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26/10/2022 15:19 INSÍGNIA DE MADEIRA – OS PRIMÓRDIOS DA FORMAÇÃO ESCOTEIRA

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ESCOTEIRA

INSÍGNIA DE MADEIRA – OS
PRIMÓRDIOS DA FORMAÇÃO
ESCOTEIRA
Quando Baden-Powell escreveu em publicou o “Escotismo para Rapazes”, ele
jamais imaginou as dimensões que sua criação chegaria a ter. Por conta disso, o
aprendizado dos primeiros chefes escoteiros ocorria sem uma organização
formal, baseada quase que exclusivamente na experimentação. Com o
crescimento e desenvolvimento do Movimento Escoteiro, Baden-Powell viu a
necessidade de organizar a formação dos chefes escoteiros de uma maneira
mais metódica. Com isso, por volta de 1909, começaram a acontecer em
Londres, os primeiros cursos de formação escoteira, como o que foi realizado
durante o inverno de 1909, em Richmond, Londres. Estes cursos continuaram a
acontecer, no decorrer de 1910, organizados por Baden-Powell normalmente
numa única tarde. Houve ainda um curso com uma duração maior que ocorreu
de 4 a 7 de fevereiro de 1911 em Elstree, nos arredores de Londres. Esses
primeiros cursos foram interrompidos com o advento da Primeira Guerra
Mundial, em 1914. Infelizmente sobreviveram muito poucos registros dessa
época inicial do Movimento Escoteiro.
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  Logo após o fim da guerra, em 1918, o Movimento Escoteiro crescia e se


desenvolvia em ritmo acelerado. Por isso se tornou necessário que houvesse um
determinado local, que servisse tanto como área de acampamento para jovens
que não tivessem condições de viajar para acampar, quanto como centro de
formação, para os futuros chefes escoteiros. Assim, em 1919, um amigo de
Baden-Powell, chamado William Frederick de Bois Maclaren, um Dirigente
Escoteiro de Rosneath, Dumbartonshire na Escócia, doou a quantia de £7,000
para que fosse adquirida uma área que atendesse essa necessidade. Esse
projeto ficou sob a responsabilidade de Percy Bantock Nevill, um Dirigente
Escoteiro do East End em Londres, a quem Banden-Powell designou para a
tarefa. Após uma longa procura sem sucesso, John Gayfer, um Chefe Assistente
de Tropa, sugeriu uma área chamada Gilwell Hall. Nevill ficou impressionado
com o local, apesar do péssimo estado de conservação da edificação central. O
local foi comprado ao custo das £7,000 doadas por William Maclaren, que
posteriormente doou mais £3,000 para a reforma do prédio. O local passou a se
chamar Gilwell Park, e foi inaugurado em 26 de junho de 1919.

O primeiro curso de formação escoteira, realizado em Gilwell Park, aconteceu de


8 a 19 de setembro de 1919, e foi dirigido por Francis Gidney, o primeiro Chefe
de Campo de Gilwell, contando com a participação do próprio Baden-Powell.

Diferentemente do que se pode pensar, apesar de ter dirigido alguns cursos


para adultos em Londres, ainda nos primórdios do Movimento Escoteiro, Baden-
Powell nunca foi diretor, e nem mesmo dirigiu nenhum curso escoteiro em
Gilwell Park. A sua participação se restringiu apenas a uma palestra nesse
primeiro curso de setembro de 1919.

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Para marcar a realização desse curso, e para distinguir os seus participantes,


Baden-Powell queria utilizar algo significativo. Ele então achou entre os seus
troféus militares aquilo que precisava para criar a “Insígnia de Madeira” (Wood
Badge). Primeiro ele pegou um cordão de couro, que, conforme consta no livro
“The Wolf That Never Sleeps”, foi presente de um antigo chefe guerreiro zulu, de
alta casta, que Baden-Powell recebeu durante o Cerco de Mafeking. Segundo o
costume da tribo o cordão atrairia boa sorte ao seu portador. Coincidência ou
não, o fato é que logo após o recebimento do presente, o Cerco de Mafeking
terminou e Baden-Powell se tornou um herói de guerra.

