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Revista Brasileira de

Artigo
Ciências Farmacêuticas

http://dx.doi.org/10.1590/s2175-979020200004181113

Perfil da atenção farmacêutica em unidades básicas de

saúde de São Bernardo do Campo, Sudeste do Brasil.

Rebeca Peres dos Santos Francisco e Silva1,2,

Francisco Inverno dos Santos Figueiredo2, Ricardo Peres do SoutoeuD2*

1Secretaria de Saúde de São Bernardo do Campo (SSSBC), São Bernardo do

Campo, SP, Brasil,2Centro Universitário FMABC, Santo André, SP, Brasil

A inserção efetiva do farmacêutico na atenção primária é uma meta importante para as políticas de saúde. O objetivo deste estudo foi descrever e analisar os farmacêuticos e

a Atenção Farmacêutica nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) de São Bernardo do Campo. Os dados foram obtidos por meio de entrevista aplicada a farmacêuticos. O

instrumento possui três seções: (1) Identificação do farmacêutico; (2) Trabalho do farmacêutico; e (3) Atividades farmacêuticas. Os itens da seção 3 correspondem às diretrizes

dos órgãos que promovem a Atenção Farmacêutica na rede básica de saúde. Foram entrevistados todos os 24 farmacêuticos que atuam na UBS de São Bernardo do Campo.

Cada centro de dispensação de medicamentos tem um farmacêutico responsável. Esses farmacêuticos são predominantemente mulheres e pós-graduados. As atividades de

Atenção Farmacêutica relatadas foram: análise da prescrição diária (75% dos entrevistados); participação mensal em grupos de pacientes (70,8%); acompanhamento mensal

da adesão à farmacoterapia (58,3%); participação mensal em reuniões de equipe multiprofissional (54,2%); visitas domiciliares mensais (12,5%); educação em saúde para a

comunidade (83,3%); e consulta de farmacêutico (37,5%). A frequência de análise de prescrição e visitas domiciliares foi fracamente associada a aspectos do farmacêutico e da

unidade. Este estudo mostrou que a Assistência Farmacêutica está estruturada na atenção básica em São Bernardo do Campo e muitas atividades de Atenção Farmacêutica

são ofertadas em suas UBS. educação em saúde para a comunidade (83,3%); e consulta de farmacêutico (37,5%). A frequência de análise de prescrição e visitas domiciliares foi

fracamente associada a aspectos do farmacêutico e da unidade. Este estudo mostrou que a Assistência Farmacêutica está estruturada na atenção básica em São Bernardo do

Campo e muitas atividades de Atenção Farmacêutica são ofertadas em suas UBS. educação em saúde para a comunidade (83,3%); e consulta de farmacêutico (37,5%). A

frequência de análise de prescrição e visitas domiciliares foi fracamente associada a aspectos do farmacêutico e da unidade. Este estudo mostrou que a Assistência

Farmacêutica está estruturada na atenção básica em São Bernardo do Campo e muitas atividades de Atenção Farmacêutica são ofertadas em suas UBS.

Palavras-chave:Serviços farmacêuticos. Atenção Farmacêutica. Gestão da terapia medicamentosa.

Farmacêuticos. Atenção Primária à Saúde. Sistema público de saúde.

INTRODUÇÃO farmacêutico que presta Atenção Farmacêutica tem

demonstrado em ensaios clínicos randomizados ser benéfico
A prática profissional do farmacêutico passou por grandes para o paciente, com resultados favoráveis em vários
mudanças. Nas últimas décadas, houve um grande deslocamento aspectos relacionados ao controle da doença, cuidados de
para ações mais próximas aos usuários de drogas (Hepler, Strand, saúde e bem-estar (Babare outros., 2018). Curiosamente,
1990; Berengueret ai., 2004). Este campo de trabalho para aproximar-se do paciente representa a recuperação de uma
farmacêuticos foi designado de Atenção Farmacêutica e inclui realidade anterior da profissão, anterior à industrialização da
atividades de educação e orientação do paciente, bem como produção de medicamentos. No início do século passado,
supervisão da farmacoterapia (Allemannet ai., 2013). A Atenção além de preparar o medicamento, o farmacêutico
Farmacêutica tornou-se uma área estratégica dentro da desempenhava um papel orientado ao paciente em seu uso.
Assistência Farmacêutica, um conjunto de ações para promover, No Brasil, as mesmas transformações no âmbito do
proteger e recuperar a saúde por meio do acesso aos farmacêutico estão em processo (Angonesi, Sevalho, 2010).
medicamentos e seu uso racional (OMS, 2011). Proximidade com Essas mudanças ocorreram especialmente no sistema público
o nacional de saúde – Sistema Único de Saúde (SUS) –
impulsionadas por políticas governamentais. Logo após a
* Correspondência:RP do Souto. Centro Universitário FMABC. Av. Lauro criação do SUS, as portas para a participação do farmacêutico
Gomes, 2000 – Vila Sacadura Cabral. Santo André/SP - CEP: 09060-870 –
na atenção primária à saúde foram abertas em 1998 com o
Brasil. E-mail: ricardo.souto@fmabc.br. Conflito de interesse: Nada a
declarar. Fonte de financiamento: Nada a declarar encontro nacionalEncontro Nacional de

