Você está na página 1de 19

Formação Continuada

O BRINCAR

TEMA: O BRINCAR NA CONCEPÇÃO DE VYGOTSKY


Rodovia BR 470, km 71, n° 1.040, Bairro Benedito
Caixa postal n° 191 - CEP: 89.130-000. lndaial-SC
Fone: (0xx47) 3281-9000/3281-9090
Home-page: www.uniasselvi.com.br

O Brincar
Centro Universitário Leonardo da Vinci

Organização
Carlos Alberto Medrano e
Fernanda Gernani de Oliveira

Reitor da UNIASSELVI
Prof. Ozinil Martins de Souza

Pró-Reitor de Ensino de Graduação a Distância


Prof. Janes Fidélis Tomelin

Pró-Reitor Operacional de Ensino de Graduação a Distância


Prof. Hermínio Kloch

Diagramação e Capa
Lucas Albino Hack

Revisão:
José Roberto Rodrigues

Todos os direitos reservados à Editora Grupo UNIASSELVI - Uma empresa do Grupo UNIASSELVI
Fone/Fax: (47) 3281-9000/ 3281-9090
Copyright © Editora GRUPO UNIASSELVI 2011.

Proibida a reprodução total ou parcial da obra de acordo com a Lei 9.610/98.


Curso sobre O Brincar 1

1 INTRODUÇÃO

Olá, acadêmico(a)!

Estamos começando a terceira etapa desse curso de formação.


Nesta etapa você irá conhecer um pouco sobre o brincar na concepção de
Vygotsky.

Vamos relembrar a biografia de Vygotsky (1991): Lev Semenovich


Vygotsky nasceu em 1896 na Bielo-Rússia e morreu em 1934. Graduou-se
na Universidade de Moscou, com aprofundamento em literatura, realizando
estudos também nas áreas da Medicina e do Direito. Desenvolveu trabalhos
na área de aprendizagem escolar, infância e educação especial.

FIGURA 1 – VYGOTSKY

FONTE: Disponível em: <http://www.pedagogia.seed.pr.gov.br/modules/


conteudo/conteudo.php?conteudo=51>. Acesso em: 11 jul. 2012.

Então, vamos conhecer a opinião de Vygostky (1991) sobre o


desenvolvimento da criança e evidenciar a importância do lúdico, do brincar,
na sua formação.
A criança, enquanto bebê, é quem por mais tempo depende
de um adulto para sobreviver. A pessoa responsável pela
criança durante esse período de dependência é de suma
importância para a sobrevivência, pois o bebê é o mais
indefeso dos filhotes.
Vygotsky admite que, no começo da vida de uma criança, os
fatores biológicos superam os sociais. Aos poucos a integração
social será o fator decisivo para o desenvolvimento do seu
pensamento.
Desde que nasce a criança está em contato com os adultos,
e estes irão mediar a relação dela com o mundo. Os adultos

Copyright © Editora GRUPO UNIASSELVI 2012. Todos os direitos reservados.


2 O Brincar na concepção de Vygotsky

abrirão as portas da cultura para a criança. O comportamento


da criança, com certeza, será influenciado pelos costumes da
cultura daqueles que a cercam (NEVES, 2004, p. 13).

FIGURA 2 – BEBÊ

FONTE: Disponível em: <http://www.corbisimages.com/Search#p=2&q=crian%C3


%A7a+e+adulto>. Acesso em: 11 jul. 2012.

Vygotsky (1991) entende que a relação do homem com o mundo não


é uma relação direta, passiva e determinista, pois toda a relação é mediada
por instrumentos ou signos construídos nas relações sociais e culturais. O uso
desses recursos é específico da espécie humana.

Os instrumentos têm a função de regular as ações dos homens sobre


o mundo, permitindo que este os modifique. São exemplos de instrumentos
os talheres que utilizamos para nos alimentar, os tipos de automotores que
possibilitam nossa locomoção, os materiais e máquinas que facilitam nossos
trabalhos.