Além do cordão de couro, a Insígnia de Madeira seria formada também por duas
contas retiradas de outro dos troféus militares de Baden-Powell, o famoso Colar
de Dinizulu kaCetshwayo, um chefe guerreiro e filho de Cetshwayo o último rei
da nação Zulu, reconhecido com tal pelo Império Britânico.

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Esse colar, chamado entre os Zulus de “iziQu”, era dado somente aos guerreiros
mais bravos, sendo composto de aproximadamente 1000 contas, esculpidas em
madeira de acácia africana, de cor amarela, e com as suas extremidades
enegrecidas pelo fogo.

É por isso, que não é correto se referir à insígnia como “Insígnia DA Madeira”,
como algumas pessoas equivocadamente fazem, mas sim como “Insígnia DE
Madeira”, justamente porque ela é feita de madeira.

Juntamente com a Insígnia de Madeira os participantes recebiam também o


lenço correspondente ao 1º Grupo Escoteiro de Gilwell Park, indicando que a
partir daquele momento eles passariam também a fazer parte daquela
fraternidade especificamente.

Em homenagem e reconhecimento àquele que possibilitou a criação de Gilwell


Park, o “Lenço de Gilwell”, trás como símbolo o tartan da família Maclarem que é
um padrão de estampa utilizado no “kilt”, a tradicional vestimenta das famílias
escocesas.

A ideia original era que o lenço fosse feito inteiramente com o tartan, mas isso
ficaria muito caro, portanto Baden-Powell resolveu utilizar apenas um pedaço

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costurado ao lenço.

Uma curiosidade é que inicialmente Baden-Powell pensou em usar a insígnia no


chapéu, à moda de alguns oficiais do exército norte-americano, mas logo desistiu
da ideia, por perceber que no chapéu a insígnia só seria utilizada quando o chefe
estivesse no campo, já que ninguém usava chapéu num ambiente fechado, por
isso a insígnia passou a ser usada no pescoço.

Primeiramente, a Insígnia de Madeira, com as duas contas do Colar de Dinizulu,


era entregue ao final do curso. Mas em dado momento observou-se que as
contas estavam acabando. Foi adotado então o seguinte critério: o cursante
recebia uma conta do Colar de Dinizulu, quando era aprovado no curso, e a
segunda conta, uma réplica das contas originais, feita de carvalho de Gilwell, o
chefe recebia após aprovação na fase de observação. Em determinado
momento, as contas originais se acabaram e passaram a ser utilizadas apenas
réplicas destas.

Outro fato interessante é que para os aprovados nos Cub Courses (Ramo
Lobinho), durante um breve período foram utilizadas presas de lobo verdadeiras
(e depois réplicas em madeira), no lugar das contas de madeira, e a insígnia era
chamada de “Insígnia de Akela” (Akela Badge). Acredita-se inclusive que essa
ideia foi uma iniciativa para poupar as Contas do Colar de Dinizulu, quando
essas começaram a se esgotar. Mas a iniciativa durou pouco tempo, sendo
adotada a uniformização das insígnias, de modo que todos os aprovados em
cursos em Gilwell Park, independente do ramo, passaram a receber a Insígnia de
Madeira tradicional.

Isso só reforça a teoria da preservação das contas originais, na medida em que


após o esgotamento total do Colar de Dinizulu, não havia mais sentido em
manter uma insígnia diferenciada. Já que não havia mais o que se economizar,
essa tradição perdeu a razão de ser e foi extinta. Hoje não se tem notícia do
paradeiro de nenhuma dessas Insígnias de Akela, existindo apenas o registro
fotográfico de alguns de seus portadores como o chefe Padre Jacques Sevin, da
França.

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Outra tradição antiga, mas de curta duração, foi a utilização de uma conta única
arredonda, também de madeira, utilizada logo acima do nó da Insígnia.

A cor dessa conta de madeira seria correspondente ao ramo do curso realizado.


