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Rio de janeiro,
1
Fevereiro de 2019.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO 3
2 SANTO AGOSTINHO 5
2.1 Vida 5
2.2 Obras: 6
2.3 Itinerário de pensamento 7
3 ANTROPOLOGIA 11
3.1 Estrutura metafísica do homem 11
3.2 A inquietude humana e a via da interioridade 13
3.3 Da correlação entre vontade, liberdade, livre-arbítrio ao problema do mal 14
4 TEORIA DO CONHECIMENTO 18
4.1 Teoria da iluminação 18
4.2 Cógito agostiniano 19
4.3 A filosofia, sabedoria, verdade e o conhecimento de Deus 20
5 ÉTICA AGOSTINIANA 22
5.1 Felicidade, fruição de Deus, ordem do amor e Bem-Aventurança 22
6 REFERÊNCIAS 25
2
3
1 INTRODUÇÃO
4
portanto pertencentes ao âmbito da física, e, trazia consigo graves problemas
que posteriormente será refutado por Agostinho.
Havia também uma corrente que pregava que o homem é totalmente
responsável pela sua própria salvação, descartando dessa forma a
necessidade da graça divina, e apontando para uma natural neutralidade moral
no homem, consequência da negação do pecado original e da corrupção da
natureza humana. Nesse sentido, o pecado original teria afetado apenas a
Adão, o qual não soubera utilizar-se da capacidade dada por Deus de agir de
modo moral naturalmente. Essa corrente de pensamento recebe o nome de
Pelagianismo, termo esse derivado de Pelágio de Bretanha (350-423), monge
ascético nascido provavelmente em uma província que ocupava o Centro-sul
da ilha da Grã-Bretanha.
O Donatismo, cujo nome é proveniente de Donato de Casa Nigra (270-c.
355), bispo da Numídia e posteriormente de Cartago, surgido nas províncias do
Norte da África e que teve início no século VII, consistiu em um movimento
cismático que colocava em xeque o efeito dos sacramentos administrados pelo
sacerdote que se envolvesse com o Es/tado ou que não tivesse uma vida reta,
indo totalmente contra a doutrina da Igreja acerca dos sacramentos.
5
2 SANTO AGOSTINHO
2.1 Vida
6
Hortêncius, de Cícero, e das Sagradas Escrituras, enxergando ali o sentido de
sua vida, chegando também a uma maturidade filosófica e teológica.
O Doutor da Graça se converteu em Milão, lugar em que conheceu Santo
Ambrósio. Este contato provocou grandes inquietações intelectuais, sendo,
pois este o seu primeiro contato com o ambiente intelectual católico, ainda que
apenas através da escuta das homilias de Ambrósio. Em 386 Agostinho é
batizado e no retiro surgem suas primeiras obras: De Ordine (386), Solilóquios
(387), Contra-Acadêmicos (386) e De Beata Vita (386).
Assim, o desejo e a oração silenciosa de Mônica pela conversão de seu
filho foram ganhando realidade, e, com isso, tanto Agostinho quanto Patrício,
acabaram por serem mergulhados nas fontes vivificantes e regeneradoras do
batismo, de tal modo que durante a sua caminhada o Doutor da Graça recebe
a ordenação sacerdotal e posteriormente a episcopal.
2.2 Obras
7
A sua obra ATrindade, ou De Trinitate, em que trata daquilo que passou
a ser conhecida como a analogia psicológica da Trindade, conta-se também
entre as suas principais obras e é sem dúvida uma das maiores no que diz
respeito ao âmbito da teologia.
Escreveu também a obra O livre arbítrio, De libero arbítrio, analisando as
nuance entre vontade, livre-arbítrio e liberdade. Foram necessários 20 anos
para concluir os 15 livros sobre a Trindade, 13 ou 14 para concluir o Sobre o
Gênesis ao Pé da Letra e os 22 da cidade de Deus. Foram aproximadamente
13 anos com o término poucos anos antes de sua morte.
1
AGOSTINHO, Santo. Solilóquios e A vida feliz. 5. ed. São Paulo: Paulus, 2014, p.120.
