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Nem a persistência do rei – que vai ter com a rainha duas vezes por semana,
a não ser que seja impedido por algum problema fisiológico – nem a
paciência e humildade da rainha – que fica completamente parada depois da
relação sexual terminar, de modo a não interferir no processo de
fecundação – fizeram com que esta engravidasse.
Menção dos fluídos corporais de cada um - os da rainha, escassos não só
por falta de tempo e de estímulo, mas também por esta ser muito cristã
e, por isso, ter uma retenção moral (o sexo era pensado como algo que
era pecado); os do rei, em abundância, visto que ele era novo (21 anos).
D. João entra então no quarto da rainha. Os dois são despidos pelos seus
camaristas, ficando só em camisas de noite longas, tapando tudo até aos
dedos dos pés (crítica: sexo = pecado). Ambos fazem uma vénia, e os
camareiros e camareiras saem do quarto, ficando há espera até que os dois
terminem de ter sexo. Antes de começarem, ajoelham-se e rezam, pedindo
para não morrer durante o ato sexual e para que Deus os abençoe com um
filho.
Cama: vinda da Holanda, encomendada pelo rei no valor de 75 mil
cruzados. É de madeira, com uma armação tecida e bordada e um
dossel. Tem percevejos, tal como a do rei, pelo que se pagava 50 réis por
ano a Santo Aleixo (crítica: pôr em Deus toda a fé ou vê-lo como a
solução para todos os problemas) para que este se livrasse deles.
D. Maria Ana reza mais uma vez deitada na cama, pedindo a Deus que lhe dê
um filho como deu a Virgem Maria. Esta sonha que patinha nos açougues do
Terreiro do Paço, numa lama pegajosa que cheira a fluidos sexuais
masculinos, enquanto o infante D. Francisco, seu cunhado, dança à sua volta
empoleirado em andas, como uma cegonha negra.
O rei sonha que uma árvore de Jessé, grande e povoada pelos antecedentes
de Cristo, se ergue no lugar do seu órgão sexual, passando depois esta a ser
um convento franciscano.
“Não é vulgar em reis temperamento assim, mas Portugal sempre foi
bem servido deles” - Crítica ao facto de os reis de Portugal serem quase
todos um pouco malucos, devido, muitas das vezes, à consanguinidade
que experienciam, mas também ao facto de se deixarem levar pelo
poder e pelo dinheiro.
NOTA:
A camareira-mor portuguesa da rainha era a marquesa de Unhão.
Crítica ao facto da relação entre o rei e a rainha ser um mero contrato, ao
ponto de estes apenas fazerem sexo duas vezes por semana, e nem
dormirem no mesmo quarto, mas sim em quartos separados e longe um do
outro.
A rainha D. Maria Ana, por outro lado, não pode fazer o mesmo,
especialmente devido a estar grávida (nem o rei se aproxima dela durante 9
meses, regra que o povo também tem mas que por vezes é quebrada – sexo
= pecado). Durante a Quaresma, esta deitou-se muito cedo e rezou antes de
ir para a cama e depois de ser aconchegada pelas damas de companhia.
Estas retiram-se, e D. Maria pensa, antes de adormecer, no Santo Sudário
que irá ver exclusivamente. Quando adormece, sonha de novo com o
cunhado D. Francisco.
“É Quinta Feira de Ascenção [quando Jesus foi para o céu], sobe para as
abóbadas o canto dos pássaros, subirão ou não as preces ao céu, se eles as
não ajudam não haverá esperança, talvez se nos calássemos todos.” – crítica
ao facto de os católicos depositarem demasiada fé em coisas exteriores,
nomeadamente em Deus, esperando que Este os ajude a solucionar todos os
seus problemas ou desejos, em vez de tentarem fazê-lo eles próprios.
Este pediu esmola em Évora durante todo o inverno para conseguir pagar
por um gancho de ferro e um espigão. Partiu para Lisboa, a pé e sozinho.
