das
Oliveiras e ascendeu aos céus. Assim, quando o
povo de Deus foi levado cativo, a presença e a
glória de Deus foram retiradas da Terra e
voltaram para o céu.
Para descrever essa situação, o Espírito não
se refere a Deus nos livros de restauração como o
Deus da Terra, descrito em Gênesis 14:19, mas
como o Deus do céu. E porque a glória de Deus
havia voltado para o céu, Seu testemunho não era
mais visível. A história de Ester aconteceu
exatamente nessa época. É possível então
explicar porque o nome de Deus não se encontra
no livro de Ester! Por causa da rebeldia do povo,
não se enxergava nitidamente a presença de
Deus. No início do livro de Ester, Assuero
reinava. Porque o povo de Deus foi levado
cativo, uma pessoa da terra estava assentada no
trono. A situação foi como um aviso para que
Deus deixasse aquele lugar e Ele de fato o
abandonou e voltou para o céu. A glória de
Assuero parecia encobrir a glória de Deus!
Parecia que o nome de Assuero era mais
poderoso que o nome do Senhor. Temos a
impressão que houve negligência por parte de
Deus quando permitiu que Seu povo fosse levado
ao cativeiro. Mas, graças a Deus, Ele não
abandonou Seu povo totalmente! Ele continuava
sendo Deus, mas um Deus no céu, atuando por
detrás dos acontecimentos no livro de Ester.
A SITUAÇÃO DA ÉPOCA DE HOJE
Ao meditar nesses acontecimentos à luz do
Novo Testamento, pode-se facilmente compará-
los à vida da igreja de Deus. Pentecostes pode ser
considerada a época de ouro da igreja, como
também a época da soberania do Espírito Santo.
A presença e o poder do Espírito Santo atuavam
tremendamente então! A evangelização da igreja
foi impressionante, três mil foram salvos de uma
só vez, numa outra ocasião, foram salvos cinco
mil, a Palavra de Deus crescia rapidamente por presença de Deus, muitos se reúnem aqui ou ali,
meio do poder e vivacidade do Espírito Santo. esperando encontrar uma casa e a presença de
Exteriormente o testemunho era glorioso e o seu Deus, mas parece que não encontram. A situação
brilho era intenso. da igreja hoje é muito semelhante a do livro de
Houve um poderoso ataque sob o domínio Ester, por isso é livro um importante.
do Império Romano que abalou a consciência de O inimigo odeia o livro de Ester e faz todo
vários pecadores, a ponto de muitos procurarem o possível para que não seja entendido. Existem
calar a voz de suas consciências e exclamarem: muitos livros a respeito, mas o inimigo não quer
“Elimina-os, crucifica-os”. Os gentios não que seu significado principal seja revelado! Se o
suportavam a abundância que fluía da vida dos livro de Ester for desvendado e servir para que a
cristãos e não se importavam em derramar igreja faça tudo na presença de Deus, então os
sangue, de modo que deram início a três longos fundamentos do inferno serão abalados.
séculos de opressão. Entretanto, o poder do
Império Romano não conseguiu abafar o testemu- O DESEJO DO SENHOR DE RESTAURAR SEU
nho de Deus. Na realidade, houve uma inversão, TESTEMUNHO
pois ainda que Império Romano tivesse dominado
o mundo, a igreja de Deus dominou o Império
Depois que o povo de Israel foi levado
Romano. Após trezentos anos de opressão, de
cativo para a Babilônia, foi espalhado para os
cada dois cidadãos romanos, um era cristão. Que
confins da Terra. Mas, graças a Deus, apesar
testemunho maravilhoso!
dessas circunstâncias, Deus desejava restaurar
E uma lástima que o mundo cristão tenha
Seu próprio testemunho. Seu propósito final foi
sido bem acolhido pelo mundo! Por causa disso, a
sempre Jerusalém. Sempre há um testemunho de
igreja foi gradativamente corrompendo sua pureza
Deus aqui nesta Terra. Apesar do templo, que
e, por fim, foi levada cativa à Babilônia. A
representava a presença de Deus, ter sido
presença de Deus e Seu poder foram aos poucos
destruído sem que sobrasse pedra sobre pedra e
sendo perdidos. No primeiro século, a igreja não
apesar de Seus filhos, que ainda são
possuía nem ouro nem prata, mas cresceu de tal
desobedientes, e possível encontrar o testemunho
maneira descontrolada, que nos dias de hoje a
de Deus na Terra. O ser humano pode falhar, mas
igreja possui ouro e prata, mas perdeu o poder
Deus jamais falha. Seu testemunho sempre
para curar e lazer um paralítico levantar-se e
poderá ser encontrado nesta Terra! Por isso Deus
andar. Deus retirou Sua presença da Terra e Sua
disse ao Seu povo que após setenta anos Ele os
glória voltou para o céu. No século XIX, em
traria de volta. Então o trabalho de restauração
pleno Humanismo, os homens discutiam a
não é obra de homens, mas é preciso esperar que
posição de Deus, desejando subir ao poder.
a vida natural chegue ao seu fim. Segundo a
Vivemos uma situação semelhante à do livro de
oração de Moisés, setenta anos é o limite da idade
Ester. Os nomes de muitas pessoas parecem ser
natural do homem, por isso, ao chegar ao fim de
mais importantes que o do Senhor Jesus! Os ateus
sua vida natural, quando o homem sente-se
estão em evidência e muitas vezes fazem com
incapaz, Deus começa a chamar Seu povo de
que tenhamos sentimentos equivocados,
volta para Jerusalém.
afirmando que Deus não está nem na Terra nem
Naquele tempo, apesar de ter enraizado na
no céu. O livro de Ester alerta-nos sobre os
Babilônia e viver em paz, ao povo de Israel foi
nossos dias. O estado da igreja é conseqüência da
permitido adorar a Deus e a congregação
situação dc hoje, não podemos fugir dessa
começou a ser restaurada naquela época. Havia,
responsabilidade, se hoje as pessoas não encon-
porém, uma minoria que amava a Deus, que
tram Deus na Terra, se não conseguem enxergar a
realmente entendia a Sua vontade, e não estava
Sua glória, é responsabilidade individual de cada
satisfeita com aquela situação. Mesmo possuindo
cristão. Somos infiéis, preguiçosos e egoístas,
terras e filhos de idade avançada, apesar de toda a
preocupamo-nos com nossas vidas, desagradando
prosperidade que alcançaram na Babilônia,
o nosso Deus. Podemos buscar o Senhor e ser
sempre que pensavam em Sião, choravam. A
espirituais, mas será que os outros, ao nos verem,
única coisa que podiam fazer era pendurar suas
conseguem enxergar Deus? Será que temos a
harpas nas árvores e lembrar da terra natal. Esse
presença de Deus em nossas vidas? Graças a
pequeno grupo adorava a Deus na congregação e
Deus que o Espírito Santo nos lembra, no livro de
lia a mesma Palavra que os outros, todavia, em
Ester, que a glória de Deus retirou-se do meio de
seu íntimo, não estavam satisfeitos, pois Deus não
Seus filhos. Muitas vezes não é possível sentir a
estava satisfeito. Suas vidas pareciam estar bem
na Babilônia, mas aonde estava o testemunho de
Deus?
Por outro lado, em Jerusalém não havia
mais nada, era uma cidade vazia. Quem voltaria e
reedificaria o templo de Deus do meio de ruínas?
Somente os que amavam a Deus responderam ao
Seu chamamento. Graças a Deus, dentre
cinqüenta mil pessoas, Ele selecionou um grupo
muito pequeno, sob a liderança de Zorobabel e
fez com que, mesmo meio a dificuldades,
voltassem a Jerusalém. Quando os fundamentos
do templo foram restaurados, muitos choraram.
Os mais idosos choraram porque não viam a
mesma glória do passado, eles se lembraram de
como o Senhor os abençoara, uma bênção que os
fazia sentir no céu. No entanto, não sentiam mais
a mesma felicidade de outrora, o templo
restaurado por Zorobabel não podia ser
comparado ao templo da época do rei Salomão.
Outrora havia de tudo em abundância, ao
retornar, nada tinham. Por essa razão os profetas
Zacarias e Ageu foram levantados, para
incentivar o povo. Os fiéis esperavam restituir seu
estado anterior, mas as coisas jamais foram as
mesmas. Na verdade, Deus estava desmamando-
os, para que por eles preparasse um caminho
melhor para a segunda geração.
A RESTAURAÇÃO E O TESTEMUNHO DA
SEGUNDA GERAÇÃO
O povo de Deus passou por muitas
dificuldades e, após vinte anos, reedificaram o
templo. O testemunho de Deus precisava seguir
adiante, era como um movimento de ondas, como
se as ondas de trás empurrassem as da frente.
Após quase oitenta anos, Deus restaurou a
segunda geração de testemunhas para voltar a
Jerusalém. Entre elas estavam Esdras e Neemias.
Quando o povo de Deus foi levado cativo à
Babilônia, isto é, para o meio da desordem, Deus
parecia estar brincando de esconde-esconde —
ora na Terra, ora no céu. Mas porque Ele se
preocupa com Seu testemunho aqui na Terra,
levantou pessoas como Martinho Lutero, João
Calvino e John Wesley. Quando sua vida natural
chegou ao fim, estavam trabalhados pela cruz,
então receberam do Senhor a obra de restauração
em suas mãos. Eles não viviam para si mesmos,
viviam para a restauração do testemunho de Deus
na Terra, para receber o Messias.