Assim os escotistas aprovados no Cub Course usariam uma conta amarela, os
escotistas aprovados no Scout Course usariam uma conta verde, e por fim, os
escotistas aprovados no Rover Course usariam uma conta vermelha.

Entretanto, essa tradição durou apenas de 1923 a 1925, sendo extinta logo a
seguir.

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Outro símbolo da formação escoteira é o Anel de Giwell (Gilwell Woogle), que é


um nó “cabeça de turco” (turk’s head”), com duas voltas, feito com um fio de
couro, e que é utilizado para prender o lenço escoteiro do chefe aprovado no
Curso Básico. O criador do Anel de Giwell foi um dos membros de Gilwell Park,
chamado William Daniel Shankley, a pedido de Baden-Powell.

Acredita-se que o Anel de Giwell tenha sido inventado por volta de 1920, muito
embora o primeiro registro conhecido trata-se de uma edição da revista “The
Scout” do ano de 1923. Existe também uma lenda relacionada ao Anel de Giwell,
de que ele teria sido feito com a correia da máquina de costura da mãe de Bill
Shankley. Mas essa lenda não é verdadeira conforme relatado pelo seu próprio
filho, Ron Shankley.

Existe também uma grande discussão sobre quais insígnias atualmente teriam
algumas das contas originais do Cordão de Dinizulu, salvo evidentemente a
Insígnia de Baden-Powell e a que pertenceu a Sir Percy Everett, com se verá
adiante. Ocorre mais ou menos como aquela lenda da idade Média, de que se
juntassem todos os fragmentos da Cruz de Cristo, que cada Igreja alegava ser
genuína, dava para construir todos os navios utilizados nas Cruzadas. Há
evidentemente algumas listas com o nome dos participantes nos primeiros

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cursos de Gilwell Park, mas a precisão destas listas é altamente discutível,


porque são baseadas em fotografias antigas, de baixa resolução, e nem todas
possuem a lista nominal dos fotografados. Por isso, ao menos em tese seria
possível rastrear as primeiras insígnias. Mas o problema é que mais de uma
pessoa ou instituição indicam o mesmo desses primeiros participantes, como a
origem da Insígnia de Madeira que possuem. Por isso fica impossível dizer com
certeza, quais insígnias possuem contas originais e quais possuem réplicas.

Só para se ter uma ideia, somente no ano de 1929, em Gilwell Park aconteceram
29 cursos para a seção das crianças (Cub Courses), 73 cursos para a seção dos
meninos (Scout Courses), 8 cursos para a seção dos rapazes (Rover Courses) e 5
cursos de Dirigentes (Commissioner Courses), o que totaliza 115 cursos. Se for
considerado que cada curso tinha em média 25 participantes, para que cada um
deles recebesse apenas uma conta original, seriam necessárias 2.875 contas,
apenas para o ano de 1929. Esse número é quase três vezes maior que as 1.000
contas do Colar de Dinizulu, quantidade essa estimada conforme a tradição.
Obviamente as contas originais se acabaram muito antes de 1929, muito
provavelmente entre 1919 e 1921, ainda na gestão de Francis Gidney, período do
qual existem poucos registros. Por isso muitas pessoas que acreditam, e alegam,
terem recebido contas originais, na verdade receberam réplicas.

Além disso, tornando as coisas ainda mais confusas, a Associação Escoteira da


África do Sul (Scouts South Africa) produziu quatro réplicas do Colar de Dinizulu,
para o 12º Jamboree Mundial, realizado na cidade de Idaho, USA, em 1967, para
comemorar os 60 anos do Movimento Escoteiro. Dessas quatro réplicas, a
primeira permaneceu em Cape Town, África do Sul e atualmente está na sede da
Scouts South Africa. Das outras três, uma foi entregue ao país anfitrião e hoje se
encontra em poder da BSA – Boy Scout of America. Outra réplica foi oferecida a
WOSM – World Organization of the Scout Movement, e hoje está na sede do
Bureau Mundial em Genebra, na Suíça. A outra réplica foi dada ao Diretor de
Gilwell Park, onde se encontra atualmente. Essa última esteve em exposição,
durante algum tempo, na Baden-Powell House, em Londres, o que leva algumas
pessoas a acreditarem equivocadamente que o colar original de Dinizulu ainda
existe.

