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LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

LEI DOS CRIMES HEDIONDOS – LEI 8.072/90

 Tratamento Constitucional

A categoria de crimes hediondos foi criada pela Constituição (CF, art. 5º, XLIII).

[...] XLIII - a lei considerará crimes INAFIANÇÁVEIS E INSUSCETÍVEIS DE GRAÇA OU ANISTIA a prática da tortura, o
tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles
respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem;

Apesar de ter criado a categoria, não a define, relegando à norma infraconstitucional elaborar o conteúdo dos
crimes hediondos.

 Crimes equiparados

Independentemente do rol que a lei viria a estipular, a Constituição especificou 3 crimes que seriam equiparados
aos hediondos nas suas consequências. Assim, hediondos são os definidos em lei, e os que a própria Constituição
definiu são os equiparados ou assemelhados (não são hediondos propriamente).

São eles: Tráfico de entorpecentes (Lei 11.343/06); Tortura (Lei 9.455/97); Terrorismo (Lei 13.260/16).

Dica: “3 T”

 Vedações constitucionais

A Constituição estipula que os crimes hediondos (a serem determinados por lei) e os equiparados (que ela mesma
estipula), além de outras consequências previstas por lei, são insuscetíveis de:

a. Anistia: Clemência veiculada por lei federal, ou seja, perdão concedido pelo Poder Legislativo da União.
b. Graça: Clemência veiculada por decreto presidencial, ou seja, perdão concedido pelo Poder Executivo da União.

Ambas as figuras são de direito material, sendo CAUSAS EXTINTIVAS DE PUNIBILIDADE (CP, art. 107, II).

Extinção da punibilidade Art. 107 do CP – Extingue-se a punibilidade: [...] II - pela anistia, graça ou indulto;”

c. Fiança: Trata-se de uma espécie do gênero liberdade provisória. Assim, a impossibilidade de estipulação de fiança
não impede a obtenção de outras formas de liberdade provisória, mediante uma medida cautelar alternativa. É
figura de direito processual, por tratar de espécie de liberdade provisória.

Obs.: existem 3 previsões de inafiançabilidade constitucional, existentes também nos incisos imediatamente anterior
e posterior, ou seja, são inafiançáveis os crimes de racismo, hediondos e equiparados, e de ações de grupos
armados contra a ordem constitucional e o Estado Democrático.

Diferentemente, a IMPRESCRITIBILIDADE somente é prevista nas hipóteses de racismo e ações de grupos armados,
de modo que os crimes hediondos são prescritíveis.

“Art. 5º da CF – [...] XLII - a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de
reclusão, nos termos da lei; [...] XLIV - constitui crime inafiançável e imprescritível a ação de grupos armados, civis ou
militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático;”
SISTEMAS DE DEFINIÇÃO DA HEDIONDEZ

As formas de determinação de crimes hediondos são:

a) LEGAL: Neste, a lei é que estabelece, precisamente, os crimes que são hediondos. Assim, a fonte criadora de
hediondez é somente o Poder Legislativo. Observa-se, assim, um rol legal taxativo de crimes hediondos, não
conferindo margem de liberdade ao juiz para estabelecer os crimes que serão hediondos no caso concreto.
A desvantagem desse sistema é que a hediondez é determinada levando em conta a gravidade abstrata de
crimes, sem levar em conta as peculiaridades do caso concreto. A vantagem é oferecer a garantia de segurança
jurídica, inerente à legalidade.

Desse modo, é possível saber, previamente, os crimes que são considerados hediondos ou não, impossibilitando-
se eventual surpresa no caso concreto. Em suma: no sistema legal, cabe ao legislador selecionar, no plano
abstrato, os tipos penais que serão considerados hediondos quando vierem a ser praticados – o juiz não tem
margem de liberdade alguma para definir a hediondez no caso concreto.

b) JUDICIAL: Neste, o juiz é que estabelece, precisamente, os crimes que são hediondos, com base nos critérios
gerias estipulados em lei. Assim, a fonte criadora de hediondez é somente o Poder Judiciário.

