Título: A outra questão: o estereótipo, a discriminação e o discurso do colonialismo, capítulo 3, p. 105 a 128. Livro: O local da cultura Organizador(es)/Autor(es) do livro: BHABHA, Homi K. Cidade: Belo Horizonte Editora: Editora UFMG Ano: 1998 Palavras-chave: Colonialismo; estereótipo; fetichismo; discurso; sujeito colonial; alteridade; ambivalência
A ambivalência do estereótipo
O colonialismo possui muitas bases, entre elas, os três tópicos citados no
subtítulo desse texto: o estereótipo, a discriminação e o discurso colonial. Começando sua análise pelo primeiro, Bhabha disseca como o estereótipo colabora com o processo de justificação do colonialismo, ao mesmo tempo que decifra o que o mantém útil. Ainda, vemos como o estereótipo age como alicerce discursivo. “Um aspecto importante do discurso colonial é sua dependência do conceito de ‘fixidez’ na construção ideológica da alteridade.” (p. 105) “A fixidez, como signo da diferença cultural/ histórica/racial no discurso do colonialismo, é um modo de representação paradoxal: conota rigidez e ordem imutável como também desordem, degeneração e repetição demoníaca. Do mesmo modo, o estereótipo, que é sua principal estratégia discursiva, é uma forma de conhecimento e identificação que vacila entre o que está sempre "no lugar", já conhecido, e algo que deve ser ansiosamente repetido [...]” (p. 105) Ao explicar o conceito de fixidez, Bhabha explica que os estereótipos não só “não precisam como não podem ser provados no discurso” (p. 105). Essa ambivalência, da não necessidade e da não capacidade de prova, seria o principal alicerce do estereótipo. “[...] A força da ambivalência que dá ao estereótipo colonial sua validade: ela garante sua repetibilidade em conjunturas históricas e discursivas mutantes; embasa suas estratégias de individuação e marginalização; produz aquele efeito de verdade probabilística e predictabilidade que, para o estereótipo, deve sempre estar em excesso do que pode ser provado empiricamente ou explicado logicamente.” Ao explicar o poder que a ambivalência ofereceu ao discurso estereotípico, Bhabha discute a dificuldade em entender o estereótipo como “um modo ambivalente de conhecimento e poder” (p. 106). Para entende-lo como tal, seria necessário abrir mão de pressupostos moralistas e dogmáticas, como, por exemplo, enxergar os estereótipos sobre luzes “negativas” ou “positivas”. Por exemplo, o estereótipo de que homens cis negros são “bem dotados” é positivo, enquanto o estereótipo de que pessoas negras são agressivas é negativo. Bhabha propõe que se ponham essas ideias de lado e que esses “arquétipos” sejam analisados sob a perspectiva de processos de subjetivação dos sujeitos coloniais, tanto colonizadores quanto colonizados.