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A Crucificação : Uma visão médica

Dr. C. Truman Davis

Este artigo é uma revisão de outro anterior domesmo autor, e que foi originalmente publicado
pelaAssociação Média do Arizona na revista Arizona Medi-cine.O Dr. C. Truman Davis é formado
pela Facul-dade de Medicina da Universidade do Tenesse. Elefaleceu recentemente e sua viúva
autorizou a reprodu-ção deste artigo.
Traduzido por Christiano de Oliveira Lopes em 20/01/2003

A paixão física de Cristo começou noGetsemane. Dos muitos aspectos de seu sofrimen-
to inicial, aquele que é de particular interessemédico é o suor ensangüentado. É interessantenotar
que apenas o médico Lucas menciona estaocorrência. Ele diz, “E estando em
agonia, oravamais intensamente. E aconteceu que o seu suor setornou como gotas de
sangue caindo sobre a terra”(Lc 22:44).Os estudiosos modernos tem usado todasas
maneiras imagináveis para explicar o fenômenodo suor de sangue,. Aparentemente sob
a erradaimpressão de que ele simplesmente não ocorreu.Uma grande quantidade de
esforços poderia serpoupada através da consulta à literatura médica.Embora muito raro,
o fenômeno da hematidrose,ou suor de sangue, está bem documentado. Sobgrande
estresse emocional, finos vasos capilaresdas glândulas de suor podem se partir,
misturandoentão suor com sangue. Somente este processo jáé capaz de produzir grande
fraqueza e possivel-mente choque. Embora a traição e prisão de Jesussejam partes
importantes da história da paixão, opróximo evento no relato que é de
significanteinteresse do ponto de vista médico é o seu julga-mento perante o Sinédrio e
Caifás, o Sumo Sacer-dote. Aqui o primeiro trauma físico foi infligido.Um soldado
romano esbofeteou Jesus por terpermanecido em silêncio quando interrogado porCaifás.
Os guardas do palácio então o vendaram, eo desafiavam a identificá-los à medida em
quepassavam por ele e o esbofeteavam e cuspiamsobre ele.
Diante de Pilatos
Logo cedo, naquela manhã, espancado edolorido, desidratado e moído por uma noite
semdescanso, Jesus foi levado através de Jerusalém aoPretório da Fortaleza Antonia,
residência do go-verno do Procurador da Judéia, Pôncio Pilatos. Jáconhecemos a
história da ação de Pilatos, tentandotransferir a responsabilidade para Herodes Anti-pas,
Tetrarca da Judéia. Jesus aparentemente nãosofreu maus tratos nas mãos de Herodes e
foienviado de volta a Pilatos. Foi então que, emrespostas ao clamor da multidão, Pilatos
ordenouque fosse solto Barrabás e Jesus condenado aoaçoite e crucificação.Há muita
discordância entre autoridadesa respeito do açoite como um prelúdio à crucifica-ção.
Muitos escritores romanos daquele períodonão associam as duas coisas. Muitos
estudiososacreditam que Pilatos originalmente ordenou oaçoite como o único castigo
imposto a Jesus e quea sentença de morte por crucificação veio apenasem resposta aos
apelos da multidão de que o Procuradornão estava defendendo os interesses de César
correta-mente contra aquele mentiroso que dizia ser o Rei dosJudeus.Não se pode
afirmar se os romanos fizeramqualquer tentativa de seguir a lei judaica sobre o
açoite.Os judeus tinham uma lei antiga proibindo mais do quequarenta chibatadas. Os
fariseus, sempre querendo secertificar de que a lei fosse estritamente cumprida,insistiam
que somente trinta e nove chibatadas fossemdadas. Em caso de erro na contagem, eles
podiam estarcertos de que não tinham quebrado a lei.Preparações para o açoite de Jesus eram
feitasde acordo com a ordem de César. O prisioneiro eradespido de suas vestes, e suas
mãos atadas a um posteacima de sua cabeça. O legionário romano tomavaposição com o
chicote, também chamado de
flagellum
,em sua mão. Este era um chicote curto consistindo
devárias pesadas tiras de couro, com duas pequenasbolas de chumbo nas pontas. O
pesado chicote erabrandido então com toda a força várias vezes contra osombros, costas
e pernas de Jesus. A princípio as pesa-das tiras de couro cortavam apenas a pele. Então,
àmedida que prosseguiam as chicotadas, elas cortavammais fundo nos tecidos
subcutâneos, produzindo pri-meiro um sangramento suave dos vasos capilares eveias da
pele e finalmente jorrando sangue arterial emfortes jatos vindos dos vasos sanguíneos
dos músculos.As pequenas bolas de chumbo primeiro produ-ziam grandes e largas
feridas que eram abertas pelosgolpes subseqüentes. Finalmente, a pele das costasestava
pendurada em longas tiras, e a toda a área emredor era uma massa irreconhecível
de tecido esmagadoe sangrento. Quando o centurião em comando percebiaque o
prisioneiro estava quase morto, o castigo erafinalmente suspenso.
A zombaria
O cambaleante Jesus foi então desamarrado etropeçava e escorregava no pavimento de
pedra, mo-lhado com seu próprio sangue. O soldado romano viuuma grande piada
naquele provinciano judeu que disse-ra ser um rei. Eles jogaram um manto sobre seus
om-bros e colocaram uma cana de bambu em sua mão co-mo um cetro. Eles ainda
necessitavam de uma coroapara completar sua zombaria. Ramos flexíveis cobertoscom
longos espinhos, comumente usados para alimen-tar o fogo das fogueiras no quintal, foram
trançados emforma de coroa. A coroa foi pressionada em seu escalpoe mais uma vez o
sangue jorrou copiosamente quandoos espinhos perfuraram o tecido vascular. Após
zomba-rem e baterem em sua face, os soldados tomaram a canade bambu de suas mãos
e bateram com ela em sua ca-beça, fazendo com que os espinhos penetrassem
maisfundo em seu crânio. Finalmente, eles cansaram de seu