Para se evitar qualquer dúvida cabe aqui um esclarecimento, a respeito das


faixas etárias equivalentes a cada um dos cursos citados anteriormente.
Originalmente havia apenas “Boy Scouts”, que seriam os meninos. Por volta de
1914 foi criado o Ramo Lobinho (Cub Scouts), para crianças  abaixo da idade do

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Ramo Escoteiro (Boy Scouts). Entre 1918 e 1919 foi criado o “Rover Scouts”, que
se destinava aos rapazes, que já tivessem passado da faixa etária dos escoteiros
(Boy Scouts). Basta dizer que o “Caminho Para o Sucesso” (Roovering to Sucess)
foi lançado em 1922. Ocorre que nessa época, os escoteiros mais velhos também
eram conhecidos “não oficialmente” como “Senior Scouts”, em contraposição aos
“Junior Scouts”, que eram os escoteiros mais novos. Isso porque a faixa etária
original do Ramo Escoteiro (Boy Scouts) era muito ampla, e já se notava a grande
disparidade entre um “escoteiro” de 12 anos e outro “escoteiro” de 17. Não era
muito clara, nesse início do século XX, a idade exata em que um menino deixava
de ser menino e se tornava rapaz. Por isso, a faixa etária inicial dos “Rover
Scouts”, que ser destinava a “jovens homens” (portanto, acima dos 18 anos)
acabava variando entre aproximadamente 15 e 18 anos, justamente para
atender a esse público de rapazes. Isso induz à confusão entre Seniors e Rovers,
na medida em que o Ramo Sênior (“Senior Scout”) só foi criado oficialmente em
1946, apesar do termo já ser utilizado informalmente em relação aos “rapazes
escoteiros”, muito tempo antes.

Portanto, antes de 1946 havia: “Cub Scouts” (crianças), “Boy Scouts” (meninos) e
Rover Scouts (rapazes). De 1946 em diante, a divisão passou a ser: “Cub Scouts”
(crianças), “Boy Scouts” (meninos), “Senior Scouts” (rapazes) e Rover Scouts
(jovens adultos). No Reino Unido e em alguns outros países existem ainda os
Beaver Scouts, seção adotada formalmente em 1986, destinada a crianças com
idade abaixo do Ramo Lobinho. No Brasil, não obstante algumas tentativas sem
êxito, não foi adotada essa nova seção (que seria chamada de Castores),
principalmente porque a faixa etária do Ramo Lobinho da UEB, que vai dos 6
anos e meio até os 10 anos, engloba tanto a idade dos Beavers Scouts (de 6 a 8
anos) quanto a faixa etária do seus equivalente inglês, os Cub Scouts, (que vai
dos 8 aos 10 anos e meio).

De todo o modo, essa divisão em quatro seções (Cub, Scout, Senior e Rover –
respectivamente Lobinho, Escoteiro, Sênior e Pioneiro) estabelecida a partir de
1946, foi adotada por diversos países, inclusive o Brasil, existindo até hoje.
Entretanto, mais tarde, por volta de 1967, a Associação Escoteira do Reino Unido
fez uma revisão do programa e uniu o Ramo Sênior (Senior Scouts) e o Ramo
Pioneiro (Rover Scout), em uma única seção denominada “Venture Scout”, para
jovens de 14 a 20 anos. Inclusive, foi essa revisão do programa em 1967, que
levou alguns chefes escoteiros que não concordavam com a alteração e que
entendiam que ela contrariava o legado de Baden-Powell, a criarem em 1970,
uma organização escoteira Independente e desvinculada da WOSM (World

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Organization of the Scout Movement) Essa associação independente veio a se


chamar “Baden-Powell Scout Association”, tendo sido a percursora da WFIS
(World Federation of Independent Scouts). A “Venture Scout” vigorou até 2002,
quando foi novamente subdivida entre “Explorer Scouts” (para rapazes) e “Scout
Network” (para jovens adultos).