Os signos, por sua vez, permitem o controle e a regulação das


atividades psíquicas do indivíduo e entre indivíduos. Os signos são construídos
culturalmente, especialmente por meio da língua e das regras compartilhadas,
por isso são convencionais e, na maioria das vezes, arbitrários. Auxiliam na
comunicação entre os indivíduos, no intercâmbio social, na resolução de
problemas comuns, na possibilidade de categorizar e de representar o mundo.
São exemplos de signos a representação gráfica (como as placas de trânsito),
os sistemas numéricos, as diferentes línguas (COLL; MARCHESI; PALÁCIOS,
2004; REGO, 1995).

É por meio de signos e instrumentos, construídos culturalmente,


que ocorrem o acolhimento, a inserção, o aprendizado e a possibilidade
de desenvolvimento dos indivíduos. Assim, vale afirmar que os signos e os

Copyright © Editora GRUPO UNIASSELVI 2012. Todos os direitos reservados.


Curso sobre O Brincar 3

instrumentos permitem as relações entre os sujeitos e por isso são considerados


elementos de mediação. Não esqueça que, para Vygotsky (1991), todas as
relações são mediadas.

FIGURA 3 – MEDIAÇÃO

FONTE: Disponível em: <http://www.corbisimages.com/stock-photo/rights-


managed/42-350226609/mother with daughter- 89- playing with digital tablet>.
Acesso em: 11 jul. 2012.

Para Vygotsky (1991), a brincadeira é a porta do mundo adulto. O autor


compreende que a brincadeira é:
uma atividade social da criança, e através desta a criança
adquire elementos indispensáveis para a constituição de sua
personalidade e para compreender a realidade da qual faz
parte. Ele apresenta a concepção da brincadeira como sendo
um processo e uma atividade social infantil (NEVES, 2004, p.
14).

Ressaltamos, porém, que não podemos apreciar Vygotsky como


um estudioso do desenvolvimento infantil. Vygotsky pesquisou as fases
do desenvolvimento da criança. Ele é considerado um teórico que busca
compreender os processos humanos superiores, por isso, para entender a
criança, o pesquisador orientava que se deveria observar a criança ao brincar
e aprender.

Para Vygotsky (1991), não podemos dividir o desenvolvimento infantil


em estágios ou etapas, pois a atividade humana pode modificar a natureza e a
sociedade.

Copyright © Editora GRUPO UNIASSELVI 2012. Todos os direitos reservados.


4 O Brincar na concepção de Vygotsky

FIGURA 4 – BRINCAR

FONTE: Disponível em: <http://www.corbisimages.com/Search#p=2&q=crian%C3


%A7a+brincando+>. Acesso em: 11 jul. 2012.

A habilidade de aprender com o passado para interferir no presente


não nasce com o homem, mas a partir dos três anos de idade a criança é capaz
de perceber que determinadas situações só poderão ser aprendidas no
futuro, e outras, imediatamente.

A partir dos três anos de idade, Vygotsky (1991) descreve que inicia o
processo imaginativo da criança. Só a partir dessa idade é que a imaginação, a
fantasia aparece na criança, surgindo a partir da ação. O início ao mundo adulto
se dá através da interação com a brincadeira.

Na brincadeira, a criança cresce socialmente, aceita as atitudes e as


habilidades importantes para conviver em seu grupo social. No ato de brincar,
a criança pode prever os seus papéis e os seus valores futuros.

“A imaginação vai ajudá-la a expandir as suas habilidades conceituais. A


criança, na sua função imitativa, aprende a conviver com as atividades culturais;
empregando a brincadeira ela estará estimulando o seu desenvolvimento,
aprendendo as regras dos mais velhos” (VYGOTSKY, 1991, p.98)

2 APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO

Aprendizagem e desenvolvimento são questões relevantes que


devemos estudar. Segundo Vygotsky (1991), é nessa relação que a criança
começa a aprender. Lembrando que esse aprender inicia muito antes da
criança começar a fase de escolarização.