Braz. J. Farmácia. Sci. 2021;57: e18113 Página 1/12

 Rebeca Peres dos Santos Francisco e Silva, Francisco Winter dos Santos Figueiredo, Ricardo Peres do Souto
Assistência Farmacêuticae lançamento da diretriz Política
Nacional de Medicamentos(PNM) como ferramenta essencial
na saúde pública (Pereira, Freitas, 2008). Então, em 2004,
outra diretriz (Política Nacional de Assistência Farmacêutica–
PNAF) tornou a Assistência Farmacêutica parte integrante da
política de saúde e descreveu com mais clareza as práticas
desejadas de Atenção Farmacêutica (Oliveira, Assis, Barboni,
2010). Com essas regulamentações, o número de
farmacêuticos atendidos em centros de saúde primários (
Unidades Básicas de Saúde–UBS) aumentaram 75% entre
2008 e 2013, embora representem apenas cerca de 2% dos
profissionais de saúde (Carvalhoet ai., 2016).
Os desafios de inserir efetivamente a Atenção
Farmacêutica no SUS são grandes (Araújoet ai., 2008). É
fundamental aprimorar o modelo existente e continuar
buscando novas estratégias. Por isso, em 2015 foi lançado um
grande levantamento para caracterizar os serviços
farmacêuticos oferecidos na atenção primária:Pesquisa
Nacional sobre Acesso, Utilização e Promoção do Uso
Racional de Medicamentos(PNAUM) –serviços de
componentes(Álvareset ai., 2017). A pesquisa da PNAUM
obteve informações de 300 municípios do país (todas as
capitais e as maiores cidades de cada região e representantes
selecionados aleatoriamente das cidades menores),
entrevistando gestores municipais de saúde, profissionais
responsáveis pela entrega de medicamentos nas unidades
de dispensação e usuários da rede de saúde. sistema. Este é
um estudo importante para conhecer e avaliar o panorama
geral da Atenção Farmacêutica no país. No entanto, ainda
precisa ser complementado por pesquisas que detalhem as
atividades clínicas dos farmacêuticos e explorem as
realidades locais.
Além da PNAUM, são poucos os estudos que
analisam farmacêuticos e serviços farmacêuticos na rede
básica de saúde brasileira (Funchal-Witzelet ai., 2011). Em
sua maioria, esses artigos descrevem aspectos logísticos
de medicamentos e sua dispensação (Naves, Silver, 2005;
França Filhoet ai., 2008; Menolli, Ivama, Cordoni Júnior,
2009; Canabarro, Hahn, 2009; Silva Júnior, Nunes, 2012).
Estudos avaliando a atuação do farmacêutico diretamente
com os pacientes são menos comuns e mais recentes
(Obreli-Netoet ai., 2015).
Considerando as mudanças atuais na atuação do
farmacêutico e a necessidade de maior avaliação da
presença e atuação do farmacêutico na clínica geral, o
presente estudo tem como objetivo descrever e analisar
os farmacêuticos e a Atenção Farmacêutica prestados nas
Unidades Básicas de Saúde (UBS) de São Bernardo do
Campo. , São Paulo.
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MÉTODO
Local de estudo
O estudo foi realizado em São Bernardo do Campo,
localizado na região metropolitana de São Paulo, Sudeste
do Brasil. A população estimada em julho de 2017 era de
827.437 habitantes (IBGE, 2018). A cidade está dividida em
nove territórios de saúde, que são atendidos por 34
unidades básicas de saúde (UBS). Essas UBS estão
inseridas em diversos contextos locais (urbano e rural, de
alto e baixo nível socioeconômico), e reproduzem
muitos dos vários cenários da Atenção Farmacêutica
no brasil. Apenas uma dessas unidades (UBS Jardim das
Oliveiras) não possui farmácia, e a oferta de serviços de
farmácia ocorre em outra unidade (UBS Orquídeas).
Esboço do estudo
Trata-se de um estudo descritivo e analítico quantitativo
de caracterização dos profissionais e das atividades da
Atenção Farmacêutica na atenção primária à saúde de São
Bernardo do Campo. Os dados foram obtidos por meio de
entrevista estruturada aplicada a todos os 24 farmacêuticos
que atuam nas UBS do município.
Instrumento
Foi proposto um formulário com questões de múltipla
escolha diretas, objetivas e fechadas para serem respondidas
pelos farmacêuticos para acompanhar e avaliar suas ações e
atividades em relação à Atenção Farmacêutica prestada aos
usuários da UBS sob sua responsabilidade.
O instrumento é dividido em três seções principais:
(1) Identificação do farmacêutico; (2) Caracterização
do trabalho do farmacêutico; e (3) Caracterização
das atividades realizadas na farmácia da UBS.
As principais variáveis avaliadas na seção 1
(Identificação do farmacêutico) incluíram informações
sobre o profissional entrevistado como sexo, instituição
de graduação, tempo de graduação e pós-graduação.
Em relação a essa última questão, investigou-se se a
pós-graduação era especialista, mestre ou doutor e em
qual área. Dentre as áreas dos cursos de pós-
graduação relatadas pelos farmacêuticos, a Farmácia
Clínica e a Farmácia Hospitalar foram consideradas
específicas da Farmácia.
Na seção 2 (Caracterização do trabalho do
farmacêutico), questões sobre a relação entre o