Caminha com os ferros no alforge pois às vezes ainda sente que tem a mão
esquerda e isso traz-lhe felicidade. Além disso, este sabe que, se o fizer,
ninguém lhe irá dar esmola, e se derem, é pouca ou contrariados, como
medo que este os ataque. No entanto, à entrada de Pegões, Baltasar põe o
espigão, para utilizar como arma se necessário. Acaba por matar um dos
homens que o tentaram assaltar.
Chega a noite, este janta e fica a dormir debaixo de uns carros, enrolado no
capote, com o braço esquerdo fora e o espigão armado. Acorda a meio da
noite, com dores na mão esquerda (ilusão de que a tinha, que a via), e
retirou o espigão, voltando a adormecer.
No dia seguinte, levantou-se e foi para Lisboa num barco. Uma mulher mais
velha ofereceu-lhe comida, que Baltasar aceitou, apesar de não gostar de
comer em frente a outras pessoas por só ter uma mão. A viagem foi normal,
sem tempestades ou problemas.
Para passar o tempo, o mestre do barco contou que, no dia anterior, um
barco inglês tinham deixado 50 prostitutas em Lisboa, seguindo com
desterrados para África, provavelmente. A esta história, o casal do
campo não soube como reagir.
À noite, foi dormir no mesmo sítio de João Elvas, soldado mais velho que
agora mendigava, debaixo de um telheiro abandonado. Pôs o gancho no
coto, pelo sim pelo não, com a desculpa de querer aliviar o peso do seu
braço.
NOTA:
O rei costumava ir caçar a Azeitão com os seus irmãos e o infante D.
Francisco.
Crítica à vida dos soldados – estes andavam descalços e com roupas rotas /
sujas, assim como não tinha qualquer tipo de disciplina, passando fome e
sentindo-se desesperados. “Não há pior vida que a do soldado”.
Crítica ao facto de não se saber nada ou quase nada sobre medicina, assim
como ao facto de as pessoas confessarem tudo o que faziam – “ainda agora
se averiguou ao dar a el-rei um flato rijo [peido], de que pediu confissão e
logo lha deram (…) afinal era só a tripa empedernida”.
Era domingo, um dia feliz, pois iria haver auto-de-fé após 2 anos sem haver
nenhum. Toda a população de Lisboa se junta no Rossio para o ver,
entusiasmada. 104 pessoas – 51 homens e 54 mulheres – foram
condenadas, a maior parte judeus ou cristãos-novos, hereges ou “feiticeiros”
(sabiam mais que o comum).
Duas destas mulheres foram condenadas a serem queimadas na
fogueira, enquanto que os outros são condenados a serem açoitados em
praça pública e ao desterro para a Angola.
Blimunda chora quando chega a casa, por saber que nunca mais vai poder
tocar e beijar a sua mãe. O padre Bartolomeu Lourenço diz-lhe que esta tem
que se conformar com o que aconteceu, enquanto Sete-Sóis (que a seguiu
até casa – amor à primeira vista, relação espontânea e verdadeira) fica
calado a olhar para Blimunda, fascinado com os olhos desta.
Caracterização de Blimunda: Alta e delgada, com olhos claros que
mudavam de cor de acordo com o tempo ou com as suas emoções. Tem
19 anos e é virgem.
Blimunda faz sopa e dá aos dois homens. Quando estes acabaram, e apesar
de o padre ter acabado primeiro, Blimunda espera até que Baltazar acabe
para comer da sua colher – sinal do seu “casamento” / união informal. O
padre benze-os e vai-se embora. Os dois ficam uma hora sem falar.
Blimunda pede a Sete-Sóis que fique com ela, tentando insistir mas não o
obrigando a ficar quando este diz que tem que ir para Mafra, onde tem
mulher, pais e irmã. Sete-sóis, no entanto, diz que não consegue ir embora
pois Blimunda, apesar de não lhe ter tocado, deitou-lhe um encanto ao olhá-
lo por dentro. Blimunda responde prometendo que nunca o olhará por
dentro.
Os dois dormem juntos, e Blimunda benze Baltasar com o seu próprio
sangue, fazendo-lhe uma cruz no peito – sinal da sua relação.
NOTA:
El-rei, depois do ato de fé, janta na Inquisição, onde há abundância de
comida boa e cara. Este não bebe vinho, e todos o imitam.