Quando a gigantesca onda de restauração da
igreja surgiu em frente, não vimos somente o
testemunho da primeira geração, mas também o
da segunda geração. Antes da volta do Senhor, o
testemunho teve de passar de geração em geração.
Algumas pessoas foram levantadas à semelhança
de Zorobabel, Esdras e Neemias. Ao analisarmos
a história da restauração do povo de Deus à luz do
Novo testamento, vemos Seu trabalho de
restauração na Sua igreja hoje. Deus trabalha com
Seu povo terreno e celestial num propósito
imutável; a forma como trabalhou no Antigo
Testamento com o povo de Israel será a mesma
que Ele trabalhará na igreja hoje. Ao traduzir as
obras de restauração de Deus na vida do povo de
Israel para o Novo Testamento, aprendemos uma
lição gloriosa para aplicar em nossas vidas. A
história do livro de Ester está exatamente entre as
duas gerações que voltaram. Isso é muito
significativo, pois é possível enxergar claramente
que o livro de Ester está ligado à restauração do
testemunho da segunda geração. Assim
entendemos porque Deus deu o livro de Ester aos
Seus filhos e, ao mesmo tempo, confirmamos a
sua importância dentre os livros de restauração.
Satanás não Suporta uma Segunda Geração
de Testemunhas. No momento em que o Senhor
começa Sua obra de restauração, o inimig0 de
Deus tenta atrapalhar e impedir, mas Ele não
permite. Antes da volta de Esdras à terra de
Israel, o inimigo buscava um meio de atacar a
obra de restauração. Ele usou a recusa de
Mordecai em adorar a Hamã como pretexto. A
Bíblia diz que Hamã achou pouco pôr as mãos
apenas em Mordecai (Et 3:6). Satanás gosta de
grandes empreendimentos, ele age porque sabe
que o crescimento do testemunho de Deus
aproxima o dia do seu fim. Por exemplo, ele sabia
que quando o Messias viesse para completar o
plano da salvação de Deus, sofreria uma ferida
mortal na cruz. Ele sempre fez todo o possível
para atrapalhar a obra de Deus. No caso, ele tirou
vantagem dos princípios de Mordecai para atacar.
Por volta de sessenta anos antes do retorno
de Esdras, Hamã começou a planejar a
aniquilação do povo de Israel. O inimigo tinha
dois intuitos: a longo prazo, apontava para Cristo
— se o povo de Israel perecesse da face da Terra,
o Messias não poderia nascer. A curto prazo,
apontava para pessoas como Esdras e Neemias.
Satanás parecia suportar a primeira geração do
testemunho de Deus, mas faria todo o possível
para impedir o nascimento da segunda geração.
Por isso entendemos a importância do livro de
Ester na obra de restauração de Deus e porque o
Senhor nos deu esse livro tão maravilhoso.
 ESDRAS, UM VASO DE DEUS forma, ao invés disso, Deus restaura uma palavra.
Ele trouxe Seu esplendor e o poder da Sua
Se Hamã tivesse triunfado, a primeira Palavra paia substituir a tristeza que ocupava o
geração do povo de Israel voltaria para Jerusalém, coração do Seu povo.
mas a segunda geração jamais voltaria. Por que o
retorno de Esdras foi tão importante? Se temos IGREJA GLORIOSA PARA RECEBER O SENHOR
hoje o Antigo Testamento em mãos é porque
A Bíblia diz que Esdras também embelezou
Esdras guardou todos os livros. Pode- se dizer
o templo. O templo níio seria somente
que Esdras foi o maior escriba de Israel, não
reedificado, precisava ser embelezado também, li
houve maior que ele. Esdras foi um vaso
aduzindo esse fato para os termos do Novo
preparado secretamente pelo Senhor na Babilônia.
Testamento, vemos qUe a igreja de Deus não
A Bíblia diz que ele foi fiel às palavras de Deus,
apenas ocupou o centro do Seu propósito, mas
então o Senhor confiou-lhe a maior de todas as
acima de tudo, amadureceu. O embelezamento da
responsabilidades: a de guardião da palavra de
igreja provo- i ou sua transformação numa igreja
Deus. Quão perigoso seria se Esdras não tivesse
gloriosa e causou seu amadurecimento. Por que
sido tratado diante de Deus! Se ele colocasse ou
Esdras embelezou o templo? É importante saber.
retirasse equivocadamente algum outro livro
De ftcordo com as profecias, o Messias entraria
dentre os livros da Bíblia, o que seria do povo de
no templo na Sua primeira vinda, o que revelou a
Deus? Esdras foi um precioso vaso de Deus, pois
necessidade de um vaso na Terra; o templo foi
por seu intermédio o Senhor restaurou Suas
preparado para a vinda do Messias — não
palavras e, com o Antigo Testamento, a igreja
somente reedificado como também embelezado.
recebeu a Palavra de Deus perfeita. Por isso o
Quando o Messias viesse, poderia entrar no
inimigo queria impedir que Esdras voltasse.
templo.
Naquele contexto não seria difícil para o
A Bíblia mostra que assim como foi a
inimigo acometer sua façanha, pois o rei persa
primeira vinda do Messi- IK, será Sua segunda
possuía o maior poder terreno da época e todo o
vinda. Como o nosso Senhor voltará? E preciso
povo de Israel encontrava-se disperso dentro do
um vaso preparado aqui na Terra, Deus precisa de
seu território, que totalizava cento e vinte e sete
uma igreja gloriosa H isso será possível por meio
províncias, da índia à Etiópia. Seria o momento
da segunda geração. De modo que a primeira
oportuno para exterminar o povo de Deus de uma
geração compartilha sua importância com o
só vez. O inimigo se empenhou em diversos
amadurecimento da segunda geração, que
atentados para impedir a volta da segunda
proporcionará ao Senhor uma gloriosa igrc |.i na
geração. Eis por que o grupo de Esdras era impor-
Terra para recebê-10 quando voltar (Ef 5:27). Por
tante a ponto de transformarem-se como areia nos
isso pode se iilirmar que Esdras voltou para
olhos do inimigo.
Jerusalém não só pòr causa do povo, mas para
Zorobabel representa a volta da primeira
preparar o caminho para a primeira vinda do
geração. Após vinte anos, o templo foi
Senhor, paracumprir o propósito de Deus. Da
reconstruído. Todavia, esse não era o propósito
mesma forma, Deus hoje quer ga nhar um vaso
final de Deus para o Seu povo. A Bíblia diz que
corporativo para Sua volta. A noiva precisa estar
Esdras fez duas coisas importantes: primeiro, ele
preparada para esperar a volta do Noivo.
restaurou a Palavra de Deus. Naquela época,
O inimigo pode suportar a primeira geração de
Deus queria ensiná-los a viver pelo seu interior e
testemunhas, mas não suporta uma segunda
não por meio de sensações externas. Na época do
geração. Por isso, ao estudar a história da igreja,
rei Salomão as pessoas emocionavam-se
vemos que Deus levanta pessoas para a primeira
facilmente, principalmente quando viam a beleza
geração, mas infelizmente não conseguimos ver
e o esplendor do templo. E semelhante ao
uma segunda geração. No século passado Deus
sentimento de estarmos reunidos hoje com
levantou um movimento espiritual na Inglaterra,
milhares e milhares de santos. Será que, se
quepara muitos parecia ter ultrapassado o
andarmos hoje no caminho da restauração,
movimento de Martinho Lute- ro. Os irmãos mais
teremos o mesmo sentimento de esplendor
conhecidos dentre eles eram Darby e George
daquela época? Os sentimentos do homem são
Müller. Darby era a pessoa que mais conhecia a
como uma onda que oscila sem parar, não são
Bíblia e George Müller aquele que mais conhecia
confiáveis, só a Palavra de I )ctis r segura.
sobre oração. Deus realmente operou
Maravilhosamente, ao lermos a Bíblia,
gloriosamente neles. E eles, por sua vez,
constatamos que o Hspírito Santo não opera dessa
conduziram a igreja para o propósito central de
Deus. Um irmão testemunhou que em toda sua
vida viu apenas duas igrejas semelhantes à igreja
primitiva e uma delas era onde se encontrava
George Müller.
Infelizmente o movimento durou apenas
vinte anos, pois Darby e Müller separaram-se.
Muitas vezes pensamos ingenuamente que não
poderia haver melhor união do que a dos dois —
um era o que mais sabia orar, o outro o que mais
entendia da Bíblia — parecia uma união perfeita.
Mas se os dois não conseguiram manter-se
unidos, perguntamos se é possível haver união
entre os filhos de Deus. Poderíamos afirmar que a
oração do nosso Senhor para a união de Sua
igreja foi em vão? A união realmente é da
vontade de Deus. Será que
O fracasso dos filhos de Deus impedirá que
a Sua vontade seja realizada? Aplicando o livro
de Ester para analisar a história da igreja,
encontramos a resposta. O inimigo suportou a
restauração da primeira geração, mas não a da
segunda. Permitiu vinte anos maravilhosos, no
entanto, por causa de falhas humanas, a segunda
geração desapareceu. É possível falar em segunda
ou terceira geração de movimentos espirituais,
mas perguntamos se é possível ao menos uma
segunda geração de testemunhas de Deus. Uma
segunda geração num movimento espiritual não
significa uma segunda geração de testemunhas de
Deus. Por isso a lição do livro de Ester é muito
importante.