Braz. J. Farmácia. Sci. 2021;57: e18113
Perfil da atenção farmacêutica em unidades básicas de saúde de São Bernardo do Campo, Sudeste do Brasil.
Foram incluídos o profissional e o posto de saúde:
tipo de vínculo contratual, carga horária mensal,
tempo de contratação do farmacêutico e se o
farmacêutico atua em outra cidade além de São
Bernardo do Campo. Inquiriu-se também sobre as
questões organizacionais do centro de saúde, como
o número de auxiliares de farmácia e a dispensação
de psicotrópicos.
A seção 3 (Características das atividades
farmacêuticas) corresponde ao levantamento das
atividades de gestão de medicamentos e Atenção
Farmacêutica desenvolvidas nas UBS, bem como a
recuperação de informações sobre medicamentos.
Os itens de gerenciamento de medicamentos estudados
foram: uso da lista padronizada de medicamentos adotada no
município; contribuição para a revisão periódica da lista
padronizada de medicamentos adotada no município; local de
dispensação do medicamento; recepção e armazenamento de
medicamentos; controles de estoque de medicamentos;
verificação da validade dos medicamentos.
Em relação às informações sobre medicamentos, foram
avaliados: a frequência de dúvidas sobre medicamentos; a
proporção de resolução dessas dúvidas; e fontes de
informação consultadas para esclarecer essas dúvidas.
Os itens da Atenção Farmacêutica avaliados
corresponderam às recomendações e orientações de diversas
organizações que promovem sua inserção na rede básica de
saúde brasileira. Foram utilizados oito documentos (Quadro
1). Com base nesses documentos, os itens avaliados foram a
frequência de: visitas domiciliares, consultas farmacêuticas na
UBS, análise das prescrições dispensadas, presença nas
reuniões da equipe multiprofissional de saúde, participação
em grupos de acompanhamento e orientação aos pacientes,
acompanhamento da adesão ao tratamento, envolvimento
em ações de educação em saúde para a comunidade e
participação em programas para grupos prioritários de
Atenção Farmacêutica (hipertensão, diabetes mellitus,
tuberculose e tabagismo). As frequências desejadas para cada
atividade foram definidas arbitrariamente considerando a
rotina na farmácia de uma UBS. No caso da análise da
prescrição, o desempenho diário dessa atividade foi
considerado adequado. No caso de participação em reuniões
de equipe de saúde, visitas domiciliares, trabalho em grupos
de pacientes e monitoramento da adesão, considerou-se a
frequência adequada de pelo menos uma vez por mês. No
caso de consulta farmacêutica, ações educativas e atuação
nos grupos prioritários (hipertensão, diabetes mellitus,
tuberculose e tabagismo), basta relatar a atividade – mesmo
que
Braz. J. Farmácia. Sci. 2021;57: e18113
ocasionalmente (menos de uma vez por mês) – foi considerado
satisfatório.
O instrumento original (em português) está disponível
mediante solicitação aos autores.
Coleção de dados
O estudo foi realizado com a anuência da
autoridade local (Departamento de Atenção Básica e
Educação Permanente e Assistência Farmacêutica de
São Bernardo do Campo).
Os farmacêuticos da atenção básica de São Bernardo do
Campo foram contatados individualmente na reunião de
Assistência Farmacêutica do município ou diretamente na
UBS. Na primeira consulta, foi apresentado o estudo e
assinado o termo de consentimento livre e esclarecido. O
instrumento foi aplicado no mês seguinte ao primeiro
contato, sempre pelo mesmo pesquisador. Os próprios
participantes preencheram o formulário, e o pesquisador
esteve à disposição para esclarecer quaisquer dúvidas. No
caso dos farmacêuticos que atuam em duas UBS, apenas um
formulário foi preenchido. As entrevistas foram realizadas
entre dezembro de 2017 e junho de 2018.
O número de habitantes cadastrados que utilizam
a UBS (população ativa) foi extraído do banco de dados
da Secretaria Municipal de Saúde por meio do sistema
de informações HygiaWeb. No caso de UBS com o
mesmo farmacêutico, foram adicionadas populações
ativas.
Aspectos éticos
O estudo foi avaliado pelo Comitê de Ética em
Pesquisa da Faculdade de Medicina do ABC e
aprovado sob o processo número 2.418.591.
Análise estatística
A análise estatística descritiva foi realizada por
frequências absolutas e relativas para as variáveis
qualitativas, e por medidas de tendência central e dispersão
para as variáveis quantitativas, por aderência dos dados à
distribuição normal (avaliada pelo teste de Shapiro-Wilk). O
teste t de Student e as estimativas intervalares de médias
(intervalos de confiança de 95%) foram utilizados para
analisar os fatores associados aos medicamentos não
prescritos. O nível de significância foi de 5%. O programa
estatístico utilizado foi o Stata®(StataCorp, LC) versão 11.0.
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 Rebeca Peres dos Santos Francisco e Silva, Francisco Winter dos Santos Figueiredo, Ricardo Peres do Souto

