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“Memorial do Convento” – 5 primeiros capítulos

Capítulo I – Introdução do rei e da rainha


 D. João V, rei de Portugal, e D. Maria Ana Josefa, vinda da Áustria à mais de
dois anos, não conseguem ter filhos. Existe um rumor de que a rainha é
infértil, devido a 1) os homens não poderem ser inférteis, visto que essa
doença só afeta mulheres, e 2) à existência de vários filhos bastardos do rei
pelo reino, o que prova a sua fertilidade.

 Nem a persistência do rei – que vai ter com a rainha duas vezes por semana,
a não ser que seja impedido por algum problema fisiológico – nem a
paciência e humildade da rainha – que fica completamente parada depois da
relação sexual terminar, de modo a não interferir no processo de
fecundação – fizeram com que esta engravidasse.
 Menção dos fluídos corporais de cada um - os da rainha, escassos não só
por falta de tempo e de estímulo, mas também por esta ser muito cristã
e, por isso, ter uma retenção moral (o sexo era pensado como algo que
era pecado); os do rei, em abundância, visto que ele era novo (21 anos).

 Também se dá a conhecer ao leitor que o rei se encontra a construir uma


miniatura da basílica de S. Pedro de Roma. Esta construção relaciona-se com
o facto de o rei querer deixar algo para a posteridade, algo que não o faça
ser esquecido pela passagem do tempo.
 Crítica: O rei não sabe ler numeração romana, reconhecendo apenas o V
no nome do papa Paulo V Borghese porque também tinha um V no seu
nome.

 Descrição da corte de D. João V: Ridiculamente grande, composta por


fidalgos e camareiros que o ajudam nas tarefas mais simples do dia-a-dia,
como vestir-se para ir ter com a rainha
 Ironia - “(...) dois que não se movem, dois que imitam estes, mais uns
tantos que não se sabe o que fazem nem por que estão.”.

 D. Nuno da Cunha (bispo inquisidor) e frei António de S. José (franciscano


velho) vêm falar com o rei, tendo que passar por vários fidalgos e fazer
várias vénias até chegarem a este – prova do tamanho da corte de D. João V.
Ambos vêm para lhe dizer que, se este construir um convento franciscano
em Mafra, que Deus iria ajudar a rainha a engravidar. Depois de questionar
D. Nuno sobre a legitimidade do frei, o rei promete contruir o tal convento
se a rainha engravidar no prazo de um ano, a contar desse dia.

 D. João entra então no quarto da rainha. Os dois são despidos pelos seus
camaristas, ficando só em camisas de noite longas, tapando tudo até aos
dedos dos pés (crítica: sexo = pecado). Ambos fazem uma vénia, e os
camareiros e camareiras saem do quarto, ficando há espera até que os dois
terminem de ter sexo. Antes de começarem, ajoelham-se e rezam, pedindo
para não morrer durante o ato sexual e para que Deus os abençoe com um
filho.
 Cama: vinda da Holanda, encomendada pelo rei no valor de 75 mil
cruzados. É de madeira, com uma armação tecida e bordada e um
dossel. Tem percevejos, tal como a do rei, pelo que se pagava 50 réis por
ano a Santo Aleixo (crítica: pôr em Deus toda a fé ou vê-lo como a
solução para todos os problemas) para que este se livrasse deles.

 Terminado o ato sexual, o rei beija a mão da rainha, chamando depois os


camaristas de volta através de uma sineta. Estes entram no quarto de lado
diferentes - os camareiros levam D. João de volta para o seu quarto, e as
camareiras aconchegam D. Maria Ana com o cobertor de penas da sua mãe,
com o qual a rainha dorme todas as noites.
 O rei não dorme no mesmo quarto que a rainha por causa desse
cobertor, que é muito quente e os faz transpirar muito durante a noite.

 D. Maria Ana reza mais uma vez deitada na cama, pedindo a Deus que lhe dê
um filho como deu a Virgem Maria. Esta sonha que patinha nos açougues do
Terreiro do Paço, numa lama pegajosa que cheira a fluidos sexuais
masculinos, enquanto o infante D. Francisco, seu cunhado, dança à sua volta
empoleirado em andas, como uma cegonha negra.

