A discussão se inicia com os estudos de Nusbawn e se colocam para nós
como um problema que é a pesquisa. Dito isso, compreendemos as grandes
contribuições que a autora tem para a educação em seus aspectos formativos, especialmente, relacionados as artes e as humanidades. Levando em consideração o momento histórico em relação as pesquisas decorrentes dos editais de pesquisas que foram lançados nas nossas instituições de ensino superior no ano de 2020.
Nesse recorte percebe-se que os editais quase em sua totalidade, definiram as
áreas prioritárias para receber não só financiamento, como aprovação de pesquisas que seriam financiadas. As áreas ditas prioritárias são definidas como essenciais para o desenvolvimento regional e do país, de algum modo, as humanidades não foram contempladas, até no contrário, quando estavam, eram vistas como algo que transversalizava os demais conhecimentos e sua importância era medida de acordo com o nível de contribuição que ela poderia subsidiar para essas grandes áreas definidas como fundamentais para o desenvolvimento nacional.
Diante dos estudos de Marta Nusbawn, ancorado nessa potente teoria
de justiça e posto sobre a égide do liberalismo político, definido a partir das capacidades, pensamos então em estudar e traçar as contribuições de Nusbawn e aplicá-las na Portaria - MCTC 1.122 de 19 de março de 2020.
Quais problemas podem ser identificados? Quais consequências a área
de humanidades poderá sofrer, uma marginalidade intelectual até a inexistência? Como as humanidades são, portanto, enquadradas nessa portaria?
Educação Superior no contexto contemporâneo
A partir da concepção de que o mundo da produção se encontra
ingressado na quarta revolução, o campo de poder (o Estado) e as agências de fomento a pesquisa e à pós-graduação publicam editais que priorizam as chamadas ciências naturais, criadoras de tecnologias, invenções e inovações materiais, em desapreço às humanidades, com propósito de obter vantagens competitivas no mundo da produção de mercadorias. (AZEVEDO, OLIVEIRA, CATTANI, 2016, p.786). A inscrição dos autores situa adequadamente o problema da investigação. A universidade do século XXI passa a ser compreendida como uma extensão desse modelo produtivo para competitividade, geradora de inovações que atendam a lógica hegemônica global, portanto, de mercado. As pesquisas passam a receber fomento na medida em que elas têm o potencial maior de retornos competitivos no mercado internacional, seja nos aspectos puramente privados, empresas que investem ou que buscam o espaço de excelência das universidades com investimentos, ou os próprios Estados que passam a estruturar universidades com aspecto de concorrência, tornar as nações mais competitivas nesse ramo.
Naturalmente, aquilo que foge a lógica da produção e inovação, torna-se,
elemento descartável, retirado ou meros enfeites. Nesse aspecto configura-se as humanidades, deixam de serem reconhecidas como fundamentais enquanto campo do saber, não só para formação, bem como campo de saber de produção de conhecimento no sentido de pesquisa, e, portanto, seus recursos são diminuídos ou retirados.
Enquadra-se adequadamente como que as universidades, portanto, o ensino
superior, estão sendo tratadas, claramente, os autores da citação supracitada, estão partindo da lógica global, enquanto, participantes de uma área do conhecimento que é a educação, eles estão analisando tipicamente as políticas brasileiras, eles estão percebendo os movimentos que acontecem nos ministérios, movimento tal que está ocorrendo nas políticas, como por exemplo o Plano Nacional de Pós- Graduação em que se institui o tripé de investimento da pesquisa para as áreas de desenvolvimento que comungue sociedade, setores privados e universidades.
Os setores estão ligados a esta praticidade do mundo produtivo, no entanto, as
humanidades ficam refém, no sentido produtivo e de retorno financeiro rápido e seguro, no ponto de vista monetário, as humanidades em nada podem contribuir, embora, possa contribuir para a sociedades na formação de bons professores, bons cidadãos e de pesquisas qualificadas que aponte as contradições e limitações do próprio modelo produtivo. Toda essa lógica é traduzida a partir de linguagens como performance enxugamentos de cursos e inovação, empreendedorismo, que autores como Harvey (2016); Sennett (2011); Antunes (2018) e Dardot e Laval (2016) pontuarão claramente, dizendo como a estrutura da universidade vai incorporando esse modelo de gestão e de organização empresarial e porque
A pesquisa na Educação Superior a partir de Nussbaum
O enquadramento da pesquisa na Educação Superior a partir da Portaria
MCTNC nº 1.122 de março de 2020.
Considerações Finais
Referências:
AZEVEDO, M. L. N.; OLIVEIRA, J. F; CATANI, A. M. O Sistema Nacional
de Pós- graduação (SNPG) e o Plano nacional de Educação (PNE 2014-2024): regulamentação, avaliação e financiamento. RBPAE, v. 32, n, 3, p. 783-803, set/dez. 2016.
BECHI, D.; BILIBIO, R. A.; TREVISOL, M. G. A pesquisa na educação
superior na perspectiva de Nussbaum e da Portaria MCTIC n. 1.122/2020. Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 1, p. 0116-0135, enero/marzo 2022. e-ISSN: 1982-5587. DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i1.15014