2
Ibid., p.120.
3
Ibid., p.120.
4
AGOSTINHO, Santo. Confissões. 7. ed. São Paulo: Paulus, 2013, p.180.
8
A primeira etapa começou com leitura das sagradas Escrituras. Agostinho
estava imerso na sede de verdade provocada por Cícero, e, por conseguinte
em seu trajeto rumo à beatitude, parte da leitura das Escrituras, todavia
tomando-a como sendo um livro qualquer, lê-a de forma literalista, tornando
desse modo o seu primeiro contato com tais textos extremamente
decepcionante, conforme descrito em suas Confissões.
O que senti nessa época, diante das Escrituras, foi bem diferente do que agora afirmo.
Tive a impressão de uma obra indigna de ser comparada à
majestade de Cícero. Meu orgulho não podia suportar aquela
simplicidade de estilo. Por outro lado, a grandeza de minha
inteligência não conseguia penetrar-lhe o íntimo. Tal obra foi
feita para acompanhar o crescimento dos pequenos, mas eu
desdenhava fazer-me pequeno, e, no meu orgulho, sentia-me
5
grande .
5
AGOSTINHO, Santo. Confissões. 7. ed. São Paulo: Paulus, 2013, p.71.
6
COSTA, Marcos Roberto Nunes. Philosophiae portus e arx philosophiae: apropriação e
superação agostiniana da tradição filosófica Grego-Romana em relação à felicidade.
TRANS/FORM/AÇÃO – Revista de Filosofia. Universidade Estadual Paulista, Marília, v. 37,
p.131-142, 2014.
9
astrólogos como isentos de supertições, cujo trabalho estava pautado na
observação dos astros e nos cálculos matemáticos, todavia acaba
decepcionando-se mais uma vez, em razão de que, com o passar do tempo,
não encontrou nesse tipo de atividade uma requerida fundamentação teórica.
7
AGOSTINHO, Santo. Confissões. 7. ed. São Paulo: Paulus, 2013, p.180.
8
AGOSTINHO, Santo. Contra os Acadêmicos. A Ordem. A Grandeza da Alma. O Mestre. 2. ed.
São Paulo: Paulus, 2015, p.138.
9
AGOSTINHO, Santo. A cidade de Deus: Parte II. Petrópolis: Vozes, 2012, p.61.
10
A quinta etapa começou com o Neoplatonismo. Na contramão do
maniqueísmo que defendia a existência de princípios coeternos conflitantes
entre si, ambos tidos como substância, portanto pertencentes ao âmbito da
física, o Neoplatonismo permitiu que Agostinho tivesse um novo olhar sobre as
realidades eternas num âmbito além-físico, e sabendo-se que o neoplatonismo
defendia a ideia da imediatez da verdade na alma interior, daí decorre-se a sua
nova certeza do divino e/ou certeza imediata de Deus.
Quem é o Filho de Deus? Já o dissemos e está escrito: "A Verdade!" Quem é aquele
que não possui progenitor, a não ser a Suma Medida? (o Pai).
Logo, todo aquele que vier à Suma Medida pela Verdade será
feliz. E isso é possuir a Deus na alma, gozar de Deus. Quanto
às outras coisas criadas, Deus as possui, mas elas não
11
possuem a Deus .
10
SILVA, Josadaque Martins. Resumo da obra: A busca da Felicidade no diálogo De Beata Uita
de Agostinho de Hipona. Disponível em: <http://www.mackenzie.br/fileadmin/Chancelaria/GT3/
Josadaque_Martins_Silva.pdf>. Acesso em: 11 set. 2017.
11
Ibid., p.155.
11
Ora, a Verdade encerra em si uma Suma Medida5: da qual procede e à qual se volta
inteiramente. E essa Suma Medida assim é, por si mesma, não
por alguma imposição extrínseca. E sendo perfeita e suma é
também a verdadeira Medida. E tal como a Verdade é gerada
(gignitur) pela Medida, assim também a Medida manifesta-se
12
pela Verdade .