 O rei sonha que uma árvore de Jessé, grande e povoada pelos antecedentes
de Cristo, se ergue no lugar do seu órgão sexual, passando depois esta a ser
um convento franciscano.
 “Não é vulgar em reis temperamento assim, mas Portugal sempre foi
bem servido deles” - Crítica ao facto de os reis de Portugal serem quase
todos um pouco malucos, devido, muitas das vezes, à consanguinidade
que experienciam, mas também ao facto de se deixarem levar pelo
poder e pelo dinheiro.
NOTA:
 A camareira-mor portuguesa da rainha era a marquesa de Unhão.
 Crítica ao facto da relação entre o rei e a rainha ser um mero contrato, ao
ponto de estes apenas fazerem sexo duas vezes por semana, e nem
dormirem no mesmo quarto, mas sim em quartos separados e longe um do
outro.

Capítulo II – Milagres portugueses relacionados com os


franciscanos
 Caso de frei Miguel da Anunciação, franciscano – Morreu de uma febre
qualquer (algo normal na cidade, devido às horríveis condições da água
corrente “potável”) e foi exposto durante 3 dias na igreja de Nossa Senhora
de Jesus. O seu corpo ficou intacto, e fez com que todos aqueles que fossem
àquela igreja ficassem curados de doenças ou problemas físicos (ex:
cegueira). O corpo foi retirado e enterrado sem ninguém saber, e as pessoas,
privadas de serem curadas, começaram à luta até que os padres vieram e
benzeram a multidão que, não tendo melhor cura, se dispersou.

 Caso de Guimarães – Ladrões tentaram roubar a igreja, querendo entrar


nesta através de uma janela. Segundo o que dizem, estes terão visto uma
estátua de Santo António, que os assustou tanto ao ponto de um ladrão ter
caído da escada. Na manhã seguinte, este foi levado por moradores ao altar
de Santo António para que este o curasse, o que aconteceu.

 Caso de Lisboa – Ladrão ou ladrões entraram no convento de S. Francisco de


Xabregas e roubaram as lâmpadas deste. Os frades regressaram das matines
da meia-noite (crítica) e deram pelo roubo. Alguns frades foram para as ruas
procurar o ladrão, sem sucesso, enquanto outros procuraram no convento.
Um deles notou que o ladrão não tinha roubado nada no altar de Santo
António, e acusou o Santo de apenas proteger o que era seu, retirando-lhe
toda a prata do alter em castigo, sendo que outros frades tiveram que o
parar. Na manhã seguinte, um estudante conhecido por querer ser frade
veio ao convento dizer que sabia que as lâmpadas desaparecidas estavam no
mosteiro da Cotovia, dos padres da Companhia de Jesus, no Bairro Alto de S.
Roque. O prelado que o ouviu foi com ele ao dito mosteiro, e os dois
descobriram que alguém tinha deixado as lâmpadas lá como uma
“restituição”. O estudante, apesar de ser suspeito, foi absolvido, e o caso
ficou em aberto como um milagre.
 Conclui-se que os franciscanos têm vários meios para alternarem,
inverterem ou acelerarem a ordem das coisas, pelo que o mesmo tipo de
milagre irá acontecer com a gravidez da rainha.
 No entanto, o narrador relembra-nos que os franciscanos andam a pedir
um convento em Mafra desde 1624, subtilmente acusando o frei
António de S. José de utilizar a confissão que D. Maria teria feito sobre
estar grávida – dizendo-lhe para se manter calada durante algum tempo
– para finalmente o conseguir através da promessa que propôs ao rei.

NOTA: Crítica à sociedade portuguesa - “Mas isto, confessemo-lo sem vergonha,


é uma terra de ladrões, olho vê, mão pilha”

Capítulo III – Carnaval, Quaresma e procissões


 Crítica: os contrastes entre a população de Lisboa – tanto há pessoas ricas
que se conseguem alimentar bem, como também há pessoas pobres que
não se conseguem alimentar bem.
 Existe gente que morre porque come a mais o que não deve e gente que
morre por não ter uma alimentação razoável para se manter saudável.

 Os três dias de Carnaval, o Entrudo, são utilizados para se comer e beber de


forma excessiva. Depois do Entrudo, vem a Quaresma, ou seja, os 40 dias de
penitência (absolvição dos pecados – gula). As ruas enchem-se para ver as
procissões, castigando-se através da automutilação. Alguns vão algemados
nas pernas ou como se estivessem crucificados, chicoteando-se ao ponto de
escorrerem sangue.