No processo de desenvolvimento da criança pressupõe-se que a

Copyright © Editora GRUPO UNIASSELVI 2012. Todos os direitos reservados.


Curso sobre O Brincar 5

influência entre os fatores biológicos, sociais e psicológicos possibilite o


acontecimento de modificações qualitativas. A criança recebe os estímulos
necessários para a sua atividade a partir do meio e pertence a um grupo social
no qual interage com outras pessoas, o que proporciona mudanças em seu
desenvolvimento.

Vygostky (1991) afirma que o ser humano encontra-se subordinado


a uma dupla modificação em sua evolução, seja ela de fatores biológicos ou
de fatores sociais, pois ele só se define como humano ou se completa como
humano através do social.

Assim, como um indivíduo histórico, o ser humano contesta os assuntos


eficazes lembrados pela sociedade. Wallon (1978) percebe o sujeito como
uma totalidade, que é entendida tanto em relação à sociedade, em que o
indivíduo está inserido, como em relação ao seu próprio ser, ou seja, a totalidade
do indivíduo em suas dimensões afetivas, motoras, sociais e cognitivas. Os
conceitos de ser humano histórico e de totalidade estão diretamente voltados
ao materialismo.

Para poder avançar na explicação de uma determinada maneira de


perceber o desenvolvimento, necessitamos elucidar alguns conceitos.
Referimo-nos aqui a três conceitos muito relacionados: maturação,
desenvolvimento e aprendizagem.

Quando falamos de maturação, estamos nos referindo às modificações


que acontecem ao longo da evolução dos indivíduos, as quais se baseiam
na mudança da estrutura e da função das células. Assim, podemos falar,
por exemplo, de maturação do sistema nervoso central, mediante a qual
são criadas as condições para que haja mais e melhores conexões nervosas
que permitam uma resposta mais adaptada às necessidades crescentes do
sujeito, ou seja, podemos descrever que a maturação está estritamente
atrelada ao crescimento (que corresponderia basicamente às mudanças
quantitativas: alongamento dos ossos e aumento de peso corporal) e,
portanto, aos aspectos biológicos, físicos, evolutivos das pessoas.

Quando falamos de desenvolvimento, referimo-nos explicitamente


à formação progressiva das funções propriamente humanas (linguagem,
raciocínio, memória, atenção, estima). Trata-se do processo mediante o qual
se põem em andamento as potencialidades dos seres humanos. Ponderamos
que é uma ação inacabável, que produz uma série de saltos qualitativos que
levam de um estado de menos capacidade (mais dependência de outras
pessoas, menos possibilidades de respostas) para um de maior capacidade
(mais autonomia, mais possibilidades de resolução de problemas de

Copyright © Editora GRUPO UNIASSELVI 2012. Todos os direitos reservados.


6 O Brincar na concepção de Vygotsky

diferentes tipos, mais capacidade de criar).

Finalmente, queremos destacar as características do conceito de


aprendizagem.

Mediante os processos de aprendizagem, incorporamos novos


conhecimentos, valores e habilidades que são próprias da cultura e da
sociedade em que vivemos. As aprendizagens que incorporamos fazem-
nos mudar de condutas, de maneiras de agir, de maneiras de responder.
São produto da educação que outros indivíduos, da nossa sociedade,
planejaram e organizaram, ou melhor, do contato menos planificado, não
tão direto, com as pessoas com quem nos relacionamos.
FONTE: Disponível em: <http://komeducacaoinfantil.blogspot.com.br/2011/06/
desenvolvimento-da-crianca.html>. Acesso em: 15 ago. 2012.

“Já Shinyashiki (1988) pauta as variáveis inseparáveis da aprendizagem


e faz referência, além da estrutura cognitiva, aos fatores motivacionais e
atitudinais, entre os quais estão o anseio de saber, a necessidade de realizações
e o envolvimento do ego” (GONÇALVES, 2008, p. 25).