sádico esporte e puxaram o manto de suas costas.Este já havia aderido à massa disforme
de sanguee plasma das feridas, e sua remoção, como umaremoção descuidada de uma
bandagem cirúrgica,causou uma dor excruciante. As feridas voltaram asangrar.

Gólgota
Em respeito aos costumes judeus, os ro-manos aparentemente devolveram-lhe suas
vestes.O pesado patíbulo da cruz foi amarrado sobre seusombros. A procissão do Cristo
condenado, doisladrões, e a tropa de execução liderada por umcenturião começou sua
lenta jornada ao longo darota que hoje conhecemos como Via Dolorosa.A despeito dos
esforços de Jesus paracaminhar ereto, o peso da pesada peça de madeira, junto com o
choque produzido pela copiosa perdade sangue, era demais. Ele tropeçou e caiu.
O rudepedaço de madeira cortou como uma lâmina acarne lacerada e os músculos dos ombros.
Eletentou levantar, mas seus músculos humanostinham sido forçados muito além do
limite supor-tável. O centurião, ansioso para proceder à cruci-ficação, selecionou um
espectador norte-africano,chamado Simão, o Cireneu, para carregar a cruz.Jesus seguia,
ainda sangrando e suando o gelado epegajoso suor daqueles que entram em choque.
A jornada de aproximadamente 650 metros da Forta-leza Antonia ao Gólgota foi
finalmente completa-da. O prisioneiro teve novamente suas roupasarrancadas exceto uma
peça íntima que era permi-tida pelos judeus.A crucificação começou. Ofereceram aJesus vinho
misturado com mirra, uma misturaanalgésica e entorpecente. Ele recusou a
bebida.Ordenaram a Simão que colocasse o patíbulo nochão, e Jesus foi atirado de costas com
os ombrosde encontro à madeira. O legionário procurou peladepressão localizada na frente do
pulso. Entãomartelou um pesado cravo de cabeça retangularatravés do pulso bem firme
na madeira. Rapida-mente, ele foi para o outro lado e repetiu a ação,tomando cuidado para não
lhe esticar demais osbraços, mas permitir alguma flexão e movimento.O patíbulo foi
então levantado e colocado no lugarno topo do poste, e a placa dizendo: “Jesus
deNazaré, Rei dos Judeus”, pregada no lugar acimade sua cabeça.O pé esquerdo foi
então pressionado con-tra o pé direito. Com ambos os pés estendidos, osdedos
apontando para baixo, um cravo foi pregadoatravés do arco dos pés deixando os joelhos
leve-mente flexionados. A vítima estava então crucifi-cada.
Na cruz
À medida em que Jesus lentamente escorrega-va para baixo colocando mais peso nos
cravos dospulso, uma dor horrível, lancinante partia de seus dedosao longo dos braços até
explodir em seu cérebro. Oscravos nos pulso exerciam pressão nos nervos médios,um
grande feixe de nervos que passam pelo antebraço emão. Quando ele puxava o corpo
para cima para evitareste tormento, ele colocava todo o seu peso sobre ocravo através de
seus pés. Outra vez havia cortanteagonia quando o metal do cravo rasgava os nervos
entreos ossos dos pés.Neste ponto, outro fenômeno ocorreu. Comoos braços estavam
fatigados, grandes ondas de câimbrasvarriam os músculos, contraindo-os em profunda,
con-tínua e intensa dor. Com estas câimbras veio a incapa-cidade de puxar o corpo para
cima. Pendurado agorapelos braços, os músculos peitorais, os enormes múscu-los do
peito, ficaram paralisados e os músculos inter-costais, os pequenos músculos existentes
entre as coste-las, eram incapazes de agir. O ar podia ser levado paradentro dos
pulmões, mas não podia ser exalado. Jesuslutava para se erguer a fim de conseguir
respirar mesmoentrecortadamente. Finalmente, o nível de dióxido decarbono aumentou
nos pulmões e na corrente sanguí-nea, e as câimbras parcialmente cederam.