QUADRO 1 -BDiretrizes brasileiras utilizadas para avaliação da Atenção Farmacêutica em unidades básicas de saúde

AGÊNCIA DOCUMENTO REFERÊNCIA

Assistência Farmacêutica na Atenção Básica:

Ministério da Saúde, Brasil Brasil, 2006
Instruções Técnicas para a sua Organização

Ministério da Saúde, Brasil Serviços Farmacêuticos na Atenção Básica à Saúde Brasil, 2014a

Capacitação para Implantação dos Serviços

Ministério da Saúde, Brasil Brasil, 2014b
de Clínica Farmacêutica

Manual de Assistência Farmacêutica. Rede de Atenção

Secretaria Municipal da
Básica e Especialidades. Descrição de Atribuições e São Paulo, 2016
Saúde, São Paulo, Brasil
Atividades de Farmacêuticos e Técnicos de Farmácia

Conselho Nacional de
Assistência Farmacêutica no SUS Brasil, 2011
Secretários de Saúde, Brasil

Conselho Federal de O Farmacêutico na Assistência Farmacêutica

CFF, 2015
Farmácia, Brasil do SUS: Diretrizes para Ação

Saúde Pan-Americana
Consenso Brasileiro de Atenção Farmacêutica: Proposta Ivamaet ai., 2002a
Organização

Saúde Pan-Americana Relatório 2001-2002: Atenção Farmacêutica

Ivamaet ai., 2002b
Organização no Brasil: Trilhando Caminhos

RESULTADOS grau (75,0%), em quase todos os casos um título de

Cada uma das 33 UBS de São Bernardo do Campo que
oferecem serviços de farmácia conta com um profissional
farmacêutico responsável pelo setor. Em 15 dessas unidades,
o farmacêutico é exclusivo. Em outros casos, um farmacêutico
atende duas unidades. Portanto, um total de 24
farmacêuticos atuam na atenção básica pública do município.
Nenhum desses profissionais atua na rede de saúde de outra
cidade além de São Bernardo do Campo. Dois farmacêuticos
são funcionários estatutários municipais; os demais são
contratados de acordo com o regulamento geral do trabalho
brasileiro (Consolidação das Leis Trabalhistas). Todos têm
uma carga horária mensal de 30 horas ou mais.
A caracterização dos farmacêuticos está apresentada
na Tabela I. Observa-se que 75,0% são do sexo feminino. A
média de idade é de 34,2 anos e o tempo médio de
formação é de 7,8 anos. A maioria tem pós-graduação
especialista. Um dos farmacêuticos participantes concluiu
o mestrado. Do total de profissionais, para 29,2% a pós-
graduação era em uma área específica da Farmácia
(Farmácia Clínica ou Farmácia Hospitalar). A maioria dos
farmacêuticos está no mesmo local de trabalho há no
máximo 4 anos (70,8%) e atua em apenas uma UBS
(62,5%).
Em relação às farmácias da UBS de São
Bernardo de Campo, verificou-se que a média de
profissionais atuantes no setor (farmacêuticos e
auxiliares) foi de 3,4 por unidade. A população
ativa por UBS foi, em média, de 46.463 usuários.
Na maioria das UBS (54,2%) não há dispensação
de psicofármacos.
Para o gerenciamento de medicamentos, todos os
farmacêuticos entrevistados relataram receber e armazenar
medicamentos, controlar o estoque e verificar sua validade. Tudo