“Cada assunto ou conceito ensinado na escola relaciona-se com o


desenvolvimento da criança, e essa semelhança é alterável. Vygostky explica
bem a situação quando fala sobre o conceito de Zona de Desenvolvimento
Proximal” (MORGADO, 2007, p. 39).

Curiosidade
Caro(a) acadêmico(a), vamos relembrar o conceito
de Zona de Desenvolvimento Proximal?

Vygotsky (1991) usou esse conceito para se referir ao “hiato” que


existe num determinado indivíduo entre aquilo que ele é capaz de fazer
sozinho e o que ele é capaz de realizar com a ajuda de outro indivíduo dotado
de mais habilidades ou conhecimentos. Para que o conceito de Zona de
Desenvolvimento Proximal fique claro, é preciso esclarecer o que se denomina
por Nível de Desenvolvimento Real e Nível de Desenvolvimento
Potencial. O Nível de Desenvolvimento Real é determinado por aquilo
que a criança é capaz de fazer sozinha, pois já sabe como se faz, ou seja, já
aprendeu. O Nível de Desenvolvimento Potencial é aquilo que a criança
ainda não domina, mas que pode chegar a fazer com a ajuda de outra pessoa
mais experiente. É neste contexto e, portanto, entre os dois níveis (Real e
Potencial), que se encontra a Zona de Desenvolvimento Proximal – que é a

Copyright © Editora GRUPO UNIASSELVI 2012. Todos os direitos reservados.


Curso sobre O Brincar 7

distância entre o que o aluno já domina e aquilo que ele não domina ainda.

Um exemplo para você não esquecer: no contexto de aprendizagem


da multiplicação, o professor é responsável pela mediação entre aquilo que os
alunos já sabem e o que eles precisam aprender. O professor precisa resgatar
o que os alunos sabem sobre matemática, sobre operações matemáticas, para
o que elas são importantes, onde e em que momento são utilizadas, e até
mesmo quando essas não são úteis ou adequadas.

A partir desse resgate, o professor introduz sistematicamente conceitos


e processos de multiplicação. Será o professor aquele que dentro da escola irá
proporcionar a aprendizagem de forma significativa, interferindo no processo
para que o aluno avance na sua construção matemática. Esse avanço só será
possível se o professor intervir na Zona de Desenvolvimento Proximal, onde
se constitui a aprendizagem.

Neste sentido, o professor precisa traçar caminhos através de atividades


coerentes, organizando suas intervenções de maneira a propor situações de
aprendizagem dentro da capacidade de cada aluno, considerando que cada
um tem interesses e habilidades variadas e, consequentemente, aprende de
forma diferente. Para atender a essas especificidades, o professor utilizará
de diferentes signos e diferentes instrumentos compartilhados socialmente.
Ele também poderá solicitar que os amigos de classe se auxiliem até que
cada aluno possa resolver seus problemas de forma independente, pois, para
Vygotsky (apud OLIVEIRA, 2002, p. 62), “o único bom ensino é aquele que se
adianta ao desenvolvimento”.

FIGURA 5 – APRENDIZADO

FONTE: Disponível em: <http://www. corbisimages.com/stock-photo/royalty-


free/42-26258113/teacher-assisting-students>. Acesso em: 11 jul. 2012.

Copyright © Editora GRUPO UNIASSELVI 2012. Todos os direitos reservados.


8 O Brincar na concepção de Vygotsky

3 AS REGRAS DO BRINCAR

Para Vygostky (1991), o brincar, no desenvolvimento infantil, deve


ser sempre proporcionado de forma prazerosa. Porém, em determinados
momentos, isso não acontece, o que acaba desagradando a criança, pois o ato
de ganhar ou perder, no final, pode ser muito desagradável para elas.

A criança satisfaz algumas de suas necessidades usando o brinquedo. As


ações que realiza estão diretamente relacionadas com suas necessidades, com
suas motivações e também de acordo com o seu desenvolvimento.