O NASCIMENTO DA SEGUNDA GERAÇÃO A
Ascensão de Mordecai
O não nascimento da segunda geração
remeteria ao triunfo de Hamã. O nascimento da
segunda geração refere-se ao fato de Mordecai
assentar-se no trono. Isso não é de difícil
interpretação, o livro de Ester é um livro de ação
e Deus age continuamente por meio de Seus
filhos. Quando a verdade desse livro for
obedecida pela igreja, a segunda geração estará
segura. Se o Senhor tiver misericórdia de Sua
igreja hoje como teve de Zorobabel, o qual voltou
para a vontade de Deus, somos abençoados e
devemos agradecer. No entanto, também
devemos vigiar, pois o inimigo trabalha
constantemente para separar a igreja do seu
Senhor, com o propósito de aniquilá-la. Por isso é
preciso aprendermos a lição da cruz. Se nós
cristãos não formos tratados pelo Senhor, se não
aprendermos a lição, se permitirmos que Hamã
suba ao trono, pereceremos e impediremos que a
segunda geração nasça. É isso que mostra o livro
de Ester.
O Princípio da Bênção Dupla
O livro de Ester é apresentado de forma
muito interessante. Muitas vezes, os fatos nele
são descritos de dois em dois. Por exemplo, o rei
Assuero preparou dois banquetes, um para todos
os príncipes e o outro para a cidadela de Susã. O
rei promulgou dois decretos e estendeu duas
vezes o cetro para Ester. Ester convidou Hamã
para jantar duas vezes. Os judeus lutaram por dois
dias e guardaram o dia de Purim nos dias catorze
e quinze (dois dias). Mordecai escreveu duas
cartas aos judeus. As coisas aconteceram duas a
duas. E interessante perguntarmos se que isso tem
algo a ver com a segunda geração.
Esse fato pode estar ligado às histórias de
Elias e Eliseu. Elias era o profeta da primeira
geração, enquanto Eliseu era da segunda geração.
Antes de separar-se de Elias, Eliseu pediu o dobro
do poder do Espírito. Esse é o princípio da bênção
dupla. Por que Eliseu fez esse pedido? Porque
quando o testemunho alcançasse a segunda ge-
ração, os tempos seriam mais escuros, as
situações mais difíceis e as perseguições mais
fortes; continuar o testemunho de Deus seria cada
vez mais difícil. Com porção dobrada do poder do
Espírito, Eliseu operou dezesseis milagres —
exatamente o dobro dos oito milagres operados
por Elias. Na época em que as dificuldades
dobraram, Deus dobrou em Eliseu o poder do
Espírito, para que realizasse o propósito por Ele
confiado.
Não será essa a lição que o livro de Ester
ensina à nossa geração? Para garantir a
segunda geração, cada filho de Deus deve per-
mitir que Mordecai, que representa o Espírito
Santo, assente-se no trono, deixando que Ele
cuide de sua vida em dobro, combatendo a
carne, uma artimanha representada por Hamã.
Hamã era filho de Hamedata, cujo nome
significa ‘o dobro’. A carne é sempre em por-
ção dobrada, sempre poderosa. Somente uma
porção dobrada do Espírito pode combater o
dobro da carne. Assim, o testemunho de Deus
poderá ser transmitido de geração em geração,
até à volta do Senhor. Esse é o princípio da
bênção dupla, que está ligado à segunda
geração.
ASSUERO: A ALMA DO HOMEM
“Nos dias de Assuero, o Assuero que reinou, desde a
 índia até a Etiópia, sobre cento e vinte e sete
províncias. Então, mostrou as riquezas da glória do
seu reino e o esplendor da sua excelente grandeza,
por muitos dias, por cento e oitenta dias. Dava-se-
lhes de beberrem vasos de ouro, vasos de várias
espécies, e liavia muito vinho real, graças à
generosidade do rei”. Et 1:1,4,7
O livro de Ester ajuda a entender a real
situação do cristão. O livro é como um espelho e
o homem como a pessoa nele refletida. A
princípio veremos o que representam os
personagens Mordecai, Ester, Hamã e Assuero.
Há um consenso entre os estudiosos bíblicos no
qual Mordecai representa o Espírito Santo e
Hamã, a carne. E possível concluir que há
empecilho para a continuidade do testemunho de
Deus em Assuero. Em outras palavras, a carne é a
personagem problemática, é o princípio do
problema. Na verdade, analisando cuida-
dosamente a história no livro de Ester, conclui-se
que essa afirmação tem fundamento, por ter sido
Assuero quem deu o anel para Hamã e lhe
delegou poderes para realizar seu plano. Ele foi
responsável pelas más obras de Hamã, o
problema todo está na pessoa do rei Assuero. Sem
seu consentimento, Hamã não poderia realizar seu
desejo de forma alguma. Se Hamã representa a
carne, então quem o rei Assuero representa?
Graças ao Senhor, a figura bíblica é deveras
profunda e clara. O rei Assuero, sem qualquer
dúvida, representa a alma do crente — o seu ‘eu’.
O HOMEM CARNAL E O HOMEM NATURAL
De um ponto de vista mais amplo, pode-se
afirmar que o crente é um homem da alma ou o
homem natural. De acordo com a Bíblia, a alma é
a sede do caráter do homem, é o ‘órgão’ onde se
encontra o sentido do ‘eu’. Todo o ser humano
sabe dizer ‘eu’ porque tem uma alma. O Senhor
disse em Mateus 16:26: “Pois que aproveitará o
homem se ganhar o mundo inteiro e perder a sua
alma?”. Em Lucas 9:25 disse: “Que aproveita ao
homem ganhar o mundo inteiro, se vier a perder-
se ou a causar dano a si mesmo?”. Ao comparar
essas duas passagens, constata-se que a expressão
‘sua alma’ é definida como ‘si mesmo’. Por essa
razão, pode-se afirmar que a alma do homem é
seu ‘eu’. Aquele que vive com o ‘eu’ no centro é
chamado de homem carnal. Uma pessoa que
pertence à alma herdou isso de seu primeiro
nascimento, portanto é denominado ‘homem
natural’.
O ASSUERO QUE REINOU
O rei Assuero é uma descrição muito
adequada da alma ou do ‘eu’. No início do livro
de Ester, está escrito: “o Assuero que reinou”.
Essa é a primeira impressão que Assuero
transmite, em outras palavras, a impressão que
temos é que nosso ‘eu’ gosta de assentar- se no
trono. Em muitas ocasiões é de fato o ‘eu’ que se
assenta no trono. A alma aprecia lugares elevados
e proeminentes, gosta de ter autoridade, honra e
riqueza. Não são somente as pessoas com preten-
sões políticas que desejam governar, na verdade,
todos sonhamos em ser reis.
Muitos maridos proclamam-se reis e as
esposas rainhas, tornando seus filhos em cidadãos
do ‘reino’. Apesar de trabalharem arduamente
pelos cidadãos desse ‘reino democrático’, é
interessante notar que se dirigem aos filhos e à
esposa de maneira indevida, elevando a voz. De
um modo geral acreditam que, agindo de outra
forma, sua expressão perderia a autoridade. A
família onde sempre há vozes de trovão é reinada
por um Assuero. Ninguém deve ousar transgredir
as palavras autoritárias de um homem que se
assenta no lugar do rei — nem mesmo as pessoas
mais próximas, a exemplo da rainha Vasti, podem
desviar um passo sequer da sua vontade.
Quando o homem sente-se bem, reina como
um populista: “... e havia muito vinho real, graças
à generosidade do rei. Bebiam sem
constrangimento...”. (Et 1:7, 8). Ele parece estar
sempre consciente do bem e do direito dos outros.
Todavia, se o seu orgulho é ferido, fica
transtornado. A rainha se iguala a uma plebéia,
sendo facilmente destituída, abandonada num
canto qualquer, como se fosse uma vassoura.
Quando a sua autoridade e honra está em jogo,
facilmente se vão a caridade e o amor. Para beber
vinho não deve haver constrangimento, mas a
rainha pode ser constrangida ao ser introduzida na
presença do rei..
O rei havia ordenado “... que fizessem
segundo a vontade de cada um” (Et 1:8), mas o
‘cada um’ não incluía a rainha Vasti. Essa é a
atitude do ditador; tanto o destituir a rainha
quanto o permitir a sua permanência no trono são
da vontade do rei. Essa história lembra nossa
própria biografia, pois muitas vezes causamos
sofrimentos semelhantes às pessoas ao nosso
redor. Quando as coisas não estão conforme
desejamos, destituímos as pessoas sem hesitação
— exatamente como o rei Assuero fez à rainha
Vasti. O mais interessante é que o rei Assuero
indignou-se por Vasti não ter aproveitado a
oportunidade concedida para exaltar-se e mostrar
sua beleza. Aos seus olhos, Vasti demonstrou
ingratidão ao rei, que lhe propiciou tão grande
honra! Quantas vezes a indignação domina o
pensamento do ser humano, resultando em tolices,
as quais usa para atrair a atenção de todos.
Querem causar a impressão de que é uma questão
de honra, que se trata da palavra de um cavalheiro
que, uma vez dita, jamais volta atrás!