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Perfil da atenção farmacêutica em unidades básicas de saúde de São Bernardo do Campo, Sudeste do Brasil.
os farmacêuticos utilizam a lista padronizada de medicamentos
adotada pelo município, mas apenas 45,8% contribuem para sua
revisão periódica. O armazenamento de parte dos medicamentos
fora da farmácia, em locais como consultórios e salas de
atendimento, foi relatado em apenas um caso. Na maioria das
unidades, a dispensação de medicamentos ocorre exclusivamente
na farmácia da unidade.
As dúvidas relacionadas a medicamentos ocorreram
pelo menos uma vez por semana para 79,7% dos
farmacêuticos. Essas dúvidas foram sanadas principalmente
pela busca na internet (83,3% dos casos), mas raramente pelo
acesso a bases científicas como PubMed/MEDLINE (4,2% dos
casos). Consultas a colegas farmacêuticos (16,7%) e livros
(12,5%) também foram relatados. A taxa de resolução de
dúvidas foi de 80 a 100% para 91,7% dos farmacêuticos; para
os demais, variou entre 50% e 79%.
A maioria dos farmacêuticos relatou praticar as
atividades de Atenção Farmacêutica recomendadas no
âmbito da atenção primária (Tabela II). Observa-se que
as frequências variaram entre as atividades. Em cada
caso, foi considerada uma frequência mínima que seria
ideal para a atividade. A análise das prescrições
dispensadas na UBS deve ser realizada diariamente, o
que foi relatado em 75% dos casos. Em relação às
atividades que deveriam ocorrer pelo menos uma vez
por mês, relatou-se que: 70,8% atingiram essa
frequência para participação de grupos de
acompanhamento e/ou orientação de pacientes, 58,3%
para acompanhamento da adesão dos pacientes ao
tratamento, 54,2% para comparecimento às reuniões
da equipe de saúde e 12,5% para visitas domiciliares.
Por fim, as consultas farmacêuticas e as ações de
educação e promoção da saúde à comunidade,
atividades mais esporádicas ou incomuns,
Em seguida, estudou-se se existe associação entre o
desempenho das atividades de Atenção Farmacêutica
listadas na Tabela II e as características do farmacêutico e
da UBS. Considerando as frequências ideais escolhidas
para cada atividade, não foi encontrada associação com
significância estatística. No entanto, três relações se
aproximaram dessa situação: (1) farmacêuticos com mais
tempo de permanência na UBS fizeram mais análises
diárias de prescrição (p = 0,070; Tabela III); (2)
farmacêuticos que atuam em UBS com mais profissionais
na farmácia realizaram mais visitas domiciliares mensais
(p = 0,070; Tabela IV); (3) farmacêuticos que atuam em UBS
que não dispensam psicofármacos realizaram mais visitas
domiciliares mensais (p = 0,089; Tabela V).
Braz. J. Farmácia. Sci. 2021;57: e18113
A Atenção Farmacêutica ofertada a quatro grupos
prioritários – hipertensos, diabéticos, tuberculosos e
tabagistas – também foi avaliada (Tabela VI).
A maioria das UBS não registrou pacientes hipertensos e
diabéticos que iniciam controle e tratamento da doença
(95,8% e 75,0%, respectivamente). Em relação ao
acompanhamento desses pacientes, todos os serviços
realizavam dispensação e orientação de medicamentos para
controle e tratamento das doenças. Em ambos os programas,
62,5% dos farmacêuticos participaram de grupos de
acompanhamento e/ou aconselhamento.
O registro de pacientes em início de tratamento para
tuberculose ocorreu em 62,5% dos serviços. A maioria
ofereceu orientações sobre a importância do tratamento da
tuberculose (58,3%) e seguimento da adesão ao tratamento
(75,0%), mas menos da metade supervisionou a ingestão
diária de tuberculostáticos (45,8%).
Os usuários com interesse em participar do grupo
controle do tabagismo foram cadastrados em 75,0% das UBS.
A maioria dos farmacêuticos (91,7%) participou dos grupos de
acompanhamento e/ou orientação dos participantes do
Programa Nacional de Controle do Tabagismo e verificou sua
presença nos grupos e adesão ao tratamento.
DISCUSSÃO
O presente estudo avaliou a Atenção Farmacêutica
ofertada em unidades básicas de saúde do município de
São Bernardo do Campo. Para isso, foi importante
caracterizar o perfil dos 24 farmacêuticos atuantes na UBS
e conhecer as atividades desenvolvidas por esses
profissionais junto aos usuários e demais profissionais da
equipe de saúde. Os farmacêuticos eram
predominantemente do sexo feminino e na faixa etária de
30 a 40 anos, mesmo perfil observado pela pesquisa
PNAUM para farmacêuticos das UBS de todo o país (Araújo
et ai., 2017), bem como para profissionais que atuam em
farmácias comunitárias no Estado de Santa Catarina
(França Filho et ai., 2008) e para farmacêuticos inscritos no
conselho de classe do Estado do Paraná (Hipólito Júnioret
ai., 2017). A média de tempo de formado foi semelhante
aos dados do estado do Paraná (França Filhoet ai., 2008). A
proporção de farmacêuticos de São Bernardo do Campo
com pós-graduação foi maior do que nos demais estudos,
onde houve variação de 32% a cerca de 50% (França Filho
et ai., 2008; Araújoet ai., 2017; Hipólito Júnioret ai., 2017).
Comparando os dados ao longo do tempo, pode ter
ocorrido um aumento na proporção de farmacêuticos pós-
graduados nos últimos 10 anos.
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 Rebeca Peres dos Santos Francisco e Silva, Francisco Winter dos Santos Figueiredo, Ricardo Peres do Souto

TABELA I –Ccaracterização dos farmacêuticos que atuam nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) de São Bernardo do Campo, SP.

Nem
VARIÁVEL
média ± desvio padrão

Macho 6 (25,0%)
Gênero
Fêmea 18 (75,0%)

Era 34,2 ± 5,3 anos

Tempo desde a formatura 7,8 ± 3,7 anos

Não 6 (25,0%)

Ciências da Saúde
Pós-graduação 11 (45,8%)
(exceto Farmácia)*

Farmacia** 7 (29,2%)

≤ 4 anos 17 (70,8%)
Tempo de trabalho na UBS
> 4 anos 7 (29,2)

1 15 (62,5%)
Número de UBS trabalhando em
2 9 (37,5%)

* Saúde Coletiva, Saúde Pública, Saúde da Família. ** Farmácia Clínica, Farmácia Hospitalar.

TABELA II –Frequência das atividades de Atenção Farmacêutica realizadas pelos farmacêuticos nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) de São
Bernardo do Campo, SP

FREQUÊNCIA
ATIVIDADE DE ATENDIMENTO FARMACÊUTICO
Pelo menos uma vez ao dia Pelo menos uma vez por mês Qualquer frequência

Análise de prescrição 75,0% 79,2% 95,8%

Grupo de pacientes 4,2% 70,8% 95,8%

Siga a adesão 20,8% 58,3% 75,0%

Reuniões da equipe de saúde 0,0% 54,2% 87,5%

Educação em saúde 0,0% 54,2% 83,3%

Visita domiciliar 0,0% 12,5% 66,7%

Consulta farmacêutica 4,2% 20,8% 37,5%

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Perfil da atenção farmacêutica em unidades básicas de saúde de São Bernardo do Campo, Sudeste do Brasil.