 Muitos tinham amantes a vê-los das suas janelas, que os conseguiam


identificar através de uma fitinha que todos levavam, cada uma de uma cor
diferente. As mulheres, se achassem que a chicoteada não fora dura o
suficiente, reclamavam para o que homem desse com mais força. São
apresentadas como ficando excitadas com toda aquela mistura de força e de
energia, devido a serem muito reprimidas sexualmente durante todo o ano.
 Crítica ao facto de ninguém estar ali por causa da sua fé, mas sim por
outros motivos, muitos deles carnais ou sexuais.
 É durante esta Quaresma que as mulheres têm liberdade de sair de casa sem
os seus maridos, supostamente para irem rezar. Estas tapam os seus rostos
para não serem reconhecidas, e vão com as suas criadas pelas ruas de
Lisboa, encontrando-se afinal com os seus amantes e tendo sexo em
confessionários ou lugares escondidos.
 Os maridos ou não sabem o que realmente acontece, ou fingem não
saber, não questionando ou confrontando as suas esposas sobre isso.

 Passa a Páscoa, e as mulheres voltam a ficar fechadas em casa, sem poder


sair sem o marido. Faz-se uma crítica aos “maridos cucos”, que deixam as
mulheres fazerem aquilo que fazem durante a Quaresma mas que as
repreendem, provavelmente através da violência, caso elas façam o mesmo
em outras alturas do ano.

 A rainha D. Maria Ana, por outro lado, não pode fazer o mesmo,
especialmente devido a estar grávida (nem o rei se aproxima dela durante 9
meses, regra que o povo também tem mas que por vezes é quebrada – sexo
= pecado). Durante a Quaresma, esta deitou-se muito cedo e rezou antes de
ir para a cama e depois de ser aconchegada pelas damas de companhia.
Estas retiram-se, e D. Maria pensa, antes de adormecer, no Santo Sudário
que irá ver exclusivamente. Quando adormece, sonha de novo com o
cunhado D. Francisco.

 “É Quinta Feira de Ascenção [quando Jesus foi para o céu], sobe para as
abóbadas o canto dos pássaros, subirão ou não as preces ao céu, se eles as
não ajudam não haverá esperança, talvez se nos calássemos todos.” – crítica
ao facto de os católicos depositarem demasiada fé em coisas exteriores,
nomeadamente em Deus, esperando que Este os ajude a solucionar todos os
seus problemas ou desejos, em vez de tentarem fazê-lo eles próprios.

NOTA: Crítica ao estado higiénico da cidade de Lisboa – “e se mais gente não se


espojou, por travessas, praças e becos, é porque a cidade é imunda, alcatifada
de excrementos, de lixo, de cães lazarentos e gatos vadios, e lama mesmo
quando não chove.”
Capítulo IV – Introdução de Baltasar Mateus, o Sete-Sóis
 Baltasar Mateus, também chamado de Sete-Sóis, era um soldado de 26 anos
que perdeu a mão esquerda numa batalha para ajudar Espanha, onde se
decidiria a quem pertencia o trono de Espanha (se a um Carlos austríaco ou
um Felipe Francês). Os seus pais vivem em Mafra, não sabendo se este se
encontra vivo ou morto.

 Este pediu esmola em Évora durante todo o inverno para conseguir pagar
por um gancho de ferro e um espigão. Partiu para Lisboa, a pé e sozinho.
Caminha com os ferros no alforge pois às vezes ainda sente que tem a mão
esquerda e isso traz-lhe felicidade. Além disso, este sabe que, se o fizer,
ninguém lhe irá dar esmola, e se derem, é pouca ou contrariados, como
medo que este os ataque. No entanto, à entrada de Pegões, Baltasar põe o
espigão, para utilizar como arma se necessário. Acaba por matar um dos
homens que o tentaram assaltar.

 Chega a noite, este janta e fica a dormir debaixo de uns carros, enrolado no
capote, com o braço esquerdo fora e o espigão armado. Acorda a meio da
noite, com dores na mão esquerda (ilusão de que a tinha, que a via), e
retirou o espigão, voltando a adormecer.