A vantagem desse sistema é que a hediondez é determinada levando em conta a gravidade concreta dos crimes,
considerando-se as peculiaridades do caso concreto. A desvantagem é a insegurança jurídica, sendo impossível
saber, previamente, os crimes que são considerados hediondos ou não, possibilitando-se eventual surpresa no
caso concreto.

c) MISTO: Neste, tanto a lei quanto o juiz estabelecem os crimes que são hediondos. Assim, a fonte criadora de
hediondez são os Poderes Legislativo e Judiciário. Existe um rol legal exemplificativo, não impedindo que o juiz
reconheça hediondez no caso concreto, diversos dos previstos, quando diante de um crime especialmente grave
(o rol é exemplificativo, e o juiz pode ampliá-lo).

A desvantagem é ampliar, demasiadamente, as hipóteses de hediondez.

d) LEGAL COM MITIGAÇÃO JUDICIAL: Neste, a lei, e somente ela, é que estabelece, precisamente, os crimes que
são hediondos. Assim, a fonte criadora de hediondez é somente o Poder Legislativo.

A lei estabelece um limite, ao prever os crimes, em um rol taxativo, que possuem uma presunção relativa de
hediondez. O juiz, contudo, pode afastar os rigores da hediondez, no caso concreto. Assim, o Poder Judiciário,
embora não possa ampliar a hediondez, pode mitigá-la, quando não confirmado no caso concreto a gravidade
que a lei havia presumido (o rol é taxativo, mas o juiz pode diminuí-lo).

A vantagem é oferecer a garantia de segurança jurídica, inerente à legalidade. Assim, é possível saber,
previamente, os crimes que são considerados hediondos ou não, impossibilitando-se eventual surpresa no caso
concreto.

Esse sistema é defendido por parte da doutrina (Alberto Zacharias Toron), chamando de CLÁUSULA
SALVATÓRIA a possibilidade de o magistrado salvar os casos que, concretamente, não merecem os rigores
legais.
SISTEMA ADOTADO NO BRASIL

O ordenamento jurídico brasileiro adota o sistema legal puro.


Ex.: na Lei 8.072/90, art. 1º, VII-B, considera-se crime hediondo a conduta de falsificar cosméticos e produtos
saneantes (CP, art. 273, §1º-A).

Assim, a falsificação de um batom, ainda que comprovado pericialmente ser inofensivo à saúde humana, será
considerado hediondo, posto ser previsto no rol. Se fosse adotado sistema legal com mitigação judicial, o juiz, nesse
caso concreto, poderia afastar a hediondez, e os consequentes rigores da lei.

Não existe, dessa forma, no ordenamento jurídico brasileiro, definição de o que é crime hediondo, ou o que
caracterizaria a hediondez. Apenas se estipulam os crimes que são hediondos, caso figurem no rol taxativo, e os que
não o são, se nele não figurarem.

Trata-se de critério meramente formal (e não um conceito material). Há um sistema de rotulação ou etiquetamento,
em que um crime se torna hediondo quando assim rotulado pela lei.

ROL DOS CRIMES HEDIONDOS

Os crimes previstos na lei são hediondos, independentemente de haver efetiva consumação ou mera tentativa
(Conatus – forma tentada)

Lei 8.072/90, art. 1º, CAPUT:

“Art. 1º da Lei 8.072/90 – São considerados hediondos os seguintes crimes, todos tipificados no Decreto-Lei no
2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal, CONSUMADOS OU TENTADOS:”

Ex.: uma pessoa efetua 6 disparos de arma de fogo em direção a outra, com a intenção de matar (ANIMUS
NECANDI), por motivo fútil, sem, contudo, acertar qualquer deles, ficando a vítima ilesa em sua integridade física ou
saúde (tentativa branca ou incruenta). Há um homicídio qualificado tentado, e, ainda que a vítima esteja em
prefeitas condições, será hediondo, posto figurar no rol legal.

 Homicídio qualificado (art. 121, § 2º, incisos I, II, III, IV, V, VI, VII e VIII);
OU quando praticado em atividade típica de grupo de extermínio, ainda que cometido por um só agente!