 Passada a ira, Assuero sentiu saudades de
Vasti! O rei, mais elevado que os montes,
arrependeu-se. Sua ira teve início, cresceu, atingiu
o seu clímax, diminuiu e passou. Após certo
tempo, Assuero percebeu quão tolo havia sido.
Essas atitudes revelam um rei fraco!
DITADOR E FRACO
Assuero era ditador e tolo. Como é possível
então a Bíblia compara-nos a um ditador — além
de exclusivista, violento, irredutível em suas
decisões, fraco, incapaz, perdedor e tolo? No
momento em que Assuero, impensadamente deu
ouvidos a Hamã, ele evidenciou a sua fraqueza.
Numa situação tão importante ele não teve
pensamento próprio. Quantas vezes vimos
homens tolos aceitarem sugestões da carne,
demonstrando sua incapacidade e fraqueza! O
‘eu’, cheio de opiniões, tornou-se vazio e aceitou
que a carne se tornasse grande e realizasse
inúmeras obras irreparáveis. Não são as nossas
experiências semelhantes? Não se repetem a cada
dia? Aquele que dá ouvidos à carne demonstra
incapacidade e tolice.
A Bíblia descreve o homem com muita
precisão, não há equívocos. Quando o ‘eu’ reina,
certamente o homem é como um rei ditador e
fraco. É lamentável o homem não admiti-lo,
considerando-se caridoso e cavalheiro. Graças ao
Senhor, que nos guia ao espelho por meio do
maravilhoso livro de Ester.
A Vida Centrada no Eu
No texto original do livro de Ester, a
palavra ‘rei’ aparece cento e sessenta e nove
vezes, o nome ‘Assuero’ é citado vinte e nove ve-
zes e a palavra ‘reino’ aparece em onze ocasiões.
O nome de Deus, no entanto, não é citado uma
única vez. Pode-se concluir que a história é
centrada em Assuero e que ele é o personagem
principal da narrativa. Caso contrário, como
explicar a sua presença em todo o livro? O rei
Assuero representa o ‘eu’, conseqüentemente, sua
personagem representa a vida centrada no ‘eu’.
Uma vez que o livro de Ester está repleto de
sombras do ‘eu’, é possível perceber por que o
nome de Deus tenha desaparecido da narrativa.
Sempre que o ‘eu’ rouba a cena, Deus
afasta-se silenciosamente. Nesse aspecto, o livro
de Ester assemelha-se muito a Romanos 7,
também repleto da palavra ‘eu’ — ao todo
quarenta e oito citações — em contraste com a
palavra Espírito Santo, que aparece uma única
vez. No entanto, há uma grande mudança no
capítulo 8, o número de menções da palavra ‘eu’
diminui, aumentando as menções ao Espírito
Santo — pelo menos dezenove. O livro de Ester
aparenta ser como o capítulo 7 do livro de
Romanos, no entanto, é ao capítulo 8 que o seu
desenrolar se assemelha. Podemos então afirmar
que Romanos 7 e 8 são chaves para o livro de
Ester.
O fato de Paulo mencionar muitas vezes a
palavra ‘eu’ em Romanos 7, e as constantes
menções ao rei Assuero no livro de
Esterlembram-nos de um pássaro dos Estados
Unidos, chamado "Me". Ele canta uma única
melodia o dia inteiro, não pára de entoar 'Me', de
seu interior flui somente a palavra ‘Me’, nunca
muda, é sempre 'Me'. Por isso recebeu o nome
‘Me’. Na língua inglesa, a palavra 'Me' é o
pronome objeto para ‘eu’. Esse pássaro não canta
‘piu-piu’, mas entoa ‘eu-eu’ todos os dias. O que
o pássaro ‘Me’ cantarola é exatamente a ‘canção’
que Paulo entoa no capítulo 7 de Romanos. É
também a música de Assuero no livro de Ester.
Na realidade, não é essa também a canção do
homem natural, todos os dias? Ele pensa cons-
tantemente em seu ‘eu’, sua preocupação é ‘eu’,
o que ama é ‘eu’, por conseguinte, o que expressa
é ‘eu’. Para muitos de nós é ‘eu’ em tudo e tudo é
‘eu’. Ao acordar sou ‘eu’, o meu sonho é o ‘eu’.
Certa vez, na cidade de São Paulo, um
grupo de irmãos chineses reunido lia o livro de
Ester. Ao chegar no trecho referido, eles tomaram
emprestado a melodia do Disney — “Um
pequeno mundo” —• para cantar a música do
pássaro ‘Me’. Em português a palavra ‘Me’ é o
pronome ‘eu’, mas na congregação havia irmãos
que somente conheciam a língua chinesa, e a
pronúncia de ‘eu’ em chinês é ‘fã’. Assim, eles
trocaram o ‘eu’ por ‘fã’. Quando todos cantaram
simultaneamente a música do pássaro ‘Me’, uns
cantavam ‘eu’, outros cantavam ‘fã’. Unindo as
duas palavras, obtém-se a expressão ‘eu- fã’. O
resultado dessa união sino-brasileira não foi
somente cômico, mas muito ilustrativo.
Coincidentemente essa combinação alertou que
verdadeiramente somos ‘eu-fãs’, ou seja, todos
fãs do ‘eu’. Hoje temos fãs do futebol, fãs do
xadrez, fãs do cinema, mas acima de tudo, o
homem é fã de si mesmo, inclusive o cristão.
Os cristãos devem pedir misericórdia ao Senhor,
pois muitas vezes dizem amá-lo, mas na verdade,
o que ainda amam mais neste mundo é o seu
próprio eu. Seus pensamentos estão repletos de si
próprios, são um verdadeiro rei Assuero. Se não
tivessem riqueza alguma, não hesitariam em
deixar o Senhor reinar! Mas o homem natural
acredita que tem algo de bom em si mesmo, o
que o faz pensar constantemente ao seu respeito:
“Se sou o centro, ao formar uma família, serei o
centro. Também sou o centro na congregação.
Cristo morreu por mim na cruz. Cristo me ama
por minha causa”. É bom sabermos que Cristo
nos ama, o problema é quando nos tornamos o
centro! Desse modo, apesar de amar ao Senhor, o
resultado é semelhante ao livro de Ester, a
presença de Deus e Seu nome não são vistos
claramente enquanto a expressão do homem
natural e o seu nome ficam em destaque. Isso
leva ao louvor dos homens e faz com que o nome
de Deus não seja louvado, nem a Sua glória
reconhecida.
A Forte Luz do EU
Quantas vezes o cristão permite que Cristo
ocupe o primeiro lugar em todas as coisas, decide
que Ele será o centro de sua vida, e submete-se a
Ele? Quando a luz por trás é muito forte, ainda
que Deus seja o personagem principal, só é
possível ver a Sua sombra, ter uma vaga
impressão daquilo que Ele é. E isso o que
percebemos j no livro de Ester, é possível ver a
obra de Deus, todavia é impossível ver Seu
nome.
Ao se olharmos, de dentro para fora, para
uma pessoa diante de uma janela no sol do meio-
dia, percebemos apenas a sua silhueta. O seu
rosto não pode ser visto porque a luz que está no
fundo é muito forte. Isso explica porque não se lê
o nome de Deus no livro de Ester.
A luz de Assuero destacou-se muito e só podia-se
ver a sombra de Deus por meio de Suas obras.
Isso é um alerta para todos os que amam e
servem ao Senhor. Quantas vezes o nosso Cristo
deveria estar na posição de liderança, mas a vida
do nosso ‘eu’ é tão forte, nossa alma tão vívida e
nossos pensamentos tão grandiosos que, o que os
outros claramente vêem é a nós mesmos, ao invés
da Sua beleza e da Sua glória, as quais perdemos
no processo. As pessoas podem ver alguém que
ama ao Senhor, mas não conseguem tocá-10.
Á Imagem Projetada do EU
A situação descrita no livro de Ester não
simboliza apenas a vida interior, mas, em
muitas ocasiões, também representa as reuniões
e as obras espirituais da igreja. No início ela era
cheia com a presença de Deus, todos eram mais
humildes e não havia muita exaltação. Mas,
após a igreja receber inúmeras graças, bênçãos e
dons, aos poucos, os olhos da congregação
desviaram-se do Senhor e foram colocados na
própria igreja. A semelhança do que fez o rei
Assuero, muitas pessoas são convidadas a ver
“... as riquezas da glória do reino e o esplendor
de sua excelente grandeza... por cento e oitenta
dias” (Et 1:6). Ao considerarmos ter muitas
riquezas espirituais para dar, queremos mostrar
às pessoas o número de membros da nossa
congregação, os princípios que regem nosso
agir e como nossa visão difere das demais
congregações. Nisso muitos poderão crer que se
Ira ta de um grande reavivamento, mas
lamentavelmente não verão o nosso Senhor.
Na igreja todos deveriam ver o Senhor, mas
o que temos mostrado hoje? Que o Senhor tenha
misericórdia e nos mostre o maior empecilho
para a obra de Deus — nós próprios.
Comparecer às reuniões da igreja deveria ser o
mesmo que chegar à presença do Senhor.
Todavia, por sermos tão duros e seguros de nós
mesmos na presença do Senhor, evidenciamos a
presença do homem, dificultando que a pessoa
do Senhor seja vista. É possível vermos todas as
nossas rique- bs, semelhantemente ao que
aconteceu no capítulo 1 do livro de Ester, onde
todas as riquezas de Assuero foram expostas.
