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Enfrentamento à violência

doméstica e familiar contra

Mulher
GRATUITA
Essa publicaçã
o
não pode ser
comercializad
a

9
Gênero,
Masculinidades
e Violência
CRISTIAN S. PAIVA
Copyright © 2020 by Fundação Demócrito Rocha

FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA


Luciana Dummar
Presidente

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CURSO ENFRENTAMENTO À VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER


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Editora de Design e Projeto Gráfico

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Designer

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Revisora

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Ilustrador

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Produtora
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Analista de Marketing

Este fascículo é parte integrante do Projeto “Programa de Enfrentamento à Violência Doméstica


e Familiar Contra a Mulher”, em atendimento do Contrato Nº 74/2020 firmado entre a Fundação
Demócrito Rocha e a Assembleia Legislativa do Estado do Ceará e do Termo de Fomento Nº 02/2020
firmado entre Fundação Demócrito Rocha e Câmara Municipal de Fortaleza.

Todos os direitos desta edição reservados à:

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SUMÁRIO
1. A mínima diferença: mulheres e homens 132
2. Não se nasce mulher, torna-se… não se nasce homem, torna-se 133
3. Compreender o Binarismo 134
4. O que podemos concluir disso? 136
5. Do arbitrário eternizado ao problema do gênero 137
6. A construção da masculinidade como conceito e como campo de estudos 138
7. Entendendo o debate 140
Referências 143
PARA REFLETIR
Podemos evocar o exemplo da
discussão recente nas redes sociais,
envolvendo a sentença aberrante de
“estupro culposo”, citada na imprensa
acerca da decisão de um juiz num
processo de acusação de estupro,
gerando reação de diversos segmentos
da sociedade, sintetizados na hashtag

1
#JusticaPorMariFerrer.

A MÍNIMA
A crítica feminista, acumulada pelo me- e mulheres, adultos e crianças, estudada
nos nos últimos 50 anos, produziu riquís- por Norbert Elias, ajuda-nos a entender
simo aporte de conhecimento sobre as discursos de teor conservadores que produ-
DIFERENÇA: mulheres, induzindo também amplas trans-
formações políticas na cidadania de mulhe-
zem pânico social sobre o fim da família, so-
bre a ameaça de sexualização das crianças,
MULHERES E res e revelando dimensões invisibilizadas de
opressão no que diz respeito à vida familiar/
alimentando o combate à autonomia das
mulheres, ao reconhecimento da cidadania

HOMENS conjugal, ao corpo, à maternidade, à vida sexual e, com isso, reintroduzindo pautas

A
profissional etc. A epistemologia feminista masculinistas e machistas. Ainda que em
ajudou a produzir uma nova imagem sobre meio a retrocessos e resistências conserva-
proposta deste texto é de refletir,
o feminino na cultura e sobre a inserção da dores, é inegável a profunda transformação
a partir de um olhar de gênero,
mulher na sociedade. Ou seja, as mulheres na vida pessoal e social de mulheres.
sobre homens e masculinidade
passaram por um profundo trabalho de re- No que concerne à sociedade brasileira,
– melhor seria dizer as masculini-
flexão e de crítica sobre si mesmas e sobre com traços estruturais de patriarcalismo,
dades, como veremos a seguir –, ferramenta
as situações sociais que as subalterniza(va) classismo, machismo e racismo, a agenda
conceitual útil para poder pensar suas inter-
m e mobilizaram-se no sentido de avançar democrática encontra-se tensionada, numa
secções com a violência doméstica.
em termos de sua capacidade de agir. nova configuração de forças entre socieda-
Retomamos, então, a questão da “mí-
O sociólogo britânico Anthony Giddens de e Estado. E, no que importa ao interesse
nima diferença” entre homens e mulheres,
afirma que devemos aos movimentos de de discutir relacional e contextualmente a(s)
entre masculinidade e feminilidade, ques-
mulheres e feministas e aos movimentos masculinidade(s) e a questão da democra-
tão antiga e problematizada de diferentes
gay e lésbico (hoje diríamos LGBTQI+) uma cia emocional, poderíamos indagar: como
maneiras ao longo da história, ainda que
transformação socio-histórica profunda no anda a balança de equilíbrio de poder nas
com algumas persistências, especialmente
sentindo de ampliação da exigência demo- relações interpessoais? O trabalho político
aquela relacionada à submissão das mu-
crática a dimensões tidas como “irrelevan- de coletivos de mulheres que recusam uma
lheres à ordem patriarcal nas sociedades,
tes politicamente”, tais como: sexualidade, “essência” universal e imutável do feminino
já bastante discutida por diversas autoras
intimidade, aspirações emocionais, relação (essa suposta essência traduzida prosaica-
(desde uma perspectiva da crítica ao pa-
entre pais e filhos (poderíamos acrescentar: mente na piada maldosa da “bela, recatada
triarcado até as contemporâneas análises
questões relativas à raça, ao imperativo da e do lar”) ficou no meio do caminho? Somos
descoloniais e contracoloniais). Entender a
beleza etc.). Essa transformação da inti- homens e mulheres com sentimentos e as-
violência contra as mulheres, em sua mul-
pirações “modernas”? Reinventamos nos-
tiplicidade de manifestações, exige-nos, midade caminharia rumo a uma democra-
sas expectativas? Somos arcaicos? Abrimos
portanto, uma compreensão relacional cia emocional, “uma total democratização
mão das histórias de contos de fada, habita-
do sistema de sexo-gênero (para utilizar do domínio interpessoal, de maneira plena-
dos por princesas e príncipes?
os termos da antropóloga Gayle Rubin), em mente compatível com a democracia na es-
E quanto aos homens? O que fizeram de
que homens e mulheres são socializados e fera pública” (p. 11). Essa mudança no equi-
si? Que identidades masculinas e perfis de
vivem suas experiências como sujeitos. líbrio da balança de poder entre homens
masculinidade encontramos na sociedade?