 Lesão corporal dolosa de natureza gravíssima (art. 129, § 2o)


E lesão corporal seguida de morte (art. 129, § 3o), quando praticadas contra autoridade ou agente descrito nos arts.
142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no
exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até
terceiro grau, em razão dessa condição;                 

 Latrocínio (art. 157, § 3o, in fine);


 Roubo
a) circunstanciado pela restrição de liberdade da vítima (art. 157, § 2º, inciso V);     
b) circunstanciado pelo emprego de arma de fogo (art. 157, § 2º-A, inciso I) ou pelo emprego de arma de fogo de uso
proibido ou restrito (art. 157, § 2º-B);
c) qualificado pelo resultado lesão corporal grave ou morte (art. 157, § 3º);    
III - extorsão qualificada pela morte (art. 158, § 2o);          
III - extorsão qualificada pela restrição da liberdade da vítima, ocorrência de lesão corporal ou morte (art. 158, §
3º);    
IV - extorsão mediante seqüestro e na forma qualificada (art. 159, caput, e §§ lo, 2o e 3o);          
V - estupro (art. 213 e sua combinação com o art. 223, caput e parágrafo único);         
V - estupro (art. 213, caput e §§ 1o e 2o);
VI - atentado violento ao pudor (art. 214 e sua combinação com o art. 223, caput e parágrafo único);           
VI - estupro de vulnerável (art. 217-A, caput e §§ 1o, 2o, 3o e 4o);                
VII - epidemia com resultado morte (art. 267, § 1o).                 
VII-A – (VETADO)                    
VII-B - falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais
(art. 273, caput e § 1o, § 1o-A e § 1o-B, com a redação dada pela Lei no 9.677, de 2 de julho de 1998
VIII - favorecimento da prostituição ou de outra forma de exploração sexual de criança ou adolescente ou de
vulnerável (art. 218-B, caput, e §§ 1º e 2º).            
IX - furto qualificado pelo emprego de explosivo ou de artefato análogo que cause perigo comum (art. 155, § 4º-
A).    
Parágrafo único. Consideram-se também hediondos, tentados ou consumados:
I - o crime de genocídio, previsto nos arts. 1º, 2º e 3º da Lei nº 2.889, de 1º de outubro de 1956;       
II - o crime de posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso proibido, previsto no art. 16 da Lei nº 10.826, de 22 de
dezembro de 2003;       
III - o crime de comércio ilegal de armas de fogo, previsto no art. 17 da Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de
2003;      
IV - o crime de tráfico internacional de arma de fogo, acessório ou munição, previsto no art. 18 da Lei nº 10.826, de
22 de dezembro de 2003;      
V - o crime de organização criminosa, quando direcionado à prática de crime hediondo ou equiparado.      

ROL DOS CRIMES HEDIONDOS

“Art. 1º da LCH – São considerados hediondos os seguintes crimes, todos tipificados no Decreto-Lei no 2.848, de 7 de
dezembro de 1940 - Código Penal, consumados ou tentados:

1. HOMICÍDIO
 O homicídio culposo nunca é hediondo.
 Hipóteses de hediondez: homicídio doloso somente será hediondo se, alternativamente, for:

 QUALIFICADO (CP, art. 121, § 2º) “Art. 121 do CP – [...] Homicídio qualificado § 2° Se o homicídio é cometido: I -
Mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe; II – Por motivo fútil; III - com emprego
de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo
comum; IV - À traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne
impossível a defesa do ofendido; V - Para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de
outro crime: Pena - reclusão, de doze a trinta anos. VI - Contra a mulher por razões da condição de sexo
feminino; VII – contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do
sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou
contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição: VIII -
com emprego de arma de fogo de uso restrito ou proibido Pena - reclusão, de doze a trinta anos.”
A presença de quaisquer das qualificadoras torna o homicídio doloso hediondo.

 PRATICADO EM ATIVIDADE TÍPICA DE GRUPO DE EXTERMÍNIO, ainda que cometido por 1 só pessoa. Nesse caso,
não é necessário que o homicídio seja qualificado (ex.: agente que resolve exterminar pessoas pertencentes a
determinado grupo é atividade típica de grupo de extermínio, e será hediondo ainda que aja sozinho).

Obs.: Chacina é uma atividade típica de extermínio.


Contexto histórico

Inicialmente, o homicídio não era considerado hediondo, não por ser de pouca gravidade (pois não o é), mas porque
não foi previsto inicialmente no rol legal (e o Brasil adota o sistema legal puro, em que somente se consideram
hediondas as condutas taxativamente previstas em lei).