Assim, atualmente, o Movimento Escoteiro no Reino Unido é dividido em:


“Beavers Scouts” (Castores, que não é utilizado no Brasil) para crianças de 6 a 8
anos, “Cub Scouts” (Lobinhos) para crianças de 8 a 10 anos e meio, “Scouts”
(Escoteiros) para jovens de 10 anos e meio a 14 anos, “Explorer Scouts” (Sêniores)
para rapazes de 14 a 18 anos e “Scout Network” (Pioneiros) para jovens adultos
de 18 a 25 anos.

Com a especificação dos cursos escoteiros, foram adicionadas contas, para


designar o grau de formação do chefe portador da insígnia. É interessante notar
que as contas originais não eram simétricas, variando de tamanho e espessura,
o que é natural vez que o Colar de Dinizulu (o IziQu) foi feito a mão. Nota-se
também que as contas originais, que serviram de base para a produção das
réplicas feitas posteriormente, eram menores do que aquelas utilizadas
atualmente, conforme se observa nas imagens abaixo. De todo o modo,
atualmente a Insígnia de Madeira padrão possui duas contas. A Insígnia do chefe
Diretor de Curso Básico (DCB) possui três contas. Já a Insígnia do chefe Diretor
de Curso de Insígnia de Madeira (DCIM) possui quatro contas. Só existem duas
insígnias com seis contas. A primeira era a insígnia usada pelo próprio Baden-
Powell que inicialmente fazia parte da exposição permanente “The History of
B.P.” (A História de B.P.), da Baden-Powell House, em Londres. Posteriormente a
Insígnia de Madeira de Baden-Powell foi transferida, junto com os demais itens
da exposição, para Gilwell Park, onde se encontra atualmente. Além de Baden-
Powell a única outra pessoa a utilizar a Insígnia de Madeira com seis contas, foi o
seu amigo próximo, desde o tempo do Acampamento de Brownsea, Sir Percy
Everett, que recebeu a honraria como um presente de reconhecimento, pelos
bons serviços prestados à causa. A Insígnia de Madeira com seis contas de Sir
Percy Everett, foi doada ao Movimento Escoteiro para ser usada pelo escotista
que exercesse o cargo de Diretor de Campo de Gilwell Park.

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Daí surge a dúvida, se existe uma insígnia com quatro contas e uma com seis,
não deveria haver uma insígnia com cinco contas? Ela existe sim. A Insígnia de
Madeira de cinco contas era dada exclusivamente para os Chefes Escoteiros
especialmente designados para levarem o Curso de Insígnia de Madeira para seu
respectivo país. Esse chefe receberia o título de “Deputy Camp Chief of Gilwell
Park”, sendo considerado o representante de Gilwell Park naquele país. Para
honrar esse pioneirismo ele, e apenas ele, teria o direito de usar a Insígnia de
Madeira com cinco contas.

Segundo Peter Ford, do Departamento de Arquivos, Legado e Pesquisa (Archives


and Heritage Research) de Gilwell Park, não existe um registro fidedigno de quais
chefes receberam esse título e o direito ao uso da Insígnia de Madeira com cinco
contas. Existem, entretanto, alguns indícios. Francis Gidney o primeiro Chefe de
Campo de Gilwell Park de 1919 a 1923, e diretor do primeiro curso de Insígnia de
Madeira em setembro de 1919, não deixou nenhuma anotação de seus cursos.
Durante a gestão de Francis Gidney fizeram o curso em Gilwell os seguintes
escotistas de destaque: o Padre Jacques Sevin, fundador da Scouts de France
(percursora da atual Scouts et Guides de France), e que dirigiu o primeiro Curso
de Insígnia de Madeira da França, em 1923, em Chamarande nas proximidades
de Paris; o chefe C. Miegl, que dirigiu o primeiro Curso de Insígnia de Madeira da
Áustria, entre 8 e 17 de setembro de 1922; e por fim, o chefe Jan Schaap que
dirigiu o primeiro Curso de Insígnia de Madeira da Holanda, em julho de 1923.
Apesar do pionieirismo de cada um, conforme dito anteriormente, não há
registro de que eles tenham recebido o título de Deputy Camp Chief, nem que
tenham usado a Insígnia de Madeira com cinco contas.