132 Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste


2
NÃO SE mulheres, articulados também com meca-
nismos de produção de diferença que são

NASCE
estruturais nas sociedades e, em especial,
na sociedade brasileira. Em outras palavras,

MULHER,
pensar a produção do masculino e do femi-
nino enquanto tecnologias de gênero nos
permite elucidar conexões entre práticas,
TORNA- valores, representações incorporadas nas
nossas vidas pessoais enquanto homens

SE… NÃO e mulheres, e mecanismos sociais de re-


gulação de nossos corpos, nossas emo-

SE NASCE ções, nossos projetos biográficos. Porque,


fato de nossa espécie sexuada, chegamos

HOMEM, ao mundo como bebês designados ma-


cho ou fêmea (embora essa suposta “evi-

TORNA-SE dência” precise também ser esclarecida) e


nos fazemos como pessoas a partir dessa

F
designação da nossa anatomia. E nascer
eita essa sucinta e indispensável homem ou mulher no mundo faz toda a
articulação com as transformações diferença. Então, anatomia, socialização SAIBA MAIS
socio-históricas no âmbito das lu- e normas culturais internalizadas operam
A socióloga Eva Illouz (2014) analisou
tas de mulheres, vamos falar agora imbricadamente, com o pressuposto da
uma versão modernizada desse mito do
sobre alguns mecanismos de produção de cis-heteronormatividade. Deve ser por isso
príncipe encantado no contexto da so-
diferença social baseados na diferença se- que, lembra-nos o pai da psicanálise, de to-
ciedade globalizada, neoliberal e hipe-
xual, isto é, como se constroem, de modo das as espécies animais, a espécie humana
rindividualista a partir do sucesso mun-
binário e diferencial, as socializações, as é aquela que repetida e persistentemente
dial do livro Cinquenta tons de cinza, da
aprendizagens do desejo e as performances se interroga e se equivoca sobre esse “ser
escritora E. L. James.
de gênero relacionadas ao masculino e ao homem” e “ser mulher”. E, em diferentes
A autora sugere que a trama envol-
feminino. De modo que só é possível falar contextos socio-históricos, há uma cota de
vendo o contrato de submissão assinado
de masculino e masculinidade a partir da sofrimento e vulnerabilidade associados
por Anastacia a Christian Grey (encarna-
construção relacional com o feminino e a aos homens e às mulheres.
ção do príncipe irresistível), consumido
feminilidade (estes tomados, historicamen- Para esta conversa sobre homens e mas-
por milhões de leitoras no mundo intei-
te, como polo negativo da relação, vere- culinidades, retomemos a afirmação da
ro, nos oferece uma boa lente para ana-
mos adiante). Dizendo de outra forma, não escritora francesa Simone de Beauvoir, que
lisar a gramática emocional da contem-
há uma essência da masculinidade assim “não se nasce mulher, torna-se”, para ex-
poraneidade, permeada por aspirações
como não há uma essência da feminilidade. pandi-la, e dizer que também “não se nasce
emocionais profundamente tradicionais
Portanto, falar sobre homens e mas- homem, torna-se”, em muitos casos a duras
nos relacionamentos amorosos.
culinidades é falar sobre as tecnologias penas (a despeito da série de privilégios cul-
de gênero (Lauretis, 1994) que produzem turais previstos de antemão para o homem).
e consolidam culturalmente as diferenças Assim, o ser homem e o ser mulher, longe
de sexo-gênero, mediante a internalização de serem dados a priori, são construções so-
de pressupostos normativos que passam ciais incorporadas pelos indivíduos a partir
a reger o cotidiano das vidas de homens e de um processo contínuo e quase invisível