O assassinato da atriz Daniella Perez por um colega de trabalho e as chacinas na Candelária e em Vigário Geral
ocorridas no Rio de Janeiro geraram grande repercussão, desencadeando a inserção do homicídio qualificado e
praticado em atividade típica de grupo de extermínio no rol dos crimes hediondos.

Hipóteses de não hediondez

Não são hediondos: o homicídio doloso simples e o “privilegiado” porque não selecionados pela lei como tal (CP,
art. 121, CAPUT e § 1º).

Homicídio simples: Art 121. Matar alguém: Pena – reclusão, de seis a vinte anos.

Caso de diminuição de pena: § 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou
moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, ou juiz pode reduzir a
pena de um sexto a um terço.

Homicídio Misto/Híbrido

Em se tratando de um HOMICÍDIO PRIVILEGIADO-QUALIFICADO (quando se combinam a causa especial de


diminuição de pena do art. 121, §1º, com uma qualificadora objetiva do tipo – homicídio híbrido/misto), a
orientação do STJ, reiterada e consolidada, é de que por incompatibilidade axiológica e por falta de previsão legal, o
homicídio qualificado-privilegiado não integra o rol dos denominados crimes hediondos (STJ – HC 153728 SP, Rel.
Min. FELIX FISCHER, 5ª turma, DJE 31/05/2010)

EX.: A matou B, mediante o emprego de fogo (qualificadora - inciso III), mas A matou o estuprador da filha dele
(“privilégio”- motivo de relevante valor moral – redução de 1/6 a 1/3). Em relação a pena – as duas serão aplicadas!

De acordo com o STJ, nesse conjunto de CIRCUNSTÂNCIAS CONTRAPOSTAS, O “PRIVILÉGIO”, POR TER NATUREZA
SUBJETIVA, PREVALECE SOBRE AS QUALIFICADORAS que com ele possuam compatibilidade (ou seja, as de
natureza objetiva). As razões são:

 Legal (CP, art. 67, por analogia) – Concurso de Agravantes e Atenuantes

“Art. 67 do CP – No concurso de agravantes e atenuantes, a pena deve aproximar-se do limite indicado pelas
circunstâncias preponderantes, entendendo-se como tais as que resultam dos motivos determinantes do crime, da
personalidade do agente e da reincidência.”.

O dispositivo é aplicado por analogia, pois disciplina o concurso de agravantes e atenuantes (e não o concurso de
qualificadoras e causas de diminuição de pena), determinando que preponderam as circunstâncias de

 Reincidência;
 Relacionadas à personalidade do agente e;
 Aos motivos do sujeito.

Observe-se que todas as circunstâncias preponderantes são de natureza subjetiva, por essa razão, entende-se que as
circunstâncias de natureza subjetiva preponderam sobre aquelas de natureza objetiva.

Os fatos geradores do “privilégio” são relevante valor social, relevante valor moral ou logo em seguida à injusta
provocação da vítima, sob domínio de violenta emoção – todas são ligadas ao motivo.
 Fundamento sistemático

O “privilégio” não possui compatibilidade no plano lógico sistêmico com a hediondez.

Naquele, o motivo do crime é considerado RELEVANTE (a ponto de merecer a redução da pena), e a hediondez
pressupõe conduta repugnante. Assim, não é possível uma mesma conduta ser relevante e repugnante. Onde se
configura o “privilégio”, não haverá hediondez (O STJ APLICOU ESSE MESMO RACIOCÍNIO AO CRIME DO TRÁFICO
DE ENTORPECENTES – Lei 11.343/06 - Tráfico de Drogas, art. 33, § 4º. O tráfico “privilegiado” de drogas não é
equiparado a hediondo).

“Art. 33 da Lei 11.343/06 –[...] § 4º Nos delitos definidos no caput e no § 1º deste artigo, as penas poderão ser
reduzidas de um sexto a dois terços, vedada a conversão em penas restritivas de direitos, desde que o agente seja
primário, de bons antecedentes, não se dedique às atividades criminosas nem integre organização criminosa.”