Não nos bastou mostrar por um ou dois dias,
precisou ser por cento e oitenta dias. Que rico
reino! Que o Senhor tenha misericórdia de nós!
A razão pela qual o Espírito Santo não pode
ganhar o testemunho da segunda geração é o
próprio homem, um dos maiores empecilhos
está em nós mesmos. Porque o nosso ‘eu’ é tão
forte e porque gostamos de grandes obras e
cremos ser possuidores de riquezas espirituais,
fica difícil ver a pessoa do Senhor. Ao orarmos,
ou quando festamos dando alimento espiritual
aos filhos de Deus, inconscientemente
projetamos nossa sombra na reunião,
dificultando as coisas para a igreja. O famoso
escultor italiano Michelangelo esculpia as luas
obras com muito cuidado. Todos os detalhes
eram trabalhados minuciosamente até a
perfeição. Sempre que esculpia, usava uma luz
sobre sua cabeça. Certa vez alguém lhe
perguntou por que. e ele disse: "Quando estou
esculpindo, temo que minha sombra seja
projetada sobre minha obra e a arruíne por
completo”. Que as palavras de plichelângelo
nos sirvam de alerta quando nas reuniões, ou
quando o ■penhor nos pedir para fazermos certa
obra, para que inconscientemente não
projetemos nossa sombra sobre a obra, trazendo
prejuízo a reunião ou ao trabalho de Deus. Que
o Senhor tenha misericórdia e faça-nos temer
projetarmos o nosso ‘eu’, como tememos o
 fogo. Que a luz do Senhor possa eliminar as
nossas sombras para a igreja se encher de Cristo
somente. Não mais eu, mas Cristo.
A Coroação em Susã
Susã era uma antiga cidade histórica, situada ao
longo de um rio e cuja paisagem encantava a
todos os visitantes. O significado da palavra Susã
é ‘lírio, rosa e alegria’. Pelo fato da cidade estar
cheia de lírios, tanto no interior como no seu
exterior, ela foi escolhida para ser a capital de
inverno do Império Persa. O clima em Susã era
muito agradável e, por isso o imperador persa
construiu nela um ostentoso palácio de inverno.
De acordo com descobertas arqueológicas, o
palácio de Susã possuía três grandes jardins, nas
paredes interiores foram esculpidas imagens de
guerreiros e de bois voadores. Foram encontradas
nas paredes inúmeras pinturas de criaturas estra-
nhas e também incontáveis quartos de diversos
tamanhos. A beleza do palácio era surpreendente!
A coroação de Assuero no palácio de inverno
está repleta de significados. O povo de Israel
estava no cativeiro, num longo e rigoroso
inverno, era uma situação desanimadora. Mas
Deus, em Sua misericórdia, nos conforta e enche
de admiração. Assuero foi o imperador do
Império Persa, assim como Faraó foi o rei do
Egito e Abimeleque o rei dos filisteus. Qual a
tu maior impressão que os reis persas deixaram na
história? Na visão dos artistas, quase todos apa-
recem sentados em elevados tronos cobertos.
Essas imagens não aparecem retratando apenas o
cotidiano, mas passeios e guerras, onde também
os reis aparecem em tronos muito elevados, dos
quais, curiosamente, não se afastam. A história
nos diz que o rei persa — personagem principal
do livro de Ester — rumo à conquista do
Ocidente, ainda estava assentado em seu trono,
mesmo na linha de frente de guerra. Se o rei persa
e o seu trono são tão inseparáveis, entendemos
porque é tão difícil separarmos o nosso ‘eu’ de
seu trono.
Os provérbios populares ensinam que a honra vale
mais do que a vida. E engraçado ver as pessoas
seguirem esses princípios. Numa recepção de gala
um convidado foi servido, como entrada, um
caldo de frango. A superfície do caldo tinha uma
camada de óleo que o impedia de sentir qual era a
sua temperatura. Ele levou uma colherada cheia
de caldo — muito quente — à boca. O convidado
tinha então décimos de segundo para decidir se
cuspia o caldo, que queimava sua língua, ou se o
engolia para manter a honra e a compostura,
mesmo sabendo que o resultado seria lastimável.
A Palavra do Senhor é muito precisa quando diz:
“... quem quiser salvar sua alma perdê-la-á”.
Dissemos anteriormente que uma pessoa centrada
no ‘eu’ é uma pessoa da alma e que essa
característica é herdada ao nascer. Por essa razão
esse homem é denominado ‘homem natural’. Ao
ana ir essas pessoas à luz da Bíblia, constata-se
que são as representadas pelo rei Assuero.
DUAS PESSOAS AOS OLHOS DE DEUS: ADÃO E
CRISTO
1 Coríntios 15 mostra que, aos olhos de Deus,
existem duas pessoas: Adão e Cristo. Todos os
homens da velha criação estão incluí- na primeira
pessoa, e todos os homens da nova criação estão
na segunda. Assim, os dois são corporativos: o
Adão corporativo é a união de todas as pessoas
que estão em Adão, e o Cristo corporativo todos
os que estão em Cristo. Aos olhos de Deus, as
duas pessoas são dois gigantes. A diferença entre
elas está no fato da primeira pessoa ser um
gigante da terra e a segunda ser celestial, um
gigante universo. O mais interessante é que os
dois gigantes são separais pelo Antigo e o Novo
Testamento e foram vistos em visões por is
servos de Deus.
Paulo viu a segunda pessoa no caminho para
Damasco — o gigante do universo. A Sua cabeça
está no céu, mas Seu corpo está na erra — Cristo
e a Sua Igreja. Como a igreja tem a plenitude do
Todo-Poderoso, essa pessoa universal expressa a
plenitude de Cris- Daniel viu a primeira pessoa
ao revelar o significado do sonho de
Nabucodonosor — o gigante desta Terra. Essa
pessoa é a expressão pia plenitude de Adão. O
que Paulo viu é vivo porque é espiritual, o que
Daniel viu é morto porque é somente uma grande
estátua. O que Paulo viu revela as coisas
celestiais, o que Daniel viu são coisas terrenas,
os pés de barro e as outras partes do corpo, de
ouro, prata, bronze e ferro — todas provenientes
da terra. O que Daniel viu é o gigante em que as
pessoas da Terra depositam sua confiança. As
partes de outro, prata, bronze e ferro da estátua
representam quatro granis impérios da história da
humanidade: Babilônia, Pérsia, Grécia e Roma.
Hoje estamos na parte dos pés, que são metade
ferro e metade barro. Na verdade, a humanidade
dividiu-se em dois grandes grupos: um regime
fechado, ditatorial e rígido; o outro aberto,
democrático e livre. No final, Cristo voltará e
findará a história da humanidade.
Quando Deus disse a Adão, “Sede fecundos e
enchei a terra”, Ele não se referia apenas a Adão,
essa afirmação é válida também para o Adão
corporativo. Ao somarmos toda a riqueza,
sabedoria e poder dos que estão em Adão através
dos tempos, veremos que hoje a humanidade é
como a Bíblia registrou, ‘encheram a terra’. O
homem conquistou condições adversas, confinou
feras em zoológicos, sua tecnologia avança
constantemente, o homem foi à lua e coloca
computadores em sua cozinha. Tudo isso é a
expressão da riqueza de Adão. Foi na Babilônia
que essa riqueza revelou-se nos tempos pri-
mordiais. A Babilônia é a cabeça de ouro segundo
o livro de Daniel, seu império conquistou o
mundo conhecido da época e desde então a
imagem do Adão corporativo foi tomando sua
forma. Por meio da riqueza em Adão, no decorrer
dos tempos, vemos um progresso contínuo,
resultando no peito de prata, abdômen de bronze e
pernas de ferro, até que chegamos ao final da
história da humanidade. Temos aí a visão e a
imagem completa desse gigante.
Ao estudarmos sobre o rei Assuero e como
ele deu um banquete aos seus príncipes e servos,
exibindo as riquezas da glória do seu reino e
esplendor da sua excelente grandeza por cento e
oitenta dias, devemos lembrar que não representa
mais do que o peito e os ombros de prata, a parte
no corpo da estátua vista por Nabucodonosor que
se refere ao Império Persa — apenas uma parte da
riqueza em Adão. Logo, assim como o Império
Persa é uma imagem que representa uma parte do
gigante deste mundo, a alma do homem também é
uma imagem e parte da biografia de Adão.
A RIQUEZA DA ALMA
A alma do homem expressa, em diferentes
ângulos, a personalidade de Adão, aonde flui a
riqueza em Adão. Eis a expressão natural da
alma. Uma pessoa que vive pela alma é uma
pessoa da alma, ou seja, ela demonstra e permite
que seja visto o melhor de Adão. Por mais
glorioso que aparente ser, não passa de ouro,
prata, bronze e ferro, provenientes da terra e da
qual não podem ser desligados.