TABELA III –Associação do tempo de trabalho dos farmacêuticos com a frequência das atividades de Atenção Farmacêutica nas Unidades Básicas
de Saúde (UBS) de São Bernardo do Campo, 2018

TRABALHO FARMACÊUTICO
HORÁRIO NA UBS
FARMACÊUTICO
FREQUÊNCIA
ATIVIDADE DE CUIDADO
4 anos ou menos Mais de 4
p*
(n = 17) anos (n = 7)

Análise de prescrição Diário 11 (64,7%) 7 (100,0%) 0,070

Visita domiciliar Por mês 3 (17,7%) 0 (0,0%) 0,235

Reunião da equipe de saúde Por mês 11 (64,7%) 2 (28,6%) 0,106

Grupo de pacientes Por mês 13 (76,5%) 4 (57,1%) 0,344

Siga a adesão Por mês 9 (52,9%) 5 (71,4%) 0,404

Consulta farmacêutica Algum 7 (41,2%) 2 (28,6%) 0,562

Educação em saúde Algum 15 (88,2%) 5 (71,4%) 0,315

* Teste do qui-quadrado.

TABELA IV –Associação do número de profissionais da farmácia com a frequência das atividades de Atenção Farmacêutica na Unidade
Básica de Saúde (UBS) de São Bernardo do Campo, 2018

NÚMERO DE PROFISSIONAIS
FARMACÊUTICO média (IC 95%)*
FREQUÊNCIA
ATIVIDADE DE CUIDADO

Executar Não execute p**

Análise de prescrição Diário 3,4 (2,8–3,9) 3,5 (1,7–5,3) 0,859

Visita domiciliar Por mês 4,7 (1,6–10,9) 3,2 (2,8–3,7) 0,070

Reunião de equipe Por mês 3,6 (2,9–4,4) 3.2 (2.3–4.1) 0,421

Grupo de pacientes Por mês 3,6 (2,9–4,4) 2,9 (2,5–3,2) 0,176

Segue a adesão Por mês 3,4 (2,7–4,1) 3,5 (2,5–4,5) 0,795

Consulta farmacêutica Algum 3,4 (2,9–4,0) 3,4 (2,7–4,1) 0,937

Educação em saúde Algum 3,4 (2,8–3,8) 3,8 (0,2–7,3) 0,581

* IC 95% = intervalo de confiança de 95%. ** Teste t de Student.

Braz. J. Farmácia. Sci. 2021;57: e18113 Página 7/12

 Rebeca Peres dos Santos Francisco e Silva, Francisco Winter dos Santos Figueiredo, Ricardo Peres do Souto

TABELA V –UMAassociação da dispensação de psicotrópicos com a frequência das atividades de Atenção Farmacêutica na Unidade
Básica de Saúde (UBS) de São Bernardo do Campo, 2018

DISTRIBUIÇÃO DE
DROGAS PSICOTRÓPICAS
FARMACÊUTICO
FREQUÊNCIA
ATIVIDADE DE CUIDADO
Sim (n = 11) Não (n = 13) p*

Análise de prescrição Diário 9 (81,8%) 9 (69,2%) 0,478

Visita domiciliar Por mês 0 (0,0%) 3 (23,1%) 0,089

Reunião de equipe Por mês 5 (45,5%) 8 (61,5%) 0,431

Grupo de pacientes Por mês 6 (54,6%) 11 (84,6%) 0,106

Segue a adesão Por mês 7 (63,6%) 7 (53,9%) 0,628

Consulta farmacêutica Algum 3 (27,3%) 6 (46,2%) 0,341

Educação em saúde Algum 8 (72,7%) 12 (92,3%) 0,200

* Teste do qui-quadrado.

TABELA VI –Atividades de Atenção Farmacêutica realizadas em grupos prioritários na Unidade Básica de Saúde (UBS) de São Bernardo do
Campo, 2018

Afirmativo
GRUPO PRIORITÁRIO PERGUNTA resposta (qualquer

frequência)

Você dispensa medicamentos para o controle e tratamento da hipertensão

100%
orientar os pacientes sobre a importância da adesão à farmacoterapia?

Hipertensão Você participa de acompanhamento e/ou orientação

62,5%
grupos para pacientes com hipertensão?

Você cadastra pacientes que iniciam o controle e tratamento da hipertensão? 4,2%

Você dispensa medicamentos para o controle e tratamento do diabetes mellitus,

100%
orientar os pacientes sobre a importância da adesão à farmacoterapia?

Você aconselha os pacientes sobre o início do uso do glicosímetro,

100%
tiras e materiais necessários para o controle glicêmico?
Diabetes mellitus
Você participa de acompanhamento e/ou aconselhamento
62,5%
grupos para pacientes com diabetes mellitus?