3 ANTROPOLOGIA
3.1 Estrutura metafísica do homem
12
AGOSTINHO, Santo. Solilóquios e A vida feliz. 5. ed. São Paulo: Paulus, 2014.p.119.
13
SOARES, Lúcia Maria Mac Dowell. Verdade, iluminação e trindade: o percurso da
interioridade em Santo Agostinho. 2002. 150f. Tese (Doutorado em Filosofia) – PUC-Rio, Rio
de Janeiro, 2002, p.29.
12
provenientes da sensibilidade, imagens e lembranças das sensações; já o
segundo refere-se àquilo que é intrínseco ao homem e consequentemente não
está presente nos animais como a sua capacidade de fazer juízo dessas
sensações, compará-las entre si, medir e submeter corpos e figuras a
proporções e aos números. De fato tudo isso é perceptível somente ao
pensamento.
Em sua obra A cidade de Deus, Agostinho interpretará o ser humano
enquanto um complexo composto de corpo e alma, de acordo com Claudiomiro
Bispo: “O modo segundo o qual os espíritos aderem aos corpos e os tornam
vivos é realmente maravilhoso e não pode ser entendido pelo homem, todavia
14
essa união é o próprio homem ".
No capítulo sete da sua obra A vida Feliz, Agostinho expressa essa
dimensão transcendente do ser humano por meio de uma discussão com
Navígio sobre a composição do homem por corpo e alma:
14
BISPO, Claudiomiro. Obstáculos à vida feliz: estudo sobre a busca da felicidade no livro De
Beata Vita de Agostinho. 2014. 61f. Dissertação (Mestrado em Filosofia) – PUC-SP, São Paulo,
2014, p.19.
15
AGOSTINHO, Santo. Solilóquios e A vida feliz. 5. ed. São Paulo: Paulus, 2014, p.124.
13
inanição, assim o espírito ignorante está impregnado de doenças provenientes
16
de suas carências ". Tendo em conta essa comparação, fica clara a distinção
que o hiponense faz entre corpo e alma e os seus respectivos alimentos e isso
culmina justamente na busca pela felicidade, uma vez que essa aponta para
uma realidade transcendente e dessa forma, deve estar fincada num âmbito
imaterial
17
Claudiomiro Bispo, em sua tese Os obstáculos à vida feliz , abordará a
diferença expressiva entre Agostinho e Platão no que concerne à visão do
corpo. Enquanto Platão vê o corpo de forma negativa como um cárcere para a
alma, Agostinho o vê como uma realidade boa que em conjunto com a alma
constitui a unidade do indivíduo e é governado por ela.
Sabendo-se então dessa inquietude e complexa constituição do homem
torna-se perceptível que os seus desejos não se limitam apenas à matéria, mas
a transcende.
16
AGOSTINHO, Santo. Solilóquios e A vida feliz. 5.ed. São Paulo: Paulus, 2014, p.126.
17
BISPO, Claudiomiro. Obstáculos a vida feliz: estudo sobre a busca da felicidade no livro De
Beata Vita de Agostinho. 2014. 61f. Dissertação (Mestrado em Filosofia) – PUC-SP, São Paulo,
2014, p. 20.
14
Trata-se da faculdade da alma que primariamente é a
18
responsável pelo agir humano .
Tarde te amei, ó beleza tão antiga e tão nova! Tarde demais eu te amei! Eis que
habitavas dentro de mim e eu te procuravas do lado de fora! Eu
disforme, lançava-me sobre as belas formas das tuas criaturas
19
.
Como devo procura-te, Senhor? Quando te procuro, ó meu Deus, procuro a felicidade
da vida. Procurar-te-ei, para que a minha alma viva. O meu
18
O VAHL, Matheus Jeske. O paradoxo da liberdade em Santo Agostinho e o Estatuto
Ontológico da vontade frente à presciência divina. Intuitio: Revista do PPG em Filosofia da
PUCRS, Porto Alegre, v. 8, n. 1, p. 32-45, jul. 2015, p. 33.
