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SOLENIDADE DA SANTÍSSIMA TRINDADE

A Igreja celebra a solenidade da Santíssima Trindade. A festa relembra o Dogma


de Fé que professa Deus, Uno e Trino, sendo três Pessoas distintas, mas um
único Deus.
Para facilitar a compreensão sobre a Santíssima Trindade, é importante
entender também o que vem a ser o mistério, afinal, Deus é mistério.
Na concepção de muitas pessoas, mistério é algo insondável, é o desconhecido.
Já o doutor em Teologia Espiritual, padre João Carlos Almeida (conhecido como
padre Joãozinho, SCJ), explica que na Teologia e na fé cristã, mistério é o
contrário: é aquilo que se pode experimentar, ainda que não se tenha o domínio
racional do seu todo.
“O mistério não se compreende, se experimenta; e Deus se conhece pela
experiência. Logo, o mistério não é necessariamente para ser estudado, mas
para ser experimentado”, disse.
A Igreja considera a Santíssima Trindade um grande mistério. Seguindo a lógica
explicativa do padre, é preciso fazer uma experiência com a Trindade para então
compreendê-la melhor. Todavia, segundo o doutor em Teologia Espiritual, é
possível também questionar sobre os mistérios de Deus, mas é imprescindível
ter fé, porque, para ele, a fé é uma forma de completar aquilo que a razão não
consegue alcançar.
“A razão, por mais que ela tente, tem um discurso sempre limitado sobre Deus.
Ela consegue dar as razões, mas não consegue compreender Deus. Nós não
podemos ter a arrogância de pensar que nossas reflexões são definitivas”.
Deus é família
Apesar dos limites da razão, a fé católica busca ampliar o campo de
compreensão em torno da Santíssima Trindade. Sobre este Dogma de Fé, padre
Joãozinho explica:
"Deus não é solitário, Deus é solidariedade! Deus é Pai, é Filho e é Espírito
Santo, Deus é família: é Pai e Filho, Ele é o Espírito que existe entre o Pai e o
Filho. Deus é Pessoa. A Trindade não é uma composição de três indivíduos, mas
de Três Pessoas e pessoa se dá na relação, ou seja, o Pai é pai porque tem
filho, o Filho é filho porque tem Pai e os dois são pai e filho porque tem uma
paternidade filiação garantida pelo Espírito que há entre os dois. Isso é a
Santíssima Trindade, uma relação de amor: o Pai é o amante, o Filho é o amado
e o Espírito Santo é o amor do Pai e do Filho".
Para facilitar a compreensão, o sacerdote dá um exemplo que se baseia no
exercício humano do falar. “Pense numa pessoa que fala: eu falo com você, eu
sou o falante. Agora, no momento em que eu falo a minha palavra fica gravada,
então, a palavra se encarna, se grava. Para que eu fale é preciso soprar, sai um
sopro de dentro de mim. Então, o Pai é o falante, o Filho é a Palavra do Pai
encarnada, gravada. Mas, para que o Pai fale a Palavra que, encarnada se torna
o Filho, é preciso o sopro do Espírito”.
Apesar de serem três pessoas distintas, padre Joãozinho garante: “Nós não
acreditamos em três deuses, nem em apenas três nomes do mesmo Deus, nem
em três modos do mesmo Deus se manifestar”. Segundo ele, a fé da Igreja está
num “Deus plural”, ou seja, “num Deus solidário, num Deus família. E ressalta:
"a Trindade nos revela que nem Deus é autosuficiente”.
Qual a diferença entre as três pessoas da Trindade?
Se as Três Pessoas são um único Deus, o que então as tornam diferentes uma
das outras? De acordo com o Catecismo da Igreja Católica (CIC), a diferença
entre as Pessoas da Trindade está no relacionamento existente entre elas (cf.
CIC nº 255). Padre Joãozinho explica que isso foi esclarecido por Santo Tomás
de Aquino que denominou essa relação como “atributos”
De acordo com o santo, as Três Pessoas têm atributos próprios: o Pai é criador,
o Filho salvador e o Espírito santificador. Mas os atributos próprios não esgotam
o significado de cada uma das Pessoas porque, como elas se
"intercompenetram" e a Igreja acredita em um só Deus, há atributos apropriados
também.
"O Espírito Santo se apropria do atributo de criar. Há um hino chamado 'Veni
Creator' que mostra a dimensão do Espírito Santo enquanto criador, criativo. O
Filho é salvador, mas o Filho também cria, enquanto atributo apropriado.
Atributos próprios: o Pai criador, o Filho salvador e o Espírito Santo santificador;
e atributos apropriados enquanto um se apropria dos atributos das outras duas
pessoas", esclarece padre Joãozinho.
Entender ou apenas crer na Trindade?
Sobre essa questão, o padre afirma que as duas coisas se influenciam
mutuamente e lembra ainda o que disse Santo Anselmo: “Creia para
compreender”. A inteligência pede a compreensão e, segundo o padre, uma fé
verdadeira busca dar as razões, “não é uma fé irracional ou uma fé de quem diz:
eu não entendo, mas pulo”.
“A nossa compreensão do Mistério da Trindade é muito mais o ser compreendido
por este mistério, ou seja, estar mergulhado no mistério por uma ação de fé que
procura refletir, uma fé inteligente, mas ao mesmo tempo, uma fé vivida,
testemunhada”.
Por fim, o padre explica que a fé consegue dar as razões mas não consegue
compreender Deus. "Um Deus compreendido não seria mais Deus".

(Padre Joãozinho, SCJ)

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