Na inocência do mundo, com suas motivações e também de acordo


com o seu desenvolvimento, na inocência do mundo infantil, a criança quer
saciar seus desejos e não possui ainda o sentido da temporalidade, e por isso
desconhece a noção de futuro.

Posteriormente, quando já está recebendo na escola a educação infantil,


ela descobre que existem muitas necessidades a serem satisfeitas, e se não
fossem os brinquedos, isso não seria possível.

Ela se envolve com o mundo da ilusão, do imaginário. Esse mundo é


o brinquedo. Entretanto, nem todos os desejos e necessidades da criança
podem ser totalmente atingidos usando os brinquedos, ou o imaginário.
O jogar com normas, o brincar com regras são mais praticados
na idade em que a criança ingressa no pré-escolar e continua
daí em diante, no seu dia a dia. Pelo uso do brinquedo, a criança
aprende a agir de forma cognitiva; os objetos têm um aspecto
motivador para as ações da criança, desde a mais tenra idade.
(SANTOS, 1999, p. 58).

A percepção é um motivo para a criança agir. Mais tarde, a


ação começa a se desvincular da percepção: o pensamento
começa a se separar do que a criança imagina ser o objeto e
do que o objeto é realmente, a criança vai fantasiando o que
ela gostaria que determinado objeto fosse (SILVA, 2002, p.
13).

No desenvolvimento da criança, essa mudança é gradual. É importante


observar que a criança modifica as regras em desejos através do brinquedo.

Copyright © Editora GRUPO UNIASSELVI 2012. Todos os direitos reservados.


Curso sobre O Brincar 9

FIGURA 6 – JOGAR

FONTE: Disponível em: <http://www.corbisimages.com>. Acesso em: 16 jul. 2012.

Segundo Vygostky (1991), o brinquedo não é o feitio da infância, mas


é um fator muito importante do desenvolvimento. No brinquedo o ato está
dependente ao significado: já na vida real, obviamente, a ação contém a
definição. Deste modo, é definitivamente incorreto considerar o brinquedo
como um arquétipo e forma dominante da atividade do dia a dia da criança.

FIGURA 7 – IMITAÇÃO

FONTE: Disponível em: <http://www.corbisimages.com>. Acesso em: 16 jul. 2012.

Através da brincadeira, a criança pode reproduzir a realidade. Por


exemplo, ao brincar de papai e mamãe, ela reproduz seu cotidiano. Assim,
podemos definir a imitação como um feitio da criança em poder relembrar.

Já com o brinquedo podemos observar que a criança recorda situações

Copyright © Editora GRUPO UNIASSELVI 2012. Todos os direitos reservados.


10 O Brincar na concepção de Vygotsky

concretas, ou seja, situações já vivenciadas.

Tal como a imitação, o jogo simbólico é uma forma de representação;


ambos representam a realidade. A contestação é que na imitação a ação da
criança é recordar algo e representar da mesma forma, e no jogo simbólico
a ação vai muito além. Ela recorda, inventa, imagina, transforma e se expressa
(SANTOS, 1999).

FIGURA 8 – IMITANDO

FONTE: Disponível em: <http://www.corbisimages.com>. Acesso em: 16 jul. 2012.

FIGURA 9 – BRINCANDO

FONTE: Disponível em: <http://www.corbisimages.com>. Acesso em: 16 jul. 2012.

Copyright © Editora GRUPO UNIASSELVI 2012. Todos os direitos reservados.


Curso sobre O Brincar 11

Neste caso, os objetos e eventos vão além da realidade aparente. Por


exemplo, um pedaço de pau pode ser um avião que, com seu ruído estridente,
voa pelo ar; um carro que passa na rua, um cavalinho que ela monta ou qualquer
outra coisa. É o faz de conta que aparece.
Na brincadeira simbólica a criança se apoia no real, usa a
imitação e chega à representação criativa. O modo de brincar
simbólico vem a ser uma manifestação da estruturação mental
representativa da criança. Os símbolos proporcionam a ela os
meios para colocar a realidade de acordo com seus desejos
e interesses, relacionando o objetivo ao subjetivo (SANTOS,
1999, p. 60).