 No dia seguinte, levantou-se e foi para Lisboa num barco. Uma mulher mais
velha ofereceu-lhe comida, que Baltasar aceitou, apesar de não gostar de
comer em frente a outras pessoas por só ter uma mão. A viagem foi normal,
sem tempestades ou problemas.
 Para passar o tempo, o mestre do barco contou que, no dia anterior, um
barco inglês tinham deixado 50 prostitutas em Lisboa, seguindo com
desterrados para África, provavelmente. A esta história, o casal do
campo não soube como reagir.

 Chegam a Lisboa. No cais, encontra-se uma confusão de pessoas, escravos e


mercadorias. Baltasar tinha pouco dinheiro, pelo que tinha de decidir se ia
para Mafra para trabalhar no campo (o que não conseguiria fazer) ou se
ficava em Lisboa, no Terreiro do Paço a pedir esmola. Comprou três
sardinhas assadas às vendedeiras que gritavam e tinham vários acessórios de
ouro, comendo enquanto caminhava para o Terreiro do Paço.
 Dá-lhe de repente saudades da guerra, devido à união e fraternidade
que lá se sentia.

 Vai em direção ao Rossio, depois de ter parado para ir à igreja e de ter


trocado sinais/namoriscado com uma estranha – algo que era comum
acontecer, visto que as mulheres estavam de um lado e os homens noutro.
Encontra uma dúzia de mulheres a andarem, rodeadas de polícias, loiras,
delgadas e de olhos claros. Eram algumas das prostitutas inglesas que
tinham sido apanhadas e iam ser recambiadas para as ilhas Barbadas.
 Pede a S. Bento que lhe desse uma inglesa igual àquelas.

 Foi beber um caldo ao convento de S. Francisco da Cidade, e informou-se


das irmandades mais generosas em esmolas: Nossa Senhora da Oliveira,
Santo Elói e Menino Perdido.

 À noite, foi dormir no mesmo sítio de João Elvas, soldado mais velho que
agora mendigava, debaixo de um telheiro abandonado. Pôs o gancho no
coto, pelo sim pelo não, com a desculpa de querer aliviar o peso do seu
braço.

 Falaram da grande criminalidade existente em Lisboa, chegando-se à


conclusão que nem na guerra existe tanta chacina (fraternidade):
 Uma rapariga jovem que foi cortada em pedaços e espalhada por Lisboa,
assim como a sua bebé de 4 meses. Nunca se tinha chegado a encontrar
os culpados.
 Um homem que matou uma viúva por esta não querer casar com ele.
 Uma mulher que esfaqueou o marido por este andar por caminhos que
não devia.
 Um clérigo que foi esfaqueado com um cutelo 3 vezes devido a assuntos
amorosos.

NOTA:
 O rei costumava ir caçar a Azeitão com os seus irmãos e o infante D.
Francisco.
 Crítica à vida dos soldados – estes andavam descalços e com roupas rotas /
sujas, assim como não tinha qualquer tipo de disciplina, passando fome e
sentindo-se desesperados. “Não há pior vida que a do soldado”.

 Lisboa caracterizada como estando a crescer demasiado, “para fora das


muralhas”, com muitas igrejas e uma confusão enorme de casas (não havia
ordenamento do território).

Capítulo V – Auto-de-fé e introdução de Blimunda


 D. Maria Ana está grávida de 5 meses. Continua com enjoos de gravidez e já
teve o período três vezes. Esta situação, juntamente com os afrontamentos
que sente (sensação de mal-estar, acompanhada de calor e sudação), deixa-
a muito fraca.
 No entanto, nem isto nem a morte do seu irmão José, imperador da
Áustria, a impedem de ir ver o auto-de-fé que se ia realizar.

 Crítica ao facto de não se saber nada ou quase nada sobre medicina, assim
como ao facto de as pessoas confessarem tudo o que faziam – “ainda agora
se averiguou ao dar a el-rei um flato rijo [peido], de que pediu confissão e
logo lha deram (…) afinal era só a tripa empedernida”.