Em meados de 1923, Francis Gidney foi substituído por John Skinner Wilson, que
dirigiu Gilwell Park de 1923 até 1939, e que, ao contrário de seu antecessor,
deixou farta documentação de seus cursos. Assim nas anotações de J. S. Wilson,
existem indicações de que os cursantes Charles Hoardley (Austrália), A.E. Van
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Voorthuisen. T.L. (Holanda), Alfons Akerman (Finlândia) e Rolf Lykken (Noruega),


deveriam receber o título de Deputy Camp Chief (D.C.C.). Mas isso são apenas
indícios, não havendo nenhum registro oficial de que eles tenham efetivamente
recebido o título.

Outro fator que dificulta o rastreamento é que essa tradição de nomear um


Deputy Camp Chief para cada país, e consequentemente, a concessão da
Insígnia de Madeira com cinco contas foi descontinuada, por volta de 1930, e
apenas uns poucos escotistas receberam essa honraria.

Talvez o caso mais famoso envolvendo a Insígnia de Madeira com cinco contas
seja o de William “Green Bar Bill” Hillcourt, da Boy Scout of America (BSA). O que
ocorreu foi que demorou muito tempo para que o Curso de Insígnia de Madeira
fosse adotado pela BSA. As primeiras tentativas, tanto por Francis Gidney quanto
por John Skinner Wilson, de implantar o curso nos Estados Unidos, não lograram
êxito como nos demais países. O próprio William Hillcourt só recebeu a sua
Insígnia de Madeira quando fez o curso em 1936, dirigido por John Skinner
Wilson no Schiff Scout Reservation, em Nova Jersey, USA. Nessa época a Insígnia
de Madeira com cinco contas já não era mais utilizada, e o cargo de Deputy
Camp Chief (D.C.C.) já havia sido extinto. Após isso, demorou mais de uma
década para que ocorresse, o primeiro Curso de Insígnia de Madeira da BSA. Isso
não só por conta da eclosão da Segunda Guerra Mundial, mas principalmente
devido a dificuldades de adaptação. Por fim, o curso acabou acontecendo em
1948, quase 30 anos depois dos primeiros cursos de Gilwell Park. Todavia,
apesar do uso da Insígnia de Madeira com cinco contas ter terminado quase
vinte anos antes, William Hillcourt, sempre alegou que deveria tê-la recebido, por
ter sido o diretor desse primeiro curso promovido pela BSA.

O problema é que não bastava ter dirigido o primeiro Curso de Insígnia de


Madeira em um país, para receber a Insígnia com cinco contas. Também era
necessário ser especialmente indicado para tal. O Padre Jacques Sevin, por
exemplo, implantou e dirigiu o primeiro Curso de Insígnia de Madeira na França,
mas mesmo assim, não existe registro de que tenha sido nomeado Deputy Camp
Chief (D.C.C.), nem que tenha usado a Insígnia de Madeira com cinco contas. E
não havia o menor sentido, já em 1948 indicar alguém para exercer um cargo
que havia sido extinto quase vinte anos antes. Assim, no caso de William
Hillcourt aparentemente o título de Deputy Camp Chief (D.C.C.) e a Insígnia de
Madeira com cinco contas foram “auto-concedidos”. A BSA, no entanto, sempre
defendeu que Green Bar Bill tenha efetivamente recebido o título, apesar dele

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não estar mais em uso por quase vinte anos antes da realização do primeiro
Curso de Insígnia de Madeira da BSA. Por outro lado, considerando que a BSA
tem uma enorme influência política e econômica junto a WOSM, é possível que
tenha sido aberta essa exceção. Por isso, acredita-se também que William
Hillcourt teria recebido a Insígnia de Madeira com cinco contas, durante uma
visita a Gilwell por volta de 1980. Mas novamente, não há nenhum registro disso
nos arquivos de Gilwell Park, até porque essa tradição havia sido encerrada
quase cinquenta anos antes dessa época.