O símbolo se alicerça na construção do real. O brinquedo, entendido


como suporte material da brincadeira, estimula a representação, a expressão
de imagens, ao mesmo tempo que evoca aspectos da realidade vivida pela
criança, pois representar significa colocar no presente situações do passado.
Brincar de faz de conta é substituir o real.

FIGURA 10 – FAZ DE CONTA

FONTE: Disponível em: <http://www.corbisimages.com>. Acesso em: 16 jul. 2012.

O desprazer pode acontecer na forma como a criança vivencia esse


brincar. Podemos constatar isso quando ela adentra em uma disputa e não
alcança o resultado esperado, ou seja, ganhar. Assim, a derrota passa a ser um
procedimento doloroso.

Além da derrota, o esforço efetivado pode ainda fazer com que ela
sinta sensações que não lhe tragam o prazer, por exemplo, quando as regras
adquirem ação principal no jogo, vemos que a tensão aumenta sensivelmente
na brincadeira.

Copyright © Editora GRUPO UNIASSELVI 2012. Todos os direitos reservados.


12 O Brincar na concepção de Vygotsky

O brincar pode ser visto, de um lado, como uma maneira de desenvolver


a sua capacidade de abstração, quando cria uma situação imaginária (SANTOS,
1999).

No ato do brincar, através do brinquedo, a criança forma suas afinidades


com a vida real e experimenta sensações que já aprecia, ampliando princípios
de conduta que idealiza serem adequados.
Um exemplo disso é quando ela brinca de irmã ou de mãe
e filha e se comporta como ela acha que seus irmãos devam
se comportar; ou como acha que a filha deve agir com sua
mãe, independente dela estar vivendo realmente o papel da
irmã. Ou até mesmo de professora. Ela nem percebe que na
brincadeira se comportou como deveria agir na vida real. O
mesmo acontece quando ela, na vida real, é filha e não age
como demonstra saber ser o certo de uma filha agir, mas através
da brincadeira ela incorpora as regras de comportamento e
então vai analisá-las ao compará-las com sua conduta (NEVES,
2004, p. 15).

FIGURA 11 – BRINCANDO

FONTE: Disponível em: <http://www.corbisimages.com>. Acesso em: 16 jul. 2012.

A brincadeira simbólica possibilita assim a criança ir até à


fantasia, viver fantasticamente e voltar à realidade; ir até
uma situação vivida pelo outro e voltar a si mesma. Este ir
e voltar, ser e não ser alguém é que facilita a flexibilidade do
seu pensamento, fortalecendo o conhecimento de si mesma,
portanto, de sua individualidade, o conhecimento do outro e
do mundo que a cerca (SANTOS, 1999, p. 91).

Copyright © Editora GRUPO UNIASSELVI 2012. Todos os direitos reservados.


Curso sobre O Brincar 13

Outro aspecto importante desta fase é o animismo: a criança dá vida e


movimento aos objetos inanimados e aos fenômenos naturais. As experiências
pessoais são projetadas sobre as coisas como analogia imediata e subjetiva.
Ela explica os fenômenos físicos fazendo uso do conhecimento que tem de
si própria. Conversa com os objetos como se fossem pessoas e sentissem as
mesmas coisas que ela (SANTOS, 1999).

4 PLANEJANDO A ATIVIDADE LÚDICA

Brincar é uma forma própria da criança se relacionar com


o mundo, é a exteriorização de sentimentos através do
concreto, é o encontro com o próprio mundo, a interação
com o outro, a descoberta do mundo construído no real e
no faz de conta. Hoje é inegável a importância da atividade
lúdica e da necessidade de deixar o corpo falar através do
jogo e do brinquedo (PEREIRA, 2002, p. 93).

FIGURA 12 – ATIVIDADE

FONTE: Disponível em: <http://www.corbisimages.com>. Acesso em: 16 jul. 2012.

