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LB VI - 27.9.

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«Terra em transe»
- Reflexão dolorosa e urgente sobre a derrota que o país sofre no golpe de 1964;
- Antes de 1968, a censura não era tão "forte", por isso um filme tão político conseguiu passar
sem cortes;
- Diante das diversas crises que o Brasil passou na década de 60, especialmente a de
emancipação nacional, Glauber Rocha resolve criar um filme crítico sobre esse desengano,
essa derrota da esperança (que foi exposta em 'Deus e o diabo na terra do sol');
- O desafio: filme de 65 que, assim como Terra em transe, demonstra essa sensação de perda
da esquerda brasileira pós 64;
   Esse filme marca o início da segunda fase do Cinema Novo;
   Esse filme é interessante por marcar a mudança no objeto dos filmes, que coloca o intelectual
no centro e reflete sobre os erros e acertos da esquerda que pode ter levado ao golpe de 64;
   Esse novo momento explicita a distância entre os intelectuais e a população, essa distância é
levantada como uma das possíveis causas que levaram ao golpe;
   Essa distância é uma ferida não-cicatrizada dos cineastas que formaram a primeira fase do
Cinema Novo, pois pensava-se que esses intelectuais e o povo estavam muito mais próximos;
   Esse primeiro momento era marcado pelo povo como protagonista e pelo advento da
revolução, trazida pelo povo;
   No segundo momento, o Cinema Novo volta para si, analisando a classe média, de onde
saiam esses cineastas e intelectuais, fazendo uma crítica e uma reflexão;
- A partir desse novo foco em seus próprios círculos, a personagem Paulo Martins se revolta,
não com o povo real que ele não conhecia e agora está descobrindo, mas com ele mesmo e
com o povo que ele criou;
- Ao informar logo na abertura do filme que a personagem PM vai morrer ao final, usa-se um
método curioso de distanciamento, pois não nos envolvemos em suas 'aventuras' desavisados;
- Recusa das convenções realistas dramáticas do cinema hollywoodiano;
- O cinema transparente visa o envolvimento e não a reflexão crítica, já o cinema de Glauber
visa a reflexão crítica dessas personagens, que representam figuras políticas e nã apenas
figuras convidativas ao expectador;
- O poder de PM de interromper a ação e explicar o que acontece o torna um personagem
brechtiniano no que é chamado de "teatro didático";
- Opacidade da câmera e da trilha sonora, constantemente lembrando ao expectador que isso
é um filme, evitando o envolvimento acrítico de quem assiste;
   Câmera trabalha independente da ação, deixando claro que há sempre uma câmera, que
esta ação está sendo continuamente gravada, anti-realista;
   Trilha sonora agressiva, também independente da ação; chamativa no sentido de estar
sempre atraindo atenção para si, com o objetivo de marcar que isso não é a realidade;
- Filme anti-dramático, um filme que se destrói, em processo de reelaboração enquanto o filme
se apresenta;
- Montagem vertical: a imagem grava x cena, mas o som não corresponde a imagem;
dessincronia entre som e imagem;
- Uma das reflexões do filme é a dicotomia ou a dialética entre arte e política;
- A personagem Paulo Martins foi inspirada em diversas figuras emblemáticas do pré-64, como
o poeta Mario Faustino e um jornalista (por o nome depois de ouvir a gravação);
- Processo de desmascaramento da personagem: apesar de ser uma figura supostamente
atrativa, o expectador não se atrai, simpatiza ou chora por PM, pois a personagem é objeto de
uma reflexão crítica que desfigura essa atratividade;
   Apesar de ser um intelectual, 'progressista', a partir dessa reflexão sobre a personagem,
observamos que PM está mais próximo de seu 'rival' no filme, pois há determinadas
características como sua ambição e seu autoritarismo;
- Apesar de ser um filme inserido numa conjuntura histórica e, que seu sentido depende dela, é
um filme que continua fazendo sentido mesmo depois de tantos anos;

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