19
AGOSTINHO, Santo. Confissões. 7. ed. São Paulo: Paulus, 2013, p. 299.
15
corpo, com efeito, vive da minha alma, e a alma vive de ti.
Como então devo procurar a felicidade? Não a possuirei
20
enquanto não poder dizer: ”Basta, está aqui” .
20
AGOSTINHO, Santo. Confissões. 7. ed. São Paulo: Paulus, 2013, p. 299.
21
BROWN, Peter. Santo Agostinho: uma bibliografia. 8. ed. Rio de Janeiro: Editora Record,
2015, p. 57.
16
definirá a liberdade como autodeterminação, e, por conseguinte como elemento
fundamental da vontade:
O livre arbítrio, por sua vez, diz respeito à possibilidade de seguir ou não
a esse bem, é uma potência ou faculdade da vontade que dá ao homem a
possibilidade de arbitrar. Desta maneira evidencia-se que o mal entrou no
mundo por meio desse. A liberdade se relaciona com o livre arbítrio na medida
em que ela diz respeito ao ordenamento interno do sujeito, de sua livre decisão
e/ou arbítrio para o bem. No que se refere a essa problemática, Agostinho em
través dos questionamentos de Evódio,
sua obra O Livre- arbítrio, a
demonstrará:
Ev. Vejo já, claramente, que é preciso contar a vontade livre entre os bens, e não dos
menores. Portanto, precisamos reconhecer a vontade como
dom de Deus e quanto foi conveniente ela nos ter sido dada.
Nessas condições, desejo agora saber de ti, caso o julgues
oportuno, de onde procede a inclinação pela qual a mesma
vontade afasta-se daquele bem universal e imutável, para se
voltar em direção a bens particulares, alheios e inferiores,
23
todos, aliás, sujeitos a mutações .
Tomando por base essas duas definições, pode-se perceber que existe
uma ordem do bem e, nesta ordem, o ato de se escolher um bem menor é o
mal. Roberto Hofmeister Pich, em seu artigo Agostinho e a descoberta da
vontade corroborará esse pensamento acerca da origem do mal dizendo:
O argumento conclui a existência de uma causa da ação má, uma realidade que, de
acordo com determinadas premissas – segundo os limites da
filosofia moral estoica que Agostinho conhecia - , tem de existir.
22
MORAES NUNES, Mariciane. Livre-Arbítrio e a ação moral em Agostinho: um estudo a partir
do De Libero Arbitrio. 2009. 145f. Dissertação (Pós-Graduação em Filosofia) – Pontifícia
Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2009.
23
AGOSTINHO, Santo. O livre-arbítrio. 8. ed. São Paulo: Paulus, 2014, p.147.
17
Essa causa real é chamada de “voluntas” e de “liberum
24
arbitrium”
A alma, deleitando-se com o seu próprio poder, resvala do bem universal ao seu bem
particular. A culpa é do orgulho que ama as divisões. [...]. Com
efeito, se a alma seguisse a Deus, governador da criatura, suas
leis divinas poderiam governá-la com sabedoria. Mas ela,
desejando algo mais que o universo, quis submeter o mundo a
suas leis particulares. E, assim, ao ambicionar muito,
26
diminuiu-se .
24
PICH, Roberto Hofmeister. A gostinho e a “descoberta” da vontade: p
rimeiro estudo
(continuação e fim). Veritas: Revista de Filosofia da PUCRS, Porto Alegre, v. 50, n. 3, p.
139-157, set. 2005, p. 142.
25
BRACHTENDORF, Johannes. Confissões de Agostinho. 2. ed. São Paulo: Loyola, 2008,
p.167.
26
AGOSTINHO, Santo. A Trindade. 5. ed. São Paulo: Paulus, 2014, p.379.
18
Partindo do escrito acima, fica mais claro que o pecado implica
justamente numa via oposta a da felicidade, em razão de que, sendo ele uma
espécie de degradação da natureza humana, faz com que a alma ao invés de ir
ao encontro da plenitude do ser na posse do Ser, tome a direção do não-ser,
do nada, da falta de sentido.