 Era domingo, um dia feliz, pois iria haver auto-de-fé após 2 anos sem haver
nenhum. Toda a população de Lisboa se junta no Rossio para o ver,
entusiasmada. 104 pessoas – 51 homens e 54 mulheres – foram
condenadas, a maior parte judeus ou cristãos-novos, hereges ou “feiticeiros”
(sabiam mais que o comum).
 Duas destas mulheres foram condenadas a serem queimadas na
fogueira, enquanto que os outros são condenados a serem açoitados em
praça pública e ao desterro para a Angola.

 Nas janelas encontram-se as mulheres, vestidas e arranjadas “à alemoa”, ou


seja, tendo como inspiração a rainha austríaca – pele branca, lábios finos,
faces coradas, com sinais falsos e sem borbulhas (ou encobrindo-as).
Debaixo das suas janelas encontram-se os seus pretendentes passeando.

 A procissão dos sentenciados começa. Estes trazem sambenitos (hábitos)


vestidos, e são distinguíveis através do crucifixo levado (este vai virado de
costas para aqueles que irão morrer, e de frente para aqueles que escaparão
com vida) ou através da sua roupa:
 Sambenito amarelo com a cruz de Santo André a vermelho = Não ia ser
morto;
 Sambenito com um símbolo de chamas viradas para baixo = Evitou a
morte através da confissão dos seus crimes;
 Sambenito com um retrato do condenado cercado de diabos e labaredas
= condenado à morte na fogueira.

 São apresentados alguns condenados, sendo a mais importante Sebastiana


Maria de Jesus, mãe de Blimunda. Era um quarto judia, e tinha visões e
revelações que o tribunal achou ser fingidas – apesar de apenas ter mais
conhecimentos que o normal. Vai amordaçada para não conseguir falar,
tendo sido condenada a ser açoitada em público e a oito anos de degredo
em Angola.
 Blimunda encontra-se a ver a procissão e a mãe, ao lado de Baltazar
(que não conhece) e do padre Bartolomeu Lourenço.

 O povo grita furioso para os condenados. A procissão acaba, as duas


mulheres queimadas (uma estrangulada com um garrote antes por ter
declarado que queria morrer na fé cristã, outra queimada viva por acreditar
nas suas heresias até à hora da morte), enquanto os homens e as mulheres
dançam diante das fogueiras, voltando depois às suas casas.

 Blimunda chora quando chega a casa, por saber que nunca mais vai poder
tocar e beijar a sua mãe. O padre Bartolomeu Lourenço diz-lhe que esta tem
que se conformar com o que aconteceu, enquanto Sete-Sóis (que a seguiu
até casa – amor à primeira vista, relação espontânea e verdadeira) fica
calado a olhar para Blimunda, fascinado com os olhos desta.
 Caracterização de Blimunda: Alta e delgada, com olhos claros que
mudavam de cor de acordo com o tempo ou com as suas emoções. Tem
19 anos e é virgem.

 Blimunda faz sopa e dá aos dois homens. Quando estes acabaram, e apesar
de o padre ter acabado primeiro, Blimunda espera até que Baltazar acabe
para comer da sua colher – sinal do seu “casamento” / união informal. O
padre benze-os e vai-se embora. Os dois ficam uma hora sem falar.

 Blimunda pede a Sete-Sóis que fique com ela, tentando insistir mas não o
obrigando a ficar quando este diz que tem que ir para Mafra, onde tem
mulher, pais e irmã. Sete-sóis, no entanto, diz que não consegue ir embora
pois Blimunda, apesar de não lhe ter tocado, deitou-lhe um encanto ao olhá-
lo por dentro. Blimunda responde prometendo que nunca o olhará por
dentro.
 Os dois dormem juntos, e Blimunda benze Baltasar com o seu próprio
sangue, fazendo-lhe uma cruz no peito – sinal da sua relação.

 No dia seguinte, Baltasar acorda com Blimunda a comer pão de olhos


fechados. Quando esta acaba e abre os olhos, estes estão cinzentos, e ela
repete a sua promessa – “Nunca te olharei por dentro.”

NOTA:
 El-rei, depois do ato de fé, janta na Inquisição, onde há abundância de
comida boa e cara. Este não bebe vinho, e todos o imitam.

 Esta história desenrola-se durante o século XVII.

 Saramago tenta aproximar-se da oralidade através da mudança de assunto


abrupta, da maneira como utiliza a pontuação, da omissão do número dos
capítulos, etc.

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