ENFRENTAMENTO À VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA MULHER 133


3
COMPREENDER
O BINARISMO

A
de regulação e aprendizagem sobre o que
fazer do corpo, que sentimentos convém prendemos a pensar as diferenças
experimentar, como relacionar-se com a se- entre masculino e feminino como
xualidade, mas também a que expectativas estritamente binárias, excluden-
sociais atender, que projetos biográficos es- tes e marcadas por evidências,
colher (desde a escolha de um esporte, de sendo qualquer indefinição ou travessia en-
uma carreira profissional até a relação com tre os polos da masculinidade e da femini-
a violência, a saúde e a doença). lidade sentida como ameaçadora à ordem
Além de ser construção social, a produção sexual e, por isso, interditada. Como expli-
de masculinidade e feminilidade é diferencial, car a persistência desse esquema binarista,
ou seja, há um estoque de aprendizagens e em que o masculino aparece como referên-
experiências previstas pela cultura para cada cia positiva e privilegiada?
um dos sexos/gêneros. Essa socialização di- O sociólogo e antropólogo Pierre Bour-
ferencial e binária, imposta pela norma so- dieu, no livro A dominação masculina, nos
ciossexual dominante, opera desde cedo na convida a pensar a questão da permanên-
vida dos indivíduos, de tal modo que nos pa- cia e da mudança da ordem sexual, partin-
recem naturais, universais, inquestionáveis. O do de sua experiência de pesquisa em uma
psicanalista francês Jacques Lacan recorre à sociedade tradicional do norte da África,
alegoria da “segregação urinária”: desde pe- a sociedade cabila. Nessa sociedade, “as
quenas, diante do banheiro, as crianças têm diferenças sexuais permanecem imersas
de relacionar as iniciais H e M, escritas à porta no conjunto das oposições que organizam
dos banheiros – a ordem simbólica reduzida a todo o cosmos, os atributos e atos sexuais
essas duas letras –, a seus destinos sexuados. se vêem sobrecarregados de determina-
Desde então, homens e mulheres cumprem ções antropológicas e cosmológicas” (p.
seus destinos diferenciados. 15). É como se as oposições percebidas na
Não seria mais assim? O exemplo do relação com os eventos físicos da natureza
banheiro é exemplar ao revelar a profunda (quente/frio, duro/mole, seco/úmido, direi-
articulação entre necessidades fisiológicas ta/esquerda, forte/fraco, fora/dentro, dia/
e normas socioculturais (educativas, políti- noite etc. Ver esquema a seguir) servissem
cas e até jurídicas) assim como ao revelar as de matriz para pensar a diferença entre
ansiedades, inseguranças e reivindicações homem/mulher, masculino/feminino, con-
contemporâneas sobre esse ser homem e ferindo à oposição sexual inteligibilidade e
ser mulher. O que mudou? necessidade objetiva.

134 Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste


Nesses esquemas de pensamento, que
organizam a divisão das coisas e das ati-
vidades (sexuais e outras) segundo uma
cosmologia androcêntrica, isto é, o mun-
do sendo pensado a partir de um referente
masculino, a divisão entre os sexos parece
estar “na ordem das coisas” (p. 17), poden-
do ser tomada como objetiva, natural, uni-
versal. Assim, “a diferença biológica entre
os sexos, isto é, entre o corpo masculino e
o corpo feminino e, especificamente, a di-
ferença anatômica entre os órgãos sexuais,
pode assim ser vista como justificativa na-
tural da diferença socialmente constituída
entre os gêneros e, principalmente, da di-
visão social do trabalho” (p. 20). Françoise
Héritier (1989) lembra-nos, a propósito, que
o controle social da fecundidade das mu-
lheres e a divisão do trabalho entre os sexos
são os dois pilares da desigualdade sexual.
Desse modo, “a força da ordem masculi-
na se evidencia no fato de que ela dispensa
justificação: a visão androcêntrica impõe-se
como neutra e não tem necessidade de se
enunciar em discursos que visem legitimá-
-la. A ordem social funciona como uma
imensa máquina simbólica que tende a ra-
tificar a dominação masculina sobre a qual
se alicerça” (p. 18).
Esquema sinóptico das oposições pertinentes
(Bourdieu, 1999)