Logo após esse primeiro curso da BSA, ocorreu no Brasil, o primeiro Curso de
Insígnia de Madeira da América Latina, realizado no Campo Escola Fernando
Costa, em Tremembé, São Paulo entre 9 e 20 de julho de 1949. O diretor do
curso foi o Chefe Salvador Fernandez Bertán, de Cuba, um dos fundadores do
antigo Conselho Interamericano de Escotismo. Deste curso participaram não só
escotistas do Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e São Paulo, como também os
Chefes Neftali Diaz e Antolin Miqueles do Chile e os Chefes Mário San Martin e
Raoul A. Terán, da Bolívia. Um dos responsáveis pela realização desse curso foi o
Chefe Léo Borges Fortes, que se tornou o primeiro brasileiro a receber a Insígnia
de Madeira, tendo participado do 191st Scout Course, em Gilwell Park, no
período de 17 de agosto a 4 de setembro de 1949, e que foi dirigido pelo Camp
Chief John Thruman. O Chefe Léo Borges Fortes recebeu sua Insígnia de Madeira
em 24 de junho de 1950 (Certificado nº 12.355 – Wood Badge Register “Scout
part 3 Vol 3).

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Entretanto cabe ressaltar também o pioneirismo dos Chefes George Edward Fox,
que era inglês, e que foi o primeiro portador da Insígnia de Madeira a atuar no
país (ele fez o curso em Gilwell Park e recebeu a Insígnia entre 1921 e 1924), e do
Chefe David Mesquita de Barros, que era português, e que fez o curso de
Insígnia de Madeira em 1929, em Capý na França.

As fontes dessas informações são principalmente o Departamento de Arquivos,


Legado e Pesquisa (Archives and Heritage Research) de Gilwell Park, através de
seu pesquisador Mr. Peter Ford, citado anteriormente, sem a ajuda do qual não
seria possível realizar essa pesquisa. Foram utilizados também, como fonte de
referência, os livros “The Story of Baden-Powell – The Wolf That Never Sleeps”, de
Harold Begbie e “Baden-Powell – Founder of the Boy Scouts”, de Tim Jeal. Outras
fontes de destaque são, entre outros, os artigos “The Origins of the Wood Badge”
do Archives Department da “The Scout Association” do Reino Unido, publicada
em inglês no endereço eletrônico
“https://members.scouts.org.uk/factsheets/FS145001.pdf”, bem como o artigo
com o mesmo título de Collin “Johnny” Walker publicado no site Scouting
Milestones, disponível no endereço eletrônico
“http://scoutguidehistoricalsociety.com/woodbadge.htm”, o artigo “The Gilwell
Woogle” de autoria de Frank Brown, da International Guild of Knot Tyers,
disponível no endereço eletrônico    http://www.surreyknots.org.uk/the-gilwell-
woggle.htm., e por fim, o artigo “The African Seeds of Scouting” da Associação
Escoteira da África do Sul, publicada também em inglês, no endereço eletrônico
“http://www.scouting.org.za/seeds/woodbadge2.html”.

Atualmente há uma orientação de que o uso de mais de duas contas na Insígnia


de Madeira deve estar vinculado à realização do curso correspondente naquele
ano, e assim mesmo, apenas pelo chefe diretor desse curso. Por outro lado,
existe ainda uma forte tendência em Gilwell Park no sentido de se utilizar a
Insígnia de Madeira com apenas duas contas, inclusive para os chefes que
venham a dirigir algum curso de formação.

Apesar disso é sempre bom recordar o ensinamento de Baden-Powell no sentido


de que a Insígnia de Madeira é o grau de formação mínimo para que um chefe
escoteiro possa exercer um trabalho de qualidade à frente de uma tropa
escoteira. Mas muito mais importante do que o objeto em si, que é apenas um
símbolo, é o que ele representa, ou seja, a qualidade da formação do seu
portador, bem como a busca constante pelo aprimoramento por parte do
escotista.

www.ccme.org.br/artigos/insignia-de-madeira-os-primordios-da-formacao-escoteira/ 14/17

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