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Cassiano Sydow Quilici
Antonin Artaud
Teatro e Ritual
IMPRESSÃO E ACABAMENTO
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ISBN
978-989-26-0256-1 (IUC)
85-7419-462-X (Annablume)
DEPÓSITO LEGAL
348952/12
© JUNHO 2012
ANNABLUME
IMPRENSA DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA
33. Romper a distância aqui não significa investir na relação de “empatia”, criticada por Brecht.
Ao mesmo tempo, Artaud não propõe um teatro que pretenda criar um “distanciamento
crítico e reflexivo”. O problema do poder revolucionário da arte em Artaud passa
necessariamente por formas de provocação que atinjam os automatismos corporais e
mentais, sem passar necessariamente por uma interpretação racional.
34. Sobre as relações entre o tema da sexualidade e da morte em Artaud, ver o artigo de Jacob
Rogozinsky, uJ*ai toujours su que j’étais Artud le mort \ revista Europe, 2002:92-103.
35. Como nos mostra Santaella (2000), a noção de signo em Peirce é suficientemente ampla
para incluir estados afetivos e mentais, ainda que sem conexão clara com objetos e
interpretantes. A denominação “quali-signo” refere-se a uma das tríades classificatórias
peirrceanas (quali, sin, legi-signos), que define o signo em relação à sua própria natureza.
36. “O ícone puro diz respeito ao ícone como mônada indivizível e sem partes e, como tal,
trata-se de algo mental. O ícone puro é uma cosa mentale, meramente possível, imaginante,
indiscernível sentimento da forma ou forma do sentimento, ainda não relativa a nenhum
objeto e, conseqiientemente, anterior à geração de qualquer interpretante” (Santaella,
2000:1 10-11 1).
37. O termo “gnose” pode inspirar confusões. No seu sentido restrito, ele designa um
conjunto de seitas que floresceu no século II d.c., constituídas por sincretismos de
doutrinas orientais, gregas e cristãs. Tais seitas foram consideradas heréticas pela Igeja.(a
este respeito ver Gilson, 1995:23-39) Num sentido mais amplo, “gnosis” designa um
conhecimento que é também uma experiência de união do homem e o divino. Ela
representa uma via existente dentro de diversas religiões e tradições espirituais, que não
se limita às práticas devocionais, mas reivindica uma sabedoria.
38. “Nietzsche tranqiiilamente assumiu uma teologia ateísta do espírito, uma teologia negativa,
um misticismo sem Deus. Artaud perambulou no labirinto de um tipo específico de
sensibilidade religiosa, a gnóstica” (Sontag, 1986:44).
39. O termo “esoterismo” também dá margem a inúmeras confusões e diluições. A rigor, a
palavra designa o aspecto “interior” ou a “mística” de uma determinada tradição espiritual,
em oposição aos aspectos “exotéricos” referentes às questões morais e sociais. Assim, o
esoterismo da religião islâmica é o “sufismo”, o esoterismo na tradição chinesa é o
“taoísmo”, em contraposição ao “confucionismo”. Sobre o esoterismo na obra de Artaud
ver especialmente o capítulo “L’unité des ésotérismes”, em Borie (1989:128-139).
Com a alma dilacerada e suja, sabeis que não sinto diante de vós mais
que uma sombra, mas não temo esse terrível saber. Sei que estás em
todos os nós de mim mesmo e muito mais próxima de mim do que
minha mãe. E eu estou nu diante de vós. Nu, impudico e nu, direito
e tal como uma aparição de mim mesmo, mas sem nenhuma vergonha,
pois para vosso olho, que corre vertiginosamente em minhas fibras, o
mal é verdadeiramente destituído de pecado” (OC:I*, 128).
69. O tema do julgamento reaparecerá na obra radiofónica de Artaud, Pour en Finir avec le
Jugement de Dieu,
70. A expressão desse desespero se expressa, por exemplo, numa das famosas enquetes
promovidas pelos surrealistas, sobre a questão do suicídio: “o suicídio é uma solução?”.
Em sua resposta, Artaud afirma que sente não o apetite da morte, mas o “apetite de não
ser, de jamais ter caído nesse torvelinho de imbecilidades, de abdicações, de renúncias e
de encontros obtusos que é o eu de Antonin Artaud” (OC:I, 21). Essa questão reaparecerá,
de certa forma, na formulação artaudiana do ofício do ator como uma espécie de auto-
sacrifício.
106. Texto sem data definida, mas que foi mencionado pela primeira vez em 1935, numa
carta a Jean Paulhan, e que depois integrou o livro Le Théâtre et son Double.
107. Esse texto foi escrito para uma conferência realizada no dia 10 de dezembro del931,
na Sorbonnne.
108. “Michael Maier conta-nos que ‘Delphinas, um filósofo desconhecido, fala com muita
clareza no seu tratado Secretus Maximtis, da mãe que deve, por necessidade natural, unir-
se a seu filho’. Mas é evidente que a Mãe simboliza nesses diferentes contextos a Natureza
no estado primitivo, a prima matéria dos alquimistas, e que o ‘retorno à Mãe’ traduz
uma experiência espiritual que pode ser comparada (...) à reintegração num estado
originário” (Eliade, 1979:120). Sobre esse tema, ver também o capítulo “EI Incesto
Filosofal”, em Évola (1975).
109. O exemplo da medicina chinesa, citado com frequência por Artaud, é bastante ilustrativo.
A multiplicidade de sintomas e doenças é compreendida a partir de dois princípios {yin
111. A alquimia fazia uma distinção entre a “matéria bruta”, impura e sedimentada, e a
“matéria-prima”, expressão do princípio passivo-feminino de toda a manifestação, a
matriz do universo. Atingir a “matéria-prima” significava conquistar um estado de
receptividade e silêncio interior, através da dissolução das impurezas cristalizadas. A força
de cristalização e de fixação é a “masculina”, que, na primeira etapa do processo, se
submete à feminina, para haver a dissolução das formas e o retorno à matriz. A esse
respeito, ver Burckhardt (1991).
11 2. Na alquimia essa ação dissolvente que conduz as substâncias para a matéria-prima é
representada pelo mercúrio.
113. Um dos nomes atribuídos ao princípio masculino na alquimia é o de “Enxofre”,
princípio ígneo que pode evocar a atividade interior, a luminosidade e o poder da
vontade.
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