Vamos agora enfatizar a importância do conhecimento do jogo e


do brinquedo para que você, acadêmico, elabore seus currículos com um
planejamento adequado da atividade lúdica.

Não esqueça que a base da atividade infantil, o jogo e o brinquedo,


precisam ser constantemente estudados e novos materiais experimentados.
Os profissionais da área psicopedagógica, cada vez mais, investem na

Copyright © Editora GRUPO UNIASSELVI 2012. Todos os direitos reservados.


14 O Brincar na concepção de Vygotsky

sensibilização das famílias de seus alunos para a real compreensão do valor e


da necessidade dessas atividades.

As atividades que selecionamos para atingir os objetivos, através da


utilização dos conteúdos, dão ao aluno a possibilidade de identificar-se com
experiências, de inteirar-se com o meio, de atuar segundo suas características
individuais, necessidades, interesses e possibilidades. Pereira (2002) descreve
algumas características com que nós precisamos ter cuidado:

1 Favorecer a aprendizagem criadora: as atividades devem oferecer à criança


a possibilidade de trabalhar, olhar, tocar, provar, identificar-se e sentir-se
plenamente envolvida.

2 Permitir que os objetivos sejam atingidos: o professor, ao selecionar as


atividades, deve cuidar para que as mesmas favoreçam o desenvolvimento,
a exercitação ou fixação do conhecimento e as atitudes ou habilidades
determinadas pelos objetivos.

3 Favorecer a aquisição de atitudes, de conhecimentos e de habilidades:


a criança deve sentir-se de tal maneira envolvida que interiorizará a
aprendizagem, aumentando seu patrimônio individual.

4 Misturar experiências: as atividades devem ter algum ponto comum para se


inter-relacionarem.

5 Respeitar o nível da criança: as atividades devem ser selecionadas de


acordo com as possibilidades da criança e só então propostas.

E por fim, devemos organizar as atividades em função de três


critérios: a) continuidade ou ordenação temporal, as atividades selecionadas
segundo um critério de conformidade, sistematicamente relacionadas,
asseguram o cumprimento das metas educacionais; atividades esporádicas,
sem continuidade, não proporcionam mudanças de comportamento nem
favorecem a aprendizagem; b) ordenação em profundidade: asseguram o
caminhar através de graduação progressiva, em cada experimentação que
proporcionamos às crianças; c) estabelecimento de relações entre os distintos
aspectos, a fim de unificar conhecimentos, atitudes e habilidades.

5 CONTRIBUIÇÃO E TIPOS DE ATIVIDADES

O jogo ocupa o lugar mais importante e destacado, já que permite


à criança ir se adaptando ao meio social, estruturando a realidade e
desenvolvendo sua função simbólica, ao reproduzir, através do mesmo, coisas
que sabe ou conhece.

Copyright © Editora GRUPO UNIASSELVI 2012. Todos os direitos reservados.


Curso sobre O Brincar 15

Os jogos de construção proporcionam à criança situações que deve


resolver, tais como problemas de equilíbrio, ordenação e resistência.

Na atividade espontânea, tão importante quanto o jogo é a experiência


direta. Essa é uma atividade planejada cuidadosamente pelo professor,
a qual o aluno enfrentará levado por seu interesse, dando origem a uma
motivação permanente, criada por trabalho e estimulação que englobem o
desenvolvimento de um tema, a procura de recursos e o material adequado.

Através da experiência direta, as crianças estabelecem contatos


diretos com as pessoas e situações, aprendendo a relacionar-se, a comunicar-
se e repartir material e atividades.

A experiência em grupo é outra atividade que permite a todo o grupo de


crianças vivenciar uma situação convidativa, ainda que não tão comprometida
quanto a experiência direta. A experiência em grupo, que se oferece à criança
através de audiovisuais, apresentação de técnicas e execuções determinadas,
abre-lhe as oportunidades para a observação, seguimento de uma narração,
experimentação e interpretação.

FIGURA 13 – JOGO

FONTE: Disponível em: <http://www.corbisimages.com>. Acesso em: 16 jul. 2012.