ENFRENTAMENTO À VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA MULHER 135


4
O QUE PODEMOS
CONCLUIR DISSO?

P
ara o autor francês, o estudo so- ciente androcêntrico, do qual é extrema-
bre a sociedade cabila nos permi- mente difícil se desembaraçar.
te compreender como se produz Podemos sentir a força desse processo
um trabalho de naturalização e de naturalização e eternização do prima-
eternização da ordem sociossexual, com do da masculinidade ao longo da história a
persistências nas sociedades atuais. A cons- partir de diversos exemplos, que constituem
trução socio-histórica dos corpos torna-se o que o historiador Alain Corbin (2013), cha-
imperceptível, eternizando as estruturas da ma de “tradição imemorável da virilidade”,
divisão sexual e social (que são, no entanto, associando-se o vir a numerosas qualidades
produzidas histórica e socialmente). Isso se entrecruzadas: “ascendência sexual mistu-
dá por meio de um trabalho psicossomá- rada à ascendência psicológica, força física
à força moral, coragem e ‘grandeza’ acom-
tico de incorporação de formas de pensa-
panhando força e vigor”. Mesmo que, hoje,
mento, esquemas de sensibilidade e siste-
com as reivindicações à igualdade e com a
mas de moralidade baseados no primado
exigência democrática na esfera da vida pes-
da masculinidade e que persistem na forma soal, mencionadas no início do nosso texto,
como os indivíduos, homens e mulheres, se a superioridade do macho e a “autoridade”
relacionam com seus corpos, seus desejos do homem sobre a mulher não saberiam ter
e seu julgamento, baseados num incons- mais qualquer fundamento.

136 Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste


5
DO ARBITRÁRIO
ETERNIZADO AO PROBLEMA
DO GÊNERO

T
emos agora elementos para en- sociossexual dela decorrente, porque tal
tender como a discussão sobre conceito permitia revelar aquilo que estava
o masculino e a masculinidade “encoberto”, “naturalizado”, “entranhado” na
surgiu, digamos, tardiamente, se cosmologia falocêntrica da dominação mas-
comparada à problematização produzida culina. Contra a ideia de um sexo já dado pela
pelas mulheres sobre sua condição social natureza, portanto universal e imutável, o
e sobre o feminino na cultura, assim como conceito de gênero mostra que corpos, sexos
por gays e lésbicas, condenados à invisibi- e sujeitos sexuados são criações históricas,
lidade pela norma sexual heterocêntrica. artefatos culturais. Segundo a definição da
Esses coletivos, subalternizados por uma historiadora Joan Scott (1995), gênero é um
ordem sexual tradicional, orientada pela conceito que nos permite analisar “a organi-
dominação masculina naturalizada, ma- zação social da diferença sexual”; o gênero “é
terializada no controle do corpo das mu- o conhecimento que estabelece significados
lheres e na divisão hierárquica do trabalho para diferenças corporais”.
sociossexual, na condenação de desejos e A antropóloga Gayle Rubin, na mesma
afetos não binários e não heterossexuais, direção, passa a falar no par: sistema sexo-
realizaram (ainda realizam, aliás) um gran- -gênero, definindo-o como “o conjunto de
de trabalho de subversão dessa ordem se- acordos sobre os quais a sociedade trans-
xual, historicizando seus pressupostos e forma a sexualidade biológica em produtos
mecanismos. Aquilo que se mostrava como da atividade humana, e nos quais essas
“natural”, “universal”, “essência”, “instinto”, necessidades sexuais transformadas são
“conforme a vontade Deus” etc., só se re- satisfeitas” (RUBIN, 1975). Daí a potência
vestia dessas características por causa de crítica desses conceitos, pois eles revelam
um constante e imperceptível processo de os mecanismos de “eternização do arbitrá-
fabricação social de corpos e de sujei- rio” (expressão de Bourdieu), que estão na
ção psíquica, em que meninos e meninas, origem da norma sociossexual hegemônica
homens e mulheres eram socializados num que faz a dominação masculina parecer le-
sistema de gêneros binarista, masculinista, gítima e natural. Também é por causa disso
patriarcal e racializado. que o conceito de gênero é combatido pelo
O conceito de gênero revelou-se útil pensamento conservador, porque desesta-
como categoria de análise histórica e de biliza o sistema de sujeição e de privilégios
crítica à dominação masculina e da ordem em que se assenta a sociedade machista.