Muitas vezes nos enganamos a respeito da riqueza
e do poder da alma. No capítulo 1 do livro de
Ester vemos a riqueza do rei Assuero, que é uma
descrição acurada da riqueza da alma. O rei
Assuero mostrou sua riqueza durante cento e
oitenta dias, ele tinha muito que mostrar! Ao ver
tamanha riqueza, era impossível não dar louvores
a Assuero, era impossível ignorar sua
grandiosidade. Será que a alma humana tem tantas
coisas para mostrar? Um estudo a respeito da
capacidade do pequeno cérebro humano revela
que ele pode carregar durante sua vida, o
equivalente a noventa vezes todo o conhecimento
guardado nos livros da biblioteca nacional dos
Estados Unidos. Nessa biblioteca encontram-se
mais de dez cópias de obras volumosas grandes
autores, todas em manuscritos. No Museu do
Louvre em 's, há inúmeras obras de arte; muitas
são obras-primas de um único artista. Em muitos
concertos musicais obras de Bach ou de thoven
são apresentadas. O conhecimento que se tem
hoje a respeito do universo — excluindo-se as
revelações contidas na Bíblia são contribuições
que devem ser creditadas a Newton e Einstein.
Seja na literatura, na música, na arte ou na
ciência, a alma do homem mostra sua grande
riqueza. Essa riqueza é cheia de esplendor e pode
ser admirada por cento e oitenta dias, porque o
homem foi cri- à imagem e semelhança de Deus.
Ainda que tenha herdado um infitésimo da Sua
sabedoria, isso é o suficiente para qualificar a do
homem como altamente capacitada.
As Cores da Alma
De acordo com o capítulo 1 de Ester, a alma não é
somente rica, como também cheia de cores. Uma
pessoa daltônica poderá não apresentar essa
descrição. Da mesma maneira, por ser daltônico
em relação alma, o homem desconhece o quanto
ela é cheia de cores e de atividade; nós podemos
compará-la a uma luneta mágica. Por isso muitas
expressões da alma são confundidas com
expressões do espírito, não é possível discernir
claramente um do outro. Muitas são as ocasiões
em que o homem subestima a capacidade da alma.
Ele acredita que o reavivamento entre alguns
cristãos, o número de pessoas num dado local e o
ritmo de crescimento entre eles são obras
espirituais. Porém, o que vemos não passa de
influência e energia da alma, o no caso de
Assuero, que reinou desde a índia à Etiópia, sobre
cento e vinte e sete províncias. Muitos grandes
nomes da história são pessoas de possuíam uma
alma muito desenvolvida, e não somente
deixaram grandes marcas, mas também
influenciaram e atraíram muitos seguidores.
O Poder da Alma
Em condições normais, o corpo de uma pessoa
exerce somente um quinto de toda sua
capacidade. Se os quatro quintos restantes fossem
liberados, então um só braço seria capaz de
erguer 250kg e os dois braços levantariam um
pequeno automóvel. Assim também é a alma do
homem, nela há um poder latente. Quando Deus
criou Adão, a capacidade dada à sua alma era
impressionante. Por exemplo, ele pôde dar nomes
a todos os animais sem repetir um deles sequer.
Porém, desde a sua queda, Deus não deseja que o
homem exercite esse poder inimaginável. Ao
contrário, Ela quer que a alma caída, deformada e
de desenvolvimento anômalo seja tratada pela
cruz. Os que não desejam obedecer ao Evangelho
utilizam-se de métodos de superação pessoal para
desenvolver esse poder e operar milagres. No
entanto, tudo está incluído no círculo da alma. Se
o cristão compreendesse o quanto a alma é rica,
se pudesse discernir o poder latente da alma,
então, não seria logrado ao deparar-se com obras
desse tipo.
O HOMEM CAÍDO
O livro de Daniel descreve o lado glorioso e
rico do homem universal, todavia, ao contemplar
esse Homem de um outro ângulo, tal gigante
transmite um sentimento negativo. A cabeça da
estátua é de ouro, porém os metais que compõem
o restante do corpo da estátua vão perdendo o
valor em direção aos pés. A cabeça é de ouro, o
metal mais precioso, mas as pernas são de ferro,
um metal que não atrai a atenção. Chegando aos
pés, aparece o barro, que é mais desprezível
ainda. O homem em Adão deteriora dia a dia,
nele pode-se ver todo tipo de decadência e
envelhecimento. O gigante em Adão não é
somente decadente, é também uma pessoa de
cabeça pesada e pernas leves. O ouro, a prata, o
bronze e o ferro são elementos químicos cujo
peso deve ser verificado pelo seu número de
prótons e nêutrons. Se cada próton ou nêutron
fosse um grão de amendoim, num átomo de ouro
teríamos 196 grãos de amendoim; no átomo de
prata, 180 grãos; no de bronze, 63 grãos; e no
átomo de ferro, somente 56 grãos. Portanto,
conclui-se que esse gigante de cabeça pesada e
pernas leves não tem firmeza. Seja do ponto de
vista do valor ou do ponto de vista do peso, o
homem em Adão é decadente e seu caminho é
descendente.
Se a alma é a imagem de Adão, ela não expressa
somente sua riqueza e sabedoria, mas também a
face negativa da sua decadência. Em relação à
decadência dos valores, a alma é, em especial, a
face vergonhosa da mácula do pecado. No livro
de Ester, a alma é representada por um rei
estrangeiro e não por Davi ou Salomão. Isso não é
fruto do acaso, porque desde a queda do homem,
foram-lhe acrescentadas muitas coisas externas
— e essa mercadoria estrangeira é pecado. Dessa
forma, a figura de Assuero como representante de
uma alma decadente é muito oportuna. Certa vez
uma garotinha de dez anos de idade perguntou a
seu pai como seria Eva. Um dia ela ficou muito
brava e seu pai aproveitou da oportunidade para
ensinar-lhe sobre o velho homem. Ele pegou um
espelho, levou-o até sua filha e disse-lhe: “Você
não estava curiosa para saber como era Eva?
Olhe! Repare bem essa imagem no espelho e você
verá com o quê ela se parece”. Em Adão vemos,
além da riqueza e o potencial do coipo humano,
sua decadência e seu fracasso.
Mencionamos que um homem em Adão é uma
pessoa que tem a cabeça mais pesada do que as
pernas, que é uma pessoa sem firmeza. Um
homem firme é aquele que tem o centro de
gravidade baixo. Se esse homem for virado de
cabeça para baixo, ele perderá a firmeza, pois seu
centro de gravidade foi colocado na parte de
cima. Esse fato demonstra que uma pessoa em
Adão, desde a queda, está invertida. Uma vez que
a alma é uma imagem de Adão, então pode-se
concluir que a alma é um pequeno homem de
cabeça para baixo. De fato, Assuero representa
esse homem invertido, o homem natural, após a
queda, é um homem de cabeça para baixo. O que
significa estar invertido? Para responder essa
pergunta, devemos ter claro o que é um homem
normal de acordo com a vontade de Deus.
Conforme 1 Tessalonicenses 5:23, o homem é
dividido em três partes: a parte mais externa é o
corpo, cuja função é estar em contato com o
mundo. Mais internamente está a alma, que tem a
função de marcar a própria existência. E numa
esfera mais profunda está o espírito, cuja função é
sentir a existência de Deus. Alguns eruditos
bíblicos usam três círculos concêntricos para
ilustrar essa composição do ser humano. O
círculo mais externo é a representação do corpo, o
círculo mais interior representa a parte do
espírito, e a alma é o espaço entre o corpo e o
espírito. A alma é a sede do pensamento, emoções
e desejo. As funções do espírito são consciência,
comunhão e intuição.
De acordo com 1 Tessalonicenses 5, o corpo do
homem deveria estar sob o controle da alma, e a
alma sob o controle do espírito. O Espírito Santo
habita no espírito de uma pessoa nascida de novo.
O homem que permite que o Espírito Santo reine
em si, que o lapide livremente, está naturalmente
submisso ao Espírito Santo. Essa é uma pessoa
normal, que está conforme a figura utilizada
acima.
O homem que está sob a autoridade do
Espírito Santo é uma pessoa que tem a cabeça
coberta, por isso as pessoas vêem somente a
metade de baixo do círculo. Assim, o corpo está
na camada mais inferior, a alma no meio e o
espírito, acima da alma. No princípio, no Jardim
do Éden, Deus colocou o homem na presença da
árvore da vida, desejoso de que o homem
comesse do seu fruto e que aquela vida o
controlasse por inteiro, produzindo assim uma
vida dependente de Deus. Esse tipo de homem e
modo de viver é o homem e a vida normal aos
olhos de Deus.
Infelizmente, o homem escolheu o fruto do
conhecimento do bem e do mal. No dia em que
comeu desse fruto, conforme Deus havia dito.
Adão morreu. No entanto, essa morte não foi a
morte do corpo, mas a morte do espírito do
homem. E por causa dessa morte, cuja causa foi o
pecado, que o separou da vida divina, sua
comunhão com Deus foi cortada, o espírito
perdeu sua função. O resultado foi um homem
que perdeu o centro da sua vida e, pela
necessidade de sobrevivência, sua alma precisou
levantar-se e responsabilizar-se pela própria
proteção e existência. A partir daí a alma
começou a crescer desordenadamente. Porque o
pecado entrou no homem, esse crescimento foi
tornando-se cada vez mais anormal e a alma ficou
passível de diversas deformações. O pensamento,
a emoção e o desejo do homem decaíram. Os
pensamentos afastaram-se cada vez mais de Deus,
transformando o homem num ser lento e néscio, o
que resultou, por fim, na dúvida quanto à
existência de Deus. As emoções, por sua vez,
perderam sua simplicidade e pureza, os desejos
do homem tornaram-se descontrolados,
vulneráveis e fracos por causa do pecado.