Sob a denominação de atividades de livre escolha e rodinha, agregam-


se os mais diversos métodos, onde as crianças brincam, jogam, atuam e
descobrem coisas de forma individual ou grupal, na razão direta em que elas
mesmas vão selecionar o que fazer.

Copyright © Editora GRUPO UNIASSELVI 2012. Todos os direitos reservados.


16 O Brincar na concepção de Vygotsky

Outro tipo de atividade é a música e a expressão corporal, essencialmente


criativa. Essas atividades estimulam não só a expressão e a comunicação, mas
também a aquisição de conhecimentos, atitudes e habilidades.

FIGURA 14 – HABILIDADES

FONTE: Disponível em: <http://www.corbisimages.com>. Acesso em: 16 jul. 2012.

As atividades que favorecem o desenvolvimento motor, por exemplo,


garantem agilidade, destreza, boa postura, noções de companheirismo, o
esperar a vez, noções de altura, direção.

É muito compreensível que atividades que pareçam específicas em


determinado momento favoreçam o desenvolvimento de atividades em
outras áreas. Como sabemos, nenhum objetivo pertence somente a uma área,
visto que os objetivos devem ser elaborados, fixando-se pontos a alcançar,
traduzidos por mudanças de comportamento.

Copyright © Editora GRUPO UNIASSELVI 2012. Todos os direitos reservados.


Curso sobre O Brincar 17

REFERÊNCIAS
COLL, C.; MARCHESI, A.; PALÁCIOS, J. (Orgs.) Desenvolvimento
psicológico e educação. Porto Alegre: Artmed, 2004. v. 2 (Série Psicologia
da Educação Escolar).

GONÇALVES, Alessandra Maria. Os sentidos e significados da professora


e das crianças em fase de alfabetização para o lugar da afetividade no
processo ensino-aprendizagem. 66f. 2008. Trabalho de Conclusão de Curso
(Pedagogia) – Instituto Cenecista Fayal de Ensino Superior, Itajaí/SC, 2008.

MORGADO, Jaqueline dos Santos. O uso do lúdico no aprimoramento do


processo ensino-aprendizagem para crianças de 0 a 12 anos. 48f. 2007.
Monografia (Especialização em Psicopedagogia) – Universidade Cândido
Mendes, Niterói/RJ, 2007.

NEVES, Cristiano de Freitas. A prática da atividade motora como


recreação. 2004. 36p. Monografia (Pós-Graduação Latu Sensu em
Psicomotricidade) – Universidade Cândido Mendes, Rio de Janeiro, 2004.

OLIVEIRA, Z. M. R. et al. Educação infantil: fundamentos e métodos. São


Paulo: Cortez, 2002.

PEREIRA, M.S. A descoberta da criança: introdução à educação infantil. Rio


de Janeiro: WAK Editora, 2002.

REGO, T. C. Vygotsky: uma perspectiva histórico-cultural da educação.


Petrópolis: Vozes, 1995.

SANTOS, S. M. P. Brinquedo e Infância: um guia para pais e educadores em


creche. Petrópolis: Vozes, 1999.

SHINYASHIKI, R. Amar pode dar certo. São Paulo: Gente, 1988.

SILVA, Rosali Fernandes da. A importância do lúdico no processo de


ensino-aprendizagem da educação infantil ao ensino fundamental.
29f. 2002. Monografia (Especialização em Psicopedagogia) – Universidade
Cândido Mendes, Niterói/RJ, 2002.

VYGOTSKY, L. S. O desenvolvimento psicológico na infância. São Paulo:


Martins Fontes, 1991.

WALLON, H. Do ato ao pensamento. Lisboa: Edições, 1978.

WERTSCH, J. V.; DEL RIO, P.; ALVAREZ, A. Estudos socioculturais da mente.


Porto Alegre: Artmed, 1985.

Copyright © Editora GRUPO UNIASSELVI 2012. Todos os direitos reservados.

Você também pode gostar