ENFRENTAMENTO À VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA MULHER 137


6
A CONSTRUÇÃO DA
MASCULINIDADE COMO
CONCEITO E COMO CAMPO
DE ESTUDOS
Os homens e o masculino, até então violência, com o outro sexo etc., aprovada
pressupostos como gênero universal – va- socialmente.
mos lembrar que os estudos de gênero e as O estado da arte sobre homens e mas-
ditas “questões de gênero” foram de início culinidades tem avançado em várias dire-
considerados estudos específicos sobre a ções e campos temáticos: estudos relacio-
vida das mulheres – passam a constituir- nal da masculinidade a partir de dinâmicas
-se objeto de problematização. Tomando a de poder baseadas nas diferenças de gêne-
sintética e pertinente definição de JJ Bolla ro; dinâmicas de poder na construção de
(2020), a masculinidade pode ser definida carreiras profissionais; ritos de passagem e
como “uma performance para a qual os iniciação no mundo dos homens, em suas
homens são socialmente condicionados”. relações com o sofrimento, a agressividade,
Outra forma de definir a masculinidade é a a violência e dinâmicas criminais; questões
de entendê-la como “uma configuração da envolvendo honra, dinâmicas intrafamilia-
prática em torno da posição dos homens na res e relação com modelos de parentalida-
estrutura das relações de gênero” (Connell, de; práticas de bullying escolar e homofóbi-
1995). Os estudos e as teorizações, a par- co; modelos midiáticos sobre o ser homem;
tir do fim dos anos 1980 e início dos anos cuidado do corpo, saúde e prevenção; mo-
1990, revelarão aspectos importantes desse delos de masculinidade situados a partir de
processo de tornar-se homem, marcado dinâmicas interseccionais, desigualdades
por complexos mecanismos de sujeição e sociais e processos de racialização; constru-
ritualização do masculino, traduzidos na ção de identidades transmasculinas e críti-
performatização de um modelo imposto ca ao modelo cissexual-binário.
aos homens de uma relação com o corpo, No conjunto das teorizações sobre mas-
com as emoções, com a atividade, com a culinidade, um conceito merece ser desta-

138 Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste


cado, dada a sua centralidade nos últimos pirâmide da hierarquia seria ocupado pelo
30 anos: o conceito de masculinidade he- “homem predador”, ativo, heterossexual,
gemônica. Robert Connell (2013) explora as branco, jovem, bem-sucedido profissional-
possibilidades analíticas daquele conceito, mente, viril etc. A base da hierarquia, seus
resumidos a seguir. estratos inferiores se relacionariam com
Em primeiro lugar, o conceito desau- atributos associados ao feminino e à passi-
toriza uma compreensão essencialista do vidade social e sexual.
masculino e da masculinidade. Em vez Outro ponto importante a lembrar é que
disso, propõe um modelo de análise da a equivalência entre masculinidade hege-
identidade masculina e da masculinidade mônica e masculinidade normal não se
que leva em conta múltiplas relações de deve a critérios estatísticos, já que apenas
poder e múltiplas dimensões do gênero. uma minoria dos meninos e homens con-
Desconstrói a ideia de um modelo único e seguiria encarnar, em suas vidas cotidianas,
homogêneo de masculinidade, sendo sua todas as prerrogativas dessa masculinidade
característica fundamental “a combina- legitimada socialmente. O que não impede,
ção da pluralidade das masculinidades e a no entanto, que ela continue funcionando
hierarquia entre masculinidades”. Ou seja, como modelo normativo. Aqui esbarramos
trata-se de um modelo de análise que nos em um ponto crucial, na medida em que
convida a reconhecer as disputas de poder pouco se tem estudado sobre os processos
e a agência dos indivíduos, em contextos de divisão interna e de conflito emocional
sociais determinados. Desse modo, as mas- vivenciados por meninos e homens, mesmo
culinidades socialmente dominantes são aqueles que “encarnam” a masculinidade
aquelas que podem contar com o consenso hegemônica em suas relações interpesso-
e a aprovação cultural, simultaneamente ais. As injunções: “engula o choro”, “seja ho-
marginalizando aquelas formas alternativas mem”, “mantenha sua palavra”, assim como
de expressão do masculino. as suspeitas: “não é homem, não?”, “tá me
O conceito de masculinidade hegemô- estranhando, mah?”, “parece que é boiola”
nica, lembra-nos Connell, originou-se dos etc., vão impedindo uma relação mais flexí-
estudos sobre homens homossexuais, vel com os sentimentos e a experimentação
vítimas do preconceito e da violência ho- da vulnerabilidade. Em troca, produz-se
mofóbica, sendo o conceito de homofobia alienação emocional, comportamentos rí-
relacionado à crítica do papel masculino gidos e estereotipados, rechaçando qual-
convencional. Homens gays, então, figura- quer oscilação sobre a própria masculini-
riam, nesse modelo hierárquico, como for- dade, o que, em casos-limite, irrompe como
mas de expressão de masculinidades violência, especialmente aquela dirigida às
subordinadas ou subalternas. Michael mulheres, e como outras práticas tóxicas
Kimmel (1998) tem um artigo importante (ver à frente o tópico “Masculinidade tóxica
no qual discute essa produção simultâ- e relacionamento abusivo”).
nea de masculinidades hegemônicas e Miriam Grossi (2004) aponta, nesse sen-
subalternas. Poderíamos, assim, pensar tido, que o modelo da masculinidade hege-
num modelo hierárquico em que o topo da mônica não se constitui apenas em relação