Contrariamente, o corpo tornou-se cada vez mais
forte, sua cabeça ficou cada vez mais levantada
até assumir o controle da alma. Anteriormente, a
alma deveria ser instruída pelo espírito, mas numa
situação invertida, é comandada pelo corpo.
Tabagismo, uso de drogas, consumo de bebidas
alcoólicas são exemplos de comandos que o corpo
dá à alma. O corpo tem desejos, então, a alma
busca satisfazer de imediato esses desejos,
incondicionalmente. Por isso o homem come,
bebe e procura toda sorte de sensações para
satisfazer a concupiscência dos olhos e da carne.
Assim, o homem, cujo corpo, alma e espírito
foram invertidos, após seis mil anos de
deformação, é um homem disforme; a Bíblia o
denomina ‘velho homem’. Na verdade, o velho
homem é o homem velho. (Veja a ilustração do
homem velho no apêndice, cuja barba encobriu a
parte de baixo dos círculos concêntricos. Vemos
que o seu corpo está acima da alma, que por sua
vez está acima do espírito. Esse tipo de pessoa é o
que chamamos de homem invertido).
ASSUERO, O HOMEM INVERTIDO
Como saber que Assuero era um homem
invertido? A história no livro de Ester iniciou
porque, certo dia, Assuero estava bebendo e
alegrou-se com o vinho. Ele então pensou:
“Todos devem contemplar a beleza da rainha”.
Ele jamais imaginou que a rainha desobedeceria à
ordem real. Mas porque sua ordem foi desacatada
e seu autocontrole foi ferido, tudo o que
conseguia pensar no momento era como salvar
sua honra e majestade. Esse foi o início da
história. Aí vemos que Assuero era de fato um
homem invertido: primeiramente o álcool operou
em seu corpo, em seguida, as emoções da alma
foram despertadas e ele alegrou-se. A medida que
sua alma se exaltava, Assuero dava ordens
impensadamente, sem consultar os sábios que
entendiam dos tempos (Et 1:13 e 14). Eles eram
os setes oficiais da presença do rei e representam
os pensamentos da alma humana. Estavam
freqüentemente na presença do rei, mas o rei
ultrapassou a razão, agiu sem pensar, e o
resultado foi uma situação irremediável.
Em seu coração, Assuero pensou: “Já que fui
envergonhado, vou retribuir com vergonha”. A
partir desse momento, um único conselho
satisfaria o seu desejo. Foi o conselho expresso
por Memucã, um dos sete sábios. ‘Memucã’, no
original, significa ‘o engrandecer ou o
desabrochar da autoridade’. Ele sabia como
funcionavam as pessoas investidas de autoridade!
Assim, adequando-se ao desejo do rei. disse: “A
rainha não somente ofendeu ao rei, mas também a
todos os povos das províncias do rei, porque a
partir da sua atitude as mulheres desprezarão aos
seus maridos”. Essa foi a frase de maior contri-
buição de Memucã, pois se o rei tomasse uma
atitude enérgica, seria em prol de toda a
população, em solidariedade a todos os maridos
do reino. Por outro lado, se um homem não
administrasse sua própria casa, como poderia
administrar o reino? Desse modo, qualquer sa-
crifício, inclusive destituir a rainha, seria válido.
Que rei maravilhoso esse, que ama ao reino e aos
súditos, disposto a sacrificar a si próprio em favor
de seu povo!
É a filosofia da alma, por maior que seja seu
fracasso, sempre há uma justificativa. Por isso,
quando um irmão não pára de dar explicações,
sabemos que deve haver algum problema.
Memucã falou bem alto e deu o melhor de si para
produzir ensinamentos, justificando sua atitude.
Porque há hoje tantos ensinamentos sem sentido
no meio cristão? Porque qualquer que seja a obra,
sempre existe um Memucã expressando suas
palavras. O pensamento deformado é o melhor
advogado. Essa também é a razão da existência
do partido dos ateus nos dias de hoje. “Não há
Deus” é a expressão de maior ausência de razão,
porém todas as argumentações a esse respeito
parecem lógicas. A capacidade de Memucã é
muito grande, muitos irmãos abraçam o mundo e
explicam porquê! O ser humano é um ser
invertido, por isso sempre tem justificativas para
o que realiza. Qual o resultado se atentarmos para
a sugestão de Memucã? No caso de Assuero, a
rainha Vasti foi destituída.
A palavra Vasti, no original, significa "o
melhor’. A melhor parte do corpo de uma pessoa
antes de ser salva não é seu corpo nem sua alma,
mas a consciência. Após a queda, apesar do
espírito ter perdido sua função, Deus não desistiu
do homem, mas deixou em seu interior um último
canal de comunicação: a consciência. Retirando-
se a consciência do homem não existe sequer a
esperança de salvação. A consciência é uma das
três funções do espírito, por isso aceitar sugestões
da mente caída acarreta na supressão da
consciência. O homem faz isso com freqüência, o
que significa de destituir a rainha Vasti. Na
realidade, temos uma grande capacidade de
suprimir a consciência. Sempre conseguimos
achar uma solução majestosa e honrosa, uma
razão aceitável para destituir a rainha.
Certo irmão tinha um sobrinho de oito anos de
idade. Toda vez que o irmão ia ao quarto para
escrever, a avó do garoto o avisava para não
entrar a fim de não atrapalhar o tio. Um dia, o
menino deu várias voltas do lado de fora da porta,
não se continha, porque queria entrar, sabia que
estava errado, sua avó havia-lhe dito para não
entrar. Mas finalmente entrou e importunou seu
tio por um bom tempo. A avó perguntou ao
menino por que ele não havia obedecido e ele
justificou-se como se nada de eirado tivesse
acontecido: “Não vejo nada de errado nisso, eu só
tive alguns momentos de comunhão com meu
tio”. Essa é uma desculpa bastante espiritual.
Assim são as palavras de Memucã, fala até à
consciência das crianças. Porque o homem não se
apazigua, lança mão de palavras majestosas para
abafar a voz da sua consciência. Destituir a rainha
Vasti significa negar o ‘melhor’. O livro nos
conta que Ester é melhor do que Vasti, o que
discutiremos mais adiante.
Quão freqüentemente o cristão age dessa
forma! Quando alguém o fere, sua reação natural
é a vingança. O cristão sabe que deve ser manso,
paciente, que deve carregar sua cruz e ser como
um cordeiro, no entanto, outro pensamento ocupa
sua mente: “Eu tenho de dar o troco”!
Pensamentos vêm, pensamentos vão, Memucã
fala e por fim resolve a questão: um cristão que se
vingou tem a consciência em paz! Memucã
abafou a voz da consciência, em outras palavras,
a rainha Vasti foi destituída.
Resumindo, a história da destituição de Vasti
teve início por causa do álcool. Primeiramente o
corpo foi estimulado, depois despertou a alma e
colocou-se acima dela. Finalmente a alma aceitou
as sugestões distorcidas, simbolizadas por
Memucã, abafando a voz da consciência,
representada por Vasti. Se a consciência é parte
do espírito, esse procedimento é o mesmo que
abafar o espírito. Logo, a pessoa está invertida: o
corpo domina a alma, e o espírito é silenciado.
Nessa ordem temos uma pessoa invertida. Graças
a Deus, que por meio da obra do Espírito,
representado por Mordecai, o livro de Ester diz
como esse homem invertido pode ser corrigido e
se tornar um homem normal, um homem segundo
a vontade de Deus.
CARACTERÍSTICAS DE UMA PESSOA DA ALMA: A
EXPRESSÃO DA ALMA
Por meio da figura de Assuero, vê-se como a
alma expressa a riqueza e abundância de Adão e
ao mesmo tempo, a sua decadência. Ao estudar o
livro de Ester à luz do Novo Testamento, vê-se
que a primeira metade do capítulo 1 expressa a
capacidade e riqueza da alma. A segunda metade
desse capítulo mostra um homem maculado, um
homem cuja ordem — espírito, alma, corpo —
está invertida. O comportamento do rei Assuero
no livro de Ester mostra as expressões da alma
anômala, ou as características de uma pessoa da
alma.
EXIBIÇÃO DE SI MESMO: AUTOPROMOÇÃO
A primeira característica de uma pessoa da alma
é ‘mostrar a si mesmo’, ou seja, a autopromoção.
A primeira impressão que o rei Assuero passou é
que tinha mania de grandeza. Todas as pessoas da
alma possuem essa característica. Primeiramente,
ele ofereceu um banquete a todos os seus
príncipes, servos e nobres das cento e vinte e sete
províncias do seu reino para mostrar as riquezas
da glória do seu reino e o esplendor da sua
excelente grandeza durante cento e oitenta dias.
Depois, Assuero ofereceu outro banquete a todo
o povo que se achava na cidadela de Susã, tanto
para os maiores como para os menores, a fim de
mostrar a bondade e o grande coração do rei para
com o seu povo.