Você cadastra pacientes que iniciam o controle e tratamento do diabetes mellitus

25,0%
doenças, tanto os usuários de hipoglicemiantes orais quanto os usuários de insulina?

(continuando)

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Perfil da atenção farmacêutica em unidades básicas de saúde de São Bernardo do Campo, Sudeste do Brasil.

TABELA VI –Atividades de Atenção Farmacêutica realizadas em grupos prioritários na Unidade Básica de Saúde (UBS) de São Bernardo do
Campo, 2018

Afirmativo
GRUPO PRIORITÁRIO PERGUNTA resposta (qualquer

frequência)

Você acompanha a adesão do paciente ao tratamento? 75,0%

Você registra pacientes que iniciam tratamento para tuberculose? 62,5%

Tuberculose
Você aconselha os pacientes sobre a importância do tratamento?
58,3%
para a cura e sucesso da farmacoterapia?

Você supervisiona a ingestão diária de tuberculostáticos para os pacientes indicados? 45,8%

Você participa de grupos de monitoramento e/ou aconselhamento

91,7%
para usuários do Programa Nacional de Controle do Tabaco?

Fumar Você acompanha a adesão do paciente ao tratamento e

91,7%
participação no grupo de controle do tabagismo?

Você cadastra pacientes que desejam fazer parte do grupo de controle do tabagismo? 75,0%

Em São Bernardo, todas as dispensações de medicamentos um farmacêutico. A participação em reuniões de equipe

da UBS têm um farmacêutico responsável pelo serviço. Isso não é
típico no Brasil. A PNAUM encontrou apenas um farmacêutico
responsável pela dispensação para cada três UBS do país
(Carvalhoet ai., 2017). Nessa pesquisa, essa responsabilidade
recaiu mais comumente sobre os técnicos ou auxiliares de
enfermagem (43,0%). Estudos regionais anteriores encontraram
poucos ou mesmo nenhum farmacêutico nos serviços de
dispensação de medicamentos do SUS (Naves, Silver, 2005;
Canabarro, Hahn, 2009; Menolli, Ivama, Cordoni Júnior, 2009).
A ocorrência de atividades de Atenção Farmacêutica nas
UBS de São Bernardo do Campo foi alta. Mais de 90% dos
farmacêuticos relataram realizar análise de prescrição e
participar de grupos de acompanhamento e orientação de
pacientes. Mais da metade relatou participar de reuniões de
equipe de saúde, realizar educação em saúde comunitária,
fiscalizar a adesão ao tratamento dos pacientes e visitar os
usuários do SUS em suas residências. A única atividade
realizada por menos da metade dos farmacêuticos foi a
consulta farmacêutica. Para efeito de comparação, na
PNAUM, o percentual de farmacêuticos da atenção básica
exercendo atividades clínicas foi de apenas 21,2% na região
Sudeste e 21,3% em todo o país (Araújo et ai., 2017). Essa
divergência pode estar relacionada, em parte, à falta de uma
definição precisa das atividades clínicas dos
de saúde, por exemplo, foi analisada separadamente na
PNAUM. Nesse tópico, a média nacional ficou próxima à
observada em São Bernardo do Campo para a
participação mensal em reuniões da equipe de saúde
(Araújoet ai., 2017). Outros indicadores semelhantes entre
a PNAUM e este estudo foram a alta participação em
programas de prevenção e controle de hipertensão e
diabetes (Araújoet ai., 2017).
A proporção de farmacêuticos de São Bernardo do
Campo que prestavam consulta farmacêutica era muito alta
(37,5%), considerando o cenário da Atenção Farmacêutica no
Brasil (Araújoet ai., 2008). A consulta farmacêutica é uma
atividade recomendada desde o lançamento dos
fundamentos da Atenção Farmacêutica (Hepler, Strand, 1990).
Infelizmente, sua inclusão na atenção primária à saúde tem
sido um processo lento, principalmente pelo paradigma
existente de que a supervisão da farmacoterapia cabe a
médicos e enfermeiros (Berenguer et ai., 2004). As iniciativas
para incluir a consulta farmacêutica no SUS são esporádicas,
mas os resultados são animadores. Como exemplo, um
programa que inclui consultas farmacêuticas foi capaz de
melhorar o controle do diabetes e da hipertensão, sem
aumentar os custos do tratamento (Obreli-Netoet ai., 2015).