As últimas palavras
Espasmodicamente, ele foi capaz de se erguerum pouco para respirar um pouco de
oxigênio revitali-zante. Sem dúvida nenhuma, foi durante estes períodosque ele
balbuciou as sete últimas frases registradas noevangelho.A primeira: Olhando para
baixo para os solda-dos romanos que jogavam dados sobre sua vestimentatecida sem
costuras: “Pai, perdoa-os, porque não sabemo que fazem”.A segunda: Ao ladrão
arrependido: “Ainda ho- je estarás comigo no paraíso”.A terceira: olhando para baixo,
para Maria, suamãe, ele disse: “Mulher, eis aí o teu filho”. Então, vol-tando-se para o
aterrorizado, paralisado adolescenteJoão, o discípulo amado, ele disse: “Filho, eis aí tuamãe”.A
quarta: O quarto clamor foi retirado do iní-cio do Salmo 22: “Deus meu, Deus meu,
porque meabandonaste?”Ele sofreu horas de pânico sem limite, ciclospavorosos de
câimbras intermináveis, asfixia parcialintermitente, e intensa dor enquanto pedaços de
suacarne eram rasgados de suas costas por causa dos mo-vimentos de subir e descer o
corpo esfregando as costascontra a madeira áspera da cruz. Então outra agoniacomeçou,
uma dor profunda e esmagadora no peito àmedida que o pericárdio, a membrana que
envolve o

coração, lentamente se enchia de plasma e come-çava a comprimir o coração.A profecia


em Salmos 212:14 estava secumprindo: “ Derramei-me como água, e todos osmeus ossos
se desconjuntaram; meu coração fez-se como cera, derreteu-se dentro de mim.”O fim se
aproximava rapidamente. Aperda dos fluidos tinha alcançado níveis críticos; ocoração
comprimido se esforçava para bombear opesado, grosso e já tóxico sangue aos tecidos,
e ospulmões torturados faziam um esforço frenéticopara inalar pequenos golpes de ar. Os
tecidosprofundamente desidratados enviavam ondas deestímulo ao cérebro. Jesus soltou
seu quinto grito:“ Tenho sede!”. Outra vez lemos no salmo profé-tico: “secou-se o meu
vigor, como um caco debarro, e a língua se me apega ao céu da boca;assim me deitas no
pó da morte.” (Sl. 22:15).Uma esponja embebida em uma bebidamuito comum entre os
soldados romanos, chama-da poska e feita à base de vinho azedo foi levadaaos lábios de
Jesus. Seu corpo estava agora noextremo, e ele podia sentir o gelo da morte pene-trando
em sua carne trêmula. Isto lhe fez brotar osexto grito, possivelmente pouco mais que
umsussurro doloroso: “está consumado”. Sua missãode expiação estava completa.
Finalmente, elepodia permitir ao seu corpo a morte. Com umúltimo esforço, ele mais uma vez
apertou seu pédilacerado contra o metal do cravo, esticou suaspernas, elevou o tronco e
inspirou longamente,então soltou seu sétimo e último grito: “ Pai, emtuas mãos entrego
o meu espírito”.

A morte
Todos já estamos familiarizados com osdetalhes finais da execução de Jesus. Para que
osábado não fosse profanado, os judeus pediam queos condenados fossem retirados das
cruzes. Ométodo comum de encerrar uma crucificação eraatravés da crucifratura, o ato
de quebrar os ossosdas pernas. Isto impedia a vítima de puxar o corpopara cima; a
tensão dos músculos do peito não podia seraliviada, e ocorria uma sufocação rápida. As
pernas dosdois ladrões foram quebradas, mas quando os soldadosaproximaram-se de
Jesus, eles viram que isto não serianecessário.Aparentemente, para se certificarem
totalmen-te da morte, os legionários perfuravam com a lançaentre as costelas, em
direção ao pericárdio e ao coração.João 19:34 relata: “mas um dos soldados lhe abriu
olado com uma lança, e logo saiu água e sangue”. Destemodo saiu um fluido aquoso da
membrana que envolveo coração e o sangue do interior do coração. Esta é amais
conclusiva evidência post-mortem de que Jesusmorreu, não da usual crucificação por
sufocação, maspor parada cardíaca devido ao estado de choque e àconstrição do coração
pelo fluido no pericárdio.

A ressurreição
Nesses eventos, tivemos um vislumbre peque-no do mal que o homem pode fazer diante
de seus i-guais e diante de Deus. Esta é uma visão horrendaprovavelmente para deixar-
nos desamparados e desen-corajados.Mas a crucificação não é o fim da história.Quão
agradecidos podemos ser porque temos umaseqüela: um vislumbre da infinita
misericórdia de Deuspelo homem — a graça da expiação, o milagre da res-surreição, e a
esperança da manhã de Páscoa.

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