A fim de reforçar seu respeito pelas as
mulheres, o rei instruiu Vasti a também oferecer
um banquete para as mulheres. Assuero acre-
ditava que com isso estaria dando uma
oportunidade para a rainha mostrar sua
formosura, assim como ele estava mostrando sua
riqueza e glória. Na realidade, ao mostrar a
beleza da rainha, a capacidade de escolha do rei
estaria sendo indiretamente exibida. A formosura
da rainha Vasti era uma demonstração e resultado
do seu bom gosto e excelência nas escolhas. Não
é difícil perceber que a alma não somente aprecia
exibir-se, mas possui técnicas e eficiência para
isso. Se for para se mostrar, então que seja da
melhor forma possível e que o resultado seja o
melhor! As pessoas viram a grandeza do rei
durante cento e oitenta dias; era impossível não
admirá-lo.
A alma não gosta somente de se exibir, como
não poupa esforços para criar oportunidades para
aparecer. Certa vez, o pai do rei Luís XV estava
discutindo a respeito do capítulo 1 do livro de
Ester. O conselheiro do rei disse: “Eu não
consigo entender como o rei Assuero tinha
tamanha paciência para agüentar um banquete de
cento e oitenta dias”. O pai do rei disse: "Eu não
consigo entender de onde o rei tirou tanto
dinheiro para dar um banquete que durou cento e
oitenta dias”. Na realidade, se compreendermos
que Assuero representa a nossa alma, então não
será difícil entender esses exageros.
Para atingir o alvo da sua auto proclamação, não
faltam à alma paciência e idéias. Raramente
encontra-se impaciente o que aprecia mostrar-se.
Quando alguém está se exibindo, essa pessoa fala
muito. Certa vez dois amigos conversavam, um
deles gostava muito de falar. Do começo ao fim
da conversa um falava enquanto o outro não dizia
uma só palavra. O amigo falante estava alegre, de
bom humor e disse ao outro: “Que bom! A nossa
conversa foi muito boa”. Outra vez alguém
perguntou: “Sabe por que na maioria das famílias
o avô morre antes da avó? E porque o avô já
terminou de falar o que tinha para dizer enquanto
que a avó ainda tem muito que falar”. Cento e
oitenta dias de exposição não eram um fardo para
o rei Assuero; ele tinha paciência de sobra. Na
verdade, formas de fazer essa exposição não
faltam. Muitas esposas suspiram dizendo:
“Preciso de um vestido para sair”. Então
compram vários ‘um vestido’ para sair. Quando a
alma do homem decide mostrar-se, dificilmente
haverá obstáculos.
Ao descrever os sete dias de banquete em
Susã, a Bíblia não cita as iguarias nem quão farta
era a mesa. Pelo contrário, o que chamou a
atenção foi a beleza, a glória do local do banquete
e o quão livremente, tanto os maiores como os
menores da cidade de Susã, podiam divertir-se
nos jardins do palácio! Como subiam aos assentos
de ouro e prata do rei e como utilizavam toda
sorte de utensílios para beber vinho! Se fossem
utilizados utensílios de cerâmica, não afetaria o
saborear do vinho, no entanto, beber em copos de
ouro dá ao usuário um sentimento muito
diferente, pois os utensílios de ouro proporcionam
sensação de grandeza e importância a quem os o
usa. O mesmo pode-se afirmar em relação aos
aposentos do local do banquete. Ora, o que se
observa é que o local todo do banquete foi
preparado de maneira a suscitar nas pessoas um
sentimento de admiração ao rei. Dessa forma,
pode-se ver que Assuero sabia muito bem como
preparar um ambiente para se mostrar. Muitas
pessoas são assim, preparam ambientes suntuosos
para que os outros possam ter uma impressão fora
da realidade.
Alguém visitou o Japão e ficou
impressionado com o café da manhã japonês. Os
japoneses enchem a mesa com toda sorte de pra-
tos, grandes e pequenos, sendo que em cada um
deles, colocam apenas um pedacinho de tofu, ou
algumas fatias de nabo, ou alguns grãos de
amendoim. Mas, como a mesa está repleta de
pratos, isso transmite às pessoas a sensação de
abundância. Ora, as pessoas querem tomar café e
não apreciar pratos! No entanto, muitas vezes
essa é a impressão mais profunda que as pessoas
trazem.
Talvez Assuero, em seu coração, tinha um
sentimento de grandeza devido a duas conquistas
que fez: a vasta área que dominava — cento e
oitenta e sete províncias, desde a índia à Etiópia
— e a mais bela rainha. Vasti significa, no
original, ‘o melhor'. Esconder essas duas
conquistas era muito difícil para Assuero. Os dois
banquetes eram como duas exposições para
mostrar ao mundo suas grandiosas conquistas. A
alma é como uma criança que ganhou um
brinquedo novo e quer mostrá-lo a todos. É
impossível, nesse momento, não deixar de fazer
barulho para chamar a atenção dos outros. Uma
pessoa da alma aprecia exibir-se. Após receber a
salvação, se essa pessoa teve algumas
experiências espirituais, não perderá a
oportunidade de contar o que aprendeu na
presença de Deus. Se obteve alguma luz ou foi
vitoriosa em alguma situação, será ainda mais
difícil guardá- lo para si.
Quem pode ser como Paulo, que teve a
experiência do terceiro céu e, após muitos anos,
falou brevemente a respeito? Certa ocasião um
irmão quase ficou bravo e deu um testemunho
apressado de como fora vencedor numa situação.
O homem carnal não pode ter experiências
espirituais, porque irá querer expô-las para que
todos saibam.
Como vemos, essa é a expressão da alma, o
homem natural quer que os outros o vejam, pois
gosta de ser o centro das atenções. Mas, quem de
fato tem riqueza espiritual assemelha-se a uma
pérola que espera silenciosamente pela pessoa
que a busca. Em Isaías 6 está escrito que os
serafins são como os anjos, porém têm seis asas.
Eles utilizam duas para cobrir o rosto a fim de
que ninguém veja sua beleza, outras duas para
cobrir os pés para que seu serviço não seja visto e
duas para voarem. Aqui podemos ver o quão
grande é a diferença entre o que é espiritual e o
que é da alma!
AGIR SEGUNDO SUAS PRÓPRIAS DECISÕES
A segunda característica de uma pessoa da alma é
agir segundo suas próprias intenções. Uma pessoa
que tem a vida da alma forte é conhecida pela sua
vontade. A história sobre o rei Assuero demonstra
que a parte mais forte e dura de si era a sua
vontade. A palavra Assuero significa ‘rei’ na
língua original. A maior característica de um rei é
sua vontade, cujo poder está acima de todas as
outras no reino para derrubar qualquer outra
vontade. Muitas vezes a alma dá sugestões que
são como decretos reais — seu cumprimento é
indiscutível.
Essa é a razão do sofrimento das pessoas que
estão ao nosso redor. O rei Assuero não era
apenas rei, mas um rei persa. A ordem de um rei
persa tornava-se lei no reino, era imutável, a
severidade das leis persas é bem conhecida. Está
registrado em Ester 8:8: “... porque os decretos
feitos em nome do rei e que com o seu anel se
selam não se podem revogar”. Após destituir
Vasti, Assuero arrependeu-se, porém nada podia
fazer além de pensar nela. Quando Ester, aos
prantos, suplicou ao seu marido que revogasse o
decreto feito por Hamã em nome do rei, suas
lágrimas comoveram o coração do rei. mas ele
não podia mudar seu decreto. Há um caso
semelhante em Daniel 6. Após ser acusado de
violar o decreto do rei persa, Daniel teve de ser
lançado na cova dos leões. O rei desejou muito
livrar Daniel, mas estava restrito ao seu próprio
decreto e nada pôde fazer. O interessante foi que
Daniel passou uma noite em paz na cova dos
leões, enquanto o rei perdeu seu sono. Ao romper
do dia, o rei levantou-se e correu à cova dos
leões. Triste pela incerteza, perguntou a Daniel se
estava bem. O tempo que Daniel passou na cova
dos leões foi o período no qual o rei sentiu-se
aprisionado por sua própria lei, foi como algemas
em seus punhos.
A Bíblia faz uso dessa figura para mostrar
que uma pessoa da alma procede da mesma
maneira. O homem fica tão hipnotizado por suas
próprias idéias e opiniões que se considera eterno
como os decretos de um rei persa. Ele acaba por
algemar suas próprias mãos e aprisionar a si
mesmo. Se acreditamos que destituir a rainha
Vasti é o mais correto a fazer, então não
deveríamos nos arrepender. Se verdadeiramente
falamos de princípios, então não há do que
arrepender, mas nós nos arrependemos.
Descobrimos que ainda amamos Vasti, mas só
podemos nos arrepender, para o resto da vida,
pois não há mais retorno. Esta é a triste história da
alma. Por um lado, extremamente individualista,
por outro, extremamente decepcionante.
AUTODEPRECIAÇÃO
A terceira característica de uma pessoa da
alma é a autodepreciação. O nome Assuero
também significa ‘Desejo ser uma pessoa quieta e
pobre’. A primeira vista parece que essa
expressão não é adequada ao personagem de
Assuero, pois ele não era pobre. Uma pessoa
quieta certamente não procuraria sua
autopromoção. Assuero não era pobre nem
quieto, mas seu nome significava 'desejo ser uma
pessoa quieta e pobre’, então ele certamente
estava se autodepreciando.
Suponhamos que um irmão dissesse: “A
minha carne é muito grande e eu sou o pior de
todos”. Ele pode dizer isso de si mesmo, mas os
outros não podem ousar dizer “Amém”. Se
alguém disser que esse irmão está correto, ele
ficará muito bravo. A auto depreciação é