A partir dessa relação mal-liberdade pode-se chegar ao entendimento de
que o homem, em sua condição de inquietude diante da busca pela sua
felicidade poderá orientar a sua vontade para o bem ou para o mal. Quando ele
coloca sua felicidade nas coisas desse mundo, que em si são boas, visando
uma satisfação e/ou plenitude, sentir-se-á certamente mais vazio, mesmo que
no momento tais coisas gerem prazer e/ou alegria, pois há aí uma desordem
na ordem do bem. No fragmento abaixo pode-se perceber, principalmente na
fala de Mônica, que a vontade quando se afasta do Bem imutável e universal e
vai ao encontro de bens particulares conduz o homem para um fim por ele não
querido, o da infelicidade:
Retomando, prossegui:
— Queremos todos ser felizes?
Apenas havia pronunciado tais palavras que a uma só voz e
espontaneamente aprovaram.
— E que vos parece: quem não tem o que quer é feliz?
— Não, responderam em uníssono.
— Como? Mas então, quem tem o que quer será feliz? Minha
mãe, nesse ínterim, tomou a palavra:
— Sim, se for o bem que ele apetece e possui, será feliz. Mas, se
27
forem coisas más, ainda que as possua será desgraçado .
No que se refere à vontade orientada para o bem e/ou para boa vontade,
Agostinho expressará na sua obra O livre – Arbítrio:
É a vontade pela qual desejamos viver com retidão e honestidade, para atingirmos o
cume da sabedoria. Considera agora, se não desejas levar
uma vida reta e honesta, ou se não queres ardentemente te
tornar sábio. Ou pelo menos, se ousarias negar que temos boa
28
vontade .
27
AGOSTINHO, Santo. Solilóquios e A vida feliz. 5. ed. São Paulo: Paulus, 2014, p.128.
28
AGOSTINHO, Santo. O livre-arbítrio. 8. ed. São Paulo: Paulus, 2014, p.56.
19
Ora, quem quer que seja que tenha esta boa vontade, possui certamente um tesouro
bem mais preferível do que os reinos da terra e todos os
prazeres do corpo. E ao contrário, a quem não a possui,
falta-lhe, sem dúvida, algo que ultrapassa em excelência todos
29
os bens que escapam a nosso poder .
4 TEORIA DO CONHECIMENTO
Certo impulso interior que nos convida a lembrar-nos de Deus, a buscá-lo, a sentir
sede dele, sem nenhum fastio, jorra em nós dessa mesma
fonte da Verdade. É luz que esse misterioso sol irradia em
nossos olhos interiores. E é dele que procede tudo o que
proferimos de verdadeiro, ainda que temamos volver para ele
nossos olhos ainda doentios ou recém-abertos, e de o fixarmos
face a face. Esse sol revela-se a nós como sendo o próprio
Deus, ser perfeito sem nenhuma imperfeição a diminuí-lo. Pois
nele encontra-se toda perfeição, completa e íntegra, visto que
30
ele é, ao mesmo tempo, o Deus todo-poderoso .
29
AGOSTINHO, Santo. O livre-arbítrio. 8. ed. São Paulo: Paulus, 2014, p. 57.
30
SOARES, Lúcia Maria Mac Dowell. Verdade, iluminação e trindade: o percurso da
interioridade em Santo Agostinho. 2002. 150f. Tese (Doutorado em Filosofia) – PUC-Rio, Rio
de Janeiro, 2002, p.156.
20
e formam a conexão entre razão e as verdades imutáveis. Sobre a teoria da
iluminação elucidará Gilson:
Primeiro, ela supõe que o ato pelo qual o pensamento conhece a verdade seja
comparável àquele pelo qual o olho vê os corpos: menti hoc est
intelligere, quod sesui videre. Ademais, ela supõe que, como os
objetos devem ser tornados visíveis pela luz para serem
percebidos pela vista, as verdades científicas devem tornar-se
inteligíveis por um tipo de luz para serem apreendidas pelo
pensamento. Enfim, ela supõe que, como o sol é a fonte da luz
corporal que torna as coisas visíveis, Deus é a fonte da luz
espiritual que torna as ciências inteligíveis ao pensamento.