ENFRENTAMENTO À VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA MULHER 139


7
ENTENDENDO
O DEBATE

P
à sexualidade (com o modelo do macho Há um consenso entre os estudiosos da ara encerrar, destacamos alguns
predador), mas também em performances masculinidade e da identidade masculina tópicos relevantes para acompa-
de hiperatividade, agressividade e contro- de que, embora útil, o modelo analítico da nhar o debate, em curso na socie-
le sobre a dor corporal e o sofrimento, por masculinidade hegemônica precisa avan- dade brasileira, sobre identidades
exemplo, nos esportes, uma vez que, segun- çar no sentido de incorporar a perspectiva masculinas e masculinidades.
do a antropóloga, “é pela violência contra das masculinidades múltiplas, produzi-
si mesmo que se faz a masculinidade”. E, das a partir de diferentes ordens de gênero Masculinidades brasileiras
se formos pensar os processos de consti- contextualizadas. Recentemente, as pesqui- Os estudos sobre masculinidades no Bra-
tuição de identidades masculinas levando sas tentam incorporar ao estudo das identi- sil, desde os estudos de Gilberto Freyre sobre
em conta os processos de exclusão socio- dades masculinas novas perspectivas, pen- sociedade patriarcal brasileira a partir do sé-
econômica e de racialização no Brasil, po- sando a articulação de marcadores sociais culo XVIII até os estudos de antropologia urba-
deremos ver como se potencializa a relação da diferença como dimensões relevantes na da segunda metade do século XX, apresen-
entre identidades masculinas e a violência, para se pensar as masculinidades (especial- tam a permanência de modelos tradicionais
seja a partir da inserção de meninos e ho- mente classe e raça), assim novas episte- associados às identidades masculinas, incor-
mens jovens negros e pobres nas redes do mologias forjadas a partir de contextos não porados a outras dimensões da vida social e
tráfico de drogas e na criminalidade, seja a ocidentais (teorias descoloniais e contraco- política do País (tais como o machismo, o ra-
partir da humilhação social e da exclusão loniais) para se pensar dinâmicas de gênero cismo e a desigualdade de classe). A partir da
de direitos sociais básicos, como habitação, e sexualidade. Também é digno de menção, década de 1970, algumas pesquisas põem em
saúde e emprego, sentidas como ataques à nessas novas teorizações sobre identidades destaque a ascendência de modelos de sexo-
honra e à dignidade, seja a partir de práti- masculinas, a produção de pesquisas que -gênero mais igualitários, relacionados a dois
cas de racismo institucional e da violência lançam luzes sobre masculinidades lésbi- contextos específicos:
policial, induzindo à vergonha e à desuma- cas e transmasculinidades (por exemplo, 1. O das identidades homossexuais mas-
nização de adolescentes e homens negros citamos os trabalhos de Halberstam, Pre- culinas, por exemplo, o estudo de Carmen
(vidas facilmente encarceradas e matáveis). ciado e Ávila, citados nas referências). Dora Guimarães sobre a cultura homossexual