Braz. J. Farmácia. Sci. 2021;57: e18113 Página 9/12

 Rebeca Peres dos Santos Francisco e Silva, Francisco Winter dos Santos Figueiredo, Ricardo Peres do Souto
Alguns aspectos dos farmacêuticos e das UBS de São
Bernardo foram analisados como fatores de ocorrência
das atividades de Atenção Farmacêutica. Não foram
encontradas associações com significância estatística. É
possível, embora improvável, que as características do
farmacêutico (como o tempo de graduação e pós-
graduação) e da UBS (como a razão entre a população
ativa e o número de profissionais atuantes no serviço
farmacêutico da unidade) tenham nenhuma influência na
frequência das atividades de Atenção Farmacêutica. Mas
também é admissível que a incapacidade de detectar
qualquer associação tenha ocorrido devido ao pequeno
tamanho da amostra. Infelizmente, não é possível
aumentar o número de entrevistados, pois todos os
farmacêuticos da atenção básica de São Bernardo do
Campo foram incluídos. Por esta razão, algumas
tendências são discutidas abaixo.
Percebeu-se que a análise das prescrições dispensadas
na UBS foi mais frequente entre os farmacêuticos com mais
tempo de atuação na unidade. Ou seja, uma maior
experiência do farmacêutico na UBS, possivelmente incluindo
sua familiaridade com o serviço e a equipe de saúde, poderia
criar melhores condições para a análise das prescrições. Esta
atividade visa minimizar os problemas relacionados ao uso de
medicamentos, identificando e corrigindo eventuais erros e
imprecisões na prescrição. Também permite otimizar a
combinação dos medicamentos escolhidos, principalmente
nos casos de polifarmácia. Assim, a análise da prescrição é
uma ferramenta que proporciona melhores resultados no
tratamento farmacológico (Tanet ai., 2014). No SUS, a análise
de prescrição realizada por farmacêutico pode estimular o
uso da lista de medicamentos essenciais, aumentar o número
de prescrições dispensadas integralmente e reduzir o número
de medicamentos prescritos para pacientes com múltiplas
prescrições (Melo, Castro, 2017).
Em relação às visitas domiciliares do farmacêutico,
verificaram-se duas tendências. Esses atendimentos ocorreram
com maior frequência nas UBS com mais profissionais do serviço
farmacêutico e nas UBS que não dispensam psicotrópicos. Em
ambos os casos, a disponibilidade de tempo para realizar visitas
fora da unidade parece ser o principal problema. Com mais
auxiliares e sem a necessidade de se preocupar com atribuições
relacionadas à dispensação de medicamentos controlados, o
farmacêutico teria mais tempo para visitas domiciliares.
A inserção do farmacêutico no sistema de atenção primária
é um processo contínuo em todo o mundo. Vários estudos
recentes descrevem experiências em todos os continentes (ver,
por exemplo, Campbell, Braund, Morris, 2017;
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Gillespie, Dolovich, Dahrouge, 2017; Gregório, Cavaco, Lapão,
2017). A comparação de resultados não é uma tarefa simples
devido às diferenças na organização e funcionamento dos
sistemas de saúde. Bensonet ai.(2019) compilou uma lista de
atividades farmacêuticas na prática geral de vários países. O
estudo expôs a complexidade das contribuições do
farmacêutico na atenção primária: foram identificadas 48
competências diferentes, sendo necessárias sete grandes
categorias para organizá-las. A atividade mais comum
registrada nesta revisão foi abordar questões de adesão ao
tratamento farmacológico. Farmacêuticos de São Bernardo
estiveram mais envolvidos na análise de prescrições e grupos
de pacientes. É valioso saber o que os farmacêuticos estão
fazendo na atenção primária, para a identificação de
iniciativas bem-sucedidas para inspirar novas estratégias
putativas e para a melhoria do sistema de saúde. Além disso,
essas informações são necessárias para o planejamento de
novos currículos no ensino de Farmácia que incluam as
competências necessárias para o futuro.
As percepções dos farmacêuticos sobre a viabilidade da
Atenção Farmacêutica na prática geral também são informativas.
Os farmacêuticos consideram a falta de tempo uma barreira
importante para atividades diretas com os pacientes (Eades,
Ferguson, O'Carroll, 2011). Algum suporte para essa crença foi
encontrado em São Bernardo. Evidências preliminares sugerem
que farmacêuticos com menos assistentes e mais atribuições
estão menos disponíveis para atividades além da entrega de
medicamentos. Um curto período de tempo na posição também
pode ser um fator negativo. Nesse contexto, a concepção de um
“farmacêutico não dispensador” discutida na literatura é muito
oportuna (Hazenet ai., 2016). Liberados das responsabilidades
mais tradicionais, esses farmacêuticos clínicos concentrariam
todas as suas ações nos pacientes.
Entre as limitações deste estudo podem ser citadas: o
pequeno número de entrevistados, a utilização de um
instrumento inédito e a avaliação indireta das atividades da
Atenção Farmacêutica por meio dos relatos dos farmacêuticos.
Em relação ao tamanho da amostra, embora reduzido, todos os
farmacêuticos do município foram estudados. O instrumento
utilizado é um formulário composto por perguntas diretas,
elaboradas a partir de recomendações encontradas em
documentos e regulamentos oficiais da Assistência Farmacêutica
e Assistência Farmacêutica. Por fim, a avaliação indireta é a forma
mais simples e rápida de verificar simultaneamente diversas
atividades dos farmacêuticos. A avaliação da Assistência
Farmacêutica ofertada no SUS pelo inquérito PNAUM também foi
baseada em relatos (de gestores, profissionais de saúde e
usuários do sistema).
Braz. J. Farmácia. Sci. 2021;57: e18113
Perfil da atenção farmacêutica em unidades básicas de saúde de São Bernardo do Campo, Sudeste do Brasil.
Em conclusão, este estudo mostrou que a Assistência
Farmacêutica está estruturada na atenção básica em São
Bernardo do Campo e muitas atividades de Atenção Farmacêutica
são ofertadas em suas UBS.
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