Portanto, Deus é para nosso pensamento o que o sol é para a
nossa vista; como o sol é fonte da luz, Deus é fonte da verdade
31
.
31
GILSON, Étienne. Introdução ao estudo de Santo Agostinho. 2. ed. São Paulo: Discurso
Editorial: Paulus, 2010, p. 159.
21
este não poderá duvidar que é a realidade do pensamento. Portanto, para que
o homem se engane, é preciso necessariamente que ele antes exista.
32
AGOSTINHO, Santo. A cidade de Deus: Parte II. Petrópolis: Vozes, 2012, p.61.
33
Ibid., p. 154.
34
SANTOS, Danilo Nobre dos. A felicidade e sua busca: no De beata vita de Santo Agostinho.
69f. Dissertação (Mestrado em Filosofia) – UNESP, Marília, 2016, p. 40.
22
Além de suma Sabedoria, Deus é a suma verdade, pois que através do
qual tudo que é na medida em que é, é verdadeiro. Em outras palavras, na
busca da sabedoria, a verdade é encontrada e se estabelece. Estando Deus
presente na alma humana, este pode chegar a seu perfeito conhecimento
através do processo de interiorização e, consequentemente, chega também ele
à suprema felicidade.
A partir desse prisma, fica mais claro que o desejo que o homem tem de
completude e felicidade explica-se pelo fato de que a este não é dado
compreender plenamente a Deus, suma verdade. É exatamente isso que faz
com que o ser humano o procure. Enquanto o homem estiver nessa constante
busca por Deus, pode-se constatar que ainda não o possui, já que não se
procura algo que já foi encontrado e se possui.
O bispo hiponense, enquanto filósofo cristão faz essa correspondência
entre Deus e verdade tendo por pano de fundo as sagradas Escrituras. No
Evangelho de João (14,6), encontra-se a seguinte afirmação do próprio Cristo:
“Eu sou o caminho, a verdade e a vida”. Sob esse viés, da suprema medida
que é a sabedoria procede a verdade e, ao mesmo tempo, essa última
identifica-se com a primeira.
Quem é o Filho de Deus? Já o dissemos e está escrito: "A Verdade!" Quem é aquele
que não possui progenitor, a não ser a Suma Medida? (o Pai).
Logo, todo aquele que vier à Suma Medida pela Verdade será
feliz. E isso é possuir a Deus na alma, gozar de Deus. Quanto
às outras coisas criadas, Deus as possui, mas elas não
35
possuem a Deus .
Ora, a Verdade encerra em si uma Suma Medida5: da qual procede e à qual se volta
inteiramente. E essa Suma Medida assim é, por si mesma, não
por alguma imposição extrínseca. E sendo perfeita e suma é
também a verdadeira Medida. E tal como a Verdade é gerada
(gignitur) pela Medida, assim também a Medida manifesta-se
36
pela Verdade .
35
AGOSTINHO, Santo. A cidade de Deus: Parte II. Petrópolis: Vozes, 2012.., p.155.
36
AGOSTINHO, Santo. Solilóquios e A vida feliz. 5. ed. São Paulo: Paulus, 2014.p.119.
23
É de suma importância destacar ainda aqui que Agostinho, tendo
percorrido toda uma trajetória rumo à verdade, perpassando por diversas
correntes filosóficas, agora compreende que o objeto do verdadeiro
conhecimento são as realidades inteligíveis, às quais se voltam à inteligência e
aos olhos da alma, e não as realidades ligadas à sensibilidade. Tomando a
definição de conhecimento verdadeiro de Zenão, ele indicará que este
conhecimento terá por objeto não os sensíveis, mas os inteligíveis, quando a
37
inteligência, os olhos interiores da alma a eles se dirigem .