140 Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste


masculina entre setores de classe média alta que concerne ao Nordeste, o estudo de Durval relacionamento abusivo baseia-se no pressu-
no Rio de Janeiro e, no início dos anos 1980, Muniz Albuquerque Jr. (2003) sobre a constru- posto de que o abusador pode dispor da vida
o de Peter Fry sobre a coexistência de dois ção do nordestino a partir dos atributos da do outro conforme suas expectativas, ansie-
modelos de relacionamento sexual entre ho- virilidade, na primeira metade do século XX, dades e inseguranças, recusando-se a ouvir
mens: um hierárquico, em que o parceiro ati- ajuda-nos a entender importantes processos o ponto de vista do outro como tão relevante
vo era classificado como “bofe” e o parceiro de modernização da sociedade brasileira. quanto o seu; pode haver imposição de sua
passivo como “bicha”, e outro modelo, mais voz, com uso potencial da força, mesclando
igualitário, em que o desempenho da posição Masculinidade tóxica e dominação psicológica, codependência, cul-
sexual ativa não determinaria uma diferencia- relacionamento abusivo pabilização e afeto. O relacionamento abusi-
ção entre os parceiros, ambos identificados A masculinidade tóxica se origina do vo pode ocorrer em diversos outros contextos
como “bichas”. modelo de masculinidade hegemônica (al- relacionais, em que estejam em jogo dinâmi-
guns teóricos chegam a pensar esses ter- cas de gênero mediadas por violência, sexo,
2. O segundo contexto relaciona-se ao status e agressão.
mos como sinônimos) e se manifesta simul-
processo de psicologização das classes mé-
taneamente em duas direções:
dias, estudado por Jane Russo, no Rio de Ja- Cultura do estupro
neiro, em que a influência da psicanálise e de 1. Em relação ao próprio sujeito, que acaba O termo foi cunhado no âmbito dos movi-
outros saberes e terapias induziam a um pro- sofrendo os efeitos do modelo da masculini- mentos feministas como estratégia política de
cesso de modernização dos relacionamentos dade hegemônica, especialmente nas prer- enfrentamento dos mecanismos de invisibili-
afetivo-sexuais e familiares. Inclui-se também rogativas de atividade, autonomia e controle zação e naturalização da violência experimen-
nesse contexto o estudo de Tania Salem sobre das emoções. Provoca alienação emocional tada por mulheres no cotidiano. A designação
“o casal grávido”, em que os homens de classe e comportamentos estereotipados no próprio “cultura” acentua tanto o caráter corriqueiro,
média passam a aderir a um modelo iguali- homem e pode induzir também ao preconcei- de práticas assentadas no cotidiano, como
tário no processo de gestação, nascimento to homofóbico e ao comportamento machista. também o caráter não natural das represen-
e cuidados com os bebês, compartilhando tações e práticas envolvendo a subordinação
afeto e trabalho com suas companheiras. Se- 2. Nas relações afetivas, em que o homem, do corpo das mulheres. No limite, aponta
ria possível mencionar também os estudos contando com os privilégios sociais da mas- que o corpo da mulher pode ser violado pelo
mais recentes que incorporam em suas aná- culinidade tenta impor formas de relaciona- agressor, por mais banal que seja a justificati-
lises novos contextos para problematizar as mento que impedem a autonomia da mulher, va: seja por causa do vestuário que a mulher
identidades masculinas brasileiras, tais como que a subalternizam ou desvalorizam a sua use, seja pela sua circulação na cidade em
aqueles que discutem as transformações do autoestima. (O mesmo pode ser dito em rela- determinada hora ou local, seja por qualquer
masculino em suas interfaces com a violência cionamentos não heterossexuais). Esse termo aproximação mínima numa festa etc. O ter-
de gênero, a partir da Lei Maria da Penha; os tem atualmente ocupado bastante a mídia e mo ganhou repercussão nas redes sociais e
estudos sobre homens e saúde sexual e re- as redes sociais, deslocando-o para pensar no debate político do País nos últimos anos,
produtiva (Arilha et al, 1998), dentre outros. No relacionamentos ditos tóxicos ou abusivos. O após a consolidação nas esferas do Executivo

ENFRENTAMENTO À VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA MULHER 141


