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1.

O BELO COMO FUNDAMENTO DA ARTE: A IDEIA DO BELO EM KANT E


HEGEL

Lembremos que na aula passada falamos do belo nas perspectivas platónica, aristotélica e
cartesiana. Na perspectiva platónica dissemos que a arte é uma imitação ilusória do belo, e que as
coisas não são necessariamente belas em si, mas participam da ideia do belo. Na perspectiva
aristotélica, a arte é uma imitação igualmente, do que é imanente na ideia e imanente na forma
dos objectos da realidade, nesse sentido, a arte seria uma imitação criativa em que a ideia seria
tornar mais bela a beleza natural. Nas ideias cartesianas, apesar de concordar que o belo ou a arte
bela é antes avaliada pelos sentidos, notamos que, Descartes não deixa os sentidos como
membros avaliadores do que é ou não belo, porque segundo ele, a faculdade de discernir sobre o
que é belo ou não está somente na razão.

Daqui deriva outra questão: Será o gosto é uma questão individual (subjectiva) ou existirá um
padrão universal do bom e do mau gosto? Para os racionalistas a resposta é simples: o belo
impõe-se pelas qualidades artísticas do objecto e, por isso, existe um padrão universal de bom
gosto. Os empiristas afirmam o contrário. Kant, considerado fundador da Estética Moderna, diz
que o Belo é o que agrada universalmente, independentemente de um conceito. Não se podem
teorizar regras sobre o belo, porque o belo diz respeito ao sentimento e o sentimento é
subjectivo. Por isso, quando afirmamos que uma determinada produção artística é bela porque se
subordina a esta ou aquela concepção, estamos a fazer um juízo intelectual (teórico) e não um
juízo sobre o sentimento que se tem por determinada obra de arte.

No entanto, porque todo o juízo, para ser verdadeiro, tem que se impor universalmente, um juízo
estético não poderá ser o que resulta de um gosto individual (subjectividade pessoal), mas de
uma intersubjectividade (universalidade). Desta forma, a estética kantiana afasta-se também do
empirismo. Kant conclui que o ideal da beleza é o acordo mais perfeito possível de todos os
tempos e de todos os pontos acerca das produções exemplares. A revolução kantiana consistiu
em transportar a Estética para o interior do sujeito, sem cair no relativismo empirista ou no
formalismo racionalista. Neste sentido, o belo tem as seguintes características:

 É sem conceito, porque resulta de um juízo de gosto;


 É subjectivo, porque diz respeito ao sujeito;
 É universal, porque resulta de um “acordo” intersubjectivo;
 Supõe a imaginação, porque é a única faculdade que não precisa de conceitos e que diz
respeito ao sentimento.

É precisamente a imaginação que permite a criação consciente da produção artística e a


universalidade do sentimento do belo, uma vez que é este o “sentido interior” possuído
universalmente por todos e que permite gozar o belo sem intenção.

Hegel parece concordar de certa maneira com Platão, ao abordar a questão do ideal e do belo.
Sobre este assunto, Hegel diz que “a beleza só pode se exprimir na forma, porque ela só é
manifestação exterior através do idealismo objectivo do ser vivente e se oferece à nossa
intuição e contemplação sensíveis”.
A beleza funciona para Hegel como a expressão máxima do Ideal. O ideal classico “só
representa o modo de ser do espírito, o que nele há de sublime funde-se na beleza, é directamente
transformado em beleza”. Para Hegel o belo é algo espiritual, e para definir o belo como algo
espiritual, parte da premissa da inexistência material do belo, colocando-o na categoria de
conceito sem realidade fisica, portanto, pertencente ao plano espiritual, ao plano da imaginação
do sujeito. Hegel vai tomar como base o belo em si, e deixa de lado os objectos belos, que
segundo ele são tidos como belos por motivos diversos. “Não nos perturbam, portanto, as
oposições entre os objectos qualificados de belos: estas oposições são afastadas, suprimidas (…).
Nós começamos pelo belo como tal”. Hegel acaba por determinar que “só é belo o que possui
expressão artística”.

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