Sabendo-se que Deus é a suprema verdade, ao buscá-la Agostinho
também estará de modo propedêutico disposto a ir ao encontro das provas de
sua existência, isso se dará através do seu Cogito outrora exposto, tendo em
conta a via da interioridade e as relações entre interior e exterior. A esse
respeito Lúcia Maria Mac Dowell declarará:
5 ÉTICA AGOSTINIANA
37
SOARES, Lúcia Maria Mac Dowell. Verdade, iluminação e trindade: o percurso da
interioridade em Santo Agostinho. 2002. 150f. Tese (Doutorado em Filosofia) – PUC-Rio, Rio
de Janeiro, 2002, p.29.
38
Ibid., p.31.
24
ser livre, do agir, por meio da configuração de vontades, humana à Divina, da
castidade, e vida nas virtudes e a vida boa.
De forma clara, o Doutor da Graça apresentará que a verdadeira plenitude
consiste no conhecimento piedoso e perfeito da Trindade, que é um Só Deus
em três pessoas distintas: o Pai, que é Aquele que guia os homens até a
verdade, o Filho, que é A verdade da qual os homens gozam; e o Espírito
Santo, que é o vínculo que une os homens à Suma Medida. Tal conhecimento
sobre a realidade da Trindade se dá pela revelação, todavia, Agostinho
aborda-a do ponto de vista racional, apontando para a fé como meio condutor
para a vida feliz.
Em A vida feliz, o Doutor da Graça explica que o conhecimento da
verdade no interior da alma é ao mesmo tempo posse e fruição de Deus,
entendendo-se fruição como sendo, por assim dizer, um gozo e/ou deleitar-se
de Deus. É justamente essa a sabedoria que dá ao homem a suprema
felicidade, que por sua vez consiste em conhecer e amar o Sumo Bem. Para
que o homem aceda à fruição da Suma Sabedoria, é necessário que ele esteja
submetido à ordo amoris, ordem do amor na existência temporal.
39
MATTOS, José Roberto Abreu. É tica agostiniana. Revista de cultura teológica: Revista de
Filosofia, São Paulo, v. 19, p.117-127, 2011, p.119.
25
contexto, José Roberto Abreu de Mattos evidenciará a relação entre reta razão,
boa vontade e fruição de Deus dentro da perspectiva da ordo amoris:
40
MATTOS, José Roberto Abreu. É tica agostiniana. Revista de cultura teológica: Revista de
Filosofia, São Paulo, v. 19, p.117-127, 2011, p.122.
26
REFERÊNCIAS
AGOSTINHO, Santo. A cidade de Deus: Parte I. Petrópolis, RJ: Vozes, 2014.
_____. A cidade de Deus: Parte II. 2. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2012.
27
BRACHTENDORF, Johannes. Confissões de Agostinho. 2. ed. São Paulo: Loyola,
2008.
BROWN, Peter. Santo Agostinho: uma bibliografia. 8. ed. Rio de Janeiro: Editora
Record, 2015.
_____. Santo Agostinho: a vida e as ideias de um filósofo adiante de seu tempo. 2. ed.
Rio de Janeiro: Zahar, 2007.
MATTOS, José Roberto Abreu. Ética agostiniana. Revista de cultura teológica: Revista
de Filosofia, São Paulo, v. 19, p.117-127, 2011.
PLATÃO, Fédon. Trad. Miguel Ruas. São Paulo, Editora Martins Fontes, 2007.
SANTOS, Danilo Nobre dos. A felicidade e sua busca: no De beata vita de Santo
Agostinho. 69f. Dissertação (Mestrado em Filosofia) – UNESP, Marília, 2016.
28
SILVA, Jesus de Aguiar. Conceito de Felicidade em Santo Agostinho na era
contemporânea. Trabalho de Conclusão (Monografia) – Curso de Licenciatura em
Filosofia – Centro Universitário Claretiano, Araçatuba-SP, 2008.
percurso da
SOARES, Lúcia Maria Mac Dowell. Verdade, iluminação e trindade: o
interioridade em santo Agostinho. 2002. 150f. Tese (Doutorado em Filosofia) –
PUC-Rio, Rio de Janeiro, 2002.
29