e do Legislativo de grupos políticos conserva- ranza (2016), dentre outras estudiosas, discu- sido incorporada a perspectiva das transmas-
dores e fundamentalistas, assim como após a tem essa reaprendizagem do masculino em culinidades. Os estudos trans – simplificando
publicização de diversos episódios de abuso suas pesquisas. esse campo de investigação múltiplo – têm
sexual e estupro praticados por homens líde- como ponto comum a crítica ao modelo de
res religiosos, médicos e outros profissionais, Homem feminista sexo-gênero binário, este ligado ao pressupos-
bem como de casos de estupros individuais e A despeito de ter sido identificado ini- to da cissexualidade, ou seja, ao pressuposto
coletivos sofridos por mulheres. Recentemen- cialmente como “movimento anti-homem”, de uma harmonia natural e necessária entre
te, o caso de um empresário, denunciado pela defrontando-se incessantemente a homens corpo (anatomia designada no nascimento),
vítima, recebeu uma sentença judicial inédita antifeministas, o feminismo, segundo a teó- identidade de gênero (o sentir-se homem
e foi chamado pela imprensa de “estupro cul- rica bell hooks (2018) tem uma contribuição ou mulher, identificando-se aos modelos de
poso”, reacendendo o debate sobre o machis- decisiva na educação de meninos e futuros masculinidade ou feminilidade) e orientação
mo e a violência de gênero no Brasil. homens num sentido de recusa ao machis- sexual (escolha sexual dos parceiros, orienta-
mo e ao sexismo. Não só em prol das mulhe- da pela heterossexualidade ou pela homosse-
Reaprendizagens do masculino a partir res, mas em prol da felicidade dos próprios xualidade). Este é um modelo binário porque
da Lei Maria da Penha garotos/homens, que não precisariam mais qualquer alternativa a um dos polos (masculi-
Fruto de histórica luta pelo direito à prote- sacrificar sua autoestima e alienar-se de no x feminino) pareceria estranha ou aberrante
ção das mulheres brasileiras, a Lei nº 11.340, uma conexão com os próprios sentimentos, (daí a associação com o caráter queer, bizarro,
de 2006, mais conhecida como Lei Maria da efeitos da educação sexista. Pois o modelo desse campo de estudos, ligado à teoria queer)
Penha, funciona como resposta do Estado à de masculinidade hegemônica e o patriarca- à norma sociossexual heterocêntrica (a hete-
situação de vulnerabilidade vivenciada pe- do estão permeados de elementos tóxicos, rossexualidade seria o modelo normal da sexu-
las mulheres brasileiras, de todas as classes e a maioria de meninos e homens sofrem ao alidade, com vistas à reprodução do social). É
sociais, politizando aspectos da vida afetiva, serem expostos a uma educação misógina, também, como consequência, um modelo cis-
conjugal e familiar que restavam à margem tornando-se eles próprios vítimas do sexismo. sexista, porque pressupõe as pessoas cis como
das garantias constitucionais. A Lei mate- Um homem feminista seria aquele aliado à modelo de normalidade e as pessoas trans
rializa-se numa rede de equipamentos, ain- causa das mulheres, das crianças, dos negros como aberrantes. No que concerne à mascu-
da não completamente implementada, de e negras, dos lgbtqi+, constituindo uma alian- linidade, enquanto produzida por tecnologias
denúncia e proteção às usuárias vítimas de ça pelo estabelecimento de uma cultura de de gênero, deixa de ser pensada como atributo
violência doméstica e/ou de gênero. Além de paz e de uma democracia política, emocional exclusivo dos homens e pode ser apropriada e
ser um indispensável dispositivo legal, a Lei e interpessoal. recriada por outros sujeitos, sejam mulheres,
Maria da Penha pode ser entendida também sejam transhomens, sejam sujeitos fluidos, ou
como um instrumento de contestação de Transmasculinidade e pensamento não binários (isto é, pessoas que contestam
modelos de gênero tradicionais e hierárqui- não binário uma identidade sexual e de gênero estável e
cos, proporcionando uma reaprendizagem Campo emergente no Brasil, a partir dos homogênea). Os trabalhos de Halberstam, Pre-
sociocultural sobre a identidade masculina anos 2000, os estudos sobre transexualida- ciado e Ávila, citados nas Referências, aprofun-
e a masculinidade. Vasconcelos (2015) e Za- de têm se expandido na última década, tendo dam essas questões.

142 Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste


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ENFRENTAMENTO À VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA MULHER 143


AUTOR
CRISTIAN S. PAIVA
Possui graduação em Psicologia pela Universidade
Federal do Ceará (UFC), com formação psicanalí�ca.
Doutorado em Sociologia pela UFC e pós-doutorado
em Sociologie et Anthropologie, na Université de
Strasbourg (França). Coordena o Núcleo de Pes-
quisas sobre Sexualidade, Gênero e Subje�vidade
(NUSS), laboratório vinculado à linha de Pesquisa:
Diversidades culturais, estudos de gênero e proces-
sos iden�tários, do PPG em Sociologia da UFC.

ILUSTRADOR
CARLUS CAMPOS
Artista gráfico, pintor e gravador, começou
a carreira em 1987 como ilustrador no jornal
O POVO. Na construção do seu trabalho, aborda
várias técnicas como: xilogravura, pintura,
infogravura, aquarelas e desenho. Ilustrou
revistas nacionais importantes como a Caros
Amigos e a Bravo. Dentro da produção gráfica
ganhou prêmios em salões de Recife, São Paulo,
Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul.

APOIO PATROCÍNIO

REALIZAÇÃO

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