Em suma, o STJ entende que o homicídio qualificado e “privilegiado” (misto ou híbrido) não deve ser considerado
crime hediondo, por 2 motivos: (i) o “privilégio” envolve motivos do sujeito, circunstância esta que é declarada
preponderante pelo CP, art. 67, aplicado por analogia; (ii) haveria uma incompatibilidade lógico-sistêmica entre a
relevânciados motivos envolvidos na conduta e a repugnância que seria inerente à hediondez.

Conclusão: O homicídio é hediondo quando puramente qualificado (pois, se também “privilegiado”, não haverá
hediondez), ou praticado em atividade típica de grupo de extermínio, ainda que por uma só pessoa.

2. LESÃO CORPORAL DOLOSA (inciso I-A)

A lesão corporal culposa nunca é hedionda.

Requisitos: A lesão corporal dolosa, para ser considerada hedionda, deverá preencher os seguintes requisitos,
CUMULATIVAMENTE (dolosa/ gravíssima ou seguida de morte/ quando praticada contra... + nexo funcional):

 Espécie: GRAVÍSSIMA (CP, art. 129, § 2º) ou SEGUIDA DE MORTE (CP, art. 129, § 3º)

“Art. 129 do CP – [...]


§ 2° Se resulta: I - Incapacidade permanente para o trabalho; II - Enfermidade incurável; III perda ou inutilização
do membro, sentido ou função; IV - Deformidade permanente; V – Aborto.
Pena - reclusão, de dois a oito anos.
Lesão corporal seguida de morte
§ 3° Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o agente não quis o resultado, nem assumiu o risco de
produzi-lo. Pena - reclusão, de quatro a doze anos.”

Ambas as formas de lesão corporal são qualificadas pelo resultado.

No caso da lesão corporal seguida de morte, o crime é preterdoloso, pois há dolo na prática da lesão, mas culpa
no resultado morte.

Assim, as lesões corporais de natureza leve e grave (CP, art. 129, § 1º) não são consideradas crimes hediondos.

Sujeitos passivos: lesão corporal praticada contra agentes ou autoridades

 Das Forças Armadas (Marinha, Exército ou Aeronáutica) (CF, art. 142);


 Da Segurança Pública (policial civil, policial militar, policial federal e guarda municipal) (CF, art. 144);
 Do sistema prisional (agentes penitenciários, diretor de presídio), ou
 Da Força Nacional de Segurança Pública.

“Art. 142 da CF – As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são instituições
nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema
do Presidente da República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por
iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem.”

“Art. 144 da CF – A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a
preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos: I -
Polícia federal; II - Polícia rodoviária federal; III - polícia ferroviária federal; IV - Polícias civis; V - Polícias militares e
corpos de bombeiros militares. VI - Polícias penais federal, estaduais e distrital.

Como há tutela de funções específicas, costuma-se designar essas lesões como funcionais.

++ Nexo funcional: o crime deve ser praticado contra aqueles agentes ou autoridades, desde que EM RAZÃO DA
FUNÇÃO (no ofício – IN OFFICIO, ou por causa do ofício – PROPTER OFFICIO).

Extensão da hediondez

A caracterização do crime hediondo será estendida para as hipóteses de lesão corporal gravíssima ou seguida de
morte, em razão da função daqueles agentes ou autoridades, se o sujeito passivo for:

 Cônjuge ou companheiro;
 Parentes consanguíneos de até 3º grau (na linha reta ascendente: pais, avós, bisavós; na linha reta descendente:
filhos, netos e bisnetos; na colateral: irmãos, tios e sobrinhos).

Por haver a exigência de consanguinidade, não abrange o vínculo por afinidade (decorrente de casamento) nem a
filiação socioafetiva ou jurídica/civil decorrente de adoção (a plena igualdade entre os filhos, estipulada na CF, art.
227, § 6º, é para a proteção dos filhos, não se admitindo a analogia IN MALAM PARTEM em Direito Penal).

“Art. 227 da CF – [...] § 6º Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção, terão os mesmos
direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação.”

Recorde-se que o Brasil adotou o sistema legal puro de hediondez, de modo que somente se consideram
hediondas as condutas estritamente eleitas como tais pela lei. A falha acima apontada somente pode ser pelo
legislador, não o podendo fazer o juiz de direito.

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